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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
ARTETERAPIA COM CRIANÇAS: QUE EFEITOS A ARTE
PRODUZ NO PROCESSO DE SUBJETIVAÇÃO
Por: Luana Ribeiro de Queiroz Tancredo
Orientador
Profa. Me. Fátima Alves
Rio de Janeiro
2012
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
ARTETERAPIA COM CRIANÇAS: QUE EFEITOS A ARTE
PRODUZ NO PROCESSO DE SUBJETIVAÇÃO
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Arteterapia em Educação e
Saúde
Por: Luana Ribeiro de Queiroz Tancredo
AGRADECIMENTOS
À professora e orientadora Fátima Alves pela sua dedicação, implicação
e carinho, na orientação do meu trabalho.
Ao meu marido pelo carinho, paciência, apoio e amor neste percurso de
estudos.
À minha mãe pelo incentivo, compreensão e amor e à minha família pela
constante atenção e afeto.
A toda turma do Curso de Pós-graduação em Arteterapia em Saúde e
Educação, pelos ótimos momentos em sala de aula.
DEDICATÓRIA
Este trabalho é dedicado à potência
criadora da Arte.
RESUMO
À luz dos teóricos da Arteterapia e da psicoterapia com crianças,
buscamos pensar a arte como intercessor nos estudos da produção de
subjetividade. Nessa mesma via a arte, como forma de expressão, permite
questionar as modelizações criadas sobre a clínica com crianças e as linhas de
fuga que se abrem a partir dos signos da arte. Esta investigação será feita a
partir de um breve estudo sobre o surgimento da Arteterapia e uma análise da
contituição do trabalho terapêutico na clínica com crianças. Portanto, o
presente trabalho, problematiza as produções de subjetivação que podem ser
engendrados quando se trabalha com a arte num processo terpêutico com
crianças.
METODOLOGIA
Esta pesquisa será de caráter direto com a intenção de investigar o
processo arteterapêutico na clínica com crianças utilizando uma pesquisa
bibliográfica.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Surgimento da Arteterapia 10
CAPÍTULO II - Compreenção da Arteterapia na Clínica com Crianças 15
CAPÍTULO III – Análise do Processo Clínico com Crianças 21
CONCLUSÃO 27
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 29
ÍNDICE 31
8
INTRODUÇÃO
“A arte não reproduz o visível, ela torna visível.” Paul Klee
O presente trabalho tem como objetivo mostrar a relação entre a arte e
os processos de subjetivação que podem ser engendrados a partir de um
trabalho psicoterapêutico com crianças, pois ao se expressar através da arte
realidades são construídas, sentidos são liberados e sensações são
experimentadas. Sendo assim, a arte é imagem, é pensamento, logo, produtor
de formas de pensar. Portanto, nosso intuito é usar a arte como intercessor
para pensar os diferentes processos de subjetivação que podem ser
produzidos a partir de uma produção artística na clínica com crianças.
O leitor encontrará no primeiro capítulo, um histórico da arteterapia a fim
de fundamentar a reflexão para o seu manejo no campo da psicoterapia com
crianças.
No contexto deste histórico destacamos que Sigmund Freud interessou-
se em estudar as obras de alguns artistas e constatou que o inconsciente
dialoga facilmente através das imagens, este fica livre e flui mais que com as
palavras. Entretanto ele não abandona a ideia que o principal veículo para
comunicação entre a imagem e o real é a fala, a palavra.
Já Carl Jung, o qual foi discípulo de Freud, introduziu a arte como parte
do tratamento psicoterapêutico, afirmando que as imagens são formas de
expressão do inconsciente coletivo ou individual.
Uma das influências no Brasil que utilizava a arte como instrumento
terapêutico foi à psiquiatra junguiana Nise da Silveira que utilizou as diversas
linguagens expressivas para liberar desejos e emoções que surgiam no
psiquismo de seus pacientes.
No segundo capítulo, analisaremos a arteterapia na clínica com criança.
A arteterapia utiliza os diversos recursos expressivos e artísticos como
instrumento do processo terapêutico, onde o sujeito expressa seus afetos,
pensamentos e seu inconsciente. Essa conduta leva a processos de
autoconhecimento e de transformação, e também desenvolve a criatividade.
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As linguagens artísticas movimentam a expressão de histórias de vida e
seus efeitos. Assim, torna-se possível à materialização de conflitos e afetos, e
consequentemente ativa e realiza a comunicação entre o inconsciente e
consciente. Tais descobertas levam o reconhecimento de si mesmo. É dessa
forma que o trabalho clínico com crianças se produz e se constitui, ou seja, o
terapeuta e a criança se apoderam da arte para tecerem possibilidades de vida,
de subjetivações.
Finalizando, no terceiro capítulo, abordaremos o trabalho
psicoterapêutico com crianças, não tomando esta como um objeto de estudo,
mas com um olhar diferenciado, isto é, percebendo a criança como uma forma
de viver, onde cada sujeito-criança, pensa, age, sente e se relaciona de
maneira singular afirmando, desse modo, a potência de vida. Sendo assim, a
arteterapia leva a criança a expressar seus conteúdos internos conflitantes de
forma lúdica, colaborando com seu potencial subjetivo.
A arteterapia não se preocupa com aspectos estéticos, mas é um
facilitador para a criança ser saudável, ajudando-a a lidar com seus conflitos,
propiciando novas formas de vida e a encontrar sua própria linguagem
expressiva. A clínica com crianças é mais uma maneira de viabilizar o exercício
da arte como terapia.
É preciso que o terapeuta junto com a criança promova meios para
portas e janelas se abrirem para o mundo interior da criança, para assim, a
criança se expandir e criar linhas de fuga que promovam novas formas de se
expressar no mundo.
Então, convidamos o leitor para percorrer este trajeto textual, para
assim, pensarmos as modelizações e as linhas de fuga acerca de um trabalho
clínico com crianças que podem ser engendradas no território da arte.
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CAPÍTULO I
SURGIMENTO DA ARTETERAPIA
As primeiras manifestações e ensaios de arteterapia, segundo Andrade
(2000), tiveram inicio em 1976 com Max Simon, médico psiquiatra, que
pesquisou em doentes mentais trabalhos artísticos e classificou suas
patologias conforme suas produções artísticas. Dessa forma, a arte passa a ter
um valor como observação terapêutica, como um possível uso diagnóstico.
Sigmund Freud, que também era médico, estudou alguns artistas e suas
obras, à luz de sua teoria psicanalítica, entretanto, Freud não abandonou a fala
como o principal caminho da cura. O mesmo, em 1910 analisou o quadro de
Leonardo da Vinci, “A Virgem e o Menino com Sant’ana”, o qual afirmou que o
artista revelou questões sobre sua infância e sua personalidade. Já em 1913,
observou a escultura de Michelangelo, “Moisés”, verificando que o artista havia
representado sua revolta contra o povo e o Papa da época. Sendo assim,
Freud também teve sua relevância nas pesquisas sobre arte percebendo a
produção artística, como um efeito de história de vida.
A luz de Andrade (2000), Carl Jung, na década de 20, introduziu a arte
como parte do tratamento de seus pacientes. Este passou a trabalhar o fazer
artístico com seus pacientes.
A arte na visão de Jung tem intenção criativa, ou seja, quando a energia
psíquica se materializa em imagens através da representação simbólica, dá
expressão e configuração a conteúdos psíquicos profundos e internos.
Dessa forma, Jung, segundo Andrade afirma: "Arte é a expressão mais
pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade
de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida" (ANDRADE apud JUNG,
2000, p.17). Portanto, a criatividade é uma função psíquica, daí a arte não ser
apenas fruto de sublimação de instintos sexuais e agressivos, como afirma
Freud.
Segundo Almeida (2005), Jung estudou duas formas de imagens do
inconsciente, sendo elas as individuais e as coletivas. As individuais
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representam às experiências vivenciadas pela própria pessoa. As coletivas são
carregadas de emoções que transmitem a herança psíquica da humanidade, o
qual as denominou de arquetípicas, que são imagens antigas de grande
relevância para o entendimento do comportamento da humanidade, estas
imagens podem aparecer nos sonhos e nas obras artísticas. Desta maneira,
para o pensamento junguiano as imagens servem de comunicação simbólica
entre paciente e psicoterapeuta.
Ainda segundo Almeida (2005), o self, que é o centro de equilíbrio e
harmonia do ser é um arquétipo, o qual é um totalizador da psique humana.
Almeida (2005), diz que Jung em seu pensamento afirma que, os
indivíduos, no percurso de suas vidas, são guiados por símbolos em seu
processo de autoconhecimento e transformação. Estes símbolos vêm das
camadas mais profundas da mente em forma de energia criando um elo entre
ego e self quando levada a consciência.
Almeida (2005), afirma que no Brasil na década de 20, Osório Cesar,
começou a desenvolver estudos sobre a arte dos alienados internados em
Hospital Psiquiátrico. Este psiquiatra se correspondia com Freud a fim de
analisar a simbologia sexual presente nos trabalhos artísticos de seus
pacientes. Desta forma Osório foi o percursor da análise da expressão artística
e psicopatológicas de doentes mentais internados em Instituição Psiquiátrica.
Cesar utilizava a espontaneidade artística como veículo de acesso do mundo
interior.
Outra influência, no Brasil, foi da médica psiquiatra Nise da Silveira,
estudiosa de Carl Jung, que se dedicou à psiquiatria e manifestou sua revolta
contra as formas agressivas de tratamento de sua época, tais como, o
confinamento em hospitais psiquiátricos, eletrochoque, insulinoterapia e
lobotomia.
Segundo Almeida (2005), Nise utilizou diversas linguagens expressivas
para liberar desejos e emoções que emergiam da psique de seus pacientes.
Usou a livre expressão artística de seus pacientes como ferramenta de
recuperação da saúde mental e humanizou o tratamento psiquiátrico no país.
12
Outra forma que Nise utilizava no tratamento de seus pacientes foi com os
animais, o qual costumava chamar de co-terapeutas.
De acordo com Ferretti (2005), Nise reconheceu que a arte tinha um
poder autocurativo, servindo também de comunicação entre terapeuta e
paciente. Esta tal psiquiatra afirma que a produção artística serve de
instrumento para o sujeito reorganizar o seu mundo subjetivo a partir da
realidade de uma pintura. Como afirma Andrade (2000):
“O indivíduo se libertou de normas consideradas sadias de percepção e compreensão do real ao desvincular-se com esta outra atitude mental. Esse paciente destrói, cria e recria o mundo exterior nas suas representações mentais aplicando combinações pessoais, arbitrárias” (ANDRADE, 2005, p.61).
Dessa forma o arteterapeuta pode impulsionar o paciente a construir
alguma outra forma de expressão artística por meio da voz, do corpo, da
literatura, da pintura e entre outros. A forma, a cor, o ritmo e o gesto criam
estruturas corporais e psíquicas fazendo emergir a subjetividade do sujeito.
Nise da Silveira foi membro fundador da Sociedade Internacional de
Expressão Psicopatológica, sediada em Paris. Esta também, através de sua
pesquisa em terapia ocupacional e o entendimento do processo psiquiátrico
através das imagens do inconsciente, deram origem a diversas exibições de
filmes, documentários, audiovisuais, cursos, simpósios, publicações e
conferências.
Esta médica psiquiátrica trouxe a psicologia junguiana para o Brasil e
fundou em 1946, o Museu de Imagens do Inconsciente, sendo pioneira no uso
da arte como processo terapêutico.
A partir da visão de Almeida (2005), a arteterapia se apropria de
múltiplos recursos artísticos que provocam a expressividade, facilitando o
processo terapêutico e a revelação de conteúdos internos e inconscientes.
Essa prática leva a produções de autoconhecimento e de transformações e
também a manifestação da criatividade. Sendo assim, Almeida (2005) nos
convoca a pensar:
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“Percebi que o simples ato de riscar um papel tem um sentido e descobri em meus desenhos algumas verdades que meu pensamento discursivo tinha sido incapaz de captar. Era como se tecessem para mim, em fios muito finos a própria trama do simbólico” (ANDRADE apud ALMEIDA, 2005, p.16).
A arteterapia tem a intenção de acolher o sujeito para este lidar com
seus conflitos de forma criativa e assim encontrar sua própria linguagem
expressiva. Assim afirma Almeida (2005), citando Jung: “Pintar aquilo que
vemos diante de nós é uma arte diferente de pintar o que vemos dentro de
nós”. (ALMEIDA apud SILVEIRA, 2005, p.17).
As linguagens artísticas provocam a expansão dos desejos contidos,
tornando possível à materialização de conflitos e afetos, consequentemente
ativa e realiza a comunicação entre o inconsciente e consciente. Tais
descobertas levam a percepção de nós mesmos. Assim, Ferretti (2005) nos faz
refletir que:
“Quando o paciente elabora sua produção e dialoga com ela, podem acontecer momentos sublimes em que terapeuta e paciente compreendem os processos do mundo psíquico a partir das construções dos trabalhos artísticos. À medida que vamos trabalhando o material, vivemos sensações e percepções despertadas pelo contato com o objeto, que vai tomando vida aos nossos olhos, ao mesmo tempo em que cada impressão torna-se a extensão do nosso corpo. Assim, em dado momento, a imagem desperta os nossos sentimentos conduzindo conteúdos inconscientes para a consciência” (FERRETTI, 2005, p.17).
Dessa forma Ferretti (2005) nos convida a pensar que terapeuta, cliente
e produção artística formam um campo de força que facilitam a transitar pela
subjetivação do sujeito.
De acordo com Almeida (2005), na década de 80, refloresce as
chamadas “Terapias Expressivas” e daí surgem às primeiras manifestações da
arteterapia, principalmente no Rio de Janeiro e São Paulo, através de núcleos
de trabalho que praticam a arte em contextos terapêuticos.
Com efeito, esta prática terapêutica, a arteterapia, se expandiu por todo
o país em diferentes abordagens tais como: junguiana, gestáltica,
comportamental, psicanalítica, antroposófica e entre outras. É claro que essas
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teorias se diferenciam e se encontram através da singularidade de cada
abordagem e também de cada terapeuta, o qual revelava a forma de cada um
expor sua prática através da arte.
Apesar das diferentes abordagens teóricas, todas tem o mesmo
propósito de considerar a expressão criativa e a terapia como força de
autoconhecimento e comunicação do sujeito com seu modo de pensar e sentir.
Segundo Ferretti (2005) começaram a surgir os cursos de arteterapia.
Um dos primeiros cursos foi coordenado por Carvalho durante dois anos no
Instituto Sedes Sapientiae. Também em 1995 foi criado por Eliezer o primeiro
curso de extensão em arteterapia na Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo
Ainda segundo Ferretti (2005) em 1989 em São Paulo foi criado por
Selma Ciornai o primeiro curso de formação em arteterapia no Instituto Sedes
Sapientiae. Foi o curso pioneiro até os dias de hoje, esta formação tem uma
fundamentação teórica com base na Gestalt Terapia. Podemos pensar que
Ciornai abriu as portas para a arteterapia construir um lugar significativo para
sua prática. Assim, encontros, congressos e divulgações sobre arteterapia
foram se expandindo.
Já no Rio de Janeiro em 1993 inicia a formação de arterapia ministrada
por Philippine, cuja base teórica se apoia na teoria junguiana. Portanto cada
vez mais, novos cursos de formação, de extensão e de pós-graduação
continuam surgindo por todo Brasil.
15
CAPÍTULO II
COMPREENÇÃO DA ARTETERAPIA NA CLÍNICA COM
CRIANÇAS
Segundo Silva (2011), a forma agita de vida em que vivemos, na qual as
pessoas não disponibilizam um tempo para si, acarreta numa sociedade que
enfrenta uma desordem das relações sociais e das relações do sujeito consigo
mesmo. Dessa forma, Silva (20011) citando Philippini diz: “Todos os indivíduos,
especialmente os que se encontram em sofrimento físico e/ou psíquico têm a
necessidade de criar e de manifestar essa criação” (SILVA apud PHILIPPINI,
2011, p.9).
À luz de Oaklander (1980), podemos nos indagar: O que desencadearia
um responsável de uma criança levar esta à terapia? O que é percebido na
criança para indicar tal tratamento? É claro, que aceitar e perceber que o filho
está precisando de um acolhimento psicoterápico, pode ser algo difícil e
doloroso de ser reconhecido. Dessa forma, a autora afirma:
“Penso que a maioria dos pais preferiria não acreditar que seu filho tem o tipo de problema que possam necessitar de ajuda profissional. Eles dizem a si mesmo: “É só uma fase a criança vai superar isso”. [...] Alguns pais secretamente sentem que são eles que podem precisar de ajuda, e este fato não é muito fácil de encarar” (OAKLANDER, 1980, p.205).
Até a criança chegar à terapia, muitos desgastes e sofrimentos já se
passaram. Entretanto existem muitas situações em que a família não percebe
que algo está angustiando aquela criança e que também esta necessita de
ajuda.
Segundo Silva (2011), o tratamento psicoterapêutico pode auxiliar na
melhoria da qualidade de vida da criança em situações de sofrimento. Portanto,
o acolhimento arteterapêutico realizado com crianças busca potencializar a
vida, a expressão de sofrimentos e o desenvolvimento da capacidade para lidar
com os conflitos. Desse modo, a arteterapia tem como objetivo a promoção do
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sujeito e o resgate da qualidade de vida e o manejo da forma de relação com
os desafios. Neste sentido, o papel do arteterapeuta é ser um facilitador do
sujeito no processo de elaboração dos conteúdos que geram sofrimento.
Ainda Segundo Silva (2011), a arteterapia é percebida como uma terapia
de promoção, prevenção e resgate de uma subjetividade. Dessa forma, esta tal
terapia facilita o processo de criação e de expansão de conteúdos subjetivos,
esta oferece um suporte para as crises enfrentadas pelos sujeitos.
Em específico à criança, a arteterapia busca proporcionar o
desenvolvimento global através de atividades físicas, sociais e sensoriais. Além
disso, possibilita que a criança expresse, através da atividade plástica, suas
angústias e sofrimentos, auxiliando em sua reorganização subjetiva. Assim, a
prática plástica permite à criança a construção da imaginação, da criatividade e
da autonomia, as quais estavam comprometidas ou prejudicadas.
É relevante citarmos que a prática da arteterapia com crianças não é um
entretenimento ou uma brincadeira, mas sim uma forma de linguagem que
permite a criança comunicar suas angústias com o outro, neste caso, com o
terapeuta. Desse modo, a arteterapia facilita a liberdade de expressão, a
sustentação da autonomia criativa, o conhecimento sobre o mundo e o
desenvolvimento emocional e social.
Diferente das terapias que colocam a fala como principal meio de
expressão, a arteterapia traz outro olhar sobre estas terapias convencionais
que focam a verbalização. A fala está sujeita a restrições, omissões,
sentimentos como vergonha, culpa e medo podem alterar a verbalização do
sujeito.
A criança se expressa melhor através da linguagem não verbal, assim, a
expressão plástica dá voz aquilo que a criança não conseguiria por meio da
fala. A criança em sua construção plástica se torna livre e a prática lúdica
engendra a pura expressão subjetiva tornando-a liberta das amarras que as
palavras podem assumir ao modificar um pleno sentimento em nome de
alguma limitação a qual o sujeito se impõe.
Segundo Silva (2011) citando Alessandrini, “as atividades artísticas
possibilitam à pessoa simbolizar suas percepções do mundo, sobretudo
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quando não se consegue expressar-se verbalmente, através da linguagem oral
ou escrita” (SILVA apud ALESSANDRINI, 2011, p.33). Desta forma, a
arteterapia proporciona o sujeito o contato com sua subjetivação, ou seja, a
percepção do seu modo de sentir, pensar e agir.
Conforme Carvalho (2005), a importância da expressão não verbal no
campo da arteterapia assume relevância na relação terapeuta-criança, uma vez
que o comportamento revela sinais da comunicação não verbal da criança
mostrado pelo corpo, como: olhar, gesto, movimentos corporais, expressão
facial e emocional, aproximação espacial e distanciamento espacial.
Assim, a não verbalização favorece ao psicoterapeuta perceber dúvidas
e dificuldades que não são ditas através da fala, dessa forma potencializa a
própria comunicação arteterapeuta-criança.
Portanto nas intervenções arteterapêuticas a predominância é do não
verbal, ou seja, as possíveis maneiras de intervenção destinam-se a conteúdos
inconscientes, o qual é mais bem expresso pela via não verbal.
Entretanto, no decorrer do processo de arteterapia, o psicoterapeuta
utiliza a palavra não de forma invasiva ou interpretativa na intervenção com seu
cliente. Também após a finalização da produção plástica à palavra poderá ser
potente, sendo com o intuito de dar voz à experiência subjetiva que foi vivida,
pois de qualquer maneira com a palavra ou sem a palavra o sujeito já terá
vivenciado o processo de mudança subjetiva ao expressar, materializar e
configurar conflitos e afetos em sua construção plástica. Assim, Pereira (2000)
afirma que: “A expressão verbal vem para enunciar o que se elaborou
plasticamente” (PEREIRA, 2000, p.3).
Com efeito, a produção da potencialidade através da liberdade de
expressão, torna o sujeito capaz de lidar com seus próprios sofrimentos. A
arteterapia ao usar instrumentos plásticos torna-se capaz de desbloquear
pensamentos e sentimentos e assim estimula a capacidade criativa.
Segundo Silva (2011), a arteterapia com criança oferece uma
experiência lúdica, fundamentada pelas brincadeiras, dramatizações, contação
de histórias e expressão plástica. Estas atividades fazem parte do mundo
infantil, por isso ao serem realizadas pscoterapêuticamente produzem na
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criança a criação de situações, a realizações de desejos e elaboração de
conflitos.
Ainda Silva (2011), as artes plásticas utilizadas neste contexto
funcionam como produtora de imaginação e fantasia infantil, as quais são
componentes essenciais para a vida da criança.
A arteterapia enquanto psicoterapia expressiva proporciona á criança à
pura expressão de sua subjetividade, liberta de barreiras relacionadas à fala a
materialização artística é capaz de suprir lacunas do processo
psicoterapêutico, pois nem tudo pode ser expresso verbalmente, uma vez que
a verbalização pode não dar conta dos conflitos subjetivos. Portanto conforme
Silva se referindo a Gouvêa (2011): “O objeto material é a forma de tornar a
imagem particular numa imagem real, concreta, onde o silêncio e a inter-
relação do sujeito com o objeto é capaz de dizer o indizível” (SILVA apud
GOUVÊA, 2011, p.36).
Entretanto é importante ressaltar, segundo Silva citando Philippini (2011)
que também na arteterapia:
“...não se lidam apenas com prazeres; sucessivas vezes aparecem lacunas, áreas sombrias, sendo o processo marcado por decepções, projetos desfeitos, desconforto frente a construções de precário equilíbrio; tristezas após várias tentativas truncadas, criação, das cores e dos afetos de comunicação, de temores e perdas de elos rompidos” (SILVA apud PHILIPPINI, 2011, p.37).
Assim compreender a arteterapia com crianças é ter em vista que o
processo criativo viabiliza a flexibilidade necessária ao sujeito para que possa
penetrar em sua subjetividade.
Conforme Carvalho (2005), ao se propor um trabalho de arteterapia,
produz-se a possibilidade de elaborar conteúdos angustiantes, além do que a
descarga de energia presa e o prazer de produzir um objeto artístico constitui
uma forma mais potente de abordar a criança.
A forma que cada criança estabelece a sua relação com o material que
será utilizado para o fazer artístico pode gerar um prazer pelo contato sensorial
com o material e a manifestações de atitudes que podem desencadear uma
ação.
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Assim a arteterapia elabora sofrimentos por favorecer a expressão do
momento de vida do sujeito, por facilitar um encontro consigo mesmo e ampliar
seu contato com a realidade. Dessa forma, a expressão artística é relevante e
facilitadora na elaboração de conteúdos difíceis e delicados, promovedores de
conflitos. Carvalho (2005) nos faz refletir que:
“...no contexto da expressão criativa que propicia a descoberta do significado de eventos psíquicos até então obscuros, amplia-se a possibilidade de estruturação da personalidade e constroem-se maneiras mais produtivas para a comunicação, interação e o estar-no-mundo” (CARVALHO, 2005, p.4).
A arte é um mecanismo de expressão, comunicação e linguagem, pois
além de ser terapêutica, é que o fato do sujeito se expressar através de uma
obra artística já é uma catarse.
Segundo Carvalho (2005) a arterapia é um compromisso com a vida, é
um resgate da saúde e é liberdade de expressão. Assim, para a criança a
arteterapia serve para desenvolver a autonomia, a criatividade, a imaginação, a
liberdade e a iniciativa.
A arteterapia é um excelente meio de canalizar de maneira potente para
o sujeito, as modificações do desenvolvimento da criança e também elaborar
os fatores de ordem afetiva que podem surgir como: estresse, angústia,
agressividade e apatia. Dessa forma, o arteterapeuta é um facilitador do
processo da criança que proporciona um espaço acolhedor, que possibilita as
trocas da criança com o mundo. Portanto Ciornai afirma que (2000):
“As atividades artísticas se constituem como catalisadoras de um processo de resgate de qualidade do viver, em seu sentido mais humano e, a partir da relação terapêutica, proporcionam, de maneira eficaz e rápida, “pontes para a intersubjetividade, um contato rico, íntimo e profundo que, dependendo do caso, pode prescindir de palavras ou enriquecer com elas” (CIORNAI, 1995, p. 62).
Dessa forma, a arteterapia serve como uma possibilidade, um caminho
para viver criativamente, a arte neste sentido, não se constitui como um fim em
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si mesmo e sim como um meio. Através de um ambiente acolhedor se faz
possível o engendramento da atitude criativa e espontânea do sujeito,
proporcionando a emersão da singularidade.
Contudo, a expressão dos desejos e angústias faz-se necessário à
escuta por interlocutores disponíveis, no caso o psicoterapeuta, que reconhece
e respeita a demanda surgida. Além disso, um intenso trabalho de escuta,
observação e compreensão são posturas que o psicoterapeuta tem que ter.
Portanto, a arteterapia com crianças tem como importância a construção
da subjetividade, a liberdade de expressão e o desenvolvimento da
criatividade. Dessa forma conteúdos conflituosos são elaborados e outras
formas de pensar, agir e sentir serão produzidas.
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CAPÍTULO III
ANÁLISE DO PROCESSO CLÍNICO COM CRIANÇAS
Segundo Barbosa (2011), a noção de infância foi construída
historicamente e socialmente nas relações humanas. Na idade Média as
crianças eram vistas como miniaturas de adultos, não existia a noção de
cuidados maternais, isto é, as crianças eram tratadas da mesma forma que os
adultos.
No século XVI, Ariès (1981), conceitua “sentimento de infância”, que
seria um primeiro reconhecimento da infância. Já no século XVIII a criança é
marcada pela sua pureza, pela inocência e pelo cuidado de proteção que ela
exigia. Neste mesmo século nascem várias mudanças que contribuíram para
noção de infância. Com efeito, a criança passa ser compreendida de outra
forma, ou seja, reivindica cuidados e fomenta o surgimento de uma série de
especialidades médicas, educacionais entre outras.
Ainda segundo Ariès (1981), paralelamente a esses surgimentos, o
mundo infantil e adulto é separado e concomitantemente a escolarização
emerge, passando a perceber a criança como alguém que necessita ser
preparada para o futuro. Dessa forma, uma relação afetiva entre pais e
crianças passa a existir sendo marcada pelo amor, assim, a noção de família
começa a aparecer.
É diante deste contexto que a psicologia passa a estudar a criança. A
primeira intervenção psicoterapêutica com uma criança foi descrita por Freud
no tratamento de um menino de cinco anos, o pequeno Hans, que tinha fobia
de cavalos. Apesar de a intervenção ter sido feita de forma indireta, pois foi
realizada através do pai do menino, pode-se dizer que é a Freud que se deve o
reconhecimento da importância dos dinamismos psíquicos da criança.
Posteriormente outros estudiosos da área começaram a surgir com suas
produções acerca do tema.
Dessa forma, Barbosa (2011) nos convida a pensar que a criança não é
passiva frente ao mundo, e sim é modificada pelo mundo e também transforma
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o mundo ao se relacionar com ele. Desde bebês fazemos trocas com o mundo
utilizando os recursos que temos da melhor forma possível
Segundo Barbosa (2011), a criança é um ser de relação e está em
constante relação com o mundo que a cerca. Nesse sentido a criança está
sempre se transformando, é um vir-a-ser. A noção de linearidade e causalidade
é descartada, pois o sujeito e o mundo estão em interação a todo o momento, é
um movimento de transformar e ser transformado.
Ainda conforme Barbosa (2011), atualmente as crianças são
extremamente exigidas, devem saber falar outros idiomas, dominar a
tecnologia, praticar esportes, ter bom desempenho escolar, ser obediente,
enfim, serem eficientes em tudo. Com isso, não existe tempo para brincar, para
serem espontâneos, acabam por agir em função do que o mundo deseja que
elas sejam com medo de perder o amor do outro. Dessa forma, Barbosa (2011)
afirma:
“Frente a tantas exigências e determinações, as crianças acabam se deixando de lado, alienando-se por desejarem corresponder às expectativas do outro significativo para elas, e consequentemente, conseguir o amor dele. Não sendo confirmada, a criança adoece, não se autorrealiza, desenvolvendo uma menos-valia e uma ausência de confiança em si mesma, as quais acabam por dificultar seu contato com o mundo. Diante desse cenário, a criança se cristaliza em uma única forma de ser no mundo por meio de seu sintoma” (BARBOSA, 2011, p.8).
A criança pode ser percebida a partir de sua totalidade, dessa forma,
não podemos compreender o sintoma que a criança representa como partes
isoladas, pois este faz parte da criança em sua totalidade. O importante é
pensarmos o sujeito nas suas relações, ou seja, como ele se relaciona com
seus sintomas e conflitos, é a partir daí que podemos estabelecer um contato
psicoterapêutico.
O sintoma significa que a criança interrompeu sua capacidade de dar
respostas criativas a questões conflitivas e as suas necessidades internas. No
entanto, como a criança não consegue suprir a necessidade em questão, corre-
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se o risco de cristalização, ou seja, sua subjetividade torna-se engessada, não
dando espaço para transformações criativas.
É relevante ressaltar a corresponsabilidade dos responsáveis da criança
no seu adoecimento, pois ela pode mostrar através do sintoma que algo não
“vai bem” nas suas principais relações. Quando a criança está com conteúdos
angustiantes, não elaborados, ela lança mão de alguns mecanismos de defesa
para se autopreservar, bloqueando contatos e construindo sintomas.
Diante desse quadro algumas questões emergem: O que fazer diante do
sintoma que a criança apresenta? Qual é a atuação do psicólogo com a
criança? Como a arte pode possibilitar novas produções de subjetivações
potencializadoras?
Como vimos anteriormente o sujeito é um ser de relações e se
transforma a todo o momento. Neste sentido, quando o sujeito busca a
psicoterapia é porque se encontra paralisado nesse fluir, de maneira que se
cristalizou em alguns padrões que não são experimentados como satisfatórios
e saudáveis. Seus padrões tornam-se enrijecidos e suas relações
disfuncionais.
A partir disso, conforme Barbosa (2011) o objetivo do processo
psicoterapêutico com crianças é o resgate do curso satisfatório do
desenvolvimento delas, propiciando a realização de um contato pleno com o
mundo através de seus sentidos, funções de contato, reconhecimento do
corpo, expressão de seus sentimentos, descobrir e verbalizar suas
necessidades, bem como encontrar formas de satisfazê-las.
Em função disso, a criança começa a poder realizar escolhas,
assumindo responsabilidade e liberdade, além de reconhecer seu modo de ser
no mundo, isto é, sua singularidade e também fortalecer sua subjetividade.
Durante o processo de psicoterapia o terapeuta e a criança descobrem
junto, o que está bloqueando seu desenvolvimento saudável. Assim o
psicólogo busca facilitar a criança na sua ressignificação no seu modo de
pensar, sentir e agir e no encontro de outras possibilidades criativas de modos
de ser.
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Segundo Barbosa (2011), o importante não é o rótulo que a criança
tenha recebido, pois as classificações recebidas sejam pela sociedade, pela
família e pelo médico tais como: “criança agressiva”, “não gosta de estudar”,
“tímida não conversa com ninguém” entre outros, criam uma condição que
distorce a imagem da criança diante de si e do mundo, cristalizando formas de
pensar, agir e sentir que fixam o conflito, em vez de criar novas possibilidades.
Por isso, que a relevância da psicoterapia é atuar como um instrumento de
cura a partir das potencialidades percebida na criança.
Barbosa (2011) nos lembra de que o processo psicoterápico não deve
se focar no sintoma, pois o que vier aparecer na relação terapeuta-criança é a
expressão de um modo de ser daquele momento. Isto que emerge está
relacionado com o sintoma numa configuração mais ampla, não se restringindo
a ele. Dessa forma Barbosa (2011) afirma:
“A aceitação da criança, exatamente como ela é, o respeito pelo seu tempo e pela sua capacidade de resolver seus próprios problemas, a não-diretividade das suas ações ou conversas, o estabelecimento de um sentimento de permissividade e o desenvolvimento de uma sólida relação de confiança entre criança e psicoterapeuta são os princípios básicos dessa forma (existencial fenomenológica) de compreender e trabalhar psicoterapeuticamente com criança”. (BARBOSA, 2011, p.10)
Portanto, é vital desenvolvermos uma comunicação que permita a
criança emergir enquanto sujeito, tomando o cuidado de não invadirmos o
mundo dela, mas sim acompanhá-la. O psicoterapeuta tem que estar
conectado ao mundo da criança para que ela se sinta acolhida, compreendida
e segura, ou seja, é preciso perceber a linguagem simbólica manifestada por
ela.
A criança tem a capacidade de recriar seu presente por suas próprias
escolhas, por isso que o psicoterapeuta deve confiar na criança, pois é a
criança que indica o caminho que deve ser seguido, sendo importante o
psicólogo respeitar a criança quando ela demonstra não estar pronta para ir
adiante.
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Assim o papel do psicoterapeuta é se posicionar como parceiro
engajado no processo de desenvolvimento da criança. Barbosa (2011)
complementa afirmando que o “desenvolver-se é participar de um contexto
relacional, fomentando parcerias eu-tu libertadoras, relações confirmadoras nas
quais torna-se possível o fluir da vitalidade, o renovar-se” (BARBOSA, 2011,
p.12).
Outro fator importante que devemos levar em conta é o espaço e a
disposição física adequada para o psicólogo adentrar no mundo da criança. A
participação dos responsáveis da criança enquanto parceiros na facilitação do
desenvolvimento da criança também é um aspecto relevante uma vez que a
criança não conta com uma autonomia sólida e seus responsáveis são pessoas
significativas para elas. Dessa forma, os responsáveis devem ser
colaboradores durante o processo de psicoterapia, ou seja, a criança, seus
responsáveis e o psicólogo devem se tornar aliados nessa construção
psicoterapêutica.
Segundo Barbosa (2011), o psicólogo tem como meta realizar um
trabalho clínico no qual exerce a função de facilitador do autoconhecimento,
permitindo à criança experenciar o poder de escolha, através da escuta, da
nomeação dos seus desejos e do respeito pela sua subjetivação. Propicia o
reconhecimento de seu modo de ser na vida e a emergência de outras
possibilidades por intermédio das quais possa encontrar recursos para
ressignificar seu sofrimento.
É neste contexto que a arte se apresenta como instrumento mais flexível
e que permite a capacitação da riqueza do mundo emocional e relacional da
criança, propiciando a intervenção terapêutica.
Neste sentido a arteterapia possibilita novas formas de pensar, agir e
sentir fornecendo condições para a criança transcender e estar disponível para
novas experiências. O trabalho da arteterapia com crianças se baseia na
construção de possibilidades de expressões criativas que facilitam a
elaboração de conflitos angustiantes.
Segundo Ferretti (2005) a expressão da criança pode começar
muitas vezes com um desejo que é transformado em produção artística e é
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compartilhado com o terapeuta. Torna-se possível o trabalho psicoterápico
quando a criança dá forma a sentimentos, fantasias, angústias, desejos e
pensamentos. Através da obra o sujeito pode olhar seus medos, partilhar e
elaborar seus pensamentos e sentimentos. Pode por exemplo, expressar sua
raiva pelo pai ter a abandonado, seu ciúmes diante do irmão novo que acabara
de chegar e sua timidez diante dos amigos da escola.
Com efeito, quando a criança elabora sua produção artística e dialoga
com ela podem acontecer momentos de transformação em que psicólogo e
criança compreendem os processos de subjetivação a partir da construção do
trabalho artístico.
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CONCLUSÃO
O problema que norteou esta pesquisa foi à questão de pensarmos as
produções de subjetivações que podem ser produzidos a partir da arte num
processo psicoterapêutico com crianças. Para isto, conceituamos
historicamente a arteterapia, destacamos a psicoterapia com crianças e
fizemos uma relação entre arte e psicoterapia com crianças.
Encontramos um breve histórico sobre a arteterapia no mundo e no
Brasil, destacamos alguns teóricos que tiveram grande influência como Freud,
Jung, Nise da Silveira entre outros. Dessa maneira, podemos afirmar que a
maioria dos teóricos entende a arte como produtora de subjetivações, isto é, a
expressão de um modo de ser na vida.
Com o intuito de analisarmos a arteterapia na clínica com crianças,
compreendemos que a arteterapia se apropria de várias possibilidades da arte
e de expressão como mecanismo do processo terapêutico. Entendemos que
esta intervenção possibilita a criança expressar seus afetos e seus
pensamentos, se autoconhecer, se transformar e desenvolver sua criatividade.
Com efeito, a arteterapia proporciona novas formas de lidar com os
conflitos, oferece suporte e mecanismos necessários para fazer frente às
dificuldades. A arteterapia possibilita à criança meio para compreender,
expressar e canalizar seus conflitos, lidando positiva e eficazmente com eles.
Assim, a psicoterapia através da arte auxilia a organização, a estruturação, a
expressão e oferece também instrumentos que a criança não tinha
inicialmente, mas que gradativamente vai obtendo através do processo
psicoterápico.
Com a finalidade de pensarmos a arteterapia compreendemos que esta
se apresenta como uma alternativa, não só para o acolhimento, mas também
para a compreensão do modo de ser no mundo da criança. Dessa forma,
quando a criança se distancia do próprio problema e se aproxima da sua
realidade através da arte, ela vislumbra soluções alternativas ou encontra
outras formas de encarar o seu dilema.
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Finalizamos abordando o trabalho psicoterápico com crianças,
percebemos que cada criança tem seu modo de pensar, agir e sentir, assim
cada uma se relaciona de uma maneira própria, afirmando sua maneira de
viver. Sendo assim, a arteterapia possibilita a criança expressar seus
conteúdos angustiantes de forma lúdica, facilitando a produção de sua potência
de vida.
Portanto tivemos o designo de mostrar a potência da arte na clínica com
crianças, a qual produz a emergência de novas formas de expressão de
subjetivação, dando passagem a outras maneiras de pensar, agir e sentir.
Assim, a clínica com crianças é mais uma maneira de viabilizar o exercício da
arte como terapia.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ALMEIDA, S.A.S. Arteterapia: O desabrochar para vida. Goiânia: UNP, 2005.
ANDRADE, L Q. Terapias Expressivas. São Paulo: Vetor, 2000.
ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara,
1981.
BARBOSA, P. A criança sob o olhar da Gestalt-terapia. IGT, vol. 8 n14, 2011
CARVALHO, A.M.P; VALLADARES A.C.A. A arterapia e o desenvolvimento
do comportamento no contexto da hospitalização. São Paulo: Revista
Escola Enfermagem USP, 2005.
CARVALHO M.M.M.J. (org). A arte cura? Campinas: Psy II, 1995.
CIORNAI, S. Percursos em arteterapia: arteterapia e educação e
arteterapia e saúde. Rio de Janeiro: Summus, 2005.
COUTINHO, V. Arteterapia com Crianças. Rio de Janeiro: Editora Wak, 2005.
FERRETTI, A.V.R. Arteterapia: O cuidado com o profissional de saúde.
São Paulo: PUCSP, 2005.
OAKLANDER, V. Descobrindo Crianças a abordagem gestáltica com
crianças e adolescentes. São Paulo: Summos, 1980.
OSTROWER, F. Universos da Arte. Rio de Janeiro: Campus, 1989.
PHILIPPINE. A cartografia da coragem – Rota em arteterapia. Rio de
Janeiro. Pomar, 2000.
30
SILVA, L.F. Arteterapia: possibilidades e desafios com crianças que estão
dentro e fora da realidade. FEEVALE: Novo Hamburgo, 2011.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
Surgimento da Arteterapia 10
CAPÍTULO II
Compreenção da Arteterapia na Clínica com Crianças 15
CAPÍTULO III
Análise do Processo Clínico com Crianças 21
CONCLUSÃO 27
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 29
ÍNDICE 31