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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA REFLEXÕES SOBRE A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Por: Priscila Tavares Salgueiro Rangel Orientador Prof. Edla Trocoli Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

REFLEXÕES SOBRE A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Por: Priscila Tavares Salgueiro Rangel

Orientador

Prof. Edla Trocoli

Rio de Janeiro

2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

REFLEXÕES SOBRE A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Educação Infantil e Desenvolvimento.

Por: Priscila Tavares Salgueiro Rangel

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AGRADECIMENTOS

... aos familiares e amigos,

alunos e professores.

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DEDICATÓRIA

... dedica-se a todos aqueles que tenham interesse em conhecer um pouco mais sobre o universo encantador da educação infantil.

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RESUMO

O presente estudo tem por objetivo refletir sobre o lugar ocupado

pelo psicólogo na educação infantil, apontando as dificuldades observadas em sua

ação, assim como as possibilidades de atuação nessas instituições. Levando em

consideração que as creches e pré-escolas são locais privilegiados de

estimulação infantil, acredita-se que o psicólogo é um dos profissionais primordiais

para acompanhamento da evolução da criança, visto que um de seus objetos de

estudo é o homem em toda sua complexidade de desenvolvimento e relações.

Assim, o psicólogo vem atuando nesses espaços escolares como um

potencializador das relações humanas, fazendo emergir questões institucionais,

orientando pais e professores e atuando diretamente com os alunos.

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METODOLOGIA

O referido trabalho foi desenvolvido a partir de uma pesquisa

bibliográfica utilizando referências do Conselho Federal de Psicologia sobre a

Psicologia Escolar e outros livros e artigos de autores diversos sobre o mesmo

tema.

Realizamos ainda observação em uma creche-modelo de um município

do interior do estado do Rio de Janeiro, a partir do qual foram analisadas as

intervenções realizadas, refletindo sobre as possibilidades de atuação do

psicólogo numa instituição de educação infantil.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I – O que é a psicologia escolar/educacional? 10

1.1 Breve Resumo da Historiografia da Psicologia Escolar no Brasil 10

1.2 Referências técnicas para a atuação dos psicólogos na educação 13

CAPÍTULO II – O psicólogo escolar na educação infantil 19

2.1 Sobre o surgimento das creches e a preocupação com a educação infantil 19

2.2 A ação do Psicólogo escolar na Educação Infantil 21

CAPÍTULO III – Reflexões sobre a atuação do psicólogo na instituição:

um relato de experiência 27

3.1 Observações, implicações e enfretamentos 27

3.2 Perspectiva de um trabalho em conjunto 31

CONCLUSÃO 35

ANEXOS 37

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40

ÍNDICE 42

FOLHA DE AVALIAÇÃO 43

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INTRODUÇÃO

O presente estudo busca discutir o lugar ocupado pelo psicólogo que

atua em creches e pré-escolas. Este tema torna-se questionamento frequente dos

referidos profissionais visto que sua formação acadêmica é prioritariamente

clínica, um campo de aplicação da psicologia que difere em muitos aspectos da

psicologia escolar/educacional.

Desta forma, o trabalho a seguir tem por objetivo estudar as

possibilidades de atuação do psicólogo, observando os impasses e conflitos

inerentes à sua atuação institucional. E ainda, as soluções apontadas e os

caminhos trilhados em cada situação específica.

Assim, no capítulo um, percorremos primeiramente a historiografia

da psicologia escolar/educacional, buscando compreender as mudanças

significativas deste campo que hoje conhecemos como psicologia escolar.

Em seguida, tomamos ciência que com a criação do Conselho

Federal de Psicologia, foram criados alguns referenciais teóricos sobre a atuação

do psicólogo em diversas áreas específicas, entre elas a educação.

Compreendemos que tais referências não atuam como um limitador

das ações dos psicólogos, mas sim como norteador de práticas e ações possíveis

nesse novo campo de atuação profissional.

Assim, de posse deste embasamento teórico é possível demonstrar

quais as especificidades deste trabalho nas escolas, e quais as dificuldades

enfrentadas pelo profissional que encontra algumas resistências às suas ações

dentro das escolas.

Mediante as barreiras impostas, apresentamos um exemplo de caso

que vem ilustrar as possibilidades de atuação do profissional psicólogo, superando

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alguns limites impostos pela instituição e demonstrando que é possível realizar um

trabalho de qualidade.

Por fim, considerando a imensidão cultural do Brasil, é preciso estar

atento às diferentes necessidades de cada instituição, onde o psicólogo estará

presente tentando contribuir com seu olhar clínico mas atento às questões

institucionais.

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CAPÍTULO I

O QUE É A PSICOLOGIA ESCOLAR/EDUCACIONAL?

1.1 Breve Resumo da Historiografia da Psicologia Escolar no Brasil

A psicologia no Brasil teve início enquanto profissão regulamentada

em 27 de Agosto de 1962, a partir da criação da Lei n° 4.119 e dc Decreto n°

53.464 de 21 de janeiro de 1954, que descrevem os papéis e as funções

exercidas pelo psicólogo. Posteriormente, foram criados o Conselho Federal de

Psicologia, em 17 de julho de 1977 através do Decreto n° 79.822 e, os Conselhos

Regionais.

Cabe ressaltar, no entanto, que “essas delimitações legislativas que

marcam a história da Psicologia contam especificamente do processo de

profissionalização, pois os saberes da Psicologia e mesmo algumas práticas têm

origens anteriores”. (BARBOSA, 2012, pg. 110).

Assim, podemos considerar que a psicologia educacional e escolar é

tão antiga quanto a própria psicologia no Brasil, passando por diferentes fases ao

longo dos últimos cinquenta anos, como propõe o estudo desenvolvido por

Deborah Rosária Barbosa, Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento

Humano pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

Segundo a autora, a psicologia educacional e escolar pode ser

subdividida em sete períodos diferentes, que serão apresentados a seguir. Na

primeira fase denominada Colonização, Saberes Psicológicos e Educação, entre

os anos de 1500 e 1906, a psicologia contribuía aos propósitos educativos dos

jesuítas, que tinham como intenção catequizar os índios e moldar seus

comportamentos.

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Entre 1906 e 1930 observamos a segunda fase, a Psicologia em

outros campos de conhecimento, principalmente nas instituições educacionais,

com o objetivo de utilizar os conhecimentos da psicologia nos processos de

ensino-aprendizagem:

Nesse período, crescem os estudos sobre aprendizagem, desenvolvimento, processos cognitivos e testes psicológicos (psicometria), assim como sobre as relações entre os conhecimentos psicológicos e seu papel no processo de ensino. (BARBOSA, 2012, Pag 114).

A terceira fase (1930-1962), Desenvolvimentista, a Escola Nova e os

psicologistas na Educação é especialmente importante para a psicologia

educacional e escolar, pois trata de um período onde a psicologia passa a atuar

efetivamente em diversos campos de forma prática, principalmente em escolas.

Este período é marcado por grandes mudanças políticas e socioeconômicas,

exigindo transformações do modelo educacional vigente da época, permitindo uma

atuação mais proeminente da psicologia na educação.

A partir dos anos 30, a psicologia educacional se estabelece

propriamente como um campo de saber autônomo e com objeto de estudo

específico, na educação, para a criança que não aprende, distinguindo as crianças

ditas normais daquelas com dificuldade de aprendizagem:

É flagrante a consolidação no período da ideia de foco no aluno, com estudos realizados seja pelas vias psicométricas, seja psicoanalíticas. Havia também um interesse em classificar e encontrar formas de educar aqueles que eram chamados de desajustados, ou desviantes, considerados então anormais. (BARBOSA, 2012, Pag 114).

A quarta fase, a Psicologia educacional e a Psicologia do escolar

(1962-1981), dá continuidade ao período anterior, marcando no indivíduo as

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questões que precisariam ser observadas e mediadas pela psicologia. De acordo

com Maria Helena Souza Patto, (apud BARBOSA, 2012), a psicologia escolar

nasce alicerçada nos ideais capitalista, utilizando os testes psicométricos e outros

instrumentos de avaliação psicológica para medir aptidões e habilidades do

aprendiz.

A Psicologia, em sua relação com a educação, continuou então a fazer o trabalho de classificar, orientar e tratar de crianças-problema, com o interesse de se posicionar a favor do escolar. O foco individual de orientação é a marca da área nesse momento, e inicia-se a produção de laudos de crianças em idade escolar para encaminhamento às chamadas escolas especiais e depois às classes especiais. (BARBOSA, 2012, pg.117).

É nessa mesma época que se observa o crescimento dos serviços de psicologia ofertados nas secretarias municipais de educação, com o objetivo de auxiliar as crianças que eram diagnosticas com dificuldades de aprendizagem.

Mas nos anos seguintes, entre 1981 e 1990, surge o período da

crítica, impulsionado principalmente pelas críticas deflagradas por PATTO em sua

tese de doutorado Psicologia e Ideologia: Reflexões sobre a Psicologia Escolar

(1981). A autora investiga as formas de atuação dos psicólogos nas instituições

educacionais em que pesquisa, reconhecendo um modo de trabalho marcado pela

exclusão e desigualdade social.

Neste momento de críticas e reflexões a psicologia volta-se para

uma maior discussão sobre o papel da psicologia no âmbito educacional, criando

espaços de encontro e fóruns com o objetivo de redesenhar o lugar do psicólogo

na educação.

Assim, “... o sexto período, denominado a Psicologia educacional e

escolar e a reconstrução (1990-2000), tem como característica justamente essa

ressignificação dos trabalhos teóricos e práticos da área.” (BARBOSA, 2012,

pg.119). Tentando superar o modelo clínico-médico, as produções acadêmicas

trabalham com novos parâmetros de pesquisa, formação e atuação. O foco da

atuação do psicólogo deixa de ser a criança individual e passa para todo o

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ambiente escolar, tentando compreender não porque o aluno não aprende e sim, o

que ocorre naquele ambiente (social e institucional) que não favorece o aluno a

aprender.

A visão individualista da Psicologia educacional e

escolar tradicional passa a ser substituída por uma preocupação com os processos educativos de modo mais amplo e com as redes de relações constituídas no interior da escola. (PRATES apud BARBOSA, 2011, pag. 119).

A preocupação antes dirigida somente aos alunos, hoje é distribuída

a todos os agentes escolares, compreendendo que “as relações intraescolares, as

políticas públicas educacionais, as condições econômicas, sociais, culturais e

políticas de determinado contexto” (BARBOSA, 2012, pag.120) são todos fatores

que contribuem para o aprendizado de uma criança.

Para finalizar a periodização da história da psicologia escolar no

Brasil, BARBOSA (2012) estabelece o sétimo período (2000 - ...), como a virada

do século: novos rumos, convidando os psicólogos da contemporaneidade à

participar ativamente da construção histórica da psicologia educacional e escolar a

partir de novas experiências de atuação.

Aceitando o desafio proposto pela autora, o presente trabalho vem

demonstrar as possibilidades de atuação de um psicólogo dentro de uma

instituição de educação infantil, utilizando como aporte teórico algumas referências

técnicas estabelecidas pelo Conselho Federal de Psicologia.

1.2 Referências técnicas para a atuação dos psicólogos na educação

O Conselho Federal de Psicologia (CFP), através das pesquisas realizadas

pelo CREPOP1, apresenta aos psicólogos referenciais teóricos para atuação nas

1 O CREPOP surgiu em 2006, com o objetivo de consolidar a produção de referências para atuação dos psicólogos em Políticas Públicas, por meio de pesquisas multicêntricas coordenadas nacionalmente. (http://crepop.pol.org.br/novo/conheca-o-crepop).

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políticas públicas, entre eles, saúde, educação e assistência.

O Referencial Técnico para Atuação de Psicólogos na Educação

Básica foi lançado em 2013, e tem servido como grande aliado nas atividades

exercidas pelo psicólogo na educação, desde a educação infantil até o ensino

médio, atentando ainda para questões como as políticas públicas de educação

inclusiva.

Além deste, outros referenciais teóricos estão disponíveis para os

psicólogos que procuram respaldo técnico para sua atuação na educação, entre

eles, o Manual de Psicologia Escolar e Educacional (2007) produzido pelo

Conselho Regional de Psicologia de Curitiba (CRP-08) e, o Ano da Psicologia na

Educação – Textos Geradores (2008), publicação do Conselho Federal de

Psicologia.

Todos os manuais aqui apresentados devem ser apreciados pelo

psicólogo como uma orientação, afim de não limitar ou enquadrar o trabalho em

regras pré-determinadas.

Com propriedade orientadora, o manual ao ser projetado parece ter buscado situar a ação profissional nas mais diversas relações no campo da educação. Em especial, na intervenção nas escolas, lugares e portas de entrada que tornarão o aluno em estudante... O manual também tem o objetivo de orientar a direção de trabalhos nas interações entre administração e docência. (CASSINS [et. Al.], 2007, pag 13).

Inserida em contextos educacionais permeados por questões éticas,

políticas e ideológicas, os referenciais teóricos da psicologia escolar e educacional

não poderia seguir um rumo diferente, tendo como objetivos primordiais prezar por

uma educação igualitária e de qualidade, assim como por relações escolares

horizontais e democráticas, tanto entre alunos quanto funcionários. Entre as

principais bandeiras erguidas pela psicologia dentro da educação está a não

medicalização da infância, enfrentando “os processos de medicalização,

patologização e judicialização da vida de educadores e estudantes”. (CFP, 2013,

pag.32).

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De acordo com o Manual de Psicologia Escolar/Educacional (2007),

a psicologia tem como objetivo favorecer o desenvolvimento global do aluno,

através de um trabalho preventivo, focando não apenas no indivíduo (aluno), como

na instituição educacional como um todo – professores, direção, demais

funcionários, pais, comunidade, etc.

O psicólogo na educação deve fazer parte de uma equipe

multiprofissional, atento a todas as relações que favorecem ou interferem no

processo de ensino/aprendizagem. “Avaliação, diagnóstico, acompanhamento e

orientação psicológica são aplicados dentro de um contexto institucional e não

mais exclusivamente voltados ao aluno individualmente. Para casos que

requeiram, realizam-se encaminhamentos clínicos.” (CASSINS [et. Al.], 2007, pag

22).

O manual citado estabelece os quatro principais focos de

intervenção do psicólogo – escola, professores, alunos e comunidade – e as

atividades que podem ser desenvolvidas em cada caso. A fim de elucidar tais

atividades, citaremos algumas das ações listadas no Manual2 para reflexão:

1. Nível Administrativo (A escola como Administração)

• Realização de diagnóstico institucional: identificação de particularidades de

funcionamento de cada escola para posterior planejamento e implementação de

ações, que auxiliem na melhoria e na otimização dos trabalhos pedagógicos e

sociais;

• Apoio a iniciativas de qualidade de vida no trabalho (professores e

funcionários);

• Elaboração, execução e avaliação de projetos que integrem o Projeto Político-

Pedagógico de abrangência institucional (de longo alcance) e projetos mais

2 Para conferir todas as ações na íntegra, ver CASSINS, ANA MARIA [et. al.]. Manual de psicologia escolar – educacional. Curitiba, Gráfica e Editora Unificado, 2007.

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• restritos, como: características da população estudantil, direcionamento do

trabalho com os pais.

Compreendendo a escola como uma instituição permeada por

relações sociais diversas e atravessada por múltiplos interesses, o psicólogo

escolar e educacional deve estar atento às relações estabelecidas entre os atores

sociais que compõe esse contexto, a fim de identificar e questionar as forças

instituintes que impedem as mudanças que se fazem necessárias.

Como nos coloca NEVES (1984), é preciso “trazer a tona o não dito

e possibilitar o surgimento das forças instituintes” (pag.66)3. Assim, o psicólogo é

capaz de identificar aquelas relações e ações instituídas que perpetuam um

modelo de trabalho pautado no autoritarismo e na desigualdade social. Jogando

luz sobre essas questões, o psicólogo convida toda a equipe escolar a repensar

sua forma de organização no trabalho, permitindo novas formas de se colocar e

pensar sobre o problema.

2. Corpo Docente (Professores)

• Suporte prático ao resgate e reforço da autonomia do professor;

• Promoção e/ou coordenação de atividades de desenvolvimento profissional:

treinamentos especializados, pesquisas, grupos vivenciais, grupos de troca de

experiência e valorização profissional;

• Participação e/ou coordenação de reuniões multidisciplinares para discussão de

casos (incluindo-se aqui profissionais externos envolvidos com o aluno em

questão).

O corpo docente é um dos principais focos de trabalho do psicólogo

e de toda a equipe multidisciplinar na educação, visto que é através dele que se

torna possível uma mudança significativa na qualidade da educação ofertada aos

alunos. Para tanto, faz-se necessário uma escuta diferenciada a esses

profissionais que por diversas vezes tem suas vozes omitidas pela instituição.

3 Para mais informações sobre a Análise Institucional no Brasil e na Educação, ver PATTO, M.H. Psicologia e Educação, São Paulo, T.A.Queiroz, 1984.

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3. Corpo Discente (Alunos)

• Elaboração, desenvolvimento e acompanhamento de projetos de apoio à

construção da identidade pessoal (auto-estima, socialização, disciplina,

organização, entre outros) e participação social (conscientização de papéis

sociais e cidadania responsável);

• Identificação e encaminhamento de alunos a atendimentos especializados ao

se detectar necessidades específicas;

• Elaboração, em conjunto com a equipe pedagógica, de planos de intervenção

para alunos em risco.

Longe de retornarmos aos primórdios da psicologia educacional

onde o aluno era o foco do trabalho do psicólogo, não podemos deixar de

observar, no entanto, quando de fato os alunos necessitam de um suporte

emocional para enfrentar as diversas questões que envolvem seu dia-a-dia na

escola. Assim, o psicólogo deve estar atento às demandas das crianças e

adolescentes que surgem na escola, priorizando sempre um trabalho preventivo

em grupo, mas oferecendo um espaço de escuta individualizado aqueles que

precisam.

4. Comunidade (Pais e Vizinhos da Escola)

• Palestras e atividades de esclarecimento, educação e prevenção (rendimento

acadêmico, desenvolvimento bio-psico-social, limites, relacionamentos,

momentos especiais na vida da família, participação dos pais nos diversos

momentos de vida de seus filhos e na escola, prevenção ao abuso de

substâncias químicas, educação sexual, etc.);

• Participação em atividades que auxiliem a escola a cumprir suas finalidades

sociais, em especial, na busca do fortalecimento do elo família-escola;

• Esclarecimento para a comunidade quanto ao papel da escola, suas

possibilidades e limites.

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Uma escola que consegue agregar a comunidade em seus projetos,

criando verdadeiros laços de benefício mútuo, está certamente contribuindo com o

avanço cultural de toda a região onde se localiza, sendo este um dos principais

objetivos ético-político-social da escola.

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CAPÍTULO II

O PSICÓLOGO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

2.1 Sobre o surgimento das creches e a preocupação com a

educação infantil

Levando em consideração que o conceito de infância tal como o

conhecemos é relativamente novo, de acordo com os escritos de Philippe Arriès

em História Social da Criança e da Família (1973), não é de se admirar que a idéia

de uma instituição de educação infantil que trate da educação das crianças para

além do cuidado físico também seja uma invenção do mundo moderno.

Primeiramente impulsionado pelos efeitos sociais da guerra, as

creches foram criadas a fim de oferecer um espaço de cuidado para os filhos das

mulheres que naquele período começaram a ingressar no mercado de trabalho, já

que a maioria dos homens estava servindo nas guerras.

Porém, com o advento da modernidade e a inserção cada vez maior

das mulheres no mercado de trabalho, as creches tornaram-se essenciais para a

dinâmica familiar, oferecendo atualmente não só um ambiente seguro para as

crianças, mas principalmente um local de estimulação do desenvolvimento global.

Esta nova organização social trouxe consigo outras questões e

necessidades, como aponta DELVAN (2002):

As transformações sociais, políticas e econômicas

que surgem no mundo moderno fazem com que a educação de crianças pequenas tome um novo impulso. Com a necessidade de se criarem mais instituições educacionais para atender as crianças, muitos estudiosos se preocuparam em estudar o desenvolvimento infantil, descrevendo o comportamento das crianças de acordo com cada faixa

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etária para que as pessoas que as atendiam pudessem classificá-las de acordo com escalas. (pag. 52).

Surgem então os estudiosos sobre o desenvolvimento infantil,

principalmente no que se refere às teorias pedagógicas e psicológicas. Entre eles,

destacam-se no Brasil principalmente as teorias de Pestalozzi, Montessori e

Piaget, este último com estudos importantes sobre o desenvolvimento cognitivo da

criança. A partir destes referenciais teóricos, foi possível compreender que a

infância é um período de grande importância para o desenvolvimento

biopsicosocial do homem, sendo alvo, portanto, de estudos diversos sobre o tema.

No Brasil, esses pressupostos teóricos embasaram a política

nacional de educação, que considera obrigatória a escolarização de crianças a

partir dos quatros anos de idade, garantido através das creches públicas

municipais, que tem por objetivo “o desenvolvimento integral da criança de até 5

(cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,

complementando a ação da família e da comunidade”, segundo o artigo 29 da lei

12.796 de 04 de abril de 2013.

Em 1998 o Ministério da Educação e Cultura (MEC), lançou o

Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, com o objetivo de auxiliar

os professores nos cuidados essenciais das crianças e suas brincadeiras,

compreendendo que é através do brincar que a criança apreende grande parte do

conhecimento de mundo.

Longe de ser considerado como um modelo rígido e inflexível, o

Referencial pretende ser um orientador de práticas dinâmicas que apontam as

possibilidades de atuação de todos aqueles envolvidos com a educação das

crianças, professores, pais, comunidade, etc.

Considerando que a educação para as crianças pequenas devem

promover a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos e

sociais o referencial citado orienta os educadores a estimularem as crianças de

forma contínua em relação à cinco eixos distintos: movimento; música; artes

visuais; linguagem oral e escrita; natureza e sociedade; e matemática. Assim, as

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creches estimulam o desenvolvimento das crianças de forma abrangente,

contribuindo para a formação de cidadãos responsáveis e sociáveis.

2.2 A ação do Psicólogo escolar na Educação Infantil

Ao adentrar uma instituição de educação um psicólogo não deve

necessariamente despir sua escuta clínica, mas ampliá-la à nível institucional, pois

dentro de um ambiente escolar há o entrecruzamento de histórias e contextos

sociais diversos, entre todos que ali transitam, adultos e crianças. E é no

emaranhado dessa rede social, que devemos enquanto educadores proporcionar

um ambiente que possibilite à criança a descoberta de novos conhecimentos e

aprendizados, nos questionando ainda, quando isso não ocorre da forma como é

esperado.

Uma posição diferenciada deste profissional implica um “olhar” para além do âmbito educativo, ou seja, perceber as questões históricas, econômicas, políticas e sociais que engendram a instituição educativa. Partindo da compreensão de que o homem é social e historicamente constituído (Zanella, 1997), a intervenção do psicólogo deve estar centrada para as situações educativas, considerando o indivíduo em todos os aspectos (físicos, afetivos, sociais, cognitivos). (DELVAN, pag.56)

O psicólogo escolar, portanto, pode vir a ocupar dois papéis de

grande relevância dentro de um ambiente de educação infantil, atuando sob

aspectos preventivos ou realizando intervenções em situações específicas.

O âmbito preventivo é o de maior amplitude, pois abarca diversas

esferas da atuação do psicólogo. No que tange ao público discente é possível

trabalhar diretamente com os alunos, dentro ou fora da sala de aula, ampliando as

possibilidades de uso dos diversos espaços escolares. Tendo em vista que

crianças até os seis anos de idade usam a linguagem corporal tanto quanto a oral

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para se comunicarem, é importante lembrar que a ocupação de um espaço que

permita o desenvolvimento motor é de suma importância.

Via de regra, o trabalho com os alunos normalmente gira em torno

das relações sociais e de questões afetivas e emocionais. Sob a ótica da

prevenção, trabalhamos noções como respeito mútuo, afetividade, noções de

responsabilidade, etc.

No entanto, há que se tomar as devidas precauções para que este

trabalho preventivo não seja confundido com uma investigação clínica para

identificar os alunos que apresentam comportamentos divergentes dos demais.

Afinal:

A diversidade do desenvolvimento infantil não é tomada como uma dificuldade a ser corrigida pelos psicólogos a partir de intervenções de ajustamento. Ao contrário, acolher cada criança e sua singularidade traz a possibilidade de dinamizar a proposta educativa. (CHAGAS, 2013).

Comumente, os professores são os responsáveis por apontar ou

solicitar ao psicólogo alguma intervenção com determinado aluno ou turma em

questão. Vale ressaltar que mesmo desprovido da escuta clínica específica da

psicologia, o professor tem em sua experiência de trabalho material suficiente para

identificar quando algo não corre bem em sua turma. Por isso, é de suma

importância agregar o corpo docente toda vez que alguma intervenção for

realizada com os alunos.

Ainda em relação ao trabalho realizado com os professores, cabe ao

psicólogo compartilhar com estes a compreensão sobre os processos dinâmicos

do desenvolvimento da criança, contribuindo para que ele amplie seu

conhecimento sobre o desenvolvimento dos alunos de acordo com cada faixa-

etária.

Muitas escolas e creches possuem em sua dinâmica organizacional

um grupo de estudos ou reciclagens periódicas, com o objetivo de manter seus

funcionários atualizados e estudando sobre questões específicas pertinentes ao

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mundo da educação. O psicólogo é um dos profissionais que pode se tornar

responsável por este grupo de estudo, bem como o pedagogo e psicopedagogo,

cada um trazendo contribuições relevantes de acordo com sua área de trabalho.

Não desvalorizando a necessidade de realização das atividades

cognitivas, é importante lembrar que muitos alunos que frequentam as creches

passam a maior parte do dia dentro da escola, por isso, é tão importante

desenvolver seus aspectos cognitivos quanto afetivos.

É dentro das escolas que a maioria dos alunos tem contato com

outras crianças da mesma idade, onde aprendem a brincar, a se relacionar, a

dividir atenção e afeto. Desta forma, a afetividade deve ser intensamente

trabalhada em todas as relações, seja adulto-criança ou criança-criança.

Nesse aspecto o psicólogo contribui com a equipe escolar ao

lembrá-los que toda criança ali presente é um ser em formação e que sua

personalidade está sendo moldada cotidianamente. Bons exemplos, boas atitudes,

boas relações devem ser trabalhadas e exibidas por todos, do faxineiro ao

professor, pois ao final do dia todos são objetos de referencia e

consequentemente, educadores.

As propostas na Educação Infantil tendem a integrar as funções de educar e cuidar, levando em consideração as brincadeiras e associando padrões de qualidade que consideram as crianças em seus contextos sociais, culturais e emocionais. A prática educativa deve dispor de cuidados pelos quais as crianças vão aprendendo a construir os conhecimentos por meio das situações de interação. Neste sentido, a instituição de ensino infantil deve funcionar como um ambiente socializador que propicie o desenvolvimento individual da criança nas interações entre seus pares e com o adulto. (DELVAN, 2002, pag.55).

É importante compreender que o aluno não é um mero expectador

dos acontecimentos escolares, mas agente deste tanto quando os demais

participantes (professores e outros funcionários). Assim, é dever daqueles que

detêm um pouco mais de conhecimento e experiência, proporcionar vivências e

atividades diversas com a finalidade de incluir todos os alunos, respeitando suas

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singularidades, afinal, não é apenas o aluno que deve adaptar-se a escola, mas

esta também tem a obrigação de compreender e receber da melhor forma o seu

aluno.

Assim, tratamos dos temas sobre a educação inclusiva, cada vez

mais em pauta nas discussões que envolvem a educação. No entanto, apesar do

espaço crescente que este tema vem ganhando nas políticas públicas em relação

aos direitos igualitários, é comum dentro da educação esbarrar com professores e

auxiliares aflitos sobre como lidar com uma criança autista, hiperativa, com

deficiência intelectual, etc.

Nestes casos, torna-se imprescindível a presença de um psicólogo

na instituição, que venha compreender por quais conflitos e necessidades essa

equipe escolar vem passando e auxiliar através da troca de conhecimentos sobre

o tema e ainda algumas estratégias que poderiam facilitar o dia-a-dia da sala de

aula. É o que nos relata Ana Beatriz Barbosa Silva, em seu livro Mundo singular –

entenda o autismo, onde auxilia o leitor a compreender o autismo de forma clara e

simples, trazendo diversos exemplos para ilustrar o que está sendo tratado.

No relato a seguir, SILVA (2012) nos mostra a importância de uma

equipe de apoio, normalmente composta por um psicólogo, no auxilio ao professor

quando está recebendo um novo aluno, neste caso, um criança autista:

A professora de André, 4 anos, ficou muito preocupada no início do ano ao saber que teria em sua sala um garotinho com autismo... Ela estava confusa com suas crises de birra, mas, ao mesmo tempo, não se sentia bem em deixá-lo de lado, alheio às atividades e sem aprender. Tivemos que interceder. Logo na primeira semana de aula, fizemos uma reunião na escola com todos os profissionais que cuidavam de André. Todos reunidos por um único objetivo: o desenvolvimento do menino... Em pouco tempo, André entendeu que suas estratégias não o livrariam das atividades e passou a ficar na sala de aula. Poucos meses depois, Sônia já se orgulhava de ter seu primeiro aluno com autismo em período integral... (SILVA, 2012, pag.110).

As reuniões em equipe são estratégias fundamentais para uma

instituição que tenha interesse em manter uma equipe trabalhando em conjunto.

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Mas além de uma integração entre os funcionários da escola, é importante que

todos os pais e responsáveis também se sintam parte integrante deste todo que

colabora com a educação das crianças.

Torna-se fundamental nos tempos atuais incluir a família no

processo de ensino-aprendizagem pelo qual as crianças estão passando, a fim de

compreender inclusive como se estabelece a dinâmica familiar de cada aluno e

como esta contribui ou interfere em seu desenvolvimento.

Observa-se, no entanto, que muitos pais e responsáveis não

compreendem a importância de sua presença no convívio escolar, necessitando

de um suporte ainda maior da escola para compreender os processos

psicossociais pelos quais as crianças passam:

Através do envolvimento da família no âmbito educativo, descentralizando a atuação tradicional do dever de educar vinculado à escola, cria-se um ambiente favorável para o desenvolvimento integral da criança. A participação dos pais no processo educativo implica mudanças positivas, tanto para as instituições escola e família, como para a criança. (DELVAN, 2002, pag.58).

O que observa-se no entanto, é uma clara resistência dos pais a participar

das atividades e festividades promovidas pelas escolas, principalmente no que se

refere às escolas públicas.

Isto não se dá por acaso, principalmente com famílias menos favorecidas economicamente. Durante muito tempo, a sociedade considerou como o único saber aquele aprendido na escola. Quando a criança ingressava na educação formal, os conceitos aprendidos na família eram desprezados para que novos fossem estabelecidos nos parâmetros estabelecidos pela escola. Com esta prática, a família passou a considerar-se incapaz de educar a criança, depositando na escola todo o poder e responsabilidade para fazê-lo. (DELVAN, 2002, pag.58).

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A fim de apartar estas diferenças, o psicólogo escolar/educacional

entra em cena para proporcionar o encontro entre essas duas instituições tão

caras ao desenvolvimento da criança, família e escola.

Colocando em evidencia aquilo que cada uma delas possui de mais

significativo, o psicólogo lança mão de estratégias diversas para que estes dois

atores sociais possam conversar. É preciso estar atento aos detalhes e às

repercussões que algumas atitudes podem causar, a fim de manter firmes os

laços que unem esses responsáveis e educadores.

Sem a pretensão de concluir todos os aspectos preventivos de um

trabalho na escola, percorremos os tópicos principais: a observação do

desenvolvimento do aluno, o suporte ao trabalho do professor e demais

funcionários, a importância da afetividade nas diversas relações sociais

estabelecidas na escola e a importante dinâmica família-escola.

A seguir, apresentaremos um exemplo real de uma intervenção em

educação infantil, apontando as dificuldades observadas e os possíveis focos de

trabalho de um psicólogo na creche.

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CAPÍTULO III

REFLEXÕES SOBRE A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NA INSTITUIÇÃO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

A fim de discutir e exemplificar as possibilidades de atuação de um

psicólogo escolar dentro de uma instituição de educação infantil, vamos contar

com um relato de experiência sobre a intervenção possível realizada em uma

creche municipal do interior do estado, e as repercussões deste trabalho.

Neste cenário, surpreende o fato de um município no interior do

estado, apesar de todas as suas limitações socioeconômico, contar com uma

equipe multidisciplinar em quase todas as unidades escolares, composta por

assistente social, orientador educacional, orientador pedagógico, psicopedagogo e

psicólogo.

Desta equipe, apenas o psicólogo e o assistente social não são

lotados nas escolas, mas cada profissional é designado para um agrupamento

escolar por dois anos, atendendo até quatro escolas, a fim de cobrir toda a rede

educacional do município. A cada dois anos, é feito um rodízio dos agrupamentos,

com o objetivo de que novas perspectivas de um profissional diferente tragam

mudanças benéficas para a instituição.

Assim, em fevereiro de 2014 fui designada a acompanhar uma

creche municipal, inaugurada há menos de dois anos, localizada em uma

comunidade predominantemente rural.

A seguir, relato como ocorreu a entrada do psicólogo na instituição,

quais as dificuldades enfrentadas e as perspectivas de atuação do psicólogo nesta

unidade escolar.

3.1 Observações, implicações e enfretamentos

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A creche funciona diariamente nos turnos manhã e tarde, atendendo

alunos desde as turmas do berçário até o último período da educação infantil.

Trata-se de uma edificação nova, intitulada como creche-modelo, inaugurada há

menos de dois anos.

O primeiro contato com a creche e seus profissionais ocorreu alguns

meses antes da troca de agrupamento, quando a assistente social da escola, em

conjunto com a psicóloga realizou uma capacitação para os professores sobre o

tema Sexualidade Infantil. Já neste período foi observado algumas questões que

precisariam ser trabalhadas. Mas apenas ao assumir esta escola no início do ano

letivo de 2014, foi possível trabalhar mais detidamente algumas destas questões.

O município ainda não conta em seu quadro de funcionários efetivos

com o quantitativo necessário de profissionais para atender toda a demanda

existente, principalmente no que se refere à professores e auxiliares de creche.

Portanto, o município atua através de contratos para suprir a demanda existente.

O que notamos ao longo do ano, no entanto, foi um demorado processo

administrativo de contratação, acarretando em muitas semanas de aula sem

professores e auxiliares suficientes nas escolas e creches, afetando diretamente a

qualidade do ensino prestado aos alunos. Ademais, por se tratar de uma

comunidade distante do centro urbano, observamos uma grande rotatividade

desses funcionários, que mais uma vez, incide na defasagem de conteúdo para os

estudantes.

Em relação à estrutura física, apesar de se tratar de uma creche-

modelo, guardo algumas ressalvas em relação ao projeto e aos materiais

disponíveis na instituição. A creche carece de um pátio seguro e confortável para

que as crianças possam realizar atividades diversas, entre elas, de cunho

psicomotor, como propõe o referencial do MEC4 sobre a infra-estrutura de

instituições de educação infantil:

A valorização dos espaços de recreação e vivência vai incrementar a interação das crianças, a partir do desenvolvimento

4 Parâmetros básicos de infra-estrutura para instituições de educação infantil. Brasília, MEC, SEB, 2006.

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de jogos, brincadeiras e atividades coletivas, além de propiciar uma leitura do mundo com base no conhecimento do meio ambiente imediato. O próprio reconhecimento da criança de seu corpo (suas proporções, possibilidades e movimento) poderá ser refinado pela relação com o mundo exterior. (MEC, 2006, pag.26).

Além da falta de espaço adequado para lazer fora das salas de aula,

é evidente a carência de materiais lúdicos e pedagógicos, o que nos leva a

questionar como oferecer um atendimento de qualidade à essas crianças

pequenas. Seria correto, neste caso, cobrar dos professores criatividade e aulas

dinâmicas se não lhes é ofertado os recursos necessários para tal?

Coloca-se, portanto, como exemplo da atuação do psicólogo esta

dinâmica encontrada na creche. O que fazer diante das queixas generalizadas dos

professores pela falta de material necessário para realizar as atividades com os

alunos?

Após algumas discussões em equipe, decidimos pela manutenção e

organização da brinquedoteca, que poderia ser utilizada por todos os professores

de forma igualitária. Para tanto, realizamos uma campanha de arrecadação de

brinquedos e outros materiais lúdico-pedagógicos. A organização final ficou a

cargo da assistente social e psicóloga, que organizaram a brinquedoteca com os

itens arrecadados.

No entanto, mesmo após a inserção de alguns dos materiais

solicitados pelos professores, continuamos observando um alto nível de

desmotivação na equipe escolar, que refletia diretamente na falta de atividades

desenvolvidas com os alunos.

Em nossas visitas institucionais, era comum a observação de salas

de aula repleta de crianças que apenas ocupavam o mesmo espaço sem, no

entanto, estarem engajadas em alguma atividade de estimulação do

desenvolvimento.

Fica claro, neste instante, que não se trata apenas de uma ou outra

queixa individual que impossibilita a execução de um trabalho de qualidade na

creche, mas sim de forças instituintes maiores que impedem as grandes

mudanças.

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Apesar da intenção favorável de todos os profissionais envolvidos na

creche, é possível observar que este trabalho em equipe ainda não estava bem

estabelecido. Cada funcionário cumpria sua responsabilidade individual, sem

atentar para os reflexos de seus atos no trabalho dos demais.

Utilizando a brinquedoteca como exemplo, percebemos que apesar

dos materiais estarem disponíveis para a utilização de todos, não observamos

uma mudança significativa no comportamento da equipe docente em relação às

atividades desenvolvidas com as crianças. Faltava certo engajamento e motivação

para criar ambientes e momentos de estimulação do desenvolvimento das

crianças. Nenhum professor tomou para si a responsabilidade por utilizar e manter

aquele espaço que, teoricamente, era o desejo da equipe.

Diante do exposto, reunimos a equipe multidisciplinar da escola e

posteriormente toda a equipe escolar a fim de discutir sobre os fatos observados e

tentar entender quais os impedimentos reais para a realização de um bom

trabalho com os alunos. Tendo em vista que se tratava de uma intervenção à nível

institucional, era preciso dar voz àqueles que normalmente não tinham suas

opiniões consideradas.

Acreditamos no homem enquanto produtor e reprodutor de sua própria história e não como mero espectador das relações que o perpassam. Pensamos que o papel do psicólogo seja o de suscitar o aparecimento dos conflitos e contradições existentes no interior da sociedade e das instituições, resgatando as forças instituintes que a todo momento as instituições tentam capturar objetivando a manutenção dos status quo. (NEVES [et. Al.], 1984, pag.57).

A partir deste momento, tomamos ciência de várias questões ligadas

à dinâmica da própria instituição que funcionava como entrave para as mudanças

que se observavam necessárias: professores insatisfeitos com a falta de material

e o alto nível de exigência com os projetos enviados pela secretaria municipal de

educação; funcionários de apoio sobrecarregados com o aumento da quantidade

de trabalho e da carga horária extendida; dificuldade em lidar com a comunidade

local, que não compreende a importância da creche no desenvolvimento das

crianças, tendo que lidar diariamente com atrasos e faltas dos alunos; além da

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preocupação com aqueles alunos que vivem em ambiente familiar permeado por

conflitos.

Consideramos ainda mais grave, o fato de essas e outras questões

não ser prontamente exposta à equipe quando realizamos as visitas institucionais,

pelo fato da direção escolar solicitar aos seus funcionários sigilo em relação às

condições de trabalho ali existentes. Este, por si só, já é um dado de extrema

relevância em nosso diagnóstico institucional, que nos faz pensar na importância

de um trabalho sobre as relações de poder.

3.2 Perspectiva de um trabalho em conjunto

Por definição, uma equipe multidisciplinar é um conjunto de

profissionais com especialidades diversas que se reúnem em prol de um objetivo

comum, respeitando suas diferenças e contribuições específicas.

Em uma unidade escolar, o objetivo de uma equipe multidisciplinar é

garantir ao aluno um ambiente favorável ao seu desenvolvimento, proporcionando

meios para que aluno e professor alcancem um nível satisfatório no processo de

ensino-aprendizagem.

De acordo com o regimento escolar do município em questão, cabe ao

psicólogo agir nos fatores relacionados aos processos de desenvolvimento

humano, aos processos de aprendizagem, às relações interpessoais e às

dimensões institucionais. Desta forma, mediante tudo que estava sendo

observado durante as visitas à instituição, era imprescindível questionar as ações

instituídas e fazer alcançar mudanças que possibilitassem novas formas de agir.

O primeiro passo foi estabelecer um encontro com a coordenação da

educação infantil e a supervisão escolar, responsáveis pelo direcionamento

técnico-administrativo da escola. Ao expor os fatos citados – desmotivação dos

profissionais, carência de materiais, falta de suporte da direção, etc – as

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coordenadoras já mostravam estar cientes das dificuldades ali existentes, mas não

sabiam como operar uma mudança.

Desta forma, apresentamos uma proposta de ação articulando toda a

equipe escolar, com o objetivo de integrar todos os funcionários da escola e a

comunidade em geral no processo educativo dos alunos, através de um projeto

para o ano letivo de 2015.

O projeto, desenvolvido a princípio pela psicóloga e assistente social da

escola, tinha como objetivo primordial, integrar pais, professores, demais

funcionários e alunos, dando destaque para a escola como uma rede social, capaz

de integrar diferentes atores sociais e promover educação e cultura para todos.

Ao observar e ouvir atentamente algumas das demandas e

necessidades da escola e da comunidade durante o ano letivo, pontuamos

algumas questões que precisavam ser melhor trabalhadas e discutidas por todos.

Estes foram os principais pontos de partida do projeto: a importância da

estimulação do desenvolvimento infantil; o papel da família no processo de

escolarização da criança; capacitação para os profissionais que atuam com a

educação; e as relações familiares.

Contando com o apoio da coordenação e da supervisão escolar em

relação ao projeto, levamos a proposta para a equipe técnica da escola (direção,

orientador pedagógico, orientador educacional e psicopedagogo). Neste momento,

foi possível discutir as observações de cada profissional sobre as dificuldades

encontradas na instituição e os entraves à execução do trabalho de cada um.

Cabe ressaltar, que não se tratou de uma reunião amena e livre de

problemas, muito pelo contrário. Ao colocar para a equipe técnica que algo não

corre bem na estrutura da escola e que é necessário realizar algumas alterações

na forma como o trabalho está estruturado, muitas questões aparecem e um

conflito de ego e interesses entra em cena. No entanto, o que se pretende não é

apontar a falha individual de cada profissional, mas sim, investigar os modos

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instituintes cristalizados e questionar se existem outras formas de atuação que

possam colaborar de forma mais eficaz e não opressoras.

Partindo desta compreensão, após alguns encontros, a equipe técnica

decidiu pela importância da construção de um projeto coletivo, onde todos possam

opinar sobre o trabalho que seria desenvolvido no próximo ano letivo.

Assim, o passo seguinte à confecção do projeto foi a participação dos

professores, que se sentiram parte integrante da equipe escolar ao opinar sobre

os tópicos necessários ao projeto em destaque. A partir da experiência diária que

tem com os alunos, trouxeram contribuições importantes ao projeto, como a

necessidade da participação dos professores nas reuniões com os pais e

responsáveis, pois normalmente apenas a equipe técnica é responsável por esse

encontro.

Essas e outras questões de grande relevância, somente foram

possíveis tornar-se visível quando demos voz aqueles que normalmente não são

ouvidos durante a estruturação das normas e rotinas escolares.

Assim, ao final do ano letivo com a participação efetiva de quase todos

os profissionais da escola e com o aval da secretaria municipal de educação,

conseguimos definir o projeto que será desenvolvido durante o ano de 20155.

Mas, tendo em vista que toda unidade escolar é uma instituição

dinâmica, não temos a ilusão de que o projeto será seguido à risca. Afinal, somos

seres dinâmicos e mudanças fazem parte do nosso cenário. É preciso estar

disponível às mudanças que se fazem necessária e ser flexível sempre que

algumas dificuldades se colocarem a diante.

Com o início de um novo ano letivo, muitas alterações podem ser

feitas, em relação à própria equipe que compõe a escola e com isso, outras

questões e necessidades se colocam ao trabalho. Ainda assim, ter um caminho

5 O resumo do projeto encontra-se em anexo na página 37.

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pré-determinado pode ser um facilitador nesse momento de possíveis mudanças,

como um norte a seguir, um farol que indica um caminho que outros profissionais

já sinalizaram que seria importante seguir.

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CONCLUSÃO

O longo caminho percorrido neste trabalho, desde a observação de

ações psicológicas no período colonial, até os dias atuais onde notamos a

psicologia sendo aplicada nos mais diversos campos de trabalho, nos leva a

perceber a amplitude desta profissão e as mais ricas contribuições que podemos

dela receber.

A psicologia tradicionalmente conhecida apenas pelo atendimento

clínico, cede espaço para os demais campos de trabalho, saúde, educação e

assistência.

No que se refere à educação, nosso foco primordial, percebemos

que a psicologia foi inserida gradativamente nas instituições, ganhando maior

destaque a partir dos anos 30.

Percebemos que mesmo diante de várias adversidades, torna-se

cada vez mais importante, a atuação do psicólogo nas escolas, quebrando

paradigmas e questionando modos de atuação cristalizados.

Longe de se tornar o detentor de saberes, o psicólogo tem a

possibilidade de questionar práticas existentes que passam despercebidos aos

demais profissionais e que poderiam ser modificadas para melhorar a dinâmica

das relações sociais ali vigentes.

Colaborando com a equipe na construção de novas formas de

atuação, é possível oferecer aos alunos um ambiente educacional mais atento às

reais necessidades das crianças, desenvolvendo e potencializando o processo de

ensino-aprendizagem, objetivo final de toda instituição de educação.

Além do trabalho institucional colaborando com uma melhor

dinâmica dos profissionais envolvidos na escola, o psicólogo pode ainda contribuir

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com ações voltadas para o corpo discente, os pais e responsáveis e toda a

comunidade.

Considerando que a escola ocupa um lugar central na cultura da

família e da comunidade, principalmente nos ambientes rurais, é de suma

importância valorizar este ambiente de produção de saber, através das

contribuições do conhecimento psicológico sobre o ser humano, seu

desenvolvimento e suas relações interpessoais.

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ANEXOS

ANEXO I – PROJETO

PROJETO ANO-LETIVO 2015

“ENRIQUECENDO A EDUCAÇÃO INFANTIL”

APRESENTAÇÃO

O homem é um ser social que transforma e se transforma historicamente; um ser que está em constante construção, desenvolvendo suas habilidades em prol de seu conforto e melhora das condições de vida.

É através das relações sociais que o homem se desenvolve social e intelectualmente. E a escola corresponde, depois da família, um dos principais espaços para ampliação dos laços afetivos, estimulação e construção de seu intelecto. Assim, ainda enquanto criança, o homem tem que ser visto como sujeito de direitos, entendendo-o como resultado de uma integração entre o biológico /orgânico e o meio social em que vive.

A escola é o lócus onde o homem experiencia estas transformações, tornando-se indispensável para seu crescimento, pois é nesta instituição que terá contato com o diferente, isto é, na escola a criança se confrontará com as diferenças sociais, religiosas, étnicas e culturais, ampliando seu universo inicial.

Assim, a educação tornou-se um direito garantido por lei com a finalidade de desenvolver integralmente as crianças em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectuais e sociais (LDBN), com a participação de toda a comunidade escolar e da família.

Diante disto percebemos que a escola infantil não mais representa um espaço onde as crianças ficam enquanto seus pais precisam trabalhar, correspondendo sim a um espaço onde será desenvolvida a autonomia deste sujeito em construção, tornando-o capaz de tomar decisões, respeitando regras, desenvolvendo suas habilidades intelectuais e interferir em seu meio conforme as habilidades próprias de sua idade.

JUSTIFICATIVA

A fragilidade das relações familiares, a inserção da mulher no mercado de trabalho, os diferentes tipos de famílias e as mudanças socioeconômicas dos últimos tempos tem alterado o papel da escola que além de executar sua função de desenvolver/estimular habilidades e

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conhecimentos tem se tornado responsável também pela educação no sentido integral, trabalhando os valores éticos, afetivos, emocionais, etc.

Desta forma a escola, principalmente a direcionada às crianças de até 5 (cinco )anos de idade, deve considerá-las em seus aspectos sociais, ambientais e culturais com práticas que lhes permitam o contato com os diversos tipos de conhecimento, explorando as suas linguagens (verbal e corporal) e considerando-as em sua totalidade e não de forma fragmentada, respeitando cada etapa de seu desenvolvimento.

Partindo deste princípio, vimos a necessidade de se desenvolver um projeto que proporcione ao professor este olhar, ofertando-lhe o conhecimento em diferentes áreas para que tenham condições de estimular as (e nas) crianças as diferentes habilidades existentes em cada ser.

OBJETIVOS

- Envolver os professores proporcionando um novo olhar sobre o desenvolvimento infantil, ao apresentar a importância de estimular a criança nessa fase inicial do desenvolvimento, e sugerir novas propostas de brincadeiras e estímulos para enriquecer a aprendizagem e a socialização. Abordaremos os principais temas da educação infantil, tendo como base os parâmetros estabelecidos pelo MEC, entre eles: Movimento, Música, Linguagem oral e escrita, Identidade e Autonomia. A cada encontro será abordado uma área específica, ampliando o conhecimento acerca do tema e descobrindo novas formas de se trabalhar utilizando a criatividade.

- Atuar junto às famílias dos alunos, orientando através de reuniões bimestrais sobre temas relevantes ao desenvolvimento biopsicossocial da criança.

ESTRATÉGIAS

• Reunião com professores e auxiliares • Reunião com os pais

• Atividades com os alunos

RECURSOS

• Humanos: Profissionais convidados – Fisioterapeutas, Fonoaudiólogo, Musicoterapeuta e Psicopedagogo. Profissionais da escola – Assistente Social, Orientador Educacional, Orientador Pedagógico e Psicólogo

• Materiais: TV, Data Show, Materiais Lúdicos diversos

AVALIAÇÃO

A avaliação será realizada ao final dos dois semestres, com o objetivo de identificar os pontos positivos e negativos do projeto, para aprimorar o trabalho ao longo de sua execução.

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CRONOGRAMA

DATA ATIVIDADE FACILITADORES

FEVEREIRO REUNIÃO COM OS PAIS Qual a importância da Creche?

Psicólogo Assistente Social OE / OP Psicopedagogo

MARÇO REUNIÃO COM OS PROFESSORES Etapas do desenvolvimento infantil

Psicólogo Psicopedagogo

ABRIL REUNIÃO COM OS PROFESSORES Recursos lúdicos na aprendizagem

Psicopedagogo

MAIO REUNIÃO COM OS PAIS Qual o papel da família no processo de escolarização?

Psicólogo Assistente Social OE / OP Psicopedagogo

JUNHO REUNIÃO COM PROFESSORES Como realizar a estimulação psicomotora

Fisioterapeutas

JULHO AVALIAÇÃO INICIAL Psicólogo Assistente Social

AGOSTO REUNIÃO COM PROFESSORES Como estimular a linguagem oral/escrita

Fonoaudiólogo Psicopedagogo

SETEMBRO REUNIÃO COM OS PAIS A importância do brincar no desenvolvimento infantil

Psicólogo Assistente Social OE / OP Psicopedagogo

OUTUBRO REUNIÃO COM PROFESSORES A importância da musicalização na educação infantil

Musicoterapeutas

NOVEMBRO REUNIÃO COM OS PAIS Relações familiares, limites e afetividade

Psicólogo Assistente Social OE Psicopedagogo

DEZEMBRO AVALIAÇÃO FINAL Psicólogo Assistente Social

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ARRIÈS, PHILIPPE. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro, LTC,

1981.

BARBOSA, DEBORAH ROSÁRIA. Contribuições para a Construção da

Historiografia da Psicologia. In: Psicologia, ciência e profissão, 2012, 32 (num.

Esp.), 104-123.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros

básicos de infra-estrutura para instituições de educação infantil. Brasília: MEC,

SEB, 2006.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria da Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, vol. 1, vol. 2 e vol.3, 1998.

CASSINS, ANA MARIA [et. Al.]. Manual de psicologia escolar – educacional.

Curitiba, Gráfica e Editora Unificado, 2007.

CHAGAS, JULIA; PEDROZA, REGINA. Ação do psicólogo escolar na educação

infantil: pelo acolhimento e valorização da diversidade do desenvolvimento da

criança. Universidade de Brasília, 2013. Disponível em:

HTTP://seminario.medicalizacao.org.br/anais/anais.html#_Toc368926960

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Ano da psicologia na educação –

Textos geradores. Brasília, CFP, 2008.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Referências técnicas para atuação de

psicólogas(os) na educação básica. Brasília, CFP, 2013.

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41

DELVA, JOSIANE DA SILVA [et. Al.]. A Psicologia escolar/educacional na

Educação Infantil: o relato de uma experiência com pais e educadoras. In:

Psicologia: Teoria e Prática – 2002, 4 (1): 49-60.

MACHADO, ADRIANA; PROENÇA, MARILENE (orgs.). Psicologia escolar: em

busca de novos rumos. São Paulo, Casa do Psicólogo, 2004.

NEVES [et. Al.]. Relato e análise de uma experiência numa instituição escolar:

nossos medos, nosas buscas e nossas implicações. In: PATTO, MARIA HELENA

DE SOUZA. Psicologia e Ideologia, São Paulo, T.A.Queiroz, 1984 (56-75).

SILVA, ANA BEATRIZ BARBOSA. Mundo singular: entenda o autismo. Rio de

Janeiro, Objetiva, 2012

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTOS 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I – O que é a psicologia escolar/educacional? 10

1.1 Breve Resumo da Historiografia da Psicologia Escolar no Brasil 10

1.2 Referências técnicas para a atuação dos psicólogos na educação 13

CAPÍTULO II – O psicólogo escolar na educação infantil 19

2.1 Sobre o surgimento das creches e a preocupação com a educação infantil 19

2.2 A ação do Psicólogo escolar na Educação Infantil 21

CAPÍTULO III – Reflexões sobre a atuação do psicólogo na instituição:

um relato de experiência 27

3.1 Observações, implicações e enfretamentos 27

3.2 Perspectiva de um trabalho em conjunto 31

CONCLUSÃO 35

ANEXOS 37

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40

ÍNDICE 42

FOLHA DE AVALIAÇÃO 43

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FOLHA DE AVALIAÇÃO