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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICA EM CRIANÇAS COM TDAH Olga Leira Martins Távora Heitmann Orientador Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho Rio de Janeiro DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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1

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICA EM

CRIANÇAS COM TDAH

Olga Leira Martins Távora Heitmann

Orientador

Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho

Rio de Janeiro

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

2

2014

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICA EM

CRIANÇAS COM TDAH

Apresentação de monografia a AVM Faculdade Integrada– Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia.

Por: Olga Leira Martins Távora Heitmann

3

AGRADECIMENTOS

Aos amigos, família e parceiros de trabalho.

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha mãe, amiga inseparável.

5

RESUMO

Há alunos que apresentam comportamento muito agitado, tomam os

brinquedos de seus colegas, andam de um lado para o outro e não conseguem

ficar muito tempo sentados no mesmo lugar. Não conseguem terminar as

tarefas solicitadas e, em alguns momentos, demonstram atitudes agressivas e

um comportamento que geralmente pode ser confundido com indisciplina, mas

na verdade pode ser uma característica do distúrbio de atenção. Esse distúrbio

atinge 5% das crianças e adolescentes de todo mundo: é chamada de

Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. É muito importante

conhecer os sintomas deste transtorno para lidar com a situação de maneira

mais confiante e procurar auxílio de um profissional para intervenção e

tratamento.

6

METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a elaboração do trabalho monográfico foi

baseada no levantamento bibliográfico de diferentes autores que abordam

especificamente a intervenção do psicopedagogo em crianças com Transtorno

de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA PSICOPEDAGOGIA 10

1.1 – O objeto de estudo da Psicopedagogia 15

CAPÍTULO II

O TDAH 20

2.1 – Enfrentando o transtorno 22

2.2- A medicação 23

CAPÍTULO III

OS PROCESSOS DA PSICOPEDAGOGIA 25

3.1 – Intervenção na criança TDAH 30

CONCLUSÃO 34

ANEXO 35

BIBLIOGRAFIA 36

ÍNDICE 37

8

INTRODUÇÃO

A Psicopedagogia tem por definição o trabalho com a aprendizagem,

com o conhecimento, sua aquisição, desenvolvimento e distorções. Realiza

este trabalho através de processos e estratégias que levam em conta a

individualidade do educando.

A Psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor compreensão

do processo de aprendizagem humana e assim estar resolvendo as

dificuldades de aprendizagem. Há alguns anos atrás, a falta de clareza a

respeito dos problemas de aprendizagem, fazia com que os alunos com

dificuldades fossem encaminhados para profissionais de diversas áreas de

atuação, sem uma resolução eficiente dos problemas. Foi-se criando a

necessidade de formação de um único profissional apto a integrar

conhecimentos e atuar de maneira objetiva e eficaz, não só na resolução dos

problemas, mas também na prevenção dos mesmos, facilitando o vínculo do

aluno com o processo de aprendizagem e o resgate do prazer de aprender,

melhorando assim, o desempenho escolar do aluno.

Devido à complexidade dos problemas de aprendizagem, a

Psicopedagogia se apresenta com um caráter multidisciplinar, que busca

conhecimento em diversas outras áreas de conhecimento além da psicologia e

da pedagogia. É necessário ter noções de linguística, desenvolvimento

neurológico, de conhecimentos filosóficos e sociológicos, entre outros.

As dificuldades escolares não podem ser explicadas apenas por um

único fator, esteja ele na criança, no meio familiar ou escolar e sim pela

interação de vários fatores.

O objetivo deste trabalho é orientar e ajudar muitos profissionais que

lidam com crianças a entenderem e aprenderem sobre como diferenciar um

distúrbio de aprendizagem de um comportamento indisciplinado, além disso,

estará abordando a importância da intervenção psicopedagógica no cotidiano

escolar. É muito importante orientar os professores caso venham perceber que

um aluno demonstre agitação repetitiva, falta de atenção, dificuldades de

relacionamento, entre outros, para saberem diferenciar uma situação da outra.

9

O professor precisa ser auxiliado em como buscar ajuda caso o

comportamento venha a persistir, o apoio e parceria da escola são de grande

importância para juntos encaminharem o aluno para especialistas da área que

possam fazer a intervenção e um eventual tratamento.

10

CAPÍTULO I

TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA PSICOPEDAGOGIA

Psicopedagogia é o campo do saber que se constrói a partir de

dois saberes e práticas: a pedagogia e a psicologia. O campo dessa mediação

recebe também influências da psicanálise, da linguística, da semiótica,

da neuropsicologia, da psicofisiologia, da filosofia humanista-existencial e

da medicina. O dicionário Aurélio da língua portuguesa conceitua o termo

psicopedagogia como “aplicação da psicologia experimental à pedagogia”.

“A Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana,

que adveio de uma demanda – o problema de

aprendizagem colocado em um território pouco explorado,

situado além dos limites da Psicologia e da própria

Pedagogia – e evoluiu devido à existência de recursos

ainda que embrionários, para atender a essa demanda,

constituindo-se, assim, em uma prática. Como se

preocupa com o problema de aprendizagem, deve

ocupar-se inicialmente do processo de aprendizagem.

Portanto, vemos que a Psicopedagogia estuda as

características da aprendizagem humana: como se

aprende, como essa aprendizagem varia evolutivamente e

está condicionada por vários fatores, como se produzem

as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las,

tratá-las e preveni-las. Esse objeto do estudo, que é o

sujeito, adquire características específicas a depender do

trabalho clínico ou preventivo.” (BOSSA, 2011, p.33)

Os primeiros Centros Psicopedagógicos foram fundados na Europa, em

1946, por J Boutonier e George Mauco, com direção médica e pedagógica.

Estes Centros uniam conhecimentos da área de Psicologia, Psicanálise e

Pedagogia, onde tentavam readaptar crianças com comportamentos

socialmente inadequados na escola ou no lar e atender crianças com

dificuldades de aprendizagem apesar de serem inteligentes. Esperava-se

11

através desta união Psicologia-Psicanálise-Pedagogia, conhecer a criança e o

seu meio, para que fosse possível compreender o caso para determinar uma

ação reeducadora. Diferenciar os que não aprendiam, apesar de serem

inteligentes, daqueles que apresentavam alguma deficiência mental, física ou

sensorial era uma das preocupações da época.

A psicopedagogia teve uma trajetória significativa tendo inicialmente um

caráter médico-pedagógico dos quais faziam parte da equipe do Centro

Psicopedagógico: médicos, psicólogos, psicanalistas e pedagogos.

Com a chegada da era industrial, também chegou a preocupação com a

produtividade e com tudo o que atrapalhava a possibilidade de produzir.

As dificuldades de aprendizagem passaram a ser foco de atenção, e a

Medicina começou a estudar a causa dos problemas e suas possíveis

correções. A primeira guerra mundial, em andamento na época, oferecia a

oportunidade de se descobrir, no cérebro dos guerrilheiros atingidos, a relação

das áreas cerebrais danificadas com as funções que apareciam prejudicadas.

A Oftalmologia, a Neurologia, a Psiquiatria eram algumas das áreas da

Medicina que se ocupavam com esses estudos.

No final do século XIX, educadores, psiquiatras e neuropsiquiatrias

começaram a se preocupar com os aspectos que interferiam na aprendizagem

e a organizar métodos para a educação infantil. Desta época, temos a

colaboração de Seguin, Esquirol, Montessori e Decroly, entre outros.

Segundo MERY (1985) os Centros Psicopedagógicos foram fundados na

Europa, a partir da segunda metade do século XX, e objetivavam, a partir da

integração de conhecimentos pedagógicos e psicanalíticos, atender pessoas

que apresentavam dificuldades para aprender apesar de serem inteligentes.

Nos Estados Unidos, o mesmo movimento acontecia, enfatizando mais

os conhecimentos médicos e dando um caráter mais biológico e organicista a

esta preocupação com as dificuldades de aprendizagem.

Muitas definições foram elaboradas para diferenciar aqueles que não

aprendiam, apesar de serem inteligentes, daqueles que apresentavam

deficiências mentais, físicas e sensoriais.

12

Os esforços de investigadores americanos, resultaram em processos de

tratamento altamente desenvolvidos dessas dificuldades, que incluíam, além de

médicos, também psicólogos, foniatras, pedagogos e professores, que

atendiam em clínicas, seguindo um modelo multidisciplinar.

O movimento europeu acabou por originar a Psicopedagogia, enquanto

que o movimento americano proliferou a crença de que os problemas de

aprendizagem possuíam causas orgânicas e precisavam de atendimento

especializado, influenciando parte do movimento da Psicologia Escolar que, até

bem pouco tempo, segundo BOSSA (1994), determinou a forma de tratamento

dada ao fracasso escolar.

Esta corrente europeia influenciou significativamente a Argentina. A

Psicopedagogia surgiu na Argentina há mais de 30 anos e foi em Buenos Aires,

sua capital, a primeira cidade a oferecer o curso de Psicopedagogia. Foi na

década de 70 que surgiram, em Buenos Aires, os Centros de Saúde Mental,

onde equipes de psicopedagogos atuavam fazendo diagnóstico e tratamento.

Estes psicopedagogos perceberem um ano após o tratamento que os

pacientes resolveram seus problemas de aprendizagem, mas desenvolveram

distúrbios de personalidade como deslocamento de sintoma. Resolveram então

incluir o olhar e a escuta clínica psicanalítica.

O Brasil recebeu influências tanto americanas, quanto europeias, via

Argentina. Principalmente no sul do país, receberam-se os conhecimentos de

renomados profissionais argentinos que muito contribuíram para a construção

do nosso conhecimento psicopedagógico.

Dr. Quirós, Jacob Feldmann, Sara Pain, Alícia Fernandez, Ana Maria

Muñiz e Jorge Visca são alguns dos principais nomes de profissionais

argentinos que trouxeram os conhecimentos da Psicopedagogia para o Brasil e

enriqueceram o desenvolvimento desta área de conhecimento.

A psicopedagogia chegou ao Brasil, na década de 70, cujas dificuldades

de aprendizagem nesta época eram associadas a uma disfunção neurológica

denominada de disfunção cerebral mínima (DCM) que virou moda neste

período, servindo para camuflar problemas sociopedagógicos.

Inicialmente, os problemas de aprendizagem foram estudados e tratados

por médicos na Europa no século XIX e no Brasil percebemos, ainda hoje, que

13

na maioria das vezes a primeira atitude dos familiares é levar seus filhos a uma

consulta médica.

Os primeiros cursos formais de Psicopedagogia eram denominados de

Reeducação Psicopedagógica, Psicopedagogia Terapêutica, Dificuldades

Escolares, A criança-problema numa classe comum, entre outros. Esses

cursos ocorreram, primeiramente, nas cidades de Porto Alegre, Rio de Janeiro

e São Paulo.

Um fato histórico influiu fundamentalmente no percurso da

psicopedagogia brasileira - a fundação da Associação de Psicopedagogos, que

surgiu primeiramente como Associação Estadual de Psicopedagogos de São

Paulo, em 1980, para posteriormente tornar-se Associação Brasileira de

Psicopedagogia em 1985. Este foi sem dúvida um fato marcante, pois uma

associação de Psicopedagogos, tornou-se uma associação de Psicopedagogia.

Há nesta passagem uma diferença fundamental, pois se assume a área de

conhecimento Psicopedagogia, a partir de um órgão de classe. Na prática do

psicopedagogo, ainda hoje é comum receber no consultório crianças que já

foram examinadas por um médico, por indicação da escola ou mesmo por

iniciativa da família, devido aos problemas que está apresentando na escola.

“A psicopedagogia enquanto produção de um

conhecimento científico nasceu da necessidade de uma

melhor compreensão do processo de aprendizagem, não

basta como aplicação da psicologia à pedagogia” (Bossa

2007 p.19).

E assim a psicopedagogia é tratada apenas como aplicação da

psicologia à pedagogia.

Ainda que tratasse de recorrer apenas a estas duas disciplinas para

solucionar problemas de aprendizagem não seria uma aplicação de uma à

outra, mas sim como constituição de uma nova área que recorrendo aos

conhecimentos dessas, pensa seu objeto de estudo a partir de um corpo

teórico próprio que busca se formar.

A psicopedagogia tem procurado sistematizar um corpo teórico próprio,

definir seu objeto de estudo, porém ainda não delimitou seu campo de atuação

14

e com isso procura outros profissionais como psicólogos, fonoaudiólogos, entre

outros.

Atualmente, a Psicopedagogia trabalha com uma concepção de

aprendizagem segundo a qual participa desse processo um equipamento

biológico com disposições afetivas e intelectuais que interferem na forma de

relação do sujeito com o meio, sendo que essas disposições influenciam e são

influenciadas pelas condições socioculturais do sujeito e do seu meio.

Sendo a Psicopedagogia uma área de conhecimento e de atuação

dirigida para o processo de aprendizagem, seu objeto de estudo é o ser

cognoscente, ou seja, o sujeito que se volta para a realidade e dela retira um

saber. Vista no âmbito de um sistema complexo e inerente à condição humana,

a aprendizagem não é estudada pela Psicopedagogia no espaço restrito da

escola, ou num determinado momento da vida, posto que ocorre em todos os

lugares, durante todo o tempo de existência.

Podemos afirmar também que sendo o objeto de estudo da

Psicopedagogia a aprendizagem como uma forma que a espécie humana

desenvolveu para se adaptar ao meio, pela complexidade desse mecanismo, a

Psicopedagogia configura-se como um campo multidisciplinar, cercando-se

para isso de disciplinas teóricas sobre as bases orgânicas, psicológicas e

sociais. Neste prisma, o trabalho psicopedagógico acontece entre o ser em

processo de construção do conhecimento e o psicopedagogo.

Neste contexto, o trabalho psicopedagógico pode assumir uma feição

preventiva ou terapêutica e estar relacionado com equipes ligadas aos campos

da educação e da saúde. Evoluiu a partir de uma demanda da sociedade, que

passou a valorizar a aprendizagem a partir de paradigmas integradores e

geradores de sínteses, e tem respondido a ela com uma práxis que busca

responder as necessidades de compreensão do ser humano em toda a sua

complexidade, tendo ampla aceitação nos mais diversos segmentos da

sociedade.

A Psicopedagogia é, portanto, um campo de conhecimento humano

essencial para a sociedade da informação dos tempos atuais, que articula

saberes e fazeres de forma transdisciplinar e atende aos indivíduos em suas

necessidades de educação continuada no espaço lúdico da aprendizagem, no

qual o desejo e o conhecimento se mesclam em criatividade.

15

1.1- O Objeto de estudo da Psicopedagogia

“A Psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando

sempre em conta as realidades interna e externa da aprendizagem,

tomadas em conjunto. E, mais procurando a construção do

conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em

pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe

estão implícitos.” (NEVES 1991, P. 12)

O trabalho clínico se dá na relação do sujeito com sua história de vida

pessoal e a forma como ele aprende. Isto significa que o profissional precisa

conhecer como o sujeito aprende, o porquê ele aprende, percebendo a relação

com a aprendizagem para que ela aconteça.

O maior objetivo da atuação do psicopedagogo é eliminar os transtornos

já instalados, num procedimento clínico com todas as suas implicações. O

caráter preventivo permanece aí, uma vez que, ao eliminarmos um transtorno,

estamos prevenindo o aparecimento de outros.

O trabalho preventivo deve ser avaliado em seu processo didático-

metodológico e como essa dinâmica institucional interfere no processo de

aprendizagem.

“A definição do objeto de estudo da Psicopedagogia passou por fases

distintas, assim, como os demais aspectos dessa área de estudo. Em

diferentes momentos históricos, que repercutem nas produções

científicas, esse objeto foi entendido de várias formas. Houve um

tempo que o trabalho psicopedagógico priorizava a reeducação, o

processo de aprendizagem era avaliado em função de seus déficits, e

o trabalho procurava vencer tais defasagens. O objeto de estudo era

o sujeito que não podia aprender, concebendo-se a “não

aprendizagem” pelo enfoque que salientava a falta. Esse ponto de

vista buscava estabelecer semelhanças entre grandes grupos de

sujeitos, as regularidades, o esperado para determinada idade,

visando reduzir as diferenças e acentuar a uniformidade.” (BOSSA,

2011, P.33)

16

A atuação do Psicopedagogo na instituição escolar parte se faz

necessário partido do pressuposto de que as escolas possuem deficiências em

saber as causas das dificuldades de aprendizagens apresentadas pelas

crianças, pois a falta de preparo dos professores frente a essas dificuldades

seria de que o aluno não aprende. Assim, a intervenção psicopedagógica

reconhece que as dificuldades de aprendizagens evidenciam-se quando há

presença de problemas emocionais e comportamentais no desenvolvimento de

uma criança. Na infância podem ser notadas dificuldades comportamentais

quando a criança apresenta comportamentos inadequados à sua faixa etária e

contrários aos comportamentos das crianças que não possuem dificuldades. O

comportamento das crianças com dificuldades de aprendizagem pode ser

marcado pelo isolamento, a inibição e a inquietação.

As queixas referentes às dificuldades de aprendizagens estão ligadas a

conflitos emocionais que são manifestados internamente e a não

aprendizagem, muitas vezes, está implicada a aspectos traumáticos que

marcaram, em algum momento, a vida da criança. Nesse sentido, as escolas

têm deficiências em saber as causas das dificuldades de aprendizagens

apresentadas pelas crianças. Uma das formas pelas quais o Psicopedagogo

atua diante das dificuldades de aprendizagem é através da avaliação

psicopedagógica.

A categoria “dificuldades de aprendizagem” é tratada

como sintoma e abarca conceitos como dificuldades de

aprendizagem escolar, distúrbios de aprendizagem

escolar, problemas específicos da aprendizagem escolar,

déficit de atenção, transtorno de leitura, transtorno de

escrita, dislexia e outros. Da mesma forma, a instituição

escola é parte integrante do nosso objeto de investigação.

(BOSSA, 2011, P. 199)

Na Educação Infantil, são pontuados os hábitos, atitudes do cotidiano da

criança, normas, relações, capacidades relativas à comunicação, expressão e

compreensão da linguagem, desenvolvimento motor, memória e atenção.

17

No Ensino Fundamental, considera-se a autonomia da criança e relação

à organização pessoal, hábitos de higiene, capacidades de linguagem,

habilidades motoras, tarefas escolares, deveres de casa, atitudes em relação à

família, adultos e a dependência ou independência nas relações sociais.

No Ensino Médio, são consideradas informações espontâneas sobre a

família, a escola, amigos, interesses, problemas, aceitação e cumprimento de

normas, atitudes em casa, autonomia e relações sociais.

A avaliação da situação inicial é realizada após a solicitação de

intervenção e se orienta pelas informações já obtidas pela queixa na solicitação

da avaliação psicopedagógica. Registros são feitos para a próxima análise e as

decisões a serem tomadas facilitando a intervenção de ajuda psicopedagógica

que poderá ser realizada em três etapas que são: a observação em sala de

aula, para obter informação de como se desenvolve a dinâmica da aula em seu

conjunto, a análise do trabalho dos alunos: correções, anotações, comentários

escritos e a análise comparativa acompanhando a evolução da aprendizagem

ao longo do curso, para introduzir mudanças que sejam necessárias.

Após as fases anteriores, passa-se a buscar informações sobre a

capacidade do aluno nas diferentes áreas do currículo e em relação a

diferentes capacidades e habilidades. Através das provas psicopedagógicas

essas informações são facilitadas e é possível observar o estilo de

aprendizagem e dificuldades em progredir na escolaridade de cada

aprendente. E além da vida escolar, essas provas observam o relacionamento

familiar e social.

Uma devolutiva é encaminhada aos professores, iniciando-se com uma

avaliação positiva do aluno, salientando suas capacidades, projetando-se e

planejando-se as ações educativas necessárias, enfatizando a explicação da

situação do aluno no contexto escolar. A devolutiva acontece em resumo

escrito da avaliação com orientações sobre o trabalho que deve iniciar, bem

como a função de cada um dos envolvidos nessas ações e programando-se

reuniões de acompanhamento posterior.

Em mais uma fase, a informação aos pais ou responsáveis legais

acontece com as conclusões da avaliação psicopedagógica e quais as

decisões que serão tomadas pelo professor com relação ao aprendente. Essas

entrevistas familiares devem ser realizadas preferencialmente pelo professor.

18

O acompanhamento acontece na revisão do processo educativo,

apresentação de sugestões sobre as adaptações a serem feitas no currículo

para ações posteriores, envolvendo toda a comunidade escolar e familiar

favorecendo e respeitando diferenças individuais e promovendo aprendizagens

mais significativas.

A função principal da intervenção psicopedagógica é colaborar com as

equipes de professores para efetivar a melhoria da qualidade da educação

garantindo a aprendizagem ao educando conhecendo a forma como ele

aprende.

“Os verbos “ler” e “escrever” deixaram de ter uma

definição imutável: não designavam mais (e tampouco

designam hoje) atividades homogêneas. Ler e escrever

são construções sociais. Cada época e cada circunstância

histórica dão novos sentidos a esses verbos.”

(FERREIRO, 2002, p.13)

Hoje, o psicopedagogo é um profissional qualificado para trabalhar com

a prevenção e detenção de dificuldades e ou problemas de desenvolvimento

pessoal e de aprendizagem que o aprendente possa apresentar.

Lidar com o insucesso escolar é uma tarefa complexa e desafiadora

para a qual não se tem uma resposta acabada e pronta, o que aponta para a

necessidade de buscar alternativas que possam minimizar tal situação, mas

temos no Psicopedagogo um profissional do conhecimento

trans/inter/multidisciplinar, que aplica conhecimentos considerando as

realidades tanto internas como externas da aprendizagem. Por isso, concluiu-

se que o Psicopedagogo é necessário ao desenvolvimento do educando, com

uma escuta e um olhar mais sensível quanto às demandas de professores,

alunos e famílias. A intervenção do psicopedagogo não termina na escola ou

na sala de aula. Ela estende-se a família.

“Para finalizar, poderíamos observar que, na medida em

que avançamos na produção científica do nosso campo

teórico, o sujeito da Psicopedagogia tem assumido

contornos mais específicos. Não se trata do sujeito

19

epistêmico de Piaget, do sujeito inconsciente de Freud, do

sujeito cindido de Lacan, e outros, porém estamos

tratando de resgatar um sujeito total: não a soma, mas

sim a articulação desses sujeitos ou fragmentos, em um

novo desenho, mais coerente com o pensamento

científico atual.” (BOSSA, 2011, P.232)

Assim, a Psicopedagogia tem um importante papel na vida da criança

que apresenta necessidades e demanda cuidados, pois, enquanto aprende na

escola, compreendendo que o desenvolvimento cognitivo de uma criança é

uma longa fileira de transformações, de transgressões de uma atividade

dominante para outra, é um diálogo que ela estabelece com o seu futuro, com

o caminho que vai trilhar e com os recursos e possibilidades que o meio lhe

oferece.

20

CAPÍTULO II

O TDAH

O transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) é um

transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e

acompanha o indivíduo por toda a sua vida. O transtorno se caracteriza por

sintomas frequentes de desatenção, inquietude e impulsividade. Ele é chamado

às vezes de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). O cérebro de um TDA

possui características próprias que o diferenciam das demais crianças.

Devido à baixa concentração de dopamina e/ou noradrenalina em

regiões sinápticas do lobo frontal, leva o indivíduo a uma tríade sintomatológica

mencionada acima, ocasionando sérias dificuldades para o processo de

aprendizagem.

As crianças com TDAH, em especial os meninos, são agitadas ou

inquietas. Frequentemente têm apelido de "bicho carpinteiro" ou coisa

parecida. Na idade pré-escolar, estas crianças mostram-se extremamente

agitadas, movendo-se sem parar pelo ambiente, mexendo em vários objetos

como se estivessem “ligadas” por um motor. Mexem pés e mãos, não param

quietas na cadeira, falam muito e constantemente pedem para sair de sala ou

da mesa de jantar.

Elas têm dificuldades para manter atenção em atividades muito longas,

repetitivas ou que não lhes sejam interessantes. Elas são facilmente distraídas

por estímulos do ambiente externo, mas também se distraem com

pensamentos "internos", isto é, vivem "voando". Nas provas, são visíveis os

erros por distração (erram sinais, vírgulas, acentos, etc.). Como a atenção é

imprescindível para o bom funcionamento da memória, elas em geral são tidas

como "esquecidas": esquecem recados ou material escolar, aquilo que

estudaram na véspera da prova, etc. (o "esquecimento" é uma das principais

queixas dos pais).

Quando elas se dedicam a fazer algo estimulante ou do seu interesse,

conseguem permanecer mais tranquilas. Isto ocorre porque os centros de

prazer no cérebro são ativados e conseguem dar um "reforço" no centro da

atenção que é ligado a ele, passando a funcionar em níveis normais. O fato de

uma criança conseguir ficar concentrada em alguma atividade não exclui o

21

diagnóstico de TDAH. É claro que não fazemos coisas interessantes ou

estimulantes desde a hora que acordamos até a hora em que vamos dormir: os

portadores de TDAH vão ter muitas dificuldades em manter a atenção em um

monte de coisas.

Elas também tendem a ser impulsivas (não esperam a vez, não lêm a

pergunta até o final e já respondem, interrompem os outros, agem antes de

pensar). Frequentemente também apresentam dificuldades em se organizar e

planejar aquilo que querem ou precisam fazer. Seu desempenho sempre

parece inferior ao esperado para a sua capacidade intelectual.

A impulsividade pode também prejudicar seriamente a interação social da

criança com TDA. Quando frustrada, ela pode gritar com outras crianças, e às

vezes, até mesmo agredí-las fisicamente ou empurrá-las, na tentativa de

conseguir que tudo seja feito do seu jeito. (Thomas Phelan, 2005)

A maioria das crianças portadora desse transtorno tem desempenho

escolar abaixo do esperado devido à realização incoerente de tarefas,

desatenção e problemas de procedimentos em sala de aula, fazendo que

constantemente percam mérito por participação e comportamento.

Muitas crianças e adultos com TDAH e mais especificamente o DDA têm

letra feia e consideram o ato de escrever difícil e estressante, preferem digitar,

por não ser um movimento harmônico contínuo, e sim uma atividade motora de

começa e para. Também se queixam da dificuldade de tirar os pensamentos da

cabeça e colocá-los no papel, “os dedos não sabem dizer o que o cérebro está

pensando”...

É preciso que os professores conheçam um pouco sobre o TDAH, para

não criarem barreiras em relação ao aluno e tentarem dar uma maior atenção a

quem possui o transtorno. Estudar em turmas pequenas, sentar próximo ao

quadro e ao professor, sala com poucos detalhes que possam dispersar a

atenção, permissão especial para ter mais tempo de fazer as tarefas sem

punições, são algumas dicas que podem ajudar muito essa criança.

A criança com TDAH deve aprender aos poucos, e aplicar em seu dia-a-

dia mais eficácia, ou seja, não apenas focar um processo ligado à tarefa, mas

chegar a um resultado satisfatório. Essa criança provavelmente realizará

tarefas que proporcionam desafios e emoções, mesmo que seja exaustiva, em

22

condições muito melhores do que tarefas que lhe exijam concentração e

tempo.

As crianças com TDAH apresentam maior dificuldade para

aprendizagem e problemas de desempenho em testes e funcionamento

cognitivo em relação aos seus colegas, principalmente por dificuldades nas

suas habilidades organizacionais, capacidades de linguagem expressiva e/ou

controle motor fino ou grosso. O funcionamento intelectual dessas crianças não

difere das outras, o transtorno não afeta as capacidades cognitivas gerais, o

TDAH não está relacionado à falta de capacidade, mas a um déficit de

desempenho.

2.1- ENFRENTANDO O TRANSTORNO

Estudos cada vez mais aprofundados e específicos sobre o TDAH

desvendam novas técnicas de enfrentamento para esta problemática, novos

recursos psicoterapêuticos e medicamentosos, com a finalidade de que haja

uma diminuição da interferência que os sintomas do TDAH causam na vida da

pessoa, fazendo com que esta consiga aumentar a concentração e controlar a

hiperatividade e a impulsividade.

Recursos estes se tornam especialmente necessários para as crianças

do período pré-escolar e ensino fundamental, onde a desatenção e a

impulsividade comprometem além do processo de aprendizagem, os

relacionamentos e a autoestima.

A falta de informação, conhecimento e compreensão que envolve o

processo escolar são grandes obstáculos que a criança enfrenta neste período

juntamente com as características do transtorno, fazendo com que professores

colegas e pais considerem o comportamento desta criança como sendo

rebelde e desinteressado, tendo para com ela um tratamento preconceituoso.

A dificuldade escolar é uma queixa frequente de pais e professores de

crianças com TDAH. É por este motivo que os pais normalmente recorrem com

veemência a neuropediatras, psicólogos e psicopedagogos. De acordo com

dados estatísticos, a dificuldade escolar está entre as sete queixas mais

frequentes. Para o SAEB, (Sistema Nacional da Educação Básica), o

desempenho escolar depende de diferentes fatores: características da escola

(físicas, pedagógicas, qualificação do professor), da família (nível de

23

escolaridade dos pais, presença dos pais, interação dos pais com escola e

deveres) e do próprio indivíduo (saúde mental, visual, auditiva, nutricional, etc).

Somado a esses e outros fatores, tem-se discutido muito o problema das

crianças portadoras de TDAH, considerando que sua atividade motora e mental

é inadequada, excessiva e muitas vezes denominada erroneamente, como

agitação ou inquietação por vontade própria.

Os pais que ainda não perceberam ou não aceitaram que o filho possui

o transtorno de hiperatividade e/ou déficit de atenção, ao ingressar o filho na

escola, sentirão a necessidade de se interar dessa problemática, mais

precisamente na fase de alfabetização e daí para frente. Ou porque a conduta

“arteira” não é bem vinda, ou porque as notas não vão muito bem.

A prevalência do déficit de atenção e hiperatividade está entre 3% e 5%

em crianças em idade escolar e costuma ser mais comum em meninos do que

em meninas.

2.2- A MEDICAÇÃO

A prescrição de medicamentos psicotrópicos é o tratamento mais

comum para o TDAH. Numerosos estudos têm demonstrado, de modo

coerente, a rápida melhora do funcionamento comportamental, acadêmico e

social da maioria das crianças tratadas com substâncias estimulantes. São

chamados assim em virtude de sua capacidade comprovada de aumentar a

excitação ou “alerta” do sistema nervoso central.

Estas medicações melhoram extraordinariamente a capacidade motora

da pessoa de colocar seus pensamentos no papel, aprimoram a atenção e a

impulsividade, aumentam a motivação e a concentração, com a vantagem de

não provocar dependência nos usuários. Esses medicamentos não curam o

TDAH, mas ajudam a normalizar os neurotransmissores durante o seu uso.

Habilidades, competências, hábitos e padrões comportamentais são

desenvolvidos ao longo dos anos, por processos de aprendizagem e

treinamentos (conscientes ou não). Segundo Sam Goldstein (1994), o

tratamento de crianças com TDAH exige um esforço coordenado entre

profissionais da área médica, saúde mental e pedagógica em conjunto com os

pais. Devido às alterações do TDAH, esta aprendizagem - especialmente

24

durante a infância - é comprometida. Quando se introduz a medicação, a

capacidade de controle do foco da atenção e outras funções executivas

melhoram. Isto, porém, não é suficiente para desenvolver todas as habilidades

necessárias nem construir novos hábitos e formas de agir.

De um modo geral, tratamentos exclusivamente baseados em

medicação, mesmo que tragam efeitos positivos de curto prazo, no médio e

longo prazo se mostram insuficientes para atender às necessidades,

especialmente com organização, planejamento, cumprimento de prazos, auto-

controle, equilíbrio emocional, capacidade de relacionamentos, entre outros.

“Dependendo da intensidade do caso, o tratamento pode

incluir o uso de medicação para o substrato orgânico. Há

um debate muito intenso sobre a aplicação de remédios

psiquiátricos, com posicionamentos radicais tanto a favor

como contra. Há também a possibilidade de tratamento do

TDAH sem medicação, através de um processo de

aprendizagem envolvendo o condicionamento de padrões

cerebrais. É uma estratégia interessante, baseada numa

interface de cérebro-máquina e denominada

neurofeedback, que oferece a possibilidade de ensinar o

cérebro a funcionar de maneira diferente, mais eficiente e

mais próxima daquilo que é o esperado.” Carla Amorim

(2011 s/p)

Associado aos estimulantes, as psicoterapias exercem efeitos eficazes

no tratamento do TDAH, principalmente nas crianças, pois a modificação

comportamental é necessária para o bom desempenho escolar e minimiza os

conflitos nos relacionamentos.

25

CAPÍTULO III

OS PROCESSOS DA PSICOPEDAGOGIA

“Pílulas não ensinam habilidades”

Psicopedagogia é o campo do saber que se constrói a partir de dois

saberes e práticas: a pedagogia e a psicologia. É a área de estudo dos

processos e das dificuldades de aprendizagem de crianças, adolescentes e

adultos. O psicopedagogo identifica as dificuldades e os transtornos que

impedem o estudante de assimilar o conteúdo ensinado na escola. Para isso,

faz uso de conhecimentos da pedagogia, da psicanálise, da psicologia e da

antropologia. Analisa o comportamento do aluno, observando como ele

aprende. Promove intervenções em caso de fracasso ou de evasão escolar.

É observável os crescentes problemas ligados às dificuldades de

aprendizagem. Embasada em grandes teóricos como Piaget, Vygotsky, Freinet,

Ferreiro, Teberosky e outros, os pedagogos e professores os analisavam como

insuficientes para uma intervenção ativa nessas dificuldades de aprendizagem.

Nessa perspectiva, surge o profissional Psicopedagogo que auxilia nessa

intervenção, realizando diagnósticos que consideram o indivíduo no processo

de aprendizagem na sua essência interna e externa.

Desenvolvendo trabalhos integrados com outros profissionais em harmonia

com outras áreas do conhecimento humano respeitando o espaço de cada um

e o Código de Ética. Ainda compreendendo o sujeito da aprendizagem à partir

de seu contexto cultural, social, cognitivo, psíquico e orgânico. Aprofundando o

estudo dos processos e instrumentos de intervenção, também a partir dos

diferentes contextos de aprendizagem: lógica, letramento, espaço e tempo,

expressões musicais, corporais e plásticas.

“O psicopedagogo pode usar como recursos a entrevista com a família;

investigar o motivo da consulta; procurar a história de vida da criança

realizando Anamnese; fazer contato com a escola e outros profissionais

que atendam a criança; manter os pais informados do estado da criança

26

e da intervenção que está sendo realizada; realizar encaminhamento

para outros profissionais, quando necessário”. RUBINSTEIN (1996 s/p).

A Psicopedagogia vem contribuindo muito nas diversas instituições,

onde o seu objetivo maior compreende assinalar e analisar os fatores que

possibilitam, intervém ou prejudicam uma boa aprendizagem. Contudo, mesmo

tendo como alvo uma intervenção psicopedagógica na escola, não podemos

anular a existência de vários fatores que determinam o sucesso ou o fracasso

escolar. Dentre eles, o fisiológico, psicológico e o pedagógico que envolvem a

criança nesse meio sócio cultural.

“Falar sobre Psicopedagogia é necessariamente, falar sobre a

articulação entre educação e psicologia, articulação essa que desafia

a estudiosos e práticos dessas duas áreas. Embora quase sempre

presente no relato de inúmeros trabalhos científicos que tratam

principalmente dos problemas ligados à aprendizagem, o termo

Psicopedagogia não consegue adquirir clareza na sua dimensão

conceitual.” (BOSSA 1992, P. 10)

Cabe ao trabalho psicopedagógico, a percepção de dificuldades e o

planejamento adequado para a intervenção nas instituições interada com

outros profissionais para o maior conhecimento dos processos de

aprendizagem nos seus aspectos cognitivos, emocionais e corporais.

É cada vez mais comum ouvir a reclamações de professores sobre o

contingente de crianças que, apesar dos seus esforços, não aprendem a ler, a

ortografar, a escrever, a pensar e, principalmente, não expressam de nenhuma

maneira o encanto e o prazer de aprender.

Diante dos estudos sobre os distúrbios e fracassos da aprendizagem de

muitas crianças, vê-se a necessidade de ouvir as crianças em suas reais

condições detectando os problemas de aprendizagem que tanto podem ocorrer

no início ou no decorrer do período escolar com diferenças variadas de aluno

para aluno que consiste em uma séria investigação.

Conhecer o sistema educacional, sua organização e as dinâmicas institucional,

a instituição família, alunos e professores estabelecendo uma relação

harmoniosa, é primordial para a intervenção psicopedagógica eficaz levando a

27

criança a integrar-se novamente à vida normal, respeitando sua

individualidade.

Desta forma, a causa do processo de aprendizagem e as dificuldades de

aprendizagem, deixam de ser identificados apenas no aluno e no professor e

passam a ser vistos como um processo mais amplo, que envolve inúmeras

variáveis que precisam ser apreendidas com muito critério pelo professor e o

psicopedagogo que já não se defrontam mais com um processo linear de

crescimento e desenvolvimento.

É a percepção de uma criança singular que vai comandar o processo de

aprendizagem e não um modelo universal de desenvolvimento, respeitando o

desempenho individual de cada um que nem sempre se apresenta contínuo e

numa única direção.

A psicopedagogia pode ser organizada em quatro eixos.

“O amplo conjunto de tarefas e funções realizadas pelos profissionais

que prestam assessoramento psicopedagógico às escolas, apesar de

sua diversidade, pode ser organizado em torno de quatro eixos.”

(Coll, 1989 s/p)

O primeiro eixo:

“relativo à natureza dos objetivos da intervenção, cujos pólos

caracterizam respectivamente as tarefas que se centram,

prioritariamente no sujeito e aquelas que têm como finalidade incidir no

contexto educacional. Assim, as tarefas incluídas são tanto as que têm

como objetivo prioritário o atendimento a um aluno, quanto as que

aprecem vinculadas a aspectos curriculares e organizacionais.”

(Coll 1989 s/p).

Uma escola de qualidade é uma instituição cada vez mais aberta. A

necessidade de atender a alunos diferentes para que todos eles progridam no

desenvolvimento de suas capacidades implica localizar o currículo, a proposta

curricular que a escola elabora e que se concretiza na vida cotidiana das salas

de aula, como eixo da intervenção psicopedagógica.

28

O segundo eixo:

“afeta as modalidades de intervenção, que podem ser consideradas

como corretivas, ou preventivas e enriquecedoras. Qualquer intervenção

realizada na escola pode ser caracterizada, em um determinado

momento, embora, em momento posterior, sua consideração se

modifique.”

(Coll 1989 s/p).

A natureza da intervenção deve ser definida de acordo com a demanda

prioritária, destacando a construção de um continuum que permite identificar a

natureza dos procedimentos de intervenção e se eles devem ser focados no

aluno, em uma perspectiva corretiva e de atendimento individualizado ou deve

ser focado na escola, com propostas preventivas e de atendimento coletivo.

Estes focos, entretanto não são excludentes.

As intervenções psicopedagógicas de enriquecimento escolar são

destinadas a todos os alunos, pois objetivam potencializar talentos e

competências, a despeito da existência de quadros de dificuldades de

aprendizagem. Um aluno que vivencia uma dificuldade, também apresenta

talentos que podem e devem ser enriquecidos por meio de ações

psicopedagógicas específicas.

O terceiro eixo:

“também diferencia modelos de intervenção, embora tenha como

objetivo final o aluno, pode ter diferenças consideráveis: enquanto

alguns psicopedagogos trabalham diretamente com o aluno, orientam-no

e, inclusive, manejam tratamentos educacionais individualizados, outros

combinam momentos de intervenção direta com intervenções indiretas,

centradas nos agentes educacionais que interagem com ele.”

(Coll 1989 s/p).

Mudanças vem ocorrendo, sobretudo nos últimos anos, em que a ótica

que privilegia a divisão acadêmica, que categoriza os alunos, que valoriza o

homogêneo, que considera o conteúdo como um fim, começa a sofrer um

29

esvaziamento. Dar conta da diversidade, do heterogêneo, possibilita o

aprender coletivo, a riqueza da troca, o aprender com o outro. O professor

deixa de ser apenas o difusor do conhecimento e vive o fazer pedagógico como

o espaço para a estimulação da aprendizagem.

O último eixo:

“indica o lugar preferencial de intervenção, que entendemos como a

diversidade de níveis e contextos, inclusive quando circunscrita ao

marco educacional escolar. Este eixo inclui tanto as tarefas localizadas

no nível de sala de aula, em algum subsistema dentro da escola, na

instituição em seu conjunto, ano, série, assim como aquelas que se

dirigem ao sistema familiar, à zona de influência, etc.”

(Coll 1989 s/p).

Esses eixos podem permear a intervenção psicopedagógica do

psicopedagogo, embora, sem ser extremamente necessário a execução dos

mesmos.

Sabemos que o processo educativo ocorre em consonância com o

contexto histórico vivido pela sociedade. Cotidianamente, vivemos um

momento de intensa busca para garantia de nossos direitos individuais e

coletivos. Direitos estes que, perpassam as questões socioeconômicas,

históricas e culturais da humanidade. Esse é o desafio contínuo da educação –

Educar na diversidade – estando interligado com o mundo e suas interferências

que colaboram na construção do conhecimento desta sociedade dinâmica e

complexa.

Atualmente, o fazer educativo se tornou mais amplo, com objetivos mais

flexíveis e diversificados que buscam atender todos que estão envolvidos

nesse processo educativo, nas suas especificidades e necessidades. Cabe ao

Psicopedagogo proporcionar a cada aluno, elementos para sua maior interação

com esse mundo.

Cabe à Psicopedagogia trabalhar para que a escola acompanhe o

desenvolvimento humano e se constitua num verdadeiro espaço de construção

do conhecimento.

30

3.1- Intervenção na criança TDAH

A psicopedagogia possui uma estrutura interdisciplinar, pois seu

principal objeto de estudo é o ser cognoscente e todo o seu universo relacional,

tendo como objetivo ajudar na adequação da realidade da criança à sua

possibilidade de aprendizagem, promovendo uma ponte entre a criança e o

conhecimento que está sendo transmitido, além de investigar e considerar a

forma como esta criança aprende, e quando isso não ocorre, por qual motivo

não ocorre esta aprendizagem.

O psicopedagogo em sua atuação institucional ou clínica pode exercer

um trabalho de reflexão e orientação familiar, possibilitando elaboração acerca

do direcionamento das condutas que favorecem a adequação e integração do

indivíduo com TDAH, trazendo perspectivas sob diretrizes de vida e evolução.

A criança ou adolescente portador de TDAH precisa ser estimulada de

maneira correta em tempo integral, para que mantenha sua atenção no que

está fazendo ou estudando. Neste processo, o psicopedagogo tem papel

importante, cabendo-lhe intervir no método cognitivo, junto à construção do

saber, e fazer com que o paciente sinta-se capaz de ter um bom

desenvolvimento intelectual, profissional e pessoal.

Quando a criança ou adolescente estiver no processo de avaliação

diagnóstica ou mesmo já fazendo o tratamento interventivo:

O profissional pode focalizar dificuldades específicas da criança, em

termos de habilidades sociais, criando um espaço e situações para desenvolvê-

las, por meio da interação com a criança por intermédio de qualquer atividade

lúdica. (Benczik, 2000, pg. 92)

Com isso a criança ou adolescente poderá desenvolver habilidades

como:

- Saber ouvir

- Iniciar uma conversa

- Olhar nos olhos para falar

- Fazer perguntas e dar respostas apropriadas

- Oferecer ajuda para alguém

- Brincar cooperando com o grupo

- Sugerir outras brincadeiras, usando sua criatividade

31

- Agradecer, falando obrigado

- Saber pedir por favor

- Manter-se sentada ou quieta por um período

- Saber esperar sua vez para falar ou jogar

- Ser amigável e gentil

- Mostrar interesse em algum assunto

- Respeitar o outro como um ser diferente que possui sentimentos e

diferentes opiniões

- Dar atenção às outras pessoas

- Saber perder, entendendo que não se pode sempre ganhar

A arteterapia também é uma grande contribuição terapêutica durante o

processo de diagnóstico ou mesmo de intervenção com um portador de TDAH.

Isto, porque tal técnica traz ainda mais conhecimento no "lidar com o

aprender", pelas mediações artísticas. Além disso, a criança ou adolescente

pode entrar em contato com suas emoções mais profundas, sem precisar se

expor, ou seja, falar quando não tem vontade.

Existem alguns tipos de intervenções relacionadas à psicopedagogia e à

arteterapia que podem ser utilizadas durante o processo, como:

- O trabalho com o barro: Gera concentração, captando a energia

excessiva e relaxando o paciente.

- Jogos que alternam expansão de percepção e liberação do movimento

com foco em figuras, seus detalhes e na concentração de ações.

- Atividades de construção criativa em que se usa a força com as mãos,

liberando energia represada, exemplo de trabalho de construção com madeira,

pregos e martelos. Alterna-se com atividades sutis, enfatizando a suavidade e

delicadeza dos movimentos. Os instrumentos podem ser as próprias mãos,

pincéis de várias texturas, giz de cera colorido (pintura e expansão da

aquarela, guache e giz de cera, no movimento alternado de contensão e

expansão).

- Atividades com velas, utilizando copinhos de plástico para formar uma

mandala. Esta atividade exige concentração, apesar de trabalhar também com

fogo, o que traz excitação à criança.

32

- O trabalho com o corpo: Tensão alternada com relaxamento,

diretamente associada aos movimentos corporais, imagens e elementos:

Endureço e fico mole, sou pedra, sou água.

- Andar e contar histórias sobre situações de tensão e relaxamento,

rápido e lento. (Fazer com o movimento corporal amplo, ou apenas com as

mãos e braços, os pés e pernas).

- O trabalho respiratório: Inspirar até o abdominal, bem lentamente,

como se enchesse uma bexiga, expirar como se soprasse pela boca tirando

tudo que precisa sair desde o abdômen. (inspiração e expiração com vários

ritmos e duração, em função das facilidades progressivas do aprendiz).

- Associar a histórias e imagens, criando algo a partir disto, com sopros

no canudo (de refresco) sobre um papel molhado com tinta aguada (papel

molhado e gotas de guache que são pintados com auxílio do sopro no canudo).

- Tocar com tambores liberando a energia e conversando com eles:

forte, leve, no centro e nas bordas do tambor, acelerado e lentamente,

alterações de ritmos. Conversas com o tambor do companheiro ou terapeuta,

mantendo palavras, cantos, ou acompanhando pelo som de uma música

rítmica.

Jogos:

- Furar com estiletes pontos no papel (exercício de pulsão nos detalhes),

com curta e longa duração, rápido e lento, formando uma figura, ou

aleatoriamente.

- Exercícios de detalhes, selecionar e reconhecer detalhes no fundo

variado e complexo. Jogo de quem descobre mais rápido: Cara a Cara.

- Jogos de quem acha no todo, descoberta de erros, sempre alternado

com projeções mais excessivas do movimento e relaxamento: jogo dos sete

erros, por exemplo.

- Jogos de figura e fundo: Quem acha primeiro: Lince, Onde está Wally e

outros.

- Jogos com movimentos que requeiram atenção e rapidez diante de um

sinal.

Na área clínica, o trabalho do psicopedagogo pode ser preventivo,

visando também evitar o fracasso, seja este escolar, profissional ou pessoal,

além de encaminhar à propositura de novas possibilidades de ações, que farão

33

com que ocorra uma melhora na prática pedagógica, contribuindo para sua

própria evolução.

Com relação à escola, a psicopedagoga vai atuar junto aos

coordenadores e professores, com o objetivo de levantar dados da rotina

escolar do aluno, como seu rendimento nas disciplinas, sua organização na

sala e com seu material, interesse na matéria, comportamento em sala de aula

e nas atividades fora da sala, além de seu relacionamento com os colegas e

professores.

Durante o processo de aprendizagem, o psicopedagogo está voltado

para o portador de TDAH, sempre considerando as realidades objetivas e

subjetivas que habitam o entorno da criança e/ou adolescente. Além disso,

deve considerar também o conhecimento em sua complexidade dentro de uma

dinâmica, onde os aspectos afetivos, cognitivos e sociais se complementam.

34

CONCLUSÃO

A Psicopedagogia é uma profissão que atende às necessidades do

século XXI. Aprender a aprender é a premissa deste século, é a condição para

podermos viver dentro de um mundo de mudanças rápidas, resultantes do

advento da transformação da tecnologia e informática, onde é necessário que a

capacidade de transformação das pessoas e consequente possibilidade de

aprendizagem seja intensamente cuidada.

A intervenção psicopedagógica é um processo contínuo que necessita

do envolvimento coletivo tanto da família quanto da comunidade escolar e dos

demais profissionais envolvidos no acompanhamento da criança, por isso, é

possível acreditar que a intervenção, além de contribuir para que novas

práticas metodológicas sejam desenvolvidas no cotidiano da escola, poderá

também oferecer elementos para ações conjuntas destes diversos

profissionais.

O psicopedagogo sabe que sua profissão consiste na construção de

saberes, não sendo uma atividade neutra para ambas as partes. Nesta

situação a ajuda entre ambos é mútua, pois as relações de afeto que se

estabelece entre psicopedagogo e o educando são necessários ao

desenvolvimento da relação educativa. Desta forma, o papel do psicopedagogo

deve sempre buscar levar o educando a integrar-se novamente à vida normal,

respeitando sua individualidade.

Espero que este trabalho venha colaborar com todos os que atuam na

área da educação. É um trabalho baseado em diversas pesquisas na internet

onde foi destacada a importância não apenas em ter conhecimento e saber

lidar com o transtorno do TDAH, como também a fazer o diagnóstico e a

intervenção no momento adequado.

A formação de um educador é um processo que não tem fim, pois o mundo

está cheio de informações, onde tudo já se fez e pensou várias coisas foram

escritas e criadas em diversas áreas do conhecimento, não existe algo novo

em meio a tanta informação, onde pude apenas complementar com as minhas

próprias palavras.

35

ANEXO

Código de Ética e Estatuto da Associação Brasileira de Psicopedagogia

reza no seu artigo 6º os deveres fundamentais dos psicopedagogos:

a) manter-se atualizado quanto aos conhecimentos científicos e técnicos que

tratem o fenômeno da aprendizagem humana;

b) zelar pelo bom relacionamento com especialistas de outras áreas, mantendo

uma atitude crítica, de abertura e respeito em relação às diferentes visões do

mundo;

c) assumir somente as responsabilidades para as quais esteja preparado

dentro dos limites da competência psicopedagógica;

d)colaborar com o progresso da Psicopedagogia;

e) difundir seus conhecimentos e prestar serviços nas agremiações de classe

sempre que possível;

f) responsabilizar-se pelas avaliações feitas fornecendo ao cliente uma

definição clara do seu diagnóstico;

g) preservar a identidade, parecer e/ou diagnóstico do cliente nos relatos e

discussões feitos a título de exemplos e estudos de casos;

h) responsabilizar-se por crítica feita a colegas na ausência destes;

i) manter atitude de colaboração e solidariedade com colegas sem ser

conivente ou acumpliciar-se, de qualquer forma, com o ato ilícito ou calúnia.

j) O respeito e a dignidade na relação profissional são deveres fundamentais do

psicopedagogo para harmonia da classe e manutenção do conceito público.

36

BIBLIOGRAFIA

PHELAN, T.W. TDA/TDAH. Transtorno de Défcit de Atenção e Hiperatividade:

Sintomas, Diagnósticos e Tratamentos. Crianças e Adultos. São Paulo:

M.Books do Brasil Editora, 2005.

GOLDSTEIN, S., GOLDSTEIN, M. Hiperatividade: Como desenvolver a

capacidade de atenção da criança. Campinas: Papirus Editora, 1994.

STROH, Juliana Bielawski. TDAH - diagnóstico psicopedagógico e suas

intervenções através da Psicopedagogia e da Arteterapia. Constr.

psicopedag., São Paulo, v.18, n.17, dez. 2010. Disponível em<

http://pepsic.bvsalud.org>. Acesso em 01 jun. 2014.

Intervenção Psicopedagógica no TDAH, Disponível em

<http://www.portaleducacao.com.br>. Acesso em 10 dejunho de 2014.

Isabel Parolin, Disponível em <http://www.abpp.com.br/abpprsul>. Acesso em

12 de junho de 2014.

BOSSA, N. A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática.

Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

NEVES, M. A. Psicopedagogia: um só termo e muitas significações. In Boletim

da Associação Brasileira de Psicopedagogia, v.10, n.21, 1991.

37

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA PSICOPEDAGOGIA 10

1.1 – O objeto de estudo da Psicopedagogia 15

CAPÍTULO II

O TDAH 20

2.1 – Enfrentando o transtorno 22

2.2- A medicação 23

CAPÍTULO III

OS PROCESSOS DA PSICOPEDAGOGIA 25

3.1 – Intervenção na criança TDAH 30

CONCLUSÃO 34

ANEXO 35

BIBLIOGRAFIA 36

ÍNDICE 37