documento protegido pela lei de direito autoral · o movimento europeu acabou por originar a...
TRANSCRIPT
1
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICA EM
CRIANÇAS COM TDAH
Olga Leira Martins Távora Heitmann
Orientador
Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho
Rio de Janeiro
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
2
2014
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICA EM
CRIANÇAS COM TDAH
Apresentação de monografia a AVM Faculdade Integrada– Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia.
Por: Olga Leira Martins Távora Heitmann
5
RESUMO
Há alunos que apresentam comportamento muito agitado, tomam os
brinquedos de seus colegas, andam de um lado para o outro e não conseguem
ficar muito tempo sentados no mesmo lugar. Não conseguem terminar as
tarefas solicitadas e, em alguns momentos, demonstram atitudes agressivas e
um comportamento que geralmente pode ser confundido com indisciplina, mas
na verdade pode ser uma característica do distúrbio de atenção. Esse distúrbio
atinge 5% das crianças e adolescentes de todo mundo: é chamada de
Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. É muito importante
conhecer os sintomas deste transtorno para lidar com a situação de maneira
mais confiante e procurar auxílio de um profissional para intervenção e
tratamento.
6
METODOLOGIA
A metodologia utilizada para a elaboração do trabalho monográfico foi
baseada no levantamento bibliográfico de diferentes autores que abordam
especificamente a intervenção do psicopedagogo em crianças com Transtorno
de Déficit de Atenção e Hiperatividade.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA PSICOPEDAGOGIA 10
1.1 – O objeto de estudo da Psicopedagogia 15
CAPÍTULO II
O TDAH 20
2.1 – Enfrentando o transtorno 22
2.2- A medicação 23
CAPÍTULO III
OS PROCESSOS DA PSICOPEDAGOGIA 25
3.1 – Intervenção na criança TDAH 30
CONCLUSÃO 34
ANEXO 35
BIBLIOGRAFIA 36
ÍNDICE 37
8
INTRODUÇÃO
A Psicopedagogia tem por definição o trabalho com a aprendizagem,
com o conhecimento, sua aquisição, desenvolvimento e distorções. Realiza
este trabalho através de processos e estratégias que levam em conta a
individualidade do educando.
A Psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor compreensão
do processo de aprendizagem humana e assim estar resolvendo as
dificuldades de aprendizagem. Há alguns anos atrás, a falta de clareza a
respeito dos problemas de aprendizagem, fazia com que os alunos com
dificuldades fossem encaminhados para profissionais de diversas áreas de
atuação, sem uma resolução eficiente dos problemas. Foi-se criando a
necessidade de formação de um único profissional apto a integrar
conhecimentos e atuar de maneira objetiva e eficaz, não só na resolução dos
problemas, mas também na prevenção dos mesmos, facilitando o vínculo do
aluno com o processo de aprendizagem e o resgate do prazer de aprender,
melhorando assim, o desempenho escolar do aluno.
Devido à complexidade dos problemas de aprendizagem, a
Psicopedagogia se apresenta com um caráter multidisciplinar, que busca
conhecimento em diversas outras áreas de conhecimento além da psicologia e
da pedagogia. É necessário ter noções de linguística, desenvolvimento
neurológico, de conhecimentos filosóficos e sociológicos, entre outros.
As dificuldades escolares não podem ser explicadas apenas por um
único fator, esteja ele na criança, no meio familiar ou escolar e sim pela
interação de vários fatores.
O objetivo deste trabalho é orientar e ajudar muitos profissionais que
lidam com crianças a entenderem e aprenderem sobre como diferenciar um
distúrbio de aprendizagem de um comportamento indisciplinado, além disso,
estará abordando a importância da intervenção psicopedagógica no cotidiano
escolar. É muito importante orientar os professores caso venham perceber que
um aluno demonstre agitação repetitiva, falta de atenção, dificuldades de
relacionamento, entre outros, para saberem diferenciar uma situação da outra.
9
O professor precisa ser auxiliado em como buscar ajuda caso o
comportamento venha a persistir, o apoio e parceria da escola são de grande
importância para juntos encaminharem o aluno para especialistas da área que
possam fazer a intervenção e um eventual tratamento.
10
CAPÍTULO I
TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA PSICOPEDAGOGIA
Psicopedagogia é o campo do saber que se constrói a partir de
dois saberes e práticas: a pedagogia e a psicologia. O campo dessa mediação
recebe também influências da psicanálise, da linguística, da semiótica,
da neuropsicologia, da psicofisiologia, da filosofia humanista-existencial e
da medicina. O dicionário Aurélio da língua portuguesa conceitua o termo
psicopedagogia como “aplicação da psicologia experimental à pedagogia”.
“A Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana,
que adveio de uma demanda – o problema de
aprendizagem colocado em um território pouco explorado,
situado além dos limites da Psicologia e da própria
Pedagogia – e evoluiu devido à existência de recursos
ainda que embrionários, para atender a essa demanda,
constituindo-se, assim, em uma prática. Como se
preocupa com o problema de aprendizagem, deve
ocupar-se inicialmente do processo de aprendizagem.
Portanto, vemos que a Psicopedagogia estuda as
características da aprendizagem humana: como se
aprende, como essa aprendizagem varia evolutivamente e
está condicionada por vários fatores, como se produzem
as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las,
tratá-las e preveni-las. Esse objeto do estudo, que é o
sujeito, adquire características específicas a depender do
trabalho clínico ou preventivo.” (BOSSA, 2011, p.33)
Os primeiros Centros Psicopedagógicos foram fundados na Europa, em
1946, por J Boutonier e George Mauco, com direção médica e pedagógica.
Estes Centros uniam conhecimentos da área de Psicologia, Psicanálise e
Pedagogia, onde tentavam readaptar crianças com comportamentos
socialmente inadequados na escola ou no lar e atender crianças com
dificuldades de aprendizagem apesar de serem inteligentes. Esperava-se
11
através desta união Psicologia-Psicanálise-Pedagogia, conhecer a criança e o
seu meio, para que fosse possível compreender o caso para determinar uma
ação reeducadora. Diferenciar os que não aprendiam, apesar de serem
inteligentes, daqueles que apresentavam alguma deficiência mental, física ou
sensorial era uma das preocupações da época.
A psicopedagogia teve uma trajetória significativa tendo inicialmente um
caráter médico-pedagógico dos quais faziam parte da equipe do Centro
Psicopedagógico: médicos, psicólogos, psicanalistas e pedagogos.
Com a chegada da era industrial, também chegou a preocupação com a
produtividade e com tudo o que atrapalhava a possibilidade de produzir.
As dificuldades de aprendizagem passaram a ser foco de atenção, e a
Medicina começou a estudar a causa dos problemas e suas possíveis
correções. A primeira guerra mundial, em andamento na época, oferecia a
oportunidade de se descobrir, no cérebro dos guerrilheiros atingidos, a relação
das áreas cerebrais danificadas com as funções que apareciam prejudicadas.
A Oftalmologia, a Neurologia, a Psiquiatria eram algumas das áreas da
Medicina que se ocupavam com esses estudos.
No final do século XIX, educadores, psiquiatras e neuropsiquiatrias
começaram a se preocupar com os aspectos que interferiam na aprendizagem
e a organizar métodos para a educação infantil. Desta época, temos a
colaboração de Seguin, Esquirol, Montessori e Decroly, entre outros.
Segundo MERY (1985) os Centros Psicopedagógicos foram fundados na
Europa, a partir da segunda metade do século XX, e objetivavam, a partir da
integração de conhecimentos pedagógicos e psicanalíticos, atender pessoas
que apresentavam dificuldades para aprender apesar de serem inteligentes.
Nos Estados Unidos, o mesmo movimento acontecia, enfatizando mais
os conhecimentos médicos e dando um caráter mais biológico e organicista a
esta preocupação com as dificuldades de aprendizagem.
Muitas definições foram elaboradas para diferenciar aqueles que não
aprendiam, apesar de serem inteligentes, daqueles que apresentavam
deficiências mentais, físicas e sensoriais.
12
Os esforços de investigadores americanos, resultaram em processos de
tratamento altamente desenvolvidos dessas dificuldades, que incluíam, além de
médicos, também psicólogos, foniatras, pedagogos e professores, que
atendiam em clínicas, seguindo um modelo multidisciplinar.
O movimento europeu acabou por originar a Psicopedagogia, enquanto
que o movimento americano proliferou a crença de que os problemas de
aprendizagem possuíam causas orgânicas e precisavam de atendimento
especializado, influenciando parte do movimento da Psicologia Escolar que, até
bem pouco tempo, segundo BOSSA (1994), determinou a forma de tratamento
dada ao fracasso escolar.
Esta corrente europeia influenciou significativamente a Argentina. A
Psicopedagogia surgiu na Argentina há mais de 30 anos e foi em Buenos Aires,
sua capital, a primeira cidade a oferecer o curso de Psicopedagogia. Foi na
década de 70 que surgiram, em Buenos Aires, os Centros de Saúde Mental,
onde equipes de psicopedagogos atuavam fazendo diagnóstico e tratamento.
Estes psicopedagogos perceberem um ano após o tratamento que os
pacientes resolveram seus problemas de aprendizagem, mas desenvolveram
distúrbios de personalidade como deslocamento de sintoma. Resolveram então
incluir o olhar e a escuta clínica psicanalítica.
O Brasil recebeu influências tanto americanas, quanto europeias, via
Argentina. Principalmente no sul do país, receberam-se os conhecimentos de
renomados profissionais argentinos que muito contribuíram para a construção
do nosso conhecimento psicopedagógico.
Dr. Quirós, Jacob Feldmann, Sara Pain, Alícia Fernandez, Ana Maria
Muñiz e Jorge Visca são alguns dos principais nomes de profissionais
argentinos que trouxeram os conhecimentos da Psicopedagogia para o Brasil e
enriqueceram o desenvolvimento desta área de conhecimento.
A psicopedagogia chegou ao Brasil, na década de 70, cujas dificuldades
de aprendizagem nesta época eram associadas a uma disfunção neurológica
denominada de disfunção cerebral mínima (DCM) que virou moda neste
período, servindo para camuflar problemas sociopedagógicos.
Inicialmente, os problemas de aprendizagem foram estudados e tratados
por médicos na Europa no século XIX e no Brasil percebemos, ainda hoje, que
13
na maioria das vezes a primeira atitude dos familiares é levar seus filhos a uma
consulta médica.
Os primeiros cursos formais de Psicopedagogia eram denominados de
Reeducação Psicopedagógica, Psicopedagogia Terapêutica, Dificuldades
Escolares, A criança-problema numa classe comum, entre outros. Esses
cursos ocorreram, primeiramente, nas cidades de Porto Alegre, Rio de Janeiro
e São Paulo.
Um fato histórico influiu fundamentalmente no percurso da
psicopedagogia brasileira - a fundação da Associação de Psicopedagogos, que
surgiu primeiramente como Associação Estadual de Psicopedagogos de São
Paulo, em 1980, para posteriormente tornar-se Associação Brasileira de
Psicopedagogia em 1985. Este foi sem dúvida um fato marcante, pois uma
associação de Psicopedagogos, tornou-se uma associação de Psicopedagogia.
Há nesta passagem uma diferença fundamental, pois se assume a área de
conhecimento Psicopedagogia, a partir de um órgão de classe. Na prática do
psicopedagogo, ainda hoje é comum receber no consultório crianças que já
foram examinadas por um médico, por indicação da escola ou mesmo por
iniciativa da família, devido aos problemas que está apresentando na escola.
“A psicopedagogia enquanto produção de um
conhecimento científico nasceu da necessidade de uma
melhor compreensão do processo de aprendizagem, não
basta como aplicação da psicologia à pedagogia” (Bossa
2007 p.19).
E assim a psicopedagogia é tratada apenas como aplicação da
psicologia à pedagogia.
Ainda que tratasse de recorrer apenas a estas duas disciplinas para
solucionar problemas de aprendizagem não seria uma aplicação de uma à
outra, mas sim como constituição de uma nova área que recorrendo aos
conhecimentos dessas, pensa seu objeto de estudo a partir de um corpo
teórico próprio que busca se formar.
A psicopedagogia tem procurado sistematizar um corpo teórico próprio,
definir seu objeto de estudo, porém ainda não delimitou seu campo de atuação
14
e com isso procura outros profissionais como psicólogos, fonoaudiólogos, entre
outros.
Atualmente, a Psicopedagogia trabalha com uma concepção de
aprendizagem segundo a qual participa desse processo um equipamento
biológico com disposições afetivas e intelectuais que interferem na forma de
relação do sujeito com o meio, sendo que essas disposições influenciam e são
influenciadas pelas condições socioculturais do sujeito e do seu meio.
Sendo a Psicopedagogia uma área de conhecimento e de atuação
dirigida para o processo de aprendizagem, seu objeto de estudo é o ser
cognoscente, ou seja, o sujeito que se volta para a realidade e dela retira um
saber. Vista no âmbito de um sistema complexo e inerente à condição humana,
a aprendizagem não é estudada pela Psicopedagogia no espaço restrito da
escola, ou num determinado momento da vida, posto que ocorre em todos os
lugares, durante todo o tempo de existência.
Podemos afirmar também que sendo o objeto de estudo da
Psicopedagogia a aprendizagem como uma forma que a espécie humana
desenvolveu para se adaptar ao meio, pela complexidade desse mecanismo, a
Psicopedagogia configura-se como um campo multidisciplinar, cercando-se
para isso de disciplinas teóricas sobre as bases orgânicas, psicológicas e
sociais. Neste prisma, o trabalho psicopedagógico acontece entre o ser em
processo de construção do conhecimento e o psicopedagogo.
Neste contexto, o trabalho psicopedagógico pode assumir uma feição
preventiva ou terapêutica e estar relacionado com equipes ligadas aos campos
da educação e da saúde. Evoluiu a partir de uma demanda da sociedade, que
passou a valorizar a aprendizagem a partir de paradigmas integradores e
geradores de sínteses, e tem respondido a ela com uma práxis que busca
responder as necessidades de compreensão do ser humano em toda a sua
complexidade, tendo ampla aceitação nos mais diversos segmentos da
sociedade.
A Psicopedagogia é, portanto, um campo de conhecimento humano
essencial para a sociedade da informação dos tempos atuais, que articula
saberes e fazeres de forma transdisciplinar e atende aos indivíduos em suas
necessidades de educação continuada no espaço lúdico da aprendizagem, no
qual o desejo e o conhecimento se mesclam em criatividade.
15
1.1- O Objeto de estudo da Psicopedagogia
“A Psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando
sempre em conta as realidades interna e externa da aprendizagem,
tomadas em conjunto. E, mais procurando a construção do
conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em
pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe
estão implícitos.” (NEVES 1991, P. 12)
O trabalho clínico se dá na relação do sujeito com sua história de vida
pessoal e a forma como ele aprende. Isto significa que o profissional precisa
conhecer como o sujeito aprende, o porquê ele aprende, percebendo a relação
com a aprendizagem para que ela aconteça.
O maior objetivo da atuação do psicopedagogo é eliminar os transtornos
já instalados, num procedimento clínico com todas as suas implicações. O
caráter preventivo permanece aí, uma vez que, ao eliminarmos um transtorno,
estamos prevenindo o aparecimento de outros.
O trabalho preventivo deve ser avaliado em seu processo didático-
metodológico e como essa dinâmica institucional interfere no processo de
aprendizagem.
“A definição do objeto de estudo da Psicopedagogia passou por fases
distintas, assim, como os demais aspectos dessa área de estudo. Em
diferentes momentos históricos, que repercutem nas produções
científicas, esse objeto foi entendido de várias formas. Houve um
tempo que o trabalho psicopedagógico priorizava a reeducação, o
processo de aprendizagem era avaliado em função de seus déficits, e
o trabalho procurava vencer tais defasagens. O objeto de estudo era
o sujeito que não podia aprender, concebendo-se a “não
aprendizagem” pelo enfoque que salientava a falta. Esse ponto de
vista buscava estabelecer semelhanças entre grandes grupos de
sujeitos, as regularidades, o esperado para determinada idade,
visando reduzir as diferenças e acentuar a uniformidade.” (BOSSA,
2011, P.33)
16
A atuação do Psicopedagogo na instituição escolar parte se faz
necessário partido do pressuposto de que as escolas possuem deficiências em
saber as causas das dificuldades de aprendizagens apresentadas pelas
crianças, pois a falta de preparo dos professores frente a essas dificuldades
seria de que o aluno não aprende. Assim, a intervenção psicopedagógica
reconhece que as dificuldades de aprendizagens evidenciam-se quando há
presença de problemas emocionais e comportamentais no desenvolvimento de
uma criança. Na infância podem ser notadas dificuldades comportamentais
quando a criança apresenta comportamentos inadequados à sua faixa etária e
contrários aos comportamentos das crianças que não possuem dificuldades. O
comportamento das crianças com dificuldades de aprendizagem pode ser
marcado pelo isolamento, a inibição e a inquietação.
As queixas referentes às dificuldades de aprendizagens estão ligadas a
conflitos emocionais que são manifestados internamente e a não
aprendizagem, muitas vezes, está implicada a aspectos traumáticos que
marcaram, em algum momento, a vida da criança. Nesse sentido, as escolas
têm deficiências em saber as causas das dificuldades de aprendizagens
apresentadas pelas crianças. Uma das formas pelas quais o Psicopedagogo
atua diante das dificuldades de aprendizagem é através da avaliação
psicopedagógica.
A categoria “dificuldades de aprendizagem” é tratada
como sintoma e abarca conceitos como dificuldades de
aprendizagem escolar, distúrbios de aprendizagem
escolar, problemas específicos da aprendizagem escolar,
déficit de atenção, transtorno de leitura, transtorno de
escrita, dislexia e outros. Da mesma forma, a instituição
escola é parte integrante do nosso objeto de investigação.
(BOSSA, 2011, P. 199)
Na Educação Infantil, são pontuados os hábitos, atitudes do cotidiano da
criança, normas, relações, capacidades relativas à comunicação, expressão e
compreensão da linguagem, desenvolvimento motor, memória e atenção.
17
No Ensino Fundamental, considera-se a autonomia da criança e relação
à organização pessoal, hábitos de higiene, capacidades de linguagem,
habilidades motoras, tarefas escolares, deveres de casa, atitudes em relação à
família, adultos e a dependência ou independência nas relações sociais.
No Ensino Médio, são consideradas informações espontâneas sobre a
família, a escola, amigos, interesses, problemas, aceitação e cumprimento de
normas, atitudes em casa, autonomia e relações sociais.
A avaliação da situação inicial é realizada após a solicitação de
intervenção e se orienta pelas informações já obtidas pela queixa na solicitação
da avaliação psicopedagógica. Registros são feitos para a próxima análise e as
decisões a serem tomadas facilitando a intervenção de ajuda psicopedagógica
que poderá ser realizada em três etapas que são: a observação em sala de
aula, para obter informação de como se desenvolve a dinâmica da aula em seu
conjunto, a análise do trabalho dos alunos: correções, anotações, comentários
escritos e a análise comparativa acompanhando a evolução da aprendizagem
ao longo do curso, para introduzir mudanças que sejam necessárias.
Após as fases anteriores, passa-se a buscar informações sobre a
capacidade do aluno nas diferentes áreas do currículo e em relação a
diferentes capacidades e habilidades. Através das provas psicopedagógicas
essas informações são facilitadas e é possível observar o estilo de
aprendizagem e dificuldades em progredir na escolaridade de cada
aprendente. E além da vida escolar, essas provas observam o relacionamento
familiar e social.
Uma devolutiva é encaminhada aos professores, iniciando-se com uma
avaliação positiva do aluno, salientando suas capacidades, projetando-se e
planejando-se as ações educativas necessárias, enfatizando a explicação da
situação do aluno no contexto escolar. A devolutiva acontece em resumo
escrito da avaliação com orientações sobre o trabalho que deve iniciar, bem
como a função de cada um dos envolvidos nessas ações e programando-se
reuniões de acompanhamento posterior.
Em mais uma fase, a informação aos pais ou responsáveis legais
acontece com as conclusões da avaliação psicopedagógica e quais as
decisões que serão tomadas pelo professor com relação ao aprendente. Essas
entrevistas familiares devem ser realizadas preferencialmente pelo professor.
18
O acompanhamento acontece na revisão do processo educativo,
apresentação de sugestões sobre as adaptações a serem feitas no currículo
para ações posteriores, envolvendo toda a comunidade escolar e familiar
favorecendo e respeitando diferenças individuais e promovendo aprendizagens
mais significativas.
A função principal da intervenção psicopedagógica é colaborar com as
equipes de professores para efetivar a melhoria da qualidade da educação
garantindo a aprendizagem ao educando conhecendo a forma como ele
aprende.
“Os verbos “ler” e “escrever” deixaram de ter uma
definição imutável: não designavam mais (e tampouco
designam hoje) atividades homogêneas. Ler e escrever
são construções sociais. Cada época e cada circunstância
histórica dão novos sentidos a esses verbos.”
(FERREIRO, 2002, p.13)
Hoje, o psicopedagogo é um profissional qualificado para trabalhar com
a prevenção e detenção de dificuldades e ou problemas de desenvolvimento
pessoal e de aprendizagem que o aprendente possa apresentar.
Lidar com o insucesso escolar é uma tarefa complexa e desafiadora
para a qual não se tem uma resposta acabada e pronta, o que aponta para a
necessidade de buscar alternativas que possam minimizar tal situação, mas
temos no Psicopedagogo um profissional do conhecimento
trans/inter/multidisciplinar, que aplica conhecimentos considerando as
realidades tanto internas como externas da aprendizagem. Por isso, concluiu-
se que o Psicopedagogo é necessário ao desenvolvimento do educando, com
uma escuta e um olhar mais sensível quanto às demandas de professores,
alunos e famílias. A intervenção do psicopedagogo não termina na escola ou
na sala de aula. Ela estende-se a família.
“Para finalizar, poderíamos observar que, na medida em
que avançamos na produção científica do nosso campo
teórico, o sujeito da Psicopedagogia tem assumido
contornos mais específicos. Não se trata do sujeito
19
epistêmico de Piaget, do sujeito inconsciente de Freud, do
sujeito cindido de Lacan, e outros, porém estamos
tratando de resgatar um sujeito total: não a soma, mas
sim a articulação desses sujeitos ou fragmentos, em um
novo desenho, mais coerente com o pensamento
científico atual.” (BOSSA, 2011, P.232)
Assim, a Psicopedagogia tem um importante papel na vida da criança
que apresenta necessidades e demanda cuidados, pois, enquanto aprende na
escola, compreendendo que o desenvolvimento cognitivo de uma criança é
uma longa fileira de transformações, de transgressões de uma atividade
dominante para outra, é um diálogo que ela estabelece com o seu futuro, com
o caminho que vai trilhar e com os recursos e possibilidades que o meio lhe
oferece.
20
CAPÍTULO II
O TDAH
O transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) é um
transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e
acompanha o indivíduo por toda a sua vida. O transtorno se caracteriza por
sintomas frequentes de desatenção, inquietude e impulsividade. Ele é chamado
às vezes de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). O cérebro de um TDA
possui características próprias que o diferenciam das demais crianças.
Devido à baixa concentração de dopamina e/ou noradrenalina em
regiões sinápticas do lobo frontal, leva o indivíduo a uma tríade sintomatológica
mencionada acima, ocasionando sérias dificuldades para o processo de
aprendizagem.
As crianças com TDAH, em especial os meninos, são agitadas ou
inquietas. Frequentemente têm apelido de "bicho carpinteiro" ou coisa
parecida. Na idade pré-escolar, estas crianças mostram-se extremamente
agitadas, movendo-se sem parar pelo ambiente, mexendo em vários objetos
como se estivessem “ligadas” por um motor. Mexem pés e mãos, não param
quietas na cadeira, falam muito e constantemente pedem para sair de sala ou
da mesa de jantar.
Elas têm dificuldades para manter atenção em atividades muito longas,
repetitivas ou que não lhes sejam interessantes. Elas são facilmente distraídas
por estímulos do ambiente externo, mas também se distraem com
pensamentos "internos", isto é, vivem "voando". Nas provas, são visíveis os
erros por distração (erram sinais, vírgulas, acentos, etc.). Como a atenção é
imprescindível para o bom funcionamento da memória, elas em geral são tidas
como "esquecidas": esquecem recados ou material escolar, aquilo que
estudaram na véspera da prova, etc. (o "esquecimento" é uma das principais
queixas dos pais).
Quando elas se dedicam a fazer algo estimulante ou do seu interesse,
conseguem permanecer mais tranquilas. Isto ocorre porque os centros de
prazer no cérebro são ativados e conseguem dar um "reforço" no centro da
atenção que é ligado a ele, passando a funcionar em níveis normais. O fato de
uma criança conseguir ficar concentrada em alguma atividade não exclui o
21
diagnóstico de TDAH. É claro que não fazemos coisas interessantes ou
estimulantes desde a hora que acordamos até a hora em que vamos dormir: os
portadores de TDAH vão ter muitas dificuldades em manter a atenção em um
monte de coisas.
Elas também tendem a ser impulsivas (não esperam a vez, não lêm a
pergunta até o final e já respondem, interrompem os outros, agem antes de
pensar). Frequentemente também apresentam dificuldades em se organizar e
planejar aquilo que querem ou precisam fazer. Seu desempenho sempre
parece inferior ao esperado para a sua capacidade intelectual.
A impulsividade pode também prejudicar seriamente a interação social da
criança com TDA. Quando frustrada, ela pode gritar com outras crianças, e às
vezes, até mesmo agredí-las fisicamente ou empurrá-las, na tentativa de
conseguir que tudo seja feito do seu jeito. (Thomas Phelan, 2005)
A maioria das crianças portadora desse transtorno tem desempenho
escolar abaixo do esperado devido à realização incoerente de tarefas,
desatenção e problemas de procedimentos em sala de aula, fazendo que
constantemente percam mérito por participação e comportamento.
Muitas crianças e adultos com TDAH e mais especificamente o DDA têm
letra feia e consideram o ato de escrever difícil e estressante, preferem digitar,
por não ser um movimento harmônico contínuo, e sim uma atividade motora de
começa e para. Também se queixam da dificuldade de tirar os pensamentos da
cabeça e colocá-los no papel, “os dedos não sabem dizer o que o cérebro está
pensando”...
É preciso que os professores conheçam um pouco sobre o TDAH, para
não criarem barreiras em relação ao aluno e tentarem dar uma maior atenção a
quem possui o transtorno. Estudar em turmas pequenas, sentar próximo ao
quadro e ao professor, sala com poucos detalhes que possam dispersar a
atenção, permissão especial para ter mais tempo de fazer as tarefas sem
punições, são algumas dicas que podem ajudar muito essa criança.
A criança com TDAH deve aprender aos poucos, e aplicar em seu dia-a-
dia mais eficácia, ou seja, não apenas focar um processo ligado à tarefa, mas
chegar a um resultado satisfatório. Essa criança provavelmente realizará
tarefas que proporcionam desafios e emoções, mesmo que seja exaustiva, em
22
condições muito melhores do que tarefas que lhe exijam concentração e
tempo.
As crianças com TDAH apresentam maior dificuldade para
aprendizagem e problemas de desempenho em testes e funcionamento
cognitivo em relação aos seus colegas, principalmente por dificuldades nas
suas habilidades organizacionais, capacidades de linguagem expressiva e/ou
controle motor fino ou grosso. O funcionamento intelectual dessas crianças não
difere das outras, o transtorno não afeta as capacidades cognitivas gerais, o
TDAH não está relacionado à falta de capacidade, mas a um déficit de
desempenho.
2.1- ENFRENTANDO O TRANSTORNO
Estudos cada vez mais aprofundados e específicos sobre o TDAH
desvendam novas técnicas de enfrentamento para esta problemática, novos
recursos psicoterapêuticos e medicamentosos, com a finalidade de que haja
uma diminuição da interferência que os sintomas do TDAH causam na vida da
pessoa, fazendo com que esta consiga aumentar a concentração e controlar a
hiperatividade e a impulsividade.
Recursos estes se tornam especialmente necessários para as crianças
do período pré-escolar e ensino fundamental, onde a desatenção e a
impulsividade comprometem além do processo de aprendizagem, os
relacionamentos e a autoestima.
A falta de informação, conhecimento e compreensão que envolve o
processo escolar são grandes obstáculos que a criança enfrenta neste período
juntamente com as características do transtorno, fazendo com que professores
colegas e pais considerem o comportamento desta criança como sendo
rebelde e desinteressado, tendo para com ela um tratamento preconceituoso.
A dificuldade escolar é uma queixa frequente de pais e professores de
crianças com TDAH. É por este motivo que os pais normalmente recorrem com
veemência a neuropediatras, psicólogos e psicopedagogos. De acordo com
dados estatísticos, a dificuldade escolar está entre as sete queixas mais
frequentes. Para o SAEB, (Sistema Nacional da Educação Básica), o
desempenho escolar depende de diferentes fatores: características da escola
(físicas, pedagógicas, qualificação do professor), da família (nível de
23
escolaridade dos pais, presença dos pais, interação dos pais com escola e
deveres) e do próprio indivíduo (saúde mental, visual, auditiva, nutricional, etc).
Somado a esses e outros fatores, tem-se discutido muito o problema das
crianças portadoras de TDAH, considerando que sua atividade motora e mental
é inadequada, excessiva e muitas vezes denominada erroneamente, como
agitação ou inquietação por vontade própria.
Os pais que ainda não perceberam ou não aceitaram que o filho possui
o transtorno de hiperatividade e/ou déficit de atenção, ao ingressar o filho na
escola, sentirão a necessidade de se interar dessa problemática, mais
precisamente na fase de alfabetização e daí para frente. Ou porque a conduta
“arteira” não é bem vinda, ou porque as notas não vão muito bem.
A prevalência do déficit de atenção e hiperatividade está entre 3% e 5%
em crianças em idade escolar e costuma ser mais comum em meninos do que
em meninas.
2.2- A MEDICAÇÃO
A prescrição de medicamentos psicotrópicos é o tratamento mais
comum para o TDAH. Numerosos estudos têm demonstrado, de modo
coerente, a rápida melhora do funcionamento comportamental, acadêmico e
social da maioria das crianças tratadas com substâncias estimulantes. São
chamados assim em virtude de sua capacidade comprovada de aumentar a
excitação ou “alerta” do sistema nervoso central.
Estas medicações melhoram extraordinariamente a capacidade motora
da pessoa de colocar seus pensamentos no papel, aprimoram a atenção e a
impulsividade, aumentam a motivação e a concentração, com a vantagem de
não provocar dependência nos usuários. Esses medicamentos não curam o
TDAH, mas ajudam a normalizar os neurotransmissores durante o seu uso.
Habilidades, competências, hábitos e padrões comportamentais são
desenvolvidos ao longo dos anos, por processos de aprendizagem e
treinamentos (conscientes ou não). Segundo Sam Goldstein (1994), o
tratamento de crianças com TDAH exige um esforço coordenado entre
profissionais da área médica, saúde mental e pedagógica em conjunto com os
pais. Devido às alterações do TDAH, esta aprendizagem - especialmente
24
durante a infância - é comprometida. Quando se introduz a medicação, a
capacidade de controle do foco da atenção e outras funções executivas
melhoram. Isto, porém, não é suficiente para desenvolver todas as habilidades
necessárias nem construir novos hábitos e formas de agir.
De um modo geral, tratamentos exclusivamente baseados em
medicação, mesmo que tragam efeitos positivos de curto prazo, no médio e
longo prazo se mostram insuficientes para atender às necessidades,
especialmente com organização, planejamento, cumprimento de prazos, auto-
controle, equilíbrio emocional, capacidade de relacionamentos, entre outros.
“Dependendo da intensidade do caso, o tratamento pode
incluir o uso de medicação para o substrato orgânico. Há
um debate muito intenso sobre a aplicação de remédios
psiquiátricos, com posicionamentos radicais tanto a favor
como contra. Há também a possibilidade de tratamento do
TDAH sem medicação, através de um processo de
aprendizagem envolvendo o condicionamento de padrões
cerebrais. É uma estratégia interessante, baseada numa
interface de cérebro-máquina e denominada
neurofeedback, que oferece a possibilidade de ensinar o
cérebro a funcionar de maneira diferente, mais eficiente e
mais próxima daquilo que é o esperado.” Carla Amorim
(2011 s/p)
Associado aos estimulantes, as psicoterapias exercem efeitos eficazes
no tratamento do TDAH, principalmente nas crianças, pois a modificação
comportamental é necessária para o bom desempenho escolar e minimiza os
conflitos nos relacionamentos.
25
CAPÍTULO III
OS PROCESSOS DA PSICOPEDAGOGIA
“Pílulas não ensinam habilidades”
Psicopedagogia é o campo do saber que se constrói a partir de dois
saberes e práticas: a pedagogia e a psicologia. É a área de estudo dos
processos e das dificuldades de aprendizagem de crianças, adolescentes e
adultos. O psicopedagogo identifica as dificuldades e os transtornos que
impedem o estudante de assimilar o conteúdo ensinado na escola. Para isso,
faz uso de conhecimentos da pedagogia, da psicanálise, da psicologia e da
antropologia. Analisa o comportamento do aluno, observando como ele
aprende. Promove intervenções em caso de fracasso ou de evasão escolar.
É observável os crescentes problemas ligados às dificuldades de
aprendizagem. Embasada em grandes teóricos como Piaget, Vygotsky, Freinet,
Ferreiro, Teberosky e outros, os pedagogos e professores os analisavam como
insuficientes para uma intervenção ativa nessas dificuldades de aprendizagem.
Nessa perspectiva, surge o profissional Psicopedagogo que auxilia nessa
intervenção, realizando diagnósticos que consideram o indivíduo no processo
de aprendizagem na sua essência interna e externa.
Desenvolvendo trabalhos integrados com outros profissionais em harmonia
com outras áreas do conhecimento humano respeitando o espaço de cada um
e o Código de Ética. Ainda compreendendo o sujeito da aprendizagem à partir
de seu contexto cultural, social, cognitivo, psíquico e orgânico. Aprofundando o
estudo dos processos e instrumentos de intervenção, também a partir dos
diferentes contextos de aprendizagem: lógica, letramento, espaço e tempo,
expressões musicais, corporais e plásticas.
“O psicopedagogo pode usar como recursos a entrevista com a família;
investigar o motivo da consulta; procurar a história de vida da criança
realizando Anamnese; fazer contato com a escola e outros profissionais
que atendam a criança; manter os pais informados do estado da criança
26
e da intervenção que está sendo realizada; realizar encaminhamento
para outros profissionais, quando necessário”. RUBINSTEIN (1996 s/p).
A Psicopedagogia vem contribuindo muito nas diversas instituições,
onde o seu objetivo maior compreende assinalar e analisar os fatores que
possibilitam, intervém ou prejudicam uma boa aprendizagem. Contudo, mesmo
tendo como alvo uma intervenção psicopedagógica na escola, não podemos
anular a existência de vários fatores que determinam o sucesso ou o fracasso
escolar. Dentre eles, o fisiológico, psicológico e o pedagógico que envolvem a
criança nesse meio sócio cultural.
“Falar sobre Psicopedagogia é necessariamente, falar sobre a
articulação entre educação e psicologia, articulação essa que desafia
a estudiosos e práticos dessas duas áreas. Embora quase sempre
presente no relato de inúmeros trabalhos científicos que tratam
principalmente dos problemas ligados à aprendizagem, o termo
Psicopedagogia não consegue adquirir clareza na sua dimensão
conceitual.” (BOSSA 1992, P. 10)
Cabe ao trabalho psicopedagógico, a percepção de dificuldades e o
planejamento adequado para a intervenção nas instituições interada com
outros profissionais para o maior conhecimento dos processos de
aprendizagem nos seus aspectos cognitivos, emocionais e corporais.
É cada vez mais comum ouvir a reclamações de professores sobre o
contingente de crianças que, apesar dos seus esforços, não aprendem a ler, a
ortografar, a escrever, a pensar e, principalmente, não expressam de nenhuma
maneira o encanto e o prazer de aprender.
Diante dos estudos sobre os distúrbios e fracassos da aprendizagem de
muitas crianças, vê-se a necessidade de ouvir as crianças em suas reais
condições detectando os problemas de aprendizagem que tanto podem ocorrer
no início ou no decorrer do período escolar com diferenças variadas de aluno
para aluno que consiste em uma séria investigação.
Conhecer o sistema educacional, sua organização e as dinâmicas institucional,
a instituição família, alunos e professores estabelecendo uma relação
harmoniosa, é primordial para a intervenção psicopedagógica eficaz levando a
27
criança a integrar-se novamente à vida normal, respeitando sua
individualidade.
Desta forma, a causa do processo de aprendizagem e as dificuldades de
aprendizagem, deixam de ser identificados apenas no aluno e no professor e
passam a ser vistos como um processo mais amplo, que envolve inúmeras
variáveis que precisam ser apreendidas com muito critério pelo professor e o
psicopedagogo que já não se defrontam mais com um processo linear de
crescimento e desenvolvimento.
É a percepção de uma criança singular que vai comandar o processo de
aprendizagem e não um modelo universal de desenvolvimento, respeitando o
desempenho individual de cada um que nem sempre se apresenta contínuo e
numa única direção.
A psicopedagogia pode ser organizada em quatro eixos.
“O amplo conjunto de tarefas e funções realizadas pelos profissionais
que prestam assessoramento psicopedagógico às escolas, apesar de
sua diversidade, pode ser organizado em torno de quatro eixos.”
(Coll, 1989 s/p)
O primeiro eixo:
“relativo à natureza dos objetivos da intervenção, cujos pólos
caracterizam respectivamente as tarefas que se centram,
prioritariamente no sujeito e aquelas que têm como finalidade incidir no
contexto educacional. Assim, as tarefas incluídas são tanto as que têm
como objetivo prioritário o atendimento a um aluno, quanto as que
aprecem vinculadas a aspectos curriculares e organizacionais.”
(Coll 1989 s/p).
Uma escola de qualidade é uma instituição cada vez mais aberta. A
necessidade de atender a alunos diferentes para que todos eles progridam no
desenvolvimento de suas capacidades implica localizar o currículo, a proposta
curricular que a escola elabora e que se concretiza na vida cotidiana das salas
de aula, como eixo da intervenção psicopedagógica.
28
O segundo eixo:
“afeta as modalidades de intervenção, que podem ser consideradas
como corretivas, ou preventivas e enriquecedoras. Qualquer intervenção
realizada na escola pode ser caracterizada, em um determinado
momento, embora, em momento posterior, sua consideração se
modifique.”
(Coll 1989 s/p).
A natureza da intervenção deve ser definida de acordo com a demanda
prioritária, destacando a construção de um continuum que permite identificar a
natureza dos procedimentos de intervenção e se eles devem ser focados no
aluno, em uma perspectiva corretiva e de atendimento individualizado ou deve
ser focado na escola, com propostas preventivas e de atendimento coletivo.
Estes focos, entretanto não são excludentes.
As intervenções psicopedagógicas de enriquecimento escolar são
destinadas a todos os alunos, pois objetivam potencializar talentos e
competências, a despeito da existência de quadros de dificuldades de
aprendizagem. Um aluno que vivencia uma dificuldade, também apresenta
talentos que podem e devem ser enriquecidos por meio de ações
psicopedagógicas específicas.
O terceiro eixo:
“também diferencia modelos de intervenção, embora tenha como
objetivo final o aluno, pode ter diferenças consideráveis: enquanto
alguns psicopedagogos trabalham diretamente com o aluno, orientam-no
e, inclusive, manejam tratamentos educacionais individualizados, outros
combinam momentos de intervenção direta com intervenções indiretas,
centradas nos agentes educacionais que interagem com ele.”
(Coll 1989 s/p).
Mudanças vem ocorrendo, sobretudo nos últimos anos, em que a ótica
que privilegia a divisão acadêmica, que categoriza os alunos, que valoriza o
homogêneo, que considera o conteúdo como um fim, começa a sofrer um
29
esvaziamento. Dar conta da diversidade, do heterogêneo, possibilita o
aprender coletivo, a riqueza da troca, o aprender com o outro. O professor
deixa de ser apenas o difusor do conhecimento e vive o fazer pedagógico como
o espaço para a estimulação da aprendizagem.
O último eixo:
“indica o lugar preferencial de intervenção, que entendemos como a
diversidade de níveis e contextos, inclusive quando circunscrita ao
marco educacional escolar. Este eixo inclui tanto as tarefas localizadas
no nível de sala de aula, em algum subsistema dentro da escola, na
instituição em seu conjunto, ano, série, assim como aquelas que se
dirigem ao sistema familiar, à zona de influência, etc.”
(Coll 1989 s/p).
Esses eixos podem permear a intervenção psicopedagógica do
psicopedagogo, embora, sem ser extremamente necessário a execução dos
mesmos.
Sabemos que o processo educativo ocorre em consonância com o
contexto histórico vivido pela sociedade. Cotidianamente, vivemos um
momento de intensa busca para garantia de nossos direitos individuais e
coletivos. Direitos estes que, perpassam as questões socioeconômicas,
históricas e culturais da humanidade. Esse é o desafio contínuo da educação –
Educar na diversidade – estando interligado com o mundo e suas interferências
que colaboram na construção do conhecimento desta sociedade dinâmica e
complexa.
Atualmente, o fazer educativo se tornou mais amplo, com objetivos mais
flexíveis e diversificados que buscam atender todos que estão envolvidos
nesse processo educativo, nas suas especificidades e necessidades. Cabe ao
Psicopedagogo proporcionar a cada aluno, elementos para sua maior interação
com esse mundo.
Cabe à Psicopedagogia trabalhar para que a escola acompanhe o
desenvolvimento humano e se constitua num verdadeiro espaço de construção
do conhecimento.
30
3.1- Intervenção na criança TDAH
A psicopedagogia possui uma estrutura interdisciplinar, pois seu
principal objeto de estudo é o ser cognoscente e todo o seu universo relacional,
tendo como objetivo ajudar na adequação da realidade da criança à sua
possibilidade de aprendizagem, promovendo uma ponte entre a criança e o
conhecimento que está sendo transmitido, além de investigar e considerar a
forma como esta criança aprende, e quando isso não ocorre, por qual motivo
não ocorre esta aprendizagem.
O psicopedagogo em sua atuação institucional ou clínica pode exercer
um trabalho de reflexão e orientação familiar, possibilitando elaboração acerca
do direcionamento das condutas que favorecem a adequação e integração do
indivíduo com TDAH, trazendo perspectivas sob diretrizes de vida e evolução.
A criança ou adolescente portador de TDAH precisa ser estimulada de
maneira correta em tempo integral, para que mantenha sua atenção no que
está fazendo ou estudando. Neste processo, o psicopedagogo tem papel
importante, cabendo-lhe intervir no método cognitivo, junto à construção do
saber, e fazer com que o paciente sinta-se capaz de ter um bom
desenvolvimento intelectual, profissional e pessoal.
Quando a criança ou adolescente estiver no processo de avaliação
diagnóstica ou mesmo já fazendo o tratamento interventivo:
O profissional pode focalizar dificuldades específicas da criança, em
termos de habilidades sociais, criando um espaço e situações para desenvolvê-
las, por meio da interação com a criança por intermédio de qualquer atividade
lúdica. (Benczik, 2000, pg. 92)
Com isso a criança ou adolescente poderá desenvolver habilidades
como:
- Saber ouvir
- Iniciar uma conversa
- Olhar nos olhos para falar
- Fazer perguntas e dar respostas apropriadas
- Oferecer ajuda para alguém
- Brincar cooperando com o grupo
- Sugerir outras brincadeiras, usando sua criatividade
31
- Agradecer, falando obrigado
- Saber pedir por favor
- Manter-se sentada ou quieta por um período
- Saber esperar sua vez para falar ou jogar
- Ser amigável e gentil
- Mostrar interesse em algum assunto
- Respeitar o outro como um ser diferente que possui sentimentos e
diferentes opiniões
- Dar atenção às outras pessoas
- Saber perder, entendendo que não se pode sempre ganhar
A arteterapia também é uma grande contribuição terapêutica durante o
processo de diagnóstico ou mesmo de intervenção com um portador de TDAH.
Isto, porque tal técnica traz ainda mais conhecimento no "lidar com o
aprender", pelas mediações artísticas. Além disso, a criança ou adolescente
pode entrar em contato com suas emoções mais profundas, sem precisar se
expor, ou seja, falar quando não tem vontade.
Existem alguns tipos de intervenções relacionadas à psicopedagogia e à
arteterapia que podem ser utilizadas durante o processo, como:
- O trabalho com o barro: Gera concentração, captando a energia
excessiva e relaxando o paciente.
- Jogos que alternam expansão de percepção e liberação do movimento
com foco em figuras, seus detalhes e na concentração de ações.
- Atividades de construção criativa em que se usa a força com as mãos,
liberando energia represada, exemplo de trabalho de construção com madeira,
pregos e martelos. Alterna-se com atividades sutis, enfatizando a suavidade e
delicadeza dos movimentos. Os instrumentos podem ser as próprias mãos,
pincéis de várias texturas, giz de cera colorido (pintura e expansão da
aquarela, guache e giz de cera, no movimento alternado de contensão e
expansão).
- Atividades com velas, utilizando copinhos de plástico para formar uma
mandala. Esta atividade exige concentração, apesar de trabalhar também com
fogo, o que traz excitação à criança.
32
- O trabalho com o corpo: Tensão alternada com relaxamento,
diretamente associada aos movimentos corporais, imagens e elementos:
Endureço e fico mole, sou pedra, sou água.
- Andar e contar histórias sobre situações de tensão e relaxamento,
rápido e lento. (Fazer com o movimento corporal amplo, ou apenas com as
mãos e braços, os pés e pernas).
- O trabalho respiratório: Inspirar até o abdominal, bem lentamente,
como se enchesse uma bexiga, expirar como se soprasse pela boca tirando
tudo que precisa sair desde o abdômen. (inspiração e expiração com vários
ritmos e duração, em função das facilidades progressivas do aprendiz).
- Associar a histórias e imagens, criando algo a partir disto, com sopros
no canudo (de refresco) sobre um papel molhado com tinta aguada (papel
molhado e gotas de guache que são pintados com auxílio do sopro no canudo).
- Tocar com tambores liberando a energia e conversando com eles:
forte, leve, no centro e nas bordas do tambor, acelerado e lentamente,
alterações de ritmos. Conversas com o tambor do companheiro ou terapeuta,
mantendo palavras, cantos, ou acompanhando pelo som de uma música
rítmica.
Jogos:
- Furar com estiletes pontos no papel (exercício de pulsão nos detalhes),
com curta e longa duração, rápido e lento, formando uma figura, ou
aleatoriamente.
- Exercícios de detalhes, selecionar e reconhecer detalhes no fundo
variado e complexo. Jogo de quem descobre mais rápido: Cara a Cara.
- Jogos de quem acha no todo, descoberta de erros, sempre alternado
com projeções mais excessivas do movimento e relaxamento: jogo dos sete
erros, por exemplo.
- Jogos de figura e fundo: Quem acha primeiro: Lince, Onde está Wally e
outros.
- Jogos com movimentos que requeiram atenção e rapidez diante de um
sinal.
Na área clínica, o trabalho do psicopedagogo pode ser preventivo,
visando também evitar o fracasso, seja este escolar, profissional ou pessoal,
além de encaminhar à propositura de novas possibilidades de ações, que farão
33
com que ocorra uma melhora na prática pedagógica, contribuindo para sua
própria evolução.
Com relação à escola, a psicopedagoga vai atuar junto aos
coordenadores e professores, com o objetivo de levantar dados da rotina
escolar do aluno, como seu rendimento nas disciplinas, sua organização na
sala e com seu material, interesse na matéria, comportamento em sala de aula
e nas atividades fora da sala, além de seu relacionamento com os colegas e
professores.
Durante o processo de aprendizagem, o psicopedagogo está voltado
para o portador de TDAH, sempre considerando as realidades objetivas e
subjetivas que habitam o entorno da criança e/ou adolescente. Além disso,
deve considerar também o conhecimento em sua complexidade dentro de uma
dinâmica, onde os aspectos afetivos, cognitivos e sociais se complementam.
34
CONCLUSÃO
A Psicopedagogia é uma profissão que atende às necessidades do
século XXI. Aprender a aprender é a premissa deste século, é a condição para
podermos viver dentro de um mundo de mudanças rápidas, resultantes do
advento da transformação da tecnologia e informática, onde é necessário que a
capacidade de transformação das pessoas e consequente possibilidade de
aprendizagem seja intensamente cuidada.
A intervenção psicopedagógica é um processo contínuo que necessita
do envolvimento coletivo tanto da família quanto da comunidade escolar e dos
demais profissionais envolvidos no acompanhamento da criança, por isso, é
possível acreditar que a intervenção, além de contribuir para que novas
práticas metodológicas sejam desenvolvidas no cotidiano da escola, poderá
também oferecer elementos para ações conjuntas destes diversos
profissionais.
O psicopedagogo sabe que sua profissão consiste na construção de
saberes, não sendo uma atividade neutra para ambas as partes. Nesta
situação a ajuda entre ambos é mútua, pois as relações de afeto que se
estabelece entre psicopedagogo e o educando são necessários ao
desenvolvimento da relação educativa. Desta forma, o papel do psicopedagogo
deve sempre buscar levar o educando a integrar-se novamente à vida normal,
respeitando sua individualidade.
Espero que este trabalho venha colaborar com todos os que atuam na
área da educação. É um trabalho baseado em diversas pesquisas na internet
onde foi destacada a importância não apenas em ter conhecimento e saber
lidar com o transtorno do TDAH, como também a fazer o diagnóstico e a
intervenção no momento adequado.
A formação de um educador é um processo que não tem fim, pois o mundo
está cheio de informações, onde tudo já se fez e pensou várias coisas foram
escritas e criadas em diversas áreas do conhecimento, não existe algo novo
em meio a tanta informação, onde pude apenas complementar com as minhas
próprias palavras.
35
ANEXO
Código de Ética e Estatuto da Associação Brasileira de Psicopedagogia
reza no seu artigo 6º os deveres fundamentais dos psicopedagogos:
a) manter-se atualizado quanto aos conhecimentos científicos e técnicos que
tratem o fenômeno da aprendizagem humana;
b) zelar pelo bom relacionamento com especialistas de outras áreas, mantendo
uma atitude crítica, de abertura e respeito em relação às diferentes visões do
mundo;
c) assumir somente as responsabilidades para as quais esteja preparado
dentro dos limites da competência psicopedagógica;
d)colaborar com o progresso da Psicopedagogia;
e) difundir seus conhecimentos e prestar serviços nas agremiações de classe
sempre que possível;
f) responsabilizar-se pelas avaliações feitas fornecendo ao cliente uma
definição clara do seu diagnóstico;
g) preservar a identidade, parecer e/ou diagnóstico do cliente nos relatos e
discussões feitos a título de exemplos e estudos de casos;
h) responsabilizar-se por crítica feita a colegas na ausência destes;
i) manter atitude de colaboração e solidariedade com colegas sem ser
conivente ou acumpliciar-se, de qualquer forma, com o ato ilícito ou calúnia.
j) O respeito e a dignidade na relação profissional são deveres fundamentais do
psicopedagogo para harmonia da classe e manutenção do conceito público.
36
BIBLIOGRAFIA
PHELAN, T.W. TDA/TDAH. Transtorno de Défcit de Atenção e Hiperatividade:
Sintomas, Diagnósticos e Tratamentos. Crianças e Adultos. São Paulo:
M.Books do Brasil Editora, 2005.
GOLDSTEIN, S., GOLDSTEIN, M. Hiperatividade: Como desenvolver a
capacidade de atenção da criança. Campinas: Papirus Editora, 1994.
STROH, Juliana Bielawski. TDAH - diagnóstico psicopedagógico e suas
intervenções através da Psicopedagogia e da Arteterapia. Constr.
psicopedag., São Paulo, v.18, n.17, dez. 2010. Disponível em<
http://pepsic.bvsalud.org>. Acesso em 01 jun. 2014.
Intervenção Psicopedagógica no TDAH, Disponível em
<http://www.portaleducacao.com.br>. Acesso em 10 dejunho de 2014.
Isabel Parolin, Disponível em <http://www.abpp.com.br/abpprsul>. Acesso em
12 de junho de 2014.
BOSSA, N. A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
NEVES, M. A. Psicopedagogia: um só termo e muitas significações. In Boletim
da Associação Brasileira de Psicopedagogia, v.10, n.21, 1991.
37
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA PSICOPEDAGOGIA 10
1.1 – O objeto de estudo da Psicopedagogia 15
CAPÍTULO II
O TDAH 20
2.1 – Enfrentando o transtorno 22
2.2- A medicação 23
CAPÍTULO III
OS PROCESSOS DA PSICOPEDAGOGIA 25
3.1 – Intervenção na criança TDAH 30
CONCLUSÃO 34
ANEXO 35
BIBLIOGRAFIA 36
ÍNDICE 37