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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE . DANÇA UMA EXPRESSÃO ARTETERAPÊUTICA. Marilia de Souza Guimarães Orientadora Profª. Ms. Fátima Alves RIO DE JANEIRO 2012 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

.

DANÇA UMA EXPRESSÃO ARTETERAPÊUTICA.

Marilia de Souza Guimarães

Orientadora

Profª. Ms. Fátima Alves

RIO DE JANEIRO

2012

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

.

DANÇA UMA EXPRESSÃO ARTETERAPÊUTICA.

Trabalho de Conclusão apresentado por Marilia de

Souza Guimarães ao Curso de Arteterapia em

Educação e Saúde, como requisito para obtenção do

Grau de Licenciada em Arteterapia, sob orientação da

Prof.ª Ms. Fátima Alves.

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Dedico este trabalho ao Senhor Jesus Cristo, meu Mestre e Senhor.

Aos meus pais, Paulo e Cacilda, amo vocês.

Aos meus irmãos, Otávio, saudade eterna, Vinícius e Guilherme.

Aos meus pastores Gesié e Gessy e toda Missão Vida Brasil.

Que Deus nos abençoe a cumprir o Seu propósito.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Paulo e Cacilda, “meus amigos e heróis”. Obrigada, sem vocês eu

não teria chegado até aqui. Aos meus irmãos, Vinícius e Guilherme. Amo vocês!

Ao meu irmão em especial Otávio, você sempre será meu maninho parceiro,

muitas saudades! Ao meu namorado e amigo, Fernando, amo cada dia mais você!

As minhas colegas nesta jornada, Michele e Vânia. Vocês tornaram este curso

mais legal e engraçado.

Aos professores do curso de Arteterapia em Educação e Saúde, pela

disponibilidade e atenção dada durante todo o curso, cada disciplina contribuiu de

forma especial para a conclusão deste trabalho. Obrigada!

Em especial, a professora, mestre e orientadora Fátima Alves pela atenção e

auxílio no desenvolvimento deste trabalho.

Aos alunos de dança da Escola Municipal Profª Talita Hernandes Perelló e do

Projeto de Ação Social Missão Vida Brasil, pelo convívio o ambiente criativo que

nos proporcionaram experiências muito significativas com a arte de se mover, amo

vocês.

Aos meus pastores Gesié e Gessy, obrigada por potencializar o chamado de Deus

em minha vida. A toda Missão Vida Brasil, pelo apoio e credibilidade nos projetos

missionários e artísticos realizados.

A todos os meus alunos da Escola de Dança Profética Missão Vida Brasil que

acreditam no meu ministério e tem me motivado estudar sobre a arte e dança

cada vez mais.

A todos os missionários que tem dado as suas vidas para entrar nas áreas

artísticas e educacionais de nossa sociedade, promovendo transformação social

como verdadeiros Filhos de Deus.

Esta vitória é nossa! E o prenúncio de muitas outras que viram.

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“Eu só acreditaria num Deus que soubesse dançar.”

(Friedrich Nietzsche)

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RESUMO

A partir de vivências, estudos teóricos e pesquisas. Este trabalho pretende

abordar a necessidade humana desde tempos antigos de expressar por meio da

dança, sentimentos, emoções e valores próprios da época para se construir como

Ser singular que faz parte de uma pluralidade. Mediante uma sociedade onde o

isolamento e a alienação que os meios tecnológicos e a mídia nos colocam, a

dança aparece não somente como uma vertente artística pedagógica ou esportiva,

mas também terapêutico. Maria Fux nos mostra com a dançaterapia pode ser um

meio de conhecimento pessoal, integração e auxilio na construção da auto-

imagem e auto estima. Levando o ser humano a resgatar o contato com ele

mesmo e sua Essência por uma abordagem corporal. Pesquisas feitas com alunos

nas escolas de Cabo Frio-RJ, comprovaram que a dança pode ser um meio

terapêutico para auxilio da construção da auto imagem e integração de muitas

crianças e adolescentes no ambiente escolar amenizando conflitos culturais e

sociais.

PALAVRAS-CHAVES: Dança, Dançaterapia, Movimento e Educação.

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METODOLOGIA

A metodologia que será utilizada para investigação se refere à pesquisa-

ação tendo como principal objeto de interesse as escolas, alunos, professores de

dança, pesquisas bibliográficas e artigos científicos. O tipo de pesquisa a ser

desenvolvida será descritiva histórica, tendo como fonte de pesquisa teórica, livros

acadêmicos, revistas, internet e artigos científicos.

A coleta de dados será realizada nas escolas com alunos e professores

que lecionam dança, através de entrevista, estudo de casos e coleta de dados.

Será feito um levantamento estatístico através de uma entrevista para saber como

está repercutindo a dança nas escolas de Cabo Frio.

Após a coleta e análise de todos os dados, as informações serão

organizadas e contextualizadas com as fundamentações teóricas para conclusão

da pesquisa. Algumas das minhas vivências como professoras de dança no

espaço escolar e em projetos de ação sociais nas comunidades do município de

Cabo Frio serão descritos neste trabalho.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 9

CAPITULO I - DANÇA E MOVIMENTO NA HISTÓRIA HUMANO .............................. 11

CAPITULO II - DANÇA: UMA EXPRESSÃO ARTETERAPÊUTICA ............................ 22

CAPITULO III - DIVERSIDADE ARTÍSTICA: COM REFLEXO NO ÂMBITO

ESCOLAR .................................................................................................................... 38

CONCLUSÃO .............................................................................................................. 49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 51

ANEXO I ....................................................................................................................... 53

ANEXO II....................................................................................................................... 55

ÍNDICE .......................................................................................................................... 58

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INTRODUÇÃO

Movimentar, dançar, educar-se, a vida é feita de movimentos. Desde

tempos antigos, a dança como linguagem expressiva e artística é vista nas

relações humana de diversas culturas, sendo forma de se perceber e expressar o

contexto social em que se estava vivendo. Este trabalho pretende abordar no

capitulo I, “dança e movimento na história humana”, como o ser humano se moveu

ao longo dos tempos de sua existência. A dança sempre esteve presente

relatando como o ser humano sentia e percebia o contexto social e cultural em

que vivia. As danças primitivas nos comunicam como o ser humano se movia em

busca de sua sobrevivência, as danças milenares nos revelam a busca por algo

divino e sagrado, porém com a Igreja na Idade Média a dança se torna

pecaminosa sendo apenas manifestas de forma camufladas entre os camponeses.

No século XI e XII as marcas de peste negra e doenças epidêmicas assolam a

dança, levando o ser humano a dançar para espantar a morte. No renascimento a

um intenso movimento de renovação onde a dança surge como meio de ostentar

festas, comemorações e riquezas, pelas cortes. (LANGENDONCK, 2004)

Com isso surge o balé e pesquisadores como Delsarte, Dalcroze e Laban.

Com as influencias expressionistas a dança moderna surge não com intuito de

rejeitar as técnicas, mas resgatar a expressão e o sentir. A dança neo-clássica

surgi então como um transição para a dança contemporânea, que vem com uma

narrativa fragmentada, própria do contexto em que o ser humano se movia. A

dança tem muitos benefícios para a realidade da sociedade contemporânea, pois

possibilita vivencias corporais que cada vez, pela comodidade da tecnologia nos

coloca mais sedentários e distantes das relações sociais.

No segundo capitulo “Dança: uma expressão arteterapêutica”, pretendo

abordar como mediante a sociedade contemporânea o isolamento social e o

avanço tecnologia cada vez nos coloca mais distante do outro e de nós mesmo,

numa relação artificial e como Maria Fux com a dançaterapia pode auxiliar com no

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resgate do “natural”. Trazendo uma proposta terapêutica e auxiliando no

desenvolvimento da criatividade e percepção de si, do outro e do mundo,

podemos ver em suas pesquisas um meio metodológico de aplicar e desenvolver

uma educação para humanização, potencializando habilidades e expressões

favoráveis para uma vida social e grupal, auxiliando na integração. como a dança

auxilia na construção da auto-imagem, no reflexo para o outro e auxilia na

integração social. Ensinar dança é ensinar a refletir, sentir, experimentar o mundo,

é romper com um sistema educativo tradicional e conscientizar cidadãos críticos e

reflexivos, que está em constante transformação. A dança como ensino que

trabalha com o processo de criação contínua é vista por muitas escolas como

ensino “menos importante” diante das demais disciplinas “mais sérias”, porém ela

auxilia para uma tomada de consciência física, emotiva, cognitiva e espiritual,

permitindo uma sensação de plenitude e prazer relatados por muitos que dançam.

A escola nestes últimos tempos tem sido cenário de grandes tragédias,

muitas causadas por conflitos sociais, morais e emocionais, a escola como um

lugar de encontro do diferente deve promover espaço para dialogar as

diversidades culturais e artísticas, amenizando o conflito. E a vertente terapêutica

na dança é um recurso que pode auxiliar na percepção dos personas e sombras

que permeiam os conflitos culturais e sociais com Jung nos aponta.

No terceiro capitulo “Diversidade artística: Com reflexo no âmbito escolar”

pretendo contextualizar as pesquisas e entrevistas com alunos e professores de

dança de duas escolas do município de Cabo Frio. Analisando como a dança ela

se desenvolve em sua vertente terapêutica nas escolas, e auxilia na

sensibilização, conscientização e no comportamental dos alunos no espaço

escolar. Neste trabalho autores como Isabel Marques, Maria Fux, Dionísia Nanni,

Sigmund Freud, Carl Gustav Jung, Duarte Jr, entre outros, serviram de reflexão e

base para o desenvolvimento desta temática.

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CAPÍTULO I

DANÇA E MOVIMENTO NA HISTÓRIA HUMANA “... o mais importante e bonito do mundo é isto, que as pessoas não estão sempre iguais, não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando.”

Guimarães Rosa

Onde tem vida, tem movimento. O movimento faz parte do processo de

desenvolvimento do ser humano deste a vida uterina, ela nos possibilita vivenciar

experiências físicas e a desenvolver noções básicas no campo intelectual. Durante

toda a história da dança, as vivências do ser humano consigo, o outro e o mundo

possibilitaram descobertas que diferenciaram o ser humano do animal. Dançar,

movimentar e educar, são verbos cruciais para o desenvolvimento do ser humano,

e apesar de parecer distantes uns dos outros eles cooperam para uma finalidade

comum para a vida: O crescimento. MANSUR (2003:11) nos afirma:

“Essa é a proposta da vida, do estar vivo: crescer consigo mesmo, crescer com o mundo, crescer com os que estão no mundo, apostando nessa proposta de harmonia relacional.”

É neste processo de crescimento e possibilidades ao autoconhecimento

que alcançamos nossa individuação como nos respalda Jung (GRINBERG:1997).

O homem ao longo da história movimentou, dançou e escreveu sua história por

meio do seu corpo que é nosso referencial mais imediato e concreto. Se

descobrindo e modificando o habitar em que vive, e através das necessidades

trouxe possibilidades criativas que marcam nossa vida cotidiana, não só na arte de

dançar, mas na arte de viver e criar.

Rosana Langendonck em seu artigo “História da dança” nos mostra como

a dança na sociedade primitiva, idade antiga, Idade média, colonial, moderna e

contemporânea foram se modificando mediante as necessidades humanas que

eram impostas pela época e como ela foi reconhecida como arte ao longo do

tempo. Com suas reflexões iremos passear pela história da dança primitiva, dança

milenar e sagrada, dança macabra, dança clássica, dança moderna, dança

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contemporânea, compreendendo as performances artísticas como expressão e

habilidade construída mediante os acontecimentos sociais desde os tempos

primórdios até hoje.

1.1 Dança primitiva.

Segundo LANGENDONCK (2004:3), nas danças primitivas, 9.000 a.C.

desenhos em rocha e paredes feitas pelos homens da caverna nos mostra como a

arte rupestre expressava um desejo pela sobrevivência de tribos isoladas, rituais

de danças eram feitos para que fenômenos da natureza não prejudicassem suas

atividades de colheita, pesca e caça. OSSONA (1988:42) nos diz:

“Com efeito, nesse primeiro período o homem busca na dança não apenas as forças da natureza para demonstrar-lhes mediante o gesto quais são suas necessidades mais prementes, mas também para mostrar-se convencido da influência que por força de sua dança adquire sobre os fenômenos naturais, para obrigá-los a atuar segundo seus desejos e necessidades.”

Com uma percepção voltada para os fenômenos da natureza, a dança

primitiva expressavam necessidades, como de chuva para saciar a sede e para a

plantação ao girar no solo imitando o trovão com batidas de tambores dando

golpes na terra, ou do cessar da chuva ao balancear ritmicamente os leques feitos

de folha, ou desejo de multiplicação dos animais ao imitar o acasalamento dos

destes. As danças eram desenvolvidas em roda, fila, dupla ou individual.

(OSSONA, 1988)

1.2 Dança milenar e sagrada.

Segundo LANGENDONCK (2004:4) em 5.000 a.C., as danças milenares

teve sua origem como sendo sagrada ou profana. No Egito, as danças sagradas

era dirigida aos deuses egípcios como Hathor (deus da dança e música), Bés,

Osíris, Amon, para fertilidade, celebração e ascensão dos mortos. As danças

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profanas aconteciam para homenagear vivos, mortos e funcionários em elevação

de cargos.

Na Índia, a dança milenar surge com a adoração a Shiva (deus da dança).

A atividade cósmica era o tema central das danças Egípcias e Indianas,

expressando eventos divinos, o ritmo da dança estava ligado à criação do mundo

e seus ciclos e mudanças. O principio das danças oferecidas aos deuses em seus

diversos estilos era que o corpo de forma global deveria dançar, expressando-se

de forma mítica, afetiva e espiritual. A dança na Índia não dissocia corpo e alma,

mas ela integra ambos como afirma Hanna (1999:155):

“Dentro do culto de Shiva, o iogue é quem renunciou aos deveres e preocupações humanas comuns, em santo exercício para unificar o corpo e a alma. Dançar é um dos meios para alcançar essa finalidade.”

Todos os movimentos de pés, mãos, cabeças, ombros, tem um significado

preestabelecido e construído pelo bailarino, e até hoje é passada de geração em

geração com uma carga mística e religiosa.

Na Grécia, século VII a.C. a século III a.C., a dança também com uma

carga mística e religiosa, era utilizada para reverenciar seus diversos deuses, e

por causa de seus poder sedutor era considerada mágica. Dionísio (deus da

fertilidade e do vinho) era a divindade mais exaltada, em sua celebração os

dançarinos em roda pisavam as uvas no ritmo da canção entoada, e quando

cansavam, outros dançarinos substituíam. A dança era muito valorizada entre os

gregos sendo utilizada na preparação dos homens no serviço militar e educação

das crianças, pois compreendiam como os indianos que a dança integrava o corpo

e o espírito, sendo muito apreciada nos esportes. Filósofos como Sócrates, Platão

e Aristóteles viam a dança como meio de formar o ser cidadão completo. No

Oriente surge a dança do ventre entre outras.

1.3 Dança macabra.

Segundo LANGENDONCK (2004:5), com a chegada da Igreja na Idade

Média, a dança e a manifestação corporal são proibidas sendo vista como

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“pecaminosas”, pela Igreja que se torna autoridade constituída. Espaços culturais

como teatro são fechados, e somente usados para manifestações religiosas.

Danças eram feitas pelos camponeses de forma camuflada com representações

de anjos e santos, que logo depois foi introduzida nas igrejas, muitos aristocratas

buscavam participar destas festas.

No século XI e XII, com as doenças epidêmicas e a peste negra muitas

pessoas estavam morrendo, a dança era desenvolvida com movimentos intensos

e frenéticos como forma de espantar a morte, sendo rotulada como a dança

macabra ou dança da morte, manifestações teatrais moralistas eram feitas pela

Igreja com base em flagelos de Deus, castigos e remissões de pecados.

Corpos reprimidos começaram na dança buscar sua sobrevivência, William

Mostsloy apud Zimmerman (1999:239) nos afirma: “Quando o sofrimento não pode

expressar-se pelo pranto, ele faz chorarem os outros órgãos.”

O ser humano tem necessidade de expressar seus sentimentos, emoções e

valores, quando reprimido bloqueios energéticos acumulam tensões musculares

dando origem em doenças psicossomáticas. O pensamento de morte induzido

pela Igreja aterrorizava todos neste tempo e era o tema central nas danças,

pinturas, esculturas e músicas. Duby (1988:149) nos diz: “A obra de arte maior do

século XIV não é a catedral nem o palácio, mas o túmulo e suas várias

manifestações.” Nos cemitérios as danças macabras seguiam um cortejo

representado por: Adão e Eva, o anjo que os expulsou do paraíso um esqueleto

com uma foice, um cardeal, um rei, ou imperador, um burguês, um mendigo, um

judeu, e um pagão. A igreja colocava todos iguais mediante a morte, e utilizava

das danças macabras para submissão do homem e preservação de seus

preceitos cristãos.

1.4 Dança clássica.

Segundo LANGENDONCK (2004:6), no século XIII e XIV, surgiram as

primeiras bases para o balé através da dança basse dance que foi difundida pelos

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artistas nos castelos medievais, era uma dança lenta por causa dos muitos

adereços dos aristocratas, teve sua origem entre os camponeses, porém com

mais mobilidade nos movimentos.

Com a chegada do Renascimento no século XV e XVI, mudanças

aconteceram na vida social e cultural, as cortes com sua necessidade de ostentar

riqueza e poder promovem festas e celebrações onde artistas como Leonardo da

Vinci estava presentes, muitas danças foram sendo desenvolvidas nas cortes e

era quase exclusivamente masculino, com o balé, o feminino ganha espaço

formando o primeiro corpo de baile na história da dança em 1581. Formas

geométricas, direções no espaço e entre outros foram surgindo dando fundamento

a uma forma de arte. Muitos artistas influenciaram o balé no século XVIII, Pierre

Beauchamp (1639-1705) com as cinco posições do balé, Jean-George Noverre

(1727-1810) com o balé dramático e teatral, entre outros.

No século XIX, o balé romântico surge com Noverre que buscava

inspirações nas esculturas e pinturas, e com um espírito de romantismo em seus

bailarinos e o desejo de liberdade da época, Tavares (2005:99) nos diz:

“A antiguidade clássica com seus deuses e heróis já não eram o tema dos balés. As histórias agora tinham ligações com a natureza, elementos exóticos, fatos sobrenaturais, magia, drama, lendas e cavaleiros apaixonados e em crise. Foi nessa época que surgiram os libretistas ou roteiristas, pois até esse período os libretos eram escritos pelos coreógrafos.”

A sapatilha de ponta e roupas mais leves permitia mais fluidez nos

movimentos, tutus mais longos enfeitados de flores e corpetes ajustados com

ombros nus lembravam a vida no campo.

Com o balé romântico em decadência, por ter se tornado um lugar de

entretenimento e meio de nobres encontrarem belas damas, o balé Russo surge

com os mestres Marius Pepita (1818-1910) e o italiano Enrico Cecchetti (1840-

1928). Reelaborou uma técnica para o temperamento e físico russo se destacou

com os espetáculos que marcaram a história do balé como “A morte do Cisne”, A

bela adormecida, entre outras.

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1.5 Dança Moderna.

Segundo LANGENDONCK (2004:11), com a revolução industrial, no

século XX, muitas transformações acontecem na sociedade, necessidades de

mais movimento surgem com o automóvel, avião, moda, iluminação elétrica.

Mediante este dinamismo social a dança precisou ser reformulada, buscando

novas formas, os códigos clássicos continuavam em alta ainda. O que separava a

dança clássica do moderno não era somente a técnica, mas o pensamento. Com a

civilização industrial o ensino da arte começa a ser dividida em “útil” ou

”agradável”, e uma divisão social no ensino de artes se estabelece fortalecendo as

classes dominantes, sobrando pouco tempo para as classes operárias sonhar,

criar e viver como ilustra o conhecido Charles Chaplin no filme Tempos Moderno.

Enquanto na dança clássica a “ação” era o primordial como diz OSSONA apud

TAVARES (2005:103):

“... dança-se pelo amor ao movimento em si, sem necessidade de que este seja um meio expressivo; o estilo clássico nasce nas cortes e é uma dança polida, na qual a harmonia nas linhas cria uma beleza formal, cujos cânones nascem, certamente, do desenvolvimento daqueles que fixam a dança cortês: leveza, elegância, alegria; dança-se nas cortes para celebração ou para divertir-se; dança já não tem nada de ritual, nada de oração, de preparação para o combate ou de cerimônia fúnebre.”

Na dança moderna o primordial era “emoção”, não seguindo uma

exigência técnica, porém movimentos mais livres que proporcionavam maior

liberdade e espontaneidade. OSSONA apud TAVARES (2005:103) afirma:

“Na dança moderna, dança-se para expressar o homem em relação com o homem, ou com a natureza, a divindade, a máquina, as paixões ou os costumes. A simetria e o equilíbrio são quase sempre desprezados como meios expressivos, posto que se considera que todo movimento é a ruptura do equilíbrio físico, assim como toda emoção é a ruptura do equilíbrio anímico. O espaço é imaginado como mundo conflitual, no qual o dançarino projeta sua emoção e do qual recebe estímulo ou resposta.”

Para estudiosos sobre o corpo como François Delsarte (1811-1871) na

dança moderna as emoções eram expressas a partir do tronco, diferente do

clássico que era a partir dos pés e mãos. Rudolf Laban (1879-1958) foi um grande

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pesquisador para a dança moderna, seus estudos e propostas têm como

princípios baseados na linguagem corporal. Movimentos cotidianos, simples e

automáticos são analisados e transformados em forma artística.

Isadora Duncan (1878-1927), uma das pioneiras na difusão da dança

moderna e conhecida como a “mãe” da dança moderna, revelava através dos

seus gestos na dança grandes influências da mitologia grega e oriental, suas

roupas eram túnicas soltas, e seus pés descalços o que mostrava ousadia e seus

anseios pelas as origens. Em 1920 surge a dança neo-clássica que foi uma

transição para que a dança contemporânea.

1.6 Dança Contemporânea

Com a era da tecnologia e comunicação a arte ganha mais “espaço”

permitindo as diversidades artísticas se cruzarem, dialogarem e confrontarem.

Nisto os críticos da dança enfrentavam a crise entre a forma e o conteúdo,

questionando-se o modo de se construir a dança buscava uma revolução entre a

fronteira do moderno e do contemporâneo. Merce Cunningham conhecido como

percussor da dança contemporânea surge com seus pensamentos dando inicio a

uma autonomia maior na dança como arte isolada, buscando uma “postura anti-

natural”. Segundo MARQUES (2007:169):

“Para Cunningham, no entanto, que se afirmava com o coreografo nas décadas de 1950 e 1960, a indústria cultural, a televisão e o crescimento da indústria de consumo impossibilitavam ao ser humano distinguir o que é hoje realmente inerente a ele (seus desejos, necessidades e sonhos) do que é criado pelos meios de comunicação. Ou seja, aquilo que é dito e aceito como “natural” pode estar sendo um real condicionamento subliminar de nossos sentidos, de nossa percepção, de nosso gosto, entre outros.”

Cunningham buscavam uma dança que não estivesse alienada a

industria de consumo e universalizada, chegando a coreografar independente da

música e cenário. O método do acaso surgia nas construções coreográficas onde

sorteios eram realizados nas criações da coreografia, eram feitas coreografias

para vídeos e filmes que davam uma percepção maior do olhar do palco e da

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câmera ampliando possibilidades criativas. Cunningham inseriu a tecnologia nas

suas construções coreográficas. Contra a teatral e o dramático, buscou

objetividade formal na técnica desenvolvida por ele e a independência da dança

em relação ao condicionamento narrativo.

Os dançarinos de Cunningham também eram isolados nas coreografias,

como solistas diferenciados tinham suas próprias movimentações, ocupação

espacial e de ritmo. O isolamento e a impessoalidade não criavam uma

identificação da plateia com os dançarinos os submetendo a meras obras de arte,

de modo isolado de si mesmo e do público. A noção espacial se baseava em todo

espaço do palco, não existindo ponto demarcado mais lugares de passagem. A

noção de tempo se baseava utilizar a rapidez, leveza e a flexibilidade do clássico,

com movimentos de locomoção rápida e fugaz. (MARQUES, 2007:173)

A dança contemporânea não tem um tipo físico, nem tem padrões pré-

estabelecidos, baseia-se nas novas possibilidades de movimentos. A dança

contemporânea ganhou estabilidade nos Estados Unidos, Alemanha, França,

Inglaterra e Brasil. A dança contemporânea francesa trazia uma conexão com o

movimento surrealista na arte daquele tempo.

O pensamento da dança contemporânea se norteava na sociedade

contemporânea que virtualmente integrava, mas isolava, e com suas complexas

redes de comunicação afetava as noções de tempo e espaço. Muitos conceitos e

pensamentos sociais durante toda a história da dança influenciaram e levaram por

meio da dança questionar sobre ela. Apesar de Cunningham não ter a pretensão

de mostrar o mundo e buscar “fugir” de toda alienação, através de seus

pensamentos e conceitos refletia criticamente a sociedade em que atuava.

1.7 A dança e seus benefícios para a sociedade

contemporânea.

Como instrumento de expressão a dança revelou ao longo da história

como o ser humano percebeu as diferentes épocas. Muitos conceitos,

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pensamentos e valores que norteavam a sociedade influenciaram de forma critica

nas danças. Por meio das vivências corpóreas com o peso, tempo, espaço e

fluência o ser humano percebeu e elaborou conceitos que se aplicam em diversos

campos científicos.

O corpo é nossa maior referencia de existência e é por meio dele que nos

desenvolvemos neste mundo. Mediante esta sociedade tecnológica, onde tudo é

virtual, artificial e prático, as relações de troca de afeto e as vivências corpóreas

cada vez ficam de lado pelo embalo da engrenagem da produção. Sem tempo

para as vivências de lazer e submetido a um ritmo social onde a rapidez é a

sinfonia, o corpo tem desenvolvido tensões que se sucumbem em estresse e

sintomas como dores de cabeça, ansiedade, insônia, fadiga crônica,

agressividade, pânico, depressão entre outras.

A dança como linguagem artística e expressiva tem como instrumento

este corpo que hoje sofre com as exigências da sociedade contemporânea.

NANNI (2003:169) ressalta a dança como forma de o ser humano se “libertar”.

“... o fato de que concebem a dança como formas de expressarem suas emoções e de estabelecerem suas valorações quando a leitura de sua realidade, pelas sublimações do corpo que dança, passa a libertar-se na arte do esmagamento em que se acha sob o cotidiano.”

A dança auxilia no balanceamento dinâmico das energias vitais,

possibilitando a descarga de tensões pelo movimento e a respiração regulada. Na

dança, por exemplo, enquanto se alongamos, aprendemos a respeitar a si e o

outro, noções de anatomia, matemática, espaciais se descobre fisicamente e

emocionalmente com o outro. A dança tem como elo um fator muito importante

para a aprendizagem, o “prazer”. LIANO apud NANNI (1995) nos acrescenta

dizendo, que a dança como meio da educação dos movimentos, favorece no

desenvolvimento intelectual, ou seja, da memória, atenção, raciocínio, curiosidade,

observação, criatividade, exploração, entendimento qualitativo de situações e

poder de crítica.

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A dança é um instrumento para identificação cultural e desenvolvimento

individual. Possibilitando por sua vertente empática e histórica, perceber o outro, o

diferente, promovendo indivíduos mais tolerantes e compreensivos pela integração

dos diferentes biótipos corporais. IMBASSAÍ apud CALAZANS, CASTILHO &

GOMES, (2003:47) nos diz:

“Corpo não é apenas uma forma em movimento correndo, nadando ou dançando. É, menos ainda, uma vitrine de marcas e logotipos. Instrumento do homem no mundo, o corpo é possibilidade permanente de invenção de novas finalidades e a disposição para vivê-las.”

A dança é um instrumento para potencializar habilidades expressivas e

manuais. A expressão é a manifestação de sentimentos, que indica sensações por

meio de signos e sinais, sendo a expressão ambígua depende de maior

interpretação do receptor, mesmo sendo subjetiva é a linguagem mais real e

verdadeira. Muitas vezes temos que lidar com crianças extremamente

introspectivas que por mais que tentam se comunicar não consegue e isso a

atrapalha no seu desenvolvimento podendo comprometer sua carreira profissional

futura. A dança é um instrumento que auxilia no desenvolvimento da auto-estima e

na espontaneidade. (NANNI, 2003)

A dança como arte tem como finalidade o desenvolvimento de uma

consciência estética, uma integração entre sentimentos, imaginação e razão.

Levando o ser humano a selecionar e recriar sua situação existencial. Ou seja,

superar as barreiras sociais impostas e numa atitude “rebelde” levar a critícidade

das condições reais do ser humano. Segundo DUARTE JR (1991:54), “esses

termos qualquer ato criativo é sempre subversivo, pois visa à alteração, a

modificação do existente.” Mesmo depois de mais de 30 anos, FERREIRA e

VENANCIO FILHO (2002:173) nos afirma dizendo, “arte é ainda uma prática de

autonomia pessoal na medida em que consegue manter-se a despeito das

estruturas do mercado de arte.”

Na nossa vida prática muitos temos a fazer, pouco tempo resta para

fantasia e o sonho. Na escola isso se acaba refletindo com os restritos tempos que

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são direcionados a arte, não se dialoga a sociedade que queremos no futuro, não

vemos mais a escola impulsionando os alunos a idealizarem um futuro melhor que

este. Projetos de sustentabilidade ainda ganham espaço na escola entre os outros

conhecimentos “mais importantes”. Isto é preocupante! Pois a sociedade tem

caminhado para seu próprio extermínio com o desenvolvimento desenfreado de

maquinas, usinas, e tantas outras coisas que tem agredido seu habitar, a

insensibilidade humana tem tirado de muitos a percepção de uma vida de

qualidade, para uma vida de conforto e acomodação.

A dança é um meio de dialogar e projetar um futuro diferente. MARQUES

(2007:24) nos afirma; “Essa é uma das grandes contribuições da dança para a

educação do ser humano – educar corpos que sejam capazes de criar pensando e

re-significar o mundo em forma de arte.”

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CAPÍTULO II

DANÇA, UMA EXPRESSÃO ARTETERAPÊUTICA

“Deus mora em mim como sua melhor casa. Sou sua paisagem...”

Adélia Prado

No processo arteterapêutico, o instrumento mais comum é as atividades

de artes plásticas, tendo como análise as imagens e figuras. Porém o “corpo” na

relação com os materiais no processo arteterapêutico nos diz muito a seu respeito.

Sua postura, ritmo, expressão nos sinalizam muito sobre sua personalidade e

questões em conflito. Então, porque não desenvolver um trabalho arteterapêutico

pela dança? Onde o corpo como espelho da mente, seus símbolos e arquétipos, é

o instrumento de análise e diálogo para busca de sua individuação?

Principalmente em espaço escolares onde depender de materiais plásticos é difícil

e limitado. Pensando nisso a dança se apresenta como recurso rico no processo

terapêutico, pois auxilia na percepção de si, do outro e do mundo.

A dança como meio terapêutico começou a ser difundida em 1930 pela

dançarina Marian Chace (1879-1958) nos Estados Unidos na escola moderna

denominada A Denishawn, fundada por Ruth St. Denis e Ted Shawn que tinha

uma ênfase maior nas emoções que fluíam em suas danças do que propriamente

nas coreografias em si, e trabalhou em hospital com alunos que sofriam de

problemas com bulimia, anorexia, etc. (MACIEL & CARNEIRO, 2012:36)

A dançaterapia começou pela escola moderna, porém foi Maria Fux,

bailarina e coreografa argentina que os psicólogos e psiquiatras denominaram

como a criadora e a inovadora da dançaterapia. Apesar de ter tido a percepção

posteriormente de que estava desenvolvendo um método terapêutico, Fux é

reconhecida mundialmente e atualmente dispõe de centros autorizados e

supervisionados por ela. Teve como grande inspiração em sua carreira a bailarina

moderna Isadora Ducan, chegou a estudar dança moderna, e se destacou pelo

seu trabalho com o ritmo do coração e a respiração, ela explorava o silêncio a

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procura do ritmo interno emocional, seus grandes trabalhos eram desenvolvidos

com portadores de necessidades especiais, em especial os surdos. FUX (1983:49)

diz:

“O ritmo está na respiração; o ritmo está na circulação do sangue; ritmo têm nossos próprios nomes; nossos passos o têm. Quando comemos, dormimos ou nos movemos, estamos fazendo ritmo; cada movimento executado no espaço sem auxilio da música tem seu ritmo.”

A dançaterapia promove autoconhecimento de suas potencialidades e

limites, auxiliando na superação de conflitos internos. Pelo critério da improvisação

busca-se uma harmonia com a música e o silêncio, do ritmo interno (a batida do

coração, a respiração) com o ritmo externo (o canto do pássaro, a buzina do carro,

um canção) percebendo se capaz de expressar, auxiliando no equilíbrio mental e

corporal e na elevação da auto-estima. (FUX,1983)

A dançaterapia tem como benefício à regulagem da frequência

respiratória, a diminuição da fadiga, a ampliação dos sentidos sensoriais,

melhorando a atenção e a concentração, potencializa a criatividade e a

capacidade de comunicação, promove a integração e auxilia na resistência ao

stress e ansiedade.

Carl Jung, psiquiatra alemão e uns dos pioneiros na arteterapia, apesar de

não ter escrito nada especifico da dança, trouxe grandes contribuições

psicológicas, como o conceito de coletivização, energia psíquica, arquétipos e

personas. Sua psicologia contribuiu para que seguidores ampliassem seus

horizontes e dessem origem ao “treinamento da sensibilidade”. Este teoria

abordava técnicas de “imaginação ativa”. NETTO (apud MACIEL & CARNEIRO,

2012:162) nos explica:

“Na abordagem junguiana, além da análise dos sonhos, existe a técnica da Imaginação Ativa, como um método para liberar o fluxo da livre associação do individuo. Ela propõem um dialogo entre o ego e as figuras inconscientes, possibilitando reintegração de diferentes partes fragmentadas e conflitantes, de maneira que se possa alargar o continente egoico. Apenas assim é possível diminuir a potência das figuras sombrias, sem o que irão exercer sua autonomia – pois nosso maior inimigo não é a percepção consciente da energias sombrias, por mais dolorosas que possam ser, mas sim a expressão inconsciente delas em ação e comportamento.”

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Sua teoria se baseava no contato com inconsciente, nos rompimentos

com os complexos, identificação das energias sombrias, e no núcleo dos

arquétipos para o desenvolvimento da individuação e para vivência da Eudade.

Para Jung (1997:101) anteriormente da dança externa, há uma dança

interna onde o movimento da energia psíquica se compara “a uma queda d’água

que segue seu curso de uma montanha para o vale.” Se um bloqueio se coloca

sobre o fluxo da água e impede o seu fluir aumenta a tensão. E neuroses e até

psicoses podem surgir pela sumarização da energia psíquica.

Clarice Nunes (2003) - doutorada em ciências humanas relata em “Dança

e Educação em Movimento” - como ao longo do tempo a falta da educação do

corpo e da arte a afetou e como ela tem se recuperado das “exaltantes horas

debruçadas em livros” que ocasionou num desvio da coluna. Hoje, por meio do

ensino da dança ela tem desenvolvido melhor percepção de si mesmo, como

sujeito de um corpo, de uma história e diz como a conscientização corporal fez

diferença em sua vida.

As teorias Jung sobre energia psíquica e o ênfase dado por Fux sobre

ritmo e respiração se entrelaçam quando se depara com mesma finalidade,

permitir o fluxo da vida em equilíbrio com o Ser.

A vida humana é uma gradativa movimentação de tomada de consciência

de seu verdadeiro ser, de sua realidade profunda. A humanidade crê hoje ter

evoluído por saber desfrutar dos recursos naturais e materiais. Sendo que

evolução significa transformação do comportamento humano e coletivo para a

realização humana e não apenas dos aspectos exteriores e materiais. FUX

(1996:23) nos afirma:

“Minha casa é meu corpo. Devo tentar reconhecê-lo para fazer com que meus próprios limites se desloquem sem medo. Não posso construir arranha-céus sem saber como é a minha casa-corpo. E, para saber onde colocar uma janela, para desenhar uma janela, preciso de um ponto. Um ponto milenar sem fronteiras.”

Assim, é necessário construir um autoconhecimento, sua auto-imagem

para a partir dela perceber o outro sem projeções e o mundo e suas diversidades.

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2.1 Construção da auto-imagem.

Para a criança desenvolver sua auto-imagem é precisa passar pelas três

etapas de desenvolvimento do esquema corporal. Segundo ALVES (2008): A

primeira etapa refere-se ao “corpo vivido”, que corresponde até os três anos –

onde a criança desenvolve a inteligência sensório-motor e se move pela imitação

do outro, no final desta começa-se o processo de auto-imagem, pois o eu se torna

unificado e individualizado. Na segunda etapa refere-se ao “corpo percebido ou

descoberto”, que corresponde dos três aos sete anos – onde começa a

organização do esquema corporal, pois a criança possui a capacidade de

interiorização podendo desenvolver conceitos de tempo e espaço. Na terceira

etapa refere-se ao “corpo representado”, que corresponde dos sete aos doze anos

– nesta etapa a criança tem um controle e domínio maior sobre seu corpo se

descentralizando deste e desenvolvendo outros pontos esferas da consciência

como uma maior movimentação cognitiva. ALVES (2008:53) nos acrescenta:

“Ajuriaguerra (1972) entende que a evolução da criança é sinônimo de conscientização e conhecimento cada vez mais profundo do seu corpo, a criança é o seu corpo, pois é através dele que a criança elabora todas as suas experiências vitais e organiza toda a sua personalidade. A imagem de si mesmo se constrói igual à forma que as demais estruturas mentais (pela associação dos elementos cada vez mais coordenados e complexos) ”

Na dançaterapia a tomada de consciência acontece de forma integral,

sendo veiculo de auxilio para o autoconhecimento, ou seja, a auto-imagem.

Potencializando o ser humano a assumir o comando da sua própria vida com

responsabilidade, se compreendendo em toda dimensão corporal, emocional,

mental e espiritual.

Segundo Sampaio (2004), isso acontece em quatro níveis: Consciência

Emocional, Consciência Mental, Consciência Espiritual e Consciência Corporal.

Dentro destes ressaltarei a consciência corporal como partida para construção da

auto-imagem, porém ela está interligada com todas as demais consciências.

Nosso corpo somos nós. Ter a consciência do próprio corpo é ter acesso ao ser

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inteiro. O corpo é a expressão de quem verdadeiramente somos em seus diversos

estágios evolutivos. Vivemos na maioria em um corpo pouco dominado, mal

conhecido e deformado. Quanto mais tivermos zonas imóveis e rígidas, menos

vivos nos sentiremos e os problemas, as dores e as deformações surgem.

Ao observamos os bloqueios energéticos ou emocionais das pessoas

contido nos músculos podem ser percebidos na postura, nos movimentos e estão

intimamente ligadas com as dificuldades de relacionamento consigo mesmo, com

o outro e com o grupo. (SAMPAIO, 2004)

Entre outras palavras, está em nossas mãos libertar o corpo. Segundo

aspecto a ser observado na consciência corporal é a alimentação: Somos aquilo

que comemos. Terceiro aspecto é a respiração, ela tem o poder de mudar o

estado emocional, mental e físico porque o respirar indica o ritmo da vida e o

modo como respiramos assinala a disposição nossas energias. A agitação, a

excitação e os desequilíbrios psicossomáticos tornam a respiração irregular e

rápida. Quando estamos calmos e tranquilos a respiração é lenta e suave, o que

proporciona o aumento do tônus vital, maior lucidez mental, concentração e

controle sobre as emoções. (SAMPAIO, 2004)

Quando obedecemos ao ritmo natural de nosso corpo, os movimentos de

expansão e contração, de atividade e repouso, observando a respiração, acalmam

as emoções, relaxar as tensões, ampliando nossa capacidade de atenção,

concentração, imaginação, memória e resoluções de problemas.

A consciência emocional, espiritual e mental ela é de fundamental

importância neste processo de auto-imagem, pois tornamo-nos fisicamente aquilo

que conceituamos em nosso psicológico. Moysés (apud CARVALHO, 2008:88-89)

nos acrescenta:

O autoconceito é a percepção que a pessoa tem de si mesma, ao passo que a auto-estima é a percepção que ela tem do seu próprio valor (...) Como a própria palavra denota, o autoconceito procede de processos cognitivos. Ele é fruto da percepção que a pessoa tem de si mesma. Como todo processo de percepção, está sujeito a uma série de fatores externos e internos à própria pessoa. Informações que vamos colhendo aqui e ali, a nosso respeito, fruto de opiniões alheias, formam, possivelmente, os primeiros rudimentos do nosso autoconceito. A essas informações vão se somando aquelas originárias das avaliações que nós

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próprios fazemos do nosso desempenho, das nossas ações, das nossas habilidades e características pessoais. Vai-se formando, na nossa estrutura cognitiva, uma área de conhecimento acerca de nós próprios. Aquilo que achamos que somos, tanto do ponto de vista físico quanto social e do psicológico, vai assim ganhando corpo.

Dentro da linha psicanalistas de Lacan (apud CES/JF, 2006), Freud trata

sobre a questão do espelho como forma de construção de sua auto-imagem,

quando o bebê nasce, ele se sente parte da mamãe, com o tempo ele vai se

descobrindo como um ser individual, tomando consciência de toda sua dimensão,

e vai construindo sua individualidade em meio à convivência com o outro. A

princípio ele se vê sendo a outra pessoa, porém quando vai se desenvolvendo

percebe que é ele e não outra pessoa a imagem do espelho e vai se apropriando

de sua imagem e de quem é.

Existe um lema socrático que diz “conhece-te a ti mesmo” e a dança é o

espaço para conhecer a si mesmo, suas potencialidades e limitações tentando

superá-las, se organizando de forma interna e externa, dialeticamente.

[...] a organização do desenvolvimento se inicia na concepção, o domínio motor, afetivo-social (conduta pessoal-social) e cognitivo (conduta adaptativa e linguagem) vão se diferenciando gradualmente. Mas no inicio da seqüência, o comportamento motor é uma expressão de integração de todos os domínios. Este caráter do movimento indica o importante papel do domínio motor na seqüência de desenvolvimento do ser humano, mas isto leva às vezes à concepção de que o movimento é apenas um índice para medir outros domínios de comportamentos. (ALLPORT apud NANNI, 1995:160)

Na dançaterapia temos que lidar com o corpo de forma direta, como

“paisagem dos arquétipos”, e por meio da observação e percepção dos sinais do

corpo, somos sensibilizados a desenvolver um trabalho de conscientização do

corpo, percebendo as tensões que muitas vezes retraímos e os traumas que

impossibilitam de avançar na vida. (CALAZANS, CASTILHO & GOMES, 2003: 34)

Já diante a linha teórica de Gestalt- terapia (ANTONY, 2009), a dança

pretende contribuir para uma abordagem fenomenológico-existencial com uma

visão holística do homem e o mundo que dá primazia à relação e valoriza a

influência mútua da criança com o ambiente. Muitos fenômenos psicológicos

surgem “entre” as relações eu-outro-mundo, Na perspectiva gestáltica, as doenças

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que vemos hoje são frutos de perturbações da auto-regulação originadas por

mecanismos de defesas psicológicos de contato, que inibem a consciência de

sentimentos, pensamentos, necessidades, comportamentos que geram angustia e

colocam em risco a relação significativa com o outro. Dentro destes bloqueios

poderemos encontrar no ser humano psicopatologias como, fobia, depressão, e

outros transtornos psicológico comportamental.

Assim, pode-se afirmar-se que a conscientização corporal e a

sensibilização desenvolvida pela arte de dançar é a maneira de despertar no ser

humano da sociedade contemporânea urbana a si mesmo e sua auto-imagem,

desenvolvendo a reflexão sobre os conceitos que a estrutura e constituem sua

percepção de si mesmo e do outro. Por meio da consciência reflexiva o ser

humano vai sendo sensibilizado a perceber as influências que a faz “ser quem é”.

Mediante competições por melhores posições de trabalho, melhores patrimônios,

o ser humano tem se esquecido de si mesmo, a dessensibilização tem levado

muitos embalados pela engrenagem da produção e da mídia a sofrerem de

estresse, dores de cabeça, ansiedade, etc.

A conscientização corporal e sensibilização são fundamentais para a

formação do humano, para reconhecer seus limites e possibilidades, respeitando e

garantindo uma melhor qualidade de vida. ¹Alice Ruiz e Arnaldo Antunes,

compositores brasileiros escreveram “Socorro, eu não estou sentindo nada.” E

este parece ser o grito de nossa sociedade. Ao olharmos para alguém que joga

papel no chão logo questionamos: “Que falta de educação!”, porém diria “Que falta

de sensibilidade!” Quantas vezes nos movemos de forma inconsciente, como que

programado. É nem percebemos que fizemos algo. Quantos são submetidos a

trabalhos altamente estressantes, e não buscam relaxar, atividades para liberação

destas energias, que acabam ocasionam em doenças como úlceras entre outros.

NETTO (apud MACIEL & CARNEIRO, 2012:154) nos acrescenta:

“Empreendemos uma jornada heroica de construção da personalidade, em um esforço necessário e estruturante de sublimação via função paterna, ou seja: precisamos transceder a vida natural, matriarcal, representada pelo corpo, que vai se transformando no depositário da nossa sombra; todo conteúdo reprimido

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pelo ego, bem como o registro emocional e significativo de nossa história, vai se tornando inconsciente sendo inscrito no corpo por meio de uma memória somática (cinestésica, proprioceptiva e autonômica).”

O corpo é a sombra de quem somos, segundo Jung, se sofremos em não

sabemos lidar com perdas e frustrações, por exemplo, a energia reprimida escreve

em nosso corpo com a ansiedade ou falta de apetite ocasionando um desequilíbrio

corporal como baixo peso ou obesidade. O ato de dançar possibilita que energias

reprimidas sejam descarregadas permitindo um fluxo energético equilibrado.

Dentro da visão gestáltica a criança está totalmente ligada ao mundo e

aqueles que são significativos. E toda perturbação psicológica em seus entes

queridos afeta diretamente a criança que disfarça. Pelo seu forte sentimento

sensorial e afetivo a criança percebe as alterações de humor facilmente e trazem

para si, como se ela fosse à fonte de toda aquela perturbação psicológica

(ANTONY, 2009)

As escolas atendem com freqüência alunos que vivem em ambientes

desfavoráveis, desprovidos de segurança, atenção e afeto. E a capacidade de

ajustamento criativo destas crianças é incrível, porém desencadeiam

comportamentos inaceitáveis socialmente. A dançaterapia, educação pelo corpo e

emoção, tem o potencial de desenvolver a capacidade reflexiva na liberação e

inibição de sentimentos destrutivos permitindo reorienta-se para um novo

comportamento, menos destrutivo de si mesmo pelo autoconhecimento.

A dançaterapia é um aliado na construção da auto-imagem e da auto-

estima reordenando toda uma personalidade. Concluindo Nanni (2003:174) nos

afirma:

[...] a relação do eu categorial (identificação das dimensões corporais, localização de si mesmo nas dimensões espaço temporais) e do eu existencial (independência, autonomia, outros) acrescentam e facultam o desenvolvimento do autoconceito rumo à auto-estima; o tratamento positivo da auto-imagem, considerada como sinônimo de conscientização corporal, podendo elaborar e organizar toda uma personalidade.

_________________________ 1 Música “Socorro” de Arnaldo Antunes e Alice Ruiz compositores e poetas brasileiros cantados em várias vozes como de Cássia Eller e Rogéria Holtz, que retrata a falta de sensibilidade humana.

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2.2 Reflexo da auto-imagem no outro.

No espaço terapêutico da dança, a convivência com o outro é fundamental

para o desenvolvimento da auto-imagem, apesar das diferenças corpóreas e

psicológicas, o ser humano na relação com o outro vai se tornando mais humano

desenvolvendo uma capacidade empática e integrativa. A leitura expressiva de

sentimentos, pensamentos e atitudes de seus iguais mostra, não só a capacidade

de autoconhecimento mais também de conhecer o outro, numa relação aberta

entre “Eu e o outro”. ALVES (2008:55) nos acrescenta:

“A evolução da imagem do corpo e a aprendizagem da autenticidade dependem de um equilíbrio que abre (vivo) entre a quantidade e a qualidade das relações e correlações (objetos e corpo) integrados. A absoluta imagem do corpo é função da organização das emoções, o que naturalmente implica e exige a relação com o outro, isto é implica um determinado tempo e momento. A ação da criança e a ação do outro são como atitudes que se interpenetram e interjustificam simultaneamente estimulo e resposta. Na criança a imagem do corpo depende, compreende e completa-se na imagem do corpo do outro e dos outros que a rodeiam e a envolvem. O outro é para a criança o centro de suas atenções e motivações.”

Lacan (apud CES/JF, 2006) nos afirma em sua teoria psicanalista que o

ser humano sempre esta buscando construir sua imagem com base no outro, e

quando ele se depara com seu real eu, não se sente pleno, buscando seu modelo

ideal Eu no outro. Construímos então nosso eu na relação de troca, na

convivência com o outro. O primeiro grupo de relacionamento que a criança se

espelha é a família, esta é sua base. Cruz (apud CES/JF, 2006) neste aspecto,

afirma que:

“No texto de Freud (1914) “Sobre o Narcisismo: uma introdução” podemos comprovar o investimento feito pelos pais: esses pais afetuosos realizarão em seus filhos tudo o que gostariam de realizar e não conseguiram. Os pais não são capazes de perceber as imperfeições e os fracassos de seus filhos, porque estes são os filhos perfeitos. Sabemos que os pais dão tudo para os filhos, não permitindo que eles tenham frustrações. Vivem para realizar todas as vontades dos filhos. Pensamos que os pais se realizam através dos filhos considerados perfeitos e normais, “sua majestade, o bebê”. O Narcisismo dos pais fica realizado.”

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Mediante isto muitos pais tentam refletir seus sonhos e desejos no filho,

como que se perpetuando através do outro. Segundo a teoria Gestalt no jogo

simbólico da relação à introjeção é inevitável, Quando a criança cresce e amplia

seu campo de relacionamento, outros modelos vão surgindo e ocasionando

introjetos positivos ou tóxicos. Frazão (apud ANTONY, 2009) então, afirma que a

criança sempre esta se utilizando do ajustamento criativo para sua sobrevivência,

a fim de restaurar a harmonia do organismo ao meio, se utilizando das

possibilidades do ambiente para satisfazer suas necessidades primordias do

momento. Diante destes conceitos gestalticos é comum uma criança desenvolver

fobia na relação com um pai agressivo, amadurecendo e assumindo condutas

assertivas para proteger um ente querido da família. Todo movimento humano tem

como estimulo um impulso emocional motivado pelo outro ou pelo ambiente. O

outro quando reflete um impulso emocional, ele é introjetado no Eu este reflete

numa cadeia circular de energias relacionais.

Na linha de pensamento Junguiana, os padrões dos pais são incorporados

pelo ego, como também suas expectativas a nosso respeito. Desenvolvendo

assim, uma educação que limita a autoexpressão e que canaliza toda nossa

energia vital para atingir a consciência. NETTO (apud MACIEL & CARNEIRO,

2012:156) nos acrescenta:

“O ego deve aprender a direcionar sua energia para um objetivo específico, o que é feito por meio da vontade e determinação. Assim, nossa primeira forma de consciência é amplamente estruturada baseado-se no controle e na repressão de ímpetos instintivos e nas obtenções externas de aprovação (construção da persona). O “eu” cresce aprendendo autorrejeição, resistindo às gratificações do instinto e estabelecendo uma adaptação “adequada” às exigências coletivas.”

Neste contexto, a dançaterapia como uma maneira de potencializar pela

improvisação a espontaneidade e a criatividade é uma maneira de auxiliar na

percepção das condutas e comportamentos destrutivos com o outro, pela via da

sensibilização. Potencializando o fluxo de energia corpórea pelo movimento, que

segundo Gabrielle Roth (apud MACIEL & CARNEIRO, 2012:151) nos diz ser

medicamento para sua curar a si.

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Segundo Imbassaí, (apud CALAZANS, CASTILHO & GOMES, 2003) o

trabalho terapêutico da dança deve ser tido em atuar sobre o aparato corporal de

modo a sensibilizá-lo, capacitando o aluno a detectar suas tensões e a proceder à

regulagem das mesmas, permitindo-lhe perceber que dentro de si existe uma

energia que é impulsionada por um ritmo dinâmico. E que precisa ser canalizada

para ações construtivas e reflexivas na relação com o outro.

Esta dinâmica da ação humana ela se reorienta em si para se reorientar

com o outro. Nossa relação com o outro sempre vai ser conseqüência de como

relacionamos conosco mesmo. Num jogo relacional entre eu existencial com eu

categorial, vamos construindo nossa auto-imagem, e como conseqüência a auto-

estima que é crucial para ser referencial e reflexo para o outro. A obsessão por

“ser o outro” pode se tornar prejudicial ao processo de individuação e limitar o

potencial criativo do ser humano. No trabalho com adolescentes e jovens em

dançaterapia nas escolas municipais de Cabo frio, tenho encontrado muitos

bloqueios emocionais em expressar-se de forma individual, sempre estão

esperando uma ordem do que faça, algo “pronto”, muito medo de rejeição dos

colegas limitando com isso a espontaneidade, sair do coletivo (outro) ao individual

(eu) é o caminho para a individuação. Desenvolver o ser individual (eu) e coletivo

(outro) em equilíbrio é fundamental para se integrar na sociedade, e a dança em

sua vertente metafórica aborda o ser individual e coletivo na arte de dançar,

conduzindo o ser humano a um jogo simbólico de vida social. Educando e

reeducando comportamentos para um melhor convívio social, descobrindo pelas

noções básicas da dança, como exemplo, “espaço e tempo” como se posicionar

com seu corpo e com o outro, quando é seu tempo e o tempo do outro,

desenvolvendo uma relação de respeito, harmonia e tolerância.

2.3 Integração: Sujeito social - Enfrentando os conflitos.

Em nossa sociedade contemporânea existe uma diversidade cultural muito

ampla que por meio do avanço tecnológico cada vez mais se inter-relacionam e se

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chocam culturalmente. Para o jovem em desenvolvimento que busca se integrar

no mundo, é muito desafiante e dolorido este processo, pois tantas exigências são

impostas, como a estética, a étnica, a moral e entre outras. É neste momento que

a família deve potencializar as habilidades e pontos positivos deste para auxiliar

este a se impor como sujeito social.

Marques (2007) nos mostra em um de seus projetos desenvolvidos que

muitos jovens “entregaria sua vida” por outros corpos (outras pessoas), ou por

ideais ligado a ele (corpo), demonstrando grande preocupação, gosto e vivências

desses jovens com a saúde, a sexualidade e o sexo, com os problemas sociais, a

beleza e a forma (corpos ideais), com os esportes e com as emoções. Assuntos

estes que pela dançaterapia podemos refletir, através dos corpos dialéticos.

Marques (2007:135) nos mostra em sua pesquisa

“As características e os desejos de corpos por parte dos adolescentes pesquisados me levam a crer que aquilo que seus corpos gostam de fazer quando não estão na escola esta aparentemente ligado ao ideal de corpo contemporâneo da “malhação”, da “boa” forma física, da modelagem. Em ação ou fora dela, estar corporalmente no mundo (real ou virtual) traduz-se em ser visto, observado, apreciado e a seguir modelos preestabelecidos de composição corporal.”

As experiências dos corpos nem sempre são satisfatórias ou positivas,

muitos jovens se encontra insatisfeitos com seus corpos. Estas e outras

insatisfações estão ligadas ao reflexo do outro (comunicação de massa) no eu, em

uma busca pelo corpo ideal e virtual. Muitos jovens e crianças pelo imaginário se

projetam nos corpos e danças da mídia, se vendo nos corpos ideais como o da

Barbie, Superman, dos marombeiros da academia e outros. Com a indústria do

consumo, o reflexo no outro das mídias se torna ainda mais agressiva, com as

propostas de emagrecedores, dietas mirabolantes, e outros.

Em outras palavras, a dança esta ligada na cultura jovem deste tempo

mais a grupos sociais e culturais que gostariam de fazer parte como: pagodeiros,

roqueiros, funkeiros, rappers, que tem suas coreografias divulgadas pela mídia,

alienando por meio da dança a possibilidade de criação, experimentação e

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improvisação da dança, para se torna produto do mercado de consumo. Nisto

desenvolve uma visão fragmentada do todo bloqueando o cultivar de relações

profundas de cooperação e solidariedade mediante o surgimento de pré-conceitos.

Nanni (2003:160) nos acrescenta:

“[...] que admite haver uma tensão mimética-motora para a percepção corporal, inferindo que na cinestesia somos capazes de reconstruir uma boa parte dos impulsos motores (e afetivos) através da pessoa observada. Este autor confirmou que a imitação tem sido um dos princípios utilizados para explicar o comportamento social.”

Na sociedade muito dos comportamentos sociais são frutos de imitações

de modelos difundidos pelos meios de comunicação que pela imitação se tornam

comum a todos se comportar de tal forma. Na escola, por exemplo, os casos de

violências começam sempre em singular para ganhar coletividade e muitos dos

comportamentos são desenvolvidos pela imitação, sob o reflexo no outro. E a

dançaterapia pela mediação do professor poderá se mover nos objetivos como

estimular a empatia, auto-aceitação, a liderança, desenvolver o auto-conceito e

favorecer a auto-estima. NETTO (apud MACIEL & CARNEIRO, 2012:153) nos diz:

“Por isso, a dança terapêutica não se atém ao desempenho atlético ou à busca de uma forma perfeita. Ela se remete ao mundo interior, onde nascem também todos os gestos, posturas, e registros somáticos relativos às nossas emoções, aos desejos e à necessidade de comunicar.”

Diante de uma geração hoje que tem uma linguagem cultural diferente da

geração anterior, as diferenças sociais, econômicas, estéticas e morais é o grande

conflito de muitas escolas. As escolas como espaço de encontros e desencontros

convivem com estes chamados “choques culturais” gerando na sua maioria

grandes conflitos pelos pré-conceitos que são estabelecidos fora deste espaço

escolar.

Isso torna-se fato, já que hoje, sabe-se da existência da diversidade cultural e

da ausência de conceitos básicos como o princípio autoridade e o sentido de

multiculturalismo. O conflito e assim, contradições fazem dos sujeitos sociais sua

morada.

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Nestes últimos tempos, catástrofes e tragédias dentro do espaço escolar são

os documentários de nossos telejornais, a sensibilidade e o resgate da empatia e

conscientização corporal de si e do outro tem sido apontado pelas escolas como

recursos neste tempo para resgatar o que há de humano no humano.

A dança na escola não pode ser vista somente como forma de resgatar a

cultura local e popular “combatendo” a globalização que a tem engolido. Mas a

dança deve servir para as propostas de ações criativas, conscientes e

transformadoras do ser.

A dança como arte não pode ser fechada em si, ela deve nos levar a

discutir, refletir, analisar e contextualizar através de suas estruturas coreológicas,

coreográficas ou temáticas, desenvolvendo através da analise relações de

conceitos e valores de uma dança com outras dimensões como cultural, social

moral, etc. Dando espaço para desenvolvimento da observação, reflexão,

percepção e sensibilização reavaliando pré-conceitos em si a respeito do outro.

Vivemos hoje numa contraposição entre o primitivo e o moderno, entre

cultura popular e erudita como relata Belting (2002) em seu artigo: Arte híbrida?

Um olhar por trás das cenas globais.

“A constelação de centro e periferia, a respeito da qual há tanta discussão nos dias de hoje, pouco mudou no decorrer dos séculos, a despeito do conhecimento adquirido desde a época colonial. Agora graças aos modernos meios de comunicação, trazemos o mundo para dentro de nossas casas com o simples apertar de um botão. Mas entendemos o mundo melhor por causa disso Ou é a supervia eletrônica, da qual June Paik é tão entusiasta, tão somente uma nova estrada para velhos preconceitos? Preconceitos que, incidentalmente, não podemos evitar, assim como não podemos evitar a nos mesmos.” (Ferreira e Venancio Filho, 2002:167)

Convivemos com multiplicidade de corpos em salas de aula, e muitos já

presenciaram casos de intolerância entre gêneros, etnias, faixas etárias, classes

sociais. A dança como facilitador na integração social sensibiliza a respeito do

outro desenvolvendo valores como respeito mútuo as diferenças sociais. Pois

aprender a dançar antes de tudo significa incorporar valores e atitudes. (Marques,

2007)

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Muitas são as modalidades na dança: Jazz, Salsa, Congo, Frevo, Ballet,

Dança Moderna, Dança Criativa. Porém é do senso comum remeter à dança a

bailarina do ballet clássico, dentro disto leva pré-conceitos e que para se dançar

precisa ser magra jovem e branca, elitizando a arte. Equívocos como estes

acontecem por falta do conhecimento histórico da dança e suas preferências, ao

longo do tempo.

Um dos pré-conceitos segundo Marques (2007) que a dança leva

fortemente em nossa sociedade brasileira machista é o fato que homem que

dança é efeminação, homossexualismo, isso por causa da idéia de dança remeter

a bailarina clássica (leveza, meiguice, delicadeza) como se isso fosse ferir a

virilidade do homem. Criando conflitos na escola a meninos com comportamentos

menos viris, ou que assumem sua homossexualidade. Outro pré-conceito que

muitos jovens trazem para suas relações por meio do senso comum é sobre a

etnia, classificam, por exemplo, que para dançar axé tem que ser negro ou mulato,

para se dançar frevo tem que ser nordestino, sendo que as danças não são

naturais de uma etnia, mais é apreendido na sociedade.

Há pouco tempo estava conversando com uma supervisora sobre a

questão da dança na escola, sobre seu valor na formação humana, e uma das

questões levantadas é que muitos negros da escola não se reconhecem como

raça negra, por causa da dança elitizada, do ballet e outros. Necessitando

resgatar suas raízes, sua identidade.

Ao analisarmos as coreografias (dança, do siri, e outros) que as

comunicações de massa divulgam e os jovens de todas as etnias apreendem em

seus corpos, temos como exemplo a integração social que a dança pode

ocasionar. Muitos outros pré-conceitos como de se ter uma idade certa para

dançar, de que as danças são divididas em classes sociais e deficientes físicos

não podem dançar, são assuntos a serem dialogados por meio do ato de dançar,

de forma a integrar todos nesta pluralidade e possibilidades de corpos. FUX

(1983:121) tinha em seus grupos de dançaterapia uma diversidade de corpos que

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integrava portadores de necessidades especiais com Símdrome de Down,

espasmos ou qualquer deficiência tantos mentais como auditivas.

“As classes são formadas de modo heterogêneo. São grupos em que divido por idade as crianças e os adolescentes, e por interesse de busca, os adultos. Nestes grupos tenho gente adulta esquizoide, oligofrênica, meninas com epilepsia e, em algumas idades, problemas de incontinência ou baixo nível de inteligência. Essa gente não fica isolada, mas se integra nos grupos que poderíamos chamar de normais.”

A dançaterapia com sua abordagem corporal e multissensorial promove,

segundo HANNA (1999:46), a transformação interior permitindo que a pessoa

alcance a auto-aceitação.

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CAPÍTULO III

DIVERSIDADE ARTÍSTICA: COM REFLEXO NO

ÂMBITO ESCOLAR

“Não decore passos, aprenda um caminho.”

Klauss Vianna

A escola é um dos lugares de maiores encontros de diversidades culturais,

por isso talvez seja cenário nestes últimos tempos de intolerâncias e tragédias, a

dança no espaço escolar é rotulada ainda por muitos como “menos importante” ou

“coisa de desocupado”, ignorando a sua importância para a formação do ser

humano e seu desenvolvimento social.

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCns) a dança foi incluída em

1997, 14 anos atrás, se construindo ao longo destes tempo no âmbito escolar.

Algumas questões ainda a respeito da dança no âmbito escolar se encontram

entreabertas, como exemplo, aonde a dança caberia ser ensinada? Como seria

chamada a aula de dança na escola? Estas e outras questões têm sido motivos de

discussão e reflexão pelos professores desta disciplina, como quem procurando

seu lugar no espaço escolar. Com as novas exigências tecnológicas a escola é

obrigada a um novo posicionamento no ensino aprendizagem, não dá para

continuar com o mesmo método de ensino de tempos atrás, o aluno de tempos

atrás, hoje é outro. Marques (2007:123) nos diz:

“Ao contrário da grande maioria dos adultos de hoje, que aprenderam a se comunicar com o mundo por meio da “cultura do livro”, ou seja, pelo processo do pensamento lógico e racional sobre/ do mundo, as gerações jovens experimentam e compreendem-no primordialmente por meio das sensações.”

Com o fato de que o ensino da arte no Brasil tem sofrido consequências

de uma postura racionalista ao longo do tempo, onde o ensino da arte é mais para

controle do que libertar o ser humano a uma consciência de sujeito de

historicidade. A arte na escola esta sempre ligada a trabalhos manuais dando

analogia a condição escravista. A dança sendo uma linguagem libertadora, por

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muito tempo esteve escondida, “presa as senzalas”, longe do convívio com as

demais disciplinas, sendo “chacoteada” até que uma “alma boa” apareceu e

convenceu que seu feitor é “inocente”. (Marques, 2007: 18) A escola com seu

modelo tradicional de educação, não dá espaço para que a dança se desenvolva.

Pois a educação se desenvolve num ensino “garantido”, ou seja, pré -

estabelecido. E a dança trabalha num processo direto de criação e de

possibilidades, e isto trás certo desconforto para o processo de ensino tradicional

de muitas escolas. Dentre estes desconfortos e conflitos enfrentados no ensino da

dança na escola vou começar com a falta da contextualização, como nos diz

Marques (2007), “O medo que sentimos hoje das ninjas do funk assemelha-se ao

pavor que nossos avós sentiram da minissaia e do rock and roll.” A dança ela

pode ser utilizada no espaço escolar com muitas finalidades benéficas e permitir

não só a expressão de si, mas a ampliação cultural pelo corpo que dança,

promovendo como vimos no capítulo anterior uma sociedade mais tolerante ao

diferente, se percebendo como ser singular em constante transformação. As

pesquisas feitas a seguir nos confirmam e nos mostram muitas outras

potencialidades da dança no âmbito escolar.

3.1 Estudos de casos: Definição dos campos de pesquisas.

Neste capítulo iremos tratar da descrição e caracterização dos projetos de

dança desenvolvidos no ambiente escolar com parceria de agentes experientes e

formados em dança, que foram analisados durante o processo de pesquisa de

campo. Foram analisados três projetos de dança no Município de Cabo Frio, dois

no bairro do Jardim Esperança e um no bairro Boca do Mato, regiões onde milícias

criminosas atuam e a população é menos favorecida. O quadro abaixo elaborado

na pesquisa nos mostra a localização, data de implantação e público alvo de cada

projeto que foi incluído a dança.

Quadro 1: Descrição dos projetos artísticos selecionados.

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Escola Projeto Localização Ano de Implantação

Público alvo

“A” “Projeto + Educação” Jardim

Esperança

Agosto/2010 Alunos da escola do 6º

ano ao 9º ano.

“B” “Projeto + Educação” Jardim

Esperança

Agosto/2010 Alunos da escola do 6º

ano ao 9º ano.

“C” “Foi projeto +

Educação, hoje faz

parte do currículo da

escola.”

Boca do Mato Outubro/2008 Alunos da escola do 1º

ano ao 5º ano.

Durante a pesquisa de campo realizada nas escolas, houve oportunidades

de observação no funcionamento habitual das aulas oferecidas pelo projeto, e

oportunidade de dialogar informalmente com os professores e alunos, além de

analisar alguns ensaios. Esta interação foi muito importante para melhor definir os

traços gerais dos projetos em desenvolvimentos, estas observações trouxe novas

informações que refinaram e consolidaram concepções anteriores.

O primeiro campo de pesquisa foi à escola “A” que atende em seu Projeto

+ educação a 120 alunos, foi observado as aulas de dança especificamente.

Implantado em 2010, com intuito de melhorar o desempenho dos alunos e

proporcionar mais qualidade na educação, o projeto consiste em aulas de

matemática, letramento, dança, horta escolar, rádio escolar, tem como proposta

incluir em 2013 aulas de percussão, judô e 2º tempo. Tem obtido um bom

rendimento escolar dos alunos e melhora comportamental dentro do espaço

escolar. O projeto atende alunos do 6º ano ao 9º ano em contra turno, tendo como

requisito para participar do projeto assiduidade escolar dos alunos.

O “projeto + educação” interage diretamente com os projetos pedagógicos

da escola, recentemente foi realizado o “Axé Raizes” onde foi trabalho a

consciência negra, com desfile da beleza negra e apresentação de dança afro. A

escola possui três premiações em 1º lugar no Campeonato de Dança Estudantil

em Cabo frio. Os professores que lecionam no “projeto + educação” em sua

maioria possuem experiência na área, alguns estão em formação acadêmica. O

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quadro abaixo elaborado na pesquisa nos mostra as atividades artísticas, carga

horária, frequência semanal, quantidade de alunos e turmas e a formação dos

professores na escola “A”.

Quadro 2: Atividades artísticas da escola “A”. Atividades artísticas

Nº de horas semanais

Freqüência por semana

Nº de alunos

Nº de turmas

Formação do professor

Matemática 3 2 30 4 Graduando em Matemática.

Dança 3 2 30 4 Graduando em Letras.

Letramento 3 2 30 4 Experiência na área.

Horta Escolar 3 2 30 4 Formação de professores e experiência na

área. Rádio Escolar 3 2 30 4 Experiência na

área.

Foi observado durante as aulas e na entrevista com o professor, um

vínculo afetivo grande dos alunos com o professor e vice-versa, proporcionado um

ambiente cooperativo, criativo e espontâneo nas composições coreográficas. Para

colher melhores informações sobre o desenvolvimento de ensino aprendizagem

das aulas de dança, foi elaborada uma entrevista com os professores de três

perguntas, onde observei diferentes objetivos nas aulas de dança 1 (Anexo I).

As aulas de dança da escola “A” têm como objetivo, segundo o professor,

“integrar”, “aprender novas possibilidades criativas com o corpo e com o outro”,

“promover a cultura e sociedade”. Revelando entre as falas um pela socialização,

cultura e estética.

Segundo o professor de dança da escola “A”, as suas aulas trouxeram

como beneficio ao desenvolvimento escolar dos alunos, “diminuição das

frequências dos pais por problemas escolares”, “estão mais receptivos e com a

autoestima elevada”, “mais disciplinados, interessados pelos estudos e

desinibidos.” Pode-se analisar uma melhoria primeiramente na esfera emocional, 1 Entrevista com professores do projeto – Anexos I – Pg.

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que auxiliou diretamente na esfera cognitiva e comportamental, afirmando a fala

de Sampaio (2004:48) “Os problemas humanos não se resolvem em nível da

racionalidade, mas no nível afetivo.”

O segundo campo de pesquisa foi à escola “B” que em seu Projeto +

educação atende 100 alunos, foi analisado as aulas de hip hop especificamente.

Implantado em 2010, com intuito de melhorar o desempenho dos alunos e

proporcionar mais qualidade na educação, o projeto consiste em aulas de

matemática, letramento, hip hop, teatro, futsal, rádio, tem como proposta incluir em

2013 aulas de grafite e judô. Tem obtido melhora comportamental dos alunos

dentro do espaço escolar. O projeto atende alunos do 6º ano ao 9º ano em contra

turno, tendo como requisito para participar do projeto assiduidade escolar.

O “projeto + educação” da escola “B” pouco interage com as propostas

pedagógicas da escola, possuindo em seu maior tempo um ritmo próprio que se

estrutura em passeios, visitas culturais e campeonatos estudantis. A escola possui

uma premiação em 3º lugar no Campeonato de Dança Estudantil em Cabo frio e

uma premiação em 2º lugar no Campeonato de Dança Estudantil em Cabo frio. Os

professores que lecionam no “projeto + educação” em sua maioria possuem

experiência na área, alguns estão em formação acadêmica. O quadro abaixo

elaborado na pesquisa nos mostra as atividades artísticas, carga horária,

frequência semanal, quantidade de alunos e turmas e a formação dos professores

na escola “B”.

Quadro 3: Atividades artísticas da escola “B”. Atividades artísticas

Nº de horas semanais

Freqüência por semana

Nº de alunos

Nº de turmas

Formação do professor

Hip hop 3 2 25 4 Experiência na área

Teatro 1e½ 1 25 4 Formação em Letras

Futsal 3 2 25 4 Formação em Ed.

Física

Rádio 1e½ 1 25 4 Experiência na área.

Matemática 3 2 25 4 Graduando em

Matemática

Letramento 3 2 25 4 Graduando em Letras

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Ao analisar o desenvolvimento das aulas e na entrevista com o professor,

foi observado um vínculo grande com a cultura hip hop, o professor é reconhecido

como b boy em campeonatos na região dos lagos, porém sua linguagem na dança

é restrita a somente a modalidade de hip hop e perpassa também pelos alunos, se

limitando somente a esta uma cultura, sendo a escola como disse no início um

lugar de diversidade cultural.

Na entrevista com o professor, as aulas de hip hop da escola “B” têm

como objetivo, “promover o cooperativismo”, “desenvolver noções da arte de

dança hip hop”, “equilíbrio, força e beleza”. Revelando entre as falas um interesse

estético por modelar os corpos para a arte hip hop, resultando também numa

melhor integração entre os alunos.

Segundo o professor de hip hop da escola “B”, as suas aulas trouxeram

como beneficio ao desenvolvimento escolar dos alunos, “amenizou os conflitos

entre os alunos nos intervalos das aulas”, “estão mais confiantes”, “melhoraram

nos estudos e tem mais prazer de estar na escola.” Podem-se analisar entre as

falas que o enfoque das aulas é mais prática do que teórica e que os alunos

tomam consciência do corpo através da prática direta de equilibrio, movimentos e

exercícios que afetam diretamente o comportamento grupal, favorecendo na

“cooperatividade” como coloca em seu objetivo o professor. Afirmando a fala de

Nanni (2003), quando diz que pela percepção de si, a criança consegue exercer a

empatia e percepção do outro.

As escolas “A” e “B” possuem uma prática que favorece na formação

integral do ser humano, apesar de terem como principal o motor, potencializam o

afetivo e cognitivo nas suas práticas.

O terceiro campo de pesquisa foi à escola “C” que inseriu a dança na

escola pelo Projeto + educação, mas hoje se constitui como currículo da escola

atendendo 100 alunos. Implantado em 2008, com intuito de implementação da lei

10639/3, tem por enfoque em suas aulas de dança popular o ensino da cultura

afro e indígena. Tem obtido melhora integral dos alunos dentro do espaço escolar,

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muitos alunos da escola são nordestinos e negros e a dança segundo a

professora tem permitido a percepção de si, da construção de sua auto-imagem.

Ela relata que muitas crianças negras sofriam com baixa-estima e em uma

de suas pesquisas, rejeitavam as bonecas negras, pois achavam feias e sujas, e

por meio da auto-imagem no espelho pode trabalhar com a auto estima destas

crianças que hoje fazem parte do corpo de dança da escola que se apresenta em

diversos lugares na região. Aula de dança é oferecida a alunos do 1º ano ao 5º

ano em contra turno, tendo como requisito assiduidade escolar.

As aulas de dança da escola “C” interagem diretamente com as propostas

pedagógicas da escola, fazendo parte dos projetos desenvolvidos pela escola. A

professora que leciona a aula de dança possui formação em Educação física e é

bailarina formada pelo Centro de Arte do RJ. O quadro abaixo elaborado na

pesquisa nos mostra a atividade artística, carga horária, frequência semanal,

quantidade de alunos e turmas e a formação da professora na escola “C”.

Quadro 4: Atividades artísticas da escola “C”. Atividade artística

Nº de horas semanais

Freqüência por semana

Nº de alunos

Nº de turmas

Formação do professor

Dança

popular

1 1 25 4 Bailarina e Educadora

Física.

Ao observar o desenvolvimento das aulas e na entrevista com a

professora, foi detectado um profissionalismo em sua prática e um

comprometimento muito grande com a implementação da cultura afro. Na

entrevista com a professora de dança popular na escola “C” perguntei quais

objetivos tem sua prática, segundo a professora, “implementação da lei 10639/3” e

“ensino da cultura afro e indígena”. Mostrando um respaldo acadêmico e

profissional em sua prática de ensino no âmbito escolar.

Segundo a professora de dança popular da escola “C”, as suas aulas

trouxeram como beneficio ao desenvolvimento escolar dos alunos, “visibilidade da

escola no município de Cabo frio”, “valorização da cultura negra e de sua beleza”,

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“melhora no desempenho dos alunos na escola.” Pode-se analisar entre as falas

que a dança trouxe uma credibilidade não só para o aluno em si, mas para a

escola e seu processo de ensino.

Parcerias como esta enriquecem o repertório educacional e cultural dos

alunos, promovendo uma escola melhor e mais prazerosa. Redin (1999:07) nos

acrescenta:

“Uma grande escola exigirá docentes competentes, abertos para o mundo e para o saber, sempre de novo redefinidos. Docentes e estudantes conscientemente comprometidos. Uma grande escola exigirá espaços físicos, culturais, sociais e artísticos, equipados que abriguem toda a sabedoria acumulada da humanidade e toda a esperança de futuro – que não seja continuidade do presente, porque este está em ritmo de barbárie – mas seja sua ultrapassagem. Uma grande escola exigirá tempo. Tempo de encontro, de encanto, de canto, de poesia, de arte, de cultura, de lazer, de discussão, de gratuidade, de ética e de estética, de bem-estar e de bem-querer e de beleza. Porque escola grande se faz com grandes cabeças (é certo!), mas também com grandes corações, com muitos braços, que se estendem em abraços que animam caminhadas para grandes horizontes.”

Atualmente, com a modernidade e a cultura jovem deste tempo, a

educação precisa se renovar, o espaço escolar precisa ganhar novos métodos de

ensino, e dentro disto porque não pela arte, pela dança? Vivemos num tempo

acelerado em que nossos jovens e adolescentes se encontram mais interessados

por atividades que proporcionam uma aprendizagem mais voltada pelos sentidos

do que pelo raciocínio lógico. Para estas novas propostas metodológicas mais

dinâmicas dar certo é necessário que os projetos de artes e dança estejam

engajados com as propostas pedagógicas também, auxiliando no processo

educativo do aluno. Se não será apenas “tempo para relaxar e descontrair” como

eram empregadas as aulas de artes há um tempo.

Para apurar os conceitos estudados, foi elaborada uma entrevista com

uma pergunta aos alunos das aulas de dança oferecidas pelas escolas “A”, “B” e

“C”.2(anexo II) Muitas das respostas afirmam que na prática a dança pode levar o

ser humano mesmo a percepção de si e do outro, pela empatia. Uma pergunta foi

2 Entrevista com o aluno do projeto – Anexo II – Pg.

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feita a vários alunos, e obtivemos respostas diversas, que nos revelam diferentes

significados da dança nos corpos da cultura jovem de hoje.

Como resposta a nossa pergunta sobre o que as aulas de dança

melhoraram em você, responderam os alunos da escola “A”, “... mudou meu

comportamento. Gosto muito de hip hop, eu era muito agitado, agora eu me

controlo mais...”, “Sim, porque me faz não querer fazer nada de errado como por

exemplo usar drogas, então faz bem sim...”, “mais motivação para vir as aulas,

alegre, melhor desempenho na educação física...” e “fez desde o dia que eu vim

para cá, fez muito coisa de bom. Eu adoro a aula do professor Dudu.”. As falas

dos alunos nos revelam que a dança ajudou no desempenho físico e emocional, e

a se perceber nas suas ações e reorientar-se na vida por causa da sua vertente

disciplinadora começou a perceber-se como sujeito que precisa cumprir regras

(lei) para ter direitos. O “controlar” ditos pelo aluno afirmam que a arte de dançar

tem um papel fundamental de fortalecer a auto-estima e protagonizar os

educando, sendo eles capazes de escreverem suas histórias diferentes do que as

circunstancias a impõem a fala de Carvalho (2008:139) nos acrescenta:

“(...) é necessário empregar uma pedagogia, como a educação artística, que tenha a força de interferir positivamente no plano da auto-imagem e da auto-estima e que estimule os educandos a buscar o seu desenvolvimento como pessoa e como cidadão e cidadã.”

Como resposta a nossa pergunta sobre o que as aulas de dança melhoraram

em você, responderam os alunos da escola “B”, “meu corpo desenvolveu muito,

evolui fisicamente e moralmente, fiz muitos amigos depois que comecei a dançar e

consegui um futuro para minha vida... não vou mais parar...”, “depois que eu

comecei a fazer aula de dança eu sinto que meu corpo mudou e também a

maneira de pensar. Porque quando você dança seu corpo fica mais ágil, mas para

meu corpo ficar ágil antes eu utilizei a mente...”, “Tipo com a dança eu me

encontrei achei o que tava faltando na minha vida porque mim a dança não é

movimento, mas sim uma arte que eu posso expressa todo meu sentimento. E o

grupo de dança da minha escola me proporcionou isso tudo, eles são minha

segunda família...” e “porque com a dança pude encontrar meu caminho, cada

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passo realizado para mim é uma vitória, e eu espero com minha dança servi de

exemplo para muitas pessoas e tudo isso agradeço a o pezão por te me colocado

neste caminho maravilhoso.” Nas falas podemos ver que houve também na escola

“B” uma melhoria no aspecto físico e emocional e nos mostra que a dança

favoreceu na socialização e na integração, e principalmente na auto-expressão,

potencializando a autoestima dos alunos.

Confirmando o que Nanni (2003:163) nos diz a respeito dos benefícios da arte

de dançar para o ser humano como relatei:

“a dança (arte), por esmerar-se na melhor percepção da postura corporal e do corpo em movimento no espaço-temporal e em relação aos outros, nos remete a uma visão positiva e reconhecida como importante para uma melhor consciência corporal e autoconceito, porque é uma arte que envolve o individuo internamente através do seu corpo alcançado seu espírito e mente e favorece as relações interpessoais”

Como resposta a nossa pergunta sobre o que as aulas de dança melhoraram

em você, responderam os alunos da escola “C”, “eu desobedecia a tia, mas agora

eu não desobedeço não, amo maracatu e dança de coco...”, “Eu adoro as aulas,

das músicas e da capoeira...”, “eu era muito tímido, fiquei nervoso pois não sabia

dançar na apresentação, mas gostei, gosto da dança de coco e de sambar...” e

“eu não gostava de vir as aulas e agora eu gosto.”

Muitas crianças e adultos sofrem por não saber lidar com suas emoções e

se expor diante do outro, quantos casos de perda de oportunidade de emprego já

ouvimos falar por causa de pessoas extremamente introspectivas que não

consegue lidar com o outro, a terceira resposta deixa claro que a dança auxilia na

inibição e ao longo das falas proporciona prazer no processo educativo.

Durante as pesquisa feitas nas escolas foi observado o quando foi

importante o acesso a dança dada aos alunos pelas escolas, apesar de ser pouca

a inclusão dos alunos nas aulas de dança diante da quantidade de alunos que a

escola possui, ele tem obtido um bom retorno neste pouco tempo de implantação,

tanto para interação com os projetos pedagógicos, como para o comportamento

dos alunos que tem melhorado segundo os docentes da escola.

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Desde o século XIX podemos ver duas vertentes sendo desenvolvidas na

história da dança, a dança Moderna e Criativa e a dança acadêmica Tradicional,

mas somente a nova tendência moderna da dança permite o movimento

expressivo humano possibilitando maior integração ao currículo escolar. (Nanni,

1995)

Considerando os resultados e ações das aulas de dança no âmbito

escolar, esta linguagem artística tem obtido por sua vertente terapêutica no corpo

jovem uma melhor relação consigo com o outro e com o mundo, principalmente

para o adolescente que necessita se colocar no mundo nesta fase.

Nas escolas em pesquisas, nenhumas das salas de aula possuíam

espelhos, e na pergunta feita aos professores de dança de todas as escolas sobre

se os recursos que as escolas disponibilizavam eram suficientes, eles relataram

que os recursos eram melhores em todos os níveis, quando foi relatado sobre o

espelho e sua importância eles começaram a refletir sobre o assunto.

Ou seja, a construção da auto-imagem ainda parte do outro e não da

percepção de si mesmo, apesar das melhorias relatadas em auto-estima. FUX

(1983:84) nos relata em seu livro “dança, experiência de vida” o caso de uma

adolescente que teve vida mudada a partir do momento que conseguiu encontrar

sua imagem através de sua própria expressão, abandonando os regimes e drogas

e se tornando psicóloga.

A dança ela apesar de ser libertadora, pode no âmbito escolar ser

aprisionadora, isso dependerá do mediador que é o professor proporcionar um

ambiente de criação e reflexão aos alunos. O prazer na dança é algo

inquestionável, porém deve potencializar o ser humano na sua individuação.

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CONCLUSÃO

A dança em toda a história humana nos mostrou ser um meio de o homem

biológico, psíquico e social se integrar-se, permitindo assim uma reflexão sobre si

mesmo ao longo dos tempos, reelaborando sobre si e dando novos significados

social e morais as inovações ao longo do tempo.

Hoje, as diversas modalidades de danças difundidas em nossa sociedade

carregam em suas expressões modos de pensar sobre a vida e se posicionar

sobre ela, e em meio uma diversidade cultural a tecnologia tem auxiliado para

integração da diversidade. O moderno e o primitivo estão presentes a todo tempo

em nossas escolas se chocando e mostrando a necessidade de considerarmos o

que foi negligenciado há anos, que é a arte e o corpo. A emoção e o movimento

fazem parte de todo desenvolvimento humano e a dança no processo

arteterapêutico nos revela como um grande aliado para controlar e racionalizar os

impulsos primitivos que é a nossa energia vital, nosso corpo, como também nos

mostra um ser instrumento de libertação para o homem extremamente racional.

À medida que nos tornamos mais conscientes com nosso corpo e

emoções passamos a ser mais autônomos e alcançamos a maturidade que é

necessário para individuação. Mas infelizmente diante de uma sociedade que

prioriza ao extremo a razão não dá espaço para a cultura jovem expressar pela

arte suas emoções e pelos meios novos meios tecnológicos o corpo cada vez se

torna mais sedentário.

Nas pesquisas realizadas nas escolas de Cabo frio, podemos ver que a

dança de forma terapêutica serviu para alguns alunos entrevistados como meio de

controlar os impulsos e se tornar sujeito socializado, como também para aceitação

de si havendo uma melhora na auto-estima e na produtividade escolar. Também

pudemos ver que houve uma educação comportamental social com os alunos que

eram considerados rebeldes.

Inúmeros benefícios ao processo educativo foram relatados em minha

pesquisa de campo, a escola da cultura jovem hoje necessita ser dinâmica e

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potencializar a consciência, pelo primitivo e inconsciente do homem que é a arte e

o corpo, Platão há anos a trás reforçava a arte na escola, como muitos outros

pensadores da educação.

Diante desta sociedade tecnológica, a inovação da escola e seus

profissionais são fundamentais. Segundo Werneck (1993:46), “a atualização é

requerida em qualquer profissão. Só se atualiza de maneira prazerosa quem tem

vocação e está adaptado as suas funções. Até a água parada cria mosquitos e

apodrece. O movimento é sinal de vida. Qualquer profissão precisa deste

movimento vital.” O movimento de investigação e atualização ela deve acontecer

na estrutura escolar, abrindo espaço para novas áreas profissionais como

arteterapêutas, que tem acrescentado muito no desenvolvimento educacional do

ser humano. Principalmente pelo espaço recíproco de troca de aluno e professor

que é fundamental para que o primitivo e moderno, se dialoguem e projetem uma

sociedade futura melhor para as novas gerações.

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REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, Fátima. Psicomotricidade:corpo, ação e emoção – Fátima Alves – 4. Ed. Rio de Janeiro: WAK, 2008

ANTONY, Sheila Maria da Rocha. Os ajustamentos criativos da criança em sofrimento: uma compreensão da gestalt-terapia sobre as principais psicopatologias da infância. - UERJ. Disponível em: <http://www.revispsi.uerj. br/v9n2/artigos/pdf/v9n2a07.pdf> Acesso em 29/09/2011. (Trabalho original publicado em 2009)

CALAZANS, Julieta, CASTILHO, Jacyan e GOMES, Simone (coordenadores). Dança e educação em movimento. – São Paulo: Cortez, 2003. CARVALHO, Lívia Marques. O ensino de artes em ONGs – São Paulo: Cortez, 2008.

CES/JF, Grupo de Estudo de Intervenção Essencial. A construção da auto-imagem. Disponível em: <http://web2.cesjf.br/sites/cesjf/revistas/cesrevista/ edicoes/2006/construcao_da_autoimagem.pdf>. Acesso em 14/09/2012. (Trabalho original publicado em 2006)

DUARTE JR, João Francisco. Por que Arte-Educação? - 6.ª edição - Campinas: Papirus. 1991.

DUBY, Georges. A Morte. In: A Europa na Idade Média. São Paulo: Martins Fontes, 1988a, p. 143-153.

FERREIRA, Glória. VENANCIO FILHO, Paulo (org). Arte & Ensaios n.9. Rio de Janeiro. Programa Pós-Graduação em Artes Visuais/ Escola de Belas Artes. UFRJ. 2002. 195 pg.

FUX, Maria. Dança uma experiência de vida – Maria Fux; São Paulo. Editora: Summus, 1983

FUX, Maria. Formação em dançaterapia – Maria Fux; São Paulo. Editora: Summus, 1996

GRINBERG, Luiz Paulo. Jung: O homem criativo. São Paulo: FTD, 1997.

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HANNA, Judith Lynne. Dança, sexo e gênero: signos de identidade, dominação, desafio e desejo. – Rio de Janeiro – Editora: Rocco, 1999.

MACIEL, Carla & CARNEIRO, Celeste. Diálogos criativos entre a Arteterapia e a Psicologia Junguiana. – Rio de Janeiro: WAK Editora, 2012.

MARQUES, Isabel A. Dançando na escola. – 4 ed. – São Paulo: Cortez, 2007.

NANNI, Dionísia. Ensino da Dança: enfoques neurológicos, psicológicos e pedagógicos na estruturação/ expansão da consciência corporal e da auto-estima do educando. – Rio de Janeiro: Shape, 2003.

OSSONA, Paulina. A educação pela dança. São Paulo: Summus, 1988. p. 22.

REDIN, Euclides. Nova Fisionomia da Escola Necessária, São Leopoldo, RS: Unisinos (mimeo.p07),1999.

ROSANA van LANGENDONCK. História da dança. Disponível em: <http://cultura ecurriculo.fde.sp.gov.br/administracao/Anexos/Documentos/420091014164533Linha%20do%20Tempo%20-%20Historia%20da%20Danca.pdf>. Acesso em 13/08/2012.

SAMPAIO, Dulce Moreira. Pedagogia do ser: educação dos sentimentos e dos valores humanos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.

TAVARES, Isis Moura. Educação, corpo e arte. Curitiba – Editora:IESDE, 2005.

URRUTIGARAY, Maria Cristina. Arteterapia: a transformação pessoal pelas imagens. 5 ed. – Rio de Janeiro: WAK Editora, 2011.

ZIMERMAN, D. E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica – uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed, 1999.

WERNECK, Hamilton. Como vencer na vida sendo professor. Petrópolis, RJ - Editora Vozes Ltda. (1993)

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ANEXO I

Entrevista com o professor de dança da escola “A”

Idade: 30 anos Formação: Cursos de dança e experiência na área.

1- Quais são os objetivos de sua prática?

As aulas têm como objetivo integrar as diversidades, mostrando novas

possibilidades criativas de se dançar com seu corpo e do outro,

promovendo a cultura da sociedade local.

2- a sua visão, quais são os benefícios que sua prática trouxe ao

desenvolvimento escolar dos alunos?

Houve como benefício na escola uma diminuição das frequências dos pais

por problemas escolares, os alunos estão mais receptivos, mais

disciplinados, interessados pelos estudos e desinibidos.

3- A escola disponibiliza recursos adequados para o desenvolvimento

das aulas?

Sim, tudo! O espaço e som tudo ok!

Entrevista com o professor de dança da escola “B”

Idade: 18 anos Formação: É B boy e tem experiência na área.

1- Quais são os objetivos de sua prática?

As aulas têm como objetivo promover o cooperativismo e desenvolver

noções da arte de dança hip hop, além de equilíbrio, força e beleza.

2- Na sua visão, quais são os benefícios que sua prática trouxe ao

desenvolvimento escolar dos alunos?

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Na escola amenizou os conflitos entre os alunos nos intervalos das aulas,

os alunos estão mais confiantes, melhoraram nos estudos e tem mais

prazer de estar na escola.

3- A escola disponibiliza recursos adequados para o desenvolvimento

das aulas?

Sim!

Entrevista com a professora de dança da escola “C”

Idade: 42 anos Formação: Educadora física, especialista em dança

popular e bailarina formada.

1- Quais são os objetivos de sua prática?

As aulas têm como objetivo implementar a lei 10639/3”, que respalda o

ensino da cultura afro e indígena.

2- Na sua visão, quais são os benefícios que sua prática trouxe ao

desenvolvimento escolar dos alunos?

Houve um benefício em toda a escola, houve uma visibilidade da escola

no município de Cabo frio, a valorização da cultura negra e de sua beleza

e melhora no desempenho dos alunos na escola.

3- A escola disponibiliza recursos adequados para o desenvolvimento

das aulas?

Sim!

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ANEXO II

Entrevista com alunos e alunas da aula de dança da escola “A”

Idade: 13 anos Escolaridade: 7º ano

1- As aulas de dança fez diferença em você? Explique por quê?

Fez desde o dia que eu vim para cã, fez muita coisa de bom. Eu adoro a

aula de dança do professor Dudu.

Idade: 17 anos Escolaridade: 6º ano

2- As aulas de dança fez diferença em você? Explique por quê?

Sim, porque me faz não querer fazer nada de errado, como por exemplo

usar drogas. Então faz bem sim.

Idade: 13 anos Escolaridade: 8º ano

3- As aulas de dança fez diferença em você? Explique por quê?

Mais motivação para as aulas, alegria, melhorou meu desempenho na

educação física.

Idade: 13 anos Escolaridade: 6º ano

4- As aulas de dança fez diferença em você? Explique por quê?

A dança mudou meu comportamento. Gosto muito do hip hop. Eu era

muito agitado, agora, eu me controlo mais.

Entrevista com alunos e alunas da aula de dança da escola “B”

Idade: 14 anos Escolaridade: 9º ano

1- As aulas de dança fez diferença em você? Explique por quê?

Sim. Tipo com a dança eu me encontrei, achei o que estava faltando na

minha vida, porque para mim a dança não é movimentos, mas sim uma

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arte que eu posso expressar todo meu sentimento. E o grupo de dança da

minha escola me proporcionou isso tudo, eles são a minha segunda

família.

Idade: 13 anos Escolaridade: 6º ano

2- As aulas de dança fez diferença em você? Explique por quê?

Sim, fez muita diferença! Meu corpo desenvolveu-se muito, eu evolui

fisicamente e moralmente. Fiz muitos amigos depois que comecei a

dançar e consegui um futuro para minha vida, e agora que comecei a

dançar não vou mais parar.

Idade: 15 anos Escolaridade: 9º ano

3- As aulas de dança fez diferença em você? Explique por quê?

Sim. Depois que eu comecei a fazer aula de dança eu sinto que meu

corpo mudou e também a maneira de pensar. Por que quando você dança

seu corpo fica mais ágil, mas para meu corpo ficar agi,l eu utilizo antes a

mente.

Idade: 15 anos Escolaridade: 8º ano

4- As aulas de dança fez diferença em você? Explique por quê?

Claro que sim. Por que com a dança pode encontrar meu caminho, cada

passo realizado para mim e uma vitória! E eu espero com minha dança

servi de exemplo para muitas pessoas. E tudo isso eu agradeço a pezão

por te me colocado neste caminho maravilhoso.

Entrevista com alunos e alunas da aula de dança da escola “C”

Idade: 8 anos Escolaridade: 2º ano

1- As aulas de dança fez diferença em você? Explique por quê?

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Eu não gostava de vir as aulas e agora eu gosto. Da capoeira, das

músicas, jongos.

Idade: 8 anos Escolaridade: 2º ano

2- As aulas de dança fez diferença em você? Explique por quê?

Eu gosto da dança do coco, a aula de dança é maneira, eu gosto de

sambar. Eu gosto de sair para dançar,sai para dançar e fiquei nervosa,

não sabia dançar, mas gostei!

Idade: 8 anos Escolaridade: 1º ano

3- As aulas de dança fez diferença em você? Explique por quê?

Eu adoro as aulas de dança, das músicas e da capoeira.

. Idade: 8 anos Escolaridade: 2º ano

4- As aulas de dança fez diferença em você? Explique por quê?

Amo maracatu, dança do coco. Eu desobedecia a tia “Marcia”, mas agora

eu não desobedeço não.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO ....................................................................................................... 2

DEDICATÓRIA ............................................................................................................... 3

AGRADECIMENTO ....................................................................................................... 4

PREFÁCIO ..................................................................................................................... 5

RESUMO ....................................................................................................................... 6

METODOLOGIA ............................................................................................................ 7

SUMÁRIO ...................................................................................................................... 8

INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 9

CAPITULO I - DANÇA E MOVIMENTO NA HISTÓRIA HUMANO .............................. 11

1.1 Dança primitiva ....................................................................................................... 12

1.2 Dança milenar e sagrada ....................................................................................... 12

1.3 Dança macabra ...................................................................................................... 13

1.4 Dança clássica ....................................................................................................... 14

1.5 Dança moderna ...................................................................................................... 16

1.6 Dança contemporânea ........................................................................................... 17

1.7 A dança e seus benefícios para a sociedade contemporânea ............................... 18

CAPITULO II - DANÇA: UMA EXPRESSÃO ARTETERAPÊUTICA ............................ 22

2.1 Construção da auto-imagem .................................................................................. 25

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2.2 Reflexo da auto-imagem no outro .......................................................................... 30

2.3 Integração: Sujeito social – Enfrentado os conflitos ............................................... 32

CAPITULO III - DIVERSIDADE ARTÍSTICA: COM REFLEXO NO ÂMBITO

ESCOLAR ..................................................................................................................... 38

3.1 Estudos de casos: Definição dos campos de pesquisa .......................................... 39

CONCLUSÃO ............................................................................................................... 49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 51

ANEXO I ....................................................................................................................... 53

ANEXO II....................................................................................................................... 55

ÍNDICE .......................................................................................................................... 58