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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A INFLUÊNCIA DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO DE UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL, COMPROMETIDA COM O CONSUMO CONSCIENTE E RESPONSÁVEL Por: Alessandra da Silva Porto Orientador Prof. Jander Leal Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A INFLUÊNCIA DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO DE UMA SOCIEDADE

SUSTENTÁVEL, COMPROMETIDA COM O CONSUMO CONSCIENTE E RESPONSÁVEL

Por: Alessandra da Silva Porto

Orientador

Prof. Jander Leal

Rio de Janeiro

2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A INFLUÊNCIA DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO DE UMA SOCIEDADE

SUSTENTÁVEL, COMPROMETIDA COM O CONSUMO CONSCIENTE E RESPONSÁVEL

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Direito Ambiental.

Por: Alessandra da Silva Porto

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AGRADECIMENTOS

A Deus pela oportunidade preciosa da

vida, à minha mãe querida, sempre

presente e solidária, à família, meu

amparo e alegria, e à amiga Bel, pela

sugestão do curso, generosidade e

incentivo ao estudo.

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DEDICATÓRIA

Aos valorosos defensores do ambiente,

nas mais variadas vertentes.

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RESUMO

O presente trabalho destina-se a analisar a questão do consumo

desenfreado e sua influência danosa na progressiva devastação dos recursos

planetários, evidenciando a alienação da sociedade contemporânea, bem

como demonstrar o desconhecimento dos consumidores quanto às

consequências de suas escolhas diárias para a própria saúde, para o meio

ambiente e para continuação da vida como a conhecemos.

Pretende demonstrar a importância da educação ambiental em todos os

níveis de ensino, nas esferas formal e não formal, como fundamental na

construção de uma sociedade solidária e sustentável, bem como apontar os

entraves existentes na lei de educação ambiental que obstam sua efetividade.

Busca, ainda, demonstrar que através de uma educação ambiental

comprometida e eficaz é possível desenvolver novos paradigmas relativos ao

consumo, incentivando o despertar de uma sociedade consciente e

comprometida com a sustentabilidade e preservação do ambiente.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada teve como principais recursos o estudo da

legislação ambiental pertinente, a leitura de livros, artigos, relatórios e outros

conteúdos disponíveis na internet voltados ao tema, bem como a análise de

vídeos produzidos com base em questões relevantes para a elaboração da

presente monografia.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Educação Ambiental 09

1.1 - Breve história da Educação Ambiental 11

1.2 – Princípios Norteadores 16

CAPÍTULO II – Política Nacional de Educação Ambiental 19

2.1- Legislação pertinente 20

2.2- Aplicabilidade 22

2.3- Desafios 28

CAPÍTULO III – Sociedade e Consumo 30

CAPITULO IV – Consumo e Sustentabilidade 39

CONCLUSÃO 45

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 46

ÍNDICE 49

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INTRODUÇÃO

Vivemos em interdependência. A manutenção da vida, na forma em

que a conhecemos, requer um meio ambiente sadio, equilibrado. Tal é sua

importância, que a Carta Magna, em seu artigo 225, caput, assegura: “Todos

têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum

do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e

à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras

gerações.”

A história da humanidade, contudo, revela a indiferença do Homem

pela casa que o acolhe, alimenta e sustenta; como consequência da fruição

irresponsável e desmedida de recursos preciosos, muitos notadamente finitos,

nos deparamos com questões gravíssimas que já não admitem serem

ignoradas, como nos serve de exemplo a crise da água, realidade que nos

afeta o cotidiano, e tão grave que já figura no topo da lista de riscos para o

Planeta do Fórum Econômico Mundial, esfera geralmente liderada por

assuntos econômicos.

Esta dicotomia entre a prática de um modelo de desenvolvimento

insustentável, onde o consumo desenfreado é explicitamente cultuado e

incentivado, e a realidade do Planeta, demandado muito além de sua

capacidade, nos leva a refletir acerca do melhor e mais eficiente caminho para

reverter a alienação em que vivemos, indiferentes às demais formas de vida

com as quais dividimos a Terra (sim, a Casa também é deles) e as

consequências danosas que nossa forma de vida perpetra.

A Carta Magna determina ser um dever de todos a defesa e a

preservação do ambiente em que vivemos, não só para a atual como também

para as futuras gerações. Determina, ainda, que o pleno exercício deste

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dever/poder deverá ser assegurado através da Educação Ambiental, conforme

expressamente previsto no § Iº, VI, do artigo 225 da CRFB como uma

obrigação do Poder Publico.

No contexto apresentado, a Política Nacional de Educação Ambiental,

instituída pela Lei 9795/99 e regulamentada pelo Decreto 4.281, de 25 de

junho de 2002, embora reconhecidamente necessite ser aprimorada e ainda

hoje, pouco mais de uma década de sua criação, ainda apresente inúmeros

desafios para que se torne viável e efetiva, pode e deve fornecer as

ferramentas necessárias à implementação de políticas educacionais efetivas

para a formação de novos paradigmas que reflitam uma sociedade

responsável, consciente, comprometida e verdadeiramente sustentável.

CAPÍTULO I

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

... A terra produziria sempre o necessário, se com o necessário soubesse o

homem contentar-se.

(O Livro dos Espíritos, capítulo V, Lei de Conservação)

A Constituição Federal, em seu art.225, § 1º, prevê o princípio da

educação ambiental ao afirmar que compete ao Poder Público promover a

educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública

para a preservação do meio ambiente. Tornou-se um dos principais princípios

norteadores do direito ambiental, previsto ainda na Agenda 21, instrumento de

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planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, em diferentes

bases geográficas, que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social

e eficiência econômica.

É certo que muitas definições podem ser encontradas para a expressão

“educação ambiental”, contudo cabe especial destaque à abordagem do

teólogo Leonardo Boff quanto ao tema:

“A partir de agora a educação deve impreterivelmente incluir

as quatro grandes tendências da ecologia: a ambiental, a

social, a mental e a integral ou profunda (aquela que discute

nosso lugar na natureza)”. Mais e mais se impõem entre os

educadores esta perspectiva: educar para o bem viver que é a

arte de viver em harmonia com a natureza e propor-se repartir

equitativamente com os demais seres humanos os recursos

da cultura e do desenvolvimento sustentável.

Precisamos estar conscientes de que não se trata apenas de

introduzir corretivos ao sistema que criou a atual crise

ecológica, mas de educar para sua transformação. Isto implica

superar a visão reducionista e mecanicista ainda imperante e

assumir a cultura da complexidade. Ela nos permite ver as

interrelações do mundo vivo e as ecodependências do ser

humano.

Tal verificação exige tratar as questões ambientais de forma

global e integrada. Deste tipo de educação se deriva a

dimensão ética de responsabilidade e de cuidado pelo futuro

comum da Terra e da humanidade. Faz descobrir o ser

humano como o cuidador de nossa Casa Comum e o guardião

de todos seres. (...) Ser humano, Terra e natureza se

pertencem mutuamente. Por isso é possível forjar um caminho

de convivência pacífica. É o desafio da educação no atual

momento.”

(https://leonardoboff.wordpress.com/2012/05/06/sustentabilidad

e-e-educacao/).

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1.1 – Breve história da Educação Ambiental

A reconhecida necessidade de se investir, através de práticas

educacionais, no esclarecimento e conscientização da sociedade quanto às

questões ambientais vem de longe, como se pode observar por conceitos

trazidos em conferências realizadas na década de 70:

“A educação ambiental é a ação educativa permanente

pela qual a comunidade educativa tem a tomada de

consciência de sua realidade global, do tipo de relações

que os homens estabelecem entre si e com a natureza,

dos problemas derivados de ditas relações e suas causas

profundas. Ela desenvolve, mediante uma prática que

vincula o educando com a comunidade, valores e atitudes

que promovem um comportamento dirigido a

transformação superadora dessa realidade, tanto em

seus aspectos naturais como sociais, desenvolvendo no

educando as habilidades e atitudes necessárias para dita

transformação.” Conferência Sub-regional de Educação

Ambiental para a Educação Secundária – Chosica/Peru

(1976)

“A educação ambiental é um processo de reconhecimento

de valores e clarificações de conceitos, objetivando o

desenvolvimento das habilidades e modificando as

atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as

inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e

seus meios biofísicos. A educação ambiental também

está relacionada com a prática das tomadas de decisões

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e a ética que conduzem para a melhora da qualidade de

vida” Conferência Intergovernamental de Tbilisi (1977)

Mencionada inicialmente em 1948, durante um encontro da União

Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) em Paris, a questão da

Educação Ambiental é inserida como temática na agenda internacional através

da Conferência de Estocolmo, em 1972. Logo após, em 1975, é lançado o

Programa Internacional de Educação Ambiental, no qual são definidos os

princípios e orientações para o futuro.

Durante a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental,

organizada em 1977 na cidade de Tbillisi, a partir de uma parceria entre a

Unesco e o Pnuma, o Brasil firmou as definições, os objetivos, os princípios e

as estratégias para a Educação Ambiental que até hoje são adotados em todo

o mundo.

Ponto de partida para o programa internacional de EA, a Conferência de

Tbilisi contribuiu para precisar a natureza da EA, definindo seus objetivos e

suas características, assim como as estratégias pertinentes no plano nacional

e internacional. É considerado em nossos dias o evento decisivo para os

rumos da EA em todo o mundo.

Diante dos fatos que marcaram a história da Educação Ambiental é

possível observar que o alerta quanto às questões ambientais vem de longe,

conforme se constatar pela cronologia dos dados a seguir:

• 1869 Ernst Haeckel, propõe o vocábulo “ecologia” para os estudos das

relações entre as espécies e seu ambiente

• 1947 Funda-se na Suíça a UICN- União Internacional para a

Conservação da Natureza

• 1952 Acidente de poluição do ar em Londres provoca a morte de 1600

pessoas

• 1872 Criação do primeiro parque nacional do mundo “Yellowstone”, USA

• 1962 Publicada “Primavera Silenciosa” por Rachel Carlson

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• 1965 Utilização da expressão “Educação Ambiental” (Enviromental

Education) na “Conferência de Educação” da Universidade de Keele,

Grã-Bretanha

• 1966 Pacto Internacional sobre os Direitos Humanos - Assembléia

Geral da ONU

• 1968 Fundação do Clube de Roma

• 1968 Manifestações de Maio de 68 na França

• 1972 Publicado o Relatório “Os Limites do Crescimento” - Clube de

Roma

• 1972 Conferência de Estocolmo - Discussão do Desenvolvimento e

Ambiente, Conceito de Ecodesenvolvimento. Recomendação 96

Educação e Meio Ambiente 1973 Registro Mundial de Programas em

Educação Ambiental - USA

• 1974 Seminário de Educação Ambiental em Jammi, Finlândia -

Reconhece a Educação Ambiental como educação integral e

permanente.

• 1975 Congresso de Belgrado - Carta de Belgrado estabelece as metas

e princípios da Educação Ambiental

• 1975 Programa Internacional de Educação Ambiental – PIEA

• 1976 Reunião Subregional de EA para o ensino Secundário Chosica

Peru. Questões ambientais na América Latina estão ligadas às

necessidades de sobrevivência e aos direitos humanos.

• 1976 Congresso de Educação Ambiental Brasarville, África, reconhece

que a pobreza é o maior problema ambiental.

• 1977 Conferência de Tbilisi - Geórgia, estabelece os princípios

orientadores da EA e remarca seu caráter interdisciplinar, critico, ético e

transformador.

• 1979 Encontro Regional de Educação Ambiental para América Latina

em San José , Costa Rica.

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• 1980 Seminário Regional Europeu sobre EA , para Europa e América

do Norte. Assinala a importância do intercâmbio de informações e

experiências.

• 1980 Seminário Regional sobre EA nos Estados Árabes, Manama,

Bahrein. UNESCO _ PNUMA.

• 1980 Primeira Conferência Asiática sobre EA Nova Delhi, Índia 1987

Divulgação do Relatório da Comissão Brundtland, Nosso Futuro

Comum.

• 1987 Congresso Internacional da UNESCO - PNUMA sobre Educação

e Formação Ambiental - Moscou. Realiza a avaliação dos avanços

desde Tbilisi , reafirma os princípios de Educação Ambiental e assinala

a importância e necessidade da pesquisa, e da formação em Educação

Ambiental.

• 1988 Declaração de Caracas. ORPAL - PNUMA, Sobre Gestão

Ambiental em América Denuncia a necessidade de mudar o modelo de

desenvolvimento.

• 1989 Primeiro Seminário sobre materiais para a Educação Ambiental.

ORLEAC - UNESCO - PIEA. Santiago, Chile.

• 1989 Declaração de HAIA, preparatório da RIO 92, aponta a

importância da cooperação internacional nas questões ambientais.

• 1990 Conferência Mundial sobre Ensino para Todos, Satisfação das

necessidades básicas de aprendizagem, Jomtien, Tailândia. Destaca o

conceito de Analfabetismo Ambiental

• 1990 ONU Declara o ano 1990 Ano Internacional do Meio Ambiente.

• 1991 Reuniões preparatórias da Rio 92.

• 1992 Conferencia sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento,

UNCED, Rio/92 – Criação da Agenda 21 Tratado de Educação

Ambiental para Sociedades Sustentáveis FORUN das ONG’s -

compromissos da sociedade civil com a Educação Ambiental e o Meio

Ambiente.

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• 1992 Carta Brasileira de Educação Ambiental. Aponta as necessidades

de capacitação na área. MEC/RIO 92.

• 1993 Congresso Sul-americano continuidade Eco/92 - Argentina 1993

Conferência dos Direitos Humanos. Viena.

• 1994 Conferência Mundial da População. Cairo 1994 I Congresso Ibero

Americano de Educação Ambiental. Guadalajara, México.

• 1995 Conferência para o Desenvolvimento Social. Copenhague.

Criação de um ambiente econômico-político-social-cultural e jurídico que

permita o desenvolvimento social.

• 1995 Conferência Mundial da Mulher / Pequim

• 1995 Conferência Mundial do Clima. Berlim 1996 Conferência Habitat II

Istambul.

• 1997 II Congresso Ibero-americano de EA. Junho Guadalajara,

México.

• 1997 Conferência sobre EA em Nova Delhi.

• 1997 Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade:

Educação e Conscientização Pública para a Sustentabilidade,

Thessaloniki, Grécia.

• 1999 É lançada a revista Tópicos en Educación Ambiental, uma

publicação internacional editada no México, que contém informações

sobre as variadas vertentes e áreas da educação ambiental.

• 2002 Em dezembro, a Assembleia Geral das Nações Unidas, durante

sua 57ª sessão, estabeleceu a resolução nº 254, declarando 2005 como

o início da Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável,

depositando na UNESCO a responsabilidade pela implementação da

iniciativa.

• 2003 Durante a XIV Reunião do Foro de Ministros de Meio Ambiente da

América Latina e Caribe, em novembro no Panamá, é oficializado o

PLACEA, o Programa Latino-americano e Caribenho de Educação

Ambiental, que teve como principal protagonista a Venezuela, e como

foro de discussões, a série dos congressos ibero-americanos de

educação ambiental.

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Em novembro é realizada na Venezuela, a reunião de trabalho de

especialistas em gestão pública da educação ambiental na América

Latina e Caribe, que elaborou o plano de implementação do PLACEA,

de modo articulado com a Iniciativa Latino-americana e Caribenha para

o Desenvolvimento Sustentável.

Em janeiro é criada em Portugal, durante as XII Jornadas Pedagógicas

de Educação Ambiental da ASPEA, Associação Portuguesa de

Educação Ambiental, a Rede Lusófona de Educação Ambiental,

reunindo educadores ambientais brasileiros, portugueses e outras

nacionalidades de língua portuguesa.

A Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, instituída

por iniciativa das Nações Unidas, vivenciada no período 2005-2014, representa

verdadeira conquista para a Educação Ambiental, reconhecendo seu papel no

enfrentamento das diversas questões socioambientais, bem como destacando

sua importância para a conquista da sustentabilidade a partir da Educação. É

estímulo valoroso às políticas, programas e ações educacionais já existentes,

contribuindo na criação de oportunidades inovadoras.

1.2 – Princípios Norteadores

Durante a Rio-92, no Fórum Global ocorrido na Conferência da

ONU sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, foram compilados os seguintes

princípios da educação para sociedades sustentáveis e responsabilidade

global:

1. A educação é um direito de todos; somos todos aprendizes e

educadores;

2. A educação ambiental deve ter como base o pensamento crítico e

inovador, em qualquer tempo ou lugar, em seus modos formal, não

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formal e informal, promovendo a transformação e a construção da

sociedade;

3. A educação ambiental é individual e coletiva. Tem o propósito de

formar cidadãos com consciência local e planetária, que respeitem a

autodeterminação dos povos e a soberania das nações;

4. A educação ambiental não é neutra, mas ideológica. É um ato

político, baseado em valores para a transformação social;

5. A educação ambiental deve envolver uma perspectiva holística,

enfocando a relação entre o ser humano, a natureza e o universo de

forma interdisciplinar;

6. A educação ambiental deve estimular a solidariedade, a igualdade e o

respeito aos direitos humanos, valendo-se de estratégias democráticas

e interação entre as culturas;

7. A educação ambiental deve tratar as questões globais críticas, suas

causas e inter-relações em uma perspectiva sistêmica, em seu contexto

social e histórico. Aspectos primordiais relacionados ao desenvolvimento

e ao meio ambiente, tais como população, saúde, paz, direitos

humanos, democracia, fome, degradação da flora e fauna, devem ser

abordados dessa maneira;

8. A educação ambiental deve facilitar a cooperação mútua e equitativa

nos processos de decisão, em todos os níveis e etapas;

9. A educação ambiental deve recuperar, reconhecer, respeitar, refletir e

utilizar a história indígena e culturas locais, assim como promover a

diversidade cultural, linguística e ecológica. Isto implica uma revisão da

história dos povos nativos para modificar os enfoques etnocêntricos, até

de estimular a educação bilíngue;

10. A educação ambiental deve estimular e potencializar o poder das

diversas populações, promover oportunidades para as mudanças

democráticas de base que estimulem os setores populares da

sociedade. Isto implica que as comunidades devem retomar a condução

de seus próprios destinos;

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11. A educação ambiental valoriza as diferentes formas de

conhecimento. Este é diversificado, acumulado e produzido socialmente,

não devendo ser patenteado ou monopolizado;

12. A educação ambiental deve ser planejada para capacitar as pessoas

a trabalharem conflitos de maneira justa e humana;

13. A educação ambiental deve promover a cooperação e o diálogo

entre indivíduos e instituições, com a finalidade de criar novos modos de

vida, baseados em atender às necessidades básicas de todos, sem

distinções étnicas, físicas, de gênero, idade, religião, classe ou mentais;

14. A educação ambiental requer a democratização dos meios de

comunicação de massa e seu comprometimento com os interesses de

todos os setores da sociedade. A comunicação é um direito inalienável e

os meios de comunicação de massa devem ser transformados em um

canal privilegiado de educação, não somente disseminando informações

em bases igualitárias, mas também promovendo intercâmbio de

experiências, métodos e valores;

15. A educação ambiental deve integrar conhecimentos, aptidões,

valores, atitudes e ações. Deve converter cada oportunidade em

experiências educativas de sociedades sustentáveis;

16. A educação ambiental deve ajudar a desenvolver uma consciência

ética sobre todas as formas de vida com as quais compartilhamos este

planeta, respeitar seus ciclos vitais e impor limites à exploração dessas

formas de vida pelos seres humanos.”

(fonte: Tratado de Educação Ambiental para

Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade

Global)

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CAPÍTULO II

POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Quem pretende safras para os próximos

meses cultiva verduras; quem pretende

safras para os próximos anos cultiva

árvores; mas quem pretende safras para

as próximas décadas cultiva homens.

Ditado chinês

No ano de 1997 foi realizada pelo Ibope uma pesquisa nacional a fim

de conhecer as percepções, os sentimentos e as atitudes de brasileiros em

relação ao meio ambiente. Embora previsivelmente a pesquisa tenha apontado

grande desconhecimento da maioria dos entrevistados quanto a vários

problemas ambientais que ameaçam o Planeta Terra, como o perigo da

desertificação e a ameaça de perda de biodiversidade, a consulta surpreendeu

ao demonstrar que boa parte dos brasileiros (65%) não aceita a poluição como

preço para a garantia de emprego e que, mesmo vivenciando dificuldades

econômicas, quase metade dos entrevistados (47%) concorda com a ideia de

que o meio ambiente deve ter prioridade sobre o crescimento econômico.

No que se refere ao âmbito educacional, a pesquisa nacional se

revelou preciosíssima ao indicar que 95% dos brasileiros entende que a

educação ambiental deve ser obrigatória nas escolas. E tal posicionamento se

revela ainda mais positivo ao demonstrar que a maioria absoluta entende a

Educação Ambiental como a grande chave para mudanças efetivas na forma

como as pessoas interagem com o ambiente em que vivem.

Enunciadora de outro tipo de sociedade, outra forma de organização

humana, outro modo de produção e consumo, a Educação Ambiental encara o

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desafio central que é a construção de sociedades verdadeiramente

sustentáveis.

2.1- Legislação Pertinente

A Política Nacional de Educação Ambiental, instituída pela Lei 9795/99 e

regulamentada pelo Decreto 4281/2002, destacou o Brasil como o primeiro

país da América Latina a ter uma política nacional especificamente voltada

para a Educação Ambiental.

A Lei 9795/99, em seu artigo 1º, determina que a educação ambiental

tem por objetivo a conservação ambiental. Segundo definição encontrada no

Dicionário de Direito Ambiental, conservação ambiental se traduz da seguinte

forma:

“Proteção do meio ambiente com a utilização racional dos

recursos naturais, a fim de beneficiar a posteridade,

assegurando uma produção contínua de plantas, animais e

materiais úteis, mediante o estabelecimento de um ciclo

equilibrado de colheita e renovação”.

Logo, depreende-se que na conservação ambiental a participação

humana precisa ser de harmonia e sempre com intuito de proteção. Implica no

uso racional dos recursos naturais, utilizados até o momento como se fossem

livremente disponíveis e ilimitadamente repostos a nosso bel prazer; significa

ainda modificar a forma como encaramos as relações de consumo e seu

impacto no ambiente; envolve processos de educação ambiental objetivando a

plena capacitação do individuo, despertando a consciência de cada um para

as questões ambientais correlacionadas ao desenvolvimento econômico e

social.

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Educação Ambiental, segundo definição contida nos artigos 1º e 2º da

Lei 9795/99, distingue-se pelos processos pelos quais o indivíduo e a

coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e

competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso

comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade,

sendo ainda um componente essencial e permanente da educação nacional

que deve estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e

modalidades de processo educativo, em caráter formal e não formal.

De acordo com os preceitos normativos em vigor, a educação ambiental

deverá ser implementada no ensino formal e desenvolvida no âmbito dos

currículos das instituições de ensino públicas e privadas, englobando a

educação básica, a superior, a especial, a profissional e a de jovens e adultos.

Cabe ressaltar, todavia, que não é estipulada sua implementação como

disciplina específica no currículo de ensino (art. 10, § 1º), facultando-se apenas

nos cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas ao aspecto

metodológico da educação ambiental, quando esta se fizer necessário.

A educação ambiental será implementada ainda através de ações e

práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões

ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio

ambiente. A esse processo deu-se o nome de educação ambiental não formal,

porquanto realizada fora do âmbito escolar e acadêmico, o que, todavia, não

exclui a participação das escolas e universidades na formulação e execução de

programas e atividades vinculadas a esse fim (art. 13, parágrafo único, II).

A Política Nacional de Educação Ambiental acentua a obrigatoriedade

que o Poder Público e a coletividade tem de velar por um meio ambiente

ecologicamente equilibrado, o qual deve ser defendido e preservado por todos,

sejam pessoas físicas e jurídicas, mediante a construção de valores sociais, de

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conhecimentos, habilidades e atitudes voltadas à preservação do ambiente em

que vivemos.

Nesse sentido dispõe a Lei 9795/99, em seu artigo 7º, ao determinar

que a Politica Nacional de Educação Ambiental envolva em sua esfera de ação

os órgãos integrantes do SISNAMA, instituições educacionais publicas e

privadas dos sistemas de ensino, os órgãos públicos da União, dos Estados,

do Distrito Federal e dos Municípios, e organizações não governamentais com

atuação em educação ambiental. Dispõe ainda que o sistema nacional de

educação deverá organizar ações que busquem desenvolver as seguintes

atividades, que são consideradas necessárias a sua efetividade:

I - capacitação de recursos humanos;

II - desenvolvimento de estudos, pesquisas e experimentações;

III - produção e divulgação de material educativo;

IV - acompanhamento e avaliação.

2.2 – Aplicabilidade

A Coordenação-Geral de Educação Ambiental (CGEA) vincula-se à

Diretoria de Educação Integral, Direitos Humanos e Cidadania da Secretaria de

Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do Ministério da

Educação (SECADI/MEC). Integra, juntamente com o Departamento de

Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, o Órgão Gestor da

PNEA – Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9.795/99 e Decreto

4.281/02).

Atuando junto aos sistemas de ensino e instituições de ensino superior,

a SECADI/MEC apoia ações e projetos de educação ambiental que fortaleçam

a PNEA e o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), em sintonia

com os princípios e diretrizes do Tratado de Educação Ambiental para

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Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, da Carta da Terra, da

Carta das Responsabilidades Humanas e da Agenda 21.

Implementada pelo MEC, a partir da Secretaria de Educação

Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão - SECADI, a Política

Nacional de Educação Ambiental estrutura-se em quatro eixos de ação:

Programa Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas. Contém quatro ações

estruturantes: a) Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, b)

Formação Continuada de Professores e Estudantes, c) Inclusão Digital com

Ciência de Pés no Chão, d) Ações Estruturantes – Com-vidas, Coletivo Jovens

e Educação de Chico Mendes. Esse programa se propõe a construir um

processo permanente de Educação Ambiental na escola, por meio de

instâncias presenciais, a distância (internet) e difusas. As ações envolvem

Secretarias de Educação estaduais e municipais, professores, alunos,

comunidade escolar, sociedade civil e universidades.

Enraizamento da Educação Ambiental no Brasil. Ação conjunta com o

Ministério do Meio Ambiente que visa potencializar a implementação das

políticas e programas de Educação Ambiental em todas as unidades

federativas do país e contribuir para o enraizamento e fortalecimento da EA.

Essa ação processual se desenvolve em vários sentidos: fortalecer a

institucionalização da EA nas Secretarias de Educação; articular os diversos

atores e instituições para potencializar e integrar ações de EA; fomentar a

criação e consolidação das Comissões Interinstitucionais Estaduais de

Educação Ambiental – CIEAs e Redes de EA; divulgar e assessorar a

execução dos projetos e programas da Secad/MEC; apoiar eventos de

mobilização de educadores ambientais; integrar e promover sinergia entre as

ações, projetos e programas de EA dos Ministérios da Educação e do Meio

Ambiente por meio do Órgão Gestor da Política Nacional de Educação

Ambiental.

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Normatização da Educação Ambiental no Ensino Formal. Elaboração de

diretrizes e regulamentação da Educação Ambiental por meio do Plano

Nacional de Educação – Revisão da Lei nº 10.172/01, das Diretrizes

Curriculares Nacionais (DCN) e da Participação em Colegiados (Comitê

Assessor do Órgão Gestor da PNEA, Câmara Técnica de Educação Ambiental

do Conama, entre outros).

Documentação, Pesquisa e Avaliação. As pesquisas e as estratégias de

monitoramento fornecem subsídios para a avaliação e consequentemente para

o planejamento incremental das ações da CGEA. As publicações são dirigidas

a diversos públicos, contribuindo para a difusão do conhecimento e

subsidiando as ações educacionais transformadoras. São organizadas em

documentos técnicos, que descrevem os projetos e ações da coordenação, e

em livros, que abordam conceitos e referenciais teóricos sobre Educação

Ambiental. Esse conjunto documental colabora com o aprimoramento

metodológico das ações e com o adensamento conceitual da temática

socioambiental.

Educação Ambiental no Ensino Formal

Especificada e desenvolvida nos currículos das instituições públicas e

privadas vinculadas aos sistemas federais, estaduais e municipais de ensino, a

educação ambiental deve ser desenvolvida como prática educativa integrada,

contínua, permanente, inter-relacionadas e de forma transdisciplinar, em todos

os níveis e modalidades educacionais, conforme preceituam os artigos 8º e 9º

da Lei 9795/99. Dispõe ainda que a educação básica (ensinos infantil,

fundamental e médio), especial, profissional, EJA e superior devem adotar

conteúdos relacionados ao meio ambiente e à formação de hábitos e atitudes

pessoais e coletivas que preservem a qualidade de vida e os recursos naturais

do país e do planeta.

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Os Parâmetros Curriculares Nacionais determinam os conteúdos

formais relacionados aos ensinos fundamental e médio, tratando dos temas

transversais às disciplinas formais e especificando os objetivos e as metas que

a educação ambiental deve atingir para os estudantes destes níveis.

Os cursos de formação e/ou especialização, técnicos e

profissionalizantes devem incorporar conteúdos específicos sobre ética

ambiental relacionada às atividades a serem desenvolvidas posteriormente.

A Lei ora em análise dispõe ainda, em seus artigos 10 e 11, que a

educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada,

contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal,

não devendo ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino,

com exceção aos cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas ao

aspecto metodológico da educação ambiental, esfera em que será facultada a

criação de disciplina específica, quando esta se fizer necessária. Além disso,

determina que nos cursos de formação e especialização técnico-profissional,

em todos os níveis, deve ser incorporado conteúdo que trate da ética

ambiental das atividades profissionais a serem desenvolvidas, devendo a

dimensão ambiental constar dos currículos de formação de professores, em

todos os níveis e em todas as disciplinas. Quanto à capacitação dos

profissionais envolvidos, determina que os professores em atividade devem

receber formação complementar em suas áreas de atuação, com o propósito

de atender adequadamente ao cumprimento dos princípios e objetivos da

Política Nacional de Educação Ambiental.

O enfoque interdisciplinar, presente na LEI Nº 9.795/99 é reforçado nas

Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Ambiental:

Art. 8º - A Educação Ambiental, respeitando a autonomia da

dinâmica escolar e acadêmica, deve ser desenvolvida como uma

prática educativa integrada e interdisciplinar, contínua e

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permanente em todas as fases, etapas, níveis e modalidades,

não devendo, como regra, ser implantada como disciplina ou

componente curricular específico (BRASIL, 2012, p.70).

Na esfera do ensino formal direcionado ao esclarecimento e capacitação

dos profissionais da educação, cumpre destacar iniciativas como o Edukatu,

rede de aprendizagem criada para incentivar a troca de conhecimentos e

práticas sobre consumo consciente entre professores e alunos do Ensino

Fundamental de escolas em todo o Brasil.

Além de reunir informações e materiais de referência sobre o tema,

o Edukatu convida os participantes a realizar atividades por meio de circuitos

de aprendizagem. Trata-se de experiência inovadora que os levará a

solucionar desafios de pesquisa e estudo; a comentar e debater com outros

internautas; a compartilhar suas produções e/ou criações sobre o tema e a

promover ações práticas de intervenção nas comunidades escolares

envolvidas. Por meio dos circuitos de aprendizagem e de outras ferramentas

interativas, o Edukatu funciona como instrumento de mobilização, facilitando o

desenvolvimento de uma comunidade de engajamento contínuo em favor do

consumo consciente, onde cada participante se tornará um disseminador do

que aprendeu, ampliando de forma colaborativa o alcance dos debates e

intervindo diretamente no dia a dia e nas práticas cotidianas daqueles que o

cercam.

O projeto do Edukatu partiu da importância do educador como agente

transformador, acolhendo e fortalecendo o encontro entre quem aprende e

quem ensina. Sua elaboração envolveu especialistas em educação,

sustentabilidade, comunicação e cultura digital. Sua abordagem destaca a

internet e as tecnologias de comunicação como linguagens fundamentais, que

dinamizam as relações e estimulam a constante troca de informações,

principalmente dentro do ambiente escolar. Outro ponto de convergência com

a cultura digital é que parte dos materiais educacionais disponibilizados em sua

plataforma, alguns originariamente desenvolvidos em outros projetos do Akatu,

estão disponibilizados em um formato REA (Recursos Educacionais Abertos),

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ou seja, estão sob domínio público, o que permite sua utilização ou adaptação

por terceiros (informações disponíveis em http://edukatu.org.br/quem_somos).

Educação Ambiental no Ensino Não Formal

Entende-se por educação ambiental não formal as ações e práticas

educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões

ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio

ambiente, conforme preceitua o caput do artigo 13 da Lei supracitada.

Determina ainda, em seu parágrafo único, que o Poder Público incentivará as

seguintes ações, em níveis federal, estadual e municipal, na forma elencada a

seguir:

I - a difusão, por intermédio dos meios de comunicação de massa, em

espaços nobres, de programas e campanhas educativas, e de informações

acerca de temas relacionados ao meio ambiente;

II - a ampla participação da escola, da universidade e de organizações

não governamentais na formulação e execução de programas e atividades

vinculadas à educação ambiental não formal;

III - a participação de empresas públicas e privadas no desenvolvimento

de programas de educação ambiental em parceria com a escola, a

universidade e as organizações não governamentais;

IV - a sensibilização da sociedade para a importância das unidades de

conservação;

V - a sensibilização ambiental das populações tradicionais ligadas às

unidades de conservação;

VI - a sensibilização ambiental dos agricultores;

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VII - o ecoturismo.

Direcionada à comunidade, a Educação Ambiental não formal ocorre em

variados espaços da vida social, fora da escola, contando com a participação

da comunidade para estabelecer estratégias e ações socioambientais. Através

desse processo a cidadania se fortalece e a qualidade de vida é melhorada

com práticas e ações socioambientais como economia de energia e de água,

redução da poluição sonora e do ar, coleta seletiva do lixo e sua reciclagem,

cuidados com os mananciais etc.

Destaca-se ainda a Educação Ambiental informal, a qual contribui para

ampliar a conscientização pública sobre as questões ambientais através dos

meios de comunicação de massa, seja através de jornais, revistas, rádios ou

televisão, além dos sistemas de informatização como Internet, bancos de

dados ambientais, bem como bibliotecas, videotecas e filmotecas

especializadas, contando com a comunicação como poderosa arma a auxiliar

na educação.

Os conteúdos e os métodos da Educação Ambiental contam com outras

formas de manifestação e de expressão humana como canções, poesias,

esculturas e pinturas, pois embora a comunicação e as artes não constituam

objeto da pedagogia ambiental são valiosos instrumentos de sensibilização do

indivíduo em relação ao ambiente do qual faz parte.

2.3- Desafios

Docentes apontam dificuldade em ensinar conceitos ambientais. Em

uma avaliação do ensino de práticas ambientais em escolas públicas, a bióloga

Claudia Ferreira constatou que a aplicação desses conceitos em sala de aula

está aquém do orientado por políticas públicas de educação ambiental e

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materiais específicos emitidos pelo Ministério da Educação (MEC). O trabalho

foi desenvolvido entre 2009 e 2011 na Faculdade de Educação (FE) da USP,

sob orientação da professora Myriam Krasilchik e defendido em fevereiro de

2012.

A bióloga Claudia Ferreira constatou que as escolas públicas não

ensinam adequadamente os conceitos ambientais cobrados pelas avaliações --

conceitos que estão em material distribuído pelo MEC e pela secretaria de

educação de São Paulo. Constatou que falta de comunicação e parceria entre

as escolas, secretarias e diretorias, além de falta de tempo para os professores

serem preparados para exporem e trabalharem o material com os alunos; além

disso, falta oferecimento de cursos de educação continuada e melhores

condições de trabalho para que os professores desenvolvam projetos.

Observou ainda que embora o material elaborado realmente tenha qualidade,

muitas vezes não é condizente com a realidade das escolas públicas,

revelando-se descontextualizado da realidade da escola pública,

principalmente da escola pública de periferia, utilizando-se de linguagem difícil

ao entendimento do aluno, inclusive muitas vezes com informações retiradas

de contextos que não fazem parte da vida do aluno, como no caso de

informações trazidas de ambientes que são reais na Europa e totalmente fora

da realidade de alunos que muitas vezes já tem deficiência na base desde o

ensino fundamental.

De acordo com a pesquisa realizada, a implementação da Educação

Ambiental nas escolas de forma eficiente é dificultada pela inexistência de

consulta aos professores quanto à elaboração do material a ser

disponibilizado, bem como a forma de distribuição do referido material, já que

em regra são entregues após o início do ano letivo, quando deveria estar

disponível já no planejamento do ano letivo, ocasião em que os problemas e

temas geradores a serem abordados poderiam ser investigados pelos

Educadores, tornando possível aplicar o plano pedagógico de forma a

contribuir no do dia a dia dos alunos e da comunidade abarcados pela

instituição de ensino.

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Apesar de todas as dificuldades apresentadas pela pesquisa

supracitada, foi possível constatar que a Educação Ambiental quando bem

trabalhada e aplicada às questões que envolvem aquela localidade, influencia

diretamente na qualidade de vida da comunidade, extrapolando os muros da

escola e afetando de forma positiva a vida social dos moradores a partir de

conceitos simples passados dos alunos aos pais, que se tornam favoráveis a

práticas como o consumo consciente da água e a redução no uso de sacos de

plástico, por exemplo. Por apresentar mais projetos e suscitar mais debates

ambientais, essa escola proporcionou aos respectivos alunos oportunidade de

debater com seus pais, trazendo novos conceitos que ajudaram os moradores

a reconhecerem problemáticas envolvendo meio ambiente e condições

sanitárias. Este esclarecimento os levou a buscar melhorias no seu bairro, o

que mostra o alcance do ensino de temas transversais.

Cumpre destacar que as mudanças acima apontadas ocorreram em

comunidade socioeconomicamente desfavorecida, o que levou a pesquisadora

a concluir que o investimento em tal assunto no ambiente escolar pode

beneficiar imediatamente a sociedade, e também influenciar políticas públicas,

pois os questionamentos da população aumentam as cobranças sobre

secretarias governamentais. Finaliza afirmando que a educação ambiental

demonstra a complexidade do homem com a natureza e impele a sociedade

civil a mobilizar-se na defesa do ambiente.

CAPÍTULO III

SOCIEDADE E CONSUMO

“EU, ETIQUETA

Em minha calça está grudado um nome

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que não é meu de batismo ou de cartório,

um nome... estranho.

Meu blusão traz lembrete de bebida

que jamais pus na boca, nesta vida.

Em minha camiseta, a marca de cigarro

que não fumo, até hoje não fumei.

Minhas meias falam de produto

que nunca experimentei

mas são comunicados a meus pés.

Meu tênis é proclama colorido

de alguma coisa não provada

por este provador de longa idade.

Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,

minha gravata e cinto e escova e pente,

meu copo, minha xícara,

minha toalha de banho e sabonete,

meu isso, meu aquilo,

desde a cabeça ao bico dos sapatos,

são mensagens,

letras falantes,

gritos visuais,

ordens de uso, abuso, reincidência,

costume, hábito, premência,

indispensabilidade,

e fazem de mim homem-anúncio itinerante,

escravo da matéria anunciada.

Estou, estou na moda.

É duro andar na moda, ainda que a moda

seja negar minha identidade,

trocá-la por mil, açambarcando

todas as marcas registradas,

todos os logotipos do mercado.

Com que inocência demito-me de ser

eu que antes era e me sabia

tão diverso de outros, tão mim mesmo,

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ser pensante, sentinte e solidário

com outros seres diversos e conscientes

de sua humana, invencível condição.

Agora sou anúncio,

ora vulgar ora bizarro,

em língua nacional ou em qualquer língua

(qualquer, principalmente).

E nisto me comparo, tiro glória

de minha anulação.

Não sou - vê lá - anúncio contratado.

Eu é que mimosamente pago

para anunciar, para vender

em bares festas praias pérgulas piscinas,

e bem à vista exibo esta etiqueta

global no corpo que desiste

de ser veste e sandália de uma essência

tão viva, independente,

que moda ou suborno algum a compromete.

Onde terei jogado fora

meu gosto e capacidade de escolher,

minhas idiossincrasias tão pessoais,

tão minhas que no rosto se espelhavam

e cada gesto, cada olhar

cada vinco da roupa

sou gravado de forma universal,

saio da estamparia, não de casa,

da vitrine me tiram, recolocam,

objeto pulsante mas objeto

que se oferece como signo de outros

objetos estáticos, tarifados.

Por me ostentar assim, tão orgulhoso

de ser não eu, mas artigo industrial,

peço que meu nome retifiquem.

Já não me convém o título de homem.

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Meu nome novo é coisa.

Eu sou a coisa, coisamente.”

Carlos Drummond de Andrade ANDRADE, C. D.

Obra poética, Volumes 4-6. Lisboa: Publicações

Europa-América, 1989

A conferência de Estocolmo, realizada entre os dias 5 a 16 de junho

de 1972, é considerada um marco inicial de interesse para a Educação

Ambiental. Durante sua realização restou explicitada a responsabilidade das

nações industrializadas pela crise ambiental, principalmente por se

caracterizarem como os maiores consumidores de recursos e energia do

planeta e, consequentemente, os maiores poluidores. Essa argumentação

chamou a atenção para os padrões de produção dos países do Norte

ocidental. A relação entre estilo de vida, práticas de consumo e problemas

ambientais globais foi tema de debates controvertidos e negociações

preliminares durante os preparativos para a Rio92, produzindo documentos,

notadamente no que se refere à Agenda 21, à Declaração do Rio e ao Tratado

das ONGs, que evidenciaram a responsabilidade dos estilos de vida e

consumo no que se refere à crise ambiental, deslocando o foco dos problemas

ambientais causados pela produção para os problemas ambientais causados

pelo consumo.

A sociedade de consumo representa os avanços de produção do

sistema capitalista, intensificado ao longo do século XX e que até os dias

atuais se desenvolve e atinge novos patamares; atrelado ao desenvolvimento

econômico, o aumento do consumo, que se traduz em lucro ao comércio e às

grandes empresas, gera mais empregos e aumento da renda, que leva a mais

consumo.

Termo utilizado para designar o tipo de sociedade que se encontra

numa avançada etapa de desenvolvimento industrial capitalista, a sociedade

de consumo se caracteriza pelo consumo massivo de bens e serviços,

disponíveis graças à elevada produção dos mesmos.

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As raízes da sociedade de consumo estão atreladas ao processo de

Revolução Industrial e ao “American Way Of Life”, baseado na liberdade, na

felicidade e na ideia de abundância em substituição à ideia do suficiente,

instituído nos Estados Unidos após uma crise de superprodução das fábricas,

em 1929, na qual o governo, a fim de solucionar o problema representado por

grandes estoques de produtos que não foram absorvidos pelo mercado

consumidor, interferiu na economia e provocou seu aquecimento através do

que seria intitulado New Deal (Novo Acordo), estabelecendo modelos de

desenvolvimento pautados na melhoria de renda e no crédito facilitado que

ampliaram ainda mais o consumo.

O novo modelo de produção e consumo proposto ampliou a demanda,

aumentando significativamente a exploração dos recursos naturais para a

geração de matérias-primas voltadas à fabricação de mais e mais mercadorias.

Segundo Serge Latouche, no documentário A história secreta da

obsolescência planejada, nossa necessidade de consumir é alimentada por um

trio infalível: publicidade, crédito e obsolescência.

Planejar quando um produto vai falhar ou se tornar velho, programando

seu fim antes mesmo da ação da natureza e do tempo de uso traduz

a obsolescência planejada. Trata-se da estratégia de estabelecer uma data de

morte de um produto, seja por meio de mau funcionamento ou envelhecimento

perante as tecnologias mais recentes. Iniciada como solução para a crise de

1929, seu conceito surgiu por volta de 1920, quando fabricantes começaram a

reduzir de propósito a vida de seus produtos para aumentar venda e lucro. O

primeiro produto objeto da obsolescência planejada foi a lâmpada elétrica: a

primeira lâmpada inventada tinha durabilidade de 1.500 horas; em 1924, a

durabilidade das lâmpadas era de 2.500 horas; em 1940 a vida-padrão das

lâmpadas era de 1.000 horas.

Para mover esta sociedade de consumo precisamos consumir o tempo

todo e desejar novos produtos para substituir os que já temos – seja por falha,

por acharmos que surgiu outro exemplar mais desenvolvido tecnologicamente

ou simplesmente porque saíram de moda.

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A devastação das florestas e o esgotamento até mesmo dos recursos

renováveis, tais como a água própria para o consumo, as florestas e o solo são

consequências desse modelo de consumo. Nesse sentido, recursos não

renováveis como as reservas de petróleo e de diversos minérios utilizados para

a fabricação dos mais diferentes produtos utilizados pela sociedade caminham

para a escassez completa.

Hoje disseminado em praticamente todo o mundo, o fenômeno do

consumismo não teria sido possível sem o bombardeio incessante da

publicidade. As estratégias publicitárias e a obsolescência planejada mantêm

os consumidores presos em uma armadilha silenciosa. A publicidade é o

instrumento central na sociedade de consumo e um grande motivador de

nossas escolhas; é o caminho utilizado para nos apresentar os produtos que

em pouco tempo consideramos necessitar. Está presente em toda parte e

sequer percebemos: nas ruas, nas fachadas dos prédios, nos ônibus e nas

vitrines. Locais como bancos, escritórios, hospitais, restaurantes, cinemas e

outros lugares públicos são sistematicamente utilizados para chamar nossa

atenção. Mesmo em nosso lar somos assediados ao abrir o jornal, ligar o rádio

ou a televisão. Desejos, gostos, ideias, necessidades, vaidades e outros

aspectos da nossa personalidade são pontos vulneráveis explorados pela

mídia a fim de convencer o consumidor da necessidade de adquirir cada vez

mais produtos.

O consumismo é questão gravíssima, destacando-se pelo excesso, pelo

exagero ao incentivar o desperdício de recursos e gerar desequilíbrio

ambiental.

Um dos mais prestigiados relatórios sobre meio ambiente, o Estado do

Mundo, produzido pela organização não governamental Worldwatch Institute,

denunciou no ano de 2004 os problemas causados ao Planeta pelo consumo

desenfreado; na ocasião questões extremamente graves como os altos níveis

de obesidade e endividamento pessoal foram correlacionados ao consumismo,

resultando na diminuição da qualidade de vida das pessoas, que desfrutam de

menos tempo livre aliado a ambiente cada vez mais danificado. Cabe destacar

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que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente há muito nos alerta

para o fato de que estamos consumindo além do que o Planeta pode suportar.

Além de apontar os malefícios que o consumismo causa não só à

Humanidade como ao Planeta, o relatório da Worldwaltch Institute evidencia

distorções que refletem a imoralidade de um sistema onde um terço dos

habitantes da Terra ostenta abundância, haja vista Estados Unidos, Europa,

Japão e mais uns poucos países industrializados concentrarem cerca de 80

por cento da produção, do consumo e da renda do mundo, destacando ainda

que uma parte considerável desse consumo caracteriza-se como supérfluo: em

média 18 bilhões de dólares por ano no mundo são gastos com perfumes e

cosméticos; outros 12 bilhões de dólares por ano são gastos com sorvetes na

Europa. Os mesmos valores seriam suficientes para prover com água de boa

qualidade mais de bilhão de pessoas que não a têm, ou bastariam para

eliminar a fome de 800 milhões de pessoas.

Estima-se que mais de 29 milhões de pessoas, incluindo crianças, são

escravizadas no planeta em função da cadeia de produção relativa ao

consumo de bens como celulares, roupas, produtos de beleza e de limpeza,

construção civil e mineração, dentre outros.

A AGENDA 21, em seu capítulo 4, evidencia a preocupação com o

impacto ambiental de diferentes estilos de vida e padrões de consumo e sua

relação com a pobreza e desigualdade social:

“Enquanto a pobreza tem como resultado determinados tipos de

pressão ambiental, as principais causas da deterioração

ininterrupta do meio ambiente mundial são os padrões

insustentáveis de consumo e produção, especialmente nos

países industrializados. Motivo de séria preocupação, tais

padrões de consumo e produção provocam o agravamento da

pobreza e dos desequilíbrios”.

A cultura do consumo e do desperdício espelhada na sociedade norte-

americana demanda dois ou mais planetas como a Terra. No ritmo que segue

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já encostamos nos limites dos recursos e serviços disponíveis na Terra e os

ultrapassamos em 40%. Todas as energias alternativas à fóssil, mantido o

atual consumo, atenderia somente 30% da demanda global.

Tanta discrepância somente evidencia o quanto é premente e

necessário que mudanças nos paradigmas do consumo ocorram, visto que o

atual modelo de produção e consumo se revela absolutamente insustentável.

O relatório Estado do Mundo 2004 foca a sociedade do consumo e o

consumo sustentável, conversando diretamente com o consumidor, mostrando

os processos insustentáveis de produção que estão por trás dos produtos e

convidando-o a optar por produtos e processos que garantam a sua qualidade

de vida e a do planeta, cada vez mais fragilizado e impactado pela ação

insustentável do homem.

A força do consumidor é imensa. Conscientizá-lo quanto ao alcance de

suas escolhas é fundamental para a coibição destas práticas. Afinal, a recusa

em adquirir mercadorias cujo processo de fabricação viole normas trabalhistas

e ambientais, visando combater a escravidão e garantir aos trabalhadores os

padrões trabalhistas mínimos, é poderosa ferramenta; afinal, sem consumo

não há lucro. Logo, uma vez rompida a relação de consumo, as empresas que

desejarem prosseguir, a fim de manter a competitividade obrigatoriamente

necessitarão se adequar aos padrões exigidos por consumidores conscientes,

responsáveis e comprometidos com a sustentabilidade e observância dos

princípios e garantias individuais previstos tanto na Declaração Universal dos

Direitos Humanos quanto na Constituição Federal.

Nesse contexto, cumpre destacar a feição saudável do consumo,

conforme relatório do desenvolvimento humano publicado pelo Pnud em 1998,

o qual assinala que o consumo contribui claramente para o desenvolvimento

humano quando aumenta as suas capacidades, sem afetar adversamente o

bem estar coletivo, quando é tão favorável para as gerações futuras como para

as presentes, quando respeita a capacidade de suporte do planeta e quando

encoraja a emergência de comunidades dinâmicas e criativas.

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Materializar o conceito de consumo trazido pelo Pnud através da

Educação Ambiental, em suas várias práticas e vertentes, é enorme desafio.

Novas gerações de consumidores passam pela vida sem perceberem a

relação existente entre consumo e ambiente, indiferentes a questões

cotidianas que influenciam a vida no Planeta.

Situar as novas gerações de consumidores quanto à atual condição da

coletividade frente ao consumo desenfreado, demonstrando seu

desconhecimento quanto à repercussão de suas escolhas diárias para a

própria saúde, para o meio ambiente e para continuação da vida como a

conhecem, estabelecendo a relação entre ética e sustentabilidade e

desenvolvendo a ideia de solidariedade ambiental e sua importância na

construção de uma sociedade solidária e sustentável é o que procura a

Educação Ambiental.

Nessa linha de esclarecimento há iniciativas interessantes como o guia

lançado pela ONG brasileira WWF-Brasil intitulado “Cartilha para o consumidor

responsável” com dicas práticas para qualquer pessoa se tornar um

consumidor responsável e colaborar com o meio ambiente no seu dia a dia. A

Cartilha traz dicas simples de serem colocadas em prática e que auxiliam o

consumidor na aquisição de um comportamento mais sustentável, diminuindo

assim o impacto ambiental ao Planeta. Dentre as dicas sugeridas, foram

estabelecidos dez princípios a serem observados no exercício do consumo

responsável:

1. Compre apenas o que realmente precisa;

2. Conserte itens ainda em condição de uso;

3. Certifique-se da Origem dos produtos que você adquirir;

4. Troque aparelhos eletrônicos apenas se necessário;

5. Consuma mais produtos Orgânicos e de produtores locais;

6. Escolha aparelhos mais econômicos no consumo de energia elétrica;

7. Troque ou doe produtos que não lhe sirvam mais;

8. Evite o desperdício de materiais, como papel, em sua casa ou

trabalho;

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9. Recicle tudo o que puder - de aparelhos eletrônicos ao lixo do dia a

dia;

10. Incentive Outros a seguir o seu exemplo e ajude a salvar o planeta

O poder que cada pessoa tem para mudar esse cenário é imenso.

Desde o ato de usar a água em casa, o meio de transporte escolhido, até a

compra de um produto ou contratação de um serviço, pode influenciar e

diminuir os impactos socioambientais gerados pelo consumo.

É necessário parar e pensar antes de consumir. Questionar antes de

comprar ou adquirir um produto é fundamental para ajudar a reduzir a Pegada

Ecológica e com isso causar menos danos ao mundo que habitamos.

É preciso refletir sobre determinado produto ou serviço antes de concluir

a aquisição: trata-se de produto econômico? Não poluente? É reciclável? Seus

ingredientes ou componentes são obtidos respeitando-se a conservação do

meio ambiente e da saúde humana? Ele é seguro? A empresa que o

fornece/produz respeita os direitos dos trabalhadores? Respeita os direitos do

consumidor?

No caminho para solidificar outra forma de consumo, é necessário

despertarmos nossa consciência critica, capacitando-nos a compreender a

dimensão política presente em cada ato de consumo que realizamos no dia a

dia. Que a busca pelo consumo consciente nos leve a questionar o que

precisamos, porque precisamos, para que precisamos, quanto precisamos e,

principalmente, SE PRECISAMOS.

CAPÍTULO IV

CONSUMO E SUSTENTABILIDADE

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Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações. (A Carta da Terra - Preâmbulo)

A definição mais aceita de desenvolvimento sustentável traduz o desafio

de satisfazer as necessidades da geração atual sem comprometer as

oportunidades das gerações futuras, propondo uma mudança no paradigma de

desenvolvimento que seja ambientalmente correto, economicamente viável,

socialmente justo e culturalmente aceito.

Leonardo Boff, no livro Cuidar da Terra – proteger a vida, afirma:

“uma sociedade só pode ser considerada sustentável se ela mesma,

por seu trabalho e sua produção, se tornar mais e mais autônoma. Se

tiver superado níveis agudos de pobreza ou tiver condições de

crescentemente diminuí-la. Se seus cidadãos estiverem ocupados em

trabalhos significativos. Se a seguridade social for garantida para

aqueles que são demasiadamente jovens, ou idosos, ou doentes, e que

não podem ingressar no mercado de trabalho. Se a igualdade social e

política, também de gênero, for continuamente buscada. Se a

desigualdade econômica for reduzida a níveis aceitáveis. Por fim, se

seus cidadãos forem socialmente participativos e destarte puderem

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tornar concreta e continuamente perfectível a democracia.” (Boff, 2010,

p.205)

A leitura acima propõe uma compreensão mais abrangente e menos

simplista quanto à sustentabilidade. Apesar do discurso atual, pouco se faz

para modificar um modelo econômico que de forma alguma é compatível com

a ideia de sustentabilidade acima desenvolvida, notadamente quanto se reflete

nas práticas de consumo atuais.

Em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro (Rio-92), o conceito

de desenvolvimento sustentável se consolidou como o princípio orientador das

iniciativas voltadas para a relação entre desenvolvimento e meio ambiente.

Entre os acordos firmados na Rio-92, está a Agenda 21, que apresenta uma

série de programas de ação elaborados a partir dos princípios do

desenvolvimento sustentável, dentre eles a mudança de padrão de consumo,

sugerindo o exame dos padrões não sustentáveis e a criação de estratégias

para estimular hábitos de consumo que ajudem a preservar o meio ambiente.

A questão do consumo é tratada também em áreas como as de energia,

transporte e resíduos.

A Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, da ONU,

realizada em Joanesburgo, África do Sul, em 2010, estabelece que o

desenvolvimento sustentável se baseia em três pilares: desenvolvimento

econômico, desenvolvimento social e proteção ambiental. Tal premissa, já

presente na conferência da ONU Rio-92, leva à conclusão de que não há como

garantir a sustentabilidade do desenvolvimento sem agregar os componentes

econômicos, ambientais e sociais.

O próprio conceito de desenvolvimento que a sociedade busca hoje está

longe da abordagem integral proposta na declaração da ONU sobre o Direito

dos Povos ao Desenvolvimento, em 1993, como sendo “o processo

econômico, social, cultural e politico abrangente, que visa ao constante

melhoramento do bem-estar de toda a população e de cada indivíduo, na base

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da sua participação ativa, livre e significativa no desenvolvimento e na justa

distribuição dos benefícios resultantes dele”.

Na busca por caminhos e valores que materializem o ideal de um “modo

sustentável de viver”, necessitamos admitir que muito pouco tem sido feito em

prol da sustentabilidade real, conforme nos demonstra o relatório “Estado do

Mundo 2013”, do Worldwatch Institute, cujos questionamentos nos indica a

forma inconsequente e irresponsável com que a questão da sustentabilidade

vem sendo tratada:

“Vivemos hoje na era do blablablá da sustentabilidade, uma profusão

cacofônica de usos da palavra sustentável para se referir a qualquer

coisa entre “melhor para o meio ambiente” e “descolado” (...) muitos

anos após o lançamento do relatório da Comissão Brundtland, analistas

ambientais debateram o valor de termos complexos como sustentável,

sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. Na virada do milênio,

no entanto, estes termos ganharam vida própria – sem nenhuma

garantia de que esta fosse baseada nas definições da Comissão. Por

meio do uso cotidiano cada vez mais frequente, ao que parece, a

palavra sustentável se tornou sinônimo para o adjetivo igualmente vago

e inquantificável verde, sugerindo algum valor ambiental indefinido,

assim como em crescimento verde ou empregos verdes. Hoje, o termo

sustentável é com frequência adotado por empresas em um

comportamento frequentemente denominado greenwashing. Frases

como “design sustentável”, “carros sustentáveis” e até “roupas íntimas

sustentáveis” se espalham pela mídia. (...) Pelo uso excessivo, as

palavras sustentável e sustentabilidade perdem sentido e impacto. (...)

A questão sobre se a civilização pode continuar em seu caminho atual,

sem ameaçar as perspectivas de bem-estar futuro, está no cerne da

atual situação ambiental do mundo. Na esteira das fracassadas

conferências internacionais sobre o meio ambiente e clima, onde

governos nacionais não tomam nenhuma atitude frente ao risco de

mudanças ambientais catastróficas, há ainda caminhos para que a

humanidade altere seus comportamentos atuais a fim de torná-los

sustentáveis? A sustentabilidade ainda é possível? Se a humanidade

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falhar em atingir a sustentabilidade, quando – e como – os padrões

insustentáveis terão um fim? E como viveremos durante e para além

desses finais? Quaisquer palavras que usemos, precisamos nos fazer

perguntas difíceis. Se falharmos em fazê-lo, nos arriscamos à

autodestruição.”

O relatório aprofunda o tema ao expandir a discussão e afirmar que a

alteração destas tendências exigem mudanças muito maiores do que as que

temos visto até agora, bem como alerta para a necessidade de desenvolver

uma consciência pautada em meios cientificamente mensuráveis que

determinem para onde nos dirigimos, qual o caminho que estamos seguindo, a

fim de mudarmos nossa direção rumo à segurança para nós, nossos

descendentes e para as outras espécies que são nossas únicas companheiras

conhecidas no universo. Demonstra, ainda, que precisamos estar capacitados

a lidar com um futuro que pode oferecer dificuldades e desafios além de nossa

imaginação, já que inéditos na história da humanidade.

Proporcionar um fundamento ético à comunidade mundial emergente,

em busca de uma visão compartilhada de valores básicos que proporcione um

modo de vida sustentável como critério comum é o grande desafio que temos

pela frente.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o

Fundo Nacional para a Natureza (WWF) e a União Internacional para a

Conservação da Natureza (UICN) elaboraram uma estratégia minuciosa para o

futuro da vida sob o título: “Cuidando do Planeta Terra” (Caring for the Earth

1991), no qual estabelecem nove princípios de sustentabilidade da Terra e

projetam uma estratégia global fundada no cuidado:

1. Construir uma sociedade sustentável.

2. Respeitar e cuidar da comunidade dos seres vivos.

3. Melhorar a qualidade da vida humana.

4. Conservar a vitalidade e a diversidade do planeta.

5. Permanecer nos limites da capacidade de suporte Terra.

6. Modificar atitudes e práticas pessoais.

7. Permitir que as comunidades cuidem de seu próprio meio-ambiente.

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8. Gerar uma estrutura nacional para integrar desenvolvimento e

conservação.

9. Constituir uma aliança global.

A Carta da Terra, declaração de princípios éticos fundamentais para a

construção, no século 21, de uma sociedade global justa, sustentável e

pacífica, resultou de uma década de diálogo intercultural, em torno de objetivos

comuns e valores compartilhados. O projeto da Carta da Terra começou como

uma iniciativa das Nações Unidas, mas se desenvolveu e finalizou como uma

iniciativa global da sociedade civil. Reconhece que os objetivos de proteção

ecológica, erradicação da pobreza, desenvolvimento econômico equitativo,

respeito aos direitos humanos, democracia e paz são interdependentes e

indivisíveis, oferecendo um novo marco, inclusivo e integralmente ético para

guiar a transição para um futuro sustentável.

A Carta da Terra nos encoraja a buscar aspectos em comum em meio à

nossa diversidade e adotar uma nova ética global, partilhada por um número

crescente de pessoas por todo o mundo. Num momento onde educação para o

desenvolvimento sustentável tornou-se essencial, a Carta da Terra oferece um

instrumento educacional muito valioso.

Dispõe que para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com

um sentido de responsabilidade universal, identificando-nos com toda a

comunidade terrestre bem como com nossa comunidade local. Somos, ao

mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual as

dimensões local ou global estão ligadas. Cada um compartilha da

responsabilidade pelo presente e pelo futuro, pelo bem-estar da família

humana e de todo o mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade

humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos com

reverência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da vida, e com

humildade considerando em relação ao lugar que ocupa o ser humano na

natureza.

Ainda de acordo com a Carta da Terra, a escolha é nossa. Podemos

formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a

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nossa destruição e a da diversidade da vida. É certa a necessidade de

mudanças fundamentais em nossos valores, instituições e modos de vida. A

compreensão de que o desenvolvimento humano deverá primariamente estar

voltado ao ser, e não ao ter.

CONCLUSÃO

O modelo de desenvolvimento vigente, definido na Rio-92 como

“ecologicamente predatório, socialmente perverso e politicamente injusto”,

afeta não apenas nossa espécie como a todos os seres que habitam a Casa

Mãe.

Vivemos uma crise sem precedentes na história da humanidade.

Somos parte de um sistema integrado e interdependente e as escolhas que

fazemos a cada dia podem levar ao extermínio das condições que suportam a

vida no Planeta.

Atravessar esse momento singular e desafiador implica novos

paradigmas para a construção de uma sociedade sustentável, caracterizada

pelo consumo consciente e responsável.

A educação ambiental, aplicada de forma efetiva, comprometida e

responsável, nos convida a fazer as escolhas certas em favor da vida. É

ferramenta poderosa na conscientização do Ser Humano, tornando possível

transformar problemas em solução, crise em oportunidade de crescimento e

mudança.

Que possamos responder positivamente ao chamado deste projeto

pedagógico em favor da vida, cuidando melhor de nossa casa, nossos

semelhantes e todas as demais formas de vida presentes.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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BOFF, Leonardo. O Cuidado Necessário: na vida, na saúde, na educação, na

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Caderno Temático de Educação Ambiental - Educação Ambiental: aprendizes

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Cartilha para o Consumidor Responsável - dicas práticas para você colaborar

com o meio ambiente no seu dia a dia. WWF-Brasil, 2014.

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Medauar. 12ª ed. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2013.

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Educação Ambiental - Hábitos de Consumo

https://www.youtube.com/watch?v=0aW_TYLz4ew acesso em 16/02/2015

Meio Ambiente por Inteiro - Educação ambiental (14/04/12):

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Ensino de práticas ambientais em escolas públicas - Claudia Ferreira

https://www.youtube.com/watch?v=NfAsTDmYOL0 acesso em 16/02/2015

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Quem Somos – Edukatu

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

EDUCAÇÃO AMBIENTAL 09

1.1 – Breve História da Educação Ambiental 11

1.2 – Princípios Norteadores 16

CAPÍTULO II

POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL 19

2.1- Legislação pertinente 20

2.2- Aplicabilidade 22

2.3- Desafios 28

CAPÍTULO III

SOCIEDADE E CONSUMO 30

CAPITULO IV

CONSUMO E SUSTENTABILIDADE 39

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CONCLUSÃO 45

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 46

ÍNDICE 49