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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA PARA A INCLUSÃO DE
ALUNOS AUTISTAS NA CLASSE REGULAR
Por: Cricilene Pereira da Costa
Orientador
Prof. Marta Relvas
Rio de Janeiro
2013
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA PARA A INCLUSÃO DE
ALUNOS AUTISTAS NA CLASSE REGULAR
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Neurociência Pedagógica
Por: . Cricilene Pereira da Costa
3
AGRADECIMENTOS
....aos familiares, amigos e professores
que percorreram comigo essa trajetória
e principalmente a Deus por mais esta
conquista.
4
DEDICATÓRIA
.....dedica-se a minha mãe, e ao Marcelo,
aluno que despertou em mim a
curiosidade a cerca do autismo.
5
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo conhecer o histórico do autismo, seus
aspectos sociais e neurobiológicos, bem como o processo histórico da
inclusão, principalmente no Brasil, utilizar os aspectos neurobiológicos do
autismo para, com a ajuda da neurociência, fundamentar os processos
pedagógicos na escolarização de alunos autistas, enfatizando a necessidade
da formação docente no contexto da inclusão, tendo por metodologia a
pesquisa bibliográfica. O autismo é um distúrbio do desenvolvimento humano
estudado à pelo menos seis décadas, sobre o qual ainda existem grandes
divergências. Em 1943 que Leo Kanner publicou o primeiro artigo que
descrevia um conjunto de sintomas sob o nome de "Distúrbio autístico do
contato afetivo", sugerindo critérios diagnósticos salientando a necessidade da
observação comportamental dos indivíduos. Muitas são as teorias que buscam
explicitar os aspectos do autismo. O diagnóstico de autismo é feito
basicamente através da avaliação do quadro clínico. Inclusão é o ato ou efeito
de incluir, isto é de compreender, abrange, em um sentido mais amplo a, o
ensino inclusivo é a prática da inclusão de todos, independentemente de seu
talento ou deficiência. A Declaração de Salamanca é considerada um dos
principais documentos mundiais que visam à inclusão social, sendo um marco
histórico da educação inclusiva. O trabalho baseado na concepção da
educação inclusiva reconhece e valoriza, sobretudo as características
individuais do processo de construção de conhecimentos de cada aluno. A
maior dificuldade encontrada, no que se refere a inclusão, baseia-se
principalmente na formação do professor. O trabalho do educador pode ser
mais significativo e eficiente se ele conhece o funcionamento cerebral, o que
lhe possibilita desenvolvimento de pode ser mais significativo e eficiente se ele
conhece o funcionamento cerebral, o que lhe possibilita desenvolvimento de
estratégias pedagógicas mais adequadas.
Palavras chaves: AUTISMO, INCLUSÃO, NEUROCIÊNCIA
6
METODOLOGIA
Foram utilizados como métodos a pesquisa bibliográfica, como leitura
dos livros,” Autismo - Abordagem Neurobiológica”, de Roberto Tuchman,
Neurociência da mente e do comportamento”, de Roberto Lent, “Fundamentos
Biológicos da Educação: Despertando inteligências e afetividade no processo
de aprendizagem” de Marta Relvas, o DSM IV. Manual de Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais, o CID-10, a LDB Lei nº 9.394 de 1996, Lei
Darcy Ribeiro, a Política Nacional de Educação Especial, e artigos científicos,
como Jockmann Sybylla, “O Atendimento Educacional de Sujeitos com
Tanstornos Globais do Desenvolvimento: Construindo Olhares, Trilhando
Novos Percursos”, Carla Gruber Gikovate, “Autismo: compreendendo para
melhor incluir”, Maria Carla Costa, Inclusão escolar e inserção social de
crianças autistas, entre outros autores e obras, utilizando-os como fonte para
descrição da síndrome do espectro autista, bem como pesquisas científicas
que sugerem suas bases neurobiológicas, para revisão histórica da inclusão no
mundo, e principalmente no Brasil, e para análise da formação docente para
inclusão de alunos com transtorno do espectro autista, visando as
contribuições neurocientíficas para o desenvolvimento escolar dos mesmos.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - O AUTISMO 10
CAPÍTULO II - A INCLUSÃO 37
CAPÍTULO III – A PRÁTICA PEDAGÓGICA, A NEUROCIÊNCIA E A
INCLUSÃO DE ALUNOS AUTISTAS 48
CONCLUSÃO 60
BIBLIOGRAFIA CITADA 63
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 66
WEBGRAFIA 67
ÍNDICE 68
FOLHA DE AVALIAÇÃO 69
8
INTRODUÇÃO
Atualmente há uma grande necessidade de se conhecer os
educandos que chegam as salas de aula, considerá-lo um ser individual e
planejar buscando atender tal individualidade, independentemente de
possuir necessidades educativas especiais ou não.
O autismo é um transtorno que ainda causa muitos anseios nos
professores. O pouco conhecimento relacionado às suas questões
biológicas e a dificuldade social, que representa um de seus principais
aspectos, deixa muitas dúvidas no que diz respeito a sua escolarização.
Embora seja possível encontrar descrições de casos isolados, nas
literaturas psiquiátricas, do que hoje se reconhece como Transtorno
autístico, desde o século XVIII, ainda é muito pouco o que se sabe.
A inclusão é um processo social que vem sendo difundido há
algumas décadas no Brasil, e esta tem tentado utilizar a escola como um
caminho para sua efetivação, no entanto, pouco se tem feito no que diz
respeito à formação dos docentes que receberão os alunos com deficiência.
A Educação Inclusiva no âmbito da ”Educação Especial” consiste no
ato de incluir pessoas com necessidades especiais na plena participação de
todo o processo educacional, laboral, de lazer, bem como em atividades
comunitários e domésticos, visando o desenvolvimento das capacidades
físicas, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, buscando a
sua melhor integração individual e social.
A Neurociência é uma ciência nova que busca facilitar o
conhecimento das causas neurobiológicas, não só do autismo, mas de
inúmeras doenças. As bases neurobiológicas específicas do autismo ainda
não são conhecidas, muitos são os estudos que buscam elucidar as causas
de características comuns encontradas em pessoas com transtorno do
9
espectro autista, como possíveis transtornos de linguagem e transtornos do
sono, bem como os aspectos sociais.
Conhecer como funciona o cérebro dos alunos, seja ele deficiente
ou não, pode auxiliar o professor no planejamento e desenvolvimento das
atividades propostas.
Embora pouco se conheça das particularidades do funcionamento
do cérebro do autista, quando se conhece o funcionamento do cérebro
humano, objetivando os aspectos que caracterizam o autismo, o professor
poderá, em seu planejamento, focar nas área de maior dificuldades de seu
aluno.
É necessário salientar que a formação profissional é um dos
princípios básicos da efetiva inclusão, conhecer os aspectos funcionais de
seus alunos, pode auxiliar no desenvolvimento pedagógico do docente,
porém, a formação básica do professor deve favorecer, principalmente, a
aceitação das diferenças através do conhecimento.
Não existe uma receita para a inclusão dos alunos com transtorno
do espectro autista, e muitas são as dúvidas dos docentes a serem
respondidas. A neurociência poderá servir como mais um apoio na busca
pelo conhecimento do outro, e de si mesmo, respeitando as capacidades e
desenvolvendo-a ao máximo.
10
CAPÍTULO I
O AUTISMO
“Eles podem não se lembrar do que você disse, eles podem não se lembrar do que você fez, mas
eles sempre se lembrarão do que os fez sentir”. LOPES (2001)
O autismo é um distúrbio do desenvolvimento humano estudado a pelo
menos seis décadas, sobre o qual ainda existem grandes divergências.
Inicialmente teve sua história muita ligada a esquizofrenia e a psicose infantil.
O conjunto dos sintomas que caracterizam o autismo é definido por
alterações presentes desde idades muito precoces, normalmente antes do 36
meses de idade. Os comprometimentos mais acentuados são caracterizados
por desvios qualitativos na comunicação, na interação social e no uso da
imaginação.
O autismo se diferencia do retardo mental, pois no retardo a criança
apresenta um desenvolvimento uniformemente defasado, enquanto no autismo
o perfil de desenvolvimento é irregular.
1.1 - Histórico do autismo.
Desde o início do seculo XVIII são encontrados nas literaturas
psiquiátricas descrições de casos isolados, que hoje se reconhece como
autismo. Na ultima metade do século XIX o médico Henry Maudsley sugeriu
que crianças com um comportamento muito estranho poderiam ser
classificados como sofrendo de algum tipo de psicose infantil.
Em 1906, Plouller introduziu o termo autismo na literatura psiquiátrica.
Só em 1911 Eugen Bleuler difundiu o termo quando procurava referir-se ao
quadro de esquizofrenia.
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Foi em 1943 que Leo Kanner publicou o primeiro artigo, originalmente
escrito em Inglês, reconhecido internacionalmente, artigo este que descrevia
um conjunto de sintomas sob o nome de "Distúrbio autístico do contato afetivo".
Kanner descreveu os casos de crianças que apresentavam características em
comum a inabilidade para desenvolver relações interpessoais, extremo
isolamento, atraso no desenvolvimento da linguagem e usos não comunicativo
da mesma, repetições de simples padrões de atividades de brinquedos e
presença de habilidades isoladas. O autor reconheceu também que existiam
diferenças individuais nos casos descritos, porem dois traços foram
sistematicamente encontrados: isoladamente, inexistência de linguagem e
obsessivas repetições.
No ano de 1944, Hans Asperger descreveu casos em que havia
algumas características semelhantes ao autismo em relação as dificuldades de
comunicação social em crianças com inteligência normal. Asperger propôs em
seu estudo a definição de um distúrbio que ele denominou Psicopatia Autística,
manifestada por transtornos severos na interação social, uso afeado da fala,
desajeitamento motor e incidência apenas no sexo masculino.
Melanie Klein, em 1965, iniciou o reconhecimento e tratamento da
psicose em crianças. Embora não distinguisse os quadros autistas da
esquizofrenia infantil, reconheceu a presença nas crianças com autismo de
características qualitativamente diferente das outras crianças consideradas
psicóticas.
Maahler (1968) desenvolveu suas ideias sobre autismo infantil a partir
de sua teoria evolutiva, explicando o autismo como sendo um subtipo das
psicoses infantis e uma regressão ou fixação a uma fase inicial do
desenvolvimento ou não, diferenciação perceptiva, na qual os sintomas que
mais se destacam são as dificuldades em integrar sensações vindas do mundo
externo e interno e, em perceber a mãe na qualidade de representante do
mundo exterior.
12
Hermelin e O'Connor (1970), foram os primeiros a testarem,
cientificamente, como as crianças autistas processavam a informação sensorial
na resolução de teste de habilidades de memória e motoras. As autoras
concluíram que essas crianças mostraram déficits cognitivos específicos, tais
como problemas na percepção de ordem e significado, os quais não poderiam
ser explicados por deficiência mental e tendência a armazenar a informação
visual, enquanto as crianças com desenvolvimento normal usavam códigos
verbais e ou auditivos.
Em 1978 Kanner sugeriu critérios diagnósticos salientando a
necessidade da observação comportamental dos indivíduos. Os critérios
incluíam a perda do interesse social e da responsividade, alterações da
linguagem, que vão desde a ausência da fala até o uso peculiar da mesma;
comportamentos bizarros, ritualístico e compulsivo; jogo limitado e rígido, início
precoce do quadro, ou seja, antes dos 30 meses de vida.
No ano de 1979, a "National Society for Autistic Children" sugeriu a
definição, traduzida como: " um quadro que tende a ser incapacitante e
aparece tipicamente nos três primeiros anos de vida. Acomete cerca de cinco
entre dez mil nascidos e é quatro vezes maior nos meninos. É uma
enfermidade encontrada em todo o mundo e em famílias de toda configuração
racial, étnica e social.
Ate 1980, autismo não era considerado como uma entidade separada
da esquizofrenia. Em 1987, o DSM III-R instituiu critérios diagnósticos com uma
perspectiva de desenvolvimento e foram estabelecidos dois diagnósticos,
encampados sob o termo Transtorno Invasivo (ou Global) do Desenvolvimento;
(1) autismo; (2) Transtorno Invasivo(o Global) do Desenvolvimento Não
Especificado (TID-NE).
Em 1988 Wing introduziu o conceito de "espectro autista" concebendo
o autismo como um complexo sintomatológico ocorrendo num "continuum",
dependendo do comprometimento cognitivo, a autora propôs a existência de
uma "tríade de transtorno da interação social" associadas ou não a outros
13
transtornos. Assinalou também que as descrições referem-se a pontos
selecionados dentro de um "continuum" e que na prática são encontradas
todas as formas intermediarias possíveis. Essa perspectiva reforça a tendência
a abordar o autismo não mais como uma entidade, mas sim como um grupo de
doenças.
No ano de 1989, Frith resume o autismo como uma deficiência mental
específica, susceptível de ser classificado como: Transtorno Invasivo do
Desenvolvimento, que afeta qualitativamente as interações sociais recíprocas,
a comunicação não verbal e a verbal, atividade imaginativa e se expressa
através de um repertório restrito de atividades e interesses (Pereira, 1996,
p.27).
Da mesma forma, Gilbert em 1990, define autismo como uma síndrome
comportamental com etiologias diferentes, na qual o processo de
desenvolvimento infantil encontra-se profundamente distorcido.
Wing (1997) apresentou uma descrição detalhada dos
comprometimentos nas principais áreas de desenvolvimento a tríade e
transtorno da interação social: a) transtorno de reconhecimento social; b) na
comunicação social e c) na imaginação e compreensão social.
Rutter (1997) também define o autismo como uma síndrome,
envolvendo uma série de características especiais, tanto no desenvolvimento
social como na linguagem, que pode ou não corresponder ao nível de
inteligência da criança. O autor considera que seriam quatro os traços
principais presentes na maioria das crianças autistas: 1) falta de interesse
social; 2) incapacidade de elaboração de uma linguagem responsiva, padrões
peculiares de emissão, ou ate mesmo, ausência de palavras; 3) presença de
comportamento motor bizarro, com padrões de brinquedos ritualístico bastante
limitados e comportamentos compulsivo complexo; 4) inicio precoce anterior a
idade de 30 meses. O autor ressalta que é comum existirem muitos outros
traços específicos que, no entanto, não aparecem em todos os casos
chamando a atenção portanto para as diferenças individuais.
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Atualmente a noção de Transtorno do Espectro Autista que vem sendo
difundida refere-se a uma definição mais clara do autismo e que inclui a forma
clássica da perturbação (descrita por Kanner), bem como as incapacidades que
lhe estão intimamente relacionadas e que partilham muitas das suas
características (Dunlap, Pierce e Kay, 1999; Marques, 1998):
1) Pervasive Developmental Desorder-Not Otherwise Specified (PDD-NOS)
que se refere a uma colisão de características semelhantes ao autismo mas
que podem não ser tão graves ou extensivas.
2) Síndrome de Rett que atinge as meninas sendo um transtorno genético com
um forte componente neurológico.
3) Síndrome de Aperger que se refere as crianças com características autistas
mas com capacidade linguística relativamente inatas.
4) Transtorno Desintegrativos da Infância que se refere a crianças cujo
desenvolvimento nos primeiros anos de vida parece ser normal, mas
posteriormente sofre uma regressão com a perda do discurso e de outras
capacidades, emergindo as características autistas.
Os indivíduos com transtorno de Espectro Autista possuem uma
elevada diversidade de capacidades e personalidades. Eles podem "(...) exibir
atrasos mentais graves ou ser extremamente dotados nas suas aquisições
intelectuais e acadêmicas. Enquanto muitos indivíduos preferem isolamento e
tendem evitar o contato social, outros mostram níveis elevados de afeto e
prazer nas situações sociais. Algumas pessoas parecem letárgicas e com
respostas lentificadas, mas outras são muito ativas e parecem interagir
constantemente com determinados aspectos do seu ambiente. (Dunlap, Pierce
e Kay, 1999, p.2)
A definição mais recente parece ser a do DSM IV-TR de 2002: “O
transtorno Autista consiste na presença de um desenvolvimento comprometido
ou acentuadamente anormal da interação social e da comunicação e um
15
repertório muito restrito de atividades e interesses as manifestações do
transtorno variam imensamente dependendo do nível de desenvolvimento e da
idade cronológica do individuo."
Em resumo, o autismo ainda é uma realidade muito complexa que
engloba conceitos distintos, mas que se cruzam em determinados pontos. A
evolução que se tem verificado a longo do tempo relativo a sua terminologia
tem convergido para um melhor esclarecimento da síndrome autista, embora
seja necessário levar em conta que as características identificadas não estão
presentes em cada indivíduo, nem se manifestam sempre do mesmo modo.
1.2 - As teorias
Atualmente encontramos várias teorias que possuem o objetivo de
explicar características existentes no comportamento e desenvolvimento de
crianças autistas.
1.2.1 - Teoria Afetiva
A Teoria Afetiva sugere que o autismo tem origem em uma disfunção
primária do sistema afetivo, sendo assim, uma inabilidade inata básica para
interagir emocionalmente com os outros, levando a uma falha no
reconhecimento dos estados mentais e a um prejuízo na habilidade para
abstrair e simbolizar (Hobson, 1993). Neste caso os déficits no reconhecimento
da emoção e na habilidade de utilizar a linguagem de acordo com o contexto
social seriam consequências da disfunção afetiva básica, o que impediria a
criança de viver a experiência social intersubjetiva. Esta experiência esta
associada a capacidade inata de perceber e responder a linguagem corporal e
de inferir emoções a partir dessa linguagem. Trevarthen (1979) denominou
esse processo de "intersubjetividade primaria", ou seja, a capacidade inata do
ser humano para estabelecer relações afetivas recíprocas, habilidade essa que
o capacita a distinguir pessoas de "coisas" e de compreender os estados
mentais do self dos outros.
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1.2.2 - Teorias Cognitivas
As Teorias Cognitivas são importantes, se não necessárias, para
ajudar a elucidar as causas do comportamento singular dos autistas, sua
mudança com a idade e suas modificações mediante tratamento. Tais teorias
buscam fornecer explicações fundamentando-se em falhas nos mecanismos
básicos da mente que servem como suporte para funções mentais específicas
e facilitam o aprendizado em certos domínios.
a) Teoria da Mente - A Teoria da Mente refere-se a habilidade de inferir o que
os outros pensam, na busca por explicar ou predizer os seus comportamentos.
Um deficit desta teoria é apontado como a possível causa para o pobre
desenvolvimento social imaginário e comunicativo dos autistas (BCLF 85).
Em resumo, a habilidade de criar ideias imaginarias, interpretar
sentimentos e compreender intenções que vão além do contexto literal é regido
por um mecanismo cognitivo natural, a falta de tal mecanismo é que tornaria
isso difícil para os autistas.
b) Teoria das Funções Executivas - O déficit apresentado na teoria das funções
executivas é uma explicação amplamente aceita para alguns dos problemas
comportamentais dos autistas.
Funções executivas é um termo abrangente utilizado para denominar
várias capacidades de alto nível necessárias para controlar uma ação,
principalmente uma ação num novo contexto. Inclui funções como
planejamento, mudança de contexto, inibir ações automáticas e manter
informações na memória de trabalho. O déficit dessas funções, visto como um
reflexo de anormalidades no lóbulo frontal é usado para explicar o
comportamento restrito e repetitivo dos autistas. Apesar de tal déficit ser
encontrado em várias desordens comportamentais o déficit de mudança de
17
contexto e planejamento parece serem características inerentes desta
síndrome.
c) Teoria da Coerência Central - As características não sociais do autismo
ainda são pouco estudadas, possuindo tanto pontos fortes como pontos fracos.
Essas características são atualmente explicadas por duas teorias cognitivas e
suas variantes.
A primeira teoria denominada Coerência Central refere-se ao estilo de
processamento de informações, especificamente, a tendência de processar
informações dentro de um contexto.
Frith sugere que os autistas apresentam um distúrbio com relação ao
processamento de informações, possuindo um processamento focado em
detalhes, porém esta forma de processamento empobrece a capa idade de
processamento global assim como um déficit na contextualização.
1.3- O diagnóstico
O diagnóstico de autismo é feito basicamente através da avaliação do
quadro clínico. Não existem testes laboratoriais para a detecção da síndrome,
por isso, o diagnóstico deve ser feito por um profissional com formação em
medicina e experiência clínica de vários anos diagnosticando essa síndrome.
A avaliação de indivíduos autistas requer uma equipe multidisciplinar e
o uso de escalas objetivas. Existem técnicas que podem, e devem ser
utilizadas para avaliação, tanto do comportamento social, quanto da
capacidade de interação dessas crianças. Uma das escalas de avaliação mais
usadas é a Childhood Autism Rating Scale (CARS), que consiste em uma
entrevista com pais ou responsáveis de uma criança autista maior de 2 anos.
Outro instrumento de avaliação comumente utilizado é a Escala de
Comportamento Adaptativo de Veneland que tem potencial para medir
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desenvolvimento social em uma população normal e cujos resultados podem
ser comparados com os de indivíduos autistas.
Existem vários sistemas diagnósticos para a classificação dessa
síndrome. Os critérios atualmente utilizados para diagnosticar autismo são: a
Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde
(CID-10), e o Manual de Diagnostico e Estatística de Doenças Mentais da
Academia Americana de Psiquiatria (DSM-IV) para autismo, tem um grau
elevado de especificidade e sensibilidade em grupos de diversas faixas etárias
e entre indivíduos com habilidades cognitivas e de linguagem distintas.
As sub divisões estabelecidas pelo DSM-IV agrupada sob o termo TID,
são uma tentativa de atender as necessidades científicas de pesquisas, bem
como permitir o desenvolvimento de serviços que supram as necessidades de
indivíduos relacionados.
O DSM-IV lista quatro critérios da área de interação social em crianças
com autismo. O primeiro critério está relacionado a questão do uso de
comportamentos não-verbais, como expressões faciais, postura corporal e
gestos comuns na interação social.
O segundo critério está relacionado a questão de relacionamentos.
Crianças com autismo não possuem interesses em ter amigos, ou não sabem
como estabelecer relacionamentos amigáveis. O terceiro critério é a falta de
espontaneidade em dividir momentos agradáveis, interesses ou conquistas
com outras pessoas.
A falta de reciprocidade social ou emocional é definido como quarto
critério.
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TABELA 1
Critérios diagnósticos do DSM-IV-TR para transtorno autista (2000)
1. Área das interações sociais:
a. comprometimento acentuado no uso de múltiplos
comportamentos não-verbais, tais como contato visual direto,
expressão facial, posturas corporais e gestos para regular a interação
social
b. fracasso em desenvolver relacionamentos com seus pares
apropriados ao nível de desenvolvimento
c. ausência de tentativas espontâneas de compartilhar prazer,
interesses ou realizações com outras pessoas (p. ex., não mostrar,
trazer ou apontar objetos de interesses)
d. ausência de reciprocidade
2. Área da linguagem, comunicação e imaginação
a. atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem falada
(não acompanhado por uma tentativa de compensar por meio de
modos alternativos de comunicação, tais como gestos ou mímica)
b. em indivíduos com fala adequada, acentuado comprometimento
da capacidade de iniciar ou manter uma conversa
c. uso esteriotipado e repetitivo da linguagem ou linguagem
idiossincrática
d. ausência de jogos ou brincadeiras de imitação social variados e
espontâneos próprios do nível de desenvolvimento
3. Área da flexibilidade comportamental: padrões limitados, repetitivos e
estereotipados de comportamento, interesses e atividades
a. preocupação insistente com um ou mais padrões esteriotipados
e restritos de interesse, anormais em intensidade ou foco
b. adesão aparentemente inflexível a rotinas ou rituais específicos e
não-funcionais
c. maneirismo motores esteriotipados e repetitivos (p. ex., agitar ou
torcer mãos ou dedos, ou movimentos complexos de todo o corpo)
d. preocupação persistente com partes de objetos
Fonte: Tuchman, Roberto, Autismo abordagem neurobiológica, 2009.
20
As duas avaliações psicológicas mais detalhadas usadas para o
diagnóstico de Observação do Autismo (ADES) e a Entrevistas Diagnóstica de
Autismo (ADI), associadas elas representam uma entrevistas estruturada,
bastante completa, é um método de observação para avaliar objetivamente a
habilidade social de comunicação e comportamento de indivíduos autistas que
podem variar de crianças sem linguagem até adultos capazes de comunicar-se
reativamente bem.
Uma vez diagnosticado o autismo em crianças, estas devem ser
submetidas a uma intervenção multidisciplinar específica rapidamente.
1.4- As Manifestações Clínicas.
Ao nos referirmos a indivíduos autistas devemos considerar as suas
características singulares no entanto "A personalidade autista é altamente
distinta apesar das diferenças individuais (Asperger, 1994, p. 67)
Aarons e Gitens (1992) citam que as crianças autistas novas
apresentam uma fisionomia perfeitamente normal, constatando-se,
inclusivamente, que possuem feições faciais atrativas.
No que diz respeito as alterações somáticas funcionais estão presentes
as oro-alimentares, que podem ser precoce e traduzir-se numa deficiência de
sucção originando dificuldades de alimentação, regurgitação pós-prandial e
anorexia precoce. Relativamente ao sono também são descritas algumas
alterações nos indivíduos autistas. Canduas (1993) refere que a insonia é um
dos sinais precoces de autismo, sendo possível encontrar casos de insônia
calma ou agitadas, sendo esta mais frequente.
No entanto a escassez de expressões faciais e gestuais, patente tanto
nos contatos interpessoais como no uso de linguagem. Asperger (1994)
salienta o fato de indivíduos autistas possuírem falhas específicas no âmbito da
pragmática utilizando uma linguagem que não parece natural, assemelhando-
se a uma caricatura que provoca o ridículo no ouvinte ingênuo. Destaca
21
também o fato da linguagem não ser dirigida aos receptores, e sim ao espaço
vazio.
No âmbito dos sentidos proximais, como cheirar, tocar e sentir, Aarons
e Gittens (1992) defendem que os autistas apresentam algumas alterações. Os
autistas evitam o toque indiscriminado de outras pessoas, o que em crianças
mais velhas e adolescentes caracteriza um grande problema. Outra
característica que se destaca é a falta de consciência de dor, calor e frio, tendo
maior dificuldade em localizar a fonte de desconforto.
De modo geral as características primarias dos autistas parecem residir
nas dificuldades de desenvolvimento na comunicação verbal, relacionamento
social e atividades lúdicas. (Dunlap, Pierce e Kay, 1999)
1.4.1 - Aspectos Cognitivos
A falta de habilidade para generalizar é uma das grandes dificuldades
com que se deparam as crianças com autismo. Aarons e Gittens (1992)
sugerem que elas até podem saber o que fazer e como agir numa determinada
situação, contudo são incapazes de experienciar e de adaptá-la ao surgir uma
nova situação.
De acordo com Aperger (1994), é possível encontrar regularmente
distúrbios de atenção nas crianças autistas. Estas crianças teriam dificuldades
desde o início, dirigir sua atenção para os estímulos exteriores, prejudicando o
desempenho escolar. Elas parecem seguir as suas próprios ideias e não
gostam de ser distraídas dos seus pensamentos.
No que se refere ao desenvolvimento psicomotor, Candeias (1993)
defende que as crianças autistas apresentam alterações tônicos posturais e
psicomotoras, demonstrando falta de atitude antecipadora perante a
aproximação materna, pelo fato de não estenderem as braços para as mães.
22
Resumindo, os indivíduos autistas, em geral, possuem perturbações
de índole cognitiva. A maioria denota déficits no âmbito da aprendizagem, da
formação de conceitos e da imaginação. Por outro lado, o nível de inteligência
parece não evoluir com a idade, enquadrando-se frequentemente nos casos de
atrasos ou ligeiros (Pereira, 1996), enquanto que concomitantemente
apresentam uma rigidez peculiar de pensamento e comportamento,
acompanhada de uma pobreza imaginativa (Frith, 1996; Jordan e Powell,
1995).
1.4.2 - Aspectos sociais.
No âmbito social é possível encontrar um conjunto de perturbações
características da maioria dos indivíduos autistas. De fato a incapacidade de
desenvolver relações interpessoais é apontada como a principal característica
das crianças autistas (Plumet, Leboyer e Beaudechon, 1987; Pereira, 1996/
1999; Jordan e Powell,1995).
Asperger cita que “(...) a anormalidade essencial no autismo é um
distúrbio ao relacionamento vivo com todo ambiente” (1994, p. 74. Segundo ele
esse distúrbio explicaria todas as peculiaridades manifestadas pelos indivíduos
autistas, determinando a sua personalidade.
Percebe-se, precocemente, uma notória carência da “(...) sincronias
interacionais, uma má adaptação postural, uma falta de participação em
relação aos movimentos de preensão nos braços dos adultos, com uma
posição de corpo mole ou, ao contrário, rígido.” (Plumet, Leboyer e
Beaudechon, 1987, p.17)
Segundo Marques (1993),é notável a incapacidade de interpretar
sentimentos, perceber e distinguir humores, Plumet, Laboyer e Beaudechon
(1987) citam que as condutas de afeição são escassas e pouco específicas,
constatando-se também que não procuram ativamente o contato para serem
23
consoladas, limitando as iniciativas sociais e a utilização das pessoas como
objetos.
Pereira (1999) refere que os autistas se destacam pela dificuldade em
estabelecer laços afetivos ou comportamento de apego, especialmente nos
primeiros cinco anos de vida, não iniciando comportamentos espontâneos de
contato.
Após os cinco anos de idade, os déficits sociais serão menos
evidentes, contudo persistirão os de participação e reciprocidade social. Isto
poderá ser resultar na “(...) falta de empatia, as inconsistências de
estabelecimento e manutenção da troca social, e igualmente falhas, para
perceber os sentimentos e as respostas dos outros, falhas no desenvolvimento
e diversificação de amizades(...)” (Pereira, 1999, p.57)
Outra particularidade muito comum entre os indivíduos autistas reporta-
se ao fato de sentirem stress e preocupação quando sujeitos a mudanças
mínimas que alterem as rotinas familiares. Desta forma, estas crianças insistem
na manutenção das rotinas, experienciando acessos de raiva quando são
conduzidas numa direção, que se desvie daquela com que estão familiarizadas
(Aaron e Gittens, 1992; Frith, 1996)
Em resumo, todos os indivíduos autistas apresentam problemas
substanciais no âmbito da interação social. Os indivíduos autistas são,
também, descritos como alguém com severos déficits em apreciar as relações
emocionais dos outros (Frith, 1996).
1.4.3 – Aspectos sensoriais.
Aarons e Gittens (1992) defendem que a percepção e o
reconhecimento do estímulo visual constitui uma das áreas de capacidade nas
crianças autistas. Constatando-se a sua frequente habilidade em fazer coincidir
formas e na elaboração de puzzles.
24
No que diz respeito a audição, Candeias (1993), sugere que as
alterações são de tal ordem que se poderia pensar em surdez, isto porque
existe uma defasagem na reação da criança a ruídos intensos ou chamamento,
enquanto que perante ruídos discretos a reação faz-se notar.
Outro aspecto importante á a sua aparente hipersensibilidade ou
hipossensibilidade a tipos de estímulos específicos, podendo exprimir-se
através de comportamentos agressivos (Dunlap, Pierce e Kay, 1999).
1.4.4 – Aspectos Linguísticos.
Um outro domínio muito importante, e que se encontra afetado na
maioria dos indivíduos autistas reporta-se a comunicação e linguagem (Jordan
e Powell, 1995).
Uma das perturbações mais importantes que precedem o
desenvolvimento da linguagem nos autistas refere-se à capacidade de imitação
direta em contextos sociais. Por outro lado, a aquisição da linguagem precoce
parece realizar-se de modo lento e tende a estabilizar-se num nível inferior ao
esperado.
Nos autistas “(...) a sua deficiência é especificamente mais importante
nos seguintes domínios: compreensão da linguagem, utilização de aptidões
verbais nas provas cognitivas, jogo imaginativo e utilização de gestos”(Bartak,
Rutter e Cox 1975; Plumet, Leboyer e Beaudechon, 1987, p.17). Outra
característica é a incapacidade em utilizar a linguagem concomitante para
pensar e comunicar-se. Denota-se, ainda, a existência de esteriotipias e
repetições em eco do que é proferido - ecolalia ( Frith, 1996; Pereira, 1999;
Plumet, Leboyer e Beaudechon, 1987).
Outra alteração que é apontada diz respeito ao tipo de suporte da
comunicação verbal, especialmente na linguagem receptiva. Os autistas
25
apresentam uma considerável dificuldade em seguir instruções, sobretudo
quando surgem fora do contexto familiar e sem o auxílio de indicadores visuais
(Pereira, 1999).
Frith (1996), se refere as dificuldades no domínio da pragmática como
uma das características universais do autismo.
A memória auditiva imediata das crianças autistas foi também alvo de
diversos estudos, constatando-se a ausência relativa de análise da semântica e
sintática e que os processos de codificação e de categorização estão
deficientes, parece haver uma organização semântica não verbal, disfuncional
(Pereira, 1996).
1.5 - Bases neurobiológicas do autismo.
O papel do neurologista infantil na avaliação da criança com transtorno
do espectro autista (TEA) é singular, visto que não existem teste biológico para
validação do diagnóstico. O exame neurológico avalia o tipo de teste
necessário, quando necessário. O neurologista fornece ou interpreta
informações genéticas para os pais, educando as famílias, os médicos de
cuidados primários, outros profissionais da área da saúde e educadores sobre
os primeiros sinais do autismo, o que é, ou não autismo, e quais as
investigações e intervenções adequadas.
A identificação precoce de crianças com TEA á importante para a
eficácia da intervenção inicial no momento em que o cérebro é mais plástico.
Apesar da neurobiologia do autismo ainda não ser bem compreendida,
vários aspectos e comportamentos neurobiológicos observados em crianças
com autismo parecem refletir transtornos nos programas do desenvolvimento
dos neurônios e das sinapses no cérebro imaturo (PRAPIN, 2002). Prejuízos
no desenvolvimento social e da linguagem sugerem desordenamento no
circuito das áreas neocorticais e límbicas especificas do córtex cerebral,
26
enquanto alterações na reatividade a estímulos sensório-motor,
comportamentos esteriotipados e outras anormalidades motoras sugerem
problemas nas conexões do tronco cerebral do cerebelo, do tálamo e dos
gânglios da base (BAIEY et al., 1998; SPARKS et al., 2002; BAUMAN e
KEMPER, 2005)
1.5.1- Neurobiologia da linguagem em autistas.
Os profissionais devem levar em consideração os níveis de linguagem
envolvidos, bem como o modo como cada criança usa a linguagem.
Segundo Tuchman (2009) é preciso inserir a criança na conversação e
na brincadeira, o que fornecerá informações sobre vários níveis de linguagem e
as habilidades sociais e de afeto, além de gerar uma estimativa apropriada do
nível cognitivo.
Segundo os estudos recentes de Hebert e colaboradores há uma
assimetria invertida das áreas tempo-parietal e frontal, associadas a linguagem,
o que caracteriza tanto a criança cm autismo quanto as com transtorno do
desenvolvimento da linguagem.
Estudos de imagens por ressonância nuclear magnética funcional
(RNME) sugerem que: a linguagem acústicas, em oposição a outros sons, não
ativa o córtex da associação auditivo-temporal em crianças autistas
(BODDAERT e ZELBOVICIUS, 2002), no autismo a tarefa linguagem ativa
áreas frontais direitas e nos controles áreas frontais esquerdas (TAKEUCHI et
al., 2004), e a ativação das áreas de Wernicke e de Broca durante a
compreensão de sentenças não é tão bem sincronizada no autismo como nos
controles. (JUST et al., 2004)
Os neurologistas infantis devem ter atenção às características e a
qualidade das habilidades comunicativas da criança.
27
TABELA 2
Aspectos da linguagem aos quais o neurologista devem prestar atenção
A – Produção
• Quantidade de fala
• Uso comunicativo da linguagem (tanto a fala quanto os gestos) – ou
seja, pragmática
• Inteligibilidade dos sons – ou seja, fonologia
• Complexidade e correção das declarações – ou seja, gramática
• Tamanho e riqueza do vocabulário, adequação das palavras produzidas
– ou seja, semântica
• Aspectos anormais, como, por exemplo, ecolalia, roteiros, entonação
incomum, jargão
B – Compreensão (sem dicas visuais, dentro e fora do contexto)
• Palavras, comandos simples
• Perguntas (sim/não, e/ou, o que é/quem é, que, o quê, onde [com o
referente fora do campo de visão], quando, por que, como)
• Fala conectada (discurso)
• Piadas, metáforas, ironia, etc.
C – Uso conversacional (pragmática)
1. Pragmática não verbal
• Orientação para o falante
• Manutenção do olhar
• Uso de gestos para suplementar o discurso
• Tom de voz
• Expressão facial, etc.
2. Pragmática verbal
• Adequação das declarações
• Intenção das declarações (p. ex., solicitar, chamar a atenção, comentar)
• Manutenção do tópico
• Revezamento do momento de fala
• Escolha de palavras, etc.
Fonte: Tuchman, Roberto e Rapin, Isabelle, Autismo abordagem
neurobiológica, 2009.
28
Estudos com adultos sugerem que prejuízos na emoção e no
comportamento social estão correlacionados com o funcionamento anormal da
região ventro medial do córtex pré-frontal e que essa anormalidade é
demonstrável antes dos 16 meses de idade ( ANDERSON et al., 1999;
BECHARA., 2002; BAR-ON et al., 2003). Outros estudos indicam que os
"neurônios espelho", encontradas no córtex frontal e ativados em relação a
ações especificas executados pela própria pessoa, assim como ações
correspondentes por outros, atuam no desenvolvimento de funções cognitivas
e sociais iniciais (WILLIANS et al., 2001). O sistema dos neurônios-espelhos
tem sido associado a funções importantes do inicio do desenvolvimento social,
como a imitação e o desenvolvimento da linguagem (REZZOLATTI e
CRAIGHERO, 2004) ao processamento emocional e em particular a empatia
(LESLIE et al., 2004).
As esteriotipias é uma das características presentes no autismo.
Esteriotipias são movimentos rítmicos, padronizadas, repetitivos,
despropositados e involuntários. (MINK e MANDELBAUM, 2009). Embora os
mecanismos neurobiológicos subjacentes aos esteriotipias ainda não sejam
conhecidos, há razões para se pensar que eles emergem dos gânglios da base
ou de circuitos corticais dos gânglios da base tálamo corticais (MINK e
MANDILBAUM, 2009).
1.5.2 - Neurobiologia do sono em autista.
O sono inadequado, afeta o funcionamento comportamental e a saúde
diurna em uma série de condições neurológicas e psiquiátricas. Transtornos do
sono leva a uma simplicidade de efeitos comportamentais, que atingem tanto a
individuo quanto a família (CHRISTODULIE e DURAND, 2004). A sonolência
diurna, resultante de transtornos do sono, com frequência manifesta-se em
crianças com desenvolvimento típico na forma da hiperatividade, desatenção e
agressão (OWEN et al., 1998).
O autismo afeta vários sistemas neurotransmissores que participam na
promoção do sono e no estabelecimento de um ciclo sono-vigília, que envolve
29
atividade neuronal coordenada no hipotálamo, no tronco cerebral, no tálamo e
no córtex. Esses sistemas incluem o acido gama-aminobutírico (GABA), a
serotonina e a melatonina.
Um dos principais sistemas de promoção do sono é a área pré-óptica
do hipotálamo, que usa o GABA como neurotransmissor. No autismo, os
interneurônios GABAérgicos aparecem rompidos (LEVITT et al., 2004) e uma
região de suscetibilidade genética tem sido identificada no cromossomo 15q,
que contém genes relacionados ao GABA (MCCAULEY et al., 2004). A
expressão desses genes de suscetibilidade ao autismo pode afetar o sono,
interferindo na função inibitória normal do GABA, via neurônios da área pré-
óptica.
A serotonina pode promover o sono, inibindo os sistemas que
normalmente, estimulam a ativação cortical e o despertar, como o colinérgico.
A serotonina pode ser responsável pela estimulação do acúmulo de outros
fatores do sono no hipotálamo anterior (JONES, 2005). Anormalidades na
síntese, no metabolismo ou no transporte da seratonina, registrada no autismo,
podem influenciar seus efeitos fisiológicos sobre a promoção do sono
(CHUGANI, 2004).
A melatonina, substância promotora do sono liberada pela glândula
pineal, é inibida pela luz (GOOLEY e SAPER, 2005). Uma menor secreção
noturna da 6-sulfatoximelatonina' o principal metabólito da melatonina, foi
observada em crianças com TEA em comparação com não autistas
(JORDYMAN et al., 2005).
As normalidades na produção do GABA, da serotonina e da melatonina
no TEA, junto com indícios crescentes de alterações clinicas circadianas e do
sono, fornecem evidencias do envolvimento das redes neurobiológicas na
regulação do sono no autismo (MALOW e MCGREW, 2009).
As possíveis causas para transtornos do sono no autismo:
30
TABELA 3
Causas do transtorno do sono no autismo
Insonia
• Ansiedade
• Depressão
• Medicamentos psicotrópicos
• Epilepsia coexistente
• Apnéia obstrutiva do sono
• Movimentos periódicos dos membros durante o sono
• Anormalidades no ritmo circadiano
• Hábitos de sono ruins
• Hipersensibilidade a estímulos ambientais
Sonolência diurna
• Tempo de sono insuficiente
• sono interrompido por causa de um transtorno primário do
sonolência
• Depressão
• Convulsões
• Medicamentos
• Narcolepsia
Eventos noturnos
• Convulsões
• Transtornos de excitação não-REM
• transtornos do comportamento REM
• Transtorno do movimento rítmico
Fonte: Tuchman, Roberto e Rapin, Isabelle, Autismo abordagem
neurobiológica, 2009.
Associações entre a respiração inadequada no sono e comportamentos
diurnos aberrantes, como hiperatividade e agressividade, estão bem
31
documentadas em crianças de desenvolvimento típico (CHERVIN et al., 2002;
GOTTHIEB et al., 2003.
A tabela a seguir mostra possíveis estratégias para melhorar o sono de
crianças autistas.
TABELA 4
Estratégias para melhorar o sono da crianças com autismo
Obtenha a história do sono para identificar transtornos do sono tratáveis e
considerar a necessidade de uma polissonografia
Tratamentos comportamentais
• Higiene do sono, como, por exemplo: evitar cafeína, fazer exercícios
regulares, manter uma rotina para dormir
• Restrição do sono
• Extinção = redução de padrão anterior (treinar a criança para pegar no
sono por conta própria)
Tratamentos farmacológicos
• Medicamentos antiepiléticos
• Antidepressivos
• Outros medicamentos (p. ex., clonidina)
• Melatonina
Terapia de luz
Fonte: Tuchman, Roberto e Rapin, Isabelle, Autismo abordagem
neurobiológica, 2009.
1.5.3 - Bases neurológicas do déficit motor em crianças
com autismo.
Estudos neurológicos, neuropsicológicos, neurofisiológicos e de neuro
imagem sugere que os prejuízos motores observados no autismo podem se
32
originar de uma disfunção nos circuitos e nas estruturas frontais e subcorticais.
Problemas no equilíbrio, na coordenação dos membros distais e proximais
(JANSIEWICZ et al., 2006), no rastreio visual (TAKARDE et al., 2004), no
planejamento motor (HUGHES, 1996) e no aprendizado (MOSTOFSKY et al.,
200 ), são todas baseados em transtornos no funcionamento frontal e sub
cortical.
Hallet e colaboradores (1993), relataram descobertas de hipotonia e
anormalidades na marcha, sugerindo disfunção cerebelar. Compatível com
isso, a patologia cerebelar é um dos achados mais regulares no exame post-
mortem (WILLIAMS et al., 1980; RITVO et al., 1986; BAUMAN e KEMPER,
1994; BAILEY et al., 1998; TATEMI et al.,2002). Estudos de neuroimagem
estruturais revelaram anormalidades no tamanho do verme cerebelar
(COURCHESNA et al., 1988, 1994; HASHIMOTO et al., 1995; KATES et al.,
1998) e no volume hemisférico (GAFFNEY et al., 2001; SPARKS et al., 2002).
Nos modelos mais neuropsicológicos, o aprendizado de habilidades
motoras e incluído no constructo mais amplo do aprendizado procedimental,
que se refere ao processo pelo qual habilidades e ações são adquiridas de
maneiras implícita, por meio da exposição repetida a uma tarefa prática (
SQUIRE, 1986). De fato, em uma revisão da “imitação e ação no autismo”,
Smith e Bryson (1994) citaram Wing (1969), notando que: “tem sido registrada
em crianças desajeitadas com autismo uma dificuldade particular em aprender
padrões organizados de movimentos”, além disso há evidências de que o
aprendizado procedimental ocorre bem cedo, em torno dos 3 meses de idade
em humanos ( HAITH et al., 1993; NELSO, 1995).
A disfunção nos circuitos da conexão cortical-subcortical pode
contribuir para prejuízos no desenvolvimento da coordenação/execução
motora, assim como na capacidade em realizar gestos motores que exigem
habilidade, o que refletiria uma dispraxia do desenvolvimento (LARSON e
MOSTOFSKY, 2009). Tem sido observado que crianças com autismo mostram
déficits em aspectos básicos da execução motora.
33
1.6 – As avaliações.
A avaliação de uma criança com suspeita de transtorno do
desenvolvimento e, de forma mais específica, com risco de transtorno do
espectro autista é feita inicialmente pelo neurologista, que desenvolve um
papel duplo: em primeiro lugar, é necessário decidir se existem evidências
suficientes de que há um transtorno; em segundo, determinar se possível, suas
causas biológicas ou sociais.
Buscando avaliar uma criança com suspeita de transtorno do espectro
autista, é necessário ao neurologista: obter detalhadas histórias sociais,
familiares, do desenvolvimento e do passado clínico; avaliar o compo0rtamento
funcional da criança em um contexto interativo, apropriado a sua idade; fazer
um exame físico e neurológico; revisar todos os materiais de outros
profissionais levados pelos pais.
1.6.1 – Avaliações psico educacional e neuropsicológica.
O propósito das avaliações educacionais de crianças com TEA nas
idades pré-escolar e escolar, é desenvolver a compreensão dos pontos fracos
e dos pontos fortes de cada uma no processo de aprendizagem (KLEIN, 2009).
Segundo Klein, é importante que a avaliação psico educacional seja feita na
escola.
A avaliação neuropsicológica difere da psico educacional, pois, em
geral, as avaliações neuropsicológicas estendem a avaliação psico educacional
à exploração da memória e das habilidades do funcionamento executivo.
(KLEIN, 2009)
O objetivo da avaliação neuropsicológica da criança com autismo é
identificar pontos fortes e pontos fracos do aprendizado de modo que os
adultos passam fornecer apoio acadêmico e comportamental adequado
(KLEIN, 2009)
34
1.7 – Intervenções comportamentais e educacionais.
Embora, em muitos países a educação das crianças com TEAs seja
garantida por lei, a enorme controvérsia que permanece é o local onde devem
receber educação, sobre as estratégias de instrução específica a serem
adotadas e o grau de intensidade de serviços e apoios educacionais.
O principal objetivo da intervenção é obter mudanças comportamentais
funcionais que se generalizem pelo setting e que sejam mantidas ao longo do
tempo, seu resultado satisfatório é a completa inclusão em todos os aspectos
da vida em comunidade (MINTZ, ALESSANDRI e CURATOLO, 2009). Os
tratamentos primários pra os transtornos do espectro autista continuam sendo
as “intervenções psico educacionais”. (LORD e MCGEE, 2001)
- Análise comportamental aplicada (ABA)- á a aplicação de princípios
fundamentais da teoria do aprendizado, baseada no condicionamento
operante, para incrementar comportamentos socialmente significativos e
reduzir comportamentos indesejáveis ou interferentes. Os elementos
essenciais dessa abordagem incluem ênfase em relações funcionais entre o
comportamento e os ambientes, observação e medição diretas, fatores
contextuais/ambientais e princípios de reforço (SKINNER, 1938). Três de uma
série de métodos do ABA são: Discrete Trial Teaching ( Ensino experimental
distintivo), a Analysis of Verbal Behavior (Análise do comportamento verbal)e o
Pivotal Response Training (Treinamento central de respostas). Eles
compartilham o fato de terem como alvo a aquisição de habilidades e conceitos
específicos, junto com a redução dos comportamentos indesejados. Todos
baseiam-se nos princípios da teoria do aprendizado (MINTZ, ALESSANDRI e
CURATOLO, 2009).
• O Discrete Trial Teaching (DTT) enfatiza uma intervenção inicial intensa,
análise de tarefas, unidades descontinuadas de aprendizado, instrução
sistemática, treinamento com discriminação, prática repetitiva e
programação de generalização e manutenção (LOVAAS et al., 1974;
35
LOVAAS e SMITH, 1989; MCEACHIN et al., 1993).
• A Analysis of Verbal Behavior (VB) surgiu como um elemento essencial
da análise comportamental aplicada ( SKINNER, 1957). Nessa aplicação da
ABA, dedica-se atenção especial a vários elementos funcionais da
linguagem como qualidade de alvos da intervenção (SUNDBERG e
MICHAEL, 2001; LOPEZ, ORNAT e GALLO, 2004). A avaliação e o ensino
sistemático desses aspectos da linguagem são um componente bem
validado da instrução destinada a crianças com TEAs (SUNDBERG e
MICHAEL, 2001).
• O Pivotal Response Training (PRT), intervenção naturalista, baseada em
princípios da análise comportamental aplicada e de abordagens do
desenvolvimento, identifica certos comportamentos “centrais”, como a
motivação, a auto iniciativa e a responsividade a várias dicas, que serão o
alvo do tratamento (MINTZ, ALESSANDRI e CURATOLO, 2009). O PRT foi
elaborado para ser integrado à vida cotidiana, de modo a facilitar a
generalização e a manutenção da mudança comportamental. Esse
treinamento se mostra eficaz no aumento das habilidades sociais,
comunicativas e de jogo, embora a maioria das pesquisas limita-se a
designs de linha d base múltipla e com um único sujeito ou tratamentos
pequenos (KOEGEL e FREA, 1993; KOEGEL et al., 1998; SCHREIBMAN,
2000; KOEGEL et al., 2001)
- A terapia do desenvolvimento mais conhecida é o Modelo de desenvolvimento
baseado no relacionamento e na diferença individual, comumente chamado de
“Floor Time”. O Floor Time é um modelo conduzido pela criança e
implementado pelos pais, que utiliza os princípios do desenvolvimento para
ajudar as crianças a formar habilidades sociais, comunicativas e emocionais
(WIEDER e GREENSPAN, 2003). Baseia-se na teoria de que crianças com
TEA tem um déficit biológico de processamento que prejudica as conexões do
afeto e da interação com as habilidades de planejamento e sequenciamento
motor, o processamento auditivo e as capacidades da linguagem (WIEDER e
GREENSPAN, 2003).
36
- O ensino estruturado é uma segunda estratégia do desenvolvimento, cujos
princípios podem ser creditados à Division TEACCH (Treatment and Education
of Autistic and related Communication handicapped Children). Trata-se de um
modelo de oferta de serviços, usado em todo o Estado da Carolina do Norte
(Estados Unidos), que fornece serviços coordenados de suporte, expansão,
avaliação e intervenção (MESIBOV e SCHOPLER, 1983; PANERAI et al.,
1997, 2002; ERBA, 2000; VAN BOURGON-DIEN et al., 2003).
É atribuída ao TEACCH uma série de contribuições clínicas significativas,
inclusive o desenvolvimento de ferramentas diagnósticas, medidas de
avaliação, métodos para cursos e intervenções, assim como a provisão de
sistemas visuais e suportes para o comportamento, as habilidades sociais e a
comunicação (BONDY e FROST, 1998; OZONOFF e CATHCART, 1998;
CHARLOP-CHRISTY et al., 2002; MAGIATI e HOWLIN, 2003).
37
CAPÍTULO II
A INCLUSÃO.
Para falar de inclusão no âmbito educacional é necessário que se
conheça a definição de inclusão.
Segundo o dicionário Aurélio, Educação é o processo de
desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser
humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social.
Inclusão é o ato ou efeito de incluir, isto é de compreender, abranger;
Em educação especial é o ato de incluir pessoas portadora de necessidades
especiais na plena participação de todo o processo educacional, laboral de
fazer, etc., bem como em atividades comunitárias e domésticas (AURÉLIO).
No momento atual, existe uma pressão de alguns segmentos da
sociedade em prol de uma inclusão real. No âmbito social, SASSAKI conceitua
inclusão como sendo o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder
incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais
e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na
sociedade. A inclusão social constitui, então, um processo bilateral no qual as
pessoas, ainda excluídas, e a sociedade, buscam, em parceria, equacionar
problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades
para todos (SASSAKI, 1997, apud SASSAKI, 2002, p.3).
A Educação Especial inserida no processo de inclusão se caracteriza
como modalidade de ensino que apresenta um conjunto de recursos e serviços
educacionais especiais organizados para dar apoio, suplementar e, em alguns
casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a
educação formal dos educandos que apresentem necessidades educacionais
muito diferentes das da maioria das crianças e jovens (MAZZOTA, 1996).
38
Em um sentido mais amplo a, o ensino inclusivo é a prática da inclusão
de todos – independentemente de seu talento, deficiência – em escolas e salas
de aulas provedoras, onde todas as necessidades dos alunos são satisfeitas
(STAINBACK, 1996).
Segundo Facion (2003, p.192) “ Em seu sentido mais amplo, o ensino
inclusivo é a prática da inclusão de todos, independentemente do seu talento,
deficiência, origem socioeconômica ou cultural, em escolas e salas de aula
provedoras, em que todas as necessidades dos alunos são satisfeitas”.
A inclusão, muito mais do que submeter (que geralmente é feito pelo
uso da força), é abranger, acolher. A tendência hoje é de uma sociedade
inclusiva, porque, pelos valores que seguimos na atualidade, é a via que
melhor satisfaz ao indivíduo em particular e a sociedade em geral. (FREIRE,
2005)
2.1 – Histórico da Educação Inclusiva.
Até o século XVI, as pessoas com algum tipo de deficiência eram
excluídas de todo tipo de aprendizagem, a escolarização para essas pessoas,
inicia-se no século XVIII, na França, com a construção da primeira instituição
de estudos para cegos.
No Brasil, o atendimento escolar especial às pessoas com deficiência
teve início na metade do século XIX. Em 1854, D. Pedro II através do decreto
Imperial nº 1.428, fundou na cidade do Rio de Janeiro, o Imperial Instituto dom
Meninos Cegos. Que teve seu nome mudado para Instituto Nacional dos
Cegos, em maio de 1890, por Marechal Deodoro da Fonseca e o ministro da
Instrução Pública, Correios e Telégrafos, Benjamin Constant. Mas tarde, em
1891, a escola passou a denominar-se Instituto Benjamin Constant (IBC).
39
No ano de 1857, D. Pedro II fundou, também no Rio de Janeiro, o
Instituto dos surdos-mudos.
Em 1948, a Organização das Nações Unidos (ONU) reconhece a
Igualdade, liberdade entre todo o movimento pela integração, decorrente da
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Na metade do século XX, já haviam quarenta estabelecimentos de
ensino regular mantido pelo poder público, endo um federal e os demais
estaduais, que prestavam algum tipo de atendimento escolar especial a
deficientes mental.
O atendimento educacional aos excepcionais foi assumido pelo
governo federal com a criação de campanhas especificamente criadas para
este fim.
A Campanha para Educação do Surdo Brasileiro (CESB), foi a primeira
a ser instituída, pelo Decreto Federal nº 42.728 em 1957. Instalada no INES no
Rio de Janeiro, tinha como finalidade promover as medidas necessárias à
educação a assistência em todo território nacional.
Em 1958, através do decreto nº 44.236, foi a criada a Campanha
Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes da Visão, vinculada ao
IBC, no Rio de Janeiro.
Outra campanha instituída, foi a Campanha de Educação e
Reabilitação de Deficientes Mentais, a CADEME, instituída em 1960, com a
influência de movimento liderados pela Sociedade Pestalozzi.
De fato, foi no início dos anos 60 que essa modalidade de ensino foi
oficialmente instituída, com a denominação de “educação dos excepcionais.”
40
A Educação Especial no Brasil tem obtido um crescimento significativo,
com marcantes características, constituindo fatores decisivos para a
discriminação de uma concepção de deficiência.
A Lei de Diretrizes e Bases Nacional, Lei nº 4.024/61, garantiu o direito
dos “alunos excepcionais “à educação, estabelecendo em seu artigo 88 que
para integrá-los na comunidade esses alunos deveriam enquadrar-se, dentro
do possível, no sistema geral de educação.”
A primeira unidade assistencial da APAE, o centro ocupacional Helena
Antipoff, foi instalado em 1964, sob o objetivo de proporcionar habilitação
profissional a adolescentes deficientes mentais do sexo feminino.
Em maio de 1971, a APAE-SP inaugura o Centro de Habilitação de
Excepcionais. Este passa a ser a primeira unidade multidisciplinar integrada
para assistência a deficientes mentais e formação de técnicos especializados
na área de deficiência mental (MAZZOTTA, 1996).
Em 1972, o Ministério de Educação e Cultura – MEC constituiu o
Grupo-Trefa de Educação Especial, juntamente com o especialista James
Gallagher, apresentando a primeira proposta de estruturação da educação
especial brasileira, tendo sido criado um órgão central para geri-la, sediado no
próprio Ministério e denominado Centro Nacional de Educação Especial –
CENESP. O então Conselho Federal de Educação em Parecer de 10/08/72,
entendeu a “educação de excepcionais” como uma linha de escolarização, ou
seja, como educação escolar. Esse Centro hoje, é a Secretaria de Educação
Especial – SEESP, que manteve basicamente as mesmas competência e
estrutura organizacional de seu antecessor, no MEC.
No ano de 1975, a Declaração dos direitos das Pessoas Deficientes
(ONU) estabelece os direitos de todas as pessoas com deficiência, sem
qualquer discriminação.
41
No final da década de 70, muitos alunos com deficiência começaram a
ser integrados em classes regulares. Integração escolar é um movimento que
visa acabar com a segregação, favorecendo, assim, as interações sociais de
estudantes deficientes com estudantes normais.
Os anos 80, foi marcado por intensos movimentos, uma vez que a
classe regular é reconhecido como melhor ambiente pedagógico para o aluno
portador de necessidades especiais se desenvolverem.
Em 1980, a ONU estabelece metas aos países membros para garantir
igualdade de direitos e oportunidades para as pessoas com deficiência.
No ano de 1986 ocorre a mudança da nomenclatura de – “alunos
excepcionais”, para “alunos com necessidades educacionais especiais”, na
portaria CENESP/MEC nº 69. No entanto, a troca de nomes nada significou na
interpretação dos quadros de deficiência e mesmo nos enquadramento dos
alunos nas escolas.
A Constituição Brasileira de 1988, no Capítulo III, da Educação, da
Cultura e do Desporto, Artigo 205 prescreve: “A educação é um direito de todos
e dever do Estado e da família”. Em seu Artigo 208, prevê: ...”o dever do
Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: ...”atendimento
educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na
rede regular de ensino”.
O ano de 1990 é marcado pela Conferencia Mundial sobre Educação
para Todos (ONU) aprovou a Declaração Mundial sobre Educação para Todos,
na Tailândia, e o Plano de Ação para Satisfazer as Necessidades Básicas de
Aprendizagem; promovendo a universalização do acesso à educação.
No dia 14 de dezembro de 1991 foi assinada a resolução 45/91 da
ONU, que solicitou ao mundo “uma mudança no foco do programa das nações
unidas sobre deficiência passando da conscientização para a ação, com o
42
compromisso de se concluir co êxito uma sociedade global para todos por volta
de 2010”.
Kunc (1992), fala sobre inclusão: “o princípio fundamental da educação
inclusiva é a valorização da diversidade e da comunidade humana. Quando a
educação inclusiva é totalmente abraçada, nós abandonamos a ideia de que as
crianças devem se tornar normais para contribuir para o mundo”.
Em 1993, as Normas sobre Equiparação de Oportunidades para
pessoas com Deficiência (ONU) estabelecem padrões mínimos para promover
igualdade de direitos (direito à educação em todos os níveis para crianças,
jovens e adultos com deficiência, em ambientes inclusivos).
Ainda em 1993, a Declaração de Manágua, exige a inclusão curricular
da deficiência em todos os níveis da educação, formação dos profissionais e
medidas que assegurem acesso a serviços públicos e privados, incluindo
saúde, educação formal em todos os níveis e trabalho significativo para os
jovens.
O ano de 1993 e os anos subsequentes, foram caracterizados pelos
movimentos em favor da inclusão escolar.
A Declaração de Salamanca é considerada um dos principais
documentos mundiais que visam à inclusão social, sendo um marco histórico
da educação inclusiva. Assinada por 92 países, em junho de 1994, na
Espanha, com o objetivo principal de fornecer diretrizes básicas para a
formulação e reforma de políticas e sistemas educacionais de acordo com o
movimento de inclusão social, tem com princípio fundamental: “todos os alunos
devem aprender juntos, sempre que possível, independente, das dificuldades e
diferenças que apresentem”.
Segundo a Declaração de Salamanca (introdução 3):
43
“O termo “necessidades educacionais especiais” refere-se a todas
aquelas crianças ou jovens cujas necessidades educacionais especiais se
originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem. Muitas
crianças experimentam dificuldades de aprendizagem e por tanto possuem
necessidades educacionais especiais em algum ponto durante a escolarização.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei nº 9.394
de 20 de dezembro de 1996, baseada no princípio do direito universal à
educação para todos, destaca a importância e urgência de promover-se a
inclusão educacional como elemento formador da nacionalidade. Destina o
Capítulo V inteiramente à educação especial.
O artigo 58 destaca: Entende-se por educação especial para os efeitos
da Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede
regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.
O artigo 59 da LDB dispõe sobre as garantias didáticas diferenciadas,
como currículos, métodos, técnicas e recursos educativos; terminalidade
específica para os alunos que não possam atingir o nível exigido para a
conclusão do ensino fundamental, em virtude da deficiência; especialização de
professores em nível médio e superior e educação para o trabalho, além de
acesso igualitário aos benefícios sociais.
No ano de 1999, na Guatemala, as Convenções Interamericanas para
a Eliminação de todas as formas de Descriminação contra a Pessoa Portadora
de Deficiência, condena qualquer forma de descriminação, exclusão ou
restrição por causa da deficiência que impeça o exercício dos direitos das
pessoas com deficiência, inclusive à educação.
Também em 1999, a Declaração de Washington co Representantes de
50 países no encontro “Perspectivas Globais em Vida Independente para o
próximo Milênio”, em Washington, nos Estados Unidos, reconheceram a
responsabilidade da comunidade no fomento à educação inclusiva igualitária.
44
Com a Resolução nº 2/2001, que instituiu as Diretrizes Nacionais para
a Educação Especial na Educação Básica, ocorreu um avanço na perspectiva
da universalização e atenção à diversidade, na educação brasileira, tendo a
seguinte recomendação: os sistemas devem matricular todos os alunos,
cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com
necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias
para a educação de qualidade pra todos.
A Declaração de Caracas, no ano de 2002, constituiu a Rede Ibero-
americana de Organizações Não governamentais que tratou dos direitos de
Pessoas com Deficiência e suas Famílias, visando a promoção, a organização
e a coordenação de ações para defesa dos direitos humanos e liberdades
fundamentais das pessoas com algum tipo de deficiência.
Também no ano de 2002, a Declaração de Madri, definiu o parâmetro
conceitual para a construção de uma sociedade inclusiva, focalizando os
direitos das pessoas com deficiências, as medidas legais, a vida independente,
entre outro: “O que for feito hoje em nome da questão da deficiência terá
significado para todos no mundo de amanhã”.
Ainda no ano de 2002, no Japão, foi aprovada a Declaração de
Sopporo, representado por 109 países, por ocasião da VI Assembleia Mundial
da Disabled Peoples International-DPL, onde fala sobre educação inclusiva: “a
participação plena começa desde a infância nas salas de aula, nas áreas de
recreio e em programas de serviços. Quando crianças com deficiência se
sentam lado a lado com muitas outras crianças, as nossas comunidades são
enriquecidas com a aceitação de todas as crianças. Devemos instar os
governos de em todo mundo a erradicarem a educação segregada e
estabelecer uma política de educação inclusiva”.
Em 11 de abril de 2003, com a Declaração de Quito, os governos da
América Latina defendem uma Convenção Internacional para a proteção e
promoção dos direitos e dignidade da ONU.
45
Em 2003 as pessoas com deficiência passaram a ter iguais
oportunidades as pessoas consideradas normais, surgindo assim o acesso aos
recursos da sociedade, como, educação inclusiva, tecnologia, saúde, serviços
sociais, atividades esportivas e lazer.
No ano 2004, na reunião da Cúpula dos Chefes de Estados de Países
ibero-americanos, realizada na Bolívia, definiu-se a questão da deficiência
como prioridade, fortalecendo as instituições e as políticas públicas
direcionadas à inclusão das pessoas com deficiência.
Em dezembro de 2012, a então Presidente da República, Dilma
Rousseff, institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com
Transtorno do Espectro Autista, Lei nº 12.764, que trata dos direitos do pessoa
autista, garantindo a estes acesso a educação nas escolas da rede regular de
ensino.
A inclusão promove mudanças necessárias no sistema educacional,
que já não era satisfatório, tanto na escola regular quanto na escola de ensino
especial. Todos nos devemos estar disponíveis para enfrentar a situação a
situação de inclusão escolar, favorecendo o cultivo de uma filosofia baseada
em princípios democráticos e igualitários, que promovam uma educação de
qualidade para todos os alunos (FACION, 2003, p.210)
Tratando-se especificamente do grupo social constituído por pessoas
com deficiência, somos levados a problematizar a existência de sistemas
paralelos de ensino regular e especial, organizando o espaço escolar a partir
de outra lógica, ou seja, de uma escola aberta para todos, com práticas
colaborativas e formação de redes de apoio, uma escola onde gestores e
educadores pratiquem uma pedagogia centrada na criança e promovam a
participação da comunidade como um todo (ALVES, 2011, p.16).
Ao considerar a atual situação da educação inclusiva no Brasil,sendo
esta reconhecida como um direito, Mantoan argumenta:
46
[...] temos muitos desafios a enfrentar para atingir a educação como
direito de todos. Um deles é não permitir que esse direito seja traduzido
meramente como cumprimento da obrigação de matricular e manter alunos
com necessidades educacionais especiais em classes comuns. [...]
Nesse caso, eles podem ter acesso à escola, ou nela permanecer,
apenas para atender a uma exigência legal, sem que isso signifique
reconhecimento de sua igualdade de direitos. (p. 36)
A Lei nº 12.764, que institui a "Política Nacional de Proteção dos
Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista", sancionada em
dezembro de 2012, pela presidente Dilma Rousseff, faz com que os autistas
passem a ser considerados oficialmente pessoas com deficiência, tendo direito
a todas as políticas de inclusão do país - entre elas, as de Educação.
Segundo a deputada Mara Gabrilli, "por não haver um texto específico
que dissesse que os autistas são deficientes, muitos deles não podiam usufruir
dos benefícios que já existem na legislação brasileira".
O texto da Lei nº 12.764 estabelece que o autista tem direito de estudar
em escolas regulares, tanto na Educação Básica quanto no Ensino
Profissionalizante, e, se preciso, pode solicitar um acompanhante
especializado.
Rossana Ramos, professora da Universidade de Pernambuco (UPE),
afirma que "o que faz o deficiente se desenvolver é a interação com pares
diferentes dele. A criança aprende por imitação. Colocá-la em um lugar em que
só há pessoas com o mesmo problema não adianta".
Segundo Rosana, "Leis não vão resolver nada, a menos que existam
ações voltadas à capacitação do professor e à mudança da escola. É preciso
rever a formação de modo a ajudar os docentes a lidar com as limitações e as
dificuldades de cada aluno, com ou sem necessidades especiais. A consciência
é o que nos ajuda a incluir, e só se chega a ela por meio do conhecimento".
47
No que diz respeito às crianças autistas, Camargo e Bosa (2009)
afirmam que:
[...] a escola possui papel fundamental nos esforços para ultrapassar os
déficits sociais destas crianças, ao possibilitar o alargamento progressivo das
experiências socializadoras, permitindo o desenvolvimento de novos
conhecimentos e comportamentos. (p. 67)
Segundo César de Moraes, coordenador do Departamento de
Psiquiatria da Infância e Adolescência da Associação Brasileira de Psiquiatria
(ABP), “Inserir o autista na sala de aula é a melhor forma de estimular as
capacidades do portador. Além disso, as outras crianças da turma aprendem a
lidar com as diferenças e tornam-se adultos com menos preconceitos”.
Para Fábio Oliveira, da Associação Brasileira de Assistência e
Desenvolvimento Social (Abads), a inclusão só acontece quando a família
mapeia detalhadamente todos os sintomas e informa a instituição de ensino a
respeito deles. Esta, por sua vez, deve contar com as metodologias adequadas
para ajudar a criança a suprir suas deficiências. Entretanto, o desafio não está
somente nas características do autista ou no diálogo entre família e educador.
A viabilização financeira dos métodos especializados de ensino também é um
problema. “Por meio deles, é possível reduzir a incidência de comportamentos
inadequados e ajudar o autista na organização do seu dia a dia, bem como na
tarefa de se comunicar com os outros e de ingressar em qualquer espaço. No
entanto, são metodologias caras e de serem implantadas.
Segundo Windholz (1995), “com os conhecimentos de que se dispõem
hoje, sabe-se que o tratamento da pessoa com autismo ‘é uma tarefa de vida’
que não se restringe apenas ao portador, mas engloba seus familiares, a
escola e demais ambientes da comunidade nos quais vive e atua”.
48
CAPÍTULO III
A PRÁTICA PEDAGÓGICA, A NEUROCIÊNCIA E A
INCLUSÃO DE ALUNOS AUTISTAS.
Segundo Brito de Castro (1997), “os professores tem evidenciado
dificuldades para trabalhar com os alunos em geral, não apenas com aqueles
com deficiência, dadas as precárias condições de trabalho e de formação
docente”. A pesquisadora constatou que os professores necessitam de mais
conhecimento para desenvolver uma prática de ensino que considere as
diferenças em sala de aula.
A Neurociência é uma ciência nova que vem em busca por auxiliar os
professores a conhecer os alunos que estão chegando as salas de aula, suas
habilidades, e a forma de trabalhar cada parte de seus cérebros de acordo com
suas potencialidades, favorecendo sua aprendizagem e seu pleno
desenvolvimento.
Para Perrenoud (1999, p2):
“Quase que a totalidade das ações humanas exige algum tipo de
conhecimento, às vezes superficial, outras vezes aprofundado da experiência
pessoal, do senso comum, da cultura partilhada em um círculo de especialistas
ou da pesquisa tecnológica ou científica. Quanto mais complexas, abstratas,
mediatizadas por tecnologias, apoiadas a modelos sistêmicos da realidade
forem consideradas as ações mais conhecimentos aprofundados, avançados,
organizados e confiáveis elas exigem.”
Corroborando a afirmação de Perrenoud, Ferreira (2006, p 3-4), afirma
que:
“A construção de escolas de qualidade e inclusivas para todos
deve, dessa forma, necessariamente envolver o desenvolvimento de
49
políticas escolares de desenvolvimento profissional docente com vista a
prepará-los pedagogicamente para trabalhar com a pluralidade sócio
cognitiva e experencial dos estudantes por meio de enriquecer
conteúdos curriculares que promovam a igualdade, a convivência
pacífica, a aprendizagem mútua, a tolerância e a justiça social.”
Assim para Ferreira (2006, p 6):
“O processo de mudanças da pedagogia tradicional para uma
pedagogia inclusiva, pouco a pouco transforma o docente em
pesquisador da sua própria prática pedagógica, pois a nova dinâmica de
ensino faz com que adquira habilidades para refletir sobre sua docência
e aperfeiçoá-la continuamente. O docente aprende a reconhecer o valor
e a importância do trabalho colaborativo e da troca de experiência com
seus colegas professores, os quais podem contribuir de forma
sistemática sobre novas formas de ensinar e lidar com velhos problemas
e de desenvolver profissionalmente.”
Segundo a Constituição da República Federativa do Brasil, em seu
artigo 3º parágrafo IV, Título I:
“A formação tradicional em educação especial não se
destina a profissionais que terão o compromisso de incluir os
excluídos da de ensinar a ensinar, o que necessita uma
multiplicidade de escola, pois não lhes incute a ideia do especial da
educação, que redireciona objetivos e práticas de ensino, pelo
reconhecimento e valorização das diferenças. Por que continua a
dividir, a separar, a fragmentar o que a escola deve unir, fundir,
para se fortalecer e torna-se justa e democrática, cônscia de seus
deveres e dos preceitos constitucionais que garantem a todos os
cidadãos brasileiros uma escola sem preconceito, que não
discrimina, sob qualquer pretexto.”
50
Porém, como se observa, a legislação nacional continua a apontar
como diretrizes dos contextos de formação: o do professor Generalista, que
apenas tem contemplado em sua formação conteúdos gerais sobre a educação
especial, e o professor Especialista, que tem, de fato, a responsabilidade de
não apenas identificar necessidades educacionais especiais, como também
oferecer os caminhos pedagógicos mais adequados para dar respostas a elas
(FERNANDES, 2007, p. 76).
Este novo momento marca, na educação, o retorno a valorização da
diversidade humana, o que requer uma nova forma de ensinar, também
respostas educativas coerentes com as diversas necessidades dos alunos.
Para que isso transcorra com coerência e sabedoria, é necessário que haja
uma redefinição do papel da escola e consequentemente dos professores e
dos demais agentes educativos. Estes precisam estar devidamente preparados
para assumir novos valores profissionais que abranjam, além de uma prática
diferenciada, um conhecimento pedagógico, científico e cultural transformado,
voltado as características individuais dos seus alunos (FACION, 2003, p.168).
Tomando como base proposta da escola inclusiva, a educação para
todos, o professor deve ser considerado uma peça fundamental desse
movimento, já que é por intermédio de suas ações educativas que a inclusão
pode ser efetivada. Então, torna-se imprescindível aliar a ideologia da inclusão
a prática docente, levando em consideração alguns aspectos como
capacitação profissional, melhorias da condição de trabalho, aumento de
recursos e da infraestrutura e implantação de ações políticas proativas que tem
como objetivo o bem estar físico e mental dos profissionais da educação
(FACION, 2003, p. 158).
O trabalho baseado na concepção da educação inclusiva reconhece e
valoriza, sobretudo as características individuais do processo de construção de
conhecimentos de cada aluno, por isso, esta concepção enfatiza as
possibilidades de desenvolvimento acadêmico e sucesso escolar, e é distinta a
concepção de adaptar o currículo com base na “dificuldade da criança” para
aprender (ALVES, 2011, p.22).
51
É possível perceber que a maior dificuldade encontrada,no que se
refere a inclusão, baseia-se principalmente na formação do professor, que se
forma com conceitos generalitas que não favorecem a visão individual do
sujeito. Quando pensamos nisso, facilmente temos ampla noção das
dificuldades em ter em sala de aula alunos com Transtorno do espectro autista.
Embora muitos sejam os estudos sobre o Transtorno do espectro autista, ainda
não existem bases científicas para se generalizar os indivíduos autistas, cada
um possui a sua especificidade, o que exige do professor um conhecimento
individual do sujeito.
Entendemos que todos os alunos são seres individuais e com
características únicas que devem ser consideradas, respeitadas a trabalhadas,
sendo o docente responsável por caracterizá-la e desenvolvê-la. Quando
pensamos através desse pressuposto vemos que a educação brasileira ainda
tem muito a caminhar no que diz respeito a efetiva inclusão.
Sibylla (2007) referindo-se às crianças com transtornos globais do
desenvolvimento - TGD - diz que na construção dos processos inclusivos que
lhe dizem respeito encontram-se, com frequência, obstáculos relativos aos
limites que se supõe inviabilizarem seu acesso aos processos educativos:
comportamento estereotipado, falas descontextualizadas ou aparentemente
sem nexo, escritas e leituras presas na literalidade do texto ou com sentidos
errantes”, que por muitos é percebida como impeditivo para que a educação
aconteça.(SYBILLA,2007,p.1)
A autora relaciona como fatores contribuintes para tal situação: a
ausência de informações sobre quem são estas crianças e adolescentes; os
poucos e recentes estudos deste assunto, as dificuldades de interlocução entre
as diferentes áreas que se ocupam da temática; a ausência de um
conhecimento mais sistematizado por parte do campo pedagógico; e,
finalmente, a tendência de perceber a diferença como falha ou déficit a ser
corrigido, normalizado.
52
Sibylla (2007) ainda aponta o fato de que abordar o atendimento
educacional dos sujeitos com autismo é deparar-se com um campo em
construção, onde emergem espaços possíveis desde que seja superada a
concepção de escola como espaço social de transmissão de conhecimentos
em seu valor instrumental e adaptativo”, havendo um grande trabalho a ser
feito “no sentido de questionar as interpretações mais estreitas, alargar
perspectivas e flexibilizar os processos educacionais. (SIBYLLA, 2007, p. 7/8)
Devido às particularidades do transtorno torna-se complexo pensar a
escolarização dessas crianças, evidenciando o processo pedagógico proposto
nas instituições voltadas ao atendimento desse público, pois a inclusão escolar
nesses casos ainda é algo muito recente e controverso. Gomes (2007, p. 345)
ressalta que: O ensino de habilidades acadêmicas para pessoas com autismo
tem recebido pouca atenção de estudos, provavelmente porque os
comprometimentos clássicos do transtorno relacionados à comunicação,
interação social e comportamentos são vistos como prioritários no
desenvolvimento de pesquisas Vigotski em sua obra “Fundamentos da
Defectologia” (1997), que focaliza trabalhos sobre a escola especial e os
sujeitos com deficiência, apesar de não dirigir seus estudos diretamente à
temática do autismo, reforça essa análise ao referir que a escola especial se
destaca pela deficiência fundamental de enclausurar seu aluno num círculo
estreito, criando um micromundo isolado e fechado, adaptado e acomodado ao
defeito da criança, não permitindo introduzi-la a uma vida autêntica.
(VIGOTSKI, 1997)
Vigotski (1997, p.62) destaca que “nos detemos nas gramas de
enfermidade e não advertimos nos quilos de saúde. Reparamos nas pistas do
defeito e não captamos as enormes áreas ricas de vida que possuem as
crianças que padecem de anomalias”.
Vigotski (1997, p.136) enfatiza que “(...) a partir do processo de
interação social da criança com o meio se cria uma situação que impulsiona a
criança a fazer a compensação”
53
Jordan (2005) aponta a necessidade de orientação aos professores,
pois a falta de conhecimento a respeito dos transtornos autísticos é o que os
impede de identificar corretamente as necessidades de seus alunos com
autismo. A medida em que o sujeito é visto somente sob o ângulo de suas
limitações, a crença na sua educabilidade e possibilidades de desenvolvimento
estará associada à impossibilidade de permanência deste sujeito em espaços
como o ensino comum. Nesse sentido, a atuação junto ao professor é
fundamental para que a inclusão escolar aconteça de forma satisfatória (Beyer,
2005). Sobre esse aspecto, Cacciari,lima e Bernardi (2005) afirmam que, no
processo de inclusão, a instituição e os professores demandam tanta atenção
quanto a criança.
A escolarização dos alunos com autismo perpassa experiências
significativas de aprendizagem, que precisam ser descobertas e tecidas na
interação professor e aluno, professor e alunos e alunos e aluno (SANTOS).
Não se trata de identificar a criança aos seus limites, mas de encontrar
os mediadores que possam compensá-los, apostando em que “o
desenvolvimento encontrará (outras) vias de realização nas relações sociais”
(MONTEIRO, 1998, p. 76).
Segundo Bridi (2006) “incluir o aluno autista no ensino regular suscita
uma série de adaptações e recursos para viabilizar o processo, devendo ser
realizado de forma criteriosa e bem orientada, variando de acordo com as
possibilidades do sujeito”. De acordo com Baptista (2002) essas adaptações e
recursos se caracterizam enquanto dispositivos que delimitam e viabilizam a
experiência, constituindo-se como garantia para efetivação do processo
inclusivo.
Ao lado disso há de se considerar a importância do significante escola.
A criança moderna é, por definição, escolar; a escola representa a oferta de um
lugar social às crianças, é o que as constitui e lhes dá identidade, afirma Kupfer
(2007, p. 36). Frequentar uma escola significa, para o indivíduo, a possibilidade
54
de conviver com seus pares e vivenciar uma dimensão social da qual necessita
para desenvolver-se como qualquer ser humano. (RIVIERE, 1995, p. 286)
Desta perspectiva, preconizar a legitimidade da inserção de crianças
com autismo nas escolas é bem mais do que defender (ou atender) um
mandato político que reza sobre os direitos do cidadão. Mais que um exercício
de cidadania, ir à escola, para crianças com autismo poderá ter um valor
constitutivo, onde, a partir da inserção escolar seja possível uma retomada e
reordenação da estruturação psíquica do sujeito. (VASQUES e BAPTISTA,
2002, p. 10).
Segundo Herrero (2000) e Rua (2006), o professor deve saber que o
processo educativo deve contemplar ações concretas de aprendizagem,
considerando os graves distúrbios de desenvolvimento que as crianças autistas
apresentam.
Belizário Júnior (2010) propôs “subsídios teóricos necessários a
compreensão do transtorno numa perspectiva de interface com a educação
escolar. Isso significa que, embora se tenha recorrido ao campo da psiquiatria
para melhor compreender as manifestações do transtorno no cotidiano do
aluno na escola, o empenho é contextualizá-lo no âmbito educacional”.
Propiciar às crianças com autismo oportunidades de conviver com
outras da mesma faixa etária possibilita o estímulo às suas capacidades
interativas, impedindo o isolamento contínuo. Subjacente ao conceito de
competência social está a noção de que as habilidades sociais podem ser
adquiridas através das trocas que ocorrem no processo de aprendizagem
social. No entanto, tal processo requer respeito às particularidades de cada
criança. Mediante as considerações, fica evidente que crianças com
desenvolvimento típico fornecem, entre outros aspectos, modelos de interação
para as crianças com autismo, ainda que a compreensão social destas últimas
seja difícil. A possibilidade de interação com pares é a base para o seu
desenvolvimento, como para o de qualquer outra criança. assim, acredita-se
que a convivência compartilhada da criança com autismo na escola, a partir da
55
sua inclusão no ensino comum, possa oportunizar os contatos sociais e
favorecer seu desenvolvimento, mas também o das outras crianças, na medida
em que estas últimas convivam e aprendam com as diferenças. Bosa (2006)
destaca evidências de que a provisão precoce de educação formal, a partir dos
dois aos quatro anos, aliada à integração de todos os profissionais envolvidos,
tem obtido bons resultados.
Em estudo realizado sobre as relações entre os transtornos globais do
desenvolvimento (TGD) e o desenvolvimento infantil, Vasques (2002) conclui
que a inserção escolar é um fator diferencial no desenvolvimento global desses
sujeitos.
[...] a aprendizagem e a ampliação das condições cognitivas irá variar
conforme o grau do autismo. Porém, vale recordar o desafio lançado por
Vygotsky com o bem conhecido conceito da zona de desenvolvimento
proximal, zona essa que se dimensiona em cada individualidade. Esse
conceito defende a ideia de que ninguém está fora do alcance da ação
pedagógica produzidora de mudanças (BEYER, 2002, p.124 e 125)
A interação com o ambiente, através dos mais variados
comportamentos, ocorre desde o nascimento. Os comportamentos adquiridos
ao longo da vida resultam do que chamamos de aprendizagem ou aprendizado.
Aprender é uma característica intrínseca do ser humano, essencial para sua
sobrevivência (Kolb; Whishaw, 2002).
O Sistema Nervoso (SN), por meio de seu integrante mais complexo, o
cérebro, recebe e processa os estímulos ambientais e elabora respostas
adaptativas que garantem a sobrevivência do indivíduo e a preservação da
espécie (Halpern; O'Connell, 2000;Ferrari et al., 2001)
As funções mentais são produzidas pela atividade do SN e resultam do
cérebro em funcionamento. Funções relacionadas à cognição e às emoções,
presentes no cotidiano e nas relações sociais, como sentir e perceber, gostar e
rir, dormir e comer, falar e se movimentar, compreender e calcular, ter atenção,
56
lembrar e esquecer, planejar, julgar e decidir, ajudar, pensar, imaginar, se
emocionar, são comportamentos que dependem do funcionamento do cérebro.
Educar e aprender também (Kolb; Whishaw, 2002).
As estratégias pedagógicas utilizadas por educadores durante o
processo ensino-aprendizagem são estímulos que produzem a reorganização
do SN em desenvolvimento, resultando em mudanças comportamentais.
Cotidianamente, educadores, pais e professores, atuam como agentes nas
mudanças neurobiológicas que levam à aprendizagem, embora conheçam
muito pouco sobre como o cérebro funciona (Scaldaferri; Guerra, 2002; Coch;
Ansari, 2009)
O trabalho do educador pode ser mais significativo e eficiente se ele
conhece o funcionamento cerebral, o que lhe possibilita desenvolvimento de
estratégias pedagógicas mais adequadas (Ansari, 2005; Ansari; Coch, 2006;
Goswami, 2006; Coch; Ansari, 2009; Cubelli, 2009; Mason, 2009; Willingham,
2009). Contribuem para o cotidiano do educador: conhecer a organização e
as funções do cérebro, os períodos receptivos, os mecanismos da linguagem,
da atenção e da memória, as relações entre cognição, emoção, motivação e
desempenho, as potencialidades e as limitações SN, as dificuldades para
aprendizagem e as intervenções a elas relacionadas (Koizumi, 2004; Rotta;
Ohlweiler; Riesgo, 2006; Blake; Gardner, 2007)
É falso e displicente supor que as crianças deficientes não dispõem da
capacidade de aprendizagem, nelas a disposição é outra, mais lenta e
diferente, mas isso não quer dizer que tal condição esteja extinta ou ausente.(
FONSECA, 1995).
Fonseca, (1997), refere-se a perspectiva da formação do educador para
lidar com a diversidade, não podendo esta formação ser centrada apenas
numa visão pedagógica , reducionista, mas também em fatores neurobiológicos
( Organização intrínseca do sistema nervoso , que preside as funções da
atenção, percepção e conceituação, deficiências sensoriais, auditivas, visuais e
sinestésicas, biologia da linguagem, problemas motores, problemas de
57
comunicação, problemas somáticos, etc.) e psicoemocionais ( Privação
sensorial, interação mãe e filho, padrões perceptivos e adaptativos,
desenvolvimento motor, psicomotor, cognitivo, emocional e social, etc.)
Para Cosenza e Guerra (2011), o grande desafio que a educação
apresenta às neurociências é a proposição de temas relevantes a serem
estudados em aprendizes com cérebros diferentes, como autistas.
Considerando que hoje prevalece a política da escola inclusiva onde educar na
diversidade será o maior desafio do educador contemporâneo.
Segundo Cosenza e Guerra (2011), os estudos e descobertas de estratégias
pedagógicas específicas, considerando um funcionamento cerebral distinto,
são condições imprescindíveis para tornar a educação inclusiva uma realidade,
encarada com responsabilidade, onde professores utilizem conhecimentos
pautados em evidências científicas.
O''Neill (1997) refere que 70% dos autistas apresentam distúrbio na
modulação sensorial. Lovaas, Schreibman, Koegel e Rehm (1974) observaram
que crianças com autismo quando expostas a estímulos complexos
(envolvendo simultaneamente estímulos auditivos, visuais e táteis)
apresentavam dificuldade para responder a todas as modalidades do estímulo
simultaneamente, e se concentravam apenas em uma modalidade por vez.
Ao se levar em conta a dificuldade para compreender o mundo social e
sua nuances, fica fácil entender o conforto que a rotina traz para os portadores
de autismo (Williams, C. 2008).
A secretaria de educação especial, pertencente ao ministério da
educação, através do documento Dificuldades acentuadas de aprendizagem –
Autismo, cita algumas estratégias para facilitar a inclusão de alunos autistas
em classes regulares:
• Possuir um roteiro de apoio à organização do aluno contendo
fotos das atividades, para facilitar a memorização dos alunos.
58
• Possuir uma escala de tarefas que inclua o aluno autista para
facilitar sua interação.
• Evitar falar excessivamente com o aluno autista.
• Em caso de esteriotipias e ecolalia, o professor deve tentar
interromper a situação, trazendo a atenção do aluno de volta para a
atividade em q ele deveria estar envolvido.
O documento destaca também alguma estratégias para estimular a
interação do aluno autista com os demais, através de atividades na qual um
colega:
• Ofereça-lhe coisas interessantes;
• Ofereça-lhe ajuda;
• Peça-lhe ajuda;
• Faça-lhe algum elogio;
• Dê-lhe sinal de afeto;
• Faça-lhe perguntas;
• Obtenha a sua atenção;
Segundo Jerusalinsky (1997), as crianças autistas apresentam
possibilidades de construir conhecimentos, porém com algumas
especificidades em sua construção, bem como alguns limites. Nesses termos
seria possível, através da escolarização, dar para as crianças algumas
referências que lhes serviriam para interpretar uma série de situações e
circunstâncias, mas que além desse círculo não se generalizam, este é o limite
que se coloca. Por isso há de se obter outra referência, e depois outra,
exigindo flexibilidade nos planejamentos, tempos e espaços da escola.
De acordo com Piaget (1945/1978), a aquisição da linguagem esta
subordinada ao exercício da função simbólica, a qual tanto se afirma no
desenvolvimento da imitação, no jogo e no pensamento simbólico inconsciente.
59
Para Piaget (1945/1978), “ é essa conjunção entre a imitação efetiva ou
mental de um modelo ausente, e as significações fornecidas pelas diversas
formas de assimilação que permite a constituição da função simbólica.
Para B. Betelheim (1976), a criança autista não atribui os
acontecimentos a sua própria atividade, porque ela e sente demasiadamente
dominada, pelo ambiente para crer que possa modificá-lo. Para o autor, as
crianças têm dominado, em diferentes graus os estágios do desenvolvimento
sensório-motor.
Segundo Eugênio Cunha as crianças autistas apresentam uma relação
diferente entre o cérebro e os sentidos, e as informações nem sempre geram
conhecimento.
Segundo Relvas (2012), o educador ao estabelecer, em seus
planejamentos, as estratégias de ensino relacionadas ao conteúdo deve
sensibilizar-se que os educandos são constituídos de uma biologia cerebral em
movimentos ininterruptos de transformação. Estimular o aprender é uma ação e
reação para todos os comprometidos com o processo da educação.
Para Relvas (2012), a Neuropedagogia promove o reconhecimento de
que ensinar a um “sujeito cerebral” uma habilidade nova implica maximizar o
potencial de funcionamento de seu cérebro.
60
CONCLUSÃO
Desde os primórdios da humanidade nos deparamos com doenças
relacionadas ao cérebro humano, assim é possível afirmar que o autismo é um
transtorno existente desde as bases da sociedade, embora suas características
só tenham sido descritas bem recentemente.
Leo Kanner, ao descrever as características básicas do Transtorno do
Espectro Autista, abriu caminhos para que a ciência tentasse desvendar as
razões biológicas de tal transtorno. Sabe-se que ainda hoje não se tem uma
resposta biológica para o mesmo, porém conhecer os aspectos fundamentais
que o caracterizam, bem como possíveis respostas para esses aspectos, muito
auxilia no entendimento de pessoas que o possuem.
O autismo é um transtorno que afeta principalmente as áreas sociais e
de linguagem do indivíduo, podendo estar associadas a diversas outras
dificuldades.
Segundo pesquisas científicas desenvolvidas atualmente, os aspectos
básicos do autismo estariam ligados principalmente a áreas do cérebro, como a
área de Wernicke e de Broca, relacionadas a linguagem, prejuízos na emoção
e no comportamento social, correlacionados com o funcionamento anormal da
região ventro medial do córtex pré-frontal, assim como prejuízos no
desenvolvimento social e da linguagem sugerem desordenamento no circuito
das áreas neocorticais e límbicas especificas do córtex cerebral.
Uma das teorias mais aceitas atualmente para o Transtorno do
Espectro Autista seria a teoria das Funções executivas. Esta estaria ligada à
integridade anatômica dos lobos frontais, mais especificamente do córtex pré-
frontal. Seu estudo ajudaria a compreender os mecanismos que comandam as
formas mais complexas do comportamento humano, que se manifestam,
caracteristicamente, no universo social, regidas pela qualidade e pela
adequação das relações interpessoais. (Lent, 2008)
61
O ambiente escolar é o mais social que se pode haver, tudo se gera
através de trocas de experiências, de conhecimento do ser, seja ele o próprio
ou os outros, e de conhecimento do lugar em que se vive. A dificuldade de
interação social do indivíduo autista muito o impede de participar do ambiente
escolar, tornando o professor “responsável” pela facilitação da integração do
mesmo.
A inserção dos indivíduos com autismo em escolas regulares tem
gerado uma grande discussão entre os docentes, a falta de formação dos
professores, e de adequações institucionais, tanto nos aspectos curriculares
como de estrutura física, tem sido fatores limitantes para uma efetiva inclusão
de tais educandos.
A inclusão tem sido motivo de grandes discussões no meio escolar,
como atender os alunos com deficiências, respeitando seu tempo de
aprendizagem, porém respeitando também o avanço dos alunos ditos
“normais”? Como não segregá-los em atividades que “não podem”
desenvolver? Como planejar para que todos os alunos sejam atendidos?
Essas, entre outras perguntas estão constantemente circundando a cabeça dos
educadores.
Quando os alunos forem considerados seres únicos e individuais em
seus aspectos sociais, físicos, biológicos e cognitivos, com capacidades e
dificuldades, o que não necessariamente se caracterizam em limitações, será
possível concluir que todos nós somos seres incluídos, e que a efetiva inclusão
se dá por meio da aceitação das potencialidades e o desenvolvimento das
mesmas.
Preparar os professores para que sejam capazes de desenvolver as
potencialidades cerebrais de seus educandos, através de cursos de formação,
que os possibilitem conhecer os aspectos funcionais do cérebro, é o primeiro
passo para a efetiva inclusão.
62
A linguagem dificultosa é um dos aspectos mais notórios nos indivíduos
autistas, e uma das principais dificuldades encontradas pelos professores na
escolarização dos mesmos. Métodos de ensino como o sistema TEACCH
podem ser de grande auxilio para introdução da aprendizagem desses alunos.
A memorização e associação de imagens a rotina cotidiana pode ser
um dos instrumentos de facilitação para a socialização dos educandos autistas,
fornecendo a eles uma forma de comunicação com os outros, podendo ser
utilizado como uma forma de linguagem.
No que diz respeito as funções executivas, manter uma rotina de
atividades diárias, sinalizando aos educandos possíveis modificações e as
tarefas a serem realizadas, pode facilitar a adequação e aceitação dos mesmos
as variações em sua rotina.
Toda inclusão perpassa pela formação, aceitação e afeição do
profissional, assim como a emoção do aluno, a emoção do professor é um
preceito necessário para que haja uma efetiva aprendizagem. Conhecer os
mecanismos cerebrais dos educandos, bem como seus próprios mecanismos,
pode ser um facilitador da prática docente, no que diz respeito não só a alunos
autistas, mas a todos os alunos.
Um planejamento voltado para o desenvolvimento cerebral e
aperfeiçoamento das áreas debilitadas, quando essas são conhecidas, poderá
ajudar a prática docente e o aprendizado e integração do educando.
Como sugere Relvas (2012), a Neurociência e o desvendar dos
estudos dos cérebros na sala de aula podem e muito contribuir para uma
educação mais justa e menos excludente, pois assim o educador tem a
possibilidade de compreender melhor como ensinar, pois existem diferentes
maneiras de aprender.
63
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Viana, V. Os caminhos da inclusão no Brasil. Texto disponível em:
www.autista.org acessado em 15 abril 13
68
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO
8
CAPÍTULO I
O AUTISMO 10
1.1 - Histórico do autismo 10
1.2 - As teorias 15
1.2.1 – Teorias afetivas 15
1.2.2 – Teorias cognitivas 16
1.3 - O diagnóstico 17
1.4 – As manifestações clínicas 20
1.4.1 – Aspectos cognitivos 21
1.4.2 – Aspectos sociais 22
1.4.3 – Aspectos sensoriais 23
1.4.4 – Aspectos linguísticos 24
1.5 – Bases neurobiológicas do autismo 25
1.5.1 – Neurobiologia da linguagem em autistas 26
1.5.2 – Neurobiologia do sono em autistas 28
1.5.3 – Bases neurobiológicas do déficit motor em
crianças com autismo
31
1.6 – As avaliações 33
1.6.1 – Avaliações psico educacionais e
Neuropedagógicas
33
1.7 – Intervenções comportamentais e educacionais 34
69
CAPÍTULO II
A INCLUSÃO 37
2.1 – Histórico da educação inclusiva
38
CAPÍTULO III
A PRÁTICA PEDAGÓGICA, A NEUROCIÊNCIA E A
INCLUSÃO DE ALUNOS AUTISTAS
48
CONCLUSÃO 60
BIBLIOGRAFIA CITADA 63
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 66
WEBGRAFIA 67
ÍNDICE 68