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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A música como recurso nas séries iniciais com foco na
Neurociência Pedagógica
Por: Cintia Euzebio Caldeira
Orientador
Professora Marta Relvas
Rio de Janeiro
2015
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A música como recurso nas séries iniciais com foco na
neurociência pedagógica
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Neurociência Pedagógica
Por: Cintia Euzébio Caldeira
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por
me permitir chegar ao fim de mais uma
conquista, aos meus familiares e
amigos que sempre me apoiaram nesta
jornada.
DEDICATÓRIA
Dedico à minha mãe, e a minha filha.
RESUMO
Este trabalho monográfico aborda a música como recurso nas séries
iniciais com foco na Neurociência Pedagógica, baseado na visão de alguns
teóricos tem por objetivo mostrar a importância da música como recurso para a
aprendizagem ao olhar da Neurociência.
Será exposto em três capítulos onde o primeiro será feito uma ligação da
neurociência com a música, quais são as partes do cérebro responsáveis pelo
reconhecimento musical, quais as áreas cerebrais que são estimuladas quando
se ouve música, uma breve relato da história da música. No segundo capítulo
será abordada a música nos anos iniciais, quais são os benefícios alcançados
pela criança quando é estimulada a aprender através da música, no terceiro e
último capítulo será estudado qual a contribuição da Neurociência pedagógica
para aprendizagem, como é possível melhorar a memória e atenção, e alguns
transtornos de aprendizagem.
Palavras-chaves
Neurociência - séries Iniciais - música - Aprendizagem
METODOLOGIA
Esta monografia foi elaborada a partir de estudos, pesquisas realizadas
em livros, sites, artigos científicos e revistas. Foram consultados alguns
teóricos para embasamento teórico os seguintes autores: Marta Relvas, Nicole
Jeandot, Daniel Levitin, Oliver Sacks.
Sumário
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 08
CAPÍTULO I
1.0 Neurociência e a música ............................................................................. 09 1.1 A origem da música - Um breve relato ........................................................ 14 1.2 O que é música ........................................................................................... 16
CAPÍTULO II
2.0 A música nas séries iniciais ........................................................................ 18
2.1 Séries iniciais - O que é? Como funciona? ................................................. 19
2.2 A música e a criança .................................................................................. 20
2.3 A música como recurso para aprendizagem ............................................... 21
2.4 Sugestões musicais para sala de aula ........................................................ 22
2.5 Percepção musical ...................................................................................... 24
CAPÍTULO III
3.0 Neurociência e aprendizagem .................................................................... 28
3.1 Divisões do sistema nervoso ...................................................................... 29 3.2Neurônios ..................................................................................................... 30
3.3 Neurociência - Aprendizagem - Memória .................................................... 32
3.4 Memória - Como desenvolvê-la? ................................................................ 34
3.5 Transtornos de aprendizagem .................................................................... 35
Conclusão ......................................................................................................... 38 Bibliografia consultada ...................................................................................... 39 Índice ................................................................................................................ 41
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INTRODUÇÃO
A neurociência é a ciência que estuda o desenvolvimento humano e
também é a base para a realização desta pesquisa, explica como ocorre a
aprendizagem no cérebro através da música.
Muito se fala dos benefícios da música na vida do indivíduo, com função
de relaxar, de acalmar, de promover o bem estar. No entanto ela também
pode ser uma ferramenta muito importante para aprendizagem, nas séries
iniciais onde é o foco deste trabalho, ela pode contribuir significativamente
para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor das crianças.
A música está presente em nosso dia a dia, mesmo antes de nascer a
criança já é embalada pelas canções de ninar da mãe. Na escola não é
diferente, a música pode ser utilizada em vários momentos na sala de aula
como recurso pedagógico. A criança pode estar atenta para outra atividade,
porém quando ouve a canção que fala da hora do lanche, ou de como está
o tempo, no mesmo momento ela para e começa a prestar atenção na
música que está sendo cantada.
Por isso a importância de se desenvolver um trabalho pedagógico
voltado para a aprendizagem através da música, pois ela contribui
significativamente para o desenvolvimento da criança nessa fase da vida.
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CAPÍTULO I
Neurociência e a música
A educação musical estimula áreas do cérebro e desenvolve
habilidades importantes, como a coordenação motora, a concentração e a
socialização.
Quando trabalhada desde a infância, a música faz com que a
criança adquira uma maior facilidade para o entendimento de outras áreas
do conhecimento, recebendo normalmente notas mais altas na escola.
A Neurociência pode ser utilizada em diversos segmentos, mas
especificamente na área pedagógica tem contribuído significativamente para
ajudar ao professor a detectar possíveis deficiências, transtornos etc. A educação musical favorece a ativação dos chamados neurônios
espelho, localizados em áreas frontais e parietais do cérebro, e essenciais
para a chamada cognição social humana, um conjunto de processos
cognitivos e emocionais responsáveis pelas funções de empatia,
ressonância afetiva e compreensão na linguagem verbal e não verbal.
Portanto, faz-se necessário o estudo das relações da música com a função
cerebral, exigindo um trabalho multidisciplinar capaz de acessar as múltiplas
experiências musicais, lúdicas, criativas e prazerosas na análise do impacto
da música no neurodesenvolvimento. A inteligência musical pode estar
presente até mesmo em crianças com deficiência intelectual (Síndrome de
Willians); A exposição precoce à música além de facilitar a emergência de
talentos ocultos, contribui para a construção de um cérebro biologicamente
mais conectado, fluido, emocionalmente competente e criativo; Crianças em
ambientes sensorialmente enriquecedores apresentam respostas
fisiológicas mais amplas, maior atividade das áreas associativas cerebrais,
maior grau de Neurogênese e diminuição da perda neuronal (apoptose
funcional).
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Na tentativa de explicar e entender como a música é processada no
cérebro e porque causa tanto fascínio nas pessoas, Levitin em alguns
momentos conversando com outros neurocientistas indaga a existência ou
não de uma base biológica que explicasse a presença da música presente
em todo tempo e sua antiguidade da música.
Os estudos de Levitin e outros neurocientistas indicam é que as
atividades e os processamentos musicais mobilizam quase todas as áreas
do cérebro, “Indo de encontro à antiga ideia de que arte e música são
processadas no hemisfério direito do cérebro, e a linguagem matemática no
esquerdo”. (Levitin, 2010, p.15).
O aprendizado musical requer a percepção de estímulos simultâneos e
a integração de funções cognitivas como a atenção, a memória e das áreas
de associação sensorial e corporal, envolvidas na linguagem corporal e
simbólica;
Independente de argumentos a favor de teorias inata – ou a favor de uma
aquisição cultural, a leitura de Levitin faz pensar que a música assim como a
linguagem está inscrita estruturalmente no cérebro. Devido as atividades
musicais envolverem funções globais, alguns estudos neuroanatômicos, e
outros utilizando técnicas de neuroimagem, evidenciam a existência de
redes neurais especializadas no processo musical. Essas redes acontecem
desde o ouvido médio, nas conexões que se estendem das células ciliadas
clocleares para encontrar correspondentes no córtex auditivo primário, onde,
no caso do tom musical, há uma organização tonotópica.
Acompanhar uma música ou um estilo musical familiar aciona outras
regiões cerebrais como hipocampo – o centro da memória - e subseções do
lobo frontal. Acompanhar o ritmo, marcando com os pés ou apenas
mentalmente, mobiliza as redes cerebelares de regulação temporal. No
entanto o ato de fazer música, cantando ou tocando algum instrumento –
mobiliza também os lobos frontais no planejamento do comportamento e
também o córtex motor – lobo parietal e o córtex sensorial, para a percepção
tátil, como por exemplo da digitação de um instrumento.
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Para a leitura de uma partitura a área cerebral utilizada é o córtex
visual – lobo occiptal, bem como recordar uma letra ou ouvir uma canção
que envolvam centros de linguagem, como as áreas de Broca e Wernicke, e
outras áreas nos lobos temporal e frontal.
As emoções que são despertadas pela música envolvem estruturas
do sistema límbico, como o vermis cerebelar e a amígdala. Não é possível
afirmar em que medida o desenvolvimento é especializado ou de que
maneira música, emoção, memória e motricidade e linguagem verbal se
associam e compartilham circuitos neurais. Por esse motivo neurocientistas
têm se dedicado a investigar as diferenças funcionais e anatômicas dos
cérebros dos músicos e também um mapeamento neuroimagético de
mudanças após um período de treinamento musical.
Muitos neurocientistas estão tentando entender como o cérebro
processa essas expectativas musicais e quais particularidades de suas
associações significativas, provocando reações emocionais. Estudos
realizados por Levitin e seus parceiros estão focados na teoria de que
existiriam, como extensão da memória, modelos subjacentes ou “ esquemas
musicais, os quais começam a se formar no útero e são elaborados,
corrigidos e informados das mais diversas maneiras sempre que ouvimos
música”. ( Levitin, 2010, p.134).
Existem esquemas de diversos elementos musicais que se deve levar
em consideração como: harmonia, melodia, timbre. Mas para Levitin, um
elemento que deve ser destacado com grande poder de eliciar reações
emocionais, como o ritmo. E traz como exemplo, o que os músicos
costumam trazer como “groove”, que significa em alguns momentos a
extração métrica linear, com antecipações e retardamentos, o que gera
bastante prazer em tocar.
Como atribuir sentidos, significados e emoções na experiência musical?
O conceito de emoção, na experiência musical, pode ser lido de maneira
ampliada, desde as simples reações fisiológicas até a atribuição de sentidos
e significados às emoções. Um indivíduo que aprecia música com um “bom
balanço” pode experimentar um estado de humor eufórico, com respostas
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autônomicas correladas, sem necessariamente atribuir um significado
consciente a este estado. Ao mesmo tempo, outra música experimentada
pode trazer reações mnêmicas, conscientes ou inconscientes, com fatos
significativos de sua vida, e ser difícil para este indivíduo identificar o motivo
pelo qual está chorando diante desta música.
Levitin explica as relações da música e a emoção, a partir das redes
subcorticais, localizadas em grande parte no chamado cérebro reptiliano.
Uma rede paralela de ativações o sistema mesolímbilico explicaria o poder
da música em desencadear experiências de prazer e recompensa. Para o
autor, a existência de circuitos paralelos ao ouvido-córtex auditivo que muito
da experiência de prazer e emoção através da música se dá maneira
inconsciente ou supostamente “livre” do controle consciente.
A forte ligação entre a música e a emoção pode se dar pelo fato de
que pais, cuidadores, ou educadores utilizam constantemente a música para
se comunicarem emocionalmente com as crianças, antes mesmo delas
serem capazes de compreender uma linguagem verbal. Nesse sentido, a
ligação entre emoção e música anteciparia o campo da significação. De
acordo com Levitin, os bebês experimentam o mundo de uma forma
sinestésica como sons, cheiros, cores e com poucas distinções. Com o
processo de maturação, trilhas neurais vão evoluindo para redes
especializadas. É possível que “a música e a fala tenham começado em
todos nós com as mesmas origens neurobiológicas, regiões e redes neurais
específicas”. (Levitin, 2010), e com a intensificação da experiência, puderam
criar trilhas musicais e linguísticas próprias.
Se por um lado possui estudos relacionados à música e de como ela
pode ser uma ferramenta pedagógica utilizada nas escolas com o intuito de
melhorar o desenvolvimento cognitivo das crianças, principalmente nas
séries iniciais onde sabe-se que a aprendizagem se dá por meio de
significações, por outro lado existem vários mitos que giram em torno da
relação da música com o desenvolvimento cognitivo, principalmente na
infância. Questiona-se se a música pode contribuir para o aprendizado
lógico, como o jogo do xadrex, ou se uma pessoa talentosa já nasce com
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essa característica, independente do treinamento musical. Fazer
associações da prática musical com a inteligência é um dos mitos mais
comuns, numa tentativa de mesclar esses dois campos.
Existe um enorme interesse em se descobrir qual o efeito da música
na vida das pessoas, e é comum ouvir de pessoas, pais e até professores
relatos de melhoria no desempenho escolar, na capacidade de atenção, em
crianças que estão envolvidas com a educação escolar. É o caso de um
aluno matriculado na Educação Infantil, numa escola do Rio de Janeiro, ele
foi diagnosticado com quadro de encefalopatia, caracterizado por quadro
motor e atraso na linguagem. Quando iniciou na escola, não interagia com
as outras crianças, era extremamente agressivo, e foi sugerido à professora
que fosse trabalhado músicas onde fosse possível se fazer uma
comunicação com ele através das cantigas. E hoje pode-se observar uma
melhora surpreendente nele. Através da música foi trabalhado,
coordenação, audição, cognição, compreensão e até mesmo ele se tornou
mais calmo e independente, fazendo pequenos trajetos, sem o auxilio da
professora. De acordo com Nassif a “aprendizagem musical não se separa
do desenvolvimento geral da pessoa. Nesse sentido, não só o
desenvolvimento cognitivo, mas também o afetivo e o motor estão
integrados nesse processo.”
O aumento do raciocínio provocado pela música foi chamado de
“Efeito Mozart”, descoberto em 1993 por Rauscher. A música possui um alto
potencial terapêutico, ainda não descoberto em sua totalidade por conta da
falta de investimentos em estudos na área da musicoterapia. Essa ciência já
foi utilizada como tratamento nas doenças cognitivas como Parkinson,
demência senil e hiperatividade. A música pode promover a liberação de
dopamina inundando assim os sistemas dopaminérgicos receptores de D2.
Apesar de todos os efeitos positivos da música, já foi constatado muitos
efeitos negativos, dentre eles o potencial de convulsividade, podendo
aumentar as crises epilépticas em certas pessoas. A musicoterapia já foi
utilizada para tratamento de Alzheimer, entretanto as músicas não familiares
acabavam agravando o caso clínico do paciente enquanto as músicas
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familiares ajudavam a amenizar os efeitos da doença. Em casos de perda
de memória a musicoterapia vem se mostrando forte no que se diz respeito
a tratamento alternativo, seja qual for a causa do problema.
A sensação prazerosa que sentimos ao ouvirmos música está
associada diretamente com a liberação de dopamina no cérebro, o mesmo
neurotransmissor relacionado ao prazer da alimentação, drogas ou dinheiro.
Além de proporcionar prazer e bem estar essa forma de expressão
pode ir além do simples ato de ouvir música e trazer benefícios capazes de
promover uma mudança no comportamento. Logo após escutar músicas
tristes, se enxerga mais rostos infelizes. E quando a canção é mais “feliz”,
acaba-se vendo mais alegria nas pessoas.
Porém o ato de ouvir música alta não é algo muito agradável quando
temos que pensar, mas em volume moderado, com som ambiente, a música
pode ser tornar uma grande aliada da criatividade, a música quando ouvida
em volume baixo, ajuda o cérebro a pensar de forma diferente. E quando se
tem um barulho a volta, o cérebro tem que se focar, mais no que está
fazendo, gerando pensamentos diferentes do que faria sem o som, assim se
torna mais criativo quase sem querer.
Processamento Musical
( Imagem disponível em:
http://centrosuzukiindaiatuba.com/tag/educacao-musical/)
1. 1. Origem da música - Um breve relato
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A música sempre existiu, acredita-se que ela tenha surgido há
50.000, onde as primeiras manifestações tenham acontecido no continente
africano, espalhando-se pelo mundo com o crescimento da raça humana
pelo planeta.
Na pré-história o homem já expressava uma forma musical, pois
era através da arte que expressava seus medos, anseios e desejos. E tudo
isso ficou registrado em gravuras, pinturas esculpidas por eles onde
mostram desenhos de músicos, instrumentos e dançarinos o que não se
sabe é como esses instrumentos eram produzidos. Saindo da pré-história e
partindo para as grandes civilizações do mundo antigo, foram encontrados
vestígios da existência de instrumentos musicais como forma de
documentos.
No Egito, por volta de 4000, a.C., a expressão musical alcançou
um nível elevado, onde em seus cerimônias religiosas era de costume as
pessoas baterem em espécies de discos e paus uns contra os outros,
utilizavam harpas e percussão, diferentes formas de flautas e também
cantavam, já os militares utilizavam trompetes e tambores nas solenidades
oficiais.
No Oriente, mais especificamente na Ásia, a.C.,a música
desenvolvia-se com expressividade nas culturas chinesa e indiana. O
chineses acreditavam que a música tinha um poder mágico, como um
espelho fiel da ordem universal. A “citara” era o instrumento mais utilizado
pelos chineses, formado por um conjunto de flautas e percussão. Já na
Índia, por volta de 8.000 a.C., a música era considerada vital, a música era
sistematizada em tons e semitons, sem utilizar notas musicais, o que
permitia o músico utilizar uma nota e exigia ocultar outra.
No entanto a teoria musical só começou a ser desenvolvida no
século V a.C., na Antiguidade Clássica, são poucas as peças musicais desta
época, a maioria são de origem grega. Na Grécia eram utilizadas as letras
do alfabeto para fazer a representação musical, formando um “tretacordes”,
com essas letras. Os filósofos gregos que criaram a teoria mais elaborada
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para a teoria musical na antiguidade.Pitágoras acreditava que a música e a
matemática formavam a chave para o segredos do mundo.
Os romanos como é de conhecimento histórico se apropriaram das
teorias e técnicas gregas, e com a música não foi diferente, mas eles
também nos deixaram sua contribuição que foi um instrumento denominado
de “Trompete reto”, que eles chamavam de tuba.
Hoje a história da música pode ser dividida em períodos
específicos, principalmente quando se pretende falar da história da música
ocidental, no entanto é preciso que fique claro que a fragmentação deste
período não é tão simples, pois a passagem de um período para o outro se
dá de maneira lenta e gradual.
Esta foi uma pequena reflexão de como surgiu a música, para que
o leitor pudesse compreender que a origem se deu a milhares de anos
atrás, mas ela ainda se faz presente no dia a dia da humanidade e desperta
as mais variadas sensações a quem ouve e aprecia.
1.2 O que é música?
Segundo Nicole Jeandot, autora do livro “Explorando o universo da
música” é muito difícil definir o que seja música. De acordo com a autora
inúmeros estudiosos e pesquisadores têm investigado o significado da arte
musical, chegando a conclusões nem sempre unânimes.
Mas afinal a música seria uma linguagem? Uma manifestação
artística que nos atinge profundamente, numa esfera em que a razão e o
raciocínio lógico talvez não penetrem? Ou talvez somente uma sucessão de
sons?
Porém qual seria a origem do som? Primeiramente para que exista
som é necessário que haja movimento, não existe na ausência dele. Para a
física, “o som é uma vibração que chega a nossos ouvidos na forma de
ondas que percorrem o ar que nos rodeia”. No entanto o conceito de música
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varia de cultura para cultura, mesmo a linguagem verbal sendo um meio de
comunicação e o modo de relacionamento entre os povos, ficou constatado
que ela não é universal, pois cada povo tem sua própria forma de se
expressar motivo pelo qual existem milhares de línguas espalhadas pelo
universo.
A música tem uma linguagem universal, no entanto com dialetos
diferentes, que variam de cultura para cultura, ou seja, a maneira de tocar,
cantar e organizar os sons são diferentes de acordo com cada região.
Pode-se definir a música como a linguagem do coração, pois nessa
perspectiva se tem a ideia de ritmo, que é o elemento básico das
manifestações da vida e também um princípio fundamental da música.
Alguns povos podem até desconhecer a harmonia e melodia, mas nenhum
desconhece o ritmo.
Darwin, do seu ponto de vista biológico, acreditava que a música
surgia do grito dos animais. Já André Schacffner associa o surgimento da
música ao interesse do homem primitivo pelos movimentos e gestos por
eles produzidos. Segundo ele “A satisfação de exercitar seus músculos, o
prazer de gritar, de bater sobre os objetos sem dissociar o gesto de seu
efeito, pode ser a origem simultânea da dança, do canto, da música.” Essa
definição recupera a relação entre música-corpo.
De acordo com Marius Scheneider, “a música primitiva não
constitui uma arte propriamente dita, mas um instrumento indispensável à
vida cotidiana do homem natural, para expressar seu sentimento e sua
vontade. Ele não canta somente no culto, para chamar os espíritos , mas
também canta tamborila em si próprio, para saudar alguém, formular um
agradecimento, zombar de outra pessoa ,elogiar o chefe da tribo, caçar um
animal ou atiçar o fogo”.
Durante séculos acreditou-se que a música é uma combinação de
notas dentro de uma escala, no entanto todas as hipóteses levantadas
sobre a música devem ser levadas em consideração as especificidades
culturais de cada povo.
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CAPÍTULO II
Música nas Séries Iniciais
Após o descobrimento do Brasil, a educação musical chegou
com os jesuítas que tinham como o objetivo ensinar valores e catequizar os
costumes portugueses com a intenção de substituir a cultura e os valores
locais.
Dessa forma a educação musical funcionava ligada à religião e
também para aqueles que apresentavam uma dificuldade crescente, era
utilizada como ferramenta para memorização, repetição para efetivar o
aprendizado e isso ocorreu por todo período colonial. Com a chegada da
família real, a música passou a ser utilizada no teatro. No ano de 1854 a
música foi instituída formalmente na escola pública através de um decreto.
A promulgação da Lei de Diretrizes e Bases que substituiu a
educação musical pela educação artística, na qual se estendia em quatro
áreas: música, teatro, artes plásticas e desenho. No entanto, eram
atividades sem planejamento escolhidas pelos próprios alunos, daí a ideia
de que a disciplina era sem conteúdo.
Com a nova LDB, em 1996, foi instituído o uso da arte como
disciplina, deixando livre o tema a ser trabalhado em sala de aula. Por isso
mais uma vez o ensino da música ficou prejudicado. Essa questão é
reforçada por Figueiredo (2002), quando diz: “mesmo após se tornar
obrigatório pela lei 93/94/96, não garante o seu ensino efetivo, pois a lei
pode ser interpretada de várias formas, até mesmo o ato de cantar a música
na hora do lanche pode se caracterizar a presença da música na escola”.
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2.1 Séries Iniciais - O que é? Como Funciona?
A partir de 1996, com a promulgação da nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB), Lei n° 9.394, de 1996, a educação
brasileira compreende dois níveis: a educação básica e a educação
superior. A educação básica é formada por três etapas consecutivas:
educação infantil, ensino fundamental e ensino médio.
Após sua reorganização em 2005, o ensino fundamental teve sua
duração ampliada para nove anos, alterando também a idade mínima para
ingresso nessa etapa, que hoje é de seis anos. Em sua estrutura atual, os
primeiros cinco anos do ensino fundamental constituem os anos iniciais e os
quatro últimos os anos finais.
Nas séries iniciais do ensino fundamental os métodos globais estão
mais presentes nas práticas pedagógicas. Isso acontece pelo fato de que
cada turma tem apenas um professor regente e mais um ou dois
educadores especializados em alguma área como: Educação física, Artes,
Música.
A metodologia globalizada aplicada nos anos iniciais, contrasta
com sua descontinuidade na passagem dos alunos para os anos finais. Isso
provoca um saldo negativo na maneira como os alunos se relacionam com
os conteúdos escolares, ou seja, há uma fenda na passagem dos anos
iniciais aos anos finais, pois os alunos saem de uma abordagem integrada
para uma abordagem fragmentada.
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2.2 A Música e a Criança
Desde o nascimento a criança entra em contato com o universo
sonoro que a cerca, ou seja, ela começa a perceber todos os sons emitidos
pelos seres humanos e objetos ao seu redor. Sua relação com a música é
imediata, seja pelo canto de sua mãe ou de outras pessoas e até mesmo
dos aparelhos sonoros.
Por várias vezes pode-se observar a mãe balançar seu bebê com o
intuito de acalmá-lo ou adormecê-lo. Na verdade antes mesmo de nascer,
ainda no útero materno, a criança já tem contato com um dos elementos
fundamentais da música que é o ritmo, através dos batimentos cardíacos de
sua mãe.
O bebê ainda não sabe falar, no entanto já começa a experimentar
os sons produzidos pela boca. Quando observa-se uma criança pequena
cantarolando, ou repetindo sons monótonos e repetitivos, mexendo-se pra
frente e pra trás de um lado para do outro como produzindo o movimento de
acalanto. Essa movimentação desempenha um papel importante em todos
os meios expressão que se utilizam do ritmo.
A criança gosta de acompanhar as músicas com movimentos
corporais, como: palmas, bater com os pés, girar com a cabeça, é esse
movimento bilateral inicialmente que ela irá utilizar para construir seu
conhecimento sobre a música, através dos gestos e os sons transmitidos.
Pode-se afirmar que a criança sofre grande influência da música, por isso é
aconselhável o uso de jogos ritmados nos primeiros anos de vida e que
devem ser trabalhados e incentivados na escola. O educador precisa
compreender e perceber como a música possibilita a expressão corporal, e
desenvolve sua sensibilidade afetiva e cognitiva.
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2.3 Música como recurso para aprendizagem
Nos dias atuais, os avanços tecnológicos estão cada vez mais
presentes na vida de nossos alunos, uma aprendizagem estruturada com
base apenas em quadro, giz, lápis e caderno torna-se pouco atrativa. Por
esse motivo faz-se necessário a utilização de outros recursos como fonte de
ensino-aprendizagem e um desses recursos pode ser a música.
Tanto a criança de condições psíquicas normais quanto à portadora
de necessidades especiais, pode ser estimulada pela música. Há uma série
de habilidades que podem ser desenvolvidas através da música, entre elas
podemos citar o raciocínio lógico, concentração, a música também estimula
a coordenação motora estimulando maior equilíbrio sobre os movimentos
corporais.
Numa perspectiva cognitivista o conhecimento musical começa por
meio da interação do ambiente, através das experiências concretas, que aos
poucos levam ao abstrato. O educador poderá se utilizar do recurso musical,
para trabalhar as áreas de comunicação e expressão facilitando portanto a
aprendizagem, tornando para a criança o ensino mais agradável fazendo
com que o conteúdo se fixe com maior êxito. ( Nardelle, 2000), comenta que
a simples atividade de cantar uma música proporciona à criança o
treinamento de uma série de aptidões importantes, para a aprendizagem de
um modo geral.
A musicalização sem dúvida alguma exerce grande influencia,
contribui para a criatividade, as crianças se tornam mais interessadas e
entusiasmadas e participam mais das atividades demonstrando interesse e
curiosidade, querendo dançar e cantar. A música ao que tudo indica é uma
forma privilegiada de se ensinar, podendo ser uma grande aliada para os
educadores das Séries Iniciais.
Jogos Musicais
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Os jogos musicais podem ser de três tipos, que correspondem a três fases
do desenvolvimento infantil.
• Sensório Motor - envolve a pesquisa do gesto e dos sons.
Nessa fase a criança poderá encadear gestos para produzir sons
e ouvir música expressando-se corporalmente.
• Simbólico - Consiste em jogos através dos quais a criança
representa a expressão, o sentimento e o significado da música.
• Analítico ou de regras - São jogos que envolvem a estrutura e a
organização da música.
Inicialmente a criança brinca sozinha, mesmo estando perto de
outras crianças. A partir do momento em que a socialização se
inicia, os jogos coletivos tornam-se possíveis e vão ficando cada
vez mais elaborados.
2.4 Sugestões musicais para sala de aula
O uso de músicas nas aulas pode ser uma ferramenta riquíssima
nas mãos dos educadores, basta utilizar a criatividade e despertar nos
alunos o interesse e a curiosidade fatores indispensáveis para que aconteça
a aprendizagem.
A música consiste numa linguagem capaz de “expressar e
comunicar sensações, sentimentos e pensamentos”. Ela esta presente em
várias culturas e consiste numa importante forma de expressão humana.
Ainda, a música está presente na nossa vida diária e desde cedo as
crianças entram em contato com ela, aprendendo e atribuindo a música
significados culturais. Vale lembrar que ela integra aspectos sensíveis,
afetivos, estéticos e cognitivos daí a importância do trabalho com este eixo.
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Música para atender a objetivos como:
• Formação de hábitos
• Atitudes/ comportamentos
• Comemorações (datas)
• Memorizações de conteúdos como n.º e seqüência matemática
• Desenvolvimento do senso rítmico com a formação do desenvolvimento
motor, auditivo e do domínio rítmico.
Sugestões de canções:
Parlendas:
- coruja: fui na feira comprar uva/ encontrei uma coruja/ eu pisei no rabo
dela/ me chamou de cara suja.
- chuva: chove chuva, chuvisquinho/ minha calça tem furinho/ chove chuva
chuvarada/ minha calça ta furada.
- borboleta: borboleta pintadinha/ pinta aqui pinta acola/ pinta a casa do meu
sogro aonde eu vou morar.
- Pulga: uma pulga na balança/ deu um pulo e foi a frança/ os soldados a
correr/ as meninas a pular/ quero ver quem vai dançar!
- Copo de leite: copo de leite que vira em pó/ galo que canta corococo/ pinto
que pinta pirim pimpim/ moça bonita saia daqui
- Vento: vem vento caxinguelê
- Velha: uma velha muito velha/ como nariz cheio de barro/ foi contar pra
minha mãe que eu pitava no cigarro/ minha mãe me deu uma surra/ me
botou no taquaral onde tinha bicho feio que queria me pe gar!
- Um dois feijão com arroz
- Batatinha frita, 1,2, 3
- Rei: rei, soldado, capitão, ladrão/ moça bonita do meu coração.
Cantigas de roda
- A linda rosa juvenil
- Pai Francisco
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- Fui no tororó
- Carneirinho, carneirão
- A canoa virou
- Atirei o pau no gato
- Não atire o pau no gato/ por que o gato e nosso amigo/ os gatinhos são
bonitinhos/ não podemos mal tratar os animais.
- Borboletinha
- Ciranda, cirandinha
Acalantos
- boi da cara preta
- Bicho tutu: bicho tutu /sai de cima do telhado/ deixa o fulano/ dormir
sossegado
2.5 Percepção Musical
Percepção musical - É a capacidade de perceber as ondas
sonoras como parte de uma linguagem musical. Envolve especialmente a
identificação dos atributos físicos do som como volume, timbre, afinação,
percepção sonora, mas também elementos musicais como melodia
percepção melódica, ritmo, percepção rítmica.
Para Nicole Jeandot autora do livro ”Explorando o Universo da
Música”, existem idades onde essas percepções ficam mais evidentes.
Vejamos algumas de suas observações:
• 2 anos - A criança é capaz de cantar versos soltos,
fragmentos de canções geralmente fora do tom.
• 3 anos - A criança consegue reproduzir canções inteiras,
embora geralmente fora do tom.
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• 4 anos - A criança progride no controle da voz. Participa
com facilidade de jogos simples cantados. Interessa-se
muito em dramatizar as canções.
• 5 anos - A criança entoa mais facilmente e consegue
cantar melodias inteiras. Reconhece e gosta de um intenso
repertório musical. Consegue sincronizar os movimentos
da mão ou do pé com a música.
• 6 anos - A criança percebe sons ascendentes e
descendentes. Adapta palavras sobre ritmos ou trechos já
conhecido.
De acordo com Nicole Jeandot todas essas fases variam
de criança para criança, e seu desenvolvimento pode ser
acelerado pelo trabalho de musicalização realizado pela
escola.
A música pode ser utilizada para fins terapêuticos, estimula a
flexibilidade mental e a coesão social fortalece vínculos e compartilha
emoções.
Efeitos clínicos da música:
-Precisão de movimentos da marcha;
- Controle postural;
- Depressão e ansiedade;
- Déficit de atenção;
- Dislexia;
- Parkinson;
- Alzheimer.
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Para que haja uma boa percepção musical é necessário que o sistema
auditivo funcione perfeitamente tornando possível identificar os sons
produzidos no meio ambiente.
Apresentação do sistema auditivo humano
O ouvido humano pode ser separado em três grandes partes, de
acordo com a função desempenhada e a localização. São elas: o ouvido
externo, o ouvido médio e o ouvido interno. Segue-se então uma vista
panorâmica do sistema auditivo humano na qual as suas três zonas
constituintes são discriminadas.
A sensibilidade auditiva é importante para que o aluno possa
entender e identificar os sons produzidos à sua volta e estabelecer uma
conexão entre a música apresentada e o seu significado. A escuta envolve a
ação de tomar consciência daquilo que se captou através dos ouvidos.
A Qualidade do som
Para que o som seja produzido com qualidade no ambiente é
necessário estar atento a alguns fatores como: densidade do ar, da
distância entre o receptor se encontra da fonte sonora e da ressonância.
Além destes três qualidades também são indispensáveis nesse processo:
Altura - é determinada pela frequência dos sons, isto é, pelo número de
vibrações que cada onda sonora emite num determinado intervalo de tempo.
Intensidade - depende principalmente da energia emitida pela fonte sonora.
Quanto mais força for emitida pelo agente sonoro, mais alto será o som.
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Timbre - é a qualidade do som que nos permite diferenciar a voz das
pessoas e o som dos instrumentos
Identificando os sons
Existem dois aspectos importantes que devemos ressaltar quando
falamos de identificação dos sons que são segundo Pierre Schaeffer “ A
massa sonora e a Forma”. Para ele massa sonora “é o som produzido pela
matéria, ou seja, é a resultante que ouvimos.” E a forma “é o perfil do som,
aquilo que o modela, o anima durante sua sustentação”.
Imagem do sistema auditivo
Imagem: sistema auditivo
disponívelem:http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Corpo/sentido4.php
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Capítulo III
Neurociência e Aprendizagem
Neste capítulo será analisado como se processa a aprendizagem
baseado na Neurociência, e como ela pode contribuir de forma significativa
para uma educação eficaz.
Numa perspectiva de entender e conhecer o processo de ensino
aprendizagem os educadores tem enfrentado grandes desafios, a começar
pelas especificidades existentes em sala de aula. O educador tem que levar
em consideração as diversidades biológicas, culturais, sociais de cada
indivíduo.
A Neurociência busca compreender o funcionamento do sistema
nervoso, integrando suas diversas funções (movimento, sensação, emoção,
pensamento etc). Sabe-se que o sistema nervoso é plástico, ou seja, é
capaz de se modificar sob a ação de estímulos ambientais. Esse processo,
denominado de plasticidade do sistema nervoso, ocorre graças à formação
de novos circuitos neurais, à reconfiguração da árvore dendrítica e à
alteração na atividade sináptica de um determinado circuito ou grupo de
neurônio. É essa característica de constante transformação do sistema
nervoso que nos permite adquirir novas habilidades motoras, cognitivas e
emocionais, e aperfeiçoar as já existentes.
O sistema nervoso é responsável por regular os mecanismos que
garantem nossa sobrevivência (respiração, digestão, liberação de
hormônios, regulação da pressão arterial, etc), nossa movimentação
voluntária, nossas sensações e nossos comportamentos (pensamento,
imaginação, emoção, etc). Assim, não é de se esperar que o estudo da
Neurociência seja algo simples, não somente pela complexidade de cada
uma dessas funções, mas principalmente pelo fato delas ocorrerem na
maior parte das vezes simultaneamente.
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3.1 Divisões do Sistema Nervoso
- sistema nervoso central: estruturas localizadas dentro da caixa craniana e
da coluna vertebral
- encéfalo: cérebro, cerebelo e tronco encefálico
- medula espinhal
sistema nervoso periférico: demais estruturas do sistema nervoso,
distribuídas por todo o organismo
- nervos espinhais e cranianos
- gânglios e terminações nervosas
Uma das partes mais importantes do sistema nervoso é o córtex
cerebral, uma fina camada de substância cinzenta que reveste o centro
branco medular do cérebro. Impulsos provenientes de todas as vias
sensoriais chegam ao córtex, onde são interpretadas e integradas, e do
córtex saem os impulsos nervosos que iniciam e comandam os movimentos
voluntários. As diversas funções intelectuais e psíquicas também acontecem
no córtex cerebral.
Para estudar as diversas funções do córtex cerebral, costumamos dividi-lo
em porções denominadas lobos cerebrais:
(Imagem disponível em:
https://susanacosta.files.wordpress.com/2007/05/loboscerebrais2.jpg)
30
Essas porções, porém, não operam isoladamente, existindo uma
complexa integração entre elas para a execução das diversas funções
mentais. Isso explica as inúmeras variabilidades de comportamento
existentes nos seres humanos.
Compreender como o sistema nervoso - e em particular o córtex
cerebral funciona é um importante passo para aperfeiçoarmos suas diversas
funções, intervindo de forma eficaz no processo de aprendizagem.
3.2 Neurônios
Neurônios - células especializadas, feitos para receber algumas
conexões específicas, executar funções apropriadas. Todos os estímulos do
ambiente que causam sensações como: dor, frio, calor, todos os
sentimentos, pensamentos, aprendizagem, memória não podem acontecer
sem que se tenha o conhecimento do processo de comunicação entre os
neurônios.
O que torna um neurônio diferente de outras células é que eles
processam informações, sua função é desencadear informações sobre o
estado interno do organismo e seu ambiente interno.
Corpo celular - Produz todas as proteínas para os dentritos, os
axônios e terminais sinápticos e contém organelas especializadas.
Membrana neuronal - Serve como uma barreira na união do
citoplasma interno de neurônio e para excluir certas substâncias que
flutuam no fluído que nutre o neurônio.
Funções importantes da membrana neuronal:
• Mantém certos íons e pequenas moléculas fora da célula e
deixa outras dentro;
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• Acumula nutriente e rejeita substâncias nocivas;
• Catalisa reações enzimáticas;
• Estabelece um potencial elétrico dentro de célula;
• Conduz um impulso;
• É sensível a certos neurotransmissores e
neuromoduladores.
Dentritos - Estruturas que se ramificam como galhos de uma árvore
e servem como o principal fonte para receber sinais de outras
células nervosas.
Axônio - É a principal unidade condutora do neurônio, capaz de
conduzir sinais elétricos a distâncias longas e curtas.
Sinapses - São junções formadas com outras células nervosas
onde o terminal pré-sináptico de uma célula faz contato com a
mesma membrana pós-sináptica de outra. As sinapses podem ser
elétricas ou químicas.
(Imagem disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-19652006000100003&script=sci_arttextl)
32
3.3 Neurociência - Aprendizagem e Memória
Para que ocorra aprendizagem é necessário que essas conexões
neurais estejam em pleno funcionamento, pois qualquer falha nessa
comunicação o sujeito poderá ter sua aprendizagem prejudicada.
Um dos fatores indispensáveis nesse processo é a memória, pois é
ela quem é responsável por armazenar as informações aprendidas,
tornando possível ao indivíduo resgatá-las sempre que precisar. Uma vez
consolidada a memória ela passa por uma fase que chamamos de memória
de curto prazo e depois para memória de longo prazo. A memória não se
localiza numa estrutura cerebral única no cérebro, é um fator biológico e
psicológico que envolve uma união de sistemas cerebrais que funcionam
juntos. Cada célula cerebral tem a função de contribuir para comportamento
e atividade mental, conduzindo ou não impulsos, os processos de memória
acontecem em virtude destas descargas.
Tipos de Memória
• Memória ultrarrápida - Nela a retenção da informação não dura mais
que alguns segundos.
• Memória de curto prazo - Esse tipo de memória não forma arquivos,
ou seja, nela são guardadas as informações que serão utilizadas
dentro de pouco tempo, depois de sua utilização os dados
armazenados são deletados.
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• Memória de longo prazo - Retém as informações por um longo
período. A capacidade de armazenamento é limitada. Ela pode ser
dividida em Declarativa e Não declarativa.
Fatores que podem desencadear a perda da memória
A perda da memória pode estar associada a diversos fatores como:
• Doenças neurológica;
• Distúrbios psicológicos;
• Problemas metabológicos;
• Intoxicações;
• Esclerose ou demência
Dos fatores acima citados o mais comum é a doença de Alzheimer que
consiste pela perda grave de memória seguida de alterações psicológicas
graves como por exemplo, a alienação.
O estresse, a ansiedade e a depressão são alterações psicológicas que
podem levam o sujeito a ter alterações em sua memória. A falta de vitamina
B1, o alcoolismo podem provocar a perda de memória recente.
Doenças como a tireóide, geralmente, são acompanhadas pelo
comprometimento da memória.
Alguns fatores que podem levar a parda total da memória são eles:
• Alcoolismo crônico;
• Drogas e medicamentos;
• Tumor cerebral
• Encefalite
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3.4 Memória - como desenvolvê-la?
Para que aconteça o aprendizado é necessário que a memória esteja
funcionando bem, por isso a necessidade de se estimular o cérebro com
exercícios específicos a fim de que esta seja fortalecida. Exercícios como
palavras cruzadas, jogo de xadrez, contribuem para a manutenção da
memória. Outros fatores como atividade física regular e alimentação são
indispensáveis no processo de manutenção da memória.
Técnicas e cuidados para melhorar a memória
• Dormir;
• Beber bastante água;
• Alimentar-se bem;
• Relaxar;
• Associar fatos a imagens;
• Utilizar o máximo a capacidade mental, estimulando a memória
• Praticar jogos;
• Realizar atividades físicas regularmente.
Inteligência e Afetividade - Um caminho para Aprendizagem
Não podemos falar de aprendizagem sem citar a inteligência e a
afetividade como fatores importantes no processo de desenvolvimento do
indivíduo. A ciência admite a existência de dois cérebros divididos por suas
funções e que se complementam. De acordo com Marta Relvas, “As
emoções são conjuntos de reações químicas e neurais que ocorrem no
cérebro emocional e que usam o corpo como teatro, ocasionando até as
35
emoções viscerais, que afetam os órgãos internos, de acordo com a sua
intensidade”.
As emoções são indispensáveis na vida do ser humano, são fontes
preciosas de informações que ajudam na hora de tomar decisões. Como já
foi dito razão e emoção se completam associadas a outras competências
que podem levar ao sucesso na construção das relações de uma maneira
geral.
Quanto à aprendizagem o educando deve levar em consideração
fatores afetivos que torne a interação com o educando mais flexível.
Para que o sistema educacional funcione numa perspectiva que trabalhe
o raciocínio afetivo três questões tem que ser levadas em consideração, de
acordo com Marta Relvas são elas: “A emoção exerce influência sobre o
raciocínio; Os sistemas cerebrais destinados à emoção estão
intrinsecamente enredados ao sistema destinados à razão; A mente não
pode ser separada do corpo”. Nesse sentido corpo e cérebro formam um
único organismo inseparáveis.
O que é inteligência? Vários cientistas numa tentativa de explicar o
seria ser inteligente nos trazem várias definições sobre o tema, porém uma
definição mais completa é da enciclopédia Britânica que diz: “ É a habilidade
de se adaptar ao efetivamente ao ambiente, seja fazendo uma mudança em
nós mesmos, ou mudando o ambiente ou achando um novo ambiente.”
3.5 Transtornos de Aprendizagem - Um desafio
Hoje em dia virou moda a palavra “Transtorno de Aprendizagem”,
todo mundo quer discursar sobre os transtornos sem conhecimento prévio
do assunto. E esse infelizmente é um erro muito comum nas escolas.
Quando a criança apresenta alguma dificuldade em compreender
determinada disciplina logo é diagnosticada com algum transtorno. Com o
intuito de esclarecer o que é transtorno de aprendizagem é que segue
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abaixo algumas orientações básicas tendo como referência a Neurociência
Pedagógica. De acordo com Marta Relvas, transtorno de aprendizagem
“Compreende uma inabilidade específica, como de leitura, escrita ou
matemática, em indivíduos que apresentam resultados significativamente
abaixo do esperado para seu nível de desenvolvimento, escolaridade e
capacidade intelectual”.
A criança com suspeita de transtorno de aprendizagem apresenta
algumas características como:
• Inteligência normal;
• Ausência de alterações motoras ou sensoriais;
• Bom ajuste emocional, no entanto “camuflado”;
• Nível socioeconômico e cultural aceitável.
Alguns exemplos de Transtornos de Aprendizagem
• Transtorno da leitura - Consiste em uma dificuldade específica de
compreender o que está escrito.
• Transtorno da matemática - Também chamada de descalculia, esse
transtorno não está associado à ausência de habilidades
matemáticas, e sim como a maneira que a criança compreende e
associa essas habilidades com o mundo que a cerca. Atividades que
exigem raciocínio lógico e conceitos matemáticos, são afetadas nesse
transtorno, esse transtorno não é originada por lesões ou causa
orgânica.
• Transtorno de expressão - Está ligado à caligrafia e a ortografia. O
indivíduo apresenta dificuldade em compor textos escritos, onde é
37
caracacterizada por erros gramaticais e pontuação numa frase, e falta
de organização de parágrafos.
O professor além de ter domínio nas disciplinas que aplica, deve ter a
preocupação de como irá transmitir esse conteúdo aos seus alunos, ou seja,
precisa ser um especialista em aprendizagem, desenvolvendo uma
metodologia diferenciada que proporcione e estimule ao educando uma
aprendizagem significativa. No momento em que assiste a aula o educando
recebe informações auditivas e visuais que chegam até o cérebro e circulam
o córtex cerebral que serão arquivadas ou descartadas.
Segundo Marta Relvas o professor deve realizar procedimentos
pedagógicos a fim de promover ao educando uma melhor aprendizagem.
São eles:
• Criar em sala de aula um clima favorável para a aprendizagem,
eliminando-se a insegurança do educando em suas respostas
ou perguntas.
• Dividir a aula em espaços curtos, onde se propõem atividades
diversificadas.
• Habituar o educando a fazer da caneta ou lápis sua melhor
memória, mostrando-lhe os usos consistentes de uma agenda,
cobrando seus recados, reforçando múltiplos lembretes,
cognitivos ou não.
• Desenvolver hábitos estimuladores da memória de maneira
lenta e progressiva, como seria o ideal que se fizesse com
exercícios físicos.
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Conclusão
O presente trabalho monográfico teve por objetivo transmitir ao leitor
como a música tão presente no nosso dia a dia pode influenciar de forma
positiva a aprendizagem. Estudos da neurociência revelam a importância de
se valorizar as potencialidades e especificidades de cada indivíduo
tornando-o um ser único.
A Neurociência base para este estudo, tem sido uma grande aliada e
contribuído significativamente na área pedagógica, onde ainda existe uma
carência de profissionais interessados em ensinar com consciência, ou seja,
que estejam preocupados com uma aprendizagem que traga significado ao
aprendente, e que utilize diversos recursos para tornar o ambiente em sala
de aula mais propenso para o desenvolvimento cognitivo.
Pode até parecer brincadeira de criança, mas a música trabalhada em
sala de aula desenvolve habilidades como coordenação motora,
lateralidade, organização, entre outros. Os estudos realizados revelam o
quanto pode-se contribuir para o aprendizado da criança, utilizando como
recurso a música como fonte de aprendizagem.
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Bibliografia consultada
JEANDOT, N. Explorando o Universo da música: Arte-Educação Musical
Pedagogia – São Paulo: Scipione Editora, 1990.
LEVITN, Dj. A música no seu cérebro: A ciência de uma obsessão
humana. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, Editora, 2010
RELVAS, M. Fundamentos Biológicos da Educação: despertando
inteligências e afetividade no processo de aprendizagem. 4° ed. Rio de
Janeiro: Wak Editora, 2009.
RELVAS, M. Neurociência e Transtornos de Aprendizagem: as múltiplas
eficiências para uma educação inclusiva. 5° ed. Rio de Janeiro: Wak
Editora, 2011.
SACKS, Oliver – Alucinações Musicais –Relatos sobre a música e o
cérebro – Tradução de MOTTA, Lucia Teixeira –Editora Companhia das
Artes -2007 -1° Edição.
ULBRA - Fundamentos teóricos e metodológicos dos anos iniciais /
(Obra) organizada pela Universidade Luterana do Brasil - Curitiba: Ibpex,
2008.
40
Webgrafia
Fontes:
Disponível:http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigo
s_teses/2010/Arte/artigos/mus_serie_inicial.pdf.
Acesso em:10/08/2015
Disponível:http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2006/anaisEvento/d
ocs/CI-273-TC.pdf.
Acesso em: 11/08/2015
Disponível:http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/musica-1o-2o-
anos-640283.shtml?page=1.
Acesso em: 07/08/2015
Disponível:http://www.webciencia.com/.
Acesso em: 04/08/2015
Disponível em:http://www.infoescola.com/musica/historia-da-musica/
Acesso em: 03/08/2015
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO aaaaaaaaaaaaaaaa..aa.aaaa. 02 AGRADECIMENTO aaaaaaaaaaaaaaaaa..aaaaa. 03 DEDICATÓRIAaaaa.aaaaaaa....aaaaaaaa...aaaa. 04 RESUMOaaaa...aaaaaaaaaaaaaaaaaa...aaaa. 05 METODOLOGIAaaaaa...aaaaaaaaa..aaaa.aaaaa. 06 SUMÁRIOaaaaaaaaaaaaa..aaaaa...aaaaaaaa. 07
CAPÍTULO I
1.0 Neurociência e a música .......................................................................... 9
1.1 A origem da música um breve relato ..................................................... 14 1.2 O que é música ...................................................................................... 16
CAPÍTULO II
2.0 A música na séries iniciais ..................................................................... 18
2.1 Séries iniciais - o que é? Como funciona? ............................................. 19 2.2 A música e a criança .............................................................................. 20
2.3 Música como recurso para aprendizagem ............................................. 21
2.4 Sugestões musicais para sala de aula ................................................... 22 2.5 Percepção musical ................................................................................. 24
CAPÍTULO III
3.0 Neurociência aprendizagem .................................................................. 28
3.1 Divisões do sistema nervoso ................................................................. 29
3.2 Neurônios ............................................................................................... 30 3.3 Neurociência - Aprendizagem - Memória ............................................... 32
3.4 Memória como desenvolvê -la? ............................................................. 34 3.5 Transtornos de aprendizagem ............................................................... 35
Conclusão .................................................................................................. 38 Bibliografia consultada .............................................................................. 39 Webgrafia .................................................................................................. 40 Índice ........................................................................................................ 41