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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA Memória e Atenção no Processo de Aprendizagem, seus Benefícios para a Prática Pedagógica dos Professores do Ensino Fundamental I Por: Simone da Silva Barbosa Orientadora Prof.ª Marta Relvas Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Memória e Atenção no Processo de Aprendizagem, seus

Benefícios para a Prática Pedagógica dos Professores do

Ensino Fundamental I

Por: Simone da Silva Barbosa

Orientadora

Prof.ª Marta Relvas

Rio de Janeiro

2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

Page 2: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · como os de ressonância magnética e de tomografia, que permitem observar as alterações no cérebro durante o seu funcionamento,

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Memória e Atenção no Processo de Aprendizagem, seus

Benefícios para a Prática Pedagógica dos Professores do

Ensino Fundamental I

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Neurociência Pedagógica

Por: Simone da Silva Barbosa

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AGRADECIMENTOS

Muito obrigado Senhor! Muito obrigado pelo que me deste.

Muito obrigado pelo que me dás!

Obrigado pela minha voz. Mas também pela sua voz.

Pela voz que canta. Que ama, que ensina, que alfabetiza.

Que trauteia uma canção. E que o Teu nome profere com sentida emoção!

Obrigado Senhor! Porque eu nasci!

Obrigado porque creio em ti! Pelo teu amor, obrigado senhor!

(Trechos do Poema de Gratidão - Amélia

Rodrigues (Divaldo Pereira Franco)

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia ao querido e

amado Eduardo, companheiro de jornada

terrena que tanto apóia o meu

crescimento e nada pede em troca.

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RESUMO

O melhor entendimento do funcionamento do cérebro no processo de

aprendizagem, as funções da memória e atenção, sem dúvida abrem uma

gama de opções em benefício da prática pedagógica. A Neurociência oferece

essa base, mostrando que o desenvolvimento do cérebro decorre da

integração entre o corpo e o meio social. O educador precisa potencializar essa

interação por parte dos alunos. Refletir sobre a relação entre: memória,

atenção e processo de aprendizagem, nos leva, sem muito esforço, a

modificação de alguns pontos importantes da prática pedagógica em sala de

aula.

PALAVRAS – CHAVE

Memória, Atenção, Aprendizagem e Prática Pedagógica.

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METODOLOGIA

Este estudo monográfico se fará através de pesquisas bibliográficas nos

conceitos e nas teorias de Ivan Izquierdo, Marta Pires Relvas, Celso Antunes,

Roberto Lent, Michael Gazzaniga, Suzana Herculano Houzel, Joseph Ledoux,

Eric Kandel, Gustavo Teixeira, Mark F. Bear, Barry W. Connors, Michael A.

Paradiso, entre outros. Também serão utilizados os seguintes websites:

Sociedade Brasileira de Neurociência, Cérebro Nosso de Cada Dia,

Neurociências em Benefício da Educação, que além de informações

relevantes, elucidarão com imagens esse trabalho. A análise de artigos das

revistas científicas Mente & Cérebro e Galileu, criará a possibilidade do contato

com outras formas de apresentação do conteúdo em pauta, dando a

possibilidade de comparação e reflexão sobre os temas propostos na

realização desta pesquisa.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Memória e Atenção, as funções cognitivas mais utilizadas pelos

seres humanos. 09

CAPÍTULO II

Processos Cerebrais envolvidos na aprendizagem. 22

CAPÍTULO III

A neurociência instrumentalizando o professor do ensino fundamental I, em benefício da prática pedagógica. 37 CONCLUSÃO 56

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 58

ÍNDICE 60

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INTRODUÇÃO

Com as descobertas da Neurociência no campo da aprendizagem por

meio de pesquisas, experimentos comportamentais e do uso de aparelhos

como os de ressonância magnética e de tomografia, que permitem observar as

alterações no cérebro durante o seu funcionamento, algumas questões

começaram a ser respondidas de forma mais clara e coerente.

Graças aos estudos nesta área, afirma-se que o cérebro se modifica em

contato com o meio, que a atenção é fundamental na aprendizagem, a emoção

interfere no processo de retenção de informação, é preciso motivação para

aprender, a formação da memória é mais efetiva quando a nova informação é

associada a um conhecimento prévio. Hoje em dia, essas e outras informações

relacionadas ao processo de aprendizagem são construídas com base em

evidências neurocientíficas.

A utilização dessas bases científicas para melhor compreensão do

funcionamento de determinados processos cerebrais no ato de aprender se

torna fundamental. O que é transmissão sináptica, para que servem os

neurônios? É certo que há uma correlação entre um ambiente rico de estímulos

e o aumento das sinapses. Mas o que é isso, como e onde esse processo

funciona? Quem define o que é um meio estimulante para aprendizagem?

Memória e a atenção estão associadas ao processo de aprendizagem?

A Neurociência responde esses questionamentos, mas não fornece

estratégias de ensino. Isso é trabalho da educação, por meio da prática

pedagógica. Como, então, o professor pode incentivar o processo de

aprendizagem usando os conhecimentos científicos da memória e atenção?

O presente trabalho pretende abordar essa questão, focando na memória,

atenção, sua relação com o processo de aprendizagem e a prática pedagógica.

Apesar da memória, atenção e aprendizagem serem processos

associados, serão apresentados de forma separada no início para melhor

compreensão do conteúdo, finalizando com os processos interligados em

benefício de uma prática pedagógica mais eficaz.

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CAPÍTULO I

MEMÓRIA E ATENÇÃO, AS FUNÇÕES COGNITIVAS

MAIS UTILIZADAS PELOS SERES HUMANOS.

“A verdadeira arte da memória é a arte da atenção.”

(Samuel Johnson)

A atividade cerebral está presente em todas as tarefas cotidianas.

Para ler e compreender um texto, na escrita, no reconhecer de um rosto e

associá-lo a um nome, nos cálculos, na conversa informal, identificando que

rosa é uma cor e que carro é um meio de transporte, lembrando o caminho de

casa, esses são apenas alguns exemplos de uma infinidade de funções que o

cérebro faz no dia a dia. As principais funções cognitivas são: percepção,

atenção, memória, linguagem e funções executivas. É a partir da relação entre

todas estas funções que se entende a grande maioria dos comportamentos,

desde o mais simples até as situações de maior complexidade, e que exigem

atividades cerebrais mais elaboradas. Memória e atenção serão o foco deste

capítulo.

A atenção é uma função cognitiva bem complexa e diversos

comportamentos resultam de um nível adequado de atenção para serem bem

sucedidos, por exemplo: assistir um filme e compreendê-lo; manter o foco de

conversação em um ambiente ruidoso. A atenção também é um pré-requisito

fundamental para o processo de memorização.

A memória é uma das funções cognitivas mais utilizadas pelo ser

humano em seu cotidiano. Memória é a capacidade de armazenar informações,

lembrar delas e utilizá-las no presente. O bom funcionamento da memória

depende inicialmente do nível de atenção. Os aspectos gerais dessas

importantes funções cerebrais, memória e atenção, seus tipos e características

principais, serão apresentadas a seguir.

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1.1 – O que é Memória?

Segundo Izquierdo, (2011, p.11): “Memória significa aquisição,

formação, conservação e evocação de informações”. Esta curiosa capacidade

mental forma a base do conhecimento, está envolvida com a orientação no

tempo e no espaço e as habilidades intelectuais e mecânicas.

Houzel(1999), explica que as memórias são feitas por células nervosas

(neurônios), que se armazenam em redes de neurônios e são evocadas pelas

mesmas redes neuronais ou por outras (fig.1).

Fig.1 (esquema básico de um neurônio / Fonte: Google image)

Memorizar é um processo complexo, que envolve troca de informações

entre os neurônios, através da transmissão sináptica, explicada abaixo por

Houzel (1999), (site Cérebro Nosso de Cada Dia):

“...o que permite que a atividade elétrica de um neurônio

influencie a atividade elétrica do neurônio seguinte é a

transmissão sináptica, o processo de transformação de

um sinal elétrico em um sinal químico, e deste sinal

químico de volta em um sinal elétrico - agora, no neurônio

do outro lado da sinapse. A sinapse, portanto, é esse local

onde a atividade de um neurônio é capaz de influenciar a

atividade do outro neurônio (fig.2). Essas substâncias

liberadas são os neurotransmissores, ou

neuromoduladores, dependendo de sua ação sobre a

célula pós-sináptica”. (HOUZEL, 1999. Site Cérebro

Nosso de Cada Dia).

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Fig.2 (transmissão sináptica / Fonte: site Cérebro Nosso de Cada Dia)

Izquierdo(2011) afirma que a memória não está localizada em uma

estrutura isolada no cérebro; ela é um fenômeno biológico e psicológico

envolvendo um conjunto de sistemas cerebrais que funcionam juntos:

Segundo informações de Houzel(1999), o lobo temporal está localizado

abaixo do osso temporal (acima das orelhas), assim chamado porque os

cabelos nesta região geralmente são os primeiros a ser tornarem brancos com

o tempo. A neurocientista ainda aponta esta região como sendo

particularmente importante para armazenar os eventos passados.

Fig.3 (Fonte: Site Meu Cérebro.com)

Porque nesta região também existe um grupo de estruturas

interconectadas entre si que parece exercer a função da memória para fatos e

eventos (memória declarativa), entre elas está o hipocampo, as estruturas

corticais circundando-o e as vias que conectam estas estruturas com outras

partes do cérebro:

Fig.4 (fonte:Google image)

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• O hipocampo: ajuda a selecionar onde os aspectos importantes

para fatos e eventos serão armazenados e está envolvido também

com o reconhecimento de novidades e com as relações espaciais,

tais como o reconhecimento de uma rota rodoviária.

• A amígdala: se comunica com o tálamo e com todos os sistemas

sensoriais do córtex, através de suas extensas conexões. Os

estímulos sensoriais vindos do meio externo como som, cheiro,

sabor, visualização e sensação de objetos, são traduzidos em

sinais elétricos, e ativam um circuito na amígdala que está

relacionado à memória, o qual depende de conexões entre a

amígdala e o tálamo. Conexões entre amígdala e hipotálamo, onde

as respostas emocionais provavelmente se originam, permitem que

as emoções influenciem a aprendizagem, porque elas ativam

outras conexões da amígdala para as vias sensoriais, por exemplo,

o sistema visual.

• O Córtex pré-frontal: tem um papel importante na resolução de

problemas e planejamento do comportamento. Uma razão para se

acreditar que o córtex pré-frontal esteja envolvido com a memória,

é que ele está interconectado com o lobo temporal e o tálamo.

1.1.1 - Tipos e características da memória:

Para Izquierdo(2011), existem diferentes categorias de memórias, entre

elas estão:

• A memória ultra-rápida: a retenção não dura mais que alguns

segundos;

• A memória de curto prazo (ou curta duração): que pode durar

minutos ou horas e serve para proporcionar a continuidade do

sentido do presente;

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• A memória de longo prazo (ou de longa duração): que estabelece

traços duradouros (pode durar dias, semanas ou mesmo anos). O

processo de armazenar novas informações na memória de longa

duração é chamado de “consolidação”. Izquierdo (2011, p.45),

De acordo com Izquierdo (2011, p.25), a capacidade de lembrar

eventos não se reflete na operação de um único sistema de memória, mas em

uma combinação de no mínimo duas estratégias usadas pelo cérebro para

adquirir informação. As principais são:

• Memória operacional: ela mantém a informação viva durante

poucos segundos ou minutos, enquanto ela está sendo percebida ou

processada. Armazena-se na memória operacional, o local da vaga do

automóvel, uma informação que será necessária até o momento de

chegada ao carro, por exemplo.

• Memória declarativa (ou explícita): é a memória para fatos e

eventos, por exemplo, lembrança de datas, fatos históricos, números de

telefone, etc. Reúne tudo o que se pode evocar por meio de palavras

(daí o termo declarativa). Dividida em:

• Episódica: quando envolve eventos datados, relacionados

ao tempo. Usa-se a memória episódica, por exemplo, quando

vem a lembrança do ataque terrorista em 11 de setembro;

• Semântica: Abrange a memória do significado das

palavras (do latim "significado"), usa-se este tipo de memória

ao aprender que Einstein criou a teoria da relatividade, ou que

a capital da Itália é Roma.

• Memória não-declarativa (ou implícita): Se difere da explícita

(declarativa) porque não precisa ser verbalizada (declarada). É a

memória para procedimentos e habilidades, por exemplo, a habilidade

para dirigir, jogar bola, dar um nó no cordão do sapato e da gravata,

etc. Pode ser de quatro subtipos:

• Memória adquirida e evocada por meio de "dicas"

Priming (Izquierdo, 2011, p 34): memória de representação

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perceptual - que corresponde à imagem de um evento,

preliminar à compreensão do que ele significa. Um objeto, por

exemplo, pode ser retido nesse tipo de memória implícita antes

que se saiba o que é, para que serve. Considera-se que a

memória pode ser evocada por meio de "dicas".

• Memória de procedimentos - refere-se às habilidades e

hábitos. Os movimentos necessários para dar um nó em uma

gravata, nadar, dirigir um carro, são conhecidos sem que seja

preciso descrevê-lo verbalmente.

• Memória associativa e Memória não-associativa: Estas

duas últimas estão ligadas a algum tipo de resposta ou

comportamento. A memória associativa é empregada quando

se saliva pelo simples fato de olhar para um alimento apetitoso,

este pode trazer lembranças de algum momento da vida que

estava associado ao prazer da alimentação, a saciedade da

fome ou até mesmo lembranças afetivas. Por outro lado, usa-

se a memória não associativa quando, de forma automática,

aprende-se que um estímulo repetitivo, por exemplo, o latido de

um cãozinho, não traz riscos, o que faz relaxar e ignorá-lo.

1.1.2 - A arte de esquecer

A memória é tão fundamental ao homem quanto o esquecimento de

certos dados, fatos ou acontecimentos. O excesso de informações e os ruídos

da sociedade vêm afetando a saúde mental. Existe a necessidade de "apagar"

algumas lembranças para o bem estar psíquico. De acordo com Izquierdo

(2010), em seu livro “A arte de Esquecer”:

“De fato, é preciso esquecer, ou pelo menos manter longe

da evocação certas lembranças que nos perturbam, como

aquelas de medos, humilhações, desencantos amorosos

e outros maus momentos. Já pensou se nos

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lembrássemos de todos os nossos fracassos?

Passaríamos metade da vida nos remoendo. Para nossa

paz de espírito, por meio de um mecanismo de

autoproteção, o cérebro simplesmente inibe determinadas

memórias, um fenômeno que os psicanalistas chamam de

repressão. E isso ocorre o tempo todo, mesmo sem

percebermos".

Izquierdo(2010), afirma que o cérebro humano, apesar de ser

fantástico processa e armazena informações de forma limitada. Para reter

novos dados a mente precisa de intervalos de descanso e também deixar de

lado memórias desnecessárias. Seria incrível a capacidade de lembrar cada

palavra, som, gesto, imagem, cheiro ou cada sensação que passa ao longo da

vida, porém o cérebro não consegue armazenar tantos dados assim.

Para Izquierdo (2010), a arte de esquecer é um dos fenômenos mais

importantes da memória, já que possibilita a mente abrir novas janelas para

adquirir mais informações.

O próximo item mostrará que essas informações são selecionadas pelo

cérebro através da atenção, onde alguns autores chamam de “porta para

aprendizagem”.

1.2 – Atenção, foco direcionado sobre um estímulo específico.

De acordo com, James (1890):

“Todos sabem o que é atenção. É tomar posse da mente,

de forma clara e vívida, de um dos muitos que parecem

ser os objetos e linhas de pensamento simultaneamente

possíveis...”

Em qualquer ambiente existem vários estímulos que podem chegar ao

cérebro para serem processados. Sensações táteis, visuais, olfativas e os

próprios pensamentos estão presentes todo o tempo, mesmo quando não se

dá conta deles.

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Gazzaniga(2010), define a atenção como sendo um mecanismo

cerebral cognitivo que possibilita processar informações, pensamentos ou

ações relevantes, enquanto ignora outros irrelevantes ou dispersivos.

Existem diferentes redes neurais que processam diferentes estímulos.

Então, em outras palavras, atenção pode ser definida como a atividade neural

que facilita o processamento de determinada informação selecionada e inibe o

processamento de informações concorrentes.

Toda essa atividade serve para que informações preferenciais sejam

processadas de forma eficiente, até porque, de acordo com Izquierdo(2010), o

sistema nervoso tem a capacidade limitada de processamento.

Antunes(2011), afirma que uma série de fatores pode modificar a

eficácia da atenção mesmo dentro dos limites da normalidade. Vários estados

emocionais podem alterar a capacidade de atenção, ora alterando sua

intensidade, ora alterando sua tenacidade ou sua vigilância. Sob a influência de

determinados alimentos, de bebidas alcoólicas e de substâncias

farmacológicas, a atenção também pode experimentar alterações em seu

rendimento e em sua eficiência.

Izquierdo(2010) ressalta também, a importância dos intervalos de

descanso da mente para recompor a capacidade de absorção do

conhecimento:

"Sabe-se que o ser humano apresenta oscilações em sua

capacidade de atenção, cujas ondas duram

aproximadamente noventa minutos. Logo após absorver

um certo número de informações consecutivas,

dependendo da densidade, precisamos de um descanso

para metabolizar tais dados".

Por mais que a memória humana seja muito ampla e resistente,

Izquierdo(2010), afirma em seu vídeo: “Memória”, que a memória atualmente

trabalha no limite, principalmente por causa do excesso de informações e

ruídos da sociedade. Existe um bombardeio de informações, vindas da

televisão, computadores, celulares, internet, ipod, ipad e outras coisas mil. Até

agora não se sabe o limite do que a memória de trabalho pode suportar, porém

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percebe-se que todo este ruído vem afetando e muito a saúde mental do

indivíduo.

Em seu livro "Silêncio, por Favor", Izquierdo (2011) defende a

necessidade de escapar destes ambientes cheios de ruídos para conseguir

pensar e articular com profundidade:

"O ruído não é só auditivo, é visual, linguístico e

multisensorial. O ruído não nos deixa distinguir os sinais

que realmente nos interessam e por isso nos incomoda.

Afirmo que não são os estímulos em si que nos

perturbam, pois os humanos estão ai para receber,

analisar, filtrar e guardar informações, o problema é que

estamos construindo um mundo no qual o principal hoje é

o ruído e não os sinais".

Para Izquierdo (2010), as pessoas vêm absorvendo tantos códigos,

valores, ícones e imagens que acabam por não conseguir pensar com

profundidade em quase nada, o que atrapalha paralelamente a memorização, a

percepção e a sensibilidade. Nesse sentido, Izquierdo (2010) afirma que é

preciso selecionar os sinais em meio a tantos ruídos, que só poluem a mente:

"Temos que discriminar informação de ruído, separar o

joio do trigo, tanto para evitarmos absorver coisas que

não valem a pena ser evocadas, saturando o cérebro de

mediocridades, como também obtermos mais qualidade

de vida, já que teremos mais tempo para fazer o que

realmente importa, como, por exemplo, amar, pensar, ser

nós mesmos".

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1.2.1 – Distribuição da Atenção

Para Gazaniga(2010), há vários tipos de atenção:

“...a atenção involuntária ou passiva que é voltada para

eventos externos ao indivíduo como os barulhos, uma

porta que se abre, um cheiro, etc.; a atenção voluntária ou

ativa que é a vigília; a atenção sustentada na qual o

sujeito se mantém atento ao que está sendo tratado por

um longo período; a atenção alternada ou dividida,

quando se sai de um foco de atenção e a compartilha com

outros estímulos e a atenção seletiva, que é o que

fazemos com o que nos é significativo, ou seja,

selecionamos aquilo que nos interessa.”

Fig.5 (Fonte: Site Neurociências em Benefício da Educação)

A atenção do indivíduo, num determinado momento pode estar

distribuída de várias maneiras no campo da realidade. Pode estar concentrada

num único objeto, dando-se pouca atenção ao resto, pode estar espalhada,

sem que uma parte específica esteja predominantemente em foco ou, por fim,

pode estar dividida entre vários objetos, quando então a pessoa procura

prestar atenção, simultaneamente, a duas ou mais coisas. Quanto maior a

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divisão da atenção entre objetos, maior a perda de qualidade da atenção dada

a cada parte.

Atenção pode ser entendida como um holofote em uma peça de teatro:

facilita o que quer que seja visto e oculta e dificulta a visão do que não se

deseja que seja visto (fig. 6).

Mas e quando não se consegue focar a atenção por um tempo mínimo

necessário, para aprender algo? A capacidade de manter a concentração é

restrita, e depende de inúmeros fatores, desde a falta de vontade ou ânimo por

algum assunto, até dificuldades específicas, como as presentes no TDAH

(transtorno do déficit de atenção/hiperatividade) que interferem na capacidade

de atenção seletiva e dividida, ou seja, todos têm alguma dificuldade

atencional, se isso representa um problema a ser tratado, depende do grau de

comprometimento e do número de sintomas. Será abordado no item seguinte o

déficit de atenção, comumente chamado de TDAH.

Fig.6(Fonte: Google Image)

1.2.2 – Transtorno do déficit de atenção/hiperatividade (TDAH)

Para o psiquiatra Gustavo Teixeira (2013), TDAH não é uma doença

nova. Um dos primeiros relatos de sintomas aparece em quase meio século

antes do nascimento de Jesus Cristo, 493 a.C., o filósofo e médico Hipócrates

descreveu pacientes que apresentavam comportamento impulsivo e de baixa

capacidade de concentrar sua atenção. O médico atribuiu essa condição a um

desequilíbrio do fogo com relação á água. O tratamento proposto por

Hipócrates consistia na alimentação rica em cevada em substituição ao pão, no

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consumo de peixe em vez de carne vermelha, na ingestão de líquidos e na

prática de atividade física.

De acordo com a ABDA (Associação Brasileira de Déficit de Atenção) o

distúrbio afeta de 3% a 5% das crianças em idade escolar e sua prevalência é

maior entre os meninos. A dificuldade para manter o foco nas atividades

propostas e a agitação motora que caracterizam a síndrome podem prejudicar

o aproveitamento escolar e ser responsável por rótulos depreciativos que não

correspondem ao potencial psicopedagógico dessas crianças.

Estudos científicos de Fonseca(1995), mostram que portadores de

TDAH têm alterações na região frontal e nas suas conexões com o resto do

cérebro. A região frontal é uma das mais desenvolvidas no ser humano em

comparação com outras espécies animais e é responsável pela inibição do

comportamento, isto é, controlar ou inibir comportamentos inadequados, pela

capacidade de prestar atenção, memória, autocontrole, organização e

planejamento. O que parece estar alterado nesta região cerebral é o

funcionamento de um sistema de substâncias químicas chamadas

neurotransmissores (principalmente dopamina e noradrenalina), que passam

informação entre as células nervosas (neurônios).

De acordo com o DSM V, o manual de classificação das doenças

mentais, a síndrome pode ser classificada em três tipos:

• TDAH com predomínio de sintomas de desatenção.

• TDAH com predomínio de sintomas de hiperatividade/impulsividade.

• TDAH combinado. Quando predomina a desatenção, os pacientes apresentam dificuldade

maior de concentração, de organizar atividades, de seguir instruções, e podem

saltar de uma tarefa inacabada para outra, sem nunca terminar aquilo que

começaram. São pessoas que se distraem com facilidade e frequentemente

esquecem o que tinham para fazer ou onde colocaram seus pertences. Não

conseguem também prestar atenção em detalhes, demoram para iniciar as

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tarefas e cometem erros por absoluto descuido e distração, o que pode

prejudicar o processo de aprendizagem e a atuação profissional.

Ainda segundo Teixeira(2013), em todas as faixas etárias, portadores

do transtorno estão sujeitos a desenvolver comorbidades, isto é, a desenvolver

simultaneamente distúrbios psiquiátricos, como ansiedade e depressão. Na

adolescência, o risco maior está no uso abusivo do álcool e de outras drogas.

Para efeito de diagnóstico, que é sempre clínico, os sintomas devem

manifestar-se na infância, antes dos sete anos, pelo menos em dois ambientes

diferentes (casa, escola, lazer, trabalhos), durante seis meses, no mínimo.

Devem também ser responsáveis por desajustes e alterações comportamentais

que dificultam o relacionamento e o rendimento dos portadores nas mais

diversas situações.

De acordo com Teixeira(2013), o problema fica claro nos primeiros

anos de escola, apesar de estar presente desde o nascimento, o diagnóstico

deve ser feito por especialistas com base nos critérios estabelecidos pelo

DSM.V. Avaliações precipitadas podem dar origem a falsos positivos que

demandam a indicação desnecessária de medicamentos.

Constatou-se aqui a importância da atenção e os prejuízos com a falta

dela, ficou claro que ao focar a atenção, as tarefas são compreendidas mais

facilmente e realizadas de uma forma mais completa. Inclusive no processo de

memorização da informação, isso porque atenção e memória são processos

cognitivos altamente interligados e dificilmente dissociados. Para que uma

memória seja eficaz é indispensável a compreensão do objeto sobre o qual se

destina a atenção, condição essa que depende da afetividade e do interesse. O

próximo capítulo abordará a entrada da aprendizagem nesse contexto.

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CAPÍTULO II

PROCESSOS CEREBRAIS ENVOLVIDOS NA

APRENDIZAGEM.

Segundo Fonseca (1995): “a aprendizagem constitui uma mudança de

comportamento resultante da experiência”, para explicar melhor essa

afirmação, será tomado como base a diferenciação entre a aprendizagem

humana e a aprendizagem animal.

No animal, o comportamento adquirido de forma aleatória ou

circunstancial, não reflete qualquer planejamento, previsão ou seleção. A

resposta é imediata e prática, não resulta de uma escolha entre várias

hipóteses, nenhum animal, pode transmitir novos comportamentos para outros

da mesma espécie ou para novas gerações.

Fonseca (1995), afirma ainda, que no ser humano, a aprendizagem é o

reflexo da assimilação e conservação do conhecimento, controle e

transformação do meio, que foi acumulado pela experiência da humanidade

através dos séculos.

O homem escolhe uma entre várias hipóteses possíveis. Compara

várias formas para alcançar um fim ou um resultado. Elabora planos, os

executa e avalia os resultados obtidos. Examina as possibilidades e as

condições e estabelece seqüencialmente os comportamentos necessários para

alcançar um objetivo. Descobre a solução antes de aplicar, utilizando para um

resultado, um planejamento antecipado das ações exigidas pelas tarefas.

Até o momento, a conclusão é que a aprendizagem no ser humano é

uma mudança de comportamento, uma resposta modificada, estável e durável,

interiorizada e consolidada no próprio cérebro do indivíduo.

Todas as informações acima estão baseadas em várias décadas de

estudos sobre a aprendizagem, com o objetivo de entender melhor o processo

de aprendizagem, se faz necessário a realização de um breve histórico com os

principais teóricos da aprendizagem.

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Existem várias teorias quando o assunto é aprendizagem, o presente

estudo ficará apenas com as mais importantes para a estruturação do trabalho.

As teorias conexionistas estímulo-resposta, onde ressaltam os trabalhos de

Thorndike (1903) e Hull (1943), defenderam que a aprendizagem depende da

relação compreendida entre estímulo e resposta. Thorndike (1903) especificou

a aprendizagem em três leis: a do exercício, a da aptidão e a do efeito. Já Hull

(1943), equacionou a aprendizagem em modelos matemáticos, calculando

número de tentativas, a quantidade de reforço, a intensidade do estímulo, a

inibição reativa e a inibição condicionada, como funções preditivas do potencial

de aprendizagem.

Guthrie (1886-1959), outro Behaviorista, avançou com vários

postulados: o da associação entre o estímulo e a resposta, o da adaptação

positiva, a lei da freqüência de Watson (1878-1958), o do hábito e ocorrência, e

por último, o do condicionamento, isto é, a evocação de respostas por

estímulos incondicionados, substituídos posteriormente por estímulos

condicionados, que, segundo Pavlov(1903), tendem a provocar “reflexos

psíquicos”.

Tolman(1932), a quem se deve a teoria do sinal, introduz a noção de

significação entre o estímulo e a resposta correspondente, sublinhando a

totalidade do comportamento, ao contrário das anteriores teorias, que por

fragmentarem o comportamento, foram consideradas como moleculares. As

variáveis entre a situação e a ação são diferenciadas em: interesse, apetite,

tendência, aquisições anteriores e motivação.

Para os Gestaltistas, Wertheimer (1890-1943), Kohler (1887-1947),

Kofka (1896-1941) e Lewin (1890-1947), transformam a noção de

aprendizagem em relações interiorizadas de significação entre o estímulo e a

resposta, quer no todo, quer nas suas partes, a que chamaram de “insight”.

Essa teoria foi posteriormente adotada por Hilgard (1904-2001), a quem se

deve a teoria funcionalista, e foi fundamentalmente aplicada à educação por

Dewey (1859-1952).

Outras teorias, também merecem referências, como as de Woodworth

(1869-1962), Miller (1941) e Skinner (1904-1990). Todos esses autores

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combinam conceitos anteriores, sendo de destacar, pela sua importância, a

teoria do condicionamento operante.

Para Skinner (1904-1990), a aprendizagem se reflete na mudança de

comportamento, porque é emitida pelo organismo e não pelo estímulo. A

resposta desejada tem a probabilidade de êxito se a seqüência das respostas

for desencadeada do simples ao complexo e com base sempre no reforço de

respostas corretas, evoluindo progressivamente por aquisições bem sucedidas.

Esse simples resumo sobre as teorias da aprendizagem mais

significativas não pode deixar de fora as teorias de Hebb (1958), e de

Anokhine, (1975). O primeiro defende a aprendizagem como o resultado de

interações interneuronais (redes) e de mudanças sinápticas dependentes de

sistemas internos e de sistemas ideacionais. Tais sistemas são baseados na

atenção (controle dos neurônios que não interessam a tarefa em causa) e na

inibição (processo de seleção e recrutamento de neurônios para manutenção

de funções cognitivas).

Para Anokhine (1975), discípulo de Pavlov, encara o comportamento

como manifestação psíquica superior que se desenrola através de sistemas

funcionais complexos, desde os reflexos adquiridos filogeneticamente (de

acordo com a evolução da espécie), até os automatismos mais diferenciados,

adquiridos ontogeneticamente (de acordo com a genética), e que constituem a

experiência sócio histórica da humanidade. Para o mesmo autor, a

aprendizagem envolve funções psíquicas superiores resultantes de sistemas

que combinam funções neurofisiológicas inferiores. Luria (1973) e Vigotsky

(1896-1934) completam essa dimensão, afirmando que o comportamento deve

ser encarado como um sistema funcional complexo que organiza e auto regula

reflexos, sensações, automatismos, emoções, percepções e conceitos de

origem sócio histórica.

Todos os teóricos citados acima têm seu papel fundamental na busca

da compreensão do processo de aprendizagem. E de uma forma ou de outra,

sempre chegam num ponto em comum, a necessidade de conhecer as

estruturas e o funcionamento do cérebro (fig.7) para melhor compreensão das

suas relações dinâmicas e complexas na aprendizagem.

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Fig.7(Fonte: Google image)

A compreensão do comportamento, bem como a sua modificação,

pede o conhecimento das estruturas e das funções do órgão que o coordena e

o organiza, isto é, o cérebro, verdadeiro produto da evolução biossocial da

espécie. O órgão mais organizado do organismo.

Segundo Relvas (2010):

“A aprendizagem é uma associação de memória, atenção,

concentração, interesses, desejos, estímulos intrínsecos

(neurotransmissores/hormônios) e extrínsecos

(informações externas do ambiente) que permeiam a

mente e o cérebro humano.”

O cérebro isolado não possui função nenhuma, ele só estabelece um

funcionamento quando em conjunto com outros sistemas que se

interconectam, recebem e respondem aos estímulos para realizar um potencial

de atividades elétricas e químicas.

Segundo Fonseca (1995), o cérebro durante a aprendizagem, recruta

seletivamente seus inúmeros neurônios e neuroglias, nesse recrutamento

seletivo está implícito um elevado grau de organização neurológica.

Um estudo sobre o comportamento das células neurais no processo de

aprendizagem, publicado na revista Mente & Cérebro (2011, nº26), vem

constatar que essas células funcionam como unidades processadoras de

informações. Seus corpos formam a substância cinzenta, o córtex, que compõe

a camada externa do cérebro. Cada neurônio pode receber sinais de outras

células, transmitidos pelos pontos de contato (mas sem continuidade material

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entre ambas as células), as sinapses, e depois encaminhados ao longo de

extensões chamadas axônios. Eles ficam dentro do cérebro, ou seja, embaixo

do córtex, e são chamados substância branca. Sua função é ligar os neurônios

por longas distâncias, permitindo a comunicação entre diversas áreas.

A cor clara vem da camada de gordura isolante que envolve os

axônios. A bainha de mielina, uma substância formada por lipídios e proteínas,

que acelera o encaminhamento dos sinais, contribuindo para uma comunicação

rápida sem perdas de dados. A bainha mielínica é interrompida a pequena

distância pelos nódulos de Ranvier; os sinais praticamente “saltam” de um

nódulo para outro. Sem essas interrupções, os sinais se difundiriam mais

lentamente e, em trechos mais longos, acabariam por se extinguir. O grau de

mielinização, portanto, influencia a velocidade e a força dos impulsos: quanto

mais grossa a camada isolante, melhor e mais rápido os dados são

transmitidos (fig.8).

Fig.8(Fonte: PUC.rio.br)

Outro tipo de transmissão do sinal no sistema nervoso central da

espécie humana são as sinapses químicas (fig.9), esse evento se inicia com a

secreção de uma substância química chamada neurotransmissor, que irá atuar

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em proteínas receptoras presentes na membrana do neurônio subsequente,

promovendo a excitação ou inibição.

Fig.9(Fonte: www.infoescola.com)

Quimicamente, os neurotransmissores são moléculas relativamente

pequenas e simples. Diferentes tipos de células secretam diferentes

neurotransmissores. Cada substância química cerebral funciona em áreas

bastante espalhadas, mas muito específicas do cérebro e podem ter efeitos

diferentes dependendo do local de ativação. Segue abaixo uma lista com os

principais neurotransmissores e suas funções:

• Dopamina: Controla níveis de estimulação e controle motor em

muitas partes do cérebro. Quando os níveis estão extremamente

baixos na doença de Parkinson, os pacientes são incapazes de

se mover de forma voluntária. Presume-se que o LSD e outras

drogas alucinógenas ajam no sistema da dopamina.

• Serotonina: Esse é um neurotransmissor que é incrementado

por muitos antidepressivos tais como o Prozac, e assim tornou-

se conhecido como o 'neurotransmissor do 'bem-estar'. ' Ela tem

um profundo efeito no humor, na ansiedade e na agressão.

• Acetilcolina: A acetilcolina controla a atividade de áreas

cerebrais relacionadas à atenção, aprendizagem e memória.

Pessoas que sofrem da doença de Alzheimer apresentam

tipicamente baixos níveis de ACTH no córtex cerebral, e as

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drogas que aumentam sua ação podem melhorar a memória em

tais pacientes.

• Noradrenalina: uma substância química que induz a excitação

física, mental e bom humor. A produção é centrada na área do

cérebro chamada de locus ceruleus, que é um dos muitos

candidatos ao chamado centro de "prazer" do cérebro.

• Glutamato: O principal neurotransmissor excitante do cérebro,

vital para estabelecer os vínculos entre os neurônios que são a

base da aprendizagem e da memória a longo prazo.

• Encefalinas e Endorfinas: Essas substâncias são opiáceos que,

como as drogas heroína e morfina, modulam a dor, reduzem o

estresse, etc. Elas podem estar envolvidas nos mecanismos de

dependência física.

Com isso, conclui-se que o aprendizado, também está baseado em uma

comunicação entre as células do cérebro. Mas existe um lugar específico no

cérebro para aprendizagem?

A forma de aprender está relacionada ao recebimento de estímulos que

são captados pelos sentidos. Esses estímulos conhecidos como informações

(som, visão, tato, gustação, olfato) chegam ao tálamo que é uma estrutura no

cérebro que tem a função de receber esses estímulos e reenviá-los para áreas

específicas que são responsáveis na elaboração, decodificação e associação

dessas informações. O tálamo funciona como um “aeroporto” e junto com o

hipotálamo, as amígdalas cerebrais (responsáveis pela emoção), e o

hipocampo (responsável pela memória de longo prazo), promovem as

lembranças e a aprendizagem significativa.

A aprendizagem é, portanto, uma função do cérebro. Não há uma

região específica do cérebro que seja exclusivamente responsável pela

aprendizagem. O cérebro é no seu todo funcional e estrutural responsável pela

aprendizagem, que é resultante de complexas operações neurofisiológicas.

Tais operações associam, combinam e organizam estímulos com respostas.

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Porém, a aprendizagem também sofre influência de outros fatores

importantes, para Relvas (2014), a sensação, a capacidade de percepção,

motivação, emoção, memória e atenção, assim como o aspecto biológico, a

genética de cada um e os estímulos recebidos, vão determinar de forma crucial

a formação desse processo cognitivo que humaniza o indivíduo.

De acordo com Relvas (2014): “... sensação é o nível mais primitivo do

comportamento...”. A sensação pode ser considerada como o processo de

detecção e recepção dos estímulos recebidos, já a percepção, tem como

função principal organizar e interpretar essas informações sensoriais.

É comum encontrar freqüentes dúvidas sobre a diferença entre

sensação e percepção, muitos confundem esses conceitos, mas são bem

distintos, enquanto que as sensações são meras traduções, captações de

estímulos, a percepção exige um trabalho de análise e síntese. A sensação

é a experiência simples dos estímulos, a percepção envolve a interpretação

das informações sensórias recebidas. Ambas são capacidades

fundamentais para a captação de informações no processo de aquisição do

conhecimento.

Memória e atenção também estão diretamente ligadas ao processo de

aprendizagem. Um exemplo bem simples dessa interligação é a comparação

da memória a um cômodo fechado dentro de uma casa, pode-se dizer que a

atenção é a chave que abre a porta desse cômodo e permite entrar, seja para

guardar, ou retirar algo que é necessário. Sem a chave, a porta não abre, e a

memória pode falhar.

Para Fonseca (1995), o processo de aprendizagem exige um certo

nível de atenção (vigilância e seleção) para manter as atividades cognitivas,

inibindo o efeito de muitos neurônios que não interessam à situação no

momento de determinada aprendizagem. A memória, também não pode se

dissociar desse processo, pois se para lembrar precisa antes aprender, para

aprender precisa lembrar de informações já residentes na memória,

estabelecendo comparações e associações entre elas.

Segundo Izquierdo (2011):

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“Não podemos fazer aquilo que não sabemos, nem

comunicar nada que desconheçamos, isto é, nada que

não esteja na nossa memória.”

Foca-se num estímulo através da capacidade de atenção, a memória

evoca, associa, armazena e preserva a informação, só depois da

consolidação se dá a compreensão. Só se reconhece o estímulo, depois de

estar retido na memória. Dá-se aí a interligação desses importantes

sistemas responsáveis pela evolução da espécie humana.

De todos os fatores já citados, será abordado agora um que influencia

diretamente a todos eles, sem o qual, o processo de aprendizagem fica

mais difícil de ser realizado: as emoções. Como o assunto é bem vasto

constará num subcapítulo com os pontos mais importantes, para se

entender melhor o contexto das emoções no processo de aprendizagem.

2.1. O Papel da Emoção no Processo de Aprendizagem

De acordo com Lent (2002):

“A emoção, é uma experiência subjetiva acompanhada de

manifestações fisiológicas e comportamentais

detectáveis”.

As emoções são fundamentais para o desenvolvimento saudável e até

mesmo para a sobrevivência. Os animais também trazem consigo emoções,

embora não tão elaboradas, específicas e variadas como os seres humanos.

Uma emoção propriamente dita é um conjunto de respostas químicas e

neurais que formam um padrão diferente do habitual. Estas respostas são

produzidas quando o cérebro normal recebe um estímulo que “quebra” esse

“equilíbrio”, desencadeando a emoção.

Segundo Damásio (2012): “As emoções ocorrem no teatro do corpo.

Os sentimentos ocorrem no teatro da mente”. Existe uma cadeia complexa de

acontecimentos no organismo que começa na emoção e termina no

sentimento, há uma parte do processo que se torna pública (emoção) e uma

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parte que sempre se mantém privada (sentimento). Damásio (2012) distingue

vários tipos de emoções:

• Emoções Primárias: são consideradas inatas ou “reflexas”,

são comuns a todos os seres humanos, independentemente

de fatores sociais ou socioculturais. Deste grupo fazem parte

as emoções básicas ou elementares, como: a alegria, tristeza,

medo, nojo, raiva e surpresa.

• Emoções Secundárias ou sociais: são mais complexas que as

primárias, dependem de fatores e variáveis socio-culturais.

Estas podem variar amplamente e radicalmente entre culturas

e/ou sociedades. E não são possíveis de enumerar: a culpa, a

vergonha, a gratidão, a simpatia, a compaixão, o orgulho, a

inveja, o desprezo, o espanto, etc.

• Emoções de Fundo: estão relacionadas com o bem-estar ou

com o mal-estar interno. São induzidas por estímulos

internos, com origem em processos físicos ou mentais,

levando o organismo a um estado de tensão ou relaxamento,

fadiga ou energia. Estas emoções expressam-se em

alterações musculoesqueléticas, refletindo-se em variações

na postura e nos movimentos.

Desvendar as bases neurais das emoções, vem sendo um desafio ao

longo do tempo para neurociência. James Papez (1883-1958) foi quem mudou

o eixo de raciocínio da idéia de centros isolados da coordenação emocional

para o conceito de sistema ou circuito, isto é, um conjunto de regiões

associadas, envolvido com os vários aspectos das emoções (o sentimento, as

reações comportamentais, os ajustes fisiológicos). Papez (1883-1958)

percebeu que essas regiões eram conectadas reciprocamente de modo

circular, o que revelava uma rede neural que ficou conhecida como Circuito de

Papez. Mais tarde passou a ser conhecido por Sistema Límbico (fig.10),

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definido como o conjunto de regiões localizadas, a maioria delas, na face

medial dos hemisférios e no diencéfalo.

Lent (2002), revela que o circuito de Papez original incluía: o córtex

cingulado, o hipocampo, o hipotálamo e os núcleos anteriores do tálamo.

Outras regiões foram adicionadas posteriormente, em função de novas

descobertas científicas. Seu funcionamento básico se dava da seguinte forma:

o córtex cingulado recebe projeções de diversas outras regiões corticais

associativas e com elas forneceria a base para a experiência subjetiva das

emoções. Ao circuito adicionou-se a amígdala cerebral, mas verificou-se que o

hipocampo propriamente dito não participa de modo determinante nos

mecanismos neurais das emoções, a não ser como responsável pela

consolidação da memória explícita (inclusive as que têm conteúdo emocional).

A amígdala, por outro lado, revelou-se uma estrutura de enorme relevância,

uma espécie de botão de disparo e modulador de toda experiência emocional.

O hipotálamo foi reconhecido desde o início como a região de controle das

manifestações fisiológicas que acompanham as emoções, realizando essa

tarefa através dos sistemas nervoso autônomo, endócrino e imunitário.

Algumas manifestações comportamentais foram também atribuídas ao

hipotálamo. E finalmente o conjunto de núcleos anteriores ao tálamo. Não

deixando de mencionar a importância do lobo da ínsula, que conecta o Circuito

de Papez com o córtex pré-frontal, modulando as emoções.

Fig. 10 (Fonte: American Scientist)

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Todo esse processo da emoção é uma construção bioquímica,

produzindo adrenalina e cortisol através do medo, estresse, ou dopamina na

reação de prazer ou recompensa.

Tendo posse de todos esses conhecimentos, se estabelece a seguinte

reflexão: Que tipo de emoção seria ideal para o processo de aprendizagem?

Sabe-se que no momento de perigo ou numa situação de estresse, o cérebro

entra em ação, ou melhor, o Sistema Nervoso Autônomo, mais precisamente

os núcleos da base. Com isso, entra-se num estado de alerta. No perigo as

informações vão chegar ao cérebro por vias sensoriais, pousando no tálamo,

que recebe essas informações e distribui para todas as áreas cerebrais,

perpassando pelo hipocampo, para ver se existe alguma memória parecida,

para enviar ao córtex pré-frontal através do giro do cíngulo. Simultaneamente e

automaticamente, o hipotálamo, a hipófise, as amígdalas cerebrais atuam no

processo neural autônomo das glândulas supra-renais, que produzem

adrenalina, levando ao movimento de luta ou fuga, e o cortisol, que faz

paralisar numa situação de perigo.

Portanto, nenhuma situação de medo, perigo, estresse, que

desencadeie a produção de adrenalina e cortisol, levando o indivíduo a

paralisar, fugir, tremer, se desconcentrar, favorecem o processo de

aprendizagem. Mas e as emoções positivas, podem desencadear a motivação

e influenciar de forma positiva o processo de aprendizagem?

Izquierdo (2010), afirma: “Da mesma forma que sem fome não

apreendemos a comer e sem sede não aprendemos a beber água, sem

motivação não conseguimos aprender”.

Segundo Lent (2002), no cérebro existe um sistema dedicado à

motivação e à recompensa. Quando o sujeito é afetado positivamente por algo,

a região responsável pelos centros de prazer produz uma substância chamada

dopamina. A ativação desses centros gera bem-estar, que mobiliza a atenção

da pessoa e reforça o comportamento dela em relação ao objeto que a afetou.

O sistema de recompensa compreende algumas regiões do cérebro,

localizadas dentro do sistema límbico, como já foi visto, que são responsáveis

pelas emoções. O sistema de recompensa cerebral ou circuito do prazer

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começa na área tegmentar ventral, localizada na região cinzenta do tronco

cerebral. Impulsos elétricos são criados nessa região e esses estímulos

atingirão o núcleo accumbens e posteriormente o córtex pré-frontal, região

responsável pela consciência emocional (fig. 11).

Fig.11 (Fonte: http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br)

Ausubel (1968) afirma que: “O prazer, mais do que estar na situação de

ensino ou mediação, pode fazer parte do próprio ato de aprender.”

Trata-se da sensação boa que a pessoa tem quando se percebe capaz

de explicar certo fenômeno ou de vencer um desafio usando apenas o que já

sabe. Com isso, acaba motivada para continuar aprendendo sobre o tema.

De acordo com Houzel (2010), tarefas muito difíceis desmotivam e

deixam o cérebro frustrado, sem obter prazer do sistema de recompensa. Por

isso, são abandonadas, o que também ocorre com as muito fáceis.

Para Marta Relvas (2010): “Aprende-se com a cognição, mas sem

dúvida alguma, aprende-se pela emoção, o desafio é unir conteúdos coerentes,

desejos, curiosidades e afetos para uma prazerosa aprendizagem”.

Tanto a atenção, quanto a memória, importantíssimas no processo de

aprendizagem, são moduladas pelas emoções, pelo nível de consciência e

pelos estados de ânimo. É fácil aprender ou evocar algo, alertas e de bom

ânimo, e fica difícil aprender qualquer coisa, ou até lembrar o nome de uma

pessoa ou de uma canção, cansados, deprimidos, com medo ou muito

estressados.

De acordo com o relato de IZQUIERDO, em seu vídeo “Memória”:

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“Todo mundo se lembra do que estava fazendo quando

morreu Ayrton Senna, mas porque será que ninguém se

lembra do que fazia algumas horas antes do ocorrido?

Provavelmente as pessoas se recordam do momento

porque se emocionaram com o infeliz fato, mas não se

lembram do que fizeram horas antes da morte, pois estas

lembranças não tocaram seus sentimentos.”

Izquierdo explica que isto ocorre, pois a memória fixa muito melhor

emoções do que fatos, já que as vias nervosas são reguladas por emoções e

sentimentos.

No vídeo “Em Busca da Memória”, de Eric Kandel, neurocientista

ganhador do prêmio Nobel por descobertas significativas no campo da

memória, narra com perfeição de detalhes, um acontecimento marcante

ocorrido na sua infância, quando ganha de presente um carrinho azul com

controle remoto de seu pai, pelo qual ele esperava com muita ansiedade.

Embora tenha brincado por poucos momentos, porque o carrinho foi retirado

dele de forma abrupta, a emoção prazerosa ficou marcada em sua memória de

longa duração.

O mesmo aconteceu com sua paixão por Viena. Mesmo com todos os

acontecimentos ruins, sua fuga para Nova York, para fugir dos nazistas, Kandel

manteve a fascinação por sua terra natal, guardou em sua memória detalhes

de sua infância, pessoas que o ajudaram e de como era bem recebido por sua

mãe quando chegava da escola na loja de seu pai. De acordo com Izquierdo

(2010):

"A emoção é acompanhada pela descarga de dopamina e

de noradrenalina em certos lugares do cérebro, que se

incorporam na memória. Então, toda a vez que, por algum

motivo, essas substâncias forem liberadas e se

mantiverem no cérebro, a tendência é lembrar de coisas

que apreendemos sob a influência delas".

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Por esse motivo que o indivíduo memoriza com maior facilidade

assuntos que são prazerosos e recordações que mexem com as emoções, ou

mesmo besteiras que nos chocam: "Uma besteira apreendida sob emoção será

melhor lembrada que uma genialidade apreendida com indiferença",Izquierdo

(2010).

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CAPÍTULO III

A NEUROCIÊNCIA INSTRUMENTALIZANDO O PROFESSOR DO ENSINO FUNDAMENTAL I, EM

BENEFÍCIO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA.

“O pensamento parece uma coisa à toa, mais como é que a gente voa quando começa a pensar...”

(Felicidade. Lupicínio Rodrigues.)

O foco do presente capítulo está nos conhecimentos da neurociência e

sua contribuição para o trabalho do professor, na sua prática pedagógica. Será

abordado também o perfil do aluno do ensino fundamental I, a estimulação

cognitiva na medida certa, o sono e a alimentação influenciando diretamente na

aprendizagem, o ambiente escolar, a memória e atenção perpassando pelos

caminhos que levam a melhor compreensão da prática educacional.

Cosenza (2011) alerta a respeito do uso dos conhecimentos

neurocientíficos, para que o mesmo não seja reduzido em soluções simplistas:

“Embora muitas vezes se observe certa euforia em

relação às contribuições das neurociências para a

educação, é importante esclarecer que elas não propõem

uma nova pedagogia nem prometem soluções definitivas.”

Surge a Neurociência da Educação, como um novo ramo do

conhecimento que tem como objetos de estudo a educação e o cérebro,

entendido como um órgão social que pode ser modificado pela prática

pedagógica. Situa-se na interface de conhecimentos entre as áreas de

Anatomia, Genética, Psiquiatria, Neurologia, Psicologia, Pedagogia, entre

outros, com o objetivo de compreender como os seres humanos aprendem

melhor, de forma que os professores possam conduzir e maximizar esse

aprendizado.

Relvas (2012) mostra uma definição bem mais ampla sobre a

neurociência na educação:

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“O conhecimento e a aplicação da neurociência na

educação perpassam por uma visão neurocientífica do

processo de ensinar e aprender. Contribui na identificação

de uma análise biopsicológica e comportamental do

educando por meio dos estudos da anatomia e da

fisiologia no sistema nervoso central. Explica, modela e

descreve os mecanismos neuronais que sustentam os

atos perceptivos, cognitivos, motores, afetivos e

emocionais da aprendizagem.”

A revolução no estudo da mente ocorrida nas últimas décadas tem

conseqüências importantes para a educação, conduzindo a abordagens muito

diferentes das encontradas nas escolas atuais, em relação à prática

pedagógica.

O crescimento das investigações interdisciplinares, as tecnologias e os

novos tipos de colaborações científicas começaram a tornar mais visível, o

caminho que leva da pesquisa científica básica, a prática educacional. Anos

atrás, os educadores prestavam pouca atenção ao trabalho dos

neurocientistas, e esses por sua vez, trabalhavam bastante afastados das

salas de aula. Atualmente, em países da Europa, os pesquisadores estão

dedicando mais tempo ao trabalho com professores, testando e refinando suas

teorias em salas de aulas reais, onde podem ver como os diversos ambientes e

as interações nas salas de aula influenciam as aplicações das suas teorias.

A neurociência começa a fornecer provas dos diversos princípios de

aprendizagem que surgiram a partir da pesquisa de laboratório, e está

mostrando como a aprendizagem modifica a estrutura física do cérebro e, por

meio disso, a sua organização funcional.

Todos esses desenvolvimentos no estudo da aprendizagem dão inicio

a uma época em que a neurociência ganha nova relevância para a prática

pedagógica. Nos países que investem em pesquisa científica, o investimento

retorna em aplicações beneficiando a educação Esses avanços na

compreensão de como os seres humanos aprendem são particularmente

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importantes quando se levam em conta as mudanças que podem ser

realizadas nos sistemas educacionais de uma nação.

Nos primeiros anos do século XX, a educação focalizava a aquisição

das habilidades de letramento: leitura, escrita e cálculos básicos. Para os

sistemas educacionais, a regra geral não era treinar as pessoas para pensar e

ler criticamente, para se expressar com clareza e de modo convincente, para

solucionar problemas complexos de ciências e matemática. Hoje em dia, esses

aspectos do letramento avançado são exigidos de quase todos, para que

possam lidar com sucesso, com as complexidades da vida contemporânea. As

exigências de qualificação para o trabalho aumentaram sensivelmente, assim

como a necessidade de que as organizações e os trabalhadores mudem para

atender as pressões competitivas do ambiente de trabalho. A participação

consciente no processo democrático também se tornou cada vez mais

complexa, a medida que o foco da atenção se deslocou do interesse local para

o nacional e o global.

As informações e o conhecimento crescem a um ritmo muito mais

acelerado do que jamais visto na história da humanidade. Como sabiamente

afirmou o premio Nobel Herbert Simon (1978): “O significado de "saber"

mudou: em vez de ser capaz de lembrar e repetir informações, a pessoa deve

ser capaz de encontrá-las e usá-las.”

O aluno já chega à sala de aula com idéias preconcebidas sobre como

o mundo funciona. Se o seu entendimento inicial não for considerado, é

possível que não consigam compreender os novos conceitos e informações

ensinados, ou que os aprendam somente com o objetivo de fazer uma prova,

mas recaindo depois em suas idéias preconcebidas, fora da sala de aula. Isto

ocorre porque, os conhecimentos prévios que constavam de sua experiência,

armazenados na memória, não foram associados ao novo conteúdo, ou seja,

fica tudo sem sentido para o aluno.

O processo de entender o mundo tem início muito cedo. As crianças

nos anos pré-escolares começam a desenvolver uma compreensão, nem

sempre correta, dos fenômenos ao seu redor. Essa compreensão precoce

pode ter um efeito poderoso sobre a integração de novos conceitos e

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informações. Ás vezes, sua compreensão é correta, fornecendo o fundamento

para a construção do novo conhecimento. Outras vezes, porém, é incorreta. No

caso da disciplina de história, por exemplo, alguns alunos, acabam por

assimilar os fatos como uma simples luta entre mocinhos e bandidos, sem

refletir muito bem sobre o contexto histórico. Um aspecto decisivo do ensino é

trazer à tona a compreensão que os alunos têm sobre o assunto a ser

ensinado e proporcionar oportunidades para que elaborem ou contestem a

compreensão inicial.

Segundo a teoria de Ausubel (1999), os conhecimentos prévios dos

alunos devem ser valorizados, para que possam construir estruturas mentais

utilizando, como meio, mapas conceituais que permitam descobrir e redescobrir

outros conhecimentos, caracterizando, assim, uma aprendizagem prazerosa e

eficaz.

O entendimento que as crianças trazem a sala de aula já pode ser

muito influente nas primeiras séries escolares. Por exemplo, de acordo com o

artigo da PsiqWeb (2011), verificou-se que algumas crianças se agarravam a

suas idéias preconcebidas de que a Terra era plana, imaginando uma Terra

redonda com o formato de uma panqueca. Nesse caso, a construção de um

novo entendimento era orientada por um modelo da Terra que ajudava a

criança a explicar como as pessoas conseguem ficar de pé ou caminhar em

sua superfície. Na matemática, diversas crianças têm dificuldade em aceitar

que um oitavo é menor do que um quarto, pois oito é maior do que quatro. Se

as crianças fossem quadros em branco, seria adequado falar para elas que a

Terra é redonda ou que um quarto é maior que um oitavo. Mas, como já tem

idéias sobre a Terra e sobre os números, essas idéias devem ser tratadas

diretamente, a fim de transformá-las ou expandi-las. Para que a compreensão

científica substitua a compreensão ingênua, os alunos precisam revelar esta

última e ter a oportunidade de perceber em que ponto ela é deficiente. Dá-se aí

a importância da prática pedagógica baseada nos estudos do funcionamento

do cérebro, pois entendendo o cérebro que chega até a escola, se obtém

instrumentos valiosos para a melhoria da educação.

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Para Cesar Coll (1995) o aluno do ensino fundamental I (1º ao 5º ano),

que engloba as faixas etárias de 7 aos 12 anos aproximadamente, passam por

mudanças muito importantes no seu funcionamento cognitivo. No início deste

período, o perfil é de uma criança que possui uma capacidade intelectual

realmente notável, como manifesta, por exemplo, ao ser capaz de realizar as

complexas tarefas que estão por trás da aprendizagem da leitura ou da

resolução de simples problemas algébricos. Sem dúvida a aquisição da leitura

e da escrita é um marco que caracteriza a atividade escolar das crianças nesta

idade. Elas passam de aprender a ler para “ler para aprender”, com a

necessidade de desenvolver certas estratégias que lhes permitam realizar essa

tarefa com eficácia.

O aprendizado da leitura depende do envolvimento de várias áreas

cerebrais. O lobo occiptal envia informações para uma área visual mais

específica, denominada parietal, que se encarrega em reconhecer as formas

visuais das letras. Essa área deve se relacionar com a área temporal verbal

que produz os sons e a capacidade de fonar as letras, sílabas e palavras

escritas. Já o aprendizado da escrita, requer um treinamento motor para

especializar neurônios da área responsável pelo controle da mão, no córtex

motor, para controlar o desenho das diversas letras do alfabeto. Esses

neurônios devem se associar àqueles que identificam visualmente as letras no

córtex parietal, e também aos neurônios que identificam oralmente os sons

equivalentes.

Fonte: ENSCER/2015

A compreensão de um texto escrito é uma tarefa de grande

complexidade, fruto da interação de diferentes processos cognitivos, que tem

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como resultado a construção de uma representação mental do significado do

texto. Esta representação mental é determinada não somente pelo próprio

texto, mas também pelo indivíduo, e em particular pelos conhecimentos de

diferente natureza que este traz a sua construção. Entre estes encontram-se os

conhecimentos sobre como estão organizados os textos e como é possível

extrair e evocar, de forma eficaz, a informação que está contida nele.

As crianças na idade, dos 7 aos 12 anos, aproximadamente, estão no

estágio do desenvolvimento cognitivo que Piaget denomina de operações

concretas. Já apresentam bem menos egocentrismo e podem começar a

utilizar lógica, o pensamento e reflexões na resolução de problemas. Lidam

bem melhor com os conceitos de grandeza e com os números, compreende os

conceitos de tempo e de espaço, distingue a realidade da fantasia, classifica

eventos ou objetos e já pode olhar os eventos através de diferentes habilidades

operatórias. Ainda não é adulta e tem dificuldade em compreender em termos

hipotéticos. No final do ensino fundamental I, o que se encontra, já não é uma

criança, mas um pré-adolescente, no qual além de espetaculares

transformações biológicas e sociais, ocorrerão, igualmente, importantes

transformações cognitivas que mais tarde, vão lhe permitir realizar tarefas

intelectuais mais complexas. A importância desses conhecimentos para a

prática pedagógica permite ao professor planejar a atividade adequada e o seu

grau de dificuldade de acordo com a faixa etária do estudante, para que esse

aluno atinja toda sua potencialidade e aumente suas conexões neurais.

O sono e a alimentação também interferem nas conexões neurais e na

vida escolar do aluno do ensino fundamental I. A neurociência mostra que toda

vez que a criança dorme, estão sendo formadas proteínas fundamentais para a

memória, capacidade de aprendizado e outras conexões neurais importantes.

A melatonina é um neuro-hormônio produzido pela glândula pineal, tem

o papel de regular o sono. Esse hormônio é produzido a partir do momento em

que os olhos são fechados na hora de dormir. Na presença de luz, é enviada

uma mensagem bloqueando a sua formação, a secreção dessa substância é

quase exclusivamente determinada por estruturas fotossensíveis,

principalmente à noite.

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De acordo com Lent (2002), a produção da melatonina está

diretamente ligada à presença da luz. Quando a luz incide na retina o nervo

óptico, as demais conexões neuronais levam até a glândula pineal essas

informações inibindo a produção da melatonina. A maior produção da

melatonina ocorre à noite, entre 2:00 e 3:00 horas da manhã, num ritmo de vida

normal, e esta produção aumentada produz sono.

Durante o sono normal, onde grande parte da energia e do equilíbrio

orgânico se restabelece, além da adequada produção de melatonina outros

fenômenos acontecem, dentre eles: diminuição significativa da produção de

cortisol e de adrenalina, restauração das moléculas de DNA lesadas e bloqueio

dos canais de cálcio.

De acordo com a revista Psique (dezembro/2013), um estudo recente

realizado por especialistas da Universidade de Lubeck, na Alemanha, com 191

adultos, mostrou que dormir bem durante a noite é fundamental para memória

do aprendizado. Os cientistas alemães realizaram especificamente dois

experimentos. Num experimento foi pedido que cada participante memorizasse

40 pares de palavras; em outro, as pessoas deveriam participar de um jogo da

memória. Em cada uma das atividades, metade dos voluntários era informada

que faria testes para avaliação do aprendizado do dia dentro de dez horas,

enquanto a outra metade fazia o teste de surpresa. Somente alguns voluntários

puderam dormir durante o período entre as tarefas e a avaliação. Os autores

do estudo descobriram que aqueles que descansaram obtinham melhores

resultados nos testes de memória do que os que ficavam acordados, ainda que

estudando.

Isso acontece porque durante o descanso ocorre a síntese de

proteínas responsáveis pelo desenvolvimento de conexões neurais, o que

aprimora habilidades como atenção e memória. Durante a noite, o cérebro

seleciona as informações acumuladas, guardando aquilo que considera

importante e descartando o supérfluo, fixando, assim, lições aprendidas ao

longo do dia. Por esse motivo, quem dorme mal, geralmente, tem dificuldade

em lembrar-se de situações simples, como episódios ocorridos no dia anterior

ou nomes de pessoas próximas, baixa capacidade de atenção e concentração.

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Mas se uma pessoa privada de sono cochilar por uma ou duas horas, poderá

ter um rendimento normal em tarefas que exijam atenção e concentração,

como uma prova ou um trabalho complexo. Fica a sugestão para os

professores, não adianta gritar ou brigar com um aluno caindo de sono, se as

condições permitirem, um pequeno cochilo em local reservado já lhe equilibra

os níveis de cortisol e adrenalina. Verificar também se esse tipo de

comportamento é uma constante na sala de aula, o aluno que chega todos os

dias com muito sono e permanece assim até o final da aula, merece um olhar

mais individualizado e orientações específicas.

Durante o sono o cérebro processa novas memórias, fixa e afia

habilidades e até resolve problemas. O sono permite que o cérebro acesse

memórias e estabeleça conexões capazes de produzir lampejos de

conhecimento criativo. Uma boa noite de sono permite ao aluno manter a

atenção direcionada para determinada tarefa trazendo benefícios para o seu

bom desempenho na aprendizagem.

Além do sono, outro fator importante que influencia a aprendizagem

escolar, merece também um olhar diferenciado do professor em sua prática

pedagógica é a alimentação. Não é novidade para ninguém que é difícil

aprender com a barriga vazia. A maioria das pessoas concorda com o papel

fundamental da alimentação no desempenho escolar. Há algumas décadas,

luta-se no Brasil para que as escolas assumam o papel de alimentar

adequadamente seus alunos antes e depois das aulas. Não apenas por causa

do aspecto social, mas também do ponto de vista neurocientífico essa

preocupação é justificável.

De acordo com a revista Mente & Cérebro (março/2015), boa parte de

toda a glicose consumida pelo corpo destina-se ao cérebro. Recentemente,

testando substâncias capazes de aumentar o aprendizado, o pesquisador

americano Paul Gold verificou que uma das mais eficazes é justamente a

glicose. Produzida a partir da ingestão de açúcar e carboidratos, ela é o

combustível essencial para o funcionamento das células do organismo. No

cérebro, seu papel é especial. É a glicose que contribui para a liberação de

acetilcolina, neurotransmissor que faz parte do processo de memória.

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Mas não é só a glicose que é importante no fornecimento de energia

para as células cerebrais. O ferro é outro componente importantíssimo. O ferro

é o carro condutor do oxigênio pelo organismo. A falta dessa substância pode

prejudicar a capacidade de atenção e concentração. Para se ter idéia de como

essa combinação entre glicose e ferro é importante, basta lembrar que o

cérebro humano pesa em torno de 1,5 kg, e sozinho consome

aproximadamente 30% da energia total do corpo.

O cérebro é o órgão que mais consome energia. Segundo pesquisa

publicada na folha de São Paulo (2014), no recém-nascido, 87% das calorias

ingeridas são consumidas por ele. Esse número cai para 44% aos cinco anos;

34% aos dez; 23% nos homens e 27% nas mulheres adultas. Aos três anos de

idade, o cérebro da criança atingiu 80% das dimensões do adulto. Nessa fase,

já existem trilhões de conexões entre os neurônios (sinapses), condição

essencial para que o desenvolvimento intelectual aconteça em sua plenitude,

por isso é tão importante que o profissional de educação insira esses

conhecimentos em sua prática pedagógica, pois as necessidades de sono e

alimentação supridas facilitam bastante o processo de aprendizagem do aluno.

Outro tema relacionado ao aumento de sinapses facilitando a evolução

do aluno é a presença do estímulo adequado na hora certa, Antunes (2000),

chama de “ginástica cerebral”. O presente autor dá um exemplo bem

elucidativo com relação aos estímulos de dentro de casa, alegando que o berço

é a primeira sala de aula de uma criança e sua primeira escola da vida é o

quarto, a sala e a cozinha, com mães e pais estimulando todas as inteligências.

Mas isso não pode ser feito o tempo todo. Cabe à escola, ao professor ou aos

pais estarem ligados na criança sempre e sentirem que, quando surgir o

interesse pelo desafio, a dúvida, o questionamento, é importante ter em mãos

ou em mente, recursos que possam ser utilizados com sabedoria, instigando,

mediando, estimulando o processo de aprendizagem.

A diversidade de estímulos ambientais interferem no desenvolvimento

físico, cognitivo, intelectual e, sobretudo, emocional da criança, ocasionando

imensas diferenças individuais. Uma criança com dois anos, de uma classe rica

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da cidade grande, muitas vezes, recebeu mais estímulos que uma criança de

seis anos em uma comunidade rural pobre.

O estímulo na quantidade suportável, no tempo certo é muito

importante para o desenvolvimento das potencialidades do cérebro. Mas

Antunes (2000) leva a seguinte reflexão: “Existe um tempo certo para estimular

o cérebro?”. O autor alega que pode-se dizer como resposta: “a vida inteira”,

mas com prioridade na fase dos dois aos doze anos, pois no início dessa fase

o organismo produz com intensidade a mielina, uma substância que envolve os

neurônios e que ajuda a aumentar a velocidade na transmissão de informações

(cap II). Para algumas crianças os estímulos educacionais só acontecem com o

ingresso na escola, com o contato do professor, que é o responsável por

fornecer a maior parte dos estímulos recebidos por essas crianças. Mas será

apenas esse o papel da escola?

O ambiente escolar faz parte do desenvolvimento intelectual, social e

emocional da criança. A aquisição de novos conhecimentos na escola

possibilita uma reorganização cognitiva, que determina a atuação dos

indivíduos no meio social, permitindo-lhes compreender e resolver

adequadamente os problemas por eles enfrentados.

Com relação à função da escola, RELVAS (2014), em seu livro Sob o

Comando do Cérebro, conduz a seguinte reflexão:

“A melhor escola é a que tem mais conteúdo, considerada

a ‘forte’, ou a que saiba valorizar os aspectos cognitivos,

emocionais, sociais e afetivos?”

Esse questionamento começa rondando a mente dos pais assim que

seus filhos entram em idade escolar. Qual é a melhor escola para o meu filho?

Não é uma decisão fácil, mas quando o assunto é prática pedagógica, sabe-se

da grande influência que o ambiente tem no processo de aprendizagem

educacional, então será abordado aqui como deveria ser a escola ideal.

A influência das emoções na aprendizagem é muito grande, por isso, é

importante que a escola seja planejada levando sempre em consideração as

emoções positivas (entusiasmo, curiosidade, envolvimento, desafio), já as

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negativas (ansiedade, apatia, medo, frustração) devem ser minimizadas para

que não perturbem a aprendizagem.

Gardner (2000) reforça essas idéias, quando afirma que o processo de

aprendizagem é dependente de um ambiente que ofereça segurança e um

determinado desafio.

O ambiente escolar deve ser estimulante, de forma que as pessoas se

sintam reconhecidas, ao mesmo tempo em que as ameaças precisam ser

identificadas e reduzidas ao mínimo. COSENZA (2011) compara o ambiente

escolar com um dos tempos musicais: “alegro moderato”, justificando que a

escola precisa ser estimulante e alegre, mas que permita o relaxamento e

diminua a ansiedade.

RELVAS (2014) também concorda que a escola seja um lugar de

educação emocional, desenvolvimento cognitvo e social, e vai além, a autora

defende a “neuroaprendência”, (a capacidade de sentir, pensar e agir), a

metacognição (o pensar sobre o pensar), e a resiliência emocional (capacidade

de autossuperação), como fatores principais dentro de uma proposta

pedagógica comprometida com o desenvolvimento saudável do aluno.

Segundo COSENZA (2011), não existe uma receita única a ser

seguida, mas a neurociência indica algumas direções para que a escola seja

um local facilitador do processo educacional.

Nesse processo educacional o professor desempenha um papel

fundamental de mediador, cabendo a ele o papel de possibilitar as melhores

condições e meios para a aprendizagem, através da sua prática pedagógica.

Refletindo com Markova (2000):

“Precisamos aprender a facilitar o processo de

aprendizagem. Em vez de simplesmente acumularmos

novas teorias e mais informações, que estarão

ultrapassadas em alguns anos, devemos nos concentrar

em aprender como aprender.”

A complexa rede formada pelo sistema nervoso e as funções por ele

desempenhadas fornecem potenciais aplicações para a prática educativa, que

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deve ser considerada pelos professores durante a escolha das estratégias

pedagógicas com o objetivo de oferecer ao aluno o conteúdo da disciplina da

forma que este tem mais facilidade de aprender, ou seja, de acordo com a

linguagem natural que sua mente utiliza para aprender, exigindo do professor a

habilidade e sensibilidade de perceber a diversidade que existe na sociedade e

que na sala de aula se torna maior, sendo um desafio para ele preparar sua

prática pedagógica para levar o conhecimento a todos os alunos,

reconhecendo as diferenças e promovendo a aprendizagem significativa.

Como em uma sala de aula o professor não tem condições de adotar

metodologias de ensino que atenda a todos os alunos ao mesmo tempo, o

aconselhável é que ele diversifique suas estratégias pedagógicas, alternando-

as e assim atentando a todos os alunos em algum momento.

Para que os professores consigam atingir os resultados esperados, é

necessário combinar, modificar, adaptar e alternar as diversas estratégias

pedagógicas, de acordo com o perfil dos alunos e da turma. E isso, somado

com os recursos didáticos disponíveis, como o quadro branco, livros textos e

complementares, computadores, filmes, vídeos, TV, rádio, data show,

apostilas, dentre outros.

Se o professor tem o conhecimento do funcionamento cerebral e

entende a importância de preparar aulas que explorem os diferentes estilos de

aprendizagem dos alunos, ele será capaz de dar um novo significado a sua

prática docente (SOARES, 2003). Além disso, o professor deve ter a

sensibilidade de perceber as necessidades de seus alunos e compreender que:

“Ensinar significa aceitar os riscos do desafio do novo,

enquanto inovador, enriquecedor, e rejeitar quaisquer

formas de discriminação que separe as pessoas em raça,

classes. É ter certeza de que faz parte de um processo

inconcluso, apesar de saber que o ser humano é um ser

condicionado, portanto, há sempre possibilidades de

interferir na realidade a fim de modificá-la (FERNANDES,

2010).”

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Relvas (2014), nos mostra, que o professor, ao estabelecer as

estratégias de ensino em relação ao seu conteúdo em seus planejamentos,

deve estar ciente de que suas turmas constituem uma “biologia cerebral”, tal

qual uma verdadeira “ecologia cognitiva”. Quando o professor possui os

conhecimentos neurocientíficos fica mais fácil perceber seus alunos como um

“sujeito cerebral”, com os sistemas biológicos muito estimulados e um

movimento de conexões nervosas sempre ativo. Ainda de acordo com Relvas

(2014), esse sujeito cerebral é o estudante que argumenta, questiona e que

tem autonomia em aprender. O papel do professor é provocar desafios,

promover ações reflexivas e permitir o diálogo entre emoções e afetos num

corpo orgânico e mental. De acordo com RELVAS (2014):

“Para garantir que as informações sejam transformadas

em aprendizagem, as aulas devem ser emolduradas pela

emoção, pois quando estas têm significado para a vida e

vêm pelo caminho da emoção, jamais serão esquecidas.

O novo caminho que o professor poderá percorrer a fim de despertar o

interesse do estudante para as novas aprendizagens é pelas conexões afetivas

e emocionais do sistema límbico que são ativadas no cérebro de recompensa.

O cérebro é ávido por novas informações. O professor que não instiga seus

estudantes à dúvida e à curiosidade inibe o potencial de inteligência e

afetividade no processo de aprender. O cérebro humano, no início de uma

aula, solicita, por meio de suas conexões neurais, fatos novos, pois a

concentração inicial é fundamental para receber novas informações, devido à

produção e acetilcolina, que mantém os movimentos das sinapses da célula

neural. E muitas vezes, o professor usa os momentos iniciais das aulas, que

são importantes para o cérebro, fazendo a chamada ou dando informações que

o cérebro já conhece, como uma revisão da aula passada.

O professor precisa provocar no educando aquilo que ele ainda não

sabe ou não conhece, e propor desafios. O cérebro agradece, diante de fatos

novos. Ao final de uma aula, solicite ao estudante que relate oralmente, ou por

escrito, ou por outra estratégia, o que ele aprendeu. Na verdade, ele não diz o

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que aprendeu, e sim o que fez na aula. Por isso, é momento de se pensar uma

nova maneira de ensinar, pois o aprender é se transformar por reflexões de

atitudes e de comportamentos. O estudante tem de encontrar significado no

que estuda, deve encontrar coerência na informação que recebe, senão apaga.

Quando se entende o funcionamento da aprendizagem neural,

compreende-se que esta é individual e personalizada, por isso não combina

com currículo escolar, porque o tempo da escola institucional não é o ritmo da

sinapse neural. O aluno tem de aprender os conteúdos diante das

necessidades estatísticas, e na maioria das vezes apresenta uma determinada

dificuldade e esta não é resolvida, cria-se um processo acumulativo, chegando

num processo de insucesso escolar ao longo de sua vida acadêmica e, muitas

vezes, desistindo de estudar. Quando se fala em aprendizagem é o ritmo de

cada um, isto tem a ver com as sinapses neurais que perpassam pelo interesse

do cérebro de recompensa e o desejo do sistema límbico e cognitivo.

Os objetivos educacionais e as práticas pedagógicas precisam ser

repensados, a fim de valorizar a aprendizagem biológica ou sináptica, mas

também a subjetiva, a afetiva, a emocional, a social e a cultural. Os agentes

destas mudanças são os representantes e integrantes envolvidos na escola e

na família.

As atividades pedagógicas apresentadas em sala de aula e na escola

devem promover especificamente o aprofundamento dos conceitos e o

desenvolvimento de pensamentos mais abrangentes e complexos do cérebro,

a fim de saber aplicar e provocar diferentes estímulos, no momento certo, nos

métodos pedagógicos.

Na perspectiva da sala de aula existem vários fatores a serem

analisados pelo professor, mas o principal deles é que todo aluno é capaz de

aprender e tem seu ritmo de aprendizagem. A partir dessa constatação

também é necessário focar nos métodos de ensino, variando-os de acordo com

as necessidades específicas dos alunos, utilizando, portanto métodos de

ensino multisensoriais.

A neurocientista Suzana Houzel, em seu site (cérebronosso.bio.br),

dispõe de jogos que trabalham a memória e atenção, servindo de sugestão

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para o professor diversificar sua aula e estimular a turma. Abaixo alguns jogos

retirados do site com as respectivas explicações da neurocientista sobre as

áreas do cérebro trabalhadas nas atividades:

1) Atenção espacial: siga aquele cérebro Este é um jogo muito divertido: trata-se de acompanhar um objeto que

se move pela tela.

Habilidades específicas:

• Atenção visual espacial (córtex parietal);

• Manutenção de objetivo e supressão de distratores (córtex pré-frontal);

Fonte: site cérebronosso.bio.br

2) Multitasking: será que é possível prestar atenção em duas coisas ao

mesmo tempo?

O único problema é fazer tudo ao mesmo tempo. É aqui que se

descobre a limitação intrínseca da atenção no cérebro: não é possível

prestar atenção em duas coisas ao mesmo tempo, muito menos três ou

quatro. Tudo o que se consegue fazer é alternar rapidamente o foco da

atenção entre assuntos diferentes.

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Fonte: site cérebronosso.bio.br

3) Planejamento e memória de trabalho: jogo do estacionamento.

Missão: estacionar cada carro na vaga da mesma cor. Basta clicar no

carro e ele irá para a vaga disponível.

Habilidades específicas:

• Planejamento de ações sequenciais (córtex pré-frontal), que por

sua vez exige...

• Memória de trabalho (córtex pré-frontal dorso-lateral), para

guardar a ordem de movimentos necessária;

Fonte: site cérebronosso.bio.br

Todas essas atividades também podem ser facilmente adaptadas para

outras versões sem computador, os desafios podem ser apresentados e

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realizados pelos próprios alunos como na confecção das peças do jogo, um

tabuleiro de cartolina desenhado com o circuito e carrinhos de cores diferentes,

viabilizam o jogo. No caso do jogo multitarefas, por exemplo, o aluno pode ter

como objetivo fazer duas tarefas diferentes ao mesmo tempo. Vale a

criatividade, ou seja, a utilização do neocórtex de cada um.

Para Relvas (2014), “é necessário provocar desafios”, o espaço fora da

sala de aula sempre que possível deve ser utilizado, criar projetos de leitura e

escrita, promover debates, elaborar palavras cruzadas. Usar as músicas

preferidas das crianças para trabalhar conceitos, jogos de estratégias, usar

informações em gráficos, estabelecer linhas do tempo, proporcionar atividades

de movimentos. Desenhar mapas e labirintos, conduzir atividades de

visualização, jogo de memória. Permitir a criação, valorizando o ritmo de cada

um, designar projetos individuais e direcionados, estabelecer metas, oferecer

oportunidades de receberem informações uns dos outros e envolver em

projetos de reflexão, promovendo o trabalho em equipe.

Fonte: Google image.

Cosenza (2011), afirma que a prática pedagógica têm mais chance de

obter sucesso quando levam em conta a forma do cérebro aprender. Entram

nesse contexto os processos de atenção e memória, porque perpassam por

todos os fatores que influenciam a prática pedagógica.

A atenção, pré-requisito para a aprendizagem é fundamental para a

recepção da informação, é necessário ter atenção para focar no estímulo a ser

aprendido. Estando atento a um estímulo o cérebro registra a informação na

memória, que é a capacidade de adquirir, formar, conservar informações e

recuperá-las, de acordo com a necessidade, para poder utilizá-las no presente.

Não há como dissociar: atenção e memória da aprendizagem, pois para que a

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aprendizagem ocorra é fundamental que as informações e os conhecimentos

adquiridos sejam captados pela atenção e se consolidem na memória.

Uma pesquisa publicada na PsiqWeb (2008), comprova que a

introdução é a alma do negócio quando o quesito é atenção. Os diretores de

Hollywood perceberam que os três primeiros minutos são essenciais para o

arrebatamento da audiência e o conseqüente sucesso financeiro de um filme.

Para os profissionais das comunicações, se ganha ou perde a batalha pela

atenção do público nos primeiros trinta segundos de sua apresentação.

Levando essa realidade para prática pedagógica, é essencial que o professor

inicie sua aula com algo interessante, um desafio ou de uma forma diferente do

que a de costume, para chamar a atenção do aluno. Segundo Relvas (2014):

“nosso cérebro é fofoqueiro”, ou seja, adora uma novidade.

Muitos educadores ainda desconhecem esse processo de como os

seus alunos aprendem e quais são os meios que eles utilizam para aprender.

Desconhecem também que algumas das dificuldades que os seus alunos

encontram no processo de aprendizagem podem estar associadas a problemas

com a integridade da sua memória ou atenção, e a todos os fatores que já

foram vistos no presente trabalho. Assim sendo, os alunos dificilmente

conseguirão atingir os objetivos esperados para a sua turma, pois a

aprendizagem não ocorrerá e qualquer das estratégias utilizadas pelos

professores será ineficiente gerando um ciclo vicioso e um desgaste emocional

em todos os envolvidos no processo.

Um ambiente bem elaborado, sendo explorado no momento de

codificar uma nova informação, a utilização de exemplos do mundo real na

hora de repassar um conteúdo, repetir de várias formas diferentes para ajudar

o estudante a memorizar, procurar despertar emoções nos alunos para que

eles associem ao novo conhecimento, são idéias simples, que facilitam a

prática pedagógica levando ao sucesso no processo de aprendizagem.

Constatou-se no presente capítulo, que a má alimentação, a falta de

cuidados com o sono e a precariedade de estímulos influenciam diretamente

nas transmissões sinápticas, limitando a capacidade de aprendizagem escolar.

O professor precisa estar por dentro dessa realidade, porque se depara com

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essas situações o tempo todo em seu dia a dia. Compreender o aluno sem

julgá-lo, saber o que acontece nas suas estruturas cognitivas, biológicas,

sociais e emocionais, ajuda muito na elaboração de uma prática pedagógica

condizente com a realidade desse estudante.

O professor, que possui uma prática pedagógica consciente do “sujeito

cerebral”, apresenta uma enorme importância no processo de aprendizagem

dos seus alunos, pois é ele quem está em contato direto com esses seres em

evolução, ele é um dos únicos a ter o privilégio, a responsabilidade de poder

compartilhar as vitórias, as dificuldades e necessidades desses alunos, tendo o

papel fundamental de modificar os genes das células cerebrais.

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CONCLUSÃO

Os processos de atenção, memória e aprendizagem, estão sempre nos

comentários entre os professores, mas nem sempre são compreendidos como

funções cerebrais interligadas que interferem no processo de desenvolvimento

cognitivo do aluno, afetando também a prática pedagógica.

A atenção, por exemplo, é campeã de reclamações nos conselhos de

classe: “os alunos não param quietos, são muito dispersos, bagunceiros...”, a

falta de atenção, nem sempre, é sinônimo de indisciplina ou de TDAH por parte

dos alunos. Quantas vezes os professores, falam de forma ríspida: “Presta

atenção, menino (a)!” Como se a “culpa” fosse da criança. Atenção é foco, está

diretamente ligada ao interesse, a curiosidade e dependendo da idade não se

fixa por muito tempo. A falta de atenção pode ser decorrente de um meio

desestimulante, de problemas familiares, de situações inadequadas à

aprendizagem, a aula pode estar “chata”, sem sentido para criança. Para evitar

isso, o professor deve focar a interação entre ele, o saber e a individualidade

de cada aluno, refletindo sobre as atividades propostas e modificando-as se

necessário.

No caso da memória, outro processo importante para a aprendizagem,

é mais efetiva na associação com um conhecimento já adquirido, envolve

estado emocional, aprender não é só memorizar informações. É preciso saber

relacioná-las, ressignificá-las e refletir sobre elas. É tarefa do professor, então,

aguçar a curiosidade do aluno, para que os conteúdos sejam aprendidos com

prazer, e dar condições para que o aluno construa sentido sobre o que está

vendo em sala. Lembrando sempre que cada aluno é único, apesar de todos

terem as mesmas estruturas cerebrais, o cérebro é quem define seu limite e

seu tempo de aprendizagem.

A aprendizagem básica se dá com a atenção, no momento exato em

que ocorre a captação de uma informação pelas vias sensoriais, pela sua

retenção e fixação nas áreas da memória, função executada pelo córtex

cerebral.

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Atenção e memória são processos fundamentais para a aprendizagem,

já que ocorrem antes do processo de aprender. O indivíduo conta também com

as suas estruturas física, psicológica e cognitiva e é preciso que haja uma

integração dos fatores emocionais, neurológicos, relacionais (ambiente social)

e ambientais. Qualquer outro fator que influencie negativamente, como a fome,

a falta de sono e estímulos, afetará o processo de aprendizagem.

A neurociência não traz uma receita pronta na resolução dos

problemas pedagógicos, mas ajuda a compreender melhor como se processam

a atenção, memória e a aprendizagem nessa máquina fantástica que é o

cérebro humano, esse conhecimento instrumentaliza a prática pedagógica para

o desenvolvimento de um novo olhar, com argumentos científicos na

elaboração de estratégias lógicas e coerentes com o funcionamento cerebral

do sujeito aprendente. O professor, ao observar todos os fatores envolvidos no

processo de aprendizagem educacional, como as emoções dos estudantes, por

exemplo, pode ter pistas de como o meio escolar os afeta: se está instigando

emocionalmente ou causando apatia por ser desestimulante. Dessa forma,

consegue reverter um quadro negativo, que não favorece a aprendizagem,

utilizando a neurociência a favor da prática pedagógica.

Assim, aprendizagem, memória e atenção, são processos

indissociáveis, funcionando como suporte para todo o conhecimento,

desenvolvendo habilidades, planejamentos estratégicos, fazendo relembrar o

passado, para viver melhor no presente, garantindo a evolução da espécie num

futuro promissor.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Memória e atenção, as funções cognitivas mais utilizadas pelos

seres humanos 09

1.1 – O que é memória? 10

1.1.1 – Tipos e características da memória 12

1.1.2 – A arte de esquecer 14

1.2 – Atenção, foco direcionado sobre um estímulo específico 15

1.2.1 – Distribuição da atenção 18

1.2.2 – Transtorno do déficit de atenção /hiperatividade

(TDAH) 19

CAPÍTULO II

Processos cerebrais envolvidos na aprendizagem 22

2.1 – O papel da emoção no processo de aprendizagem 30

CAPÍTULO III

A neurociência instrumentalizando o professor do ensino

fundamental I, em benefício da prática pedagógica 37

CONCLUSÃO 56

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 58

ÍNDICE 60