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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA COBRANÇA E RENEGOCIAÇÃO HABITACIONAL DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA Por: ANA PAULA SOARES CERQUEIRA Orientador Professora Ana Claudia Morressy Rio de Janeiro 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

COBRANÇA E RENEGOCIAÇÃO HABITACIONAL

DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

Por: ANA PAULA SOARES CERQUEIRA

Orientador

Professora Ana Claudia Morressy

Rio de Janeiro

2013

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

COBRANÇA E RENEGOCIAÇÃO HABITACIONAL

DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em GESTÃO DE

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

Por: Ana Paula Soares Cerqueira

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AGRADECIMENTOS

Aos meus filhos Pedro Henrique e

Catarina e meu marido Alexandre.

A minha empresa CAIXA ECONÔMICA

FEDERAL pela oportunidade.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha mãe que

me fez acreditar na realização dos meus

sonhos e trabalhar muito para que

pudesse realizá-los.

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RESUMO

O presente trabalho mostra um estudo sobre o processo de

recuperação de crédito imobiliário nas instituições financeiras por meio

cobrança e das alternativas negociais, bem como: conhecer e expor o histórico

do SFH e outros sistemas, apresentar e analisar técnicas de negociação,

avaliar política de condução e gerenciamento da cobrança, tipos de

abordagem ao cliente, busca de alternativas negociais para retorno do crédito

e conhecer as habilidades de um negociador.

ABSTRACT

This paper presents a study on the recovery process of mortgage

financial institutions through collections and negotiation of alternatives, as well

as meet and expose the history of the SFH and other systems, present and

analyze trading techniques, assessing driving policy and management of the

collection, types of customer approach, seeking alternatives to negotiating

return of credit and know the skills of a negotiator.

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METODOLOGIA

Este trabalho procurou por meio de leitura bibliográfica, normativos de

instituições financeiras, pesquisa pela internet e pela minha própria experiência

prover condições de renegociação de dívida da carteira de Crédito Imobiliário,

buscando incrementar o seu retorno econômico e financeiro.

.

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SUMÁRIO

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO II: HISTÓRICO DO SFH 10

CAPÍTULO III: REESTRUTURAÇÃO 15

CAPÍTULO IV: ÓRGÃOS NORMATIVOS 17

CAPÍTULO V: CRÉDITO 19

5.1 – CONCESSÃO 19

5.2 – ANÁLISE DE CRÉDITO 19

5.3 – RISCO DE CRÉDITO 20

5.4 – OS 5 CS DO CRÉDITO 21

5.5 – ASPECTOS PRÁTICOS NA CONCESSÃO DE CRÉDITO 21

CAPÍTULO VI – RECUPERAÇÃO DE ATIVOS 23

CAPÍTULO VII – NEGOCIAÇÃO 26

CAPÍTULO VIII – CAPACITAÇÃO ORGANIZACIONAL EM

NEGOCIAÇÃO

33

CAPÍTULO IX – ESTRATÉGIA DE NEGOCIAÇÃO 38

CAPÍTULO X – HABILIDADES ESSENCIAIS DOS

NEGOCIADORES

48

CAPÍTULO XI – CONCLUSÃO 54

BIBLIOGRAFIA 56

ÍNDICE 59

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CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

Todas as Instituições Financeiras estão à mercê de oscilações do

mercado. Apesar das constantes melhorias nos processos de análise de

crédito e de risco, a inadimplência no país e, principalmente, no setor

financeiro é um fator preocupante.

A recuperação de ativos inadimplidos pessoa física é fator

extremamente relevante e que garante a saúde econômico-financeira da

empresa. O retorno dos valores emprestados é condição para que o sistema

financeiro habitacional viabilize novas contratações, diminuindo assim o déficit

de moradia no Brasil. A utilização de boas técnicas de negociação, juntamente

com um eficaz sistema de controle da inadimplência, tem como conseqüência

o retorno do equilíbrio econômico financeiro dos contratos e a garantia da

rentabilidade das operações. Um estudo que busque formas de recuperar os

créditos inadimplidos, certamente contribuirá para a elaboração de políticas,

estratégias e ações futuras.

O que se procura mostrar é a forma de negociação, em que os

aspectos relevantes são identificados e relacionados, buscando resultados

que levem em consideração expectativas, emoções, desejos, sentimentos,

temores, valores, crenças e necessidades das partes envolvidas. A forma de

negociar/vender passou a ser um grande diferencial competitivo.

A ênfase no conhecimento do negócio acompanha a tecnologia de

negociação (etapas, estratégias etc), cada vez mais considerando a

necessidade de aprimoramento desse conhecimento e dessa tecnologia em

face das características pessoais (comportamentais) de quem está do outro

lado da mesa.

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Negociação significa por definição, a busca de objetivos,

relacionamento e processo decisório compartilhado. Esses três aspectos estão

sempre presentes. A qualidade com que são tratados é que faz a diferença.

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CAPÍTULO II

HISTÓRICO DO SFH

O Sistema Financeiro da Habitação (SFH) foi criado em l964, pela Lei

4380/64, para fomentar o financiamento de habitações às classes baixa e

média, a partir da formação de poupança própria pelo Sistema Brasileiro de

Poupança e Empréstimo (SBPE) e de outros como: Fundo de Garantia por

tempo de Serviço (FGTS); Fundo de Desenvolvimento Social (FDS); etc.

Ocorreram desde 1981, várias alterações que contribuíram decisivamente

para o esgotamento de seu modus operandi. Surgiram uma série de

implicações, decorrentes de várias crises pelas quais o país passou,

notadamente a partir de 1981. Primeiro, em decorrência de uma política de

arrocho salarial, estipulada pelo governo Figueiredo em 1982. As prestações

habitacionais dos contratos, corrigidas anualmente pela variação da Unidade

Padrão de Capital (UPC) do período, tornaram-se assustadoramente altas

para os padrões da época, ao mesmo tempo em que os salários eram

corrigidos com índices de reajuste inferiores à inflação e, por conseguinte,

inferiores à variação da UPC.

Tal fato causou um aumento da inadimplência nos contratos a um

nível tal que, o governo atendendo em parte às pressões políticas da

sociedade (associações de mutuários, órgãos de imprensa, revistas, órgãos

representativos, partidos políticos etc) e tentando salvar o que fosse possível

do capital aplicado, iniciou uma política de subsídios ao setor. Isso ocorreu

primeiramente com a aplicação dos Decretos-Leis 2045/83 e 2065/83, além da

Resolução do Conselho de Administração do Banco Nacional de Habitação

(BNH) 04/84 (RC 04/84), que culminaram logo em seguida, 11/1984, no Plano

de Equivalência Salarial por Categoria Profissional (PES-CP). A Resolução e

os Decretos trocaram o indexador de reajuste das prestações, a UPC, que

também era o indexador básico do sistema, inclusive do saldo devedor dos

contratos, pelo índice de reajuste do salário mínimo ou pelo índice de reajuste

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salarial da categoria. Em alguns casos a um percentual do salário mínimo,

80%. Ocorre que, um contrato deve ter basicamente o mesmo lastro, tanto no

reajuste da dívida, quanto dos encargos, pois caso contrário a dívida não será

paga dentro do prazo contratado, ou seja, se o reajuste dos encargos for

inferior ao reajuste da dívida, ao fim do prazo contratado a dívida não será

quitada, existindo o que chamamos de saldo residual.

Os contratos assinados até aquela data tinham correção do saldo

devedor trimestralmente pela UPC e as prestações tinham correção anual,

pelo mesmo índice, sendo previsto o saldo devedor ao final do contrato. Para

que se quitasse tal saldo e encerrasse este contrato no prazo estipulado, foi

criado um fundo chamado Fundo de Compensação de Variações Salariais

(FCVS). Porém, como já havia expectativa de resíduo ao final do contrato com

os mesmos índices de reajuste de saldo devedor e de prestação, maior ainda

ficou potencializado tal resíduo, quando ocorreu a troca por um índice de

reajuste das prestações menor do que o do saldo devedor. Principalmente

com o advento do PES-CP, onde o mutuário podia solicitar revisão de índice

de reajuste da prestação sempre que este fosse superior ao aumento que o

mesmo obtivesse em seu salário. As medidas tomadas pelo governo, apesar

de nocivas ao SFH, pois subsidiaram as prestações em detrimento do capital,

criando uma casta de privilegiados, foram positivas no que se refere à drástica

redução dos índices de inadimplência. Tal estratégia resultou em um baixo

retorno do investimento, porém contínuo e com baixa inadimplência.

Com o plano Cruzado, em março de 1986, houve o congelamento dos

saldos e a redução das prestações por meio da tablita. Os contratos assinados

no período de 1º de março até novembro de 86, passaram a ter reajuste

mensal do saldo devedor, sempre no dia 1º, pelo índice de variação da

Obrigação do Tesouro Nacional (OTN), quando ocorreu o que foi chamado de

“Plano Cruzado II”. Neste plano, os saldos devedores dos contratos que

estavam congelados desde março, foram reconvertidos e atualizados por

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índices variáveis, que em média foram de 25%. As prestações ficaram

congeladas até março de 1987.

Com o fim do Plano Cruzado e o choque inflacionário, o descompasso

entre as prestações e o saldo devedor tornou-se muito maior, pois a inflação

em ritmo crescente era repassada imediatamente aos saldos devedores, no

mês seguinte aos salários, quando era, e às prestações 60 dias após o

reajuste salarial. O descasamento saldo devedor/prestação tomou tais

proporções que, praticamente todos os contratos assinados até 28/02/86

tinham o que chamamos de amortização negativa do saldo. Isto significa que o

valor da prestação não era suficiente para pagar os juros do financiamento,

fazendo com que o saldo devedor do contrato crescesse em termos reais, ou

seja, correção monetária, mais juros não pagos na amortização.

Com o plano Verão, janeiro de 1989, um novo congelamento de

preços levou as prestações a novamente ficarem sem correção, enquanto os

saldos devedores eram corrigidos pelos índices normais da poupança. Tal

situação perdurou até junho de 1989, quando as prestações foram atualizadas

com a aplicação do reajuste acumulado no período, dividido em três parcelas,

calculadas a partir da raiz cúbica do índice acumulado, acrescido do índice

devido no mês.

Em fevereiro de 1990, atendendo ao apelo popular e tentando diminuir

o rombo nas contas do FCVS e também dos Agentes Financeiros do SFH, foi

ampliado o desconto para liquidação dos saldos devedores de 25% para 50%.

Foi criada a opção para os mesmos contratos de liquidarem o financiamento

pelo método conhecido por P x N, prestação atualizada vezes o número de

meses que faltavam, transformado em Lei (8004/90) em março de 1990. Tal

medida reduziu em boa parte o problema, pois somente no Rio de Janeiro,

segundo dados, foram liquidados mais de 10.000 contratos até 1996, que

correspondia a 60% da base de contratos com direito aos descontos. A

liquidação destes contratos foi um ganho para os clientes, um encargo mensal

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a menos e um bem livre de qualquer ônus. Para os Agentes Financeiros,

redução drástica do custo operacional, pois em muitos casos o encargo

mensal não cobria as despesas operacionais do contrato, além do fato de

antecipar o retorno de um investimento alto. Para o FCVS, uma sensível

diminuição no rombo de suas contas, pois, estancava ali a sangria causada

pelo crescimento desenfreado do saldo devedor e principalmente, diminuía em

termos reais o valor estimado de participação.

Com o advento do plano Real o perfil melhorou um pouco, pois, os

reajustes de prestação seguem mais próximos aos do saldo devedor, porém o

descompasso ainda continua, assim como a despesa operacional.

Vêm desta constatação a necessidade de reciclar os ativos, liquidando

contratos com baixo retorno do capital e aplicando os recebimentos em

operações mais rentáveis.

Assim, o que se busca de um sistema de financiamento é que ele, em

termos de público alvo e estrutura de sistema de amortização observe os

seguintes pressupostos e parâmetros:

• Indexadores compatíveis com aqueles praticados aos recursos

utilizados como funding das operações;

• Não concessão de subsídios implícitos, exigindo-se sempre o

destacamento prévio dos recursos com tal finalidade, visando eliminar a

possibilidade de geração de passivos a descoberto, os chamados

“esqueletos”;

• Planos de Reajustes e Sistemas de amortização livremente pactuados

entre as partes;

• Garantia de pleno retorno do capital emprestado dentro do prazo de

amortização contratado;

• Sistema de juros compostos, com taxas capitalizadas mensalmente;

• Contratos que explicitem, de forma clara, o custo efetivo do capital para

os tomadores, definindo as taxas de juros nominal e efetiva;

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• Ausência de qualquer variável implícita, visibilidade da Taxa Interna de

Retorno (TIR), que possa camuflar o custo para o tomador e ou a

receita para os Agentes Financeiros;

• Sejam de fácil entendimento para os mutuários, para peritos e pelo

poder judiciário;

• Explicitados, de forma clara, inequívoca e transparente, em um código

de relações entre mutuários e o Sistema Financeiro.

Em última análise, é preciso idealizar um sistema auto sustentado,

onde quem pague pelo financiamento seja apenas os que dele se

beneficiarem e, acima de tudo, que a União mude sua posição de provedora

para promotora.

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CAPÍTULO III

REESTRUTURAÇÃO

Nas últimas décadas, as regras do Sistema Financeiro Nacional

sofreram mudanças com a sofisticação dos Mercados financeiros e de capitais

e o grande avanço ocorrido na regulamentação securitizadora no mercado

internacional. Principalmente em razão da necessidade de aparelhar o

Sistema para as análises de risco de crédito. Houve uma adequação pelo

Conselho Monetário Nacional da regulamentação existente aos parâmetros

internacionais.

Em decorrência disto, constatou-se no mercado brasileiro a

necessidade de ajustes nos patrimônios das Instituições Financeiras. Como

uma das conseqüências disso, a edição da MP 2.196-3 de 24.08.2001, que

instituiu o Programa de Fortalecimento das Instituições Financeiras,

determinando a segregação dos créditos imobiliários e criando a Empresa

Gestora de Ativos (EMGEA).

A EMGEA é uma empresa pública federal, de natureza não financeira,

vinculada ao Ministério da Fazenda, instituída pelo Decreto nº 3.848, de

26.06.2001, com base na autorização contida na Medida Provisória nº 2.155,

de 26.06.2001 – atual MP nº 2.196-3, de 24.08.2001. Seu objetivo é adquirir

bens e direitos da União e das demais entidades da Administração Pública

Federal e reduzir a necessidade de aporte de capital por parte da União.

No processo de segregação de ativos e passivos da CAIXA, foram

transferidos créditos no valor de R$ 26,6 bilhões representados por 874.887

contratos imobiliários – sendo 872.503 de responsabilidade de pessoa física e

2.384 de pessoa jurídica. Em contrapartida, a EMGEA assumiu obrigações de

responsabilidade da CAIXA junto aos fundos – FGTS, FDS e a credores do

Fundo de Apoio à Produção de Habitações para a População de Baixa Renda

(FAHBRE), em montante correspondente ao valor dos créditos recebidos.

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Na CAIXA exigiu-se uma adequação da estrutura organizacional, no

que concerne aos processos relativos à administração, manutenção e

cobrança de créditos imobiliários, das carteiras próprias e das carteiras de

terceiros (EMGEA, União, HABITASUL, Instituto Nacional de Seguridade

Social (INSS), dentre outros).

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CAPÍTULO IV

ORGÃOS NORMATIVOS

No SFH, competia ao Banco Nacional da Habitação – BNH a

orientação e o controle do Sistema. Com a extinção do BNH, em novembro de

1986, suas atribuições, como órgão de cúpula do SFH, foram fragmentadas

entre Conselho Monetário Nacional – (CMN), o Banco Central do Brasil –

BACEN e a CAIXA.

Atualmente, compete ao Conselho Monetário Nacional a aprovação

das diretrizes e políticas de atuação do segmento habitacional e de

desenvolvimento urbano de nossa economia. As normalizações e

procedimentos operacionais, no que tange aos aspectos financeiros e à

gerência dos fundos do SFH passaram à órbita do Banco Central. As

normalizações e procedimentos operacionais dos programas habitacionais de

interesse social, do FGTS, das áreas de saneamento e desenvolvimento

urbano, assim como a gestão do FCVS, estão sob a responsabilidade da

CAIXA, que atua como Banco de 1ª e de 2º linhas, subordinado ao Ministério

da Fazenda que tem também, sob subordinação, o Conselho Curador do

Fundo de Compensação de Variações Salariais.

De acordo com as diretrizes e programas de alocação dos recursos,

estabelecidas pelo Conselho Curador do FGTS e em consonância com as

políticas fixadas pelo Governo Federal, cabe à CAIXA, como Agente

Operador, praticar todos os atos de gestão da aplicação dos recursos, do

FGTS, nas áreas de habitação popular, saneamento básico e infra-estrutura

urbana.

Pelas Resoluções nº 1.980, de 30.04.1993 e nº 3.005, de 30.07.2002,

as normas do Conselho Monetário Nacional, disciplinam as regras para o

direcionamento das captações em depósitos de poupança pelas Instituições

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Integrantes do SBPE. É estabelecido que 65% dos recursos, no mínimo,

devem ser aplicados em operações de financiamentos imobiliários, sendo que

80% do montante anterior em operações de financiamento habitacional no

âmbito do SFH e o restante em operações a taxas de mercado, desde que a

metade, no mínimo, em operações de financiamento habitacional, bem como

20% do total de recursos em encaixe obrigatório no Banco Central do Brasil

(BACEN). Os recursos remanescentes aplicados em operações de faixa livre.

O modelo institucional do Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI)

foi concebido segundo diretrizes da economia de mercado,

desregulamentação, desestatização de atividades e desoneração dos cofres

públicos. Criado pela Lei 9.514, de 20.11.97, transformou em realidade um

projeto que vinha sendo desenvolvido pelo setor de crédito imobiliário desde o

início da década de 90.

As operações de financiamento no SFI são livremente realizadas pelas

entidades autorizadas a operar e efetuadas segundo as condições de

mercado e sua implementação independe de qualquer regulamentação

governamental, não envolvendo a aplicação de quaisquer recursos

provenientes dos cofres públicos.

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CAPÍTULO V

CRÉDITO

5.1 – CONCESSÃO

São as linhas orientadoras que norteiam o processo decisório e

buscam equidade de esforços nos diversos níveis hierárquicos. São

formuladas com perspectivas de longo prazo e visam assegurar a coerência de

propósito nas decisões. O crédito é caracterizado pela cessão temporária de

bens a um terceiro, na expectativa de devolução, dentro de um período pré-

determinado, com os devidos ganhos financeiros. Consequentemente, o

crédito que alguém dispõe, está associado à capacidade do mesmo em obter

recursos financeiros e/ou serviços, mediante a promessa de pagamento num

prazo estabelecido contratualmente. E, certamente, a carteira inadimplente de

uma empresa é diretamente proporcional à qualidade na concessão do

crédito.

A concessão de crédito consiste em uma instituição colocar à

disposição do cliente, certo valor sob a forma de empréstimo ou financiamento,

mediante uma promessa de pagamento numa data futura, tendo como

retribuição por essa prestação de serviço certa taxa de juros cujo recebimento

poderá ser antecipado, periódico ou no final do prazo. É assim que o agente

financeiro se mantém e consegue retornar os recursos anteriormente captados.

5.2 – ANÁLISE DE CRÉDITO

A análise de crédito para uma instituição financeira tem como objetivo

principal identificar os riscos, avaliar a capacidade de pagamento e recomendar

o tipo de empréstimo mais adequado às condições financeiras do tomador,

sempre com foco na maximização de seus resultados. Na análise é necessária

a avaliação do histórico do tomador identificando fatores de risco que o cliente

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apresenta, bem como, sua capacidade de pagamento, ou seja, o grau de risco

futuro, para depois concluir a respeito de sua capacidade creditícia e

estruturação de uma proposta de crédito.

Portanto, a análise implica na habilidade de tomar uma decisão de

crédito de maneira mais segura possível, dentro de um cenário de incertezas e

constantes mutações. A habilidade está relacionada à capacidade de analisar

logicamente situações e chegar a uma conclusão clara, prática e factível. O

objetivo da análise de crédito é chegar a uma decisão que está tanto melhor,

quanto melhores forem as informações disponíveis.

5.3 – RISCO DE CRÉDITO

O risco de crédito está relacionado à possibilidade de perda, com a

incerteza quanto ao recebimento, estimadas com base na análise de crédito,

estará sempre presente em uma concessão, porém este tem que ser razoável e

compatível com a operação de crédito, daí a importância de uma análise de

crédito apurada e acurada. É inerente ao empréstimo, atividade básica de uma

instituição financeira, porém o mesmo deve ser razoável e compatível ao

negócio do banco. Isto reforça a importância fundamental da análise do crédito

para aumento da probabilidade de retorno dos valores no devido tempo e

redução dos riscos. A garantia tem como função gerar um comprometimento

pessoal ou patrimonial do tomador, aumentando o grau de segurança para a

instituição financeira, ou seja, pode minimizar riscos e assegurar maior

probabilidade de retorno do empréstimo.

A instituição financeira depende de serviços e operações de créditos

lucrativos, precisa portanto de colaboradores conscienciosos, que

desempenhem integralmente seu papel de agentes de recursos de terceiros no

processo de crédito.

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5.4 – OS 5 Cs DO CRÉDITO

É importante ressaltar a importância dos grandes pilares de uma transação

de crédito. Conhecido como os 5 Cs do crédito, estes resumem bem os

principais componentes para uma acertiva relação de confiança de recursos

para um tomador com certas garantias de recebimento futuro. São eles:

1- Caráter: refere-se ao histórico de cumprimento de deveres do solicitante. A

ética e índole do tomador que pode caracterizar a vontade de pagamento do

débito.

2- Capacidade: potencial de repagamento do crédito por parte do tomador.

3- Capital: solidez financeira do tomador do recurso.

4- Colateral: refere-se a bens dados como garantia do empréstimo.

5- Condições: condições micro e macro econômicas que resumem o campo de

atuação do solicitante do empréstimo.

5.5 – POLÍTICAS DE CRÉDITO

As políticas de crédito têm como objetivo definir parâmetros de

atuação, não devendo descer a detalhes operacionais, que serão

instrumentados por meio de manuais, normas de serviços, que servirão para

refletir e reforçar seus princípios. Não devem ser considerados como

imutáveis, embora figurem como permanentes, já que devem estar compatíveis

com o mercado.

5.6 – ASPECTOS PRÁTICOS NA CONCESSÃO DE CRÉDITO

A boa ou má qualidade na concessão está diretamente e

proporcionalmente ligada ao índice de inadimplência de uma carteira

habitacional. A melhor forma de minimizar uma inadimplência é conceder bem

e com qualidade. As instituições devem atacar as causas da inadimplência e

não sua consequência. Abaixo, foram selecionados alguns aspectos práticos de

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providências na análise para concessão de crédito habitacional de uma

instituição financeira:

• Entrevista pessoal com os clientes/avalistas.

• Pesquisa cadastral rigorosa e com qualidade dos clientes/avalistas.

• Não financiamento de 100% do imóvel. O mutuário deverá comparecer

no financiamento com um percentual de recursos próprios. Tais recursos

podem ser em espécie ou valor de sua conta vinculada do FGTS

quando a legislação permitir. Ou ainda, comparecer, por exemplo, com o

terreno em caso de construção ou com parte do imóvel em caso de

término de construção. A conseqüência lógica é a sensível melhora na

garantia hipotecária, bem como um maior comprometimento por parte do

cliente.

• Evitar-se concessões no limite máximo da capacidade financeira dos

mutuários.

• Envidar os maiores esforços possíveis para que as contratações sejam

procedidas pela Alienação Fiduciária, tornando o crédito muito mais

garantido e uma imediata retomada do imóvel em caso de

inadimplemento em respeito à legislação pertinente em vigor.

• Análise rigorosa sobre todos os aspectos jurídicos da contratação, com

parceria com o setor Jurídico da empresa.

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CAPÍTULO VI

RECUPERAÇÃO DE ATIVOS

De forma geral, no processo de recuperação de ativos habitacionais

ressaltamos:

• A importância de sistemas corporativos com dados consistentes e que

informem a inadimplência a partir de um dia, possibilitando as áreas da

instituição financeira atuarem de maneira enérgica e em tempo real.

• Disponibilidade de informações genéricas, pela área de cobrança, como

por exemplo, se o cliente possui FGTS, outros recursos, situação

econômica, etc.

• As ações de restrição ao crédito como inclusão dos devedores no

Serviço de Proteção ao Crédito – SPC são ações utilizadas para proteger

a aplicação de recursos a pessoas inidôneas e forçar o devedor a buscar

por meio de negociação, uma solução para sua inadimplência.

� A identificação e formulação de alternativas negociais é outro ponto a

ser analisado. A verificação de parâmetros mínimos e máximos em uma

negociação é vital para o seu sucesso. As áreas responsáveis pela

recuperação do crédito deverão conhecer e delimitar de acordo com suas

alçadas, os limites de atuação, conhecendo as necessidades da empresa

e as possibilidades do devedor.

� Identificados os parâmetros e possibilidades negociais, passamos à

etapa da busca da proposta formal junto ao cliente. Nessa etapa, deve-se

mostrar ao devedor todas as vantagens de regularizar o seu débito, por

meio de uma proposta formal de renegociação assumida pelo cliente,

criando um compromisso de pagamento, definindo data e valor.

� A cobrança do crédito inadimplido tem como meta a recuperação do

crédito, seja por meio da liquidação da dívida, de uma negociação,

parcelamento do débito, ou como último recurso, a execução judicial da

operação. Para as operações que possuem cobertura de seguro de

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crédito interno, a seguradora deverá ser acionada, dentro dos padrões,

prazos e limites preestabelecidos, ressarcindo à instituição financeira o

prejuízo da operação.

� Análise da contratação, que irá determinar se houve dolo, má fé ou

imperícia na operação, cobrando dos administradores concessores as

responsabilidades civis da operação. Esta medida é utilizada tendo em

vista que a instituição financeira responde às ações de seus

administradores ao Tribunal de Contas da União – (TCU).

� Adotadas todas as medidas de cobrança, é fundamental que se

adotem medidas de acompanhamento do processo, já que a vida

econômica das pessoas físicas e jurídicas, é dinâmica e mutável.

O risco é inerente à função do crédito, mas não podemos confundi-lo

com incerteza. A tempestividade e as condições de negociação são fatores

preponderantes para o sucesso do retorno do crédito. A perda de

oportunidade de uma negociação poderá remeter o contrato para uma faixa de

atraso maior e conseqüentemente dificultar a sua regularização. Desta forma

faz-se necessário implementar ações voltadas para a não deterioração do

crédito por migração para as faixas de difícil recuperação, intensificando-se as

ações de cobrança e recuperação em todas as faixas de atraso, com ênfase

para as de menor prazo.

Cabe ressaltar que a carteira, universo desta monografia é constituída

por contratos mais recentes, para os quais acentua-se a necessidade de

desenvolvimento de ações tempestivas de cobrança e recuperação.

O quadro abaixo apresenta a sequência de um processo de

Recuperação de Ativos numa instituição financeira. Mostra o fluxo das ações e

os passos para recuperação dos créditos inadimplidos.

Período em atraso SFI

10 DIAS Aviso pós-vencimento (postagem simples);

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Inclusão em cadastros restritivos automaticamente.

30 DIAS Cobrança por telefone de empresa contratada pela

instituição financeira.

31 DIAS Dívidas de até 100 mil – Cobrança Terceirizada;

Dívidas mais de 100 mil – Cobrança pela própria

Instituição Financeira.

60 DIAS 1º Aviso de Cobrança (automático).

61 DIAS Cobrança por Intimação/Notificação via Cartório de

Registro de Imóveis – Prazo de 15 dias para purgar. A

execução da dívida deve ser iniciada a partir desta data

(extrajudicial ou judicial). Os contratos são marcados com

situação especial de execução ou sinistro por

inadimplência pela Instituição Financeira.

90 DIAS 2º Aviso de Cobrança – emitido 30 dias após a emissão

do 1º aviso, (automático);

Os constantes ajustes e adequações da política de cobrança e

recuperação é conseqüência natural de um processo dinâmico, sensível às

mudanças conjunturais e culturais, a fim de buscar a contínua melhoria do

perfil da carteira de créditos imobiliários.

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CAPÍTULO VII

NEGOCIAÇÃO

Na era do conhecimento, globalização e Internet, a negociação

assume uma função cada vez mais importante. Segundo alguns autores,

negociação é, depois de ler e escrever, a habilidade mais importante das

necessárias para se tornar bem-sucedido pessoalmente, financeiramente e

profissionalmente.

Pode também ser definida como uma arte, pois, depende do exercício

de uma das mais difíceis habilidades do ser humano: o diálogo. Mas não se

trata de qualquer tipo de diálogo e sim do exercício do diálogo inteligente,

onde os interlocutores buscam, por meio da palavra, firmar posições e

conceitos, objetivando atingir o sucesso na negociação. Muitas pessoas não

desenvolvem habilidades de negociação por não acreditarem ser possível ou

por simplesmente terem medo de negociar. Quebrar as resistências, vencer o

medo e praticar pode tornar qualquer um hábil negociador.

De acordo com GOLDBERG, no artigo “A Arte de Negociar”,

Negociação é o processo de alcançar objetivos por meio de um acordo nas

situações em que existam interesses comuns e divergências de idéias e

posições. É um processo de troca, em que as partes determinam o mínimo e o

máximo aceitáveis, a chamada zona de acordo, onde as premissas são:

• Ter pelo menos duas partes envolvidas;

• Existir algum conflito de interesses sobre algum item negociado;

• Demandar algum relacionamento ainda que seja temporal;

• Apresentação de uma proposta com avaliação desta pela outra parte.

Assim e em virtude de todas estas situações é preciso negociar.

Conforme o artigo “Negociação - Novas Perspectivas”, de WANDERLEY é

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preciso que se identifique o que deve ser enfatizado e os enfoques a serem

adotados nas negociações:

• Uma questão básica: saber a diferença entre objetivo e alternativa e

manter o foco: Nem sempre os negociadores levam em conta que

qualquer acordo é uma das alternativas possíveis e que a solução que

encontrarem é tão boa quanto a melhor alternativa que conseguirem

gerar. Assim, por exemplo, há casos de alianças estratégicas que

falharam pelo fato dos negociadores verem a aliança como um objetivo

em si mesmo, e não como uma alternativa para se chegar a um

determinado objetivo. Em decorrência, fecham-se acordos sem que

sejam avaliadas as reais necessidades, nem as alternativas de alianças

que sejam mais adequadas, ou seja, perde-se o foco daquilo que é

realmente importante.

• Flexibilidade é fundamental, ou a época das certezas já era:

Flexibilidade significa encontrar condutas e obter respostas apropriadas

para cada situação. E o que dá certo num contexto ou para algumas

pessoas, pode dar completamente errado em outro contexto ou para

outras pessoas. Assim, como não se pode ter certeza de que estamos

escolhendo o melhor caminho, devemos estar atentos aos feedbacks que

estamos recebendo. Se aquilo que estamos fazendo não provoca a

resposta desejada, devemos mudar. Mas para isto é preciso, não só

diagnosticar, mas também estar efetivamente conectado e ter repertório

para se poder encontrar a forma mais apropriada de agir de acordo com

as necessidades de cada situação.

• Só entender do assunto não basta. É preciso trabalhar o processo

e os relacionamentos.

Normalmente os negociadores estão tão focados no assunto, ou

conteúdo da negociação, que se esquecem do processo e dos

relacionamentos entre eles. E, o como se faz, freqüentemente é tão ou

mais importante do que aquilo que se faz. Quer nos demos conta ou não,

sempre estamos em alguma etapa do processo de negociação. Existem

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sete etapas: Preparação, Abertura, Exploração, Apresentação,

Clarificação, Ação Final e Controle/Avaliação. Em geral, as pessoas dão

pouca atenção ao processo e se concentram mais no conteúdo. A

negociação não acaba quando o acordo foi firmado e sim quando

cumprido.

Igualmente, é preciso estar atento aos relacionamentos. E

relacionamento importa em emoção e comunicação. Assim, existem

comportamentos, como a agressão e regressão, que dificultam ou

mesmo inviabilizam um relacionamento construtivo, e que se

manifestam, sobretudo, nos momentos de maior tensão e conflitos. É

possível ser firme e cortês. Estar atento ao processo, divergências de

posições, idéias e saber tratar as pessoas de forma adequada é algo que

contribui significativamente para que se mantenha o foco naquilo que é

realmente importante.

• Informação é poder. Mas é preciso saber separar o joio do trigo: A

matéria prima do processo de negociação é a informação.

Informações que são geradas e obtidas dentro ou fora da

negociação. E, se a matéria prima estiver com defeito, o produto, ou

seja, o acordo, estará comprometido. Assim, é preciso ter muito

cuidado com o lixo, informações distorcidas e difundidas de forma

leviana. Às vezes, difundidas com objetivos de manipulação, ou

com o intuito de provocar distúrbios, de forma semelhante à

transmissão de vírus em computadores. Portanto, saber obter e

identificar, dentro do processo de negociação, as informações

relevantes, separando o joio do trigo, se constitui numa das

habilidades mais expressivas de um negociador.

• A Internet facilita, mas não substitui o contato face a face: Com a

Internet, a possibilidade de se obter informações é significativa.

Entretanto, nada substitui o contato pessoal. É bastante comum

ver pessoas que, em suas relações profissionais, só se conheciam,

por exemplo, por meio do telefone, expressarem uma satisfação

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muito grande quando se encontram face a face. É no contato

pessoal que se conhece a linguagem corporal, a expressão facial,

a forma de respiração. É muito difícil, estabelecer uma relação

mais profunda e personalizada à distância e, conseqüentemente,

criar um relacionamento de confiança.

WANDERLEY cita também nos artigos “Sempre Negocie para

Ganhar”, e “Negociação: 10 Pontos Indispensáveis para o Sucesso”, algumas

dicas que podem fazer a diferença em qualquer negociação:

• Lutar pelo desejável: Negociamos para alcançar objetivos, observando a

margem de negociação, que é definida pelo desejável, ou seja, aquilo que

consideramos o melhor e o limite, ou seja, o mínimo aceitável, que se não

for obtido fará com que cheguemos a um impasse. Assim, é importante

definir a margem de negociação para tudo o que for negociado, como

características técnicas, preços e prazos, e lutar pelo desejável. Em

negociação, quem espera pouco, alcança pouco.

• Duas formas de se negociar:

Barganha de Propostas – quem barganha basicamente negocia na base

da queda de braço. Exagera os pontos positivos e minimiza os pontos

negativos da sua proposta e faz justamente o oposto em relação à

proposta do outro. Procedimento comum nos negociantes de carros

usados.

Solução de problemas – quem segue este caminho aprofunda a

compreensão do que está sendo negociado e procura encontrar

alternativas e soluções que atendam aos interesses das partes. Todo

negociador quer ganhar. Mas existem duas maneiras de ganhar. Uma, às

custas do outro. Outra, de forma que os interesses das partes sejam

atendidos. É fundamental saber converter situações de ganha/perde em

ganha/ganha.

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• Preparar-se: A maioria das negociações é ganha ou perdida, bem-feita

ou malfeita, de acordo com a qualidade da preparação. Quem não leva a

sério a preparação de algo está se preparando para o fracasso. Não

aceite autojustificativas como "não tenho tempo" ou "a negociação foi

imprevista". Alegar falta de tempo é confessar má administração do

tempo. Não estar preparado para os imprevistos significa não

internalização dos princípios e procedimentos existentes em toda e

qualquer negociação. É importante levar em consideração o princípio da

economia, ou seja, conseguir o máximo com o mínimo.

• Identificar os cenários: Toda negociação tem três cenários. O primeiro

diz respeito aos negociadores, estejam eles negociando individualmente

ou em equipe. É importante verificar a autoridade da pessoa com quem

você está negociando. O segundo cenário refere-se às pessoas que

estão por trás dos negociadores. É o chamado eleitorado. Todo

negociador tem um eleitorado. E um dos maiores temores de qualquer

negociador é ser desconsiderado pelo seu eleitorado. Tenha sempre uma

saída honrosa para o outro lado. Um outro aspecto do segundo cenário é

apoio logístico, como banco de dados e suporte para quem estiver

negociando. Somente competência individual pode não ser suficiente.

Pode ser necessária competência organizacional. O terceiro cenário

consiste no macro ambiente econômico, social e cultural – fator

extremamente relevante neste nosso mundo globalizado.

• Conhecer o seu negócio: Conhecer muito bem o assunto da sua

negociação na totalidade dos pontos de vista, que podem ser de natureza

jurídica, técnica, econômica, financeira e social é extremamente

importante. A diversidade dos assuntos e competências necessárias faz

com que, freqüentemente, seja necessário negociar em equipe. Equipes

mal preparadas podem ser um verdadeiro desastre.

• Realidade Pessoal: Tem a ver com atitudes, crenças e valores. Existem

crenças que levam ao fracasso como, por exemplo, acreditar que se está

sempre na pior situação e sem alternativas. Entre as crenças de sucesso

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estão: Considerar tudo uma oportunidade, assumir responsabilidade

pelas coisas que lhe acontecem e não considerar seus erros como um

fracasso e sim um feedback negativo – uma informação de que o que

você fez não o levou aos objetivos. Não é preciso, e nem possível, saber

tudo para agir. Saber conviver com o risco, a incerteza e a ambigüidade,

ou seja, com o que está fora de sua área de conforto. Procurar também

verificar os seus padrões comportamentais nas situações de impasses e

conflitos. Algumas pessoas têm tendência à intransigência e ficam

martelando sempre na mesma tecla, enquanto outras tendem a fazer

muitas concessões.

• Aprender: Fazer de cada negociação uma oportunidade de aprendizado.

Avaliar acertos e desvios. Quem não procura aprender com a prática

acaba cometendo sempre os mesmos erros. Ter como princípio que

sempre é possível fazer diferente e melhor.

Vale observar que estes fundamentos e dicas devem sempre ser

analisados e inseridos dentro dos dois espectros contemplados em uma

negociação: As pessoas que estão diretamente envolvidas e aquelas que

estão ausentes, mas influenciam diretamente no resultado da mesma.

Conforme o Artigo “A arte de Negociar” de FISHER, negociador que já

trabalhou para a Organização das Nações Unidas (ONU), fundador e diretor

do Harvard Negotiation Project, organização dedicada ao estudo e ao ensino

da resolução de conflitos, existe uma receita universal de negociação, com

sete ingredientes:

• Comunicação eficaz;

• Bom relacionamento;

• Descobrir o interesse da outra parte;

• Elaborar os diversos acordos possíveis;

• Convencer a outra parte de que está sendo tratada com justiça;

• Definir quais são as opções para o acordo;

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• Chegar ao compromisso final.

Ele define o perfil ideal de um negociador – firme, amistoso e criativo.

Define também a equipe de negociação – um profissional criativo, um relações

públicas, um facilitador da comunicação, um profissional que lida com dados e

informações, um juiz e alguém que defenda os interesses da outra parte.

A negociação eficaz depende, portanto, de muita competência. Deve

ser sempre lembrado que esta competência diz respeito não somente a

aspectos da realidade externa dos negociadores, mas também e, sobretudo,

de suas realidades internas, tal como seus processos de percepção,

expectativas, emoções, temores, atitudes, crenças, valores e necessidades.

Um negociador eficaz tem sempre presente que as pessoas se comportam de

acordo com a realidade percebida, isto é com seus mapas mentais que são

suas representações da realidade externa, ou seja, do território e,

conseqüentemente, dos cenários da negociação. Portanto, negociar bem é,

também, um processo de descoberta da experiência subjetiva própria e do

outro negociador, e de seu território interno, pois este é o verdadeiro local em

que a negociação acontece.

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CAPÍTULO VIII

CAPACITAÇÃO ORGANIZACIONAL EM NEGOCIAÇÃO

Na visão de WANDERLEY, em Negociação Total normalmente

quando se busca capacitação em negociação, pensa-se somente em

capacitação individual, algumas vezes em equipe e raramente ou nunca, em

capacitação organizacional. Entretanto pode constituir grave erro, pois a

capacidade de uma empresa, em termos de negociação, não depende apenas

das capacidades individuais de seus negociadores. Negociadores excelentes,

mas com condições organizacionais adversas, podem ter desempenhos

medíocres e o que é pior, ser responsabilizados por um desempenho cujo

fator determinante foi a baixa capacitação organizacional e não individual.

É indispensável compreender o que vem a ser e qual a importância da

capacitação organizacional em negociação. Segundo o ponto de vista de

WANDERLEY a capacitação organizacional de negociação procura responder

a seguinte pergunta: Quais são as condições necessárias e suficientes para

que negociações realizadas individualmente ou em equipe tenham êxito?

Inicialmente devemos ter em mente que as negociações podem ser

relativas a aspectos estratégicos, táticos ou operacionais. As negociações

estratégicas são muito delicadas porque, em geral, erros táticos e

operacionais, mesmo que impliquem sacrifícios, podem ser assimilados. Já

erros estratégicos podem levar a empresa à falência. Assim, se as

negociações estratégicas forem mal conduzidas e concluídas, por melhores

que sejam os desempenhos nas negociações táticas e operacionais o

resultado final, para a empresa, será extremamente duvidoso. Portanto, a

identificação dos vários níveis de negociação e de suas importâncias relativas

é o ponto de partida. É isso que proporciona o conhecimento da energia e do

montante de recursos a serem despendidos em cada situação. As

negociações estratégicas, ou as de maior impacto tático/operacional devem

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ser identificadas e privilegiadas, de acordo com um velho princípio de Peter

Drucker: “Primeiro o mais importante”.

Conforme WANDERLEY, o ponto seguinte é entender que toda

negociação é um processo que comporta três momentos distintos: o momento

que antecede o encontro ou negociação propriamente dita, e o pós-encontro,

ou implementação do acordo. Cada um desses momentos tem as suas

particularidades e necessidades específicas.

O sucesso de uma negociação começa com uma boa preparação e

sem um bom banco de dados, isto é praticamente impossível. Um bom banco

de dados contém o histórico das negociações anteriores sobre os aspectos

técnico, econômico, financeiro e jurídico, mas não se limita a isso.

O sistema de comunicação interna e de acesso aos dados é outro

aspecto importante para uma boa preparação. É possível saber e contatar

rapidamente as pessoas que têm informações ou contribuições relevantes? É

possível acessar eficientemente os dados armazenados nos vários setores, ou

estes dados estão em sistemas que não se comunicam? Existe alguma

padronização que facilite esta comunicação? Se não tivermos um sistema de

comunicação e informação rápido e eficiente, a preparação poderá ficar

comprometida.

Nas negociações em equipe, esta deve estar representada em

qualidade e quantidade de negociadores, determinadas pelo vulto da

negociação e pelas capacidades que forem necessárias, como domínio em

assuntos de natureza muito distinta, por exemplo, técnicos, econômicos e

jurídicos. Mas só isso às vezes não basta, pois negociações mais demoradas

ou mais relevantes exigem equipes de apoio. Ela recebe as informações sobre

o dia-a-dia da negociação para efetuar uma análise detalhada dos

acontecimentos e sugerir caminhos e alternativas. O esquema é semelhante

ao dos campeonatos internacionais de xadrez, quando a partida é suspensa.

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Os enxadristas vão descansar enquanto seus assessores analisam o jogo,

buscando identificar as várias possibilidades existentes. Portanto, as equipes

de apoio têm um papel extremamente relevante e mais do que isso

contribuem não apenas para que os negociadores tenham mais informações,

análises precisas e sugestões sobre os desdobramentos possíveis, mas

também para que não sejam vítimas do stress. Negociadores competentes

podem fracassar em função do desgaste físico e emocional.

Pós-negociação é outra parte muito importante. Muitos negociadores

fazem o acordo e se esquecem da sua implementação e é neste pós-acordo

que acontece o verdadeiro desfecho. Negociações bem conduzidas podem

redundar em tremendos fracassos porque o que é implementado não tem

relação com o que foi definido no acordo. Assim, há quem prometa o que não

pode cumprir, levando em conta a inexistência de controle pela outra parte, ou

falta de comunicação entre quem fez o acordo e quem vai implementá-lo.

Portanto, uma negociação só deve ser considerada encerrada quando o

acordo foi cumprido e não quando foi formalizado.

De acordo com WANDERLEY, mesmo que as negociações sejam

realizadas de forma descentralizada, por unidades de negócio ou resultado, a

capacitação organizacional demanda um acompanhamento global por meio do

estabelecimento de indicadores de processo e resultado que sirvam como

referencial para responder a seguinte pergunta: “Como é possível saber se

uma negociação foi boa para a empresa?” E, a partir daí, aprender com as

negociações mais expressivas e com as que fracassaram, corrigindo desvios.

É nesse sentido que as chefias ou gerências têm um papel essencial, além de

coordenar suas equipes. Elas precisam ter condições para atuar como

consultores de seus subordinados, ajudando na identificação e superação

contínuas de seus problemas e, mais do que isso, contribuir ativamente para

transformar a empresa numa organização de aprendizagem.

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Outro ponto importante é a metodologia ou processo de negociação.

Há empresas que, sem se dar conta, contratam, consultores das mais

variadas tendências e linguagens, que muitas vezes têm até orientações

contrárias. Com isso não se forma uma massa crítica de negociadores nem se

contribui para formar uma cultura de negociação. Quando os integrantes de

uma equipe têm diferentes formações e orientações, a conseqüência é o

conflito e o enfraquecimento e os resultados poderão ser desastrosos.

Um tipo de informação bastante relevante ao processo de

desenvolvimento da capacitação organizacional de negociação é a percepção

que têm as pessoas que negociam com a empresa, com clientes,

fornecedores e associados. Muitas suposições podem ser válidas ou

desmentidas. Com base nesse conjunto de informações e referenciais, é

possível efetuar um diagnóstico do que existe atualmente e desenvolver um

projeto visando identificar e construir o que deveria existir. Quais são as forças

impulsionadoras, quais são as restritivas e qual o caminho a ser percorrido.

Em geral, os projetos fracassam porque esses conjuntos de forças não

foram identificados e, na hora da implementação, surge uma série de

surpresas negativas que poderiam ter sido perfeitamente previstas, caso

fossem levantadas todas as forças restritivas.

Concluindo, o que deve ficar claro é que a competência organizacional

de negociação não é fruto do acaso. É conseqüência de um projeto elaborado

com este objetivo, em que o comprometimento e o envolvimento da alta

direção são fundamentais. É oportuno ressaltar que, muito freqüentemente, é

necessário ter pessoas voltadas exclusivamente para o desenvolvimento deste

projeto, contando-se, inclusive, com a contribuição de consultores internos

especialistas em desenvolvimento de equipes e de organização. Hoje em dia,

quando as empresas, mais do que nunca, precisam aproveitar as

oportunidades com qualidade, velocidade e flexibilidade, uma alta capacidade

organizacional em negociação é imprescindível. Mas, de qualquer forma,

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deve-se entender que esse processo de capacitação é dinâmico e contínuo.

Uma empresa não é capaz. Uma empresa está capaz.

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CAPÍTULO IX

ESTRATÉGIA DE NEGOCIAÇÃO

WANDERLEY em “Negociação Total” considera dois significados para

estratégia: estratégia de negócio e estratégia de negociação. A estratégia de

negócio refere-se ao objeto ou assunto da negociação. Define os objetivos

pretendidos sob uma perspectiva mais ampla. A estratégia de negociação

define a maneira como vamos negociar, uma vez definidos nossos objetivos.

A estratégia de negócio é, portanto, o ponto de partida. Define se

vamos ou não negociar, o que vamos negociar, com quem vamos negociar.

Se a estratégia de negócio estiver equivocada de nada adianta negociar bem.

Assim como se os objetivos forem equivocados, a capacidade de negociar

apenas fará com que se feche com competência um mau negócio.

Sob a visão de WANDERLEY, a estratégia de negociação deve

começar com o entendimento amplo da situação e com a organização das

informações. E isso pode ser feito com a utilização da Matriz de Pontos Fortes

e Pontos Fracos.

O próximo passo consiste na construção do Quadro de Ameaças e

Oportunidades e dos procedimentos que devemos adotar para enfrentar as

ameaças e aproveitar as oportunidades, ou seja, as estratégias e as táticas de

negociação propriamente ditas. Estratégias e táticas estão relacionadas às

etapas da negociação. Uma tática percebida a tempo pode ser neutralizada. O

bom negociador dispõe de um repertório de táticas. Isso significa mais

flexibilidade e maior probabilidade de alcançar os objetivos. É importante

sempre que os envolvidos no processo de negociação façam o seguinte

questionamento: Quem são os parceiros por meio dos quais é possível obter

um relacionamento producente para alcançar os resultados.

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No relacionamento com o cliente e colaboradores, algumas

ferramentas devem ser utilizadas como alavancas nesse processo:

• Ganhar confiança do cliente, pela correlação;

• Entender o problema do cliente, pela descoberta;

• Responder às objeções, pelo apoio.

Na maioria das negociações a situação normal esperada é aquela em

que se cria um relacionamento de negócios, ou seja, obtém-se uma vantagem

mútua no fechamento do negócio de modo que ambas as partes tenham

interesse na continuidade do relacionamento.

Em uma negociação deve-se evitar a barganha posicional. Barganha

posicional é aquela em que um dos lados toma uma posição, defende-a e faz

concessões para chegar a uma solução de compromisso. Tende a criar

tensões colocando em risco o relacionamento entre as partes. O processo

torna-se moroso e desgastante.Negociações devem ser baseadas em

princípios efetivos e duradouros que atendam critérios básicos de produzir um

acordo sensato, de modo eficiente e amistoso.

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CAPÍTULO X

HABILIDADES ESSENCIAIS DOS NEGOCIADORES

Todo processo de comunicação sempre ocorre com os elementos:

Transmissor, Receptor, Mensagem, Canal e com Feedback, que é

fundamental na prática de negociações como agente motivador e influenciador

do comportamento.

Não há comunicação completa sem a ocorrência do elemento

Feedback, o qual deve ser simples, constante, positivo, imediato, objetivo,

relacionado necessariamente a uma meta, permanente e obtido diretamente

pelo emissor.

A comunicação em negociações pode ser otimizada quando se

procura: Conhecer bem os próprios objetivos; conhecer o outro lado; pensar

antes de falar. Por sua vez, algumas atitudes são extremamente convenientes

neste processo:

• Preparar antes o que irá falar;

• Simplificar a mensagem;

• Escolher uma linguagem clara;

• Ter sempre uma postura positiva;

• Ter cuidado com as brincadeiras;

• Utilizar-se de recursos visuais para transmitir a mensagem;

• Falar lenta e claramente, para que as pessoas possam compreender;

• Observar o uso de gestos;

• Acompanhar a expressão corporal do receptor para um feedback não

verbal;

• Utilizar-se de questões para checar a compreensão e precisão;

• Ser um Bom e Ativo ouvinte;

• Aprender a avaliar o outro lado da questão.

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Convém ressaltar algumas habilidades de saber ouvir:

• Um ouvinte ativo é aquela que não ouve apenas com seus ouvidos, mas

também com seus olhos, corpo, voz e emoções;

• Um bom ouvinte deve ser flexível e usar a velocidade do pensamento

para, mentalmente, sumariar, pensar e antecipar o que o transmissor irá

dizer;

• Saber ouvir exige reflexão, questionamento e poder de síntese sobre

aquilo que está acontecendo;

• O Bom ouvinte mantém postura atenta, calma, não demonstra

inquietação nem ansiedade; Olha para o transmissor todo o tempo; Não

se permite desconcentrar ou perder o raciocínio.

Em qualquer negociação efetiva podem-se observar sempre presentes

duas ou três variáveis básicas: Poder, Tempo e Informação, sendo utilizadas

corretamente e de preferência interligadas.

• O Poder é conveniente para mostrar à outra parte que devem vencer

juntos. São freqüentemente observados Poderes Pessoais, natos e

presentes sempre em qualquer situação (Moralidade, Atitude,

Persistência e Persuasão) e Poderes Circunstanciais, aqueles que

dependem da negociação, ambiente e do momento (Especialização,

Investimento, Posição, Legitimidade, Concorrência, Precedentes, Riscos

envolvidos, Compromissos assumidos e distribuídos);

• O Tempo deve ser ponto de apoio para se projetar o negócio e

conseqüente satisfação dos envolvidos, devendo ser controlado. Nesta

ótica, é necessário ao negociador ser: paciente, ponderado, tranqüilo e

sensato.

• O nível de Informações disponível ao se participar de uma negociação

pode definir aspectos que vão desde o seu domínio, manipulação e

condução até sua efetiva conclusão e encaminhamento para o objetivo

mais rapidamente.

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Evidente que qualquer um pode negociar. Na verdade, todos

negociamos diariamente e muitas vezes nem percebemos. Ser eficaz em uma

negociação depende quase sempre de habilidades que detemos. Podem-se

desenvolver estas habilidades por meio de algumas normas básicas, cujas

exteriorizações, posturas, no momento da negociação, aumentarão as chances

de se atingir o objetivo desejado. Deve-se, então:

• Concentrar-se nas idéias: evitar levar para o lado pessoal; Não buscar

vitórias; Mostrar tão somente o seu ponto de visto e não que o outro está

errado; Encarar o momento como uma oportunidade de reflexão e de

revisão de opiniões;

• Discutir as proposições: deixar de lado casos, visões particulares e

episódios isolados;

• Proporcionar alternativas: Ao invés de deixar o adversário "sem saída",

devem-se buscar soluções que também possam satisfazê-lo;

• Ter objetividade no equacionamento do problema: Evasivas levam a

falta de objetividade;

• Apresentar propostas concretas: saber onde caminhar e aonde chegar;

Discussões longas e sem conclusões não levam a nada; Conclusões

nunca são óbvias, devem sim sempre ser explicitadas, evita-se mal

entendidos;

• Saber falar e ouvir: evitar monopolizar a conversa; Ouvir é, além da

oportunidade de colher fatos, opiniões e sentimentos, uma maneira

concreta de valorizar as idéias dos outros, motivando-os;

• Colocar-se no lugar da outra parte: conhecer o outro lado, suas

necessidades e seus problemas permitem conhecer os argumentos e

poder respondê-los; Firma liderança e consolida espírito de equipe e

fortalece inter-relações em todos os sentidos;

• Ter consciência de que se negocia o tempo todo: objetivos, estratégias,

filosofia empresarial, participação social e bem estar;

• Saber interpretar o comportamento humano e a reação das pessoas:

Negociações acontecem entre seres humanos, interpretar seus

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comportamentos e aceitar reações é fundamental; Manter enfoque

cooperativo ajuda sempre;

• Separar os relacionamentos pessoais dos interesses: um

relacionamento não pode ser construído em função dos interesses que se

pretende atingir; Para se manter bom relacionamento deve-se focar tanto

nos resultados como nos procedimentos; Não se deve usar um bom

relacionamento para buscar obter concessões;

• Evitar estruturar um relacionamento em função de um acordo: acordos

podem ser rompidos; Um bom relacionamento não pode ser comprado ou

vendido. Ele tem que ser construído aos poucos; Não se deve deixar que

interesses básicos afetem o relacionamento; Interesses de curto prazo

não devem dominar o de longo prazo;

• Manter conduta Ética: Meios nem sempre justificam os fins, porém,

quase sempre o melhor caminho é seguir de maneira rígida um conjunto

de regras e princípios; Ética pode ser relativa aos padrões de conduta

pessoal, mas seu interlocutor pode achar que ela é absoluta e esperar

que regras básicas, resultados de estudos filosóficos, ensinamentos

religiosos ou outras formas de educação moral sejam observadas;

Conhecer qual o comportamento efetivo em uma negociação ou qual o

tipo de comportamento mais bem sucedido, leva à classificação dos estilos de

negociação, existindo para tanto diversas possibilidades e abordagens com

suas visões próprias. O ponto de partida para a análise dos estilos de

negociação é a Personalidade. Para ele Estilo de Negociação é a descrição de

as características de comportamento de um indivíduo em um encontro de

negociação. Ele divide os estilos em:

• Duro: de posições firmes e claras, determinado, busca sempre o melhor,

conhece bem seus objetivos, presença dinâmica, não se intimida diante

do conflito; Dominador; agressivo, coercivo por meio de ameaças e

pressões, menospreza e não se interessa pela posição ou necessidades

dos outros, torna-se nervoso e transtornado com freqüência, inflexível,

obstinado, orgulhoso, critica muito, inclusive colegas, aproveita

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oportunidade de outros no planejamento; Orientado para tarefas e

objetivos com visões e perspectivas de curto prazo, necessita dominar e

dirigir as negociações busca mudar os outros; Este estilo é

freqüentemente observado em profissionais da área financeira e em

muitos empresários;

• Caloroso: amigo, interessado nas pessoas, mostra o interesse em

identificar as necessidades da outra parte, enfatiza interesses e metas

comuns, construtivo, cooperativo, otimista, paciente, calmo, justo, reforça

o positivo; Por outro lado tende a não estabelecer claramente o que

pretende, incapacidade de dizer não, perde o senso dos seus próprios

interesses e objetivos, desilude-se e desaponta-se fácil, reluta em

enfrentar o conflito, inseguro, autodepreciativo, reclama muito diante de

problemas, antecipa problemas. Este estilo está voltado para os

relacionamentos, pessoas e processos. Mantém uma preocupação baixa

com o lucro; Verifica-se este estilo mais presente em profissionais da

área de RH;

• Dos Números: Racionalidade, apego ao conhecimento dos fatos, lógica

e detalhes, praticidade, metódico, sistemático, ordenado, confiante, bem

preparado, persistente e paciente; Por outro lado sente-se inconfortável

com pessoas e sentimentos, dificuldade para lidar com emoções, é frio,

comunicação mínima, perde-se em detalhes, atrasa decisões, irrita-se

com pessoas que não adotam suas perspectivas, inflexível, obsessivo,

pessimista, resiste à mudanças; Passa a impressão de ordeiro porém

previsível. Estilo observado com freqüência em profissionais Engenheiros

e das áreas de contabilidade e controladoria, bem como, na cultura

Japonesa;

• Negociador: rápido para identificar oportunidades, busca alternativas

viáveis, aprecia barreiras culturais, jovial, charmoso, fácil de lidar,

adaptativo, flexível, imaginativo, fala rápida, busca adiar tensões,

persistente, utiliza todos os fatos e argumentos disponíveis; Busca acordo

quase à qualquer preço, super compromissado, assume tarefas que não

são suas, falha ao preparar, planeja de maneira pobre, posições rígidas,

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pode parecer pouco sincero. Este estilo busca freqüentemente

reconhecimento de sua aceitação e poder e ser apreciado como

reconciliador de situações difíceis e salvando situações que poderiam

levar a desastres. A situação de ser marginalizado ou pouco valorizado é

odiada por pessoas deste estilo. Apreciam ter liberdade dos controles

organizacionais, dos procedimentos e das rotinas operacionais. Devem

balancear seus conceitos pessoais para um acordo com os objetivos de

longo prazo da organização para se tornarem bons administradores. Este

estilo é com freqüência identificado entre profissionais das áreas de

Marketing e Vendas.

Hindle (1998), apresenta uma classificação de reações do cliente

negociador, bastante prática e explicativa que poderá ser de grande utilidade

em uma negociação ou cobrança de dívidas:

Problemas Possíveis soluções

Negociador confuso • Utilize recursos visuais para esclarecer

temas complexos;

• Ponha propostas complexas no papel em

frase curtas e claras;

• Siga passo a passo uma pauta concisa para

prevenir mais confusão;

• Esteja pronto para envolver uma terceira

parte e repassar os pontos com uma nova

perspectiva.

Negociador indeciso • Encaminhe a negociação devagar e

metodicamente e reitere argumentos;

• Prometa fazer uma revisão dos temas após

um determinado período;

• Suspenda a sessão para que o indeciso

possa consultar colegas;

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• Tente apresentar os temas sob nova

abordagem.

Negociador agressivo • Reitere os fatos mantendo a calma e

evitando linguagem emocional;

• Recuse a ser arrastado para uma guerra de

palavras;

• Declare energicamente que a intimidação

não é algo aceitável;

• Sugira uma suspensão até que os ânimos

esfriem.

Negociador emotivo • Não duvide dos motivos ou da integridade do

negociador;

• Não interrompa os momentos de

descontrole; espere para dar a resposta;

• Reaja a descontrole fazendo perguntas

racionais;

• Suspenda a sessão para que o negociador

abalado se acalme.

Algumas pesquisas demonstram as características de executivos em

várias partes do mundo e apresentaram outros quatro estilos de negociação,

classificados como LIFO (Life Orientation). São quatro estilos básicos:

• Dá e Apóia: Baseia-se na expectativa de alto padrão de desempenho,

postura idealista, coorporativa e perfeccionista; (Caloroso);

• Toma e controla: Orientado e focado nas metas e objetivos, fazendo

acontecer liderando a negociação com competência; (Duro);

• Mantém e Conserva: Preocupado e orientado para a qualidade. Norteia

a negociação para as coisas concretas e lógicas, fazendo com que o

processo de desenvolve em ritmo lento pelo excesso nas análises;

• Adapta e Negocia: Este estilo estimula o negociador e colocar-se no

lugar do outro e norteia seu comportamento pelo grupo procurando ser

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bem aceito. Comanda a negociação com entusiasmo, elevado senso de

humor e forte habilidade social; (Negociador);

Podemos concluir que disposição para negociar, gentileza, sutileza,

boas maneiras são as armas mais indicadas para se obter bons resultados.

Porém, de uma forma geral, as pessoas não têm conhecimentos suficientes

para negociar um débito com o cliente inadimplente. Esse, por sua vez, está

mais bem preparado e até incentivado pelos meios de comunicação a dever,

reconhecer o débito, e pagar quando puder. Existem materiais sobre o assunto

que ensinam o inadimplente a chorar seu débito, alegar desemprego, inventar

a morte da família inteira, doenças, outras dificuldades, com isso, obter

vantagens. Ocorre que, muitas vezes não é a realidade, apenas uma tentativa

de envolver o credor emocionalmente.

Algumas pesquisas revelam que, nacionalmente, mais de 50% das

empresas pesquisadas reconhecem que estão dispostas a negociar suas

dívidas junto ao inadimplente. Evidentemente que é muito melhor receber algo

do que executar. Outras vezes não compensa. Resta a tentativa de negociar.

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CAPÍTULO XI

ALTERNATIVAS NEGOCIAIS

As instituições financeiras têm por objetivo intermediar recursos, sua

lucratividade e, por conseguinte, a sobrevivência será resultado da sua

eficiência e eficácia no manejo dos recursos disponibilizados.

Quando um banco empresta dinheiro, sua meta é recebê-lo no prazo e

taxa de juros acordados. Um banco não tem como finalidade receber imóveis,

máquinas, equipamentos e automóveis como retorno de seu capital. A

administração e venda dessas garantias não é atividade bancária, pois

demanda conhecimento de mercado, competência inata às imobiliárias,

revendedoras de automóveis etc.

É sempre bom o negociador ter em mente que as garantias, são

recursos utilizados em última análise e somente quando tiverem esgotadas

todas as alternativas negociais.

Citaremos alguns tipos de negociação vigentes, que abrangem créditos

ativos:

Tipo de Negociação Situação do

contrato

Descrição

Alteração de data de

vencimento

Adimplente A alteração pode ocorrer quando o

cliente recebe seus proventos em

data divergente do vencimento da

prestação habitacional.

Redução do Prazo Adimplente O prazo contratado inicialmente pode

ser reduzido, a pedido do cliente e

após análise da capacidade de

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pagamento para assumir o novo

encargo.

Dilação do prazo Adimplente O prazo contratado inicialmente pode

ser dilatado, a pedido do cliente e

após análise da perda de capacidade

de pagamento. O prazo máximo a ser

dilatado será conforme o prazo

vigente da contratação do mesmo

produto. Em alguns casos,

desconsiderando o prazo já cumprido.

Isenção de multa, juros

remuneratórios e

moratórios

Inadimplente Após análise da situação do cliente e

comportamento de pagamento, pode

ser concedida a isenção, para que o

cliente volte a ser adimplente.

Incorporação da dívida

vencida ao saldo

devedor

Inadimplente

ou

Adimplente

(caso de

diferença de

prestação)

Após análise da situação do cliente e

comportamento de pagamento, pode

ser concedida a incorporação das

prestações em atraso ao saldo

devedor e diferença de prestação

anterior. O cliente paga uma entrada

à vista de pelo menos 20% sobre a

dívida ou equivalente ao valor do

novo encargo mensal obtido em

simulação. Verifica-se a capacidade

de pagamento do cliente a partir da 2ª

incorporação.

Crédito com pausa Adimplente Pausa de somente um encargo por

solicitação do cliente.

Exemplo de uma renegociação por meio de incorporação: Neste caso,

o cliente apresentou dificuldade em cumprir com os pagamentos das

prestações por ter perdido o emprego há mais de 2 anos mas acabou de

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conseguir uma nova ocupação. O cliente nunca incorporou e deseja que seu

nome saia o quanto antes dos cadastros restritivos. Veremos abaixo com

valores de entrada distintos, a melhor forma de ajudar o cliente e a instituição

financeira de recuperar de imediato os recursos assim como diminuir a

inadimplência:

Situação do contrato no ato da negociação:

Saldo Devedor R$ 60.915,56

Dívida em atraso R$ 24.034,25

Dívida Total R$ 85.041,77

Valor da prestação: R$ 896,68

Análise da Negociação:

Pagamento à vista R$ 7.000,00 Valor Incorporado R$ 17.034,25 Saldo Devedor + Valor Incorporado R$ 77.949,81 Resultado Acima ÷ Saldo Devedor 1,279 Então o aumento concedido no valor líquido da próxima

prestação vai ser de 27,9%. Valor da prestação após negociação R$ 1.146,85

Quanto mais o cliente pagar de entrada, menor vai ser o aumento da

prestação recalculada. Mas se o cliente aumentasse o valor da entrada, veja a

diferença na prestação recalculada:

Pagamento à vista R$ 20.000,00 Valor Incorporado R$ 4.034,25 Saldo Devedor + Valor Incorporado R$ 64.949,81 Resultado Acima ÷ Saldo Devedor 1,066 Então o aumento concedido no valor líquido da próxima

prestação vai ser de 6,6%. Valor da prestação após negociação R$ 950,48

Considerações sobre a negociação:

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• O cliente não possui recursos financeiros para adimplir o contrato à

vista, mas apresenta condições para retomada do pagamento mensal do

contrato tendo em vista a relação prestação/renda após a negociação;

• A negociação restabelecerá o fluxo da operação;

• Permitirá a imediata regularização do débito em atraso e evitará que a

cobrança do débito se transfira para a esfera Judicial;

Nas negociações presume-se que houve a busca do maior valor, o

menor prazo, além dos aspectos abaixo, divididos por grupos:

Cliente

• Comportamento de pagamento – Como foram efetuados, em dia ou em

atraso anteriormente à negociação;

• Capacidade de pagamento dos proponentes – verifica-se o percentual

de comprometimento pela relação prestação/renda na concessão do

financiamento e anteriormente à negociação, bem como análise dos

compromissos assumidos;

• Situação cadastral;

• Outros relacionamentos com a CAIXA – empréstimos, investimentos

etc;

• Interesse na negociação;

• Percentual de pagamento à vista e utilização de Fundo de Garantia por

Tempo de Serviço;

Financiamento

• Relação dívida total/garantia – corresponde à relação do somatório dos

valores dívida vencida, (prestações em atraso e diferença de prestação

anterior) e dívida vincenda (saldo devedor) pelo valor da garantia, em

percentual;

• Prazos – inicial e remanescente, indicando a possibilidade de dilação

ou redução deste prazo;

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• Quantidade de prestações pagas – interesse no financiamento, quanto

foi investido;

• Negociações anteriores – Verificam-se o tipo de benefícios já

concedidos;

• Quota de Financiamento – Corresponde à relação do valor do

financiamento pelo valor da Garantia, em percentual. Demonstra quanto

o cliente investiu na compra do imóvel;

• Condições do Financiamento: – sistema de amortização, prazo, taxa de

juros etc. Pode ser proposto ao cliente a mudança do sistema de

amortização;

• Prestação – Análise do valor da prestação com relação aos juros

pagos. Pode gerar amortização negativa ou positiva do saldo devedor –

Se amortização positiva, significa que a evolução do saldo é

decrescente.

• Valor do pagamento à vista – No caso de contrato inadimplido, quanto

maior este valor, menor os reflexos da negociação na evolução do

financiamento.

Imóvel

• Localização do imóvel – aspecto que influencia na valorização do

imóvel;

• Interesse em permanecer no imóvel.

Muitos são os motivos que levam o cliente à inadimplência e a solicitar

a negociação como: doença na família, perda da capacidade de pagamento,

perda ou troca de emprego, descontrole financeiro, separação conjugal, etc.

Podemos verificar que a inadimplência dos contratos negociados de

uma Instituição Financeira na faixa de atraso superior a 60 dias é maior que o

percentual de inadimplência daqueles contratos que nunca efetuaram

negociação. Isso ocorre, porque o cliente geralmente necessita de um prazo

maior para restabelecimento do fluxo normal da operação, do que aquele

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concedido na negociação. Em muitos casos há falta de prioridade por parte do

cliente no pagamento das prestações habitacionais. Constatam-se também

negociações mal analisadas, com apuração incorreta da capacidade de

pagamento. Por outro lado, se alguns clientes não tivessem os seus contratos

negociados, certamente o índice de inadimplência total das carteiras estaria

mais alto.

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CONCLUSÃO

Finalizando este trabalho não podemos deixar de lembrar que já está

mais que provado que o maior sonho do ser humano é ter sua casa própria. Por

isto, os responsáveis pela reversão da inadimplência habitacional de uma

instituição financeira tem esse fator e esse dado ao seu favor, estarão cobrando

o maior bem do cliente. Na grande maioria dos casos , os cobradores terão a

maior e a melhor boa vontade no outro pólo da negociação para chegar a um

acordo interessante para ambos os lados.

Temos que lembrar ainda que referidos empréstimos são garantidos por

garantia hipotecária ou alienação fiduciária, passível de execução judicial e

extrajudicial. Abaixo, elencamos sugestões práticas para reversão de

inadimplência contratual, que poderão ser aplicadas em quaisquer instituição

financeira que tenha carteira habitacional inadimplente:

• As instituições devem possuir sistemas corporativos que permitam

análises e levantamento de inadimplências em tempos reais.

• A cobrança deve ser rápida e cirúrgica. Aqui será fundamental o cadastro

atualizado e correto dos clientes. Em muitas empresas verificamos uma

cobrança falha, tendo em vista a total desatualização e preenchimento

errôneo do cadastro do cliente.

• Equipes de empregados treinados especificamente para tal processo,

com constantes reciclagens e treinamentos na medida do surgimento de

novos aspectos e a evolução do processo.

• Oferecimento de possibilidades negociais aos devedores e seus

advogados em caso necessário.

• Ações imediatas para a inclusão dos nomes dos devedores nas

entidades de restrições de crédito, quando possível pela legislação em

vigor e com os cuidados jurídicos necessários.

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• Identificação dos parâmetros mínimos e máximos de negociação no

processo de recuperação de créditos inadimplentes. É fundamental que o

negociador tenha a plena consciência e conhecimento de o limite em uma

negociação.

• Evitar a inadimplência é bem menos oneroso que combatê-la. Isso exige

qualidade na concessão de crédito, que precisa estar pautada em métodos

eficazes de análise, que somente terão valia se as informações fornecidas

retratarem a fiel realidade sócio-econômica do tomador do crédito.

• Um despachante ativo e experiente que dê agilidade nas intimações até a

consolidação de propriedade se for o caso.

• A instituição deverá ter núcleos/gerências específicas de cobrança, com

profissionais constantemente reciclados e treinados. Contudo, há de haver

o envolvimento de toda a empresa quanto às políticas de reversão de

inadimplência, principalmente através de informações rápidas e ações

precisas.

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BIBLIOGRAFIA

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LEONI, Geraldo e Evandro Geraldo. Cadastro, Crédito e Cobrança, São Paulo, Atlas, 2006 SCHRICKEL, Wolfgang Kurt. Análise de Crédito - Concessão e Gerência de Empréstimos, 3 ed., Atlas, 1997 BLATT, A. Cobrança & Recuperação de Dívidas. Casa da Qualidade, 1996 FISHER, R. A arte de negociar – HSM Management , dezembro 1997. FISHER, R. et Brown, S. Como chegar a um acordo. Rio de Janeiro: Imago, 1990. FISHER, R; URY, William et PATTON, Bruce. Como chegar ao sim. Rio de Janeiro: Imago, 2ª edição, 1994. WANDERLEY, J. A. Negociação Total. São Paulo: Editora Gente, 1998. WANDERLEY, J.A. Negociação – Novas Perspectivas. s.d. WANDERLEY, J.A. Negociação: 10 Pontos Indispensáveis para o Sucesso, 2004. WANDERLEY, J.A. Sempre Negocie para Ganhar, 27 de agosto de 2001. GOLDBERG, C. A Arte de Negociar, 2004.

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BRASIL.Decreto - Lei 2045, de 13.07.1983 - Altera a Lei 6.708, de 30 de outubro de 1979, que trata da política salarial, e a Lei 7.069, de 20 de dezembro de 1982, que dispõe sobre o reajustamento de alugueres em locações residenciais, adota medidas no âmbito do sistema financeiro da habitação e da outras providências. Disponível em: www.planalto.gov.br .

BRASIL. Decreto - Lei 2065, de 26.10.83 - Altera a Legislação do Imposto sobre a Renda, dispõe sobre o reajustamento dos aluguéis residenciais, sobre as prestações dos empréstimos do Sistema Financeiro da Habitação, sobre a revisão do valor dos salários, e dá outras Providências. Disponível em: www.planalto.gov.br.

BRASIL. Lei 8004, de 14.03.1990 - Dispõe sobre transferência de financiamento no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação, e dá outras providências. Disponível em: www.planalto.gov.br.

BRASIL. Lei 9514, de 20.11.1997 - Dispõe sobre o Sistema de Financiamento Imobiliário, institui a alienação fiduciária de coisa imóvel e dá outras providências. Disponível em: www.planalto.gov.br.

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BRASIL. Medida Provisória 2.196-3, de 24.08.2001 - Estabelece o Programa de Fortalecimento das Instituições Financeiras Federais e autoriza a criação da Empresa Gestora de Ativos – EMGEA. Disponível em: www.planalto.gov.br.

BRASIL. Resolução 1.980, de 30.04.1993 - SECRE - Aprova regulamento que disciplina o direcionamento dos recursos captados pelas entidades integrantes do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e as operações de financiamento efetuadas no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Disponível em: www.bcb.gov.br .

BRASIL. Resolução 3.005, de 07/08/2002 - SECRE - Dispõe sobre o direcionamento dos recursos captados em depósitos de poupança pelas entidades integrantes do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Disponível em: www.bcb.gov.br .

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO II: HISTÓRICO DO SFH 10

CAPÍTULO III: REESTRUTURAÇÃO 15

CAPÍTULO IV: ÓRGÃOS NORMATIVOS 17

CAPÍTULO V: CRÉDITO 19

v 5.1 – CONCESSÃO 19

v 5.2 – ANÁLISE DE CRÉDITO 19

v 5.3 – RISCO DE CRÉDITO 20

v 5.4 – OS 5 CS DO CRÉDITO 21

v 5.5 – ASPECTOS PRÁTICOS NA CONCESSÃO DE CRÉDITO 21

CAPÍTULO VI – RECUPERAÇÃO DE ATIVOS 23

CAPÍTULO VII – NEGOCIAÇÃO 26

CAPÍTULO VIII – CAPACITAÇÃO ORGANIZACIONAL EM NEGOCIAÇÃO 33

CAPÍTULO IX – ESTRATÉGIA DE NEGOCIAÇÃO 38

CAPÍTULO X – HABILIDADES ESSENCIAIS DOS NEGOCIADORES 48

CAPÍTULO XI – CONCLUSÃO 54

BIBLIOGRAFIA 56

ÍNDICE 59