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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE DISLEXIA – TRABALHANDO AS DIFERENÇAS NA ESCOLA Por: Marta Conceição da Silva Orientador Prof ª. Maria da Conceição Maggioni Poppe Alto Paraíso de Goiás 2008 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DISLEXIA – TRABALHANDO AS DIFERENÇAS NA ESCOLA

Por: Marta Conceição da Silva

Orientador

Prof ª. Maria da Conceição Maggioni Poppe

Alto Paraíso de Goiás

2008

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DISLEXIA – TRABALHANDO AS DIFERENÇAS NA ESCOLA

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

Psicopedagogia

Por: Marta Conceição da Silva

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus que esteve sempre

presente em minha vida. A minha mãe Balbina da

Luz que sempre acreditou e incentivou os meus

estudos. Agradeço aos meus filhos pela paciência

em toda a minha ausência e ao meu esposo pelo

companheirismo e apoio.

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha mãe em

agradecimento a sua luta para me

oferecer o estudo e com isso ampliar

minhas possibilidades de crescimento. A

você que foi mãe, pai, amiga,

companheira que é e sempre será grande

inspiradora na minha vida. Te amo

Mãezinha!

RESUMO

Muitas famílias, Professores e Profissionais da área de Educação, já se

depararam com o fracasso escolar. Filhos, alunos, crianças que por mais

inteligentes, vivas e espertas não conseguem alcançar o mais básico e

fundamental no ambiente escolar a leitura e a escrita.

Esse pseudo-fracasso muitas vezes é interpretado como preguiça ou

incapacidade de aprender. Pais impacientes, profissionais despreparados

rotulam as crianças predispondo-as cada vez mais para o mau êxito. O estudo

da Dislexia pode mostrar a luz no fim do túnel para este aluno problemático.

Este trabalho monográfico irá esclarecer o leitor sobre a Dislexia,

abordando várias facetas desta controversa síndrome embasada em autores

confiáveis, psicopedagogos que estão em busca de ferramentas para auxiliar a

criança disléxica.

O que é a dislexia? Como diagnosticá-la? Quais os papéis que

desempenhamos diante de um quadro de dislexia, serão questionamentos que

procuraremos elucidar nesta monografia.

METODOLOGIA

O trabalho que será apresentado basear-se-á na revisão bibliográfica de

livros de autores como Giselli Massi, “A dislexia em questão”, Alessandro

Greco,

“Cérebro – a maravilhosa máquina de viver”, Sally Shaywitz, “Entendendo a

Dislexia” entre outros, que englobarão, desde a fisiologia, até o envolvimento

entre aluno e psicopedagogo e a importância da sua atuação sobre a dislexia

na fase de alfabetização.

A bibliografia impressa norteará a pesquisa, serão utilizados também

como apoio, sites, entrevistas, textos que enriquecerão o trabalho, dando-lhe

um cunho moderno e interessante. Podendo assim atingir também além do

público alvo (Profissionais, Pais e Educadores) pessoas leigas que ao tomar

conhecimento deste assunto através desta monografia, tenham seu interesse

despertado e possam também fazer parte do grupo de pessoas que desejam

melhorar cada vez mais o processo educativo de nossa sociedade.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................. 11

1. O CÉREBRO............................................................................................ 13

1.1 COMO O CÉREBRO HUMANO SE DESENVOLVE E FUNCIONA....... 15

1.2 O QUE HÁ DE ESPECIAL NO CÉREBRO DOS DISLÉXICOS.............. 17

1.2.1. Origem das características especiais no cérebro do disléxico 19

1.2.1.1. Causas internas........................................................................ 19

1.2.1.2. Causas externas........................................................................ 20

2 – APRENDIZAGEM .................................................................................. 21

2.1. DISLÉXICOS FAMOSOS ..................................................................... 24

3. A DISLEXIA ............................................................................................. 27

3.1 RAÍZES HISTÓRICAS:.......................................................................... 27

3.2 DEFINIÇÃO............................................................................................ 29

3.3 DESMEMBRANDO A DISLEXIA............................................................

31

3.3.1 Disgrafia.........................................................................................

31

3.3.2 Deficiência de Atenção..................................................................

33

3.3.3 Discalculia.......................................................................................

33

3.3.4 Disortografia...................................................................................

34

3.3.5 Hiperatividade e Hipoatividade.....................................................

35

4. DISLEXIA E A EDUCAÇÃO.....................................................................

37

4.1 A DISLEXIA E O MÉTODO DE ENSINO................................................

37

4.2 DIAGNOSTICANDO A DISLEXIA........................................................... 39

4.2.1 Diagnóstico por faixa etária.......................................................... 41

4.2.1.1 Crianças na faixa etária de 3 a 6 anos.................................... 42

4.2.1.2 Crianças na faixa etária de 6 e 7 anos..................................... 42

4.2.1.3 Crianças na faixa etária de 7 a 12 anos.................................. 42

4.2.1.4 Crianças a partir dos 12 anos............................................... 43

5. O PAPEL DE CADA UM....................................................................... 44

5.1 O PAPEL DA ESCOLA....................................................................... 44

5.2 O PAPEL DO PROFESSOR................................................................ 45

5.3 O PAPEL DA FAMÍLIA......................................................................... 45

5.4 O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO...................................................... 46

6. MÉTODOS PARA AULIAR NO COMBATE A DISLEXIA...................... 47

6.1 EXEMPLIFICANDO O MÉTODO....................................................... 47

6.2 PANLEXIA.......................................................................................... 48

6. 2.1 Características.......................................................................... 49

CONCLUSÃO.......................................................................................... 50

ANEXO .................................................................................................... 51

REFERÊNCIAS........................................................................................ 58

ÍNDICE..................................................................................................... 62

FOLHA DE AVALIAÇÃO......................................................................... 64

PREÂMBULO

“... Até os oito anos, Tistu não soube o que era escola. Dona Mamãe, com

efeito, tinha preferido começar em casa a instrução do filho, ensinando-lhe os

rudimentos da leitura, da escrita e do cálculo. Os resultados, é preciso

reconhecer, não eram maus. Graças a belas figuras compradas

especialmente, a letra A se instalara na cabeça de Tistu sob a aparência de

um Asno, depois de uma Andorinha, depois de uma Águia. A letra B, sob a

forma de uma Bota,

de uma Bola, de um Balão etc...

... Quando Tistu atingiu os oito anos, Dona Mamãe considerou sua tarefa

terminada. Era necessário confiar Tistu a um professor de verdade.

Compraram, pois para Tistu um belo avental de xadrez, botinas novas que lhe

machucavam os pés... e mandaram-no, acompanhado pelo criado Carolo, à

escola de Mirapólvora, que gozava de excelente reputação. Todo mundo

esperava que um menino tão bem vestido, com pais tão belos e ricos

realizasse prodígios nas aulas.

Mas que decepção! A escola produziu em Tistu um resultado imprevisível

e lamentável. Quando começava o lento desfile das letras que caminham a

passo pelo quadro-negro, quando começava a se desenrolar a monótona

Fonte: Livro o Menino do Dedo Verde

corrente dos três--vezes-três, dos cinco-vezes-cinco, dos sete-vezes-sete,

Tistu sentia uma coceira no olho esquerdo e logo caía no mais profundo sono.

Não é que ele fosse burro ou preguiçoso, nem que estivesse cansado. Estava

cheio da maior boa vontade. "Eu não quero dormir, eu não quero dormir",

repetia Tistu consigo mesmo. Pregava os olhos no quadro e colava os ouvidos

à voz do professor. Mas sentia que a coceirinha estava chegando...

— Tistu! — gritava de repente o professor.

— Não foi de propósito, Professor — respondia Tistu, acordando num

sobressalto...

...No primeiro dia de aula Tistu voltou para casa com o bolso repleto de

zeros. No segundo dia, ficou de castigo por mais duas horas... Na tarde do

terceiro dia, o professor entregou a Tistu uma carta para seu pai.

Na dita carta o Senhor Papai teve a desdita de ler estas palavras:

"Prezado Senhor, o seu filho não é como todo mundo. Não é possível

conservá-lo na escola.” A “escola devolvia Tistu a seus pais...” (DRUON,

Maurice - O menino do dedo verde, Cap.4, p.23-25, 1979)

Em 1957 Maurice Druon escreveu o livro “O menino do dedo verde.”

que conta a vida de um singular menino de classe alta e suas divertidas

peripécias, cheias de poesias e ensinamentos. O livro foi escrito na chamada

era industrial a Dislexia não era ao menos mencionada no meio acadêmico

encontrava-se ainda restrita a área médica. Porém Druon relatou um belo caso

de dislectogenia e seus efeitos na vida de uma pequena criaturinha e seu

ambiente familiar. Em todo o livro o autor coloca na mesa vários casos onde as

idéias preconcebidas transitam entre seres humanos de diversos níveis

sociais, idéias essas que nos prendem nos grilhões do preconceito...

Mostrando ao mesmo tempo formas singelas de resistirmos e quebrarmos

nossas amarras. Eu recomendo a todos os Educadores a leitura dessa obra,

não como um livro de ficção para o lazer de um fim de semana, mas como um

livro sério a ser estudado, e compreendido em suas entrelinhas.

11

INTRODUÇÃO

Esta monografia tem como foco principal tratar sobre a dislexia, essa

síndrome neurológica considerada por muitos leigos e/ou mal informados uma

doença.

A DAL - Dificuldade de Aprendizagem de Leitura precisa ser conhecida,

pois, através do esclarecimento e da eliminação das idéias pré-concebidas que

se mudará o conceito sobre ela.

Para uma visão abrangente sobre a DAL precisamos primeiramente de um

conhecimento prévio sobre como funciona o cérebro e como a dislexia se

encaixa no contesto fisiológico do indivíduo. Entender como aprendemos nos

ajudará a desvendar o porquê de algumas pessoas consideradas geniais terem

experimentado dificuldades paralelas em sua aprendizagem. Encontraremos

esta abordagem nos capítulos 1 (um) e 2 (dois) desta pesquisa.

Nos capítulos 3 (três) e 4 (quatro) apresentaremos elementos que farão o

leitor compreender a Dislexia dita pedagógica e assim auxiliar os professores

a encontrar respostas, que esclareçam até que ponto às dificuldades de leitura

passam a ser consideradas “dislexia”. Esta é uma das metas desta

monografia, proporcionar subsídios aos principais interessados no assunto:

Profissionais, Pais e Alunos, para uma reflexão sobre o tema, oportunizando

assim a mudança no tratamento dos disléxicos.

A dislexia é um tema vasto, interessante e controverso. Este trabalho

permitiu que aprofundássemos o nosso conhecimento sobre a dislectogenia

suas causas, sinais, formas e como lidar com a questão nas classes de

alfabetização.

Esclarecer objetivamente os distúrbios de aprendizagem escolar, com

características específicas; de forma a tratar da parceria escola - família,

quando e quanto este casamento, resulta em motivação para vencer a DAL

também é nossa meta. Esta abordagem apresentada no capítulo 5 (cinco) será

embasada através de contribuições de psicopedagogos expressos em seus

livros e em suas experiências pessoas dentro da Educação.

12

A problemática da dislexia na escola pública x escola particular. O mito, de

que não há possibilidade de se combater a DAL no ensino público. São

problematizações que buscaremos responder neste estudo

O presente trabalho se justifica na medida em que as necessidades são

vivenciadas no dia a dia, onde se procura ressaltar o papel dos pais, do

professor e do psicopedagogo na vida de uma criança disléxica.

No sexto capítulo a pesquisa abordará a “Panlexia” de orientação e

diagnóstico e porque não é comumente utilizada nas escolas, e se este

método pode ser considerado eficaz por que ele não é tão divulgado? Qual a

sua eficiência na avaliação da leitura? Foram perguntas propostas que buscam

clarear as vertentes de quem busca se aprofundar neste tema.

13

1. O CÉREBRO

As primeiras concepções sobre a mente tinham como fundamento

noções religiosas e filosóficas que concentravam - se na alma. Durante a era

das pirâmides (2780-2200 a.C.), os egípcios localizavam a consciência e a

inteligência no coração

Na verdade quando estavam realizando o processo de mumificação, os

Egípcios retiravam o cérebro do morto pelas narinas através de instrumentos

especialmente feitos para este fim e jogavam fora todo o tecido retirado.

Outros órgãos considerados como importantes como o coração, fígado, etc.

eram removidos com muito cuidado e guardados em recipientes onde

permaneciam preservados para a viagem do morto até o "mundo dos mortos".

Assim também a medicina chinesa que tomando como base a crença

que a alma humana estava no coração, considerou o cérebro apenas um

periférico, irrelevante para o pensamento ou para os sentimentos. Mesmo

Aristóteles, proeminente anatomista, atribuiu o controle das sensações e dos

movimentos ao coração e não ao cérebro (SHAYWITZ,2006).

O cérebro é constituído por milhões de células nervosas, os neurônios,

que comunicam - se entre si por intermédio de ligações eletroquímicas. Apesar

de funcionarem como um todo apresenta subestruturas e subsistemas.

Divide-se em hemisfério esquerdo e direito, que estão ligados entre si

pelo «corpus callosum». (Greco, 2006). Na maior parte das pessoas a parte

esquerda é responsável pela percepção e pela produção da linguagem, ao

passo que o hemisfério direito desempenha um papel importante relativamente

à informação visuo-espacial (a visão e a apreciação do espaço).

Cada hemisfério é constituído por um córtex, ou substância cinzenta,

que tem por baixo a substância branca. O córtex contém essencialmente o

corpo celular dos neurônios; a substância branca contém as conexões entre

eles. Durante o período de desenvolvimento que antecede o nascimento, as

células do córtex migram das partes mais profundas do córtex. Pode acontecer

que nem

14

todas as células cheguem ao seu destino final; podem juntar-se em grupos de

células que ficam algures no percurso. A estes grupos de células deslocadas

dá-se o nome de ectopias.

O córtex de cada hemisfério divide-se em quatro áreas funcionais: os

lobos frontal, parietal, temporal e occipital. Todas estas áreas estão envolvidas

na atividade complexa que é a leitura, sobretudo as áreas temporais e

occipitais, bem como a zona de transição entre as duas, o lobo parietal.

Como já mencionado as células nervosas comunicam - se entre si

graças a um processo eletroquímico. Esta atividade elétrica pode ser medida

no exterior do cérebro através do eletroencefalograma (EEG) e de técnicas

dele derivadas.

Observando cada lobo chegamos ao seguinte esquema, de acordo com

Salgado, 2004:

• Lobo Frontal: contém áreas envolvidas nos atos mentais complexos

(pensamento abstrato e memória) e áreas motoras ativadas em

atividades como escrever ou tocas um instrumento;

• Lobo Parietal: inclui áreas para discriminação táctil-quinestésica de tais

coisas como formas geométricas e objetos comuns;

• Lobo Occipital: processa estímulos visuais;

• Lobo Temporal: sua parte superior está relacionada com associação

com associação e processamento auditivo.

Necessário salientar que tanto a leitura quanto outras funções da linguagem

envolvem os centros auditivos e também os visuais nos lobos temporal e

occipital.

15

FIG 1 – Pontos do cérebro, especificando as áreas das sensações, movimentos, etc.(Fonte:

www.cognos.med.br/dvascular3.htm)

1.1 COMO O CÉREBRO HUMANO SE DESENVOLVE E

FUNCIONA

Nos anos de pré-escola e escola primária, o cérebro é um órgão

maleável predisposto a aprender certas habilidades com pouco esforço,

(WOLYNEC, 2004) no qual crescimento, organização e integração neurológica

continuam até pelo menos a idade de oito anos. Na maioria dos indivíduos o

hemisfério esquerdo é dominante. No entanto, alguns indivíduos (6% a 8%) a

dominância hemisférica é reversa. Na maioria dos indivíduos, o hemisfério

direito é o centro para a organização e integração de estímulos espaciais,

pictórico e não verbal. O hemisfério esquerdo é o centro primário para a língua,

palavras e símbolos.

Ao ver uma figura, por exemplo, a criança tem a imagem projetada na

retina de cada olho, passando como impulso pelos nervos óticos e através do

quiasma ótico, onde ha maioria das fibras nervosas. O impulso é transmitido

para o centro visual localizado no lobo occipital, sendo assim iniciado, com o

processamento de impulsos no hemisfério

16

Esquerdo (no caso da maioria das pessoas com dominância hemisférica

esquerda) a decodificação visual. Por ultimo é realizada a identificação e

interpretação de uma gestalt visual.

Quando, porém juntamente com a figura encontra-se um símbolo escrito

o hemisfério esquerdo processa os símbolos lingüísticos apresentados e

simultaneamente, os impulsos nervosos são transmitidos para a frente e para

trás, através das fibras do corpo caloso, que liga os dois hemisférios. A

integração desses impulsos variados é um ato neuropsicológico complexo que,

se não for enfraquecido, resulta na compreensão dos símbolos visuais.

“um hemisfério inibe o outro: assim, por exemplo, se o esquerdo esta

inativo, a percepção das imagens e das emoções se reforça, e,

inversamente, se o hemisfério direito esta inativo, a verbalização torna-

se mais fácil.” (Ginger e Rangel, Gestalt uma terapia de contato, 1995)

FIG 2 Os dois hemisférios do cérebro (Fonte: Gestalt)

17

1.2 O QUE HÁ DE ESPECIAL NO CÉREBRO DOS DISLÉXICOS.

Apesar da extensiva investigação científica neste domínio, existem

ainda mais indagações do que realmente respostas. O importante distinguir

entre as respostas relativas à estrutura, ou à anatomia do cérebro, e as

respostas relativas à sua fisiologia, ou funcionamento.

Foram encontradas particularidades anatômicas como, por exemplo, as

células ectópicas nos cérebros de todos os disléxicos (analisados no âmbito do

programa de investigação anatômica da Universidade de Harvard) estavam

localizadas em vários sítios, mas especialmente nos lobos temporal e frontal

do hemisfério esquerdo, ou seja, áreas essenciais para a linguagem.

No cérebro dos disléxicos, as células do sistema magnocelular parecem

mais pequenas do que o normal. Tanto quanto sabemos, há dois sistemas

principais envolvidos na percepção visual, os sistemas magnocelular e

parvocelular. O sistema parvocelular está adaptado à percepção de formas e

de cor, e o magnocelular à percepção de movimento. O sistema magnocelular

desempenha um papel proeminente no processamento da mudança rápida de

imagens, tão característica da leitura. Através do exame cuidadoso dos

padrões de ativação cerebral, observou-se que existem dois caminhos neurais

da leitura, um para quem esta começando a ler e outro mais rápido para quem

já sabe ler. Nos disléxicos existe uma falha para este circuito. (SHAYWITS,

2006)

Pode-se perceber então, a dislexia tem alguma relação com alterações

subtis na anatomia do cérebro, em zonas fundamentais para o processo de

aprendizagem da linguagem e da leitura.

A neurofisiologia e a neuropsicologia recorrem freqüentemente ao

eletroencefalograma e às técnicas que dele derivam. São igualmente utilizados

scans de tomografia por emissão de pósitrons (Positron Emission Tomography

- PET): durante a execução de uma determinada tarefa, introduz-se glicose ou

outra substância química na corrente sanguínea; a substância química, que se

18

torna radioativa por breves instantes, é absorvida mais intensamente pelas

partes do cérebro que estão mais ativas nesses instantes. Freqüentemente,

estes scans são utilizados no exame de pessoas que apresentam sintomas de

dislexia. A tecnologia moderna permite-nos criar uma representação muito

completa da atividade eletrofisiológica do córtex enquanto a pessoa lê. Este

tipo de investigação sobre a leitura normal e desviante está neste momento em

curso nos Países Baixos. A utilização da eletrofisiologia em pessoas em níveis

diferentes de competência de leitura revelou que:

a) O leitor principiante tem atividade no hemisfério direito enquanto lê;

b) O leitor hábil ativa o seu hemisfério esquerdo, e o disléxico

apresentam uma variação não-habitual no que respeita à distribuição da

atividade cerebral.

Uma teoria sugere que existe um modelo neuronal dinâmico e interativo

que torna possível o reconhecimento de letras e palavras. As características

essenciais de uma letra são apreendidas pelas células nervosas do cérebro.

Por exemplo, «linha que vai da parte inferior esquerda para o canto superior

direito, linha do canto inferior direito até ao superior esquerdo».

Com base nesta informação, que é transmitida a outras células, é

possível reconhecer a letra «A». A descodificação das características de uma

letra e a identificação da própria letra são elas próprias potenciais elétricos que

têm uma determinada freqüência e amplitude, e que se extinguem após algum

tempo. Se as letras forem apresentadas muito rapidamente, como acontece na

leitura, pode ocorrer que o processamento de uma letra ainda não esteja

concluído quando o da próxima já se iniciou.

É possível demonstrar matematicamente que estes potenciais podem

atingir um estado caótico, em que uns eliminam outros, e assim «perder-se-

iam» letras no processo de leitura. Estes problemas acontecem

freqüentemente em pessoas disléxicas. Uma explicação para este caos

eletrofisiológico pode ser que não haja número suficiente de células no sítio

certo para assimilar adequadamente uma grande quantidade de informação.

19

1.2.1. Origem das características especiais no cérebro do disléxico

1.2.1.1. Causas internas

Foi levantada a hipótese de que o excesso de testosterona no feto, ou

uma sensibilidade excessiva a este hormônio, poderia ser responsável pela

formação de células ectópicas e pelo tamanho característico do planum

temporale no cérebro dos disléxicos. A testosterona teria um efeito negativo

quer sobre o sistema imunitário quer sobre o crescimento do cérebro,

particularmente do hemisfério esquerdo. É possível também que haja uma

ligação entre as doenças que se devem a deficiências do sistema imunitário,

como as alergias, asma, diabetes, etc, e a dislexia. Mas se há uma ligação

entre sistema imunitário, existência de células ectópicas e dislexia, ela ainda

não está bem esclarecida.

Segundo a revista britânica Journal of Medical Genetics, são quatro

os genes de suscetibilidade à dislexia: o DYX1, o DYX2, o DYX3 e o DYX4.

Esses genes foram localizados e mapeados pelos pesquisadores. São genes

de diferentes posições, que os levam a suspeitar do caráter heterogêneo dos

transtornos de leitura. O gene de descoberta mais recente é o DYX3, do

cromossomo que vem merecendo especial atenção dos estudiosos na área de

Linguagem, especialmente os neurolinguísticos e psicolingüísticos, por ser

resultado de uma pesquisa levada a cabo pelo Dr. Toril Fagerheim, do

Hospital Universitário de Tromsoe, na Noruega. Ele coordenou uma equipe

multinacional de médicos e descobriu o gene DYX3 após estudar 36 membros

de uma família Noruega com antecedentes de dislexia.

A descoberta de genes ligados à dislexia explica o seu caráter altamente

hereditário. - os disléxicos podem apresentar conflito em sua dominância e

colaboração hemisférica cerebral direita-esquerda. Isso ocasiona uma

imaturidade psicomotora e uma dificuldade com a lateralidade. Muitos

disléxicos são canhotos ou ambidestros.

20

1.2.1.2. Causas externas

A qualidade do cérebro não é ditada apenas pelos genes. O ambiente

pode favorecer ou perturbar a estrutura e o funcionamento do cérebro. Por

ambiente entendemos todas as circunstâncias físico-químicas, fisiológicas,

psicológicas e sociais. O útero é o primeiro ambiente para a criança, a família e

a escola são ambientes de aprendizagem, e hoje sabe-se que estes ambientes

têm efeitos significativos no cérebro. É bem possível que os desvios na

estrutura e no funcionamento do cérebro sejam causados não tanto por genes

defeituosos como pelas influências negativas do ambiente no cérebro.

A simetria do planum temporale, que não é normal, pode ter origem no

final da gravidez e nos primeiros tempos de vida da criança. No decurso destas

fases, há geralmente uma seleção drástica entre as células nervosas. Morrem

milhões de células, enquanto as que sobrevivem atingem a maturidade. Isto

talvez possa ser devido a uma razão externa. Sabemos que os fatores

ambientais, incluindo os que intervêm dentro do útero, interferem em várias

estruturas nervosas. O meio, particularmente certas situações de

aprendizagem, podem, contudo produzir efeitos positivos, e pode-se usar esta

possibilidade com fins terapêuticos.

21

2 – APRENDIZAGEM

“A Natureza faz do homem um ser natural;

a sociedade faz dele um ser social; somente o

homem é capaz de fazer de si um ser livre”

Rudolf Steiner

A aprendizagem é um fenômeno extremamente complexo, envolvendo

aspectos cognitivos, emocionais, orgânicos, psicossociais e culturais. A

aprendizagem é resultante do desenvolvimento de aptidões e de

conhecimentos, bem como da transferência destes para novas situações.

A estrutura cognitiva é uma teia de conceitos hierarquicamente

organizados, que são as representações da experiência sensorial da pessoa

(Carvalho, 1993)

Para que ocorra a aprendizagem, é necessário e imprescindível

perceber, compreender, analisar, armazenar e elaborar informações

concomitantemente.

Portanto, é indispensável avaliar e observar quais áreas estão

preservadas no indivíduo nas seguintes funções do processamento: atenção,

percepção visual e auditiva; memória a curto, médio e longo prazo;

psicomotricidade. (Salgado, 2005)

Muitas são as escolas, e as estratégias utilizadas para que o

ensino/aprendizagem possa acontecer. A teoria Piagetiana como exemplo,

esta voltada à compreensão dos processos cognitivos, com ênfase em alguns

aspectos como a atividade mental construtiva como base do conhecimento.

A Aprendizagem constituída e significativa permite a

construção/desconstrução/reconstrução de esquemas que tecem redes de

significados. Caberá ao professor criar condições favoráveis a este processo.

Para Piaget educar significa propor desafios cognitivos, gerar conflitos com

possibilidade de resolução, transformar estes mesmo conflitos em

22

controvérsias e, finalmente, compreender os erros e resultas dos obtidos como

ponto de modificação para os esquemas de conhecimento adquirido.

Já a visão sócioconstrutivista de Vygotsky, considera o cérebro um

sistema aberto, o que o tornaria nada imutável. “A Teoria da Plasticidade

Cerebral” em tese refere-se a base biológica do funcionamento psicológico do

homem; contrapondo-se às teorias que colocam o desenvolvimento cognitivo

como um processo que passa por etapas mentais fixas. O desenvolvimento de

novas técnicas de imagens, especialmente a tomografia por emissão de

pósitrons (PET) e o aperfeiçoamento das técnicas de ressonância Magnética

(MRI) permitem observar, em tempo real, imagens da fisiologia associada com

o processo de aprendizagem. É possível observar, por exemplo, regiões

específicas do cérebro sendo ativadas, quando atividades de leitura são

efetuadas, bem como os neurônios e sua intrincada rede de células

organizando-se e coordenando suas tarefas. Essas novas técnicas confirmam

que o cérebro é um sistema aberto autoorganizável que é moldado pela sua

interação com objetos e eventos. Ao deparar-se com novos eventos os

mecanismos moleculares do cérebro se ajustam a nova realidade, tal qual a

teoria acima mencionada de Vygotsky

FIG 3 – Imagens do Cérebro Humano obtidas por tomografia de emissão de

pósitrons revelam que a circulação sanguínea no cérebro aumenta em certas

regiões, que diferem segundo o tipo de tarefa efetuada (aqui ligadas ao exame das

palavras e à sua verbalização). Fonte: Revista: Viver Mente & Cérebro Scientific American

Ano XIII Nº143 - Dezembro 2004

23

Os mecanismos de mudanças individuais teriam suas raízes na cultura e

na sociedade. A linguagem seria um processo profundamente pessoal,

precedendo desta forma o pensamento. Vygotsky introduziria, ainda, conceitos

de zona de desenvolvimento real onde o saber construído, elaborado,

apropriado pelo sujeito, o que cada um sabe as funções mentais e zona de

desenvolvimento proximal caracterizada pela apropriação do conhecimento,

com a ajuda de um interventor (professor-educador) que teriam relações

diretas com o processo educativo.

A transposição das idéias vygotskianas para o contexto pedagógico foi

tarefa possível para alguns educadores, na atualidade, dentre os quais cabe

destacar Coll e Sole (2001, Teberosky (1993) e deheinzelin(1996), dentre

outros, que viram na sua teoria os elementos necessários e complementares à

obra de Piaget, quanto a explicitação dos processos cognitivos ( D’Avila, 2006).

Pode-se afirmar que a aprendizagem acontece por um processo

cognitivo imbuído de afetividade, relação e motivação. Assim, para aprender é

imprescindível “poder” fazê-lo, o que faz referência às capacidades, aos

conhecimentos, às estratégias e às destrezas necessárias, para isso é

necessário “querer” fazê-lo, ter a disposição, a intenção e a motivação

suficientes.

Para ter bons resultados acadêmicos, os alunos necessitam de colocar

tanta voluntariedade como habilidade, o que conduz à necessidade de integrar

tanto os aspectos cognitivos como os motivacionais,

A motivação é um processo que se dá no interior do sujeito, estando,

entretanto, intimamente ligado às relações de troca que o mesmo estabelece

com o meio, principalmente, seus professores e colegas. Nas situações

escolares, o interesse é indispensável para que o aluno tenha motivos de ação

no sentido de apropriar-se do conhecimento.

A escola está a serviço da criança e não vice-versa. O sistema

educacional deve ser moldado de tal forma, que qualquer ser humano até a

24

idade de dezoito anos, tenha possibilidade de aprender e de receber uma

formação que vise ao pleno desenvolvimento da sua personalidade e não ao

preparo profissional. (Lanz,1994)

De acordo com Lanz e observando cada pensamento pedagógico aqui

mencionado, partindo – se da premissa que aprender a ler é o início de toda

aprendizagem, cabe ao educador/professor/psicopedagogo a missão de

analisar a criança com DAL. Para que assim esta possa receber atividades

desafiadoras que a levem a empenhar-se no seu processo de letramento, e

não mantê-la sobe a ótica do fracasso escolar. Estas atividades devem estar

voltadas principalmente para os setores em que o Disléxico se sinta mais

capaz, como a música, as artes, teatro, ciências ou mesmo matemática.

Quando falamos em aprendizagemXDislexia, devemos nos lembrar de

grandes nomes que venceram nas mais variadas áreas, muitos considerados

grandes nomes, gênios, que superaram o obstáculo da Dificuldade de

Aprendizagem de Leitura, muitas vezes deixando para trás a carreira das

letras, não freqüentando um curso superior. Esta monografia tem exatamente

o objetivo de embasar o profissional para que ele possa ajudar a criança a não

desistir do processo ensino/aprendizagem, pois, não é o fator inteligência que

se altera numa criança ou adulto portador de Dislexia.

2.1. DISLÉXICOS FAMOSOS

Hans Christian Andersen, além de outros livros infantis é autor de O

Patinho Feio, história que bem reflete estados psicológicos de um disléxico

severo, sua baixa auto-estima, a consciência de seu potencial. Esse livro foi

traduzido em muitos idiomas através de quase todo o mundo. Por causa de

sua severa disgrafia, suas histórias foram ditadas a um escriba. Andersen

teve sérias dificuldades na escola e, durante toda a sua vida, não conseguiu

aprender a soletrar e a escrever em sua língua nativa.

Cher, cantora e atriz: "Meus dias na escola foram muito difíceis. Eu só

conseguia aprender quase tudo, através de meu canal auditivo. Por isto, em

25

meu boletim sempre constava a seguinte observação: "Não se valeu de todo

seu potencial para aprender".

Winston Churchill: "Fui totalmente desestimulado em tudo, em meus

dias de escola. E nada é mais desencorajador do que ser marginalizado em

sala de aula, o que leva a nos sentirmos inferiores em nossa origem humana".

Tom Cruise, ator: "Eu tinha que treinar a mim mesmo para concentrar

minha atenção. Assim, me tornei muito visual e aprendi como criar imagens

mentais para poder compreender o que lia".

Dr. Red Duke, físico, âncora de TV americana: " Tenho mais que um

grande interesse em dislexia porque, como adulto, em algum lugar ao longo da

linha, finalmente, descobri que 'was' não é 'saw' e que tenho uma real e boa

tendência a memorizar palavras de trás para frente... Tenho boa memória;

graças a Deus, posso lembrar as coisas realmente rápido. Porém quando eu

era uma criança e porque ninguém sabia nada sobre dislexia, nós tínhamos

que encontrar o nosso jeito de ir adiante".

Thomas Alva Edison, o maior inventor de todos os tempos: "A mais

satisfatória forma de arrebatamento é pensar, pensar e pensar".

Albert Eisntein, um dos maiores cientistas de todos os tempos:

"Quando eu lia, somente ouvia o que estava lendo, e era incapaz de lembrar a

aparência visual da palavra que lia".

Danny Glover, ator: "As crianças faziam piada de mim por causa da

minha pele negra, de meu nariz grande, e porque eu era disléxico. Já como

ator, demorou um longo tempo para que eu pudesse entender por que as

palavras pareciam misturadas em minha mente e eu as pronunciava de

maneira diferente".

26

Whopppi Goldberg, atriz: "Minhas lembranças da escola não são

minhas coisas favoritas...Nós não somos estúpidos - nós temos uma

deficiência e essa deficiência pode ser superada".

Greg Louganis, duas vezes ganhador de Medalha de Ouro Olímpica:

"Dislexia! Este era eu; este foi meu problema. Você não pode imaginar que

alívio é para alguém com dezoito anos saber que ele não é mentalmente

retardado".

General George Patton, gênio militar da II Grande Guerra Mundial, "Old

Blood and Guts". Extraído da biografia escrita por Martin Blumenson: " Jovem

George... Embora brilhante, inteligente e transbordando energia, ele era

incapaz de ler e escrever. Para ele, as letras impressas nas páginas pareciam-

lhe de cabeça para baixo ou impressas em sentido de direção reversa... A

esposa de Patton corrigia sua soletração, sua pontuação, sua gramática".

Nelson Rockefeller, governou a cidade de New York: "Eu mesmo fui

uma daquelas crianças enigmáticas - um disléxico, ou leitor reverso - E para

mim, ainda hoje, é difícil ler".

Henry Winkler, ator, diretor e produtor americano: "Quando criança, eu

era rotulado de estúpido e preguiçoso. Meus pais não tinham nenhuma idéia

de que eu tinha dificuldades de aprendizado".

27

3. A DISLEXIA

3.1. RAÍZES HISTÓRICAS:

A descoberta dos distúrbios de leitura surgiu a partir de algumas

observações publicadas quase que simultaneamente em diversos lugares da

Europa ao final do séc. XIX. Estas publicações médicas falavam de crianças

brilhantes e motivadas, que pertenciam a famílias escolarizadas e conscientes,

possuíam professores capazes e interessados no bom desempenho dos

alunos. Alunos que apesar de tudo não conseguiam ler.

A maioria das crianças e jovens estudados possuía habilidades,

matemáticas, raciocínio rápido e compreensão apurada, sobressaíam nas

atividades esportivas, nas artes e na música.

O mais antigo caso de dislexia conhecida na época por “Cegueira

Verbal” se deu em 1676, quando o médico alemão Dr. Johann Schmidt,

publicou suas observações sobre Nicolas Cambier de 65 anos que havia

perdido a capacidade de ler após um derrame. (Shaywitz,2006).

Kussmaul (1878) também tratou de casos de adultos com “cegueira

para leitura” ao diagnosticar um homem que depois de um derrame cerebral

não conseguia mais ler, descrevendo tal situação como áfasia1 (MASSi, 2006)

O médico inglês Dr. W Pringle Morgan (1896) foi a primeira pessoa a

considerar a “Cegueira Verbal”. Hinshelwood (1895) oftalmologista serviu como

catalisador para o artigo subseqüente de Morgan relatando um caso de dislexia

adquirida de um professor de Frances e alemão de 58 anos que amanheceu

simplesmente sem conseguir ler as palavras. Hinshelwood propôs o nome de

dislexia à dificuldade no aprendizado da leitura e da escrita. Ele concluiu que a

causa mais provável “deste grave distúrbio de leitura é um defeito congênito do

1 Afasia é uma alteração de processos lingüísticos significativos, ocasionada por lesão adquirida no sistema nervoso central.

28

cérebro, afetando a memória visual de palavras e de letras”. Acreditava que

o problema poderia ser hereditário.

O tratamento sugerido por este pesquisador era “o ensino diagnóstico-

prescritivo individual, dependendo do grau de deficiência de memória visual e

auditiva.” (Barbosa 2005).

Tanto Hinshelwood como Morgan são anteriores ao primeiro teste

padronizado, o da escala de inteligência de Binet-Simon, que apareceu em

1905. Na mesma época o cirurgião ocular Collins concluiu que os principais

sintomas do distúrbio eram negligenciados e tratados como mera burrice, ou

erro de refração ocular.

Em 1925, Samuel Orton, ao estudar crianças retardadas que não

conseguiam aprender a ler, descobriu nelas outros fenômenos importantes e

correlatos, tais como: canhotismo ou ambidextrismo e uma tendência a

inversões quando na tentativa de ler ou escrever, algumas vezes culminando

em escrita ou leitura em espelho. Orton acreditava que atrás destes casos

haveria um estado de dominância occipital ambígua, de natureza fisiológica.

Afirmava ainda que: tais distúrbios deveriam responder a treinamento

específico... se formos inteligentes o suficiente para inventar os métodos

próprios de treinamento para atingir necessidades de cada caso em

particular”.(Prado, 2002).

Muitos outros Países em décadas distintas também tiveram seu

interesse pela dislexia despertado. Dinamarca (1935), Bélgica e Holanda.

Na França Variot e Lecomte (1926) Ombredane, (1937), mas somente em

1951 os estudos sistematizados sobre a dislexia foram apresentados na

Sorbonne em um simpósio. Bachmann, também escreveu publicações

importantes em 1927 na Alemanha. Em Portugal, J. S. Ataíde (1960).

Os Países latino americanos, Argentina, Uruguai ocuparam-se da

questão, com publicações de Quirós (1959;1965) e de Bauzá (1962). No Brasil,

em particular, Zaldo Rocha e col. (1964;1965;1966), Cacilda Cuba

(1966;1968;1971). E na America do Norte os Estados Unidos por volta de

1966. Em 1969 Wanda estudou a assimetria do cérebro, não apenas em

29

adultos, mas em fetos de recém-nascidos, podendo concluir que as

assimetrias são inatas e não adquiridas.

3. 2 DEFINIÇÃO

Estudando a estrutura das palavras e a sua formação, para definir a

dislexia teremos: prefixo DIS que significa Distúrbio e LEXIA do latim leitura e

do grego linguagem, formando assim a definição dificuldade na leitura e na

escrita.

De acordo com a ABD (Associação Brasileira de Dislexia) com sede em

São Paulo capital “Dislexia é um dos muitos distúrbios de aprendizagem,

porém, específico da linguagem, de origem constitucional, caracterizado pela

dificuldade de decodificar palavras simples”. Mostra uma insuficiência no

processo fonológico. Estas dificuldades de decodificar palavras simples não

são esperadas em relação à idade. Apesar de submetida à instrução

convencional, adequada inteligência, oportunidade sócio-cultural e não possuir

distúrbios de ordem cognitiva e sensorial fundamentais, a criança falha no

processo de aquisição da linguagem.

Como já estudamos o cérebro no capitulo 1, podemos compreender

melhor a definição da World Federation of Neurology se refere a dislexia como

“deficiências cognitivas fundamentais” de possível “origem constitucional”. A

busca por essas deficiências e suas origens na constituição do indivíduo tem

preocupado a maior parte dos pesquisadores atraídos pelo estudo da dislexia.

Uma vez que a leitura não é uma habilidade natural e apenas difundiu - se pela

população geral em tempos muito recentes.

A Dislexia, por definição, é um distúrbio do aprendizado que se

manifesta, inicialmente, pela dificuldade em aprender a leitura e a escrita com

resultados abaixo do esperado em relação à escolarização e no nível de

inteligência normal, não ocorrendo, portanto, no déficit intelectual, na

posição sócio-econômica, por técnicas deficientes de ensino ou lesão cerebral.

Déficits em toda uma lista de habilidades cognitivas, incluindo

processamento visual, conscientização fonológica e memória de curto prazo,

30

têm sido propostos de tempos em tempos, como o déficit fundamental da

dislexia. Contudo, se a dislexia tem uma causa única, poderíamos esperar que

todos os disléxicos mostrassem o mesmo padrão de dificuldades, no que tange

ao processamento da palavra escrita. Se os disléxicos não são todos iguais em

sua leitura e escrita, então podemos suspeitar que diferentes deficiências

sejam subjacentes a diferentes formas de dislexia. Afinal, não seria

surpreendente se a aquisição de uma habilidade tão complexa quanto a leitura

pudesse ser perturbada por mais de uma deficiência cognitiva fundamental.

Scaner de texto escrito por criança com dislexia. Fonte:

adrianogatto.wordpress.com/2007/11/

Em resumo pode-se afirmar afinal que o termo dislexia esta sendo

tomado de empréstimo pela medicina e por analogia passa a designar

praticamente toda a qualquer dificuldade de aprendizagem, tanto na leitura

quanto na escrita, mesmo havendo integridade nas capacidades intelectuais,

apesar de que após tantos estudos ainda não se esta totalmente comprovado

que toda e qualquer forma de dislexia esteja ligada a disfunção cerebral, ou

atroso maturacional ou alterações inatas e/ou hereditárias.

31

3.3. DESMEMBRANDO A DISLEXIA:

Assim como as causas da dislexia são muitas e controversas, assim são

os problemas causados por ela. Alguns destes problemas podem ser

diagnosticados por pais, familiares, professores, mas principalmente pelo

psicopedagogo dentro do ambiente escolar.

Fonte: dislexicosaibaseusdireitos.blogspot.com/2008

3.3.1 Disgrafia,

Caracterizada por problemas com a Linguagem Escrita, dificulta a

comunicação de idéias e de conhecimentos dos disléxicos mesmo que estes

não tenham problemas de coordenação psicomotora.

A digrafia causa comprometimentos no traçado de letras e de números

ocorrendo erros ortográficos graves, pode-se acrescentar ou inverter letras e

sílabas. Sua dificuldade espacial se revela na falta de domínio do traçado da

letra, subindo e descendo a linha demarcada para a escrita. Há disgráficos

com letra mal grafada inteligível, porém, outros cometem erros e borrões que

32

quase não deixam possibilidade de leitura para sua escrita cursiva, embora

eles mesmos sejam capazes de ler o que escreveram. É comum que

disgráficos também tenham dificuldades em matemática.

É especialmente complicado para esses disléxicos, monitorar a posição

da mão que escreve com a coordenação do direcionamento espacial

necessário à grafia da letra ou do número, integrada nos movimentos de

fixação e alternância da visão. Por isto, eles podem reforçar pesadamente o

lápis ou a caneta, no ponto de seu foco visual, procurando controlar o que a

mão está traçando durante a escrita. Por isto, também podem inclinar a cabeça

para tentar ajustar distorções de imagem em sue campo de fixação ocular.

As deficiências dos Disgráficos se baseiam com freqüência em

diferentes graus, no desequilíbrio com relação à gravidade, desde a infância. O

diágnóstico pode ser através da observação, pois, surgem atrasos no

desenvolvimento da marcha, dificuldades em subir e descer escadas, ao andar

sobre bases em desnível ou em balanço; ao aprender a andar de bicicleta, no

uso de tesouras, ao amarrar os cordões dos sapatos, jogando ou apanhando

uma bola.

Tarefas que envolvem coordenação de movimentos com direcionamento

visual podem chegar a ser, até, extremamente complicadas. Dos simples

movimentos para seguir uma linha, e destes, para o refinamento da

motricidade fina, que envolve o traçado da letra e do número e de suas

seqüências coordenadas, podem transformar-se em trabalho especialmente

laborioso.

Razão porque se torna extremamente difícil para o disléxico aprender a

escrever pela observação da seqüência de movimentos ensinados pelo

professor.

Dificuldades também surgem na construção com blocos, no encaixe de

quebracabeças, ao desenhar, ao tentar estabelecer valor e direcionamento ao

movimento dos ponteiros do relógio na leitura das horas. A escrita, para o

disgráfico, pode tornar-se uma tarefa muito difícil e exaustiva, extremamente

laboriosa e cansativa, podendo trazer os mais sérios reflexos para o

33

desenvolvimento do ego dessa criança, desse jovem, a falta de entendimento,

de diagnóstico e do imprescindível e adequado suporte psicopedagógico.

3.3.2 Deficiência de Atenção

Os disléxicos com déficit de atenção tendem a ter dificuldade em focar a

mesma por um período de tempo capaz de sustentar a coordenação seletiva

dessa atenção, e mantendo esse estado convergente durante um espaço de

tempo necessário à seleção e registro de um estímulo, possibilitando que se

integre na construção do aprendizado.

Por causa da dificuldade em concentração, há crianças que tornam-se

inacreditavelmente confusas e inconsistentes. E porque existe uma oscilação

no nível da capacidade de concentração dessas pessoas, há dias em que elas

podem melhor corresponder à expectativa escolar ensino-aprendizado, e

outros dias em que se apresentam dispersivas, parecendo ter esquecido tudo

o que já haviam aprendido. Por isto, elas podem conseguir uma nota alta em

um dia e serem reprovadas, no mesmo conteúdo, no dia seguinte, na próxima

semana ou no mês seguinte. Condição esta que confunde pais, professores e

o próprio disléxico. Profissionais desinformados acerca desse processo,

podem exasperar-se e acusar o disléxico de ser desatento e negligente; de não

estar levando seus estudos a sério; de não estar determinado a aprender; de

ser indiferentes ao objetivo de conquistar um bom desempenho escolar

quando, na verdade, ele não estão conseguindo atingir um nível mínimo

necessário de concentração da atenção, para que possa, mentalmente,

construir e entrelaçar as seqüências relacionais em seu mecanismo

psicopedagógico pessoal ensino-aprendizado.

Neste caso o diagnóstico é mais difícil, pois como já foi dito a oscilação

que ocorre na atenção confundirá o psicopedagogo que não tiver a experiência

necessária na avaliação do aluno solicitada.

3.3.3 Discalculia

34

Não existe uma causa única e simples com que possam ser justificadas

as bases das dificuldades com a Linguagem Matemática. Essas dificuldades

estão atreladas a fatores diversos, podendo estar vinculadas a problemas com

o domínio da leitura e/ou da escrita, na compreensão global do que proponha

um texto, bem como no próprio processamento da linguagem. Há dificuldades

relacionadas à confusão visual-espacial, como outras que têm relação com a

discriminação da seqüência e da ordem precisas de fatos matemáticos e com

a lembrança correta de adequação de procedimentos matemáticos.

Pessoas disléxicas, com freqüência, são bem dotadas em matemática.

Elas têm habilidades de visualização em três dimensões, que as ajudam a

assimilar conceitos mais clara e rapidamente que pessoas não disléxicas. Por

isto, também é relativamente comum que esses disléxicos possam resolver

complexos problemas matemáticos mentalmente, mesmo que não sejam

capazes de decompor esse cálculo em suas etapas respectivas. E, embora

com essa habilidade ímpar, e por causa deste mesmo processo de

aprendizado diferencial em discalculia, essas pessoas, surpreendentemente,

podem experimentar grandes dificuldades em cálculos aritméticos básicos.

E quando esses disléxicos apresentam dificuldades muito pronunciadas

em direcionalidade, rota de memorização e seqüência, isto pode trazer-lhes

dificuldades tão pronunciadas, impedindo que seus dons matemáticos possam

ser evidenciados.

Há outros disléxicos que, ao contrário, não encontram grandes

dificuldades e, até, podem ser hábeis em cálculos aritméticos, porém

fracassem sempre que uma “incógnita” lhes traga uma abstração que eles não

conseguem decodificar. Assim, encontram sérias dificuldades em matemática

mais avançada.

3.3.4 Disortografia

35

Disortografia é a dificuldade em visualizar a forma correta da escrita das

palavras, pois a criança escreve conforme os sons da fala e sua escrita torna-

se muitas vezes incompreensível.

As principais características da disortografia são: troca de grafemas;

falta de vontade para escrever; dificuldade para perceber sinalizações gráficas;

dificuldade no uso de coordenação/subordinação das orações; textos muito

reduzidos; aglutinação ou separação indevida das palavras.

Uma das formas se observar se a criança tem ou não disortografia, é na

realização de ditado, pois é ali que apresentam trocas relacionadas à audição.

Portanto, não adianta trabalhar por repetição, mas usando a lógica, quando

possível, e a conscientização da audição, em outros casos (ex: s e ss; i e u;

etc.).

3.3.5 Hiperatividade e Hipoatividade

Embora possam ser estudadas separadamente como distúrbios próprios

tanto a hiperatividade como a Hipoatividade que é o seu inverso podem estar

ligadas a dislexia.

A criança hiperativa é aquela que nunca pára, está sempre agitada, não

consegue permanecer sentada, incapaz de controlar os próprios movimentos,

sente-se muito mal a respeito de si mesmo e sua auto-imagem e auto-estima

podem tornar-se muito negativas.

A Hiperatividade causa dificuldade no foco de atenção. Trata-se de uma

superestimulação nervosa que faz com que a criança passe de um estímulo a

outro, não conseguindo focar um único objetivo, o que dá a impressão de que

ela é desligada. Não que o hiperativo não preste atenção em nada, ao

contrário, ele presta atenção em tudo, ao mesmo tempo, não sendo capaz de

destacar um estímulo e ignorar outros. Não é que ela esteja desatenta,

desligada; ao contrário, o fato dela estar ligada em tudo que esteja

acontecendo a sua volta é que a impede de concentrar sua atenção em um só

estímulo.

36

Para Laís Valadares, do Departamento Científico da Sociedade

Brasileira de Pediatria, diagnosticar o transtorno virou moda: 'Em muitos casos,

pais e professores não conseguem colocar limites e as crianças são

carimbadas de hiperativas. Elas sofrem com a agenda lotada, falta de espaço

para brincar e com o pouco tempo que os pais dispõem. Precisam é de

psicoterapia',

Já a Hipoatividade expressa a tradução de sua significação literal,

exatamente inversa à condição de Hiperatividade. A criança hipoativa é aquela

que parece estar, sempre, no “mundo da lua”, “sonhando acordada”. Dá a

impressão de que nunca está ligada em nada. Ela tem memória pobre e

comportamento vago, pouca interação social, quase não se envolve com seus

colegas e costuma não ter amigos. Hipoatividade se caracteriza por um nível

baixo de atividade motora, com reação lenta a qualquer estímulo. Essa criança

não costuma trazer problemas em seu convívio porque é sempre muito bem

comportada, a chamada “criança boazinha”.

Hipoatividade ligada à dislexia traz uma grande dificuldade a essa

criança e jovem, no processar o que está acontecendo à sua volta,

necessitando de um aprimoramento de técnicas em seu programa escolar,

com a necessidade de recursos psicopedagógicos remediativos absolutamente

específicos, com um suporte muito mais ativo de estímulos tanto na escola

como em casa e na sociedade.

37

4. DISLEXIA E A EDUCAÇÃO

4.1 A DISLEXIA E O MÉTODO DE ENSINO

No âmbito das instituições de Educação Básica, existem relatos de

professores que registram situações em que crianças, aparentemente

brilhantes e muito inteligentes, não podem ler ou escrever, nem têm boa

ortografia para idade. Nos exames vestibulares, são descritos casos que

candidatos apresentam baixo nível de compreensão leitora ou a ortografia

ainda é fonética2 e inconstante.

Assim, urge a realização de testes de leitura nas escolas públicas e

privadas, desde cedo, de modo a diagnosticar e avaliar a dificuldade de leitura.

Por trás do fracasso escolar ou da evasão escolar, sempre há fortes indícios

de dificuldades de aprendizagem relacionadas à linguagem. Nos casos de

abandono escolar, em geral, também, verificamos crianças que deixam a

escola por enfrentarem dificuldades de leitura e escrita. (Martins, 2003)

A desinformação por parte dos professores, pais e gestores

educacionais, do que é a dislexia e suas mazelas na vida das crianças só piora

a aprendizagem da leitura de seus alunos. Infelizmente, a legislação

educacional (CF, LDB, resoluções etc) não trata as diversas necessidades

especiais dos educandos de forma clara, objetiva, pragmática e programática.

Esta omissão tem dificultado ações governamentais por parte dos gestores, do

professor ao secretário de educação. A Constituição Federal, por exemplo, ao

tratar sobre a educação especial diz: "O dever do estado com a educação será

efetivado mediante a garantia de atendimento educacional especializada aos

portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino"(Artigo

208, III, CF). E perguntaria ao leitor: uma criança, com dislexia, isto é, com

dificuldade de ler bem, é um portador de deficiência? Claro que não. A Lei

2 E. Ling. Estudo dos sons da fala, especialmente no que diz respeito à sua produção, transmissão e recepção

38

9.394/96, a de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, apresenta uma

melhor redação sobre a matéria. Diz assim: "O dever do estado com a

educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de atendimento

educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades

especiais, preferencialmente na rede regular de ensino" (Art. 4º, LDB).

Melhorou e, em muito, porque faz referências às necessidades especiais.

No dia 12 de dezembro de 2007 a Câmara Legislativa do Distrito

Federal em sessão ordinária discutiu, votou em 1º TURNO, o projeto de lei nº

1.061, de 2004 de autoria do Deputado Brunelli (Partido dos Democratas) que

cria o Programa de Identificação e Acompanhamento da Dislexia – PIAD,

na Rede Publica do Distrito Federal e dá outras providencias.”, porém de forma

simbólica. O Projeto voltou a ser apresentado em 03 de abril de 2008, mas

aguardava-se que o CCJ, proferisse relatório sobre o veto Enquanto a Câmara

não aprovava a criação do Programa, o Presidente da Câmara Legislativa

sancionava a seguinte LEI N° 4.095, DE 1º DE FEVEREIRO DE 2008 DODF

DE 11.02.2008: “Assegura atendimento psicopedagógico aos estudantes com

dislexia na rede pública de ensino do Distrito Federal. (Anexo)”

Desta forma mais um passo foi dado dentro da sociedade para garantir

diagnóstico as nossas crianças, oferecendo assim a oportunidade do aluno

que sofre desta síndrome, possa ser auxiliado e tratado de forma justa, não

sofrendo qualquer discriminação, ou rótulo, por parte alunos, colegas

professores ou instituições de ensino.

O disléxico pode, apesar das dificuldades na leitura e escrita ser um

portador de alta habilidade. Em geral, os disléxicos, são talentosos na arte,

música, teatro, deportes, mecânica, vendas, comércio, desenho, construção e

engenharia. Não se descarta ainda que venha a ser um superdotado, com uma

capacidade intelectual singular, criativo, produtivo e líder. O disléxico pode,

também, ser um portador de conduta típica, com síndrome e quadro de ordem

psicológica, neurológica e lingüística, de modo que sua síndrome compromete

a aprendizagem eficaz e eficiente de leitura e escrita, mas não chega a

comprometer seus ideais, idéias, talentos e sonhos. Por isso, diagnosticar,

avaliar e tratar a dislexia, conhecer seu tipo, sua natureza, é um dever do

39

Estado e da Sociedade e um direito de todas as famílias com crianças

disléxicas em idade escolar.

Vicente Martins3 conta que na sua rápida passagem pela rede estadual

de ensino, procurou conhecer a família dos alunos para ter uma "etiologia"

mais clara e definida da forma de intervenção pedagógica a tomar com relação

ao educando; Buscando desta forma levar o seu aluno à consciência de suas

limitações cognitivas, de natureza secundária, e mostrar-lhes, por exemplo,

que, através de uma boa orientação ou reeducação da leitura, poderiam mudar

as próprias atitudes, ideais aspirações pessoais e, finalmente, promover

através da leitura aquisição de conhecimentos e a integração social. Quanto

mais a criança compreende ideologicamente o mundo mais se envolve com

uma práxis da concidadania e se inquieta com as questões de ordem social.

Um aluno que fracassa na leitura, fracassa também na hora de ler um

problema na matemática ou na hora de fazer um exercício de gramática. A

privação da leitura interfere no desenvolvimento da personalidade dos alunos.

Um aluno com deficiência de leitura é triste e deprimido, agressivo e

angustiado. Numa sociedade de informação, ler ou escrever bem é condição

de superação da desigualdade social: se alguns duvidam da tese, eis a rede

mundial de computadores revelando um mundo de novas ocupações fundadas

na fluência verbal e na comunicação eficaz.

4.2 DIAGNOSTICANDO A DISLEXIA

Vicente Martins continua ainda afirmando que é necessário diagnósticar

a dislexia precocemente, isto é, os pais e educadores se preocupem em

encontrar indícios de dislexia em crianças aparentemente normais, já nos

primeiros anos de educação infantil, envolvendo as crianças de 4 a 5 anos de

idade.

Quando não se diagnostica a dislexia, ainda na educação infantil, os

3 Mestre em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), graduado e pós-graduado em Letras pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Professor do Curso de Letras (graduação e pós-graduação) e de Psicopedagogia (pós-Graduação) da Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA, em Sobral, Estado do Ceará, Brasil)

40

distúrbios de letras podem levar crianças de 8 a 9, no ensino fundamental, a

apresentar perturbações de ordem emocional, efetiva e lingüística.

Uma criança disléxica encontra dificuldade de lê e as frustrações

acumuladas podem conduzir a comportamentos anti-sociais, à agressividade e

a uma situação de marginalização progressiva.

Os pais, professores e educadores devem estar atentar a dois

importantes indicadores para o diagnóstico precoce da dislexia: a história

pessoal do aluno e as suas manifestações lingüísticas nas aulas de leitura e

escrita.

Quando os professores se depararem com crianças inteligentes,

saudáveis, mas com dificuldade de ler e entender o que lê, devem investigar

imediatamente se há existência de casos de dislexia na família. A história

pessoal de um disléxico, geralmente, traz traços comuns como o atraso na

aquisição da linguagem, atrasos na locomoção e problemas de dominância

lateral.

Os dados históricos de dificuldades na família e na escola poderão ser

de grande utilidade para profissionais como psicólogos, psicopedagogos e

neuropsicólogos que atuam no processo de reeducação lingüística das

crianças disléxicas.

“Durante o momento do diagnóstico são observados fatores como dificuldade

na leitura, na escrita, se há a troca de letras, se a caligrafia é ruim, dentre outros.

Nessa avaliação, analisamos também itens como o material escolar para conhecer o

desempenho da criança na escola que é essencial”. (psicopedagoga Luciane Felício,

entrevista, Jornal da Comunidade. Edição 1032 06/09 a 12/09 de 2008)

No plano da linguagem, os disléxicos fazem confusão entre letras,

sílabas ou palavras apresentando caligrafia defeituosa, verificando-se

irregularidade do desenho das letras, denotando, assim, perda de

concentração e de fluidez de raciocínio.

As crianças disléxicas apresentam confusão com letras com grafia

similar, mas com diferente orientação no espaço como " b-d". "d-p", "b-q", "d-

b", "d-p", "d-q", "n-u" e "a-e". A dificuldade pode ser ainda para letras que

possuem um ponto de articulação comum e cujos sons são acusticamente

41

próximos: "d-t" e "c-q", por exemplo.

Na lista de dificuldades dos disléxicos, para o diagnóstico precoce dos

distúrbios de letras, educadores, professores e pais devem ter atenção para as

inversões de sílabas ou palavras como "sol-los", "som-mos" bem como a

adição ou omissão de sons como "casa-casaco", repetição de sílabas, salto de

linhas e soletração defeituosa de palavras.

Nesta Era da globalização com o uso cada vez maior por crianças e

adolescentes dos computadores e das chamadas Redes de Relacionamento

onde se utiliza uma linguagem ortográfica totalmente diferente da ensinada nas

escolas, o chamado “internetês” maneira taquigráfica, fonética e visual

devendo pais e educadores redobrar os cuidados com os filhos.

O mau uso do computador pode levar a criança a ter algum distúrbio de

letras. Até agora, não há estudos científicos sobre o assunto, mas, pelo relato

de pais e professores, dirigidos ao meu site na Internet, revelam que posições

pouco ergonômicas perante a um computador, pode comprometer o sistema

perceptivo da criança, levando à dificuldade de leitura e escrita. (Martins, 2002)

A finalidade de se diagnosticar o portador da dislexia não é segregar,

mas sim classificar uma dificuldade para melhor compreendê-la e possibilitar

as ferramentas para combatê-la. Observando que quanto mais severas forem

as dificuldades de aprendizagem, maior será a necessidade de uma proposta

educacional individualizada gradativa e apoiada em recursos multissensoriais.

Professor e aluno trabalhando juntos.

4.2.1 Diagnóstico por faixa etária:

Este item tem a finalidade de facilitar o diagnóstico pelos pais e

profissionais que somente nesta monografia estão conhecendo a dislexia, pois,

será feito em forma de questionamento, principalmente conforme foi aqui

explanado quanto mais cedo Oe feito o diagnóstico, menos traumas serão

impostos a criança. Deixamos claro, porém, que os sintomas descritos não

necessariamente poderão indicar a dislexia, para que tal diagnóstico seja

42

preciso os pais e professores deverão levar a criança para um profissional

experiente e gabaritado.

4.2.1.1 Crianças na faixa etária de 3 a 6 anos

Persiste em falar como um bebê?

Freqüentemente pronuncia palavras de forma errada?

Não consegue reconhecer as letras que soletram seu nome?

Tem dificuldades em lembrar o nome de letras, números e dias da seman?

Leva muito tempo para aprender novas palavras?

Tem dificuldade em aprender rimas infantis?

4.2.1.2 Crianças na faixa etária de 6 e 7 anos

Tem dificuldade em dividir palavras em sílabas?

Não consegue ler palavras simples e monossilábicas, tais como “rei” ou “bom”?

Comete erros de leitura que demonstrem uma dificuldade em relacionar letras

e seus respectivos sons?

Tem dificuldade em reconhecer fonemas?

Reclama que ler é muito difícil?

Freqüentemente comete erros quando escreve e soletra palavras?

Memoriza textos sem compreendê-los?

4.2.1.3 Crianças na faixa etária de 7 a 12 anos.

Comete erros ao pronunciar palavras longas ou complicadas?

Confunde palavras de sonoridade semelhante como “tomate” e “tapete”,

“loção” e “canção”?

Utiliza excessivamente palavras vagas como “coisa”?

43

Tem dificuldades para memorizar datas, nomes ou números de telefone?

Pula partes de palavras quando estas têm muitas sílabas?

Costuma substituir palavras difíceis por outras simples quando lê em voz alta;

ex: “carro” ao invés de “automóvel”?

Comete muitos erros de ortografia?

Escreve de forma confusa?

Não consegue terminar as provas em sala de aula?

Sente muito medo de ler em voz alta?

4.2.1.4 Crianças a partir dos 12 anos.

Comete erros na pronúncia das palavras longas ou complicadas?

Seu nível de leitura esta abaixo de seus colegas de sala de aula?

Inverte a ordem de letras:”bolo” por “lobo”, “lago” por “logo”?

Tem dificuldade em soletrar palavras?

Lê muito devagar?

Evita ler e escrever

Tem dificuldade em resolver problemas de matemátia que envolvam a leitura?

Tem dificuldade em aprender uma língua estrangeira?

5. O PAPEL DE CADA UM:

Como num grupo teatral onde cada participante cumpre seu papel,

assim também deve acontecer ao redor do portador de dislexia. A Família, a

Escola, o Professor, o Psicopedagogo, devem estar afinados no processo de

auxílio ao aluno.

5.1 O PAPEL DA ESCOLA.

44

A Criança disléxica precisa de uma ambiente escolar diferenciado, que

se preocupem com suas dificuldades e ao mesmo tempo, não as transforme

em um grande cavalo de batalha.

Shaywitz (2006) explica que os pais ao procurarem uma escola,

independente desta ser publica ou privada, devem primeiramente saber se a

escola possui projetos de leitura e escrita que auxiliarão a criança, ou se a

escola esta apta a adaptar sua forma de trabalhar a leitura/escrita. Outro fator

importante é se a escola possui atividades que estimulam os pontos fortes do

disléxico, sejam na arte, música, esportes ou matemáticas. Os pais devem

estar atentos, aos materiais pedagógicos utilizados, a equipe de profissionais

que trabalha no ambiente escolar e principalmente se a escola mantém

padrões éticos e de cidadania, se não existem casos de preconceito, para que

o disléxico não seja apontado e constrangido devido a sua dificuldade.

Os conteúdos desenvolvidos e o material pedagógico a ser utilizado

devem ser avaliados para o bom desenvolvimento da criança em sua vida

escolar, para que isto ocorra a escola precisa estar com todo o seu quadro de

funcionários em sintonia, envolvidos com o processo educativo de forma

favorável a nova pedagogia humanizante. (Vygotsky, 1991) O único bom

ensino é o que impulsiona primeiramente o desenvolvimento humano.

5.2 O PAPEL DO PROFESSOR

Todos nós sabemos que o professor passa por uma série de

dificuldades, nem sempre a escola possui os instrumentos pedagógicos

facilitadores para a aprendizagem, às vezes mesmo o espaço físico é

inadequado. Por outro lado os salários muitas vezes insuficientes, a formação

incompleta, a ausência de cursos de capacitação, todos estes fatores são

muitas vezes decisivos para o desempenho do professor.

Porém, o professor que se importa apesar de todas estas barreiras, tem

consciência da necessidade de possuir habilidades, equilíbrio emocional e

antes de tudo respeitar as diferenças. Uma criança disléxica, que já passou

45

pelo constrangimento do pseudo-fracasso escolar, precisa antes de tudo

receber o apoio como ser humano capaz de realizar dentro das suas

dificuldades muitas atividades positivas. O Educador precisa educar este aluno

favorecendo meios para que ele seja uma pessoa no futuro capaz de

desempenhar no mundo o seu papel, estimular a cidadania e a partir do

momento que o aluno compreende esta realidade, ele se predispõe a avançar

superando as barreiras impostas pela dislexia.

5.3 O PAPEL DA FAMÍLIA

“Os adultos importantes para a vida de uma criança

disléxica – especialmente seus pais e professores -

desempenham um papel fundamental na determinação de seu

perfil futuro.” (Shaywitz 2006)

A família é o sustentáculo, a se e precisa se conscientizar deste seu

papel diante da criança, as instituições e os professores não são mais os

retentores de todas as respostas. As famílias precisam estar juntamente com a

escola e com os profissionais, lutando pra vencer a dislexia. Quanto mais

conhecemos as famílias, sua maneira de ver o mundo que a cerca e como isso

afetas o disléxico, mais estaremos aptos a auxiliá-lo em conjunto. Os pais

podem e devem ajudar nos desafios pedagógicos, compartilhando o

conhecimento com os professores e a escola, desta forma sentirão menos

ansiedade e estarão mais tranqüilos e centrados, quando estiver com a criança

incentivando-o a vencer os desafios que ele encontra diariamente no mundo

letrado da escola.

A criança com dislexia precisa de uma pessoa persistente,

encorajadora, alguém que lhe de apoio e o defenda inflexivelmente; que atue

como incentivador quando aas coisas não estão indo bem; que seja seu amigo

e confidente quando os outros façam chacota e o deixem envergonhado; um

defensor que por ações e comentários expresse otimismo para o futuro.

(Shaywitz 2006)

46

Alguém que realmente acredite nele e expresse esse sentimento em

ações positivas.

5.4 PAPEL DO PSICOPEDAGOGO

Toda escola deveria poder contar em sua equipe com um

psicopedagogo que pudesse avaliar antes de tudo e de preferência nas séries

iniciais os distúrbios de aprendizagem, encaminhando o aluno quando

necessário para um outro profissional (EX. fonoaudiólogo), o professor e/ou a

família o tratamento, Isto é, técnicas pedagógicas orientadas pelo profissional .

A psicopedagogia é o método eletivo que, na maioria dos casos, deve

estar associado a outros tratamentos. Como terapêutica multidiciplinar,

envolvendo psicoterapia, exercícios psicomotores, tratamento fonoaudiológico,

ginástica com treinamentos esportivos.

Segundo Tânia Maria de Campos Freitas(psicopedagoga, 2008), o

disléxico tem de ser mantido na sala de aula junto com outros alunos, que não

têm dificuldades de aprendizagem. "Eles têm de ser desafiados. E é

importante para todos, inclusive para os alunos que não tem a disfunção

perceber que se pode ser diferente do outro. E é aí que se aprende". Mas

Tânia faz uma ressalva. "Para que seja feita qualquer inclusão, você tem de

respeitar o professor, preparando-o para que ele possa lidar e ensinar essas

crianças".

47

6. MÉTODOS PARA AULIAR NO COMBATE A DISLEXIA:

Os princípios orientadores que compõem o processo educativo mostram

que os métodos multissensoriais, estruturados e cumulativos são mais

eficiente para auxiliar as crianças disléxicas Isto acontece, pois a maioria das

crianças portadoras da síndrome possuem além do déficit fonológico,

dificuldades na memória auditiva e visual e na automatização.

Os métodos de ensino multisessoriais como o próprio nome sugere

utiliza mais do que um sentido, enfatizando os aspectos cinestésicos da

aprendizagem e integrando o ouvir e o ver com o dizer e o escrever. A

associação Internacional de dislexia promove ativamente a utilização de

métodos multissensoriais, indica os princípios e os conteúdos educativos a

ensinar:

6.1 EXEMPLIFICANDO O MÉTODO

• Aprendizagem multissensorial: a leitura e a escrita são actividades

multissensoriais. As crianças têm que olhar para as letras impressas, dizer, ou

subvocalizar os sons, fazer os movimentos necessários à escrita e utilizar

48

conhecimentos linguísticos para aceder ao sentido das palavras. São utilizadas

em simultâneo as diferentes vias de acesso ao cérebro; os neurónios

estabelecem interligações entre si facilitando a aprendizagem e a

memorização;

• Estruturado e cumulativo: a organização dos conteúdos a aprender segue a

seqüência do desenvolvimento lingüístico e fonológico. Inicia-se com os

elementos mais fáceis e básicos e progride gradualmente para os mais difíceis.

Os conceitos ensinados devem ser revistos sistematicamente para manter e

reforçar a sua memorização;

• Ensino direto explicito: os diferentes conceitos devem ser ensinados direta,

explícita e conscientemente, nunca por dedução.

• Ensino diagnóstico: deve ser realizada uma avaliação diagnostica das

competências adquiridas e a adquirir.

• Ensino sintético e analítico: devem ser realizados exercícios de ensino

explícito da “fusão fonémica”, “fusão silábica”, “segmentação silábica” e

“segmentação fonémica”.

• Automatização das competências aprendidas: as competências aprendidas

devem ser treinadas até à sua automatização, isto é, até à sua realização, sem

atenção consciente e com mínimo de esforço e de tempo. A automatização irá

disponobilizar a atenção para aceder à compreensão do texto.

• O método fônico consiste na combinação entre ensino fônico de

correspondências entre grafemas e fonemas e exercícios metafonológicos

para aumentar a consciência de que o fluxo da fala é composto de uma

sucessão de um número limitado de fonemas que se combinam e recombinam

segundo regras previsíveis.

6.2 A PANLEXIA

49

A panlexia (Pamela Kvilekval) foi criado nos Estados Unidos e passou

por estudo científico para a Língua Portuguesa é utilizado para alfabetizar os

disléxicos, porém é muito pouco divulgado.

Foi estruturado com o objetivo de ensinar crianças com Transtornos

Específicos de Linguagem, através do uso de técnicas lingüísticas

estruturadas.

Não existe uma cartilha, uma receita, para trabalhar com alunos

disléxicos. Assim sendo, é preciso mais tempo e mais ocasiões para a troca de

informações sobre os alunos, planejamento de atividades e elaboração de

instrumentais de avaliação específicos;

Existe uma relutância inicial (ou dificuldade) por parte de alguns

professores para separar o comportamento do aluno disléxico das suas

dificuldades, existe o receio em relação às normas burocráticas e conteúdos a

seguir, aos companheiros de trabalho, aos colegas do aluno disléxico,

familiares, etc. Esta angústia do professor em relação ao nível de aprendizado

do aluno e às suas condições para enfrentar o vestibular, são muitas vezes

prejudiciais a implantação do método na escola, por isso, é imprescindível se

dar o tempo necessário para cada professor percorrer a sua trajetória pessoal

em relação a esta questão.

6.1 Características

A principal característica do método é ser multisensório (utiliza todos os

canais de aprendizagem de forma simultânea ou em rápida sucessão,

memória, visual, auditivo e tático-cinestésico). Ensino explícito, com jogos de

palavras.

Leitura e escrita ensinadas simultaneamente. A linguagem é ensinada a

partir dos elementos mais simples para os mais complexos. Dessa forma, o

conhecimento cresce à medida que os neurônios constroem novas conexões

cerebrais, é um método flexível, que foca as necessidades individuais do aluno

e caminha na sua velocidade, identificando como cada aluno aprende melhor.

O educador adapta o seu ensino aos pontos fortes do estudante

50

CONCLUSÃO

Através desta pesquisa foi possível esclarecer alguns pontos sobre a

dislexia, mesmo que a maioria das informações seja controversas, devido estar

baseada em suposições. Foi muito importante mais do que descobrir as

causas da síndrome, compreender e pode ajudar a criança disléxica através de

um trabalho de diagnóstico, e que o psicopedagogo pode ser o elo que faltava

na corrente que liga os pais e a escola ao aluno disléxico.

O psicopedagogo esta apto a auxiliar todos os envolvidos no processo

educativo, desta forma evitando que a crianças seja rotulada e passe por

constrangimentos que poderão por a perder todo um ciclo escolar que deveria

ser prazeroso e interessante, pois aquele que sofre com o fracasso fica

sempre marcado pelo sofrimento, sofrimento este que pode e deve ser muitas

vezes combatido por uma informação correta, um diagnostico preciso um

método de ensino eficiente.

A escola, o professor, os pais, os recursos governamentais e

particulares, as instalações, as tecnologias, os programas e os materiais de

apoio, os sistemas didáticos e as teorias pedagógicas, não bastam para

resolver o problema do disléxico se não estiverem unidos em um propósito

comum. O mais importante esta na interação entre todos esses elementos do

processo educativo.

Através do presente trabalho foi possível concluir, que independente

de uma causa orgânica a dislexia precisa ser tratada de forma consistente para

evitar que no futuro as crianças disléxicas se tornem cidadãos despreparados

para a vida. Salientando que o diagnóstico da síndrome não deve ser feito por

pessoas despreparadas, mas por profissionais competentes na área, porém

isso não exime os pais e os professores de estarem atentos as crianças que

possuem algum déficit na aprendizagem. Quanto mais precoce for a

descoberta do problema, mais tranqüilo será a forma de auxiliar a criança na

aprendizagem da leitura e da escrita.

51

ANEXO

Reportagens

CIEF é 6,6 no desempenho do IDEB 09 de Julho de 2008

Iporã do Oeste - A escola do Centro Integrado de Ensino Fundamental – CIEF, de Iporã do Oeste, classificou-se entre as 10 escolas com melhor desempenho nas séries finais do Ensino Fundamental em SC, sendo que atingiu nas 4ª séries, 6,6 pontos, sendo que o MEC havia estipulado a meta de 5,5 pontos, também nas 8ª séries, atingiu 5,4, sendo que a meta era 5,2.

Para a diretora do CIEF, Educadora Noeli Marx “Uma escola é feita de pessoas. E são elas que determinam a qualidade de sua convivência, de seu trabalho e dos frutos do seu trabalho. Nesse sentido, quero destacar o envolvimento dos educadores, o comprometimento de cada um, somado à uma proposta pedagógica do TEMA GERADOR que trabalha um currículo vivo, pautado nas vivências de nossos educandos, um planejamento sério, as salas ambiente, as aulas de reforço para alunos com dificuldades, o projeto da panlexia e a competência de nossos profissionais nos levam a conquistar esses índices que são uma vitória, motivo de alegria e satisfação, e também um desafio para melhorar cada vez mais”.

O IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica é uma avaliação realizada pelo MEC, e que avalia o desempenho dos estudantes da quarta e da oitava séries do ensino fundamental e do ensino médio.

Ainda de segundo o MEC, as escolas que alcançaram índices acima de seis pontos estão no patamar dos países mais desenvolvidos e industrializados do mundo, conforme a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A meta do MEC é que todas as redes alcancem 6,0 pontos em 2022, ano do bicentenário da independência do Brasil.

A Secretária Municipal da Educação, Educadora Itamara Bagatini destaca que “O mérito é de todos os educadores e funcionários, e este resultado é conseqüência de empenho, trabalho de equipe, de planejamento de toda uma rede que se preocupa e têm a educação como uma ação básica e concreta para uma maior e melhor qualidade de vida. Salienta ainda que é fundamental a participação das famílias no processo educativo, pois elas são o elo que dá a sustentação ao trabalho escolar, e nesse sentido, podemos afirmar que é muito positiva e gratificante a participação das famílias na escola. Enfim, acreditamos numa educação de direito e dever de todos, como faz menção o lema da Secretaria Municipal da Educação: “Educação: Compromisso de Todos” Jornal Imagem

Entenda a hiperatividade com a ajuda do médico psiquiatra e psicoterapeuta Wimer Bottura Jr.

52

POR CRISTIANE SENNA

Baixo rendimento escolar, alterações bruscas de humor, distração, impulsividade, instabilidade emocional. Se você reconhecer estes sintomas em seu filho, é sinal de que ele pode sofrer de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. Em entrevista, o médico psiquiatra e psicoterapeuta Wimer Bottura Jr. tirou algumas dúvidas sobre o distúrbio que mais confunde a cabeça de pais e atinge de 3% a 5% das crianças em todo o mundo.

Wimer Bottura Jr, psiquiatra e psicoterapeuta

Foto: Divulgação

Vida profissional Presidente do Comitê de Adolescência da Associação Paulista de Medicina

Publicações Autor dos livros: A Paternidade Faz a Diferença, Destruição e Resgate do Feminino,

Ciúme- Entre o Amor e a Loucura, Agressões Silenciosas: o Contágio pela Comunicação, Filhos Saudáveis, Quaterno (co-autor) e Drogas: Uso, Abuso e Mal Uso

(organizador)

Crescer Online - O que é o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade? Dr. Wimer Bottura Jr - É um transtorno caracterizado pela hiperatividade da criança, ou seja, é aquela ligada no 220W. Ela não consegue prestar atenção nas coisas e é inquieta.

Crescer Online - Como se diagnostica a hiperatividade em uma criança? Dr. Bottura - Os diagnósticos são feitos mais por estatísticas do que por exames subsidiários. Existem exames que mostram que é uma disfunção do lobo frontal, relacionado com os neurotransmissores dopamina e noradrenalina.

Crescer Online - É correto afirmar que apenas crianças são hiperativas? Dr. Bottura - Não, grande parte das crianças se transformam em adultos hiperativos se não tratados. Hoje, cerca de 50% a 60% de usuários de drogas são portadores de hiperatividade.

Crescer Online - Mesmo com tratamento? Dr. Bottura - O universo de pessoas que se trata é muito baixo. Com tratamento, as

53

pessoas têm grandes possibilidades de superar suas maiores dificuldades, portanto, teriam menos possibilidades de se tornar um usuário de drogas.

Crescer Online - Se uma criança é tratada adequadamente, ela se livra totalmente da doença? Dr. Bottura - Cerca de 70% do casos de hiperatividade na infância continuam na vida adulta. A diferença é que muitas pessoas crescem hiperativas sem terem conseqüência na auto-imagem, auto-estima e auto-confiança. Elas saberão lidar com a hiperatividade e terão uma vida absolutamente normal.

Crescer Online - A hiperatividade afeta a inteligência ou o desenvolvimento emocional? Dr. Bottura - Não afeta obrigatoriamente, mas pode, efetivamente, trazer muitos prejuízos a resultados acadêmicos e profissionais. Essas pessoas se acham e são tratadas como burras, mas não são. A criança, por exemplo, que é hiperativa pela a sua distração, inquietude e agitação, recebe muitos qualificativos destrutivos, como 'você não presta', 'você é mal educado'. Ela é castigada e muitas vezes humilhada, se expondo a uma série de coisas que a levarão a uma perda na auto-imagem, auto-estima e auto-confiança. Isso então é mais prejudicial do que a própria hiperatividade.

Crescer Online - Elas precisam de um tratamento diferenciado na escola, por exemplo? Dr. Bottura - Muitas vezes sim.

Crescer Online - Como pais e professores têm de lidar com crianças hiperativas? Dr. Bottura - Tem de ter consciência e levar em conta que há algo a ser tratado e não criticado. Ninguém tem culpa disso. Os pais devem procurar um profissional qualificado, além de terem uma boa orientação familiar. Isso aumenta as chances de a criança crescer sem problemas, embora seja hiperativo.

Crescer Online - Os pais fazem confusão na hora de diagnosticar um filho hiperativo? Qual a diferença entre o distúrbio e um comportamento bagunceiro ou desatento? Dr. Bottura - Não é só os pais que ficam confusos, os profissionais também. O diagnóstico é, em parte, baseado em um questionário sobre o comportamento da criança, mas muitos sintomas são absolutamente normais na vida dela, como manifestações de inquietude ligadas à relação familiar. Se a pessoa já é adolescente ou adulto, pede-se que busque um outro diagnóstico, pois muitos transtornos apresentam sintomas de hiperatividade. O diagnóstico não é simples, qualquer suspeita deve ser encaminhada para de um profissional que possa determinar o transtorno com exatidão.

Crescer Online - Qual que é o tratamento ideal para a hiperatividade? Dr. Bottura - Tratamento interdisciplinar, ou seja, que envolve mais de uma pessoa. Quando se configura o TDAH, o tratamento prioritário é o medicamento, pois sem ele a criança não consegue prestar atenção, se dedicar e ouvir, o que é essencial para que os outros tratamentos funcionem. Em segundo lugar, considero a orientação familiar muito importante. É necessário tratamento psicológico e psicopedagógico muitas vezes também.

54

Colar reportagem da revista saúde

55

Colar reportagem da revista saúde

56

Colar reportagem da revista saúde

57

Colar reportagem da revista saúde

58

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APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA: Por Elcie F Salzano Masini, Elena Etsuko

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CRISTIANE SENNA - Entenda a hiperatividade com a ajuda do médico

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www.jornaldacomunidade.com.br Acesso: 15/09/2008

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Acesso: 15/09/2008

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Lisauskas, Rita e Costa, Sérgio F.- Sopa de letrinhas – 14/06/2008 Disponível

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61

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http://eevivendoeaprendendo.blogspot.com/2008/05/panlexia-um-programa-de-

reeducao-para.html Acesso em 05/10/2008

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http://www.jornaltribuna.com.br/ Acesso em 05/10/2008

http://www.pedagobrasil.com.br/pedagogia/panlexia.htm Acesso em

05/10/2005

Acesso em 05/10/2008

CIEF é 6,6 no desempenho do IDEB - 09 de Julho de 2008- Disponível em: http://www.adjorisc.com.br/jornais/imagem/noticias/index.phtml?id_conteudo=145006 Acesso em 05/10/2008

62

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 11

1. O CÉREBRO 13

1.1 COMO O CÉREBRO HUMANO SE DESENVOLVE E FUNCIONA. 15

1.2 O QUE HÁ DE ESPECIAL NO CÉREBRO DOS DISLÉXICOS. 17

1.2.1. Origem das características especiais no cérebro do disléxico 19

1.2.1.1. Causas internas 19

1.2.1.2. Causas externas 20

2 – APRENDIZAGEM 21

2.1. DISLÉXICOS FAMOSOS 24

3. A DISLEXIA 27

3.1 RAÍZES HISTÓRICAS 27

3.2 DEFINIÇÃO 29

3.3 DESMEMBRANDO A DISLEXIA

31

3.3.1 Disgrafia

31

3.3.2 Deficiência de Atenção

33

3.3.3 Discalculia

33

3.3.4 Disortografia

34

3.3.5 Hiperatividade e Hipoatividade

35

4. DISLEXIA E A EDUCAÇÃO

37

63

4.1 A DISLEXIA E O MÉTODO DE ENSINO

37

4.2 DIAGNOSTICANDO A DISLEXIA 39

4.2.1 Diagnóstico por faixa etária 41

4.2.1.1 Crianças na faixa etária de 3 a 6 anos 42

4.2.1.2 Crianças na faixa etária de 6 e 7 anos 42

4.2.1.3 Crianças na faixa etária de 7 a 12 anos 42

4.2.1.4 Crianças a partir dos 12 anos 43

5. O PAPEL DE CADA UM 44

5.1 O PAPEL DA ESCOLA 44

5.2 O PAPEL DO PROFESSOR 45

5.3 O PAPEL DA FAMÍLIA 45

5.4 O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO 46

6. MÉTODOS PARA AULIAR NO COMBATE A DISLEXIA 47

6.1 EXEMPLIFICANDO O MÉTODO 47

6.2 PANLEXIA 48

6. 2.1 Características 49

CONCLUSÃO 50

ANEXOS 51

REFERÊNCIAS 58

ÍNDICE 62

FOLHA DE AVALIAÇÃO 64

64

FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

Título: DISLEXIA – TRABALHANDO AS DIFERENÇAS NA ESCOLA

Autor: Marta Conceição Silva

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: