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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS- GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE GESTÃO ESCOLAR E INCLUSÃO SOCIAL Por: Hugo Rômoro Sousa Dias Orientador Prof. Vilson Sérgio de Carvalho Rio de Janeiro Julho/2005 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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Page 1: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · “abriu possibilidade de discussão da educação de portadores de deficiência no Primeiro Congresso de Instrução Pública,

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

GESTÃO ESCOLAR E INCLUSÃO SOCIAL

Por: Hugo Rômoro Sousa Dias

Orientador

Prof. Vilson Sérgio de Carvalho

Rio de Janeiro

Julho/2005

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

GESTÃO ESCOLAR E INCLUSÃO SOCIAL

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes como condição prévia para a conclusão do

Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em

Administração Escolar. São os objetivos da monografia

perante o curso e não os objetivos do aluno

Por: . Hugo Rômoro Sousa Dias

Niterói/RJ

Julho/2005

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AGRADECIMENTOS

A DEUS, por me conceder a realização desse grande sonho, pela a

inspiração e a vontade de contribuir para uma sociedade igualitária.

Aos familiares, que apesar da distância, sempre estiveram presentes

nos meus pensamentos e no meu coração.

A todos os professores, com os quais tive o prazer de estudar

durante toda a minha vida, desde o distante interior do Maranhão onde nasci

(Bom Jardim), obrigado pelo incentivo e o apoio.

Aos amigos que contribuíram direta ou indiretamente para a

realização desse trabalho.

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DEDICATÓRIA

É com enorme saudosismo que dedico esse trabalho a duas

pessoas, que por serem especiais DEUS os chamou para seu lado. A minha

querida MÃE, que sempre foi minha principal fonte de inspiração e me incentivava

todos os dias nunca permitindo que eu deixasse de lutar, o meu amor e a minha

eterna saudade. Ao meu amigo FABÃO, só tenho a agradecer a DEUS a

oportunidade de ser seu amigo-irmão, você sempre foi um exemplo de como

superar às adversidades, levando a vida na maior alegria.

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RESUMO

Essa pesquisa tem o propósito de avaliar o processo de inclusão de

pessoas Portadoras de Necessidades Educacionais Especiais no sistema regular

de ensino. A inclusão desses alunos não é só uma questão normativa proclamada

na nossas leis: a Constituição Federal; passando pela a LDB (9394/96) e ainda o

Estatuto da Criança e do Adolescente. É também uma questão de ética, dessa

forma criaremos uma sociedade mais digna que possa oferecer mais

oportunidades a todos os alunos.

Os resultados da pesquisa mostram que a escola inclusiva no Brasil,

ainda faz parte de um elenco de experiências isoladas, pois a inclusão não passa

de simples inserção do portador de necessidades especiais na sala de regular de

ensino. É preciso também garantir a permanência e a qualidade no ensino.

A construção de uma sociedade para todos, onde todos possam

participar e desenvolver suas habilidades numa convivência fraterna. É necessário

Ter a consciência de que respeitar as diferenças é o primeiro passo para a

construção de uma sociedade mais justa.

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METODOLOGIA

A pesquisa e a leitura de bibliografias, revistas especializadas e das

leis que organizam a nossa sociedade foram os meios utilizados para a realização

desse trabalho. Essa pesquisa foi realizada através de uma comparação no

decorrer da história no processo de inclusão.

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SUMÁRIO

I-INTRODUÇÃO....................................................................................................... 9

1 A ESCOLA INCLUSIVA.................................................................................... 11

1.1 Breve Histórico................................................................................................. 11

1.2 Da Exclusão à Inclusão.............................................................................. 14

2 ASPECTOS LEGAIS........................................................................................ 19

2.1 Leis Integracionistas........................................................................... 19

2.1.1 Constituição Federal de 1988..................................................... 19

2.1.2 Estatuto da Criança e do Adolescente (E.C.A.) – Lei Nº 8.069, de

1990............................................................................................ 20

2.1.3 Lei de Diretrizes E Bases da Educação ( LDB) Lei nº 9.394,de

1996............................................................................................. 21

2.2 Leis Gerais Inclusivas.......................................................................... 21

2.3 Leis Específicas Integracionistas......................................................... 21

2.3.1 Política Nacional de Integração da Pessoa Portadora de

Deficiência Lei nº 7.853, de 1989............................................... 21

2.4 Leis Específicas inclusivas................................................................... 21

2.5 A Escola Inclusiva e a Realidade.......................................................... 22

3 Construindo a Escola Inclusiva.......................................................................... 24

3.1 Característica da Escola inclusiva........................................................ 26

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3.1 Considerações Sobre Inclusão............................................................. 27

3.2 Vantagens da Escola Inclusiva............................................................. 28

4 O Desafio do Gestor na Construção da Escola Inclusiva............................... 30

4.1 O Ambiente Físico................................................................................. 32

4.2 Espaço Sócio-Afetivo............................................................................ 33

4.3 O Currículo da Escola inclusiva............................................................ 36

4.4 A Escola Inclusiva e o Novo Professor................................................. 39

4.4.1 Como Trabalhar Numa Escola Inclusiva?................................. 41

5 O Ensino Inclusivo Abordado nos PCN´S....................................................... 43

II - CONCLUSÃO................................................................................................... 46

III - BIBLIOGRAFIA................................................................................................ 48

IV - ANEXOS......................................................................................................... 50

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INTRODUÇÃO

Lançando um olhar retrospectivo sobre a história da educação no

mundo, é possível ver que, em toda a sua trajetória, a educação, tanto

assistemática como sistemática, serviu de instrumento de dominação,

descriminando povos, raças e indivíduos. Por vezes dividiu nações, separou

classes e excluiu indivíduos; que por divergências ideológicas, sócio-culturais,

incapacidade ou, até mesmo, por diferenças sexuais. Em todos os tempos, o

homem, ambicioso e egoísta, usou a educação como arma eficaz na luta contra

seu semelhante. Porém, em meio a toda essa escuridão, é também possível

vislumbrar rasgos de luz na defesa de uma educação humanista e igualitária –

capaz de transformar a sociedade humana. Nessa defesa, surgiram aqueles que a

defenderam como um direito de todos. Entre estes destacam-se Fenelon na luta

pela educação da mulher; Pestalozzi e Froibel pela escola para o deficiente.

Na Brasil, a história não foi diferente. Por muito tempo a educação foi

privilégio de poucos – favorecidos pelo poder sócio-econômico. Somente neste

século, com o advento do desenvolvimento industrial, é que a educação passou a

ser um direito de todos. Direito este proclamado na lei 4.024 – de 20 de dezembro

de 1961 que fixa as diretrizes e bases da educação nacional, título II (Do Direito à

Educação), Art. 2º. A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola.

Porém, na realidade, de ser conquistado. Criam-se escolas especializadas para

esses e aqueles e, até mesmo, para deficientes. Mas mesmo assim, a educação

não se tornou um bem de todos. Mesmo àqueles, que conseguiram um lugar na

sala de aula , não foi garantida a educação. Isto porque os meios educacionais,

insuficientes e inadequados, terminaram por excluir da escola os que

necessitavam de práticas pedagógicas especiais, que lhes alargassem as

oportunidades de aprendizagem. Dessa forma, muitos permaneceram fora da

sistema educacional, principalmente aqueles cujas as limitações físicas não lhes

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permitem adentrar às portas da escola, já que barreiras arquitetônicas são, por

eles, intransponíveis.

Hoje a nova Lei de Diretrizes e Bases Educação Brasileira, Lei

9394/96, abre para TODOS, as portas das escolas, estabelecendo normas de

educação que preenchem às exigências de uma pedagogia de inclusão (Título II,

Art. 3º).

A essa ESCOLA INCLUSIVA que, nos nossos dias, assume papel

importante na construção de uma sociedade mais justa e democrática, garantindo

a todos o direito à educação. ESCOLA INCLUSIVA é, ainda, um tema polêmico

que requer muita reflexão por parte daqueles que, de uma forma ou de outra, são

responsáveis pela educação no país. Refletir sobre esse tema é objetivo dessa

pesquisa bibliográfica e de campo que, sem pretensões de esgotar o assunto,

começa por interrogar: o que é ESCOLA INCLUSIVA? Quem deve ser incluído na

escola? Pode o deficiente ser incluído também? Qual o perfil de uma escola que

inclui todos? Essa escola é uma realidade possível? A inclusão não pode se tornar

uma forma de inclusão? Porque a inclusão e não uma escola especializada?

A finalidade deste estudo é contribuir para o avanço desta questão,

visando a reforma da sociedade, de modo que todos possam exercer sua

cidadania, num ambiente mais acolhedor e solidário.

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CAPÍTULO I

A ESCOLA INCLUSIVA

A sociedade dos nossos dias vivi a busca constante do ideal

democrático, ou seja, a construção de uma sociedade inclusiva, onde TODOS têm

o direito a ter direitos. O século XX foi marcado por grandes conquistas no campo

da justiça social, pois uma sociedade que tem como princípio ético a igualdade

entre os homens, não pode permitir a exclusão da participação de qualquer um

dos seus membros, em grupos ou instituições, pelo o simples fato de ser ele um

grupo, um idoso, uma mulher, um índio, uma pessoa menos favorecida

economicamente ou ainda um deficiente. Isto se torna ainda mais grave quando

se trata de uma instituição de ensino, que tem por finalidade básica a formação do

cidadão. Portanto, não dá mais para continuar aceitando uma escola onde alguns

são excluídos. È preciso unir esforços, superar os debates teóricos e concentrar-

se nas exigências práticas de uma escola para TODOS, que se diz inclusiva. Este

é o grande desafio.

1.1 BEVE HISTÓRICO

Durante muitos séculos, a educação no Brasil se constitui um

privilégio de poucos, daqueles que possuíam elevado status social e grande poder

aquisitivo. Mesmo entre esses, as mulheres e os deficientes eram excluídos. Até

meados do século passado, os deficientes eram totalmente ignorados pela

sociedade que considerava como sendo coisa do maligno, fruto do pecado.

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De acordo com Mazzota (1997), educação para os portadores de

deficiência, no Brasil, teve início, precisamente, em 12 de setembro de 1854

quando D. Pedro II, através do decreto imperial nº 1428, fundou, na cidade do Rio

de Janeiro, o imperial instituto dos meninos cegos, hoje, Instituto Benjamim

Constant (IBC). Nome este recebido em homenagem ao seu ilustre e atuante

professor de Matemática e ex-diretor, Benjamim Constant Botelho de Magalhães.

Três anos depois, em 26 de setembro de 1857, o imperador fundou, também no

Rio de Janeiro, o Imperial Instituto de Surdos-Mudos. A criação dessas duas

escolas especiais, mesmo sendo ainda uma medida precária em termos

nacionais.

“abriu possibilidade de discussão da educação de portadores

de deficiência no Primeiro Congresso de Instrução Pública,

em 1883, convocado pelo o imperador, em dezembro de

1882. Entre os temas do referido congresso, figurava a

sugestão de currículos e de formação de professores para

cegos e surdos" ( Mazzota, 1997, p.29).

Ainda no Segundo Império, há registro de outras ações voltadas para

o atendimento pedagógico ou médico-pedagógico aos deficientes. Em 1874, o

hospital Estadual de Salvador, hoje denominado hospital Juliano Moreira, iniciou a

assistência aos deficientes mentais (Mazzota,1997, p. 30).Mas, é só no início do

século XX que trabalhos científicos e técnicos aparecem como indicadores do

interesse da sociedade pela educação dos deficientes. Entre eles, cita Mazzota

(1997): a monografia do doutor Carlos Eiras, intitulada da Educação e Tratamento

Médico dos Idiotas; a Educação da Infância Normal da Inteligência no Brasil, de

autoria do professor Clementino Quaglio de São Paulo; Tratamento e Educação

das Crianças Anormais da Inteligência e a Educação da Infância Anormal das

crianças Mentalmente Atrasadas da América Latina – obras de Basílio de

Guimarães, no Rio de Janeiro (1915). Na década de 20, destaca-se a publicação

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do livro Infância Retardatária, de autoria do professor Noberto de Souza Pinto, de

Campinas-SP. Até 1950, somente 65 estabelecimentos dedicavam-se à educação

de portadores de deficiência, entre os quais onze eram de iniciativa privada e

cinqüenta e quatro mantidos pelo poder público.

Durante o período que vai de 1854 a 1956, a educação dos

deficientes esteve por conta de iniciativas isoladas, tanto particulares como

oficiais. Somente na segunda metade do século XX é que, ainda segundo

Mazzota (1997), o atendimento educacional aos excepcionais foi explicitamente

assumido, a nível nacional, pelo Governo Nacional com a criação de campanhas

especificamente voltadas para esse fim. A primeira a ser instituída foi a Campanha

para Educação do Surdo Brasileiro (CESB), Decreto Federal nº42728 de 3 de

dezembro de 1957. Com sede no Instituto Nacional de Surdos (INES), no Rio de

Janeiro, essa campanha tinha por finalidade promover, por todos os meios ao seu

alcance , as medidas necessárias à educação e assistência, no mais amplo

sentido, em todo o território nacional, podendo desenvolver suas ações

diretamente ou mediante convênios com entidades públicas ou particulares. Mais

duas campanhas importantes marcaram a atuação governamental, em âmbito

nacional, com relação à educação de portadores de deficiência: a Campanha

Nacional de educação e Reabilitação de Deficientes da Visão, vinculada à direção

do Instituto Benjamin Constant no Rio de Janeiro, por inspiração de José

Espíndola Veiga. A outra , instituída em 1960 por influência de movimentos

liderados pela a Sociedade Pestallozi do Brasil e a Associação de Pais e Amigos

dos Excepcionais, ambas no Rio de Janeiro com o apoio do Ministro de Educação

e Cultura, Pedro Paulo Penido, a Campanha Nacional de educação e reabilitação

de Deficientes Mentais.

As ações governamentais, voltadas para o equacionamento dos

problemas relativos à educação dos deficientes, só se intensificam a partir da

aprovação da Lei 5692, de 1971, que previa em seu artigo 9º tratamento especial

para os excepcionais. Entre essas ações destacam-se: o parecer nº 848/78 do

Conselho Federal de Educação (1971), fornecendo subsídios na área da

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Educação Especial; a criação do Centro Nacional de Educação Especial

(CENESP),Em 1973; transformação do CENESP em Secretaria de Educação

Especial, em 1976; extinção da SEESP, ficando a educação dos deficientes na

competência da Secretaria Nacional de Educação Básica (SNEB), Em 1990 e, no

final de 1992, o reaparecimento da Secretaria de Educação Especial, como órgão

específico do Ministério da Educação e Cultura.

Um marco que fecha esse breve histórico da educação dos

deficientes no Brasil é a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº

9394, de dezembro de 1996, que outorga ao deficiente o direito à Educação

preferencialmente na rede regular de ensino. Essa lei inicia uma nova fase na

história da educação brasileira, principalmente no tocante à educação dos

portadores de necessidades educacionais especiais.

1.2 DA EXCLUSÃO À INCLUSÃO

Lançando um olhar mais profundo nesse breve histórico da educação

das pessoas portadoras de deficiência e tomando como pano de fundo a história

da educação brasileira, é possível perceber que a educação dos deficientes

passou por quatro fases que vão desde a exclusão total até a inclusão no sistema

educacional.

Desde o início da colonização no Brasil até meados do século

passado, a educação do deficiente não existia, ou seja, o deficiente era totalmente

ignorado no seio da sociedade. Era excluído do trabalho, do lazer, da igreja, da

escola e, até mesmo, do convívio familiar. Ele vivia isolado escondido, longe dos

olhos da sociedade, pois era visto sob concepção religiosa de que a deficiência

não poderia ser divina, visto que a imperfeição é obra do maligno, conseqüência

do pecado de Adão e Eva. Portanto, o imperfeito não poderia ser aceito numa

sociedade de bem. Durante esse longo período de ignorância, não se tem notícia

de nenhuma pessoa deficiente que tenha conseguido lugar na sociedade como

cidadão contribuinte, pois era considerado um inútil e a ele não era dado nenhum

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espaço social onde pudesse realizar-se como indivíduo pertencente a um grupo

social.

Na segunda metade do século passado, começaram a surgir as

primeiras iniciativas na tentativa de educar a pessoa deficiente. Criaram-se

instituições e escolas onde os deficientes podiam morar, estudar e aprender algum

ofício. Para os meninos cegos, por exemplo, foram montadas oficinas de tipografia

e encadernação e, para as meninas cegas, oficinas de tricô. Eram também

montadas oficinas de sapataria, encadernação, pautação e douração para os

meninos surdos. Estas escolas e instituições, tanto particulares quanto

governamentais, foram se multiplicando em todo o país, nas capitais e principais

cidades, mas longe de atender a demanda de deficientes, nem mesmo aos que

residam nos centros urbanos.

Esta fase de escolas e instituições especiais, só para alunos

deficientes, fio considerada o período da segregação, quando esse tipo de aluno

não podia ser matriculado em uma escola regular. Nessa fase o deficiente era

visto sob a ótica médica, ou seja, era considerado um doente e, portanto, cabia a

ele o papel social de paciente dependente de cuidados especiais de outras

pessoa. Eram incapazes de trabalhar, isentos dos deveres normais, levando vidas

inúteis bem caracterizados pela palavra inválido - palavra comumente usada para

denominar pessoas deficientes.

“O modelo médico da deficiência tem sido responsável, em

parte, pela resistência da sociedade em não aceitar a

necessidade de mudar as suas estruturas e atitudes para

incluir em seu seio, as pessoas portadoras de deficiência ou

condutas atípicas para que essas possam, ai, sim, buscar o

seu desenvolvimento pessoal, social, educacional e

profissional”. (Sassaki, 1997, p. 290 )

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No final da década de 60, mais ou menos, começou uma fase na

história da pessoa deficiente. “ O movimento pela integração social começou

procurar inserir as pessoas portadoras de deficiência nos sistemas sociais gerais

como a educação, o trabalho, a família, o lazer” (Sassaki, 1997, p. 31). O

movimento de integração teve como princípio norteador a NORMALIZAÇÃO, ou

seja, a idéia de que toda pessoa portadora de deficiência, principalmente a

deficiência mental, tem o direito de experimentar um estilo ou padrão de vida

considerado normal em sua própria cultura. Ainda dentro de uma concepção

médica, o deficiente, para atingir ou se aproximar da normalidade, precisa ser

submetido a tratamentos e/ou terapias, sob os cuidados de profissionais

especializados, capacitando-se a superar as barreiras físicas, programáticas e

atitudinais, impostas pela sociedade. Dessa forma, a educação dos portadores de

deficiência se tornou bem mais complexa e dispendiosa. O que significa dizer que

para integrar um aluno deficiente na rede regular de ensinos se faz necessário um

aparato tão sofisticado que a integração se torna difícil e, em alguns casos,

impossível. De acordo com essa perspectiva de integração, cabe ao aluno

adaptar-se às exigências das tarefas, das metodologias, e enfrentar as barreiras

arquitetônicas e psicossociais, impostas pelo o ambiente escolar. Ele precisa

superar os seus limites e as dificuldades de uma sociedade construída para os “

perfeitos”.

A partir dos anos 90, novas idéias vindas de outros países mudaram

a concepção da pessoa deficiente que passou a ser vista segundo o modelo

social, ou seja,

“ Os problemas das pessoas com necessidades especiais

não estão nelas tanta quanto estão na sociedade. Assim, a

sociedade é chamada a ver que ela cria problemas para as

pessoas portadoras de necessidades especiais, causando-

lhes incapacidades ou desvantagem no desempenho de

papéis sociais , em virtude dos seus ambientes restritivos,

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suas políticas discriminatórias e suas atitudes

preconceituosas que rejeitam as minorias e todas as formas

de diferenças, seus objetos e outros bens inacessíveis do

ponto de vista físico; seus pré-requisitos atingidos apenas

maioria, aparentemente homogênea; sua quase total

desinformação sobre necessidades especiais e sobre os

direitos dessa pessoa que têm essas necessidades e suas

práticas discriminatórias em muitos setores da atividade

humana. Cabe, portanto, a sociedade eliminar todas as

barreiras físicas, programáticas e atitudinais para que as

pessoas com necessidades especiais possam ter acesso

aos serviços, lugares, informações e bens necessários ao

seu desenvolvimento educacional e profissional”. (Sassaki,

1997, p. 47).

Agora, a pessoa deficiente não era mais considerada um doente,

incapaz, mas um portador necessidades especiais, capaz de conquistar sua

independência e exercer sua cidadania. Independência segundo o MOVIMENTO

DE PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA, é a capacidade,. Ou seja, a

faculdade de decidir sem depender de outras pessoas.

A escola como instituição social importante que é, reproduz em seu

interior os mesmos valores e concepções da sociedade em que está inserida.

Portanto, sua tendência é impor aos educandos portadores de necessidades

especiais as mesmas barreiras. Por isso, diz Fonseca (1990) a escola e seus

agentes devem realizar esforços para adaptar as tarefas escolares ao nível básico

adaptativo evidenciado pelos educandos.

A idéia de INCLUSÃO é, acima de tudo, uma questão de justiça

social. Uma sociedade que tem por princípios éticos e aceitação das diferenças

individuais, a valorização de cada pessoa, a convivência dentro da diversidade

humana, aprendizagem através da cooperação e valorização da criatividade como

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o meio mais eficaz de solucionar problemas, não pode permitir a exclusão da

participação de qualquer um de seus membros, em grupos ou instituições, pelo o

simples fato de ser ele um deficiente. Isto ainda se torna mais grave quando se

trata de uma instituição de educação que tem por finalidade básica a formação do

cidadão. Portanto, urge que a política educacional e os membros da sociedade,

envolvidos com a educação, contribuam para a construção de uma escola capaz

de alargar suas oportunidades educacionais, dando a todos, sem discriminação, o

direito à educação - à ESCOLA INCLUSIVA.

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CAPÍTULO II

ASPECTOS LEGAIS

Embora as leis brasileiras proclamem a educação como um direito de

todos, na realidade a garantia desse direito ainda se constitui objeto de luta de

muitos brasileiros que quotidianamente, têm sido excluídos dos espaços

educacionais; principalmente aqueles que ainda não fazem parte do TODOS da

sociedade brasileira – nesse caso particular, os ditos portadores de necessidades

especiais. Se esse direito estivesse plenamente garantido, não seria necessário

capítulos, artigos, deliberações e pareceres para tratar das questões educacionais

desses educandos.

Em todos os países a legislação tem sido vista como o meio mais

importante para acabar com a discriminação da sociedade. No que concerne a

pessoas com deficiência, segundo Sassaki (1990), existem dois tipos de leis; as

gerais e as especificamente pertinentes às pessoas deficientes. Tanto as leis

gerais como as específicas, podem ser integracionistas ou inclusivas.

2.1 LEIS INTEGRACIONISTAS

São leis que contêm dispositivos separados sobre o portador de

deficiência, para lhe garantir algum direito, benefício ou serviço.

2.1.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

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A constituição Federal estabelece que a educação é direito social de

todo brasileiro, sendo garantido pelo estado, bem como “a saúde, o trabalho, o

lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a

assistência aos desamparados, na forma desta constituição”. Isto é reforçado pelo

o artigo 203, inciso III, quando se aborda “a promoção da integração ao mercado

de trabalho” e, no inciso IV, destaca-se, dentre os objetivos da assistência social,

“a habilitação e a reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção

de sua integração à vida comunitária”. Em seu artigo 208, inciso III, relaciona os

deveres do Estado com a educação, garantindo o atendimento especializado às

pessoas com deficiência “ preferencialmente na rede regular de ensino “.

2.1.2 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (E.C.A.) - LEI

N.º 8.069, DE 1990

No art. 54, em seu inciso III, estabelece a responsabilidade do

Estado em assegurar “atendimento educacional especializado aos portadores de

deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino “. O art. 66, garante que “

ao adolescente portador de deficiência é assegurado trabalho protegido”.

2.1.3 LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL

LEI N.º 9.394, DE 1996

A LDB fundada nos princípios constitucionais de 1998, dá um novo

enfoque a educação especial, detalhando de maneira clara as possibilidades de

sua concretização. Assim, o art. 58, § 1º, diz que “haverá, quando necessário,

serviços de apoio especializados, na rede regular, para atender as peculiaridades

da clientela de educação especial”. O § 2º deste mesmo artigo define que “ o

atendimento educacional será feito em classes, escolas, ou serviços

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especializados, sempre que em função das condições específicas dos alunos, não

for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular”. Na

seqüência, o 5º deste mesmo artigo coloca que “a oferta de educação especial,

dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos,

durante a educação infantil”.

2.2 LEIS GERAIS INCLUSIVAS

Seriam aquelas que, sem mencionar este ou aquele segmento da

população, dão clara garantia de direito, benefício ou serviço a todas as pessoas,

sem distinção de cor, gênero, ou deficiência. Este tipo de lei ainda está por ser

formulada.

2.3 LEIS ESPECÍFICAS INTEGRACIONISTAS

São leis que trazem no seu bojo, a idéia de que a pessoa com

deficiência terá direitos assegurados desde que ela tenha capacidade de exercê-

los.

2.3.1 POLÍTICA NACIONAL PARA INTEGRAÇÃO DA PESSOA

PORTADORA DE DEFICIÊNCIA – LEI N.º 7.853, DE 1989

A Lei nº 7.853/89, parágrafo único, inciso II, “f”, que trata da “

matrícula compulsória em cursos regulares de estabelecimentos públicos e

particulares de pessoas portadoras de deficiência capazes de se integrarem no

sistema regular de ensino”. Nesse sentido, nenhuma escola ou creche pode

recusar, sem justa causa, o acesso do deficiente à Instituição. A pena aos

infratores é de um a quatro anos de prisão, além de multa.

2.4 LEIS ESPECÍFICAS INCLUSIVAS

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São aquelas que trazem no seu bojo a idéia de que a pessoa

portadora de necessidades educacionais especiais terá direitos assegurados

mediante modificações no ambiente físico e humano que facilitem o exercício

desses direitos. Um exemplo e a lei dos Americanos com deficiência que está

sendo adaptado em outros países.

2.5 A ESCOLA INCLUSIVA E A REALIDADE

Desde o início de sua formação, a sociedade brasileira viveu uma

duplicidade de valores que, segundo o professor e educador Anísio Teixeira, são

valores proclamados e valores reais. Os europeus que aqui chegaram, em 1500,

proclamavam que o objetivos de suas viagens marítimas era expandir em outras

plagas o Cristianismo. Mas na realidade, movia-se o propósito de explorar e

adquirir fortunas. A história da colonização do Brasil foi marcada pela duplicidade

entre jesuítas e bandeirantes, fé e império, religião e ouro. A obra destruidora e

predatória dos colonizadores nunca se confessava como tal, mas revestia-se nas

proclamações oficiais com o falso espírito de CRUZADA CRISTÃ. O primeiro ato

público dos portugueses, no Brasil foi a celebração da santa missa e o primeiro

nome que deram à terra descoberta foi o Santa Cruz, mas, pouco depois,

substituído por Brasil – nome de um pau de tingir panos, mas capaz de produzir

ouro.

Nem os portugueses e nem os espanhóis chegaram aqui com o

propósito de criar um mundo novo; do contrário, encontraram aqui um mundo novo

para explorar, saquear e, depois, voltar à Europa. Entretanto, o saque se

prolongou e o regresso se retardou. Com o tempo, foram nascendo os brasileiros

filhos dos colonizadores, espanhóis e portugueses. Na verdade, esses brasileiros

não passavam de europeus nostálgicos e transviados nessas paragens tropicais.

Isto porque não havia satisfação em ser brasileiros, não havia sentimento de

pertencerem a terra onde nasceram e nem havia ideal coletivo para construir uma

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nova sociedade. Tudo o que havia era o desejo de fazer fortuna rápido. Esse tipo

cultural deu origem à inautenticidade da sociedade brasileira gerada pelo desejo

de regressar à Europa com o propósito de reproduzir a cultura da metrópole,

apesar das condições de nova terra. Incapazes de se adaptarem aos novos

padrões transplantados, envergonhavam-se de tais modificações e procuravam

suprir as carências, humanas e sociais, por meio de atos legais e oficiais. Toda a

realidade ambicionada era descrita no papel, em forma de lei ou decreto, numa

tentativa de compensar as carências do real.

Cinco séculos se passaram e a história mostra que a sociedade

brasileira se acostumou a viver em dois planos: o real com suas particularidades e

originalidade e o oficial, com os seus reconhecimentos convencionais, de padrões

inexistentes. A lei para a sociedade brasileira era como se fosse algo mágico,

capaz de transformar a realidade. Este é o país das leis “perfeitas” que traduzem o

ideal de uma sociedade que se quer perfeita, mas, a distância entre legal e o real

é observada em todos setores e aspectos da vida social brasileira, inclusive na

educação, onde essa lacuna é bastante acentuada.

Esse dualismo se torna agravante nas instituições educativas por

serem transplantadas da Europa, pois, sendo a escola uma instituição artificial e

incompleta, destinada a suplementar a ação educativa exercida pelas outras

instituições e pela própria vida, não pode ser descontextualizada, tanto em relação

às outras instituições como em relação ao meio físico. Dessa forma ela corre

perigo de se deformar e se distanciar dos seus objetivos.

No início, o dualismo educacional era visto nas escolas para os filhos

da classe hegemônica e escola básica para os menos favorecidas. Hoje, o

dualismo se mostra nos sistemas educacionais: o Sistema Regular de Ensino e o

Sistema de Educação Especial, embora as leis que regem a educação apontem

para um sistema único, ou seja, Educação Inclusiva.

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CAPÍTULO III

CONSTRUINDO A ESCOLA INCLUSIVA

A perspectiva de uma escola inclusiva preconiza uma

democratização da escola, garantindo o direito á educação independentemente de

gênero, raça, idade ou classe social, não deixando a margem principalmente os

portadores de necessidades educacionais especiais.

A idéia de educação para TODOS é uma característica marcante da

educação do nosso povo, cujo objetivo é a formação do homem completo até o

máximo de suas possibilidades, independentemente de sua classe econômica e

social. Seu caráter é fundamentalmente humanizador, tratando de oportunizar

maior grau possível de cultura ao maior número possível de homens. Embora

TODOS seja uma variante do pronome indefinido todo e signifique QUALQUER,

ainda não é utilizada com propriedade quando se pensa inclusão social. Na

instituição educacional por exemplo, esse “TODOS” foi crescendo com o passar

da história. Nele, pouco a pouco, foram incluídos os menos favorecidos

economicamente, as mulheres e, finalmente os portadores de necessidades

especiais. Se o “TODOS” expresso na legislação que a educação fosse entendido

como “QUALQUER”, hoje, não estaríamos falando de inclusão.

Embora a inclusão da criança com necessidades educacionais

especiais no ensino regular não seja um fato novo, principalmente no âmbito

mundial, é a partir de 1994, com a publicação da ONU da chamada “Declaração

de Salamanca”, sobre princípios, políticas e práticas é que a educação inclusiva

ganha força, e coloca-se como metas de muitos países inclusive o Brasil.

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O processo de inclusão fundamenta-se na idéia de que a diferença

não é um problema, mas uma riqueza. A inclusão de todos no sistema

educacional não é apenas a resultante de um imperativo legal. Não basta oferecer

um lugar na sala de aula; é preciso oferecer às crianças com necessidades

educacionais especiais as mesmas oportunidades que as “não deficientes”. Para

que isso seja possível, todo estabelecimento de ensino, seja ele público ou

privado, deverá está preparado para incluir, em seu processo educacional, todo e

qualquer pessoa, evitando assim, a exclusão na própria sala de aula. A inclusão

requer exigências práticas que vão desde uma planificação nacional, estadual,

municipal, até os pequenos detalhes que são indispensáveis à verdadeira inclusão

de todos no ambiente restrito da sala de aula. Estas exigências estão diretamente

ligadas às necessidades educacionais dos alunos. De um modo geral, as

necessidades deficientes são as mesmas dos alunos ditos “NORMAIS”.

Entretanto, algumas são especiais e requer da escola espaço físico adequado,

ambiente sócio-afetivo acolhedor, recursos tecnológicos, metodológicos e

didáticos que atendam as suas diferenças individuais. Segundo Fonseca (1990), a

inclusão no sentido mais amplo da palavra, é o processo de inovação científico-

pedagógico com o fim de prepara a escola para alargar suas oportunidades

educacionais, aceitando e respeitando a diversidade dos alunos, sejam portadores

de necessidades educacionais especiais ou ainda desfavorecido

economicamente.

A proposta do paradigma da inclusão saiu do falso problema e

apresenta o verdadeiro problema a ser enfrentado e resolvido. Incluir na escola é

uma questão de qualidade de ensino, igualitário e acima de tudo de direito todos à

educação. Precisa-se urgentemente direcionar todos os esforços no sentido de

esclarecer a todos os pais e profissionais da área de educação e outros que estão

ligados a ela, sobre essa nova possibilidade que se abre para todas as crianças,

com e sem necessidades educacionais especiais, ou seja, o ensino inclusivo. Aos

poucos alguns atalhos vão se abrindo e conseguindo muitos adeptos. É preciso ter

paciência, pois a inclusão já é uma direção irreversível das ações que visam

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promover os seres humanos. Há um número considerável de projetos escolares

nas rede pública de ensino que estão caminhando e buscando concretizar a

escola inclusiva.

3.1 CARACTERÍSTICAS DA ESCOLA INCLUSIVA

¨ Um direcionamento para a munidade: na escola inclusiva o

processo educativo é entendido como um processo social, em

todas as crianças portadoras de necessidades especiais e de

distúrbios de aprendizagem têm direito à escolarização a mais

próxima possível do normal. O alvo a ser alcançado é a integração

da criança portadora de deficiências na comunidade;

¨ Vanguarda: uma escola inclusiva é uma escola líder em

relação às demais. Ela se apresenta como vanguarda do processo

educacional. Seu objetivo maior é fazer com que a escola atue por

meio todos seus escalões para possibilitar a integração das

crianças que dela fazem parte;

¨ Altos Padrões: há em relação às escolas inclusivas altas

expectativas do desempenho por parte de todas as crianças

envolvidas. O objetivo é fazer com que as crianças atinjam seu

potencial máximo. O processo deverá ser dosado de acordo com

as necessidades de cada criança;

¨ Colaboração e cooperação: há um privilegiamento das

relações sociais entre os participantes escola, tendo em vista a

criação de uma rede de auto-ajuda;

¨ Mudanças e responsabilidades: A escola inclusiva muda os

papéis tradicionais dos professores e da equipe técnica da escola.

Os professores se tornam mais próximo dos alunos quando

percebem suas maiores dificuldades. O suporte ao professor de

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classe comum é essencial para o bom andamento do processo

ensino-aprendizagem;

¨ Estabelecimento de uma infra-estrutura de serviços:

gradativamente a escola inclusiva irá criando uma rede de suporte

para superação das suas maiores dificuldades. A escola inclusiva

é uma escola integrada à sua comunidade;

¨ Parceria com os pais: os pais são parceiros essenciais no

processo de inclusão da criança na escola;

¨ Ambientes educacionais flexíveis: os ambientes

educacionais têm de visar ao processo de ensino-aprendizagem;

¨ Estratégias baseadas em pesquisas: as modificações na

escola deverão ser introduzidas a partir das discussões com a

equipe técnica, os alunos, pais e professores;

¨ Estabelecimentos de novas formas de avaliação: os

critérios de avaliação antigos deverão ser mudados para atender

às necessidades dos alunos portadores de deficiência;

¨ Acesso: o acesso físico a escola deverá ser facilitado aos

indivíduos portadores de deficiência;

¨ Continuidede no desenvolvimento profissional da equipe

técnica: os participantes da escola inclusiva deverão procurar dar

continuidade aos seus estudos, aprofundando-os.

3.2 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE INCLUSÃO

SEGUNDO MERECH

Inclusão é:

¨ Atender aos estudantes portadores de necessidades especiais

nas vizinhanças da sua residência;

¨ Propiciar a ampliação do acesso destes alunos às classes

comuns;

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¨ Propiciar aos professores da classe comum um suporte técnico;

¨ Perceber que as crianças podem aprender juntas, embora tendo

objetivos e processos diferentes;

¨ Levar professores a estabelecer formas criativas de atuação com

as crianças portadoras de deficiência;

¨ Propiciar um atendimento integrado ao professor de classe

comum.

Inclusão não é:

¨ Levar crianças às classes comuns sem o acompanhamento do

professor especializado;

¨ Ignorar as necessidades específicas da criança;

¨ Fazer as crianças seguirem um processo único de

desenvolvimento, ao mesmo tempo e para todas as idades;

¨ Extinguir o atendimento de educação especial antes do tempo;

¨ Esperar que os professores de classe regular ensinem as crianças

portadoras de necessidades especiais sem um suporte técnico.

3.3 VANTAGENS DA ESCOLA INCLUSIVA

Segundo relatório da ONU, todo mundo se beneficia da educação

inclusiva, que traz as seguintes vantagens:

Estudantes com deficiência:

¨ Aprendem a gostar da diversidade ;

¨ Adquirem experiência direta com a variedade das capacidades

humanas;

¨ Demonstram crescente responsabilidade e melhor aprendizagem

através do trabalho em grupo, com outros deficientes ou não;

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¨ Ficam melhor preparados para a vida adulto em uma sociedade

diversificada, entendendo que são diferentes, mas não inferiores.

Estudantes sem deficiência:

¨ Têm acesso a uma gama bem mais ampla de painéis sociais;

¨ Perdem o medo e o preconceito em relação ao diferente,

desenvolvendo a cooperação e a tolerância;

¨ Adquirem grande senso de responsabilidade e melhoram o

rendimento escolar;

¨ São melhor preparados para a vida adulta desde cedo assimilam

que as pessoas, as famílias e os espaços sociais não são

homogêneos e que as diferenças são enriquecedoras para o ser

humano.

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CAPÍTULO IV

O DESAFIO DO GESTOR NA CONSTRUÇÃO DA ESCOLA

INCLUSIVA

Diante da realidade de praticamente todas as escolas brasileiras que

não possuem estrutura para uma democratização da nossa educação, ou seja,

oferecer com qualidade uma educação para todos. A construção de uma escola

inclusiva torna-se um grande desafio para o gestor. Encarar essa complexidade

não só é o primeiro passo, como também o principal se quisermos as diferenças,

começando no ambiente escolar.

As dificuldades enfrentadas pelos gestores para a implementação da

escola inclusiva vão desde as barreiras criadas pelos próprios profissionais de

educação , até o principal obstáculo que a falta de recursos financeiros, seja numa

instituição pública ou privada.

É preciso um comprometimento de todos para que essas

dificuldades citadas acima sejam sanadas, e então tomaremos um rumo que

resultará na construção de uma escola cidadã, desenvolvendo assim as

potencialidades dos alunos, fazendo com que os mesmos acreditem na sua

capacidade de aprender, dessa forma motiva-se a aprendizagem.

O processo de inclusão é realmente muito lento, alguns tabus levam

anos para serem quebrados, mas nem por isso devemos desanimar .devemos

fazer uso do poder de persuasão, ou seja, as palavras, para quebrar alguns

preconceitos criados e alimentados durante todos esses anos partindo do princípio

de que os iguais devem ser agrupados com os iguais, tornando a escola um

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espaço marcante de exclusão. É necessário que os profissionais da educação

tomem consciência que a diversidade é parte da natureza humana.

É válido ressaltar que é preciso que o conceito de inclusão tem que

começar a ser construindo dentro de cada um de nós, que somos profissionais, e

também seremos responsáveis por garantir também a Qualidade e a permanência

dos alunos na escola.

Um aspecto importante no qual a escola deve preparar-se para

enfrentar é a inclusão de alunos oriundos de família de baixa renda, que formam

quase a maioria do corpo discente do nosso sistema público de ensino. Não

podemos esquecer que vivemos numa sociedade capitalista e que os valores das

pessoas costumam ser medidos pelos seus pertences. É importante construir um

espaço em que a estrutura financeira dos pais seja deixada de lado. Estabelecer

um convívio harmonioso é o melhor caminho para o desenvolvimento do processo

de ensino-aprendizagem.

Na construção da escola inclusiva é importante voltar as atenções

para alguns itens que facilitarão o sucesso da inclusão como por exemplo: A

flexibilização e diversificação do processo de ensino-aprendizagem de modo a

atender às diferenças individuais dos alunos; identificar as necessidades

educacionais especiais, para que desta forma seja estabelecida a prioridade dos

recursos e meios favoráveis; adotar um currículo diverso que possa abranger

todos os alunos; a escola deverá atentar ainda para o aspecto do funcionamento e

da organização da mesma para atender a demanda de alunos diversificados.

A democratização da nossa educação é uma questão bastante

complexa e nos remete a criação de uma escola voltada para a promoção e o

desenvolvimento da cidadania de todos os alunos seja ele Portador de

Necessidade Educacional Especial ou não, independentemente de classe social.

Segundo Cipriano Luckesi (1996), a democratização do ensino

implica em primeiro lugar a democratização do acesso à educação escolar, ou

seja, escolarização de todos os cidadãos. O acesso universal do ensino é

elemento essencial na democratização da educação. O segundo elemento que

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define a democratização do ensino na sua opinião, é a permanência do educando

na escola e a conseqüente terminalidade escolar. O terceiro fator está relacionado

a questão da qualidade do ensino (apropriação ativa dos conteúdos pelos

educandos). Para Luckesi o acesso e a permanência na escola, assim como em

qualquer nível de terminalidade (em termos de anos de escolaridade), nada

significarão se não estiver presente a qualidade do ensino e da aprendizagem.

4.1 O AMBIENTE FÍSICO

A escola inclusiva não é aquela que, praticamente de braços

cruzados, aceita receber portadores de deficiência desde que eles sejam capazes

de contornar obstáculos existentes no meio físico – espaço urbano, transportes e

edifícios. O acesso desses educandos à escola regular, previsto na Lei 9394/96,

não se trata apenas de uma questão normativa, mas também, de problema de

ordem físico-ambiental. É preciso, antes de tudo, garantir o direito de ir e vir. E

como garantir esse direito, impondo barreiras físicas que impedem ou dificultam o

acesso à escola? Com isso, muitas crianças ficam fora do sistema educacional,

pois nem sequer conseguem chegar à escola. Fora da escola, as barreiras

impostas pela são inúmeras. Escadarias, passagens estreitas, relevos irregulares,

calçadas estreitas com degraus, buracos, postes, carros e outros obstáculos; ruas

sem sinalização que facilitem o deslocamentos de pedestres; transportes com

degraus altos e superlotados; etc. como uma criança, com limitações visuais e

motoras, pode Ter acesso à escola? A escola inclusiva começa numa sociedade

inclusiva, construída não só para os “perfeitos” mas, também, para aqueles

portadores de limitações.

Com raras exceções, o prédio da escola, também se constitui fator

de exclusão, impedindo a entrada e o fluxo de movimentação das crianças

deficientes, principalmente daquelas com limitações motoras e/ou visuais.

Escadas, portas estreitas, degraus, passagens apertadas, faltas de corremãos e

outras adaptações necessárias à orientação e à mobilidade, prejudicam a inclusão

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desses educandos no processo educacional, tirando-lhes as oportunidades de

aprendizagem.

Não só o prédio da escola, mas também todas as suas instalações

ambientais devem ser planejadas e preparadas para possibilitar o acesso do

portador de necessidades especiais às situações de aprendizagem, facilitando a

relação criança-mundo, de modo que suas experiências exploratórias não venham

a ser frustadas por atropelos que lhes causam vexames e insucessos. A

disposição do mobiliário, a iluminação, a acústica, a exposição do material didático

e, até mesmo, o uso adequado das cores são detalhes bastante significativos no

processo de aprendizagem, principalmente daqueles portadores de limitações

motoras e/ou sensoriais. o contraste das cores, por exemplo, facilita para o aluno

de visão subnormal; ambientes barulhentos dificultam a aprendizagem dos

deficientes da audição e da visão; salas pequenas e superlotadas atrapalham o ir

e vir só dos cadeirantes, como também dos deficientes visuais.

As barreiras físicas causam grandes prejuízos para o

desenvolvimento educacional e sócio-afetivo dos educandos portadores de

necessidades especiais que, diante de limites impostos pelo meio, sentem-se

cada vez mais impotentes para se integrarem no grupo social a que pertence.

As condições favoráveis do ambiente físico possibilitam ao portador

de deficiência o desenvolvimento da sua autonomia, pois o grau de autonomia

resulta da relação entre o nível de prontidão físico-social. Tanto a prontidão físico-

social como a realidade físico-social podem ser modificados e desenvolvidos, isto

quer dizer que a inclusão do portador de necessidades especiais é um movimento

de mão dupla. O sistema educacional deve se preocupar em desenvolver

estratégias e procedimentos que desenvolva, no aluno deficiente, a prontidão

físico-social e, ao mesmo tempo, promover a modificação da realidade físico-

social, de modo a permitir a sua plena participação na conquista por uma melhor

qualidade de vida.

4.2 ESPAÇO SÓCIO-AFETIVO

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Talvez as barreiras que mais impedem o crescimento e o

desenvolvimento das pessoas portadoras de necessidades especiais sejam

aquelas que dificultam o espaço sócio-afetivo.

”No passado, a sociedade desenvolveu, quase sempre,

obstáculos à integração das pessoas deficientes. Receios,

medos, superstições, frustrações, exclusões, separações,

preenchem, lamentavelmente, vários exemplos históricos

que vão desde a Esparta à Idade Média. A atitude

desenvolvida até então, marcada por princípios e valores

culturais, caracteriza por excluir os deficientes do seio da

sociedade” (Fonseca, 1990, p. 84)

Embora muita coisa tenha se modificado, a exclusão ainda é uma

prática que está presente em espaços sociais como: família, igreja, clube, escola.

A exclusão é, na maioria dos casos, velada e sutil, provocada por barreiras físicas

programáticas e atitudinais, imposta pela sociedade, mas que, aos olhos de

muitos, parecem ser naturais.

A escola como espaço social, reflete em sua organização e em suas

relações sócio-afetivas, valores socioculturais que terminam por estigmatizar o

aluno deficiente e, até mesmo, exclui-lo do processo educacional. Portanto,

“integração subentende uma ação em prol de direitos humanos e cívicos, tendente

a modificar a essência e estrutura da própria escola” (Fonseca, 1990, p.86). Para

que isso aconteça, diz Fonseca, o sistema de ensino terá de equacionar o

deficiente como um ser humano , possuidor de um potencial de aprendizagem, um

perfil intra-individual e um repertório de comportamentos que têm de ser

maximizados e otimizados pelo o próprio processo educacional. Terá que partir de

uma filosofia, segundo a qual, todos podem aprender e fazer parte da vida escolar

e comunitária; adversidade é valorizada e acredita-se que esta pode fortalecer a

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comunidade, oferecendo a todos os seus membros maiores oportunidades de

aprendizagem.

A escola onde todos fazem parte, todos são aceitos, todos ajudam e

são ajudados para que suas necessidades educacionais sejam atendidas, precisa

romper com concepções e valores tradicionais da escola boa e bom aluno. Isso

significa um repensar sobre o educando, a educação, a atmosfera e a cultura das

escolas para que se tornem instituições acolhedoras, sensíveis e capazes de

responde, humana e eficazmente, às aspirações e necessidades de todos.

Para construir um ambiente social acolhedor e humano é preciso

apoio na interação social; encorajar a defesa e a tutela entre seus membros;

estruturar as atividades para criar oportunidades de interação social; concentrar-se

mais no processo social do que na atividade e no processo final; estruturar as

experiências compartilhadas na escola e as extracurriculares; usar grupos de

aprendizagem cooperativa, múltiplos apoios e rodízios dos colegas; ensinar

também, habilidades de comunicação e convivência social.

Segundo Stainback (1999), as amizades são fundamentais, pois é

quase impossível uma criança ou adulto depreender tempo e esforço para

aprender ou trabalhar, se não tiver com quem compartilhar suas experiências. São

as amizades e os relacionamentos que tornam os homens membros reais de suas

comunidades. Sem as amizades não há inclusão.

Portanto, se na escola a proposta de socialização for

adequadamente organizada, poderá proporcionar oportunidades para os alunos

conhecerem-se, respeitarem-se, interessarem-se e apoiarem-se mutuamente, ao

mesmo tempo em que aprendem as habilidades acadêmicas, da vida diária,

sociais, vocacionais e outras. Por exemplo: compartilhar, comunicar-se, iniciar,

responder, fazer escolhas, vestir-se e agir adequadamente – fundamentais para a

vida e para o trabalho em comunidades inclusivas.

O desenvolvimento de uma proposta de comunidade acolhedora

necessita de uma cultura escolar penetrante, que comunique clara, pública e

intencionalmente, sua filosofia, a qual se baseia em princípios de igualdade,

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justiça, imparcialidade para todos onde cada um possa desfrutar de medidas

iguais de respeito e dignidade. Um ambiente acolhedor é condição sine qua mon

para que um aluno aprenda satisfatoriamente. Portanto, num currículo inclusivo

não pode prescindir de estratégias como: promover objetivos mais cooperativos de

que competitivos nas salas de aulas e na escola; estabelecer rotinas em que todos

recebam apoio necessário para participar, de forma igual e plena; aproveitar os

momentos oportunos para apresentar os alunos diferentes, de forma positivas, às

pessoas da escola; garantir que, em todas as atividades da escola, sejam feitas

acomodações necessárias à participação de todos, inclusive os alunos portadores

de necessidades especiais; infundir valores positivos de respeito e apreciação

pelas pessoas diferentes e de cooperação no desenvolvimento do currículo.

4.3 O CURRÍCULO DA ESCOLA INCLUSIVA

O currículo organizado e articulado é um dos requisitos de maior

fator que determina a eficácia escolar: o Ensino Aprendizagem.

Cada escola, mesmo pertencendo a um sistema público, precisa

desenvolver projetos que atendam as necessidades específicas de seus alunos e

comunidade na qual está inserida, acompanhando os avanços científicos

tecnológicos, pois é através do histórico social que ela, a escola, irá desenvolver o

saber ser, saber fazer e o saber estar, através dos valores, comportamentos,

ciências, artes, profissões e ecologia que o seu currículo deve englobar. E este é

um desejo, dadas as características de limitação que se impõe ao sistema

educacional; contudo é essencial encontrar meios de permitir uma ação real do

aluno sobre o conteúdo que está sendo trabalhado; nesse processo, o educador

tem um papel chave de mediação, mas para isto precisa conhecer e reconhecer a

importância do conteúdo que será ministrado, fazendo perguntas, tais como:

¨ O que esse conteúdo tem a ver com o aluno?

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¨ O que eleger como prioritário em um universo de conteúdo de

aprendizagem, tanto para alunos normais, quanto para os

portadores de necessidades especiais?

¨ O conteúdo apresenta o desejo do aluno ou do professor?

Através desses questionamentos o simples e óbvio são referências

para quem tende a ignorar elementos precisos tais como o ser pessoa dos alunos

que estão em uma sala de aula, assim como sua bagagem de vida.

O currículo deve contemplar um estudo da realidade, tantos dos

aspectos físicos quanto ao clima pedagógico e os objetivos que se pretende

alcançar, levando a equipe escolar à reflexão e de ações que aprimorem

competências, desenvolvam lideranças e restabeleçam os valores humanos.

O que diferencia o cérebro do ser humano dos demais seres é a

capacidade de suas estruturas cognitivas associarem conceitos e produzirem

novos conhecimentos, capacidade de entender e compreender. O domínio do

processo de construção da aprendizagem, por parte do estudante poderá eliminar

ameaças externas, se houver confiança transmitida pela equipe escolar, pois

poderão os alunos, falarem sem receberem ironias, sarcasmo de piedade; levando

assim a uma troca de experiências, e aprendizagem significativa.

Ao adotar como eixo metodológico a ênfase nas aprendizagens

significativas, o currículo privilegia as habilidades e as competências, relacionando

princípio e operacionalização, teoria r prática, planejamento e prática.

Na fase pré-escolar, bloqueios psicológicos, que impedirão futuras

aprendizagens, costumam ocorrer. Para que a escola não se torne fonte de tortura

e sofrimento para os alunos, é importante que o educador possua uma formação

sólida, domine conhecimentos básicos e seja sensível a experiência, não se deve

esquecer que os alunos trazem conhecimentos e experiências de vida que

poderão se evidenciar nessa integração.

Há três acepções de currículo:

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¨ Formal (planos e propostas pedagógicas)

¨ Currículo em ação (atuação de todos os educadores na sala

de aula e na escola)

¨ Currículo oculto (características individuais de alunos e

professores que estabeleçam as formas de relacionamento, poder e

convivência na sala de aula).

É necessário haver uma preocupação constante pelo sucesso

escolar, por parte do sistema educacional; dessa forma, os que se encontram em

situação de defasagem, sejam portadores de necessidades educacionais ou

normais, deverão ser acompanhados no seu auto-conceito, auto-estima, e que a

escola lhe possibilite aprendizagens em circunstâncias distintas do processo

convencional; agindo assim significa que a escola estará resgatando uma clientela

excluída por ela própria.

É necessário educar contextualizadamente e não fragmentando em

conteúdos políticos significativos.

A escola está inserida num contexto social no qual atua, modifica e

sofre influência, ela não pode fugir das discussões pertinentes a essa sociedade;

é necessário que trate de questões que interferem na vida dos alunos e com os

quais ele se vêem confrontados no seu dia-a-dia. Assim, uma escola

comprometida com a formação para a cidadania não pode deixar de promover

reflexões sobre diversas faces das condutas humanas.

O grande desafio da escola é investir na superação da discriminação

e dar a conhecer a riqueza representada pela diversidade etnocultural que

compõe o patrimônio sociocultural brasileiro, valorizando a trajetória particular dos

grupos que compõem a sociedade.

A escola cumpre o papel destacado na formação dos cidadãos para

uma vida saudável, a medida em que o grau de escolaridade em si tem

associação comprovada com o nível de saúde da população.

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É necessário que o professor busque instrumentos para cada aluno,

em particular, procure se superar e desenvolver competências que lhe possibilitem

em uma situação da vida diária e também em situação de trabalho que lhe

favoreça resgatar a vida, mesmo portando necessidades especiais e é convivendo

com os normais que os mesmos ampliam suas potencialidades .

A aprendizagem escolar está diretamente vinculada ao currículo,

organizado para orientar, dentre outros, os diversos níveis de ensino e as ações

docentes.

Na escola inclusiva é necessário a adoção de currículos abertos e

propostas curriculares diversificadas, ao invés de uniformes e homogeneizadoras;

entretanto isto não deve ser um processo apenas do professor, deve focalizar a

organização escolar e os serviços de apoio, condições estruturais para que

possam ocorrer na sala de aula, a organização temporal e a coordenação das

atividades docentes.

Na escola inclusiva, entende-se que as adaptações curriculares

fazem-se ainda necessárias, podendo-se adotar medidas adaptativas preventivas

quanto medidas adaptativas significativas.

As adaptações tem o currículo regular como referência básica,

adotam formas progressivas de adequá-lo, norteando a organização do trabalho,

consoante a necessidade do aluno (adaptação processual).

A perspectiva de educação para todos constitui um grande desafio,

quando a realidade aponta para uma numerosa parcela de excluídos do sistema

educacional sem possibilidade de acesso a escolarização, apesar dos esforços

empreendidos para a universalização do ensino. Através do currículo

operacionalizado, a escola será inclusiva e não exclusiva.

4.4 ESCOLA INCLUSIVA E O NOVO PROFESSOR

Os professores terão que aprender a trabalhar em equipe,

entrosando-se com os pais e obtendo o envolvimento da comunidade.

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A escola regular deve aprender a refletir criticamente sobre sua

prática, dando ênfase à pesquisa, devendo quebrar os paradigmas antigos,

buscando uma nova forma de educação, devendo perder o medo do novo, já que

a inclusão assim o é – NOVA.

Segundo Mantoan (1997),nos ensina: “cabe a escola encontrar

respostas educativas para as necessidades de seus alunos e exigir dela uma

transformação”. Assim sendo, a escola inclusiva seria o processo pelo qual

haveria uma adaptação de si mesma à realidade de seus educandos, dando

ênfase à inserção, nas classes regulares, das crianças e jovens portadoras de

deficiências que buscam seus plenos desenvolvimentos e exercícios de cidadania.

A escola deve preparar a orientação de pais, educadores e a

comunidade em geral para que eles não tenham medo de que a inclusão de

alunos portadores de necessidades educativas especiais possa prejudicar o

desenvolvimento dos demais alunos, ditos normais.

Países em que a inclusão já é uma realidade estão comprovando

que essa prática faz com que os demais alunos (ditos normais) aprendam a

conviver melhor com a diversidade de pessoas. Além de facilitar a sensibilidade,

facilita o aprendizado, pois a partir daí cria-se o espírito solidário entre todos.

No processo de inclusão, os professores e as escolas passam a ser

mais versáteis e criativos aos enfoques pedagógicos que realmente enriquecem a

qualidade de educação para todos, atendendo as diversidades. É o que

chamamos de “sistema caleidoscópio”.

Nessa nova visão de educação, a inclusão beneficia a todos: alunos,

professores e demais educadores, a família se a comunidade.

Tanto os alunos ditos normais como os deficientes têm acesso uma

maior riqueza de atividades do currículo do que se estivessem separados, uns em

classes regulares (ditos normais) e outros em classes especiais (deficientes).

A educação inclusiva vê o aluno portador de necessidades

educativas especiais como um sujeito, ser global e único. Viabiliza estratégias de

ensino e avaliação, partindo da premissa de que não é necessário que todos os

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alunos tenham as mesmas metas educacionais quando aprendem juntas em

classes regulares e, promovendo iguais oportunidades de aprendizagem para

todos.

Ela, a escola inclusiva, organiza os serviços necessários para toda a

equipe escolar, promovendo um ensino de qualidade para todos os alunos, sem

distinção. A equipe de educadores: professores, pedagogos e demais profissionais

deverão se ver dentro de uma nova perspectiva, como membros de uma equipe

que tem os pais também incorporados à mesma, opinando, colaborando e

discutindo os rumos da escola.

4.4.1 COMO TRABALHAR NUMA ESCOLA INCLUSIVA?

Primeiro, o professor deve conhecer a realidade de seus alunos,

sejam eles portadores de necessidades educativas especiais ou não, conhecendo,

inclusive seus pontos fortes. Segundo, ele deve fazer um planejamento

participativo, envolvendo educadores da educação especial e regular e demais

outras pessoas integrantes do processo educacional. Terceiro, o professor

especializado deve participar de todas as fases do planejamento, inclusive da sua

execução e posterior avaliação e, por último, o professor deve fazer a adaptação

curricular.

O professor deve utilizar novas técnicas de ensino, inclusive quanto

às modalidades de grupamentos de alunos portadores de necessidades

educativas especiais com os outros , ditos normais, e novas metodologias. Excluir

rótulos e as classificações, aproveitar toda a realidade de conhecimento que o

aluno tem de si e do meio em que vive.

O professor de classe regular será o principal elemento da educação

inclusiva, porém, precisando de tempo para entender e se preparar para esse

novo modelo de educar. Utilizar o trabalho de grupamento, deixando fluir

normalmente a cooperação dos mais adiantados para com os alunos portadores

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de necessidades educativas especiais, valorizando a tarefa mesmo que tenha sido

feita com ajuda.

Utilizar os recursos e técnicas da educação especial é de

fundamental importância para a consecução de trabalhos do professor de classes

regulares, haja vista que através disso o professor estará facilitando a

aprendizagem do aluno portador de necessidades educativas especiais, além de

está dando oportunidades aos demais “ditos normais” estarem conhecendo novos

recursos de ensino-aprendizagem.

Se não, vejamos: o aluno que tem um problema auditivo deverá

sentar na frente da sala o que virá facilitar a leitura labial e expressão facial do

professor, caso esse aluno use a língua de sinais, certamente o professor achará

útil e até gostaria de aprender tal maneira de se comunicar, pois será uma forma

nova de comunicação. Ao aluno de visão diminuta, a escrita maior facilitará a

compreensão. Se o aluno for totalmente cego, o uso da escrita Braille será um

recurso fundamental, além das aulas expositivas, pode-se no caso, usar o

gravador cassete. Alunos com dificuldades de aprendizagem, podemos avaliá-lo

oralmente, caso tenham dificuldades da expressão escrita. O uso do computador

para os deficientes mentais é de fundamental importância, caso haja esse recurso,

caso contrário pode-se usar a própria máquina de escrever. Estes são alguns

exemplos de como o professor da classe regular deve procurar trabalhar com seus

alunos especiais. Entretanto o mais importante é que o professor forme sua

consciência crítica sobre sua prática educativa.

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CAPÍTULO V

O ENSINO INCLUSIVO ABORDADO NOS PARÂMETROS

CURRICULARES NACIONAIS

Os Parâmetros Curriculares Nacionais, preconizam a atenção à

diversidade da comunidade escolar e baseia-se no pressuposto de que a

realização de adaptações curriculares pode atender a necessidades particulares

de aprendizagem dos alunos. Consideram que a atenção à diversidade deve se

concretizar em medidas que levam em conta não só as capacidades intelectuais e

os conhecimentos dos alunos, mas também seus interesses e motivações.

A atenção à diversidade está focalizada no direito de acesso à escola

e visa a melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem para todos,

irrestritamente, bem como as perspectiva de desenvolvimento e socialização. A

escola, nesta perspectiva, busca consolidar o respeito às diferenças, conquanto

não elogie a desigualdade. As diferenças vistas não como obstáculos para o

cumprimento da ação educativa, mas podendo e devendo ser fatores de

enriquecimento. Veja o caso de Fabiana Yuri Kuomoto, 15 anos, aluna da 7ª série

do Centro Educacional Jean Piaget. Fabiana sofre de espinha bífida (um defeito

congênito no tubo neural do embrião), o que torna insensível toda sua região

pélvica. Por isso mesmo, ela não tem consciência, nem controle do esfíncter e da

bexiga; é obrigada a usar fraldas e sonda, e somente percebe sua incontinência

ao sentir o cheiro das fezes.

Quando entrou na escola, há 4 anos, ninguém queria ficar perto dela

e quase todos faziam piadinhas sobre sua condição. problema insuperável? De

jeito nenhum: a dificuldade de Fabiana virou teme de estudo.

Durante as explicações sobre o corpo humano, os alunos

começaram a perguntar por que Fabiana fazia cocô sem saber. Ela mesma

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explicaria: pesquisou o assunto com seu médico, a partir de um questionamento

dos colegas, e expôs o problema para a classe sem constrangimento. Durante as

explicações, descobriram que ela já menstruava. Ela virou o centro das atenções e

todas as meninas quiseram saber como era. Essa compreensão e cumplicidade

que se estabeleceu na classe, substituiu as piadas maldosas por solidariedade.

Hoje, sempre que sentem o cheiro as colegas de Fabiana prontamente avisam a

menina.

Segundo Sônia Dreyfuss, diretora da escola Centro Educacional

Jean Piaget, in: REVISTA ESCOLA (1999):

“O grande segredo para a inclusão dar certo é jamais omitir o

problema de uma criança ao grupo. De fato, não estamos

acostumados a conviver com o diferente e, como não

sabemos lidar com a situação, ocorre a estranheza e o

afastamento. Quando há um esclarecimento honesto, clareza

e sinceridade, o que antes era um problema, vira fato

corriqueiro”(Dreyfuss,1999 p.15).

A expressão “necessidades educacionais especiais” pode ser

utilizada para referir-se a crianças e jovens cujas necessidades decorrem de sua

elevada capacidade ou de suas dificuldades para aprender. Está associada a

dificuldades de aprendizagem não necessariamente vinculada a deficiência.

Falar em necessidades educacionais especiais, portanto, deixa de

ser pensar nas dificuldades específicas dos alunos e passar a significar o que a

escola pode fazer para dar respostas às necessidades, de um modo geral, bem

como aos que apresentam necessidades específicas muito diferentes dos demais.

Considera os alunos, de um modo geral, como passíveis de necessitar, mesmo

que temporariamente, de atenção específica e poder requerer um tratamento

diversificado dentro do mesmo currículo.

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O movimento nacional para incluir todas as crianças na escola e o

ideal de uma escola para todos vem dando novo rumo às expectativas

educacionais para os alunos com necessidades especiais.

Esses movimentos evidenciam grande impulso desde a década de

90, no que se refere à colocação de alunos com deficiência na rede regular de

ensino e, tem avançado aceleradamente em alguns países desenvolvidos,

constatando-se que a inclusão bem sucedida desses educandos requer um

sistema educacional diferente do atualmente disponível. Implicam a inserção de

todos, sem distinções de condições lingüísticas, sensoriais, cognitivas, físicas,

emocionais, étnicas, sócio-econômicas ou outras e, requer sistemas educacionais

planejados e organizados que dêem conta da diversidade dos alunos e ofereçam

respostas adequadas às suas características e necessidades.

Como atender a essas necessidades? Sem pretender respostas

conclusivas, sugere-se estas, dentre outras medidas:

¨ Elaborar propostas pedagógicas baseadas na interação com os

alunos, desde a concepção dos objetivos;

¨ Reconhecer todos os tipos de capacidades presentes na escola;

¨ Seqüenciar conteúdos e adequá-los aos diferentes ritmos de

aprendizagem dos educandos:

¨ Adotar metodologias diversas e motivadoras:

¨ Avaliar os educandos numa abordagem processual e emancipadora,

em função do seu progresso e do que poderá vir a conquistar.

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CONCLUSÃO

A escolha do tema desse trabalho, teve como centro das discussões

a escola inclusiva, e o principal objetivo era demonstra que “ A escola para todos”

não é uma utopia, mas uma alternativa de trabalhar as diferenças no espaço

escolar.

Superar os preconceitos, as discriminações, a exclusão dos

Portadores de Necessidades Educacionais Especiais no espaço social e no

espaço escolar ainda se mostra hoje como um desafio, que tenta ser respondido

pelo o projeto de uma escola inclusiva.

Nada se pode negar que ainda haja por parte dos sistemas de ensino

das escolas regulares, uma certa resistência com os processos de inclusão, visto

que os professores alegam múltiplos problemas que vão desde o despreparo para

lidar com os alunos especiais até a falta de recursos, de espaço e de apoio.

A escola inclusiva é aquela que está preparada com seu ambiente

físico, sócio-afetivo e pedagógico para aceitar TODOS, oferecendo-lhes

oportunidades de aprendizagem, para construir conhecimentos significativos a

vivenciar experiências sócio-afetivas, que lhes dêem condições de desenvolver

autonomia e independência no exercício do papel social.

A escola inclusiva responde, humana e eficazmente, às aspirações e

necessidades de TODOS, com um currículo de objetivos mais cooperativos e não

competitivos, que se utiliza de procedimentos pedagógicos mais favoráveis à

participação de todos, de forma igual e plena, infundindo valores positivos de

respeito e apreciação pelas as pessoas diferentes. O aluno da escola inclusiva é

aquele que dela necessita para seu desenvolvimento pessoal, social, profissional

e educacional, independentemente das diferenças de cor, raça, idade, gênero ou

classe social, incluindo até mesmo os portadores de necessidades educacionais

especiais. Esses alunos são aqueles que requerem meios especiais como:

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instalações adequadas, recursos tecnológicos, metodológicos e didáticos,

recursos humanos especializados, para terem acesso ao processo de

aprendizagem

Na realidade a escola inclusiva só se fará pelo o esforço de todos

que acreditam que é possível possibilitar que os sujeitos superem suas

dificuldades pela força da socialização e das interações com seus “Diferentes”.

Nesta perspectiva é necessário que os sistemas de ensino e as escolas se

organizem na busca de um projeto que envolva as adaptações curriculares, a

criação de recursos e a preparação contínua dos professores.

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BIBLIOGRAFIA

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Estratégias para a Educação de

Alunos com Necessidades Educacionais Especiais.

SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos.

Rio de Janeiro: WVA, 1999.

WERNECK, Cláudia. Sociedade inclusiva: Quem cabe no seu todos? Rio de

Janeiro: WVA, 1999.

MERECH, Leny Magalhães. O que é Educação Inclusiva? Rio de Janeiro, 1998.

STAINBAK, Willian Susan. Um guia para educadores. Porto Alegre: Ed. Artmed,

1999.

MAZZOTA, Marcos. Educação Especial no Brasil: História e Políticas Púbicas.

São Paulo: Ed. Cortês, 1995.

MONTOAM, Maria Tereza Eglér. A Integração de Pessoas com Deficiências:

Contribuições para uma reflexão sobre o tema. São Paulo: Memnon. 1997.

OLIVEIRA, Cláudio Brandão. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA

DO BRASIL. Ed. Roma Victor, 2004.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Universidade Salgado de

oliveira, novembro de 1997.

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49

REVISTA ESCOLA. INCLUSÃO: Oportunidades Para Todos, junho, 1999.

REVISTA ESCOLA: A ESCOLA QUE É DE TODAS AS CRIANÇAS, maio de

2005.

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ANEXOS

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Declaração de Salamanca

Sobre os princípios e práticas em Educação Especial.

Reafirmando o direito à educação de cada indivíduo, conforme

mencionado na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948: e renovando

a demanda feita pela comunidade mundial da conferência Mundial sobre a

Educação para Todos em 1990 de assegurar os direitos de todos,

independentemente de diferenças individuais.

Reconvocando as Declarações das Nações Unidas que culminaram

no documento Nações Unidas “Regras Padrões sobre Equalização de

oportunidades para Pessoas com Deficiências”, o qual demanda que os Estados

assegurem que a educação de pessoas com deficiências seja parte integrante do

sistema educacional.

Notando com satisfação um incremento no envolvimento de

governos, grupos de advocacia, comunidades e pais, em particular de

organizações de pessoas com deficiências, na busca por melhoria no acesso à

educação para a maioria daqueles cujas necessidades especiais ainda se

encontram desprovidas; e reconhecendo como evidência para tal envolvimento a

participação ativa do alto nível de representantes e de vários governos, agências

especializadas e organizações inter-governamentais naquela Conferência

Mundial.

1. Nós, os delegados de Conferência Mundial de Educação

Especial, representando 88 governos e 25 organizações internacionais, em

assembléia aqui em Salamanca, Espanha, entre 7 e 10 de junho de 1994,

reafirmamos o nosso compromisso para com a educação para Todos,

reconhecendo a necessidade de urgência do providenciamento de educação para

crianças, jovens e adultos com necessidades educacionais especiais dentro do

regular de ensino, e re-endossamos a Estrutura de Ação em Educação Especial,

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em que, pelo o espírito de cujas provisões e recomendações do governo e

organizações sejam guiados.

2. Acreditamos e proclamamos que:

¨ Toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser

dada a oportunidade de atingir e manter um nível adequado de

aprendizagem.

¨ Toda criança possui características, interesses, habilidades, e

necessidades de aprendizagem que são únicas.

¨ Sistemas educacionais deveriam ser designados e programas

educacionais deveriam ser implementados no sentido de levar em

conta a vasta diversidade de tais características e necessidades.

¨ Aqueles com necessidades educacionais especiais devem Ter

acesso à escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma

pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a tais

necessidades.

¨ Escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva

constituem os meios mais eficazes de combater atitudes

discriminatórias, criando-se comunidades acolhedoras,

construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação

para todos; além disso, tais escolas prevêem uma educação

efetiva à a maioria das crianças e aprimoram a eficiência e, em

última instância, o custo da eficácia de todo o sistema

educacional.

3. Nós congregamos todos os governos e demandamos que eles:

¨ Atribuam mais alta prioridade financeira ao aprimoramento de

seus sistemas educacionais no sentido de se tornarem aptos a

incluírem todas as crianças independentemente de suas

diferenças ou dificuldades individuais.

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¨ Adotem o princípio da educação inclusiva em forma de lei ou de

política, matriculando todas as crianças em escolas regulares, a

menos que existam fontes para agir de outra forma.

¨ Desenvolva projetos de demonstração e encorajem intercâmbios

com países que possuam experiências de escolarização

inclusiva.

¨ Estabeleçam mecanismos participatórios e descentralizados para

planejamentos , revisão e avaliação de provisão educacional para

crianças e adultos com necessidades educacionais especiais.

¨ Encorajem e facilitam a participação dos pais, comunidades e

organizações de pessoas portadoras de deficiências nos

processos de planejamento e tomada de decisão concernentes à

provisão de serviços para necessidades educacionais especiais.

¨ Invistam maiores esforços em estratégias de identificação e

intervenções precoces, bem como nos aspectos vocacionais de

educação inclusiva.

¨ Garantam que, no contexto de uma mudança sistêmica,

programas de treinamento de professores, tanto em serviços

como durante a formação, incluam a provisão de educação

especial dentro das escolas inclusivas.

4. Nós também congregamos a comunidade internacional: em

particular nós congregamos:

¨ Governos com programas de cooperação internacional,

agências financiadoras internacionais, especialmente as

responsáveis pela Conferência Mundial de Educação para

Todos, UNESCO, UNICEF, UNPD e o Banco Mundial.

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¨ A endossar a perspectiva da escolarização inclusiva e apoiar o

desenvolvimento da educação especial como parte integrante

de todos os programas educacionais.

¨ As nações Unidas e suas agências especializadas, em

particular a ILO, WHO, UNESCO, UNICEF.

¨ A reforçar seus estímulos de cooperação técnica, bem como

reforçar suas cooperações e redes de trabalho para um apoio

mais eficaz a já expandida e integrada provisão em educação

especial.

¨ Organizações não-governamentais envolvidas na programação

e entrega de serviços nos países.

¨ UNESCO, enquanto a agência educacional das Nações

Unidas:

ü A assegurar que educação especial faça parte

de toda discussão que lide com educação para todos

em várias arenas.

ü A mobilizar o apoio de organizações dos

profissionais de ensino em questões relativas ao

aprimoramento do treinamento de professores no que

diz respeito a necessidades educacionais especiais.

ü A estimular a comunidade acadêmica no

sentido de fortalecer a pesquisa, redes de trabalho e o

estabelecimento de centros regionais de informação e

documentação; e da mesma forma, a servir de

exemplos em tais atividades e na disseminação dos

resultados específicos e dos progressos alcançados em

cada país no sentido de realizar o que almeja a

presente Declaração.

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ü A mobilizar fundos através da criação

(dentro do seu próprio planejamento a médio

prazo,1996 – 2000) de um programa extensivo de

escolas inclusivas e programas de apoio comunitário,

que permitiram o lançamento de projetos-piloto que

demonstrassem novas formas de disseminação e o

desenvolvimento de indicadores de necessidades e de

provisão de educação especial.

5. Por último, expressamos nosso caloroso reconhecimento ao governo

da Espanha e à UNESCO pela a organização da Conferência, e demandando-lhes

realizarem todos os esforços no sentido de trazer esta Declaração e sua relativa

Estrutura de Ação à atenção da comunidade mundial, especialmente em eventos

importantes tais como o Tratado Mundial de Desenvolvimento Social (em

Kopenhagem, em 1995) e a Conferência Mundial sobre a Mulher (em Beijing, em

1995).

Adotada por aclamação, na cidade de Salamanca, Espanha, neste décimo dia

de junho de 1994.

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CONTITUIÇÃO FEDERAL 1988

Art. 203 A assistência social será prestada a quem dela necessitar,

independentemente de contribuição à seguridade social, tem por objetivos:

Incisos III e IV:

III- a promoção da integração ao mercado de trabalho;

IV- a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência

e a promoção de sua integração à vida comunitária.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 1990

Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:

Inciso III. Atendimento educacional especializado aos portadores

de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.

Art. 66. Adolescente portador de deficiência é assegurado trabalho

protegido.

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EXORTAÇÃO AO EXCEPCIONAL

Aceita-me!

Como Sou. Por questão de justiça e não de Caridade.

Torna-me!

Um ser útil, porque de esmolas não quero viver.

Livra-me!

Da ignorância e da dependência, pelo o teu dever de cidadão.

Põe!

Nos meus lábios a luz de um sorriso, e não a sombra tristonha do

medo

Ajuda-me!

A não ser tão pesado aos meus pais queridos, fazendo a minha reintegração

na sociedade.

Reflete!

Que as ilusões que cercaram o meu nascimento são as mesmas que teus

pais sonharam.

Despertai!

Com teu afeto a minha mansidão contra a agressividade que avassala.

Olha-me!

Sou humano como você.

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ORAÇÃO DA CRIANÇA ESPECIAL

BEM AVENTURADOS

OS QUE COMPREENDEM O MEU ESTRANHO PASSO AO

CAMINHAR.

BEM AVENTURADOS

OS QUE SABEM QUE MEUS OUVIDOS TÊM QUE SE ESFORÇAR

PARA COMPREENDER OS QUE OUVEM.

BEM AVENTURADOS

OS QUE COMPREENDEM QUE AINDA QUE MEUS OLHOS

BRILHEM MINHA MENTE É LENTA...

BEM AVENTURADOS

OS QUE OLHAM E NÃO VÊEM A COMIDA QUE DEIXO CAIR

FORA DO PRATO...

BEM AVENTURADOS

OS QUE UM SORRISO NOS LÁBIOS ME ESTIMULAM A TENTAR

MAIS UMA VEZ...

BEM AVENTURADOS

OS QUE SENTEM MEU CORAÇÃO...

BEM AVENTURADOS

OS QUE ME AMAM COMO SOU, TÃO SOMENTE COMO SOU E

NÃO COMO ELES GOSTARIAM QUE EU FOSSE.

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Título da Monografia: GESTÃO ESCOLAR E INCLUSÃO SOCIAL

Autor: HUGO RÔMORO SOUSA DIAS

Data da entrega: 28 DE JULHO DE 2005

Avaliado por: Conceito: