documento protegido pela lei de direito autoral · 2016-02-12 · gestão sustentável. pretende-se...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM – FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
LOGÍSTICA REVERSA E A SUSTENTABILIDADE DE
GRANDES CENTROS URBANOS BRASILEIROS.
Milena Villanova Casella Neves
ORIENTADOR: Prof. Nelson Magalhães
Rio de Janeiro 2016
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM – FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em MBA Logística Empresarial. Por: Milena Villanova Casella Neves
LOGÍSTICA REVERSA E A SUSTENTABILIDADE DE
GRANDES CENTROS URBANOS BRASILEIROS.
Rio de Janeiro 2016
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AGRADECIMENTOS
Aos amigos e parentes, pela compreensão nas
minhas ausências por conta dos estudos.
4
DEDICATÓRIA
Ao meu pai, por todo apoio de sempre.
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RESUMO
O trabalho estuda o fato de que uma cidade dita como sustentável
muita das vezes não é de fato 100% sustentável. Pois iremos ver que a
nomenclatura não necessariamente está atrelada à funcionalidade.
Ao longo do texto abordaremos diversas soluções ambientais
propostas pelo setor público e privado que são paleativas. Através de exemplos
poderemos perceber que é preciso repensar nas atitudes já tomadas pelos
homens em relação ao meio em que vivemos, para traçar novos caminhos que
possibilitem práticas ambientalmente corretas.
O estudo vai mostrar que um bom começo para essa evolução pode
ser a aplicação da logística reversa no setor empresarial aliada aos incentivos
do governo como um passo para transformar os grandes centros urbanos em
cidades sustentáveis.
Exemplificaremos de diversas formas, ao longo da monografia, que
as participações ativas e o entendimento da corresponsabilização do governo e
do setor empresarial são pontos fundamentais para se ter um ambiente
saudável em harmonia com o meio e o povo.
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METODOLOGIA
A construção desse referencial teórico parte do estudo de cidades
que adotam medidas em prol do meio ambiente como alternativas aos recursos
de gestão convencionais. Sendo assim, no primeiro capítulo desse trabalho,
iremos apresentar uma análise sobre o tema gerador da pesquisa, enfatizando
as diversas abordagens de importantes autores e pontuando suas
contribuições para o entendimento e discussão. No segundo
capítulo elaboraremos uma discussão em torno do problema em questão. Já no
último e terceiro capítulo dessa monografia, teremos a conclusão a respeito da
nossa pesquisa que será uma articulação da hipótese e sua possível
comprovação. As referências bibliográficas utilizadas nessa monografia são
parte bibliográfica, parte eletrônica.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Logística reversa e a gestão sustentável nos centros urbanos 12
CAPÍTULO II
Corresponsabilização – governo e setor empresarial 18
CAPÍTULO III
A busca por cidades sustentáveis 30
CONCLUSÃO 37
BIBLIOGRAFIA 39
WEBGRAFIA 41
ÍNDICE 42
ÍNDICE DE FIGURAS 43
ANEXO 01 44
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INTRODUÇÃO
Criar um futuro sustentável de maneira econômica, social e
ambiental requer uma quebra de paradigmas quanto ao uso de recursos
naturais, à obtenção desses e à forma como os consumimos. Para que haja de
fato uma transformação comportamental, as organizações, o governo e a
sociedade necessitam reconhecer fazer parte de um sistema complexo,
interdependente e global. Todos os impactos das atividades socioambientais
destes agentes serão repercutidos para todo o meio ambiente e influenciarão a
forma como as futuras gerações viverão.
Faz-se presente, no Brasil e nos demais países, a preocupação em
minimizar a geração de resíduos, reutilizar materiais e reciclar, em diversos
setores das sociedades, porém, ainda não vemos avanços e resultados
satisfatórios em grandes centros urbanos brasileiros.
A gestão de resíduos sólidos no Brasil ainda encontra diversos
obstáculos, principalmente nos grandes centros urbanos. Diversos
municípios brasileiros ainda fazem uso de unidades de destinação
inadequada de resíduos, encaminhando-os para aterros, que não
possuem o conjunto de sistemas e medidas necessários para proteção
do meio ambiente contra danos e degradações.
O objetivo geral desse trabalho é fazer um aprofundamento de
saberes relacionados à logística reversa e suas contribuições no modelo de
gestão sustentável. Pretende-se mostrar aos estudiosos, gestores ou
interessados na área, como a logística reversa se faz instrumento de
desenvolvimento econômico e social.
Aprofundamo-nos a respeito dos conjuntos de ações, procedimentos
e meios viáveis para as empresas implementarem a logística reversa nas suas
gestões. Como por exemplo: o reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros
ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada. Para
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tal, é preciso saber, antes de tudo, qual a definição de logística reversa,
precisamos também conhecer a definição de cidades sustentáveis e quais
os pilares que “sustentam” esse tema.
As organizações são parte crucial do modelo de consumo dos
recursos naturais e responsáveis pela manutenção de linhas de produção fabril
que incentivam o consumo desenfreado e a geração de resíduos tóxicos para
os seres humanos, a fauna e a flora. Conceitos baseados em premissas
sustentáveis se apresentam, portanto, como um desafio à transformação dos
modelos de negócios usuais.
Ao longo dos anos há um crescente número de pesquisas que
evidenciam o fato de que empreendimentos que adotam comportamentos
socioambientalmente responsáveis têm uma resposta de desempenho
econômico positivo. A natureza desse desempenho varia de acordo com a
organização e depende de variáveis de contexto como: a particularidade do
mercado, a estratégia adotada e o estágio de desenvolvimento do negócio.
São exemplos de possíveis benefícios relacionados a uma estratégia
organizacional sustentável: ganhos operacionais; aumento da vantagem
competitiva; valorização de marca; desenvolvimento de sistemas de gestão;
identificação de novas oportunidades de mercado e desenvolvimento de uma
rede estruturada de colaboradores.
Entendemos que a construção de cidades sustentáveis pelo mundo
é uma medida necessária e urgente. Diante da variedade de problemas que
permeiam o dia-a-dia da sociedade moderna, podemos notar uma abordagem
que concilia o desenvolvimento nos eixos econômico, ecológico e social. A
reestruturação das cidades em moldes sustentáveis, através de planos de ação
que permeiam todos os setores, tem como objetivos: melhorar a qualidade de
vida, reduzir desperdícios, promover a integração social e a preservação
ambiental.
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Tal processo de conscientização deve-se à percepção de que os
recursos naturais do planeta Terra são finitos e que o ser humano vem os
exaurindo conforme se desenvolve. A sustentabilidade parte do princípio de
que assim como os seres vivos, a Terra é um organismo vivo, um sistema
complexo, dependente de todos os seus componentes para que funcione bem.
Levando isso em consideração, é necessário definir uma melhor maneira de
distribuir os recursos disponíveis no planeta a fim de minimizar os danos que o
homem causou ao meio-ambiente.
Uma das ferramentas de análise do impacto que o homem causa no
meio ambiente foi desenvolvida em 1994, por dois pesquisadores americanos,
William Rees e Mathis Wackernagel, denominada “pegada ecológica”. A pegada
ecológica é uma medida da pressão que o homem exerce sobre a natureza. É
uma ferramenta que avalia a superfície produtiva necessária a uma população
para responder a seu consumo de recursos e a suas necessidades de absorção
dos resíduos. (KAZAZIAN, 2009)
Uma cidade dita como sustentável muita das vezes não é de fato
100% sustentável. A nomenclatura não necessariamente está atrelada à
funcionalidade, pois ainda pouco se sabe sobre o tema e muitas das soluções
ambientais propostas pelo setor público e privado são paleativas. É preciso
repensar nas atitudes já tomadas pelos homens em relação ao meio em que
vivemos, para traçar novos caminhos que possibilitem práticas ambientalmente
corretas. Um bom começo para essa evolução pode ser a aplicação da
logística reversa no setor empresarial aliada aos incentivos do governo como
um passo para transformar os grandes centros urbanos em cidades
sustentáveis. As participações ativas e o entendimento da corresponsabilização
do governo e do setor empresarial são pontos fundamentais para se ter um
ambiente saudável em harmonia com o meio e o povo, apesar de essa
corresponsabilidade ainda não ter sido assumida de maneira efetiva.
Diante destas questões, julgamos necessário e de grande relevância
realizar uma pesquisa abrangente, que analise as diversas facetas que
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permeiam o desafio de tornarmos as cidades sustentáveis através da
implementação da logística reversa nas organizações de grandes centros
urbanos, e nos possibilite construir uma visão assertiva sobre o assunto.
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CAPÍTULO I
Logística reversa e a gestão sustentável nos centros
urbanos
Partindo-se do princípio de que a população cada vez mais almeja
um estilo de vida sustentável, faz-se necessário que todos se questionem,
inicialmente com questões como, por exemplo, o destino final do lixo que
geramos.
Além de pensarmos em reciclar os produtos que descartamos,
devemos também pensar em reutilizar ou até mesmo reduzir a quantidade de
lixo que é gerada por nós. Outros questionamentos que também devem ser
feitos ao pensarmos na fase final de vida dos produtos que consumimos são
questões como: “Porque não existe um padrão de carregador de celular para
quando comprarmos um novo aparelho ser possível utilizar o carregador
antigo? ”, “Para onde vai o lixo que geramos? ”, “Como podemos separá-lo de
forma eficaz? ”, “Quanto custa reciclar os resíduos descartados? ”.
No Brasil, não há uma explanação consistente sobre essas
informações, nem mesmo um órgão governamental responsável pelo descarte
ambientalmente correto dos resíduos gerados pela população. E, em nível de
informação, instrução, pesquisa e até mesmo estudos mais aprofundados na
área, não há uma quantidade significativa de indicadores que sejam
devidamente coletados e transformados em informações palatáveis para
instruir a população.
O descarte correto, a reciclagem, e reutilização de produtos são
alguns exemplos de aplicação de logística reversa em produtos que chegam na
fase final de suas vidas.
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Dentre as alternativas para o destino correto de resíduos sólidos, a
reciclagem parece ser a mais frágil, devido a suas características sociais. É
fundamental levar em consideração a presença do 'catador' em certas cadeias
reversas. Mesmo com esse elo frágil, o Brasil é líder na reciclagem de
alumínio, e está entre os primeiros na reciclagem de papel e plástico.
O estímulo financeiro do mercado de recicláveis é responsável
pelos índices expressivos de recuperação de alguns materiais como
alumínio, plástico e papel.
A parte orgânica dos resíduos sólidos depositadas nos aterros
sanitários influencia na vida útil dos mesmos, pois eles deveriam ser ocupados
apenas por rejeitos (resíduos que não têm condições de serem reciclados ou
reaproveitados) e, uma vez dispostos inadequadamente em lixões, causam
problemas de saúde pública como a proliferação de bichos transmissores de
doenças como moscas e ratos; gera maus odores; polui o solo, as águas
superficiais e subterrâneas e o ar.
De forma a colaborar com a construção de centros urbanos
sustentáveis, as organizações e o governo devem se preocupar com processo
de logística reversa dos produtos, pois ele interfere tanto positivamente,
quando bem empregado, quanto negativamente, quando não há um processo
de logística reversa, aplicado ou mal administrado.
1.1. Logística reversa
A logística avalia como a administração pode alcançar a melhor
rentabilidade nos serviços de distribuição aos consumidores, por meio de um
planejamento bem feito, organização e controle das atividades de
armazenagem e movimentação com o objetivo de facilitar o fluxo dos produtos.
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Normalmente quando se pensa em logística logo vem à imagem do
gerenciamento do fluxo de materiais, desde o ponto de pedido, e sua
consequente aquisição até o consumo do produto. Contudo, também existe o
mesmo fluxo reverso, que nada mais é do que o produto ir do ponto de
consumo até o ponto de origem. Esse fluxo logístico reverso também precisa
ser gerenciado. O fluxo reverso é esse caminho inverso que é realizado em
diversas etapas, onde o produto pós-consumo chega em um local de
tratamento ou destinação final. O termo logística reversa abrange também
outras atividades como o retorno ao fornecedor, revenda, renovação,
remanufatura e recuperação material.
É importante ressaltar que destinação final correta não
significa que o resíduo foi reciclado ou reaproveitado, mas sim que
recebeu um tratamento permitido pela lei. Porém, de acordo com a
PNRS, no seu Art. 9°, os meios de reutilização, reciclagem e
reaproveitamento devem ser considerados como prioritários em relação
a disposição final. Com base nisto, foi feita uma busca pelos principais
mecanismos de logística reversa em uso no país e a situação atual dos
resíduos sólidos sujeitos a cadeia de logística reversa no Brasil.
De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (lei 12.305
de 2 de agosto de 2010), a logística reversa pode ser definida como
“instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um
conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a
restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento,
em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final
ambientalmente adequada”.
Sempre que aplicada a logística reversa traz consideráveis retornos.
Pois consequentemente acaba-se economizando, por exemplo, com a
utilização de embalagens retornáveis ou com o reaproveitamento de materiais
para produção. O que estimula novas iniciativas, dado o reforço positivo
gerado.
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Além disto, o desenvolvimento e melhorias nos processos de
logística reversa produzem também bons retornos, que justificam os
investimentos realizados pelas organizações.
A seguir, a figura 1, nos mostra uma visualização simplificada dos
esquemas dos processos logísticos, direto e reverso.
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1.1.1. Contribuições da logística reversa para os modelos de gestão
sustentável nos centros urbanos
Podemos encontrar nos conceitos introduzidos na legislação
ambiental brasileira pela Política Nacional de Resíduos Sólidos a
corresponsabilidade do ciclo de vida dos produtos e a logística reversa. Essa
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos vem a ser o
conjunto de atribuições individuais dos fabricantes, distribuidores,
comerciantes, dos consumidores e dos responsáveis pelos serviços públicos
de limpeza urbana onde se deve almejar a minimização do volume de resíduos
sólidos e rejeitos gerados, como também reduzir os impactos que são
causados à saúde pública e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida
dos produtos, nos termos desta Lei.
A PNRS fornece a maior base legal para o desenvolvimento da
logística reversa e da rastreabilidade de resíduos sólidos no Brasil. A PNRS
favorece a realização de consórcios intermunicipais, e estimula incentivos
fiscais. O Brasil possui legislação sólida e abrangente em relação a resíduos
sólidos, porém com pouca efetividade.
A Logística Reversa se faz instrumento de desenvolvimento
econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e
meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao
setor empresarial, que surgem na pós-venda e no pós-consumo, com o intuito
de reaproveitá-los no seu próprio ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou até
mesmo alguma outra destinação.
A Logística Reversa também pode ser entendida como o caminho
inverso, realizado em diversas etapas, que o produto pós-consumo chega até o
seu dispositivo de tratamento ou destinação final.
Apesar de ser fundamental para a destinação adequada de produtos,
a logística reversa é mais utilizada na cadeia de produção de produtos que são
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recicláveis. Nesse caso, o estimulador da cadeia logística não é a diminuição
de riscos ao meio-ambiente e a sociedade, mas sim o valor econômico do
material reciclado, o qual na maior parte das vezes representa uma redução no
consumo de energia e de insumos para a confecção do produto final.
Nosso sistema ainda não é capaz de lidar com setores
informais, o que pode ser visto na forma de contratos frágeis entre
empresas e cooperativas, e não inclusão das cooperativas na coleta
regular por exemplo. Esses problemas acabam por tornar o catador um
ator muito vulnerável socialmente e enfraquecer toda a cadeia reversa.
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CAPÍTULO II
Corresponsabilização – governo e o setor empresarial
É possível encontrar no mercado uma vasta gama de produtos que
adotam um discurso em prol da sustentabilidade, amparados por selos e
apoiados em argumentos como o fato de utilizarem materiais recicláveis e
reciclados. No entanto, na maioria dos casos tais produtos não estão inseridos
em um sistema que de fato preze por um impacto ambiental reduzido (ou, até
mesmo, positivo) dentro dos objetivos globais de uma empresa.
Casos como esse demonstram como uma característica isolada
pode ser manipulada para aparentar um esforço de uma corporação em prol de
ganhos sustentáveis sem de fato trazer benefícios para o meio ambiente. Pelo
contrário, produtos que se balizam de características individuais tendem a
descartar outros diversos quesitos que prejudicam o entorno.
Um grande avanço e passo para a implementação da logística
reversa é a Política Nacional de Resíduos Sólidos, lei 12.305 de dois de agosto
de 2010, documento que foi debatido durante 21 anos no Legislativo. A lei
prevê responsabilidades compartilhadas entre cidadão, poder público e setor
privado na destinação de resíduos, e apesar de ter conteúdo muito bom,
poucos setores já a adotaram, por exemplo, há muita dificuldade por parte do
setor empresarial de colocá-la de fato em prática.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) – Lei
n°12.305/2010 que, dentre outras medidas, proíbe a criação de “lixões”,
onde os resíduos são lançados a céu aberto, estabelece que todas as
prefeituras devem apresentar um plano de gerenciamento dos resíduos
gerados no município e, ressalta também, que nos aterros sanitários só
poderão ser depositados rejeitos (ou seja, resíduos sem qualquer
possibilidade de reaproveitamento).
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Essas medidas, por consequência, exigem uma política
diferenciada dos municípios em relação aos seus resíduos gerados e
suas respectivas disposições finais. Assim sendo, no Brasil, faz-se
necessária a adoção imediata de um sistema integrado e sustentável de
gestão de resíduos sólidos, para fazer frente ao crescimento na geração
do mesmo e garantir um destino adequado à totalidade destes resíduos.
Outra medida introduzida pela PNRS é a implantação da
logística reversa na cadeia de produção dos bens de consumo. A lei
preconiza a responsabilidade que o gerador tem com o produto
produzido durante todo seu ciclo de vida. No âmbito da logística reversa
podemos entender que os resíduos finais dos produtos podem ser
divididos em dois. Rejeitos não reaproveitáveis, e resíduos reutilizáveis.
Partindo desse princípio é extremamente importante que os
órgãos fiscalizadores de proteção ao meio-ambiente, bem como a
sociedade civil, tenham meios para monitorar a geração e disposição
final de resíduos, capacidade alcançada através da rastreabilidade de
resíduos. A rastreabilidade de resíduos é uma ferramenta que auxilia
tanto a implantação da logística reversa como a análise de ciclo de vida,
uma vez que permite ao investigador saber qual foi o destino final de um
dado resíduo gerado.
O Brasil possui alguns mecanismos de rastreabilidade de
resíduos (legais de âmbito federal e estadual). São Paulo é o estado que
demonstra maior avanço nesse ponto, e em segundo está o estado do
Rio de Janeiro. Porém ambos ainda têm ferramentas muito limitadas,
como é o caso do manifesto de resíduos, fiscalizado pelos órgãos
estaduais e municipais do meio ambiente, que é uma ferramenta pouco
divulgada, de difícil tratamento de dados por se tratar de um documento
físico, passível de fraude, e que é manipulado por um operador humano,
que muitas vezes está sobrecarregado de informação.
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A inexistência de punições mais rígidas faz com que
ferramentas de rastreabilidade sejam pouco utilizadas no Brasil, ficando
limitadas a algumas empresas geradoras de resíduos de grande porte
que passam constantemente por auditorias e que muitas vezes possuem
certificados de performance ambiental. As ferramentas digitais de
rastreabilidade utilizadas ainda são pouco exploradas pelos órgãos
ambientais de fiscalização, o que acaba por dificultar o detalhamento de
dados a respeito da destinação final de resíduos sólidos, e também a
transferência de dados acerca da rastreabilidade de resíduos sólidos
entre as esferas municipal, estadual e federal.
Para garantir a saudável aplicação das ferramentas de
rastreabilidade de resíduos sólidos é importante informar e engajar a
sociedade, para que esta possa atuar como agente de cobrança da
implantação e utilização dessas ferramentas. Dessa forma, é possível
também auxiliar o desenvolvimento da cadeia de logística reversa de
resíduos sólidos no Brasil.
A PNRS (Lei nº. 12.305 de 02 de agosto de 2010) representa um
marco na legislação ambiental brasileira, pois institui, pela primeira vez,
objetivos e instrumentos, bem como diretrizes relativas à gestão integrada e ao
gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às
responsabilidades dos geradores e do poder público e os instrumentos
econômicos aplicáveis. A PNRS usou como base legal para sua criação,
principalmente, a Lei nº 11.445/2007 - Política Nacional de Saneamento
Básico, e a Lei nº 11.107/2005 - Lei Federal dos Consórcios Públicos.
A rastreabilidade de resíduos pode ser aplicada a reciclagem e
tratamento adequado de resíduos sólidos, permitindo que uma quantidade
maior de resíduos sólidos seja disposta de forma ambientalmente adequada. A
Figura 4 demonstra a hierarquia de atitudes a serem tomadas pela cadeia
produtora (e geradora de resíduos). A PNRS tornou essa ordem de prioridades,
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que já vem sendo adotada em outros países, obrigatória no Brasil,
complementando o que antes era conhecido como política dos 3 R's.
Figura 2: Hierarquia de Gestão da PNRS
Disponível em: http://www.crq4.org.br/informativomat_969 Acesso em 04/01/2016.
Embora a lei priorize, nesta ordem, a não geração de resíduos, a
redução, reutilização e, só depois, a máxima reciclagem, ainda não vemos
avanços e resultados nas cidades brasileiras. E o princípio de
corresponsabilidade na gestão dos resíduos ainda não foi assumido pela
sociedade, especialmente pelo setor empresarial e pelos governos.
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2.1. Cidades sustentáveis
Transformar-se em uma cidade sustentável não é uma tarefa fácil,
mas também não é algo inalcançável. É possível diminuir o impacto ambiental
de um centro em urbano quando se opta por formas mais sustentáveis de
organização
Para exemplificar uma cidade sustentável brasileira, podemos citar
Curitiba – conhecida pelos brasileiros como cidade modelo. O aspecto que
mais chama atenção na cidade é a organização do transporte público que é
utilizado por 70% da população.
Figura 3: Estações-tubo na Praça Rui Barbosa - Curitiba
Disponível em: http://www.curitiba-parana.net/urbanismo.htm Acesso em 04/01/2016.
Curitiba também tem um excelente programa em prol conservação
da biodiversidade e de reflorestamento de espécies nativas e conta com uma
área verde de 51 metros quadrados por habitante. Segundo Guimarães (2012),
hoje no Brasil já temos cidades, como por exemplo: Brasília, Goiânia, Curitiba,
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João Pessoa, que mesmo tendo outros problemas, apresentam alto índice de
arborização, de parques, de área verde que proporcionam as cidades uma
qualidade de vida melhor e também é característica de uma cidade sustentável.
As soluções sustentáveis de uma cidade, além de serem
compostas por diversas questões, estão diretamente relacionadas com o
espaço onde esses centros estão inseridos. Este “espaço” pode ser visto sob
uma perspectiva temporal, cultural e geográfica. Observando cidades ditas
modelos de sustentabilidade podemos perceber que a maioria não abrange
todos os indicadores de sustentabilidade existentes. Em nossa pesquisa,
enfatizamos a questão da logística reversa e sua contribuição para centros
urbanos sustentáveis, analisando os incentivos governamentais existentes para
estimular as empresas a implementarem essa prática nas suas realidades
organizacionais.
“Não é possível estabelecer uma definição única ou mesmo uma definição “ótima” para a sustentabilidade urbana, uma vez que cada comunidade irá desenvolver seu conceito próprio, baseado em suas características econômicas, sociais, ambientais e no julgamento de sua população”. (Costa, 2003, p.20)
O Resíduo Zero é um conceito, surgido em 1970, inspirado nos
ciclos naturais de vida, que são eficientes e sustentáveis, em que tudo é
transformado em outros recursos, sem desperdício e sobras.
Muitas cidades da Europa que já adotaram o Resíduo Zero
mostram dados que a coleta seletiva pode chegar a alcançar taxas de
reciclagem de 80% a 90%. A cidade de São Francisco, nos Estados Unidos,
tem meta de diminuir 90% do que era aterrado, já consegue recuperar cerca de
80% dos seus resíduos.
Quando uma cidade decide adotar o conceito Resíduo Zero, isto
significa que ela irá:
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-Minimizar os impactos no solo, na água, no ar e nos ecossistemas, os quais
podem ser nocivos ou malignos a saúde humana, animal e vegetal;
-Elaborar produtos/processos de forma a reduzir o volume e a toxicidade dos
resíduos e materiais gerados;
-Cuidar e tratar os recursos naturais;
-Incentivar a sociedade a consumir produtos e serviços de empresas que
apliquem o conceito de Resíduo Zero.
Quando uma sociedade decide incorporar o Resíduo Zero ela está
decidida também por mudar sua cultura, pois nesse momento ela será baseada
na maior compreensão das relações entre produção, consumo e valorização
dos recursos naturais, públicos e econômicos.
2.2. Governo e a sustentabilidade das cidades
De acordo com Blumenschein (2012), já existem projetos no Brasil
de criação de indicadores de sustentabilidade. Contudo, grande parte dos
projetos é inviabilizada devido à parcialidade de atuação frente à necessidade
de integração do sistema, com intuito de torná-lo o mais sustentável possível.
Há no Brasil um encontro anual com a frente nacional de prefeitos
para premiar experiências administrativas sustentáveis acreditando que assim
haverá um efeito demonstrativo e multiplicador. “As experiências das cidades
podem ser replicadas em outro lugar para termos mais velocidade nas
soluções dos problemas brasileiros”, afirma Guimarães, 2012.
A campanha “Eu voto sustentável” é uma campanha existente no
Brasil que lembra aos eleitores que eles também são responsáveis por cobrar
dos candidatos adoções de compromissos para ter cidades mais sustentáveis.
Durante o Fórum Social Temático (FST), que o ocorreu no ano de
2012, diversos ambientalistas discutiram sobre os desafios da sustentabilidade.
No debate, Frei Betto observou que “desde já precisamos estar alertas ao
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processo eleitoral. Façam uma pauta de compromissos dos candidatos e
perguntem se eles se comprometem com os pontos da pauta. Vamos exigir
compromissos por escrito” (Frei Betto, 2012).
Outra questão importante para a responsabilização governamental
é o conflito de interesses entre as diversas esferas governamentais. As leis
precisam ser claras em relação à responsabilidade dos municípios, estados e a
nação como um todo para que seja possível monitorar e cobrar ações nessas
áreas.
2.3. Setor empresarial e a sustentabilidade das cidades
A responsabilidade e o envolvimento das empresas também são
fundamentais para garantir a sustentabilidade dos centros urbanos, pois elas
movimentam a economia e viabilizam a criação de trabalho e renda ao pensar
em soluções e redesenho de produtos que possibilitem o ciclo de logística
reversa.
Quando bem alinhada ao modelo de negócios, a sustentabilidade
pode funcionar como uma importante ferramenta para a inovação. Adotar
práticas tendo em vista questões como a mudança climática, o esgotamento de
recursos naturais, os níveis crescentes de metais pesados sobre os solos e a
produção desenfreada de resíduos tóxicos, pode se tornar um aspecto
diferenciador de uma empresa.
“A sabedoria popular sustenta que sobrevive o mais apto, o
mais forte, o maior e, em geral, aquele que vence a
concorrência. Isso pode até se aplicar a casos pontuais, mas
de maneira geral não se aplica nos ecossistemas. Nos
sistemas naturais é o mais adequado que prospera. Não é uma
questão de forças e fraquezas, é uma questão de encaixe: ser
funcional e efetivo. Ser o mais adequado implica em um
compromisso energético e material o ambiente em que se está
inserido. ” (Ungart e Mcdonough, 2014, pg.125)
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Ao invés de seguir os processos de produção de bens
convencionais, que consomem recursos da natureza e geram em fim de
ciclo produtos nocivos para o ecossistema, os negócios deveriam trabalhar
com a complexidade da natureza para gerar impactos positivos no meio
ambiente.
Possibilitar uma cadeia produtiva, com política integrada de
produtos, foco na produtividade de recursos e inclusão do consumo de energia
e geração de resíduos visando a otimização, permite as organizações a
tomarem decisões estratégicas como, por exemplo:
-Criar produtos de maior durabilidade, fácil manutenção e conserto, que
possam ser reutilizados de forma segura ou reciclados;
-Não utilizar matérias e substâncias tóxicas;
-Desestimular produção de bens com grande impacto ambiental, e procurar
substituí-los ou até mesmo retirá-los do mercado;
-Aproveitar insumos descartados em outras cadeias produtivas (economia
circular), minimizando a extração de novas matérias-primas e prolongando o
tempo de vida de reservas florestais, minerais etc.
2.4. Corresponsabilização em prol de centros urbanos
sustentáveis
A implementação de ações em prol de centros urbanos sustentáveis
por parte do setor empresarial, é amplamente possível uma vez que os
municípios sejam proativos e colaborativos. Ou seja, desde que os municípios
propiciem acessos a recursos públicos federais, como por exemplo, recursos
disponíveis para que seja possível implementar sistemas de recuperação de
resíduos sólidos.
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Figura 4: O mundo é uma balança. A sustentabilidade é o equilíbrio.
Disponível em: http://fbsustentabilidade.blogspot.com.br/2010/04/sustentabilidade.html Acesso em: 04/01/2016.
Podemos citar como um exemplo para entendermos bem a
corresponsabilização do governo e do setor empresarial a coleta seletiva –
processo de logística reversa. De acordo com a Política Nacional dos Resíduos
Sólidos, a responsabilidade pelo investimento e custeio da coleta seletiva dos
materiais recicláveis assim como a remuneração do trabalho de triagem e pré-
beneficiamento é do setor empresarial. Porém a coleta e tratamento dos
resíduos degradáveis e rejeito é do poder público de cada município.
Entre as empresas que se destacam no cenário nacional da logística
reversa de produtos, a empresa NATURA é a empresa brasileira mais
conhecida. O programa de logística reversa da Natura exerce estudos e
monitora o ciclo de vida das embalagens recicláveis de seus produtos. Os
pontos de venda dos produtos NATURA também funcionam como pontos de
coleta e de recebimento de embalagens usadas. Algumas de suas linhas de
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produtos fazem reutilização da embalagem, aumentando o ciclo de vida desta
embalagem e evitando o desperdício.
Existe a grande necessidade do incentivo às indústrias que
utilizam matéria-prima reciclada, o qual pode ser dado de diversas
formas, principalmente na forma de incentivos fiscais, permitindo que se
crie toda uma cadeia de recuperação de um dado material, com maior
recuperação quanto maior for a sua margem de lucro para os catadores
de material reciclável. Porém o que se vê no país hoje é exatamente o
contrário, pois ocorre a bitributação de matérias primas recicladas.
O governo cobra novos tributos em cima dos produtos feitos a
partir de matérias-primas de produtos que já foram utilizados e
descartados. Esse fato se opõe a PNRS que adota como um de seus
instrumentos, os incentivos fiscais, financeiros e creditícios (artigo 8º,
IX). No artigo 6º, VIII, como princípios e objetivos. O resíduo sólido
reutilizável e reciclável é reconhecido como um bem econômico e de
valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania pela
PNRS.
O reconhecimento do catador e das cooperativas como
agentes centrais na recuperação de resíduos descartados de forma
inadequada. Esses trabalhadores, na sua grande maioria, trabalham na
informalidade, sem qualquer tipo de amparo e capacitação concedida
pelo estado.
Esses agentes deveriam receber incentivos do governo para
prestar um serviço de qualidade, mas na verdade o que se vê são
pessoas trabalhando em condições precárias, sem utilizar, ou utilizar
pouco os equipamentos de proteção individual. Os catadores acabam
por direcionar as suas coletas para os materiais que tem maior valor de
mercado, pois serão esses que lhes trarão algum retorno financeiro,
deixando de lado aqueles que não os interessam financeiramente, mas
29
que não por isso não necessitem ser coletados para posterior reciclagem
ou outro tipo de processo logístico reverso.
30
CAPÍTULO III
A busca por cidades sustentáveis
Mais da metade da população mundial vive hoje (ano base 2014) em
cidades. Muitos movimentos e políticas por cidades sustentáveis vêm surgindo
em busca da melhoria da qualidade de vida nos centros urbanos.
Essas políticas e movimentos englobam propostas sobre:
Habitação;
Água;
Saneamento;
Resíduos sólidos;
Mobilidade;
Planejamento ambiental, entre outras.
Porém existem diversos desafios para integrar essas políticas. Ainda
é pouco o conhecimento de como tornar essas cidades em centros
sustentáveis. Pedro Wilson Guimarães, secretário, no ano de 2012, de
Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente do
Brasil, afirma que o desenvolvimento sustentável é fundamental para criar um
campo em cidades sustentáveis, saudáveis. Guimarães (2012) acredita que o
conceito de cidade sustentável é sinônimo de uma cidade em que o
planejamento urbano está ligado à gestão urbana. Pois existem muitos planos,
como os planos diretores e, os planos de educação, mas é preciso ter ação.
Já Raquel Naves Blumenschein, professora da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo e coordenadora do Laboratório do Ambiente
Construído, Inclusão e Sustentabilidade da Universidade de Brasília (UnB)
acredita que para falar de desenvolvimento sustentável, particularmente
urbano, por estarmos falando em cidades sustentáveis, é preciso,
primeiramente, aprender de maneira estratégica a integração entre os agentes,
ações e instrumentos.
31
Para Blumenschein, o grande desafio do século XXI é como o
governo, sociedade, setor produtivo, academia e 3º setor irão de fato integrar
as ações de maneira sinérgica para trabalhar para um resultado efetivo dessa
sustentabilidade viva dentro da cidade. Ela afirma que “Sustentabilidade tem
que envolver todas essas dimensões: política, econômica, culturais,
ambientais, ecológicas, territoriais. Tem que se pensar, qual é a nossa
estratégia. Cada agente. E como vai fazer para integrar cada estratégia, para
que possa de fato ter resultado. Ao se falar de desenvolvimento sustentável
tem que se falar de estratégia. Estratégia nacional, estratégia estadual,
estratégia municipal, todas integradas. Uma conversando com a outra”.
(Blumenschein, 2012)
Figura 5: Logística Reversa. O que vai, volta!
Disponível em: http://www.doeseulixo.org.br/ultimas-noticias/setor-produtivo-tem-prazo-para-cumprir-logistica-
reversa-das-embalagens Acesso em: 04/01/2016.
32
3.1. Breve histórico do gerenciamento dos resíduos sólidos na
Cidade do Rio de Janeiro
A primeira legislação federal a respeito do tratamento de lixo
no Brasil foi promulgada em 1854, a qual passa para o estado a
responsabilidade pela limpeza da cidade. A implantação de um sistema
de esgoto na cidade, em 1864, através de uma companhia inglesa, a
The Rio de Janeiro City Improvements Company Limited, foi um fator
marcante na limpeza urbana do Rio de Janeiro, a companhia possibilitou
uma especialização na limpeza urbana, voltada propriamente para os
dejetos humanos.
Em 1876 a firma de Aleixo Gary, representou um marco
importante para a limpeza urbana do Rio de Janeiro, motivo pelo qual
algumas pessoas usam a designação de “gari“, para empregados da
limpeza urbana. A empresa de Gary operou até 1891, quando os
serviços de limpeza passaram a ser de responsabilidade da Inspetoria
de Limpeza Pública, que iniciou em 1885 a construção de um forno para
queima de lixo em Manguinhos.
Em 1901, devido a dificuldades no sistema de coleta de
resíduos, foi criada a Superintendência de Limpeza Urbana. Já em 1940
foi criada a Diretoria de Limpeza Urbana (DLU), e, em 1975 foi criada a
Companhia de Limpeza Urbana (COMLURB) a qual atua até os dias de
hoje na cidade.
Quanto ao destino do lixo no Rio de Janeiro, a Ilha de
Sapucaia foi utilizada de 1865 até 1949. A partir de então, o lixo passou
a ser levado para o aterro do Retiro Saudoso (Caju), do Amorim e de
Cavalcanti (Marechal Hermes). Apenas na década de 70 a cidade
passou a ter um aterro controlado em Gramacho (Caxias), o qual fechou
33
em abril de 2012. O aterro não tinha controle de impermeabilização do
solo e ficava as margens de um manguezal.
A coleta seletiva foi implantada no Brasil em 1985, por
iniciativa da associação de moradores e da Universidade Federal
Fluminense (UFF) no bairro de São Francisco em Niterói. A prefeitura
cedeu um técnico temporariamente e fez a terraplanagem de um local
para o centro de triagem. Em 1988, Curitiba se torna a primeira cidade
do Brasil a ter um sistema integrado de coleta seletiva.
3.2. Educação ambiental
Para aumentar a eficiência de toda a cadeia reversa é necessário
investir em educação ambiental e conscientização da população. Mesmo
quando não há claro interesse financeiro, a educação ambiental e a
fiscalização eficiente podem levar o país a níveis de excelência acerca da
reciclagem de certos tipos de resíduos. É papel das empresas e do poder
público criar o arcabouço que possa resultar em processos reversos
sustentáveis, pois os trabalhos de coleta e fiscalização são fundamentais para
que resíduos perigosos ou não, recicláveis ou não, sejam separados e
destinados de forma eficiente.
Não basta projetar produtos e embalagens com materiais recicláveis,
nem levar em consideração apenas detalhes técnicos, é necessário garantir o
fluxo reverso dos materiais em condições adequadas para seu efetivo
reaproveitamento.
A sociedade civil, como cidadão e consumidor, tem papel de
destaque no descarte de resíduos e na fiscalização de áreas contaminadas.
Ela deve exercer seu papel pressionando os órgãos fiscalizadores para
autuarem e punirem os poluidores de forma categórica, e o órgão por sua vez
necessita de mecanismos que auxiliem sua fiscalização.
34
Sem educação ambiental não se pode obter o engajamento da
maioria da população na luta por cidades sustentáveis. É preciso que existam
incentivos governamentais, para que possam ser colocadas em prática as iniciativas
de logística reversa por parte dos setores públicos e privados, mas a continuidade
das políticas também depende da conscientização da população, da cobrança e
participação ativa do povo. É preciso aprender a fortalecer os mecanismos de
participação e controle social.
Figura 6: Educação Ambiental
Disponível em: http://ineam.com.br/tags/escola Acesso em 04/01/2016.
Já é possível notar um aumento de consciência ecológica nos
consumidores do século 21, e muitos já esperam que as empresas reduzam os
35
impactos negativos de seus negócios no meio ambiente. Essa conscientização dos
cidadãos tem gerado ações por parte de algumas empresas que vem trabalhando
em prol de comunicar ao público-alvo uma imagem institucional “ecologicamente
correta”.
Dentre as diversas definições de cidades sustentáveis que
encontramos no decorrer da nossa pesquisa, o vídeo da Luciana Burlamaqui
(2012)1 nos mostra que sustentabilidade é sinônimo de planejamento, boa
gestão, consciência política, participação, economia responsável, compromisso
com os valores humanos, cuidado com a natureza e com as pessoas, ação
local e visão global.
A consciência ambiental e o interesse da sociedade em participar
ativamente de movimentos que busquem minimizar os impactos ruins no meio
ambiente são fundamentais para o desenvolvimento sustentável do nosso
planeta.
Como afirmou o secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano
do Ministério do Meio Ambiente, Pedro Guimarães: “Temos que nos tornar
cidadãos. Cidadãos conscientes, protagonistas, participativos. Cada um fazer
sua parte que lhe cabe. Antes de reciclarmos podemos diminuir o uso,
podemos diminuir o lixo. Trabalharmos para construir uma cidade mais
solidária, mais democrática, mais participativa. Meio ambiente não é só uma
coisa que está lá longe. Ele está perto de nós. Por isso que meio ambiente, diz
respeito a políticas públicas que levam a uma cidade saudável, que tenha
planejamento, gestão, investimento na educação, na saúde e no bem-estar da
nossa população. Crescer, incluir e proteger a natureza. O homem e a mulher
que são os filhos desse planeta terra”. (Guimarães, 2012)
Se há falta de planejamento e de responsabilidade ambiental nos
municípios consequentemente haverá um crescimento desordenado dos
1 Vídeo realizado em parceria por: Rede Nossa São Paulo, Rede Social Brasileira por cidades justas e sustentáveis e pelo Instituto Ethos e transmitido no programa Cenas do Brasil em 05 jul. 2012.
36
mesmos, o que acabará gerando desigualdade social e desperdício de
recursos.
37
CONCLUSÃO
Como observamos o Brasil já se faz presente no movimento global
de cidades sustentáveis, porém ainda está dando os primeiros passos de forma
envergonhada e discreta. As cidades sustentáveis se fazem mais presentes no
exterior, em países europeus e norte-americanos. Porém, também seria bom
se o número de cidades sustentáveis pelo mundo fosse maior.
O planejamento e a responsabilidade socioambiental são duas das
principais características das gestões municipais que, quando de fato
realizadas, além de garantir o comprometimento, também tornam a cidade apta
a iniciar o trabalho de sustentabilidade. Entretanto, no que diz respeito ao
planejamento de uma cidade sustentável, não se pode concentrar todas as
forças em apenas uma ou duas de suas áreas. Quando se trata de cidades
sustentáveis o envolvimento do governo deve ser com a cidade como um todo.
Porém, podemos perceber que não há muitas políticas de incentivo
governamental que compensem para as empresas privadas os custos de
mudança de processos organizacionais ou que incentivem as organizações a
adotarem métodos produtivos de baixo impacto socioambiental.
Essa realidade descrita acima acaba dificultando o processo de
construção de cidades sustentáveis aliadas a prática de logística reversa no
setor empresarial. Além, do fato, de ainda haver uma falta de entendimento
sobre o tema, apesar do mesmo estar em destaque atualmente e estar cada
vez mais presente do dia a dia dos cidadãos.
A urgência para que os planos saiam dos papéis e idealizações e
sejam, de fato, colocados em prática para que, efetivamente, os resultados
sejam alcançados é altamente perceptível devido aos problemas enfrentados
na reutilização, na reciclagem e no reaproveitamento de recursos pela
população e pelas empresas.
38
As participações ativas e o entendimento da corresponsabilização
do governo e do setor empresarial são pontos fundamentais para se ter um
ambiente saudável em harmonia com o meio e o povo, ou seja, centros
urbanos sustentáveis.
39
BIBLIOGRAFIA
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42
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I Logística reversa e a gestão sustentável nos centros urbanos 12 1.1. Logística reversa 13 CAPÍTULO II Corresponsabilização – governo e o setor empresarial 18 2.1. Cidades sustentáveis 22 2.2. Governo e a sustentabilidade nas cidades 24 2.3. Setor empresarial e a sustentabilidade nas cidades 25 2.4. Corresponsabilização em prol de centros urbanos sustentáveis 26 CAPÍTULO III A busca por cidades sustentáveis 30 3.1 Breve histórico do gerenciamento dos resíduos sólidos na Cidade do Rio de Janeiro 32 3.2 Educação Ambiental 33 CONCLUSÃO 37 BIBLIOGRAFIA 39 WEBGRAFIA 41 ÍNDICE 42 ÍNDICE DE FIGURAS 43 ANEXO 01 44
43
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 – Representação esquemática dos processos logísticos, direto e
reverso 15
Figura 2 – Hierarquia de Gestão da PNRS 21
Figura 3 – Estações-tubo na Praça Rui Barbosa - Curitiba 22
Figura 4 – O mundo é uma balança. A sustentabilidade é o equilíbrio. 27
Figura 5 – Logística Reversa: o que vai, volta! 31
Figura 6 – Educação ambiental 34
44
ANEXO 01
Siglas
COMLURB – Companhia de Limpeza Urbana
DLU – Diretoria de Limpeza Urbana
FST – Fórum social temático
PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos
UFF – Universidade Federal Fluminense
UnB – Universidade de Brasília