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I Fórum Temático de Redes Organizacionais: Resultados Caros colegas pesquisadores de redes. Após reunir as informações de análise dos vídeos, atas dos coordenadores dos debates, contribuições de alunos da USCS no resumo crítico dos debates (a quem já agradecemos), relatos formais e informais dos participantes; apresentamos este relatório dos resultados do I Fórum de Redes Organizacionais realizado em Junho de 2016. Lembramos que o objetivo principal era o mapeamento do pensamento dos pesquisadores sobre os estudos de redes no Brasil e os resultados mostram que o Fórum atingiu seus objetivos e qualificou-se para realizar um segundo encontro. I Contexto da ideia do Fórum Por que esse Fórum? A ideia nasceu da evidência da importância do assunto de redes nos fenômenos e nas discussões sobre negócios, sociedade, políticas públicas, redes sociais na internet, grupos de cooperação; mostrando que o paradigma da ação isolada e da competição isolada aos poucos se transforma para a vida conectada e para a competição entre grupos. Esses fenômenos coletivos também ocorrem no Brasil, em várias frentes, algumas políticas, como os projetos de mercado solidário do ministério do trabalho, outras sociais, como as redes de cooperativas de material reciclável, outras experimentais e acadêmicas, como as redes de negócios que nascem nas incubadoras, outras de desenvolvimento local, como a formação de associações e cooperativas no nordeste, por exemplo, na linha de turismo do rio São Francisco, outras num esforço coletivo do governo, empresários e universidades, como o Programa de Redes de Cooperação no Sul, enfim existem vários exemplos.

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I Fórum Temático de Redes Organizacionais: Resultados

Caros colegas pesquisadores de redes.

Após reunir as informações de análise dos vídeos, atas dos coordenadores dos debates, contribuições de alunos da USCS no resumo crítico dos debates (a quem já agradecemos), relatos formais e informais dos participantes; apresentamos este relatório dos resultados do I Fórum de Redes Organizacionais realizado em Junho de 2016.

Lembramos que o objetivo principal era o mapeamento do pensamento dos pesquisadores sobre os estudos de redes no Brasil e os resultados mostram que o Fórum atingiu seus objetivos e qualificou-se para realizar um segundo encontro.

I Contexto da ideia do Fórum

Por que esse Fórum?A ideia nasceu da evidência da importância do assunto de redes nos

fenômenos e nas discussões sobre negócios, sociedade, políticas públicas, redes sociais na internet, grupos de cooperação; mostrando que o paradigma da ação isolada e da competição isolada aos poucos se transforma para a vida conectada e para a competição entre grupos.

Esses fenômenos coletivos também ocorrem no Brasil, em várias frentes, algumas políticas, como os projetos de mercado solidário do ministério do trabalho, outras sociais, como as redes de cooperativas de material reciclável, outras experimentais e acadêmicas, como as redes de negócios que nascem nas incubadoras, outras de desenvolvimento local, como a formação de associações e cooperativas no nordeste, por exemplo, na linha de turismo do rio São Francisco, outras num esforço coletivo do governo, empresários e universidades, como o Programa de Redes de Cooperação no Sul, enfim existem vários exemplos.

Esses fenômenos criaram campos de investigação e um leque de temas que são debatidos no mundo todo, inclusive aqui no Brasil. No entanto, conforme concluiu a comissão organizadora, nos seus encontros anteriores ao Fórum, falta uma fotografia da produção brasileira; falta um espaço comum de discussão sobre as redes; falta criarmos uma rede de cooperação dos pesquisadores de redes, muito embora existam ações nesse sentido, como o Colóquio REI da UFLA e UNIP; o Fórum de Redes que ocorre em Dezembro em São Leopoldo; o grupo de estudos de análises sociais na UFMG, com o Sílvio Higgins; as palestras bimestrais do GeRedes, da Unisinos, organizadas pelo Vershoore e pelo Wegner, enfim, existem várias iniciativas e o Fórum pretende ser um espaço de aglutinação das informações sobre essas iniciativas.

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Foi assim que surgiu a ideia de criar um fórum de debates sobre os temas de redes, para mapear, registrar e comentar as ideias de pesquisadores brasileiros e os rumos da pesquisa sobre redes no Brasil. A comissão inicial teve representantes da UNIP- Universidade Paulista, UFLA- Universidade Federal de Lavras, USCS- Universidade de São Caetano do Sul e IMED- Faculdade Meridional, as quais tem linhas de pesquisas sobre redes.

O formato em Fórum foi eleito por acentuar o caráter de discussão do evento, diferente de congressos. A proposta consistiu em formar salas temáticas, com uma equipe de debatedores e uma plateia interessada. Para a eleição dos temas foram levantados os nomes de autores com citações vinculadas a trabalhos de redes, chegando a uma lista inicial de 34 pesquisadores, depois ampliada para 54, conforme novos cruzamentos e informações.

Esses 54 pesquisadores votaram em cinco temas de redes para serem debatidos e a repercussão foi muito positiva, porque pessoas que não poderiam participar presencialmente enviaram comentários e felicitações pela iniciativa (como os colegas Emil Hoffman e Edgar Reyes da UNB e Silvio Higgins da UFMG).

II Os temas eleitos e as mesasAo final de uma votação bem equilibrada e considerando os limites e

cuidados de um primeiro encontro, foram escolhidos cinco temas de debates.

Tema 1: Mapa de pesquisas sobre redes no Brasil- teorias e metodologiasMinuta: Discussão sobre as tendências das pesquisas sobre redes no Brasil. Especificamente pretende-se discutir as teorias mais utilizadas, a dominância de metodologias; os temas mais quentes; os problemas e os limites das pesquisas.Coordenador: Ernesto Giglio (UNIP- SP)Debatedores1. Ernesto Giglio (UNIP –SP)2. Juliano Alves (UFSM- RS)3. Nilson C. Bertoli (UFSM- RS)4. Breno Augusto Diniz Pereira (UFSM- RS) 5. Luiz Marcelo Antonialli (UFLA)Assistência: Aríscia Rongetta; Estevam Freitas; Isabel Toledo; José Celso Contador; Luiz Fernando Fritz Filho; Marcia Scarpin; Pedro Paulo de Souza Conte; Rubens Gomes Gonçalves; Váldeson Amaro Lima.

Tema 2: Sobre gerência de redesMinuta: Redes com diferentes características e em contextos variados demandam modos distintos de gestão. Esta sala tem a intenção de debater as principais contribuições ao tema e estabelecer caminhos para o avanço da pesquisa nacional nos aspectos que tratam das funções, mecanismos, instrumentos da gestão de redes e seu impacto nos resultados das empresas participantes. Coordenador: Jorge Verschoore (UNISINOS)Debatedores:1. Jorge Verschoore (UNISINOS)2. Douglas Wegner (UNISINOS) (via skype)

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3. Denis Don (USCS- São Caetano- SP)4. Cleber Carvalho (UFLA- MG)5. Flávio Macau (UNIP- SP)Assistência: Alejandro Ramirez; Ivan de Souza Dutra; Jeferson Saraiva Fuza; Sandro Costa Gonçalves

Tema 3: Poder: A variável esquecida nos estudos sobre redesMinuta: Considera-se que o poder é um conceito chave para compreender e descrever as relações sociais nas redes. Esta mesa discute a produção nacional sobre o poder nas redes, considerando as diferentes vertentes teóricas e metodológicas que conformam o campo de estudos sobre redes nas ciências humanas e sociais aplicadas. Coordenador: Jandir Pauli (IMED- RS).Debatedores:1. Jandir Pauli (IMED- RS)2. Arnaldo Ryngelblum (UNIP-SP)3. Walter Sátyro (UNIP)4. Sylmara Lopes Francelino Gonçalves-DiasAssistência: Andrea Lanfranchi; Daniele Nery; Ivonaldo Vicente Silva; Laysce Moura; Neusa Andrade; Vivian Fernandes Marinho Ferreira

Tema 4: Ações colaborativas em projetos, pesquisa e inovaçãoMinuta: A discussão está centrada na ideia de P&D Colaborativo, Inovação Colaborativa e demais projetos que tenham a ideia de complementaridade de competências e recursos por meio de ações e práticas colaborativas. Aqui envolve o crescente fenômeno de CRIAR em conjunto (Co-Criar). Coordenador: Kadigia Faccin (UNISINOS)Debatedores:1. Kadigia Faccin (UNISINOS)2. Serge Schimdt (UNISINOS)3. Celso Rimoli (UNIP)Assistência: Ana Cristina de Faria; Ana Paula Morais Boteon de Lima; Anelise Rebelato Mozzato; Angelica Luqueze; Cristina Espinheira Costa Pereira; Diego Fernandes; Fernanda Basso; Geciane Porto; Jessica Takano; José Roberto Gamba; Luciana Massaro Onusic; Maria Célia Mitidiero; Paulette Siekierski

Tema 5: Governança e fracassos em redes. Minuta: A discussão pretende focar na governança como pilar de sucesso, ou fracasso das redes. A proposição para debate é que o fracasso é o não alcance dos objetivos do grupo. Pretende-se apresentar casos de fracassos e discutir se a governança foi o motivo principal.Coordenador: Marco P. da Silveira (USCS- São Caetano- SP)Debatedores:1. Marco P. da Silveira (USCS- São Caetano- SP)2. Suellen Sotille (IMED- RS)3. Marcio Machado (UNIP-SP)4. Renato Telles (UNIP-SP)5. João Maurício Gama Boaventura (USP/UNIP)

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Assistência: Aline Lima; Carlos Eduardo Santos; Denis Luiz de Castro Costa; Domingos Alves Corrêa Neto; Eduardo Armando; Paulo Roberto Alves; Regiane Balestra; Sandra Bergamini Leonardo

Com uma dose de frustração, alguns temas sugeridos não entraram na pauta, mas já se colocam como sugestões para os próximos fóruns. Entre eles: Redes de Políticas Públicas; Capacidades e limites de Análises Estruturais; Discussões sobre redes intra e inter organizacionais; Estratégias da Rede x Estratégias de Rede.

III. A dinâmica do encontroO Fórum ocorreu no dia 9 de Junho de 2016, nas dependências do

Campus Indianópolis da Universidade Paulista, na Rua Bacelar, 1212, em São Paulo e contou com a presença de 63 pessoas, de vários estados do Brasil: São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso, Bahia, Paraná e um representante da Colômbia.

O evento teve três momentos distintos, iniciando com a abertura, explicitando-se o objetivo do Fórum, apresentando a comissão, os debatedores e já realizando uma primeira aproximação entre os pesquisadores, apresentando os coordenadores presentes e os grandes temas desenvolvidos em seus programas. No segundo momento ocorreram os debates em cinco salas, com o tempo de 90 minutos e no terceiro e último momento todos se reuniram e ouviram um breve relato das convergências das discussões.

Todos esses momentos foram gravados e os vídeos estão disponíveis no site forumredes.wordpress.com; ou no youtube, canal forumredes.

O vídeo de abertura, com os objetivos e a apresentação de algumas pessoas que são coordenadores nos seus programas pode ser visto no link https://youtu.be/mkE3kHBfkso

O vídeo de fechamento, com a minuta das discussões pode ser visto no link https://youtu.be/rUVoYrPsbIc.

Os demais vídeos e os detalhes da discussão de cada mesa são apresentados a seguir.

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IV. O mapa que surgiu dos debates.

1. Sobre o tema 1: Mapa de pesquisas sobre redes no BrasilLink para o vídeo: https://youtu.be/ASP_bv5Yz-k

Resumo: A produção brasileira não tem uma marca, uma teoria, ou metodologia que a identifique. A maioria da produção replica teorias, modelos e afirmativas de origem internacional. No entanto, os debatedores entendem que é possível criar uma marca brasileira, seja pela especificidade das suas redes (por exemplo, o mercado solidário no Nordeste, ou as características das redes conforme experiência de gestão do programa de redes no Sul), seja pela metodologia (por exemplo, o método de acompanhamento de formação de cooperativas, realizado por incubadoras das universidades, cujos relatos as vezes ficam restritos nessas incubadoras). O que parece estar faltando é uma sinergia de esforços entre os programas.

Discussão: A pauta de trabalho colocada na mesa foi discutir sobre as abordagens

teóricas mais utilizadas nos estudos sobre rede no Brasil; sobre as metodologias e os temas mais investigados e sobre os problemas e limites desse quadro de produção brasileira

A primeira constatação, resultado de documento que circulou anteriormente entre os integrantes da mesa, sobre revisões da produção brasileira sobre redes, é que desde as primeiras revisões sobre pesquisas de redes no Brasil ficou claro que certas teorias e certos procedimentos se repetem, com pouca reflexão sobre suas competências e limites. Também parece claro que existem ilhas de produção sobre redes no Brasil, com linhas de programas e dentro delas alguns pesquisadores mais dedicados, mas não existe (nessas ilhas) uma marca da produção brasileira, ou algum ponto teórico tupiniquim que pudesse fazer parte da galeria internacional.

O grupo levantou alguns pontos que merecem reflexão mais aprofundada. Um deles, absolutamente básico, é o conceito de rede. A labilidade do conceito nas pesquisas brasileiras praticamente dá por suposto que há uma rede em quase qualquer negociação, o que a define como extensão de formatos de mercado e de hierarquia. Este grupo trocou informações antes do Fórum, circulando a questão sobre “O que é uma rede”, obtendo respostas nacionais e internacionais (Todeva e Uzzi) e o interessante é que em alguns programas, como na UFSM e na UNIP há um consenso (quase uma cartilha) para se considerar que determinado grupo pode ser classificado como uma rede. Conforme posição dos debatedores, é interessante que se coloque e se aceite um conceito de rede como sendo um formato distinto de mercado e de hierarquia (mesmo existindo muita discussão sobre esse ponto), porque a distinção de um objeto de investigação é um dos primeiros passos para a construção de uma teoria de redes.

Outro ponto com pouca reflexão são os tipos de pesquisas, descritivas e qualitativas, com técnicas de entrevistas e questionários. Partindo da crença que o objeto primário de análise de uma rede é a troca, o fluxo; que é a base dos processos, dinâmica e estrutura; será que entrevistas e questionários não são limitados para essa tarefa? Discutiu-se que técnicas de coleta de dinâmica de grupo, tais como focus group e técnicas de laboratório de grupo são

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(conforme relatos de experiências realizadas) bastante competentes para captar fluxos, sinais de relações sociais, organização de papéis, entre outros sinais que uma dinâmica de grupo oferece. É lógico que os debatedores reconhecem as dificuldades operacionais para se realizarem técnicas de grupo, mas é necessário ler sobre essas técnicas e tentar aplicar.

Outro ponto que gerou discussão é sobre os campos de investigação. Nossos programas funcionam pressionados com tempos e os alunos aproveitam seus contatos para realizar o seu campo. A consequência é que praticamente tudo vira tema de pesquisa, embora alguns temas, tais como agronegócio, turismo, saúde, sistemas financeiros; são exemplos bem claros de tarefas e negócios que se explicam adequadamente no formato de redes. Uma concentração de campos de investigação, que sejam importantes para o nosso País, criaria sinergia de conhecimento e esforços. Alguns debatedores relataram experiências positivas de alunos novos replicarem e continuarem pesquisas anteriores, caracterizando trabalhos longitudinais. Conclusão:

Apesar de algum avanço das abordagens sociais nas pesquisas de redes e da inclusão das políticas públicas e da sustentabilidade, a maior parte das pesquisas brasileiras segue padrões mais positivistas, tais como métricas de estrutura da rede; repete modelos e afirmativas, tais como citações de Gulati, Granovetter, Zaheer, Grandori; mostrando baixa propensão para um projeto, um início de uma escola brasileira, a partir das nossas características sociais, tais como as milhares de associações informais que existem nas grandes capitais; ou as centenas de cooperativas de desenvolvimento local, especialmente no Nordeste.

O grupo concorda que a repetição de eventos que unem os pesquisadores, tais como o Fórum, podem ajudar na sinergia de construção de algumas diretrizes mais organizadas de pesquisa, do que o quadro disperso que se apresenta hoje.

Entre as sugestões convergentes estão: Buscar fundamentos de teorias de ação coletiva, como as teorias de dinâmica de grupo, para construir instrumentos de pesquisa mais competentes da análise da dinâmica de um grupo; bem como teorias construtivistas (não analíticas) para modelos integrados (ao invés de variáveis isoladas); insistir com alunos para centrarem suas pesquisas em campos de investigação promissores, como o agronegócio e replicar pesquisas em novas turmas; valorizar e até se colocar como prioridade construir conhecimento da prática (segundo nosso colega Emil nossa realidade de redes é bem diferente da Europa, onde ele está realizando uma pesquisa) para a teoria, já que nosso contexto é específico.

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2. Sobre o tema 2: Gerência de RedesLink para o vídeo: https://youtu.be/o_ZnbIy59Iw

Resumo: Não temos um modelo claramente estabelecido de gerência de redes, embora existam experiências sólidas, como o programa de redes de cooperação no Rio Grande do Sul. O tema é raramente debatido e investigado e existem perguntas cruciais ainda sem uma boa resposta.

Discussão: A primeira convergência da discussão foi sobre a importância de se

discutir (e de se definir claramente) a gerência de redes, já que a realidade de mercado mostra várias iniciativas de ações coletivas, que necessitam de modelos específicos de gestão.

Será que a gestão de uma rede segue os mesmos padrões da gestão de uma empresa isolada? A resposta é não, mas a segunda resposta é que não se sabe direito qual é esse novo modelo. Prova disso são os raros estudos de gestão no Brasil e sua pequena importância relativa em trilhas de temas nos congressos, como do EnAnpad.

Embora o quadro seja de raridade de conhecimentos, programas como o de Redes de Cooperação, no Rio Grande do Sul, oferecem material para aprendizado da gerência de redes. Os pesquisadores desse programa, por exemplo, consideram que estudos da nova sociologia econômica, tais como do autor R. Swedberg, podem indicar um caminho sobre a gerência de redes. Algumas dessas sugestões encontram-se no livro Redes de Cooperação empresarial: Estratégias de Gestão na nova econômica, dos pesquisadores Balestrin e Verschoore.

Algumas das perguntas que precisam ser respondidas sobre a gerência de redes: (a) A rede é uma entidade própria, mais do que a soma de seus participantes? (conforme sugeriu Zaccarelli, na afirmativa de entidade supra empresarial); (b) A gestão deve focar mais na solução dos conflitos, ou mais na busca dos resultados (ou, em outras palavras, o que alavanca o que: relacionamentos alavancam resultados, ou resultados resolvem relacionamentos?)?; (c) O gestor deve adaptar, isto é, forçar a convergência de objetivos, interesses e capacidades, ou deve preservar as diferenças entre atores, mesmo como risco de conflitos de assimetrias?

São perguntas que exigem uma clara ligação entre os conceitos e as formas de ação no grupo. Se um gestor se apropria do conceito de laços fortes e fracos de Granovetter, sua ação será pautada pelo desenvolvimento dos relacionamentos como base para se alcançar os resultados. Já se ele adota um conceito mais racional e econômico de redes, por exemplo, no conceito de governança como gestão dos recursos coletivos, então sua ação será pautada pelos mecanismos de otimização dos recursos para se alcançar os resultados.

Sobre esse ponto das categorias governança e gestão o grupo conversou sobre a distinção possível. Existem conceitos de governança que se referem aos mecanismos de controles e incentivos de ações coletivas, praticamente uma questão de dinâmica de grupo, independentemente dos resultados. Essa abordagem é mais acadêmica e de análise. Por outro lado, existem conceitos de governança no sentido da gestão da rede, com o fim primeiro e último de se alcançar os resultados. Essa abordagem é mais

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gerencial. É claro que as duas se interconectam, mas a discussão no grupo é sobre a gerencia.

Sobre esse ponto discutiu-se brevemente os passos de gerência das redes de cooperação no Rio Grande do Sul, desde seus passos iniciais de conscientização sobre ações coletivas, até passos operacionais bem específicos, como layout de marca.

Alguns pontos não convergentes no grupo e que podem determinar discussões futuras:(a) Esclarecer com maior precisão a diferença e a conexão entre governança como dinâmica e governança como gestão. O texto de Provan e Kenis, Modes of network governance: Structure, management and effectiveness; Journal of Public Administration Research and Theory, v. 18, n. 2, p. 229-252, 2007; continua sendo um bom ponto de partida da discussão. (b) Como fica o poder nessa discussão? Pode e deve um gerente de uma rede assumir o poder e o controle, ou ser um consultor, mantendo a independência de decisão no grupo?(c) Como consequência imediata da pergunta anterior, surge outra: Qual seria um modelo mais eficiente de gerência de redes: (1) De forma democrática, com participação de todos, mesmo existindo um comitê de representação?; (2) De forma centralizada, mas ainda com atores que atuam na rede, isto é, fazem parte dos processos produtivos das tarefas?; (3) Um gestor externo, nos moldes clássicos dos consultores?(d) Como utilizar os princípios dos sistemas adaptativos complexos para compreender que uma rede é uma entidade distinta das características e da soma de seus atores-empresas? Sobre esse ponto o grupo concorda que tudo parte da visão do coletivo: Estruturas coletivas, estratégias coletivas e processos coletivos em redes de cooperação.(e) Como gerenciar os interesses e comportamentos oportunistas de atores na rede?

Finalmente o grupo indicou alguns campos de intersecção com a gerência de redes:• A gerência de rede com foco em conexão com ações de sustentabilidade, entendendo-se que a responsabilidade social e a sustentabilidade são caminhos de vantagens competitivas.• A Sociometria como ferramenta analítica para estudo de interações entre grupos em redes sociais. O grupo afirma que ainda não se utilizou plenamente a ferramenta de Análise social das redes para ações gerenciais.• Framework para analisar a sociedade em rede no contexto brasileiro. Tal como se afirmou na Mesa 1, sobre produção acadêmica brasileira, este grupo também indica que temos particularidades que podem ensejar uma escola brasileira sobre redes, ou, pelo menos, sobre formas de gestão que são adaptadas à nossa cultura, contexto social e econômico. • Sistematizar um modelo de gestão, construindo ações e indicadores para cada uma delas.

Conclusão: Não temos um modelo claro de gerência de redes, mas temos casos, experiências e programas de desenvolvimento de redes, como no Rio Grande do Sul e em boa parte do Nordeste, que podem oferecer as bases empíricas de um modelo. A questão indefinida é sobre a base teórica desse

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modelo, se fundado em dinâmica de grupo, se fundado em bases construtivistas-históricas; se fundado em variáveis de desempenho, se seguindo modelos tradicionais de estratégia; entre outros caminhos. O grupo criou várias perguntas e sugestões de discussões futuras, para quem quiser debater, ou escrever sobre o assunto.

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3. Sobre o tema 3: Poder: A variável esquecida Link para o vídeo: (sugere-se assistir o vídeo, pois existem citações de vários exemplos, não reproduzidos neste texto) https://youtu.be/-5gCkbqggy4

Resumo: Ainda se procura uma base conceitual competente para investigação e ação do tema do poder nas redes. Autores clássicos podem ajudar em parte na construção de uma teoria do poder nas redes, mas existem limitações já que as teorias clássicas dificilmente se ocupavam de arranjos coletivos. A mistura de vários modelos explicativos pode apresentar incoerências de lógica interna. Assim existem grandes desafios teóricos, metodológicos, de indicadores e modelos de gestão sobre o tema do poder nas redes. Essa pode ser uma das explicações desse constructo ser esquecido nos estudos sobre redes.

Discussão: O início do debate foi marcado pela posição do coordenador sobre a

dificuldade (e dúvida) de se chegar numa convergência sobre o conceito de poder e ainda por cima aplicá-lo em redes. Um dos debatedores lembra que no institucionalismo alguns autores se referem a um poder estrutural, ou institucional e um poder individual, ambos podendo ser aplicados para a compreensão das redes.

O grupo concorda que existe confusão quando se debate, ou se escreve sobre o poder nas redes, por exemplo, quando se utilizam divisões como indivíduo e estrutura (no caso de análises sociais de redes), ou quando se utiliza o conceito de posse de recurso. O conceito de formato de mercado é outra forma de entender o poder, conforme a força de influência de uma organização sobre outras (por exemplo, das grandes empresas sobre as pequenas).

Outra questão sobre o poder é o princípio de análise, isto é, se o pesquisador tem a intenção de analisar manifestações do poder, ou de propor modelos normativos de poder.

Apresentam-se os princípios de análise de mercado realizada por Polanyi. Para este autor a transformação para formatos coletivos de ação apresenta características de reciprocidade, domesticidade, redistribuição e o princípio de mercado. Esses 4 princípios são modelos de coordenação econômica da sociedade, onde se procura inserir o ator isolado em relações sociais (na crença que não existe ator isolado). Essa é a sociologia econômica, puxada por autores bem conhecidos como Castells e Granovetter, e outros não tão conhecidos como Luc Boltanski (questionando como o capitalismo se mantém, mesmo provocando tanta desigualdade). Conforme Castells (veja o livro A Identidade) a sociedade em rede apresenta uma nova forma de poder, disseminado, não centralizado, pouco controlável e que possibilita ver com maior clareza as manifestações difusas do poder. Qualquer telefone celular, em qualquer parte do mundo, pode se transformar num instrumento de poder, em posse e uso de alguém anônimo.

Não é para menos que sistemas autocráticos, como certos governos de Países com vocação ditatorial, buscam de todas as formas controlar a rede da internet.

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Essas são questões macrossociais e relevantes e trabalham com lógicas que demonstram para onde a sociedade está caminhando com foco na Europa principalmente. Como ficaria o estudo do poder no micro social e especialmente nas redes? Será que os trabalhos de Foucault e Weber podem contribuir para uma teoria do poder nas redes? A questão central a ser tratada é a assimetria, que pode ser investigada numa lógica sistêmica (do grupo), ou numa lógica de cada ator. Uma rede pode ser um arranjo para se obter poder (lógica sistêmica), ou pode ser analisada como jogo de forças para se obter posições de poder dentro do grupo (lógica do poder para cada ator).

Um dos participantes coloca como exemplo a Rua Santa Ifigênia, em São Paulo, um cluster forte de produtos de informática. Segundo o depoente, há forte concorrência interna, mas também cooperação entre os lojistas e até certa cortina de proteção contra novos entrantes. O exemplo mostra o poder do grupo e também a luta de poder entre os atores. Complementando o item, outro participante (Walter Sátyro) que realizou extensa revisão bibliográfica sobre o poder nas redes, aponta que se utilizam princípios de poder que são incoerentes com a lógica da ação coletiva e que o uso de princípios do micro poder de Foucault nem sempre é adequado. Este debatedor concluiu no seu trabalho que qualquer assimetria na rede é o poder, conclusão, é lógico, discutível. Outros participantes manifestam a mesma percepção sobre o uso indiscriminado, as vezes mal compreendido, das afirmativas de Foucault.

O grupo manifesta que de fato certas junções de princípios de Foucault e de ações coletivas em redes nem sempre se coadunam e que a literatura sobre poder repousa em três grandes constructos, ou paradigmas: (a) a teoria crítica que vem da tradição marxista que coloca a discussão do poder no estado; (b) teoria voluntarista de Weber; (c) teoria sistêmica que vem de Luhmann.

Por outro lado, se considerarmos que as redes se caracterizam por assimetrias, que geram tensões e as vezes conflitos no grupo, então alguns princípios de estrutura de poder de Foucault podem ser utilizados para se compreender o poder nas redes.

Foi colocado que o institucionalismo tem certo grau de parentesco com teorias sociológicas de poder, como a de Foucault, já que entende que as estruturas sociais estão montadas em três pilares: o regulativo que são leis e regras; o normativo e tem também o cultural cognitivo. A forma como somos obrigados ou sugeridos a trabalhar está balizada nesses pilares. Isso nos mostra uma visão institucional que está acima da pessoa como ser único. Então o institucionalismo também pode contribuir para a compreensão do poder nas redes.

Outros debatedores colocam que há convergência entre visões institucionalistas, evolucionistas, construtivistas, durkeimnianas e da sociologia econômica que permitem diálogos a partir do princípio que mercados são campos de relações sociais. Colocam que talvez essa falta de esclarecimento sobre o poder pode ser o motivo de alguns fracassos de redes. Linhas mais tradicionais da Administração, como a abordagem dos stakeholders e teoria da dependência de recursos também podem contribuir para alguma compreensão do poder nas redes.

Conclusão:

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Como ficou claro na discussão deste grupo, ainda se procura uma base conceitual competente para investigação e ação do tema do poder nas redes. A discussão transitou desde autores clássicos, como Marx e Weber, para autores com teorias já com certa idade, como as afirmativas de Polanyi, até autores mais contemporâneos, como Castells. No entanto, quando se consideram exemplos da rua Santa Ifigênia, em São Paulo, parece que nenhum modelo é competente para explicar tal complexidade. A mistura de vários modelos explicativos também tem os seus perigos de lógica interna da explicação construída.

Assim existem grandes desafios teóricos, metodológicos, de indicadores e modelos de gestão sobre o tema do poder nas redes. Essa pode ser uma das explicações desse constructo ser esquecido nos estudos sobre redes.

Sobre o tema de gerência do poder nas redes, o grupo entende que precisa de mais tempo para discutir esse tema.

Uma sugestão é que esse grupo continuasse se encontrando eletronicamente para debater o assunto (a comissão do Fórum não tem informações de realização dessa proposta). Outras ideias foram: (a) ampliar o debate para um encontro específico sobre poder, talvez no formato de congresso; (b) convidar revistas para participarem desses encontros.

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4. Sobre o tema 4: Ações colaborativas em projetos, pesquisa e inovação Link para o vídeo: https://youtu.be/uFv9yU01Q-Y

Resumo: A palavra chave para pesquisa e inovação em redes é colaboração, o que significa a integração de organizações que, no Brasil, ainda operam de forma muito desconectada, tais como empresas, governo, ongs, instituições sociais, núcleos de pesquisa em universidades. O que se percebe é a ausência de uma consciência e disposição para ações conjuntas. O exemplo positivo que parece mais próximo dessa situação de colaboração é o de parques tecnológicos, embora ainda predominem objetivos de gestação de empresas.

Discussão: A primeira convergência na discussão sobre estudos de inovação em

redes é a palavra colaboração, o que remete à participação de organizações diversas, incluindo universidades. Em alguns congressos internacionais se discute o papel de uma universidade, destacando sua função empreendedora, ao passo que no Brasil essa situação ainda é plano distante. Neste ponto o grupo converge com a Mesa 1, sobre produção acadêmica brasileira, no sentido de repetição sem inovação.

Foi citado o modelo da hélice tríplice (Todeva e outros autores) como uma proposta a ser pensada no contexto de redes colaborativas (embora não fosse essa a intenção inicial dos criadores do modelo, mas está implícita a ideia de colaboração e ação coletiva).

No Brasil surgem estudos mais frequentes sobre parques tecnológicos, onde a colaboração entre governo, escolas e empresas privadas é mais clara, mas ainda predominam estudos de gestão de formação de empresas de tecnologia e de obtenção de resultados. O pensamento sobre ação coletiva, sobre redes, ainda é incipiente.

Conforme a coordenadora do debate (Kadigia Faccin), a partir de sua experiência no exterior, os estudos colaborativos sobre inovação devem ir além da visão schumpeteriana (além dos vínculos lucrativos), para então entender a inovação como processo de criação do conhecimento. Esse enquadre necessita de um conceito de inovação aberta em práticas colaborativas de redes, além dos conceitos tradicionais de inovação radical e incremental.

Apesar de existirem os sinais do caminho a ser percorrido, são raros os estudos sobre esse campo no Brasil, mas existem muitos exemplos, vários negativos e alguns positivos. Será que os fracassos poderiam ser explicados pela perspectiva social de redes, isto é, pelos relacionamentos sociais?

Conclusão: A questão da integração entre empresas, governo e universidade (como supõe o modelo da hélice tríplice) é lacuna antiga no Brasil. A grande crítica às universidades é que elas produzem peças acadêmicas que apenas engrossam suas bibliotecas, sem conexão com a realidade, ou aplicação. Uma das exceções está no desenvolvimento de parques tecnológicos, incentivados pela Secretaria do Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação. Nos sites do governo verifica-se a presença marcante de universidades que tem programas de desenvolvimento tecnológicos e incubadoras de empresas de tecnologia.

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5. Sobre o tema 5. Governança e fracassos de redes.Link para o vídeo: https://youtu.be/U-CwLHLON1I

Resumo: O grupo dividiu sua discussão sobre o que seria um fracasso de redes e depois buscou unir o tema com a governança. Apesar de parecer ser uma resposta óbvia, que a governança é o motivo de sucesso, ou fracasso de uma rede, não é fácil estabelecer essa relação teoricamente. Uma das dificuldades está no próprio conceito de governança, que pode seguir trilhas da formalidade, informalidade, gestão e estrutura.

Discussão: O grupo iniciou sua discussão levantando as ideias sobre o

desenvolvimento de redes. Existem perspectivas evolucionárias (no sentido histórico), perspectivas estruturais e perspectivas de conflitos de interesses. Essas perspectivas são desenvolvidas a partir de paradigmas diversos, racionais, ou econômicos, ou sociais, ou políticos-institucionais.

Um debatedor lembra que o autor Zaccarelli, estudioso do assunto de clusters e redes, afirmava que o conceito de rede passava necessariamente pelo reconhecimento da presença de um sistema de nível superior, é uma visão de redes Interorganizacionais, o que significa que seu sucesso, ou fracasso deve ser buscado nesse sistema, não nas relações diádicas.

Outro debatedor, que investiga redes cadeias de suprimentos, observa que a perspectiva de redes é nova no campo de cadeias, aparecendo com mais força a partir de 2008 e alguns estudos nessa linha tem mostrado perdas que montadoras tiveram com colapso de alguns fornecedores interferiram na eficiência da rede. Nessa linha de argumentação, a governança na rede da cadeia seria o principal fator de sua continuidade, ou não. Essa governança é entendida como formal e informal.

Outro ponto levantado é sobre a distinção entre fracasso da rede e falência. Fracasso tem mais a ver com problemas, com baixa eficiência.

Entrando no tem de fracasso e governança, o grupo afirma que é uma dobradinha difícil de ser dissociada. A literatura sobre governança é bem convergente em afirmar que os mecanismos de controle e incentivo são o cérebro da rede, a partir do qual todos os processos, comandos, decisões, comportamentos são regulados. Para entender essa articulação é necessário ter uma visão sistêmica, isto é, abdicando em parte de relacionamentos díadicos isolados.

Tratando-se de um conjunto de pessoas, com assimetrias de interesses e capacidades, o grande desafio da governança é o controle do oportunismo. Entende o grupo que para redes a governança precisa ser formal, ao passo que em clusters até existe espaço para a governança informal.

Finalmente o grupo questiona se existem teorias sobre o fracasso de redes. Conforme haviam dito ao início, existem teorias conforme se valorizam aspectos racionais, ou econômicos, ou sociais, ou político-institucionais. Da mesma forma como se explica a origem e a manutenção das redes, a ausência dessas variáveis explica o fracasso. A governança, então, é uma dessas variáveis colocadas como fundamentais no fracasso da rede.

O grupo deixa clara sua posição que estão entendendo governança como mecanismo de grupo e não como gestão.

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Conclusão: Tal como ocorreu nas outras mesas, a palavra chave desta discussão, a governança, tem várias definições, cada qual contribuindo de forma distinta para a explicação do fracasso de uma rede. Algumas se atém aos aspectos racionais e estratégicos, outras aos resultados econômicos e outras à presença de comportamentos oportunistas, só para citar as definições mais referenciadas.

Essas definições impactam diretamente no que se entende por fracasso. Num caso pode ser resultado econômico abaixo do esperado, noutro pode ser uma estratégia ineficiente; ou ainda a não solução de conflitos de relacionamento, criando dificuldades nos processos.

Um ponto convergente da discussão é que se deve tratar da governança como mecanismo de controle e incentivo do grupo e não como gestão.

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V. Análise da comissão do Fórum sobre os resultados dos debates

Respondendo ao problema-objetivo do Fórum, sobre o pensamento dos pesquisadores brasileiros de redes, algumas convergências foram encontradas e constroem um primeiro mapa do pensamento tupiniquim.

(1) Sobre o processo de produção do conhecimento: Não temos uma marca da produção brasileira – cada um joga com seus pressupostos, teorias, metodologias e campos de investigação. Por que isso acontece? Uma hipótese é sobre o predomínio do modelo mental do empreendedor solitário. De um lado, empresários buscam seu sucesso num mundo competitivo; pesquisadores buscam seu desenvolvimento pessoal, com trabalho isolado (em sala de aula, por exemplo); pesquisas isoladas (o projeto de cada pesquisador dentro do seu programa) e raras parcerias com projetos comerciais, industriais e governamentais. Some-se a tudo isso a dominância de teorias de competição isolada e metodologias de decomposição e análise isolada de fatores e temos um quadro que dificulta a inovação de conhecimentos e metodologias. As várias mesas, cada qual a seu modo e dentro do seu tema, afirmaram a produção-repetição-de-modelos-existentes da pesquisa brasileira sobre redes.

(2) Sobre especificidades das redes brasileirasAs redes brasileiras têm particularidades que possibilitam a construção de modelos e construções teóricas especificas, abrindo caminho para uma escola brasileira. Alguns exemplos dessas particularidades são descritos no próximo item.

(3) O ponto central do debate em cada tema.

2. temas debatidos 3. situação brasileira

4. agenda de trabalho

Sala 1- produção acadêmica

Sobre leque de teorias, sem existir convergência; sobre metodologia, com técnicas que indicam desenvolvimento científico incipiente.

Não existe uma marca da produção nacional e nosso sistema de pesquisa (teorias e metodologias) não geram novos conhecimentos.

Continuidade do grupo; bancas compartilhadas entre escolas (videoconferência); continuidade de pesquisas nas mesmas redes.

Sala 2- gerência de redes

Distinção entre governança e gerência; papel do gestor

Esforços de se criar um quadro referencial de gestão, com a experiência da Unisinos e construção de indicadores na Unip; estudos sobre governança

Compartilhar os indicadores testados em pesquisas; gestão focada na força dos laços; esclarecer o papel da gerência nas redes; criar framework de

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supra-organizacional

governança/gestão para modelo de pesquisa em todo o brasil

Sala 3- poder nas redes

Distinção entre definições de poder; concentração em três paradigmas (sistêmica, voluntarista e crítica)

Muita divergência, temáticas difusas, certo domínio das ideias de Foucault

Encontros presenciais e eletrônicos sobre grupo interessado no tema, reunião para discussão de casos

Sala 4- colaboração, e inovação nas redes

Papel da universidade para pesquisa e inovação; definição de inovação como processo de criação de conhecimento

Não há convergência nas pesquisas; dúvida sobre o que é universidade empreendedora; domínio do modelo da hélice tríplice

Compartilhar casos;Reunir para discutir casos; filiação de um grupo com redes internacionais de inovação em redes

Sala 5- fracassos de redes e governança.

Sobre conceitos de redes e de governança; sobre o que seria um fracasso de uma rede

Literatura praticamente inexistente sobre casos de fracassos

Sistematizar pesquisas sobre governança e fracassos de redes

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VI. Conclusões

Sobre a estrutura e formato do Fórum(1) O primeiro e um dos mais importantes resultados foi o interesse dos pesquisadores em participar do evento, tanto presencialmente, quanto via Skype. Para nós da comissão esse é um sinal que os pesquisadores percebem que há necessidade de trocas e de sinergias e alinhamento, mas que os canais atuais, como congressos e bancas ainda não cumprem. Um Fórum para discutir exclusivamente os temas de Redes caiu na hora certa, como se diz na linguagem popular.(2) Sobre o formato de Fórum a comissão avalia que ele provou ser adequado para a tarefa proposta (o mapeamento do pensamento dos pesquisadores brasileiros de redes), porque reuniu pessoas experientes em torno de um único tema em cada mesa e assistentes também experientes e interessados, como se comprova nos vídeos. (3) Sobre a operação do Fórum detectamos alguns pontos que necessitam de melhorias, tais como o controle do tempo no debate. Para o próximo fórum vamos sugerir aos coordenadores de mesa que entrem diretamente no debate, apresentando rapidamente apenas os debatedores e os assistentes poderá se identificar no decorrer das discussões. Os três momentos e o tempo para cada atividade, incluindo o intervalo de almoço, foi considerado adequado e deve ser repetido na próxima edição.Outro ponto que pode ser melhorado é a opção de participação via eletrônica. Neste Fórum alguns participantes se organizaram em salas nas suas universidades e acompanharam via Skype, mas o que se procura é uma plataforma mais ampla.

Sobre os conteúdos(1) Amplitude, diversidade e expectativa de sinergia

A comissão avalia que o ponto convergente mais evidente é o fato da amplitude de teorias, modelos, metodologias e campos de investigação em redes. Apesar da defesa de alguns debatedores que o campo é naturalmente multifacetado e que buscar convergências pode ser uma armadilha de simplificação, a comissão entende que alguma estruturação básica, tal como a definição de redes; a definição do objeto de investigação em redes; sua distinção dos formatos de mercado e de hierarquia (ou seja, com presença obrigatória de algumas características, ou variáveis, tais como interdependência); a valorização de metodologias de coleta e análise centradas em estruturas e dinâmicas de grupo; a valorização de alguns campos que são socialmente e economicamente importantes para o País, tais como o agronegócio, turismo e saúde; uma agenda de replicação de pesquisas, caracterizando trabalhos de acompanhamento, seria o mínimo para um início de construção de uma marca brasileira de investigação em redes.

Conforme conclusão do grupo do Tema 1, sobre produção acadêmica, no momento, a maioria dos trabalhos, sejam artigos, ou teses, repetem modelos da literatura internacional, com alguns pesquisadores isolados que tentam um passo adiante, por exemplo, criando modelos de gestão de redes.

Por outro lado, com uma expectativa mais positiva, surgiram sinais de aproximações (no próprio Fórum) de coordenadores e pesquisadores que tem linhas de pesquisa se voltando cada vez mais para o tema de redes, tal como

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ocorre na Universidade Estadual de Londrina, na Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto, na Universidade de Brasília e na Universidade Federal de Mato Grosso, só para citar algumas das gratas surpresas de presença no evento. Essas ligações com as “cobras criadas” da UNISINOS, UFSM, UNIP, USCS, UFLA criaram um espaço de debate que pode dar bons frutos.

(2) Temos nossas peculiaridades de redesEm mais de uma mesa de debates se afirmou que o Brasil tem

peculiaridades dos formatos de redes. Elas começam nas formas de associação, com experiências de grupos formalizados, tal como ocorreu no Sul, passando por grupos informais, como se vê com frequência em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e desembocando em associações e cooperativas de mercado solidário, conforme se verifica cada vez mais no Nordeste.

Esses grupos têm inúmeras estruturas e dinâmicas, tamanhos, objetivos, histórias, atores diversos da natureza da tarefa (como igrejas, universidades, ongs) elevando ao grau máximo a afirmativa que não existem duas redes iguais.No entanto, a diversidade e complexidade não é motivo de abandono de busca de bases, ou parâmetros, ou atratores (utilizando o termo da teoria do caos). Os temas escolhidos para este Fórum não são aleatórios e alguns deles, como governança e poder, são citados como fatores estruturantes das redes, não importando sua diversidade.

É a partir desses fatores estruturantes, ou atratores que podemos construir um arcabouço teórico brasileiro sobre redes. Em que outro País existe uma concentração tão forte e densa de imigrantes italianos e alemães, que continuam a propagar sua cultura de cooperação, o que propicia baixa resistência para programas de ações coletivas? Em que outro País existe algo em torno de 800 mil catadores de material reciclável, que se organizaram na Associação Nacional dos Catadores, que orienta a formação de redes de cooperativas de material reciclável, junto com as prefeituras locais, igrejas e programas sociais de grandes empresas? Em que outro País a diferença das diretrizes de Programas de Políticas Públicas e a realidade de cada microrregião é tão grande que exige um rearranjo constante dessas diretrizes, criando as redes locais de políticas públicas?

Sim, nós temos nosso modo peculiar de ações coletivas.

Desdobramentos e repercussões1. Vídeos no YoutubeCom a permissão de todos os participantes sobre o uso de imagem, todo o evento foi gravado e disponibilizado no Youtube, no canal forumredes. Esses vídeos são de uso livre para fins acadêmicos, por exemplo, debates em salas de aula.Secundariamente servem também como meio de divulgação do Fórum para os próximos eventos.

2. Site no wordpressFoi criado o site forumredes.wordpress.com para divulgar o Fórum e também para se tornar um endereço de referência sobre os eventos de redes regulares de redes no Brasil. Por enquanto a operação desse site é incipiente, com poucas notícias. Sua operação ainda depende da boa vontade de cada

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participante da comissão para entrar no site como administrador e fazer mudanças. Talvez uma parceria com alunos de informática pudesse profissionalizar o site na sua estrutura, dinâmica e divulgação.

3. Decisões para o próximo Fórum(a) Considerando o sucesso deste Fórum, decidiu-se pela realização de um segundo encontro. O II Fórum Temático de Redes Interorganizacionais está agendado para o dia 7 de Junho de 2017, iniciando as 8hs (credenciamento e café).(b) Para o II Fórum foi constituída a comissão:Ernesto M. Giglio (UNIPJandir Pauli ( IMED)Luis Antonialli (UFLA)Marcos P. da Silveira (USCS)(c) A atual comissão decidiu manter o formato de Fórum, apesar de termos recebidos sugestões para mudar para o formato tradicional de congresso, com apresentação de trabalhos. Talvez mais adiante. (d) O próximo Fórum já está com submissão aberta para temas (se você não recebeu nenhum dos três comunicados, por favor avise) e até o momento de fechamento deste relatório já conta com seis temas sugeridos, sendo dois (poder e governança) repetidos do Fórum anterior. Lembramos que os temas serão votados para posterior decisão.(e) Você já pode enviar sua sugestão e/ou votar nos temas.

A todos, nossos agradecimentos pela participação e esperamos sua presença no II Fórum Temático de Redes Interorganizacionais, marcado para o dia 7 de Junho de 2017, iniciando o credenciamento as 8hs, no Campus Indianópolis da Universidade Paulista- UNIP, na Rua Dr. Bacelar, 1212, São Paulo.

Até lá.

Comissão organizadora do I Fórum Temático de Redes Interorganizacionais: Arnaldo Ryngelblum (UNIP); Cleber Castro (UFLA); Ernesto M. Giglio (UNIP); Flávio Macau (UNIP); Jandir Pauli (IMED); Marco Pinheiro (USCS); Suellen S. Sotille (IMED)

Comissão Organizadores do II Fórum Temático de Redes InterorganizacionaisErnesto M. Giglio (UNIP) [email protected] Pauli (IMED) [email protected] Luiz Antonialli (UFLA) [email protected] Marco P. da Silveira (USCS) [email protected]