doc (29)congado

14
 CULTURA, IDENTIDADE E RELIGIOSIDADE: O CONGADO DA CIDADE DE ITUIUTABA-MG Fernanda Domingos Naves 1  Após a colonização da África negra, os europeus começaram a criar uma série de estratégias para controlar e manter submisso o povo daquela região. Uma dessas formas foi a catequização dos nativos, que inseriu valores e crenças do catolicismo à cultura dos africanos colonos que passaram a mesclar sua fé e devoção com a lusa. O catolicismo de Portugal forneceu aos negros os elementos europeus de devoção a Nossa Senhora do Rosário. No Brasil, a igreja reforçou esta crença enquanto os negros deram forma ao culto e à festa. No Brasil, os escravos que chegavam recebiam denominações referentes a regiões africanas e/ou portos de embarque, termos estes que não correspondiam às etnias específicas. Assim, as etnias não se reorganizavam internamente como continuidade. Essas etnias diferenciadas agruparam-se na diáspora em função de um patrimônio cultural semelhante (SILVA, 2000). A Congada é um exemplo de tais agrupamentos. Em Minas Gerais, a festa do Congado surgiu quando um antigo rei africano veio para o Brasil. Segundo a lenda, Francisco (Chico-Rei) era imperador do Congo e veio pro país com outros escravos. Na viagem, ele perdera a mulher e seus filhos, restando apenas um. Intalando-se em Vila Rica, realizou economia e conseguiu comprar sua liberdade e de seu filho. Posteriormente, obteve a alforria de seus súditos e adquiriu a Mina da Escandideira. Chico-Rei casou-se novamente e organizou a Irmandade do Rosário e Santa Efigênia, construindo uma igreja no Alto da Santa Cruz, a igreja de Nossa Senhora dos Rosário dos Pretos. Tempos depois, Chico-Rei e sua 1  Docente do curso de graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia – Campus Pontal.

Upload: rosemarycardoso

Post on 13-Jan-2016

2 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Congado de Ituitaba

TRANSCRIPT

7/18/2019 doc (29)Congado

http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 1/14

7/18/2019 doc (29)Congado

http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 2/14

rainha, por terem construído a igreja, foram coroados após um

cortejo que se seguiu pela cidade, seguidamente eles adentraram a

igreja relembrando suas trajetórias cantando, dançando, festejando e

louvando a Nossa Senhora do Rosário como forma de agradecimentopor ter-lhes concedido a liberdade tão esperada.

O uso das linguagens diversificadas como suporte ao oficio do

historiador que não possui como fonte de pesquisa apenas os

registros escritos, oportuniza reflexões e caminhos instigantes como

é o caso da análise do cotidiano. Através dessas narrativas cotidianas

que percorrem os caminhos da história e da memória percorre-se

também a dinâmica das histórias de vida pelos viesses dossentimentos e expressões contidas na face dos atores sociais. Foi

fazendo o uso dessas linguagens diversificadas que realizei a

pesquisa. A pesquisa foi conduzida com base nessas leituras, pois

nossa pretensão era conceber com outros olhos aquilo que os olhares

comuns percebem apenas como tradição ou folclore, paralisados no

tempo e no espaço. Nesse sentido, foi de fundamental importância a

discussão sobre Cultura Popular, destacando dela a religiosidade.

DESVELANDO O CONGADO DA CIDADE DE ITUIUTABA-MG

A festa do Congado se edifica num universo imagético muito

rico, pois é marcado por momentos festivos e devocionais que se

materializam em diferentes tipos de representações e se (re)

constroem alicerçados numa ludicidade que procura trazer à tona o

passado, construindo um sentido que perpassa a expressividade

visual, já que é uma tentativa de manter viva práticas e saberes

ancestrais que expressam vínculos de pertença e identidade.

Esse tipo de percurso seguido nos oferece probabilidades

interpretativas do cotidiano, permitindo ao historiador compreender a

construção de uma história também marcada por caminhos múltiplos

do entendimento, uma vez que, o ofício do historiador não deve ser

7/18/2019 doc (29)Congado

http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 3/14

meramente entendido como o de responsável pela escrita de uma

 “história-verdade”, posto que “as representações se inserem em

regimes de verossimilhança e de credibilidade, e não de veracidade”

(PESAVENTO, 2001), a recomposição e a tentativa de compreensãodas tramas tecidas na efetivação dos festejos, se sustenta nas várias

narrativas que se formam ao redor desse mosaico festivo, cujas

peças ao mesmo tempo em que se encaixam, deixam fendas a serem

desveladas pelo olhar atento do historiador, revigorando

possibilidades de compreensão da realidade.

Em Ituiutaba, segundo relatos de alguns congadeiros, os

festejos aconteciam em fazendas nos arredores da cidade ondetambém se criavam os ternos. Com o devir do tempo, a festa tornou-

se conhecida e foi trazida para a cidade. Contudo, o pároco da época

não aceitou que os congadeiros adentrassem na Igreja, proibindo a

realização da festa no local. Esta proibição se deu porque os

congadeiros, não seguiam a religião católica, mas sim outras de

origem africana. Enquanto isso, nos arredores de Ituiutaba, para

homenagear sua esposa Geralda Ramos da Silva em seu aniversário

no dia 2 de abril de 1951, o senhor Demétrio Silva da Costa (Cizico)

convidou seu pai Marciano Silvestre da Costa, seu irmão Geraldo

Clarimundo da Costa e vários outros amigos para brincarem de

Moçambique e comemorarem a data. Ao saber do ocorrido, Ana

Carolina Ribeiro (Dona Rosa), prima de Cizico, convidou o grupo

para, juntos,  levarem o terno de Moçambique em Ituiutaba e

reascender a devoção a São Benedito com muita dança, festa e

devoção. Assim, se dirigiram ao pároco da época, o Padre João Ave,

para comunicá-lo e pedir-lhe a licença para, junto à igreja, fazerem a

festa de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. O pároco, não

permitiu, alegando problemas que a Igreja tivera anteriormente com

os ternos de Congado que antes existiam em Ituiutaba, e que, em

virtude desses atritos, já havia se fragmentado.

7/18/2019 doc (29)Congado

http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 4/14

Em 1952, o terno recém criado, resolveu ensaiar com o intuito

de colocar o grupo devidamente uniformizado na rua em sinal de

protesto contra a atitude do padre. Eles desceram a Rua 22 às 5

horas da manhã. Fizeram uma alvorada com fogos na frente doFórum local conseguindo o consentimento da justiça para realizarem

os festejos na cidade. Dirigiram-se para a Igreja Matriz São José,

onde adentraram o recinto e assistiram à missa da manhã. Após, os

congadeiros saíram em visita a várias residências cantando,

dançando os santos protetores pelas ruas. Nos anos seguintes a festa

aconteceu sem a existência de uma Irmandade ou apoio da Igreja.

Mesmo assim, os congadeiros insistiam em ter o reconhecimento dofestejo junto à Igreja, realizando a cada ano os festejos em louvor a

São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, com o apoio dos devotos e

simpatizantes. Anos depois, reestrutura-se o Congado em Ituiutaba.

O grupo agora, organizado, trava uma queda de braços com o pároco

da Igreja, o qual passa a fazer uma série de exigências a estes para

que ele conceda, aos mesmos, espaço no local. Uma dessas

exigências foi a de que os congadeiros abraçassem realmente a fé

católica. Acatando o pedido do padre eles batizaram, receberam a

primeira eucaristia, crismaram e aqueles que eram amasiados, se

casaram na Igreja. Outra exigência era a de que os congadeiros

tivessem participação ativa nas cerimônias religiosas, só assim, a

festa passaria a ter algum vínculo com a Igreja. A Igreja Católica

tentava assim, apagar dos negros sua herança religiosa africana;

todavia, os congadeiros, apesar de “católicos”, não deixavam de

manter suas práticas ancestrais, mesmo que secretamente.

Diante do cumprimento de todas as exigências feitas por ele,

Padre João Ave, em 1956, pediu para que os congadeiros, entre si,

escolhessem doze casais que conhecessem bem as doutrinas

católicas. Desses casais, os homens, nomeados pelo padre como “Os

Doze Apóstolos” (Marciano Silvestre da Costa, Geraldo Clarimundo da

Costa, Demétrio Silva da Costa – Cizico, Antônio Belchior, Antônio

7/18/2019 doc (29)Congado

http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 5/14

Balduino da Costa - Antônio Cabra, Agenor Prudêncio do Nascimento,

Andira Alves, Avelino Máximo da Costa, Jerônimo Ventura Chaves –

Dunga, Aristides da Silva, Antônio Edmundo e Senhor Manoel Gomes)

fundaram a Irmandade de São Benedito de acordo com as instruçõesdo pároco, que autorizou, no ano de 1957, o funcionamento da

Irmandade, responsabilizando-a pelos ternos fundados entre os anos

de 1951 a 1954 e pelos demais que supostamente viriam a surgir.

A partir da criação da Irmandade de São Benedito, os grupos de

Congado passaram a ter também seu próprio grupo religioso dentro

da Igreja, que passa a ter não só função religiosa, mas também

cultural, organizando e coordenando os ternos de Congado deItuiutaba. Conforme consta no Pequeno Histórico da Irmandade de

São Benedito, ela foi fundada no dia 13 de Maio de 1957 com “missa

especial” e com “primeira comunhão de vários beneditinos jovens,

crianças e adultos”. Foi através da criação da Irmandade de São

Benedito que os congadeiros ganharam permissão para festejar na

Igreja. Foi através dela também que eles levantaram capital para,

mais tarde, comprar o terreno e erguer a Igreja de São Benedito.

No início a Irmandade era formada por pouco mais de 100

pessoas, hoje ela é composta por mais de 600 indivíduos. Ela tornou-

se a garantia dos congadeiros de “direito à Igreja”; sua criação e

fundação abriram as portas para a consolidação dos ternos e fez-se

alicerce para os que surgiam. A festa em louvor a São Benedito é

composta por sete ternos de Congado da cidade e pela participação

de vários outros oriundos de cidades circunvizinhas que participam

das comemorações há vários anos. Na composição dos ternos temos:

Agentes quecompõem os setores dosTernos

SímbolosUtilizados

Função dosagentes

Meninas Bandeira Conduzem asbandeiras de Nossa

Senhora do Rosárioe/ou São Benedito

7/18/2019 doc (29)Congado

http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 6/14

Madrinhas Bandeira Organizam asmeninas que conduzema bandeira

Dançadores Bastões e/ouGunga

Dançam, tocamas gungas e fazem

coreografias com osbastões.

Tocadores Patagoma, Caixae Gunga

Tocam osinstrumentos, dão osritmos e as marcaçõesdas músicas.

Capitães Apito e bastão Coordenam oespaço e a música nointerior do Terno

Capital Geral

(general)

Apito e bastão Organizam os

tocadores, dançadorese cantores

Capitães Atrevidos Apito e bastão Auxiliam osdemais capitães

Em cada terno temos ainda uma equipe interna formada por

coordenadores, guarda-estandartes, dentre outros que dão suporte

ao grupo não só durante os festejos, mas também em qualquer

evento ou atividade realizada pelo grupo. Todos os ternos quecompõem o Congado são filiados à Irmandade de São Benedito. Os

ternos se distinguem pelas cores da farda que, possuem geralmente,

as cores da imagem de Nossa Senhora do Rosário que são: azul,

branco, rosa, verde e o vermelho; que variam de acordo com o estilo

épico das imagens. Em Ituiutaba, as cores agregadas a cada terno

dão nome a alguns grupos tradicionais, da mesma forma que outros

recebem outras denominações. Fazem parte do Congado de Ituiutaba

os seguintes ternos:

I) TERNO DE MOÇAMBIQUE CAMISA ROSA:

A criação desse terno é fruto do esforço do senhor Demétrio

Silva da Costa “Seu Cizico” que, para comemorar o aniversário de sua

esposa, Dona Geralda, no dia 02 de Abril de 1951, resolveu

7/18/2019 doc (29)Congado

http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 7/14

presenteá-la com uma festa diferente, de Congado. O ápice desta

comemoração foi a apresentação de um pequeno grupo de

dançadores de Moçambique ensaiados e comandados pelo próprio

Cizico. A partir dessa homenagem e naquele mesmo dia o casal, juntamente com o Senhor Marciano Silvestre da Costa e Geraldo

Clarimundo da Costa (pai e irmão do Sr, Cizico), com a senhora Anna

Carolina Ribeiro (dona Rosa), prima do Senhor Cizico decidiram

fundar um terno de Moçambique.

No dia 05 de outubro de 1951, o grupo se apresentou pela

primeira vez, tendo em sua composição 13 dançadores e 05

bandeirinhas. Segundo relatos da filha do casal Maria Lúcia deOliveira2, o terno criado por seu pai, é um dos principais autores do

resgate do Congado de Ituiutaba. Durante o “resgate” foram vários

os obstáculos enfrentados pelo capitão Cizico que é lembrado por

todos, como um grande repentista. Seu Cizico faleceu no dia 28 de

 julho de 1964 e, em virtude dessa fatalidade, sua viúva assumiu o

comando do terno. Preocupada em manter viva a tradição iniciada

por seu esposo, Dona Geralda começou a preparar o filho, de apenas

13 anos, para chefiar o terno. No ano de 1978, Mário Afonso da Silva

assume o comando do terno permanecendo a sua frente até os dias

atuais.

II) TERNO DE CONGO CAMISA VERDE

O Terno de Congo Camisa Verde foi fundado no ano de 1954

por Geraldo Clarimundo da Costa juntamente com sua esposa

Dulcinéa Luiz Cassiano, seu irmão Demétrio da Silva Costa e seu pai

Marciano Silvestre, com o intuito de abrilhantar os festejos em louvor

a São Benedito e a Nossa Senhora do Rosário, iniciados na cidade no

ano de 1951 reforçando os vínculos ancestrais da família através da

festa. O terno de saiu às ruas da cidade, pela primeira vez, com cerca

2  Depoente, atual presidente da Irmandade de São Benedito.

7/18/2019 doc (29)Congado

http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 8/14

de 30 pessoas, todas trajando roupas nas cores verde e branca. A

maioria, familiares do senhor Geraldo que foi o primeiro capitão do

terno e ensinou aos dançadores o ritmo e as coreografias a serem

executadas. Geraldo Clarimundo exerceu o cargo de capitão até o anode 1988 quando veio a falecer.

O grupo mantém nas vestimentas as cores que dão nome ao

terno: “o Verde que simboliza a esperança e o sentimento de

continuidade, o Branco representa a paz que o grupo prega e leva

adiante em cada gesto e o Amarelo a riqueza do Brasil” – Divina C.

Teles, depoente – . Seus dançadores usam camisas em cetim verde,

calça branca, faixa amarela na cintura e chapéu de palha ornado comlantejoula, pedrarias e fitas multicoloridas. Alguns dançadores optam

por usar um lenço ou turbante na cabeça, mas não dispensa o uso do

chapéu que é um adereço que compõe a vestimenta do dançador.

III) TERNO DE MOÇAMBIQUE ESTRELA D’ALVA

O terno de Moçambique Estrela D’Alva foi fundado no ano de

1982 por Agnaldo Severino da Silva (já falecido) e sua esposa Maria

das Dores Silva (Dona Xuxu). Natural da cidade do Prata. Agnaldo

Severino demonstrava sempre ser muito devoto de São Benedito, por

isso, conduziu com muita dedicação o terno de Moçambique por

vários anos. Ele dizia que as cores do terno estavam relacionadas às

cores do manto de Nossa Senhora, também presentes no estandarte

do grupo. O fardamento do terno é constituído de calça e camisa

brancas com faixas azuis, chapéu de palha coberto em tecido azul.

Quando Agnaldo Severino da Silva veio a falecer, em 1988, o

terno ficou desativado por três anos, por não haver mais quem o

conduzisse. Em 1991, Dona Maria das Dores conseguiu levantar o

terno contando com a colaboração de seus familiares (filhas, genros e

netos), elegendo como 1º capitão: Maurílio Prudêncio de Souza, que

ficou no terno por dois anos, deixando-o em 1994 para assumir o seu

7/18/2019 doc (29)Congado

http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 9/14

terno do qual é um dos fundadores o Moçambique Águia Branca. A

Matriarca: Senhora Maria das Dores Silva 87, anos (Dona Xuxu) se

encontra acamada há vários anos, mesmo assim se mantém lúcida e

traduz com muita clareza a falta que sente de ver o terno novamenteparticipando dos festejos e homenagens em louvor a São Benedito. O

terno encontra-se desativado há mais de um ano, o que se torna uma

grande preocupação para os antigos integrantes do terno e sua

Matriarca, pois, a falta da liderança de um capitão que tenha

interesse em reestruturar o grupo pode por um levando adiante a

herança cultural da família.

IV) TERNO DE CONGO REAL

O Terno de Congo Real foi fundado no ano de 1987, pelo Sr.

João Luiz da Silva (João da Badia) e sua esposa Marina Eurípedes de

Oliveira, já falecida. Desde jovem, Sr. João da Badia, participava das

festividades do Congado, sendo dançador de um terno de

Moçambique.

Através dos ensinamentos do Senhor Lazinho Goiano, capitão

do terno em que Sr. João dançava, e das conversas informais que

teve com o festeiro da época, o senhor Mato Grosso, João percebeu

que a possibilidade de materializar o sonho de fundar seu próprio

terno não estava tão distante. João Luiz foi se envolvendo com outras

manifestações culturais, porém, não se esquecia do desejo que tinha

de fundar seu próprio terno de Congo.

O fascínio pelo popular envolvera de tal forma João Luiz que ele

se tornou dono de um grupo de Folia de Reis e o mantém há 54 anos.

Anos após, buscando a realização de seu antigo sonho, ele e seus

companheiros de Folia se juntaram com o Congado para louvarem

 juntos, São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. Foi nesse período

que, durante uma viagem à cidade de Luz–MG com seu grupo de

Folia, ele teve contato com vários outros ternos de Congado e um,

7/18/2019 doc (29)Congado

http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 10/14

em especial, o encantou. Foi deste terno que ele retirou a inspiração

para as cores de seu terno. Com apoio do amigo, Geraldo Clarimundo

da Costa, o terno foi criado elegendo a cor amarelo ouro como a cor

predominante do terno espelhado nas vestimentas usadas pelo ternoda cidade de Luz.

V) TERNO DE MOÇAMBIQUE LUA BRANCA

Criado em maio de 1990 o Terno de Moçambique Lua Branca

teve como seus fundadores o senhor Nilo Geraldo da Silva e sua

esposa Maria Orminda da Silva, dona Maria Senhora DominguesMartins (D. Senhorinha) e seu filho Cláudio Domingues Martins.

Segundo Dona Senhorinha, em 1989 seu filho Cláudio, dançador de

Moçambique, se afastara do terno no qual participava. Este, sendo

criado no universo das festividades do Congado, pediu à sua mãe

que, ara continuar dançando Moçambique, fundasse um terno para

que ele pudesse dar continuidade à sua devoção. Dona Senhorinha,

apesar de todas as dificuldades pelas quais passava mais que

depressa, acatou o pedido de seu filho, desde então, passaram a

reviver uma tradição familiar herdada de seu avô paterno, o Senhor

Apolinário Martins, oriundo da cidade de São Tomé das Letras-MG,

onde já participara de outros ternos de Moçambique.

O nome Lua Branca foi escolhido pelo capitão Cláudio Martins,

devido à sua grande admiração e fascínio pelo brilho e,

principalmente, pelo brilho dos astros, em especial da Lua. Segundo o

capitão “o terno de Moçambique Lua Branca nasceu para brilhar”. Os

dançadores se vestem com calças e camisa brancas, faixa verde,

chapéu ou turbante na cor verde. As bandeirinhas seguem a mesma

ordem de cores utilizadas pelos homens, ou seja, blusa e calças

brancas com faixa verde em cetim amarrada á cintura e, nos cabelos,

adornos na cor verde.

7/18/2019 doc (29)Congado

http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 11/14

VI) TERNO DE MOÇAMBIQUE ÁGUIA BRANCA

Fundado no ano de 1994, o Terno de Moçambique Águia Branca

foi criado através da iniciativa dos irmãos Maurício Prudêncio deSouza (falecido), Maurílio do Nascimento de Souza (Nilo) e Eurípedes

Francisco Pereira (Pipa) que, apoiados pela mãe Rosária Esperança de

Souza, realizaram um antigo desejo da família. O Terno tem como

Conselheiro Fundador o Sr. Agenor Prudêncio do Nascimento que, aos

87 anos, é o único dos 12 apóstolos (ver Irmandade de São Benedito:

a realização de um antigo sonho) vivo que atua junto à Irmandade,

que é avó dos irmãos citados acima.As cores do terno são azul, branco e rosa, inspiradas nas cores

dos ternos que já existiam na cidade. O estandarte é azul e branco.

Assim como os demais ternos, o Moçambique Águia Branca é

composto, em sua maioria, por pessoas de uma mesma família. Os

dançadores usam calças brancas, camisas de cetim em tom azul

escuro, faixas cor-de-rosa entrelaçadas ao corpo e chapéus coberto

em tecido, ornado em paetês, lantejoulas e marabu. A origem do

nome do terno, segundo o 1º capitão Maurílio, está ligada ao Orixá

Caboclo Águia Branca.

VII) TERNO DE CONGO LIBERTAÇÃO

Segundo relatos dos integrantes do grupo composta,

praticamente, por integrantes da mesma família, as coisas não iam

nada bem pra todos. Havia doenças, pobreza e desavenças entre

vários parentes, inclusive entre as irmãs Lázara e Maria Aparecida,

que não se falavam há anos. Maria Aparecida e Lázara, por

incumbência do destino, se casaram e tiveram seus filhos sendo que,

os filhos, tanto de uma como da outra se apaixonassem e, mesmo

primos, se

7/18/2019 doc (29)Congado

http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 12/14

casaram. Anos após as duas se viam avós dos mesmos netos, mas

ainda não se falavam. Foi então que Maria Aparecida, pautada na

religiosidade ancestral, recebeu a orientação dos Guias Espirituais

Maria Conga e Preto Velho, intermediados pelas médiuns CláudiaLuiza da Silva (sobrinha de Dona Aparecida) e Leamar Cândido (filha

de D. Aparecida) de criar um terno de Congo com o intuito de unir e

Libertar sua família de todo o mal que a segue há décadas. Estes

Guias Espirituais determinaram todos os passos a serem dados

daquele momento em diante, como as cores do terno, escolha dos

capitães, e, segundo a família de dona Aparecida, ainda determinam

todos os caminhos para a estruturação do terno.Deste momento em diante, toda a família se manteve reunida

guiada pelo mesmo ideal, libertar a si e a seus ancestrais, o que os

permite manterem-se unidos em torno de um ideal regido pelas

forças supremas, pela busca da paz, guiados sempre pela proteção

Divina e de seus mentores espirituais. O nome Libertação foi

escolhido para representar a libertação dos antepassados de seus

pecados, dos trabalhos feitos por terceiros para prejudicá-los.

Essa mesma força espiritual determinou as cores do terno,

cores essas constituídas a partir da cor símbolo das divindades que

regem a família. Escolheram e definiram a composição do grupo. O

terno da Libertação é composto por 40 componentes que passam por

um intenso aprendizado e só são admitidos no terno depois de ter

todo conhecimento da estrutura organizacional do grupo, onde o não

cumprimento de normas como: beber trajando o uniforme do terno;

tirar o uniforme antes de ser liberado, faltar a três leilões da

campanha sem justa causa, é dentre outros os motivos de exclusão

do terno.

Estes são alguns dados que relatam sobre o andamento da

pesquisa apresentada.

7/18/2019 doc (29)Congado

http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 13/14

No emaranhado dos acontecimentos o historiador procura seu

ponto de partida como um camponês procura um olho-d’água. Nem

sempre é possível saber de onde essa água vem. Mas para poder

bebê-la basta ir em busca de onde ela aflora à superfície (SOARES,2000). No decorrer desta pesquisa busquei ir onde aflora-se os

sentimentos e toda a religiosidade que envolve os indivíduos que

participam das festividades em louvor a São Benedito, tentando

compreender como eles mantêm esses vínculos ancestrais com seus

antepassados, notando sempre a preocupação deles em transmitir

todos esses conhecimentos às gerações futuras, com o propósito de

que estes hábitos e costumes não se percam pelo tempo.Nesse ínterim, pude perceber como eram desenrolados os

encontros e desencontros entro os personagens que compõem o

cenário festivo, os interesses da projeção política ou social; os gastos

com a festa; a quantidade dos gêneros alimentícios utilizados para

tornar realidade os cafés e os almoços oferecidos; o montante de

dinheiro disponível para montar e ornamentar os ternos, dentre

outros. Tomei conhecimento da dificuldade que cada um passa para

se manter ali, festejando e louvando. Só mesmo com muito amor e

devoção ara conseguir ir a diante.

REFERÊNCIAS:

KATRIB, Cairo Mohamad I. Nos mistérios do Rosário: as múltiplasvivências da festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário –Catalão (GO). Uberlândia. Dissertação (Mestrado em História) –.Universidade Federal de Uberlândia, 2004. 244 p.

 ______. No (des) compasso da festa: o reencontro de muitashistórias. In: História e Perspectivas, nº. 34 – jan.jun. 2006.Uberlândia/MG. Universidade Federal de Uberlândia. Cursos deGraduação e Programa de Pós-Graduação em História.PESAVENTO, Sandra J. Indagações sobre História Cultural.  In:Revista Artcultura. Uberlândia: NEHAC/UFU. Nº. 03, 2001.

 ______. História e História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica,2003.

7/18/2019 doc (29)Congado

http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 14/14

SILVA, J. C. G. 2000. Negros em Uberlândia e a construção daCongada. Um estudo sobre Ritual e Segregação Urbana.Uberlândia, Relatório FAPEMIG.SOARES, Mariza de Carvalho. Devotos da cor. Identidade étnica,religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro, século XV. Rio de

Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. 232p.