do sonho à realidade

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Ano 7 - n° 1310 Setembro/2013 Massapê do Piauí Expectativas de uma vida melhor com a percepção de um novo cenário Na comunidade Ingazeira, município de Massapê do Piauí, situado a 78 km de Picos, foram implantadas quatro cisternas-calçadão no ano de 2011. Uma delas é no quintal de Josefa Maria da Silva, 66 anos, mais conhecida como Dona Deca. A agricultora mora em sua casa com um neto, Léo, de 16 anos. Criada por duas tias, sempre morou na comunidade. Das lembranças que tem do seu lugar, uma é das dificuldades que sua comunidade tinha com o abastecimento de água até pouco tempo atrás. “Antigamente a gente pegava água num antigo riacho que só enchia no inverno e depois secava. Também tinha um cacimbão, mas, para pegar água nele, era preciso limpar todos os dias. A gente tirava a água toda para minar outra limpa. Era cheio de bicho. Cururu tinha demais. A gente só usava porque não tinha outra”, relembra a agricultora. Mãe solteira de oito filhos e filhas, Dona Deca conta que, por conta das poucas condições oferecidas em seu município, sempre teve que sair para trabalhar em casa de família para sustentar os filhos e filhas, que ficavam com as mesmas senhoras que a criaram. Tanto tempo longe de casa que ela não sabe exatamente o quanto durou. “Foi tanta ida e vinda que perdi as contas”, diz. Suas temporadas de trabalho eram bem longe de casa, no Estado de São Paulo. E, mesmo tendo passado muito tempo naquelas terras, conta que nunca se acostumou. Não conseguia se afastar do seu lugar de origem. Num desses retornos para casa, ela diz que se deparou com a chegada das cisternas em sua comunidade. “Pensei: agora vou plantar minhas frutas”. Dona Deca também afirma que as águas das chuvas, captadas pelas cisternas da ASA (Articulação Semiárido Brasileiro), trouxeram qualidade de vida para a sua comunidade. “Essas cisternas são uma maravilha para nós todos daqui. Todo mundo melhorou a vida porque tem água Do sonho à realidade BOLETIM CANDEEIRO_SETEMBRO quarta-feira, 11 de setembro de 2013 17:08:08

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Ano 7 - n° 1310Setembro/2013

Massapê do Piauí

Expectativas de uma vida melhor com a percepção de um novo cenário

N a c o m u n i d a d e Ingazeira, município de Massapê do Piauí, situado a 78 km de Picos, foram i m p l a n t a d a s q u a t r o cisternas-calçadão no ano de 2011. Uma delas é no quintal de Josefa Maria da S i l v a , 6 6 a n o s , m a i s conhec ida como Dona Deca. A agricultora mora em sua casa com um neto, Léo, de 16 anos.

Criada por duas tias, sempre morou na comunidade. Das lembranças que tem do seu lugar, uma é das dificuldades que sua comunidade tinha com o abastecimento de água até pouco tempo atrás. “Antigamente a gente pegava água num antigo riacho que só enchia no inverno e depois secava. Também tinha um cacimbão, mas, para pegar água nele, era preciso limpar todos os dias. A gente tirava a água toda para minar outra limpa. Era cheio de bicho. Cururu tinha demais. A gente só usava porque não tinha outra”, relembra a agricultora.

Mãe solteira de oito filhos e filhas, Dona Deca conta que, por conta das poucas condições oferecidas em seu município, sempre teve que sair para trabalhar em casa de família para sustentar os filhos e filhas, que ficavam com as mesmas senhoras que a criaram. Tanto tempo longe de casa que ela não sabe exatamente o quanto durou. “Foi tanta ida e vinda que perdi as contas”, diz. Suas temporadas de trabalho eram bem longe de casa, no Estado de São Paulo. E, mesmo tendo passado muito tempo naquelas terras, conta que nunca se acostumou. Não conseguia se afastar do seu lugar de origem. Num desses retornos para casa, ela diz que se deparou com a chegada das cisternas em sua comunidade. “Pensei: agora vou plantar minhas frutas”.

Dona Deca também afirma que as águas das chuvas, captadas pelas cisternas da ASA (Articulação Semiárido Brasileiro), trouxeram qualidade de vida para a sua comunidade. “Essas cisternas são uma maravilha para nós todos daqui. Todo mundo melhorou a vida porque tem água

Do sonho à realidade

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limpa em casa. Essa água é sadia. A gente sempre ouvia falar que os hospitais da cidade ficavam cheios de gente doente com diarreia e vômi to . Mas aque la epidemia, que a gente ouvia falar, acabou”.

Com capac idade para armazenar 52 mil l i t r o s , a c i s t e r n a -calçadão de Dona Deca a i n d a t e m á g u a conservada da última chuva daquela região, q u e , s e g u n d o e l a , aconteceu no mês de abril. Ela conta que só conseguiu p lantar e colher neste ano. Com a

ajuda da nora, que é sua vizinha e cuida dos canteiros que já dão abóbora, pimentão, pimenta, tomate, coentro, cenoura, melancia e cebola. Dos gêneros colhidos, Dona Deca abastece sua cozinha e divide com os amigos que não plantam. “Mas meu sonho ainda é ter muita fruta plantada aqui. Adoro plantar”, conta. Além do cultivo nos canteiros, ela também cria alguns porcos e conta que é muito mais fácil alimentar os animais agora.

Como boa conhecedora do seu território, e apaixonada pelo que a terra pode oferecer a quem sabe lidar com ela, Dona Deca afirma: “Eu gosto de trabalhar, eu gosto da roça. Para mim, esse programa é a maior riqueza da vida. A gente tem que ter cuidado com as cisternas. Porque a água é nossa. E água é vida”.

São as impressões e práticas de pessoas como Dona Deca, autêntica representante do povo do semiárido, que fortalecem o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2). “Na minha comunidade, muita gente acha importante e eu me sinto muito feliz e orgulhosa. Tenho muita satisfação de ver essa cisterna na beira da minha casa. Hoje posso até receber meus amigos em casa”.

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