do poder das bruxas ao poder polÍtico trajetÓria … · É no solo norte-americano que...
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11& 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017,ISSN 2179-510X
DO PODER DAS BRUXAS AO PODER POLÍTICO
TRAJETÓRIA DAS MULHERES NEGRAS NO EXERCÍCIO DE PODER
Maria Conceição Costa1
Ana Lúcia Francisco2
É preciso desafiar os (as) estudiosos (as) a perguntarem não
apenas sobre quem trata a pesquisa, mas também para
quem ela é destinada. Esta dúvida quanto ao para quem não
diz respeito apenas à defesa, mas, sim a quem é capaz de agir e
demonstrar sua atividade. Essa atividade é representada
através das formas epistemológicas e discursivas.
(LADSON-BILLINGS. 2006, pag. 269)
Resumo: O presente estudo pretende historicizar a participação das mulheres negras nos espaços de
poder tomado como exemplo os casos emblemático de Angela Davis, ativista e teórica
estadunidense e Benedita da Silva, parlamentar brasileira , que passaram situações carregadas de
violência física e simbólica,pensado o exercício do poder. Conjugando os termos gênero, raça e
poder, numa perspectiva interseccional (Krenshaw,1989). A pesquisa narrativa - bibiográfica será o
recurso principal na compreensão das trajetórias e para isso realizaremos uma pesquisa cartografia
como método ajudará no mapeamento do processo. Mais que um método, um posicionamento
cartográfico será a nossa forma de realizar a pesquisa, entendendo-se o método Cartográfico como
processual, baseado no que formularam Deleuze e Guattari ( Kastrup e Barros, 2010). Como
resultado preliminar, pretendemos criar uma metanarrativa acerca a vida dessa mulher,
compreendendo o impacto dessas trajetórias no feminismo negro, no processo de empoderamento
das mulheres negras brasileiras nos exercício de poder e participação nas políticas públicas.
Palavras chaves: raça e gênero, poder, interseccionalidade, feminismos, angela davis.
APRESENTAÇÃO
O trabalho, ora apresentado, é o resultado da proposta do Projeto de Tese desenvolvido no
Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica - Doutorado, da Universidade Católica de
Pernambuco. A reflexão nos leva a crer que, sendo um trabalho em construção, significa um
projeto não pronto ou não acabado, mas tão somente uma Projeto caminhante, precisando passar
pela análise crítica de pesquisa a que este encontro se propões. Desta feita, buscaremos melhorá-lo
na forma e no conteúdo, compreendendo que o caminho da pesquisa agora vislumbra-se, incluindo
1 Maria Conceição Costa - Doutoranda/Programa de pós-graduação em psicologia clínica /Universidade Católica de
Pernambuco-UNICAP/Brasil. 2 Ana Lúcia Francisco - Orientadora/Programa de pós-graduação em psicologia clínica /Universidade Católica de
Pernambuco-UNICAP/Brasil.
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ai as possibilidades e percalços que atravessaremos ao expormos tais idéia no Seminário
Internacional Fazendo Gênero 11 (FG).
A pesquisa qualitativa, aqui sugerida, mostra-se muita rica em possibilidades, mas longe de
inquietar mostra-nos que o cuidado com a apuração dos fatos e o desenvolver das ideias requerem
mais cuidados e compromissos éticos com caminho “cientifico” por nós adotado. Assim, a
trajetória inicial da pesquisa, refletida no Congresso, trouxe-nos essa consciência e
responsabilidade.
JUSTIFICATIVA
Os últimos anos trouxeram as formulações dos movimentos de feministas que reivindicam mais
participação política das mulheres nos espaços de poder. Nesse sentido, a presente pesquisa
pretende historicizar o exercício do poder das mulheres, tomado como exemplo narrativas
biográficas de mulheres negras, observando os modos como tais mulheres, ao experimentarem o
exercer poder foram colocadas em cheque, a despeito dos tempos em que viveram, da sua
capacidade de o exercerem , do cargo que exerceriam, de liderança ou não, assim como, a luta
como em que lugar o postulavam.
Podemos observar isso em casos que chamaremos emblemáticos trazidos das referências das
narrativas de mulheres a partir de diversos lugares e realidades, em que, possivelmente, transitavam
o exercício de poder. Falar dessas mulheres como as participantes da trajetória, elencando duas em
especial, dentro da pesquisa de tese, a partir das narrativas trazidas pelas mesmas. As narrativas
apresentadas trarão personagens como aquelas em desempenho do exercício de poder (ou não
poder), buscando compreender como sendo mulheres que tiveram algum impacto histórico por
onde passaram poderiam nos trazer a possibilidade da reflexão sobre o que seja poder e o seu
exercício para as mulheres, de modo mais geral.
As biografias de mulheres, dentre tantas outras mulheres alçadas ao campo do poder político, como
sujeito nesse exercício, justifica-se porque em nossa militância profissional (trabalho com gênero,
raça e a categoria mulher), bem como na formulação teórico-conceitual e militância social-política
nos aproximamos nos últimos anos de inquietações da teoria feminista, pensando categorias não
universais, a partir das provocações dos vários campos do feminismo que se apresentam:
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“feminismo clássico”, feminismo branco, feminismo comunitário , feminismo indígena, feminismo
árabe, feminismo religioso (cristão católico e evangélico, de mulheres de terreiro) de mulheres
negras. Ao que denominaremos feminismos porque conjugarão várias facetas e possibilidades e
para isso, as autoras em que nós apoiamos denominarão feminismo interseccional como
apontaremos mais abaixo. A partir da prática e da teorização sobre o termo, como nos sugerem
Krenshaw (1989), Davis (2016), além de outras autoras nacionais como Ribeiro (2014),
Moreira(2007), Gozales(1989), Duarte (2010) e Carneiro (2014) , dentre outras, as quais nos
guiarão no caminhar da pesquisa.
Ao caminharmos com a teoria da interseccionalidade, caminharemos também com a teorização do
feminismo negro interseccional, como aquele que nos permitirá conjugar categorias diferentes para
compreensão da pesquisa, com experiências locais e internacionais.
Para isso Moreira nos apontará que,
É no solo norte-americano que blackfeminism e as intelectuais negras
começaram a produzir formulações teóricas de um ponto de vista alternativo,
tendo como preocupação os estudos das diferenças de raça, de região, etnia,
nacionalidade e orientação sexual etc (2007, p. 78).
Desconstruindo categorias ou sujeitos universais, conforme dissemos antes, a partir da chamadas
teorias StandpointTheory, que mesmo não sendo objeto desse trabalho pode contribuir a nossa
compreensão da “ articulação raça e gênero” ao nos possibilitar a desestabilização ou
desconstrução da “noção do sujeito universal ‘mulher’ ” (obra citada), apontando que é preciso
continuar “ressalvando as várias identidades construídas pelas mulheres negras em diferentes
contextos históricos” (Moreira, 2007, p. 78).
Portanto, na garantia de uma cartografia em construção, apontamos duas participantes da pesquisa,
a partir das narrativas trazidas, que foram escolhidas por serem exemplos de possibilidades de
exercício de poder, de mulheres, que tiveram algum impacto histórico por onde passaram.
Assim, pensa-se Do Poder das Bruxas ao Poder Político - trajetória das mulheres negras no
exercício de poder porque ao longo de séculos as mulheres foram alijadas do exercício do poder a
partir da ideia do que seja o conhecimento, seja formal, acadêmico ou o conhecimento dado pela
experiência, empírico. Isso em várias áreas, fossem das ciências clássicas ou mesmo na ciência da
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saúda, entre outras. O título remete ainda às perseguições que as mulheres sofreram, fruto de
ignorância, mas também fruto do poder assustador que estas causavam pelos mistérios do
feminino, aqui considerando como o simbolismos das capacidade de gerar vida, parir e/ou da
menstruação, esse sangue que jorra e não lhe mata! Suscitando assim ideias obscurantistas (termo
não muito agradável, porem de força mais histórica que semântica) que as levou a ainda leva as
fogueiras, sejam reais ou fogueiras simbólicas.
Na atualidade, em casos variados, pode-se observar, a exemplo da situação brasileira, em que
pode constatar que em termos de participação das mulheres nos espaços de poder, há que se refletir
como se explica que 52% da população brasileira seja composta por mulheres e apenas 10% desta
mulheres estejam no exercício no parlamento, a exemplo do congresso nacional (IBGE, 2010). O
que faz tamanha assimetria numa sociedade, pode-se sugeri que seja uma questão cultura e
patriarcal, assentados no machista ainda existente na sociedade. Para isso, importante se faz
refletir os espaços de poder e uso de poder. Pode-se questionar também como as mulheres exercem
o poder. A difusão do poder é algo possível às mulheres? E entre estas e os homens? As mulheres
são colocadas em cheque em relação a capacidade quando nesses espaços e a forma de as
questionar nem sempre é adequada, coisificando, desqualificando ou infantilizando-as, quando não,
desacreditando e silenciando-as, quanto a isso podemos, sugerir hoje, uma nova caça às bruxas
dadas as novas formas de opressão?
OBJETIVO
Nosso objetivo é analisar o exercício de poder político, na trajetória de mulheres, intersecionando o
conceito de gênero, raça, classe e poder, a partir narrativas biográficas de ativistas e teóricas
negras. Para isto pensamos ser necessário fazê-lo apresentando a trajetória biográfica de Angela
Davis (EUA) e Benedita da Silva (BR), ao longo da suas histórias de vida, no exercício de poder
político, intersecionando o conceito de gênero, raça, classe e poder. Buscamos compreender a
partir dessas biografias o modo como o exercício do poder foi percebido no processo de
empoderamento das mulheres (metanarrativa). Pensamos também refletir o processo da
inteseccionalidade conjugando os termos gênero, raça, classe e relações de poder no processo de
empoderamento das mulheres negras. Por fim, pensamos poder relacionar o impacto desse
exercício no processo de empoderamento dessas mulheres negras, e assim, relacionar o processo
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ao longo da história e suas conseqüência no empoderamento da mulher brasileira dentro nas
políticas públicas.
MÉTODO
Como caminho da pesquisa para a construção da tese traremos como método a pesquisa
cartográfica tomando como recurso principal a narrativa de 02 mulheres, visando o mapeamento do
processo de empoderamento político. Este método, trazido por Deleuze e Guatarri, visa
acompanhar processos e não parte de premissas pré-definidas. Portanto, toma como perspectiva o
próprio caminhar da pesquisa.
Entretanto, não se trata de uma metodologia solta na medida em que seguiremos pistas a guiar o
trabalho da pesquisa, compreendo-se que o acompanhar processo não pode predeterminar
antecipadamente (ou de antemão) a totalidade daquilo que denominamos procedimentos
metodológicos (Kastrup, Passos e Escóssia, 2013). Assim, estes autores definem tais pistas como
aquelas “(...) que guiam o cartógrafo e são como referências que concorrem para a manutenção
de uma atitude de abertura ao que vai se produzindo e da calibragem do caminhar no próprio
percurso da pesquisa”, ou seja, “(...) o hódos-metá da pesquisa”
(2013, pág. 13, grifo nosso). Para isso, propõem pistas, as quais nos balizarão.
Algumas pistas (Kastrup, Passos e Escóssia, 2013) sugerem que Cartografar é acompanhar
processos (Laura Pozzana e Virgínia Kastrup in Kastrup, Passos e Escóssia, 2013); Cartografar é
habitar um território existencial ( Johnny Alvarez e Eduardo Passos); Pensando uma política de
narratividade (Eduardo Passos e Regina Benevides); A formação do cartógrafo é o mundo:
corporificação e afetabilidade (Laura Pozzana).
E será, portando, um posicionamento cartográfico, mais que uma forma de realizar a pesquisa,
dado que entendemos o método Cartográfico sobretudo, processual, significando que,
Quando iniciamos uma pesquisa, nem sempre o problema da duração do objeto, ou
seja, a sua dimensão processual e de produção subjetividade está bem definida,
ganhando clareza durante a investigação. (KASTRUP e PASSOS, 2013, pág. 395).
Para Kastrup e Passos (2013), ainda, “a cartografia é um método de investigação”, mas que não
buscaria desvelar aquilo que já estaria dado como natureza ou realidade preexistente. Partiriam,
então, do pressuposto de que o ato de conhecer seria o ato criador da realidade. Isso, então
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colocaria em questão “o paradigma da representação”. (pag 2 (18)). Portanto, a cartografia nessa
tese não será indicativa de um processo, propriamente dito, mas um modo de me posicionar
enquanto pesquisadora, na construção do caminho metodológico (hódos-meta).
O modo do procedimento será apresentar a narrativa biográfica, criando uma meta narrativa que
permita-nos a compreensão do que seja comum e não comum na biografia dessas mulheres ao
exercitarem o poder. E como exercem o poder e se exercem. Como conseqüência pensar-se assim,
o processo de empoderamento das mulheres.
PARTICIPANTES
As participantes da pesquisa, a partir das narrativas, foram escolhidas por serem exemplos de
possiblidades de problematização de exercício de poder, de mulheres, que causaram impacto
histórico por onde passaram, conjugando a teorização com a práxis de poder e não poder,
interseccional. Souza (2011), citando Foucault, nos trará sobre a ideia de poder uma tal
proposição que chega como algo unitário e global, ao qual ele denominará de poder, sendo o que
vem unicamente como poderes, formas díspares, heterogêneas e em constante transformação. Já
que o poder constitui-se como uma pratica social, não sendo algo natural será, portanto,uma ação
“constituída historicamente”, como foram as trajetórias dessas mulheres. Uma construção histórica
que traremos como exemplos, as biografia de mulheres alçadas ao campo do poder político,
como sujeito nesse exercício, para isso escolhemos uma teórica e feminista negra e uma gestora
pública, parlamentar,ex-ministra, descritas, brevemente abaixo:
A LUTA INTERSECCIONAL
Angela Yvonne Davis , EUA - uma estrategista X umabruxa assassina insana, (nasc ida em 26 de janeiro de1944): a tivista polític a americ ana , estud iosaac adêmic a e autora de d iveros livros. Ativista dac ontrac ultura e ra d ic a l na déc ada de 1960 c omo líderdo Partido Comunista dos EUA, pa rtic ipante doPartido das Panteras Negras a través de seuenvolvimento no Movimento d os Direitos Civis.Professora aposenta da do Departamento de Históriada Consc iênc ia e ex-d iretora do Dep artamento deEstud os Feministas da Universidadeda Ca lifórnia -Santa Cruz. Foi c and ida ta a vic e- p residênc ia darepúb lic a em 1980 e 1984. Marxista . Co-fundadora daResistênc ia Crític a , uma organizaç ão que trab a lhapara abolir o c omplexo prisiona l-industria l.
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DO PODER DA RUA AO PODER POLÍTICO
Bendita da Silva, Brasil – parlamentar X favelada,(nasc ida e 11 de març o de 1942); parlamenta r, 1ªmulher negra vereadora do de janeiro (1982).Deputada Federa l por duas vezes. Em seu primeiromandato, durante a reforma da Constituiç ão do Brasil,Benedita da Silva garantiu as mulheres presid iárias odireito de permanec erem c om os seus filhos durante aamamentaç ão. 1ª mulher negra Senadora Federa l, omais a lto esc alão do Poder Legisla tivo brasileiro (1994 -eleita 2.248.861 votos). Vic e-Governadora do Estadodo Rio de Janeiro, em 2002, c om a renúnc ia do entãogovernador, assume a c hefia do Exec utivo, tornando-se assim a 1ª mulher a governar o Estado. Ministério daAssistênc ia Soc ia l (2003). Em 2010 foi eleita mais umavez para Câmara federa l.
Para a pesquisa, observaremos como as participantes, a seus tempos e modos, exercitaram ou
transitaram nas zonas de poder e sofreram por estarem em destaque ou “ameaçando” a status
quo, do poder patriarcal, passando também, a seu modo e tempo, pelo processo de silenciamento a
que esse poder político fora submetido, ao longo de tais trajetórias.
REFERENCIAL TEÓRICO
Trazemos a conceituação de gênero e raça na perspectiva de teóricas feminista negras (Carneiro,
hooks), entendo-os como conceitos sócio-históricos, longe das formulações biologizantes. Para isso,
lançaremos mãos de teorias de apoio no campo da sociologia que firma o conceito teórico de raça,
com Guimarães (2009) e embora a teoria feminista intersecccinoal (Krenshaw; Gonzalez,
Manifiesto Colectiva del Rio Combahee, 1977) nos sustente, o conceito de gênero virá também
das “clássicas” formulações teórico-políticas de autoras como Beauvoir (1949) e Scott (1989).
Pensando no método da cartografia como aquele em que todo conhecimento é implicado,
lançaremos mão, além destes conceitos acima, de outros como classe e racismo.
Traremos como aporte teórico autoras e autores que são estudiosos do tema, conjugando raça e
gênero como Bell hooks, 1989 ( em todos os seus trabalhos a autora grafa assim o seu nome);
Davis, 2016; Ribeiro, 2016; Ávila, 2015; Carneiro, 2010; Bairros, 2010; Nogueira, 2007;
Gonzalez, 1987, importantes ao desenvolver do caminhar no processo da pesquisa cartográfica.
Para isso traremos além de teóricas da própria cartografia com suporte teórica principal, aliados a
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autoras do temas da interseccionalidade (Kimberlé Crenshaw, 1989) e da “análise” foucaultiana
do que seja poder, na perspectiva que próprio Foucault (2016) realizou.
Então, sendo um doutoramento em psicologia, essa pesquisa se propõe lanças mão de autoras da
área que formularam sobre tema do gênero, poder, racismo e feminismo de modo o mais diverso
possível, a exemplo de Silva (psicologia e racismo), 2008; Sawaia, (psicologia social do racismo)
2005; Nascimento (psicanálise), 1998; Bento (psicologia social do racismo∕branquitude), 2005;
Carone (psicóloga social do racismo), , 2005; Ladson-Billings (teórica da psicologia) 2006; Santos
Souza (psicanalista - racismo e identidade), 1983; Duarte (interseccionalidade – psicologia
cognitiva) 2010, entro outras.
CONCEITOS CHAVES
Os conceitos chaves a essa pesquisas trarão como aporte teórico autoras e autores que são
estudiosos do tema, conjugando raça e gênero. Com mais ênfase na compreensão do que sejam o
conceitos de gênero, raça , interseccionalidade e poder, a partir de pesquisas de autoria que quem
as formulou mais aprofundadamente, no interesse dessa tese, quais sejam, Kimberlé Crenshaw,
Scott, Guimarães e Michel Foucault. Mas a pesquisa irá a outra áreas desde filosofia, a sociologia,
psicologia, direitos e a história.
Por gênero, compreende-se aqui, uma maneira de indicar as “construções sociais” – a criação
inteiramente social das ideias sobre os papéis próprios aos homens e às mulheres. Sendo, assim,
portanto, uma maneira de se referir às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas
dos homens e das mulheres. Para tanto, o gênero seria uma categoria social imposta que incidiria
sobre um corpo sexuado. Embora, nos dias de hoje este tema tenha se ampliado para a identidades
de gênero e posicionamentos, com a proliferação dos estudos do sexo e da sexualidade, o gênero se
tornou uma palavra particularmente útil, porque ele oferece um meio de distinguir a prática sexual
dos papéis atribuídos às mulheres e aos homens. Apesar do fato dos (as) pesquisadores(as)
reconhecerem as relações entre o sexo e (o que os sociólogos da família chamaram) “os papéis
sexuais”, estes(as) não colocam entre os dois uma relação simples ou direta. O uso do “gênero”
coloca a ênfase sobre todo um sistema de relações que pode incluir o sexo, mas que não é
diretamente determinado pelo sexo nem determina diretamente a sexualidade (SCOTT, 1989, pag.
08).
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Entendemos que para esta tese alguns conceitos serão considerados chaves para melhor
compreensão da pesquisa, que são os termos gênero, raça, interseccionalidade e poder.
As raças são, cientificamente, uma construção social e devem ser estudadas por um ramo próprio
da sociologia ou das ciências sociais, que trata das identidades sociais. Estamos, assim, no campo
da cultura, e da cultura simbólica. Podemos dizer que as "raças" são efeitos de discursos; fazem
parte desses discursos sobre origem (Wade 1997). As sociedades humanas constroem discursos
sobre suas origens e sobre a transmissão de essências entre gerações. Esse é o terreno próprio às
identidades sociais e o seu estudo trata desses discursos sobre origem. Usando essa idéia, podemos
dizer o seguinte: certos discursos falam de essências que são basicamente traços fisionômicos e
qualidades morais e intelectuais; só nesse campo a idéia de raça faz sentido. O que são raças para a
sociologia, portanto? São discursos sobre as origens de um grupo, que usam termos que remetem à
transmissão de traços fisionômicos, qualidades morais, intelectuais, psicológicas, etc., pelo sangue
(conceito fundamental para entender raças e certas essências) (Guimarães, 2003).
Interseccionalidade para nós, junta categorias importantes, na exclusão das mulheres e na
formulação de temas como gênero, raça,classe e poder. Assim, se para as mulheres o exercício do
poder é algo difuso, pensamos que essa difusão terá caráter diferenciado se for o exercício de
poder para um mulher negra. Assim, comparando as situações podemos entender que
ainterseccionalidade estará posta para a análise das relações de poder entre homens e mulheres,
bem como entre mulheres, se formos considera as condições diferenciadas entres mulheres brancas
e negras, como apontam os estudos das políticas públicas brasileiras (PEA, 2013 e IBGE, 2015).
Para isso tomando de empréstimo uma figura matemática da intersecção dos conjuntos, Crenshaw
(1989) conforme define a figura 1, abaixo, nos dirá que a intercessão das condições da mulheres.
Women = Mulheres
Poor = Pobres
Southern =Sulistas
Race/Ethnicity = Raça/Etnicidade
O que nos sugere que a interseccionalidade é uma conceituação do problema que busca capturar as
conseqüências estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da subordinação e
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discriminação. Dirá que “trata especificamente da forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a
opressão de classe e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as
posições relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras” (Crenshaw, 2002: 09)
A autora adentrará no tema cunhando também o termo feminismo interseccional, como o próprio
nome sugere, referindo-se à intersecção entre diversas opressões, desde a opressão a construção
social do gênero, da raça e da classe social. Fazendo uma referência que inicialmente as
feministas não englobavam, nos anos 20, no termo feminismo mais que a opressão de gênero,
atendendo exclusivamente às reivindicações das mulheres brancas de classe média. Assim,
desconsiderando de pronto as necessidades da classe de mulheres trabalhadoras, além daquelas de
classe baixa, que eram “as mulheres negras”, as quais eram invisibilizadas dentro desse movimento
(Crenshaw, 1989).
Sobre Poder, “O poder não existe” (!) dirá Foucault para explicar que como uma ideia existente,
localizada num certo lugar, o poder sequer foi definido por ele, mas como para nos fazer perceber
que seria, na verdade uma série de relações, sendo “(...) mais ou menos organizado, mais ou menos
piramidalizado, mais ou menos coordenado. Portanto, o problema não é de construir uma teoria do
poder (...)” (Foucault, 2016: 369), mas compreendê-lo como uma prática social e historicamente
constituído.
Souza () citando Foucault dirá que sobre o poder, chega como algo unitário e global ao qual ele
denominará de poder, sendo algo unicamente com formas díspares, heterogêneas e em constante
transformação. Já que o poder constitui-se como uma pratica social, não sendo algo natural,
portanto será uma ação “constituída historicamente”. (pagina 4∕106).
Acompanhando os argumentos elencados acima para afirmar que o poder representa uma
“dimensão exclusiva do ser humano”, o que leva compreensão que se constitui como um processo
histórico, traduzindo a ideia de que a proposta de análise foucaultiana pretende debruçar-se sobre a
sociedade determinada, em um momento histórico específico, levando em conta operações
peculiares de disciplina e vigilância realizadas no interior de uma instituição específica como, por
exemplo, aquelas desenvolvidas no perímetro de funcionamento de um presídio.
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RESULTADO PRELIMINAR
Como resultado, criando uma metanarrativa acerca a vida dessas mulheres, pretende-se
compreender o impacto dessas narrativas biográficas no processo de empoderamento das mulheres
negras brasileiras nos exercício de poder e participação nas políticas públicas.
Assim, como pensar a contribuição da psicologia a construção do pensamento intrseccional para o
campo do feminismo negro. Isto poderá ser melhor aprofundado ao longo do caminhar da
pesquisa nos conceitos de racismo e sofrimento psíquico para s mulheres negras. Para isso, pensa-se
aqui o que os estudos e a formulação teórica podem sugerir a partir da construção da Resolução
018/2002, do Conselho Federal de Psicologia, onde podemos refletir o tema do racismo para
própria psicologia no Brasil (Instituto Amma Psique Negritude, 2008).
REFERÊNCIAS
DOSSIÊ MULHERES NEGRAS: retrato das condições de vida das mulheres negras no Brasil /
organizadoras: Mariana Mazzini Marcondes ... [et al.].- Brasília : Ipea, 2013. 160 p. :gráfs., tabs.
Fonte: http://www.seppir.gov.br/ass…/dossie_mulheres_negrasipea.pdf
CRENSHAW, K. DemarginalizingtheIntersectionofRaceand Sex: A Black Feminist Critique
ofAntidiscriminationDoctrine, FeministTheory, andAntiracistPolitics. Universityof Chicago Legal
Forum, 14, 1989.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Editora: Paz Terra. 2016
CRENSHAW, Kimberle. A intersecionalidade da discriminação de raça e gênero. 2002. Publicado
pela Revista Estudos Feministas, nº1, 2002, sob a coordenação de Luiza Bairros, da Universidade
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Relations between genders in the universities and agencies: access and permanence.
Abstract: This communication intends to ask questions about the best way to approach the
relationship between the low visibility of women in higher education institutions (universities and
organizations) with all its heterogeneity and the
contradictory reality.
In order to analyze these relationships, the paper points out questions about the elements that are
fundamental to an analysis of social divisions that are clearly manifested in access and entry into
these institutions. It also points out what policies would be possible in order to put and implement
viable solutions so that women could participate, at all levels and organizations, and indicate which
instruments guarantee the permanence in these places.
This issue remains a priority, particularly as the arguments assume that there is already a "visible"
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11& 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017,ISSN 2179-510X
amount of women in science and research, however, what role they play and what the impediments
in leadership situations.
The paper is divided into 6 parts:
1. Gender relations: gender studies and
Social construction;
• Actions for greater visibility;
• The importance of actions (visibility reduction);
• 4. Projects: inclusion of women and markers of
difference;
• 5. Brazilian Programs: Women and Science
• 6. Conclusions
Keywords:interseccionality; gender; Universities; equity