do contrato de safra - servicos.toledo.br filedo contrato de safra trabalho de conclusão de curso...

52
Muriele Daiane Borges Azoni DO CONTRATO DE SAFRA Centro Universitário Toledo Araçatuba-SP 2018

Upload: trandien

Post on 10-Feb-2019

223 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

Muriele Daiane Borges Azoni

DO CONTRATO DE SAFRA

Centro Universitário Toledo

Araçatuba-SP

2018

Page 2: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

Muriele Daiane Borges Azoni

DO CONTRATO DE SAFRA

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso

de Direito da universidade Unitoledo, como requisito

para obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Me. Paulo Cavasana.

Centro Universitário Toledo

Araçatuba-SP

2018

Page 3: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

Banca Examinadora

____________________________________________

Prof. Me. Paulo Cavasana

____________________________________________

Profª. Me. Leiliane Rodrigues da Silva Emoto

____________________________________________

Profª. Me. Flavia Elaine Soares Ferreira Lombardi

Araçatuba, 19 de junho de 2018.

Page 4: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

Dedico este trabalho...

Dedico este trabalho monográfico a minha mãe,

meu marido, meu filho, meus professores e

amigos.

Sem vocês nada disso seria possível.

Page 5: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus por ter abençoado esses anos de faculdade. Foram momentos muito

difíceis durante esta jornada.

Agradeço ao meu marido, meu amor, meu exemplar de vida e persistência, pelo apoio e pela ajuda que

me deu ao longo dos anos da faculdade.

Agradeço a minha mãe pelo incentivo pois sempre me incentivou nos momentos mais difíceis em que

eu pensava em desistir.

Agradeço a meu filho que me motiva todos os dias em busca de uma melhoria contínua em nossas

vidas

Page 6: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

RESUMO

O contrato de safra consubstancia-se em um instrumento particular que terá seu prazo de

duração a depender de condicionantes de caráter sazonal, inerentes às atividades agrárias, ou

seja, aquelas tarefas as quais geralmente são desempenhadas no período que se compreende

entre a efetiva preparação da terra para o plantio e a efetivação da colheita. O presente estudo

também se presta a analisar a polêmica indenização prevista em lei especial bem como a

jurisprudência que trata a respeito das estabilidades.

Palavras Chave: Consolidação das leis trabalhistas; Contrato de trabalho; Contrato de safra.

Page 7: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

ABSTRACT

The harvest contract consubstantiates in a particular instrument that will have its duration to

depend on seasonal factors, inherent to the agrarian activities, that is, those tasks that are

usually performed in the period between the effective preparation of the land for planting and

harvesting. The present study also lends itself to analyzing the controversial indemnification

provided for in special law as well as the jurisprudence that deals with the stabilities.

Key-Words: Consolidation of labor laws; Employment contract; Contract of harvest.

Page 8: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................09

I- DO CONTRATO INDIVIDUAL DO TRABALHO........................................................11

1.1. Conceito ............................................................................................................................11

1.2. Contrato de Trabalho por Prazo Indeterminado.................................................................12

1.3. Contrato de Trabalho por Prazo Determinado...................................................................13

1.4. Suspensão e Interrupção do Contrato de Trabalho............................................................15

II- DAS ESPÉCIES DE TRABALHADORES.....................................................................17

2.1. Trabalhador Temporário....................................................................................................17

2.2. Trabalhador Autônomo......................................................................................................19

2.3. Trabalhador Não Eventual.................................................................................................20

2.4. Trabalhador Avulso............................................................................................................21

2.5. Trabalhador Terceirizado...................................................................................................23

2.6. Trabalhador Rural..............................................................................................................24

III – DO CONTRATO DE SAFRA.......................................................................................27

3.1. Conceito.............................................................................................................................28

3.2. Requisitos para Estabelecer um Contrato de Safra ...........................................................30

3.3. Normas Jurídicas Aplicáveis aos Contratos de Safra.........................................................34

3.4. Direitos e Obrigações do Safrista.......................................................................................35

3.5. Regras, Limites, Condições e Restrições Impostas pela CLT ao Contrato por Prazo

Determinado..............................................................................................................................36

3.6. Estatuto do Trabalhador Rural...........................................................................................37

3.7. Normas de Segurança e Saúde do Trabalhador.................................................................39

3.8. FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço...........................................................41

3.9. Jurisprudência....................................................................................................................43

CONCLUSÃO.........................................................................................................................48

REFERÊNCIAS......................................................................................................................50

Page 9: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

9

INTRODUÇÃO

Incialmente, importante apontar que o trabalho efetivo é uma necessidade natural do

ser humano, desde os tempos mais remotos, com o qual o homem se mantém e consegue

existir. Diversamente, nota-se que o direito do trabalho se consubstancia numa criação

legislativa atual.

Com as inúmeras divisões de atividades de trabalho existentes, bem como, ainda, com

o surgimento de várias profissões, apareceu a necessidade de o Estado garantir atenção

específica às diversas espécies de relações de trabalho que foram surgindo.

Onde, por questões óbvias e lógicas surgem os contratos especiais de trabalho, os

quais possuem regulamentação específica e que, por possuírem propriedades peculiares de

atividade laboral, necessitam de uma específica atenção legislativa.

Nessa direção, dentre muitas outras espécies de contratos especiais, o Decreto nº

73.626/1974 e a Lei nº 5.889/1973, definem o contrato de safra, no sentido de que o

regulamenta e a jurisprudência pátria tem admitido não ser possível a restrição da definição de

safra, unicamente à atividade da colheita.

Assim, o desígnio dessa modalidade contratual é garantir, pelo período de safra, a

manutenção do vínculo trabalhista, estabelecido entre empregado e empregador.

Ainda, nos termos do que preveem o artigo 442, da CLT – Consolidação das Leis

Trabalhistas e artigo 1º, da Lei nº 5.889/1973, o contrato de safra possui sua forma livre,

sendo possível sua concretização verbal ou escrita, expressa ou tácita, contudo, como maneira

de garantir o direito das partes contratantes, tem se optado pelo contrato escrito e expresso.

No primeiro capítulo trataremos a respeito do contrato individual do trabalho e suas

modalidades abordando também sobre os momentos de suspensão e interrupção do contrato

de trabalho.

No segundo capítulo do presente trabalho discorreremos a respeito das espécies de

trabalhadores realizando uma breve análise jurídica de suas características e diferenças em

relação ás outras espécies de trabalhadores estudadas.

No terceiro capítulo chegaremos ao assunto central do trabalho discorrendo a respeito

do contrato de safra abordando o conceito, requisitos, direitos e obrigações dos safristas,

estatuto do trabalhador rural, normas de segurança, fundo de garantia por tempo de serviço e o

estudo de algumas jurisprudências.

Page 10: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

10

Finalmente, durante o transcorrer do presente trabalho acadêmico serão observados,

ainda que de forma sucinta, os elementos constitutivos do contrato de trabalho e os elementos

do contrato de safra, apresentando os direitos dos empregados safristas. Para tanto,

incialmente, será analisada a evolução histórica do trabalho, bem como os princípios jurídicos

que orientam o direito do trabalho brasileiro, bem como, ainda, analisar o trabalho rural.

Page 11: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

11

I - DO CONTRATO INDIVIDUAL DO TRABALHO

1.1. Conceito

A respeito do conceito de contrato individual de trabalho se faz mister destacar as

palavras do doutrinador Carlos Henrique Bezerra Leite que assim o denomina: “De forma

simples, portanto, conceituamos o contrato individual de trabalho como o negócio jurídico

regulado pelo direito do trabalho que estabelece um conjunto de direitos e deveres para o

empregado e para o empregador.”

O artigo 442 da CLT – Consolidação das Leis do Trabalho preconiza que o contrato

individual de trabalho, é o acordo tácito ou expresso, correspondente a relação de emprego.

Ainda o artigo 443 da citada legislação já com as modificações introduzidas pela reforma

trabalhista de 2017 preconiza que “O contrato individual de trabalho poderá ser acordado

tácita ou expressamente, verbalmente ou por escrito, por prazo determinado ou

indeterminado, ou para prestação de trabalho intermitente.”

O contrato individual de trabalho nada mais é que uma espécie de negócio jurídico, e

dessa forma para que tenha validade deve respeitar os requisitos do Código Civil definidos em

seu art. 104, in verbis:

Art. 104 - A validade do negócio jurídico requer:

I – agente capaz;

II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável;

III – forma prescrita ou não defesa em lei.

Desse modo, podemos complementar esse pensamento com as palavras do ilustre

doutrinador Carlos Henrique Bezerra Leita que assim leciona:

Sabemos que toda relação jurídica de natureza pessoal emerge de um negócio

jurídico. Todavia, não basta a existência de dois sujeitos e de um objeto para que

esta relação se instaure. Antes, é imprescindível que os sujeitos se vinculem

juridicamente, por intermédio de um contrato. (2017, p. 360)

Pelo exposto, a conclusão a que chegamos é de que o conceito de contrato individual

de trabalho diz respeito a relação que se firma de modo tácito ou expresso (leia-se, por

escrito), no âmbito do direito do trabalho entre empregado e empregador, sendo que este

Page 12: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

12

último, por força do contrato, realiza pagamentos de salários mediante aos serviços prestados

pelo empregado, assim, surgindo uma relação de emprego.

1.2. Contrato de Trabalho por Prazo Indeterminado

Os contratos de trabalho por prazo indeterminado é a espécie de contrato mais comum

e também a regra na seara trabalhista, e se define naquele no qual as partes contratantes não

estipulam o prazo de sua duração ao celebra-lo.

Importante trazer à baila o raciocínio do ilustre doutrinador Carlos Henrique Bezerra

Leite que assim aduz:

A caracterização do contrato por tempo indeterminado se faz com o auxílio de

dois elementos: a) subjetivo; b) objetivo.

O elemento subjetivo concerne à ausência de uma declaração de vontade das partes

quanto à duração do contrato.

O elemento objetivo repousa na necessidade de uma declaração de vontade por

qualquer das partes, para que o contrato se extinga, isto é, inexistindo essa

declaração,o contrato, em princípio, não termina. (2017, p. 405)

Nesse sentido, notamos ser essa espécie contratual de trato sucessivo, sendo que o seu

término de duração é indefinido, fazendo jus ao princípio da continuidade da relação

empregatícia.

Impende destacar a definição dessa espécie de contrato nos termos do artigo 451, da

CLT - Consolidação das Leis do Trabalho: “O contrato de trabalho por prazo determinado,

que tácita ou expressamente for prorrogado mais de uma vez, passará a vigor sem

determinação de prazo”.

O conceito de contrato por prazo indeterminado na doutrina do ilustre doutrinador

Sérgio Pinto Martins é esclarecedor:

No Direito do Trabalho, a regra é a contratação por tempo indeterminado. O contrato

de trabalho é um contrato de prestações sucessivas, de duração. Èm razão do

princípio da continuidade do contrato de trabalho, presume-se que este perdura no

tempo. A exceção é à contratação por prazo determinado, de acordo com as

determinações específicas contidas na lei. (2012, p. 113)

Page 13: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

13

Assim, observa-se que no direito trabalhista brasileiro o contrato de trabalho por

tempo indeterminado é regra, na qual o contrato a prazo determinado se constitui como a

exceção.

1.3. Contrato de Trabalho por Prazo Determinado

Primeiramente, se faz mister explicitar que nesta espécie de contrato já existe um

prazo de validade acertado entre os contratantes (empregador e empregado). A título de

exemplo de contrato por prazo determinado, temos o contrato de experiência e o contrato de

safra. Outro exemplo também que é comumente utilizado pela doutrina e em aulas de direito

do trabalho são os serviços transitórios a exemplo da fabricação de ovos de pascoa onde

naquela época especifica do ano há uma grande demanda pelo chocolate em formato de ovo,

assim a contratação por prazo determinado se justifica.

O mais corriqueiro no mundo trabalhista é o contrato de experiência pois várias

empresas firmam contrato de experiência pelo período de 45 (quarenta e cinco) dias

prorrogando por mais 45 (quarenta e cinco) dias. O contrato de experiência é benéfico tanto

para o empregador quanto para o empregado pois permite que seja realizado um teste de

adaptação àquele novo ambiente de trabalho. Após o vencimento do prazo mencionado acima

o contrato de experiência deixa de ser um contrato por prazo determinado para se tornar um

contrato por prazo indeterminado.

É de todo oportuno destacar as palavras do doutrinador Mauricio Godinho Delgado

que corrobora o raciocínio acima:

O tipo legal do contrato de experiência é, seguramente, hoje, o mais recorrente no

cotidiano trabalhista entre os três aventados pela Consolidação. Essa recorrência

deriva talvez do laconismo com que a CLT tratou a figura examinada, não

especificando, aparentemente, qualquer hipótese delimitada para sua incidência no

plano concreto das relações empregatícias. (2017, p. 613)

Essa modalidade contratual diferencia-se da outra por submeter o seu término a datas e

eventos já definidos, como por exemplo o término da safra. Assim para firmar um contrato

por prazo determinado se faz totalmente necessário uma justificativa para tal, sendo que essas

justificativa já estão previamente descritas em nossa legislação.

Page 14: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

14

De forma a corroborar com o raciocínio apresentado, o ilustre professor José Cairo

Júnior assim enfatiza:

Sempre que não forem observadas as regras legais para celebração de contrato de

emprego por prazo determinado, processa-se, automaticamente, uma transformação

para um contrato de trabalho por tempo indeterminado. Nessa hipótese, a nulidade

ou anulabilidade da cláusula de termo final não atinge o negócio jurídico em sua

essência, mas apenas esta cláusula específica, que é substituído pela cláusula de

prazo indeterminado. (2017, p. 232)

Também é extremamente importante apresentarmos a previsão na CLT - Consolidação

das Leis do Trabalho, contendo as hipóteses em que a normativa autoriza a celebração do

contrato de trabalho por prazo determinado e ela o faz nas alíneas do art. 443, §2º, vejamos:

Art. 443. (...)

§ 2º - O contrato por prazo determinado só será válido em se tratando:

a) de serviço cuja natureza ou transitoriedade justifique a predeterminação do prazo;

b) de atividades empresariais de caráter transitório;

c) de contrato de experiência.

Para complementar o estudo do contrato por prazo determinado se faz mister

pontuarmos algumas características desta espécie de contrato as quais o professor doutrinador

José Cairo Júnior nos explica de forma sucinta:

A principal característica do contrato por prazo determinado é a dispensa do aviso-

prévio para por fim à prestação de serviço. Tal circunstância constitui consequência

lógica de definição prévia do termo final do contrato de emprego.

Acrescente-se também outra característica, que é a dispensa do pagamento da multa

de 40% incidentes sobre os depósitos do FGTS, que o empregador efetua

mensalmente na conta vinculada do empregado, quando da extinçáo do contrato de

trabalho. (2017, p. 233)

Pelo exposto, conclui-se que o contrato por prazo determinado é uma exceção pois o

direito do trabalho adota o princípio da continuidade das relações trabalhistas. Em outras

palavras, o direito trabalhista prefere que os contratos se tornem contratos por prazo

indeterminado pois conforme podemos observar, o legislador tomou cuidado especial ao tratar

das situações que autorizam a celebração dessa modalidade de contrato bem como estabeleceu

as regras, a exemplo do art. 451 da CLT, que se aplicam a prorrogação, de modo que caso tais

regras sejam desrespeitadas ou ignoradas o contrato passa de contrato por prazo determinado

para contrato por prazo indeterminando assim fazendo jus o empregado a todas as benesses

que esta modalidade lhe proporciona.

Page 15: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

15

1.4. Suspensão e Interrupção do Contrato de Trabalho

É possível escrever um livro a respeito desse tópico. No entanto, como esse não é o

escopo do presente trabalho me limitarei tão somente em pontuar o conceito de suspensão e

interrupção no contrato de trabalho.

Assim, de extrema relevância se faz destacar que, no que tange às denominações

variantes, com relação a interrupção da prestação de serviços, trazer à baila o brilhantíssimo

posicionamento de Alice Monteiro de Barros:

A interrupção, também denominada por alguns autores suspensão parcial do

contrato de trabalho, é conceituada como a paralisação temporária do trabalho pelo

empregado, em que a ausência do empregado não afeta o seu tempo de serviço na

empresa, sendo computado o período de afastamento para todos os efeitos legais.

(2009, p.868)

O ilustre doutrinador Gustavo Felipe Barbosa Garcia explica de forma clara a

diferença desses dois institutos jurídicos:

A suspensão pode ser definida também como a cessação temporária e total da

execução e dos principais efeitos do contrato de trabalho. Efetivamente, na

suspensão do contrato de trabalho, nenhum dos seus principais efeitos prosseguem,

pois tanto o trabalho não é prestado como o salário não é pago.

Já a interrupção do contrato de trabalho conceitua-se pela ausência provisória da

prestação do serviço, mas sendo devido o salário, bem como computando-se o

período no tempo de serviço do empregado. (2017, p. 333)

Desta feita, foi possível verificar e definir com precisão as características desses dois

institutos jurídicos (suspensão e interrupção do contrato).

Também se faz mister analisar o artigo 471, da CLT - Consolidações das Leis do

Trabalho que assim preconiza: “Ao empregado afastado do emprego, são asseguradas, por

ocasião de sua volta, todas as vantagens que, em sua ausência tenham sido atribuídas à

categoria a que pertencia na empresa”.

Destarte, em se tratando de fator suspensivo do contrato de trabalho, o empregador

não pode, sem motivo legalmente tipificado romper o contrato de trabalho.

Diante do que foi exposto conclui-se que no contrato de trabalho os termos suspensão

e interrupção do contrato de trabalho são diferentes pois no caso de suspensão (ou suspensão

Page 16: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

16

total como também é chamada) o empregado não recebe salário bem como também não se

conta o tempo de serviço.

De modo inverso, no caso de interrupção temos uma suspensão apenas parcial e o

empregado continua recebendo o salário e o tempo em que fica suspenso soma-se ao seu

tempo de serviço.

Page 17: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

17

II - DAS ESPÉCIES DE TRABALHADORES

2.1. Trabalhador Temporário

Nos termos do Art. 2º da Lei 6.019 de 1974, com as modificações introduzidas pela lei

nº 13.429 de 2007, trabalho temporário é:

Art. 2º - Trabalho temporário é aquele prestado por pessoa física contratada por uma

empresa de trabalho temporário que a coloca à disposição de uma empresa tomadora

de serviços, para atender à necessidade de substituição transitória de pessoal

permanente ou à demanda complementar de serviços. (Redação dada pela Lei nº

13.429, de 2017)

O ilustre doutrinador Carlos Henrique Bezerra Leite (2017, p. 190) nos ensina que: “O

trabalhador temporário também não se confunde com o empregado. Embora sejam ambos

subordinados, a subordinação jurídica do primeiro é com a empresa intermediadora, já a do

segundo é estabelecida diretamente com o tomador do serviço.”

Frente à vigência das últimas alterações ocorridas na legislação trabalhista brasileira é

de relevância verificar alguns pontos que foram modificados com a introdução da Lei nº

13.429/2017 no que diz respeito ao trabalho temporário.

Uma das importantes mudanças nas regras do trabalho temporário após a reforma

trabalhista a serem observadas é a obrigatoriedade de contrato de trabalho formal entre a

empresa de trabalho temporário e a tomadora de serviço. Sobre esse prisma destaca Carlos

Henrique Bezerra Leite (2017, p. 189) de que neste contrato deve estar expressamente escrito

o motivo que justifica aquela demanda de trabalho temporário.

A definição de trabalhador temporário também foi modificada pela Lei nº

13.429/2017, passando a ser todo aquela pessoa contratada por empresa de prestação de

serviços temporário destinado a acolher necessidade efêmera de substituição de trabalhadores

permanentes ou a acréscimo extraordinário de atividades de outra empresa.

O §2º, do artigo 9ª da Lei nº 6.019/1974, introduzido pela reforma trabalhista, estende

aos empregados temporários os mesmos direitos e garantias quanto ao atendimento médico,

ambulatorial, bem como às refeições fornecidas nas dependências da empresa ou em

localidade designada pela mesma. Desta feita, essa legislação veio reforçar a obrigação da

Page 18: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

18

empresa contratante em observar e aplicar as regras de medicina e segurança do trabalho

vigentes no Brasil.

Além do que, foram conservadas algumas obrigações que já eram previstas no artigo

12, alínea “g” e seu §2º, da Lei nº 6.019/1974:

[...] §2º - A empresa tomadora ou cliente é obrigada a comunicar à empresa de

trabalho temporário a ocorrência de todo acidente cuja vítima seja um assalariado

posto à sua disposição, considerando-se local de trabalho, para efeito da legislação

específica, tanto aquele onde se efetua a prestação do trabalho, quanto a sede da

empresa de trabalho temporário.

Na mesma direção, no tocante às obrigações, acima apontadas, relevante se faz

destacar as previsões, expressamente, contidas nos §§1º e 2º, do artigo 10, da Lei nº

6.019/1974, incluídos pela Lei nº 13.429/2017, as quais determinam que:

[...] §1º - O contrato de trabalho temporário, com relação ao mesmo empregador,

não poderá exceder ao prazo de cento e oitenta dias, consecutivos ou não

§2º - O contrato poderá ser prorrogado por até noventa dias, consecutivos ou não,

além do prazo estabelecido no §1º deste artigo, quando comprovada a manutenção

das condições que o ensejaram.

Neste sentido, enriquece o trabalho colacionar a jurisprudência neste sentido

referenciada na obra de Carlos Henrique Bezerra Leite (2017, p.190):

Serviços temporários. Terceirização irregular. Vínculo com o tomador. Afora as

hipóteses previstas na Lei 7.012/83, a contratação de trabalhador temporário só é

admitida nos moldes da Lei 6.019/74, ou seja, através de empresa habilitada ao

fornecimento de mão de obra temporária, para atividade qualificada, supletiva e

transitória da tomadora dos serviços, mediante contrato escrito obrigatório. Referida

lei prescreve condições específicas e restritivas que vedam a locação permanente,

porquanto esta enseja terceirização irregular, com o escopo fraudulento de eximir a

responsabilidade dos encargos sociais e trabalhistas, por via transversa e

incentivadora do merchandising. Excedidos os prazos e condições legais caracteriza-

se a fraude na contratação, formando-se o vínculo com o tomador, consoante

entendimento consubstanciado na Súmula 331/TST. Ato de improbidade.

Necessidade de prova cabal. Por sua expressão e reflexos, vez que imprime estigma

que há de acompanhar a vida profissional, familiar e social do trabalhador, a

improbidade (CLT, art. 482, "a"), dentre todas as faltas graves, é a que exige a prova

mais plena, cabal e irrefutável, não comportando a menor sombra de dúvida para o

Julgador, que deve, assim, enfrentar os elementos dos autos com redobrada cautela.

Insuficientes os elementos de prova quanto ao alegado favorecimento irregular de

colegas, insubsiste a justa causa aplicada à reclamante.

(TRT 2-ª R.- RO 02972.2003.015.02.00-8- 4-ª T.- Rel. Juiz Ricardo Artur Costa e

Trigueiros-j. 22.08.2006- DOESP 01.09.2006).

O §5º, do artigo 10, da Lei nº 6.019/1974 estabelece que o trabalhador temporário que

cumprir o período estipulado nos §§ 1o e 2o deste artigo somente poderá ser colocado à

Page 19: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

19

disposição da mesma tomadora de serviços em novo contrato temporário, após noventa dias

do término do contrato anterior. Assim, não respeitando a condição anterior, abrangendo a

prorrogação, caracteriza vínculo empregatício com a empresa tomadora.

Conforme a previsão contida no §4º da Lei nº 6.019/1974 alterada pela reforma

trabalhista, não se aplica ao trabalhador temporário contratado pela empresa tomadora de

serviços, o contrato de experiência previsto no parágrafo único do art. 445 da Consolidação

das Leis do Trabalho (CLT).

Também se verifica que a empresa tomadora de serviços será a responsável pelos

débitos trabalhistas dos empregados temporários, onde essa responsabilidade será subsidiária,

ou seja, assumirá esses débitos trabalhistas, caso a empresa de serviços temporário não

assuma.

2.2. Trabalhador Autônomo

É de todo oportuno e relevante apontar que o trabalhador autônomo autodetermina sua

atividade laboral, haja visto não existir qualquer vínculo de subordinação. Em outras palavras,

não existe sujeição do trabalhador ao seu tomador de serviços, assim o trabalhador é livre para

fazer os seus próprios horários e desempenhar suas atividades da forma como bem entender.

O ilustre doutrinador Mauricio Godinho Delgado enaltece a figura do trabalhador

autônomo:

O trabalhador autônomo consiste, entre todas as figuras próximas à do empregado,

naquela que tem maior generalidade, extensão e importância sociojurídica no mundo

contemporâneo. Na verdade, as relações autônomas de trabalho consubstanciam

leque bastante diversificado, guardando até mesmo razoável distinção entre si.

(2017, p. 372)

Por sua vez, a brilhante desembargadora Alice Monteiro de Barros (2011, p.173)

explica de forma simples o funcionamento do trabalho autônomo: “No trabalho autônomo, o

prestador de serviços atua como patrão de si mesmo, sem submissão aos poderes de comando

do empregador, e, portanto, não está inserido no círculo diretivo e disciplinar de uma

organização empresarial”.

Desta forma, o trabalhador autônomo exerce suas atividades laborais de forma

profissional e com habitualidade, todavia, inexistindo subordinação, haja vista suas atividades

Page 20: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

20

serem desempenhadas por conta própria e, por consequência, toma para si os riscos das

atividades laborais que desempenha.

Nesse sentido, conforme evidenciado até aqui, e ainda, considerando as alterações

realizadas pela reforma trabalhista de 2017 o empregado e trabalhador autônomo são figuras

diferentes, as quais, de forma alguma, se confundem. A título de exemplo de um trabalhador

autônomo temos o representante comercial.

Assim sendo, são características dos empregados: ser pessoa física, onerosidade (é

remunerado pela prestação de serviços); impessoalidade (salvo exceções, não será

substituído); subordinação (deve obediência às ordens do empregador); não-eventualidade

(exercerá suas atividades de forma contínua); e, por fim, as relações de trabalho são regidas

pela CLT - Consolidação das Leis do Trabalho.

Em contrapartida, são características dos trabalhadores autônomos, ser pessoa física,

não existindo, contudo, um vínculo de subordinação, desempenhando suas atividades laborais

por conta e risco próprios.

Assim, conclui-se que o trabalhador autônomo não é um empregado e por isso não se

encontra amparado pela CLT - Consolidação das Leis do Trabalho, diferentemente do que

acontece com o empregado.

2.3. Trabalhador Não Eventual

A não eventualidade de forma como é apontada na doutrina trabalhista brasileira

consubstancia-se em requisito atrelado, diretamente, ao princípio jurídico da continuidade.

Assim, como sendo aquele que presta serviços com habitualidade, permanência.

Importante trazer à baila o que nos ensina a doutrina do ilustre Sérgio Pinto Martins

(2012, p. 166) a respeito do trabalhador eventual que é “a pessoa física contratada apenas para

trabalhar em certa ocasião específica: trocar uma instalação elétrica, consertar o encanamento

etc. Terminado o evento, o trabalhador não mais irá à empresa.”. De maneira que o

trabalhador eventual se diferencia do não eventual, exatamente na necessária presença do

requisito da continuidade do serviço.

Page 21: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

21

André Luiz Paes de Almeida (2014, p.138) aponta que a habitualidade: “Assim,

havendo essa expectativa de que seu empregado voltará em determinado dia à empresa, estará

caracterizada a habitualidade.”

A expressão utilizada se mostra um tanto quanto conflitante na doutrina trabalhista

pátria, haja visto não se saber ao certo o que a CLT - Consolidação das Leis do Trabalho quis

dizer com a expressão “não eventual”.

Ou seja, a CLT deixou uma lacuna a ser resolvida pela jurisprudência e pela doutrina

pois não sabemos por exemplos exatamente quantos dias na semana serão necessários de

efetivo trabalho para que se possa considerar não eventual?

Destarte, conforme pode ser verificado, nessas situações específicas, caberá ao

magistrado a aplicação do princípio da primazia da realidade para a tarefa de determinar se

existiu ou não uma efetiva continuidade no trabalho, sempre com vistas aos demais requisitos

legais exigidos, uma vez que no direito do trabalho pátrio prevalece a realidade fática sobre a

forma.

Assim, observa-se que a legislação trabalhista buscou a continuidade na relação de

emprego. De maneira que seria até estranho conceber uma relação de emprego que se

extinguisse em um ato único e breve.

2.4. Trabalhador Avulso

Para começarmos a tratar do tema é importante conceituarmos o que é um trabalhador

avulso, assim é importante trazermos à baila as palavras do doutrinador professor Carlos

Henrique Bezerra Leite (2017, p.180) que nos explica com clareza: “Avulso é o trabalhador

subordinado atípico que, de forma descontínua, presta serviço essencial e complementar à

atividade da empresa, mas sem inserir-se na sua organização.”

O Ministério do Trabalho e Previdência Social através da Portaria nº 3107 de

07/04/1971 nos traz a definição de trabalhador avulso: “Entende-se como trabalhador avulso,

no âmbito do sistema geral da previdência social, todo trabalhador sem vínculo empregatício

que, sindicalizado ou não, tenha a concessão de direitos de natureza trabalhista executada por

intermédio da respectiva entidade de classe.”

Da mesma maneira, o inciso VI, do artigo 11, da Lei nº 8.213/1991, traz a definição do

trabalhador avulso, apontado que que o mesmo é:

Page 22: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

22

Art. 11 - [...]

[...]

VI - como trabalhador avulso: quem presta, a diversas empresas, sem vínculo

empregatício, serviço de natureza urbana ou rural definidos no Regulamento;

Ainda, a Constituição Federal de 1988 igualou os trabalhadores avulsos aos

trabalhadores empregados, especialmente nas questões que dizem respeito aos seus direitos,

nos termos do que expressamente determina o inciso XXXIV, do seu artigo:

Art. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à

melhoria de sua condição social:

[...]

XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício

permanente e o trabalhador avulso

Onde, esses direitos serão balizados de forma proporcional, nos termos do que aponta

e esclarece Amauri Mascaro do Nascimento:

A Constituição de 1988 (art. 7o, XXIV) assegura a igualdade de direitos entre o

trabalhador com vínculo de emprego e o trabalhador avulso. Como o trabalho do

avulso é de curtíssima duração, esses direitos são calculados de forma proporcional

ao tempo em que trabalham para o mesmo tomador dos serviços (2014, p.1.053)

Todavia, não se deve perder de vista que o chamado trabalho avulso precisa da

intermediação de uma instituição especial e, dessa forma, essa relação de emprego passa a ser

de natureza triangular, haja vista envolver um que fornece a mão de obra, uma empresa

tomadora de serviço e o próprio trabalhador avulso.

Diante dessas constatações, chega-se ao entendimento de que o chamado trabalhador

avulso desempenha suas atividades laborais num lapso temporal razoavelmente curto, bem

como a vários tomadores de serviços, sem que com isso exista uma vinculação a qualquer um

deles que seja.

Page 23: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

23

2.5. Trabalhador Terceirizado

O trabalho terceirizado é um tema muito polêmico no direito do trabalho

principalmente após a promulgação e sanção da lei nº 13.429 de 2017 que permitiu a

terceirização também para as atividades fins que são aquelas atividades necessárias

diretamente para a produção de produtos e serviços. Antes da promulgação da lei a

terceirização era licita apenas nos atividades-meio que são as atividades indiretas como

conservação e limpeza.

Assim, esta inovou na maneira do contrato de trabalho, sendo possível agora tratarem

quanto a atividade-meio e fim, possibilitou que uma empresa tomadora de serviços pudesse

contratar com outra empresa, fornecedora de mão de obra, para que a mesma preste serviços

vinculados diretamente à sua atividade principal, bem como, ainda, àqueles que não os são.

O ilustre professor e ministro do TST Mauricio Godinho Delgado faz uma crítica ao

trabalho terceirizado:

O modelo trilateral de relação jurídica que surge desse mecanismo é francamente

distinto do clássico modelo empregatício, que se funda em relação de caráter

essencialmente bilateral (empregado e empregador). Chocando-se com a estrutura

teórica e normativa original do Direito do Trabalho, esse novo modelo propicia

tratamento socioeconômico e jurídico ao prestador de serviços muito inferior ao

padrão empregatício tradicional. (2017, p. 943)

De acordo com os ensinamentos de Sérgio Pinto Martins:

Consiste a terceirização na possibilidade de contratar terceiro para a realização de

atividades que geralmente não constituem o objeto principal da empresa. Essa

contratação pode compreender tanto a produção de bens como serviços, como ocorre

na necessidade de contratação de serviços de limpeza, de vigilância ou até de

serviços temporários. (2012, p.10)

De maneira que a terceirização pode também ser definida como sendo o ato pelo qual

a empresa tomadora de serviços contrata uma empresa prestadora de serviços para que esta

realize a totalidade ou tão somente apenas uma parte das atividades que integram sua

atividade-meio (e agora também as atividades fins), de maneira que a prestação desses

serviços seja em benefício da primeira, contudo, o vínculo empregatício permanece

estabelecido entre o empregado e a segunda (a empresa prestadora). No entanto, é de todo

oportuno complementar que a empresa tomadora de serviços precisa tomar certos cuidados

Page 24: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

24

pois acabará por assumir responsabilidade subsidiária à empresa prestadora no caso em que

contratar uma empresa negligente com as obrigações trabalhistas.

2.6. Trabalhador Rural

O trabalhador rural é um personagem crucial para a nossa subsistência haja visto que a

grande maioria, senão a totalidade dos alimentos que comemos são provenientes do campo,

assim sem o esforço desempenhando por essa classe trabalhadora para para plantar e colher

esses alimentos nem sequer chegariam ás nossas mesas.

De acordo com Amauri Mascaro Nascimento (2007, p.166), conceitua empregador

rural como sendo toda: “[...] pessoa física ou jurídica, proprietária ou não, que explore

atividade agroeconômica, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por meio de

prepostos e com auxílios de empregados”.

Ainda, para o mesmo autor (2007, p.166) trabalho rural é toda atividade desenvolvida

numa propriedade rural com finalidade de obtenção de lucros, ou, ainda, num prédio rústico

que se destine à exploração de atividade agrícola, pecuária, extrativa ou agroindustrial, ainda

que localizada no perímetro urbano, mas com atividade usada na agroeconomia ou

agronegócio.

O Ministério do Trabalho em Emprego define em seu manual o conceito de

empregador rural de forma a não deixar dúvidas, senão vejamos:

Não faz diferença se a exploração é permanente ou temporária, se é realizada

diretamente ou por intermédio de prepostos (representantes), por conta própria ou

por conta de terceiros, desde que realizada profissionalmente; isto é, com o intuito

de obter ganhos, estaremos diante de um empregador rural. (2002, p. 17)

Por sua vez, a Convenção nº 141 da OIT - Organização Internacional do Trabalho,

conceitua o trabalhador rural em seu artigo 2º:

Art. 2º - Abrange todas as pessoas dedicadas, nas regiões rurais, a tarefas agrícolas

ou artesanais ou a ocupações similares ou conexas, tanto se trata de assalariados

como, ressalvadas as disposições do parágrafo 2 deste artigo, de pessoas que

trabalhem por conta própria, como arrendatários, parceiros e pequenos proprietários.

Contudo, relevante destacar que, para efeitos deste trabalho acadêmico, conceitua-se

como trabalhador rural o contido no artigo 2º, da Lei nº 5.889/1973: “Empregado rural é toda

Page 25: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

25

pessoa física que, em propriedade rural ou prédio rústico, presta serviços de natureza não

eventual a empregador rural, sob a dependência deste e mediante salário”.

Em relação à expressão “prédio rústico” é interessante trazer à baila a explicação do

doutrinador Sérgio Pinto Martins que assim o define:

Prédio rústico é o destinado à exploração agrícola, pecuária, extrativa ou

agroindustrial. Prédio rústico é o que não tem água encanada, gás, luz elétrica,

asfalto. Pode até estar localizado no perímetro urbano, mas deve ser utilizado na

atividade agroeçonômica. Não é, portanto, a localização que irá indicar se o prédio é

rústiço ou urbano, mas se é destinado à atividade agroeconômica. (2012, p. 151)

O brilhante Sérgio Pinto Martins (2012, p. 151) ainda explica com clareza que para ser

considerado empregado rural não necessariamente olhamos para a localização, sendo que há

um elemento ao qual devemos observar que é a se a atividade agrária possui finalidade

lucrativa, neste caso, o empregado pode até trabalhar na zona urbana que ainda assim será

considerado empregado rurícola.

Também é interessante relembrarmos que a constituição federal de 1988 equiparou os

direitos dos trabalhadores rurais com o de trabalhadores urbanos ao mencionar a frase

“urbanos e rurais” em seu art. 7º caput. Desse modo, inserindo os rurícolas no rol de direitos

constitucionais de que trata a norma maior de nosso ordenamento jurídico.

Ainda, destaca-se que ao trabalhador rural aplica-se as mesmas regras contidas na

CLT - Consolidação das Leis do Trabalho, com distinções em determinadas regras, as quais,

com a utilização do artigo 7º, da Constituição Federal, aproximou-se das demais classe de

trabalhadores, com direitos e garantias diretamente contidos e previstos na Carta Magna de

1988. De forma a serem, portanto, direitos e garantais legais comuns aos trabalhadores

urbanos, os direitos inerentes da isonomia da Carta Constitucional.

Em resumo, trabalhador rural consubstancia-se em toda pessoa física que desempenha

atividades de natureza rurícola, de onde retira seu sustento e de toda sua família.

Ainda, se faz mister pontuarmos quais as diferenças entre trabalhador urbano e

trabalhador rural e desta feita, impende destacar o pensamento do doutrinador Sérgio Pinto

Martins que nos ensina com clareza:

A diferença entre o empregado urbano e o rural é que este trabalha no campo e o

primeiro, no perímetro da cidade considerado urbano. A distinção entre o

trabalhador rural e o doméstico reside em que este presta serviços, a pessoa ou

família, que não têm finalidade de lucro, enquanto, em relação ao primeiro, a

atividade rural deve ser lucrativa. Se há plantação no sítio, mas não há

comercialização, o caseiro será empregado doméstico; porém, se houver venda de

produtos, o mesmo caseiro será empregado rural. (2012, p. 152)

Page 26: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

26

Outro ponto importante a ser esclarecido é em relação ao horário noturno do

trabalhador rural. Assim, nos termos do Art. 7º da Lei 5.889 de 1973 este é das 21 horas as 05

horas para os trabalhadores das lavouras e das 20 horas ás 04 horas do dia seguinte para

atividades pecuárias, sendo que o trabalhador rural nos termos do parágrafo único do

dispositivo citado acima faz jus a um adicional noturno de 25% (vinte e cinco por cento).

Para terminar, apenas por comparação se faz interessante deixar registrado que o

trabalhador rural possui um horário noturno diferente do trabalhador urbano, sendo

considerada hora noturna para este o horário entre 22 horas até as 05 horas do próximo dia e

que o adicional noturno do trabalhador urbano é de 20% (vinte por cento) sobre a hora de sua

remuneração, mas a hora noturna é contada de forma reduzida sendo que a cada 52 (cinquenta

e dois) minutos equivale a 1 (uma) hora.

Page 27: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

27

III - DO CONTRATO DE SAFRA

O contrato de safra, presentemente regido pela Lei nº 5.889/1973, onde no parágrafo

único de seu artigo 14 determina consistir num acordo empregatício rural, o qual tem sua

permanência condicionada de variações sazonais das atividades agrícolas. Devendo ser

utilizado na somente na hipótese de trabalhos na esfera agrícola cujo caráter ou

transitoriedade da atividade demonstre a necessidade de predeterminação do prazo, haja visto

que o empregador rural não teria o que fazer com o empregado após determinada temporada

agrícola.

Ou seja, cuida-se de obreiros que apenas serão imprescindíveis em momentos

determinados, a título de exemplo temos o preparo do solo, o cultivo e a colheita de produtos

alimentícios, pelo que, encerrada a atividade, os empregados acabam por se tornarem ociosos

e dispensáveis.

A respeito da regulamentação do trabalho rural, o Estatuto do Trabalhador Rural (Lei

nº 5.889 de 1.973 nos traz a denominação de empregado e empregador rural, remuneração e

percentagem de adicionais, descontos máximos permitidos em folha determina a formalização

e rescisão do contrato de trabalho, a jornada de trabalho, descanso semanal remunerado e

férias remuneradas, condições que garantam a saúde, a higiene e segurança no ambiente

trabalho, recolhimento a previdência social, a regularização dos sindicatos dos trabalhadores

rurais, bem como, ainda, as condições de moradia e infra estrutura básica para a subsistência

do trabalhador e de sua família.

Destarte, nota-se que o legislador se preocupou com os empregados rurais

especialmente no que tange ás condições de trabalho editando também manuais e precedentes

administrativos com o objetivo de educar o empregador a dar boas condições de trabalho haja

visto que se trata de um trabalho difícil por sua própria natureza.

Ainda, importante se faz destacar que o contrato de safra pode ser celebrado

verbalmente (forma tácita), haja visto não existir a imposição legal no que diz respeito à sua

forma. Todavia, é sempre recomendável que se adote a forma escrita, ante uma melhor

facilidade de eventual comprovação em uma possível demanda judicial.

Por fim, nota-se que a jurisprudência trabalhista pátria tem entendido que a expressão

“safra” diz respeito não tão somente às atividades inerentes à produção e colheita agrícolas,

mas, ainda, aos serviços que são relacionados ao preparo e cultivo do solo produtivo.

Page 28: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

28

3.1. Conceito

Inicialmente, em razão do escopo deste trabalho acadêmico, se faz de extrema

necessidade e importância trazer à baila a conceituação do contrato de safra, como forma de

um melhor entendimento do presente capítulo.

Nesse sentido, o parágrafo único, do artigo 19 do Decreto nº 73.626/1974, que

regulamenta a lei nº 5.889/1973 nos elucida ao trazer a definição de contrato de safra:

Art. 19. Considera-se safreiro ou safrista o trabalhador que se obriga à prestação de

serviços mediante contrato de safra.

Parágrafo único. Contrato de safra é aquele que tenha sua duração dependente de

variações estacionais das atividades agrárias, assim entendidas as tarefas

normalmente executadas no período compreendido entre o preparo do solo para o

cultivo e a colheita.

Ainda, o parágrafo único, do artigo 14, da Lei nº 5.889/1973, conceitua o contrato de

safra: “Considera-se contrato de safra o que tenha sua duração dependente de variações

estacionais da atividade agrária”.

Se faz mister trazer à baila o entendimento do ilustre doutrinador Carlos Henrique

Bezerra Leite que pontua de forma didática a diferença existente entre o contrato de safra e o

contrato por temporada, senão vejamos:

O contrato por temporada, também denominado contrato sazonal, é mais abrangente

do que o contrato por safra. Este é limitado à atividade agrária; aquele abarca a

atividade pecuária e a indústria rural, podendo compreender tanto os curtos períodos

(ex.: durante a colheita, ou a semeadura) como os períodos extensos (ex.: durante a

entressafra da carne, durante o período de desova da lagosta, durante as férias

escolares, durante o verão etc.). (2017, p. 414)

A jurisprudência trabalhista pátria, todavia, tem aceitado não ser possível restringir a

definição de contrato de safra à ocupação na colheita, de acordo com o que se verifica pela

decisão do TRT – Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região:

[...] Por safra entende-se a produção agrícola do ano - tarefa que abrange as

atividades de covação, bateção de covas, a colheita, propriamente dita e, também, a

esparrama de cisco - dentre inúmeras outras. [...] (TRT 3ª R. OE. RO n. 12851/96

Rel. Manuel Cândido Rodrigues DLMG 21.3.97, pág. 4).

Portanto, verifica-se que o termo final do contrato de safra se mostra como sendo

incerto, pois, a depender da espécie de trabalho rural contratado, não poderá ser fixado,

Page 29: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

29

precisamente, a data exata de seu encerramento e, nem tampouco, exigir o mesmo de todos os

trabalhadores rurais contratados para a mesma safra.

No que diz respeito ao posicionamento doutrinário, importante se faz destacar o

posicionamento e as palavras do ilustre doutrinador Maurício Godinho Delgado:

Contrato de safra é o pacto empregatício rural a prazo, cujo termo final seja fixado

em função das variações estacionais da atividade agrária. Embora previsto pela Lei

de Trabalho Rural (art. 14, Lei n. 5.889/73), esse tipo de contrato, na verdade, não se

afasta das características básicas dos contratos a termo celetistas. Regulado em certo

período pelo antigo Decreto-Lei n. 761, de 1969, passou tal contrato à regência das

normas celetistas comuns aos contratos a termo, em virtude da revogação expressa

do DL n. 761 pelo art. 21 da Lei n. 5.889/73. (2017, p. 637)

Conforme o Tribunal Regional do Trabalho - 3ª Região:

[...] o contrato de safra destina-se ao atendimento de necessidades cíclicas do

empreendimento agroeconômico, cuja duração depende de variações sazonais da

atividade agrícola. Logo, o período de vigência do contrato pode ser previsto por

aproximação, sendo impossível a pré-fixação da data de seu término, já que o

mesmo é definido pela própria natureza. [...] (TRT - 3ª Região - 2ª Turma -

RO/3922/94 - Rel. Juiz Sebastião Geraldo de Oliveira - DJMG 27.05.1994)

De forma que, ao analisarmos a jurisprudência, podemos observar que o contrato de

safra tem por escopo o trabalho de determinada colheita ou, ainda, a comercialização do

resultado dessa colheita, e com menos constância, mas também aceito na jurisprudência, as

atividades inerentes à comercialização de gado, ou de produtos agropecuários numa dessas

épocas.

Dessa maneira, nota-se de forma esclarecedora que o legislador pátrio sentiu a

precisão de se determinar um regime jurídico característico para versar sobre o contrato de

safra, talvez com a finalidade e desejo de garantir, que durante o tempo em que existir a safra,

a manutenção do vínculo trabalhista estabelecido entre empregado e empregador seja mantida

pelo produtor.

De tal modo, entende-se que o contrato de safra deve ser usado pelo patrão produtor

do setor agrícola, cujo caráter de transitoriedade das atividades rurais desenvolvidas

justifiquem a especificação do prazo de término (conforme as características sazonais), é de

natureza transitória e fixada conforme as alterações estacionais inerentes à atividade agrícola.

No entanto, não sendo possível sua prorrogação após o fim da safra, sob pena de se converter

em contrato de trabalho por prazo indeterminado.

Page 30: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

30

A jurisprudência trabalhista pátria tem se posicionado no sentido de aceitar que a safra

não se encerra num dia determinado, pois depende de cada época do ano. Onde, é da própria

natureza jurídica dessa espécie de contrato, a redução gradativa da quantidade de obreiros

necessários (pois se tornam dispensáveis), condição essa que não se confunde com dispensa

antecipada dos trabalhadores, conforme afirma nossa jurisprudência:

[...] A precisão com relação a data de término do contrato não consiste em exigência

legal e sua ausência não desnatura o contrato de safra, porquanto sua duração

depende de variações estacionais da atividade agrária (art. 14, parágrafo único, da

Lei n 5.889/73). (Processo: RO 825005920085070023 CE 0082500-5920085070023

- Relator(a): Antônio Carlos Chaves Antero - Julgamento: 04.05.2009)

Contudo, necessário se faz pontuar, que esse posicionamento doutrinário, acima citado

e destacado, não se apresenta como sendo sedimentado ou pacificado na doutrina trabalhista

brasileira, havendo divergências, a exemplo do posicionamento de Edson Silva Trindade, que

assenta:

[...] executadas no período compreendido entre o preparo do solo para cultivo`), por

contrariar o disposto no parágrafo único, do art. 14, da Lei nº 5.889/73. Como

consequência, não vislumbro a possibilidade de o trabalhador ser contratado como

safrista para prestar serviços consistentes no preparo do solo para o cultivo, ou no

plantio propriamente dito, serviços esses, obviamente, diversos dos destinados à

colheita. (1999, p.15)

Analisadas tais posições, doutrinárias e jurisprudenciais, bem como seus respectivos

fundamentos, parece ser mais acolhedora a tese que caminha em conformidade com o Decreto

Regulamentador, no sentido de que o contrato de safra abraça não tão somente a colheita,

mas, ainda, os preparos prévios do solo e o plantio, com a qual se conectam.

3.2. Requisitos para Estabelecer um Contrato de Safra

O contrato de safra, em comparação com o contrato de trabalho em geral, não possui

nada de particular com relação à capacidade, ao objeto, ao consentimento e à sua forma.

Contudo, determinados requisitos dispensam uma atenção cuidadosa, a exemplo do

objeto dessa espécie de contrato, conforme bem aponta João Antônio G. Pereira Leite:

Page 31: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

31

Não tem sentido que se ajuste um contrato desta espécie para a prestação de serviços

estranhos à safra, comuns ou normais à atividade da empresa em qualquer período.

Estar-se-ia fugindo à finalidade precípua do contrato e incorrendo no que se chamou

inidoneidade técnica do objeto. Este, apesar de em si ilícito e possível, seria

inidôneo. [...] (1976, p.34)

Assim, observa-se que o contrato de safra tem determinados requisitos necessários à

sua formalização, inerentes à forma, ao conteúdo, às anotações na CTPS – Carteira de

Trabalho por Tempo de Serviço, ao registro do Safrista, à inscrição no PIS - Programa de

Integração Social e ao exame médico.

No que tange à sua forma, devimos seguir de acordo com a previsão contida no artigo

442, da CLT – Consolidação das Leis do Trabalho:

Art. 442 - Contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou expresso,

correspondente à relação de emprego.

Parágrafo único - Qualquer que seja o ramo de atividade da sociedade cooperativa,

não existe vínculo empregatício entre ela e seus associados, nem entre estes e os

tomadores de serviços daquela.

Ainda, necessário pontuar que, no que diz respeito à forma, o contrato de safra precisa

observar as previsões contidas, expressamente, na Lei nº 5.889/1973, naquilo em que não

confrontar as previsões expressas na CLT - Consolidação das Leis do Trabalho, sendo o que

prevê o artigo 1º, da Lei nº 5.889/1973: “As relações de trabalho rural serão reguladas por esta

Lei e, no que com ela não colidirem, pelas normas da Consolidação das Leis do Trabalho,

aprovada pelo Decreto-lei nº 5.452, de 01/05/1943”.

Nota-se que o contrato de safra se apresenta como sendo de forma livre, ou seja, o

mesmo pode ser celebrado de forma verbal ou escrita, expressa ou tacitamente, mas, para

aconselha-se, como forma de garantir segurança as partes, optar-se pelo contrato escrito e

expresso, haja vista que, em havendo dúvidas, será o meio mais eficiente em eventual e

possível fase probatória.

No que diz respeito ao seu conteúdo, o contrato de safra preverá, pelo menos, a

identificação completa de patrão e obreiro, a atividade do trabalhador, o tempo do contrato de

trabalho (de acordo com a safra), o valor do salário, os descontos permitidos em lei e a

periodicidade do seu pagamento, os adiantamentos, periodicidade, condições de moradia e

alimentação, horários de trabalho e períodos de descanso, especificações das atividades,

vedação de ajuda de familiares, especialmente os menores de 16 (dezesseis) anos de idade.

Ainda, no que tange à anotação na CTPS – Carteira de Trabalho por Tempo de

Serviço, a mesma deve ser feita, vez ser direito do obreiro e obrigação do patrão, para o

Page 32: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

32

desempenho de qualquer atividade, de acordo com previsão contida no artigo 5º, da Portaria

nº 41/2007, do MTE – Ministério do Trabalho e Emprego:

Art. 5º - O empregador anotará na CTPS do empregado, no prazo de 48 horas

contadas da admissão, os seguintes dados:

I - data de admissão;

II - remuneração; e

III - condições especiais do contrato de trabalho, caso existentes.

Devendo, ainda, devolver a CTPS – Carteira de Trabalho por Tempo de Serviço ao

trabalhador, de acordo com previsão contida no artigo 29, da CLT – Consolidação das Leis do

Trabalho:

Art. 29 - A Carteira de Trabalho e Previdência Social será obrigatoriamente

apresentada, contra recibo, pelo trabalhador ao empregador que o admitir, o qual terá

o prazo de quarenta e oito horas para nela anotar, especialmente, a data de admissão,

a remuneração e as condições especiais, se houver, sendo facultada a adoção de

sistema manual, mecânico ou eletrônico [...].

Onde, se o empregador não devolver, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, se

sujeitará ao pagamento de multa, cuja previsão está contida no artigo 53, da CLT –

Consolidação das Leis do Trabalho: “A empresa que receber Carteira de Trabalho e

Previdência Social para anotar e a retiver por mais de 48 (quarenta e oito) horas ficará sujeita

à multa de valor igual à metade do salário-mínimo regional”.

Também, o empregador observará a previsão expressamente contida no §4º, do artigo

29, da CLT – Consolidação das Leis do Trabalho, o qual proíbe qualquer tipo de anotação na

CTPS – Consolidação das Leis do Trabalho do trabalhador que tenha o poder de desabonar

sua conduta.

Por sua vez, com relação ao registro do safrista, juntamente com à anotação na CTPS

– Consolidação das Leis do Trabalho deverá o patrão registrar o obreiro, de acordo com

previsão estampada no artigo 41 da CLT – Consolidação das Leis do Trabalho: “Em todas as

atividades será obrigatório para o empregador o registro dos respectivos trabalhadores,

podendo ser adotados livros, fichas ou sistema eletrônico, conforme instruções a serem

expedidas pelo Ministério do Trabalho”.

No que tange ao recolhimento do FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e

do INSS – Instituto Nacional do Seguro Social, o trabalhador safrista deve buscar a sua

Page 33: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

33

inscrição no PIS - Programa de Integração Social, e na hipótese de ainda não ser inscrito, o

mesmo deverá fazer a sua inscrição perante ao banco estatal CEF - Caixa Econômica Federal.

Ademais, com relação ao exame médico, nota-se que o trabalhador safrista deverá ser

submetido ao exame médico, por conta do patrão, no momento da sua admissão e da sua

dispensa. Conforme descrito no Manual do Contrato de Safra (2002, p. 47) todo trabalhador

safrista será, necessariamente, submetido a exames médicos, clínicos e complementares nas

situações de admissão e na demissão, antes da rescisão do contrato de trabalho, caso o último

exame médico de saúde ocupacional foi feito a mais de 90 (noventa) dias.

Ainda, no tocante à duração do trabalho do obreiro safrista, tem-se que sua jornada de

trabalho, assim como a dos trabalhadores urbanos, não ultrapassará a 8 (oito) horas diárias e

44 (quarenta e quatro) horas semanais, conforme previsão, expressamente, contida no inciso

XIII, do artigo 7º, da Constituição Federal de 1988

Onde, o horário de início e de término dessa jornada de trabalho que irá definir será o

empregador, conforme os usos e costumes de cada região, e não conforme impõe a CLT –

Consolidação das Leis do Trabalho, bem como, ainda, conforme as particularidades da cultura

da safra, necessitando, contudo, respeitar a previsto contida no artigo 5º, da Lei nº

5.889/1973:

Art. 5º - Em qualquer trabalho contínuo de duração superior a seis horas, será

obrigatória a concessão de um intervalo para repouso ou alimentação observados os

usos e costumes da região, não se computando este intervalo na duração do trabalho.

Entre duas jornadas de trabalho haverá um período mínimo de onze horas

consecutivas para descanso.

Ainda, deverá respeitar a previsão contida no artigo 6º, da Lei nº 5.889/1973, no que

diz respeito aos trabalhos intermitentes:

Art. 6º - Nos serviços, caracteristicamente intermitentes, não serão computados,

como de efeito exercício, os intervalos entre uma e outra parte da execução da tarefa

diária, desde que tal hipótese seja expressamente ressalvada na Carteira de Trabalho

e Previdência Social.

Já em relação ao horário noturno do trabalhador rural, nos termos do Art. 7º da Lei

5.889 de 1.973 este é das 21 horas as 05 horas para os trabalhadores das lavouras e das 20

horas ás 04 horas do dia seguinte para atividades pecuárias, sendo que o trabalhador rural nos

termos do parágrafo único do dispositivo citado acima faz jus a um adicional noturno de 25%

(vinte e cinco por cento).

Page 34: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

34

Com relação ao livro ou fichas de registro de funcionários, onde são realizados os

registros dos mesmos, com as anotações das informações de identificação e as condições de

trabalho contratadas, é importante mencionar também que afim de facilitar a fiscalização, o

ministério do trabalho recomenda que os mesmos, precisam ser conservados no local de

trabalho.

3.3. Normas Jurídicas Aplicáveis aos Contratos de Safra

Primeiramente, é importante destacar que o contrato de safra deve, como todo o nosso

ordenamento jurídico, primeiramente, obedecer à Constituição Federal de 1988 e, em seguida,

à Lei nº 5.889/1973.

Nesse sentido, relevante se faz destacar que a Carta Magna de 1988, mais

especificamente em seu artigo 7º, equiparou os direitos dos obreiros urbanos e rurais

prevendo diversos direitos como o FGTS, que antes não existia.

Impende destacar ser bastante complexo a contração de trabalhadores para o período

de safra, assim o primeiro passo necessário é que patrão e os trabalhadores conheçam suas

particularidades, assim preconiza o manual do contrato de safra editado pelo Ministério do

Trabalho e Emprego:

A contratação de trabalhadores rurais no período de safra apresenta-se especialmente

complexa. O empregador enfrenta grande dificuldade para orientar sua conduta

dentro das prescrições legais. Por seu lado, regra geral, o trabalhador preocupa-se

unicamente com a sua sobrevivência imediata, considerando apenas o recebimento

de salário, sem avaliar aspectos importantes, como, por exemplo, os relativos à

saúde e segurança no ambiente de trabalho. (2002, p. 7)

Conforme já visto anteriormente, o contrato de safra como todas as outras legislações

submete-se primeiramente à Constituição Federal de 1988, posteriormente às Leis n°

5.889/1973, regulamentada pelo Decreto nº 73.626/1974; à CLT - Consolidação das Leis do

Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.542/1943; à outras leis infraconstitucionais,

decretos, portarias e instruções normativas expedidas pelo MTE - Ministério do Trabalho e

Emprego; bem como, Acordos Coletivos de Trabalho ou Convenções Coletivas de Trabalho

em vigor.

Dessa forma, entende-se a nossa CLT - Consolidação das Leis do Trabalho e as

demais legislações trabalhistas e ordinárias, ao menos em tese, apenas serão aplicadas aos

Page 35: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

35

contratos de safra naquilo em que não confrontar com a Lei nº 5.889/1973, por esta última ser

mais especifica.

3.4. Direitos e Obrigações do Safrista

O contrato de safra possui natureza transitória, nos termos do que prevê a alínea “a”,

do §2º, do artigo 443 da CLT - Consolidação das Leis do Trabalho, entretanto, não existe

previsão de direito ao aviso prévio, nesta espécie de contrato trabalho, exceto no caso do

contrato se converter em contrato por prazo indeterminado.

De acordo com Alice Monteiro de Barros (2011, p.347), em razão do início e do

termino do contrato de safra, sujeitar-se, quase sempre, de cada região, no que diz respeito aos

riscos em geral, os trabalhadores safristas não responderão pelos prejuízos sofridos pelo

empregador.

Ainda, trabalhador safrista terá direito ao pagamento de salário, de pelo menos, o piso

salarial determinado em convenção trabalhista, ou não havendo, o valor do salário mínimo

nacional vigente; ao pagamento de 13º (décimo terceiro) salário; férias remuneradas,

acrescidas de 1/3 (um terço), de acordo com previsão contida na Carta Magna; ao FGTS –

Fundo de Garantia por Tempo de Serviço; horas extras, acrescidas de no mínimo 50%

(cinquenta por cento) sobre a hora normal; licença paternidade; adicionais de periculosidade,

insalubridade ou noturno.

O empregador que decidir por rescindir o contrato de safra antes do evento

combinado, responderá com pagamento de uma indenização equivalente a 50% (cinquenta

por cento), ou seja, a metade da remuneração que deveria ser paga ao trabalhador até prazo

final do contrato.

Não existirá aviso prévio, a não ser que exista uma cláusula recíproca prevendo o

direito de rescisão antecipada do contrato de trabalho. Contudo, além desta indenização o

trabalhador safrista, ainda, terá direito ao saldo de salário, 13º (décimo terceiro) salário

proporcional, férias proporcionais acrescidas de 1/3 (um terço), salário família, indenização

de 40% (quarenta por cento) do FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, mais

contribuição social de 10% (dez por cento) e levantamento do FGTS – Fundo de Garantia por

Tempo de Serviço.

Page 36: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

36

Por fim, sendo essa rescisão antecipada motivada pelo trabalhador safrista, o mesmo

terá direito ao saldo de salário, 13º (décimo terceiro) salário proporcional, férias proporcionais

acrescidas de 1/3 (um terço) e salário família.

3.5. Regras, Limites, Condições e Restrições Impostas pela CLT ao Contrato por Prazo

Determinado

A legislação brasileira vigente aceita o contrato de trabalho por prazo determinado,

contudo, impondo algumas restrições. Até 1998 essa matéria era regulamentada em

determinados dispositivos jurídicos, contidos na CLT - Consolidação das Leis do Trabalho,

notadamente em seus artigos 443,445,451,452 e 481.

Todavia, com o advento da Lei nº 9.601/1998, outras hipóteses e condições acabaram

por ser impostas para a efetivação da contratação de empregados por prazo determinado.

O artigo 443, da CLT - Consolidação das Leis do Trabalho conceitua o contrato de

trabalho por prazo determinado como sendo o: “Contrato de trabalho cuja vigência dependa

de termo prefixado ou da execução de serviços especificados ou ainda da realização de certo

acontecimento suscetível de previsão aproximada”.

Logo após, impõe as hipóteses que permitem a sua concretização válida, ao prever que

o contrato de trabalho por prazo determinado apenas será considerado valido quando se tratar

de: Serviços de natureza transitória, nos termos do que prevê a alínea “a”, do §2º, do artigo

443, da CLT - Consolidação das Leis do Trabalho.

A legislação, nessa situação, não considerou o objeto social da empresa, mas, apenas a

atividade a ser desempenhada pelo trabalhador.

Assim, verifica-se que a referida legislação considerou apenas a natureza da atividade

transitória empresarial desenvolvida, conforme previsão contida na alínea “b”, do §2º, do

artigo 443, da CLT - Consolidação das Leis do Trabalho. A exemplo dos contratos de

experiência, cuja previsão é encontrada na alínea “c”, do §2º, do artigo 443, da CLT -

Consolidação das Leis do Trabalho.

Conforme lição de Alice Monteiro de Barros (2009, p.485), cuida-se de “[...] contrato

especial, porquanto o artigo 443, §2º, da CLT - Consolidação das Leis do Trabalho, o

distingue ao lado de outros contratos por prazo determinado”.

Page 37: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

37

No direito brasileiro vigente não reside imprecisões com relação à natureza jurídica do

contrato de experiência, sendo expressa essa designação como sendo contrato a prazo,

detentor de todas as normas aplicáveis aos contratos a prazo, valem também para o contrato

de experiência.

De acordo com a Lei nº 9.601/1998 é lícita a contratação para qualquer espécie de

atividade laboral, mas, impõe-se prévia autorização por ajuste ou convenção coletiva.

Essa lei contém inúmeras especificidades, bem como, ainda, dá parâmetros do que

será previsto em regra coletiva. Apontando que, neste caso, o trabalhador não terá direito a

aviso prévio, exceto se houver previsão em norma coletiva. O FGTS – Fundo de Garantia por

Tempo de Contribuição, que, para empregados contratados de maneira tradicional, será de 8%

(oito por cento), e nessa nova modalidade de contratação será de 2% (dois por cento).

Na legislação esparsa, ainda, é possível encontrar normas especiais no que diz respeito

ao contrato por prazo determinado, sendo possível citar as que cuidam das relações de

emprego estabelecidas entre artistas e técnicos, em espetáculos de diversão; do contrato de

aprendizagem, no contrato por safra, no contrato do atleta profissional, dentre outros.

Ainda, como condição temporal a CLT - Consolidação das Leis do Trabalho

determina o lapso temporal máximo de 2 (dois) anos para os contratos a prazo determinado

em geral, e de 90 (noventa) dias para o contrato de experiência, conforme previsão contida em

seus artigos 445 e 451.

3.6. Estatuto do Trabalhador Rural

Nos explica um pouco da história do trabalhador rural o doutrinador Sérgio Pinto

Martins que assim aduz:

No Brasil, a Lei nº 4.214, de 2-3-63, tratava do tema. Era o chamado Estatuto do

Trabalhador Rural, que estabelecia quase os mesmos direitos trabalhistas do

trabalhador urbano. O trabalho rural era disciplinado pelo Estatuto da Terra (Lei na

4.504, de 30-11-64). Os avulsos, provisórios ou volantes, após um ano de serviço

passavam a ser considerados empregados permanentes (art. 6a da Lei na 4.214/63).

A norma que cuida atualmente do trabalhador rural é a Lei na 5.889, de 8-6-73, que

revogou a Lei ns 4.214/63 (art. 21). A referida regra foi regulamentada pelo Decreto

na 73.626, de 12-2-74. (2012, p.151)

A Lei nº 4.214/1963, posteriormente revogada e substituída pela lei 5.889 de 08 de

junho de 1979, cuidava especificamente do chamado Estatuto do Trabalhador Rural, pelo qual

o trabalho rural no Brasil foi regulamentando, bem como, ainda, criou o denominado

FUNRURAL - Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural.

Page 38: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

38

No que diz respeito a regulamentação do trabalho rural, o Estatuto do Trabalhador

Rural nos traz a denominação de empregado e empregador rural, remuneração e percentagem

de adicionais, descontos máximos permitidos em folha determina a formalização e rescisão do

contrato de trabalho, a jornada de trabalho, descanso semanal remunerado e férias

remuneradas, condições que garantam a saúde, a higiene e segurança no ambiente trabalho,

recolhimento a previdência social, a regularização dos sindicatos dos trabalhadores rurais,

bem como, ainda, as condições de moradia e infra estrutura básica para a subsistência do

trabalhador e de sua família.

O ilustre doutrinador Wladimir Novaes Martinez (1985, p.142), pondera que o

Estatuto do Trabalhador Rural, na composição original, em seu artigo 160 da lei nº

4.214/1963, apontava como sendo beneficiários da Previdência Social: “Os trabalhadores

rurais e os colonos ou parceiros, bem como os peque nos proprietários rurais, empreiteiros,

tarefeiros e pessoas físicas que explorem as atividades previstas no art. 3º desta lei, estas com

menos de cinco empregados a seu serviço”. As atividades a que se referiam o art. 3º eram

agrícolas, pastoris ou referentes a indústria rural.

Em seguida o mesmo art. 160, quatro anos depois, recebeu a seguinte redação: “São

beneficiários da previdência social rural: I - como segurados: a) os trabalhadores rurais; b) os

pequenos produtores rurais, na qualidade de cultivadores ou criadores, diretos e pessoais,

definidos em regulamento;”

Observa-se assim, que o empregador rural não era considerado como sendo segurado

da Previdência Social, contudo, o artigo 161 do Estatuto do Trabalhador Rural assim

preconizava:

Art. 161. Os proprietários em geral, os arrendatários, demais empregados rurais não

previstos no artigo anterior, bem como os titulares de firma individual, diretores,

sócios, gerentes, sócios solidários, sócios quotistas, cuja idade seja, no ato da

inscrição até cincoenta anos, poderão, se o requererem tornar-se contribuinte

facultativo do IAPI.

Desse modo, a legislação possibilitava a quem não estava protegido pelo artigo 160,

que contribuísse de maneira facultativa com o IAPI para passar a ter direito aos seus

benefícios.

Page 39: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

39

3.7. Normas de Segurança e Saúde do Trabalhador

Afim de tratarmos a respeito do assunto é importante transcrevermos o comando

normativo de que trata o art. 13 da lei 5.889 de 1973: “Art. 13. Nos locais de trabalho rural

serão observadas as normas de segurança e higiene estabelecidas em portaria do ministro do

Trabalho e Previdência Social.”

Para facilitar esse entendimento o Ministério do Trabalho editou um manual, conforme

este manual do Contrato de Safra (2002, p. 47) todo trabalhador safrista será,

necessariamente, submetido a exames médicos, clínicos e complementares, se necessários se

mostrarem, tudo a cargo do empregador, nas seguintes situações: na admissão, antes de

assumir, efetivamente, suas atividades laborais; e na demissão, antes da rescisão do contrato

de trabalho, se o último exame médico de saúde ocupacional foi feito a mais de 90 (noventa)

dias.

Dessa feita, verifica-se de antemão se o empregado está em boas condições de saúde e

apto a realizar o trabalho a que foi contratado como também se verifica com a sua saída se

houve sequelas permanentes ao trabalhador e com isso, caso a sequela se dê por negligência

do empregador, o empregado poderá buscar na justiça a competente indenização.

Ainda, necessário destacar que todo ambiente de trabalho estará, necessariamente,

equipado com material de primeiros socorros, determinados por um médico do trabalho, que

determinará, ao menos, um trabalhador para realização dos procedimentos de primeiros

socorros conforme orienta o Manual do Contrato de Safra (2002, p. 54)

O ambiente de trabalho rural tem a característica de estar longe da área urbana e

portanto, dos hospitais e farmácias, assim sendo é extremamente necessário que no ambiente

rurícola haja um estoque de medicamentos e materiais para os primeiros socorros afim de

manter as condições de saúde do trabalhador até que este consiga se locomover à cidade ou

hospital mais próximo.

Entre as normas de segurança e saúde que regem os trabalhadores rurais que podem

ser consultados no portal do ministério do trabalho e emprego (www.trabalho.gov.br) está a

NR-31 que estabelece medidas de segurança e proteção com objetivo de trazer higiene e

saúde para esses empregados.

O empregador, ainda, precisa aprovisionar EPI – Equipamento de Proteção Individual,

os quais serão destinados a garantir a proteção individual do empregado contra agentes

Page 40: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

40

(insalubres, perigosos ou penosos) presentes no ambiente de trabalho, que tenham potencial

de gerar lesões ou doenças ocupacionais aos empregados.

Caso ocorra acidente de trabalho, o empregador emitirá em até 24 (vinte e quatro)

horas a denominada CAT - Comunicação de Acidente de Trabalho, com a necessária

observação da legislação previdenciária vigente conforme trata o Manual do Contrato de

Safra (2002, p. 55)

Também extraímos do Manual do Contrato de Safra (2002, p.55) que nas localidades

de desempenho do trabalho, é imprescindível o provimento de água potável, a qual deve estar

livre de qualquer tipo de impureza, considerada boa para o consumo dos empregados e em

quantidade satisfatória.

No ambiente rurícola muito comum que a agua seja retirada de poços artesianos, mas a

agua que está sendo retirada desses poços realmente é potável? Assim, se faz mister a

realização de testes nesta agua.

Ainda, essa água potável será fornecida fresca e colocada em recipientes fechados e

que seu acesso seja facilitado para sua limpeza. Bem como, seja garantida condições de

higiene para a ingestão dessa água, sendo vedada a utilização de copos coletivos, bem como

reutilização de vasilhames impróprios conforme Manual do Contrato de Safra (2002, p.55).

Quando o empregado rural estiver trabalhando a céu aberto é necessário que haja

proteção trabalhador contra as causas naturais (por exemplo, uma tempestade), assim nas

situações onde os trabalhadores sejam transportados para o local de trabalho por intermédio

de ônibus é possibilitada o uso do mesmo como abrigo para os trabalhadores, no entanto a sua

capacidade garanta proteção a todos os trabalhadores sentados.

O Ministério do trabalho e emprego em seu manual também nos orienta a respeito da

necessária proteção aos empregados na realização de compras de produtos e serviços em

estabelecimentos de comércio próprios do empregador, para que os empregados não acabem

por se encontrarem em condições análogas a de escravidão, senão vejamos:

O estabelecimento comercial deve ser de livre escolha dos empregados. Quando o

local de trabalho não permitir fácil acesso a estabelecimentos comerciais onde os

trabalhadores possam fazer suas compras, o empregador poderá manter tal serviço,

desde que sem objetivo de lucro, com preços razoáveis, sempre em benefício dos

trabalhadores (art. 462 e parágrafos da CLT). As compras feitas pelos empregados

no armazém do empregador não podem ser por este descontadas diretamente nos

salários daqueles. (2002, p. 32)

Page 41: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

41

O MTE - Ministério do Trabalho e Emprego, gestor do PAT - Programa de

Alimentação do Trabalhador, oferece benefícios fiscais aos empregadores o qual, bem como,

ainda, garante a facilitação de oferta de alimentação farta e sadia aos empregados.

3.8. FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

Já vimos que antes da promulgação da constituição federal de 1988, os empregados

rurais não tinham direito ao FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. No entanto,

após a promulgação da nova carta magna eles passaram os empregados rurais passaram a ter

esse direito o que se percebe pela leitura do art. 7º.

No que se refere àquelas situações de rompimento antecipado do contrato de trabalho

por prazo determinado, por parte do empregador, sem justa causa, antes da consumação do

contrato de safra, será autorizado o saque do FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de

Serviço, acrescido de 40% (quarenta por cento), de acordo com a previsão contida no artigo

14, do Decreto nº 99.684/1990, sem prejuízo da previsão contida no artigo 479, da CLT -

Consolidação das Leis do Trabalho, ou seja, garante-se, também, os salários do tempo que

resta para o fim do contrato, pela metade.

Além disso, o legislador protege o obreiro safrista de eventuais prejuízos que possa

ter, através do artigo 14, da Lei nº 5.889/1973, que expressamente determina: “Expirado

normalmente o contrato, a empresa pagará ao safrista, a título de indenização do tempo de

serviço, importância correspondente a 1/12 (um doze avos) do salário mensal, por mês de

serviço ou fração superior a 14 (quatorze) dias”.

Há uma controvérsia em relação a aplicação ou não do art. 14 da lei nº 5889/73, assim

é importante pontuarmos nesse trabalho as palavras do doutrinador Luciano Martinez a

respeito de seu posicionamento referente ao art. 14 da lei nº 5889 de 1973:

Page 42: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

42

A Lei n. 5.889/73 criou um microssistema legal em favor dos rurícolas, e no art. 14

do mencionado diploma previu indenização suplementar em favor do safrista “

correspondente a 1/12 (um doze avos) do salário mensal, por mês de serviço ou

fração superior a 14 (quatorze) dias”, independentemente do tempo de contrato

[...]

Opina-se no sentido de que, efetivamente, diante da universalização do FGTS, para

urbanos e rurais, desapareceu a indenização devida ao safrista. Para chegar a essa

conclusão basta lembrar que antes de 1988 os rurícolas não estavam inseridos no

regime do FGTS, por isso precisavam de uma vantagem substituinte.Com a extensão

do FGTS aos trabalhadores do campo, tornou-se difícil apresentar um fundamento

válido para a manutenção da indenização. (2016, p. 526)

Este é um tema bastante discutido, haja vista essa orientação administrativa do MTE -

Ministério do Trabalho e do Emprego, ir na contramão da prática cotidiana dos contratos por

safra

De forma que, muitos doutrinadores observam essa norma como sendo um “bis in

idem” pois analisam o fato dessas 2 (duas) verbas (FGTS e indenização prevista no art. 14)

terem a mesma natureza jurídica, pois buscam indenizar o tempo de serviço do empregado

rural. Pleitear duas vezes a mesma indenização é uma situação que nosso ordenamento

jurídico veda de forma expressa.

A controvérsia da indenização ser devida ou não foi gerada pelo fato de que a lei que

regula os safristas é do ano de 1993 e previa tal indenização por não haver nenhum outro tipo

de indenização aos rurícolas.

No entanto, muitos juristas entendem que com a nova constituição de 1988 essa

indenização havia sido suprida pelo FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.

Este assunto se tornou tão polêmico que é alvo de discussão e julgamento pelo STF

através do ADPF – Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 433, proposta

em 17/11/2006 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) cuja relatora do processo é a

ministra Rosa Weber.

De toda a forma, respeitando os entendimentos contrários, é importante destacar que a

parte da jurisprudência tem entendido que a indenização deve ser cumulativa com o FGTS, ou

seja, tal indenização foi recepcionada pela constituição e ela é devida. Assim, o mais seguro

no momento é seguir a orientação do precedente administrativo nº 65 editado pelo Ministério

do Trabalho e Emprego:

Page 43: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

43

RURÍCULA. CONTRATO DE SAFRA. INDENIZAÇÃO AO TÉRMINO DO

CONTRATO. FGTS, COMPATIBILIDADE.

O art. 14 da Lei nº 5.889, de 8 de junho de 1973, foi recepcionado pela Constituição

Federal de 1988, devendo tal indenização ser cumulada com o percentual do FGTS

devido na dispensa. No contrato de safra se permite uma dualidade de regimes, onde

o acúmulo de direitos corresponde a um plus concedido ao safrista. Não há que se

falar, portanto, em bis in idem ao empregador rural.

REFERÊNCIA NORMATIVA: 14 da Lei nº 5.889, de 8 de junho de 1973 e art. 13,

inciso IX da Instrução Normativa/SIT nº 25, de 20 de dezembro de 2001.

(Disponível em:

<https://www.jurisway.org.br/v2/sumula.asp?pagina=6&idarea=1&idmodelo=36212

>. Acesso em 29/05/2018)

Nessa direção, o ilustre doutrinador José Andrade da Silva preconiza, no sentido de

que a indenização é devida:

Além da indenização, o safrista também tem direito ao saldo de salário, 13º

proporcional, férias, também proporcionais ao período trabalhado, acrescidas de 1/3

(um terço) de seu valor integral e, por fim, ao saque dos depósitos do Fundo de

Garantia por Tempo de Serviço – FGTS – assim como o trabalhador por prazo

indeterminado. (2014, p.81)

Durante muito tempo essa indenização ficou sem utilização, ao posicionamento de que

o artigo 14, da Lei nº 5.889/1973, teria sido derrogado pela Constituição Federal de 1988,

mais precisamente, pelo seu artigo 7º.

Contudo, com a publicação do Precedente Administrativo nº 65, os fiscais do MTE -

Ministério do Trabalho e Emprego e os obreiros rurais safristas começaram a exigir essa

indenização, quando da rescisão do contrato de trabalho, gerando grande transtorno ao

empregador rural.

3.9. Jurisprudência

No que tange aos contratos por prazo determinado existem em nossos Tribunais

inúmeras decisões, contudo, o presente trabalho acadêmico avaliará apenas aquelas mais

relevantes de maneira a uma melhor compreensão.

Quanto a validade dos contratos por prazo determinado, importante ressaltar que para

que o mesmo seja caracterizado exige-se que o serviço desempenhado seja de caráter

transitória ou então de experiência.

Page 44: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

44

Assim, se faz de suma importância ressaltar que o artigo 452, da CLT - Consolidação

das Leis do Trabalho prevê a impossibilidade da sucessão de novo contrato a prazo com o

mesmo trabalhador num período de 6 (seis) meses, exceto no caso de prorrogação que não se

adeque ao limite legal de 2 (dois) anos.

Nesse sentido, tem se posicionado nossos tribunais, conforme demonstram as decisões

a seguir:

CONTRATO PRAZO DETERMINADO. EMPRESA PERMISSIONÁRIA DE

SERVIÇO PÚBLICO. FRAUDE. Considerando que a regra é a contratação por

prazo indeterminado, o disposto no § 2o do art. 443 da CLT deve ser considerado

como exceção à regra. É possível a contratação, pela via efêmera, nas hipóteses em

que o empregado exerce uma atividade transitória, ou, quando a atividade da

empresa é transitória. Todavia, empresa permissionária de serviço público, que

escolhe ramo de negócio sujeito às incertezas e derrotas em [...].(TRT-15 - RO:

43884 SP 043884/2006, Relator: SAMUEL HUGO LIMA, Data de Publicação:

22/09/2006)

[...] O reconhecimento de validade do contrato celebrado por prazo determinado

supõe: a) serviço cuja natureza ou transitoriedade justifique a predeterminação do

prazo; b) atividades empresariais de natureza transitória; c) de contrato de

experiência. Portanto, à míngua de satisfação de tais pressupostos, injustificável a

celebração de contrato, por prazo determinado. [...]. Processo RR1567/1999-222-05-

00.3, Relator Ministro: Emmanoel Pereira, Data de Julgamento: 12/11/2008, 5ª

Turma.

[...] Mantém-se a declaração de unicidade contratual, envolvendo vários e sucessivos

pactos por prazo determinado, celebrados em curto espaço de tempo, tanto nos

períodos de safra, como de entressafra, o que desvirtua o sentido da norma contida

no artigo 452 da CLT, que é atender a uma situação excepcional de demanda gerada

pela sazonalidade [...]. RO-0032400-71.2009.5.06.0192. Redator: Valdir José Silva

de Carvalho. Data do Julgamento 02/12/2009, 2ª Turma.

No que tange às garantias constitucionais e legais, sobre a estabilidade especial, é

possível encontrarmos vários julgados que cuidaram desse assunto, do dirigente sindical e do

integrante da CIPA, a exemplo da gestante, os quais não se mostram compatíveis com o

contrato por prazo determinado, haja vista seu termo final já é manifesto. Ora, depois da safra

não é mais necessária essa mão de obra, o empregador rural teria que inventar algo para esses

empregados.

Destarte, por decorrência lógica do próprio instituto jurídico, ao término acordado do

prazo contratado, sendo o contrato a termo ou evento certo também não deveria ser aplicado a

alínea “b”, do inciso II, do artigo 10, do Ato das disposições Constitucionais Transitórias que

preconiza a respeito da estabilidade provisória da gestante: “Art. 10. (..) II - fica vedada a

dispensa arbitrária ou sem justa causa: (..) b) da empregada gestante, desde a confirmação da

gravidez até cinco meses após o parto”.

Page 45: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

45

É simples reparar que o legislador buscou proteger a gestante nos casos de dispensa

arbitrária ou sem justa causa. Em um contrato por prazo determinado a dispensa ocorre

automaticamente no fim do prazo acordado e, se este for o caso, a gestante não poderia gozar

da estabilidade provisória, mas atualmente essa proteção tem atingido uma amplitude maior

do que a pensada pelo legislador.

Sobre esse assunto, nossos tribunais se posicionavam corretamente, inclusive com

entendimento sumulado, da seguinte forma:

[...] Súmula 244/TST, III, aplicada na hipótese por analogia, no sentido de que -não

há direito da empregada gestante à estabilidade provisória na hipótese de admissão

mediante contrato de experiência, visto que a extinção da relação de emprego, em

face do término do prazo, não constitui dispensa arbitrária ou sem justa causa[...].

AIRR- 99700-74.2001.5.15.0032, Relatora Ministra: Rosa Maria Weber Candiota da

Rosa, Data de Julgamento:06/08/2008, 3ª Turma.

O Tribunal Regional do Trabalho de Salvador também apoiava esse posicionamento

doutrinário e jurisprudencial, conforme decisão a seguir:

[...] Há incompatibilidade entre a estabilidade provisória e os contratos a prazo

determinado. Afinal, as contratações a termo se subsumem às hipóteses de serviços

transitórios. Sendo transitória a atividade, não há que se falar em continuidade após

o seu término, [...]. RO 0053400-84.2002.5.05.0133. Relatora Desembargadora

Graça Laranjeira, Data de Julgamento 12/08/2002. 2ª. Turma.

No entanto, após julgamento desse tema pelo STF o nosso Tribunal Superior do

Trabalho editou o item III da Súmula 444 para os seguintes dizeres (grifo nosso):

GESTANTE. ESTABILIDADE PROVISÓRIA (redação do item III alterada na

sessão do Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) - Res. 185/2012, DEJT

divulgado em 25, 26 e 27.09.2012

I - O desconhecimento do estado gravídico pelo empregador não afasta o direito ao

pagamento da indenização decorrente da estabilidade (art. 10, II, "b" do ADCT).

II - A garantia de emprego à gestante só autoriza a reintegração se esta se der

durante o período de estabilidade. Do contrário, a garantia restringe-se aos salários e

demais direitos correspondentes ao período de estabilidade.

III - A empregada gestante tem direito à estabilidade provisória prevista no art.

10, inciso II, alínea “b”, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,

mesmo na hipótese de admissão mediante contrato por tempo determinado.

<http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_201_250.

html>. Acesso em 29/05/2018)

Assim, em que pese o entendimento ser uma aberração jurídica, a alteração na súmula

244 do TST não nos deixa dúvidas de que há de ser reconhecida a estabilidade da gestante até

mesmo nos contratos acordados a prazo certo.

No que tange à estabilidade e ao acidente de trabalho o entendimento era:

Page 46: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

46

[...] Em se tratando de acidente de trabalho ocorrido na vigência de contrato de

experiência, inexiste garantia de estabilidade no emprego, porquanto o referido

contrato constitui modalidade contratual a termo e a aludida estabilidade objetiva a

proteção da continuidade do vínculo de emprego, [...]. RR- 217500-

79.2005.5.09.0411, Relatora Ministra: Maria Doralice Novaes, Data de Julgamento:

09/12/2009 7ª Turma.

Acompanhava na mesma direção, o posicionamento do Tribunal Regional do Trabalho

da 4ª região:

[...] artigo 118 da Lei nº. 8.213/91 não é aplicável ao contrato de trabalho a prazo

determinado, haja vista esta espécie de pacto ter por característica a existência de

predeterminação da data (ou prazo) para o término da relação de trabalho, de modo

que as partes contratantes estão devida e antecipadamente cientes do termo final do

vínculo, [...] RO-0021100-59.2008.5.04.0821 Redator: ROSANE SERAFINI CASA

NOVA. Data de Julgamento 13/05/2009 6ª Turma.

Quanto a estabilidade provisória, este era o entendimento majoritário, quer nas turmas

do Tribunal Superior do Trabalho, quer nas turmas dos Tribunais Regionais do Trabalho, bem

como na doutrina, no sentido de que este instituto jurídico se mostra inconciliável com o

contrato por prazo determinado, todavia, a 1ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho

defende ser devida essa compatibilidade. Vejamos a decisão a seguir:

Aplica-se a previsão do art. 118 da Lei nº. 8.213/91, para o fim de conferir

estabilidade provisória no emprego ao trabalhador vitimado por acidente de trabalho

e afastado do serviço por mais de quinze dias para o gozo do auxílio-doença, ainda

que o contrato de trabalho em curso quando da ocorrência a do sinistro tenha sido

celebrado a título de experiência. [...] RR- 9700-45.2004.5.02.0465, Relator

Ministro: Luiz Philippe Vieira de Mello Filho. Data de Julgamento: 25/06/2008, 1ª

Turma.

Com o passar dos anos devido a vários julgamentos de recurso de revista sinalizando

pela compatibilidade da estabilidade acidentária nos contratos por prazo determinado como os

julgados Nº TST-RR-398200-65.2008.5.09.066, Nº TST-RR-156900-12.2008.5.09.0242, Nº

TST-RR-236600-63.2009.5.15.0071, Nº TST-RR-213500-04.2005.5.02.0032, entre outros

precedentes.

Destarte, o posicionamento do TST mudou em relação a este assunto garantindo assim

a estabilidade acidentária para os contratos por prazo determinado o que levou ao pleno do

TST em 14 de setembro de 2012 a decisão de inserir o item III à importante súmula nº 378

que trata a respeito do tema, vejamos:

Page 47: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

47

ESTABILIDADE PROVISÓRIA. ACIDENTE DO TRABALHO. ART. 118

DA LEI Nº 8.213/1991. (inserido item III) - Res. 185/2012, DEJT divulgado

em 25, 26 e 27.09.2012

I - É constitucional o artigo 118 da Lei nº 8.213/1991 que assegura o direito à

estabilidade provisória por período de 12 meses após a cessação do auxílio-

doença ao empregado acidentado. (ex-OJ nº 105 da SBDI-1 - inserida em

01.10.1997)

II - São pressupostos para a concessão da estabilidade o afastamento superior

a 15 dias e a conseqüente percepção do auxílio-doença acidentário, salvo se

constatada, após a despedida, doença profissional que guarde relação de

causalidade com a execução do contrato de emprego. (primeira parte - ex-OJ

nº 230 da SBDI-1 - inserida em 20.06.2001)

III - O empregado submetido a contrato de trabalho por tempo determinado

goza da garantia provisória de emprego decorrente de acidente de trabalho

prevista no n no art. 118 da Lei nº 8.213/91.

(Disponível em:

<http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_3

51_400.html#SUM-378>. Acesso em 29/05/2018)

Em conclusão, verifica-se que a Corte Superior tem posicionamento sedimentado no

sentido de que a estabilidade é conciliável com o contrato por prazo determinado. Destarte,

esta foi uma importante conquista dos trabalhadores por tempo determinado trazendo de tal

modo segurança jurídica e amparo necessário aos que por ventura sofressem algum acidente

trabalhista.

Page 48: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

48

CONCLUSÃO

Da análise do presente trabalho acadêmico, é possível se chegar à conclusão da

relevância do tema, aqui estudado, no que tange o contrato de safra como forma de

manutenção do vínculo de trabalho que se estabelece entre trabalhador e proprietário rural,

bem como, ainda, a necessária segurança jurídica.

Destaca-se, também, a verificação de que o termo final do contrato de safra se

apresenta como não necessariamente certo, haja vista que, conforme verificado, a depender da

atividade contratada, não será possível a fixação precisa de uma data para o término da

prestação contratada entre as partes, nem sequer estabelecer uma data de fim para todos os

trabalhadores envolvidos na safra.

De tal modo, observou-se, ainda, que o contrato de safra possui particularidades

intrínsecas, as quais o empregador precisa, necessariamente, se atentar, pois, atualmente,

existem uma forte fiscalização pelo MPT - Ministério Público do Trabalho e pelo MTE

Ministério do Trabalho e Emprego, no sentido desses órgãos fiscalizadores observarem o

efetivo cumprimento da lei, fazendo garantir os direitos a quem possuem os empregados

contratados por safra.

Observou-se também que a Constituição Federal de 1988 equiparou o trabalhador

rural ao trabalhador urbano, de maneira a aplicar-se a ele todas as normas jurídicas inerentes

ao contrato a termo. Contudo, a Lei nº 5.889/1973, mais precisamente em seu artigo 14,

afiançou ao trabalhador safrista o direito a uma indenização ao fim do contrato de safra,

indenização essa que tem sido objeto de muita discussão, quer na doutrina, quer na

jurisprudência, no tocante ao fato de sua revogação ou não, com a criação do FGTS – Fundo

de Garantia por Tempo de Contribuição.

Nesse sentido, conforme foi possível observar, parte da jurisprudência pátria tem

entendido que a indenização do contrato de safra não pode ser confundida com a indenização

tradicional instituída pela CLT – Consolidação das leis Trabalhistas, a qual dizia respeito

somente aos contratos de trabalho por prazo indeterminados. Desta forma, o trabalhador

safrista teria o direito a sacar os valores, a título de FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de

Contribuição, bem como, também, a perceber a indenização prevista no artigo 14, da Lei nº

5.889/1973.

Page 49: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

49

No presente trabalho também foi possível visualizar as constantes mudanças

jurisprudenciais no tocante a contratos por prazo determinado e as estabilidades previstas

demonstrando assim que o justiça do trabalho continua sendo extremamente protecionista

amparando os trabalhadores mesmo quando os institutos contratuais utilizados para sua

admissão são ou deveriam ser incompatíveis com tal proteção.

Finalmente, destaca-se que o escopo do presente trabalho acadêmico não foi o de

buscar esgotar a presente temática. Mas sim, de demonstrar uma apreciação mais densa e

contida, com vistas a conhecer e relacionar a estrutura à ótica dos empregadores rurais, bem

como, ainda, dos trabalhadores safristas, frente a tão relevante forma de relação trabalhista, ao

qual se apresenta o contrato de safra.

Page 50: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

50

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, André Luiz Paes de. Direito do trabalho: material, processual e legislação

especial. 15ª ed. São Paulo: Rideel, 2014.

BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2009.

______________. Curso de direito do trabalho. 7ª ed. São Paulo: LTr, 2011.

BRASIL. Constituição de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. 35ª ed.

São Paulo: Saraiva, 2005.

_____________. Congresso Nacional. Lei 5.889, de 08 de junho de 1973. Estatui normas

reguladoras do Trabalho Rural e dá outras providências. Disponível em:

˂http://www.planalto.gov.br.˃. Acesso em: 28 mar. 2018.

_____________. Congresso Nacional. Lei 4.214, de 02 de março de 1963. Dispõe sobre o

“Estatuto do Trabalhador Rural”. Disponível em: ˂http://www.planalto.gov.br.˃. Acesso em:

28 mar. 2018.

_____________. Contrato de safra : manual. Brasília:MTE/SIT, 2002.

_____________. Ministério do Trabalho e do Emprego. Ato Declaratório SIT/MTE Nº 9, de

25 de maio de 2005. Diário Oficial da União, seção I, 27 de maio de 2005, pág. 119/120.

CAIRO JÚNIOR, José. Curso de Direito do Trabalho - Direito Individual e Coletivo do

Trabalho. 13ª ed. Salvador: Jus Podivm, 2017.

CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 28ª ed. São Paulo:

Saraiva, 2003.

DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 16ª ed. São Paulo: LTr, 2017.

Page 51: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

51

GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Curso de direito do trabalho. 11ª ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2017.

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 8ª ed. São Paulo: Saraiva,

2017.

LEITE, João Antônio G. Pereira. Contrato de trabalho por safra no direito brasileiro. São

Paulo: LTr, 1976.

MAGANO, Octavio Bueno. Direito individual do trabalho. 4ª ed. São Paulo: LTr, 1993.

MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do trabalho. 10ª ed. São Paulo: Atlas, 2006.

MARANHÃO. Délio. Direito do trabalho. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1987.

MARTINEZ, Wladimir Novaes. O trabalhador rural e a previdência social. 2ª ed. São Paulo:

LTr, 1985.

MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho:relações individuais, sindicais e coletivas

do trabalho. 7ª ed. São Paulo:Saraiva, 2016.

MARTINS, Sérgio Pinto. A terceirização e o direito do trabalho. São Paulo: Atlas, 2012.

_________, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 28ª ed. São Paulo: Atlas, 2012.

MORAES FILHO, Evaristo de; MORAES, Antônio Carlos Flores de. Introdução ao direito

do trabalho. 9ª ed. São Paulo: LTr, 2003.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação do direito do trabalho. 33ª ed. São Paulo: LTr.

2007.

_________________. Curso de direito processual do trabalho. 28ª ed. São Paulo: Saraiva,

2014.

Page 52: DO CONTRATO DE SAFRA - servicos.toledo.br fileDO CONTRATO DE SAFRA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Direito da universidade Unitoledo, como requisito para obtenção

52

OLIVEIRA NETO, João Cândido de. Como eliminar a fraude na área previdenciária rural.

FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná. Disponível em:

˂http://www2.faep.com.br/noticias/exibe_noticia.php?id=506˃. Acesso em: 10 mar. 2018.

PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Manual de direito do trabalho. 10ª ed. Niterói:

Impetus, 2007.

ROMAR, Carla Teresa Martins. Direito do trabalho esquematizado. 2ª ed. São Paulo: Saraiva,

2014.

SALEM NETO, José. Direito do trabalho rural e contratos agrários. Vol. I. São Paulo:

Brasiliense Coleções, 1985.

SIGAUD, Lygia. Direito e gestão de injustiças. In: Antropologia Social – comunicações

PPGSA. n.4. Rio de Janeiro: Museu Nacional/UFRJ, 1994.

TRINDADE, Edson Silva. Contrato de safra e a somatória dos períodos descontínuos

trabalhados: algumas considerações. Porto Alegre: Síntese Trabalhista, ano X, nº 119, mai-

1999.