do conselho municipal dos direitos da pessoa · funcionando faz parte do check list realizado,...

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1 Para o cadeirante Sergio Luiz da Silva, as dificuldades começaram no dia anterior (segunda-feira). Foram 45 minutos de espera ao telefone para agendar o transporte eficiente, exclusivo para pessoas com deficiência. Devido à demanda, o telefone só dava ocupado, mas depois de várias tentativas ele conseguiu agendar um ônibus para buscá-lo em casa, no bairro Adhemar Garcia, às 7h20. 2 Ontem, às 7h25, o ônibus do transporte eficiente chegou e levou o cadeirante até a Associação Joinvilense para Integração dos Deficientes Visuais (Ajidevi), no bairro Floresta. Lá, Sergio encontrou Ari Bernardo, 74 anos, e Anderson Espíndola, 22 anos, ambos deficientes visuais. 3 Eles caminharam por um trecho de cerca de 500 metros até o Terminal do Vera Cruz para mostrar as calçadas adaptadas que estão sendo construídas para facilitar o acesso à entidade, e evidenciaram as mudanças que ainda precisam ser feitas para tornar esse trajeto ainda mais seguro. Isso porque a calçada termina e o deficiente visual fica perdido, sem saber como chegar às catracas e às plataformas corretas de embarque, o que obriga a pedir ajuda. 4 No terminal do Vera Cruz, Sergio conseguiu, facilmente, embarcar em um ônibus adaptado em direção à zona Norte, com a ajuda de um fiscal do terminal. O motorista ficou observando. 5 Já o desembarque, na rua João Colin, em frente ao supermercado Giassi, foi mais complicado. O motorista, que atua há um ano naquela linha, confessou que nunca tinha utilizado sozinho equipamento e não sabia operá-lo. O presidente da Comissão Permanente de Acessibilidade (Coopera) foi obrigado a ajudá-lo. 6 Da rua João Colin, eles partiram em direção à rua Max Colin para tentar pegar um ônibus da linha Costa e Silva, uma das linhas alimentadoras (entre terminais e bairros) que têm frota adaptada. 8 Cansados, Sergio e Anderson desistiram da linha do Costa e Silva e resolveram percorrer outros 500 metros até a rua Blumenau, uma das principais vias da cidade, onde as chances de pegar um ônibus adaptado, teoricamente, seriam maiores. Pelo caminho, Anderson encontrou calçadas fora da norma de acessibilidade e se deparou com obstáculos como orelhões, caixas de correio e lixeiras não sinalizadas para deficientes visuais. Já Sergio verificou a da falta de rampas em calçadas e acesso à lojas, sem falar em semáforos para pedestres que oferecem apenas cinco segundos para os pedestres atravessarem. 10 Na pressa, o motorista acabou esquecendo de prender a cadeira, só prendeu o cadeirante com o cinto. Como não passou por muitas curvas, o trajeto foi tranquilo e Sergio chegou a salvo ao Terminal Central. 11 No terminal do Centro, a equipe de “A Notícia” despediu-se e agradeceu aos voluntários que ajudaram a mostrar as dificuldades vividas por pessoas com deficiência em Joinville. O deficiente visual Anderson Espíndola pegou a linha Iririú-Centro para voltar para casa. Já o cadeirante Sergio Luiz da Silva preferiu não esperar por um outro ônibus adaptado e pediu, por telefone, uma carona para voltar à sede do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Comde), na Procópio Gomes (Bucarein), onde trabalha. 7 Após 25 minutos de espera, o primeiro ônibus a passar tinha o adesivo indicando que o veículo é adaptado, mas o motorista desceu, subiu, procurou, mas não soube ligar o elevador. Já o segundo ônibus, que passou depois de mais 20 minutos de espera, nem abriu a porta. O motorista afirmou que o equipamento não funciona. 9 Eles chegaram ao ponto, na rua Blumenau, às 9h30, e esperaram 1h10 para embarcar. Nesse período, 14 ônibus passaram. Destes, 12 não eram adaptados, um tinha elevador, mas o equipamento também não funciona. Só o Tupy-Norte, que passou às 11h25, tinha piso rebaixado e rampa para que Sergio pudesse seguir seu caminho. Mesmo assim, o embarque foi difícil. O motorista desceu e, diante de um ônibus lotado de passageiros impacientes, ele conseguiu empurrar o cadeirante pela rampa, que ficou inclinada demais, devido ao meio fio abaixo da medida ideal. O QUE DIZEM AS EMPRESAS Gidion e Transtusa explicam que, por lei, têm até o dia 31 de julho para colocar todos os elevadores dos ônibus adaptados para funcionar e treinar os funcionários. Além disso, reforçaram que pretendem adaptar toda a frota até 2016, antes mesmo do prazo determinado por lei (2019). Isso porque desde 2007 todos os ônibus fabricados já são, obrigatoriamente, adaptados, e até lá, toda a frota terá sido renovada ou readequada. A Transtusa admitiu os problemas com alguns equipamentos e culpa os fabricantes. “Os equipamentos feitos no Brasil dão muito problema. O País não estava preparado para atender às exigências”, justifica o gerente operacional da Transtusa, Wilmar Cabral Henrique. Quanto à falta de capacitação dos motoristas, garantiu que em duas semanas todos os funcionários já deverão ter passado por treinamento para saber manusear os elevadores. Já a Gidion informou que os funcionários foram capacitados e os equipamentos estão funcionando. “Os ônibus são testados todas as noites. E verificar se o elevador está funcionando faz parte do check list realizado, diariamente, na garagem da empresa”, afirma o gerente de operações da Gidion, Alcides Bertoli. Hoje, dos 326 ônibus convencionais em operação, 59 são adaptados (56 com elevadores e três têm piso rebaixado e rampa). E até o fim do ano, as empresas esperam colocar pelo menos outros 22 ônibus equipados para receber cadeirantes em operação. “Dependemos da Busscar, que deve entregar mais oito ônibus rebaixados”, explica o gerente da Transtusa. Mas, com a adaptação de toda a frota, prevista para 2016, os deficientes se perguntam: e o Transporte Eficiente (serviço por agendamento), vai continuar a funcionar? “Ainda não definimos isso, até porque nem todos os lugares são atendidos pelas linhas regulares e são pouco acessíveis. Temos que considerar que o município também terá de fazer sua parte, com as ruas e calçadas”, responde Bertoli, gerente da Gidion. Por enquanto, os deficientes contam com a comodidade de ligar, com 24 horas de antecedência, para agendar o transporte, que é gratuito para deficientes que comprovarem renda inferior a cinco salários mínimos. Cena da novela “Viver a Vida”, da Rede Globo, revela a dificuldade enfrentada pelas pessoas com deficiência quando precisa contar com o transporte público. A personsagem Luciana, tetraplégica, é vivida por Aline Moraes, que também conta detalhes da gravação em seu blog. 1 2 3 RUA HILÁRIO MUELLER O TRAJETO Terminal Sul Rua João Colin, na frente do Giassi Rua Blumenau TERMINAL DO CENTRO 5 4 Rua Max Colin FLORESTA CENTRO AMéRICA 168 158 NúMEROS DOS ôNIBUS Gidion Total da frota Adaptados com elevadores Transporte eficiente* Transtusa Total da frota Adaptados com elevadores Rebaixados e com rampas Transporte eficiente* 30 7 26 3 7 1000 deficientes cadastrados 550 clientes ativos 270 é a média de atendimentos/dia NÚMEROS DO TRANSPORTE EFICIENTE

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Page 1: do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa · funcionando faz parte do check list realizado, diariamente, na garagem da empresa”, afirma o gerente de operações da Gidion, Alcides

1 Para o cadeirante Sergio Luiz da Silva, as dificuldades

começaram no dia anterior (segunda-feira). Foram 45 minutos de espera ao telefone para agendar o transporte eficiente, exclusivo para pessoas com deficiência. Devido à demanda, o telefone só dava ocupado, mas depois de várias tentativas ele conseguiu agendar um ônibus para buscá-lo em casa, no bairro Adhemar Garcia, às 7h20.

2 Ontem, às 7h25, o ônibus do transporte eficiente chegou e levou o cadeirante até a Associação Joinvilense para Integração dos Deficientes Visuais (Ajidevi), no bairro

Floresta. Lá, Sergio encontrou Ari Bernardo, 74 anos, e Anderson Espíndola, 22 anos, ambos deficientes visuais.

3 Eles caminharam por um trecho de cerca de 500 metros até o Terminal do Vera Cruz para mostrar as calçadas adaptadas que estão sendo construídas para facilitar o acesso à entidade, e

evidenciaram as mudanças que ainda precisam ser feitas para tornar esse trajeto ainda mais seguro. Isso porque a calçada termina e o deficiente visual fica perdido, sem saber como chegar às catracas e às plataformas corretas de embarque, o que obriga a pedir ajuda.

4 No terminal do Vera Cruz, Sergio conseguiu, facilmente, embarcar em um ônibus adaptado em direção à zona Norte, com a ajuda de um

fiscal do terminal. O motorista ficou observando.

5 Já o desembarque, na rua João Colin, em frente ao supermercado Giassi, foi mais complicado. O motorista, que atua há um ano naquela linha,

confessou que nunca tinha utilizado sozinho equipamento e não sabia operá-lo. O presidente da Comissão Permanente de Acessibilidade (Coopera) foi obrigado a ajudá-lo.

6 Da rua João Colin,

eles partiram em direção à rua Max Colin para tentar pegar um ônibus da linha Costa e Silva, uma das linhas alimentadoras (entre terminais e bairros) que têm frota adaptada.

8 Cansados, Sergio e Anderson desistiram da linha do Costa e Silva e resolveram percorrer outros 500 metros até a rua Blumenau, uma das principais vias da cidade, onde as chances

de pegar um ônibus adaptado, teoricamente, seriam maiores. Pelo caminho, Anderson encontrou calçadas fora da norma de acessibilidade e se deparou com obstáculos como orelhões, caixas de correio e lixeiras não sinalizadas para deficientes visuais. Já Sergio verificou a da falta de rampas em calçadas e acesso à lojas, sem falar em semáforos para pedestres que oferecem apenas cinco segundos para os pedestres atravessarem.

10 Na pressa, o motorista acabou esquecendo de prender a cadeira, só prendeu o cadeirante com o

cinto. Como não passou por muitas curvas, o trajeto foi tranquilo e Sergio chegou a salvo ao Terminal Central.

11 No terminal do Centro, a equipe de “A Notícia” despediu-se e agradeceu aos voluntários que

ajudaram a mostrar as dificuldades vividas por pessoas com deficiência em Joinville. O deficiente visual Anderson Espíndola pegou a linha Iririú-Centro para voltar para casa. Já o cadeirante Sergio Luiz da Silva preferiu não esperar por um outro ônibus adaptado e pediu, por telefone, uma carona para voltar à sede do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Comde), na Procópio Gomes (Bucarein), onde trabalha.

7 Após 25 minutos de espera, o primeiro ônibus a passar tinha o adesivo indicando que o veículo é adaptado, mas o motorista desceu, subiu, procurou, mas não

soube ligar o elevador. Já o segundo ônibus, que passou depois de mais 20 minutos de espera, nem abriu a porta. O motorista afirmou que o equipamento não funciona.

9 Eles chegaram ao ponto, na rua Blumenau, às 9h30, e esperaram 1h10 para embarcar. Nesse período, 14 ônibus

passaram. Destes, 12 não eram adaptados, um tinha elevador, mas o equipamento também não funciona. Só o Tupy-Norte, que passou às 11h25, tinha piso rebaixado e rampa para que Sergio pudesse seguir seu caminho. Mesmo assim, o embarque foi difícil. O motorista desceu e, diante de um ônibus lotado de passageiros impacientes, ele conseguiu empurrar o cadeirante pela rampa, que ficou inclinada demais, devido ao meio fio abaixo da medida ideal.

O quE DizEM aS EMprESaS Gidion e Transtusa explicam que, por lei, têm até o dia 31 de julho para colocar todos os elevadores dos ônibus adaptados para funcionar e treinar os funcionários. Além disso, reforçaram que pretendem adaptar toda a frota até 2016, antes mesmo do prazo determinado por lei (2019). Isso porque desde 2007 todos os ônibus fabricados já são, obrigatoriamente, adaptados, e até lá, toda a frota terá sido renovada ou readequada. A Transtusa admitiu os problemas com alguns equipamentos e culpa os fabricantes. “Os equipamentos feitos no Brasil dão muito problema. O País não estava preparado para atender às exigências”, justifica o gerente operacional da Transtusa, Wilmar Cabral Henrique.

Quanto à falta de capacitação dos motoristas, garantiu que em duas semanas todos os funcionários já deverão ter passado por treinamento para saber manusear os elevadores. Já a Gidion informou que os funcionários foram capacitados e os equipamentos estão funcionando. “Os ônibus são testados todas as noites. E verificar se o elevador está funcionando faz parte do check list realizado, diariamente, na garagem da empresa”, afirma o gerente de operações da Gidion, Alcides Bertoli. Hoje, dos 326 ônibus convencionais em operação, 59 são adaptados (56 com elevadores e três têm piso rebaixado e rampa). E até o fim do ano, as empresas esperam colocar pelo menos outros 22 ônibus equipados para receber cadeirantes em operação.

“Dependemos da Busscar, que deve entregar mais oito ônibus rebaixados”, explica o gerente da Transtusa. Mas, com a adaptação de toda a frota, prevista para 2016, os deficientes se perguntam: e o Transporte Eficiente (serviço por agendamento), vai continuar a funcionar? “Ainda não definimos isso, até porque nem todos os lugares são atendidos pelas linhas regulares e são pouco acessíveis. Temos que considerar que o município também terá de fazer sua parte, com as ruas e calçadas”, responde Bertoli, gerente da Gidion. Por enquanto, os deficientes contam com a comodidade de ligar, com 24 horas de antecedência, para agendar o transporte, que é gratuito para deficientes que comprovarem renda inferior a cinco salários mínimos.

Cena da novela “Viver a Vida”, da rede Globo, revela a dificuldade enfrentada pelas pessoas com deficiência quando precisa contar com o transporte público. a personsagem Luciana, tetraplégica, é vivida por aline Moraes, que também conta detalhes da gravação em seu blog.

1

2 3

Rua HiláRio MuelleR

O TraJETO

Terminal SulRua João Colin, na frente do Giassi

Rua Blumenau

TeRMinal do CenTRo

5

4Rua Max Colin

FlORESTA

CEnTRO

AMéRICA

168

158

NúMErOS DOS ôNiBuSGidion Total da frota

Adaptados com elevadores

Transporte eficiente*

Transtusa Total da frota

Adaptados com elevadores

Rebaixados e com rampas

Transporte eficiente*

307

263

7

1000 deficientes

cadastrados

550 clientes ativos

270 é a média de

atendimentos/dia

núMeRos do TRanspoRTe efiCienTe