do cinema roma ao fórum lisboa - breve história de um espaço de cidadania

35
do Cinema Roma ao Fórum Lisboa breve história de um espaço de cidadania

Upload: isabel-fiadeiro-advirta

Post on 07-Mar-2016

221 views

Category:

Documents


4 download

DESCRIPTION

Comprado pela Câmara Municipal de Lisboa em 1997, o Cinema Roma teve um percurso extremamente acidentado - até se tornar o Fórum Lisboa. Esta é a 2ª edição desta publicação, editada em março de 2007.

TRANSCRIPT

Page 1: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

do Cinema Roma ao Fórum Lisboa breve história de um espaço de cidadania

Page 2: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

do Cinema Roma ao Fórum Lisboa breve história de um espaço de cidadania

ficha técnica | EDIÇÃO Assembleia Municipal de Lisboa / Departamento de Apoio aos Órgãos do Município | COORDENAÇÃO José Bastos |TEXTO, INVESTIGAÇÃO & PAGINAÇÃO Isabel Fiadeiro Advirta | APOIO NA INVESTIGAÇÃO Lucinda Tamagnini Figueiredo | EXECUÇÃO GRÁFICADivisão de Imprensa Municipal | EDIÇÃO COMEMORATIVA DOS 50 ANOS DO EDIFÍCIO DO FÓRUM LISBOA Março de 2007 | 600 exemplares

Page 3: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

prefácio

A Presidente

Paula Teixeira da Cruz

Este livro é um recordatório para que as memórias nos não atraiçoem e as verdades se não percam, que ficamos a dever ao saudávelvoluntarismo e iniciativa da Dra. Isabel Advirta. Mas este livro é também uma reconstituição, fruto da consciência profissional, mas tambémcívica da sua Autora, sem esquecimentos ou cedências confortáveis: estão lá todos e cada um (Lucínio Cruz, Ribeiro Belga, Laura Elário, PedroBandeira Freire, Manuel Lima, Divas) e com eles nós, num percurso nunca acabado.

Nesta publicação é ainda impressiva, uma inteligente e subtil crítica à cegueira da burocracia que tolhe a Liberdade, na descrição do percursode um sonho e da sua realização, como tantas vezes sucede, apelando à nossa atenção e envolvimento.

Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa, breve história de um espaço de Cidadania, não se reduz, todavia - o que já não seria pouco - a uma memóriade um espaço, que nos leva a conhecê-lo e das gentes que o foram fazendo: é também uma promessa de futuro com penhor de um passado,protagonizando a sua Autora o arrojo que muito antes e além do seu tempo, Ribeiro Belga, seu criador - que conheci, criança, em Angola –ousou, numa curiosa fusão de atitudes que cruzam o tempo e se encontram neste Fórum, nesta Cidade de Lisboa, que se quer e se fazintercultural, plural, como este espaço.

Page 4: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

O Fórum Lisboa, sede da Assembleia Municipal de Lisboa, foi um dos grandes cinemas de Lisboa que pôde ser preservado pela autarquia, edevolvido à cidade para palco de iniciativas imprescindíveis à construção da cidadania.

Vinda do Cinema São Jorge, a Dra. Isabel Advirta tem vindo a trabalhar no Fórum de forma a garantir a operacionalidade das reuniões/sessõesda AML. Curiosa, desde logo quis que o antigo Cinema Roma “lhe falasse” do seu passado. Entusiasmou-se e entusiasmou-me. Pesquisou ebisbilhotou. Aproveitou o encerramento do Fórum em Agosto para tal. E constatou: não existia qualquer documentação do que fora o cinemaRoma. Esta falha tornou-se ainda mais óbvia quando foi iniciado o processo de pesquisa documental: na verdade, e embora existam alguns livrosou capítulos de livros publicados em Portugal sobre cinemas, os raros, raríssimos que referem o Roma fazem-no de passagem, a vol d'oiseaux,constantando a sua existência e pouco mais.

Deste deserto de informações procurou-se reunir a documentação necessária para se poder divulgar a(s) história(s) desta casa, desde a suaabertura em 1957 ao seu funcionamento nos dias de hoje. Da recolha de informação dispersa, organizou-se os dados descobertos de formaclara e simples.

Este processo, longe de estar terminado, tem neste livro a sua primeira forma pública. Outras, certamente, se seguirão.

Não se pretende com este trabalho, pois, um levantamento técnico ou arquitectónico exaustivo, mas antes contribuir para que se perceba eaprecie o lugar do Roma e do Fórum Lisboa na Cidade. Sempre que possível, privilegiou-se algum enquadramento histórico e cultural etestemunhos de vida, indispensáveis para melhor se compreender o percurso sinuoso do cinema.

Como Cinema Roma, o espaço conquistou o seu lugar na história cinematográfica da Lisboa do Séc. XX.

Como sede da AML tem honrado o seu papel como palco de algumas das mais importantes discussões políticas que à cidade dizem respeito. Ofuturo... a todos nós (lisboetas) pertence.

introdução

José BastosNovembro de 2005

Page 5: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

O comentário consta no jornal República, na sua edição de 16 de Março de 1957, e retrata ocoroar de um processo moroso, complexo e só possível graças à vontade de um homem,Joaquim Braz Ribeiro Belga: a edificação do cinema Roma.

O Diário Municipal de 2 de Outubro de 1953 explicita as condições de “alienação de um terrenosituado na avenida de Roma destinado à construção de cinema, teatro, ou cinema e teatro”. Aparcela à venda no local onde viria a nascer o cinema Roma tinha a superfície total de 1050m2

ao preço de 900$00 o m2, confrontava por todos os lados com terrenos da Câmara Municipal deLisboa (CML) e era proveniente de expropriação feita aos herdeiros do Conde da Guarda. ODiário Municipal refere também o prazo de 6 meses para o início da obra e de dois anos até àsua conclusão.

A memória descritiva que acompanha o projecto inicial de construção do Cinema Roma estáassinada pelo arquitecto Lucínio Cruz e data de 14 de Abril de 1954. Nele, está explícita a ideiainicial de aliar o aproveitamento do espaço de uma grande plateia dividida por zonas a umterraço para sessões ao ar livre.

A preocupação de fazer uma sala com qualidade de projecção foi grande: “Com a nova técnicaadoptada pelos produtores de filmes, “cinescópio e panorâmico”, a cabine de projecção deveráficar numa posição tal que o ângulo de projecção sobre o écran não seja superior a 5 graus”,ângulo que permitiria uma boa projecção e evitaria “um desequilíbrio no desenrolar das cenase uma aberração perspéctica com o alongamento da figura humana no sentido vertical”. Esta

História(s) da construção do Roma“ E L i s b o a c o n t a , d e s d e o n t e m , c o m m a i s u ma g r a d á v e l c i n e m a a q u e d e r a m o n o m e d e R o m a ,c e r t a m e n t e p o r q u e n a Av e n i d a d e R o m a s e e n c o n t r a ,u m a a c o l h e d o r a c a s a d e e s p e c t á c u l o s d e l i n h a ss i m p l e s m a s e l e g a n t e s . N ã o s e t r a t a d e u m c i n e m a d eB a i r r o , p o r q u e n ã o f i c a m a l n u m a c i d a d e c o m o an o s s a e n ã o d e s t o a c o m p a r a d o c o m o s o u t r o s q u e s ee n c o n t r a m e m v á r i o s p o n t o s d a n o s s a c a p i t a l ” .

A COMPRA DO TERRENO

O PLANEAMENTO DO EDIFÍCIO

Vista aérea do Areeiro. No cimo da foto, ao centro, é visível oterreno onde viria a ser construído o Roma. Foto: fundo SNI;Arquivo de Fotografia de Lisboa – CPF / MC

O presidente do Município, general França Borges, procedendo àinauguração do prolongamento da avenida João XXI (melhoramentode grande importância para o trânsito na parte norte da cidade) Fotodo fundo “O Século”- Arquivo de Fotografia de Lisboa CPF/MC

Page 6: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

D O C I N E M A R O M A A O F Ó R U M L I S B O A

Requerimento da CML à Inspecção dos Espectáculos em 1954

teoria, já demonstrada em revistas de cinema da altura, presidiu à motivação da inclinação dasala.

Naquele documento, aparece uma referência ao público esperado no cinema: “como se tratade um cinema de bairro, não houve a preocupação de aplicar materiais ricos nem grandesbaixos-relevos ou pinturas murais. Existe sim a preocupação de proporcionar ao espectadoruma boa projecção e sonorização, assentos confortáveis, tiragem forçada do ar e sua renovaçãoe dar cinema às classes menos abastecidas”. A natureza das matérias a aplicar em pavimentos,paredes, tectos e demais revestimentos foram estudados sob “um ponto de vista económico,embora estivesse presente a preocupação de se tirar partido, através da sua cor e composição,do ambiente a dar à sala e seus móveis”.

Contemplando a valência de cinema ao ar livre, e prevendo os ventos das noites de Agosto eSetembro, o projecto incluía uma protecção em todo o perímetro do terraço, para os clientes daesplanada. Para acesso a esta zona foram previstos dois elevadores com lotação para 10pessoas cada.

As galerias que envolviam parte da sala destinavam-se a bar e “estacionamento do público”durante os intervalos.

Este parecia o projecto ideal para um grande Cinema numa nova avenida. Os dados estavamlançados, e aparentemente tudo se desenrolaria rapidamente, até porque os prazos previstospara a obra eram diminutos.

No entanto, Portugal dos finais dos anos 50 assistiu à rigorosa aplicação da Lei de Protecção aoTeatro, que indirectamente foi responsável por um atraso de anos na construção do Roma. EstaLei, apesar de amplamente contestada, levantava constantes problemas à construção de cinemas.

Mas Joaquim Braz Ribeiro Belga, longe de desistir do seu sonho de construir o Cinema Roma,envia um requerimento ao Presidente do Conselho no qual expunha os acontecimentos, desde acompra em hasta pública do do terreno até ao primeiro grande problema: um despacho, datado deJulho de 1954 e em resposta ao pedido de construção do Roma, com um teor pouco incentivante:“Aguarde, por convir rever o problema em relação com o funcionamento que agora vai iniciar-se dalei de protecção ao Teatro.”

DIFICULDADES INESPERADAS

8

Page 7: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

Argumentando que, de acordo com as condições da hasta pública do terreno, mandara “elaboraros projectos para um edifício destinado a cinema, verificando-se no mesmo a obediência a todas ascondições legais exigidas”, Joaquim Ribeiro Belga alega que o facto de ter avançado com projectosarquitectónicos, pagamentos à CML, estudos de estabilidade e outras necessidades técnicas, sevê com uma “soma de capitais completamente imobilizados e na absoluta ignorância do tempo emque poderá vir a realizar o edifício projectado”. Mais, acrescenta que a CML ao alienar o terreno emhasta pública nos termos em que o fizera “reconhece implicitamente que o terreno tem as condiçõesnecessárias para a construção de um cinema sem exploração”.

Continuando a exposição, Joaquim Braz Ribeiro Belga concorda com o interesse nacional deprotecção ao teatro, recordando que “estão funcionando como cinemas casas que foramexpressamente construídas para teatro S. Luís, Éden, Politeama, que há um Teatro fechado quefunciona de longe em longe - Trindade, que foi autorizada a demolição de um – Ginásio e quehá Cine Teatros funcionando como cinemas – Império, acrescendo que este último com lotaçãopara cerca de 2000 pessoas se situa no mesmo bairro, a cerca de 800 metros do local onde orequerente adquiriu o terreno para construção do cinema”.

O parecer da Inspecção dos Espectáculos (IE) fora no sentido da autorização da construçãodo cinema, considerando que o Roma se localizaria num “bairro excêntrico”; na opinião da IE,as novas casas de espectáculos a construir deveriam sempre permitir espectáculos teatraisexcepto “em bairros excêntricos não dotados de cinema”.

O documento ajuda a compreender um pouco o panorama cultural da Lisboa de então quandorefere que “em Lisboa, excluindo o Teatro D. Maria II, estão em exploração cinco teatros quasetodos condenados a desaparecer, quer por imposição urbanística quer por carência decomodidade e higiene que tem sido tolerada e 35 cinemas dos quais três foram construídosespecialmente para teatros.”

A pressão para a construção do Roma era grande. Em Outubro 1954 o então presidente daCâmara Municipal de Lisboa, Álvaro de Salvação Barreto, junta-se à luta de Joaquim RibeiroBelga e envia ao Inspector-geral dos Espectáculos um pedido “para efeito de poder serfundamentada qualquer resolução sobre o assunto, se digne mandar informar o que tiver porconveniente”, dado o facto de aquele se ter comprometido a iniciar a obra no prazo de seismeses a partir da data de arrematação sob a cláusula de reversão do terreno para a CML.Alguns meses depois, já no decorrer de 1955, a construção do edifício é finalmente autorizada.

H I S T Ó R I A ( S ) D A C O N S T R U Ç Ã O D O R O M A

Requerimento de Joaquim Ribeiro Belga, Março de 1957

9

Page 8: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

D O C I N E M A R O M A A O F Ó R U M L I S B O A

Em Julho a Inspecção-geral dos Espectáculos emite um parecer: “que embora em princípioo projecto mereça aprovação, esta contudo só será definitiva quando, num novo aditamentoa apresentar” se considerem algumas alterações principalmente a nível de segurança, comoa instalação de bocas-de-incêndio, aumentar e melhorar as saídas da sala, melhorar ascondições de segurança e vigilância da cabine do bombeiro de serviço e que seja apresentadoo projecto de ocupação do terraço bem como o da electricidade. Tratam-se, portanto, já depormenores técnicos finais, e não de alterações de fundo ao projecto arquitectónico.

No entanto este foi alterado por vontade expressa de Ribeiro Belga e do Arq. Lucínio Cruz,por mais de uma vez.

Em Setembro de 1955, na resposta ao parecer da IE , a empresa responsável pelo Romaapresenta os novos projectos solicitados mas duvida da ocupação projectada para o terraço:“é praticamente impossível prever desde já qual o fim como vai ser explorado, mas serásempre dentro do âmbito de Cinema de Esplanada”.

Em Janeiro de 1956, desiste-se de vez da utilização do terraço, que estava previsto “parafuncionar como cinema ao ar livre”, mas devido ao seu custo exagerado pensou o proprietáriofazer a sua eliminação e por consequência a cobertura deixou de ser em terraço. Destaalteração resultaram outros ajustamentos, como a supressão dos elevadores.

Finalmente o Roma conseguira vencer as adversidades e ser construído, embora com algumasalterações ao projecto inicial.

A CONSTRUÇÃO DO EDIFÍCIO

O Auto da 1ª Vistoria da Inspecção dos Espectáculos, datado de 12 de Março de 1957,autoriza a abertura do Cinema (para três dias depois!) referindo “que as instalações doCinema Roma estão em condições de funcionamento”, apontando no entanto algumasdisposições a modificar (indicações das instalações sanitárias e dos locais para fumadores,bem como outras disposições menores.)

O mesmo Auto refere que será necessário proceder à reserva de lugares cativos, na fila A doBalcão Central, para o Governador Civil (A9), Fiscalização da Inspecção dos Espectáculos(A8), Fiscalização das Contribuições e Impostos(A11), PSP (A10) e GNR(B10). Maio de 1956 - construção do Roma

Maio de 1956 - construção do Roma

10

Page 9: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

Com o Roma, nascera um documento de época, e por motivos distintos.

Por um lado, a sua construção na horizontal, prolongando a plateia e desnivelando-a, dandoorigem a três diferentes pisos, era pouco usual em Portugal. Na Europa de então, a construçãodos cinemas era feita quase sempre em altura, jogando-se com a altitude dos balcões e com aexistência de camarotes de forma a poder encaixar-se o máximo de lugares possível no mínimode espaço disponível para a construção. Mesmo os cinemas muito grandes e com umcomprimento considerável tinham também balcões que ajudavam a aproveitar o espaçodisponível.

Os outros dois cinemas de Ribeiro Belga em Lisboa – Aviz e Estúdio 444 – partilhavam acaracterística do Roma de ter balcões apenas como prolongamento desnivelado da plateia.Esta opção, além de menos dispendiosa, permite de facto uma visão do écran mais democrática:todos os lugares da sala são bons lugares para se ver o filme. Desaparecidos os outros doiscinemas referidos, em Lisboa resta o Roma como testemunho do trabalho do grupo RibeiroBelga.

Por outro lado, é também um representante dos grandes cinemas dos anos 50 e, mesmo sendodiferente destes, vem na linha dos grandes cinemas que se construíram nas décadas de 40/50como o Império, o Monumental e o São Jorge, entre outros.

O que aponta para mais uma característica que o distingue dos outros cinemas da altura: nãosendo um cine-teatro, as dimensões do palco do Roma permitiam, e permitem, algumasutilizações que não estritamente o cinema.

Também pelos trabalhos do artista plástico responsável pela coordenação mobiliário,decoração e painéis, Manuel Lima, o Roma marcou a diferença.

ROMA, DOCUMENTO DE UMA ÉPOCA

H I S T Ó R I A ( S ) D A C O N S T R U Ç Ã O D O R O M A

Fachada do Roma - 1957

Pormenor do painel do Foyer Pequeno

11

Page 10: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

D O C I N E M A R O M A A O F Ó R U M L I S B O A

Alentejano de Montemor-o-Novo, Joaquim Braz Ribeiro Belga entrou no negócio dos cinemas apouco e pouco, ganhando a confiança de investidores que nele reconheciam integridade, inteligênciae força de vontade. A sua paixão pela actividade cinematográfica vinha do pós-Segunda GuerraMundial, quando conheceu negociantes espanhóis que procuravam coproduzir longas metragensdestinadas ao país vizinho, recém-saído da Guerra Civil. Aproveitando a oportunidade comercial,Ribeiro Belga soube associar-se a estes na produção e distribuição de filmes.

Já em Lisboa, criou uma distribuidora importantíssima, a Doperfilme, através da qual entraram emPortugal muitos filmes europeus, tendo mais tarde conseguido a representação da UniversalInternational. Acoplada à Doperfilme fundou toda uma estrutura composta por várias outras empresasque, juntas, abrangiam todos os sectores da indústria cinematográfica, como a Talma Filmes (produtorae distribuidora) ou a Sacil (exibição em salas), entre outras. Todas estas empresas constituíam oGrupo Ribeiro Belga, um dos maiores no meio cinematográfico durante largos anos.

Dos vários cinemas que detinha - espalhados pela província e pelas antigas colónias - o Roma era umdos construídos de raiz pelo Grupo Ribeiro Belga, em parceria com várias outras entidades/sócios,e a concretização de um sonho pessoal de Ribeiro Belga. Na construção do Roma, inovou e conseguiuinaugurar um cinema moderno, elegante e de grande qualidade técnica, ainda hoje amplamentereconhecida.

Em Lisboa, além do Roma, Ribeiro Belga foi também responsável pela construção de outro cinema, oEstúdio 444, que fora em tempos uma garagem, e também pela adaptação do Cinema Aviz, que era oantigo Cinema Palácio.

Visionário, no auge da guerra colonial decidiu expandir o negócio dos cinemas para África, calculando quedali viria negócio. E ao longo de alguns anos foi investindo grande parte dos lucros das empresas em Portugal nos territórios ultramarinos, sendoresponsável pela construção de vários cinemas, principalmente em Angola e Moçambique, muitos dos quais existem ainda hoje.

Mas a ligação África-Portugal foi além da simples exploração dos cinemas. Ribeiro Belga deslocava-se frequentemente aos territórios portuguesesem África, e foi assim que em 1959 descobriu o Duo Ouro Negro em Luanda, tendo sido a pessoa responsável pela sua vinda a Lisboa no mesmo ano,

JOAQUIM BRÁS RIBEIRO BELGA (1913-1972)

12

Page 11: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

onde aliás se estrearam no Roma. O Duo Ouro Negro é um caso especial de sucesso, masao longo dos anos Ribeiro Belga foi solidificando as trocas culturais entre os doiscontinentes, também pela dinamização da música africana em Portugal, nomeadamenteatravés da vinda de variadíssimos artistas ao nosso país. Além de África, também as relaçõescom a música brasileira foram privilegiadas, e os espaços culturais de Ribeiro Belga foramfrequentemente palco de espectáculos de música popular brasileira.

De forte personalidade, Ribeiro Belga deixou impressa em quem o recorda uma memóriaforte. De dois dos episódios que ajudam a perceber a força deste homem, um retrata asua generosidade e outro o seu pragmatismo. Generosidade porque certa vez, peranteum seu funcionário que se casara há pouco tempo, decidiu ajudar a dar um impulso navida de casado aumentando o seu ordenado… para o dobro. Pragmatismo porque peranteuma pessoa que, devendo-lhe algum dinheiro, estava disposto a tentar negociar o pagamentoda dívida até em troca de trabalho, resolveu no acto, e sem grandes hipóteses explicativas,propor o pagamento de uma pequena percentagem da divida, perdoando o restante.

Em 1972, e na sequência de um acidente vascular-cerebral após uma viagem a África,Ribeiro Belga acaba por falecer, já em Lisboa.

Patrão respeitado e tido como muito correcto, Ribeiro Belga conseguiu ser lembrado poraqueles que trabalharam para ele como alguém com excelente olho para o negócio esimultaneamente como uma pessoa humana e justa. Desempoeirado, sem preconceitos,tratava todos da mesma forma, independentemente de quaisquer valorizações sociais.

Apesar de pouco dado a demonstrações carinhosas, apreciava muito a lealdade e a rectidão e sabia compensar as pessoas nos momentos-chave.

Foi sem duvida uma pessoa extremamente importante na actividade cultural e cinematográfica: além de responsável pela construção de várioscinemas e produção de filmes e documentários, dinamizou claramente a exibição de cinematografias europeias no nosso país.

A actividade de distribuição de Ribeiro Belga, graças à qual entraram e foram exibidas no país várias cinematografias europeias (foi o primeirodistribuidor cinematográfico a divulgar em Portugal filmes da nouvelle vague francesa como os de Truffaut e Godard), conferiu uma importânciaadicional ao papel de Ribeiro Belga no panorama cinematográfico português.

H I S T Ó R I A ( S ) D A C O N S T R U Ç Ã O D O R O M A

Ribeiro Belga (ao centro, em baixo) com os sócios do Roma e a equipa dearrumadoras, num almoço oferecido por estas aos patrões, na ocasião do 1ºaniversário do Roma, em Março de 1958.

13

Page 12: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

D O C I N E M A R O M A A O F Ó R U M L I S B O A

O Roma afirma-se

A GRANDE NOITE DE INAUGURAÇÃO

“Enquanto Lisboa se estende lançando a sua rede habitacional para a periferiada cidade velha, as zonas comerciais vão-se gradualmente afastando do centropara criarem, afinal, novos centros que a própria exploração comercial dediversões vai explorando. Em relação às salas de espectáculo o facto passa-sede igual forma. Assim, para servir uma cidade nova que se ergue para Norte,apareceu primeiro o Cine-teatro Monumental, depois o Império, a seguir oAlvalade, mais tarde o Avis e, desde ontem, o Cine-Roma situado na avenidaque tem o mesmo nome da Cidade Eterna, entre a de João XXI a e Rua de Edison.O novo cinema, construído em pouco mais de dois anos, tem lotação para maisde um milhar de espectadores, com uma ampla plateia e uma tribuna que descempara o palco formando um segmento de coroa circular. As linhas arquitectónicasdo edifício são sóbrias, como é norma nas novas casas de espectáculos e aprópria decoração dos corredores e pátios prima pela descrição. As cadeirasda sala, forradas a verde, são cómodas e o ambiente cria no público uma sensaçãode bem-estar.A sessão inaugural ficou assinalada pela presença de Silvana Pampanini, aformosa artista italiana que participa no filme exibido, uma produção emcinemascópio e a cores, intitulada “Contos Romanos”. Foi ela porém a grande“vedeta” da estreia, recebida com aplausos à entrada do cinema por umamultidão de curiosos e aplaudida também dentro da sala, onde distribuiulargamente sorrisos e autógrafos. Num dos intervalos Silvana Pampanini foi aopalco, apresentada por Fernando Pessa, e dirigiu aos espectadores algumaspalavras de agradecimentos pela forma como fora recebida. A sua belezaincontestável e a maneira simples como se apresentou cativaram o publico, quea aplaudiu sem reservas.O filme exibido, sem atingir a craveira das obras-primas, é uma películaagradável pela sua leveza e despretensão, com algumas belas imagens de Romae uma história que faz sorrir ou até mesmo rir sem esforço com a curta aparição

Os jornais diários da época ilustram a grandeza do acontecimento na Lisboa de 1957. Eis o relato doDiário de Lisboa na apresentação do novo cinema:

O Roma exibiu o filme Contos Romanos na sua estreia.

Silvana Pampanini (ao centro, de vestido escuro) na aberturado Roma, com a equipe de arrumadoras do Cinema.

14

Page 13: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

O Diário Popular, descrevendo os complementos apresentados, refere um pequeno filme/documentário, “com apontamentos graciosíssimos até nas legendas, A Sina Saiu Certa, animadacom uma interpretação do gracioso artista Raul Solnado” o qual, infelizmente, aparenta estar perdido.Mas o Diário Popular continua:

O Foyer em 1957 correspondia ao actual átrio de entrada.

Anúncio no Século do dia da abertura do Roma.

”À tarde, os proprietários do cinema, Sr. Joaquim Ribeiro Belga, Eng. AntónioPraça, Fernando Santos e o produtor espanhol Pedro Curet convidaram osrepresentantes da Imprensa e os críticos cinematográficos para uma visita aonovo cinema. A sala de espectáculos, de um só piso mas em três planos, bemlançados o que dá uma excelente visão de todos os lugares, tem acomodaçõespara mil espectadores, sendo as cadeiras muito confortáveis. O palco estende-se a toda a largura da sala e é provido de “écran” panorâmico, com 14 metrosde extensão. Rodeia a sala um amplo corredor, onde estão instalados os “bars”e vestiários e toda a decoração e mobiliário, elegantes e sóbrios, foramorientados pelo artista plástico Manuel Lima que também executou algunspainéis de lindo sentido moderno.Aos convidados foi servido um “cocktail” que teve a presença de SilvanaPampanini, que entreteve larga conversação com todos os jornalistas, e dosprodutores italiano Marquês Giancarlo Cappelli e francês Conde de Robien,que acompanharam aquela vedeta a Lisboa.”

O evento causou tantas impressões diferentes, que o relato do jornal O Século escolhe outrosdetalhes para transmitir o acontecimento aos seus leitores:

H I S T Ó R I A ( S ) D A C O N S T R U Ç Ã O D O R O M A

de Tótó e Vittorio de Sica. A vida de quatro rapazes romanos entregues àsmaquinações fraudulentas de um deles, é contada com graça.Ao espectáculo assistiram os Srs. Ministro da Presidência, governador civil deLisboa, secretário nacional da Informação e inspector-geral dos Espectáculos.”

“Lisboa conta, desde ontem, com uma nova sala de espectáculos: o CinemaRoma. Manda a verdade dizer que a sua abertura ficará assinalada como maisuma feliz iniciativa a juntar a tantas outras, não só do espírito empreendedor eousado do empresário e distribuidor de filmes Sr. Joaquim Ribeiro Belga –cujas faculdades de inteligência e de actividades são credoras de todas ashomenagens – mas também dos seus sócios Sr. Eng.º António Praça; o milionárioespanhol D. Pedro Couret, figura de relevo nos meios cinematográficos deMadrid e Paris; e Fernando Santos, fundador e proprietário da firmadistribuidora Sonoro Filmes, que igualmente são dignos de louvores pela pela

15

Page 14: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

D O C I N E M A R O M A A O F Ó R U M L I S B O A

O Roma em 1957 tinha capacidade para 1056 pessoas.

Jornal República, 15 de Março de 1957

coragem que evidenciaram em dotar o popular bairro de Alvaladecom uma sala de espectáculos edificada, desde os alicerces, como mais escrupuloso respei to por tudo quanto envolve problemasd e o r d e m t é c n i c a , c o n f o r t o e d i s t r i b u i ç ã o d e l u g a r e s , s e md e i x a r e m d e s e r m e t i c u l o s a m e n t e c o n s i d e r a d o s o s r e q u i s i t o smodernos i nd i spensáve i s num c inema de e s t r e ia s de p r ime i raca t eg or ia .

A convi te da gerência, os representantes da Imprensa vis i taramontem de tarde o Roma, cu ja monumenta l fachada cons t i tu i apr ime i ra no ta marcan te do seu f e l i z t raçado . Um exame mai sa ten to às suas amplas perspec t i vas to rna os o lhos ca t i vos demuitos pormenores de construção, sobretudo no que se refere aoaprovei tamento do espaço des t inado às v i t r inas , para serv iremde mostruário à af ixação de cartazes e , ainda, à resolução dosproblemas de acesso ao á tr io pr inc ipal , cu jo desafogo permi teao público dirigir-se às bilheteiras sem demoras e tornar menosmorosa a entrada de espectadores na sala.

Esta , pelo seu r isco, em tudo di ferente de qualquer outra casade espectáculos da capi ta l , de ixou os v is i tantes surpreendidos .Evidenciando uma l igeira incl inação, que revela a preocupaçãode valorizar as cadeiras da plateia, a qual se sucedem, em planosmais afastados semelhantes a dois degraus espaçosos, os lugaresde balcão espec ia l e de ba lcão , tudo re f lec te o dese jo de bemservir o públ ico, proporcionando- lhe as melhores condições devis ibi l idade de qualquer ponto da sala . Sal ienta-se ainda, peloefei to de sedução que se desprende do conjunto do ambiente , adis tr ibuição de luz , a del icadeza dos pormenores da decoraçãopelo pintor Manuel Lima, a suavidade das t intas, a comodidadedas pol tronas em todos os lugares: o desafogo dos corredores ,atapetados; o estudo das condições acústicas da sala realizadaspelo Sr. Eng. Cavaleiro Ferreira, e ter-se-á uma ideia agradáveldo considerável esforço despendido pelo notável art is ta Lucínio

16

Page 15: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

NECESSIDADE DE ALTERAÇÕESEm Abril de 1957, já com o Cinema em funcionamento pleno, deu entrada na CML um pedido deobras de alteração ao Roma. O arquitecto Lucínio Cruz justifica as alterações e ampliação doCinema Roma através da necessidade sentida de aumentar a área dos Foyers reservado ao público,e que “tem dado lugar a grandes aglomerados e consequente falta de comodidade” para o público,“único elemento real”, tornando-se por isso imprescindível o aumento do Foyer esquerdo. Assim,os pilares existentes mantiveram-se (são as colunas que hoje atravessam o Foyer Grande), havendouma deslocação da parede exterior com respectivas portas e janelas, configurando um espaço jámuito semelhante ao que é hoje o Foyer.

E assim o cinema acabou por encerrar para obras em Agosto de 1958, reabrindo a 30 de Outubro, jácom o Foyer, exactamente um ano e meio depois de ter sido inaugurado.

Cruz, arquitecto, por ter levado a cabo a construção do Roma, em cerca dedez meses. No primeiro pavimento estão instalados um espaçoso “bar” eamplos vestiários.A tela foi alvo de cuidados especiais. Mede 14 metros eocupa toda a largura da sala para obedecer às dimensões de “écranpanorâmico e satisfazer as exigências de projecção de filmes rodados emcinemascópio.”

Apesar de ser um cinema simples – em comparação com os exemplares luxuosos frequentes naépoca – o ambiente era considerado excepcional por quem o frequentava. E desde cedo começoua ganhar clientela assídua. Incontornável era Fernando Pessa, que todos os dias de manhã dava avolta ao cinema de bicicleta, sempre de chapéu e com a mala a tiracolo. Pessa foi, aliás, um clientedos mais assíduos, tendo inclusivamente apresentado muitos dos espectáculos do Romacomeçando, como não podia deixar de ser, pela inauguração.

Os bares eram pequenos e funcionavam à direita de quem entra no átrio do cinema, no piso térreoe no 1º piso, uma vez que o Foyer grande não existia. E a sua falta fazia-se sentir.

Equipa do Roma em 1957, nas escadas que ligavam a Plateia aoactual Foyer e que foram eliminadas. (ver abaixo)

Projecto do Roma, 1954.

O R O M A A F I R M A - S E

A primeira vez que o Roma abriu ao público contava com 1056 lugares, mais 355 do que a actualcapacidade máxima. Cinema de grande sucesso entre as gentes das novas avenidas, o fim queinicialmente fora previsto - “dar cinemas às classes menos abastadas” - acabou por não sercumprido, e o Roma tornou-se um Cinema com os seus rituais e público próprio e exigente.Classificado pela Inspecção-geral dos Espectáculos como sendo de 2ª classe, obtém autorização“para a realização de espectáculos ou divertimentos públicos de cinema e variedades”.

17

Page 16: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

D O C I N E M A R O M A A O F Ó R U M L I S B O A

Em Setembro de 1959 há um novo pedido de alterações “fruto de uma série de observações colhidasdurante o funcionamento da sala de espectáculos. O público com os seus caprichos é por vezesquem dita a melhor solução a adaptar ou a transformar o existente” e assim a empresa do CinemaRoma “sempre pronta a atender o público e proporcionar-lhe bem-estar e conforto durante o tempodo espectáculos” apresentou mais algumas alterações, como a demolição da escada no Foyerlateral esquerdo. As escadas tinham sido necessárias antes da construção do Foyer, uma vez queserviam um acesso suplementar à plateia. Construído o Foyer e perdida a necessidade da portasuplementar, que fora fechada, as escadas tinham deixado de fazer sentido. E um ano mais tarde sãoexactamente no mesmo local colocadas as vitrinas interiores centrais, que por lá continuam.

Um auto de vistoria da Inspecção dos Espectáculos datado de Agosto de 1964 refere a instalaçãorecente de um novo ecrã (com 16m de comprimento por 7,30m de altura) que permite a projecção defilmes em 70 milímetros, bem como a existência de novas máquinas de projecção (Cinemecânicas –Vitoria 8). Este auto refere ainda que “nos espectáculos pelo sistema Todd AO – 70 mm as quatroprimeiras filas da plateia, num total de 110 lugares, não oferecem condições de visibilidade perfeitapelo que deve ser interdita a sua utilização”.

Data de Janeiro de 1970 o pedido de Ribeiro Belga Lda. de construção de uma zona de escritórios naparte superior do Foyer lateral esquerdo, com acessos completamente independentes. O parecer doConselho Técnico da Direcção dos Serviços de Espectáculos, de Fevereiro do mesmo ano, é favorável:

Foyer do Roma após as obras de alteração de 1958

Pedido de construção de três pisos.

“A ampliação projectado está proporcionada com o actual volume do cinema,originando-se, assim, um edifício misto, nos termos em que a legislação emvigor o permite. Na verdade, tratando-se de uma zona com acessosabsolutamente independentes e construída com materiais incombustíveis. Aárea retirada ao Foyer considera-se de admitir, em principio. Dada ainformação, que consta da memória, de que as novas instalações se destinamapenas a escritório da empresa, o que parece não se coadunar com as soluçõesem planta, entende este Conselho Técnico que deverá o interessado explicitarquais os tipos de utilização realmente previstos, em que se esclareça nãosurgirem proximidades ou vizinhanças perigosas ou incómodas para o normalfuncionamento do cinema”.

Esta construção deu origem aos pisos que hoje albergam os serviços da Assembleia Municipal de Lisboa.

Enquanto as alterações à arquitectura se sucediam, sintomáticas de novas necessidades sentidas,o Roma ia conquistando cada vez mais o seu lugar na cultura cinematográfica e não só de Lisboa.

18

Page 17: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

OS CINEMAS NA CIDADE

Os cinemas em Lisboa foram avançando com o desenvolvimento da própria cidade. Nos inícios do século 20 existiam nas zonas mais centrais, ondeestava concentrado o comércio: a Baixa e o Chiado. Eram frequentados por público de elite intelectual e eram ainda experimentais.

À medida que o próprio cinema se vai popularizando, cresce a tendência de alargar a arte a espaços menos centrais na cidade. A nível de entretenimentofamiliar o Cinema assume-se como concorrencial à popularidade de feiras, circos e teatros, espectáculos por excelência de grande tradição popular.

Dados os requisitos técnicos necessários, o cinema começa por utilizar os meios disponíveis, adaptando-se ao existente, em salas circunstanciais –veja-se o caso da primeira sessão de “fotografia animada” em Lisboa, no Real Colyseu de Lisboa, na Rua daPalma, em 1896 – e só paulatinamente se inicia o processo de autonomia construtiva.

O primeiro edifício construído de raiz para receber sessões cinematográficas foi o Chiado Terrasse, em1908. Sucederam-se várias outras salas, algumas deles ainda hoje de pé embora nem sempre como cinema,como o Politeama (1913) ou o Tivoli (1924).

A segunda metade dos anos 20 trouxe para Portugal a linguagem modernista também na arquitectura, ecorresponde – na edificação de cinemas – à expansão geográfica da construção, que deixa o coração dacidade e se começa a estender pelas zonas “de bairro”, algumas na altura quase periféricas, como o Royalna Graça (1929), o primeiro cinema a receber o cinema sonoro ou o Paris, na Estrela (1931).

As décadas de 40-50 correspondem à construção das grandes salas, preparadas para receber projecções demaior qualidade em ecrã gigante, correspondentes ao prestígio que começava a caracterizar a capital. Énesta época que aparecem alguns dos mais monumentais cinemas da cidade, como o Condes (1951), oMonumental (1945/51), o São Jorge (1950) ou o Roma, de 1957.

Com a crise do cinema – provocada em parte pela explosão da televisão – surge a necessidade de reduzir o tamanho das salas de forma a rentabilizaro investimento e a própria exploração. Já nos anos 60, a legislação muda e passa a permitir a construção de salas de cinema em edifícios com outrasfunções. Foi o início dos cinemas multiplex, em que num espaço é possível escolher de entre alguns filmes. Sob o ponto de vista de riquezaarquitectónica são tendencialmente salas mais desinteressantes.

Esta tendência tem-se mantido até aos nossos dias, basta relembrar os últimos cinemas a serem inaugurados na cidade (UCI e Alvaláxia). No entanto,e desde meados dos anos 90, notou-se alguma tendência de preservação de salas arquitectonicamente valiosas e qualificadas. A compra, pelaautarquia, do Roma e mais tarde do São Jorge sintomaticamente demonstra a preocupação com o futuro destas salas, muitas das quais irremediavelmenteperdidas para sempre.

O R O M A A F I R M A - S E

Cinema Roma, 1958

19

Page 18: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

D O C I N E M A R O M A A O F Ó R U M L I S B O A

Relatório do Batalhão Sapadores BombeirosRelatório de incidente com bombeiro

20

Page 19: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

CINEMA MAS NÃO SÓAo longo dos anos, muitos e muitos eventos se sucederam, aliando-se muitas vezes às exibiçõescinematográficas ou complementando-as. Além, obviamente, dos muitos filmes que se impuseramcomo imperdíveis por si só, mesmo sem quaisquer actividades complementares. Desde a sua aberturaque o Cinema Roma esteve destinado a ser um pólo de acontecimentos não apenas cinéfilos mastambém recreativos, musicais, políticos, sociais e educativos. Um embrião de Fórum, portanto.

Vários acontecimentos diferentes complementavam as sessões cinematográficas, que eram umverdadeiro acontecimento para quem as podia frequentar. Ir ao cinema exigia uma postura que empouco se assemelha à que se assiste hoje em dia.

Os cinemas assumiam também um importante papel de “banco de namoro”, dado que a troca de umbeijo num jardim público podia dar lugar a uma reprimenda ou até uma ida à esquadra policial maispróxima, razão pela qual muitos namoros tinham início nas salas de cinema.

As salas do cinema como espectáculo, e não apenas de exibição de cinema, contavam com umaequipa de pessoal alargada. No Roma, faziam parte da equipa 16 arrumadoras efectivas, 6 porteiros,4 bilheteiras (além de mais um elemento para colmatar as folgas), duas “senhoras de toilete” (e umapara fazer as folgas), 4 projeccionistas, o gerente, o secretário e o fiscal: quase 40 pessoas. Além dopessoal de limpeza, que era constituído por uma equipa de 10 a 12 pessoas.

Cada uma desta categorias profissionais obedecia a rigorosos padrões e cumpria com brio as suasfunções. A Revista Cinéfilo já pelo menos desde 1939 que enaltecia as qualificações dosprojeccionistas:

Projecto da fachada do Roma, 1970

Foto de Salvador Almeida Fernandes, Arquivo Fotográfico de Lisboa,C.M.L.

“A escolha de projeccionistas, no nosso País, não tem sido feita com o severocritério de ser honesto perante o público, como é de uso lá fora. Osprojeccionistas (este seu verdadeiro nome; o de “operador” nada ou bempouco significa) – os projeccionistas americanos, por exemplo – são quasiengenheiros. Uma carta de projeccionista não pode ser entregue a qualquerpessoa – porque não se justifica que centenas de espectadores sejam vítimasdo pouco saber ou experiência do chefe de cabina.”

Além da qualidade da projecção, importava receber bem os espectadores e fazê-lo comprofissionalismo e aprumo. As arrumadoras do Roma, cujo fardamento era examinado diariamentepelo fiscal antes de se abrirem as portas, eram conhecidas como o grupo das mais bem fardadas deLisboa.

O R O M A A F I R M A - S E21

Page 20: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

D O C I N E M A R O M A A O F Ó R U M L I S B O A

Os cinemas eram “de Estreia”, como o Roma, ou “de Reprise”. Cada sala de cinema de estreia exibiaum filme em exclusivo, o que permitia criar a sua personalidade cinéfila própria. No caso do Roma,eram exibidos principalmente filmes europeus, que eram os distribuídos pelas empresas do grupoRibeiro Belga.

Para se comprar o bilhete, era comum haver filas maiores do que as de hoje, uma vez que o cinemaera um entretenimento de crescente popularidade e de grande adesão. As sessões eram só à tarde(matiné) e à noite (soirée). Distribuíam-se os programas, onde constavam dados do filme a exibirbem como uma relação dos complementos.

As luzes apagavam-se, os cortinados abriam-se e a sessão começava. Mas não com o filmepropriamente dito, que esse só viria depois do primeiro intervalo. Antes, ainda se podia ver umpequeno documentário ou filmagens de locais e ainda um magazine de actualidades ou um pequenofilme de animação, além das apresentações das próximas estreias. Findo o primeiro intervalo,iniciava-se o filme propriamente dito, com direito a um intervalo próprio.

No Roma, este ritual foi frequentemente abalado por espectáculos e acontecimentos paralelos,como quando aliado à projecção do filme Fim de semana em Londres foi realizada uma passagemde modelos num estrado montado para o efeito e que inviabilizou aliás a utilização de algumas filasda plateia; ou quando os espectadores ao saírem da sessão se depararam com uma exposição defotografias “da província de Angola” exposta em cavaletes no Foyer “de forma a não prejudicar asegurança”; ou ainda numa ocasião em que, aliado ao filme A vida é sempre igual, em que aentrada era apenas feita por convites, se pôde assistir, no intervalo, a um evento marcadamentecomercial: uma demonstração de um novo modelo de máquina de lavar. Estes são apenas exemplosde inúmeras variações à “simples” ida ao cinema.

Mas o ritmo do cinema foi também amiúde alterado por motivos estritamente cinematográficos.Exemplos importantes são os ciclos de cinema, alguns dos primeiros realizados no país.

Equipa do Roma, finais dos anos 50

Arrumadoras do Roma, impecavelmente fardadas, com MariaAngêla.

O ROMA FAZ HISTÓRIALauro António foi pioneiro e responsável, no inicio dos anos 60, por um ciclo de cinema dedicadoaos audiovisuais em cinema, seguramente um dos primeiros ciclos realizados em Portugal. Comalguns colegas da Faculdade que frequentava e com o apoio de dois ou três professores, conseguiramconcretizar um evento que pretendia dar relevo aos audiovisuais, o qual teve um sucessoconsiderável, conseguindo salas sempre completas de público obviamente ávido de sessões forado comum e de oportunidades culturais distintas das habituais.

22

Page 21: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

LAURA ELÁRIO passou a sua vida profissional no Roma. “O Cinema estava para abrir e fiz o pedido 15 diasde antecedência, já estava a equipa toda preenchida. Mas fui aceite e no dia seguinte, através de um postal,mandaram-me logo chamar”, recorda. Com as datas na ponta da língua e uma memória verdadeiramenteespantosa, Laura confessa que se emociona cada vez que volta ao “seu” Roma. E foi não já no Roma mas noFórum Lisboa que recordou o seu percurso profissional, indissociável da vida do Cinema.

Motivos de tão forte ligação? Talvez os mais de 30 anos que passou no Cinema. Certamente o ambiente e oespírito de equipa e de entre-ajuda terão contribuído para um profundo sentimento de pertença. “Foisempre um ambiente muito bom, vivemos momentos muito bons, de muita felicidade, tínhamos uma boa empresa,incluindo os patrões que eram muito bons para nós, apesar de muita gente falar mal dos patrões… nós nuncativemos razão de queixa dos nossos! Era uma equipa muito unida, nunca tivemos problemas.”

O brio profissional e a exigência também contribuíram para um orgulho desmedido na farda envergada. “Chegamosa aparecer no jornal como as empregadas mais bem fardadas de Lisboa… e era verdade! A gente andava sempreimpecável. E com muita disciplina, chegavam-nos a perguntar se estávamos na tropa...”

“Tivemos aqui grandes artistas internacionais, o Cinema era conhecido como a fina flor de Lisboa”, recorda.Das presenças de artistas, recorda com maior vivacidade a de Silvana Pampanini na estreia, de Sarita Montiel com o filme Carmen, la de Ronda, “quefoi um êxito: foi quando se inaugurou o salão (bar). Toda a praceta estava cheia de gente!” Mais tarde veio Marisol, por duas vezes também… CarmenSevilha, Elis Regina…

Mas vários outros artistas, também portugueses passaram pelo Roma, de Amália Rodrigues ao Duo Ouro Negro, recorda. “Foram tantos e com tantacategoria que seria difícil dizer todos os nomes!”.

A recordação dos rituais do Roma nos anos 60 deixa estampadas no rosto de Laura as saudades da sua querida profissão: “chegámos a ter matinésdançantes, a segunda matiné à Segunda feira, no salão. Vinha aquela camada jovem, entre os 14 e os 18 anos, mas com uma postura e num ambiente– não era nada do que se vê agora! Entravam aqui, não se ouvia uma palavrão…Achávamos muita piada porque eram muito novinhos.”

Laura assistiu, naturalmente, aos sucessos e aos grandes êxitos de bilheteira. Uma experiência muito marcante, já no pós 25 de Abril, prendeu-se como filme Emanuelle : “está a fazer exactamente 30 anos que fui entrevistada pela Dra. Maria Elisa Domingues - o programa era sobre o filme Emanuelle.Foi um filme com um êxito tremendo, que esteve em cartaz 4 meses e meio!”

A angústia do encerramento do Roma é ainda visível em Laura. “ Quanto voltei cá, em 1997, ao espectáculo de Simone e de Carlos Quintas… foi umagrande emoção, uma saudade que não faz ideia. Principalmente por ter sido um ambiente muito bom! Às vezes dizem “são muitas mulheres”, mascontinuamos todas a ser amigas, depois destes anos todos!”

O R O M A A F I R M A - S E

Srª Dª Laura Elário no terraço do Fórum, localonde petiscou com os colegas muitas vezes, aolongo dos anos.

23

Page 22: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

D O C I N E M A R O M A A O F Ó R U M L I S B O A

Também na década de 60, o jovem Pedro Bandeira Freire resolve aproveitar o “tempo morto” entreas sessões e propor a Portal da Costa, crítico de cinema e gerente do Roma na altura, um ciclo“Música e Cinema”. E semanalmente, durante mais de um ano, por volta das 18h30, decorreu umasessão de cinema seguida de uma actuação de uma banda ou artista. O sistema era simples: ocinema era alugado ao organizador, que se encarregava de trazer o filme, a banda e o público. Foramdezenas de filmes e de grupos musicais que passaram pelo Roma na altura, dinamizando o Cinemae o panorama cultural lisboeta. O conceito funcionava: os filmes eram escolhidos também pelabanda sonora e o conjunto que actuava no palco após a exibição estava de algum modo relacionadocom o filme projectado. Como exemplo: o filme Sait-on jamais tinha música do Modern JazzQuartet, que entre os seus elementos contava com um xilofonista; e o grupo escolhido para actuarnesse dia tinha também o mesmo género de som, sendo que o xilofonista era Mário Viegas. Noâmbito deste ciclo, pisaram o palco do Roma importantes nomes da música nacional como JorgeMachado, Hélder Martins ou Thilo Krassman, entre muitos outros. Mais uma vez, o sucesso dainiciativa confirmava que o público reagia bem perante uma oferta cultural mais complexa do queaquilo que normalmente lhe era disponibilizado.

Além destas, de origem externa, houve outras iniciativas cinéfilas organizadas pela empresa doRoma, como a “Semana do Cinema Espanhol”, motivo de visita ao nosso país de realizadores comoBardem ou Berlanga. Estes acontecimentos, juntamente com as inúmeras e constantes presençasdas estrelas, do cinema europeu e não só, foram sempre o garante e o motivo da grande agitação eanimação que existiam à volta do Roma.

Os eventos recreativos tiveram também um papel especial na história do Roma. Anualmente, oCinema era extremamente concorrido por outros motivos que não os cinematográficos, pelo menosem duas ocasiões: o Carnaval e a Passagem de Ano.

Nas noites de fim do ano, o Roma promovia “festas de arromba”! As pessoas ao entrarem recebiamuma bolsa com brinde: uma garrafinha com espumante, as 12 passas e outras surpresas variáveis.O tecto estava cheio de balões, que à meia noite rebentavam num som ensurdecedor. Era um dosreveillons mais famosos de Lisboa, e que fazia jus à sua fama pela animação e pela qualidade dosconjuntos musicais presentes na data.

Também o Carnaval do Cinema Roma era um acontecimento especial e concorrido, considerado poralguns como o maior Carnaval de Lisboa, a par do antigo Monumental. Os cinemas eram porexcelência um prolongamento do Carnaval popular, em que as programações especiais para o efeito

A equipa de arrumadoras do Roma com Henrique Mendes eSimone de Oliveira.

Assistência à festa infantil do Grémio Nacional das Empresas deCinema, no cinema Roma, 1962. Fundo O Século, Arquivo deFotografia de Lisboa – CPF / MC

24

Page 23: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

atraíam as pessoas, por vezes em bailes até às tantas - matinés infantis, soirées para os adultos. Foialiás num Carnaval de arromba que o Roma proporcionou aos muitos lisboetas que lá acorreramtrês espectáculos sempre esgotadíssimos da grande Elis Regina com Jair Rodrigues, nomes-mitoda música brasileira.

Além das duas ocasiões referidas, era extremamente frequente haver um espectáculo de variedadescomplementar à sessão cinematográfica. Como eram as sessões especiais, as programadas porIgrejas Caeiro às Quartas-feiras e dedicada às donas de casa, ou ainda as dedicadas aos estudantes,onde se desenvolveram paixões e despertaram inúmeros amores, para referir algumas que fizeramsucesso.

Outros eventos populares eram os concertos de conjuntos, uns já de renome e outros ainda emfase de lançamento na carreira musical. O Roma foi palco da estreia de marcos da música portuguesa,como o Duo Ouro Negro, que o próprio Ribeiro Belga ajudara a chegar a Portugal continentalexactamente com o intuito de iniciarem uma carreira na dita então metrópole.

Mas o Roma foi palco de outros lançamentos fundamentais para a história da música popularportuguesa como o disco de estreia de Sérgio Godinho, Romance de Um Dia na Estrada, e o álbumde estreia a solo de José Mário Branco, Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades, amboseditados pela Sassetti.

A visita e participação de Escolas no Roma verificou-se também desde o início da história destecinema. Principalmente no Natal mas não só, as crianças tinham oportunidade de ver os filmesinfantis do momento, e de caminho um desenho animado em jeito de complemento.

Além das escolas, era comum fazerem-se sessões, mais ou menos privadas, nomeadamente apedido de empresas que alugavam a sala para o efeito, proporcionando os patrões aos seusempregados uma benesse a cujo acesso seria difícil de outro modo.

Mas também de fracassos se fez a história do Roma. Um filme importante na história da exibiçãocinematográfica portuguesa - até por ter estado mais de um ano em exibição - foi Música noCoração, de Robert Wise, que estreou simultaneamente no Roma e no Tivoli. No entanto, no inícioo filme foi um fracasso de bilheteira em ambos os cinemas. O Roma substituiu-o rapidamente, masapós insistência do distribuidor para que Música no Coração ficasse em exibição por mais tempo,o Tivoli acede. Entretanto, em frente a este cinema o São Jorge estreara Goldfinger, fita extremamente

Crianças que participaram no concurso de máscaras do cinema Roma,1965. Fundo O Século, Arquivo de Fotografia de Lisboa CPF/MC

Anúncio de Elis Regina e Jair Rodrigues no Roma, 1966

O R O M A A F I R M A - S E25

Page 24: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

D O C I N E M A R O M A A O F Ó R U M L I S B O A

MUDAM-SE OS TEMPOS

A exploração, que até determinada altura fora feita em termos de tempo (um só filme podia estarvários meses numa só sala), começou paulatinamente a ser feita em quantidade: o mesmo filmepassou a estrear em várias salas simultaneamente, e a exploração começou a fazer-se não em tempomas em número de salas. Esta estratégia, directamente relacionada com o domínio norte-americanoque se começou a impor, implicou directamente grandes alterações na exploração dos cinemas. Àmedida que a televisão e o vídeo ganharam adeptos e se foram desenvolvendo, começou a serinsustentável um filme ficar muito tempo numa sala, sendo o ciclo de vida do filme no cinemaencurtado tendo em conta a saída em vídeo e mesmo a sua difusão na televisão. Ou seja, se ao fimde alguns meses de exibição cinematográfica o filme podia ser requisitado num clube de vídeo,obviamente que o tempo de exibição tinha que ser bastante diminuído.

Este facto obrigou a que houvesse uma exploração conjunta, pelo que os cinemas começaram a sermuito semelhantes nas escolhas dos filmes que exibiam, sacrificando as características própriasoutrora privilegiadas. O Roma, que sempre exibira filmes mais marginais, foi um dos cinemas maisprejudicados com esta nova lógica de exploração cinematográfica.

Também o ritual de deslocação ao cinema estava já muito mais normalizado. Apesar das condiçõesde projecção e qualidade técnica das mesmas serem cada vez melhores, ou talvez também em partepor este motivo, ir ao cinema era já um acto comum, algo feito por impulso ou pelo menos de modomais automático.

Uma das grandes vantagens do Roma era o tamanho do seu ecrã, entretanto aumentado, e queproporcionava condições excepcionais de exibição quer em formato cinemascópio quer em 70milímetros.

Matinés infantis. A artista Marisol procedendo à distribuição deprémios na matiné infantil no cinema Roma, 1964. Fundo O Século,Arquivo de Fotografia de Lisboa CPF/MC

Diário Popular de 15 de Outubro de 1964.

concorrida em termos de acorrência de multidões. E assim, após lotar o São Jorge, as pessoas quenão conseguiam bilhete tiveram a tendência de atravessar a Avenida e ir ao Tivoli. Ao ver Músicano Coração gostam, espalham a palavra, e num processo bastante comum de construção desucessos de bilheteira o filme de Wise tornou-se um dos maiores sucessos de sempre em termos deexibição em Lisboa. No entanto, no Roma não esteve em cartaz tempo suficiente para poder viveresta afluência.

Enquanto o Roma acolhia todas estas experiências, o panorama e a lógica do(s) cinema(s) foi-sealterando.

26

Page 25: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

MUDAM-SE AS VONTADESO período que segue ao 25 de Abril foi, em termos de exibição cinematográfica, absolutamenteexcepcional em Portugal, e as causas não são difíceis de depreender: podia-se finalmente ver osfilmes proibidos pela censura ao longo das últimas décadas. E o Roma conhece alguns dos seusmais estrondosos êxitos de bilheteira neste período, à semelhança do que acontece um pouco portodo o país.

Destes, os filmes eróticos – que de erótico nem sempre tinham muito! – foram dos que obtiverammais sucessos. Para assistir a Harlis - Amor entre mulheres, por exemplo, as pessoas chegaram acomprar bilhetes por dois mil escudos, no mercado negro. A afluência às bilheteiras era enorme, efrequentemente as sessões esgotavam muito antes de chegar sequer a meio da fila acumulada paracomprar bilhetes.

A abertura ao estrangeiro potenciou novas mudanças na lógica cinematográfica de Lisboa, etornou-se mais difícil a exploração de cinemas fora do grupo norte-americano que conquistougrande parte do mercado em Portugal. A Lusomundo começou a ter uma crescente agressividadecomercial, que rapidamente se alastrou às restantes grandes empresas exibidoras, e que a pouco epouco levou a um estrangulamento de mercado. E tanto a distribuição como a exibição por parte dogrupo Ribeiro Belga começaram a ressentir-se.

Por outro lado, os cinemas do grupo Ribeiro Belga eram afastados do centro, e os cinemas de bairroforam os que mais e mais rapidamente se ressentiram com a crescente importância da televisão, umavez que as famílias tinham uma alternativa fácil ao programa: ficar em casa. Os cinemas do centro dacidade, tal como os teatros, tendiam a continuar a ter uma carga quase mítica de local de espectáculoonde se ia ver e ser visto, estrear a última moda e saber dos últimos mexericos sociais.

Crianças que assistiram à festa de Natal realizada no cinema Roma,1962. Fundo O Século, Arquivo de Fotografia de Lisboa – CPF / MC

Os intervalos deixaram de vir pré-assinalados na fita, cabendo a cada projeccionista decidir ondepausar o filme. A regra no Roma era escolher uma cena calma, sem grande tensão dramática, nummáximo de 65 minutos decorridos de filme, dependendo da duração total do filme.

Fruto das mudanças de lógica de exibição, nasceu um fenómeno novo: as ante-estreias. Estastendiam a ser eventos de grande prestígio, onde se usava o tapete vermelho e em que os convidadoseram estritamente seleccionados.

Entretanto, em 1972, morre Joaquim Braz Ribeiro Belga e sucede-lhe, na gerência da empresa, umsobrinho.

O R O M A A F I R M A - S E

A equipa das arrumadoras do Roma, início dos anos 70.

27

Page 26: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

D O C I N E M A R O M A A O F Ó R U M L I S B O A

Sentindo a necessidade de se aliar a uma das empresas dominantes, a empresa detentora do Romacede à Lusomundo parte do capital. E apesar de o Roma ter sempre acolhido e exibido filmesdistribuídos por outras empresas, como a Castello Lopes ou a própria Lusomundo, o forte da suaprogramação eram os filmes distribuídos pelo grupo Ribeiro Belga. Nos finais dos anos 70 esteprocesso alterou-se definitivamente, e através desta nova parceria começam a passar no Romaprincipalmente filmes representados em Portugal pela Lusomundo, que iam alternando aosdistribuídos pelas empresas do grupo Ribeiro Belga.

Paralelamente às alterações cinematográficas o Roma continua, nos finais dos anos 70 e início dosanos 80, a ser palco de mudança.

“No Roma talvez se tenha dado a sessão mais importante para mimcom um filme meu durante toda a minha vida: foi na sala de provas quepassou pela, primeira vez a Manhã Submersa quando cá veio Pierre-Henri Deleau o director da quinzena dos realizadores do Festival deCannes, e que veio a Portugal escolher filmes para levar para o festivalde Cannes. Na altura o Instituto Português de Cinema organizou asessão para o Pierre-Henri Deleau e foi lá que o filme passou… naspiores condições!

Acho que nunca sofri tanto na minha vida. A cópia tinha saído hápouco tempo da Tobis, a sessão começou e cerca de 20 minutos depoiscomeçou a não se ouvir nada. Ao principio fui à cabine de projecção

VII Congresso Nacional do PSD, Cinema Roma, 1979. Foto deJoão Nascimento, Arquivo do PSD.

Cinema Roma, 1979. Foto de João Nascimento, Arquivo do PSD.

28

Anos antes de vir a ser sede da Assembleia Municipal de Lisboa, o edifício acolheu eventosimportantes para o desenrolar da actividade política e, consequentemente, dos destinos de Lisboae do país. Foi aqui, a título de exemplo, que Francisco Sá Carneiro foi reeleito Presidente daComissão Política Nacional, no VII Congresso do PSD, em 16 e 17 Junho de 1979, sendo nasequência deste Congresso que viria a assumir a liderança do Governo AD eleito pouco depois.Terá sido também neste evento que Sá Carneiro terá sido apresentado a Pedro Santana Lopes, noFoyer do Cinema.

O cinema português, que sempre fora privilegiado na exibição no Roma, continua a poder contarcom este local para apresentar muitos dos seus filmes, embora nem sempre para o público emgeral. Foi no Roma, mais concretamente na sala de provas do 2º piso, que foi seleccionado o filmeManhã Submersa, de Lauro António, para representar Portugal no Festival de Cannes.O realizador recorda-se do acontecimento:

Page 27: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

Depois de mais alguns grandes êxitos de bilheteira (com Terra Sangrenta por exemplo, as pessoasàs 10h da manhã já formavam fila para conseguirem bilhete), em 13 de Outubro de 1988, o Romaexibe o filme Comboio em Fuga, de Andrei Konchalovsky, que foi a sua última sessão, com direitoa muita emoção e algumas lágrimas.

O R O M A A F I R M A - S E

Sala de projecção do Fórum em plena actividade

Lotação da sala1957: 1056 lugares1962: 1099 lugares1973: 1032 lugares1986: 976 lugares1997: 701 lugares

A festa do Carnaval incluía até o pequeno almoço, às 07h.

29

para ver se havia algum problema, mas não era nada com o filme, eracom a máquina que tinha tido um problema qualquer. E o filme foi assimaté ao fim…. Acho que nunca devo ter suado tanto na minha vida! A verum filme que podia ter algumas hipóteses de ir ao festival de Cannes avê-lo passar numas condições miseráveis…. Às tantas perguntei aoPierre-Henri Deleau se ele queria parar, ele respondeu que não, que sepercebia… e no final seleccionou o filme! Disse que tinha percebidoque aquilo eram condições técnicas da máquina, mas que caso fosse dacópia para o recuperarmos até ao festival! O dia foi dramático, mas foidos dias mais importantes da minha vida em termos de cinema e deevolução, porque o facto de ter ido a Cannes onde foi muito bem recebidoalterou por completo a percepção do filme não só em todo o mundocomo inclusivamente em Lisboa.”

Page 28: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

D O C I N E M A R O M A A O F Ó R U M L I S B O A

DIVAS veio parar ao cinema por acaso: o pai era, em Moçambique, projeccionista de um dos cinemas ligado ao grupo Ribeiro Belga. E desde cedo ofilho foi tomando contacto com o mundo das máquinas de projecção e das bobines. Entre o ver fazer e o começar a ajudar foi um passo, incentivadoem grande medida pelo pai. Uma vez aprendido o básico do ofício, e ganha a experiência à custa de ir ajudando aqui e ali, Divas aprendeu os segredosde uma boa projecção.

Quando, após o 25 de Abril, a sua família veio para Lisboa, o seu percurso foi, naturalmente, dar mais uma vez ao cinema. E mesmo sem ter tido algumavez esse objectivo profissional específico, Divas teve um convite para ir fazer as férias de um trabalhador e acabou por se tornar projeccionistaprofissional, agregado ao Roma desde os finais dos anos 70. A facilidade de adaptação teve uma grande ajuda: as máquinas instaladas no Roma eramiguais às com que lidava em Moçambique.

Na altura, o Roma possuía o maior ecrã da cidade, sendo dos poucos cinemas que podia exibir filmes em70 milímetros. “O Cinemascope do Roma antigo era quase os 70mm do Condes, agora imagine o nosso70mm!” recordou, orgulhoso, o projeccionista. E de facto, apesar de estarmos na altura da decadênciados grandes cinemas, vir ao Roma era ainda um ritual especial. Para se ter uma ideia, basta imaginar que “ofiscal, antes de abrir a porta, passava revista às arrumadoras e aos porteiros, tinham que estar na linha, osfardamentos bem vestidos… esta era uma sala com prestígio.”

Quando em 1988 o Roma encerrou, Divas teve a sorte de ter um convite para manter a sua profissão mas deslocá-la uns metros: foi inaugurar os cinemas King, aos quais continua ligado sendo projeccionista do Monumental.

Recorda com saudades o última dia do Roma, em que se exibiu o filme Comboio em fuga: “as pessoas quelá tinham estado na vida toda, fizeram daquilo uma casa, estavam muito tristes… Houve pessoas quepassaram a vida lá, ainda hoje vivem na zona, foi muito duro”.

Quando a CML adquiriu o edifício e o reabriu, quis o destino que Divas fosse chamado para fazer a aberturado Fórum Lisboa, anos depois de o ter encerrado. “Emocionalmente, estava calmo, notei as diferenças das obras, foi bom regressar ao Roma”,recorda, emocionado, o projeccionista.

Divas, projeccionista do Roma de 1979 a 1988

30

Page 29: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

Dos cinemas do Grupo Ribeiro Belga, o Roma foi o último a fechar. O Aviz fechara já em 30 deSetembro de 1987 e no último dia do mesmo ano fora a vez do Estúdio 444. Este fenómeno de fechode salas foi generalizado, não apenas em Portugal mas um pouco pelo mundo ocidental fora, eembora cada cinema tenha uma história, vivência e motivações próprias, alguns factores comunspodem ser apontados como parcialmente responsáveis pelo processo.

O primeiro prende-se com o surgimento de um outro fenómeno que é muito mais interessante paraas grandes empresas, que entretanto tinham conseguido dominar o mercado: os cinemas multiplex.Por outro lado, também a lei que exigia que os cinemas tivessem que ser edifícios autónomos e queuma sala não poderia estar integrada noutra superfície comercial foi alterada, dando rapidamenteorigem a cinemas em centros comerciais, que entretanto começaram a aparecer com alguma força.Estes motivos aliados frequentemente ao conforto das salas em si e à qualidade da projecção commáquinas e tecnologias novas, levam a uma nova fórmula de trilogia compras-jantar-cinemas semsair do mesmo espaço, apelo apetecível a uma sociedade urbana em galopante instinto consumista.E o cinema passa a ser encarado por muitos como um produto de consumo para um público urbanoe com pouco tempo para “gastar” em cultura.

Referem os números do então Instituto Português de Cinema que estavam 394 salas de cinemasabertas em 1981, número que dez anos mais tarde já tinha sido reduzido para 291, a nível nacional,sendo que nestas salas estão incluídas cada vez mais salas com reduzido número de espectadores.Não é difícil vislumbrar o real significado destes números, se nos lembrarmos que nos dez anos emquestão, de 1981 a 1991, fecharam alguns dos gigantes cinemas lisboetas como o Monumental, oTivoli, o Pathé, o Éden e, claro, o Roma.

Como resultado, os grandes cinemas – mesmo os que foram sendo comprados pelas grandesdistribuidoras - acabaram por ser desactivados como cinema. O Roma não foi excepção e duranteuns anos foi utilizado como armazém da Lusomundo.

Data de 1993 um pedido da Lusomundo S.A. à Direcção Geral dos Espectáculos e das Artes em queconsta o cinema Roma, entre outros recintos, e em que é pedido por se encontrarem “encerrados hálongos períodos devido à sua total inviabilidade comercial e aos avultados prejuízos acumuladosao longo dos últimos anos de exploração” que seja dada baixa nos respectivos registos e que “sejatomada nota da consequente desafectação definitiva de actividades cinematográficas”.

O encerramento

Projecto de alteração ao Roma datado de 1982, que mostra a tentativade rentabilizar o espaço, transformando o Foyer em pequenas lojas.

O E N C E R R A M E N T O31

Page 30: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

D O C I N E M A R O M A A O F Ó R U M L I S B O A

Na reunião de Câmara de 27 de Dezembro de 1996 foi aprovada a compra do Cinema Roma pelaCâmara Municipal de Lisboa. Declarações à comunicação social do então presidente da autarquia,Dr. João Soares, referem “a salvação da uma sala de espectáculos” e a “necessidade de instalarconvenientemente a Assembleia Municipal de Lisboa” como os motivos para esta compra, no valorde 1 milhão de contos. O contrato-promessa assinado em 11 de Março de 1997 foi efectuadoatravés da EPUL, entre esta e os sócios do Roma que discordaram quanto ao preço de venda doimóvel.

O projecto de João Soares previa a adaptação da ala direita do edifício para se instalarem osserviços da AML, evitando-se a construção de um edifício adjacente, hipótese que chegou a serequacionada. A sala seria também adaptada à realização de conferências e ao visionamento decinema num grande écran. As obras, avaliadas inicialmente em 590 mil contos (vieram a custar 620mil) estariam prontas em Julho de 1997.

Encomendadas e supervisionadas pela EPUL e CML, as obras levantaram alguma celeuma. VictorGonçalves, deputado municipal do PSD, discordou do processo uma vez que a proposta aprovadaem sessão de Câmara previa a aquisição do antigo cinema “devidamente reabilitado e reequipado”por um valor máximo total de um milhão e 590 mil contos, ficando as obras a cargo dos antigosproprietários.

Alexandre o Grande, de Robert Rossen, estreou no Roma em 1957

Alexandre o Grande, de Oliver Stone, ante-estreou no FórumLisboa em 2004

Fórum Lisboa. Foto da DCI, CML

32

A verdade é que com ou sem polémicas, a compra do imóvel veio pôr fim a anos de impasse quantoà instalação condigna da AML, que até ali funcionara num edifício sem condições logísticas ou dedignidade, na Rua Teixeira de Pascoaes, bem perto do Fórum Lisboa, num edifício em cujas traseiraschegou a ser aberto um enorme buraco durante a gestão de Jorge Sampaio, onde deveria nascer umespaço de raiz para a Assembleia Municipal. Mas o projecto encalhou nos protestos dos moradoresdos prédios vizinhos.

Funcionando durante alguns anos sem quaisquer condições, nos tempos que precederam a comprado Roma a AML reunia-se no Teatro Maria Matos.

Com o cinema Roma “nas mãos”, a CML pretendeu desde sempre não só instalar ali a AML, mastambém manter o espaço aberto a eventos culturais, sociais, educativos, políticos e cívicosconsiderados de interesse para a cidade. A ideia era a de criar um fórum da cidade de Lisboa. E foicom este objectivo que as obras de reabilitação e adaptação procuraram manter as características decinema, enquadrando-as o mais possível com a possibilidade de se transformar num espaçomultifacetado.

Page 31: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

O Roma renasce como Fórum

O Fórum Lisboa acabou por ter duas inaugurações: uma sessão solene da AML, pela primeira vezna sua nova sede, e um evento cultural mais aberto a convidados externos à edilidade.

A AML reuniu-se pela primeira vez no Fórum Lisboa no dia 7 de Novembro de 1997, também sobalgumas críticas da oposição, nomeadamente do grupo parlamentar do PSD que considerouinaceitável que na cerimónia apenas discursassem os presidentes da CML e AML.

Na noite seguinte, 8 de Novembro de 1997, houve então a ante-estreia do filme “Pour Rire”, deLucas Belvaux, distribuído pela Atalanta.

Nessa noite, vários clientes habituais do Roma puderam constatar que o Fórum Lisboa mantiveraa estrutura da sala e que os melhoramentos introduzidos beneficiavam o edifício. Entre outrosresponsáveis e dinamizadores das concorridas sessões e espectáculos do Roma, vieram à estreiado Fórum Lisboa Fernando Pessa e Igrejas Caeiro.

Por coincidência, o projeccionista contactado para aquela sessão, a primeira do Fórum Lisboa, foiprecisamente o responsável, quase 20 anos antes, pela projecção do último filme no Roma, Comboioem Fuga.

A INAUGURAÇÃO DO FÓRUM LISBOA

O FÓRUM LISBOA HOJEO Auditório Principal tem capacidade de 701 lugares e está provido de mobiliário adequado a umplenário com mesas de apoio rebatíveis e equipado com som, luz, tradução simultânea, projecçãoem vídeo e cinema.

Possui acessibilidades para deficientes, dispondo de duas plataformas elevatórias de acesso aoauditório e palco.

A versatilidade deste espaço é evidente no possível vasto leque de utilizações, de sala de cinema(equipada com projecção em cinema em 35 e 16 mm e projecção em Vídeo) a sala de conferências,passando por sala de espectáculos (concertos e expressões teatrais).

Além do auditório, existem outros espaços que pontualmente acolhem eventos próprios oucomplementam a actividade programada na sala principal.

Sessão Solene da AML, Novembro 1997, fotos DCI -CML

Inauguração do Fórum Lisboa, Novembro 1997 foto DCI-CML

O R O M A R E N A S C E C O M O F Ó R U M33

Page 32: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

D O C I N E M A R O M A A O F Ó R U M L I S B O A

A Sala de Apoio, no 1º piso é um espaço vocacionado para a realização de eventos com númerorestrito de participantes, como reuniões, acções de formação e workshops.

O Foyer Grande, com serviço de cafetaria, tem múltiplas funções, considerando que tem característicasde Bar, onde podem ser servidos cocktails, portos de honra, almoços, coffee-breaks, etc. Por outrolado, tem as características de Foyer, espaço aberto para a realização de exposições artísticas nasáreas da pintura, fotografia, cinema, escultura, lançamentos de novos livros e discos, realização deperformances, debates, conferências de imprensa, etc.

O Bar Pequeno é um espaço de bar e café por excelência, com características que permitem transformá-lo em Sala VIP.

Desde 1997 que o Fórum Lisboa tem acolhido as sessões da AML e tem sido simultaneamente umpólo cultural mas também cívico, educativo e social primordial para o modus vivendi da cidade deLisboa.

A gestão do Fórum Lisboa passou em Abril de 2003 para a EGEAC, Empresa Municipal de Gestão deEquipamentos e Animação Cultural, juntamente com os Teatros S. Luís e Maria Matos, o CinemaSão Jorge e o Padrão dos Descobrimentos, voltando em Agosto de 2005 a ser de responsabilidadedirecta da CML, em colaboração com a AML.

F I M

Foyer do Fórum Lisboa. Foto da DCI, CML

Inauguração do Fórum Lisboa, Novembro 1997 Foto da DCI, CML

34

Page 33: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

Montagem de vários jornais. Segundo dados da Cinemateca Portuguesa, no Roma estrearam699 filmes e foram repostos 17. Montagem com bilhetes do Roma e do Fórum Lisboa, de 1957 a 2005

35

Page 34: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

agradecimentos | Dra. Amália Dias e equipa do Gabinete de Estudos Olissiponenses | Armanda Parreira | Divas | Divisão de Comunicaçãoe Imagem | Dra. Elsa Ferreira e equipa da Hemeroteca Municipal de Lisboa | Dra. Inês Viegas e equipa da Divisão de Gestão de Arquivos| Arq. Jorge Carvalho e Engª Cristina Fadigas da Divisão de Património Cultural | Joaquim Mendes | Eng. Joaquim Valente e equipa daDivisão de Recintos de Espectáculos da Inspecção Geral de Actividades Culturais | José de Almeida Faria | Júlio Pisa, Vítor António eArquivo do PSD | Laura Elário | Lauro António | Manuel Moreira | Dra. Maria de Lurdes Baptista e equipa do Arquivo FotográficoMunicipal da CML | Dra. Paula Ucha e equipa da sala de leitura da Torre do Tombo | Dr. Paulo Leme e Arquivo de Fotografia de Lisboa |Pedro Bandeira Freire | Teresa Barreto Borges e equipa do Centro de Documentação e Informação da Cinemateca Portuguesa | VideotecaMunicipal de Lisboa

bibliografia | Fernandes, José Manuel, Cinemas de Portugal, Edições INAPA, 1995 | Tavares Dias, Marina, Lisboa Desaparecida,Quimera, 1987 | Tostões, Ana, Os Verdes Anos na Arquitectura Portuguesa dos Anos 50, FAUP, 1997 | outros | Arquivo do SNI -Documentação de Cinema, na Torre do Tombo | Processo do Cinema Roma/Fórum Lisboa na Divisão de Gestão de Arquivos da CML |Processo do Cinema Roma/Fórum Lisboa na Inspecção Geral das Actividades Culturais | imprensa | A arquitectura portuguesa, nº12,4ª série, Jul/Out 1957 | Várias edições dos jornais A Capital, Diário de Notícias, Diário de Lisboa, Diário Popular, O Século, Público,República e das revistas Cinéfilo e Imagem | outras fontes | conversas com Almeida Faria, Divas, Laura Elário, Lauro António, ManuelMoreira e Pedro Bandeira Freire.

1ª edição: Novembro de 20052ª Edição (revista): Março de 2007

Page 35: Do Cinema Roma ao Fórum Lisboa - breve história de um espaço de cidadania

Comprado pela Câmara Municipal de Lisboa em 1997, o Cinema Roma teve umpercurso extremamente variado até se tornar o equipamento multifacetado deexcelência que é o Fórum Lisboa.