do atlÂntico - unicamp · “o cachecol do artista” - a “esfera artística” a partir do caso...

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Em Lisboa, de 29 de março a 3 de abril de 2012, o Congresso CSO reuniu artistas e criadores que apresentaram e debateram as obras de outros autores. O III Congresso CSO’2012 utilizou como línguas de trabalho as de expressão ibérica, estabelecendo um espaço crítico e criativo que abrange um vasto arco de países em diversos continentes. Nesta edição assistiu-se a uma expansão do número de congressistas e de participantes. Passou-se, em 2012, para 106 textos aprovados por blind review, entre 130 submissões. O leque de regiões e actividades artísticas também se alargou, construindo uma nova identidade, novos discursos, e uma diferente relação entre artistas e criadores. ISBN: 978-989-8300-32-4 ARTES EM TORNO DO ATLÂNTICO: FACULDADE DE BELAS-ARTES DA UNIVERSIDADE DE LISBOA CENTRO DE INVESTIGAÇÃO E DE ESTUDOS EM BELAS-ARTES Atas do III Congresso Internacional — Criadores Sobre outras Obras - CSO’12

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Page 1: DO ATLÂNTICO - Unicamp · “O Cachecol do Artista” - A “Esfera Artística” a partir do caso de Luiz Pacheco Francisco Cardoso Lima & João Mota 240 "'Where Are My Glasses?

Em Lisboa, de 29 de março a 3 de abril de 2012, o Congresso CSO reuniu artistas e criadores que apresentaram e debateram as obras de outros autores. O III Congresso CSO’2012 utilizou como línguas de trabalho as de expressão ibérica, estabelecendo um espaço crítico e criativo que abrange um vasto arco de países em diversos continentes. Nesta edição assistiu-se a uma expansão do número de congressistas e de participantes. Passou-se, em 2012, para 106 textos aprovados por blind review, entre 130 submissões. O leque de regiões e actividades artísticas também se alargou, construindo uma nova identidade, novos discursos, e uma diferente relação entre artistas e criadores.

ISBN

: 97

8-98

9-83

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2-4

ARTES EM TORNODO ATLÂNTICO:

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Atas do III Congresso Internacional —Criadores Sobre outras Obras - CSO’12

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Artes em torno do Atlântico: Atas do III Congresso Internacional Criadores Sobre Outras Obras

CSO’2012

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Artes em torno do Atlântico: Atas do III Congresso Internacional Criadores Sobre Outras Obras

Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes

Prefácio e Organização das atas: João Paulo Queiroz (Ed.)

Artes em torno do Atlântico: Atas do III Congresso Internacional “Criadores Sobre Outras Obras - CSO’2012”

Lisboa, 29, 30, 31 de março e 1, 2 e 3 de abril de 2012 Organização das atas: João Paulo Queiroz (Ed.) Comissão Científica

Heitor Alvelos, Faculdade de Belas Artes, Universidade do Porto, Portugal; Álvaro Barbosa, Universidade Católica Portuguesa, Escola das Artes, Porto, Portugal; Marilice Corona, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil; Mònica Febrer Martín, Facultat de Belles Arts, Universitat Barcelona, España; Almudena Fernández Fariña, Facultad de Bellas Artes Pontevedra, Universidad de Vigo, España; Luís Jorge Gonçalves, Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa, Portugal; Fernanda Maio, Centro Estudos Interdisciplinares Século XX, CEIS 20, Univ. de Coimbra, Portugal; Neide Marcondes, Universidade Estadual Paulista, SP, Brasil; João Paulo Queiroz, Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa, Portugal; Artur Ramos, Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa, Portugal; Nuno Sacramento, Scottish Sculpture Workshop, Aberdeen, UK; Maristela Salvatori, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil; J. Paulo Serra, Doutor, Universidade Beira Interior, Departamento Comunicação e Artes, Portugal.

Moderações dos painéis Américo Marcelino, Ana Vasconcelos, António Pedro, Élcio Rossini, Heitor Alvelos, Ilídio Salteiro, João Castro Silva, João Duarte, Joaquim Paulo Serra, Jorge dos Reis, Maria João Gamito, Victor Almeida, Virgínia Fróis, Nuno Sacramento, Artur Ramos, Fernanda Maio, Raúl Cunca, João Paulo Queiroz, Maristela Salavatori, Marilice Corona, Neide Marcondes

Relações públicas: Isabel Nunes Assessoria: Nuno Mendes Captação vídeo e fotografia: Diogo Leôncio, Henrique Vieira Logística: Lurdes Santos Colaboração: Luz Almeida, Conceição reis, Arminda Valente, Romana Paula,

Eugénia Garcês, Manuela Almeida, Deolinda Pires, Amadeu Farinha

Propriedade e serviços administrativos: Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa / Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes Largo da Academia Nacional de Belas-Artes 1249-058 Lisboa, Portugal

Telefone +351 213 252 100 Fax +351 213 470 689 [email protected] http://www.cso.fba.ul.pt/

ISBN: 978-989-8300-32-4

Crédito da capa Capa de Tomás Gouveia, sobre obra de:

Sebastián Romo, Tropicalia, 2001. Impressões de minilab, cada foto 10x15, diâmetro da obra 90 cm. Cortesia do artista [www.atelier-romo.com].

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Atas do III Congresso Internacional Criadores Sobre outras Obras - CSO’2012

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Índice

Prefácio

Entre nós João Paulo Queiroz 11

Comunicações apresentadas no CSO’2012 15

Antonio León Ortega, un escultor de fronteraAlberto Germán Franco

Romero & M. ÁngelesMaqueda Pérez

17

Joana Vasconcelos: contaminações entre escultura emoda Alexandra Cabral 26

De Película – As narrativas fotográficas de VeraChaves Barcellos Alfredo Nicolaiewsky 35

Corpo-joia: reflexões a partir da série Longing forthe Body Ana Paula de Campos 39

Kenji Ota: um olhar sobre a materialidade emprocessos fotográficos históricos Andréa Brächer 48

Entre los luchadores de por vida Andrés Jesús Naranjo Macías 54‘Deu mil hores’ a l’espai de l’artista Salvador

Juanpere Àngels Viladomiu Canela 63

Rui Chafes - Vazio, Sonho e Morte António Fernando MonteiroPereira da Silva 69

Seu Sami (2007): aspectos do processo de criaçãoda obra de Hilal Sami Hilal Aparecido Jose Cirilo 75

Pela Fresta (1998): o papel do espaço e damemória no processo de criação da obra deShirley Paes Leme a partir de seus cadernos deanotações

Aparecido Jose Cirilo 83

O mundo bate do outro lado Beatriz Furtado 91A natureza abstrata na arte de Neide Ono Carla Maria Buffo de Cápua 97Pinturas Quentes; Imagens Geladas: Sobre a Pintura

de Simeón Saiz Ruiz Carlos Correia 104

Presencia, tiempo y contexto en la performance deMaría Marticorena Carlos Tejo Veloso 111

Performar em estado reflexivo: remake da ação“Movement to Promote the Cleanup of theMetropolitan Area (Be Clean)” do Grupo High RedCenter (1964)

Carolina Érika Santos 117

Lições de abismo por Roberto Mallet: criação deimagens através de ações simbólicas Carolina Martins Delduque 123

Borracha, transparência e peso no espaço real: porum novo modo de habitar os desenhos de LúciaFonseca

Cláudia Maria França da Silva 129

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Artes em torno do Atlântico:

6 ISBN: 978-989-8300-32-4

Enigmas: os “retratos–sequência” da artistaBrasileira Nívea Bracher Cláudia Matos Pereira 136

Gilberto Gil, pela internet e a metáfora da ciênciae tecnologia

Claudia Sisan & Cristiane deMagalhães Porto 142

Rubén Aguilar : a Pintura Mural como mutação daprefiguração conceptual do objecto arquitectónico Cristina Maria Grilo Lopes 148

La llum i la muntanya. Una aproximació a la pinturade Jordi Fulla Cristina Pastó 153

Elke Hering: percurso de uma escultura emtransformação Daiana Schvartz 160

Mito e Imagem de artista: Elke Hering Daiana Schvartz 166Entre cyborgs e avatares: produções artísticas no

seio da tecnologia ou o advento de novosinvólucros humanos

David Etxeberria 173

Um Erro para a Liberdade ou a Danca dasTentativas - Sobre o processo criativo de SilviaMoura

David Limaverde CabralPinheiro 181

Raid das Moças e a Cultura da depressão:performance e humor subversivo ou quandoFoucalt visita as chanchadas da Atlântida

Marilda de Santana Silva 187

Do Singular ao Plural: Identidade, Memória ePoética no Fazer Artístico dos Mestres daFotopintura Cearense (Telma Saraiva e JulioSantos)

Doriedson Bezerra Roque &Paulo Emilio Macedo Pinto 194

Arte e liturgia, interfaces e leitura de conjunto:continuidades e contiguidades.

Márcio Antônio de Almeida &Dorotéa Machado Kerr 201

A arte sacra de Cláudio Pastro e suacontemporaneidade

Egidio Shizuo Toda & MarcosRizolli 209

Um meta espetáculo: o corpo em apesar de todo Eliane Muniz Gordeeff 216A natureza artística ou a arte do natural na

escultura de Paulo Neves Elisa Ochôa 222

Cadencia de presagios cristalinos. Los módulosideales de Antònia Vilà Eugènia Agustí Camí 229

A relação corpo/objeto e o discurso poético dasproposições de Lygia Clark Fernando A. Stratico 234

“O Cachecol do Artista” - A “Esfera Artística” apartir do caso de Luiz Pacheco

Francisco Cardoso Lima &João Mota 240

"'Where Are My Glasses?' 'Where The Fuck Are MyGlasses?' - A 'Grande Narrativa' a partir do casode António Olaio"

Francisco Cardoso Lima &João Mota 255

El escultor Javier Marín; Una lectura personal sobrelas fuentes de inspiracón a través de su obra Guillermo Martínez Salazar 266

Antonio Zambrana Lara, el realismo sevillano de losaños 70, técnica y procedimiento Gustavo Domínguez Moreno 273

Elias dos Bonecos: o mundo como resto Gustavo Henrique Torrezan 279Chema Madoz: Conversando con universos poético-

visuales Hernando Gómez Gómez 287

Rocha de Sousa: cartografias da Alma Hugo Ferrão 296El arte y las moscas. Sobre la contemporaneidad de

la experiencia del arte Ignacio Barcia Rodríguez 303

Atas do III Congresso Internacional Criadores Sobre outras Obras - CSO’2012

7

Ocaña. Hacia el frágil sueño de la libertad Isabel María Sola Márquez 308“Qualquer semelhança com a realidade é mera

coincidência”: Grupo PoroJoana Aparecida da Silveira

do Amarante 315

Joanna Latka: ficcionando a realidade para a vermelhor Joana Ganilho Marques 321

"Novas formas de habitar o Bairro de Gonçalo M.Tavares: sobre os projetos Galerista por um dia eSenhores Projectos no Bairro de Gonçalo M.Tavares"

Joana Ganilho Marques 326

O Simulacro em Ana Vieira – Uma leituradeleuzeana Joana Tomé 331

Onde habitam pedras e linhas cruzadas – sobre abeleza subtil da obra gravada de David deAlmeida

Joanna Latka 337

Cuestiones sobre la alteridad en el trabajo deXavier Ristol Joaquim Cantalozella Planas 343

Interiores y exteriores: las ventanas de AnaMalagrida

Joaquim Cantalozella Planas& Marta Negre Busó

350

Zona zero: Un itinerari a través d’obres de FrancescTorres i de The Atlas Group Jordi Morell i Rovira 357

La investigación en la obra de Noé Serrano: uncamino hacia el hiperrealismo escultórico José María Hurtado Rodriguez 364

Déjame que te cuente José Orozco 371Acumulación y despojamiento en el lenguaje

pictórico de Joan Hernández Pijuan Josep Montoya i Hortelano 379

Arte e conhecimento: alquimia e o novo paradigmada ciência Juliana Alvarenga 386

Gerardo Delgado: el juego racional del arte Lola García & Paco Lara-Barranco 396

Conjunto Imagem: Imagens de um espaço emdesaparecimento

Luciane Garcez& Rita de Cássia Eger

404

Intérpretes-cantores e seus processos de criação daInterpretação: Fernando Portari e Canção de Amorde Villa-Lobos

Lucila Tragtenberg 410

O Desenho como iluminação do sentimento e asombra como eliminação da persona, numprocesso de individuação (do Desenho) de JaimeSilva

Luís Filipe Salgado PereiraRodrigues 417

Sayô Pereira: honestidade e simplicidade do gestopoético Luiza Romani Ferreira Banov 426

Sense & sensibility Margarida P. Prieto 432Paso Doble: a argila como protagonista em

territórios de fronteira entre artes visuais e artescênicas

Maria Betânia Silveira 440

Practicas multidisciplinares en las Vanguardias:Sonia Delaunay María Castellanos Vicente 447

Sinedie, de la edición al fetiche María Castellanos Vicente 452Vieira Portuense Cadernos de Viagem: álbuns 817 e

821 do MNAA Maria Dilar Pereira 457

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Artes em torno do Atlântico:

8 ISBN: 978-989-8300-32-4

Cepeca: uma banca permanente Maria Everalda AlmeidaSampaio 465

Filipa César: Record(ar) fronteiras do passado nopresente

Maria Leonor de AlmeidaPereira 474

ALICE... Uma leitura para o reconhecimento daTeatralidade num conjunto de obras de AntónioBronze

Maria Manuela Bronze daRocha 483

Suzanne Anker – Memória Autobiográfica no Estúdioe no Laboratório Científico Maria Manuela Lopes 491

Uma voz que dança: a performance de DanielaMercury no show/álbum Canibália Marilda de Santana Silva 497

Pina Bausch, de referência mundial ao trabalhosocial - Kontakthof através das gerações

Marina Milito de Medeiros& Sayonara Sousa Pereira

504

Los cuadernos de dibujo del pintor Agustín Alegre Marta Marco Mallent 511La casa: ficcionar la quotidianitat Marta Negre Busó 518Uma visão do Feminino nefasta e maldita nos

desenhos Le Spleen de moi-même de Mário BotasMichele Cristina Coutinho

Rocha 525

Fiestas y arremetidas. La selva urbana en la obrade Christian Bendayan

Mihaela Radulescu de Barriode Mendoza 532

Heroes Peruanos: arte no objetual de EdwardVenero

Mihaela Radulescu de Barriode Mendoza & RosaGonzales Mendiburu

540

Sebastián Romo: ”pós-produção” como estratégiade construção poética

Paula Cristina SomenzariAlmozara 547

As narrativas verbivisuais de Valêncio Xavier Paulo César Ribeiro Gomes 555Pensamiento y acción en el proceso creativo. Lucio

Muñoz Rafael Carralero Carabias 561

O Desenho Impossível ou os limites da comunicaçãoem Jorge Pinheiro Raquel Pelayo 569

Mabe Bethônico e O Colecionador: o exercício deolhar e pensar através de imagens Raquel Sampaio Alberti 577

O Velho Kusnet Rejane Kasting Arruda. 584Marina Abramović, dimensões da culpa: do corpoda vida sacra Ricardo Mari Neto 588

Fauno de Brecheret e Estação Sumaré de AlexFlemming: arte pública e experiência estética nametrópole de São Paulo

Rita de Cássia Demarchi 595

Conjunto Imagem: Imagens de um espaço emdesaparecimento

Rita de Cássia Schipmann Eger &Luciane Ruschel NascimentoGarcez

602

El escultor Pablo Rubio: Las formas de su universo Rocío Reina Castro 608A dimensão conectiva / educadora na obra de Bety

MoysésRonaldo Alexandre de

Oliveira 615

Nova Espacialidade Híbrida na Obra de PeterGreenaway. As Circunscrições Pictórico-Cinéticasdas Instalações

Rosa Cohen 623

A Terra: linguagens e sentidos em Dulce Schunck Rosana Gonçalves da Silva 629Hilal Sami Hilal: o lirismo do gesto Rose Mary Louzada Gomes 635

Atas do III Congresso Internacional Criadores Sobre outras Obras - CSO’2012

9

A Menina nas Obras de Jandira Lorenz Sandra Makowiecky &Vanessa Bortucan 645

Miguel Rio Branco: tempo, arte e documento Sandra Maria Lúcia PereiraGonçalves 653

A metodoloxía de traballo de Antoni Muntadas, Atraducción cultural e o Work in Progres Silvia García González 661

Os Caminhos de Bernhard Fuchs : as imagensfotográficas em Straβen und Wege

Silvia Helena dos SantosCardoso 666

A mulher e a arte urbana na Amazônia Brasileira: Ografite feminino de Drika Chagas Sissa Aneleh Batista de Assis 673

A simbiose visual de Roberta Carvalho: a árvorehumana na arte contemporânea da AmazôniaBrasileira

Sissa Aneleh Batista de Assis 679

Expor intimidade/Falar intimidade: Elina Brotherus eCarla Filipe Sónia Patrícia Inácio Neves 685

A condição da mulher em Angola na cerâmica deHelga Gamboa Teresa Matos Pereira 693

Chelas o "sítio:" o lugar como referência naidentidade e na obra de Sam The Kid Teresa Palma Rodrigues 702

Habitar o lugar/espaço do ateliê comoprocedimento para a construção da obra – odesenho do espaço na xilogravura de FabrícioLopez

Ynaiá de Paula Souza Barros 709

Comunicações hors concours 716

A gestualidade em Iberê Camargo: obra gráfica de58 a 69 Maristela Salvatori 718

Seductora y perversa: la representación floral en lapintura contemporánea. Mònica Febrer

722

Atividades e painéis que decorreram no CSO’2012 733

1. Painéis 7332. Atividades paralelas 740

Comissão científica do CSO’2012, notasbiográficas 741

Moderadores dos painéis do CSO’2012 745

1. Moderadores convidados, notas biográficas 7452. Moderadores membros da Comissão Científicado CSO’2012 746

Chamada de trabalhos para o CSO’2013 747

Fim do documento 750

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40 ISBN: 978-989-8300-32-4

Corpo-joia:reflexões a partir da série Longing for the Body

Ana Paula de Campos*

Resumo: Este artigo propõe uma reflexão sobre a série “Longing for the Body”, daartista brasileira Mirla Fernandes (São Paulo, 1969), cuja poética abre espaço paradiscutir as relações entre o corpo e joia. A importância do corpo na arte-joalheria éapresentada através das obras escolhidas, problematizando as relações entre o corpoque faz e o corpo que veste. Esses conteúdos permitem pensar a noção de ‘Corpo semOrgãos’(CsO) de Deleuze e Guattari.Palavras chave: Mirla Fernandes, corpo, arte-joalheria, ‘corpo sem órgãos’(CsO)

Title: Jewel-body-: thinking on the series ‘Longing for the Body’Abstract: This article proposes a reflection from the series ‘Longing for the Body,’byBrazilian artist Mirla Fernandes (São Paulo, 1969), whose poetic discusses the relationsbetween body and jewel. The importance of the body in art jewelry is presentedthrough the works chosen, questioning the relationship between the body that makesand the body who wear. These contents allow us to think the notion of 'Body withoutOrgans' (BwO) by Deleuze and Guattari.Keywords: Mirla Fernandes, body, art-jewelry. "Body without Organs" (BwO)

IntroduçãoQuando se pensa em joia, a primeira imagem que vem a mente está

ligada à joalheria tradicional, de caráter ornamental, com gemas e metaispreciosos. Entretanto, paralelamente a essa produção comercial, umaoutra abordagem de caráter conceitual vem se desenvolvendo ao longodos últimos 40 anos: a arte-joalheria. Trata-se de uma produção queabarca manifestações artísticas que se valem do corpo como suporte paraas obras e cuja ênfase está na elaboração de um discurso poético sobre ouniverso da joalheria e/ou do objeto-joia em todos os seusdesdobramentos simbólicos e conceituais. Assim a joia não é entendidapor sua materialidade preciosa ou função decorativa, mas por suaessência enquanto objeto simbólico dado à visibilidade, como um veículode expressão do sujeito e de seu tempo. Para além do objeto em si, a joiadefine-se mais como uma plataforma de manifestação dos desejosindividuais e coletivos que, ao ser produzida no campo da arte, almeja

* Brasil, artista joalheira. Doutorado em Artes / UNICAMP. Mestrado em Educação, Arte e História daCultura / Universidade Mackenzie. Graduação: bacharelado em Desenho Industrial / UniversidadeMackenzie.

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destacar-se como um meio de problematização do sujeitocontemporâneo e de seu contexto.

É sobre esse território que se desenvolve o trabalho de MirlaFernandes, que se graduou em Bioquímica (1991) e Artes Plásticas(1998) no Brasil, antes de estudar arte-joalheria na Alemanha (Pforzheim,entre 1999 e 2000). Em 2006 teve sua primeira exposição individual naGalerie Biro (Munique) com a série Longing for the Body, cujo título trazexplícita referencia à obra de Ligia Clark na medida em que os trabalhosnecessitam claramente de um corpo para completarem seu sentido nomundo.

A proposta desse artigo, que nasce como um desdobramento daspesquisas realizadas durante o desenvolvimento da tese de doutoradoArte-Joalheria: uma cartografia pessoal (Unicamp, 2011), é abordar o papel docorpo na arte-joalheria através das obras da artista e, posteriormente,criar conexões entre esse campo e a concepção de ‘Corpo sem Orgãos’proposta por Deleuze e Guattari.

1. Corpo-JoiaNum primeiro momento é preciso pensar no papel do corpo quando

se trata da arte-joalheria, pois este se configura como um elementodefinidor desta prática distinguindo-a da escultura ou de outras formasde arte. Isso porque, ainda que não se restrinja à necessidade deconstrução e/ou uso de um objeto-joia, essa produção é sempre pensadaem função de uma ideia de corpo inerente à própria concepção da joia, eque abarca o corpo daquele que faz, daquele que veste e daquele que vê.

Portanto, a relação com o corpo na joalheria se manifesta como algo apriori e não como uma escolha do artista. O corpo do outro aqui é pré-requisito, é elemento intrínseco ao pensamento poético da disciplina, oque não deve ser confundido com usabilidade e conforto.

A abordagem mais comum da relação corpo-joia consiste em entendero corpo como suporte, uma vitrine ambulante à qual se soma apossibilidade de ir ao encontro do outro. Entretanto, nas primeirasmanifestações da arte-joalheria na década de 70, o corpo deixava de sermeio de exposição para se transformar em meio de atuação. Nesseperíodo, a ideia que mais influenciou essa produção na Europa Ocidentalera a de que o objeto tinha que funcionar com o corpo (Dormer e Turner,1985). O interesse e a potencia dessa prática também recaía sobre o

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caráter portável e portátil da joia, um objeto nômade que conferia a obrauma mobilidade singular, somada à possibilidade de estar no mundo juntodo sujeito e sendo vista por seus pares.

Outra característica inerente ao campo da joalheria é que, em suaescala, a joia evoca inevitavelmente a ideia de intimidade. É claro que ajoia é um objeto que remete ao público, dado seu inconteste papelsimbólico de construir visibilidade social. Entretanto o que ela quercolocar à vista é sempre da ordem do íntimo, daquilo de mais profundo,interior, que pertence ao sujeito em sua forma mais pessoal, próxima aoque se passa dentro de nós. Nessa perspectiva compreende-se que elatem potência de materializar e de dar a ver algo que é valor para osujeito.

Ao materializar esse aspecto do íntimo, a joia ganha um forte aliado: otato, que pressupõe participação, interação. Ele é o sentido do ser porexcelência. “O mais profundo é a pele” (Valery apud Machado, 2009: 35). Suapresença sobre o corpo pode adquirir tamanha potência a ponto de oobjeto tornar-se uma extensão do sujeito. Sobre o corpo, na pele, a joiase torna emblemático signo da existência.

Por fim, outro aspecto que deve ser considerado na importância docorpo na arte-joalheria remete a toda prática artística e consiste ementendê-lo como veículo para o processo criativo. Nesse sentido, ocorpo do artista é ponto de partida e destino da joia revelando suacapacidade de falar com, sobre e para o corpo.

2. Corpo que faz / Corpo que vesteA importância do corpo ganha contornos específicos na obra de Mirla

Fernandes como, por exemplo, em Eu sou a medida (2000) na qual aartista começa a usar o próprio corpo como molde ao invés dosinstrumentos usados pelos ourives. Em Longing for the Body (2005) suaintenção foi explorar, a partir da escolha do látex como material, umagestualidade semelhante à da pintura. Em termos técnicos tratava-se deum líquido que aceitava bem pigmentos, uma espécie de tinta que sesolidificava e podia estar sobre o corpo. Dessa escolha veio o interessenas relações entre a ampla gama de cores que o material permitia trazeràs peças (o que não acontece na ourivesaria tradicional) e as relaçõesinesperadas nas futuras composições com as roupas das pessoas. Para elaisso serviu para extender a compreensão da interação corpo-joia e tomar

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consciencia do descontrole que haveria sobre a obra. Esses aspectosforam as diretrizes na criação da série e se apresentam tanto em suaforma de produção quanto no resultado final (Fernandes, 2011).

No fazer, o incontrolável e o acaso foram desejados e incoporados àmedida que o material escapava e saia pela borda dos moldes (Fig. 1),uma prática que se construiu de modo oposto à criação vinculada aosprocessos e técnicas de metalurgia, nos quais as ações têm de ser maiscontroladas.

Figura 1. Foto de processo da série Longing for the body (2005) de Mirla Fernandes.Fonte: autora; c.35 cm.

Nessas peças há o gesto expresso nos acidentes que ocorreram ao longo do processo dederramar o látex sobre a superfície plana (vidro) e o gesso (molde aberto feito a partirde modelagem em argila e sulcagem direta sobre o gesso). As minhas peças saemdiretamente da ação da minha mão sobre o material.Escolhi trabalhar com ummínimo de ferramentas, enfatizando a ação do corpo sobre os materiais. Assim eudeixo traços dessa ação aparecerem nas peças,cada uma revela um momento de açãomuito específico. (Mirla Fernandes, comunicação pessoal).

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Ao longo dessa experimentação os resultados estavam distantes dostamanhos padrões, das dimensões típicas e das soluções tradicionais dajoalheria. Aquelas peças não constituíam uma definição fechada de anel,pulseira ou colar (figs 2 e 3). Embora fossem aros, eram aros para queparte do corpo?

Figuras 2. Mirla Fernandes, LFB 12, látex, c. 45 x 25 x 1,5 cm, série Longing for the body(2005). Fonte: autora.

Figuras 3. Mirla Fernandes, LBF 8, látex, 41 x 4 x 3 cm. Série Longing for the body,(2005). Fonte: autora.

Enquanto a própria artista questionava esses resultados ela percebeuque o outro é quem deveria responder. Cada peça era uma perguntadirigida àquele que a vestiria. Ao corpo que veste se apresentavammúltiplas possibilidades e instaurava-se o acaso (fig.4 e 5).

Figuras 4 e 5. Interação objeto corpo, LFB 8, série Longing for the body (2005) deMirla Fernandes. Látex, 41 x 4 x 3 cm. Fonte: autor.

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As peças dessa série são convites para um descobrimento, abrindopossibilidades de ocupar lugares no corpo que não estão pré-determinados e comportando ainda um uso coletivo de algumas peças(figs. 6 e7). Seu título é uma homenagem a Ligia Clark.

Figuras 6. Interação objeto corpo, LFB 12, látex, 45 x 25 x 1,5 cm, da série Longingfor the body (2005), de Mirla Fernandes. Fonte: autor.

Figuras 7. Diversas peças da série Longing for the body (2005), de Mirla Fernandes,látex, dimensões variadas. Fonte: autor; fotos: André Penteado.

3. Corpo sem Orgãos (CsO)Ainda que a primeira imagem que venha a mente seja a de um corpo

oco, uma casca, desprovido de funcionalidade, o Corpo sem Orgãodescrito por Deleuze e Guattari (1996) não consiste na ideia deeliminação dos orgãos. “O CsO não se opõe aos orgãos, mas a essaorganização dos orgãos que se chama organismo” (Deleuze e Guattari,1996:21). Para os autores o organismo não é o corpo e sim um sistemacomposto por formas, funções, ligações e organizações dominantes ehierarquizadas que se impoem sobre o corpo.

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Artes em torno do Atlântico:

46 ISBN: 978-989-8300-32-4

Na matriz da proposição de um CsO está o desejo de que adeterminação funcional implicita na organização fisiológica do corpopode e deve ser desmanchada, de modo que qualquer ‘maquina’ possa seespandir para além de um programção pre-determinada.

Criar para si um CsO consiste na vital possibilidade de desorganizar,escapar da ordem e abrir o corpo a outras conexões, agenciamentos elimiares incritos numa espécie de protocolo de experiencias. “Porque nãocaminhar com a cabeça, cantar com o sinus, ver com a pele, respirar como ventre, Coisa simples (...)” (Deleuze e Guattari, 1996:11).

Nesse sentido um CsO se define mais como uma prática do que comoum conceito, um conjunto de práticas necessárias para possibilitar umalibertação das estruturas inerentes à ideia de organismo. Esse conceitodeve ser entendido para além da concepção de um corpo físico,abrangendo uma noção de corpo menos literal (ex: corpo docente, umgoverno, a fábrica, a cidade, etc..). Assim sendo, é dos limites daorganização, das amarras de qualquer sistema que um corpo deve escaparpara permitir “ter sempre um pequeno pedaço de uma nova terra” parahabitar (Deleuze e Guatari, 1996: 24).

A concepção dos autores serve aqui para pensar no papel da joia e docorpo transformados pela disciplina da arte-joalheria, o que pode serexemplificado no trabalho de Mirla Fernandes. Sua série Longing for thebody se configura como uma experimentação que desorganiza amaterialidade e o modo de fazer a joia, afastando-se de técnicas, práticase tipologias pré-determinadas. Ao incorporar a gestualidade, o acaso, odescontrole, ela constrói para si um CsO, um campo de imanencia dodesejo que resulta em objetos-joia capazes de transformar o sujeito queusa e o que vê em espectadores-ativos, refletindo inclusive a essenciacoletiva inerente à propria condição da joia. Nesse sentido as peçaspotencializam ainda a construção de outros CsO pois transformamusuários e espectadores em espaços de produção coletiva de novaspossibilidades de interação corpo-joia, desorganizando as estruturastradicionais de ocupação do corpo e uso da joia.

ConclusãoEm Longing for the body Mirla Fernandes evidencia um interesse nas

relações entre sujeito e objeto, relações que se constroem para além docontrole ou intencionalidade da artista. Por meio de formas que

Atas do III Congresso Internacional Criadores Sobre outras Obras - CSO’2012

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extrapolam a tipologia da joalheria tradicional suas peças se oferecemcomo possibilidades, convites para a exploração de lugares no corpo e derelações com outros corpos na forma de uso coletivo.

Seu trabalho permite compreender os propósitos da disciplina da arte-joalheria em sua proposta de questionar os valores e significados dasjoias, banalizados por seu entendimento vinculado apenas a ideia dedecoração e status. Em sua essencia tanto a arte-joalheria como a serieLonging for the body explicitam desejos de desorganização das convençoessociais, servindo de exemplo prático de construção de um CsO.

Referências

Deleuze, Gilles; Guattari, Félix (1996) Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia, vol. 3 -São Paulo: Editora 34. ISBN: 978-85-7326-017-3

Dormer, Peter; Turner, Ralph (1985) The New Jewelry: Trends + Traditions.Londres: Thames and Hudson. ISBN: 978-0-500-27434-7

Fernandes, Mirla (site) [Consult. 2011-12-07] Disponível em <URL:http://www.mirlafernandes.com>.

Fernandes, Mirla (2011) Corpo Presente. São Paulo: Nova Joia. ISBN: n.c.Machado, Roberto (2009) Deleuze, a arte e a filosofia. Rio de Janeiro: Zahar. ISBN:

978-85-378-0165-9 ●