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  • 7/25/2019 DM_6118

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    Carlos Alberto da Silva

    Estudo de competncias emocionais e sua

    correlao com o auto-conceito

    Universidade Fernando Pessoa

    Porto 2011

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    Carlos Alberto da Silva

    Estudo de competncias emocionais e sua

    correlao com o auto-conceito

    Universidade Fernando Pessoa

    Porto 2011

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    Carlos Alberto da Silva

    Estudo de competncias emocionais e sua

    correlao com o auto-conceito

    Trabalho apresentado

    Universidade Fernando

    como parte dos requisitos

    para obteno do grau de

    mestre em Psicologia

    Clnica e da sade.

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    I

    Resumo

    A Inteligncia Emocional assume um papel cada vez maior, no s no bem-estar das

    pessoas mas tambm, enquanto factor primordial no sucesso e desenvolvimento pessoal,

    profissional e social.

    um conceito que oferece uma perspectiva capaz de potencializar as cognies e

    respectivas decises, a partir da energia emocional, como uma mais-valia para a eficcia

    na vida, tanto ao nvel intra-relacional como inter-relacional (Mayer, Salovey & Caruso,

    2000; Daniel Goleman, 2009; Arndiga & Tortosa, 2000).

    Diferentes estudos nesta rea das cincias sociais e humanas, indicam que o indivduo

    que experimenta emoes positivas, mobiliza uma energia motivadora que direccionapara a ateno e a aprendizagem, por oposio energia das emoes negativas,

    inibidoras da ateno e da relao, instalando sentimentos de frustrao e de menor

    envolvimento, que induzem o sujeito a estados de humor facilitadores da depresso e

    ansiedade (Mayer, Salovey & Caruso, 2000; Daniel Goleman, 2009; Arndiga &

    Tortosa, 2000).

    Por outro lado, ao longo da reviso bibliogrfica pudemos constatar que segundo

    diferentes autores (Antunes, 2006; Greenspan, 2009 e Harter, 1999) o auto-conceito est

    associado ao desenvolvimento da inteligncia emocional.

    H autores que defendem que quando o sujeito no identifica adequadamente a suas

    caractersticas pessoais, como traos de personalidade; tendncias de comportamento;

    suas crenas e valores; relaes sociais, etc., desenvolve um sentimento desajustado

    negativo em relao a si mesmo, por no se aceitar e assim apresentar um baixo auto-

    conceito (Arndiga & Tortosa, 2000).

    Consideramos pertinente, desta forma, avaliar as competncias emocionais e o auto-

    conceito, bem como as diferenas significativas ou no, de acordo com os diferentes

    grupos scio-demogrficos e possveis correlaes entre o constructo auto-conceito e as

    dimenses de competncia emocional [Capacidade de Lidar com as emoes (CL);

    Expresso Emocional (EE) e Percepo Emocional (PE)], numa amostra constituda por

    157 sujeitos, dos quais 68 so profissionais de seguros e 89 so professores do ensino

    secundrio, que pela natureza da actividade profissional, vem-se confrontados comsituaes de presso psico-emocional.

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    II

    Para avaliar o auto-conceito escolhemos o Inventrio Clnico de Auto-Conceito (ICAC)

    de Vaz Serra (1986), por ser capaz de avaliar aspectos emocionais do sujeito.

    Na avaliao das competncias emocionais foi utilizado o Questionrio de

    Competncias Emocionais (QCE), adaptado para a populao portuguesa por Faria &Lima Santos, (2005), cuja construo original (Taksic, V., 2000) foi fundamentada na

    no modelo de Mayer e Salovey (1997), que serve de suporte terico a este estudo.

    Neste estudo constatamos que os sujeitos da amostra apresentam valores mdios

    idnticos aos apresentados por Vaz Serra (1986) e por Santos, N. L. & Faria, L. (2001)

    na construo e adaptao dos respectivos questionrios. Tambm foram encontradas

    associaes significativas e positivas entre o constructo auto-conceito e as dimenses da

    competncia emocional.

    Os resultados deste estudo permitem-nos concluir que o auto-conceito pode influenciar

    o desenvolvimento das competncias emocionais, por se tratar de um constructo capaz

    de promover e facilitar a gesto dos estados emocionais.

    Palavras-chave: Auto-conceito; Capacidade de Lidar com as emoes (CL); Expresso

    Emocional (EE); Percepo Emocional (PE).

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    III

    Abstract

    Emotional Intelligence has an increasingly important role not only in peoples well-

    being but also as a fundamental factor in personal, professional and social development

    and success.

    It offers a perspective which could potentiate cognitions and their respective decisions,

    through emotional energy, as an asset for efficiency in life, both on an intra-relational

    level and an inter-relational level (Mayer, Salovey & Caruso, 2000; Daniel Goleman,

    2009; Arndiga & Tortosa, 2000).

    Several studies in this area of the social and human sciences indicate that an individual

    who experiences positive emotions mobilizes a motivating energy directed towardsattention and learning, as opposed to the energy of negative emotions, which inhibit

    attention and interaction, creating feelings of frustration and less involvement which

    induce the subject to states of mind facilitating depression and anxiety. (Mayer, Salovey

    & Caruso, 2000; Daniel Goleman, 2009; Arndiga & Tortosa, 2000).

    On the other hand, throughout the bibliographical revision we found that, according to

    various authors (Antunes, 2006; Greenspan, 2009 and Harter, 1999), self-concept is

    associated with the development of emotional intelligence.

    Some authors hold that when the subject cannot adequately identify his personal

    characteristics, such as personality traits; behavioral tendencies; beliefs and values;

    social relations, etc., he develops an unadjusted negative feeling about himself, because

    he does not accept himself and thus has low self-concept (Arndiga & Tortosa, 2000).

    We thus find pertinent to assess emotional skills and self-concept, as well as the

    significant differences or otherwise, according to the different social-demographicgroups, and possible correlations between the self-concept construct and the dimensions

    of emotional competence [Ability to Cope with emotions (AC); Emotional Expression

    (EE) and Emotional Perception (PE)], in a sample composed of 157 subjects, of which

    68 are insurance agents and 89 are high-school teachers, who due to the nature of their

    profession are confronted with situations of psycho-emotional pressure.

    To assess self-concept we chose Vaz Serras Clinical Inventory of Self-Concept (CISC)

    (1986), because it can assess emotional aspects of the subject.

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    IV

    In assessing emotional competences we used the Emotional Skills Questionnaire (ESQ),

    adapted to the Portuguese population by Faria & Lima Santos, (2005), whose original

    construction (Taksic, V., 2000) was based on Mayer and Saloveys model (1997),

    which serves as theoretical support for this study.

    In this study we found that subjects in the sample present average values identical to

    those presented by Vaz Serra (1986) and by Santos, N. L. & Faria, L. (2001) in the

    construction and adaptation of the respective questionnaires. We also found significant

    and positive associations between the self-concept construct and the dimensions of

    emotional competence.

    The results of this study allow us to conclude that self-concept can influence the

    development of emotional competences, because it is a construct capable of promoting

    and facilitating the management of emotional states.

    Keywords: Self-concept; Ability to Cope with emotions (AC); Emotional Expression

    (EE); Emotional Perception (EP).

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    V

    Rsum

    LIntelligence Emotionnelle joue un rle chaque fois plus grand, non seulement dans le

    bien-tre des gens comme aussi en temps que facteur primordial dans le succs et

    dveloppement personnel, professionnel et social.

    Cest un concept qui offre une perceptive capable de potentialiser des cognitions et leurs

    respectives dcisions, partir de lnergie motionnelle, comme un avantage pour

    lefficacit de la vie, autant niveau intra-relationnel comme niveau interrelationnel

    (Mayer, Salovey & Caruso, 2000; Daniel Goleman, 2009; Arndiga & Tortosa, 2000).

    De diffrentes tudes dans ce domaine des sciences sociales et humaines indiquent que

    lindividu qui sessaye des motions positives, mobilise une nergie stimulante quioriente vers la concentration et lapprentissage, par opposition lnergie des motions

    ngatives qui inhibent lattention et le relationnement, installant des sentiments de

    frustrations et de mineur inclusion, qui conduisent le sujet des tats dhumeur qui

    facilitent la dpression et lanxit (Mayer, Salovey & Caruso, 2000; Daniel Goleman,

    2009; Arndiga & Tortosa, 2000).

    Dun autre ct, au long de la rvision bibliographique, on peut constater que selon

    diffrents auteurs (Antunes, 2006; Greenspan, 2009 e Harter, 1999) lauto-concepte est

    associ au dveloppement de lintelligence motionnelle.

    Certains auteurs dfendent que quand le sujet nidentifie pas de manire adquate ses

    caractristiques personnelles, comme les traits de personnalit; tendances de

    comportement; ses croyances et valeurs; relations sociales, etc., dveloppe un sentiment

    dsajust et ngatif en relation soi-mme, pour ne pas saccepter et prsenter un bas

    auto-concept (Arndiga & Tortosa, 2000).

    On considre pertinent, de cette forme, valuer les comptences motionnelles et lauto-

    concept, bien comme les diffrences significatives ou pas, en accord avec les diffrents

    groupes sociaux-dmographiques et possibles corrlations entre le constructe auto-

    concept les dimensions de comptence motionnelle [Capacit de Grer les motions

    (CG); Expression Emotionnelle (EE) et Perception motionnelle (PE), dans un

    chantillon construit par 157 personnes, desquels 68 sont professionnels dassurances et

    89 sont professeurs de lyces , qui par leurs activits professionnelles, se voientconfrontes avec des situations de pression psycho-motionnelle.

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    VI

    Pour valuer lauto-concept on choisit lInventaire Clinique de lAuto-Concept (ICAC)

    de Vaz Serra (1986), car il est capable dvaluer les aspects motionnels de quelquun.

    Dans lvaluation des comptences motionnelles, il fut utilis le Questionnaire de

    Comptences motionnelles (QCE), adquat la population portugaise par Faria &Lima Santos, (2005), lequel a comme construction original (Taksic, V., 2000) fut

    fondamental dans le modle de Mayer e Salovey (1997), qui sert de support thorique

    cette tude.

    Dans cette tude on constate que les sujets de lchantillon prsentent des moyennes

    identiques ceux prsent par Vaz Serra (1986) et par Santos, N. L. & Faria, L. (2001)

    dans la construction et adaptation des respectifs questionnaires. De significatives

    associations positives furent trouvs entre le constucteauto-concept et les dimensions

    de la comptence motionnelle.

    Les rsultats de cette tude nous permettent conclure que lauto-concept peut influencer

    le dveloppement des comptences motionnelles, parce quil sagit dun constructe

    capable de promouvoir et faciliter la gestion des tats motionnels.

    Mots-cls: Auto. Concept; Capacit de Grer les motions (CG); Expression

    motionnelle (EE); Perception motionnelle (PE).

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    VII

    Agradecimentos

    Na fase final desta etapa da minha formao acadmica, quero agradecer a todos os que

    de alguma forma contriburam para a sua realizao.

    Assim, deixo os meus sentidos agradecimentos aos amigos e amigas do IPC (Instituto

    do Pensamento Crstico), Graa Moura; Ftima Vilhena; Isabel Costa; Isabel Seca;

    Lurdes Fernandes; Armnia Vieira; Slvia Vieira; Eugnio Gonalves; Antnio

    Carvalho e todos os restantes que no nomeei para no tornar a lista demasiado extensa,

    mas que foram igualmente importantes no apoio e motivao para a realizao deste

    projecto.

    Ao Dr. Paulo Azevedo, pelo apoio e incentivo que me deu desde o primeiro momentodo processo de formao.

    Ao jovem, mas promissor Dr. Lus Lameira que com o seu talento inato para a

    Psicologia e com a sua vontade e dedicao para o aprendizado desta nobre cincia,

    constituiu um factor de inspirao minha formao.

    Guarda Nacional Republicana pela oportunidade de estagiar, permitindo desta forma,

    o meu enriquecimento profissional e curricular.

    Ao Dr. Jos Pinto meu supervisor, pelo apoio e disponibilidade no acompanhamento ao

    longo de oito meses de estgio nesta nobre instituio, assim como pela confiana

    demonstrada no meu trabalho, no decorrer do estgio e expressa nos incentivos e

    desafios que me foi colocando com a experincia e competncia do seu saber.

    Ao Prof. Doutor Jos Soares Martins meu orientador, pelo seu valioso apoio e estmulo

    aplicao e desenvolvimento do plano de estgio acadmico, bem como na orientao

    da dissertao, cujo contributo foi fundamental para os resultados alcanados.

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    VIII

    ndice

    Introduo. . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01I. Psicologia das emoes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02

    1.1 Darwin. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . 02

    1.2 William James. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02

    1.3 Freud. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03

    1.4 Harlow. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04

    1.5 Hess. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05

    1.6 Arnold e Gasson. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06

    II. Mecanismos emocionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09

    2.1 As emoes, os humores e as disposies. . . . . . . . . . . . . . 09

    2.2 Mecanismos cerebrais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

    2.3 Pesquisas sobre leses cerebrais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

    2.4 Sistema estriado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122.5 Sistema lmbico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

    2.6 A amgdala. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

    III. Estrutura emocional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

    3.1 A emoo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

    3.2 A emoo e sua gnese. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

    3.3 A emoo e o comportamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

    3.4 A emoo e as reaces psicofisiolgicas . . . . . . . . . . . . . . 19

    3.5 Emoo e cognio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

    3.6 A emoo e a memria. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21IV. Emoes e suas variantes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

    4.1 Introduo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

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    IX

    4.2 Emoes positivas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

    4.2.1 A alegria. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

    4.2.2 O bom humor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

    4.2.3 A felicidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

    4.2.4 O amor. . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

    4.2.5 A bondade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

    4.2.6 A gratido. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

    4.3 Emoes negativas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

    4.3.1 A clera. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

    4.3.2 O medo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

    4.3.3 A ansiedade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

    4.3.4 A tristeza. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

    4.3.5 A vergonha. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

    4.3.6 A averso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

    4.3.7 A possesso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

    4.3.8 A vingana. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

    4.3.9 O egosmo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

    4.3.10 A inveja. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

    4.3.11 A impacincia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

    4.3.12 O mau humor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

    4.3.13 O dio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

    4.4 Emoes morais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

    4.4.1 Altrusmo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

    4.4.2 Empatia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

    35

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    X

    4.5 Emoes neutras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    4.5.1 Surpresa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

    4.5.2 Esperana. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

    V. Regulao das emoes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37VI. Inteligncia emocional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

    6.1 Conceitos de inteligncia emocional. . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

    6.2 Competncias emocionais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

    6.3 Concluso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

    VII. Personalidade e as emoes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

    7.1 Introduo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

    7.2 Carcter. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

    7.3 Os traos os traos e os tipos de personalidade. . . . . . . . . 47

    7.4 Estabilidade da personalidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

    7.5 Concluso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48VIII. Modelo terico de Mayer e Salovey . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

    8.1 Concluso. . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52IX. Auto-conceito. . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

    9.1 Concluso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56X: Estudo emprico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

    10.1 Justificao do estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

    10.2 Objectivo geral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

    10.3 Objectivos especficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 60XI. Mtodo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

    11.1 Participantes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

    11.2 Material. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

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    XI

    11.2.1 Inventrio clnico de auto-conceito. . . . . . . . . . . . . 61

    11.2.2 Anlise psicomtrica do ICAC. . . . . . . . . . . . . . . . 62

    11.2.3 Questionrio de competncias emocionais. . . . . . . 63

    11.2.4 Anlise psicomtrica do QCE . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

    11.3 Procedimentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66XII. Anlise estatsticas realizadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

    12.1 Discusso de resultados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79XIII. Concluso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

    XIV. Referncias bibliogrficas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83XV. Anexos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

    15.1 Anexo A: Questionrio Scio-Demogrfico . . . . . . . . . . .

    15.2 Anexo B: Inventrio Clnico de Auto-Conceito (Vaz Serra)

    15.3 Anexo C: Questionrio de Competncia Emocional . . . . . .

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    XII

    ndice de Tabelas

    Tabela 1Estatstica descritiva (Assimetria, Curtose). . . . . . . . . . . . . . . 66

    Tabela 2 (T Teste). Anlise de significncia do auto-conceito emfuno da varivel gnero. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68Tabela 3 (T Teste). Anlise de significncia das competnciasemocionais em funo da varivel gnero. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68Tabela 4 (T Teste). Anlise de significncia do auto-conceito emfuno da varivel profisso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . 69Tabela 5 (T Teste). Anlise de significncia das competnciasemocionais em funo da varivel profisso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

    Tabela 6 (Anova). Anlise de significncia do auto-conceito emfuno da varivel idade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70Tabela 7 (Anova). Anlise de significncia das competnciasemocionais em funo da varivel idade para as dimenses decompetncia emocional: CL, EE, PE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71Tabela 8 (Anova). Estatuto profissional relativamente aoauto-conceito. . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71Tabela 9 (Anova). Estatuto profissional relativamente s dimenses dacompetncia emocional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72Tabela 10 (Anova). Situao laboral relativamente ao auto-conceito. . . 72Tabela 11 (Anova). Situao laboral relativamente s dimenses dacompetncia emocional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73Tabela 12 (Anova). Escolaridade relativamente ao auto-conceito. . . . . 73

    Tabela 13 (Anova). Escolaridade relativamente s dimenses dacompetncia emocional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74Tabela 14 (Anova). Estado civil relativamente ao auto-conceito. . . . . . 74Tabela 15 (Anova). Estado civil relativamente s dimenses dacompetncia emocional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . 75Tabela 16 (Correlaes). Anlise de correlao entre o auto-conceito eas dimenses de competncia emocional (CL; EE; PE), para a amostratotal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

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    XIII

    Tabela 17 (Correlaes). Anlise de correlao entre o auto-conceito eas dimenses de competncia emocional (CL; EE; PE), para o gnerofeminino. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    77

    Tabela 18 (Correlaes). Anlise de correlao entre o auto-conceito e

    as dimenses de competncia emocional (CL; EE; PE), para o gneromasculino. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78Tabela 19 (Regresso). Anlise do efeito preditivo da varivel Auto-Conceito e as dimenses de competncia emocional (CL; EE; PE), emrelao amostra total. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78Tabela 20 (Regresso). Anlise do efeito preditivo da varivel Auto-Conceito e as dimenses de competncia emocional (CL; EE; PE), emrelao varivel gnero feminino. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

    Tabela 21 (Regresso). Anlise do efeito preditivo da varivel Auto-Conceito e as dimenses de competncia emocional (CL; EE; PE), emrelao varivel gnero masculino. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

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    1

    Introduo

    Actualmente, fruto da globalizao e das vrias metamorfoses s quais a sociedade

    contempornea est sujeita, no s traduzida na mudana de valores, mas tambm nas

    necessidades de auto afirmao para o sucesso socioprofissional que exige elevados

    nveis de competitividade, o indivduo cada vez mais, submetido a presses de

    natureza psicossocial com reflexos na sua qualidade de vida. Desta forma, tem-se

    verificado uma maior dificuldade nas interaces emocionais, tanto ao nvel

    intrapessoal como interpessoal. Nas ltimas dcadas tem-se constatado um forte

    crescimento, tanto na frequncia como na intensidade nas denominadas patologias de

    humor.

    Face a este quadro, ao longo dos ltimos 20 anos, a psicologia tem-se debruado com

    maior interesse na gnese e desenvolvimento das interaces emocionais no universo

    que lhe caracterstico. Autores como Daniel Golleman (2009), Mayer e Salovey

    (1997) absorveram vrias valncias de estudos perpetrados por Charles Darwin (1974) e

    Robert Thorndike (1963).

    Cada vez mais reconhecido que as emoes tm um papel crucial na vida dos

    indivduos, ao qual alguns autores dos primrdios da Psicologia como cincia j lheatribuam um relevo fundamental no entendimento das patologias e comportamentos.

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    2

    I Psicologia das Emoes

    1.1 Darwin

    Na primeira metade do sculo XIX, Darwin iniciou as suas observaes acerca das

    emoes, fotografando emoes em crianas e adultos. Dessa forma captou expresses

    emocionais naturais e artificiais que lhe permitiu construir uma taxonomia emocional

    para reconhecer as principais expresses emocionais. O autor concluiu que as

    supracitadas expresses emocionais derivam de um passado evolucionrio ou individual

    que mergulham em mecanismos reflexivos.

    Segundo Darwin, a origem das emoes de natureza primitiva, articulando-se com o

    passado do indivduo, com o passado da espcie humana e com a prpria histriaindividual.

    De acordo com este autor, as emoes no se encontram completamente sob o controlo

    do indivduo porque, embora ajudem comunicao entre os indivduos, indicam a sua

    origem animal e infantil. Esta interpretao sugere que o indivduo enquanto adulto

    pode gerir as emoes.

    1.2 William James

    Na segunda metade do sculo XIX, William James (1890) elaborou um manual que

    retrata os princpios da Psicologia. Este manual sucedeu teoria das emoes

    preconizada por William James, onde defende os padres de reaco emocional face a

    situaes adversas.

    Nos seus estudos, William James (1890) compreendeu que as emoes primrias

    promovem alteraes fisiolgicas, tais como: sudorese, taquicardia, hiperventilao, etc.

    Esta teoria enfatiza as emoes e a ideia de que o foco de ateno na sintomatologia

    pode aumentar a intensidade com que so sentidas. vulgar perceber-se nos filmes de

    suspense que a banda sonora inclua um bater de corao para nos transmitir a sensao

    de que poderia ser o nosso prprio corao.

    Desta forma, torna-se inegvel a intensificao das emoes ao nvel do sistema

    nervoso autnomo em situaes ansiognicas, conforme foi demonstrado num estudo

    experimental de Valins (1966).

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    A perspectiva de James permitiu atender s reaces psicossomticas que para muitos

    indivduos fundamental no processo de reduo do stress e do controlo da ansiedade.

    O autor sugere-nos que as consequncias emocionais podem ser aspectos a procurar ou

    evitar pelo indivduo e, quando se vislumbra a anarquia emocional, sugere-se a gesto

    emocional que falarei mais adiante.

    1.3 Freud

    Embora Freud no tenha preconizado uma teoria das emoes, refere-se amplamente a

    elas, para explicar os traumas e conflitos internos radicados no inconsciente,

    nomeadamente aqueles de cariz sexual.

    Este autor defende que determinado evento de tipo sexual e emocionalmentesignificativo pode deixar marcas psicolgicas negativas no sujeito, de tal forma que

    ficar marcado para o resto da sua vida.

    E isto porque considera que as emoes podem apresentar uma natureza complexa,

    muitas vezes sentidas de forma confusa, o que dificulta o entendimento dos seus efeitos.

    Na sua experincia, enquanto clnico e investigador, concluiu que determinadas

    emoes e seus significados tornam-se mais claros quando os exprimimos ouconversamos e reflectimos acerca deles com outra pessoa.

    Considera ainda que a mente desenvolve estratgias inconscientes de defesa contra as

    emoes desagradveis, s quais chamou mecanismos de defesa.

    A perspectiva de personalidade preconizada por Freud baseada em trs estruturas,

    nomeadamente Ego, Id e Superego, na qual o Ego surge como a parte racional do

    aparelho psquico, que busca a satisfao das pulses e desejos primrios doId, os quais

    so regulados pelo Superego, que representa o mundo exterior e suas normas sociais,

    evidencia a forte dinmica das emoes e das cognies nos processos de interaco do

    indivduo nas suas relaes intra e inter-pessoais.

    Uma vez que estas geram no sujeito, prazer ou desprazer, conforto ou desconforto

    emocional, sugerindo a importncia do controlo de impulsos, que s possvel com o

    desenvolvimento da auto-conscincia, para uma gesto emocional adequada, capaz de

    promover a adaptao do sujeito ao meio, bem como a superao e resoluo de

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    conflitos de forma funcional, construtiva, sendo por isso mesmo fundamental ao

    equilbrio psicolgico do indivduo.

    Contextualizando historicamente, depois de Freud surgiram alguns investigadores

    importantes no estudo das emoes aos nveis psicolgico, biolgico e social. Assim,

    John Harlow (1868), Walter Hess e Brtigger (1981), com base em algumas observaes,

    consideravam que o processamento das emoes dependia de aces neuronais e

    qumicas de crebro.

    Em funo desta ideia, julgava-se que zonas especficas do crebro estariam associadas

    s emoes de formas diferentes. Por outro lado, algumas observaes em leses

    acidentais do crebro sugeriam que este era a sua sede.

    1.4 Harlow

    Um caso muito abordado na literatura o de Phineas Gage, um contramestre de

    construo ferroviria e que foi assinalado por um mdico que registou os seguintes

    factos: em 13 de Setembro de 1848 os construtores estavam prontos a fazer explodir

    uma rocha que tinha sido previamente perfurada e os orifcios preenchidos por plvora.

    O senhor Gage colocou a plvora com uma vara de ferro nessas aberturas, a qual

    provocou uma fasca pela frico com a rocha, originando uma exploso. O ferro

    penetrou no crnio de Gage mesmo por debaixo da sobrancelha esquerda, saindo pelo

    topo da cabea (Bradberry, T. & Greaves, J., 2008).

    Harlow, relatou luz da teoria das emoes de Darwin, que o equilbrio, por assim

    dizer, entre as suas faculdades intelectuais e as suas tendncias animais parecem ter

    sido destrudas (Harlow, 1868, P. 277). Depois deste incidente, os amigos de Phineas

    Cage diziam que no lugar deste ficou outra pessoa, devido a no o reconhecerem nos

    novos comportamentos.

    Antes do acidente, Gage era amvel e eficiente e, depois deste incidente, tornou-se

    impaciente, irreverente e facilmente atingido pela ira. Era caprichoso e hesitante, de tal

    forma que os seus empregadores no lhe devolveram o emprego, tendo-se dedicado a

    exibir-se em feiras, apresentando a barra de ferro que o tinha atingido. Phineas Gage

    viria a falecer onze anos depois deste terrvel acidente.

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    1.5 Hess

    Hess (1981) era um grande estudioso dos processos neurofisiolgicos e foi pioneiro na

    forma como realizou as suas investigaes. Desenvolveu um programa de investigao

    imaginativo e tecnicamente elaborado que consistia na implantao de elctrodos na

    regio hipotalmica de gatos, na qual voltava a aplicar-se uma estimulao elctrica no

    crebro do animal que se movia livremente aps a recuperao da primeira.

    Estas experiencias permitiram a Hess (1981) dar um forte contributo para a

    compreenso das emoes visto as suas experincias terem demonstrado que a

    estimulao elctrica de uma parte do hipotlamo produzia uma resposta caracterstica.

    Por exemplo, o batimento cardaco acelerava, o animal ficava alerta e desperto. Se a

    estimulao continuasse, o gato ficava zangado chegando a atacar com ferocidade

    objectos ou pessoas em redor.

    O autor chamou a esta reaco reaco de defesa afectiva inferindo que a regio do

    hipotlamo era responsvel pelas respostas de luta ou fuga. Quando a regio anterior do

    hipotlamo era estimulada, o seu batimento cardaco abrandava e induzia calma e

    sonolncia.

    Ao longo de um sculo de anlises de acidentes cerebrais em humanos e mais de cinco

    dcadas de experiencias em crebros de animais, a teoria de Hess (1981) quase

    unanimemente aceite junto da comunidade cientfica.

    As regies do crebro, hipotlamo e sistema lmbico encontram-se de tal forma

    associadas s emoes, que so inferiores no facto de que eram sobressalientes nos

    animais que surgiram anteriormente na corrente evoluo dos vertebrados.

    Considera-se que os mamferos so controlados emocionalmente pelas partes superioresdo crebro, que evoluiram mais recentemente, como o crtex cerebral, atingindo a

    mxima plenitude na espcie humana.

    Voltando ao episdio ocorrido com Phineas Gage, talvez o que tenha sucedido foi uma

    danificao da regio frontal do crebro, suprimindo a capacidade de controlo dos

    centros inferiores cerebrais. Consequentemente, o seu comportamento tornou-se

    desarvorado e insuportvel.

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    Jackson (1959), um famoso neurologista, props o seguinte exemplo: na embriaguez, o

    comportamento imprevisvel poder ter sido resultado de um descarregar dos centros

    superiores do lcool. Segundo o autor, o comportamento de uma pessoa violenta pode

    modificar-se paradoxalmente, podendo o indivduo num determinado momento

    encontrar-se amvel e posteriormente desenvolver um sentimento de hostilidade, ao

    ponto de se envolver em lutas fsicas.

    As partes primrias do sistema nervoso, como a coluna vertebral e medula, esto

    associadas a reflexos simples que so caractersticos dos vertebrados. As regies do

    crebro intermdio foram acrescentadas na evoluo de algumas espcies, nas quais

    viriam a desenvolver-se o hipotlamo e o sistema lmbico. Estas zonas cerebrais so as

    responsveis pelo processamento das emoes. Por ltimo, surgiu o crtex. Sendo acamada superior, dedica-se aos processos mentais superiores como raciocinar, reflectir,

    associar, entre outros.

    Hess (1981) viria a ter o seu trabalho reconhecido em 1949 quando lhe foi atribudo o

    Prmio Nobel da Medicina e da Fisiologia pela descoberta da organizao funcional do

    diencfalo na coordenao os rgos internos.

    Importa mencionar que, a par deste investigador, o portugus Egas Moniz foiigualmente reconhecido pelo seu trabalho com a partilha do premio com aquele autor,

    fruto da aplicao e desenvolvimento da leucotomia pr-frontal para o tratamento de

    determinadas psicoses e cujo resultado era semelhante ao efeito produzido

    acidentalmente no caso de Phineas Gage.

    1.6 Arnold e Gasson

    Na segunda metade do sculo XX, Magda Arnold e Gasson (1954) e Sylvan Tomkins

    (1962) deram um contributo importante para a compreenso das emoes. Arnold

    apresentou a tese de que as emoes se baseiam na apreciao de eventos, enquanto

    Tomkins se focou na investigao das expresses emocionais do rosto.

    Desta forma, Arnold e Gasson (1954) sugeriram que determinada emoo liga o eu ao

    objecto, enquanto a percepo responsvel pela noo que temos do que est no

    exterior, ou da personalidade que abarca os traos comportamentais. As emoes so

    sobretudo relacionais.

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    Os autores foram ainda mais longe, referindo que a tendncia, fruto das emoes,

    provoca um sentimento de atraco, ou repulso, relativamente a qualquer objecto. O

    juzo do indivduo pode revelar-se de forma consciente ou inconsciente, avaliando se o

    objecto adequado ou no para o eu, repercutindo-se positiva ou negativamente ao

    nvel das emoes.

    Posteriormente, foram publicadas distines adicionais, que surgem de acordo com a

    possibilidade de o objecto estar presente ou no e se haver algum tipo de contrariedade

    na aco inerente. Caso isso no acontea, o sujeito aproxima-se ou afasta-se do

    objecto, sendo este comportamento denominado de emoes impulsivas.

    Por outro lado, se h dificuldades na aproximao ao objecto, chamam-se emoes de

    conteno. Dito isto, os autores sugerem uma tabela de emoes positivas e negativas,

    relacionando-as cada uma conforme as suas anlises caractersticas. Ora se estamos na

    presena da emoo impulsiva do amor, o objecto considerado adequado. Se nos

    referirmos aos processos que do origem emoo impulsiva do medo, o objecto

    julgado de forma inadequada.

    Esta tese foi estudada por Lazarus (1966) na segunda metade do sculo passado, numa

    perspectiva desenvolvimental das transaces dos indivduos com os seus ambientes.

    A psicologia experimental deu um preciosssimo contributo ao nvel do estudo das

    emoes. Um exemplo de investigao a este nvel foi a anlise pavloviana.

    Ao nvel do estudo com indivduos, tem existido algumas experiencias que testam as

    variaes corporais das emoes conjecturadas por James (1932). Alice Isen (1970)

    testou as aptides perceptuais-motoras.

    Comunicou-se a alguns indivduos desta experiencia que a sua performance foi bastantepositiva, resultando num ligeiro bem-estar. Aos indivduos que fizeram o mesmo teste,

    mas que no lhes foi comunicado o seu sucesso, revelaram-se mais condescendentes

    perante a ajuda de um estranho.

    Goffman (1959) enfatizou a importncia do estudo das interaces sociais em jogos. A

    dedicao completa do indivduo a uma actividade promove efeitos positivos ao nvel

    da felicidade.

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    No entanto, essas actividades podero ser passveis de conflitos interiores ou seja, pode

    haver um seguimento de regras, mas no um comprometimento. No obstante, surgem

    algumas emoes negativas, sentindo-se o indivduo insatisfeito.

    J Arlie Hochschild (1983), nas suas investigaes, estuda a tenso que pode ser

    maximizada quando um indivduo entra em conflito com o papel que representa, quando

    existem interrogaes do tipo existencialista, como, por exemplo: do questionamento da

    actividade que est a desempenhar.

    Desta forma poderemos concluir que alguns autores que lanaram as bases para a

    compreenso das emoes, tais como: Darwin e a sua tese de que as emoes tm como

    funo a sobrevivncia da espcie, William James que associa reaces fsicas s

    emoes e Freud com a sua teoria dos traumas emocionais.

    Transmite-se a ideia de que para uma melhor e mais completa compreenso das

    emoes, bem como dos seus significados, ser necessrio um entendimento

    multidimensional.

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    II MECANISMOS EMOCIONAIS

    2.1 As emoes, os humores e as disposies

    Os termos sentimento e afecto foram sinnimos de emoo, embora com um

    significado mais amplo.

    No seio da comunidade cientfica h o consenso de que um episdio emotivo um

    termo usado para se referir a um pequeno perodo de tempo. As expresses faciais e, a

    grosso modo, as respostas corporais duram entre 0,5 e 4 segundos. Os episdios

    emotivos que os indivduos conseguem relatar variam entre alguns minutos e algumas

    horas.

    Quando se refere o termo humor est a constatar-se um estado emocional que pode

    durar horas, dias ou semanas. Os humores so rfos de objecto, vagueando livremente,

    enquanto na maioria das situaes os episdios emotivos possuem um objecto.

    A avaliao do humor tornou-se preponderante no estudo comportamental na segunda

    metade do sculo XX. Nowlis e Nowlis (1956) realizaram um estudo das alteraes do

    humor induzido por substncias como anfetaminas, barbitricos e anti-histaminas.

    O estudo demonstrou que os efeitos das drogas sobre o humor dependiam do estado de

    esprito do indivduo antes de tomar a droga e do humor dos indivduos do grupo em

    que estavam inseridos. O principal efeito das drogas tem como finalidade diminuir a

    ansiedade e, muitos medicamentos, como anti-depressivos, so receitados com essa

    finalidade.

    Nowlis e Nowlis (1956) avaliaram o humor atravs de um processo de lista de

    verificao das emoes. Este processo consiste em estabelecer uma srie de sinnimos

    de estados emocionais divididos em dois grupos, positivos e negativos, com os quais se

    identifica, tais como: afectuoso; feliz; realizado; deprimido; triste ou desanimado.

    Posteriormente, misturam-se todos os adjectivos e solicita-se ao indivduo que verifique

    se algum se manifesta nele. Deve-se contabilizar um ponto para cada adjectivo de cada

    grupo.

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    Outro mtodo utilizado por estes autores consiste na apresentao de afirmaes como:

    sinto-me triste e desanimado, para que o indivduo assinale numa escala em que as

    opes variam entre concordo fortemente e discordo fortemente, de entre 5 opes.

    Goleman (2009) estudou as escalas de humor, inferindo que diferentes escalas reflectem

    diferentes influncias. Por exemplo, se um indivduo, numa lista de adjectivos list-los

    todos como adjectivos que indicam tristeza, este obtm a pontuao mxima. No

    entanto, no quer dizer que o indivduo se sinta bastante triste. Goleman (2009) sugere

    que uma boa avaliao do humor requer o uso de vrios mtodos avaliativos.

    2.2 Mecanismos cerebrais

    Segundo Haldane e Ross (1911), um dos pioneiros no estudo do crebro, foi Descartes(1649) quando props o mecanismo ento denominado reflexo. Este funciona atravs de

    estmulos que vo excitar receptores sensoriais, dando inicio a mensagens ao longo do

    sistema nervoso em direco ao crebro.

    A organizao deste sistema tem como princpio de funcionamento nervos motores que

    fazem chegar a mensagem ao crebro para o seu processamento. Estes nervos motores

    tambm encaminham as mensagens processadas pelo crebro.

    Na rea de estudo neuropsicolgico tem-se verificado que a comunicao neuronal

    feita atravs de estmulos elctricos ou qumicos. No estudo das emoes, sabe-se que

    estas so processadas pelo sistema lmbico e que a partir daqui se comunicam com o

    neocrtex.

    2.3 Pesquisas sobre leses cerebrais

    Cannon (1931) construiu a primeira teoria dos mecanismos cerebrais responsveis pelas

    emoes, estudando gatos em laboratrio.

    Nestes animais era recorrente constatarem-se ataques repentinos, sendo denominado

    raiva simulada. A estes gatos foi-lhes retirado o neocrtex e, apesar desta mutilao,

    estes eram capazes de viver bastante tempo. Os gatos no tinham autonomia quanto a

    alimentarem-se e no se vislumbrava quaisquer movimentos espontneos, excepo de

    afiar garras.

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    Tambm no revelavam qualquer expresso de prazer, mas por outro lado,

    constatava-se um comportamento agressivo no dirigido, a denominada raiva

    simulada, quando estimulado pelo investigador.

    Destas experiencias, o autor props a tese de que o tlamo o ncleo das expresses

    emocionais em resposta aos estmulos e que o crtex opera como mecanismo de

    inibio a esta manifestao.

    Cannon deu continuidade s ideias propostas por Hughlings-Jackson (1959), as quais

    consistiam na teoria de que, no crebro inferior tm origem os percursos de reflexos

    simples, tais como, reaces a estmulos simples, atitude e ao movimento.

    O nvel intermdio abarca as estruturas evoludas das emoes, que regulam estasfunes. Por fim, o nvel mais elevado, o crtex cerebral regula os nveis anteriores.

    Desta ideia depreende-se que as crianas possuem um alto nvel de excitao e de

    emoes desgovernadas porque o crtex ainda no atingiu um estado de evoluo que

    permita controlar as funes anteriores.

    Mais recentemente, MacLean (1990) apresenta um trabalho que avalia a relao das

    partes do crebro com a evoluo.

    O trabalho deste autor foi iniciado quando leu um artigo de Papez (1937), em que este

    defendia as expresses das emoes como sendo controladas pelo hipotlamo, e as

    outras regies regulavam a experiencia da emoo.

    Papez (1937) argumentou ainda que os impulsos sensoriais so regulados pelo tlamo.

    MacLean (1990) aprofundou ainda mais este estudo, levando-o a concluir que o

    prosencfalo humano possui trs sistemas que evoluram diferenciadamente.

    O autor constatou que o crebro proporciona aces tpicas das espcies do gnero. Esta

    tese sugere que o crebro funciona de forma modular. Se h remoo de uma parte dele,

    as outras mantm as suas funes inalteradas e com estimulao elctrica ou qumica.

    Ao nvel da investigao, possvel reproduzir a funo comportamental pela qual a

    zona cerebral estimulada responsvel.

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    2.4 Sistema estriado

    No prosencfalo encontra-se o sistema estriado que a parte mais antiga e bsica deste,

    excepo do hipotlamo.

    A zona estriada desenvolveu-se com a evoluo dos rpteis, na qual esto as bases de

    todo o comportamento animal, conforme defende MacLean (1990). Com a evoluo

    dessa zona cerebral, constatou-se nos lagartos modernos uma melhor planificao

    quanto escolha do local da habitao, do controlo e da defesa do territrio, da

    alimentao, da formao de grupos sociais e suas hierarquias, da limpeza, do

    acasalamento e da migrao.

    MacLean (1990) apresenta ainda uma lista de quatro expresses ao nvel dacomunicao relativamente aos indivduos de outras espcies: a expresso da assinatura,

    a expresso do desafio frequente, efectuada no que respeita ao territrio, a expresso do

    cortejamento e expresso de submisso.

    Para alm destas expresses, o investigador props seis tipos de comportamento: a

    rotinizao, a imitao, os tropismos, o comportamento repetitivo, as reconstituies e o

    comportamento capcioso.

    Em conjunto com os seus colaboradores, MacLean (1990) manifestou uma enorme

    pertinncia em realizar um inventrio em que abarcasse todos os comportamentos dos

    lagartos.

    Predispuseram-se, ento, a realizar algumas tarefas sequenciais. Localizaram as

    estruturas responsveis pelos comportamentos dos lagartos. A regio estriada nestes

    animais a maior parte do prosencfalo.

    MacLean (1990) investigou ainda uma expresso de saudao entre a mesma espcie de

    smios para se concluir se as expresses observadas nos rpteis ainda esto sujeitos

    regio estriada nos animais superiores.

    Esta manifestao, sui generisnos primatas, comporta elementos de assinatura, desafio

    e cortejamento e perpetrado quando um novo primata aparece e tambm quando o

    primata v o seu reflexo no espelho.

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    Ao removermos a parte da rea cerebral estriada nos macacos, estes deixam de reagir ao

    seu reflexo no espelho, enquanto a extraco de outras partes do mesencfalo e do

    prosencfalo mantm esta funo inalterada.

    Destes estudos realizados nos smios infere-se a ideia de que a regio estriada influencia

    a organizao dos comportamentos dos mamferos comuns aos rpteis.

    Assim, quando as reas estriadas so inutilizadas no indivduo, observa-se o mesmo

    efeito, ou seja, a dificuldade na organizao de actividades quotidianas. Revelam

    tendncia para o sedentarismo, apesar de sentirem um bem-estar quando participam em

    aces por eles organizadas.

    2.5 Sistema Lmbico

    No desenvolvimento cientfico de MacLean (1993), a principal questo sobre a qual se

    debruou foi: o que que os mamferos fazem que os rpteis no fazem? Apenas se

    acrescentam trs diferenas substanciais: os cuidados maternais, com a ligao afectiva

    cria, a sinalizao vocal e a brincadeira.

    O autor chama a ateno para a importncia das estruturas do sistema lmbico dos

    mamferos, associadas auto-preservao nos comportamentos alimentares e deconcorrncia com outros, pelos recursos e com a perpetuao da espcie no

    acasalamento, na actividade de cuidados cria e com a ligao afectiva.

    Alm destes factores podemos acrescentar a sociabilidade entre os mamferos que no

    se verifica nos rpteis. Constatamos entre os rpteis uma interaco, mas, assim que

    eclodem dos ovos, iniciam uma vida autnoma. Existem muitas espcies de rpteis em

    que as crias tm de fugir logo que saem dos ovos para no serem comidas pelos

    progenitores.

    O que se sabe sobre o sistema lmbico que est intimamente ligado ao hipotlamo, o

    qual controla o sistema nervoso autnomo, sendo responsvel pelas alteraes

    corporais, como o ritmo cardaco e a transpirao, assim como, atravs da glndula

    pituitria, controla o sistema hormonal do corpo.

    MacLean (1993) defendia que nos mamferos houve um desenvolvimento evolucionrio

    do sistema lmbico, que no se verificou nos rpteis. Estes estudos ao nvel das

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    neurocincias contriburam, inevitavelmente, de uma forma preponderante para o

    desenvolvimento das teorias da emoo.

    Nos seres humanos, o sistema lmbico denominado como o crebro emocional, porque

    preside ao processamento das emoes, no qual est includo o hipocampo, responsvel

    pela aprendizagem emocional e armazenamento das memrias resultantes das

    experincias emocionais.

    Quando este sistema assume o comando de uma situao, sem utilizar o filtro do

    crebro racional, produz um bloqueio cognitivo e pode dar origem a reaces

    exageradas nos momentos crticos, mas que, depois de recuperar o controlo cognitivo,

    leva o sujeito ao arrependimento pelo sucedido.

    Na interaco entre o neocrtex, parte responsvel pela cognio, e o sistema lmbico,

    aquele tem um papel importante na regulao da intensidade das emoes, apesar de o

    crebro emocional ser capaz de responder mais rapidamente e intensamente do que o

    crebro cognitivo. Como no caso por exemplo, de um indivduo que vai a atravessar

    uma rua distraidamente e ouve a buzina de automvel, instintivamente d um salto para

    a frente sem que tenha pensado nesta aco.

    A forma com o nosso crebro est estruturado, ou seja, o processo de interaco razo

    emoo, d-nos pouca possibilidade de controlo inicial em relao emoo emergente,

    bem como uma diminuta margem de manobra relativamente ao tipo de emoo

    (Goleman, 2009).

    2.6 A amgdala

    As investigaes amgdala sugerem que nesta zona se encontram determinados

    aspectos da emoo. LeDoux (1993) considera que, para produzir emoes, o crebroutiliza a amgdala como um computador emocional central, analisando os impulsos

    sensoriais pela sua relevncia emocional, executando funes de anlise primria.

    A amgdala articula-se com as regies do crtex, acolhendo informaes destas mesmas

    regies, responsveis pelo reconhecimento visual de objectos e das regies que

    discriminam os sons.

    O ncleo amigdalide tambm est intimamente ligado ao hipotlamo, o qual serelaciona com o comportamento emocional. Na amgdala pode verificar-se a auto-

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    estimulao compensatria e de componentes aos nveis do comportamento emocional,

    das respostas autnomas que podem ser reproduzidas atravs da estimulao elctrica

    nesta regio.

    LeDoux (1993) concluiu, atravs dos seus estudos, que a amgdala recebe informaes

    visuais e auditivas originrias do tlamo, alm das informaes a partir do crtex visual

    e auditivo.

    A extraco da amgdala provoca frieza afectiva e para o sujeito as relaes

    inter-pessoais deixam de fazer sentido, fica sem conscincia emocional.

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    III ESTRUTURA EMOCIONAL

    3. 1 A emoo

    No h consenso quanto definio de emoo porque complexa, sujeita a grandes

    variaes de intensidade, dependente do estado de sade, das crenas e valores dos

    sujeitos. por isso mesmo uma varivel multidimensional, que tem despertado grande

    interesse no meio cientfico e suscitado um nmero crescente de investigaes.

    Para uma melhor compreenso desta varivel, fez-se uma pesquisa s suas definies

    que confirmou a sua complexidade.

    De acordo com Cristobal (1996), a emoo reflecte-se de forma somtica, o que implica

    mudanas na temperatura da pele, alteraes na distribuio do sangue, variao do

    ritmo cardaco, modificao da respirao, resposta pupilar lenta, secreo salivar

    anormal, resposta pilomotriz, mobilidade gastrointestinal, tenso muscular e suor frio.

    Esta definio parece-me redutora, na medida em que se focaliza na resposta biolgica

    do organismo face ao acontecimento crtico e, por isso mesmo, demasiada centrada nas

    emoes primrias. Como se sabe, a emoo tem um papel fundamental na adaptao e

    integrao do indivduo s circunstncias e experincias, cujo significado atribudopela cognio.

    Concomitantemente, tambm provoca respostas comportamentais face percepo de

    perigo, objectivo ou subjectivo, podendo determinar a fuga ou combate, como a

    paralisao do sujeito que entra em pnico.

    Pode ainda motivar o sujeito para a realizao ante a perspectiva de concretizao de

    um sonho, ou mesmo na procura de melhores condies de vida, como no caso dos

    emigrantes que deixam a famlia para rumarem a pases muitas vezes longnquos,

    submetendo-se a sacrifcios fsicos e psicolgicos na busca de melhores condies de

    vida.

    Iglesias, Loeches e Serrano (1989) consideram que as emoes primrias so estados

    discretos do organismo, determinados geneticamente e regulados por estruturas

    neuronais subcorticais, cuja funo promover a adaptao dos sujeitos em

    determinadas circunstncias.

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    Os autores referem-se apenas s emoes bsicas e ao determinismo gentico como

    factor que estabelece a forma de reaco do sujeito perante a percepo de perigo. No

    entanto, a espcie humana experimenta muito mais emoes do que as consideradas

    bsicas e que no devem ser ignoradas pela importncia que tm na vida do indivduo e

    o papel que desempenham na adaptao deste aos contextos.

    Segundo Goleman (2009), O termo emoo refere-se a um sentimento e aos

    pensamentos dos estados biolgicos, dos estados psicolgicos e ao tipo de tendncias

    para a aco que o caracterizam.

    Goleman (2009) considera factores multidimensionais para definir a emoo,

    constituindo por isso mesmo, um grande passo na compreenso de to importante

    estrutura do funcionamento humano.

    Para Bisquerra (2000), a emoo uma resposta complexa do organismo, caracterizado

    por uma excitao ou perturbao que induz a uma aco organizada. As emoes

    surgem, habitualmente, como resposta a um evento externo ou interno.

    Na sua definio, Bisquerra (2000) reconhece a complexidade da emoo, afirmando

    que se trata de uma resposta organizada, sem, no entanto, referir se instintiva ou

    racional.

    Como se sabe, a capacidade de gerir as emoes no apresenta o mesmo nvel em todos

    os indivduos, uns tero melhor aptido para o fazer do que outros. No entanto, todos os

    sujeitos podem, atravs de programas adequados de educao emocional, melhorar o

    seu desempenho na gesto emocional prpria e dos outros.

    3.2 A emoo e a sua gnese

    O indivduo pode mobilizar emoes de variadas formas, sendo que estas apresentam

    diferenas na intensidade e na durao.

    Mas o que a emoo? A sua definio no fcil, porque esta varivel afecta todas as

    dimenses da vida do sujeito, desde a cognio e o comportamento, at ao universo

    biolgico no qual pode produzir um impacto de tal forma devastador, que susceptvel

    de determinar a sade ou doena, dando origem s doenas psicossomticas e at a vida

    ou a morte, em situaes mais crticas, como por exemplo ataque cardaco fulminantenum adepto apaixonado durante um jogo de futebol.

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    De qualquer forma, este constructo parte integrante e indissocivel da vida do

    indivduo, o que torna indispensvel um melhor conhecimento da sua gnese e dos seus

    mecanismos de interaco para uma compreenso profunda do comportamento humano,

    pelo que considerei fundamental pesquisar alguns conceitos de emoo.

    De acordo com Mandler (1985), sempre que um esquema no se encaixa com a

    experincia, o qual impede de dar sentido ao mundo, provoca a activao do sistema

    nervoso vegetativo. Desta forma, e experincia emocional estimulada pela activao

    vegetativa e pela valorizao cognitiva.

    Este modelo considera que as cognies, na atribuio dos significados s experincias,

    so determinantes para accionar outra emoo.

    Segundo Lazarus (1991) a emoo resulta de uma avaliao primria ou secundria. A

    avaliao primria estabelece os resultados da experincia vivenciada, cujas

    consequncias podem ser insignificantes ou afectivamente incuas, no entanto

    favorveis ao incremento da ansiedade, como no caso de perda ou prejuzo e do medo.

    A avaliao secundria estabelece se o sujeito ter ou no, competncia para a execuo

    de determinada aco como, auto-controlo, manter-se calmo e agir em situaes crticas.

    As emoes despontam como variaes repentinas do nosso estado de esprito, cuja

    intensidade varivel e muitas das quais no temos conscincia. Podem ser estimuladas

    por recordaes ou ideias que nos impelem a aces reguladas pelo que sentimos nesse

    momento (Arndiga & Tortosa, 2000).

    Em determinadas circunstncias a emoo pode dar origem a um estado de esprito que

    chamamos de sentimento. O qual ocorre por exemplo, quando a emoo de tristeza

    surge devido a um grave acidente, e se transforma em sentimento de impotncia e

    frustrao devido ao facto de no podermos fazer nada perante o sucedido. Assim, o

    estado de nimo decorrente da emoo negativa vai perdurar mais do que a prpria

    emoo (Arndiga & Tortosa, 2000).

    3.3 A emoo e o comportamento

    A atitude comportamental fortemente condicionada pelos estados emocionais, cuja

    qualidade determina a expresso facial de agrado ou desagrado, alegria ou tristeza,

    gestos de simpatia ou antipatia. Tambm tem seus reflexos nas respostas verbais de

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    tolerncia ou irritao, de aceitao ou desaprovao, no nimo ou desnimo (Andrew,

    1963).

    O tipo de emoo impele ou inibe o sujeito a actos comportamentais como no caso da

    ira que promove comportamentos de violncia fsica ou verbal. A alegria produz

    motivao para executar alguma actividade. O medo estimula movimentos de ataque ou

    fuga. A tristeza a atitudes de desnimo e indiferena (Berkowitz, 1993).

    Desta forma, cada tipo de emoo estabelece o tipo de reaco do sujeito perante a

    circunstncia. Na qual por exemplo, a ira mobiliza contedos verbais de ameaa ou

    mesmo de agresso. Da alegria emergem contedos de agrado pelos resultados positivos

    alcanados. O medo pode reduzir a expresso verbal e produzir gritos de socorro, assim

    como a tristeza passvel de retrair a criatividade do indivduo (Averill, 1999).

    3.4 A emoo e as reaces psicofisiolgicas

    O resultado dos estados emocionais no universo biolgico caracterizado por alteraes

    de funcionamento em todos os rgos e sistemas do corpo humano, das quais Cristbal

    (1996) identifica os seguintes:

    i. GSR (Galvanic Skin Response). Alterao da temperatura da pele.

    ii. Mudana na distribuio do sangue. H lugares onde se produzem uma maior

    afluncia de sangue (endurecimento cutneo externo) e outros onde se verifica uma

    vasoconstrio (palidez ou frio).

    iii. Alterao do ritmo cardaco, que aumenta ou diminui (taquicardia ou braquicardia).

    iv. Alteraes na respirao (respirao arquejante e suspiros).

    v. Resposta pupilar lenta.

    vi. Secreo salivar anormal (aumenta ou diminui).

    vii. Resposta pilomotriz na cabea.

    viii. Mobilidade gastrointestinal (vontade de urinar, defecar ou vomitar).

    ix. Tenso muscular (tremores e bater de dentes).

    x. Suores frios.

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    xi. Aumento da presso sangunea.

    xii. Hiper ou hipo funcionamento hormonal.

    xiii. Alterao do metabolismo dos neurotransmissores.

    xiv. Alterao no sistema circulatrio (vasodilatao ou vasoconstrio).

    No entanto, quando a ansiedade domina a componente psicofisiolgica, a

    sintomatologia inerente aumenta em intensidade e extenso, afectando o comportamento

    geral do indivduo, na mesma proporo em que os nveis de ansiedade aumentam

    (Cristbal, 1996).

    3.5 Emoo e cognio

    As cognies so fundamentais para o sujeito: na mobilizao e sustentao dos estados

    emocionais, assim como o impacto emocional expresso no comportamento.

    importante referir que diversos estudos sugerem o raciocnio, as crenas, valores e os

    esquemas de funcionamento do indivduo, como factores determinantes para o processo

    cognitivo e suas atribuies.

    As emoes tm uma componente comportamental que se expressa aos nveis motor,

    facial e verbal. Cada emoo leva uma a outra expresso, numa associao entre elas.

    Do mesmo modo, os estados de nimo ou sentimentos derivados das emoes, lhes

    corresponde uma manifestao comportamental na forma de atitude fsica e expresso

    verbal, assim como uma componente cognitiva: pensamentos, crenas, atribuies,

    raciocnios, etc., que os sustentam e dirigem (Arndiga & Tortosa, 2000).

    A atribuio de significado promove o desenvolvimento dos estados emocionais de

    acordo com o que acontece nossa volta e que susceptvel de originar falsasinterpretaes, induzindo o sujeito a estados afectivos negativos como no caso da

    desiluso, frustrao, depresso ou ansiedade (Arndiga & Tortosa, 2000).

    Desta forma o sujeito pode fazer a atribuio causal a si mesmo (locus de causalidade

    interno), ou atribuir a causa a outro sujeito (locus de causalidade externo). Uma das

    respostas cognitivas mais comuns nos estados emocionais negativos o pensamento

    ruminante, que consiste em pensamentos repetitivos e redundantes sobre um

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    acontecimento particular, no qual o sujeito focaliza a ateno em si mesmo e naquilo

    que considera, ser a causa do problema (Arndiga & Tortosa, 2000).

    3.6 A emoo e a memria

    At que ponto a emoo influencia a memria? Um dos estudos mais conceituados

    neste mbito o trabalho de Bartlett (1932), no qual municiou os participantes de

    material significativo, histrias ou fotografias para recordarem. Seguidamente pediu aos

    sujeitos para recordarem, o mais fielmente possvel logo aps a apresentao do

    material e a espaos de vrios anos depois.

    A concluso deste estudo foi de que na evocao da memria de um relato verbal as

    palavras nunca so exactas. Isto porque o que compreendemos assimilado na estruturapessoal de significados, que o autor denominou de esquema, o qual em grande parte

    constitudo por conhecimentos gerais.

    Desta forma sempre que uma recordao solicitada, o indivduo mobiliza

    particularidades emocionalmente significativas relativas histria e, a partir do

    esquema pessoal de funcionamento cognitivo, elabora o que considera ter sido a

    histria.

    Outro estudo interessante da interaco memria emoo de Linton (1982), no qual a

    autora estudou a sua prpria memria e cujo trabalho consistiu no seguinte: ao longo de

    seis anos, Linton (1982) faz breves registos em cartes de pelo menos dois

    acontecimentos significativos por dia. Anotava a data e procedia classificao de cada

    evento relativamente ao destaque emocional.

    No fim de cada ms escolhia eventos idnticos do conjunto de memrias recolhidas at

    ao momento e tentava lembrar-se da ordem de ocorrncia reavaliando a importnciaemocional de cada um. Desta forma, constatou que os acontecimentos que pareciam

    significativos na altura desapareciam completamente da sua memria a um ritmo de

    cinco por cento ao ano. Assim concluiu que para a correcta evocao de uma memria

    discreta, torna-se necessrio a distino e novidade do evento emocionalmente

    significativo.

    O exemplo que deu foi ter ficado maravilhada pela sua eleio de membro de um

    prestigiado conselho, o qual se reunia esporadicamente numa cidade distante. A sua

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    primeira presena numa reunio deste conselho constituiu um evento emocionalmente

    significativo. No entanto, medida que estas reunies se repetiam foi perdendo a sua

    originalidade, dando lugar a informaes mais gerais na medida em que comeou a

    conhecer melhor as personalidades dos elementos do conselho e a forma como se

    relacionavam, mas com dificuldade em se lembrar dos contedos das reunies.

    As ocorrncias de vida que so distintas e se tornam rotineiras, transformam-se de

    memrias episdicas distintas, em memria semntica. Este estudo permitiu a Linton

    (1982) concluir que os eventos emocionais para se manterem na memria como

    episdios distintos necessitam de trs caractersticas:

    i. O acontecimento tem de ser distinto e emocionalmente intenso no momento em que

    acontece ou tem ser reescrito pouco tempo depois.

    ii. O curso de vida posterior deve fazer do evento o alvo central na lembrana, o qual

    deve constituir um ponto de mudana, o incio de uma sucesso ou meio de actividades

    futuras.

    iii. O evento deve continuar relativamente singular. A sua imagem no deve ser

    desgastada pelo suceder de eventos similares (Linton, 1982).

    Desta forma percebemos melhor como as experincias de vida emocionalmente

    significativas so de fcil recordao. Pois o facto de serem cruciais para um

    determinado objectivo, de serem nicos e muitas vezes imprevistos, torna estes eventos

    distintos na classificao e no processamento da memria.

    Estes exemplos demonstram que as emoes tm efeitos considerveis nos processos

    mentais, que influenciam a percepo do sujeito em funo da atribuio de

    significados, facilitando ou no, e evocao de memrias.

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    23

    IV EMOES E SUAS VARIANTES

    4.1 Introduo

    No que respeita aos humanos, os impulsos externos quando so percepcionados pelos

    rgos sensoriais passam para o lado oposto do crebro. Por exemplo, se mexermos a

    mo direita, esta aco controlada pelo hemisfrio esquerdo e vice-versa. No caso de

    um derrame cerebral no lado direito do crebro este ir afectar a mobilidade do lado

    esquerdo do corpo. Em vrias investigaes constatou-se que o lado direito do crtex

    est mais proximamente relacionado com o processamento dos episdios emocionais.

    As reas perceptuais encontram-se na zona posterior do crtex, as vivncias e a

    expresso so representadas para a frente. Nas vivncias do ser humano no se verificanenhuma superioridade geral do lado direito para episdios emocionais em relao aos

    episdios no emocionais. Todavia, alguns mecanismos relacionados com a experiencia

    e a expresso das emoes positivas situam-se no lado esquerdo e a expresso das

    emoes negativas no lado direito (Davison, 1992).

    Estas assimetrias da activao cerebral referem-se a emoes de curto prazo, uma vez

    que os sujeitos deprimidos, mas sem leses cerebrais, revelam uma diminuio da

    activao da regio frontal esquerda, que no se verifica nos sujeitos no deprimidos

    (Davison, 1992).

    A experincia intensa e recorrente da emoo negativa, predispe o indivduo a

    interaces conflituosas e dificuldade de convvio e socializao. Neste caso, o sujeito

    poder desencadear problemas graves de sade fsica ou mental, diminuindo por isso

    mesmo a sua qualidade de vida (Davison, 1992).

    Diversos estudos confirmam a relao directa entre a emoo e a sade e como aquelapode ter um forte impacto, positivo ou negativo, nesta. Considerando esta interaco,

    Martinez-Snchez (1998) definiu os seguintes postulados:

    i. As emoes negativas constituem um risco para a sade.

    Alguns estudos tm demonstrado, que a mobilizao habitual de emoes negativas em

    episdios de stress aumenta a predisposio do sujeito s doenas.

    ii. Os estados emocionais crnicos afectam os hbitos de sade.

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    Os sujeitos com nveis de stress elevado, apresentam variaes emocionais de maior

    amplitude e mais prolongadas no tempo. Tambm revelam uma tendncia para estilos

    de vida pouco saudveis.

    iii. Os estados emocionais agudos podem agravar certas doenas

    As emoes negativas, quando intensas e descontroladas podem promover o

    desenvolvimento de uma doena, levarem incapacidade fsica e diminuio da

    qualidade de vida.

    iv. As emoes podem distorcer o comportamento dos doentes.

    Em muitas situaes, o stress patolgico pode induzir o indivduo a comportamentos

    prejudiciais sua sade, como evitar exames mdicos por medo de ter alguma doena

    grave e eventualmente necessitar de interveno cirrgica.

    4.2 Emoes positivas

    As emoes podem classificar-se de acordo com as concepes e critrios de cada autor.

    Desta forma, encontramos classificaes atribudas s emoes bsicas como: medo,

    surpresa, alegria, averso, tristeza e ira/clera (Arndiga & Tortosa, 2000).

    4.2.1 A alegria

    A alegria uma das emoes bsicas que decorre de acontecimentos favorveis a qual

    nos afecta de forma directa ou indirecta. sinnimo de felicidade, satisfao,

    optimismo, contentamento, prazer. Quando ela se manifesta comportamentalmente de

    maneira ostensiva surge na forma de jubilo e/ou alvoroo (Arndiga & Tortosa, 2000).

    Sendo uma emoo bsica, resulta de uma reaco espontnea do organismo ante um

    acontecimento que a provoca, o qual produz algo positivo para quem o experimenta. Por

    exemplo: ganhar a lotaria constitui um acontecimento de algo favorvel (ganhar muito

    dinheiro), conseguir um trabalho aps um grande perodo de desemprego, entre outras

    situaes. Desta forma, a alegria vivenciada como emoo bsica sempre que ocorre

    uma mudana de situao neutra ou negativa para uma situao positiva (Arndiga &

    Tortosa, 2000).

    Existem vrias situaes que possibilitam ao ser humano vivenciar a emoo da alegria,caracterizando-se por se instalar um bem-estar fsico e psicolgico. Isto ocorre quando,

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    por exemplo, se consegue um bem material, alcana-se tranquilidade espiritual como

    consequncia de meditao, superao de um problema de sade, estar numa boa

    relao afectiva, quando se obtm satisfao em actividades desportivas, em situaes

    de lazer ou se restaura as necessidades bsicas de alimentao e do quotidiano

    (Arndiga & Tortosa, 2000).

    As manifestaes comportamentais da alegria so evidentes na expresso facial atravs

    do sorriso, que o seu expoente mximo. Esta influencia a cognio, produzindo-se

    pensamentos positivos de esperana, tolerncia, compreenso e empatia (Arndiga &

    Tortosa, 2000).

    Sabe-se que, psicofisiologicamente, a alegria produz um impacto positivo no

    organismo com incrementao da serotonina, que um importante neurotransmissor

    que produz um sentimento de optimismo mais duradouro (Arndiga & Tortosa, 2000).

    4.2.2 O bom humor

    O bom humor um sentimento de alegria mais contido, duradouro, constituindo um

    enfoque pessoal frente s situaes da vida. O facto de algum vivenciar um estado de

    bom humor sinnimo de alegria e optimismo. H diversos autores que consideram o

    humor um factor importante de inteligncia ou um trao da personalidade que permite

    ao sujeito comportamentos que revelam atitude ou predisposio para lidar com as

    diversas situaes que lhe surgem ao longo da vida (Stenberg, 1993).

    Apesar do bom humor ser um fenmeno complexo, este acompanha o riso como uma

    manifestao comportamental. A forma como o ser humano valoriza positivamente as

    suas experincias, est directamente relacionado com o estado de bom humor que em

    ltima anlise a valorizao cognitiva da realidade. Roman et al(2000) propuseram

    sete dimenses do bom humor: dinmico, optimista, divertido, estvel/seguro, s ironia,

    jovialidade e relativizao dos problemas.

    O bom humor um poderoso elemento para fazer frente aos obstculos do quotidiano e

    um bom reforo para se viver de uma forma tendencialmente feliz. O qual estimula o

    optimismo como mecanismo central do dia-a-dia (Costa & MacCrae, 1992).

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    4.2.3 A felicidade

    O conceito de felicidade est de tal forma, relacionado com as crenas e valores do

    indivduo, que para alguns sujeitos a felicidade ter dinheiro para viajar, comprar

    carros, casas e tudo aquilo que desejar. No entanto, para outros atingir um estado de

    bem-estar psicolgico e emocional, com base em crenas de natureza espiritual, como

    cultos religiosos e prticas de meditao (Arndiga & Tortosa, 2000).

    Mas tambm pode decorrer da concretizao de um sonho, como tornar-se famoso,

    completar um curso, conseguir um determinado emprego ou mesmo um determinado

    cargo profissional (Arndiga & Tortosa, 2000).

    Desta forma, a felicidade constituda por uma natureza subjectiva, uma vez que noexiste um estado objectivamente feliz, uma vez que os factores determinantes sua

    manifestao dependem das idiossincrasias do sujeito (Arndiga & Tortosa, 2000).

    Trata-se de um constructo considerado um estado pessoal de prazer, gerador de

    bem-estar psicolgico a que todo o sujeito aspira. Tem um efeito comportamental

    idntico ao da alegria, que induz o indivduo a actos de gentileza quase sempre

    acompanhados de sorrisos. Facilita a tomada de deciso, as expresses verbais so

    optimistas e o sujeito tem maior predisposio para empreender tarefas, para a

    actividade fsica e enfrentamento de situaes crticas com vista sua resoluo

    (Arndiga & Tortosa, 2000).

    Para alcanar estados de felicidade, no basta evitar emoes como a tristeza e a

    angstia. Mas identificar as emoes negativas, lidar com elas de forma construtiva para

    as substituir por estados de nimo positivo, como o optimismo por exemplo (Arndiga

    & Tortosa, 2000).

    4.2.4 O amor

    O amor o estado emocional de maior relevo na vida do indivduo, uma vez que

    determinante na construo da auto-imagem, influenciando o auto-conceito e a auto-

    estima do sujeito (Cristbal, 1996)

    Esta emoo/sentimento comporta vrias dimenses, de tal forma que Bisquerra (2000)

    identifica vrios tipos de amor: amor maternal; amor ertico; amor paixo; amor deamigo; amor fraterno; amor ao prximo; amor ptria; amor humanidade.

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    O seu peso na vida do sujeito de tal forma preponderante, que ao longo dos milnios

    deu origem a inmeras guerras ou acordos de paz. Sobre ele escreveram-se milhes de

    pginas de livros e cartas, desencadeando nos leitores emoes de felicidade e alegria,

    ou sentimentos de tristeza e angstia (Arndiga & Tortosa, 2000).

    Metaforicamente falando, o amor est para a vida do sujeito, como o acar e o sal esto

    para a culinria. Isto , tem a capacidade de tornar a vida mais doce ou mais amarga,

    dependendo do contexto e da perspectiva. De qualquer forma podemos afirmar que o

    amor lindo, porque capaz de despertar em ns os melhores sentimentos e inspirar-

    nos s melhores aces.

    4.2.5 A bondade

    A bondade uma caracterstica do indivduo, a qual est relacionada com a atitude de

    fazer sempre o bem, de ajudar os outros. Em termos comportamentais, manifesta-se

    atravs da inteno sistemtica de beneficiar o outro, ainda que por vezes v contra os

    seus prprios interesses (Arndiga & Tortosa, 2000).

    Assim, ter bondade ter a noo exacta das consequncias do seu comportamento e

    como este afecta os outros. O indivduo que apresenta esta competncia emocional

    capaz de superar o seu egosmo, porque estabeleceu um padro de coerncia entre a

    razo e a emoo, que se tornou o fio condutor das suas interaces, tanto ao nvel

    intrapessoal como interpessoal (Torrabadella, 1997).

    4.2.6 A gratido

    A gratido um acto de reconhecimento pelo benefcio recebido atravs de outra

    pessoa. Trata-se de uma atitude afectiva, face a um ganho gratuito e muitas vezes

    inesperado, atravs de um favor que proporciona bem-estar a quem o recebe e a quem ad (Marina, 1996).

    4.3 Emoes negativas

    As emoes negativas caracterizam-se por um estado de nimo que gera desconforto

    psicolgico.

    Do ponto de vista neuroanatmico, as emoes negativas parecem evitar o crtex

    cerebral, ou seja a parte pensante do sujeito. No entanto, h indicaes que estabelecem

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    ligao com a amgdala que, de acordo com Shapiro (1997), a sede da aprendizagem e

    da memria emocional.

    Este tipo de emoes so facilmente evocadas quando o sujeito relembra experincias

    dolorosas por si vivenciadas, dando origem a episdios de pensamento ruminante

    (Shapiro, 1997).

    Desta forma, podem surgir sentimentos de angstia, que psicofisiologicamente activam

    a ansiedade, estabelecendo-se um mal-estar de alerta que dificulta a adaptao do

    sujeito e o projecta em estados emocionais de medo; clera; frustrao; tristeza;

    preocupao; etc (Shapiro, 1997).

    4.3.1 A clera

    Trata-se de uma emoo cuja resposta a irritao ou a fria, face a uma situao de

    ameaa ou injustia, quando a integridade fsica ou moral do sujeito posta em causa,

    ou mesmo o que este considera ser os seus direitos bsicos (DUrso, 1998).

    Quando o indivduo no exprime nem comunica o sentimento de clera, d origem ao

    ressentimento, cuja intensidade pode resultar em obsesso e desejo de vingana, que

    orientam o seu comportamento em relao pessoa que desencadeou a emoo negativa(Izard, 1991).

    De acordo com alguns autores (DUrso, 1998) existem trs tipos de clera:

    - A clera malvola, cujo objectivo destruir, vingar-se de outra pessoa, exprimir dio

    ou desaprovao.

    - A clera construtiva, que tende a corrigir o comportamento, a melhorar a estreita

    relao com quem se produz a clera e a desenvolver a sua autonomia, conseguindo queos outros faam qualquer coisa de til para si mesmo ou para os outros.

    - A clera explosiva, que tem como objectivo libertar a tenso atravs da agressividade,

    levando quebra dos laos de entendimento, restabelecendo-se desta forma de uma

    injustia inesperada.

    A clera pragmatiza-se atravs de comportamentos caracterizados pela violncia verbal

    como: gritos; insultos; ameaas; maldies; etc. E pela violncia fsica como nosseguintes casos: agresses; lutas; empurres; entre outras (Izard, 1991).

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    Ao nvel cognitivo a clera caracteriza-se pela ausncia de auto-controlo ou dificuldade

    em manter a calma. Episdios de frustrao e indignao podem dar lugar a ruminaes

    cognitivas persistentes, possibilitando o desenvolvimento de obsesses que culminam

    com a irritabilidade do sujeito para com o objecto (Izard, 1991).

    4.3.2 O medo

    O medo uma das emoes bsicas que provoca uma reaco de defesa ante uma

    ameaa integridade fsica do sujeito, cujo objectivo preservar a vida. Esta emoo

    uma resposta do sistema nervoso autnomo a situaes de perigo objectivo, que pode

    ser conhecido ou desconhecido. Este estado emocional pode decorrer de desastres

    naturais, ameaas de morte, acidentes de viao ou aviao, assaltos, etc. (Arndiga &

    Tortosa, 2000).

    Nestes episdios ameaadores, o organismo liberta uma grande quantidade de energia

    para a defesa da vida, determinando a fuga ou luta. Em casos extremos, o medo pode

    reflectir-se em pnico, tornando-se patolgico, como nos casos das fobias (Arndiga &

    Tortosa, 2000).

    As reaces psicofisiolgicas so: o aumento do ritmo cardaco; do ritmo respiratrio

    com dificuldade para inspirar; presso torcica; olhos arregalados; dificuldade em

    engolir; tremores nas mos e pernas; entre outros (Arndiga & Tortosa, 2000).

    4.3.3 A ansiedade

    Esta emoo caracterizada por um estado de agitao interior que est relacionada

    com as nossas preocupaes acerca do que ocorre ou pode vir a ocorrer (Arndiga &

    Tortosa, 2000).

    Este estado emocional apresenta uma ampla classificao de sintomas e manifestaes

    psicofisiolgicas. Dentro deste quadro podem ocorrer os alguns dos seguintes sintomas:

    preocupaes excessivas; irritabilidade; pessimismo; fadiga; dificuldade em relaxar;

    insnias; dificuldade de concentrao; dfice de memria; dores musculares; cefaleias;

    etc. ((Arndiga & Tortosa, 2000).

    A ansiedade patolgica um estado de activao psicofisiolgica na qual podem ocorrer

    os sintomas referidos no ponto anterior, sem que exista uma causa objectiva que ajustifique, podendo ainda surgir fobias de qualquer tipo (Arndiga & Tortosa, 2000).

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    Este estado emocional revela-se em vrios comportamentos do sujeito, sendo o stress a

    sua manifestao mais clssica (Arndiga & Tortosa, 2000).

    4.3.4 A tristeza

    Esta emoo bsica est relacionada com perdas significativas, sejam pessoas, animais

    ou objectos, cujo significado grandemente valorizado pelo sujeito. Desta forma a

    tristeza surge como uma resposta a um acontecimento de perda ou dano, cuja

    manifestao comportamental a lentificao psicomotora no seu estado mais agudo

    (Arndiga & Tortosa, 2000).

    Podem ainda surgir a diminuio parcial ou completa de actividades que anteriormente

    eram prazerozas ou normais (Arndiga & Tortosa, 2000).

    No que respeita s interaces sociais, estas tendem a diminuir, assim como as aces

    ldicas. Tambm se verifica uma acentuada perda da motivao e em oposio, um

    aumento das inquietaes intimas (Arndiga & Tortosa, 2000).

    A tristeza considerada uma emoo negativa que predispe o indivduo a doenas, a

    acidentes e a acontecimentos adversos. Existem causas objectivas que produzem esta

    emoo. Por outro lado constata-se outras causas da tristeza como as predisposiesanmicas do sujeito, fruto de desequilbrios qumicos cerebrais, como por exemplo: a

    diminuio de serotonina, um importante neurotransmissor. Ao nvel emocional a

    tristeza abrange sentimentos de pessimismo, melancolia, saudade, apatia,

    autocompaixo, desnimo. Esta varivel tambm est, inevitavelmente, relacionada com

    o pessimismo quando, ao nvel cognitivo, se constroem valorizaes negativas da

    realidade que induzem o sujeito a focalizar-se apenas nos aspectos negativos dos

    eventos (Arndiga & Tortosa, 2000).

    Desta forma, este estado de humor vai criar uma disfuncionalidade operacional no

    quotidiano do sujeito, reflectindo um enfrentamento negativo e passivo no que respeita

    aos problemas e adversidades com que se depara (Arndiga & Tortosa, 2000).

    4.3.5 A vergonha

    A vergonha apresenta-se quando existe um sentimento de perda da dignidade pessoal,

    associando-se um sentimento de culpabilidade por alguma aco realizada, que tenhainfringido as susceptibilidades de outra pessoa. Esta emoo est muito prxima do

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    sentimento de culpa porque pode decorrer de uma aco negligente, indesejvel ou

    inadequada (Arndiga & Tortosa, 2000).

    Ao nvel comportamental produz inibio motora, diminuio ou ausncia de

    comunicao verbal. Na dimenso cognitiva revela-se nos pensamentos que

    acompanham a expresso verbal, por exemplo: no devia ter feito isto! (Arndiga &

    Tortosa, 2000).

    Como re