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Professor Roberson Calegaro Professor Roberson Calegaro Professor Roberson Calegaro Professor Roberson Calegaro Aula 01 Aula 01 Aula 02 Professor Roberson Calegaro Aula 02 Professor Roberson Calegaro Ditadura, Música e Resistência Ditadura, Música e Resistência

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Professor Roberson CalegaroProfessor Roberson CalegaroProfessor Roberson CalegaroProfessor Roberson Calegaro

Aula 01Aula 01

Aula 02

Professor Roberson Calegaro

Aula 02

Professor Roberson Calegaro

Ditadura,Música e Resistência

Ditadura, Música e Resistência

Professor Roberson CalegaroProfessor Roberson CalegaroProfessor Roberson CalegaroProfessor Roberson Calegaro

Aula 01Aula 01Pra não dizer que não falei de flores(Geraldo Vandré/1968)*2ª colocada no Festival Internacional da Canção

Caminhando e cantando e seguindo a cançãoSomos todos iguais braços dados ou nãoNas escolas, nas ruas, campos, construçõesCaminhando e cantando e seguindo a canção

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Pelos campos há fome em grandes plantaçõesPelas ruas marchando indecisos cordõesAinda fazem da flor seu mais forte refrãoE acreditam nas flores vencendo o canhão

Há soldados armados, amados ou nãoQuase todos perdidos de armas na mãoNos quartéis lhes ensinam uma antiga liçãoDe morrer pela pátria e viver sem razão

Nas escolas, nas ruas, campos, construçõesSomos todos soldados, armados ou nãoCaminhando e cantando e seguindo a cançãoSomos todos iguais braços dados ou não

Os amores na mente, as flores no chãoA certeza na frente, a história na mãoCaminhando e cantando e seguindo a cançãoAprendendo e ensinando uma nova lição

Professor Roberson CalegaroProfessor Roberson CalegaroProfessor Roberson CalegaroProfessor Roberson Calegaro

Aula 01Aula 01

Professor Roberson CalegaroProfessor Roberson CalegaroProfessor Roberson CalegaroProfessor Roberson Calegaro

Aula 01Aula 01Cotidiano (Chico Buarque/1970)

Todo dia ela faz tudo sempre igualMe sacode às seis horas da manhã Me sorri um sorriso pontualE me beija com a boca de hortelã

Todo dia ela diz que é pra eu me cuidarE essas coisas que diz toda mulherDiz que está me esperando pro jantarE me beija com a boca de café

Todo dia eu só penso em poder pararMeio dia eu só penso em dizer nãoDepois penso na vida pra levarE me calo com a boca de feijão

Seis da tarde como era de se esperarEla pega e me espera no portãoDiz que está muito louca pra beijarE me beija com a boca de paixão

Toda noite ela diz pra eu não me afastarMeia-noite ela jura eterno amorE me aperta pra eu quase sufocarE me morde com a boca de pavor

Todo dia ela faz tudo sempre igualMe sacode às seis horas da manhãMe sorri um sorriso pontual E me beija com a boca de hortelã

Professor Roberson CalegaroProfessor Roberson CalegaroProfessor Roberson CalegaroProfessor Roberson Calegaro

Aula 01Aula 01

Professor Roberson CalegaroProfessor Roberson CalegaroProfessor Roberson CalegaroProfessor Roberson Calegaro

Aula 01Aula 01Como nossos pais – parte 1 (Belchior/1976)

Não quero lhe falar meu grande amorDe coisas que aprendi nos discosQuero lhe contar como eu viviE tudo o que aconteceu comigoViver é melhor que sonharE eu sei que o amor é uma coisa boaMas também seiQue qualquer canto é menor do que a vidaDe qualquer pessoa

Por isso cuidado meu bemHá perigo na esquinaEles venceram e o sinalEstá fechado pra nósQue somos jovens...

Para abraçar seu irmãoE beijar sua menina, na ruaÉ que se fez o seu braço,O seu lábio e a sua voz...

Você me pergunta pela minha paixãoDigo que estou encantada como uma nova invençãoEu vou ficar nesta cidade não vou voltar pro sertãoPois vejo vir vindo no vento cheiro de nova estaçãoEu sei de tudo na ferida viva do meu coração...

Professor Roberson CalegaroProfessor Roberson CalegaroProfessor Roberson CalegaroProfessor Roberson Calegaro

Aula 01Aula 01Como nossos pais – parte 2 (Belchior/1976)

Já faz tempo eu vi você na ruaCabelo ao vento, gente jovem reunidaNa parede da memória esta lembrançaÉ o quadro que dói mais...

Minha dor é perceberQue apesar de termos feito tudo o que fizemosAinda somos os mesmos e vivemosAinda somos os mesmos e vivemosComo os nossos pais...

Nossos ídolos ainda são os mesmosE as aparências não enganam nãoVocê diz que depois deles não apareceu mais ninguémVocê pode até dizer que eu tô por foraOu então que eu tô inventando... Mas é você que ama o passado e que não vêÉ você que ama o passado e que não vêQue o novo sempre vem...

Hoje eu sei que quem me deu a ideia eDe uma nova consciência e juventudeTá em casa, guardado por DeusContando vil metal...

Minha dor é perceber que apesar de termosFeito tudo, tudo, tudo, tudo o que fizemosNós ainda somos os mesmos e vivemosAinda somos os mesmos e vivemosAinda somos os mesmos e vivemosComo os nossos pais...

Professor Roberson CalegaroProfessor Roberson CalegaroProfessor Roberson CalegaroProfessor Roberson Calegaro

Aula 01Aula 01

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Aula 01Aula 01Sampa (Caetano Veloso/1978)Alguma coisa acontece no meu coraçãoQue só quando cruza a Ipiranga e a avenida São JoãoÉ que quando eu cheguei por aqui eu nada entendiDa dura poesia concreta de tuas esquinasDa deselegância discreta de tuas meninasAinda não havia para mim, Rita LeeA tua mais completa traduçãoAlguma coisa acontece no meu coraçãoQue só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rostoChamei de mau gosto o que vi,de mau gosto, mau gostoÉ que Narciso acha feio o que não é espelhoE à mente apavora o que ainda não é mesmo velhoNada do que não era antesquando não somos Mutantes

E foste um difícil começoAfasta o que não conheçoE quem vem de outro sonho feliz de cidadeAprende depressa a chamar-te de realidadePorque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelasDa força da grana que ergue e destrói coisas belasDa feia fumaça que sobe, apagando as estrelasEu vejo surgir teus poetas de campos, espaçosTuas oficinas de florestas, teus deuses da chuvaPan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do sambaMais possível novo quilombo de ZumbiE os Novos Baianos passeiam na tua garoaE novos baianos te podem curtir numa boa

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Aula 01Aula 01

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Aula 01Aula 01Admirável gado novo(Zé Ramalho/1979)

Vocês que fazem parte dessa massaQue passa nos projetos do futuroÉ duro tanto ter que caminharE dar muito mais do que receberE ter que demonstrar sua coragemÀ margem do que possa parecerE ver que toda essa engrenagemJá sente a ferrugem lhe comer

Êh, ô, ô, vida de gadoPovo marcadoÊh, povo feliz!

Lá fora faz um tempo confortávelA vigilância cuida do normalOs automóveis ouvem a notíciaOs homens a publicam no jornalE correm através da madrugadaA única velhice que chegouDemoram-se na beira da estradaE passam a contar o que sobrou!

O povo foge da ignorânciaApesar de viver tão perto delaE sonham com melhores tempos idosContemplam esta vida numa celaEsperam nova possibilidadeDe verem esse mundo se acabarA arca de Noé, o dirigívelNão voam, nem se pode flutuar

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Aula 01Aula 01

Clipe original - 11 de novembro de 1979 (28/08/1979 - Lei da Anistia)

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Aula 01Aula 01O bêbado e a equilibrista(Aldir Blanc e João Bosco/1979)

Caía a tarde feito um viadutoE um bêbado trajando lutoMe lembrou CarlitosA lua tal qual a dona do bordel

Pedia a cada estrela fria

Um brilho de aluguelE nuvens lá no mata-borrão do céuChupavam manchas torturadas

Que sufoco!

Louco!O bêbado com chapéu-cocoFazia irreverências milPra noite do BrasilMeu Brasil!Que sonha com a volta do irmão do Henfil

Com tanta gente que partiuNum rabo de fogueteChoraA nossa Pátria mãe gentilChoram Marias e ClarissesNo solo do BrasilMas sei que uma dor assim pungenteNão há de ser inutilmente

A esperança

Dança na corda bamba de sombrinhaE em cada passo dessa linhaPode se machucarAzar!A esperança equilibristaSabe que o show de todo artistaTem que continuar.

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Aula 01Aula 01

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Aula 01Aula 01Cidadão (Zé Geraldo/1979)Tá vendo aquele edifício moço?Ajudei a levantarFoi um tempo de aflição, eram quatro conduçãoDuas pra ir, duas pra voltarHoje depois dele pronto, olho pra cima e fico tontoMas me chega um cidadão e me diz desconfiado, - Tu tá aí admirado ou tá querendo roubar?Meu domingo tá perdido, vou pra casa entristecidoDá vontade de beberE pra aumentar o meu tédioEu nem posso olhar pro prédio que eu ajudei a fazer

Tá vendo aquele colégio moço?Eu também trabalhei láLá eu quase me arrebento, pus a massa fiz cimentoAjudei a rebocarMinha filha inocente, vem pra mim toda contentePai vou me matricularMas me diz um cidadão:- Criança de pé no chão aqui não pode estudar

Esta dor doeu mais fortepor que que eu deixei o norte eu me pus a me dizerLá a seca castigava mas o pouco que eu plantavatinha direito a colher

Tá vendo aquela igreja moço?Onde o padre diz amémPus o sino e o badalo, enchi minha mão de caloLá eu trabalhei tambémLá sim valeu a pena, tem quermesse, tem novenae o padre me deixa entrarFoi lá que Cristo me disse:- Rapaz deixe de tolice, não se deixe amedrontarFui eu quem criou a terra, enchi o rio fiz a serraNão deixei nada faltarHoje o homem criou asas e na maioria das casasEu também não posso entrar

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Aula 01Aula 01

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Aula 01Aula 01O meu guri (Chico Buarque/1981)Quando, seu moço, nasceu meu rebentoNão era o momento dele rebentarJá foi nascendo com cara de fomeE eu não tinha nem nome pra lhe darComo fui levando, não sei lhe explicarFui assim levando ele a me levarE na sua meninice ele um dia me disseQue chegava láOlha aíOlha aíOlha aí, ai o meu guri, olha aíOlha aí, é o meu guriE ele chega

Chega suado e veloz do batenteE traz sempre um presente pra me encabularTanta corrente de ouro, seu moçoQue haja pescoço pra enfiarMe trouxe uma bolsa já com tudo dentroChave, caderneta, terço e patuá

Um lenço e uma penca de documentosPra finalmente eu me identificar, olha aíChega no morro com o carregamentoPulseira, cimento, relógio, pneu, gravadorRezo até ele chegar cá no altoEssa onda de assaltos tá um horrorEu consolo ele, ele me consolaBoto ele no colo pra ele me ninarDe repente acordo, olho pro ladoE o danado já foi trabalhar, olha aí

Chega estampado, manchete, retratoCom venda nos olhos, legenda e as iniciaisEu não entendo essa gente, seu moçoFazendo alvoroço demaisO guri no mato, acho que tá rindoAcho que tá lindo de papo pro arDesde o começo, eu não disse, seu moçoEle disse que chegava lá

Professor Roberson CalegaroProfessor Roberson CalegaroProfessor Roberson CalegaroProfessor Roberson Calegaro

Aula 01Aula 01