distalizador jones jig um método alternativo para a distalização de molares superiores 80

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18 Artigo Inédito Resumo Durante muitas décadas a distaliza- ção efetiva dos molares superiores per- manentes foi praticada quase que exclu- sivamente por meio da utilização de for- ça extrabucal. Hoje em dia, inúmeros dispositivos que colocam em cena a pos- sibilidade de distalizar os molares com ancoragem intrabucal ganham relevân- cia para driblar a falta de cooperação do paciente. Um deles é o distalizador “Jones Jig” – objeto de estudo do presente trabalho. O distalizador “Jones Jig” surgiu como alternativa para distalização de mola- res, e são nos casos de pequenas distali- zações que ele encontra sua indicação mais precisa, principalmente com apli- cação unilateral. Há sólidas razões para acreditar que, pelas suas características mecânicas, ele não é capaz de superar os efeitos produzidos pelo aparelho ex- trabucal. Em situações onde se faz ne- cessário alterações ortopédicas na ma- xila, grandes distalizações com movi- mento de translação dos molares e gran- de controle de ancoragem, torna-se im- perativo recorrer ao aparelho extrabucal, cabendo ao ortodontista esgotar os re- cursos de motivação do paciente para desfrutar de todos os efeitos deste apa- relho, ainda insuperável na clínica or- todôntica. Por outro lado, o crescimento facial prega restrições ao uso da anco- ragem extrabucal para distalização dos molares em padrão facial Classe I. Ciente das características mecânicas e efeitos tão distintos destes dois apare- lhos, o aparelho extrabucal e o distali- zador “Jones Jig”, o ortodontista deve guiar-se pelo bom senso para optar por aquele que melhor preencha os requisi- tos biomecânicos e de cooperação de cada paciente para a finalização ideali- zada. INTRODUÇÃO O aparelho extrabucal idealizado por Kloehn, nos idos de 1940, ainda consti- tui um dos recursos terapêuticos utiliza- dos de rotina para ancoragem, distaliza- ção de molares e produção de altera- Omar Gabriel da Silva Filho * Elaine Saltão Rufino Artuso ** Arlete de Oliveira Cavassan * Leopoldino Capelozza Filho *** * Ortodontistas do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (HRAC-USP), Bauru-SP. ** Aluna do Curso de Especialização em Ortodontia da Fundação para o Estudo e Tratamento das Deformidades Craniofaciais - FUNCRAF, Bauru-SP. *** Professor Assistente Doutor da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB- USP) e Responsável pelo Setor de Ortodontia do HRAC-USP. Unitermos: Má oclusão; Distalização dos molares superiores; Molas de Níquel e Titânio; Aparelho “Jones Jig”. Distalizador “Jones Jig”: Um Método Alternativo para a Distalização de Molares Superiores The “Jones Jig” Appliance: An Alternative to Distalize Upper Molars Omar Gabriel da Silva Filho R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 5, n. 4, p. 18-26, jul./ago. 2000

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Artigo Inédito

ResumoDurante muitas décadas a distaliza-

ção efetiva dos molares superiores per-manentes foi praticada quase que exclu-sivamente por meio da utilização de for-ça extrabucal. Hoje em dia, inúmerosdispositivos que colocam em cena a pos-sibilidade de distalizar os molares comancoragem intrabucal ganham relevân-cia para driblar a falta de cooperação dopaciente. Um deles é o distalizador“Jones Jig” – objeto de estudo do presentetrabalho.

O distalizador “Jones Jig” surgiu comoalternativa para distalização de mola-res, e são nos casos de pequenas distali-zações que ele encontra sua indicaçãomais precisa, principalmente com apli-cação unilateral. Há sólidas razões paraacreditar que, pelas suas característicasmecânicas, ele não é capaz de superaros efeitos produzidos pelo aparelho ex-trabucal. Em situações onde se faz ne-cessário alterações ortopédicas na ma-xila, grandes distalizações com movi-mento de translação dos molares e gran-

de controle de ancoragem, torna-se im-perativo recorrer ao aparelho extrabucal,cabendo ao ortodontista esgotar os re-cursos de motivação do paciente paradesfrutar de todos os efeitos deste apa-relho, ainda insuperável na clínica or-todôntica. Por outro lado, o crescimentofacial prega restrições ao uso da anco-ragem extrabucal para distalização dosmolares em padrão facial Classe I.

Ciente das características mecânicase efeitos tão distintos destes dois apare-lhos, o aparelho extrabucal e o distali-zador “Jones Jig”, o ortodontista deveguiar-se pelo bom senso para optar poraquele que melhor preencha os requisi-tos biomecânicos e de cooperação decada paciente para a finalização ideali-zada.

INTRODUÇÃOO aparelho extrabucal idealizado por

Kloehn, nos idos de 1940, ainda consti-tui um dos recursos terapêuticos utiliza-dos de rotina para ancoragem, distaliza-ção de molares e produção de altera-

Omar Gabriel da Silva Filho *

Elaine Saltão Rufino Artuso **

Arlete de Oliveira Cavassan *

Leopoldino Capelozza Filho ***

* Ortodontistas do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo(HRAC-USP), Bauru-SP.

** Aluna do Curso de Especialização em Ortodontia da Fundação para o Estudo e Tratamento das DeformidadesCraniofaciais - FUNCRAF, Bauru-SP.

*** Professor Assistente Doutor da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP) e Responsável pelo Setor de Ortodontia do HRAC-USP.

Unitermos:Má oclusão;Distalização dosmolares superiores;Molas de Níquel eTitânio; Aparelho“Jones Jig”.

Distalizador “Jones Jig”: Um Método Alternativopara a Distalização de Molares SuperioresThe “Jones Jig” Appliance:An Alternative to Distalize Upper Molars

Omar Gabriel daSilva Filho

R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 5, n. 4, p. 18-26, jul./ago. 2000

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ções ortopédicas na maxila, com ex-celentes resultados há muito tempoenfatizados na literatura1,2,22,30. O apa-relho extrabucal apresenta versatili-dade suficiente, do ponto de vista clí-nico, para permitir a distalização uni-lateral ou bilateral dos molares per-manentes, com total controle sobre ocentro de rotação e sobre o compo-nente vertical dos molares, através doajuste da linha de ação da força e dotipo de tração aplicada, respectiva-mente1,19. Além do efeito ortodônticode distalização dos molares, o uso doaparelho extrabucal durante a faseativa de crescimento facial traz alte-rações ortopédicas importantes de ini-bição parcial do deslocamento ante-rior da maxila2, o que pode ser dese-jável em um paciente com um padrãofacial de Classe II, principalmentediante de um componente de progna-tismo maxilar.

No entanto, a eficiência do apa-relho extrabucal está intimamente as-sociada à persistente cooperação dopaciente, em virtude deste aparelhoser removível, de impacto estético ne-gativo, e por apresentar elementosexternos. Ao mesmo tempo que a tra-ção extrabucal desempenha um papelpositivo sobre a mecanoterapia, portransferir a força reativa para fora dacavidade bucal, há o lado negativoda intolerância por alguns pacientes.Em virtude da total dependência dacooperação e aceitação do paciente,é que surgiram no mercado nestes úl-

timos anos aparelhos alternativoscom o objetivo de distalização dosmolares superiores, priorizando a an-coragem intrabucal3-7,9-18,20,21,23-26,28.

Os aparelhos de ancoragem intra-bucal exibem um mecanismo de açãobem diferente do aparelho extrabu-cal até então usado à exaustão. Qua-se sempre são fixos, e usam forças su-aves, porém contínuas, liberadas pormolas super-elásticas de níquel etitânio4,7,9,10,14,21, fios super-elásticos deníquel e titânio23, magnetos3, 4, 9, 13, 15, 18,e helicóides e alças confeccionadoscom fios de TMA5, 6, 12, 17 ou de aço ino-xidável20, 25, 26. Observamos que estesaparelhos têm sido apresentados aosortodontistas com o apelo de, pelomenos em tese, obter a movimenta-ção desejada dos molares sem a ne-cessidade de colaboração do pacien-te. Dentro deste princípio, o distali-zador “Jones Jig”10, 21 representa umdos benefícios que a contemporanei-dade vem trazendo à distalização dosmolares.

O objetivo do presente estudo édar contribuição ao debate das van-tagens e desvantagens do distaliza-dor “Jones Jig”, tomando como refe-rência o aparelho extrabucal.

Descrição do Aparelho “JonesJig” e Considerações Mecânicas

O distalizador “Jones Jig” foi pro-jetado no intento de distalizar mo-lares superiores com ancoragem in-trabucal e intramaxilar. Consiste

numa un idade de ancoragemdentomuco-suportada, apoiada nospré-molares, e numa unidade ativa,contendo uma mola de Níquel eTitânio de secção aberta21 (fig. 1).

A unidade de ancoragem, com fi-nalidade de resistir à reação da for-ça distalizadora ou mantê-la den-tro de limites clínicos toleráveis, éformada por um botão de Nanceunido preferencialmente aos segun-dos pré-molares. Um fio de aço.036’’ une as bandas e o apoio deresina acrílica.

A unidade ativa compreende umamola de Níquel e Titânio de secçãoaberta e um cursor deslizante, encai-xados em um fio de aço de .030”. Aextremidade distal deste fio de aço ébifurcada para ser adaptada simul-taneamente nos acessórios retangu-lar e redondo do tubo duplo do pri-meiro molar permanente. Esta par-ticularidade tem a intenção de con-trolar o centro de rotação dos mola-res durante a sua distalização. Oaparelho é ativado quando o cursordeslizante é puxado em direção aomolar por meio de um f io deamarrilho que parte do pré-molar deancoragem (fig. 1). A distalização docursor deslizante comprime a molade Níquel e Titânio que passa, en-tão, a liberar uma força de naturezacontínua. Estima-se que a força ne-cessária para distalização do molardeve aproximar-se de 50g. A ativa-ção da mola deve ser feita em inter-

FIGURA 1 – Desenho esquemático do distalizador “Jones Jig”: A) unidade de ancoragem (botão de Nance adaptado aos segundospré-molares) e B) elemento ativo (mola de níquel e titânio e cursor deslizante adaptados por vestibular).

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tro de resistência dos molares1,19. Istosignifica que o movimento predomi-nante do molar, produzido pelo “JonesJig”, é de inclinação e não detranslação, o que é indesejável por sermenos estável. Há também outro fa-tor limitante de caráter mecânico: aancoragem é intrabucal, ou seja, a re-ação da força liberada está dentro daboca, criando um efeito indesejá-

valos de 4 a 8 semanas.A principal vantagem deste apa-

relho é independer da colaboração dopaciente para promover a distaliza-ção dos molares. As figuras 2 a 6 ilus-tram o efeito distalizador do “JonesJig” para correção de uma má oclu-são com relação dentária de Classe IIunilateral. O aparelho libera forçasuave, de natureza contínua, e com

ancoragem intrabucal e intramaxilar,e, principalmente por isto, é muitobem aceito pelos pacientes. Visto, po-rém, pela ótica da mecânica, ele nãoé capaz de controlar efetivamente ocentro de rotação do molar durante adistalização, o que é facilmentecontornável com a tração extrabucal,através da inclinação do braço exter-no do arco facial em relação ao cen-

FIGURA 2 – Má oclusão classe I com apinhamento na região do canino superior direito. A relação sagital de 1/4 de classe II do ladodireito está contribuindo para a mesio-infra-vestibulo oclusão do dente 13.

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vel de inclinação para frente daunidade de ancoragem28. Em suma,a perda de ancoragem lhe é indis-sociável.

Distalização dos Molares comAncoragem Intrabucal: Revi-são de Literatura

Muitos ortodontistas têm explo-rado um método alternativo para adistalização dos molares no afã deeliminar a principal variável deter-minante da eficiência do aparelhoextrabucal – a cooperação do pacien-te. A tabela 1 resume os dispositivospublicados na literatura com esta fi-nalidade. A grande maioria dessesaparelhos têm em comum a ancora-gem intrabucal, intramaxilar, dento-muco-suportada e fixa – o botão de

Nance. A exceção vai para os apare-lhos removíveis com molas para dis-talização dos molares, preconizadospor CETLIN, HOEVE (1983) 8 eJECKEL, RAKOSI (1991)20, com pres-crição de pelo menos 18 horas diá-rias de uso, e no uso de elásticos deClasse II preconizado por MUSE et al.(1993)25 para ativar a distalizaçãodos molares com o aparelho de dis-talização de WILSON31 (1978). Nanossa opinião, não existe nenhumavantagem na indicação desses apa-relhos removíveis já que mostramtodas as desvantagens da ancora-gem intrabucal, acrescidas da neces-sidade de colaboração do paciente,principal desvantagem da ancora-gem extrabucal. Com relação ao usodo elástico de Classe II, a ancoragem

intermaxilar ainda tem o inconveni-ente de acarretar compensações noarco dentário inferior.

A ancoragem dentomuco-suporta-da difere pouco entre os vários dis-positivos intrabucais fixos criadospara a distalização dos molares. Aparte ativa, com grande diversifica-ção, é que caracteriza cada um des-tes aparelhos. Pela seqüência crono-lógica, os magnetos repelentes povo-aram as primeiras publicações perti-nentes3,4,9,13,15,18,24, uma vez que osmagnetos foram introduzidos comoum sistema de força viável em orto-dontia antes das molas super-elásti-cas. Sem sombra de dúvida, os mag-netos têm se mostrado efetivos nadistalização dos molares, inclusivecom relatos de distalização simultâ-

Autor Ano Aparelho Ancoragem Força Ativação Distalizaçãox 1 mês

GHAFARI11 1985 Mola de niti Ap. de Nance Mensal 1.5 mm

GIANELLY et al. 1988 Magnetos Ap. de Nance 220/225g 2/2 semanas 0.5 - 2.5mm

(início)

GIANELLY et al. 1989 Magnetos Ap. de Nance 2/2 semanas 0.5 - 2.5 mm

GIANELLY et al. 1991 Mola de niti Ap. de Nance 100 g Mensal 1 - 1.5 mm

ITOH et al. 1991 Magnetos Ap. de Nance 8 oz 2/2 semanas 3.5 mm

JECKEL, RAKOSI 1991 Mola Splint Maxilar 2N (início) 1vez em 2 mm

distalizadora Removível 5-6N 5 meses

BONDEMARK, KUROL 1992 Magnetos Ap. de Nance 220g (início) 3/3 semanas 1 mm

-60g

HILGERS 1992 Pêndulo Ap. de Nance 3/3 semanas 1 mm

JONES, WHITE 1992 Jones Jig Ap. de Nance 70-75g Mensal

LOCATELLI et al. 1992 Fio niti Ap. de Nance 100g Constante 1 – 2 mm

super elástico elástico cl II

REINER 1992 Mola Espiral Ap. de Nance 150g 2/2 semanas 1 mm

+ Bihélice + Bihélice

MUSE et al. 1993 Wilson rapid Elástico de 2-6 ounce Mensal 0.5 mm

molar distaliz. classe II

BONDEMARK et al. 1994 Mola de niti Ap. de Nance 225g-100g Mensal 0.5 mm

x magnetos 225g-100g Mensal 0.35 mm

FREITAS et al. 1995 Jones Jig Ap. de Nance 70-75 g Mensal 0.5 - 1 mm

GREENFIELD 1995 Pistão Ap. de Nance 1.5-2 oz 2/2 meses 1 mm

CARANO, TESTA 1996 Distal Jet Ap. de Nance 150-200 g Mensal 0.5 - 1 mm

GHOSH, NANDA 1996 Pêndulo Ap. de nance Mensal 0.5 mm

BYLOFF, DARENDELIER 1997 Pêndulo Ap. de nance 200-250g 2/2meses 1 mm

BYLOFF et al.

EVERDI et al. 1997 Magnetos x Ap. de Nance 225 g Semanal 1 mm

mola de niti Ap. de Nance 225 g Mensal 1.5 mm

TABELA 1Síntese da ancoragem intrabucal disponível na literatura para distalização dos molares,

abrindo novas perspectivas para a mecanoterapia.

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nea dos primeiros e segundos mola-res3, 4. Mas o fato é que a movimenta-ção não ocorre com a mesma eficiên-cia alcançada com a ancoragem ex-trabucal. GIANELLY et al. (1989)15, porexemplo, atribuiram 80% do efeito doaparelho em distalização dos molares,com apenas 20% de perda de ancora-gem. Já ITOH et al. (1991)18 encontra-ram de 30% a 50% de perda de anco-ragem. Afora todas as desvantagensmecânicas encontradas em todos osaparelhos intrabucais para distaliza-ção de molares, como a comprovadaausência de controle do centro de ro-tação durante a distalização dos mo-lares3,4, os magnetos exibem algunsinconvenientes inerentes: alto custo,dificuldade de obtenção, volumeintrabucal aumentado.

O aparelho tipo pêndulo, descritoinicialmente por HILGERS (1992)17, eseguido por GHOSH, NANDA (1996)12

e BYLOFF, DARENDELILER (1997)5;BYLOFF et al. (1997)6 usa tambémcomo ancoragem um botão de Nancemodificado, de onde parte o elementoativo. A parte responsável pela dista-lização dos molares consiste em alçase helicóides confeccionados em fioTMA de .032’’, que libera força suavee contínua quando adaptados ao tubopalatino dos molares. Pelo menos doponto de vista teórico, é um aparelhomecanicamente mais versátil do queos demais da mesma categoria, já quepermite um melhor controle do centrode rotação durante a movimentaçãodo molar, além do controle vertical eajustes rotacionais.

Embora o distalizador “Jones Jig”use uma mola de Níquel e Titâniocomo elemento gerador da força paraa distalização do molar, como bemmostrado nas figuras1 e 3, essas mo-las super elásticas também podem ser

aplicadas com o mesmo objetivo sem,no entanto, fazerem parte do apare-lho Jones Jig. Como exemplo na litera-tura temos a mola de Níquel e Titâniousada por GIANELLY et al. (1991)14;LOCATELLI et a l . (1992)23;BONDEMARK et al. (1994)4 e EVERDIet al. (1997)9.

Uma versão do distalizador “JonesJig”, com a parte ativa ajustada porlingual, no tubo palatino do molar,recebeu o nome de “Distal Jet”7. Umasuposta vantagem clínica em relaçãoao aparelho “Jones Jig” refere-se à pos-sibilidade de mecânica vestibular si-multânea. E por falar em mecânicadistalizadora por vestibular e lingual,GREENFIELD (1995)16 adaptou mo-las por vestibular e lingual, num dis-positivo especialmente elaboradopara tal, recebendo o nome de “apa-relho pistão fixo”, para corrigir a re-lação dentária de Classe II com maior

FIGURA 3 – Distalizador “Jones Jig” instalado para distalizar o dente 16. As fotografias reiteram que distalização do molar eancoragem intrabucal não são incompatíveis e reforça a convicção de que a distalização unilateral é o efeito mais eficaz do aparelho“Jones Jig”.

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controle rotacional durante a movi-mentação.

Paralelo Acadêmico entre oAparelho Extrabucal e o Dista-lizador “Jones Jig”

- Vantagens do AparelhoExtrabucal

1 - Simplicidade na instalação pelo

profissional e no manuseio pelo pa-ciente;

2 - Número reduzido de bandas ede procedimentos clínicos operacio-nais;

3 - Ancoragem extrabucal. A rea-ção à força está fora da boca;

4 - Controle do centro de rotaçãodurante a distalização dos molares, re-lacionando a linha de ação de força

ao centro de resistência do molar, atra-vés da inclinação do braço externo doarco facial;

5 - Controle vertical da movimen-tação do molar através da seleção dotipo de tração, se alta, média ou baixa;

6 - Controle transversal da movi-mentação do molar através dos ajus-tes do arco interno;

7 - Versatilidade para distalização

FIGURA 4 – Uma vez distalizado o molar, a ancoragem torna-se fundamental para preservar o ganho de espaço durante a distaliza-ção dos pré-molares e caninos. A ancoragem aqui foi garantida pela barra transpalatina e pela inclusão do dente 17.

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unilateral e bilateral;8 - Versatilidade para distaliza-

ção de pré-molares na ausência dosmolares27, 29;

9 - Possibilidade de efeito ortopé-dico se aplicado em fase de crescimen-to facial, com restrição parcial do des-locamento anterior da maxila.

- Desvantagens do AparelhoExtrabucal

1 - Impacto anti-social;2 - Depende exclusivamente da

colaboração do paciente;3 - Efeito ortopédico. Ele passa a

ser desvantagem nos padrões faciaisClasse I, quando aplicado em fase decrescimento.

- Vantagens do Distalizador“Jones Jig”

1 - Por ser fixo, independe total-mente da colaboração do paciente,

no tocante ao número de horas deuso;

2 - Por ser intrabucal, é estético,não trazendo impacto anti-social;

3 - Boa aceitação do paciente;4 - Distaliza molares com força su-

ave, de natureza contínua – caracte-rísticas das ligas de Níquel e Titânio;

5 - Força compatível com custosbiológicos reduzidos: forças de mag-nitude suave;

6 - Menor sensibilidade e mobili-dade dos molares durante a distali-zação;

7 - Eficiência nas pequenas dis-talizações, sobretudo nas unilaterais.

Desvantagens do Distalizador“Jones Jig”

1 - Número maior de procedi-mentos clínicos para a sua instala-ção, na confecção da unidade deancoragem;

2 - Usa bandas de pré-molares;bandas, estas, menos freqüentes emestoques convencionais;

3 - Ancoragem insuficiente paradistalizações simétricas. É possívelusar um recurso clínico para superareste inconveniente: a distalizaçãounilateral de cada vez;

4 - Impossibilidade de controle docentro de rotação durante a distali-zação dos molares. Embora o dispo-sitivo de furca da unidade ativa te-nha a intenção de favorecer o movi-mento de corpo, isto só acontece noinício da distalização. Por isso, émais fácil conseguir movimento detranslação nas pequenas distaliza-ções.

5 - Não promove efeito ortopédi-co. Esta característica só é desvanta-gem nas más oclusões com padrõesfaciais de Classe II;

6 - Dificulta a higienização.

FIGURA 5 – Nivelamento superior após a distalização do segmento superior direito.

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AbstractFor many years, distalization of

the upper molars has been possibleonly with the extraoral appliance.Nowadays, new devices that need nopatient cooperation are available,such as the “Jones Jig”.

The “Jones Jig” is indicated forsmall distalizations, mainly unilat-eral. It is clear that this device is notcapable of overcoming the effect of

the extraoral appliance. In situationswhere maxillary orthopedic alter-ations, great molar distalization andgreat anchorage control are needed,it is imperative that the extraoral ap-pliance should be the first choice. Onthe other hand, there are some re-strictions as for the use of theextraoral appliance in Class I pa-tients, as far as craniofacial growth

is concerned.Therefore, orthodontists should

always be aware of the effects of dif-ferent appliances so that their indi-cation is as adequate as possible.

Key-words: Malloclusion; Maxil-lary molar distal movement; “JonesJig” appliance.

FIGURA 6 - Oclusão normal pós-tratamento.

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Endereço para correspondênciaOmar Gabriel da Silva FilhoSetor de Ortodontia do HRAC-USPRua Silvio Marchione, 3-2017043-900 - Bauru - SPe-mail: [email protected]

R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 5, n. 4, p. 18-26, jul./ago. 2000