dissertação --- thomas reid e o problema da indução

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  • 7/25/2019 Dissertao --- Thomas Reid e o Problema Da Induo

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    PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DO RIO GRANDE DO SULFACULDADE DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS

    CURSO DE PS-GRADUAO EM FILOSOFIA

    PABLO FERNANDO CAMPOS PIMENTEL

    THOMAS REID: O PROBLEMA DA INDUO

    Porto Alegre2015

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    PABLO FERNANDO CAMPOS PIMENTEL

    THOMAS REID: O PROBLEMA DA INDUO.

    Dissertao apresentada como requisitopara a obteno do grau de Mestre peloPrograma de Ps-Graduao daFaculdade de Filosofia da PontifciaUniversidade Catlica do Rio Grande doSul.

    Orientador: Prof. Dr. Roberto Hofmeister Pich

    Porto Alegre2015

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    PABLO FERNANDO CAMPOS PIMENTEL

    THOMAS REID: O PROBLEMA DA INDUO

    Dissertao apresentada como requisitopara a obteno do grau de Mestre peloPrograma de Ps- Graduao daFaculdade de Administrao da PontifciaUniversidade Catlica do Rio Grande do

    Sul.

    Aprovada em _____ de _______________ de 2015.

    BANCA EXAMINADORA:

    ........................................................................................................................

    ........................................................................................................................

    ........................................................................................................................

    Porto Alegre2015

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    Dedico esse trabalho minha amada

    esposa, aquela que priorizou minha vida e

    estudos e compartilha a vida comigo.

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    AGRADECIMENTOS

    Deus pela Graa derramada em minha vida, pela fora e nimo dados

    mim, to pequena criatura, mas valoroso aos Seus olhos.

    Ao Prof. Dr. Roberto Hofmeister Pich, pela amizade, pacincia e zeloso

    conhecimento partilhado comigo. Por sempre acreditar em minha capacidade e

    potencial.

    minha esposa Francielli Comiran Pimentel, pelo dedicado amor,

    compreenso e ostensivo apoio nas longas horas de estudo e escrita.

    queles que jamais duvidaram de minha capacidade em fazer tal tarefa.

    Aos amigos e irmos em Cristo pelo constante estmulo, carinho e oraes.

    Aos amados pais que nunca deixaram de incentivar-me e animar-me no

    necessrio.

    banca que me fez valiosos comentrios e sugestes.

    PUCRS que proporcionou uma bolsa de iseno, possibilitando meu

    ingresso no mestrado.

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    No sendo a filosofia seno o estudo da sabedoria e da

    verdade, poder-se-ia com razo esperar que aqueles que lhe

    dedicaram mais tempo e esforos desfrutassem de maiortranquilidade e serenidade mental, de maior clareza e

    evidncia no conhecimento, e fossem menos perturbados com

    dvidas e dificuldades do que os demais homens. Contudo,

    vemos a massa inculta dos homens que seguem o caminho do

    simples senso comum e so governados pelos ditames da

    Natureza, em geral, tranquila e livre de preocupaes. Para

    eles, nada do que familiar parece inexplicvel ou difcil decompreender. No se queixam de nenhuma falta de evidncia

    em seus sentidos e esto fora de qualquer perigo de se tornar

    cticos. Mas quando nos afastamos dos sentidos e do instinto

    para seguir a luz de um principio superior com o intuito de

    raciocinar, meditar e refletir sobre a natureza das coisas, mil

    escrpulos surgem em nossa mente a respeito do que antes

    acreditvamos compreender perfeitamente.

    George Berkeley

    (2010, p.33)

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    RESUMO

    O objetivo do presente trabalho apresentar uma possvel teoria reidiana para uma

    justificao ao problema da induo a partir de seus dois grandes escritos, a saber,

    o An Inquiry into the Human Mind on the Principles of Common Sensede 1764 e o

    Essays on the Intellectual Powers of Mende 1785. Desse modo, surgir de forma

    bastante sutil a concepo de Thomas Reid acerca do Problema da Induo, o

    qual discutido primeiramente no Inquiry, no entanto, aparecem abordagens

    bastante importantes e cruciais tambm no Essays. No deve ser esquecido que ao

    passo que a teoria reidiana da induo vai emergindo, um debate e uma anlise vo

    sendo feitos por Reid em seu grande contemporneo Hume. A importncia da

    insero de Hume indiscutvel pelo fato de este ter sido do tempo de Reid, e,

    tambm, pelos contornos de seu pensamento acerca do raciocnio indutivo e como

    Reid o interpreta e, de certo modo, vai alm. Deste modo, alguns captulos

    trabalharo com o problema da induo nas duas respectivas obras de Reid, IHM e

    EIP. Tambm ser feita uma anlise do que foi escrito acerca da induo e outros

    assuntos perifricos em Reid, da parte de outros pesquisadores. A que conclusesReid chega numa e noutra obra, e perceber o que os crticos sintetizaram de seu

    pensamento nesse aspecto, a saber, no que tange induo.

    Palavras-chave: Thomas Reid; Hume; Induo; Inquiry; Essays.

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    ABSTRACT

    The purpose of this paper is to present a possible reidian theory for a justification to

    the problem of induction from its two major writings, namely, "An Inquiry into the

    Human Mind on the Principles of Common Sense" 1764 and "Essays on the

    Intellectual Powers of Men" of 1785. Thus, appear quite subtle conception of Thomas

    Reid about "Problem of Induction", which is primarily discussed in the Inquiry,

    however, they appear quite important approaches and crucial also in Essays. It

    should not be forgotten that while the reidiana theory of induction is emerging, a

    debate and an analysis will be made by Reid in his great contemporary Hume. The

    importance of Hume's inclusion is indisputable because it has been Reid's time, and

    also by the contours of his thought about inductive reasoning and how Reid

    understands and, in a way, goes further. Therefore, some chapters will work with the

    problem of induction in the two respective works of Reid, HMI and EIP. It will also be

    an analysis of what was written about the induction and other peripheral issues in

    Reid, the other researchers. What conclusions Reid comes in and another work, and

    realize what critics synthesized his thinking in this respect, namely with regard toinduction.

    Keywords: Thomas Reid; Hume; Induction; Inquiry; Essays.

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    LISTA DE ABREVIATURAS

    EIP - Essays on the Intellectual Powers of Man

    IHM -An Inquiry into the Human Mind on the Principles of Common Sense

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    SUMRIO

    1 INTRODUO ....................................................................................................... 11

    2 O PROBLEMA DA INDUO EM DAVID HUME.............................................. 15

    3 PERCEPO, CRENA, EVIDNCIA E PRIMEIROS PRINCPIOS. ................... 21

    4 THOMAS REID: AN INQUIRY INTO THEHUMAN MIND ON THE PRINCIPLESOF COMMON SENSE. UMA PRIMEIRA INCURSO NA OBRA. ......................... 30

    4.1THOMASREIDEOSPRIMEIROSPRINCPIOSAUTOEVIDENTES.................. 344.2THOMASREID:ANINQUIRYINTOTHEHUMANMINDONTHEPRINCIPLESOFCOMMONSENSE:UMAEPISTEMOLOGIADOTESTEMUNHOEALGUMASCONSIDERAESEMDAVIDHUME. ..................................................................... 394.3THOMASREID:CONSIDERAESFINAISSOBREOINQUIRY(IHM). ......... 51

    5 THOMAS REID: ESSAYS ON THE INTELLECTUAL POWERS OF MAN ENSAIO IPRELIMINAR: CONSIDERAES INICIAIS........................................ 55

    5.1THOMASREID:ESSAYSONTHEINTELLECTUALPOWERSOFMANCONSIDERAESSOBREOJUIZO..................................................................... 585.1.1THOMAS REID:EIPCONSIDERAES SOBRE OJUZO:OS PRIMEIROS PRINCPIOSDAS VERDADES CONTINGENTES. ........................................................................................... 60

    6 THOMAS REID: ESSAYS ON THE INTELLECTUAL POWERS OF MEN

    CONSIDERAES SOBRE O RACIOCNIO. .......................................................... 69

    6.1THOMASREID:EIPSOBRERACIOCNIOPROVVEL............................. 706.2THOMASREID:EIPSOBREASEVIDNCIASPROVVEIS? ...................... 72

    7 THOMAS REID: EIPCONSIDERAES DO CAPTULO IV SOBRE OCETICISMO DO SR. HUME COM RESPEITO RAZO. ..................................... 76

    8 CONCLUSO ........................................................................................................ 80

    REFERNCIAS ......................................................................................................... 87

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    1 INTRODUO

    Esta investigao tem como cerne Oproblema da induo emThomas Reid

    (1710 1796) nascido em Strachan, Aberdeen, fundador da escola escocesa da

    filosofia do senso comum. Educado no Marischal College, em Aberdeen, lecionou na

    Kings College tambm em Aberdeen. Depois foi nomeado professor de filosofia

    moral em Glasgow1.

    Pode ser feita uma breve exposio do que o senso comum (common

    sense), por meio de dois recortes no prprio texto de Reid, a saber, conforme o

    entendimento de Reid, (2002, p. 424): Senso comum aquele grau de julgamento

    que comum aos homens com os quais conversamos e realizamos negcios. E,

    tambm de acordo com Reid (2002, p. 426):

    O mesmo grau de entendimento que torna um homem capaz de agir comprudncia na conduo da vida, o torna capaz de descobrir o que verdadeiro e o que falso em questes que so autoevidentes, e que elenitidamente apreende.

    Temos, portanto, duas definies muito claras do que para Reid senso

    comum, a saber, que (I) um grau de julgamento comum aos homens e (II) que um grau de entendimento que torna o homem capaz de descobrir o que verdadeiro

    ou falso no que se refere a questes ou assuntos que envolvem autoevidncia.

    Conforme escreve Guerreiro (1999, p. 167168):

    Contudo, h algumas diferenas relevantes entre as posies defendidaspor Reid no sculo XVIII e por Moore no nosso sculo. Apesar de ambosconceberem a noo de common sense como um discurso ou uma viso demundo baseado na experincia comum a todos os homens se expressandomediante proposies auto-evidentes, Reid sustentou decididamente uma

    teoria direta da percepo. Contrariamente a uma orientao dentro domovimento empirista moderno provavelmente iniciada por Locke eendossada tanto por Berkeley como por Hume de acordo com a qual oque conhecemos imediatamente so ideias Reid no hesitou emproclamar que temos um conhecimento imediato das prprias coisas.

    Nesse trecho temos definies e afirmaes bastante incisivas acerca de

    senso comum com respeito Reid e outro pensador que adotou a mesma viso e

    com relao diferena entre as teses fundamentais de como ocorre nossa

    percepo do mundo exterior num primeiro momento. Logo, (I) senso comum nesse

    1 Cf. GALLIE, Roger. REID, THOMAS. In: CRAIG, Edward (Ed.). The Shorter RoutledgeEncyclopedia of Philosophy.London-New York: Routledge, 2005. p. 893.

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    contexto uma viso de mundo baseada na experincia compartilhada entre todos

    os homens que se expressam por meio de afirmaes irrecusveis, por assim dizer,

    e (II) de acordo com as teses bsicas de como podemos perceber o mundo

    extramental, Reid vai contra o que muitos de seus contemporneos britnicos

    pensavam, ou seja, que s temos conhecimento imediato de ideias e no do mundo

    em si, ao passo que Reid defende um realismo direto, a saber, que temos

    conhecimento ou acesso direto ao mundo e s coisas, sem necessitar da mediao

    de ideias para isso.

    Portanto, senso comum parece ser aquele conjunto de proposies ou

    crenas que os homens compartilham entre si, e, esse conjunto de proposies ou

    crenas so tomados como verdades autoevidentes servindo de base para a

    aceitao de outras proposies.

    Para LEHRER (2002, p. 144):

    Senso Comum a habilidade para julgar sobre o que verdadeiro e falsocom respeito a questes que so evidentes sem o uso da razo.Julgamentos de senso comum, bem como sua evidncia so o resultado deprimeiros princpios inatos da mente e constituem as bases da investigaocientfica e da vida prtica.

    Essa definio de senso comum j carrega em si questes que aparecero nodecorrer deste trabalho, ou seja, os termos julgamento ou juzo, evidncia e

    primeiros princpios. No entanto, precisamos ressaltar algo importante posto aqui,

    que julgar acerca do que verdadeiro ou falso em relao quilo que evidente

    sem o apelo razo. Essa uma afirmao bastante interessante no que diz

    respeito ao senso comum, visto que afirmado pelo autor acima referido que, tanto

    julgamento quanto evidncia so fruto de primeiros princpios constituintes de nossa

    natureza.Esse estudo tem a inteno de apresentar comunidade de investigao uma

    justificao da induo, ou, a forma como Thomas Reid busca justificar a inferncia

    ou raciocnio indutivo como fonte de conhecimento confivel.

    O problema da induo est em que, segundo Hume (2009, p. 121):

    A razo jamais pode nos mostrar a conexo entre dois objetos, mesmo coma ajuda da experincia e da observao de sua conjuno constante emtodos os casos passados. Portanto, quando a mente passa da ideia ouimpresso de um objeto ideia de outro objeto, ou seja, crena neste, ela

    no est sendo determinada pela razo, mas por certos princpios queassociam as ideias desses objetos, produzindo sua unio na imaginao.

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    Parece redundante reafirmar, no entanto, a principal crtica feita por Hume

    quanto ao problema da induo, parece ser que, racionalmente, no podemos

    justificar uma inferncia que parte do observado ao inobservado. Veremos adiante

    que, o ser humano chega a estas concluses, de acordo com Hume, porque est

    habituado ou acostumado a faz-lo.

    Conforme a Routledge encyclopedia (2005, p. 442):

    [...] uma inferncia indutiva uma inferncia a partir de uma premissa daforma Todo A observado B a uma concluso da forma Todo A B. Taisinferncias no so dedutivamente validas, isto , mesmo se a premissa forverdadeira possvel que a concluso seja falsa, uma vez que os As noobservados podem diferir dos observados. No entanto, foi decidido que apremissa pode tornar razovel crer na concluso, muito embora isso nogaranta que a concluso seja verdadeira.

    Essa definio evidencia o motivo pelo qual a discusso em torno de uma

    justificao da induo tem sido desde Hume, um assunto to problemtico e

    discutido. O problema que aparece nessa definio como justificar o raciocnio

    indutivo, a saber, um raciocnio daquilo que foi observado ao que no o foi. Como o

    exemplo padro dos corvos, o qual passa-se de uma observao a uma

    constatao, por exemplo, de que todos os corvos observados so pretos todos

    os corvos so pretos2. Pois, passar da etapa da constatao observacional para aconcluso de que o caso que todo A B, implica que seja possvel explicao, ou

    melhor, justificao epistmica para que tal concluso seja o caso.

    Conforme o Dicionrio Oxford de Filosofia (1997, p. 202): Os argumentos

    indutivos so, assim, um gnero de argumento ampliativo, onde algo que est alm

    do contedo das premissas apoiado por elas ou inferido como provvel.

    Quanto ao raciocnio indutivo ou inferncia indutiva, aparece aqui a palavra

    ampliativo, sendo que, por ampliativo significa justamente que h um salto noinstante da concluso do argumento, e, justamente essa ampliao na concluso

    do argumento que acaba se tornando o ponto nevrlgico do raciocnio indutivo. O

    problema est em que essa ampliao sempre implica um salto do observado ao

    no observado e, esse salto ou ampliao feito na concluso do argumento

    indutivo, que requerem uma justificao adequada.

    Assim, o problema da induo importante pelo fato de que na

    epistemologia contempornea ainda se mantm firme a discusso de como se pode2 Cf. MAHER, Patrick. Inductive Inference. In: CRAIG, Edward (Ed.). The Shorter RoutledgeEncyclopedia of Philosophy.London-New York: Routledge, 2005. p. 442445.

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    justificar o modo de pensar por analogia, ou, como se pode justificar um raciocnio

    no qual se conclui o inobservado.

    Se supusermos que a concluso de uma induo justificada, ento deve ser

    explicado como essa inferncia indutiva justificada, pois boa parte dos

    epistemlogos desde o sculo passado tem questionado a falibilidade dos

    argumentos indutivos e de sua validade como fonte de conhecimento, como

    exemplo disso aparece o nome de David Hume, anteriormente mencionado.

    Segundo Popper (2007, p. 28): [...] independente de quantos casos de cisnes

    brancos possamos observar, isso no justifica a concluso de que todos os cisnes

    so brancos.

    Pode-se definir o Problema da induo conforme o fez o prprio Popper

    (2007, p. 28):

    A questo de saber se as inferncias indutivas se justificam e em quecondies conhecida como oproblema da induo.O problema da induo tambm pode ser apresentado como a indagaoacerca da validade ou verdade de enunciados universais que encontrembase na experincia, tais como as hipteses e os sistemas tericos dascincias empricas.

    O problema da induo , de acordo com Van Cleve (1984, p. 555):[...] o problema de demonstrar que algumas inferncias indutivas sojustificadas, pois ningum, presumo, manteria que todas as infernciasindutivas so justificadas, pelo menos no se indutivo for usadoamplamente para cobrir todas as coisas que no so dedutivas. Devo mepreocupar aqui apenas com inferncias indutivas, pelo menos, de formaaproximada, conforme estreita regra padro,x% dos As que tenho examinado foram Bs.Consequentemente,x% de todos As so Bs.

    Portanto, tem-se o problema delimitado, a sua relevncia para o contexto

    sobre o qual est sendo discutido e o que afirmaram alguns importantes pensadores

    acerca dessas questes.

    Agora se faz necessrio trazer o contexto no qual o problema da induo

    surge nas obras de Reid e de que forma isso tratado, que estratgias so

    pensadas por este para resolver essa questo e com quem Reid est debatendo

    nesse nterim.

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    No prximo captulo apresentaremos de forma preliminar o contexto em que o

    problema da induo aparece na epistemologia de Hume e a que concluses este

    chega no que concerne a uma soluo ou no para essa questo.

    2 O PROBLEMA DA INDUO EM DAVID HUME.

    De fato, a discusso acerca do problema da induo s ganha contornos

    importantes e decisivos na histria do pensamento, a partir do que Hume vai

    problematizar primeiramente em seu Tratado da natureza humanae posteriormente

    em sua Investigao acerca do entendimento humano.

    H, no entanto, um ponto a ser ressaltado, a saber, Hume nunca utiliza em

    nenhuma de suas obras o termo raciocnio, inferncia ou argumento indutivo. Os

    termos utilizados por este para designar raciocnio indutivo so relao de causa e

    efeito, conexo necessria e conjuno constante quando se refere s questes

    de fato. Nesse contextode causa e efeito, Hume vai indagar a respeito de, como

    podemos raciocinar aos moldes de causa e efeito, sendo que, logicamente pensar o

    oposto no implica contradio alguma.

    Temos, no entanto, de situar o leitor em relao ordem em que aparecem

    os argumentos de Hume com respeito ao tpico da induo, ou seja,

    apresentaremos primeiro algumas breves passagens expostas por este em seu

    Tratadoe depois outras passagens feitas em sua Investigao.

    A dvida de Hume em relao racionalidade da induo parece repousar

    sobre a questo de, como podemos justificar de maneira racional uma inferncia

    acerca de uma existncia observada pela experincia a algo que escapa ao alcanceda observao, ou seja, algo que escapa ao testemunho dos sentidos ou da

    linguagem.

    Conforme Hume (2009, p. 116118):

    apenas pela EXPERINCIA, portanto, que podemos inferir a existncia deum objeto da existncia de outro. [...] Tendo j visto que a transio quefazemos de uma impresso, presente memria ou aos sentidos, para aideia de um objeto que denominamos causa ou efeito est fundada naexperinciapassada e em nossa lembrana de sua conjuno constante, a

    prxima questo : a experincia produz a ideia por meio do entendimentoou da imaginao? a razo que nos determina a fazer a inferncia, ouuma certa associao e relao de percepes? Se fosse a razo, ela ofaria com base no princpio de que os casos de que no tivemos experincia

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    devem se assemelhar aos casos de que tivemos experincia, e de que ocurso da natureza continua sempre uniformemente o mesmo.

    Desse modo, podemos compreender com a ilustrao acima referida que, a

    experincia a grande guia para todo o nosso conhecimento inferencial acerca do

    mundo, experincia essa que nos faz lembrar uma conjuno constante de uma

    relao em que um objeto causa e o outro, o efeito. No entanto, a pergunta que

    Hume levanta, e que, podemos entender como a mais importante para este, se

    essa ideia de conjuno constante contida na relao de causa e efeito fruto da

    razo/entendimento ou da imaginao?

    A prova de que os casos dos quais no tivemos experincia se assemelharo

    aos do passado, segundo Hume, no de mbito demonstrativo, mas provvel. De

    acordo com Hume (2009, p. 118): [...] necessrio que, em todos os raciocnios

    provveis, haja alguma coisa presente mente, quer seja vista ou lembrada, e que

    dessa coisa infiramos algo a ela conectado, que no nem visto nem lembrado.

    Para Hume (2009, p. 118): A nica conexo ou relao de objetos capaz de

    nos levar para alm das impresses imediatas de nossa memria e sentidos a de

    causa e efeito.

    Temos, posta tambm, a seguinte pergunta, de acordo com Hume (2009, p.

    120): [...] por que, partindo dessa experincia, formamos uma concluso que

    ultrapassa os casos passados de que tivemos experincia. Podemos, afirmar ainda

    que, conforme Hume (2009, p. 120): [...] mesmo aps a experincia ter nos

    informado de sua conjuno constante, impossvel nos convencermos, pela razo,

    de que deveramos estender essa experincia para alm dos casos particulares que

    pudemos observar.

    E aqui posto o problema da induo, de que, conforme Hume (2009, p.

    121): A razo jamais pode mostrar a conexo entre dois objetos, mesmo com a

    ajuda da experincia e da observao de sua conjuno constante em todos os

    casos passados. Aqui Hume afirma categoricamente que aquilo que nos faz inferir

    um objeto a partir de outro, no a razo, mas outra coisa, e essa outra coisa

    chamada de princpio de causalidade, ou, relao de causa e efeito.

    No entanto, no que se refere causalidade, conforme Hume (2009, p. 122):

    [...] embora a causalidade seja uma relao filosfica, [...] apenas enquanto ela

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    uma relao natural, produzindo uma unio entre nossas ideias, que somos capazes

    de raciocinar ou fazer qualquer inferncia a partir dela.

    A partir da Investigao, uma pergunta muito importante que pode ser feita

    aqui a seguinte: Qual a dificuldade enfrentada por Hume no que tange a

    induo? Essa pergunta tem a ver com os segundos objetos da razo humana, ou

    seja, as questes de fato, das quais temos tratado e pode ser respondida

    primariamente com a seguinte afirmao de acordo com Hume (1999, p. 48):

    Os fatos... no so determinados da mesma maneira, nem nossa evidnciade sua verdade por maior que seja, de natureza igual precedente. Ocontrrio de um fato qualquer sempre possvel, pois, alm de jamaisimplicar uma contradio, o esprito o concebe com a mesma facilidade edistino como se ele estivesse em completo acordo com a realidade. Que

    o sol no nascer amanh to inteligvel e no implica mais contradiodo que a afirmao que ele nascer. [...] Portanto, deve ser assunto dignode nossa ateno investigar qual a natureza desta evidncia que nos dsegurana acerca da realidade de uma existncia e de um fato que noesto ao alcance do testemunho atual de nossos sentidos ou do registro denossa memria.

    Essa passagem escrita por Hume nas suas Investigaes, explica que no

    basta simplesmente, quando tratamos de questes de fato o fato de determinado

    acontecimento sempre ter sido o mesmo at ento, que ele continuar

    repetidamente seu ciclo. Que o sol nasceu hoje, como desde que se tem lembrana

    desse fato, evidncia indubitvel, no entanto, que amanh ou depois, ele pode em

    detrimento de algum evento da natureza ou de ordem Divina, no nascer,

    completamente coerente nossa razo ou entendimento assim o conceber. Nesse

    contexto, podemos perceber num primeiro momento o princpio da uniformidade da

    natureza se apresentando em Hume, embora este v negar a justificao desse

    princpio.

    De acordo com Salmon (2010, p. 176): A profunda crtica da induo, feita

    por Hume, comea com uma questo simples e aparentemente inocente: como

    adquirimos conhecimento do inobservado?. Portanto, aqui delineada a primeira

    crtica de Hume ao problema da induo, ou seja, como podemos adquirir

    conhecimento a partir daquilo que ainda no experimentamos?

    No entanto, a esse respeito, de acordo com o prprio Hume (1999, p. 60

    61): [...] nem razovel concluir, apenas porque um evento em determinado caso

    precede outro, que um a causa e o outro, o efeito. [...] No h base racional parainferir a existncia de um pelo aparecimento do outro. Temos aqui a crtica quanto

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    no justificao epistmica para uma crena aos moldes do raciocnio indutivo. E,

    tambm, a recusa por parte de Hume ao Princpio da Uniformidade da Natureza, o

    qual diz que o futuro se assemelhar ao passado.

    De acordo com NOONAN (1999, p. 133):

    um fato, pensou Hume, que fazemos inferncias a partir do observado aoinobservado. E tambm um fato, que fazemos tais inferncias somentedepois de termos observado uma constante conjuno de dois tipos decoisas e so apresentadas com uma coisa de um destes tipos. Fazemos taltransio em tais circunstncias porque h na mente humana um princpiode unio de ideias operativo ao efeito [...].

    Aqui, Noonan aborda tal princpio operativo na mente humana, como aquele

    que nos faz, a partir de uma unio de ideias, inferir uma causa. E, obviamente, quenossas inferncias indutivas so do observado ao inobservado.

    H uma crtica forte exposta por parte de Hume que repousa sobre a

    irracionalidade, por assim dizer, de raciocinarmos aos moldes de inferncias

    indutivas, inferncias essas que, segundo Hume, no possuem amparo ou base

    racional para justific-las.

    Segundo NEIVA (2013, p. 62):

    Embora se possa afirmar provvel que A e B sejam o caso no futuro, no logicamente necessrio que essa conjuno constante observada naexperincia continuar a ter vigncia no futuro. Ou melhor, no h relaode implicao lgica necessria dos observados no passado para osinobservados no futuro. Mesmo que a premissa de um argumento indutivofornea um amplo conjunto de evidncias favorveis a uma determinadaconjuno constante, de repeties agrupadas sob a forma todos os Asobservados at agora so Bs, no se segue necessariamente que talpadro ser o caso no futuro. No importa se h uma amostra numerosa.Ela no garante que a proposio conclusiva todos os As sero Bs nofuturo seja verdadeira.

    Acima se afirma a no necessidade lgica de que seja o caso em que no

    passado tenha se constatado que um dado fato foi o caso que ele necessariamente

    tenha de ser no futuro. A crtica acima exposta a de que, no h em lugar algum, a

    implicao disso, ou seja, de que o futuro se assemelhar ao passado, mesmo em

    se dando que hajam mltiplos casos de evidncia a favor de, no h necessidade

    lgica ou garantia de que no futuro isso ser verdadeiro.

    Segundo Hume, h um princpio que faz com o que o homem extraia uma

    concluso com base na experincia, quando do aparecimento de um objeto se d o

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    surgimento de seu correlato, que afirmou Hume (1999, p. 61): Este princpio o

    costumeou o hbito.

    Pois, de acordo com Hume (1999, p. 61):

    Visto que todas as vezes que a repetio de um ato ou de uma determinadaoperao produz uma propenso a renovar o mesmo ato ou a mesmaoperao, sem ser impelida por nenhum raciocnio ou processo doentendimento, dizemos sempre que esta propenso o efeito do costume.[...] Talvez no possamos levar nossas investigaes mais longe e nemaspiramos dar a causa desta causa; porm, devemos contentar-nos comque o costume o ltimo princpio que podemos assinalar em todas asnossas concluses derivadas da experincia.

    Portanto, esse princpio por trs da experincia conforme Hume o costume,

    a saber, todas as concluses que podemos extrair a partir da experincia do

    observado ao no observado sero por fora do hbito ou do costume, dos quais

    no se pode prescindir. Hume ainda afirma que todas as inferncias extradas da

    experincia sero efeito do costume e no da razo.

    Quanto a esse respeito, de acordo com Hume (1999, p. 63): Sem a influncia

    do costume, ignoraramos completamente toda questo de fato que est fora do

    alcance dos dados imediatos da memria e dos sentidos.

    De acordo com POPPER (1975, p. 1516):

    Hume interessava-se pela situao do conhecimento humano ou, comopoderia ter dito, por indagar se alguma de nossas crenas e qual delaspoderia ser justificada por razes suficientes.Levantou ele dois problemas: um problema lgico (Hl) e um problemapsicolgico (Hps).[...] O problema lgico de Hume :Hlsomos justificados em raciocinar partindo de exemplos (repetidos), dosquais temos experincia, para outros exemplos (concluses), dos quais notemos experincia?A resposta de Hume a Hl : No, por maior que seja o nmero derepeties.[...] O problema psicolgico de Hume :HpsPor que, no obstante, todas as pessoas sensatas esperam, e creemque exemplos de que no tem experincias conformar-se-o com aquelesde que tm experincia? Isto : Por que temos expectativas em quedepositamos grande confiana?A resposta de Hume : Por causa do costume ou hbito; isto porquesomos condicionados pelas repeties e pelo mecanismo da associao deideias, mecanismo sem o qual, diz Hume, dificilmente poderamossobreviver.

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    A ltima das afirmaes feitas por Popper pode ser contemplada j no trecho

    adiante. Pois fortssima a nfase dada por Hume ao que denominou de costume,

    o qual caracteriza como um princpio. E isso podemos ver claramente ao final da

    seo V, intitulada de Soluo ctica destas dvidas, conforme Hume (1999, p.

    70):

    O costume o princpio que tem realizado esta correspondncia, tonecessria para a conservao de nossa espcie e para o regulamento denossa conduta em todas as circunstncias e situaes da vida humana. Sea presena de um objeto no despertasse instantaneamente a ideia dosobjetos que comumente esto unidos a ele, todo nosso conhecimentodeveria limitar-se estreita esfera de nossa memria e de nossos sentidos,e jamais seramos capazes de adaptar os meios em vista dos fins ou deempregar nossos poderes naturais para produzir o bem ou evitar o mal.

    O costume a pea chave na explicao humeana acerca da crena na

    continuidade das relaes de causa e efeito percebidas no curso da natureza, que,

    de acordo com NEIVA (2013, p. 72):

    Podemos supor que a experincia nos proporcionou um nmero abundantede repeties entre dois eventos A e B. Basta que um deles seja objeto denossa experincia em mais uma instncia individual para que a infernciaseja engendrada pelo recurso psicolgico do costume ou hbito: este setorna efetivamente um procedimento condicionado do pensamento,

    sobretudo em relao aos padres que se repetem com maior frequncia emenor nmero de contraexemplos.

    H, pois, a afirmao de que chegamos inferncia indutiva de que os casos

    repetidos dos quais tivemos conhecimento que no passado foram de determinado

    modo se assemelharo no futuro, seja um recurso segundo alguns e conforme

    acima citado, o recurso psicolgico do hbito ou costume abordado por Hume.

    A concluso a que Hume chega a de que o ser humano pensa aos moldesde causa e efeito no por algum tipo de prova ou evidncia irresistvel, mas sim, por

    aquilo que disse ser um hbito ou costume da mente, e logicamente no h nmero

    suficiente de amostras que confira certeza a uma concluso relacionada a questes

    de fato na relao causa e efeito.

    No prximo captulo trabalharemos conceitos como, por exemplo, percepo,

    crena, evidncia e primeiros princpios, que permeiam os escritos de Reid,

    principalmente em se tratando de uma possvel justificao para o problema da

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    induo, trazendo ao final do captulo uma breve do mtodo de obteno ou

    aquisio de conhecimentos sobre o mundo, aludido por Reid.

    3 PERCEPO, CRENA, EVIDNCIA E PRIMEIROS PRINCPIOS.

    Podemos perceber que toda discusso em torno da justificao da induo

    em Reid passa pelo escrutnio das operaes mentais to aprofundadas por este.

    Neste processo de anatomia da mente humana, podemos perceber o modo pelo

    qual a mente opera frente interpretao do mundo externo.

    Embora nosso intento seja o de apresentar uma justificao ao problema da

    induo, existente nas duas primeiras grandes obras de Reid, faremos, no entanto,

    primeiramente uma breve exposio dos conceitos reidianos de percepo, crena,

    evidncia e primeiros princpios, os quais sero de excelente auxlio na

    compreenso de nossa discusso.

    Primeiramente, podemos dizer que percepo em Reid no um ato mental

    isolado, mas envolve alguns elementos, pois, de acordo com Reid (2000, p. 168):

    Percepo, como aqui a entendemos, tem sempre um objeto distinto do ato pelo

    qual percebido. Podemos compreender isso como a percepo sendo um ato

    mental, que diferente do objeto percebido. O ato mental de perceber , segundo

    Reid, um ato em que estamos conscientes e podemos refletir sobre o mesmo.

    H na percepo outras questes em voga, pois, conforme Reid (2000, p.

    168): [...] a percepo de um objeto implica tanto uma concepo de sua forma e

    uma crena de sua existncia presente. Eu sei, alm disso, que esta crena no o

    efeito de argumentao e raciocnio; o efeito imediato de minha constituio.Portanto, esta passagem nos faz saber que (I) percepo envolve concepo da

    forma do objeto percebido, (II) percepo envolve a crena da existncia presente

    de tal objeto e (III) esta crena no o resultado de argumentao ou da razo, mas

    o efeito imediato de nossa constituio. Ainda, de acordo com PICH (2010, p. 8):

    Na definio mesma, no h meno da sensao. A sensao serve como sinal

    e mesmo item que aciona a concepo e a crena de existncia envolvidas na

    percepo, mas ela mesma no um ingrediente constitutivo da percepo.

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    Tambm, podemos dizer que, em relao s percepes, conforme PICH

    (2010, p. 9): [...] no envolvem raciocnios ou inferncias, tampouco uma percepo

    precisa envolver algum pensamento sobre as sensaes concomitantes relevantes.

    [...] Percepes, como outras operaes da mente, so falveis. Aqui aparece algo

    que evidencia o fato de que Reid no cr cegamente que as faculdades cognitivas

    humanas sejam perfeitas, e assim, imunes a falhas, muito pelo contrrio, mesmo

    sendo falveis, nossas faculdades cognitivas, como por exemplo, a percepo,

    conducente verdade.

    Quanto aos passos, semelhantemente dito nos EIP, segundo Reid (2002, p.

    96): Primeiro, alguma concepo ou noo do objeto percebido. Segundo, uma

    forte e irresistvel convico e crena de sua existncia presente. E, em terceiro

    lugar, que esta convico e crena so imediatas e no o efeito do raciocnio.

    Pode ser afirmado sem prejuzo algum, acredita-se que ningum dir o

    contrrio, pois, que percepo envolve concepo ou noo do objeto, crena e

    convico irrestrita em sua existncia e que essa convico e crena no so

    mediadas por nada. Com relao concepo ou noo do objeto e com respeito

    crena de sua existncia presente, Reid afirma serem ambas inexplicveis.

    Temos, no entanto, outra breve considerao a ser feita, a saber, queconforme Reid (2002, p. 227): Temos uma concepo imediata das operaes de

    nossas prprias mentes, unidas com a crena de sua existncia presente; a isto

    chamamos conscincia. Aqui nosso autor apresenta de forma bastante sinttica seu

    entendimento sobre conscincia.

    importante que faamos uma breve ressalva em relao ao ato mental de

    conceber, envolvido e coparticipante ao ato de perceber. De acordo com PICH

    (2010, p. 153):Assim, pois, h um sentido em que o contato com o mundo exterior, napercepo, nada mais que a concepo pela mente de um objetoexistente, em regra acompanhada de sensao, respectiva ao uso dosrgos sensriosque sofrem a impresso dos objetos do mundo exterior -, e com a realizao de um juzo perceptual de existncia. Essa crena,alm disso, bsica ou imediata: ela no se deve a nenhum tipo deraciocnio ou argumentao, e a sua verdade evidente no devidainferencialmente a nenhuma outra proposio e a nenhum outro princpio.

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    Desse modo, notamos a capital importncia do ato mental de conceber

    implicado na percepo, ato esse que no obtido por raciocnio ou argumento de

    nenhum tipo, mas uma crena direta ou imediata, por assim dizer.

    Quanto ao entendimento sobre crena, pode ser dito que, para Reid (2000, p.

    58): [...] por um princpio original de nossa constituio, uma certa sensao de

    toque igualmente sugere mente a concepo de dureza e cria a crena dela [...].

    Desse modo, pode ser entendido que a crena fruto de um princpio original de

    nossa constituio. Pois, conforme a viso de Reid (2000, p. 72):

    Que nossos pensamentos e sensaes devem ter um sujeito, quechamamos de ns mesmos, no , portanto, uma opinio obtida porraciocnio, mas por um princpio natural. Que nossas sensaes de toque

    indicam alguma coisa externa, estendida, figurada, dura ou suave, no uma deduo da razo, mas um princpio natural. A crena disso, e aprpria concepo disso, so igualmente partes de nossa constituio.

    Portanto, parece clara a definio reidiana de que crena e, principalmente a

    crena que temos de nossa prpria conscincia, uma crena que faz parte de

    nossa constituio. Quanto crena que temos em relao ao mundo material, dir

    Reid (2000, p. 76): [...] uma crena que no obtida nem pelo raciocnio nem pe la

    educao, e uma crena que no podemos nos livrar, mesmo quando parecemos ter

    argumentos fortes contra isso [...].

    Outra afirmao feita a respeito da natureza da crena , segundo Reid

    (2000, p. 31): [...] que a crena que acompanha a sensao e a memria, um ato

    simples da mente, que no pode ser definido.

    Conforme Reid (2002, p. 228): Crena sempre expressa na linguagem por

    uma proposio, em que algo afirmado ou negado. Todas essas afirmaes

    trazidas luz da parte de Reid so de suma importncia para que entendamos oselementos constitutivos das operaes mentais que, em ltima instncia,

    desembocaro em nossa justificao da induo segundo o pensamento deste.

    Vejamos, no entanto, algumas palavras finais acerca de crena, de acordo

    com Reid (2002, p. 228):

    [...] que existem muitas operaes da mente em que, quando as analisamosna medida em que somos capazes, achamos a crena ser um ingredienteessencial. Um homem no pode estar consciente de seus prpriospensamentos, sem acreditar que ele pensa. Ele no pode perceber umobjeto dos sentidos, sem crer que o objeto existe. Ele no podedistintamente lembrar-se de um evento passado sem acreditar que ele

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    existiu. Crena, portanto, um ingrediente na conscincia, na percepo ena memria.

    Evidentemente, posto por nosso autor a primordialidade desse ingrediente

    chamado crena. Pois Reid nos dir que a crena acompanha essas trs operaes

    mentais fundamentais denominadas conscincia, percepo e memria.

    Quanto ao conceito de evidncia em Reid, encontramo-lo diretamente ligado

    ao conceito anteriormente trabalhado, ou seja, ao conceito de crena, pois este dir

    em relao a acreditar na existncia presente s nossas sensaes e a acreditar na

    existncia presente do que lembramos que, temos o mesmo peso de uma crena de

    dois vezes dois igual a quatro, ou seja, a evidncia que temos para crer no que os

    sentidos e no que a memria nos informa a mesma evidncia que temos para crer

    numa afirmao matemtica.

    De acordo com Reid (2000, p. 32):

    A evidncia dos sentidos, a evidncia da memria, e a evidncia dasrelaes necessrias de coisas, so todos tipos de evidncia distintos eoriginais, igualmente fundadas em nossa constituio: nenhuma delasdepende de, ou pode ser resolvida em outra. Argumentar contra qualquerdestes tipos de evidncia absurdo; ou melhor, argumento para eles

    absurdo. Elas so primeiros princpios; e tais no caem na provncia daRazo, mas do Senso Comum.

    Essas so algumas consideraes feitas por Reid no IHM, que se podem

    distinguir as evidncias em trs tipos, a saber, a evidncia dos sentidos, da memria

    e das relaes necessrias de coisas. Esses diferentes tipos de evidncia so, para

    este, primeiros princpios, fundados em nossa constituio.

    Por outro lado, temos em EIP, poderia ser dito, uma afirmao um tantoquanto melhorada ou aprimorada, pois, conforme Reid (2002, p. 228): Damos o

    nome de evidncia para o que quer que seja uma base de crena. Reid, inclusive

    afirma que crer sem evidncia uma fraqueza e algo que todos se preocupam e

    mesmo desejam evitar. Segundo Reid (2002, p. 228229): O que esta evidncia ,

    mais facilmente sentido do que descrito. Aqueles que nunca refletiram sobre sua

    natureza, sentem sua influncia no governo de suas crenas.

    Desse modo, podemos conceber evidncia como sendo algo que serve de

    base para uma crena e melhor sentido que descrito ou definido. No entanto, h um

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    aprimoramento quanto ao que fora dito no IHM em EIP, a saber, conforme Reid

    (2002, p. 229):

    As ocasies comuns da vida nos levam a distinguir evidncia em diferentes

    tipos, aos quais damos nomes que so bem compreendidos; tais como aevidncia dos sentidos, a evidncia da memria, a evidncia daconscincia, a evidncia do testemunho, a evidncia dos axiomas, aevidncia do raciocnio: Todo homem de entendimento comum concorda,que cada um destes tipos de evidncia pode proporcionar base justa decrena, e eles concordam geralmente nas circunstncias que as fortalecemou as enfraquecem.

    Temos aqui um aperfeioamento claro em relao a exposio feita em IHM,

    pois aqui so acrescentados trs tipos de evidncias, e uma diferenciao em

    relao a um dos tipos de evidncia j mencionadas anteriormente, a saber, aquilo

    que em IHM foi afirmado como tipo de evidncia das relaes necessrias de

    coisas, pode ser entendida em EIP como a evidncia dos axiomas. Outra questo

    acrescida aqui a afirmao de que todo homem, poderamos dizer, de senso

    comum, concorda que estes tipos de evidncia so bases justas de crena. Outro

    aspecto, em relao evidncia como base segura para crena, que poderia ser

    ressaltado que, de acordo com Reid (2002, p. 229): Elas me parecem concordar

    apenas nisto, que so todas equipadas pela Natureza a produzir crenas na mente

    humana, algumas delas no mais alto grau, que podemos chamar de certeza, outras

    em vrios graus de acordo com as circunstncias.

    Depois de mencionados todos estes tipos de evidncia, devemos,

    brevemente, apontar para aqueles que nos captulos seguintes sero os tipos de

    evidncia que daro suporte justificao da induo problematizada por Reid. O

    que veremos nos captulos vindouros, sero provavelmente, os tipos de evidncia

    dos sentidos, da memria e do testemunho.

    Ser coerente que brevemente explicitemos o tipo de evidncia dos sentidos,

    o qual dito segundo Reid (2002, p. 229): [...] tomo por garantido, que a evidncia

    dos sentidos, quando as circunstncias apropriadas concorrem, boa evidncia, e

    uma justa base de crena.Outra afirmao feita quanto natureza da evidncia

    dos sentidos que, para Reid (2002, p. 231): As verdades atestadas pelos nossos

    sentidos no so deste tipo; elas so contingentes, e limitadas ao tempo e lugar. As

    verdades das quais no so do tipo atestadas pelos sentidos so as verdades dos

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    axiomas, ou seja, as verdades autoevidentes que so necessrias, no limitadas a

    tempo e lugar, e verdadeiras em todos os tempos e lugares.

    feita no EIP uma feliz comparao entre dois tipos de evidncia, evidncias

    essas que aparecero de modo semelhantemente conectado mais adiante, a saber,

    no que tange a evidncia dos sentidos e do testemunho. Para Reid (2002, p. 231):

    No h dvida na analogia entre a evidncia dos sentidos e a evidncia do

    testemunho. Assim, temos em todas as lnguas as expresses analgicas sobre

    testemunho dos sentidos, e sobre dar crditoa nossos sentidos, e assim por diante.

    Embora, ainda sejam feitas algumas pequenas comparaes, tanto quanto a

    semelhanas quanto a diferenas em relao evidncia dos sentidos e da

    memria, e evidncia dos sentidos e da conscincia, pensamos que aquilo que

    fora exposto at o momento seja de grande valia para entendermos o que Reid

    concebe por evidncia.

    importante que faamos uma nota respectiva distino entre julgamento e

    crena, que, segundo LEHRER (2002, p. 146): No claro, entretanto, se

    julgamento um ingrediente ou concomitante a crena. [...] Evidncia e julgamento

    so, portanto, relacionados da mesma maneira como evidncia e crena.

    No que se refere aos primeiros princpios, podemos dizer que so feitas

    algumas consideraes bem importantes, pois, em IHM, conforme Reid (2000, p. 71

    72):

    Todo raciocnio deve ser a partir de primeiros princpios; e por primeirosprincpios nenhuma outra razo pode ser dada alm desta, que, pelaconstituio de nossa natureza, estamos sob uma necessidade deconcordar com eles. Tais primeiros princpios so partes de nossaconstituio, no menos que o poder de pensar [...] Como ou quando tenhoesses primeiros princpios, sobre os quais construo todo meu raciocnio, euno sei; pois eu os tenho antes do que eu possa lembrar: mas eu estou

    certo que eles so parte de minha constituio, e que no posso jog-losfora.

    Logo, devemos concluir que nossa natureza nos fez de tal maneira que

    devemos necessariamente concordar com tais primeiros princpios, sendo que,

    estes primeiros princpios so partes de nossa constituio. Esses primeiros

    princpios so a base para a construo de nossa razo. Pois, segundo Reid (2000,

    p. 172):

    Todo raciocnio a partir de princpios. [...] e os primeiros princpios de todonosso raciocnio sobre existncias, so nossas percepes. Os primeirosprincpios de todo tipo de raciocnio nos so dados pela Natureza, e so deigual autoridade com a faculdade da prpria razo, que tambm um

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    presente da Natureza. As concluses da razo so todas construdas sobreprimeiros princpios, e podem no ter outra fundao.

    Portanto, toda nossa razo ou raciocnio, poderamos dizer, construdo

    segundo Reid sobre os primeiros princpios. Quando nosso raciocnio empregado

    em relao s existncias ele se refere s nossas percepes que so consideradas

    primeiros princpios. Desse modo, nossas percepes so primeiros princpios que

    nos falam daquilo que existe.

    Quanto aos primeiros princpios em EIP, de acordo com Reid (2002, p. 452

    453): [...] tem a luz da verdade em si mesmos [...] suficiente distinguir primeiros

    princpios, ou juzos intuitivos, daqueles que podem ser atribudos ao poder do

    raciocnio.

    Uma primeira nota que podemos fazer aqui que carregam a verdade em si

    mesmos e, em segundo lugar, so equiparados a juzos intuitivos, ou seja, que no

    dependem do raciocnio. Embora o raciocnio seja construdo sobre os primeiros

    princpios no podemos dizer que o resultado do raciocnio seja ou sejam primeiros

    princpios.

    Para LEHRER (2002, p. 153): Julgamentos de proposies resultantes dosprimeiros princpios so intuitivos e irresistveis.

    Os primeiros princpios de forma geral contm algumas caractersticas,

    conforme Reid (2002, p. 454455):

    Primeiro, mantenho ser certo, e mesmo demonstrvel, que todoconhecimento obtido por raciocnio deve ser construdo sobre primeirosprincpios. [...] Uma segundaproposio , que alguns primeiros princpiosproduzem concluses que so certas, outros tais como so provveis, emvrios graus, da mais alta probabilidade menor.

    Assim, todo raciocnio fundado sobre primeiros princpios, alguns primeiros

    princpios produzem concluses certas, outros, concluses provveis, do mais alto

    ao menor grau de probabilidade. Outro aspecto importante afirmado, em relao

    aos primeiros princpios, pois, que de acordo com o pensamento de Reid (2002, p.

    463): [...] realmente so ditames do senso comum, e diretamente opostos a

    absurdidades na opinio, sero sempre, a partir da constituio da natureza humana

    [...].

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    Em relao aos primeiros princpios, vale ressaltar que, segundo PICH (2010,

    p. 12): Parece correto dizer, porm, estando o autoevidente na categoria de

    primeiros princpios, verdades autoevidentes ou princpios do senso comum,

    que ele equivale a princpios irredutveis do uso da razo tal como ela se apresenta.

    Portanto, as palavras de Thomas Reid com respeito aos Primeiros Princpios

    so claras, ao referir-se aos mesmos como sendo ditames do senso comum,

    equivale a dizer que a humanidade opera, desde os mais finos intelectuais, at o ser

    humano mais vulgar e rude, com a pressuposio de primeiros princpios como base

    de todo conhecimento.

    H, no entanto, uma nota importante a ser feita no que tange aos primeiros

    princpios como sinnimo de autoevidncia e autoevidncia como sinnimo de

    primeiros princpios, a saber, conforme PICH (2010, p. 12):

    Assim, pode-se concordar com Roger Gallie que marcas do autoevidente,na filosofia do senso comum de Thomas Reid, so: (i) ser um princpioexpresso em uma proposio que entendida e ao mesmo tempo crida(mesmo que no por motivos lgico-formais); (ii) surgir to cedo na menteque ele no pode ser efeito de educao ou raciocnio; (iii) ser universal (ena prtica unnime), tal como aspectos da conduta humana o revelam; (iv)ser indispensvel conduta diria; (v) deixar em posio ridcula(absurda) aquele que insiste no contrrio de um primeiro princpio; (vi) serrespectivo s obtenes doxsticas comuns dos seres humanos, assim

    como as crenas perceptuais e de memria, embora as faculdadescorrespondentes sejam falveis.

    fato que devemos aqui fazer uma breve concesso das concluses de Reid

    Hume, a saber, que os primeiros princpios, ou, o autoevidente no so fruto ou

    efeito de educao ou raciocnio. Portanto, j que nossa inteno tem sido

    demonstrar uma justificao ao problema da induo por parte de Reid, apelando

    aos primeiros princpios, aqui, mais uma vez fica clara uma concordncia deste com

    aquele, a saber, se a concluso de que o futuro se assemelhar ao passado

    possvel, essa s possvel recorrendo-se aos primeiros princpios, que por si

    mesmos so autoevidentes.

    Aps serem feitas essas consideraes com respeito percepo, crena,

    evidncia e primeiros princpios, se faz importante tambm que apresentemos o

    modo como estruturada a aquisio de conhecimentos para Reid, a saber,

    conforme PICH (2010, p. 248249):

    [...] (i) pela observao e pelo experimento, o que indica a confianaassumida, no mtodo, no prprio poder de observar e, nesse passo, a

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    adoo presumida de um empirismo, (ii) pela induo enumerativa oujusta, com o que Reid tem em vista a generalizao a partir de amostrassuficientes, repetidas e em tese inequvocas, e finalmente (iii) a aplicaodessa mesma generalizao, como lei, aos casos particulares, explicando-os.

    [...] esse procedimento [...] obedienteao mecanismo cognitivo natural ouaos princpios constitutivos (sempre pressupostos) de como sereshumanos obtm crenas sobre o mundo; na esteira disso, esseprocedimento descreve a maneira como, segundo e sobre a natureza, e danica formajustificada,crenas so adquiridas.[...] Pode ser afirmado, assim, que aquele que investiga o mundo consegueobter evidncia sobre lei[s] da natureza a partir de induo, umaevidncia que no de tipo demonstrativo, mas antes um tipo de evidnciasobre a qual as mais importantes questes da vida humana devemrepousar.

    O excerto supracitado apresenta de forma muito clara os passos pelos quais

    Reid compreende a aquisio de conhecimento, e, alm disso, revela de maneira

    metdica como obtemos crenas acerca do mundo. E, assim, desenrola-se um

    procedimento bastante simples e fortemente eficiente como modelo ou mtodo

    cientfico e observacional sobre o mundo exterior. Ainda de acordo com PICH (2010,

    p. 254):

    Um dos mais famosos desempenhos desse mtodo de observao eraciocnio aplicado em que, especulativamente, poder-se-ia dizer que aateno est para a observao ou o experimento do evidente, ou seja, doclaramente existente, e a reflexo est para o raciocnio que permitirgeneralizao necessria e adequada ou uma justa induo [...].

    Aqui se afirmam dois aspectos coparticipantes do processo ou mtodo seguro

    para se conhecer sobre o mundo e penetrar no entendimento humano, podendo

    assim, observarmos ou experimentarmos aquilo que evidente, a saber, aquilo que

    de modo muito explicito existe e por meio da reflexo, poder esquadrinhar o

    raciocnio, o qual permitir que possamos ou no produzir generalizaes ou uma

    justa induo, que se d atravs da observao de um nmero de amostras

    suficientes, repetidas e sem equivoco algum e por uma reflexo atenta das prprias

    operaes mentais.

    Passaremos no prximo captulo a analisar a justificao crena da

    continuidade e uniformidade das leis da natureza, dada por Reid em oposio a

    Hume e de algumas consideraes iniciais quanto ao tpico da induo que j

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    aparecem em captulos anteriores ao qual Reid ir tratar aprofundadamente o

    assunto.

    4 THOMAS REID: AN INQUIRY INTO THE HUMAN MIND ON THE PRINCIPLESOF COMMON SENSE. UMA PRIMEIRA INCURSO NA OBRA.

    Em sua primeira obra, An inquiry into the human mind on the principles of

    common sense de 1764 (a partir de agora mencionada apenas por IHM), Reid

    adentrar o tpico da induo no captulo VI, seo XXIV, onde trata dapercepoe

    do testemunho. Desse modo, ao passo que forem sendo feitas constataes na obrade Reid, tambm sero feitas, sempre que possvel e necessrio, anlises paralelas

    das concluses tiradas por alguns crticos acerca do que este, de fato, argumenta e

    se as consideraes aqui expostas so condizentes com a opinio de Reid sobre o

    assunto em questo.

    Vale ressaltar a pergunta feita na introduction da edio crtica do IHM,

    escrita por Derek R. Brookes, a saber, se temos qualquer boa evidncia para

    suportar crenas na existncia do mundo exterior? Pois, em ltima anlise, oprocesso inferencial pelo qual se concebe a crena no mundo exterior se assemelha

    ao processo inferencial indutivo, no qual se passa dos casos observados a

    concluses no observadas.

    Devemos nesse momento tornar claro o modo pelo qual Reid concebe o

    modo de construo argumentativa em torno da problemtica da induo, a saber,

    como o processo de construo de argumentos indutivos de acordo com a viso

    de Reid?Essa pergunta comear a ser respondida no desenvolvimento desse

    trabalho, onde, a teoria reidiana ir se desenrolando. No entanto, a grande questo

    levantada no IHM, no que tange ao problema da induo , como justificar o

    raciocnio indutivo recorrendo aos chamados princpios gerais da mente humana?

    Os quais se poderiam denominar como o titulo da obra sugere, ou seja, os

    princpios do senso comum.

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    Ser importante apresentar algumas passagens nas quais o termo induo

    aparece na obra desde o incio, a saber, como veremos exemplos dessas aparies

    na sequncia.

    Portanto, analisemos passo a passo o que foi dito por Reid, desde o inicio de

    seu Inquiry, a saber, que Reid (2000) afirma que deve haver um caminho ao

    conhecimento das obras da natureza e esse caminho a observao e o

    experimento.

    Conforme Reid (2000, p. 1112):

    Pela nossa constituio, temos uma forte propenso a rastrear fatos eobservaes particulares a regras gerais, e aplicar tais regras gerais paraconsiderar outros efeitos, ou nos orientar na produo deles.

    [] O homem que primeiro descobriu que o frio congela a gua, e que ocalor a transforma em vapor, procedeu sobre os mesmos princpios gerais,e no mesmo mtodo, pelo qual Newton descobriu a lei da gravitao e aspropriedades da luz. Suas regulae philosophandi so mximas do sensocomum, e so praticadas todos os dias na vida comum.

    Tem-se de inicio uma afirmao bastante forte, a saber, que da nossa

    constituio traar fatos particulares e observaes para formular regras gerais e

    aplicar essas regras gerais a outros efeitos. Reid prossegue dizendo que o primeiro

    homem a ter descoberto que a gua congela no frio e vira vapor com o calorprocede a partir dos mesmos princpios gerais, e segundo Reid, com o mesmo

    mtodo pelo qual Newton descobriu a lei da gravitao e as propriedades da luz, ou

    seja, esse mtodo ou mtodos para Newton so suas regras do filosofar.

    A afirmao de Reid diz que essas regulae philosophandi (regras do

    filosofar) so mximas do senso comum. Uma mxima do senso comum pode ser

    encarada ou entendida por ns como princpios do senso comum. Logo essa

    afirmao de Reid parece ser clara quanto questo de que constitutivamente

    somos impelidos a, a partir de fatos e observaes singulares ou particulares,

    chegarmos a regras e concluses gerais, ou, universais, para assim podermos nos

    guiar em futuros procedimentos ou casos similares.

    Ser importante notarmos o peso dado experincia, pois, para Reid (2000,

    p. 12): Todas as nossas curiosas teorias sobre a formao da terra, sobre a

    gerao dos animais, sobre a origem do mal natural e moral, na medida em que vo

    alm de uma justa induo a partir de fatos, so vaidade e loucura [...].Portanto,

    em tudo quanto teorizarmos, nossas concluses acerca do mundo no devem

    ultrapassar, segundo Reid, uma justa induo. Interessante perceber o aparente

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    status de conhecimento concedido por Reid ao que ele denomina de justa induoa

    partir de fatos, pois, aqui parece que nosso autor reconhece alm dessa ser uma

    regra do filosofar, um bom mtodo para se chegar a concluses acerca do mundo.

    Reid faz uma interessante analogia acerca de como podemos conhecer os

    poderes e princpios da mente, ou seja, assim como conhecemos acerca do corpo

    atravs da anatomia e da observao, dever ser por meio de uma anatomia da

    mente que descobriremos seus poderes e princpios. E, de fato, sua primeira obra, o

    IHM, pode ser considerada por qualquer estudioso atento, um escrito com a inteno

    principal de descrever minuciosa e demoradamente os processos mentais, ou como

    o prprio Reid fala, as operaes da mente, e o modo pelo qual as operaes

    mentais se do mediante a informao recebida por cada um dos cinco sentidos.

    Nesse sentido, cr-se que essa anatomia foi bem sucedida, pela extensa e

    aprofundada anlise feita pelo mesmo.

    No captulo II, intitulado Of SMELLING, ou seja, Sobre o OLFATO, na

    seo IX, temos a seguinte definio de Thomas Reid acerca das conexes de

    ideias que fazemos, de acordo com Reid (2000, p. 41):

    [...] um ansioso desejo em descobrir conexes nas coisas, e uma natural,original, e inexplicvel propenso a acreditar, que as conexes que temosobservado no tempo passado, continuaro no futuro. Pressgios, boa e msorte, quiromancia, astrologia, todas as numerosas artes de adivinhao, ede interpretar sonhos, falsas hipteses e sistemas e princpios verdadeirosna filosofia da natureza, so todos construdos sobre a mesma fundao naconstituio humana; e so distinguidas somente de acordo comoconclumos precipitadamente a partir de poucos casos, ou cautelosamentea partir de uma induo suficiente.

    Poderamos dizer que aqui nessa passagem comea a se desenhar o

    princpio da uniformidade da natureza, o qual afirma que, as conexes que temosobservado no passado, continuaro do mesmo modo no futuro. Outro aspecto

    importante contido nessas linhas que, de todas as artes no cientficas, como por

    exemplo, a interpretao de sonhos, pressgios, astrologia, a arte da adivinhao,

    falsas hipteses e sistemas s se diferenciam dos princpios verdadeiros na filosofia

    da natureza, embora construdos sobre a mesma fundao na constituio humana,

    os primeiros pela concluso precipitada de poucos casos, e o segundo por uma

    cautelosa induo suficiente, a saber, pela justa induo, ou analise a partir de um

    nmero de casos suficientes.

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    Thomas Reid, no Inquiry, de fato, faz uma anatomia, como afirma, sobre o

    modo de funcionamento dos cinco sentidos e como estes comunicam sensaes

    mente. Atravs dessa anatomia do entendimento humano, analisando passo-a-

    passo os cinco sentidos externos, Reid tenta demonstrar o modo como procede a

    confiabilidade nas faculdades sensoriais e a analogia existente entre o testemunho

    da natureza dado pelos sentidos e o testemunho humano dado pela linguagem.

    Tanto em um, quanto no outro tipo de testemunho, princpios originais constitutivos

    da mente esto operando.

    Pode-se concluir aps leitura atenta do IHM que Reid apresenta uma

    justificao ao modo de raciocnio indutivo recorrendo aos princpios do senso

    comum, os quais se podem entender como princpios epistmicos, justificadores da

    maneira de raciocinar indutivamente.

    Como Reid constri sua argumentao acerca do problema da induo?

    Embora o problema no aparea com esse nome, o que recorrentemente ser visto

    na leitura, principalmente do IHM, ser o questionamento acerca de: Como

    possvel passarmos do sinal coisa significada? Ser em torno dessa pergunta que

    a resposta de Reid girar, ou em outras palavras , como podemos passar

    inferencialmente da observao de um fato (experincia) sua concluso(generalizao).

    No captulo V, Sobre o toque, Reid faz uma breve exposio e comparao

    entre alguns tratamentos dados lei de causa e efeito por parte de Hume, quando,

    na seo III, sobre sinais naturais, faz uma reflexo acerca de que modo pode-se

    entender essa relao causa e efeito.

    De acordo com Reid (2000, p. 5859):

    A palavra ouro no tem semelhana substncia significada por ela, nem em sua prpria natureza mais apta a significar isto que qualquer outrasubstncia: ainda, pelo habito e costume, ela sugere isto e no outra coisa.De modo semelhante, uma sensao de toque sugere dureza, embora nemtenha semelhana com dureza, nem, tambm como podemos perceber,qualquer conexo necessria com ela. A diferena entre estes dois sinaisreside apenas nisto, que, no primeiro, a sugesto o efeito de hbito ecostume, no segundo, no efeito de hbito, mas da constituio originalde nossas mentes.

    De fato, parece que o problema e a justificativa sempre giram em torno decomo possvel se fazer inferncias, onde se passa da apario do sinal crena

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    na coisa significada. Ou seja, como possvel o processo de se passar de um

    julgamento contingente a outro de maneira justificadamente correta e verdadeira.

    Um pouco adiante, Reid far uma replica ao argumento de Hume, a saber, de

    que s conhecemos a conexo entre nossas sensaes e o mundo exterior pelo

    hbito ou costume. Pois, conforme Reid (2000, p. 61):

    Afigura-se como evidente, que esta conexo entre nossas sensaes e aconcepo e crena de existncias externas no pode ser produzida pelohbito, experincia, educao ou qualquer outro princpio da naturezahumana que tem sido admitido pelos filsofos. Ao mesmo tempo, um fato,que tais sensaes esto invariavelmente conectadas com a concepo ecrena de existncias externas. Assim, por todas as regras do justoraciocnio, devemos concluir que esta conexo o efeito de nossaconstituio, e deve ser considerado como um princpio original da naturezahumana, at encontrarmos algum princpio mais geral em que possa serresolvido.

    At o momento, o esforo de Reid tem sido o de demonstrar que o motivo

    pelo qual passamos de uma sensao crena de que uma existncia externa tal

    como se apresenta nossa percepo, diferentemente de Hume que afirmava ser

    pelo hbito ou costume, Reid cr ser pelos primeiros princpios, os quais afirmava

    serem constituintes de nossa natureza.

    Segundo Reid (2000, p. 71):

    Todo o raciocnio deve ser a partir de primeiros princpios; e, para primeirosprincpios nenhuma outra razo pode ser dada alm desta, que, pelaconstituio de nossa natureza, estamos sob a necessidade de assentir aeles. Tais princpios so partes de nossa constituio, no menos que opoder do pensamento [...].

    Portanto, todo nosso raciocnio segundo cr Reid, construdo sobre

    primeiros princpios, os quais este acredita serem parte de nossa constituio,princpios esses que so, segundo Reid, autoevidentes.

    4.1 THOMAS REID E OS PRIMEIROS PRINCPIOS AUTOEVIDENTES.

    Podemos fazer, mesmo que brevemente, uma anlise do que so Primeiros

    princpios autoevidentes, para Reid. Como j dissemos anteriormente, os primeiros

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    princpiosassim denominados por Reid nos Essayscorrespondem aosprincpios do

    senso comumtrabalhados por este no Inquiry.

    Tomaremos aqui, os Essays, obra na qual Reid d um tratamento mais bem

    acabado por assim dizer, e sobre a qual a maioria dos crticos teceu comentrios

    contundentes. Conforme Reid (2002, p. 452):

    Uma das mais importantes distines de nossos juzos , que alguns sointuitivos e outros fundados no argumento.[...] Mas h outras proposies que no so compreendidas to logo socridas. O juzo segue a apreenso delas necessariamente, e ambas soigualmente o trabalho da natureza, e o resultado de nossos poderesoriginais. No h busca por evidncia, nem peso de argumentos, aproposio no deduzida ou inferida a partir de outra, tem a luz daverdade em si mesma, e no tem ocasio para emprestar de outra.

    Proposies do ltimo tipo [a saber, intuitivo], quando usadas nos assuntosda cincia, tem sido comumente chamadas de axiomas; e sobre qualquerque seja a ocasio que sejam usadas, so chamadas de primeirosprincpios, princpios do senso comum, noes comuns, verdadesautoevidentes.

    Assim, vimos que, os primeiros princpios surgem de uma distino que Reid

    faz acerca dos juzos, sendo que este utiliza duas expresses, a saber, primeiros

    princpios ou juzos intuitivos.

    afirmado que, conforme Reid (2002, p. 453): [...] o poder de julgar em

    proposies autoevidentes, que so claramente compreendidas, pode ser

    comparado ao poder de engolir nossa comida. Segundo Reid (2002, p. 453) : Tomo

    por garantido, que existem princpios que so autoevidentes. Recordando

    novamente algumas palavras ditas na introduo desse trabalho, quando

    apresentamos algumas ideias do que o common sense, podemos recolocar aqui o

    seguinte, de acordo com Guerreiro (1999, p. 167 168): [...] um discurso ou uma

    viso de mundo baseado na experincia comum a todos os homens se expressando

    mediante proposies auto-evidentes [...]. Portanto, poderamos dizer que os

    primeiros princpios so como que proposies autoevidentes.

    De acordo com ALSTON (1985, p. 435): Vamos deixar de lado o uso de

    princpio como uma faculdade ou disposio psicolgica, e nos limitar a princpios

    como certos tipos de proposies. Outra vez temos a importante nota acerca do

    significado possvel dado aos primeiros princpios de Reid como proposies, a

    saber, proposies acerca do mundo.

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    Pode-se claro, levar em considerao, que conforme LEHRER (2013, p.

    156): Os primeiros princpios so confirmados pela verdade dos juzos particulares

    de experincia sob esses princpios. A evidncia dos primeiros princpios e a

    evidncia dos juzos particulares so ambas imediatas e no dependem do

    raciocnio. Ainda, conforme LEHRER (2013, p. 156) : A justificao e evidncia de

    ambos o resultado de nossas faculdades, que so poderes naturais e originais de

    nossa constituio manifestados nos primeiros princpios.

    H uma importante passagem que diz, conforme Reid (2002, p. 455):

    [...] alguns primeiros princpios produzem concluses que so certas, outrasso provveis, em vrios graus, da mais alta probabilidade a mais baixa.No justo raciocnio, a fora ou fraqueza das concluses ser sempre

    correspondente queles princpios sobre os quais est fundamentada.Em questo de testemunho, autoevidente, que o testemunho de dois melhor que o de um, supondo-os em igual carter e em seus meios deconhecimento [...].

    Aparece aqui, a questo dos primeiros princpios como possivelmente

    produzindo concluses provveis.

    De acordo com LEHRER (2013, p. 158):

    essencial que o Primeiro Primeiro Princpio seja verdade, pois, casocontrrio, teramos falta de evidncia da verdade e fidelidade de nossasfaculdades, mas no requerido como uma premissa no raciocnio parasuprir a evidncia dos primeiros princpios. Eles tm evidncia nelesmesmos como os axiomas os tem.

    De acordo com LEHRER (2002, p. 162): O mais importante primeiro princpio

    um metaprincpio com respeito a todas as faculdades. Esse metaprincpio se

    traduz pelo seguinte primeiro princpio, conforme Reid (2002, p. 480): [...] Que as

    faculdades naturais, pelas quais distinguimos verdade de erro, no so falaciosas.

    Esse metaprincpio segundo LEHRER aparecer na ordem dos doze primeiros

    princpios das verdades contingentes, enumerados por Reid como primeiro princpio

    de nmero sete.

    A partir disso, para Lehrer, a evidncia para os Primeiros Primeiros Princpios

    emprica e no a priori. Quanto a isso este apresenta duas razes empricas

    conforme o pensamento de Reid, segundo LEHRER (2013, p. 158159):

    A primeira [razo] que primeiros princpios esto conectados a cada umdos outros como elos numa cadeia.

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    [...] O modo em que um primeiro princpio extrai outros equivale reivindicao emprica que princpios confirmam uns aos outros.A segunda razo para a reivindicao de que um Primeiro Primeiro Princpioseja emprico baseada nas caractersticas da prpria evidncia. Reidinsiste que evidncia algo que sentimos; sentimos a evidncia sobre uma

    base de crena.[...] Podemos sentir a influncia da evidncia, que um sinal emprico dela,e, portanto, estamos conscientes sobre a evidncia da crena, comoestamos conscientes do que sentimos. Evidncia algo que sentimos,mesmo a evidncia de uma verdade necessria.

    Entendidas as razes empricas para a evidncia dos Primeiros Princpios,

    conforme LEHRER (2013, p. 159 160): Podemos vir a saber que a evidncia

    confivel a partir de observao e induo, e alguma forma de confiabilidade parece

    ser evidente em si mesma a partir do Primeiro Primeiro Princpio. A afirmao

    seguinte deste, em analisando o entendimento de Reid acerca disto que, a

    evidncia imediata e intuitiva de modo que uma relao externa no .

    De acordo com LEHRER (2013, p, 160):

    A evidncia de primeiros princpios intuitiva e imediata, e no dependemdo raciocnio a partir de quaisquer outros princpios, nem mesmo doPrimeiro Primeiro Princpio. Conscincia, memria e percepo testificampara a verdade de convices e julgamentos envolvidos de um modo que

    intuitivo, imediato e sentido.[...] uma questo emprica e no algo conhecido a priori que nossasfaculdades, as bases da evidncia, no so falaciosas.

    Desse modo, podemos dizer sem prejuzo algum que primeiros princpios so

    evidentes por si ss, e que nossa conscincia, memria e percepo nos do

    testemunho verdadeiro acerca das caractersticas intuitivas, imediatas e sentidas

    desses primeiros princpios por ns.

    Em outra parte, segundo nos informa LEHRER (2002, p. 153): Os juzos deproposies surgindo diretamente de primeiros princpios so intuitivos e

    irresistveis.

    Desse modo, podemos definir assim os primeiros princpios autoevidentes, a

    saber, proposies intuitivas, imediatas e sentidas acerca, primeiramente, de que

    nossas faculdades naturais no so falaciosas, e nos informam a verdade.

    Embora Reid procure refutar a teoria de Hume de que a nossa falibilidade

    reduz a certeza acerca das coisas, h concesses dadas por Reid a Hume,mencionadas pelo prprio Lehrer, a saber, (I) que somos falveis em todos os

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    nossos juzos e raciocnios e (II) que a verdade e fidelidade de nossas faculdades

    pode nunca ser provada por raciocnio, logo nossa crena nisso pode nunca ser

    fundada sobre o raciocnio.

    Portanto, mesmo Reid admitindo a falibilidade de nossas faculdades e juzos,

    Reid cr, segundo LEHRER (2013, p. 161): [...] que compatvel com a crena de

    que somos falveis que deveramos estar certos de algumas verdades. Desse

    modo, podemos recordar daquilo que Lehrer denominou de Primeiro Primeiro

    Princpio (First First Principle), ou seja, que conforme LEHRER (2013, p. 161): O

    Primeiro Primeiro Princpio nos fala que nossas faculdades esto sintonizadas

    verdade.

    H uma afirmao bastante interessante, de acordo com LEHRER (2013, p.

    165):

    [...] a teoria da verdade, evidncia e concepo de Reid baseada noargumento emprico para nossas faculdades naturais e originais. Sem essasfaculdades, concepo e juzo seriam impossveis. [...] Nossas concepesno so inatas, mas surgem do desenvolvimento de nossos poderes naexperincia. Nosso conhecimento dos primeiros princpios autoevidentesno a priori mas emerge da perfeio do uso de nossas faculdades naexperincia. A teoria de Reid da verdade, evidncia e concepo umsistema de princpios. Eles esto conectados como elos em cadeia. amaneira como eles se encaixam, a coerncia do sistema de regras que

    interpretam a observao, que nos do a epistemologia de Thomas Reid.Isto encapsulado no Primeiro Primeiro Princpio como um princpio sobrea confiana de nossos poderes de julgar, incluindo, claro, o uso daquelespoderes para chegar aos princpios do sistema empirista de Reid acerca damente humana.

    Tanto nossas concepes, quanto nosso conhecimento dos primeiros

    princpios autoevidentes no so inatos, nem a priori, mas ambos, surgem a partir

    da experincia. Portanto, segundo interpretou Lehrer, h um primeiro princpio que

    primeiro a todos os outros, e este o chamou de Primeiro Primeiro Princpio, que

    discorre sobre a verdade e fidelidade das nossas faculdades, primeiro princpio esse

    tomado por garantido.

    At o presente momento parece ser satisfatrio o que fora dito acerca dos

    primeiros princpios autoevidentes. Mais adiante sero trabalhados e de certo modo,

    esmiuados, os doze primeiros princpios das verdades contingentes, princpios

    esses relativos aos raciocnios provveis.

    Podemos dizer que esses primeiros princpios autoevidentes aparecero a

    seguir na forma de trs primeiros princpios muito singulares, princpios tais que,

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    conforme Reid justificam o homem em crer naquilo que percebe e crer no que lhe

    testemunhado por outrem. Tambm podemos afirmar, pensa-se, com certa

    tranquilidade que, esses primeiros princpios com os quais todos operam, podem ser

    expressos mediante proposies autoevidentes.

    4.2 THOMAS REID: AN INQUIRY INTO THE HUMAN MIND ON THE PRINCIPLESOF COMMON SENSE:UMA EPISTEMOLOGIA DO TESTEMUNHO E ALGUMASCONSIDERAES EM DAVID HUME.

    Na seo XXIV, do captulo VI, Sobre a viso, na qual Reid fala Da analogia

    entre percepo e o que crdito que damos ao testemunho humano, trata mais

    especificamente sobre os canais pelos quais os objetos do conhecimento humano

    so conduzidos mente, e nesse nterim, destaca dois meios como sendo muito

    importantes, a saber, a percepo de coisas externas pelos nossos sentidos, e as

    informaes que recebemos pelo testemunho humano por meio da linguagem.

    Quanto a essa analogia dito o seguinte, conforme Reid (2000, p.190):

    No testemunho da natureza dado pelos sentidos, bem como no testemunhohumano dado pela linguagem, as coisas so significadas a ns por sinais: eem um bem como no outro a mente, seja pelos princpios originais, ou pelocostume, passa do sinal concepo e crena da coisa significada.

    Portanto, a analogia perfeitamente aceitvel pelo fato de que tanto em um

    caso quanto no outro, a coerncia existente entre os dois e a semelhana so fortes,

    a saber, seja pelos princpios originais da mente, que cr que um evento passado se

    repetir no futuro, seja no caso do testemunho humano, o qual tendemos a darcrdito pelo fato do costume arraigado em nossa essncia.

    De acordo com Lehrer (2002) embora haja proximidade na analogia entre o

    testemunho humano e o testemunho dos sentidos, h uma importante diferena a

    ser feita, a saber, que num primeiro momento o credito dado a ambos efeito do

    instinto apenas, ao passo que, quando crescemos o credito dado ao testemunho

    humano restrito e fraco em detrimento da experincia que temos com o engano,

    sendo que, o crdito dado ao testemunho dos nossos sentidos estabelecido e

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    confirmado pela uniformidade e constncia das leis da natureza, sendo assim, mais

    forte e confivel que o primeiro.

    H ainda uma distino feita acerca das percepes e da linguagem. As

    percepes dividem-se em originais e adquiridas, e a linguagem em natural e

    artificial. Reid afirma que h uma boa analogia entre percepo adquirida e

    linguagem artificial, no entanto, h uma analogia muito mais forte entre percepo

    original e linguagem natural.

    Conforme Reid tanto os sinais nas percepes originais que so as

    sensaes, quanto os sinais na linguagem natural que so os traos da face, gestos

    do corpo e modulao da voz, tem, estabelecidas, atravs da natureza, conexes

    reais entre esses sinais e as coisas significadas, por exemplo, quanto s percepes

    originais h uma conexo real entre os sinais e as coisas significadas, quanto

    linguagem natural h uma conexo real entre os sinais e os pensamentos e

    disposies da mente que so significados por eles.

    Temos ainda nesse contexto introdutrio de captulo algumas afirmaes

    interessantes com respeito linguagem natural e s percepes originais, conforme

    Reid (2000, p. 191):

    Os sinais na linguagem natural do rosto e do comportamento humano, bemcomo os sinais em nossas percepes originais, tem o mesmo significadoem todos os climas e em todas as naes; e a habilidade de interpret-losno adquirida, mas inata.

    Logo, segundo Reid, a habilidade de interpretao dos sinais na linguagem

    natural, bem como a interpretao dos sinais naturais nas percepes originais,

    alm de terem o mesmo significado em todas as naes e climas, no adquirida,

    mas inerente ao ser humano.

    Aparece algo aqui nesse contexto, com relao s palavras e o seu

    aprendizado, de acordo com Reid (2000, p. 192):

    Agora, se compararmos os princpios gerais de nossa constituio, que noscapacitam para receber informao de nossos semelhantes pela linguagem,com os princpios gerais que nos capacitam para adquirir a percepo decoisas pelos nossos sentidos, devemos encontr-los sendo muito similaresem sua natureza e modo de operao.[]Mas aqui ocorre uma dificuldade que merece nossa ateno, porque asoluo disso conduz a alguns princpios originais da mente humana, que

    so de grande importncia, e de extensa influncia. Sabemos pelaexperincia, que os homens tm usado essas palavras para expressaressas coisas. Mas toda experincia do passado, e no pode, por simesma, dar nenhuma noo ou crena do que futuro.

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    Primeiramente, feita uma comparao da parte de Reid quanto aos

    princpios gerais de nossa constituio que nos so propcios a receber informao

    dos nossos semelhantes por meio da linguagem com os princpios gerais que nos

    so adequados para adquirir a percepo de coisas atravs dos nossos sentidos.

    Para Reid eles so muito semelhantes em sua natureza e modo de operao.

    No entanto, Reid categrico quanto s palavras e experincia, a saber, a

    experincia nos faz saber que os homens utilizaram palavras para expressar coisas,

    e tambm, que toda experincia acerca do passado e pode no dar nenhuma

    noo ou crena daquilo que futuro. A que surge a seguinte pergunta posta por

    Reid (2000, p. 192): Como chegamos ento a acreditar, e crer nisso com confiana,

    que o homem que tem em seu poder fazer o contrrio, continuar a usar as mesmas

    palavras quando eles pensam as mesmas coisas?. O que no deixa de ser em

    nenhum aspecto, o problema da justificao do raciocnio indutivo, ou seja, como a

    experincia do que passado (casos observados), pode dar qualquer noo ou

    crena do que o futuro (casos inobservados)?

    Reid responde a essa pergunta assim: De onde viria esse conhecimento e

    crena ou previso? Da crena que colocamos de que os homens pem o mesmo

    significado naqueles sinais e palavras como costumavam fazer. Tomamos averacidade das palavras e sinais expressos pelos homens como garantida, a saber,

    nossa mente no tem motivos, naturais, para colocar em cheque a crena de que o

    significado implicado nas palavras e sinais utilizados pelos homens no continuaro

    sendo os mesmos que o foram no passado. Desse modo, afirmativamente

    respondido, conforme Reid (2000, p. 193):

    H, portanto, na mente humana uma antecipao prvia, nem derivada daexperincia, nem da razo, nem a partir de qualquer pacto ou promessa de

    que nossos semelhantes usaro os mesmos sinais na linguagem, quandoeles tm os mesmos sentimentos.Isto , na realidade, um tipo de prescincia das aes humanas, e meparece ser um princpio original da constituio humana, sem o qualdeveramos ser incapazes de linguagem, e consequentemente incapazesde instruo.

    O primeiro aspecto que nos salta aos olhos que Reid afirma que h na

    mente humana como que uma antecipao prvia (early antecipation), de que os

    nossos semelhantes usaro os mesmos sinais na linguagem. E, em segundo lugar,que este seria um tipo de prescincia das aes humanas, e categoricamente afirma

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    que este parece ser um princpio original da constituio humana, sem o qual

    seramos incapazes de linguagem e qualquer instruo. Nesse aspecto LEHRER

    afirmar que esse princpio geral que nos permite antecipar que as pessoas usaro

    as mesmas palavras para expressar os mesmos sentimentos no futuro como fizeram

    no passado nos permite aprender indutivamente o significado das palavras3.

    Segundo LEHRER (2002, p. 7475):

    Percepes originais e linguagem natural devem ser resolvidas emprincpios particulares da constituio humana. [...] Percepes adquiridase linguagem artificial devem ser resolvidas em princpios gerais daconstituio humana. Os princpios particulares conectam um tipo particularde sinal com um tipo particular de coisa significada. Por exemplo, certasensao significa movimento, ou determinado semblante significa fome.Estes sinais so originais e significam o que eles fazem como resultado

    imediato de um princpio inato. Eles no dependem da formao de umhbito de resposta resultante a partir da experincia de uma conjunoconstante do sinal e da coisa significada. Princpios gerais, pelo contrrio,permitem diferentes tipos de sinais para significar a mesma coisa, porexemplo, um determinado aspecto visual ou certo sabor igualmentesignificam uma ma. Alm disso, eles permitem os mesmos sinaissignificar coisas diferentes, dando assim origem ambiguidade. Porexemplo, um determinado aspecto visual pode igualmente significar umaesfera ou a pintura de uma esfera.

    Desse modo, LEHRER faz uma importante anlise quanto s percepes

    originais e linguagem natural e em relao a percepes adquiridas e linguagemartificial, a saber, que os primeiros se relacionam a princpios particulares da

    constituio humana e os segundos a princpios gerais da constituio humana.

    H algo de suma importncia, e isso no que diz respeito ao testemunho

    humano, nesse contexto, Reid afirma que Deus, Nosso Autor, por ter nos feito

    criaturas sociais, devendo desse modo, recebermos a maior e mais importante

    parcela de nosso conhecimento por intermdio da informao de outros, como que

    implantou em nossa natureza humana, dois princpios, o primeiro princpio, oprincpio a uma propenso a falar a verdadee fazer uso da linguagem4, de modo a

    transmitir os nossos reais sentimentos, e, o segundo princpio, o princpio da

    disposio de confiar na veracidade de outros, e de crer no que nos dizem. Segundo

    Reid um princpio complementa o outro e podem ser chamados respectivamente de

    3 Cf. LEHRER, Keith. Thomas Reid: The Arguments of the Philosophers. London: Routledge,

    2002. p. 75.4Cf. REID, Thomas. An Inquiry into the Human Mind on the Principles of Common Sense(1764).In: BROOKES, D. R. (Ed.). Thomas Reid An Inquiry into the Human Mind on the Principles ofCommon Sense. A critical edition. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2000 (paperback).