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  • CENTRO ESTADUAL DE EDUCAO TECNOLGICA PAULA SOUZA

    UNIDADE DE PS-GRADUAO, EXTENSO E PESQUISA

    MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTO E DESENVOLVIMENTO DA

    EDUCAO PROFISSIONAL

    SERGIO PAMBOUKIAN

    AS COMPETNCIAS REQUERIDAS NO SCULO XXI DOS EGRESSOS DOS CURSOS

    SUPERIORES DE TECNOLOGIA MECNICA E SOLDAGEM DA FATEC-SP.

    So Paulo

    Maro/2018

  • SERGIO PAMBOUKIAN

    AS COMPETNCIAS REQUERIDAS NO SCULO XXI DOS EGRESSOS DOS CURSOS

    SUPERIORES DE TECNOLOGIA MECNICA E SOLDAGEM DA FATEC-SP.

    Dissertao apresentada como exigncia

    parcial para a obteno do ttulo de Mestre em

    Gesto e Desenvolvimento da Educao

    Profissional do Centro Estadual de Educao

    Tecnolgica Paula Souza, no Programa de

    Mestrado Profissional em Gesto e

    Desenvolvimento da Educao Profissional,

    sob a orientao do Prof. Dr. Roberto Kanaane

    So Paulo

    Maro/2018

  • FICHA ELABORADA PELA BIBLIOTECA NELSON ALVES VIANA FATEC-SP / CPS

    Pamboukian, Sergio

    P185c As competncias requeridas no sculo XXI dos egressos dos cursos superiores de tecnologia Mecnica e Soldagem da FATEC-SP / Sergio Pamboukian . So Paulo : CPS, 2018.

    196 f. : il., figs., grafs., quads., tabs.

    Orientador: Prof. Dr. Roberto Kanaane Dissertao (Mestrado Profissional em Gesto e

    Desenvolvimento da Educao Profissional) - Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza, 2018.

    1. Competncias. 2. Curso superior de tecnologia. 3. FATEC-

    SP. 4. Modelo de competncias. 5. Quarta revoluo industrial. I. Kanaane, Roberto. II. Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza. III. Ttulo.

    CRB8-8281

  • SERGIO PAMBOUKIAN

    AS COMPETNCIAS REQUERIDAS NO SCULO XXI DOS EGRESSOS DOS CURSOS

    SUPERIORES DE TECNOLOGIA MECNICA E SOLDAGEM DA FATEC-SP.

    Prof. Dr. Roberto Kanaane

    Profa. Dra. Helena Gemignani Peterossi

    Profa. Dra. Amlia Covic

    So Paulo, 26 de maro de 2018

  • A Ourazine Pamboukian e Maria Pamboukian,

    in memoriam: honro aos meus pais pelas

    oportunidades que at hoje me perseguem.

  • AGRADECIMENTOS

    Inicialmente, agradeo ao amigo Prof. Djanilson Pereira Vanderlei, incentivador de primeira

    hora, pelo apoio na discusso do pr-projeto quando este trabalho se constitua apenas de

    intenes, ausente neste momento pelo mesmo motivo de seu prprio mestrado inconcluso.

    Agradeo aos Ilmos. Diretores da FATEC-SP Prof Dr Luciana Reyes Pires Kassab e Prof.

    Me. Dcio Moreira pelo apoio e acesso s informaes junto a todos os departamentos.

    Agradeo ao Chefe do Departamento de Soldagem da FATEC-SP Prof. Waldyr Veg pelo

    apoio incondicional para que pudesse conciliar minhas atividades profissionais e acadmicas,

    bem como a todos os colegas do departamento pela colaborao e palavras de incentivo.

    Ao Prof. Wilson Hiroo Nakagawa, pelas informaes provenientes da Seo de Estgio e pela

    deferncia que dispensou a este trabalho, at na reviso da comunicao enviada s empresas.

    Agradeo s empresas que, ao responderem o questionrio, forneceram os dados para

    elaborao da pesquisa, bem como aos professores dos Cursos de Tecnologia Mecnica

    Modalidade Processos de Produo e Projetos, Mecnica de Preciso e Soldagem da FATEC-

    SP pelo tempo dedicado em fornecer as preciosas informaes, bem como o apoio de seus

    respectivos Chefes de Departamento. Minha gratido Dr Suzana Abreu de Oliveira Souza

    Chefe do Departamento de Ensino Geral por auxiliar o acesso aos docentes do departamento.

    Agradeo CESU e ao Centro Paula Souza pelo apoio e contribuio ao trabalho, ao

    Coordenador da CESU Dr. Andr Alves Macedo e Prof Dr Luciana Ruggiero Gonzalez.

    Agradeo a todos os docentes do programa de mestrado; ao Prof. Me. Sergio Eugnio Menino

    e em especial Coordenadora da Ps-Graduao do Centro Paula Souza Prof Dr Helena

    Gemignani Peterossi pelas contribuies nas disciplinas e nas bancas de qualificao e defesa.

    Um agradecimento especial ao Prof. Dr. Roberto Kanaane, professor da disciplina Psicologia

    do Adulto, colega do departamento de Soldagem da FATEC-SP e meu orientador pelos

    conhecimentos, pela sua dedicao a este trabalho e pela sua amizade. Agradeo a todos que

    contriburam para a consecuo deste trabalho, aos alunos da FATEC-SP que a cada encontro,

    buscaram informaes sobre o andamento do projeto e deram sua contribuio e estmulo.

    Aos Filhos Mateus e Lucas, por ser a razo de me prosseguir com os estudos e s minhas

    irms Rose e Adriana pelo amor e cuidado de sempre. Agradeo minha esposa Mnica

    Maria Roman Pamboukian que assumiu a responsabilidade do cuidado familiar durante dois

    anos para que me dedicasse ao projeto.

    Sobretudo, sou grato ao Senhor Deus, meu Senhor e Salvador, a quem seja toda a honra e a

    glria para todo o sempre, Amm. Maranata, ora vem Senhor Jesus!

  • Combati o bom combate, terminei a minha

    carreira, guardei a f.

    (Apstolo Paulo, 2 Timteo 4:7)

  • RESUMO

    PAMBOUKIAN, S. As competncias requeridas no sculo XXI dos egressos dos cursos

    superiores de tecnologia em Mecnica e Soldagem da FATEC-SP. 196f. Dissertao

    (Mestrado Profissional em Gesto e Desenvolvimento da Educao Profissional). Centro

    Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza, So Paulo, 2018.

    Foi realizada pesquisa qualiquanti utilizando o mtodo descritivo e como tcnicas a pesquisa

    bibliogrfica. Adotou-se uma amostra no probabilstica. A coleta de dados se utilizou de trs

    questionrios eletrnicos com escala Lickert e perguntas abertas. Atravs do sujeito de

    pesquisa empregadores objetivou-se caracterizar quais as competncias requeridas dos

    egressos dos cursos superiores de tecnologia em Mecnica e Soldagem da Faculdade de

    Tecnologia de So Paulo visando contratao de egressos, face aos efeitos da quarta

    revoluo industrial em andamento. De forma concomitante, questionou-se aos professores

    dos cursos qual o nvel de desenvolvimento das competncias proporcionado pelos cursos

    pesquisados e de que maneira o desenvolvimento de cada uma das competncias podem ser

    ampliadas. Da mesma forma, foram caracterizadas as competncias pelos gestores e avaliada

    a viabilidade de utilizao do modelo de competncias para estruturao dos currculos e do

    Plano Pedaggico dos Cursos em estudo. A anlise e interpretao dos dados foram realizadas

    atravs de triangulao e referente s questes abertas foi realizada anlise interpretativa

    textual. Como resultados, 17 das 18 das competncias requeridas para o sculo XXI foram

    caracterizadas como extremamente importantes e muito importantes pelos empregadores

    todas 18 pelos gestores da FATEC-SP. Foram elencadas pelos professores alternativas para

    desenvolver cada uma das competncias dos alunos e a viabilidade de utilizao do modelo de

    competncias para a reestruturao de currculos e Planos Pedaggicos dos cursos

    pesquisados foi ratificada pelos gestores.

    Palavras-chave: Competncias. Curso Superior de Tecnologia. Fatec-SP. Modelo de

    Competncias. Quarta Revoluo Industrial.

  • ABSTRACT

    PAMBOUKIAN, S. The required competencies in the 21st century of the graduates of

    the superior courses of technology of FATEC-SP. 196f. Dissertation (Professional Master

    in Management and Development of Professional Education). State Center for Technological

    Education Paula Souza, So Paulo, 2018.

    Qualiquanti research was carried out using the descriptive method and as bibliographic

    research techniques. A non-probabilistic sample was adopted. The data collection was done

    using three electronic questionnaires with Lickert scale and open questions. Through the

    subject of research "employers" was aimed to characterize the skills required of graduates of

    the higher technology courses in Mechanics and Welding of the Faculty of Technology of So

    Paulo aiming at the hiring of graduates, in light of the effects of the fourth industrial

    revolution in progress. At the same time, the teachers of the courses were asked about the

    level of development of the competences provided by the courses studied and how the

    development of each of the competences can be expanded. Likewise, the competencies were

    characterized by the managers and evaluated the feasibility of using the competency model

    for curriculum structuring and the Pedagogical Plan of the courses under study. The analysis

    and interpretation of the data were performed through triangulation and referring to the open

    questions was performed textual interpretive analysis. As a result, 17 of the 18 competencies

    required for the 21st century were characterized as "extremely important" and "very

    important" by employers all 18 by FATEC-SP managers. They were listed by the teachers

    alternative to develop each of the competences of the students and the feasibility of using the

    competencies model for the restructuring of curricula and Pedagogical Plans of the courses

    surveyed was ratified by the managers.

    Keywords: Competencies. Junior College Education. -SP. Fourth Industrial Revolution.

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Pontos de inflexo esperados at 2025 ........................................................... 31

    Quadro 2: Descritivo de Geraes .................................................................................... 47

    Quadro 3: Competncias chave essenciais recomendadas pelo Parlamento Europeu ..... 57

    Quadro 4: Pontos de inflexo esperados at 2025 ........................................................... 64

    Quadro 5: Denominao dos Cursos Superiores de Tecnologia nos diversos pases ....... 75

    Quadro 6: Resultados da aprendizagem dos CSTs de acordo com QEQ ......................... 76

    Quadro 7: Contribuies do estudo dos Cursos de Tecnologia de outros pases ............. 78

    Quadro 8: Contribuies do estudo de EFP de outros pases ao Brasil ............................ 79

    Quadro 9: Cursos de Graduao Tecnolgica da Fatec-SP ............................................. 83

    Quadro 10: Autorizao e reconhecimento dos cursos da Fatec-SP .................................. 84

    Quadro 11: Competncias Profissionais dos Tecnlogos ................................................... 85

    Quadro 12: Dados Curso Tecnologia Mecnica Modalidade Processos de Produo ...... 86

    Quadro 13: Competncias egressos Tecnologia Mecnica Mod. Processos de Produo . 87

    Quadro 14: Dados Gerais do Curso de Tecnologia Mecnica Modalidade Projetos .......... 89

    Quadro 15: Competncias egressos Tecnologia Mecnica Modalidade Projetos .............. 90

    Quadro 16: Dados Gerais do Curso de Tecnologia em Soldagem ..................................... 93

    Quadro 17: Competncias dos Egressos do Curso de Tecnologia em Soldagem ............... 94

    Quadro 18: Dados Gerais do Curso de Tecnologia em Mecnica de Preciso ................ 101

    Quadro 19: Relevncia das competncias para o sculo XXI na viso dos gestores ........ 139

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1: Evoluo dos Cursos Superiores de Tecnologia entre 1998 e 2008 ............... 67

    Grfico 2: Relao candidato/vaga Tecnologia Mecnica - Processos de Produo ........ 87

    Grfico 3: Relao candidato/vaga Tecnologia Mecnica - Projetos .............................. 90

    Grfico 4: Relao candidato/vaga Tecnologia em Soldagem ......................................... 95

    Grfico 5: Relao candidato/vaga Tecnologia Mecnica de Preciso ........................... 102

    Grfico 6: Atividade econmica das empresas da amostra ............................................ 109

    Grfico 7: Resultados de questionrios do Sujeito de Pesquisa Empregadores .............. 110

    Grfico 8: Resultados de questionrios do Sujeito de Pesquisa Empregadores .............. 111

    Grfico 9: Resultados de questionrios do Sujeito de Pesquisa Empregadores ............. 112

    Grfico 10: Resultados de questionrios do Sujeito de Pesquisa Empregadores ............. 113

    Grfico 11: Resultados de questionrios do Sujeito de Pesquisa Empregadores .............. 116

    Grfico 12: Tempo como docente na Fatec-SP ................................................................ 117

    Grfico 13: Titulao dos professores da amostra ........................................................... 117

    Grfico 14: Resultado para competncia comunicao escrita em lngua portuguesa ..... 118

    Grfico 15: Resultado para competncia comunicao oral em lngua portuguesa ......... 120

    Grfico 16: Resultado para competncia comunicao em lnguas estrangeiras ............. 121

    Grfico 17: Resultado para competncia matemtica, cincias e tecnologia .................... 122

    Grfico 18: Resultado para competncia digital ............................................................... 123

    Grfico 19: Resultado para competncia aprender a aprender .......................................... 124

    Grfico 20: Resultado para competncia saber agir e reagir com pertinncia .................. 125

    Grfico 21: Resultado para competncia mobilizar recursos em situaes complexas .... 126

    Grfico 22: Resultado para competncia saber transpor ................................................... 127

    Grfico 23: Resultado para competncia esprito de iniciativa ......................................... 128

    Grfico 24: Resultado para a competncia esprito empresarial ....................................... 129

    Grfico 25: Resultado para competncia sensibilidade e expresso cultural .................... 129

    Grfico 26: Resultado para competncia cvica ................................................................ 130

    Grfico 27: Resultado para competncia em operaes globais ....................................... 131

    Grfico 28: Resultado para competncia inteligncia emocional ..................................... 132

    Grfico 29: Resultado para competncia resoluo de problemas complexos ................. 133

    Grfico 30: Resultado para competncia viso holstica .................................................. 134

    Grfico 31: Resultado para competncia saber fazer ........................................................ 135

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Universo de Empresas pesquisadas .............................................................. 106

    Tabela 2: Professores de Curso por Departamento da Fatec-SP ................................... 107

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Contextualizao das reflexes da Pesquisa .................................................... 18

    Figura 2: Sala de aula Interativa MIT .............................................................................. 49

    Figura 3: Quadro conceitual da Educao da OCDE para 2030 .................................... 59

    Figura 4: Desenho da Lgica da Pesquisa .................................................................... 104

    Figura 5: Desenho da Pesquisa ..................................................................................... 108

  • LISTA DE SIGLAS

    BRICS Brasil, Rssia, ndia, China, frica do Sul

    CAD Computer Aided Design

    CAE Computer Aided Engineering

    CAM Computer Aided Manufacturing

    CCR Curriculum Consortium Research

    CEET SP Centro Estadual de Educao Tecnolgica de So Paulo

    CEETEPS Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza

    CESU Coordenadoria de Ensino Superior

    CNCST Catlogo Nacional dos Cursos Superiores Tecnolgicos

    CFE Conselho Federal de Educao

    CNE Conselho Estadual de Educao

    CNI Confederao Nacional da Indstria

    CST Curso Superior de Tecnologia

    EFP Educao e Formao Profissional

    EP Educao Profissional

    EPT Educao Profissional e Tecnolgica

    FATEC Faculdade de Tecnologia

    FATEC-SP Faculdade de Tecnologia de So Paulo

    FMI Fundo Monetrio Internacional

    IES Instituio de Ensino Superior

    IoT Internet of Things

    MIT Massachusetts Institute of Technology

    OCDE Organizao de Cooperao e de Desenvolvimento Econmico

    PPC Plano Pedaggico do Curso

    TIC Tecnologia de Informao e Comunicao

    UNESCO Organizao das Naes Unidas para Educao, Cincia e Cultura

    UNESP Universidade Estadual Paulista

  • SUMRIO

    INTRODUO .................................................................................................................... 16

    CAPTULO 1- O SCULO XXI ......................................................................................... 28

    1.1 A Quarta Revoluo Industrial ..................................................................................... 28

    1.2 A Educao para o Sculo XXI ..................................................................................... 35

    CAPTULO 2 AS COMPETNCIAS ............................................................................. 50

    2.1 O conceito de Competncias .......................................................................................... 50

    2.2 As Competncias para o sculo XXI ............................................................................. 56

    2.3 O modelo de Competncias ............................................................................................ 62

    CAPTULO 3 OS CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA ................................ 64

    3.1 Origem e Histrico dos Cursos Superiores de Tecnologia .......................................... 64

    3.2 Debates e tendncias para os Cursos Superiores de Tecnologia ................................ 68

    3.3 Os Cursos Superiores de Tecnologia em Outros Pases .............................................. 73

    CAPTULO 4 A FACULDADE DE TECNOLOGIA DE SO PAULO ..................... 79

    4.1 Histrico da Faculdade de Tecnologia de So Paulo ................................................... 79

    4.2 O Curso de Tecnologia Mecnica Modalidade Processos de Produo .................... 85

    4.3 O Curso de Tecnologia Mecnica Modalidade Projetos ............................................. 88

    4.4 O Curso de Tecnologia em Soldagem ........................................................................... 91

    4.5 O Curso de Tecnologia em Mecnica Modalidade Mecnica de Preciso ................ 96

    CAPTULO 5 - METODOLOGIA ................................................................................... 103

    CAPTULO 6 - RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................. 108

    6.1 Resultados e discusso - sujeito de pesquisa empregadores ..................................... 108

    6.2 Resultados e discusso - sujeito de pesquisa professores .......................................... 116

    6.3 Resultados e discusso - sujeito de pesquisa gestores ................................................ 139

    CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................. 144

    REFERNCIAS ................................................................................................................. 161

    APNDICES ....................................................................................................................... 172

    ANEXOS .............................................................................................................................. 184

  • 16

    INTRODUO

    Este estudo proveniente da reflexo do pesquisador a respeito das mudanas

    ocorridas na sociedade e no trabalho durante as ltimas quatro dcadas, perodo em que as

    prticas educativas foram mantidas essencialmente inalteradas. As reflexes, num primeiro

    momento, concentraram-se em compreender o funcionamento da sociedade e a cultura de

    ento; posteriormente, devido s rpidas mudanas, a reflexo buscou identificar o porqu a

    sociedade e a cultura no mais eram como haviam sido. A principal motivao para

    empreender este projeto foi a transformao da realidade observada, e a inquietao do

    pesquisador em identificar quais os processos teriam alterado os valores e o comportamento

    dos indivduos e da prpria sociedade. Desta forma, recorreu-se a uma fundamentao terica

    sobre a ps-modernidade, a globalizao, a cibercultura, a sociedade do conhecimento, a

    quarta revoluo industrial, os cursos superiores de tecnologia, bem como sobre as

    competncias exigidas dos profissionais para o sculo XXI.

    As implicaes econmicas provenientes de uma economia global e em mudana so

    o pano de fundo para a compreenso do mundo atual. Entretanto, para delimitar a anlise

    sobre o contexto educacional, adotou-se justamente a interseco entre as noes de

    sociedade, trabalho e educao como o cerne da pesquisa, conforme representado na figura 1.

    Figura 1 Contextualizao das reflexes da Pesquisa.

    Fonte: elaborado pelo autor.

  • 17

    Um pressuposto considerado neste trabalho que a civilizao ocidental se assentou

    sobre a moral judaico-crist, sobre a filosofia grega e sobre o direito romano e que os valores

    morais mantidos praticamente inalterados nos ltimos dois milnios, que permearam o

    pensamento e a vida nos principais pases do ocidente at cerca da metade do sculo XX,

    parecem ter sido abandonados devido s transformaes das sociedades ao lanar as bases da

    sociedade do sculo XXI.

    Nesse sentido, Rodrigues (2010) descreve a ocorrncia de um processo de ruptura na

    histria do pensamento e da tecnologia devido revoluo causada pelas tecnologias de

    informao e de comunicao (tics), pelo desenvolvimento de novos materiais, como o

    grafeno1 e pela gentica. Na avaliao do autor, as mudanas paradigmticas alteraram os

    fundamentos existentes sobre o modo de pensar e viver da humanidade e a viso de mundo

    constituda no sculo XV e consolidada no sculo XVIII, questionando a Modernidade em

    seus pilares fundamentais, ou seja, na crena da verdade alcanvel pela razo ou no

    avano histrico contnuo rumo ao progresso. Para substituir estes paradigmas, foram

    propostos novos valores, menos slidos e mais fluidos que serviram de base para o perodo de

    superao da Modernidade seja no pensamento, na cincia e na tecnologia: a Ps-

    Modernidade.

    Bell (1973) j identificara tal processo de ruptura na sociedade dos Estados Unidos,

    quando props o conceito de sociedade ps-industrial, referindo-se s sociedades cujas

    economias se transformaram aps superarem o paradigma taylorista/fordista de organizao

    do trabalho, que fora a base tcnica da produo por meio de processos mecanizados

    caractersticos da era industrial, atravs da substituio pelos princpios da produo flexvel e

    uso da microeletrnica. O autor descreveu uma sociedade ps-industrial, como aquela que

    sofreu significativas alteraes em sua esfera social, poltica e cultural, estruturou-se em torno

    de um eixo principal tecnolgico de processamento de informao atravs da computao e

    das telecomunicaes, alm de possuir como princpio o valor conhecimento em

    contraponto ao valor trabalho pertencente era industrial. Tais sociedades seriam marcadas

    por um rpido crescimento do setor de servios em oposio ao manufatureiro, com a

    intensificao do uso da tecnologia de informao e da utilizao do conhecimento e

    criatividade como matrias-primas cruciais de suas economias. 1 O grafeno um material bidimensional obtido atravs do grafite da espessura de um tomo. As pesquisas se

    iniciaram em 1947, mas s em 2004 rendeu aos cientistas Konstantin Novoselov e Andre Geim da Universidade de Manchester, na Inglaterra, o Prmio Nobel de Fsica pelo desenvolvimento do transistor de grafeno. Milhares de estudos foram publicados desde 2010 que comprovam o potencial de sua aplicao em diversos campos do conhecimento.

  • 18

    Como decorrncia, no ltimo quarto do sculo XX, multiplicaram-se as afirmaes de

    que as sociedades do mundo ocidental ingressaram em uma nova era de sua histria. Segundo

    Kumar (1997), apesar do conceito de uma sociedade ps-industrial ter causado controvrsias e

    discusses acaloradas poca, fato que, o industrialismo clssico, a sociedade tpica

    escrutinada por Marx e Weber e habitada por quase dois sculos pelos ocidentais no mais

    existia. Para o autor, tais sociedades seriam Ps-Industriais, Ps- Fordistas ou Ps-

    Modernas, numa transio da sociedade industrial em direo a uma nova sociedade,

    diferente, na medida em que a sociedade industrial fora diferente da sociedade agrria.

    Castells (1999) refora a ideia de que, embora informao e conhecimento tenham se

    constitudo em elementos cruciais para o crescimento econmico, bem como a evoluo

    tecnolgica como fator determinante para a gerao de riquezas ao longo dos sculos,

    testemunha-se agora um ponto de descontinuidade histrica. Para o autor, a emergncia de um

    novo paradigma tecnolgico2 lastreado nas novas tecnologias de informao permite que ela

    seja agora o produto do processo produtivo.

    Desta forma, para Lastres e Albagli (1999) observa-se que os temas e questes que

    marcaram a virada do milnio adentram ao Sculo XXI, mantendo-se em evidncia,

    aglutinados em torno de dois fenmenos principais interligados: o papel central da

    informao e do conhecimento no emergente paradigma scio-tcnico-econmico; e a

    acelerao do processo de globalizao e os impactos econmicos, polticos e sociais da

    decorrentes.

    A globalizao, segundo o Fundo Monetrio Internacional (FMI), como um dos

    processos de aprofundamento internacional da integrao econmica, social, cultural e

    poltica teve impulso pela reduo de custos dos meios de transporte e comunicao dos

    pases no final do sculo XX. O Fundo identificou os quatro aspectos bsicos da globalizao,

    sendo o primeiro o comrcio e transaes financeiras; o segundo os movimentos de capital e

    de investimento; seguidos pela migrao e movimento de pessoas e, por ltimo, a

    disseminao de conhecimento (IMF, 2000).

    Castells (1999) entende que uma nova economia surgiu em escala global no ltimo

    quarto do sculo XX: informacional, global e em rede. Informacional porque a

    2 Um "paradigma tecnolgico" de acordo com a definio abrangente epistemolgica uma "perspectiva", um

    conjunto de procedimentos, uma definio dos problemas "relevantes" e do conhecimento especfico relacionado sua soluo. Cada "paradigma tecnolgico" define seu prprio conceito de "progresso" com base em seus compromissos tecnolgicos e econmicos especficos, indicando a direo de avano dentro do paradigma, sua "trajetria tecnolgica" (DOSI, 1982, p. 148).

  • 19

    competitividade das empresas nessa economia depende de sua capacidade de processar e

    aplicar, de forma eficiente, a informao. Global, porque as atividades produtivas esto

    organizadas diretamente em escala global ou em uma rede de conexes entre agentes

    econmicos. E, finalmente, em rede, porque a produtividade gerada em uma rede global de

    interao de redes empresariais, possibilitada pela revoluo da tecnologia de informao

    que forneceu a base material indispensvel para sua ocorrncia.

    Sobre a nova economia, Kumar (1997) afirma que, quando Castells relacionou a

    customizao de produtos, a descentralizao administrativa, o achatamento das hierarquias, a

    fragmentao e individualizao do trabalho, ou seja, os pressupostos ps-fordistas da

    produo flexvel e o trabalho flexvel recairiam sob os auspcios da economia informacional

    global. No entanto, para o autor, a economia mundial ainda , e mais do que nunca,

    capitalista, mas um capitalismo transformado pelo informacionismo, pois conter as

    atividades econmicas nas fronteiras dos Estados-nao tornou-se impossvel.

    A Revoluo Industrial iniciada no sculo XVIII, conforme Cavalcante e Da Silva

    (2011), transformaram a modernidade e provm sustentao revoluo tecnolgica vivida

    nos dias atuais. Canedo (2012) descreve que em sua primeira fase iniciada na Inglaterra, a

    utilizao do carvo mineral como fonte de energia das mquinas movidas a vapor propiciou

    a transio do sistema de produo artesanal para o sistema de produo industrial, fazendo

    surgir locomotivas e navios a vapor para suprir a necessidade de transporte de mercadorias em

    larga escala. Complementarmente, a autora aponta que, em sua segunda fase iniciada nos

    Estados Unidos no final do sculo XIX, caracterizou-se pela substituio do carvo pelo

    petrleo como fonte de energia, pelo surgimento de invenes como o automvel, o telefone e

    o rdio, a implantao da produo em massa, bem como pela utilizao da energia eltrica

    que possibilitou o aperfeioamento das mquinas industriais. A autora afirma que numa

    terceira fase, iniciada aps a Segunda Guerra Mundial e tambm liderada pelos Estados

    Unidos, foram introduzidos o uso da informtica e da energia nuclear, ao mesmo tempo em

    que deflagrou a preocupao com o Meio Ambiente, o fortalecimento do sistema capitalista e

    o crescimento econmico, ao transformar o Japo e a Alemanha em potncias econmicas.

    Com o fim da Guerra Fria, a Globalizao gerou um novo cenrio nas relaes econmicas e

    nas formas de produo, ao passo que a Internet, no final do sculo XX, alavancou o mundo

    do comrcio e das finanas com o aumento da importncia no cenrio econmico global de

    pases emergentes como Brasil, Rssia, ndia, China, alm da frica do Sul.

  • 20

    Mais recentemente, Schwab (2016) aponta uma nova revoluo tecnolgica em curso,

    com o potencial de transformar o trabalho, o modo de vida e as relaes entre as pessoas. Essa

    quarta revoluo industrial apresenta evoluo acelerada, pois resultado da cultura da ps-

    modernidade e a convergncia das inovaes tecnolgicas entre si, que aprofundam o impacto

    gerado por estas inovaes no modo de vida atual. Desta forma, a conjuno de foras

    reunidas que governam a sociedade atual, alterou o sistema produtivo, as atividades de

    trabalho, a cultura local, as relaes sociais e o sentido e a valorao do conhecimento.

    Para Menino, Peterossi e Fernandez (2010), se no passado a tecnologia precedia a

    explicao cientfica do fenmeno, hoje, o conceito amplamente aceito de que a cincia

    permite o desenvolvimento da tecnologia e sua aplicao na resoluo de problemas cada vez

    mais complexos. A ideia de que cincia e tecnologia esto conectadas nas diversas reas do

    conhecimento naturalmente aceita em nossos dias, embora seja recente.

    Machado (2008) conceitua a Tecnologia como um conjunto de princpios e processos

    de ao e de produo, instrumentos que decorrem da aplicao do conhecimento cientfico,

    de diversos saberes e da experincia acumulada, que cumpre importante papel na reproduo

    da vida humana e na resoluo dos problemas que afetam a existncia natural e social.

    Nessa sociedade da informao e do conhecimento, apontam Guimares e Goulart

    (2011), o progresso cientfico e tecnolgico requer dos profissionais de engenharia elevada

    qualificao e escolaridade, aliadas a competncias tcnicas e interpessoais.

    Cordo e Feres (2015) pontuam que as mudanas ocorridas no mundo tm exigido

    cada vez mais conhecimento sobre cincia e tecnologia, estreitando a relao entre educao e

    trabalho, propiciando uma ligao profunda entre o desenvolvimento social e econmico dos

    pases e seus sistemas educativos. Desta forma, a Educao Profissional tm sido amplamente

    debatida por contribuir diretamente na agenda de desenvolvimento social e econmico dos

    pases, ao elevar a produtividade do trabalho e ampliar as possibilidades de incluso social

    dos educandos, tornando a educao de qualidade e a formao profissional, elementos

    essenciais na sociedade atual e do futuro.

    Sacristn (2012) compreende que, decorrem do exposto, as mudanas de sentido e na

    orientao da poltica, em especial no que tange educao, seja na organizao do sistema

    educacional, na valorao do sujeito e na concepo da aprendizagem em sua finalidade, seu

    contexto, seu contedo e suas aplicaes.

  • 21

    Em documento do MEC sobre polticas pblicas para a Educao Profissional e

    Tecnolgica (EPT) h o entendimento de que atualmente, a EPT se constitui em uma

    dimenso do sistema educativo que evidencia suas diversas inter-relaes com os demais

    aspectos da sociedade, como trabalho, economia, polticas e governo, entre outros (BRASIL,

    2004).

    Com tal viso, a Confederao Nacional das Indstrias (CNI) interpreta que no atual

    momento, um dos principais determinantes da competitividade da indstria a produtividade

    do trabalho propiciada por equipes qualificadas e profissionais bem formados, que possuem as

    competncias para melhor utilizao dos equipamentos, a criao das solues para os

    problemas cotidianos da produo, para adaptao dos processos, criao de novos produtos e

    desenvolvimento e implementaes de inovaes tecnolgicas (CNI, 2013).

    Para Laureth (2014) a trade - cincia, tecnologia e inovao - considerada como

    base de estruturao do desenvolvimento econmico, motor do ciclo virtuoso de

    transformao de competitividade em lucros e, os lucros, em aumento de qualidade de vida da

    populao.

    Entretanto, Ramos (2004) entende que tais mudanas nos padres de produo, de

    consumo e de sociabilidade processadas ao final do sculo XX trouxeram implicaes

    tambm para o pensamento educacional, de tal forma que, diversos pases empreenderam

    reformas na educao profissional devido a um novo conjunto de signos e significados

    moldado pela nova cultura, que se traduziu num papel especfico na representao da

    sociedade, quanto aos processos de formao e de comportamento do trabalhador. Para a

    autora, dentre esses novos signos, destaca-se a noo de competncia, que se constitui numa

    pedagogia baseada em teorias psicolgicas da aprendizagem ao promover a valorizao do

    processo educacional como conformador de personalidades flexveis e, no mbito da gesto

    do trabalho, orientar o envolvimento do trabalhador com a cultura da empresa que assumem

    uma posio hegemnica patrocinada por organismos multilaterais internacionais.

    De forma pragmtica, Zarifian (2012) considera que a competncia est relacionada ao

    indivduo quando este enfrenta as situaes profissionais. Desta forma, para o autor, a

    competncia situacional, contingencial e se revela nas aes. A lgica da competncia est

    conectada com a autonomia e a automobilizao do trabalhador.

    Nesse sentido, Depresbiteris (2016) afirma ser compreensvel que o surgimento do

    termo competncia na literatura da educao profissional tenha provocado tamanho

  • 22

    desconforto nos educadores, posto que a primeira ideia de competncia na educao foi a de

    competitividade, decorrente das necessidades do trabalhador e das empresas lutarem, em

    tempos de crise, por um lugar no mercado de trabalho como exigncia do processo de

    globalizao e do fenmeno de transformao produtiva, que colocava a competividade como

    ncleo central da economia globalizada.

    Marn (2017) relata que no incio do sculo XXI os contextos socioeducativos foram

    acelerados por causa do impulso, da expanso, consolidao e modelo geral de Educao por

    Competncias, gerado a partir das experincias de treinamento de gesto do trabalho.

    Embora este modelo educacional tenha permeado todos os nveis, formas e dimenses dos

    sistemas de educao no mundo globalizado, sua introduo no foi isenta de controvrsias,

    no s da tradicional resistncia mudana que oferecem os educadores, mas tambm

    derivada do discurso economicista que suporta esta abordagem e pelas suas implicaes

    didtico-pedaggicas.

    Estas implicaes, segundo Arajo (2011), indicam a necessidade de se transformar a

    educao, de maneira a rever os contedos, a forma e as relaes entre docentes e discentes,

    para se alcanar a educao inclusiva e de qualidade almejada pelas sociedades

    contemporneas, apontando que os caminhos para tal transformao articulam metodologias

    ativas de aprendizagem com Tecnologias de Informao e Comunicao (TICs),

    complementadas com a preocupao com a tica pessoal e profissional.

    As transformaes sociais, polticas, econmicas e culturais geradas pela evoluo do

    conhecimento nos primeiros anos do sculo XXI, aliadas perspectiva da revoluo

    tecnolgica afetar a todos os setores da vida humana, no isentar a educao de mudanas,

    para Jacobowitz (2010). Para a autora, o domnio da gerao de conhecimento fundamental

    para se manter a competitividade, cabendo s Instituies de Ensino Superior (IES) a

    formao de profissionais competentes, alm do desenvolvimento de pesquisas tecnolgicas

    que propiciem o desenvolvimento tcnico e econmico do pas.

    Segundo Fava (2012), o perodo atual vivencia a mais rpida transformao

    tecnolgica no que se refere informao. Em poucas dcadas, ocorreu a inveno e adoo

    das tecnologias digitais por mais de um bilho de pessoas em todo o mundo. Entretanto,

    nenhuma gerao viveu completamente uma vida na era digital. O que faz com que se

    busquem novos paradigmas, novos modelos mentais, novos hbitos que obriguem a adaptao

  • 23

    dos emigrantes3 digitais. O autor acredita que a movimentao dos mercados, a transformao

    das indstrias e da educao sero realizadas pelos nativos4 digitais, por ainda persistir em

    parte significativa das (IES) contemporneas um modelo baseado nos princpios da revoluo

    industrial. Em sua viso, necessita-se de um novo conceito de Educao para atender

    gerao de nativos digitais, com uma pedagogia de parceria entre docentes e discentes, com

    uma nova metodologia que prepare os estudantes para um futuro desconhecido, no qual eles

    sobrevivero pelas suas habilidades e competncias para busca e aplicao da informao e

    adaptao a um ambiente em constante mudana.

    Laureth (2014) concorda que as instituies de ensino superior (IES) necessitam de

    modernizao, a fim de atenderem gerao dos nascidos digitais, oferecendo diferentes

    modalidades educacionais, estmulos para continuidade dos estudos e mecanismos para

    desenvolvimento das habilidades que permitam aos seus egressos a insero no mundo do

    trabalho atual atravs do aprofundamento da compreenso das cincias e do desenvolvimento

    de competncias para a inovao.

    Schwartzman e Castro (2013) relembram as questes estruturais da educao

    brasileira, como a inadequada formao de professores, a falta de qualidade da maioria das

    escolas pblicas, o abismo socioeconmico entre uma minoria privilegiada e o restante dos

    alunos, mazelas essas j conhecidas da educao nacional, onde mesmo os alunos que

    prosseguem nos estudos em nvel superior, acabam por se deparar com o atraso na atualizao

    dos currculos e no tocante s inovaes cientficas e tecnolgicas.

    Para Laureth (2014) o movimento de convergncia tecnolgica impacta a educao e o

    trabalho pelas transformaes em curso que podem agravar ainda mais as desigualdades

    sociais, na medida em que a educao no acompanha a velocidade das mudanas e inovaes

    tecnolgicas das empresas, fazendo com que as ocupaes mais complexas e de melhor

    remunerao tendem a ser ocupadas por alunos egressos das instituies de melhor qualidade

    de ensino.

    No entanto, segundo Menino (2014) os Cursos Superiores de Tecnologia (CSTs)

    emergem na ps-modernidade como resposta aos efeitos causados pela globalizao sobre o

    3 Marc Prensky denominou emigrantes digitais aqueles que no nasceram no mundo digital, mas em alguma

    poca da vida, adotaram o uso das novas tecnologias, mesmo com alguma dificuldade de domin-las completamente.

    4 Nativos digitais so as pessoas que representam as primeiras geraes que cresceram com as novas tecnologias e passaram toda a vida cercados e utilizando computadores, vdeo games, tocadores de msica digitais, cmeras de vdeo, telefones celulares e todas as ferramentas da era digital.

  • 24

    mercado de trabalho, ao habilitar o indivduo a construir as competncias que lhe permitam

    dominar a tecnologia requerida por empregos de elevada qualificao.

    Nesse sentido, Pamboukian e Kanaane (2016) entendem ser necessria a aproximao

    das Instituies de Ensino Superior (IES) e as empresas contratantes, a fim de que a definio

    das competncias dos tecnlogos seja feita em consonncia com as necessidades atuais e

    futuras das indstrias, favorecendo sua insero profissional e a efetividade de sua

    contribuio para o desenvolvimento industrial brasileiro.

    Segundo Schwab (2016) para alm dos conflitos e tenses gerados pela implantao

    das novas tecnologias, as transformaes da sociedade permitem a coexistncia com a

    tecnologia, posto que a tecnologia no uma fora exgena sobre as quais no se tem

    controle por um lado, nem tampouco se restringe uma escolha binria entre "aceitar e viver

    com ela" e "rejeitar e viver sem ela".

    A partir do exposto, questiona-se:

    Quais so as competncias requeridas pelas empresas da regio metropolitana de So

    Paulo visando a contratao de egressos dos Cursos Superiores de Tecnologia Mecnica

    Modalidade Processos de Produo, Tecnologia Mecnica Modalidade Projetos, Tecnologia

    em Soldagem e Tecnologia em Mecnica de Preciso da Faculdade de Tecnologia de So

    Paulo (FATEC-SP), face aos efeitos da quarta revoluo industrial em andamento?

    Como justificativa, identificou-se oportunidade de prosseguimento de pesquisas sobre

    a insero do tecnlogo com formao industrial no mercado de trabalho, por ainda persistir o

    atraso tecnolgico do Brasil em relao a outros pases como Estados Unidos, Alemanha,

    Japo, Inglaterra, Frana, Coria do Sul, entre outros, mesmo aps o desenvolvimento

    ocorrido no pas na dcada de 1980 (PAMBOUKIAN; KANAANE, 2016). Assim, o atual

    ritmo de adoo das inovaes tecnolgicas pelas indstrias, liderado pelos pases

    desenvolvidos impe a necessidade de constante atualizao dos PPC oferecidos pelas

    Instituies de Ensino Superior (IES), a fim de se minimizar a obsolescncia dos contedos

    ensinados. Nesse sentido, atravs da perspectiva da insero do tecnlogo no mercado de

    trabalho no sculo XXI, busca-se compreender os impactos gerados pela digitalizao sobre

    as indstrias de transformao, assim como quanto ao perfil e competncias destes

    profissionais, bem como sobre os prprios CSTs.

    Nesse sentido, a incorporao da digitalizao atividade industrial resultou no

    conceito de Indstria 4.0, em referncia ao que seria a 4 revoluo industrial, caracterizada

  • 25

    pelo controle da produo a partir de sensores e equipamentos conectados em rede e pela

    fuso do mundo real com o virtual, criando os chamados sistemas ciberfsicos. Dentre as

    principais tecnologias que sustentam essa revoluo, incluem-se a internet das coisas, o big

    data, a computao em nuvem, a robtica avanada, a inteligncia artificial, as novas

    tecnologias de manufatura aditiva ou impresso 3D e a manufatura hbrida, ao aglutinar as

    funes aditivas e de usinagem, em um nico equipamento (CNI, 2016).

    Desta forma, os impactos simultneos desta quarta revoluo industrial sobre a

    sociedade, o trabalho e a educao atestam a necessidade de um estudo mais aprofundado do

    assunto e comprovam a relevncia social e acadmica do tema.

    Destaca-se que a trajetria pessoal do pesquisador que o vincula ao tema tecnologia,

    mudanas e educao compreende sua graduao em Curso Superior em Tecnologia (CST),

    na modalidade soldagem, sua atuao profissional como tecnlogo em indstrias de

    equipamentos para leo & gs e de autopeas, como consultor de empresa multinacional na

    implementao de projetos de reengenharia e gesto da mudana em empresas privadas e

    pblicas pr-privatizao e como estrategista no setor bancrio, tendo participado de projetos

    como banco sem agncias. Atualmente, como docente do mesmo curso onde se graduou

    dcadas atrs, observa, acompanha e reflete sobre o processo de formao dos tecnlogos e

    como tais profissionais se apropriam da tecnologia, com vistas a atender s demandas do

    mundo do trabalho para aumento da produtividade e de competitividade num mundo em

    transformao.

    Desta forma, tem-se como objetivo geral:

    - Caracterizar as competncias requeridas pelas empresas da regio metropolitana de So

    Paulo visando contratao de egressos dos Cursos Superiores de Tecnologia Mecnica

    Modalidade Processos de Produo, Tecnologia Mecnica Modalidade Projetos, Tecnologia

    em Soldagem e Tecnologia em Mecnica de Preciso da Faculdade de Tecnologia de So

    Paulo (FATEC-SP), face aos efeitos da quarta revoluo industrial em andamento.

    Como objetivos especficos:

    - Verificar o nvel de desenvolvimento das competncias requeridas para o sculo XXI dos

    egressos dos Cursos Superiores de Tecnologia Mecnica Modalidade Processos de Produo,

    Tecnologia Mecnica Modalidade Projetos, Tecnologia em Soldagem e Tecnologia em

    Mecnica de Preciso da Faculdade de Tecnologia de So Paulo (Fatec-SP), na viso dos

    professores dos cursos;

  • 26

    - Identificar como os Cursos Superiores de Tecnologia Mecnica Modalidade Processos de

    Produo, Tecnologia Mecnica Modalidade Projetos, Tecnologia em Soldagem e Tecnologia

    em Mecnica de Preciso da Faculdade de Tecnologia de So Paulo (Fatec-SP) podem

    ampliar o desenvolvimento das competncias requeridas para o sculo XXI, na viso dos

    professores dos cursos;

    - Caracterizar as competncias requeridas para o sculo XXI para os Cursos Superiores de

    Tecnologia Mecnica Modalidade Processos de Produo, Tecnologia Mecnica Modalidade

    Projetos, Tecnologia em Soldagem e Tecnologia em Mecnica de Preciso da Faculdade de

    Tecnologia de So Paulo (FATEC-SP) na viso dos gestores5;

    - Identificar a viabilidade de aplicao do modelo de competncias para a atualizao dos

    currculos dos Cursos Superiores de Tecnologia Mecnica Modalidade Processos de

    Produo, Tecnologia Mecnica Modalidade Projetos, Tecnologia em Soldagem e Tecnologia

    em Mecnica de Preciso da Faculdade de Tecnologia de So Paulo (FATEC-SP) na viso

    dos gestores.

    Esta dissertao foi estruturada em sua parte introdutria de maneira a contextualizar

    as reflexes do pesquisador a respeito do tema abordado, de maneira a contemplar o estado da

    arte sobre o tema, bem como apresentar sua relevncia acadmica, a justificativa para se

    empreender tal pesquisa, manifestando as intenes do autor, a partir do problema de

    pesquisa, os objetivos de pesquisa, o recorte da pesquisa e a descrio da estrutura do

    trabalho.

    Desta forma, o trabalho est assim estruturado:

    - Captulo 1: A Quarta Revoluo Industrial.

    Neste captulo procurou-se compreender as transformaes da sociedade global,

    especialmente as mudanas culturais nas sociedades ocidentais e dos prprios indivduos a

    partir da consolidao da cibercultura no modo de vida na ps-modernidade no que tange ao

    trabalho, bem como as suas implicaes sobre a educao dos profissionais do Sculo XXI.

    - Captulo 2: As Competncias.

    5 Como gestores da FATEC-SP, para efeito deste estudo, foram considerados 3 chefes de departamento que

    respondem pelos cursos em estudo, 1 vice-diretor, 1 diretor e 1 representante da Coordenadoria de Ensino Superior (CESU) do Centro Paula Souza. A CESU o rgo que coordena as aes das Faculdades de Tecnologia do Centro Paula Souza. Criada pela Lei Complementar n 1044/2008. Como rgo propositivo das aes no ensino superior, est constitudo um Comit de Diretores de todas as Fatecs existentes e presidido pelo Coordenador da CESU.

  • 27

    Neste captulo foram apresentados os debates referentes ao conceito e ao modelo de

    competncias na educao e em especfico, a produo terica sobre os diversos referenciais

    de competncias existentes na educao, bem como as demandas de competncias requeridas

    pelo mundo do trabalho para os profissionais do sculo XXI.

    - Captulo 3: Os Cursos Superiores de Tecnologia.

    Neste captulo apresentou-se a conceituao, origem, histrico, debates e tendncias

    referentes aos Cursos Superiores de Tecnologia no Brasil, bem como seu funcionamento em

    outros pases por intermdio da educao comparada.

    - Captulo 4: A Faculdade de Tecnologia de So Paulo.

    Neste captulo procurou-se descrever o lcus de onde se identificou a questo de pesquisa, a

    Fatec-SP; local de atuao de parte dos sujeitos de pesquisa, seus professores e gestores, alm

    do objeto da pesquisa: os Cursos Superiores de Tecnologia Mecnica Modalidade Processos

    de Produo, Tecnologia Mecnica Modalidade Projetos, Tecnologia em Soldagem e

    Tecnologia em Mecnica Modalidade Mecnica de Preciso.

    - Captulo 5: Metodologia.

    Neste captulo foram apresentados o objeto de pesquisa, seus sujeitos e as respectivas

    amostras, bem como os procedimentos de coleta e anlise dos dados. Foram tambm

    discutidos os mtodos, procedimentos e teorias que os fundamentam.

    - Captulo 6: Resultados e Discusso.

    Neste captulo foram apresentados os resultados da pesquisa de campo e a anlise dos

    dados coletados a partir dos sujeitos de pesquisa frente aos objetivos estabelecidos, de forma a

    confront-los com a fundamentao terica para estabelecimento das discusses pertinentes

    segundo os mtodos pr-estabelecidos.

    - Consideraes Finais.

    Neste captulo procurou-se apresentar as reflexes do pesquisador a respeito do objeto

    de pesquisa a partir dos eixos de anlise a respeito das demandas do mundo do trabalho para a

    educao profissional.

    - Referncias.

    - Apndices

    - Anexos.

  • 28

    CAPTULO 1 O SCULO XXI

    1.1 A Quarta Revoluo Industrial

    A sociedade do sculo XXI enfrenta atualmente um intenso processo de transformao

    em seu modo de vida, na maneira de como as pessoas se relacionam umas com as outras e no

    valor determinante que o conhecimento assume para as atividades humanas, seja na produo

    de bens e servios, seja na maneira de se ofertar a educao, que foi denominado como a

    Quarta Revoluo Industrial. As tecnologias digitais impuseram transformaes, velocidade e

    amplitude sem precedentes em sua escala, escopo e complexidade (FAVA, 2014);

    (SCHWAB, 2016).

    Segundo os autores Vuksanovi; Vei e Cvetkovi (2017) a Indstria 4.0 nova

    revoluo industrial do sculo XXI, que aliadas influncia de mltiplas "megatendncias"

    (demogrfica, urbanizao, sade, globalizao, mobilidade, mudanas climticas) traro

    efeito econmico, ambiental e social de longo prazo para sociedades e governos.

    O termo Indstria 4.0 foi cunhado na Alemanha em 2011 na Feira Industrial de

    Hannover para descrever as mudanas na forma de organizar a produo nas indstrias de

    transformao dos pases desenvolvidos. Estruturada em sistemas de produo que se

    caracterizam pelo uso intensivo de automao e sistemas de comunicao interligados, cria

    uma fbrica inteligente, de alta complexidade tecnolgica em que as mquinas, os produtos,

    os insumos e clientes esto conectados pela comunicao de dados para monitoramento e

    tomada de deciso, com a mnima interferncia do homem. Essa nova revoluo industrial

    promove o encurtamento dos prazos de lanamento de novos produtos ao mercado, maior

    flexibilidade das linhas de produo, com aumento da produtividade e da eficincia no uso de

    recursos e energia e a integrao das empresas em cadeias globais de valor (SCHWAB,

    2016); (LAURETH, 2014); (CNI, 2016).

    Com o nmero crescente de dispositivos capazes de se comunicarem entre si, coletar

    dados do ambiente e dos usurios como smartphones, veculos, eletrodomsticos, sistemas de

    iluminao atravs da internet das coisas (IoT), associado s tecnologias de big data, realidade

    aumentada, gamificao, drones, bioimpreso, computao em nuvem trazem mudanas que

    afetam todos os setores da atividade humana. Surgem novos modelos de negcios, ao mesmo

  • 29

    tempo desaparecem atores histricos e substitui por outros desconhecidos, reformula a

    produo, o consumo, a mobilidade e o transporte, os sistemas de entrega, sade e educao

    (LEAL, 2015); (CNI, 2016); (SCHWAB, 2016). As tradicionais divises entre indstria e

    servios e as delimitaes dos setores industriais so alteradas (CNI, 2016).

    Nesse sentido, Schwab (2016) apresentou dados de pesquisa realizada durante o

    Frum Econmico Mundial de 2015 com executivos e especialistas do setor de tecnologia a

    respeito do momento em que determinadas mudanas tecnolgicas estaro disponveis

    sociedade. O quadro 1 demonstra as significativas alteraes e o percentual de entrevistados

    que possuem a expectativa de que a mudana ocorra at 2025:

    Quadro 1 Pontos de inflexo esperados at 2025.

    N Ponto de Inflexo %

    1 celular implantvel 82

    2 80% das pessoas na internet 84

    3 10% de culos conectados a internet 86

    4 10% de pessoas com roupas conectadas a internet 91

    5 90% da populao com acesso regular a internet 79

    6 90% da populao com smartphones 81

    7 90% da populao com armazenamento ilimitado e gratuito 91

    8 1 trilho de sensores conectados a internet 89

    9 .+ de 50% do trfego de internet residencial para aparelhos 70

    10 1 cidade com 50 mil haitantes sem semforos 64

    11 Big Data e decises 1 governo substituir Censo por fontes de Big Data 83

    12 10% de todos automveis em uso nos EUA 79

    13 1 mquina de com IA a fazer parte de um conselho de administrao 45

    14 30% das auditorias corporativas realizadas por IA 75

    15 1 farmacutico robtico dos EUA. 86

    16 Bitcoin blockchain 10% do PIB mundial armazenado pela tecnologia blockchain 58

    17 Maior n de trajetos compartilhados em relao a carros particulares globalmente 67

    18 Os Governos e o blockchain 1 arrecadao de impostos atravs de um blockchain 73

    19 produo do primeiro carro em 3D 84

    20 primeiro transplante de fgado impresso em 3D 76

    21 5% dos produtos aos consumidores impressos em 3D 81Impresso em 3D e os produtos de consumo

    IA e a tomada de decises

    IA e as funes administrativas

    Robtica e Servios

    Economia compartilhada

    Impresso em 3D e fabricao

    Impresso em 3D e a sade humana

    Carros sem motorista

    Mudana

    Tecnologias Implantveis

    Presena digital

    Interface para viso

    Tecnologia vestvel

    Computao ubqua

    Supercomputador de bolso

    Armazenamento para todos

    Internet das coisas

    Casa conectada

    Cidades inteligentes

    Fonte: adaptado de Schwab (2016)

    Entre os pontos de inflexo esperados at o ano de 2025, destacam-se os avanos nos

    meios de produo, na comunicao, no processamento de informaes, na digitalizao na

    economia, nos governos e na rea da sade. As pesquisas na rea de sade tm sido

    priorizadas com o objetivo de prolongar a vida. Atualmente, o debate gira em torno do quanto

  • 30

    ser possvel estender a vida humana. A pesquisa sobre a extenso significativa da vida est

    em estgio inicial, sem resultados at agora. Grande parte da pesquisa faz uso de estudos em

    animais e desenvolvimento de medicamentos, mas existem sinais promissores.

    O aumento na expectativa de vida humana alterar a dinmica das sociedades, com

    elevao na vida produtiva das pessoas, no entanto com a reduo da fora de trabalho,

    intensificando a interao entre as geraes, pressionando os sistemas de sade e previdncia.

    Isso tambm pode causar impactos pessoais e econmicos, como ter mais carreiras ao longo

    da vida, alm de conflitos sobre a alocao de recursos entre as geraes (FADEL; BIALIK;

    TRIALLINH, 2015).

    Sobre as pesquisas, o stio Sade do Grupo Abril revela que parte significativa destas

    pesquisas so financiadas pela empresa Google Ventures e incluem aplicaes do grafeno na

    criao de pele e msculos artificiais, produo de prteses leves comandadas pelo crebro,

    tratamentos contra o cncer, restaurao da viso por meio de implantes de retinas e

    sequenciamento de DNA de forma rpida, precisa e com baixo custo. Tais avanos

    tecnolgicos na medicina e na gentica abrem perspectivas para a preveno de doenas e a

    supresso das principais causas de morte, estendendo a longevidade a um novo patamar,

    proporcionando uma existncia de fruio e desfrute ainda no experimentada. Entretanto tais

    benefcios podem ficar restritos a uma minoria privilegiada.

    Conforme matria publicada no stio da Unicamp, descoberta sobre o uso do grafeno

    abre perspectiva para o tratamento de doenas como Alzheimer, Parkinson e tumores

    cerebrais em estudo em tese de doutoramento.

    Semelhantemente, o stio do Jornal Folha de So Paulo publicou reportagem em que

    relata o registro superior a nove mil patentes acerca das aplicaes do grafeno em diversos

    campos do conhecimento. A empresa coreana Samsung lidera com cerca de 500 patentes,

    seguida pela Chinesa OKTECH e da americana IBM. Nesse sentido, a expectativa que

    diversos negcios sero drasticamente modificados pelas descobertas da nanotecnologia que

    possibilitou o surgimento do grafeno, material ultraleve, cerca de cem vezes mais rpido que

    o silcio, duzentas vezes mais resistente que o ao, com propriedades de condutividade

    eltrica, trmica e ptica que possui potencial para fabricao de sensores, biossensores e

    aplicaes para purificao, descontaminao, filtragem e dessalinizao da gua

    (CAMARGOS; SEMMER; SILVA, 2017).

  • 31

    Desde seu surgimento, a produo automobilstica ocupa um lugar destacado na

    economia, seja na forma de organizar a produo, seja na quantidade e velocidade de

    incorporar inovaes tecnolgicas. A indstria automobilstica foi objeto do clebre estudo

    conduzido pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) realizado em 14 pases e que

    poca consumiu milhes de dlares e vrios anos para sua consecuo, publicado no livro A

    mquina que mudou o mundo na dcada de 1990 (WOMACK; JONES, 2004).

    Novamente, prepara-se um salto tecnolgico, com a progressiva substituio dos cerca

    de 1,2 bilhes de automveis movidos a combustveis fsseis por veculos eltricos, que trar

    significativas mudanas ao modo de vida da sociedade, com reduo da poluio atravs da

    gerao de energia limpa, e como consequncia, o declnio da importncia do petrleo. O

    custo de baterias eltricas, que em 2010 era de US$ 1000/kWh, em 2016 foi reduzido para

    menos de US$ 300/kWh. Ao ser atingido o valor o custo de US$ 100/kWh, os veculos

    eltricos sero compatveis em termos de custo aos veculos com motores combusto interna

    e essa evoluo esperada para que os veculos eltricos atinjam escala at 2030, podendo ser

    abreviada por novas descobertas (DELGADO et al, 2017).

    Informao no stio globo.com em 2017 divulga que o valor em bolsa da empresa

    Tesla fabricante de veculos eltricos j supera o valor da General Motors (GM), como

    montadora de maior valor de mercado, embora sua produo de veculos corresponda a 0,2%

    do mercado americano, enquanto a GM detenha 17,3% do mercado americano. Outro aspecto

    relevante, a adoo de veculos autnomos para transporte de passageiros e de cargas reduzir

    as taxas de acidentes, aumentando o conforto e a segurana, com impactos significativos para

    as seguradoras (CNI, 2016).

    Por outro lado, para Schwab (2016), ainda no foi dimensionada a amplitude desta

    revoluo da economia global proporcionada por uma rede mundial de pessoas conectadas

    por dispositivos mveis, com elevada capacidade de processamento e armazenamento,

    interagindo sobre uma confluncia de avanos tecnolgicos emergentes. Embora muitas

    destas inovaes estejam sua fase inicial, ao se aproximarem do ponto de inflexo em seu

    desenvolvimento eleva a possibilidade de que tragam o aprofundamento ao ampliar as demais

    inovaes, em uma fuso de tecnologias entre os mundos fsico, digital e biolgico.

    O impacto positivo da tecnologia no crescimento econmico possivelmente ser

    acompanhado pela reduo de empregos. As novas tecnologias promovero drsticas

    alteraes na natureza do trabalho em praticamente todos os setores e ocupaes, porquanto o

    efeito destrutivo que a tecnologia exerce sobre os empregos no algo recente. Os impactos

  • 32

    da intensificao do uso da tecnologia tendem a aprofundar a tendncia de declnio dos nveis

    dos empregos e na reduo da fora global de trabalho. A simplificao do trabalho permitir

    que algoritmos substituam os seres humanos (RIFKIN, 1995); (SCHWAB, 2016).

    O efeito da tecnologia foi permitir realizar as tarefas de forma mais fcil, rpida e

    eficiente. Entretanto, pode existir uma polarizao entre aqueles que abraam a mudana e

    aqueles que resistem a ela. Para o autor, essa desigualdade ontolgica pode separar aqueles

    que se adaptam daqueles que resistem, excluindo estes dos benefcios trazidos pela tecnologia

    (SCHWAB, 2016).

    Peterossi (2003) identifica um descompasso crescente entre os modelos educacionais

    existentes e suas qualificaes propiciadas e aquelas requeridas pelo mundo do trabalho. As

    qualificaes tradicionais baseadas na reproduo do conhecimento adquirido e na

    experincia tendem a ser desvalorizadas em um mercado de trabalho no qual se constata uma

    procura crescente por qualificaes polivalentes e flexveis, que compreendem novos

    conhecimentos tcnicos, capacidade de abstrao e compreenso global. Um dos aspectos

    preocupantes desse quadro diz respeito defasagem existente entre as novas profisses

    relacionadas com a tecnologia e as qualificaes tradicionais que se tornaram obsoletas. A

    tecnologia est eliminando diversos postos de trabalho e a aprendizagem contnua torna-se

    progressivamente um desafio para toda a vida.

    A questo que se coloca que os trabalhadores deslocados das atividades operacionais

    necessitaro ser requalificados para as novas profisses que surgirem, sendo a educao e

    escolarizao fundamentais. A tecnologia permite suprimir empregos, entretanto so

    empregos que por sua natureza j no h candidatos. O emprego tende a crescer em

    ocupaes criativas e cognitivas bem remuneradas e diminuir nas ocupaes manuais,

    repetitivas ou rotineiros de remunerao inferior (LEAL, 2015); (SCHWAB, 2016).

    O impacto de desenvolvimento de novas competncias recair sobre as atividades que

    relacionadas s habilidades sociais e criativas, em particular as situaes de incerteza que

    exijam tomada de deciso, bem como o desenvolvimento de novas ideias. Para o desempenho

    das novas profisses que surgirem, a qualificao exigida no corresponde a estudos

    universitrios especficos, no existindo ainda um plano na universidade para elas (LEAL,

    2015); (MATOS, 2015); (SHWAB, 2016). Como consequncia, os percursos formativos

    tradicionais tendem a ser insuficientes para atender as qualificaes necessrias dos novos

    profissionais. A aprendizagem ter que ser completada por uma segunda graduao, cursos

    distncia, ou formas de aprendizagem informal como o desenvolvimento de habilidades e

  • 33

    competncias em estgios, viagens, servio voluntrio, entre outros. Num primeiro momento,

    possivelmente a combinao de graduaes em reas diferentes do conhecimento sejam

    necessrias para atender s exigncias das novas profisses. Como consequncia, os cursos

    tradicionais tero rever seus currculos para o novo perfil de advogados, tecnlogos,

    engenheiros e mdicos dos novos tempos (LEAL, 2015); (MATOS, 2015).

    Entretanto, a fuso das tecnologias permitir o aumento da complexidade do trabalho e

    a elevao da cognio humana, de forma a que h a necessidade de se preparar a fora de

    trabalho e desenvolver modelos de formao acadmica para trabalhar em colaborao com as

    mquinas cada vez mais capazes, conectadas e inteligentes (SCHWAB, 2016).

    Menino (2014) correlaciona as profundas mudanas na atual economia com alterao

    da caracterstica conjuntural do problema do desemprego que poderia ser solucionado curto

    prazo, por um novo contorno de problema estrutural que requer solues abrangentes e de

    longo prazo. Para o autor, as mudanas no sistema produtivo que abrangeram as revolues

    Agrcola, Mercantil e Industrial produziram avanos tecnolgicos que geraram novos

    empregos que absorveram os trabalhadores deslocados de suas atividades. Entretanto, os

    ganhos de eficincia da informatizao e automao tm proporcionado ndices de

    produtividade superiores ao crescimento da economia, eliminando postos de trabalho e

    criando o denominado desemprego tecnolgico. A acelerao do processo tecnolgico elimina

    funes nos setores tradicionais da economia e cria em contrapartida poucos empregos nos

    setores ligados a tecnologia.

    Sendo assim, afirma Schwab (2016), baseada na revoluo digital e combinando

    vrias tecnologias que esto levando a mudanas de paradigmas na economia, negcios,

    sociedade, e individualmente, a mudana envolve no mais s mudar o "o qu" e o "como"

    fazer as coisas, mas tambm "quem" somos. Para o autor, do ponto de vista mais amplo da

    sociedade, um dos mais notveis efeitos da digitalizao o surgimento da sociedade centrada

    no indivduo. Ao contrrio do passado, a noo de pertencer, de fazer parte de uma

    comunidade, hoje definida mais pelos interesses e valores individuais e por projetos

    pessoais do que pela comunidade local, famlia e trabalho.

    A esse respeito, Castells e Cardoso (2005) afirmam que na base no processo de

    mudana social de crise do patriarcalismo e da famlia tradicional est um novo tipo de

    trabalhador autodirigido com um novo tipo de personalidade flexvel capaz de se adaptar s

    mudanas nos modelos culturais, ao longo do ciclo de vida. Este novo ser humano produtivo

    requer uma reconverso total do sistema educativo, em todos os seus nveis. Isto se refere a

  • 34

    novas formas de tecnologia e pedagogia, mas tambm aos contedos e organizao do

    processo de aprendizagem. As sociedades que no forem capazes de lidar com estes aspectos

    iro enfrentar maiores problemas sociais e econmicos, no atual processo de mudana

    estrutural.

    Aparentemente, Castells e Cardoso inveteram a relao de causa e efeito, de forma que

    a crise do patriarcalismo e da famlia tradicional geraram a mudana de comportamento do

    novo trabalhador proveniente das novas geraes, e no o contrrio. Embora discorde-se da

    linha de raciocnio, chega-se mesma concluso, no sentido de que existe a necessidade de

    novas formas de tecnologia e pedagogia, mas tambm dos contedos e organizao do

    processo de aprendizagem. Nesse sentido, a transformao cultural alterou a herana judaico-

    crist, com solapou a famlia patriarcal e acabou produzindo uma gerao hedonista6.

    Para Schwab (2016), as mudanas estruturais no comrcio e economia podem ser

    agravados pela substituio do trabalho pelo capital com a utilizao de robs e algoritmos.

    O autor ressalta que a segunda revoluo industrial ainda no alcanou plenamente 17% da

    populao mundial, ou seja, 1,3 bilhes de pessoas ainda no possuem acesso eletricidade.

    De forma semelhante, a terceira revoluo industrial no atingiu mais da metade da populao

    mundial, pois cerca de 4 bilhes de pessoas vivem sem acesso a internet. Portanto, a

    substituio do trabalho por capital promovida pela tecnologia pode ampliar o fosso crescente

    da riqueza daqueles que dependem do trabalho e aqueles que vivem do capital.

    A sntese que o processo de mudanas trazido pela indstria 4.0 para as indstrias e

    para o mercado de trabalho industrial dos pases em desenvolvimento trazem reflexos nas

    exigncias para os profissionais e afetam a empregabilidade. A esse respeito, ntida a

    integrao com a educao, pois a forma de organizao da produo atravs da integrao

    das tecnologias exigir maiores nveis de escolaridade. Nos primeiros anos do sculo XXI, o

    arranjo produtivo da Manufatura Avanada atravs da robotizao das atividades manuais e

    repetitivas, resulta numa significativa reduo de trabalhadores, preconizando a manuteno

    de um restrito contingente especializado nas novas tecnologias.

    Diante do exposto, conclui-se que todo o processo de mudanas da quarta revoluo

    industrial proporciona oportunidades e riscos, simultaneamente. Passados menos de vinte

    6 O hedonismo foi fundado por Aristipo de Cirene (435-335 a.C.), e sua doutrina defendia que o prazer

    absoluto, pois era o meio concreto para atingir o objetivo do homem, a felicidade. Para o hedonista era considerado moral tudo aquilo que dava prazer e imoral tudo que gerava dor, isto , todos os seres humanos buscam o prazer e tentam escapar do sofrimento. A dor seria o movimento spero da alma e o prazer o movimento suave da mesma. O filosofo afirmava que o prazer do corpo o sentido da vida.

  • 35

    anos neste sculo XXI, a transformao observada desde os comportamentos solidificados

    nas geraes anteriores, como o hbito de leitura de jornais e revistas que no foram

    transmitidos s novas geraes, de forma a causar o encolhimento desses negcios e a

    migrao rumo a suas verses digitais em busca de sobrevivncia. A televiso, que se tornara

    o meio de comunicao de massa em substituio ao rdio, sofre com a reduo das verbas

    publicitrias que migram ano a ano para a internet. Observa-se a ampliao do papel das redes

    sociais como forma de se informar, e tambm a alterao do modo de vida das pessoas na

    forma de comprar, estudar e buscar parceiros.

    1.2 A Educao para o Sculo XXI

    Schwartzman e Castro (2013) ao descreverem a realidade do Ensino Mdio no Brasil

    concluem que o pas no est formando pessoas com as qualificaes mnimas necessrias

    para o exerccio da cidadania, nem tampouco para a insero produtiva no mercado de

    trabalho. Os autores sustentam sua afirmao citando como fonte a anlise dos dados do

    Sistema de Avaliao da Educao Bsica Brasileira (SAEB) feita pelo movimento Todos

    Pela Educao, em 2011, que registra que 11% dos jovens cursando a terceira srie do

    Ensino Mdio dominavam os conhecimentos mnimos de matemtica esperados para este

    nvel e 28,9% dominavam os conhecimentos mnimos de lngua portuguesa.

    Constata-se, no poucas vezes, que na viso dos estudantes "a escola pouco

    atraente". O desinteresse, a desmotivao e at certo menosprezo por parte dos alunos pela

    educao indicam que as causas so intrnsecas, consequncia da falta de interao, rigidez

    dos horrios, privao da espontaneidade e contedos carentes de sentido, dificultando a

    compreenso dos assuntos abordados devido falta de conexo com a realidade do aluno. O

    Ensino Mdio ao no propiciar a aprendizagem necessria ao desenvolvimento de

    conhecimentos, atitudes, prticas sociais e de trabalho nas escolas pblicas brasileiras acarreta

    a evaso e retira parcela significativa dos estudantes da escola. Revela-se a urgente

    necessidade de um ensino inovador, diversificado, motivador e que seja capaz de dar

    significado entre o que apreendido na escola e o cotidiano sua volta (MORN, 2014);

    (CASTRO et al, 2015); (DINIZ; QUARESMA, 2016).

  • 36

    Neste contexto, Dias Sobrinho (2010) traa um panorama dos desafios a serem

    enfrentados no Brasil para se avanar com a qualidade da educao atual: elevadas taxas de

    evaso, deficincias de formao nos nveis escolares anteriores, ocorrncia em muitos casos

    de baixa qualidade de ensino, pesquisas limitadas a poucas instituies, precrias instalaes

    fsicas, grande contingente de professores improvisados e sem formao adequada ao

    magistrio superior, bem como elevados ndices de pobreza e desigualdades regionais.

    Cabe destacar que o resultado educacional alcanado pelos egressos do ensino mdio

    das escolas pblicas brasileiras torna-se relevante neste trabalho, na medida em que 70% dos

    ingressantes nos cursos Superiores de Tecnologia da Fatec-SP, objeto desta pesquisa, so

    provenientes das escolas pblicas7.

    A educao tradicional ao depositar a responsabilidade do resultado da aprendizagem

    no professor, como detentor do saber e das tcnicas de ensino, transforma o aluno em um

    produto gerado a partir da convivncia com os contedos em disciplinas compartimentadas,

    numa educao padronizada, que busca ensinar e avaliar a todos da mesma maneira e exige

    resultados fixos, com estudantes agrupados em sala de aula num modelo ineficaz de

    aprendizagem. No entanto, j existem iniciativas no sentido de se buscar uma nova forma de

    ensinar, o que indica que os processos de organizar o currculo, as metodologias, os tempos e

    os espaos precisam ser revistos, pois a sociedade contempornea demanda dos egressos

    competncias cognitivas, pessoais e sociais que no se adquirem da forma convencional,

    como a proatividade, colaborao e viso empreendedora (CASTRO et al, 2015); (MORN,

    2015).

    Desta forma, os processos educativos anacrnicos do sculo XIX, encerrados em

    quatro paredes, limitados temporalmente no horrio de aulas e baseados numa relao em que

    algum que detm o conhecimento o transmite aos demais necessitam ser revisados. A

    interdisciplinaridade e interprofissionalidade no contexto do ensino superior so mais

    suficientes para a universidade, nem tampouco os conhecimentos disciplinares fechados e

    estanques para a formao de profissionais. As instituies de ensino se deparam com o

    desafio de construir um projeto pedaggico que contemple as inovaes tecnolgicas, a

    interatividade, a participao efetiva dos estudantes no processo de aprendizagem atravs de

    7 Levantamento realizado pela Fundao de Apoio Tecnologia (FAT), responsvel pela organizao e

    realizao dos processos seletivos das Fatecs mostra no 1 semestre de 2009, 70% dos mais 7,5 mil aprovados cursaram o Ensino Mdio em escolas da rede pblica.

  • 37

    uma nova pedagogia para o sculo XXI (ARAJO, 2011); (FAVA, 2014); (MASETTO;

    NONATO; MEDEIROS, 2017).

    Portanto, no se trata mais de apenas implantar novas abordagens nas prticas

    pedaggicas, e sim de adotar novos paradigmas a fim de promover uma educao de

    qualidade com um novo modelo educacional em contraposio transmisso de contedos

    em massa. A educao em um mundo globalizado precisa proporcionar conhecimentos

    vertebrados entre si (SACRISTN, 2012); (PETEROSSI, 2014a); (MAZON, 2015).

    Nesse sentido, a organizao escolar necessita uma transformao a fim de que todos

    aprendam, integrando os aspectos individual e social, os diversos ritmos, mtodos e

    tecnologias, para formar cidados plenos em todas as dimenses. As redes digitais

    possibilitam organizar o ensino e a aprendizagem de forma mais ativa, dinmica e variada,

    privilegiando a pesquisa, a interao e a personalizao dos estudos, em mltiplos espaos e

    tempos presenciais e virtuais. Diante deste quadro, entende-se que a educao no passar

    inclume pelas transformaes scio-poltico-econmicas observadas nas ltimas dcadas

    sem sua prpria reinveno (ARAJO, 2011); (MORN, 2015).

    Neste contexto, Lengel (2012) props o conceito de Educao 3.0, que se tornou um

    constructo terico de uma nova escola, baseado na cultura digital, tal qual a sociedade atual.

    Com isto, a escola deixa de ser como uma fbrica e passa a ser como um reflexo da sociedade:

    digital, colaborativa, crtica e adaptvel.

    Para o ensino superior, Masetto, Nonato e Medeiros (2017) asseveram que o xito de

    um projeto de inovao curricular depende de professores, gestores, alunos e funcionrios que

    sintam a necessidade urgente de mudar os cursos de graduao que no mais respondem

    formao contempornea de profissionais e que estejam comprometidos a encontrar juntos

    uma resposta de inovao para os cursos.

    Segundo Morn (2015) as metodologias de ensino-aprendizagem so adotadas em

    funo do resultado desejado; para que os alunos sejam proativos, faz-se necessria a adoo

    de metodologias em que os alunos sejam expostos a atividades em que tenham que tomar

    decises e avaliar os resultados, com apoio de materiais relevantes; de forma semelhante, para

    produzir alunos criativos, eles precisam experimentar inmeras novas possibilidades de

    mostrar sua iniciativa.

    Para Arajo (2011) a mudana essencial no prprio papel dos sujeitos envolvidos

    nos processos educativos. O autor apregoa que a relao ensino-aprendizagem seja invertida,

  • 38

    deixando de se focalizar no ensino e mudar sua ateno para a aprendizagem e para o

    protagonismo do sujeito da educao. Nessa concepo, a construo dos conhecimentos

    pressupe um sujeito ativo, que participa de maneira intensa e reflexiva dos processos

    educativos, que constri sua inteligncia, sua identidade e que produz conhecimento atravs

    do dilogo estabelecido com seus pares, com os professores e com a cultura, na prpria

    realidade cotidiana do mundo em que vive.

    Observa-se que, progressivamente, as instituies educativas tem substitudo o modelo

    de ensino por disciplinas por metodologias ativas de aprendizagem baseadas na resoluo de

    problemas. Tal mudana exige a reconfigurao do currculo, um novo papel dos professores

    e a reorganizao das atividades didticas. Neste novo enfoque educacional, o aprendizado se

    d a partir de situaes reais que os alunos desempenharo em sua vida profissional. Desta

    forma, a descoberta intelectual mediada pelos professores substitui a memorizao dos

    contedos ou interpretao dos dados trazidos pelos professores. A busca do conhecimento

    torna o aluno protagonista do processo, promove a aprendizagem coletiva e cooperativa,

    estimula a curiosidade e o questionamento do cotidiano e dos conhecimentos cientficos,

    proporcionando condies para que encontrem respostas para suas prprias perguntas e as da

    sociedade. Para que isso ocorra, as atividades so planejadas, acompanhadas e avaliadas com

    apoio de tecnologias a fim de mobilizar as competncias desejadas atravs da pesquisa,

    avaliao de situaes, abordagens com diferentes pontos de vista, tomada de deciso e

    assuno de riscos, numa aprendizagem pela descoberta, partindo do simples para o

    complexo. As metodologias ativas so pontos de partida para avanar para processos mais

    avanados de reflexo, de integrao cognitiva, de generalizao, de reelaborao de novas

    prticas para superao da educao bancria, tradicional e focar a aprendizagem no aluno,

    envolvendo-o, motivando-o e dialogando com ele (ARAJO, 2011; MORN, 2015).

    A esse respeito, Masetto, Nonato e Medeiros (2017) destacam que as questes

    relevantes so para que e para onde mudar, o que de novo se pretende construir como

    indicadores da intencionalidade de um currculo inovador. A casualidade, o

    espontanesmo, a falta de planejamento de uma mudana impedem a construo de um

    projeto inovador, pois a organizao curricular possui objetivos de formao profissional,

    contedos interdisciplinares, disciplinas integradas, metodologias ativas, processo de

    avaliao que acompanha o desenvolvimento do aluno, o professor como mediador de

    aprendizagem e o aluno como sujeito e protagonista da prpria formao. Inovao exige

  • 39

    mudanas em todos esses aspectos curriculares, de forma simultnea e sinrgica. Reforam

    que no so suficientes mudanas espordicas ou casuais em alguns aspectos.

    Nesse sentido, algumas instituies educacionais se utilizam de mudanas

    progressivas num caminho mais suave, com a manuteno do modelo curricular por

    disciplinas, mas priorizam o envolvimento maior do aluno, com metodologias ativas como o

    ensino por projetos de forma mais interdisciplinar, o ensino hbrido. Outras adotam a sala de

    aula invertida ou propem modelos mais inovadores, radicais, sem disciplinas, que

    redesenham o projeto, os espaos fsicos, as metodologias, baseadas em atividades, desafios,

    problemas, jogos e onde cada aluno aprende no seu prprio ritmo e necessidade e tambm

    aprende com os outros em grupos e projetos, com superviso de professores orientadores.

    Desta forma, as tecnologias digitais, a aprendizagem mvel e novos conhecimentos sobre a

    maneira como se aprende tem provocado uma mudana disruptiva nas formas de ensinar e

    aprender (ARAJO, 2011); (MORN, 2015).

    Desta forma, pesquisas de temtica da incorporao das novas tecnologias na

    educao ganham relevncia, bem como sobre a atitude dos atores educacionais perante o

    novo, a avaliao do ensino-aprendizagem em ambientes educacionais mediados por

    computador, a natureza das interaes nos ambientes virtuais, as mudanas na organizao do

    contedo, que evidenciam a necessidade constante de um trabalho multidisciplinar para a que

    o processo de ensino-aprendizagem seja bem sucedido para as novas geraes (PETEROSSI;

    MENINO; SAES, 2010); (ARAJO, 2011)

    Segundo Masetto, Nonato e Medeiros (2017) a revoluo causada pelas (TIC) atingiu

    um dos pilares da universidade, ou seja, como se trabalhar atualmente com a construo,

    produo, socializao do conhecimento e como utilizado o acesso imediato s informaes

    em todas as reas do conhecimento de forma aberta e simultnea aos alunos e professores,

    removendo a propriedade e privilgio dos docentes. Nesse sentido, o fazer docente exige

    integrar-se a ele o uso das tecnologias digitais para que o aluno aprenda a construir o

    conhecimento por meio da pesquisa, da interaprendizagem, uma atitude que precisa ser

    aprendida por alunos e professores.

    Colombo et al (2004) apontam que, se por um lado a sociedade sofreu transformaes

    que proporcionam mltiplas alternativas de aprendizagem na comunicao, no lazer e no lar,

    por outro lado a educao permanece estagnada. Para os autores, praticamente inexiste

    esforo por parte das instituies de ensino para adaptao dos professores de uma gerao

    analgica ao uso dos recursos tecnolgicos; por outro lado, alunos em todos os nveis

  • 40

    desenvolvem suas atividades corriqueiras atravs de aparelhos tecnolgicos como

    computadores, vdeo games, smartphones e tablets. Assim, o comportamento dessas novas

    geraes trouxe desafios aos educadores em como utilizar os meios tecnolgicos de modo a

    atender essa mudana. O notrio descompasso entre a velocidade de evoluo das tecnologias

    e o ritmo de mudanas na educao indica que as instituies de ensino necessitam rever o

    modelo de ensino a fim de atender s demandas dos estudantes, ao mercado de trabalho

    exigente quanto a profissionais hbeis em lidar com a tecnologia. Os computadores podem

    auxiliar o aluno a executar e elaborar tarefas de acordo com seu nvel de interesse e

    desenvolvimento intelectual, enquanto permitem a organizao e mtodos de trabalho,

    gerando maior rendimento nos estudos e os jogos e linguagens de programao auxiliam no

    aprendizado de conceitos abstratos.

    Por mais que haja resistncia por parte de alguns professores, as tecnologias avanam

    para os meios escolares e acadmicos. Assim, tanto os alunos quanto os professores passam a

    fazer parte deste novo contexto de aprendizagem interativa onde o desafio est em como

    filtrar o excesso de informaes e o que fazer com elas. Neste contexto a responsabilidade

    com o processo de ensino e aprendizagem passa a ser dividida igualitariamente entre

    professores e alunos num novo modelo de ensino implicando numa transformao do papel

    dos professores e em uma nova mentalidade para a gesto educacional (MORN, 2014);

    (CASTRO et al, 2015).

    Masetto, Nonato e Medeiros (2017) destacam que projetos inovadores so construdos

    e mantidos atravs do trabalho direto de formao dos professores para juntos construrem um

    projeto novo e juntos levarem frente esse projeto. Todos os projetos inovadores de alguma

    forma se preocuparam com a formao dos professores, tanto os atuais, aqueles que criam o

    projeto, quanto os demais que vierem a compor o projeto, para compreenderem o projeto e

    nele se integrarem. Esse um ponto fundamental no currculo inovador: o compartilhamento

    entre os professores, o sentimento de pertencimento como algo comum entre todos, no

    trabalho em equipe e isso s pode ser obtido com um programa de formao continuada dos

    docentes.

    Para que a inovao chegue s escolas, polticas pblicas so necessrias para que a

    aprendizagem em rede e customizada se torne uma realidade, corroborado pelas experincias

    de instituies de referncia que transformaram o projeto educativo utilizando as tecnologias

    digitais como catalisadoras da inteligncia coletiva em contextos interativos.

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    Arajo (2011) defende a adoo pelas instituies educativas da Aprendizagem

    Baseada em Problemas, articulada com novas (TICs) e a preocupao com a tica pessoal e

    profissional, por configurarem-se como ferramentas poderosas para formar as novas geraes

    nas condies exigidas por sociedades que buscam estruturar-se em torno de conhecimentos

    slidos e profundos, visando inovao, a transformao da realidade e a construo da

    justia social.

    Masetto, Nonato e Medeiros (2017) relatam que em 1998 a UNESCO, pela primeira

    vez apresentou uma nova viso e uma nova misso para o ensino superior para o sculo XXI.

    O documento buscou abrir a universidade para os problemas do mundo em termos da

    formao de profissionais, de formao para o trabalho, de pesquisa e integrao desta com os

    contextos e problemas reais contemporneos. Os autores relatam que, em decorrncia disso,

    surgiram currculos inovadores a partir da dcada de 1970, quando o curso de Medicina da

    Universidade de Maastricht, na Holanda, implementou um currculo baseado em Problem

    Based Learning (PBL) que se espalhou por todo o mundo, inclusive no Brasil, nos cursos de

    Medicina e E