dissertação referenciação design
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Dissertação Poliane Lima (UECE)TRANSCRIPT
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEAR
CENTRO DE HUMANIDADES
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LINGUSTICA
APLICADA
FRANCISCA POLIANE LIMA DE OLIVEIRA
DA CONSTRUO CO-CONSTRUO DE
REFERENTES: UM OLHAR SOBRE OS MECANISMOS
COGNITIVO-DISCURSIVOS SUBJACENTES
PRODUO E COMPREENSO DE PEAS DE
DIVULGAO ELABORADAS POR DESIGNERS
FORTALEZA CEAR
2012
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FRANCISCA POLIANE LIMA DE OLIVEIRA
DA CONSTRUO CO-CONSTRUO DE REFERENTES: UM OLHAR
SOBRE OS MECANISMOS COGNITIVO-DISCURSIVOS SUBJACENTES
PRODUO E COMPREENSO DE PEAS DE DIVULGAO
ELABORADAS POR DESIGNERS
Dissertao apresentada ao Programa
de Ps-Graduao em Lingustica
Aplicada, do Centro de Humanidades,
da Universidade Estadual do Cear,
como requisito parcial para obteno
do grau de mestre.
rea de concentrao: Estudos da
Linguagem
Orientadora: Prof. Dr. Maria
Helenice Arajo Costa
FORTALEZA CEAR
2012
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Dados Internacionais de Catalogao na Publicao Universidade Estadual do Cear
Biblioteca Central do Centro de Humanidades
O482d Oliveira, Francisca Poliane Lima de Da construo co-construo de referentes: um olhar sobre os mecanismos cognitivo-discursivos subjacentes produo e compreenso de peas de divulgao elaboradas por designers. / Francisca Poliane Lima de Oliveira. 2012. 170f. : il. color., enc. ; 30 cm. Dissertao (Mestrado) Universidade Estadual do Cear, Centro de Humanidades, Curso de Mestrado Acadmico em Lingustica Aplicada, Fortaleza, 2012. rea de concentrao: Estudos da Linguagem. Orientao: Prof. Dr. Maria Helenice Arajo.
1. Referenciao. 2. Design. 3. Semitica. 4. Processo criativo I. Ttulo.
CDD: 410
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FRANCISCA POLIANE LIMA DE OLIVEIRA
DA CONSTRUO CO-CONSTRUO DE REFERENTES: UM OLHAR
SOBRE OS MECANISMOS COGNITIVO-DISCURSIVOS SUBJACENTES
PRODUO E COMPREENSO DE PEAS DE DIVULGAO
ELABORADAS POR DESIGNERS.
Dissertao apresentada ao Programa
de Ps-Graduao em Lingustica
Aplicada, do Centro de Humanidades,
da Universidade Estadual do Cear,
como requisito parcial para obteno
do grau de mestre.
rea de concentrao: Estudos da
Linguagem
Defesa em: 24 de maio de 2012 Conceito obtido: Satisfatrio
Nota obtida: 10,0 - com louvor
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Maria Helenice Arajo Costa (orientadora)
Universidade Estadual do Cear UECE
Prof. Dr. Maria Ednilza Oliveira Moreira
Universidade Federal do Cear UFC
Prof. Dr. Laura Tey Iwakami
IES/Universidade Estadual do Cear UECE
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Mais do que agradecer, ofereo este
trabalho Maria Helenice Arajo
Costa.
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AGRADECIMENTOS
Tenho muito e a muitos que agradecer e, nestas pginas, talvez no caiba,
porque esse espao no comporta toda a gratido que dedico a essas pessoas to
significativas. Mas, se tem que ser assim, vamos, ento:
Comeo agradecendo ao amigo de infncia, Wagner,
Porque foi com ele que minhas ideias de misturar criao de
peas e referenciao tomaram corpo, alm de ter sido minha
companhia em uns tantos eventos.
Agradeo Mnica,
Professora divertida que encontrei na graduao, por ter me
ajudado nos primeiros passos e ter me incentivado a ser
sempre mais alegre.
Aos amigos que fiz no Dirio do Nordeste,
Por essas pessoas me incentivarem a ir, todos os dias, mais
longe e fazerem muitas das minhas horas mais animadas.
Aos meus amigos de toda a vida,
Brenda, Crgina e Danilo, Camila e Daniel, Fernando e Isac,
Loureno e Luciana, que foram o meu alvio e companhia
nesses tempos.
s minhas companheiras, amigas do labor e, agora, da vida inteira,
Erika, Jariza, Alana e Mikaelle. Sou grata por todo apoio,
carinho e ateno que me dedicaram nas horas confusas da
escrita e de outras tambm.
Aos demais amigos que descobri pelos corredores da UECE e que se
tornaram uma companhia constante. Esses tambm espero que se derramem pela vida
inteira,
Elys, Gisleuda, Beatriz, Fernanda, Rafaelle, Raquel, Hiran,
Emanoel, Sidney, Ailton, Lins, rica, Germana, Walkria,
Joo Francisco, Karol, Aline, Isabelle, Amanda; no hei de
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esquecer o carinho, nem as noites de escrita e as sensaes
divididas com vocs pelos espaos virtuais e fsicos.
Ao Chico,
O amigo que chegou na ltima hora e segurou minhas agonias
pr- seleo de mestrado; no me esquecerei das ligaes,
dos sorvetes, das leituras e das explicaes, dos gritos e das
risadas fartas.
Ao Carlos Eduardo,
Que foi mais que uma luz na poca da qualificao e em
outros momentos; voc foi um farol de milha no meu
caminho.
A Rodrigo, Diogo, Hilden, Dimitri, Renan e Nara,
Que acreditaram na minha ideia e concordaram em participar
da minha pesquisa, dando-me matria prima ou tirando-me
dvidas.
Agradeo mais ainda e mais uma vez professora Helenice,
Que caminhou ao meu lado todo o tempo, sempre atenciosa,
dispensando cuidados ao meu trabalho e a minha sade.
Pessoa mpar que aceitou meu projeto, ainda torto, viu a luz
no fim do tnel e a trouxe para mais perto de mim e de vocs
que agora podero ler e entender o que eu queria dizer o
tempo todo.
Capes,
Que financiou esse sonho.
Aos membros do PsLA, em especial professora Claudiana e Keliane,
Por fazerem com alegria um trabalho que, s vezes, me
parecia to difcil; ai das nossas matrculas e bolsas se no
fossem esses dois anjos;
Aos meus irmos, Patrcia e Paulo,
Juntos descobrimos que o mundo s vale a pena fazendo
nossos sonhos se transformarem em algo de verdade; por isso,
sempre me incentivaram e me ajudaram a estar aqui.
Ao Marcos Paulo, siribim querido,
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Que chegou para somar alegrias e multiplicar as satisfaes e
me ensinar a trocar fralda. Talvez esse aprendizado seja til
um dia.
E, claro, no poderia deixar de agradecer, de todo o meu corao, aos
meus pais:
Ao meu pai, agradeo por ter me ensinado o valor da teimosia;
por ser insistente, cheguei aqui e vou continuando;
A minha me, devoto agradecimento eterno, por ter cuidado
de mim e cuidar at hoje com carinho desmedido; s vezes,
tem medo dos passos que quero dar, mas, mesmo assim, me
d a maior fora e reza para que d certo. Continue rezando,
me!
E como ela me ensinou a fazer:
Agradeo a Deus por ter me dado vida, f, juzo, famlia,
amigos, professores, enfim, todas as coisas necessrias para
passar feliz pela Terra.
E, para fechar com grande estilo, agradeo s professoras Ednilza e Laura,
Que saram de suas casas para compor a banca de qualificao
e a de defesa; sou grata por terem recebido meu trabalho, lido-
o com ateno e trazido contribuies valiosas; suas parcerias
foram de grande importncia nessa construo.
E, de forma extra acadmica, agradeo,
Ao show do Pearl Jam, que foi um momento divisor de guas
na minha escrita e um acelerador de boas ideias.
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Um galo sozinho no tece uma manh:
ele precisar sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manh, desde uma teia tnue,
se v tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manh) que plana livre de armao.
A manh, toldo de um tecido to areo
que, tecido, se eleva por si: luz balo.
Tecendo a Manh
Joo Cabral de Melo Neto
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RESUMO
Nesta pesquisa, enfocamos o processo criativo de algumas peas de divulgao com
vistas a observar como os criativos construram os referentes e ainda como esses
mesmos referentes foram co-construdos pelos leitores. Para tanto, realizamos escuta
e registro do depoimento de dois designers, em que cada um deles nos descreveu as
etapas de produo de duas peas de autoria prpria, e de dois leitores, que faziam
parte do pblico-alvo dessas peas, os quais leram o material elaborado e fizeram
consideraes sobre as peas que leram e a forma como as interpretaram. Nosso
referencial terico compe-se de uma reviso bibliogrfica que envolve relatos de
pesquisas e textos tericos nos campos da referenciao, do design e da semitica.
Com base nesses fundamentos, intentamos mostrar como se constituram as escolhas
de formatos, imagens, cores, elementos lingusticos e ainda de que maneira todos
esses recursos semiticos estavam relacionadas entre si e com o entorno, tendo em
vista a hiptese de que em um processo de construo textual como esse as escolhas
no so aleatrias, uma vez que a sugesto dada no momento do briefing colabora -
juntamente com o entorno e com os conhecimentos acionados - na construo das
pistas textuais que levam os atores envolvidos no processo a produzirem sentido com
o que produzem/leem. A questo da leitura tambm despertou nossa ateno durante a
pesquisa e, por essa razo, nos dedicamos tambm a observar como o que foi sugerido
na criao se efetivou na recepo. Aps observarmos a criao e a leitura das peas,
pudemos perceber que os processos cognitivos movimentados no ato de elaborao
dos layouts no se efetivam por etapas, de forma linear como numa linha de
montagem. Esses processos se fazem de forma complexa, so emergentes e
recorrentes. Entendemos ainda que a co-construo dos referentes pelos leitores,
embora se aproxime do que foi sugerido na criao, no se d com exatido, tendo em
vista a complexidade dos processos inferenciais. Acreditamos que seguir o caminho
percorrido pelos designers em seu trabalho de elaborao e tomar ainda a leitura para
complementar a trajetria da criao, nos habilitou a contemplar o modo como os
interlocutores construram consensos (e at dissensos) em torno do dizer, do como
dizer e do que compreender e como compreender. Apesar de no podermos fazer
generalizaes, considerando que em nossa anlise utilizamos dados singulares e por
essa razo entendemos que no nos permitido fazer afirmaes categricas sobre o
que obtemos a partir deles, acreditamos que, ainda assim, nossa pesquisa poder
colaborar com os estudos de produo e compreenso de textos de vrias naturezas,
na medida em que contempla todo o processo.
Palavras-chave: Referenciao. Design. Semitica. Processo criativo.
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ABSTRACT
In this research, we focused on the creative process of some parts of disclosure in order to
see how creative they built the referents and yet these same respect as were co-constructed by
readers. To do so, we listen and record the testimony of two designers, each one described in
the steps of producing two pieces of authorship, and two players who were part of the target
audience of these pieces, which read the material developed and made considerations about
the pieces they read and how they interpreted them. Our theoretical framework consists of a
literature review that involves research reports and theoretical texts in the fields of reference,
design, and semiotics. Based on these grounds, intend to show how the choices are made up
of shapes, images, colors, linguistic elements and also how all these features semiotic were
related to each other and with the surroundings in order hypothesized that in a process of
textual construction such choices are not random, since the suggestion given at the briefing
contributes - along with the environment and with the knowledge driven - in the construction
of textual clues that lead players involved in the process to produce the sense that produce /
read. The question of reading also aroused our attention during the search and for that
reason, we are dedicated also to observe what was suggested as the creation was
accomplished at the reception. After observing the creation and reading of the pieces, we
realized that the cognitive processes busiest in the act of preparing layouts not become
effective "step by step", in a linear fashion as on an assembly line. These processes are so
complex, are "emerging" and recurring. We also believe that the co-related construction of
the readers, although it was suggested that the closer the establishment does not occur
exactly in view of the complexity of inferential processes. We believe that following the path
taken by designers in their work of preparing and taking further reading to supplement the
trajectory of creation, enabled us to address how interlocutors build consensus (and even
dissent) around the mean, as the mean and than how to understand and comprehend.
Although we can not make generalizations, whereas in our analysis we use unique data and
for this reason we feel that we are not allowed to make categorical statements about what we
get from them, we believe, still, our research can contribute to studies of reading
comprehension and production of various kinds, to the extent that comprises the entire
process.
Keywords: Referenciation. Design. Semiotics. Creative process.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Organograma orientao da pesquisa prtica................................. 40
Figura 2: Etiqueta para grife juvenil.............................................................. 52
Figura 3: Foto divulgao.............................................................................. 59
Figura 4: Etiqueta para grife de roupas finas................................................. 61
Figura 5: Primeira proposta etiqueta Passarella............................................ 67
Figura 6: Cartaz espetculo Ma vie............................................................... 71
Figura 7: Cartaz concebido por Toulousse Lautrec....................................... 73
Figura 8: Layout da frente do cartaz-carto postal........................................ 88
Figura 9: Layout do verso do cartaz-carto postal........................................ 94
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Sumrio
INTRODUO .................................................................................................. 14
1. Fundamentao terica ................................................................................. 21
1.1 A referncia e a referenciao ....................................................................... 22
1.1.1 Categorizao ............................................................................................. 25
1.1.2 Recategorizao.......................................................................................... 26
1.1.3 Sumarizao ............................................................................................... 28
1.2 Os estudos da imagem ................................................................................... 29
1.3 O lugar do Design no mundo e em nossa pesquisa ........................................ 35
2. Como e por onde andamos ............................................................................ 38
2.1 Ponto de partida ............................................................................................. 39
2.2 Gerao de dados: etapas, instrumentos e procedimentos ............................. 40
2.3 Sobre os sujeitos ............................................................................................ 43
2.3.1 Os designers participantes da primeira etapa........................................... 44
2.3.2 Os leitores participantes da segunda etapa .............................................. 45
2.4 Apresentando os dados da pesquisa ............................................................... 46
3. Aplicao das teorias: o que nos dizem os dados inicialmente ................... 49
3.1 Fazendo-nos entender melhor ........................................................................ 50
3.2 O encontro entre os dados e as teorias: o lado dos produtores dos textos. ..... 50
3.2.1. Pea 1 Etiqueta externa para grife de roupas juvenil .............................. 52
3.2.1.1. Briefing O ponto de partida da criao ................................................ 52
3.2.1.2. O aspecto plstico ................................................................................... 53
3.2.1.3. A materialidade lingustica ..................................................................... 56
3.2.1.4. A perspectiva icnica ............................................................................. 58
3.2.2. Pea 2 Etiqueta para grife de roupas finas .............................................. 61
3.2.2.1. Briefing O ponto de partida da criao ................................................ 62
3.2.2.2. O aspecto plstico ................................................................................... 64
3.2.1.3. A materialidade lingustica ..................................................................... 66
3.2.2.4. A perspectiva icnica ............................................................................. 67
3.2.3. Pea 3 Cartaz para uma apresentao de dana ...................................... 70
3.2.3.1. Briefing O ponto de partida da criao ................................................ 71
3.2.3.2. O aspecto plstico ................................................................................... 75
3.2.3.3. A materialidade lingustica ..................................................................... 79
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3.2.3.4. A perspectiva icnica ............................................................................. 82
3.2.4 Pea 4 Outro cartaz para uma apresentao de dana ........................... 87
3.2.4.1. Briefing O ponto de partida da criao ................................................ 88
3.2.4.2. O aspecto plstico ................................................................................... 90
3.2.4.3. A materialidade lingustica ..................................................................... 95
3.2.4.4. A perspectiva icnica ............................................................................. 97
3.3. O lado de l da interao: a co-construo dos referentes pelos leitores ... 101
3.3.1. Segunda etapa da anlise: o que nos mostrou a leitura das peas. ........... 104
3.3.1.1 Pea1 - Etiqueta para grife de roupas juvenil ........................................ 104
3.3.1.1.1 O aspecto plstico ............................................................................... 105
3.3.1.1.2. A materialidade lingustica ................................................................ 107
3.3.1.1.3. A perspectiva icnica ........................................................................ 108
3.3.1.2 Pea 3 - Cartaz para uma apresentao de dana ................................... 110
3.3.1.2.1 O aspecto plstico ............................................................................... 111
3.3.1.2.2. A materialidade lingustica ................................................................ 113
3.3.1.2.3. A perspectiva icnica ........................................................................ 116
3.4 O que nos contaram os dados. ..................................................................... 120
CONSIDERAES DO FIM DA JORNADA ............................................... 124
REFERNCIAS ............................................................................................... 125
APNDICE ...................................................................................................... 131
ANEXOS .......................................................................................................... 135
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INTRODUO
Palavra e imagem so como cadeira e mesa: se voc quiser se
sentar mesa, precisar de ambas1.
Jean-Luc Godard
O processo criativo de peas de divulgao uma atividade ampla e
abrange algumas etapas. Todas elas so complementares e demandam tempo de
execuo, alm de serem cuidadosamente elaboradas. Grosso modo, essas etapas
seriam: o briefing2, o brainstorm
3 e a produo.
No briefing, espera-se encontrar informaes sobre o cliente: seu
histrico, suas necessidades, o produto/ideia que ele quer divulgar e, principalmente,
o que ele pretende fazer, o que quer alcanar com a pea. Essas informaes ajudam
na hora da elaborao, na medida em que direcionam o processo.
O brainstorm, por sua vez, a hora de trabalhar a ideia que est no
briefing, neste momento que se pensa em como transmitir o recado. Aqui, so
concebidas as peas - sejam elas impressas, televisivas ou radiofnicas lanam-se as
ideias e se discute a validade delas, at que os participantes da criao cheguem a um
consenso e montem um bom script para a produo, que o momento de execuo do
brainstorm. A etapa de produo constitui a fase de ps-criao, momento em que o
que foi discutido na fase anterior toma corpo.
As etapas a serem seguidas na criao de materiais de exposio se
desenvolvem de maneira muito parecida em jornais, agncias publicitrias, escritrios
de design e em meio aos free lancers. O que vai diferenciar o modo de operar a
criao em todos esses locais so a estrutura e o interesse. Alguns desses meios
podem usar de tudo para convencer o interlocutor das benesses de determinado
1 Alm de tudo o mais que estiver ao redor delas. Uma vez que essa cadeira e essa mesa se encontram em um local especfico, tem formato especfico e foram resultado de escolhas. 2 Do ingls, to brief, dar instrues. Essa a primeira etapa da cadeia produtiva do anncio; o momento
em que so coletadas todas as informaes trazidas pelo anunciante. 3 Ao p da letra, brainstorm quer dizer chuva de ideias; a parte do processo em que so exploradas
todas as ideias, os problemas, as solues para serem testadas, discutidas e aprovadas ou no.
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produto ou ideia, at mesmo tocar fogo num Padre. Outros preferem algo que seja
lembrado por alguma caracterstica peculiar e que v alm daquilo para o qual foi
projetado, revelando uma preocupao que ultrapassa a mera inteno comercial.
No que toca exclusivamente ao nosso campo de pesquisa, a literatura
especfica e os profissionais que ouvimos nos deram conta de que o Design uma
rea frutfera em ideias, sedenta de desafios e em constante transformao.
Sendo inicialmente apenas um ofcio voltado para a impresso e
composio, conforme afirmam Gomez-Palcio e Vit (2011), com o passar dos anos e
com as frequentes mudanas culturais, econmicas e sociais e at comportamentais, o
Design deixou de ser apenas um ofcio e alou a condio de profisso e um status de
disciplina. Esses autores acrescentam que, atravs das dcadas j na condio de
profisso , esse campo foi ainda transformado por mudanas acadmicas, prticas e
tecnolgicas. Eles arrematam essa colocao afirmando que Compreender a gama de
termos, definies, tcnicas e processos essencial para entender o design grfico
(GOMEZ-PALCIO E VIT, 2011, p. 25).
O design surgiu como matria de estudo durante nossa atuao
profissional. Trabalhando com a produo de materiais de divulgao, mais
especificamente com reviso e redao das peas, em um veculo de comunicao
local, percebemos o quanto essa parte da divulgao de produtos e ideias guarda
processos que, se abordados pela tica das teorias lingusticas, principalmente as que
se debruam sobre o texto como um processo dinmico, construdo na interao com
o outro e produtor de mltiplos sentidos, fomentaro discusses e possibilidades que
podem ampliar nossa viso deste objeto de pesquisa.
A partir da tomada de conscincia de que as peas de design percorrem
um caminho at a chegada ao pblico, passando por aprovaes e modificaes nesse
trajeto, foi possvel entender que h sempre um plano na criao e que este ser
seguido criteriosamente, at chegar a uma pea que comunique com clareza, cause
identificao nos leitores e, por consequncia, convena.
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16
Para que tudo isto que foi citado ocorra, a pea deve dar condies de
acessibilidade e de entendimento. Para tanto, essencial o uso adequado4 dos recursos
lexicais, gramaticais e imagticos da lngua. preciso dialogar com a realidade, fazer
escolhas que sejam parte do universo de quem vai ler, pois se algum dos elementos
constantes de um layout no for compreendido, ou mesmo, no for aceito pelos
leitores, haver um rudo na comunicao, uma interrupo na cadeia comunicativa, e,
por fim, o no convencimento.
Por essa razo, desconfiamos de que, do lado da criao, h um processo
minucioso de escolha que leva em conta no somente a esttica, mas tambm a
funcionalidade de determinados termos e/ou imagens dentro do contexto
comunicativo da pea que est sendo concebida. H uma fala que pode nos ajudar a
explicar melhor como isso ocorre:
Por exemplo, acho que, na poca, se escrevesse num ttulo PREO:
APENAS 5 CRUZEIROS, meu guia se apressaria a demonstrar que a
palavra "apenas", embora correta, afinal negativa, lembra
"penas", sofrimento, tristeza, coisa que ningum quer: ou ento
"penas" de pssaro, coisa extica, talvez nojenta. Se mudasse para:
SOMENTE 5 CRUZEIROS, ele me faria ver, sem dvida, que
"somente", no caso, embora correto, imprprio, porque lembra
"mente", do verbo "mentir", nada indicado para anunciar "preo to
reduzido", a dona-de-casa no iria acreditar... (BARRETO, 2004, p.
25)
Esse testemunho que acabamos de ler demonstra o modo de raciocnio
que parece ocorrer durante a maioria dos processos criativos e ilustra essa atividade
cognitiva de que estamos falando. O redator em questo estava debatendo a validade
de suas escolhas com um interlocutor que lhe apresentava motivos para no escolher
determinados termos. Por sua vez, este interlocutor estava buscando a referncia
adequada ancorado na suposio de como se daria a compreenso do leitor final.
Sendo assim, possvel perceber que, em todas as etapas, a criao de
referentes e a pressuposio quanto ao nvel de inferncia que esses objetos de
discursos ocupam na mente do leitor parecem andar juntas. Por outro lado,
entendemos tambm que, durante esse processo criativo - que pode se dar de forma
4 Salientamos que, aqui, a noo de adequao vai alm do uso correto de critrios semnticos e
sintticos. A adequao a que nos referimos est ligada habilidade do profissional em lidar com os
dados que tem mo na hora da criao.
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coletiva ou particular -, as negociaes de sentido so de duas ordens: ao mesmo
tempo em que os criadores entram em acordo entre si, tambm esto previamente
negociando com o leitor, por julgarem acessveis as escolhas que fazem; ou seja,
concordam entre si e acordam que o leitor aceitar tambm.
Dentro do campo da Lingustica, algumas pesquisas trabalharam com
materiais de divulgao - sobretudo anncios impressos - e sob os mais diferentes
enfoques. De sada, temos o trabalho de Biasi-Rodrigues (2008) que se debruou
sobre os aspectos pragmticos e contextuais de anncios dos sculos XIX e XX.
Outro que pode ser citado a ttulo de exemplo o de Laurindo (2007), o qual tomou
como modelo algumas peas de anncios publicados em jornais e revistas para falar
da constituio instvel do anncio. E, finalmente, podemos incluir nessa lista os
estudos de Souza e Lopes (2007). Em sua pesquisa, as autoras se utilizaram tambm
de anncios impressos para verificar suas formas de composio textual, os processos
referenciais anafricos e a inter-relao entre tais processos.
A peculiaridade de nossa pesquisa reside no fato de ela constituir um
olhar para o processo e no para o produto. A exemplo dos trabalhos aqui citados,
podemos elencar outros mais e em rea distinta da nossa - como o caso dos estudos
em multimodalidade. Nesse campo, as pesquisas tambm se do em material j
publicado, realizando suas buscas e anlises sobre o que est visvel. Embora
importantes, essas obras no refletem as ideias de Marcuschi (2007) e de outros
autores adeptos da abordagem sociocognitivista da linguagem, na medida em que
deixam de contemplar o modo como os interlocutores constroem consensos (e talvez
dissensos) em torno do dizer, do como dizer e do que compreender e como
compreender. Nessa perspectiva, o tipo de abordagem realizado nesses trabalhos que
citamos como exemplo, ainda que profcuas, no chegam a contemplar um aspecto
importante da linguagem para o qual Abaurre (1997, p. 18) chama a ateno: a
plasticidade da linguagem.
Dada uma certa plasticidade natural da linguagem, nada mais
natural, tambm, que essa plasticidade adquira maior visibilidade
nas situaes-limite em que a linguagem se constitui em objeto de
evidente manipulao.
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Em nosso caso, alm de realizarmos a pesquisa em um contexto diferente
dos que foram aqui citados, nos detemos sobre o processo sociocognitivo que h por
trs das escolhas, um processo que se torna em grande parte mostrado, uma vez que
os elementos pensados so postos em pauta, so discutidos e defendidos com base no
que se tem como conhecimento comum, os culos sociais e os corredores isotpicos
de que nos fala Blikstein (2003).
No pretendemos questionar a eficincia dessas pesquisas, pois no nos
compete tal servio. Apenas estamos ressaltando, com essa rpida exposio, a
diferena de foco do nosso trabalho. Com esse novo olhar para o objeto em questo,
esperamos, entre outras coisas, somar compreenses aos estudos aplicados de
Lingustica de Texto.
Partindo do pressuposto de que a produo textual no universo do Design,
por ser motivada e situada, constri seus referentes com base no contexto
sociocomunicativo dos criadores e dos leitores, intentamos verificar de que maneira
os criativos levam em conta o conhecimento compartilhado e a capacidade de
inferncia do leitor na construo dos referentes e ainda at que ponto os leitores, na
co-construo dos referentes, consideram os elementos que foram pensados pelos
criativos durante a criao.
A investigao que realizamos, conforme j foi dito, teve como foco o
processo de construo de referentes e considerou tudo que nele estava envolvido: as
negociaes, apostas, escolhas, expectativas e o jogo entre os conhecimentos (prvio
e de mundo) de criadores e leitores, o que nos levou naturalmente aos estudos da
referncia. Desta feita, para melhor apresentar o desenvolvimento e o resultado de
nossa pesquisa, organizamos esta dissertao em trs captulos. Alm desses,
contamos ainda com esta introduo e com as consideraes finais.
No primeiro captulo, apresentamos o percurso terico. Orientamos nossa
argumentao em torno da perspectiva sociointeracionista de referncia, em que
propomos uma linha de pensamento que veja os processos referenciais sendo
realizados para alm das simples escolhas lexicais. Nessas condies, nos apoiamos
em autores como Blikstein (2003), Marcuschi (2007), Costa (2007a), (2007b), Ciulla
(2008), Custdio Filho (2011), entre outros para nos posicionar quanto aos estudos de
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19
referncia e, a partir da, apresentarmos as categorias com as quais trabalhamos
durante as anlises.
A essa postura terica, aliamos estudos em Semitica e Design. No campo
semitico, autores como Peirce (1993), Santaella (2008), Santaella e Noth (2009) e
Joly (2009) nos esclarecem sobre o movimento interno das imagens, a relao destas
com o verbal e a produo de sentidos. Questes do tipo: Como se d a interao
entre a parte lingustica e a parte visual das peas? De que forma elas se relacionam?
Uma se sobressai a outra? puderam ser entendidas com o auxlio dessa forma de
perceber o funcionamento dos signos.
J o Design entra para nos assistir no ato de observar a criao.
Compreendendo o mecanismo de funcionamento dessa rea com a ajuda dos estudos
tericos de Carrascoza (2002), Morais (2010), Gomez-Palcio e Vit (2011) e nos
ambientando no savoir-faire - a partir do prprio depoimento dos designers - foi
possvel observar com maior clareza como as operaes sociocognitivas so ativadas
durante a construo dos referentes pelos criadores e, num segundo momento, na co-
construo pelos leitores.
No segundo captulo, intitulado Como e por onde andamos,
descrevemos as estratgias adotadas para dar seguimento ao trabalho. Iniciamos com
uma breve contextualizao que versa a propsito da nossa escolha pelo Design e
seguimos o percurso falando de nossas ferramentas de pesquisa. Nesse momento,
foram importantes as contribuies trazidas por Cavalcanti (1989) em sua tese, que
trata da interao leitor-texto e investiga a criao de significados na interao com o
texto. Com as ideias apreendidas nos estudos dessa autora, construmos os roteiros e
os questionrios utilizados para a coleta dos dados. Alm de levarmos em conta as
contribuies dessa autora, nesse momento de constituio dos nossos mtodos de
trabalho, ainda nos orientamos pelos esclarecimentos de Abaurre (1997) que nos
alertaram para a caracterstica singular dos dados com os quais trabalhamos.
Finalizamos o captulo apresentando os sujeitos pesquisados e os dados colhidos.
No terceiro captulo, finalmente, damos voz aos dados, promovendo o
encontro entre estes e as teorias. Dividimos este tpico em dois momentos, assim
como o fizemos na ocasio da coleta.
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20
Dedicamos o primeiro deles exposio das anlises de cada uma das
quatro peas. Para melhor estruturar a apresentao dos dados, o percurso de anlise
segue a mesma ordem cumprida quando da descrio das etapas pelos designers: indo
do briefing, passando pelo formato, pelo aspecto verbal at a perspectiva visual.
O segundo, ento, destinado mostra dos resultados das leituras
empreendidas pelos participantes de nossa pesquisa. Nessa fase, como forma de
manter a coerncia na conduo das anlises, obedecemos a um trajeto semelhante ao
seguido, no primeiro momento, quando da apresentao dos dados.
Cada aspecto foi observado com base em categorias especficas. Por meio
da categorizao, da recategorizao e da sumarizao, discutimos a construo de
referentes nesses projetos de dizer elaborados por designers e ainda contemplamos a
co-construo desses mesmos referentes no momento da recepo.
Nas consideraes do fim da jornada, tecemos algumas reflexes em
linhas mais gerais a respeito de nosso percurso, enquanto apresentamos tambm as
concluses advindas com todo o processo. Em meio exposio das realizaes e das
discusses vivenciadas na pesquisa, ousamos, ainda, apresentar o que julgamos que
possam vir a ser contribuies de nosso projeto ao campo de estudos ao qual nos
vinculamos e ainda a outras reas que lidem com produo e interpretao discursiva.
Aps as referncias, acrescentamos ainda um apndice. Tal acrscimo o
resultado de nosso interesse em aprofundar uma peculiaridade que no havia sido
mencionada pelo designer, em seu depoimento sobre a produo da pea, mas que
acabou se apresentando para ns no momento da anlise. Essa uma tentativa de no
deixar de fora, algo que consideramos importante acrescentar a esses estudos, uma
vez que tambm ilustra a atividade de produo de discursos e significados a que nos
referimos neste projeto.
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21
1. Fundamentao Terica
Conte-me e eu vou esquecer. Mostre-me e eu vou lembrar.
Envolva-me e eu vou entender.
Confcio
Para formular a base terica de nossa pesquisa, apoiamo-nos em um
quadro de referncias que toca nas questes concernentes ao nosso projeto de
observao dos mecanismos subjacentes produo e compreenso de peas de
divulgao elaboradas por designers.
Na construo do nosso percurso terico, tratamos de partida da questo
da referncia. Com esse mergulho nas relaes entre um dizer e um no dizer,
(CARDOSO, 2003, p.1) foi possvel amparar nossas observaes da prtica de criao
dos objetos de discurso nas produes que tomamos para anlise. Na sequncia,
discorremos com mais cuidado sobre os fenmenos referenciais que elegemos como
categorias de anlise, a saber: categorizao, sumarizao e recategorizao.
Outra teoria que refora nossa apreciao a semitica. Esse campo de
estudo, assim como a referenciao, nos habilitou a investigar o movimento interno
das mensagens. Tendo um escopo de estudo muito vasto, a semitica est dividida em
trs ramos que se inter-relacionam e do conta do estudo dos ideais e normas que
conduzem o pensamento, das condies gerais dos signos e ainda da transmisso de
significados. Dada essa aproximao epistemolgica entre os estudos semiticos e o
que nos assiste a teoria da referenciao, aliamos os dois campos na observao da
construo de peas de divulgao.
Para completar esse referencial e tratar a questo da criao com mais
desenvoltura, voltamos nosso olhar para o Design com vistas a melhor proceder na
observao desses fenmenos de composio de peas. A pesquisa nessa rea foi
assistida por literatura especfica e ainda com o auxlio de depoimentos dados pelos
prprios criativos.
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1.1 A Referncia e a Referenciao
A questo da referncia tem interessado bastante aos pesquisadores que se
abrigam sob os estudos da Lingustica Textual. Nessa perspectiva, essa teoria tem se
mostrado bastante frutfera e capaz de explicar com maior clareza a discretizao do
mundo nos discursos.
Uma contribuio importante trazida pelos estudos da referncia diz
respeito ao fato de se considerar a exterioridade na busca dos sentidos. Como afirma
Custdio Filho (2011, p.2), A busca por desvendar as relaes entre as formas, as
funes e os sentidos [...] est na raiz de quase todas as teorias lingusticas. Ou seja,
trabalhar a partir de uma tica que explica a relao entre o materialmente colocado e
o extra material tem sido uma maneira eficiente de pensar a questo dos sentidos.
Bakhtin/ e Voloshinov5 ([1926], p.5)
6 tambm se mostraram conscientes dessa
natureza no autossuficiente dos discursos e demonstraram tal conscincia quando
afirmaram que o discurso diretamente vinculado vida em si e no pode ser
divorciado dela sem perder sua significao. Dentro dessa concepo, se encaixa
com muita clareza a necessidade de levar em conta, na produo dos discursos, o que
se sabe e tambm o que se imagina que o outro saiba, alm das relaes que se
estabelecem entre as pessoas e o mundo.
Blikstein (2003, p.17) j manifestava essa conscientizao a respeito da
contribuio que a atividade social pode dar para a considerao do sentido, ao
explicar que a prpria percepo do mundo participante da construo do sentido: a
significao do mundo deve irromper antes mesmo da codificao lingustica com que
o recortamos: os significados j vo sendo desenhados na prpria percepo/cognio
da realidade.
5 Considerando a discusso que h em torno da autoria de algumas obras do crculo de Bakhtin,
adotamos neste texto o duplo nome Bakhtin/Voloshinov em todas as referncias que fizermos s obras
desse crculo utilizadas em nossa pesquisa. 6 A edio de Discurso na vida e discurso na arte a que estamos nos referindo nesta pesquisa a traduo de CarlosAlberto Faraco e Cristvo Tezza, realizada para fins didticos e est disponvel, em
pdf, neste endereo:
http://www.linguagensdesenhadas.com/imagens/03textos/autores/Bakhtin_Discurso_na_vida.pdf
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23
Nessa direo, percebemos o quanto pode ser benfico aos estudos do
texto o emprego dessa teoria na observao das operaes sociocognitivas de
construo dos objetos de discurso em peas produzidas por designers, ao mesmo
tempo em que estaramos atendendo a um apelo de Blikstein (2003, p.49) quando diz
que a semiologia deveria ir mais longe, procurando compreender os mecanismos de
transformao da realidade em referente. Pois, como vimos, esse mecanismo que
produz os sentidos uma situao desencadeada pelos sujeitos em suas interaes
sociais, o que imprime certo dinamismo a essa considerao.
Em Custdio Filho (2011, p.4) temos uma passagem que corrobora nossa
proposta de atentar para a realidade na busca dos sentidos:
Assumir um paradigma sociocognitivista estabelece, para a LT, a
necessidade de uma investigao que esteja atenta aos sistemas de
conhecimento acionados/construdos quando da produo e
interpretao, bem como ao contexto scio histrico envolvido em
cada situao de comunicao.
Neste contexto, importante a considerao que fazem Mondada e
Dubois (2003, p.20), quando avanam da noo de referncia para a de referenciao,
indicando a dinamicidade presente nas construes dos objetos de discurso.
O problema no mais, ento, de se perguntar como a informao
transmitida ou como os estados do mundo so representados de
modo adequado, mas de buscar como as atividades humanas,
cognitivas e lingusticas estruturam e do um sentido ao mundo. Em
outros termos, falaremos de referenciao tratando-a, assim como
categorizao, como advindo de prticas simblicas mais do que de
uma ontologia dada.
Costa (2007a, p. 68) tambm se posiciona sobre esse avano para a noo
de referenciao, salientando que essa passagem implica abandonar o pressuposto de
uma correspondncia dada, preexistente e perdida entre palavras e coisas do mundo e
atentar para os processos sociocognitivos envolvidos na construo das entidades
discursivas., reforando o que j vnhamos trazendo sobre o ato de construir
referentes.
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24
Sob essa perspectiva, podemos nos guiar pelos princpios da referenciao
e, estando conscientes dessa caracterstica interativa, vemos aqui um instrumento que
nos possibilita ter uma compreenso mais ampla do envolvimento das construes
textuais nas propostas enunciativas em que se inscrevem, uma vez que, como dito h
pouco, as expresses referenciais no se prestam somente identificao de
referentes. Indo mais alm, essas expresses podem exercer uma funo
argumentativa valiosa em certos contextos discursivos, entre os quais o mundo das
peas concebidas sob a tica do design. Isso mostra a importncia de termos condio
de reconhecer essa funo entre outras manifestaes para melhor agir diante delas.
De acordo com os raciocnios apresentados at aqui, podemos
compreender que a referenciao indica que a relao da linguagem com o mundo no
feita como se a lngua estivesse aguardando um acontecimento para se manifestar.
Como j sinalizamos anteriormente, os objetos criados no preexistem no mundo, mas
so frutos do compartilhamento de culturas e saberes oriundos das diversas mentes
envolvidas no momento da construo. Mais uma vez Bakhtin/Voloshinov (on line,
p.5) vm em nosso favor e mostram que nessa construo deve-se levar em
considerao muito mais alm do que simplesmente fatores lingusticos, juntamente
com fatores verbais, elas [as produes comunicativas] tambm abrangem a situao
extra verbal do enunciado.
Consoante Koch (2005), a referncia o resultado da operao que
realizamos quando, para designar, representar ou sugerir algo, usamos um termo ou
criamos uma situao discursiva referencial com essa finalidade. Para ns, essa noo
se aproxima muito do processo que o designer vive durante a produo de uma pea.
Quando elege um elemento ou constri um discurso, ele est crendo que essa(s)
escolha(s) levar(o) o interlocutor a inferir os sentidos aos quais se referiu naquele
ato. E vai mais longe na sua proposta quando est acreditando que aquelas ditas
escolhas se relacionaro com elementos da realidade coletiva e subjetiva no momento
em que estar(o) sendo construdo(s) o(s) sentido(s).
O que acabamos de mencionar sobre a atividade sociocognitiva de
construo de referentes pode ser confirmado com outra fala de Koch (2004, p.79) em
que ela mostra que a realidade construda, mantida e alterada no somente pela
forma como nomeamos o mundo, mas, acima de tudo, pela forma como,
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sociocognitivamente, interagimos com ele. Ousamos dizer que esse nosso ponto de
vista ainda est ligado ao pensamento que Custdio Filho (2011, p. 5) apresenta em
sua tese ao defender que a perspectiva assumida na atualidade investe no
entendimento do texto como um artefato dinmico.
Isto nos leva a entender que o produtor do texto tem um papel importante
nas escolhas que faz, porque, a partir das selees operadas, a proposta de sentido ser
alcanada com maior ou menor xito, e o efeito esperado ser produzido ou no.
Como nos diz Blikstein (2003, p. 45), evidente que a significao lingustica
tributria do referente e que este, por sua vez, constitudo pela dimenso perceptivo-
cognitiva. Da por que, mais uma vez, enfatizamos o carter estratgico das
construes textuais desse universo de discurso.
Admitindo essa postura scio interacionista da referncia, propomos uma
linha de pensamento que veja os processos referenciais sendo realizados para alm
das simples escolhas lexicais, como preveem Jaguaribe (2007), Zavam (2007), Costa
(2007a), (2007b), Ciulla (2008), Custdio Filho (2011). Com base nessa viso,
passamos a discutir adiante os conceitos de categorizao, de recategorizao e
sumarizao com o intuito de desenhar o percurso por onde caminharemos em nossa
pesquisa.
1.1.1 Categorizao
Um aspecto que julgamos muito importante nos processos referenciais o
da categorizao. De acordo com o pensamento que desenvolvemos at aqui sobre a
referenciao e ainda em consonncia com o que propem Mondada e Dubois (2003,
p. 20) entendemos esse processo como advindo de prticas simblicas mais que de
uma ontologia dada. Desta feita, podemos dizer que a categorizao, assim como a
referenciao, no uma atividade compulsria.
Segundo Zavam (2007), categorizar a habilidade cognitiva que
possibilita ao homem dar sentido quilo que experiencia e compartilha. Detalhando
um pouco mais, recorremos a uma explanao de Bruner (lido em CIULLA, 2008, p.
23) que diz: perceber categorizar, conceitualizar categorizar, aprender formar
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26
categorias, tomar decises categorizar. A partir dessas afirmaes, a prpria Ciulla
conclui que referir categorizar e que esse na verdade um processo que evidencia
ainda mais o carter de construo discursiva da referncia. (p.24)
Assumimos posicionamento semelhante ao de Mondada e Dubois no que
se refere a esse carter de construo discursiva dos referentes. As autoras (2003, p.
17) defendem que os sentidos se constituem na prpria atividade discursiva e, assim,
afirmam que os sujeitos constroem, atravs de prticas discursivas e cognitivas
social e culturalmente situadas, verses pblicas do mundo.
Em razo disso, vemos tal atividade como um processo dinmico que se
ajusta constantemente e localmente e, por consequncia, consideramos que o processo
de categorizar vai alm do simples operar lexicalmente sobre o mundo. Conseguimos
observar esse fato com mais clareza no momento da escuta dos depoimentos dos
designers. De acordo com o que foi dito por eles, compreendemos que ao tomar um
elemento para fazer parte de seu projeto criativo, os profissionais do design no esto
apenas excluindo possibilidades. Nesse momento da escolha, os dizeres so
socialmente fabricados, ou seja, com base num propsito comunicativo bem
orientado, os criativos tomam decises e entram em negociao com os
conhecimentos de mundo dos pretensos leitores das peas. Buscando ser persuasivos,
esses profissionais no trabalham com as possibilidades semiticas de forma ingnua
e aleatria.
Sendo assim, acreditamos que o fenmeno da categorizao se apoia nos
processos de inferncia, uma vez que, como nos explica Marcuschi (2007, p.88),
impossvel no inferir quando se quer produzir significaes. E, j que produzir
significaes tambm pode ser entendido como categorizar pensando de acordo com
o autor citado por Ciulla , no difcil entender ou aceitar essa relao.
1.1.2 Recategorizao
Tratando do fenmeno da recategorizao, em conformidade com o que
nos explica Jaguaribe (2007, p. 232), veremos que esse ato considerado como um
processo mental por meio do qual os objetos-de-discurso vo sendo reavaliados pelo
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falante; mas como envolve tambm uma dimenso social - ainda com base na mesma
autora - percebemos que esse processo se efetiva para atender ao propsito do falante
de interagir com o interlocutor. Indo alm da capacidade de atualizar um referente e
agir socialmente, Zavam (2007, p.127) nos mostra que essa ferramenta discursiva
ainda pode manter ou dar continuidade ao referente j estabelecido no discurso.
Tomamos as elucidaes das pesquisadoras acima citadas e de outros
autores ainda como Marcuschi (2007), Leite (2007), Ciulla (2008) e Custdio Filho
(2011) para compreender e melhor agir nesse terreno onde se assenta uma de nossas
categorias de analise. Porm, nessa pesquisa, acreditamos que o processo de
recategorizar acontea nas duas instncias da interao discursiva, ou seja, tanto na de
quem produz, quanto na de quem recebe o discurso produzido.
Em outras palavras, somos da opinio que esse ato no se restringe
somente ao criativo que em seu trabalho de elaborao tomar um elemento e o
retomar em seguida de forma ampliada, atenuada ou melhorada visando fortalecer o
seu projeto de dizer. Nem tampouco se destina exclusivamente ao leitor como quem
recebe a responsabilidade de identificar e reavaliar o j dito ou o sugerido pelo
falante. Nesse processo de interao, cremos que a produo de sentido funciona
muito mais parecida com um trabalho coletivo do que com o acatamento de ordens;
principalmente, quando temos em vista a fluidez dos discursos. Nesse sentido, no
podemos deixar de lado o que se l em Jaguaribe (2007, p. 232), que, ao considerar a
recategorizao como fenmeno sociocognitivo, deixa claro que essa atividade um
processo que se resolve aqum e alm da superfcie textual.
Por essa razo, entendemos que a tarefa de recategorizar assim como a
de categorizar e a de sumarizar - emerge durante todo o processo: desde a concepo
at a leitura; uma vez que o universo e o prprio pensamento j comeam a se
organizar na percepo/cognio, antes, portanto, da prpria linguagem como j
assinalava Blikstein (2003, p.45). Sendo assim, no nos parece condio sine qua non
a presena de uma primeira meno para que haja recategorizao; no sendo preciso,
ento, que o interlocutor espere permisso do falante para proceder de forma
recategorizadora no mundo. Sobre isso, Ciulla (2008, p. 30) tambm manifesta seu
posicionamento e afirma que a remisso no uma condio obrigatria para a
recategorizao, que pode ocorrer independentemente dela.
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28
Por essa razo, defendemos que o processo de recategorizar se encontra
nos dois lados da interao como num permanente dilogo, em que todos os
participantes acordam, desacordam, reajustam, negociam e juntos do sentido e dizem
o mundo - como em algumas vezes fica patente, nas criaes das peas que trouxemos
para esse trabalho fazendo lembrar as palavras de Marcuschi (2007, p. 94) que, ao
falar da caracterstica interativa das produes, afirma que a construo do mundo
pelo discurso dialgica.
1.1.3 Sumarizao
Como categoria de anlise, consideramos ainda, para esta pesquisa, o
processo de sumarizao. Esse ato, na concepo de Koch (2004), tratado como o
responsvel pela funo sintetizadora das informaes precedentes, atribuindo-lhes o
estatuto de objetos-de-discurso. Mas h que se fazer uma observao: a autora em
foco oferece essa descrio do processo de sumarizao em termos de presentidade
imediata. Para ela, as informaes sintetizadas fazem parte da materialidade textual.
Entretanto, para esta pesquisa, mais uma vez, se faz necessrio alargarmos
uma considerao. Se as abordagens de referenciao levam em conta que o processo
de encapsulamento cumpre a funo de resgatar informao precedente de forma
resumida, nosso corpus mostra que no s o cotexto ir fornecer tais informaes,
como tambm o entorno.
Nesse caminho, agimos de maneira semelhante a Costa (2007), que, ao
tomar a teoria da acessibilidade e aplic-la ao que os autores normalmente chamam de
encapsulamento anafrico, mostrou que a informao encapsulada provm de uma
mescla de variadas origens. Da mesma forma que ela, propomos que outros
elementos, que esto alm do lxico - como as ideias, as intenes dos criativos e os
conhecimentos compartilhados - tambm so sumarizados.
Sendo assim, nesses contextos criativos, vemos que a sumarizao fornece
algo muito caro s produes, ou seja, um bom vis argumentativo, pois o processo
responsvel muitas vezes por resgatar pores textuais precedentes, definir e marcar
com preciso objetos inespecficos e estabelecer novos referentes que podem ser
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29
retomados em enunciados subsequentes, aqui, no universo de criao que trouxemos,
se torna um elemento persuasivo valioso. Ou seja, como bem diz Costa (2007, p.154),
faz parte da estratgia argumentativa adotada pelo remetente da mensagem.
Ciulla (2008, p.97), referindo-se possibilidade de haver referncia
mesmo quando os elementos no esto explicitados no texto, nos fornece o seguinte
raciocnio,
A estratgia de apelar para a memria do interlocutor, que precisa
preencher a imagem do texto com as prprias experincias, tambm
parece ser uma maneira peculiar [...] de fazer com que o
leitor/ouvinte participe da situao, o que evidencia a funo de
promover a intersubjetividade entre os falantes (que, em maior ou
menor grau, est sempre presente nas interaes entre os falantes).
Essa explicao da autora se apresenta como uma boa demonstrao para
a concepo de sumarizao que adotamos em nossas anlises.
1.2 Os estudos da imagem
Santaella e Nth (2009) esclarecem que as imagens podem ser observadas
tanto na qualidade de signos, quanto como figuras puras e abstratas. Neste trabalho,
procuraremos dar lugar imagem no que diz respeito s suas possveis significaes e
no somente no que tange ao prazer esttico que elas podem suscitar. Sendo assim,
devemos nos dar ao trabalho de ao menos tentar entender a natureza de signo visual
das imagens, uma vez que esses elementos semiticos podem auxiliar o signo
lingustico na produo de significados de inmeras construes.
Porquanto signos visuais e lingusticos agem juntos na formao de
significados, podemos dizer que equilibrar imagem e palavra na busca do melhor
caminho ao convencimento do leitor, por vezes, pode no ser uma tarefa simples. E
a, conforme propomos na introduo, algumas questes norteiam esse raciocnio
cooperativo que pode haver entre as semioses: Como se d a interao entre a parte
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30
lingustica e a parte visual das peas? De que forma elas se relacionam? Uma se
sobressai a outra? Que efeitos so produzidos a partir desse tipo de relao?
Encontramos algumas possveis respostas a essas perguntas nos estudos
semiticos de Santaella e Nth (2009). Segundo os autores, alguns aspectos da
funo da imagem no contexto lingustico j foram discutidos em conexo com as
questes sobre a autonomia ou dependncia lingustica e sobre a especificidade da
imagem em relao palavra. (p. 54). Esses mesmos pesquisadores encontram em
outros autores respostas variadas para essas questes, que so postas em pauta pela
pergunta de Barthes ser que a imagem simplesmente uma duplicata de certas
informaes que um texto contm[...] ou ser que o texto acrescenta novas
informaes imagem? (BARTHES citado por SANTAELLA E NTH, 2009, p.
54).
Em Kalverkmp (lido em SANTALELLA e NTH, 2009, p. 54), temos
que a imagem pode ser inferior ao texto, simplesmente complementando; a imagem
pode ser superior ao texto, portanto, dominando, j que mais informativa; e ainda
que a imagem tem a mesma importncia que o texto7. Vemos que, para esse autor, a
importncia da imagem varia e est dependente do contexto em que ela est sendo
utilizada. J para Molinor, tambm citado por Santalella e Nth (2009, p. 54), essas
instncias so complementares. Finalmente, para Spillner, ainda na mesma obra citada
acima, tal relacionamento constitui um caso de determinao recproca.
Joly (2009, p.11) tem um posicionamento semelhante aos que acabamos
de citar. A referida autora afirma que no h oposio entre imagem e palavra e que o
que existe entre elas um caso de complementaridade [...] a oposio entre
imagem/linguagem uma falsa oposio, uma vez que a linguagem no apenas
participa da construo da mensagem visual, como a substitui e at a completa em
uma circularidade ao mesmo tempo reflexiva e criadora.
Todas essas respostas nos levam a entender que a relao existente entre o
contedo verbal e o imagtico para usar as palavras de Santaella e Nth (2009, p.
53) , intima e variada. Por essa razo, acreditamos que esses dois aspectos da
7 Cumpre esclarecer que o termo texto especificamente nessa explicao, refere-se materialidade
verbal, em contraposio materialidade visual.
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31
produo comunicativa devem ser tomados com igual importncia. Com Gradim
(2007, p. 190), reconhecemos vlida a ideia de que, ao se lidar com esses dois
elementos semiticos,
Procura-se explorar no esse antagonismo, mas o modo como a
imagem no dispensa a palavra, e deste outro ponto de vista como
as palavras pedem imagens: o modo como a imagem caminho em
direo palavra, abrindo-a ao mundo e conferindo-lhe toda a
espessura e densidade ontolgica que esta pode transportar.
Se h a conscincia de que as atuais concepes de texto abrangem os
aspectos visuais no considerados antes (pelo menos no em Lingustica Textual)8,
preciso tambm percebermos que esse novo olhar pede por um instrumento que o
viabilize.
A teoria que primeiro se preocupou com essa questo foi a semitica de
Peirce. A exemplo dela, outra proposta tem se colocado disposio para trabalhar os
aspectos visuais, a Gramtica do Design Visual (GDV) de Kress e van Leeuwen. Essa
proposta veio tentar dar conta da anlise crtica das imagens e tambm auxiliar na
construo de textos multimodais. Petermann (2006, p.2), ao falar da contribuio
dessa teoria, destaca esse duplo papel da GDV - como orientadora da produo e
como verificadora dos sentidos existentes nos elementos visuais presentes nas
construes.
A proposta de uma gramtica do visual de Kress e van Leeuwen
(1996) surge como um instrumento para a anlise de textos visuais,
que pode ser til tanto para a prtica, ou seja, para a construo
desses textos, quanto para a analise crtica, em uma verificao dos
significados que esto amarrados aos elementos visuais e que
devem ser interpretados. (PETERMANN, 2006, p. 2)
8 Para embasar essa observao, nos apoiamos numa considerao que Koch (2004, p.33) apresenta quando se refere interao via texto: A produo de linguagem constitui atividade interativa
altamente complexa de produo de sentidos que se realiza, evidentemente, com base nos elementos
lingusticos presentes na superfcie textual e na sua forma de organizao, mas que requer no apenas a
mobilizao de um vasto conjunto de saberes (enciclopdia), mas a sua reconstruo e a dos prprios
sujeitos no momento da interao verbal. (grifos nossos). Outro ponto que corrobora essa nossa
ideia pode ser lido no captulo dois da tese de Custdio Filho (2011). No item 2.2 desse captulo, o
autor explicita as atuais concepes de texto e como so feitas as anlises em Lingustica Textual, o
que nos mostra mais uma vez que so recentes as anlises que levam em conta o extramaterial na
produo dos sentidos.
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32
Embasados na gramtica sistmico funcional de Halliday, Kress e van
Leuween propem conceitos que contemplam a presena da imagem em materiais
como, por exemplo, livros, capas de revistas, anncios impressos, cartazes e at obras
de arte, pois creem na ideia de que imagens produzem e reproduzem relaes sociais,
comunicam fatos, divulgam eventos e interagem com seus leitores com uma fora
semelhante de um texto formado por palavras (ALMEIDA e FERNANDES, 2008,
p.11).
Ao discutir as relaes entre as duas semioses nos textos, esses
postuladores da gramtica multimodal consideram que o texto, nesse caso, formado
pelos elementos pictricos e lingusticos, no apenas por um deles.
Procuramos romper as fronteiras acadmicas entre o estudo da
linguagem e o estudo das imagens, e procuramos, na medida do
possvel, utilizar uma linguagem e uma terminologia compatveis ao
falar sobre ambas, uma vez que, em comunicaes reais, as duas e
certamente muitas outras [semioses] aparecem reunidas para
produzir textos integrados. (KRESS e VAN LEUWEN, 1996, p.
183)9
Assim que, de posse de conceitos como as metafunes
representacional10
, interativa11
e composicional12
e da conscincia de que - conforme
pontuam Almeida e Fernandes, na mesma obra tomada antes - a forte interao entre
esses modos pode causar efeitos de sentido, os estudos da multimodalidade tm
empreendido grandes esforos na busca da compreenso dos trabalhos que se utilizam
das imagens como meio de propagao de contedos que antes s se realizavam
atravs das palavras.
Mas h que atentarmos para um detalhe: em funo do recorte que
escolhemos para nossa pesquisa, que so os processos sociocognitivos envolvidos no
momento da criao dos layouts, a abordagem proposta por Kress e Van Leuwen para
tratar do fenmeno da multimodalidade no nos parece to produtiva. Como
9 sempre oportuno lembrar que essa viso mais alargada j vinha sendo desenhada pelos
semioticistas, o que pudemos entender a partir dos seus constantes questionamentos sobre a hegemonia
ou no da imagem ou do verbal. 10
Representao das experincias de mundo 11
Estratgias de aproximao/afastamento para com o leitor 12
Modos de organizao do texto.
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33
notvel, as anlises empreendidas pela GDV contemplam o esttico, o produto e,
como j mencionamos antes, nossa anlise se concentra no processo.
Desta maneira, essa abordagem, embora leve em conta a imagem, algo
que no mbito da Lingustica de Texto ainda no comum, mas que precisa ser
levado em considerao, no nos parece suficiente para contemplar os processos
sociocognitivos que se do na hora da criao das peas e na posterior leitura dessas.
Somos a favor da concepo de pesquisa adotada por Custdio Filho
(2011), que pode ser empreendida com a imagem e o verbal, e concordamos com a
crtica que esse autor faz limitao da gramtica da imagem. Defendemos uma
proposta que se oriente pela produo de sentidos para alm do material e no se fixe
apenas na relao que pode haver entre as partes presentificadas.
Interessa, sim, ver como a imagem (ou a linguagem verbal)
manifestada numa interao concreta se relaciona com outras partes
(con)textuais para da fazer emergir um construto dinmico e
polissmico, sendo que tal anlise visa a perceber/descrever/discutir
as estratgias (textual-discursivas) que esto por trs das relaes
entre as partes (CUSTDIO FILHO 2011, p. 25).
Sendo assim, uma teoria que, segundo esse mesmo autor, analisa as
imagens dedicando-se a encontrar uma relao entre a funo semntico-pragmtica e
a forma da imagem pode no trazer muitas contribuies a nossa pesquisa.
Um dado importante que colhemos desses estudos da GDV a ampliao
da considerao da materialidade textual. Como j havamos mencionado, essa nova
concepo de anlise toma o evento comunicativo numa viso plurimodal, o que para
ns bastante til. Porm, o trabalho que se empreende nesse modelo, quando da
anlise das composies, tem uma caracterstica que imprime teoria multimodal um
carter rgido ou mesmo cartesiano. Como assumem os autores, as formas
gramaticais [funcionam] como recursos para codificar interpretaes da experincia e
formas de (inter)ao social13
(KRESS & van LEEUWEN, 2006, p. 1). O fato de se
tratar de uma gramtica com regras preestabelecidas inviabiliza, para ns, o uso dessa
proposta na pesquisa que estamos desenvolvendo. Ao lidarmos com o fenmeno
13 grammatical forms as resources for encoding interpretations of experience and forms of social (inter)action.
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dinmico da construo conjunta da realidade, assumimos como uma consequncia
natural a exigncia de olhar para alm do materialmente colocado.
Diante dessa exigncia que acabamos de citar, recorremos semitica
para nos auxiliar quanto ao movimento interno e externo das imagens, atentando para
o modo como estas so engendradas e que recursos nelas so utilizados. Ainda
pretendemos que essa teoria nos auxilie com sua concepo signica. Assim como
qualquer signo ou processo de produo signica, as imagens no nascem ou no
devem ser consideradas por si ss, mas como sendo geradas a partir de todo um
processo cognitivo em que participam diversos elementos socioculturais e crenas.
Conforme aponta Santaella (2008, p. 3), essa teoria trata no apenas das
leis do pensamento e das condies de verdade [...], mas tambm das condies
gerais dos signos. Ao estudar a lgica, Peirce se deu conta de que qualquer
pensamento que seja no pode se desenvolver sem o aparato de outros signos, nem
mesmo um raciocnio puramente matemtico.
Arquitetada na fenomenologia14
, a semitica toma para si o papel de
estudar os ideais e normas que conduzem o pensamento.
As diversas facetas que a anlise semitica apresenta podem assim
nos levar a compreender qual a natureza e quais so os poderes de
referncia dos signos, que informao transmitem, como so
emitidos, produzidos, utilizados e que tipos de efeitos so capazes
de provocar no receptor. (SANTAELLA, 2008, p. 4)
Nesse ponto, guardadas as devidas propores, vemos alguma
proximidade entre o que postula a teoria da referenciao e o que diz a semitica.
Podemos, inclusive, tomar uma considerao de Cardoso (2003, p.1) para esclarecer
em que ponto as duas teorias citadas h pouco parecem se tocar:
Por essa razo, um objetivo comum aos linguistas, lgicos e
filsofos tem sido resolver o importante dilema que a questo da
referncia coloca. O referente necessrio para que a palavra tenha
um valor, no se volte para si mesma, mas se volte para algo que lhe
exterior.
14 Uma quase cincia que investiga os modos como apreendemos qualquer coisa que aparece nossa mente, qualquer coisa, de qualquer tipo, algo simples como um cheiro, uma formao de nuvens no
cu, o rudo da chuva, uma imagem em uma revista, etc. (PEIRCE lido em SANTAELLA, 2008)
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35
Para esses dois campos, os objetos de discurso15
no se prestam somente
funo de etiquetar, eles se reportam ao mundo transmitindo ideias, construindo
significados e produzindo efeitos. O discurso cria a realidade e esta modificada
pelos efeitos que so produzidos a partir desse mesmo discurso. Assim que
Santaella e Nth (2009, p. 38) explicam: fecha-se o crculo da polissemia semitica
de uma maneira que nos lembra o princpio de Peirce da interpretao do signo como
um processo circular de semiose infinita.
1.3 O lugar do Design no mundo e em nossa pesquisa
Um rpido olhar ao nosso redor faria com que percebssemos que estamos
envolvidos at o fio de nossos cabelos com design. A casa em que moramos, a
roupa, a mesa e o computador que usamos, a msica que ouvimos, todos esses objetos
- com os quais interagimos cotidianamente - so frutos de projetos desenvolvidos por
designers. O que podemos entender, a partir dessa constatao, que a criao no
design vai alm daquilo que imaginamos que se faz nessa rea.
Numa entrevista com um dos designers sujeitos desta pesquisa, colhemos
o seguinte relato:
Existe design em todo mbito das nossas vidas, independente de um
objeto ter sido produzido por um arteso ou em escala industrial.
Onde quer que olhemos, qualquer coisa que usemos, vai ter um
projeto de design embutido. [...]
As diversas publicaes existentes sobre essa atividade nos ajudam a
entender como ela praticada, aplicada e desenvolvida e, ainda, como passou da
condio de prtica manual ao status de disciplina.
O design grfico vem evoluindo por mais de cem anos nos ltimos
trs sculos do seu reconhecimento inicial como arte comercial no
final do sculo XIX, criao do termo por W.A.Dwiggins em
15
Embora essa terminologia no faa parte do vocabulrio semitico, aqui chamamos de objetos de
discurso todos os elementos constantes do projeto de dizer.
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36
1922, at sua posio atual como uma disciplina que engloba uma
mirade de especialidades. (Gomez-Palacio e Vit, 2011, p. 25).
Como ficou sugerido pelos autores citados acima, a criao em design
exige do artista a capacidade de se envolver com conhecimento de ordens variadas.
Entendemos, ainda, que aplicar esses conhecimentos ao projeto de forma a criar, na
interao com o pblico, algo marcante e que seja lembrado por geraes deve ser a
busca dos profissionais. Assim que, permeadas por conhecimentos culturais,
cientficos, pedaggicos e pessoais, as criaes vo ganhando espao e
reconhecimento entre geraes de leitores.
Inegavelmente, o aspecto mais cativante do design grfico o
trabalho produzido: cartazes, livros, capas de discos, embalagens,
logotipos e identidades, entre outros. Enquanto a totalidade do
trabalho excelente aquele que atende as demandas do cliente,
ressoa no pblico-alvo e visualmente inovador seja
provavelmente no quantificvel e impossvel de catalogar nas
numerosas revistas, compndios, apanhados histricos e prmios do
setor nos ltimos 50 ou 60 anos, exemplos numerosos so tidos
consistentemente como padres de melhores prticas ou como
indicativos de pontes de inflexo poca de sua disseminao.
(Gomez-Palacio e Vit, 2011, p. 255)
Como nos foi sugerido pelos profissionais participantes desta pesquisa,
para construir uma boa pea, alm de ter talento, ou seja, alm de ser capaz de criar os
melhores textos e os melhores layouts em termos de esttica, necessrio estar a par
da realidade circundante e saber dialogar com ela, us-la da maneira mais inovadora e
sedutora. Como afirma Blikstein (2003, p. 54), ao atestar o valor das prticas humanas
na composio de propostas de sentido e do prprio sentido, sem a prxis no h
significao.
Considerando esse ponto de vista, Morais (2010, p.13) nos traz uma
reflexo a propsito da ao do design na contemporaneidade que refora essa ideia
que viemos discutindo at aqui. Segundo o autor: Torna-se [...] necessrio, para o
design atual, dentro do cenrio de complexidade existente, valer-se de novas
ferramentas, instrumentos e metodologias para a compreenso e a gesto da
complexidade contempornea.
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37
Estando o designer consciente de que no vivemos mais a poca das
relaes comerciais limitadas em que as pessoas tinham poucas opes de escolha de
produtos - uma vez que viviam em uma economia regionalizada - imperativo a este
profissional seguir um rumo que leve em conta as relaes multifacetadas e que seja
mais condizente com os novos desejos desses novos consumidores. Alm disso, o
criativo deve procurar adequar sua produo aos interesses e expectativas do cidado
contemporneo. Por esse motivo, podemos dizer que no h mais lugar para
produes de solues fceis e contedos previsveis; urge levar em conta as vrias
semioses e as muitas possibilidades de comunicar.
Nesse sentido, Carrascoza (2002, p. 33) mostrando-se consciente dessa
nova atitude perante as produes comunicativas, afirma que a construo de uma
mensagem persuasiva fruto de uma cuidadosa pesquisa de palavras, [...]. Optar por
este ou aquele termo no uma atitude arbitrria, mas sim ideolgica. No contexto
atual da descoberta da multimodalidade como algo inerente aos fenmenos da
comunicao, podemos reescrever a afirmao do autor ampliando seu sentido:
Optar pelo uso deste ou daquele elemento semitico no uma atitude arbitrria,
mas sim ideolgica (grifo nosso). Nesse caminho, falar que pesquisa pode ser a
palavra de ordem das atuais produes entender que o atual meio de criao passa
naturalmente por um trabalho de garimpo, por meio do qual o criativo buscar as
solues que tornem sua ideia adequada ao projeto de dizer e possibilitem a produo
de mltiplos sentidos.
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2. Como e por onde andamos
O que eu vi, sempre, que toda ao principia mesmo por uma
palavra pensada. Palavra pegante, dada ou guardada, que vai
rompendo rumo.
Guimares Rosa - Grande Serto: Veredas
Como bem diz Joly (2009, p. 42): certo que uma anlise no deve ser
feita por si mesma, mas a servio de um projeto. A caminhada que fizemos at aqui
desenhou os contornos do projeto ao qual nos vinculamos, o qual, como pde ser
visto, se assenta na noo sociodiscursiva de referenciao.
Neste captulo, descrevemos os procedimentos metodolgicos que
julgamos adequados ao cumprimento do nosso propsito de investigar as estratgias
sociocognitivas subjacentes produo/recepo de peas comunicativas, produzidas
por designers, no tocante aos fenmenos referenciais. Por ser fruto de um fazer
especfico e idiossincrtico, os dados gerados por obra desta pesquisa adquirem uma
caraterstica singular, exigindo para si a definio de princpios metodolgicos
condizentes com os indcios reveladores que buscamos compreender (ABAURRE,
1997, p.14).
Abrigando-nos sob a perspectiva sociocognitiva e tendo em conta que
nossa pesquisa tem como foco os processos, adotamos um mtodo de verificao
diferenciado, que entra em acordo com o tipo de dado gerado por nossos sujeitos.
Conforme descreve Quartarolla (lido em ABAURRE, 1997, p.15) a propsito dos
dados singulares,
Torna-se necessrio [...] o estabelecimento de um rigor
metodolgico diferenciado daquele instaurado pelas metodologias
experimentais, uma vez que o olhar do pesquisador est voltado,
neste paradigma, para a singularidade dos dados.
Nessas circunstncias, constitumos nosso mtodo de investigao
dividindo-o em duas etapas. Essas etapas, por sua vez, foram subdivididas em duas
fases, durante as quais foram gerados os dados que foram analisados. Essa anlise,
-
39
bem como os resultados obtidos, ser apresentada mais adiante, na parte dedicada a
este fim.
Antes, apresentaremos de maneira mais detalhada o percurso
metodolgico que seguimos, incluindo quem so os nossos sujeitos, como
procedemos na coleta dos dados, de quais instrumentos lanamos mo e quais etapas
compuseram esse percurso.
2.1 Ponto de partida
Para iniciar nossa incurso nesse projeto de investigar os processos que
esto presentes na criao e na leitura de peas comunicativas, nossa primeira atitude
foi a escolha de um posicionamento de pesquisa. Alguns estudiosos da linguagem,
como Rodrigues (2008), Laurindo (2007), Souza e Lopes (2007), investigaram a
atividade referencial em publicidade optando por realizar suas pesquisas em layouts
veiculados em jornais ou revistas.
Mesmo nos inspirando nesses pesquisadores, preferimos seguir rumos que
diferenciam nossa trajetria da que foi seguida por eles. A primeira diferena que,
ao invs de nos voltarmos para os layouts impressos, preferimos atentar para os
processos criativos que originaram tais produtos; a segunda que realizamos essa
busca em outra rea, ou seja, escolhemos pesquisar no campo do Design. Assim,
como mostra Marcuschi (2010, p.123) ao falar dos mtodos qualitativos, samos [...]
da forma para a funo, da unidade analtica para o indivduo, do experimento
controlado para a observao de dados autnticos; da significao imanente para a
contextualizao.
A opo por esse nicho de pesquisa decorreu do fato de em uma
pequena experincia com produo de material comunicativo - termos notado que os
bastidores da criao de peas de divulgao guardam etapas que, se abordadas pela
tica mais atualizada da Lingustica Textual - que se debrua sobre o texto como um
processo dinmico, construdo na interao com o outro e produtor de mltiplos
sentidos - fomentariam discusses e criariam possibilidades que poderiam ampliar
nossa compreenso sobre peculiaridades dessa forma de interao que escapariam s
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40
anlises do produto. Nesse sentido, afirmamos, com Abaurre (1997, p. 15), que esses
dados podem contribuir de forma significativa para uma discusso mais profcua da
natureza da relao sujeito/linguagem no mbito da teoria lingustica.
2.2 Gerao de dados: etapas, instrumentos e procedimentos
Para obter dados que pudessem ser analisados, mantivemos contato com
alguns designers e com os leitores das peas por eles criadas. Buscando organizar os
encontros com os sujeitos geradores desses dados e, assim, melhor agir em nossa
caminhada, pontuamos todas as etapas e fases que teramos que percorrer e criamos
um organograma com todas essas partes bem definidas.
Esse olhar voltado para nosso prprio caminhar, um trabalho
metacognitivo, tornou-se um instrumento muito til, tanto na coleta quanto na anlise
dos dados. Inclumos, aqui, esse instrumento e uma breve explicao sobre ele para
tornar mais clara, ao leitor deste trabalho, a nossa trajetria.
FIGURA 2 Organograma de orientao da pesquisa prtica
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O organograma acima, como vemos, mostra as etapas da coleta de dados,
s quais j aludimos anteriormente. Est dividido em duas etapas: uma para o trabalho
com os designers e outra para a tarefa com os leitores. Como meio de melhor
organizar a primeira etapa, subdividimos essa parte em duas fases: uma fase para a
aplicao do questionrio e outra para a conversa com os designers sobre uma pea
escolhida por cada um deles.
No que tange primeira fase, o questionrio (anexo A) aplicado
contemplava perguntas que abordavam desde conhecimentos gerais sobre a atividade
do design, passando pelos processos criativos, indo at o entendimento do leitor.
Composto de um total de 14 perguntas, o questionrio est organizado em dois blocos
de sete perguntas cada. O primeiro bloco girou em torno do conhecimento geral, das
etapas de criao e da relao com os clientes; j o segundo bloco ficou reservado
para questes direcionadas ao conhecimento especfico de cada um sobre a rea e s
expectativas com relao ao entendimento do leitor.
Esse questionrio foi enviado por e-mail a cada um e, aps a devoluo
deste instrumento respondido (anexos C e D), formulamos as primeiras noes sobre
a atividade do design, o que nos deu uma ideia sobre o que iramos encontrar na fase
seguinte, bem como acerca do que precisaramos fazer para melhor aproveitar esse
momento. Sobre isto, vlido observar o que afirma Marcuschi (2010, p. 143):
sempre indagamos e observamos com base em uma teoria. a prpria teoria que
afunila a observao e a entrevista; da porque aplicamos o questionrio como a
primeira fase da primeira etapa.
Na segunda fase, elaboramos um roteiro (anexo B), compilado das
informaes fornecidas no questionrio enviado aos designers, juntamente com a
leitura que fizemos da metodologia apresentada na tese de Cavalcanti (1989). Nessa
pesquisa, a autora (p.15) tomou a leitura de um texto acadmico denominado por ela
de texto base - com vistas a examinar reas de obstculos na interpretao
pragmtica potencialmente indicados pela analista e experienciados ou no pelo
leitor. Essas reas so observadas pelo ponto de vista da pesquisadora, quando ela
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faz a escolha dos itens lexicais sob os quais recair sua ateno, e tambm sob o ponto
de vista do leitor, no momento em que ele verbaliza seu processo de leitura.
Neste caso, os mtodos de pesquisa usados pela analista foram os estudos
pilotos (para definir a melhor maneira de abordar o leitor), a entrevista estruturada, a
fase de aquecimento (para estimular o leitor a pensar alto) e os protocolos de pausa16
.
Deste modo, o uso do relato, a fase de aquecimento e a inteno de no
interrompermos a narrao dos dois grupos (designers e leitores) foram pontos de
aproximao entre nossos mtodos e o de Cavalcanti. Mas, ainda assim, fizemos
algumas adaptaes do processo metodolgico descrito pela autora em sua tese de
modo a procedermos direcionados ao nosso objetivo.
Aqui, procuramos agir conforme o pensamento de Marcuschi (2010,
p.143) para quem ... as entrevistas no so fechadas, mas abertas e buscam a
obteno de experincias autnticas. Nosso intuito era o de evitar que essa fase
tivesse as caractersticas de uma entrevista comum: perguntas e respostas; por isso
incentivamos os artistas a falarem abertamente sobre sua criao e s interferamos
quando queramos aprofundar alguma considerao feita por eles ou quando algo saia
diferente de nossa expectativa: como por exemplo, falarem pouco ou esperarem
alguma interao de nossa parte.
O encontro com os designers foi realizado pessoalmente e tambm em
meio virtual (a ttulo de complementao, quando solicitvamos o envio de algum
material explicativo de seu processo ou quando restava ainda alguma dvida ou
curiosidade extra). Nesse encontro pessoal, para registrar a fala de cada um dos
participantes, usamos o gravador de uma cmera fotogrfica. Os dados que colhemos
aqui foram obtidos atravs de auto-relato (Anexo E). Cavalcanti (1989, p.139) define
esse instrumento como sendo o momento em que os sujeitos contam sua experincia
ao pesquisador/analista. Nessa circunstncia, seguindo a orientao17
que
fornecemos no incio da conversa, os profissionais relataram a produo de uma pea
16
Tcnica introspectiva em que o leitor faz uma leitura silenciosa do texto e pedido a ele que pense
em voz alta sempre que ocorrer uma pausa no seu processo. 17 Solicitamos que o designer falasse abertamente sobre a criao da pea que ele escolheu para levar para a conversa. Orientamos que ele nos dissesse sobre: o briefing e o brainstorm, alm das cogitaes
e das escolhas operadas na construo dessa pea como quem faz o caminho de volta.
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escolhida e produzida por eles, o que nos trouxe informaes sobre as fases de
criao: briefing, brainstorm e produo.
Do outro lado da comunicao, encontra-se o leitor/receptor desse
trabalho criado pelo designer. Dirigimo-nos a ele para observar a co-construo da
ideia do criativo, ou seja, ao tomar essa leitura, intentamos ver se o que o designer
pressups na produo da pea aconteceu no momento da recepo pelo leitor. Para
esta conversa, optamos por um guia de leitura (anexo F) e no um questionrio com
perguntas especficas que poderia nos dar respostas automticas. Achamos que com
esse guia os leitores entrevistados estariam vontade para expor seus processos de
construo de sentido, por no se sentirem obrigados a cumprir uma expectativa
demarcada por uma pergunta.
Tentamos, na medida do possvel, deixar nosso (e das peas) interlocutor
vontade para se expressar sobre sua leitura e sobre suas produes de sentido (anexo
G). Salientamos que essa contribuio em tempo real marca a diferena de abordagem
desta etapa em relao primeira. Neste momento, flagramos o prprio processo
acontecendo, uma vez que nossos registros se deram sobre a leitura em curso e no
sobre a narrativa do processo de leitura, como ocorreu na primeira etapa.
Aps estarmos de posse dos dados obtidos nas duas etapas, pas