dissertaÇÃo potencial analgésico, anti-edematogênico...

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UFRRJ INSTITUTO DE VETERINÁRIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA CIÊNCIAS CLÍNICAS DISSERTAÇÃO Potencial Analgésico, Anti-edematogênico, Antipirético e Atividade Ulcerogênica de Fármacos Anti-inflamatórios em Roedores Priscila Andrade Pires 2009

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  • UFRRJ INSTITUTO DE VETERINRIA

    CURSO DE PS-GRADUAO EM MEDICINA VETERINRIA CINCIAS CLNICAS

    DISSERTAO

    Potencial Analgsico, Anti-edematognico,

    Antipirtico e Atividade Ulcerognica de Frmacos

    Anti-inflamatrios em Roedores

    Priscila Andrade Pires 2009

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE VETERINRIA

    CURSO DE PS-GRADUAO EM MEDICINA VETERINRIA CINCIA CLNICAS

    POTENCIAL ANALGSICO, ANTI-EDEMATOGNICO, ANTIPIRTICO E ATIVIDADE ULCEROGNICA DE FRMACOS

    ANTI-INFLAMATRIOS EM ROEDORES.

    PRISCILA ANDRADE PIRES

    Sob a Orientao do Professor Frederico Argollo Vanderlinde E Co-Orientao do Professor

    Fbio Fagundes da Rocha

    Dissertao submetida como requisito parcial para obteno

    do grau de Mestre, no Curso de Ps-Graduao em Medicina

    Veterinria, rea de Concentrao em Cincia Clnicas

    Seropdica, RJ Agosto de 2009

  • SUMRIO

    1 INTRODUO.....................................................................................................................................................1 2 REVISO DE LITERATURA..............................................................................................................................2 2.1 Fisiologia da Inflamao.....................................................................................................................................2 2.2 O cido Aracdnico e os Eicosanides..............................................................................................................3 2.3 A Via das Cicloxigenases....................................................................................................................................4 2.4 A Via das Lipoxigenases.....................................................................................................................................7 2.5 O Papel de Citocinas e Quimiocinas...................................................................................................................7 2.6 Dinmica do Processo Inflamatrio....................................................................................................................9 2.7 A Dor...................................................................................................................................................................9 2.8 Febre e Efeito Antipirtico................................................................................................................................11 2.9 Os Antiinflamatrios No Esteroidais (AINES)...............................................................................................13 2.9.1. Histrico........................................................................................................................................................13 2.9.2 Aes dos anti-inflamatrios no esteroidais.................................................................................................14 2.10 Toxicidade gastrointestinal dos AINES .........................................................................................................15 2.11 Os frmacos a serem utilizados.......................................................................................................................18 2.11.1 O flunixim meglumine.................................................................................................................................18 2.11.2 O cetoprofeno...............................................................................................................................................19 2.11.3 O meloxicam................................................................................................................................................20 2.11.4 O carprofeno.................................................................................................................................................22 2.11.5 O firocoxibe..................................................................................................................................................23 3 OBJETIVOS.........................................................................................................................................................24 4 MATERIAIS E MTODOS................................................................................................................................24 4.1 Animais.............................................................................................................................................................24 4.2 Drogas, Reagentes, Solventes, e Sais................................................................................................................25 4.3 Mtodos Farmacolgicos..................................................................................................................................25 4.3.1 Avaliao da atividade antinociceptiva..........................................................................................................25 4.3.1.1 Teste das contores abdominais induzidas pelo cido actico..................................................................25 4.3.2 Avaliao da atividade anti-edematognica...................................................................................................26 4.3.2.1 Teste do edema de orelha induzido por leo de Crton..............................................................................26 4.3.3 Avaliao da atividade antipirtica................................................................................................................26 4.3.3.1 Atividade antipirtica na febre induzida pelo LPS.....................................................................................26 4.3.4 Avaliao toxicolgica...................................................................................................................................27 4.3.4.1 Potencial ulcerognico dos frmacos sobre a mucosa gstrica...................................................................27 4.3.5 Anlise estatstica...........................................................................................................................................27 5 RESULTADOS....................................................................................................................................................28 5.1 Teste das Contores Abdominais Induzidas pelo cido Actico....................................................................28 5.2 Teste do Edema de Orelha Induzido por leo de Crton.................................................................................33 5.3 atividade Antipirtica na Febre Induzida pelo LPS...........................................................................................40 5.4 Potencial ulcerognico dos frmacos sobre a mucosa gstrica.........................................................................51 6 DISCUSSO........................................................................................................................................................53 7CONCLUSO......................................................................................................................................................60 8 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.................................................................................................................61

  • 615.783 P667p T

    Pires, Priscila Andrade, 1982- Potencial analgsico, anti-edematognico, antipirtico e atividade ulcerognica de frmacos anti-inflamatrios em roedores/ Priscila Andrade Pires. 2009. 82f. : il. Orientador: Frederico Argollo Vanderlinde. Dissertao (mestrado) Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Curso de Ps-Graduao em Medicina Veterinria. Bibliografia: f. 61-72. 1. Analgsicos Teses. 2. Agentes antiinflamatrios Teses. 3. Antipirticos Teses. 4. Rato como animal de laboratrios Teses. I. Vanderlinde, Frederico Argollo. II. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Curso de Ps-Graduao em Medicina Veterinria. III. Ttulo.

  • DEDICATRIA

    A minha me

    Existe uma mulher esplendida que torna meu mundo mais claro, mais alegre e mais acolhedor! Dizer que a amo muito e que lhe sou grata to pouco... Eu quero fazer com que todas as pessoas do mundo saibam o quanto ela admirvel! E at isso apenas uma frao

    do que ela merece!

  • AGRADECIMENTOS:

    A Deus, que sempre esteve presente em todos os momentos da minha vida, pela oportunidade de realizar meus sonhos. A minha me, que sempre foi minha maior torcedora e incentivadora, que tem sido minha fora e sempre lutou do meu lado na realizao de todos os meus objetivos. Palavras sempre sero muito pouco para demonstrar-lhes meus sinceros agradecimentos. Ao meu pai que procurou me mostrar os melhores caminhos mas que soube tambm entender minhas escolhas. Por acreditar em mim e me apoiar. A minha v Geralda, que a melhor pessoa que j conheci, que sempre se orgulhou muito de mim e que com certeza estaria muito feliz por essa realizao. A minha irm Cludia pelo carinho e por estar sempre torcendo por mim. Aos meus irmos e todos os meus familiares, por entenderem as minhas ausncias e as horas abdicadas do nosso convvio para realizao desse trabalho. Ao Xuxu, por entender e apoiar meus momentos de cansao e de stress, por me ajudar na realizao desse trabalho e pelo amor, cuidado e incentivo dirio. Aos professores e funcionrios do Departamento de Cincias Fisiolgicas, que sempre se mostraram dispostos a ajudar e cujos conhecimentos foram de grande valia e muito acrescentaram a esse trabalho e a minha formao. A Prof. Magda que nos guiou e auxiliou na padronizao do teste de atividade ulcerognica. Ao Prof. Wellington que muitas vezes me socorreu nos momentos de dvidas e que foi um grande mestre na minha formao profissional. Aos Prof. Lus, Fbio e Emerson pelos ensinamentos e apoio na execuo dessa dissertao. Aos meus colegas do Departamento de Cincias Fisiolgicas, cada um teve sua importncia e sua participao, obrigada a todos. Aos professores, funcionrios e colegas do Curso de Ps Graduao em Medicina Veterinria. A Quel, que foi quase que uma terceira mo, que despendeu horas, dias e fins de semana me ajudando na execuo dos experimentos. Ao Felipe que sempre foi um grande amigo e esteve sempre presente nos momentos que eu precisei. A Camilla, minha companheira nas aulas do Mestrado e nos momentos de aflies. Ao Denis e Hugo, que me socorreram quando meu PC insistia em no colaborar. Ao David, o meu melhor amigo, meu grande companheiro na graduao. Foi quem me recebeu em Ribeiro Preto e possibilitou a realizao dos testes de atividade antipirtica. Pela

  • ajuda, incentivo e todos os conhecimentos compartilhados. E obrigada a Sabrina pela acolhida! A Prof. Glria e todos do Laboratrio de Febre, da Faculdade de Frmacia da USP/Ribeiro Preto, que com muita hospitalidade me receberam em seu laboratrio e ofertaram seu tempo e material para que eu pudesse realizar os testes de atividade antipirtica. Ao meu orientador, meu grande mestre, que realmente me orientou, me moldou profissionalmente, buscando o melhor em mim. Por todos os conhecimentos compartilhados, por auxiliar no meu amadurecimento, por me incentivar, por confiar em mim, se tornou um grande amigo. A quem devo o sucesso dessa trajetria.

  • RESUMO

    PIRES, Priscila Andrade. Potencial analgsico, anti-edematognico, antipirtico e atividade ulcerognica de frmacos anti-inflamatrios, em roedores. 2009. 72f. Dissertao (Mestrado em Medicina Veterinria, Cincias Clnicas). Instituto de Veterinria, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropdica, RJ, 2009. Os anti-inflamatrios no esteroidais (AINES) so drogas amplamente usadas na medicina veterinria, tendo ao analgsica, anti-inflamatria, incluindo a reduo do edema e antipirtica. Agem inibindo a enzima cicloxigenase (COX), no havendo a formao de prostanides, e os efeitos colaterais promovidos pelos AINES tornam limitante o seu uso. H duas isoformas de COX: a COX-I, constitutivamente nos tecidos e responsvel pelas funes fisiolgicas; e a COX-II, induzida aps estmulos inflamatrios, lgicos e trmicos. Dessa forma, entendeu-se que o uso de AINES seletivos para a COX-II, diminuiria os efeitos adversos desses frmacos, uma vez que garantiria as funes homeostticas da COX-I. Atualmente, sabe-se que a COX-II tambm est presente constitutivamente em alguns tecidos como o sistema nervoso central e rim. Dessa forma, todos os AINEs podem causar efeitos adversos em maior ou menor intensidade, e o grau de seletividade de cada frmaco ser determinante na ocorrncia de reaes indesejveis. O objetivo desse trabalho foi avaliar o potencial analgsico, anti-edematognico e antipirtico dos principais AINES utilizados em medicina veterinria, os COX no seletivos flunixim meglumine (FM) e cetoprofeno (CT); os COX-II preferenciais meloxicam (MX) e carprofeno (CP) e o COX-II seletivo firocoxibe (FC) aps a administrao oral, bem como a atividade ulcerognica sobre a mucosa gstrica, tendo-se assim uma avaliao comparativa tanto de seu efeito antinociceptivo e/ou anti-inflamatrio, como de reaes indesejveis; subsidiando o mdico veterinrio clnico, no estabelecimento da relao custo/benefcio desses frmacos. No teste do edema de orelha induzido pelo leo de crton em camundongos, o CT (ID50 = 3,6 mg/kg) foi droga mais potente, seguido do CP e FM (ID50 = 12,3 e 17,8 mg/kg, respectivamente). O MX e FC, apesar de efetivos, mostraram baixa atividade no produzindo efeito suficiente com a dose mxima de 30mg/kg, para a determinao da ID50. Na febre induzida pelo LPS em ratos, o FC produziu atividade antipirtica com ID50 = 2,9 mg/kg, acompanhado do CT, CP e FM (ID50 = 3,3; 3,6 e 4 mg/kg, respectivamente) e com maiores doses do MX (ID50 = 17,8 mg/kg). Avaliando o potencial analgsico pelo mtodo das contores abdominais com cido actico em camundongos, o MX foi o mais potente (ID50 = 0,09 mg/kg), seguido do FM, FC, CP e CT (ID50 = 0,4; 1,9; 2,3 e 3,6 mg/kg, respectivamente) e, utilizando estas ID50 na avaliao da atividade ulcerognica em camundongos, o FC, FM e MX no produziram efeitos gstricos significativos no 3 ou no 7 dia dos tratamentos. O CT e o CP promoveram ulceraes no 3 dia, sendo o CT de forma mais intensa; no se observando alteraes gstricas no 7 dia, podendo esse efeito estar relacionado ao desenvolvimento de tolerncia aos danos causados por essa classe de drogas na mucosa. Esses resultados revelam que a atividade analgsica da quase totalidade desses frmacos independe da atividade anti-edematognica e antipirtica, tendo o CT revelado ID50 semelhantes em todos os testes farmacolgicos. A atividade ulcerognica gstrica evidenciada, teve relao inversa com a atividade analgsica de todos esses frmacos.

  • ABSTRACT PIRES, Priscila Andrade. Analgesic, antioedematogenic and antipyretic activity and ulcerogenic effects of anti-inflammatory drugs in rodents. 2009. 72f. Dissertation (Master Science im Veterinary Medicine, Clinical Science). Instituto de Veterinria, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropdica, RJ, 2009. Nonsteroidal anti-inflammatory drugs (NSAID) are widely using in veterinary medicine, having analgesic and anti-inflammatory activity, including reduction of oedema and antipyretic actions. They inhibit the cyclooxygenase enzime (COX). There are two isoforms of COX that are responsible for synthesis of prostaglandins. The COX I is usually a constitutive enzyme expressed in tissues. Prostaglandins, prostacyclin, and thromboxane synthesized by this enzyme are responsible for normal physiologic functions. COX II, on the other hand, is inducible and synthesized by inflammatory cells after stimulation by cytokines and other mediators of inflammation. In some tissues COX II may be constitutive as central nervous system and kidney. All NSAID can cause adverse side effects and their selective degree will be important for the ocurrence of undesirable reaction. The aim of this study was to evaluate the analgesic, antioedematogenic and antipyretic activity of some anti-inflammatory used in veterinary clinics, the nonselective drugs, flunixin meglumine (FM) and ketoprofen (CT); the COX II preferential, meloxicam (MX) and carprofen (CP); and COX II selective, firocoxib, after oral administration, as well as their ulcerogenic activity in gastric mucosa, allowing a comparative analyses of their antinociceptive and/or anti-inflammatory actions and their adverse side effects, helping veterinary doctor in the choose of the drug that have better relation cost/risk/benefit of this drugs. To assess the antioedematogenic effect in croton oil-induced mice ear oedema method, the CT (ID50: 3,6 mg/kg) was the most potent drug, followed by CP and FM (ID50: 12,3 and 17,8 mg/kg, respectively). The MX and FC, despite of their effectiveness, showed low activity, didnt producing sufficient effects for determination the ID50 in maximal dose (30 mg/kg). In LPS induced fever in rats, the FC produced antipyretic activity with ID50 2,9 mg/kg, accompanied by CT, CP and FM (ID 50: 3,3; 3,6 and 4 mg/kg, respectively) and with greater dose of meloxicam (ID 50: 30 mg/kg). Evaluating the antinociceptive effect in the acetic acid-induced abdominal writhing model of analgesia in mice, the MX was the most effective drug (ID50: 0,09 mg/kg), followed by FM, FC, CP and CT (ID50: 0,4; 1,9; 2,3; 3,6, respectively), and using this ID50 in the evaluation of ulcerogenic action of this drugs in mice, the FC, FM and MX didnt induce significative gastric injury in 3o and 7o day of treatment. The CT and CP induced ulceration in 3o day, being the CT most intense. However in 7o day, we didnt notice gastric injury, suggesting that adapted gastric mucosa produces increased resistance to subsequent damage by this class of drugs. This results reveal that analgesic activity of almost all of this NSAID is independent of this antiodematogenic and antipyretic actions. The CT has similar ID50 in all pharmacological assays in this study. The gastric ulcerogenic activity has inverse ratio when compared with analgesic effects.

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS

    AA: cido Aracdnico Ag: Antgenos AINES: Anti-inflamatrios No Esteroidais AUC: rea sobre a Curva bid: bis in die, duas vezes ao dia Cg: Carragenina CINC-1: Quimiocina de ratos, anloga a IL-8 em humanos CO2: Gs Carbnico COX: Cicloxigenase COX I: Cicloxigenase I COX II: Cicloxigenase II CP: Carprofeno CT: Cetoprofeno CXCL-1: Quimiocina de ratos, anloga a IL-8 em humanos EP: Receptores da PGE2 EP1: Receptores da PGE2, tipo 1 EP2: Receptores da PGE2, tipo 2 EP3: Receptores da PGE2, tipo 3 EP4: Receptores da PGE2, tipo 4 FC: Firocoxibe FM: Flunixim Meglumine g: Grama h: Hora HCL: cido Clordrico Kg: Quilograma ID50: Dose Inibitria 50% IL-1: Interleucina 1 IL-4: Interleucina 4 IL-6: Interleucina 6 IL-8: Interleucina 8 IL-10: Interleucina 10 IL-13: Interleucina 13 i.p.: Intra-peritoneal IU: ndice de Ulcerao i.v.: Intra-venoso KC: Quimiocina derivada dos Queratincitos LPS: Lipopolissacarpideo Bacteriano LT(s): Leucotrieno(s) LTA4: Leucotrieno A4 LTB4: Leucotrieno B4 LTC4: Leucotrieno C4 LTD4: Leucotrieno D4 LTE4: Leucotrieno E4 g: Micrograma mg: Miligrama L: Microlitro

  • mL: Mililitro mm: Milimetro min.: Minuto MIP-2: Protena Inflamatria dos Macrfagos 2 MnPO: rea Pr-ptica Mediana MPO: rea Pr-ptica Medial MX: Meloxicam NaCl 0,9%: Salina Fisiolgica NSP: Nociceptores Sensitivos Primrios ng: Nanograma nL: Nanolitro NO: xido Ntrico oC: Graus Celsium OVLT: rgo Vascular da Lmina Terminal PAMPs: Pathogen-associated molecular patterns PGD2: Prostaglandina D2 PGE2: Prostaglandina E2 PGF2: Prostaglandina F2 PGG2: Prostaglandina G2 PGH2: Prostaglandina H2 PI(s): Prostaciclina(s) PLA2: Fosfolipase A2 p.o.: via oral POA: rea Pr-ptica Anterior POA-HA: rea Pr-ptica Anterior do Hipotlamo Anterior sid: semel in die, uma vez ao dia TLR: Receptores Toll-Like TNF: Fator de Necrose Tumoral TNFR1: Receptor de TNF, tipo 1 TNFR2: Receptor de TNF, tipo 2 TX(s): Tromboxano(s) TXA2: Tromboxano A2 TXB2: Tromboxano B2 v/v: Volume por Volume : Variao T: Variao de Temperatura

  • 1 INTRODUO Os compostos anti-inflamatrios no esterides (AINES) esto entre os agentes farmacolgicos mais utilizados, tanto de forma prescrita como no prescrita. Atualmente, mesmo com mais de 50 diferentes AINES no mercado farmacutico, ocorre ainda um fluxo contnuo de novas preparaes. Esses frmacos apresentam um amplo espectro de indicaes teraputicas como: a analgesia, a inibio da inflamao, a antipirese, alm da profilaxia contra algumas doenas cardiovasculares. So importantes instrumentos no tratamento da dor e podem ser associados com outros compostos, como os opiides, por exemplo, reduzindo as doses analgsicas dos AINES e a incidncia de seus efeitos colaterais. A inflamao consiste em uma resposta tissular frente a qualquer tipo de leso, e se inicia com a formao de cido aracdnico (AA) a partir de fosfolipdeos de membranas celulares, por uma enzima denominada de fosfolipase A2 (PLA2). Posteriormente, o AA dar origem aos mediadores inflamatrios por 2 vias: I) via das cicloxigenases (COX), produzindo prostaglandinas (PGs), prostaciclinas (PIs) e tromboxanos (TXs) e II) via das lipoxigenases (LOX), derivando da a formao de leucotrienos (LTs). PGs, PIs, TXs e LTs so os principais mediadores responsveis pela resposta inflamatria, sendo denominados de prostanides.

    Os AINES agem promovendo a inibio da enzima cicloxigenase, no havendo

    portanto, a formao de prostanides. Esses mediadores so responsveis no s pela produo do processo inflamatrio, como tambm so importantes em eventos fisiolgicos como a modulao da secreo cida gstrica, desempenhando fundamentais papis na homeostase do organismo. H duas isoformas de COX: a COX I, relacionada aos processos fisiolgicos e a COX II produzida pelos tecidos em resposta a uma leso, iniciando o processo inflamatrio. Sabe-se porm, que ambas as isoformas, a COX I e a COX II, so expressas tanto pelos tecidos normais como nos tecidos inflamados.

    Essa classe de frmacos pode apresentar uma maior afinidade por uma das isoformas de

    COX, da serem classificados segundo a sua seletividade, sendo denominados de COX no seletivo, os que apresentam afinidade tanto pra a COX I como para a COX II, e os seletivos, que so aqueles que apresentam maior grau de afinidade para a COX II. Inicialmente, acreditava-se que os efeitos colaterais advindos do uso de anti-inflamatrios, estariam relacionados apenas aos COX no seletivos e que a prescrio de frmacos seletivos para a COX II era totalmente segura por no interferir nos processos fisiolgicos no inflamatrios. Entretanto, a partir do conhecimento da expresso da COX II em tecidos normais (no patolgicos), pde-se inferir que essa classe de anti-inflamatrios tambm produziria efeitos colaterais graves, apesar de serem em menor grau que os COX no seletivos.

    Os conhecimentos da farmacologia e da toxicologia dos diferentes medicamentos so essenciais para a sua utilizao criteriosa na medicina veterinria, sendo particularmente importante na classe dos anti-inflamatrios, em que a meia vida de uma substncia difere muito de espcie pra espcie, em funo das diferentes vias de biotransformaes e outras caractersticas. Fatores variados como doenas associadas (principalmente as renais e as hepticas) ou a idade dos animais, que quando jovens no tem o sistema enzimtico suficientemente maduro, e quando velhos possuem menor eficincia heptica e renal, tambm influenciam na eficcia e na toxicidade da droga administrada. A associao de medicamentos

  • tambm um aspecto importante da teraputica, visto que, embora algumas delas se mostrem benficas, a maioria leva a efeitos colaterais mais pronunciados (SPINOSA et al., 2006).

    Os AINES so bem absorvidos por via oral, intramuscular e subcutnea. Aps a absoro, encontram-se em sua maior parte ligados s protenas plasmticas (96 a 99%), principalmente a albumina; apresentando portanto, volume de distribuio pequeno, permanecendo no plasma e nos fluidos extracelulares. So normalmente cidos fracos, possuindo grande afinidade por locais inflamados, cujo pH baixo, favorece a alta concentrao local destas substncias, podendo explicar a diferena observada entre a concentrao plasmtica do frmaco e a durao do seu efeito. A acidez especfica desses compostos tambm faz com que sejam mais facilmente excretados em urina bsica (LEES etal., 2004). Esta caracterstica importante no caso de superdosagens ou de intoxicao, em que a administrao de substncias alcalinas como o bicarbonato, auxiliar no restabelecimento do paciente. Ainda com relao s diferentes espcies animais, vale salientar que em particular os ces, eliminam estes frmacos preferencialmente por via biliar, realizando o ciclo entero-heptico destes medicamentos, o que predispe ocorrncia de maior incidncia de leses da poro posterior do trato gastrointestinal, com inflamaes, sangramentos, enteropatias por perda de protenas e constries de segmentos intestinais (SPINOSA et al., 2006; GILMAN etal., 2006).

    Considerando estes aspectos, esse trabalho tem como objetivo analisar a potncia de

    cinco frmacos anti-inflamatrios amplamente usados na clnica mdica veterinria, avaliando a influencia destes sobre a dor, o edema e a febre. Foram escolhidos dois medicamentos da classe dos COX no seletivos: o flunixim meglumine (FM) e o cetoprofeno (CT); dois da classe dos COX II preferenciais: o meloxicam (MX) e o carprofeno (CP); e um da classe dos COX II seletivos: o firocoxibe (FC). O carprofeno e o firocoxibe so altamente seletivos para a COX II, enquanto que o meloxicam, apesar de seletivo, apresenta tambm afinidade para a COX I. Adicionalmente, considerando que a simples anlise do potencial do frmaco no define qual a melhor substncia a ser utilizada na teraputica, sero investigados os efeitos desses frmacos sobre o trato gastrointestinal, subsidiando atravs dos resultados obtidos, a criao de um protocolo que permitir ao clnico analisar o risco/custo/benefcio do uso de cada uma dessas drogas, visto que, o anti-inflamatrio de escolha deve ser aquele que associe alta potncia a uma baixa incidncia de efeitos colaterais. 2 REVISO DE LITERATURA 2.1 Fisiologia da Inflamao O processo inflamatrio consiste na resposta orgnica diante de leso tissular ou infeco. Este processo fisiolgico envolve uma ao coordenada entre o sistema imunolgico e o tecido no qual ocorreu leso. A resposta inflamatria essencial para a sobrevivncia, tentando proteger o organismo de estmulos nocivos. Em algumas situaes e doenas, essa resposta pode se tornar excessiva, sem qualquer benefcio e com srios efeitos adversos (COTRAN etal., 2000).

    Inflamao um termo geral para as mudanas que podem ocorrer nos tecidos

    vascularizados como resposta a danos teciduais, infeces ou reaes imunolgicas. Vrios so os mediadores qumicos envolvidos no desenvolvimento do processo inflamatrio,

  • podendo ser de origem tissular, como as aminas vasoativas, fator de ativao plaquetria (PAF), eicosanides, citocinas, radicais livres superxidos, xido ntrico e neuropeptdeos; ou de origem plasmtica, como os sistemas de coagulao, do complemento e das cininas (SPINOSA et al., 2006; GILMAN etal., 2006).

    As funes da inflamao incluem a destruio ou inativao do agente ou irritante

    inicial e ento a limpeza dos debris celulares na rea para que a reparo tecidual possa ocorrer. Vrios tipos de clulas so ativadas nos tecidos danificados ou infectados, promovendo a liberao de diversos mediadores, incluindo fatores de crescimento, citocinas, quimiocinas, eicosanides, aminas biognicas e neuropeptdeos. No local da inflamao, esses mediadores tm efeitos vasculares promovendo a vasodilatao, a estase vascular e o aumento da permeabilidade capilar; garantem tambm a migrao de leuccitos da circulao para o tecido inflamado e coordenam ainda as variadas respostas de defesa local. Alguns desses mediadores tm a capacidade de estimular neurnios sensoriais locais. Em alguns casos, quando a inflamao excede certos nveis, quantidades suficientes desses mediadores endgenos entram na circulao sistmica e so disseminados pelo sangue a diferentes rgos. Isso resulta numa complexa variedade de reaes sistmicas, coletivamente chamadas de resposta de fase aguda, que definida como uma resposta multifatorial do organismo a infeces, leses ou traumas. A resposta de fase aguda compreende mudanas na concentrao plasmtica de protenas hepticas (protenas de fase aguda), hormnios, metablitos intermedirios, neutrofilia e alterao do set point cerebral de controle dos sinais de doena, coletivamente chamados comportamento de doena. Esse comportamento inclui o desenvolvimento da febre, perda do apetite, aumento do ciclo de sono, diminuio da atividade motora, reduo da libido e diminuio do comportamento de alerta. (ROTH et al., 2009)

    Diante de um trauma tissular, as clulas liberam uma citocina denominada fator de

    necrose tumoral (TNF) que por sua vez, induz a liberao de outras citocinas, podendo se destacar a interleucina 1-Beta (IL-1) e a interleucina 8 (IL-8). A IL-1 promove a ativao da enzima cicloxigenase (COX) responsvel pela produo de prostaglandinas, prostaciclinas e tromboxanos e a IL-8 atua na liberao local de aminas simpatomimticas (BASBAUM & JULIUS, 2006; FERREIRA, 2009).

    O processo inflamatrio composto de trs fases, cada qual mediada por diferentes mecanismos: uma fase aguda, caracterizada principalmente por vasodilatao local e aumento da permeabilidade vascular; uma fase tardia, com a infiltrao de leuccitos e clulas fagocitrias e a fase proliferativa crnica, na qual ocorre degenerao tecidual e fibrose. Quando aguda, a inflamao caracteriza-se pela curta durao e apresenta os sinais cardeais que so a dor, o calor, o rubor, o tumor e a perda da funo. J na fase crnica, alm de perdurar por um perodo indeterminado, varia de acordo com os tipos de mediadores celulares e humorais envolvidos. As modificaes decorrentes da liberao dos mediadores levam ao intumescimento tecidual, devido ao extravasamento de protenas plasmticas, com conseqente sada de gua para o tecido e a penetrao de clulas inflamatrias, que tm como principal objetivo debelar o agente agressor (SPINOSA et al., 2006; GILMAN etal., 2006).

    2.2 O cido Aracdnico e os Eicosanides

    O cido aracdnico apresenta papel regulador chave na fisiologia celular. Consiste em

    um cido graxo de 20 carbonos, contendo quatro duplas ligaes, liberado a partir de

  • fosfolipdios de membrana atravs da enzima fosfolipase A2 (PLA2), a qual, pode ser ativada por diversos estmulos como: qumicos, inflamatrios, traumticos e mitognicos, que tambm ativam citocinas pr-inflamatrias como IL-1 (BROOKS et al., 1999, HILRIO, et al., 2006). ento metabolizado ou pela via das cicloxigenases, que d origem a formao de PGs, PIs e TXs ou pela via das lipoxigenases que levam a sntese dos leucotrienos e lipoxinas (LEES et al., 2004; KATZUNG, 2006; GILMAN etal., 2006; RANG et al., 2007; YEDGAR etal., 2007).

    Os eicosanides so produtos da oxidao de cidos graxos poli-insaturados de cadeia

    longa. So responsveis por importantes funes fisiolgicas nos organismos animais e tambm esto presentes numa grande variedade de plantas. Constituem uma grande famlia de compostos, formada pelas prostaglandinas, prostaciclinas, tromboxanos e leucotrienos, que, alm de serem de elevada potncia, so responsveis por um amplo espectro de atividades biolgicas (KATZUNG, 2006). So potentes mediadores pr-inflamatrios e a sua supresso tem sido um importante alvo teraputico. Entretanto, esta apenas uma abordagem, pois existem vrias vias produtoras de dor e inflamao. Esses eicosanides fazem parte de uma rede complexa de eventos fisiopatolgicos, ao serem derivados de diferentes vias, que podem apresentar atividade pr ou anti-inflamatria, dependendo do rgo e do estgio da doena, apresentando papel importante em eventos fisiolgicos (YEDGAR et al, 2007) . 2.3 A Via das Cicloxigenases

    A enzima cicloxigenase tem papel fisiolgico importante na produo de PGs, uma

    classe de composto com aes fisiolgicas importantes, produzidas por todos os tecidos dos mamferos (KVATERNICK et al., 2007). O AA convertido pela enzima cicloxigenase (COX) nos compostos intermedirios PGG2 e PGH2, podendo por isso ser tambm denominada de prostaglandina G/H sintetase. A COX apresenta dois stios catalticos: o stio cicloxigenase e o stio peroxidase. O stio cicloxigenase promove a oxidao do AA em PGG2, que por sua vez reduzida ao intermedirio instvel PGH2 pelo stio peroxidase, o qual no inibido pelos AINES (BROOKS et al., 1999). A PGH2 convertida pelas isomerases tissulares especficas em mltiplos prostanides (PGD2, PGE2, PGF2, PGI2, TXA2 e TXB2) (HILRIO, et al., 2006; FILHO & RAHAL, 2008, KING et al., 2009), entretanto, a maioria dos tecidos so capazes de converter PGH2 em apenas alguns desses produtos finais, dependentemente do tipo de isomerase presente em cada tecido. Por exemplo, as plaquetas sangneas produzem TXA2 e PGD2 e o endotlio vascular produz PGI2 e PGE2 (MARNETT, et al., 2009). Com grande diversidade de receptores especficos e vrios mecanismos reguladores, as PGs atuam como: papel central na inflamao, coagulao sangnea, angiognese, ovulao, parturio, metabolismo sseo, crescimento e no desenvolvimento neuronal, na cicatrizao de feridas, na funo renal, no tnus vascular e nas respostas imunes (KUMMER & COELHO, 2002; KVATERNICK et al., 2007).

    Existem duas isoformas de enzima cicloxigenase: a COX I e a COX II, que

    determinam no organismo diferentes funes fisiolgicas. A COX I apresenta 17 aminocidos na poro terminal, enquanto a COX II apresenta 18 aminocidos na poro carboxi-terminal. Embora sejam muito semelhantes na estrutura protica, essas enzimas so codificadas por genes diferentes. A COX I e a COX II tm aproximadamente 60% de homologia gentica e seus genes esto localizados nos cromossomos 9 e 1, respectivamente. O stio ativo da COX II mais largo aproximadamente 27%. (HILRIO, et al., 2006, MARNETT, et al., 2009). O stio de ligao da COX I apresenta na posio 523 da cadeia protica uma molcula de

  • isoleucina, ao passo que a COX II tem uma pequena molcula de valina. Essa mudana torna o stio de ligao da COX II mais largo e mais acessvel (KVATERNICK et al., 2007).

    A COX I est presente em quase todos os tipos de clulas, com exceo do eritrcito,

    sendo chamada de constitutiva, levando a formao de PGs, principalmente, relacionadas com aes fisiolgicas como, proteo gstrica, agregao plaquetria, homeostase vascular e manuteno do fluxo sanguneo renal. Essa isoforma faz parte da constituio do trato gastrointestinal, sendo associada produo de muco protetor e inibio da secreo cida gstrica, portanto, drogas que inibem essa enzima causam diversos distrbios no trato digestivo. Nas plaquetas, a COX I est associada sntese do tromboxano A2, mediador que favorece a agregao e a adeso plaquetria, portanto, sua inibio est associada ao risco de sangramento cutneo e gastrointestinal (CHAN et al., 1999; KUMMER & COELHO, 2002; LEES et al., 2004; BRICKS & SILVA, 2005; FRANCO et al., 2006; HAZEWINKEL et al., 2008; STEAGALL et al., 2009). J os produtos originados pela ciso do AA atravs da COX II levam, principalmente, a formao de PGs que participam de eventos inflamatrios, lgicos e trmicos, sendo por isso denominada de indutiva. A expresso desta enzima ocorreria aps estmulo inflamatrio nas clulas migratrias e tecidos lesados e, por isso, foi chamada indutiva. Esse estmulo est relacionado a presena de citocinas, fatores de crescimento e estimulantes tumorais, sugerindo sua relevncia no cncer e em processos inflamatrios (CHAN et al., 1999; KUMMER & COELHO, 2002; FRANCO et al., 2006; HAZEWINKEL et al., 2008; STEAGALL et al., 2009). induzida pelas citocinas pr-inflamatrias como IL-1, IL-2, TNF, e outros mediadores nos stios de inflamao como fatores de crescimento e endotoxinas. As citocinas anti-inflamatrias como IL-4, IL-10 e a IL-13, assim como os glicocorticides inibem a expresso de COX II. (VANE et al., 1998; KUMMER & COELHO, 2002; HILRIO et al., 2006; MARNETT et al., 2009).

    Diversos estudos tm demonstrado que a COX II no est somente relacionada ao

    desenvolvimento do processo inflamatrio, mas tambm responsvel por aes fisiolgicas mantenedoras da homeostase em diferentes tecidos, como rins, ovrio, tero, cartilagens, ossos e endotlio vascular (KUMMER & COELHO, 2002; BRICKS & SILVA, 2005; HILRIO, et al., 2006; PAPICH, 2008; STEAGALL et al., 2009). No sistema nervoso central, a COX II expressa de forma fisiolgica, principalmente no crtex, no hipocampo, no hipotlamo e no cordo espinhal. Alm de auxiliar no seu desenvolvimento, auxilia no desenvolvimento das funes cerebrais normais da atividade sinptica (neurotransmisso) e na consolidao da memria (VANE et al., 1998; KUMMER & COELHO, 2002; SPINOSA et al., 2006). O papel das PGs no sistema nervoso central envolve uma complexa integrao de funes, como modulao do sistema nervoso autonmico e dos processos sensoriais. Seus nveis aumentam muito aps convulses (VANE et al., 1998; KUMMER & COELHO, 2002; CLARK, 2006). No tecido renal est presente constitutivamente na macula densa e nas clulas intersticiais da medula renal. responsvel pela manuteno dos nveis de reabsoro de sdio e de gua devido a liberao de renina da macula densa e, no sistema vascular assegura a produo de prostaciclinas, que produzem efeitos vasodilatadores e que evitam a agregao plaquetria, mantendo taxa de filtrao glomerular e o fluxo sanguneo renal (MATHEWS et al., 1990; KUMMER & COELHO, 2002; CLARK, 2006; SPINOSA et al., 2006).

    Da mesma forma, embora se saiba que a COX II possua propriedades pr-

    inflamatrias, a resposta inflamatria total produzida tanto pela COX II como pela COX I (LEES, et al., 2004; HILRIO, et al., 2006). Diante de estmulos humorais h um aumento de 2 a 4 vezes da COX I e de 10 a 18 vezes da COX II (KUMMER & COELHO, 2002; SPINOSA et al., 2006).

  • A cascata inflamatria apresenta-se esquematizada na Figura 1 e 2.

    Figura 1: Cascata inflamatria a partir do cido aracdnico (Adaptado de SPINOSA

    et al., 2006).

    Figura 2: Cascata Inflamatria (Adaptado de VANE et al., 1998).

  • H ainda uma terceira isoforma de COX, isolada pela primeira vez no sistema nervoso central do co, chamada COX III e seria uma variante da COX I. Essa isoforma tem sido implicada, em parte, na analgesia central produzida pelos AINES (LEES et al., 2004; PAPICH, 2008). Diferencia-se da COX I pois tem menor atividade na biossntese de PGs, sendo inibida, no co, preferencialmente por anti-inflamatrios como acetaminofeno e dipirona (CLARK, 2006; PAPICH, 2008), representando um possvel alvo para a ao central apresentada por alguns AINES. A COX III parece ser mais proeminente em ces, do que em humanos e roedores (PAPICH, 2008) 2.4 A Via das Lipoxigenases

    As lipoxigenases, presentes principalmente no citosol, so encontradas nos pulmes, plaquetas, mastcitos e leuccitos. A principal enzima do grupo a 5-lipoxigenase, que atua sobre o cido aracdnico produzindo o cido 5-hidroperoxieicosatetraenico (5-HPETE), que convertido em leucotrieno A4 (LTA4). O LTA4 pode ser convertido em leucotrieno B4 (LTB4) ou, em uma srie de cisteinil leucotrienos, LTC4, LTD4 e LTE4. O LTB4 produzido principalmente por neutrfilos e macrfagos (GOODMAN et al., 2009), enquanto os cisteinil-leucotrienos, principalmente por eosinfilos, mastcitos, basfilos e macrfagos (GILMAN etal., 2006; KATZUNG, 2006; RANG et al., 2007). O LTB4 um importante agente responsvel pelo aumento da permeabilidade vascular, causa aderncia, quimiotaxia e ativao de polimorfonucleares e moncitos, alm de estimular a proliferao de macrfagos e linfcitos e a produo de citocinas por essas clulas (GOODMAN et al., 2009). Os cisteinil-leucotrienos provocam vasodilatao na maioria do leito vascular, vasoconstrio coronria e contrao do msculo brnquico, sendo por isso muito importantes na asma (BERTOLINI et al., 2002). Os LTC4 e LTD4 causam edema decorrente do aumento da permeabilidade microvascular (ISHII et al., 1994). 2.5 O Papel de Citocinas e Quimiocinas As citocinas possuem papel essencial na formao dos sinais locais ou sistmicos de inflamao, sendo polipeptdeos produzidos e liberados por vrios tipos de clulas em resposta a uma variedade de estmulos desencadeados por vrus, parasitas, bactrias e seus produtos ou em resposta a outras citocinas, sendo responsveis pela liberao dos mediadores finais do processo inflamatrio, como os eicosanides. As quimiocinas so consideradas citocinas de um grupo particular, com propriedades qumicas e funcionais especficas, importantes nos processos de quimiocinese, capazes de estimular o movimento leucocitrio e a quimiotaxia, que o movimento dirigido dessas clulas (COTRAN et al., 2000). Esses mediadores so fundamentais para desenvolvimento da dor e da inflamao. As primeiras citocinas descritas na fisiopatologia do processo inflamatrio foram: IL-1, TNF-, IL-6 e as quimiocinas, IL-8, quimiocina quimio-atraente de neutrfilos 1 (CINC-1) e quimiocina derivada dos queratincitos (KC) (VERRI et al., 2006).

    A IL-1 produzida principalmente por macrfagos, linfcitos e clulas da glia. Alm de estar envolvida em muitas caractersticas do processo inflamatrio, produz tambm outros mediadores. Essa citocina estimula recrutamento de clulas da srie branca sangnea, auxilia na produo de febre (pirgeno endgeno), na liberao de protenas de fase aguda e no aumento da permeabilidade dos vasos sanguneos (DINARELLO, 1984; 1998). A IL-1 estimula a expresso de COX II e, como conseqncia, a formao e liberao de

  • prostanides que tm importante papel na sensibilizao do nociceptor, assim, indiretamente, a IL-1 atua como mediador hipernociceptivo (VERRI et al., 2006). O TNF- tamb m uma potente citocina pr-inflamatria, que produzida rapidamente e em grande quantidade, principalmente por macrfagos, aps o estmulo inflamatrio. Essa citocina interage com a clula alvo atravs de uma ligao de alta afinidade com os receptores TNFR1 (receptor de TNF, tipo 1) e TNFR2 (receptor de TNF, tipo 2). A ligao do mediador ao TNFR1 garante principalmente a migrao de neutrfilos, o choque induzido por endotoxinas e a dor neuroptica aps leso do nervo, enquanto que a ligao ao TNFR2 influencia a apoptose celular e necrose. O TNF- induz hipernocicepo em ratos atravs de duas vias, independentes e paralelas, uma envolvendo o estmulo a produo de IL-1, com conseqente liberao de prostanides e a outra atravs ativao da quimiocina CINC-1 (quimiocina de ratos, anloga a IL-8 em humanos), com conseqente liberao de aminas simpatomimticas. Desta forma, os prostanides e as aminas simpatomimticas so os mediadores finais da hipernocicepo inflamatria (VERRI et al., 2006). A IL-6 uma citocina com vrias clulas alvo e muitas atividades biolgicas, estando envolvida principalmente na regulao das respostas inflamatria e imune. Cunha et al. (1992), demonstraram que o anticorpo contra IL-6 inibe a hipernocicepo mecnica causada pelo TNF-, em ratos. Ento, sugere -se que o TNF- e as IL-6 e IL-1 precedem, seqencialmente, a liberao de prostanides (VERRI et al., 2006). Os maiores indutores da biossntese de IL-6 so TNF- e IL-1 (CHAI et al., 1996).

    Conforme apresentado, duas vias participam na hipernocicepo inflamatria envolvendo a formao final de prostanides e de aminas simpatomimticas. A participao desses mediadores finais decorrentes dessas vias dependente do tipo de estmulo: enquanto a IL-1 induz a liberao de prostanides, a quimiocinas IL-8 medeia a participao do componente simptico. (VERRI et al., 2006). Os ratos no produzem IL-8, mas sim um anlogo que CINC-1/CXCL-1, ambos exercendo as mesmas funes e o uso de soro anti IL-8, inibe a hipernocicepo causada pelo CINC-1/CXCL-1, e vice-versa (CUNHA et al., 1991; LORENZETTI, et al., 2002). Em camundongos, as quimiocinas produzidas so quimiocina derivada dos queratincitos (KC) e protena inflamatria dos macrfagos 2 (MIP-2), relacionadas com IL-8 de humanos e a CINC-1/CXCL-1 de ratos (CUNHA et al., 2004). As aes das interleucinas e as vias produtoras de prostanides ou aminas simpatomimticas podem ser demonstradas na Figura 3.

  • Figura 3: Estmulo inflamatrio induzido por citocinas em ratos. O esquema acima representa a liberao de mediadores por diferentes estmulos como carragenina (Cg), LPS ou antgenos (Ag) (Adaptado de VERRI, et al., 2006). 2.6 Dinmica do Processo Inflamatrio

    Os sinais cardeais da inflamao foram descritos por um mdico romano Celsus, no sculo I, como rubor, calor, tumor e dor. Alguns sculos mais tarde, a perda da funo foi adicionada (LEES et al., 2004).

    O processo inflamatrio inicia-se aps qualquer tipo de leso tecidual, ocorrendo a liberao de mediadores inflamatrios. A princpio, desenvolve-se a fase vascular da inflamao, caracterizada por vasodilatao, que confere o aspecto avermelhado ao tecido e o calor a regio, bem como, o aumento da permeabilidade vascular. Esses eventos facilitam a passagem de protenas plasmticas para o tecido, carreando, conseqentemente, uma grande quantidade de gua, o que origina o edema. A fase celular ocorre concomitante fase vascular devido s alteraes do fluxo sangneo. Nesta fase, verifica-se a marginalizao leucocitria no leito vascular e a passagem destes para o tecido atravs de diapedese. O tipo celular predominante nesta fase pode ser de clulas polimorfonucleares (neutrfilos, eosinfilos e basfilos), quando diante de um processo inflamatrio agudo, ou de clulas mononucleares (moncitos e linfcitos), em um processo inflamatrio crnico. Outras clulas tais como as clulas endoteliais, macrfagos, mastcitos e plaquetas podem estar envolvidos (LEES et al., 2004). No caso de uma evoluo favorvel, o processo inflamatrio passa ento para fase de reparao havendo a eliminao do agente causal, a formao de tecido de granulao e a cicatrizao. Se a evoluo for desfavorvel, pode ocorrer supurao, ou seja, os microorganismos superam as defesas orgnicas, lisando as clulas leucocitrias, formando coleo purulenta ou pode haver a crnificao do processo. (SPINOSA et al., 2006; GILMAN etal., 2006; KATZUNG, 2006). 2.7 A Dor A dor um dos sinal clssicos do processo inflamatrio e decorre da sensibilizao dos nociceptores. A dor pode ser definida como uma percepo desagradvel, de uma sensao nociceptiva. Esse conceito envolve dois componentes: a nocicepo e a percepo.

  • A percepo da dor a integrao funcional dos sinais da via da dor, modulado por condies psicolgicas, motivacionais e emocionais, alm da histria individual. A nocicepo ou a sensao nociceptiva resulta da ativao de subpopulaes de neurnios sensoriais primrios especficos que transmitem a informao nociceptiva para o cordo espinhal, sendo retransmitido at crtex (VERRI et al., 2006).

    Citocinas e quimiocinas pr-inflamatrias so mediadores liberados por clulas locais

    ou que migraram para rea inflamada, modulando a intensidade da resposta. O estmulo inflamatrio ou a leso tecidual iro promover a liberao de citocinas, que disparam a liberao dos mediadores finais, que so prostanides e aminas simpatomimticas, responsveis pela resposta de dor (VERRI et al., 2006).

    Dessa forma, a dor perifrica iniciada pela endotelina, substncia P, histamina e pela

    bradicinina, sendo ampliada pela ao das PGs, principalmente a PGE2 e a PGI2, atravs de sua ligao a receptores nociceptivos. A PGI2 est relacionada com a hiperalgesia imediata e de curta durao, enquanto a PGE2 se relaciona com a hiperalgesia longa, que pode persistir por at 6 horas (SPINOSA et al., 2006).

    O acmulo local de prostaglandinas, tromboxanos e outros mediadores qumicos como

    as aminas simpatomimticas e a substncia P atuam nos nociceptores sensitivos primrios (NSP), induzindo a sua sensibilizao. Essa resposta decorre da diminuio do limiar de dor, devido modulao de canais de sdio dependentes de voltagem especficos (BASBAUM & JULIUS, 2006; FERREIRA, 2009). Neste estgio, os animais experimentam ento uma hiperalgia que se caracteriza pela sensibilidade exacerbada ao estmulo nocivo e/ou alodinia, quando sensaes no dolorosas passam ento a serem experimentadas como dor. Estes nociceptores sensibilizados enviam sinais, via fibras nervosas aferentes A delta e C, para o corno posterior da medula, onde fazem sinapses principalmente com neurnios das lminas I, II e V. A partir da medula, o estmulo doloroso ainda prossegue via trato espinotalmico para estruturas como o tlamo e, posteriormente, crtex cerebral (regio parietal posterior), quando ocorre ento a percepo da dor. Os estmulos nociceptivos tambm se dirigem para o sistema lmbico (amgdala), que determina o aspecto afetivo da dor. (KUMMER & COELHO, 2002; FERREIRA, 2009).

    Embora o tlamo e outros ncleos do sistema nervoso central, associados com a dor, no sejam ricos em COX I ou COX II, o cordo espinhal parece ser um local do processo nociceptivo que intensamente influenciado pela COX II. Constitutivamente presente no crebro e no cordo espinhal, a COX II est envolvida na transmisso nervosa, principalmente de estmulos dolorosos e febris (VANE et al., 1998; SHIN et al., 2006). Na dor inflamatria, as PGs so produzidas nos terminais perifricos dos neurnios sensoriais e causam hiperalgesia, o que acompanhado da produo de citocinas pr-inflamatrias (IL-1, IL-8 e TNF) e pela induo de COX II nas clulas inflamatrias, bem como, nos terminais nervosos prximos destas (VANE et al., 1998).

    Os AINES so frmacos utilizados como analgsicos perifricos que, ao exercerem

    sua ao, inibem a formao de mediadores qumicos, produzidas em resposta as agresses teciduais. Mostram-se eficazes, portanto, a dor associada inflamao ou leso tecidual, visto que diminui a produo de prostaglandinas que sensibilizam os nociceptores (RANG et al., 2007).

  • 2.8 Febre e Efeito Antipirtico

    A termognese, ou seja, a produo de energia na forma de calor - um componente essencial das funes homeostticas, mantendo a temperatura corporal mesmo em baixas temperaturas. A diminuio na temperatura celular reduz a eficincia das enzimas e capacidade de difuso, a disponibilidade de energia e o fluxo de ons nas membranas. Adicionalmente, a produo de calor contribui para febre, uma resposta de elevao da temperatura corporal que reduz a viabilidade dos patgenos e estimula a resposta imunolgica. Como a energia consumida durante a termognese envolve a oxidao de molculas de lipdeos como combustvel, a regulao desse mecanismo de produo de calor em resposta a sinais metablicos, pode, tambm, contribuir para o balano de energia e a regulao do tecido adiposo do corpo. O SNC um rgo termorregulador e estimula a termognese em resposta a baixas temperaturas, diminuio da temperatura corporal e a presena de citocinas pirognicas. O tecido adiposo marrom, o corao e a musculatura esqueltica so os principais rgos, responsveis pela produo efetiva de calor. O tecido adiposo marrom tem papel essencial na regulao da termognese em mamferos como roedores e crianas. Devido a sua rea situada na escpula e omoplata, e tambm nos gnglios simpticos e ao redor da glndula adrenal e do rim, esse tecido pode ser responsvel pela produo basal de calor para a manuteno da temperatura corporal em baixas temperaturas. (MORRISON, et al., 2008).

    A febre, um dos componentes da resposta inflamatria de fase aguda mais facilmente

    reconhecido, pode ser definida como uma elevao controlada da temperatura corporal em resposta a uma leso, trauma ou invaso de agente infeccioso. Essa elevao regulada da temperatura interna do organismo para nveis acima dos normais ocorre em decorrncia da alterao do balano trmico modulado pelo hipotlamo (DINARELLO et al., 1988). O aumento da temperatura corporal ocorre para se adequar ao elevado set point, ou seja, o corpo se organiza para manter a temperatura elevada (devido a elevao do ponto de ajuste da temperatura), atravs de mecanismos que garantam a produo e a conservao de calor (ROTH, et al., 2009). A elevao da temperatura corporal decorre de respostas fisiolgicas e comportamentais coordenadas, como vasoconstrio, imobilidade e depresso, tremores, piloereo, mobilizao da gordura marrom em ratos. A terapia antipirtica necessria em pacientes em que a temperatura elevada, extrapola os benefcios de estimulao das defesas do hospedeiro e combate a infeco, e comea a causar danos ao tecido do animal (SOUZA et al., 2002; KANASHIRO, et al., 2008).

    A febre diferente da hipertermia que ocorre quando a produo ou ganho de calor

    excedem a capacidade de dissipao e perda de calor. Esse desbalano pode ocorrer por diversas razes, como, por exemplo, um aumento nos mecanismos de absoro de calor devido a condies externas de calor excessivo ou uma resposta a drogas. Dessa forma, a hipertermia se manifesta quando o aumento da temperatura corporal ocorre de forma no controlada, no sendo acompanhado de mudanas na atividade dos mecanismos termorreguladores (ROTH et al., 2009).

    Uma estreita associao entre febre e infeco tem sido reconhecida, motivo pelo qual a

    febre , freqentemente, chamada sinal de infeco. A manifestao da febre, porm, no restrita a doenas infecciosas bacterianas, virais, protozorias, fngicas ou de outras origens. A febre tambm uma resposta a uma leso, como as leses associadas a cirurgias, traumas, substncias qumicas e insultos. A febre pode decorrer tambm de mecanismos endgenos como as respostas auto-imunes e as tumoraes. Dessa forma, os mecanismos que causam

  • febre so idnticos a aqueles capazes de iniciar uma resposta inflamatria (ROTH et al., 2009).

    Os pirgenos exgenos ao entrarem no hospedeiro causam febre atravs da formao de

    citocinas pirognicas. O sistema imune inato, predominantemente associado com neutrfilos, moncitos e macrfagos, representam a primeira linha de defesa contra uma variedade de patgenos. A presena no hospedeiro de patgenos que representem risco de infeco so reconhecidos por padres moleculares associados aos patgenos ou PAMPs. Membros da famlia de receptores Toll- like (TLR) so receptores chave para reconhecimento dos PAMPs. Os mecanismos de transduo de sinal do TLR e, possivelmente, de outras clulas levam a produo das citocinas inflamatrias no hospedeiro infectado (ADEREM & ULEVICH, 2000; RIVEST, 2003; HBSCHLE et al., 2OO6; KANASHIRO, et al., 2008.). Essas citocinas e outros mediadores inflamatrios, como as interleucinas IL-1, IL-6, TNF- e interferons, esto implicadas na febre e so chamados pirgenos endgenos (ROTH et al., 2009). Estes afetam, direta ou indiretamente, a termognese, atravs de sua ao no centro termorregulatrio da POA-HA (rea pr-ptica anterior do hipotlamo anterior). A produo da febre a partir desses mediadores vai depender da produo hipotalmica de PGs (SOUZA et al., 2002; KANASHIRO, et al., 2008).

    As mudanas no set point da temperatura para aumento da temperatura corporal e desenvolvimento de febre, ocorrem na rea pr-ptica hipotalmica. O rgo vascular da lmina terminal (OVLT) e a rea sub-fornical (chamados rgos circonventriculares) tm especial importncia para a febre, pois esto localizados prximos da rea pr-ptica hipotalmica e so ativado aps a injeo de LPS. O OVLT parece agir como sensor para pirgenos endgenos circulantes e pode ser capaz de transferir os sinais de febre da rea pr ptica hipotalmica para estruturas vizinhas (ROTH et al., 2009).

    A PGE2 considerada o principal mediador da febre no encfalo, sendo responsvel

    pela elevao do set point da temperatura corporal na febre. Isso foi comprovado atravs de experimentos, onde (1) mostrou-se que a administrao de PGE2 nos ventrculos cerebrais causa febre, pela ao desta em stios sensveis na rea pr-ptica hipotalmica (SCHAMMELL et al., 1996); ou (2) mostrou-se que os nveis de PGE2 no sangue e no crebro aumentam paralelamente com as mudanas na temperatura corporal que levam a febre (SEHIC et al., 1996,); ou (3) que drogas que bloqueiam a sntese de prostaglandinas efetivamente inibem febre (MILTON, 1998; ZEISBERGER, 1999; ROTH & DE SOUZA, 2001). Cao et al. (1995) demonstraram que a injeo sistmica de LPS induz a expresso de RNAm para a COX-2, que acompanha o curso temporal da febre em diferentes tipos celulares no encfalo de ratos. A expresso de COX-2 poderia constituir o mecanismo responsvel pela elevao da concentrao de PGE2 no SNC e, conseqente induo da resposta febril.

    A PGE2 exerce suas aes biolgicas por meio de 4 subtipos de receptores (EP) - EP1,

    EP2, EP3 e EP4 (MALVAR, 2008), parecendo produzir a febre atravs da ativao do receptor de PG subtipo EP3 (ROTH et al., 2009). Experimentos anteriores com ratos knockout para esse receptor, demonstraram que a resposta de febre causada pelo LPS praticamente desaparece (USHIKUBI et al., 1998; OKA et al., 2003).

    Utilizando nanoinjees de pequenas doses de PGE2, as regies dentro da POA foram

    detalhadamente avaliadas quanto a sua sensibilidade a PGs para a induo de febre, se evidenciando a importncia da rea pr-ptica medial (MPO) e da rea pr-ptica mediana (MnPO). Nessas sub-regies da POA, o receptor EP3 localizado em muitos corpos celulares

  • e dendritos neuronais. O receptor EP3 na poro somato-dendrtica de neurnios da POA o principal alvo da ao pirognica da PGE2 e a ativao desses receptores pela PGE2 dispara o processo neuronal para a induo da febre (parte ventromedial da POA, ao redor do recesso ptico do terceiro ventrculo) (MORRISON et al., 2008; MALVAR, 2008).

    Portanto, o tratamento sistmico com drogas inibidoras no seletivas de COX

    (diclofenaco) ou com inibidores preferenciais para COX II (meloxicam), que bloqueiam a formao de PGE2, resultam em significante atenuao da febre induzida pelo LPS em ratos (ROTH et al., 2009).

    2.9 Os Anti-inflamatrios No Esteroidais (AINES) 2.9.1 Histrico

    O efeito medicinal da casca do salgueiro e de algumas outras plantas conhecido h sculos, por diversas culturas, como assrios, romanos e chineses. Hipcrates, influenciado pela doutrina mdica egpcia, recomendava o uso de extratos da casca do salgueiro para aliviar a dor do parto e reduzir a febre (MACKOWIACK, 2000). No sculo I, Dioscorides, na primeira farmacopia, se referiu as propriedades medicinais do salgueiro como As folhas do salgueiro vem sendo batidas em pequenos pedaos e bebida com um pouco de pimenta e vinho para ajudar quem sofra com clicas, sendo a decoco das folhas e casca, excelente no tratamento da gota (LEES, et al., 2004). Em 1763, o Reverendo Edward Stone enviou uma carta ao presidente da Sociedade Real de Londres descrevendo a eficcia antipirtica da casca do salgueiro para o tratamento da malria. Stone acreditava que a cura das doenas devia ser encontrada no local onde as doenas ocorriam. Ento, a razo pelo qual o salgueiro crescia em solos midos e chuvosos era porque nessa regio ocorriam muitos casos de malria. Essa suspeita foi reforada por um estudo com 50 pacientes que sofriam da doena e mostraram resposta bastante favorvel aps uso de preparaes da folha do salgueiro (MACKOWIACK, 2000; LEES, et al., 2004).

    O ingrediente ativo da casca do salgueiro era um glicosdeo amargo conhecido como

    salicina, isolado pela primeira vez em sua forma pura por Leroux em 1829, que tambm demonstrou seus efeitos antipirticos. (VANE et al, 1990). Pela hidrlise, a salicina produz glicose e lcool saliclico. Este ltimo pode ser convertido em cido saliclico, seja in vivo ou pela manipulao qumica. Kolbe e Lautermann (1878) foram os primeiros a sintetizar o cido saliclico comercialmente (Figura 4). Kolbe havia descoberto a estrutura qumica do cido saliclico 20 anos antes, e trabalhou para produzir cido saliclico em escala industrial para diminuir os custos da extrao de composto da casca do salgueiro. Em pouco tempo, o salicilato de sdio, forma comercial do cido saliclico, se espalhou pelo mundo e ganhou popularidade para o tratamento de diversas condies inflamatrias, incluindo a febre, a artrite reumatide e a gota. Porm, o gosto era ruim e os efeitos adversos gastrointestinais, tornavam difcil o uso alm do que por curtos perodos.

    Hoffmann, um qumico contratado pela Bayer, preparou em 1897 o cido

    acetilsaliclico (Figura 4), atravs da retomada de um trabalho antigo de um qumico francs, Gerhardt. Gerhardt acetilou o cido saliclico em 1853, aparentemente melhorando os efeitos adversos deste composto, porm sem aumentar sua eficcia, motivo que o levou a abandonar o projeto. Depois da demonstrao de seus efeitos anti-inflamatrios atravs de testes com animais, esse composto foi introduzido na medicina em 1899 por Dreser sob o nome de Aspirina. A razo para escolha do nome Aspirina incerta, mas acredita-se que o a inicial

  • derive de acetil e spirin, da Spirea, gnero de planta, a partir da qual o cido acetilsaliclico foi preparado durante algum tempo. Outra teoria seria que o nome da droga uma homenagem a Santo Aspirinius, o santo patrono da cefalia (MACKOWIACK, 2000; GILMAN, et al., 2006).

    Figura 4: Estrutura qumica do cido saliclico (1) e do cido acetilsaliclico (2) (MACKOWIACK, 2000).

    Outros compostos anti-inflamatrios foram descobertos e inseridos na clnica:

    fenacetina (1887), acetominofeno (1888), piramidona (1896), fenilbutazona (1949), fenamatos (1950s), indometacina (1964), ibuprofeno (1969), o sulindaco (1977) e diclofenaco (1979) (MACKOWIACK, 2000; MARNETT,2009).

    Entretanto no havia uma explicao adequada para as propriedades antipirticas,

    analgsicas e anti-inflamatrias apresentadas por grupos qumicos to diferentes. Foi ento que Vane, em 1971, relacionou o efeito dessas drogas anti-inflamatrias no esterides (AINES) inibio da sntese das PGs (VANE et al., 1971; VANE et al., 1990; MARNETT, 2009).

    Aps a descoberta da COX-2 (1990), houve interesse em desenvolver inibidores

    especficos para essa isoforma (COXIBs). Desde a dcada de 1990, vm sendo introduzido no mercado AINEs com maior especificidade pra COX II, como o meloxicam, o carprofeno, a nimesulida e o celecoxibe, que tm diminudo drasticamente a incidncia de efeitos colaterais (ALENCAR et al., 2003).

    Em veterinria, o uso de AINES data da segunda metade do sculo XIX. O relato do

    primeiro uso de droga sinttica ocorreu em 1875, com o sal do cido saliclico (LEES et al., 2004). 2.9.2 Aes dos anti-inflamatrios no esteroidais

    Os AINES so as drogas mais comumente prescritas no mundo todo (NA et al., 2006;

    YADAV et al., 2006). Constituem-se um grupo heterogneo de compostos, que apesar de compartilharem do mesmo mecanismo de ao, tem frmula estrutural e propriedades qumicas bem diferentes (GAITAN et al., 2004). Inibem o stio ativo da enzima cicloxigenase, levando a no formao de prostanides, combatendo assim a inflamao, a dor e a febre (LEES, et al., 2004; BASBAUM & JULIUS, 2006; MIRANDA et al., 2006; SHIN et al., 2006; HAZEWINKEL et al., 2008); apresentando efeitos adversos principalmente no trato gastrointestinal, na funo renal e na agregao plaquetria, que tornam limitantes o uso dessas drogas (CHAN et al., 1999; BRZOZOWSKI et al 2005; YADAV et al., 2006;

  • STEAGALL et al., 2009). A maior parte desses frmacos no inibe a atividade das lipoxigenases podendo resultar no desvio do catabolismo do AA para esta via, ocorrendo formao de leucotrienos e levando a continuidade do processo inflamatrio por outros mecanismos (BASBAUM & JULIUS, 2006).

    Apesar da inibio da COX ser o principal mecanismo de ao dos AINES, essa classe

    de drogas pode exercer outros efeitos, o que justificaria a eficiente ao de alguns frmacos, com fraca ao antiprostaglandinas. Entretanto, a extenso na qual esses mecanismos adicionais so importantes, varia de droga para droga e seus efeitos teraputicos ainda so incertos (LEES et al., 2004; PAPICH, 2008).

    Em geral, esses frmacos inibem de forma varivel as isoformas COX I e COX II em

    suas dosagens teraputicas, passando assim a serem caracterizados de acordo com sua capacidade de inibio COX I e II. Tal caracterstica expressa em termos de IC50, que representa a concentrao necessria para inibir 50% da atividade COX, usando sistemas de testes in vitro. Razes de IC50 para COX I e II tm sido calculadas para avaliar a capacidade de inibio de cada isoforma; uma baixa relao COX II / COX I implica em ser o agente relativamente seletivo para COX II (KUMMER & COELHO, 2002). Se em sua dosagem teraputica, o agente inibe apenas a isoforma COX II, sem interferncia na atividade COX I, denominam-se agente inibidor especfico COX II, os coxibs, como o firocoxibe (KVATERNICK et al., 2007). Os frmacos que tem especificidade parcial para COX II, so chamados COX II preferenciais, e so exemplos o carprofeno e o meloxicam (LEES et al., 2004).

    A partir de descobertas que rotulavam a COX I como fisiologicamente constitutiva, agindo como citoprotetora gstrica e mantenedora da homeostase renal e plaquetria e, a COX II ou indutiva, a qual surgia apenas em situaes de trauma tissular e inflamao (YAKSH et al., 2001; PERAZELLA et al., 2001; FRANCO, et al., 2006; SHIN et al., 2006), surgiu idia de que inibidores especficos da COX II impediriam o processo inflamatrio sem os efeitos colaterais indesejveis (KUMMER & COELHO, 2002; YADAV et al., 2006; HANSON et al., 2006; KING et al., 2009). No entanto, evidncias da presena de COX II em determinados tecidos humanos e de animais tambm envolvidas com a homeostase, ps em discusso se o uso de agentes anti-inflamatrios com inibio especfica desta isoforma apresentaria realmente vantagens sobre os no seletivos (KUMMER & COELHO, 2002; KING et al., 2009).

    Os inibidores seletivos de COX II so potencialmente importantes em gatos, ces e

    cavalos, no s por serem uma perspectiva teraputica, mas porque essas espcies parecem ser mais susceptveis que os humanos aos danos gastrointestinais dos AINES no seletivos, que inibem a COX I in vivo, na dose teraputica (KING et al., 2009). 2.10 Toxicidade Gastrointestinal dos AINES

    A toxicidade dos AINES depende, entre diversos fatores, da sua ao mais ou menos

    seletiva sobre as cicloxigenases I e II. Como ambas as enzimas esto presentes no trato gastrointestinal e nos rins, todos os AINES podem causar, em maior ou em menor grau, leso nesses rgos. Frmacos que inibem predominantemente a COX I esto associados ao maior risco de sangramento, tanto pela inibio na sntese de tromboxano A2, como pela possibilidade de causarem leses na mucosa gastrointestinal. Frmacos com ao seletiva sobre a COX II apresentam maiores riscos de efeitos adversos cardiocirculatrio, como a

  • hipertenso arterial, as arritmias cardacas e a trombose cerebral (BERTOLINI et al., 2002; CLARK et al., 2004).

    A COX I desempenha fundamental papel em manter a arquitetura glandular do

    estmago, constituindo a principal isoforma identificada na mucosa gstrica de animais normais, incluindo humanos, estando intimamente envolvida na preveno de eroses e de ulceraes (LIPSKY, 2000). Apesar disso, pequenas quantidades de COX II esto presentes constitutivamente no estmago (VANE et al., 1998). A COX I exerce ao protetora sobre a mucosa gstrica, atravs da sntese de PGs, PGE2 e PGI2 principalmente, que so responsveis pela liberao de muco protetor pelas clulas epiteliais superficiais, reduo da secreo de cido pelas clulas parietais e pelo efeito vasodilatador, que garante aporte sanguneo adequada a regio e proporciona um sistema de tamponamento pelo bicarbonato, conseguindo atenuar a ao corrosiva do HCl presente no suco gstrico (Figura 5). Quando a sntese dessas PGs est inibida, ocorre a eroso da mucosa (ECKMANN, 1997; BUTTGEREIT et al., 2001; SPINOSA et al., 2006; HILRIO et al., 2006). No trato gastrointestinal de animais saudveis, a COX I a principal enzima responsvel pela sntese de PGs, principalmente PGE2 e PGI2, mas a COX II tambm participa e pode ter sua expresso aumentada quando h a exposio a agentes irritantes (PAPICH, 2008).

    Figura 5: Figura esquemtica da regulao da secreo de cidos no estmago. Note o papel citoprotetor da PGE2 e PGI2, inibindo a bomba de prton, estimulando a secreo de muco e promovendo tamponamento pelo bicarbonato.

    Leses agudas gastrointestinais esto entre os efeitos colaterais mais freqentes e

    graves associados com AINES convencionais, com risco de perfuraes e ulceraes gstricas (LIPSKY, 2000; BUTTGEREIT, etal., 2001) apresentando incidncia de 3 a 4 vezes maior em humanos usurios destes compostos (BUTTGEREIT et al., 2001). Os principais efeitos adversos no trato gastrointestinal so vmito, diarria, anorexia, podendo ocorrer ulceraes. Em animais, pode ocorrer desde gastrite moderada e vmito, at severas ulceraes, sangramento e, eventualmente, morte (PAPICH, 2008). Esses efeitos esto associados tanto a uma irritao local, como inibio da COX e a sua subseqente interferncia na sntese de

  • prostaglandinas, que tem papel fundamental na manuteno da integridade da mucosa gstrica. A irritao local se deve as caractersticas lipoflicas desses compostos, que no pH cido do estmago sofrem difuso para a mucosa gstrica onde causam a leso (PAPICH, 2008). J a inibio da sntese de PGE2 e PGI2 diminue a modulao da secreo de cidos na clula parietal, inibem a produo de muco na clula epitelial superficial e diminuem o fluxo sanguneo local (Figura 6). Para no ocorrer efeitos adversos no trato gastrointestinal, alguns autores citam que a inibio da COX I no pode ser superior a 10% (LEE et al., 2004; FILHO & RAHAL, 2008). A inibio da COX desvia o metabolismo do AA para a via das lipoxigenases, promovendo aumento da sntese de LTB4 na mucosa gstrica, tendo como conseqncia, quimiotaxia e adeso de leuccitos ao endotlio vascular (GOODMAN et al., 2009) e LTC4 e LTD4 que atuam como vasoconstritores (LEES et al., 2004), aumentando o dano gstrico causado pelos AINES.

    Figura 6: Figura esquemtica da ao dos AINES no estmago e a ocorrncia de leso.

    Segundo Laudanno et al. (2000), os anti-inflamatrios no esteroidais administrados

    pela via oral em ratos, causam leso principalmente na regio do fundo gstrico e duodeno, diferentemente da administrao por via subcutnea, lesionando principalmente a regio antral do estmago e o duodeno. Em ces, as leses gstricas parecem ser mais severas na regio do antro pilrico (ALENCAR et al., 2003; NARITA et al., 2005), sob a forma de eroses mltiplas com ponto hemorrgicos adjacentes (ALENCAR et al., 2003).

    Estudos experimentais e clnicos tm correlacionado os AINES com seletividade para

    COX II com uma maior segurana para paciente, especialmente com a diminuio das complicaes gastrointestinais. Entretanto, j se sabe que os coxibes tambm causam leses gstricas, acompanhadas ou no de sintomas (OFMAN et al., 2002; CHAN & GRAHAM, 2004; LAPORTE et al., 2004; FILHO & RAHAL, 2008). Diante de infeces ou lceras gstricas j formadas, detecta-se maior expresso de COX II nas clulas epiteliais do estmago, induzindo a formao de prostaglandinas que contribuem para a cicatrizao destas leses (DUBOIS et al., 1998; TEGEDER et al., 2000; EMERY, 2001; FRANCO et al., 2006). Logo, o tratamento com inibidores especficos da COX II poder retardar a cicatrizao de

  • lceras j formadas (BRZOZOWSKI et al., 2005), ou ainda, reduzir a capacidade de defesa diante da presena de microorganismos invasores, apesar de provavelmente no iniciarem o dano gstrico como observado com os AINES convencionais (SCHNITZER, 2001). Na cicatrizao de lceras, ocorre a ativao de clulas inflamatrias e liberao de mediadores qumicos, que levam a maior expresso de COX II (VANE et al., 1998), demonstrando a importncia dessa enzima para o processo de cicatrizao de lceras. Mizuno et al. (1997), induziram experimentalmente eroses e lceras gstricas com etanol em ratos e evidenciaram que o tratamento com NS-398, um inibidor seletivo de COX II, durante o estgio agudo da inflamao, retardou a cicatrizao de lceras gstricas, embora o mesmo tratamento em ratos sadios, no tenha induzido a formao de lceras.

    A cicatrizao de lceras ocorre rapidamente com a terapia anti-cida em pacientes

    que utilizam AINES de forma descontnua. Porm, em muitos casos, a terapia com anti-inflamatrios no pode ser interrompida, sendo necessrio o uso de antagonistas dos receptores de histamina ou inibidores da bomba de prton. Agrawal et al. (2000), em um estudo com pacientes humanos que desenvolveram lcera gstrica pelo uso de AINES, demonstraram que os antagonistas dos receptores de histamina promovem cicatrizao de 90-100% das lceras gstricas em oito semanas, quando o tratamento com os AINES descontinuado. J quando o uso dessa classe de frmacos feita de forma contnua, a cicatrizao se d em 50-80% dos pacientes com terapia que associa anticidos e antagonistas de histamina, durante o mesmo perodo, e quando se utiliza inibidores da bomba de prton, a cicatrizao de 80-87%. 2.11 Os Frmacos Utilizados 2.11.1 O flunixim meglumine

    O flunixim meglumine (FM) um AINE no seletivo, do grupo do cido carboxlico e

    deriva-se do cido fenamnico (SCHOSSLER et al., 2001). A frmula qumica C14H11F3N2O2 e a massa molar 296,2 g/mol (Figura 7). um dos anti-inflamatrios mais usados na clnica mdico-veterinria (SPINOSA et al., 2006).

    classificado como um anti-inflamatrio no seletivo, inibindo ambas as isoformas

    COX I e COX II. Jackman et al. (1994), numa anlise de amostras sanguneas de cavalos, aps uso da droga por 6 dias, observaram uma diminuio do TXB2, o que demonstra a inibio da cicloxigenase pela droga in vivo. A literatura carece de dados que demonstrem a razo ID50 COX II/ COX I para a droga. O cetoprofeno teve maior inibio do TXB2 no mesmo experimento, o que sugeriu ao autor uma maior ao do mesmo sobre a COX.

    O flunixim meglumine foi descrito pela primeira vez em 1977 e seu uso foi aprovado

    apenas em cavalos na dose de 1,1 mg/kg, p.o.. Desde ento tem sido utilizado no tratamento de leses msculo-esqueltico e clicas nessa espcie, demonstrando ser mais potente na reduo da dor que a fenilbutazona, a codena e a meperidina. uma das drogas mais usadas em eqinos para clica, desordens msculo-esquelticas, choque endotxico e diarria secretria, entretanto, a administrao por tempo prolongado pode causar ulceraes gstricas, sendo este efeito adverso bastante comum na espcie (CARRICK et al., 1989; SCHOSSLER et al., 2001).

    A dose teraputica recomendada em pequenos animais para esse frmaco, no tratamento

    de diversos processos inflamatrios, de 1 mg/kg, via oral, sid (semel in die, uma vez ao dia),

  • no ultrapassando trs dias de tratamento (MATHEWS et al., 1990; SCHOSSLER et al., 2001; PAPICH, 2008). Em ratos e camundongos, a dose recomendada de 2,5 mg/kg, sid ou bid, p.o. (bis in die, duas vezes ao dia) (VIANA, 2007).

    Segundo Schossler et al. (2001), vrios estudos tem demonstrado que o flunixim

    meglumine to eficaz quanto alguns opiceos no tratamento de dores agudas associadas a um trauma cirrgico. Na avaliao do perfil farmacocintico e a farmacodinmico do flunixim meglumine (1mg/kg, sid, p.o., 7 dias) em gatos, Taylor et al., (1994) observaram que no primeiro dia de tratamento aps a sua administrao, esta atingiu a maior concentrao plasmtica aps 1 hora, com 2,46 g/mL. Decorridos sete dias, a concentrao mxima encontrada no plasma aps 1 hora decresceu para 1,68 g/mL, levando os autores a sugerirem que gatos desenvolvem tolerncia a esse composto, embora no tendo determinado se era devido a alteraes de enzimas hepticas ou por reduo da absoro da droga.

    Figura 7: Estrutura molecular do flunixim meglumine (www.wikipedia.org)

    A meia vida do FM de 4 horas em ces, 3 horas em gatos, 2 horas em eqinos e 4-8 horas em bovinos. Porm, a durao da ao farmacolgica tem demonstrado ser maior do que a esperada, partindo-se de sua meia vida e, provavelmente, se deve ao acmulo da substncia no foco inflamatrio (SPINOSA et al., 2006).

    As reaes adversas mais comumente relatadas com o uso desse medicamento so as

    relacionadas com o trato gastrointestinal como a gastrite, bem como reaes relacionadas s alteraes hpaticas, hipersensibilidade e nefropatia (SCHOSSLER et al., 2001). Em ces, o flunixim meglumine tem sido associado a leses no sistema digestrio (CRUZ et al., 1998), a falncia renal aguda (ELWOOD et al., 1992; MCNEIL, 1992) e ao aumento no tempo de coagulao (LUNA et al., 2007).

    2.11.2 O cetoprofeno

    O cetoprofeno (CT) um AINE no seletivo, do grupo do cido carboxlico, porm deriva-se do cido propinico. A frmula qumica estrutural C16H14O3 (Figura 8) e massa molar 254,3 g/mol (LU et al., 2004).

    Tem ao anti-inflamatria, antipirtica e alto poder analgsico. classificado como

    COX no seletivo, ou seja, inibe ambas as isoformas da COX (FILHO & RAHAL, 2008) e tambm a via das lipoxigenases (NARITA et al., 2005). Esse frmaco apresenta menos que 5% de seletividade, inibindo mais de 80% da COX I quando a COX II inibida em 80% em ensaio com sangue total humano (WARNER, et al., 1999). Possui atividade antibradicinina, diminuindo o efeito potencializante da fase vascular inflamatria e da dor, inibindo a sntese de PGs, levando a atividade antinociceptiva perifrica comum dos AINES. (NARITA et al., 2005).

    A dosagem utilizada na clnica veterinria para ces e gatos de 1 mg/kg, p.o., sid, por

    3 a 5 dias (ANDRADE, 2002; PAPICH, 2008). Sua meia vida em ces de 4 horas, enquanto

    http://www.wikipedia.org/
  • em gatos de 1,1 hora (ANDRADE, 2002). Em ratos, a dose recomendada de 5 mg/kg, sid ou bid, p.o. (VIANA, 2007). As reaes adversas mais comumente relatadas com o uso crnico do cetoprofeno so as relacionadas ao trato gastrointestinal e disfuno renal (SCHOSSLER et al., 2001).

    Segundo Macallister et al. (1993), num estudo comparativo dos efeitos adversos da

    fenilbutazona, do flunixim meglumine e do cetoprofeno, administrados por via endovenosa em cavalos, esses frmacos mostram um efeito txico maior para a fenilbutazona, intermedirio para o flunixim meglumine e menor para o cetoprofeno.

    Figura 8: Estrutura molecular do cetoprofeno (LU et al., 2004).

    Esse frmaco tem ao antinociceptiva em diferentes modelos de antinocicepo e efetivo em reduzir a transmisso espinhal de estmulos mecnicos e eltricos em animais com inflamaes (GAITAN et al., 2004). considerado to potente como a indometacina em modelos animais, entretanto, se assemelha a esta em efeitos colaterais. Atua rapidamente na obteno de analgesia e reduo do edema, sendo cerca de 50-100 vezes mais potente como analgsico que a fenilbutazona. Em eqinos, tambm utilizado para alvio de inflamaes e dores associadas com problemas msculo-esqueltico e nos casos de clica, administrado preferencialmente por via intravenosa (SPINOSA et al., 2006).

    Forsyth et al. (1998), administrando cetoprofeno (1 mg/kg, p.o.) a cada 24 horas,

    durante 7 dias em ces, no detectaram sinais clnicos gastrointestinais, observando, entretanto, leses gastroduodenais atravs de endoscopia em quase todos os animais. As alteraes gastrointestinal produzidas pelo cetoprofeno foram menos intensas quando comparadas com as reportadas com a administrao de aspirina, apesar de comuns (KATZUNG, 2006).

    Schossler et al. (2001) avaliaram o uso em ces de cetoprofeno (2 mg/kg, p.o.) e

    flunixim meglumine (1,1 mg/kg, p.o.), por 3 dias, no ps operatrio de cirurgias eletivas e verificaram que no houve leso renal aps o uso das drogas. 2.11.3 O meloxicam

    O meloxicam (MX) um moderno derivado enolcarboxamdico relacionado com os

    oxicanos, com frmula qumica C14H13N3O4S2 e massa molar 351,4 g/mol (Figura 9). Tem potente ao analgsica, anti-inflamatria e antipirtica (DA SILVA et al., 2006) e pequeno risco de toxicidade gstrica e renal (ENGELHARDT et al., 1996; LEACH et al., 2009). extensivamente usado como analgsico em humanos e tem sido empregado rotineiramente para alvio da dor aguda e crnica numa variedade de espcies animais (LEACH et al., 2009). usado na dosagem de 0,1 mg/kg, p.o., sid, por at 14 dias em ces e gatos, podendo inicialmente, quando se deseja um efeito analgsico mais intenso, ser usado na dosagem de 0,2 mg/kg (ANDRADE, 2002; CLARK, 2006; PAPICH, 2008). Em ratos e camundongos a dose teraputica de 1 a 2 mg/kg, sid, p.o. (VIANA, 2007). Enquanto a meia vida do composto de cerca de 12-36 horas em ces (PAPICH, 2008), em eqinos de 3 horas, 4 horas em sunos, 13 horas em bovinos e 16 horas no rato. (SPINOSA et al., 2006). No

  • homem, a meia-vida de 16h, o que se assemelha ao rato que de 20h, se ligando, nessas espcies, a protenas plasmticas numa taxa de 99,5-99,7% e apresentando clearance de 0,11 mL/min./kg (ENGELHARDT et al., 1996).

    Figura 9: Estrutura molecular do meloxicam (www.wikipedia.org)

    Esse frmaco desenvolve algum grau de inibio "preferencial" pela COX II na cascata

    biossinttica das PGs, porm, as doses teraputicas tambm resultaro em reduo na atividade COX I (BROOKS et al., 1999; ALENCAR, etal., 2003; FILHO & RAHAL, 2008). Em ratos, a administrao oral do meloxicam foi 14 vezes mais potente na inibio da biossntese de PGE2 no exsudato pleural, do que como inibidor da biossntese de PGE2 intra-gstrica. Portanto, o meloxicam, preserva a atividade da COX I in vivo, no alterando a produo de PGE2 da mucosa gstrica (ENGELHARDT, et al., 1995). A anlise in vitro do meloxicam, utilizando moncito/macrfago canino revelou maior seletividade deste pela COX II em at 12 vezes em comparao com a COX I. Essa maior seletividade pela COX II in vitro e in vivo proporciona um efeito anti-inflamatrio considervel com uma menor tendncia para desenvolvimento de leses digestivas em usurios desse medicamento (SANTOS et al., 1998; DA SILVA et al., 2006). De acordo com Warner et al. (1999), o meloxicam um composto que apresenta entre 5-50% de seletividade, sendo que a concentrao desta droga necessria para inibir 80% da COX II, inibe a COX I em apenas 25% em ensaio que utiliza sangue total humano. Usando sangue total felino, para uma inibio de 80% da COX II , ocorre inibio de 40,1% da COX I (LEES et al., 2004).

    Os humanos apresentam excelente tolerncia quanto aos efeitos colaterais do MX, com

    uma menor incidncia de efeitos indesejveis comparativamente aos produzidos pelo piroxicam, diclofenaco e naproxeno. Ocorre boa absoro digestiva e tima biodisponibilidade, assim como, longa meia vida de eliminao, o que permite sua administrao em dose nica diria (ALENCAR etal., 2003).

    Embora meloxicam iniba a sntese de TXA2, este composto parece no alcanar nveis que resultem em diminuio da funo plaquetria, mesmo em doses elevadas (KATZUNG, 2006).

    A inibio da via das cicloxigenases pode ocasionar um deslocamento do metabolismo

    do AA para a via das lipoxigenases, promovendo a continuao do processo inflamatrio por outros mecanismos. Entretanto, Engelhardt et al. (1996) demonstraram que concentraes de meloxicam suficientes para reduzirem a formao de PGE2 no exsudato pleural, aps a administrao de carragenina; ou no exsudato peritoneal, aps a administrao de zimosan, ambos em camundongos, no afeta as concentraes de LTB4 ou LTC4. Tanto o diclofenaco como a indometacina causam aumento da produo de LTB4 nessas mesmas condies.

    http://www.wikipedia/
  • 2.11.4 O carprofeno O carprofeno (CP) um anti-inflamatrio no esteroidal derivado do cido propinico,

    com frmula qumica C15H2ClNO2 e massa molar 273,7 g/mol (Figura 10). Apresenta inibio preferencial pela COX II e atividade anti-inflamatria, analgsica e antipirtica. Em estudo da atividade in vivo do carprofeno, atravs da administrao do medicamento, via oral, por 10 dias, em ces com osteoartrite crnica unilateral do joelho, na anlise das concentraes de PGs (PGE2 e PGE1) e tromboxano (TXB2) concluiu-se que carprofeno atua, in vivo, em tecidos alvo como frmaco que evita a COX I (FILHO & RAHAL, 2008). Porm, em doses altas essa seletividade parece ser perdida (ALBRESTSEN, 2002; STEAGALL et al., 2009). Segundo Hanson et al. (2006), a droga tem seletividade de 6,5 a 16,8 vezes para COX II em relao a COX I, em ensaios utilizando sangue total canino. Usando sangue total felino, para uma inibio de 80% da COX II , ocorre inibio de 5,2% da COX I (LEES et al., 2004). Entretanto, Lees et al. (2004), numa reviso que envolve trabalhos de diversos autores, classificaram este frmaco como COX I preferencial em humanos, COX no seletivo em eqinos e COX II preferencial ou seletivo no co e no gato. Dessa forma, a seletividade do carprofeno no um consenso entre autores, e pode depender da dose e da espcie em que ele estiver sendo utilizado (PAPICH, 2008).

    usado no tratamento de diversas condies inflamatrias, em ces, na dosagem de 2,2

    mg/kg, bid, p.o., por at 14 dias (ANDRADE, 2002; BRICKS & SILVA, 2005; PAPICH, 2008; FILHO & RAHAL, 2008). Em ratos e camundongos a dose recomendada de 2 a 4 mg/kg, sid ou bid, p.o. (VIANA, 2007). A meia vida desse composto em ces de cerca de 8-12 horas, em gatos, de 20 horas, em eqinos, de 22 horas e em bovinos, por volta de 30 horas (SPINOSA et al., 2006). O uso deste frmaco em gatos no indicado devido a toxicidade gstrica observada, mesmo na dose teraputica (PAPICH, 2008) e a dose letal em ces de 160 mg/kg (ALBRETSEN, 2002). Tem potente ao analgsica, anti-inflamatria, anti-edematosa e antipirtica (SPINOSA et al., 2006). o agente mais lipoflico dentre os derivados do cido propinico e, em animais, o carprofeno to potente como a indometacina e mais potente que a aspirina ou a fenilbutazona. O carprofeno tambm um inibidor potente da enzima PLA2 e parece estar envolvido nas respostas humorais e celulares imunomediadas e na inibio da migrao de neutrfilos (CAVALCANTE et al., 2008). indicado principalmente para o alivio da dor e inflamao associadas a osteoartrite e para o controle da dor ps-operatria associada a cirurgias ortopdicas e de tecidos moles (CLARK, 2006).

    Figura 10: Estrutura molecular do carprofeno (www.wikipedia.org) Em ces e gatos, essa droga apresenta efetiva atividade analgsica em tecidos moles e

    procedimentos ortopdicos, e na analgesia ps-operatria (LINDENMUTH et al., 1989; STEAGALL et al., 2009).

    Aparentemente, o carprofeno seguro em relao aos efeitos colaterais no sistema

    digestrio (STRUB et al., 1982) e parece no apresentar efeitos adversos na funo renal em ces (LASCELLES et al., 1995). Segundo Luna et al. (2007), esse frmaco (4mg/kg, p.o.), administrado por 90 dias em ces, causa menos leso no trato gastrointestinal quando

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  • comparado com o cetoprofeno (2mg/kg, p.o., 4 dias; aps, 1mg/kg, ao dia) ou o flunixim meglumine (1mg/kg, p.o., por 3 dias, com intervalos de 4 dias). O meloxicam (0,1mg/kg, p.o.) foi o frmaco que apresentou menor incidncia de leses no trato gastrointestinal nesse estudo. Entretanto, como qualquer outro AINE, o carprofeno possui potencial em causar danos ao trato gastrointestinal, renal e heptico, apesar de a prevalncia de complicaes associadas a esse frmaco ser baixa em vrias espcies incluindo humanos e ces (CAVALCANTE et al., 2008).

    A administrao oral crnica (90 dias) de carprofeno (4 mg/kg), flunixim meglumine (1 mg/kg, por 3 dias, com intervalo de quatro dias), cetoprofeno (2 mg/kg por 4 dias, aps 1 mg/kg) e meloxicam (0,1 mg/kg) em ces, no produziu qualquer indicio de leso renal, avaliado pela urinlise e bioqumica srica (LUNA et al., 2007). 2.11.5 O firocoxibe

    O firocoxibe (FC) uma nova droga desenvolvida especificamente para uso

    veterinrio, que tem sido aprovada no seu uso em ces. Tem frmula qumica C17H20O5S e massa molar de 336,4g/mol (Figura 11). Inibe a COX II de forma seletiva, ou seja, capaz de inibir a COX II com um mnimo impacto sobre a COX I. Atravs de testes sanguneos foi observado que este medicamento apresenta seletividade de 350 a 430 vezes para a COX II (RYAN et al., 2006; HAZEWINKEL et al., 2008; PAPICH, 2008; FILHO & RAHAL, 2008). Segundo Hanson et al. (2006), a razo IC 50 COX I/ COX II para o FC foi de 384 e a razo IC 80, 427, em ensaio com sangue total canino. A quantidade da droga necessria para promover a inibio da COX II tem mnimo impacto sobre a COX I, sendo menor que a necessria por outros AINES como o carprofeno (RYAN et al., 2006).

    A dose para ces de 5,7mg/kg, bid, p.o. (ANDRADE, 2002) e para eqinos de 0,1

    mg/kg, p.o. (KVATERNICK et al., 2007). A meia-vida do frmaco em ces de 8,7 a 12,2 horas (CLARK, 2006).

    .

    Figura 11: Estrutura molecular do firocoxibe (www.wikipedia.org) McCann et al. (2005) demonstraram o efeito antipirtico do firocoxibe (3 mg/kg, p.o.),

    administrado em gatos, 14 horas antes do desafio, na febre induzida pelo LPS. Este frmaco tem sido utilizado de forma efetiva e segura para controle da dor e da inflamao em ces com osteoartrite (HANSON et al., 200