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REGULAMENTO (EU) N.º 910/2014: QUE ALTERAÇÕES NA CERTIFICAÇÃO ELETRÓNICA AGOSTINHO AMARAL VALENTE Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em Segurança da Informação e Direito no Ciberespaço Orientador: Prof. Dr. Eduardo Vera-Cruz Pinto Coorientador: Prof. Dr. Carlos Manuel Costa Lourenço Caleiro Júri Presidente Prof. Dr. Paulo Alexandre Carreira Mateus Vogal - Prof. Dr. Eduardo Vera-Cruz Pinto Vogal - Prof. Dr. Raquel Alexandra Jesus Gil Martins Brízida Castro Vogal - Capitão-de-Fragata, Prof. Dr. Fernando Ribeiro Correia Lisboa, 2015

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REGULAMENTO (EU) N.º 910/2014: QUE ALTERAÇÕES NA

CERTIFICAÇÃO ELETRÓNICA

AGOSTINHO AMARAL VALENTE

Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em

Segurança da Informação e Direito no Ciberespaço

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Vera-Cruz Pinto

Coorientador: Prof. Dr. Carlos Manuel Costa Lourenço Caleiro

Júri

Presidente – Prof. Dr. Paulo Alexandre Carreira Mateus

Vogal - Prof. Dr. Eduardo Vera-Cruz Pinto

Vogal - Prof. Dr. Raquel Alexandra Jesus Gil Martins Brízida Castro

Vogal - Capitão-de-Fragata, Prof. Dr. Fernando Ribeiro Correia

Lisboa, 2015

1

Agradecimentos

Agradecimento muito especial às mulheres da minha vida.

A esposa Carla e

às filhas Raquel, Beatriz e Andreia.

2

Resumo

A Internet, o novo sistema neuronal eletrónico do planeta, mudou a sociedade humana,

transformou profundamente o modo como vivemos, como interagimos, como trabalhamos,

como nos relacionamos à escala mundial. A confiança está no centro da identidade digital e no

ambiente em linha, é fundamental para o desenvolvimento económico e social.

A falta de confiança, nomeadamente devido à consciência da incerteza jurídica, leva os

consumidores, as empresas e as autoridades públicas a hesitarem na realização do comércio

eletrónico e na adoção de novos serviços. A fim de oferecer serviços digitais, as empresas e as

administrações públicas precisam conhecer e diferenciar os prestadores de serviços em linha

de confiança e os não confiáveis no ciberespaço.

As autoridades públicas centraram-se nas necessidades nacionais e não levaram em

consideração a dimensão do mercado único da administração pública em linha impedindo a

interoperabilidade e reconhecimento mútuo. A Diretiva 1999/93/CE relativa a um quadro

comunitário para as assinaturas eletrónicas, não disponha de qualquer quadro geral

transnacional para transações eletrónicas seguras, fiáveis e simples que englobe a

identificação, a autenticação e as assinaturas eletrónicas.

Tornou-se fundamental a criação de um novo ato jurídico que fosse de carácter

obrigatório para todos os Estados Membros, através da identificação eletrónica e a aprovação

de serviços de confiança, para reforçar a segurança, interoperabilidade e a confiança nas

transações eletrónicas, em condições seguras entre os cidadãos, as administrações públicas e

as empresas. Aproveitando a fase da adaptação e implementação, aproveitar para regular os

serviços que não estão e são essenciais para o mercado único. O regulamento EU n.º

910/2014 contribui para a cibersegurança de modo a fomentar a prosperidade e os benefícios

sociais e económicos do ciberespaço.

Palavras-chave: Assinaturas eletrónicas, identificação eletrónica, serviços de confiança,

Regulamento, cibersegurança.

3

Abstract

The Internet, the new electronic neuronal system of the planet, changed human society

profoundly transformed how we live, how we interact, how we work, how we relate to the world

scale. Trust is at the heart of digital identity and the online environment, it is crucial for

economic and social development.

The lack of confidence, particularly because of the awareness of legal uncertainty leads

consumers, businesses and public authorities to hesitate in carrying out electronic commerce

and the adoption of new services. In order to offer digital services, companies and public

administrations need to know and differentiate the reliable online service providers and

unreliable in cyberspace.

Public authorities focused on national needs and have not taken into account the size of

the single market of the e-Government preventing interoperability and mutual recognition. The

Directive 1999/93 / EC on a Community framework for electronic signatures do not have any

transnational general framework for secure electronic transactions, reliable and simple covering

the identification, authentication and electronic signatures.

The creation of a new legal act which was mandatory character has become essential

for all Member States, through the electronic identification and approval of reliable services, to

enhance security, interoperability and trust in electronic transactions in a safe condition between

citizens, public administrations and businesses. Leveraging the phase of adaptation and

implementation, produce legislation to regulate the services that are not and are essential for

the single market. The Regulation No. 910/2014 contributes to US cyber security in order to

boost prosperity and social and economic benefits of cyberspace.

Keywords: electronic signatures, electronic identification, trust services, Regulation,

cybersecurity.

4

Índice Agradecimentos ............................................................................................................ 1

Resumo ........................................................................................................................ 2

Abstract ........................................................................................................................ 3

Lista de Figuras ............................................................................................................ 6

Lista de Tabelas ........................................................................................................... 7

Abreviaturas ................................................................................................................. 8

1. Introdução .............................................................................................................. 9

1.1 Motivação .................................................................................................................... 13

1.2 Objetivos ..................................................................................................................... 14

1.3 Estrutura do Documento ............................................................................................. 14

2. Atos jurídicos da União Europeia ......................................................................... 16

2.1 Atos Delegados ............................................................................................................ 17

2.2 Atos de Execução ........................................................................................................ 17

2.3 A decisão europeia ...................................................................................................... 18

2.4 Decisão com destinatário ............................................................................................ 18

2.5 Decisão sem destinatário ............................................................................................ 19

3. Assinatura eletrónica em Portugal ....................................................................... 20

3.1 Decreto-Lei n.º 290-D/99, de 2 de agosto .................................................................. 23

3.2 Decreto-Lei n.º 62/2003, de 3 de abril ........................................................................ 26

3.3 Decreto-Lei n.º 88/2009 de 9 de Abril ........................................................................ 28

3.4 Infraestrutura de Chaves Públicas ............................................................................... 30

4. Assinatura Eletrónica na União Europeia ............................................................. 33

4.1 A Diretiva 1999/93/CE do Parlamento Europeu e do Conselho ................................. 33

4.1.1 Objetivo e âmbito de aplicação ........................................................................... 33

4.1.2 Os vários tipos de assinaturas eletrónicas previstos na Diretiva ........................ 34

4.1.3 O Mercado Interno .............................................................................................. 34

4.1.4 Reconhecimento legal ......................................................................................... 35

4.1.5 O desenvolvimento do mercado e as aplicações ................................................ 35

4.1.6 Normalização ....................................................................................................... 36

4.1.7 Desafios tecnológicos .......................................................................................... 36

4.1.8 Impacto da Diretiva noutra regulamentação ...................................................... 37

4.2 O Regulamento EU nº 910/2014 ................................................................................. 38

4.2.1 Níveis de garantia ................................................................................................ 41

5

4.2.2 Quadro de Interoperabilidade ............................................................................ 42

5. Serviços de confiança .......................................................................................... 44

5.1 Assinaturas eletrónicas ............................................................................................... 45

5.2 Selo eletrónico............................................................................................................. 46

5.3 Selos Temporais .......................................................................................................... 47

5.4 Serviços de envio registado eletrónico ....................................................................... 47

5.5 Serviços de certificados para autenticação de sítios web ........................................... 48

5.6 Documento eletrónico ................................................................................................ 48

5.7 Proteção dos dados, direitos e garantias .................................................................... 51

6. Serviços a regulamentar ...................................................................................... 53

6.1 Legislação a atualizar e criar para os seguintes serviços: ........................................... 54

6.1.1 Fatura eletrónica ................................................................................................. 54

6.1.2 Armazenamento de documentos eletrónicos ..................................................... 55

6.1.3 Assinatura eletrónica em dispositivos móveis .................................................... 55

6.1.4 Assinatura eletrónica realizada na Cloud ............................................................ 56

6.1.5 Emissão de certificados digitais para aplicações ................................................. 56

6.1.6 Receitas médicas eletrónicas .............................................................................. 56

6.1.7 Branqueamento de capitais ................................................................................ 57

7. O regulamento EU 910/2014 e a Cibersegurança ................................................ 58

7.1 O caso único da União Europeia ................................................................................. 61

8. Conclusão ............................................................................................................ 66

Bibliografia .................................................................................................................. 68

6

Lista de Figuras

Figura nº 1 - Conceito das assinaturas

Figura nº 2 - Marca de confiança «UE» para serviços de confiança qualificados, a cores

Figura nº 3 - Fluxo das transações eletrónicas

Figura nº 4 - Vantagens na utilização do eIDAS

7

Lista de Tabelas

Tabela 1: ETSI-The current standards for Certification and Other Trust Service Providers

Tabela 2: The standards for Certification and Other Trust Service Providers currently under

development or review in ETSI

8

Abreviaturas

eIDAS – identificação eletrónica e serviços de confiança para as transações eletrónicas no

mercado interno

eID- Identificação eletrónica

CEN - Comité Europeu de Normalização

ETSI - Instituto Europeu de Normas de Telecomunicações

EESSI - European Electronic Signature Standardization Initiative

ENISA - Agência da União Europeia para a Segurança das Redes e da Informação

ISO - Organização Internacional de Normalização

IDS - Intrusion detection system

IPS -Intrusion prevention system

PKI – Public Key Infrastructure

TFUE- Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia

UE - União Europeia

UIT- União Internacional das Telecomunicações

9

1. Introdução

No final do século XX assistiu-se ao desenvolvimento da sociedade da informação a

um ritmo e uma intensidade nunca antes presenciada. As tecnologias de informação e

comunicações entraram praticamente em todas as áreas de atividade, sem que os cidadãos se

apercebessem da dimensão e penetração nos aspetos mais comuns da vida em sociedade.

Este novo motor tecnológico originou o desenvolvimento de novas atividades

económicas na prestação de serviços nas comunicações, no comércio eletrónico e em

múltiplas atividades integrantes da economia digital. Todas estas transformações trouxeram

consequências económicas, sociais e políticas, ultrapassando em velocidade e intensidade

todas as transformações até então vividas.

No ecossistema da tecnologia, os negócios sofreram diversas transformações e o

comércio electronico assume um papel protagonista no ambiente digital, repleto de mudanças

e que tem de dar resposta a um mercado que evolui de maneira constante e desenfreada.

A cultura jurídico-económica tradicional que se baseava na utilização de documentos

escritos em papel, na presença física dos intervenientes, vem requerer adaptações para o novo

modelo do comércio eletrónico, onde o valor da segurança jurídica, deve ganhar confiança

através da integridade, confidencialidade, autenticidade e não-repúdio das comunicações.

De forma a criar confiança nos utilizadores, os Sistemas e Estados fomentaram uma

multiplicidade de iniciativas de várias entidades de ação internacional, no sentido de criar um

enquadramento normativo que desse resposta às várias questões ligadas ao comércio

eletrónico. Desta forma, está a ser desenvolvido um quadro internacional orientador que deverá

ser seguido por legisladores nacionais.

Com a globalização, as transações económicas entre países tornaram-se fundamentais

e obrigatórias, pelo que se verificou a necessidade de criar meios jurídicos para autenticar

documentos e compromissos, criando um ambiente de segurança, mais que uma necessidade

tornou-se uma questão de ordem.

O comércio eletrónico é considerado um dos serviços mais promissores dentro do

governo eletrónico em termos de custo e eficiência.

Em Portugal, foi na década de 80 que as tecnologias da informação começaram a ter

maior relevância. Os investigadores portugueses começaram a enriquecer a sua formação no

estrangeiro, o que levou à produção de novos conhecimentos científicos e tecnológicos,

iniciando-se nesta fase uma abordagem estratégica, pelo poder político, em Portugal, do

fenómeno da Sociedade da Informação.

O conceito de Sociedade da Informação viria a surgir posteriormente aquando da

criação do Livro Verde Para a Sociedade da Informação em Portugal1, sendo definido como um

1 http://molar.crb.ucp.pt/cursos/P%C3%B3s-Gradua%C3%A7%C3%B5es/EE-

2007/Sess%C3%A3o%2019%20Janeiro/Livro%20Verde%20Sociedade%20da%20Informa%C3%A7%C3

%A3o.pdf

10

"modo de desenvolvimento social e económico em que a aquisição, armazenamento,

processamento, valorização, transmissão, distribuição e disseminação de informação

conducente à criação de conhecimento e à satisfação das necessidades dos cidadãos e das

empresas, desempenham um papel central na atividade económica, na criação de riqueza, na

definição da qualidade de vida dos cidadãos e das suas práticas culturais" (Livro Verde Para a

Sociedade da Informação em Portugal, 1997, p. 5).

A propósito destes acontecimentos, firmaram-se como um referencial que permitiu

aproximar Portugal a uma Sociedade da Informação, pois verificou-se um aumento das

capacidades dos cidadãos em geral na área tecnológica e o fomento da modernização dos

sistemas de tecnologias de informação nas Organizações e Administração Publica.

Se, por um lado, as novas tecnologias são dinamizadoras do desenvolvimento e

facilitam a comunicação e transmissão de dados, por outro, podem revelar-se um problema.

Um dos problemas e desafios decorrentes da centralização da informação e dos usos

sociais potenciados pelo incessante desenvolvimento das TIC corresponde à proteção da

informação de forma a não colocar em causa os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.

Verifica-se, assim, a necessidade crescente de harmonizar as potencialidades das

tecnologias de informação com a proteção de dados pessoais, configurando a necessidade de

medidas preventivas no sentido de garantir uma adequada proteção contra o tratamento

indevido de dados pessoais, de forma a criar um ambiente de confiança neste novo

ecossistema tecnológico. Nesta fase houve uma grande mudança de paradigma no uso das

telecomunicações, evoluiu-se de uma conceção mais fechada para uma conceção mais aberta

devido ao grande crescimento da internet e à generalização da acessibilidade aos respetivos

serviços ou aplicações aos próprios utilizadores domésticos.

Esta nova forma de estar no quadro das relações pessoais, institucionais e comerciais

vem abanar a cultura jurídico-económica tradicional, que estava assente no uso de

documentos escritos em papel e na presença dos intervenientes, pelo que toda essa base

conceitual ficou posta em causa com a nova realidade, onde os contratos, acordos e

transferências de documentos se podem realizar á distância por via eletrónica, sendo muito

direta e rápida mas, impessoal sem a necessária confirmação verbal, visual ou física.

A grande evolução tecnológica trouxe consigo, muitos benefícios e vantagens, embora

com algumas vulnerabilidades ou pontos fracos que serão sempre utlizados e aproveitados por

pessoas e organizações sedentas de tirar dividendos e proveitos dessas vulnerabilidades.

Neste novo ambiente tecnológico que cresceu sem controlo e sem medidas

regulamentares, pois era extremamente complexo e difícil de prever todas as suas

potencialidades e ao mesmo tempo produzir um conjunto de regras e boas praticas que

acompanhassem essas mais-valias de modo a criar um ambiente novo e de confiança.

O mundo digital cresceu e toda a sociedade, quer o sector privado quer o sector

público ficaram tecnologicamente dependentes, onde as vantagens foram sendo cada vez mais

potencializadas, trazendo vantagens e benefícios para a população. Por outro lado, a utilização

massiva da tecnologia veio trazer alguma insegurança e falta de confiança em determinados

11

serviços, quer por serem novos, quer por terem sido exploradas algumas falhas na segurança

dos mesmos.

No contexto do comércio eletrónico, os intervenientes ativos têm pouca possibilidade

de se certificar da identidade dos mesmos, a não ser aquela em que as partes declaram, o que

coloca em causa a aplicação de todas as regras legais e sociais que dependem da

identificação de uma pessoa em comunicação com outra. Além disso, a informação contida em

formato digital armazenada em qualquer dispositivo, pode eventualmente ser adulterada por

qualquer pessoa, tendo esta acesso autorizado ou não, o que põe em causa a sua integridade

e autenticidade, por conseguinte, o seu valor como meio probatório.

Estas fragilidades tornam-se cruciais quando a comunicação eletrónica tem um objetivo

juridicamente relevante, nomeadamente quando se destina a transmitir uma declaração de

vontade integrante de um negócio jurídico, contrato, ou de uma relação administrativa. Pelo

que deve ser exigido que a comunicação eletrónica ofereça as mesmas garantias que o

documento em papel, como seja:

- Garantia de autenticidade do documento, que seja possível identificar o autor e a sua

origem;

- Garantia de integridade do documento que permita determinar se o seu conteúdo foi

manipulado ou sofreu alguma alteração;

- Evidência cronológica, de modo a obter uma prova de existência relativamente à data

e hora em que um documento foi criado;

- Em alguns casos, quando um documento esteja ou deva estar assinado, garantir a

função de não-repúdio, ou seja, depois de um documento estar associado a um autor, este não

possa recusar a sua autoria.2.

A necessidade de inteira confiança dos parceiros em transações de comércio

eletrónico, ou em procedimentos administrativos conduzidos por via eletrónica, exige a certeza

da identidade da outra parte, bem como da inalterabilidade dos textos transmitidos, de forma a

eliminar o receio de fraudes através da simulação de identidades pessoais ou falsificação do

teor dos documentos, por parceiros ou terceiros de má-fé.

Assim, o valor fundamental da segurança jurídica, esteio basilar da confiança que

constitui a mola propulsora da adoção generalizada de qualquer forma de instrumental de

relacionamento entre os sujeitos de direito, privados e públicos, exige a adaptação ou alteração

dos textos legais baseados nas conceções tecnológicas tradicionais, ou a criação de normas

tendentes a contemplar certas questões que as tecnologias da informação colocam de forma

inovadora.

Os problemas e preocupações verificam-se à escala global, pelo que por esse facto

foram executadas uma multiplicidade de iniciativas de variadas entidades de ação

2 WERLANG, Felipe Carlos, Assinatura digital com reconhecimento de firma: um modelo de assinatura

digital centrado no usuário, Universidade Federal de Santa Catarina

Departamento de Informática e Estatística, Florianópolis, 2014;

12

internacional, no sentido de criar um enquadramento normativo para os diversos problemas e

questões relacionados com o sentido lato sensu do comércio eletrónico, originando, assim, a

criação de um quadro internacional orientador que auxilie e oriente legisladores nacionais.

A nível internacional, a UNICTRAL (Comissão das Nações Unidas para o Direito

Comercial Internacional)3 criou em 1996 a “Lei Modelo sobre Comércio Eletrónico

4” e em 2001

a “Lei Modelo Sobre Assinaturas Eletrónicas5”. A União Europeia, tem patrocinado e

desenvolvido diversas iniciativas, desde finais dos anos 80, com um vasto conjunto de estudos

preparatórios no âmbito do “TEDIS - Programa comunitário relativo à transferência eletrónica

de dados para uso comercial, que utilize as redes de comunicação"6, Seguidos de diversas

comunicações da Comissão7, e resultando com a publicação de vários diplomas de

regulamentação comunitária, como exemplo a Diretiva 1999/93/CE do Parlamento Europeu e

do Conselho, de 13 de Dezembro de 1999, relativa a um quadro legal comunitário sobre as

assinaturas eletrónicas8 e mais recentemente o REGULAMENTO (UE) N. o 910/2014 DO

PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO9 de 23 de julho de 2014 relativo à identificação

eletrónica e aos serviços de confiança para as transações eletrónicas no mercado interno.

Alguns países mais inovadores, também têm vindo a assumir as questões jurídicas da

realidade do comércio eletrónico, produzindo normas específicas destinadas a regular as

implicações deste ambiente tecnológico de comunicação de mensagens.

De realçar o facto de Portugal ter sido um dos países pioneiros na publicação de leis

nesta matéria (o terceiro da Europa, a seguir à Alemanha10

e à Itália11

), e não andar a reboque

3 Do original Inglês: United Nations Commission on International Trade Law

4 Disponível em: http://www.uncitral.org/pdf/english/texts/electcom/05-89450_Ebook.pdf (PDF) acesso

efetuado em 12/10/2015;

5 Disponível em: http://www.uncitral.org/pdf/english/texts/electcom/ml-elecsig-e.pdf (PDF) acesso

efectuado em 12/10/2015;

6 (1) Inclusivamente de carácter jurídico. Vd., p. ex., "TEDIS - Situation juridique des Etats Membres au

regard du Transfert Electronique de Données" - Comissão das Comunidades Europeias - estudo

elaborado pelo Escritório LODOMEZ-CROUQUET -Setembro 1989; e "TEDIS - Situation juridique des

Etats Membres de l'AELE au regard du Transfert Electronique de Données Commerciales" - Comissão

das Comunidades Europeias - estudo elaborado pelo escritório de advogados DUBARRY,

GASTONDREYFUS, LEVEQUE, LE DOUARIN, SERVAN-SCHREIBER & VEIL, sob a direcção de J.L.

LODOMEZ.

7 (2) “Uma Iniciativa Europeia sobre o Comércio Electrónico” – Comunicação da Comissão

(COM(97)157); “Para um Quadro Europeu para Assinaturas Digitais e Criptografia” – Comunicação da

Comissão (COM(97)503); e “Comércio Electrónico e Fiscalidade Indirecta” – Comunicação da Comissão

(COM(1998)374 final, de 17.6.1998).

8 J.O.C.E, L 13, de 19.1.2000.

9 Disponivel em http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32014R0910&from=EN

10 Artigo 3 – Signaturgesetz–SIG - da Lei federal que estabeleceu as condições gerais para serviços de

informação e comunicação (Informations- und Kommunikationsdienste-Gesetz – IuKDG), de 13.06.1997.

11 O art. 15, nº 2, da “Lei Bassanini” – Lei de 15.03.1997, nº 59

13

de todos os outros como de costume. Materializou essa iniciativa com a publicação do Decreto-

Lei nº 290-D de 2 de Agosto de 1999, referente aos documentos eletrónicos e às assinaturas

digitais, logo seguido do Decreto-lei nº 375, de 18 de Setembro de 1999, sobre a fatura

eletrónica12

.

É importante referir que o Decreto-lei nº 290-D/99 foi publicado antes da Diretiva

1999/93/CE relativa a um quadro legal comunitário sobre as assinaturas eletrónicas, pelo que

aquele diploma nacional, na sua versão inicial, não constituía formalmente a transposição

desta Diretiva para a ordem jurídica interna portuguesa. Contudo, os trabalhos preparatórios de

elaboração da Diretiva foram levados em consideração na redação do diploma nacional.

A Diretiva 1999/93/CE devia ser transposta para os ordenamentos nacionais dos Estados-

Membros até ao dia 19 de julho de.200113

. Em Portugal só veio a suceder a transposição do

DL 62, em de 3 de Abril de 2003. Este atraso não foi preocupante nem crítico, porque o

conteúdo normativo da Diretiva já estava amplamente consagrado no nosso ordenamento

interno espelhado no Decreto-lei nº 290-D/99, faltando apenas contemplar pequenos detalhes

para estabelecer uma transposição correta e completa.

1.1 Motivação

O presente trabalho centra-se na recente publicação do Regulamento Europeu n.º

910/2014 relativo à identificação eletrónica e aos serviços de confiança para as transações

eletrónicas no mercado interno, que revoga a Diretiva 1999/93/CE, neste período de transição

deste ato legislativo vinculativo, obriga os Estados-Membros a aplicarem todos os elementos

nele contido.

A nível interno existe legislação nacional e europeia que foi transposta e publicada de

forma a regular, e acompanhar a legislação europeia, mas em alguns casos essa transposição

não foi a mais correta, criando dúvidas e vazios legais, as quais são exploradas criando

problemas jurídicos e falta de confiança dos utilizadores nos serviços.

A justificação deste tema prende se com o facto de ser um marco importante na

legislação Europeia e Nacional.

12

Para mais detalhada análise destes diplomas, vd. MANUEL LOPES ROCHA, MIGUEL PUPO

CORREIA, MARTA FELINO RODRIGUES, MIGUEL ALMEIDA ANDRADE e HENRIQUE JOSÉ

CARREIRO, “Leis do Comércio Electrónico – Notas e Comentários”, Coimbra Editora, Coimbra, 2001.

13 (8) Sobre o estado e problemas da transposição da Directiva 1999/93/CE, vd. JOS DUMORTIER e

outros, “The Legal and Market Aspectas of Electronic Signatures”, ICRI – Interdisciplinary centre for Law &

Information Technology e Katholieke Universiteit Leuven, 2003, in

http://www.secorvo.de/publikationen/electronic-sig-report.pdf

14

O objeto deste Regulamento é a base para a sobrevivência dos serviços em linha, vem

reforçar e impor mecanismos para a identificação, autenticação eletrónica e serviços de

confiança a ser utilizados no espaço europeu.

A nível profissional desempenho funções nesta área, sendo importante perceber e

compreender a evolução dos sistemas de assinatura e identificação eletrónicos e os novos

serviços de confiança.

1.2 Objetivos

Na escolha do tema e o objetivo definido inicialmente foi o de compreender a evolução

e as alterações que o Regulamento EU n.º 910/2014 iria provocar nos sistemas de identificação

e autenticação eletrónica.

Compreender a legislação nacional e europeia sobre as assinaturas eletrónicas e a

evolução que sofreram quer ao nível legal quer tecnológico.

Com o avançar da leitura e pesquisa deu para compreender a transversalidade desta

temática a toda atividade eletrónica, serviços em linha e cibersegurança.

Com base na experiencia profissional e conhecimento adquirido, defini mais dois

objetivos que considero serem importantes para o trabalho que são:

Identificar as atividades que podem/devem ser reguladas neste âmbito das assinaturas

eletrónicas;

Sendo um Mestrado da Segurança da Informação e direito no Ciberespaço, que

contributos e mais-valias podem ser adquiridos neste Regulamento.

1.3 Estrutura do Documento

O trabalho está organizado da seguinte forma, no Capitulo I a Introdução, onde é feita

uma breve descrição das necessidades de criar ambientes seguros e de confiança.

No Capitulo II uma pequena descrição da natureza dos atos legislativos utilizados na

União Europeia para compreender o âmbito de cada um, quando são utilizados e o impacto

nos estados Membros, se é são vinculativos ou são linhas orientadoras.

No Capitulo III apresento o enquadramento e a evolução da legislação das assinaturas

eletrónicas em Portugal.

No Capitulo IV apresenta a evolução ao nível da União Europeia, desde o

aparecimento da Diretiva 1999/93/CE e com a recente publicação do Regulamento EU

910/2014.

No Capitulo V são apresentados e desenvolvidos mais ao detalhe os novos serviços

que o Regulamento apresenta.

15

No Capitulo VI talvez o mais importante do trabalho, é onde pretendo apresentar a nível

Nacional que atividades/serviços estão a utilizar a assinatura eletrónica e não existe legislação

que suporte e dê valor legal. Seria o aproveitar esta fase de transposição e adaptação ao

regulamento Europeu para corrigir o presente e tentar antecipar alguns serviços que possam

utilizar esta tecnologia e necessitar de valor legal.

O Capitulo VII é feito uma pequena introdução ao ciberespaço e cibersegurança e de

que forma toda esta regulamentação deste sector tecnológico contribui para um ambiente mais

seguro e de confiança para os cidadãos.

No fim apresento uma breve conclusão sobre o trabalho realizado.

16

2. Atos jurídicos da União Europeia

Para compreender a diferença, o objetivo e a finalidade dos diferentes atos jurídicos da

União Europeia, apresento uma breve descrição dos mesmos.

A União Europeia para conseguir alcançar os objetivos estabelecidos nos Tratados,

adota diferentes tipos de atos legislativos14

, alguns atos são vinculativos outros não, uns são

aplicáveis a todos os países da União Europeia, outros apenas a alguns deles.

O Tratado de Lisboa15

consagra várias modificações na tipologia dos atos jurídicos da

União Europeia, numa tentativa de esclarecimento e de simplificação, diminuiu o número de

instrumentos jurídicos colocados à disposição das instituições europeias, e veio permitir à

Comissão adotar uma nova categoria de atos, os atos delegados. Consegue reforçar ainda a

competência da Comissão na adoção de atos de execução. Estas duas alterações têm como

objetivo melhorar a eficácia da tomada de decisões a nível europeu e a aplicação destas

decisões.

Os atos jurídicos da UE são atos legislativos ou não legislativos adotados pelas

instituições europeias, consoante a sua natureza, estes atos podem ter um efeito jurídico

vinculativo.

Os atos legislativos delimitam explicitamente os objetivos, o conteúdo, o âmbito de

aplicação e o período de vigência da delegação de poderes, onde os elementos essenciais de

cada domínio são reservados ao ato legislativo e não podem, portanto, ser objeto de delegação

de poderes.

Antes da entrada em vigor do Tratado de Lisboa, as instituições europeias podiam

adotar catorze tipos de atos jurídicos, esta quantidade de atos era justificada pela antiga

estrutura em pilares da UE, pois cada pilar possuía os seus próprios instrumentos jurídicos.

O Tratado de Lisboa acaba agora com esta estrutura em pilares e define uma nova

classificação para os atos jurídicos, onde as instituições europeias passam a poder adotar

apenas cinco tipos de atos:

O regulamento: é um ato legislativo vinculativo, aplicável em todos os seus elementos

em todos os países da UE

A diretiva: é um ato legislativo que fixa um objetivo geral que todos os países da UE

devem alcançar. No entanto, cabe a cada país decidir dos meios para atingir esse

objetivo.

A decisão: só é vinculativa para os seus destinatários específicos (por exemplo, um

país da UE ou uma empresa), sendo-lhes diretamente aplicável.

14

http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=uriserv:ai0032

15 http://www.europarl.europa.eu/aboutparliament/pt/20150201PVL00008/O-Tratado-de-Lisboa

17

A recomendação: não é vinculativa. Uma recomendação permite às instituições dar a

conhecer os seus pontos de vista e sugerir uma linha de conduta sem contudo impor

uma obrigação legal aos seus destinatários

O parecer: é um instrumento que permite às instituições fazer uma declaração de

forma não vinculativa, ou seja, sem impor qualquer obrigação legal aos seus

destinatários. Um parecer não é vinculativo, pode ser emitido pelas principais

instituições da UE (Comissão, Conselho, Parlamento), pelo Comité das Regiões ou

pelo Comité Económico e Social. Quando está ser elaborada uma legislação, os

comités emitem pareceres sobre essa legislação consentâneos com o seu ponto de

vista especificamente regional, económico ou social.

2.1 Atos Delegados

O Tratado de Lisboa cria uma nova categoria de atos jurídicos: os atos delegados. O

legislador delega assim na Comissão o poder de adotar atos que alteram os elementos não

essenciais de um ato legislativo.

Por exemplo, os atos delegados podem incluir certos pormenores técnicos ou constituir

uma modificação posterior de determinados elementos de um ato legislativo. O legislador

poderá assim concentrar-se na orientação política e nos objetivos sem entrar em debates

demasiado técnicos.

No entanto, esta delegação tem restrições rigorosas, pois só a Comissão pode ser

autorizada a adotar atos delegados. Para além disso, o legislador fixa as condições nas quais

esta delegação pode ocorrer. O artigo 290.º do Tratado sobre o Funcionamento da UE

determina assim que o Conselho e o Parlamento podem revogar uma delegação ou atribuir-lhe

uma duração limitada no tempo.

2.2 Atos de Execução

O Tratado de Lisboa reforça também as competências de execução da Comissão, a

aplicação da legislação europeia no território dos Estados-Membros incumbe, por princípio, aos

Estados-Membros, no entanto, determinadas medidas europeias necessitam de uma aplicação

uniforme na EU, nestes casos, a Comissão pode então adotar os atos de execução relativos à

aplicação de tais medidas.

Até à entrada em vigor do Tratado de Lisboa, a competência de execução cabia ao

Conselho que delegava, então, à Comissão, a adoção dos atos de execução, agora o

artigo 291.º do Tratado sobre o Funcionamento da UE reconhece a competência de

princípio da Comissão. Assim, as medidas europeias que necessitem de uma aplicação

uniforme nos Estados-Membros autorizam diretamente a Comissão a adotar os atos de

execução.

18

Paralelamente, o Tratado de Lisboa reforça igualmente os poderes do Parlamento em

relação ao controlo das competências de execução da Comissão. Com efeito, enquanto as

modalidades deste controlo eram, anteriormente, decretadas pelo Conselho, elas são agora

adotadas pelo processo legislativo ordinário16

, em que o Parlamento está em pé de igualdade

com o Conselho.

2.3 A decisão europeia

A decisão é um instrumento jurídico à disposição das instituições europeias para a

implementação das políticas europeias. A decisão é um ato obrigatório que pode ter um

alcance geral ou estar dirigida a um destinatário específico.

A decisão é um ato jurídico que pertence ao direito derivado da União Europeia (UE).

É, portanto, adotada pelas instituições europeias com base nos tratados fundadores, em

função das situações, a decisão pode estar dirigida a um ou vários destinatários, podendo

também não designar qualquer destinatário.

Um ato obrigatório em todos os seus elementos.

O artigo 288.º do Tratado sobre o Funcionamento da UE define a decisão como sendo

um ato obrigatório em todos os seus elementos, não podendo portanto ser aplicada de forma

incompleta, seletiva ou parcial.

A decisão é adotada após um processo legislativo, é então, um ato legislativo adotado

pelo Conselho e o Parlamento de acordo com o processo legislativo ordinário ou um processo

legislativo especial.

Por oposição, a decisão é um ato não legislativo quando é adotada unilateralmente por

uma das instituições europeias. A decisão remete então para uma norma decretada pelo

Conselho Europeu, pelo Conselho ou pela Comissão em casos específicos que não sejam da

competência do legislador.

2.4 Decisão com destinatário

A decisão pode estar dirigida a um ou vários destinatários. Tem um alcance

estritamente individual, sendo apenas vinculativa para os seus destinatários.

Os destinatários de uma decisão podem ser os Estados-Membros ou particulares. Por

exemplo, a Comissão utiliza as decisões para aplicar sanções às empresas que tenham

participado em cartéis ou cometido abusos de posição dominante.

Para entrar em vigor, a decisão deve ser notificada ao interessado. Em princípio, este

procedimento consiste no envio de uma carta registada com aviso de receção. A decisão pode

também ser publicada no Jornal Oficial, apesar de esta publicação não dispensar a notificação

que é a única possibilidade de tornar o ato oponível ao destinatário.

16

http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=uriserv:ai0016

19

2.5 Decisão sem destinatário

Desde a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, a decisão deixou de designar

necessariamente um destinatário. A decisão passou assim a ter uma definição mais lata,

tornando-se no instrumento de base no domínio da Política Externa e de Segurança Comum. O

Conselho e o Conselho Europeu podem assim adotar decisões relativas:

Aos interesses e aos objetivos estratégicos da União;

Às ações a levar a cabo pela União a nível internacional;

Às posições a tomar pela União acerca das problemáticas internacionais;

Às modalidades de aplicação das ações e das posições da União.

De acordo com quadro legislativo da União Europeia e também pelo histórico,

compreende-se e aceita-se o motivo da escolha do regulamento como ato legislativo

vinculativo.

A experiência da Diretiva não obteve o resultado esperado, com a escolha pelo

Regulamento pretende-se obter maior interoperabilidade, reforçar a confiança nas transações

eletrónicas no mercado interno criando uma base comum para a realização de interações

eletrónicas em condições seguras entre os cidadãos, as empresas e as autoridades públicas,

aumentando assim a eficácia dos serviços públicos e privados em linha, os negócios

eletrónicos e o comércio eletrónico na União.

20

3. Assinatura eletrónica em Portugal

Em Maio de 1997, o Governo Português, publicava o Livro Verde para a Sociedade da

Informação17

, na sequência dessa promulgação e de uma "correção" posterior, o Governo

apresentou uma pequena "agenda digital" contendo a enunciação das leis que se propunha

fazer aprovar como veículo de construção da Sociedade da Informação.

Portugal foi um dos países pioneiros na publicação de leis nesta matéria (o terceiro da

Europa, a seguir à Alemanha e à Itália, através da publicação do Decreto-Lei nº290-D, de 2 de

Agosto de 1999, referente aos documentos eletrónicos e às assinaturas digitais procurando

sublinhar a importância verdadeiramente transcendente da assinatura eletrónica e do seu

enquadramento legal para o desenvolvimento do comércio eletrónico.

A validade da assinatura eletrónica em determinados documentos, e em especial sobre

a necessidade de saber se, em determinadas áreas de atividade específicas, os documentos

eletrónicos ou com assinatura eletrónica mantém todos os seus requisitos de validade e

fidedignidade.

Foi na resolução do Conselho de Ministros n.º 115 de 1 de Setembro de 1998, que

determinou a definição do regime jurídico aplicável aos documentos eletrónicos e assinatura

digital, como um dos objetivos a alcançar no âmbito da Iniciativa Nacional para o Comércio

eletrónico, necessário à plena afirmação do comércio eletrónico.

As redes eletrónicas abertas, como a Internet, têm assumido uma importância

crescente na vida quotidiana dos cidadãos e dos agentes económicos, proporcionando uma

teia de relações comerciais globais.

Para aproveitar da melhor forma estas oportunidades, torna-se imperioso criar um

ambiente seguro para a autenticação eletrónica, porque as comunicações e o comércio

eletrónico exigem assinaturas eletrónicas e serviços a elas associados que permitam a

autenticação eletrónica dos dados.

As assinaturas eletrónicas possibilitam ao utilizador de dados enviados

eletronicamente que verifique a sua origem (autenticação), bem como se os dados foram

entretanto alterados (integridade).

Deste modo é essencial abordar a questão da assinatura em ambiente eletrónico de

modo a trazer segurança jurídica a este meio, pois nos casos em que as comunicações

eletrónicas visem produzir algum efeito jurídico relevante, nomeadamente declarações de

vontade aquando da celebração de negócios jurídicos, seja no âmbito administrativo seja no

âmbito contratual, é essencial a existência de confiança entre as partes envolvidas e para tal a

certeza de identidade da outra parte e a garantia de integridade dos documentos transmitidos,

sendo a verificação destes fatores condição sine qua non para que, sob o ponto de vista

técnico e jurídico, estejam reunidas as condições para que se avance para uma generalização

17 http://homepage.ufp.pt/lmbg/formacao/lvfinal.pdf

21

o meio eletrónico como meio eleito pelos sujeitos de Direito para estabelecer relações de uma

forma segura.

O valor probatório dos documentos eletrónicos depende entre outros requisitos, do da

assinatura pelo seu autor. Realmente, decorre do art.º 373º, nº 1, do Código Civil, que os

documentos particulares devem ser assinados pelo seu autor.

Um documento não assinado não tem legalmente valor superior a qualquer outro meio

de prova comum, sujeito a livre apreciação do julgador, isto é, não pode de modo nenhum

atingir a força probatória plena que cabe aos documentos particulares assinados cuja letra e

assinatura, ou só assinatura, sejam consideradas verdadeiras (art.º 376º Código Civil).

Apesar de o conceito de assinatura não estar definido na nossa lei, é tido como aceite

que a assinatura é um método de identificar alguém e de mostrar a sua concordância com

determinado facto, objeto ou conteúdo. Devendo consistir num sinal distintivo e único por parte

do autor, pelo qual a pessoa se torna identificável perante os outros, e que certifique

indubitavelmente a vontade do signatário18

.

Um dos problemas que se levantam na utilização de diferentes formas de autenticação

eletrónicas é precisamente o valor legal que é atribuído por cada legislador aos diferentes tipos

de assinaturas eletrónicas que varia de país para país, sendo que por vezes o

desconhecimento geral e não familiarização com os termos e conceitos técnicos dispostos nas

diversas legislações causa assim alguma incerteza e insegurança jurídicas aos possíveis

utilizadores dos meios de comunicação eletrónicos para realizar transações, daí que seja

importante a realização de estudos deste âmbito de modo a esclarecer possíveis questões que

se levantem, sejam estas do foro tecnológico ou jurídico.

Os diferentes tipos de assinatura eletrónica oferecem diferentes níveis de segurança,

por conseguinte receberam diferentes tipos de valor legal por parte dos legisladores nacionais.

Sendo que, a assinatura digital foi generalizadamente a solução adotada por grande

parte das entidades, por satisfazer os requisitos que uma assinatura eletrónica deve

preencher19

, as vantagens proporcionadas pela utilização de uma assinatura digital devem ser

as seguintes:

- Suscetível de ser verificável pelo recetor: quem recebe a mensagem deve ser capaz

de reconhecer e validar, de uma forma fiável, a validade de uma assinatura, seja por si mesmo

ou com a ajuda de terceiros que atuem como validadores.

- Difícil de falsificar: ainda que seja verdade que a segurança dos algoritmos

responsáveis por uma assinatura nunca é absoluta, deve ser comparado o esforço tecnológico

e económico a realizar de modo a comprometer uma assinatura. A título de exemplo o esforço

necessário a realizar para quebrar um cripto-sistema de assinatura digital que empregue uma

18

No mesmo sentido ANDRADE, Francisco Pacheco, Da contratação electrónica – em particular da

contratação electrónica inter-sistémica inteligente, Tese Doutoramento, Universidade Do Minho, 2008;

19 Segundo Gallardo Carracedo na obra Seguridad en redes telemáticas, Madrid, McGraw Hill 2004.

22

chave de 2000 bits, chegamos à conclusão que pode ser muito mais segura uma assinatura

digital do que que uma assinatura manuscrita.

- Identificar o signatário: autentique de forma unívoca quem assinou a mensagem, e

deve permitir detetar qualquer possível alteração ocorrida sobre os dados assinados.

- Se una à mensagem formando um todo: uma assinatura que conste num documento

não deve poder ser transferida para outro.

- Garantir a função de não repúdio: quem acede ao documento assinado adquire uma

prova, demonstrável perante terceiros, de que o documento foi assinado por quem se afirma

como signatário, e sobre a autenticidade da origem do documento tal como relativamente à

integridade do mesmo.

- Permita incluir informação adicional ao texto: que a assinatura possa ser

complementada com selos temporais, informações relativas à identidade dos signatários etc.

- Afete a mensagem no seu todo: a assinatura eletrónica deve garantir a integridade da

mensagem, e a alteração de um só bit da mensagem original produziria uma assinatura

totalmente diferente.

A legislação atualmente em vigor atribuíra estatuto legal equivalente à assinatura

manuscrita às assinaturas eletrónicas quando estas assentem numa tecnologia de assinatura

associada a um certificado confiável, o que demonstra a importância da certificação digital no

atual estado da arte da autenticação eletrónica.

A validade da assinatura eletrónica em determinados documentos, e em especial sobre

a necessidade de saber se, em determinadas áreas de atividade específicas, os documentos

eletrónicos ou com assinatura eletrónica mantém todos os seus requisitos de validade e

fidedignidade.

Em Portugal foram publicados os seguintes diplomas no âmbito da assinatura

eletrónica:

Decreto-Lei n.º 290-D/99, de 2 de agosto (Alterado e republicado pelo Decreto-Lei n.º

88/2009, de 9 de abril (que altera e republica também o Decreto-Lei n.º 116-A/2006, de

16 de junho)

Decreto-Lei n.º 62/2003, de 3 de abril (Altera o Decreto-Lei n.º 290-D/99, de 2 de

Agosto, que aprova o regime jurídico dos documentos eletrónicos e da assinatura

digital)

Decreto-Lei n.º 165/2004, de 6 de julho (Altera o artigo 29.º do Decreto-Lei n.º 290-

D/99, de 2 de Agosto, que aprova o regime jurídico dos documentos eletrónicos e da

assinatura digital, na redação que lhe foi dada pelo Decreto-Lei n.º 62/2003, de 3 de

Abril)

23

Decreto Regulamentar n.º 25/2004, de 15 de julho (Regulamenta o Decreto-Lei n.º 290-

D/99, de 2 de Agosto, que aprova o regime jurídico dos documentos eletrónicos e da

assinatura digital)

Decreto-Lei n.º 88/2009, de 9 de abril (que procede à quarta alteração ao Decreto-Lei

n.º 290-D/99, de 2 de Agosto, que estabelece o regime jurídico dos documentos

eletrónicos e da assinatura digital, e à primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 116-

A/2006, de 16 de Junho, que cria o Sistema de Certificação Eletrónica do Estado)

Só com a análise de todos os diplomas referidos, numa lógica de conjunto, será possível

averiguar da possibilidade de os documentos emitidos poderem sê-lo eletronicamente, e a sua

assinatura ser igualmente digital.

3.1 Decreto-Lei n.º 290-D/99, de 2 de agosto

Dos diplomas referenciados assume particular importância o Decreto-Lei n.º 290-D/99,

de 2 de agosto, por ter sido o primeiro a determinar a definição do regime jurídico aplicável aos

documentos eletrónicos e assinatura digital

Atendendo à importância que a troca de informação por meios eletrónicos tem

assumido à escala global, Portugal deu o primeiro passo no âmbito da Iniciativa Nacional para

o Comércio Eletrónico, regulamentando os documentos e atos jurídicos, e facilitando o

comércio e os atos comerciais em diversos aspetos.

A ideia subjacente a esta evolução é de desmaterialização dos processos em termos

judiciais, administrativos e até empresariais.

Para aferirmos da possibilidade de utilização da tecnologia a favor da emissão de

determinados documentos eletrónicos, mesmo quando lhes queremos conferir autenticidade,

importa conhecer e distinguir alguns conceitos legais.

Assim, para efeitos do Decreto-Lei 290-D/99 de 2 de agosto, e conforme elencado no

artigo 2.º do referido diploma entende-se por:

Documento eletrónico: documento elaborado mediante processamento

eletrónico de dados;

Assinatura eletrónica: resultado de um processamento eletrónico de dados

suscetível de constituir objeto de direito individual e exclusivo e de ser utilizado

para dar a conhecer a autoria de um documento eletrónico ao qual seja aposta,

de modo que:

i) Identifique de forma unívoca o titular como autor do documento;

ii) A sua aposição ao documento dependa apenas da vontade do titular;

iii) A sua conexão com o documento permita detetar toda e qualquer

alteração superveniente do conteúdo deste;

24

Assinatura digital: processo de assinatura eletrónica baseado em sistema

criptográfico assimétrico composto de um algoritmo ou série de algoritmos,

mediante o qual é gerado um par de chaves assimétricas exclusivas e

interdependentes, uma das quais privada e outra pública, e que permite ao

titular usar a chave privada para declarar a autoria do documento eletrónico ao

qual a assinatura é aposta e concordância com o seu conteúdo, e ao

declaratário usar a chave pública para verificar se a assinatura foi criada

mediante o uso da correspondente chave privada e se o documento eletrónico

foi alterado depois de aposta a assinatura;

Chave privada: elemento do par de chaves assimétricas destinado a ser

conhecido apenas pelo seu titular, mediante o qual se apõe a assinatura digital

no documento eletrónico, ou se decifra um documento eletrónico previamente

cifrado com a correspondente chave pública;

Chave pública: elemento do par de chaves assimétricas destinado a ser

divulgado, com o qual se verifica a assinatura digital aposta no documento

eletrónico pelo titular do par de chaves assimétricas, ou se cifra um documento

eletrónico a transmitir ao titular do mesmo par de chaves;

O documento eletrónico é um documento elaborado mediante processamento

eletrónico de dados que não necessita de ser impresso para ter validade,

sendo que as partes podem convencionar que o documento elaborado

eletronicamente e transmitido por via eletrónica tem a validade de documento

original.

No que concerne à sua força probatória, o documento eletrónico satisfaz os requisitos

de forma legal escrita sempre que o seu conteúdo seja suscetível de ser representado como

declaração escrita.

Já quanto à assinatura digital, a mesma tem a força probatória de documento particular

assinado (original) desde que a assinatura digital esteja certificada por uma entidade

credenciada.

Porém, interessa saber o que é a assinatura digital, que ao contrário do que o nome

indica, não é uma mera “digitalização” da assinatura original.

Porém o n.º 4 do artigo 3.º do Decreto-Lei 290-D/99, de 2 de agosto, que “O disposto

nos números anteriores não obsta à utilização de outro meio de comprovação da autoria e

integridade de documentos eletrónicos, incluindo a assinatura eletrónica não conforme com os

requisitos do presente diploma, desde que tal meio seja adotado pelas partes ao abrigo de

válida convenção sobre prova ou seja aceite pela pessoa a quem for oposto o documento”.

Ou seja,

Caso as partes entendam que assim deve ser, e estejam de acordo quanto a essa

matéria, podem livremente estipular que as comunicações e documentos transmitidos e

assinados eletronicamente têm valor de documento particular, escrito e assinado, podem as

25

partes adotá-lo, sendo tal estipulação válida e não podendo nenhuma das partes invocar

qualquer nulidade daí decorrente.

Nesta matéria, o que deve ser acordado, no âmbito do contrato celebrado é que as

partes dispensam a certificação digital, e que são válidas as comunicações e os documentos

transmitidos a partir de determinada plataforma eletrónica que tenham em comum, ou através

de determinado correio eletrónico.

Está portanto garantida a fidedignidade dos documentos ao abrigo do n.º 4 do artigo

3.º, sempre que as partes assim o acordem, independentemente da certificação legal ser

adotada.

Nas relações comerciais não costuma exigir-se a certificação digital do documento ou a

assinatura eletrónica. Porém, nos casos de clientes mais exigentes, tal pode ser solicitado, e

nessa medida nada obsta a que seja solicitado o certificado digital, e a empresa – ou o

empresário – possa passar a certificar todos os documentos e comunicações transmitidos

eletronicamente, conferindo-se assim mais certezas aos documentos.

Porém, caso as partes acordem nesse sentido, pode ser contratualizada a sua

dispensa, sendo que a não existir a certificação, deve proceder-se de acordo com o artigo 3.º,

n.º 4 do Decreto-Lei 290-D/99 de 2 de agosto, para que nenhuma possa vir retirar valor a

qualquer documento transmitido eletronicamente.

Se não tiver sido contratualizada a dispensa da certificação digital ou a garantia de

outro meio de certificação da genuinidade do documento, pode qualquer das partes questionar

a validade do documento e a autenticidade do seu conteúdo.

Uma das grandes criticas que os legisladores dos diversos países e instituições tem

sido alvo assenta na questão da neutralidade tecnológica, que deve sempre empregada na

criação de uma lei20

, o que se tem revelado uma missão um pouco difícil, como é o exemplo da

primeira legislação sobre a matéria em Portugal, o DL nº 290-D/99 de 2 de Agosto, que veio

estabelecer o regime jurídico para os documentos eletrónicos e assinatura eletrónica, apenas

abordava, na sua primeira versão, o conceito de “assinatura digital” onde manifestamente se

observa uma opção do legislador para a utilização desta tecnologia como forma de

autenticação, fechando a porta à utilização de outro tipo de assinatura eletrónica.

A assinatura digital utiliza técnicas de criptografia assimétrica que assentam na

utilização de um par de chaves criptográficas assimétricas e matematicamente relacionadas,

uma chave privada secreta que deve estar exclusivamente na posse do signatário e sobre a

qual este deve manter controlo absoluto sendo utilizada para assinar um conjunto de dados e

uma chave pública que permite ao destinatário validar autenticidade de uma assinatura e a

integridade de uma mensagem.

O par chave pública/privada é gerado por um algoritmo matemático que assegura que

a assinatura apenas poderá ser verificada pela chave pública se tiver sido criada com a

correspondente chave privada.

20

De acordo com esta ideia: ALI, Rajab, Technological Neutrality, Lex Electronica, vol. 14 n°2, 2009;

26

O regime constante do Decreto -Lei n.º 290- D/99, de 2 de Agosto, embora muito

detalhado na regulamentação da natureza da certificação eletrónica e dos documentos e atos

jurídicos eletrónicos, bem como do acesso à atividade de certificação eletrónica, carecia da

previsão um quadro sancionatório adequado ao exercício da fiscalização pelas autoridades

administrativas competentes à semelhança do que acontece noutros ordenamentos jurídicos

3.2 Decreto-Lei n.º 62/2003, de 3 de abril

O decreto-lei veio compatibilizar o regime jurídico da assinatura digital estabelecido no

Decreto-Lei n.º 290-D/99, de 2 de Agosto, com a Diretiva n.º 1999/93/CE, do Parlamento

Europeu e do Conselho, de 13 de Dezembro, relativa a um quadro legal comunitário para as

assinaturas eletrónicas.

Em conformidade com a referida diretiva e com desenvolvimentos legislativos nos

Estados-Membros da União Europeia, é adotada uma terminologia tecnologicamente neutra, as

referências que traduziam a opção pelo modelo tecnológico prevalecente, a assinatura digital

produzida através de técnicas criptográficas, são eliminadas.

A expressão «assinatura digital» é substituída, consoante os casos, por «assinatura

eletrónica qualificada» ou por «assinatura eletrónica qualificada certificada por entidade

certificadora credenciada». As referências a «chaves privadas» são substituídas por «dados de

criação de assinatura» e as referências a «chaves públicas» são substituídas por «dados de

verificação de assinatura».

O presente decreto-lei estabelece três modalidades de assinaturas eletrónicas: a

assinatura eletrónica, a assinatura eletrónica avançada e a assinatura eletrónica qualificada,

que correspondem a diferentes graus de segurança e fiabilidade.

Introduzem-se, correspondentemente, novas definições no artigo 2.º e são reforçados

os deveres das entidades certificadoras que emitem certificados qualificados.

A avaliação e certificação da conformidade dos produtos de assinatura eletrónica

utilizados na prestação de serviços de assinatura eletrónica qualificada por uma entidade

certificadora ou na criação e verificação de assinatura eletrónica qualificada é atribuída a

organismos de certificação.

Para além do mais, visando assegurar uma melhor e maior fiscalização destas

entidades pelos titulares e por terceiros, criou-se um registo junto da autoridade credenciadora,

que, ainda que tenha um carácter meramente declarativo, é obrigatório para as entidades

certificadoras que emitem certificados qualificados.

Mantém-se a possibilidade de as entidades certificadoras que emitem assinaturas

eletrónicas especialmente seguras e fiáveis, as assinaturas eletrónicas qualificadas, solicitarem

a sua credenciação junto da autoridade credenciadora. As assinaturas eletrónicas qualificadas

emitidas por uma entidade certificadora credenciada têm a força probatória de documento

particular assinado, nos termos do artigo 376.º do Código Civil, enquanto as restantes

modalidades de assinatura eletrónica são livremente apreciadas pelo tribunal.

27

Clarifica-se o regime aplicável às assinaturas eletrónicas de pessoas coletivas ao

admitir-se expressamente que pessoas coletivas possam ser titulares de um dispositivo de

criação de assinatura. Todavia, o presente decreto-lei não estabelece, em matéria de

representação das pessoas coletivas, um regime diverso do resultante das disposições que

regulam especialmente esta questão.

Dentro da posição adotada de neutralidade das tecnologias em relação ao direito, cabe

à entidade certificadora verificar se a assinatura garante a intervenção das pessoas singulares

que, estatutária ou legalmente, representam a pessoa coletiva.

As disposições relativas aos certificados de outros Estados são, igualmente, alteradas

para assegurar a livre circulação dos produtos de assinatura eletrónica no mercado interno.

As alterações introduzidas nas definições, onde:

Assinatura eletrónica: resultado de um processamento eletrónico de dados suscetível

de constituir objeto de direito individual e exclusivo e de ser utilizado para dar a conhecer a

autoria de um documento eletrónico;

Assinatura eletrónica avançada: assinatura eletrónica que preenche os seguintes

requisitos:

i) Identifica de forma unívoca o titular como autor do documento;

ii) A sua aposição ao documento depende apenas da vontade do titular;

iii) É criada com meios que o titular pode manter sob seu controlo exclusivo;

iv) A sua conexão com o documento permite detetar toda e qualquer alteração

superveniente do conteúdo deste;

Assinatura digital: modalidade de assinatura eletrónica avançada baseada em

sistema criptográfico assimétrico composto de um algoritmo ou série de algoritmos, mediante o

qual é gerado um par de chaves assimétricas exclusivas e interdependentes, uma das quais

privada e outra pública, e que permite ao titular usar a chave privada para declarar a autoria do

documento eletrónico ao qual a assinatura é aposta e concordância com o seu conteúdo e ao

destinatário usar a chave pública para verificar se a assinatura foi criada mediante o uso da

correspondente chave privada e se o documento eletrónico foi alterado depois de aposta a

assinatura;

Assinatura eletrónica qualificada: assinatura digital ou outra modalidade de

assinatura eletrónica avançada que satisfaça exigências de segurança idênticas às da

assinatura digital baseadas num certificado qualificado e criadas através de um dispositivo

seguro de criação de assinatura;

28

O Decreto-lei no seu Artigo n.º 7 que refere que Assinatura eletrónica qualificada

1 - A aposição de uma assinatura eletrónica qualificada a um documento eletrónico

equivale à assinatura autógrafa dos documentos com forma escrita sobre suporte de papel e

cria a presunção de que:

a) A pessoa que apôs a assinatura eletrónica qualificada é o titular desta ou é

representante, com poderes bastantes, da pessoa coletiva titular da assinatura

eletrónica qualificada;

b) A assinatura eletrónica qualificada foi aposta com a intenção de assinar o

documento eletrónico;

c) O documento eletrónico não sofreu alteração desde que lhe foi aposta a

assinatura eletrónica qualificada.

2 - A assinatura eletrónica qualificada deve referir-se inequivocamente a uma só

pessoa singular ou coletiva e ao documento ao qual é aposta.

3 - A aposição de assinatura eletrónica qualificada substitui, para todos os efeitos

legais, a aposição de selos, carimbos, marcas ou outros sinais identificadores do seu titular.

4 - A aposição de assinatura eletrónica qualificada que conste de certificado que esteja

revogado, caduco ou suspenso na data da aposição ou não respeite as condições dele

constantes equivale à falta de assinatura.

3.3 Decreto-Lei n.º 88/2009 de 9 de Abril

O plano tecnológico constitui um dos pilares da agenda de mudança levada a cabo

pelo XVII Governo Constitucional para mobilizar a sociedade portuguesa para os desafios de

modernização. O Governo da altura definiu como prioridade para as políticas públicas a adoção

de um conjunto de iniciativas de modernização tecnológica que tiveram por objetivo facilitar a

vida dos cidadãos e a atividade das empresas, bem como aumentar a disponibilidade e

melhorar a qualidade dos serviços públicos.

O esforço qualitativo das políticas públicas adotadas permitiu a Portugal evoluir e

acompanhar os mais desenvolvidos no quadro internacional, em termos de inovação e de

modernização tecnológicas.

Um dos domínios em que Portugal alcançou, de forma mais acelerada, resultados mais

evidentes foi na implementação de uma infra -estrutura de chaves públicas plenamente apta a

assegurar mecanismos de autenticação digital de identidades e assinaturas eletrónicas

qualificadas.

Nesse sentido, foi crucial, a criação, através do Decreto -Lei n.º 116 -A/2006, de 16 de

Junho, do Sistema de Certificação Eletrónica do Estado, tanto no plano institucional como

técnico, para assegurar a unidade, a integração e a eficácia de uma hierarquia de confiança

que garantisse a segurança eletrónica e a autenticação digital forte das transações eletrónicas

29

realizadas entre os vários serviços e organismos da Administração Pública e entre o Estado e

os cidadãos e as empresas.

O Sistema de Certificação Eletrónica do Estado veio igualmente permitir desenvolver e

potenciar um conjunto de programas públicos para a promoção das tecnologias de informação

e comunicação e a introdução de novos processos de relacionamento em sociedade, entre

cidadãos, empresas, organizações não-governamentais e o Estado, com vista ao

fortalecimento da sociedade da informação e do governo eletrónico. Por outro lado, o acesso

generalizado dos cidadãos e das empresas à Internet, bem como o dinamismo da atividade

empresarial e da sociedade civil na incorporação das novas tecnologias de informação e

comunicação, veio criar novas necessidades e desafios à distribuição e prestação de bens e

serviços por entidades privadas através de meios eletrónicos.

Sem deixar de lado a necessidade de manter uma arquitetura estável para o Sistema

de Certificação Eletrónica do Estado, assente em critérios que assegurem o seu bom

funcionamento e que não deixem de promover a sua racionalidade económica e a eficácia e

eficiência na prestação de serviços de certificação eletrónica.

Este Decreto-Lei, foi ao encontro da evolução tecnológica em Portugal e, ao mesmo

tempo garantir uma melhor proteção jurídica da utilização das novas tecnologias de informação

e comunicação nos sectores público e privado, procede -se à quarta alteração ao Decreto -Lei

n.º 290 -D/99, de 2 de Agosto, que estabelece o regime jurídico dos documentos eletrónicos e

da assinatura digital.

Por outro lado, o regime constante do Decreto-Lei n.º 290-D/99, de 2 de Agosto,

embora muito detalhado na regulamentação da natureza da certificação eletrónica e dos

documentos e atos jurídicos eletrónicos, bem como do acesso à atividade de certificação

eletrónica, carecia da previsão um quadro sancionatório adequado ao exercício da fiscalização

pelas autoridades administrativas competentes à semelhança do que acontece noutros

ordenamentos jurídicos. Com efeito, a desejável massificação da utilização de certificados

digitais qualificados, tanto para efeitos de autenticação como para efeitos de assinatura

eletrónica qualificada, com a força probatória que passa a ser reconhecida aos documentos

eletrónicos correspondentes, exige que se introduza um conjunto de sanções com um efeito

simultaneamente preventivo e persuasivo do estrito cumprimento das normas legais pelas

entidades certificadoras que operem neste mercado.

30

3.4 Infraestrutura de Chaves Públicas

Figura nº 1 – Conceito das assinaturas

Os diferentes tipos de assinatura eletrónica oferecem diferentes níveis de segurança,

obtendo assim diferente de valor jurídico por parte do legislador.

É importante compreender as assinaturas eletrónicas, pois elas assentam

principalmente em dois conceitos, o jurídico que se refere as diferentes modalidades de

assinaturas eletrónicas e o conceito tecnológico que são as assinaturas digitais.

A assinatura digital para ser realizada como está determinado na sua definição é

obrigatório a existência de uma entidade externa, designada de Public Key Infrastructure (PKI),

Infraestrutura de Chaves Públicas (ICP).

Uma PKI é uma combinação de produtos hardware e software, politicas, pessoas e

procedimentos, normas e técnicas que asseguram as principais bases de segurança na troca

de dados eletrónicos, criando uma estrutura cujo objetivo é garantir a autenticação, não-

repudio, confidencialidade, integridade e controlo de acessos nas mais diversas atividades em

linha.

Uma PKI tem como principal objetivo associar as chaves públicas e privadas, utilizadas

pela tecnologia de criptografia assimétrica, mais conhecida por criptografia de chave pública, a

determinadas identidades, sejam estes indivíduos ou organizações, introduzindo o certificado

digital21

.

21

“É um conjunto de dados de computador, gerados por uma Autoridade Certificadora, em observância à

Recomendação Internacional ITUT X.509, que se destina a registrar, de forma única, exclusiva e

intransferível, a relação existente entre uma chave de criptografia e uma pessoa física, jurídica, máquina

31

O certificado digital é um elemento principal de uma PKI pois assume o papel de

“identidade digital ” sendo a forma utilizada para verificar a identidade de uma parte (seja esta

uma pessoa singular ou coletiva, máquina ou aplicação),num processo de comunicação

eletrónico, que estabelece uma relação única, exclusiva e intransferível através da associação

da assinatura digital de um utilizador à correspondente chave pública.

Os certificados digitais podem ter diversas aplicações podendo usados para

confirmação da identidade na web, correio eletrônico, transações em linha, redes privadas

virtuais, transações eletrônicas, informações eletrônicas, cifrar as chaves de sessão, assinatura

de documentos com verificação da integridade de suas informações, etc.

Uma PKI é constituída por:

Entidades Certificadoras (EC), que têm a responsabilidade de emitir e revogar

certificados, ou seja o ciclo de vida de um certificado.

As EC oferecem dois tipos de serviços22

, os nucleares e os suplementares.

Consideram-se serviços nucleares:

Serviço de Registo: tem como objetivo verificar e garantir a identidade

do titular. O “output” deste serviço será passado para o Serviço de

Geração de Certificados.

Serviço de Geração (emissão) de Certificados: tem como objetivo

gerar e emitir certificados, previamente validados pelo Serviço de

Registo.

Serviço de Disseminação: tem como objetivo disponibilizar os

certificados aos titulares.

Serviço de Gestão de Revogações: tem como objetivo processar os

pedidos de revogação e implementar as ações necessárias. O

resultado deste serviço será difundido através do Serviço sobre o

Estado das Revogações.

Serviço sobre o Estado das Revogações: tem como objetivo,

disponibilizar informação sobre o estado das revogações dos

certificados às partes confiantes. Este serviço pode ser disponibilizado

em tempo real (Online Certificate Status Protocol (OCSP)) ou através

de atualizações periódicas regulares (Certificate Revocation List

(CRL)).

Os serviços suplementares são os seguintes:

ou aplicação.”

http://www.iti.gov.br/images/twiki/URL/pub/Certificacao/Glossario/Glossario_ICP_Brasil_Versao_1.2_novo-

2.pdf

22 ETSI TS 101 456 Policy requirements for certification authorities issuing qualified certificates

32

O Serviço de Fornecimento do Dispositivo Seguro de Criação de

Assinaturas (Secure Signature Creation Device (SSCD)): tem como

objetivo preparar e fornecer o respetivo dispositivo ao titular do

certificado.

O Serviço de Validação Cronológica: tem como objetivo, a geração e

distribuição de “tokens” de validação cronológica, de forma a ligar

criptograficamente os dados com valores de tempo seguros.

As entidades de certificação podem ser de dois tipos, as EC de Raiz que emitem

diretamente os seus certificados, sendo as primeiras entidades da cadeia de certificação, e as

entidades de certificação intermediárias, cujos certificados são emitidos indiretamente pelas EC

de Raiz.

As Autoridades de Registo – AR’s (Registration authorities - RA), sendo a sua função

a de autenticar a identidade do individuo através de método idóneo para o efeito, submetendo

depois o pedido de certificado para uma EC.

Os repositórios, são as estruturas responsáveis pelo armazenamento da informação

relativa a uma PKI, sendo os repositórios mais importantes as CRL’s;

A Autoridade de Validação (Validation authority – VA), cuja função é a de comprovar

a validade dos certificados digitais;

A Autoridade de selos temporais (TimeStamp Authority – TSA), entidade encarregue

de atestar a existência de um documento em determinado instante de tempo;

Pode também existir uma Autoridade de Atributos (Atribute Authority – AA),

autoridades encarregues de criar certificados de atributos,

Declaração de Práticas de Certificação (CPS).

Políticas de certificação.

33

4. Assinatura Eletrónica na União Europeia

4.1 A Diretiva 1999/93/CE do Parlamento Europeu e do Conselho

Na sequência do primeiro anúncio de uma proposta de legislação no domínio das

assinaturas eletrónicas, numa comunicação intitulada “Garantir a segurança e a confiança nas

comunicações eletrónicas, contribuição para a definição de um quadro europeu para as

assinaturas digitais e a cifragem”23

, foi publicada, em 1998, a proposta de Diretiva propriamente

dita.

Diversos Estados-Membros tinham já criado ou proposto legislação nacional sobre

assinaturas eletrónicas, que consideraram um pré-requisito para o crescimento do comércio

eletrónico e uma importante exigência política para assegurar a confiança nas transações

eletrónicas.

Numa perspetiva comunitária, as medidas legislativas nacionais e as suas exigências

divergentes poderiam vir a impedir o efetivo estabelecimento do mercado interno,

nomeadamente nas áreas dependentes de produtos e serviços associados às assinaturas

eletrónicas. A preocupação subjacente às medidas de harmonização propostas era evitar

disfunções do mercado interno numa área considerada crítica para o futuro das transações

eletrónicas na economia europeia. Um dos requisitos fundamentais era clarificar o estatuto

jurídico das assinaturas eletrónicas, a fim de assegurar a sua validade legal, que foi

frequentemente questionada.

A Diretiva foi adotada pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho em 13 de Dezembro

de 1999 e os Estados-Membros aplicaram os princípios gerais da Diretiva24

.

4.1.1 Objetivo e âmbito de aplicação

O objetivo principal da Diretiva foi criar um quadro comunitário para a utilização das

assinaturas eletrónicas, permitindo a livre circulação transfronteiras de produtos e serviços

associados às assinaturas eletrónicas, assegurando um reconhecimento legal mínimo destas.

A Diretiva não incide na celebração e na validade de contratos ou outras obrigações

legais estabelecidas pelo direito nacional ou comunitário respeitante à forma dos contratos.

Também não afeta as regras e limitações referentes à utilização de documentos,

previstas no direito nacional ou comunitário25

. Consequentemente, a Diretiva não afeta

23

COM(97) 503 de 8 de Outubro de 1997

24 http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=celex%3A31999L0093

25 A presente diretiva não procura harmonizar a prestação de serviços no que diz respeito à

confidencialidade da informação quando estes são abrangidos por disposições nacionais em matéria de

ordem pública ou de segurança pública;

34

disposições nacionais que exigem, por exemplo, a utilização de papel para determinado tipo de

contratos, além disso, a Diretiva não exclui a possibilidade de as partes num sistema fechado

negociarem as condições específicas de utilização de assinaturas eletrónicas nesse sistema.

4.1.2 Os vários tipos de assinaturas eletrónicas previstos na Diretiva

A Diretiva incide em três formas de assinatura eletrónica.

A primeira é a forma mais simples de “assinatura eletrónica”, a que é dado um sentido

muito lato, serve para identificar e autenticar dados.

Pode ser tão simples como a assinatura de uma mensagem de correio eletrónico com

o nome do remetente ou a utilização de um código PIN. A autenticação, para ser uma

assinatura, deve referir-se a dados, não devendo ser utilizada como método ou tecnologia

apenas para a autenticação de uma entidade.

A segunda forma de assinatura eletrónica definida na Diretiva é a “ assinatura

eletrónica avançada ”. Esta forma de assinatura tem de obedecer aos requisitos definidos no

n.º 2 do artigo 2.°. A Diretiva é tecnologicamente neutra, mas na prática, esta definição refere-

se essencialmente a assinaturas eletrónicas assentes numa infraestrutura de chave pública

(PKI).

Este sistema utiliza tecnologia de cifragem para assinar dados, exigindo uma chave

pública e uma chave privada.

Por último, no n.º 1 do artigo 5.°, é citada uma terceira forma de assinatura eletrónica

que a Diretiva não denominou especificamente, mas que será designada “assinatura eletrónica

qualificada”. Trata-se de uma assinatura eletrónica avançada baseada num certificado

qualificado e produzida por um dispositivo seguro de criação de assinaturas, devendo obedecer

aos requisitos constantes dos Anexos I, II e III.

O “ signatário ” é identificado na Diretiva como “uma pessoa singular que detém um

dispositivo de criação de assinaturas e o utiliza em seu próprio nome, ou em nome da pessoa

singular ou coletiva ou da entidade que representa”. Embora a Diretiva não determine que a

assinatura eletrónica tem de dizer respeito a uma pessoa singular, o signatário de uma

assinatura eletrónica qualificada (n.º 1 do artigo 5.° da Diretiva) tem de ser uma pessoa

singular, dado que esta forma de assinatura é considerada o equivalente da assinatura

manuscrita.

4.1.3 O Mercado Interno

Para promover a emergência do mercado interno dos produtos e serviços de

certificação e assegurar que um prestador de serviços de certificação estabelecido num

Estado-Membro possa fornecer serviços noutro Estado-Membro, o artigo 3.° determina que o

acesso ao mercado não estará sujeito a autorização prévia.

Para garantir que os prestadores de serviços de certificação que emitem certificados

qualificados destinados ao público cumprem os requisitos estabelecidos nos anexos, os

35

Estados-Membros têm de instituir sistemas adequados de supervisão. Não foram impostas

quaisquer exigências aos sistemas de supervisão. Os Estados-Membros aplicaram diferentes

modelos que, até agora, têm funcionado essencialmente no respetivo país de origem e não

mostraram ser fonte de entraves. No entanto, o crescimento dos serviços de certificação

transfronteiras foi afetado pelas divergências entre os sistemas dos Estados-Membros.

No que respeita à oferta transfronteiras de serviços de certificação no mercado interno,

não pode ser imposta qualquer restrição à oferta de serviços de certificação com origem noutro

Estado-Membro.

4.1.4 Reconhecimento legal

O n.º 2 do artigo 5.° estabelece o princípio geral do reconhecimento legal de todos os

tipos de assinatura eletrónica previstos na Diretiva.

Os Estados-Membros devem assegurar que as assinaturas eletrónicas qualificadas (n.º

1 do artigo 5.°) obedecem aos requisitos legais das assinaturas manuscritas e são admissíveis

como meio de prova para efeitos processuais do mesmo modo que as assinaturas manuscritas

o são em relação aos documentos tradicionais.

4.1.5 O desenvolvimento do mercado e as aplicações

Havia alguma esperança de que a adoção da Diretiva ajudasse o mercado das

assinaturas eletrónicas a arrancar. No geral, o objetivo da legislação não foi de criar procura no

mercado e a Diretiva não foi exceção. No entanto, a Diretiva deveria proporcionar maior

segurança jurídica na utilização de assinaturas eletrónicas e serviços associados, neste

sentido, a Diretiva poderia oferecer uma plataforma de confiança que permitiria o arranque do

mercado.

Desde a publicação até aos dias de hoje, podemos concluir que o arranque foi muito

lento.

As duas aplicações dominantes das assinaturas eletrónicas relacionam-se com a

administração pública em linha e os serviços pessoais de banca eletrónica. Muitos Estados-

Membros e diversos outros países europeus lançaram aplicações de administração pública em

linha ou planeavam faze-lo na altura. Algumas destas aplicações baseavam-se na utilização de

bilhetes de identidade eletrónicos, em que este poderia ser utilizado como documento de

identificação e como meio de acesso em linha a serviços públicos para os cidadãos. Na maioria

dos casos, estes bilhetes de identidade integram as três funções: identificação, autenticação e

assinatura.

A outra grande aplicação das assinaturas eletrónicas foram os serviços pessoais da

banca eletrónica. Nestes serviços, a maioria dos sistemas de autenticação assenta em senhas

(passwords) de utilização única e sinais especiais ( tokens ), ou seja, na forma mais simples de

assinatura eletrónica, nos termos da Diretiva. Muitas aplicações de banca eletrónica estão a

utilizar estas tecnologias apenas para a autenticação do utilizador, mas a assinatura eletrónica

36

de transações aumentou de forma considerável. Nos serviços de banca eletrónica entre

empresas e de compensação interbancária, é mais corrente a utilização de cartões inteligentes,

por se considerar que oferecem um nível de segurança mais elevado.

Simultaneamente, o espectro de serviços que exigem um nível de autenticação

correspondente à forma simples de assinatura eletrónica está a ser alargado em diversos

Estados-Membros.

4.1.6 Normalização

O n.º 5 do artigo 3.° da Diretiva permite que a Comissão estabeleça e publique os

números de referência de “normas largamente reconhecidas”[8] para produtos de assinatura

eletrónica. Consequentemente, presume-se que um produto de assinatura eletrónica obedece

aos requisitos estabelecidos na alínea f) do Anexo II e no Anexo III quando está em

conformidade com aquelas normas.

A Comissão conferiu um mandato às organizações europeias de normalização para

elaborarem normas nesta matéria. Foi criada a EESSI ( European Electronic Signature

Standardisation Initiative ), com membros do CEN/ISSS e do ETSI, que elaborou normas para

produtos e serviços de assinatura eletrónica.

Desde então os trabalhos de normalização tiveram em conta a evolução tecnológica

mais recente, dado que os utilizadores transferem a sua chave de assinatura eletrónica de

dispositivo para dispositivo, neste mundo interligado.

4.1.7 Desafios tecnológicos

Não existe explicação simples para o facto de o mercado das assinaturas eletrónicas

não se ter desenvolvido mais rapidamente, mas o certo é que o mercado está a enfrentar uma

série de desafios técnicos. Um problema, muitas vezes assinalado, que poderá contribuir para

a lentidão do arranque das assinaturas eletrónicas avançadas ou qualificadas na Europa é a

complexidade da tecnologia PKI.

A vantagem, frequentemente sublinhada, da PKI reside no facto de esta tecnologia

utilizar o sistema dos “terceiros de confiança”, graças ao qual Partes que nunca antes se

encontraram podem confiar uma na outra para efeitos de transações na Internet. No entanto,

tudo indica que, em muitas das atuais aplicações, os fornecedores de serviços estão pouco

interessados em permitir que os seus clientes utilizem o seu dispositivo de autenticação para

outros serviços, essencialmente por questões de responsabilidade.

Existem fatores que podem explicar o lento arranque se dever a ausência de

disposições, na Diretiva, sobre critérios para os serviços de verificação de assinaturas

eletrónicas a fornecer pelo prestadores de serviços de certificação, ao utilizador final e de

disposições respeitantes ao reconhecimento mútuo dos prestadores.

A falta de interoperabilidade técnica a nível nacional e transfronteiras é outro obstáculo

à aceitação das assinaturas eletrónicas no mercado, tendo dado origem a muitas ilhas

37

"isoladas" de aplicações de assinatura eletrónica em que os certificados só podem ser

utilizados numa única aplicação.

Atualmente, no ambiente PKI, o cartão inteligente é o dispositivo de criação de

assinaturas mais utilizado, dado que permite guardar com segurança a chave privada. Esta

tecnologia é dispendiosa e exige investimentos na infraestrutura física (p. ex., distribuição de

cartões e leitores de cartão). Há já algumas alternativas ao cartão inteligente que podem ser

utilizadas para guardar com segurança a chave criptográfica.

Outra razão prática para a relutância na implantação das aplicações de assinatura

eletrónica é o facto de o arquivamento dos documentos com assinatura eletrónica ser

considerado demasiado complexo e incerto. A obrigação legal de manter os documentos

durante um período que poderá ser superior a 30 anos exige tecnologia e procedimentos

onerosos e complexos para assegurar a legibilidade e a verificação de que tais períodos são

respeitados.

4.1.8 Impacto da Diretiva noutra regulamentação

Embora a procura de sistemas assentes na tecnologia PKI não possa ser criada por

medidas legislativas, a Comissão continua a considerar que a introdução das assinaturas

eletrónicas é um fator importante para desenvolver os serviços da sociedade da informação e

incentivar um comércio eletrónico seguro.

Algumas Diretivas e decisões recentemente adotadas introduzem as assinaturas

eletrónicas e fazem referência à Diretiva 1999/93/CE.

A Diretiva 2001/115/CE reconhece a possibilidade de as faturas serem enviadas

eletronicamente. Neste caso, a autenticidade da origem das faturas e a integridade do seu

conteúdo devem ser garantidas mediante, por exemplo, assinaturas eletrónicas avançadas.

As Diretivas relativas aos contratos públicos, que entraram em vigor a 30 de Abril de

2004, completam o quadro legislativo para a utilização das assinaturas eletrónicas em

contratos públicos.26

A Decisão 2004/563 da Comissão relativa a documentos eletrónicos e digitalizados.

A Diretiva introduziu segurança jurídica no que respeita à admissibilidade geral das

assinaturas eletrónicas, a transposição da Diretiva para o direito dos Estados-Membros veio

dar resposta à necessidade de reconhecimento legal das assinaturas eletrónicas.

A utilização das assinaturas eletrónicas qualificadas foi muito inferior ao que se

esperava, na altura o mercado, estava pouco desenvolvido. Atualmente, mais utilizadores

dispõem de certificado eletrónico, para assinarem documentos ou transações no ambiente

digital, tal como fazem com os documentos em papel.

26

Directiva 2004/17/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 31 de Março de 2004, relativa à

coordenação dos processos de adjudicação de contratos nos sectores da água, da energia, dos

transportes e dos serviços postais.

38

A utilização das assinaturas eletrónicas nos serviços de administração pública em linha

atingiu um volume apreciável, sendo um importante elemento catalisador. O papel estratégico

das aplicações de administração pública em linha é reconhecido na iniciativa i201027

, que

promove a implantação e a utilização eficiente das TIC nos sectores privado e público. A

necessidade de meios de identificação eletrónicos seguros para o acesso e utilização de

serviços públicos é essencial para cidadãos e empresas para promover a utilização das

assinaturas eletrónicas.

4.2 O Regulamento EU n.º 910/2014

Com o princípio de a Europa ter de explorar todas as fontes de crescimento a fim de

sair da crise, criar empregos e recuperar a sua competitividade. Restaurar o crescimento e a

criação de emprego na União constitui o objetivo da Estratégia Europa 2020. Além disso, o

contexto digital tornou-se uma parte do espaço público onde se estabelecem novas formas de

comércio transfronteiras e estão a ser criadas oportunidades de negócio para as empresas

europeias na economia digital global, a par do desenvolvimento de mercados inovadores e da

interação social e cultural.

Criar confiança no ambiente em linha é fundamental para o desenvolvimento

económico, a falta de confiança leva os consumidores, as empresas e as administrações a

hesitarem em realizar transações por via eletrónica e em adotar novos serviços.

A Agenda Digital para a Europa identifica os obstáculos existentes ao desenvolvimento

digital da Europa e propõe legislação sobre assinaturas eletrónicas (Ação-chave 3) e sobre o

reconhecimento mútuo da identificação e da autenticação eletrónicas (Ação-chave 16), tendo

em vista o estabelecimento de um quadro legal claro que acabe com a fragmentação e a falta

de interoperabilidade, melhore a cidadania digital e previna a cibercriminalidade.

A adoção de legislação que garanta o reconhecimento mútuo da identificação e da

autenticação eletrónicas em toda a UE e a revisão da Diretiva relativa às assinaturas

eletrónicas constituem igualmente ações fundamentais do Ato do Mercado Único, para a

realização do mercado único digital.

O Roteiro para a Estabilidade e o Crescimento sublinha o papel fundamental que o

futuro quadro legal comum relativo ao reconhecimento e à aceitação mútuos da identificação e

da autenticação eletrónicas através das fronteiras terá no desenvolvimento da economia digital.

A legislação da UE em vigor sobre a matéria, nomeadamente a Diretiva 1999/93/CE

relativa a um quadro comunitário para as assinaturas eletrónicas, contempla essencialmente a

assinaturas eletrónicas. A UE não dispõe de qualquer quadro geral transnacional e

27

http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=COM:2005:0229:FIN:EN:PDF

39

transectorial para transações eletrónicas seguras, fiáveis e simples que englobe a identificação,

a autenticação e as assinaturas eletrónicas.

O objetivo é melhorar a legislação existente e torná-la extensível ao reconhecimento e

à aceitação mútuos, a nível da UE, dos sistemas de identificação eletrónica notificados e de

outros serviços de confiança eletrónicos conexos essenciais.

A proposta baseia-se no artigo 114.º do TFUE, que diz respeito à adoção de regras

para eliminar os obstáculos existentes ao funcionamento do mercado interno. Os cidadãos, as

empresas e as administrações poderão beneficiar do reconhecimento e da aceitação mútuos

da identificação, da autenticação e das assinaturas eletrónicas e de outros serviços de

confiança através das fronteiras, quando necessário para aceder, e concluir os procedimentos

ou transações eletrónicos.

Um regulamento é considerado o instrumento jurídico mais adequado, devido à sua

aplicabilidade direta, em conformidade com o artigo 288.º do TFUE, um regulamento, ao

instaurar um conjunto harmonizado de regras essenciais que contribuem para o funcionamento

do mercado interno, reduzirá a fragmentação do quadro legal e fornecerá maior segurança

jurídica.

Os 52 artigos do novo regulamento abrangem diversos aspetos das transações eletrónicas:

a) Estabelece as condições em que os Estados-Membros reconhecem e aceitam os

meios de identificação eletrónica para identificar pessoas singulares e coletivas no quadro de

um sistema de identificação eletrónica notificado de outro Estado-Membro;

b) Estabelece normas aplicáveis aos serviços de confiança, nomeadamente às

transações eletrónicas;

c) Institui um quadro legal para,

Serviços de confiança:

- Assinaturas eletrónicas,

- Os selos eletrónicos,

- Os selos temporais,

- Os serviços de envio registado eletrónico,

- Os serviços de certificados para autenticação de sítios web.

E os documentos eletrónicos,

Uma vez que muitos Estados-Membros já implementaram sistemas de identificação

eletrónica (baseadas em tecnologias muito diferentes, ou seja, que vão desde passwords a

smart cards), a experiência mostra que as medidas nacionais criaram de facto barreiras à

40

interoperabilidade das assinaturas eletrónicas ao nível da UE e produzem atualmente o mesmo

efeito na identificação e na autenticação eletrónicas e nos serviços de confiança associados.

Torna-se, assim, necessário que a UE crie um quadro que facilite a interoperabilidade

transfronteiras e melhore a coordenação dos sistemas nacionais de supervisão. Este princípio

visa proteger investimentos realizados, mas também é importante para os Estados-Membros,

onde a identificação eletrónica não pode ser abordada no regulamento proposto da mesma

forma genérica que os outros serviços eletrónicos de confiança, dado que a produção de meios

de identificação é uma prerrogativa nacional.

O regulamento proposto cria condições de igualdade para as empresas que prestam

serviços de confiança, ao passo que as diferenças existentes atualmente nas legislações

nacionais criam muitas vezes incerteza jurídica e ónus adicionais.

A segurança jurídica é significativamente reforçada através da obrigação clara, para os

Estados-Membros, de aceitarem os serviços de confiança qualificados, o que criará mais

incentivos para que as empresas estendam a suas atividades a outros países.

O regulamento é muito escasso em detalhes o que seria importante para os técnicos,

por exemplo, requisitos concretos para a segurança e interoperabilidade, está mais preocupado

com os detalhes legais, sendo demasiado escasso sobre os aspetos jurídicos importantes. O

regulamento contém vários “gatilhos” para a Comissão poder refinar os requisitos através de

atos de execução.

Por exemplo, uma empresa poderá participar por via eletrónica num concurso público

lançado pela administração de outro Estado-Membro sem que a sua assinatura eletrónica fique

bloqueada devido a requisitos nacionais específicos e problemas de interoperabilidade.

Assim também, uma empresa terá a possibilidade de assinar contratos por via

eletrónica com uma congénere estabelecida noutro Estado-Membro sem recear a imposição de

requisitos legais diferentes para os serviços confiança como os selos eletrónicos, os

documentos eletrónicos ou os selos temporais.

Um outro caso: um aviso de incumprimento será enviado de um Estado-Membro para

outro com a certeza de que é legalmente válido em ambos os Estados-Membros. Por último, o

comércio em linha será mais fiável quando os compradores tiverem meios para verificar que

estão realmente a aceder ao sítio Web do comerciante da sua escolha em vez de um sítio Web

eventualmente falso.

A existência de meios de identificação eletrónica mutuamente reconhecidos e

assinaturas eletrónicas generalizadamente aceites facilitará a oferta transfronteiras de

numerosos serviços no mercado interno e permitirá que as empresas desenvolvam as suas

atividades fora de portas sem encontrarem obstáculos nas interações com as autoridades

públicas.

Na prática, estaremos perante melhorias significativas de eficiência tanto para as

empresas como para os cidadãos no cumprimento de formalidades administrativas. Por

exemplo, um estudante terá a possibilidade de se inscrever por via eletrónica numa

41

universidade estrangeira, um cidadão de apresentar a sua declaração fiscal em linha a outros

Estados-Membros ou um doente de aceder aos seus dados de saúde em linha.

O regulamento separa corretamente as noções de identificação e assinatura, o primeiro

representa a identificação de uma pessoa singular ou coletiva que atue (normalmente no início

de uma transação eletrónica), enquanto que o último conclui uma transação através da

assinatura de um documento, o equivalente a uma assinatura manuscrita.

4.2.1 Níveis de garantia

São apresentados os níveis de garantia que se basearam nos projetos-pilotos como o

STORK QAA e na ISO29115. Os níveis de garantia deverão caracterizar o nível de confiança

de um meio de identificação eletrónica na determinação da identidade de uma pessoa,

garantindo assim que quem declara ter determinada identidade é de facto a pessoa a quem

essa identidade foi atribuída. O nível de garantia depende do nível de confiança que os meios

de identificação eletrónica conferem a respeito da identidade declarada ou reivindicada por

uma pessoa tendo em conta os processos (por exemplo, prova e verificação da identidade e

autenticação), as atividades de gestão (por exemplo, a entidade que produz os meios de

identificação eletrónica e o procedimento para produzir esses meios) e os controlos técnicos

aplicados.

O Regulamento define os níveis de garantia como:

1. Os sistemas de identificação eletrónica notificados nos termos do artigo 9.o, n.

o 1,

especificam os níveis de garantia reduzidos, substanciais e/ou elevados para os meios

de identificação eletrónica neles produzidos.

2. Os níveis de garantia reduzidos, substanciais e elevados cumprem,

respetivamente, os seguintes critérios:

a) O nível de garantia reduzido corresponde a um meio de identificação

eletrónica, no contexto de um sistema de identificação eletrónica, que confere

um nível de confiança limitado relativamente à identidade declarada ou

reivindicada por determinada pessoa, e que se caracteriza por referência a

especificações técnicas, normas e procedimentos conexos, nomeadamente

controlos técnicos, cuja finalidade é reduzir o risco de utilização ou alteração

indevida da identidade;

b) O nível de garantia substancial corresponde a um meio de identificação

eletrónica, no contexto de um sistema de identificação eletrónica, que confere

um nível de confiança substancial relativamente à identidade declarada ou

reivindicada por determinada pessoa, e que se caracteriza por referência a

42

especificações técnicas, normas e procedimentos conexos, nomeadamente

controlos técnicos, cuja finalidade é reduzir substancialmente o risco de

utilização ou alteração indevida da identidade;

c) O nível de garantia elevado corresponde a um meio de identificação

eletrónica, no contexto de um sistema de identificação eletrónica, que confere

um nível de confiança relativamente à identidade declarada ou reivindicada por

determinada pessoa mais elevado do que os meios de identificação eletrónica

com o nível de garantia substancial, e que se caracteriza por referência a

especificações técnicas, normas e procedimentos conexos, nomeadamente

controlos técnicos, cuja finalidade é evitar a utilização ou a alteração indevida

da identidade.

4.2.2 Quadro de Interoperabilidade

A interoperabilidade técnica entre os diferentes sistemas de identificação eletrónica

será baseado num Quadro Interoperabilidade, com base no trabalho realizado no projeto

cofinanciado UE, STORK28

.

As metas de segurança que devem ser preenchidas pelo quadro baseiam-se nos

requisitos e as expectativas da parte interessada neste quadro:

- O prestador de serviços exige autenticidade / integridade da identificação dos

dados da pessoa que recebeu, e a fim de cumprir as suas obrigações da

proteção de dados, exige também a confidencialidade dos dados recebidos de

identificação pessoal;

- O cidadão espera confidencialidade dos seus dados de identificação pessoal

e também espera que os operadores do quadro respeitem a sua privacidade.

Para cumprir estes requisitos, de forma a proporcionar evidências e responsabilidade

mandatadas pelo regulamento, é necessária criar uma autenticação completa em todo o

processo, para gerar uma cadeia de responsabilidade e Confiança.

A interoperabilidade é fundamental e esta deve garantir as propriedades da segurança.

O quadro para a interoperabilidade transfronteiriça deve fornecer:

- Confidencialidade dos dados de identificação pessoal;

- Autenticidade / integridade dos dados de identificação pessoal;

28

https://www.eid-stork.eu

43

- Garantir a identificação dos terminais da comunicação.

Princípios para o quadro da interoperabilidade

• A neutralidade tecnológica;

• Requisitos de alto nível - outras especificações a definir com os Estados-Membros;

• Implementação de referência pela Comissão;

• Implementação das especificações técnicas dos Estados-Membros.

Elementos do quadro de interoperabilidade

• Requisitos técnicos mínimos;

• Conjunto mínimo de dados de identificação de pessoa;

• Normas operacionais comuns;

• Referência aos níveis de garantia e mapeamento.

O regulamento diz respeito a identificação de pessoas singulares, pessoas coletivas e

pessoas singulares que representam as pessoas jurídicas, a identificação é definida como a

identificação única de uma pessoa. Por conseguinte, deve ser definido um conjunto de dados

interoperável, garantindo a identificação única.

44

5. Serviços de confiança

O regulamento estabelece um quadro legal geral para a utilização dos serviços de

confiança, não é criada uma obrigação geral de utilização dos mesmos nem de instalação de

um ponto de acesso para todos os serviços de confiança existentes.

Só deverão cumprir os requisitos, os serviços de confiança prestados ao público com

consequências para terceiros.

O Regulamento define como serviço de confiança, um serviço eletrónico geralmente

prestado mediante remuneração, que consiste:

a) Na criação, verificação e validação de assinaturas eletrónicas, selos

eletrónicos ou selos temporais, serviços de envio registado eletrónico e certificados

relacionados com estes serviços; ou

b) Na criação, verificação e validação de certificados para a autenticação de

sítios web;

c) Na preservação das assinaturas, selos ou certificados eletrónicos

relacionados com esses serviços;

Um Serviço de confiança qualificado é um serviço de confiança que satisfaça os

requisitos aplicáveis estabelecidos no presente regulamento;

Figura nº2- Marca de confiança «UE» para serviços de confiança qualificados, a cores 29

A confiança nos serviços em linha e a respetiva conveniência é essencial para que os

utilizadores tirem pleno partido dos serviços eletrónicos e os utilizem de maneira consciente.

29

http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=uriserv:OJ.L_.2015.128.01.0013.01.POR

45

Foi criada a marca de confiança «UE» que identifica os serviços de confiança

qualificados prestados pelos prestadores qualificados de serviços de confiança. Esta marca

distingue claramente os serviços qualificados de outros serviços de confiança, contribuindo

desta forma para a transparência no mercado.

A utilização da marca de confiança «UE» pelos prestadores qualificados de serviços de

confiança deverá ser voluntária e não deverá implicar qualquer outro requisito além dos

previstos no presente regulamento.

Os efeitos legais dos serviços de confiança deverão ser definidos pelo direito nacional,

salvo disposição em contrário do presente regulamento.

O presente regulamento cria uma obrigação de reconhecer um serviço de confiança,

este só pode deixar de ser reconhecido se o destinatário da obrigação não o puder ler ou

verificar por motivos técnicos que escapem ao controlo direto do destinatário.

Os Estados-Membros podem manter ou criar, em conformidade com o direito da União,

disposições nacionais em matéria de serviços de confiança, na medida em que esses serviços

não se encontrem totalmente harmonizados pelo presente regulamento. Contudo, os serviços

de confiança que cumpram o regulamento deverão gozar da liberdade de circulação no

mercado interno.

O Regulamento apresenta um quadro legal para os seguintes serviços de confiança:

- Assinaturas eletrónicas;

- Selos eletrónicos;

- Selos temporais;

- Serviços de envio registado eletrónico;

- Serviços de certificados para autenticação de sítios web.

E os documentos eletrónicos.

5.1 Assinaturas eletrónicas

As assinaturas eletrónicas são utilizadas apenas pelas pessoas naturais.

O regulamento contempla os seguintes tipos de assinatura:

Assinatura eletrónica, os dados em formato eletrónico que se ligam ou estão

logicamente associados a outros dados em formato eletrónico e que sejam utilizados pelo

signatário para assinar;

Assinatura eletrónica avançada, uma assinatura eletrónica que obedeça aos

requisitos estabelecidos no artigo n.º 26.

46

Assinatura eletrónica qualificada, uma assinatura eletrónica avançada criada por um

dispositivo qualificado de criação de assinaturas eletrónicas e que se baseie num certificado

qualificado de assinatura eletrónica.

Para garantir a segurança jurídica no que respeita à validade da assinatura, é essencial

especificar os componentes da assinatura eletrónica qualificada que deverão ser avaliados

pelo utilizador que procede à validação. Além disso, a especificação dos requisitos aplicáveis

aos prestadores qualificados de serviços de confiança que podem prestar serviços qualificados

de validação a utilizadores que não desejem ou não possam efetuar eles mesmos a validação

das assinaturas eletrónicas qualificadas deverá incentivar os setores públicos e privado a

investirem em tais serviços. Ambos os setores deverão tornar a validação das assinaturas

eletrónicas qualificadas fácil e conveniente para todas as partes a nível da União.

5.2 Selo eletrónico

Os selos eletrónicos deverão servir de prova da emissão de um documento eletrónico

por determinada pessoa coletiva, certificando a origem e a integridade do documento.

O regulamento define os seguintes formatos:

- Selo eletrónico, os dados em formato eletrónico apenso ou logicamente

associado a outros dados em formato eletrónico para garantir a origem e a

integridade destes últimos;

- Selo eletrónico avançado, um selo eletrónico que obedeça aos requisitos

estabelecidos no artigo 36.º.

- Selo eletrónico qualificado, selo eletrónico avançado criado por um dispositivo

qualificado de criação de selos eletrónicos e que se baseie num certificado

qualificado de selo eletrónico.

Não podem ser negados efeitos legais nem admissibilidade enquanto prova em

processo judicial a um selo eletrónico pelo simples facto de se apresentar em formato

eletrónico ou de não cumprir os requisitos dos selos eletrónicos qualificados.

O selo eletrónico qualificado beneficia da presunção da integridade dos dados e da

correção da origem dos dados aos quais está associado.

Os selos eletrónicos qualificados baseados em certificados qualificados emitidos num

Estado-Membro são reconhecidos como selos eletrónicos qualificados em todos os outros

Estados-Membros.

Além de autenticarem o documento produzido pela pessoa coletiva, os selos

eletrónicos podem ser utilizados para autenticar qualquer bem digital da pessoa coletiva, como

um código de software ou um servidor.

Para as transações em que é exigido o selo eletrónico qualificado de uma pessoa

coletiva, deverá ser igualmente aceitável a assinatura eletrónica qualificada do respetivo

representante autorizado.

47

5.3 Selos Temporais

O regulamento define dois tipos de selos temporais:

- Selos temporais, que contem os dados em formato eletrónico que vinculam

outros dados em formato eletrónico a uma hora específica, criando uma prova

de que esses outros dados existiam nesse momento;

- Selo temporal qualificado, consiste num selo temporal que satisfaça os

requisitos estabelecidos no artigo 42.º.

Para garantir a segurança dos selos temporais qualificados, o regulamento deverá

exigir a utilização de um selo eletrónico avançado ou da assinatura eletrónica avançada ou de

outros métodos equivalentes.

Não podem ser negados efeitos legais nem admissibilidade enquanto prova em

processo judicial a um selo temporal pelo simples facto de se apresentar em formato eletrónico

ou de não cumprir os requisitos do selo temporal qualificado.

O selo temporal qualificado beneficia da presunção da exatidão da data e da hora que

indica e da integridade dos dados aos quais a data e a hora estão associadas.

O selo temporal qualificado emitido num Estado-Membro é reconhecido como selo

temporal qualificado em todos os Estados-Membros

5.4 Serviços de envio registado eletrónico

O serviço de envio registado eletrónico, consiste num serviço que torne possível a

transmissão de dados entre terceiros por meios eletrónicos e forneça prova do tratamento dos

dados transmitidos, nomeadamente a prova do envio e da receção dos mesmos, e que proteja

os dados transferidos contra o risco de perda, roubo, dano ou alteração não autorizada.

O serviço qualificado de envio registado eletrónico, é um serviço de envio registado

eletrónico que satisfaça os requisitos estabelecidos no artigo 44.º.

Não podem ser negados efeitos legais nem admissibilidade enquanto prova em

processo judicial aos dados enviados e recebidos com recurso a um serviço de envio registado

eletrónico pelo simples facto de se apresentarem em formato eletrónico ou de não cumprirem

todos os requisitos do serviço qualificado de envio registado eletrónico.

Os dados enviados e recebidos com recurso a um serviço qualificado de envio

registado eletrónico beneficiam da presunção legal de integridade dos dados, do envio pelo

remetente identificado e da receção pelo destinatário identificado dos dados e da exatidão da

data e hora de envio e receção dos dados indicados pelo serviço qualificado de envio registado

eletrónico.

48

5.5 Serviços de certificados para autenticação de sítios web

Os serviços de autenticação de sítios web fornecem meios que dão aos visitantes de

um sítio web a garantia de que existe uma entidade genuína e legítima responsável pelo sítio.

Estes serviços contribuem para a criação de segurança e confiança na realização de

negócios em linha, pois os utilizadores terão confiança nos sítios web que tenham sido

autenticados. A prestação e utilização dos serviços de autenticação de sítios web são

inteiramente voluntárias. Contudo, para que a autenticação de sítios web venha a constituir um

meio de reforçar a confiança, proporcionar uma melhor experiência ao utilizador e estimular o

crescimento no mercado interno, serão definidos requisitos mínimos em matéria de segurança

e responsabilidade a cumprir pelos prestadores e pelos serviços por eles prestados.

Um certificado de autenticação de sítio web é um atestado que torne possível

autenticar um sítio web e associe o sítio web à pessoa singular ou coletiva à qual o certificado

tenha sido emitido;

Certificado qualificado de autenticação de sítios web é um certificado de autenticação de sítios

web que seja emitido por um prestador de serviços de confiança e satisfaça os requisitos

estabelecidos no anexo I.

5.6 Documento eletrónico

Um documento eletrónico é qualquer conteúdo armazenado em formato eletrónico,

nomeadamente texto ou gravação sonora, visual ou audiovisual.

Não podem ser negados efeitos legais nem admissibilidade enquanto prova em

processo judicial a um documento eletrónico pelo simples facto de se apresentar em formato

eletrónico.

Os documentos eletrónicos são importantes para o futuro desenvolvimento das

transações eletrónicas transfronteiriças no mercado interno, reforçando o princípio segundo o

qual não podem ser recusados efeitos legais a um documento eletrónico pelo facto de se

apresentar em formato eletrónico garantindo que que nenhuma transação eletrónica é rejeitada

pelo facto de o documento se apresentar em formato eletrónico.

De uma forma resumida apresento dois casos de estudo utilizados pela UE para demonstrar a

vantagens de todo o ecossistema tecnológico.

49

Caso de estudo 1

Neste caso é apresentada uma visão global e integrada dos novos serviços de

confiança.

O cenário é um cidadão que se encontra noutro pais que não o seu e pretende

submeter o “IRS”. No portal web encontra a marca de confiança da EU, onde solicita a

autenticação ao utilizador, através da sua identificação eletrónica, consegue aceder aos

serviços autenticando-se de forma segura, de seguida assina eletronicamente o documento se

for pessoal singular utiliza a assinatura eletrónica, se for pessoa coletiva utiliza o selo

eletrónico. Para garantir a hora de submissão é colocado um selo temporal onde fica validade a

hora e data, utiliza para garantir a integridade, confidencialidade e não repudio o serviço de

entrega de serviço registado, sendo posteriormente guardado em formato eletrónico,

conservando o seu valor probatório, para o futuro.

Figura nº 3 - Fluxo das transações eletrónicas 30

Caso de estudo 2

A próxima imagem apresenta as vantagens da identificação eletrónica e os serviços de

confiança para as transações eletrónicas no mercado interno, sobre uma empresa Sueca que

30

CAB_Forum-eIDAS-Fiedler-09-2014

50

pretende concorrer a um concurso publico na Croácia. Apresenta as vantagens devido á

simplicidade, rapidez e redução de custos com a utilização dos serviços de confiança

Figura n.º 4 - Vantagens na utilização do eIDAS 31

31

Euritas Summit 2015_Innovation pt. 2_SBORDONI

51

5.7 Proteção dos dados, direitos e garantias

O regulamento não impõe o uso da identificação eletrónica, nem dos serviços de

confiança.

Os princípios chave da identificação eletrónica são:

Soberania dos Estados-Membros para usar ou introduzir meios de identificação

eletrónica;

Reconhecimento transfronteiriço obrigatório somente para aceder aos serviços

públicos;

Autonomia completa para o sector privado;

Princípio da reciprocidade contando com os níveis de garantia definidos;

Quadro de interoperabilidade;

Cooperação entre os Estados-Membros

Princípios-chave relativos aos serviços de confiança

Não discriminação nos tribunais dos serviços de confiança eletrónicos versus,

os seus equivalentes em papel;

Efeitos jurídicos específicos associados a serviços de confiança qualificados;

Normas técnicas não-obrigatórias garantindo presunção de conformidade;

A neutralidade tecnológica.

O regulamento deverá ser aplicado no pleno cumprimento dos princípios relativos à

proteção de dados pessoais, nos termos da Diretiva 95/46/CE do Parlamento Europeu e do

Conselho.

Tendo em conta o princípio de reconhecimento mútuo estabelecido pelo regulamento, a

autenticação para acesso a um serviço em linha deverá dizer respeito ao tratamento apenas

dos dados de identificação que sejam adequados, pertinentes e não excessivos para conceder

acesso ao serviço em linha em causa. Além disso, os requisitos previstos na Diretiva 95/46/CE

em matéria de confidencialidade e segurança do tratamento dos dados deverão ser

respeitados pelos prestadores de serviços de confiança e pelas entidades supervisoras.

O tratamento de dados pessoais 32

é inerente à utilização de sistemas de identificação

e, em certa medida, à prestação de outros serviços de confiança (por exemplo, no caso das

assinaturas eletrónicas). Será necessário proceder ao tratamento de dados pessoais para

estabelecer uma ligação fidedigna entre os meios de identificação e autenticação eletrónica

utilizados por uma pessoa singular (ou coletiva) e essa pessoa, a fim de confirmar se a pessoa

por detrás do certificado eletrónico é realmente quem alega ser. Por exemplo, as identificações

eletrónicas e os certificados eletrónicos dizem respeito a pessoas singulares e incluem um

32

http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=OJ:C:2013:028:FULL&from=EN

52

conjunto de dados que representam inequivocamente essas pessoas. Por outras palavras, a

criação, verificação, validação e tratamento desses meios eletrónicos referidos no artigo 3.º, n.º

12, da Proposta implicarão, em muitos casos, o tratamento de dados pessoais e,

consequentemente, a proteção dos dados torna-se relevante.

53

6. Serviços a regulamentar

A abordagem nacional para a transposição e implementação do novo quadro legal do

Regulamento (EU) n.º 910/2014 relativo à identificação eletrónica e aos serviços de confiança

para as transações eletrónicas no mercado interno, deve ser encarada como uma oportunidade

para analisar todo o ecossistema tecnológico que necessita de assinatura eletrónica e o valor

probatório dos atos realizados, por forma a colmatar as lacunas existentes ou as dúvidas que

prevalecem na lei portuguesa, dando aso a varias interpretações e uso indevido das mesmas,

com prejuízo para determinadas entidades, estado e para o cidadão.

Face à evolução tecnológica, as necessidades dos cidadãos, a qualidade dos serviços

em linha oferecidos pelos diversos fabricantes e a capacidade engenhosa de diversos players

de mercado em explorar lacunas ou aspetos menos claros da lei para regular o mercado

nacional, é fundamental que neste período, fase de adaptação e implementação do

Regulamento Europeu, todos os responsáveis diretos nesta matéria, sejam o Estado, entidades

supervisoras e entidades certificadoras.

Estas entidades devem colaborar, produzir e promulgar legislação que contribua para a

confiança e credibilização de todo este ecossistema legal das assinaturas eletrónica, através

da autenticação e identificação eletrónica para garantir o valor probatório dos documentos

assinados.

O ato legislativo europeu do regulamento é de aplicação direta em todos os estados

membros, resolve logo grande parte do problema, mas várias questões se levantam sobre a

forma e formato para implementar todos os novos conceitos e serviços que são apresentados,

a sua ligação com outra legislação nacional que terá que ser modificada para dar suporte às

novas alterações introduzidas.

Uma metodologia possível para a realização desta tarefa será a criação de grupos de

trabalho multidisciplinares, com pessoal técnico e juristas de forma a compreender todo o

contexto global do regulamento não deixando duvidas na interpretação e na produção dos

conteúdos dos artigos que vierem a ser exarados. Neste grupo de trabalho deverão fazer parte,

a Entidade Supervisora a Autoridade Nacional de Segurança, o Organismo do Estado com

responsabilidades diretas neste âmbito, o Centro de Gestão da Rede Informática do Governo

(Ceger), Presidência do Conselho de Ministros e outros Organismos que a Tutela considere

serem fundamentais, nomeadamente a Autoridade Tributária no que diz respeito às faturas

eletrónicas.

Numa fase posterior, quando a base e as linhas orientadoras estiverem definidas para

um âmbito mais alargado deverão ser convidadas as entidades certificadoras nacionais para

com base no seu conhecimento e experiência criar legislação Nacional autêntica e doutrinária,

não devendo esta ser omissa nem dar espaço para abusos e exploração de omissões.

Ao longo dos anos e desde a publicação do Decreto-lei nº 290-D/99, a tecnologia

evoluiu e a capacidade e arte de explorar as omissões na lei também, aproveitando este

54

panorama de transposição e adaptação ao Regulamento (EU) n.º 910/2014, pelo que é

importante criar ou atualizar legislação doutrinária em diversos serviços.

6.1 Legislação a atualizar e criar para os seguintes serviços:

6.1.1 Fatura eletrónica;

6.1.2 Armazenamento de documentos eletrónicos;

6.1.3 Assinatura eletrónica em dispositivos móveis;

6.1.4 Assinatura eletrónica realizada na Cloud;

6.1.5 Emissão de certificados digitais para aplicações comerciais;

6.1.6 Receitas médicas eletrónicas;

6.1.7 Branqueamento de capitais.

Apresenta-se uma breve explicação de cada um que passos devem ser dados para a sua

elaboração.

6.1.1 Fatura eletrónica

No caso da fatura eletrónica, existe atualmente legislação, a Diretiva do IVA e faturação

eletrónica – Diretiva do Conselho 2006/112/EC e da sua correção Conselho (EU) 2010/45/EC,

verifica-se de forma muito clara que na primeira diretiva os Estados-Membros podiam ao abrigo

do n.º 2 do artigo 233.º optar por assinaturas eletrónicas avançadas baseadas em certificados

qualificados, ou optar por simples assinaturas eletrónicas avançadas baseadas em certificados

não qualificados.

Este direito de opção justificava-se plenamente, uma vez que à data (no ano de 2006)

em muitos Estados-Membros não existiam ainda entidades certificadoras credenciadas, logo

não existia sequer a possibilidade de oferta de certificados qualificados.

Dada a maturidade alcançada no setor de certificação eletrónica com a existência de

várias entidades certificadoras por estado membro e Trusted List publicadas por cada Estado

membro como o caso do Estado Português, a Comissão entendeu retirar o direito de opção

sobre o tipo de certificado digital, especificando que tem de ser adotada obrigatoriamente para

cumprir os requisitos de fatura eletrónica um certificado qualificado – Eletronic advanced

signature based on a qualified certificate and created by a secure signature creation device …

“, tal como definido no n.º 2 do artigo 233, da Eu Council 2010/45/EC.

Se atendermos a que só os certificados qualificados dispõem de valor probatório legal

compreende-se esta opção da Comissão Europeia como sendo a mais acertada.

A generalidade dos Estados-Membros transcreveu na íntegra o texto da diretiva onde se prevê

expressamente o requisito de um certificado qualificado, para as assinaturas eletrónicas, foi

55

estabelecido na legislação destes países que faturas eletrónicas emitidas por países terceiros

da EU devem estar assinadas eletronicamente com base num certificado qualificado, sob pena

de essas faturas não serem reconhecidas.

No caso Português o legislador definiu o requisito de uma assinatura eletrónica

avançada, não especificando qual o tipo de certificado que tem de ser utilizado para cumprir os

requisitos da faturação eletrónica.

É importante proceder a uma retificação para ficar de acordo com a lei.

6.1.2 Armazenamento de documentos eletrónicos

Vivemos numa sociedade tecnológica, que fomenta e incentiva a desmaterialização do

papel, temos toda uma infraestrutura e capacidade de certificação eletrónica avançada, mas

como resultado final é necessário imprimir os documentos em papel e guarda-los, é necessário

legislação de forma a regular esta atividade para que estes documentos preservem as suas

propriedades e valor legal.

A desmaterialização de documentos em papel, é fundamental pois oferece benefícios

imediatos e permite às empresas aliviar os seus colaboradores de tarefas consumidoras de

tempo e recursos para lhes atribuir antes tarefas com um maior valor acrescentado.

6.1.3 Assinatura eletrónica em dispositivos móveis

A mobilidade é umas principais características e vantagens do avanço tecnológico,

vivemos em rede, podemos aceder a diversos serviços a qualquer hora em qualquer lugar.

Para não ser um obstáculo a estas comodidades e vantagens dos dispositivos móveis

é fundamental criar condições para serem realizadas transações em segurança.

Os dispositivos móveis devido ao seu uso maciço e as aplicações que utilizam,

tornaram-se o principal alvo dos ataques cibernéticos, explorando as vulnerabilidades e falhas

quer do hardware quer do software criado.

Para o uso destes equipamentos na assinatura eletrónica qualificada é fundamental

implementar os perfis de segurança adequados, com requisitos de segurança para que seja

criado confiança e segurança nesta forma de acesso.

É importante definir os perfis de proteção para o uso desta tecnologia, onde ficaram alojados

os certificados do utilizador, no lado do servidor ou no dispositivo do utilizar, fundamental é

garantir as condições de segurança e de acordo com a Lei em vigor.

Deverá ser criada legislação que especifique em que ambientes e que condição será

válida a assinatura produzida pelos dispositivos móveis.

56

6.1.4 Assinatura eletrónica realizada na Cloud

O regulamento faz referência a este cenário, mas não apresenta desenvolvimentos

devido à falta de especificações técnicas por falta de experiencia, mas vão ser elaboradas com

base em pilotos e casos de estudo.

Esta é uma realidade que está presente e vai continuar, deve-se acompanhar em

termos de legislação para se reduzir riscos e evitar a fraude e roubos de dados e identidade.

Numa primeira abordagem é fundamental compreender a cloud e que tipos de serviços

se pretende, ou seja na assinatura eletrónica, devem se verificar os mesmos requisitos de

segurança naqueles observados quando o cidadão controla todo o processo. Quando o

processo de assinatura é feito do lado do servidor, em que condições, como está a segurança

do canal de transmissão e todo o sistema de recursos da aplicação.

Deve ser elaborada legislação que enquadre esta nova realidade e permita criar

segurança e confiança no sistema global.

6.1.5 Emissão de certificados digitais para aplicações

Atualmente na nossa legislação não existe um enquadramento legal para os

certificados não qualificados, pessoas mal-intencionadas, com poucos recursos técnicos e com

relativa facilidade podem produzir certificados e vende-los no mercado a preços reduzidos,

enganando as pessoas. Todas estas atividades podem contribuir para a insegurança, ataques

e credibilidade de todo o sistema.

É necessário esclarecer e legislar este ambiente para aumentar a liberdade e confiança

nos acessos ao ciberespaço.

6.1.6 Receitas médicas eletrónicas

No serviço das receitas medicas, o médico passará a prescrever as receitas fazendo

uso do Cartão de Cidadão. As aplicações que realizam este processo, ao acederem aos dados

do cartão do cidadão, de que forma o fazem? Só acedem aos dados que necessitam?

recolhem todos os dados disponíveis? os dados depois de usados ficam guardados em cache

de forma permanente ou não?

Cada vez mais, deve-se arranjar enquadramento para todo o tipo de aplicações

(middleware) que interaja com sistema de identificação como o cartão do cidadão, quer ao

nível tecnológico quer legal. Tecnologicamente, para a utilização destas aplicações deveria

estar bem definido que dados são necessários e que método utiliza para a recolha dos

mesmos. O que se pode fazer com os dados, se estes são apagados ou ficam guardados em

cache no computador.

57

Toda a utilização do cartão do cidadão deveria ter enquadramento legal.

A nível nacional deveria existir um organismo (laboratório) que fizesse-se testes e

aprovasse as aplicações que interagem com o cartão do cidadão, ou outro sistema de

identificação, para que cumprisse os requisitos de segurança e protegesse os dados pessoais

dos cidadãos.

Existem no mercado inúmeros perfis de proteção para diversos dispositivos, equipamentos

e aplicações que podem e devem servir de guia para realizar um trabalho mais eficiente e

rápido.

6.1.7 Branqueamento de capitais

A Lei n.º 25/2008, de 05 de Junho 33

, estabelece medidas de natureza preventiva e

repressiva de combate ao branqueamento de vantagens de proveniência ilícita e ao

financiamento do terrorismo.

Para preencher a declaração de atividade via eletrónica, é obrigatório o uso de certificado

eletrónico qualificado, deve ser enquadrado e normalizado o ambiente onde são realizadas as

operações para garantir a integridade, autenticidade e confidencialidade dos prestados.

33

http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=991&tabela=leis&so_miolo=

58

7. O regulamento EU n.º 910/2014 e a Cibersegurança

Atualmente, nos termos do direito da União Europeia, os cidadãos gozam de uma série

de direitos que são relevantes para o ambiente digital, tais como a liberdade de expressão e

informação, a proteção dos dados pessoais e da privacidade, exigências de transparência,

serviço telefónico universal, serviços de Internet funcionais e uma qualidade de serviço mínima.

Ao longo das duas últimas décadas, a Internet e, mais geralmente ciberespaço teve um

enorme impacto em todas as áreas da sociedade.

A nossa vida diária, os direitos fundamentais, as interações sociais e economias

dependem das tecnologias de informação e comunicação a funcionar sem problemas. Um

ciberespaço aberto e livre promoveram a inclusão política e social a nível mundial, quebrou as

barreiras entre países, comunidades e cidadãos, permitindo a interação, partilha de

informações e ideais a um nível global. Esta realidade tem proporcionado um fórum de

liberdade de expressão e exercício de direitos fundamentais, onde as pessoas dispostas em

procurar e defender sociedades mais democráticas e justas.

Tradicionalmente, a maioria das organizações têm-se focado na aquisição de soluções

de proteção do perímetro, ou "fronteiras" das infraestruturas críticas através da implantação de

firewalls, deteção (IDS) e prevenção de intrusões (IPS) e software antivírus.

Estas ferramentas são importantes e necessárias para proteção, eles são insuficientes

e limitados para um ambiente que deve permitir o acesso seguro e respeitar os direitos dos

cidadãos.

Os direitos fundamentais, da democracia e do Estado de Direito precisam de ser

protegidos no ciberespaço contra os incidentes, atividades maliciosas e uso indevido. A nossa

liberdade e prosperidade dependem cada vez mais uma Internet segura e inovadora, que se

vai desenvolver e potenciar no sector privado fomentando o seu crescimento para toda a

sociedade, onde os governos têm papel preponderante e crucial.

Para ciberespaço34

poder permanecer aberto e livre, os mesmos princípios, normas e

valores que a UE defende no ambiente normal também devem ser aplicados nos ambientes em

linha.

34

2 Duas definições: “Cyberspace is an operational domain framed by use of electronics to […] exploit

information via interconnected systems and their associated infra structure.” (NYE Jr., "Cyber Power",

2010, p. 3) citando KUEHL, Daniel T. “From Cyberspace to Cyberpower: Defining the Problem,” in

KRAMER, Franklin D. – STARR, Stuart and WENTZ, Larry K. eds., Cyberpower and National Security

(Washington, D.C.: National Defense UP, 2009); ou “ [...] a global domain within the information

environment consisting of the interdependent network of information technology infrastructures, including

the Internet, telecommunications networks, computer systems, and embedded processors and controllers.

” Origin: Cyberspace Operations, Air Force Doctrine Document 312, 15 July 2010 pp. 1. Disponível em

http://cryptome.org/dodi/AFDD3-12.pdf.

59

O termo ciberespaço é utilizado para descrever sistemas e serviços ligados quer

diretamente ou indiretamente para as redes de Internet, telecomunicações e informática.

A vida moderna depende do desempenho apropriado, adequado e confidencial do

ciberespaço. Assim, a cibersegurança é importante para todos os Estados, porque se esforça

para garantir que o ciberespaço continua a trabalhar quando e como seria de esperar, mesmo

sob ataque.

A cibersegurança35

é uma questão de política nacional, porque o uso ilícito de

ciberespaço pode ter impactos na economia, saúde pública, segurança e atividades de

segurança nacional, todos os serviços que suportam a vida das sociedades.

Os governantes têm a responsabilidade de conceber uma estratégia cibersegurança,

promovendo a cooperação quer no sector local, nacional e global, sempre em parceria e

cooperação com o sector privado, pois este opera e detém partes significativas do ciberespaço,

nunca abdicando do seu papel de liderança.

A cibersegurança não é um problema apenas do departamento de informática, é da

responsabilidade de todos, sem exceção.

O governo deve reforçar os seus próprios sistemas de informação tanto para proteger

dados sensíveis e estabelecer canais de informações seguras. Governo deve liderar este

esforço, fornecendo os incentivos e a necessária liderança para incentivar as indústrias a

adotar padrões e práticas adotadas pela comunidade mundial de segurança.

Extrapolando estes desafios a nível mundial não será fácil, mas será necessário para

satisfazer os imperativos físicos e económicos essenciais para a segurança a nível global.

Três áreas prioritárias em que os governos e as indústrias deverão cooperar e trabalhar

juntos para estabelecer uma maior segurança cibernética incluem:

• Gestão da Identidade

• Serviços eletrónicos públicos seguros

• Governação Corporativa de Segurança da Informação

Cada uma dessas áreas é um pilar eficaz na abordagem de segurança cibernética e

quando tomado como um todo, vai promover o governo e a indústria cooperação e adoção em

escala global

35

“Cyber security now clearly comes under the purview of diplomats, foreign policy analysts, the

intelligence community, and the military.” (CAVELTY M. D., "The militarisation of cyber security as a

source of global tension", 2012, p. 112) ou “Cyber-security commonly refers to the safeguards and actions

that can be used to protect the cyber domain, both in the civilian and military fields, from those threats that

are associated with or that may harm its independent networks and information infrastructure. Cyber-

security strives to preserve the availability and integrity of the networks and infrastructure and the

confidentiality of the information contained therein.[C-I-A]” (HIGH REPRESENTATIVE/VICE PRESIDENT,

2013, p. 3)

60

A Internet aumentou muito as oportunidades de fazer negócios com potenciais clientes

e parceiros numa sociedade "sem rosto". A natureza sem rosto dessas transações introduziu

novas vulnerabilidades e fez a necessidade de identidades digitais seguras.

A Identidade digital pode fornecer a garantia de identidade necessária para o acesso a

uma comunicação segura ao sistema de aplicação. Uma identidade digital é uma identidade

eletrónica garantida por um certificado digital. A gestão do ciclo de vida e emissão de

certificados digitais podem ser fornecidas através de Infraestrutura de chave pública (PKI).

A PKI faz a gestão de forma eficiente e eficaz dos certificados digitais e tem sido

provado ser altamente interoperável, escalável e fácil gestão, sendo a PKI é um elemento

fundamental da identidade digital segura, fornecendo a base para transações seguras do

comércio eletrónico e governo eletrónico.

Vários países da União Europeia incluindo Portugal, têm esta infraestrutura de chave

pública, em funcionamento, com bons resultados.

A segurança é fundamental para o acesso em tempo real de dados, comunicação e

colaboração. Segurança permite aos governos oferecer novos serviços em linha, informações

confidenciais de intercâmbio com empresas e outras organizações governamentais e realizar

transações de maior valor. Simultaneamente, esta fundação segurança protege os ativos do

governo contra ataques internos e externos.

Os governos deram início a projetos de governo eletrônico como forma de oferecer

melhores serviços aos seus constituintes e encaminhar uma maior eficiência nos processos de

negócios. Ao incorporar a segurança nos projetos do governo eletrónico, os benefícios podem

ser consideravelmente maiores, porque permite aos governos alcançar:

Redução dos custos das transações;

Processos de negócios mais eficientes;

Âmbito alargado para cidadãos, empresas e outros governos;

Fornecimento de novos produtos e serviços;

Capacidade de oferecer novos serviços mais rapidamente;

Maior confiança no governo;

Melhoria dos investimentos;

Melhores condições locais para o crescimento económico.

Diversos Governos de vários Países, já perceberam como a segurança e as

identidades digitais podem potenciar e acelerar os benefícios derivados de governo eletrónico.

Os desafios de segurança do século XXI exigem a cooperação internacional e

colaboração numa escala sem precedentes, incluindo a promoção de fortes medidas de

segurança cibernética para proteger os sistemas de governo e de TI corporativos e, finalmente,

a economia mundial.

61

7.1 O caso único da União Europeia

A união Europeia é a primeira e única região do mundo com:

- Politicas;

- Tecnologia;

- Legislação;

- Regras;

- Interoperabilidade.

A estratégia da EU para a Cibersegurança36

está definida e delineada, o regulamento

EU n.º 910/2014 vem dar um forte contributo para a cibersegurança em todas as suas

vertentes.

Numa abordagem simples e direta o regulamento preenche e cumpre os pontos

elencados em cima, porque partir do documento base serão produzidas políticas e

procedimentos nos diversos provedores de serviços dos Países da União Europeia.

A tecnologia que está a ser desenvolvida e produzida para fazer face aos novos

requisitos, com preocupações de segurança logo no processo de conceção e desenvolvimento.

A preocupação com as técnicas e algoritmos criptográficos mais robustos e seguros, os

formatos de transferência de dados mais interoperáveis e seguros.

Deve ser exigido um nível de segurança mínimo para as tecnologias, redes e serviços

digitais em todos os Estados-Membros.

São sobejamente conhecidas as vantagens da conformidade de produtos e serviços

com as normas internacionalmente reconhecidas e com as boas práticas reconhecidas. A

adoção de um conjunto de normas estabelece a utilização de uma taxonomia e cria um

referencial de medida que permite a avaliação e a fiscalização do seu objeto. Desta forma, a

normalização reduz ambiguidades, facilita a comunicação e a cooperação entre agentes, sejam

eles entidades privadas ou Estados, para além de promover o ambiente de confiança

necessário à interoperabilidade e à cooperação

A legislação que está a ser elaborada por forma a cobrir todas áreas de interesse para

os cidadãos, organizações e Países de forma a trabalharem e cooperarem em ambientes mais

seguros.

Alguma da legislação já produzida:

Regulamento (EU) n.º 910/2014 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23

de julho

36

http://www.consilium.europa.eu/pt/policies/cyber-security/

62

Relativo à identificação eletrónica e aos serviços de confiança para as

transações eletrónicas no mercado interno e que revoga a Diretiva 1999/93/CE.

Regulamento de Execução 2015/1501 da Comissão de 8 de setembro

Estabelece o quadro de interoperabilidade, nos termos do artigo 12º, nº 8, do

Regulamento (UE) n.º 910/2014 do Parlamento Europeu e do Conselho relativo à

identificação eletrónica e aos serviços de confiança para as transações eletrónicas no

mercado interno.

Regulamento de Execução 2015/1502 da Comissão de 8 de setembro

Estabelece as especificações técnicas mínimas e os procedimentos para a

atribuição dos níveis de garantia dos meios de identificação eletrónica, nos termos do

artigo 8º, n.º 3, do Regulamento (UE) n.º 910/2014 do Parlamento Europeu e do

Conselho relativo à identificação eletrónica e aos serviços de confiança para as

transações eletrónicas no mercado interno.

Decisão de Execução 2015/1505 da Comissão de 8 de setembro

Estabelece as especificações técnicas e os formatos relativos às listas de

confiança, nos termos do artigo 22º, n.º 5, do Regulamento (UE) n.º 910/2014 do

Parlamento Europeu e do Conselho relativo à identificação eletrónica e aos serviços de

confiança para as transações eletrónicas no mercado interno.

Decisão de Execução 2015/1506 da Comissão de 8 de setembro

Estabelece especificações relativas aos formatos das assinaturas eletrónicas

avançadas e dos selos eletrónicos avançados para reconhecimento pelos organismos

públicos nos termos dos artigos 27º, n.º 5, e 37º, n.º 5, do Regulamento (UE) n.º

910/2014 do Parlamento Europeu e do Conselho relativo à identificação eletrónica e

aos serviços de confiança para as transações eletrónicas no mercado interno.

São chamadas a intervir diversas autoridades em cada Estado Membro a cooperarem

entre si e depois com a UE, desde as Entidades Supervisoras, Autoridades da Proteção de

Dados, Autoridades Nacionais de Cibersegurança, ENISA, ETSI37

, todas a trabalhar para o

mesmo objetivo.

O regulamento prevê ainda a obrigatoriedade, para certo tipo de empresas e

organizações, de comunicar a ocorrência de ciberincidentes significativos de segurança, à

Entidade Supervisora Nacional de cada Estado Membro e esta à ENISA, como define o Art.º nº

19.

A ENISA é a entidade responsável, por criar, desenvolver e partilhar pelos Estados

Membros, uma plataforma Web onde é definida a taxonomia, metodologias, fluxos e entidades

participantes (está em fase final de testes, onde no inicio do próximo ano será realizado o

piloto).

37

https://portal.etsi.org/TBSiteMap/ESI/TrustServiceProviders.aspx

63

O ETSI tem grande experiencia na elaboração de standards na área dos serviços de

certificação eletrónica, como revelam as seguintes tabelas.

Tabela 1: The current standards for Certification and Other Trust Service Providers

EN 319 403

v2.2.2

Trust Service Provider Conformity Assessment -

Requirements for conformity assessment

bodies assessing Trust Service Providers

TS 119 403 v2.1.1

and v1.1.1

EN 319 411-2

Policy requirements for certification authorities issuing

qualified certificates TS 101 456

EN 319 411-3

Policy requirements for Certification Authorities issuing

public key certificates

Note: Excludes web site certificates based on CAB Forum

requirements.

TS 102 042

TS 102 042

Policy requirements for Certification Authorities issuing

public key certificates

Note: Includes requirements for web site certificates

based on CAB Forum requirements.

For other Non-

qualified

certificates use EN

319 411-3

TS 102 023 Policy requirements for time-stamping authorities

TS 102 158

Policy requirements for Certification Service Providers

issuing attribute certificates usable with Qualified

certificates

TS 119 412-2

Profiles for Trust Service Providers issuing certificates;

Part 2: Certificate Profile for certificates issued to natural

persons TS 102 280

EN 319 412-5 Profiles for Trust Service Providers issuing certificates;

Part 5: Extension for Qualified Certificate profile TS 101 862

TS 119 612

Tabela 2: The standards for Certification and Other Trust Service Providers currently

under development or review in ETSI

List of upcoming ETSI standards

Reference Short Title Replaces

EN 319 401 v2.0.0

(under EN approval procedure

from 2015-06-18 until 2015-10-

16)

General Policy Requirements for Trust Service

Providers EN 319 401

EN 319 411-1 v1.0.0

(under EN approval procedure

from 2015-06-18 until 2015-10-

Policy and security requirements for Trust Service

Providers issuing certificates; Part 1: General

Requirements

TS 102 042 EV &

Baseline policies

EN 319 411-3

64

List of upcoming ETSI standards

Reference Short Title Replaces

16) Note: Incorporates requirements for web site

certificates with requirements previously specified in

319 411-3

EN 319 411-2 v2.0.6

(Update - under EN approval

procedure from 2015-06-

18 until 2015-10-16)

Policy and security requirements for Trust Service

Providers issuing certificates; Part 2: Requirements

for trust service providers issuing EU qualified

certificates

Note: Extends requirements in part 1 with specific

requirements for EU qualified certificates

EN 319 411-2

EN 319 421 v1.0.0

(under EN approval procedure

from 2015-06-18 until 2015-10-

16)

Policy and Security Requirements for Trust Service

Providers issuing ElectronicTime-Stamps TS 102 023

EN 319 412-1 v1.0.0

(under EN approval procedure

from 2015-06-18 until 2015-10-

16)

Certificate Profiles; Part 1: Overview and common

data structures

EN 319 412-2 v2.0.15

(under EN approval procedure

from 2015-06-18 until 2015-10-

16)

Certificate Profiles; Part 2: Certificate profile for

certificates issuedto natural persons TS 119 412-2 & TS

102 280

EN 319 412-3 v1.0.0

(under EN approval procedure

from 2015-06-18 until 2015-10-

16)

Certificate Profiles; Part 3: Certificate profile for

certificates issued to legal persons

EN 319 412-4 v1.0.0

(under EN approval procedure

from 2015-06-18 until 2015-10-

16)

Certificate Profiles; Part 4: Certificate profile for web

site certificates issued to organisations

EN 319 412-5 v2.0.12

(under EN approval procedure

from 2015-06-18 until 2015-10-

Certificate Profiles; Part 5: QCStatements EN 319 412-5 v1.1.1

& TS 101 862

65

List of upcoming ETSI standards

Reference Short Title Replaces

16)

EN 319 422 v1.0.0

(under EN approval procedure

from 2015-06-18 until 2015-10-

16)

Time stamping protocol and electronic time-tamp

profiles TS 101 861

A nível interno de cada Estado Membro, as Autoridades Supervisoras elaboram

também as suas normas, caso assim o entenda. Todos os prestadores de serviços de

confiança são alvo de auditorias externas, onde o auditor é independente e realiza a auditoria

segundo as normas e regulamentos em vigor, criando uma base de confiança em todo o

sistema.

Existe uma responsabilidade e compromisso de partilha entre os intervenientes deste

ecossistema tecnológico.

A interoperabilidade entre todos os sistemas dos diversos Estados Membros,

cumprindo requisitos, regras e politicas, com redes e sistemas mais seguros, aliados a

utilizadores responsáveis com mais confiança no sistema global, vem fomentar e potenciar as

medidas da cibersegurança e para poder participar e coabitar no ciberespaço de um modo

mais seguro.

66

8. Conclusão

O presente trabalho tinha como objetivo, conhecer o Regulamento EU n.º 910/2014 e as

alterações que introduzia a nível nacional, face á legislação mais antiga, a Diretiva 1999/93/CE,

sobre as assinaturas eletrónicas.

O Regulamento permitirá transações eletrónicas seguras e sem entraves nos Estados-

Membros da UE, tornando mais fácil e mais seguro, para identificação, autenticação, assinar

documentos e verificar a autenticidade documentos em linha, para os cidadãos, administrações

públicas e empresas nos diferentes países.

Este novo quadro é a primeira lei da UE a exigir aos Estados-Membros o reconhecer

das identificações eletrônicas emitidas noutros Estados-Membros, servindo como um passo

muito importante no sentido proteção dos dados pessoais, da simplificação e potenciar a

economia digital no sentido do mercado único digital. É um regulamento que visa capacitar um

sistema de reconhecimento voluntário mútuo e confiança progressiva administrações públicas

entre sistemas de identificação eletrónica e de serviços de confiança dos Estados-Membros.

Garantir maior segurança jurídica na utilização dos serviços de confiança através das

fronteiras, aumentando o nível de harmonização necessário para assinatura eletrónica e os

serviços de confiança em linha, tais como, serviço de envio registado eletrónico, selos

temporais, selos eletrónicos e serviços de autenticação web.

A abordagem legislativa é tecnologicamente neutra e aberta à inovação, sendo o

objetivo de fornecer a base para a interoperabilidade transfronteiriça e intersectorial, com

formas fortes de identificação e autenticação. O regulamento eIDAS não obriga os Estados-

Membros da UE a introduzir, cartões de identidade nacionais, cartões de identidade eletrônicos

ou outras soluções de identificação eletrónica, em vez disso, fornece um mecanismo, e as

condições regulamentares, para o reconhecimento mútuo e da interoperabilidade entre

sistemas de identificação eletrónica utilizados a nível nacional para o acesso, no mínimo,

serviços públicos em linha.

A abordagem a este tema está no início, porque tem uma grande transversalidade para

todo o ecossistema tecnológico, compreender a sua importância e perceber o impacto que esta

terá quando entrar em vigor no próximo dia 1 de julho de 2016.

A leitura do estado da legislação nacional sobre o tema foi importante para conseguir

compreender e identificar os serviços que necessitam de enquadramento legal (capitulo 6),

aquando da criação do grupo de trabalho para a discussão da implementação do regulamento,

serão apresentados. O estudo aprofundado destes serviços vai continuar.

Seria importante e fundamental Portugal ter um organismo que testasse e aprovasse

as aplicações que interagem com os sistemas de identificação eletrónica, porque os dados

pessoais são muito importantes, estamos a falar de outrem poder vender a casa, assinar o

papel do divórcio e realizar todo tipo de transações no mundo digital sem que o próprio tenha

conhecimento.

67

Todas as aplicações que interagem com o cartão de cidadão um outro sistema de

identificação, deveriam ter um tratamento específico, quer em termos de requisitos de

usabilidade e fundamentalmente de segurança.

A UE com estes regulamentos está a criar condições para aumentar a segurança do

ciberespaço, com legislação, normas, tecnologia e interoperabilidade dos sistemas, criando

sistemas mais seguros, fiáveis e de confiança.

O objetivo do trabalho foi alcançado, por questões de tempo não foi possível

aprofundar como desejado os serviços que utilizam a assinatura eletrónica.

68

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