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UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTEXTUALIZAÇÃO DO SABER Formação Inicial dos Professores de 1º e 2º Ciclo do Ensino Básico Filipa Margarida Dias Lima Pinheiro Dissertação MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO Área de Especialização em Formação de Professores 2012

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

CONTEXTUALIZAÇÃO DO SABER

Formação Inicial dos Professores de 1º e 2º Ciclo do Ensino Básico

Filipa Margarida Dias Lima Pinheiro

Dissertação

MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

Área de Especialização em Formação de Professores

2012

UNIVERSIDADE DE LISBOA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

CONTEXTUALIZAÇÃO DO SABER

Formação Inicial dos Professores de 1º e 2º Ciclo do Ensino Básico

Filipa Margarida Dias Lima Pinheiro

Dissertação orientada pela Professora Doutora Ângela

Rodrigues

MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

2012

Dedico aos meus pais, Fátima e Leonel

AGRADECIMENTOS

Um agradecimento às Professoras Doutoras Ângela Rodrigues e Manuela Esteves pelo

apoio concedido.

Aos meus pais por me incentivarem a estudar, por participarem e orientarem as minhas

escolhas, pelo carinho, paciência e compreensão disponibilizada e pela sua força

constante.

Ao Paulo, meu companheiro de viagem, pelo companheirismo e apoio incondicional.

Gostaria de agradecer também à Professora Helena Gregório pelo seu contributo,

especial, em que me mostrou que vale a pena insistirmos naquilo que somos e queremos

ser.

Agradeço também a todos os entrevistados que participaram neste estudo pela total

disponibilidade demonstrada.

Finalmente, a todos os que me ajudaram e apoiaram ao longo destes dois anos de

mestrado, o meu sincero agradecimento.

RESUMO

A contextualização tem vindo progressivamente a assumir-se como uma temática central nas

discussões sobre o ensino e aprendizagem. Entendida como forma de aproximar os processos

de ensino-aprendizagem da realidade concreta dos alunos, configura-se como condição

necessária na abordagem dos conteúdos e na organização das atividades a desenvolver na sala

de aula. Ao contribuir para que os alunos relacionem os conteúdos educativos com os seus

saberes e vivências, facilita a interligação entre a teoria e a prática, e permite que os alunos

confiram sentido e utilidade ao que aprendem. Neste contexto, o objeto central da

investigação compeliu a optar pela metodologia de natureza qualitativa, recorrendo ao estudo

de caso. Assim, os dados foram recolhidos através da realização e análise do conteúdo de seis

entrevistas semidiretivas a formandos do 2º ano do mestrado em ensino do 1º e 2º ciclo do

ensino básico, com o intuito de explorar as suas representações no que diz respeito à profissão

docente, competências necessárias ao exercício profissional, bem como à forma como a

formação inicial prepara os futuros professores para contextualizar os saberes das disciplinas

curriculares para as quais ficarão habilitados, nomeadamente no que diz respeito ao

significado, objetivos e estratégias de contextualização.

Os resultados da investigação permitem concluir que os futuros professores embora

demonstrem ter preocupações e procurem contextualizar não mobilizam referências teóricas

que sustentem as práticas de contextualização do saber que ensinam. É ainda de realçar que

análise da conceção dos futuros professores sobre contextualização permite verificar que estes

possuem uma compreensão limitada sobre o que é contextualizar, associando a

contextualização às situações do quotidiano do aluno. Percebe-se, no grupo de professores

que participaram na investigação, que esta ideia parcial sobre o conceito de contextualização

provoca, como consequência, o desenvolvimento de aulas cujo conhecimento não está

devidamente contextualizado e nem há uma dimensão mais ampla do conteúdo, nas suas

inserções sociais, culturais, políticas e económicas. Espera-se, assim, que esta investigação

contribua de forma reflexiva para a compreensão do significado de contextualização, dos

objetivos e da importância da sua utilização para uma aprendizagem mais significativa.

Palavras-chave: Aprendizagem significativa; Competências; Contextualização; Currículo;

Formação Inicial; Prática Pedagógica.

ABSTRACT

The contextualization has progressively become a central theme in discussions about teaching

and learning. Seen as a way of approach of teaching-learning processes of the student’s

concrete reality, it appears as a necessary condition in the contents approach and the

organisation of activities to develop in the classroom. Helping students relate the educational

content with their knowledge and experiences facilitates links between theory and practice

and allows students to give meaning and usefulness to what they learn. In this context, the

central object of investigation compelled to opt for qualitative methodology, using the case

study. Thus, the data were collected through the completion and analysis of the content of six

semi-structured interviews to students of 2nd year of the master's degree teaching from the 1st

and 2nd cycle of basic education, with the aim of exploring their representations concerning

the teaching profession, necessary skills for professional practice, as well as the way the

initial training prepares future teachers to contextualize the knowledge of curriculum subjects

for which will be enabled, namely in what concerns contextualization significance, objectives

and strategies.

The research results allow concluding that although future teachers demonstrate to have

concerns and attempt to contextualize, they do not mobilise theoretical references support of

practices contextualization of the knowhow they teach. It is further noted that analysis of

conception of future teachers on contextualization allows checking, that they have a limited

understanding about what is contextualizing, associating it to everyday students situations.

The group of teachers who participated in the investigation, realized that this partial idea

about the concept of contextualization causes, as a result, the development of classes whose

knowledge is not properly contextualized and nor is there a wider dimension of the content in

its social, cultural, political and economic inserts. It is expected that this research contributes

in a reflective way to understanding the meaning of contextualization, the objectives and the

importance of its use for a more meaningful learning.

Keywords: Meaningful learning; Competencies; Contextualization; Curriculum; Initial

Training; Pedagogical Practice.

Índice

Introdução ............................................................................................................................................... 1

Parte I – Enquadramento Concetual e Normativo .................................................................................. 6

1. Contextualização do Saber .............................................................................................................. 7

1.1. Conceito – O que é? ................................................................................................................. 7

1.2. Objetivos – Para quê? .............................................................................................................. 9

Aprendizagem Significativa ....................................................................................................... 11

1.3. Estratégias – Como fazer? ...................................................................................................... 13

2. Contextualização do Saber: Formação Inicial de Professores do 1º e 2º Ciclo do Ensino Básico . 16

2.1. Formação Inicial de Professores: Quadro Normativo ............................................................ 21

A formação de professores do 1º e 2º ciclo do ensino básico .................................................. 23

2.2. Currículo Contextualizado ...................................................................................................... 25

2.3. Prática Pedagógica ................................................................................................................. 30

2.4. Competências do Professor ................................................................................................... 31

2.5. Fragilidades da Formação Inicial ............................................................................................ 36

Parte II – Estudo Empírico ..................................................................................................................... 38

3. Metodologia de investigação ........................................................................................................ 39

3.1. Problema e objeto e estudo .................................................................................................. 39

3.2. Objetivos ................................................................................................................................ 39

3.3. Questões de investigação ...................................................................................................... 40

3.4. Desenho da Investigação ....................................................................................................... 40

Paradigma interpretativo de natureza exploratória ................................................................. 42

3.5. Sujeitos ................................................................................................................................... 46

3.6. Instrumento de recolha de dados: entrevista ....................................................................... 47

3.7. Procedimentos de recolha de dados ..................................................................................... 49

3.7.1. Guião da entrevista ................................................................................................... 49

3.7.2. Realização das entrevistas ......................................................................................... 50

3.7.3. Análise de conteúdo .................................................................................................. 51

4. Interpretação dos dados ................................................................................................................ 56

4.1. Motivação para a escolha do mestrado em ensino do 1º e 2º ciclo do ensino básico.......... 56

4.2. Representações do futuro professor relativamente à profissão de docente ........................ 57

4.3. Formação inicial ..................................................................................................................... 64

4.4. Significado de contextualização ............................................................................................. 69

4.5. Contextualização na Formação inicial ................................................................................... 71

4.6. Objetivos da contextualização ............................................................................................... 73

4.7. Estratégias para contextualizar .............................................................................................. 76

Conclusão .............................................................................................................................................. 82

Referências Bibliográficas ..................................................................................................................... 89

Anexos

Não se pode conhecer as partes sem conhecer o todo, nem conhecer o todo sem conhecer as

partes

Pascal

1

Introdução

O saber profissional do docente é o resultado da mobilização, produção e utilização de

diversos saberes científicos, pedagógico-didáticos, organizacionais e técnico-práticos

estruturados e integrados adequadamente em função da ação concreta a desenvolver em cada

situação de prática profissional (Ponte, 2004). Enquanto a componente académica do curso

influi pouco nas perspetivas e práticas do formando, as experiências práticas têm uma

influência potencialmente mais significativa (Rodríguez, 1995). As primeiras experiências na

docência, realizadas autonomamente, confinam em si, um amplo conjunto de intensas

aprendizagens determinantes para a construção e desenvolvimento profissional e pessoal dos

futuros professores do 1º e 2º ciclo do ensino básico. É na formação inicial que constrói as

bases do seu conhecimento e desenvolvimento profissional e o estágio pedagógico, sendo a

última etapa do processo de formação inicial, encerra um ciclo de formação, devendo

funcionar como base para a construção de uma política de formação permanente. Neste

contexto a contextualização, sendo entendida como forma de aproximar os processos de

ensino-aprendizagem da realidade concreta dos alunos, e configurando-se como condição

necessária na abordagem dos conteúdos e na organização das atividades a desenvolver na sala

de aula, tem vindo progressivamente a assumir-se como uma temática central nos debates

sobre o ensino e aprendizagem.

Ao refletir sobre a prática de ensino, chama-se a atenção para a proposição de um ensino que

trabalhe os conteúdos promovendo conexões com outros conceitos ou conhecimentos

relativos a outras disciplinas. Muitas pesquisas realizadas nessa área indicam que, além de

serem mecânicas e repetitivas, as situações de aprendizagem escolar, geralmente, não estão

centradas na construção de significados e na elaboração de estratégias próprias para a

resolução de problemas, mas em atividades que envolvem memorização. Ademais, o

conhecimento prévio dos alunos, fundamental na construção de significados, geralmente é

desconsiderado. Daí a atualidade e pertinência da investigação realizada, cujo objeto central é

estudar as formas como a formação inicial prepara os alunos/futuros professores para

contextualizar os saberes das disciplinas curriculares para as quais estão habilitados,

nomeadamente no que diz respeito ao significado, objetivos e estratégias de contextualização.

Por outro lado, sendo a contextualização o resultado de um conjunto de decisões tomadas em

2

diferentes contextos e por distintos atores, ao longo do processo de ensino, um estudo deste

teor torna-se relevante quer pelo reconhecimento desta problemática para a melhoria da

qualidade do sistema educativo, quer pelos contributos que pode propiciar às escolas e

comunidade educativa. Esta relevância evidencia-se quando se defende uma ideia de ensino-

aprendizagem que enfatiza a construção do conhecimento pelos atores em presença.

Considera-se, assim, que este projeto se revele como um contributo para novas conceções

convergentes com a ideia de proporcionar aprendizagens significativas aos alunos e de

produção das respetivas identidades pessoais e sociais.

No seio do discurso pedagógico parece já haver um consenso geral em relação à indispensável

necessidade de que o processo de ensino-aprendizagem se efetive sempre de forma

contextualizada, de tal maneira que tem sido comum a procura dos professores por aplicações

práticas para os conteúdos que lecionam, no sentido de trazer para o quotidiano dos alunos

conceitos que só mesmo em nível do pensamento abstrato é possível explicar. Esse quadro

torna-se preocupante, uma vez que, por falta de uma coerente fundamentação teórico-

conceitual acerca da ideia de contextualização, muito se tem feito de errado e inadequado na

aprendizagem.

Num mundo que exige mais qualificações e competências, torna-se cada vez mais difícil à

escola responder à diversidade e às necessidades sociais, a qualidade educativa é prioritária.

Assim, nos dois primeiros capítulos do estudo, far-se-á uma fundamentação teórica, assente

numa revisão da literatura. No primeiro capítulo centra-se, inicialmente, a atenção na

contextualização, espécie de fundamento do sistema educativo. Dado o carácter polissémico

do vocábulo contextualização, procurou-se fazer uma clarificação conceptual, destacando

fundamentalmente o significado, objetivos e estratégias. Na apresentação do referencial

teórico que deu suporte à pesquisa recorreu-se as conceções de autores como Brousseau

(1996), Perrenoud (1998), Tafner (2003) e Fernandes (2006) sobre contextualização. Também

abordou-se a teoria da aprendizagem de Ausubel, Novak e Hanesian (1978), especificamente

no que diz respeito ao conceito de aprendizagem significativa, já que esta é referenciada ao

longo de todo o estudo e constitui o objetivo primordial da contextualização.

No segundo capítulo julgou-se importante para o estudo traçar uma perspetiva sobre a

valorização da contextualização do saber na formação inicial de professores do 1º e 2º ciclo

do ensino básico. A formação de professores, bem como a contextualização, constituem

3

temáticas que têm sido abordadas por vários investigadores cativando o seu interesse e

atenção a par de uma importância crescente no campo da investigação educacional. Como

salientam Pacheco & Flores (1999:10), “os professores são atores indispensáveis no processo

curricular e porque deles depende, em grande medida, qualquer propósito de inovação

educativa, a sua formação constitui uma vertente que não se pode escamotear”. No entanto,

situada numa escola que se quer em permanente transformação, numa sociedade envolta num

complexo processo de transformação e de uma profissão que se vê necessitada de

permanentemente se (re)construir, a formação de professores, longe de ser consensual, tem

sido alvo de discussão, de problematização e de críticas. Começou-se, por isso, por analisar a

formação inicial na legislação portuguesa. Posteriormente remeteu-se para a importância da

aplicação de um currículo contextualizado, pois enquanto projeto que envolve intenções e

práticas, o currículo é um processo que implica tomadas de decisão a diferentes níveis e

contextos. De acordo com as políticas educativas, em geral, e as políticas curriculares, em

particular, o estudo das decisões curriculares é uma questão central nos intentos da melhoria

da qualidade escolar.

A formação inicial de professores é entendida como “início, institucionalmente enquadrado e

formal, de um processo de preparação e desenvolvimento da pessoa em ordem ao

desempenho e realização profissional numa escola ao serviço de uma sociedade

historicamente situada” (Estrela, 2002: 18), como a oportunidade de proporcionar aos futuros

professores “a informação, os métodos e as técnicas científicas e pedagógicos de base, bem

como a formação pessoal e social adequada ao exercício da função docente” (Campos, 2002:

18). Tem diversos objetivos entre os quais, facultar aos futuros professores aspetos para que

eles próprios se questionem sobre o seu ensino, sobre a elaboração de projetos e a construção

de competências científicas, suportadas pelo domínio da investigação e da indagação (Alves,

2001). Nesta sequência tornou-se pertinente abordar o desígnio da prática pedagógica na

formação inicial de professores, bem como refletir sobre as competências que os docentes

devem ter para contextualizar o saber da disciplina que vão ministrar. Formar professores

capazes de atuar de forma crítica e criativa a partir da perceção da complexidade do sistema

educacional deve constituir uma meta da formação inicial. Ainda neste capítulo, refletiu-se

sobre as fragilidades que se encontram na formação inicial no sentido de preparar os futuros

professores para a realidade das escolas.

4

No terceiro capítulo, é possível identificar o problema, objeto e os objetivos de estudo, as

questões, e desenho de investigação, os sujeitos, o instrumento e procedimentos da recolha de

dados, e ainda a interpretação dos resultados obtidos. A investigação foi realizada com a

intenção de perceber a visão que os alunos/futuros professores têm sobre as competências

necessárias ao exercício profissional, o significado que atribuem à contextualização, para que

serve e como se faz, e o contributo da formação inicial no desenvolvimento das suas

competências para contextualizar.

O estudo se seguiu uma orientação de análise de conteúdo com base na descrição e

interpretação dos fenómenos, dirigido pelos seguintes objetivos gerais: (i) conhecer a forma

como os alunos/futuros professores, pensam a contextualização; (ii) identificar os contributos

da formação inicial, percebidos pelos sujeitos do estudo, na construção de competências para

contextualizarem. Esses objetivos constituíram-se a partir da seguinte problemática: que

representações têm os alunos/futuros professores, do segundo ano do mestrado de Professores

do 1º e 2.º ciclo do ensino básico, a frequentarem o ano terminal (habilitados para dois graus

de ensino – 1.º e 2.º Ciclos do Ensino Básico), da contextualização do saber?

Na tarefa que se propôs, foi pretensão dar respostas coerentes à problemática e atingir os

objetivos traçados. A escolha dos colaboradores do estudo não foi uma escolha aleatória, uma

vez que se tiveram em consideração alguns critérios de seleção, a saber: serem alunos

formados em ensino; ter-se trabalhado diretamente com os formandos do segundo ano do

mestrado do 1.º e 2º ciclo do ensino básico; pertencerem à mesma turma; estarem no terminus

da sua formação.

No desenvolvimento da dimensão prática do estudo realizado investigação inscreve-se num

modelo qualitativo, quer porque nos procedimentos de recolha da informação e análise se

valorizou mais o qualitativo do que o quantitativo, quer pela natureza dos objetivos, que se

incluíram numa perspetiva de compreensão hermenêutica dos fenómenos (Loureiro, 1997).

Para tal, realizou-se uma investigação qualitativa, suportada pela técnica da entrevista para a

recolha dos dados, posteriormente submetidos a uma análise de conteúdo.

Por fim, nas considerações finais, faz reflexões sobre os resultados, procurando manter uma

coerência com o referencial teórico e com as questões que nortearam o estudo. Tem-se

intenção que o presente trabalho possa contribuir para que os professores reflitam sobre sua

prática docente, visando à organização de um trabalho que favoreça a compreensão dos

5

conceitos envolvidos nessa disciplina por parte dos alunos, de modo a que estes tenham

acesso a uma aprendizagem significativa, através da contextualização do saber das disciplinas

a serem lecionadas.

6

Parte I – Enquadramento Concetual e Normativo

7

1. Contextualização do Saber

A educação, como processo de socialização integrador dos indivíduos no contexto social, tem

sido abordada de diferentes formas na sociedade. Atualmente, o ensino adquiriu uma

tonalidade de que qualquer coisa a ser estudada deve ter relação com a vida do aluno. Ao

desenvolver atividades que não contemplam a realidade imediata dos alunos, formar-se-ão

indivíduos treinados para repetir conceitos, aplicar fórmulas e armazenar termos, sem, no

entanto, reconhecer possibilidades de associá-los ao seu quotidiano (Lobato, 2008). A

aplicação das aprendizagens em contextos diferentes daqueles em que foram adquiridos,

como refere Micotti (1999), exige muito mais que a simples decoração ou a solução mecânica

de exercícios: domínio de conceitos, flexibilidade de raciocínio, capacidade de análise e

abstração. Neste contexto emerge a importância da contextualização que está diretamente

relacionada com a motivação do aluno, ou seja, procura dar significado àquilo que ele

aprende, fazendo com que relacione o que está a ser ensinado com sua experiência quotidiana,

ou seja, através da contextualização, o aluno faz uma ponte entre teoria e a prática. (Lobato,

2008).

1.1. Conceito – O que é?

A contextualização tem como característica fundamental o facto de que todo o conhecimento

envolve uma relação entre o sujeito e o objeto. Tal significa que, quando se trabalha o

conhecimento de modo contextualizado a escola liberta o aluno da sua condição de espectador

passivo e estabelece a relação entre o conteúdo e a vida social, pessoal e cultural do aluno

(Brasil, 2000, citado por Fernandes, 2006). Para Souza e Roseira (2010), contextualização

significa a ação de estabelecer relações entre o objeto em estudo e o contexto considerado.

Sendo assim, a contextualização não é um ato pleno por si mesmo, mas dependente do sujeito

que contextualiza e da conceção de contexto que o mesmo considera. Diante desta afirmação,

a contextualização não deve tomar como referência as conceções mais limitadas de contexto,

nem tampouco desconsiderar a importância da técnica e da compreensão no processo

educativo, mas deve sim ultrapassar esses aspetos e procurar levar em consideração fatores

externos aos que normalmente são explicitados na escola, de tal forma que os conhecimentos

e conceitos possam ser compreendidos nas suas dimensões culturais, políticas, históricas e

axiológicas.

8

Fonseca (1995, citado por Fernandes, 2006) também considera que, a contextualização

permite que os conteúdos possam ser compreendidos dentro do panorama histórico, social e

cultural que o constituíram. Este autor, tal como Brousseau (1996), procura esclarecer o

significado da contextualização no processo de produção de conhecimento. Para Brousseau

(1996), contextualizar significa apresentar o conteúdo ao aluno por meio de uma situação

problemática, compatível com uma situação real que possua elementos que deem significado

ao conteúdo a ser ensinado. Acrescenta ainda que, o contexto deve estar associado a uma

situação que dê sentido aos conhecimentos a serem estudados, que oriente a aprendizagem.

Tendo isto é essencial referir que, o aluno deve saber descontextualizar o saber produzido,

para reconhecer nele um conhecimento cultural que possa ser reutilizado, ou seja, um

conhecimento só é pleno se for mobilizado em situações diferentes daquelas que serviram

para lhe dar origem. Para que sejam transferíveis a novas situações e generalizadas os

conhecimentos devem ser descontextualizados para serem novamente contextualizados

noutras situações (Vasconcelos & Rêgo, 2010).

Nos seus estudos Brosseau (1996) explica que, o professor, no seu trabalho de sala de aula,

necessita realizar uma recontextualização do saber, ou seja, procurar situações que deem

sentido aos conhecimentos que devem ser ensinados. Este trabalho é necessário, uma vez que

possibilita que o conhecimento chegue às pessoas da forma mais simples possível. Cabe ao

aluno, com a ajuda do professor, re-despersonalizar e re-descontextualizar o saber,

reconhecendo que o conhecimento produzido poderá ser utilizado noutras situações, ou seja, é

um saber cultural reutilizável. A aplicação das aprendizagens em contextos diferentes

daqueles em que foram adquiridos exige muito mais que a simples memorização ou a solução

mecânica de exercícios: domínio de conceitos, flexibilidade de raciocínio, capacidade de

análise e abstração. A contextualização do ensino está assim relacionada com a criação de

condições de problematização em que os alunos, a partir de saberes já interiorizados, das suas

experiências e vivências, se vêm como atores principais no processo contínuo e dinâmico que

é o da construção do conhecimento (Duarte, 2007).

Como se pode constatar o termo contextualização, não possui ainda um sentido único e

estável, trata-se de um conceito que varia, não somente na designação, mas também no seu

significado. Como Tufano (2001, citado por Fernandes, 2006) afirma, a contextualização é

um ato particular e cada autor, escritor, investigador ou professor contextualiza de acordo com

as suas origens, cultura, princípios, valores e experiências. Ricardo (2005, citado por Giassi,

9

2009:80) destaca que, existe ainda um agravante: “a discussão sobre contextualização é

escassa na literatura actual. Isso faz com que lhe seja atribuída uma compreensão rasteira que

a confunde e a reduz ao quotidiano. Este que está circunscrito nas proximidades físicas do

aluno”. A contextualização não deve ser vista como uma “varinha mágica” que por si só vai

resolver os problemas da educação, como se fosse suficiente para os alunos aprenderem

(Santos, 2007). A simples inclusão de questões do quotidiano podem não implicar

necessariamente discussões relevantes para a formação do aluno e tampouco motivá-los a

interessarem-se pelos conteúdos.

A compreensão plena deste termo implica muita discussão, pois existem várias definições e

estas dependem do ponto de vista e da vivência de cada um, da experiência educacional, que é

particular. Ainda que a noção do termo contextualização não se configure como um sentido

unívoco e preciso, o certo é que há uma compreensão comum, por parte dos seus diversos

teóricos, quanto à sua importância para a aprendizagem e na necessidade de relação de

significados na procura do conhecimento.

1.2. Objetivos – Para quê?

A aplicação das aprendizagens realizadas pelos alunos em contextos diferentes daqueles em

que foram adquiridos exige muito mais que o simples memorizar ou a solução mecânica de

exercícios, nomeadamente o domínio de conceitos, flexibilidade de raciocínio, capacidade de

análise e abstração (Micotti, 1999). A escola deve contribuir para a formação do aluno vendo-

o como pessoa humana, crítica e reflexiva frente à realidade em que vive. Portanto, as várias

estratégias de ensino devem permitir a significação da aprendizagem, e a contextualização

mostra-se como uma boa possibilidade de dinamizar o ensino, envolvendo mais os alunos

com o conhecimento científico, inserido no seu dia-a-dia. A aprendizagem contextualizada

visa que o aluno aprenda a mobilizar competências para solucionar problemas com contextos

apropriados, de maneira a ser capaz de transferir essa capacidade de resolução de problemas

para os contextos da vida real (Fernandes, 2006).

Perrenoud (1998, citado por Giassi, 2009) entende que muitos conhecimentos que são

abordados nas escolas, porém fora de qualquer contexto, pouco servem para a vida, pois não

se sabe investir neles conscientemente. Este autor enfatiza que por essa razão convém

desenvolver competências a partir da escola, ou seja, relacionar constantemente os saberes

com sua operacionalização em situações complexas. A maioria dos conhecimentos

10

acumulados na escola permanece inútil na vida quotidiana, não porque careça de pertinência,

mas porque os alunos não são preparados para utilizá-los em situações concretas. Se, os

professores, conseguirem levar para a sala de aula situações que permitam ao educando se

identificar, conseguir-se-á maior interação na sala de aula, pois o aluno poderá, assim,

estabelecer uma ligação com a sua vida.

O indivíduo ao frequentar o ensino básico são lhe ensinadas regras necessárias às construções de

textos, formais ou informais, aos modos de falar, de conceituar termos gramaticais ou

matemáticos. Entretanto, mais tarde a sua preocupação, enquanto aluno integrado na sociedade,

que pensa no seu futuro, será a de não encontrar formas de integrar/transpor as informações que

lhes foram apresentadas durante o seu percurso escolar. Tal preocupação, muitas vezes, pode ser

suprimida recorrendo-se à contextualização, uma vez que a inexistência desta dificulta a

preparação dos alunos para o futuro almejado. A ideia de formar indivíduos que se realizem

como pessoas, cidadãos e profissionais exige da escola muito mais do que a simples

transmissão e acumulação de informações. Exige experiências concretas e diversificadas,

transpostas da vida quotidiana para as situações de aprendizagem (Fernandes, 2006). Se no

ensino básico não houver contextualização do saber das disciplinas lecionadas, estar-se-á a formar

seres incapazes de pensar e criticar, sem a intervenção de outras pessoas.

A ideia de formar indivíduos que se realizem como pessoas, cidadãos e profissionais exige da

escola muito mais do que a simples transmissão e acumulação de informações. Exige

experiências concretas e diversificadas, transpostas da vida quotidiana para as situações de

aprendizagem (Fernandes, 2006). Segundo Vasconcelos e Rêgo (2010) o recurso à

contextualização pode atuar como ação motivadora da aprendizagem uma vez que, ao trazer

um conteúdo do interesse dos alunos ou que faz parte do contexto cultural deles, o professor

estará a mostrar a importância do assunto que está a ser estudado e as suas aplicações. Apesar

de reconhecer a relevância das situações contextualizadas pelo facto de estarem associadas à

possibilidade de promover uma aprendizagem significativa, é importante ressaltar que os

contextos podem representar significados diferentes para as pessoas, ou seja, aquilo que é

interessante para o professor ou para um aluno, pode não ser para os outros. Nesse sentido,

Brousseau (1996) considera que, a aprendizagem deve ocorrer como uma modificação do

conhecimento que o aluno produz por si mesmo e o professor só deve provocar, o que leva a

concluir que, para que uma situação funcione como situação de aprendizagem é necessário

que o que se deseja ensinar não seja o que o aluno já sabe sobre o assunto.

11

O processo de contextualização do conhecimento é um dos recursos que a escola dispõe para

retirar o aluno da condição de espectador passivo. Quando a sua aplicação é correta permite

que, ao longo da transposição didática, o conteúdo a ser ensinado provoque aprendizagens

significativas que mobilizem o aluno e estabeleçam entre ele e o objeto do conhecimento uma

relação de reciprocidade. A contextualização evoca por isso áreas, âmbitos, ou dimensões

presentes na vida pessoal, social e cultural, e mobiliza competências cognitivas já adquiridas.

A contextualização facilita o processo de ensino aprendizagem e quando usada como recurso

pedagógico contribui para a construção de conhecimento e formação de capacidades

intelectuais superiores (Fernandes, 2006). Ao relacionar os conteúdos com as realidades

sociais e culturais dos alunos, a contextualização facilita a construção de significados e a

atribuição de sentido ao que se aprende na escola. Possibilita o desenvolvimento de um

currículo adequado aos interesses, expectativas, necessidades e êxitos dos alunos.

Independentemente do modo como é efetivada, constitui um meio que tem como intenção

relacionar os processos de ensino-aprendizagem e conteúdos curriculares às realidades sociais

e culturais dos alunos, permitindo-lhes atribuir sentido e significado às aprendizagens. A sua

prática pode constituir-se como um caminho para a construção de processos educativos

igualitários, por promoverem mais oportunidades de sucesso para os alunos.

Aprendizagem Significativa

A contextualização pretende, como já foi referido, contribuir para o desenvolvimento de uma

aprendizagem significativa, cuja construção pressupõe, inicialmente, compreender-se como

uma informação, um contexto ou uma atividade podem se tornar significativos para os alunos.

Para isso, adotou-se como referência a teoria da aprendizagem de Ausubel, Novak e Hanesian

(1978), especificamente o conceito de aprendizagem significativa.

Ausubel (1963, citado por Moreira, 2006), afirma que aquilo que o aluno já sabe vai

influenciar a aprendizagem do que não sabe, referindo-se ao primeiro como a sua estrutura

cognitiva. O que o aluno sabe influência e facilita a sua aprendizagem futura, uma vez que a

estrutura cognitiva para o ser humano é, hierarquicamente, organizada, ou seja, conceitos e

proposições com maior poder de generalização abrangem os conceitos e proposições menos

inclusivas, com menor poder de generalização.

12

Uma aprendizagem é significativa quando ocorre um relacionamento entre o novo

conhecimento e algum aspeto essencial da estrutura cognitiva do sujeito como, por exemplo,

uma imagem, um conceito ou uma proposição. Nesse processo, há uma interação entre a nova

informação e uma estrutura de conhecimento específica já presente no sujeito. Pode-se então

dizer que, ocorre aprendizagem significativa quando a nova informação apoia-se em conceitos

relevantes preexistentes. A partir desses conceitos, as informações novas, adquirem

significado e são integradas à estrutura cognitiva de maneira não arbitrária e não literal,

contribuindo para a diferenciação, elaboração e estabilidade das subsunções preexistentes e,

consequentemente, da própria estrutura cognitiva. (Moreira, 2006).

De acordo com Ausubel (1963), a aprendizagem significativa é o mecanismo humano, por

excelência, para adquirir e armazenar a vasta quantidade de ideias e informações

representadas em qualquer campo de conhecimento. Este conceito é hoje muito usado quando

se fala em ensino, aprendizagem, e contextualização, porém frequentemente sem saber-se

exatamente o que significa. Em contraposição à aprendizagem significativa, Ausubel (citado

por Moreira, 2006:16) define aprendizagem mecânica “como sendo aquela em que novas

informações são aprendidas praticamente sem interagirem com conceitos relevantes existentes

na estrutura cognitiva, sem ligarem-se a conceitos subsunçores específicos”. Embora esse tipo

de aprendizagem não facilite a aquisição de significado, Ausubel (1978), considera que ela,

em certas situações, é necessária, como por exemplo, na fase inicial de aquisição de um

conjunto de conhecimentos. A distinção entre aprendizagem significativa e aprendizagem

mecânica está mais relacionada a uma continuidade do que a uma dicotomia.

Ausubel, Novak e Hanesian (1978) também estabelecem distinções entre aprendizagem por

descoberta e aprendizagem por receção. Segundo os autores, a aprendizagem por receção, ou

recetiva, ocorre quando o novo conhecimento é apresentado aos alunos na sua forma final,

enquanto na aprendizagem por descoberta o conteúdo deve ser construído pelo aprendiz. No

entanto, em ambos os casos, a aprendizagem só é significativa se forem estabelecidas ligações

entre o novo conteúdo e elementos já existentes na sua estrutura cognitiva. A aprendizagem

por descoberta não é necessariamente significativa nem a aprendizagem por receção é

precisamente mecânica. A forma como a nova informação é armazenada na estrutura

cognitiva é que determina se a aprendizagem é significativa ou não. O estudante, segundo

Ausubel (1963), em situação escolar, não tem que, necessariamente, descobrir conteúdos a

fim de compreendê-los e usá-los de modo significativo. Relativamente a essa questão, o

13

mesmo autor refere que, há mérito na aprendizagem por receção. A aprendizagem recetiva

significativa ocorre quando o professor apresenta a generalização numa forma final e o aluno

relaciona-a com a sua estrutura cognitiva. Por outro lado, há aprendizagem por descoberta

mecânica se o aluno chegar à generalização por ele mesmo e procurar apenas memorizá-la.

Para esclarecer mais um pouco as questões que envolvem a aprendizagem significativa, pode-

se recorrer à contribuição de Santos (2008:33): “a aprendizagem somente ocorre se quatro

condições básicas forem atendidas: a motivação, o interesse, a habilidade de compartilhar

experiências e a habilidade de interagir com os diferentes contextos”, os professores têm

como desafio despertar razões para a aprendizagem, tornar as aulas interessantes para os

alunos, trabalhar com conteúdos relevantes para que possam ser compartilhados noutras

experiências, e tornar a sala de aula um ambiente altamente estimulante para a aprendizagem.

1.3. Estratégias – Como fazer?

Perrenoud (1998) observa que na maior parte dos países europeus o ensino oficial preconiza

que a educação leve os alunos a desenvolver competências, ou seja, mobilizar os

conhecimentos e recursos diversos para fazer frente às situações complexas, significativas e

autênticas, que são próximas de situações da vida dos estudantes. Para tal é necessário usar

instrumentos que favoreçam a transposição didática de forma muito livre, despertando o

interesse autêntico dos alunos pela aprendizagem. Este autor entende que, muitos

conhecimentos que são trabalhos nas escolas, porém fora de qualquer contexto, pouco servem

para a vida, pois não se sabe investir neles conscientemente. Enfatiza que é por essa razão que

“convém desenvolver competências a partir da escola, ou seja, relacionar constantemente os

saberes e sua operacionalização em situações complexas. Isso vale tanto para cada disciplina

como para sua inter-relação.” (Perrenoud, 1998:4). A maioria dos conhecimentos acumulados

na escola permanece inútil na vida quotidiana, não porque careça de pertinência, mas porque

os alunos não são preparados para utilizá-los em situações concretas. Um determinado

conhecimento, considerado mais complexo, pode ser abordado através da manipulação de

conceitos mais simples e conhecidos pelos alunos. Esta forma de contextualização permite

motivar os alunos para a aprendizagem significativa (Fernandes, 2006).

Quando se fala em contextualizar o ensino pressupõe-se que a partir dos saberes já

interiorizados pelos alunos, pelas suas vivências e sonhos, se criem condições de

problematização, e então, eles ao se verem como parte dessa construção, (co)autores desse

14

conhecimento, se colocam como atores principais desse teatro que é o processo contínuo e

dinâmico de aprender (Barros, 2000). Para tal, no início do ano letivo o professor deveria ter

ao seu dispor um relatório onde constasse a vida escolar anterior de cada aluno, acrescido de

alguns dados sociais. Este material o ajudaria a identificar o contexto no qual aqueles alunos

estariam inseridos e a vislumbrar toda a diversidade e riqueza de material humano em que se

constitui aquele grupo (Tafner, 2003). No entanto, esta proposta é uma utopia em grande parte

das escolas, se não em todas. Na maioria das vezes, o professor só sabe com que turmas é que

vai ficar a uma ou duas semanas antes do início das aulas, perdendo assim a oportunidade de

reunir materiais interessantes e adequadas para utilizar com essas turmas. Como o educador

não possui esse relatório, a única ferramenta que lhe resta, mas nem por isso menos

importante, é a de, no decorrer das aulas, interagir com os alunos a fim de conhecê-los

melhor.

O professor para ser capaz de contextualizar a sua prática de acordo com o universo dos

alunos tem de imergir no mundo deles, ou seja o ensino não pode estar totalmente desligado

da vida real do aluno (Tafner, 2003). Sobre esse aspeto, destaca-se a necessidade de o

professor conhecer a realidade sociocultural dos seus alunos, visto que eles trazem consigo,

para o interior da sala de aula, as suas histórias de vida, que influenciarão nos significados que

serão atribuídos às atividades que realizarão. Somente a partir daí o professor poderá

organizar um trabalho que possibilite contribuir para a construção de significados para os

conteúdos a serem aprendidos (Vasconcelos & Rêgo, 2010).

Ao entrar na sala de aula o professor não se pode esquecer dos conflitos, da globalização, das

injustiças sociais, enfim, de todo um conjunto de elementos não previstos pelo programa

adotado pela escola, que permitirá ao aluno quando sair da disciplina conseguir estabelecer a

ligação com a realidade (Tafner, 2003). O intercâmbio de valores que o espaço da sala de aula

proporciona é indescritível, por isso é que o conhecimento prévio da turma poderia contribuir

muito. Cada educando traz consigo um saber social adquirido através de fontes como a

família, os amigos, a religião e os meios de comunicação que pode ser mais aproveitado

através de práticas que propiciem essa inclusão de opiniões (Fernandes, 2006). Se os

professores conseguirem utilizar situações que permitam ao aluno se identificar, conseguirá

uma maior interação em sala de aula, pois ele vê, assim, ligação com sua vida. A escola deve

contribuir para a formação do aluno vendo-o como pessoa humana, crítico e reflexivo frente à

realidade em que vive. Portanto, as várias estratégias de ensino devem permitir a significação

15

da aprendizagem, e a contextualização mostra-se como uma boa possibilidade de dinamizar o

ensino, envolvendo mais os alunos com o conhecimento científico inserido na sua vida

quotidiana.

Como refere Barros (2000), no ensino encontram-se alunos, com conhecimentos básicos, que

ainda precisam de ser moldados para se formarem cidadãos, e cabe ao professor ensiná-los a

serem críticos. Os professores devem-se preocupar com a forma de aprendizagem dos alunos

e como estes captam o conteúdo programático adotado pela escola. A ideia de contextualizar

os conteúdos não pode ser compreendida como uma redução aos aspetos utilitários,

abordando-se apenas elementos que o professor considera como fazendo parte do quotidiano

do aluno. Embora as situações do dia-a-dia tenham grande importância no sentido de

favorecer a construção de significados para muitos conteúdos a serem estudados, é necessário

considerar a possibilidade de construção de significados a partir de questões internas da

própria língua, caso contrário, muitos conteúdos seriam descartados por não terem

aplicabilidade concreta e imediata (Vasconcelos & Rêgo, 2010). Trata-se de navegar à vista,

cedendo o protagonismo da sala de aula ao aluno sem nunca o deixar só perante o seu

problema. O professor deve saber intervir em fases decisivas do trabalho, negociar com os

seus alunos, promover um ambiente adequado para a consecução dos trabalhos, mas também

responsabilizar os alunos pelo seu projeto. O que se pede é uma nova atitude face ao processo

ensino-aprendizagem, um novo modo de trabalhar com o currículo, em que o ensino aparece

transfigurado e contrário à ideia de “um currículo nacional, construído em função de um aluno

médio - mero acumulador e memorizador de conhecimentos - não tendo em conta os alunos

reais e onde se pensava os professores como simples técnicos cumpridores de normas

decididas superiormente” (Cortesão, Leite & Pacheco, 2002:23)

Tafner (2003:2) afirma que é preciso construir uma ligação entre o mundo real, “das

sociedades modernas em constante transformação”, e o mundo da escola, que “tem diante de

si a tarefa de formar os cidadãos”, que são partes da sociedade. De acordo com a autora, o

modo como os conteúdos escolares são transmitidos parece ser pouco contextualizado. É

necessário ter em conta que os alunos ao entrar para a escola trazem consigo conhecimentos

empíricos já constituídos, por isso, para Bachelard (1996:13), “não se trata, portanto, de

adquirir nova cultura experimental, mas sim de mudar de cultura experimental, de derrubar os

obstáculos já sedimentados pela vida cotidiana”. Afirma ainda que, é necessário um grande

16

esforço do professor no sentido de motivar o aluno, de incentivá-lo, de começar por uma

“catarse intelectual e científica” para facilitar sua evolução.

A contextualização deve estar associada a uma situação que dê sentido aos conhecimentos a

serem estudados, que orientem a aprendizagem, sendo necessária a descontextualização do

saber produzido pelo aluno, para reconhecer nele um conhecimento cultural que possa ser

reutilizado. Atribuindo, assim, significado ao que se pretende ensinar, auxiliando na

problematização dos saberes, e fazendo com que o aluno sinta a necessidade de adquirir um

conhecimento que ainda não tem (Lobato, 2008).

2. Contextualização do Saber: Formação Inicial de Professores do

1º e 2º Ciclo do Ensino Básico

A centralidade da formação nas sociedades contemporâneas, nomeadamente, a partir da

década de 60 e mais tarde nos anos 90, em todos os sectores da atividade social, constituiu,

segundo Ferry (1987:30), um dos “grandes mitos da segunda metade do século XX”. Deste

modo, impôs-se a ideia de “uma formação que tem resposta a todas as interrogações, para

todas as dúvidas, para todas as angústias dos indivíduos e dos grupos perdidos e agitados

neste mundo em constante agitação e, frequentemente, desestabilizados pela crise económica”

(Ferry, 1987:31). Os professores são adultos que se formam, a partir da sua experiência de

vida e profissional, através de um processo que lhes é próprio, integrando saberes informais e

formais, onde adquire relevo a articulação com as situações de trabalho, com as sucessivas

tentativas para resolver problemas concretos que aí se colocam, e na reflexão sobre esse

processo (Amiguinho, 1992:13). Deste modo, pensar em formação consiste em refletir “sobre

o modo como os sujeitos se formam; sobre a forma como os adultos se apropriam de um

determinado tempo e espaço educativos e o integram no seu percurso de formação; sobre

aquilo que é de facto significativo e formador na vida de cada um; sobre a maneira como as

experiências e os saberes profissionais, sociais e culturais podem ser mobilizados no processo

global de formação” (Amiguinho, 1992:34).

Há, nesta aceção, uma clara valorização da formação como processo reflexivo dos futuros

professores sobre si próprios, sobre as situações, os acontecimentos e as ideias. A este

propósito, pode-se acrescentar, recorrendo às palavras de Canário (1991:83), que se trata

17

“fundamentalmente de um percurso individual, auto-gerido, que se desenvolve segundo uma

lógica de apropriação e não de acumulação de conhecimentos. (…) em que os adultos são

sujeitos e agentes de formação e não meros objectos”.

Da Lei de Bases do Sistema Educativo resulta que a formação de professores deve habilitá-los

para uma atitude crítica face à realidade social, para a inovação e investigação em relação à

atividade educativa, e para uma prática reflexiva e continuada de auto-informação e auto-

aprendizagem (Campos, 2002). De facto, estes elementos contribuem para uma imagem do

desempenho do professor como um profissional “capaz de analisar cada situação de ensino e

de nela produzir as práticas docentes susceptíveis de conduzir o maior número de alunos à

aprendizagem” (Campos, 2002:20), capaz de refletir e avaliar as suas próprias práticas, e não

como um funcionário ou técnico.

No entanto, existindo uma definição de formação de professores mais pormenorizada e

específica, implícita nas “políticas relativas ao currículo e à avaliação dos alunos da educação

básica e do ensino secundário, à administração e avaliação das escolas e do sistema educativo

e à definição dos saberes dos professores” (Campos, 2002:20), foi necessário clarificá-la. Para

tal, o governo aprovou o Decreto-Lei n.º 240/2001 que ajusta o perfil geral de desempenho

profissional do educador de infância e dos professores dos ensinos básico e secundário. Surge

assim, este documento como um quadro orientador, tanto para a constituição de cursos que

certificam a habilitação para a docência, como para a respetiva acreditação dos mesmos.

Esteves e Rodrigues (1993: 25) referem-se ao perfil geral do desempenho como sendo a

“pedra angular de qualquer programa de formação inicial”. Um perfil define, segundo

Campos (2003: 39), necessariamente no “nível da qualificação profissional; na área de

actuação do profissional; na caracterização do desempenho esperado do profissional; nas

qualificações necessárias a esse desempenho; nas oportunidades de aprendizagem a

promoverem para desenvolver tais qualificações.” Os três primeiros tópicos são definidos

governamentalmente, especialmente a caracterização do desempenho esperado pelo

profissional, enquanto os dois últimos aspetos são da responsabilidade das instituições

formadoras. O perfil geral do desempenho, comum a todos os professores, institui quatro

grandes dimensões ou áreas de competências: a) profissional, social e ética; b)

desenvolvimento do ensino e da aprendizagem; participação na escola e da relação com a

comunidade; c) desenvolvimento profissional ao longo da vida.

18

Em Portugal, a formação de professores encontra-se organizada de acordo com um sistema

binário: politécnico e universitário. Cabe às instituições de formação, em Portugal definir os

currículos de formação, contendo os objetivos, as estratégias, os métodos, as atividades e a

avaliação, tendo em conta os resultados a atingir, mais ou menos implícitos, nos perfis de

desempenho, nos princípios da Lei de Bases do Sistema Educativo, e também no

ordenamento jurídico da formação. No entanto, existe alguma especificidade quanto à

estrutura curricular geral, dos cursos de formação que são definidos politicamente (Campos,

2002).

A política governamental portuguesa, como refere Campos (2002), acentua que os cursos de

formação de educadores e de professores conferem a qualificação profissional esclarecendo

que é essa qualificação, de nível superior, que permite o ingresso na carreira docente. O

governo, ao definir o perfil de formação de educadores e de professores, para além de

identificar legalmente os resultados a atingir, determina também as componentes da estrutura

curricular dos cursos de formação, ponderando-as no seu conjunto. O grande objetivo político

do sistema de formação de professores é que esta contribua para uma melhoria da qualidade

de ensino e das aprendizagens dos alunos. Esta melhoria deve provir da contínua capacitação

profissional dos professores ao longo da vida, para que possam atuar, sempre numa atitude

reflexiva e investigativa, como profissionais da mudança, capazes de gerir uma escola

autónoma e respetivo território educativo onde interagem.

Seguindo estas abordagens da formação retém-se que esta constitui um importante

alargamento do campo da formação superando o modelo escolar, por vezes, acrítico, baseado

na oferta e no consumo individual, “numa lógica instrumental e adaptativa, em que se propõe

o consumo massivo de formação pronto a vestir, fazendo emergir modalidades de formação

por medida” (Canário, 1994:23), acentuando o saber experiencial dos indivíduos em

formação. Do mesmo modo, Chantraine-Demailly (1992:142) enfatiza a importância das

aprendizagens em situação, em detrimento dos “procedimentos de aprendizagem desligados

da actividade tal como está socialmente constituída”.

A formação inicial é, por excelência, o período de iniciação do futuro profissional, sendo

entidade como o “início, institucionalmente enquadrado e formal, de um processo de

preparação e desenvolvimento da pessoa em ordem ao desempenho e realização profissional

numa escola ao serviço de uma sociedade historicamente situada” (Estrela, 2002:18).

19

Entende-se, ainda, que esta deva proporcionar aos futuros professores “a informação, os

métodos e as técnicas científicas e pedagógicos de base, bem como a formação pessoal e

social adequada ao exercício da função docente” (Campos, 2002:18). O formando

experimenta aí a primeira etapa referida em vários estudos como sendo um ritual de passagem

de aluno a professor (Formosinho, 2001).

Sobre a formação inicial de professores considera-se que esta deve manter um equilíbrio entre

os aspetos técnicos e as finalidades sociais a que essa formação tem de dar resposta. Tem-se

consciência: (i) dos consensos e desacordos sobre a importância da formação inicial como

forma de preparação do futuro professor; (ii) de que o estudante da profissão já tem “uma

imagem consolidada do que é ser aluno e também do que é ser professor”, uma vez que,

enquanto aluno, teve a oportunidade de observar “vários professores diariamente, imitando-os

e moldando-se a eles em actividades de role play espontâneo” (Formosinho, 2001:50)

A fase da formação inicial é vivida numa instituição de formação de professores, onde o

futuro professor assimila conhecimentos pedagógicos e onde começa por realizar as suas

práticas de ensino (García, 1999), apresentando-se como o primeiro contacto com os saberes

profissionais e a realidade educativa. As instituições de formação ao assumirem o processo

formativo terão de ter em conta a complexa realidade que envolve a formação de professores,

que foi sendo perspetivada ao longo do tempo e sustentada por diversas correntes

educacionais que, de uma ou outra forma, procuraram estabelecer as competências necessárias

para se ser professor e, concomitantemente, que estratégias e objetivos deveriam estar

subjacentes à formação.

Alguns dos objetivos da formação inicial são facultar aos futuros professores aspetos ou

solicitações para que eles próprios se questionem sobre o seu ensino, sobre a elaboração de

projetos e a construção de competências científicas, suportadas pelo domínio da investigação

e da indagação, constituindo-se, esta, como uma fase imprescindível no longo processo de

aprender a ensinar (Alves, 2001).

Criar um projeto de formação inicial, em diálogo com as exigências sociais da profissão,

remete para as palavras de Alonso (1988:57), ao referir que o “conhecimento não é estático,

acabado, perene, uniforme, muito pelo contrário, cada vez mais o conhecimento é algo aberto,

provisional, mutável, diverso e em permanente reconstrução e não podemos olhar para os

professores que estamos a formar como indivíduos passivos, receptáculos vazios, seres sem

20

experiência, mas [como] pessoas em crescimento e, portanto, activos, criativos, com

experiência e individualidade próprias”. Assim, nas escolas, como refere Morin (2001), deve-

se eliminar os erros que foram cometidos na década 70/80, em que o aluno era obrigado a

decorar, entre outras disciplinas, a tabuada ensinada na matemática, e os conceitos

estabelecidos na gramática, mas sem saber como usá-los.

Na formação inicial, como se pode constatar, a visão do professor como profissional

reflexivo, em contraponto a uma imagem como funcionário submetido ao controlo de

decisões políticos ou como técnico sujeito à tutela de especialistas, exige um investimento no

desenvolvimento do potencial de pensamento crítico dos futuros professores (Ennis, 1985). O

pensamento crítico prepara os professores para agirem com poder no contexto da interação

com os outros e da resolução de problemas, avaliando racionalmente uma ação, um propósito

ou uma crença de forma a tomarem a decisão mais adequada.

A contextualização é um meio pelo qual se procura dar um novo sentido ao conhecimento

escolar, permitindo uma aprendizagem significativa. É recomendada com o intuito de facilitar

o processo de ensino-aprendizagem, contribuindo como meio de valorização das experiências

prévias do educando e consequente compreensão dos conceitos (Fernandes, 2006). A

formação inicial de professores se privilegiar a contextualização tem como preocupação

produzir uma aprendizagem considerável, valorizando o conhecimento espontâneo do

discente, de maneira que ele supere a condição de espectador.

O saber profissional do docente é o resultado da mobilização, produção e utilização de

diversos saberes científicos, pedagógico-didáticos, organizacionais, técnico-práticos,

estruturados e integrados adequadamente em função da ação concreta a desenvolver em cada

situação de prática profissional (Ponte, 1994). A construção deste saber deve ocorrer em

situações de prática contextualizada na realidade docente. Como sublinha Canário (2001:2) “o

mais importante na formação inicial consiste em aprender a aprender com a experiência”.

Enquanto a componente académica do curso influi pouco nas perspetivas e práticas do

formando, as experiências práticas têm uma influência potencialmente mais significativa

(Rodríguez, 1995).

21

2.1. Formação Inicial de Professores: Quadro Normativo

Os currículos e programas de formação de professores, desde que começaram a ser propostos

no início do século passado, têm contribuído para proliferação de uma diversidade de práticas

de formação determinadas por diferentes orientações conceptuais e estruturais que traduzem

perspetivas diversas sobre os propósitos e finalidades de formação de professores (Vieira &

Vieira, 2003). Focando a atenção nas metas e finalidades na formação inicial de professores,

Marcelo (1999) considera que estas incluem as dimensões relativas a conhecimentos (saber,

saber-fazer, saber-porquê), capacidades e atitudes ou disposições. Prosseguindo a sua linha de

raciocínio, o autor específica que a dimensão relativa ao conhecimento profissional inclui o

conhecimento psicopedagógico; o conhecimento do conteúdo; e o conhecimento didático do

conteúdo. Segundo vários autores (Costa & Lowery, 1989; Marcelo, 1999; Veenman, Tulder

& Voeten, 1994), apesar do currículo se caraterizar, ainda hoje, por se centrar quase

exclusivamente na aquisição de conhecimentos profissionais, cada vez mais se vem afirmando

a necessidade de incorporar também nos programas de formação de professores o domínio

das atitudes e capacidades.

A aplicação da Lei de Bases do Sistema Educativo Português (Lei n.º 46/86, de 14 de

Outubro), o Decreto-Lei n.º 344/89, de 11 de 0utubro, e o Decreto-Lei nº43/2007, de 22 de

Fevereiro regulamentam o sistema de formação de professores, que tem como finalidade

responder às exigências de qualificação profissional para a docência dos variados níveis de

ensino. Pressupondo, desta forma, funções para a sua formação, bases para a sua

concretização e conteúdos curriculares para adquirir conhecimentos científicos e pedagógicos.

A Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei nº46/86, nº1 do artigo 31º) refere que: “os

educadores de infância e os professores dos ensinos básico e secundário adquirem a

qualificação profissional através de cursos superiores que conferem o grau de licenciatura,

organizados de acordo com as necessidades do desempenho profissional no respectivo nível

de educação e ensino.” Perante esta legislação, as universidades passaram a qualificar para a

docência em todos os níveis e áreas de ensino. Enquanto as Escolas Superiores de Educação

formam para o ensino pré-escolar, para o primeiro e o segundo ciclos do ensino básico. Deste

modo, certificar a formação inicial de professores com as competências necessárias ao

exercício profissional compete aos estabelecimentos de ensino superior e universidades “que

disponham de unidades de formação próprias para o efeito” (Patrício, 1994: 32).

22

A formação inicial tem, ainda, no seu quadro de referência, o regime jurídico da formação de

professores, os padrões de qualidade da formação inicial (Decreto-Lei nº 240/2001), bem

como as orientações curriculares para o Ensino Básico (Decreto-Lei nº6/2001). Então, tendo

como base o decreto-lei nº240/2001, o professor deve ser preparado para: a) fomentar o

desenvolvimento da autonomia dos alunos e a sua plena inclusão na sociedade, tendo em

conta o carácter complexo e diferenciado das aprendizagens escolares; b) identificar e

respeitar as diferenças culturais de todos os indivíduos da comunidade educativa, valorizando

os diferentes saberes e culturas e combatendo processos de exclusão e discriminação; c)

promover aprendizagens significativas no âmbito dos objetivos do projeto curricular de turma,

desenvolvendo as competências essenciais e estruturantes que o integram; d) desenvolver

estratégias pedagógicas diferenciadas, conducentes ao sucesso e realização de cada aluno no

quadro sócio-cultural da diversidade das sociedades e da heterogeneidade dos sujeitos,

mobilizando valores, saberes, experiências e outras componentes dos contextos e percursos

pessoais, culturais e sociais dos alunos.

Para que a habilitação para a docência não seja muito diferenciada de instituição para

instituição, cabe ao governo definir perfis de competências, conforme o n.º 2 do art.º 31º da

Lei de Bases do Sistema Educativo. Recentemente o Decreto-Lei 43/2007 estipula que a

habilitação para a docência deverá passar pela realização de provas de Mestrado (2º ciclo de

Bolonha) e sustenta a possibilidade de quatro vias em termos formativos: Educação de

Infância; Professor do 1º ciclo; Educador de Infância/Professor do 1º ciclo e Professor do 1º

ciclo/Professor do 2º ciclo.

O decreto-lei nº43/2007 define as condições necessárias à obtenção de habilitação profissional

para a docência e determina, ao mesmo tempo, que a posse deste título constitui condição

indispensável para o desempenho docente, nos ensinos público, particular e cooperativo e nas

áreas curriculares ou disciplinas abrangidas por esse domínio. Com este decreto-lei, a

habilitação para a docência passa a ser exclusivamente habilitação profissional, deixando de

existir a habilitação própria e a habilitação suficiente que, nas últimas décadas, constituíram o

leque de possibilidades de habilitação para a docência.

23

A formação de professores do 1º e 2º ciclo do ensino básico

Na delimitação dos domínios de habilitação para a docência privilegia-se, neste novo sistema,

uma maior abrangência de níveis e ciclos de ensino a fim de tornar possível a mobilidade dos

docentes entre os mesmos. Esta mobilidade permite o acompanhamento dos alunos pelos

mesmos professores por um período de tempo mais alargado, a flexibilização da gestão de

recursos humanos afetos ao sistema educativo e da respetiva trajetória profissional. É neste

contexto que se promove o alargamento dos domínios de habilitação do docente generalista

que passam a incluir a habilitação conjunta para o 1º e 2º ciclo do ensino básico. (Decreto-lei

nº43/2007)

A qualificação para a docência tem como referência fundamental o desempenho esperado dos

docentes no início do seu exercício profissional, bem como a necessidade de adaptação do seu

desempenho às mudanças decorrentes das transformações emergentes na sociedade, na escola

e no papel do professor, da evolução científica e tecnológica e dos contributos relevantes da

investigação educacional. Neste sentido, o novo sistema de atribuição de habilitação para a

docência valoriza, de modo especial, a dimensão do conhecimento disciplinar, da

fundamentação da prática de ensino na investigação e da iniciação à prática profissional. Têm

habilitação profissional para a docência nos domínios do 1º e 2º ciclo do ensino básico, os

titulares do grau de licenciado em Educação Básica e do grau de mestre em ensino do 1º e 2º

ciclo (Artigo 4º, Decreto-Lei nº43/2007). Esta formação abrange todas as áreas do 1º ciclo do

ensino básico e, ainda, as disciplinas de Língua Portuguesa, Matemática, História e Geografia

de Portugal e Ciências da Natureza do 2º ciclo do ensino básico. (Decreto-Lei nº43/2007)

Os ciclos de estudos organizados para a obtenção de habilitação profissional para a docência

do 1º e 2º ciclo do ensino básico incluem as seguintes componentes de formação distribuídas

pelas percentagens mínimas apresentadas (Decreto-Lei nº43/2007): formação educacional

geral (5%) - abrange os conhecimentos, capacidades, atitudes e competências no domínio da

educação relevantes para o desempenho de todos os docentes na sala de aula, na relação com

a comunidade e na análise e participação no desenvolvimento de políticas de educação e de

metodologias de ensino; didáticas específicas (20%) - diz respeito aos conhecimentos,

capacidades, atitudes e competências relativas ao ensino nas áreas curriculares ou disciplinas

e nos ciclos ou níveis de ensino do respetivo domínio de habilitação para a docência;

iniciação à prática profissional (45%) - cujas atividades obedecem a determinadas regras,

24

nomeadamente à inclusão da observação e colaboração em situações de educação e ensino e a

prática de ensino supervisionada na sala de aula e na escola; possibilidade dos formandos

terem experiências de planificação, ensino e avaliação, de acordo com as competências e

funções do docente, dentro e fora da sala de aula; realização em grupos ou turmas dos

diferentes níveis e ciclos de educação e ensino abrangidos pelo domínio de habilitação para a

docência para o qual o curso prepara. Estas regras são concebidas numa perspetiva de

desenvolvimento profissional dos formandos visando o desempenho como futuros docentes e

promovendo uma postura crítica e reflexiva em relação aos desafios, processos e

desempenhos do quotidiano profissional; formação cultural, social e ética (25%) – que

engloba a sensibilização para os problemas do mundo contemporâneo, o alargamento a áreas

do saber e cultura diferentes das do seu domínio de habilitação para a docência, bem como a

preparação para as áreas curriculares não disciplinares e a reflexão sobre as dimensões ética e

cívica da atividade docente.

A organização dos estudos, para a habilitação do 1º e 2º ciclo do ensino básico, ainda incluem

mais duas componentes: a) formação em metodologias de investigação educacional – está

relacionada com o conhecimento dos respetivos princípios e métodos que permitem capacitar

os futuros docentes para a adoção de atitude investigativa no desempenho profissional em

contexto específico, com base na compreensão e análise crítica de investigação educacional

relevante; b) formação na área de docência – visa garantir a formação académica adequada às

exigências da docência nas áreas curriculares ou disciplinas abrangidas pelo respetivo

domínio de habilitação para a docência (Decreto-Lei nº43/2007).

Os estabelecimentos de ensino superior para conseguirem organizar e ministrar ciclos de

estudos conducentes ao grau de mestre da especialidade supra identificada devem celebrar

protocolos de cooperação com estabelecimentos de ensino básico, denominados de escolas

cooperantes, com vista ao desenvolvimento de atividades de iniciação à prática profissional,

incluindo a prática de ensino supervisionada, e de investigação e desenvolvimento no domínio

da educação (Artigo 18º, Decreto-Lei nº43/2007). Nas escolas cooperantes existem

professores com prática docente, mínima de cinco anos, nas áreas curriculares ou disciplinas,

que colaboram na formação como orientadores, denominados de orientadores cooperantes

(Artigo 19º, Decreto-Lei nº43/2007).

25

A avaliação do desempenho dos estudantes na prática de ensino supervisionada é realizada

pelo docente do estabelecimento de ensino superior responsável pela unidade curricular que a

concretiza, mas pondera obrigatoriamente a informação prestada pelo orientador cooperante,

coordenador do departamento curricular correspondente ou o coordenador do conselho de

docentes, e no caso do ensino particular e cooperativo, do professor que desempenhe funções

equivalentes (Artigo 21º, Decreto-Lei nº43/2007). Como se pode constatar, as instituições de

ensino superior universitário e politécnico, devem desenvolver o que se designa por modelo

integrado, ou seja, organizarem os currículos de formação de forma a integrarem as

dimensões ditas teóricas (disciplinas científicas) e a prática profissional (atividades docentes

em contexto real, e em situação de supervisão.

Para finalizar, é ainda de referir que, o perfil geral de desempenho profissional do professor,

definido no decreto-lei nº240/2011, evidencia as respetivas exigências de formação inicial,

sem prejuízo da indispensabilidade da aprendizagem ao longo da vida para um desempenho

profissional consolidado e para a contínua adequação deste aos sucessivos desafios que lhe

são colocados. Constitui, por isso, um quadro orientador fundamental quer para a organização

dos cursos que conferem habilitação profissional para a docência quer para acreditação de tais

formações.

2.2. Currículo Contextualizado

Nesta sequência de ideias importa ainda fazer referência ao currículo pois, como referem

Menezes e Araújo (2007), as discussões sobre este têm vindo a assumir importância e

ocupando cada vez mais espaço no campo das investigações em educação.

A rutura provocada pelo 25 de Abril de 1974 traduziu-se numa nova esperança e até euforia

na procura de mudanças face às anteriores políticas do Estado Novo. Com a nova

Constituição da República aprovada em 2 de Abril de 1976, entrou-se num período de

acalmia política e social. Na década de 80, consolidou-se a democracia e assumiu-se como

objetivo nacional a adesão à Comunidade Económica Europeia, consumada em 1986. Foi

também nesse ano aprovada a Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei nº 46/86) que procura

responder ao anseio de modernização da educação em Portugal, sendo ainda, atualmente, a

grande matriz da escola atual, dividindo a escolaridade básica em três ciclos (Ensino Básico)

de 4, 2 e 3 anos respetivamente. No ensino básico, pretende-se assegurar uma formação

global do aluno, enfatizando-se os valores de equidade e de educação inclusiva. Pretende-se,

26

em suma, “proporcionar a aquisição dos conhecimentos basilares que permitam o

prosseguimento de estudos ou a inserção do aluno em esquemas de formação profissional”

(Artigo 7º, Lei nº 46/86).

A massificação do ensino e a conjuntura atual trouxeram novos problemas à escola. Dela tudo

se espera, atribuindo-se-lhe responsabilidades múltiplas. Torna-se, portanto, difícil a uma

instituição educativa responder às solicitações cada vez mais diversas de uma sociedade em

mudança acelerada. É, por isso, forçoso abandonar uma lógica curricular de reformas de larga

escala e, consequentemente procurar “uma outra forma de apropriação do conceito de

currículo por parte da escola” (Roldão, 2001, p.62).

A extensão e massificação da educação tornou mais visível que a questão do currículo não

podia ser encarada com uma simples mudança dos programas curriculares. Impôs-se, então,

uma reorganização curricular, que teve início em Outubro de 1996 com a Reflexão

Participada dos Currículos do Ensino Básico. O despacho 4848/97 marcou o lançamento da

Gestão Flexível do Currículo. Após uma fase de experimentação e reflexão, chegou-se ao

documento final que define a Reorganização Curricular do Ensino Básico (Decreto-Lei

nº6/2001).

Emergindo da necessidade de ultrapassar uma visão de currículo como um conjunto de

normas a cumprir de modo uniforme por todas as escolas, o Decreto-Lei nº6/2001, procedeu a

uma reorganização do currículo do ensino básico. Importar frisar que se trata de uma

reorganização curricular e não de uma reforma, pois tem por finalidade introduzir um novo

modo de trabalhar o currículo, não procedendo a alterações estruturais. O objetivo passa por

melhorar, apostando-se na qualidade através da introdução de novas práticas na conceção e

desenvolvimento do currículo. Deste modo, o currículo nacional, entendido como conjunto de

aprendizagens e competências a desenvolver pelos alunos ao longo do ensino básico, deve ser

adequado ao contexto de cada escola que, através dos seus órgãos de gestão, deve também

definir as estratégias de concretização e desenvolvimento do currículo nacional (Decreto-lei

6/2001).

Com a publicação do Decreto-Lei nº6/2001, confere-se às escolas autonomia para adaptar

uma estrutura curricular nacional ao seu contexto local. Faz-se, assim, a apologia da

“homogeneização da diferença” (Pacheco, 2001, p.45). O currículo nacional, aqui entendido

como o conjunto de aprendizagens e competências a desenvolver pelos alunos ao longo do

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ensino básico, deve ser adequado ao contexto de cada escola que, através dos seus órgãos de

gestão, deve também definir as estratégias de concretização e desenvolvimento do currículo

nacional (Decreto-Lei 6/2001).

Nesta sequência tem sentido deter-se sobre o significado da palavra currículo, no plano

conceptual, pois é frequente confrontar-se no dia-a-dia com expressões como: gestão flexível

do currículo, atividades de enriquecimento curricular, currículo adaptado, currículo

alternativo, projeto curricular de escola e de turma, e muitas outras. O simples facto de se

utilizarem estas expressões não significa, necessariamente, a apropriação do seu conceito,

concretamente pelo professor, protagonista por excelência do desenvolvimento do currículo

(Ribeiro, 2007).

A centralidade que o currículo assume, espécie de fundamento do sistema educativo, convida

a procurar entender melhor, por um lado, o seu significado e, por outro, o seu papel no atual

panorama do sistema educativo. A este propósito Morgado afirma que “por muito que se

procure alterar a estrutura do sistema, quer a nível da própria organização escolar quer ao

nível da seleção de métodos a ser usados, tal alteração produzirá, apenas, um efeito periférico,

a menos que se faça acompanhar de uma reconceptualização da real substância do ensino, isto

é, do próprio currículo” (Morgado, 2000, p.22).

Não se pode deixar de ressaltar que em qualquer definição de currículo, este sempre está

comprometido com algum tipo de poder, pois não existe neutralidade no currículo, ele é o

veículo de ideologia, da filosofia e da intencionalidade educacional. Na elaboração dos

modelos e dos planos curriculares define-se que tipo de sociedade e de cidadão se quer

construir, o que a escola faz para quem faz ou deixa de fazer. É também na construção ou

definição das propostas, que são selecionados conteúdos, que vão ajudar as pessoas, a

entenderem melhor a sua história e a compreenderem o mundo que as cercam. No entanto,

tais planos são formulados de forma pré-estabelecida, e não consideram, a perspetiva de

contextualização. A educação que segue este currículo hegemónico esconde-se por detrás de

uma desculpa de universalidade dos conhecimentos que professa, e sequer pergunta a si

própria sobre os seus enunciados, sobre os seus conceitos, sobre porque tais autores, tais obras

e não outras. Este currículo não se pergunta sobre os próprios preconceitos que distribui como

sendo seus universais (Martins citado por Menezes & Araújo, 2007). Ao discutir-se aqui o

currículo parte-se, tal como Menezes e Araújo (2007), da compreensão deste como

28

tempo/espaço escolar, estruturados como um repertório para o percurso educativo. Percurso

construído pelas experiências, atividades, conteúdos, métodos, formas e meios aplicados para

cumprir os fins da educação, fins que são definidos, implícita ou explicitamente, pelos

interesses dos grupos hegemónicos. Contudo, neste mesmo espaço pensado para controlar, as

pessoas envolvidas no processo (professores, alunos, comunidade), por vezes, forçam a

inclusão dos seus interesses, aspetos da sua cultura, o que possibilita um embate político-

pedagógico.

A palavra currículo é polissémica, ao longo dos anos, diversos autores preocuparam-se em

defini-la de forma a merecer aceitação generalizada. De acordo com a sua origem do latim

(currere), currículo significa percurso a seguir, caminho, carreira. Tomando em consideração

esta definição mais remota, pode-se entender o termo como o que ensinar (percurso a seguir)

e, assim, ligá-lo a conteúdos ou programas disciplinares (percurso organizativo). Nesta

perspetiva, entende-se o currículo como um plano de estudos ou programa, assente na

definição de objetivos, conteúdos e atividades, de acordo com a natureza das disciplinas. A

organização e estruturação rigorosa do plano de estudos, no tempo e no espaço, são

entendidas como um conjunto de conteúdos a ensinar, negligenciando resultados não

previstos no próprio processo da aplicação (Ribeiro, 2007). Encontra-se este tipo de

interpretação em currículos construídos e manipulados pela escola/estado, com carácter

centralizador, estandardizado ou uniforme. Esta ideia de currículo, não totalmente abandonada

por força de décadas marcadas por uma forte tradição prescritiva (Roldão, 2006), ainda

persiste nas práticas educativas das escolas.

Numa outra perspetiva, porém, o currículo é entendido como um conjunto de experiências

educativas, sistema dinâmico, sem estrutura predefinida. Considerar-se-ão, por exemplo,

como partes integrantes do currículo as experiências vividas pelos alunos dentro do contexto

escolar, o próprio processo e metodologias adotadas e as variáveis ambientais. Assumindo-se

flexível, aberto e dependente das condições da sua aplicação, o currículo não será apenas

entendido como “um plano, totalmente previsto, mas como um todo organizado em função de

questões previamente planificadas, do contexto em que ocorre e dos saberes, atitudes e

valores, crenças que os intervenientes trazem consigo, com a valorização das experiências e

dos processos de aprendizagem” (Pacheco, 2001, p.17).

29

Podendo também ser entendido como um conjunto de experiências educativas, sistema

dinâmico, sem estrutura predefinida. Considerar-se-ão, por exemplo, como partes integrantes

do currículo as experiências vividas pelos alunos dentro do contexto escolar, o próprio

processo e metodologias adotadas e as variáveis ambientais. Assumindo-se flexível, aberto e

dependente das condições da sua aplicação, o currículo não será apenas entendido como “um

plano, totalmente previsto, mas como um todo organizado em função de questões previamente

planificadas, do contexto em que ocorre e dos saberes, atitudes e valores, crenças que os

intervenientes trazem consigo, com a valorização das experiências e dos processos de

aprendizagem” (Pacheco, 2001:17).

Como componente pedagógico significativo, o currículo, deve ser elaborado e implementado

a partir das necessidades concretas, que a realidade social, económica, política e cultural

propõe como desafios e necessidades históricas. Neste contexto, a contextualização deixa de

ser um adjetivo do currículo e passa a ser um substantivo. Currículo e contextualização são

dois elementos tão associados, que a conceção de um leva ao aprofundamento do outro e vice-

versa. Assim, a contextualização curricular implica estabelecer uma relação dinâmica,

dialética e dialógica entre contexto histórico-social-político e cultural e o currículo como um

todo, concebido como um processo em constante construção que se faz e se refaz (Menezes &

Araújo, 2007). Para além do que já foi exposto, Menezes e Araújo (2007) ainda acrescentam

que, o currículo deve ser fruto de discursividades, de intenções e de representações

diferenciadas. Deve ser a representação simbólica, o espaço de escolhas, o lugar de inclusões

ou exclusões. Situando-o num contexto social e político, o currículo é antes de tudo um

campo em que as diferenças produzem resultados, tratamentos, significados. Reforça-se assim

a ideia de que, a conceção dinâmica do currículo só pode ser construída numa relação entre

currículo e sociedade.

O que se quer afirmar com a contextualização do currículo é que este seja o veículo, o

interlocutor dos saberes locais, com os saberes globais, que seja visto como campo de

transgressões e que permita a possibilidade de criação (Menezes & Araújo, 2007). De acordo

com o que já foi referido, a contextualização curricular é fundamental para motivar os alunos.

Se, os professores conseguirem trazer para sala de aula situações que permitam ao aluno se

identificar, conseguirão uma interação maior em sala de aula, pois o educando estabelecerá

uma ligação com a sua vida. A escola deve contribuir para a formação do aluno vendo-o como

pessoa humana, crítico e reflexivo frente à realidade em que vive. Portanto, as várias

30

estratégias de ensino devem permitir uma aprendizagem significativa, e a contextualização

mostra-se como uma boa possibilidade de dinamizar o ensino, envolvendo os alunos com o

conhecimento científico, mas inserido no seu mundo de vida.

No decurso da decisão curricular, a complexidade das decisões com que os professores

sistematicamente são confrontados exige que cada professor tenha de refletir, de um modo

crítico, sobre o impacto que o currículo efetivamente tem sobre os alunos (Beyer, 1991).

Considerar o aluno como ator fundamental nas tomadas de decisão curricular é eleger como

desafio principal a construção de uma atmosfera escolar que leve aos alunos a sentirem como

sua a escola e como seus os problemas de aprendizagem. Esta situação levará os professores a

olhar os alunos como observadores, capazes de um comentário construtivo e analítico, pois

alguns resultados de investigação, referidos por Rudduck (1997:4), indicam que "os alunos

podem transmitir muita informação que poderá estabelecer a diferença sobre o seu

compromisso perante a sua escolarização e perante os seus níveis de sucesso". Por outro lado,

ainda que a investigação revele uma baixa correlação das suas perspectivas com as de outros

actores, é necessário preferir "os alunos à voz dos alunos".

2.3. Prática Pedagógica

O corte entre o ideal e o real, ou seja, entre a teoria, adquirida na formação inicial, e a

realidade educativa, a ambiguidade do papel desempenhado pelo educador principiante, numa

sociedade em constantes mudanças, a multiplicidade de papéis que estão atribuídos aos

mesmos, logo a partir do seu primeiro dia de profissão, transformam a iniciação num contexto

propício ao aparecimento de dúvidas e questões (Silva, 1997).

É na formação inicial que o formando constrói as bases do seu conhecimento e

desenvolvimento profissional. O estágio pedagógico, sendo a ultima etapa do processo de

formação inicial, encerra um ciclo devendo funcionar como base para a construção de uma

política de formação permanente (Perrenoud, 1993). A prática pedagógica é tempo de

vivência da realidade escolar, que permite a consciencialização e integração dos diferentes

saberes que definem a competência profissional, estabelecendo a ponte entre dois mundos

com realidades bem distintas, a escola e a instituição de formação. Com esta vivência

antecipada da experiência da docência, os formandos podem “começar a apreciar as situações

escolares sob o ponto de vista do professor” (Estrela & Estrela, 1977:31), tomando

consciência do que é ser professor. “Quanto mais autónoma e assumidamente profissional for

31

a prática pedagógica, mais consciencializa os estudantes da realidade escolar” (Formosinho,

2001: 56). Esta consciencialização é fundamental para: “diminuir o choque da realidade que

se opera aquando da passagem de aluno a professor” (Pacheco e Flores, 1999:105).

O estágio é uma modalidade de prática pedagógica, sob a forma de docência assistida e

orientada, que deverá ser encarado como “momento de síntese e de articulação produtiva de

todas as componentes de formação curricular – especialidade, educação e prática pedagógica

–, e não como momento de rutura entre aquelas e o estágio pedagógico, pois este é antes de

mais um elemento de formação nelas radicado e, a partir delas, desenvolvido” (Lima, Castro,

Magalhães & Pacheco, 1995:161). Tem por finalidade “proporcionar ao futuro professor uma

prática de desempenho docente global em contexto real que permita desenvolver as

competências e atitudes necessárias para um desempenho consciente, responsável e eficaz”

(Formosinho, 2001:54). Na formação inicial de professores o estágio é o elemento regulador

da qualificação profissional, pois o estágio não é apenas um processo de formação, sendo

também um processo de avaliação das aprendizagens adquiridas e de avaliação das

potencialidades dos futuros profissionais. Na verdade, constitui uma fonte de conhecimento,

de experimentação e de reflexão, um momento privilegiado de integração de competências e

uma oportunidade para repensar a qualidade da formação.

2.4. Competências do Professor

Nas últimas décadas alguns estabelecimentos de ensino começaram a dar mais importância à

contextualização das disciplinas, tendo professores mais consciencializados para os métodos

de ensino a serem utilizados para um melhor aproveitamento da aprendizagem dos alunos

(Barros, 2000). Apesar de se reconhecer a permanente sujeição do sistema educativo à pressão

da mudança, é possível perceber também que a implementação de qualquer tipo de inovação,

sobretudo ao nível da cultural organizacional, encontra forte resistência nas práticas

instituídas. Como afirma Hargreaves (1998:295), “a possibilidade de estabelecimento de

culturas docentes mais dinâmicas e vigorosas é seriamente limitada pelas estruturas

existentes, no âmbito das quais trabalham muitos professores”. Na verdade, perante os novos

desafios que se colocam à escola, importa focalizar e valorizar mais o processo de

aprendizagem do que propriamente a instrução e a transmissão de conteúdos, procurando-se

assim formar indivíduos capazes de criar, pensar, construir e reconstruir conhecimento. O

saber é perene e a velocidade a que tudo acontece, hoje em dia, obriga a que cada indivíduo

32

esteja em permanente atualização. Assim, mais do que possuir um saber, importa saber

aprender, ter a capacidade de procurar a informação necessária e transformá-la em

conhecimento mobilizável.

Todas estas mudanças, inflexões ou ajustes, que se verificaram no sistema educativo

português nas três últimas décadas, evidenciam uma clara preocupação em responder às

necessidades, cada vez mais plurais, de uma sociedade em permanente mutação. Todavia, ao

implementar-se sucessivas reformas, pode-se ignorar, em certos momentos, que estas, tal

como diz Hargreaves (1998:156), “são muitas vezes guiadas pela crença de que todos os

problemas têm uma solução. Contudo, talvez o verdadeiro desafio para as reformas, enquanto

processo contínuo, seja o de reconhecer que toda a solução implica um problema”. Isto

porque, o processo de mudança, muitas vezes celebrado e incentivado, pode também

constituir-se como um problema, enfatizando os meios e negligenciando as suas finalidades,

pois acontece frequentemente que “à medida que se canalizam esforços para a

implementação, as razões para a realização da própria mudança desaparecem rapidamente de

cena” (Hargreaves, 1998:26).

Diante do mundo globalizado, que apresenta muitos desafios ao homem, a educação

manifesta a necessidade de se romper com modelos tradicionais do ensino. É importante

destacar as considerações sobre a educação para o século XXI, incorporadas na UNESCO. Os

quatro pilares da educação contemporânea citados pela UNESCO são: aprender a ser aprender

a fazer, aprender a viver juntos, e aprender a conhecer. Esses eixos devem constituir ações

permanentes que visem à formação do educando como pessoa e como cidadão. Nessa relação

que liga os quatro pilares do novo sistema de educação, e considerando a rapidez com que

ocorrem as mudanças na área do conhecimento e da produção, exigindo uma atualização

contínua e colocando novas exigências para a formação do educando, é que a

interdisciplinaridade insere-se na ousadia de novas abordagens de ensino, na educação básica

e especialmente nos cursos de formação de professores (Menezes, & Araújo, 2007). De facto,

numa época caracterizada pelo crescimento exponencial da informação e pela renovação

rápida dos sistemas, cada vez mais complexos, que caracterizam o mundo atual, os

professores precisam de usar as suas capacidades de pensamento crítico para enfrentarem e

liderarem eficazmente com as complexas situações de ensino, bem como para clarificarem

querem o âmago das ideias e valores políticos e sociais subjacentes a mudanças propostas

quer os seus próprios quadros morais e éticos.

33

Pensa-se, no entanto, que a partir das linhas definidas por Altet (2001) se torna evidente que

para qualquer sujeito se tornar professor ser-lhe-á necessário passar por uma formação

profissionalizante, que tenha por base: (i) a reflexão sobre a acção e na acção; (ii) o saber

analisar, como forma reguladora da prática; e (iii) uma noção de pertença ao grupo

profissional, aderindo às suas normas, valores e linguagens.

Ao se refletir sobre o sentido do que é ser professor, verifica-se que se veicula a ideia de que a

pluralidade de conceções existentes poderá estar na base das indefinições sobre o estatuto da

docência no âmbito das profissões, encontrando-se também diferentes imagens sobre o que é

ser professor, que foram construídas ao longo do tempo. A verdade é que se atribui principal

relevância à multidimensionalidade do saber profissional dos professores (Shulman, 1987),

considerando que para a sua construção é necessário que se estabeleça o diálogo entre a

dimensão científica, a dimensão experiencial e uma dimensão investigativa e reflexiva,

indispensável à deliberação e ação em situação de forma fundamentada.

Partilhando as palavras de Le Boterf (1997:39) quando diz que o “profissional é aquele que

sabe gerir uma situação profissional complexa.” Sendo uma definição curta o autor

desenvolve-a tendo em conta que está longe de ser uma definição neutra e que arrasta com ela

consequências práticas que não podem ser desprezadas. Cada indivíduo deve ser

empreendedor da sua profissionalização, ou seja, deve saber pilotar à medida que o caminho é

traçado. Deve saber agir na complexidade, ou saber gerir uma situação profissional complexa.

Este saber agir profissional, navegando pela complexidade das situações profissionais,

significa saber: agir com pertinência; mobilizar os saberes e os conhecimentos dentro de um

contexto profissional; integrar ou combinar os saberes múltiplos e heterogéneos; transferir;

aprender e aprender a aprender; comprometer-se ou empenhar-se (Le Boterf, 1997).

O professor que se precisa é aquele que conhece bem os conteúdos, que tem uma boa

compreensão entre as várias disciplinas e que conheça como os alunos constroem os seus

conhecimentos, desenvolvem as suas capacidades mentais e na prática sabe estimular esse

processo de ensino-aprendizagem (Menezes, & Araújo, 2007). Deve estimular o aluno a

pensar, propiciar a reflexão crítica e coletiva em sala de aula. Isto, porque não basta deixar os

alunos falarem, essa fala precisa fazer sentido, ser valorizada no grupo e pelo professor.

Querendo ou não, o professor é aquele que garante o sucesso da interação na sala de aula. É

ele que medeia as discussões, estabelecendo as direções a onde se quer chegar. É a partir do

34

seu discurso que os educandos se sentirão à vontade ou não para expressarem suas ideias. Isto

porque, é através da forma como o professor age que o aluno intui que sua fala fará ou não

diferença. Há professores que defendem que apenas o seu discurso está correto e desprezam o

que os alunos pensam. Estes consequentemente deixam o professor continuar vagamente o

seu monólogo. Além disso, muitas vezes, o professor não está atento àquilo que os educandos

debatem, ainda que tenha sido ele que tenha proposto a discussão, a conversa ocorre sem

rumo e a desmotivação aparece (Tafner, 2003).

Na verdade, perante os novos desafios que se colocam à escola, importa focalizar e valorizar

mais o processo de aprendizagem do que propriamente a instrução e a transmissão de

conteúdos, procurando-se assim formar indivíduos capazes de criar, pensar, construir e

reconstruir conhecimento. O saber é perene e a velocidade a que tudo acontece, hoje em dia,

obriga a que cada um de esteja em permanente atualização. Assim, mais do que possuir um

saber, importa saber aprender, ter a capacidade de procurar informação necessária e

transformá-la em conhecimento mobilizável (Ribeiro, 2007). Este desafio estaria facilitado se

no início do ano letivo os professores, como já foi referido, tivessem um relatório onde

constasse a vida escolar anterior de cada aluno, acrescido de alguns dados sociais. Este

material o ajudaria a identificar o contexto no qual aqueles alunos estão inseridos e a

vislumbrar toda a diversidade e riqueza de material humano que se constitui na sala de aula.

Contudo, esta proposta, tal como refere Tafner (2003), é uma utopia, na maior parte das

vezes, o professor só sabe as turmas com que vai ficar a uma ou duas semanas antes do início

das aulas, perdendo assim a oportunidade de reunir materiais interessantes para essas turmas.

Como o professor não possui tal relatório, a única ferramenta que lhe resta é quando, no

decorrer das aulas, ele interage com os alunos a fim de conhecê-los melhor, e essa atitude em

parte supri-me a carência dos relatórios.

Neste quadro, ao professor é agora exigido um novo perfil de competências, concretamente,

na implementação de processos e métodos de aquisição de conhecimento que potenciem

aptidões e sociabilizem o saber. O acompanhamento dos alunos na conceção, realização e

avaliação de projetos, através da articulação de saberes de diversas áreas curriculares e de

acordo com as suas necessidades e interesses, implica que o professor se assuma como gestor

de situações educativas dentro, mas também fora da sala de aula (Ribeiro, 2007). O que não

significa que, os professores darão conta de todos os problemas com os quais esses indivíduos

possam se deparar, mas deseja-se, ao menos, que o educando saiba onde procurar soluções

35

para os conflitos com os quais ele venha a defrontar-se. O que poder-se-á dizer é que, ao

professor cabe operacionalizar o tipo de aprendizagem oferecido aos alunos, desenvolvendo

com eles processos de construção de saberes significativos e funcionais. Esta construção

altera o papel tradicional do professor, assumindo-se como um novo desafio (Cortesão, Leite

& Pacheco, 2002), pois implica um trabalho mais colaborativo com outros professores,

procurando-se alterar o paradigma assente numa forma de trabalhar individualmente um

currículo prescrito, imposto e segmentado.

O professor tem um papel importante como mediador entre o conhecimento científico e o

conhecimento do aluno, pelo que a sua grande preocupação deve ser relativa à mudança

conceitual e metodológica e não à simples aquisição de conceitos. Para Praia e Cachapuz

(1994:351), “os fatos não podem ser abordados duma forma descontextualizada, mas antes

inseridos numa rede de razões, ou seja, discutidos com os alunos de forma a desenvolver

neles o pensamento crítico, as capacidades de fundamentação e de argumentação.” Para o

autor, a formação dos professores adquire importância vital nesse processo. As práticas

escolares que não fazem a ligação com o mundo de fora da escola favorecem a uma aquisição

de conhecimentos inertes, ou seja, conhecimentos que os alunos não irão mobilizar/transpor

para novas aprendizagens. Os autores acreditam que as cognições construídas pelos alunos

são fundamentalmente ligadas ao contexto no qual eles são adquiridos e preconizam que se

promovam nas salas de aulas situações próximas das condições da vida extraescolar.

O conhecimento constrói-se de forma global, considerando todas as dimensões do humano.

Então, ao ensinar tem-se que considerar as experiências e conhecimentos adquiridos pelo

aluno, pois, desde o seu nascimento, já se encontra envolvido em inúmeras relações. Por outro

lado, é preciso acompanhar as evoluções do mundo, que sendo dinâmico, encontra-se num

processo constante de transformação. Isto significa que, o que se ensinou há anos atrás hoje

pode não ser significativo Portanto, o professor ao ter presente que o aluno, ao chegar à

escola, não está desprovido de saberes e considerando o avanço da tecnologia, em que as

informações de todo o mundo são conhecidas em frações de segundos, constata que não se

pode mais pensar no ensino fora do contexto social, intelectual e tecnológico do aluno

(Barros, 2000), por isso começa a perceber que é fundamental contextualizar. Porém, nesse

processo, alguns equívocos são cometidos, como quando o professor acredita que

contextualizar é usar o meio do aluno para ser cenário dos exercícios dados em sala de aula.

Por exemplo, quando nos problemas recorre ao futebol, gatos, berlindes, por estarem sempre

36

presentes na vida de qualquer criança, mas os desafios implícitos nesses problemas não

interessam aos alunos, pois eles não se sentem responsáveis por aquilo se propõe.

O professor só pode ajudar o aluno no processo de aprendizagem se puder oferecer pontos de

vista distintos sobre um mesmo assunto, as suas relações com outros conteúdos já estudados e

as suas possíveis aplicações em outras áreas do conhecimento. O ensino formal, todo

estruturado e institucionalizado em torno de disciplinas e conteúdos delimitados que não tem

nada a ver com o mundo real das pessoas, torna a aprendizagem do aluno artificial e

desinteressante (Fontes, 2010). Essa estrutura disciplinar hierarquizada severa do sistema

escolar, muitas vezes, torna difícil a contextualização, o que contribui para a formação de

seres incapazes de pensar e criticar, sem a intervenção de outras pessoas. Assim, a função do

professor é fazer pensar, propiciar a reflexão crítica e coletiva em sala de aula, uma vez que “o

raciocínio (...) não se desencadeia quando não se estabelece devidamente um problema”

(Severino, 1985:148). Ao selecionar os conteúdos a serem trabalhados, o professor precisa

analisar os textos, verificar como são abordados os assuntos, para enriquecê-los com sua

própria contribuição e a dos alunos, comparando o que se afirma com factos, problemas,

realidades da vivência real dos alunos (Lobato, 2008).

2.5. Fragilidades da Formação Inicial

A formação inicial de professores tem legislação enquadradora que determina os responsáveis

desta formação, e certifica os parâmetros quantitativos que asseguram o equilíbrio entre as

diferentes componentes, os meios de acesso, bem como o grau académico que habilita para a

docência (Campos, 2003). No entanto apresenta fragilidades, nomeadamente: uma rotinização

de estratégias na preparação de professores, que inibe o desenvolvimento da inovação

educacional; uma incapacidade de se adaptar às mudanças operadas pela sociedade e pela

escola, nos últimos anos; práticas de formação desfasadas que não encontram estratégias que

possibilitem a articulação entre a teoria e a prática; e dificuldade de se articular com escolas,

onde os futuros professores vão trabalhar (Mesquita, 2010).

Os programas de formação de professores não contemplam, nos seus conteúdos e processos,

os problemas reais do ensino na situação concreta das escolas, em parte porque as instituições

de formação tendem a fechar-se sobre si mesmas, isolando-se das escolas em que os seus

formandos vão ensinar. Pode-se reconhecer que, apesar de se exigir dos professores um novo

desempenho profissional não houve, segundo Esteve (1999:100), “mudanças significativas na

37

formação de professores”, continuando estes a ser “formados de acordo com velhos modelos

normativos”, contribuindo também para que se instalasse, no seio das instituições de

formação, a “confusão respeitante às competências de que o professor necessita para exercer a

complexa função que se lhe atribui” e que a sociedade exige.

O trabalho relativamente recente de Baillauquès (2001) confirma ainda que, os candidatos a

professores sentem a formação demasiadamente teórica ou insuficientemente prática, muito

afastada da realidade ou ligada a modelos. Como resultado disto, os alunos e futuros

professores não aprendem a solucionar os reais problemas, se não construírem as

competências necessárias para o exercício da profissão, devendo possuir conhecimentos

gerais e específicos das matérias que irão lecionar; adquirir um domínio cultural, social e

institucional que lhes permita um desconstruir das representações prévias, implicando idas e

voltas entre a realidade e a reflexão, entre a teoria e a prática; saber agir na complexidade, na

singularidade do ato educativo. Para tal, a formação inicial deve dar-lhes a oportunidade de

desenvolver tais competências. Assim conseguir-se-á formar professores como produtores do

conhecimento e não apenas como meros consumidores (Benavente, 1999). O modelo de

formação do futuro professor, como sujeito de formação não se mantém inoperante ou

condenado a pertencer à ordem do discurso ideológico, atribuindo à formação a função de

desenvolver no sujeito uma dimensão investigativa sobre as situações profissionais e os

contextos organizacionais e situacionais.

Devido à rápida evolução do conhecimento, à complexidade e imprevisibilidade do ensino, a

formação inicial de professores é um período de formação insuficiente e com caráter

condicionante para a preparação posterior do profissional (Rodríguez, 1995). Na verdade, a

maior parte da formação necessária para se ser professor não pode ser adquirida durante a

formação inicial (Afonso, 1994), essencialmente por três motivos: a formação só é possível a

partir da ação e dos problemas nela encontrados; a duração razoável de qualquer formação

inicial não é suficiente para proporcionar todas as competências necessárias ao

desenvolvimento da docência; as necessidades de formação vão surgindo em consequência do

rápido desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e social (Campos, 1987; Damião,

1997). Contudo, convém sublinhar que, a formação inicial será sempre uma etapa

fundamental que permitirá aos futuros profissionais dispor dos elementos necessários para sua

consolidação como profissionais (Mingorance, 1993, citado por Rodríguez, 1995).

38

Parte II – Estudo Empírico

39

3. Metodologia de investigação

Neste capítulo apresenta-se a fundamentação metodológica da investigação realizada. Para

isso, começa-se por definir o problema e objeto de estudo, objetivos que nortearam a

realização desta investigação, bem como as questões de investigação. De seguida, justifica-se

a metodologia utilizada e as opções tomadas. Tendo em atenção os objetivos propostos para

este estudo, optou-se por realizar uma investigação qualitativa. São ainda enunciados os

procedimentos de recolha de dados durante a investigação, e feita a análise dos dados através

da interpretação das respostas obtidas, após o respetivo tratamento e tendo sempre como

referência o quadro conceptual que o suporta.

3.1. Problema e objeto e estudo

A conceção do problema deste estudo resulta da necessidade de contribuir para aumentar o

conhecimento científico de como a formação inicial está a contribuir para a aquisição e

desenvolvimento de competências na dimensão do ensino-aprendizagem, pelos futuros

professores, no âmbito da contextualização do saber. É intenção explorar as representações

que os alunos no 2º ano do mestrado em ensino têm do modo que a formação está a contribuir

para a aquisição de competências para agir no âmbito da contextualização do saber. Assim, o

objeto de estudo incide na forma como a formação inicial prepara os futuros professores para

contextualizar os saberes das disciplinas curriculares para as quais estão habilitados,

nomeadamente no que diz respeito ao significado, objetivos e estratégias de contextualização.

3.2. Objetivos

Ao considerar a contextualização do saber de crucial importância, pois dela depende o

sucesso escolar e/ou social da criança/indivíduo, e esta estar relacionada com o processo de

ensino/aprendizagem que, por sua vez, está dependente da formação do professor, definiu-se

como objetivos do estudo:

i) identificar referências teóricas invocadas pelos futuros professores como fundamento,

seja de preocupações seja de práticas de contextualização;

ii) identificar eventuais referências teóricas lacunares;

40

iii) identificar, no discurso sobre a ação, competências manifestadas relativas à

contextualização no plano da conceção e da execução da ação educativa;

iv) identificar vantagens e limitações reconhecidas pelo futuro professor a propósito de

práticas de contextualização.

3.3. Questões de investigação

Para a formulação das questões toma-se por base que o conhecimento por parte do futuro

professor, que se encontra a realizar a sua formação inicial e está em contexto de prática em

sala de aula, sobre a contextualização do saber, estará naturalmente inerente à sua prática

pedagógica. As questões que se levantam são:

a) a formação inicial prepara o futuro professor para contextualizar o saber das

disciplinas para o qual está habilitado a lecionar?

b) de que modo o futuro professor concebe e pratica a contextualização do saber?

c) quais são os fatores que favorecem ou, pelo contrário, impedem a transferência da

formação para o plano da prática no que diz respeito à contextualização?

3.4. Desenho da Investigação

Pereira (2004) aponta que, hoje em dia, os investigadores podem recorrer a dois métodos,

qualitativo e quantitativo, para atingirem os seus objetivos, e que cada um deles deve ser

validado em termos da sua consistência e relevância para a compreensão que emerge do

estudo. Neste caso a investigação realizada é de cariz qualitativo, uma vez que se desenvolveu

um estudo que procura compreender se a formação inicial prepara os futuros professores de

forma consistente para adquirirem e desenvolverem a contextualização da saber na sua

prática, e se os mesmos tem consciência da pertinência desta competência pelos efeitos que a

sua manifestação produzirá na qualidade de ensino.

A investigação qualitativa surgiu no final do século XIX e início do século XX, atingindo o

seu apogeu nas décadas de 1960 e 1970 por via de novos estudos e sua divulgação (Bogdan &

Biklen, 1994). Este tipo de investigação tem na sua essência, segundo Bogdan e Biklen

(1994), cinco características: (1) a fonte direta dos dados é o ambiente natural e o investigador

é o principal agente na recolha desses mesmos dados; (2) os dados que o investigador recolhe

são essencialmente de carácter descritivo; (3) os investigadores que utilizam metodologias

qualitativas interessam-se mais pelo processo em si do que propriamente pelos resultados; (4)

41

a análise dos dados é feita de forma indutiva; e (5) o investigador interessa-se, acima de tudo,

por tentar compreender o significado que os participantes atribuem às suas experiências.

Ainda segundo os mesmos autores, a investigação qualitativa utiliza principalmente

metodologias das quais resultam dados descritivos que permitirá ao investigador observar o

modo de pensar dos participantes. Corroborando esta ideia, Serrano (2004) refere que, a

investigação qualitativa orienta-se por uma perspetiva hermenêutica e interpretativa dos

fenómenos educativos procurando, desse modo, compreender o fenómeno educativo a partir

da indução dos significados dos próprios contextos na sua singularidade e complexidade.

As investigações qualitativas interessam-se mais pelos processos do que pelos produtos

(Bogdan & Biklen, 1994) e preocupam-se mais com a compreensão e a interpretação sobre

como os factos e os fenómenos se manifestam do que em determinar causas para os mesmos

(Serrano, 2004). Deste modo, entre as técnicas de pesquisa qualitativa, a técnica de entrevista

e a observação participante (que se utilizaram nesta investigação) são algumas das que melhor

dão resposta às características anteriormente referidas (Serrano, 2004). É que, estas técnicas

colocam o investigador em contacto direto e aprofundado com os indivíduos e permitem

compreender com detalhe o que eles pensam sobre determinado assunto ou fazem em

determinadas circunstâncias.

Este tipo de investigação privilegia, essencialmente, a compreensão dos problemas a partir da

perspetiva dos sujeitos da investigação. Neste contexto, Bogdan e Biklen (1994) consideram

que esta abordagem permite descrever um fenómeno em profundidade através da apreensão

de significados e dos estados subjetivos dos sujeitos pois, nestes estudos, há sempre uma

tentativa de capturar e compreender, com pormenor, as perspetivas e os pontos de vista dos

indivíduos sobre determinado assunto. Pode-se dizer que o principal interesse, destes estudos,

não é efetuar generalizações, mas antes particularizar e compreender os sujeitos e os

fenómenos na sua complexidade e singularidade. Assim, em oposição às afirmações

universais e à explicação dos fenómenos numa causalidade linear preferiu-se, nesta

dissertação, a descrição das experiências e das representações dos sujeitos que conduzem a

uma compreensão eclética dos fenómenos.

42

Paradigma interpretativo de natureza exploratória

Nesta investigação, pretendeu-se apreender as subjetividades, tendo-se como base a

interrogação sobre o sentido que as coisas possuem para os sujeitos. Não se trata, portanto, de

apreender o comportamento, pelas suas manifestações exteriores, mas, sim, de compreender e

interpretar os significados, presentes nas subjetividades e manifestados através da linguagem.

Esses significados não só ocorrem a nível individual, mas trazem o peso da realidade cultural

onde o indivíduo está inserido. (Coreth, 1973). Assim, o presente estudo situa-se no âmbito do

paradigma interpretativo. Um paradigma é aquilo que nos permite olhar o mundo e identificar

o que nele é, para nós, importante (Bogdan & Biklen, 1982). O paradigma interpretativo

subscreve uma perspetiva relativista da realidade. Encara o mundo real vivido como uma

construção de atores sociais que, em cada momento e espaço, constroem o significado social

dos acontecimentos e fenómenos do presente e reinterpretam o passado. Nesta perspetiva, não

faz sentido falar na dualidade objetividade versus subjetividade uma vez que a interpretação é

uma atividade humana por excelência que permite à pessoa conhecer-se a si própria e aos

outros. Estes pressupostos explicam a forma de encarar o papel do investigador. No lugar de

se considerar que o investigador é capaz de se colocar de um ponto de vista exterior como

observador da realidade, aceita-se que não há a possibilidade de se estabelecer uma separação

nítida entre ele e aquilo que vai estudar. Toda a investigação é vista como apresentando

necessariamente marcas de quem a realizou (Schwandt, 1994).

No contexto do paradigma interpretativo, o objeto de análise é formulado em termos de ação,

que abrange «o comportamento físico e ainda os significados que lhe atribuem o actor e

aqueles que interagem com ele. O objecto da investigação social interpretativa é a acção e não

o comportamento» (Erickson, 1989:127). Comportamentos idênticos de um ponto de vista

físico podem corresponder a significados diferentes e mutantes de uma perspetiva social. O

trabalho do investigador centra-se na variabilidade das relações comportamento/significado e

visa, ao nível do pólo teórico, a descoberta «de esquemas específicos da identidade social de

um dado grupo» (Erickson, 1989:132).

Em termos metodológicos, no que respeita aos objetivos do estudo, o paradigma interpretativo

dirige-se sobretudo a questões de conteúdo, mais do que de processo, “o objectivo primordial

da investigação centra-se no significado humano da vida social e na sua clarificação e

exposição por parte do investigador” (Erickson, 1989:196). Opondo-se a uma investigação

43

positivista, que pressupõe uma causalidade temporal, estabelecendo uma relação de causa e

efeito, o paradigma interpretativo valoriza a compreensão e a explicação. Sem ter por objetivo

a previsão, através da verificação de leis ou a generalização de hipóteses, o paradigma

interpretativo pretende desenvolver e aprofundar o conhecimento de uma dada situação num

dado contexto. Em vez de se ter, à partida, um conjunto de hipóteses a testar, procura-se

compreender o comportamento dos participantes no seu contexto (Bogdan & Biklen, 2000).

Gostar-se-ia ainda de salientar que no desenvolvimento deste estudo teve-se sempre em

atenção questões de ordem ética. Note-se que não são questões que se levantam apenas no

tipo de estudos que seguem um paradigma de investigação interpretativo, mas são reforçadas

pelo facto do investigador ter uma relação muito próxima com os participantes. Estas questões

abarcam diversos aspetos.

O primeiro deles diz respeito ao consentimento informado dado pelos participantes

envolvidos no estudo (Fontana & Frey, 1994). Este consentimento deve resultar de uma

informação clara por parte do investigador quanto aos objetivos a que se propõe e os

processos que pensa utilizar. Por outras palavras, as regras devem ser claras e, em última

instância, negociadas. Deste princípio decorre de imediato que não faz qualquer sentido usar-

se ao longo do desenvolvimento do estudo processos de recolha de dados que não sejam do

conhecimento dos participantes e não tenham merecido o seu consentimento prévio, como é o

caso, por exemplo, do recurso à gravação áudio de entrevistas utilizado.

Um segundo aspeto relaciona-se com os cuidados a ter no que respeita possíveis implicações

para os participantes decorrentes da publicação do estudo, sejam elas situações embaraçosas

ou sanções de qualquer tipo. Os limites da acessibilidade devem assim ser discutidos e

negociados. Esta questão está igualmente associada à decisão de estabelecer até que ponto é

legítimo entrar na vida privada dos participantes. O facto da pessoa aceitar participar numa

investigação não equivale a autorizar a invasão da sua privacidade (Stake, 1994).

Outra questão ética que se levanta, no que respeita a investigação que segue um paradigma

interpretativo na área da formação de professores, é a de que não cabe ao investigador tomar

juízos de valor sobre o objeto de estudo. Há, no entanto, um certo risco em que isso aconteça,

tanto porque o investigador tem ele próprio as suas conceções sobre o que é ensinar e

aprender, como os professores muitas vezes encaram o investigador como alguém que, por ter

um conhecimento mais sustentado na teoria, lhes pode vir a resolver os seus próprios

44

problemas. Esta questão pode ser, contudo, resolvida se, por um lado, os objetivos do estudo

forem claros para ambas as partes e, por outro, o investigador estiver atento a este risco,

controlando as atitudes que o poderão levar as situações favorecedoras de juízos de valor. Por

outras palavras, o investigador não deve assumir uma postura exterior avaliativa, mas sim

procurar interpretar e compreender os seus significados. Pode-se assim concluir que, no que

respeita a atitude ética na investigação, como investigadores que trabalham no terreno,

“devemos desenvolver uma responsabilidade moral e bom senso para como os sujeitos do

estudo em primeiro lugar, com o próprio estudo, em segundo, e só por último, com nós

próprios” (Fontana & Frey, 1994, p. 372).

É ainda de mencionar que, Ludke e André (1986) referem que, a investigação qualitativa pode

assumir várias formas, destacando-se, principalmente, a pesquisa etnográfica e o estudo de

caso. Ambas vêm ganhando muita aceitação e credibilidade na área das ciências humanas e

sociais como procedimento da análise da realidade. A presente investigação tem uma

pretensão exploratória, e se mais aprofundada, poder-se-á vir a constituir um estudo de caso.

Como argumenta Stake (2007), o estudo de caso pretende compreender um fenómeno na sua

complexidade, numa situação particular e num determinado contexto. Trata-se de uma

abordagem metodológica de investigação especialmente adequada quando se procura

compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos complexos, nos quais estão

simultaneamente envolvidos diversos fatores.

Denny (1978) também define o estudo de caso como uma abordagem metodológica que

permite analisar com intensidade e profundidade diversos aspetos de um fenómeno, de um

problema, de uma situação real. Neste contexto de compreensão profunda de uma realidade,

Yin (2005:13) o define estudo de caso como “uma investigação empírica que estuda um

fenómeno contemporâneo dentro do contexto de vida real de vida, especialmente quando as

fronteiras entre o fenómeno e o contexto não são absolutamente evidentes” e acrescenta que

para tal se podem usar múltiplas fontes para recolher evidências e informações, desde que

sejam apropriadas e possibilitem compreender o caso no seu todo. Complementando esta

ideia Ponte (1994:3) afirma que, o estudo de caso “visa conhecer em profundidade o seu

“como” e os seus “porquês” evidenciando a sua unidade e identidade próprias. É uma

investigação que se assume como particularista, isto é, debruça-se deliberadamente sobre uma

situação específica que se supõe ser única em muitos aspetos, procurando descobrir o que há

nela de mais essencial e característico.”

45

Pelas definições, antes, expostas também é possível constatar que o estudo de caso tem como

objeto de investigação uma unidade particular que pode ser uma pessoa, um grupo, um

acontecimento, uma organização, uma comunidade, (Serrano, 2004). Transpondo estes

objetivos para a realidade educativa, pode ser uma turma, um aluno, um professor, um

programa de ensino, a prática de um professor, uma determinada política educativa, entre

outras possibilidades.

A modalidade de estudo de caso possui uma dupla vertente: por um lado, é uma modalidade

de investigação apropriada para estudos exploratórios e compreensivos e que tem, sobretudo,

como objetivo a descrição de uma situação, a explicação de resultados a partir de uma teoria,

a identificação das relações entre causas e efeitos ou a validação de teorias (Serrano, 2004).

Por outro lado, permite ilustrar e analisar uma dada situação real e fomentar a discussão e a

tomada decisões, convenientes, para os mudar ou melhorar, podendo servir, neste contexto,

objetivos de aprendizagem e de formação (Serrano, 2004). É que esta abordagem possui

características que a tornam muito útil para a análise de problemas práticos, situações ou

acontecimentos que surgem no quotidiano. O produto final de um estudo de caso constitui

uma descrição detalhada do objeto de estudo em que se utilizam técnicas narrativas para

descrever, ilustrar e analisar as situações (Serrano, 2004). Como salienta Yin (2005), o

objetivo do estudo de caso é explorar, descrever ou explicar. Stake (2007) corrobora esta ideia

ao afirmar que o estudo de caso permite descrever situações ou factos, proporcionando

conhecimentos acerca do fenómeno estudado, assentando numa pesquisa intensiva e

aprofundada de um determinado objeto de estudo, que se encontra bem definido e visa

compreender a singularidade e globalidade do caso em simultâneo.

Os estudos de caso são efetuados com unidades particulares ou pequenas unidades sociais,

não sendo, por isso, possível efetuar generalizações estatísticas (Yin, 2005). Como alternativa,

Yin (2005) esclarece que a generalização analítica é mais adequada, dado que o objetivo é

ampliar e generalizar o modelo teórico encontrado, a partir do estudo de caso. O que se

procura generalizar são proposições teóricas e não proposições sobre populações. Por seu

turno, quanto à questão da generalização no estudo de caso, Stake (2005) refere, ainda, que a

finalidade deste método é interpretar e compreender, um dado caso real, e não generalizar,

que é uma base extremamente débil neste método. Serrano (2004) menciona, ainda, que

generalizar resultados não é uma questão indispensável no estudo de caso. No entanto, sendo

46

possível destacar algumas generalizações, estas podem servir para, de algum modo, ser

aplicadas noutras realidades.

Ludke e André (1986) afirmam que o interesse do estudo de caso incide naquilo que ele tem

de único, de particular, mesmo que posteriormente fiquem evidentes certas semelhanças com

outros casos ou situações. Estes autores acrescentam ainda que se deve escolher este tipo de

estudo quando quer estudar algo singular, que tenha um valor em si mesmo.

Em síntese, tendo como base a informação exposta, esta investigação constitui um estudo

qualitativo, no âmbito do paradigma interpretativo, de natureza exploratória. Os futuros

professores foram o principal agente de recolha de dados através da entrevista

semiestruturada.

3.5. Sujeitos

A população tomada como referência para o estudo, constituída de forma não aleatória, é um

grupo de formandos da mesma turma do 2º ano do mestrado em ensino do 1º e 2º ciclo do

ensino básico, de uma instituição de ensino superior pública, que após conclusão da formação

inicial ficam habilitados para a docência de todas as disciplinas obrigatórias do 1º ciclo, e de

língua portuguesa, matemática, história e geografia de Portugal e Ciências Naturais, do 2º

ciclo.

O grupo de sujeitos entrevistados é constituído por seis indivíduos, sendo apenas um do

género masculino, com idades compreendidas entre os 22 e os 24 anos, de nacionalidade

portuguesa. Todos os participantes estagiaram numa escola do 1º e 2º ciclo do ensino básico,

com uma duração aproximada de 25 horas por semana. Todos os alunos estiveram a estagiar

em escolas localizadas na periferia de Lisboa, situando-se numa zona predominantemente

residencial, com fortes características de suburbanidade.

A população foi escolhida em função dos objetivos do estudo, que se prendem por perceber

em que medida a formação inicial prepara os futuros professores para contextualizar o saber

das disciplinas que vão lecionar, e se os mesmos têm referências teóricas e competências a

nível da contextualização.

Perante as caraterísticas da amostra, esta é considerada não probabilística, uma vez que foi

selecionada, como referem Carmo e Ferreira (1998:192), “de acordo com um ou mais critérios

47

julgados importantes pelo investigador tendo em conta os objetivos do trabalho de

investigação”, sendo utilizada a técnica de amostragem por conveniência, pelo que não é

possível proceder a generalizações.

3.6. Instrumento de recolha de dados: entrevista

Para uma análise mais detalhada das conceções dos professores sobre a contextualização,

foram realizadas entrevistas, pois como Best (1981:159) sublinha “a entrevista é, muitas

vezes, superior a outros sistemas de obtenção de dados. Uma razão é que as pessoas,

geralmente, preferem falar a escrever”. Recorrendo à ideia de Ghiglione & Matalon (1997:13)

quando afirmam que a entrevista é particularmente indicada para “compreender fenómenos

como as atitudes, as opiniões, as preferências, as representações (…) que só são acessíveis de

uma forma prática pela linguagem”.

A entrevista é um dos instrumentos mais utilizados na investigação social e educativa,

sobretudo no contexto da metodologia qualitativa. É uma técnica de recolha de dados que

permite obter informações através da relação dialógica entre duas ou mais pessoas. Mais

especificamente, Bisquerra (1989:103) define a entrevista de investigação como “uma

conversação entre duas pessoas iniciada pelo entrevistador com o propósito específico de

obter informação relevante para uma investigação”. Consistindo no desenvolvimento de um

diálogo preciso, focalizado, fidedigno e válido. Bardin (1995) refere que, no sentido mais rico

de expressão, o espírito teórico do investigador deve permanecer continuamente atento, para

que as suas próprias intervenções se traduzam em elementos de análise tão fecundos quanto

possível.

Patton (1990, citado por Tuckman, 2000:517) refere que há três tipos de entrevistas que

variam entre as que são totalmente informais ou de conversação e as que são altamente

estruturadas e fechadas. As entrevistas qualitativas como refere Bogdan e Biklen (2000:135)

variam quanto ao grau de estruturação, desde as entrevistas estruturadas até às entrevistas não

estruturadas. Possuem a vantagem de revelar o “que vai na cabeça” do sujeito (Tuckman,

1994). Existem duas operações necessárias para se conseguir perceber as

significações/representações dos sujeitos. A primeira é fundamentalmente possibilitada pela

entrevista semidiretiva, de natureza fenomenológica ou etnográfica; a segunda consiste em

traduzir as palavras do sujeito entrevistado, sendo na análise do conteúdo que tem o seu

suporte (Rodrigues, citada por Estrela, 2002).

48

Na elaboração das perguntas deve haver a preocupação de as construir de modo a deixar o

entrevistado à vontade para falar livremente o que desejar, afim de não induzi-lo nas suas

respostas e de poder ter a maior quantidade de informação possível. Na entrevista a relação

que se cria é de interação, havendo uma atmosfera de influência recíproca entre quem

pergunta e quem responde. Para Ludke e André (1986:36), a grande vantagem da entrevista

sobre outras técnicas é que “ela permite a captação imediata e corrente da informação

desejada, permite correções, esclarecimentos, adaptações que a tornam sobremaneira eficaz na

obtenção das informações desejadas.” A entrevista semidiretiva se desenrola a partir de um

esquema básico, porém não aplicado rigidamente, permitindo que o entrevistador faça as

necessárias adaptações.

Considerando este estudo, é a entrevista semidirectiva (Quivy & Campenhoud, 1992) a que

melhor se adequa, na medida em que, após um guião inicial, elaborado pelo entrevistador, o

entrevistado, como referem Marconi & Lakatos (1990), tem a liberdade para desenvolver cada

situação em qualquer direção que considere adequada. Do mesmo modo, Quivy &

Campenhoud (1992:194) consideram a entrevista semidirectiva, ou semidirigida, no sentido

em que “não é nem inteiramente aberta, nem encaminhada por grande número de perguntas

precisas. Geralmente, o investigador dispõe de uma série de perguntas-guias, relativamente

abertas, a propósito das quais é imperativo receber uma informação da parte do entrevistado.

Mas não colocará necessariamente todas as perguntas na ordem em que as anotou e sob a

formulação prevista”.

O recurso à entrevista semidirectiva tem por objetivo permitir aos entrevistados explorarem,

de forma flexível e aprofundada, os seus relatos, e dar-lhes, deste modo, oportunidade de

verbalizarem aspetos relativos à formação inicial e à sua prática enquanto professores

estagiários, considerados relevantes para o desenvolvimento profissional. Desta forma, deixa-

se, tanto quanto possível, “andar o entrevistado para que este possa falar abertamente, com as

palavras que desejar e na ordem que lhe convier” (Quivy & Campenhoud, 1992:194).

49

3.7. Procedimentos de recolha de dados

3.7.1. Guião da entrevista

A realização de uma entrevista semi-directiva pressupõe a definição prévia do tema que se

pretende estudar, das informações que se pretendem recolher, que levem à construção de um

guião orientador a utilizar pelo entrevistador no decorrer da entrevista de investigação. O

guião deve ser construído de forma organizada, estruturado em blocos, que correspondem

àquilo sobre o que se pretende que o entrevistado fale, em objetivos específicos para cada um

desses blocos ou assuntos a abordar pelo entrevistado, e num formulário de questões para

cada bloco, em articulação com os objetivos específicos.

Para a realização deste estudo, e de acordo com os referidos pressupostos, elaborou-se um

primeiro guião que, depois de analisado pela professora orientadora sofreu ligeiras alterações.

A versão final do guião da entrevista (vide anexo II) é constituída pelos seguintes blocos: a)

legitimação da entrevista; b) caracterização do formando, cujos objetivos são conhecer as

motivações que levaram o entrevistado a frequentar o mestrado em ensino, e compreender a

perspetiva que o professor tem acerca da sua profissão; c) representações sobre a formação

inicial, para conhecer as representações do entrevistado acerca do mestrado e do estágio; d)

significado da contextualização do saber, com o intuito de conhecer as representações e as

práticas do entrevistado acerca da contextualização do saber, e os fundamentos teóricos da

contextualização conhecidos pelo entrevistado e a relação desses com a sua formação inicial,

bem como identificar as finalidades atribuídas pelo entrevistado à contextualização do saber;

e) contextualização do saber, de modo a identificar as implicações da contextualização no

ensino da língua portuguesa, e a perceber de que modo é que o entrevistado contextualiza; f)

finalidades da contextualização do saber; g) agradecimentos.

Tratando-se de uma entrevista semi-directiva as questões não se constituem enquanto

perguntas, isto é, são abertas de modo a não resultarem em respostas fechadas e demasiado

concretas, controladas por parte do entrevistado. Assim, em vez de ser o entrevistado

controlado pelo entrevistador é este que vai seguindo a sua linha de pensamento, ao mesmo

tempo que regula a pertinência das afirmações em relação aos objetivos da investigação. No

entanto, o guião da entrevista também possibilitou reencaminhar a entrevista para os objetivos

do estudo, atrás enunciados, cada vez que o entrevistado deles se afastava, e “colocar as

50

perguntas às quais o entrevistado não chega por si próprio, no momento mais apropriado e de

forma tão natural quanto possível” (Quivy & Campenhoud, 1992:194). Neste sentido,

possibilitou-se a cada entrevistado a liberdade de falar sobre os conteúdos específicos em

estudo, bem como outras questões que considerasse importantes e que não estavam

formuladas no guião, fornecendo, deste modo, informações relevantes.

3.7.2. Realização das entrevistas

Num primeiro momento tentou-se marcar entrevistas com os formandos do 2º ano do

mestrado em ensino de língua portuguesa. No entanto, não houve uma resposta positiva por

parte de nenhum dos indivíduos contatados. Para solucionar este problema, enviou-se um

email, a uma professora que orienta alunos do 2º ano do mestrado em ensino, a solicitar o

contato de um possível aluno a ser entrevistado. A professora abordou um aluno que

disponibilizou-se para falar com alguns colegas e solicitar-lhes o endereço eletrónico.

Posteriormente, enviou-se um email a todos os contatos facultados, de modo a informar dos

objetivos e propósitos da investigação, a pedir a sua colaboração no estudo e a garantir o

anonimato e confidencialidade da entrevista. Os formandos começaram a responder, e as

entrevistas decorreram entre o dia 6 e o 10 de Junho de 2012.

As entrevistas foram realizadas num ambiente informal, descontraído e sem pressões,

procurando sempre deixar os entrevistados responderem à vontade. Bogdan e Biklen (1994)

referem a este propósito que as boas entrevistas caracterizam-se pelo facto de os indivíduos

estarem à vontade e falarem livremente dos seus pontos de vista. No local apenas estavam

presentes a entrevistadora e o entrevistado a quem se pediu a permissão para gravar a

entrevista em áudio. Este procedimento permitiu transcrever na íntegra todo o conteúdo dos

discursos e efetuar adequadamente a codificação dos dados recolhidos para uma análise

posterior. A duração global de cada entrevista foi variável, de acordo com o tempo que cada

entrevistado necessitava para se expressar, oscilando entre 25 e os 45 minutos.

Os entrevistados foram codificados com a letra (E), e numerados de 1 a 12 conforme a

sequência da realização das entrevistas a fim de assegurar o anonimato e o carácter

confidencial das informações prestadas. Do mesmo modo, procedeu-se à supressão no texto

dos nomes das pessoas, localidades e escolas que poderiam quebrar estes princípios.

51

3.7.3. Análise de conteúdo

Para a análise de dados, foi escolhido o método análise de conteúdo que é entendido como

técnica de compreensão, interpretação e explicitação das formas de comunicação. De acordo

com Setúbal (1999), os objetivos da análise de conteúdo seriam o de ultrapassar as evidências

imediatas, das mensagens e de aprofundar, por meio de leituras sistemáticas e sistematizadas,

a perceção, a pertinência e a estrutura das mensagens.

Após a realização e transcrição das entrevistas procedeu-se à análise dos dados recolhidos, de

acordo com os principais pressupostos da técnica de análise de conteúdo, com o objetivo de

aumentar a nossa perceção e compreensão relativa aos dados recolhidos. Segundo Richardson

(1999), a análise de conteúdo é, particularmente, utilizada para estudar material de tipo

qualitativo. Desse modo, deve-se fazer uma primeira leitura para organizar as ideias incluídas

para, posteriormente, analisar elementos e regras que as determinam. Pela sua natureza

científica, a análise de conteúdo deve ser eficaz, rigorosa e precisa. Trata-se de compreender

melhor um discurso, de extrair os momentos mais importantes. Assim, esta técnica permite a

sistematização e explicitação da informação contida nas entrevistas, com o objetivo de

elaborar categorias e classificações pertinentes para a construção e interpretação de um campo

conceptual. Bardin (1995) salienta que a análise de conteúdo oferece a possibilidade de tratar,

de forma metódica, informação e testemunhos que apresentam um certo grau de profundidade

e complexidade que é o que acontece com entrevistas semi-directivas.

Neste processo de categorização tivemos em atenção as regras apontadas por Bardin (1995):

exaustividade - cada categoria estabelecida deve permitir a inclusão de todos os elementos

levantados relativos a um determinado tema; exclusividade - nenhum elemento pode ser

classificado em mais de uma categoria; adequabilidade ou pertinência - termos abstratos são

complexos, terão diversos significados. Assim, a classificação corre o risco de mudar de

pesquisador a pesquisador. É importante ter categorias concretas que permitam fácil

classificação dos elementos; homogeneidade - categorias devem basear-se num mesmo

princípio de classificação. Não é possível analisar o conteúdo quando as categorias se

fundamentam em mais de um princípio classificatório; e ainda objetividade e fidelidade – o

pesquisador deve definir claramente variáveis e indicadores que determinam a classificação

dos elementos em determinadas categorias.

52

De acordo com Bardin (1995) as fases da análise de conteúdo desenvolvem-se em torno de

três eixos sequenciais: a pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados. Na

primeira fase é estabelecido um esquema de trabalho que deve ser preciso, com procedimentos

bem definidos, embora flexíveis. A segunda fase consiste no cumprimento das decisões

tomadas anteriormente, e finalmente na terceira etapa, o pesquisador apoiado nos resultados

brutos procura torná-los significativos e válidos. No que concerne à análise de conteúdo, e

também, à análise de dados, recorreu-se a uma abordagem mista. Dedutiva, uma vez que

orientamo-nos por um guião pré definido. Mas também, indutiva, pois os indicadores foram

emergindo conforme as especificidades do discurso.

A mesma análise de conteúdo, em todas as suas dimensões, pode ser realizada de diferentes

maneiras por diferentes pessoas, ou até mesmo de diferentes maneiras pela mesma pessoa. A

análise destas entrevistas refletem uma das formas de o fazer, havendo outras mais, conforme

as conceções de quem o faz. Algumas falas dos entrevistados ganham maior significado

mediante os objetivos do estudo. Contudo, todo o discurso foi disposto em categorias,

subcategorias e indicadores.

No quadro destas ideias, considera-se que esta fase de definição de categorias de análise foi

crucial, na medida em que permitiu simplificar os dados recolhidos e, desta forma, permitir

fazer inferências sobre as mensagens cujas características foram inventariadas e

sistematizadas, de modo a fazer uma interpretação dos dados obtidos. Como salienta Bardin

(1995), é a inferência que permite a passagem da descrição à interpretação, enquanto

atribuição de sentido às características do material que foram levantadas.

As categorias, subcategorias e indicadores que serviram de base à análise das entrevistas,

definidos a partir dos procedimentos acima referidos, são apresentados a seguir em quadros, a

fim de não tornar a leitura fastidiosa.

Assim, fazem parte da categoria da motivação (cf. quadro n.º1) para a escolha do mestrado em

ensino do 1º e 2º ciclo as revelações dos entrevistados que permitem perceber que tal escolha

relaciona-se basicamente com duas dimensões: a intrínseca, que surge inerente ao

entrevistado, e a extrínseca, que se deve a fatores externos ao indivíduo.

53

Quadro 1 - Categoria: Motivação para a escolha do mestrado

Subcategoria Indicadores

Intrínseca Gostar de crianças

Gostar da profissão

Extrínseca Antigos professores

Faculdade

Pertencem à categoria representações do entrevistado relativamente à profissão (cf. quadro

n.º2) as declarações dos professores que se referem à sua experiência pessoal, bem como

todas as referências que dizem respeito aos vários momentos que os futuros professores

referem como significativos, de desenvolvimento profissional, com a apropriação de

múltiplos saberes e experiências que permitiram um enriquecimento pessoal e profissional, e

a construção de uma perspetiva acerca da profissão de docente, pois, como salienta Nóvoa

(1992:26), “a formação está indissociavelmente ligada à «produção de sentidos» sobre as suas

vivências e sobre as experiências de vida”.

Quadro 2 - Categoria: Representações do entrevistado relativamente à profissão

Subcategoria Indicadores

Experiência em ensino Enquanto aluno

Com colegas

Dimensões associadas à profissão Ética do cuidar

Gestão: diferenças, tempo, atenção

Relação professor-aluno

54

Quadro 2 - Categoria: Representações do entrevistado relativamente à profissão (Continuação)

Fatores que contribuem para uma maior ou menor

satisfação

Burocracia

Multiplicidade de funções

Significado de ser professor Caraterísticas associadas

Conhecimentos

A categoria formação inicial (cf. quadro n.º3) engloba as declarações que os futuros

professores têm relativamente ao facto da formação inicial os preparar para a realidade das

escolas onde poderão vir a lecionar, à autonomia que sentiram no decorrer do estágio para

colocar em prática as competências, conhecimentos e estratégias que achavam mais

adequadas, bem como as suas representações sobre a formação inicial em geral e propostas de

melhoria a introduzir no campo da formação.

Quadro 3 - Categoria: Formação inicial

Subcategoria Indicadores

Avaliação da formação inicial Superou as expetativas

Correspondeu às expetativas

Potencialidades

Constrangimentos

Autonomia Professor cooperante dá autonomia

Condicionada

55

Quadro 3 - Categoria: Formação inicial (Continuação)

Preparação para a realidade das escolas Dificultada devido à diversidade de

contextos

Sentem que prepara

Na categoria do significado da contextualização foram incluídos os enunciados que se referem

às características que podem estar ligadas à definição de contextualização, como o programa

curricular, a aplicação de conhecimentos científicos, a adaptação do programa curricular ao

aluno, a origem sociocultural/económica e as caraterísticas do aluno. Por sua vez, na categoria

da contextualização na formação inicial foram incluídas os excertos das entrevistas que

revelam se as características associadas ao conceito de contextualização foram abordadas no

decorrer da formação inicial, e se o orientador e supervisor alertam para essas mesmas

características, bem como as declarações que transmitem a relação entre estes dois agentes

educativos e o formando.

Da categoria objetivos da contextualização fazem parte as referências aos indicadores

aumento de interesse do aluno, à facilitação da aprendizagem; à transferência de

conhecimentos e à libertação do aluno da sua condição de espetador passivo.

A última categoria utilizada diz respeito a todas as partes do discurso dos entrevistados que

remetem para estratégias a que recorrem para contextualizar quando estão em sala de aula,

desta fazem parte as seguintes subcategorias: reestruturas o programa curricular; utilizar o

programa curricular como recurso; estabelecer a relação entre o conteúdo e o aluno; trabalho

de grupo; saberes já interiorizados; conhecer o aluno.

Através das entrevistas tentou-se compreender, a partir dos discursos dos futuros professores,

a importância atribuída na formação inicial à contextualização do saber, bem como a sua

repercussão nas representações e nas práticas dos entrevistados ao nível da contextualização.

A seguir far-se-á a discussão e interpretação dos dados resultados das entrevistas em função

das respetivas categorias, subcategorias e respetivos indicadores (cf. os quadros e as

discrições anteriores).

56

4. Interpretação dos dados

Apresentado o instrumento de recolha de dados e descritos os procedimentos metodológicos

desenvolvidos segue-se a sua análise interpretativa, tendo sempre como referência o quadro

conceptual bem como os objetivos e as questões de investigação que orientaram a

investigação.

Ao analisar os depoimentos dos futuros professores foram reunidas informações, que

permitiram uma análise reflexiva sobre as práticas de ensino destes alunos, bem como suas

conceções sobre a sua formação inicial e a contextualização das disciplinas para as quais

ficam habilitados para a docência.

4.1. Motivação para a escolha do mestrado em ensino do 1º e 2º ciclo do

ensino básico

As motivações para a escolha da profissão docente desempenham um papel importante na

forma de encarar a formação inicial e nas questões de dedicação e motivação relativamente à

profissão. A motivação na escolha do seu percurso académico constitui uma referência

importante na história de vida do indivíduo que quer ser professor e no modo como se vê a si

próprio enquanto profissional habilitado para a docência.

No Quadro 1 pode-se observar as motivações que influenciaram os professores entrevistados

na escolha do mestrado em ensino do 1.º e 2º ciclo do ensino básico. Assim, os professores

fizeram referência a motivações intrínsecas, isto é, diretamente relacionadas com a profissão,

uma escolha consciente, aliada ao facto de “gostar da profissão” e/ou “gostar de crianças”,

como expressam as seguintes afirmações do E3:

“[…] Eu entrei aqui porque dizia que gostava de crianças. Entrei aqui a dizer

que queria ser educadora porque gostava muito de crianças. […] É outro nível

e mesmo eu descobri que gosto muito mais de trabalhar com crianças mais

crescidinhas, com outras idades, não tanto com os mais pequenos. […]” (E3)

“Eu queria ser educadora, mas depois conforme fui evoluindo comecei a

adquirir muito mais gosto, muito mais interesse pelo 1º ciclo. O 1º ciclo é uma

área onde já há mais responsabilidade curricular mais acrescida. […] E gosto

57

mais do trabalho que se faz a nível do 1º ciclo, as aprendizagens, o currículo

que temos, todo aquele trabalho de ensino-aprendizagem.” (E3)

Outros apontam motivações extrínsecas para a escolha da profissão tais como: a experiência

académica no ensino superior, ou seja, após o contacto com a licenciatura houve uma

“descoberta” quanto à natureza da profissão que permitiu uma mudança nas suas motivações,

tal como se depreende dos seguintes testemunhos:

“[…] eu sempre quis ser professor, não sei bem porquê. Talvez porque apanhei

uma boa professora de primária. Provavelmente deve ter sido por aí.” (E4)

“[…] E não me via de todo em pré-escolar e decidi ir para 1º ciclo, mas não há

assim um motivo, foi o percurso que fiz na ES e que me levou a fazer esta

escolha.” (E5)

Pode-se ainda destacar, através da análise das motivações extrínsecas referidas pelos

entrevistados sobre a escolha da profissão, a influência de antigos professores, tal como

atestam alguns autores (Galvão, 1998; Tardif, 2000; Flores, 2000), na medida em que estes,

frequentemente, funcionam como modelos profissionais, associados a modelos positivos, o

que conduz à criação de algumas representações/imagens ideais relativamente à profissão.

4.2. Representações do futuro professor relativamente à profissão de

docente

Vários estudos evidenciam que o conceito de profissão assume várias conotações tendo em

conta os diferentes aspetos caracterizadores da profissão professor. Salientam-se as interações

que se estabelecem entre o processo socializador e as competências necessárias ao exercício

profissional. A categoria “representações do entrevistado sobre a profissão docente” expressa

as opiniões dos alunos/futuros professores sobre a profissão docente, das quais emergiram

quatro subcategorias: “experiência em ensino”; “dimensões associadas à profissão”; “fatores

que contribuem para uma maior ou menor satisfação” e “significado de ser professor”.

Algumas das representações evidenciadas pelos sujeitos do estudo reportam-se à experiência

em ensino enquanto alunos e no exercício de algumas atividades ligadas à área de ensino

realizadas com colegas, como se pode verificar nos seguintes excertos:

58

“Já. [tinha tido experiências em ensino] […] Esses projetos, portanto, têm a ver

não só com bens materiais, por exemplo juntar dinheiro ou trazerem coisas de

casa para dar a essa escola, com também depois tem a parte humana.

Normalmente essa parte humana, que muitas vezes iam professores e também

iam, também iam alunos e chamavam-me sempre para essa parte. A última

experiência que tive, portanto, ainda ligada ao colégio, foi nas GG, também…

Já com meninos maiores e foi aí que contactei pela primeira vez com o 2º ciclo

e, pronto, gostei muito. […] também dei explicações. Portanto, fiz as duas

coisas. Fiz lá… Portanto, tinha essa parte ligada ao colégio. Depois fora do

colégio dei explicações, desde o meu, para aí, 7º ano, se calhar, 8º. […]” (E1)

“Em ensino, só o meu.” [só teve experiência em ensino no seu percurso] (E5)

“Não. Só tive explicações. O que tive foi eu que tive.” (E6)

Como se pode observar pela análise dos discursos, alguns professores destacam o modo como

tiveram contato com o ensino, referindo a sua experiência enquanto alunos, ou seja, aquilo

que Lortie (1975) designa por “aprendizagem pela observação”, fazendo referência à sua

trajetória escolar, destacando antigos professores como modelos profissionais, as experiências

escolares.

Curiosamente nesta categoria constata-se que, a maior parte dos futuros professores realçam a

afetividade e a parte envolvente das aprendizagens, tendo sempre presente a realidade

existente, concebendo a profissão como uma prática de relação, nomeadamente no que diz

respeito à ética do cuidar, da gestão das diferenças, tempo e atenção, e à relação professor-

aluno. Os discursos enfatizam a valorização do domínio afetivo na prática relacional dos

professores, tal como se verifica no estudo de Baillauquès (2001), que indica que os

candidatos a professores relevam a natureza socioafectiva da função docente. Deste modo,

verifica-se que o ponto de vista dos sujeitos ganha eco na definição de profissão proposta por

Altet (2001) como sendo uma prática relacional, contaminada por múltiplas interações e

limitada por situações únicas, complexas e imprevisíveis:

“[…] Dizemos às vezes a um menino – “está bem daqui a bocado já vens falar

aqui” – Mas entretanto estamos tão entretidas numa atividade qualquer e ele

vem dizer – “Mas tu disseste-me que eu podia fazer” – e nós, entretanto, já nos

59

esquecemos e… Sei lá… - “Agora tu podes ir” – mas não deixamos o outro.

Estamos sempre a ser confrontados com questões um bocadinho complicadas.

Portanto, a nível mais pessoal.” (E1)

“[…] Muitas vezes a minha dificuldade é de me distanciar do aluno, porque se

formos ver isto de uma maneira mais… […] Sobretudo agora que estagiei, que

tenho estagiado sempre em contextos de escolas públicas… Às vezes

deparamo-nos com situações que a nível emocional mexem connosco e isso é

uma dificuldade muito grande às vezes consegui-me abstrair das coisas. Às

vezes não conseguir olhar para todos os alunos da mesma forma por saber que

aquele poderá ter algum problema que o leva a ter determinado

comportamento. Isso às vezes é uma dificuldade.” (E3)

“Eu acho que as dificuldades são mais na fase inicial, conhecer a turma, a

relação com os alunos. Ser professor?! Já não é aquela coisa do transmitir, mas

é dar meios para que os alunos descubram as coisas por eles. […]” (E4)

No que diz respeito aos fatores que contribuem para uma maior ou menor satisfação pode-se

começar por Alves (2001:84), que apresenta a noção de satisfação como “um sentimento e

forma de estar positivos dos professores perante a profissão, originados por fatores

contextuais e/ou pessoais e exteriorizados pela dedicação, defesa e mesmo felicidade face à

mesma”. As manifestações de insatisfação surgem quando tal sentimento e forma de estar dos

professores perante a profissão não se verificam.

Assim, no que respeita à relação com o trabalho docente, verificámos que maioritariamente os

entrevistados salientam, como aspetos mais agradáveis o contacto com as crianças e o

trabalho de sala de aula. Alguns docentes apontam como um especto negativo a burocracia,

que atualmente é exigida à profissão de docente, conduzindo a que apresentem um certo

ceticismo quanto ao seu valor, bem como a multiplicidade de funções a que têm a seu cargo.

Por outro lado, sentem que estas imposições reduzem capacidade dos professores se

relacionarem e responderem eficazmente aos alunos, como evidenciam estes testemunhos:

“Eu acho que neste momento foram incutidas ao professor determinadas

obrigações e determinados serviços que os professores não deveriam ter,

nomeadamente no que diz respeito à educação. […] o professor, neste

60

momento, acaba por ser um pai ou uma mãe, não é?! E ter de incutir os valores

e os princípios básicos para se viver numa sociedade. Pronto, acho que o

professor, neste momento, tem de trabalhar muito as competências sociais, por

exemplo, que se calhar antigamente não se dava tanta importância. Ah! E

depois tem a função de ensinar, de fazer sonhar também, acho eu, de brincar,

de repreender…” (E2)

“Eu acho que hoje em dia é muito a burocracia e tudo o resto que está de ser

professor por trás da sala de aula. Acho que tudo isto está a deixar os

professores cansados, desmotivados, acho que tem sido muito isso. Aliás, nós

vemos isso no estágio, que se fala mais disso do que propriamente – “como é

que eu ajudo este aluno; como é que eu faço isto ou aquilo” – acho que os

professores se desleixaram um pouco mais da sala de aula e estão preocupados

com toda a burocracia que existe por detrás da profissão, que acho que está a

ruinar um bocado os professores.” (E6)

Pode-se concluir a partir da análise dos relatos destes professores que estamos perante um

grupo, que de um modo geral, apresenta uma perceção positiva do trabalho do professor,

justificada essencialmente por aspetos afetivos e emocionais que desenvolvem com os alunos.

A satisfação relaciona-se, essencialmente, com aspetos associados ao exercício da profissão

(Lortie, 1975, Nias, 2001). No entanto, os professores salientam, como se pode constatar,

também diversos aspetos do seu trabalho que consideram menos agradáveis e, em algumas

situações mais difíceis, devido a fatores relacionados com a, a indisciplina dos alunos e a

burocracia.

O significado de ser professor é outra das subcategorias que emergiu do discurso dos futuros

professores. No entanto, e como salienta Kelchtermans (1995), o modo como os professores

se vêm a si próprios enquanto professores não é estático, mas evolui ao longo do tempo. Estes

professores destacam nos seus testemunhos o papel fundamental que desempenham na

educação das crianças salientando, nomeadamente, a dimensão afetiva do ensino (Nias, 2001),

ou seja, a dimensão relacional e emocional do ensino, como se depreende nas seguintes

frases:

“Eu acho que o trabalho de um professor de 1º ciclo é mais exigente do que um

trabalho do professor do 2º ciclo. É mais exigente porque nós estamos…

61

Apesar de só termos uma única turma, aquela única turma trabalha connosco

em todas as áreas e exige do professor, requer do professor muito mais

estratégias, muito mais… […] Eu acho que exige mais do professor. No caso

do 2º ciclo é difícil o facto de… Isso também é uma dificuldade, existirem

várias turmas, esta adaptação, portanto, estas tais adequações e estas tais

estratégias vão ter de ser feitas consoante a turma que se tem, mas eu acho que

o 1º ciclo acaba por ser mais exigente.” (E1)

“Sim. O professor de 1º ciclo tem características muito específicas e há depois

os dos 2º/3º e secundário que agrupam-se melhor. Até porque a postura em sala

de aula não tem nada a ver. Os professores do 1º ciclo têm uma postura muito

mais próxima dos alunos à partida do que os professores dos outros ciclos e

secundário. Não que eu concorde com isso, mas percebo porque é que isso

deve acontecer ou porque é que acontece. […] E depois a própria relação, os

professores de 2º e 3º ciclo e secundário estão poucas vezes com os alunos e os

professores do 1º ciclo estão todos os dias com os mesmos, conhecem-nos

muito bem, não é?! Eu tive três meses no 2º ciclo e um mês no 1º a intervir e

conheço muito melhor os alunos do 1º ciclo do que do segundo, naturalmente.”

(E2)

“O ensino que eu tive no 1º ciclo, digamos assim, não é de todo o que eu estou

a perspetivar vir a fazer com os meus futuros alunos ou… Acho que é muito

mais à base do relacionamento e não tanto de expor conteúdos, acho que é

muito isso.” (E5)

“Eu acho que acima de tudo um professor deve ser um amigo, acho que é um

exemplo e deve ser um amigo, e deve legar o aluno a aprender. Acho que não é

tanto aquela ideia de professor que existia antigamente que o professor sabe

tudo, e vai ensinar tudo as crianças, que aprendem tudo o que ele diz. É muito

mais o ensinar a ser um bom cidadão, a ser como ele. […] A cima de tudo

trabalhar as competências sociais, acho que é a parte mais importante,

principalmente no 1º ciclo, muito mais que todos os conteúdos que acabam

também por estar ligados aos conteúdos, mas acho que sim, que é formar

pessoas.” (E6)

62

Referindo-se, mais concretamente, ao modo como se vêm enquanto professores de 1º e 2º

ciclo, destacam, uma vez mais, a pluralidade de funções que lhes são atribuídas que acabam

por interferir no modo de atuar como refere este testemunho:

“[…] nós não estamos ali só para ensinar conteúdos, para dar conteúdos. Nós

estamos ali para… Ao fim e ao cabo nós somos um pouco de tudo. Nós

estamos ali não só para lhes ensinar os conteúdos curriculares, estamos ali para

lhes ensinar a estar, a saber fazer, a saber ser. E muitas vezes estamos ali

também como a primeira entidade responsável por detetar qualquer coisa que

possa haver de errado com a criança. Portanto, não somos médicos, não somos

ninguém para fazer um diagnóstico, mas muitas vezes somos nós a notar algo

na criança. E nesse sentido somos nós responsáveis nós é que os devemos

encaminhar para uma entidade mais responsável e cabe ao professor muito

disso a par com os pais. […]” (E3)

“Bem, isto é o que um professor deve fazer, não é o que acontece na maioria

das escolas. O professor não deve estar fechado na sala de aula dele, tem um

mundo cá fora, portanto, dentro da escola e fora dela. E este contacto, não só

com alunos, por exemplo, da sua turma ou com as turmas com as quais trabalha

e depois com a própria escola é fundamental. O professor para além de ter que

gerir a parte dos tempos curriculares, das atividades curriculares com os

alunos, também tem de conseguir gerir esse trabalho que feito na sala em

articulação com o trabalho que pretende desenvolver na escola?! […] O

professor tem de ter esta constante atualização, não só de saberes, como

também estar aberto e disponível para poder conversar e trabalhar em parceria

com os outros parceiros educativos que possam existir.” (E1)

Estes dados corroboram alguns estudos desenvolvidos neste âmbito (Nias, 2001;

Kelchtermans, 1995, Day, 2001; entre outros), considerando que ensinar envolve uma

atividade emocional e uma atividade cognitiva, ou como salienta Goleman (1995) requer uma

“inteligência emocional” e encerra um propósito moral exigindo empenho e

preocupação/atenção pelo desenvolvimento dos alunos e o desejo, da maioria dos professores,

em fazer a diferença. Neste sentido, Nias (2001) considera que, enquanto o professor perceber

63

a educação como um processo inter-pessoal, não diminuirá o seu envolvimento emocional.

No entanto, esse facto, segundo a mesma autora não deverá ser negligenciado de modo a que

sejam utilizadas “produtivamente e assegurem de que as emoções negativas não ultrapassem

as positivas” (Nias, 2001:171).

Relativamente aos conhecimentos, há alguma diversidade nas opiniões, uns referem a

necessidade dos professores possuírem conhecimentos específicos/próprios para além de

certas competências, nomeadamente conhecimentos científicos e pedagógicos, e didáticos:

“[…] a nível pedagógico, bem exige uma grande competência de organização e

de responsabilidade, que eu acho que são a grande base de um professor […]”

(E1)

“Uma das coisas que eu me tenho apercebido e se calhar até é em relação aos

educadores é que eu acho que nós temos uma visão muito global daquilo que é

o ensino, ou seja, a nossa formação vai dos zero aos doze anos e eu senti agora,

por exemplo, no 1º ciclo que eu estagiei numa turma de 1º e numa de 4º,

portanto eram ali os extremos. […] Agora e termos de especialização se calhar

temos menos, e isso sentimos muito no 2º ciclo porque realmente estávamos a

trabalhar com professores especialistas daquelas áreas e… Mas eu acho que se

consegue. Se calhar temos de estudar muito mais, precisamos de muitos mais

recursos, de muitos mais materiais, de muitos mais pesquisa, mas

conseguimos. […] mas eu acho que é uma questão de nos nós nos dedicarmos

aquilo. Não sinto que seja uma fragilidade.” (E6)

“Formação específica, eu acho que é fundamental também a parte teórica, não

é?! Porque se nós tivermos muito à vontade com os conteúdos que estamos a

trabalhar, depois a parte pedagógica acaba por surgir tão interligada, que as

coisas surgem naturalmente, e portanto não temos que estar a pensar nelas.

Portanto, a formação… […] Quer dizer, nós todos os dias somos confrontados

com perguntas que às vezes não sabemos responder e, portanto, temos

necessidade de ir procurar.” (E1)

64

4.3. Formação inicial

Os futuros professores entrevistados, ao terem terminado a formação inicial, têm

representações do que acabaram de vivenciar e que se pretendia captar. Na análise procurou-

se, em particular, focalizar a atenção nas representações dos futuros professores sobre a

construção de competências e que lacunas ou percalços sentiram relativamente aos

contributos da formação inicial para a construção de competências profissionais, estes

organizaram o seu pensamento em três sentidos diferentes, mas que se complementaram, dado

o carácter iniciático da formação recebida e à qual estiveram sujeitos. À formação inicial, por

um lado atribuem-lhe responsabilidades, por outro apontam críticas à forma como se

desenvolveu, realçando ainda os contributos para a aquisição de competências profissionais.

Desta categoria emergiram três subcategorias: “avaliação da formação inicial”; “autonomia”;

e “preparação para a realidade das escolas”.

O contato dos futuros professores com a profissão docente é ainda demasiadamente breve

para poderem inventariar um número considerável de esquemas que, operacionalizados,

conduzam a respostas pedagógicas viáveis, as representações sobre as competências

necessárias ao exercício da profissão, detetadas ao longo da investigação, relevam a tomada

de consciência, dos sujeitos envolvidos, da imprevisibilidade das funções de ser-se professor e

sublinham, tal como Perrenoud (2000), o princípio de que a profissão de docente é complexa.

Assim, o profissional de ensino terá de possuir a capacidade de se adaptar à complexidade de

cada situação e procurar, sistematicamente, novas soluções. É óbvio que as competências não

se adquirem por si só, exigem uma construção pessoal e profissional. Assim, o

enriquecimento da personalidade do professor, tal como afirma Alves (2001), é condição sine

qua non para que este adquira uma bagagem considerável de autonomia e responsabilidade

para que possa atuar na complexidade que envolve a condição do ser-se professor. Neste

sentido, é necessário preparar o professor para a vida profissional através da formação. Os

futuros professores referem no seu discurso que a sua formação inicial correspondeu às

expetativas, o E1 até referiu que superou as suas expetativas. Assim, apresentam como

potencialidades da formação inicial:

“[…] eu acho que o nosso curso acaba por te uma boa organização, porque nos

ajuda e acaba por abrir um bocado a mente […] Mas eu acho que a formação

na educação está a ir nesse sentido, das práticas mudarem um bocadinho,

65

mas… […] Eu acho que nos abra os horizontes e acaba por nos explicar e pôr-

nos dentro de realidades muito diferentes. Tanto podemos ir estagiar para…

Ter contextos de estágio muito privilegiados, como podemos ter uns que são

privilegiados, mas a outro nível, e portanto dão-nos outras… Requerem outras

competências, não é?! Físicas, humanas, seja o que for. E não acho que haja

um grande choque do que é que se passa aqui e depois a realidade.” (E1)

“[…] eu não acho que prejudique, acho que ajuda muito, acabamos por ter um

leque muito maior de escolhas e opções, e isso é ótimo […]” [O mestrado ser

do 1º e 2º ciclo] (E1)

Acho que se sei de alguma coisa vem tudo daqui, acho que não aprendi a ser

professora de repente, acho que foi um trabalho todo que a ES desenvolveu,

acho que me deram as bases para eu puder ser uma professora diferente dentro

do que se espera.” (E5)

“Eu acho que é fundamental estar aqui a aprender mecanismos e a aprender

formas de dar aulas, e também parte da psicologia para perceber os

comportamentos, as necessidades educativas também. Eu acho que no fundo é

fundamental, porque se eu não tivesse esta formação além de não puder ser

professor, se eu o fizesse não estaria a fazer da forma mais correta,

provavelmente.” (E4)

“[…] temos esta visão muito global, fizemos trabalhos ao nível da educação de

infância, do 1º ciclo e do 2º ciclo. Eu acho que isso ajuda-nos muito. […]” (E6)

No entanto, também identificam alguns constrangimentos da formação inicial, relacionados

com a falta: de contato direto no estágio com os órgãos de gestão da escola, de modo a

perceber como é que eles funcionam; de uma abordagem mais intensiva no que diz respeito ao

1º e 2º ciclo, pois consideram que não houve o aprofundamento necessário de determinadas

áreas, nomeadamente na prática pedagógica e didática. Esta situação conduziu a que os

entrevistados não se sintam bem preparados por falta de conhecimentos e destrezas como

documentam os seguintes extratos:

66

“Acho que só falta a parte… Portanto, mais informação em relação ao

funcionamento de uma escola, por exemplo, os órgãos de gestão, como é que

funcionam; como é que o professor pode participar neles, o que é que faz cada

um desses órgãos. Quer dizer, nós falamos disso, mas é uma coisa muito

rápida, portanto nós acabamos… E como, por exemplo, no estágio não temos

com essa parte, não é, estamos muito dentro da nossa sala, acaba por… […]”

(E1)

“Agora com esta nova organização do curso, e, portanto, as pessoas ficarem

habilitadas, portanto, no caso do 2º ciclo a darem as quatro áreas… […] eu

acho que nem todos nós… Por exemplo, eu tenho noção disso, dentro da minha

turma nem todos nós estamos habilitados para dar todas as áreas. Eu por

exemplo, não me sinto tão à vontade a dar uma aula de história do que me sinto

a dar uma de ciências, por exemplo. Ou língua portuguesa, não interessa. […]

mas não sei se todas as pessoas têm formação… A formação ideal para

poderem lecionar nessa áreas. Não que não seja dada aqui na escola, mas

também muita da nossa bagagem, a nível da formação antes de virmos para

aqui, a base é fundamental e muita gente não tem. […]” (E1)

“Deveria dar mais ênfase ao 2º ciclo porque acho que a nossa preparação vai

muito ao encontro do 1º ciclo […]” (E2)

“Se calhar o tempo que nós temos para determinadas coisas, porque nós

passamos… Se antes tínhamos cinco anos direcionados para o 1º ciclo, nós

neste momento temos dois anos direcionados para 1º e 2º ciclo, quer queiramos

quer não é tudo dado a correr, os estágios são mais pequenos, há vários

estágios, mas acabam por ser mais pequenos e em termos depois, se calhar, das

didáticas não temos as bases que se calhar deveríamos ter.” (E5)

Relativamente à autonomia sentida pelos futuros professores durante o estágio, pode-se

observar que estes assumem que na formação inicial se estabeleceram interações dinâmicas

entre diferentes intervenientes que acentuam o seu processo formativo. Atribuem-se

responsabilidades diferenciadas, de onde se destaca, com maior relevância, o papel da

instituição formadora. Concomitantemente, com a responsabilização da instituição formadora,

emergem, da globalidade dos discursos, as fragilidades encontradas na formação inicial.

67

Acentua-se a relevância dos estágios pedagógicos, pois permitem a articulação teoria/prática,

focalizam a (des)construção do que é ser-se professor e proporcionam a investigação de

situações de aprendizagem in situ. No entanto, na interpretação dos discursos dos futuros

professores é visível que a formação se desenvolve, sobretudo, em vivências de submissão

estratégica. Mas os estágios não são apenas submissão estratégica, permitiram também a

apreensão e a inteligibilidade, portanto, foram considerados como uma ativação dos saberes

exigidos pela profissão:

“Não nos dão uma total autonomia, mas alguma. [No estágio] […] É assim, para

definir os conteúdos a abordar aí são os professores que têm a planificação anual que

nos dizem. Mas depois na adequação desses conteúdos à turma aí sim. Aí nós

fazemos as nossas propostas, apresentamos com a devida antecedência ao orientador

e não temos tido… […] Normalmente aceitam.” (E3)

“[…] Por exemplo, neste caso, no 1º ciclo nós fizemos muitas atividades práticas,

muitas tarefas de investigação, para serem eles próprios a descobrir. Porque no fundo

não fazia sentido nós chegarmos lá e dizermos – “isto é desta forma” – mas também

lá está, tem a ver com a professora cooperante, ela deu-nos liberdade. No 2º ciclo já

não foi bem assim, eles diziam-nos – “têm que dar isto e tem de ser cumprido” –

tínhamos muita “pressão”.” (E4)

“Sim, [tenho autonomia no estágio] também depende do cooperante da turma que

nos seja destinada. Mas, por exemplo, neste estágio… Aquilo que eles nos impõe é

no início nós construirmos aquilo que vai ser a nossa prática. Nós não vamos para lá

assim – “vou dar o que quero e sou eu que vou decidir” – não! Isso é tudo construído

com os professores das escolas, com os professores titulares, com os professores da

ES, nós não vamos para lá tomar as nossas decisões. Nós quando chegamos à fase da

prática, depois da fase da observação, já temos quase tudo estruturado. Está bem que

depois os materiais e as atividades é tudo feito ao longo da prática, não é?! Mas já

temos aquela linha orientadora que está toda definida praticamente. […] Não, acho

que temos autonomia suficiente. Temos, claro, de ir construindo com os professores,

mas penso que temos autonomia suficiente. […]” (E5)

Um outro aspeto referido, por alguns professores, no processo da aprendizagem da profissão

diz respeito ao facto da formação inicial preparar para a realidade das escolas, valorizando

68

bastante o contributo do mestrado, principalmente ao período do estágio enquanto experiência

formativa, associando-a à qualidade do apoio e da orientação, como ilustram os seguintes

testemunhos:

”Acho, porque se nós tivéssemos tirado educação básica e tivéssemos ido dar

aulas a seguir, acho que muitos de nós não tinha a maturidade suficiente para ir

dar aulas. O mestrado acabou por… O facto de termos o mestrado acaba,

primeiro, por fazer com que as pessoas escolham exatamente aquilo que

querem, afunilem o seu gosto ou a sua vocação/vontade, o que se quiser

chamar. Aí a turma fica mais nivelada, acaba por ficar ali mais nivelada e

depois […]” (E2)

“Tentam preparar, nem sempre é possível. Os contextos são muito diversos. Eu

tenho parado em contextos bons… Bons, não se pode dizer que é bom ou mau,

mas há contextos mais complicados e é difícil preparar um professor para

qualquer contexto ou qualquer coisa que aconteça, mas nesse sentido trabalho é

feito. Depois nós é que vamos ter de gerir as situações.” (E5)

“Eu acho que sim. [a formação inicial prepara para a realidade das escolas] Eu

ainda acredito que sim. A questão é que se calhar… Ao longo dos estágios fui

percebendo que há contextos que vão àquilo que eu acredito e outros que não.

[…] Não é que nós não acreditemos de todo, mas se fossemos nós na nossa sala

com os nossos alunos faríamos de maneira completamente diferente. Mas eu

continuo a achar que aquilo que eu aprendi aqui é completamente possível e

válido. Acho que conseguimos uma visão de ser professor e de educar

completamente diferente da de muitos professores que estão agora a lecionar.”

(E6)

“Mais ou menos, há coisas que sim, há outras que são completamente

diferentes, a teoria e a prática. Portanto, eu estive a estagiar numa escola na

CC, e então é uma escola um bocadinho problemática. Fiz lá, por acaso, o

estágio do 2º ciclo e do 1º. O do 2º ciclo foi muito mais complicado, porque a

turma era muito mais heterogénea, tinha um bocadinho de tudo. Mas isso é

como em tudo, acho que a teoria e a prática são um bocadinho diferentes.

Aprendemos aqui uma coisa e depois vemos que a aplicação não é bem a que

69

aprendemos. […] Eu acho que aquilo que nos prepara é depois ao nível de

estágio, de estar em contacto com os alunos.” (E4)

4.4. Significado de contextualização

Na leitura das entrevistas transcritas percebe-se que os futuros professores desconhecem o

conceito de contextualização, não mobilizando referências teóricas que sustentem a

argumentação relativa à contextualização do saber que ensinam. Alguns deles disseram que as

aulas são monótonas e, por isso, procuraram levar novas estratégias para o contexto sala de

aula em que estiveram a estagiar para melhora-las. Apesar de não apresentarem uma resposta

em termo conceitual objetiva, todos os professores parecem entender a essência da

contextualização, embora não consigam aplica-la na sua plenitude. Eles apresentam através de

definições simples o esclarecimento desse conceito. Baseado nas suas conceções referiram,

que fazem alterações ao programa, que o ajustam aos alunos, que mobilizam conhecimentos

científicos e que têm em consideração a origem sociocultural/económica e as caraterísticas

dos alunos quando preparam as aulas, como se pode constatar nos seguintes testemunhos:

“[…] Mas sim, faço alterações, faço… Não é alterações, faço adequações que é

diferente, porque… […] Eu sinto mesmo essa necessidade, nem consigo fazer

doutra maneira faz-me confusão. […] Sim, deviam ser chamados de

orientações curriculares, em vez de programas. No fundo aquilo são

orientações do nosso trabalho, não é?! Os professores têm muita tendência de

só verem o programa à frente de só querem cumprir o programa, às vezes estão

fechados um bocadinho à realidade e não abrem.” (E1)

“Eu acho que o que acontece hoje em dia… Quer dizer, o que acontece hoje

em dia é que os professores fazem o que diz no manual e ponto final, não é?!

Mas esquecendo essa parte. O que acontece é que muitas vezes nós olhamos

para o programa e seguimos o programa à risca e acho que não é isso que é

suposto. Aquilo é um documento orientador da nossa prática e temos de ver se

conseguimos gerir o que é que o programa pede com aquilo que conseguimos

com os nossos miúdos. […]” (E6)

“[…] Por exemplo, neste caso agora do 1º ano, nós tivemos que… O professor

queria que trabalhássemos as plantas com eles, com os alunos, e então eu e a

70

minha colega fomos olhar para o programa, vimos o que era esperado, mas

como nós tínhamos uma horta na escola e que não estava a ser utilizada nós

queríamos fazer… Sentimos necessidade de mobilizar conhecimentos, por

exemplo, do 2º ano e do 3º ano para eles fazerem a horta e, portanto, poderem

criar dentro da sala… Fazerem germinação para depois partirmos lá para fora e

fizemos um trabalho… Estivemos três meses à volta das plantas. […]” (E1)

“[deve-se adaptar] As matérias aos alunos, por tudo o que já dissemos até

agora. Devemos contextualizar o que estamos a fazer e não podemos… Lá está

não são receitas, são orientações que devem ser adaptadas ao público com

quem estamos a trabalhar.” (E2)

“Sim. [o programa curricular está bem estruturado] Quer dizer, é discutível,

não é?! Eu acho que pode estar mal estruturado, mas o professor pode pegar

naquilo e transformar à medida. […] Portanto, o professor deve adaptar o que

vem no guia e criar as suas próprias receitas e que devem ser diferentes para

cada grupo com quem está e isso é uma coisa muito importante a ter em conta.”

(E2)

“Como estava a dizer há pouco, nós seguimos sim os programas. […] Como

nós trabalhamos cada conteúdo isso já é com o professor. Acabe depois a ele

adequar às turmas.” (E5)

“Sem dúvida, porque é muito diferente ensinar crianças de um meio social

desfavorecido do que ao contrário. Eu se calhar tive mais a experiência de um

meio social muito favorecido, que eu o ano passado estive a estagiar em TT e

havia coisas que os meninos sabiam mais do que eu. Portanto, eu também tinha

que estar preparada para tal e o mesmo acontece com o meio mais

desfavorecido, que são crianças menos estimuladas, com pouco apoio em casa,

com, pronto, as competências menos desenvolvidas, têm uma cultura geral

muito mais pobre e eu não posso ir falar de coisas que para eles não fazem

sentido, não é?! Acho que temos sempre de saber qual é o meio deles, estudar o

meio deles e perceber qual é a forma que podemos chegar até eles. Porque as

aprendizagens têm de ser significativas para os alunos, porque não faz sentido

chegarmos lá e falar de uma horta se eles nunca viram uma horta na vida e

71

compram os produtos no supermercado, não é?! Por exemplo. É falar sobre o

abstrato que para eles ainda não faz muito sentido.” (E6)

“Sempre. [tenho em conta a especificidade da turma] Cada vez mais. Eu acho

que cada vez mais vamos tendo a prova de que este exercício ou esta atividade

ou este método serviu naquela turma, mas nesta não serve. Ou mesmo dentro

da própria turma se calhar serviu naquele momento, mas neste não está a dar

ou etc. Há sempre essa variantes que nós temos que ter em conta.” (E6)

Alguns dos entrevistados tomam a contextualização como metodologia de ensino, em que o

ensino contextualizado é aquele em que o professor deve relacionar o conteúdo a ser

trabalhado com algo da realidade quotidiana do aluno. Isso resulta num grande problema, pois

quando utilizam qualquer outro tipo de contexto, eles não as entendem como formas de

contextualizar, e assim o conceito erróneo de contextualização vai se propagando no meio

educacional. Pelo que se observa dos discursos dos futuros professores, pode-se afirmar que a

forma como os professores concebem e praticam a contextualização promove de alguma

forma a contextualização do saber que ensinam, e por conseguinte uma aprendizagem

significativa. Embora seja ainda de forma muito rudimentar

Durante a investigação percebeu-se, no discurso dos futuros professores sobre suas ações

pedagógicas, que eles procuram que estas sejam contextualizadas, embora não revelassem ter

conhecimento teórico que lhes possibilitassem dar sustentação às suas respostas, ou seja, o

fato dos professores não conhecerem o conjunto de elementos fundamentais à construção de

conceitos de forma contextualizada, interfere na proposição de uma ação pedagógica que

valorize as situações problematizadas como principal ferramenta para uma aprendizagem

significativa. O professor, ao relacionar a contextualização apenas à aplicabilidade, restringiu

sua compreensão à realidade imediata dos alunos. Além disso, não associa “contextualização”

à “problematização”, no sentido de propor uma discussão em torno de uma situação para

encontrar soluções.

4.5. Contextualização na Formação inicial

Nesta categoria agrupou-se todos os excertos dos discursos dos entrevistados que remetem

para a abordagem das questões relacionadas com ajustar o programa curricular ao aluno,

origem sociocultural/económica e caraterísticas dos alunos terem sido discutidas durante a

72

formação inicial, e ainda valorizadas pelo orientador e/ou supervisor. Também aqui

encontram-se todas referências feitas à relação comunicativa entre os dois agentes educativos,

supervisor e orientador.

Na análise dos dados é visível que os assuntos acima enunciado não foram abordados

especificamente no decorrer da formação inicial, mas como o E1 refere “nós falamos isso na

generalidade”. Também E2 afirma que “não falamos especificamente nisso. Embora esteja

presente nas nossas propostas e falamos na questão de pegar em coisas do quotidiano.

Portanto, conseguimos depois fazer a ponte para a condição socioeconómica.” No entanto,

também dizem não sentir necessidade de uma formação mais atenta a estas questões, porque

na planificação dos projetos tiveram sempre em consideração esses aspetos e no estágio esse

olhar também não faltou.

Relativamente à importância atribuída a estas questões pelo orientador e/ou supervisor E1 diz

que :

“o facto de termos de fazer a avaliação diagnóstica, que temos de analisar essa avaliação e que

temos no nosso projeto temos de intervenção que provar, um bocadinho, porque é que nós

decidimos optar por aquelas questões globais e estratégias específicas em cada área. Nós

estamos sempre a ser confrontados com esse tipo de questões. Portanto, os professores estão

nos sempre a perguntar – “se vocês detetaram estas potencialidades, estas fragilidades nos

alunos, então porque é que estão a fazer esta atividade?” – ou – “de que modo é que esta

atividade contribui para aquilo que vocês detetaram durante a avaliação diagnóstica?”. Isso é

uma grande preocupação, não só a motivação… Portanto, eles também têm em conta o tipo de

propostas que nós fazemos e dizem logo – “é uma ótima atividade e, portanto, os meninos

estavam muito motivados” – ou então – “não, não é uma boa atividade e os meninos não

estavam motivados para a fazer”. Isso são pontos essenciais. É a primeira coisa que dizem

depois, por exemplo, de uma aula observada.”

Também os outros entrevistados seguem a mesma linha de pensamento. Já que no que diz

respeito à relação entre estes dois agentes nem todos os discursos foram unânimes, uns

afirmaram que apesar de pessoas com ideias, por vezes, completamente diferentes, estes

conseguem responder de forma positiva às necessidades dos formando, a título de exemplo

pode-se destacar a fala de E5:

73

“Os professores não têm as mesmas ideias, isso é um ponto assente. Nós

sempre tentamos balançar e consolidar um bocadinho as ideias deles, não é?! E

as nossas. As pessoas não têm que ter as mesmas ideias e nós tentámos

conciliar da melhor maneira as diferentes opiniões. Mas temos sempre

reuniões, quando nos vão ver ao estágio temos sempre reuniões, em que eles

nos transmitem o que é que acharam e o que é que poderia ser diferente. O que

é que poderíamos ter feito diferente e nós acabamos por adaptar um bocadinho

da nossa prática a eles. […]” (E5)

No entanto, houve formandos que referiram que a orientação dada por esses

agentes educativos era dificultada pela falta de comunicação entre os dois, o

que faz com que um dia uma coisa e outra completamente diferente, como

indica o E3:

“Às vezes dificulta. [a falta de comunicação entre o orientador e os supervisor

a nossa ação] Porque nós estamos aqui sem experiência e estamos a lutar por

boas notas, não é?! Queremos atender àquilo que nos é exigido, mas muitas

vezes não percebemos o que nos é exigido. São professores diferentes e lá no

fundo isto também é resultado… Não há uma comunicação eficiente entre os

professores que nos orientam, porque se houvesse isto não acontecia assim.

Todos podem ter os seus pontos de vista diferentes, mas como existem

formandos que andam de um lado para o outro, há que haver um consenso,

porque se não dá. Porque uns dizem uma coisa outros dizem outra.” (E3)

Assim, pode-se concluir que a relação entre o supervisor e o orientador é importante, e a

comunicação entre eles ainda mais. Infelizmente, as vezes que se reúnem, por vezes, não

parecem ser suficientes para conseguirem transmitir uma orientação coerente e eficaz.

4.6. Objetivos da contextualização

Os entrevistados concordam entre si quando referem que, os alunos sentem muito mais

motivação e interesse pelo que está a ser ensinado quando utilizam estratégias diversificadas e

os envolvem no processo de aprendizagem. A maioria dos alunos acaba por desinteressar-se

pelas aulas, porque os professores seguem um programa de aula, ou seja, as aulas são bastante

rotineiras. A princípio apresentam o conteúdo da aula já sistematizado, sem qualquer

74

oportunidade do aluno expor suas opiniões e participar da construção do seu próprio

conhecimento. Por fim apresentam um exercício modelo, para que os alunos façam o mesmo

com os outros exercícios propostos.

A contextualização do ser do saber, na busca de uma aproximação da escola à sociedade,

como condição necessária da nova postura que deve assumir na formação de competências

que possibilitem ao aluno uma participação cidadã ativa, favorecendo o crescimento da sua

identidade e qualidade de vida. O sucesso ou o fracasso da escola sempre foram discutidos

dentro do espaço escolar. Essa visão, atrelada a fortes conceções dos professores, exige uma

rutura de hábitos, para aprender a educar junto com a sociedade, numa perspetiva complexa,

do diálogo, do saber escolar com o quotidiano, com a diversidade. No sentido anterior, se

explica o facto de os professores manifestarem necessidades para aprender referências acerca

da contextualização do saber.

Nesta sequência, fazem parte desta categoria de análise, objetivos da contextualização, o que

os futuros professores referiram sobre aumentar o interesse do aluno:

“E isso faz logo a diferença, porque se eu chegar à sala de aula com uma

atividade que seja para fazer com palhinhas, e estou a trabalhar medição, é

muito mais giro do que se abrir uma página do manual e disser – “façam aí a

página do manual para preparar a medição” – isso cria logo, no mínimo,

motivação para aprender, porque aquilo é diferente e divertido.” (E2)

“Sigo o programa curricular adaptando-o as necessidades dos alunos. Por isso

mesmo, para tentar gerar… Por uma questão de motivação dos alunos e adaptá-

los às necessidades deles.” (E3)

Bem como facilitar a aprendizagem, apassagem do discurso de E2 revela aquilo que em cima

já foi referido. Não se pode deixar enganar e acreditar que o exemplo descrito é uma forma de

contextualizar. A contextualização visa facilitar a aprendizagem, no entanto deve-se ter

sempre presente que contextualizar não é utilizar aspetos do quotidiano para explicar ao aluno

os conteúdos, mas fazer a transferência dos conteúdos a serem ensinados para o dia-a-dia do

aluno:

“Agora estou a lembrar-me, por exemplo, das questões das grandezas e

medidas que foi o que agora estivemos a trabalhar em matemática, estivemos a

75

trabalhar com o dinheiro. Quer dizer, para um menino cigano posso muito bem

pegar no exemplo da feira porque é uma coisa que lhe está muito próxima, não

é?! E eu sei que aquela criança possivelmente aprenderá mais depressa assim

do que se eu falar com o menino tendo por base um catálogo de brinquedos

onde aparecem preços.” (E2)

Como refere E3 é importante ter presente que quando os alunos:

“[…] não vêm nenhum significado naquilo por muito que eu lhes queira

ensinar, eles até podem aprender porque sabem que mais tarde serão

confrontados com uma prova, com um momento de avaliação. Ou seja, ele até

poderá reter, deter algumas coisas, mas logo a seguir irá se esquecer. Aquilo

não serão aprendizagens significativas para o aluno. Ele nunca mobilizará

aquilo.” (E3)

“[…] De modo a tornar aqueles conteúdos significativos para eles. Ao fim e ao

cabo acho que nós não estamos ali a formar crianças, a ensinar para que eles

cheguem ao momento da avaliação têm bons resultados, mas depois não

mobilizam nada daquilo que aprendem.” (E3)

Para finalizar nos discursos também foi possível registar uma passagem em que o futuro

professor refere, embora de uma forma subtil, que se deve libertar o aluno da sua condição de

espetador passivo:

“E se calhar eram conteúdos do programa com materiais que já eram mais evoluídos

ou trabalhando já outras coisas que já não era do programa do 1º ciclo. Mas que no

entanto foi desafiante para eles e que os motivou para o tema e para aqueles

conteúdos. Acho que isso tem que ser assim.” (E6)

É notável que a abordagem de um ensino contextualizado, propicia um melhor aprendizado

aos alunos, onde, estes se sentirão mais motivados para os estudos quando o assunto

trabalhado despertar o seu interesse, e isso, é manifestado com uma mudança de postura

destes, através de uma maior participação na construção dos conceitos abordados em sala,

contribuindo para a formação de indivíduos criativos e críticos. Dessa maneira o professor

deve e pode ser mediador contribuindo, de maneira mais sistemática e orientada, para que o

76

aluno consiga a ler o mundo e a interagir com ele. Devem também valorizar para a

participação espontânea dos educandos.

No decorrer dos discursos dos futuros é visível que eles têm vontade de aplicar os conteúdos

das suas disciplinas de forma contextualizada, porém não conseguem reconhecer este

conceito. Diante disso, é importante salientar que qualquer mudança na educação, exige desde

já uma capacitação dos professores, produção de material didático e de apoio diversificado, de

modo a construir um processo educativo, onde se possa superar o ensino preso aos conteúdos

dos livros didáticos, assim como o divórcio entre “escola-vida”, que é um dos principais

motivos de desinteresse do aluno pelo que é ensinado em sala de aula.

4.7. Estratégias para contextualizar

Os futuros professores utilizam nos estágios uma grande diversidade de estratégias e materiais

didáticos diversificados, referindo que o estágio até se torna difícil pela quantidade de

materiais que produzem. Revelam, no entanto que muitas das vezes os professores justificam

que, por haver uma cobrança muito grande para o uso do livro didático por partes das escolas

e dos pais, eles se vêm obrigados a seguir os livros e desenvolverem os temas conforme neles

organizados. Acreditam não poder aprofundar os conteúdos, nem mesmo ir além do proposto,

uma vez que há muitos conteúdos a serem ensinados.

Como tem-se identificado, o saber com o qual os professores geralmente trabalham está

sustentado no conhecimento científico (disciplinar), definidos nos livros e programas

escolares. Nas falas dos entrevistados pode-se perceber que para eles as estratégias para

contextualizar passam por reestruturar o programa, no sentido de o tornar menos extenso e

mais atualizado:

“Acho. [que deveriam ser feitas alterações] Não se pode inventar tempo, não

é?! Acho que os programas são extensos e, por vezes, repetitivos. O mesmo

conteúdo é dado em vários anos de escolaridade. Compreende-se que é com

profundidas diferentes, não é?! Óbvio. Mas, por exemplo, eu acho que o

programa de história e geografia de Portugal do 2º ciclo não está bem

estruturado, é demasiado minucioso em coisas que são importantes para se

perceber o que é que aconteceu até aos dias de hoje, mas não sei até que ponto

está bem estruturado dessa forma. […] O programa de matemática tem

77

conteúdos que não deveriam ser dados no 1º ciclo porque têm um nível de

complexidade muito grande. Por exemplo, em termos de geometria o nível

abstrato, portanto, o raciocínio abstrato dos meninos ainda não está muito

desenvolvido e há determinadas coisas que são muito complicadas. Estou a

lembrar-me agora de uma coisa que saiu na prova da aferição sobre as

simetrias. Quer dizer, até nós adultos temos dificuldade em decorar nomes de

simetrias e esse tipo de coisas.” (E2)

“No 2º ciclo os programas já estão tão desatualizados. […] Devia, devia haver

uma atualização.” (E3)

“[…] Acho que deviam ser mudados os princípios que vêm no programa,

deviam ser revistos, deviam ser alterados, já mesmo para evitar situações como

esta em que os professores já estão mais desatualizados não lecionarem

daquele jeito. Acho que se fossem atualizados seria como para nós, que saímos

daqui agora ainda com um conhecimento muito mais alargado… Já embora

tenhamos aquele programa sabemos que não precisamos de fazer aquilo à

risca.” (E3)

Para além de afirmarem que os programas curriculares deveriam ser atualizados, acrescentam

que nessa atualização eles deveriam ser elaborados tendo como base serem apenas um

recurso. De acordo com os entrevistados o programa curricular deve ser um recurso a que os

professores recorrem para se orientarem e não para seguirem à risca o que vem lá exposto:

“O programa não é uma coisa linear, é um apoio ao professor, e é isso que

também se está a mudar agora no ensino, porque os professores seguiam muito

determinados objectivos do programa.” (E5)

[…] Começa a ser um bom recurso para os professores, até porque nos dão

estratégias que podemos eventualmente seguir. Dá-nos mais liberdade do que

dava só o do 1º ciclo, mas dá-nos também uma orientação mais específica para

se surgir alguma dúvida.” (E5)

“Acho que… Lá está… Acho que é um documento [o programa curricular]

orientador não é para cumprir à risca.” (E6)

78

Outra estratégia identificada pelos entrevistados, e que podemos considerar como possível

para contextualizar, é o estabelecimento da relação entre o conteúdo e o aluno, pois como

refere E6 “muito vem do facto de ser significativo para eles, aquilo lhes diz alguma coisa, se

eles criarem ali uma ligação com o conteúdo é muito mais fácil eles perceberem e nós

também conseguimos apanhá-los a todos. Acho que é muito mais fácil partir do que eles já

sabem, do que eles conhecem, do que estar a dar uma coisa – “olhe, porque sim”. Acho que

isso depois contribui muito para a motivação.”

Para além das estratégias já referidas ainda foi possível identificar outras como: o trabalho de

grupo; a utilização de saberes já interiorizados, uma vez que como refere E4 é importante

partir daquilo que os alunos sabem ou que não sabem, de modo a motivá-los; a criação de

condições motivadoras. No discurso dos futuros professores é visível a importância atribuída

a estas estratégias:

“[…]Tínhamos sete alunos com necessidades educativas especiais, que foi

uma turma um bocadinho complicada, e normalmente fazíamos mais através da

aprendizagem cooperativa. Em pequenos grupos integrávamos aqueles que

tinham mais dificuldades com aqueles que tinham menos dificuldades, e eles

ao trabalharem em pequenos grupos perceberam que todos podiam contribuir e

ajudavam-se uns aos outros. E perceberam que só conseguiam chegar ao

resultado final se chegassem todos e não apenas um.” (E4)

“Tem de haver ali sempre qualquer coisa que puxe por eles. Nós agora no

estágio tínhamos meninos que pura e simplesmente não liam […] ao final de

dois períodos que estão na escola ainda não leem nada, quer dizer, já

percebemos que o problema não é da aprendizagem, o problema é da

motivação para a leitura. E, portanto, tivemos de fazer o caminho todo de novo,

não é?! Vamos motivar para a leitura para então a aprendizagem que eles

supostamente já tiveram ter algum fruto. E, neste momento, no final do terceiro

período vêm-se certas diferenças. No final de um período de intervenção

percebemos essas diferenças. Portanto, os meninos têm de estar motivados para

aquilo que estão a fazer e nós também.” (E2)

“Se os alunos não tiverem motivados […] Se ele estiver motivado, se

proporcionarmos momentos de aprendizagem mais motivadores, que para eles

79

sejam mais significativos, eu acho que isso por si só se traduzirá num

conhecimento mobilizável.” (E3)

“Nós tentámos, pelo menos na minha prática, eu e a minha colega de estágio

tentamos sempre recorrer a materiais que não são tão usados nas salas, como os

vídeos, tudo o que seja mais informatizado ou vistas de estudo relacionadas

com o tema, sair mesmo das quatro paredes da sala, materiais palpáveis que

não sejam só manuais. Nós recorremos muito pouco aos manuais, também

muito partiu da EE, não é?! De ver um manual como um recurso e não como

sistemático, mas tentamos fazer muitos materiais. O estágio às vezes torna-se

difícil pela quantidade de materiais que nós fazemos, mas tentámos ir por aí,

muitos materiais, atividades em que eles participem, atividades de grupo, sair

das quatro paredes e ir para a biblioteca explorar um bocadinho dos recursos

que as escolas acabam por nos dar e hoje em dia as escolas têm muitos

equipamentos que por vezes esquecidos, não é?! Quadros interativos,

microscópios, as escolas já têm muita coisa que nós tentámos explorar e

utilizar tudo. Tentamos utilizar sempre tudo o que as escolas têm,

normalmente. Mas isso acaba por incentivar os alunos porque não estão

habituados a esse tipo de…” (E5)

No rol das estratégias identificadas ainda falta uma extremamente importante que é a de

conhecer o aluno, através da interação, no decorrer do processo educativo, e ainda recorrendo

à avaliação diagnóstica:

“Agora essa adaptação [de um dado ponto do programa à especificidade da

turma] eu acho que acaba por ser feita ao longo do tempo. Se calhar, se for no

início da nossa intervenção, ainda estamos naquele período em que estamos a

conhecer os alunos, se calhar, a adaptação… Nós tentamos que seja ao máximo

ou que vá ao máximo ao encontro das potencialidades e fragilidades que esses

alunos possam ter, não é?! E tentamos organizar o trabalho nesse sentido, mas

se calhar depois de concluirmos a atividade percebemos que, se calhar, os

alunos tem dificuldades na expressão oral, então para a próxima vamos ter que

organizar uma atividade que vá mais nesse sentido; ou, se calhar, os alunos tem

facilidade na escrita, portanto, não precisávamos de pedir que fizessem não sei

80

o quê, podíamos dar um passo à frente. Portanto, eu acho que há medida

também que se vai desenrolando essa intervenção nós também vamos

aprendendo a adaptar esse ponto programático e os conteúdos que vamos ter

que abordar.” (E1)

“O facto de nós termos um período de observação e estarmos dentro da sala e

contactarmos com o meio natural deles, portanto, eles interagirem uns com os

outros, interagirem com o professor, nós também vamos tendo noção, portanto,

do grupo com o qual estamos a trabalhar. Claro que no início temos uma noção

um bocadinho diferente do que depois nos vamos apercebendo.” (E1)

“Inicialmente antes de iniciar a prática realizo um diagnóstico das

aprendizagens, das competências sociais dos alunos, e em função dos

resultados apresentados, então aí defino o que trabalhar, como trabalhar e de

que forma o fazer. Defino se existem alunos com maiores necessidades que

careçam de medidas de diferenciação pedagógica. Pronto, o meu botão de

partida inicial, que até agora foi e que continuará a ser, é sempre uma avaliação

diagnóstica inicial, e a partir daí definir de que modo é que agirei.” (E3)

Esta conceção se aproximaria do que coloca Brousseau (1996), ao afirmar que as situações

devem ser propostas ao aluno de modo que se convertam em situação de aprendizagem, que

possa dar significado ao conteúdo. Contextualizar, nesse sentido, é provocar no aluno a

necessidade de comunicar algo a alguém. É promover situações problemáticas, estimuladoras

da interação sujeito situação, que levem ao desenvolvimento cognitivo.

A partir desses resultados, é possível fazermos algumas reflexões. No geral, pode ser

observado que ainda existe uma barreira na aplicação firme da contextualização, dessa forma

é preciso os futuros professores preparar para desenvolverem práticas escolares diferentes

porque a complexidade das relações na sociedade amplia-se e escolas não têm conseguido

acompanhar essa complexidade. Percebe-se que o grupo de futuros professores que

participaram na investigação procuram, pelo menos pelo que relatam na entrevista, que na sua

prática existe uma aproximação com uma proposta de trabalho contextualizado. Contudo,

percebe-se que se trata de uma relação mais voltada para a promoção do conteúdo escolar.

Desse modo, entende-se que a aproximação com o quotidiano do aluno teria maior significado

se, ao tratar os conteúdos, os futuros professores considerassem também outros aspetos

81

sociais, políticos e económicos e outros enfoques que os circundam. Desse modo os

resultados do processo educativo teriam mais oportunidades de se realizar, seriam mais

eficientes em termos não só de aprendizagem de conteúdos, mas também na formação da

cidadania presente nos propósitos das escolas, uma vez que se estaria a promover uma

aprendizagem significativa.

82

Conclusão

O final deste trabalho, tão significativo quanto o percurso percorrido durante o processo de

investigação foi o desafio de poder esboçar ideias sobre as questões norteadoras do estudo,

tais como: as conceções dos professores acerca de contextualização, das contribuições que

esse recurso pode trazer para a aprendizagem dos alunos, bem como de que modo essas

conceções se efetivam nas práticas de ensino dos futuros professores de 1º e 2º ciclo do ensino

básico participantes deste estudo. Assim, todo o caminho trilhado possibilitou que se fizesse

nestas considerações finais, a partir da análise dos dados levantados, alguns comentários.

O professor do 1º e 2º ciclo do ensino básico, como profissional responsável pela tarefa de

planificar e organizar um ambiente favorável à aprendizagem escolar, deve desenvolver o seu

trabalho de acordo com suas conceções de ensino e aprendizagem das disciplinas que

ministra. Ao decidir realizar uma prática que tenha pouca ou nenhuma relação com os

contextos socioculturais dos alunos, estará a contribuir para a perceção da disciplina como

uma área do conhecimento que tem pouco a ver com a vida do aluno e, portanto, sem muito

significado. Além disso, a clareza dos objetivos que se pretende, bem como um trabalho bem

planificado, podem representar uma forma de concretizar um ensino que traga ganhos efetivos

para a aprendizagem.

O currículo é fruto de discursividades diferentes, de intenções diversas, de variadas

representações, é representação simbólica, espaço de escolhas, lugar de inclusões ou

exclusões. Situando-o no contexto social e político, o currículo é antes de tudo um campo em

que as diferenças produzem resultados, significados. Reforça-se assim que, a conceção

dinâmica do currículo só pode ser construída numa relação entre currículo e sociedade.

Reafirma-se neste sentido que, o currículo contextualizado impulsiona a construir uma

educação, onde não se ignorem mais as diferenças culturais, de género, de cultura, de valores

e princípios. Repensar o currículo a partir destas novas referências, não é somente um desafio,

mas uma exigência contemporânea a uma educação comprometida com processos de

desenvolvimento social, nos quais cada pessoa e o seu coletivo é permanente aprendiz e

construtor de uma nova ordem social. A pluralidade, a contradição, a complexidade e

flexibilidade são princípios que não somente devem orientar os currículos contextualizados,

mas constituem-se como condição básica para que a contextualização supere o risco do

83

reducionismo, e imprima nos currículos a capacidade atual e necessária de expressão e

visibilidade dos conhecimentos e relações dos sujeitos situados num determinado contexto.

Nesse sentido, é papel do professor organizar situações de aprendizagem diversificadas e

desafiadoras que estimulem a articulação entre os saberes que os alunos já possuem e os

conhecimentos que serão estudados. Por outras palavras, destaca-se, quanto ao trabalho do

professor na função de organizar o ensino, uma prática pedagógica cuja proposição de

situações leve em consideração, pelo menos, dois aspetos fundamentais, no intuito de

favorecer o desenvolvimento dos alunos. O primeiro diz respeito à verificação dos saberes

que os estudantes já possuem em relação aos conhecimentos que devem ser aprendidos por

eles. Isso poderá se efetivar por meio do acompanhamento das produções dos alunos, visto

que elas fornecerão informações a respeito do que os alunos já sabem. Em segundo lugar, a

partir do conhecimento já adquirido, deve haver a proposição de contextos problematizadores

que motivem a procura de soluções para a situação proposta. Retomando o conceito de

aprendizagem significativa, esta implica em necessariamente, dar significado à parcela da

realidade que se conhece. Dessa forma, a aprendizagem escolar será significativa, quando se

estabelecerem relações entre os conteúdos escolares e os conhecimentos previamente

construídos, num processo de promoção de novos significados. Compreender a

contextualização como uma possibilidade de construção de significados implica trabalhar os

conteúdos imbuídos da realidade sociocultural dos alunos.

No entanto, propor um ensino que garanta a aprendizagem dos alunos não é tarefa fácil. Nesse

sentido, um trabalho contextualizado implica uma mudança e/ou ampliação das conceções

acerca dessa temática, uma vez que, muitas vezes, o professor incorpora o discurso sem

entender o real significado dessa prática na sala de aula e, em decorrência disso, acaba

dificultando a aprendizagem.

Atualmente é consenso entre os educadores que as disciplinas têm sido ensinada de forma

enfadonha, não bastando apenas conhecer/dominar os conteúdos para ensinar. É necessário

criar uma metodologia que desperte o interesse dos alunos e um novo enfoque do professor

nas suas aulas, procurando torná-las mais dinâmicas e interessantes, trabalhando as suas

aplicações práticas.

No que toca às contribuições da contextualização como um recurso que pode contribuir para

os estudantes aprenderem de forma significativa, pode-se analisar nos discursos dos futuros

84

docentes, embora de modo ténue, que estes reconhecem a importância da prática de

contextualização. Tal porque, um conhecimento será mais facilmente interiorizado se for

significativo para o sujeito cognoscente. Para ser significativo, deverá ser construído a partir

de situações reais que serão vivenciadas pelo sujeito, considerando as suas necessidades, bem

como, o seu meio social e cultural. Ao contextualizar o saber a ser ensinado ter-se-á uma

aprendizagem significativa, pois o novo conhecimento será acrescentado aos anteriores, não

se justapondo, mas se interligando como os fios de uma rede. Além disso, os alunos/futuros

professores entrevistados consideram que essa prática exige um tempo e disponibilidade de

materiais didáticos que a realidade na qual estão inseridos nem sempre favorece.

Um dos resultados obtidos com a investigação é que os futuros professores do 1º e 2º ciclo do

ensino básico que constituem a amostra deste estudo desconhecem o verdadeiro significado

da contextualização e consequentemente não sabem utilizá-la nas suas aulas. Os futuros

professores não tenha consciência plena de que o objetivo ao utilizar a contextualização, seja

o de criar condições para uma aprendizagem motivadora, que leve a superar o distanciamento

entre os conteúdos estudados e a experiência do aluno, estabelecendo relações entre os tópicos

estudados e trazendo referências que podem ser de natureza histórica, cultural ou social.

Percebe-se, no grupo de futuros professores entrevistados, uma ideia parcial sobre o conceito

acima citado, o que provoca, como consequência, o desenvolvimento de aulas cujo

conhecimento não está devidamente contextualizado e nem há uma dimensão mais ampla do

conteúdo, nas suas inserções sociais, culturais, políticas e económicas. É visível uma clara

necessidade de discussão dessas diretrizes, de forma que os novos parâmetros estejam mais

presentes na vida dos alunos/futuros professores. Faz-se necessário, portanto, que os diversos

setores da educação promovam este debate, mas que os professores, agentes do processo

educacional, sejam incluídos efetivamente nele.

Nas entrevistas realizadas consegue-se perceber que a maioria dos alunos/futuros professores

caracterizam a contextualização no ensino como simples exemplificação de factos ou

situações do quotidiano e poucos entendem como um recurso para realizar descrições

científicas de factos e processos com o intuito de ensinar o saber das disciplinas que lecionam.

Aponta-se, aqui, um outro aspeto relevante que diz respeito à formação dos professores cujos

processos de formação não tiveram acesso a um conhecimento teórico/prático que os

preparasse para exercer uma prática de ensino contextualizado e, como consequência,

realizam um ensino descontextualizado que imprime pouco significado aos conteúdos a serem

85

ensinados. Nesse sentido, impõe-se a necessidade de, na formação inicial de professores haver

a análise das relações entre aprender e as diversas formas de ensinar. Assim, pensar o docente

como produtor do desenvolvimento cognitivo dos alunos implica uma tomada de consciência

das relações envolvidas nesse processo, facto que levará o professor a uma compreensão

conceitual da sua prática e, provavelmente, à organização e execução de novas ações que

possibilitem a efetivação da aprendizagem. Uma dessas ações está ligada à elaboração de

situações que possam impulsionar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes.

Ensinar é uma prática social, uma ação cultural, pois se concretiza na interação entre

professores e alunos, refletindo a cultura e os contextos sociais a que pertence (Freire, 1974).

Questões que envolvem contextualização muitas vezes passam despercebidas nos cursos de

formação inicial, tendo algum tipo de ênfase somente em cursos de formação continuada na

área de educação. Não basta a um profissional da educação ter um bom conhecimento do seu

trabalho se não souber fazê-lo. Para muitos professores e escolas, mudar a prática pedagógica

é um obstáculo a enfrentar, pois sair do habitual provoca certa insegurança. Muitas práticas

pedagógicas se restringem ao manual escolar, onde o professor encontra tudo: teoria e

exercícios devidamente calculados para lhe ocupar todo e somente o tempo de que dispõe

(Campos, 2002). Apesar do conceitos de contextualização, estar presentes na vida de cada

professor, torná-los parte do contexto de sala de aula ainda é um desafio que tem que ser

discutido na formação inicial. Destaca-se ainda, a falta de material teórico sobre a temática

em estudo como uma dificuldade para o futuro professor fazer a sua pedagogia,

especificamente daquele que deseja fazer da contextualização um recurso para as suas aulas

no 1º e 2º ciclo do ensino básico.

Volta-se, assim, àquilo que se disse no início desta reflexão, a contextualização é importante

no processo de ensino-aprendizagem. Ainda que a aquisição da competência para

contextualizar não ocorra não ocorra no decorrer da formação inicial, o futuro professor não

deve, por isso, atuar também de forma negligente. Pela sua experiência o aluno/futuro

professor sabe os efeitos de um ensino que esquece o educando. Tornam-se, dessa forma,

obrigatórias ações em sala de aula que insiram o aluno no mundo real.

Ciente de que sempre poderá ter outro ponto de vista, entende-se a contextualização como

parte integrante do processo de aprendizagem que vai articular e integrar os conhecimentos

científicos e contexto de vida do aluno explorando devidamente todas as suas possibilidades.

86

Nela serão abarcados os conteúdos científicos, os aspetos sociais, éticos, econômicos

políticos, entre outros, que servirão para que o educando seja capaz de compreender a sua

realidade e atuar nela. Assim, entender e aplicar um ensino contextualizado requer do

professor mais que a formação na sua área de conhecimento, requer que o professor avance na

compreensão da aprendizagem, dos seus obstáculos e desafios, ou conforme Nunes (2003, p.

21) “exigem do professor, além do domínio do conteúdo do seu campo disciplinar, a

competência pedagógica de torná-lo acessível ao estudante.” Sendo assim, é necessário pensar

ou repensar também nos cursos de formação inicial como pontos estratégicos para viabilizar

as mudanças desejadas. A compreensão com as questões que permeiam as sociedades atuais

precisam estar presentes nas escolas sob pena de se continuar desvalorizar anos a fio de

escolaridade das pessoas sem se conseguir mostrar aos estudantes os desequilíbrios que

acontecem à sua volta, ou conforme Freire (2005) as contradições em que se vive. Ou ainda

sem despertar a criticidade dos estudantes diante dos factos de seu dia-a-dia.

Os dados permitiram inferir que os alunos/futuros professores inquiridos caracterizam a

profissão docente tendo por base um saber específico e multidimensional que sustenta a ação

do professor, alicerçada na prática relacional com os alunos, as famílias, os colegas e a

comunidade em geral, exigindo do professor múltiplas qualidades no exercício da sua ação.

Salientam os contributos da formação recebida para a construção de competências

profissionais, emergindo a prática pedagógica como um momento privilegiado. No entanto,

consideram existir algumas fragilidades, genericamente resumidas, num desfasamento entre a

formação recebida e a sua realidade profissional; na estrutura curricular do curso e na

articulação entre teoria e prática. Relevam também como competências necessárias ao

exercício profissional: enfrentar os deveres e problemas éticos da profissão; conceber

dispositivos de diferenciação; administrar as aprendizagens; envolver os alunos no

ensino/aprendizagem; organizar situações de aprendizagem.

Importaria reconceptualizar a formação inicial de professores no sentido de valorizar a

construção de competências em diferentes dimensões, centrando essa construção na

investigação a realizar sobre a ação profissional. Tendo em conta estes aspetos, acreditasse

numa formação inicial que comprometa o formando, a instituição formadora, os professores e

a comunidade, para o desenvolvimento de uma cultura comum de formação e de uma

metodologia formativa que esteja adequada a cada contexto e a cada sujeito no seu projeto de

se tornar professor.

87

Sendo assim encarar uma mudança na educação, como a contextualização, propõe uma

atitude permanente de crítica e reflexão, de compromisso e responsabilidade com a tarefa de

educar. Não se devem esperar propostas, soluções salvadoras, nem extrair conclusões

precipitadas de algum fracasso. A postura que os professores devem adotar diante de

mudanças na educação deve ser: pensar, refletir, criticar e valorar o que esta acontecendo nos

âmbitos escolares nos tempos de hoje e naqueles que virão. Nesse sentido, uma proposta

como a contextualização do saber, implica que os futuros professores a partir de reflexão,

análise, avaliação das suas práticas procurem encontrar respostas cada vez mais adequadas às

necessidades de aprendizagem dos alunos. Portanto pode-se afirmar que, os futuros

professores têm sempre que se aperfeiçoar, no sentido de melhorar a educação, então espera-

se que este estudo possa contribuir para uma reflexão mais profunda de todos aqueles que

terão de uma forma ou outra responsabilidades específicas na formação de novas gerações.

Como algumas entrevistas dos futuros professores apontam uma abertura para um ensino

contextualizado, porém ainda não de todo conseguido, sugere-se uma complementação deste

estudo com verificação dentro de sala de aulas para capturar os desafios de uma prática

contextualizada. Assim, no tangente a contextualização do ensino, entende-se que a

compreensão é ainda um tanto controversa, mas existe pontos em comum presentes na

compreensão de cada autor que a abordou. No que diz respeito a este ir além dos conteúdos

escolares; contemplar aspetos do conhecimento do aluno e do conhecimento científico;

abordar questões mais amplas como as sociais, políticas e económicas e também a

complexidade que permeia todas essas relações, devendo servir para que o estudante possa

compreender melhor sua vida e lidar de forma mais crítica com os factos que nela acontecem

quotidianamente. Contrapondo-se à compreensão reduzida apresentada pelos professores de

uma contextualização como instrumento focando os conteúdos escolares e o quotidiano do

aluno, a contextualização apresenta um enfoque mais amplo.

Diante dessas questões, não se pode deixar de enfatizar que o percurso deste estudo indica a

necessidade da realização de novos estudos no intuito de compreender o papel da

contextualização dentro do atividade pedagógica dos professores de 1º e 2º ciclo do ensino

básico. Assim, sugere-se, como possibilidade de avançar nessa discussão, algumas

possibilidades de novos estudos, tais como verificar as contribuições da contextualização no

processo de aprendizagem nas disciplinas para as quais os alunos do 2º ano do mestrado em

ensino do 1º e 2º ciclo do ensino básico ficam habilitados; analisar uma prática que traga a

88

contextualização como recurso para as aulas ou de realizar um trabalho de intervenção numa

sala de aula, a partir de um trabalho contextualizado. Mas estas são, por ora, sugestões para

trabalhos a serem realizados posteriormente.

Como últimas notas da investigação, conclui-se que a contextualização dos saberes das

disciplinas a serem lecionadas pelos estudantes do 2º ano do mestrado em ensino do 1º e 2º

ciclo apresenta, ainda, constrangimentos que limitam as potencialidades que lhe são

reconhecidas. Como se referiu anteriormente, as mudanças encontram sempre resistência nas

práticas instituídas. Todavia, a nova mentalidade codificada num paradigma curricular

centrado nas competências assume-se como uma inevitabilidade para que a escola possa ser

mais valorizada pela sociedade atual. Perante os novos desafios, colocados por uma sociedade

em acelerada mutação, a escola deverá ser capaz de acompanhar esta realidade que exige um

saber renovado em permanente atualização. Como refere Afonso (2007:23), importa

atualmente “ajudar o aluno a gerir o seu próprio processo educativo, pelo que o paradigma

transmissivo, ainda hoje dominante, não tem lugar na escola da sociedade educativa do

futuro”.

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Lei nº46/86, de 14 de Outubro

Anexos

Anexo I - Email de pedido de colaboração no estudo

Caro _______,

Apresento desde já os meus melhores cumprimentos.

Eu, Filipa Margarida, sou aluna do segundo ano do Mestrado em Ciências da Educação,

especialização em Formação de Professores, do Instituto de Educação da Universidade de

Lisboa.

Neste ano curricular, encontro-me a desenvolver uma investigação que tem como objetivo

desenvolver o conhecimento científico sobre a formação inicial dos professores de língua

portuguesa.

Venho pelo presente solicitar, no âmbito da minha dissertação, a sua colaboração para

responder a um inquérito por entrevista. A sua perspectiva, opinião e experiência são cruciais

para conhecer como a formação inicial está a contribuir para a aquisição e desenvolvimento

de competências na dimensão do ensino/aprendizagem dos futuros professores da disciplina

de português.

A sua colaboração é muito importante pois, sem ela, não poderei concretizar a investigação.

Aguardo a confirmação da sua participação.

Desde já agradeço o seu apoio e disponibilidade.

Cordialmente,

Filipa Margarida

Anexo II – Guião de entrevista

Objetivo da entrevista

Conhecer as representações do entrevistado sobre o entende por contextualização, para que serve e como se faz

Guião de Entrevista

Blocos Objetivos Tópicos para formulação de

questões Tópicos

A

Legitimação da Entrevista

Legitimar a entrevista

Motivar o entrevistado

Garantir a confidencialidade e

o anonimato

Solicitar a permissão para gravar

a entrevista

Informar o entrevistado sobre a

temática e a finalidade da

entrevista

Sublinhar a importância da

participação no sucesso do

trabalho

Salientar o carácter do uso da

informação prestada

Questionar se o entrevistado tem

alguma dúvida

Objetivos da entrevista

Confidencialidade/Anonimato

Gravação

Duração

Anexo II – Guião de entrevista

B

Caracterização do formando

Conhecer as motivações que

levaram o entrevistado a

frequentar o mestrado em

ensino

Compreender a perspetiva que o

professor tem acerca da sua

profissão

O que o levou a ser professor?

Porque é que optou por fazer

este mestrado? Qual foi a

maior influência no momento

da sua decisão?

Antes da sua formação inicial

já tinha tido alguma

experiência em ensino? Em

que circunstância?

Na sua opinião o que é ser

professor? Quais são os papéis

e funções que este deve

desempenhar? Dificuldades e

áreas de satisfação?

Mestrado

Motivações

Explicações, apoio a familiares

Relação:

- professor-aluno

- professor-turma

- professor-instituição

- professores-pares

C

Representações sobre a formação

inicial

Conhecer as representações do

entrevistado acerca do mestrado

e do estágio

O mestrado está a

corresponder às suas

expectativas?

Que contributo considera que a

Mestrado

Estágio

Anexo II – Guião de entrevista

sua formação académica tem

no exercício da sua atividade

enquanto futuro(a)

professor(a)? Acha que o

preparou para a realidade da

escola em que está a estagiar?

D

Significado da contextualização do

saber

Conhecer as representações e

as práticas do entrevistado

acerca da contextualização do

saber

Conhecer os fundamentos

teóricos da contextualização

conhecidos pelo entrevistado e

a relação desses com a sua

formação inicial

Saber as finalidades atribuídas

pelo entrevistado à

contextualização do saber

Quando tem de adequar uma

dada ponto do programa para

ensinar numa turma tem em

conta a especificidade da

turma e dos seus alunos?

Como é que faz essa

adequação? Em função de quê

toma decisões?

Pensa que ao ensinar a sua

disciplina deve ter em conta a

origem

sociocultural/socioeconómica

dos alunos? Se sim, em que é

que isso se deve traduzir em

concreto? Se não, porquê?

Pensa que a motivação dos

Formação inicial

Estágio

Supervisor/professor

cooperantes

Relacionamento entre o

supervisor e orientador:

- respondem às

necessidades dos formando

Anexo II – Guião de entrevista

alunos é importante para eles

aprenderem? Porquê?

Acha que os alunos se

interessam facilmente por

aprender o que está

estabelecido no programa? Ao

refletir sobre a matéria que

ensina acha que devem ser

feitas modificações

(matéria/conteúdos) de modo

que os alunos aprendam

melhor? Porquê?

No mestrado este assunto foi

tratado? Como? Em que

disciplina?

Que importância acha que o

supervisor e o orientador de

estágio deram a esta questão?

De que forma?

Como é que avalia,

relativamente ao seu estágio, a

atuação entre estes dois

agentes

Anexo II – Guião de entrevista

E

Contextualização do saber

Identificar as implicações da

contextualização no ensino da

língua portuguesa

Perceber de que modo é que o

entrevistado contextualiza

No estágio, no âmbito da

adequação do programa aos

alunos, sente que tem

autonomia para tomar

decisões?

Quando prepara as suas aulas

quais são as características dos

alunos que têm mais

importância nas suas decisões?

Como aprendeu a fazer essas

escolhas?

Como tenta despertar o

interesse dos seus alunos?

Segue o programa curricular

ou faz algumas alterações?

Porquê?

Quando pensa na sua atividade

de professor o que acha que o

diferencia dos seus colegas que

lecionam outras áreas

científicas?

Autonomia

Planificação

Realização da aula

Complexidade dos conteúdos

Programa curricular

Especificidades dos alunos

Anexo II – Guião de entrevista

F

Finalidades da contextualização do

saber

Saber as finalidades atribuídas

pelo entrevistado à

contextualização do saber

Parece-lhe mais importante

adaptar os alunos às matérias

ou as matérias aos alunos?

Porquê?

No mestrado este assunto foi

tratado? Como? Em que

disciplina?

G

Agradecimentos

Saber se o entrevistado quer

acrescentar alguma coisa ou tem

alguma questão

Agradecer a disponibilidade e a

colaboração

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

Categorias Subcategorias Indicadores Unidades de Registo

Motivação para a

escolha do mestrado

Intrínseca

Gostar de crianças

“Há medida que tenho trabalhado com os meninos, apercebo-me que se

calhar prefiro trabalhar com meninos mais crescidos e que também

acabam por puxar por mim de uma maneira que os mais pequeninos não

puxam e fiquei fascinada com o estágio do 2º ciclo […]” (E2)

“[…] Eu entrei aqui porque dizia que gostava de crianças. Entrei aqui a

dizer que queria ser educadora porque gostava muito de crianças. […] É

outro nível e mesmo eu descobri que gosto muito mais de trabalhar com

crianças mais crescidinhas, com outras idades, não tanto com os mais

pequenos. […]” (E3)

“Queria trabalhar com crianças […]” (E6)

Gostar da profissão

“[…] eu não sei se houve assim alguma ambição especial, foi desde de

sempre. Eu sempre me imaginei a ser professora.” (E1)

“[…] precisava de um trabalho que fosse mais… Como que objetivo.

Então decidi mudar de curso e entrei para educação básica para ser

professora de 1º ciclo e neste momento estou muito contente com o 2º

também.” (E2)

“Eu queria ser educadora, mas depois conforme fui evoluindo comecei a

adquirir muito mais gosto, muito mais interesse pelo 1º ciclo. O 1º ciclo

é uma área onde já há mais responsabilidade curricular mais acrescida.

[…] E gosto mais do trabalho que se faz a nível do 1º ciclo, as

aprendizagens, o currículo que temos, todo aquele trabalho de ensino-

aprendizagem.” (E3)

Extrínseca

Antigos professores

“[…] eu sempre quis ser professor, não sei bem porquê. Talvez porque

apanhei uma boa professora de primária. Provavelmente deve ter sido

por aí.” (E4)

Faculdade

“[…] Ainda ponderei em fazer pré-escolar e 1º ciclo, mas isso teria de

sair da EE e eu não queria, porque acho que a formação aqui tem sido

mesmo muito boa. Portanto, quis ficar no 1º e 2º ciclo e estou a adorar,

não me arrependo nada.” (E1)

“[…] E não me via de todo em pré-escolar e decidi ir para 1º ciclo, mas

não há assim um motivo, foi o percurso que fiz na EE que me levou a

fazer esta escolha.” (E5)

“Eu entrei para aqui e sempre achei que queria educação de infância,

mas logo percebi que não lidava muito bem com as crianças tão

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

pequeninas, porque… Não sei, havia várias coisas que não lidava muito

bem com a minha personalidade e achei que o 1º/2º ciclo tinha mais a

ver com o que eu gosto realmente de fazer. Precisava muito do feedback

das crianças e acho que isso no 1º e 2º ciclo existe muito mais, do que

nos bebés que é um feedback muito mais… […] É muito mais indireto.”

“Após a licenciatura nós não podíamos fazer praticamente nada com a

licenciatura. Portanto, obrigatoriamente teria que concorrer ao mestrado.

Como as opções eram pré-escolar ou 1º e 2º ciclo… Pré-escolar fora de

questão, portanto 1º e 2º ciclo.” (E4)

Representações do

entrevistado

relativamente à

profissão

Enquanto aluno

“Não, não tinha. [experiência em ensino]” (E3)

“Em ensino, só o meu.” (E5)

“Não. Só tive explicações. O que tive foi eu que tive.” (E6)

Experiência em ensino Com colegas

“Já. [tinha tido experiências em ensino] […] Esses projetos, portanto,

têm a ver não só com bens materiais, por exemplo juntar dinheiro ou

trazerem coisas de casa para dar a essa escola, com também depois tem a

parte humana. Normalmente essa parte humana, que muitas vezes iam

professores e também iam, também iam alunos e chamavam-me sempre

para essa parte. A última experiência que tive, portanto, ainda ligada ao

colégio, foi nas GG, também… Já com meninos maiores e foi aí que

contactei pela primeira vez com o 2º ciclo e, pronto, gostei muito. […]

também dei explicações. Portanto, fiz as duas coisas. Fiz lá… Portanto,

tinha essa parte ligada ao colégio. Depois fora do colégio dei

explicações, desde o meu, para aí, 7º ano, se calhar, 8º. […]” (E1)

“Cheguei a dar ao 1º ciclo, depois dei ao 2º, ao nível da matemática.

Mais matemática dei ao 2º/3º ciclo, secundário, depois parei porque já

não conseguia acompanhar o secundário e estar aqui na escola. Portanto,

era difícil.” (E1)

Dimensões associadas à

profissão

Ética do cuidar

“Eu posso dizer que umas das coisas que mais me leva é, digamos, o

cuidar. O prazer de cuidar dos meninos. A ética do cuidado, o prazer que

se retira do ensino, de sentir que os alunos se desenvolvem, vê-los a

aprender, vê-los a crescer e sentir que temos responsabilidade nisso.

Muitas vezes é esse o maior prazer que eu tiro desta profissão.” (E3)

Gestão: diferenças, tempo,

atenção

“[…] Dizemos às vezes a um menino – “está bem daqui a bocado já

vens falar aqui” – Mas entretanto estamos tão entretidas numa atividade

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

qualquer e ele vem dizer – “Mas tu disseste-me que eu podia fazer” – e

nós, entretanto, já nos esquecemos e… Sei lá… - “Agora tu podes ir” –

mas não deixamos o outro. Estamos sempre a ser confrontados com

questões um bocadinho complicadas. Portanto, a nível mais pessoal.”

(E1)

“[…] Não existem professores iguais também não existem alunos iguais.

Nós somos todos diferentes e dentro da sala também têm

comportamentos diferentes, têm reações diferentes, têm respostas

diferentes e fazer… E é o que eu estava a dizer há bocadinho e fazer esta

gestão destas diferenças todas individuais é muito complicado e acho

que é uma das grandes dificuldades do professor, não só ao nível dos

alunos, por exemplo, que têm mais dificuldades como também aqueles

que têm mais facilidades e às vezes nós esquecemos desses que têm

mais facilidades e às desmotivam porque os professores estão

preocupados com aqueles que não conseguem aprender tão rapidamente

e é muito difícil nós conseguirmos equilibrar e propormos atividades que

consigam ser realizadas por todos […]”(E1)

“[…] também exige este trabalho colaborativo que é fundamental e é um

bocadinho difícil ainda.” (E1)

“Eu acho que as dificuldades são mais na fase inicial, conhecer a turma,

a relação com os alunos. Ser professor?! Já não é aquela coisa do

transmitir, mas é dar meios para que os alunos descubram as coisas por

eles. […]” (E4)

Relação professor – aluno

“[…] Muitas vezes a minha dificuldade é de me distanciar do aluno,

porque se formos ver isto de uma maneira mais… […] Sobretudo agora

que estagiei, que tenho estagiado sempre em contextos de escolas

públicas… Às vezes deparamo-nos com situações que a nível emocional

mexem connosco e isso é uma dificuldade muito grande às vezes

consegui-me abstrair das coisas. Às vezes não conseguir olhar para

todos os alunos da mesma forma por saber que aquele poderá ter algum

problema que o leva a ter determinado comportamento. Isso às vezes é

uma dificuldade.” (E3)

Fatores que contribuem

para uma maior ou menor

satisfação

Burocracia

“O que poderá ser mais difícil na profissão é toda a prática burocrática

que está por trás, todos os programas que estão por trás. […] que nos

leva a ter de ter em conta muitos objetivos, muitos indicadores depois de

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

avaliação e nem sempre é o que… Acho que nessa parte se perde um

bocadinho depois com trabalho que se devia fazer com os alunos, porque

há sempre uma grande parte burocrática por trás e que temos de dar

resposta.” (E5)

“Eu acho que hoje em dia é muito a burocracia e tudo o resto que está de

ser professor por trás da sala de aula. Acho que tudo isto está a deixar os

professores cansados, desmotivados, acho que tem sido muito isso.

Aliás, nós vemos isso no estágio, que se fala mais disso do que

propriamente – “como é que eu ajudo este aluno; como é que eu faço

isto ou aquilo” – acho que os professores se desleixaram um pouco mais

da sala de aula e estão preocupados com toda a burocracia que existe por

detrás da profissão, que acho que está a ruinar um bocado os

professores.” (E6)

Multiplicidade de funções

“Eu acho que neste momento foram incutidas ao professor determinadas

obrigações e determinados serviços que os professores não deveriam ter,

nomeadamente no que diz respeito à educação. […] o professor, neste

momento, acaba por ser um pai ou uma mãe, não é?! E ter de incutir os

valores e os princípios básicos para se viver numa sociedade. Pronto,

acho que o professor, neste momento, tem de trabalhar muito as

competências sociais, por exemplo, que se calhar antigamente não se

dava tanta importância. Ah! E depois tem a função de ensinar, de fazer

sonhar também, acho eu, de brincar, de repreender…” (E2)

“Se pensarmos bem, agora que estivemos em estágio, nós somos capazes

de perder, […] cincou ou dez minutos da manhã ou de um período da

manhã porque temos de falar com um grupo de alunos sobre o que eles

fizeram no recreio, porque não sei o quê ou porque não conseguem estar

calados na sala de aula ou porque não se respeitam uns aos outros, e não

aplicamos esse tempo depois às áreas curriculares. Mas também se não

aplicarmos as competências sociais também não vamos conseguir

aplicar mais nada, não é?! Porque isto depois está tudo ligado umas

coisas com as outras. […]” (E2)

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

Significado de ser

professor Caraterísticas associadas

“Eu acho que não tem absolutamente nada a ver o trabalho de um

professor do 1º ciclo com um trabalho de um professor do secundário,

porque o público que nós temos à nossa frente é completamente

diferente e dá respostas também completamente diferentes. O que é que

diferencia?! Estratégias, essencialmente. Ah. A postura do professor

dentro da sala, porque acaba por ir ao encontro dessas estratégias, não

é?! As propostas de atividades também são diferentes. […]” (E1)

“Eu acho que o trabalho de um professor de 1º ciclo é mais exigente do

que um trabalho do professor do 2º ciclo. É mais exigente porque nós

estamos… Apesar de só termos uma única turma, aquela única turma

trabalha connosco em todas as áreas e exige do professor, requer do

professor muito mais estratégias, muito mais… […] Eu acho que exige

mais do professor. No caso do 2º ciclo é difícil o facto de… Isso também

é uma dificuldade, existirem várias turmas, esta adaptação, portanto,

estas tais adequações e estas tais estratégias vão ter de ser feitas

consoante a turma que se tem, mas eu acho que o 1º ciclo acaba por ser

mais exigente.” (E1)

“Sim. O professor de 1º ciclo tem características muito específicas e há

depois os dos 2º/3º e secundário que agrupam-se melhor. Até porque a

postura em sala de aula não tem nada a ver. Os professores do 1º ciclo

têm uma postura muito mais próxima dos alunos à partida do que os

professores dos outros ciclos e secundário. Não que eu concorde com

isso, mas percebo porque é que isso deve acontecer ou porque é que

acontece. […] E depois a própria relação, os professores de 2º e 3º ciclo

e secundário estão poucas vezes com os alunos e os professores do 1º

ciclo estão todos os dias com os mesmos, conhecem-nos muito bem, não

é?! Eu tive três meses no 2º ciclo e um mês no 1º a intervir e conheço

muito melhor os alunos do 1º ciclo do que do segundo, naturalmente.”

(E2)

“[…] nós não estamos ali só para ensinar conteúdos, para dar conteúdos.

Nós estamos ali para… Ao fim e ao cabo nós somos um pouco de tudo.

Nós estamos ali não só para lhes ensinar os conteúdos curriculares,

estamos ali para lhes ensinar a estar, a saber fazer, a saber ser. E muitas

vezes estamos ali também como a primeira entidade responsável por

detetar qualquer coisa que possa haver de errado com a criança.

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

Portanto, não somos médicos, não somos ninguém para fazer um

diagnóstico, mas muitas vezes somos nós a notar algo na criança. E

nesse sentido somos nós responsáveis nós é que os devemos encaminhar

para uma entidade mais responsável e cabe ao professor muito disso a

par com os pais. […]” (E3)

“Neste nível de ensino, lá está, nós estamos numa fase que para mim é

preponderante e estamos com crianças que estão a iniciar… Para estas

crianças nada é óbvio. Eles ainda não têm estratégias de estudo, eles

ainda não são autónomos o suficiente, é preciso uma muito maior

dedicação nestas crianças. […] Eles aqui são muito mais dependentes,

cabe-nos a nós desenvolver neles competências, questões essenciais para

o percurso que farão daí em diante.” (E3)

“Eu acho que o nosso caso é um bocadinho mais importante, porque é a

base da formação. É a base de tudo o que vem a seguir. Portanto, se eles

aqui não adquirirem métodos de estudo e trabalho, provavelmente, terão

mais dificuldades no futuro. […] Acho que a formação inicial faz toda a

diferença para a motivação dos alunos, para tudo. Se eles forem mal

preparados provavelmente terão mais dificuldades e depois os

professores, muitos deles, não estão com… Não estão, não é

despreocupados, mas não têm tanto aquela coisa de motivar, de fazer a

diferenciação. Acho eu.” (E4)

“Uma das coisas que eu me tenho apercebido e se calhar até é em

relação aos educadores é que eu acho que nós temos uma visão muito

global daquilo que é o ensino, ou seja, a nossa formação vai dos zero aos

doze anos e eu senti agora, por exemplo, no 1º ciclo que eu estagiei

numa turma de 1º e numa de 4º, portanto eram ali os extremos. […]

Agora e termos de especialização se calhar temos menos, e isso sentimos

muito no 2º ciclo porque realmente estávamos a trabalhar com

professores especialistas daquelas áreas e… Mas eu acho que se

consegue. Se calhar temos de estudar muito mais, precisamos de muitos

mais recursos, de muitos mais materiais, de muitos mais pesquisa, mas

conseguimos. […] mas eu acho que é uma questão de nos nós nos

dedicarmos aquilo. Não sinto que seja uma fragilidade.” (E6)

“Eu acho que, e cada vez vou tendo mais noção disso… Que ser

professora é uma profissão muito exigente. Exige, primeiro que tudo,

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

um lado humano muito… Muito, não é especial, mas um lado humano

muito característico e… Quer dizer, tem de haver características nas

pessoas para que nós digamos que vai ser uma boa professora ou que

possamos dizer que vai ser um bom professor.” (E1)

“[…] a nível pedagógico, bem exige uma grande competência de

organização e de responsabilidade, que eu acho que são a grande base de

um professor […]” (E1)

“Bem, isto é o que um professor deve fazer, não é o que acontece na

maioria das escolas. O professor não deve estar fechado na sala de aula

dele, tem um mundo cá fora, portanto, dentro da escola e fora dela. E

este contacto, não só com alunos, por exemplo, da sua turma ou com as

turmas com as quais trabalha e depois com a própria escola é

fundamental. O professor para além de ter que gerir a parte dos tempos

curriculares, das atividades curriculares com os alunos, também tem de

conseguir gerir esse trabalho que feito na sala em articulação com o

trabalho que pretende desenvolver na escola ?! […] O professor tem de

ter esta constante atualização, não só de saberes, como também estar

aberto e disponível para poder conversar e trabalhar em parceria com os

outros parceiros educativos que possam existir.” (E1)

“[…] Porque uma das experiências nestes anos iniciais eu acho que é

preponderante para o futuro daquelas crianças, determina o percurso

deles escolar. Se um professor falhar, se um professor não estiver,

digamos, a desempenhar o seu papel… Porque nós também estamos ali

para ser… Estamos a trabalhar com pessoas, estamos a formar pessoas,

não estamos apenas a tentar incutir conhecimentos, se é que me faço

entender.” (E3)

“O ensino que eu tive no 1º ciclo, digamos assim, não é de todo o que eu

estou a perspetivar vir a fazer com os meus futuros alunos ou… Acho

que é muito mais à base do relacionamento e não tanto de expor

conteúdos, acho que é muito isso.” (E5)

“Eu acho que acima de tudo um professor deve ser um amigo, acho que

é um exemplo e deve ser um amigo, e deve legar o aluno a aprender.

Acho que não é tanto aquela ideia de professor que existia antigamente

que o professor sabe tudo, e vai ensinar tudo as crianças, que aprendem

tudo o que ele diz. É muito mais o ensinar a ser um bom cidadão, a ser

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

como ele. […] A cima de tudo trabalhar as competências sociais, acho

que é a parte mais importante, principalmente no 1º ciclo, muito mais

que todos os conteúdos que acabam também por estar ligados aos

conteúdos, mas acho que sim, que é formar pessoas.” (E6)

Conhecimentos

“Formação específica, eu acho que é fundamental também a parte

teórica, não é?! Porque se nós tivermos muito à vontade com os

conteúdos que estamos a trabalhar, depois a parte pedagógica acaba por

surgir tão interligada, que as coisas surgem naturalmente, e portanto não

temos que estar a pensar nelas. Portanto, a formação… […] Quer dizer,

nós todos os dias somos confrontados com perguntas que às vezes não

sabemos responder e, portanto, temos necessidade de ir procurar.” (E1)

Formação inicial Avaliação da formação

inicial

Superou as expetativas

“Ajuda. Eu acho que plenamente. [A formação inicial ajuda no exercício

das funções e papéis que é exigido a um professor] Acho que supera até

as minhas expectativas.” (E1)

Correspondeu às expetativas

“Está a corresponder às expectativas que eu tenho sobre esta escola que

são muitas.” (E2)

“Está. Está mais o mestrado do que a licenciatura em si. Mas também

acho que foi um percurso da nossa parte, nós tentamos muito lutar por

um mestrado bom e pelo que temos agora.” (E5)

“[…] em termos de formação sinto-me bem preparada. Acho que não me

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

sinto injustiçada aos outros cursos anteriores. Acho que nós temos que…

Se calhar não melhor ou pior formação, mas acho que temos um bom

nível de formação.” (E6)

“Está a correr bastante bem.” [O mestrado está a corresponder às

expetativas] (E4)

Potencialidades

“[…] eu acho que o nosso curso acaba por te uma boa organização,

porque nos ajuda e acaba por abrir um bocado a mente […] Mas eu acho

que a formação na educação está a ir nesse sentido, das práticas

mudarem um bocadinho, mas… […] Eu acho que nos abra os horizontes

e acaba por nos explicar e pôr-nos dentro de realidades muito diferentes.

Tanto podemos ir estagiar para… Ter contextos de estágio muito

privilegiados, como podemos ter uns que são privilegiados, mas a outro

nível, e portanto dão-nos outras… Requerem outras competências, não

é?! Físicas, humanas, seja o que for. E não acho que haja um grande

choque do que é que se passa aqui e depois a realidade.” (E1)

“[…] eu não acho que prejudique, acho que ajuda muito, acabamos por

ter um leque muito maior de escolhas e opções, e isso é ótimo […]” [O

mestrado ser do 1º e 2º ciclo] (E1)

“Era educação de infância que eu queria seguir, mas depois com

educação básica, para isso mesmo que ela serve, estes três anos comecei

a mudar a opinião completamente e até os conteúdos, tudo. […]”(E5)

“[…] A minha formação é mesmo, se calhar… Foi toda direcionada

para ser professor e à base da educação, e a deles nem sempre. […]

Acho que faz bem ter esta perspetiva da educação e muitas vezes falta-

lhes esse caminho, falta-lhes [Aos professores de 3º ciclo e secundário]

esse percurso […]” (E5)

“Acho que se sei de alguma coisa vem tudo daqui, acho que não aprendi

a ser professora de repente, acho que foi um trabalho todo que a EE

desenvolveu, acho que me deram as bases para eu puder ser uma

professora diferente dentro do que se espera.” (E5)

“Mas no processo da EE nós chegamos às escolas e temos essa fase de

observação. E nessa fase é que nós tentamos perceber, através dos

alunos, dos professores que já os acompanham, todo o trabalho que

depois teremos de desenvolver, e aí sim, depois adequamos consoante os

dados que recolhemos dessa observação.” (E5)

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

“Eu acho que é fundamental estar aqui a aprender mecanismos e a

aprender formas de dar aulas, e também parte da psicologia para

perceber os comportamentos, as necessidades educativas também. Eu

acho que no fundo é fundamental, porque se eu não tivesse esta

formação além de não puder ser professor, se eu o fizesse não estaria a

fazer da forma mais correta, provavelmente.” (E4)

“[…] temos esta visão muito global, fizemos trabalhos ao nível da

educação de infância, do 1º ciclo e do 2º ciclo. Eu acho que isso ajuda-

nos muito. […]” (E6)

Constrangimentos

“Acho que só falta a parte… Portanto, mais informação em relação ao

funcionamento de uma escola, por exemplo, os órgãos de gestão, como é

que funcionam; como é que o professor pode participar neles, o que é

que faz cada um desses órgãos. Quer dizer, nós falamos disso, mas é

uma coisa muito rápida, portanto nós acabamos… E como, por exemplo,

no estágio não temos com essa parte, não é, estamos muito dentro da

nossa sala, acaba por… […]” (E1)

“Agora com esta nova organização do curso, e, portanto, as pessoas

ficarem habilitadas, portanto, no caso do 2º ciclo a darem as quatro

áreas… […] eu acho que nem todos nós… Por exemplo, eu tenho noção

disso, dentro da minha turma nem todos nós estamos habilitados para

dar todas as áreas. Eu por exemplo, não me sinto tão à vontade a dar

uma aula de história do que me sinto a dar uma de ciências, por

exemplo. Ou língua portuguesa, não interessa. […] mas não sei se todas

as pessoas têm formação… A formação ideal para poderem leccionar

nessa áreas. Não que não seja dada aqui na escola, mas também muita da

nossa bagagem, a nível da formação antes de virmos para aqui, a base é

fundamental e muita gente não tem. […]” (E1)

“Deveria dar mais ênfase ao 2º ciclo porque acho que a nossa preparação

vai muito ao encontro do 1º ciclo […]” (E2)

“[…] Pensado no 1º ano, sinto muita insegurança se for estagiar com o

1º ano no ano seguinte, porque sinto que nós temos muita pouca

formação, e aquilo que nós tivemos foi teoria e foram laivos de uma

coisa e de outra. Nós não tivemos experiência, nós tivemos prática, nós

não estudamos muito questões ligadas com a iniciação à escrita, com o

ensino-aprendizagem da escrita. Portanto, estes anos de iniciação para

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

mim assustam-me imenso, porque eu não sinto que tenhamos tido

formação necessária para começar. Como, por exemplo, nós sabemos

que existem métodos mais inovadores do ensino da leitura e da escrita,

mas o que muito provavelmente vai acontecer é que eu use as

metodologias com que eu aprendi, porque aquelas que me incutiram, que

me ensinaram aqui, eu nunca vi, nunca experienciei, nunca vi ninguém

fazer. Eu sinto falta de um bocadinho de ensino nesse especto, de nos

orientarem, de nos darem mais oportunidade de experienciar essas

coisas.” (E3)

“Se calhar o tempo que nós temos para determinadas coisas, porque nós

passamos… Se antes tínhamos cinco anos direcionados para o 1º ciclo,

nós neste momento temos dois anos direcionados para 1º e 2º ciclo, quer

queiramos quer não é tudo dado a correr, os estágios são mais pequenos,

há vários estágios, mas acabam por ser mais pequenos e em termos

depois, se calhar, das didáticas não temos as bases que se calhar

deveríamos ter.” (E5)

“Não, a única coisa que nós fomos sentido, eu acho que foi

principalmente na área da língua portuguesa, porque antes trabalhava-se

muito a questão da escrita e havia muitas atividades para isso, e nós

levamos só umas pequenas injeções e, então, nunca fizemos nada muito

concreto. Fazemos uma ideia, tínhamos projetos, tínhamos as sequências

do que devia ser feito, mas o que fomos aprendendo foi mais em termos

de estágio, que depois íamos pedindo ajuda aos professores e eles iam

ensinando a fazer. Portanto, fazendo assim um bocadinho de tudo, mas

nada assim muito fundo.” (E6)

“[…] alguns alunos precisavam de mais apoio nas atividades e às vezes

um professor não consegue fazer isso. E isso acho que foi uma das

minhas dificuldades e ainda é. Até porque no relatório pretendo incidir

sobre isso, porque às vezes eu acho realmente que nos faltam estratégias

para fazer resultar algumas atividades. E às vezes estamos tão focados

na turma no global que depois só quando estamos a realizar a atividade é

que nos percebemos que realmente aquele aluno precisava de mim lá

mais tempo ou que aqueles três ou quatro alunos precisavam de mim ali

mais tempo, ou se calhar de uma ficha diferente ou de vir a trabalhar

aquele conteúdo enquanto os outros já perceberam. Eu acho que isso é

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

uma gestão que o professor deve conseguir e às vezes no estágio não é

muito fácil porque a maior parte dos orientadores cooperantes também

não está muito habituada a ver a turma como meninos diferentes e sim

como um todo. Às vezes também há ali algumas divergências.” (E6)

“[…]Acho que poderíamos ter tido mais apoio ou um apoio um bocado

diferente, mas os professores também têm a vida deles, têm as aulas

deles, têm tudo o resto. Acho que também não podemos por vezes pedir

o impossível. Se calhar eu acho que faltou um bocado estarem na sala de

aula. Acho que é pouco, o que é que uma aula ou duas nos diz sobre um

professor. É um bocado como a avaliação dos professores, eu se quiser

mudo a minha planificação toda quando sei que o professor lá vai, faço

uma planificação excelente e nos dias a seguir não faço nada de especial.

Acho que isso não espelha muito o meu trabalho nem quem eu sou como

profissional.” (E6)

Autonomia

Professor cooperante dá

autonomia

“Sim, sim. Qualquer estágio que tenha feito senti bastante autonomia.

Tive sorte ou porque os cooperantes assim o entenderam ou porque os

próprios supervisores. Sempre consegui… conseguimos, eu e o meu par,

fazer aquilo que propúnhamos.” (E2)

“[…] Por exemplo, neste caso, no 1º ciclo nós fizemos muitas atividades

práticas, muitas tarefas de investigação, para serem eles próprios a

descobrir. Porque no fundo não fazia sentido nós chegarmos lá e

dizermos – “isto é desta forma” – mas também lá está, tem a ver com a

professora cooperante, ela deu-nos liberdade. No 2º ciclo já não foi bem

assim, eles diziam-nos – “têm que dar isto e tem de ser cumprido” –

tínhamos muita “pressão”.” (E4)

Condicionada

“Eu acho que essa autonomia também tem a ver depois com o trabalho

que os professores… Os professores também já nos vão conhecendo e,

portanto, também nos dão maior autonomia consoante o tipo de alunos

que têm. Porque, por exemplo, há colegas que precisam de ser mais

orientados e, portanto, se calhar precisam de uma ajuda maior, por

exemplo, a organizar as actividades e a fazer essa adequação das

estratégias, porque nós estamos… Há níveis muito diferentes dentro da

nossa turma e, se calhar, há uns que têm mais liberdade que outros […]

Mas nós temos muita autonomia e isso é bom.” (E1)

“Não nos dão uma total autonomia, mas alguma. [No estágio] […] É

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

assim, para definir os conteúdos a abordar aí são os professores que têm

a planificação anual que nos dizem. Mas depois na adequação desses

conteúdos à turma aí sim. Aí nós fazemos as nossas propostas,

apresentamos com a devida antecedência ao orientador e não temos

tido… […] Normalmente aceitam.” (E3)

“Sim, [tenho autonomia no estágio] também depende do cooperante da

turma que nos seja destinada. Mas, por exemplo, neste estágio… Aquilo

que eles nos impõe é no início nós construirmos aquilo que vai ser a

nossa prática. Nós não vamos para lá assim – “vou dar o que quero e sou

eu que vou decidir” – não! Isso é tudo construído com os professores das

escolas, com os professores titulares, com os professores da EE, nós não

vamos para lá tomar as nossas decisões. Nós quando chegamos à fase da

prática, depois da fase da observação, já temos quase tudo estruturado.

Está bem que depois os materiais e as atividades é tudo feito ao longo da

prática, não é?! Mas já temos aquela linha orientadora que está toda

definida praticamente. […] Não, acho que temos autonomia suficiente.

Temos, claro, de ir construindo com os professores, mas penso que

temos autonomia suficiente. […]” (E5)

“Em algumas situações sim, noutras nem tanto. [Sente que tem

autonomia no estágio] Acho que também depende do coordenador

cooperante, porque… Por exemplo, no 4º ano os meninos já tinham feito

as provas de aferição, o professor já tinha dado tudo, e portanto tivemos

muita liberdade a esse nível. Principalmente a língua portuguesa que já

não havia quase nada de novo para abordar. Mas noutros foi mais

complicado, porque os professores já têm a planificação deles e querem

dar determinados conteúdos, portanto aí tivemos que… […]” (E6)

Preparação para a

realidade das escolas Dificultada devido à diversidade

de contextos

“Sim, da escola que eu estou a estagiar perfeitamente. Porque é uma

escola regular, no centro de Lisboa com uma população normal, não é?!

Uma população padrão. Portanto, perfeitamente. E acho que em termos

curriculares nós saímos daqui muito bem preparados. Às vezes o que

choca mais é o confronto entre o que nos é, portanto, passado aqui na EE

e o que é feito nas escolas. Porque quando nós chegamos a uma

realidade de uma escola o que os professores fazem não tem nada a ver

com aquilo que nós aprendemos aqui. […] Não quer dizer que nós não

estejamos bem preparados porque eu acho que estamos. Se nos prepara

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

para outras realidades?! Não, não prepara, mas também nenhuma escola

prepara. Isso é só uma coisa com a vivência.” (E2)

“Tentam preparar, nem sempre é possível. Os contextos são muito

diversos. Eu tenho parado em contextos bons… Bons, não se pode dizer

que é bom ou mau, mas há contextos mais complicados e é difícil

preparar um professor para qualquer contexto ou qualquer coisa que

aconteça, mas nesse sentido trabalho é feito. Depois nós é que vamos ter

de gerir as situações.” (E5)

“Mais ou menos, há coisas que sim, há outras que são completamente

diferentes, a teoria e a prática. Portanto, eu estive a estagiar numa escola

na CC, e então é uma escola um bocadinho problemática. Fiz lá, por

acaso, o estágio do 2º ciclo e do 1º. O do 2º ciclo foi muito mais

complicado, porque a turma era muito mais heterogénea, tinha um

bocadinho de tudo. Mas isso é como em tudo, acho que a teoria e a

prática são um bocadinho diferentes. Aprendemos aqui uma coisa e

depois vemos que a aplicação não é bem a que aprendemos. […] Eu

acho que aquilo que nos prepara é depois ao nível de estágio, de estar

em contacto com os alunos.” (E4)

Sentem que prepara

”Acho, porque se nós tivéssemos tirado educação básica e tivéssemos

ido dar aulas a seguir, acho que muitos de nós não tinha a maturidade

suficiente para ir dar aulas. O mestrado acabou por… O facto de termos

o mestrado acaba, primeiro, por fazer com que as pessoas escolham

exatamente aquilo que querem, afunilem o seu gosto ou a sua

vocação/vontade, o que se quiser chamar. Aí a turma fica mais nivelada,

acaba por ficar ali mais nivelada e depois […]” (E2)

“Eu não posso dizer que me sinto preparada. Tenho alguma preparação,

mas não me consigo sentir preparada, não consigo dizer que vou sair

daqui preparada para enfrentar. Eu vou aprender, vou continuar a

aprender. Tenho bases.” (E3)

“Eu acho que agora só vou ver isso quando estiver mesmo no terreno,

mas acho que sim, que me sinto preparado.” [se está preparado para a

realidade das escolas] (E4)

“Eu acho que sim. [a formação inicial prepara para a realidade das

escolas] Eu ainda acredito que sim. A questão é que se calhar… Ao

longo dos estágios fui percebendo que há contextos que vão àquilo que

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

eu acredito e outros que não. […] Não é que nós não acreditemos de

todo, mas se fossemos nós na nossa sala com os nossos alunos faríamos

de maneira completamente diferente. Mas eu continuo a achar que

aquilo que eu aprendi aqui é completamente possível e válido. Acho que

conseguimos uma visão de ser professor e de educar completamente

diferente da de muitos professores que estão agora a lecionar.” (E6)

Significado da

contextualização Programa curricular

Necessidade de seguir o

programa curricular

“Bem, nós seguimos porque também nos obrigam a seguir. No 2º ciclo

muito mais, porque notam-se os professores do 2º ciclo têm sempre…

Parece que têm sempre ali o relógio a bater muito mais rápido que os

professores do 1º ciclo, não é?! Eu acho que isso também vem muito da

ideia de que para o ano já não estão com eles e quando forem para o 6º

ano já têm de saber tudo do 5º, porque se não os colegas do 6º ano vêm

dizer que eu não… O professor de 1º ciclo como continua normalmente

com a turma não tem tanto essa sensação porque – “o que não der este

ano, sou eu que fico com eles, por isso para o ano posso dar” – há

sempre essa flexibilidade. […] Também não fugimos muito ao programa

porque depois os pais caem em cima.” (E2)

“Tentar cumprir os conteúdos que são previstos abordar. Agora a forma

e a nível das estratégias, isso já…” (E3)

“A partir de uma certa altura eles começam a ter essa consciência, não

é?! Porque o professor também começa a dizer que – “não podemos

demorar mais tempo porque temos mais matéria para dar” – ou –

“porque temos o livro para acabar” – mas eu acho que enquanto eles

são…” [Se interessam facilmente pelo que está estabelecido no

programa curricular] (E2)

Fazer adequações

“[…] Mas sim, faço alterações, faço… Não é alterações, faço

adequações que é diferente, porque… […] Eu sinto mesmo essa

necessidade, nem consigo fazer doutra maneira faz-me confusão. […]

Sim, deviam ser chamados de orientações curriculares, em vez de

programas. No fundo aquilo são orientações do nosso trabalho, não é?!

Os professores têm muita tendência de só verem o programa à frente de

só querem cumprir o programa, às vezes estão fechados um bocadinho à

realidade e não abrem.” (E1)

“Neste caso, não seguimos… Demos um bocadinho de cada coisa. [O

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

programa curricular] […] Em primeiro lugar tivemos em atenção as

planificações anuais do agrupamento e depois nós é que escolhemos

aquilo que dávamos em cada semana e vimos mais ou menos aquilo que

fazia mais sentido.” (E4)

“Eu acho que o que acontece hoje em dia… Quer dizer, o que acontece

hoje em dia é que os professores fazem o que diz no manual e ponto

final, não é?! Mas esquecendo essa parte. O que acontece é que muitas

vezes nós olhamos para o programa e seguimos o programa à risca e

acho que não é isso que é suposto. Aquilo é um documento orientador da

nossa prática e temos de ver se conseguimos gerir o que é que o

programa pede com aquilo que conseguimos com os nossos miúdos.

[…]” (E6)

Orientação

“Não, é assim… [não vou fazer alterações ao programa curricular] Se eu

estiver a falar de uma coisa e surgir uma dúvida que venha…

Imaginemos que eu estou no início do ano e surge uma dúvida ou surge

a oportunidade de falar de um conteúdo que seja abordado no final do

ano, se calhar poderá fazer sentido ou não falar nessa altura. Acho que o

programa não tem que ser seguido à risca, é mais uma orientação.” (E4)

“Sim, [sigo o programa curricular] como eu já disse essa gestão parte do

professor e se eu achar que devo dar mais ênfase a uns conteúdos que a

outros, porque não?! Farei, sem dúvida […] Mas acho que isso depois

cabe a cada um, e por isso nós aqui também não concordamos muito

com a questão dos manuais porque tem de ser tudo ali à risca – “ainda

não fez a página não sei quê, hoje temos de fazer” – e se estamos a fazer

outra coisa depois para casa têm de fazer. E aquilo parece quase

religioso, temos de fazer aquilo, temos de fazer aquilo. Mas depois os

professores chegam ao final e vêm que não foi por causa de fazerem o

manual todo que os meninos tiveram boas notas nas provas. Portanto, eu

acho que isso é uma gestão do professor.” (E6)

Aplicar conhecimentos

científicos

“Faço alterações. [ao programa curricular] […] Por exemplo, neste caso

agora do 1º ano, nós tivemos que… O professor queria que

trabalhássemos as plantas com eles, com os alunos, e então eu e a minha

colega fomos olhar para o programa, vimos o que era esperado, mas

como nós tínhamos uma horta na escola e que não estava a ser utilizada

nós queríamos fazer… Sentimos necessidade de mobilizar

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

conhecimentos, por exemplo, do 2º ano e do 3º ano para eles fazerem a

horta e, portanto, poderem criar dentro da sala… Fazerem germinação

para depois partirmos lá para fora e fizemos um trabalho… Estivemos

três meses à volta das plantas. […]” (E1)

Ajustar o programa

curricular ao aluno

“[…] Sei que se, por exemplo, eu for à procura de objetivos do 1º ano

que respondam aquilo que nós fizemos são poucos aqueles que nós

encontramos, encontramos mais noutros anos... […] ” (E1)

“[deve-se adaptar] As matérias aos alunos, por tudo o que já dissemos

até agora. Devemos contextualizar o que estamos a fazer e não

podemos… Lá está não são receitas, são orientações que devem ser

adaptadas ao público com quem estamos a trabalhar.” (E2)

“Sim. [o programa curricular está bem estruturado] Quer dizer, é

discutível, não é?! Eu acho que pode estar mal estruturado, mas o

professor pode pegar naquilo e transformar à medida. […] Portanto, o

professor deve adaptar o que vem no guia e criar as suas próprias

receitas e que devem ser diferentes para cada grupo com quem está e

isso é uma coisa muito importante a ter em conta.” (E2)

“[…] Já nem parte tanto dos programas, parte também já da maneira…

Porque eu penso que muitas vezes o problema não vem só dos

programas vem também da prestação que cada professor lhe dá e da

maneira como eles os dão. […] muitas vezes não parte do programa,

parte da prestação e da maneira como cada professo o implementa.

[…]”(E3)

“Eu acho que estão bem [os programas], só que, lá está, depende muito

das estratégias que nós implementamos. […] Por exemplo, no 2º ciclo

surgiram mais contratempos, porque havia aulas que os professores nos

diziam – “têm duas aulas para dar os números primos” – e depois tendo

em conta as dificuldades que os alunos tinham, nós não pudemos fazer

só duas aulas, fizemos três ou quatro ou mais, até ver que aquilo estava

minimamente compreendido. […] Sim, eu no 2º ciclo estive o 1º período

todo e aquilo que nós sentimos por parte da professora é que ela queria

que nós andássemos muito rápido por causa dos conteúdos…” (E4)

“[…] Eles [os conteúdos programáticos] estão lá para nos orientar, mas

depois como os trabalhamos depende do contexto onde estamos,

depende dos alunos que temos à frente, do número de alunos, da

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

diversidade que nós temos à nossa frente, acho que isso é que é

importante.” (E5)

“No 1º ciclo nós temos horas que temos de cumprir, não é?! Tanto para

a língua portuguesa como para a matemática, mas isso é uma gestão que

o professor acaba por fazer naquela hora das nove às três e meia ou das

nove às cinco e meia, que alguns têm pelo apoio ao estudo. Isso acaba

sempre por ser uma organização nova, acabamos por dar um bocadinho

mais de matemática ou de português dependendo também das

necessidades deles. No 2º ciclo isso já é diferente, porque há disciplinas

estanques, não é?! No nosso caso era suposto não haver professores

diferentes para cada uma delas, mas como isto ainda não está adequado

à monodocência, ainda existe um professor para cada disciplina. […]”

(E5)

“Como estava a dizer há pouco, nós seguimos sim os programas. […]

Como nós trabalhamos cada conteúdo isso já é com o professor. Acabe

depois a ele adequar às turmas.” (E5)

“Acho que nós temos visto nos estágios que não vale a pena ir para ali

debitar os conteúdos e a matéria, como se costuma dizer.” (E5)

“Se for preciso, se calhar, abordar menos uns tópicos e mais outros ou

até surgir um tópico que eles gostavam realmente de trabalhar que não

estava comtemplado no programa, porque não?! isso é uma gestão que

eu acho que o professor deve ser capaz de fazer e tentar o melhor para

conseguir aquilo que é pedido no programa.” (E6)

Origem

sociocultural/económica

“Eu acho que devemos ter em conta. [a origem sociocultural] Não que

isso faça diferença… Quer dizer, eu acho que se deve ter em conta.

Porque, primeiro, as nossas solicitações, portanto, aquilo que nós

esperamos dos alunos vai ser diferente. Por exemplo, se tivermos numa

turma cujo nível sociocultural ou o nível socioeconómico seja alto ou

elevado, nós, se calhar, podemos pedir… Podemos fazer estratégias…

Sei lá… Podemos, por exemplo, ir a visitas de estudo em que os alunos

possam pagar a entrada, mas, se calhar, por exemplo, se tivermos numa

turma em que isso não seja possível, então podemos tentar arranjar, se

calhar, não vamos aquele sítio podemos ir a outro. Temos que tentar,

portanto, adaptar as atividades que fazemos. […] Acaba por ser

condicionada por o tipo de alunos que nós temos, não é?! E, portanto,

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

com o tipo de exigências que eles também vão tendo. Por exemplo, se

chegarmos dentro de uma sala de uma escola que tem tudo ou todas as

condições ideias é completamente diferente do que termos uma escola

que está degradada e, portanto, o nosso… Sei lá. Numa escola, por

exemplo, que tenha sido remodelada há pouco tempo, nós, se calhar, não

temos que desenvolver um projeto que seja pintar, por exemplo, a

escola, mas, se calhar, noutra podemos fazer esse projeto. Portanto, eu

acho que as práticas acabam por ser sempre ajustadas, Não é?! Não que

isso implique ou que desvalorize o trabalho que está a ser feito, porque

eu não acho que isso seja assim. Eu acho é que o professor tem de ter

capacidade de organizar e fazer essa gestão.” (E1)

“Acho que sim, não sendo extremista. [deve-se ter em conta a origem

sociocultural dos alunos] […] Se eu tiver a trabalhar… […] um

determinado conteúdo a uma população de etnia cigana, se calhar pode-

se não se abordar esse mesmo conteúdo com uma população de etnia

europeia ou caucasiana, pronto, mas acho que sim, acho que se pode

fazer.” (E2)

“Claramente, [deve-se ter em conta a origem sociocultural dos alunos]

não querendo diferenciar os alunos que têm esse tipo de… Outros

contextos, não é?! Claramente, que se tem de diferenciar e nós tivemos a

possibilidade, agora estávamos nas LL e fomos fazer uma pequena

intervenção ali na zona da A, ali na F, e é um contexto socioeconómico,

se quisermos falar, completamente diferente. E nós não fomos as

mesmas que fomos nas L e como não fomos as mesmas na A, a atitude,

a postura, o modo como falávamos com eles, como tentávamos

transmitir alguma coisa era completamente diferente. Nós tomamos uma

postura completamente diferente a partir do momento em que entramos

nas salas de aulas diferentes. Não deixando de fazer o que acreditamos e

deixar a nossa linha de pensamento e estratégias, mas adequando

completamente ao contexto. […] Como não tivemos um trabalho

específico com os da A, mas a maneira como falamos, a nossa

linguagem é completamente diferente da que eu tenho presente nas L,

não é?! Na escola das L tenho uma linguagem adequada dia-a-dia. Se

calhar na A a linguagem que está dentro da sala de aula e que se calhar

chamaria a atenção na escola das L. Achamos completamente comum

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

naquele contexto e nem sequer entramos por ali. Tentámos interagir com

eles sem esse preconceito da língua. Às vezes não ouvíamos coisas

assim, que estamos habituados no dia-a-dia, mas… É claro que os meus

alunos das L não me dizem – “a professora é boa” – no mínimo diz-se –

“a professora é bonita”- mas ali diz-se a professora é boa e não há que

condená-los por isso.” (E5)

“Sem dúvida, porque é muito diferente ensinar crianças de um meio

social desfavorecido do que ao contrário. Eu se calhar tive mais a

experiência de um meio social muito favorecido, que eu o ano passado

estive a estagiar em T e havia coisas que os meninos sabiam mais do que

eu. Portanto, eu também tinha que estar preparada para tal e o mesmo

acontece com o meio mais desfavorecido, que são crianças menos

estimuladas, com pouco apoio em casa, com, pronto, as competências

menos desenvolvidas, têm uma cultura geral muito mais pobre e eu não

posso ir falar de coisas que para eles não fazem sentido, não é?! Acho

que temos sempre de saber qual é o meio deles, estudar o meio deles e

perceber qual é a forma que podemos chegar até eles. Porque as

aprendizagens têm de ser significativas para os alunos, porque não faz

sentido chegarmos lá e falar de uma horta se eles nunca viram uma horta

na vida e compram os produtos no supermercado, não é?! Por exemplo.

É falar sobre o abstrato que para eles ainda não faz muito sentido.” (E6)

“Estou a lembrar-me de um projeto gigante que nós fizemos, acho que

foi no 1º ano do mestrado e até foi muito engraçado, porque nós

tínhamos… Acho que eramos seis grupos e cada grupo imaginou um

contexto, se era uma escola num contexto rural, com meninos com

necessidades educativas ou não, que materiais é que nós tínhamos ao

nosso dispor, quantas turmas é que haviam, todos esses aspetos.

Portanto, tínhamos ali seis contextos diferentes e depois trocamos esses

contextos entre nós e com aquilo que nós queríamos fazer tivemos

também que adaptar ao contexto. E acho que aí trabalhou-se. [a

importância da origem sociocultural/económica] […] Isso foi um

exemplo, aconteceram outros exemplos. Acho que tínhamos isso muito

em conta, mesmo quando não era pedido nós tínhamos isso na nossa

cabeça. Nós conseguíamos imaginar qual era o grupo que nós tínhamos

ali. No fundo foram projetos não implementados, infelizmente, mas para

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

nós quase que fora porque eram realmente muito reais. Nós sentíamos

mesmo vontade de implementar aquilo porque era um possível, não era

um projeto só porque sim, nem mais um.” (E6)

“Sim, eu acho que sim. [deve-se ter em conta a origem sociocultural dos

alunos] Porque isso é fundamental. Porque se estamos a lidar com uma

turma que é muito boa ou com uma turma que é muito má e estivermos a

aplicar as mesmas estratégias, acho que isso não faz muito sentido,

porque uns não vão aprender o que deviam, e os outros deviam ser mais

estimulados, provavelmente.” (E4)

Características dos alunos

“[…] Agora características… Bem, o facto do grupo saber ou não

trabalhar em grupo, a turma saber ou não trabalhar em grupo, o facto de

ter ou não facilidade na parte da expressão oral, na parte da escrita são,

por exemplo… São três fatores que para mim são muito importantes. Se

têm, por exemplo… Se estão habituados a estar dentro de uma sala e

terem regras ou não e, portanto, a liberdade ou o tipo de atividades que

nós pedimos ou solicitamos também vão ser diferentes, não é?! Um

grupo que seja muito barulhento ou muito confuso, aquilo que se

consiga organizar mais, a autonomia dos alunos também é muito

importante. Ahhh. Devem ser essas características, agora não me estou a

lembrar de mais nenhuma.” (E1)

“[…] Eu acho que também depende muito, por exemplo, das respostas

que os alunos nos vão dando. Neste caso nós estávamos com um grupo

que, apesar de haver grandes diferenças entre eles, é um grupo muito

bom e que responde muito bem às nossas iniciativas e, portanto, nós

puxamos sempre um bocadinho mais, um bocadinho mais. […]” (E1)

“[…] O desempenho deles, o nível de desempenho dos alunos, o tempo

que por norma demoram a concluir determinada tarefa, as dificuldades

deles, o nível. Por exemplo, para planificar uma actividade escrita tenho

em conta os temas pelos quais eles costumam demonstrar mais interesse,

o tempo que eles demoram, as dificuldades que a maior parte deles

manifesta. Geralmente é isso.” (E3)

“Sim. [tenho em conta características dos alunos]” (E5)

“Sempre. [tenho em conta a especificidade da turma] Cada vez mais. Eu

acho que cada vez mais vamos tendo a prova de que este exercício ou

esta atividade ou este método serviu naquela turma, mas nesta não serve.

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

Ou mesmo dentro da própria turma se calhar serviu naquele momento,

mas neste não está a dar ou etc. Há sempre essa variantes que nós temos

que ter em conta.” (E6)

“Sim, [tenho em conta características dos alunos] o que eles são capazes

de fazer, diferenciação pedagógica caso isso seja necessário.” (E4)

“Não sei. [não sei como aprendi a selecionar as características dos

alunos quando preparo as aulas] […] Antes de irmos para a intervenção

nós já fizemos muitas planificações nas várias áreas e os professores vão

nos sempre chamando a atenção para – “ e, se por exemplo, a turma

tiver…” – eles, por exemplo pedem-nos para imaginar ou dizem-nos

assim- “imagem que têm uma turma com estas características” – e nós

temos, por exemplo, que planificar para aquela turma. Então o professor

vai-nos chamando para um ou outro aspeto. Eu acho que tem a ver não

só com o trabalho que nós já fomos tendo na EE, mas também muita

dessa parte vamos sendo nós sozinhos que aprendemos com a nossa

experiência, não é?! E quando nos deparamos… Quando depois fazemos

propostas e vemos que às vezes não correm tão bem ou como nós

estávamos à espera e vamos pensando e adequando.” (E1)

“As características [que tenho em conta quando preparo as aulas], como

já tinha referido, os níveis de aprendizagem que eles revelam, não é?!”

(E2)

“[…] Fomos aprendendo. [a selecionar as características dos alunos]

[…] Foram coisas que foram surgindo, não houve um momento

específico que possa indicar como…” (E3)

“[na preparação das aulas tenho em conta] Eu acho que é a forma que

eles aprendem e as dificuldades que eles têm; como é que podemos

lecionar… Lecionar… Como é que podemos abordar determinados

conteúdos para que eles percebam. […]”(E4)

“Ao longo da formação aqui [aprendi a selecionar as características dos

alunos, mais na área da matemática nós fomos… As nossas aulas são

todas à base de descoberta. Portanto, foi mais a partir da área da

matemática que nós também fizemos a ponte para as outras áreas.”] (E4)

“Em função dos alunos e da sua diversidade, das suas necessidades, das

suas fragilidades.” (E5)

“Como eu já disse o contexto é muito importante, as dificuldades, toda

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

aquela fase que nós tivemos na fase diagnóstica, as dificuldades, as

necessidades, as potencialidades, tudo o que nos levou a definir depois

os objetivos da nossa intervenção tem de ser pensando enquanto estamos

a planificar e enquanto estamos na fase de intervenção todas as

necessidades dos alunos e contextos onde a escola está inserida tem de

ser pensadas.” (E5)

“Isso é complicado [adaptar um dado ponto do programa às

características dos alunos], porque, primeiro, depende da situação,

depende da atividade. Mas eu acho que tem muito a ver com as

qualidades e as competências dos alunos. Nós agora tivemos, por

exemplo, a trabalhar com miúdos em grupo, coisa que eles já tinham

feito, mas que eles não tinham muito desenvolvido. Claro que nós

vamos tentando apoiar mais; se calhar orientar melhor a tarefa; ter mais

materiais, dar sempre outro apoio. Se calhar numa turma em que o

trabalho de grupo já fosse uma coisa quase banal para eles seria muito

mais fácil, seria muito mais autónomo da parte deles, nós já não

precisávamos de estar tão em cima, orientar tanto, a ajudar, não é?! É

um bocado mais nesse sentido. Ou adaptar os materiais ou a forma como

explicamos. Porque dentro da mesma turma há sempre miúdos que

temos de repetir três vezes ou explicar de três formas diferentes para eles

perceberem e outros que basta apenas uma vez e sabem logo o que é que

se passa. […]” (E6)

“Eu acho que isso foi algo que também fomos aprendendo nos estágios.

Acho que nunca… Aqui era tudo muito abstrato, com alunos

imaginários. Eu acho que só nos apercebemos ao longo dos estágios

todos, porque havia sempre alunos que terminavam mais rápido, outros

que demoravam mais, outros que precisavam de mais apoio, outros eram

mais autónomos, e acho que também nos coube a nós ir-nos adaptando a

isso. Muitas vezes, os ficheiros eram a nossa salvação – “ok, então

acabaste, vai ver se consegues fazer mais uns ficheiros e tal” – e o aluno

está ali mais um tempo concentrado e está a contribuir para as

aprendizagens deles. […]”(E6)

Contextualização na

formação inicial

Abordado na formação

inicial

“Foi, foi [abordado a questão de adaptar um dado ponto do programa às

características dos alunos]. Nós falamos isso na generalidade. Portanto,

em unidades curriculares que estejam mais ligadas à pedagogia, não é?!

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

E organização e desenvolvimento curricular, mas também falamos

depois especificamente em cada área como é que nós adequamos dentro

da língua portuguesa, ou como é que nós adequamos dentro da história e

geografia, como é que nós adequamos dentro da matemática. E portanto,

o facto de nós termos essa visão global e depois a visão particular de

cada uma das áreas ajuda muito e foi sempre falada, desde o início,

desde a licenciatura e vai sendo até ao mestrado e acho que se nós

tivéssemos mais anos continuaria a ser trabalhada.” (E1)

“[…] No meu caso eu não tive nenhuma indicação nesse sentido [sobre

as questões relacionadas com origem sociocultural/ económica e

importância da motivação dos alunos].. Quer dizer, especificamente, ou

seja, não tive nenhuma unidade curricular que fosse nesse sentido. Claro

que isso se fala. Claro que isso pode ser um ponto de reflexão e que nós

podemos aprofundar no que estejamos a fazer, mas que isso não tenha

sido explicitamente... Que nos digam - “nível socioeconómico baixo o

que é que se deve fazer?” – isso não, isso não nos é dado.” (E1)

“Por um lado, eu acho que é importante [abordar as questões

relacionadas com a origem sociocultural/económica, motivação], mas

por outro lado isto também parte muito da nossa sensibilidade, não é?!

Portanto, há… Não há receitas aqui. Nós não temos, não é assim, assim,

assim, assim que se faz. Eu acho que nós acabamos por aprender muito

não só com o grupo com que nós estamos, mas também com experiência

que nós vamos adquirindo. Eu tenho noção que o estágio que eu fiz há

dois anos não tem nada a ver com o estágio que eu estou a fazer agora e,

portanto… Porque também houve um crescimento pessoal e também

profissional, embora seja pequenino, mas isso vai se adaptando e,

portanto, somos nós que também aprendemos. Eu não sei até que ponto

isso é um aspeto bom para ser discutido ou aprendido, não é?! Porque eu

não sei se se pode ensinar muitas coisas em relação a isso.” (E1)

“Ah, sim! [abordou-se a questão de adaptar as matérias aos alunos ou os

alunos às matérias] Em tudo, temos estado a falar nisso. Acho que não

houve nenhuma unidade curricular, nem nenhuma… Nós estivemos

sempre a falar disso. Nós tivemos sempre a falar nisso e é sempre… Nós

estamos sempre a falar nesse tipo de adaptações que devem ser feitas.

[…] Mas sim, foi sempre falado e entre nós também, entre nós alunos e

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

entre nós alunos e professores, tem sido sempre alvo de reflexão. E acho

que é importante haver essa reflexão porque dá-me a ideia que não havia

muito há uns anos atrás e, portanto, fazia-se o processo inverso.” (E1)”

“Bem, nós abordamos isso [a adaptação de um dado ponto do programa

às características da turma] em várias unidades curriculares, não temos

uma unidade curricular específica. Porque, falando aqui da EE, todas as

unidades curriculares que tivemos no mestrado e nas quais fizemos

trabalhos práticos, portanto, propostas de sequências didáticas e tudo

mais, nós fomos mesmo obrigados a pensar nas diferenças que podem

existir dentro da mesma turma.” (E2)

“Não falamos especificamente nisso. [das questões relacionadas com a

motivação e a origem sociocultural dos alunos] Embora esteja presente

nas nossas propostas e falamos na questão de pegar em coisas do

quotidiano. Portanto, conseguimos depois fazer a ponte para a condição

socioeconómica.” (E2)

“Não é uma coisa nova [a questão de adaptar um dado ponto do

programa às características da turma], isto não me surgiu agora.

Portanto, alguma vez já devemos ter falado disso, não digo que

especificamente tenhamos tido uma unidade curricular ou tenhamos

abordado esse assunto, mas com toda a certeza que já foi um debate na

turma, com professores.” (E2)

“Foram tratados. [as questões relacionadas com a adequação de um dado

ponto do programa, origem sociocultural e motivação dos alunos]

Foram. Isso foi ao longo de várias disciplinas, de várias unidades

curriculares, isso foi sempre falado. […] Foram. Não consigo dizer a

cadeira específica, porque isso é uma aprendizagem que eu adquiri, que

eu desenvolvi aqui no curso… Porque isso foi sempre foi falado desde a

licenciatura… Isso tem vindo a ser falado… Que devemos ter em conta

o interesse, as necessidades das crianças, o contexto em que nos

inserimos. Não me recordo agora…” (E3)

“Foi, foi. [abordado a questão de adaptar os alunos aos conteúdos ou

vice-versa] […] Eu estou a lembrar-me da unidade de história e

geografia, que nós até desenvolvemos um projeto com vista a lecionar

determinados conteúdos dessas áreas, partir do meio local para fazer

essa iniciação. […]” (E3)

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

“Não [se abordou as questões da origem sociocultural, motivação dos

alunos], falamos que tínhamos que adequar, mas casos concretos acho

que… Pelo menos não me estou a lembrar assim de nada. […] Nós

quando estamos no estágio e precisamos de alguma coisa é que vamos

ter com os professores para ver qual é a melhor forma de intervir, quais

são as estratégias mais adequadas.” (E4)

“Nós tivemos diversas disciplinas e diversas didáticas em que

trabalhamos projetos mesmos. Perspetivamos um grupo, um grupo de

alunos, e fazíamos aquela fase de observação que não existe, mas

trabalhávamos toda essa fase e depois tentávamos construir um projeto à

imagem desse grupo, por isso, isso foi… é uma das bases do nosso

mestrado e da nossa licenciatura, também fizemos alguns. Mas lembro-

me, por exemplo, tivemos um grande trabalho em expressões numa

disciplina de expressões, em que aquela disciplina foi só aquilo.

Perspetivamos a escola de raiz, as turmas todas, o contexto, depois…

Construímos um projeto com base naquilo. É um bocadinho construir

com base no nada, mas que nos dá depois uma perspetiva do que pode

acontecer na realidade. […] Sim, tivemos em conta. Tivemos que definir

essas coisas todas. Qual era o contexto socioeconómico, qual era a

motivação dos alunos, tínhamos de definir essas coisas todas. Quanto

mais definíssemos mais fácil depois era aplicar o projeto.” (E5)

“Lá está, o percurso da EE levou-me sempre a pensar que é importante

ter em conta aqueles alunos.” (E5)

“Sim, foi tudo muito abordado. Os programas, o que é importante fazer

com os alunos foi tudo muito abordado, até porque nós apanhámos a

fase inicial dos programas e eles quiseram nos passar que realmente não

temos de adaptar os conteúdos aos alunos, mas temos sim de adaptar à

nossa prática e ao que tem de se realmente… No fim o que aos alunos

têm de realmente aprender e ter conhecimento.” (E5)

“Sim, até porque na maior parte dos projetos que nós fizemos, a primeira

coisa era em que meio isto vai servir, vou caracterizar os meus alunos,

vou caracterizar a minha sala, vou caracterizar o meio onde eu vou…

Portanto, nunca era um projeto do nada, não era um projeto global que

não dava para tudo. Era porque estávamos com um tipo de alunos,

queríamos trabalhar determinado conteúdo, e desenvolver determinados

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

objetivos e competências. Eu acho que isso cria logo uma certa cadeia

na nossa cabeça de ver como é que na realidade as coisas devem

funcionar.” (E6)

“Sim, sim. . [abordou-se a questão as questões inerentes à origem

sociocultural dos alunos] Na parte dos projetos que fizemos sim.” (E6)

“Quer dizer, aí já era um pouco mais abstrato, não é?! [as questão da

motivação dos alunos]” (E6)

“Sim, claro. Claro. [ao longo da formação inicial abordou-se as questões

relacionadas com a adaptação dos conteúdos aos alunos ou vice-versa]

Sempre tendo em conta que objetivos é que eu quero alcançar, mas

também que alunos eu tenho. Acho que havia sempre essa ligação e

acho que mesmo na nossa prática isso é muito presente. Acho que está

muito intrínseco em nós.” (E6)

“Sim. [abordou-se a questão de adaptar as matérias aos alunos ou os

alunos às matérias] […] Eu acho que é um bocadinho em todas

disciplinas eu acho que fomos falando que tínhamos que adequar os

conteúdos aos alunos e não os alunos aos conteúdos. […]” (E4)

Orientador e supervisor

“Dão muita.” [importância às questões relacionadas com as

características, origem sociocultural/económica e motivação dos alunos]

(E1)

“O facto de termos de fazer a avaliação diagnóstica, que temos de

analisar essa avaliação e que temos no nosso projeto temos de

intervenção que provar, um bocadinho, porque é que nós decidimos

optar por aquelas questões globais e estratégias específicas em cada

área. Nós estamos sempre a ser confrontados com esse tipo de questões.

Portanto, os professores estão nos sempre a perguntar – “se vocês

detetaram estas potencialidades, estas fragilidades nos alunos, então

porque é que estão a fazer esta atividade?” – ou – “de que modo é que

esta atividade contribui para aquilo que vocês detetaram durante a

avaliação diagnóstica?”. Isso é uma grande preocupação, não só a

motivação… Portanto, eles também têm em conta o tipo de propostas

que nós fazemos e dizem logo – “é uma ótima atividade e, portanto, os

meninos estavam muito motivados” – ou então – “não, não é uma boa

atividade e os meninos não estavam motivados para a fazer”. Isso são

pontos essenciais. É a primeira coisa que dizem depois, por exemplo, de

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

uma aula observada.” (E1)

“Sim, sim. Responderem, respondem e acho que é de forma… [positiva

às minhas necessidades] Do meu ponto de vista, acho que é da forma

mais correta. O supervisor sempre foi meu supervisor ao longo do

mestrado, portanto, também já estou habituada a trabalhar com ela. A

orientadora, neste caso específico, é uma orientadora diferente, mas que

também já foi minha professora. Portanto, também já me conhece. Não

me conhecia na prática, conhecia-me na parte teórica. E eu acho que

funcionam bem, é uma equipa que funciona bem. O supervisor, portanto,

é quem gere, não é?! Mas os professores… Acho que é um grupo que

funciona muito bem. […]” (E1)

“O orientador sim, o supervisor também bastante [abordam as questões

relacionadas com as características, origem sociocultural e motivação

dos alunos]. Portanto, nós enviamos tudo o que são planificações, os

nossos materiais todos aos professores que acompanham este processo.

Houve duas ou tês rotinas que nós implementamos em sala de aula e

obtivemos mesmo em conta esses níveis e a adequação do programa

tendo em conta os vários meninos, e quando eles observam também.

[…] Mas sim, é sempre uma coisa a ter em conta.” (E2)

“Bem, especificamente neste estágio de 1º ciclo não muito [não

responderam às minhas necessidades]. Mas também por características

muito específicas do cooperante com quem estávamos. Nos outros

estágios claro que existe essa relação, se bem que os supervisores não

vão assim tantas vezes observar-nos, não é?! Nós também somos muitos

alunos. Mas sempre que vão óbvio que falam com os cooperantes, temos

reuniões sempre no final das aulas para todos em conjunto, o par de

estágio, o supervisor e o orientador para falarem sobre o que aconteceu.

Mas sim, tem de haver esse trabalho de equipa porque no final a

avaliação não pode ser muito discrepante.” (E2)

Não. Não sentimos essa dificuldade, nesse caso não. [afetou a nossa

ação] (E2)

“É assim, eles falar falam e dão importância. [às questões relacionadas

com as características, origem sociocultural/económica e motivação dos

alunos] […] Eles tentam. (Risos) E às vezes conseguem.”

“É assim, a orientação que nós recebemos aqui na EE e mesmo agora

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

acabei um estágio, o que muitas vezes acontece é que temos vários

professores, temos um orientador de cada área. Supervisor temos dois,

aliás temos um que é mesmo e depois temos um professor que também

faz esse papel de ir observar. Mas fora isso depois quem nos orienta são

professores das várias áreas, sendo pessoas diferentes cada um tem as

suas ideias, e às vezes por divergirem… E isso às vezes dificulta muito.

[…] Posso-lhe dar um exemplo concreto, até se passou com a minha

colega. No estágio ela recebeu uma crítica por causa de uma coisa que

ela fez, que no ponto de vista daquela supervisora não deveria ter feito

assim. Na segunda vez que foi observada, não pela supervisora da

escola, mas pela professora que também nos observa, essa professora…

Ah! E entretanto ela corrigiu esse comportamento, e quando a outra

professora a observou ela já não fez isso, acontece que a outra

professora disse – “não, tu devias ter dado espaço aos alunos para que

eles fizessem isto e aquilo” – quer dizer, ela foi repreendida, por fazer,

por uma professora, pela outra já foi repreendida por não fazer. Pronto,

por vezes…” (E3)

“Às vezes dificulta. [a falta de comunicação entre o orientador e os

supervisor a nossa ação] Porque nós estamos aqui sem experiência e

estamos a lutar por boas notas, não é?! Queremos atender àquilo que nos

é exigido, mas muitas vezes não percebemos o que nos é exigido. São

professores diferentes e lá no fundo isto também é resultado… Não há

uma comunicação eficiente entre os professores que nos orientam,

porque se houvesse isto não acontecia assim. Todos podem ter os seus

pontos de vista diferentes, mas como existem formandos que andam de

um lado para o outro, há que haver um consenso, porque se não dá.

Porque uns dizem uma coisa outros dizem outra.” (E3)

“Eles de facto são… [orientadores cooperantes] Muitas vezes,

constituem uma maior ajuda do que os supervisores, porque nos dão a

conhecer a turma, dão-nos indicações e orientações muito mais precisas

e concretas que eles próprios dão. Muitas vezes, há aqui supervisores

que é só a teoria que conhecem e um orientador pode não ser detentor de

muitos conhecimentos teóricos, mas a prática, o conhecimento prático

eles têm. Muitas vezes, conseguimo-nos mais apoiar na ajuda do

orientador cooperante do que no supervisor.” (E3)

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

“Dão [importância às questões relacionadas com características, origem

sociocultural/económica e motivação dos alunos], e até nos incentivam a

fazer coisas. Dizem-nos – “se calhar podias ter feito desta forma” – ou –

“esta forma não resulta tão bem”.” (E4)

“Nem tanto, falamos dos níveis médios/altos, mas em relação à

aplicação partimos mais daquilo que os alunos sabem, porque apesar de

eles serem… Por exemplo, agora a turma do 1º ciclo onde eu terminei o

estágio a semana passada era uma turma com bastantes dificuldades a

nível… Ah! Mas isso era a nível socioeconómico… ”.” [abordam as

questões relacionadas com a origem sociocultural/económica] […] Mas

não tinham praticamente dificuldades, eram empenhados, e nesse caso

isso não influenciou muito.” (E4)

“Acho que sim [respondem às minhas necessidades], até porque nós no

juntamos várias vezes quando surgiu alguma dúvida tivemos o cuidado

de fazer reunião com todos presentes para falarmos. […] Sim. No meu

caso sim, mas também poderá haver casos em que isso poderá não ter

acontecido. Neste caso no 1º ciclo resultou muito bem, mas também

tenho quase a certeza que foi pela sorte com os cooperantes com quem

fiquei, porque isso no 2º ciclo não funcionou tão bem. […] Nós

estávamos sempre na escola e depois aquilo que nós falávamos mais era

com os professores da própria escola, não falávamos tanto com os

orientadores aqui da EE. Ou então era com o professor específico de

cada área, não tínhamos… Tínhamos um orientador em cada área. A

matemática falávamos com o professor de matemática…” (E4)

“No nosso caso facilitou [ter quatro orientadores], porque tivemos apoio

em cada área específica. Portanto, eu acho que facilitou. Poderia ter

dificultado caso… É assim, facilitou nos aspetos dos conteúdos, mas na

intervenção propriamente dita, se calhar, dificultou um bocadinho,

porque um queria que fizesse de uma forma, outro se calhar já queria

que se fizesse de outra.” (E4)

“O supervisor acaba por dar um bocadinho mais relevância a isto, não

é?! [às características, origem sociocultural/económica e motivação dos

alunos] Mas em termos de disciplinas, de áreas, nós temos depois os

professores específicos das áreas que nos acabam por dar um maior

apoio à sua área específica. Isso é muito… E os professores que estão

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

agora a acompanhar-nos, tanto o orientador como o supervisor, e os

restantes foram os que nos acompanharam em todo o percurso. Nós não

temos assim professores que só tenhamos agora, já vem da licenciatura.

A maior parte dos professores já nos conhece há cinco anos. Por isso, já

sabe um bocadinho com o que é que pode contar e nós também um

bocadinho com o que é que podemos contar e o trabalho que tem de ser

feito.” (E5)

“Os professores não têm as mesmas ideias, isso é um ponto assente. Nós

sempre tentamos balançar e consolidar um bocadinho as ideias deles,

não é?! E as nossas. As pessoas não têm que ter as mesmas ideias e nós

tentámos conciliar da melhor maneira as diferentes opiniões. Mas temos

sempre reuniões, quando nos vão ver ao estágio temos sempre reuniões,

em que eles nos transmitem o que é que acharam e o que é que poderia

ser diferente. O que é que poderíamos ter feito diferente e nós acabamos

por adaptar um bocadinho da nossa prática a eles. […]” (E5)

“Não. [o facto do orientador e supervisor terem pontos de vista

diferentes não prejudica a orientação que nos dão] Não quer dizer que

atrapalhe. Nós temos de saber gerir as diferentes opiniões e às vezes o

trabalho até sai beneficiado.” (E5)

“Eu acho que… Nos meus casos penso que isso [as questões

relacionadas com as características, origem sociocultural/ económica e

motivação dos alunos] não foi muito falado, também porque não tive

com turmas muito problemáticas e acho que aí é que surge mais essa

questão. Existiu sim, quando eu estive estagiar no 2º ciclo na escola de

T, existiu essa questão porque os alunos eram realmente muito bons,

tinham muitos conhecimentos e, então, é claro era normal os professores

falarem – “mas, eles realmente fizeram aqui perguntas muito

inteligentes, vocês conseguiram estar à altura ou não, o que devem fazer

para conseguirem chegar até eles” – acho que isso também foi um

bocado apoiado pela parte deles.”. (E6)

“[…] os professores aqui na EE, e é normal que uns queiram o trabalho

de uma forma e outros de outra, que achem que aquela atividade deve

ser daquela forma ou de outra. Mas eu acho que acabou por funcionar

bem, porque no estágio tínhamos sempre aqueles supervisores e

orientadores. Portanto, nunca fugia muito àquilo. Não era, por exemplo,

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

tinha dois professores de matemática em que um dizia uma coisa e o

outro é que me ia dizer e depois criticava a mim, nunca me aconteceu.

Agora, não sei… […]” (E6)

Objetivos da

contextualização

Aumentar o interesse do

aluno

“Voltando agora, estou no 1º ano, não é?! E houve dois grupos distintos

na turma, portanto, os alunos que já são mais autónomos e que já

conseguem ler enunciados sozinhos, fizeram as fichas autonomamente, e

eram uns sete ou oito que ainda têm dificuldades na leitura fizeram as

fichas acompanhados por nós. Isso é uma forma, por exemplo, de os

apoiar, não é?! E aí criar aquela motivação para eles não se sentirem

desapoiados e não terem logo à partida algo que os faça desmotivar e

não se sentirem confiantes.” (E2)

“E isso faz logo a diferença, porque se eu chegar à sala de aula com uma

atividade que seja para fazer com palhinhas, e estou a trabalhar medição,

é muito mais giro do que se abrir uma página do manual e disser –

“façam aí a página do manual para preparar a medição” – isso cria logo,

no mínimo, motivação para aprender, porque aquilo é diferente e

divertido.” (E2)

“Sigo o programa curricular adaptando-o as necessidades dos alunos.

Por isso mesmo, para tentar gerar… Por uma questão de motivação dos

alunos e adaptá-los às necessidades deles.” (E3)

Facilitar aprendizagem

“Agora estou a lembrar-me, por exemplo, das questões das grandezas e

medidas que foi o que agora estivemos a trabalhar em matemática,

estivemos a trabalhar com o dinheiro. Quer dizer, para um menino

cigano posso muito bem pegar no exemplo da feira porque é uma coisa

que lhe está muito próxima, não é?! E eu sei que aquela criança

possivelmente aprenderá mais depressa assim do que se eu falar com o

menino tendo por base um catálogo de brinquedos onde aparecem

preços.” (E2)

Transferência dos

conhecimentos

“Se tivermos a falar de uma escola pública, também com o agrupamento

e isto depois com a comunidade e tentarmos sempre trazer do que é que

se passa cá fora para dentro da sala e vice-versa, não é?! Porque os

meninos quando saem da sala regressam ao mundo real e não podem

fazer essa separação.” (E1)

“Nós temos que adaptar as coisas de maneira que aquilo faça sentido e

de maneira que eles apliquem aquilo no quotidiano.” (E3)

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

“[…] ou não vêm nenhum significado naquilo por muito que eu lhes

queira ensinar, eles até podem aprender porque sabem que mais tarde

serão confrontados com uma prova, com um momento de avaliação. Ou

seja, ele até poderá reter, deter algumas coisas, mas logo a seguir irá se

esquecer. Aquilo não serão aprendizagens significativas para o aluno.

Ele nunca mobilizará aquilo.” (E3) “[…] De modo a tornar aqueles

conteúdos significativos para eles. Ao fim e ao cabo acho que nós não

estamos ali a formar crianças, a ensinar para que eles cheguem ao

momento da avaliação têm bons resultados, mas depois não mobilizam

nada daquilo que aprendem.” (E3)

Libertar o aluno da sua

condição de espectador

passivo

“E se calhar eram conteúdos do programa com materiais que já eram

mais evoluídos ou trabalhando já outras coisas que já não era do

programa do 1º ciclo. Mas que no entanto foi desafiante para eles e que

os motivou para o tema e para aqueles conteúdos. Acho que isso tem que

ser assim.” (E6)

Estratégias para

contextualizar Reestruturar o programa

curricular

“Sim. [o programa curricular devia ser reformado] […] Que o tempo

passa demasiado rápido passa, porque a quantidade de conteúdos

programáticos que um professor, e agora não estou a especificar se é 1º

ciclo ou 2º, tem de trabalhar com os alunos é muita e para que se

consiga… Portanto, para que os alunos consigam adquirir as

competências que são esperadas no final de um ciclo ou no final de um

ano é preciso muito trabalho… Eu acho que há muitos conteúdos e,

portanto, às vezes é difícil fazermos essa gestão. De facto, se nós termos

também uma certa flexibilidade no programa, por exemplo, no caso do

1º ciclo, apesar de estar… Sei lá… Um conteúdo qualquer no 2º ano,

não quer dizer especificamente que só seja falado naquele ano, posso

começar já a falar no 1º e depois continuar a trabalhá-lo até ao final,

principalmente se nós continuarmos com a mesma turma do 1º ao 4º. No

caso do 2º ciclo essa flexibilidade… Quer dizer, existe, mas é um

bocadinho mais limitada, porque eu posso só ser professora daquela

turma durante um ano, por exemplo, e o professor que vem a seguir, se

calhar, não tem a noção de que eu já trabalhei não sei o quê ou ainda me

falta trabalhar… Quer dizer, só se fizer a avaliação diagnóstica e detetar

isso ou então falar comigo enquanto professora, não é?!” (E1)

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

“Na quantidade não. [os programas curriculares não se adaptam aos

alunos] Agora com o novo programa de matemática e de língua

portuguesa as coisas melhoraram. Portanto, estes novos programas

vieram trazer uma lufada de ar fresco ao programa antigo do 1º ciclo e

as coisas estão mais organizadas e fazem mais sentido como aparecem.

[…] Por exemplo, no nosso caso, que nós vamos ficar habilitados a

leccionar as quatro áreas no 2º ciclo, nós deparamo-nos com programas

muito diferentes. Há uma grande diferença do programa do 1º ciclo para

o 2º e dentro do 2º ciclo entre as várias disciplinas. Portanto, se houvesse

uma uniformização os programas ou pelo menos a estrutura, se calhar,

era mais fácil o professor continuar o trabalho. […] o facto de agora…

Do programa de língua portuguesa e matemática tenham sido

reestruturados, acho que fizeram… Portanto, que fizeram os ajustes

certos, fizeram...” (E1)

“Acho. [que deveriam ser feitas alterações] Não se pode inventar tempo,

não é?! Acho que os programas são extensos e, por vezes, repetitivos. O

mesmo conteúdo é dado em vários anos de escolaridade. Compreende-se

que é com profundidas diferentes, não é?! Óbvio. Mas, por exemplo, eu

acho que o programa de história e geografia de Portugal do 2º ciclo não

está bem estruturado, é demasiado minucioso em coisas que são

importantes para se perceber o que é que aconteceu até aos dias de hoje,

mas não sei até que ponto está bem estruturado dessa forma. […] O

programa de matemática tem conteúdos que não deveriam ser dados no

1º ciclo porque têm um nível de complexidade muito grande. Por

exemplo, em termos de geometria o nível abstrato, portanto, o raciocínio

abstrato dos meninos ainda não está muito desenvolvido e há

determinadas coisas que são muito complicadas. Estou a lembrar-me

agora de uma coisa que saiu na prova da aferição sobre as simetrias.

Quer dizer, até nós adultos temos dificuldade em decorar nomes de

simetrias e esse tipo de coisas.” (E2)

“É assim, devem ser feitas [alterações ao programa]. […]” (E3)

“No 2º ciclo os programas já estão tão desatualizados. […] Devia, devia

haver uma atualização.” (E3)

“[…] Acho que deviam ser mudados os princípios que vêm no

programa, deviam ser revistos, deviam ser alterados, já mesmo para

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

evitar situações como esta em que os professores já estão mais

desatualizados não lecionarem daquele jeito. Acho que se fossem

atualizados seria como para nós, que saímos daqui agora ainda com um

conhecimento muito mais alargado… Já embora tenhamos aquele

programa sabemos que não precisamos de fazer aquilo à risca.” (E3)

“Talvez pensando bem vai muito do professor. [fazer alterações ao

programa] Às vezes os programas são muito difíceis. Isso é verdade e

daí lá está deviam ser revistos.” (E3)

“Os programas têm vindo a sofrer um grande reajustamento. O do 1º

ciclo não estava todo bem estruturado, havia muitas lacunas nas diversas

áreas curriculares e não curriculares. Mas, por exemplo, matemática já

tem um programa novo e português também e assim começa a estar…

[…] O do 2º ciclo nem vale a pena falar disso, porque os programas são

muito antigos, não se adequam nada ao ensino que se está ou se deveria

estar a viver em Portugal, e tem sido realmente muito difícil adaptar-nos

a eles. Nós tivemos vários trabalhos na EE em que apostamos no 2º ciclo

e realmente recorrer àqueles programas era uma coisa extraordinária.”

(E5)

Utilizar o programa

curricular como um

recurso

“[…] Aquilo não é uma receita. O programa é um guia, mas não é uma

receita.” (E2)

“Os programas têm vindo a sofrer um grande reajustamento. O do 1º

ciclo não estava todo bem estruturado, havia muitas lacunas nas diversas

áreas curriculares e não curriculares. Mas, por exemplo, matemática já

tem um programa novo e português também e assim começa a estar…

Começa a ser um bom recurso para os professores, até porque nos dão

estratégias que podemos eventualmente seguir. Dá-nos mais liberdade

do que dava só o do 1º ciclo, mas dá-nos também uma orientação mais

específica para se surgir alguma dúvida. O do 2º ciclo nem vale a pena

falar disso, porque os programas são muito antigos, não se adequam

nada ao ensino que se está ou se deveria estar a viver em Portugal, e tem

sido realmente muito difícil adaptar-nos a eles. Nós tivemos vários

trabalhos na EE em que apostamos no 2º ciclo e realmente recorrer

àqueles programas era uma coisa extraordinária.” (E5)

“O programa não é uma coisa linear, é um apoio ao professor, e é isso

que também se está a mudar agora no ensino, porque os professores

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

seguiam muito determinados objetivos do programa.”

[…] Começa a ser um bom recurso para os professores, até porque nos

dão estratégias que podemos eventualmente seguir. Dá-nos mais

liberdade do que dava só o do 1º ciclo, mas dá-nos também uma

orientação mais específica para se surgir alguma dúvida.” (E5)

“[…] Mas os programas agora que foram construídos e que começaram

a ser seguidos pelos professores dão-nos possibilidade de manobra,

digamos assim. Não temos de seguir nada, nós sabemos que temos de

chegar ao fim e os alunos terem aquele tipo de competências, mas nós

não temos de dar aquilo. Não são receitas, como costumam dizer.” (E5)

“Acho que… Lá está… Acho que é um documento orientador não é para

cumprir à risca.” (E6)

Estabelecer a relação

entre o conteúdo e o aluno

“As matérias aos alunos, claro, mas sem dúvida nenhuma, porque…

Quer dizer, os meninos nascem como nascem, não é?! O que eu disse…

É a mesma coisa, não devíamos estar aqui a falar de programas e

devíamos estar aqui a falar de orientações curriculares, porque devem

ser moldadas consoante o público que nós temos à nossa frente. E para

mim é muito mais importante isso, porque mostra a capacidade que o

professor tem, independentemente do grupo que tem à sua frente,

independentemente do tipo de alunos que tem, conseguir pegar,

supostamente, nas mesmas orientações e fazê-las chegar de modos

diferentes à turma. Acho que é completamente errado se o professor

tentar fazer o contrário, porque está então a pensar nas tais orientações

que são obrigatórias e que têm aquele carácter vinculativo, que eu acho

que não deve ser assim.” (E1)

“Mas acho que em qualquer situação devemos ter noção da população

com quem estamos a trabalhar, nomeadamente pegando sempre em

exemplos do quotidiano.” (E2)

“Sim. [tenho em conta a origem sociocultural dos alunos] Se, por

exemplo, eu estiver a dar conteúdos de história tentar iniciar qualquer

conteúdo sempre que seja possível começando por trabalhar o meio em

que eles se inserem. Por exemplo, se eu tiver algum conteúdo em que

seja possível começar por falar de determinada comunidade. Pronto,

sempre que seja possível relacionar, começar a falar daquilo que lhes é

próximo, antes de partir para aquilo que é mais abrangente.”

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

“[…] temos sempre estratégias a adequar aos nossos alunos.” (E5)

“[…] Mas volto a referir que é importante adequar os alunos às matérias

sim, mas tendo em conta as vivências deles e o seu percurso. Mas as

matérias se é assim que são tem de ser dadas e depois cabe a nós adaptá-

las aos alunos, mas é outra vez um equilíbrio entre as duas coisas não

é?! Não há assim uma adaptação estanque. Não há assim uma opção por

uma ou por outra.” (E5)

“Muito vem do facto de ser significativo para eles, aquilo lhes diz

alguma coisa, se eles criarem ali uma ligação com o conteúdo é muito

mais fácil eles perceberem e nós também conseguimos apanhá-los a

todos. Acho que é muito mais fácil partir do que eles já sabem, do que

eles conhecem, do que estar a dar uma coisa – “olhe, porque sim”. Acho

que isso depois contribui muito para a motivação.” (E6)

“[Deve-se adaptar] As matérias aos alunos, sem dúvida. […] Acho que

já expliquei um pouco ao longo da entrevista, mas lá está, porque eu

acho que os alunos é que estão lá para aprender, não são os conteúdos

que se devem ensinar. Nós temos é de formar pessoas e temos também o

programa que nos orienta para essa formação das pessoas, e portanto

acho que temos é de adequar sempre aquilo que nos é pedido aos nossos

alunos, porque é com eles que estamos a trabalhar, são eles que nós

queremos que cresçam, são eles que nós queremos que aprendam e que

todo este processo seja significativo e benéfico para eles. Portanto, acho

que não faz muito sentido ser o contrário.” (E6)

“[Deve-se adaptar as matérias aos alunos] As matérias aos alunos. […]

Lá está, é ter em conta aquilo que eles sabem, aquilo que não sabem.

Tendo em conta as características deles para ver como é que se pode

fazer uma coisa, como é que podemos…” (E4)

Trabalho de grupo

“[…]E, por exemplo, neste caso tivemos uma turma com… Tínhamos

sete alunos com necessidades educativas especiais, que foi uma turma

um bocadinho complicada, e normalmente fazíamos mais através da

aprendizagem cooperativa. Em pequenos grupos integrávamos aqueles

que tinham mais dificuldades com aqueles que tinham menos

dificuldades, e eles ao trabalharem em pequenos grupos perceberam que

todos podiam contribuir e ajudavam-se uns aos outros. E perceberam

que só conseguiam chegar ao resultado final se chegassem todos e não

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

apenas um.” (E4)

Saberes já interiorizados

“Mas, quer dizer, tentamos, se calhar ir ao encontro do que é a média da

turma, não é?! [para adaptar um determinado conteúdo do programa à

turma] E depois a partir daí criar então as nuances tanto para cima como

para baixo sem nunca tirar o papel desafiador da atividade ou da

proposta, mas também não criando barreiras que façam com que os

meninos percam a motivação, não é?! Isso é importante. Mas não é fácil.

[…]” (E2)

“Partindo daquilo que eles sabem ou que não sabem. […]”(E4)

Criar condições

motivadoras

“[…] É assim, eu tenho tido muita sorte nos sítios onde estagiei.

Portanto, eu acho que isso também influencia. […] Mas na generalidade

sim. [os alunos ficam motivados facilmente] Também sei que o facto de

nós levarmos propostas diferentes daquelas que os alunos estão

habituados a fazer dentro da sala é uma mais-valia, acaba por haver

sempre essa motivação acrescida, quanto mais não seja porque são

atividades diferentes. Agora tenho plena noção que nem todos os sítios

são assim e que nem todos os locais onde eu possa trabalhar ou com

todas as turmas que possa trabalhar vai ser assim tão fácil. Sinto-me

privilegiada até agora, mas é que a realidade não é assim, não é?! Não é

assim… Ou não é toda assim, pelo menos.” (E1)

“[…] Como podem ser motivados pelos professores e palas actividades

que possam ocorrer ou desenvolver dentro da sala. Eu acho que a

motivação é fundamental.” (E1)

“Depois é também apresentar propostas e atividades que fujam um

bocadinho à normalidade. Sair do manual, sair das fichas fotocopiadas

que toda a gente tem iguais… è dar de nós, não é?! É investir o nosso

tempo a produzir materiais e a pensar em coisas com os quais aos

meninos normalmente não contactam.” (E2)

“Mas depois são conteúdos e nós damos… Quer dizer, não temos de dar

aquilo do modo tradicional, porque lá me diz que se supõe a realização

de atividades práticas e experimentais não quer dizer que nós não as

façamos sempre que isso seja pertinente.” (E3)

“Partindo de assuntos que eu sei que são do interesse deles ou por

exemplo… Um exemplo mais concreto, esta semana para desencadear

uma atividade escrita comecei por lhes ler um livro intitulado “quando

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

eu for grande”. É um livro simples, que fala muito dos desejos que as

crianças geralmente têm. Pronto, comecei por puxar por assuntos que eu

sei que é do interesse das crianças, questões do imaginário, pôr-me ao

nível deles. Geralmente é assim puxar por assuntos que eu sei que por

norma lhes interesse, numa linguagem acessível sem grande

complexidade.” (E3)

“Acho que é mesmo o relacionamento com os miúdos, apostar em

materiais diversos, que eles adoram, e acho que é uma aprendizagem

muito diferente. Acho que é por aí que se deve apostar, materiais […]

visitas fora da escola ou… Basta sair um bocadinho das quatro paredes

que já é um ensino completamente diferente.” (E5)

“[…] nós tivemos a trabalhar os gráficos de barras com os meninos e eu

depois de pensar pensei – “mas isto não faz muito sentido” - porque eles

realmente não conseguiam ler gráficos, porque era uma coisa que eles

viam de vez em quando ou até porque não trabalhar os gráficos no

contexto do estudo do meio?! Ou em língua portuguesa, qualquer coisa.

Ou até eles fazerem um questionário e terem de trabalhar… Portanto,

acho que há muitas formas de estudar os conteúdos que estão no

programa e conseguir esses objetivos.” (E6)

“ […] a motivação é sempre importante, seja em que altura surgir. Eu

acho que os alunos tanto podem ser motivados, não diretamente pelo

professor, mas pelo meio que os rodeia, não é?! […] É fundamental para

nós conseguirmos termos sucesso naquilo que pretendemos fazer, não

é?! Ao fim e ao cabo se não houver motivação os alunos não se

entregam da mesma maneira, se calhar não vão aprender tanto.” (E1)

“Agora eu acho que o professor além de tentar criar essa motivação deve

fazer com que essa motivação continue. Portanto, os alunos também não

estarem à espera de uma coisa e o professor acabar por… Não por

desiludi-los, mas não ir ao encontro dessas expectativas que os alunos

têm. […] E mesmo tendo, por exemplo, níveis culturais ou

socioeconómicos semelhantes há diferenças muito significativas e,

portanto, as motivações são diferentes e às vezes é difícil fazer essa

gestão.” (E1)

“Lembro-me muito bem, numa aula de 2º ciclo de história ter contado

uma história para dar história, mas não pensei que ia dar uma história.

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

Só me apercebi disso no final, por acaso foi uma aula observada, quando

o meu supervisor me disse – “é tão giro ver-te a dar aulas porque parece

que estás a contar uma história” – e eu não tinha tomado consciência.

Depois fui a pensar para casa e realmente é verdade e é engraçado ver

como é que eles ficam presos, não é?!” (E2)

“Tem de haver ali sempre qualquer coisa que puxe por eles. Nós agora

no estágio tínhamos meninos que pura e simplesmente não liam […] ao

final de dois períodos que estão na escola ainda não leem nada, quer

dizer, já percebemos que o problema não é da aprendizagem, o problema

é da motivação para a leitura. E, portanto, tivemos de fazer o caminho

todo de novo, não é?! Vamos motivar para a leitura para então a

aprendizagem que eles supostamente já tiveram ter algum fruto. E, neste

momento, no final do terceiro período vêm-se certas diferenças. No final

de um período de intervenção percebemos essas diferenças. Portanto, os

meninos têm de estar motivados para aquilo que estão a fazer e nós

também.” (E2)

“Se os alunos não tiverem motivados […] Se ele estiver motivado, se

proporcionarmos momentos de aprendizagem mais motivadores, que

para eles sejam mais significativos, eu acho que isso por si só se

traduzirá num conhecimento mobilizável.” (E3)

“Os alunos têm as suas próprias personalidades, as suas próprias

características, capacidade, competências. Nós é que temos de adaptar a

eles [o programa curricular], de modo a que eles adquiram gosto, de

modo que eles adquiram motivação para os aprender.” (E3)

“[…] Pronto, partir sempre daquilo que é próximo dos alunos, de modo

a proporcionar aprendizagens significativas, de modo a que aquilo

falado seja mais significativo e só depois partir para conteúdos/conceitos

mais abrangentes. Mas tentar partir sempre daquilo que lhes é mais

próximo.” (E3)

“Nós podemos pegar naquilo [programa], ver os conteúdos que lá estão

e dá-los à nossa maneira, porque professores mais antigos com certeza

irão fazer de modo tradicional, tintim por tintim do modo como lá está

escrito. O programa também é flexível, não é uma coisa estanque […]”

(E3)

“Tarefas de investigação, as atividades práticas acho que são aquelas

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

que os estimulam mais, que eles se sentem mais motivados para fazer.

Porque eles ao puderem manipular o material, ao puderem mexer nas

coisas estão muito mais motivados.” (E4)

“Sim, [os alunos se interessam facilmente por aprender o que está

estabelecido no programa] e muitas vezes fogem um bocadinho disso,

põe muitas questões que nada têm a ver com o programa.” (E4)

“[…] eu a trabalhar os conteúdos que estão no programa levo-os a que

se interessem por esses mesmos conteúdos, não é?! É a maneira de

trabalhar, lá está. As estratégias que utilizamos para dar o que realmente

está no programa e que realmente temos que seguir porque tem de ser.

Mas a forma como isso acontece…” (E5)

“Nós tentámos, pelo menos na minha prática, eu e a minha colega de

estágio tentamos sempre recorrer a materiais que não são tão usados nas

salas, como os vídeos, tudo o que seja mais informatizado ou vistas de

estudo relacionadas com o tema, sair mesmo das quatro paredes da sala,

materiais palpáveis que não sejam só manuais. Nós recorremos muito

pouco aos manuais, também muito partiu da EE, não é?! De ver um

manual como um recurso e não como sistemático, mas tentamos fazer

muitos materiais. O estágio às vezes torna-se difícil pela quantidade de

materiais que nós fazemos, mas tentámos ir por aí, muitos materiais,

atividades em que eles participem, atividades de grupo, sair das quatro

paredes e ir para a biblioteca explorar um bocadinho dos recursos que as

escolas acabam por nos dar e hoje em dia as escolas têm muitos

equipamentos que por vezes esquecidos, não é?! Quadros interativos,

microscópios, as escolas já têm muita coisa que nós tentámos explorar e

utilizar tudo. Tentamos utilizar sempre tudo o que as escolas têm,

normalmente. Mas isso acaba por incentivar os alunos porque não estão

habituados a esse tipo de…” (E5)

“Acho que os alunos têm de estar, motivados para aprender e acho que a

aprendizagem pode levar à motivação. Se eu não tiver estratégias

adequadas, se os alunos não gostarem das aulas, método ou estratégias

que eu estou a utilizar, se calhar cabe-me a mim tentar arranjar

estratégias para que eles depois se motivem à aprender […]” (E5)

“[…] Nós, professores, temos todos os instrumentos para fazer com que

essa aprendizagem seja realmente motivante e significativa para eles. E

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

nota-se muito, com o tipo de atividades que nós proporcionamos eles

conseguem estar mais atentos, mais motivados para a atividade… […]

Principalmente nos estágios nós temos comprovado muito isso, porque

nós chegamos lá, os meninos estão habituados às aulas sempre iguais…

Nós chegamos lá e fazemos uma coisa diferente, eles próprios dizem –

“estou a gostar muito mais da escola; estou a gostar muito mais das

atividades” – é normal, porque acho que temos que estar sempre a

diversifica um bocado as coisas. É bom ter rotina, mas também é bom

diversificar um pouco as rotinas.” (E6)

“Sim, sim. Eu acho que existe muito hoje em dia o estigma – “isto é

muito difícil para estes meninos”- mas se calhar deviam pensar que

aquilo é um desafio para eles. Nós agora fizemos esse teste no estágio.

Nós trabalhamos as principais atividades produtivas portuguesas, só

que… Inicialmente estávamos a pensar abordar de uma forma normal,

nada de mais. Depois lembramo-nos e porque é que nós não lhes damos

mapas e gráficos, todos esses materiais que eles normalmente não

contactam, para eles fazerem… Eles fizeram uma notícia sobre isso,

recolheram dados e tudo. Mas depois começamos a ver os gráficos e

dissemos assim – “isto é muito difícil, eles nunca viram gráficos destes”

– depois pensamos – “e porque não?! vamos experimentar, também

estamos lá, nós ajudamos” – e foi das atividades que eles tiveram mais

interessados, mais motivados, perceberam lindamente e resultou

fantasticamente bem, o produto foi o que nós queríamos e as

competências que eles desenvolveram foram ótimas. […]” (E6)

“Acho que sim. Agora é claro que depende da maneira que os

conteúdos são abordados, não é?!” (E6)

“Eu acho que o principal é utilizar materiais diferentes, materiais

manipuláveis que eles adoram. [Para despertar o interesse dos alunos]”

(E6)

Conhecer o aluno Processo

“O facto de nós termos um período de observação e estarmos dentro da

sala e contactarmos com o meio natural deles, portanto, eles interagirem

uns com os outros, interagirem com o professor, nós também vamos

tendo noção, portanto, do grupo com o qual estamos a trabalhar. Claro

que no início temos uma noção um bocadinho diferente do que depois

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

nos vamos apercebendo.” (E1)

“[…] analisando processos” [Assim se conhece a turma] (E2)

Interagir

“Agora essa adaptação [de um dado ponto do programa à especificidade

da turma] eu acho que acaba por ser feita ao longo do tempo. Se calhar,

se for no início da nossa intervenção, ainda estamos naquele período em

que estamos a conhecer os alunos, se calhar, a adaptação… Nós

tentamos que seja ao máximo ou que vá ao máximo ao encontro das

potencialidades e fragilidades que esses alunos possam ter, não é?! E

tentamos organizar o trabalho nesse sentido, mas se calhar depois de

concluirmos a atividade percebemos que, se calhar, os alunos tem

dificuldades na expressão oral, então para a próxima vamos ter que

organizar uma atividade que vá mais nesse sentido; ou, se calhar, os

alunos tem facilidade na escrita, portanto, não precisávamos de pedir

que fizessem não sei o quê, podíamos dar um passo à frente. Portanto, eu

acho que há medida também que se vai desenrolando essa intervenção

nós também vamos aprendendo a adaptar esse ponto programático e os

conteúdos que vamos ter que abordar.” (E1)

“[…] contactando com as famílias, porque isso é uma coisa

importantíssima e contactar com as famílias não é fazer uma reunião no

final de cada período… É fazer atividades com as famílias, falar com os

pais, é ter disponibilidade para receber os pais na escola, é todas essas

coisas.” [Relativamente à questão como é que se conhece a turma] (E2)

“[…] conversas com os alunos […]”(E6)

Avaliação diagnóstica

“No início da nossa intervenção nós temos sempre que fazer uma

avaliação diagnóstica e esta avaliação diagnóstica passa não só por nós

aplicarmos atividades ou fichas de avaliação diagnóstica ou quer que

seja para avaliarmos conteúdos específicos e, portanto, sabermos em que

patamar é que os alunos estão, que dificuldades é que têm… Que

facilidades ou que potencialidades é que têm […]” (E1)

“Inicialmente antes de iniciar a prática realizo um diagnóstico das

aprendizagens, das competências sociais dos alunos, e em função dos

resultados apresentados, então aí defino o que trabalhar, como trabalhar

e de que forma o fazer. Defino se existem alunos com maiores

necessidades que careçam de medidas de diferenciação pedagógica.

Pronto, o meu botão de partida inicial, que até agora foi e que continuará

Anexo III – Grelha de análise das entrevistas

a ser, é sempre uma avaliação diagnóstica inicial, e a partir daí definir de

que modo é que agirei.” (E3)

“Com o percurso da EE, nós temos uma avaliação diagnóstica quando

chegamos às escolas. Durante umas semanas temos uma avaliação

diagnóstica. Nem sempre, se calhar, é o que devia ser porque não temos

tempo para tanto, não é?! A melhorar na prática, porque depois na

prática temos muito mais tempo para ir conhecendo os alunos e as suas

dificuldades e necessidades.” (E5)

“Ver o que eles são capazes de fazer quando fazem fichas, quando falam

connosco, mas mais na parte de aplicação, normalmente. [de modo a

identificar quais são as suas dificuldades] […] Eles aqui dizem que

devemos fazer a avaliação diagnóstica. No nosso caso, nós não fizemos

aproveitamos a da professora… A da professora não, nós já fomos no 3º

período, aproveitamos as avaliações do 1º e do 2º período, mais as do 2º

período, porque a professora achou que não fazia muito sentido estar a

fazer uma nova avaliação diagnóstica. Então, utilizamos aquilo que

sabíamos, aliás aquilo que eles já tinham feito. E como nós aqui ainda

não decidimos o que é que vamos dar, os professores dão-nos alguma

liberdade, mas não somos nós que chegamos lá e é assim – “vocês têm

dificuldades nisto vão ter que fazer isto”. Portanto, eles têm o programa

para cumprir e tivemos que, apesar de ter em conta a avaliação

diagnóstica, mas muitas das vezes os conteúdos nem estavam muito

interligados. […] Aquilo que eu aprendi aqui foi a avaliação diagnóstica,

por isso. Mas provavelmente em vez de a fazer só no início do ano,

como vemos no estágio, que é aquilo que a maioria dos professores faz,

faço na mudança de cada tema ou quando achar que é

necessário/pertinente fazer.” (E4)

“A partir de uma avaliação do contexto, contextualização.” [tenho em

conta a origem sociocultural dos alunos] (E4)