dissertacao de mestrado elias santos junior

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PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOCINCIAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS INSTITUTO CINCIAS EXATAS

IDENTIFICAO E ANLISE GEOAMBIENTAL DE PROCESSOS EROSIVOS EM UMA PORO DA REA URBANA DE MANAUS AM (BAIRROS CIDADE NOVA E MAUAZINHO)

ELIAS VICENTE DA CRUZ SANTOS JNIOR

Manaus 2002

ELIAS VICENTE DA CRUZ SANTOS JNIOR

IDENTIFICAO E ANLISE GEOAMBIENTAL DE PROCESSOS EROSIVOS EM UMA PORO DA REA URBANA DE MANAUS AM (BAIRROS CIDADE NOVA E MAUAZINHO)

Dissertao apresentada ao programa de Ps-Graduao em Geocincias da Universidade do Amazonas, como requisito parcial para obteno do Titulo de Mestre em Geologia. rea de concentrao: Geologia Ambiental.

Orientador: Prof. Dr. JOS DUARTE ALECRIM.

Manaus 2002

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ELIAS VICENTE DA CRUZ SANTOS JNIOR

IDENTIFICAO E ANLISE GEOAMBIENTAL DE PROCESSOS EROSIVOS EM UMA PORO DA REA URBANA DE MANAUS AM (BAIRROS CIDADE NOVA E MAUAZINHO)

Dissertao apresentada ao programa de Ps-Graduao em Geocincias da Universidade do Amazonas, como requisito parcial para obteno do Titulo de Mestre em Geologia. rea de concentrao: Geologia Ambiental.

BANCA EXAMINADORA Prof. Jos Duarte Alecrim, Dr. - Orientador Universidade Federal do Amazonas Prof. Dr. Hailton Luis Siqueira da Igreja Universidade Federal do Amazonas Prof. Dr. Antonio dos Santos Universidade Estadual do Amazonas

Manaus - 2002

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minha Me, por tudo.

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Santos Jnior, Elias Vicente da Cruz. Identificao E Anlise Geoambiental De Processos Erosivos Em Uma Poro Da rea Urbana De Manaus Am (Bairros Cidade Nova E Mauazinho)/ Elias Vicente Da Cruz Santos Jnior Manaus, 2002. 172p. (Dissertao de Mestrado). 1. Eroso Linear. 2. Geologia Urbana. 3. Geologia Ambiental. I. Ttulo CDU:550.8

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"O analfabeto do sculo XXI no ser aquele que no conseguir ler ou escrever, mas aquele que no puder aprender, desaprender e no fim aprender de novo." Alvin Toffer - Escritor Americano

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Agradeo Ao meu Orientador Prof. Dr. Jos Duarte Alecrim, pela orientao, incentivo e sugestes no andamento desta pesquisa. Aos amigos Armando Takaki, Fbio Fernandes, Rubia Raulino e Alberto Jovinape, Cuja colaborao na etapa de campo foi imprescindvel elaborao deste trabalho. Ao amigo Gegrafo Mauro Bechman, Pelas crticas e sugestes acerca do texto da dissertao Geloga Rosa Mariette Geissler - IPAAM, Pelo apoio e incentivo. Ao Prof. Dr. Hailton Igreja, Pelas sugestes no decorrer da Graduao, e por aceitar compor a Banca Examinadora desta Dissertao. Ao Prof. Dr. Antnio dos Santos, Por aceitar compor a Banca Examinadora desta Dissertao. A Maria Edna Costa - Bibliotecria do IPAAM Pelas sugestes na etapa de editorao da dissertao. Aos Amigos Sheyla, Tnia, Lucieth, Jackson, Eisner e Willian, Por toda ajuda, pacincia e principalmente pelo companheirismo nos momentos mais difceis. A todos que colaboraram direta ou indiretamente para a elaborao deste trabalho. CAPES pela concesso da Bolsa de Auxilio Financeiro E principalmente a minha famlia, pelos anos de pacincia.

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Sumrio DEDICATRIA................................................................................................................ Iv

AGRADECIMENTOS...................................................................................................... vii SUMRIO......................................................................................................................... viii LISTA DE FIGURAS........................................................................................................ ix LISTA DE TABELAS....................................................................................................... xii LISTA DE ABREVIATURAS.......................................................................................... xii I - RESUMO...................................................................................................................... 1 II- INTRODUO............................................................................................................ 2 1. CARACTERSTICAS GEO-AMBIENTAIS DA CIDADE DE MANAUS................ 4 2. METODOLOGIA DE TRABALHO:............................................................................ 25 3. ESTADO DA ARTE..................................................................................................... 27 3.1 - Definies de impactos ambientais, risco geolgicos e ambientais, eroso e reas inadequadas ocupao urbana............................................................................. 27 3.2 - Trabalhos aplicados relacionados ao tema estudado na cidade de Manaus e em outras regies do pas.................................................................................................. 44 3.3 - Notcias veiculadas nos jornais da cidade....................................................... 51 4. RESULTADOS E DISCUSSO................................................................................... 72 5. CONCLUSES............................................................................................................. 125 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.............................................................................. 129 ANEXOS........................................................................................................................... 137

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Lista de figurasFigura 01 Figura 02 Figura 03 Figura 04 Figura 05 Figura 06 Figura 07 Figura 08 Figura 09 Figura 10 Figura 11 Figura 12 Figura 13 Figura 14 Figura 15 Figura 16 Figura 17 Figura 18 Figura 19 Figura 20 Figura 21 Figura 22 Figura 23 Figura 24 Figura 25 Figura 26 Figura 27 Figura 28 Figura 29 Figura 30 Mapa de localizao da rea de estudo.............................................................................................. Mapa de evoluo da rea urbana da Cidade de Manaus.................................................................. Mapa das rea urbana e de expanso segundo a Lei no 279 de 05/04/95......................................... Mapa onde pode-se observar os limites propostos para a rea urbana e de transio da Cidade de Manaus.............................................................................................................................................. Mapa da Altura Mdia da Precipitao Anual (mm) (In: Nimer, 1991)........................................... Evoluo da precipitao pluviomtrica anual na regio de Manaus entre os anos de 1960 e 1999. Fonte: 1o Distrito Meteorolgico............................................................................................. Mapa de vegetao e ocupao urbana (Silva, 1999)........................................................................ Mapa de localizao da Bacia do Amazonas.................................................................................... Carta estratigrfica da Bacia do Amazonas (Vieira, 1999)............................................................... Modelo Neotectnico Atual da Amaznia (Fernandes, 2002).......................................................... Principais tipos de riscos ambientais (Cerri 1993; In: Augusto Filho,1999).................................... Impacto das gotas de chuva na superfcie do terreno........................................................................ Modelo conceitual para evoluo de voorocas................................................................................ Forma das voorocas (Ireland 1939; In: Vieira, 1998)...................................................................... rea de risco localizada no Bairro da Vila da Prata (Fonte: Jornal A Crtica, 27/04/2000)............. Vista parcial da vooroca localizada no final da rua 02 (Bairro Amazonino Mendes)..................... Vista parcial da vooroca localizada no final da rua 02 (Bairro Amazonino Mendes)..................... Vista parcial da vooroca localizada na Avenida Noel Nutels.......................................................... Sulcos e ravinas causados pelo escoamento superficial em uma rea sem vegetao...................... Vista panormica das voorocas formadas no terreno da Construtora Capital................................. Nesta se observa como est a rea atualmente.................................................................................. Vista parcial do Conjunto Nova Cidade............................................................................................ Eroso causada pelo escoamento superficial das guas de chuva em rea de aterro........................ Eroso causada pelo escoamento superficial das guas de chuva em rea de aterro........................ Stio 07 onde se observa o corte de um plat em degraus passando por um processo de estabilizao...................................................................................................................................... Outra vista do Stio 07 onde se observam os cortes em degraus em adiantado processo de estabilizao...................................................................................................................................... Nesta foto observa-se uma encosta que passou por processos de estabilizao localizada no Conjunto Nova Cidade...................................................................................................................... rea localizada na rua 83 do Conjunto Francisca Mendes 2 apresentando feies erosivas tipo sulcos e ravinas.................................................................................................................................. Vista da cabeceira da vooroca da rua 83, apresentado ramificaes causadas pelo controle estrutural da rea................................................................................................................................ Vista da rea onde ocorria a vooroca da rua 83............................................................................... 84 84 82 83 81 81 05 06 09 10 13 14 16 17 18 23 29 31 43 43 57 73 73 74 76 77 77 78 79 79

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Figura 31 Figura 32 Figura 33 Figura 34 Figura 35 Figura 36 Figura 37 Figura 38 Figura 39 Figura 40 Figura 41 Figura 42 Figura 43 Figura 44 Figura 45 Figura 46 Figura 47 Figura 48 Figura 49 Figura 50 Figura 51 Figura 52 Figura 53 Figura 54 Figura 55 Figura 56 Figura 57 -

Aps a abertura do prolongamento da Avenida Grande Circular na rea atrs do conjunto Francisca Mendes passou a ocorrer o desabamento dos taludes....................................................... Vista da vala aberta pelos moradores do loteamento localizado atrs do Conj. Francisca Mendes. Vista panormica da feio erosiva formada pelo escoamento de gua pela vala aberta pelos moradores.......................................................................................................................................... Nesta observa-se a ocorrncia de uma alcova de regresso, observar a heterogeneidade do material.............................................................................................................................................. Vooroca retilnea localizada no Conjunto Ribeiro Jnior............................................................... Observa-se a ocorrncia da pelcula de xido de ferro recobrindo os sedimentos da Formao Alter do Cho.................................................................................................................................... Vista parcial das feies erosivas controladas estruturalmente, observar a evoluo segundo duas direes preferenciais........................................................................................................................ Vista parcial de uma das voorocas remanescentes na rea descrita acima...................................... rea onde foi construdo o campo de futebol................................................................................... Vista parcial da vooroca localizada ao lado do C.F.P. Nedite Oliveira Jezine................................ Nestas destacam-se as feies estruturais observadas na rea estudada........................................... Destacam-se as direes observadas na rea..................................................................................... Foto onde se observa o recalque do material localizado na cabeceira da vooroca.......................... Foto onde se observa como encontra-se a rea atualmente............................................................... Nesta observa-se o horizonte argilo-arenoso do topo. Detalhe do material que compe a base da feio erosiva, composto por sedimentos areno argilosos da Formao Alter do Cho............................................................................................... Grfico demonstrando o percentual de cada frao granulomtrica analisada da amostra dos sedimentos do topo do terreno........................................................................................................... Grfico demonstrando o percentual de cada frao granulomtrica analisada da amostra dos sedimentos da base da vooroca........................................................................................................ Aps o retaludamento da encosta em outubro de 1999, foi construda uma tubulao para esgotamento das guas pluviais e servidas........................................................................................ Vooroca originada devido o rompimento da tubulao de esgoto construda de forma inadequada......................................................................................................................................... Pedestais formados por eroso diferencial no interior da vooroca.................................................. Escamas formadas pela acumulao de areia fina e argila sobre os degraus da vooroca................ Duto formado pelo escoamento de gua subsuperficial.................................................................... Alcova de regresso formada a partir do escoamento superficial..................................................... Marmita escavada na base do anfiteatro da vooroca....................................................................... Poa de ressurgncia, indicando uma rea de ressurgncia do lenol fretico................................. Fotomontagem onde se observa parte da vooroca localizada atrs do C.F.P. Nedite O. Jezine..... 96 97 97 98 98 99 99 100 95 94 94 93 88 89 89 90 91 91 92 92 93 88 88 86 87 85 86

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Figura 58 Figura 59 Figura 60 Figura 61 Figura 62 Figura 63 Figura 64 Figura 65 Figura 66 Figura 67 Figura 68 Figura 69 Figura 70 -

Cabeceira da vooroca onde possvel observar que a vegetao foi queimada, o que pode ocasionar a acelerao da evoluo da inciso erosiva..................................................................... Nesta rea localizada na rua B do Conjunto Canaranas havia uma vooroca que sofreu ao de conteno.......................................................................................................................................... Nesta observa-se o significativo avano da feio erosiva............................................................... Vista da vooroca formada pela gua que escoa pela escada de dissipao..................................... Uma imagem mais recente da rea demonstra a evoluo da vooroca............................................ Outra imagem da vooroca onde pode se perceber que as encostas so bem ngremes.................. Marmita escavada em um degrau do anfiteatro da vooroca............................................................ Contato entre o material utilizado no aterro e a base original........................................................... Grficos demonstrando o percentual de cada frao granulomtrica analisada das amostras dos sedimentos do topo e da base do aterro............................................................................................. Queda em blocos caracterstica de voorocas................................................................................... Degraus e escamas formados pela acumulao de areia fina e argila atravs da ao do escoamento superficial...................................................................................................................... Estrias em uma das paredes da vooroca formada possivelmente pelo atrito ocasionado pelo deslizamento dos blocos de sedimentos em um plano inclinado...................................................... Quando da realizao das obras de conteno da eroso existente na rua B do Conj. Canaranas, desviou-se o cano de escoamento de guas pluviais e esgoto para o final da referida rua, esta ao ocasionou a formao de uma nova vooroca........................................................................... 107 106 106 105 105 102 102 103 103 104 104 104 100

Figura 71 -

Nesta imagem obtida em 20/07/2002, observa-se que o muro que foi construdo com o objetivo de conter o escoamento da gua superficial em direo da vooroca havia sido destrudo pelo avano da eroso................................................................................................................................ 107 108 109 110 111 112 113 113 114 114

Figura 72 Figura 73 Figura 74 Figura 75 Figura 76 Figura 77 Figura 78 Figura 79 Figura 80 -

Outra vista do stio 19 onde nota-se o cano de escoamento de guas pluviais e servidas que gerou a vooroca.......................................................................................................................................... Aqui observa-se que aumentou consideravelmente a quantidade de lixo dentro do anfiteatro da vooroca............................................................................................................................................ Placa fixada na borda da vooroca do final da rua B do Conj. Canaranas, at o momento a nica ao do poder pblico na rea........................................................................................................... Vala construda para escoamento das guas pluviais e servidas, na rua 60 do Loteamento Alfredo Nascimento........................................................................................................................................ Vista frontal da vooroca formada pelo escoamento superficial concentrado.................................. Vista parcial do stio localizado na rua 180 do ncleo 15 da Cidade Nova 3................................... Nesta imagem mais recente observa-se que foi removida uma parte da base deste afloramento..... Nesta observa-se uma falha geolgica.............................................................................................. Vista parcial de outra parte deste afloramento, onde destaca-se a grande quantidade de material que deslizou encosta abaixo..............................................................................................................

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Figura 81 Figura 82 Figura 83 Figura 84 Figura 85 Figura 86 Figura 87 Figura 88 -

Outra vista do afloramento, nesta observa-se as feies erosivas ao longo da encosta.................... Grficos demonstrando o percentual de cada frao granulomtrica analisada das amostras dos sedimentos do topo e da base da encosta........................................................................................... Nesta foto observa-se uma casa prxima a borda da vooroca......................................................... Aqui se observa a inclinao de 37 da encosta adjacente a vooroca............................................. Casa reconstruda aps ser parcialmente destruda pelo avano da eroso....................................... Nesta possvel observar como encontra-se a rea descrita acima atualmente................................ Nesta foto observa-se o cano de esgoto responsvel pelo aceleramento da eroso.......................... Nesta pode se observar a ocorrncia das trincas e fraturas prximo a borda da vooroca................

115 115 118 118 120 120 121 121

Lista de tabelasTabela 01 Tabela 02 Contagem da Populao 1996 e Censo Demogrfico 2000 (Fonte: IBGE)..................................... 07 11 28 122

333 anos de expanso urbana. (Fonte: Jornal A Crtica, ed. 11/97/98, 26/12/99 e 30/06/2002, com modificaes)............................................................................................................................. Alguns conceitos bsicos e respectivos termos em ingls utilizados no gerenciamento de riscos Tabela 03 ambientais e geolgicos (modificado de Zuquette 1993 e Ogura 1995 In: Augusto Filho, 1999).... Sntese da discusso dos resultados obtidos com a descrio, localizao, problemas observados Tabela 04 e sugestes de medidas mitigadoras para cada stio estudado...........................................................

Lista De AbreviaturasCAPES COMCEC CONAMA CPRM CREA IPAAM IPT PDUA SEDEMA SUHAB UFAM - Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior - Comisso de Defesa Civil - Conselho Nacional de Meio Ambiente - Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais - Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - Instituto de Proteo Ambiental do Amazonas - Instituto de Pesquisa e Tecnologia - Plano Diretor Urbano e Ambiental - Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Meio Ambiente - Superintendncia de Habitao do Amazonas - Universidade Federal do Amazonas

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I - RESUMO:A cidade de Manaus nos ltimos 35 anos tem sofrido um processo de intensa expanso de sua rea urbana, tal fato deve-se principalmente ao fluxo migratrio originado pela implantao da Zona Franca de Manaus. Este crescimento acelerado ampliou a rea urbana da cidade de Manaus, que em 1967 era de aproximadamente 1.600 hectares, para acima de 26.000 hectares nos dias de hoje, acarretando uma exploso populacional acima das demais capitais do pas, passando de 200 mil habitantes em 1965 para acima de 1.500 milho de habitantes. A expanso acelerada associada crise econmica instalada no final da dcada de 80, que gerou a diminuio de empregos nas indstrias da Zona Franca, vem ocasionando a ocupao urbana de reas inadequadas esse fim, tais como: plancies de inundao, leito de igaraps e encostas de plats; estes locais apresentam-se como reas de risco potencial, haja vista o alto ndice pluviomtrico da regio que acarreta a acelerao dos processos erosivos a partir da retirada da cobertura vegetal, o que pode ocasionar a gerao de voorocas e deslizamentos, alm do assoreamento de igaraps provocando inundaes, que aliadas a carncia de saneamento bsico e a falta de infra-estrutura adequada para a instalao de adensamentos populacionais, constitui-se em fatores geradores de degradao ambiental urbana. Este trabalho tem por objetivo especfico identificar reas de risco geoambiental nos bairros Cidade Nova e Mauazinho, determinar o grau do risco, os agentes causadores desses riscos, assim como propor medidas preventivas e/ou mitigadoras aos impactos causados por essa ocupao. Nesta pesquisa foram identificadas 23 reas de riscos geo-ambientais, sendo 20 localizados no bairro da Cidade Nova, 1 na Comunidade Alfredo Nascimento e 1 no bairro Mauazinho, dos quais todos sofreram acelerao devido a interveno humana. Destas, 9 foram classificadas como de alto risco geo-ambiental, 13 de risco mdio e somente 1 (Ponto 21) foi considerado de baixo grau de risco geo-ambiental.

Palavras chaves: reas de risco geo-ambiental; Ocupao Urbana; Processos Erosivos.

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II - INTRODUO:O Brasil apesar de representar uma das maiores economias mundiais, possui uma pssima distribuio de renda, com grandes concentraes de riquezas nas mos de uma minoria. Com a crise econmica esta discrepncia tem se acentuado cada vez mais. Num pas com um grande dficit habitacional e com mais de 70% de sua populao morando em cidades, observa-se como conseqncia o surgimento de favelas, bem como a expanso das j existentes. Tais ocupaes instalam-se em reas muitas vezes imprprias para ocupao, como os fundos de vale e morros, onde so freqentes acidentes com inundaes e escorregamentos respectivamente, ocasionando muitas perdas econmicas e de vidas humanas. Da forma como ocorre a ocupao, com a remoo da cobertura vegetal, h um aumento da eroso gerando uma maior quantidade de sedimentos que iro depositar-se e obstruir as drenagens urbanas e assorear crregos, rios e lagos, trazendo consigo problemas de enchentes para as cidades nos perodos de chuva, aumentando as despesas dos municpios com a manuteno da rede de guas e pluviais e a necessidade de obras de dragagem (Silva et al., 1994). A cidade de Manaus nos ltimos 35 anos tem sofrido um processo de intensa expanso de sua rea urbana, tal fato deve-se ao fluxo migratrio originado pela implantao da Zona Franca de Manaus. Num processo comum maioria das cidades de maior porte da Amaznia, a ocupao da rea urbana de Manaus sofreu os efeitos da especulao imobiliria, em especial das reas nobres, expulsando a populao mais pobre para a periferia (baixadas e reas deficientes em infra-estrutura urbana), gerando conflitos por terras urbanas, invases e grilagens (Moura et al., Apud Kitamura, 1994). Este crescimento acelerado ampliou a rea urbana da cidade de Manaus, que em 1967 era de aproximadamente 1.600 hectares, para acima de 26.000 hectares nos dias de hoje, acarretando uma exploso populacional acima das demais capitais do pas, passando de 200 mil habitantes em 1965 para acima de 1.500 milho de habitantes. De acordo com Santos Jnior (2000), esta expanso acelerada associada crise econmica instalada no final da dcada de 80, que gerou a diminuio de empregos nas indstrias da Zona Franca, vem ocasionando a ocupao urbana de reas inadequadas esse fim, tais como: plancies de inundao, leito de igaraps e

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encostas de plats; estes locais apresentam-se como reas de risco potencial, haja vista o alto ndice pluviomtrico da regio que acarreta a acelerao dos processos erosivos a partir da retirada da cobertura vegetal, o que pode ocasionar a gerao de voorocas e deslizamentos, alm do assoreamento de igaraps provocando inundaes, que aliadas a carncia de saneamento bsico e a falta de infra-estrutura adequada para a instalao de adensamentos populacionais, constitui-se em fatores geradores de degradao ambiental urbana. A ocorrncia de problemas ambientais causados pela ocupao de rea inadequadas comum em toda a rea urbana de Manaus, porm nesta pesquisa delimitou-se como rea de estudos os bairros Cidade Nova (Zona Norte) e Mauazinho (Zona Leste). As zonas norte e leste so atualmente os principais eixos de expanso da cidade de Manaus. A escolha do bairro Cidade Nova como rea de estudos deve-se ao fato do mesmo conciliar adensamentos urbanos planejados com adensamentos urbanos provenientes de invases, e o bairro do Mauazinho por ser eminentemente oriundo da ocupao espontnea, propiciando com isso a ocorrncia de processos erosivos de origem natural, induzida e/ou mista, que podero ser observados em todas as etapas, desde as feies mais simples (sulcos), at as mais complexas (voorocas)., assim como toda gama de problemas geo-ambientais ocasionados pelo eroso do solo. Este trabalho tem por objetivo especfico identificar reas de risco geoambiental nos bairros Cidade Nova e Mauazinho, determinar o grau do risco, os agentes causadores desses riscos, assim como propor medidas preventivas e/ou mitigadoras aos impactos causados por essa ocupao.

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1. CARACTERSTICAS GEO-AMBIENTAIS DA CIDADE DE MANAUSA rea Urbana: A cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas, est localizada na margem esquerda do Rio Negro, prximo a confluncia deste com o Rio Solimes, onde a partir da passam a formar o Rio Amazonas. o centro econmico e cultural do estado, para onde fluem os fluxos migratrios oriundos do interior e demais estados do Brasil. (Figura 01). Os primeiros povoadores da regio onde se localiza a cidade de Manaus foram os ndios Tarums, seguidos pelos grupos dos Bars, Pacis, Banibas e Muras (Bento, 1998), porm somente a partir de 1665 com a interveno de Portugal surgiram as primeiras habitaes de no indgenas na rea onde atualmente se encontra o stio urbano de Manaus. Durante os 335 anos de ocupao da cidade de Manaus, vrias fases de evoluo da rea urbana podem ser evidenciadas (figura 02), entre as quais destacam-se as compreendidas entre 1669-1840, 1840- 1955 e por ultimo a fase iniciada em 1955 at os dias atuais. Na fase compreendida desde a fundao de Manaus (1665) at 1840 (incio da explorao de produtos florestais), a cidade apresentou pequenas modificaes na fauna e flora local, devido a lenta expanso urbana (Vieira, 1998). No ano de 1786, o povoado da Barra (antiga denominao da cidade de Manaus), possua uma populao de 301 moradores distribudos em 40 casas, dos quais 47 eram brancos, 243 ndios e 11 escravos. O lugar da Barra passa categoria de Vila atravs do Decreto de 13 de novembro de 1832, com a denominao de Manaus (Bittencourt, 1969; In: Bento, op. Cit.). A Segunda fase de evoluo de Manaus, compreende o perodo de 1840 1955. Nessa fase, a Vila de Manaus foi elevada categoria de Cidade (1848) com a denominao de Cidade da Barra do Rio Negro, a qual passa a ser a capital da Provncia do Amazonas em 1852, tendo como primeiro governador Joo Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, onde a partir desta data, a cidade sofre uma transformao radical passando do ruralismo ao urbanismo.

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No governo de Eduardo Ribeiro (1892 a 1896), o estado do Amazonas (criado aps a instalao da Republica Federativa em 1889) sofre grande evoluo, principalmente em sua capital, a qual passa ser dotada de pontes metlicas e de pedras, nivelamento das ruas, abertura de largas avenidas, aterro de igaraps, rede de bondes, reservatrios de gua (Castelhana e Moc) e calamento das ruas com paraleleppedos, alm da construo de casas de espetculos. Essa era a poca urea da borracha, responsvel pela economia prspera do estado baseada no extrativismo do ltex das seringueiras, at o declnio em 1920, causado pela competio com a borracha produzida na sia. A grande massa de trabalhadores desempregados da atividade extrativista, concentraram-se s margens dos igaraps prximos ao centro da cidade e do cais do porto, dando origem a Cidade Flutuante, Bairros do Educandos e Santa Luzia. Em 1840 a cidade passa a expandir rumo a oeste, com a formao do Bairro do So Raimundo e posteriormente dos bairros da Glria e Santo Antnio. A terceira fase, iniciada em 1955, estende-se at os dias atuais, destaca-se a interiorizao da cidade em direo ao norte e nordeste com a urbanizao da Vila Municipal. No ano de 1965 a rea urbana contava com 200 mil habitantes; a construo do estaleiro Estanave ocasionou as invases que culminaram na criao do Bairro da Compensa. Em 1967, com a implantao da Zona Franca de Manaus, atravs de Decreto-Lei no 288 de 28 de fevereiro, a cidade passou a sofrer um processo de urbanizao bem acima da mdia da outras cidades do pas, resultando no aumento da populao, que correspondia aproximadamente 310 mil habitantes para um pouco menos de 1,5 milho em 2000. (Tabela 01). Tabela 01 - Contagem da Populao 1996 e Censo Demogrfico 2000 (Fonte: IBGE).Populao residente Unidades da Cdigo Taxa de Em Em 01.08.2000 (2) Federao e da UF e crescimento 01.08.1996 Municpios Municpio anual (3) Total Homens Mulheres Urbana Rural (1) Amazonas 130000 2389279 2840889 1427031 1413858 2108478 732411 4.42 Manacapuru 130250 65577 73304 37518 35786 47270 26034 2.82 Manaquiri 130255 17311 12558 6603 5955 4053 8505 -7.71 Manaus 130260 1157357 1403796 683991 719805 1394724 9072 4.94 Maus 130290 36628 39978 20759 19219 21124 18854 2.21 (1) Redistribuio da populao de acordo com a diviso territorial vigente em 1o de agosto de 2000. (2) Resultados preliminares. (3) Taxa mdia geomtrica de incremento anual da populao brasileira.

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Porm com o desaquecimento econmico resultado das constantes crises enfrentadas pela unio, associadas a abertura s importaes imposta pelo Governo Federal no incio da dcada de noventa, a regio passou a sofrer um processo de estagnao no comrcio da Zona Franca, ocasionando o fechamento de postos de trabalho, aumentando consequentemente o nmero de desempregados, agravando cada vez mais a situao da populao da cidade de Manaus. Esta situao complicou-se mais aps a desvalorizao do Real em janeiro de 1999. Os limites atuais das reas Urbana e de Expanso Urbana, foram estabelecidos atravs da Lei no 279 de 05 de abril de 1995, publicada no Dirio Oficial no 28.168 de 06 de abril de 1995, sendo constitudas de aproximadamente 430,305 e 10.723,50 km2 respectivamente (Bento, 1998.) (figura 03). Atualmente encontra-se em discusso o novo Plano Diretor Urbano e Ambiental (PDUA) da Cidade de Manaus, que define que o permetro urbano do Municpio de Manaus corresponde a delimitao da rea Urbana e da rea de Transio. Segundo o Plano Diretor Urbano e Ambiental da cidade de Manaus, a rea urbana limita-se ao sul pela margem esquerda dos rios Negro e Amazonas, segue a leste, a partir da margem esquerda do rio Amazonas, pelo divisor de guas das bacias do rio Puraquequara e do igarap do Aleixo, por este divisor at encontrar o novo limite oficial do Distrito Industrial II seguindo por este, na direo norte, at reencontrar o divisor de guas do rio Puraquequara e por este at o limite sul da Reserva Florestal Ducke, deste ponto segue no sentido oeste-norte pelo contorno da Reserva Ducke at o divisor de guas das bacias dos igaraps da Bolvia e do Mariano e seu prolongamento at encontrar a oeste a margem esquerda do igarap Tarum-Au e por esta seguindo at sua foz no rio Negro. A rea de Transio1, situada no entorno dos limites da rea Urbana, destinada abrigar atividades agrcolas e ocupao urbana de baixa densidade, onde sero incentivadas atividades ecotursticas.

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No PDUA da cidade de Manaus a antiga rea de Expanso Urbana passa ser denominada rea de Transio.

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2 5 0

rea de Expa ns o Urba na

Reserva Duc k

3 0 0 rea Urba na

100

R io

Ne

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6 0 0 0

Figura 03 Mapa das rea urbana e de expanso segundo a Lei no 279 de 05 de abril de 1995. A rea de Transio definida a partir do ponto de encontro entre o limite da rea Urbana e o rio Amazonas, pela margem deste, segue no sentido leste at o rio Puraquequara, seguindo por sua margem oeste, por esta at encontrar o divisor de guas que define a bacia do igarap do Mariano e a bacia do igarap do Leo, seguindo por este divisor e por seu prolongamento no sentido oeste at a margem do igarap do Tarum-Au e por esta margem, no sentido sul at encontrar o igarap Mariano, deste ponto atravessa o igarap do Tarum-Au at o ponto situado na confluncia do Tarum-Au com o igarap da margem oposta, segue por este, no sentido oeste, at o segundo igarap na margem sul, por este e por seu prolongamento at o igarap do Acuaru e por este at o rio Negro, seguindo pela margem deste, no sentido leste, at a foz do igarap Tarum-Au, seguindo por este, no sentido norte, at o ponto de encontro do limite da rea Urbana com o igarap Tarum-Au, seguindo pelo limite da rea Urbana at o ponto inicial. (Figura 04).

10

11

Na tabela 02 ser apresentada uma sntese da evoluo urbana da cidade de Manaus. Tabela 02 333 anos de expanso urbana. (Fonte: Jornal A Crtica, ed. 11/97/98, 26/12/99 e 30/06/2002, com modificaes).1665 1848 1853 Interveno de Portugal chegando s terras amaznicas, no corao da tribo dos Manas. D-se o nome de Lugar da Barra Habitaes: 46 unidades sendo 36 de ndios. A Vila da Barra do Rio Negro recebe o titulo de Cidade (Lei no 145, da Assemblia Provincial do Par) e passa a chamar-se Cidade da Barra do Rio Negro. O Parlamento Imperial cria a provncia do Amazonas. A cidade se expandia pelas poucas ruas estreitas, prximas Matriz e um pequeno porto para exportao de produtos de extrao vegetal para Belm. Aos poucos, a populao ocupa as reas ao longo do rio e em direo ao Norte. 1856 A Cidade da Barra do Rio Negro torna-se capital da Provncia do Amazonas e recebe o nome de Manas, em homenagem tribo do cacique Ajuricaba. A localidade contava com aproximadamente 4 mil habitantes, duas igrejas, uma praa e dezesseis ruas ainda por calar e iluminar. 1902 1910 Comea a ser construdo o Porto de Manaus em substituio ao cais da Imperatriz da Provncia e aos antigos trapiches Villeroy e Teixera. A euforia econmica, trazida pelo enriquecimento rpido de alguns comerciantes, repercute na orientao do assentamento residencial. A mudana dos hbitos e dos valores culturais so revelados no tipo de habitao dessa sociedade. A preferncia por reas que apresentam melhores condies topogrficas e contguas ao centro urbano, leva a ocupar a avenida Joaquim Nabuco, antiga Estrada da Cachoeira, deixando alguns vazios de difcil urbanizao. 1920 Com a entrada de produtos asiticos no mercado mundial a economia regional sofre retrao ocasionando declnio no crescimento demogrfico. Os comerciantes, por mudarem a explorao extrativista, provocam o desemprego em massa, ocasionando a concentrao dessa populao s margens dos igaraps que tangenciam o porto e o mercado. A saturao de reas disponveis ao assentamento residencial na periferia do centro levou construo de casaspalafitas, que formaram, a "cidade flutuante", junto ao igarap do Educandos. 1940 1954 1965 Expanso para o setor oeste, no igarap da Cachoeira (igarap de So Raimundo). O Bairro So Raimundo surge com caractersticas de servios de transporte hidrovirio. Interiorizao em direo ao Norte e ao Nordeste com a urbanizao da Vila Municipal caraterizada por grandes terrenos, utilizados para implantao de chcaras. A rea urbana contava com 200 mil habitantes. Na Zona Oeste d-se a implantao do estaleiro Estanave. Determinando as invases que consolidaram o bairro da Compensa.

12 1967 Zona Franca, livre comrcio de importao e exportao, incentivos fiscais, tudo com a finalidade de criar um centro industrial, comercial e agropecurio dotado de condies econmicas que permitissem o desenvolvimento do Norte do Pas. A ocupao do solo d-se principalmente para o sentido Norte, onde se iniciam as construes dos conjuntos residenciais, de forma a atender a demanda do grande contingente populacional proveniente de todo o Pas. As reas margem do rio so estrategicamente ocupadas. 1995 efetivada a setorizao da rea urbana totalizando 377 quilmetros quadrados, com a delimitao dos bairros. A populao estimada em 1,2 milhes de habitantes, com crescimento de 5,4% ao ano. 1999 A cidade cresce de maneira progressiva, com a populao ultrapassando 1,5 milho de pessoas. Nas zonas norte e leste proliferam bairros. A ZFM est em decadncia, evidenciada pelo fechamento de inmeras lojas de produtos importados no centro da cidade, e de vrias empresas no Distrito Industrial. 2002 Plano Diretor promete mudar a cara de Manaus A aprovao do Plano Diretor Urbano e Ambiental (PDUA) da Cidade de Manaus, vai dar nova forma cidade em alguns aspectos. Destaca-se a verticalizao da orla fluvial de reas das Zonas Oeste e Centro-oeste, a proteo dos mananciais e regras estabelecendo os limites da cidade.

Clima: De acordo com Romero (1988; In: Bento, 1998) para a constituio do clima, atuam fatores climticos globais e locais, alm de elementos climticos. Os fatores climticos globais so: a radiao solar, latitudes e longitudes, altitudes, sistemas de ventos, massas de gua e terra, os quais determinam e originam o clima. Os fatores climticos locais, que do origem ao microclima so: topografia, vegetao e a superfcie do terreno (se natural ou construdo). Os elementos climticos so: precipitao, temperatura, umidade do ar e movimento de massas de ar. Os elementos e fatores acima citados, atuam conjuntamente, onde cada um deles resultado da conjugao dos demais. Segundo a classificao por zonas trmicas de Kppen (In: Bento, 1998), na regio de Manaus, distinguem-se dois tipos climticos: Af e AMW, o primeiro tipo corresponde ao clima de florestas tropicais cuja temperatura e precipitao apresentam pouca variao durante o ano, mantendo-se em um nvel elevado e constantemente mido. O segundo tipo climtico caracteriza-se por apresentar umidade suficiente para sustentar a floresta tropical, com uma estao seca de pouca amplitude.

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Precipitao: A precipitao mdia anual na Amaznia varia de 2.000 a 3.600mm. Porm estas chuvas no so distribudas de forma uniforme durante o ano. Manaus apresenta uma precipitao aproximada de 2.300 mm ao ano, sendo que o perodo chuvoso corresponde aos meses de janeiro a junho (inverno), enquanto que o vero ocorre de julho a dezembro. No inverno as chuvas so abundantes, ocasionando o transbordamento dos igaraps que cortam a cidade de Manaus, acarretando prejuzos de ordem material, e em alguns casos com vtimas fatais.

Figura 05- Mapa da Altura Mdia da Precipitao Anual (mm) (In: Nimer, 1991).

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Pluviosidade: Com base em dados pluviomtricos coletados entre 1960 e 1999 pelo 1o Distrito Meteorolgico na cidade de Manaus, verificou-se que a evoluo anual da precipitao pluviomtrica variou de no mnimo 1304,5 mm no mximo 3113,4 mm.

3500 3000 mm de chuva 2500 2000 1500 1000 500 060 63 66 69 72 75 78 81 84 87 90 93 96 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 99

Anos

Figura 06 - Evoluo da precipitao pluviomtrica anual na regio de Manaus entre os anos de 1960 e 1999. Fonte: 1o Distrito Meteorolgico.

Temperatura: Na cidade de Manaus a temperatura mdia de 25,6o C, e a diferena entre o ms mais quente e o ms mais frio de apenas 4 C (Wagley, 1997; In: Bento, 1998). A temperatura mdia registrada nas estaes meteorolgicas de Manaus superior a 26 C, onde os meses mais quentes so entre agosto e novembro cuja temperatura concentra-se em torno de 28 C. Ainda segundo esse autor, a cobertura do cu (nebulosidade) mais proeminente durante os meses de janeiro a maio na cidade de Manaus, meses esses correspondentes ao inverno (Bento, 1998).

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Vegetao: De acordo com Bohrer & Gonalves (1991), a vegetao da Amaznia est inteiramente inserida na Zona Neotropical, cujo sistema ecolgico vegetal apresentase adaptado a um clima atual definido essencialmente pela temperatura mdia em torno de 25o C e pelas chuvas distribudas ao longo do ano. A vegetao que predomina na cidade de Manaus recebe vrias denominaes, tais como: Floresta Ombrfila Densa, Floresta Densa Tropical mida, Floresta Equatorial ou Floresta Pluvial Tropical Latifoliada (Vieira 1998). Sioli (1991; In:Vieira, 1998) destaca que essa vegetao tem o solo apenas como ponto de fixao mecnica e no como fonte de nutrientes. Nava (1999) descreve que na cidade de Manaus so comumente encontradas as espcies vulgarmente conhecidas como cupiba, jarana, amap, morotot, paric, piqui, sapucaia, pracuba, matamat, acariquara, etc. Com a expanso acelerada da cidade de Manaus, existe uma tendncia em retirar-se a cobertura vegetal quando da ocupao do territrio, ocasionando com isso o aumento da temperatura local, a intensificao dos processos erosivos, oriundas da ao direta da gua da chuva com o solo, alm de doenas como Leshimaniose e malria, transmitida por mosquitos. Na figura 07 pode-se observar o estgio em que se encontrava a ocupao do territrio da cidade de Manaus no ano de 1995, ressaltando que passados 7 anos da obteno da imagem de satlite da qual foram extradas as informaes , o panorama encontra-se sensivelmente agravado, resultado das constantes ocupaes do territrio. Relevo: A cidade de Manaus est localizada no Planalto Dissecado Rio Trombetas Rio Negro, apresentando relevo de interflvios tabulares e colinas, com altimetria mxima em torno de 100 metros. O posicionamento da cidade de Manaus sobre os interflvios tabulares facilita a ocupao humana, tanto para a construo de moradias, como para a construo de portos, nas falsias ( 15 metros de desnvel) formadas pelo Rio Negro, j que grande parte do transporte regional realizado por meio fluvial (Bento, op.cit.).

16

N

LE G E N DArea de intensa ocupao urbana, consolidada, m ais antiga, bairros centrais. Loteam entos regulares e edifcios. rea de dom nio de floresta tropical de terra firm e e/ou floresta de vrzea; nas m anchas em rea urbana j se denota degradao da vegetao natural. Inclui as seguintes reas verdes urbanas: (1) Cam pus Universitrio; (2) SES I; (3) INPA (4) Reserva Duque; (5) Parque do M indu; (6) CIG S . reas de ocupao urbana, no consolidadas, m ais recentes, bairros perifricos. Inclui reas com uso essencialm ente agrcola, cam pos de vrzea. Lagos Estrada pavim entada

Pista de pouso de aeroportos

Figura 07 - Mapa de vegetao e ocupao urbana, extrado a partir da imagem TM/LANDSAT-5, WRS 231/062, adquirida em 20/09/95, com aplicao das principais tcnicas de processamento digital de imagens (SILVA, 1999).

1 9 9 9 SILVA, W.S.B.

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Aspectos Geolgicos: A Bacia do Amazonas A Bacia do Amazonas, na qual est inserida a Formao Alter do Cho, unidade sobre a qual est edificada a cidade de Manaus, uma sinclise intracontinental (Castro et al. 1988), desenvolvida sobre a Provncia Estrutural Amaznia (denominao proposta por Lima em 1994, para as Provncias Tapajs e Rio Branco de Almeida, 1977), possui um prisma sedimentar de 5.000 metros, em uma rea com cerca de 500.000 km2, tendo como limite oeste o Arco do Purs, enquanto que a leste limita-se com o Arco do Gurup (Figura 08). A origem da Bacia do Amazonas est relacionada a disperso de esforos no fechamento do Ciclo Proterozico Brasiliano (Neves, 1989; In: Cunha et al. 1994). O registro sedimentar e gneo da Bacia do Amazonas reflete os eventos tectnicos paleozicos ocorrentes na borda oeste da pretrita placa gondunica e da trafogenia mesozica do Atlntico sul, da ao destes eventos resultou a formao dos arcos de grande porte, discordncias regionais, e o controle das ingresses e regresses marinhas que influenciaram os ambientes deposicionais (Cunha et al., op. cit.), (Figura 09).

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Figura 08 - Mapa de localizao da Bacia do Amazonas (modificado de Wanderley Filho & Costa 1991, In: Vieira, 1999).

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Figura 09 - Carta estratigrfica da Bacia do Amazonas (Cunha et al.1994, modificado por Vieira, 1999).

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19

Formao Alter do Cho A Formao Alter do Cho (Grupo Javar), possui uma espessura mxima de 1.200 metros, estimada com base em uma coluna estratigrfica elaborada por Andrade & Cunha (1971; In: Franzinelli & Piuci, 1988), representa o 4o ciclo deposicional da Bacia do Amazonas (Seqncia Cretcea-Terciria), ocupando os espaos criados em conseqncia do soerguimento dos Andes (Orogenia Andina) (Cunha et al., op. cit.). As primeiras referncias aos arenitos aflorantes na regio do baixo Amazonas devem-se a Katzer (1898; In: Souza, 1974). Albuquerque (1922), denominou Arenito Manaus os corpos de arenitos silicificados e ferruginosos aflorantes na cidade de Manaus, porm Caputo et al. (1972) destacam que devido a forma lenticular desses corpos no possvel mapelos formalmente como formao. Durante muitos anos utilizou-se os termos Srie e Formao Barreiras para identificar os arenitos e argilitos vermelhos ocorrentes na Amaznia, devido a grande semelhana desses sedimentos com os aflorantes na costa leste do Brasil, at que Kistler (1954), utilizou a designao Alter do Cho para os sedimentos vermelhos inconsolidados, compostos por argilitos, folhelhos, siltitos, arenitos e conglomerados identificados na localidade de Alter do Cho, estado do Par, o que foi repetido em todos os trabalhos posteriores da Petrobrs. Caputo et al. (1972) realizaram uma reviso na nomenclatura das unidades litoestratigrficas da Bacia do Amazonas, na qual utilizaram o termo Formao Alter do Cho para esses sedimentos, consagrando o termo na nomenclatura estratigrfica. Diversos autores (Caputo et al. 1972; Souza, 1972; Daemon, 1975; Castro et al., op. cit.; e Cunha et al., op. cit.) consideraram o sistema deposicional da Formao Alter do Cho como sendo flvio-lacustre. Vieira (1999) em trabalho realizado na Praia da Ponta Negra, zona oeste da cidade de Manaus, utilizando conceitos de modelamento de fcies, conjuntamente com anlise petrogrfica e estudo de assemblias de minerais pesados e leves, identificou nove fcies sedimentares que caracterizam um sistema deposicional tipo entrelaado (braided).

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Lateritos Os lateritos so rochas formadas ou em fase de formao, originados durante o processo de intemperismo sobre rochas j existentes. So caracteristicamente ricos em ferro e alumnio, pobres em slica, potssio, magnsio, sdio e clcio (Costa, 1991). Segundo Costa (1990 e 1991), os lateritos ocupam posio de destaque na Amaznia, sendo classificados quanto ao seu grau de evoluo em maturos de idade Eoceno-Oligoceno e imaturos do Tercirio Superior/Quaternrio (PlioPleistocnico), e segundo Fernandes Filho (1997), tem composio ferruginosa e no contm horizonte bauxtico-fosftico. A distino entre a natureza dos perfis, feita com base na sucesso dos horizontes e nas respectivas texturas e estruturas sendo classificados como autctones ou aloctnes. Os lateritos alctones so tambm conhecidos como linha de pedra e pleo-pavimentos e so mais restritos que os autctones. De acordo com Horbe & Costa (1996), grande parte dos solos de colorao amarelada, vermelho-amarelada e avermelhada encontrados na regio amaznica assentam-se sobre crostas ou restos de crosta laterticas ferro-aluminosas, slico-ferruginosas e aluminosas, e onde o horizonte de solo se superpe s crostas laterticas permite correlacionar a formao dos solos com os processos de saprolitizao e argilizao que ocorrem durante o intemperismo/laterizao em condies de clima mido. Desse modo os solos desenvolvidos sobre crostas laterticas, formados de material essencialmente argiloso, representam uma fase de intemperismo na regio amaznica com tendncia a formar podzis em resposta s condies climticas atuais (quente e mida).

Cobertura Argilosa do Tercirio/Quaternrio Na cidade de Manaus, aflora um espesso pacote sedimentar argilo-arenoso de cor amarela, de idade cenozica, considerado correlato da argila de Belterra (Sombroek, 1996) aflorante no estado do Par. A origem dessa cobertura argilo-arenosa ainda controversa, alguns autores consideram-na uma unidade sedimentar do perodo Tercirio em que o ambiente era semi-rido (Kotschoubey, 1984; Kotschoubey & Truckenbrodt, 1981; Truckenbrodt & Kotschoubey, 1981; Truckenbrodt et al. 1982), j Sombroek (1996) considera esta

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unidade como sendo de origem lacustre no Tercirio. Outra linha de pensamento define esta unidade como sendo um horizonte argiloso derivado de alteraes in situ de sedimentos da Formao Alter do Cho (Irion, 1984; In: Fernandes Filho, 1997). Costa (1991) e Horbe & Costa (1994), consideram que este pacote argiloarenoso seja resultado do intemperismo de crostas laterticas ferruginosas e aluminosas. Devido a escassez de informaes e inconsonncias entre as hipteses acerca da origem desta unidade na regio da cidade de Manaus, e tendo em vista que a determinao dessas caractersticas fogem ao escopo deste trabalho, ser utilizada aqui a denominao Cobertura Argilosa do Terci rio/Quaternrio, visto que tal denominao abrange todas as propostas acima citadas, sem que haja empecilhos para aplicao na rea estudada. A hiptese de que os lateritos e a Cobertura Argilosa do

Tercirio/Quaternrio fizessem parte da Formao Alter do Cho, no vlida, pois os lateritos so produtos de alterao de rochas pr-existentes, assim, temos a ocorrncia da formao Alter do Cho e a Cobertura Argilosa do Tercirio/Quaternrio distintamente, onde os lateritos funcionariam como um marco estratigrfico divisor entre ambas as formaes.

Solos Na cidade de Manaus foram descritas duas unidades predominantes de solo: os latossolos e os podzis, que so resultado da ao intemprica sobre os sedimentos da Formao Alter do Cho, Cobertura Argilosa do Tercirio/Quaternrio e lateritos. Segundo Vieira (1975), os Latossolos so solos no hidromrficos que apresentam horizonte B latosslico em um perfil normalmente profundo, onde o teor de argila se dilui lentamente em profundidade, so solos envelhecidos, cidos a fortemente cidos (com exceo dos eutrficos), com boa drenagem apesar de serem muitas vezes bastante argilosos. So caracterizados pela composio qumica, composta por: sesquixidos, argilo-minerais silicatados de retculo 1:1 (grupo da caulinita), quartzo e outros minerais silicatados fortemente resistentes intemperizao.

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A classe dos Latossolos Amarelos uma das de maior ocorrncia na Amaznia, caracterizada por apresentar solos profundos bastante envelhecidos, cidos a fortemente cidos, e de boa drenagem. So encontrados sob vegetao de florestas densa, aberta e mista com palmeiras, freqentemente em relevo plano e suave ondulado, podendo ocorrer em relevo ondulado (Vieira, 1975). Possuem seqncia de horizontes A, B e C; a colorao varia de brunoamarelado a amarelo-brunado com matiz 10yr e 7,5yr, tendo valores e cromas altos. O contedo de Fe2O3, est entre 2 e 4%, a relao Al2O3/Fe2O3 geralmente superior a 6 (Souza, 1991). Segundo Souza (1991) os solos com horizonte Podzol so pouco profundos e profundos, imperfeitamente drenados mal drenados, com horizonte A2 Arenoso, extremamente lavado, de colorao esbranquiada, transicionando de forma abrupta para o horizonte B, que de acumulao de hmus e sesquixidos ou ferro e/ou alumnio. Na regio norte ocorre apenas o Podzol hidromrfico, sendo sua caracterizao sintetizada a seguir: Podzis Hidromrficos so solos minerais hidromrficos com horizonte B Podzol ou espdico, subjacente a um horizonte A2 lbico. Possuem seqncia de horizontes A1, A2, Bh ou Bhir e C, com ntida diferenciao entre os horizontes. Tem valores muito baixos para soma e saturao de bases, so cidos e possuem elevada saturao com alumnio trocvel. Verificam-se, em conseqncia disso, fortes deficincia quanto fertilidade. Segundo Horbe (1999, comunicao pessoal), na cidade de Manaus os latossolos ocorrem sobre as crostas laterticas e coberturas argilosa do Tercirio, enquanto que os podzis ocorrem sobre os sedimentos da Formao Alter do Cho.

Neotectnica Neotectnica o ramo da Geotectnica que estuda a histria estrutural da crosta terrestre nos ltimos 25 milhes de anos. (Igreja & Franzinelli, 1987).

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Segundo Igreja & Catique (1997) o modelo geotectnico atual da Regio Amaznica tem sido interpretado como um Sistema Direcional Destral Este Oeste, cuja origem est relacionada a tenses compressivas e transcorrentes, resultantes do movimento das placas tectnicas Sul-Americana, Nazca e Caribenha. Resultam desta movimentao, a formao de lineamentos estruturais, aos quais est adaptado o sistema de drenagens da regio. De acordo com Igreja (2000; In: Fernandes, no prelo) os estudos neotectnicos na regio amaznica na ultima dcada favoreceram a consolidao do modelo denominado Sistema Neotectnico Atual Amaznico (SNAA) ou Sistema Neotectnico Transcorrente Destral (SNTD) de direo geral ENE-WSW. Tendo proposto neste trabalho as denominaes Solimes, Amazonas, Tarum, Madeira e Rio Negro como representativas das direes estruturais N60oW, N80oE, N10oE, N50oE e N45oW, respectivamente (Figura 10).PLAC A C ARIBEN HA35

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Figura 10 Modelo Neotectnico Atual da Amaznia As compresses so E-W (Placa de Nazca), e secundariamente N-S (Placa Caribenha) resultando a componente principal em NW-SE. (Fernandes, no prelo).

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R - FALHA TRANSCO RRENTE SINISTRAL Rg - FALHA DE RASG AM ENTO T - FALHA TRANSF ERENTE P - FALHA CISALHANTE TRANSPRESSIONAL Y - FALHA CISALHANTE TRANSTENSIO NAL Dc - CISALHANTE COMPLEMENTAR RIDEL

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Igreja (1999) com base em estudos acerca das caractersticas neotectnicas da Provncia Estrutural Solimes Amazonas (Bacias do Solimes e Amazonas), dividiu-a em 4 grandes geocompartimentos com caractersticas tectono estruturais peculiares Igreja e Franzinelli (1990) agruparam os lineamentos da regio do Baixo Rio Negro em dois conjuntos principais, onde o primeiro possui direo geral de N30-45W, e o segundo conjunto direo geral de N20-40E, tambm destacam o lineamento no qual est encaixado o Igarap Tarum Au, com direo NNE e complementares En-chelon. A cidade de Manaus est assentada em cinco blocos neotectnicos delimitados por uma famlia principal de falhas geolgicas curviplanares de direo geral N50-60E, com concavidade e mergulho para sudeste, que delineiam os maiores igaraps da cidade. (...) Essas falhas delimitam blocos losangulares que configuram um padro lstrico de noroeste para sudeste com movimentaes predominantemente transtensiva destral, reflexo da cinemtica destral regional, tanto a do Rio Negro como a do Rio Amazonas (Igreja et al. 1997). Fernandes Filho et al. (1997) destaca que na regio de Manaus ocorrem vrios feixes de falhas normais orientada na direo NW-SE, que interagem com dois feixes de falhas transcorrentes dextrais de direes E-W e NE-SW, ocorrem tambm falhas normais ao longo de transcorrncias de direo NE-SW. Essas feies estruturais afetam o perfil latertico e a linha de pedras resultantes do desmantelamento, eroso e transporte da crosta latertica desenvolvida sobre os sedimentos da Formao Alter do Cho. Falhas de empurro e dobras orientadas na direo NE-SW, ocorrem afetando somente os sedimentos da Formao Alter do Cho. Segundo Santos Jnior et al. (1999b), o igarap do Quarenta com aproximadamente 10 km de extenso na cidade de Manaus, representa a expresso superficial do plano de uma Falha Transcorrente Destral de direo N60E, interpretada como sendo a componente P do Sistema Neotectnico Transcorrente Amaznico Atual (SNTAA Transpresso Marajoara).

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2. METODOLOGIA DE TRABALHONesta pesquisa procurou-se identificar reas de risco geo-ambiental nos bairros Cidade Nova e Mauazinho, determinar o grau do risco, os agentes causadores desses riscos, assim como propor medidas preventivas e/ou mitigadoras aos impactos causados pela ocupao urbana, segundo seus aspectos fsico-geolgicos e sociais. A implementao do presente projeto abrangeu oito fases distintas, porm intimamente interligadas, que so: 1) Pesquisa Bibliogrfica - Nessa fase foram compiladas as bibliografias disponveis sobre o tema pesquisado com o objetivo de reunir as fontes bibliogrficas que tratassem dos aspectos fsicos e sociais, facilitando com isso, a caracterizao das reas de Riscos Geo-ambientais na cidade de Manaus. O resultado desta pesquisa pode ser observado no captulo VI, referente ao Estado da Arte do tema pesquisado, tendo como base artigos cientficos realizados na cidade de Manaus e em algumas cidades do pas, como tambm em notcias veiculadas nos jornais locais. Com base nas pesquisas bibliogrficas foi elaborada a Ficha de Cadastramento, com a qual foi realizado o levantamento acerca das caractersticas geo-ambientais, causas provveis ou agentes potenciais indutores, o grau de risco geo-ambiental, danos materiais, alm das medidas de conteno adotadas em cada stio. 2) Levantamento e Pesquisa de Mapas Regionais e Municipais - Nesta fase foi realizado um levantamento dos mapas de geologia, geomorfologia, clima, populao, etc. Os quais serviram como base para a elaborao dos mapas existentes nesta dissertao.

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Alguns desses mapas foram aperfeioados utilizando-se os Softwares Corel Draw 9, Autocad R14, visando dar maior destaque algumas peculiaridades de maior relevncia para este trabalho. 3) Levantamento de reas de risco ou inadequadas ocupao urbana: Nesta Fase foi realizada a seleo das reas a serem estudadas no decorrer deste projeto. 4) Trabalhos de Campo - Nesta fase foi realizado o levantamento in loco das informaes geolgicas, geomorfolgicas e geo-ambientais da rea estudada. Os trabalhos preliminares de campo tiveram incio no ms de abril de 2000, com o objetivo de determinar as reas a serem estudadas, resultando na determinao de aproximadamente 40 stios onde ocorrem feies erosivas nas Zonas Norte e Leste da cidade. Dos 40 pontos inicialmente cadastrados, foram destacados 22 stios, os quais sero apresentados neste trabalho, sendo 20 localizados no bairro da Cidade Nova, 1 no Bairro Alfredo Nascimento e 1 no Bairro Mauazinho. Em trs destes stios foram coletadas amostras de sedimentos visando destacar a diferena granulomtrica entre os horizontes. 5) Documentao e descrio estatsticas das informaes relacionadas no item anterior, coincidindo com a confeco de tabelas e grficos, e determinao das variveis relevantes pesquisa; 6) Tratamento e Interpretao dos Resultados - Nesta etapa foram tratadas as informaes coletadas no campo, visando identificar reas inadequadas a ocupao urbana nas zonas norte e leste da cidade de Manaus, determinar o grau de risco geo-ambiental, os agentes causadores desses riscos, classificar as feies erosivas quanto a: tipo de inciso (sulco, ravina ou vooroca), forma, tipo de evoluo, os problemas geo-ambientais resultantes, assim como propor medidas preventivas e/ou mitigadoras aos impactos causados por essa ocupao. 7) Elaborao da dissertao Nesta fase foi elaborado texto da dissertao propriamente dita. 8) Divulgao dos resultados - Todos os resultados obtidos aps a interpretao esto sendo objeto de divulgao, primeiramente atravs da Dissertao de Mestrado e posteriormente em artigos a serem divulgados em eventos e revistas cientficas.

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3. ESTADO DA ARTEEste captulo resultante da fase de pesquisa bibliogrfica, na qual foram compiladas as bibliografias disponveis sobre o tema pesquisado tendo por objetivo reunir o maior nmero de artigos possveis, para que o mesmo forme um banco de dados tcnico- cientfico, alm de ser um relato histrico sobre a Geologia Ambiental e as reas de risco, possibilitando assim, a utilizao deste acervo bibliogrfico pela comunidade cientfica, como tambm pela populao em geral. O presente captulo dividido em trs temas principais que so: 3.1 - Definies de impactos ambientais, risco geolgicos e ambientais, eroso e reas inadequadas ocupao urbana; 3.2 - Trabalhos aplicados relacionados ao tema estudado na cidade de Manaus e em outras regies do pas; 3.3 - Notcias veiculadas nos jornais da cidade. 3.1 - Definies de impactos ambientais, risco geolgicos e ambientais,

eroso e reas inadequadas ocupao urbana; 3.1.1 Impactos ambientais: Segundo a Resoluo 001/86 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), Impacto ambiental qualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matria ou energia resultante das atividades humanas que direta ou indiretamente, afetam: a sade, a segurana e o bem estar da populao; as atividades sociais e econmicas; a biota; as condies estticas e sanitrias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais.

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3.1.2 Riscos Geolgicos e Ambientais: De acordo com Cacerdo (In: Collao et al., 1996), "Risco Geolgico todo processo, situao ou evento no meio geolgico, de origem natural , induzida ou mista que pode gerar um dano econmico ou social para alguma comunidade, e em cuja previso, preveno ou correo ho de empregar critrios geolgicos." Augusto Filho (1999) apresenta alguns conceitos bsicos e respectivos termos em ingls utilizados no gerenciamento de riscos ambientais e geolgicos.

Tabela 03 - Alguns conceitos bsicos e respectivos termos em ingls utilizados no gerenciamento de riscos ambientais e geolgicos (modificado de Zuquette 1993 e Ogura 1995 In: Augusto Filho, 1999).ACIDENTE Accident EVENTO Event PERIGO Hazard VULNERABILIDADE Vunerability RISCO Risk Acontecimento calamitoso, em que foram registradas perdas sociais e econmicas (terremoto em rea ocupada, por exemplo). Acontecimento em que no foram registradas perdas sociais e econmicas (terremoto em rea no ocupada, por exemplo). Ameaa potencial a pessoas ou bens (rea ocupada sujeita a escorregamentos, por exemplo). Gradiente de perdas sociais e econmicas potenciais de um sistema/ ocupao sujeita a acidentes. Varia de 0 (nenhuma perda) a 1 (perda total) Expressa o perigo em termos de danos/perodo de tempo, em geral, unidade monetria/ano.

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Segundo Cerri (1993; In: Augusto Filho, op. cit.), os principais tipos de riscos ambientais so:SOCIAIS: relativos ao meio social, tais como, guerras, seqestro ,roubos, etc. TECNOLGICOS: relativos aos processos produtivos, tais como, vazamentos e contaminao, materiais explosivos, queda de aeronaves, etc. NATURAIS: relativos dinmica natural do planeta, podendo ser induzidos e intensificados pelas atividades humanas. MEIO FSICO GEOLGICOS ENDGENOS MEIO BIOLGICO: praga de gafanhotos, epidemias, etc.

RISCOS AMBIENTAIS

EXGENOS

PROCESSOS Escorregamentos e processos correlatos eroso e assoreamento Subsidncias e colapsos de solo Solos expansivos Terremotos, atividades vulcnicas, etc..

ATMOSFRICOS Secas, tufes, granizo, geada, etc.. HIDROLGICOS Enchentes e inundaes

Figura 11 - Principais tipos de riscos ambientais (Cerri 1993; In: Augusto Filho,1999). 3.1.3 - Definio de eroso Se entende por eroso o processo de desagregao e remoo de partculas do solo ou de fragmentos e partculas de rocha, pela ao combinada da gravidade com a gua, vento, gelo e/ou organismos (plantas e animais). (IPT, 1986; In: Salomo, op. cit.). A eroso pode ser dividida em: eroso natural ou geolgica e eroso acelerada ou antrpica, a primeira, causada geralmente pelos diversos agentes exodinmicos, tais como: vento (elica), gua das chuvas (pluvial), guas correntes, sem que haja a interveno do homem (Vieira et al. 1995). A segunda, cuja intensidade, sendo superior

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a da formao do solo, no permite a sua recuperao natural (Salomo, op. cit.), causada pelo desequilbrio das condies naturais devido a interveno do homem. Causas e conseqncias dos processos erosivos - Salomo (op. cit.) destaca que a ocupao humana, iniciada com o desmatamento e em seguida pelo cultivo da terra, criao e expanso das cidades, sobretudo quando se efetua de modo inadequado, constitui o fator decisivo da origem e acelerao dos processos erosivos. A partir da ocupao inadequada dos solos, estes passam a ser controlados por processos naturais tais como: chuva, relevo, tipo de solo e cobertura vegetal, e segundo Guerra (1994) por causa da interao entre esses fatores que determinadas reas sofrem mais com os processos erosivos que outras. Guerra (op. cit.) subdivide esses fatores em erosividade (causada pela chuva), erodibilidade (oriunda das propriedades do solo), caractersticas das encostas e natureza da cobertura vegetal, acrescenta-se aqui, a influncia do homem como agente acelerador dos processos erosivos, a interveno antrpica pode alterar esses fatores, e consequentemente, apressar ou retardar os processos erosivos. Erosividade da chuva - Hudson (1961, In: Guerra, op. cit.) define erosividade como sendo a habilidade da chuva em causar eroso, porm apesar de ser uma definio bem simples, necessria a investigao de alguns parmetros como por exemplo: o total da chuva, a intensidade, alm do momento e energia cintica das gotas de chuva. A gua da chuva provoca a eroso do solo atravs do impacto das gotas sobre a superfcie, caindo com velocidade e energia varivel, e atravs do escoamento superficial (Figura 12).

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Figura 12 Impacto das gotas de chuva na superfcie do terreno (DAEE, 1990; In: Vieira et al. 1995). Apesar de muitos autores considerarem o total pluviomtrico (dirio, mensal, sazonal e anual) como um dos aceleradores dos processos erosivos, Wischmeier & Smith (1980, In: Salomo, op. cit.) consideram o produto da energia cintica total das gotas de chuva e sua intensidade mxima em trinta minutos a melhor relao encontrada para medir a potencialidade erosiva da chuva. El-Swaify et al. (1982, In: Ponano e Prandini 1987) destacam que as chuvas tropicais acarretam maior eroso que em outras regies, o que ocasionado devido a maior energia da chuva; a qual est relacionada com o maior nmero e tamanho das gotas de chuva por unidade de tempo. De acordo com Founier (1975, In: Vieira 1998), pode se medir a energia cintica das gotas de chuva com base em sua massa e velocidade da queda. A velocidade da queda produto de sua massa e dimetro, porm a mesma no constante, aumenta a medida que alcana a velocidade limite, que corresponde a uma distncia percorrida maior que 20 metros.

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Erodibilidade do solo - Segundo Guerra (op. cit.), as propriedades fsicas do solo so de grande importncia nos estudos de eroso, porque, juntamente com outros fatores, determinam a maior ou menor susceptibilidade eroso. As propriedades fsicas do solo, principalmente textura, estrutura, permeabilidade, e densidade; e as caractersticas qumicas, biolgicas e mineralgicas, exercem diferentes influncias na eroso, ao ortogar maior ou menor resistncia ao das guas (Salomo, op. cit.). A textura, ou seja, o tamanho das partculas, influi na capacidade de infiltrao e de absoro da gua da chuva, interferindo no potencial de torrentes do solo, e em relao a maior ou menor coeso entre as partculas (Salomo, op. cit.). Alm de qu, as diferenas entre as fraes granulomtricas ocasionam uma maior ou menor suceptibilidade a eroso, onde Famer (1973; In: Guerra 1994) destacam que solos que apresentam um grande teor de silte e areia mdia so mais facilmente erodidos, enquanto que os solos ricos em argilas so mais resistentes aos processos erosivos (Guerra, op. cit.). A estruturao, ou seja, o modo como se comportam as partculas do solo, semelhante a textura, influencia diretamente na capacidade de infiltrao e absoro da gua de chuva, e na capacidade de transporte das partculas do solo. Assim sendo, solos com estrutura micro-agregada apresentam, alta porcentagem de poros e, consequentemente alta permeabilidade, o que favorece a infiltrao das guas. (Salomo, op. cit.). De acordo com Vieira (1998) a densidade aparente dos solos um fator de grande importncia no estudo das feies erosivas. Segundo Salomo (1995), a densidade do solo inversamente proporcional a porosidade e permeabilidade. Solos compactados apresentam altas densidades e consequentemente a diminuio dos poros, o que vem ocasionar a formao de escoamento superficial. As caractersticas qumicas, biolgicas e mineralgicas do solo influem no estado de agregao entre as partculas, aumentando ou diminuindo a resistncia do solo eroso (Salomo, op. cit.).

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A matria orgnica incorporada ao solo permite maior agregao e coeso entre as partculas (Salomo, op. cit.), alm de ser responsvel pela gerao de crostas (formadas a partir da quebra dos agregados pelos pingos de chuva), tornando os solos mais estveis na presena de gua, mais poroso, e com maior poder de reteno de gua. Cobertura Vegetal - Os fatores relacionados cobertura vegetal podem influenciar os processos erosivos de vrias maneiras: atravs dos efeitos espaciais da cobertura vegetal, dos efeitos na energia cintica da chuva, e do papel da vegetao na formao de hmus, que afeta a estabilidade e teor de agregados (Guerra, op. cit.). Bertoni & Lombardi Neto (1985; In: Salomo, op. cit.), destacam como principais efeitos da cobertura vegetal a: Proteo contra o impacto direto das gotas de chuva; Disperso e quebra da energia das guas de escoamento superficial; Aumento da infiltrao pela produo de poros no solo pela ao das razes; Aumento da capacidade de reteno da gua pela estruturao do solo por efeito da produo e incorporao da matria orgnica. Porm, Vieira (1998), revendo a afirmao de Founier (1975) de qu uma gota de chuva alcana a velocidade limite ao percorrer mais de 20 metros, destaca que na Amaznia devido a uma grande quantidade de espcies de rvores que possuem altura superior a 20 metros, as gotas de chuva primeiramente retidas nas copas dessas rvores, ao cair na forma de gotejamento, podem atingir a velocidade limite. Segundo Coelho Netto (1994; In: Vieira, 1998), a importncia fundamental da cobertura vegetal deve-se ao fato da mesma reter parte da gua precipitada na copa e no tronco, permitindo assim a infiltrao mais rpida, alm da proteo do solo gerada pela formao de serrapilheiras.

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Caractersticas das Encostas - Os fatores relacionados as caractersticas das encostas que podem ocasionar a formao de feies erosivas so: declividade, comprimento e forma da encosta. Os processos erosivos nas encostas so ocasionados pelo escoamento superficial e pelo impacto das gotas de chuva ao longo da vertente. Porm Morgan (1986; In: Guerra, op. cit.) destaca que em encostas muito ngremes, a eroso pode diminuir devido ao decrscimo de material disponvel. Luk (1979; In: Guerra, op. cit.), aps ensaios tcnicos em vrios tipos de solos na regio de Alberta (Canad), concluiu que os solos com maior erodibilidade so aqueles situados em encostas com 30 de declividade. Vrios trabalhos descrevem que o escoamento superficial aumenta em velocidade e quantidade, medida que o comprimento das encostas aumenta (Guerra, op. cit.). Outro fator que influencia a erodibilidade dos solos a forma das encostas, onde Hadley et al. (1985; In: Guerra, op. cit.) enfatizam que a forma das encostas pode ser mais importante que a declividade na formao dos processos erosivos. Betoni (1959; In: Salomo, op. cit.) a partir de experimentos realizados no estado de So Paulo, determinou uma equao, a qual permite calcular as perdas mdias de solo em diferentes graus de inclinao e comprimento das encostas: LS= 0,0098L0,63S1,18 onde: LS= Fator topogrfico L= Comprimento da encosta (m) S= Grau de inclinao (%) Porm o estudo das caractersticas dos processos erosivos ocorrentes nas encostas, no pode ser realizado de forma segmentada, sendo mais apropriado o estudo dos parmetros em conjunto, pois segundo Guerra (op. cit.), as caractersticas relativas declividade, comprimento e forma das encostas, atuam em conjunto entre si e com outros fatores relativos erosividade da chuva, bem como as propriedades do solo, promovendo maior ou menor resistncia eroso.

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A Interveno Humana - Apesar dos fenmenos erosivos serem de origem natural, ou seja, ocorrerem naturalmente ocasionados pela ao dos agentes exodinmicos (vento, chuva, gelo, etc.), a partir da interao do homem com o meio ambiente estes fenmenos tendem a serem acelerados. Com a retirada da cobertura vegetal objetivando a preparao do solo para cultivo e pastagem nas reas rurais, e ocupao de forma inadequada, construo de aparelhos urbanos deficientes (canaletas, ruas, caladas, etc.), e aterros realizados sem que haja a preveno e controle dos processos erosivos nas reas urbanas, o terreno fica susceptvel eroso, primeiramente devido a ao direta das guas de chuva e posteriormente pelo desenvolvimento do escoamento superficial, responsvel pela eroso linear, desenvolvendo sulcos, ravinas e voorocas, causando desde prejuzos materiais, at acidentes com vtimas fatais. Leinz & Amaral (1989) destacam a influncia do homem na acelerao dos processos erosivos, ao estabelecerem parmetros de perda de solo: Mata- 4 kg de solo removidos por hectare; Pastagem- 700 kg de solo removidos por hectare; Cafezal- 1.100 kg de solo removidos por hectare; Algodoal- 38.000 kg de solo removidos por hectare. Processos Erosivos Bsicos - A eroso dos solos um processo que ocorre em duas fases: uma que constitui a remoo de partculas, e outra que o transporte desse material, efetuado pelos agentes erosivos. Quando no h energia suficiente para continuar ocorrendo o transporte, uma terceira fase acontece, que a deposio desse material transportado (Guerra, op. cit.). Segundo Guerra (op. cit.), os processos erosivos bsicos so de importncia fundamental para que se compreenda como a eroso ocorre e quais as suas conseqncias, e complementa destacando que a partir da compreenso das caractersticas relativas a infiltrao, armazenamento e gerao de escoamento superficial e subsuperficial; bem como os processos de piping, splash e a formao de crostas na superfcie do solo que se pode entender como se do os processos erosivos bsicos.

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Infiltrao, armazenamento e gerao de escoamento superficial - Os dois eventos iniciais por gua de chuva, e que de alguma maneira formam a seqncia bsica de todos os processos erosivos por gua, abrangem o impacto das gotas de chuva e a eroso por escoamento (Ponano & Prandini, 1987). Quando ocorrem as chuvas, parte da gua cai direto no terreno (devido a ausncia de vegetao ou baixa densidade da cobertura vegetal), enquanto parte fica retida na copa das rvores, onde uma pequena parte desta gua retida pelas rvores evapora (evapotranspirao) e o restante chega ao solo por gotejamento, ou escorrendo pelo caule das rvores. A gua que atinge o solo, seja por ao direta ou por gotejamento, ocasiona a eroso por salpicamento (splash erosion) desde que a superfcie do terreno esteja desprotegida devido a ausncia da camada de matria orgnica. O ndice que mede a velocidade com que a gua da chuva infiltra no terreno denominado Taxa de Infiltrao (Morgan, 1986; In: Guerra, op. cit.). A gua infiltra-se no solo devido a ao da gravidade e capilaridade. Essas taxas, variam no decorrer de uma chuva, porm variam tambm devido as caractersticas dos solos. Solos arenosos possuem taxas de infiltrao maiores que os argilosos (Guerra, op. cit.). De acordo com Coelho Netto (1994; In: Vieira, 1998), quando ocorre a infiltrao, as guas tendem a percolar no solo e migrar em diversas direes at atingir o nvel fretico. Segundo Horton (1945; In: Guerra, op. cit.), se a intensidade da chuva for maior que a capacidade de infiltrao, ocorrer o runoff, caso contrrio, ou seja, se a intensidade da chuva for menor que a capacidade de infiltrao no haver a gerao desse processo.

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Escoamento Superficial - Quando o solo atinge seu limite de infiltrao, tornando-se saturado em gua, o excedente de chuva que atinge a superfcie do terreno passa a concentrar em pequenas cavidades at escorrer, sendo denominado escoamento superficial saturado. O fluxo que escoa na superfcie do solo apresenta-se, quase sempre, como uma massa de gua, com pequenos cursos anastomosados e raramente, na forma de um lenol de gua de profundidade uniforme (Guerra, op. cit.). A quantidade de solo erodida pelo escoamento superficial, depende de velocidade e turbulncia do fluxo. Em Horton (1945; In: Guerra, op. cit.) o escoamento superficial descrito recobrindo 2/3 ou mais das encostas, em uma bacia de drenagem, durante o mximo de precipitao de uma chuva, e ainda segundo este autor, o fluxo decorrente da intensidade do evento chuvoso ser maior que a capacidade de infiltrao do solo, cuja distribuio d-se da seguinte maneira: o topo da vertente uma zona sem fluxo (consequentemente sem eroso); a uma distncia do topo, ocorre a formao do fluxo, devido a concentrao de gua; mais abaixo na encosta, a profundidade do fluxo aumenta, ocasionando a concentrao das linhas de gua, formando ravinas. denominado escoamento superficial hortoniano, o fluxo gerado quando a intensidade da chuva maior que a capacidade de infiltrao (Coelho Netto, 1994; In: Vieira, 1998). Esse processo ocorre quando a gua no consegue infiltrar no solo devido presso causada pelo ar que tenta sair (Vieira, 1998). Tanto o escoamento superficial saturado quanto o hortoniano podem escoar sob forma catica, sem seguir uma direo preferencial, o que denominado escoamento difuso. Porm quando o fluxo de gua passa a seguir por uma direo preferencial, este passa a ser denominado escoamento concentrado (eroso linear), com potencial erosivo maior que o difuso sendo responsvel pela formao de sulcos, ravinas e voorocas. De acordo com Guerra (op. cit.), a ausncia de vegetao facilita o impacto das gotas de chuva, fazendo com que os agregados de solo se quebrem formando crostas na superfcie do solo, o que gera um aumento no escoamento superficial. Morgan (1986; In: Guerra, op. cit.) salienta que as partculas mais susceptveis eroso pelo runoff so as entre 0,1 e 0,3 mm de dimetro.

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A diminuio do teor de matria orgnica no solo no s afeta a fertilidade natural, como tambm diminui a sua resistncia ao impacto das gotas de chuva, resultando, quase sempre, em aumento das taxas de escoamento superficial. Escoamento subsuperficial - denominado escoamento subsuperficial, o movimento lateral da gua no interior do terreno, e segundo Guerra (op. cit.), alm de controlar o intemperismo, o escoamento subsuperficial afeta diretamente a erodibilidade do solo, devido as suas caractersticas hidrulicas, o que influencia no transporte de minerais em soluo. Quando ocorre o escoamento subsuperficial em forma de fluxos concentrados, em tneis ou dutos, este possui um grande potencial erosivo, provocando o desabamento da superfcie acima. Thornes (1980; In: Guerra, op. cit.) destaca que o movimento da gua em subsuperfcie d-se devido diferenas potenciais de migrao de lquidos em poros existentes no solo. Tal movimentao segundo (Whipkey & Kirby, 1978; In: Vieira, 1998) deve-se as caractersticas do terreno, tais como: topografia, perfil do solo e umidade antecedente s chuvas. Em uma encosta durante um evento chuvoso, pode haver movimento lateral de gua (through flow), em condies saturadas, mesmo quando a chuva acaba (Guerra, op. cit.). Eroso regressiva - De acordo com Guerra (op. cit.), os dutos so grandes canais ou tneis, com dimetros variando de poucos centmetros vrios metros, que so formados sob condies geoqumicas e hidrulicas especiais, ocasionando a dissoluo e lixiviao de minerais em subsuperfcie. Devido o transporte de grande quantidade de material em subsuperfcie, os dutos tem seu dimetro aumentado, o que pode resultar no colapso do solo situado acima levando a formao de grandes voorocas (Guerra, op. cit.). A produo e o transporte de sedimentos, ao longo dos dutos so evidentes, podendo ser observados nos leques aluviais formados na sada dos dutos (Guerra, op. cit.).

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A taxa de produo de sedimentos est relacionada ao fluxo de gua dentro dos dutos e representam uma funo direta desses fluxos. Os ndices de umidade em subsuperfcie, so resultantes da prolongada infiltrao de gua nos solos. Eroso por salpicamento - A eroso por salpicamento (splash erosion) resultante do impacto das gotas de chuva na superfcie do terreno que destroem os agregados de solo, lanando as partculas em vrias direes, tanto para cima como para baixo, de uma encosta, porm segundo Guerra (op. cit.) quase sempre so transportadas para baixo a uma distncia 3 vezes maior do qu para cima. De acordo com Guerra (op. cit.), a eroso por salpicamento pode diminuir em determinados terrenos, principalmente se o prprio salpicamento originar crostas na superfcie, o que porm aumenta o escoamento superficial. A estabilidade dos agregados desempenham um papel importante na erodibilidade dos solos, pois uma vez formadas as crostas, o solo passa a ser menos susceptvel a eroso. Thornes (1980; In: Guerra, op. cit.), destaca que a infiltrao ocorre mais rpido, se o solo possuir agregados grandes e estveis, reduzindo assim as taxas de escoamento superficial. Guerra (op. cit.) conclui que a nica situao em que o solo selado pelas crostas no proporciona aumento do escoamento superficial quando a superfcie do solo se torna seca, de tal forma que se originam fendas, possibilitando com isso uma maior infiltrao em relao ao escoamento. Sulcos, Ravinas e Voorocas - Em Manaus vrios trabalhos tem descrito a ocorrncia de eroses (Carvalho et al. 1996, Vieira et al. 1995, Frota et al. 1997, Vieira 1998), entretanto geralmente generalizam estas feies sob o termo voorocas, independente da forma, origem e evoluo. Neste capitulo sero apresentadas as diversas definies acerca das caractersticas e processos de formao das feies de eroso linear, com base nas quais foi realizado o cadastramento das feies ocorrentes na rea objeto dos estudos.

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Os produtos da eroso linear so divididos em: sulcos, ravinas e voorocas. Sulcos - De acordo com Ponano & Prandini (op. cit.), o escoamento superficial das guas de chuva, pode formar apenas filetes, ou progredir sob a forma de escoamento laminar difuso e concentrado, ainda sem canais permanentes (o que vem, ento a provocar a eroso por escoamento laminar difuso e concentrado sheet and rill erosion). Canil et al. (1995), definem sulcos como sendo pequenas incises no solo em forma de filetes muito rasos. Representam reas em que a eroso laminar mais intensa. Vieira (1998) postula que a partir do momento em que a gua da chuva comea a correr na superfcie do terreno por caminhos preferenciais (pequenas fissuras de at 5 cm de profundidade) e este so aprofundados pela fora da gua, atingindo profundidades de at 50cm, so denominados sulcos. A eroso nesse caso ocorre de maneira progressiva, seguindo a gravidade (de montante a jusante). Neste trabalho admite-se como sulcos aquelas feies erosivas lineares apresentando profundidades entre 5cm e 50 cm. Ravina - Ponano & Prandini (op. cit.), destacam que a passagem da eroso por escoamento concentrado a ravinas no se caracteriza por nenhum ndice simples. Existe uma tendncia a se admitir uma profundidade mnima para as ravinas, em torno de 30cm (J.Tricart, Com. Pessoal, 1970) ou 50cm (Imesom & Kwaad, 1980), ou ainda a profundidade mxima possvel de ser obliterada por operaes mecnicas de manejo agrcola (Soil Conservation Soil). Segundo Vieira (1998) as ravinas na verdade so o aprofundamento dos sulcos, com profundidade que fica entre 0,50cm e 1,5cm apresentando um crescimento tanto progressivo (montante jusante), como regressivo (jusante montante), muito embora prevalea o crescimento progressivo. Segundo Canil et al. (1995), as ravinas apresentam forma retilnea, alongada e estreita, no chegam a atingir o lenol fretico e possuem perfil transversal em v. Ocorrem entre eixos de drenagen