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Dissertação de Mestrado “Avaliação do Desempenho dos Aços Inoxidáveis Coloridos aplicados a Instrumentos Médico-Hospitalares” Autor: Fernando Casanova Ricaldoni Orientador: Prof a . Dr.ª Rosa Maria Rabelo Junqueira Co-Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Silva de Miranda Junho de 2013

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Page 1: Dissertação de Mestrado “Avaliação do Desempenho dos · ii AGRADECIMENTOS . Gostaria de agradecer que de alguma forma a todos contribuíram para a realização deste trabalho,

Dissertação de Mestrado

“Avaliação do Desempenho dos

Aços Inoxidáveis Coloridos aplicados a Instrumentos Médico-Hospitalares”

Autor: Fernando Casanova Ricaldoni Orientador: Profa. Dr.ª Rosa Maria Rabelo Junqueira

Co-Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Silva de Miranda

Junho de 2013

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Fernando Casanova Ricaldoni

"Avaliação do Desempenho dos Aços Inoxidáveis Coloridos

aplicados a Instrumentos Médico-Hospitalares"

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Engenharia de Materiais da

REDEMAT, como parte integrante dos requisitos

para a obtenção do título de Mestre em Engenharia

de Materiais.

Área de concentração: Engenharia de Superfícies Orientador: Profa. Dr.ª Rosa Maria Rabelo Junqueira Co-Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Silva de Miranda

Ouro Preto, Junho de 2013.

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Ao Professor Romeu Dâmaso de Oliveira.

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ii

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste

trabalho, e em especialmente:

À Profª Rosa Maria Rabelo Junqueira, por aceitar o desafio de orientar um designer e

compartilhar os seus conhecimentos com muita dedicação, paciência e serenidade.

Ao Prof. Carlos Alberto Silva de Miranda pela co-orientação, todas as contribuições, pela

amizade e o incentivo ao meu trabalho e a minha vida profissional.

Ao Professor Roberto Luiz Moreira do Departamento de Física da UFMG pela contribuição

nas análises dos espectros no infravermelho utilizando transformada de Fourier.

À APERAM South American pela análise química das amostras.

À Inoxcolor pela coloração das amostras.

Ao Hospital Madre Tereza, pela disponibilização da infraestrutura da Central de Material

Esterilizado.

À FAPEMIG pelo apoio financeiro ao projeto PPM – 00112-11 - Aplicação dos Aços

Inoxidáveis Coloridos no Segmento Médico-Hospitalar.

A CAPES pela concessão da Bolsa de Mestrado.

A todos do CETEC/SENAI pela receptividade. À Célia, à Larissa e ao Tiago pela ajuda nos

laboratórios, ensaios e outras inúmeras contribuições.

As minhas colegas e amigas do mestrado, Dani, Isabela e Flávia, pela companhia em Ouro

Preto, pela ajuda nas disciplinas mais difíceis, nos trabalhos, nos ensaios e também pelo

chocolate quente nas madrugadas frias.

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Ao Prof. Paulo Miranda, pela amizade, pelas conversas e por ser uma imensa referência

profissional.

Aos colegas da Escola de Design e amigos que me incentivaram e estiveram ao meu lado

nesta caminhada, e especialmente à professora Samantha Cidaley, e aos professores Artur

Mottin e Robert Gomes.

Aos meus pais, Eros e Angela e aos meus irmãos, Bruno e Patrícia, por serem a minha

estrutura.

À Juliana, por estar ao meu lado, me apoiar, me dar confiança e por ser a melhor de todas as

companhias.

Aos meus amigos, André Mol e Isabelle Maluf, que estiveram ao meu lado desde o início de

tudo, cresceram junto comigo e contribuíram mais do que possam imaginar.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................. vi

LISTA DE TABELAS ............................................................................................................. ix

LISTA DE NOTAÇÕES .......................................................................................................... x

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1

2. OBJETIVOS ......................................................................................................................... 3

2.1. OBJETIVO PRINCIPAL.................................................................................................................... 3

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................................................. 3

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................ 4

3.1. AÇOS INOXIDÁVEIS COLORIDOS POR INTERFERÊNCIA................................................................. 4

3.2. AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO AÇO INOXIDÁVEL COLORIDO .............................................. 10

3.2.1. Resistência ao Desgaste por Abrasão ................................................................................................ 10 3.2.2. Resistência à Corrosão ....................................................................................................................... 13 3.2.3. Determinação Numérica da Cor ........................................................................................................ 18 3.2.4. Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR) ......................................................................... 21

3.4. AÇOS INOXIDÁVEIS APLICADOS A PRODUTOS PARA SAÚDE ..................................................... 25

3.4.1. Instrumental Cirúrgico e Odontológico de Aço Inoxidável ............................................................... 26

3.5. O AMBIENTE MÉDICO-HOSPITALAR .......................................................................................... 31

3.5.1. Humanização e Bem Estar ................................................................................................................. 31 3.5.2. A Cor - Importância e Aspectos Ergonômicos .................................................................................. 32 3.5.3. Segurança e Esterilização .................................................................................................................. 35

3.6. O PROCESSO DE ESTERILIZAÇÃO EM AUTOCLAVE .................................................................... 38

4. METODOLOGIA .............................................................................................................. 42

4.1. MATERIAIS ................................................................................................................................. 42

4.1.1. Preparo das Amostras ........................................................................................................................ 42

4.2. MÉTODOS ................................................................................................................................... 43

4.2.1. Resistência à Esterilização em Autoclave ......................................................................................... 43 4.2.2. Determinação Numérica de Cores ..................................................................................................... 47 4.2.3. Resistência ao Desgaste por Abrasão ................................................................................................ 47 4.2.4. Resistência à Corrosão ....................................................................................................................... 49 4.2.5. Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR) ......................................................................... 50

4.3. ANÁLISE ESTATÍSTICA ............................................................................................................... 50

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 51

5.1. RESISTÊNCIA À ESTERILIZAÇÃO EM AUTOCLAVE ...................................................................... 51

5.2. DETERMINAÇÃO NUMÉRICA DAS CORES ................................................................................... 54

5.3. RESISTÊNCIA AO DESGASTE POR ABRASÃO ............................................................................... 57

5.4. RESISTÊNCIA À CORROSÃO ........................................................................................................ 60

5.5. INFRAVERMELHO POR TRANSFORMADA DE FOURIER (FTIR) .................................................... 64

6. CONCLUSÕES .................................................................................................................. 67

7. RELEVÂNCIA DOS RESULTADOS .............................................................................. 68

8. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................................ 69

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 70

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LISTA DE FIGURAS

Figura 3.1. Exemplo de uma aplicação arquitetônica do aço inoxidável colorido, em um

edifício em Fortaleza-CE. .......................................................................................................... 5

Figura 3.2. Ilustração representando a interferência dos raios na superfície na interface

substrato/filme dos aços coloridos (Adaptado de: Euro Inox, 2011). ........................................ 5

Figura 3.3. Resistência ao desgaste de chapa industrial de aço inoxidável colorido aquecida a

150°C por 2, 4, 16, 64 e 256 horas (Junqueira, et al., 2009). ................................................... 12

Figura 3.4. Instrumentos cirúrgicos em processo de corrosão (Straumann, 2011). ................. 14

Figura 3.5. Representação dos atributos da cor: Matizes, escala de saturação e escala de

luminosidade (Adaptado de: Matarazzo, 2010). ...................................................................... 18

Figura 3.6. Diagrama do sólido de cor no espaço L*, a*, b* (Machado et al., 1997). ............ 19

Figura 3.7. Representação gráfica das coordenadas cromáticas L*, C* e H* (Adaptação de:

Billmeyer & Saltzman, 1981). .................................................................................................. 20

Figura 3.8. Espectro FTIR de absorbância na região do infravermelho de amostras do

substrato e de filmes de coloração por interferência (Junqueira, et al., 2008). ........................ 23

Figura 3.9. Espectro FTIR de absorbância na região do infravermelho de filmes de coloração

por interferência antes e após tratamento térmico a 150°C pelos tempos indicados (Junqueira

et al., 2008). .............................................................................................................................. 24

Figura 3.10. Revestimento BALINIT® A (Oerlikon Balzers, 2012). ...................................... 29

Figura 3.11. Revestimento colorido de resina epóxi sobre instrumental ................................. 30

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Figura 3.12. Fitas adesivas coloridas para identificação de instrumental médico ................... 30

Figura 3.13. Setores de organização do instrumental na mesa de instrumentação: Diérese (1),

Preensão (2), Hemostasia (3), Exposição (4), Setor especial (5) e Síntese (6) (UEPA-CCBS).

.................................................................................................................................................. 34

Figura 3.14. Gráfico tempo x temperatura e pressão em um ciclo de esterilização em

autoclave (Luqueta, 2008). ....................................................................................................... 39

Figura 4.1. Preparo de embalagem das amostras para a esterilização. ..................................... 45

Figura 4.2. Autoclave Baumer modelo HI VAC II – Hospital Madre Teresa ......................... 46

Figura 4.3. Testador de abrasão modelo NUS-ISO3 ................................................................ 48

Figura 4.4. Preparação de amostras para ensaio de imersão em NaCl, 3% ............................. 50

Figura 5.1. Amostras de aço colorido não esterilizadas, e esterilizadas por 5, 10, 15 e 20

ciclos: ABNT 304 polidas (a), ABNT 304 escovadas (b) e ABNT 316L (c). ......................... 52

Figura 5.2. Valores médios das diferenças de cor nas amostras: ABNT 304 polidas (a), ABNT

304 escovadas (b) e ABNT 316L (c) antes e após os ciclos de esterilização. ......................... 54

Figura 5.3. Número de ciclos abrasivos médios necessários para remoção completa dos filmes

do aço colorido: ABNT 304 polidas (a), ABNT 304 escovadas (b) e ABNT 316L (c), de

amostras não esterilizadas e amostras submetidas a 20 ciclos de esterilização. ...................... 57

Figura 5.4. Amostras de aço colorido não esterilizada, e amostra esterilizada por 20 ciclos

após ensaio de corrosão com água em ebulição: ABNT 304 polidas (a), ABNT 304 escovadas

(b) e ABNT 316L (c). ............................................................................................................... 61

Figura 5.5. Amostras de aço colorido não esterilizada, e amostra esterilizada por 20 ciclos

após Ensaio de corrosão por imersão em NaCl 3%, 50ºC: ABNT 304 polidas (a), ABNT 304

escovadas (b) e ABNT 316L (c). ............................................................................................. 62

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Figura 5.6. Espectro FTIR de absorbância na região do infravermelho de amostras de aço

colorido 304 polidas não esterilizadas e de amostras submetidas a 20 ciclos de esterilização.64

Figura 5.7. Diferença dos espectros de reflectância FTIR entre as amostras de aço colorido

304 polidas não esterilizadas e submetidas a 20 ciclos de esterilização. ................................. 65

Figura 5.8. Diferença dos espectros de reflectância FTIR entre as amostras de aço colorido

316L não esterilizadas e submetidas a 20 ciclos de esterilização. ........................................... 66

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LISTA DE TABELAS

Tabela III.1. Indicação da composição química dos aços inoxidáveis austeníticos, Classe 3, %

(ABNT, 2010). ......................................................................................................................... 28

Tabela IV.1. Composição química dos aços ABNT 304 e ABNT 316L (% em massa). ......... 42

Tabela IV.2. Organização das amostras para os ensaios de esterilização em autoclave. ......... 43

Tabela V.1. Valores médios da diferença de cor (∆Ecmc), nas amostras de aço inoxidável

coloridas em azul após ensaio de resistência a esterilização em autoclave. ............................ 55

Tabela V.2. Número de ciclos abrasivos médios de amostras de aço inoxidável coloridas em

azul em ensaio de resistência ao desgaste por abrasão utilizando papel abrasivo de CrO3

0,5µm a 20N. ............................................................................................................................ 58

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LISTA DE NOTAÇÕES

A

Å Ampére

Ângstron

a* Coordenada cromática retangular da escala CIELAB relacionada à variação de

tons na escala de cores: vermelho–verde.

ABNT

ABDI

ANVISA

AFM

Associação Brasileira de Normas Técnicas

Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial

Agência Nacional de Vigilância Sanitária

Microscopia de Força Atômica

b* Coordenada cromática retangular da escala CIELAB relacionado à variação de

tons: azul-amarelo.

BB “Buffing Bright” C* Coordenada cromática cilíndrica da escala CIE do sistema L*, C*e H*,

relacionado à saturação da cor (pálido-vívido).

CETEC Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais

CIE

CME

Comissão Internacional de Iluminação (Commission Internationale de

l’eclairage)

Central de Material Esterilizado

Cr2O3 Óxido de Cromo

D Densidade

Ecorr

FESEM

FTIR

GDF

Potencial de Corrosão

Microscopia Eletrônica de Emissão de Campo

Espectroscopia de Absorção na Região do Infravermelho utilizando

transformada de Fourier

Governo do Distrito Federal

H2SO4 Ácido sulfúrico ia Corrente anódica

ic Corrente catódica

Icorr Corrente de corrosão

INPI Instituto Nacional da Propriedade Industrial L*

Coordenada cromática cilíndrica da escala CIE dos sistemas L*, C* e H* e

L*, a* e b* que define a luminosidade da cor (branco-preto).

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MS Ministério da Saúde

OMS Organização Mundial de Saúde SES Secretaria Estadual de Saúde

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RESUMO

A coloração por interferência em aços inoxidáveis é utilizada desde a década de 70 em

aplicações arquitetônicas e decorativas. Desde então, outras aplicações deste material vêm

crescendo em volume e diversidade. Apesar do seu potencial comercial, a sua utilização em

produtos industrializados ainda é restrita, devido principalmente ao pouco conhecimento e

divulgação comercial. A possibilidade de aplicação deste material na indústria médico-

hospitalar vem sendo discutida e proposta, uma vez que a coloração do aço inoxidável possui

grande apelo estético, mantêm as características mecânicas e químicas inerentes ao aço

inoxidável e ao mesmo tempo apresenta maior resistência à corrosão. A utilização do aço

colorido em instrumentos e equipamentos médicos, além de inédita, traz inúmeras

possibilidades que vão desde a classificação e identificação de produtos por cores, à

segurança e ao bem–estar de médicos e pacientes. Em relação à segurança no ambiente

hospitalar, os objetos e instrumentos que entram em contato direto com médicos e pacientes,

quando não descartados devem ser esterilizados, e entre os processos de esterilização o mais

recomendado é a autoclavagem. Com o propósito de avaliar a possibilidade de aplicação do

material no setor médico-hospitalar, no presente trabalho foram estudadas amostras de aço

inoxidável austenítico ABNT 304 e 316L coloridas por interferência, e submetidas a

processos de limpeza e esterilização simulando o material em serviço dentro do ambiente

médico-hospitalar. O efeito da esterilização nas amostras foi avaliado a partir de medidas de

cor em espectrofotômetro de refletância, espectroscopia de absorção na região do

infravermelho por transformada de Fourier (FTIR), de resistência ao desgaste por abrasão e à

corrosão por imersão em NaCl 3% e água em ebulição. A aparência das amostras apresentou

alterações de cor mínimas, praticamente imperceptíveis ao olho humano, apesar das medições

de cor terem indicado diferenças que aumentaram com os ciclos de esterilização. A avaliação

ao desgaste por abrasão, após o tratamento térmico sofrido nos ciclos de esterilização, indica

o aumento da resistência ao desgaste devido ao envelhecimento do filme. Na avaliação da

corrosão, as amostras não apresentaram nenhum indício de corrosão superficial ou corrosão

por pite, indicando que o processo de esterilização não influencia a resistência à corrosão do

material, assim como nos aços inoxidáveis sem coloração.

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ABSTRACT

Interference colored stainless steel is used since the 70s in architectural and decorative

applications. Since then other applications of this material have been growing in size and

diversity. Despite their commercial potential, its use in industrial products is still restricted

mainly due to poor commercial dissemination and knowledge. The possibility of applying this

material in medical industry has been discussed and proposed since the color of stainless steel

has great aesthetic appeal, maintaining the mechanical and chemical characteristics and has

higher corrosion resistance. The use of colored stainless steel in medical instruments and

equipment is unprecedented and brings many possibilities ranging from the classification and

identification of products by color, safety and welfare of doctors and patients. In relation to

the safety in the hospital environment, objects and instruments that come into direct contact

with doctors and patients, if not discarded, should be sterilized. Autoclaving is the most

recommended process of sterilization. In order to evaluate the possibility of application of the

material in medical and hospital sector, this work studied samples of ASTM 304 and ASTM

316L austenitic stainless steel colored by interference, subjected to cleaning and sterilization

processes simulating the material in service within the healthcare environment. The effect of

sterilization in the samples was evaluated from measurements of color on reflectance

spectrophotometry, absorption spectroscopy in the Fourier transform infrared spectroscopy

(FTIR), resistance to abrasion and corrosion by immersion in NaCl 3% and boiling water. The

appearance of the samples showed minimal changes in color, practically imperceptible to

human eye, although the color measurements have indicated that increased with different

sterilization cycles. Evaluation to abrasion after the heat treatment in the sterilization cycles

indicates an increase in wear resistance due to aging of the film. In the evaluation of corrosion

the samples showed no evidence of surface and pitting corrosion, indicating that the

sterilization process does not influence the corrosion resistance of the material, as in the

stainless steel without interference film.

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1. INTRODUÇÃO

A coloração por interferência dos aços inoxidáveis é empregada há alguns anos

principalmente na arquitetura e na construção civil, como em revestimentos externos e

internos e em outras aplicações decorativas. A durabilidade do material e a diversidade de

acabamentos superficiais são alguns dos atributos que auxiliam nas possibilidades de

aplicação e que contribuem para intensificar a utilização do produto (Junqueira & Loureiro,

2004).

A coloração por interferência nos aços inoxidáveis é realizada utilizando diferentes técnicas,

entre elas as de crescimento do filme de óxidos de cromo na sua superfície, que ao interagir

com a luz ambiente, provoca o aparecimento de cores de interferência. As cores como o

bronze, azul, dourado, vermelho, verde e preto, surgem à medida que se aumenta a espessura

do filme e a coloração pode ser realizada em qualquer tipo de acabamento mecânico, seja

escovado ou brilhante. Uma limitação do processo de coloração em escala industrial no

Brasil, é que atualmente ela só é realizada em chapas de aço inoxidável austenítico (Junqueira

et al., 2008; Euro Inox, 2011).

O aço inoxidável é atualmente a liga metálica mais utilizada no segmento médico-hospitalar

devido a sua facilidade de limpeza e sua resistência mecânica e à corrosão. A aplicação do aço

inoxidável colorido neste segmento é inédita e tem sido discutida e proposta, uma vez que a

coloração possui grande apelo estético, mantêm as características mecânicas do aço

inoxidável e ao mesmo tempo apresenta uma maior resistência à corrosão.

A coloração de produtos e instrumentos do segmento médico-hospitalar além do fator estético

está ligada a fatores de promoção do bem-estar a médicos e pacientes, e ao mesmo tempo a

fatores de segurança, como na identificação e controle de produtos. Esta abordagem indica um

campo propenso a sua utilização e está de acordo com as mais novas políticas de humanização

do ambiente hospitalar, e às questões de segurança, ergonomia, rastreabilidade dos produtos e

equipamentos médicos. (Alexandre, 1998; Beck et al., 2007; MS, 2009; MS, 2010).

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A importância da cor em ambientes hospitalares tem sido alvo de vários estudos, tendo em

vista que o objetivo daqueles que trabalham em tais espaços é o aumento da qualidade de

vida, já que os hospitais abrigam pessoas que lidam com fortes emoções. (Battistela, 2003;

Beck et al., 2007; Matarazzo, 2010; Azevedo et al., 2011). A cor pode criar uma disposição

de ânimo geral e provocar uma resposta emocional no usuário. Além de integrá-las à mente, o

paciente também as associam com estados emocionais, sentimentos e valores (Dias, 2009).

Por esta razão, a cor passa a ter significado diferente para cada usuário, devendo ser

valorizada pelos profissionais que estão envolvidos com o planejamento e a gestão hospitalar

(Beck et al., 2007; Boccanera et al., 2004).

Fatores ligados à segurança hospitalar são discutidos amplamente pelos órgãos

governamentais. A ineficiência no controle e na identificação de materiais e equipamentos,

bem como fatores humanos, está relacionada a acidentes e danos causados a pacientes (MS,

2009). Os processos de controle para a limpeza e a esterilização estão fortemente ligados a

vários destes fatores, e segundo o Ministério da Saúde (MS, 2001) para a esterilização de

artigos críticos e semicríticos, o método de esterilização por autoclave é o mais usual, seguro

e eficaz.

Com o objetivo de avaliar o desempenho do material e a possibilidade de aplicação do aço

colorido em instrumentos médico-hospitalares, neste trabalho foram estudadas amostras de

aço inoxidável coloridas por interferência, submetidas a procedimentos de limpeza e

esterilização em autoclave para instrumentos médicos. Amostras retiradas de chapas de aço

inoxidável austenítico ABNT 304 e ABNT 316L coloridas industrialmente em azul, foram

submetidas a ensaios de resistência à esterilização em autoclave, ensaio de resistência ao

desgaste por abrasão, ensaios de corrosão com água em ebulição e de imersão em NaCl, 3%.

Foram empregadas técnicas de espectroscopia para a avaliação da variação de cor e dos

espectros do infravermelho por transformada de Fourier (FTIR). Para avaliar a resistência à

esterilização e à corrosão foram utilizadas referências normativas específicas, indicadas para a

avaliação da resistência de instrumentos médicos e odontológicos.

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2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Principal

Avaliar o desempenho dos aços inoxidáveis austeníticos ABNT 304 e ABNT 316L coloridos

por interferência, submetidos ao processo de esterilização por vapor saturado em autoclave,

visando à aplicação do material em instrumentos e produtos médico-hospitalares.

2.2. Objetivos Específicos

• Avaliar e determinar a resistência do filme colorido ao processo de esterilização em

autoclave, submetendo amostras de aço inoxidável colorido a uma sequência de ciclos de

esterilização, simulando o material em serviço.

• Avaliar a influência do processo de esterilização em autoclave na coloração do aço

inoxidável colorido, na sua resistência ao desgaste por abrasão e na sua resistência à

corrosão.

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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. Aços Inoxidáveis Coloridos por Interferência

As cores de interferência sobre o aço inoxidável são resultado do aumento da espessura do

filme passivo de óxidos na sua superfície (Junqueira, 2004). Os aços inoxidáveis coloridos

possuem aplicações diversas, e são utilizados há mais de trinta anos principalmente como

revestimentos nos segmentos de arquitetura e construção. Atualmente o aço colorido tem sido

empregado também na fabricação de mobiliário doméstico e urbano, em instalações

comerciais e na comunicação visual.

A modificação de superfícies pela eletrodeposição de filmes é utilizada para diversas

aplicações como, as que requerem o aumento da resistência à corrosão, melhoria de

propriedades tribológicas, óticas, eletrônicas e estéticas. Entre as várias tecnologias de

modificação de superfícies encontra-se a de coloração de aços inoxidáveis por diferentes

processos químicos e eletroquímicos para fins decorativos (Junqueira, 2004). A modificação

da superfície neste caso, além das cores, também confere ao aço inoxidável colorido uma

resistência superior à do aço inoxidável frente à corrosão (Junqueira, 2004).

A sua aplicação em áreas externas é mais comum e indicada devido as suas características de

alta resistência à corrosão e resistência mecânica, além de grande diferencial estético frente a

outros acabamentos (Euro Inox, 2011; Junqueira, 2004). A coloração pode ser realizada em

qualquer tipo de acabamento mecânico seja ele escovado ou brilhante, o que amplia

consideravelmente as variações e possibilidades de utilização. A textura e o acabamento final

do material permanecem visíveis e ao mesmo tempo adiciona-se apelo estético (Junqueira et

al., 2008). Apesar de todas as possibilidades de acabamento e de cores, a coloração em escala

industrial no Brasil, atualmente só é realizada em chapas de aços inoxidáveis austeníticos.

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Figura 3.1. Exemplo de uma aplicação arquitetônica do aço inoxidável colorido, em um

edifício em Fortaleza-CE.

A cor visualizada na superfície do aço é o resultado de interferências luminosas que ocorrem

entre a luz ambiente e a película que recobre o aço. A cor que é conferida após o processo de

coloração é resultante direta da interferência da luz refletida nas interfaces do filme de

óxido/ar e aço/filme de óxido. A imagem apresentada na Figura 3.2 ilustra como ocorre esta

visualização das cores.

Quando a luz ambiente incide na superfície do filme, uma parte sofre refração para o interior

do filme e a outra parte sofre reflexão. A luz que foi refratada reflete na interface entre

substrato/filme (Evans, 1977).

Figura 3.2. Ilustração representando a interferência dos raios na superfície na interface

substrato/filme dos aços coloridos (Adaptado de: Euro Inox, 2011).

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A distância que a luz percorre dentro do filme de óxidos provoca uma diferença entre as

ondas que interfere em diferentes comprimentos de onda presentes na luz visível. Esta

diferença permite a predominância de um determinado comprimento de onda no feixe

resultante, que será responsável pela cor visível (Junqueira et al., 2008). Este fenômeno é

semelhante ao espectro de cores que se observa em uma bolha de sabão quando iluminada

pela luz do sol.

A variação de cores, entre elas o azul, o dourado e o verde são obtidas a partir de fatores como

a concentração de componentes na solução, o tempo de imersão, a temperatura da solução e as

condições do aço. A sequência de cores pode ser obtida variando-se a espessura da camada de

óxido, que cresce com o tempo de imersão (Evans, 1977; Junqueira, 2004).

Os mecanismos de formação de filmes de coloração por interferência na superfície de aços

inoxidáveis, a partir de imersão em soluções oxidantes, foram estudados por Evans (1977).

Com base em medidas de perda de massa e de espessura do filme, o autor indicou que o filme

é formado por reações de dissolução e precipitação. Basicamente ocorrem duas reações

eletroquímicas simultâneas. A primeira é a dissolução anódica (equação 3.1) da superfície do

aço inoxidável, onde M e MZ+ representam os elementos de liga presentes no aço, por

exemplo Fe, Cr, Ni, Mn e seus respectivos íons formados durante a dissolução, tais como

Fe3+, Cr3+, Ni2+, Mn2+, etc.

M → MZ+ + ze- (3.1)

Na segunda reação (equação 3.2) ocorre a redução de Cr(IV) para Cr(III).

Cr2O72- + 14H+ + 6e- → 2Cr3+ + 7H2O (3.2)

Evans (1977), sugeriu ainda que a concentração do cromo trivalente produzido na dissolução

anódica e o produzido catodicamente, atinge um valor crítico até a saturação no óxido de

cromo presente no filme. Os íons metálicos formados pelas dias reações acima são

hidrolisados conforme a reação apresentada pela equação 3.3, resultando na dormação do

filme de interferência MpCrqOr.

pMz+ + qCr3+ + rH2O → MpCrqOr + 2rH (3.3)

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Em seu trabalho experimental de caracterização, Evans, (1977) notou que o aumento da

espessura do filme era acompanhado de um decréscimo de peso do substrato, o que o fez

concluir que o filme não atuava como barreira contra a dissolução do substrato. A partir de

imagens de microscopia eletrônica de transmissão, concluiu que o filme colorido por

interferência é bastante poroso, apresentando densidade de poros na ordem de 1011 cm-3, e que

a porosidade não variava com a espessura do filme. Densidade de poros da mesma ordem de

grandeza foram determinadas também por Junqueira et al. (1997). A porosidade do filme foi

estudada por microscopia eletrônica de transmissão por Evans et al. (1973) que observaram

um tamanho médio de poros de 10 a 20nm. Estes autores também observaram que o tamanho

e a densidade dos poros eram constantes em todo o filme e independente da sua espessura.

A espessura dos filmes varia entre valores de 50nm para a primeira cor formada, o marrom

claro, chegando até a 380nm para o filme mais espesso, o de cor verde (Junqueira, 2004). O

filme azul, em específico, possui espessura na ordem de 134,9±17,8nm. A composição

química do filme foi determinada através de microssondagem eletrônica por Evans et al.

(1973) e indicou que o filme é constituído de 21,3% Cr, 11,5% Fe e 6,3% de Ni.

Estudos, como os de Conrrado et al. (2003) e Kikuti et al. (2006), demonstraram que os

filmes de óxidos crescidos sobre os aços inoxidáveis aumentam a resistência à corrosão destes

materiais. Em outro estudo, Junqueira & Loureiro (2004), concluem que os aços inoxidáveis

coloridos apresentaram melhor desempenho frente aos aços inoxidáveis nos ensaios de

corrosão não acelerados por exposição atmosférica em ambiente marinho e, ensaios

acelerados em câmara de névoa salina.

A formação do filme de interferência, e consequentemente a coloração do aço inoxidável,

pode ser obtida por diferentes processos: químicos, térmicos e eletroquímicos.

O mecanismo de formação do filme de interferência na superfície de aços inoxidáveis pelo

método de oxidação química foi proposto inicialmente por Evans (1977) e tem sido também

adotado para os processos de coloração eletroquímicos, com exceção dos processos realizados

apenas em ácido sulfúrico (Junxi et al., 1999). O método de oxidação química para produção

comercial dos filmes de óxido consiste na imersão do aço em uma solução concentrada -

(CrO3) 2,5 mol L-1 e ácido sulfúrico (H2SO4) 5,0 mol L-1, mantida a uma temperatura entre

80ºC e 85ºC. Devido às dificuldades encontradas na reprodutibilidade das cores obtidas pelo

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processo químico de imersão, diferentes processos eletroquímicos foram propostos na

literatura para coloração de aços inoxidáveis (Junqueira, 2004).

No processo de oxidação térmica, amostras de aço inoxidável contendo um teor de cromo que

varia entre 13% e 25% são coloridas ao serem submetidas a tratamento térmico em atmosfera

controlada (He, Ar, H2 ou O2) e em temperaturas que variam entre 500°C e 900°C (Evans,

1977).

Nos processos eletroquímicos, o filme de óxidos pode ser crescido na superfície do aço pela

aplicação de pulsos alternados de potencial, em temperaturas variando entre 30°C e 50°C

(Fujimoto et al., 1993; Ogura et al., 1994; Junxi et al., 1999); pulsos alternados de corrente

(Wang & Duh, 1995), varredura triangular de corrente (Ogura et al., 1996) ou superposição

de sinais de corrente alternada e corrente contínua (Conrrado et al., 2001). Estes processos

apresentam vantagens em relação ao processo químico, como por exemplo, menor tempo de

imersão para a formação do filme, maior uniformidade de cor e maior resistência ao desgaste

(Sone et al., 1991; Lin et al., 1995).

Na década de 90, foi desenvolvido pelo CETEC um processo de coloração eletroquímica de

aço inoxidável por corrente pulsada em solução sulfocrômica, na temperatura ambiente, para

o qual foi concedida patente junto ao INPI - Instituto Nacional da Propriedade Intelectual

(CETEC, 1999). O desenvolvimento do processo incluiu a otimização de parâmetros

operacionais em escala de laboratório, e posteriormente, a transposição para a escala

industrial.

As pesquisas conduzidas no CETEC levaram ao desenvolvimento de um novo processo

eletroquímico de corrente pulsada em solução H2SO4 (5mol/L) e CrO3 (2,5mol/L) à

temperatura ambiente, para o qual foi concedida patente pelo INPI (PI 9703991) (CETEC,

1999).

Posteriormente, com o aumento do rigor na redução e/ou eliminação do uso de metais pesados

pelas legislações ambientais e a atual preocupação em se desenvolver processos mais

sustentáveis, os pesquisadores foram motivados a investigar um novo processo de coloração

de aços inoxidáveis onde são utilizadas como eletrólito soluções ácidas com menor teor de

cromo (Junqueira et al., 2010). Recentemente Junqueira et al. (2010) propuseram a coloração

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de amostras de aços inoxidáveis pelo método eletroquímico de corrente pulsada utilizando

como eletrólito solução ácida em concentrações de 70 g/L de cromo, a fim de investigar a

influência da concentração de cromo na resistência à corrosão e ao desgaste por abrasão.

Foi demonstrado nestes estudos que é possível colorir os aços inoxidáveis pelo processo

eletroquímico de corrente pulsada de uma maneira mais sustentável, sem comprometer as

propriedades do material. A morfologia dos filmes de interferência não é influenciada por

diferentes concentrações de cromo utilizadas no eletrólito, e não foi percebida diferença

significativa no desempenho dos aços inoxidáveis coloridos sob o ponto de vista da sua

resistência à corrosão e ao desgaste por abrasão (Junqueira et al., 2010).

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3.2. Avaliação do Desempenho do Aço Inoxidável Colorido

Para a avaliação do desempenho de materiais revestidos, Junqueira et al. (2007), indicam que

deve ser avaliada a sua resistência ao desgaste e o comportamento da resistência à corrosão.

Para produtos como o aço inoxidável colorido, onde a cor é o principal atributo, é importante

que se disponha de uma medida quantitativa da mesma, para atender às questões de

reprodutibilidade das diferentes cores (Junqueira et al., 1998).

3.2.1. Resistência ao Desgaste por Abrasão

O fenômeno do desgaste se caracteriza pelo deslocamento de material causado pela presença

de partículas duras que podem estar entre, embutidas, ou em ambas as superfícies em

movimento relativo (Dias & Gomes, 2003). A ASTM - American Society for Testing and

Materials (2001), define que o desgaste é caracterizado como um dano causado a uma

superfície sólida, geralmente envolvendo uma perda progressiva de material devido ao

movimento entre aquela superfície e um ou mais corpos em contato.

Nos metais, este processo pode ocorrer de várias formas: pelo contato direto com outros

metais e sólidos não metálicos, partículas sólidas, líquidos em movimento, ou ainda partículas

sólidas ou de líquido transportadas em um fluxo gasoso. O desgaste por abrasão pode ser

definido como um dano a uma superfície sólida envolvendo uma perda progressiva de

material devido à movimentação relativa entre a superfície e um ou vários tipos de materiais

(Ribeiro, 2004).

A resistência à abrasão de um revestimento é um fator crítico na sua durabilidade e está

diretamente relacionada com outras propriedades mecânicas, tais como dureza, módulo de

elasticidade e resistência a riscos. Para produtos de natureza como os aços inoxidáveis

coloridos, é fundamental considerar a ação de esforços mecânicos leves decorrentes do

manuseio do produto que possam afetar a aparência das superfícies coloridas (Junqueira et al.,

1998).

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As metodologias existentes para este tipo de ensaio são direcionadas para filmes tribológicos,

onde a carga empregada é maior que a utilizada para revestimentos considerados decorativos,

como o aço inoxidável colorido. A avaliação da resistência ao desgaste por abrasão de filmes

coloridos não é comum. Na literatura, são encontrados métodos para avaliação da resistência

ao desgaste de filmes coloridos por interferência que restringem a ensaios não normalizados,

geralmente adaptados de metodologias já existentes (Lin et al., 1996; Junqueira et al.,1998;

Junqueira et al.,2006).

Em estudo, Cheng et al. (2008), utilizaram um disco de borracha com uma carga de 500g para

avaliar a resistência ao desgaste de amostras de aço inoxidável coloridas por um processo que

combina a coloração química e o processo de fixação do filme em apenas uma etapa. Neste

caso, o ensaio consistia em utilizar um disco de borracha que era pressionado contra a amostra

de aço, e a resistência ao desgaste foi medida utilizando como referência o número de ciclos

necessários para desbastar o filme.

Para avaliar a resistência ao desgaste, Junqueira et al. (1998) realizaram testes de desgaste por

abrasão em aços coloridos utilizando um sistema constituído de um disco revestido com um

pano de polimento metalográfico, e este era embebido com uma suspensão aquosa de Al2O3

0,25µm adaptado a um motor com velocidade de 100rpm e uma carga de 137,8gf. O desgaste

então era medido pela área da elipse formada na superfície das amostras após 2200 ciclos

abrasivos, onde o substrato estava suficientemente exposto nas amostras de aço colorido.

Neste caso, o ensaio foi realizado em amostras que foram submetidas a diferentes tempos de

exposição atmosférica, e através da análise comparativa das áreas das elipses, foi avaliado o

desgaste. A análise demonstrou que a exposição atmosférica e a temperatura bem como a

umidade relativa do ar interferem na resistência ao desgaste dos filmes.

A resistência ao desgaste por abrasão também foi avaliada por Junqueira et al. (2006) e

Junqueira et al. (2009), utilizando um sistema para avaliar a resistência de amostras de aço

inoxidável coloridas em dourado em diferentes níveis de porosidades. Junqueira et al. (2009)

realizaram testes de desgaste por abrasão em aços coloridos utilizando uma máquina de

resistência ao desgaste por abrasão. O ensaio realizado consistiu no desbaste do filme de

interferência pressionando-se a superfície da amostra contra uma roda revestida por uma tira

de papel abrasivo de CrO3 de 0,5µm em ciclos realizados por movimentos de ida e volta, com

uma carga constante de 30N. A roda girou um grau para frente e para trás, em seguida, pela

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mesma quantidade, 40 vezes por minuto. Os testes foram conduzidos até o substrato ser

exposto. A área desgastada, de aproximadamente 3,0cm x 1,0cm permitiu uma avaliação

clara através de inspeção visual.

Nestes estudos, concluiu-se que a morfologia dos sistemas revestidos influencia as suas

propriedades mecânicas. Os conjugados formados com filmes mais espessos como o verde e

o dourado, tem maior resistência ao desgaste do que filmes finos, como o marrom e o azul. Os

filmes mais porosos apresentaram menor resistência ao desgaste do que os filmes menos

porosos. No mesmo estudo, a resistência ao desgaste das amostras após tratamento térmico a

150°C por até 256 horas, indicaram o aumento da resistência, como apresentado na Figura

3.3.

Figura 3.3. Resistência ao desgaste de chapa industrial de aço inoxidável colorida em dourado

aquecida a 150°C por 2, 4, 16, 64 e 256 horas (Junqueira, et al., 2009).

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3.2.2. Resistência à Corrosão

Ao selecionar aços inoxidáveis para determinada aplicação, eles são primeiramente indicados

por sua grande resistência à corrosão. Apesar de apresentar uma resistência à corrosão

superior à maioria dos metais, em meios muito agressivos os aços inoxidáveis podem sofrer

algum tipo de corrosão, podendo prejudicar de alguma forma sua durabilidade ou aparência

(Junqueira, 2004; Ciuccio et al., 2010). Torna-se fundamental especificar o tipo mais

adequado do aço inoxidável considerando a sua composição química e acabamento mecânico

superficial, para aproveitar ao máximo as propriedades inerentes a estes materiais.

De acordo com Wolynec (2003), os fenômenos de corrosão de metais envolvem uma grande

variedade de mecanismos que podem ser reunidos em quatro grupos: corrosão em meio

aquoso (90%), oxidação e corrosão a quente (8%), corrosão em meio orgânico (1,8%) e

corrosão por metais líquidos (0,2%), sendo que entre parêntesis está indicada uma estimativa

da incidência de cada tipo de corrosão. A corrosão em meio aquoso é a mais comum, uma vez

que a maioria dos fenômenos de corrosão ocorre no meio ambiente, no qual a água é o

principal solvente. A própria corrosão atmosférica, que é uma das de maior incidência, ocorre

pela condensação da umidade na superfície do metal (Wolynec, 2003).

A resistência à corrosão dos aços inoxidáveis depende basicamente da sua composição

química e da sua microestrutura, e de um modo geral pode-se afirmar que os aços inoxidáveis

austeníticos são os mais resistentes à corrosão. A estabilidade do filme passivo depende

fortemente dos elementos de liga presentes no aço. O principal deles é o molibdênio, que está

diretamente relacionado com a maior homogeneidade do filme. Desta forma, a escolha de um

material adequado (baixo pH de depassivação, alto potencial de pite em meios ácidos) torna-

se fundamental (Dias & Cândido, 2008).

O fenômeno de corrosão do aço inoxidável se apresenta mais comumente pela corrosão

localizada. A corrosão localizada ocorre quando a camada de óxidos foi danificada e o

substrato foi exposto a ambientes ácidos. Na Figura 3.4 é possível observar instrumentais em

processo de corrosão, sendo em parte corrosão localizada. Neste caso, os instrumentos foram

tratados com produtos de limpeza e desinfeção que continham cloro.

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Figura 3.4. Instrumentos cirúrgicos em processo de corrosão (Straumann, 2011).

Em relação a meios ácidos, existe uma diferença fundamental no comportamento dos aços

inoxidáveis. Por um lado, os meios ácidos oxidantes ajudam a formar ou conservar o filme

passivo, como é o caso dos ácidos nítrico e fosfórico, este último com algumas limitações que

dependem da concentração e da temperatura. Por outro lado, os meios ácidos redutores não

permitem a sua formação ou o destroem como exemplo os ácidos clorídrico e fluorídrico.

Neste caso não devem ser especificados os aços inoxidáveis (Gentil, 1996; Fontana, 1986).

Em meios que contém o ânion cloreto, os aços inoxidáveis correm o risco de sofrer formas

localizadas de corrosão, como a corrosão por pite e a corrosão em frestas, que são formas de

corrosão localizadas e bastante parecidas, pelo menos em seus mecanismos de propagação.

Na corrosão por frestas é necessário que exista um interstício. Neste caso o ataque provocará

lacunas metálicas no filme passivo. A corrosão por pite pode ser caracterizada por um ataque

corrosivo localizado e na presença de íons cloreto. Ele é iniciado pela quebra da camada

passiva em regiões onde esta apresenta defeitos como inclusões, discordâncias, contornos de

grão ou interfaces. A quebra da passividade é seguida pela formação de uma célula

eletroquímica, onde o anodo é uma pequena área do metal ativo e o catodo é uma

considerável área do metal passivado (Fontana, 1986; Wolynec, 2003).

Em uma solução com cloretos, o potencial que é necessário atingir para que o metal colocado

nessa solução apresente corrosão por pites é conhecido como potencial de pite. Quanto mais

nobre é o potencial de pite, mais alto é seu valor e melhor é a resistência do material à

corrosão por pites no meio considerado. A diminuição do pH, o aumento da temperatura e o

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aumento da concentração de cloretos, favorecem a corrosão por pites, onde o potencial de pite

passa a ser menor, desta forma, mais ativo (Fontana, 1986).

O acabamento superficial possui uma importante influência na resistência a corrosão do

material. Superfícies com baixa rugosidade terão, na maioria dos casos, um efeito favorável

na resistência à corrosão, mas tratando-se de corrosão sob tensão, um jateamento da superfície

pode ser uma grande ajuda na resistência do material. Um mesmo aço inoxidável, em um

determinado meio, pode se comportar de diferentes maneiras em função do seu acabamento.

Entre os aços lixados, o que tem menor rugosidade é mais resistente à corrosão,

principalmente se nos referimos à corrosão por pites (Ashby & Johnson, 2011).

A resistência à corrosão de aços inoxidáveis pode ser estudada a partir de diferentes

metodologias, tais como ensaios de exposição atmosférica acelerada e não acelerada, curvas

de polarização potenciodinâmica, espectroscopia de impedância eletroquímica, ensaios de

perda de massa (métodos gravimétricos), imersão em soluções de cloretos, entre outros.

Na vida útil dos instrumentos cirúrgicos e odontológicos, a resistência à corrosão sob diversos

meios é de fundamental importância. No estudo da resistência a corrosão em instrumentais

médicos, as normas NBR ISO 13402 – Instrumentais cirúrgico e odontológico –

Determinação da resistência à esterilização em autoclave, à corrosão e à exposição térmica, e

a ASTM F1089-10 – Standard test method for corrosion of surgical instruments, abordam da

mesma forma os métodos de ensaio para determinação da resistência à esterilização em

autoclave e à corrosão de instrumentos cirúrgicos de aço inoxidável. Os ensaios indicados

para a avaliação da superfície dos instrumentos são:

• Ensaio de corrosão em autoclave: o ensaio procura simular o ambiente de serviço;

consequentemente, está baseado em métodos recomendados de esterilização.

• Ensaio de corrosão com água em ebulição: o ensaio é indicado para a determinação da

resistência a corrosão.

Os requisitos para a avaliação dos ensaios são encontrados em outra norma, a NBR 13851,

que estabelece requisitos gerais para avaliação da resistência de instrumentos cirúrgicos e

odontológicos de aço inoxidável. De acordo com a norma, para os ensaios realizados de

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acordo com as exigências da NBR ISO 13402, é necessário observar os seguintes requisitos:

nenhuma superfície deve mostrar qualquer sinal de corrosão (sem ampliação). Pequenas

evidências de ferrugem (óxido ferroso) nas bordas dentadas, dentes, fechos, linguetas de

catracas, enxertos (juntas brasadas ou soldadas) etc., não devem ser motivo para rejeição.

A avaliação da resistência à corrosão dos aços inoxidáveis coloridos foi estudada por vários

autores, entre eles Conrrado et al. (2003), Kikuti et al. (2004) e Junqueira et al. (2007),

utilizando diferentes técnicas.

Chapas de aço inoxidável sem coloração e coloridas por processo eletroquímico foram

submetidas a ensaios de exposição atmosférica pelo CETEC (2001). A exposição por três

anos em ambiente urbano não apresentou nenhum sinal de corrosão ou perda de peso em

todas as amostras testadas. A exposição ao ambiente marinho por um ano provocou o

aparecimento de manchas de ferrugem, formação de pites superficiais e queda de brilho,

sendo estes efeitos mais intensos nas amostras sem coloração (Junqueira, 2004).

A técnica de polarização potenciodinâmica foi utilizada por Conrrado et al. (2003), para

avaliar a resistência à corrosão uniforme e por pites de amostras de aço inoxidável ABNT 304

coloridas pelo método de pulsos alternados de potencial em diferentes amplitudes e tempos de

eletrólise. Neste trabalho foi constatado que as velocidades de corrosão das amostras coloridas

eram sempre menores que a das amostras não coloridas. No entanto, salienta-se que a

susceptibilidade à corrosão por pites foi praticamente igual para as amostras de aço inoxidável

coloridas e não coloridas.

A resistência à corrosão por pites de amostras de aço inoxidável ABNT 304 coloridas pelos

métodos químico e eletroquímico de pulsos alternados de potencial e varredura triangular de

corrente foi estudada por Kikuti et al. (2004) utilizando polarização potenciodinâmica e

espectroscopia de impedância eletroquímica. Neste estudo, concluiu-se que o filme de

interferência protege o aço inoxidável quanto à corrosão por pites nas primeiras horas de

exposição ao ambiente agressivo, entretanto, para longos períodos de exposição (8-10 horas),

as amostras coloridas e não coloridas apresentam o mesmo comportamento.

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Em trabalho de caracterização eletroquímica por polarização potenciodinâmica anódica e

espectroscopia de impedância de filmes de óxidos coloridos por interferência sobre aço

inoxidável ABNT 316, Alvial et al. (2006) compararam amostras de aços inoxidáveis

coloridos e dos substratos correspondentes antes e após exposição atmosférica em ambiente

marinho por 24 meses. A espectroscopia de impedância mostrou que antes de serem expostas,

as amostras coloridas apresentam maior resistência à transferência de carga comparada as

amostras não coloridas. Depois de expostas, as amostras coloridas apresentaram os mesmos

resultados de alta resistência à transferência de carga. O estudo conclui que os recobrimentos

de óxidos coloridos protegem o aço inoxidável da corrosão por pites que ocorre normalmente

nos aços inoxidáveis em meios ricos em cloretos.

Em outro estudo, Junqueira et al. (2007) utilizaram a técnica de polarização anódica

potenciodinâmica para estudar a resistência à corrosão de filme de interferência com

diferentes níveis de porosidade. Nesse caso não foram observadas diferenças significativas

quanto à corrosão por pites dos aços inoxidáveis coloridos em diferentes níveis de porosidade.

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3.2.3. Determinação Numérica da Cor

Para mensurar a cor é preciso definir parâmetros para a sua descrição e classificação. Desta

forma, a percepção da cor pelo olho humano pode ser descrita e classificada com base em

atributos, apresentados na Figura 3.5, que também são fundamentais para os estudos das leis

da harmonia e composição de contrastes.

Os atributos desempenham um papel determinante no planejamento e no projeto de

composições cromáticas, funcionando como elementos compositivos, pois mudanças de

escala, em qualquer dos atributos, a cor percebida será modificada (Matarazzo, 2010).

Figura 3.5. Representação dos atributos da cor: Matizes, escala de saturação e escala de

luminosidade (Adaptado de: Matarazzo, 2010).

O entendimento e o conhecimento destes atributos são essenciais, pois são através destes

atributos que se compõem os espaços das cores, tornando capaz a sua ordenação e

organização.

• O atributo matiz ou tom é o atributo que descreve a sensação de cor, ele se refere à

tonalidade e se refere à variedade de comprimento da onda de luz direta ou refletida,

como exemplo: vermelho, azul, amarelo e verde.

• A saturação ou croma pode ser definida como a quantidade que um determinado matiz

possui de tom cinza em relação ao preto ou branco. Refere-se à pureza percebida como

intensidade da cor. Para Pedrosa (1989), é decorrente deste atributo que nascem as

expressões verde-vivo ou verde-puro.

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• A luminosidade ou valor pode ser entendido como a cor se parece mais ou menos

luminosa, dependendo de quanto ela se aproxima do preto ou do branco.

Para quantificar e parametrizar as cores, um dos sistemas de medidas colorimétricas

recomendado pelo CIE (Comission Internationale d’Eclairage – Comissão Internacional de

Iluminação) desde 1976 e comumente usado na indústria é o CIELAB.

A definição de cor baseada nos valores representados através das coordenadas X, Y e Z

apresenta o inconveniente de não dispor de ferramentas adequadas para os estudos visando

diferenciar duas cores (Machado et al., 1997). O sistema CIELAB converte estes valores num

espaço uniforme de cor para as coordenadas L*, a*, b*, como mostra a Figura 3.6, onde:

• L*: representa a luminosidade da cor que varia de 0 para o preto a 100 para o branco;

• a*: está relacionado à variação de tons entre o vermelho e o verde;

• b*: as cores que variam entre o amarelo e azul.

Este sólido de cor fornece informações tanto sobre a cromaticidade quanto sobre a

luminosidade da amostra, e reproduz a experiência visual.

Figura 3.6. Diagrama do sólido de cor no espaço L*, a*, b* (Machado et al., 1997).

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Outra representação gráfica do sistema CIELAB é representada na Figura 3.7, onde é

fornecido um novo conjunto de parâmetros que são designados por L*, C* e H*. Uma cor

representada por um ponto localizado na extremidade da seta e sobre o plano circular

destacado, tem na interseção do plano com o eixo vertical, o valor de L*. O valor de C* pode

ser entendido como a distância do ponto até o eixo dos valores de L* (o comprimento da seta)

e o valor de H* como o ângulo formado pela seta com o eixo que liga as variações de

tonalidades entre o azul e o amarelo (CETEC, 1995). Os parâmetros de cor L*, C*, H*, a* e

b* são fornecidos por aparelhos que são denominados espectrofotômetros de refletância.

Figura 3.7. Representação gráfica das coordenadas cromáticas L*, C* e H* (Adaptação de:

Billmeyer & Saltzman, 1981).

O efeito da luz sobre o objeto pode ser descrito por uma curva de refletância. Esta curva

fornece a fração da luz refletida por cada comprimento de onda do material ou por cada fração

de luz refletida. As curvas de refletância descrevem exatamente o espectro de energia

distribuída na região do visível (Billmeyer & Saltzman, 1981).

Para o aço inoxidável colorido, que possui como um dos atributos principais a sua cor, a

avaliação dos efeitos externos, como fatores ambientais, fatores térmicos e químicos sobre a

coloração são de fundamental importância.

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O efeito da exposição atmosférica e da exposição ao ambiente marinho na coloração do aço

foi investigado pelo CETEC (2001) utilizando técnicas espectroscópicas. Amostras expostas

por três anos em ambiente urbano e expostas ao ambiente marinho na região de arrebentação,

sujeitas à nebulização contínua com a água do mar, apresentaram pequenas diferenças de cor

(∆Ecmc). Nas amostras expostas no ambiente urbano as diferenças foram baixas, (∆Ecmc < 2,0)

o que é imperceptível na inspeção visual. Já as amostras coloridas expostas no ambiente

marinho tiveram diferenças ligeiramente maiores (∆Ecmc = 1,7 a 4,8), no entanto visualmente

pouco perceptíveis.

Ensaios de corrosão acelerada em câmaras de névoa salina em tempo total de 2160 horas

também foram realizados por CETEC (2001) em amostras de aço inoxidável ABNT 304 antes

e após coloração por processo eletroquímico, e embora tenham ocorrido leves alterações de

cores (∆Ecmc entre 1,5 a 12,8), estas são quase imperceptíveis na inspeção visual.

O efeito do aquecimento na estabilidade das cores de aços inoxidáveis foram estudados por

Junqueira et al. (1999) para aços inoxidáveis coloridos por processo eletroquímico. As

amostras sofreram tratamento térmico em ambiente seco a 150°C e ambiente úmido a 90°C

em tempos de exposição de até 3000 horas. Os resultados mostraram ligeiras alterações das

cores com os tratamentos térmicos com ∆Ecmc em torno de 3,0, o que é não é perceptível

facilmente pela visão humana.

3.2.4. Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR) A espectroscopia de absorção na região do infravermelho por transformada de Fourier (FTIR)

é uma técnica analítica utilizada na identificação de grupos funcionais devido às bandas de

absorção química provocadas pela absorção da radiação pela amostra. O FTIR possui uma

larga aplicação na caracterização de compostos, sendo uma ferramenta importante na

identificação de novas substâncias ou misturas muito complexas (Santos, 2012).

O FTIR permite analisar as frequências de vibração de ligações de compostos orgânicos e

minerais. As moléculas interagem com a radiação eletromagnética principalmente na faixa do

infravermelho, absorvendo a energia que pode ser transformada em vibrações e/ou rotações

moleculares.

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Quando a radiação infravermelha absorvida apresenta uma frequência abaixo de 100 cm-1 a

energia é transformada em rotação molecular. Quando a radiação absorvida apresenta uma

frequência maior, da ordem de 1.000 cm-1 a 100 cm-1, converte-se em energia de vibração

molecular (Brandão et al., 1990).

O equipamento de FTIR é constituído por uma fonte, um interferômetro e um detector. A

fonte é a responsável por gerar o feixe de infravermelho que é direcionado para o

interferômetro onde o feixe é transformado em um sinal, chamado interferograma. O sinal é

direcionado para o compartimento onde se encontra a amostra, fazendo com que ele seja

transmitido através da amostra ou refletido por ela, dependendo do tipo de análise realizada.

O sinal que sai do compartimento da amostra passa pelo detector para mensurar a sua

intensidade, ser digitalizado e enviado a um computador que converterá este sinal em um

espectro de infravermelho. A região do espectro eletromagnético frequentemente utilizado no

estudo de infravermelho é a região situada entre 2,5 a 25μm (4000 a 400 cm-1) (Larkin, 2011).

O registro gráfico da porcentagem de radiação absorvida (ou transmitida) em função do

numero de onda (ou comprimento de onda) da radiação infravermelha incidente é o espectro

infravermelho, que está intimamente relacionado com as vibrações moleculares (Glerian,

2011).

Para a aplicação em superfícies sólidas é possível utilizar três técnicas diferentes de

espectroscopia especular: refletância especular, refletância difusa e espectroscopia refletância-

absorção. A refletância especular é empregada em amostras planas, superfícies limpas e os

espectros são rapidamente obtidos para amostras pequenas com ângulos de incidência de 15°

a 75°. A refletância difusa é normalmente obtida a partir de superfícies rugosas ou a partir de

superfícies formadas por material em pó. O espectro da refletância, normalmente conhecido

como espectro de refletância-absorção, é facilmente obtido a partir de superfícies revestidas

com filmes finos da ordem de 0,2 a 20μm (Melling & Shelley, 2001).

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A espectroscopia do infravermelho foi utilizada na caracterização do aço inoxidável colorido

por Junqueira et al. (2008). Os espectros obtidos em amostras coloridas em dourado e do

mesmo aço sem coloração são apresentados na Figura 3.8.

Figura 3.8. Espectro FTIR de absorbância na região do infravermelho de amostras do

substrato e de filmes de coloração por interferência (Junqueira, et al., 2008).

Neste estudo foi verificado no espectro do filme de coloração por interferência, a presença de

uma banda larga de absorção na região entre 2458 a 3629cm-1, que não é observada no

espectro do substrato, e que foi associada a grupos OH provenientes da água incorporada ao

filme. No mesmo espectro observa-se ainda uma banda de absorção em 561cm-1, atribuída à

presença de Cr2O3 em forma de espinélio (Junqueira et al., 2008). Em estudo anterior, Evans

et al. (1973) detectaram bandas de absorção semelhantes, e concluíram que a banda detectada

por eles em 3370cm-1, é característica de água de coordenação.

Foi avaliada por Junqueira et al. (2008) a influência do tratamento térmico nos espectros. Os

espectros de infravermelho dos filmes de coloração por interferência, aquecidos a 150°C por

2, 4, 16, 64 e 256 horas, estão apresentados na Figura 3.9. Neste estudo possível observar que

a quantidade de água diminui com o tratamento térmico e tende a se estabilizar

aproximadamente após 64 horas.

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O resultado indica que a perda de água com o tratamento térmico a 150°C ocorre rapidamente

no início do tratamento, tendendo em seguida a estabilizar-se.

Figura 3.9. Espectro FTIR de absorbância na região do infravermelho de filmes de coloração

por interferência antes e após tratamento térmico a 150°C pelos tempos

indicados (Junqueira et al., 2008).

Concluiu-se que como a maior parte dos filmes de conversão química de cromatos quando

recém-preparados são gelatinosos e com o envelhecimento passam por alterações químicas

decorrentes da perda de água de hidratação, desta forma, endurecem lentamente e tornam-se

mais hidrofóbicos, menos solúveis e mais resistentes ao desgaste (Junqueira et al., 2008).

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3.4. Aços Inoxidáveis Aplicados a Produtos para Saúde

Os materiais e produtos que abrangem o campo da saúde podem ser tratados como Produtos

para Saúde, incluindo-se nesta classificação equipamentos e materiais de uso em saúde ou

produtos correlatos, que são aparelhos, materiais ou acessórios cujo uso ou aplicação esteja

ligado à defesa e proteção da saúde individual ou coletiva (ABDI, 2011).

O aço inoxidável é atualmente a liga metálica mais utilizada na área hospitalar, devido a sua

facilidade de limpeza e sua resistência, de acordo com dados da ABINOX. Apesar de

necessidades especiais em relação à aplicação de materiais na indústria médica, os aços

inoxidáveis utilizados na fabricação de instrumentos e equipamentos médicos não são aços

desenvolvidos especificamente para esta função. Os produtos e dispositivos médicos

representam aproximadamente 1% da produção total de aço inoxidável mundial, desta forma

ainda existe pouca justificativa para o desenvolvimento de aços especiais cirúrgicos para

aplicação em produtos e instrumentos (Newson, 2002).

Além desta justificativa Newson (2002), aponta que os dispositivos médicos de aço

inoxidável são produzidos em baixo volume de produção, em lotes, ou utilizando processos

de alto volume somente para pequenas quantidades de material. A maior parte dos produtos

médicos, como por exemplo, instrumentos odontológicos e cirúrgicos, são, portanto,

fabricados a partir de uma classe comercial de aços inoxidáveis. As aplicações em implantes

são uma exceção a esta generalização. Os aços inoxidáveis utilizados em implantes são

biomateriais e devem ser adequados para contato estreito e prolongado com o tecido humano,

o que o coloca em condições de temperatura superior a ambiente e em solução salina, os

fluídos corporais.

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3.4.1. Instrumental Cirúrgico e Odontológico de Aço Inoxidável

Os aços inoxidáveis utilizados na fabricação de instrumentos cirúrgicos e odontológicos são

especificados pela ISO - International Organization for Standardization e pela ABNT na

norma NBR ISO 7153-1 – Instrumental Cirúrgico – Materiais Metálicos Parte 1. Nesta

norma, além de descritos, classificados e especificados quais os materiais metálicos devem ser

utilizados na fabricação de instrumentos médicos, cirúrgicos e odontológicos, é fornecida uma

lista de indicações de uso para cada tipo de produto.

A norma brasileira ABNT NBR 13911:2010 – Instrumental cirúrgico – Material metálico –

Especificação para aços inoxidáveis conformados - indica que a funcionalidade do

instrumental cirúrgico de aço inoxidável está diretamente relacionada à correta escolha do

material a ser usado na sua fabricação, bem como do cumprimento de boas práticas de

produção. A norma em questão ainda classifica os materiais. Assim, os aços inoxidáveis para

produção de instrumentos cirúrgicos devem pertencer a uma das seguintes classes:

• Classe 3 – aço inoxidável austenítico;

• Classe 4 – aço inoxidável martensíticos;

• Classe 5 – aço inoxidável endurecido por precipitação;

• Classe 6 – aço inoxidável ferrítico.

Na seleção do tipo de aço que deve ser empregado em cada tipo de instrumento, a norma

NBR ISO 7153-1, divide os tipos de aço para a aplicação em três grupos:

• Instrumentos cortantes.

• Preferencialmente usado para instrumentos não cortantes.

• Peças para montagem e outros acessórios.

Os aços inoxidáveis austeníticos de forma geral são empregados em produtos médicos onde

são necessárias características de boa resistência à corrosão e uma resistência mecânica

moderada para conformação mecânica (ABNT, 2006; ABNT, 2010a). Produtos como

esterilizadores de vapor, armários de armazenamento e superfícies de trabalho e em

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instrumentos classificados nos três grupos, instrumentos cortantes, não cortantes, peças e

acessórios, como por exemplo:

• Cânulas: para irrigar, drenar e/ou aspirar.

• Afastadores: para separar/afastar tecidos.

• Pinças e clamps: para segurar/prender tecidos ou apanhar tecido ou material.

• Passadores de tendão e ganchos para a pele.

• Martelos, macetes e alavancas.

• Espéculos, réguas e parafusos.

Os aços inoxidáveis martensíticos são utilizados amplamente na fabricação de instrumentos

cirúrgicos e odontológicos, uma vez que podem ser endurecidos e temperados por tratamento

térmico. Desta forma são capazes de desenvolver uma vasta gama de propriedades mecânicas,

que contemplam dureza elevada na aplicação em instrumentos de corte e também menor

dureza com tenacidade aumentada para aplicações de carga. Alguns produtos fabricados a

partir de aços inoxidáveis martensíticos são as curetas ósseas, cinzéis, goivas, brocas

dentárias, formões, pinças hemostáticas, alicates ortodônticos, e bisturis (ABNT, 2006;

ABNT, 2010a).

Os aços inoxidáveis ferríticos também são utilizados em aplicações na área médica, mas em

menor escala. Alguns produtos que utilizam os aços inoxidáveis ferríticos são pegas sólidas

para instrumentos, pinos guias e fixadores (Newson, 2002; ABNT, 2006; ABNT, 2010a).

Em relação a sua composição química, as classes de aços inoxidáveis são organizadas em

tabelas de referência com a indicação da composição química para a seleção do material de

acordo com a norma NBR ISO 7153-1. Na tabela III.1, está indicada a composição química

dos aços inoxidáveis austeníticos que devem ser empregados.

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Tabela III.1. Indicação da composição química dos aços inoxidáveis austeníticos, Classe 3, %

(ABNT, 2010a).

Em relação ao acabamento superficial das peças, a norma ABNT NBR 13916, indica que a

preparação da superfície – acabamento e tratamento superficial do aço inoxidável é um

procedimento de especial importância no estabelecimento da qualidade dos instrumentos

cirúrgicos e odontológicos, estando ligados à vida útil, à aplicabilidade e à segurança destes

produtos no âmbito cirúrgico. De acordo com a norma ABNT NBR 13916, o acabamento da

superfície deve atender no mínimo a uma das seguintes especificações:

• Polimento espelhado;

• Reflexo reduzido, como por exemplo, acabamento fosco;

• Um revestimento de superfície aplicado, por exemplo, com propósito de isolamento

elétrico.

No entanto, Newson (2002) salienta que, áreas serrilhadas ou recartilhadas são muitas vezes

utilizadas em instrumentos odontológicos e cirúrgicos para aumentar a aderência à mão.

A modificação da superfície em instrumentos médicos não é incomum. Alguns materiais e

revestimentos comerciais são empregados para finalidades diversas, principalmente para

aumentar a resistência à corrosão e ao desgaste. Existem também revestimentos de coloração

para identificação, classificação e rastreabilidade. Como por exemplo de revestimento

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empregado em instrumentos médicos, é possível citar o BALINIT®, da empresa Oerlikon

Balzers, um revestimento com espessuras típicas entre 0.5µm e 4µm. Os revestimentos de

carbono BALINIT® C e BALINIT® DLC melhoram a lubrificação entre peças móveis,

evitam a deformação e protegem os componentes da corrosão durante a esterilização. Nos

instrumentos para cirurgia ocular, o revestimento BALINIT® A apresentado na Figura 3.10,

se destaca pela sua cor amarelo-dourado, que serve como característica contrastante aos

instrumentos não revestidos.

Figura 3.10. Revestimento BALINIT® A (Oerlikon Balzers, 2012).

Novos revestimentos para a modificação da superfície de instrumentos médicos têm surgido,

como os de filmes nanométricos de dióxido de titânio (TiO2) que possuem propriedades

bactericidas ativadas quando na presença da luz ultravioleta (UV), existente em câmaras

próprias com esse tipo de radiação, ou mesmo na presença de luz solar. Além de destruir a

parede celular das bactérias, esse sistema elimina também os fungos e toda a matéria orgânica

(Vaz, 2007).

A modificação da superfície para a identificação e a coloração de instrumentos também é

utilizada, como a douração de peças, que consiste na deposição de uma camada com

espessura de alguns micra de ouro puro, diretamente sobre o metal e com variação de cores.

A coloração como forma de organização e rastreabilidade é aplicada atualmente por algumas

empresas do segmento médico. A coloração é utilizada para facilitar as etapas de separação e

organização dos jogos de instrumentos, que se torna mais rápida, requerendo menor número

de colaboradores nesta tarefa. Neste caso a identificação por cores é composta pela aplicação

de um sistema à base de resina epóxi curada termicamente, formando uma camada sobre o

instrumento como visto na Figura 3.11.

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Figura 3.11. Revestimento colorido de resina epóxi sobre instrumental

Neste caso, é indicado que a película de resina epóxi não possui microporosidade, o que não

permitiria a infiltração de qualquer espécie de bactérias, vírus ou esporos entre a película e o

metal.

Esta identificação por cores para a separação e organização dos instrumentos também é

empregada pelas Centrais de Material Esterilizado (CME) e nas salas de cirurgia utilizando

tintas plásticas (poliamida 11 ou poliamida 12) ou fitas adesivas, apresentadas na Figura 3.12.

Figura 3.12. Fitas adesivas coloridas para identificação de instrumental médico

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3.5. O Ambiente Médico-Hospitalar

O ambiente hospitalar tem despertado a atenção de designers e arquitetos para a utilização de

cores em seu interior, bem como no mobiliário e nos objetos. Neste caso a coloração funciona

com diferencial na estrutura interna, servindo para a identificação e classificação dos espaços

tornando o ambiente mais agradável, eficiente e humanizado (MS, 2009).

O hospital do futuro, além da viabilidade econômico-financeira, deve atender aos requisitos

que pressupõem expansibilidade, flexibilidade, segurança, eficiência e, sobretudo,

humanização (MS, 2009). Neste ponto, o conforto ambiental e a organização aparecem como

fortes aliados nos processos de cura de pacientes. As soluções são as mais abrangentes e

pressupõem novos parâmetros, novos produtos e novos processos.

3.5.1. Humanização e Bem Estar

A humanização dos estabelecimentos assistenciais de saúde é uma das diretrizes do Ministério

da Saúde e da sua Política Nacional de Humanização (PNH). De acordo com esta política, as

necessidades específicas desta área, direcionadas a melhoria do ambiente e dos produtos, em

conjunto com ações para a promoção do bem-estar dos pacientes e usuários dos sistemas de

saúde abre a possibilidade de desenvolvimento de novos produtos e de espaços cada vez mais

adequados.

Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, a ideia de ambiência possui três eixos principais:

o ambiente deve possibilitar a reflexão da produção do sujeito e do processo de trabalho; deve

visar o conforto focado na privacidade e individualidade dos sujeitos envolvidos, exaltando

elementos do ambiente que interagem diretamente com o homem, como a cor, o cheiro, o

som, a iluminação e a morfologia, garantindo o conforto aos trabalhadores, pacientes e sua

rede social; ser facilitadora do processo de trabalho funcional favorecendo a otimização de

recursos e o atendimento humanizado, acolhedor e resolutivo. A humanização do ambiente

hospitalar não se concretiza se não estiver centrada em todos os usuários destes espaços

(Backes et al., 2005).

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O hospital humanizado é aquele que contempla, em sua estrutura física, tecnológica, humana

e administrativa, a valoração e o respeito à dignidade da pessoa humana, garantindo condições

de um atendimento com qualidade.

3.5.2. A Cor - Importância e Aspectos Ergonômicos

Todas as atividades humanas e principalmente o trabalho sofrem a influência de três aspectos:

físico, cognitivo e psíquico. A conjugação adequada destes fatores permite projetar produtos e

ambientes seguros, confortáveis e eficientes. O estudo das cores, embora visto como

secundário, torna-se fundamental para os ergonomistas à medida que contribui com a

adequação de uso, não só para a segurança, ordenação e auxílio de orientação organizacional

(princípio de organização pela aplicação de cor), mas também para a saúde e bem estar dos

trabalhadores (devido a sua influência psicológica) (Azevedo et al., 2000).

A cor define a identidade dos espaços, das pessoas e dos objetos. É também uma ferramenta

de inestimável utilidade para a indústria, o comércio, etc. (Beck et al., 2007). Pode criar uma

disposição de ânimo geral e provocar uma resposta emocional no consumidor e no usuário.

Assim, além de integrar as cores, a mente também as associa com certos estados emocionais,

sentimentos e valores (Dias, 2009).

Deste modo, tem-se nas cores uma grande possibilidade de transformar os produtos e os

ambientes dos hospitais, tornando-os mais confortáveis e agradáveis. A coloração não deve

ser concebida só por características estéticas, mas deve levar em consideração as diversas

funções de um espaço e a ergonomia, tanto no que se refere à usabilidade, quanto pelas

exigências psicológicas do meio e do trabalhador (Azevedo et al., 2000).

A ergonomia é definida como o estudo do relacionamento entre o homem e o seu trabalho,

equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação de conhecimentos de anatomia,

fisiologia e psicologia (Iida, 2005). Ela é entendida como o domínio científico e tecnológico

interdisciplinar que se ocupa da otimização das condições de trabalho, bem como da interação

do homem com o produto ou sistema produtivo, visando de forma integrada a saúde, a

segurança, o bem estar e a eficácia do indivíduo enquanto profissional e consumidor.

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Para Iida (2005), um planejamento adequado do uso das cores no ambiente de trabalho,

aplicando-se cores claras em grandes superfícies, com os contrastes adequados para

identificar os diversos objetos, está associado a aumentos de produtividade que chegam a 80

ou 90%. Embora pouco explorada, a psicodinâmica das cores faz parte da nova ciência da

ergonomia e esta ciência é de grande importância para o ser humano, pois está presente nos

ambientes, equipamentos, e no seu cotidiano (Battistela, 2003).

A ergonomia hospitalar trata do entendimento e da melhoria das condições de trabalho, de

conforto e de segurança dos trabalhadores da saúde e dos pacientes. Ainda pouco difundida,

ela vem apresentando progresso, pois são significativos os resultados apresentados em estudos

e pesquisas da área ergonômica aplicada a equipamentos médicos e procedimentos executados

neste ambiente. Battistela (2003) discute que, um dos grandes desafios da área de saúde está

ligado à qualidade. Neste contexto, saúde, segurança, competitividade e produtividade são

fatores determinantes. Uma vez que a psicodinâmica das cores ocupa um espaço relevante na

ergonomia e pode contribuir efetivamente para o incremento destes fatores.

Em relação aos aspectos ergonômicos que envolvem os instrumentos médicos, sobretudo os

cirúrgicos, as Centrais de Material Esterilizado (CME) e as salas de cirurgia são os ambientes

onde a organização do trabalho, a eficiência e o controle são mais demandados. A separação,

organização e identificação do instrumental são especialmente importantes.

Na sala de cirurgia, existe um sistema de organização para o instrumental. A mesa de

instrumentação deve ser organizada de forma padronizada, de acordo com a ordem de

utilização dos instrumentais no ato operatório, com o intuito de facilitar o acesso a eles. O

Centro de Pesquisa Biológica para a Saúde, CCBS, da Universidade do Estado do Pará –

UEPA indica que para a organização da mesa é necessário imaginá-la dividida em seis

setores, correspondentes aos seis tempos operatórios.

Inicia-se a partir da diérese, que é representada pelos bisturis e pelas tesouras, em seguida,

apresenta-se o setor de preensão , com as pinças de preensão, seguidas do setor de hemostasia

, que abriga materiais como gazes, compressas e fios para ligadura, bem como as pinças

hemostáticas e o setor de exposição, com os afastadores. O setor especial apresenta

instrumental que varia de acordo com o tipo de cirurgia. O sexto e último setor corresponde

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ao tempo de síntese, abrigando materiais como agulhas, fios e os porta-agulhas. A Figura 3.13

ilustra esta organização.

Figura 3.13. Setores de organização do instrumental na mesa de instrumentação: Diérese (1),

Preensão (2), Hemostasia (3), Exposição (4), Setor especial (5) e Síntese (6)

(UEPA-CCBS).

Os princípios de organização podem ser abordados através de uma análise da Gestalt, que está

ligada intrinsecamente a percepção dos objetos. A Gestalt é uma escola de psicologia

experimental, e considera-se que Von Ehrenfels, filósofo vienense dos fins do século XIX, foi

o precursor da filosofia da Gestalt (Gomes Filho, 2004). Ainda de acordo com este autor o

movimento gestaltista atuou principalmente no campo da teoria da forma, com contribuição

relevante aos estudos da percepção, linguagem, inteligência, aprendizagem, memória,

motivação, conduta exploratória e dinâmica de grupos sociais. A Gestalt apresenta uma teoria

sobre os fenômenos da percepção.

No campo da organização por cores, existem princípios da Gestalt de proximidade, onde

elementos próximos uns dos outros tendem a ser vistos juntos e constituírem um todo, ou

unidades dentro do todo. Em condições iguais, os estímulos mais próximos entre si, seja por

forma, cor, tamanho, textura, brilho, peso, direção e outros terão maior tendência a serem

agrupados e constituírem unidades. A proximidade e semelhança são dois fatores que muitas

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vezes agem em comum e se reforçam. Em relação aos princípios de semelhança, a igualdade

de cor e de forma desperta a tendência de construir unidades, isto é, de estabelecer

agrupamentos de partes semelhantes (Gomes Filho, 2004).

3.5.3. Segurança e Esterilização

Na estrutura hospitalar brasileira, até a década de 40, todos os processos de preparo,

esterilização e armazenamento de materiais eram feitos no próprio centro cirúrgico. A partir

dos anos 50, com o surgimento de novos métodos de limpeza e esterilização de materiais e o

advento de instrumentais especializados para cirurgias mais complexas, é que se destinou uma

área própria para o preparo de materiais (GDF-SES, 2000).

O desenvolvimento tecnológico, ocorrido nas últimas décadas na área de saúde, impulsionou

as atividades desenvolvidas nas Centrais de Materiais Esterilizados (CME), colocando-a como

um setor de vital importância no ambiente hospitalar, dada a magnitude do trabalho ali

desenvolvido (GDF-SES, 2000). Em relação à segurança hospitalar, a necessidade de limpeza

e esterilização está ligada a fatores de contaminação, como no caso dos microrganismos. A

sua resistência ao calor e umidade varia de acordo com os diferentes grupos, o que dificulta

sua destruição.

São três, as principais razões para se desenvolver processos de controle de microrganismos: a

prevenção da transmissão de doenças e infecções, a prevenção da contaminação ou

crescimento de microrganismos nocivos e a prevenção da deterioração e dano de materiais por

microrganismos. Muitos estudiosos pesquisaram os meios pelos quais podem ser destruídos e

conseguiram estabelecer princípios e normas a serem seguidos a fim de provocar a morte dos

microrganismos por calor e umidade (Cardoso, 2005). A esterilização por calor destrói todas

as formas de microrganismos, incluindo vírus, bactérias, fungos e esporos (CDC, 1996).

Dentro dos hospitais, as CME são os setores responsáveis pela limpeza, desinfecção e

esterilização e destinam-se, basicamente, a receber e lidar com materiais considerados sujos e

contaminados, bem como o preparo de roupa limpa pela lavanderia e ao final do processo,

restitui-los. Para a GDF-SES (2000) e ABNT (1999), no caso dos instrumentos cirúrgicos,

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existe um procedimento para o setor que é composto por uma série de etapas para a limpeza e

esterilização:

• Procedimento de pré-lavagem – Seleção, separação, enxágue, imersão em detergente

enzimático, enxágue e secagem.

• Procedimento de secagem e revisão dos instrumentais cirúrgicos - Secagem, revisão,

lubrificação, e encaminhamento.

• Área de preparo dos instrumentais – Separação, inspeção, substituição (quando

necessário), montagem, organização e proteção.

• Empacotamento – Abrir campo duplo de algodão cru, sobrepor campo de cretone

simples, colocar o instrumental, fechar segundo técnica de envelope.

• Identificação – Usar fita teste de autoclave, colocar nome do material, especialidade,

setor de origem, data e assinatura. Encaminhar para a esterilização.

Quanto aos produtos de limpeza utilizados, destacam-se os seguintes grupos:

• Detergentes: são produtos que contém tensoativos em sua formulação, com a

finalidade de limpar através de redução da tensão superficial, umectação, dispersão,

suspensão e emulsificação da sujeira.

• Detergentes Enzimáticos: à base de enzimas e sulfactantes, não-iônicos, com pH

neutro, destinados a dissolver e digerir sangue, restos mucosos, fezes, vômito e outros

resíduos orgânicos de instrumental cirúrgico, endoscópios e artigos em geral.

De acordo com o Ministério da Saúde, todos os instrumentos devem ser limpos e esterilizados

depois de cada uso e os métodos de esterilização recomendados são a estufa e a autoclave

(MS, 2001). A esterilização é o processo de destruição de todas as formas de vida microbiana:

bactérias, fungos, vírus e esporos mediante a aplicação de agentes físicos, químicos ou físico-

químicos. Convencionalmente considera-se um artigo estéril quando a probabilidade de

sobrevivência dos microrganismos concomitantes é menor do que 1:1.000.000.

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A eleição do método de esterilização mais adequado depende do tipo de artigo a ser

esterilizado. Os métodos de esterilização podem ser físicos, químicos, ou físico-químicos

(MS, 2001).

Os métodos físicos são aqueles que utilizam calor em diferentes formas para esterilizar os

artigos. Nas centrais de esterilização o método mais utilizado e factível é a autoclavação por

vapor saturado sob pressão ou autoclavagem. Outro método que é utilizado, porém tende ao

desuso, é o calor seco (estufa) (GDF-SES, 2000; MS, 2001; ABNT, 2010b).

Os métodos químicos possuem eficácia comprovada e utilizam agentes esterilizantes líquidos

por imersão. Os artigos devem estar limpos e secos e dentro de um recipiente plástico

tampado conforme orientação do fabricante (GDF-SES, 2000; MS, 2001). Os métodos mais

conhecidos e utilizados são: esterilização por glutaraldeído a 2% e por ácido peracético.

Os métodos físico-químicos são processos realizados em equipamentos especiais, que

utilizam substâncias químicas esterilizantes e baixas temperaturas. É indicado para

esterilização de materiais termos sensíveis e/ou sensíveis à umidade, como a esterilização por

óxido de etileno (ETO) e o plasma de peróxido de hidrogênio.

Atualmente, devido a novos padrões de qualidade e segurança e de confiança dos sistemas de

saúde, novas políticas e protocolos têm surgido com o intuito de minimizar ocorrências e

erros dentro dos hospitais. Em atenção a uma resolução da Assembleia Mundial da Saúde,

ocorrida em maio de 2002, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou em outubro de

2004, a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente. Esta aliança tem o objetivo de

despertar a consciência profissional e o comprometimento politico, para uma melhor

segurança na assistência a saúde e para apoiar os estados membros da OMS no

desenvolvimento de politicas publicas e na indução de boas práticas assistenciais (MS, 2009).

Dentro destes protocolos, estão incluídas diretrizes que preveem a rastreabilidade de

instrumentos, produtos e equipamentos médicos para aumentar a confiança e diminuir os

incidentes. Entre os dez objetivos considerados essenciais para a cirurgia segura é possível

destacar três objetivos que estão relacionados diretamente a identificação e controle dos

instrumentos:

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• Objetivo 6 - A equipe usará de maneira sistemática, métodos conhecidos para

minimizar o risco de infecção no sitio cirúrgico.

• Objetivo 7 - A equipe impedirá a retenção inadvertida de instrumentais ou compressas

nas feridas cirúrgicas.

• Objetivo 8 - A equipe manterá seguros e identificará precisamente todos os espécimes

cirúrgicos.

Entende-se por rastreabilidade a capacidade de recuperação do histórico, da aplicação ou da

localização de uma entidade ou item por meio de identificações registradas. Dentro das

necessidades de rastreabilidade dos materiais e instrumentos, a cor se torna um grande auxílio

na visualização, organização e classificação dos utensílios.

3.6. O Processo de Esterilização em Autoclave

A autoclave é o procedimento de esterilização de materiais mais comum e que oferece maior

segurança. Os microrganismos são destruídos pela ação combinada da temperatura, pressão e

umidade que promovem a termo-coagulação e a desnaturação das proteínas da estrutura

genética (Cardoso, 2005; GDF-SHS, 2000). O desempenho esperado da autoclave é alcançar

o nível de segurança da ordem de 1ppm (parte por milhão) dos microrganismos em cada ciclo

padrão (Cunha et al., 2000).

A esterilização por vapor sob pressão que é realizada pela autoclave é universalmente

aplicada. A autoclave é um instrumento de esterilização por vapor que destrói as formas mais

resistentes de esporos bacterianos em pouco tempo de exposição (Block, 2001). Os modelos

de autoclaves disponíveis no mercado são:

• Gravitacional: o ar é removido por gravidade, pois o ar frio tende a sair por um ralo

colocado na parte inferior da câmara, quando o vapor é admitido. É utilizado na

maioria dos consultórios e clínicas odontológicas, devido ao seu menor tamanho

(Block, 2001);

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39

• Pré-vácuo: o ar é removido previamente, com formação de vácuo por meio de bomba

de vácuo ou por sistema Venturi. É próprio para ambiente hospitalar, pelo fato de

possuírem grandes capacidades (Block, 2001).

O vapor deve ser fornecido em estado saturado com título de 0,95 (95% de vapor e 5% de

condensado) e livre de impurezas, utilizando água tratada (ISO, 1994). A qualidade da água é

fundamental devido à presença de alguns minerais como ferro e o cobre que podem ocasionar

pontos de oxidação no instrumental. Por este motivo é utilizada água destilada (SOBECC,

2000).

Todo material resistente ao calor compatível com umidade deve ser autoclavado. Cunha et al.

(2000) e GDF–SES (2000), indicam que o ciclo de esterilização das autoclaves compreende

três tempos distintos: tempo de penetração do vapor, tempo de esterilização e tempo de

confiança, ilustrados na Figura 3.14. Ao final do processo, ainda há a exaustão do vapor e a

secagem da carga.

Figura 3.14. Gráfico tempo x temperatura e pressão em um ciclo de esterilização em

autoclave (Luqueta, 2008).

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As fases completas do ciclo de esterilização são detalhadas da seguinte forma:

• Drenagem do ar na câmara de esterilização – possibilita a penetração do vapor;

• Período de exposição – começa a ser marcado no instante em que a câmara atinge a

temperatura previamente estabelecida demonstrada pelo termômetro. Compreende os

três tempos:

o Da penetração do vapor: é o intervalo necessário para que a carga atinja a

temperatura da câmara;

o Da esterilização: é o menor intervalo necessário para a destruição de todas as

formas de vida microbiana em uma determinada temperatura;

o Da confiança: é um período adicional, geralmente igual à metade do tempo de

esterilização, adotado na autoclavação de artigos em que a penetração do calor

é, ou poderá ser retardada ou variável;

• Exaustão do vapor – realizado por uma válvula ou condensador;

• Secagem da carga – obtida pelo calor das paredes da câmara em atmosfera rarefeita.

As relações de tempo e temperatura para esterilização de materiais médicos e odontológicos

em autoclave são: 1) temperatura de 121°C a 124°C, pressão 103,42kPa (15psi), ciclo total

30min ou 2) temperatura de 134°C a 138°C, pressão de 206,85kPa (30psi), ciclo total 20 min

(MS, 2001; ABNT, 2010b).

O tratamento térmico aos quais instrumentos e materiais são submetidos no processo de

esterilização é um fator fundamental para a eliminação de agentes contaminantes, mas ao

mesmo tempo é um fator que possui grande influência sobre o desempenho e a durabilidade

destes produtos.

A influência do tratamento térmico nas características químicas e mecânicas do filme de

interferência sobre o aço inoxidável foram estudadas por Junqueira et al. (2009). As

estabilidades química e mecânica dos filmes finos de interferência de cor sobre aço inoxidável

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foram investigadas por envelhecimento térmico a 150°C para diferentes tempos de 2, 4, 8, 16

e 256 h. Os filmes envelhecidos foram caracterizados morfologicamente usando microscopia

eletrônica de emissão de campo (FESEM) e microscopia de força atômica (AFM) de

digitalização, e apresentou diminuição da porosidade após o tratamento térmico.

A espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) utilizada para avaliar

a perda de água incorporada ao filme e os ensaios de detecção, confirmaram que a amostra

envelhecida durante 2h, possuía melhores características mecânicas do que as amostras que

não foram envelhecidas termicamente. Estas amostras apresentaram um aumento de dureza e

da sua resistência ao desgaste por abrasão (Junqueira et al., 2009).

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4. METODOLOGIA

4.1. Materiais

Neste trabalho foram utilizadas amostras de aço inoxidável austenítico tipo ABNT 304 e

ABNT 316L. As amostras foram retiradas de chapas adquiridas comercialmente e

posteriormente coloridas industrialmente em azul por processo eletroquímico de corrente

pulsada. As chapas foram adquiridas com acabamento mecânico industrial polido tipo bright

buffing (BB) e acabamento escovado tipo Nº 4, compondo três materiais diferentes:

• A - Aço ABNT 304, espessura de 1mm com acabamento BB - Colorido em azul;

• B - Aço ABNT 304, espessura de 1mm com acabamento N4 – Colorido em azul;

• C – Aço ABNT 316L, espessura de 1,2mm com acabamento BB – Colorido em azul.

As composições químicas das amostras foram determinadas por Espectroscopia de

Fluorescência de Raios X no Laboratório de Corrosão e Superfície do PPD – Centro de

Pesquisas da Aperam South American em Timóteo-MG e estão apresentadas na Tabela IV.1.

Tabela IV.1. Composição química dos aços ABNT 304 e ABNT 316L (% em massa).

Material

Elemento (% em massa) C N2 Si Mn Cr Ni S P Mo

ABNT 304 BB 0,049 0,045 0,462 1,155 18,010 8,031 0,003 0,032 0,050 ABNT 304 N4 0,056 0,020 0,504 1,294 17,459 7,328 0,0004 0,031 0,098 ABNT 316L 0,020 0,042 0,404 1,386 16,532 10,016 0,002 0,031 2,193

4.1.1. Preparo das Amostras

As amostras de aço inoxidável colorido, A, B e C foram cortadas por cisalhamento à frio nas

dimensões de 40mm x 60mm e numeradas de 1 a 25, somando setenta e cinco amostras. As

amostras foram organizadas conforme a tabela IV.2 em grupos de cinco amostras e

classificadas de acordo com o ensaio de resistência a esterilização em autoclave, descrito no

item 4.2.1.

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Tabela IV.2. Organização das amostras para os ensaios de esterilização em autoclave.

Identificação das Amostras Ciclos de Esterilização

ABNT 304 BB ABNT 304 N4 ABNT 316L

A1 a A5 B1 a B5 C1 a C5 Não esterilizadas (Em branco)

A6 a A10 B6 a B10 C6 a C10 5 Ciclos

A11 a A15 B11 a B15 C11 a C15 10 Ciclos

A16 a A20 B16 a B20 C16 a C20 15 Ciclos

A21 a A25 B21 a B25 C21 a C25 20 Ciclos

4.2. Métodos

4.2.1. Resistência à Esterilização em Autoclave

Para avaliar a resistência do aço inoxidável colorido por interferência ao processo de

esterilização em autoclave foi selecionado um ensaio de simulação do material em serviço,

que se aproximasse do processo de limpeza e esterilização de instrumental cirúrgico. Este

ensaio foi selecionado devido à inexistência de ensaios normalizados para a avaliação de

resistência do aço inoxidável colorido, uma vez que não há referência de sua aplicação em

produtos médico-hospitalares.

Como referência principal para a avaliação da resistência à esterilização em autoclave, foi

utilizada a norma ABNT NBR 13402:1997 - Instrumentais cirúrgico e odontológico –

Determinação da resistência à esterilização em autoclave, à corrosão e à exposição térmica. A

norma em questão não especifica qualquer sequência de ensaio. Os requisitos, a sequência de

ensaio e o número de ciclos devem ser definidos na norma de produto pertinente ou, se não

houver norma disponível, devem ser decididos pelo comprador e/ou produtor.

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Como exemplo de norma específica de produto, a norma NBR 13915:1997 – Instrumental

cirúrgico – Afastadores de aço inoxidável – Requisitos gerais - indica a norma NBR

13402:1997 como referência normativa para a avaliação de resistência à esterilização em

autoclave.

Para a quantidade de ciclos de esterilização, optou-se por utilizar como referência uma

recomendação da norma NBR IEC 601-1:1994, Equipamentos Eletromédicos - Prescrições

Gerais para Segurança. Esta mesma norma especifica que se nenhum método de esterilização

ou desinfecção for descrito em norma específica para o produto, o ensaio deve ser feito com

vapor saturado a 134º C ± 4ºC, para 20 ciclos, sendo cada ciclo de 20 min de duração, com

intervalos para que o produto se resfrie a temperatura ambiente.

Após a coleta dos dados iniciais de medidas de cor, as amostras foram preparadas para o

ensaio no ambiente hospitalar e posteriormente submetidas ao ciclo de conservação de

instrumentos médicos hospitalares, que corresponde a: desinfecção, limpeza, secagem,

armazenagem estéril, e a esterilização. O ensaio de resistência à esterilização em autoclave foi

realizado na Central de Material Esterilizado (CME), do Hospital Madre Teresa em Belo

Horizonte – MG.

As amostras foram lavadas manualmente com detergente líquido concentrado, Indaclear

MAX S, do laboratório Indalabor, utilizando-se luvas cirúrgicas de látex nitrílico, sem o uso

de buchas ou tecidos. A composição química do detergente é: alquilbencenosulfonato de

sódio 8%, metassilicato de sódio 3%, hidróxido de sódio e formol. Posteriormente as amostras

foram enxaguadas em água corrente (potável) e colocadas em bandejas de aço inoxidável.

No segundo estágio de limpeza, os conjuntos de amostras foram imersos em detergente

enzimático, Indazyme 6 Plus, também do laboratório Indalabor, na proporção de 2mL por

litro de água por um período de 5 minutos, de acordo com a orientação do fabricante. A

composição química do detergente é: água deionizada, álcool isopropílico, propilenoglicol,

emulsão de polidimetilsiloxano, enzima lipolítica, enzimas glicolíticas, enzimas proteolíticas,

derivado de isotiazolinona, nonilfenol 9,5 EO, nonilfenol 7 EO, formiato de sódio, cloreto de

cálcio e amida de trietanolamina 85%. Após o tempo de imersão, as amostras foram

enxaguadas em água corrente (potável) e posteriormente secadas com algodão cru.

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Após a secagem, as amostras foram separadas e preparadas para embalagem utilizando uma

bandeja de aço inoxidável, abrindo-se campo duplo de algodão cru sobre a bandeja e

colocando as amostras sobre o campo, como na Figura 4.1.

Figura 4.1. Preparo de embalagem das amostras para a esterilização.

As amostras foram separadas, organizadas e embaladas em quatro bandejas, contendo quinze

amostras cada, fechadas conforme técnica de envelope, utilizando papel grau cirúrgico. As

embalagens foram colocadas em cestos padrão para esterilização de aço inoxidável, para

serem levadas à autoclave.

O ensaio de resistência em autoclave foi realizado em uma autoclave modelo HI VAC II, da

empresa Baumer, Figura 4.2, em ciclos para material de densidade, com temperatura de

134°C, pressão de 2,2kgf/cm2 e tempo de esterilização de 20 minutos. Estes parâmetros estão

de acordo com as normas NBR ISO 11314, ISO 13402 e de acordo com as diretrizes do

Ministério da Saúde nas Orientações Gerais para Esterilização – Série A – Normas e Manuais

Técnicos (MS, 2001).

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Figura 4.2. Autoclave Baumer modelo HI VAC II – Hospital Madre Teresa

Para a avaliação do ensaio, a norma NBR 13851 estabelece os requisitos que devem ser

observados. Neste caso é indicado que, após o ensaio, nenhuma superfície deve apresentar

qualquer sinal de corrosão visual (sem ampliação).

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4.2.2. Determinação Numérica de Cores

Para a medição das cores, foi utilizado um espectrofotômetro Spectro-Guide Gloss de

geometria 45º/0º da BYK Gardner com iluminante D65, que simula a luz do dia, e ângulo de

observação padrão 10º. Como escala de leitura colorimétrica foi adotado o sistema de

coordenadas cromáticas do CIE, L*, C*, H*. Os valores obtidos em cada medida

colorimétrica são calculados pelo programa aplicativo específico do equipamento.

Os índices de coordenadas cromáticas, L*, C* e H* foram determinados antes e após os

ensaios de esterilização. Foram realizadas três leituras em cada amostra, com três repetições

cada, sendo a primeira indicada no programa como padrão (standard) e as outras duas

relativas à primeira (sample), antes e após os ensaios. Os resultados de variação da coloração

das amostras após os ensaios de esterilização em autoclave são apresentados pelo valor médio

∆Ecmc.

4.2.3. Resistência ao Desgaste por Abrasão

Na literatura ainda restrita sobre aços inoxidáveis coloridos, são apresentados alguns ensaios

não normalizados utilizados apenas para comparar o desempenho desses materiais com outros

similares. Entretanto, de acordo com alguns fabricantes de aço inoxidável colorido no Japão, a

norma ASTM D 6037-96 (Standard Test Methods for Dry Abrasion Mar Resistance of High

Gloss Coatings) seria a mais adequada para se medir a mudança de aparência de

revestimentos brilhantes resultante de esforços de abrasão leve.

Os ensaios de resistência ao desgaste foram realizados em uma máquina de resistência ao

desgaste por abrasão, modelo NU-ISO3 da Suga Test Instruments CO, desenvolvida

especialmente para atender a norma ASTM D 6037-96, apresentada na Figura 4.3.

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Figura 4.3. Testador de abrasão modelo NUS-ISO3

O ensaio consiste em desbastar o filme sobre o aço pressionando a superfície da amostra

contra um disco de metal revestido com uma fita abrasiva em ciclos realizados por

movimentos de ida e volta, com uma carga constante.

A resistência ao desgaste do revestimento foi avaliada nas amostras em branco (não

esterilizadas) e nas amostras submetidas a 20 ciclos de esterilização, pelo número de ciclos

abrasivos necessários para expor a superfície do substrato. A área desgastada foi de

aproximadamente 3,0cm x 1,2cm, o que permitiu a avaliação visual da exposição do

substrato.

Neste ensaio a carga aplicada foi de 20N e a fita abrasiva utilizada foi a de CrO3 com

granulometria 0,5mm. O ciclo de movimentação da mesa está associado a um giro de 1 grau

do disco abrasivo, de modo a manter sempre nova a lixa a cada ciclo. Os ensaios foram

realizados em três amostras não esterilizadas de cada material, ABNT 304 polido, ABNT 304

escovado e 316L. Posteriormente, foram avaliadas três amostras de cada material que foram

submetidas a 20 ciclos de esterilização, com três marcas de desgaste em cada amostra,

totalizando nove repetições em cada material.

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4.2.4. Resistência à Corrosão

A resistência à corrosão das amostras não esterilizadas (em branco) e de amostras submetidas

a 20 ciclos de esterilização foi avaliada conforme as normas NBR ISO 13402:1997 e NBR

13851:1997, referências para a determinação da resistência à esterilização em autoclave, à

corrosão e à exposição térmica de instrumentais cirúrgicos e odontológicos de aço inoxidável.

Desta forma, as amostras foram ensaiadas de acordo com o ensaio de corrosão com água em

ebulição, que é especificado na norma NBR ISO 13402 para avaliar a resistência à corrosão

destes instrumentos: as amostras foram lavadas utilizando-se detergente e água, enxaguadas

em água corrente (potável) e secadas com papel toalha. As bordas e as superfícies não

coloridas das amostras foram protegidas. Como agente de corrosão foi utilizada água destilada

de qualidade 3 - ISO 3696:1987. As amostras foram imersas em recipientes de vidro contendo

água em ebulição durante 30 minutos. Após os 30 minutos, as amostras esfriaram durante

uma hora na água utilizada para o teste. Posteriormente as amostras foram retiradas e deixadas

expostas ao ar por duas horas. Em seguida, foram esfregadas com um pano seco.

A resistência à corrosão em água em ebulição foi avaliada por inspeção visual da superfície

após o tempo de exposição. A norma NBR 13851 estabelece os requisitos que devem ser

observados. Neste caso, é indicado que nenhuma superfície deve apresentar qualquer sinal de

corrosão por inspeção visual (sem ampliação). Pequenas evidências de ferrugem (óxido

ferroso) nas bordas dentadas, dentes, fechos, linguetas de catracas, enxertos (juntas brasadas

ou soldadas) etc. não devem ser motivo para a rejeição.

A resistência à corrosão das amostras não esterilizadas e submetidas a 20 ciclos de

esterilização também foi avaliada em ensaio de imersão em NaCl, 3%. A superfície das

amostras foi riscada em formato de X com um estilete para expor o substrato conforme a

Figura 4.4. As bordas e as superfícies não coloridas foram protegidas com fita adesiva. As

amostras foram imersas em solução de NaCl, 3%, a 50°C por 48 horas seguidas. Após o

ensaio, as amostras foram avaliadas por inspeção visual quanto ao aparecimento de corrosão

na superfície e nas áreas expostas do substrato.

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Figura 4.4. Preparação de amostras para ensaio de imersão em NaCl, 3%

4.2.5. Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR)

Com o objetivo de investigar a influência do processo de esterilização em autoclave no filme

de interferência, e consequentemente nos espectros das amostras, amostras não esterilizadas

(em branco) e amostras submetidas a 20 ciclos de esterilização dos aços ABNT 304 polido e

ABNT 316L foram analisadas por espectroscopia do infravermelho por transformada de

Fourier – FTIR.

Os espectros foram obtidos através do espectrômetro instalado no Departamento de Física da

UFMG – Thermo Nicolet Nexus 470. A resolução utilizada foi de 4cm-1 e media de 32

varreduras, percorrendo a região de 4000cm-1 a 600cm-1. As amostras foram analisadas em

um microscópio Centaurus (objetiva de 10X, região analisada de 150x150µm). As amostras

do aço ABNT 304 escovado não foram analisadas devido à morfologia irregular da sua

superfície.

4.3. Análise Estatística

Os testes de F (Snedecor & Cochran, 1989) para delineamento inteiramente casualizado e o

teste de Duncan a 5% de probabilidade (Duncan, 1955) foram adotados para a comparação

das médias dos parâmetros de cor e das propriedades mecânicas para a avaliação do efeito da

esterilização sobre as amostras.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Resistência à Esterilização em Autoclave

As amostras de aço inoxidável coloridas por interferência que não foram esterilizadas e as

amostras submetidas a ciclos crescentes de esterilização em autoclave são apresentadas na

Figura 5.1, de forma organizada. A primeira amostra é uma amostra não esterilizada (em

branco), e subsequentemente, as amostras que foram submetidas a 5, 10, 15 e 20 ciclos de

esterilização.

(a)

(b)

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(c)

Figura 5.1. Amostras de aço colorido não esterilizadas, e esterilizadas por 5, 10, 15 e 20

ciclos: ABNT 304 polidas (a), ABNT 304 escovadas (b) e ABNT 316L (c).

Ao se organizar as amostras lado a lado é possível observar e comparar visualmente amostras

não ensaiadas e ensaiadas. Nesta organização é possível perceber que existem diferenças

visuais mínimas entre elas, inclusive entre as amostras ensaiadas que foram submetidas a

diferentes ciclos. Normalmente, existe uma pequena diferença de luminosidade entre as

amostras, que é devido ao posicionamento da amostra em relação à chapa que foi colorida. A

coloração próxima às bordas da chapa não é uniforme.

Em todos os casos, visualmente não há alteração perceptível das cores, apenas um leve

clareamento que indica uma diferença de luminosidade. Nas amostras de aço ABNT 304

polidas (a), não é claramente observada uma diferença entre a amostra não esterilizada e a

amostra submetida a 20 ciclos de esterilização, assim como nas amostras de aço ABNT 304

escovadas (b). Já nas amostras de aço inoxidável ABNT 316L existe uma pequena diferença

visual entre as amostras, principalmente se compararmos a amostra que não foi esterilizada,

com a amostra que foi submetida a 20 ciclos de esterilização.

Fatores do processo de esterilização, como a temperatura, a pressão, a umidade, a qualidade

da água utilizada na esterilização e o processo de limpeza das amostras antes do ensaio

parecem ter influenciado a coloração, criando uma pequena diferença de luminosidade entre

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as amostras. De acordo com a engenharia do hospital onde está instalada a autoclave utilizada

no ensaio, até o momento não havia tratamento de deionização para a água. No caso do aço

ABNT 316L, além destes fatores, a sua coloração industrial não consta do catálogo da

Inoxcolor e os parâmetros de coloração utilizados foram os mesmos de coloração do aço

ABNT 304. Desta forma, a variação de cor apresentada pode também ter sido influenciada

pelo próprio processo de coloração.

Nas amostras esterilizadas, independente da quantidade de ciclos a que foram submetidas, não

foram observados sinais de corrosão superficial, nem evidências de ferrugem (óxido ferroso)

nas suas bordas. Algumas amostras apresentaram manchas de água sobre a superfície ao se

abrir as embalagens que foram levadas à autoclave. Contudo, as manchas nas amostras

desapareceram após serem lavadas com água corrente (potável) e enxugadas com papel

toalha. Desta forma, é possível afirmar que as amostras de aço inoxidável coloridas por

interferência, avaliadas de acordo com o ensaio de resistência a esterilização em autoclave,

estão de acordo com os requisitos especificados na norma ABNT NBR 13402:1997. Ou seja,

não apresentaram alterações apreciáveis em sua aparência nem sinais de corrosão.

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5.2. Determinação Numérica das Cores

As diferenças de cor (∆Ecmc) são apresentadas pelas cinco médias de três leituras em cada

amostra, comparando-se os índices de coordenadas cromáticas, L*, C* e H* antes e após os

ciclos de esterilização. As diferenças de cor para os diferentes ciclos de esterilização estão

apresentadas na Figura 5.2.

(a)

(b)

Figura 5.2. Valores médios das diferenças de cor nas amostras: ABNT 304 polidas (a), ABNT

304 escovadas (b) e ABNT 316L (c) antes e após os ciclos de esterilização.

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(c)

Figura 5.2. (continuação) Valores médios das diferenças de cor nas amostras: ABNT 304

polidas (a), ABNT 304 escovadas (b) e ABNT 316L (c) antes e após os ciclos de

esterilização.

Uma observação simples dos gráficos indica que o processo de esterilização em autoclave

resultou em um aumento gradual da diferença de cor (∆Ecmc) média entre as amostras. A

análise dos gráficos e dos dados apresentados na Tabela V.1, indicam a progressão das

diferenças de cor, que aumentam com o número de ciclos de esterilização.

Tabela V.1. Valores médios da diferença de cor (∆Ecmc), nas amostras de aço inoxidável

coloridas em azul após ensaio de resistência a esterilização em autoclave.

Amostras

Diferença de cor (∆Ecmc)*

Ciclos de Esterilização

5 10 15 20

ABNT 304 BB 6,5 cx 8,1 bx 10,7 ay 11,6 ay

ABNT 304 N4 4,5 dy 8,8 cx 9,7 by 12,4 ay

ABNT 316L 5,4 cy 9,6 bx 13,9 ax 15,6 ax

*Médias (5 repetições) indicadas pela mesma letra em uma mesma linha (a, b, c, d) ou em uma mesma coluna

(x, y, z) não diferiram entre si pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade.

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A análise dos gráficos e dos dados apresentados na Tabela V.1, indicam a progressão das

diferenças de cor, que aumentam com o número de ciclos de esterilização. A evolução das

diferenças de cor entre as amostras se apresentam de forma proporcional, o que possibilita

afirmar que o efeito da esterilização em autoclave foi similar entre elas. Porém, as amostras de

aço ABNT 316L apresentaram diferenças crescentes e relativamente maiores entre as

amostras a partir de 15 ciclos de esterilização. As amostras que apresentaram uma maior

diferença foram às amostras submetidas a 20 ciclos de esterilização. Nas amostras de aço

ABNT 304 polido (a), a diferença média foi ∆Ecmc = 11,6. Resultado próximo foi encontrado

nas amostras de aço ABNT 304 escovado (b), apresentando média ∆Ecmc = 12,4. Nas amostras

do aço ABNT 316L (c), as diferenças encontradas foram maiores e significativas em relação à

dos outros dois aços (p > 0,05), com média ∆Ecmc = 15,6.

Todos os valores médios encontrados foram superiores aos encontrados por Junqueira et al.,

(1999), em amostras que sofreram tratamento térmico em ambiente seco a 150°C e em

ambiente úmido a 90°C, com tempos de exposição de até 3000 horas. Ao mesmo tempo, os

valores foram próximos aos encontrados em ensaios de corrosão acelerada em câmaras de

névoa salina em tempo total de 2160 horas (CETEC, 2001).

Assim como observado na avaliação visual das amostras após o ensaio de esterilização, os

fatores envolvidos no processo de esterilização, como a temperatura, a pressão, a umidade, a

qualidade da água utilizada (não deionizada) e o processo de limpeza das amostras parecem

influenciar os valores de diferença de cor. No caso do aço ABNT 316L, a variação de cor,

significativamente maior, também pode ter sido influenciada pelo próprio processo de

coloração. Entretanto, para todas as amostras, os valores numéricos encontrados para as

diferenças de cor, apesar de maiores do que os encontrados anteriormente em outros estudos,

ainda não são claramente perceptíveis pelo olho humano. Como houve variação mínima da

cor e do brilho das amostras é possível indicar que não houve variação perceptível da

aparência superficial das amostras submetidas aos ciclos de esterilização.

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57

5.3. Resistência ao Desgaste por Abrasão

Os resultados obtidos em ensaio de resistência ao desgaste por abrasão dos aços inoxidáveis

coloridos antes e após o processo de esterilização estão apresentados na Figura 5.3. Nos

gráficos estão representadas as médias de nove leituras (três de ciclos abrasivos em três

amostras diferentes) de amostras em branco (não esterilizadas) e das amostras que foram

submetidas a 20 ciclos de esterilização.

(a)

(b)

Figura 5.3. Número de ciclos abrasivos médios necessários para remoção completa dos filmes

do aço colorido: ABNT 304 polidas (a), ABNT 304 escovadas (b) e ABNT

316L (c), de amostras não esterilizadas e amostras submetidas a 20 ciclos de

esterilização.

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(c)

Figura 5.3. (continuação) Número de ciclos abrasivos médios necessários para remoção

completa dos filmes do aço colorido: ABNT 304 polidas (a), ABNT 304 escovadas (b) e

ABNT 316L (c), de amostras não esterilizadas e amostras submetidas a 20 ciclos de

esterilização.

Tabela V.2. Número de ciclos abrasivos médios de amostras de aço inoxidável coloridas em

azul em ensaio de resistência ao desgaste por abrasão utilizando papel abrasivo

de CrO3 0,5µm a 20N.

Amostras

Número de ciclos abrasivos*

Não Esterilizadas (Em Branco) Esterilizadas 20 ciclos

ABNT 304 BB 49 bx 87 ay

ABNT 304 N4 42 by 46 az

ABNT 316L 50 bx 97 ax

*Média (9 repetições) indicadas pela mesma letra em uma mesma linha (a, b) ou em uma mesma coluna (x, y, z)

não diferiram entre si pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade.

Observa-se na Figura 5.3, nas amostras de aço ABNT 304 polido (a), um aumento em torno

de 56% da resistência ao desgaste após os 20 ciclos de esterilização. Esta variação foi

significativa quando avaliada pelo teste de F, com 95% de confiança. A diferença média de

52% da resistência após o tratamento térmico no processo de esterilização apresentada pelas

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amostras de aço ABNT 316L (c), também foi significativa. Entre estas amostras, o aumento

de resistência ao desgaste foi proporcional, assim como o efeito observado na coloração.

Nas amostras de aço ABNT 304 escovado (b), a diferença apresentada foi menor, mas ainda

assim significativa (p < 0,05). É possível indicar que nestas amostras exista o mesmo aumento

na resistência ao desgaste observado nas outras amostras. Porém, como o ensaio de desgaste

por abrasão é superficial, é possível que o relevo da superfície da amostra escovada influencie

o resultado de desgaste, uma vez que diminui o acesso do disco de abrasão ao filme

depositado nas ranhuras. Conclui-se que o ensaio de desgaste por abrasão utilizando papel

abrasivo de CrO3, não é o mais indicado para avaliar a resistência a abrasão de amostras de

aço inoxidável coloridas com acabamentos escovados.

Este aumento da resistência do filme após o tratamento térmico foi observado anteriormente

por Junqueira et al. (2009) em estudo de envelhecimento de filmes coloridos por interferência

crescidos em amostras de aço inoxidável ABNT 304 com acabamento BB. Neste caso, os

resultados indicaram um aumento da resistência ao desgaste com o tratamento térmico a

150°C por até 256 horas. Para tempos de até 1000 horas foi observado o mesmo aumento, até

se atingir um patamar entre 100 e 200 horas de tratamento, estabilizando-se em seguida

(Junqueira, 2004).

De acordo com Junqueira et al. (2009), o aumento de resistência do filme é devido ao

tratamento térmico, que promove perda de água incorporada ao filme e o seu envelhecimento.

O tratamento térmico também diminui a porosidade do filme e aumenta a resistência

mecânica do filme de interferência. O tratamento térmico melhora as propriedades mecânicas

do filme, aumenta a sua dureza, e diminui o seu módulo de elasticidade, resultando em filmes

mais resistentes à abrasão.

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5.4. Resistência à Corrosão

A resistência à corrosão das amostras não esterilizadas e amostras submetidas a 20 ciclos de

esterilização, foi avaliada usando como referência um ensaio de corrosão com água em

ebulição, recomendado pela norma NBR ISO 13402:1997 e avaliada conforme a norma NBR

13851:1997. Na Figura 5.4, estão apresentadas as amostras esterilizadas e não esterilizadas

após o ensaio de corrosão com água em ebulição.

(a)

(b)

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(c)

Figura 5.4. Amostras de aço colorido não esterilizada, e amostra esterilizada por 20 ciclos

após ensaio de corrosão com água em ebulição: ABNT 304 polidas (a), ABNT

304 escovadas (b) e ABNT 316L (c).

Observando as amostras que foram submetidas ao ensaio de corrosão com água em ebulição,

não é possível perceber sinais de corrosão superficial, nem evidências de ferrugem (óxido

ferroso) nas suas bordas. Não houve sinais de corrosão em nenhuma das amostras,

independente dos ciclos de esterilização. Após a secagem ao ar, algumas amostras

apresentaram manchas que foram removidas com um pano seco.

É possível afirmar que as amostras de aço inoxidável coloridas por interferência, avaliadas de

acordo com o ensaio de resistência a corrosão com água em ebulição, estão de acordo com os

requisitos especificados para instrumentais cirúrgicos e odontológicos de aço inoxidável

conforme as normas ABNT NBR 13402:1997 e NBR 13851:1997.

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A resistência a corrosão das amostras também foi avaliada em ensaio de imersão em NaCl,

3%. As imagens das amostras submetidas ao ensaio de imersão em NaCl, 3%, estão

apresentadas na Figura 5.5.

(a)

(b)

Figura 5.5. Amostras de aço colorido não esterilizada, e amostra esterilizada por 20 ciclos

após Ensaio de corrosão por imersão em NaCl 3%, 50ºC: ABNT 304 polidas

(a), ABNT 304 escovadas (b) e ABNT 316L (c).

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(c)

Figura 5.5. (continuação) Amostras de aço colorido não esterilizada, e amostra esterilizada

por 20 ciclos após Ensaio de corrosão por imersão em NaCl 3%, 50ºC: ABNT 304 polidas (a),

ABNT 304 escovadas (b) e ABNT 316L (c).

Ao se observar as amostras que foram submetidas ao ensaio de imersão em NaCl, 3%, durante

48 horas a 50°C, não foram observados sinais de corrosão superficial, nem evidências de

ferrugem (óxido ferroso). Nas áreas onde o substrato foi exposto, com marcação em formato

de X, também não foram observados sinais de corrosão nem evidências de ferrugem,

independente se as amostras foram esterilizadas ou não. Desta forma, podemos indicar que o

processo de esterilização não afetou o desempenho das amostras nem do seu substrato frente à

corrosão.

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5.5. Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR)

Os espectros de infravermelho obtidos nas amostras de aço inoxidável ABNT 304 polido,

colorida em azul e da mesma amostra após ser submetida a 20 ciclos de esterilização em

autoclave são apresentados na Figura 5.6. É possível observar nos espectros a presença de

uma banda de absorção na região entre 2700 a 3650 cm-1, que foi observada por Junqueira et

al. (2008) em estudo de caracterização de filmes coloridos por interferência submetidos a

tratamentos térmicos a 150ºC, e que foi associada a grupos OH provenientes de água

incorporada ao filme.

Figura 5.6. Espectro FTIR de absorbância na região do infravermelho de amostras de aço

colorido 304 polidas não esterilizadas e de amostras submetidas a 20 ciclos de

esterilização.

Nestes espectros também é possível observar, ainda que com pouca clareza, uma banda de

absorção entre 540cm-1 e 571cm-1, encontrada por Junqueira et al. (2008), que foi atribuída à

presença de Cr2O3 em forma de espinélio. Bandas de absorção semelhantes foram detectadas

anteriormente por Evans et al. (1973), em trabalho de caracterização de filmes de

interferência também utilizando a espectroscopia.

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Na comparação entre os gráficos dos espectros obtidos não foi possível observar uma

diferença clara entre os espectros de amostras não esterilizadas e de amostras esterilizadas. A

variação de área sob o pico da banda de absorção nos espectros, que indicaria perda de água

estrutural, observada anteriormente por Junqueira et al. (2008) após aquecimento das

amostras a 150°C não pode ser observada.

Desta forma, optou-se por verificar a diferença entre os espectros antes e após processo de

esterilização. A Figura 5.7 apresenta o gráfico com a variação do espectro de reflexão – a

divisão da refletividade da amostra esterilizada pela amostra não esterilizada do aço ABNT

304 polido. Na Figura 5.8 é apresentado o gráfico com a variação do espectro de reflexão - a

divisão da refletividade da amostra esterilizada pela amostra não esterilizada para o aço

ABNT 316L.

Figura 5.7. Diferença dos espectros de reflectância FTIR entre as amostras de aço colorido

304 polidas não esterilizadas e submetidas a 20 ciclos de esterilização.

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Figura 5.8. Diferença dos espectros de reflectância FTIR entre as amostras de aço colorido

316L não esterilizadas e submetidas a 20 ciclos de esterilização.

No gráfico apresentado na Figura 5.7 é possível observar que a variação máxima de

reflectância do espectro entre as amostras de aço ABNT 304 polidas, esterilizadas e não

esterilizadas é em torno de 0,3%. Nas amostras de aço ABNT 316L, as diferenças máximas

apresentadas pelo gráfico na Figura 5.8 são menores do que 1%, e na faixa de comprimento

de onda onde foi observada a banda de absorção associada a grupos OH, a diferença máxima

entre os espectros é menor do que 0,2%. De acordo com estes dados, não é possível afirmar

que o processo de esterilização em autoclave promova a perda de água incorporada ao filme

assim como foi observado no tratamento térmico realizado por Junqueira et al. (2008).

Como o ensaio de resistência à abrasão indicou o aumento da resistência do filme, que de

acordo com Junqueira et al. (2009) é devido ao tratamento térmico que promove o seu

envelhecimento, é possível indicar que exista uma perda de mínima de água, além da

diminuição da porosidade do filme. Esta perda mínima pode estar relacionada ao próprio

processo de esterilização em autoclave, que ocorre em ambiente úmido, com vapor saturado

(95% de vapor e 5% de condensado) e sob pressão (2,2kgf/cm2), o que dificultaria a perda de

água incorporada ao filme.

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6. CONCLUSÕES

• A medição dos parâmetros de cor, e sua diferença (∆Ecmc), indicam diferenças

relativas e graduais crescentes proporcionais aos ciclos de esterilização. As alterações

são pouco perceptíveis ao olho humano, independente do número de ciclos aos quais

as amostras foram submetidas. Visualmente não houve mudança significativa das

cores e do brilho das amostras.

• As propriedades mecânicas dos aços inoxidáveis coloridos, avaliadas a partir dos

ensaios de desgaste por abrasão, foram influenciadas pelo tratamento de esterilização.

Neste caso, as amostras ensaiadas apresentaram maior resistência à abrasão, o que

consequentemente indica o envelhecimento do filme e a diminuição da sua

porosidade.

• A resistência à corrosão do material aparentemente não foi afetada pelo processo de

esterilização. As amostras foram avaliadas de acordo com ensaios de corrosão em

autoclave e ensaio de corrosão com água em ebulição, de acordo com as normas

ABNT NBR ISO 13402 e NBR 13851, além de ensaio de imersão em NaCl, 3%.

• A partir dos espectros FTIR, é possível indicar que o tratamento térmico que ocorre

durante o processo de esterilização em autoclave não promove perda de água presente

no filme, ou esta perda é mínima. Uma vez que o processo ocorre sob pressão e em

ambiente úmido, é esperada uma perda de água menor do que em outros tratamentos

térmicos em ambiente seco, como em estufa.

• Os aços inoxidáveis coloridos apresentam um desempenho satisfatório quando

submetidos aos procedimentos de esterilização em autoclave para instrumentos

cirúrgicos e odontológicos, de acordo com as normas pertinentes.

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7. RELEVÂNCIA DOS RESULTADOS

Os resultados permitiram concluir que é possível esterilizar por autoclave o aço inoxidável

austenítico colorido, mantendo as suas características, desempenho e principalmente a sua

coloração.

Os resultados abrem precedentes para se propor a aplicação do aço inoxidável colorido na

indústria de produtos, equipamentos e instrumentos médico-hospitalares. Além de aumentar a

gama de aplicação do aço colorido, sua produção e divulgação, as propriedades e as cores

presentes no aço podem trazer grandes benefícios a médicos, pacientes e usuários dos

sistemas de saúde, contribuindo para a segurança e eficácia dos dispositivos médicos.’

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8. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

• Estudar a influência no desempenho do aço inoxidável colorido aos processos

químicos de esterilização, como a esterilização por glutaraldeido a 2% e ácido

peracético.

• Estudar a influência no desempenho do aço inoxidável colorido aos processos físico-

químicos de esterilização, como a esterilização por Oxido de etileno (ETO) e o Plasma

de peróxido de Hidrogênio.

• Investigar a influência do sangue e de fluídos corporais na coloração e na resistência a

corrosão do aço inoxidável colorido.

• Investigar e estudar o desempenho do aço inoxidável colorido frente à corrosão

microbiológica.

• Utilizar as informações adquiridas neste trabalho para estudar a biocompatibilidade do

aço inoxidável colorido.

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9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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cirúrgico e odontológico – Resistência à esterilização em autoclave, à corrosão e à exposição

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS-ABNT. NBR 13915, Instrumental

Cirúrgico – Afastadores de aço inoxidável – Requisitos gerais, São Paulo, 1997.

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Cirúrgico – Afastadores de aço inoxidável – Requisitos gerais, São Paulo, 1997.

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Paulo, 1997.

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Cirúrgicos e Odontológicos de aço inoxidável – Orientações sobre cuidados, manuseio e

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Cirúrgicos e Odontológicos de aço inoxidável – Requisitos gerais, São Paulo, 1998.

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Cirúrgicos e odontológicos de aço inoxidável – Orientações sobre manuseio, limpeza e

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