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Monografia de Especialização submetida ao Centro de Desenvolvimento Sustentável daUniversidade de Brasília – CDS/UnB objetivando a conclusão do Curso de Pós-GraduaçãoLato Sensu em Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, área de concentração emresíduos sólidos.

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  • UNIVERSIDADE DE BRASLIACENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

    GERAO DE ENERGIA ELTRICA A PARTIR DA INCINERAODE LIXO URBANO: O CASO DE CAMPO GRANDE/MS

    Dalma Maria Caixeta

    Orientadora: Prof. Dr. Izabel Cristina Bruno Bacellar Zaneti

    Monografia de Especializao

    Braslia - DFAbril 2005

  • UNIVERSIDADE DE BRASLIACENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

    GERAO DE ENERGIA ELTRICA A PARTIR DA INCINERAODE LIXO URBANO: O CASO DE CAMPO GRANDE/MS

    Dalma Maria Caixeta

    Monografia de Especializao submetida ao Centro de Desenvolvimento Sustentvel daUniversidade de Braslia CDS/UnB objetivando a concluso do Curso de Ps-GraduaoLato Sensu em Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentvel, rea de concentrao emresduos slidos.

    Aprovado por:

    _____________________________________

    Prof, Dr Izabel Cristina Bruno Bacellar Zaneti(orientadora)

    ______________________________________

    Prof, Dr Susi Huff Theodoro

    ______________________________________

    Prof., Dr. Othon Henry Leonardos

    Braslia-DF, 29 de abril de 2005

  • CAIXETA, DALMA MARIA

    Gerao de energia eltrica a partir da incinerao de lixo urbano: O caso de CampoGrande/MS, 86 p. 297 mm, (UnB-CDS, Especializao, Resduos Slidos, 2005)Monografia do Curso de Especializao em Direito Ambiental e DesenvolvimentoSustentvel Universidade de Braslia. Centro de Desenvolvimento Sustentvel.1. Resduos Slidos 2. Incinerao3. Educao Ambiental 4. Energia EltricaI. Unb-CDS II. Ttulo (srie)

    concedida Universidade de Braslia permisso para produzir cpias desta dissertao epara emprestar ou vender tais cpias somente com propsitos acadmicos ou cientficos. Oautor reserva outros direitos de publicao e nenhuma parte desta dissertao pode serreproduzida sem autorizao por escrito do autor.

    _________________________________

    Dalma Maria Caixeta

  • Dedico esse trabalho a todas as pessoas que,direta ou indiretamente, trabalham comresduos slidos e contribuem de algumamaneira para a preservao da natureza.

  • AGRADECIMENTOS

    Coordenadora da 4 CCR da Procuradoria Geral da Repblica, e, na ocasio, Diretora daEscola Superior do Ministrio Pblico da Unio, Dra. Sandra Cureau, pela possibilidade derealizao desse curso.

    A todos os colegas da 4 CCR pelo apoio, contribuies e incentivos indispensveis realizao desta monografia.

    minha orientadora, Izabel Zaneti, pela disponibilidade, ateno, estmulo e carinho ao longodesse trabalho.

    professora Suzi Theodoro pela firmeza com que coordenou o curso.

    s colegas Sandra Dias, Emlia Botelho e Geraldina Salgado pelas revises e sugestes aotexto.

    colega Luciana Bucci pelas referncias bibliogrficas.

    Ao colega Valdir Filho pela formatao final.

    minha amiga Lucinha pela presena constante.

    E, especialmente, ao Teldo, Vtor e Elisa pela compreenso, apoio e amor dedicados.

  • RESUMO

    A destinao final dos resduos slidos urbanos tornou-se um grande problema para asadministraes municipais. A cada dia aumenta a gerao de resduos e, com a expansourbana, diminuem as reas disponveis e adequadas para implantar aterros sanitrios,aumentando, assim, os custos de transportes e a degradao ambiental pela existncia doslixes. A incinerao, com a gerao de energia eltrica, surge como alternativa de tratamentodo lixo urbano. Esta alternativa apresentada para solucionar dois problemas: a escassez dereas destinadas aos aterros sanitrios e a gerao de energia eltrica. Buscou-se, por meio depesquisa bibliogrfica, conhecer os aspectos ambientais da incinerao dos resduos slidosurbanos, principalmente quanto s emisses atmosfricas. Verificou-se, ainda, quais projetosde recuperao de energia utilizando incinerao do lixo esto sendo desenvolvidos no Brasil.Fez-se um levantamento terico sobre sistemas de gerenciamento de resduos slidos urbanos,abrangendo coleta seletiva, catadores e o princpio dos 3 Rs: reduzir, reutilizar e reciclar. Oobjetivo de um programa de gerenciamento de resduos socialmente integrado, visando mudarpadres de consumo e produo, pode ser alcanado utilizando-se a Educao Ambientalcomo instrumento para sensibilizar e conscientizar a populao para uma mudana decomportamento. Foram analisadas trs propostas tcnicas de empresas que concorreram licitao conduzida pela Prefeitura Municipal de Campo Grande/MS visando a contratao deuma empresa prestadora de servios de coleta, tratamento e destinao final dos resduosslidos urbanos, com posterior gerao de energia eltrica. Este processo de licitao veio aoencontro de uma Ao Civil Pblica impetrada pelo Ministrio Pblico Federal em face doMunicpio de Campo Grande e da Unio, tendo em vista a construo de um Presdio Federalem rea adjacente ao lixo, o que traria srios danos e impactos socioambientais regio.Conclui-se que a incinerao, com gerao de energia, uma alternativa de tratamento deresduos slidos urbanos passvel de ser adotada pelos municpios. No entanto, esse processodeve ser empregado com cautela e deve estar inserido em um programa de gerenciamentointegrado que promova outras formas de aproveitamento energtico dos materiais contidos nolixo, incluindo a coleta seletiva, a reciclagem e uso do biogs.

    Palavras-chave: Resduos slidos; Incinerao; Coleta Seletiva; Educao Ambiental;Energia Eltrica

  • ABSTRACT

    The final disposal of urban solid wastes became a big problem to the municipalservices. Every day, the solid wastes increase and, with the urban growth, the suitable andavailable areas to built landfills reduce. This fact improves the cost of transport and theenvironmental degradation due the illegal dumping sites. The incineration technique, withelectric energy generation, appear as alternative to treat the urban waste. This process come tosolve two problems: the insufficient areas to put the garbage and the production of electricenergy. From a bibliography research, it was possible to know the environmental problems ofincineration of urban solid wastes, mainly, the atmospherics emissions. In addition, it wasverified which projects of energy recovery that use urban waste as fuel in the incinerationprocess are been developed in Brazil. A theory review about management of urban solidwastes systems was done and it was included the separate collection, the informal garbage-pickers and the 3 Rs principle: to reduce, to reuse and to recycle. The objective of amanagement waste program social integrated, wanting to move the consumption andproduction models, can be reached using the Environmental Education as tool to touch thepeople and promote a behaviour change. Three technical proposals about the collection andtreatment system of Campo Grandes urban solid wastes were analysed. The PublicAdministration of Campo Grande intended to contract an enterprise for collection andtreatment of the garbage with energy generation. This process aimed to promote therecuperation of the degraded site due to illegal garbage dump. The Federal Public Ministry ofBrazil interposed a Public Civil Action against the Municipal Administration of CampoGrande because it will be build a Federal Penitentiary beside the dumpsite. The environmentaland social impacts derived from garbage dump could harm the person inhabitants on theprison. The incineration technique, with energy generation, is an alternative that can be usedto treat the urban solid waste. Nevertheless, the incineration should be used with caution andshould be included in an integrated management program that will promote other sources toget energy from the garbage, including the separate collection, the recycling and the biogas.

    Key words: Solid waste; Incineration; Separate Collection; Environmental Education;Electric Energy

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ACP Ao Civil PblicaCCE Comunidade Econmica EuropiaCDR Combustvel Derivado do ResduoCECA Conselho Estadual de Controle AmbientalCEMPRE Compromisso Empresarial para ReciclagemCONAMA Conselho Nacional de Meio AmbienteEA Educao AmbientalECP Equipamento de Controle da PoluioEIA/Rima Estudo de Impacto Ambiental/Relatrio de Impacto AmbientalIBGE Instituto Brasileiro de Geografia e EstatsticaICP Inqurito Civil PblicoIPT Instituto de Pesquisas TecnolgicasMDL Mecanismo do Desenvolvimento LimpoMMA Ministrio do Meio AmbienteMPE Ministrio Pblico EstadualMPF Ministrio Pblico FederalPCDD/PCDF Dioxinas (Policlorodibenzo-p-dioxinas) e Furanos (Policlorodibenzofuranos)PEV Ponto de Entrega VoluntriaPGR Procuradoria Geral da RepblicaRDF Refused Derived FuelRI Resduos IndustriaisRSD Resduos Slidos DomsticosRSSS Resduos Slidos dos Servios de SadeRSU Resduos Slidos UrbanosSEMADES Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento SustentvelSMC Sistema de Monitoramento ContnuoUTE Usina TermeltricaUTH Usina Termeltrica HbridaUTR Usina Termeltrica a Resduo

  • SUMRIOINTRODUO ........................................................................................................................8

    Definio do Problema............................................................................................................8Relevncia ...............................................................................................................................9Objetivos ...............................................................................................................................10Metodologia ..........................................................................................................................11Estruturao...........................................................................................................................11

    1 GERAO DE ENERGIA ELTRICA A PARTIR DA INCINERAO DERESDUOS SLIDOS URBANOS ......................................................................................13

    1.1 INCINERAO .................................................................................................................131.2 PROBLEMAS AMBIENTAIS DA INCINERAO ..................................................................16

    1.2.1 Sistemas de controle de poluio do ar (SCPA).......................................................171.2.2 Dioxinas e Furanos...................................................................................................201.2.3 Escria e cinzas ........................................................................................................23

    1.3 INCINERAO NO BRASIL...............................................................................................241.3.1 Projetos de Incinerao com aproveitamento energtico ........................................261.3.2 Projetos negociados no mbito do Protocolo de Kyoto ...........................................31

    1.4 INCINERAO NO EXTERIOR..........................................................................................331.5 LEGISLAO BRASILEIRA SOBRE A INCINERAO DE RESDUOS ..................................341.6 PRS E CONTRA DOS PROCESSOS DE INCINERAO.......................................................36

    2 GESTO DOS RESDUOS SLIDOS URBANOS ........................................................392.1 GERENCIAMENTO DOS RSU E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL ..................................402.2 LIXO, REJEITO OU RESDUOS SLIDOS .........................................................................422.3 COLETA SELETIVA ..........................................................................................................44

    2.3.1 Formas de execuo .................................................................................................462.3.2 Insero dos Catadores ............................................................................................482.3.3 Agenda 21 - Princpio dos 3 Rs ................................................................................49

    2.4 EDUCAO AMBIENTAL .................................................................................................512.4.1 Participao da sociedade........................................................................................52

    3 GESTO DOS RESDUOS SLIDOS URBANOS DE CAMPO GRANDE/MS ........553.1 ATUAO DO MINISTRIO PBLICO E LEGISLAO CORRELATA...............................55

    3.1.1 Histrico das intervenes do MP no lixo..............................................................593.2 SITUAO DA REA DEGRADADA PELO LIXO...............................................................613.3 EDITAL DE LICITAO ...................................................................................................633.4 PROPOSTAS APRESENTADAS PARA O TRATAMENTO TRMICO DOS RSU DE CAMPOGRANDE ................................................................................................................................65

    3.4.1 Consrcio ECOPOLO ..............................................................................................653.4.2 Empresa TRIUNFO ..................................................................................................693.4.3 Consrcio CAMPO GRANDE ..................................................................................72

    CONCLUSES.......................................................................................................................77REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................................80ANEXO....................................................................................................................................84

    EDILANDIARealce

  • INTRODUO

    Definio do ProblemaA disposio final de resduos slidos urbanos, em aterros ou lixes, um problema

    crescente para as administraes municipais, tendo em vista os elevados custos e a escassezde reas disponveis e adequadas, destinadas implantao de projetos de aterros sanitrios,alm da degradao ambiental. Portanto, a busca de novas tecnologias para o tratamento edisposio final dos resduos slidos urbanos faz-se necessria e urgente.

    Nesse contexto, usinas de incinerao, com gerao de energia, vm sendo apresentadass administraes municipais como uma soluo para os problemas de tratamento e dedestinao final dos resduos slidos urbanos. Adicionalmente, a utilizao do lixo urbano emprocessos de tratamento trmico com recuperao energtica vem ao encontro da busca defontes alternativas, preferencialmente as renovveis, para a gerao de energia.

    Considerando que Campo Grande est entre os 63,6% de municpios brasileiros queutilizam lixes para a destinao do resduos urbanos (IBGE, 2002)1, o Ministrio PblicoFederal (MPF), em cumprimento a sua definio constitucional, tem atuado para salvaguardaro patrimnio pblico, o meio ambiente e os direitos sociais.

    A partir de denncias oferecidas por Organizaes No-Governamentais vinculadas aosdireitos humanos, o MPF interps Ao Civil Pblica (ACP) contra o Municpio de CampoGrande e a Unio, dada a possibilidade de construo de um presdio federal em localadjacente rea de disposio do lixo da cidade, o que poderia acarretar diversasconseqncias socioambientais.

    A propositura da ACP pelo MPF se pautou na Constituio Federal de 1988, artigo 129,inciso III, que atribui como funo institucional do MP a proteo do patrimnio pblico esocial, do meio ambiente e dos interesses individuais indisponveis, homogneos, sociais,difusos e coletivos. De igual maneira, a Lei Complementar n. 75/1993, art. 5, inciso III,reafirma essa funo institucional do Ministrio Pblico da Unio (MPU), e no art. 6, incisoVII, atribui ao Parquet Federal a competncia para promover o inqurito civil pblico e aao civil pblica.

    1 Segundo o IBGE, em nmero de municpios, 63,6% utilizam lixes e 32,2%, aterros adequados (13,8%

    sanitrios e 18,4% aterros controlados), porm, na Tabela n. 109 (p. 308) consta que a unidade de destinaofinal do lixo, para o municpio de Campo Grande, aterro controlado. Observa-se que, quando da vistoria inloco, em maio/2004, muito embora estivesse sendo efetuada a cobertura dos resduos com material inerte,procedimento que talvez permitisse classificar a rea como aterro controlado, a poluio causada pelo chorume,gases, lixo hospitalar a cu aberto etc., confere rea caractersticas de lixo (IBGE, 2002, p.51).

  • 9Anteriormente a essa interveno do MPF, o municpio de Campo Grande j seconfigurava como ru em outra ACP, impetrada pelo Ministrio Pblico do Estado de MatoGrosso do Sul, por meio da qual buscava-se a regularizao do processo de licenciamentoambiental da rea de disposio do lixo urbano.

    A implantao de sistemas de tratamento e destinao final dos resduos slidoscaracteriza-se como atividade potencialmente poluidora, para a qual exige-se o prviolicenciamento ambiental e a elaborao de estudos de impacto ambiental. A exigncia deprocesso de licenciamento definida, na esfera federal, pela Lei n. 6.938/81 e pelo Decreton. 99.274/90 que, respectivamente, instituiu e regulamentou a Poltica Nacional de MeioAmbiente, assim como pela Resoluo CONAMA n. 237/97. Pode-se ainda citar a ResoluoCONAMA n. 05/88, que dispe sobre o licenciamento de obras de saneamento, e aResoluo CONAMA n. 01/86, que estabelece as exigncias sobre Estudo de ImpactoAmbiental e respectivo Relatrio de Impacto Ambiental (EIA/Rima).

    Visando obter uma soluo para a gesto dos resduos slidos urbanos, e tambmpromover a recuperao da rea degradada pelo lixo, a Prefeitura Municipal de CampoGrande iniciou um processo licitatrio para a contratao, em regime de concesso, de umaempresa de prestao dos servios pblicos de coleta, tratamento e destinao final dosresduos domiciliares, comerciais e servios de sade, com posterior gerao de energiaeltrica.

    RelevnciaO estudo de alternativas que possibilitem apresentar solues de tratamento e/ou

    destinao final adequada para os resduos slidos urbanos faz-se necessrio diante dacarncia de reas disponveis e adequadas para implantar aterros sanitrios. A incinerao deRSU apresentada como uma dessa alternativas. Para tanto, no s os impactos ambientaisdevem ser avaliados, mas tambm outros processos que promovam a recuperao energticacontida no lixo, como reutilizao, reciclagem e compostagem.

    Oliveira et Rosa (2002) desenvolveram um trabalho sobre Usinas TermeltricasHbridas, usando combustvel fssil e biomassa residual, cujo balano de emisses de gasesdo efeito estufa nulo. De acordo com esse trabalho, o potencial de reduo das emisses dasusinas termeltricas a resduos (UTR), a depender da tecnologia adotada, nove vezes menorque o nvel de poluio das usinas termeltricas a gs natural (UTE). Sendo assim, a energiagerada a partir da queima do lixo teria preos competitivos, havendo, ainda possibilidades de

  • 10

    se obter investimento a fundo perdido atravs do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo(MDL) do Protocolo de Kyoto.

    Considerando que no se pode falar em lixo urbano abordando apenas a fase detratamento, merecem destaque os aspectos sobre a gesto socialmente integrada para osresduos slidos urbanos, principalmente a gerao. Os costumes da sociedade atual, com seuestilo de vida baseado em um modelo de desenvolvimento econmico no sustentvel,induzem nas pessoas o desejo de consumir mais e mais, de consumir suprfluos que sotransformados em necessidades pelo mercado, mas logo se transformam em lixo. H umaexcessiva produo de embalagens e materiais descartveis, em funo de estmulos paraaumentar o consumo, pois a embalagem "valoriza" o produto e os descartveis ocupam olugar dos bens durveis. Alm da quantidade, h tambm a variedade de materiais esubstncias qumicas estranhas ao ambiente.

    Diante desse cenrio, a Educao Ambiental surge como um dos instrumentos maisimportantes para promover uma mudana comportamental da sociedade (ZANETI, 2003). Pormeio da Educao Ambiental, pode-se provocar o incmodo nas pessoas e pass-las dedesconhecedoras do problema a participantes (ABREU, 2001). H inmeras formas de asociedade alterar seu comportamento mediante a conscientizao e adoo de medidas demanejo dos resduos slidos. Entre elas, no se pode deixar de mencionar o princpio dos 3 Rs(reduzir, reutilizar e reciclar), apontado na Agenda 21, elaborada pelos pases participantes daConferncia da Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiroem 1992.

    ObjetivosO uso de tecnologias para o tratamento trmico de resduos slidos urbanos (RSU), com

    ou sem aproveitamento energtico, como soluo aos problemas do lixo urbano, ainda incipiente no Brasil. Nesse sentido procurou-se avaliar tais processos dentro de uma visomais ampla de sistemas de gerenciamento socialmente integrado dos RSU.

    O objetivo geral da pesquisa foi verificar a viabilidade de se utilizar a incinerao comgerao de energia como alternativa adequada para o tratamento dos resduos slidos urbanos,analisando os danos da aplicao dessa tecnologia sobre a sociedade e o meio ambiente, bemcomo avaliar as formas de aproveitamento energtico do lixo urbano.

    Os objetivos especficos foram: analisar as tecnologias empregadas no processo deincinerao de lixo com a recuperao de energia; levantar os projetos de incineraoimplementados no Brasil e no exterior e, por ltimo, verificar a incinerao no contexto de um

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    programa de gesto de RSU que tenha como premissas a reduo, a reutilizao e areciclagem de resduos, englobando a educao ambiental e a insero dos catadores.

    No caso de Campo Grande, o objetivo foi verificar se o tratamento dos RSU composterior gerao de energia, conforme proposta apresentada pela Prefeitura, a melhorsoluo tcnica para o gerenciamento dos resduos urbanos e para assegurar a recuperao darea degradada pelo lixo.

    MetodologiaA metodologia adotada na pesquisa fundamentou-se em levantamento bibliogrfico

    sobre processos de incinerao de resduos slidos urbanos, com aproveitamento energtico, erespectivos sistemas de controle das emisses atmosfricas e sobre gerenciamento integradodos RSU com base na coleta seletiva e na educao ambiental. Foram feitas consultas aosdocumentos constantes de inquritos civis pblicos e aes civis pblicos do MinistrioPblico.

    Como caso concreto, fez-se anlise das propostas tcnicas das empresas queconcorreram licitao da Prefeitura Municipal de Campo Grande sob o enfoque dosimpactos ambientais e da adequao do sistema proposto para solucionar no apenas oproblema de disposio dos RSU, mas tambm a recuperao rea degradada pelo lixo,tendo em vista a construo do Presdio Federal.

    EstruturaoEsta monografia est estruturada em trs captulos. No primeiro captulo faz-se a

    apresentao do referencial terico a respeito dos processos de incinerao, abrangendo osproblemas ambientais da poluio atmosfrica e da disposio final dos resduos slidosgerados (cinzas e rejeitos das unidades de triagem). So apresentados os processos deincinerao existentes no Brasil, bem como as pesquisas que esto sendo realizada visandogerar energia e reduzir as emisses dos gases do efeito estufa. So apresentadas ainda asprincipais normas legais sobre incinerao e controle das emisses poluentes.

    No segundo captulo consta uma reviso terica sobre o gerenciamento dos resduosslidos urbanos enfocando: a coleta seletiva, o princpio dos 3Rs, a sustentabilidadeambiental, os padres de consumo, a insero dos catadores e, por ltimo, a EducaoAmbiental como um instrumento do processo de gesto dos RSU.

    No terceiro captulo, procede-se anlise das trs propostas tcnicas encaminhadas pelaPrefeitura Municipal de Campo Grande ao MPF, referentes ao Edital de Licitao para acontratao de uma empresa para prestar os servios de coleta e tratamento dos resduos

  • 12

    slidos urbanos. Analisa-se as tecnologias apresentadas pelas empresas concorrentes para oprocesso de incinerao com gerao de energia e para o controle das emisses poluentes(gases e cinzas), e, ainda, quais os procedimentos para recuperao da rea degradada pelolixo.

    Finalmente, busca-se correlacionar o tratamento dos resduos slidos por meio daincinerao e gerao de energia com um programa de gerenciamento integrado dos resduosslidos, fundamentado no princpio dos 3 Rs, onde se possa priorizar a reduo da geraodos resduos. A Educao Ambiental apresentada como um possvel caminho.

  • CAPTULO 1

    1 GERAO DE ENERGIA ELTRICA A PARTIR DA INCINERAODE RESDUOS SLIDOS URBANOS

    A incinerao dos resduos slidos urbanos com aproveitamento energtico, quer sejapara a gerao de energia eltrica quer seja para gerao de vapor ou ar refrigerado, umaalternativa que vem sendo empregada para solucionar os problemas de disposio final dosresduos slidos urbanos, principalmente nos pases da Europa, Estados Unidos e Japo(GRIPP, 1998).

    No Brasil, a incinerao teve maior aplicao para o tratamento trmico dos resduosdos servios de sade. Devido m operao dessas unidades e falta de controle quanto semisses atmosfricas, a incinerao passou a ser vista com grandes ressalvas no s pelascomunidades locais como por vrios profissionais da rea ambiental. Sendo assim, autilizao da incinerao com aproveitamento energtico ainda bastante incipiente(MENEZES et al., 2000)

    Dada a crise energtica dos ltimos anos e a busca por tecnologias alternativas degerao de energia que venham complementar a matriz energtica brasileira, que est calcadana hidroeletricidade, a utilizao de resduos slidos em processos termeltricos de co-gerao ganhou espao no Pas. A queima de pneus usados e outros resduos em fornos declnquer, inclusive com regulamentao no Conselho Nacional de Meio Ambiente2,(CONAMA,1999) e a utilizao da biomassa do bagao de cana em processos de co-geraocom gs natural so exemplos dessa busca por novas tecnologias que contribuem para agerao de energia e, ao mesmo tempo, propiciam uma destinao final adequada aos resduosslidos.

    1.1 INCINERA O

    A incinerao, uma das tecnologias existentes para o tratamento trmico dos resduos, a queima por um tempo pr-determinado de materiais em alta temperatura (geralmente acimade 900C) misturados com uma quantidade de ar apropriada (IPT/CEMPRE, 1995). Nesseprocesso de destruio trmica da matria orgnica ocorre a reduo de peso e volume do lixo

    2 Resoluo CONAMA n. 264 de 26 de agosto de 1999.

  • 14

    atravs de combusto controlada (LIMA, 1985) e, consequentemente, das caractersticas depericulosidade e patogenicidade contida nos resduos. A incinerao reduz o volume dosresduos a aproximadamente 10% do volume original (BIZZO et GOLDSTEIN, 1995), o que uma vantagem no gerenciamento dos RSU, pois prolonga a vida dos aterros sanitrios ediminui a necessidade de reas municipais destinadas a esse fim.

    Menezes et al. (2000) acrescentam que hoje devemos expandir ainda mais estaconceituao, pois a incinerao tambm um processo de reciclagem da energia liberada naqueima dos materiais. Esta energia pode ser convertida para gerao de vapor utilizado paraaquecimento, refrigerao ou produo de energia eltrica.

    Os resduos slidos so formados por materiais heterogneos e anisotrpicos devido sdiferentes origens, o que lhes confere caractersticas especficas (SALGADO, 1993). Sendoassim, na incinerao de lixo urbano h necessidade de se manter um rigoroso controle doprocesso de combusto, uma vez que o combustvel utilizado pode apresentar variaesquanto composio, umidade, peso especfico, poder calorfico etc. (GRIPP, 1998).

    No se pode esquecer que pouqussimos municpios brasileiros possuem coleta seletivados resduos de origem domiciliar e comercial. Com a coleta convencional, a probabilidadedos resduos urbanos conterem grandes quantidade e variedade de materiais problemticos incinerao, bem maior. Mesmo passando por um bom processo de triagem antes de seremtransformados em combustvel na unidade de gerao de energia, dificilmente serosegregados todos os elementos perigosos presentes na massa de resduos.

    Independentemente de haver ou no coleta seletiva, processos de incinerao requeremrigoroso controle das emisses gasosas. Portanto, necessrio o emprego de equipamentos decontrole de poluio (ECP), de acordo com a melhor tcnica disponvel3, e, ainda, que atendaaos padres de emisso exigidos pela legislao vigente. To importante quanto os ECP omonitoramento das emisses gasosas pelos rgos de fiscalizao ambiental competentes.

    Tais aspectos exigem que usinas de incinerao de lixo sejam equipadas com modernossistemas automatizados para o controle contnuo das variveis de combusto, tanto nascmaras de combusto quanto nos equipamentos de controle da poluio utilizados nostratamentos das emisses gasosas.

    3 Melhor tcnica disponvel: Conforme definido na Resoluo CONAMA n. 316/02 o estgio mais eficaz e

    avanado de desenvolvimento das diversas tecnologias de tratamento, beneficiamento e de disposio final deresduos, bem como das suas atividades e mtodos de operao, indicando a combinao prtica destas tcnicasque levem produo de emisses em valores iguais ou inferiores aos fixados por esta Resoluo, visandoeliminar e, onde no seja vivel, reduzir as emisses em geral, bem como os seus efeitos no meio ambiente comoum todo.

  • 15

    Existem vrios tipos de incineradores que dependem dos resduos que seroincinerados: se Resduos Slidos Domiciliares (RSD), se Resduos Slidos de Servios deSade (RSSS) ou Resduos Industriais (RI). Nesse trabalho so enfocados os resduos slidosdomiciliares.

    Usinas de Incinerao de Resduos so o conjunto das instalaes necessrias paraviabilizar o tratamento trmico dos resduos, podendo apresentar vrias concepes emfuno do tipo de combustvel a ser incinerado, do volume e da tecnologia utilizada (GRIPP,1998). Geralmente essas usinas ficam prximas, ou mesma inseridas, em centros urbanos,onde est a gerao dos resduos, o que requer uma avaliao das vias de acesso, das reasdisponveis, do uso e ocupao do solo, das caractersticas socioambientais do local(aglomeraes urbanas, presenas de catadores, caractersticas climticas, existncia denascentes e corpos hdricos etc.).

    Conforme descrito pelo IPT/CEMPRE (1995) vrios aspectos devem ser verificadosquando da escolha do local para se instalar uma usina de incinerao, dentre os quais pode-secitar: planos de desenvolvimento para uso futuro da rea; proximidades da fonte de geraodo lixo e dos mercados consumidores da energia, quando for o caso; zoneamento urbano esistema virio; acesso a um aterro adequado para a disposio das cinzas e tecnologia deincinerao a ser usada.

    Dempsey et Oppelt (1987) dividem um sistema de incinerao de resduos perigosos emquatro subsistemas: 1) preparao e alimentao do resduo; 2) cmara (s) de combusto; 3)controle dos poluentes atmosfricos e 4) manuseio das cinzas/resduos. A seleo dacombinao e os arranjos apropriados para cada usina iro depender das propriedades fsicas equmicas dos resduos a serem incinerados. Essa configurao de usinas composta pelosquatro subsistemas tambm se aplica s unidades que utilizam os resduos slidos urbanos noprocesso.

    Para Gripp (1998) h dois tipos de incineradores que processam o RSD, classificadosem funo da existncia ou no de tratamento prvio do resduo: a) incinerador de queimadireta (Mass Burn - MB) onde os resduos no passam por nenhuma preparao prvia e soencaminhados diretamente para o fosso que alimenta a cmara de combusto; b) incineradortipo Combustvel Derivado do Resduo (CDR)4, onde os resduos a serem incinerados passampor uma preparao prvia.

    4 Em ingls: Refused Derived Fuel RDF

  • 16

    Essa preparao pode ser uma simples retirada dos materiais de maior porte outriturao e transformao dos resduos em cubculos, gros, briquetes etc. Na maioria dosprocessos de produo do CDR, ocorre a gerao de rejeitos que necessitam ser lanados ematerros sanitrios. No processamento do CDR, pode-se utilizar parte dos resduos para aproduo do composto orgnico.

    Alguns procedimentos operacionais devem ser adotados para verificar o bomfuncionamento da usina de incinerao e a eficincia do sistema de controle de poluio do ar,tais como: manuteno da temperatura de combusto, das taxas de adio dos reagentes, dostempos de reteno dos gases e de residncia da massa de resduos; monitoramento dasconcentraes do monxido de carbono e da opacidade na chamin (DEMPSEY et OPPELT,1987).

    1.2 PROBLEMAS AMBIENTAIS DA INCINERAO

    No processo da incinerao dos RSU so gerados, basicamente, os seguintes poluentes:a) escria oriunda do forno de incinerao composta normalmente por material inerte,inorgnicos e metais; b) cinzas geradas nos equipamentos de remoo de particulados, asquais contm material inerte de granulometria pequena, inorgnicos e metais pesados; c)resduos, lquidos ou slidos, a depender do tipo de processo, provenientes dos equipamentosdo tratamento dos gases cidos e d) emisses atmosfricas que so constitudas por gasescomo gs carbnico (CO2), xidos de enxofre (SOx), xidos de nitrognio (NOx), oxignio(O2), nitrognio (N2) e material particulado (MP). Em menor concentraes tem-se o cidoclordrico (HCl) e o cido fluordrico (HF), chamados de gases cidos, alm de os metaispesados (normalmente associado ao MP) e os produtos da combusto incompleta comomonxido de carbono (CO), hidrocarbonetos, dioxinas, furanos etc. (GRIPP,1998).

    Na incinerao dos resduos, ocorre a formao de poluentes atmosfricos a partir deprocessos de combusto, os quais iro depender da quantidade dos elementos enxofre,compostos nitrogenados, cloro e flor contidos no combustvel a ser queimado (lixo ou CDR).O controle das emisses destes gases est associado reduo das fontes desses elementos noincinerador e instalao de ECP eficientes para a ret-los.

    Para o IPT/CEMPRE (1995), alm dos mtodos de controle da poluio do ar, aseparao de materiais como peas de chumbo, folhas de flandres, pilhas, baterias, certosplsticos etc., antes da combusto, pode diminuir as emisses, principalmente as emisses demetais.

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    Cabe destacar que algumas polticas pblicas tm buscado implementar programas como intuito de diminuir a quantidade de mercrio nos resduos slidos urbanos, reduzindo, porintermdio de campanhas educativas e por meio da reciclagem, a quantidade de resduos queso fontes desse poluente, como pilhas, baterias, lmpadas fluorescentes, termmetros,pigmentos etc.

    Alm do sistema de controle da poluio do ar, necessrio que uma planta deincinerao proceda o tratamento dos efluentes lquidos que, resumidamente, consiste emprocessos de neutralizao, regenerao, sedimentao e dessalinizao, e tambm d umtratamento e destinao final adequada s cinzas e escrias.

    1.2.1 Sistemas de controle de poluio do ar (SCPA)As emisses gasosas oriundas de processos de incinerao carregam grandes

    quantidades de substncias em concentraes muito acima dos limites que so estabelecidospela legislao, o que requer um tratamento fsico-qumico tecnologicamente avanado parapromover e neutralizar os poluentes gerados. De forma geral um sistema para a depurao dosgases constitudo por unidades para a lavagem cida de halogneos5, lavagem alcalina,lavagem de aerossis e filtros de manga6.

    Um sistema de controle da poluio do ar deve contemplar o conjunto de equipamentos,a tecnologia empregada, os procedimentos de operao, a manuteno e o monitoramentopara que as emisses atmosfricas de uma unidade de incinerao de resduos slidos atendamaos nveis estabelecidos pelas normas pertinentes e aceitveis do ponto de vista ambiental(GRIPP,1998).

    Os equipamentos de controle de poluio do ar utilizados para tratar as emissesatmosfricas da combusto so agrupados em funo das fraes das emisses (gases cidos,orgnicos ou material particulado). As tecnologias empregadas no processo de incineraotambm fazem parte do controle da poluio do ar, uma vez que tcnicas podem ser aplicadasvisando melhor desempenho na combusto de resduos e diminuio das emisses gasosas,sem que necessariamente sejam empregados equipamentos especficos para o tratamento dosgases (Op. cit.)

    5 Halognios (do grego hal, "sal", e gen, "produzir") famlia dos elementos qumicos no metlicos: flor, cloro,

    bromo, iodo que compem o grupo VIIa da tabela peridica6 Filtros de manga so equipamentos constitudos de material densamente tranado (manga), do tipo feltrado outecido cujas fibras podem ser de algodo, nylon, polister, l, acrlico etc., atravs do qual o gs forado apassar. O material particulado retido na superfcie cilndrica da manga e o gs limpo direcionado para outroequipamento ou para a atmosfera. (GRIPP,1998)

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    Os equipamentos de controle para a remoo de material particulado normalmenteutilizados so Filtros de Manga, Precipitadores Eletrostticos7 e Lavadores midos(IPT/CEMPRE, 1995).

    Para o controle das emisses de material particulado, segundo Heimbach8, (apudGRIPP, 1998) nas mais recentes experincias de incinerao de resduos domiciliares naAlemanha, tem-se utilizado nos filtros de manga, feltro com camada dupla, uma de suporte euma membrana de cobertura, porm com dimetro das fibras diferente, o que confere maioreficincia ao equipamento.

    Os lavadores midos, embora tenham sido os primeiros tipos de equipamentos decontrole de poluio utilizados para a remoo de particulados nos processos de incineraode RSD, posteriormente passaram tambm a ser usados na remoo de gases cidos.Conforme IPT/CEMPRE (1995, p.228), "as unidades de controle de gs cido sogeralmente chamadas de scrubbers. Scrubbers de spray de cal seguidos por filtro-manga soconsiderados a melhor tecnologia de controle de gs cido".

    Segundo Gripp (1998) os lavadores midos so raramente adotados nos EUA, sendoque na Europa e no Japo so empregados principalmente para a remoo de gases cidos,especialmente o HCL (cido clordrico) e HF (cido fluordrico). Relata, ainda, que estatecnologia tem limitaes devido ao seu alto custo de manuteno que funo da deposiode slidos no reator, da formao de pluma de vapor no fluxo gasoso e da produo deresduo lquido.

    Tambm so utilizados para o controle dos gases cidos o pulverizador de absorventeseco (Spray Dry Absorver - DAS) com o emprego de cal (CaO), e a injeo de adsorventeseco (Dry Sorbent Injenction - DSI) onde normalmente usa-se a cal hidratada (Ca(OH)2) ou obicarbonato de sdio (NaHCO3) que so injetados diretamente na cmara de combusto com oresduo a ser incinerado (Op. cit.).

    Alm dos equipamentos de controle das emisses gasosas e das tecnologias utilizadas, aeficcia de um sistema de controle de poluio do ar requer um monitoramento contnuo, noapenas das emisses atmosfricas como tambm da operao do incinerador. Para isso umsistema de monitoramento contnuo deve ser instalado e equipado para medir e gravar os

    7 O processo de precipitao eletrosttica consiste em desenvolver um campo no uniforme, que acelera os

    eltrons presentes no gs causando o carregamento eltrico das partculas ali presentes. As partculas carregadasnegativamente so depositadas no eletrodo de coleta (placas positivas) (GRIPP, 1998)8 HEIMBACH, J. T., 1995 apud GRIPP, W. G., 1998.

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    vrios parmetros, para que estejam em conformidade com as normas legais vigentes e queno afetem a qualidade do ar e consequentemente a sade da populao.

    Os Sistemas de Monitoramento Contnuo (SMC) so requeridos ou utilizados namedio contnua dos gases de combusto: CO, CO2, O2, NOx e HC; recentemente tem-seutilizado tambm monitores para HCl e opacidade (DEMPSEY et OPPELT, 1987).

    De acordo com a legislao canadense CCREM9 (apud GRIPP, 1998), no sistema decontrole de poluio do ar, quando a temperatura de operao baixa (temperatura de entradano dispositivo de controle do MP na faixa de 140 C), a eficincia da remoo do MP alta e garantida a condensao de traos orgnicos e substncias metlicas. Ao controlar asemisses de certos contaminantes como MP, HCl, CO e PCDD/PCDF (dioxinas e furanos)10,pode-se inferir que os nveis de emisso de outras substncias como SO2, NOx, NO2, Pb, Cd,Hg, As e Cr estaro dentro dos nveis aceitveis de emisso. Condies adequadas deoperao da incinerao e do sistema de controle de poluio do ar, garantiro baixos nveisde emisso. Tambm, ao melhorar as taxas de remoo de MP, haver reduo das emissesde traos orgnicos que aderem s superfcies das partculas.

    Por outro lado, alguns poluentes como metais pesados, hidrocarbonetos eorganoclorados so gerados por no serem eliminados completamente ou porque se formaramdurante a incinerao, conforme se verifica na descrio de Gripp:

    durante a incinerao de RSD ocorre a formao de diversas espciesmetlicas ao longo do processo, haja vista sua insero num complexomecanismo termoqumico, com ocorrncia de fenmenos como acoagulao, condensao e nucleao de espcies metlicas volteis(GRIPP,1998, p.99).

    Os equipamentos de controle de poluio do ar nem sempre conseguem remover metaispesados, principalmente mercrio, cdmio e chumbo oriundos da incinerao dos RSD devidoas caractersticas fsico-qumicas, como por exemplo temperaturas de volatilizaorelativamente baixas (Op. cit.).

    Em estudos realizado por Vogg et al. (apud GRIPP, 1998)11 referente ao balano demassa de cdmio e mercrio na incinerao de resduos slidos municipais, verifica-se que5% do cdmio que entra no processo sai no gs limpo aps tratamento, 30% sai na escria e

    9 CCREM-CANADIAN COUNCIL OF RESOURCE AND ENVIRONMENT MINISTERS, 1991 apud GRIPP,

    W. G., 199810

    Dioxinas (Policlorodibenzo-p-dioxinas PCDD) e Furanos (Policlorodibenzofuranos PCDF) tm estruturamolecular formadas por 2 anis benznicos ligados por 2 (dioxinas) ou 1 (furano) tomo de oxignio, permitindoque o elemento cloro (Cl) esteja presente numa quantidade que pode variar de 1 a 8 tomos (GRIPP, 1998).11

    VOGG, H.; BRAUN, H.; METZGER, M.; SCHNEIDER, J., 1988 apud GRIPP, W. G., 1998.

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    65% fica junto s cinzas retidas nos filtros. Para o mercrio, tem-se que 70% do que entra noincinerador sai com o gs limpo, 20% na escria e 10% nas cinzas dos filtros. Entretanto,Gripp (1998) argumenta que atualmente, com o desenvolvimento de tecnologias especficasde remoo de mercrio em incineradores mais modernos, o ndice de Hg nas emissesgasosas tem atingido valores de 10% a 15%.

    Outro poluente a ser considerado o NOx que, dentre outras origens, pode ser formadoa partir do N2 presente no ar que injetado durante a combusto (NOx trmico). Porm, issos ocorre mais intensa e significativamente em temperaturas elevadas (cerca 1.400C), o queno comum em processos de incinerao de RSD (Op. cit.). Para o controle das emisses deNOx, importante manter o processo de combusto (temperatura de chama, concentrao deoxignio, umidade da fornalha, tempo de reteno etc.) em nveis adequados, o que ir reduzira gerao desse poluente.

    Em processos onde a combusto no completa a oxidao de todo o combustvel,ocorrer a emisso de produtos da combusto incompleta (PCI), gerando compostosorgnicos, dentre os quais destacamos o monxido de carbono (CO), carbono finamentedivido (LIMA, 1985) e os chamados hidrocarbonetos poliaromticos (PAH), estes geralmenteoriundos dos plsticos existentes nos RSD, que no completaram todo o processo decombusto (GRIPP, 1998).

    1.2.2 Dioxinas e FuranosAs dioxinas e furanos so substncias organocloradas, algumas das quais possuem

    compostos altamente txicos. Podem estar presentes no resduo ou serem formadas sob certascondies durante o resfriamento dos gases incinerados (temperaturas na faixa de 300C ) ou,ainda, durante a ocorrncia de irregularidades operacionais que prejudicam o processo deincinerao (IPT/CEMPRE, 1995).

    Conforme descrito por Gripp (1998), as dioxinas e os furanos constituem-se num grupoqumico encontrado principalmente em regies urbanizadas e/ou industrializadas. Taissubstncias fazem parte do grupo de Poluentes Orgnicos Persistentes, denominados POP, eso subprodutos formados a partir de processos industriais e de incinerao, mas tambmoriginam-se de queimadas e da queima de combustveis em veculos, podendo as emissesserem transportadas a longas distncias por correntes atmosfricas, pelas guas dos rios ecorrentes marinhas (SENAGA, 2005). Para Bizzo et. Goldstein (1995), de todas as fontes decombusto, a incinerao de resduos slidos municipais tem sido uma das maiores fontes deemisso de dioxinas.

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    Segundo Bizzo et Goldstein (1995), essas substncias so tidas como altamente txicase existe grande controvrsia a respeito de seus efeitos e de sua verdadeira periculosidade, quetem sido alimentada pela falta de dados cientficos suficientes para os limites de concentraotolerveis vida humana.

    Para a agncia ambiental americana, Environmental Protection Agency (EPA), o limitetotal de dioxinas e furanos permitidos para incineradores de lixo municipal com capacidadeigual ou maior que 250 t/dia de 30 ng/Nm3 (nanograma por normal metro cbico); naAlemanha o limite para incineradores de resduos perigosos de 0,1 ng/Nm3 TEQ (unidade deequivalncia de toxidade que tem como referncia a 2,3,7,8 tetracloro dibenzo-para-dioxina)(IPT/CEMPRE, 1995). A Resoluo CONAMA n. 316/02, que dispe sobre o tratamentotrmico de resduos, estabeleceu para este parmetro o valor de 0,50 ng/Nm (art. 38, incisoIII.6). Em So Paulo, o padro de emisso mais restritivo, sendo adotado 0,14 ng/Nm3.

    Cabe observar que a primeira entidade pblica que realizar anlise para determinar osteores de dioxina e furano ser a CETESB, tendo em vista o Convnio firmado com aSecretaria de Controle Ambiental do Ministrio do Meio Ambiente, publicado no DirioOficial da Unio em 31 de dezembro de 2004, para a implantao de um laboratrio deanlises de dioxinas e furanos (SENAGA, 2005).

    Estes compostos passaram a ter notoriedade a partir do acidente ambiental ocorrido emSeveso, no norte da Itlia, no ano de 1976, quando ocorreu problema na caldeira de umaindstria que produzia hexaclorofeno, deixando escapar uma nuvem de fumaa txica, quedurante quatro dias matou 50 mil animais e obrigou 7 mil habitantes a deixarem a cidade12. Oherbicida desfolhante chamado agente laranja, usado pelos EUA na Guerra do Vietn tambmcontinha em sua composio dioxina em concentraes elevadas.

    Dado o elevado grau de toxidade das dioxinas e furanos, os problemas de sade e aquantidade de emisses detectadas, pesquisas vem sendo desenvolvidas por diversos pasesimpulsionados pela necessidade de maior conhecimento dos mecanismos de formao e dosequipamento de controle das emisses gasosas.

    De acordo com os estudos apresentados por Gripp (1998), possvel minimizar aformao e emisso de dioxinas e furanos a partir da adoo de procedimentos para que seobtenha um processo de combusto adequado, tais como: controle da quantidade edistribuio do ar, utilizao de combustvel auxiliar, quando necessrio, controle da

    12Substncia violenta criada pelo homem: o derradeiro alerta. Disponvel em: Acesso em: 29 mar.2005.

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    temperatura e da taxa de alimentao de resduos e baixa gerao de material particulado.Outros fatores destacados pelo autor foram: o controle dos nveis de cloro nos resduos aserem incinerados; a manuteno de temperaturas elevadas na cmara de combusto de gases(na faixa de 1.900 a 2.000C) e o rpido resfriamento (com pequeno tempo de residncia) dosgases de ps-combusto a temperaturas abaixo de 260C.

    O resfriamento brusco dos gases logo aps a combusto tambm a soluoapresentada pelo IPT/CEMPRE (1995), porm fazendo a ressalva de que essa tcnica pode serconflitante com a estratgia de recuperao de energia. Acrescenta, ainda, que caso oresfriamento no seja possvel, um adequado sistema de tratamento dos gases remover asdioxinas juntamente com o material particulado.

    Segundo Gripp (1998), o enxofre pode inibir a formao de dioxinas e furanos. Hestudos que sugerem que os RSD possam ser incinerados juntamente com carvo, uma vezque este ltimo contm alto teor de enxofre. Para Bizzo et Goldstein (1995) a injeo deamnia aps a cmara de combusto e a utilizao de lavador a seco com soluo de cal efiltro de mangas podem controlar a formao das dioxinas.

    Gripp (1998) avalia que, por serem as dioxinas e furanos compostos qumicos altamentetxicos e com alto poder de provocar dano sade humana, quando da implantao deempreendimentos passveis de liberar tais compostos, como caso de incineradores de RSU,haver necessidade de se realizar um estudo de Anlise de Risco, visando estimar aprobabilidade da populao sofrer efeitos adversos devido s emisses poluentes.

    Rappe et al. (apud GRIPP,1989)13 analisaram amostras de leite de vaca de seisdiferentes regies da Sua e encontraram que os maiores nveis de concentrao de dioxinase furanos foram detectados nas amostras procedentes dos locais prximos a incineradores,inferindo com esses resultados a importncia da exposio indireta da dioxina via cadeiaalimentar.

    As dioxinas e furanos oriundas das emisses atmosfricas depositam-se sobre asuperfcie do solo, das plantas e se diluem na gua. A absoro pelas plantas desprezvel,porm os peixes e animais, ao se alimentarem, ingerem as substncias que esto na superfciedas plantas e na gua, contaminando suas carnes e subprodutos consumidos pelo homem.

    Para Gripp (1998) o risco contaminao do homem por dioxinas ocorre principalmentepor meio da ingesto (98%), sendo que, atravs da inalao, o risco de 2%. Bizzo e

    13 RAPPE, C; NYGREN, M.; LINDSTRM, G., 1987 apud GRIPP, W. G., 1998.

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    Goldstein (1995) relatam este mesmo ndice por meio da ingesto e acrescentam que noesto identificadas as fontes de contaminao da cadeia alimentar.

    1.2.3 Escria e cinzasAs cinzas so produtos da incinerao e constituem-se da poro inorgnica e da

    matria no-combustvel presente no lixo. H dois tipos de cinzas: as de fundo que soresultantes da combusto e consistem nos materiais no-combustveis (denominadas poralguns autores como escria) e as cinzas suspensas retidas pelo sistema de controle dasemisses gasosas, tambm denominadas de cinzas volantes. As primeiras correspondem de 75a 90% de toda cinza gerada dependendo do tipo das instalaes e do tipo de combustvel, seRSD, RSSS, RI ou outros.

    A maior preocupao quanto disposio final das cinzas est relacionada ao metaispesados e outros materiais orgnicos no destrudos, presentes em nveis de trao (DEMPSEYet OPPELT, 1987). Sua destinao a aterros requer que sejam realizados testes para acaracterizao dos resduos, principalmente o de lixiviao que ir medir os contaminantes noextrato dos resduos, antes de se definir a soluo a ser adotada.

    Segundo Anon14 (apud GRIPP,1998), normalmente, a escria e a cinza so consideradasresduos perigosos, principalmente as cinzas por possurem maior concentrao de metaispesados do que a escria. Por ser um resduo classificado como perigoso, tem-se que:

    Os cuidados com a escria e as cinzas so necessrios desde o seu manejo nausina de incinerao at a sua correta disposio ou estabilizao. O mtodomais corrente de disposio o que se d atravs do seu apropriadoaterramento: ou de maneira individual (um aterro especfico para escria eoutro aterro especfico para cinzas), ou de maneira conjunta (um aterro paraa mistura de escria e de cinzas), ou ainda atravs da codisposio com RSD(escria com RSD ou mistura de escria/cinzas com RSD). Ao se aterrarescria e/ou cinzas, as precaues so tomadas em funo da sua potencialpericulosidade no que se refere contaminao de solos e aqferos devido solubilizao e lixiviao dos seus contaminantes (GRIPP, 1998, p.90).

    Conforme constatado por Hjelmar15 (Op. cit.) a codisposio de escria e cinzasjuntamente com RSD, do ponto de vista tcnico, problemtica pois o lquido percolado(chorume) gerado pelas cinzas e escria de natureza inorgnica ao passo que no percoladooriundo dos RSD predomina compostos orgnicos, o que requer tratamentos distintos para os

    14 ANON., 1988 apud GRIPP, W. G., 1998.

    15 HJELMAR, O., 1989 apud GRIPP, W. G., 1998

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    efluentes gerados. Sawell e Constable16 (Op. cit.) tambm concluram que a escria no deveser disposta em aterros sanitrios juntamente com os RSD.

    Quanto aos efluentes lquidos provenientes dos lavadores de gases tambm necessrioque seja implantado um tratamento especfico para os mesmos. Os resduos gerados nesseprocesso de tratamento (lodo), muitas vezes, recebem a mesma destinao conferida s cinzasvolantes, como pode ser verificado no trabalho de Dempsey et Oppelt (1987).

    1.3 INCINERA O NO BRASIL

    Conforme relatado por Lima (1985), no Brasil, o primeiro incinerador foi construdo nacidade de Manaus, em 1896, pelos ingleses e tinha capacidade para processar 60 t/dia de lixodomstico. Foi desativado em 1958 por no mais atender s necessidades locais e porproblemas de manuteno. Em So Paulo, em 1913, foi instalado um incinerador especial,com capacidade para 40 t/dia de lixo, provido de um sistema de recuperao de energia (umacaldeira e um alternador), que devido a problemas de adaptao rede eltrica foi desativadoe substitudo por motores eltricos convencionais. Este ltimo foi desativado em 1949 edemolido em 1953 (CETESB, 1997).

    As tecnologias tanto desses primeiros incineradores municipais no Brasil, quantodaqueles que foram instalados em So Paulo em 1959 e 1967, na regio de Vergueiro e noBom Retiro, respectivamente, (LIMA, 1985), eram antigas e no atendiam aos padres decontrole de poluio exigidos pela legislao vigente.

    Na dcada de 1950, com o surgimento da construo de prdios de vrios pavimentosnas cidades de maior porte, foram implantados vrios incineradores prediais para queimar olixo gerado nos apartamentos, porm foram banidos entre 1969 e 1970 por no possuremnenhum controle do processo de incinerao ( CETESB; MENEZES et al., 1997, 2000).

    De acordo com Gripp (1998) a incinerao de resduos slidos domiciliares no Brasil praticamente inexistente e apenas os incineradores de Vergueiro e Ponte Pequenafuncionavam, cada um, com capacidade de 300 t/dia. Ambos incineraram em 1993 um totalde 72.991,97 t de resduos, sendo 28.107,27 t de RSD, que correspondiam a 1,16% dosresduos slidos domsticos tratados e/ou dispostos no municpio de So Paulo (PROEMA,1994, apud GRIPP, 1998).

    16 SAWELL, S. E.; CONSTABLE, T. W., 1989 apud GRIPP, W. G., 1998

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    Os primeiros incineradores no Brasil se enquadravam dentro da primeira gerao, comtecnologia ultrapassada, cuja funo principal das plantas era reduzir o volume do lixo, sendoque os gases gerados eram lanados diretamente na atmosfera, sem tratamento. Nos diasatuais, diante das exigncias da legislao ambiental e da mobilizao da opinio pblica pormeio de entidades ambientalista, so inconcebveis tais sistemas.

    No mundo inteiro, a evoluo das tecnologias de incinerao e dos prpriosincineradores com a aplicao de prticas como: alimentao contnua de combustvel,aperfeioamento do controle de combusto, uso de cmaras mltiplas e a instalao desistemas de controle da poluio, dentre outras, aumentaram a eficincia do processo,propiciando uma diversificao dos usos de incineradores de resduos (DEMPSEY etOPPELT, 1987).

    Menezes17 (apud MENEZES et al., 2000) apresenta quatro estgios de desenvolvimentodos incineradores. A ltima gerao de incineradores, de 1990 at os dias atuais, possuisofisticados sistemas de tratamento de gases, contemplando a remoo de poluentes comoNOx, dioxinas e furanos, e tambm tecnologias de tratamento para a produo de resduosfinais inertes, que podem ser reciclados ou dispostos no meio ambiente sem causar problemascomo a tecnologia de plasma trmico (Op. cit.).

    Verifica-se que o avano da tecnologia tem ocorrido tambm nos processos de pr-tratamento do lixo a ser incinerado (produo do CDR) visando aumentar a homogeneizao,diminuir a umidade e aumentar o poder calorfico, bem como nos processos de combusto.

    A implantao de incineradores no Brasil teve maior projeo para o tratamento deresduos classificados como especiais (aeroporturios, hospitalares e industriais). Com isso,verifica-se que a incinerao no pas ainda se caracteriza pela grande quantidade deincineradores de pequeno porte, instalados principalmente em hospitais, os quais operam deforma precria, sem manuteno adequada e sem controle das emisses atmosfricas.

    Quanto aos resduos industriais ou perigosos18, classe 1 conforme NBR 10.004 (ABNT,1993), a maioria dos incineradores est com sua capacidade de processamento ociosa, sendoainda mais agravante o fato de que 66% dos resduos industriais coletados no tm coletaespecial e se misturam ao lixo comum (GRIPP, 1998).

    17 MENEZES, R. A., out/1999 apud MENEZES, R. A. A.; GERLACH, J. L.; MENEZES, M. A., 2000.

    18 Conforme Menezes et ali. (2000), as principais unidades instaladas no Brasil esto localizadas, principalmente

    no Estado de So Paulo: BASF em Guaratinguet, CIBA em Taboo da Serra, RHODIA em Cubato, SILCONem Paulnea, CLARIANT (antiga HOESCHT) em Suzano e ELI LILLY em Cosmpolis. Em outros Estados:BAYER em Belfort Roxo/RJ; CETREL em Camaari/BA; CINAL em Marechal Deodoro/AL e KOMPAC emFortaleza/CE

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    No Brasil o processo de incinerao ganhou o conceito de poluidor, nocivo sade eprejudicial ao meio ambiente devido ao uso de equipamentos obsoletos ou operao emanuteno inadequadas. Esta viso negativa ainda marcante para grande parte dapopulao brasileira. Na Europa e nos USA, em funo da modernizao de plantas antigasou da construo de novas plantas de incinerao que contemplam a adoo de sistemas decontrole automatizados dos processos de combusto e de depurao das emisses gasosas elquidas, a operao dessas unidades tm sido muitas vezes acompanhada pelas comunidadeslocais (MENEZES et al., 2000).

    Como no Brasil a imagem dos incineradores ainda associada a potenciais fontes depoluio, o processo de incinerao para o tratamento de RSU no tem sido includo nosprogramas de gerenciamento dos resduos slidos.

    Para Menezes et al. (2000), enquanto a tendncia mundial aproveitar os resduosurbanos para a gerao de energia, no Brasil no existem projetos representativos quepromovam a reciclagem, considerando o uso do biogs e do lixo em termeltricas, o quecontribuiria para equacionar dois problemas: o ambiental, com o tratamento dos resduos, e ode gerao de energia.

    Nos ltimos anos, alguns projetos de incinerao de resduos slidos urbanos comaproveitamento energtico tm sido cogitados para serem implantados, muito embora, taisprojetos ainda no tenham sido efetivados.1.3.1 Projetos de Incinerao com aproveitamento energtico

    O aproveitamento do contedo energtico contido nos resduos slidos urbanos pode serrealizado no apenas com a queima do lixo como combustvel em usinas de incinerao, mastambm por processos de reciclagem, com a venda dos materiais reciclveis, por meio dacompostagem e pela recuperao do biogs gerado nos aterros sanitrios.

    Do ponto de vista do ciclo de vida do produto, a reciclagem um processo que requermenor consumo energtico uma vez que o insumo usado so resduos e no matria primavirgem (OLIVEIRA et al., s.d). Entretanto, o ingresso desses materiais no processo produtivodepende da forma como o lixo urbano gerado, acondicionado e coletado, pois necessrioque os resduos a serem reciclados sejam separados com certo grau de homogeneidade paraque no se misturem com outros, principalmente aos orgnicos, e percam seu potencial dereutilizao ou mesmo aumentem os custos de seu beneficiamento, o que os tornameconomicamente inviveis.

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    Dentre as vantagens do tratamento trmico por meio da incinerao para o resduosslidos urbanos citadas por diversos autores (CEMPRE; BIZZO et GOLDSTEIN; LIMA,1995, 1987, 1985) pode-se relacionar: reduo do volume que prolonga a vida dos aterros ediminui a necessidade de reas municipais; destruio de organismos patognicos, deprodutos txicos com conseqente reduo do potencial de doenas e de contaminao domeio ambiente e aproveitamento energtico do contedo do lixo municipal com gerao deenergia eltrica.

    O aproveitamento energtico poder contribuir para o equilbrio econmico dogerenciamento e disposio dos resduos slidos municipais. Conforme citado porIPT/CEMPRE (1995), as usinas de incinerao de lixo diferem da maioria dos serviospblicos porque geram a energia que poder ser comercializada, gerando uma receita para omunicpio. Para Bizzo et Goldstein (1995), o objetivo principal da incinerao a disposiodo lixo, sendo a produo e venda da energia eltrica um subproduto, que ir, sem dvida,diminuir os custos da incinerao e da destinao a aterros.

    Confrontando a reciclagem de materiais presentes nos RSU com o processo deincinerao, Bizzo et Goldstein (1995) argumentam que existem limitaes tcnicas e demercado para a utilizao de materiais reciclveis em funo da deteriorao sofrida, querseja pelas condies inadequadas da coleta ou pelo nmero de vezes que o material foireciclado. Isto faz com que os custos e o consumo de energia onerem os processos dereciclagem. Quanto s emisses de gases oriundos da incinerao que contribuem para oaquecimento global (efeito estufa), os autores lembram que os aterros sanitrios tambmproduzem metano, que um gs que causa o efeito estufa, alm de causarem outros possveisimpactos no solo e na gua.

    Na anlise realizada por Oliveira et al. (s.d.) para verificar de que forma a coleta seletivae a reciclagem contribuem na conservao de energia, apresentado o potencial deconservao de energia eltrica, usando material reciclado (metal, vidro, plstico, papel),como sendo 10% da oferta anual de energia no Brasil. Entretanto, esse valor somente seratingido a partir da implementao da coleta seletiva em larga escala. Foi tambmapresentado nesse trabalho, a emisso evitada de CO2 em funo da reutilizao dedeterminada quantidade de resduos slidos como insumo no processo produtivo e,consequentemente, da energia conservada por meio da reciclagem, o que poder levar aofinanciamento de projetos atravs do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo deKyoto.

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    Os autores determinaram que o custo mdio para a conservao de energia atravs dareciclagem equivalente a US$ 36/MWh, sendo portanto 10% inferior mdia de custos dosprojetos de conservao do PROCEL/ELETROBRS, que est ao redor de US$ 40/MWh.

    Oliveira e Rosa (2002) realizaram um estudo sobre o aproveitamento energtico dosrestos de alimentos contido no lixo urbano a partir de Usinas Termeltricas Hbridas (UTH),que utilizam de 80 % a 90% de gs natural e 10% a 20% de lixo, e concluram que estasusinas tero, em pouco tempo, maior atratividade que s usinas a gs natural. Essa estimativafoi fundamentada nas oscilaes dos preos dos combustveis fsseis, nas variaes cambiaise na receita adicional oriunda da comercializao dos certificados de emisses evitadas degases do efeito estufa.

    Uma das desvantagens citadas da gerao de energia usando a biomassa residual,quando comparada s UTE a gs natural, o maior custo de investimento em gerao. Porm,a reduo do impacto negativo devido ao aumento de investimento das UTH pode ser obtidaatravs da comercializao dos certificados de emisso evitada (Op.cit.).

    O aproveitamento energtico dos restos de alimentos encontrados nos resduos slidospode ser efetuado por meio da recuperao do biogs oriundo da decomposio da matriaorgnica presentes nos aterros sanitrios19 e por meio da digesto acelerada, uma tecnologiaassociada compostagem que aumenta o fornecimento do biogs e produz o adubo orgnico,gerando receita (Op. cit.).

    Outra tecnologia estudada por Pinatti et al.20 (apud OLIVEIRA et ROSA, 2002) aBiomassa-Energia-Materiais, conhecida pela sigla B.E.M., processo no qual se produzcelulignina cataltica a partir da pr-hidrlise cida dos RSU em um reator a vcuo21. Esteproduto possui elevado poder calorfico (4.500 kcal/kg) e usado como combustvel slidonas usinas termeltrica a resduos.

    O projeto da digesto acelerada, que consorcia a recuperao do metano compostagempara a produo do adubo orgnico, e o projeto que produz a celulignina, um combustvelslido proveniente do aproveitamento de restos de alimentos, foram desenvolvidos peloInstituto Virtual Internacional de Mudanas Globais - IVIG da COOPE/UFRJ, tendo comoobjetivo a reduo da quantidade de resduos a serem encaminhados aos aterros econsequentemente a reduo dos gases do efeito estufa (OLIVEIRA, 2000).

    19 O biogs, aps recuperado, passa por filtragem e compresso antes de ser utilizado em turbinas ou motores.

    20 PINATTI, D. G. et al., 1999 apud OLIVEIRA et ROSA, 2002.

    21 Processo no qual se produz a celulignina (combustvel slido) a partir da separao entre as partes lquidas e

    slidas dos resduos alimentares (CARNEIRO, J.D., 2001)

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    Na tecnologia B.E.M. e na tecnologia de digesto acelerada verifica-se oaproveitamento energtico dos resduos slidos urbanos "novos", ou seja, a recuperao daenergia acontece concomitantemente gerao dos resduos, diferentemente da recuperaodo biogs de aterros, onde os resduos foram depositados a mais tempo.

    O projeto de uma Usina Prottipo de incinerao de resduos slidos urbanos com oobjetivo de evitar a formao do metano em aterro e gerar eletricidade para autoconsumo,denominado de USINAVERDE, est sendo implantado no campus da Universidade Federaldo Rio de Janeiro (UFRJ/COPPE, 2004)22. A capacidade de processamento da Usina de 30t/dia de lixo para suprir uma planta termeltrica de 440 KW de potncia. Sero utilizados osresduos gerados no prprio campus da UFRJ, na Ilha do Fundo/RJ, e oriundos da Estao deTransferncia de Lixo do Caju, de responsabilidade da Companhia Municipal de LimpezaUrbana (COMLURB). O Projeto foi dividido em duas etapas, sendo que na primeira haverconsumo de energia proveniente da rede eltrica pela planta, e na segunda a Usina ser auto-suficiente em energia.

    A proposta apresentada no projeto que, futuramente, quando as etapas dodesenvolvimento da tecnologia de tratamento de resduos com gerao de energia estiveremconcludas, essa Usina Prottipo ser doada para a Universidade, que passar a oper-la.

    Conforme UFRJ/COPPE (2004), esta Usina considerada um projeto experimental deutilizao de resduos que contribui para o desenvolvimento sustentvel do pas, uma vez quedesenvolve tecnologia de utilizao e aproveitamento de resduos, evita a emisso de metanoque seria gerado nos aterros e substitui o uso de combustveis fsseis na gerao deeletricidade.

    A tecnologia a ser utilizada na Usina Prottipo denomina-se Mineralizao de ResduosOrgnicos e consiste na incinerao do lixo a temperaturas superior a 1100C, cujos gasesresultantes da incinerao/ps-queima so neutralizados por processos de lavagem em circuitofechado, sendo que "o saldo qualitativo desta tecnologia reside no tratamento dos gasesposterior queima dos resduos, desenvolvido para otimizar os custos de controle ambiental"(UFRJ/COPPE, 2004, p. 6).

    Antes de serem incinerados, os RSU coletados passaro por uma linha de triagem eseparao dos reciclveis (metais, alumnio e vidros). Aps a segregao dos reciclveis, os

    22 O empreendimento est sendo financiado pela Empresa USINAVERDE S/A., responsvel pela

    funcionamento, administrao e manuteno da planta e conta com a participao da FundaoCOPPETEC/UFRJ (por intermdio do Centro Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanas Climticas -Centro Clima), do IVIG-COPPE/UFRJ (Instituto Virtual Internacional de Mudanas Globais) e da COMLURB.

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    resduos seguem direto, por meio de uma esteira, para o forno de combusto, onde soincinerados em dois estgios: no primeiro ocorre a queima a temperaturas superiores a1.000C e no segundo, de ps-queima, para a converso total dos gases, a temperaturassuperiores a 1.200C (UFRJ/COPPE, 2004).

    Para a gerao de energia utiliza-se o calor dos produtos de combusto do lixo. Os gasesda sada da cmara de ps-queima so encaminhados para a caldeira de recuperao de calor,que ir gerar vapor d'gua e este ser usado para movimentar um conjunto turbo-gerador.

    Os gases passaro por um sistema de tratamento (lavadores de gases), antes de seremlanados na atmosfera, e os efluentes lquidos oriundos da solubilizao dos gases noslavadores de gases (cidos) e da retirada das cinzas do forno de incinerao (alcalino),passaro por processos de neutralizao e decantao para posterior recirculao noslavadores. As cinzas (dos fornos) e os sais minerais precipitados (dos lavadores) seroremovidos e destinados a aterros de inertes (Op. cit.).

    Nesse projeto da Usina Prottipo foram considerados como resduos a seremincinerados: a matria orgnica (compreendendo a frao orgnica e papis) e a matria deorigem fssil (os plsticos e pequena parcela de borracha). Os materiais selecionados parareciclagem foram as fraes de vidro, metais e cermicas, o que demonstra no haver muitoincentivo para os processos de reciclagem. Para os clculos das emisses evitadas de CO2 eCH4 foi considerado apenas a frao de origem fssil, uma vez que a frao orgnica deorigem renovvel (Op. cit.).

    relevante mencionar que anteriormente a esse projeto da USINAVERDE, em 1977, aCompanhia Energtica de So Paulo (CESP), com intuito de buscar novas fontes de energiaem substituio aos derivados de Petrleo, iniciou estudos no sentido de aproveitar o calorgerado na combusto dos resduos e sua transformao em energia eltrica ou vapor,resultando no projeto de uma usina termeltrica a lixo com potncia de 64 MW, utilizando osresduos gerados no municpio de So Paulo. Esse projeto substituiria os incineradores entoexistentes, contribuindo para a melhoria da qualidade do ar da cidade (LIMA, 1985).

    Para a regio metropolitana de So Paulo, com o mesmo objetivo de minimizar osproblemas da disposio final dos resduos slidos domiciliares gerados, foi proposta em 1994a implantao de duas unidades de incinerao: uma em Sapopemba e outra em Santo Amaro,com capacidade para processar 2.500 t/dia cada. A proposta consistia na segregao damatria orgnica com produo do "pr-composto-cru", triagem dos materiais reciclveis,

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    destruio trmica dos rejeitos e segregao dos metais ferrosos presentes nas escrias(GRIPP, 1998).

    Da anlise dos Estudos de Impacto Ambiental e respectivos Relatrios de ImpactoAmbiental (EIA/Rima) realizada por Gripp (1998), foi constatado que as usinas deincinerao proposta para Sapopemba e Santo Amaro no apresentavam o nvel tecnolgiconecessrio para atender aos procedimentos de operao e aos nveis de emisses estabelecidospelas normas existentes, o que acarretaria em emisses atmosfricas residuais maiores que aspermitidas.

    Com relao a esses dois projetos de So Paulo, para Menezes et al. (2000) faltaramdefinies quanto remunerao pelos servios prestados que oferecessem garantias aoempreendedor, tendo em vista o longo prazo de concesso dado pelo poder pblico. Outroaspecto levantado pelos autores referia-se mobilizao da opinio pblica e de entidadesambientalistas que, por desconhecimento das tecnologias atuais e das garantias de nopoluio do meio ambiente, posicionaram-se contrariamente aos projetos.

    A Prefeitura Municipal de Campinas, em 09 de maro de 1995, publicou um edital deconcorrncia cujo objeto consistia na concesso dos servios e destinao final de resduosdomsticos e hospitalares gerados no municpio, precedida de uma Usina de TratamentoIntegrado com Gerao de Energia Eltrica. A soluo ento proposta para o gerenciamentodos resduos slidos urbanos visava a maximizao da vida til dos aterros por meio deprocessos de reciclagem, compostagem e incinerao dos rejeitos. A Usina de Tratamento(incinerao e gerao de energia) teria capacidade para receber 360 t/dia das 700 t/dia deresduos domiciliares encaminhados ao sistema, aps passarem pelas unidades de reciclageme compostagem, alm de 50 t/dia de resduos comerciais e 10 t/dia de resduos hospitalares,perfazendo um total de 400 t/dia. No foi mencionado no referido edital qual seria acapacidade instalada para a gerao de energia eltrica (PREFEITURA MUNICIPAL DECAMPINAS, 1995).

    1.3.2 Projetos negociados no mbito do Protocolo de KyotoA partir da Conveno Internacional sobre Mudanas Climticas, foi criado o Protocolo

    de Kyoto, segundo o qual os pases industrializados devem atingir metas de reduo dasemisses dos gases que provocam o efeito estufa. Dentre os procedimentos propostos peloProtocolo visando a reduo dos gases tem-se o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo(MDL), o qual permite a parceria com pases em desenvolvimento.

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    Pases, como o Brasil, podem desenvolver projetos de reduo de emisso de gases quecausam o efeito estufa e projetos florestais de seqestro de carbono, firmando acordos comnaes que necessitam reduzir suas emisses. Os pases industrializados podem transferirrecursos para comprar os crditos referentes ao carbono seqestrado ou no emitido (MMA,2004).

    Temas como biogs gerado em aterros sanitrios, recuperao de rea degradada porlixes, incinerao de resduos slidos urbanos como fonte alternativa para a gerao deenergia eltrica, passaram a ser correlacionados com o Protocolo de Kyoto em funo dasemisses de gs metano (CH4). Este gs, formado pela decomposio anaerbia da matriaorgnica, um dos principais componentes do biogs e um dos principais gases causadores doefeito estufa, fenmeno que vem sendo amplamente discutido devido a seus efeitos sobre osistema climtico do planeta. O metano (CH4) tem um potencial de aquecimento global 21vezes maior que o dixido de carbono (CO2) (LUCIANO et ROSA, 2002)

    De acordo com os resultados obtidos pelo estudo realizado pelo Ministrio do MeioAmbiente (MMA, 2004), visando quantificar o potencial de gerao de energia eltrica e dereduo de emisses de metano, o potencial mdio de gerao de energia eltrica pormunicpio brasileiro, com mais de um milho de habitantes, de 19,5 MW. A partir dessesresultados foram estimadas, proporcionalmente a energia gerada, as quantidades de crditosde carbono equivalente. A despeito de o potencial de gerao de energia eltrica serinteressante sob o aspecto socioambiental, a concluso deste estudo que tais projetos "tmviabilidade com um preo de energia de R$ 150/MWh, j considerando os crditos decarbono" (Op. cit.).

    Em junho de 2004, o Governo Brasileiro liberou o funcionamento de dois projetosambientais em aterros sanitrios para a reduo dos gases poluentes que causam o efeitoestufa e aproveitamento do biogs para gerar energia: um em Nova Iguau/RJ (ProjetoNovaGerar) e o outro em Salvador/BA (Projeto Canabrava)23. Com a utilizao do biogs nagerao de energia, sero emitidos crditos de carbono, os quais podero ser comercializados,viabilizando a implantao e operao do aterro sanitrio.

    O Projeto NovaGerar foi o primeiro no Brasil a ser elaborado dentro dos moldes doMDL. Com esse projeto espera-se uma reduo de emisses de aproximadamente 14 milhesde toneladas de CO2 equivalente, durante 21 anos24.

    23 Projetos reduziro emisso de gs em aterro. O Estado de SP, So Paulo, 3 jun. 2004

    24 NovaGerar. Rio de janeiro: EcoSecurities Brasil, 2004. 3 p. (EcoSecurities). Projeto

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    Outro projeto que tambm possui contrato assinado para a obteno dos benefciosrelativos aos crditos de carbono do aterro Onyx Sasa, de resduos industriais e domsticos,situado em Tremend/SP. Esse aterro, segundo relato do diretor da empresa Onyx Sasa, foi oprimeiro aterro do Brasil a assinar, em dezembro de 2003, por 10 anos, um contrato de vendade crdito de carbono tendo como comprador o Governo da Holanda (SENAGA, 2004).

    Dentre os projetos de recuperao de energia, destaca-se a Usina Termeltrica a Biogsimplantada no aterro Bandeirantes, na zona norte da regio metropolitana de So Paulo, compotncia instalada de 22,6 MW e capacidade para produzir at 170 MWh de energia eltricadurante 15 anos. Embora considerada a maior usina de gerao de energia utilizando o biogsde aterro sanitrio, ainda no possui contratos para a comercializao dos certificados dereduo de emisses dos gases do efeito estufa25.

    1.4 INCINERA O NO EXTERIOR

    A incinerao vem sendo praticada por diversos pases visando principalmente areduo de volume, face aos problemas de disponibilidade de rea, e de periculosidade dosresduos. No Japo o percentual de lixo incinerado chega a 80% e, apenas em Tquio,funcionavam 13 usinas (IPT/CEMPRE,1995).

    Para Lima (1985), persistindo a crise energtica no mundo e desenvolvendo-setecnologias para melhorar o aproveitamento do poder calorfico do lixo, os processos deincinerao com recuperao de energia tendero a dominar o mercado do tratamento do lixourbano.

    Desde 1989 a Comunidade Econmica Europia (CEE) conta com duas Directivaspublicadas com o intuito de reduzir a poluio atmosfrica provenientes das instalaes deincinerao de resduos urbanos: a Directiva n. 89/369/CEE, de 08 de junho de 1989, tratadas novas instalaes e a Directiva n. 89/429/CEE, de 21 de junho de 1989, refere-se sinstalaes existentes. Nesses dois Atos da CEE, constam procedimentos de operao ecritrios para controle das emisses poluentes de usinas de incinerao de RSU.

    Uns dos primeiros incineradores destinados a queima do lixo urbano, ou o primeiroutilizando-se de tcnicas ainda rudimentares e de operaes simples, foi instalado na cidadede Nottingham, na Inglaterra (LIMA, 1985; DEMPSEY et OPPELT, 1987). Nos USA oprimeiro incinerador com gerao de vapor foi construdo em Nova York, em 1905

    25 Lixo vai gerar energia para 200 mil pessoas. Folha de So Paulo, 23 jan. 2004.

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    (WASH,1991, apud GRIPP, 1998), ocorrendo um rpido crescimento com mais 200 unidadesinstaladas em 1920 (LIMA, 1985; DEMPSEY et OPPELT, 1987).

    Segundo Gripp (1998) cerca de 94% dos incineradores dos EUA, com capacidade maiorque 500 t/dia, tm sistemas de recuperao de energia e a maioria em operao do tipo MassBurn MB (Queima Direta). Menezes et al. (2000) tambm afirmam que em pasesdesenvolvidos como a Alemanha, Japo, Sua e outros, muitas plantas foram construdasrecentemente, outras esto em construo, principalmente para a gerao de energia, cujopercentual de RSU processado por incinerao elevado. Para Sua e Japo a projeo quetenham, brevemente, 90% de seus resduos processados em plantas de tratamento trmico.

    Em vrios pases a incinerao de resduos slidos urbanos com gerao de energiaprevalece sobre a disposio em aterros e sobre a reciclagem, alcanando ndices elevados taiscomo: Dinamarca 90%; Japo, 72%; Sua, 59%; Frana, 42%; Alemanha, 36% e Blgica,25% (CEMPRE, 2002). No Japo, onde so escassas as reas adequadas para construir aterrossanitrios, a tendncia que cresa o nmero de unidades de incinerao de resduos. Istoocorre tambm em funo do desenvolvimento de novas tecnologias para a recuperao deenergia e para o tratamento dos gases de combusto, tornando as unidades econmica eambientalmente mais viveis (MENEZES et al., 2000)

    Observa-se ainda que em vrios pases so implantadas termeltricas com fornoscontguos que processam carvo e lixo para a gerao de vapor. De acordo com Menezes etal. (2000), uma tonelada de RSD eqivale a 200 kg de carvo ou 500 kWh de energia eltrica.Por outro lado Menezes et al. (2000, p.8) afirmam que a experincia atual indica que agerao de energia se torna rentvel em instalaes com capacidades de processamentoacima de 250 t/dia. Abaixo desta capacidade a energia normalmente aproveitada apenaspara uso da prpria planta.

    1.5 LEGISLAO BRASILEIRA SOBRE A INCINERAO DE RESDUOS

    No Brasil ,foi publicada, em 29 de outubro de 2002, a Resoluo CONAMA n. 316,que disciplina os processos de tratamento trmico de resduos e cadveres, estabeleceprocedimentos operacionais, limites de emisso e critrios de desempenho, controle,tratamento e disposio final de efluentes resultantes destas atividades. Essa Resoluoconsidera tratamento trmico como todo e qualquer processo cuja operao seja realizadaacima da temperatura mnima de 800 C (art. 2, inciso III).

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    Os artigos 22, 23 e 24 desta Resoluo referem-se ao tratamento dos resduos de origemurbana, in verbis:

    Art. 22. O sistema de tratamento trmico de resduos de origem urbana, aoser implantado, deve atender os seguintes condicionantes, sem prejuzo deoutras exigncias estabelecidas no procedimento de licenciamento elegislaes complementares:I - rea coberta para o recebimento de resduos;II - sistema de coleta e tratamento adequado do chorume.Art. 23. Os resduos de origem urbana, recebidos pelo sistema de tratamentotrmico, devero ter registro das informaes relativas rea de origem equantidade.Pargrafo nico. As cmaras devero operar temperatura mnima deoitocentos graus Celsius, e o tempo de residncia do resduo em seu interiorno poder ser inferior a um segundo.Art. 24. A implantao do sistema de tratamento trmico de resduos deorigem urbana deve ser precedida da implementao de um programa desegregao de resduos, em ao integrada com os responsveis pelo sistemade coleta e de tratamento trmico, para fins de reciclagem oureaproveitamento, de acordo com os planos municipais de gerenciamento deresduos.

    Por ser uma atividade com elevado potencial de impacto, foi estabelecido na Resoluon. 316/02 a exigncia de estudos, tanto para uma anlise de alternativas tecnolgicas, deacordo com o conceito de melhor tcnica disponvel (art.4), quanto para o processo delicenciamento das unidades de tratamento trmico de resduos, como Estudo de ImpactoAmbiental e respectivo Relatrio de Impacto Ambiental (EIA/Rima), anlise de Risco, dentreoutros (art. 26).

    A Resoluo n. 316/02 estabelece tambm parmetros de projeto, procedimentosoperacionais, sistemas de monitoramento e limites mximos de emisso para os poluentesatmosfricos. Com relao aos efluentes lquidos remete para a Resoluo CONAMA n.020/86, que foi recentemente alterada pela Resoluo CONAMA n. 357, de 17 de maro de2005. As cinzas e escrias provenientes do processo trmico, para fins de disposio final,foram classificadas como resduos Classe I- Perigoso (art. 43, pargrafo primeiro).

    Fazem parte, ainda, da Resoluo n. 316/02, cinco anexos, quais sejam: Fatores deEquivalncia de Toxicidade - FTEQ ou fatores txicos equivalentes para dioxinas e furanos(anexo 1); Plano do Teste de Queima (anexo 2); Plano de Contingncia (anexo 3); Plano deEmergncia (anexo 4) e Plano de Desativao (anexo 5).

    Outros dois instrumentos legais sobre incinerao, no Brasil, que merecem destaqueso: a Resoluo CONAMA n. 264, de 26 de agosto de 1999, que dispe sobre o

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    licenciamento de fornos rotativos de produo de clnquer26 para atividade de co-processamento de resduos na fabricao de cimento, e a Resoluo CONAMA n. 283, de 12de julho de 2001, que dispe sobre o tratamento e a destinao final dos resduos dos serviosde sade27. Muito embora a incinerao no Brasil se aplica principalmente aos RSSS, estaResoluo apresenta outras tecnologias de tratamento que no seja por meio da incinerao.

    No co-processamento de resduos em fornos de clnquer, no so permitidos resduosdomiciliares brutos (RSD), de servios de sade (RSSS), radioativos, explosivos,organoclorados, agrotxicos e afins (art. 1). O co-processamento de resduos perigosos emfornos clnquer, embora seja tambm um processo de incinerao, recebe um tratamentodiferenciado, pois os resduos entram em substituio ao combustvel ou de parte da matriaprima. necessrio que antes de serem incinerados, os resduos recebam um pr-tratamentopara no interferir na qualidade do cimento produzido e nem causar efeitos nocivos ao meioambiente, o que requer rigoroso controle das emisses atmosfricas (MENEZES et al., 2000)

    Alm dessas Resolues, cumpre mencionar a Resoluo CONAMA n. 05/89 queestabeleceu os padres nacionais de qualidade do ar, instituiu o Programa Nacional deQualidade do Ar PRONAR e especificou as diretrizes para a rede de monitoramento einventrio das fontes emissoras e poluentes atmosfricos. Ainda com relao qualidade doar, a Resoluo CONAMA n. 03/90 definiu os padres primrios e secundrios para SO2(dixido de enxofre), CO (monxido de carbono), O3 (oznio), NO2 (dixido de nitrognio),partculas em suspenso, partculas inalveis e fumaa.

    1.6 PRS E CONT RA DOS PROCESSOS DE INCINERAO

    O processo de incinerao de RSU, com ou sem gerao trmica de energia, visto poralguns autores como uma grande soluo para o gerenciamento do lixo, enquanto outrosdizem que esta soluo ir agravar as emisses de poluentes, causar mais problemassocioambientais e nada contribuir para preservao dos recursos naturais.

    Em denncia dirigida ao Ministrio do Meio Ambiente, em 01 de setembro de 2004,vrias Organizaes No Governamentais ONG28 requeriam a proibio da incinerao no

    26 Conforme dicionrio Aurlio clnquer o calcrio e silicato semifundidos e aglutinados de que se obtm o

    cimento por moagem.27

    A proposta de Reviso dessa Resoluo foi aprovada com emendas na 77 Reunio Ordinria do CONAMAque ocorreu nos dias 29 e 30 de maro de 2005 e foi encaminhada CONJUR/MMA para anlise. O documentofinal ainda no consta da pgina do CONAMA, nem a transcrio da 77 Reunio. Site www.mma.gov.brconsultado em 14 abr. 2005.28

    BRASIL. Ministrio do meio Ambiente. Petio. 1 set. 2004. Disponvel em: Acesso em: 17 mar. 2005.

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    Brasil, alegando ser uma tecnologia ultrapassada, sendo insustentvel para a destinao dosresduos uma vez que produz emisses mais txicas que as geradas pelos prprios resduos.Afirmavam, ainda, que a incinerao como mtodo de produo de energia ineficiente eimplica em desperdcio de recurso no renovvel e como ferramenta de desenvolvimentoeconmico, drena os recursos financeiros para fora das comunidades locais, alm de gerarpoucos postos de trabalho.

    Nessa denncia as ONG criticam que, no Brasil, se as usinas termeltricas a gs naturalj causam muitas impactos sociais e ambientais devido a ausncia de uma legislaoespecfica que regulamente as emisses gasosas dessas unidades, principalmente no que tangeaos xidos de nitrognio, muito pior sero os efeitos quando essas usinas termeltricaspassarem a incinerar lixo urbano.

    Por outro lado, conforme citado por Campos29 (apud MENEZES et al., 2000) eCEMPRE (2002), para a Associao Brasileira de Limpeza Pblica (ABLP) a incineraoconstitui o processo mais adequado para a soluo ambientalmente segura dos problemas dedisposio final de resduos.

    Para as ONG ambientalistas, em diversos pases como Japo e USA, a incinerao temsido preterida. Pode-se citar o exemplo do Incinerador de Gilly Sur Isere, na Frana, que foifechado, em 2001, por estar emitindo dioxinas muito acima das normas recomendadas e,atualmente, encontra-se em fase de julgamento do processo judicial30.

    Para a ABLP, nesses pases e tambm na Alemanha e Sua, em funo do avano dastecnologias para o tratamento dos poluentes (gasosos, lquidos e slidos) e dos sistemascomputadorizados de automao para o controle de combusto e das emisses, muitas plantasvm sendo construdas nos ltimos anos. Entre tais sistemas constam tecnologias pararemoo de gases como NOx, dioxinas e furanos; tecnologias para o tratamento dos resduosinertes gerados e tecnologias para a obteno de um CDR (combustvel derivado do resduo)com melhor qualidade e maior poder calorfico.

    Conforme citado pela Prefeitura Municipal de Campinas (1995), as usinas deincinerao mais recentes so projetadas e operadas de tal maneira que 70% das instalaesso destinados ao sistema de tratamento dos gases oriundos da combusto, ficando os 30%restantes reservados ao tratamento trmico propriamente dito. Com isso, nos pases onde o

    29 CAMPOS, J. O., 1999 apud MENEZES et al., 2000

    30 Notcia veiculada na internet em 30/03/05, pelo grupo de articulao da Poltica Nacional de Resduos Slidos:

    Disponvel em:

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    uso dos processos de incinerao comum, observa-se a desativao de plantas antigas e aimplantao de novas plantas contendo tecnologias apropriadas ao tratamento dos poluentesgerados.

    Como desvantagem do processo tem-se os altos custos de instalao e manuteno dausina de incinerao e dos equipamentos para o tratamento e controle das emissespoluentes31.

    De acordo com CEMPRE (2002), a incinerao de resduos slidos urbanos deve serencarada como uma das formas viveis de disposio para o lixo existente e que, dentre osprocessos de tratamento trmico a alta temperatura, o mais difundido, com elevado nmerode unidades em operao em todo o mundo. Afirma ainda que a incinerao com gerao deenergia eltrica ou vapor d'gua, em plantas de grande porte, pode tornar-se mais atraenteeconomicamente que a disposio de resduos em aterros sanitrios, uma vez que o custosdestes tendem a aumentar com tempo, principalmente pela indisponibilidade de reas.

    Calderoni (2000), embora descreva a possibilidade de produo de energia eltrica apartir do lixo com vantagens para solucionar os problemas de destinao final dos RSU, aocomparar as tecnologias de incinerao e de processamento biolgico como as duas formasadotadas para se produzir energia eltrica, com a quase total eliminao da necessidade deaterros sanitrios, pondera que os processos biolgicos so mais viveis economicamente eno agridem a natureza. Acrescenta que esta tecnologia, atravs da compostagem, transformaos resduos orgnicos em adubo (de boa qualidade se adequadamente processados) e produz ometano suficiente para gerar energia eltrica em quantidade aprecivel, com produtividadesimilar dos incineradores, e ainda com grandes vantagens ambientais.

    Para Gripp (1998) a incinerao com recuperao energtica tecnicamente vivelcomo uma possvel alternativa para auxiliar no gerenciamento dos RSU, contudo acrescenta anecessidade de uma rigorosa caracterizao dos resduos a serem incinerados, a fim de seobter melhor domnio da combusto e controle dos rejeitos (cinzas, e