dissertação ciclodextrina
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CINCIAS FSICAS E MATEMTICAS
CURSO DE PS-GRADUAO EM QUMICA
ESTUDOS DE FORMAO DE COMPLEXOS DE INCLUSO EM CICLODEXTRINAS
ROSANE MARIA BUDAL
Florianpolis/SC
2003
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ROSANE MARIA BUDAL
ESTUDOS DE FORMAO DE COMPLEXOS DE INCLUSO EM CICLODEXTRINAS
Tese apresentada ao Curso de Ps-Graduao em Qumica da Universidade Federal de Santa Catarina, para obteno do grau de Doutor em Qumica Orgnica.
Orientador: Prof. Dr. Rosendo A. Yunes (DQ- UFSC) Co-orientadoras: Profa Dra Maria da Graa Nascimento (DQ- UFSC) Profa Dra Aida Jover Ramos (DQF-USC/Espanha)
Florianpolis/SC
2003
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ROSANE MARIA BUDAL
ESTUDOS DE FORMAO DE COMPLEXOS DE INCLUSO EM CICLODEXTRINAS
Esta tese foi julgada e aprovada para a obteno do ttulo de Doutor em Qumica no
Programa de Ps-Graduao em Qumica da Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianpolis, 01 de dezembro de 2003.
____________________________________
Prof. Faruk Jos Nome Aguilera Coordenador do Curso de Ps-Graduao
BANCA EXAMINADORA
__________________________________ Rosendo Augusto Yunes
Orientador
__________________________________ Maria da Graa Nascimento
Co-orientadora
__________________________________ Ademir Farias Morel
__________________________________ Aura Echevarria Aznar
__________________________________ Marcus Csar Mandolesi S
__________________________________ Ricardo Jos Nunes
__________________________________ Miguel Soriano Balparda Caro
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Em especial aos meus queridos pais
Jarcy (in memoriam) e Amlia, e minha
querida filha Flvia, pelo amor, apoio,
compreenso e incentivo.
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AGRADECIMENTOS
A Deus, por Sua bondade e poder infinitos, dando sabedoria, coragem e serenidade
para enfrentar os momentos difceis desta jornada.
Aos professores Dr. Rosendo A. Yunes (orientador) e Dra Maria da Graa Nascimento
(co-orientadora), pelas orientaes e valiosas sugestes prestadas durante todas as etapas
deste trabalho. Pelo incentivo, apoio e amizade oferecidos durante todos estes anos.
Ao Prof. Dr Jos Vzquez Tato, Diretor do Grupo de Investigao do Departamento
de Qumica - Fsica da Universidade de Santiago de Compostela/Espanha, proporcionando a
realizao deste trabalho junto a este grupo de pesquisa, dando apoio, sugestes, orientaes e
amizade.
Profa Dra Aida Jover Ramos (co-orientadora), pela amizade, apoio, colaborao e
dedicao constantes durante todo o perodo e aps a realizao do trabalho na Universidade
de Santiago de Compostela.
Aos professores e colegas do Departamento de Qumica- Fsica/USC, Mercedes,
Wajih, Meijide e Pedro.
s companheiras cubanas Hayde e Minerva pela amizade e constantes palavras de
estmulo.
Aos professores pertencentes ao Departamento de Cincias Farmacuticas pelo
incentivo, apoio e amizade.
Aos professores e funcionrios do Curso de Ps-Graduao em Qumica da UFSC.
Aos companheiros de laboratrio em geral, pela amizade e incentivo.
Universidade Federal de Santa Catarina pelo apoio institucional.
CAPES pela oportunidade e apoio financeiro.
E a todos aqueles que direta ou indiretamente contriburam para a realizao deste
trabalho.
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SUMRIO
LISTA DE FIGURAS_____________________________________________________ VII
LISTA DE TABELAS ____________________________________________________XIII
LISTA DE ESQUEMAS __________________________________________________ XV
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ____________________________________XVI
RESUMO______________________________________________________________ XVII
ABSTRACT __________________________________________________________ XVIII
1 - INTRODUO _________________________________________________________ 1
1.1 - CICLODEXTRINAS _____________________________________________________ 3 1.1.1 - Estrutura __________________________________________________________________ 3 1.1.2 - Complexos de incluso _______________________________________________________ 6 1.1.3 - Aplicaes das ciclodextrinas na rea farmacutica ________________________________ 8 1.1.4 - Mtodos de obteno de complexos de Incluso. __________________________________ 16 1.1.5 - Complexao de Esterides __________________________________________________ 17 1.1.6 - Caracterizao dos complexos de incluso_______________________________________ 22 1.1.7 - Equilbrio de formao do complexo de incluso e a constante de estabilidade __________ 24
1.2 - SUBSTNCIAS DE INTERESSE PARA ESTUDO DOS COMPLEXOS DE INCLUSO ________ 25 1.2.1 - Furoato de diloxanida_______________________________________________________ 25 1.2.2 - Fusidato de sdio __________________________________________________________ 27 1.2.3 - Helvolato de potssio _______________________________________________________ 29 1.2.4 - CHAPS e CHAPSO _________________________________________________________ 31
2 - JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS _______________________________________ 33
3 - MTODOS E TCNICAS EXPERIMENTAIS _____________________________ 35
3.1 - DIAGRAMA OU ISOTERMA DE SOLUBILIDADE _______________________________ 35
3.2 - RESSONNCIA MAGNTICA NUCLEAR ____________________________________ 39 3.2.1 - RMN na determinao da estrutura do complexo__________________________________ 39 3.2.2 - Aplicaes da Ressonncia Magntica Nuclear no estudo de Processos de Incluso: estequiometria e constantes de associao. ____________________________________________ 41
3.3 - MTODO CINTICO ___________________________________________________ 49
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4 - PARTE EXPERIMENTAL ______________________________________________ 54
4.1 - MTODOS DE AVALIAO DE FORMAO DO COMPLEXO FUROATO DE
DILOXANIDA:-CD __________________________________________________ 55 4.2 - AVALIAO DE FORMAO DOS COMPLEXOS HELVOLATO DE POTSSIO, FUSIDATO
DE SDIO, CHAPS E CHAPSO EM - E - CD POR RMN._____________________ 57 5 - RESULTADOS E DISCUSSO __________________________________________ 59
5.1 - ESTUDO DO COMPLEXO DE INCLUSO FUROATO DE DILOXANIDA: -CD. _________ 59 5.1.1 - Diagrama ou Isoterma de Solubilidade _________________________________________ 59 5.1.2 - Mtodo Cintico ___________________________________________________________ 61 5.1.3 - Fluorescncia _____________________________________________________________ 70 5.1.4 - Ressonncia Magntica Nuclear_______________________________________________ 71
5.2 - RESOLUO DOS ESPECTROS POR RMN DE 1H E 13C_________________________ 74 5.2.1 - Helvolato de potssio _______________________________________________________ 75 5.2.2 - Fusidato de sdio __________________________________________________________ 84 5.2.3 - CHAPS __________________________________________________________________ 94 5.2.4 - CHAPSO _________________________________________________________________ 98 5.2.5 - Espectros de RMN de - e -CD ______________________________________________ 103
5.3 - ESTUDO DOS COMPLEXOS DE INCLUSO POR RMN _________________________ 106 5.3.1 - Complexos Fusidato de Sdio e Helvolato de Potssio : -CD_______________________ 107 5.3.2 - Complexos Fusidato de Sdio e Helvolato de Potssio : -CD ______________________ 114 5.3.3 - Complexos CHAPS e CHAPSO: -CD _________________________________________ 120 5.3.4 - Complexos CHAPS e CHAPSO:-CD _________________________________________ 127
6 - CONCLUSES _______________________________________________________ 151
7 - PERSPECTIVAS DE TRABALHO ______________________________________ 155
REFERNCIA __________________________________________________________ 156
ANEXOS _______________________________________________________________ 176
ANEXO A - OUTROS ESTUDOS SOBRE AGREGAO DE SAIS BILIARES ____ 177
ANEXO B CLCULO POR INTEGRAO DE REAS PARA AJUSTE DOS
SINAIS EM RMN _________________________________________________ 182
PRODUO CIENTFICA (PERODO AGO/1997-2003) _________________________ 196
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 - Ciclodextrinas naturais _____________________________________________ 4
Figura 1.2 - Representao esquemtica das ciclodextrinas. __________________________ 4
Figura 1.3 - Estrutura e dimenses das ciclodextrinas. ______________________________ 4
Figura 1.4 - Estrutura funcional da ciclodextrina_________________________________ 5 Figura 1.5 - Principais tipos de complexos de incluso ______________________________ 7
Figura 1.6 - Estrutura dos complexos 1:1 NaC/-CD e 1:2 NaDC/-CD.______________ 19 Figura 1.7 - Estrutura anfiflica dos cidos biliares.________________________________ 21
Figura 1.8 - Estrutura do furoato de diloxanida ___________________________________ 26
Figura 1.9 - Estrutura do fusidato de sdio ______________________________________ 27
Figura 1.10 - ons fusidato e colato: a (Fus) e b (NaC), frmulas estruturais; c (Fus) e d
(NaC), modelos espaciais com posio dos grupos polares na cor vermelha;
e (Fus) e f (NaC), interface ar-gua ou leo-gua. (Carey, 1971). __________ 28
Figura 1.11 - Estrutura do helvolato de potssio.__________________________________ 29
Figura 1.12 - Modelos espaciais da molcula de helvolato de potssio com todos os
grupos polares direcionados face _________________________________ 30 Figura 1.13 - Estrutura do CHAPS (R=H) e CHAPSO (R=OH). _____________________ 31
Figura 3.1 - Tipos de diagrama de solubilidade. __________________________________ 36
Figura 3.2 - Espectro ROE do complexo cido 6-(p-toluidin) naftalen-2-sulfnico
(TNS): -CD em D2O.____________________________________________ 40 Figura 3.3 - Representao esquemtica da formao dos complexos 1:1 e 2:1 para o
sistema -CD: TNS, deduzido a partir do experimento ROESY. ___________ 41
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Figura 3.4 - Sinais observados em RMN.________________________________________ 42
Figura 3.5 - Variao do deslocamento qumico de um determinado ncleo da
ciclodextrina em funo da frao complexada_________________________ 44
Figura 3.6 - Representao de Job para um complexo 1:1 em funo da frao molar de
ciclodextrina ou de hspede. _______________________________________ 45
Figura 5.1 - Diagrama de solubilidade do furoato de diloxanida em -CD com valor de Kc= 427,4 M-1; So=1,35x10-4; r=0,9959. ______________________________ 60
Figura 5.2 - Logartmo da constante de velocidade de primeira ordem em funo do pH
para a hidrlise do furoato de diloxanida em gua, -CD e -CD sulfatada, 37oC. ________________________________________________________ 62
Figura 5.3 - Variao da constante de velocidade de primeira ordem em funo de
concentraes crescentes de -CD para a hidrlise do furoato de diloxanida (6,66x10- 5M) em pH 10,75, = 0,5 M (KCl), = 260 nm e 37oC; ko = 1,76 x 10-3 s-1. ______________________________________________________ 63
Figura 5.4 - Variao da constante de velocidade de primeira ordem em funo de
concentraes crescentes de -CD sulfatada para a hidrlise do furoato de diloxanida (6,66x10-5 M) em pH 10,0, = 0,5 M (KCl), = 260 nm e 37oC; ko = 3,16 x 10-4 s-1. _______________________________________________ 65
Figura 5.5 - Espectros de UV para a reao de hidrlise do furoato de diloxanida por 7
dias, a pH 7,0 e 37oC.___________________________________________ 66
Figura 5.6 - Perfil de [-CD]/(ko - kobs) versus [-CD] para a hidrlise do furoato de diloxanida (6,66x10-5 M), pH= 10,75, = 0,5M (KCl), = 260nm 37oC. ___ 68
Figura 5.7 - Espectros de Fluorescncia do furoato de diloxanida (3,0x10-5M e 0,2% de
etanol) e -CD (1,2x10-2M); Ex = 338 nm. ___________________________ 70 Figura 5.8 - Espectro de 1H do furoato de diloxanida e -CD (4mM) em metanol/gua,
300MHz. ______________________________________________________ 72
Figura 5.9 - Espectro de 13C do furoato de diloxanida e -CD (10mM) em acetonitrila/gua, 75MHz. _________________________________________ 72
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Figura 5.10 - Espectros de RMN de 1H, furoato de diloxanida (4mM) e -ciclodextrina (4mM) em propores 10:0, 8:2, 6:4, 4:6 e 2:8 em sistema CD3OD/D2O
(50:50), 300MHz. _______________________________________________ 73
Figura 5.11 - Espectros de RMN de 13C de -CD/FD (10mM) em sistema CD3CN/D2O (40:60), 75MHz. ________________________________________________ 74
Figura 5.12 - Procedimento relativo ao assinalamento completo dos espectros de RMN. __ 75
Figura 5.13 -Espectros monodimensionais do helvolato de potssio 10mM: (a) 13C; (b)
DEPT 135; (c) DEPT 45; (d) DEPT 90; solues em D2O, 125 MHz._______ 76
Figura 5.14 -Espectro de 1H-RMN do helvolato de potssio 10mM em D2O, 500MHz. ___ 77
Figura 5.15 -Espectro de 1H-1H COSY do helvolato de potssio 10mM em D2O. ________ 79
Figura 5.16 -Espectro parcial de 1H-1H COSY do helvolato de potssio 10mM em D2O. __ 80
Figura 5.17 -Espectro de correlao 1H-13C do Helvolato de potssio 10mM em D2O. ____ 81
Figura 5.18 -Espectro ROESY do complexo helvolato de potssio- -CD 10mM, em D2O, 500MHz. __________________________________________________ 82
Figura 5.19 - Espectros monodimensionais do fusidato de sdio 10mM: (a) 13C; (b)
DEPT 135; (c) DEPT 90; (d) DEPT 45, em D2O, 125 MHz. ______________ 85
Figura 5.20 - Espectro de 1H-RMN do fusidato de sdio 10mM, em D2O, 500 MHz. _____ 86
Figura 5.21 - Espectro de 1H-1H COSY do fusidato de sdio 10mM, em D2O. __________ 87
Figura 5.22 - Espectro bidimensional COSY 1H-1H do fusidato de sdio 10mM, em
D2O. __________________________________________________________ 88
Figura 5.23 - Espectro de correlao 13C-1H do fusidato de sdio 10mM, em D2O. _______ 89
Figura 5.24 - Espectro J-resolvida do fusidato de sdio 10mM, em D2O._______________ 91
Figura 5.25 - Espectro Noesy 1H-1H do fusidato de sdio 10mM, em D2O. _____________ 92
Figura 5.26 - Espectros monodimensionais do CHAPS 10mM: (a) DEPT 135; (b) DEPT
90; (c) DEPT 45; (d) 13C, em D2O, 125 MHz.__________________________ 94
Figura 5.27 - Espectro de 1H do CHAPS 10mM em D2O, 500 MHz. __________________ 95
Figura 5.28 - Espectro bidimensional de 1H-1H COSY do CHAPS 10mM, em D2O.______ 97
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x
Figura 5.29 - Espectro parcial bidimensional 1H-1H COSY do CHAPS 10mM, em D2O. __ 97
Figura 5.30 - Espectro de correlao 1H-13C do CHAPS 10 mM, em D2O.______________ 98
Figura 5.31 - Espectro monodimensional de 1H do CHAPSO 10mM, em D2O, 500
MHz. _________________________________________________________ 99
Figura 5.32 - Espectro bidimensional 1H-1H COSY do CHAPSO 10mM, em D2O.______ 100
Figura 5.33 - Espectro de correlao 13C-1H do CHAPSO 10mM, em D2O.____________ 102
Figura 5.34 - Espectro de 1H-RMN da -CD em soluo (10mM), D2O, 300 MHz, com supresso do solvente. ___________________________________________ 105
Figura 5.35 - Espectro de 13C da -CD em D2O, 75 MHz. _________________________ 105 Figura 5.36 - Curva de Job obtida com os deslocamentos qumicos dos carbonos da -
CD para o complexo (a) helvolato:-CD e (b) fusidato:-CD; [helvolato/fusidato]o= [-CD]o= 10mM); 75 MHz. _____________________ 108
Figura 5.37 - obs para diferentes tomos de carbono da -CD complexada com helvolato de potssio. [helvolato]o= [-CD]o= 10mM. __________________ 109
Figura 5.38 - obs para diferentes tomos de carbono da -CD complexada com fusidato sdico . [fusidato]o= [-CD]o= 10mM. _______________________ 110
Figura 5.39 - Espectro ROESY referente ao complexo de incluso helvolato: -CD em D2O 10mM, 500 MHz. __________________________________________ 113
Figura 5.40 - Modelos espaciais tericos do complexo (helvolato)1 : (-CD)1, com vistas laterais (a) e (b) e frontais (c) e (d). _________________________________ 114
Figura 5.41 - Curva de Job para os cinco carbonos de uma unidade de glicose de -CD para o complexo (a) helvolato: -CD e (b) fusidato: -CD. [helvolato/fusidato]o= [-CD]o= 10mM, 75 MHz. _____________________ 115
Figura 5.42 - obs para diferentes tomos de carbono da -CD complexada com helvolato de potssio; (a) ajuste para complexo 1:1, (b) ajuste para
complexo 1:2 __________________________________________________ 117
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xi
Figura 5.43 - obs para diferentes tomos de carbono da -CD complexada com fusidato de sdio; (a) ajuste para complexo 1:1, (b) ajuste para complexo 1:
2. ___________________________________________________________ 117
Figura 5.44 - Estruturas esquemticas para os complexos formados entre (a) fusidato de
sdio e -CD; (b) helvolato de potssio e -CD; (c) helvolato de potssio e -CD; e (d) fusidato de sdio e -CD._______________________________ 120
Figura 5.45 - Curva de Job obtida com os deslocamentos qumicos dos carbonos da -CD para o complexo (a) CHAPS:-CD e (b) CHAPSO:-CD. ([CHAPS]=[CHAPSO]=[-CD]=10mM; 75 MHz. _____________________ 121
Figura 5.46 - obs para diferentes tomos de carbono da -CD complexada com (a) CHAPS e (b) CHAPSO. _________________________________________ 122
Figura 5.47 - Espectro ROESY do complexo CHAPS:-CD, em D2O, 500MHz.________ 124 Figura 5.48 - Espectro ROESY do complexo CHAPSO:-CD, em D2O, 500 MHz.______ 124 Figura 5.49 - Representao espacial do complexo CHAPS:-CD.___________________ 126 Figura 5.50 - Representao espacial do complexo CHAPSO:-CD. _________________ 127 Figura 5.51 - Espectros de 13C com diferentes concentraes de (a) CHAPS ou (b)
CHAPSO e -CD, na seguinte ordem: 10 mM -CD e 0 mM CHAPS, 7 mM -CD e 3 mM CHAPS, 5 mM -CD e 5 mM CHAPS, 1 mM -CD e 9 mM CHAPS; solues em D2O, pH natural (5,0-6,0), 75MHz. ___________ 130
Figura 5.52 - Espectros de 1H com diferentes concentraes de (a) CHAPS e (b)
CHAPSO com concentraes nos espectros em ordem decrescente de
10mM, 5 mM e 2 mM; solues em D2O, pH natural (5,0-6,0), 300MHz. __ 131
Figura 5.53 - Espectros de 1H sobrepostos de CHAPS 10 mM (vermelho) em soluo,
com a -CD 10 mM (preto) (solues em D2O, pH natural; 500 MHz). ____ 132 Figura 5.54 - Espectros de 1H com diferentes concentraes de CHAPS e -CD: azul
escuro: 1 mM -CD e 9 mM CHAPS; azul claro: 3 mM -CD e 7 mM CHAPS, verde: 5 mM -CD e 5 mM CHAPS; vermelho: 8 mM -CD e 2 mM CHAPS. Solues em D2O, pH 5-6 (natural da soluo), 500 MHz. ___ 133
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Figura 5.55 - Espectros de 1H com diferentes concentraes de CHAPS 1mM e -CD 9mM (vermelho), CHAPS 5 mM e -CD 5 mM (verde), CHAPS 7 mM e -CD 3 mM (azul claro) e CHAPS 10 mM (azul escuro). Solues em D2O, pH natural (5,0-6,0), 500 MHz. Os smbolos L indicam
hidrognios da substncia livre e C complexada. ____________________ 134
Figura 5.56 - Espectros de 1H parciais sobrepostos de CHAPS 2 mM e -CD 8 mM (vermelho), CHAPS 5 mM e -CD 5 mM (azul escuro), CHAPS 7 mM e -CD 3 mM (azul claro) e CHAPS 8mM e -CD 2 mM (verde); solues em D2O, pH natural (5,0-6,0), 500 MHz. ____________________________ 134
Figura 5.57 - Curvas de Job das reas dos hidrognios de CHAPS (a) 18, 25 e 12
complexados, (b) 19 complexado e (c) 5 complexado da -CD; solues em D2O, pH natural, 500 MHz. ____________________________________ 137
Figura 5.58 - Curvas de Job das reas dos hidrognios de CHAPSO (a) 18 e 25
complexados, (b) 19 complexado e (c) 5 complexado da -CD; solues em D2O, pH natural, 500 MHz. ____________________________________ 137
Figura 5.59 - ROESY de uma soluo 10 mM de -CD e 10mM de CHAPS (solues em D2O, pH natural ) 500 MHz. ___________________________________ 138
Figura 5.60 - ROESY de uma soluo 10 mM de -CD e 10mM de CHAPSO (solues em D2O, pH natural); 500MHz.____________________________________ 139
Figura 5.61 - Curvas experimentais e tericas da rea dos hidrognios do CHAPS (a) e
CHAPSO (c) regio da cadeia lateral, CHAPS (b) e CHAPSO (d) regio
do anel A; solues em D2O, pH natural. ____________________________ 143
Figura 5.62 - Curvas experimentais e tericas da rea do hidrognio 5 da -CD complexada com (a) CHAPS e (b) CHAPSO; solues em D2O, pH natural
(5,0-6,0). _____________________________________________________ 145
Figura 5.63 - Formao de um complexo 1:2 de um hspede ditpico a partir de dois
possveis complexos 1:1. _________________________________________ 146
Figura 5.64 - Representao espacial do complexo CHAPS:-CD. __________________ 149 Figura 5.65 - Representao espacial do complexo CHAPSO: -CD. ________________ 150
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xiii
LISTA DE TABELAS Tabela 1.1 - Exemplos de alguns frmacos em forma de complexos de incluso. _________ 9
Tabela 3.1 - Posio do mximo de Job para alguns complexos de incluso. ____________ 46
Tabela 4.1 - Variveis utilizadas na Preparao das Solues para o Estudo de
Complexao por RMN. __________________________________________ 58
Tabela 5.1 - Dados de absorbncia e diferentes concentraes de furoato de diloxanida
(FD) e de -CD para construo do diagrama de solubilidade; T= 37oC, pH 7,0, = 260 nm. _________________________________________________ 60
Tabela 5.2 - Logartmo da constante de velocidade de primeira ordem em funo do pH
para a reao de hidrlise do furoato de diloxanida em gua, -CD e -CD sulfatada; [FD]= 6,66x10-5 M; = 260 nm; T= 37 oC; = 0,5 M (KCl) ______ 61
Tabela 5.3 - Constantes de velocidade de primeira ordem em funo da concentrao de
-CD no estudo da reao de hidrlise do FD em pH 10,75 e 37oC. ________ 62 Tabela 5.4 - Constantes de velocidade de primeira ordem em funo da concentrao de
-CD sulfatada no estudo da reao de hidrlise do FD em pH 10,0 e 37oC.__ 63 Tabela 5.5 - Perfil [-CD]/(ko kobs) vs [-CD] para estudo da reao de hidrlise do
furoato de diloxanida a pH 10,75 e 37 o C. ____________________________ 67
Tabela 5.6 -Deslocamentos qumicos dos espectros de 1H e 13C do helvolato de potssio
10mM em D2O, pH 7,5.___________________________________________ 83
Tabela 5.7 - Deslocamentos de 1H e 13C do Fusidato de sdio 10mM, em D2O. _________ 93
Tabela 5.8 - Deslocamentos de 1H e 13C do CHAPS e CHAPSO 10mM, em D2O, pH 5-
6. ___________________________________________________________ 103
Tabela 5.9 - Valores de max obtidos para os tomos de carbono da -CD na complexao com fusidato de sdio e helvolato de potssio. _____________ 111
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xiv
Tabela 5.10 - Experimento ROE com as interaes entre os prtons (Pn) do helvolato ou
fusidato e os prtons (Hn) das ciclodextrinas - ou -CD. _______________ 112 Tabela 5.11 - Valores de max obtidos para os tomos de carbono da -CD aps
complexao com CHAPS e CHAPSO. _____________________________ 123
Tabela 5.12 - Interaes observadas no ROESY (solues 10 mM de -CD e 10mM de CHAPS ou CHAPSO, em D2O, pH natural ) entre prtons (Pn) do CHAPS
ou CHAPSO e prtons (Hn) da -CD._______________________________ 125 Tabela 5.13 - Relao entre as reas dos sinais das metilas nas posies 18 e 19 com a
rea dos prtons situados na cadeia lateral do CHAPS (31 e 32) e
CHAPSO (prton 12). ___________________________________________ 129
Tabela 5.14 - Interaes observadas no espectro ROESY (soluo em D2O, pH natural,
10 mM de -CD e 10 mM de CHAPS/CHAPSO), entre prtons (Pn) de CHAPS e CHAPSO e prtons (Hn) da -CD._________________________ 140
Tabela 5.15 - -Resultados dos ajustes das reas de prtons do CHAPS e CHAPSO, no
qual descreve um comportamento de complexo 1:1.____________________ 142
Tabela 5.16 - Resultados dos ajustes das reas dos prtons do CHAPS e CHAPSO na
qual descreve comportamento do pseudo-complexo 1:1. ________________ 145
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xv
LISTA DE ESQUEMAS
Esquema 1.1 - Processo de absoro do complexo no trato gastrointestinal. ____________ 11
Esquema 3.1 - Equilbrios slido-lquido para a formao de um complexo de incluso. __ 36
Esquema 3.2 - Mecanismo cintico de hidrlise do furoato de diloxanida na presena e
ausncia de ciclodextrina (CD) _____________________________________ 50
Esquema 5.1 - Representao do mecanismo de catlise nucleoflica envolvendo o
centro reativo do furoato de diloxanida e a -CDSO3Na. _________________ 64 Esquema 5.2 - Reao de hidrlise do furoato de diloxanida (FD) versus complexao. ___ 65
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xvi
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CD - ciclodextrina
-CD - alfa ciclodextrina -CD - beta ciclodextrina -CD - gama ciclodextrina -CDSO3Na - beta ciclodextrina sulfatada FD - furoato de diloxanida
1HRMN - Ressonncia Magntica Nuclear de 1H
13CRMN - Ressonncia Magntica Nuclear de 13C
COSY - Espectrometria bidimensional de correlao
NOE - Nuclear Overhauser Effect
ROE - Rotating-frame nuclear OverhauserEffect
DEPT - Distortionless Enhancement by Polarization Transfer
J - constante de acoplamento (Hz)
- deslocamento qumico (ppm) obs - variao de deslocamento qumico observado max - variao mxima observada de deslocamento K11 / Kc - constante de estabilidade ou equilbrio de formao do
complexo de incluso
fCD / fC - fraes de ciclodextrina livre e complexada
Cn / C11 / C12 - complexo de incluso 1:1 / 1:2
RMCD / CD - relao ou frao molar de ciclodextrina CHAPS - 1-propanosulfonato de 3-[(3-colamidopropil)dimetilamnio]
CHAPSO - hidroxi derivado de 1-propanosulfonato de 3-[(3- colamidopropil)dimetilamnio]
-
xvii
RESUMO
Ciclodextrinas so um grupo de oligossacardeos cclicos, os quais tm sido
reconhecidos como excipientes farmacuticos de grande utilidade. Apresentam uma cavidade
central hidrofbica, cuja estrutura permite formar complexos de incluso estveis. Neste
trabalho, foram utilizados mtodos de solubilidade e cintico para estudo do complexo de
incluso furoato de diloxanida/-ciclodextrina, bem como as tcnicas de RMN e de fluorescncia. Estudos cinticos e de solubilidade demonstraram estequiometria 1:1 para o
complexo FD/-CD. Os estudos de complexao dos antibiticos, fusidato de sdio e helvolato de potssio, bem como dos compostos 1-propanosulfonato de 3-[(3-
colamidopropil)dimetilamnio] (CHAPS) e seu hidroxi-derivado (CHAPSO) com as - e -CD foram feitos por tcnicas de RMN de 1H e 13C (mono e bidimensionais). Estes hspedes
com estruturas esteroidais em comum, formaram complexos 1:1 com a -CD. Na presena de -CD, fusidato de sdio e helvolato de potssio formaram complexos 1:1 e 1:2, enquanto que com CHAPS ou CHAPSO ocorreu formao de dois complexos 1:1 distintos em soluo.
Ambos os antibiticos fusidato de sdio e helvolato de potssio, comportaram-se como
hspedes monotpicos e ditpicos quando complexados com - e -CD, respectivamente. CHAPS e CHAPSO na presena de - e -CD, demonstraram comportamentos diferenciados de intercmbio do hspede em relao escala de tempo de RMN. Assim, com a -CD verificou-se um intercmbio rpido enquanto que com a -CD foi lento. Foram apresentados e analisados os espectros ROESY, os quais permitiram definir as interaes existentes entre as
molculas hspedes e as ciclodextrinas. No caso dos quatro compostos esteroidais, as
constantes de equilbrio foram discutidas em termos das estruturas propostas para os
complexos. Foram revisados os espectros de RMN do fusidato de sdio e apresentados os
assinalamentos completos do helvolato de potssio, CHAPS e CHAPSO, atravs dos
espectros de RMN de 1H e 13C.
-
xviii
ABSTRACT
Cyclodextrins are a group of cyclic oligosaccharides which have recently been
recognized as useful pharmaceutical excipients. They present an hydrophobic central cavity
whose structure allows the formation of stable inclusion complex. In this work, solubility and
kinetic methods, as well NMR and fluorescence techniques were used for studying the
inclusion complex of diloxanide furoate / -cyclodextrin. Kinetics and solubilities studies showed stoichiometry 1:1 for the FD/-CD complex. The complexation studies of two steroid antibiotics, sodium fusidate and potassium helvolate, as well as the compounds 3-[(3-
cholamidopropyl)dimethylammonio]-1-propanesulphonate (CHAPS) and its hydroxy
derivative (CHAPSO) by - and -CD were by 13C and 1H NMR techniques (mono and bidimensional). These guests with steroid structures in common, formed 1:1 complexes by -CD. In the presence of -CD, sodium fusidate and potassium helvolate formed 1:1 and 1:2 complexes, while with CHAPS and CHAPSO were through two distinct 1:1 complexes in
solution. Both the antibiotics, sodium fusidate and potassium helvolate, behaved as monotopic
and ditopic guests when they complexed by - and -CD, respectively. CHAPS and CHAPSO showed different behaviors of interchange guest in relation to NMR time scale to both - and -CD. Therefore, with -CD a fast interchange was observed while by -CD it was slow. The ROESY spectra were also presented and analysed, which permited to define the interactions
between the guests and cyclodextrins. The obtained equilibrium constants were discussed in
terms of the proposed structures for the complexes to the four steroid compounds. NMR
spectra of sodium fusidate were revised, and a full assignment of the 1H and 13C NMR spectra
was presented for potassium helvolate, CHAPS and CHAPSO.
-
1 - INTRODUO
A procura por novos excipientes e tecnologias, tem levado a indstria farmacutica e a
comunidade cientfica pesquisa por novas formulaes que resultem em preparaes mais
estveis e melhoras teraputicas. As ciclodextrinas na forma de complexos de incluso tm
sido um dos principais recursos empregados dentro da rea farmacutica nestes ltimos anos.
Sua conformao espacial em forma de cone, com caractersticas hidroflicas em sua parte
externa e cavidade interna relativamente apolar, permite a formao de complexos de incluso
com vrias molculas. Na rea farmacutica, o encapsulamento molecular de princpios ativos
sem dvida a aplicao das ciclodextrinas que mais tem sido explorada. Muitos trabalhos
tm demonstrado as diversas aplicaes em termos de modificao das caractersticas fsico-
qumicas intrnsecas das molculas hspedes, no que se refere solubilidade, estabilidade,
biodisponibilidade, proteo contra a oxidao, reduo, racemizao, isomerizao,
polimerizao, hidrlise e/ou decomposio do princpio ativo, assim como converso de
substncias lquidas em microcristalinas, reduo das irritaes gastrointestinais ou oculares e
outros efeitos secundrios, alm da preveno a uma decomposio enzimtica.1- 4
Apesar da importncia da utilizao das ciclodextrinas em tecnologia farmacutica,
escasso o conhecimento das vantagens quanto utilizao destes complexos moleculares.
normal observar dentro da classe mdica, o desconhecimento das melhorias nas propriedades
fsico-qumicas destes complexos, como o caso dos antiinflamatrios no esteroidais,
Brexin e Cicladol (complexos de piroxicam com -ciclodextrina), comparados ao princpio ativo piroxicam (Feldene). Inmeros trabalhos demonstram os benefcios na complexao do piroxicam por -ciclodextrina, podendo-se citar melhora da hidrosolubilidade, biodisponibilidade e reduo dos efeitos irritantes sobre a mucosa
gastrointestinal.5-11
Dentro deste contexto, cabe ressaltar que os princpios ativos indicados como objetos
de anlise desta tese de doutorado, apresentam caractersticas peculiares que os colocam como
-
Introduo
2
sistemas apropriados ao estudo de complexao em ciclodextrinas, em concordncia aos
objetivos deste trabalho. Entre estas, destacam-se:
i) Os problemas de solubilidade e instabilidade em gua apresentados pelo furoato de
diloxanida, o que limita a possibilidade do alcance deste no fluido intestinal e provvel
eliminao do local onde deveria exercer seu efeito teraputico. 12, 13
ii) Efeitos secundrios apresentados pelo cido fusdico, relacionados com transtornos
do trato gastrointestinal. 14
iii) Efeitos txicos apresentados pelo cido helvlico no retardamento do crescimento
de gramneas,15 assim como a ao inibitria do epitlio ciliar respiratrio humano.16
iv) Os sais biliares triidroxlicos e dihidroxlicos ao serem complexados por -CD, comportam-se como hspedes monotpicos e ditpicos, respectivamente.17 Esta caracterstica
tem sido utilizada para demonstrar a formao de conglomerados supramoleculares.18-21 Estes
estudos sugerem a busca por novos hspedes ditpicos, a fim de obter-se complexos com a -CD mais estveis que com os sais biliares. Os possveis efeitos estricos oriundos da presena
da primeira molcula de -CD devem ser minimizados para que favorea a complexao por parte da segunda -CD. Estes fatores estricos impostos pela estrutura espacial de ambas as molculas de ciclodextrina contribuem negativamente na formao destes complexos. A
preveno a estes efeitos estricos definidos por Connors et al. 22, 23 atravs de parmetros de
cooperao, podem ser obtidos atravs da utilizao de hspedes esterides, cujos anis C e D
apresentem um baixo grau de incluso e os anis A e B (segunda posio da complexao),
estejam suficientemente livres para serem complexados pela segunda ciclodextrina. Esta
condio pode ser alcanada com os esterides cidos fusdico e helvlico, cujas cadeias
laterais rgidas e hidrofbicas, permitem o livre acesso complexao por parte da segunda
molcula de ciclodextrina. Do mesmo modo, aplicvel s molculas CHAPS e CHAPSO,
por possurem cadeias laterais alongadas em relao aos sais biliares. Cabe enfatizar que a
cooperatividade um processo de relevncia nas interaes moleculares frmaco-protena, o
que justificaria o uso destes sistemas como modelos para os processos de reconhecimento
molecular.24
-
Introduo
3
v) As caractersticas estruturais apresentadas pelos quatro esterides e cujas estruturas
esto apresentadas no item 1.2 p.25 (cidos fusdico e helvlico, CHAPS e CHAPSO),
permitem classific-los como timos sistemas para realizao de uma anlise global dos
deslocamentos qumicos dos sinais de RMN de 1H e 13C. Sabe-se que a RMN uma tcnica
instrumental bastante utilizada para a determinao da estrutura, estequiometria e constante de
equilbrio de formao dos complexos de incluso. No entanto, as publicaes existentes
mostram uma srie de deficincias relacionadas anlise dos dados experimentais. Nestes
casos, a anlise fica centrada unicamente em um nico sinal (prton ou carbono) ou quando
em mais de um feita de maneira independente, o que conduz muitas vezes a valores
inconsistentes. Em se tratando de estequiometrias mltiplas, como no caso de hspedes
ditpicos, a anlise individual no permite a determinao de mais de uma constante de
equilbrio envolvida em um nico processo de complexao.
O presente trabalho vem contribuir com o estudo dos complexos de incluso de
substncias de interesse em ciclodextrinas, atravs da anlise destes quanto estequiometria,
estrutura e constante de formao de equilbrio, utilizando as tcnicas de RMN de 1H e 13C
(mono e bidimensionais), bem como atravs de mtodos cintico e de solubilidade.
1.1 - Ciclodextrinas
1.1.1 - Estrutura
As ciclodextrinas so um grupo de molculas naturais cclicas constitudas por
unidades de glicopiranose unidas por ligaes (1,4). Estes oligossacardeos so obtidos por degradao enzimtica do amido sob ao da enzima glicosiltransferase (CGT amilase do
Bacillus macerans), que produz uma reao intramolecular sem a participao de uma
molcula de gua. Foram descobertas em 1891 por Villiers e os primeiros detalhes de sua
preparao foram descritos por Schardinger em 1903. 25
As ciclodextrinas naturais so macromolculas contendo um nmero de unidades de
glicose compreendidas entre 6 e 8, denominando-se respectivamente, -, - e -CD (Figura 1.1). A Figura 1.2 apresenta a representao esquemtica das ciclodextrinas mais usuais.
-
Introduo
4
O
H
H
HO
H
O
OHH
H
OH
O
H
H
HO
H
HO
H
H
OH
O
O
H
H OH
HO
HO
H
H
OHO
H
H
OH
H
O
HOH
H
HO
O
H
H
OH
H
OH
H
H
HO
O
O
H
HHO
HO
OH
H
H
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O
H
H
HOH
O
OH
H
H
OH
O
H
H
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H
O
HO
H
H
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O
H
H
OH
H
O
HOH
H
HO
O
H
H
OH
H
O
OH
H
H
HO
OH
H
HO
H
OOHH
H
HO
O
H
H OH
H
OHO
H
H
OH
O
H
HHO
H
O
OH
H
H
HO
O
H
H
HO
H
O
OHH
H
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O
H
H
HO
H
O
HO
H
H
OH
O
HH
OH
HHO
H
H
OH
O
OH
HOH
H
OHO
H
H OHO
H
H
OH
H
O
HOH
H
HO
O
H
H
OH
H
O
OH
H
H
HO
O
H H
HO
HOH
H
H
HO
O
OH
HHO
H
OOH
H
HHO
-CD -CD -CD
O
H
H
HO
H
O
OHH
H
OH
O
H
H
HO
H
HO
H
H
OH
O
O
H
H OH
HO
HO
H
H
OHO
H
H
OH
H
O
HOH
H
HO
O
H
H
OH
H
OH
H
H
HO
O
O
H
HHO
HO
OH
H
H
HO
O
H
H
HOH
O
OH
H
H
OH
O
H
H
OH
H
O
HO
H
H
OH
O
H
H
OH
H
O
HOH
H
HO
O
H
H
OH
H
O
OH
H
H
HO
OH
H
HO
H
OOHH
H
HO
O
H
H OH
H
OHO
H
H
OH
O
H
HHO
H
O
OH
H
H
HO
O
H
H
HO
H
O
OHH
H
OH
O
H
H
HO
H
O
HO
H
H
OH
O
HH
OH
HHO
H
H
OH
O
OH
HOH
H
OHO
H
H OHO
H
H
OH
H
O
HOH
H
HO
O
H
H
OH
H
O
OH
H
H
HO
O
H H
HO
HOH
H
H
HO
O
OH
HHO
H
OOH
H
HHO
-CD -CD -CD
Figura 1.1 - Ciclodextrinas naturais
Figura 1.2 - Representao esquemtica das ciclodextrinas.
Mediante difrao de raios X, se determinou que as ciclodextrinas possuem uma
estrutura cnica truncada (Figura 1.3).
Figura 1.3 - Estrutura e dimenses das ciclodextrinas.
-
Introduo
5
As unidades de glicopiranose esto unidas em conformao 1-4 glicosdica, estando todos os grupos OH secundrios situados na parte mais larga, enquanto que os grupos OH
primrios na parte mais estreita (Figura 1.4). O interior da cavidade est constitudo por
hidrognios H3, H5 e H6 e oxignios glicosdicos. Os pares de eltrons no-ligantes destes
oxignios pertencentes a ligao glicosdica, se encontram orientados em direo ao interior
da cavidade, o que origina uma alta densidade eletrnica, deixando a molcula com
caractersticas de base de Lewis.
Figura 1.4 - Estrutura funcional da ciclodextrina
Os grupos hidroxilas secundrios OH(2) e OH(3) esto em posio equatorial, porm
com o OH(2) apontando para o interior e o OH(3) para o exterior da cavidade, bem como a
hidroxila primria OH(6). Isto faz com que exista o dobro de grupos OH voltados para fora do
que para dentro da cavidade, o que leva a um momento dipolar da molcula relativamente
grande.26 Devido distribuio dos grupos funcionais que formam a ciclodextrina, a parte
externa adquire carter hidroflico e a interna hidrfoba ou de natureza apolar. O grupo
OH(C2) de uma unidade de glicopiranose pode formar pontes de hidrognio com o OH(C3)
da unidade adjacente. No caso da -ciclodextrina, estas ligaes formam um cinturo secundrio completo, o que lhe confere uma estrutura bastante rgida. Esta uma possvel
explicao da menor solubilidade da -ciclodextrina com relao as restantes. No caso da -ciclodextrina, o cinturo formado a partir das ligaes de pontes de hidrognio no
completo, pois uma das molculas das unidades de glicopiranose est em uma posio
distorcida, de maneira que, somente quatro das seis possveis unies atravs de pontes de
hidrognio podem ser estabelecidas. No caso da -ciclodextrina, esta possui uma estrutura no coplanar, o que a torna mais flexvel e portanto a mais solvel das trs. 26
1
2 345
6
HOO
H
H
HOH
HO
OHH
H
OH
123
4 56
1
2 345
6
HOO
H
H
HOH
HO
OHH
H
OH
123
4 56
HOO
H
H
HOH
HO
OHH
H
OH
HOO
H
H
HOH
HO
OHH
H
OH
123
4 56
-
Introduo
6
1.1.2 - Complexos de incluso
Devido a sua cavidade hidrofbica, na qual substratos podem ser aprisionados para
formarem complexos de incluso, as ciclodextrinas podem hospedar distintos compostos, cuja
estequiometria mais usual 1:1. A qumica do fenmeno de incluso molecular demonstra um
sistema de complexidade estrutural dentro da qumica supramolecular, onde a ciclodextrina
o hospedeiro (em ingls, host) e o substrato o hspede (em ingls, guest), os quais se
mantm juntos principalmente atravs de foras de Van der Waals, interaes hidrofbicas e
pontes de hidrognio.26, 27 A formao do complexo de incluso facilita em alguns casos, a
solubilizao de substncias pouco solveis e em outros, precipita algum componente em
soluo ou suspenso. No primeiro caso tem-se como exemplo a solubilizao do
naproxeno,28 j a formao do complexo colesterol--CD, 29 conduz uma precipitao em soluo aquosa, caracterstica que tem sido utilizada para extrao do colesterol em alimentos.
Esta caracterstica peculiar de formao de complexos de incluso estveis, tem levado a
diversas aplicaes, como por exemplo na indstria de alimentos, farmacutica, cosmtica,
biotecnologia, qumica analtica, agricultura e tecnologia ambiental. 26, 30, 31 Em soluo, a
molcula hspede vai estar localizada, inteira ou parcialmente, dentro da cavidade da
ciclodextrina, estando o complexo solvatado ou rodeado por molculas do solvente,
geralmente a gua. No estado cristalino, a molcula hspede pode estar localizada, no
somente dentro da cavidade da ciclodextrina, mas tambm nos espaos intersticiais formados
pela rede cristalina do complexo. As molculas includas normalmente ficam orientadas de
modo que se alcance o mximo contato entre a parte hidrofbica da molcula hspede e a
cavidade da ciclodextrina de natureza apolar. 26
Quando em uma soluo aquosa de ciclodextrina se adiciona um composto menos
polar que a gua, tendo ambos forma e dimenso compatveis, as molculas de gua que
preenchem a cavidade da ciclodextrina, estando em um estado energeticamente menos
favorvel, so substitudas pela nova molcula. A cavidade central da ciclodextrina vai atuar
ento como uma molcula hospedeira, podendo alojar uma molcula hspede total ou
parcialmente, caso haja compatibilidade para formar o complexo de incluso. 26
-
Introduo
7
As ciclodextrinas formam complexos de incluso com substncias que possuem
tamanho, polaridade e forma geomtrica compatveis com a dimenso de sua cavidade.
Alternativas para a formao de complexos com molculas significativamente maiores que
sua cavidade, podero ser atravs de uma interao parcial do hspede ou mediante a
formao de complexos ciclodextrina-hspede de estequiometria diferente de 1:1. Conforme
Figura 1.5, os complexos de incluso so classificados em: 32
Figura 1.5 - Principais tipos de complexos de incluso
Completa: quando a molcula hspede de tamanho pequeno e entra totalmente na cavidade da ciclodextrina (Figura 1.5 a).
Parcial: quando a molcula somente entra parcialmente na cavidade da ciclodextrina (Figura 1.5 c).
Axial: quando a molcula hspede de tamanho longo e estreito e se estende atravs do eixo mediano da ciclodextrina (Figura 1.5 b).
Tipo sandwich: quando a molcula hspede muito grande e necessita de duas molculas de ciclodextrina para formar o complexo (Figura 1.5 d).
Complexos de estequiometria superior: so exemplificados pela incluso 1: 2, onde duas molculas hspede interagem com uma ciclodextrina (Figura 1.5 e) ou duas molculas
hspedes para duas ciclodextrinas (Figura 1.5 f).
Outros compostos formam complexos de ordem superior, podendo-se mencionar:
rotaxanos e polirrotaxanos, 33 catenanos, 34 estruturas tubulares, 35 teres coroas,36 polmeros
supramoleculares de incluso, 19, 20 dendrmeros, etc. 18, 37
-
Introduo
8
1.1.3 - Aplicaes das ciclodextrinas na rea farmacutica
Nos ltimos anos tm havido um grande interesse na melhoria da qualidade das
formulaes farmacuticas. A pesquisa de formulaes que melhorem a eficcia de novos
princpios ativos, assim como de alguns frmacos j conhecidos, tm levado aplicao de
complexos de incluso em ciclodextrinas. A razo para o crescimento do nmero de
publicaes e patentes dentro da rea farmacutica tambm se deve ao custo bastante baixo na
obteno das -, - e -ciclodextrinas. O tamanho favorvel do dimetro interno da cavidade das ciclodextrinas permite a formao de complexos de incluso com a maioria dos frmacos,
cuja melhoria das suas propriedades fsico-qumicas 26, 31, 38 esto expressas pelas seguintes
vantagens:
compostos lquidos transformados em formas cristalinas slidas eliminao de incompatibilidades entre o princpio ativo e os outros constituintes da
formulao
estabilidade qumica e/ou fsica aumento da velocidade de dissoluo e biodisponibilidade melhora da solubilidade de frmacos pouco solveis reduo dos efeitos secundrios eliminao de maus odores e sabores reduo da volatilidade de certos princpios ativos
Algumas das aplicaes mais freqentes na rea farmacutica so apresentados na
Tabela 1.1.
-
Introduo
9
Tabela 1.1 - Exemplos de alguns frmacos em forma de complexos de incluso.
Propriedade Princpio ativo ciclodextrina referncias
Aumento da solubilidade
Gliclazide
Glibornuride
Albendazol
Mebendazol
-CD , e -CD , e -CD e HP--CD , e -CD e HP--CD
39
40
41
42
Melhora da
biodisponibilidade
Naproxeno
Ketoprofeno
-CD -CD HP--CD
43
44
Diminuio de efeitos
secundrios
Piroxicam
Naproxeno
Pilocarpina
-CD -CD HP--CD DM--CD
45
46
47
Inibio da degradao
Melfalano e carmustina
Prostaciclina
Indometacina
Doxorubicina
Aspirina
SBE--CD e HP--CD , e -CD -CD, HP--CD e -CD HP--CD, HP--CD e CD HP--CD
48
49
50
51
52
Aumento da degradao
Espironolactona
Antibiticos lactmicos - , -CD e derivados DM-CD, HP-CD e HP-CD
53
54
As ciclodextrinas podem ser administradas a seres humanos ou animais, fazendo parte
de medicamentos ou alimentos, seja na forma livre ou como complexos de incluso. Se a
ciclodextrina administrada por via oral, fazendo parte do complexo, ocorre sua dissociao
no trato gastrointestinal, sendo processos separados, a absoro da molcula hspede e da
ciclodextrina. Estas por sua vez, so degradadas a acares absorvveis no clon intestinal
pela microflora, e finalmente excretadas como dixido de carbono e gua. 31
Biodisponibilidade
O termo biodisponibilidade definido atravs do grau e da velocidade de absoro de
um frmaco a partir de sua forma farmacutica para dentro da circulao sangnea. De
acordo com esta definio, a absoro de um frmaco administrado atravs da via intravenosa
-
Introduo
10
rpida e completa. No entanto, por razes de convenincia e estabilidade, muitos frmacos
so administrados por via oral, e portanto o grau e a velocidade de absoro no so
precisamente conhecidos. 55
H vrios fatores fsico-qumicos que podem afetar a biodisponibilidade total de um
frmaco. Entre eles, cita-se a solubilidade, estabilidade, tamanho da partcula, pKa, pH e
coeficiente de partio. 55
Quando um frmaco administrado por via oral em uma forma farmacutica slida,
indispensvel que ocorra sua solubilizao nos fluidos biolgicos, como passo inicial a etapa
de absoro. Se a velocidade de dissoluo (kd) bastante alta, com relao a velocidade de
absoro (ka), no se recomenda o uso de complexos de incluso, j que a biodisponibilidade
deste princpio ativo no ser limitada pelo processo de dissoluo. No entanto, um grande
nmero de frmacos apresentam baixa biodisponibilidade, precisamente por apresentarem
problemas de solubilidade (kd
-
Introduo
11
[CD-frmaco]slido [CD-frmaco]dissolvido
CD+ frmacoabsoro
kd
Kc
ka
Esquema 1.1 - Processo de absoro do complexo no trato gastrointestinal.
Portanto, esperada uma rpida absoro do frmaco, se o valor da constante de
estabilidade do complexo for baixa. Com complexos muito estveis, ou valores da constante
de estabilidade ou formao do complexo muito elevados, a concentrao do frmaco livre
absorvido baixa e, nestes casos esta a etapa limitante de velocidade. 31
A velocidade de absoro de frmacos pode assim ser acelerada ou diminuda atravs
da avaliao prvia do valor da constante de equilbrio do complexo. Complexos com baixos
valores da constante de estabilidade (inferiores a 200 M-1), conduzem a uma liberao rpida
e prematura do princpio ativo, podendo ocasionar sua precipitao no fluido biolgico, o que
ir diminuir sua absoro. Por outro lado, se os valores da constante so superiores a 5000M-1
ou existe uma concentrao excessiva de ciclodextrina, o equilbrio vai ser deslocado em
direo a formao do complexo de incluso, diminuindo assim a liberao da forma livre do
frmaco e conseqentemente sua absoro. 26, 31
Solubilidade
Em geral, supe-se que a formao de complexos de incluso em ciclodextrinas, leva
ao aumento da solubilidade e da velocidade de dissoluo de princpios ativos lipoflicos, o
que pode refletir em um aumento de sua biodisponibilidade ou em diminuio de seus efeitos
secundrios. 2, 43, 46, 47
Geralmente, a solubilidade de um frmaco aumenta com a quantidade de ciclodextrina
adicionada. O aumento da solubilidade parece estar relacionado com a solubilidade intrnseca
-
Introduo
12
do hspede, bem como com a habilidade de incluso da molcula hospedeira em gua, onde
estes fatores estaro refletindo na magnitude da constante de estabilidade do complexo. 55
Ahn et al., estudaram a influncia que haveria sobre a velocidade de dissoluo do
frmaco antiinflamatrio no esteroidal ketoprofeno, aps formao de complexos de incluso
na presena de algumas ciclodextrinas. Foi observado que o perfil de dissoluo deste
frmaco foi consideravelmente favorvel na presena tanto de -CD bem como de HP--CD, o que reflete de forma positiva em sua biodisponibilidade. 44
Gliclazida, frmaco alternativo utilizado no tratamento de diabetes mellitus,
caracterizado por sua baixa solubilidade nos fluidos gstricos e, portanto baixa velocidade de
dissoluo e biodisponibilidade. A formao do complexo gliclazida-CD, foi avaliada atravs de estudos de RMN de 1H e 13C e de solubilidade. Os autores mostraram a formao
do complexo, com uma constante de estabilidade de 1094 M-1 e estequiometria 1:2. 39
Torres Labandeira et al., atravs de estudos de solubilidade e 1H-RMN na
complexao de glibornurida com , e -CD, mostraram que a solubilidade deste frmaco melhora significativamente na presena de ciclodextrinas. 40
Daz et al., estudaram a complexao e a solubilidade de albendazol e mebendazol,
devido a baixa solubilidade destes frmacos no trato gastrointestinal. Estudos de solubilidade
mostraram que as ciclodextrinas aumentam a solubilidade do mebendazol no fluido intestinal
simulado. 42 Estudos de velocidade de dissoluo do albendazol, mostraram uma melhora em
presena de diferentes ciclodextrinas. 41
Estabilidade
Princpios ativos quando presentes em soluo aquosa, esto sujeitos muitas vezes,
reaes de degradao, os quais so levados a uma diminuio de atividade teraputica ou
mesmo formao de produtos de degradao indesejveis e prejudiciais sade. Quando
fazem parte de um complexo de incluso, podero estar protegidos das situaes de
degradao ou inestabilidade. Do ponto de vista da rea farmacutica, os frmacos devem
permanecer suficientemente estveis, no somente durante a estocagem, mas tambm nos
-
Introduo
13
fluidos biolgicos, j que nas reaes que resultam em produtos farmacologicamente inativos
ou menos ativos, tero sua efetividade teraputica reduzida. 31, 55
O aumento da temperatura tem influncia direta na estabilidade fsica de muitas
formas farmacuticas tais como solues, emulses, suspenses e supositrios. Estas
alteraes incluem desde modificaes reolgicas, o que vai interferir significativamente na
viscosidade, assim como desestabilizao de sistemas emulsionados. Favorece tambm a
evaporao de solventes volteis, contribuindo assim para uma provvel recristalizao. 57
Foram observados que certos frmacos, ao formarem complexos de incluso com
ciclodextrinas, aumentam sua estabilidade com relao a temperatura, reduzindo-se assim
perdas em sua forma farmacutica, ocasionadas por uma sublimao ou volatilizao. 58
Geralmente, no so observados os processos de fuso, evaporao, sublimao ou
decomposio do princpio ativo, at que se produza a decomposio da ciclodextrina (250-
300oC). 31
O processo de oxidao de uma substncia cristalina, frente ao oxignio atmosfrico,
em geral bastante lento e poder ser acelerada se for aumentada sua superfcie de contato. Por
outro lado, a formao de complexos de incluso, permite estabilizar alguns compostos
insaturados, tais como os cidos graxos, aldedos e vitaminas lipossolveis. Este resultado
de extrema importncia para as indstrias de alimentos e cosmtica, permitindo a
estabilizao de substncias bastante utilizadas nesta rea. 31
A decomposio fotoqumica decorrente da absoro de luz ou energia radiante pela
molcula do frmaco fotossensvel. Parece claro que, esse tipo de alterao depende da
facilidade com que a luz se propaga no meio no qual est contido o frmaco. Formas
farmacuticas tais como solues, xaropes e elixires so mais susceptveis s alteraes que as
suspenses, emulses, ps e comprimidos. 57
A felodipina, frmaco antihipertensivo, apresenta problemas de baixa solubilidade e
decomposio fotoqumica. Atravs de estudos de estabilidade, as ciclodextrinas foram
utilizadas para melhorar suas propriedades fsico-qumicas. 59
A digoxina, um dos potentes glicosdeos cardacos, susceptvel a hidrlise em meio
cido e, como resultado, sua eficincia teraputica bem como sua biodisponibilidade oral
-
Introduo
14
podem ser diminudas. No decorrer da degradao da digoxina, a preveno ao aparecimento
da digoxigenina, pode ser clinicamente importante, porque a cardioatividade da digoxigenina
aproximadamente 1/10 da digoxina. Na presena de ciclodextrinas, a hidrlise cida da
digoxina evitada na ordem que vai de - > - > -ciclodextrina, onde a -CD inibe a converso do digoxdeo a digoxigenina quase completamente. 60
Efeitos secundrios
Quando o princpio ativo est includo dentro da cavidade da ciclodextrina, se reduz a
possibilidade de seu contato direto com os componentes biolgicos e desta maneira os efeitos
secundrios.
Um dos grupos teraputicos mais amplamente estudados o dos antiinflamatrios no
esteroidais, devido a sua potente ao ulcerognica. Esta ao desfavorvel tem sido
amenizada atravs da formao de complexos de incluso em ciclodextrinas, como no caso do
naproxeno em -CD. 46
As ciclodextrinas tambm protegem os eritrcitos das mudanas morfolgicas
ocorridas com subseqente hemlise, induzidas por vrios frmacos perturbadores de
membrana. Esta reduo vai depender da quantidade de frmaco que se encontra na forma
livre e, portanto, depender da magnitude da constante de estabilidade do complexo.
Exemplos so os complexos de clorpromazina e cido flufenmico, onde a inibio da
hemlise se produz na seguinte ordem - > - > -ciclodextrina. Neste caso, a ao protetora das ciclodextrinas devida menor disponibilidade de unio do frmaco com as membranas
dos eritrcitos. 55
A pilocarpina usado topicamente para controle da presso intraocular elevada,
associada ao glaucoma, porm sua biodisponibilidade ocular baixa devido a perda rpida da
rea precorneal. Apesar da existncia de um pr-frmaco (dister do cido pilocrpico) que
apresenta melhor absoro ocular com prolongada durao de ao, foram observados
problemas de fortes irritaes oculares, impedindo assim seu uso clnico. Com o uso de
derivados de ciclodextrina, como a 2-hidroxipropil--ciclodextrina e sulfobutil--
-
Introduo
15
ciclodextrina, observou-se um decrscimo da irritao oftlmica deste pr-frmaco, com
nenhum decrscimo na sua ao teraputica. 61
Montassier et al., efetuaram estudos com a tretinona, substncia usada no tratamento
da acne, com caractersticas de forte poder de irritao cutnea, elevada instabilidade na
presena de oxignio, luz e calor, assim como baixa solubilidade em gua. A fim de melhorar
suas caractersticas, os autores propuseram a formao de complexos de incluso em
ciclodextrinas (-CD, hidroxi-propil--CD e dimetil--CD). 62
Toxicidade
Nos ltimos anos tm sido realizados numerosos estudos com o objetivo de avaliar a
toxicidade das ciclodextrinas, observando-se que a doses considerveis, podem interagir com
compostos endgenos, tais como os cidos biliares, fosfolipdeos de membranas e colesterol,
o que depende em grande parte, do tamanho da cavidade da molcula. 63, 64
Considerando que os efeitos aos danos celulares, so uma conseqncia da
complexao da ciclodextrina com componentes da parede celular, tais como colesterol e
fosfolipdeos, foi verificado que a -CD e particularmente seus derivados mais hidrofbicos, como a dimetil--CD, so consideradas as mais txicas. No entanto, a dimetil--CD apresenta alta capacidade de solubilizao, o que leva a sua utilizao em baixas dosagens, por exemplo
em gotas nasais, cuja toxicidade desaparece. A -CD, cuja toxicidade bastante baixa, pode ser usada atravs das vias parenteral e oral em altas dosagens, embora muitos de seus
complexos com frmacos apresentem uma solubilidade limitada. A hidroxipropil--CD (HP--CD), por sua vez, bastante solvel e apresenta boa capacidade de solubilizao, porm a solubilizao e transporte do colesterol para o interior do rim, poder gerar srias
conseqncias, em tratamentos por longos perodos de tempo. 65
-
Introduo
16
1.1.4 - Mtodos de obteno de complexos de Incluso.
Para a grande maioria dos substratos, as tcnicas de complexao utilizadas so
procedimentos simples e a escolha do mtodo experimental, depende fundamentalmente das
caractersticas do substrato que se est trabalhando e, se preparado em escala laboratorial ou
industrial.
Na bibliografia so descritos diversos mtodos de preparao dos complexos de
incluso, entre os que se pode destacar: 26, 66
Complexos em Soluo: Um mtodo bastante freqente atravs da dissoluo de
ambos, hspede e ciclodextrina em um solvente comum, temperatura ambiente ou atravs
do aquecimento, com agitao durante um tempo suficiente para garantia do estado de
equilbrio, geralmente de 24 a 48 horas. Para obteno do complexo, se faz ento a remoo
do solvente mediante evaporao, liofilizao, refrigerao ou spray-drying. A presena de
gua absolutamente necessria, pura ou em um sistema contendo solvente orgnico, onde
este ser utilizado para solubilizao da molcula hspede. So usados como cosolventes,
lcoois de cadeia curta como metanol, etanol, isopropanol ou em certos casos, a acetona.
Complexos em Suspenso: Neste caso, as ciclodextrinas no necessitam estar
completamente dissolvidas, agitando o hspede em uma suspenso aquosa de ciclodextrina, o
complexo formado em um intervalo de 2 a 24 horas em temperatura ambiente. Este
procedimento considerado o mais recomendado para processos em grande escala e tem sido
utilizado para complexao de leos essenciais, terpenos, aromas e fragncias lipoflicas. Um
exemplo a fendilina, leo viscoso de baixa solubilidade em gua. Pode formar um complexo
2:1 -ciclodextrina/fendilina, por adio de 30g desta base oleosa, dissolvidos em 100mL de etanol em uma suspenso de 300g de -ciclodextrina em 100 mL de gua, com uma agitao vigorosa no intervalo de 12 horas, onde se obtm o produto atravs de filtrao e secagem a
uma temperatura de 40oC.
Complexos por macerao: Consiste em misturar quantidades estequiomtricas do
substrato e ciclodextrina, com adio de uma pequena quantidade de gua ou soluo
hidroalcolica. A mistura ento macerada at que se evapore a fase lquida, formando-se
uma pasta que ir ser submetida a uma secagem at a eliminao total do solvente.
-
Introduo
17
Coprecipitao: Consiste na adio de um excesso de substncia ativa a uma soluo
saturada de ciclodextrina. Em alguns casos, este simples procedimento pode levar formao
do complexo de incluso, porm freqentemente recorre-se a mtodos adicionais como
agitao, ultrasom ou aquecimento da soluo para precipitao do produto final.
Liofilizao: Consiste no mtodo em soluo, onde se submete ao processo de
liofilizao, a soluo na qual substrato e ciclodextrina encontram-se em concentraes
estequiomtricas. Pode-se empregar algum solvente, com a finalidade de obter ambas as
substncias totalmente dissolvidas. As condies nas quais se procede a liofilizao, vai
influir de forma determinante nas caractersticas do produto final. Assim, por exemplo, a
velocidade de congelamento prvia liofilizao, condiciona a estrutura do complexo. Um
rpido congelamento na presena de nitrognio lquido, geralmente favorece a formao de
produtos amorfos, enquanto que um congelamento mais lento leva a produtos cristalinos.
1.1.5 - Complexao de Esterides
A interao entre esterides, entre os quais os hormnios, 67, 68 colesterol, 29, 69- 75
sais biliares 20, 76 e ciclodextrinas, tornou-se um assunto de grande interesse, devido a diversas
razes:
i) por um lado, a grande importncia dos esterides e por outro, a crescente utilizao
das ciclodextrinas em tecnologia farmacutica. Foram demonstrados em estudos in vivo, os
efeitos sobre o metabolismo dos sais biliares em animais submetidos a dietas especiais
contendo quantidades variadas de ciclodextrinas. 77, 78 Em seus estudos, Nakanishi et al. 79
demonstraram que as interaes entre sais biliares e a -CD influram na absoro do frmaco sulfametiazol administrado por via oral em forma de complexos de incluso.
ii) tm sido utilizadas colunas cromatogrficas com ciclodextrinas para separao de
epmeros de esterides, cuja soluo no pode ser conseguida mediante colunas tradicionais.80
A adio de ciclodextrinas fase mvel, tambm promove uma melhora da separao 81, 82 e a
combinao de ciclodextrinas/esterides (principalmente os sais biliares) est sendo utilizada
em procedimentos cromatogrficos e eletroforticos para separao quiral. 83, 84, 85 Por outro
lado, mtodos cromatogrficos esto sendo utilizados para determinao das constantes de
associao e estequiometria de hormnios esteroidais com ciclodextrinas. 86- 90
-
Introduo
18
iii) devido s caractersticas de bioadaptabilidade, os esterides com ciclodextrinas
podem ser administrados atravs de vrias vias.61, 91 Assim, derivados de ciclodextrinas
permitem a administrao oral de esterides 92 e promovem melhora de sua
biodisponibilidade.93 As ciclodextrinas tambm reduzem os efeitos secundrios dos
esterides94 e aumentam sua liberao.95, 96, 97 No caso de nebulizadores 98 e formulaes
sublinguais 99 tem sido sugerido como alternativa de tratamento aos esterides, o uso na forma
de complexos de incluso.
iv) as ciclodextrinas podem ser utilizadas para extrao do colesterol de monocamadas
de eritrcitos humanos. 100, 101 Por outro lado, o complexo ciclodextrina-colesterol tem sido
proposto como padro primrio para a anlise qumica.72
v) a interao esteride/ciclodextrina tem sido utilizada como modelo para os
processos de reconhecimento celular por parte das interaes esterideprotena. 24
vi) finalmente, o colato e o desoxicolato de sdio ao serem complexados por -CD, comportam-se como hspedes monotpicos e ditpicos, respectivamente. Esta diferena
originria da distinta polaridade existente entre os sais biliares tri- e dihidroxlicas. Esta
caracterstica tem sido utilizada para demonstrar a formao de conglomerados (oligmeros e
polmeros) supramoleculares. 18-21
Por sua importncia para o presente trabalho, cabe aqui mostrar as estruturas do colato
(NaC) e desoxicolato de sdio (NaDC), as quais podero servir como modelos aos demais sais
biliares. Na Figura 1.6, observa-se o colato de sdio/-CD com estequiometria 1:1, e o desoxicolato de sdio/-CD com 1:2. 17
Alguns dos hspedes, objetos de estudo da presente tese de doutorado (em particular,
fusidato de sdio, helvolato de potssio, CHAPS e CHAPSO, cujas propriedades esto
descritas no item 1.2), possuem dupla caracterstica. Por um lado, seu ncleo fundamental
constitudo pelo sistema estrutural tetracclico do perhidrociclopentanofenantreno, comum a
todos os esterides. Por outro, em soluo aquosa comportam-se como agentes tensoativos
(exceo ao helvolato de potssio), formando agregados conhecidos comumente por micelas.
Sendo os sais biliares, a famlia de compostos mais prxima aos sistemas estudados neste
trabalho de tese e sobre o qual existe maior informao na bibliografia cientfica a respeito de
-
Introduo
19
complexos de incluso em ciclodextrinas, cabe aqui apresentar uma reviso das caractersticas
fsico-qumicas destes compostos esteroidais.
Figura 1.6 - Estrutura dos complexos 1:1 NaC/-CD e 1:2 NaDC/-CD.
Os cidos biliares so produtos finais do metabolismo do colesterol e seus sais sdicos
so amplamente solveis em gua. Nos mamferos, os sais biliares possuem um hidrognio
em configurao 5, resultado da configurao cis apresentada pelos anis A e B. Os grupos funcionais substituintes no ncleo esteroidal ficam quase que exclusivamente limitados aos
grupos hidroxilas e a um cido carboxlico terminal presente no final da cadeia lateral
isopentanica. Possuem ainda, grupos metila nas posies C-10 e C13. Do mesmo modo,
esto presentes grupos hidroxila na posio C-3 (proveniente do colesterol) e outro grupo
hidroxila em C-7. Usualmente, est presente um terceiro grupo hidroxila, podendo encontrar-
se na posio C-12 ou C-6. A partir do fgado, os cidos biliares so excretados no intestino
delgado, onde durante o processo digestivo, iro solubilizar os cidos graxos provenientes da
dieta. Os cidos biliares so praticamente reabsorvidos a partir do intestino delgado, onde
O H
CH
3 (19)
OH
O H
C H 3 (18)
C O O -
C H 3 ( 2 1)
H3H5 H6
OH
OH
CH3 (18)
COO-
CH3 (21)
H3 H5H6
H3
H5H6
-
Introduo
20
atravs da circulao enteroheptica e sob ao de bactrias intestinais so biotransformados.
Exemplos tpicos dos cidos biliares so o cido clico e seu derivado 7-desoxi e o cido
desoxiclico, os quais esto presentes em muitas espcies de mamferos. 102
Os cidos biliares conjugados com os aminocidos glicina e taurina so mais solveis
ao pH do intestino delgado, resistentes precipitao por ons Ca2+ e impermeveis
membrana. Estas propriedades permitem que os cidos biliares conjugados estejam presentes
em elevadas concentraes na secreo biliar e no trato intestinal.
Os cidos biliares so estruturas anfiflicas planas, possuindo uma parte hidrfoba
(face , sem a presena de grupos hidroxila) e parte hidrfila (face , contendo os grupos hidroxila) (Figura 1.7). 103 Em gua se associam para formar multmeros acima de uma
concentrao denominada de concentrao micelar crtica (cmc). 104 Alguns autores
consideram que a ligao de hidrognio est envolvida na formao destes agregados 105, as
quais segundo outros autores, so as responsveis pela estrutura helicoidal.106 A ligao de
hidrognio tambm estaria participando da formao da estrutura cristalina dos cidos
biliares.107, 108 Na formao destas ligaes de hidrognio participam os grupos hidroxilas
pertencentes ao esqueleto esteroidal e o grupo carboxlico da cadeia lateral. Tais grupos
podem atuar como agentes doadores e/ou receptores da ligao de hidrognio.108
Dependendo do nmero de grupos hidroxila, os sais biliares so classificados em:
sais biliares trihidroxlicas: exemplo mais caracterstico o colato de sdio, que apresenta seus trs grupos OH nas posies 3, 7 e 12.
sais biliares dihidroxlicas: tem-se como exemplo o desoxicolato de sdio, cujos grupos -OH se encontram nas posies 3 e 12.
sais biliares monohidroxilados: o litocolato de sdio o mais abundante, apresentando o grupo OH na posio 3.
So pequenas as mudanas que ocorrem nas dimenses moleculares dos diferentes sais
biliares com a presena de um, dois ou trs grupos hidroxilas, constituindo assim uma famlia
de molculas de forma e tamanho praticamente idnticas. No entanto, estas pequenas
diferenas so refletidas na polaridade da molcula e expressas pelo balano hidrfilo-lipfilo
(BHL) existente entre as faces e . Assim, a existncia de vrios grupos polares na face
-
Introduo
21
vai refletir numa maior diferena de polaridade com relao . Portanto, o BHL dos sais biliares trihidroxlicos maior que o dos dihidroxlicos e estes por sua vez, maior que o dos
sais biliares monohidroxlicos. A amidao do grupo carboxlico com aminocidos como
glicina ou taurina tambm contribui com a polaridade, e assim os tauroderivados so mais
hidroflicos que os glicoderivados, os quais por sua vez so mais que os sais originais. 109
OH
OH
OH
COONa
AB
C D
face
face
eixo molecular
face regio polar
face regio apolar
OH
OH
OH
COONa
AB
C D
OH
OH
OH
COONa
AB
C D
face
face
OH
OH
OH
COONa
AB
C D
OH
OH
OH
COONa
AB
C D
face
face
eixo molecular
face regio polar
face regio apolar
eixo molecular
face regio polar
face regio apolar
OH
OH
OH
COONa
AB
C D
OH
OH
OH
COONa
AB
C D
OH
OH
OH
COONa
AB
C D
Figura 1.7 - Estrutura anfiflica dos cidos biliares.
Os sais biliares so molculas que por sua estrutura anfiflica apresentam um
comportamento de auto-associao, formando agregados em soluo aquosa. interessante
conhecer este comportamento a fim de predizer em que condies experimentais se
encontram, se sob a forma de ons livres (monmeros) ou de agregados. Este fato importante
nos processos de complexao dos sais biliares por ciclodextrinas, pois se tornam
simplificados quando predominam os monmeros em soluo. Deste modo, os sais biliares se
comportam como tensoativos, com tendncia a permanecer na superfcie do solvente
(interface gua-ar), a fim de reduzir as interaes desfavorveis existentes entre a parte
hidrofbica destas molculas e as da gua. Ao mesmo tempo, permitem que as fortes
interaes existentes entre as molculas de gua da superfcie sejam substitudas em parte, por
-
Introduo
22
interaes sal biliar-gua de natureza mais dbil, diminuindo assim a tenso superficial do
solvente. Esta propriedade foi utilizada nos estudos dos processos de incluso em
ciclodextrinas. 17 A formao de micelas em uma soluo de sais biliares ser espontnea
sempre que sua concentrao estiver acima de um valor mnimo de concentrao que se
denomina de cmc (concentrao micelar crtica) e a temperatura do sistema seja superior a um
determinado valor denominado de cmt (temperatura micelar crtica). Outros estudos
relacionados agregao de sais biliares esto sendo apresentados no Anexo A.
1.1.6 - Caracterizao dos complexos de incluso
No garantido, que um p obtido da mistura da ciclodextrina e algum substrato em
soluo, ou suspenso, ou como pasta, seja um verdadeiro complexo de incluso. Muitos
compostos no podem ser complexados, outros formam complexos de incluso em soluo,
mas no no estado slido. O produto slido final pode ser uma mistura de hspede e
hospedeiro, hspede no complexado e ciclodextrina hidratada.
Vrios mtodos tm sido usados para detectar a formao de complexos de incluso.
No estado slido, os compostos de incluso se comportam como espcies estveis, com
estequiometria bem definida. Nestes casos, os mtodos de deteco e caracterizao mais
comumente utilizados so a anlise trmica, difrao de raios-X, espectroscopia infra-
vermelho e ressonncia magntica nuclear. 1, 26, 31
O mtodo de anlise atravs da difrao de raios-X, pode ser empregado para a
deteco dos compostos de incluso, devido a que os padres de difrao dos complexos
obtidos so claramente diferentes dos obtidos a partir dos componentes individuais. O
emprego desta tcnica se baseia na comparao dos difratogramas das substncias puras e do
complexo. 26, 31
A calorimetria diferencial (DSC) e termogravimetria (TG) so mtodos trmicos, que
permitem observar claramente a existncia de um complexo de incluso. Quando uma
molcula se encontra dentro da cavidade da ciclodextrina, as modificaes ocasionadas pela
variao da temperatura (fuso, sublimao, degradao e inclusive mudanas de transio
-
Introduo
23
polimrfica), desaparecem ou no so observadas, at que se produza a degradao da
ciclodextrina (250300oC). 31
A espectroscopia infravermelho (IV), um mtodo indispensvel para a caracterizao
de compostos orgnicos, pois permite detectar grupos funcionais, cuja presena pode ser
difcil atravs de outros mtodos. Quando se forma o complexo, pequenos deslocamentos das
bandas das ciclodextrinas podero mascarar a do hspede, se este ltimo estiver presente em
pequenas quantidades. No entanto, se o hspede apresentar grupos funcionais caractersticos,
como no caso do grupo carbonila, a banda ser significativamente encoberta e deslocada aps
complexao por ciclodextrina. 31
A caracterizao de complexos em soluo, se baseia na investigao da interao
molecular entre a ciclodextrina e hspede, determinao da constante de estabilidade e
estequiometria do complexo. So utilizadas as determinaes relacionadas com mudanas
espectrais, como no caso da Ressonncia Magntica Nuclear (RMN), espectroscopia por
ultravioleta e fluorescncia, alm de estudos de solubilidade e mtodos cinticos. 1, 26, 31 A
espectroscopia de Ressonncia Magntica Nuclear (RMN), muito utilizada para a
caracterizao dos complexos de incluso, atravs da observao das mudanas que ocorrem
com os sinais de prton (1H) ou de carbono (13C) pertencentes na molcula da ciclodextrina
ou no hspede, ao estarem complexados. 110
As mudanas que ocorrem no espectro de UV, devido a formao do complexo, so
geralmente deslocamentos batocrmicos e/ou alargamento das bandas. O deslocamento do
mximo de absoro no UV, pelo efeito da formao do complexo pode ser explicado atravs
da proteo parcial dos eltrons excitveis e cromforos presentes na cavidade da
ciclodextrina. Quando a formao do complexo manifestada atravs de mudanas
significativas, com decrscimo da absorbncia, ao variar a concentrao de ciclodextrina e
mantendo-se constante a concentrao do hspede, pode-se determinar o valor da constante de
estabilidade com o uso da equao de Benesi-Hildebrand. 26, 110
A fluorescncia provocada pela absoro de energia radiante e reemisso de parte
desta energia sob a forma de luz. Na fluorescncia, a absoro e a emisso ocorrem dentro de
um intervalo de tempo curto, na ordem de 10-12 a 10-9 segundos. A fluorescncia de um
composto depende da estrutura molecular e na maioria das vezes est associada a sistemas .
-
Introduo
24
A adio de ciclodextrina a uma soluo aquosa, freqentemente vai resultar em uma melhora
significativa do espectro de fluorescncia. A mudana que ocorre com a adio de
ciclodextrina, semelhante observada quando o frmaco dissolvido em solventes menos
polares, tais como dioxano e etanol, sugerindo assim que este foi transferido de um ambiente
aquoso cavidade apolar da ciclodextrina. Portanto, um aumento na intensidade da
fluorescncia freqentemente observado para as molculas que so totalmente encapsuladas
dentro da cavidade da ciclodextrina. 26
As tcnicas por diagrama ou isoterma de solubilidade, mtodo cintico e RMN sero
abordados com mais detalhes no item 3.
1.1.7 - Equilbrio de formao do complexo de incluso e a constante de estabilidade
Um complexo de incluso em soluo est sempre em equilbrio termodinmico com
seus componentes livres, de acordo com a equao 1.1,
mH + nCD CDnHmKmn
(1.1) onde CD = ciclodextrina, H = hspede (substrato) e CDnHm ou Cnm = complexo de incluso.
Este equilbrio descrito quantitativamente mediante a constante de estabilidade (Kmn
ou Kc), definida de acordo com a equao 1.2,
[ ][ ] [ ]nm mnmn CDH
HCDK = (1.2)
Em solues diludas, a estequiometria 1:1 prevalece, mas tambm so observadas
estequiometrias 1:2, 2:1 ou 2:2, quando se tem concentraes mais elevadas ou hspedes
especficos. Por exemplo, pirenosulfonato de sdio forma complexos 1:1 de baixa estabilidade
na presena de -CD e 2:1 com -CD de elevada estabilidade em soluo aquosa. 26, 31
Os parmetros so significativamente afetados pelas condies experimentais tais
como diluio ou concentrao, mudanas na temperatura, pH e polaridade do solvente. Se
um terceiro componente adicionado ao sistema, vai competir pela cavidade da ciclodextrina
resultando em um decrscimo na concentrao original do complexo. 111 No caso de hspedes
-
Introduo
25
ionizveis, uma mudana do pH da soluo, vai deslocar o equilbrio em direo onde a forma
no ionizada predominantemente includa na cavidade. Isto devido a incluso favorvel do
hspede de natureza hidrofbica, comparado com o de natureza hidroflica. Assim,
substncias de carter cido so includas mais facilmente na cavidade da ciclodextrina em
uma regio cida, enquanto que se dissociam em uma regio alcalina. A fora inica tambm
exerce seu efeito na formao do complexo, porque o efeito hidrofbico tem um papel
importante no processo de interao. 55, 111
Considerando que a formao do complexo usualmente um processo exotrmico, a
dissociao ser facilitada pela elevao da temperatura. 111
O requisito para a complexao, que o grupo hidrofbico da molcula a ser includa
se ajuste total ou parcialmente na cavidade da ciclodextrina. No caso do complexo
prostaglandina (PG)-ciclodextrina (CD), a -CD devido a sua cavidade menor, inclui preferencialmente a cadeia aliftica da molcula da prostaglandina, enquanto que a -CD acomoda melhor o anel de 5 membros pertencente a estrutura. Por sua vez, a maior cavidade
da -CD, capaz de incluir a molcula da prostaglandina, de tal forma que, toda a estrutura incorpora-se na cavidade. 111
Portanto, uma vez conhecidos os parmetros tais como constante de estabilidade,
estequiometria e parmetros termodinmicos, o comportamento do sistema
quantitativamente reproduzvel, desde que o processo de complexao envolva o equilbrio
nas mesmas condies. 55
1.2 - Substncias de interesse para estudo dos complexos de incluso
1.2.1 - Furoato de diloxanida
O furoato de diloxanida (Furamida, FD), quimicamente o 2-furoato de 4-(N-
metildicloroacetamida) de fenila (Figura 1.8). No estado slido um p branco, inodoro e
com um ponto de fuso entre 114-116o C. ligeiramente solvel em gua, etanol (1g/100mL)
e clorofrmio (1g/2,5 mL). fotossensvel e deve ser protegido da luz. Seu efeito adverso
-
Introduo
26
mais comum durante o tratamento a flatulncia, podendo ocorrer ocasionalmente vmitos,
prurido e urticria. 112, 113
um amebicida da luz intestinal com atividade principalmente no intestino delgado e
utilizado no tratamento da amebase cstica assintomtica caracterizada pela presena de E.
histoltica. Em pacientes com amebase invasiva, faz-se necessrio sua administrao
associado amebicidas tissulares tais como o metronidazol e tinidazol. 112
OO
C
O
N
CH 3
CHCl 2
O
C
Figura 1.8 - Estrutura do furoato de diloxanida
Considerando a importncia apresentada pelo coeficiente de partio lipdeo/gua e a
unio dos frmacos aos lipdeos do sangue, Sengupta et al. determinaram o coeficiente de
partio n-octanol/gua (logP) para o furoato de diloxanida (FD), hidrocloreto de emetina
(HE) e metronidazol (MZ) e desenvolveram um mtodo que permitiu esclarecer o mecanismo
de ao do furoato de diloxanida. Estes autores consideraram que o elevado valor do
coeficiente de partio do furoato de diloxanida limita a molcula a permanecer na luz
intestinal. Sua unio aos fosfolipdeos da membrana dos oocistos provoca a desintegrao de
sua matriz lipdica, com conseqente ruptura e morte do microorganismo. 114
O elevado valor do coeficiente de partio, assim como a pouca solubilidade em gua,
permite explicar a aplicao do furoato de diloxanida na teraputica da amebase intestinal
aguda e a limitada ao na forma crnica ou invasiva desta enfermidade. 114, 115 O frmaco
uma vez dissolvido no trato gastrointestinal, susceptvel hidrlise formando a diloxanida,
cuja efetividade menor que sua forma ster, j que possui uma lipossolubilidade moderada.13
Nieto Reyes demonstrou em seus estudos biofarmacuticos, que o FD apresenta
melhora da velocidade de dissoluo e de solubilidade na presena de -CD em solues contendo suco gastrointestinal simulado (pH 1,2 e 6,8). Em estudos de estabilidade in situ,
verificou que a constante de velocidade de degradao do furoato de diloxanida foi
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Introduo
27
significativamente menor, demonstrando uma maior estabilidade do frmaco quando
complexado.12 Nos estudos in vivo, foi demonstrado que com o uso do complexo de
incluso FD/-CD, ocorreu uma diminuio significativa na intensidade da infeco em ratos neonatos com oocistos de Cryptosporidium parvum. 12, 116
Os problemas de solubilidade e instabilidade em gua apresentado pelo furoato de
diloxanida, limita a possibilidade do alcance deste no fluido intestinal, assim como uma
provvel eliminao do local onde deveria exercer seu efeito teraputico. Portanto, a -CD estaria protegendo o composto da ao das esterases presentes na poro do trato
gastrointestinal.
1.2.2 - Fusidato de sdio
O cido fusdico (cido 3, 11- dihidroxi-16-acetoxifusida-17(20)-[16-21-cis], 24-dien-21-ico (Figura 1.9) apresenta estrutura esteroidal e pertence ao grupo de antibiticos
fusidanos. 103 Apresenta baixa solubilidade em gua, em contraste com seu sal de sdio que
bastante solvel. Relacionado estruturalmente ao cido helvlico, inibe a sntese de protenas,
tanto em clulas procariticas como em eucariticas. 117, 118
Foi isolado a partir de culturas de Fusidium coccineum e sua atividade antimicrobiana
est indicada para a maioria dos patgenos mais comuns existentes na pele, incluindo
Staphylococcus aureus, contra o qual um dos antibiticos mais potentes. 119
HOOH
OCOMe
CO2-Na+1
2
34
30
19
10
5
6
7
9
8
32
11
1812
1314
1516
1720
22
23
24
25
26
27
21
3433 Figura 1.9 - Estrutura do fusidato de sdio
Quimicamente pertence ao grupo de triterpenos tetracclicos e como esteride da
famlia dos fusidanos, representam uma classe de compostos anfiflicos solveis, os quais
apresentam similaridade estrutural com os sais biliares. 120 Uma comparao da estrutura do
fusidato com o colato de sdio (NaC) por exemplo, mostra a semelhana estrutural, porm
-
Introduo
28
com uma estereoqumica diferente. A Figura 1.10 mostra a analogia existente entre o fusidato
(Fus) e o colato de sdio (NaC), em termos de frmula estrutural (a e b), modelo espacial (c e
d), e representao das molculas numa interface ar-gua ou leo-gua (e e f). H que se
destacar, que suas propriedades em soluo aquosa so comparveis aos dos sais biliares. o
caso da propriedade de solubilizao das solues de fusidato de sdio com lecitina e
monolena como micelas mistas, comparadas capacidade de solubilizao dos sais biliares
para estes mesmos lipdios. 121, 122
COO-
OCHOCH3
HOHOH OH
OH
COO-
OH
a b
e f
c d
COO-
OCHOCH3
HOHOH OH
OH
COO-
OH
a b
e f
c d
Figura 1.10 - ons fusidato e colato: a (Fus) e b (NaC), frmulas estruturais; c (Fus) e d (NaC