dissertação ciclodextrina

216
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS FÍSICAS E MATEMÁTICAS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA ESTUDOS DE FORMAÇÃO DE COMPLEXOS DE INCLUSÃO EM CICLODEXTRINAS ROSANE MARIA BUDAL Florianópolis/SC 2003

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CINCIAS FSICAS E MATEMTICAS

    CURSO DE PS-GRADUAO EM QUMICA

    ESTUDOS DE FORMAO DE COMPLEXOS DE INCLUSO EM CICLODEXTRINAS

    ROSANE MARIA BUDAL

    Florianpolis/SC

    2003

  • ROSANE MARIA BUDAL

    ESTUDOS DE FORMAO DE COMPLEXOS DE INCLUSO EM CICLODEXTRINAS

    Tese apresentada ao Curso de Ps-Graduao em Qumica da Universidade Federal de Santa Catarina, para obteno do grau de Doutor em Qumica Orgnica.

    Orientador: Prof. Dr. Rosendo A. Yunes (DQ- UFSC) Co-orientadoras: Profa Dra Maria da Graa Nascimento (DQ- UFSC) Profa Dra Aida Jover Ramos (DQF-USC/Espanha)

    Florianpolis/SC

    2003

  • ii

    ROSANE MARIA BUDAL

    ESTUDOS DE FORMAO DE COMPLEXOS DE INCLUSO EM CICLODEXTRINAS

    Esta tese foi julgada e aprovada para a obteno do ttulo de Doutor em Qumica no

    Programa de Ps-Graduao em Qumica da Universidade Federal de Santa Catarina.

    Florianpolis, 01 de dezembro de 2003.

    ____________________________________

    Prof. Faruk Jos Nome Aguilera Coordenador do Curso de Ps-Graduao

    BANCA EXAMINADORA

    __________________________________ Rosendo Augusto Yunes

    Orientador

    __________________________________ Maria da Graa Nascimento

    Co-orientadora

    __________________________________ Ademir Farias Morel

    __________________________________ Aura Echevarria Aznar

    __________________________________ Marcus Csar Mandolesi S

    __________________________________ Ricardo Jos Nunes

    __________________________________ Miguel Soriano Balparda Caro

  • iii

    Em especial aos meus queridos pais

    Jarcy (in memoriam) e Amlia, e minha

    querida filha Flvia, pelo amor, apoio,

    compreenso e incentivo.

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    A Deus, por Sua bondade e poder infinitos, dando sabedoria, coragem e serenidade

    para enfrentar os momentos difceis desta jornada.

    Aos professores Dr. Rosendo A. Yunes (orientador) e Dra Maria da Graa Nascimento

    (co-orientadora), pelas orientaes e valiosas sugestes prestadas durante todas as etapas

    deste trabalho. Pelo incentivo, apoio e amizade oferecidos durante todos estes anos.

    Ao Prof. Dr Jos Vzquez Tato, Diretor do Grupo de Investigao do Departamento

    de Qumica - Fsica da Universidade de Santiago de Compostela/Espanha, proporcionando a

    realizao deste trabalho junto a este grupo de pesquisa, dando apoio, sugestes, orientaes e

    amizade.

    Profa Dra Aida Jover Ramos (co-orientadora), pela amizade, apoio, colaborao e

    dedicao constantes durante todo o perodo e aps a realizao do trabalho na Universidade

    de Santiago de Compostela.

    Aos professores e colegas do Departamento de Qumica- Fsica/USC, Mercedes,

    Wajih, Meijide e Pedro.

    s companheiras cubanas Hayde e Minerva pela amizade e constantes palavras de

    estmulo.

    Aos professores pertencentes ao Departamento de Cincias Farmacuticas pelo

    incentivo, apoio e amizade.

    Aos professores e funcionrios do Curso de Ps-Graduao em Qumica da UFSC.

    Aos companheiros de laboratrio em geral, pela amizade e incentivo.

    Universidade Federal de Santa Catarina pelo apoio institucional.

    CAPES pela oportunidade e apoio financeiro.

    E a todos aqueles que direta ou indiretamente contriburam para a realizao deste

    trabalho.

  • v

    SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS_____________________________________________________ VII

    LISTA DE TABELAS ____________________________________________________XIII

    LISTA DE ESQUEMAS __________________________________________________ XV

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ____________________________________XVI

    RESUMO______________________________________________________________ XVII

    ABSTRACT __________________________________________________________ XVIII

    1 - INTRODUO _________________________________________________________ 1

    1.1 - CICLODEXTRINAS _____________________________________________________ 3 1.1.1 - Estrutura __________________________________________________________________ 3 1.1.2 - Complexos de incluso _______________________________________________________ 6 1.1.3 - Aplicaes das ciclodextrinas na rea farmacutica ________________________________ 8 1.1.4 - Mtodos de obteno de complexos de Incluso. __________________________________ 16 1.1.5 - Complexao de Esterides __________________________________________________ 17 1.1.6 - Caracterizao dos complexos de incluso_______________________________________ 22 1.1.7 - Equilbrio de formao do complexo de incluso e a constante de estabilidade __________ 24

    1.2 - SUBSTNCIAS DE INTERESSE PARA ESTUDO DOS COMPLEXOS DE INCLUSO ________ 25 1.2.1 - Furoato de diloxanida_______________________________________________________ 25 1.2.2 - Fusidato de sdio __________________________________________________________ 27 1.2.3 - Helvolato de potssio _______________________________________________________ 29 1.2.4 - CHAPS e CHAPSO _________________________________________________________ 31

    2 - JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS _______________________________________ 33

    3 - MTODOS E TCNICAS EXPERIMENTAIS _____________________________ 35

    3.1 - DIAGRAMA OU ISOTERMA DE SOLUBILIDADE _______________________________ 35

    3.2 - RESSONNCIA MAGNTICA NUCLEAR ____________________________________ 39 3.2.1 - RMN na determinao da estrutura do complexo__________________________________ 39 3.2.2 - Aplicaes da Ressonncia Magntica Nuclear no estudo de Processos de Incluso: estequiometria e constantes de associao. ____________________________________________ 41

    3.3 - MTODO CINTICO ___________________________________________________ 49

  • vi

    4 - PARTE EXPERIMENTAL ______________________________________________ 54

    4.1 - MTODOS DE AVALIAO DE FORMAO DO COMPLEXO FUROATO DE

    DILOXANIDA:-CD __________________________________________________ 55 4.2 - AVALIAO DE FORMAO DOS COMPLEXOS HELVOLATO DE POTSSIO, FUSIDATO

    DE SDIO, CHAPS E CHAPSO EM - E - CD POR RMN._____________________ 57 5 - RESULTADOS E DISCUSSO __________________________________________ 59

    5.1 - ESTUDO DO COMPLEXO DE INCLUSO FUROATO DE DILOXANIDA: -CD. _________ 59 5.1.1 - Diagrama ou Isoterma de Solubilidade _________________________________________ 59 5.1.2 - Mtodo Cintico ___________________________________________________________ 61 5.1.3 - Fluorescncia _____________________________________________________________ 70 5.1.4 - Ressonncia Magntica Nuclear_______________________________________________ 71

    5.2 - RESOLUO DOS ESPECTROS POR RMN DE 1H E 13C_________________________ 74 5.2.1 - Helvolato de potssio _______________________________________________________ 75 5.2.2 - Fusidato de sdio __________________________________________________________ 84 5.2.3 - CHAPS __________________________________________________________________ 94 5.2.4 - CHAPSO _________________________________________________________________ 98 5.2.5 - Espectros de RMN de - e -CD ______________________________________________ 103

    5.3 - ESTUDO DOS COMPLEXOS DE INCLUSO POR RMN _________________________ 106 5.3.1 - Complexos Fusidato de Sdio e Helvolato de Potssio : -CD_______________________ 107 5.3.2 - Complexos Fusidato de Sdio e Helvolato de Potssio : -CD ______________________ 114 5.3.3 - Complexos CHAPS e CHAPSO: -CD _________________________________________ 120 5.3.4 - Complexos CHAPS e CHAPSO:-CD _________________________________________ 127

    6 - CONCLUSES _______________________________________________________ 151

    7 - PERSPECTIVAS DE TRABALHO ______________________________________ 155

    REFERNCIA __________________________________________________________ 156

    ANEXOS _______________________________________________________________ 176

    ANEXO A - OUTROS ESTUDOS SOBRE AGREGAO DE SAIS BILIARES ____ 177

    ANEXO B CLCULO POR INTEGRAO DE REAS PARA AJUSTE DOS

    SINAIS EM RMN _________________________________________________ 182

    PRODUO CIENTFICA (PERODO AGO/1997-2003) _________________________ 196

  • vii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1.1 - Ciclodextrinas naturais _____________________________________________ 4

    Figura 1.2 - Representao esquemtica das ciclodextrinas. __________________________ 4

    Figura 1.3 - Estrutura e dimenses das ciclodextrinas. ______________________________ 4

    Figura 1.4 - Estrutura funcional da ciclodextrina_________________________________ 5 Figura 1.5 - Principais tipos de complexos de incluso ______________________________ 7

    Figura 1.6 - Estrutura dos complexos 1:1 NaC/-CD e 1:2 NaDC/-CD.______________ 19 Figura 1.7 - Estrutura anfiflica dos cidos biliares.________________________________ 21

    Figura 1.8 - Estrutura do furoato de diloxanida ___________________________________ 26

    Figura 1.9 - Estrutura do fusidato de sdio ______________________________________ 27

    Figura 1.10 - ons fusidato e colato: a (Fus) e b (NaC), frmulas estruturais; c (Fus) e d

    (NaC), modelos espaciais com posio dos grupos polares na cor vermelha;

    e (Fus) e f (NaC), interface ar-gua ou leo-gua. (Carey, 1971). __________ 28

    Figura 1.11 - Estrutura do helvolato de potssio.__________________________________ 29

    Figura 1.12 - Modelos espaciais da molcula de helvolato de potssio com todos os

    grupos polares direcionados face _________________________________ 30 Figura 1.13 - Estrutura do CHAPS (R=H) e CHAPSO (R=OH). _____________________ 31

    Figura 3.1 - Tipos de diagrama de solubilidade. __________________________________ 36

    Figura 3.2 - Espectro ROE do complexo cido 6-(p-toluidin) naftalen-2-sulfnico

    (TNS): -CD em D2O.____________________________________________ 40 Figura 3.3 - Representao esquemtica da formao dos complexos 1:1 e 2:1 para o

    sistema -CD: TNS, deduzido a partir do experimento ROESY. ___________ 41

  • viii

    Figura 3.4 - Sinais observados em RMN.________________________________________ 42

    Figura 3.5 - Variao do deslocamento qumico de um determinado ncleo da

    ciclodextrina em funo da frao complexada_________________________ 44

    Figura 3.6 - Representao de Job para um complexo 1:1 em funo da frao molar de

    ciclodextrina ou de hspede. _______________________________________ 45

    Figura 5.1 - Diagrama de solubilidade do furoato de diloxanida em -CD com valor de Kc= 427,4 M-1; So=1,35x10-4; r=0,9959. ______________________________ 60

    Figura 5.2 - Logartmo da constante de velocidade de primeira ordem em funo do pH

    para a hidrlise do furoato de diloxanida em gua, -CD e -CD sulfatada, 37oC. ________________________________________________________ 62

    Figura 5.3 - Variao da constante de velocidade de primeira ordem em funo de

    concentraes crescentes de -CD para a hidrlise do furoato de diloxanida (6,66x10- 5M) em pH 10,75, = 0,5 M (KCl), = 260 nm e 37oC; ko = 1,76 x 10-3 s-1. ______________________________________________________ 63

    Figura 5.4 - Variao da constante de velocidade de primeira ordem em funo de

    concentraes crescentes de -CD sulfatada para a hidrlise do furoato de diloxanida (6,66x10-5 M) em pH 10,0, = 0,5 M (KCl), = 260 nm e 37oC; ko = 3,16 x 10-4 s-1. _______________________________________________ 65

    Figura 5.5 - Espectros de UV para a reao de hidrlise do furoato de diloxanida por 7

    dias, a pH 7,0 e 37oC.___________________________________________ 66

    Figura 5.6 - Perfil de [-CD]/(ko - kobs) versus [-CD] para a hidrlise do furoato de diloxanida (6,66x10-5 M), pH= 10,75, = 0,5M (KCl), = 260nm 37oC. ___ 68

    Figura 5.7 - Espectros de Fluorescncia do furoato de diloxanida (3,0x10-5M e 0,2% de

    etanol) e -CD (1,2x10-2M); Ex = 338 nm. ___________________________ 70 Figura 5.8 - Espectro de 1H do furoato de diloxanida e -CD (4mM) em metanol/gua,

    300MHz. ______________________________________________________ 72

    Figura 5.9 - Espectro de 13C do furoato de diloxanida e -CD (10mM) em acetonitrila/gua, 75MHz. _________________________________________ 72

  • ix

    Figura 5.10 - Espectros de RMN de 1H, furoato de diloxanida (4mM) e -ciclodextrina (4mM) em propores 10:0, 8:2, 6:4, 4:6 e 2:8 em sistema CD3OD/D2O

    (50:50), 300MHz. _______________________________________________ 73

    Figura 5.11 - Espectros de RMN de 13C de -CD/FD (10mM) em sistema CD3CN/D2O (40:60), 75MHz. ________________________________________________ 74

    Figura 5.12 - Procedimento relativo ao assinalamento completo dos espectros de RMN. __ 75

    Figura 5.13 -Espectros monodimensionais do helvolato de potssio 10mM: (a) 13C; (b)

    DEPT 135; (c) DEPT 45; (d) DEPT 90; solues em D2O, 125 MHz._______ 76

    Figura 5.14 -Espectro de 1H-RMN do helvolato de potssio 10mM em D2O, 500MHz. ___ 77

    Figura 5.15 -Espectro de 1H-1H COSY do helvolato de potssio 10mM em D2O. ________ 79

    Figura 5.16 -Espectro parcial de 1H-1H COSY do helvolato de potssio 10mM em D2O. __ 80

    Figura 5.17 -Espectro de correlao 1H-13C do Helvolato de potssio 10mM em D2O. ____ 81

    Figura 5.18 -Espectro ROESY do complexo helvolato de potssio- -CD 10mM, em D2O, 500MHz. __________________________________________________ 82

    Figura 5.19 - Espectros monodimensionais do fusidato de sdio 10mM: (a) 13C; (b)

    DEPT 135; (c) DEPT 90; (d) DEPT 45, em D2O, 125 MHz. ______________ 85

    Figura 5.20 - Espectro de 1H-RMN do fusidato de sdio 10mM, em D2O, 500 MHz. _____ 86

    Figura 5.21 - Espectro de 1H-1H COSY do fusidato de sdio 10mM, em D2O. __________ 87

    Figura 5.22 - Espectro bidimensional COSY 1H-1H do fusidato de sdio 10mM, em

    D2O. __________________________________________________________ 88

    Figura 5.23 - Espectro de correlao 13C-1H do fusidato de sdio 10mM, em D2O. _______ 89

    Figura 5.24 - Espectro J-resolvida do fusidato de sdio 10mM, em D2O._______________ 91

    Figura 5.25 - Espectro Noesy 1H-1H do fusidato de sdio 10mM, em D2O. _____________ 92

    Figura 5.26 - Espectros monodimensionais do CHAPS 10mM: (a) DEPT 135; (b) DEPT

    90; (c) DEPT 45; (d) 13C, em D2O, 125 MHz.__________________________ 94

    Figura 5.27 - Espectro de 1H do CHAPS 10mM em D2O, 500 MHz. __________________ 95

    Figura 5.28 - Espectro bidimensional de 1H-1H COSY do CHAPS 10mM, em D2O.______ 97

  • x

    Figura 5.29 - Espectro parcial bidimensional 1H-1H COSY do CHAPS 10mM, em D2O. __ 97

    Figura 5.30 - Espectro de correlao 1H-13C do CHAPS 10 mM, em D2O.______________ 98

    Figura 5.31 - Espectro monodimensional de 1H do CHAPSO 10mM, em D2O, 500

    MHz. _________________________________________________________ 99

    Figura 5.32 - Espectro bidimensional 1H-1H COSY do CHAPSO 10mM, em D2O.______ 100

    Figura 5.33 - Espectro de correlao 13C-1H do CHAPSO 10mM, em D2O.____________ 102

    Figura 5.34 - Espectro de 1H-RMN da -CD em soluo (10mM), D2O, 300 MHz, com supresso do solvente. ___________________________________________ 105

    Figura 5.35 - Espectro de 13C da -CD em D2O, 75 MHz. _________________________ 105 Figura 5.36 - Curva de Job obtida com os deslocamentos qumicos dos carbonos da -

    CD para o complexo (a) helvolato:-CD e (b) fusidato:-CD; [helvolato/fusidato]o= [-CD]o= 10mM); 75 MHz. _____________________ 108

    Figura 5.37 - obs para diferentes tomos de carbono da -CD complexada com helvolato de potssio. [helvolato]o= [-CD]o= 10mM. __________________ 109

    Figura 5.38 - obs para diferentes tomos de carbono da -CD complexada com fusidato sdico . [fusidato]o= [-CD]o= 10mM. _______________________ 110

    Figura 5.39 - Espectro ROESY referente ao complexo de incluso helvolato: -CD em D2O 10mM, 500 MHz. __________________________________________ 113

    Figura 5.40 - Modelos espaciais tericos do complexo (helvolato)1 : (-CD)1, com vistas laterais (a) e (b) e frontais (c) e (d). _________________________________ 114

    Figura 5.41 - Curva de Job para os cinco carbonos de uma unidade de glicose de -CD para o complexo (a) helvolato: -CD e (b) fusidato: -CD. [helvolato/fusidato]o= [-CD]o= 10mM, 75 MHz. _____________________ 115

    Figura 5.42 - obs para diferentes tomos de carbono da -CD complexada com helvolato de potssio; (a) ajuste para complexo 1:1, (b) ajuste para

    complexo 1:2 __________________________________________________ 117

  • xi

    Figura 5.43 - obs para diferentes tomos de carbono da -CD complexada com fusidato de sdio; (a) ajuste para complexo 1:1, (b) ajuste para complexo 1:

    2. ___________________________________________________________ 117

    Figura 5.44 - Estruturas esquemticas para os complexos formados entre (a) fusidato de

    sdio e -CD; (b) helvolato de potssio e -CD; (c) helvolato de potssio e -CD; e (d) fusidato de sdio e -CD._______________________________ 120

    Figura 5.45 - Curva de Job obtida com os deslocamentos qumicos dos carbonos da -CD para o complexo (a) CHAPS:-CD e (b) CHAPSO:-CD. ([CHAPS]=[CHAPSO]=[-CD]=10mM; 75 MHz. _____________________ 121

    Figura 5.46 - obs para diferentes tomos de carbono da -CD complexada com (a) CHAPS e (b) CHAPSO. _________________________________________ 122

    Figura 5.47 - Espectro ROESY do complexo CHAPS:-CD, em D2O, 500MHz.________ 124 Figura 5.48 - Espectro ROESY do complexo CHAPSO:-CD, em D2O, 500 MHz.______ 124 Figura 5.49 - Representao espacial do complexo CHAPS:-CD.___________________ 126 Figura 5.50 - Representao espacial do complexo CHAPSO:-CD. _________________ 127 Figura 5.51 - Espectros de 13C com diferentes concentraes de (a) CHAPS ou (b)

    CHAPSO e -CD, na seguinte ordem: 10 mM -CD e 0 mM CHAPS, 7 mM -CD e 3 mM CHAPS, 5 mM -CD e 5 mM CHAPS, 1 mM -CD e 9 mM CHAPS; solues em D2O, pH natural (5,0-6,0), 75MHz. ___________ 130

    Figura 5.52 - Espectros de 1H com diferentes concentraes de (a) CHAPS e (b)

    CHAPSO com concentraes nos espectros em ordem decrescente de

    10mM, 5 mM e 2 mM; solues em D2O, pH natural (5,0-6,0), 300MHz. __ 131

    Figura 5.53 - Espectros de 1H sobrepostos de CHAPS 10 mM (vermelho) em soluo,

    com a -CD 10 mM (preto) (solues em D2O, pH natural; 500 MHz). ____ 132 Figura 5.54 - Espectros de 1H com diferentes concentraes de CHAPS e -CD: azul

    escuro: 1 mM -CD e 9 mM CHAPS; azul claro: 3 mM -CD e 7 mM CHAPS, verde: 5 mM -CD e 5 mM CHAPS; vermelho: 8 mM -CD e 2 mM CHAPS. Solues em D2O, pH 5-6 (natural da soluo), 500 MHz. ___ 133

  • xii

    Figura 5.55 - Espectros de 1H com diferentes concentraes de CHAPS 1mM e -CD 9mM (vermelho), CHAPS 5 mM e -CD 5 mM (verde), CHAPS 7 mM e -CD 3 mM (azul claro) e CHAPS 10 mM (azul escuro). Solues em D2O, pH natural (5,0-6,0), 500 MHz. Os smbolos L indicam

    hidrognios da substncia livre e C complexada. ____________________ 134

    Figura 5.56 - Espectros de 1H parciais sobrepostos de CHAPS 2 mM e -CD 8 mM (vermelho), CHAPS 5 mM e -CD 5 mM (azul escuro), CHAPS 7 mM e -CD 3 mM (azul claro) e CHAPS 8mM e -CD 2 mM (verde); solues em D2O, pH natural (5,0-6,0), 500 MHz. ____________________________ 134

    Figura 5.57 - Curvas de Job das reas dos hidrognios de CHAPS (a) 18, 25 e 12

    complexados, (b) 19 complexado e (c) 5 complexado da -CD; solues em D2O, pH natural, 500 MHz. ____________________________________ 137

    Figura 5.58 - Curvas de Job das reas dos hidrognios de CHAPSO (a) 18 e 25

    complexados, (b) 19 complexado e (c) 5 complexado da -CD; solues em D2O, pH natural, 500 MHz. ____________________________________ 137

    Figura 5.59 - ROESY de uma soluo 10 mM de -CD e 10mM de CHAPS (solues em D2O, pH natural ) 500 MHz. ___________________________________ 138

    Figura 5.60 - ROESY de uma soluo 10 mM de -CD e 10mM de CHAPSO (solues em D2O, pH natural); 500MHz.____________________________________ 139

    Figura 5.61 - Curvas experimentais e tericas da rea dos hidrognios do CHAPS (a) e

    CHAPSO (c) regio da cadeia lateral, CHAPS (b) e CHAPSO (d) regio

    do anel A; solues em D2O, pH natural. ____________________________ 143

    Figura 5.62 - Curvas experimentais e tericas da rea do hidrognio 5 da -CD complexada com (a) CHAPS e (b) CHAPSO; solues em D2O, pH natural

    (5,0-6,0). _____________________________________________________ 145

    Figura 5.63 - Formao de um complexo 1:2 de um hspede ditpico a partir de dois

    possveis complexos 1:1. _________________________________________ 146

    Figura 5.64 - Representao espacial do complexo CHAPS:-CD. __________________ 149 Figura 5.65 - Representao espacial do complexo CHAPSO: -CD. ________________ 150

  • xiii

    LISTA DE TABELAS Tabela 1.1 - Exemplos de alguns frmacos em forma de complexos de incluso. _________ 9

    Tabela 3.1 - Posio do mximo de Job para alguns complexos de incluso. ____________ 46

    Tabela 4.1 - Variveis utilizadas na Preparao das Solues para o Estudo de

    Complexao por RMN. __________________________________________ 58

    Tabela 5.1 - Dados de absorbncia e diferentes concentraes de furoato de diloxanida

    (FD) e de -CD para construo do diagrama de solubilidade; T= 37oC, pH 7,0, = 260 nm. _________________________________________________ 60

    Tabela 5.2 - Logartmo da constante de velocidade de primeira ordem em funo do pH

    para a reao de hidrlise do furoato de diloxanida em gua, -CD e -CD sulfatada; [FD]= 6,66x10-5 M; = 260 nm; T= 37 oC; = 0,5 M (KCl) ______ 61

    Tabela 5.3 - Constantes de velocidade de primeira ordem em funo da concentrao de

    -CD no estudo da reao de hidrlise do FD em pH 10,75 e 37oC. ________ 62 Tabela 5.4 - Constantes de velocidade de primeira ordem em funo da concentrao de

    -CD sulfatada no estudo da reao de hidrlise do FD em pH 10,0 e 37oC.__ 63 Tabela 5.5 - Perfil [-CD]/(ko kobs) vs [-CD] para estudo da reao de hidrlise do

    furoato de diloxanida a pH 10,75 e 37 o C. ____________________________ 67

    Tabela 5.6 -Deslocamentos qumicos dos espectros de 1H e 13C do helvolato de potssio

    10mM em D2O, pH 7,5.___________________________________________ 83

    Tabela 5.7 - Deslocamentos de 1H e 13C do Fusidato de sdio 10mM, em D2O. _________ 93

    Tabela 5.8 - Deslocamentos de 1H e 13C do CHAPS e CHAPSO 10mM, em D2O, pH 5-

    6. ___________________________________________________________ 103

    Tabela 5.9 - Valores de max obtidos para os tomos de carbono da -CD na complexao com fusidato de sdio e helvolato de potssio. _____________ 111

  • xiv

    Tabela 5.10 - Experimento ROE com as interaes entre os prtons (Pn) do helvolato ou

    fusidato e os prtons (Hn) das ciclodextrinas - ou -CD. _______________ 112 Tabela 5.11 - Valores de max obtidos para os tomos de carbono da -CD aps

    complexao com CHAPS e CHAPSO. _____________________________ 123

    Tabela 5.12 - Interaes observadas no ROESY (solues 10 mM de -CD e 10mM de CHAPS ou CHAPSO, em D2O, pH natural ) entre prtons (Pn) do CHAPS

    ou CHAPSO e prtons (Hn) da -CD._______________________________ 125 Tabela 5.13 - Relao entre as reas dos sinais das metilas nas posies 18 e 19 com a

    rea dos prtons situados na cadeia lateral do CHAPS (31 e 32) e

    CHAPSO (prton 12). ___________________________________________ 129

    Tabela 5.14 - Interaes observadas no espectro ROESY (soluo em D2O, pH natural,

    10 mM de -CD e 10 mM de CHAPS/CHAPSO), entre prtons (Pn) de CHAPS e CHAPSO e prtons (Hn) da -CD._________________________ 140

    Tabela 5.15 - -Resultados dos ajustes das reas de prtons do CHAPS e CHAPSO, no

    qual descreve um comportamento de complexo 1:1.____________________ 142

    Tabela 5.16 - Resultados dos ajustes das reas dos prtons do CHAPS e CHAPSO na

    qual descreve comportamento do pseudo-complexo 1:1. ________________ 145

  • xv

    LISTA DE ESQUEMAS

    Esquema 1.1 - Processo de absoro do complexo no trato gastrointestinal. ____________ 11

    Esquema 3.1 - Equilbrios slido-lquido para a formao de um complexo de incluso. __ 36

    Esquema 3.2 - Mecanismo cintico de hidrlise do furoato de diloxanida na presena e

    ausncia de ciclodextrina (CD) _____________________________________ 50

    Esquema 5.1 - Representao do mecanismo de catlise nucleoflica envolvendo o

    centro reativo do furoato de diloxanida e a -CDSO3Na. _________________ 64 Esquema 5.2 - Reao de hidrlise do furoato de diloxanida (FD) versus complexao. ___ 65

  • xvi

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    CD - ciclodextrina

    -CD - alfa ciclodextrina -CD - beta ciclodextrina -CD - gama ciclodextrina -CDSO3Na - beta ciclodextrina sulfatada FD - furoato de diloxanida

    1HRMN - Ressonncia Magntica Nuclear de 1H

    13CRMN - Ressonncia Magntica Nuclear de 13C

    COSY - Espectrometria bidimensional de correlao

    NOE - Nuclear Overhauser Effect

    ROE - Rotating-frame nuclear OverhauserEffect

    DEPT - Distortionless Enhancement by Polarization Transfer

    J - constante de acoplamento (Hz)

    - deslocamento qumico (ppm) obs - variao de deslocamento qumico observado max - variao mxima observada de deslocamento K11 / Kc - constante de estabilidade ou equilbrio de formao do

    complexo de incluso

    fCD / fC - fraes de ciclodextrina livre e complexada

    Cn / C11 / C12 - complexo de incluso 1:1 / 1:2

    RMCD / CD - relao ou frao molar de ciclodextrina CHAPS - 1-propanosulfonato de 3-[(3-colamidopropil)dimetilamnio]

    CHAPSO - hidroxi derivado de 1-propanosulfonato de 3-[(3- colamidopropil)dimetilamnio]

  • xvii

    RESUMO

    Ciclodextrinas so um grupo de oligossacardeos cclicos, os quais tm sido

    reconhecidos como excipientes farmacuticos de grande utilidade. Apresentam uma cavidade

    central hidrofbica, cuja estrutura permite formar complexos de incluso estveis. Neste

    trabalho, foram utilizados mtodos de solubilidade e cintico para estudo do complexo de

    incluso furoato de diloxanida/-ciclodextrina, bem como as tcnicas de RMN e de fluorescncia. Estudos cinticos e de solubilidade demonstraram estequiometria 1:1 para o

    complexo FD/-CD. Os estudos de complexao dos antibiticos, fusidato de sdio e helvolato de potssio, bem como dos compostos 1-propanosulfonato de 3-[(3-

    colamidopropil)dimetilamnio] (CHAPS) e seu hidroxi-derivado (CHAPSO) com as - e -CD foram feitos por tcnicas de RMN de 1H e 13C (mono e bidimensionais). Estes hspedes

    com estruturas esteroidais em comum, formaram complexos 1:1 com a -CD. Na presena de -CD, fusidato de sdio e helvolato de potssio formaram complexos 1:1 e 1:2, enquanto que com CHAPS ou CHAPSO ocorreu formao de dois complexos 1:1 distintos em soluo.

    Ambos os antibiticos fusidato de sdio e helvolato de potssio, comportaram-se como

    hspedes monotpicos e ditpicos quando complexados com - e -CD, respectivamente. CHAPS e CHAPSO na presena de - e -CD, demonstraram comportamentos diferenciados de intercmbio do hspede em relao escala de tempo de RMN. Assim, com a -CD verificou-se um intercmbio rpido enquanto que com a -CD foi lento. Foram apresentados e analisados os espectros ROESY, os quais permitiram definir as interaes existentes entre as

    molculas hspedes e as ciclodextrinas. No caso dos quatro compostos esteroidais, as

    constantes de equilbrio foram discutidas em termos das estruturas propostas para os

    complexos. Foram revisados os espectros de RMN do fusidato de sdio e apresentados os

    assinalamentos completos do helvolato de potssio, CHAPS e CHAPSO, atravs dos

    espectros de RMN de 1H e 13C.

  • xviii

    ABSTRACT

    Cyclodextrins are a group of cyclic oligosaccharides which have recently been

    recognized as useful pharmaceutical excipients. They present an hydrophobic central cavity

    whose structure allows the formation of stable inclusion complex. In this work, solubility and

    kinetic methods, as well NMR and fluorescence techniques were used for studying the

    inclusion complex of diloxanide furoate / -cyclodextrin. Kinetics and solubilities studies showed stoichiometry 1:1 for the FD/-CD complex. The complexation studies of two steroid antibiotics, sodium fusidate and potassium helvolate, as well as the compounds 3-[(3-

    cholamidopropyl)dimethylammonio]-1-propanesulphonate (CHAPS) and its hydroxy

    derivative (CHAPSO) by - and -CD were by 13C and 1H NMR techniques (mono and bidimensional). These guests with steroid structures in common, formed 1:1 complexes by -CD. In the presence of -CD, sodium fusidate and potassium helvolate formed 1:1 and 1:2 complexes, while with CHAPS and CHAPSO were through two distinct 1:1 complexes in

    solution. Both the antibiotics, sodium fusidate and potassium helvolate, behaved as monotopic

    and ditopic guests when they complexed by - and -CD, respectively. CHAPS and CHAPSO showed different behaviors of interchange guest in relation to NMR time scale to both - and -CD. Therefore, with -CD a fast interchange was observed while by -CD it was slow. The ROESY spectra were also presented and analysed, which permited to define the interactions

    between the guests and cyclodextrins. The obtained equilibrium constants were discussed in

    terms of the proposed structures for the complexes to the four steroid compounds. NMR

    spectra of sodium fusidate were revised, and a full assignment of the 1H and 13C NMR spectra

    was presented for potassium helvolate, CHAPS and CHAPSO.

  • 1 - INTRODUO

    A procura por novos excipientes e tecnologias, tem levado a indstria farmacutica e a

    comunidade cientfica pesquisa por novas formulaes que resultem em preparaes mais

    estveis e melhoras teraputicas. As ciclodextrinas na forma de complexos de incluso tm

    sido um dos principais recursos empregados dentro da rea farmacutica nestes ltimos anos.

    Sua conformao espacial em forma de cone, com caractersticas hidroflicas em sua parte

    externa e cavidade interna relativamente apolar, permite a formao de complexos de incluso

    com vrias molculas. Na rea farmacutica, o encapsulamento molecular de princpios ativos

    sem dvida a aplicao das ciclodextrinas que mais tem sido explorada. Muitos trabalhos

    tm demonstrado as diversas aplicaes em termos de modificao das caractersticas fsico-

    qumicas intrnsecas das molculas hspedes, no que se refere solubilidade, estabilidade,

    biodisponibilidade, proteo contra a oxidao, reduo, racemizao, isomerizao,

    polimerizao, hidrlise e/ou decomposio do princpio ativo, assim como converso de

    substncias lquidas em microcristalinas, reduo das irritaes gastrointestinais ou oculares e

    outros efeitos secundrios, alm da preveno a uma decomposio enzimtica.1- 4

    Apesar da importncia da utilizao das ciclodextrinas em tecnologia farmacutica,

    escasso o conhecimento das vantagens quanto utilizao destes complexos moleculares.

    normal observar dentro da classe mdica, o desconhecimento das melhorias nas propriedades

    fsico-qumicas destes complexos, como o caso dos antiinflamatrios no esteroidais,

    Brexin e Cicladol (complexos de piroxicam com -ciclodextrina), comparados ao princpio ativo piroxicam (Feldene). Inmeros trabalhos demonstram os benefcios na complexao do piroxicam por -ciclodextrina, podendo-se citar melhora da hidrosolubilidade, biodisponibilidade e reduo dos efeitos irritantes sobre a mucosa

    gastrointestinal.5-11

    Dentro deste contexto, cabe ressaltar que os princpios ativos indicados como objetos

    de anlise desta tese de doutorado, apresentam caractersticas peculiares que os colocam como

  • Introduo

    2

    sistemas apropriados ao estudo de complexao em ciclodextrinas, em concordncia aos

    objetivos deste trabalho. Entre estas, destacam-se:

    i) Os problemas de solubilidade e instabilidade em gua apresentados pelo furoato de

    diloxanida, o que limita a possibilidade do alcance deste no fluido intestinal e provvel

    eliminao do local onde deveria exercer seu efeito teraputico. 12, 13

    ii) Efeitos secundrios apresentados pelo cido fusdico, relacionados com transtornos

    do trato gastrointestinal. 14

    iii) Efeitos txicos apresentados pelo cido helvlico no retardamento do crescimento

    de gramneas,15 assim como a ao inibitria do epitlio ciliar respiratrio humano.16

    iv) Os sais biliares triidroxlicos e dihidroxlicos ao serem complexados por -CD, comportam-se como hspedes monotpicos e ditpicos, respectivamente.17 Esta caracterstica

    tem sido utilizada para demonstrar a formao de conglomerados supramoleculares.18-21 Estes

    estudos sugerem a busca por novos hspedes ditpicos, a fim de obter-se complexos com a -CD mais estveis que com os sais biliares. Os possveis efeitos estricos oriundos da presena

    da primeira molcula de -CD devem ser minimizados para que favorea a complexao por parte da segunda -CD. Estes fatores estricos impostos pela estrutura espacial de ambas as molculas de ciclodextrina contribuem negativamente na formao destes complexos. A

    preveno a estes efeitos estricos definidos por Connors et al. 22, 23 atravs de parmetros de

    cooperao, podem ser obtidos atravs da utilizao de hspedes esterides, cujos anis C e D

    apresentem um baixo grau de incluso e os anis A e B (segunda posio da complexao),

    estejam suficientemente livres para serem complexados pela segunda ciclodextrina. Esta

    condio pode ser alcanada com os esterides cidos fusdico e helvlico, cujas cadeias

    laterais rgidas e hidrofbicas, permitem o livre acesso complexao por parte da segunda

    molcula de ciclodextrina. Do mesmo modo, aplicvel s molculas CHAPS e CHAPSO,

    por possurem cadeias laterais alongadas em relao aos sais biliares. Cabe enfatizar que a

    cooperatividade um processo de relevncia nas interaes moleculares frmaco-protena, o

    que justificaria o uso destes sistemas como modelos para os processos de reconhecimento

    molecular.24

  • Introduo

    3

    v) As caractersticas estruturais apresentadas pelos quatro esterides e cujas estruturas

    esto apresentadas no item 1.2 p.25 (cidos fusdico e helvlico, CHAPS e CHAPSO),

    permitem classific-los como timos sistemas para realizao de uma anlise global dos

    deslocamentos qumicos dos sinais de RMN de 1H e 13C. Sabe-se que a RMN uma tcnica

    instrumental bastante utilizada para a determinao da estrutura, estequiometria e constante de

    equilbrio de formao dos complexos de incluso. No entanto, as publicaes existentes

    mostram uma srie de deficincias relacionadas anlise dos dados experimentais. Nestes

    casos, a anlise fica centrada unicamente em um nico sinal (prton ou carbono) ou quando

    em mais de um feita de maneira independente, o que conduz muitas vezes a valores

    inconsistentes. Em se tratando de estequiometrias mltiplas, como no caso de hspedes

    ditpicos, a anlise individual no permite a determinao de mais de uma constante de

    equilbrio envolvida em um nico processo de complexao.

    O presente trabalho vem contribuir com o estudo dos complexos de incluso de

    substncias de interesse em ciclodextrinas, atravs da anlise destes quanto estequiometria,

    estrutura e constante de formao de equilbrio, utilizando as tcnicas de RMN de 1H e 13C

    (mono e bidimensionais), bem como atravs de mtodos cintico e de solubilidade.

    1.1 - Ciclodextrinas

    1.1.1 - Estrutura

    As ciclodextrinas so um grupo de molculas naturais cclicas constitudas por

    unidades de glicopiranose unidas por ligaes (1,4). Estes oligossacardeos so obtidos por degradao enzimtica do amido sob ao da enzima glicosiltransferase (CGT amilase do

    Bacillus macerans), que produz uma reao intramolecular sem a participao de uma

    molcula de gua. Foram descobertas em 1891 por Villiers e os primeiros detalhes de sua

    preparao foram descritos por Schardinger em 1903. 25

    As ciclodextrinas naturais so macromolculas contendo um nmero de unidades de

    glicose compreendidas entre 6 e 8, denominando-se respectivamente, -, - e -CD (Figura 1.1). A Figura 1.2 apresenta a representao esquemtica das ciclodextrinas mais usuais.

  • Introduo

    4

    O

    H

    H

    HO

    H

    O

    OHH

    H

    OH

    O

    H

    H

    HO

    H

    HO

    H

    H

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    O

    O

    H

    H OH

    HO

    HO

    H

    H

    OHO

    H

    H

    OH

    H

    O

    HOH

    H

    HO

    O

    H

    H

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    H

    OH

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    H

    HO

    O

    O

    H

    HHO

    HO

    OH

    H

    H

    HO

    O

    H

    H

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    OH

    H

    H

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    HO

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    HO

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    OOHH

    H

    HO

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    H

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    H

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    H

    H OHO

    H

    H

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    H

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    H

    H

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    H

    O

    OH

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    H

    HO

    O

    H H

    HO

    HOH

    H

    H

    HO

    O

    OH

    HHO

    H

    OOH

    H

    HHO

    -CD -CD -CD

    O

    H

    H

    HO

    H

    O

    OHH

    H

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    H

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    HO

    H

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    O

    O

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    H OH

    HO

    HO

    H

    H

    OHO

    H

    H

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    H

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    H

    H

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    OH

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    H

    HO

    O

    O

    H

    HHO

    HO

    OH

    H

    H

    HO

    O

    H

    H

    HOH

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    H

    H

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    H

    H

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    H

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    H

    H

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    HOH

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    H

    HO

    H

    OOHH

    H

    HO

    O

    H

    H OH

    H

    OHO

    H

    H

    OH

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    H

    O

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    OHH

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    H

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    OH

    HHO

    H

    H

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    O

    OH

    HOH

    H

    OHO

    H

    H OHO

    H

    H

    OH

    H

    O

    HOH

    H

    HO

    O

    H

    H

    OH

    H

    O

    OH

    H

    H

    HO

    O

    H H

    HO

    HOH

    H

    H

    HO

    O

    OH

    HHO

    H

    OOH

    H

    HHO

    -CD -CD -CD

    Figura 1.1 - Ciclodextrinas naturais

    Figura 1.2 - Representao esquemtica das ciclodextrinas.

    Mediante difrao de raios X, se determinou que as ciclodextrinas possuem uma

    estrutura cnica truncada (Figura 1.3).

    Figura 1.3 - Estrutura e dimenses das ciclodextrinas.

  • Introduo

    5

    As unidades de glicopiranose esto unidas em conformao 1-4 glicosdica, estando todos os grupos OH secundrios situados na parte mais larga, enquanto que os grupos OH

    primrios na parte mais estreita (Figura 1.4). O interior da cavidade est constitudo por

    hidrognios H3, H5 e H6 e oxignios glicosdicos. Os pares de eltrons no-ligantes destes

    oxignios pertencentes a ligao glicosdica, se encontram orientados em direo ao interior

    da cavidade, o que origina uma alta densidade eletrnica, deixando a molcula com

    caractersticas de base de Lewis.

    Figura 1.4 - Estrutura funcional da ciclodextrina

    Os grupos hidroxilas secundrios OH(2) e OH(3) esto em posio equatorial, porm

    com o OH(2) apontando para o interior e o OH(3) para o exterior da cavidade, bem como a

    hidroxila primria OH(6). Isto faz com que exista o dobro de grupos OH voltados para fora do

    que para dentro da cavidade, o que leva a um momento dipolar da molcula relativamente

    grande.26 Devido distribuio dos grupos funcionais que formam a ciclodextrina, a parte

    externa adquire carter hidroflico e a interna hidrfoba ou de natureza apolar. O grupo

    OH(C2) de uma unidade de glicopiranose pode formar pontes de hidrognio com o OH(C3)

    da unidade adjacente. No caso da -ciclodextrina, estas ligaes formam um cinturo secundrio completo, o que lhe confere uma estrutura bastante rgida. Esta uma possvel

    explicao da menor solubilidade da -ciclodextrina com relao as restantes. No caso da -ciclodextrina, o cinturo formado a partir das ligaes de pontes de hidrognio no

    completo, pois uma das molculas das unidades de glicopiranose est em uma posio

    distorcida, de maneira que, somente quatro das seis possveis unies atravs de pontes de

    hidrognio podem ser estabelecidas. No caso da -ciclodextrina, esta possui uma estrutura no coplanar, o que a torna mais flexvel e portanto a mais solvel das trs. 26

    1

    2 345

    6

    HOO

    H

    H

    HOH

    HO

    OHH

    H

    OH

    123

    4 56

    1

    2 345

    6

    HOO

    H

    H

    HOH

    HO

    OHH

    H

    OH

    123

    4 56

    HOO

    H

    H

    HOH

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    H

    OH

    HOO

    H

    H

    HOH

    HO

    OHH

    H

    OH

    123

    4 56

  • Introduo

    6

    1.1.2 - Complexos de incluso

    Devido a sua cavidade hidrofbica, na qual substratos podem ser aprisionados para

    formarem complexos de incluso, as ciclodextrinas podem hospedar distintos compostos, cuja

    estequiometria mais usual 1:1. A qumica do fenmeno de incluso molecular demonstra um

    sistema de complexidade estrutural dentro da qumica supramolecular, onde a ciclodextrina

    o hospedeiro (em ingls, host) e o substrato o hspede (em ingls, guest), os quais se

    mantm juntos principalmente atravs de foras de Van der Waals, interaes hidrofbicas e

    pontes de hidrognio.26, 27 A formao do complexo de incluso facilita em alguns casos, a

    solubilizao de substncias pouco solveis e em outros, precipita algum componente em

    soluo ou suspenso. No primeiro caso tem-se como exemplo a solubilizao do

    naproxeno,28 j a formao do complexo colesterol--CD, 29 conduz uma precipitao em soluo aquosa, caracterstica que tem sido utilizada para extrao do colesterol em alimentos.

    Esta caracterstica peculiar de formao de complexos de incluso estveis, tem levado a

    diversas aplicaes, como por exemplo na indstria de alimentos, farmacutica, cosmtica,

    biotecnologia, qumica analtica, agricultura e tecnologia ambiental. 26, 30, 31 Em soluo, a

    molcula hspede vai estar localizada, inteira ou parcialmente, dentro da cavidade da

    ciclodextrina, estando o complexo solvatado ou rodeado por molculas do solvente,

    geralmente a gua. No estado cristalino, a molcula hspede pode estar localizada, no

    somente dentro da cavidade da ciclodextrina, mas tambm nos espaos intersticiais formados

    pela rede cristalina do complexo. As molculas includas normalmente ficam orientadas de

    modo que se alcance o mximo contato entre a parte hidrofbica da molcula hspede e a

    cavidade da ciclodextrina de natureza apolar. 26

    Quando em uma soluo aquosa de ciclodextrina se adiciona um composto menos

    polar que a gua, tendo ambos forma e dimenso compatveis, as molculas de gua que

    preenchem a cavidade da ciclodextrina, estando em um estado energeticamente menos

    favorvel, so substitudas pela nova molcula. A cavidade central da ciclodextrina vai atuar

    ento como uma molcula hospedeira, podendo alojar uma molcula hspede total ou

    parcialmente, caso haja compatibilidade para formar o complexo de incluso. 26

  • Introduo

    7

    As ciclodextrinas formam complexos de incluso com substncias que possuem

    tamanho, polaridade e forma geomtrica compatveis com a dimenso de sua cavidade.

    Alternativas para a formao de complexos com molculas significativamente maiores que

    sua cavidade, podero ser atravs de uma interao parcial do hspede ou mediante a

    formao de complexos ciclodextrina-hspede de estequiometria diferente de 1:1. Conforme

    Figura 1.5, os complexos de incluso so classificados em: 32

    Figura 1.5 - Principais tipos de complexos de incluso

    Completa: quando a molcula hspede de tamanho pequeno e entra totalmente na cavidade da ciclodextrina (Figura 1.5 a).

    Parcial: quando a molcula somente entra parcialmente na cavidade da ciclodextrina (Figura 1.5 c).

    Axial: quando a molcula hspede de tamanho longo e estreito e se estende atravs do eixo mediano da ciclodextrina (Figura 1.5 b).

    Tipo sandwich: quando a molcula hspede muito grande e necessita de duas molculas de ciclodextrina para formar o complexo (Figura 1.5 d).

    Complexos de estequiometria superior: so exemplificados pela incluso 1: 2, onde duas molculas hspede interagem com uma ciclodextrina (Figura 1.5 e) ou duas molculas

    hspedes para duas ciclodextrinas (Figura 1.5 f).

    Outros compostos formam complexos de ordem superior, podendo-se mencionar:

    rotaxanos e polirrotaxanos, 33 catenanos, 34 estruturas tubulares, 35 teres coroas,36 polmeros

    supramoleculares de incluso, 19, 20 dendrmeros, etc. 18, 37

  • Introduo

    8

    1.1.3 - Aplicaes das ciclodextrinas na rea farmacutica

    Nos ltimos anos tm havido um grande interesse na melhoria da qualidade das

    formulaes farmacuticas. A pesquisa de formulaes que melhorem a eficcia de novos

    princpios ativos, assim como de alguns frmacos j conhecidos, tm levado aplicao de

    complexos de incluso em ciclodextrinas. A razo para o crescimento do nmero de

    publicaes e patentes dentro da rea farmacutica tambm se deve ao custo bastante baixo na

    obteno das -, - e -ciclodextrinas. O tamanho favorvel do dimetro interno da cavidade das ciclodextrinas permite a formao de complexos de incluso com a maioria dos frmacos,

    cuja melhoria das suas propriedades fsico-qumicas 26, 31, 38 esto expressas pelas seguintes

    vantagens:

    compostos lquidos transformados em formas cristalinas slidas eliminao de incompatibilidades entre o princpio ativo e os outros constituintes da

    formulao

    estabilidade qumica e/ou fsica aumento da velocidade de dissoluo e biodisponibilidade melhora da solubilidade de frmacos pouco solveis reduo dos efeitos secundrios eliminao de maus odores e sabores reduo da volatilidade de certos princpios ativos

    Algumas das aplicaes mais freqentes na rea farmacutica so apresentados na

    Tabela 1.1.

  • Introduo

    9

    Tabela 1.1 - Exemplos de alguns frmacos em forma de complexos de incluso.

    Propriedade Princpio ativo ciclodextrina referncias

    Aumento da solubilidade

    Gliclazide

    Glibornuride

    Albendazol

    Mebendazol

    -CD , e -CD , e -CD e HP--CD , e -CD e HP--CD

    39

    40

    41

    42

    Melhora da

    biodisponibilidade

    Naproxeno

    Ketoprofeno

    -CD -CD HP--CD

    43

    44

    Diminuio de efeitos

    secundrios

    Piroxicam

    Naproxeno

    Pilocarpina

    -CD -CD HP--CD DM--CD

    45

    46

    47

    Inibio da degradao

    Melfalano e carmustina

    Prostaciclina

    Indometacina

    Doxorubicina

    Aspirina

    SBE--CD e HP--CD , e -CD -CD, HP--CD e -CD HP--CD, HP--CD e CD HP--CD

    48

    49

    50

    51

    52

    Aumento da degradao

    Espironolactona

    Antibiticos lactmicos - , -CD e derivados DM-CD, HP-CD e HP-CD

    53

    54

    As ciclodextrinas podem ser administradas a seres humanos ou animais, fazendo parte

    de medicamentos ou alimentos, seja na forma livre ou como complexos de incluso. Se a

    ciclodextrina administrada por via oral, fazendo parte do complexo, ocorre sua dissociao

    no trato gastrointestinal, sendo processos separados, a absoro da molcula hspede e da

    ciclodextrina. Estas por sua vez, so degradadas a acares absorvveis no clon intestinal

    pela microflora, e finalmente excretadas como dixido de carbono e gua. 31

    Biodisponibilidade

    O termo biodisponibilidade definido atravs do grau e da velocidade de absoro de

    um frmaco a partir de sua forma farmacutica para dentro da circulao sangnea. De

    acordo com esta definio, a absoro de um frmaco administrado atravs da via intravenosa

  • Introduo

    10

    rpida e completa. No entanto, por razes de convenincia e estabilidade, muitos frmacos

    so administrados por via oral, e portanto o grau e a velocidade de absoro no so

    precisamente conhecidos. 55

    H vrios fatores fsico-qumicos que podem afetar a biodisponibilidade total de um

    frmaco. Entre eles, cita-se a solubilidade, estabilidade, tamanho da partcula, pKa, pH e

    coeficiente de partio. 55

    Quando um frmaco administrado por via oral em uma forma farmacutica slida,

    indispensvel que ocorra sua solubilizao nos fluidos biolgicos, como passo inicial a etapa

    de absoro. Se a velocidade de dissoluo (kd) bastante alta, com relao a velocidade de

    absoro (ka), no se recomenda o uso de complexos de incluso, j que a biodisponibilidade

    deste princpio ativo no ser limitada pelo processo de dissoluo. No entanto, um grande

    nmero de frmacos apresentam baixa biodisponibilidade, precisamente por apresentarem

    problemas de solubilidade (kd

  • Introduo

    11

    [CD-frmaco]slido [CD-frmaco]dissolvido

    CD+ frmacoabsoro

    kd

    Kc

    ka

    Esquema 1.1 - Processo de absoro do complexo no trato gastrointestinal.

    Portanto, esperada uma rpida absoro do frmaco, se o valor da constante de

    estabilidade do complexo for baixa. Com complexos muito estveis, ou valores da constante

    de estabilidade ou formao do complexo muito elevados, a concentrao do frmaco livre

    absorvido baixa e, nestes casos esta a etapa limitante de velocidade. 31

    A velocidade de absoro de frmacos pode assim ser acelerada ou diminuda atravs

    da avaliao prvia do valor da constante de equilbrio do complexo. Complexos com baixos

    valores da constante de estabilidade (inferiores a 200 M-1), conduzem a uma liberao rpida

    e prematura do princpio ativo, podendo ocasionar sua precipitao no fluido biolgico, o que

    ir diminuir sua absoro. Por outro lado, se os valores da constante so superiores a 5000M-1

    ou existe uma concentrao excessiva de ciclodextrina, o equilbrio vai ser deslocado em

    direo a formao do complexo de incluso, diminuindo assim a liberao da forma livre do

    frmaco e conseqentemente sua absoro. 26, 31

    Solubilidade

    Em geral, supe-se que a formao de complexos de incluso em ciclodextrinas, leva

    ao aumento da solubilidade e da velocidade de dissoluo de princpios ativos lipoflicos, o

    que pode refletir em um aumento de sua biodisponibilidade ou em diminuio de seus efeitos

    secundrios. 2, 43, 46, 47

    Geralmente, a solubilidade de um frmaco aumenta com a quantidade de ciclodextrina

    adicionada. O aumento da solubilidade parece estar relacionado com a solubilidade intrnseca

  • Introduo

    12

    do hspede, bem como com a habilidade de incluso da molcula hospedeira em gua, onde

    estes fatores estaro refletindo na magnitude da constante de estabilidade do complexo. 55

    Ahn et al., estudaram a influncia que haveria sobre a velocidade de dissoluo do

    frmaco antiinflamatrio no esteroidal ketoprofeno, aps formao de complexos de incluso

    na presena de algumas ciclodextrinas. Foi observado que o perfil de dissoluo deste

    frmaco foi consideravelmente favorvel na presena tanto de -CD bem como de HP--CD, o que reflete de forma positiva em sua biodisponibilidade. 44

    Gliclazida, frmaco alternativo utilizado no tratamento de diabetes mellitus,

    caracterizado por sua baixa solubilidade nos fluidos gstricos e, portanto baixa velocidade de

    dissoluo e biodisponibilidade. A formao do complexo gliclazida-CD, foi avaliada atravs de estudos de RMN de 1H e 13C e de solubilidade. Os autores mostraram a formao

    do complexo, com uma constante de estabilidade de 1094 M-1 e estequiometria 1:2. 39

    Torres Labandeira et al., atravs de estudos de solubilidade e 1H-RMN na

    complexao de glibornurida com , e -CD, mostraram que a solubilidade deste frmaco melhora significativamente na presena de ciclodextrinas. 40

    Daz et al., estudaram a complexao e a solubilidade de albendazol e mebendazol,

    devido a baixa solubilidade destes frmacos no trato gastrointestinal. Estudos de solubilidade

    mostraram que as ciclodextrinas aumentam a solubilidade do mebendazol no fluido intestinal

    simulado. 42 Estudos de velocidade de dissoluo do albendazol, mostraram uma melhora em

    presena de diferentes ciclodextrinas. 41

    Estabilidade

    Princpios ativos quando presentes em soluo aquosa, esto sujeitos muitas vezes,

    reaes de degradao, os quais so levados a uma diminuio de atividade teraputica ou

    mesmo formao de produtos de degradao indesejveis e prejudiciais sade. Quando

    fazem parte de um complexo de incluso, podero estar protegidos das situaes de

    degradao ou inestabilidade. Do ponto de vista da rea farmacutica, os frmacos devem

    permanecer suficientemente estveis, no somente durante a estocagem, mas tambm nos

  • Introduo

    13

    fluidos biolgicos, j que nas reaes que resultam em produtos farmacologicamente inativos

    ou menos ativos, tero sua efetividade teraputica reduzida. 31, 55

    O aumento da temperatura tem influncia direta na estabilidade fsica de muitas

    formas farmacuticas tais como solues, emulses, suspenses e supositrios. Estas

    alteraes incluem desde modificaes reolgicas, o que vai interferir significativamente na

    viscosidade, assim como desestabilizao de sistemas emulsionados. Favorece tambm a

    evaporao de solventes volteis, contribuindo assim para uma provvel recristalizao. 57

    Foram observados que certos frmacos, ao formarem complexos de incluso com

    ciclodextrinas, aumentam sua estabilidade com relao a temperatura, reduzindo-se assim

    perdas em sua forma farmacutica, ocasionadas por uma sublimao ou volatilizao. 58

    Geralmente, no so observados os processos de fuso, evaporao, sublimao ou

    decomposio do princpio ativo, at que se produza a decomposio da ciclodextrina (250-

    300oC). 31

    O processo de oxidao de uma substncia cristalina, frente ao oxignio atmosfrico,

    em geral bastante lento e poder ser acelerada se for aumentada sua superfcie de contato. Por

    outro lado, a formao de complexos de incluso, permite estabilizar alguns compostos

    insaturados, tais como os cidos graxos, aldedos e vitaminas lipossolveis. Este resultado

    de extrema importncia para as indstrias de alimentos e cosmtica, permitindo a

    estabilizao de substncias bastante utilizadas nesta rea. 31

    A decomposio fotoqumica decorrente da absoro de luz ou energia radiante pela

    molcula do frmaco fotossensvel. Parece claro que, esse tipo de alterao depende da

    facilidade com que a luz se propaga no meio no qual est contido o frmaco. Formas

    farmacuticas tais como solues, xaropes e elixires so mais susceptveis s alteraes que as

    suspenses, emulses, ps e comprimidos. 57

    A felodipina, frmaco antihipertensivo, apresenta problemas de baixa solubilidade e

    decomposio fotoqumica. Atravs de estudos de estabilidade, as ciclodextrinas foram

    utilizadas para melhorar suas propriedades fsico-qumicas. 59

    A digoxina, um dos potentes glicosdeos cardacos, susceptvel a hidrlise em meio

    cido e, como resultado, sua eficincia teraputica bem como sua biodisponibilidade oral

  • Introduo

    14

    podem ser diminudas. No decorrer da degradao da digoxina, a preveno ao aparecimento

    da digoxigenina, pode ser clinicamente importante, porque a cardioatividade da digoxigenina

    aproximadamente 1/10 da digoxina. Na presena de ciclodextrinas, a hidrlise cida da

    digoxina evitada na ordem que vai de - > - > -ciclodextrina, onde a -CD inibe a converso do digoxdeo a digoxigenina quase completamente. 60

    Efeitos secundrios

    Quando o princpio ativo est includo dentro da cavidade da ciclodextrina, se reduz a

    possibilidade de seu contato direto com os componentes biolgicos e desta maneira os efeitos

    secundrios.

    Um dos grupos teraputicos mais amplamente estudados o dos antiinflamatrios no

    esteroidais, devido a sua potente ao ulcerognica. Esta ao desfavorvel tem sido

    amenizada atravs da formao de complexos de incluso em ciclodextrinas, como no caso do

    naproxeno em -CD. 46

    As ciclodextrinas tambm protegem os eritrcitos das mudanas morfolgicas

    ocorridas com subseqente hemlise, induzidas por vrios frmacos perturbadores de

    membrana. Esta reduo vai depender da quantidade de frmaco que se encontra na forma

    livre e, portanto, depender da magnitude da constante de estabilidade do complexo.

    Exemplos so os complexos de clorpromazina e cido flufenmico, onde a inibio da

    hemlise se produz na seguinte ordem - > - > -ciclodextrina. Neste caso, a ao protetora das ciclodextrinas devida menor disponibilidade de unio do frmaco com as membranas

    dos eritrcitos. 55

    A pilocarpina usado topicamente para controle da presso intraocular elevada,

    associada ao glaucoma, porm sua biodisponibilidade ocular baixa devido a perda rpida da

    rea precorneal. Apesar da existncia de um pr-frmaco (dister do cido pilocrpico) que

    apresenta melhor absoro ocular com prolongada durao de ao, foram observados

    problemas de fortes irritaes oculares, impedindo assim seu uso clnico. Com o uso de

    derivados de ciclodextrina, como a 2-hidroxipropil--ciclodextrina e sulfobutil--

  • Introduo

    15

    ciclodextrina, observou-se um decrscimo da irritao oftlmica deste pr-frmaco, com

    nenhum decrscimo na sua ao teraputica. 61

    Montassier et al., efetuaram estudos com a tretinona, substncia usada no tratamento

    da acne, com caractersticas de forte poder de irritao cutnea, elevada instabilidade na

    presena de oxignio, luz e calor, assim como baixa solubilidade em gua. A fim de melhorar

    suas caractersticas, os autores propuseram a formao de complexos de incluso em

    ciclodextrinas (-CD, hidroxi-propil--CD e dimetil--CD). 62

    Toxicidade

    Nos ltimos anos tm sido realizados numerosos estudos com o objetivo de avaliar a

    toxicidade das ciclodextrinas, observando-se que a doses considerveis, podem interagir com

    compostos endgenos, tais como os cidos biliares, fosfolipdeos de membranas e colesterol,

    o que depende em grande parte, do tamanho da cavidade da molcula. 63, 64

    Considerando que os efeitos aos danos celulares, so uma conseqncia da

    complexao da ciclodextrina com componentes da parede celular, tais como colesterol e

    fosfolipdeos, foi verificado que a -CD e particularmente seus derivados mais hidrofbicos, como a dimetil--CD, so consideradas as mais txicas. No entanto, a dimetil--CD apresenta alta capacidade de solubilizao, o que leva a sua utilizao em baixas dosagens, por exemplo

    em gotas nasais, cuja toxicidade desaparece. A -CD, cuja toxicidade bastante baixa, pode ser usada atravs das vias parenteral e oral em altas dosagens, embora muitos de seus

    complexos com frmacos apresentem uma solubilidade limitada. A hidroxipropil--CD (HP--CD), por sua vez, bastante solvel e apresenta boa capacidade de solubilizao, porm a solubilizao e transporte do colesterol para o interior do rim, poder gerar srias

    conseqncias, em tratamentos por longos perodos de tempo. 65

  • Introduo

    16

    1.1.4 - Mtodos de obteno de complexos de Incluso.

    Para a grande maioria dos substratos, as tcnicas de complexao utilizadas so

    procedimentos simples e a escolha do mtodo experimental, depende fundamentalmente das

    caractersticas do substrato que se est trabalhando e, se preparado em escala laboratorial ou

    industrial.

    Na bibliografia so descritos diversos mtodos de preparao dos complexos de

    incluso, entre os que se pode destacar: 26, 66

    Complexos em Soluo: Um mtodo bastante freqente atravs da dissoluo de

    ambos, hspede e ciclodextrina em um solvente comum, temperatura ambiente ou atravs

    do aquecimento, com agitao durante um tempo suficiente para garantia do estado de

    equilbrio, geralmente de 24 a 48 horas. Para obteno do complexo, se faz ento a remoo

    do solvente mediante evaporao, liofilizao, refrigerao ou spray-drying. A presena de

    gua absolutamente necessria, pura ou em um sistema contendo solvente orgnico, onde

    este ser utilizado para solubilizao da molcula hspede. So usados como cosolventes,

    lcoois de cadeia curta como metanol, etanol, isopropanol ou em certos casos, a acetona.

    Complexos em Suspenso: Neste caso, as ciclodextrinas no necessitam estar

    completamente dissolvidas, agitando o hspede em uma suspenso aquosa de ciclodextrina, o

    complexo formado em um intervalo de 2 a 24 horas em temperatura ambiente. Este

    procedimento considerado o mais recomendado para processos em grande escala e tem sido

    utilizado para complexao de leos essenciais, terpenos, aromas e fragncias lipoflicas. Um

    exemplo a fendilina, leo viscoso de baixa solubilidade em gua. Pode formar um complexo

    2:1 -ciclodextrina/fendilina, por adio de 30g desta base oleosa, dissolvidos em 100mL de etanol em uma suspenso de 300g de -ciclodextrina em 100 mL de gua, com uma agitao vigorosa no intervalo de 12 horas, onde se obtm o produto atravs de filtrao e secagem a

    uma temperatura de 40oC.

    Complexos por macerao: Consiste em misturar quantidades estequiomtricas do

    substrato e ciclodextrina, com adio de uma pequena quantidade de gua ou soluo

    hidroalcolica. A mistura ento macerada at que se evapore a fase lquida, formando-se

    uma pasta que ir ser submetida a uma secagem at a eliminao total do solvente.

  • Introduo

    17

    Coprecipitao: Consiste na adio de um excesso de substncia ativa a uma soluo

    saturada de ciclodextrina. Em alguns casos, este simples procedimento pode levar formao

    do complexo de incluso, porm freqentemente recorre-se a mtodos adicionais como

    agitao, ultrasom ou aquecimento da soluo para precipitao do produto final.

    Liofilizao: Consiste no mtodo em soluo, onde se submete ao processo de

    liofilizao, a soluo na qual substrato e ciclodextrina encontram-se em concentraes

    estequiomtricas. Pode-se empregar algum solvente, com a finalidade de obter ambas as

    substncias totalmente dissolvidas. As condies nas quais se procede a liofilizao, vai

    influir de forma determinante nas caractersticas do produto final. Assim, por exemplo, a

    velocidade de congelamento prvia liofilizao, condiciona a estrutura do complexo. Um

    rpido congelamento na presena de nitrognio lquido, geralmente favorece a formao de

    produtos amorfos, enquanto que um congelamento mais lento leva a produtos cristalinos.

    1.1.5 - Complexao de Esterides

    A interao entre esterides, entre os quais os hormnios, 67, 68 colesterol, 29, 69- 75

    sais biliares 20, 76 e ciclodextrinas, tornou-se um assunto de grande interesse, devido a diversas

    razes:

    i) por um lado, a grande importncia dos esterides e por outro, a crescente utilizao

    das ciclodextrinas em tecnologia farmacutica. Foram demonstrados em estudos in vivo, os

    efeitos sobre o metabolismo dos sais biliares em animais submetidos a dietas especiais

    contendo quantidades variadas de ciclodextrinas. 77, 78 Em seus estudos, Nakanishi et al. 79

    demonstraram que as interaes entre sais biliares e a -CD influram na absoro do frmaco sulfametiazol administrado por via oral em forma de complexos de incluso.

    ii) tm sido utilizadas colunas cromatogrficas com ciclodextrinas para separao de

    epmeros de esterides, cuja soluo no pode ser conseguida mediante colunas tradicionais.80

    A adio de ciclodextrinas fase mvel, tambm promove uma melhora da separao 81, 82 e a

    combinao de ciclodextrinas/esterides (principalmente os sais biliares) est sendo utilizada

    em procedimentos cromatogrficos e eletroforticos para separao quiral. 83, 84, 85 Por outro

    lado, mtodos cromatogrficos esto sendo utilizados para determinao das constantes de

    associao e estequiometria de hormnios esteroidais com ciclodextrinas. 86- 90

  • Introduo

    18

    iii) devido s caractersticas de bioadaptabilidade, os esterides com ciclodextrinas

    podem ser administrados atravs de vrias vias.61, 91 Assim, derivados de ciclodextrinas

    permitem a administrao oral de esterides 92 e promovem melhora de sua

    biodisponibilidade.93 As ciclodextrinas tambm reduzem os efeitos secundrios dos

    esterides94 e aumentam sua liberao.95, 96, 97 No caso de nebulizadores 98 e formulaes

    sublinguais 99 tem sido sugerido como alternativa de tratamento aos esterides, o uso na forma

    de complexos de incluso.

    iv) as ciclodextrinas podem ser utilizadas para extrao do colesterol de monocamadas

    de eritrcitos humanos. 100, 101 Por outro lado, o complexo ciclodextrina-colesterol tem sido

    proposto como padro primrio para a anlise qumica.72

    v) a interao esteride/ciclodextrina tem sido utilizada como modelo para os

    processos de reconhecimento celular por parte das interaes esterideprotena. 24

    vi) finalmente, o colato e o desoxicolato de sdio ao serem complexados por -CD, comportam-se como hspedes monotpicos e ditpicos, respectivamente. Esta diferena

    originria da distinta polaridade existente entre os sais biliares tri- e dihidroxlicas. Esta

    caracterstica tem sido utilizada para demonstrar a formao de conglomerados (oligmeros e

    polmeros) supramoleculares. 18-21

    Por sua importncia para o presente trabalho, cabe aqui mostrar as estruturas do colato

    (NaC) e desoxicolato de sdio (NaDC), as quais podero servir como modelos aos demais sais

    biliares. Na Figura 1.6, observa-se o colato de sdio/-CD com estequiometria 1:1, e o desoxicolato de sdio/-CD com 1:2. 17

    Alguns dos hspedes, objetos de estudo da presente tese de doutorado (em particular,

    fusidato de sdio, helvolato de potssio, CHAPS e CHAPSO, cujas propriedades esto

    descritas no item 1.2), possuem dupla caracterstica. Por um lado, seu ncleo fundamental

    constitudo pelo sistema estrutural tetracclico do perhidrociclopentanofenantreno, comum a

    todos os esterides. Por outro, em soluo aquosa comportam-se como agentes tensoativos

    (exceo ao helvolato de potssio), formando agregados conhecidos comumente por micelas.

    Sendo os sais biliares, a famlia de compostos mais prxima aos sistemas estudados neste

    trabalho de tese e sobre o qual existe maior informao na bibliografia cientfica a respeito de

  • Introduo

    19

    complexos de incluso em ciclodextrinas, cabe aqui apresentar uma reviso das caractersticas

    fsico-qumicas destes compostos esteroidais.

    Figura 1.6 - Estrutura dos complexos 1:1 NaC/-CD e 1:2 NaDC/-CD.

    Os cidos biliares so produtos finais do metabolismo do colesterol e seus sais sdicos

    so amplamente solveis em gua. Nos mamferos, os sais biliares possuem um hidrognio

    em configurao 5, resultado da configurao cis apresentada pelos anis A e B. Os grupos funcionais substituintes no ncleo esteroidal ficam quase que exclusivamente limitados aos

    grupos hidroxilas e a um cido carboxlico terminal presente no final da cadeia lateral

    isopentanica. Possuem ainda, grupos metila nas posies C-10 e C13. Do mesmo modo,

    esto presentes grupos hidroxila na posio C-3 (proveniente do colesterol) e outro grupo

    hidroxila em C-7. Usualmente, est presente um terceiro grupo hidroxila, podendo encontrar-

    se na posio C-12 ou C-6. A partir do fgado, os cidos biliares so excretados no intestino

    delgado, onde durante o processo digestivo, iro solubilizar os cidos graxos provenientes da

    dieta. Os cidos biliares so praticamente reabsorvidos a partir do intestino delgado, onde

    O H

    CH

    3 (19)

    OH

    O H

    C H 3 (18)

    C O O -

    C H 3 ( 2 1)

    H3H5 H6

    OH

    OH

    CH3 (18)

    COO-

    CH3 (21)

    H3 H5H6

    H3

    H5H6

  • Introduo

    20

    atravs da circulao enteroheptica e sob ao de bactrias intestinais so biotransformados.

    Exemplos tpicos dos cidos biliares so o cido clico e seu derivado 7-desoxi e o cido

    desoxiclico, os quais esto presentes em muitas espcies de mamferos. 102

    Os cidos biliares conjugados com os aminocidos glicina e taurina so mais solveis

    ao pH do intestino delgado, resistentes precipitao por ons Ca2+ e impermeveis

    membrana. Estas propriedades permitem que os cidos biliares conjugados estejam presentes

    em elevadas concentraes na secreo biliar e no trato intestinal.

    Os cidos biliares so estruturas anfiflicas planas, possuindo uma parte hidrfoba

    (face , sem a presena de grupos hidroxila) e parte hidrfila (face , contendo os grupos hidroxila) (Figura 1.7). 103 Em gua se associam para formar multmeros acima de uma

    concentrao denominada de concentrao micelar crtica (cmc). 104 Alguns autores

    consideram que a ligao de hidrognio est envolvida na formao destes agregados 105, as

    quais segundo outros autores, so as responsveis pela estrutura helicoidal.106 A ligao de

    hidrognio tambm estaria participando da formao da estrutura cristalina dos cidos

    biliares.107, 108 Na formao destas ligaes de hidrognio participam os grupos hidroxilas

    pertencentes ao esqueleto esteroidal e o grupo carboxlico da cadeia lateral. Tais grupos

    podem atuar como agentes doadores e/ou receptores da ligao de hidrognio.108

    Dependendo do nmero de grupos hidroxila, os sais biliares so classificados em:

    sais biliares trihidroxlicas: exemplo mais caracterstico o colato de sdio, que apresenta seus trs grupos OH nas posies 3, 7 e 12.

    sais biliares dihidroxlicas: tem-se como exemplo o desoxicolato de sdio, cujos grupos -OH se encontram nas posies 3 e 12.

    sais biliares monohidroxilados: o litocolato de sdio o mais abundante, apresentando o grupo OH na posio 3.

    So pequenas as mudanas que ocorrem nas dimenses moleculares dos diferentes sais

    biliares com a presena de um, dois ou trs grupos hidroxilas, constituindo assim uma famlia

    de molculas de forma e tamanho praticamente idnticas. No entanto, estas pequenas

    diferenas so refletidas na polaridade da molcula e expressas pelo balano hidrfilo-lipfilo

    (BHL) existente entre as faces e . Assim, a existncia de vrios grupos polares na face

  • Introduo

    21

    vai refletir numa maior diferena de polaridade com relao . Portanto, o BHL dos sais biliares trihidroxlicos maior que o dos dihidroxlicos e estes por sua vez, maior que o dos

    sais biliares monohidroxlicos. A amidao do grupo carboxlico com aminocidos como

    glicina ou taurina tambm contribui com a polaridade, e assim os tauroderivados so mais

    hidroflicos que os glicoderivados, os quais por sua vez so mais que os sais originais. 109

    OH

    OH

    OH

    COONa

    AB

    C D

    face

    face

    eixo molecular

    face regio polar

    face regio apolar

    OH

    OH

    OH

    COONa

    AB

    C D

    OH

    OH

    OH

    COONa

    AB

    C D

    face

    face

    OH

    OH

    OH

    COONa

    AB

    C D

    OH

    OH

    OH

    COONa

    AB

    C D

    face

    face

    eixo molecular

    face regio polar

    face regio apolar

    eixo molecular

    face regio polar

    face regio apolar

    OH

    OH

    OH

    COONa

    AB

    C D

    OH

    OH

    OH

    COONa

    AB

    C D

    OH

    OH

    OH

    COONa

    AB

    C D

    Figura 1.7 - Estrutura anfiflica dos cidos biliares.

    Os sais biliares so molculas que por sua estrutura anfiflica apresentam um

    comportamento de auto-associao, formando agregados em soluo aquosa. interessante

    conhecer este comportamento a fim de predizer em que condies experimentais se

    encontram, se sob a forma de ons livres (monmeros) ou de agregados. Este fato importante

    nos processos de complexao dos sais biliares por ciclodextrinas, pois se tornam

    simplificados quando predominam os monmeros em soluo. Deste modo, os sais biliares se

    comportam como tensoativos, com tendncia a permanecer na superfcie do solvente

    (interface gua-ar), a fim de reduzir as interaes desfavorveis existentes entre a parte

    hidrofbica destas molculas e as da gua. Ao mesmo tempo, permitem que as fortes

    interaes existentes entre as molculas de gua da superfcie sejam substitudas em parte, por

  • Introduo

    22

    interaes sal biliar-gua de natureza mais dbil, diminuindo assim a tenso superficial do

    solvente. Esta propriedade foi utilizada nos estudos dos processos de incluso em

    ciclodextrinas. 17 A formao de micelas em uma soluo de sais biliares ser espontnea

    sempre que sua concentrao estiver acima de um valor mnimo de concentrao que se

    denomina de cmc (concentrao micelar crtica) e a temperatura do sistema seja superior a um

    determinado valor denominado de cmt (temperatura micelar crtica). Outros estudos

    relacionados agregao de sais biliares esto sendo apresentados no Anexo A.

    1.1.6 - Caracterizao dos complexos de incluso

    No garantido, que um p obtido da mistura da ciclodextrina e algum substrato em

    soluo, ou suspenso, ou como pasta, seja um verdadeiro complexo de incluso. Muitos

    compostos no podem ser complexados, outros formam complexos de incluso em soluo,

    mas no no estado slido. O produto slido final pode ser uma mistura de hspede e

    hospedeiro, hspede no complexado e ciclodextrina hidratada.

    Vrios mtodos tm sido usados para detectar a formao de complexos de incluso.

    No estado slido, os compostos de incluso se comportam como espcies estveis, com

    estequiometria bem definida. Nestes casos, os mtodos de deteco e caracterizao mais

    comumente utilizados so a anlise trmica, difrao de raios-X, espectroscopia infra-

    vermelho e ressonncia magntica nuclear. 1, 26, 31

    O mtodo de anlise atravs da difrao de raios-X, pode ser empregado para a

    deteco dos compostos de incluso, devido a que os padres de difrao dos complexos

    obtidos so claramente diferentes dos obtidos a partir dos componentes individuais. O

    emprego desta tcnica se baseia na comparao dos difratogramas das substncias puras e do

    complexo. 26, 31

    A calorimetria diferencial (DSC) e termogravimetria (TG) so mtodos trmicos, que

    permitem observar claramente a existncia de um complexo de incluso. Quando uma

    molcula se encontra dentro da cavidade da ciclodextrina, as modificaes ocasionadas pela

    variao da temperatura (fuso, sublimao, degradao e inclusive mudanas de transio

  • Introduo

    23

    polimrfica), desaparecem ou no so observadas, at que se produza a degradao da

    ciclodextrina (250300oC). 31

    A espectroscopia infravermelho (IV), um mtodo indispensvel para a caracterizao

    de compostos orgnicos, pois permite detectar grupos funcionais, cuja presena pode ser

    difcil atravs de outros mtodos. Quando se forma o complexo, pequenos deslocamentos das

    bandas das ciclodextrinas podero mascarar a do hspede, se este ltimo estiver presente em

    pequenas quantidades. No entanto, se o hspede apresentar grupos funcionais caractersticos,

    como no caso do grupo carbonila, a banda ser significativamente encoberta e deslocada aps

    complexao por ciclodextrina. 31

    A caracterizao de complexos em soluo, se baseia na investigao da interao

    molecular entre a ciclodextrina e hspede, determinao da constante de estabilidade e

    estequiometria do complexo. So utilizadas as determinaes relacionadas com mudanas

    espectrais, como no caso da Ressonncia Magntica Nuclear (RMN), espectroscopia por

    ultravioleta e fluorescncia, alm de estudos de solubilidade e mtodos cinticos. 1, 26, 31 A

    espectroscopia de Ressonncia Magntica Nuclear (RMN), muito utilizada para a

    caracterizao dos complexos de incluso, atravs da observao das mudanas que ocorrem

    com os sinais de prton (1H) ou de carbono (13C) pertencentes na molcula da ciclodextrina

    ou no hspede, ao estarem complexados. 110

    As mudanas que ocorrem no espectro de UV, devido a formao do complexo, so

    geralmente deslocamentos batocrmicos e/ou alargamento das bandas. O deslocamento do

    mximo de absoro no UV, pelo efeito da formao do complexo pode ser explicado atravs

    da proteo parcial dos eltrons excitveis e cromforos presentes na cavidade da

    ciclodextrina. Quando a formao do complexo manifestada atravs de mudanas

    significativas, com decrscimo da absorbncia, ao variar a concentrao de ciclodextrina e

    mantendo-se constante a concentrao do hspede, pode-se determinar o valor da constante de

    estabilidade com o uso da equao de Benesi-Hildebrand. 26, 110

    A fluorescncia provocada pela absoro de energia radiante e reemisso de parte

    desta energia sob a forma de luz. Na fluorescncia, a absoro e a emisso ocorrem dentro de

    um intervalo de tempo curto, na ordem de 10-12 a 10-9 segundos. A fluorescncia de um

    composto depende da estrutura molecular e na maioria das vezes est associada a sistemas .

  • Introduo

    24

    A adio de ciclodextrina a uma soluo aquosa, freqentemente vai resultar em uma melhora

    significativa do espectro de fluorescncia. A mudana que ocorre com a adio de

    ciclodextrina, semelhante observada quando o frmaco dissolvido em solventes menos

    polares, tais como dioxano e etanol, sugerindo assim que este foi transferido de um ambiente

    aquoso cavidade apolar da ciclodextrina. Portanto, um aumento na intensidade da

    fluorescncia freqentemente observado para as molculas que so totalmente encapsuladas

    dentro da cavidade da ciclodextrina. 26

    As tcnicas por diagrama ou isoterma de solubilidade, mtodo cintico e RMN sero

    abordados com mais detalhes no item 3.

    1.1.7 - Equilbrio de formao do complexo de incluso e a constante de estabilidade

    Um complexo de incluso em soluo est sempre em equilbrio termodinmico com

    seus componentes livres, de acordo com a equao 1.1,

    mH + nCD CDnHmKmn

    (1.1) onde CD = ciclodextrina, H = hspede (substrato) e CDnHm ou Cnm = complexo de incluso.

    Este equilbrio descrito quantitativamente mediante a constante de estabilidade (Kmn

    ou Kc), definida de acordo com a equao 1.2,

    [ ][ ] [ ]nm mnmn CDH

    HCDK = (1.2)

    Em solues diludas, a estequiometria 1:1 prevalece, mas tambm so observadas

    estequiometrias 1:2, 2:1 ou 2:2, quando se tem concentraes mais elevadas ou hspedes

    especficos. Por exemplo, pirenosulfonato de sdio forma complexos 1:1 de baixa estabilidade

    na presena de -CD e 2:1 com -CD de elevada estabilidade em soluo aquosa. 26, 31

    Os parmetros so significativamente afetados pelas condies experimentais tais

    como diluio ou concentrao, mudanas na temperatura, pH e polaridade do solvente. Se

    um terceiro componente adicionado ao sistema, vai competir pela cavidade da ciclodextrina

    resultando em um decrscimo na concentrao original do complexo. 111 No caso de hspedes

  • Introduo

    25

    ionizveis, uma mudana do pH da soluo, vai deslocar o equilbrio em direo onde a forma

    no ionizada predominantemente includa na cavidade. Isto devido a incluso favorvel do

    hspede de natureza hidrofbica, comparado com o de natureza hidroflica. Assim,

    substncias de carter cido so includas mais facilmente na cavidade da ciclodextrina em

    uma regio cida, enquanto que se dissociam em uma regio alcalina. A fora inica tambm

    exerce seu efeito na formao do complexo, porque o efeito hidrofbico tem um papel

    importante no processo de interao. 55, 111

    Considerando que a formao do complexo usualmente um processo exotrmico, a

    dissociao ser facilitada pela elevao da temperatura. 111

    O requisito para a complexao, que o grupo hidrofbico da molcula a ser includa

    se ajuste total ou parcialmente na cavidade da ciclodextrina. No caso do complexo

    prostaglandina (PG)-ciclodextrina (CD), a -CD devido a sua cavidade menor, inclui preferencialmente a cadeia aliftica da molcula da prostaglandina, enquanto que a -CD acomoda melhor o anel de 5 membros pertencente a estrutura. Por sua vez, a maior cavidade

    da -CD, capaz de incluir a molcula da prostaglandina, de tal forma que, toda a estrutura incorpora-se na cavidade. 111

    Portanto, uma vez conhecidos os parmetros tais como constante de estabilidade,

    estequiometria e parmetros termodinmicos, o comportamento do sistema

    quantitativamente reproduzvel, desde que o processo de complexao envolva o equilbrio

    nas mesmas condies. 55

    1.2 - Substncias de interesse para estudo dos complexos de incluso

    1.2.1 - Furoato de diloxanida

    O furoato de diloxanida (Furamida, FD), quimicamente o 2-furoato de 4-(N-

    metildicloroacetamida) de fenila (Figura 1.8). No estado slido um p branco, inodoro e

    com um ponto de fuso entre 114-116o C. ligeiramente solvel em gua, etanol (1g/100mL)

    e clorofrmio (1g/2,5 mL). fotossensvel e deve ser protegido da luz. Seu efeito adverso

  • Introduo

    26

    mais comum durante o tratamento a flatulncia, podendo ocorrer ocasionalmente vmitos,

    prurido e urticria. 112, 113

    um amebicida da luz intestinal com atividade principalmente no intestino delgado e

    utilizado no tratamento da amebase cstica assintomtica caracterizada pela presena de E.

    histoltica. Em pacientes com amebase invasiva, faz-se necessrio sua administrao

    associado amebicidas tissulares tais como o metronidazol e tinidazol. 112

    OO

    C

    O

    N

    CH 3

    CHCl 2

    O

    C

    Figura 1.8 - Estrutura do furoato de diloxanida

    Considerando a importncia apresentada pelo coeficiente de partio lipdeo/gua e a

    unio dos frmacos aos lipdeos do sangue, Sengupta et al. determinaram o coeficiente de

    partio n-octanol/gua (logP) para o furoato de diloxanida (FD), hidrocloreto de emetina

    (HE) e metronidazol (MZ) e desenvolveram um mtodo que permitiu esclarecer o mecanismo

    de ao do furoato de diloxanida. Estes autores consideraram que o elevado valor do

    coeficiente de partio do furoato de diloxanida limita a molcula a permanecer na luz

    intestinal. Sua unio aos fosfolipdeos da membrana dos oocistos provoca a desintegrao de

    sua matriz lipdica, com conseqente ruptura e morte do microorganismo. 114

    O elevado valor do coeficiente de partio, assim como a pouca solubilidade em gua,

    permite explicar a aplicao do furoato de diloxanida na teraputica da amebase intestinal

    aguda e a limitada ao na forma crnica ou invasiva desta enfermidade. 114, 115 O frmaco

    uma vez dissolvido no trato gastrointestinal, susceptvel hidrlise formando a diloxanida,

    cuja efetividade menor que sua forma ster, j que possui uma lipossolubilidade moderada.13

    Nieto Reyes demonstrou em seus estudos biofarmacuticos, que o FD apresenta

    melhora da velocidade de dissoluo e de solubilidade na presena de -CD em solues contendo suco gastrointestinal simulado (pH 1,2 e 6,8). Em estudos de estabilidade in situ,

    verificou que a constante de velocidade de degradao do furoato de diloxanida foi

  • Introduo

    27

    significativamente menor, demonstrando uma maior estabilidade do frmaco quando

    complexado.12 Nos estudos in vivo, foi demonstrado que com o uso do complexo de

    incluso FD/-CD, ocorreu uma diminuio significativa na intensidade da infeco em ratos neonatos com oocistos de Cryptosporidium parvum. 12, 116

    Os problemas de solubilidade e instabilidade em gua apresentado pelo furoato de

    diloxanida, limita a possibilidade do alcance deste no fluido intestinal, assim como uma

    provvel eliminao do local onde deveria exercer seu efeito teraputico. Portanto, a -CD estaria protegendo o composto da ao das esterases presentes na poro do trato

    gastrointestinal.

    1.2.2 - Fusidato de sdio

    O cido fusdico (cido 3, 11- dihidroxi-16-acetoxifusida-17(20)-[16-21-cis], 24-dien-21-ico (Figura 1.9) apresenta estrutura esteroidal e pertence ao grupo de antibiticos

    fusidanos. 103 Apresenta baixa solubilidade em gua, em contraste com seu sal de sdio que

    bastante solvel. Relacionado estruturalmente ao cido helvlico, inibe a sntese de protenas,

    tanto em clulas procariticas como em eucariticas. 117, 118

    Foi isolado a partir de culturas de Fusidium coccineum e sua atividade antimicrobiana

    est indicada para a maioria dos patgenos mais comuns existentes na pele, incluindo

    Staphylococcus aureus, contra o qual um dos antibiticos mais potentes. 119

    HOOH

    OCOMe

    CO2-Na+1

    2

    34

    30

    19

    10

    5

    6

    7

    9

    8

    32

    11

    1812

    1314

    1516

    1720

    22

    23

    24

    25

    26

    27

    21

    3433 Figura 1.9 - Estrutura do fusidato de sdio

    Quimicamente pertence ao grupo de triterpenos tetracclicos e como esteride da

    famlia dos fusidanos, representam uma classe de compostos anfiflicos solveis, os quais

    apresentam similaridade estrutural com os sais biliares. 120 Uma comparao da estrutura do

    fusidato com o colato de sdio (NaC) por exemplo, mostra a semelhana estrutural, porm

  • Introduo

    28

    com uma estereoqumica diferente. A Figura 1.10 mostra a analogia existente entre o fusidato

    (Fus) e o colato de sdio (NaC), em termos de frmula estrutural (a e b), modelo espacial (c e

    d), e representao das molculas numa interface ar-gua ou leo-gua (e e f). H que se

    destacar, que suas propriedades em soluo aquosa so comparveis aos dos sais biliares. o

    caso da propriedade de solubilizao das solues de fusidato de sdio com lecitina e

    monolena como micelas mistas, comparadas capacidade de solubilizao dos sais biliares

    para estes mesmos lipdios. 121, 122

    COO-

    OCHOCH3

    HOHOH OH

    OH

    COO-

    OH

    a b

    e f

    c d

    COO-

    OCHOCH3

    HOHOH OH

    OH

    COO-

    OH

    a b

    e f

    c d

    Figura 1.10 - ons fusidato e colato: a (Fus) e b (NaC), frmulas estruturais; c (Fus) e d (NaC