dissertação 10

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7/21/2019 Dissertação 10 http://slidepdf.com/reader/full/dissertacao-10 1/129 UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS LEONEL BATISTA PARENTE A MÚSICA COMO REPRESENTAÇÃO SOCIAL EM REGIMES TOTALITÁRIOS: Varguis! " ! Ca#$! Or%"&#i'! " %!'!( G!i)#ia *+,-

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁSESCOLA DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS

LEONEL BATISTA PARENTE

A MÚSICA COMO REPRESENTAÇÃO SOCIAL EMREGIMES TOTALITÁRIOS:

Varguis! " ! Ca#$! Or%"&#i'! " %!'!(

G!i)#ia

*+,-

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LEONEL BATISTA PARENTE

A MÚSICA COMO REPRESENTAÇÃO SOCIAL EMREGIMES TOTALITÁRIOS:

Varguis! " ! Ca#$! Or%"&#i'! " %!'!(

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação Stricto Sensu da Escola deMúsica e Artes Cênicas da Universidadeederal de Goi!s -Mestrado em Música -"como re#uisito para o$tenção do grau deMestre%

Li#.a /" 0"s1uisa:  Música" Cultura e&ociedade%

Ori"#$a/!ra:  Dra% Ana Guiomar 'êgo&ou(a

G!i)#ia

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*+,-RESUMO

) presente tra$al*o de pes#uisa +a( um estudo acerca das

mani+estaç,es or+enicas ocorridas nos anos ./01" durante o regimetotalit!rio do presidente Getúlio 2argas 3.445-./678% Por meio depropaganda ostensiva" assim como o 9a(ismo e o ascismo" a pol:ticavarguista procurou sedimentar no imagin!rio coletivo da 9ação ;rasileiraa imagem de um l:der $ondoso e paternal% 9este conte<to" paradisseminar a ideologia de seu governo" o presidente 2argas +e( uso deuma s=rie de mecanismos propagand:sticos e um deles +oi a música" emparticular no Canto )r+enico" #ue reuniu uma s=rie de gêneros e ritmos$rasileiros% Para a reali(ação desta pes#uisa" cu>o o$>etivo +oi perce$er amúsica como representação de poder" o +undamento teórico concentrou-

se na ?eoria das 'epresentaç,es &ociais" mais detidamente na visão de'oger C*artier" #ue tam$=m vê a 'epresentação &ocial como umam!#uina de +a$ricar respeito e su$missão% Com $ase nessa teoria" nosentido de legitimar a construção de um sentimento nacionalista e de umaidentidade nacional" esta pes#uisa constatou a presença da música comoelemento de representação de poder e su$missão no regime pol:tico deGetulio 2argas%

Pa2a3ras4'.a3":  2arguismo" Música e 'epresentação de Poder" Canto)r+enico%

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ABSTRACT

 ?*is researc* @or is a studB a$out t*e orp*eonics demonstrations

occurred in t*e ./01s" during t*e totalitarian rule o+ President Getúlio2argas 3.445-./678% ?*roug* ostentatious propaganda" >ust as 9a(ism andascism" t*e 2argas policB soug*t to settle in t*e collective imaginarB o+ t*e ;ra(ilian nation t*e picture o+ a ind and paternal leader% ?*at conte<t"+or spreading t*e ideologB o+ *is government" President 2argas used aseries o+ propaganda mec*anisms and one o+ t*em @as t*e music"especiallB in )rp*eonic &inging" @*ic* includes a range o+ genres and;ra(ilian r*Bt*ms% n t*is researc*" @*ose o$>ective @as to understand t*emusic as po@er o+ representation" t*e t*eoretical $acground *as +ocusedon ?*eorB o+ &ocial 'epresentations" more care+ullB in t*e perspective o+ 'oger C*artier" @*o also meant t*e &ocial 'epresentation as a mac*ine to

manu+acture respect and su$mission% ;ased on t*is t*eorB" to >usti+B t*econstruction o+ a nationalistic +eeling and national identitB" t*is studB+ound t*e presence o+ music as a representation o+ po@er andsu$missiveness element in t*e in t*e Getúlio 2argas political sBstem%

5"647!r/s  2arguismo" Music and Po@er 'epresentation" )rp*eonic&inging%

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LISTA DE FIGURAS

Figura ,(  Adol+ itler com ine+red agner" nora de 'ic*ard agner"em ./00" no estival de ;aBreut*%FFFFFFFFFFFFFFFFFFFF%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%77

Figura *(  Adol+ itler com os netos de 'ic*ardagner(((%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%77

Figura 8( &oldados indo assistir ao estival de;aBreut*%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%7

Figura 9( Apresentação da 9ona &in+onia de ;eet*oven no anivers!rio deAdol+ itler em./75%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%74

Figura -( Comemoração do Dia da 'aça no est!dio do 2asco daGama%%%%%%% %%%%%%%%%%%/

Figura ( Pr=dio do Minist=rio da a(enda" em./70%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%H1

Figura ;( 'adio 9acional" em./75%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%H.

Figura <% Eventos musicais promovidos pela 'adio 9acional em./70%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%H.

Figura =( Mesa de canção

3Liedertafel8%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%H0

Figura ,+( Guillaume Iouis ;oc#uillon-il*em%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%H7

Figura ,,(  2illa-Io$os com Getúlio2argasFFFFFFFFFFFFFFFFF%H4

Figura ,*(  2illa-Io$os numa concentração or+enica em

./75%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%4H

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LISTA DE E>EMPLOS MUSICAIS

E?"02! ,(  A#uarela do;rasil%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%.11

E?"02! *(  A#uarela do;rasil%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%.1.

E?"02! 8(  A#uarela do

;rasil%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%.15

E?"02! 9(  A#uarela do;rasil%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%.15

E?"02! -% A#uarela do;rasil%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% %.10

E?"02! (  Iuar do&ertão%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%.16

E?"02! ;( Uirapuru%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%.14

E?"02! <(  ino aoEstudo%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% ..1

E?"02! =(  Marc*a de Guerra;rasil%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%..0

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAP@TULO , 4 O2.ar"s S!r" a N!! /" R"0r"s"#$a! S!'ia2 ,;

.%.% Da 9oção de 'epresentação pelo 2i=s da Psicologia &ocial 5.

  .%.%.% Corrente Culturalista %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%50.%.%5% Corrente societal e a teoria do 9úcleo Central 54

.%5% A 9oção de 'epresentação &ocial pelo 2i=s da istória Cultural 0.

.%0% 'epresentaç,es como Espet!culos de Poder 07

.%7% A Música como 'epresentação de PoderJ o Panorama da Aleman*a9a(ista 0/

CAP@TULO * 4 O Varguis! " sua I/"!2!gia -,

  5%.% Construção de uma Matri( dentit!ria omogênea 665%5% )stentaç,es de Poder no 'egime 2arguista 4

5%0% Mani+estaç,es )r+enicas como Espet!culos de Poder H0

  CAP@TULO 8 O Ca#$! Or%"&#i'! " F!'! <;0%.% An!lise de Canç,es /6

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0%.%.% A#uarela do ;rasil% /4

0%.%5% Iuar do &ertão .17

0%.%0% Uirapuru .16

0%.%7% ino ao Estudo .1/  0%.%6% Marc*a ;rasil FFF...  0%.%% nterpretando ..7

  CONSIDERAÇES FINAIS ,,-

  REFERÊNCIAS..H

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INTRODUÇÃO

  ?otalitarismo = uma +orma de governo cu>a concentração

de poderes centrali(a-se em torno de uma única pessoa ou +acção"caracteri(ando-se" so$retudo" pelo autoritarismo" uso demasiado de

propaganda e concentração ideológica% 9esta +orma de regime toda

oposição pol:tica tende a ser eliminada" uma ve( #ue a e<istência de

v!rias correntes ideológicas se tornaria um entrave para #ue um

determinado pa:s se direcionasse para um sentido único% Pode-se

di(er #ue os maiores e<poentes do totalitarismo no s=culo KK +oram o

9a(ismo de Adol+ itler" na Aleman*aL o ascismo de ;enitoMussolini" na t!lia e o &talinismo de ose+ &talin" na União &ovi=tica%

Contudo" *ouve outros pa:ses em #ue essa +orma de governo se +e(

presente como" por e<emplo" o ran#uismo na Espan*a" o

&ala(arismo em Portugal" e" por #ue não di(er" o 2arguismo no ;rasil%

De acordo com ;ortuluce 351148" um regime totalit!rio possui" em sua

essência" uma est=tica #ue serve como modelo de sua organi(ação"

controle e manutenção% Utili(a as artes visuais" o cinema" a música" aar#uitetura" a literatura e os meios de comunicação como

instrumentos #ue legitimam a sua pol:tica% Essa est=tica = em geral

caracteri(ada por uma padroni(ação do estilo art:stico #ue tende a

suprimir todos os outros%

&egundo Arendt 3./4/" p%0H68" a *omogeneidade dos

elementos de uma sociedade = condição +undamental para o

nascimento do totalitarismo% ) l:der totalit!rio não = tão somente umindiv:duo sedento de poder impondo aos seus governados uma

vontade tirNnica e ar$itr!ria" como o senso comum nos leva a crer% 9o

Om das contas" = tam$=m um +uncion!rio das massas" e" como tal"

pode ser su$stitu:do% Em outras palavras" o l:der depende tanto do

dese>o das massas #ue ele incorpora" #uanto as massas dependem

dele% &em o l:der" as massas perdem sua representação e<terna e

assim se tornam um $ando amor+oL sem as massas" por outro lado" ol:der seria uma nulidade% sso signiOca #ue as massas precisam ser

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con#uistadas por meio da propaganda" e" depois da propaganda

segue-se a doutrinação e o emprego de violência%

Por essa perspectiva" Arendt assegura #ue o totalitarismo

usa o Estado como +ac*ada e<terna para representar-se perante o

mundo não totalit!rio% 2!rios regimes assim se esta$eleceram% )

9a(ismo" por e<emplo" estruturou-se a partir de uma plata+orma de

ação #ue visava construir um Estado supostamente com $ase na

conOança" *onra" disciplina" ordem e dedicação% únior 3.//.8 ressalta

#ue o 9a(ismo +oi uma resposta situação de ansiedade perante

pro+unda crise sócial e econmica vivida pela Aleman*a pós Primeira

Guerra Mundial" a #ual produ(iu no Nmago dos elementos sociais

*omogêneos o temor e a aversão ao caos% ) autor aOrma #ue na

origem do 9a(ismo encontram-se elementos como regime

democr!tico inst!vel e sem autoridade" e a cristali(ação de

sentimentos nacionais na pessoa de um l:der" o Führer %

Para sua di+usão ideológica" os procedimentos

propagand:sticos da pol:tica na(ista concentraram-se no conceito de

Volksgemeinschaft 3comunidade do povo8%  Essa nova comunidade"

concreti(ada no movimento e na atmos+era pr=-totalit!ria" $aseava-se

na *omogeneidade =tnica e racialL uma nação +undada no

entendimento de sua suposta superioridade +rente a todos os outros

povos 3A'E9D?" ./4/" p% 71/8%  &ua +orça residia num mundo

imagin!rio e na capacidade de isolar as massas do mundo real% De

acordo com Arendt" o o$>etivo da propaganda na(ista era trans+ormar

todos em simpati(antes de um movimento cu>o o$>etivo era a de+esa

de interesses ideológicos%

Compartil*ando com o pensamento de Arendt" Die*l 3.//8

aOrma #ue a propaganda na(ista desempen*ou uma +unção central

no 9acional-&ocialismo" de maneira #ue a$rangeu todas as atividades

sociais% sso leva a compreender #ue para atingir seu o$>etivo

ideológico" a m!#uina de controle popular do regime de itler devia

cingir todas as classes da sociedade alemã% ;uscando algo #ue

pudesse c*egar a tal propósito" os art:Oces da propaganda na(ista

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utili(aram da arte em geralJ música" literatura" artes pl!sticas"

cinema" dentre outras% Mantendo esse o$>etivo" em ./0H +oi institu:do

o Tag der deutschen Kunst   3dia da arte alemã8" organi(ando-se um

gigantesco desOle militar a$erto com a ?erceira &in+onia de Anton

;rucner 3GIIA9" .//H" p%H68%

9a música" o 9a(ismo privilegiou a o$ra de grandes

compositores alemães% 9essa e<pectativa" deu-se in:cio a um

programa de +omento oOcial >unto ao estival de ;aBreut* a Om de

*omenagear 'ic*ard agner 3CAIC)" 5115" p%5118% De acordo com

Qarter 3.//H8" Adol+ itler via o estival de ;aBreut* como uma

permanente cele$ração do 9acional-&ocialismo e do ?erceiro 'eic*%

&ua presença no evento" desde ./00" o trans+ormou em espet!culo

nacional% 9este per:odo" o estival +oi convertido num dos principais

ve:culos de manipulação na(ista R união entre arte e pol:tica"

@agnerianismo e *itlerismo 3Q A'?E'" .//H" p% //8%

)utro grande compositor alemão apropriado pelo 9a(ismo

+oi ;eet*oven" #ue passou a representar a imagem do Künstlerischen

Führer 1  3'&C" 51.1" p%.158% Essa representação" segundo irsc*"

serviria para legitimar a pol:tica do Partido 9a(ista" promovendo

;eet*oven como s:m$olo dos ideais *eróicos do 9acional-&ocialismo%

irsc* comenta #ue a música de ;eet*oven +oi regularmente utili(ada

em com:cios e eventos" sempre dentro de uma perspectiva

manipulatória% &ua proeminência na Aleman*a levou o cr:tico de arte"

alter aco$s" a sugerir #ue a ?erceira &in+onia +osse eleita como

representação musical do ?erceiro 'eic*% oi nessa perspectiva #ue"

em ./0" ouviu-se o Finale da 9ona &in+onia nos ogos )l:mpicos de

;erlim% irsc* o$serva #ue essa iniciativa visava dar signiOcação

universal poesia de &c*Sler e música de ;eet*oven na atmos+era

de um evento internacional% osep* Goe$$els" ministro da

propaganda" con*ecia a mensagem da o$ra e #ueria mostrar ao

mundo a imagem de uma Aleman*a +raterna% De acordo com irsc*"

1 Líder Artístico. Conforme Lockwood (2007) o termo foi criado em 1934 peo m!sic"o#o simpati$antena$ista% Arnod &c'erin#% associando a ima#em de eet'oen * de Adof +iter.

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os organi(adores das )limp:adas viram essa ocorrência como a

proclamação da Volksgemeinschaft " +ato #ue se conOrma nas palavras

de Ioc@ood 3511H8 ao pro+erir #ue

3%%%8 a )de alegria +oi apresentada" em ./0" nos ogos)l:mpicos de ;erlim" com uma precaução #ue *o>eparece irnica" e +oi anunciada não como um s:m$olo da+raternidade internacional" mas como a proclamação daVolksgemeinschaft na(ista 3p% 7H48%

)corrência semel*ante pode ser notada no ;rasil durante o

governo de Getúlio 2argas" regime autorit!rio con*ecido como

2arguismo ou Getulismo% &egundo Ioureiro 3511.8" o dese>o de 2argasem educar a massa por meio da música ps em pr!tica o pro>eto de

2illa-Io$os para o ensino do canto or+enico nas escolas"

implementando-o lentamente durante os anos 01% Assim" o

presidente assina o decreto nT  .4%4/1" de .4 de a$ril de ./05"

tornando o Canto )r+enico o$rigatório nas escolas pú$licas do 'io de

 aneiro" o #ue passaria a ser um dos principais ve:culos de divulgação

do 2arguismo% Ainda de acordo com Ioureiro" por interm=dio dasgrandes concentraç,es de alunos em est!dios e de desOles colegiais"

e<altava-se o sentido da coletividade" do patriotismo e da disciplina%

Para us 3.//.8" as grandes concentraç,es or+enicas o$>etiva

desenvolver a disciplina" o civismo e a educação art:stica" nesta

ordem de importNncia% ) canto or+enico era apresentado nas

e<ortaç,es c:vicas" trans+ormando-se em mani+estaç,es pú$licas de

apoio e e<altação Ogura de Getúlio 2argas% C*egando a reunir cercade 71 mil vo(es >uvenis e mil $andas de música" estes espet!culos

eram apresentados +re#uentemente em est!dios de +ute$ol e

marcavam todos os +eriados nacionais%

A presença de escolares" em cerimnias pú$licas"cantando *inos e músicas #ue cele$ravam a grande(ado pa:s" a>udava a criar a imagem de um povo saud!vele disciplinado" de um povo unido em torno do pro>etode reconstrução nacional condu(ido pelo Estado 9ovo3I)U'E')" 511." p%58%

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Para Contier 3.//48" a propaganda dirigida s massas por

meio do Canto )r+enico o$>etivando atra:-las para a Ogura de Getúlio

2argas" aca$ou se tornando um novo recurso para a sedimentação do

conceito de $rasilidade nas es+eras da música e da pol:tica% Contier

aOrma #ue o car!ter disciplinador" impl:cito no pro>eto do canto

or+enico interessava ao Estado" assim" durante toda a d=cada de 01"

os espet!culos or+enicos" intimamente associados propaganda

varguista" se tornaram not:cia em #uase todos os >ornais e revistas do

'io de aneiro" &ão Paulo e outras capitais% ) sentido nacionalista

desses espet!culos" aliado a um momento de intensa eu+oria"

tam$=m contri$uiu para O<ar a imagem de 2illa-Io$os perante a

cr:tica e ao pú$lico em geral como compositor s:m$olo da identidade

$rasileira%

Ponderando so$re isso" surgem as seguintes #uest,esJ como

a música +oi utili(ada no regime varguista Vual a +unção da música

na construção do mito da unidade nacional no ;rasil de 2argas Vuais

os gêneros e estilos +oram apropriados pelo Canto )r+enico Partindo

desses #uestionamentos" o presente tra$al*o $usca compreender o

sim$ólico na música dentro de um conte<to totalit!rio pela

perspectiva das representaç,es sociais" em espec:Oco as

representaç,es de poder% Ievanta-se a *ipótese de #ue o regime

getulista tin*a em mente uma pol:tica de apropriação da música

como espetaculari(ação de sua ideologia pol:tica%

A Om de entender tal pr!tica" o tra$al*o em deslinde

construiu seu alicerce em três autores #ue discorrem acerca da ?eoria

das 'epresentaç,es &ociaisJ &erge Moscovici" Denise odelet e 'oger

C*artier% ?am$=m se $uscou au<:lio em Georges ;alandier para

#uest,es relacionadas a espetaculari(ação do poder" pr!tica #ue

permanece ao longo dos tempos e ocorre em todas as sociedades%

;uscando entender a #uestão do nacionalismo" o respaldo veio de

;enedict Anderson" #ue ao e<aminar como o nacionalismo capta e

e<pressa anseios dentro de um conte<to social" volta-se mais para a

ascensão do sentimento nacionalista do #ue para a instituição dos

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estados nacionais% Para +undamentar a discussão acerca de

identidade e da identidade nacional" o apoio teórico vem de &tuart

all 35118%

'evendo a literatura constatou-se a e<istência de o$ras #ue

tratam da música como representação de poder" em especial a ópera

+rancesa no Antigo 'egime" o caso da música de agner e de

;eet*oven no 9a(ismo" a ópera no ;rasil oitocentista" o &am$a e o

Canto )r+enico na Era 2argas%

Em l:ngua inglesa" mais diretamente ligada ao caso alemão"

Applegate e Potter" em Music and German national identity   351158"

e<ploram #uest,es acerca de como a música passou a ser associada

identidade alemã e #uando os alemães passam a ser considerados

como" por assim di(er" o Wpovo da músicaX% Para isso" as autoras

$uscam respaldo na musicologia e na literatura alemã" assim como

nos principais estudiosos da *istória da Aleman*a" e<aminando a

OlosoOa" a pol:tica e as correntes sociais% Com $ase nesses estudos"

Applegate e Potter $uscaram entender at= #ue ponto a música

desempen*ou um papel central no imagin!rio nacional alemão e na

+ormação da identidade alemã%

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 ! Art, ulture, and Media !nder the Third "eich, de autoria

de 'ic*ard Etlin 351158" = uma o$ra #ue se det=m mais nos aspectos

propagand:sticos desenvolvidos pelos na(istas% Etlin +a( um estudo

acerca das maneiras pelas #uais os na(istas usaram a arte e a m:dia

para retratar a Aleman*a como uma super nação cultural% A o$ra

en+oca a +unção das artes em geral no ?erceiro 'eic* e a +orça #ue a

propaganda teve como ve:culo de +usão da cultura alemã e da

ideologia do Partido 9a(ista pelo vi=s art:stico% Esta o$ra tam$=m

inclui estudos so$re a atividade cultural nos campos de concentração

R no caso da música as or#uestras de prisioneiros" revelando como

v!rios dom:nios da arte serviram para conceitualmente esta$elecer

parNmetros entre di+erentes grupos =tnicos" como os >udeus" por

e<emplo%

George Iac*mann Mosse 3./H68 por sua ve(" em The

nationali#ation of the masses$   %olitical sym&olism and mass

mo'ements in Germany from the (a%oleonic )ars through the Third

"eich" discute o poder do sim$olismo pol:tico" das artes" das +estas

pú$licas e do esporte como um meio de promover o nacionalismo%

 ?am$=m analisa" principalmente no último cap:tulo" como a religião" a

pol:tica e as artes podem muitas ve(es se uniOcar dentro de uma

determinada ideologia%  ! o *istoriador Mic*ael Qarter em om%osers

of the (a#i *ra$ *ight +ortraits +a( um estudo detal*ado da carreira de

Arnold &c*oen$erg" ans POt(ner" Carl )rY" Qarl Amadeus artmann"

Qurt eill" Paul indemit*" 'ic*ard &trauss e erner Eg% )ito

proeminentes compositores alemães #ue viveram e tra$al*aram em

meio ditadura do ?erceiro 'eic* ou +oram e<ilados pelo regime

na(ista% Qarter pesa pro$lemas de acomodação e resistência"

#uestionando se esses compositores se corromperam a serviço de um

regime criminoso e se isso poderia ser perce$ido na música deles%

Depois de discutir a situação individual de cada compositor" Qarter

conclui a o$ra +a(endo uma an!lise da vida sociopol:tica desses

compositores o$servando como eles reagiram ao regime totalit!rio de

Adol+ itler%

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Em l:ngua portuguesa destacam-se alguns autores #ue

discutem a música como representação de poder e as implicaç,es

pol:ticas na ditadura varguista% Em WPassarin*ada do ;rasilJ canto

or+enico" educação e getulismoX Arnaldo DaraBa Contier 3.//48

analisando a politi(ação do ensino de música no governo de Getúlio

2argas" a$orda a implantação dos cursos de música e a +ormação

c:vica dos estudantes no Estado 9ovo% Contier identiOca a relação

entre a pol:tica de 2argas e a atividade musical" revelando #ue o

canto or+enico nas escolas $rasileiras estava associado a

espet!culos c:vicos art:sticos% Ao o$servar a música como aparel*o de

divulgação do 2arguismo ressalta #ue" por meio desta" nos anos ./01

*ouve um grande Zu<o de e<altação ao EstadoL salienta #ue nesse

per:odo o canto or+enico passou a ser visto como um importante

arti+:cio na di+usão do sentimento de patriotismo e do

desenvolvimento da consciência nacional%

 ?Nnia Garcia Costa 3.///8" em seu artigo WA canção popular

e as representaç,es do nacional no ;rasil dos anos 01J a tra>etória

art:stica de Carmem MirandaX +a( um estudo da música popular na

era 2argas" tam$=m tida como uma das representaç,es do pa:s

agregada construção de uma identidade nacional% Garcia o$serva

#ue a representação do imagin!rio social e pol:tico dos anos ./01

constituiu-se na canção popular ur$ana a partir das interpretaç,es de

Carmem Miranda" eleita pelo Estado 9ovo como um s:m$olo de

$rasilidade% ?odavia" salienta #ue" como representação nacional" a

música popular não dei<ou de e<primir ades,es e resistências

noção de $rasilidade pretendida pelo Estado 9ovo" uma ve( #ue

tra(ia em si inZuência estrangeira na sua sonoridade%

 ! Adal$erto Paran*os 351158" em W2o(es dissonantes so$

um regime de ordem unidaJ música e o tra$al*o no Estado 9ovoX"

revela #ue o 2arguismo na verdade tentou silenciar as pr!ticas #ue

pudessem ir de encontro s normas esta$elecidas" levando a

grande massa popular a crer num suposto Wcoro da unanimidade

nacionalX% Em sentido divergente" Paran*os aOrma #ue as vo(es

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1,

dissonantes no Estado 9ovo se mani+estariam tam$=m em sam$as

produ(idos na =poca" a despeito da penosa censura dos órgãos

oOciais" notadamente o DP 3Departamento de mprensa e

Propaganda8% Para o autor" a ditadura estadonovista $uscou instituir

certo tipo de sociedade disciplinar" gerando um perOl identit!rio de

$rasilidadeL não o$stante" apesar da pressão do Estado" o coro dos

di+erentes não dei<ou de se mani+estar con+orme as circunstNncias%

  ocando no sam$a como elemento de genuinidade musical

$rasileira" A$reu 351..8 em Wistórias musicais da Primeira

'epú$licaX" saliente #ue a partir dos anos ./01 a e<altação do sam$a

como música genuinamente nacional relaciona-se com a incessante

estrat=gia pol:tica de Getulio 2argas a Om de oOciali(ar esse gênero%

9esse sentido" citando Adal$erto Paran*os" aOrma #ue reali(aram-se

apresentaç,es pú$licas de artistas nacionais em eventos $astante

divulgados" como o Dia da Música Popular e a 9oite da Música

Popular% Cantores +amosos" cantando sam$a" acompan*aram a

comitiva presidencial em viagem a pa:ses latino-americanos ao

mesmo tempo em #ue transmiss,es radio+nicas oOciais" destinadas

ao pú$lico estrangeiro" se incum$iam de propagar o sam$a pelo

mundo como genu:no produto musical $rasileiro%

9o entanto" A$reu o$serva #ue em per:odos anteriores"

correspondendo s imagens divulgadas so$re a elle -%o.ue" a

música popular teria sido perseguida" como uma imagem invertida

ou preparatória do #ue viria depois% De acordo com a autora" o

sam$a +oi um gênero tão detestado pelas classes dominantes das

primeiras d=cadas do s=culo KK a ponto de a pol:tica vigente mandar

prender #uem o cantasse" dançasse ou tocasse% Iem$ra ainda #ue os

primeiros *istoriadores da música popular ur$ana no 'io de aneiro

demonstram em seus registros como a própria deOnição do sam$a e

do #ue era genuinamente $rasileiro situava-se num campo amplo de

signiOcados e disputas% ) sam$a dos anos de ./01 era apenas um

rótulo" um arremedo de sam$a" poderia variar muito e estar

prisioneiro dos de$ates pol:ticos" culturais e comerciais da =poca%

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1-

As o$ras a#ui relatadas revelam parte do estado da arte

acerca da música como representação de poder% Apesar do material

 >! editado em l:ngua vern!cula" nota-se #ue nos departamentos de

música das universidades $rasileiras o assunto em de$ate ainda =

pouco discutido% Desse modo" em +ace do atual estado das

investigaç,es" esta pes#uisa >ustiOca-se por gerar con*ecimento

so$re um assunto ainda pouco e<plorado no Nm$ito musical

acadêmico% Com isso" espera-se #ue este tra$al*o possa contri$uir

para o acr=scimo de material $i$liogr!Oco na es+era #ue se insere"

servindo como +onte de consulta para pes#uisas posteriores%

A presente pes#uisa lançou mão do paradigma #ualitativo

por meio da descrição" compreensão e interpretação do +enmeno

o$servado% Vuanto ao instrumental para o levantamento de dados +oi

empregado a pes#uisa $i$liogr!OcaJ livros" teses" dissertaç,es"

artigos" etc%" e a pes#uisa documentalJ +otograOas" Olmes e

gravaç,es% Para interpretação dos dados" o$servou-se as

convergências e divergências entre os dados levantados cru(ados

entre si e com o re+erencial utili(ado" a Om de c*egar ao o$>etivo do

tra$al*o% )s resultados o$tidos durante a pes#uisa serão pu$licados

em +orma de artigos e" concluindo-a" torna-se oportuna sua

divulgação de maneira mais ampla em +orma de dissertação"

envolvendo a comunidade acadêmica e o pú$lico em geral%

Vuanto sua estrutura" a dissertação +oi dividida em três

cap:tulos% ) primeiro cap:tulo a$orda a ?eoria das 'epresentaç,es

&ocias" a origem desse conceito e suas principais correntes" +a(endo"

com $ase nessa teoria" uma conte<tuali(ação com os espet!culos de

poder nos regimes totalit!rios% ) segundo discorre so$re a ascensão

do 2arguismo +ocali(ando a espetaculari(ação do poder nesse regime

por meio da propaganda governista% Por Om" o terceiro cap:tulo

reali(a um estudo de caso por meio da an!lise da partitura de alguns

dos cantos or+enicos a Om de averiguar como este +oi apropriado

pelo regime de Getulio 2argas para servir de veiculo de manipulação

social% 9o #ue respeita metodologia" para sua reali(ação esta

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pes#uisa lançou mão do paradigma #ualitativo por meio da descrição"

compreensão e signiOcado do +enmeno o$servado% oram reali(adas

pes#uisas $i$liogr!Ocas e investigação documental em +ontes

prim!rias% A pes#uisa $i$liogr!Oca apoiou-se $asicamente no material

oriundo das +ontes primarias" isto =" livros" teses" dissertaç,es" artigos

de periódicos e outros tra$al*os relevantes% A investigação

documental Ocou por conta de constatar as ocorrências do canto

or+enico na era 2argas por meio de +otograOas" Olmes" gravaç,es e

ar#uivos de v:deo #ue estão ane<ados no Om do tra$al*o%

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CAP@TULO ,OLARES SOBRE A NOÇÃO DE REPRESENTAÇAO

SOCIAL

A ideia de representação social" cu>o conceito ser! assim

entendido somente a partir de ./. com a psicologia social de &ergeMoscovici" surge com $ase no pensamento sociológico +uncionalista

de [mile Dur*eim 3.464-./.H8 dentro da perspectiva de

representaç,es coletivas% Por sua ve(" a noção de representação

coletiva aparece a partir do #ue Dur*eim designava de consciência

coletivaJ Wo con>unto de crenças e de sentimentos comuns m=dia

dos mem$ros de uma mesma sociedade #ue +orma um sistema

determinado com vida própriaX 3DU'QEM" ./4H" p% /78% Para Costa3.//." a%ud ;)EI?E' \ PIUME'" 51168" essa consciência coletiva = a

+orma vigente da sociedade" com regras determinadas #ue se

imporiam aos indiv:duos no sentido de restringir os seus valores%

Con+orme Galliano 3./4.8" citado por ;oelter \ Plumer" a consciência

coletiva tam$=m se caracteri(a por constituir um sistema de crenças

e sentimentos di+undido na sociedade" mas tam$=m por ser

independente dos indiv:duos" em$ora somente se reali(e por meiodestes% Concordando com o pensamento de Costa e Galliano" ;oelter

\ Plumer di(emJ

3%%%8 a consciência coletiva representa a organi(ação socialpor#ue = o$>etiva" não vem de uma só pessoa ou grupo" masencontra-se espal*ada por toda a sociedade e" por isso" =e<terior ao indiv:duo% Portanto" não = ]o #ue um indiv:duopensa^" mas ]o #ue a sociedade pensa^% Ela age so$re oindiv:duo de +orma coercitiva" isto =" e<erce uma autoridadeso$re o modo como o indiv:duo deve agir no seu meio social%Ela imp,e as regras sociais" dessa +orma" a *armonia dogrupo 35116" p%08%

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9esse sentido" ;oelter \ Plumer o$servam #ue para preservar

essa *armonia" a sociedade deve assegurar a su$ordinação da

consciência individual consciência coletiva" #ue = o ponto alto de

integração social% Por conse#uência" a +unção primordial da punição =

manter intacta a coesão social" mantendo toda a vitalidade da

consciência comum% Para essas autoras" Dur*eim assegura

consciência coletiva a responsa$ilidade pela organi(ação social%

Apesar das e<plicaç,es e interpretaç,es la$oradas pelos

autores citados" Dur*eim a$andonou o conceito de consciência

coletiva e passou a empregar o conceito de representação coletiva%

Iago et al 351.58" aOrma #ue essa nova a$ordagem resultaria de dois

+atoresJ o primeiro seria o entendimento de #ue a consciência

coletiva se constituiria em +enmeno raro nas sociedades

contemporNneas" como e<posto na sua o$ra WDa divisão do tra$al*o

socialX - uma parte circunscrita das sociedades atuais% A noção de

consciência coletiva relacionaria-se mais aos processos com #ue as

sociedades primitivas garantiam sua coesão" ve( #ue caracteri(adas

por maior *omogeneidade e regidas por regras #ue serviam para

avigorar a solidariedade e a coesão da#uelas +ormas de organi(ação

social" ou se>a" estudar as crenças e sentimentos coletivos"

notadamente nos dom:nios da moral e da religião" considerados por

Dur*eim como argamassa da estrutura social% Em segundo lugar"

Dur*eim $uscava entender como os indiv:duos se ligavam

sociedade e como eram controlados por elaL como as crenças e os

sentimentos coletivos eram impostosL como a+etavam e eram

a+etados por outros +atores da vida social e como estes eram

mantidos e re+orçados% 9essa perspectiva" o conceito de consciência

coletiva di+erenciava crenças cognitivas e crenças morais ou

religiosas" tendo em vista #ue era por demais a$rangente e est!tico%

Dur*eim passa" então" a empregar o conceito de representaç,es

coletivas%

Como conceito c*ave da an!lise sociológica" apassagem da consciência coletiva para asrepresentaç,es coletivas caracteri(a-se pelo

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deslocamento da $ase e<plicativa dos +atos sociais" na]Divisão do tra$al*o social"^ para a valori(ação dosim$olismo coletivo como princ:pio +undante darealidade social 3I)" 5117" p%.0/8%

De acordo com &teven Iues 3./HH8" comentarista da o$ra

de Dur*eim" o sociólogo +rancês começou a empregar o conceito de

representaç,es coletivas por volta de ./4H" em W) &uic:dioX" ao

aOrmar #ue a vida social = +eita de representaç,es%

9o entanto" apesar de separarmos desta +orma a vidasocial da vida individual" não temos de +orma alguma aintenção de aOrmar #ue ele não tem nada de ps:#uico%[ evidente #ue" pelo contr!rio" = essencialmenteformada %or re%resenta/0es% &implesmente" asre%resenta/0es coleti'as  são de uma nature(a muitodi+erente da das representaç,es individuais 3DU'QEM"./40" p%./0 gri+o meu8%

Para Dur*eim" as representaç,es coletivas são estados da

consciência coletiva" di+erentes em nature(a dos estados da

consciência individual% Elas e<primem o modo pelo #ual o grupo

conce$e a si mesmo em suas relaç,es com os o$>etos #ue o a+etam%

Com e+eito" as representaç,es coletivas tradu(em amaneira como o grupo se pensa nas suas relaç,es comos o$>etos #ue o a+etam% )ra" o grupo e constitu:do demodo di+erente do individuo e as coisas #ue o a+etamsão de outra nature(a% Iogo" representaç,es #ue nãoe<primem nem os mesmos su>eitos nem os mesmoso$>etos não poderiam depender das mesmas causas%Para compreender a maneira como a sociedade serepresenta a si própria e ao mundo #ue a rodeia"precisamos considerar a nature(a da sociedade e não ados particulares% )s s:m$olos com #ue ela se pensamudam de acordo com a sua nature(a% 3DU'QEM"./40" p% H/8%

Dur*eim 3$idem" p%5.5_50_5708 alega #ue as

representaç,es religiosas são representaç,es coletivas #ue e<primem

realidades coletivasL os ritos são maneiras de agir #ue nascem no

seio dos grupos reunidos e #ue são destinados a suscitar" a manter ou

a re+a(er certos estados mentais desses grupos% Da mesma +orma"

assegura #ue a linguagem e<prime a maneira pela #ual a sociedade"

em seu con>unto" representa os o$>etos da e<periênciaL as noç,es #ue

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correspondem aos diversos elementos da l:ngua seriam" pois"

representaç,es coletivas% Por outro lado" revela #ue as

representaç,es coletivas contem elementos su$>etivos sendo

necess!rio #ue eles se>am progressivamente depurados para se

tomarem mais pró<imos das coisas%

Iues 3./HH" p%./8 comenta #ue o conceito de

representação coletiva em Dur*eim apresenta duas conse#uências

signiOcativasJ primeiro" a ideia de representação re+ere-se tanto ao

modo de pensar" conce$er ou perce$er" #uanto ao #ue = pensado"

conce$ido ou perce$ido% &egundo" a representação = coletiva tanto

em sua origem" #ue determina o seu modo e sua +orma" #uanto em

sua re+erência ou o$>eto% ?am$=m = coletiva" o$viamente" pelo +ato

de ser comum aos mem$ros de uma sociedade em grupo% Em outras

palavras" as representaç,es coletivas são geradas socialmente"

re+erindo-se sociedade e estando so$re a sociedade%

Ainda de acordo com Iues" as representaç,es coletivas

resultam do su$strato de indiv:duos associados 3#ue varia de acordo

com sua posição geogr!Oca" a nature(a e o número de seus canais de

comunicação8" mas não podem ser redu(idas" nem inteiramente

e<plicadas pelas caracter:sticas de individuo" por#ue possuem

caracter:sticas sui generis% Iues e<plica #ue Dur*eim relaciona as

representaç,es coletivas com os traços da vida social colocando-as

dentro do seu conceito de +atos sociais%

Eis" portanto" uma ordem de +atos #ue se apresentamcaracter:sticas muito especiaisJ consistem em maneiras

de agir" de pensar e de sentir" e<teriores ao individuo e#ue são dotadas de um poder de coerção em virtude do#ual esses +atos se imp,em a ele% Por conseguinte"esses não poderiam se con+undir com os +enmenosorgNnicos" >! #ue consistem em representaç,es e emaç,esL nem com os +enmenos ps:#uicos" os #uais sótem e<istência na consciência individual e atrav=s dela%Esses +atos consistem" portanto" uma esp=cie nova" e =eles #ue deve ser dada reservada #ualiOcação desociais% 3DU'QEM" 511H" p% 0-7%8

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9esse sentido" Iues relata #ue as representaç,es coletivas

seriam +atos situados numa estrutura macro" numa superestrutura

social%

Con+orme )liveira 351.58" o conceito de representaç,es

coletivas = central em Dur*eim e mant=m semel*anças com o

conceito de +ato social% ?odavia" = menos imperioso e coercitivo #ue o

último" >! #ue = +or>ado no cotidiano das interaç,es sociais%

Carval*o 351168 assevera #ue" socialmente" as

representaç,es coletivas sinteti(am o #ue os *omens pensam so$re si

mesmos e so$re a realidade #ue os cerca% Assim" as representaç,es

alcançam o terreno das pr!ticas sociais" s #uais se ligam" em$ora

essa relação não ten*a sido suOcientemente desenvolvida por

Dur*eim%

) conceito de representaç,es coletivas = ao mesmo tempo

+orma de con*ecimento e guia para as aç,es sociais" >ustamente os

sentidos mais desenvolvidos por toda a corrente da Psicologia &ocial

desenvolvida e liderada por &erge Moscovici% ) conceito de

representaç,es coletivas Wperpassa a o$ra dur*eimiana e l*e

con+ere sentido pro+undamente sociológicoX 3)I2E'A" 51.5" p%/18%

.%.% DA NOÇÃO DE REPRESENTAÇÃO PELO V@ES DA PSICOLOGIASOCIAL

A Psicologia &ocial surge no s=culo KK com o intento de +a(er

uma cone<ão entre a psicologia e as ciências sociais% 9essa

perspectiva" &erge Moscovici" psicólogo romeno naturali(ado +rancês"

numa releitura cr:tica da noção dur*eimiana de representação

coletiva" apresenta a $ase teórica das representaç,es sociais"

contemplada na sua tese WA Psican!lise" sua imagem e seu pú$licoX

pu$licada em ./.%

A leitura cr:tica de Dur*eim" reali(ada por Moscovici"

constitui-se no marco inicial da teoria das representaç,es sociais%

A &ociologia vê" ou mel*or" viu as representaç,es

sociais como arti+:cios e<planatórios" irredut:veis a#ual#uer an!lise posterior% 3%%%8 Assim" o #ue eu

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propon*o +a(er = considerar como um +enmeno o #ueera antes visto como um conceito 3M)&C)2C" 511H"p%768%

Para Moscovici as representaç,es coletivas de Dur*eim

a$rangiam uma cadeia completa de +ormas intelectuais #ue inclu:amciência" religião mito" modalidade de tempo- espaço" e isso se

consistia em pro$lema pelo +ato de ao se #uerer incluir demais se

inclui muito pouco% Moscovici acrescenta" portanto" duas

#ualiOcaç,es #ue >ulga signiOcativas% 9a primeira e<pressa #ue as

representaç,es sociais devem ser vistas como uma maneira

espec:Oca de compreender e comunicar o #ue >! se sa$e" a$straindo

o sentido do mundo e nele introdu(indo ordem e percepç,es #ue orepresentam de uma +orma signiOcativa% 9esse sentido" sempre

possuem duas +aces interdependentes" como as de uma +ol*a de

papelJ a +ace icnica e a +ace sim$ólica" assim ancorando toda

imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem 3$idem" p%78%

9a segunda #ualiOcação" mantendo-se Oel tradição

aristot=lica e antiana" Moscovici aOrma #ue o conceito de

representação dur*eimiano se mostrava $astante est!tico" algoparecido com a concepção dos estoicos% Como conse#uência" as

representaç,es +uncionavam como suportes para muitas palavras ou

ideias" estagnadas na atmos+era da sociedade% Moscovici não

considera essa #ualiOcação como algo totalmente +also" contudo

o$serva #ue na contemporaneidade as representaç,es devem ser

vistas dentro do seu car!ter móvel e circulante" em suma" da sua

plasticidade% Em outras palavras" as representaç,es sociais atuam emum con>unto de relaç,es e de comportamentos #ue surgem e

desaparecem >unto com as próprias representaç,es 3$idem" p%7H8%

Para Moscovici" mais ou menos interligadas livremente" as

representaç,es sociais se apresentam como uma rede de ideias"

met!+oras e imagens" sendo mais móveis e Zuidas #ue as teorias%

3%%%8 as representaç,es sociais em movimento seassemel*am mais estreitamente ao din*eiro #ue

linguagem% Como o din*eiro" elas têm uma e<istência medida #ue são úteis" #ue circulam" ao tomar

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di+erentes +ormas na memória" na percepção" nas o$rasde arte e assim por diante" em$ora sendo" contudo"sempre recon*ecidas como idênticas" do mesmo modo#ue .11 +rancos podem ser representados por umanota" um c*e#ue de viagem" ou um número no e<tratoda conta $anc!ria 3M)&C)2C" 511H" p%5148%

 Moscovici tam$=m aOrma #ue as representaç,es são sociais

por#ue se constituem em um +ato psicológico de três maneiras

di+erentesJ .8 possuem um aspecto impessoal" no sentido de

pertencer a todosL 58 são a representação de outros" pertencentes a

outras pessoas ou a outro grupoL 08 são uma representação pessoal

perce$ida a+etivamente como pertencente ao ego% Como o din*eiro"

as representaç,es são constru:das com o duplo Om de agir e avaliar"não pertencendo a um dom:nio separado de con*ecimento são

su>eitas s mesmas regras de outras aç,es e avaliaç,es sociais

3$idem8%

&endo assim" as representaç,es sociais são entidades #uase

tang:veis" uma ve( #ue circulam" se entrecru(am e se cristali(am

continuamente" por meio de uma palavra" de um gesto" de uma

cele$ração" de uma música" dentre os muitos +enmenos docotidiano" Correspondem" de um lado" su$stNncia sim$ólica #ue

entra na sua ela$oração" e" por outro" pr!tica espec:Oca #ue produ(

essa su$stNncia" do mesmo modo como a ciência ou o mito

correspondem a uma pr!tica cient:Oca ou m:tica% Pessoas e grupos

criam representaç,es no decurso da comunicação e da cooperação e"

uma ve( criadas" ad#uirem vida própria" circulam" se encontram" se

atraem e se repelem" dando oportunidade ao WnascimentoX de novas

representaç,es" en#uanto as vel*as representaç,es WdesaparecemX

3$idem" p%.1_7.8%

Moscovici aOrma #ue as representaç,es sociais tratam do

universo consensual e sua Onalidade = esta$elecer um mapa das

+orças" dos o$>etos e acontecimentos #ue são independentes dos

dese>os *umanos e aos #uais se reage inconscientemente% Por outro

lado" as representaç,es restauram a consciência coletiva e l*e d!

+orma" e<plicando os o$>etos e acontecimentos" de tal modo #ue eles

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2,

se tornam acess:veis a #ual#uer um e coincidem com interesses

imediatos% Para tal" um o$>eto deve tanto WaparecerX e WparecerX

interessante #uanto importante% As representaç,es sociais podem

responder determinada necessidadeL podem responder a um estado

de dese#uil:$rioL e podem" tam$=m" +avorecer a dominação

impopular" mas imposs:vel de erradicar" de uma parte da sociedade

so$re outra 3$idem" p%658_678%

Moscovici +oi seguido por três grandes pes#uisadoresJ Denise

 odelet" illem Doise e ean-Claude A$ric" cada um deles tra(endo um

aporte particular para o desenvolvimento da teoria das

representaç,es% Em Paris" na *scole des autes em Sciences Sociales

R EE&&" Denise odelet manteve-se Oel proposta original"

privilegiando claramente um en+o#ue *istórico e cultural para a

compreensão do sim$ólico% Em Gene$ra" o grupo liderado por illem

Doise articula as representaç,es com uma perspectiva mais

sociológica" en+ati(ando a inserção social dos indiv:duos como +onte

de variação dessas representaç,es% A Escola de Midi" liderada por

 ean-Claude A$ric" da !ni'ersit2 de +ro'ence" privilegia a dimensão

cognitiva das representaç,es" a partir de um en+o#ue estrutural%

,(,(,( A C!rr"#$" Cu2$ura2is$a

&egundo Almeida 351168" a corrente culturalista valori(a a

articulação entre as dimens,es sociais e culturais +ocali(ando o >ogo

da cultura e de suas especialidades *istóricas" regionais"

institucionais e organi(acionais sem cair num particularismo

pre>udicial ao intercNm$io e a cooperação% Esta corrente centra-se

nos seguintes aspectosJ apreender os discursos dos indiv:duos e dos

grupos #ue mantêm a representação de um dado o$>etoL apreenderos comportamentos e as pr!ticas sociais por meio das #uais as

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2-

representaç,es se mani+estamL e<aminar os documentos e registros

nos #uais os discursos" as pr!ticas e os comportamentos são

institucionali(ados" analisando as interpretaç,es #ue estes rece$em

nos meios de comunicação de massa" os #uais contri$uem tanto para

a manutenção #uanto para a trans+ormação das representaç,es%

'esumindo a a$ordagem culturalista" &êga 35111" p%.5/8

indica as seguintes caracter:sticas como +undamentais para a

deOnição de representação social% .8 [ sempre representação de um

o$>etoL 58 tem sempre um car!ter imag=tico e a propriedade de

dei<ar intercam$i!veis a sensação e a ideia" a percepção e o

conceitoL 08 tem um car!ter sim$ólico e signiOcanteL 78 tem um

car!ter construtivoL 68 tem um car!ter autnomo e criativo%

Para Denise odelet 3511.8" principal representante da

corrente culturalista" a noção de representação interessa todas as

ciências *umanas% Assim" ela pode ser encontrada na &ociologia"

Antropologia e istória" #ue a estuda em suas relaç,es com a

ideologia" os sistemas sim$ólicos e as atitudes sociais reZetidas pelas

mentalidades% Com $ase em autores como Mic*elat \ &imon 3./HH8"

Ma`tre 3./H58" ;ourdieu 3./458 e aBe 3./H08" Denise odelet aOrma

#ue para o sociólogo a representação social se relaciona a

comportamentos pol:ticos e religiosos" aparecendo" pela sua

o$>etivação na linguagem e sua aceita$ilidade pelo discurso pol:tico"

como um +ator de trans+ormação social% ! para o *istoriador"

representação pode ser considerada como um elemento necess!rio

da cadeia conceitual" permitindo" assim" pensar as relaç,es entre o

material e o mental% Para o antropólogo" por seu turno" em cada

+ormação social ela atri$ui a propriedade de particulari(ar a ordem

cultural de ser constitutiva do realL e" da organi(ação social" de ter

uma eOc!cia própria em seu devir%

 odelet entende #ue a noção de representação social

apresenta" como os +enmenos #ue ela permite a$ordar" certa

comple<idade na sua deOnição e em seu tratamento% &ua posição

mista na encru(il*ada de uma s=rie de conceitos sociológicos e de

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conceitos psicológicos implica #ue ela se>a relacionada com os

processos #ue se erguem de uma dinNmica social e de uma dinNmica

ps:#uica% Deve-se considerar" de um lado" o +uncionamento cognitivo

e o do aparel*o ps:#uico" de outro" o +uncionamento do sistema

social" dos grupos e das interaç,es" na medida em #ue estes

a+etam a gênese" a estrutura e a evolução das representaç,es e são

a+etados por sua intervenção% Pondera #ue odelet #ue = necess!rio

#ue as representaç,es sociais devem ser estudadas articulando

elementos a+etivos" mentais e sociais e integrando" ao lado da

cognição" da linguagem e da comunicação" a consideração das

relaç,es sociais #ue a+etam as representaç,es e a realidade material"

social e ideal so$re a #ual elas intervêm% Para a autora" +oi nessa

perspectiva #ue Moscovici +ormulou e desenvolveu sua teoria% odelet

menciona #ue *! representaç,es #ue atravessam os indiv:duos% &ão

as #ue imp,em uma ideologia dominante" ou as #ue estão ligadas a

uma condição deOnida no interior da estrutura social% Mas" mesmo

nesses casos" o compartil*ar implica uma dinNmica social #ue

considera a especiOcidade das representaç,es 3$idem" p%058%

9o n:vel dos processos de +ormação" a partir de Moscovici"

 odelet di( #ue as representaç,es sociais se estruturam na

o$>etivação e na ancoragem% ?odavia" independentemente dos

aspectos de desenvolvimento" os processos de +ormação das

representaç,es dão conta de sua estruturação% sso vale" segundo a

autora" particularmente para a o$>etivação" #ue se decomp,e em três

+asesJ construção seletivaL es#uemati(ação estruturante e

naturali(ação% As duas primeiras" ligadas ao pertencimento social dos

indiv:duos" mani+estam notadamente o e+eito da comunicação e das

restriç,es% Vuanto ancoragem" esta interv=m na +ormação das

representaç,es assegurando sua incorporação no social e enrai(ando-

as numa rede de signiOcaç,es #ue permite situ!-las +ace aos valores

sociais e dar-l*es coerência% 9o #ue respeita aos conteúdos das

representaç,es R conteúdos representativos R aOrma odelet #ue

estes estão O<ados nos di+erentes suportesJ linguagem" discurso"

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documentos" pr!ticas" dispositivos materiais" sem pre>ulgar a

e<istência de correspondência entre eventos intraindividuais e

coletivos% 9o n:vel dos conteúdos representativos" as representaç,es

produ(em três tipos de e+eitoJ as distorç,es" as suplementaç,es e os

des+al#ues%

  odelet di( #ue as representaç,es circulam nos discursos"

são carregadas pelas palavras" veiculadas nas mensagens e imagens

medi!ticas" cristali(adas nas condutas e agenciamentos materiais ou

espaciais% Essas representaç,es +ormam um sistema e dão lugar a

teorias espontNneas" vers,es da realidade #ue encarnam as imagens

ou condensam as palavras" am$as carregadas de signiOcaç,es%

&egundo a autora" por meio dessas diversas signiOcaç,es" as

representaç,es e<primem os indiv:duos ou grupos #ue os +or>am e

dão do o$>eto #ue representam uma deOnição espec:Oca% Essas

deOniç,es partil*adas pelos mem$ros de um mesmo grupo constroem

para esse grupo uma visão consensual da realidadeL visão" #ue pode

entrar em conZito com a de outros grupos" = um guia para as aç,es e

trocas cotidianas 3511." p%5.8%

As representaç,es sociais" na ótica de odelet" são

+enmenos comple<os sempre ativos #ue operam na vida social e #ue

em sua ri#ue(a +enomênica caracteri(am diversos elementos #ue são

s ve(es estudados de maneira isolada% Esses elementos podem ser

in+ormativos" cognitivos" ideológicos" normativos" crenças" valores"

atitudes" opini,es" imagens" elementos culturais" ideológicos" dentre

outros% 9ão o$stante" tais elementos são sempre organi(ados como

uma esp=cie de sa$er #ue di( alguma coisa so$re o estado da

realidade%  Para odelet" a caracteri(ação da representação social

so$re a #ual *! acordo na comunidade cient:Oca = a de #ue

representação = uma +orma de con*ecimento" socialmente ela$orado

e compartil*ado" #ue tem um o$>etivo pr!tico e concorre para a

construção de uma realidade comum a um con>unto social% De igual

modo ressalva #ue marcado como sa$er do senso comum ou ainda

sa$er ingênuo" esta +orma de con*ecimento distingue-se do

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con*ecimento cient:Oco% ?odavia" = tida como um o$>eto de estudo

tão leg:timo #uanto a#uele" por sua importNncia na vida social" pelos

esclarecimentos #ue tra( acerca dos processos cognitivos e as

interaç,es sociais% Como +enmeno cognitivo" di( odelet" associam o

pertencimento social dos indiv:duos s implicaç,es a+etivas e

normativas" s interiori(aç,es das e<periências" das pr!ticas" dos

modelos de conduta e de pensamento" socialmente inculcados ou

transmitidos pela comunicação social a #ual estão ligados% Por esta

ra(ão" seu estudo constitui uma contri$uição decisiva para a

apro<imação da vida mental individual e coletiva% 3$idem" p% 08

9essa perspectiva" as representaç,es sociais são a$ordadas

simultaneamente como o produto e o processo de uma atividade de

apropriação da realidade e<terior ao pensamento e da ela$oração

psicológica e social da realidade% sso implica di(er #ue se est!

interessado em uma modalidade de pensamento" so$ seu aspecto

constituinte" os processos" e constitu:do" os produtos ou conteúdos%

Portanto" = uma modalidade de pensamento #ue tem sua

especiOcidade em seu car!ter social% odelet esclarece #ue o ato de

representar ou corresponde a um ato de pensamento pelo #ual o

indiv:duo se relaciona com um o$>eto% Este o$>eto tanto pode ser um

evento material" ps:#uico ou social" um +enmeno natural" uma ideia"

uma teoria" etc% Pode ser tanto real #uanto imagin!rio ou m:tico" mas

sempre re#uer um o$>eto% Portanto" declara a autoraJ não *!

representação sem o$>eto% 3$idem" p%558

Vuanto ao ato de pensar" #ue esta$elece a relação entre o

su>eito e o o$>eto" este tem caracter:sticas espec:Ocas em relação a

outras atividades mentais 3perceptiva" conceitual" memorial etc%8% De

um lado" a representação mental" como a representação pictórica"

teatral ou pol:tica" d! uma visão desse o$>eto" toma-l*e o lugar" est!

em seu lugarL ela o torna presente #uando a#uele est! distante ou

ausente% A representação =" pois" a representante mental do o$>eto

#ue reconstitui sim$olicamente% De outro lado" como conteúdo

concreto do ato de pensar" a representação carrega a marca do

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su>eito e de sua atividade% De acordo com odelet" este último aspecto

remete ao car!ter construtivo" criativo e autnomo da representação

#ue comporta uma parte de reconstrução" de interpretação do o$>eto

e de e<pressão do su>eito 3$idem8%

,(,(*( A C!rr"#$" S!'i"$a2 " a T"!ria /! N'2"! C"#$ra2

De acordo com Almeida" a corrente societal" preconi(ada por

illem Doise" $usca a articulação de e<plicaç,es de ordem individual

com e<plicaç,es de ordem societal" evidenciando #ue os processos

#ue os indiv:duos disp,em para +uncionar em sociedade são

orientados por dinNmicas sociais interacionais" posicionais ou devalores e de crenças gerais%

Essa perspectiva pressup,e a integração de #uatro n:veis de

an!lise% ) primeiro +ocali(a os processos interindividuais" analisando o

modo como os individuais organi(am suas e<periências com o meio

am$iente% ) segundo" centra-se nos processos interindividuais e

situacionais" $uscando nos sistemas de interação os princ:pios

e<plicativos t:picos das dinNmicas sociais% ) terceiro" leva em contaas di+erentes posiç,es #ue os indiv:duos ocupam nas relaç,es sociais

e analisa como essas posiç,es modulam os processos do primeiro e

segundo n:veis%

) #uarto n:vel de an!lise en+oca os sistemas de crenças"

representaç,es" avaliaç,es e normas sociais" adotando o pressuposto

de #ue as produç,es culturais e ideológicas" caracter:sticas de uma

sociedade ou de certos grupos" dão signiOcação aos comportamentosdos indiv:duos e criam as di+erenciaç,es sociais" em nome de

princ:pios gerais 3p%.5/8% &egundo Almeida" Doise entende as

representaç,es sociais como princ:pios geradores de tomadas de

posição" ligados s inserç,es sociais espec:Ocas" organi(ando os

processos sim$ólicos #ue inter+erem nas relaç,es sociais%

  Doise deOne o estudo das representaç,es sócias como a

an!lise das regulaç,es e+etuadas pelo metasistema das relaç,essociais sim$ólicas nos sistemas cognitivos individuais" o #ual deve

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responder seguinte #uestãoJ #uais regulaç,es sociais atuali(am

#uais +uncionamentos cognitivos em #uais conte<tos espec:Ocos

9esse entendimento" prop,e uma a$ordagem tridimensional para

estudar as representaç,es sociais" sendo #ue cada etapa dessa

a$ordagem corresponderia a uma *ipótese espec:Oca% Para Doise

isso signiOca identiOcar o campo comum das representaç,es sociais"

isto =" identiOcar os elementos comuns e a +orma como eles se

organi(am no estudo das representaç,es%

Dentro da a$ordagem estruturalista" de+endida por A$ric"

destaca-se a ?eoria do 9úcleo Central" cu>o +oco centra-se so$re os

conteúdos cognitivos das representaç,es" organi(ados e estruturados

em torno de um sistema central peri+=rico%

A organi(ação de uma representação apresenta umamodalidade particular" especiOcaJ não apenas oselementos da representação são *ierar#ui(ados" masainda" toda representação = organi(ada em torno de umnúcleo central" constru:do de um ou alguns elementos#ue dão ! representação sua signiOcação 3A;'C" .//7"p%./ a%ud AIMEDA" 5116" p%.058%

&egundo Almeida" a ideia essencial da ?eoria do 9úcleo Central

= a de #ue toda representação = organi(ada em torno de um núcleo

centrali(ador" entendido como o elemento +undante" uma ve( #ue

determina sua signiOcação e organi(ação interna% Assim" o núcleo

central seria composto de um ou mais elementos" mais est!veis"

coerentes" consensuais e *istoricamente deOnidos" cu>a essência

destruiria a representação ou l*e daria uma signiOcação

completamente di+erente%)s elementos peri+=ricos por seu turno estão em relação direta

com o núcleo central" tendo uma importante +unção no

+uncionamento da representação +rente s pr!ticas sociais ligadas ao

o$>eto% Estes elementos são menos est!veis e mais perme!veis ao

conte<to imediato e por isso são eles #ue vão permitir as variaç,es ou

modulaç,es individuais% Considerando os elementos centrais e

peri+=ricos" constata-se #ue a representação social = ao mesmo

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tempo est!vel e inst!velL r:gida e Ze<:vel% [ tam$=m tanto consensual

#uanto marcada por +ortes di+erenças interindividuais%

Para Almeida" a ?eoria do 9úcleo Central +ornece elementos

para compreender e e<plicar o processo de trans+ormação das

representaç,es% Assim" uma mudança de representação só

aconteceria se os elementos" a#ueles #ue l*e dão signiOcação" +orem

trans+ormados% &endo assim" A$ric então classiOca três +ormas de

trans+ormação das representaç,es sóciasJ trans+ormaç,es resistentes"

trans+ormaç,es progressivas e trans+ormaç,es $rutais%

As trans+ormaç,es resistentes se dão #uando novas pr!ticas

contraditórias podem ser ainda geridas pelo sistema peri+=rico e pelos

mecanismos cl!ssicos de de+esa% Estes elementos podem ser

interpretação e >ustiOcação ad hoc" racionali(aç,es" re+erência s

normas e<ternas das representaç,es" etc%

As trans+ormaç,es progressivas ocorrer #uando novas pr!ticas

sociais não são totalmente contraditórias com o núcleo central das

representaç,es% )s es#uemas ativados pelas novas pr!ticas vão se

integrar progressivamente aos es#uemas do núcleo central"

constituindo um novo núcleo" e" por conseguinte" uma nova

representação%

As trans+ormaç,es $rutais acontecem #uando" sem

possi$ilidade de recorrer aos mecanismos de+ensivos" as novas

pr!ticas p,em em <e#ue o signiOcado central da representação% A

partir disso" a relevNncia destas novas representaç,es" sua

permanência e seu car!ter irrevers:vel desencadeiam uma

trans+ormação direta e completa do núcleo central" e" portanto" de

toda a representação%

De acordo com a an!lise de Almeida" os pressupostos teóricos

da ?eoria do 9úcleo Central permitem #ue A$ric conclua #ue o estudo

de uma representação social não pode e não deve se limitar

unicamente identiOcação de seu conteúdo" devendo

necessariamente incluir o estudo de sua estrutura e organi(ação

interna%

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Almeida ressalta #ue as três correntes de estudo das

representaç,es sociais" representadas por uma a$ordagem de cun*o

mais culturalista ou mais sociológica ou pela a$ordagem estrutural"

não provocaram uma dissensão no interior da escola inaugurada por

&erge Moscovici% 9o entanto" o$serva #ue não +oi poss:vel evitar #ue

l:deres e seguidores dessas correntes marcassem claramente suas

di+erenças" e" ao apontarem para os limites de cada uma delas"

di+undiram suas a$ordagens e con#uistaram novos adeptos%

,(,(8( A NOÇÃO DE REPRESENTAÇÃO SOCIAL PELO VIHS DAISTRIA CULTURAL

)utro autor #ue se em$asou na ideia de representação

coletiva proposta por Dur*eim +oi 'oger C*artier" mas

di+erentemente de Moscovici" #ue tende para o campo da psicologia"

C*artier o$serva as representaç,es pelo vi=s da istória Cultural"

surgida a partir dos anos ./51 com os *istoriadores +ranceses da

Escola dos  Annales% Esses *istoriadores passaram a criticar

severamente a *istória pol:tica metódica" acusando-a de elitista"

erudita e acr:tica% Essa +orma de *istória" segundo os analistas" não

cola$orava na compreensão da sociedade" uma ve( #ue" priori(ando

o pol:tico" dei<ava de lado as mentalidades" o cultural e o social%

)pondo-se a essa postura" a Escola dos Annales engendrou uma nova

+orma de +a(er istória" #ue Ocou con*ecida como istória Cultural%

Para 9ilo )d!lia" na apresentação da o$ra de Peter ;ure WA

revolução +rancesa da *istoriograOaX 3.//.8" a necessidade de uma

*istória mais a$rangente e totali(ante surge do +ato de #ue o *omem"

como ser cu>a comple<idade em sua maneira de sentir" pensar e agir"

não se redu( a um p!lido reZe<o de >ogos de poder% &egundo )d!lia"

+a(er uma nova *istória era menos redesco$rir o *omem do #ue

desco$ri-lo na plenitude de suas virtualidades" #ue se inscreviam

concretamente em suas reali(aç,es *istóricas% 9esse sentido" surge

necessidade de ir $uscar em outras ciências os conceitos e os

instrumentos #ue permitiriam ampliar a visão do *omem%

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Portanto" apoiada na interdisciplinaridade" nasce a istória

Cultural" #ue $usca provocar reZe<,es acerca de novas tem!ticas ao

mesmo tempo em #ue o+erece a oportunidade de coligar ao seu

campo de estudo as representaç,es sociais" as mentalidades" o

imagin!rio coletivo" as pr!ticas sim$ólicas" os mitos" etc% Com isso" a

investigação *istórica se alargou no *ori(onte da pes#uisaL passou-se

a o$servar os sentimentos e os anseios da cultura pol:tica de

di+erentes grupos e as maneiras pelas #uais certas atitudes são

instauradas% A istória Cultural" portanto procurou promover uma

reZe<ão so$re as culturas centrada nos su>eitos *istóricos" en+ocando

os con+rontos pol:ticos presentes em di+erentes espaços e pr!ticas

sociais% &egundo C*artier 35115" p%.8" Wa *istória cultural 3%%%8 tem

por principal o$>eto identiOcar o modo como em di+erentes lugares e

momentos uma determinada realidade social = constitu:da" pensada"

dada a ler%X 9esta acepção" assegura #ue

3%%%8 ao tra$al*ar so$re as lutas de representação" cu>a#uestão = o ordenamento" portanto a *ierar#ui(ação daprópria estrutura social" a *istória cultural separa-se

sem dúvida de uma dependência demasiadamenteestrita de uma *istória social dedicada e<clusivamenteao estudo das lutas econmicas 3%%%8" pois centra aatenção so$re as estrat2gias sim&3licas  #uedeterminam posiç,es e relaç,es e #ue constroem" paracada classe" grupo ou meio" um ser perce$idoconstitutivo de sua identidade 3CA'?E'" .//." p%.40%Gri+o nosso8%

 Posicionando-se assim nos +undamentos da istoria Cultural =

#ue 'oger C*artier recorre a [mile Dur*eim +a(endo uma releitura

da sua ideia de representaç,es coletivas" da #ual" segundo C*artier =

poss:vel en<ergar três conOguraç,es de relação com o mundo social%

&endo assim" aOrmaJ

Este retorno a 3%%%8 Emile Dur*eim e noção de]representação coletiva^ autori(a a articular 3%%%8 trêsmodalidades de relação com o mundo socialJ de in:cio"o tra$al*o de classiOcação e de recorte #ue produ(conOguraç,es intelectuais múltiplas pelas #uais a

realidade = contraditoriamente constru:da pelosdi+erentes grupos #ue comp,em uma sociedadeL em

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seguida" as pr!ticas #ue visam a +a(er recon*ecer umaidentidade social" a e<i$ir uma maneira própria de serno mundo" a signiOcar sim$olicamente um estatuto euma posiçãoL enOm" as +ormas institucionali(adas eo$>etivadas em virtude das #uais ]representantes^3instNncias coletivas ou indiv:duos singulares8 marcamde modo vis:vel e perp=tuo a e<istência do grupo" dacomunidade ou da classe 3CA'?E'" .//." p%.408%

Para C*artier a ideia de representação = entendida como

relação entre uma imagem presente e um o$>eto ausente" um

valendo pelo outro por #ue l*e = *omóloga% sso" con+orme o autor"

permite discriminar di+erentes categorias de signos da#uilo #ue =

representado e caracteri(ar o s:m$olo por sua di+erença com outros

signos% Por outro lado" C*artier assevera #ue poderia *aver poss:veis

incompreens,es da representação" pelo +ato de e<travagNncia de

uma relação ar$itraria entre signo e o signiOcado% 9esse conte<to"

mencionaJ

As +ormas de teatrali(ação da vida social na sociedadede Antigo 'egime dão o e<emplo mais mani+esto deuma perversão da relação de representação% ?odas

visam" de +ato" a +a(er com #ue a coisa não ten*ae<istência a não ser na imagem #ue e<i$e" #ue arepresentação mascare ao inv=s de pintarade#uadamente o #ue = seu re+erente 3CA'?E'".//." p%.468%

C*artier o$serva #ue toda reZe<ão so$re a sociedade de

Antigo 'egime5  redunda na perspectiva de se considerar a posição

o$>etiva de cada indiv:duo como dependente do cr=dito #ue a#ueles

de #ue espera recon*ecimento con+erem representação #ue d! asim mesmo% Dessa maneira a ideia de representação = pertur$ada

pela +ra#ue(a da imaginação" #ue +a( com #ue se tome o engano pela

verdade" #ue considera os signos vis:veis como :ndices seguros de

uma realidade #ue não =% A representação" nesse sentido" trans+orma-

2 &e#!ndo iar (2010)% Anti#o /e#ime foi !m termo criado peo 'istoriador francs Aeis de

oc!eie (180,18,9) para se referir ao sistema poítico% econ5mico e socia !e se ori#ino! na 6rana%

e posteriormente se dif!ndi! ao on#o dos sc!os : ao ::: pea ;!ropa <cidenta% a=ran#ido s!as

co5nias nas Amricas e no restante do m!ndo. iar menciona !e a estr!t!ra do Anti#o /e#ime foimarcada pea forte centrai$a>o do ;stado na m>o do rei% con'ecida como monar!ia a=so!tista% !e

tee como #rande modeo o monarca L!ís : da 6rana.

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3-

se em m!#uina de +a$ricar respeito e su$missão% Assim" na

Odelidade cr:tica tradição dos  Annales" como ele mesmo di("

C*artier de+ende #ue se deve rearticular as pr!ticas culturais so$re as

+ormas de e<erc:cio do poder" e" ao mesmo tempo" uma re+ormulação

na maneira de a>ustar a compreensão das representaç,es e das

pr!ticas s divis,es do mundo social%

Para Carval*o 351168" a ideia de representaç,es sociais

proposta por 'oger C*artier e<prime um encadeamento de tens,es

#ue $uscam contra$alançar a dicotomia entre estruturalismo e

OlosoOa do su>eito% Essas tens,es resultam da incorporação de

elementos e<plicativos de di+erentes tradiç,es intelectuaisJ a tensão

entre representação condicionada pelo social e a representação da

matri( constitutiva do socialL a tensão entre a +unção pol:tica e a

+unção lógica das representaç,esL a tensão entre a representação da

realidade e a realidade da representaçãoL a tensão entre as

modalidades do +a(er crer e as +ormas de crença 3p%.6H8%

Das conceituaç,es de representação social e<postas a#ui" a #ue

mel*or se presta para reali(ar uma leitura do canto or+enico como

representação de poder = a#uela entendida segundo C*artier%

Portanto a $ase para essa leitura segundo as representação se O<ar!

nas proposiç,es de C*artier%

,(8 REPRESENTAÇES COMO ESPETÁCULOS DE PODER

  ) Estado imp,e um sistema de controle social #ue de certa

+orma mascara o controle e<ercido pela +orça coercitiva% Amoretti351.18 +a( duas o$servaç,es nesse conte<toJ a8 o poder pol:tico tem a

tendência de se institucionali(ar por#ue essa = a +orma #ue ele

encontra para se legitimarL $8 *! um poder da nstituição e<ercido

so$re o indiv:duo" uma ve( #ue *! toda a *istória a +avor desta" e" por

isso" ela = dotada de caracter:sticas como e<terioridade" o$>etividade

coercitividade e *istoricidade%

Para Amoretti 351.18" #uando o sistema de representaçãoestreita os laços de aOnidade com as instituiç,es" ele se caracteri(a"

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progressivamente" como autorreZe<ivo e autorre+erente% Dessa

+orma" presa ao processo de institucionali(ação" a pol:tica tende a

perder a capacidade de tradu(ir os anseios dos cidadãos" tornando-se

comum e natural ver o tratamento pol:tico para #uest,es da realidade

social restrito Ogura de um l:der #ue se incum$e de representar a

nação%

A lógica das representaç,es sociais" nessa perspectiva"

dei<a aparecer o >ogo de interesse" resistentes pelo *a$ito" #ue

colocam em c*e#ue a con>unção social% 9o conte<to desse >ogo =

comum se notar as pr!ticas espetaculares" a teatralidade" #ue" como

di( &ou(a 3511H8 = uma ocorrência inerente sociedade%

A rigor pode-se di(er #ue o espet!culo = imanente constituição social" assim como os rituais"representaç,es" pap=is" m!scaras sócias" etc% Portanto"a espetaculari(ação das relaç,es deve sercompreendida como inerente a todas as sociedades*umanas e" por conseguinte" presente em grande partedas instNncias organi(ativas e pr!ticas sociais 3p%078%

Por tr!s de todas as +ormas de arran>o da sociedade e de

organi(aç,es dos poderes" o antropólogo Georges ;alandier 3./458

relata #ue est! sempre presente o governo dos $astidores% A essa

+orma de governar" ;alandier c*ama de ]teatrocracia%^ ) termo +oi

cun*ado com $ase na peça teatral do russo 9icolau Evreinov" #ue

monta um tri$unal para todas as mani+estaç,es da e<istência social"

so$retudo as do poder pol:tico% &egundo ;alandier" como um regime

permanente #ue se imp,e aos diversos regimes pol:ticos" a

]teatrocracia^ tende a regular a vida cotidiana da sociedade%Ainda de acordo com o autor" o grande l:der pol:ticoL #ue" na

]teatrocracia^" se conOgura como um ator pol:tico" comanda o real

atrav=s do imagin!rio% Iu:s K2" por e<emplo" se +a( ator em seus

di'ertissements% ;ure 3511.8 esclareceJ

Em ./5 +oi organi(ado um dos mais grandiososespet!culos pú$licos do reinado" o carrousel" numa

praça em +rente s ?uileries% 9a dade Media" ocarrossel +ora uma competição popular em #ue *omensa cavalo deviam correr num picadeiro e reali(ar proe(as

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3%%%8% A aparição de Iu:s a cavalo como ]imperador dosromanos^ +oi um e#uivalente de suas apariç,es nopalco" com a di+erença de #ue nesta ocasião aaudiência era muito maior% 3%%%8 A importNncia pol:tica doevento" o primeiro divertimento de verdadeiroesplendor do rei 3%%%8 +oi ressaltado nas memórias reais3p%H48%

&egundo ;ure" a imagem de Iu:s K2 como ator pol:tico e

patrocinador magniOcente das artes rece$eu grande ên+ase durante o

seu reinado% Para o autor" isso tin*a o o$>etivo de causar impacto

so$re a Europa" numa verdadeira guerra de diplomacia #ue primava

em manter a autoaOrmação do rei%

3%%%8 os eventos do in:cio da d=cada de .1 sugerem#ue o >ovem rei e seus consel*eiros estavamdeterminados a causar um impacto so$re o pu$lico"tanto domestico #uanto estrangeiro% )s meiosempregados +oram a diplomacia e os +estivais" am$oscuidadosamente anunciados em outros meios decomunicação 3;U'QE" 511.% p%H8%

  ;ure conclui di(endo #ue a vida di!ria de Iu:s K2

compun*a-se de aç,es #ue não eram simplesmente recorrentes" mas

carregadas de sentido sim$ólico" uma ve( #ue eram desempen*adas

em pú$lico por um WatorX cu>a imagem era sacrali(ada% Assim" os

o$>etos mais intimamente associados ao rei tam$=m se tornavam

sagrados por#ue o representavam%

Perce$e-se #ue o pensamento de Peter ;ure se encadeia

com as ponderaç,es de ;alandier 3./458 ao ressaltar #ue" por meio

do espet!culo" o poder se mostra como sua própria emanação"

devolvendo uma imagem ideali(ada da sociedade% 9o entanto" essarepresentação implica separação" esta$elece *ierar#uias" muda os

#ue estão em di+erentes cargos e +a( de toda a sociedade um grande

espet!culo%

9essa perspectiva" ;alandier destaca #ue para marcar sua

entrada na *istória e aOrmar sua +orça" o poder utili(a meios

espetaculares como comemoraç,es e mani+estaç,es art:sticas% Por

outro lado" as W+estasX tam$=m propiciam sociedade oportunidade

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39

se mostrar idealmente" de maneira espetacular" uma ve( #ue

determinadas situaç,es e circunstNncias contri$uem para acentuar a

teatralidade #ue permeia as relaç,es sociais% Assim" mais aparente

em certas sociedades do #ue em outras" a teatralidade = o meio pelo

#ual os macro e micro poderes o$t=m su$ordinação%

9outro ponto" ;alandier 3./45" p%.78 aponta #ue a

representação espetacular da vida social não se separa de uma

representação do mundo" de uma cosmologia tradu(ida em o$ras e

em pr!ticas% 9esse sentido" destaca #ue os sistemas pol:ticos e as

encenaç,es de poder constituem uma re+erência necess!ria em vista

do esclarecimento de aspectos at= então descon*ecidos% )$serva"

igualmente" #ue a transOguração provocada pela encenação da

*ierar#uia se torna evidente nos regimes em #ue a$undam os

s:m$olos" pois tudo se relaciona ao c*e+e de Estado" ao l:der

so$erano% WEle esta no centro da representaçãoJ pal!cio" cortesãos"

desdo$ramento de +orça" cerimonial e +esta" marcas de di+erenciação

e comportamentos codiOcadosX 3;DEM" p%.H8%

;alandier di( #ue a dramati(ação do social não se apresenta

*omogênea" e nesse sentido" o autor esta$elece uma di+erença entre

o ocidente medieval e o ocidente renascentista% ) ocidente medieval

praticava a espetaculari(ação generali(ada da sociedade e o ocidente

renascentista era representado" so$retudo" pelas +estas em

cola$oração com as di+erentes artes%

A 'enascença +e( da representação uma arte"essencialmente pol:tica" praticada em casa dospr:ncipes e nos logradouros pú$licos% &ão as +estas porocasião dos nascimentos e dos casamentos" ascele$raç,es e solenidades da corte" os >ogos" asconsagraç,es" as ]entradas^" os triun+os e tam$=m oscorte>os c:vicos 3;AIA9DE'" ./45 p%.48%

9a ótica de ;alandier" na 'enascença" por meio da

transposição dram!tica de eventos *istóricos" pode-se o$servar a

tradução sim$ólica das relaç,es sociopol:ticas e a encenação da

ideologia% 9as mani+estaç,es pú$licas" os poderosos Oguram como

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personagens de uma representação #ue a sociedade o+erece a si

mesma% Elas su$stituem a ordem real pelas aparências e assegura

aos *eróis do drama prestigio e respeitoL a sociedade" por sua ve("

responde com o assentimento e a o$ediência%

'elem$rando &ou(a 3511H8" na sua o$servação #ue o

espet!culo = imanente constituição social" perce$e-se #ue" no

decorrer dos s=culos" v!rios acontecimentos demonstram a ideia de

teatralidade revelada por ;alandier% Um e<emplo são as +estas da

Gr=cia antigas denominadas como Dionis:acas% ) evento +oi institu:do

pelo tirano Pis:strato" apro<imadamente entre os anos 60 e 600 a%C%"

e ocorria na cidade de Atenas durante seis dias consecutivos" do dia

.1 ao dia .6 do mês *lafe&oli3n" #ue no calend!rio atual corresponde

ao Onal do mês de março e in:cio do mês de a$ril% ?ratava-se de uma

+esta pol:tico-religiosa" #ue so$ a +orma de concursos se reali(avam

di+erentes mani+estaç,es art:sticas" incluindo a encenação de

Com=dias e ?rag=dias%

Con+orme es 3511H8" as Dion:sias eram parte de um >ogo

pol:tico no #ual Pis:strato manuseava a religião contra a aristocracia

ateniense" tentando Ormar uma identiOcação entre o indiv:duo e o

Estado%

A construção sim$ólica em torno das Grandes Dion:siasagia em +unção de um investimento nos processosidentit!rios e de reaOrmação de um tipo de ideologia#ue valori(ava os ne<os c:vicos e a relevNncia para a

 %olis da participação dos cidadãos nos Nm$itos social epol:tico 3p%H58%

Vuanto ?rag=dia" para Gold*ill 3./4H8 ela +e( parte de um

conte<to pol:tico #ue aca$ou por desconstruir o discurso ideológico do

Estado grego" uma ve( #ue cerimnias pr=vias s encenaç,es teatrais

revelavam as relaç,es de poder sim$ólico esta$elecidas antes de as

 ?rag=dias serem postas em cena% WA trag=dia ser vista em seu

conte<to 3%%%8 como uma comple<a ação social #ue +a( alusão" no >ogo

dram!ticoX 3M)E';ECQ " 51.." p%6 a%ud 'ED'C" .//" p% 5/8%

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41

Para se +a(er uma leitura acerca da teatrali(ação mani+esta

como representação do poder pol:tico" al=m de ;alandier 3./48"

tam$=m De$ord 351168 aOrma #ue o espet!culo possui a tendência

de +a(er ver" por di+erentes mediaç,es" um mundo #ue não se pode

tocar diretamente% De$ord menciona #ue o espet!culo se apresenta

ao mesmo tempo como a própria sociedade" como uma parte da

sociedade" e como instrumento de uniOcação% Entretanto" a uniOcação

#ue se pretende não = outra coisa senão uma linguagem oOcial de

separação" isso por#ue o espet!culo #ue se reali(a = o lugar do ol*ar

iludido e da +alsa consciência%

&o$ o aspecto teatral do espet!culo" o poder pol:tico revela sua

+orça so$erana" e uniOca" em torno de sua ideologia" di+erentes

grupos% Constrói um imagin!rio coletivo a partir da dramati(ação dos

acontecimentosL imagin!rio #ue" por via das representaç,es sociais" o

poder instaurado manipula as massas em seu +avor% 9esse conte<to"

C*artier 351158 o$serva #ue as representaç,es assim constru:das são

sempre determinadas pelos interesses de #uem as +or>a" produ(indo

pr!ticas sociais e pol:ticas #ue tendem a impor uma autoridade

custa de outros para legitimar um pro>eto re+ormador% Dessa +orma"

as representaç,es se convertem em m!#uina de +a$ricar respeito e

su$missão e se trans+ormam em instrumento #ue produ( uma

e<igência interiori(ada" necess!ria e<atamente onde não = poss:vel

ou não se dese>a o recurso +orça $ruta% Com $ase em C*artier" =

poss:vel mencionar #ue a representação tende a considerar a posição

o$>etiva de cada indiv:duo como dependente do controle da#ueles

#ue a constroem%

A se#uência deste cap:tulo contemplar! um ol*ar so$re o

uso da música como suporte representativo de poder em um dos

regimes totalit!rios mais con*ecidos do mundo modernoJ o 9a(ismo%

 ulga-se pertinente a e<posição dessa tem!tica" uma ve( #ue = nesse

sentido #ue o 2arguismo incorporou o +asc:nio dos espet!culos

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or+enicos a Om de validar sua ideologia de construção de uma

identidade nacional%

,(9( A MÚSICA COMO REPRESENTAÇÃO DE PODER: O

PANORAMA DA ALEMANA NAJISTA(

Considerado um dos maiores +enmenos sociopol:ticos da

*umanidade" o regime na(ista +e( parte das construç,es de

ideologias pol:ticas #ue proli+eravam nos anos de ./01" erguendo-se

a partir de uma plata+orma de ação #ue visava construir um Estado

com $ase na conOança" *onra" disciplina" ordem e dedicação% De

acordo com o *istoriador e Olóso+o social" oão 'i$eiro únior 3.//."

p%48" produ(indo aversão ao caos" o na(ismo se constituiu em

resposta a uma situação de ansiedade perante o decl:nio das

estruturas sociais e econmicas do Estado Alemão% &egundo este

autor" o +enmeno originou-se em sociedades industriais

desenvolvidas ou de m=dio desenvolvimento" nas #uais se

encontrava uma impetuosa classe capitalista" uma classe oper!ria

numerosa organi(ada com uma ideologia potencialmente

revolucion!ria" e uma e<tensa camada pe#ueno-$urguesa" presa s

contradiç,es entre o capital e o tra$al*o" incapa( de encontrar sa:das

para seus dilemas sociais" pol:ticos e econmicos%

9a origem do 9acional-&ocialismo encontram-se elementos

como regime democr!tico inst!velL poderosos partidos de es#uerdaL

uma grave crise econmica e a cristali(ação dos sentimentos

nacionais e pessoais na pessoa de um c*e+e 3Führer 8% 9o mesmosentido dado por Mar<" Engels e Ienin" 'i$eiro únior e<plica #ue o

Estado na(ista +oi um aparel*o $urocr!tico #ue mantin*a um car!ter

materialista" coletivista" transpersonalista" e" para alguns" tam$=m

um car!ter m:stico%0 Al=m disso" o 9a(ismo +oi um meio para servir

comunidade do povo 3Volksgemeinschaft 8 em sua realidade *istórica

3 &e#!ndo Co!to (2008)% o c'amado misticismo na$ista !ma s!=corrente do ?a$ismo de nat!re$a !ase

rei#iosa na !a se pode o=serar !ma mist!ra da ideoo#ia na$ista com o oc!tismo% esoterismo%

 parapsicoo#ia e cripto'ist"ria. ;sta s!=corrente ida so=ret!do com a nfases rei#iosas dadas * fi#!ra de+iter e a s!posta miss>o do ?a$ismo na terra. ?o entanto% s!a eistncia coocada em d@ida por

a#!ns pes!isadores% !e a considera apenas !ma enda dos dias modernos.

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43

e dinNmica cu>o o$>etivo era" interiormente" conservar e mel*orar a

raça 3"asse8 e" e<teriormente" con#uistar o espaço vital 3Le&ensraum8

3$idem8%

Em estreita relação com as aOrmaç,es de 'i$eiro únior" a Olóso+a

pol:tica Alemã de origem >udaica" anna* Arendt 3./4/8" aOrma #ue o

colapso do sistema de classes e da pol:tica dos Estados-naç,es

europeus +oi um dos +atores #ue mais +avoreceu a ascensão do

na(ismo% Para esta autora" o nacionalismo dos anos de ./01 estava

ligado ao governo com a +unção de manter o e#uil:$rio do Estado-

nação% Entretanto" por outro lado" o$serva #ue

3%%%8 os cidadãos nativos de um Estado-nação+re#uentemente ol*avam com despre(o os cidadãosnaturali(ados 3%%%8 #ue *aviam rece$ido seus direitos porlei e não por nascimento" 3%%%8 mas nunca c*egaram aoe<tremo de propor a distinção pangermanista entre 3%%%8alien:genas do Estado 3%%%8 e alien:genas da nação" #uemais tarde +oi incorporada legislação na(ista 3A'E9D?"./4/" p%5.8%

9o conte<to acima descrito" Arendt 3./4/8 menciona #ue o

na(ismo +oi se construindo gradativamente a partir de um pe#uenopartido" tipicamente nacionalista" +ormado por um grupo de pessoas

de certa +orma alienadas aos acontecimentos do pa:s ou do mundo% A

maioria dos seus mem$ros eram pessoas #ue com pouca ou

nen*uma participação na pol:tica" o #ue permitiu a introdução de

novos m=todos de propaganda pol:tica e indi+erença s ideias da

oposição% Esse movimento" at= então colocado +ora do sistema de

partidos e re>eitado por ele" moldou um grupo #ue nunca *avia sidocooptado ou sedu(ido pelos partidos tradicionais%

  Uma ve( consolidado" Arendt 3./4/8 relata #ue o partido

na(ista seu novo m=todo de propaganda visava tornar sua ideologia"

totalit!ria e etnocêntrica" simp!tica aos alemães" isolando-os do

mundo e<terior Aleman*a% Alme>ando isso" moldados segundo a

administração regular do Estado" o na(ismo instituiu uma s=rie de

departamentos" como o de 'elaç,es E<teriores" Educação" Cultura"Esportes" etc% ) valor proOssional desses orgãos" conclui Arendt" era

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relativamente pe#ueno" mas >untos constitu:am um mundo de

aparências #ue tentava reprodu(ir os aspectos das naç,es

democr!ticas%

ocando as novas estrat=gias pol:ticas desenvolvidas pelo ?erceiro 'eic*" con+orme relata Arendt no livro WPropaganda e

Persuasão na Aleman*a 9a(ista"X a >ornalista Paula Die*l 3.//8

comenta #ue a propaganda desempen*ou uma +unção central no

na(ismo" de maneira #ue sem ela seria imposs:vel con>eturar o

mundo totalit!rio na(ista% &egundo a autora" para o Partido 9a(ista a

propaganda era o +undamento respons!vel tanto pela conversão de

simpati(antes #uanto pela manutenção da ordem artiOcial criada peloregime em vigor% 9o caso na(ista" a propaganda não se limitava

apenas aos meios de comunicação de massa" ela a$rangia todas as

atividades sociais%

Uma ve( #ue o universo totalit!rio se constrói em torno de

uma realidade artiOcial caracteri(ada pela manipulação dos +atos"

Die*l 3.//8 aOrma #ue na Aleman*a governada por Adol+ itler a

propaganda não ocupava e<cepcionalmente um lugar estrat=gico"mas tin*a um papel +undamental na +ormação e consolidação do

imagin!rio alemão" motivo pela #ual ela não pode ser vista apenas

como arti+:cio de conversão pol:tica% 9a concepção de Die*l" na

Aleman*a na(ista a propaganda protegia as +r!geis estruturas de

uma realidade criada%

A partir das consideraç,es apresentadas acima" pode-se

perce$er #ue o 9a(ismo pretendia construir um imagin!riocaracteri(ado pela manipulação da WrealidadeX% Iogo" a Aleman*a

entre-guerras era um am$iente ideal para se praticar o teatro pol:tico

e cultivar espet!culos sedutores" cu>a principal +unção era servir

como meio de e<pansão da doutrina na(ista% 9um Estado vivendo um

processo de desesta$ilidade econmica e social" Adol+ itler entre

outros arti+:cios" $uscava a sedução popular apresentando ao povo

algo #ue" supostamente" +osse genuinamente identiOc!vel com suap!tria%

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4,

Como instrumento eOca( no controle popular e

demonstração de poder" o regime *itlerista utili(ou" so$remaneira"

dos meio art:sticos% 9o Nm$ito descrito por Die*l 3.//8" a m!#uina

de propaganda na(ista passou a ol*ar mais de perto a música dos

grandes compositores alemães como Anton ;rucner" ;eet*oven e

'ic*ard agner" a Om de inOltrar no imagin!rio coletivo a ideia de

#ue os germNnicos eram" al=m de tudo" tam$=m o Wpovo da músicaX%

3APPIEGA?EL P)??E'" 51158%

A pol:tica na(ista $uscou notadamente em 'ic*ard agner e

;eet*oven uma +orma de representar a pure(a da arte alemã% Atrav=s

das ondas do '!dio" a o$ra desses compositores passou a ser

transmitida diariamente para todo o pa:s" num processo associativo

entre música sin+nica e estrat=gia governista% Em suma" pode-se

di(er #ue a música de agner e ;eet*oven +oi um instrumento

dinNmico em mãos na(istas para Ons e<pansivos e de demonstração

de poder%

 Contudo" = importante gri+ar #ue para a divulgação de sua

ideologia" pelo vi=s art:stico" o 9acional-&ocialismo pretendia

primeiramente depurar a arte de Wgermes contaminadoresX% Essa

depuração consistia em eliminar #uais#uer elementos considerados

como essencialmente não alemão% Para Adol+ itler" a arte alemã se

encontrava contaminada com elementos estrangeiros" principalmente

 >udaicos" o #ue a tornava uma arte corrompida% Pretendendo retirar

da Aleman*a tudo a#uilo #ue possivelmente pudesse ameaçar sua

cultura " a partir da criação do Minist=rio do 'eic* para

Esclarecimento Popular e Propaganda" em março de ./00" ocorreu o

#ue Pereira 351108 denominou como Wna(iOcaçãoX das atividades

art:sticas e  culturais alemãs" resultando na eliminação  de v!rias

instituiç,es culturais% Para cele$rar a WpuraX arte germNnica" em ./0H

+oi institu:do o WDia da Arte AlemãX  3Tag der deutschen Kunst 8" cu>a

comemoração se caracteri(ava por um gigantesco desOle militar ao

som da ?erceira &in+onia de Anton ;rucner 3GIIA9" .//H8%

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4-

9o tocante suposta WcontaminaçãoX da arte alemã" Adol+ 

itler 3./58 di(ia #ue a civili(ação da =poca era inimiga da elevação

moral do esp:rito de um povo" no caso" o povo alemão% itler se

re+eria em especial arte de vanguarda" #ue adentrava o s=culo KK e

se inOltrava na arte Wcomo elemento #ue l*e era a$solutamente

estran*o e descon*ecidoX 3?IE'" ./5" p%..08% Para o l:der na(ista"

um desli(e art:stico e um suposto desvirtuamento do $om gosto

est=tico poderiam dar prova da ru:na da arte e de um desvio

intelectual% 9essa perspectiva" aOrma #ue

3%%%8 o $olc*evismo da arte = a única +orma culturalposs:vel da e<teriori(ação do mar<ismo% Vuando essa

coisa estran*a aparece" a arte dos Estados$olc*evi#ui(ados só pode contar com produtos doentiosde loucos ou degenerados #ue" desde o s=culo passado"con*ecemos so$ a +orma de dada:smo e cu$ismo" comoa arte oOcialmente recon*ecida e admirada% %%%b [ umdever dos dirigentes proi$ir #ue o povo caia so$ ainZuência de tais loucuras% %%%b &o$ todos os aspectos"estamos em uma situação em #ue vice>a o germe #ue"mais cedo ou mais tarde" *! de arruinar a nossa cultura3 p%..78% 

Adol+ itler tam$=m aOrmava #ue a música e a ar#uitetura

nada deviam ao >uda:smo" por#ue de +ato nunca *ouve uma arte

 >udaica%

Para se >ulgar o >uda:smo em +ace da civili(ação *umana"= preciso salientar o traço caracter:stico mais inerente sua nature(a" a sa$erJ #ue nunca *ouve uma arte

 >udaica" como *o>e ainda não *!" e #ue as duas rain*asentre as artes - a ar#uitetura e a música - nada deespontNneo l*e devem" o #ue tem +eito no terreno

art:stico = ou +an+arronice ver$al ou pl!gio 3$idem"p%.008%

  Para itler" só os alemães eram os possuidores e os

disseminadores do verdadeiro sentimento art:stico" uma ve( #ue" na

sua visão" conservavam ao mesmo tempo arte e ciência em sua

cultura% 9esse esp:rito u+anista" de +orma teatral" como menciona

;alandier 3./48" o 9a(ismo $uscou em agner e ;eet*oven uma

+orma de representar a pure(a da arte alemã" incutindo no imagin!riosocial a concepção de #ue os grandes l:deres artisticos vieram do

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povo e se tornaram s:m$olos nacionais% W) artista pr:ncipe" nascido

do povo" unir! vida e Arte anunciando o Estado-9ovoX 3C)E9" ./4/

a%ud 'A2E'" .//4" p% 48%

  Em$asando-se nos princ:pios legitimadores de uma Wraça

superiorX" itler via em 'ic*ard agner alguns dos ideais do

9a(ismo" como um suposto antissemitismo" culto ao legado nórdico"

mito do sangue puro e os rudimentos de uma arte considerada por

ele como leg:tima% W'ic*ard agner" como músico" escritor pol:tico e

personalidade" representou a e<periência +undamental para a

+ormação de itlerX 3E&?" 5116" p%.68% [ +ato #ue Adol+ itler nutria

laços de ami(ade com a +am:lia de agner e #ue este +oi seu

compositor pre+erido%

Aos do(e anos vi pela primeira ve( %%%b ]Io*engrin^" aprimeira ópera #ue assisti na min*a vida% &enti-meimediatamente cativado pela música% ) entusiasmo

 >uvenil pelo mestre de ;aBreut* não con*ecia limites%Cada ve( mais me sentia atra:do pela sua o$ra" econsidero *o>e uma +elicidade especial #ue a maneiramodesta por #ue +oram as peças representadas nacapital da prov:ncia me tivesse dei<ado a possi$ilidadede um aumento de entusiasmo em representaç,es

posteriores mais per+eitas 3?IE'" ./5" p% ..8%

Figura ,:Adol+ itler com ine+red agner" nora de 'ic*ard agner" em ./00" no

estival de;aBreut*%  F!#$":

*ttpJ__@@@%@agneroperas%com_inde<@agner$aBreut*reic*%*tml

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48

Figura *:

Adol+ itler com os netos de 'ic*ard agner F!#$":*ttpJ__@@@%@agneroperas%com_inde<@agner$aBreut*reic*%*tml

) Führer  perce$ia o valor sim$ólico das óperas @agnerianas

para a nação e por esse motivo deu in:cio a um programa de +omento

oOcial >unto ao Westival de ;aBreut*"X a Om de *omenagear 'ic*ard

agner como grande l:der art:stico e" por empr=stimo" a ele mesmo

como l:der pol:tico 3CAIC)" 51158% itler via o Westival de ;aBreut*X

como uma permanente cele$ração do 9a(ismo e do ?erceiro 'eic*%

Com sua presença garantida no evento desde ./00" o estival se

trans+ormou no espet!culo nacional da mais alta categoria e

convertido num dos principais ve:culos de espetaculari(ação do poder

na(ista% Wsso +oi o #ue pode ser c*amado de per+eito casamento

entre arte e pol:tica" @agnerianismo e *itlerismoX 3QA'?E'" .//H" p%

//8%

Por outro lado" Calico 351158 menciona #ue" no in:cio" o ministro

da propaganda e da cultura" osep* Goe$$els" se opun*a ópera por

ac*ar #ue ela não alcançava o grande pú$lico" assim como ocorria

como a música popular e os Olmes% Para Goe$$els" a opereta era

menos s=ria" e" portanto" mel*or serviria para os intentos do partido

3entretenimento para o povo8% ?odavia" assim como Adol+ itler"

Goe$$els tam$=m valori(ava o signiOcado sim$ólico das óperas

@agnerianas para a nação e não #ueria #ue a Aleman*a +osse

perce$ida como um pa:s popularesco e reacion!rio% A propósito"

Deat*ridge 351148 menciona #ue após assistir a uma apresentação no

estival de ;aBreut*" o ministro da propaganda aOrmou #ue a música

de agner 34ie 5alküre8 soava como a marc*a das colunas alemãs e

#ue o compositor era um grande l:der essencialmente alemão%

  ) processo de apropriação da música de agner +oi tão

incisivo" #ue sua o$ra c*egou ser utili(ada como instigadora de

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esp:rito guerreiro nos soldados alemães #ue lutavam na &egunda

Guerra Mundial% 9esse per:odo mil*ares de soldados alemães eram

levados para assistir ao Westival de ;aBreut*"X a Om de #ue" Ormados

no e<emplo dos tenores @agnerianos" elevassem sua autoestima nos

campos de $atal*a

Figura 8:&oldados indo assistir ao estival de ;aBreut*%

F!#$": *ttpJ__@@@%@agneroperas%com_inde<@agner$aBreut*reic*%*tml

Ao lado de agner" como representante da suprema Arte

alemã" aparece a Ogura de ;eet*oven" considerado pelo 9a(ismo

como grande *erói ariano% irsc* 351.18 testiOca #ue autores

nacionalistas" desde a repú$lica de eimar" >! *aviam propagado a

imagem populari(ada de ;eet*oven ) 9acional-&ocialismo

considerava ;eet*oven como uma esp=cie de con#uistador do

mundo" imagem #ue permitiu aos musicólogos serviço da ideologiana(istas traçarem um paralelo entre ;eet*oven e itler%

;eet*oven representava no imagin!rio na(ista a imagem do

I:der Art:stico% 3Künstlerischen Führer 8% Essa representação serviu

para legitimar a pol:tica do Partido 9a(ista" promovendo ;eet*oven

como um artista #ue" similarmente Ogura de itler" teria antecipado

as ideias *eroicas do 9acional-&ocialismo% A proeminência de

;eet*oven no ?erceiro 'eic* levou o cr:tico alter aco$s a de+enderno K6lnische 7eitung" em ./07"  #ue o Partido 9a(ista elegesse a

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 ?erceira &in+onia como s:m$olo musical do ?erceiro 'eic*% irsc*

comenta #ue" a despeito de os na(istas elegerem Anton ;rucner

para sim$oli(ar o ?erceiro 'eic*" ;eet*oven continuou sendo um

importante :cone para o 9a(ismo% &ua música +oi regularmente

apropriada pelo partido em com:cios e convenç,es%

oi nesse conte<to" #ue em ./0" os na(istas utili(aram o

Finale  da 9ona &in+onia nos ogos )l:mpicos de ;erlim% irsc*

ressalva #ue com essa iniciativa os na(istas #ueriam dar signiOcação

universal poesia de &c*iller e música de ;eet*oven na atmos+era

de um evento internacional% Goe$$els con*ecia $em a mensagem da

o$ra e" em car!ter estritamente propagand:stico" #ueria mostrar para

o mundo a imagem de uma Aleman*a +raterna%

Das declaraç,es de a$ertura do $ar:tono at= o Onal docoro" o inale da 9ona &in+onia de ;eet*oven aOrma amissão OlosóOca da sin+onia de ligar o individual aouniversal% 9o entanto" *istoricamente" a universalidadena 9ona &in+onia +oi entendida em termos nacionais"particularmente na Aleman*a e na ustria% A sin+oniarepresentou tanto um indiv:duo #uanto um ideal paratoda a *umanidade 3PA9?E'" 511H" p% 58%

9o entanto" conclui irsc*" os organi(adores das )limp:adas

viram essa ocorrência como a proclamação da Volksgemeinschaft %

Ioc@ood 3511H8 acrescenta uma palavra de contri$uição a irsc* ao

pro+erir #ue

) Musicólogo simpati(ante na(ista" ans oac*im Mose"imaginou #ue ]um $ei>o no mundo inteiro^" de &c*iller e;eet*oven" muitas ve(es +oi mal compreendido nos

anos vermel*os da Aleman*a" mas deve se re+erir simples ideia de uma *umanidade conce$ida demaneira mais germNnica poss:vel% A ode alegria +oiapresentada" em ./0" nos ogos )l:mpicos de ;erlim"com uma precaução #ue *o>e parece irnica" e +oianunciada não como um s:m$olo da +raternidadeinternacional" mas como a proclamação daVolksgemeinschaft na(ista 3 $idem" p% 7H48%

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,1

Figura: 9

Figura 9J  Apresentação da 9ona &in+onia de ;eet*oven no anivers!rio de Adol+ itler"

em ./75 F!#$": *ttpsJ__@@@%Boutu$e%com_@atc*vGlPC0CA51

Ioc@ood 3511H8 aOrma #ue era $astante +!cil para a

propaganda na(ista aproveitar a terceira e a #uinta sin+onias de

;eet*oven como em$lemas do ?erceiro 'eic*" mas a 9ona

apresentava pro$lemas nesse sentindo" uma ve( #ue sua mensagem

de +raternidade *umana diOcilmente poderia ser en#uadrada na

doutrina da superioridade racial ariana% Ioc@ood assegura #ue" coma mesma prudência com #ue +oi apresentada nas )limp:adas de

./0" a 9ona &in+onia era apresentada +re#uentemente em salas de

concertos na Aleman*a" mas +oi mantida +ora do programa de

concertos reali(ados nos pa:ses ocupados" so$retudo na Europa"

o$viamente para evitar sua mensagem de +raternidade universal%

)utro pro$lema #ue Ioc@ood aponta entre a relação

;eet*oven e 9a(ismo era a legitimidade da descendência ariana de

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;eet*oven% &egundo Ioc@ood" a clara evidência Zamenga dos

ancestrais do compositor +oi negada pelo 9a(ismo numa s=rie de

artigos% )s na(istas #ueriam mostrar para a sociedade germNnica #ue

o Künstlerischen Führer   não tin*a nen*um traço racial suspeito" ou

não germNnico" em seu passado% Ioc@ood cita um trec*o dos artigos

#ue pululavam a respeito da pure(a racial de ;eet*oven%

9órdicos são" acima de tudo" os aspectos *eroicos dassuas o$ras" #ue muitas ve(es se elevam a umagrande(a titNnica% [ signiOcativo #ue" atualmente" nomomento da renovação nacional" as o$ras de;eet*oven se>am tocadas mais +re#uentemente do #ueas outras" e #ue se>am ouvidas em #uase todos os

eventos de teor *eroico% 3I)CQ))D" 511H" p%7H/8%

  Acreditando #ue ;eet*oven era um leg:timo ariano" o

WMinist=rio do 'eic* para Esclarecimento Popular e PropagandaX

promoveu suas o$ras" principalmente as mais con*ecidas e de

car!ter *eroico" como se estas +ossem a essência da arte germNnica

e ariana% ) impulso pu$licit!rio das o$ras de ;eet*oven" assim como

as de 'ic*ard agner" desenvolveu novos o$>etivos e novos

mecanismos para inserir nas mentalidades ingredientes ela$orados

em +avor da ideologia na(ista% ?rata-se da construção de uma

Wcomunidade imaginadaX" para usar os termos de &tuart all 35118"

pela criação de novos s:m$olos institu:dos em volta dos grandes

compositores alemães%

) 9acional-&ocialismo usou a música como tentativa de

vincular no imagin!rio da sociedade germNnica a imagem sim$ólica

de agner e de ;eet*oven como Wartistas pr:ncipesX #ue uniOcaria

vida e arte em um novo modelo de nação% A concepção do

+ortalecimento de s:m$olos nacionais realçados como +ator de coesão

nacional = en+ati(ada por ;alandier 3./458 ao aOrmar #ue o poder

esta$elecido não consegue se manter somente pela +orça $rutal ou

pela >ustiOcação racional% &egundo o autor" o poder só se reali(a e se

sustenta pela transposição de imagens e pela manipulação de

s:m$olosL nesse sentido" revela #ue a Om de tomar e manter o poder"

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o WPr:ncipeX deve atuar como ator pol:tico e assim +a(er uso de sua

imagem como correspondente da#uilo #ue seus súditos dese>am

encontrar%

)s na(istas tentaram desenvolver mecanismos cu>a eOc!cia

estaria no poder sim$ólico" cultivando no imagin!rio social #ue a

música e a imagem de agner e ;eet*oven poderiam uniOcar o povo

germNnico" am$os consu$stanciados" na verdade" sempre na Ogura

um WprincipeXJ Adol+ itler% Para austo 3.//48" o l:der na(ista

conseguiu triun+ar no seu intento" por#ue +oi capa( de apelar s

massas e mo$ili(!-las em uma situação de crise econmica e social"

apresentando-se como um *omem do povo #ue construiu

eOcientemente sua imagem sim$ólica de representante da raça

alemã" o+erecendo um mundo de glória e dominação para todos os

setores da sociedade dispostos a segui-lo%

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CAP@TULO *O VARGUISMO E SUA IDEOLOGIA

8 go'erno de Get9lio 4ornelles Vargas, 1:;<=1:>?, %ro'ocou muita contro'2rsia, desde .uesurgiu como conse.u@ncia da re'olu/o de 1:;<,e, no o&stante a 'ariedade de inter%reta/0es,tem sido, de um modo geral, reconhecido como omais signiBcati'o dos momentos decisi'os naist3ria contem%orCnea do rasilD A contro'2rsiase resume EDD em sa&er se o regime re%resentoumeramente uma mudan/a das %ersonalidades

 %olticas EDDD ou um mo'imento legitimamentere'olucionHrio EDDD, dotado de certo teor ideol3gico ELA!*"ASS Ir, 1:J, %D1?D

 &egundo D^Arau>o 351118" nos anos ./01" as conse#uências

da Primeira Guerra Mundial ainda mostravam a +ragilidade da ordem

nacional% A revolução sovi=tica de ./.H" por sua ve(" criou um novo

ordenamento pol:tico #ue aparecia como um golpe de misericórdia na

sociedade li$eral em crise% 'eagindo ao Ii$eralismo e tam$=m ao

comunismo emergente" cresciam as doutrinas totalit!rias de direita e

a propagação de r:gidas crenças ideológicas" #ue davam ao mundo

novas concepç,es so$re o #ue deveria ser o W*omem novoX" a W$oa

sociedadeX e a +unção do Estado% As doutrinas totalit!rias tin*am em

comum o mito do Estado +orte e o culto personalidade" am$os tidos

como +atores +undamentais na +ormação da coesão social e da

unidade nacional% Em termos econmicos e sociais" prevaleciam nas

doutrinas totalit!rias os ideais do intervencionismo estatal" isto =" o

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,,

Estado tin*a e deveria ter #ualidades superiores s do indiv:duo e da

sociedade%

D^Arau>o 351118 in+orma #ue em meio a essas ideologias" as

#uais mo$ili(avam multid,es" surgiu um regime ditatorial #ue no

;rasil" Portugal e Espan*a" rece$eram o nome de Estado 9ovo% De

acordo com D^Araú>o" a maneira concreta como esse WnovoX incidiu

so$re um regime pol:tico +oi o e<emplo do 9a(ismo na Aleman*a" do

ascismo na t!lia e do corporativismo de Estado do ;rasil e de outros

pa:ses sul-americanos e europeus% ) WnovoX nesses regimes

representava o ideal pol:tico de encontrar uma via #ue se a+astasse

tanto do capitalismo li$eral #uanto do comunismo" doutrinas pol:ticas

#ue desde meados do s=culo KK" e mais intensamente a partir da

revolução sovi=tica" competiam entre si a Om de o+erecer uma

alternativa pol:tico-econmica para o mundo% Em am$as as doutrinas

*avia a intenção de solucionar os pro$lemas do capitalismoJ

desigualdade social" crises" insegurança econmica" conZito de

classes e de interesses%

) Estado 9ovo criticava a sociedade li$eral capitalista e o

socialismo mar<ista" notadamente por estes regimes dei<arem em

segundo plano as tradiç,es nacionais" uma ve( #ue preconi(ava a

universalidade dos princ:pios pol:ticos" a revolução prolet!ria como

solução geral para as sociedades capitalistas e o Om da propriedade

privada% Com isso impun*a um modelo de estati(ação da produção

por meio da ditadura do proletariado" o #ue aca$ava por se constituir

na ditadura de uma classe% 9ão o$stante" de acordo com D^Araú>o

351118" a consciência prolet!ria e o Om da propriedade privada não

eram o alvo principal das preocupaç,es do totalitarismo de direita%

Para o Estado 9ovo" por e<emplo" o inaceit!vel era a perda dos

sentimentos nacionalistas" o en+ra#uecimento da religiosidade e a

imposição dos interesses de uma classe so$re as outras% Por seu

turno" como proposta #ue se #ueria inovadora" o Estado 9ovo

propun*a a conciliação desses sentimentos com um sistema de

produção #ue so$repusesse os interesses da 9ação aos das classes"

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dos indiv:duos e dos grupos econmicos por meio da ação direta do

Estado%

D^Araú>o 351118 aOrma #ue uma poss:vel solução pol:tica para

o s=culo KK" na visão das correntes totalitarista de direita" seria a

ideia de um Estado-9ação +orte" #ue poderia ser tradu(ido como

autoritarismo e ideologia nacionalista e<tremada" uma ve( #ue para

se construir a 9ação" o Estado teria #ue regular as atividades dos

cidadãos" promover o desenvolvimento e +omentar o esp:rito de

nacionalidade% ) Estado +orte seria então di+undido por meio do seu

l:der" o c*e+e de Estado%

Para anelatto 351.58" o per:odo entre ./01 a ./76 Ocou

con*ecido na *istoriograOa $rasileira como a Era 2argas% Getúlio

2argas assume o Estado $rasileiro pela via de um movimento pol:tico

de +orçaJ a c*amada 'evolução de ./01" da #ual ele +oi o principal

l:der% Desta data" at= o ano de ./07" 2argas governou como c*e+e do

Governo Provisório" #uando passou a ser oOcialmente presidente após

a *omologação de uma nova constituição" o #ue se e+etivou"

+undamentalmente" em ra(ão das press,es internas #ue se

evidenciam principalmente por meio da 'evolução Constitucionalista

de ./05 em &ão Paulo% Este per:odo passou então a ser denominado

como WGoverno ConstitucionalX% &eu mandato deveria terminar no

ano de ./04" por=m" estendeu-se at= ./76" em ra(ão do golpe de

./0H #ue instaurou o Estado 9ovo% 3&E''A?)" 51148%

Carneiro 351..8 salienta #ue no golpe militar liderado por

Getúlio 2argas" o Estado apelou para um con>unto de leis de e<ceção

#ue serviram para preparar o ;rasil para rece$er as propostas

revolucion!rias do +ascismo e do na(ismo como novidades da

modernidade% &egundo esta autora" a imprensa $rasileira cuidou de

reportar" com alguma admiração" as con#uistas de Mussolini a partir

de ./55 e de Adol+ itler a partir de ./00%

)s nacionalismos R alemão e italiano R se trans+ormaram em

+ontes de inspiração para o modelo de nação #ue se pretendia

construir no pa:sJ +orte e *omogênea% Ainda de acordo com Carneiro

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351..8" governado por Getúlio 2argas" o ;rasil se tornou uma esp=cie

campo livre para a circulação de na(istas e +ascistas" >! #ue as ideias

de itler começaram a aportar no ;rasil a partir de ./5/" #uando

imigrantes alemães rec=m-c*egados +ormaram os primeiros núcleos

na(istas no pa:s% Vuanto s mani+estaç,es +ascistas" Corti 351168

salienta #ue estas se +a(iam sentir no ;rasil por meio da Ação

ntegralista ;rasileira 3A;8" organi(ação liderada por Pl:nio &algado%

Para D^Araú>o

3%%%8 no plano pol:tico" 2argas não dei<ou dúvidas so$resuas simpatias pelos regimes +ortes% [ o #ue se podeo$servar no pronunciamento #ue +e( em >ul*o de ./71

para uma plateia de militares a $ordo do navio MinasGerais" #uando criticou a pol:tica li$eral e aOrmouJ]2el*os sistemas e +órmulas anti#uadas entraram emdecl:nio 3%%%8 o Estado tem a o$rigação de assumir as+orças produtoras%^ 9uma alusão direta Aleman*a e t!lia" elogiava as naç,es +ortes #ue se imp,em pelaorgani(ação $aseada no sentimento da P!tria e pelaconvicção da própria superioridade 35111" p%78%

9esse mesmo clima de simpatia" Dietric* 3511H8 menciona #ue

na es+era pessoal" o casamento de Iut*ero 2argas" Ol*o de Getúlio2argas" com a alemã nge$org ?en*aeY" incentivou o di!logo entre

;rasil e Aleman*a" tornando-se" no plano sim$ólico" indicação da

cordialidade supostamente reinante entre os dois pa:ses% Como

e<emplo dessa $oa relação" Dietric* 3511H8 cita a correspondência

entre 2argas e itler" em novem$ro de ./0H" por ocasião da troca de

em$ai<adores alemães no ;rasil% 9o ense>o" 2argas se dirige a itler

como grande e $om amigo%

f sua E<celência e &en*or Adol+ itler" grande e $omamigo% 'ece$i a carta pela #ual 2ossa E<celência *ouvepor $em participar-me #ue" tendo resolvido c*amar o&en*or Doutor &c*midt-Elsop" deu por Onda a missão#ue ele desempen*ava no ;rasil" na #ualidade deem$ai<ador e<traordin!rio e plenipotenci!rio daAleman*a 3511H" p%.H08%

Dietric* aOrma #ue esta carta = um documento #ue revela a

$oa relação entre Adol+ itler e Getulio 2argas% &egundo a autora" a

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pregarem o Om do conZito pol:tico como camin*o para a pa( e o

desenvolvimento" usam a +orça do Estado para suprimir outras +ormas

de poder% Por conseguinte" aca$am sendo autorit!rios uma ve( #ue se

imp,em pela +orça e pelo policialismo%

Con+orme esta autora" o 9a(ismo e o ascismo são uma

mani+estação evidente desta ideologia" por#ue a o$ediência pol:tica =

tradu(ida como civismo% Da:" a importNncia das comemoraç,es

c:vicasL mas" por outro lado" a discordNncia = interpretada como

traição p!tria% Com graus e nuanças particulares" +oi isso o #ue se

deu no ;rasil durante o regime varguista%

Pode-se mencionar #ue" semel*ança do 9a(ismo e do

ascismo" o Estado-9ovo $rasileiro +oi e<pressão das intenç,es

totalit!rias de direita" #ue se revelavam por interm=dio das v!rias

comemoraç,es c:vicas introdu(idas por Getúlio 2argas" como tam$=m

pelo culto sua própria personalidade% WGetúlio era o c*e+e pol:tico

#ue sim$oli(ava o poder do Estado e a nacionalidade% Era o c*e+e de

Estado e da 9açãoX 3D^A'A)" 5111" p%.08% 

*(,( CONSTRUÇÃO DE UMA MATRIJ IDENTITÁRIA OMOGÊNEA

  Apesar de a pol:tica varguista delegar $astante importNncia

ao nacionalismo e ao sentimento de unidade nacional" isso não +oi

uma novidade criada por Getúlio 2argas% De acordo com o *istoriador

Iauer*ass únior 3./48" o ideal nacionalista >! vin*a percorrendo um

longo camin*o desde a =poca do mp=rio% &egundo o racioc:nio deste

*istoriador" uma preocupação nacionalista da Era 2argas W+oimani+estada em seu programa de promover" popularmente" um

sentimento de identidade nacional comum e positivo"X 3p%.7/8% Em

outras palavras" a construção de uma matri( identit!ria *omogênea%

3%%%8 não =" assim" tão moderno como aparenta ser% Eleconstrói identidades #ue são colocadas" de modoam$:guo" entre passado e +uturo% Ele se e#uili$ra entrea tentação por retornar a glórias passadas e o impulso

por avançar ainda mais em direção modernidade% Asculturas nacionais são tentadas" algumas ve(es" a sevoltar para o passado" a recuar de+ensivamente para

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a#uele ]tempo perdido^" #uando a nação era ]grande^Lsão tentadas a restaurar as identidades passadas 3all"511" p%68%

Ao a$ordar o nacionalismo" Iauer*ass únior 3./48 aOrma #ue

se trata de um +enmeno *istórico #ue surgiu no s=culo K2" na

Europa" como ideologia #ue com$inava patriotismo com as teorias da

so$erania" e estadismo com as nascentes ideias de nacionalidade%

&egundo o autor" no Om do s=culo K2" o nacionalismo estendeu-se

nos planos institucional e popular por meio da 'evolução rancesa%

Desta +eita" espal*ou-se rapidamente para outros pa:ses europeus a

americanos" +ortalecendo as aspiraç,es de independência%

As ideias nacionalistas vindas da Europa se espal*aramno ;rasil em Ons do s=culo K2" como ocorreu naAm=rica Iatina em geral" +ortalecendo o patriotismonativista >! e<istente e +a(endo surgir variedades deprotonacionalismo 3algo mais #ue o patriotismo local"mas carente de um sentimento de nacionalidadeclaramente deOnido8" #ue deram suporte ideológico anumerosos movimentos pela independência 3IAUE'A&&

 U9)'" ./4" p%.48%

Entretanto" de acordo com o re+erido autor" em ra(ão do +ato

de o ;rasil ter se separado de Portugal sem revolução" e dentro da

estrutura mon!r#uica da Casa de ;ragança" o nacionalismo $rasileiro

representou um papel +uncional menos importante na con#uista da

independência% Em .455" o novo imperador" Dom Pedro " teria tão

somente su$stitu:do o vel*o rei" oão 2" como o$>eto de lealdade% Em

seguida" o novo monarca" de certa +orma" eliminou as possi$ilidades

ideológicas e institucionais representadas por concepç,es de vi=srepu$licano%

Durante a d=cada da 'egência 3%%%8 os dirigentespol:ticos #ue 3%%%8 poderiam ser atra:dos pelonacionalismo utili(aram 3%%%8 o s:m$olo da coroa" e nãoda nação" como o mais apto a manter a unidade 3%%%8territorial% Por outro lado" 3%%%8 #uando o imperador +oia+astado por um golpe de estado" em .44/" o s:m$olouniOcador da Coroa desapareceu com ele 3%%%8 eb os:m$olo da 9ação su$stituiu o da Coroa 3IAUE'A&&

 9)'" ./4" p% 518% 

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&eguindo" Iauer*ass únior o$serva #ue nas primeiras d=cadas

da 'epú$lica o 9acionalismo Zoresceu" so$retudo" no plano

ideológico" e" em$ora a sua institucionali(ação e a sua populari(ação

se O(essem sentir na =poca da Primeira Guerra Mundial" seu principal

desenvolvimento ocorreu depois de ./01% Por esta =poca"

esta$eleceu-se com rapide( e persistência uma mentalidade

nacionalista" não como reação a crises internas ou como con#uista da

independência ou como reação direta ao dom:nio pol:tico estrangeiro%

Para Iau*er*ass únior" o nacionalismo $rasileiro se caracteri(a

3%%%8 em primeiro lugar e de maneira destacada" 3%%%8 onacionalismo $rasileiro tem-se preocupado com aprocura da identidade nacional% Em #ue consistee<atamente a nação $rasileira Vuem são os$rasileiros" o #ue os caracteri(a e #uais são as $ases danacionalidade $rasileira Então" uma ve( desco$erta ecompreendida a essência da $rasilidade" ela pde sercultivada e utili(ada para +ortalecer a unidade nacional3./4" p%508%

Iau*er*ass únior aponta #ue em$ora em n:vel restrito a

agitação nacionalista viesse de longa data" a primeira convocaçãoinstitucional importante para um es+orço coletivo +oi +eita pela

W'evista do ;rasilX 3./.-./578% Pu$licada em &ão Paulo" inicialmente

so$ a direção de Monteiro Io$ato" o periódico" seguindo a sua

e<pressa Onalidade" procurou constituir um núcleo de propaganda

nacionalista" estimulando os >ovens escritores a apresentarem

estudos so$re os principais pro$lemas do pa:s e so$re as ra:(es

*istóricas da cultura $rasileira%f medida #ue aumentou a consciência social" os intelectuais

passaram a se preocupar mais com os pro$lemas concretos #ue

assolavam o ;rasil" a vida cultural se integrou mel*or na vida

nacional 3IAUE'A&& 9)'" ./48% Ao mesmo tempo" salienta o autor"

os pol:ticos se voltaram para os intelectuais" ao $uscarem o apoio

ideológico necess!rio para legitimar e +ortalecer o regime varguista e

a ideia de desenvolvimento e identidade nacional%  9o meio dessascon+us,es e dissens,es" o nacionalismo intelectual mostrou

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+ormid!vel vitalidade" +a(endo da#uele per:odo um dos mais criativos

e produtivos%

9o governo 2argas" segundo Carval*o 351158" suscitar o

sentimento comum de pertencimento a uma comunidade nacional +oi

importante para o +ortalecimento de uma pol:tica mais centralista" na

#ual as necessidades de todos os mem$ros da +ederação seriam

atendidas a partir de diretri(es do governo +ederal% Dentro disso"

Contier 3.//48 ressalva #ue para os nacionalistas $rasileiros da Era

2argas o verdadeiro $erço da civili(ação $rasileira estaria renascendo

com o Getulismo% 9esse WrenascimentoX da civili(ação $rasileira"

destacam-se principalmente dois intelectuaisJ Cassiano 'icardo e

Gil$erto reBre%

Para Iauer*ass únior 3./48" Getúlio 2argas procurou

consolidar a +ragment!ria contri$uição #ue os intelectuais >! vin*am

apresentando anos anteriores e canali(ar os +uturos es+orços mais

eOca(mente" mantendo em mente a ideia de desenvolvimento

econmico" >ustiça social" eOciência pol:tica" unidade nacional"

patriotismo e orgul*o da identidade nacional% De acordo com o autor"

esses elementos deviam ser pensados com $ase nos limites de uma

ideologia mais a$rangente%

Assim" em ./7." Cassiano 'icardo pu$licou na revista WCultura

Pol:ticaX" um dos ve:culos de propaganda do regime de 2argas" um

artigo denominado W) Estado-9ovo e seu esp:rito $andeiranteX% Esta

pu$licação +oi impulsionada por sua o$ra anterior" W) ;rasil no

)riginal"X lançada em ./0H" livro escrito em +orma de prosa no #ual

Cassiano 'icardo a$orda o $andeirantismo como +enmeno social e

pol:tico com intuito de mostrar a contri$uição de &ão Paulo para a

construção de uma identidade nacional original no pa:s 3CAMP)&"

5118%

Em W) Estado-9ovo e seu esp:rito $andeiranteX" o autor

remete Ogura do $andeirante" mitiOcando-o e o mostrando como

uma Ogura no$re" um tra$al*ador h em analogia com o oper!rio do

per:odo getulista h" o verdadeiro $rasileiro" Wpovoando o interior do

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-3

pa:s e possi$ilitando o nascimento da uma autêntica democracia na

#ual se identiOcariam as origens do governo do Estado-9ovoX

3CA'2AI)" 5115" p%/58%

A organi(ação sui generis  da +am:lia $andeirante"$aseada no regime patriarcal" ter! a sua contrapartidana organi(ação do Estado $rasileiro% Como na +am:lia+ormada no planalto" o c*e+e de Estado deve concentrartodos os poderes" na medida em #ue se destaca dosdemais pelas suas #ualidades espec:Ocas 3'CA'D)"./0H" p%.18%

Da citação de W;rasil )riginal"X pu$licado em ./0H" perce$e-se

certa semel*ança entre o c*e+e $andeirante e o c*e+e Getúlio 2argas%

Al=m dessa analogia " Carval*o 351158 realça #ue na situação pol:tica

do per:odo 2argas" o movimento das ;andeiras o+erecia os

delineamentos de um Estado democr!tico" social e nacionalista" de

um Estado moderno $aseado no culto da tradição e do *ero:smo%

Carval*o 351158 de+ende #ue o personagem do $andeirante

revela um s:m$olo *eroico do passado *istórico da 9ação" e" portanto"

deveria servir de inspiração aos vivos" como algu=m #ue sou$e

vencer as adversidades" #ue se sacriOcou pela coletividade e #ue =

um e<emplo de sa$edoria e de esp:rito solid!rio% &egundo Carval*o"

essa +oi uma estrat=gia pol:tica articulada pelos ideólogos do Estado

9ovo a Om de tra(er tona um con>unto de elementos

compartil*ados por uma comunidade" como lem$ranças" mitos e

valores a Om de +ormar os sim$olismos de identiOcação nacional com

intentos pol:ticos% 9esse sentido" Contier 3.//48 aOrma #ue a $ase

nacionalista do per:odo 2argas +oi constru:da pelo es+orço de

recuperar uma dimensão do passado na tentativa de contri$uir para a

legitimação da autoridade pol:tica da =poca%

9a mesma ótica" Pereira 3.//H8 menciona #ue o Estado-9ovo

criou e veiculou uma tradição nacionalista entendendo-a como pr!tica

de nature(a ritual e sim$ólica" criada para inculcar valores #ue se

associavam imagem positiva do Estado% &egundo esta autora" isso

esta$eleceu uma continuidade" mesmo #ue artiOcial" entre o presente

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e certas pr!ticas ligadas a um passado *eroico" com o o$>etivo de

legitimar a pol:tica do presente% De acordo com Pereira" tendo como

propósito a integração nacional" o 2arguismo permitiu #ue

pensadores pudessem tra(er suas concepç,es acerca da ideia de

nacionalismo e identidade nacional%

Pereira aOrma #ue disposição do Estado estavam os

modelos das sociedades nordestina" mineira e paulista como

alternativas para a construção de uma identidade $rasileira% 9esse

sentido" Amoroso Iima desenvolve um modelo mineiro de $rasilidadeL

Cassiano 'icardo relaciona o Estado-9ovo com o movimento das

$andeirasL Gil$erto reBre escreve WCasa-grande e sen(alaJ +ormação

da +am:lia $rasileira so$ o regime de economia patriarcalXL &=rgio

;uar#ue de olanda ela$ora W'a:(es do ;rasilXL Caio Prado unior

conce$e a Wormação do ;rasil contemporNneoX" e M!rio de Andrade

edita WMacuna:ma" o *erói sem nen*um car!ter%X [ importante notar

#ue todas estas o$ras" escritas durante a Era 2argas" procuram traçar

as supostas origens e ar#u=tipos da identidade nacional $rasileira%

9essa perspectiva" Iauer*ass r% \ 9ava 3511H8 o$servamJ

Alguns dos mais importantes paradigmas parainterpretar 3%%%8 a identidade nacional surgiram entre osanos de ./51 e ./71% Apesar das di+erenças deperspectivas e de o$>etivos e<istentes entre Gil$ertoreBre" &=rgio ;uar#ue de olanda" Caio Prado únior e3%%%8 Mario e )s@ald de Andrade" todos parecempartil*ar a mesma tendência de deslocar a noçãodeterminista de raça R predominante no s=culo KK Rcomo conceito $!sico para a an!lise social e a produçãoest=tica" em +avor do conceito de cultura 3IAUE'A&& '%L

9A2A" 511H" p%668% 

De acordo com Iauer*ass únior 3./48" $aseado na

*armoniosa mistura de raças e culturas" em WCasa-grande e &en(alaX

Gil$erto reBre o+ereceu sua maior contri$uição para o pensamento

nacionalista $rasileiro% Con+orme Iauer*ass únior" apresentando um

#uadro um tanto id:lico das relaç,es raciais no ;rasil" a tese de

Gil$erto reBre so$re a democracia social $rasileira +oi" de modo

acentuado" respons!vel pela criação de uma nova imagem R em parte

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-,

real e em parte m:tica R" #ue deu aos $rasileiros um crescente

sentimento de orgul*o nacional%

Gil$erto reBre procurou e<plicar as $ases *istóricas da

identidade nacional e divulgar uma nova e positivaimagem do $rasileiro% Em sua incans!vel procura daidentidade do ;rasil e em suas consideraç,es acercados pro$lemas nacionalistas relacionados R unidade"preservação da cultura" legitimidade pol:tica e >ustiçasocial R reBre" mais do #ue #ual#uer outro escritor deseu tempo" conseguiu rea$ilitar o passado nacional3IAUE'A&& 9)'" ./4" p%4/8%

2igorosamente" Gil$erto reBre de+endia a cultura nacional

especialmente em +ace da ameaça do pangermanismo no sul do;rasil" c*egando a mencionar o perigo da propaganda cultural pró-

germNnica e anti$rasileira #ue se espal*ava entre as minorias de

imigrantes alemães% Entre os valores culturais +undamentais #ue

deveriam ser protegidos" nen*um era mais importante" para reBre"

do #ue a#uilo #ue c*amava de democracia social $rasileira 3racial"

=tnica e cultural8" o #ue se c*ocava" na =poca" com as doutrinas

raciais alemãs de arianismo% reBre e<altava as virtudes do ;rasil"

para ele" o pa:s *istoricamente mais $em-sucedido do mundo na

+usão =tnica e cultural 3IAUE'A&& 9)'" ./48% &eguindo essa lógica"

a pol:tica varguista apontava para o +ato de #ue seria necess!rio

pensar o ;rasil a partir dele mesmo" isto =" da sua própria

identiOcação cultural%

9o entanto" para +alar de identidade e seus processos de

construção +a(-se imprescind:vel recorrer a &tuart all 35118" cu>o

tra$al*o" a partir de um posicionamento espel*ado em Antonio

Gramsci" centra-se principalmente no estudo das #uest,es culturais%

Em sua an!lise" all 35118 distingue três concepç,es de identidadeJ

a do su>eito iluminista" do su>eito sociológico e do su>eito pós-

moderno% A concepção identit!ria do su>eito iluminista sustenta o

racioc:nio de #ue no luminismo o *omem era totalmente centrado"

uniOcado" dotado das capacidades de ra(ão" de consciência e de

ação" cu>o centro consistia num núcleo interior%

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--

A ideia de su>eito sociológico = o reZe<o da crescente

comple<idade do mundo moderno e a consciência de #ue este núcleo

interior do su>eito não era autnomo e autossuOciente" mas +ormado

na relação com outras pessoas signiOcativas para o su>eito" as #uais

mediavam os valores" sentidos e s:m$olos dos mundos #ue *a$itava%

&egundo all 35118" a identidade na concepção sociológica

preenc*e o espaço entre o interior e o e<terior" entre o mundo

pessoal e o mundo pú$lico% 9essa lin*a de pensamento" a identidade

atrela o su>eito estrutura ao mesmo tempo em #ue esta$ili(a tanto

os su>eitos #uanto os mundos culturais #ue eles *a$itam" tornando

am$os reciprocamente mais uniOcados e predi(:veis% ! o su>eito pós-

moderno surge em conse#uência do colapso das identidades #ue

compun*am as paisagens sociais tradicionais #ue asseguravam a

con+ormidade su$>etiva com as necessidades o$>etivas da cultura% De

acordo com all 3511" p%..8 o su>eito pós-moderno não apresenta

uma identidade O<a" essencial ou permanente" uma ve( #ue esta se

torna Wuma cele$ração móvelJ +ormada trans+ormada continuamente

em relação s +ormas pelas #uais se = representado ou interpelado

nos sistemas culturais #ue nos rodeiamX

Em outras palavras" o su>eito pós-moderno assume

identidades di+erentes em di+erentes momentosL identidades #ue não

são uniOcadas ao redor de um WeuX coerenteL identidades muitas

ve(es contraditórias" empurrando em di+erentes direç,es% Assim" o

sentimento de uma identidade uniOcada" desde o nascimento at= a

morte" ocorre por#ue constru:mos uma Wcon+ortadora narrativa do

euX" no di(er de &tuart all% 9esse sentido" o$serva #ue a identidade

plenamente uniOcada" completa" segura e coerente = um tipo de

+antasia% Ao inv=s disso" segundo esse autor" medida #ue os

sistemas de signiOcação e representação cultural se multiplicam" o

indiv:duo = con+rontado por uma multiplicidade de identidades

poss:veis" com cada uma das #uais poder:amos nos identiOcar" ao

menos temporariamente% Por isso mesmo" as identidades nacionais

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não são inatas" mas constru:das e reconstru:das no interior de

representaç,es%

 &egundo ;enedict Anderson 351148" uma nação ser! sempre

uma comunidade so$erana" imaginada e limitada% &er! so$erana

por#ue o nacionalismo nasce >ustamente num momento em #ue o

luminismo e a 'evolução rancesa começam a destruir a legitimação

dos reinos din!sticos de ordem divina% [ imaginada por#ue" na

medida em #ue uma nação consecutivamente se conce$e como

estrutura de camaradagem *ori(ontal" independentemente das

*ierar#uias e desigualdades e<istentes" ela esta$elece a ideia de um

]nós^ coletivo% &er! limitada por#ue apresenta +ronteiras Onitas e

nen*uma se imagina como e<tensão única da *umanidade%

 ! para &tuart all 35118" a nação não = apenas uma

entidade pol:tica" mas algo #ue produ( sentidos" um sistema de

representação cultural% Para este autor" as pessoas não são apenas

cidadãs legais de uma naçãoJ elas participam da ideia de nação tal

como representada em sua cultura nacional% 9esse ponto de vista" a

nação = considerada uma Wcomunidade sim$ólicaX" visto #ue as

culturas nacionais são compostas não apenas de instituiç,es

culturais" mas tam$=m por s:m$olos e representaç,es" o #ue e<plica

o poder #ue uma nação tem para gerar um sentimento de identidade

e lealdade%

Com respeito constituição de um sentimento nacionalista"

all 35118 menciona #ue ao produ(ir sentidos com os #uais as

pessoas se identiOcam" a cultura de um pa:s aca$a criando uma

identidade nacional e ao mesmo tempo uma sensação de

nacionalismo% &egundo all" esses sentidos estão presentes nas

*istórias contadas so$re a nação" conectando passado e presente

com as imagens #ue dela são constru:das%

9o sentido acima descrito" Anderson 351148 assegura #ue

representaç,es como o >ornal" o romance" o museu" os censos" os

mapas" dentre outros" se conOguram como elementos signiOcativos

na e<pressão do esp:rito nacional% Destas representaç,es" Anderson

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destaca notadamente o >ornal e o romance% Para este autor" o >ornal

constitui-se em ve:culo recorrente nas pr!ticas nacionais" tendo em

vista #ue pressup,e sempre a ideia de pro<imidade" ao mesmo tempo

em #ue transmite not:cias de locais distintos em tempos variados% )

romance" por seu turno" destaca-se na construção coletiva de um

passado comum e identiOcado% Com ele se tem uma esp=cie de

sustentação e solide( de uma comunidade #ue naturali(a a *istória e

o próprio tempo%

Anderson assegura #ue por meio desses elementos

representativos a nação se converte numa comunidade sólida"

recorrendo constantemente a uma *istória previamente selecionada e

possi$ilitando os governantes pro>etarem seus dese>os e

perspectivas% Apesar de todas as vicissitudes da *istória" esses

elementos" #ue são essenciais no car!ter nacional" permanecem

imut!veis" como um cont:nuo ao longo das mudanças 3AII" 51148%

As e<plicaç,es de &tuart all e ;enedict Anderson en#uadram-

se per+eitamente no conte<to do regime 2arguista" #ue para construir

uma determinada ideia de pertencimento nação" envolveu" por

assim di(er" uma intricada rede de Wma#uiavelismosX% Dentre os

instrumentos utili(ados destacam-se o WDepartamento de mprensa e

PropagandaX 3DP8L as revistas WCultura e Ciência Pol:ticaXL o >ornal WA

Man*ãXL o W'!dio"X e tam$=m as mani+estaç,es or+enicas%

&egundo a ótica da pol:tica varguista" Contier 3.//48 aOrma

#ue com a criação do DP iniciou-se um empreendimento no sentido

de organi(ar um pro>eto cultural *egemnico no campo da música

erudita% Este órgão possu:a amplos poderes para de+ender a cultura

$rasileira e a unidade nacional% Al=m disso" era o instrumento #ue

centrali(ava e coordenava a propaganda varguista em todo o

território nacional" promovendo mani+estaç,es c:vicas e +estas

populares de cun*o patriótico% ) DP deveria" tam$=m" dentre outras

atri$uiç,es" gravar discos para registrar as vo(es dos grandes *eróis

da p!tria" ou dos cantos +olclóricos regionais" as o$ras de

compositores eruditos ou as mani+estaç,es c:vico-musicais de

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propaganda do 'egime% Ao DP ca$ia a missão de ser o deposit!rio

dos acervos do #ue era considerado como importantes pr!ticas da

cultura $rasileira% W) DP apoiou a divulgação da música nacionalista"

visando trans+orm!-la num eOca( instrumento de propaganda do

governo estadonovistaX 3C)9?E'" .//4" p%608%

undamentalmente" com a criação do DP" iniciou-se no;rasil" uma empresa para a organi(ação de um pro>etocultural *egemnico no campo da música erudita"segundo a óptica do Estado% De +ato" o DP possu:aamplos poderes para de+ender a cultura $rasileira e aunidade es%iritual" para centrali(ar e coordenar apropaganda em todo o território nacional e tam$=m noe<terior" para e<ercer censura >unto ao cinema" teatro"para promover" organi(ar ou apoiar as mani+estaç,es

c:vicas e as +estas populares de cun*o patriótico" e"ainda" para su$sidiar a organi(ação de e<posiç,es econcertos" entre outras atividades 3;DEM" p%668%

Al=m desses organismos" D^Araú>o 351118 aponta #ue o

Estado-9ovo desenvolveu diversos pro>etos implicando a participação

de personalidades como M!rio de Andrade" 2illa-Io$os" Gustavo

Capanema" Carlos Drummond de Andrade e Manuel ;andeira%

&egundo D^Araú>o" desde a &emana de Arte Moderna de ./55" a

$usca de uma identidade nacional e de um pro>eto cultural autnomo

era tema #ue animava poetas" pintores" romancistas" ar#uitetos e

educadores% A autora alega #ue a essas am$iç,es >untaram-se

interesses militares e civis" visando depurar costumes sociais #ue

pudessem +erir a construção de uma identidade nacional% Acerca da

relação entre Estado e o meio art:stico" Contier 3.//48 relata #ue

3%%%8 no caso da música a pr!tica pol:tica de algunsintelectuais envolvidos sentimentalmente pela propostade nacionali(ação da música $rasileira voltou-se para oEstado como único agente capa( de inter+erir no seio dasociedade" sem nen*um interesse partid!rio ou declasse" tão somente como uniOcador cultural da naçãosolapada pela música estrangeira erudita e popular%9esse sentido pode-se notar a e<istência de de(enas desugest,es apresentadas por 2illa-Io$os" Iuciano Gallet"M!rio de Andrade" Magdalena ?aglia+erro" Eros 2olúsia"Iui( eitor" entre outros" para #ue se implementasseuma pol:tica em +avor da cultura nacional 3p%548%

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  9esse panorama" a Educação esteve associada ideia de

civismo e<istindo a preocupação de imuni(!-la contra inZuências

estrangeiras% Um primeiro passo nesse camin*o +oi a nacionali(ação

do ensino empreendida nos anos ./04 e ./0/% Com essa medida

Ocava proi$ido o ensino de l:nguas estrangeiras e o português deveria

ser o idioma utili(ado em todas as cerimnias pú$licas" mesmo #ue

não oOciais% Posteriormente" numa e<tensão desse princ:pio" somente

cidadãos $rasileiros poderiam ser propriet!rios de escolas de ensino

regular 3D^A'A)" 51118%

Para Dietric* 3511H8" um mapeamento +eito pelo

WDepartamento Especiali(ado de )rdem Pol:tica e &ocialX 3DE)P&8

constatou #ue na capital paulista *avia .7 escolas alemãs" #ue"

depois da nacionali(ação" +oram +ec*adas ou en#uadradas na lei"

tendo seus pro+essores alemães su$stitu:dos por $rasileiros% Em

outros locais do pa:s" como a região sul em particular" v!rias escolas

tam$=m +oram +ec*adas so$ alegação de disseminar ideias

consideradas nocivas nação $rasileira%

  De acordo com D^araú>o 351118" a nacionali(ação da

Educação implicaria um pro+undo controle dos curr:culos e das

atividades escolares mesmo nos lugares mais remotos do pa:s% A

escola nacionali(ada e monitorada pelo governo seria a porta de

entrada para a nacionalidade" para a *omogeneidade nacional e o

conse#uente controle de tendências e<ógenas% D^Araú>o ressalva #ue

essas preocupaç,es não eram novas" mas no Estado-9ovo

encontraram espaço para Zorescer% Ainda no campo educacional" a

especial atenção dada s aulas de educação +:sica" al=m de servir ao

propósito de direcionar os >ovens" tam$=m representava a

preocupação com o aprimoramento est=tico do $rasileiro em termos

+:sicos%

Mantendo o +oco na aOrmação de uma identidade nacional"

con+orme &i#ueira 351178" os recursos utili(ados pela pol:tica

varguista iam da pro>eção de Olmes em paredes de casas" instalação

de alto-+alantes em praças interioranas e entradas de +avelas"

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estati(ação de ve:culos de comunicação e censura da imprensa"

sempre so$ a o$servNncia dos órgãos estatais de controle cultural e

midi!tico%

) 'adio tam$=m cumpriu importante papel na #uestão do

nacionalismo com seu grande poder de veiculação de ideias" valores"

gostos etc% 9esse sentido" &i#ueira 351178 aOrma #ue" em ./71" a

'!dio 9acional +oi incorporada ao patrimnio da União passando a ser

totalmente controlada pelo Estado% Ainda segundo o autor" no mesmo

ano o radialista Almirante passou a apresentar programas com

músicas de conteúdo popular" tornando-se assim" uma Ogura

importante na propagação do ideal nacionalista%

&i#ueira relata #ue nesse mesmo per:odo +oi criada a

)r#uestra &in+nica ;rasileira" na =poca so$ a regência de 'adam=s

Gnattali" #ue" na onda nacionalista" utili(ava instrumentos tradicionais

da música popular $rasileira" como o cava#uin*o" o violão e v!rios

instrumentos de percussão% &urgiram tam$=m" nesse :nterim"

diversas composiç,es de sam$istas +amosos #ue apoiavam o regime

de Getúlio 2argas" como Ataul+o Alves" oão de ;arro e Moreira da

&ilva 3&VUE'A" 51178% 9essa perspectiva" a produção musical"

notadamente s de procedência popular" passou a ser visivelmente

inZuenciada pela ideologia do Estado-9ovo% oi nesse conte<to #ue o

sam$a" tido na =poca como Wmúsica de $ote#uimX" passou a +a(er

parte do plano de propaganda do governo" surgindo da: os sam$as de

car!ter patriótico e u+anista" com enredos #ue descreviam o pa:s

como uma Wil*a da +elicidadeX 3&VUE'A" 51178% WA#uarela do ;rasilX"

composta por ArB ;arroso" em ./0/" e<empliOca $em o car!ter c:vico

desse tipo de sam$a" #ue convin*a com a pol:tica vigente" uma ve(

#ue a e<altação p!tria de seus versos poderia levar para o mundo a

imagem de um ;rasil grandioso% WA#uarela do ;rasil"X assim como

outras canç,es de teor nacionalista" era entoada pelos or+e,es

estudantis nas grandes mani+estaç,es c:vicas reali(adas em praças e

est!dios de +ute$ol de &ão Paulo e do 'io de aneiro% Era o Estado

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usando o canto or+enico como su$sidio na criação de um sentimento

de identidade nacional%

  9esse per:odo de intensa eu+oria nacionalista" o Canto

)r+enico se tornou um +ator relevante na geração" por assim di(er"

de uma sensi$ilidade patriótica" $em como eOca( na veiculação da

propaganda governista da d=cada de ./01% Dentro da pol:tica de

legitimação do 2arguismo" +oram reali(adas por esta =poca inúmeras

concentraç,es or+enicas de car!ter c:vico-art:stico" +ortalecendo o

senso de civismo para oper!rios" estudantes e o para o povo

$rasileiro de maneira geral%

Com $ase nas teorias apresentadas" perce$e-se #ue al=m de

outros meios" atrav=s da apropriação de músicas de vi=s nacionalista"

Getúlio 2argas pretendia estampar a identidade de um W;rasil

$rasileiroX" tal como +e( Adol+ itler na Aleman*a com a música de

;eet*oven e 'ic*ard agner% [ nesse conte<to #ue o varguismo usou"

grandiosamente" as mani+estaç,es or+enicas" en+ati(adas por um

grande número de canç,es c:vicas%

*(*( OSTENTAÇES DE PODER NO REGIME VARGUISTA(

Ao passo em #ue alimentava a perspectiva de cun*ar uma

matri( identit!ria como e<pressão do pa:s e no intento de ro$ustecer

esse propósito" a pol:tica estado-novista desenvolveu a pr!tica de

promover espet!culos c:vicos gigantescos" sustentando sempre como

plano de +undo a grande(a da nação e de seu l:der% 9esse

empreendimento" empregou v!rias +ormas de organi(ar e ocasionar aparticipação dos >ovens nas aç,es c:vicas" sendo uma delas a

organi(ação de coros or+enicos estudantis" #ue" na maioria das

ve(es" eram acompan*ados por músicos proOssionais%

&egundo 9ascimento 351.58" as concentraç,es or+enicas >!

vin*am acontecendo ao longo de toda d=cada de ./01" mas com a

instauração do Estado-9ovo" elas não só aumentaram sua +re#uência

como passaram a ser parte +undamental das comemoraç,es oOciais"

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passando tam$=m a contar com alguns grandes nomes da música

popular" como Augusto Cal*eiros" rancisco Alves" &ilvio Caldas e

Paulo ?apa>ós% 9a sua maioria" o repertório or+enico era composto

por *inos c:vicos" *avendo" por=m" espaço para canç,es +olclóricas e

sacras%

As mani+estaç,es concentraç,es or+enicas eram uma

demonstração da grande(a pol:tica do regime varguista% ?omando

emprestadas as palavras de ;alandier 3./458" pode-se di(er #ue eram

a parte c:vica de uma WteatrocraciaX #ue" pelo imagin!rio" moldava o

real% Para se ter uma ideia da ostentação dessas mani+estaç,es"

9ascimento relata #ue >! em sua primeira apresentação" reali(ada em

./0." o evento contou com .5%111 vo(es% 9o entanto" na

comemoração do WDia da ndependênciaX" em setem$ro de ./71" no

est!dio do 2asco da Gama" al=m dos mil de músicos de $anda #ue

O(eram parte do evento" o número de alunos su$iu para #uarenta mil%

)s coros or+enicos tin*am participação assegurada não só

nas principais comemoraç,es c:vicas" como tam$=m em datas

institu:das na =pocaJ WDia da uventudeX" dia WDia da 'aça"X e WDia da

P!triaX% Con+orme relata D^Araú>o 351118" as apresentaç,es pú$licas

reali(adas nestas datas comemorativas se trans+ormaram em

verdadeiros cultos de louvor ao ;rasil e a Getúlio 2argas% 2ale

ressaltar #ue tais mani+estaç,es geralmente ocorriam em est!dios de

+ute$ol%

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Figura -: Comemoração do Dia da 'aça no est!dio do 2asco da Gama%

F!#$":  D^A'A)" Maria Celina% O Es$a/! N!3!% 'io de aneiroJ a*ar"5111%

Ainda como e<emplo de representação de poder" D^ Araú>o

351118 conta #ue para cultuar a personalidade de 2argas" a imprensa

oOcial encomendou uma e<tensa literatura acerca do Presidente%

oram produ(idas v!rias *istórias em #uadrin*os para crianças"

demonstrando como" desde seu nascimento" Getúlio estaria +adado a

liderar seu povo em um grande pro>eto e #ue tam$=m desde cedo

tivera consciência de #ue a pol:tica" partidos e parlamentos" eram

componentes danosos para a sociedade% &egundo a autora" atrav=s

desse tipo de estrat=gia" a *istória de Getúlio 2argas era constru:da

de maneira *agiogr!Oca" ou se>a" semel*ança de *istórias de um

grande l:der espiritual" de um santo% ) presidente +oi veiculado >unto

aos >ovens e crianças como um ser superior" construindo-se assim se

o mito 2argas" +ruto de seu carisma" mas tam$=m da eOciente

m!#uina de propaganda então e<istente 3D^'A)" 51118%

As ostentaç,es de poder não param por a:% 9a ar#uiteturatam$=m se adotou os padr,es est=ticos inspirados no neoclassicismo"

ao estilo na(ista e +ascista% 9esse sentido" D^araú>o menciona a

construção do pr=dio do WMinist=rio da a(enda"X no 'io de aneiro%

)utro s:m$olo de grandiosidade do governo 2argas +oi a W'!dio

9acionalX #ue" integrada ao patrimnio da União e rece$endo altos

investimentos" estava entre as cinco maiores emissoras de r!dios do

mundo em termos de alcance% &ua a$rangência era tão signiOcativa#ue" em ./75" a '!dio 9acional transmitia em cinco idiomas para

#uase todo o mundo% Por ela passaram todos os grandes nomes da

música" do *umor" do >ornalismo" do teatro e do esporte 3E'9A9DE&"

511/8%

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7,

  Figura :

Pr=dio do Minist=rio da a(enda" em ./70%F!#$":@@@%sBscrapercitB%com_s*o@t*read%p*pt.104/70

Figura ;:'adio 9acional" em ./75% F!#$": *ttpJ__radioemrevista%com_desta#ue_e<posicao-

vai-contar-a-*istoria-da-radio-nacional_

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7-

  Figura <J

Eventos musicais promovidos pela 'adio 9acional em ./70%  F!#$": *ttpJ__radioemrevista%com_desta#ue_e<posicao-vai-contar-a-*istoria-da-

radio-nacional_  Em relação Ogura de Getúlio 2argas" perce$e-se #ue de

certa +orma ela se relaciona com a teoria de Peter ;ure 3511.8 so$re

a criação da imagem do rei Iu:s K2% &egundo ;ure" as aç,es do rei

compun*am um pano de +undo sim$ólico #ue envolvia um monarca

tido como sagrado por seus súditos em conse#uência da construção

de sua imagem% A Om de causar impacto so$re o pu$lico" aconstrução do 'ei dava-se" al=m da diplomacia" principalmente por

meio dos +estivais e espet!culos" #ue eram cuidadosamente

anunciados pelos meios de comunicação da =poca 3;U'QE" 511.%

p%H8% Esta representação tin*a como +oco principal revelar ao

pú$lico as di+erentes +ormas #ue o 'ei podia assumir como l:der da

nação% Assim" sua vida di!ria compun*a-se de aç,es #ue não eram

simplesmente recorrentes" mas carregadas de sentido sim$ólico

3$idem" p%.1.8%

 ?rançando um paralelo entre a construção da imagem do 'ei

Iui( 2K e a Ogura de Getúlio 2argas" pode-se o$servar #ue a imagem

do presidente 2argas +oi constru:da semel*antemente imagem

pro>etada do rei Iuis K2" isto =" por tra( de uma s=rie de

mani+estaç,es e eventos sim$ólicos o #ue se pretendia representar

era o ar#u=tipo de um so$erano e<cepcionalmente dedicado aos

negócios do Estado e ao $em-estar de seus súditos% [ nesse sentido

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#ue se pode destacar as mani+estaç,es or+enicas como parte

integrante dos eventos sim$ólicos recorrentes na era 2argas no

sentido representar a imagem do presidente%

 ?odo o con>unto de pr!ticas la$oradas pelo 2arguismo"

incluindo as mani+estaç,es de Canto )r+enico" pode ser vistas dentro

do conte<to da#uilo #ue menciona 'oger C*artier 3.//18" ao aOrmar

#ue as representaç,es sociais são determinadas a partir dos

interesses da#ueles #ue as constroem% )s interesses do regime de

Getulio 2argas" entre outros" era criar uma identidade nacional" livre

dos estrangeirismos" +ortalecer a so$erania do pa:s e representar o

l:der da nação como uma Ogura carism!tica e empen*ada no

desenvolvimento do pa:s% Da: #ue esta pol:tica governista ideali(ou e

+or>ou as mascaras de sua ideologia" impondo a uma nação inteira a

sua +orma de ver o mundo%Como menciona ;alandier" por tr!s dos

espet!culos e de eventos carregados de sim$olismo" o 2arguismo

regulava a vida cotidiana da coletividadeL e" ao condu(ir o WrealX por

meio do imagin!rio" tentava construir uma imagem ideali(ada da

sociedade $rasileira dos anos ./01% Pode-se di(er" dentro disso" #ue o

2arguismo utili(ou o canto or+enico como elemento de

representação e espetaculari(ação de seu poder pol:tico%

*(8( AS MANIFESTAÇES ORFEKNICAS COMO ESPETÁCULOS DEPODER

9a primeira metade do s=culo KK" a partir de uma +orte

tradição em canto coral #ue remonta re+orma protestante" organi(a-

se na Aleman*a um movimento denominado Liedertafel  3mesa de

canção8% Esse movimento $uscava desligar a pr!tica coral do Nm$ito

eclesi!stico a Om de satis+a(er as e<igências culturais de uma nova

classe social #ue emergia" da: começaram a surgir corais +ormados

por diversos tipos de pessoas" como m=dicos" advogados" c*aveiros e

tam$=m por estudantes de escolas regulares 39)')9A" 51..8%

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78

 Figura =:

Mesa de canção 3LiedertafelD F!#$":  *ttpJ__@@@%liederta+el%org_

A partir do movimento Liedertafel" a pr!tica coral +oi se

radicando na educação alemã" e" por essa =poca" os coros estudantis

passaram a ad#uirir um car!ter cada ve( mais monumental e c:vico-

religioso% &egundo 9oron*a 351..8" o modelo alemão" #ue englo$ava

a pr!tica do canto coral" +oi o parNmetro para a estruturação da

educação prim!ria na rança% Assim" ao se em$asar no modelo

educativo alemão" os +ranceses tam$=m institucionali(ariam a pr!tica

coral nas escolas" seguindo de perto tam$=m o #ue preconi(ava o

movimento alemão  Liedertafel" isto =" al=m do cun*o educativo"

tam$=m $uscava desligar a pr!tica coral da es+era estritamente

religiosa 39)')9A" 51..8%

9esse conte<to" por volta de .401" o pedagogo musical

Guillaume Iouis ;oc#uillon-il*em" residente em Paris" começou a

reunir estudantes das di+erentes escolas onde atuava a Om de +a(ê-

los cantar >untos% Após três anos dessa pr!tica" no dia sete de outu$ro

de .400" em uma escola de Paris" ;oc#uillon-il*elm organi(ava a

primeira reunião mensal da &ociedade Coral #ue ele +undara e dera o

nome de )r+eão" em *omenagem a )r+eu" poeta e músico da

mitologia grega% ;oc#uillon-il*elm organi(ou a primeira audiência

pú$lica da &ociedade Coral )r+eão" na sala &aint-ean" nas

dependências da pre+eitura de Paris% 9a ocasião" convidou compositor

italiano residente em Paris" Iuigi C*eru$in 39;)E?" .4708% A partir da

&ociedade Coral )r+eão o canto coral estudantil na rança passou a

ser c*amado de Canto )r+enico%

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  Figura ,+:Guillaume Iouis ;oc#uillon-il*em% F!#$": 9;)E?" Eug=nie% (otice istori.ue sur la 'ie et l@s ou'rages de GD LD D 5ilhem% ParisJ P%% Qra$$e Ii$raire [diteur" .470%

 

9essa mesma =poca" com apoio de 9apoleão "7 primeiro

Presidente da &egunda 'epú$lica rancesa e mperador do &egundo

mp=rio rancês" o Canto )r+enico +oi institu:do como atividade

o$rigatória nas escolas municipais de Paris" sendo #ue o or+eão de

alunos comumente se reunia para cantar em apresentaç,es pú$licas%) dilatamento dessas apresentaç,es" segundo Goldem$erg

3.//68" deu in:cio s grandes mani+estaç,es or+enicas #ue

passariam a provocar um enorme entusiasmo no pú$lico parisiense"

ao passo #ue se tornaria em uma atividade $astante con*ecida na

rança >! nos meados do s=culo KK% 9oron*a 351..8 in+orma #ue este

aumento da atividade or+enica na rança coincide com a +ase em

#ue se vê um processo de incremento do ensino prim!rio" promovidopelo Estado" no intuito de integrar na sociedade ur$ana os *a$itantes

das (onas rurais% A autora relata #ue" #uando se iniciou e se di+undiu

amplamente a pr!tica or+enica" o pa:s atravessava um momento de

construção da unidade nacional% 9essa perspectiva" o Canto

4 &o$rin*o e *erdeiro de 9apoleão ;onaparte" durante seu reinado 9apoleão implementou a OlosoOa pol:tica pu$licada em seus ensaios d2es na%ol2oniennes eL*Ntinction du +au%2rismeele" uma mistura de romantismo" li$eralismo autorit!rio

e socialismo utópico% Com a e+ervescência dos nacionalismos e das lutas pelaindependência de povos dominados 9apoleão passou a de+ender a ideais dapol:tica das nacionalidades%

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)r+enico +ocado" so$retudo" em marc*as e *inos c:vicos" era visto

como um +orte elemento na construção identit!ria do povo +rancês%

9oron*a 351..8 aOrma #ue a di+usão da pr!tica or+enica

servia como um instrumento de contenção social" uma ve( #ue

permitia uma atuação do Estado no sentido de unir as partes

descone<as da sociedade na construção de um todo nacional% Al=m

disso" o Wor+eão era $aseado em uma concepção peculiar meados do

s=culo KK na rançaJ a ideia de #ue a música pode ]apa(iguar^ e

]*armoni(ar^ as dissens,es entre classesX 3p%4H8% 9o sentido acima

descrito" por meio de canç,es #ue proporcionavam um e+eito

emocional vinculado transmissão de conceitos de educação c:vica e

de valores morais" o Canto )r+enico procurou incutir mensagens e

comportamentos nos seus praticantes e tam$=m nos seus

espectadores 39)')9A" 51..8%

Vuanto pr!tica coral no ensino regular $rasileiro" a autora

relata #ue esta se iniciou ainda no Onal do s=culo KK" por ocasião da

re+orma do ensino pú$lico ocorrida em .4/H% 9essa re+orma" o canto

coral" #ue seguiu o modelo +rancês denominado Canto )r+enico"

tornou-se uma atividade o$rigatória nas escolas da então prov:ncia de

&ão Paulo% De acordo com 9oron*a 351..8" o modelo do Canto

)r+enico paulista" na sua +ase inicial" era o modelo +rancês"

implantado no in:cio do s=culo KK nas escolas +rancesas% Esse

modelo era" so$retudo" calcado no ensino da leitura e da escrita

musical" +a(endo $astante uso de marc*as e *inos como repertório

$!sico inicial%

9oron*a aOrma #ue no ;rasil do Onal do s=culo KK" o canto

coral estudantil possu:a apenas uma acepção recreativaL mas"

segundo Iis$oa 351168" durante os anos de ./.1 e ./51" >! podiam

ser notadas no pa:s as primeiras mani+estaç,es de um ensino

caracteri(ado como Canto )r+enico" utili(ado no am$iente escolar

com o$>etivo pedagógico e de populari(ação do con*ecimento

musical%

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oi no estado de &ão Paulo #ue essas primeirasatividades or+enicas se mani+estaram" cu>os mentores+oram os educadores oão Gomes únior 3.44-./08 eCarlos Al$erto Gomes Cardim 3.4H6-./048" #uetra$al*aram com or+e,es na Escola Caetano deCampos" na capital paulista" e os irmãos I!(aro Io(ano3.4H.-./6.8 e a$iano Io(ano 3.447-./68" #uetra$al*aram com atividades or+enicas >unto EscolaComplementar 3posteriormente" Escola 9ormal8 emPiracica$a% ?am$=m podem ser citados outros nomesatuantes na mesma =pocaJ onorato austino" oão;aptista ulião" Maestro Antonio CNndido" Antonio Carlos

 únior" oão Gomes de Araú>o e Carlos de Campos3I&;)A" 5116" 48%

  &egundo Contier 3.//4" p%.08" em ./.6" a$iano Io(ano

organi(ou um con>unto coral com alunos da Escola 9ormal dePiracica$a" +ormado por #uatro vo(es mistas" a ca%ella%

Posteriormente" +undou o primeiro or+eão do ;rasil" constitu:do de 74

componentes% Durante a d=cada de ./5/" +undou o )r+eão

Piracica$ano" #ue se apresentou no ?eatro Municipal de &ão Paulo" em

 >ul*o de ./54" e" no ano seguinte" na cidade do 'io de aneiro%

Con+orme relata Contier" esse or+eão +oi muito $em rece$ido pela

cr:tica e pelo pú$lico" em decorrência da escol*a de um repertório#ue visava" +undamentalmente" o enaltecimento da 9ação%

9essa perspectiva" Contier 3.//48 aOrma #ue em discurso

pro+erido em ./5." na Escola 9ormal de &ão Paulo" oão Gomes unior

en+ati(ou a importNncia da música na +ormação c:vica da >uventude

$rasileira" ao mesmo tempo em #ue c*amava a atenção dos

compositores no sentido de #ue estes usassem somente a l:ngua

portuguesa em suas peças corais% 9esse mesmo discurso" atestaContier" oão Gomes unior e<altou os con>untos corais alemães como

modelos a serem importados pelos regentes $rasileiros" em virtude

de sua per+eição t=cnica e disciplina% Contier ainda menciona #ue

2illa-Io$os" a$iano Io(ano e Mario de Andrade" tam$=m enalteciam

os coros alemães como e<emplos a serem seguidos pelos corais

$rasileiros%

Contier relata #ue o Canto )r+enico +oi ardorosamentede+endido por 2illa-Io$os" Mario de Andrade e a$iano Io(ano% Estes o

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viam como instrumento para #ue o Estado tornasse o$rigatória a

e<ecução de o$ras de compositores $rasileiros em todos os

programas de concertos a serem reali(ados no ;rasil assim como

oOciali(asse o ensino do olclore nas escolas de música%

3%%%8 a oOciali(ação do Canto )r+enico nas escolasinteressava aos educadores e agentes pol:ticos" umave( #ue a música poderia tra(er as massas cenapol:tica onde os pol:ticos assumiriam o papel desepultar a 'epú$lica 2el*a" instaurando" no lugar desta"a 'epú$lica 9ova 3./018 e o Estado 9ovo 3./0H8% Al=mdisso" os próprios músicos acreditavam na +orçadisciplinadora do Canto )r+enico como ve:culo capa(de unir todos os $rasileiros em torno de um único idealde nação 3C)9?E'" .//4" p%508%

Contier aOrma #ue numa entrevista concedida a 8 Iornal" em

novem$ro de ./01" 2illa-Io$os admitia certa cone<ão entre a Arte

$rasileira e a revolução getulista" recon*ecendo o papel da música

como ve:culo de propaganda de governo% Con+orme Contier" 2illa-

Io$os acreditava #ue o Canto )r+enico" al=m de despertar o senso

est=tico e a o amor P!tria" poderia igualmente servir como

propaganda do regime varguista" institu:do em ./01%9outro momento" em +evereiro de ./05" 2illa-Io$os enviou uma

carta a Getúlio 2argas na #ual" segundo Contier" o compositor dei<a

claro sua postura em relação música como elemento

propagand:stico% A$ai<o segue o trec*o da carta #ue evidencia a

posição de 2illa-Io$os%

3%%%8 eOca( de propaganda do ;rasil" no estrangeiro" a

músicab se +or lançada por elementos genuinamente$rasileiros 3%%%8 Ocar! mais gravada a personalidadenacional" processo este #ue mel*or deOne uma raça"mesmo #ue esta se>a mista e não ten*a tido uma vel*atradição 3%%%8% Mostre 2ossa E<celência &en*orPresidente" aos derrotistas mentirosos ou aospessimistas #ue vivem não acreditando num milagre daproteção do governo s nossas artes" #ue 2ossaE<celência = de +ato o lutador consciente e reali(ador"tornando" incontinenti uma realidade 3%%%8 3C)9?E'".//4" p548%

 

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Figura ,,:

2illa-Io$os com Getúlio 2argasonteJ

*ttpJ__@@@%museuvillalo$os%org%$r_villalo$_cronolog_./0.j71_+otoj1%*tm

ortemente interessado no desenvolvimento do senso de

civismo e de $rasilidade nas crianças" em atenção aos apelos de 2illa-

Io$os" Getúlio 2argas aprovou a criação da &uperintendência da

Educação Musical e Art:stica 3&EMA8" tornando o$rigatório o ensino do

Canto )r+enico nas escolas do 'io de aneiro por meio do decreto n

.4%4/1" de .4 de a$ril de ./05% 9esse momento" relata Contier" 2illa-

Io$os começou a implantar" na cidade do 'io de aneiro" um

movimento em prol do Canto )r+enico" nos mesmos moldes #ue >!

*avia concreti(ado em algumas mani+estaç,es reali(adas em &ão

Paulo" isto =" mani+estaç,es or+enicas envolvendo diversos

segmentos da sociedade%

A atividade or+enica de 2illa-Io$os" respaldada pelapol:tica getulista" o$>etivava alcançar as massas" umnovo tipo de pú$lico consumidor h as camadas m=diase o proletariado% Era por meio das grandesconcentraç,es or+enicas #ue 2illa-Io$os $uscava aconcreti(ação dos seus ideais de nacionalidade" de]nação coesa^ 3%%%8% Assim" 2illa-Io$os conseguia atingirtoda uma coletividade" tocando todos emocionalmente"dando sentido a essa sim$ologia de identiOcaçãonacional" o #ue era muito importante para #ue seaOrmasse o conceito de nação e de identidade39)')9A" 51.." p%/08%

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Atendendo s diretri(es da &EMA R segundo as #uais a música

deveria ser ensinada no sentido de se tornar o principal ve:culo de

propagação do civismo R al=m do estado do 'io de aneiro" criaram-se

órgãos semel*antes #uele" isto =" &EMA" nos estados do Grande do

&ul" &ão Paulo" ;a*ia" &ergipe" Para:$a" Piau:" Cear!" Ama(onas" 'io

Grande do 9orte e Minas Gerais% Al=m de outras +unç,es" a &EMA

deveria via$ili(ar o ensino do Canto )r+enico assim como (elar pela

e<ecução rigorosa e correta dos *inos oOciais e incentivar o gosto

pelas canç,es de car!ter c:vico e art:stico 3C)9?E'" .//48%

Para via$ili(ar o ensino do Canto )r+enico" a &EMA

criou o curso de Pedagogia da Música e Canto)r+enico" dividido emJ Declamação ':tmica e Cali+onia"destinado iniciação" ou se>a" disciplinar a vo(L Cursode preparação do ensino de Canto )r+enicoLEspeciali(ação em Música e Canto" estudo da evoluçãodos +enmenos musicaisL Curso de Pr!tica do Canto)r+enico" tendo" como o$>etivo" preparar programas"processos e m=todos de ensino 3C)9?E'" .//4" p%01-0.8%

Contier relata #ue" +undamentalmente" o ensino do Canto)r+enico se apoiou numa ampla $i$liograOa sugerida ou escrita ou

por 2illa-Io$os% Esta $i$liograOa apresentava uma s=rie de crit=rios

metodológicos como" por e<emplo" aprimoramento da dicção"

impostação vocal" aOnação or+enica6  e outros% Al=m disso" tra(ia

arran>os de cantos +olclóricos e criação espontNnea de cantos

nacionais%

a$iano Io(ano escreveu numerosos tra$al*osdirecionados ao ensino de Canto )r+enico" entre os#uais se destacamJ  Alegria nas *scolas  e i&lioteca8rfeOnica *scolar R +ormada de composiç,es de três a#uatro vo(es 3%%%8% 9o livro &orrindo e Cantando"coletNnea de *inos escolares" a$iano Io(ano de+endiaa :ntima cone<ão música-civismo como um componenteimprescind:vel na +ormação do cidadão $rasileiro% 9aprimeira peça" E<ortação" música em compasso $in!rio"

, De acordo com Contier" aOnação or+enica tin*a a ver com movimentos pl!sticos

imitativos #ue acompan*avam e+eitos onomatopaicos" como por e<emplo" imitaçãodas sonoridades das ondas do mar $rasileiro" da loresta Ama(nica" do canto dosp!ssaros" etc%

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8,

ritmo de marc*a" Io(ano e<alta o tra$al*o como averdadeira mola do progresso 3%%%8 3C)9?E'" .//4" p.7-.68%

Ainda segundo o autor" desde o s=culo KK o ensino do Canto

)r+enico pretendia uma diretri( romNntica de conotaç,es c:vico-

patrióticas #ue visava" so$retudo" despertar nas crianças o amor

P!tria%

3%%%8 não vos es#ueçais de #ue deveis cantar com osvossos alunos canç,es dolentes e melancólicas danossa terra" #ue virão despertar" neles o amor pelo;rasil% &imk Cantai com eles a opulência das nossasZorestas" os arre$os 3sic8 sangrentos e c*eios de saúde

dos nossos crepúsculos" as glórias imorredouras daraça" pompa sempre rison*a e Zorida da nossa eternaprimavera e os cantos tão c*eios de doçura de umpovo" #ue tendo nascido na mais +ormosa das terras"tem tam$=m no coração a mais ardente e a mais $eladas pai<,es R a música% ?udo na nossa terra = musical3G)ME& U9)'" ./5. a%ud C)9?E'" .//4" p% ..8%

Entre os e de+ensores do Canto )r+enico como componente

c:vico no ;rasil" a Ogura #ue vai se destacar $astante nesse particular

=" sem dúvida" eitor 2illa-Io$os" com a organi(ação de espet!culos

or+enicos gigantescos em praças pú$licas e est!dios de +ute$ol%

) sentido nacionalista" c:vico e pro+undamenteromNntico desses espet!culos" aliados a um momentode intensa eu+oria" com a #ueda de as*ington Iu:("contri$uiu para O<ar a imagem de 2illa-Io$os >unto cr:tica e ao pú$lico em geral% Durante toda a d=cada de./01" 3%%%8 esses espet!culos" 3%%%8 comb as declaraç,esde 2illa-Io$os" s ve(es $om$!sticas" 3%%%8 viraramnot:cia praticamente em todos os >ornais e revistas do'io de aneiro" &ão Paulo e outras capitais 3C)9?E'"

.//4" p%51-5.8%

A re+erência desse modelo ma>estoso de espet!culo"

envolvendo o canto coral como elemento de civismo e cidadania"

2illa-Io$os +oi $uscar na Aleman*a" segundo in+orma Contier% ) autor

ressalva #ue nos anos ./51 o compositor assistiu" em distintas

cidades alemãs" a v!rias apresentaç,es corais reali(adas de +orma

grandiosa e com um número elevado de cantores" denotando um

evidente car!ter nacionalista%

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8-

) pro>eto traçado por 2illa-Io$os so$re canto or+enico+oi inspirado nos e<emplos alemães" por ocasião desuas visitas a algumas cidades da Aleman*a" nos anos51% I!" ele *avia assistido a diversas concentraç,escorais" reunindo" apro<imadamente" 51%111 pessoas%Com a ascensão do na(ismo" tal pr!tica +oi seampliando" e o +orte teor nacionalista contido nestasmani+estaç,es de canto coral aca$ou interessando aintelectuais $rasileiros" como a$iano Io(ano" 2illa-Io$os e oão Gomes" entre outros 3C)9?E'" .//4" p%58%

nternacionalmente" nesse momento *istórico" o canto coral

era muito divulgado e +ortemente envolvido pela #uestão nacional

nos seus mais diversos mati(es pol:ticos% Entre outros pa:ses" nesse

empreendimento destacavam-se Aleman*a" ;rasil" Estados Unidos"

rança" ungria e 'ússia% Em ./71" na Aleman*a na(ista" *avia uma

intrincada relação entre coro e totalitarismo" sendo #ue os corais

*aviam tomado um rumo nitidamente nacionalista em de+esa dos

ideias arianos% 9esse pa:s" al=m de uma inOnidade de or#uestras e

$andas militares" e<istiam 71%111 corais e 711 compositores atuantes

3C)9?E'" .//48%

De acordo com 9oron*a 351..8" 2illa-Io$os +oi con*ecer a

Aleman*a da repú$lica da 'epú$lica de eimar 3./.4-./008" per:odo

em #ue os pro>etos educacionais alemães passaram a incluir o canto

coral de +orma e<pressiva em sua grade curricular% &egundo a autora"

durante este per:odo de crescente nacionalismo" a Aleman*a vivia

uma e<pansão musical importanteJ Zorescia no pa:s o conceito de

música utilit!ria 3Ge&rauschmusik 8" #ue valori(ava a +uncionalidade

da o$ra musical composta a partir de determinados o$>etivos" como

por e<emplo" música composta e<clusivamente para cinema" teatro"

r!dio ou mesmo para crianças" com Onalidades pedagógicas" #ue +ora

o caso do Canto )r+enico%

9oron*a 351..8 menciona #ue $aseado no princ:pio da

Ge&rauschmusik " Ieo Qersten$erg" respons!vel pela atividade musical

no Minist=rio da Ciência" da Cultura e da Educação" colocou em

pr!tica o pro>eto educacional alemão% Assim" al=m de 2illa-Io$os"

alguns músicos +ranceses de vanguarda" como Darius Mil*aud"

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tam$=m tiveram contato com as e<periências alemãs e +oram por

elas inZuenciados%

Contier 3.//48 aOrma #ue de volta ao ;rasil" depois de sua

estadia na Europa" 2illa-Io$os sentiu #ue a con>untura pol:tica de

./01 era muito +avor!vel ao desenvolvimento de suas ideias so$re o

nacionalismo da música $rasileira% Dessa +orma" com apoio e

patroc:nio do interventor de &ão Paulo" oão Al$erto" no dia três de

maio de ./0." no Par#ue Ant!rtica" o compositor reali(ou a primeira

grande concentração or+enica em solo latino americano" denomina

E<ortação-C:vica%

9esta concentração" #ue reuniu apro<imadamente 1%111

pessoas" o programa resumiu-se $asicamente na apresentação de

#uatro *inosJ Meu +as, rasil (o'o, +Pra Frente, Q rasil  e ino

(acional" Al=m de trec*os de 8 Guarany " de Carlos Gomes" e outras

peças% Con+orme Contier menciona" com esse +eito 2illa-Io$os

conseguiu canali(ar o pessimismo dos paulistas em +ace da situação

pol:tica do pa:s" lançando" assim" as $ases de um discurso mais

otimista e idealista #ue preconi(ava o nascimento de um novo pa:s%

W) canto or+enico tornou-se desde então" um +ator important:ssimo

de di+usão do sentimento de patriotismo 3%%%8 entre a massa e entre as

novas geraç,esX 32IIA-I);)&" a%ud C)9?E'" .//4" p%518%

Posteriormente" o compositor organi(ou outras mani+estaç,es

or+enicas reunindo mil*ares de pessoas%

Em ./07" 2illa-Io$os ideali(ou um pro>eto visandoconcreti(ar 3%%%8 a maior demonstração c:vico-art:sticono stadium do luminense oot-$al Clu$ com 7% .11e<ecutantes% Constavam do programa as seguintespeçasJ ino (acional, ino ao Sol do rasil, n'oca/o Ri@ncia, A%oteose R Arte, Legenda MecCnica  3com oconcurso de .11 avi,es8" ino R andeira, +ra Frente,Q rasil% 9esse espet!culo deveriam participarcon>untos corais constitu:dos por 56%111 policiaismilitares" .1% 111 estudantes 3%%%8 /%111 soldados doE<=rcito" %111 oper!rios" 5% 111 marin*eiros" 5%111músicos de $anda" 5%111 policiais e 5%111 escoteiros"totali(ando uma massa coral de 7%111 vo(es"

acrescida dos roncos de .11 avi,es C)9?E'" .//4"p%0/8%

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Ainda nessas concentraç,es" menciona o autor #ue em ./06"

durante a reali(ação do H  Congresso 9acional de Educação" na

cidade do 'io de aneiro" compareceram ao est!dio do 2asco da

Gama apro<imadamente .11%111 pessoas% WI! estavam presentes

Getúlio 2argas" Pedro Ernesto 3Pre+eito do Distrito ederal8 e Gustavo

CapanemaX 3C)9?E'" .//4" p%718% Ainda segundo o autor" a partir de

./0/ as grandes concentraç,es or+enicas organi(adas por 2illa-

Io$os +oram se tornando cada ve( mais +re#uentes e gigantescas" e"

com o advento do Estado-9ovo" passaram a ser mais $em plane>adas%

  A &olenidade ora da ndependência" promovida para a

comemoração do dia H de setem$ro de ./71" ilustra a +ase do apogeu

desse tipo de mani+estação" con+orme relata Contier% ) pro>eto previa

o comparecimento de 71%111 escolares e de .%111 músicos de $anda"

no Est!dio do 2asco da Gama%

9a primeira p!gina do >ornal A 9oite" de H de setem$rode ./71" encontramosJ ) Est!dio do 2asco da Gamaest! vivendo uma tarde ines#uec:vel 3%%%8 numaesplêndida demonstração de Canto )r+enico" em*omenagem ao Dia da P!tria% Grande massa popular

enc*e as dependências da praça de esportes" numae<traordin!ria vi$ração c:vica% f c*egada do presidenteda 'epú$lica" as aclamaç,es estrugiram aos últimosacordes do ino 9acional 3PA" 5117" p%458%

) programa desta concentração or+enica inclu:a as seguintes

peçasJ ino (acional  3$anda8"  8ra/o do +residente R (a/o

rasileira, ino (acional 3coro e $anda8" ino da nde%end@ncia,

8ra/o 'ica  3&audação da uventude ;rasileira ao Presidente

Getulio 2argas8 ino R andeira, Sauda/o  8rfeOnica R andeira,

n'oca/o R ru# 3C:vico-religioso8" o.ueiral 3e+eitos or+enicos8"

Meu Iardim  3c:vico +olclórico8" 8ndas e Terror rOnico  3e+eitos

or+enicos8" +Pra Frente, Q rasil, ino (acional 3$anda e coro8% 9o

Onal do espet!culo os alunos sairiam marc*ando e cantando (C<?:;/ %

1998).

Em geral" os programas desses espet!culos eramconstitu:dos de um repertório $!sicoJ ino 9acional"*inos patrióticos diversos e cantos inspirados no

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+olclore $rasileiro% 2illa Io$os disse #ue era precisoaproveitar o sortil=gio da música como um +ator decultura e de civismo e integr!-la na própria vida e naconsciência R eis o milagre reali(ado em de( anos peloGoverno Getúlio 2argas% ) Canto )r+enicorepresentava uma arma contra o ego:smo e oindividualismo" reinantes no ;rasil durante a 2el*a'epú$lica% Era imprescind:vel" agora" integrar oindiv:duo coletividade 3C)9?E'" .//4" p%06-08%

Contier aOrma #ue" no pensamento de 2illa-Io$os" o est!dio

de +ute$ol transOgurava-se num templo onde o indiv:duo se con+undia

com o coletivo" ouvindo" em silencio" os discursos pro+eridos por

Getúlio 2argas e as músicas de louvor ! p!tria% W9esse clima" a

multidão silenciosa deveria demonstrar o seu pro+undo respeito aoC*e+e" s:m$olo e representante m!<imo desse ;rasil 9ovoX 3p%048%

&egundo autor" Getúlio 2argas se entusiasmava com essas

mani+estaç,es" #ue dis+arçadamente e<altava o poder do 'egime% Por

e<emplo" 8 anto do +a2 R escrito por 2illa para *omenagear Getúlio

2argas R era $astante e<ecutado nas concentraç,es or+enicas%

Envolvido pelo clima estado novista" 2illa-Io$os

escreveu diversas o$ras de car!ter c:vico% Em ./04"comps uma música c*amada Marcha %ara o 8este"com letra de &! 'oris% 9essa mesma =poca tam$=mcomps Sauda/o a Get9lio Vargas" peça #uerepresenta o l:der da nação $rasileira como um novo$andeirante% Al=m dessas escreveu nvocação emDe+esa da P!tria" composta e<clusivamente para asolenidade de em$ar#ue dos soldados $rasileiros #uepartiam para a t!lia durante e &egunda Guerra Mundial3C)9?E'" .//4" p%18%

Contier ressalva #ue dado o car!ter grandilo#uente" deconotação u+anista" nas cele$raç,es programadas por 2illa-Io$os a

música Ocava numa posição secund!ria em +ace do discurso

ver$ali(ado" de conteúdo nitidamente pol:tico e moralista de Getúlio

2argas% WDe +ato" a música deveria ine$riar os espectadores para #ue

estes ouvissem os +ortes apelos populistas assentados no

nacionalismo de Getulio 2argasX 3p%H8% 9esse vi=s" Contier menciona

#ue a &uperintendência da Educação Musical e Art:stica 3&EMA8

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patrocinou v!rios desses espet!culos or+enicos" assim como diversos

concertos oOciais" c*amados de concertos para a >uventude%

3%%%8 não = preciso encarecer *o>e a eOciência

educacional dessa organi(ação% ;asta assistir a umadessas demonstraç,es or+enicas" em #ue tomam partetrinta ou cin#uenta mil crianças das nossas escolas"para veriOcarmos #ue essa iniciativa redundou numaesplendida vitória para os pioneiros desse movimentonacionalista e numa das mais s=rias reali(aç,es decar!ter c:vico-cultural conseguidas pelo 9ovo ;rasil32IIA-I);)&" a%ud C)9?E'" .//4" p%0.8%

&egundo 9oron*a 351..8" as grandes concentraç,es

or+enicas promovidas por 2illa- lo$os serviam como verdadeiras

teatrali(aç,es do patrimnio% Com elas alimentava-se a identiOcação

dos valores nacionais e" ao mesmo tempo" o posicionamento de uma

cultura particular e única em relação ao mundo% 9oron*a aOrma #ue a

atuação de 2illa-Io$os cola$orou para o +ortalecimento da ideologia

nacionalista do governo de Getúlio 2argas" so$retudo no sentido de

construção de uma identidade nacional h conceito $!sico das

ideologias nacionalistas h" a>udando a +ormar uma sim$ologia

renovada e identiOcada com a#uela geração% 9oron*a ainda relata

#ue o pro>eto or+enico de 2illa-Io$os tam$=m cola$orou no sentido

de criar uma noção de continuidade *istórica entre os $rasileiros"

num momento em #ue a concepção de identidade nacional se +a(ia

necess!ria%

2illa-Io$os c*egou a di(er #ue com o pro>eto or+enico

tin*a solucionado dois pro$lemas-c*avesJ .T%8 utili(açãoda música como um ]+ator de civismo e disciplina^ e 5%8a concreti(ação de um pro>eto #ue *avia contri$u:dopara a +ormação da ]consciência nacional^ no povo$rasileiro 39)')9A" 51.."p%/08%

Iis$oa 3511.68 relata #ue o canto or+enico" por meio do

conteúdo das letras das canç,es" parece ter agido como um

mecanismo civili(ador ao procurar di+undir valores morais associados

aos ideais patrióticos" #ue su$sidiaram os ideais pol:ticos daconstrução de um Estado 9acional uniOcado% Al=m desses valores

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morais" procurou tam$=m esta$elecer um padrão est=tico comum" ou

se>a" civili(ar tam$=m a audição e o gosto art:stico" o #ue +oi +eito por

meio da criação e di+usão de um determinado repertório musical%

Para Iemos únior 351.18" o canto or+enico serviu como

+erramenta de +ormação c:vica" crendo-se na música como +onte de

virtude pol:tica e de +ormação moral% &egundo o autor" essa

+ormação moral = colocada como elemento #ue origina a atitude

c:vica" #ue se acopla a um ethos patriótico" não no sentido est=tico-

cultural" mas no sentido sócio-pol:tico-cultural" de respeito

*ierar#uia" autoridade organi(ação social e" so$retudo" nação%

As noç,es de nacionalismo" patriotismo" +ormaçãomoral e c:vica e civili(ação se vinculam estreitamente ideologia do governo de Getúlio 2argas" $uscandolegitim!-lo e e<alt!-lo% ) discurso musical incorporou"então" ideias ade#uadas ao regime pol:tico 3o Estado9ovo8 #ue se desenvolvia" reiterando a pol:ticaeconmica nacionalista" o tra$al*ismo" o populismoRenOm" o varguismo 3AMA?)" 5114" p%.08%

&o$ a ótica das representaç,es socias" do e<posto" o$serva-se

no conte<to varguista #ue a música" e em especial o Canto )r+enico"a presença de uma apologia uniOcação nacional" ao tra$al*o" ao

militarismo" ao progresso e modernidade e" so$retudo ao presidente

Getúlio 2argas% De maneira geral" a construção desse discurso

mostrou-se concordante com a +ormação ideológica de então" #ue por

meio de um >ogo de interesses pol:ticos" guardava certa interação e

s:ntese com as ideias nacionalistas%

9essa perspectiva" o nacionalismo" tanto como movimentoart:stico #uanto como ideologia" +orneceu uma das $ases principais

para +undamentar o canto or+enico% deias como a utilidade da arte"

a divulgação da cultura popular do pa:s e o sentimento de unidade

nacional revelaram-se +ortemente enrai(adas na pr!tica or+enica"

como na concepção das +unç,es sociais da música 3caso da +ormação

c:vica e moral8" na utili(ação de te<tos e melodias +olclóricos e em

cantos patrióticos" im$u:dos do esp:rito de dedicação c:vica aos ideaisda p!tria%

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CAP@TULO III

O CANTO ORFEKNICO EM FOCO

Figura ,*:

2illa-Io$os numa concentração or+enica" em ./75%

onteJ *ttpJ__@@@%$oamusicaricardin*o%com_vilo$or+eon./75%>pg

A convite de An:sio ?ei<eira" em m ./05" 2illa-Io$os +oi

incum$ido de organi(ar e dirigir a &uperintendência de Educação

Musical e Art:stica 3&EMA8" cu>o o$>etivo era a reali(ação e o

desenvolvimento do estudo da música nas escolas con>ugando

disciplina e civismo% 9esta +unção" 2illa-Io$os +oi o respons!vel pela

organi(ação das músicas #ue deveriam ser cantadas pelos or+e,es%

Assim" empregando uma tem!tica nas canç,es deviam servir

interesses musicais e pol:ticos" 2illa-Io$os organi(ou em dois volumes

uma coleção de canç,es or+enicas" sendo o primeiro volume com

7.canç,es" pu$licado em ./71" e o segundo volume" pu$licado em

./6." com 76 canç,es%

Vuanto aos autores das o$ras" *! um número diverso" entre

compositores e poetas =poca" destacando estes o próprio 2illa-Io$os"

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rancisco ;raga" Manuel ;andeira" um$erto de Campos e 2iriato

Correa%

As canç,es #ue +a(em parte da o$ra são divididas entre

composiç,es de 2illa-Io$os com te<tos de autoresvariados e canç,es de compositores annimos ououtros compositores" muitas das #uais por elerecol*idas" am$ientadas ou arran>adas 3AMA?)" 511/"p%48%

De acordo com &ousa 3.//.8" levando em consideração os

valores c:vicos" as canç,es do primeiro volume da Coleção Canto

)r+enico" pu$licado em ./71" est! divididas em #uatro categorias

tem!ticasJ nacionalistas" militares" virtudes morais e tra$al*o% 9os

cantos de teor nacionalista = o$servado no culto aos *eróis da p!tria"

nas *omenagens $andeira nacional e na unidade nacional% 9os

cantos militaristas o +oco reside so$re a +orça do povo $rasileiro"

alusão a vitorias em $atal*as do passado e a participação do ;rasil na

&egunda Guerra Mundial% 9os cantos re+erentes ao tra$al*o vê-se a

menção de #ue por meio do la$or" o ;rasil se tornaria uma nação tão

+orte e vigorosa" como as potências mundiais da =poca%

) primeiro volume" cu>o su$t:tulo = Marc*as" Canç,es e Cantos

Marciais para a Educação Consciente da WUnidade de MovimentoX"

possui a maioria de suas canç,es compostas em ritmo de marc*a% !

o segundo volume tra( como t:tulo WMarc*as" Canç,es" CantosJ

C:vicos" Marciais" olclóricos e Art:sticos para a +ormação consciente

da apreciação do $om gosto na música $rasileiraX e predominam

neste volume as canç,es +olclóricas%

&egundo Iis$oa 351168 as canç,es contidas nos dois volumes

da o$ra não seguem uma ordem cronológica de composição% 9o

primeiro volume" estão distri$u:das aleatoriamente e datam do

per:odo compreendido entre ././ e ./71" en#uanto #ue o segundo

volume tra( canç,es distri$u:das" tam$=m aleatoriamente" datadas

entre os anos de ./05 e ./7% Em muitas canç,es não = especiOcada

a data de composição" em$ora a data de registro dos direitos autorais

este>a presente 3p%/78%

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'e+erente ao primeiro volume" assim como &ousa 3.//.8

#ualiOca #uatro categorias tem!ticas de canç,es - nacionalistasL

militaresL virtudes morais e tra$al*o - Amato 351148 tam$=m +a( uma

classiOcação tem!tica em cinco categorias de canç,es% &ão elasJ

escolaresL nacionalistasL tra$al*oL militares e canç,es avulsas% Assim"

de acordo com a classiOcação de Amato" no primeiro volume

encontram-se as seguintes peçasJ

Es'!2ar"s:

WMeus $rin#uedosX" W2amos criançasX" W2amos" compan*eirosX"

WCarneirin*o de algodãoX" W&oldadin*osX" WA >angadaX" WMeu sapin*oX"

W2olta do recreioX" Wda para o recreioX" WPasseioX" W2ocalismoX e

WCanção escolarX%

Na'i!#a2is$as:

WCanção civica do 'io de aneiroX" WMeu ;rasilX" W;rasil unidoX"

W'egosi>o de uma raçaX WCanção do 9orteX" W;rasil novoX" WCantar

para viverX" WDesOle aos *erois do ;rasilX" Weranças da nossa raçaX"

WMeu pa:sX" W?iradentesX" W2erde P!triaX e W&ertane>o do ;rasilX%

Traa2.!:W) +erreiroX" WCanto do lavradorX" WCanção do oper!rio $rasileiroX"

WCanção do tra$al*oX" WA canção do marceneiroX e WCanção da

imprensaX%

Mi2i$ar"s: 

WDu#ue de Ca<iasX" WDeodoroX" WCanção do artil*eiro de costaX" WMar

do ;rasil" WCanção dos escoteirosX e W&audação a Getulio 2argasX%

Ca#"s a3u2sas: 

WCanto dos :ndios ParecisX 39o(ani-n!8" W) canto do Pag=X" WCanção

dos artistasX%

Vuanto ao segundo volume" escrito on(e anos depois" Amato

o$serva #ue não *! uma >unção muito criteriosa de composiç,es%

&egundo a autora" não uma intenção de categori(ação de conteúdostem!ticos" destacando-se novamente as canç,es +olclóricas%

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9,

Con+orme Amato" no próprio entendimento de 2illa-Io$os" a

especiOcidade do primeiro volume consistiu na sua dedicação

e<clusiva ao Canto )r+enico" contendo tam$=m o$ras de interesse

art:stico com car!ter c:vicoL >! o segundo volume" caracteri(a-se por

apresentar músicas em n:veis de diOculdade t=cnica mais ela$orada%

Apesar disso" podem ser o$servadas canç,es #ue se encai<am

em certas categorias o$servadas por &ousa 3.//.8 e Amato 351148 no

primeiro volume% As canç,es presentes no segundo volume sãoJ

W;rincadeira de pegarX" WEsperança da mãe po$reX" Weli(

anivers!rioX" W;oas-+estasX" Weli( 9atalX" Weli( Ano-9ovoX" W;oas

vindasX" WVuadril*a das estrêlas no c=u do ;rasilX" WVuadril*a

$rasileiraX" Wui no tororóX" WCantiga de rodaX WAnda rodaX"

WuramentoX" W) tren(in*oX" WP^r! +rente" ó ;rasilkX" WAs costureirasX"

WP!triaX" Wino vitóriaX" W;a((unX e Wnvocação em de+esa da

p!triaX%

Ainda no segundo volume" como arran>os de 2illa-Io$os so$re

temas populares e o$ras de outros autores encontram-se W) $alão do

;itúX" W'epiu-piu-piuX" WMin*a terra tem palmeirasX" W) gaturanoX"

WCantiga de rêdeX" WMarc*a ;rasilX" WA$oiosX" WCanção do marin*eiroX"

WMês de >un*oX" WCNntico do Par!X" WCantos de air= 3." 5 e 08X"

WEvocaçãoX" WCanide oune R &a$at*X" WUm canto #ue saiu das

sen(alasX" WKangX" W&antos DumontX" WCanção do pescador

$rasileiroX" WMarc*a para )esteX" WA san+onaX" WEstrela = lua novaX"

Wa#ui$!uX" W2iraX" W9a rison*a madrugadaX" W) tam$or(in*oX" W?erra

natalX e W'emeiro de &% ranciscoX%

Pode-se mencionar #ue os gêneros musicais encontrados

principalmente no primeiro volume = uma tentativa de legitimar o

sentimento de nacionalismo e identidade nacional #ue o regime

varguista preconi(ava nos anos ./71% 9essa perspectiva" Amato

351148 destaca #ue a organi(ação por temas" no primeiro volume" =

+ruto do apogeu do Estado-9ovo" =poca em #ue 2illa-Io$os estava

mais pro+undamente ligado ao conteúdo ideológico das o$ras%

 ?odavia" a pesar de o 2arguismo usar o sam$a na criação de uma

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9-

identidade nacional e e<altação a P!tria" na Coleção )r+enica de

2illa-Io$os" não se o$serva este gênero musical" #ue pode ser visto

em autores posteriores #ue tam$=m organi(aram coleç,es

or+enicas%

 ?odavia" 2illa-Io$os permaneceu +rente do Conservatório

de Canto or+enico at= ./6/" ano de sua morte" empen*ando-se em

di+undir uma metodologia de ensino musical ao mesmo tempo em

#ue visava +ormação de um repertório ade#uado ao ;rasil

3G)IDEM;E'G" 51158% Apesar da morte de 2illa-Io$os" em ./6/"

urlanetto 3511H8 menciona #ue o Canto )r+enico manteve-se ativo

at= ./1" sendo su$stitu:do pela Educação Musical em ./. por meio

da Iei 7%157.%

&egundo Monteiro \ &ou(a 351108 a pr!tica or+enica +oi

o$>eto de manuais espec:Ocos #ue tra(iam canç,es +olclóricas e

regionais no sentido de o+erecer repertório para a ampliação da

pr!tica or+enica% Ainda segundo estas autoras" os Manuais Did!ticos

assim como as Coleç,es )r+enicas +oram um dos principais ve:culos

de di+usão do pro>eto de Canto or+enico instaurado por 2illa-Io$os

nos anos ./01%

9essa perspectiva" diversos autores escreveram manuais e

coleç,es or+enicas at= apro<imadamente a d=cada de ./1% Entre

estes autores encontram-se a$iano Io(ano #ue escreveu manual

WAlegria das Escolas"X em ./74" com .00 melodias em diversos

andamentosL olanda de Vuadros Arruda" #ue escreveu WElementos

de Canto )r+enicoX em ./6.L Iaura aco$ina Iacom$e e )ctavio

;evilac#ua #ue organi(aram o manual W2amos CantarJ ?eoria e Canto

)r+enico"X em ./6.L 2icente Aricó unior" #ue organi(ou" em #uatro

volumes" a coleção WCanto da uventudeX" em ./60L lorêncio de

Almeida Iima" #ue escreveu o manual W) Canto )r+enico no Curso

&ecund!rioX" em ./67L udit* Morisson Almeida" #ue escreveu WAulas

de Canto )r+enico para as Vuatro &=ries do Curso Ginasial"X em

./64 e a rmã Maria os= Cl:maco erreira" #ue organi(ou a coleção

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or+enica Wuventude Canta" em ./1" livro utili(ado para an!lise

a#ui neste tra$al*o%

)$serva-se #ue o tra$al*o da rmã Maria os= Cl:maco erreira"

pu$licado em ./1" ainda estava impregnado com o ideal de 2illa-

Io$os no #ue di( respeito valori(ação do patriotismo associado

disciplina" o$ediência e ao civismo% A coleção de Maria os= Cl:maco

erreira +oi organi(ada com o$ras divididas por temas" e os gêneros

musicais encontrados na sua Coleção são" $asicamente" os mesmos

utili(ados por 2illa-Io$os" com a particularidade de #ue nesta coleção

e<iste uma tem!tica voltada para a vida religiosa e sacerdotal%

Assim" segmentada por temas" a Coleção Wuventude" CantaX

organi(ada pela rmã Maria os= Cl:maco erreira encontra-se dividida

da seguinte +ormaJ

, i#!s " 'a#"s 0a$ri$i'as

Wino 9acional ;rasileiroLX Wino ndependência do ;rasilLX Wino

;andeiraLX Wino Proclamação da 'epu$licaLX WDeus &alve a

AmericaLX Wino a ?iradentesLX Wino a Ca<ias"X WCanção do

Marin*eiroLX WCanção MilitarLX W2iva o ;rasilLX WCanta" ;rasilLX W;rasil

de Man*ãLX Wino Mocidade AcadêmicaLX W&o$ o Cru(eiro" Meu

;rasilLX WA#uarela ;rasileiraX 3A#uarela do ;rasil8L WMocidade

;rasileiraLX W;rasilLX W;rasil" #uero CantarLX W?re(e IistaLX WAvante

;rasil%X

* Ca#$!s /" i#s0ira! %!2'2ri'a " 0a$ri$i'a(

WCidade Maravil*osaLX WA#uarela MineiraLX WE<altação ;a*iaL W" 'io"

Conta Pr! MimLX W) MarLX WIenda do A$aet=LX WPeguei um ]ta^ no

9orteLX WGuacBraLX WCo$ra GrandeLX WUirapurúLX W;oi ;um$!LX

WCa$oclo do 'ioLX W;an(oLX WPrece a &ão ;eneditoLX WU$atu$a"

&imkXW) ;oiadeiroLX WAve Maria no MorroLX W2alsa de uma CidadeLX

Woa(eiroLX WIo$isomemLX W&aciLX W'eminiscênciasLX WCurupiraLX WCarro

de ;oiLX WAve Maria"X WPe#uena &ertane>a%X

8 M!'i/a/" Pria3"ra Na$ur"a(

WCanta MocidadeLX Wino da uventude ;rasileiraLX W uventudeLX

W&erenata IuaLX WPrimavera em lorLX WPalmeirasLX WAndorin*asLX

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98

W;em-te-viLX WCantando ao IuarLX WA urema est! ;ran#uin*aLX WA

Canção do &inoLX WMontan*as ;elasLX Womenagem ao 'ioLX

WPrimaverasL ;ossa 9ova da raternidadeLX WAve MariaLX WIuar do

&ertãoLX W?riste(a do ecaL WC*u!%%% C*u!LX W;arcarolaLX WA

WPrimaveraLX WMocidadeLX WIuar da &erraLX WIinda ?ulipaLX W[ Doce

Morrer no MarLX W) &ão rancisco e EuLX WAvante MocidadeLX Wino ao

EstudoLX W9a#uele ;airro A+astado%X

9 Na A2"gria /a FaQ2ia /" D"us

WIado a IadoLX W;oa ?arde" &en*orLX W! = ?empo de AmarLX WoãoLX

WArrasta esta 'edeLX WAleluiaLX WAleluia ?risteLX W'oseiraLX WPa(" ruto

do AmorLX WAmorLX WPor um Mundo Mel*orLX WPerdãoLX WConviteLX

WMestreLX WPesca MilagrosaLX WAve MariaLX WVuisera &u$irLX W2ocêLX

W)$rigada" AmigoLX W&en*or" eu te 2e>oLX WAlegriaLX W&o+ro" mas sou

eli(LX WDi!logoLX Wrene no C=uLX W?udo = lusãoLX WEu Vuisera%X

- Da$as Di3"rsas

W9oite eli(LX Wi=is AcorramosLX W&inos de 9atalLX WArvore de 9atalLX

WPapai 9oelLX W&on*eiLX WMamãeLX WCanção do Dia das MãesLX WDia do

PapaiLX WPapai = o MaiorLX WCanção da CriançaLX W2alsa de

Anivers!rio%X%

F!2'2!r"

WAcordei #uem Est! DormindoLX WMin*a Iapin*aLX W?ia GenerosaLX

W;alaioLX W?aierasLX WDom" Den" DãoLX WMurucututúLX WCantam as

MangueirasLX WAve MariaLX WDespedida &ertane>aLX WPe(in*oLX WDorme"

&u(anaLX WCai C*uvaLX Wum" um" umLX WPei<e 2ivoLX WMeu Iimão"

Meu IimoeiroLX W&alve Deus" &alve a P!triaLX WA Man#uin*a%X

; Ca#$!s /" R!/a(

WAi" Eu Entrei na 'odaLX WCapelin*a de MelãoLX WCala a ;oca"

Cac*orrin*oLX WA Carrocin*aLX WEscravos de o$LX WCiranda"

Cirandin*aLX WCarangue>oLX WCarneirin*o" CarneirãoLX Wui no tororóLX

WEste Mundo = uma ;olaLX WGata Espic*adaLX WGatin*a PardaLX

WMac*adin*aLX WMais uma ;onecaLX WA Mão Direita ?emLX WMineira de

MinasLX WMargaridaLX W9esta 'uaLX W) PãoLX WMeu Galin*oLX W&am$a

Iê-IêLX W&iricot=LX W?ere(in*a de esusLX WVuase #ue eu perco o ;aúLX

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99

W?en*o uma Iinda Iaran>aLX WPai ranciscoLX W&in*! MarrecaLX W &imk

2amos Manin*aLX W'osa AmarelaLX W) Cravo ;rigou com a 'osaLX W)

Ca+=LX WPeri#uito MaracanãLX WPom$in*aLX W[ de Mim iO%X

< Igr"a4V!'a"s4N!ssa s"#.!ra(

WMarc*a Ponti+:ciaLX Wino &anta gre>aLX Wino das 2ocaç,esLX Wino

)Ocial do 5T Congresso 9acional das 2ocaç,es &acerdotaisLX Wino do

CatolicismoLX Wino da PadroeiraLX W ]Ave^ de AparecidaLX WAve

Maria%X

= Vi/a Sa2"sia#a(

Wino a Dom ;oscoLX WA &ão oão ;oscoLX Wino a &ão oão ;oscoLX WA

Cru(adaLX WCantares 2i$rantesLX Wino a &ão Domingos &!vioLX WI:rio

dos AndesLX Wino da uventude eminina &alesianaLX Wino da E<-

alunaLX W[ a tua estaLX WCanto e GratidãoLX Wino ao Padre DiretorLX

Wino de )casiãoLX Wino das Associaç,es uvenis%X

As canç,es or+enicas encontradas tanto na coleção de 2illa-

Io$os #uanto na Coleção Wuventude Canta"X encontram-se

permeadas de concepç,es a respeito da utilidade social da música

ligada a uma ideológica $aseada no civismo e na cidadania" o #ue

implica di(er #ue estas canç,es or+enicas estão so$recarregadas de

representaç,es sociais%

Para a an!lise" +oram selecionadas cinco canç,es" sendo

#uatro da Coleção da rmã Maria os= Cl:maco erreira e uma da

Coleção de 2illa-Io$os% As canç,es a serem analisadas sãoJ WA#uarela

do ;rasil"X de ArB ;arrosoL WIuar do &ertão"X de Catulo da Pai<ão

Cearense" WUirapuru"X de aldemar enri#ue" Wino ao Estudo"X de

Aricó unior e WMarc*a ;rasil"X de ?*iers Cardoso% Esta última +a(

parte da coleção organi(ada por 2illa-Io$os%

A escol*a destas canç,es est! relacionada com os principais

gêneros musicais #ue na perspectiva das representaç,es sociais

visavam gerar um sentimento de nacionalismo% )s gêneros musicais

dos #uais +a(em parte as canç,es escol*idas são o sam$a e<taltação

3A#uarela do ;rasil8" #ue valori(ava as #ualidades da nação $rasileira

e convin*a com o sentido de e<altação da p!tria" dado a nature(a de

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100

seus versos% )utro gênero escol*ido +oi o *ino 3ino ao Estudo8" cu>o

teor composicional = a louvação a determinado tipo de ação ou

personagem% 9o caso da peça escol*ida o louvor = ao estudo e

tam$=m ao tra$al*o" aç,es #ue +oram $astante preconi(adas pela

pol:tica de Getulio 2argas%

WUirapuruX e WIuar do &ertãoX remetem ao +olclore e vida

sertane>a" esta ultima en#uadrando-se na tem!tica #ue vislum$rava

#ue a ideia da origem do ;rasil estava no interior%  Uirapuru +a( parte

do +olclore do ;rasil" #ue o Canto )r+enico $uscou de norte a sul do

pa:s" a$sorvendo elementos r:tmicos" melódicos e modais oriundos

das etnias #ue comp,em a cultura $rasileira" sempre no sentido de

valori(ar a cultura e os elementos nacionais% ) último gênero musical

escol*ido +oi a marc*a 3Marc*a ;rasil8" #ue representa a +orça e a

imponência do militarismo na =poca do poder e<ercido por 2argas%

Era em ritmo de marc*a #ue se entravam e saiam nas concentraç,es

or+enicas reali(adas em praças e est!dios de +ute$ol durante o

2arguismo% 9o caso espec:Oco da Marc*a ;rasil" esta representava a

marc*a da nação $rasileira em direção &egunda Guerra Mundial%

8(,( A#2is"s /as Ca#"s(

9a an!lise das o$ras serão levados em conta os aspectos

retóricos presentes na construção do discurso musical% Para tanto" =

necess!rio certo esclarecimento do #ue vem a ser retórica em

música% De origem na Gr=cia antiga" por volta do s=culo 2 a%C%" a

retórica teve como principais autores Aristóteles" C:cero e Vuintiliano%De acordo com Cano 351118" a retórica pode ser deOnida como o

estudo da produção e an!lise do discurso so$ a perspectiva da

elo#uência e persuasão% Durante os s=culos K2" K2 e K2 a música

+oi $astante inZuenciada pela retórica" resultando disso diversos

tratados #ue relacionavam música e retórica" com o nome gen=rico

de música poetica 3CA9)" 5111" p%H8%

De acordo com an 351.18" a representação dos sentimentos >! estava presente na música desde a dade M=dia e 'enascimento"

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101

mas +oi no ;arroco #ue mover das pai<,es *umanas passou a

constituir a sua própria essência" em todas as correntes estil:sticas

#ue se desenvolveram na Europa% &egunda a autora" na Aleman*a" a

ên+ase palavra durante o culto" introdu(ida por Iutero" estimulou

+ortemente a redesco$erta da retórica" uma ve( #ue pastor

protestante usava no sermão a arte da persuasão para convencer sua

congregação% 9esse conte<to" an relata #ue Iutero entendia a

música como um sermão sonoro no #ual os sentimentos seriam

estimulados pelo compositor e assim como o pregador" o compositor

deveria empregar os meios a seu alcance para convencer a

audiência%

Dessa +orma" as Oguras de retórica musicais passaram a ser de

+undamental importNncia na medida em #ue estas dei<aram de ter

Onalidade decorativa e ad#uiriram capacidade e<eg=tica% Assim" o

uso dos recursos retóricos para e<pressar e e<plicar o sentido do

te<to tornou-se a principal #ualidade da música para os compositores

luteranos" em$ora este estilo ten*a tam$=m a$sorvido os outros

estilos europeus" notadamente o +rancês e o italiano 3A9Q " 51.18% 9o

entanto" Piedade 351118 aOrma #ue a partir do s=culo K2 a retórica

como um todo entrou em decadência" e somente no Onal do s=culo

KK #ue os pes#uisadores começaram a se interessar novamente pelo

assunto%

2oltando ao conte<to ;arroco" Piedade revela #ue os tratados

so$re música e retórica da =poca mencionam #ue para en+ati(ar o

discurso musical" alcançando o sentimento dos ouvintes" seria

necess!rio o uso das Oguras retóricas" semel*antes s Oguras de

linguagem da literatura" entendendo #ue estas não eram meros

ornamentos ad>acentes ao pensamento" mas um tra$al*o espec:Oco

so$re a própria signiOcação% Aplicando esse principio na música" Cano

351118 relata #ue

3%%%8 um dos o$>etivos +undamentais da aplicação deprinc:pios retóricos na música +oi o de proporcionar ao

discurso musical a possi$ilidade de despertar" mover e

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102

controlar os a+etos do pú$lico" tal como os oradores+a(iam com o discurso +alado 3CA9)" 5111" p%708%

Piedade 351118 relata #ue a ideia das Oguras de retórica no

conte<to musical pressup,e uma compreensão da música en#uantodiscurso% As unidades musicais deste discurso são" muitas ve(es"

atri$u:das de #ualidade ou ethos" isto por meio de convenção cultural%

) encadeamento destas unidades comp,e parte do discurso musical

e sua lógica% Citando MeBer 3./68" Piedade relata #ue o uso de

convenç,es deste tipo se d! como controle da e<pectativa" da

satis+ação ou suspensão das tens,es musicais geradas nos processos

+ormais da música tonal" o #ue comprovaria a importNncia do

sentimento e do signiOcado na música%

Piedade ainda aOrma #ue a retórica musical permeia o campo

do sim$ólico" constituindo-se numa interessante via para a

compreensão da signiOcação musical e da musicalidade em geral"

sendo per+eitamente ade#uada para o estudo da música $rasileira"

principalmente no Nm$ito da construção de identidades% As Oguras de

retórica em sua plenitude signiOcativa se d! não apenas por sua

+eição interna" mas tam$=m pela posição de sua articulação no

discurso musical%

As an!lises #ue serão reali(adas a seguir pretendem revelar

dentro do campo sim$ólico as ocorrências empregadas pelos

compositores da Era 2argas" numa tentativa de desco$rir a

signiOcação das canç,es or+enicas na construção de um sentimento

de nacionalismo levando em consideração as proposiç,es de C*artier

no #ue tange s representaç,es sociais% Portanto" o o$>etivo das

an!lises = veriOcar o sim$olismo por tr!s das o$ras or+enicas% Essa

an!lise tam$=m se apoia no princ:pio +enomenológico musical

descrita por errara 3./478%

&egundo errara" a an!lise +enomenológica em música

+unciona como uma interação dinNmica entre o compositor e seu

mundo" sim$olicamente trans+ormado em linguagem musical numa

representação sint!tica particular" #ue +orma uma te<tura poli+nica

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103

de signiOcados sint!tico" semNntico e ontológico% Em$ora não se>a

poss:vel deci+rar completamente #ual era a intenção do compositor =

necess!rio entender sua o$ra na perspectiva do mundo em #ue ela

+oi escrita% Portanto" como ressalva errara" a an!lise +enomenológica

$aseia-se nos elementos *umanos presentes na música" uma ve(

#ue" tanto na composição #uanto na interpretação" a música est!

im$u:da de uma presença *umana" #ue = marcada pelo ser *istórico

e social do compositor%

9esse sentido" a an!lise +enomenológica depara-se com a

responsa$ilidade de dialogar com o mundo do compositor" #ue

atrav=s de sua manipulação do som" cria um mundo #ue permanece

a$erto ao analista% ?odavia" o analista não responde ao mundo do

compositor pura e o$>etivamente" mas dentro das limitaç,es do seu

próprio mundo e cultura% Em suma" segundo errara" a an!lise

+enomenologia proporciona um m=todo #ue pode desco$rir

dimens,es de sinta<e não geralmente e<plicada em a$ordagens

convencionais de an!lise musical" como os procedimentos

tradicionais de &c*ener e an Ia'ue% sso" segundo o autor"

certamente re+orça a necessidade de uma s:ntese da descrição

+enomenológica com outras +ormas tradicionais de an!lise musical%

Com $ase na analise +enomenológica proposta por errara as

analises levarão em conta o signiOcado das Oguras retóricas no

discurso musical" comparando o te<to com essas Oguras" isto =" se o

ritmo e movimento melódico e<pressam o sentido da letra ou não R

an!lise semNntica% 9um segundo momento" ser! veriOcado o #ue a

construção desse discurso musical #uer di(er em termos de

representaç,es sociais - an!lise ontológica% 9essa lin*a de racioc:nio"

como dito anteriormente" na se#uência serão analisadas as seguintes

o$rasJ WA#uarela do ;rasil"X de ArB ;arrosoL WIuar do sertão"X de

Catulo da Pai<ão Cearense" WUirapuru"X de aldemar enri#ue" Wino

ao estudo"X de Aricó unior e WMarc*a ;rasil"X de ?*iers Cardoso%

8(,(,( A1uar"2a /! Brasi2

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104

A#uarela do ;rasil +oi composta em ./0/" pelo compositor mineiro

ArB ;arroso% A canção e<alta as #ualidades e a grandiosidade do pa:s"

marcando" assim" o estilo musical #ue na =poca Ocou con*ecido como

sam$a e<altação% Por ser de nature(a uOnista" o estilo sam$a

e<altação guardava certa aOnidade com a pol:tica varguista% Antes de

ser gravada" A#uarela do ;rasil teve o verso Wterra do sam$a e do

pandeiroX vetado pelo Departamento de mprensa e Propaganda

3DP8" por considerar #ue essa +ala era depreciativa para a nação

$rasileira% Depois de v!rias conversas com os censores do DP" ArB

;arroso conseguiu #ue o verso permanecesse na canção%

Como dito" a o$ra = um sam$a e<altação" portanto" enaltece as

grande(as do ;rasil% ) te<to di( o #ue se segue a$ai<oJ

;rasil" meu ;rasil ;rasileiro"Meu mulato in(oneiro"2ou cantar-te nos meus versosJ

) ;rasil" sam$a #ue d!;am$oleio" #ue +a( gingarL

) ;rasil do meu amor" ?erra de 9osso &en*or%;rasilk ;rasilk Pr! mimk Pr! mimk

" a$re a cortina do passadoL ?ira a mãe preta do cerradoL;ota o rei congo no congado%;rasilk ;rasilk

Dei<a cantar de novo o trovadorf merencória lu( da lua

 ?oda canção do meu amor%Vuero ver essa Dona camin*andoPelos sal,es" arrastando) seu vestido rendado%;rasilk ;rasilk Pr! mimk Pr! mimk

;rasil" terra $oa e gostosaDa morenin*a sestrosaDe ol*ar indi+erente%

) ;rasil" verde #ue d!Para o mundo admirar%

) ;rasil do meu amor" ?erra de 9osso &en*or%

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10,

;rasilk%%% ;rasilk Pr! mim %%% Pr! mimk%%%

Esse co#ueiro #ue d! coco")nde eu amarro a min*a rede9as noites claras de luar%k Estas +ontes murmurantes)nde eu mato a min*a sedeE onde a lua vem $rincar%

k Esse ;rasil lindo e trigueiro[ o meu ;rasil ;rasileiro"

 ?erra de sam$a e pandeiro%;rasilk ;rasilk

Vuanto música" a tessitura melódica da canção compreende

a e<tensão #ue vai do dó 0 ao dó 7 da escala geral% Portanto" tem

e<tensão de uma oitava% A +orma em #ue +oi estruturada acomposição segue o padrão A;" A; #ue = uma +orma $astante

comum para os sam$as" segundo di( Guest 3.//8" mas para an!lise

a canção +oi dividida em cinco seç,es% A tonalidade = de +! maior"

com inicio anacrústico" seguido por uma se#uência de #ui!lteras de

três sons" tercinasL #ue" após uma escala ascendente #ue se inicia na

+rase Wvou cantar-te nos meus versos"X termina a seção atingindo a

mediante do acorde tnica" após a resolução de uma cadênciaper+eita%

Com respeito s Oguras de retórica" adentrando na an!lise

semNntica a Om de entender o processo de construção musical"

segundo menciona errara" nos versos W;rasil" meu ;rasil ;rasileiro"

meu mulato in(oneiroX o compositor +a( uso do circulatio" para dar a

ideia de constNncia na melodia" en+ati(ando pela lin*a melódica o

conceito de ];rasil $rasileiro% ^ Depois dessa circulação" utili(a aana&asis" movimentando na curva melódica para cima a ação de

cantar o ];rasil em versos%̂ 9ota-se ainda" agora no compasso 5"

mais uma ve( a presença da Ogura retórica ana&asis" acentuando

ascendentemente a +rase Wmeu ;rasil%X 9essas ocorrências nota-se

#ue o desen*o melódico descrito pelas Ogura retóricas e<pressam o

sentido da letra da música" *ora circulando em torno de ;rasil

;rasileiroL *ora elevando enaltecendo passagens #ue di(em respeitoao ;rasil%

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10-

E?"02! ,

9a segunda seção" como = um desen*o r:tmico caracter:sticodo sam$a e do c*oro" *! grande ocorrência da s:ncope #ue M!rio de

Andrade c*ama de s:ncope caracter:stica da música $rasileira% Após o

t=rmino da seção anterior" a pró<ima seção inicia-se num sus%iratio"

#ue #ue$ra a melodia a Om de destacar a +rase W ;rasilX" #ue

novamente aparece de +orma ascendente% ! três ocorrências de

cata&asis  nos versos Wsam$a #ue d!LX W#ue +a( ging!"X Wdo meu

amor"X Wnosso &en*orX% ?oda a seção constitui-se numa +allilogia" #ueen+ati(a todo o te<to com a repetição de uma ideia melódica com as

mesmas notas%

A ocorrência da cata&asis  nos trec*os citados parecem não

e<pressar o sentido do te<to" uma ve( #ue os coloca em movimento

descendente a +rases Wdo meu amorX e Wnosso &en*or"X #ue se re+ere

divindade% Por outro lado" o desen*o r:tmico e<pressa o gingado do

sam$a por meio da ocorrência da s:ncope e a palavra ;rasil =novamente posta em ên+ase" saindo de um momento de respiração

para ser pronunciada em +orma de eNclamatio% &egundo Cano 351118"

uma e<clamação de alegria e +elicidade se d! por um intervalo

ascendente de terça maior" o #ue pode ser o$servado no discurso

musical com as notas dó e mi" elevando a palavra ;rasil%

Com $ase em errara" = poss:vel di(er #ue o compositor #uis

en+ati(ar a ideia de +elicidade e alegria ao pronunciar o nome da

nação $rasileira%

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107

 

E?"02! *

A terceira seção inicia-se na mediante do acorde de tnica"

#ue após uma escala descendente" cata&asis, descrevendo o te<to

Wa$re a cortina do passadoX" camin*a para o acorde de dominante"

atrav=s de um retardo precedido de $ordadura in+erior" Como a

anterior" toda esta seção +orma uma  %allilogia" uma repetição do

mesmo discurso musical sem alteração% 9ota-se #ue" pela primeira

ve(" a menção do nome ;rasil aparece em movimento melódicodescendente" não e<pressando o #ue vem *a$itualmente ocorrendo

no te<toL mas" em seguida" ascende novamente numa e<clamação

por intervalo de #uarta >usta" seguindo a pronuncia do te<to por meio

da  %atho%oeia% &egundo Cano 351118 esta Ogura e<pressa um

sentimento de alegria e riso tanto para #uem canta #uanto para

#uem ouve% Da: a entender #ue o novamente o compositor por

movimento entre semitons +ora da *armonia" #ueria e<pressaralegremente a palavra ;rasil%

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108

E?"02! 8

A #uarta seção = marcada #uase #ue totalmente pela Ogura

 %atho%oeia" e<pressando a alegria de Wcantar de novo o trovadorX" a

Wmerencória lu( da luaX e Wtoda canção do meu amor%X 9esse sentido

= o$serv!vel #ue o compositor utili(a essa Ogura para dar a ideia de

um sentimento de go(o ao e<pressar as palavras do te<to% )

cromatismo = recorrente nesta seção" sempre atingindo a tnica do

acorde de dominante por antecipação precedida de $ordadurain+erior%

E?"02! 9

A #uinta seção começa no acorde de su$dominante +a(endo

uma movimentação em cata&asis  com te<to Wesse ;rasil lindo e

trigueiroX e W^;rasil $rasileiroX" insistindo na mesma nota e desen*o

r:tmico para en+ati(ar o te<to Wterra do sam$aX% A seção termina

numa repetição dos repetindo os versos W;rasil" ;rasil" pra mim" pra

mimX de +orma descendente" mas contra$alanceada com um

eNclamatio por intervalo de #uarta >usta #ue atinge a mediante do

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109

acorde de tnica e<pressando o sentido do te<to em enaltecer a

P!tria%

E?"02! -

8(,(*( Luar /! S"r$!(

Iuar do &ertão releva a vida campesina $rasileira sua e

simplicidade% )riginalmente era um cco" com o nome de Engen*o de

umait!" de autoria annima" mas #ue +a(ia parte do repertorio de

 oão Pernam$uco 3.440-./7H8% &egundo Domingues 351.08" em ./.6

 oão Pernam$uco apresentou a melodia a Catulo da Pai<ão Cearense

como um cco de em$olada e este colocou-l*e um te<to e a c*amou

de WIuar do &ertão%X ) te<to de Catulo da Pai<ão Cearense segue

a$ai<oJ

9ão *!" ó gente" ó não"Iuar como esse do sertão%9ão *!" ó gente" ó não"Iuar como esse do sertão%

)*k #ue saudade do luar da min*a terraI! na serra $ran#ue>ando +ol*as secas pelo c*ão

Este luar c! da cidade tão escuro9ão tem a#uela saudade do luar l! do sertão

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110

9ão *!" ó gente" ó nãoIuar como esse do sertão9ão *!" ó gente" ó não0Iuar como esse do sertão

&e a lua nasce por detr!s da verde mataMais parece um sol de prata prateando a solidãoE a gente pega na viola #ue ponteiaE a canção e a lua c*eia a nos nascer do coração

9ão *!" ó gente" ó nãoIuar como esse do sertão9ão *!" ó gente" ó nãoIuar como esse do sertão

Mas como = lindo ver depois por entre o mato

Desli(ar calmo" regato" transparente como um v=u9o leito a(ul das suas !guas murmurandoE por sua ve( rou$ando as estrelas l! do c=u

9ão *!" ó gente" ó nãoIuar como esse do sertão9ão *!" ó gente" ó nãoIuar como esse do sertão

A canção est! na tonalidade de si $emol maior" inicio

anacrústico compasso $in!rio simples e e<tensão #ue vai do r= 0 ami 7% Possui .6 compassos e +orma simples% Melodia se caracteri(a

por movimento ascendente e descendente #ue se alterna ora su$indo

ora descendoJ cata&asis e ana&asis% ) te<to Wluar com este do sertãoX

aparece em +orma descendente numa escala no modo +r:gio" como

#ue de +orma apai<onada o compositor descrevesse a descida da lu(

da lua so$re o sertão" uma ve( #ue este modo remete a um

sentimento de pai<ão" segundo menciona Aristóteles em Pol:tica" 2"

.071 a .6-01%

9os compassos 7 e 6 aparece a Ogura retórica sus%iratio" para

destacar o te<to W)*k Vue saudade #ue saudade do luar"X #ue por

sua ve( = introdu(ido pela ana&asisD ) te<to Xterra l! do sertão

prateando +ol*as secas pelo c*ãoX apresenta-se em +orma de

gradatio, grada/oD Esta Ogura" segundo Cano" = usada para causar o

sentimento de surpresa no ouvinte no Onal de um discurso musical% )

te<to WA#uela saudade do luar do l! do sertãoX = marcado pelo

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111

movimento descendente" cata&asis" #ue denota certa melancolia% Das

o$servaç,es +eitas" constata-se #ue as Oguras utili(adas pelo

compositor e<pressam o sentido do te<to%

E?"02!

8(,(8( Uira0uru) compositor paraense" aldemar enri#ue" escreveu o

Uirapuru em ./07" dei<ando claro pela constante presença de

semicolc*eias #ue o te<to tem certa prima(ia so$re a lin*a melódica%

A canção = e<tremamente sil!$ica" #uase +alada% Apesar de denotar

uma +eição alegre e $re>eira" a o$ra est! na tonalidade de r= menor"

compreendendo a e<tensão melódica de uma oitava% A$ai<o segue ote<to da canção%

  Certa ve( de montariaEu descia um paran!) ca$oclo #ue remava9ão parava de +alar" a*" a*9ão parava de +alar" a*" a*Vue ca$oclo +aladork

Me contou do lo$isomenDa mãe-dq!gua" do ta>!"

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112

Disse do >urata*BVue se ri pro luar" a*" a*Vue se ri pro luar" a*" a*Vue ca$oclo +aladork

Vue mangava de visagem"Vue matou surucurúE >urou com pavulagemVue pegou uirapuru" a*" a*Vue ca$oclo tentadk

Ca$oclin*o" meu amor"Arran>a um pra mimAndo ro<a pra pegarUn(in*o assim%%%

) dia$o +oi-se em$ora

9ão #uis me dar"2ou >untar meu din*eirin*oPra poder comprar

Mas no dia #ue eu comprar) ca$oclo vai so+rer"Eu vou desassossegar) seu $em #uerer" a*" a*)ra dei<a ele pra l!%%%

  Vuanto ao signiOcado semNntico do discurso musical

mencionando por errara" #ue no caso desta an!lise envolve asOguras retóricas" estas pareceu $astante limitadas no seu uso"

principalmente em cose#uência do car!ter r:tmico da canção" #ue

tende a en+ati(ar o te<to em detrimento da melodia% ?odavia" algumas

Oguras +oram o$servadas%

A presença da an!+ora" repetição do mesmo +ragmento em

di+erentes compassos realça a intenção de despertar um sentimento

de pai<ão re+erente ao +olclore $rasileiro e a elementos caracter:sticosda região norte do pa:s% Assim" no primeiro motivo da an!+ora o

compositor realça as palavras ]paran!^ 3$raço de rio8" ]mãe d^!gua"^ e

]lo$isomem^L na repetição do motivo" transposto uma terça maior

acima" os termo em desta#ue são ]ca$oclo^ e ]>urata*B^" p!ssaro

caracter:stico da região norte%

A palavra ]ca$oclo" ^ #ue = recorrente no te<to como

personagem principal = destacada de +orma ascendente peloeNclamatio  3e<clamação8" mas ]ca$oclo +alador] aparece de +orma

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113

descendente" cata&asis" como #ue depreciando este seu ad>etivo%

Entende-se com isso #ue o compositor #ueria certo enaltecimento na

palavra ca$ocloJ mestiço de $ranco com :ndio e caracter:stico na

região norte" mas #uando o ad>etivou de +alador colocou-o em lin*a

melódica descendente%

9o Onal da canção o compositor usa a Ogura retórica

 %atho%eia para nas inter>eiç,es Wa*" a*Xpara e<pressar o sentimento

de dor e segue em cata&asis para e<pressar a ideia de despre(o com

a +rase Wdei<a ele pra l!X% Com $ase em errara 3./478 nota-se #ue

em Uirapuru" dentro de uma sint!tica particular" o compositor

trans+orma elementos regionais num discurso musical carregado de

signiOcaç,es semNnticas%

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114

E?"02! ;

8(,( 9( i#! a! Es$u/!

At= o momento não +oi poss:vel col*er in+ormaç,es *istóricas

so$re esta canção e nem seu compositor" 2icente Aricó unior% &a$e-

se #ue o autor nasceu no ano de ./1" e" portanto" estava em plena

atividade durante a Era 2argas% &a$e-se tam$=m #ue organi(ou

coleç,es de canto or+enico" como a coleção WCanto da uventude"X

em 7 volumes" pu$licada em ./60" e #ue comps diversos cantos e

+e( arran>os para outros% Era amigo de eitor 2illa-Io$os" +ato #ue se

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11,

comprova na *omenagem #ue +a( a ele na sua coleção de WCanto da

 uventudeX%

ino ao estudo" como $em di( o t:tulo" enaltece o o+:cio de

estudar e o dever das escolas $rasileiras em preparar as +uturas

geraç,es do pa:s% ) te<to segue a$ai<o%

&omos alunos das escolas do ;rasil"

9osso dever = preparar $em as liç,es%

[ no estudo e no tra$al*o #ue se +or>am viris geraç,esk

9a escola" estudando" estudando"

Estudando sem parar%

Glorioso +uturo e radioso podemos con#uistar%

[ nos $ons livros #ue encontramos o ideal%[ no estudo #ue encontramos a lição #ue engrandece"

Vue eno$rece e #ue plasma o mel*or cidadão%

A canção est! na tonalidade de I! maior e possui um car!ter

marcial em virtude de seu compasso 4" marcando a cadência

sempre pelas notas de um tempo" #ue em marc*a caracteri(am as

passadas dos alunos% Apesar de +a(er menção ao estudo e s escolasdo ;rasil como algo de muito valor" o te<to somos alunos das escolas

apresenta-se em lin*a descendente" cata$asis" o #ue não condi( #ue

o sentido de enaltecimento% ?odavia" a palavra ;rasil" #ue aparece no

Onal deste te<to = realçada pelo eNclamatioD

A palavra dever" como a o$rigação de estudar" tam$=m =

realçada pelo eNclamatioD A an!+ora no te<to W= no estudo" = no

tra$al*o"X visa o despertar do dese>o por estes dois o+:cios% Dentro da

repetição mot:vica #ue constitui a an!+ora" aparece a Ogura retórica

ana&asis condu(indo ao eNclamatio #ue visa intensiOcar desta#ue do

te<to Wno estudo" no tra$al*oX% ) sus%iratio #ue$ra a se#uência da

melodia +a(endo uma $reve pausa para por em evidência o te<to

W#ue +or>am viris geraç,esX e W#ue plasma o mel*or cidadão"X

destacados por um eNclamatio constitu:do por um intervalo de se<ta

maior%A palavra WestudandoX tam$=m = relaçada por um eNclamatio e

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11-

novamente apresenta-se um sus%irtaio  para evidenciar o te<to

Wglorioso +uturoX" no caso" o +uturo das geraç,es do ;rasil%

E?"02! <8(,( -( Mar'.a Brasi2

Esta canção" de car!ter militar +oi composta por ?*iers

Cardoso" sendo o te<to de % arold% tam$=m c*ama da Marc*a de

Guerra ;rasil% 2illa-Io$os +e( um arran>o desta canção para $anda

militar e = tocada at= *o>e por $andas militares acompan*adas por

um or+eão de soldados" pois são soldados sem con*ecimento musical

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117

#ue a canta nas instruç,es de canto #ue acontecem nos #uart=is% )

te<to = um apelo em de+esa da P!tria% ) te<to segue a$ai<o%

&alvek P!tria gentilAmado ;rasil"9ossa terra #ueridakPara a tua grande(aLGlória e de+esa"

 ?u tens a nossa vidak 35<8

;rasilk 9ome sagradoLMarc*amos resolutos para a guerrak

 ?odo o vigor #ue o nosso peito encerra[ teu" só teu" ;rasil amadok 35<8

Ei-lak A nossa >ornada;endita cru(adaDe um povo tão +orteLA +alange aguerrida"9unca vencida"2ai a+rontar a mortek 35<8

;rasilk 9ome sagradoLMarc*amos resolutos para a guerrak

 ?odo o vigor #ue o nosso peito encerra[ teu" só teu" ;rasil amadok 35<8

 ?oda a tropa se agitaCom glória inOnitaAo ru+ar do tam$orLE ao ver esta $andeira"A P!tria inteiraCanta" vi$ra de amork 35<8

;rasilk 9ome sagradoLMarc*amos resolutos para a guerrak

 ?odo o vigor #ue o nosso peito encerra[ teu" só teu" ;rasil amadok 35<8

Avante ;rasileirosk;ravos guerreirosDa grande naçãoLPara a vitória"Ieva a glóriaDo auri-verde pendãok 35<8

;rasilk 9ome sagradoLMarc*amos resolutos para a guerrak

 ?odo o vigor #ue o nosso peito encerra[ teu" só teu" ;rasil amadok 35<8

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)$serva-se #ue o te<to Wp!tria gentil" amado ;rasilX aparece

de +orma descendente" contrariando o #ue vem sendo o$servado nas

canç,es anteriores" #ue enaltecem sempre os termos mencionados%

Por=m" o te<to Wnossa terraX = realçado de +orma ascendente% As

palavras Wgrande(aX e WglóriaX tam$=m aparecem em +orma de

cata&asis, o mesmo ocorrendo com a +rase Wtu =s nossa vida"X

re+erindo-se ao ;rasil%

)$serva-se o sus%iratio para destacar a palavra Wsalve"X em

eNclamatio" mas novamente a palavra Wp!triaX aparece em intervalo

descendente% ) te<to amado ;rasil surge numa lin*a melódica

descendente" mas Wnossa terraX = destacada pela Ogura retórica

cata&asis, movimento para cima" e<altando então a nação $rasileira%

) te<to W;rasil" nome sagradoX = colocado em realce pelo eNclamatio

e para guerra = colocada de +orma descende" como se o compositor

#uisesse in+eriori(ar a #uestão da guerra" na #ual o ;rasil estava

prestes a entrar%

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E?"02! =

8(,(( I#$"r0r"$a#/!

  )$serva-se #ue das canç,es analisadas" WMarc*a ;rasilX pareceu

a #ue mais seguiu o contrario do te<to po=tico em relação ao discurso

musical" mas como di( errara 3./478" a an!lise +enomenológica

$aseia-se em elementos *umanos presentes na música e com ela

pode se desco$rir dimens,es de sinta<e não geralmente e<plicada

em a$ordagens convencionais%

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Com a an!lise sint!tica dessas cinco das canç,es pode-se

saltar para o campo da an!lise ontológica" tam$=m re+erida por

errara 3./478% 9este caso" a an!lise permeia o campo do sim$ólico"

o das representaç,es socias" preconi(ada por 'oger C*artier% As

construç,es dos discursos musicais presentes nas canç,es or+enicas

a#ui analisadas podem ser aclaradas por C*artier" ao mencionar #ue

a ideia de representação permite discriminar di+erentes categorias de

signos da#uilo #ue = representado% Assim" cada motivo musical das

canç,es se>a enaltecendo a nação" o tra$al*o" o estudo" o +olclore

estão carregados de sim$olismosL carregados de signos e conotaç,es

da#uilo #ue se #ueria representar no imagin!rio do ;rasil da Era

2argasJ a imagem de um l:der e de uma nação so$erana%

Ainda dentro da ideia de representação social pode-se notar

pela a an!lise das canç,es selecionadas #ue o 2arguismo e<plorou o

vi=s musical do Canto )r+enico com a Onalidade de mane>ar as

massas" trans+ormando espet!culos musicais em verdadeiras

representaç,es de poder% Por tr!s desses espet!culos" ao mesmo

tempo em #ue controlava a vida cotidiana da coletividade" o regime

de Getulio 2argas controlava ou tentava controlar a realidade atrav=s

de representaç,es imagin!rias" como menciona ;alandier 3./458%

Assim" ao utili(ar-se do Canto )r+enico como espetaculari(ação do

poder pol:tico 2argas assegurava sua representação de l:der

carism!tico ao mesmo tempo em #ue tentava construir um conceito

identit!rio e ideali(ado da sociedade $rasileira%

CONSIDERAÇES FINAIS

) canto or+enico +oi o maior movimento pedagógico musical

ocorrido no ;rasilL seu repertório data do per:odo #ue precede a

instalação do Estado-9ovo at= o segundo governo de 2argas% ?odavia"

ao c*egar ao Om desta pes#uisa" pode-se concluir #ue o repertório

or+enico cantado nas escolas e nas concentraç,es c:vicas +oiutili(ado na construção de representaç,es sociais acerca do

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nacionalismo% Conclui-se" portanto" #ue sua =poca o

repertórioor+enico esteve impregnado de representaç,es sociais #ue

visava criar um imagin!rio em torno de um ideal nacionalista%

Estas representaç,es +oram o$servadas nas canç,es #ue

e<altam o pais e o povo $rasileiro em seus di+erentes mati(es% &e>a

no tra$al*o" se>a nas escolas a canção or+enica cria a representação

de um povo alegre e sorridente #ue atende vo( da p!tria mãe se>a

#ual +or o c*amado% A representação da ideologia nacionalista surge

do conteúdo musical e po=tico do canto or+enico" os #uais reZetem

os ideais do regime 2arguista a partir do seu pro>eto de incorporar a

música vida social da coletividade%

 ?anto na sua te<tura melódica #uanto em seu te<to po=tico"

constatou--se #ue o repertório or+enico revela um conteúdo

ideológico" caracter:stica normalmente encontrada nos regimes

ditatoriais% 9essa perspectiva +oi constatado #ue o 2arguismo

alimentava as mani+estaç,es or+enicas no e<perimento de coligar a

opinião pú$lica ao pro>eto pol:tico-ideológico em vigor no ;rasil dos

anos ./01% Com essa mentalidade *avia tam$=m a tentativa de

controlar a grande massa popular atrav=s de uma ação diretaL pois"

como >! dito" o teor do canto or+enico estava comprometido com a

criação de representaç,es sociais de patriotismo pregadas pelo

governo 2argas%

Por meio das gigantescas concentraç,es or+enicas em

comemoraç,es e rituais c:vicos promovidos em praças" pal!cios e

est!dios de +ute$ol" pode se di(er #ue al=m da construção de um

imagin!rio coletivo a respeito da ideia de nacional" no ;rasil varguista

*ouve tam$=m a construção da representação social da imagem de

Getúlio 2argas como o protetor do povo $rasileiro% De +ato" a pr!tica

do canto or+enico não +oi apenas a de educação" nas suas camadas

mais pro+undas tam$=m podem ser constatadas o seu aspecto

civi(ilador disciplinar e civismo% Assentando-se numa est=tica

essencialmente nacionalista a música or+enica encontrou seu valor

social" servindo como alicerce para a uniOcação dos indiv:duos e de

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seus respectivos sentimentos% Com isso" esta pes#uisa considera #ue

atrav=s das diversas composiç,es o canto or+enico cumpriu sua

missão c:vica" cristali(ando em sua =poca representaç,es sociais das

virtudes do ;rasil e dos $rasileiros" so$ a proteção da Ogura paterna

de Getúlio 2argas%

REFERÊNCIAS

AIMEDA% Angela M% )liveira% A pes#uisa em representaç,es sociaisJproposiç,es teórico-metodológicas% nJ AIMEDA" Ieda MariaL &A9?)&"Maria de !tima% 3)rg%8% Di2!g! '! a $"!ria /a r"0r"s"#$a!s!'ia2( 'eci+eJ Editora Universit!ria UPE" 5116% p%..H-.1%

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123

AMA?)" 'ita de C!ssia ucci% A +unção ideológica do canto emcon>unto no pro>eto de 2illa-Io$os durante a Era 2argasJ an!lise apartir dos guias de Canto or+enico 3./71L ./6.8% nJ &MP&)9?E'9AC)9AI 2IIA-I);)&" H%" 511/" &ão Paulo% A#ais(((  &ãoPauloJ U&P" 511/%p% H-.5%

AM)'E??" uliana% Movimentos sociais na Am=rica Iatina erepresentaç,es sociais de pol:tica% n GUA'E&C" Pedrin*o" et al3)rg%8% R"0r"s"#$a"s s!'iais " !3i"#$!:  psicologia doativismo pol:tico% Porto AlegreJ EDPU'C" 51.1% p% 60-H%

A9DE'&)9" ;enedict '% C!u#i/a/"s iagi#a/as: reZe<,es so$rea origem e a di+usão do nacionalismo% ?radução Denise ;ottman% &ãoPauloJ Compan*ia das Ietras" 5114%

A'E9D?" anna*% Orig"#s /! $!$a2i$aris!:  anti-semitismo"imperialismo" totalitarismo% &ão PauloJ Compan*ia das Ietras" ./4/%

;AIA9DE'" Georges% O 0!/"r " '"#a% ;ras:liaJ EditoraUniversidade de ;ras:lia" ./45%

;)EI?E'" Cleu(aL PIME'" Ellen% [mile Dur*eimJ o$ra e conte<to*istórico% nJ ?E&QE" )tmar% S!'i!2!gia:  te<tos e conte<tos% 5%ed%CanoasJ Editora UI;'A" 5116%p%6/-H1%

;)'?UIUCE" 2anessa ;eatri(% Ar$" /!s r"gi"s $!$a2i$ri!s /!

s'u2! >>: 'ússia Aleman*a% &ão PauloJ Anna$lume" 5114%;U'QE" Peter% A %ari'a! /! r"iJ a construção da imagem pú$licade Iu:s K2% 'io de aneiroJ a*ar" 511.%

CAIC)" oB aslam% S*rer eine neue Deutsc*e 9ationaloperJ )perain t*e Discourses o+ UniOcation and Iegitimation in t*e GermanBDemocratic 'epu$lic% nJ APPIEGA?E" CeliaL P)??E'" Pamela Ma<ine%3)rg%8% Musi' a#/ G"ra# #a$i!#a2 i/"#$i$6( C*icagoJ UniversitB o+ C*icago Press" 5115% p%./1-517%

CAMP)&" Maria os=% Cassiano 'icardo e o Wmito da democraciaracialXJ uma versão modernista em movimento% R"3is$a USP" &ãoPaulo" n%4" p% .71-.66" de(%_+ev% 511%

CA9)" 'u$=n Iópe(% Msi'a 6 R"$ri'a "# "2 Barr!'!% M=<icoJUnam" 5111% CA'2AI)" rancismar Ale< Iopes de% ) conceito de representaç,escoletivas segundo 'oger C*artier% Di2!g!s" v% /" n% ." p% .70-.6" 5116%

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124

CA&&A9)" Iui( de Carval*o% Mar'.a 0ara ! O"s$"J um itiner!riopara o Estado 9ovo 3./0H-./768% ;ras:lia" .71 +% Dissertação3Mestrado em istória8- Un;" 5115%

&ão Paulo" .40 +% Dissertação 3Mestrado em Música8 R nstituto de

Artes" U9E&P" &ão Paulo" 5116%

CA'?E'" 'oger% A .is$ria 'u2$ura2: entre pr!ticas erepresentaç,es sociais% Iis$oaJ Di+el" 5115%

C)9?E'" Arnaldo DaraBa% Passari#.a/a /! Brasi2: canto or+enico"educação e getulismo% ;auruJ EDU&C" .//4%

C)'?" Ana Paula% Es$a/! N!3! ,=8;4,=9-: a ditadura de Getúlio2argas% 5116% Dispon:vel emJ*ttpJ__educacao%uol%com%$r_disciplinas_*istoria-$rasil_estado-novo-./0H-./76-a-ditadura-de-getulio-vargas%*tm Acesso em J 50 >an%51.0%

D^'A)" Maria Celina% O Es$a/!4N!3!% 'io de aneiroJ a*ar" 5111%

DE;)'D" GuB% A s!'i"/a/" /! "s0"$'u2!(  Iis$oaJ Ediç,esAntip!ticas" 5116%

DEI" Paula% Pr!0aga#/a " 0"rsuas! #a A2"a#.a Nais$aD&ão PauloJ Anna$lume" .//%

DE?'C" Ana Maria% Nais! $r!0i'a2: o Partido 9a(ista no ;rasil%511H% 01.%+% ?ese 3Doutorado em istória8 R aculdade de ilosoOa"Ietras e Ciências umanas" Departamento de istória" Universidadede &ão Paulo" &ão Paulo" 511H%

D)M9GUE&% enri#ue or=is% N! $"0! /" N!"2 R!sa( 0%ed% 'io de aneiroJ &onora" 51.0%

DU'QEM" [mile% As r"gras /! $!/! s!'i!2gi'!( 0% ed% &ãoPauloJ Martins ontes" 511H%

 jjjj %Do suic:dio como +enmeno social% nJ 2ictor Civita% 3Ed%8% OsP"#sa/!r"s( &ão PauloJ A$ril Cultural" ./40% p%.40-515%

 jjjj%La /i3isi# /"2 $raa! s!'ia2% s%l%bJ Aal" ./4H%

E'9A9DE&" Eduardo% G"$2i! Vargas " a a#i0u2a! /!saa *++=( Dispon:vel emJ*ttpJ__*istorianovest%$logspot%com%$r_511/_1._getlio-vargas-e-manipulao-do-sam$a%*tml% Acesso emJ .5 >an% 51.7%

EE'E'A" Maria os= Cl:maco% u3"#$u/" Ca#$a% &ão PauloJ rmãos2itale" ./1%

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12,

UQ&" 'osa% O /is'urs! /! si2W#'i!( 'io de aneiroJ Enelivros" .//.%

GIIA9" ;rBan% ?*e anne<ation o+ Anton ;runerJ 9a(i revisionismand t*e politics o+ appropriation% nJ AQ&A" PaulL ACQ&)9"

 ?imot*B I% 3Ed%8% Bru'X#"r s$u/i"s( Cam$ridgeJ Cam$ridgeUniversitB Press" .//H% p% H5-/.%

G)IDEM;E'G% 'icardo% Educação MusicalJ a e<periência co Canto)r+enico no ;rasil% Pr!4P!si"s" s%l%b"v%" n%0" p%.10-.1/" nov%.//6%

G)IDII" &imon% ?*e Great DionBsia and civic ideologB% !ur#a2 !% "22"#i' S$u/i"s( IondonJ ?*e societB +or t*e promotion o+ ellenicstudies" ./4H%

AII" &tuart" A i/"#$i/a/" 'u2$ura2 #a 0s4!/"r#i/a/"( ?radução ?oma( ?adeu da &ilvaL Guacira Iopes Iouro% ..% ed% 'io de aneiroJ DP\A" 511%

E&Q" on% ?*e socio-political dimension o+ ancient tragedB% nJMcD)9AID" MarianeL AI?)9" Mic*ael% 3Ed%8% T." Cari/g" $!Gr""X a#/ R!a# T."a$r"% Cam$ridgeJ Cam$ridge UniversitBPress" 511H% p% H5-/5%

'&C" IilB E%  A "Yis. Or'."s$ra i# Nai G"ra#6:  Musical

Politics and t*e ;erlin e@is* Culture Ieague% Mic*iganJ UniversitB o+ Mic*igan Press" 51.1%

);&;AM" Eric % A "ra /!s "?$r"!s: o $reve s=culo KK 3./.7 R.//.8% &ão PauloJ Compan*ia das Ietras" .//6%

 )DEIE?" Denise% As r"0r"s"#$a"s s!'ias( 'io de aneiroJ UE'"511.%

QA'?E'" Mic*ael % T." $Yis$"/ us": musicians and t*eir music int*e ?*ird 'eic*% 9e@ orJ )<+ord UniversitB Press" .//H%

IAUE'A&& r%" Iud@ig% G"$2i! Vargas " ! $riu#%! /!#a'i!#a2is! rasi2"ir!( CampinasJ tatiaia" ./4%

 jjjjjjjjL 9A2A" Carmem% Brasi2: uma identidade em construção% &ãoPauloJ ticaJ 511H%

IEM)& r% ilson% )s de+ensores do ensino de música na escola$rasileira durante a primeira metade do s=culo KK% R"3is$a"2"$r&#i'a /" usi'!2!gia( s%l%b" v%.0" set% 51.1%

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I&;)A" Alessandra Coutin*o% Vi22a4L!!s " ! 'a#$! !r%"&#i'!:música" nacionalismo e ideal civili(ador% &ão Paulo" .40 +% Dissertação3Mestrado em Música8 R nstituto de Artes" U9E&P" &ão Paulo" 5116%

I)CQ))D" Ie@is% ;eet*ovenJ a si'a " a 3i/a(  &ão PauloJ

Cone<" 511H%

I)U'E')" Al:cia Maria Almeida% O "#si#! /a si'a #a "s'!2a%u#/a"#$a2:  um estudo e<ploratório% 511.% 57. +% Dissertação3Mestrado em Educação8 R PUC" ;elo ori(onte" 511.%

IUQE&" &teven% ;ases para a interpretação de Dur*eim% nJ C)9"Ga$riel% 3)rg%8% S!'i!2!gia 0ara 2"r !s '2ssi'!s( 'io de aneiroJIivros ?=cnicos e Cient:Ocos" ./HH%

M)9?E')" Ana 9icolaçaL &)UA" 'osa !tima de% Educação musicale 9acionalismoJ a *istória do Canto )r+enico no ensino secund!rio$rasileiro 3./01-./18% is$ria /a E/u'a!( Pelotas" v%.0" p%..6-.0H" a$r% 5110%

M)9?" Ednardo Monteiro Gon(aga do% Canto or+enicoJ 2illa-Io$os eas representaç,es sociais do tra$al*o na era 2argas% TEIASJ 'io de

 aneiro" ano /" n% .4" p% H4-/1" >ul%de(% 5114%

M)E';ECQ" Guil*erme% 'epresentação" campo pol:tico e poderJ ademocracia e o teatro grego nas Grandes Dion:sias% nJ &MP&)

9AC)9AI DE &?'A" 5%" 51.." &ão Paulo% A#ais(((  &ão PauloJs%l%b" 51..%

M)&C)2C" &erge% R"0r"s"#$a"s s!'iais: i#3"s$iga"s "0si'!2!gia s!'ia2( 6% ed% PetrópolisJ 2o(es" 511H%

9)')9A" Iima Maria 'i$eiro de% ) canto or+enico e a construçãodo conceito de identidade nacional% Ar$Cu2$ura U$erlNndia" v% .0" n%50" p% 46-/7" >ul%de(% 51..%

PE'E'A" Eliane C% Manso% ) Estado-9ovo e a Marc*a para o )este%

is$ria R"3is$a" GoiNnia" v%5" n%." p%..0-.5/" >an%_>un% .//H%

';E') r%" oão% O 1u" #ais!( 0% ed% &ão PauloJ ;rasiliense".//.

&GA" 'a+ael Augustus% ) conceito de 'epresentação &ocial nas o$rasde Denise odelet e &erge Moscovici% A#!s =+" Porto Alegre"  n%.0"p%.54-.00" >ul%5111%

&E''A??)" Edgar ;runo rane% A a! i#$"gra2is$a " G"$2i!Vargas:

antili$eralismo e anticomunismo no ;rasil de ./01 a ./76%5114% 5./ +% Dissertação 3Mestrado em istória8 R &etor de Ciências

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umanas" Ietras e Artes" Universidade ederal do Paran!" Curiti$a"5114% &VUE'A" Magno ;issoli% Saa " I/"#$i/a/" Na'i!#a2:  dasorigens Era 2argas% &ão PauloJ U9E&P" 51.5%

&VUE'A" Magno ;issoli% Cai?a Pr"$a: sam$a e identidade nacionalna Era 2argas - impacto do sam$a na +ormação da identidade nasociedade industrialJ ./.-./76% &ão Paulo" 511 +% ?ese 3Doutoradoem istória &ocial8-aculdade de ilosoOa" Ietras e Ciências umanas"Universidade de &ão Pulo" 5117%

&)UA" Ana Guiomar 'êgo% Pai?"s " '"#a: a semana santa nacidade de Goi!s R s=culo KK% 511H% 0H +% ?ese 3Doutorado emistória8 R nstituto de Ciências umanas" Departamento de istória"Universidade de ;ras:lia" ;ras:lia" 511H%