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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULOESCOLA POLITÉCNICA
ANDRÉ DE CARVALHO PARO
Estudo da contribuição do gás natural no setor elétrico – uma análise decenários de sua expansão nos setores de geração termelétrica, cogeração e
residencial
Dissertação apresentada à Escola Politécnicada Universidade de São Paulo para obtençãodo Título de Mestre em Engenharia Elétrica
São Paulo2005
II
ANDRÉ DE CARVALHO PARO
Estudo da contribuição do gás natural no setor elétrico – uma análise decenários de sua expansão nos setores de geração termelétrica, cogeração e
residencial
Dissertação apresentada à Escola Politécnicada Universidade de São Paulo para obtençãodo Título de Mestre em Engenharia Elétrica
Área de Concentração:Sistemas de Potência
Orientadora:Profª. Drª. Eliane A. F. A. Fadigas
São Paulo2005
III
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTETRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARAFINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Este exemplar foi revisado e alterado em relação à versão original, sobresponsabilidade única do autor e com a anuência de seu orientador.
São Paulo, de novembro de 2005.
Assinatura do autor ____________________________
Assinatura do orientador _______________________
FICHA CATALOGRÁFICA
Paro, André de CarvalhoEstudo da contribuição do gás natural no setor elétrico - uma
análise de cenários de sua expansão nos setores de geraçãotermelétrica, cogeração e residencial / A.C. Paro. -- ed.rev. -- São Paulo,2005.
101 p.
Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica da Universidadede São Paulo. Departamento de Engenharia de Energia e AutomaçãoElétricas.
1.Gás natural 2.Termoeletricidade 3.Cogeração de energiaelétrica 4.Demanda energética (Gerenciamento) 5.Desenvolvi- mentosustentável I.Universidade de São Paulo. Escola Politéc- nica.Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas II.t.
IV
FOLHA DE APROVAÇÃO
Aluno: André de Carvalho ParoTítulo: Estudo da contribuição do gás natural no setor elétrico – uma análise de cenários desua expansão nos setores de geração termelétrica, cogeração e residencial
Dissertação apresentada à Escola Politécnicada Universidade de São Paulo para obtençãodo Título de Mestre em Engenharia Elétrica
Área de Concentração:Sistemas de Potência
Aprovado em:
Prof. Dr.____________________________________________________________________
Instituição:______________________________ Assinatura:________________________
Prof. Dr.____________________________________________________________________
Instituição:______________________________ Assinatura:________________________
Prof. Dr.____________________________________________________________________
Instituição:______________________________ Assinatura:________________________
Prof. Dr.____________________________________________________________________
Instituição:______________________________ Assinatura:________________________
Prof. Dr.____________________________________________________________________
Instituição:______________________________ Assinatura:________________________
V
DEDICATÓRIA
À Viviane, minha esposa, e a toda minha família, que são os responsáveispor eu ser...
VI
AGRADECIMENTOS
Agradeço imensamente à Profª Eliane, minha orientadora, que durante todo estetempo tem me conduzido com atenção e propriedade.
A todos os professores e colegas do GEPEA que direta ou indiretamentecontribuíram para a concretização deste trabalho.
Aos Professores Dres. Dorel Soares Ramos e Marco Antônio Saidel, membros dabanca de qualificação, pela paciência, desprendimento e pelos importantes comentários feitospara a melhoria deste trabalho.
Aos colegas e professores do IEE, que me deram uma visão mais humana da relaçãoentre energia elétrica e sociedade.
Agradeço a toda minha família, que sempre me apoiou e por vezes me cobrouempenho para que conseguisse cumprir os compromissos deste trabalho.
Á minha esposa, que simplesmente me ama e me suporta, pois sei do que ela abriumão por mim.
Agradeço acima de tudo a Deus, no qual depositei e deposito a cada dia minhaesperança, e do qual certamente recebo as forças que me fazem caminhar.
VII
RESUMO
PARO, A. C. Estudo da contribuição do gás natural no setor elétrico – uma análise decenários de sua expansão nos setores de geração termelétrica, cogeração e residencial.2005. 101p. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. SãoPaulo. 2005
Após a divulgação recente pela Petrobrás, da descoberta de uma grande quantidade
de Gás Natural (GN) na bacia de Santos, as políticas de incentivo ao seu consumo e
conseqüente aumento de sua participação na matriz energética nacional ganham força. Aliada
a isto, a busca crescente da adoção dos conceitos do Desenvolvimento Sustentável (DS) e do
Planejamento Integrado de Recursos (PIR) na utilização dos recursos energéticos em favor da
sociedade, necessita da implementação de novos métodos de abordagem dos usos destes
recursos de forma integrada. Este trabalho tem como objetivo estudar a contribuição do GN
no Setor Elétrico. O estudo será feito através de uma análise de cenários de expansão do
mercado do gás no estado de São Paulo a partir da previsão indicativa de usinas termelétricas
do Plano Decenal de expansão do Setor Elétrico. Para isto, serão estudados os usos do GN
diretamente associados à energia elétrica no país: geração termelétrica, cogeração industrial e
aquecimento residencial de água para banho. Após a apresentação dos usos e suas tecnologias,
será proposta a metodologia para a execução deste estudo. A metodologia será baseada nos
aspectos de Consumo de Gás Natural, Custo de Investimento e Emissão de CO2. Será então
desenvolvido um estudo de caso aplicado à região central do estado de São Paulo, nas
proximidades do Gasoduto Bolívia Brasil (GASBOL), região com alto grau de
industrialização e infra-estrutura, e próxima dos principais pontos da malha de Gás Natural
existente no país. Os resultados apontam para a importância da integração entre os
planejamentos dos setores de GN e EE, dando mais atenção aos usos distribuídos do GN, que
possuem maior rendimento e contribuem ainda mais para o Desenvolvimento Sustentável.
VIII
ABSTRACT
PARO, A. C. Study of natural gas contrubution on the electricity sector – an expansionscenario analysis in thermoelectric generation, cogeneration and residential sector. 2005.101p. Dissertation (Master’s degree) – Polytechnic School, University of São Paulo. SãoPaulo. 2005
After the recent announcement by Petrobrás about the discovery on a large amount of
Natural Gas (NG) in the Santos Field, consumption incentive policies and the expectation
about its growth on national energy matrix are taking place again. Besides, the growing search
towards the Sustainable Development (SD) and Integrated Resource Planning (IRP) concepts
on energetic resources utilization at service of society needs new integrated resources
utilization approach methods. This dissertation intends to study the contribution of Natural
Gas use on Electric Energy Sector. The study is based on a market expansion scenarios
analysis applied to the São Paulo NG market starting from the indicative thermoelectric plants
planning presented on the Electric Brazilian Sector Expansion Decade Plan. For this, the
straightly related to EE uses of NG: thermoelectric generation, industrial cogeneration and
residential water heating are being discussed. After the uses and their technology discussion,
the methodology for this study execution will be presented. It is based on NG Consumption,
Investment Cost and CO2 Emission. It will be then presented a case study applied to the
central region of São Paulo State, on the neighbors of Bolivia-Brazil Gas Duct (GASBOL), a
region with good industrialization and infrastructure degree, near to the most important points
of Brazilian NG mesh. The results show the importance of the integration between NG and
EE sectors planning, with special attention to the distributed uses of NG, more efficient and
better contributing to the sustainable development.
IX
RELAÇÃO DE FIGURAS
Figura 2.1 – Formas de apresentação do GN nos poços.
Figura 2.2 – Reservas Medidas de GN no Brasil
Figura 2.3 - Preço no city gate do gás natural nacional, importado e programa PPT (em US$ /
MMBTU) – Período: 3º Trimestre de 1999 – 3º Trimestre de 2003
Figura 2.4 – Evolução da Energia Assegurada e Carga no Sistema Elétrico Brasileiro
Figura 2.5 – Evolução do Armazenamento (% do máximo) entre Jan/1997 e Jun/2001 –
Sistema Sudeste/Centro Oeste
Figura 2.6 - Curva de consumo de EE no Brasil
Figura 2.7 – Diagramas Simplificados de Plantas de Ciclo Simples e Combinado a Gás
Natural.
Figura 2.8 – Ciclos de Cogeração (a)Topping Cycle (b)Bottoming Cycle – Geração de
Energia Elétrica
Figura 2.9 – Curva média para transformador de distribuição residencial – intervalo de
integração 60 minutos
Figura 4.1 – Gasodutos e Áreas de Concessão – Estado de São Paulo
Figura 4.2 – Gráficos comparativos de consumo de GN – comparação real de cenários,
comparação corrigida e comparação de cenários secundários corrigida.
X
RELAÇÃO DE TABELAS
Tabela 2.1 – Distribuição de Consumo do Gás Natural no Brasil
Tabela 2.2 – Evolução do Consumo Final por Fonte Energética
Tabela 2.3 – Emissões padrão em atividades energéticas por tipo de combustível e por uso
final.
Tabela 2.4 – Emissões médias por TJ (TeraJoule).
Tabela 2.5 – Volumes contratados e movimentados de Gás Natural no Brasil.
Tabela 2.6 – Comparativo entre o Rendimento da Geração Termelétrica e Cogeração para as
diferentes tecnologias de máquinas térmicas.
Tabela 2.7 – Comparativo de emissão de gases poluentes entre Óleo Combustível e Gás
Natural na indústria paulista em 2001-2002.
Tabela 2.8 – Participação dos diversos equipamentos em consumo de energia elétrica e em
termos de potência
Tabela 3.1 – Tabela Comparativa (Modelo).
Tabela 4.1 – Usinas Termelétricas Indicativas para o Sistema Interligado.
Tabela 4.2 – Características Técnicas – UTE Ciclo Combinado.
Tabela 4.3 – Características Técnicas – Unidade Cogeradora.
Tabela 4.4 – Potencial 2013 de Cogeração de Setores Dependentes de Derivados de Petróleo –
Estimativa da Geração Regional de Energia Elétrica
Tabela 4.5 – Domicílios com sanitário atendidos pela rede geral de água nos municípios
escolhidos para troca dos chuveiros elétricos.
Tabela 4.6 – Características técnicas do Aquecedor de Passagem a Gás marca Lorenzetti,
modelo L-8.
Tabela 4.7 – Resultado da extrapolação do modelo de aquecedor para o Protótipo.
Tabela 4.8 – Premissas para expansão da rede de distribuição de GN em cumprimento ao
PIARAG.
Tabela 4.9 – Tabela Comparativa de Cenários.
Tabela 4.10 – Tabela Comparativa de Cenários Corrigida (resultado: 2.800MW + 30Ton/h de
vapor).
Tabela 4.11 – Tabela Comparativa de Cenários Corrigida com Cenários Secundários.
XI
RELAÇÃO DE SIGLAS
AIA Avaliação de Impacto Ambiental
ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica
ANP Agência Nacional do Petróleo
ARA Aquecimento Residencia de Água
BEN Balanço Energético Nacional
CC Centrais de Cogeração
CD Consumo Diário de Gás Natural
CI Custo de Investimento
COGEN-SP Associação Paulista de Cogeração
COMGÁS Companhia de Gás de São Paulo
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
DS Desenvolvimento Sustentável
ED Emissão Diária de CO2
EE Energia Elétrica
EIA Estudo de Impacto Ambiental
FC Fator de Carga
GASBOL Gasoduto Bolívia-Brasil
GD Geração Distribuída
GLD Gerenciamento pelo Lado da Demanda
GLP Gás Liquefeito de Petróleo
GN Gás Natural
GTC Geração Termelétrica Convencional
HRSG Heat Recovery Steam Generator – Unidade de Recuperação de Calor
MinFaz Ministério da Fazenda
MME Ministério de Minas e Energia
OLADE-SIEE Organização Latino Americana de Energia – Sistema de Informação
Econômica Energética
ONS Operador Nacional do Sistema Elétrico
PCH Pequena Central Hidrelétrica
PIARAG Plano de Incentivo ao Aquecimento Residencial de Água a Gás Natural
PIE Produtor Independente de Energia Elétrica
PIR Planejamento Integrado de Recursos
PNUD Plano das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PPT Programa Prioritário de Termelétricas
XII
PROCEL Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica
PROINFA Programa de Incentivo a Fontes Alternativas de Energia
RESEB Reestruturação do Setor Elétrico Brasileiro
RIMA Relatório de Impacto Ambiental
SERHS-SP Secretaria de Energia e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo
SIN Sistema Interligado Nacional
UN Nações Unidas
UTE Usina Termelétrica
XIII
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................1
CAPÍTULO 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...............5
2.1. MOTIVAÇÃO E PANORAMA DOS SETORES ELÉTRICO E DO GÁSNATURAL ................................................................................................................. 5
2.1.1. O Desenvolvimento Sustentável e o Planejamento Integrado de Recursos ........................ 52.1.2. O Gás Natural – Histórico no Brasil ................................................................................ 102.1.3. O Setor Elétrico Brasileiro ............................................................................................... 18
2.2. APRESENTAÇÃO DOS USOS FINAIS DO GÁS NATURAL ............................. 232.2.1. A Geração Termelétrica a Gás Natural............................................................................ 232.2.2. A Cogeração Industrial .................................................................................................... 292.2.3. O Aquecimento Residencial de Água ................................................................................ 34
CAPÍTULO 3. PROPOSTA DE TRABALHO – DESCRIÇÃO DA ANÁLISE DECENÁRIOS .........................................................................................................41
3.1. DEFINIÇÕES GERAIS - CONSTRUÇÃO DOS CENÁRIOS................................ 433.1.1. Parâmetros Gerais............................................................................................................ 433.1.2. Construção dos Cenários.................................................................................................. 433.1.3. Parâmetros Específicos .................................................................................................... 45
3.2. DETERMINAÇÃO DAS FUNÇÕES DE ANÁLISE .............................................. 463.2.1. Função Consumo Diário de GN (CD) .............................................................................. 473.2.2. Função Custo de Investimento (CI ) ................................................................................. 503.2.3. Função Emissão Diária de CO2(ED)................................................................................ 52
3.3. ANÁLISE COMPARATIVA DOS CENÁRIOS ..................................................... 53
CAPÍTULO 4. ESTUDO DE CASO – A CONTRIBUIÇÃO DO GÁS NATURAL NAELETRICIDADE................................................................................................57
4.1. DEFINIÇÕES GERAIS - CONSTRUÇÃO DOS CENÁRIOS................................ 574.1.1. Parâmetros Gerais............................................................................................................ 574.1.2. Construção dos Cenários – Determinação dos Dados Específicos .................................. 58
4.2. CÁLCULO DAS FUNÇÕES POR CENÁRIO ........................................................ 734.2.1. Cenário A.......................................................................................................................... 734.2.2. Cenário B.......................................................................................................................... 744.2.3. Cenário C.......................................................................................................................... 74
4.3. ANÁLISE COMPARATIVA DOS CENÁRIOS ..................................................... 75
CAPÍTULO 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................82
5.1. CONCLUSÕES ........................................................................................................ 825.2. ITENS PARA DESENVOLVIMENTO FUTURO .................................................. 84
CAPÍTULO 6. REFERÊNCIAS..................................................................................................86
1
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
A eletricidade no mundo moderno faz parte da vida da maioria das pessoas. Em
maior ou menor escala, todos dependem da energia elétrica para algo que façam, seja em casa,
no trabalho ou em locais públicos. Especialmente no Brasil, os últimos anos têm sido
marcados por acontecimentos importantes relacionados ao setor elétrico, tendo atingido em
profundidade a opinião pública. Desde a reestruturação do setor pelo governo federal através
do RESEB (1996), a privatização parcial das empresas do setor e a implantação de um
ambiente competitivo, passando pela crise energética que ocasionou o racionamento de
energia em 2001, até o atual governo, no qual novas alterações significativas são anunciadas,
este tema tem estado permanentemente entre os que mais preocupam a sociedade.
Este ambiente de transformações permite o surgimento de inúmeras frentes de
pesquisa e outras iniciativas visando a busca de soluções dentro dos diversos campos que
envolvem a eletricidade no Brasil. Dentre os campos de estudo em evidência no setor elétrico
brasileiro, destaca-se o do planejamento da expansão da oferta de energia elétrica. O parque
gerador brasileiro é composto em sua maioria por usinas hidrelétricas. Mas devido ao
esgotamento dos aproveitamentos de menor custo exigindo investimentos cada vez maiores,
ao aumento das restrições ambientais associadas a este tipo de geração e à necessidade de se
aumentar a confiabilidade do sistema elétrico nacional, o governo tem incentivado a
diversificação das fontes de energia elétrica através da reestruturação do setor e de sua
abertura à iniciativa privada.
Em conseqüência dos subseqüentes aumentos das reservas provadas nacionais de
Gás Natural (GN) e da importação do mesmo a partir da Bolívia via contratos em regime
“take or pay”, o governo tem reforçado nos últimos anos as políticas de incentivo ao aumento
do consumo do GN. E o mercado reage positivamente a este incentivo, tendo o rápido
2
aumento do consumo de GN provocado uma preocupação com o atendimento à demanda do
gás no curto prazo, pois novas obras de infra-estrutura são necessárias para permitir o
atendimento a esta crescente demanda. Dentre os setores nos quais seu consumo foi
incentivado, tem destaque a geração termelétrica a partir do Gás Natural (GN). Tal incentivo
decorreu da junção de interesses do setor elétrico, para o qual o aumento da parcela de
geração termelétrica significa uma melhoria no desempenho do sistema hidrotérmico de
geração à medida em que diminui os déficits de EE na ocorrência de regimes hidrológicos
desfavoráveis, e da Petrobrás, que necessitava ampliar o consumo de GN e conseqüentemente
amortizar os investimentos neste setor. Um exemplo prático deste incentivo foi a
implementação do Plano Prioritário de Termelétricas (PPT, 2000), que por diversos fatores
não teve seu pleno desenvolvimento. Mas se do ponto de vista do Sistema Interligado
Nacional (SIN) a participação do GN na geração elétrica traz maior confiabilidade, do ponto
de vista energético e ambiental seu uso para esta finalidade não tem rendimento energético
satisfatório comparado à geração hidrelétrica, além de representar um retrocesso no que diz
respeito à busca pela utilização cada vez maior de fontes renováveis de energia, pois trata-se
de um combustível fóssil não renovável. Mesmo comparada a outros usos do GN relacionados
à energia elétrica, como a cogeração, a geração termelétrica apresenta rendimento energético
inferior.
Somada a isto, a busca crescente da sociedade pela utilização responsável dos
recursos naturais e fontes energéticas exige que o planejamento da expansão do setor elétrico
esteja alinhado não somente com o uso racional da água como também do Gás Natural.
Atualmente os planejamentos de expansão do Setor Elétrico e do Setor do Gás Natural são
feitos de forma independente, sem que se considere já no planejamento o máximo
aproveitamento energético do GN na geração de EE.
3
Dentro deste contexto, o presente trabalho tem como objetivo estudar cenários da
contribuição do Gás Natural no Setor Elétrico. Para isto, serão estudados os usos do GN que
afetam de maneira mais direta a oferta e a demanda de energia elétrica no país. A fim de se
estudar a integração entre GN e Eletricidade, serão aplicados alguns conceitos baseados no
Desenvolvimento Sustentável (DS) e no Planejamento Integrado de Recursos (PIR), descritos
no Capítulo 2. Será aí apresentado o histórico no país e a atual conjuntura em que se
encontram os setores de Gás Natural e Energia Elétrica, a fim de se ambientar o estudo e
descrever suas motivações científicas. Serão também apresentados os usos do Gás Natural
relacionados à Energia Elétrica que serão alvo do estudo. Dentre os múltiplos usos do GN,
serão descritas e apresentadas as tecnologias mais utilizadas para:
• Geração Termelétrica Convencional;
• Cogeração Industrial (de EE e Calor);
• Aquecimento Residencial de Água para Banho.
O Capítulo 3 traz a descrição das etapas do estudo. Serão descritas as funções
“Consumo Diário” de GN, baseada na eficiência energética de cada alternativa, “Custo de
Investimento” e “Emissão Diária” de CO2. Será também descrita a montagem dos cenários de
integração entre os usos a partir de um cenário de referência baseado no Plano Decenal de
expansão do setor elétrico, de maneira que se possa avaliar cada parâmetro para um “mix” de
oferta. Por fim será descrita a análise comparativa entre os cenários e os exercícios que
poderão ser feitos para melhor explorá-la.
Será então feito no Capítulo 4, um estudo de caso baseado na metodologia proposta,
a fim de se avaliar os cenários com melhor equilíbrio entre benefício energético, custo e
impacto ambiental. Será feita uma análise de cenários na qual será tomado como base o
atendimento ao planejamento de expansão da oferta de eletricidade através da implantação de
termelétricas convencionais – Cenário A. A partir deste cenário, serão introduzidos mais dois
4
cenários, considerando-se as contribuições: da Cogeração - Cenário B - e do Aquecimento
Residencial de Água a Gás – Cenário C.
Por fim, o Capítulo 5 apresenta as conclusões decorrentes do estudo realizado. Serão
identificadas as combinações entre os usos que trazem maiores benefícios globais. Será feita
também uma abordagem dos requisitos e fatores limitantes para a aplicação de cada um dos
usos em estudo, identificando-se aí as questões econômicas, sociais e ambientais que cercam
cada uma das opções.
Dando seqüência ao estudo, para de apresentar os usos do Gás natural relacionados à
Eletricidade, é importante rever os conceitos do Desenvolvimento Sustentável e do
Planejamento Integrado de Recursos, e o atual panorama dos setores de Gás Natural e Energia
Elétrica.
5
CAPÍTULO 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. MOTIVAÇÃO E PANORAMA DOS SETORES ELÉTRICO E DO GÁS
NATURAL
2.1.1. O Desenvolvimento Sustentável e o Planejamento Integrado de Recursos
Nos dias atuais, assuntos como o aquecimento global, desastres ecológicos, má
distribuição de renda, entre outros, permeiam os mais diversos grupos na sociedade. Como
resultado desta crescente conscientização sobre as influências sociais e ambientais da ação do
ser humano, a sociedade atual tem vivido a busca de um novo conceito de desenvolvimento.
Nasceu assim, o paradigma do “Desenvolvimento Sustentável”.
Segundo REIS E SILVEIRA (2001), o primeiro acontecimento multinacional
voltado à discussão desse tema foi a Conferência de Estocolmo (UN Conference on the
Human Environment – 1972). Já naquela ocasião, percebeu-se uma disparidade entre as
preocupações dos países do Hemisfério Norte (desenvolvidos), concentrados na poluição da
água, ar e solo, e do Hemisfério Sul (em desenvolvimento), que demonstraram maior
preocupação com a gestão racional dos recursos visando o desenvolvimento socioeconômico.
Em 1987, o relatório “Nosso Futuro Comum”, resultado do trabalho da Comissão
Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, relatou a recusa dos países em
desenvolvimento de tratar as questões ambientais em suas individualidades. Desta maneira as
propostas da comissão foram orientadas para a noção de Desenvolvimento Sustentável e para
a importância da participação internacional na solução dos problemas do meio ambiente e
desenvolvimento. Desta maneira, ficou claro que os problemas ambientais e sociais estão
diretamente relacionados, devendo-se rever políticas sociais e econômicas na busca de
soluções para os problemas ambientais.
6
Em 1992, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) resumia
o desenvolvimento humano como sendo “o processo de ampliar a gama de opções das
pessoas, proporcionando a estas maiores oportunidades de educação, saúde, renda e emprego,
e ainda, abrangendo o espectro total de opções humanas, desde um contexto físico em boas
condições até liberdades econômicas e políticas”.
Finalmente, REIS E SILVEIRA (2001) resumem o Desenvolvimento Sustentável
(DS) com base naquele estabelecido pelo PNUD (1992), como sendo:
[...] o processo para ampliar o espectro de opções para aspessoas, oferecendo-lhes maiores oportunidades de educação, atençãomédica, renda e emprego e abrangendo toda a gama de opçõeshumanas, desde um ambiente físico em boas condições até liberdadeseconômicas e políticas.
Assim, o suprimento eficiente e seguro de energia insere-se como fator importante
para o desenvolvimento sustentável, dada sua influência nas relações econômicas dos países,
no meio ambiente e no desenvolvimento humano atual. Dentro deste contexto, as soluções
energéticas voltadas ao DS em maior discussão na atualidade baseiam-se em:
• Diminuição do uso de combustíveis fósseis e utilização de combustíveis
renováveis;
• Aumento da eficiência do setor energético, desde a produção até o consumo;
• Desenvolvimento tecnológico a fim de encontrar alternativas ambientalmente
melhores para o suprimento de energia;
• Redefinição das políticas energéticas em favor do meio ambiente com maior
custo para as opções não-sustentáveis;
• Incentivo ao uso de combustíveis fósseis menos poluentes como o GN no período
de transição.
7
Por se tratar de uma forma de energia limpa e largamente utilizada no mundo, a
eletricidade tem grande potencial de contribuição nas diversas estratégias que visam o DS,
dentre elas:
• Tecnologias para diminuição do impacto ambiental de usinas a carvão ou óleo,
com a maior utilização do GN;
• Aumento da eficiência nos usos finais da EE, como em motores e na otimização
da automação industrial voltada para a redução de demanda, harmônicos e
perdas.
• Otimização energética da biomassa na cogeração industrial.
Uma importante ferramenta que surgiu em decorrência da busca de novas práticas
que levassem ao DS é o Planejamento Integrado de Recursos (PIR). O PIR surgiu nos
Estados Unidos e no Canadá, e posteriormente em países da Europa, tendo sido focado
inicialmente no planejamento a custo mínimo, na consideração de riscos, diversidade de
suprimentos, inserção ambiental e na introdução da preocupação com o Desenvolvimento
Sustentável. É um conceito que parte do planejamento convencional do setor elétrico, voltado
intrinsecamente para a oferta de EE, e evolui para um planejamento que olha também para o
lado da demanda. Para se aumentar a oferta de energia elétrica de determinada região, um
conjunto de alternativas é avaliado, incluindo não somente o aumento da capacidade instalada
como também a conservação e a eficiência energética. Abandona-se a partir daí a hipótese de
correspondência linear entre o desenvolvimento socio-econômico e o consumo de EE.
Nas últimas décadas, com a crescente conscientização sobre a limitação dos recursos
naturais, percebeu-se a importância da otimização dos usos finais da EE no gerenciamento
deste recurso. A análise metodológica dos usos finais proporciona uma visão racional e
econômica das alternativas energéticas de produção e uso, o desenvolvimento de cenários
com diferentes alternativas de suprimento, a avaliação de estratégias políticas para promover a
8
eficiência energética e a avaliação dos impactos ambientais associados. Para isto, a análise
dos usos finais requer:
• estimativa da quantidade de EE consumida em cada uso final;
• avaliação de tecnologias;
• conhecimento de custos dos equipamentos;
• previsão de demanda futura;
• dados econômicos das alternativas;
• ferramentas que permitam chegar a um conjunto de tecnologias com baixo custo relativo.
A necessidade de avaliação de todos estes requisitos leva a concluir que o PIR
pressupõe a participação de todos os agentes envolvidos na utilização de um ou mais recursos
naturais, no intuito de garantir benefícios para todas as partes. Em resumo, uma boa definição
do PIR é dada por UDAETA (1997), que define o PIR como “um planejamento voltado para
estabelecer a melhor alocação de recursos, que implica: procurar o uso racional dos serviços
de energia; considerar a conservação de energia como recurso energético; utilizar o enfoque
dos "usos finais" para determinar o potencial de conservação e os custos e benefícios
envolvidos na sua implementação; promover o planejamento com maior eficiência energética
e adequação ambiental; e realizar a análise de incertezas associadas com os diferentes fatores
externos e as opções de recursos. O PIR diferencia-se do planejamento tradicional na classe e
na abrangência dos recursos considerados, na inclusão no processo de planejamento dos
proprietários e usuários dos recursos, nos organismos envolvidos no plano de recursos e nos
critérios de seleção dos recursos.”
Aplicando-se os conceitos acima aos setores de GN e EE no Brasil, será visto mais
adiante que existe um grande potencial de integração entre o Gás Natural e a oferta/demanda
nacional de EE. O presente estudo não tem a intenção de ser uma aplicação do PIR sobre os
setores de GN e EE. No entanto, o olhar do DS sobre o planejamento destes setores de forma
9
integrada é imprescindível para se alcançar o uso racional dos recursos naturais disponíveis no
Brasil para obtenção da energia elétrica, tão indispensável atualmente. Prova disto é a
constatação vista em ANP (2004) sobre os acontecimentos ocorridos nos setores de GN e EE
entre os anos de 1997 e 2003, entre eles o racionamento de energia elétrica em 2001, de que:
[...] A aplicação das políticas de cunho energético, propostaspelo governo, não conseguiu integrar setores que deveriam ter sidoharmonizados entre si, tais como: óleos pesados, gás natural e geraçãoelétrica. Os “modelos” de cada um desses âmbitos desenvolveram-separalelamente e de forma disjunta. Os agentes envolvidos no processode reforma não o fizeram de maneira a observar a coerência entre osdiversos energéticos.
Dentro do contexto de um parque gerador predominantemente hidrelétrico e de um
mercado de GN em ascensão, é importante ressaltar a necessidade de estudos e iniciativas
capazes de integrar as potencialidades de cada setor e tirar delas o máximo proveito.
BOARATI (2003), por exemplo, propôs um modelo para avaliação ponderada da
hidreletricidade e termeletricidade com GN através da análise de “custos completos”, conceito
baseado no PIR, no qual são ponderados não somente os custos convencionais de
investimento inicial, engenharia e operação, mas também os custos sociais e ambientais para
cada empreendimento na fase de planejamento.
Para o estudo do uso do GN na eletricidade no contexto deste trabalho, foram
selecionados os seguintes usos deste insumo:
• Geração de energia elétrica;
• Cogeração industrial;
• Aquecimento residencial de água para banho.
A partir da seleção acima, pretende-se avaliar a utilização do GN relacionada à EE
tanto pelo lado da oferta de energia, representada pelas alternativas de geração e cogeração,
como pelo lado da demanda, uma vez que o aquecimento residencial de água através do GN
está fortemente relacionado à redução da demanda de eletricidade no setor residencial
10
brasileiro em conseqüência da substituição de chuveiros elétricos. O mercado de aquecimento
residencial de água possui hoje outras soluções para a substituição da eletricidade, entre elas
os aquecedores solares cada vez mais em evidência. No entanto, como será detalhado mais
adiante, o presente estudo terá foco na utilização de aquecedores a gás para esta finalidade.
Destaca-se neste momento também, a importância do conceito de Gerenciamento
pelo Lado da Demanda (GLD) no planejamento do uso dos recursos naturais. A adoção de
políticas de incentivo à redução no consumo de eletricidade, por exemplo, contribui
socialmente para o uso racional de EE e pode adiar investimentos em geração. CAMPOS
(2004) estudou uma aplicação do GLD pela empresa CEMIG (concessionária de geração e
distribuição de EE no estado de Minas Gerais) no controle de demanda gerado por chuveiros
elétricos no horário de ponta no município de Alfenas (MG), tendo verificado seus benefícios
à demanda local de energia no horário crítico e sua boa aceitação pela comunidade local. A
aplicação deste e de outros mecanismos contribuem também para a conscientização da
sociedade quanto à necessidade de zelar pelo uso dos recursos energéticos disponíveis.
2.1.2. O Gás Natural – Histórico no Brasil
O Gás Natural (GN) é definido como sendo a parcela do Petróleo que se encontra na
fase gasosa ou em solução nas condições de reservatório e que permanece no estado gasoso
nas condições atmosféricas. É composto por uma mistura de hidrocarbonetos, principalmente
o metano, etano, propano e butano, e pode ser encontrado tanto associado, em poços
petrolíferos, como não-associado, em reservatórios de gás. A Figura 2.1 abaixo ilustra as
formas como o GN pode ser encontrado. Na natureza, a maior ocorrência é de reservatórios de
gás não-associado, mais favorável à sua exploração comercial.
11
(a) Associado (b) Não-associado
Fonte: Portal Gás Energia
Figura 2.1 – Formas de apresentação do GN nos poços.
A utilização do Gás Natural no Brasil começou por volta de 1940, com as
descobertas de óleo e gás na Bahia, atendendo a indústrias localizadas no Recôncavo Baiano.
Depois de alguns anos, as bacias do Recôncavo, Sergipe e Alagoas eram destinadas quase em
sua totalidade para a fabricação de insumos industriais e combustíveis para a refinaria
Landulfo Alves e o Pólo Petroquímico de Camaçari. No entanto, por muitos anos o GN foi
considerado um subproduto do petróleo, sendo utilizado para reinjeção nos poços para
potencializar a produção deste, ou queimado em tochas nas plataformas de produção.
De acordo com a Figura 2.2, as reservas provadas de GN no Brasil tiveram boa
evolução na década de 80. Embora ainda não contabilizado até 2003, as mais recentes
descobertas de reservas de GN na Bacia de Santos devem trazer um aumento de 200% no
total das reservas nacionais, contabilizadas em torno de 240x109m3, o que representa um
aumento muito significativo nas reservas nacionais e um forte argumento a favor de sua maior
participação na matriz energética nacional.
12
Fonte: MME – Tabelas BEN 2004
Figura 2.2 – Reservas Medidas de GN no Brasil
Por esta razão, o governo federal instituiu o Plano Nacional para o Gás Natural
(1987), com o intuito de introduzir o GN definitivamente na matriz energética nacional, tendo
planos de elevar sua participação a até 10% da matriz em 2000. Embora esta meta não tenha
sido atingida no tempo previsto, desde então as reservas provadas de GN só têm aumentado e
com elas, os argumentos a favor da expansão e consolidação do mercado do GN no país.
O grande marco inicial do consumo de GN no Brasil ocorreu com a exploração da
Bacia de Campos, no Estado do Rio de Janeiro. O desenvolvimento da bacia proporcionou um
aumento no uso da matéria-prima, elevando para cerca de 3% a participação do GN na matriz
energética nacional a partir de 1997, conforme dados do BEN (2004).
O término do gasoduto Bolívia-Brasil representou um grande avanço no
fornecimento de gás natural no país, com capacidade máxima de transportar até 30 milhões
m³ diariamente. Outros projetos continuam em estudo para a exploração da Bacia do Solimões
(Juruá e Urucu), na região Norte do país e para a interligação entre as malhas Sudeste e
Nordeste de gasodutos, a fim de possibilitar a integração nacional do sistema e permitir um
melhor desenvolvimento de seu mercado.
RESERVAS MEDIDAS DE GÁS
NATURAL (106 m³)
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50000
100000
150000
200000
250000
300000
1973 1976 1979 1982 1985 1988 1991 1994 1997 2000 2003
13
Desta maneira, hoje o Gás Natural é utilizado em diversos setores: na indústria
petroquímica como matéria prima, na indústria em geral como combustível para processos de
aquecimento ou cogeração, nas residências para aquecimento de água e cozimento, e no setor
elétrico em usinas termelétricas. Atualmente, o Gás Natural tem a distribuição de consumo no
Brasil conforme os dados da Tabela 2.1.
Observa-se que o consumo total de GN praticamente triplicou entre 1996 e 2003. O
setor industrial teve grande contribuição absoluta, tendo aumentado seu consumo em 2,34
vezes. Mas os setores onde houve maior mudança no consumo do GN foram os de Geração
Elétrica e Transportes, tendo aumentado cerca de 11 e 37 vezes no mesmo período,
respectivamente. Em 2003, a Geração Elétrica representou cerca de 18,5% do consumo total,
o consumo Industrial, cerca de 41,7% e o consumo Residencial, cerca de 1,2%. Os dados
demonstram o quanto o consumo de GN tem evoluído e denotam o potencial de expansão do
consumo em setores como o residencial, que ainda é muito baixo comparado à participação do
GN no mesmo setor em outros países.
Também em comparação a outras fontes energéticas, o Gás Natural tem aumentado
sua participação percentual na matriz energética nacional. A Tabela 2.2 mostra a evolução
percentual de sua participação.
Observa-se que a participação percentual do GN aumentou de 3 para 6% de 1997 a
2003. No mesmo período, a participação do Óleo Combustível caiu de 7,8 para 4%,
mostrando um movimento antagônico das duas fontes. Esta informação somada à evolução do
consumo de Gás Natural no setor industrial no período 1996-2003, observado na Tabela 2.1,
demonstra a substituição do Óleo Combustível pelo Gás Natural que vem ocorrendo na
indústria.
14
Tabela 2.1 – Distribuição de Consumo do Gás Natural no Brasil
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Fonte: MME – BEN 2004.
Estas informações, somadas às crescentes reservas já mencionadas, demonstram a
grande oportunidade que surge do aproveitamento de todo o potencial do Gás Natural nos
diversos setores de consumo, mesmo nos quais o GN já possui boa participação.
No entanto, mesmo com as constatações acima, o caminho da expansão do mercado
do GN não tem sido fácil. SANTOS et al. (2002) declara que:
[...] Porém, ao mesmo tempo, não existe uma aplicação parao gás natural na qual ele seja indispensável e para o qual não hajaconcorrentes.
15
Tabela 2.2 – Evolução do Consumo Final por Fonte Energética - Brasil
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Fonte: MME – BEN 2004.
E complementa:
[...] A penetração do gás natural não é portanto um processopacífico; envolve conflitos de interesse importantes e, em geral, impõeao energético substituído a obrigação de adaptar-se a uma novarealidade concorrencial...
Um argumento a favor da utilização do GN em substituição a outros energéticos
fósseis é a grande redução de emissões poluentes que esta troca acarreta. As Tabelas 2.3 e 2.4
mostram as emissões padrão de poluentes para o Petróleo, Gás Natural e Carvão, indicando a
considerável diferença entre os volumes emitidos.
Um papel preponderante no avanço da participação do GN na matriz energética
nacional tem sido atribuído à Petrobrás (PB). PINHO (2004) estudou a participação da PB
como investidor estratégico em termeletricidade e informou que:
[...] O evento determinante desta disposição foi a criação em2000 da Unidade de Negócios de Gás e Energia, criada para expandir
16
o mercado interno e diversificar a matriz energética do Brasil(PETROBRÁS, 2002). A nova área estabelecia para si a meta deelevar a participação do Gás Natural na matriz brasileira de 3% para8,5% até 2010.
Tabela 2.3 – Emissões padrão em atividades energéticas por tipo de combustível e poruso final.
Comb. Atividade Mat.Particulado
(Kg/T)
SO2
(Kg/T)NOx
(Kg/T)HC
(Kg/T)CO
(Kg/T)
Petróleo Industrial 3,00 4,00 7,50 0,40 0,55Coml./Serv. Público 3,00 4,00 7,50 0,40 0,55Água/Pesca/Miner. 3,00 4,00 7,50 0,40 0,55
GN Centrais Ger. Eletr. 0,29 1,00 11,50 0,02 0,32Ger. El. Autoprod. 0,34 1,00 3,60 0,06 0,32Industrial 0,34 1,00 3,60 0,06 0,32Residencial 0,36 1,00 1,56 0,18 0,32Coml./Serv. Público 0,34 1,00 3,60 0,06 0,32Transporte 0,36 1,00 3,60 0,15 0,32Água/Pesca/Miner. 0,34 1,00 3,60 0,06 0,32
Carvão Centrais Ger. Eletr. 20,00 3,80 9,00 0,15 0,50Ger. El. Autoprod. 16,25 3,80 7,50 0,5 1,00Industrial 16,25 3,80 7,50 0,5 1,00Coml./Serv. Público 16,25 3,80 7,50 0,5 1,00Água/Pesca/Miner. 16,25 3,80 7,50 0,5 1,00
Fonte: OLADE-SIEE (Sistema de Informação Econômica Energética da América Latina e Caribe) (apud
PINHO, 2004).
Tabela 2.4 – Emissões médias por TJ.
Carvão vapor ÓleoCombustível
Óleo Diesel Gás Natural
tCO2/TJ 0,094145 0,076593 0,073326 0,05582kgN2O/TJ 0,001 0,003 0,003 0,001kgNOx/TJ 0,3 0,2 0,2 0,3kgCO/TJ 0,02 0,015 0,015 0,02kgSO2/TJ 0,0024 0,0026 0,0024 0
Fonte: ONG ecen (Jornal e&e nº 23, Nov-Dez/2000)
Particularmente no estado de São Paulo, alvo de nosso estudo de caso mais adiante, o
GN também tem tido um crescimento surpreendente, puxado pelo setor industrial. Conforme
17
matéria publicada na revista Brasil Energia nº277, Dezembro/2003, o consumo industrial de
GN teve aumento de 74% entre 2001 e 2003. Por outro lado, verifica-se ainda um grande
potencial de expansão neste setor. Ainda na mesma publicação, Roger Ottenheyem, diretor de
Suprimentos e Energia da COMGÁS revela que “no setor industrial há bastante crescimento a
ser feito, porque muitas empresas ainda trabalham com óleo combustível pesado e outras
mantêm caldeiras elétricas”.
No entanto um fator que dificulta a penetração do GN nos diversos setores
consumidores é seu alto preço em decorrência da formação de um “mix” de GN nacional e
importado, principalmente nos estados cortados pelo Gasbol, cujo acesso ao GN nacional é
reduzido ou nulo. A Figura 2.3 mostra a disparidade entre os preços do GN nacional e
importado para as distribuidoras.
Fonte: ANP (2004) – Relatório: A Indústria de Gás Natural no Brasil
Figura 2.3 - Preço no city gate do gás natural nacional, importado e programa PPT (emUS$ / MMBTU) – Período: 3º Trimestre de 1999 – 3º Trimestre de 2003
ANP (2004) revela ainda que os preços do GN não têm conseguido se distanciar
daqueles praticados para o Óleo Combustível, seu principal concorrente no setor industrial.
PAULA (2004) também indica a redução dos preços de venda do GN como fator
18
preponderante para o sucesso de um plano de inserção incentivada de cogeração. Esta falta de
competitividade é sentida também nos setores de geração elétrica e residencial, como será
verificado adiante.
2.1.3. O Setor Elétrico Brasileiro
O parque gerador brasileiro é composto em sua maior parte por usinas hidrelétricas,
fato que decorre das características geográficas do país e do histórico de investimentos do
governo neste setor. Esta alta dependência de recursos hídricos faz com que o mesmo seja
sobredimensionado em sua capacidade instalada. Isto não significa que haja investimento em
excesso. A capacidade excedente é necessária para garantir o grau de confiabilidade requerido
para o sistema predominantemente hidrelétrico. Dentre os principais fatores responsáveis pela
escolha em se ter um parque gerador predominantemente hidrelétrico quando em sua fase de
maior expansão nas décadas de 60 e 70, estavam: o grande potencial hidrelétrico com diversos
aproveitamentos a custos baixos e o choque nos preços do petróleo, que levou à busca de
outros energéticos para geração de eletricidade. Além disso, até as décadas de 70 e 80 o
estado foi o responsável pelo planejamento e expansão da geração elétrica nacional. No
entanto, devido a vários fatores de ordem política e econômica, o governo viu reduzida sua
capacidade de agir como único investidor e produtor de Energia Elétrica (EE).
Dentro desse contexto, para a década de 90 preparava-se uma reestruturação do setor,
que previa a criação de um mercado competitivo de energia. A fim de reduzir o risco de
déficit do sistema hidrogerador e de minimizar os impactos causados pela implementação de
grandes reservatórios de água das hidrelétricas, o novo modelo previa atrair investimentos
privados e diversificar a matriz energética através do aumento da participação de usinas
termelétricas no parque gerador, para geração de energia em períodos de hidrologia
desfavorável. Desta maneira, o custo de investimento inicial das termelétricas, menor que das
19
hidrelétricas, serviu de incentivo à entrada de capital privado no setor, embora seu custo
marginal de produção seja historicamente maior. No entanto, devido novamente a diversos
fatores dentre os quais o risco cambial que seria assumido pelos novos investidores, a
migração para um novo modelo não ocorreu de forma satisfatória, ocasionando um longo
período de indefinições regulatórias. Tais indefinições somadas à perda de capacidade de
investimento do estado fizeram com que houvesse uma defasagem do crescimento da oferta
de energia em relação ao seu consumo.
A Figura 2.4 mostra a relação entre a Energia Assegurada e a Carga no Sistema
Elétrico Brasileiro. Observa-se que após 1996 a energia consumida ultrapassou a energia
assegurada do sistema, aumentando o risco de déficit acima dos patamares desejáveis.
Fonte: Silva e Campagnolo (2001)/Gerasul apud Tendências Consultoria (2003).
Figura 2.4 – Evolução da Energia Assegurada e Carga no Sistema Elétrico Brasileiro
20
Fonte: KELMAN et al (2001) – Relatório da Comissão de Análise do Sistema Hidrotérmico deEnergia Elétrica - MME
Figura 2.5 – Evolução do Armazenamento (% do máximo) entre Jan/1997 e Jun/2001 –Sistema Sudeste/Centro Oeste
Imaginava-se que a implementação do novo modelo do setor elétrico, instituído em
1997, seria capaz de garantir a continuidade da expansão da geração para atendimento à
demanda prevista nos anos subsequentes. No entanto, isto não ocorreu. KELMAN et al (2001)
revelou que houve desequilíbrio entre oferta e demanda na partida da implementação do novo
modelo, pois as energias asseguradas que respaldaram os contratos iniciais foram
superdimensionadas, resultando numa sinalização equivocada para a contratação de nova
geração. A partir daí os subsequentes atrasos na entrada de novas unidades geradoras
previstas no plano decenal geraram o deplecionamento gradual dos reservatórios, conforme
mostra a Figura 2.5.
Em 1999, devido aos mencionados atrasos nas entradas dos geradores das usinas
hidrelétricas em construção, o sistema interligado já dava claros sinais da necessidade de
intervenções emergenciais. Foi então instituído o Programa Prioritário de Termelétricas (PPT,
2000), que principalmente devido a impasses entre MME, Aneel, Petrobrás e Ministério da
21
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Fazenda em torno do repasse das tarifas do Gás em dólar, não obteve o sucesso desejado
(KELMAN et al, 2001).
Desta maneira, estavam compostas as condições que, diante de mais um ano (2001)
com hidrologia desfavorável, culminaram com o racionamento de energia vivido naquele ano.
Como conseqüência do racionamento, os consumidores em todas as classes mudaram
seus hábitos de consumo através de substituição de tecnologias e investimentos em
equipamentos e métodos mais eficientes no uso da energia elétrica. A Figura 2.6 mostra a
evolução do consumo de eletricidade no Brasil nos últimos 30 anos. É possível identificar em
2001 uma interrupção da curva de consumo, retomada em 2002 abaixo dos patamares
anteriores ao racionamento.
Fonte: MME - Tabelas BEN 2004
Figura 2.6 - Curva de consumo de EE no Brasil
Desta maneira, o setor elétrico tem recentemente apresentado um excesso de oferta
com capacidade de produção superior à demanda. No entanto, esta é uma situação conjuntural
e investimentos são necessários para que se mantenha a capacidade de atendimento superior
ao consumo e também os níveis seguros de confiabilidade do sistema.
22
Nos últimos anos, o setor tem passado por novas transformações. Um novo modelo é
apresentado na busca de se estabelecer a competitividade e sustentabilidade necessárias à
expansão da geração. Embora o país atravesse uma momentânea situação de superávit de
energia no sistema, as incertezas quanto à segurança no fornecimento de energia elétrica têm
levado a estudos que apontam para novas soluções para o suprimento de energia da
população, incluindo aí as pesquisas sobre a utilização de fontes alternativas de energia.
Dentre as fontes energéticas apresentadas como alternativas estão as Pequenas Centrais
Hidrelétricas (PCHs), Eólica, Biomassa, entre outras de menor expressão, como a Solar
Térmica, voltada ao aquecimento de água, e Solar Fotovoltaica, aplicada a sistemas isolados
não-atendidos. Dentro deste contexto foi instituído o Programa de Incentivo a Fontes
Alternativas (PROINFA, 2002) com o intuito de adicionar até 3.300MW em geração até
2006.
No entanto, o Gás Natural ainda é a alternativa à geração hidrelétrica que tem maior
competitividade e que ganhou novo fôlego devido aos aumentos sucessivos das reservas
provadas em território nacional, com destaque para a mais recente descoberta na bacia de
Santos. Espera-se que a maior utilização de GN nacional e a renegociação dos contatos de
importação possa contribuir para que o custo deste insumo deixe de ser um entrave à
expansão de seu consumo.
No setor elétrico, como visto anteriormente, problemas associados ao repasse das
tarifas do GN tiveram grande influência no não cumprimento das metas do PPT.
Particularmente com relação ao gás importado da Bolívia, que constituía-se na fonte principal
para as usinas do programa, sua característica de importação sob a forma de contratos “take-
or-pay” nos quais o consumidor é obrigado a pagar pelo volume contratado de GN mesmo se
não consumi-lo efetivamente, foi e é até hoje um fator que diminui a competitividade deste
recurso, e consequentemente das usinas termelétricas a GN.
23
À medida em que as novas regras se fixem e permitam ao mercado retomar a
segurança para investir no setor, será possível avaliar melhor a aplicação do Gás Natural no
Setor Elétrico em seus diversos usos.
2.2. APRESENTAÇÃO DOS USOS FINAIS DO GÁS NATURAL
2.2.1. A Geração Termelétrica a Gás Natural
O conceito fundamental da geração termelétrica é baseado na conversão de energia
térmica em energia mecânica e desta em energia elétrica. A conversão de energia térmica em
mecânica é realizada através de um fluido que, na sua expansão, gera trabalho em turbinas
térmicas. A energia mecânica é então transferida ao gerador elétrico acoplado ao eixo das
turbinas.
De acordo com a Figura 2.7, abaixo, existem dois tipos principais de plantas
termelétricas a Gás Natural:
Ciclo Simples (CS) Ciclo Combinado (CC)
Fonte: Reis (2003).
Figura 2.7 – Diagramas Simplificados de Plantas de Ciclo Simples e Combinado a GásNatural.
Em uma planta de ciclo simples, o GN é queimado e seus gases de combustão
movimentam a turbina, sendo então expulsos para a atmosfera. Conforme a publicação Gas
24
Turbine World (2002), o rendimento dos modelos de plantas de ciclo simples existentes no
mercado varia de 30 a 40%.
Em uma planta de ciclo combinado, após a expansão na turbina, os gases de
combustão são direcionados para uma caldeira de recuperação de calor, onde trocam calor
gerando vapor, que movimenta outra turbina a vapor, acoplada a outro gerador elétrico. Este
aproveitamento do calor dos gases de exaustão na geração de energia elétrica eleva o
rendimento deste tipo de planta. Conforme a publicação Gas Turbine World (2002), o
rendimento dos modelos de plantas de ciclo combinado existentes no mercado varia de cerca
de 40 a até 60%.
Como dito anteriormente, a geração termelétrica a Gás Natural no Brasil teve seu
último grande impulso com o racionamento de energia de 2001-2002, uma vez que se
constituía na forma mais rápida de atender à necessidade emergencial gerada pelo déficit de
energia daquele momento.
Desde a reestruturação do setor elétrico brasileiro (RESEB), ocorrida em 1997, a
integração da geração elétrica a GN ao parque gerador brasileiro já era planejada, no intuito
de trazer maior flexibilidade ao sistema elétrico nacional, fortemente baseado na geração
hidrelétrica.
O novo modelo para o setor elétrico apresentado em 2003 volta a incentivar a
geração termelétrica, mas sob forma de complementação térmica ao sistema hídrico. De fato,
esta nova proposta trata a geração termelétrica com maior serenidade comparada ao
tratamento dado entre os anos 2000 e 2002 fortemente influenciado pelo racionamento de EE.
Tal fato é confirmado pelo subseqüente congelamento de muitos projetos termelétricos,
quando o regime hidrológico e a adequação da curva de consumo elétrico voltou a encher os
reservatórios, provocando uma situação de superávit de energia que ainda perdura.
25
Um fator que deve ser levado em consideração é o alto consumo de GN associado à
geração termelétrica. Segundo ANP (2004) a estimativa do governo federal à época do
lançamento dos programas de incentivo às termelétricas estimava que seu consumo chegaria a
60MMm³/dia. Com a não concretização deste consumo, a evolução da utilização do Gasbol
evoluiu abaixo do esperado, conforme mostra a Tabela 2.5.
Tabela 2.5 – Volumes contratados e movimentados de Gás Natural no Brasil.
Fonte: Ministerio de Minería y Hidrocarburos de Bolivia (MMH) apud ANP (2004). (*) Os valores à esquerda correspondem aos volumes acordados originalmente no contrato de compra e venda,enquanto os da direita são os volumes renegociados em agosto de 2001.(**) Volume mínimo, conforme contrato no qual o comprador é obrigado a comprar e que, portanto, dá aovendedor o direito de exigir o pagamento, tornando-se a compra efetiva ou não.(***) Média de janeiro - junho de 2003.
Outro fator importante a favor da utilização das termelétricas apenas em
complementação é percebido ao avaliar seu baixo rendimento energético se comparado a
outros usos do gás natural. Gas Turbine World (2002) apresenta os diversos modelos
existentes de UTEs em ciclo simples e combinado. Observa-se que as combinações mais
eficientes não ultrapassam 60% de rendimento. Tal eficiência é inferior àquela observada nos
usos do GN para geração de calor ou calor associado à eletricidade. Ainda assim, cabe
ressaltar o benefício em confiabilidade que a integração de usinas termelétricas traz ao
sistema elétrico, sejam elas a GN ou mesmo óleo combustível. A questão então é: como
equilibrar a utilização do Gás Natural disponível entre a geração termelétrica e seus outros
26
usos de maneira a trazer o maior benefício à sociedade, consumidor final da energia elétrica, e
ao desenvolvimento sustentável dos setores Elétrico e de Gás Natural, em transformação.
É importante também neste momento destacar alguns aspectos econômicos e
relacionados à geração termelétrica. Como dito anteriormente, do ponto de vista de
investimento, a geração termelétrica é vantajosa em comparação à geração hidrelétrica.
Verificando-se os custos base estabelecidos na publicação Gas Turbine World (2002),
percebe-se que os custos unitários de plantas de ciclo simples variam bastante, desde
US$122/kW (para plantas acima de 100MW) até US$877/kW (para uma planta de 500kW).
Para plantas de ciclo combinado, mesmo com a inclusão de outros equipamentos e
tecnologias, como unidades de recuperação de calor (HRSG) e turbinas a vapor os custos não
são muito diferentes, variando de US$335/kW (para uma planta de 800MW) a US$1000/kW
(para uma planta de 8MW).
No entanto, os fatores que mais contribuem para o alto custo da energia gerada em
termelétricas são os custos de operação e manutenção, mais elevados que em outras
tecnologias, e principalmente o custo do combustível, que no caso brasileiro é agravado pelos
contratos de compra do gás importado sob o já citado regime “take-or-pay” e pela variação
cambial entre a moeda nacional e o dólar, já que o preço do gás é considerado commodity.
Esta questão do custo do GN agrava-se ainda mais quando se considera o já citado problema
da substituição de outros combustíveis como o óleo, pois com a concorrência do GN das
distribuidoras de gás, o preço óleo tem baixado para manter os clientes, garantindo a este
mercado uma competição acirrada.
Outro fator que dificulta a ascensão da geração termelétrica a GN no Brasil são as
restrições ambientais relacionadas à emissão de gases poluentes. Embora o Gás Natural
apresente emissão de resíduos muito inferior ao carvão e aos óleos diesel e combustível, não
deixa de se tratar de um combustível fóssil não renovável emissor de CO2 e que se encontra
27
na contramão das últimas resoluções das conferências ambientais e da assinatura pelo Brasil
do Protocolo de Kyoto, no qual os países desenvolvidos signatários comprometem-se a
reduzir suas emissões de gases poluentes e causadores do efeito estufa em 5,2% (ante valores
de 1990) entre 2008 e 2012. Esta redução poderá ser feita através da dimunuição real das
emissões ou da compra dos conhecidos “créditos de carbono” de outros países. Embora o
Brasil não esteja entre os países obrigados a reduzir suas emissões, tal redução beneficia a
negociação futura dos créditos.
Com todas as informações acima expostas, para se estudar a implementação de
usinas termelétricas dentro dos conceitos do Desenvolvimento Sustentável e do Planejamento
Integrado de Recursos, já apresentados, é necessária a avaliação de sua inserção ambiental.
No Brasil, os requisitos básicos necessários à aprovação e liberação da execução de qualquer
projeto de geração energética são a elaboração e aprovação do Estudo de Impacto Ambiental
(EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Segundo a resolução do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) no 001/86, impacto ambiental é “qualquer alteração
das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma
de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem:
a) a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) as atividades sociais e econômicas; c) a
biota; d) as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e e) a qualidade ambiental.”
O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) é o resultado de um conjunto de atividades
científicas e técnicas que incluem o diagnóstico ambiental, a identificação, a previsão e
medição dos impactos, a interpretação e valorização dos impactos, a definição de medidas
mitigadoras e dos programas de monitoração dos impactos ambientais.
O Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) constitui documento do processo de
Avaliação do Impacto Ambiental (AIA) e esclarece em linguagem corrente todos os
elementos da proposta e do estudo, de modo que estes possam ser utilizados na tomada de
28
decisão e divulgados para o público em geral, inclusive a comunidade afetada. O RIMA
contém as conclusões do EIA, devendo conter a discussão dos impactos positivos e negativos
considerados relevantes.
Dada a complexidade e subjetividade dos conceitos apresentados, o processo de
inserção ambiental de projetos energéticos no Brasil ainda merece uma série de ajustes e
refinamentos a fim de se atingir o equilíbrio entre o crescimento social e econômico e o
respeito ao meio ambiente e à sociedade, uma vez que a execução de usinas de geração
elétrica deve atender a estes dois requisitos.
Um exemplo da influência de estudos de impacto associados a usinas termelétricas a
GN é o caso da UTE Carioba (ERM, 2001), cujo orçamento básico previsto foi de US$ 600
milhões. As conclusões do EIA continham propostas de ações mitigadoras dos impactos
ambientais que necessitariam investimentos adicionais de R$54 milhões, representando um
valor da ordem de 4 a 5% do custo inicial previsto, percentual que não pode ser desprezado.
Com tudo isto, é muito importante que a preocupação com o atendimento aos
requisitos ambientais para projetos de geração termelétrica esteja presente já na fase de
análise de viabilidade de novos projetos e que seja uma iniciativa do próprio investidor
(proprietário), a fim de garantir maior transparência no processo e facilitar a internalização de
custos sociais e ambientais que certamente surgem durante os estudos.
Fadigas (1998) apresentou uma contribuição à metodologia para escolha de locais
para implementação de usinas termelétricas baseada na ferramenta SAEGET, aplicando-a ao
caso do Gás Natural. A ferramenta insere o projeto dentro de células geográficas no estado de
São Paulo, identificando os melhores locais baseados em localização, recursos hídricos
disponíveis, disponibilidade de combustível, proximidade com a rede elétrica e limitações de
emissões de poluentes presentes em cada célula catalogada.
29
A regulamentação sobre a utilização de ferramentas que auxiliam o planejamento
com a identificação de projetos com menores impactos, facilita a internalização dos custos
sócio-ambientais e pode trazer grande contribuição ao Desenvolvimento Sustentável neste
setor.
2.2.2. A Cogeração Industrial
A Cogeração é a produção de duas ou mais formas de energia a partir de um único
combustível. O processo mais comum é a produção de eletricidade e energia térmica (calor ou
frio) a partir do uso de gás natural e/ou de biomassa, entre outros. A cogeração de energia
elétrica e calor de processo pode ser realizada através de dois tipos de ciclo. As configurações
mais comuns de cada um deles estão demonstradas na Figura 2.8. No “Topping Cycle”, o
calor para o processo é retirado no final. Este ciclo é mais utilizado na cogeração a partir do
Gás Natural. No “Bottoming Cycle”, o calor de processo é retirado no início. Este ciclo é mais
comum na cogeração a partir da biomassa.
Os primeiros sistemas de cogeração no mundo surgiram na primeira década do
século XX, quando ainda era rara a produção centralizada de energia elétrica. Esta situação
perdurou até a década de 40. Com o avanço da tecnologia surgiram novos conceitos de
geração e de interligação de sistemas elétricos, que apontavam para otimização quando
aplicados de forma centralizada. Com o apoio das grandes centrais (hidrelétricas e
termelétricas – nucleares, carvão, gás natural e óleo combustível), tais sistemas conseguiam
fornecer energia abundante e de baixo custo. Os sistemas de cogeração foram então preteridos
pelo mercado.
30
(a)
(b)
Fonte: Reis (2003).
Figura 2.8 – Ciclos de Cogeração (a) Topping Cycle (b) Bottoming Cycle
No Brasil, até poucos anos atrás, esta modalidade era praticada apenas pelo setor
industrial com a finalidade de autoprodução. No entanto, em decorrência das transformações
pelas quais tem passado o setor elétrico nas últimas décadas, dentre elas a incapacidade de
manter os investimentos necessários à geração centralizada e a tendência de diversificação das
fontes de energia elétrica, esta visão tem mudado bastante. Dentre os sistemas que contribuem
para a geração distribuída, voltaram a ter destaque no setor industrial os sistemas de
cogeração.
A partir da promulgação da Lei Federal nº 9.074, de 07/07/1995, a comercialização
de excedentes de energia foi liberada e foi criada a figura do Produtor Independente de
Energia (PIE). Desde então, com a criação da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)
31
através da Lei Federal nº9.427, de 26/12/1996, novas resoluções tem regulamentado esta
participação e aumentado os incentivos à conexão de cogeradores ao sistema elétrico. Tal
participação, além de permitida tem sido incentivada principalmente após as transformações
recentes do setor elétrico. Um exemplo deste incentivo foi a publicação da Portaria nº314, de
24/08/2000, incluindo as usinas termelétricas de cogeração que entrassem em operação
comercial até 31 de dezembro de 2003, no PPT (2000). Foi também definido que os projetos
de cogeração de então deveriam passar por uma qualificação com requisitos e critérios já
definidos em resoluções anteriores.
PAULA (2004) descreve que cada projeto de cogeração deve ser avaliado sob os
quesitos:
• Racionalidade Energética;
• Custo evitado com a geração distribuída;
• Diferenciação em função da fonte (renovável, resíduos).
Dentre os quesitos apresentados acima, a contribuição à geração distribuída merece
destaque. A Geração Distribuída (GD) tem como regra o atendimento à demanda de EE de
determinado cliente ou centro consumidor junto ao mesmo, através de um centro de geração
de baixa potência.
Em matéria publicada na revista Brasil Energia nº277, de Dezembro/2003, que versa
sobre a situação de carga em que se encontra o sistema de transmissão nacional, apresenta-se
que:
[...] A confiabilidade está comprometida por situações derisco presentes em diversas instalações que integram sua malha de11.589km de linhas e 99 subestações. O Operador Nacional doSistema Elétrico (ONS), ao expor as condições gerais de operação doSistema Interligado Nacional (SIN), confirma a gravidade do cenário eindica outros problemas que podem também comprometer osuprimento paulista. Das 70 situações de risco apontadas em todo oterritório nacional pelo órgão, 21 foram identificadas em São Paulo.Classificadas por categoria, oito podem implicar corte de carga, em
32
contingência simples, e 12 têm a ver com restrição de geraçãohidráulica.
Diante desta realidade, a maior aplicação prática da geração distribuída pode
contribuir significativamente na redução das restrições de transmissão. Dentro deste contexto,
organizações não-governamentais como a Associação Paulista de Cogeração de Energia
(COGEN-SP), entre outras, trabalham no fomento à cogeração e outras formas de geração
distribuída através da proposição de leis, resoluções e decretos que incentivem o investimento
neste tipo de negócio.
Os principais equipamentos que compõem os sistemas de cogeração são aqueles que,
utilizando um combustível (biomassa e/ou gás natural), produzem energia mecânica em forma
de gases de combustão ou vapor, para mover um motor ou uma turbina. A máquina rotativa
acoplada ao eixo de um gerador elétrico produz eletricidade, e outros equipamentos produzem
energia térmica (calor e frio) a partir do reaproveitamento do vapor/gases. Relacionam-se
abaixo os equipamentos mais comuns utilizados na cogeração:
• motores a combustão (ciclo Otto ou Diesel);
• caldeiras que produzem vapor para as turbinas a vapor;
• turbinas a gás natural;
• caldeiras de recuperação e trocadores de calor;
• sistemas de chillers de absorção, que utilizam calor (vapor ou água quente) para produção
e frio (ar condicionado);
• sistemas de ciclo combinado (turbinas a vapor e gás) numa mesma central;
• equipamentos e sistemas de controle de geração e de uso final de energia.
33
Conforme informações descritas na Tabela 2.6, da Associação Paulista de Cogeração
de Energia (COGEN-SP), para produzir a mesma quantidade de calor e eletricidade, uma
termelétrica de ciclo simples consome até 48% a mais de combustível se comparada a uma
unidade cogeradora.
Tabela 2.6 – Comparativo entre o Rendimento da Geração Termelétrica e Cogeraçãopara as diferentes tecnologias de máquinas térmicas.
Ciclo Otto ou Diesel Rankine Brayton Combinado
Termelétrico 40 a 46% 30 a 45% 35 a 45% 57%
Cogeração 62% 50% 70 a 75% 70 a 75%
Fonte: COGEN-SP.
Os sistemas de cogeração a gás natural produzem níveis menores de emissão
comparados aos outros combustíveis fósseis, possibilitando mitigação dos impactos
ambientais e trazendo maior competitividade para indústria. Um exemplo disto pode ser visto
na Tabela 2.7. Após a troca de Óleo Combustível para Gás Natural efetuada pela Comgás em
alguns clientes industriais do estado de São Paulo do ano 2001 para o ano 2002, foi observada
uma grande redução dos níveis de emissões de poluentes daquelas indústrias.
Tabela 2.7 – Comparativo de emissão de gases poluentes entre Óleo Combustível e GásNatural em amostra da indústria paulista em 2001-2002.
Emissões de Gases Poluentes
MP (Kg) SO2 (Kg) CO2 (Ton.)
Óleo Combustível (2001) 894.242 5.396.103 1.579.345
Gás Natural (2002) 57.838 8.676 1.156.756
Redução (%) 94 99 27
Fonte: COGEN-SP.
34
De acordo com dados da Secretaria Estadual de Recursos Hídricos do Estado de São
Paulo (SERHS, 2004), a cogeração representou em 2003 um percentual de 3,1% do consumo
de Gás Natural no estado de São Paulo. No entanto, este setor ainda tem um grande potencial
de contribuição ao setor elétrico, tanto a partir do GN como de outros combustíveis como o
bagaço de cana (biomassa). Se este potencial for aproveitado, deverá aumentar a participação
do setor de cogeração no consumo de GN em São Paulo. ABE (2002) desenvolveu e aplicou
uma metodologia de simulação para estudos de viabilidade de plantas de cogeração. PAULA
(2004) indica que, com um plano de inserção incentivada, o potencial elétrico da cogeração a
partir do Gás Natural no setor industrial poderá atingir cerca de 37GW no sistema elétrico
interligado em 2013.
Para este trabalho, será dado maior enfoque à contribuição da cogeração a partir do
Gás Natural no setor elétrico. Embora o rendimento energético da cogeração seja superior ao
da geração termelétrica, conforme indicado na Tabela 2.6 acima, este melhor aproveitamento
somente se percebe ao somar a energia elétrica e o calor de processo produzidos. Como o
presente estudo tem foco inicial na EE gerada, a consideração do calor de processo obtido na
aplicação da cogeração será feita através de artifícios de cálculo a serem detalhados no
próximo capítulo.
2.2.3. O Aquecimento Residencial de Água
Historicamente no Brasil, o aquecimento residencial de água é feito através de
chuveiros elétricos. Este equipamento está presente em mais de 90% dos lares brasileiros
oferecendo condições de conforto satisfatórias no momento do banho. Seu alto grau de
difusão justifica-se pela sua facilidade de instalação, operação e manutenção, associado ao seu
baixo custo.
35
A maior parte dos modelos disponíveis no mercado tem chave selecionadora para as
estações do ano ou então chave que descreve posições de temperatura. Essas chaves,
associadas ao controle de vazão de água, permitem compensar a variação da temperatura
ambiente da água ao longo do ano e manter a qualidade satisfatória do banho. Esta
característica decorre principalmente da grande expansão do parque gerador hidrelétrico
ocorrida a partir da década de 70, quando grandes potenciais hidrelétricos foram aproveitados
ocasionando uma grande oferta de energia elétrica a custos baixos. As baixas tarifas
apresentadas para a EE frente aos preços do petróleo em ascensão levaram a uma grande
expansão no consumo de EE principalmente no setor industrial, mas também no comércio e
em residências.
Conforme indicado na Tabela 2.8, devido à característica intensiva de consumo do
chuveiro elétrico comparado aos demais eletrodomésticos, ele representa em média 59% da
potência elétrica do lar brasileiro, e mesmo sendo utilizado por um curto período de tempo do
dia, representa em média 25% da conta de consumo de EE. Isto não somente pesa no
orçamento familiar como também influi na demanda do sistema elétrico, pois muitos
chuveiros funcionam justamente na mesma faixa horária (horário de ponta).
Tabela 2.8 – Participação dos diversos equipamentos em consumo de energia elétrica eem termos de potência
Equipamentos Participação emtermos de
consumo (%)
Participação emtermos de
potência (%)Chuveiro elétrico 25 59
Ferro elétrico 5 15Maq. lavar roupa 5 9
Iluminação 20 7Geladeira 30 3
TV/Vídeo/DVD 10 3Outros 5 4Total 100 100
Fonte: ELEKTRO.
36
Pesquisas realizadas pelo PROCEL e apresentadas por FERRARI (1996),
demonstram que entre 18 e 19 horas, em 50% das residências há pelo menos um chuveiro
elétrico funcionando. Durante o horário de ponta, entre 17 e 20 horas, as geradoras de energia
elétrica necessitam manter uma oferta de potência elétrica superior ao valor médio diário.
Naquele estudo são apresentadas diversas curvas de medição obtidas através de medições em
consumidores residenciais individuais e em conjuntos de consumidores das companhias CESP
e CPFL, demonstrando a influência dos chuveiros elétricos na curva de carga residencial
diária. A Figura 2.9 mostra a curva de demanda média medida em transformadores de
distribuição tipicamente residenciais no período das 16 às 23 horas. Pode-se observar entre as
17 e 19 horas sua característica ascendente devido ao funcionamento de chuveiros elétricos.
Fonte: FERRARI (1996)
Figura 2.9 – Curva média para transformador de distribuição residencial – intervalo de integração 60 minutos
Em contrapartida, em muitos outros países o aquecimento de água para banho é feito
quase em sua totalidade através de combustíveis fósseis, particularmente o Gás Natural. Para
isto, as duas tecnologias mais comuns utilizadas são os sistemas de aquecimento central e os
Demanda de Transformador de Distribuição - intervalo de integração 60 min. (p.u.)
0
0,20,4
0,6
0,81
1,2
1,4
1,61,8
2
16 17 18 19 20 21 22 23
Hora do dia
Dem
. (P
.U.)
37
aquecedores de passagem, sendo o primeiro mais indicado para instalações com número
maior de chuveiros, como prédios, hotéis, etc., e o segundo mais indicado para residências.
Na atual conjuntura dos setores Elétrico e de Gás Natural no Brasil, enquanto a
eletrotermia (geração de calor a partir da eletricidade) é largamente utilizada, é inevitável uma
reflexão sobre as prioridades na utilização do GN. SANTOS et al (2002) realiza um estudo
comparativo da energia necessária para um banho padrão a partir do GN, através de três
combinações: geração termelétrica de ciclo simples + chuveiro elétrico, geração termelétrica
de ciclo combinado + chuveiro elétrico e aquecimento direto com aquecedor de passagem,
tendo utilizado eficiências energéticas médias de termelétricas de ciclo simples e combinado
em torno de 35 e 50% respectivamente, e eficiência energética média de aquecedores de
passagem a GN é de 83,5%. É dito que:
[...] A eletrotermia reina nos lares e nos estabelecimentoscomerciais brasileiros.
E ainda:
[...] A substituição do chuveiro elétrico por um aquecedor deágua a gás aparece como a iniciativa mais evidente de proporcionar-seganhos importantes de racionalidade no sistema energético brasileiro.
Finalmente, justifica que, sob a ótica do aproveitamento do GN:
[...] Alimentar processos eletrotérmicos através deeletricidade gerada a partir de termelétricas a gás representa, em geral,um grande desperdício de gás. A queima direta do gás para a geraçãode calor ou frio... produz eficiências energéticas muito superiores,acima de 80%.
Cabe incluir aqui uma análise sobre outras alternativas para eliminação da
eletrotermia nos lares brasileiros. Uma solução muito interessante e que vem sendo
amplamente estudada é a utilização de aquecedores solares. LIMA (2003) estudou a utilização
otimizada de sistemas de aquecimento solar de água em residências, tendo obtido resultados
ainda melhores decorrentes da escolha adequada do tipo de aquecedor conforme o perfil
familiar de cada residência.
38
No entanto, mesmo na aplicação direta do aquecimento solar, tal solução ainda assim
necessitaria de um sistema complementar para aquecimento de água nos dias frios. Desta
maneira, a fim de manter o foco deste estudo na contribuição do GN à eletricidade, será dada
ênfase apenas à substituição dos chuveiros elétricos por aquecedores de passagem a gás,
deixando a instalação de aquecedores solares como hipótese a ser aprofundada em outra
oportunidade.
Outra alternativa importante, e muito familiar, ao aquecimento de água com GN é
sua realização a partir do GLP. Os aquecedores de passagem em sua quase totalidade operam
simultaneamente com GN ou GLP, necessitando apenas pequenos ajustes de regulagem.
Pesam a favor de uma substituição inicial da eletricidade pelo GLP: a infra-estrutura
consolidada de distribuição deste energético e sua atual penetração nos lares brasileiros na
utilização para cocção.
SANTOS et al (2002) lembra que o butano e propano (GLP) também são “gases
naturais”, e o GLP pode funcionar como um vetor do desenvolvimento do mercado
residencial de GN, chegando primeiro em locais não atendidos pela rede e atingindo
localidades que nunca virão a ser atendidas por gás encanado.
Em virtude destes fatos, a substituição dos chuveiros elétricos no aquecimento
residencial de água por aquecedores a Gás Natural ou GLP pode trazer benefícios ao sistema
elétrico, dentre os quais o custo evitado de expansão da rede elétrica. Além do mercado já
existente e consolidado do GLP, com a expansão do mercado de Gás Natural para as
residências das capitais e cidades do interior do país, viabiliza-se esta substituição do sistema
convencional pelo aquecimento a gás encanado.
A fim de avaliar o alcance desta substituição tecnológica na sociedade, apresentam-
se abaixo as conseqüências imediatas previstas para cada agente envolvido:
Para o Consumidor:
39
• Investimento para instalação de aquecedor;
• Redução na conta de energia elétrica;
• Aumento na conta de consumo de gás.
Para a Concessionária de Energia Elétrica:
• Redução na demanda regional de energia elétrica (aplicável à substituição em
larga escala);
• Liberação de demanda no horário de ponta;
• Redução no faturamento na classe residencial.
Para a Concessionária de Gás Canalizado:
• Investimento para expansão da rede urbana de gás canalizado;
• Aumento do consumo de GN;
• Aumento do faturamento na classe residencial.
Para o Sistema Elétrico:
• Redução da demanda no horário de ponta;
• Maior oferta de energia disponível na ponta para outras utilizações;
• Alteração na curva diária de carga;
Para o Mercado de aquecedores de passagem:
• Aumento do faturamento com vendas de equipamentos;
• Fomento à pesquisa tecnológica para melhoria dos produtos existentes;
• Possibilidade de redução dos custos atuais devido a ganhos em economia de
escala.
Para o presente estudo, esta substituição será avaliada com a premissa de não
interferir nas características atuais de atendimento ao aquecimento de água para banho. Para
isto, será mantida a correspondência energética entre os chuveiros e os aquecedores
40
substitutos. Os modelos possuirão a mesma potência de saída, a fim de não alterar a condição
de conforto do banho. Desta maneira, quando esta condição não puder ser perfeitamente
atendida com os modelos de aquecedores existentes no mercado, será considerado para efeito
de cálculos um modelo obtido por extrapolação dos dados dos modelos existentes.
De posse de todas estas informações, será demonstrado neste estudo que esta
substituição tecnológica tem grande impacto global em um sistema elétrico regional se
realizada em grande escala, ainda que ocorra de forma gradativa. A questão que deve ser
equacionada é: qual o real potencial de realização desta substituição em escala em cada região
onde o estudo for aplicado.
É muito importante lembrar que, certamente, a troca de chuveiros elétricos por
sistemas de aquecimento a gás ou solar não será a solução para os problemas do setor elétrico.
Cada um dos usos apresentados até aqui para o GN têm suas vantagens e são necessários para
se potencializar as vantagens do uso do GN na eletricidade. As ações conjuntas de
implementação de usinas termelétricas a gás, disseminação de unidades cogeradoras na
indústria, eliminação da eletrotermia, entre outras, é que tornarão isto possível.
41
CAPÍTULO 3. PROPOSTA DE TRABALHO – DESCRIÇÃO DA ANÁLISE DE
CENÁRIOS
Como já mencionado, o planejamento da expansão do Setor Elétrico tem sido feito
atualmente de forma independente do planejamento do setor de Gás Natural. Além disso,
embora já existam iniciativas para incentivo a outras formas de geração elétrica, como o PPT,
PROINFA, etc. , o planejamento do setor é ainda muito vinculado à geração centralizada.
A proposta deste estudo é justamente a de preencher este espaço, auxiliando na
integração entre o planejamento da expansão do consumo do Gás Natural e o planejamento da
expansão do Setor Elétrico. Esta integração se dá justamente naqueles usos do Gás Natural
que afetam a oferta ou a demanda de Energia Elétrica. Ao invés de cada setor (Elétrico e Gás
Natural) buscar o máximo do potencial de utilização do Gás Natural sem observar os outros
setores consumidores, pretende-se aqui propor um meio de estudar de forma integrada a
expansão do consumo do gás natural a fim de potencializar seu aproveitamento, olhando
porém para o setor elétrico de modo a manter suas necessidades atendidas.
Como já mencionado, a análise integrada dos usos escolhidos justifica-se pelo fato de
que cada um deles tem seu espaço no mercado consumidor de GN, conseqüência da
importância de cada uso em seu respectivo setor. Embora haja outras importantes finalidades
para o GN, serão estudadas apenas aquelas que afetam diretamente a oferta ou a demanda de
Energia Elétrica. Para delimitar o universo de alternativas de uso do Gás Natural, foram
determinados os seguintes usos:
• Geração Convencional de Energia Elétrica;
• Cogeração Industrial de Energia Elétrica;
• Aquecimento Residencial de Água para Banho.
Os usos acima representam os maiores responsáveis pela contribuição direta do Gás
Natural no setor elétrico. A Geração Convencional afeta diretamente a oferta de energia no
42
Sistema Interligado Nacional. A Cogeração pode afetar tanto a oferta quanto a demanda de
energia elétrica na região onde estiver instalada, pois ao mesmo tempo que alivia a demanda
regional de EE, pode contribuir com a oferta através da venda do excedente de energia
produzida. O Aquecimento Residencial de Água afeta a demanda de energia elétrica
principalmente no horário de ponta uma vez que se dará através da hipótese formulada de
substituição de chuveiros elétricos por aquecedores a Gás Natural.
Serão estudadas as três alternativas de uso do GN na eletricidade de forma integrada,
considerando-se as características Consumo de GN, Custo de Investimento e Emissão de CO2
de cada uma delas. Para isto, serão definidas as funções “Consumo Diário” de GN, “Custo de
Investimento” e “Emissão” para cada uso.
Ressalta-se aqui que, como já visto anteriormente, o GN emite outros poluentes além
do CO2. No entanto, trata-se do poluente que possui maior penetração na opinião pública por
ser causador do efeito-estufa e cujas emissões relativas são mais expressivas em toneladas
emitidas por unidade queimada. Por esta razão será considerada apenas a emissão deste
poluente no presente estudo.
Dadas as colocações acima, as etapas básicas para execução do estudo são:
1. Definições gerais - Construção dos Cenários;
• Contextualização do Setor Elétrico – verificação do Plano Decenal (Cenário
de Referência);
• Definição dos requisitos para atendimento com Geração Termelétrica –
Cenário A;
• Definição dos requisitos para inclusão da Cogeração – Cenário B;
• Definição dos requisitos para inclusão do Aquecimento a Gás – Cenário C;
2. Obtenção das funções de análise (para cada cenário);
• Consumo Diário de GN;
43
• Custo de Investimento;
• Emissão Diária de CO2;
3. Análise comparativa dos cenários – verificação de incentivos e barreiras.
3.1. DEFINIÇÕES GERAIS - CONSTRUÇÃO DOS CENÁRIOS
3.1.1. Parâmetros Gerais
Para uma melhor definição do estudo, de suas relações e a correta construção dos
cenários, é primordial que sejam pré-estabelecidos os parâmetros gerais abaixo:
• Delimitação do Universo - Um universo bem delimitado, garante maior controle
dos parâmetros estudados e facilita sua implementação. O universo de estudo
pode ser uma cidade, uma região, um estado ou todo o país do qual se pretende
estudar a participação do GN na eletricidade.
• Determinação do Horizonte de Tempo – Para efeito do setor elétrico, o horizonte
de tempo estará atrelado ao Plano Decenal, sendo portanto de 10 anos. Com
referência ao setor do GN, este parâmetro permitirá verificar se o consumo de
Gás Natural estimado para as categorias em estudo está compatível com as
previsões de oferta e crescimento dos respectivos setores, dentro do mercado do
GN.
3.1.2. Construção dos Cenários
A construção dos cenários de aplicação do GN no setor elétrico será baseada na
projeção (indicativa) de entrada de Unidades Termelétricas para atendimento a um dos
cenários pré-determinados no Plano Decenal de Expansão do Setor Elétrico 2003-2012.
44
Desta maneira, considerando a previsão de expansão apenas da geração termelétrica,
observa-se em MME (2002) que o Plano Decenal apresenta uma tabela com a previsão de
entrada das UTEs incluídas no PPT e outra tabela com a previsão indicativa de UTEs a serem
incluídas no SIN à medida em que forem necessárias ao longo do período. Dado que as UTEs
incluídas no PPT são empreendimentos já em operação, em construção ou aprovados
aguardando o momento oportuno para sua concretização, não será considerada como hipótese
a substituição de qualquer um deles pela entrada de Centrais de Cogeração ou planos de
redução de demanda. Sendo assim, a fim de estimar a demanda em MW a ser atendida nos
cenários deste estudo, serão consideradas somente as UTEs da tabela indicativa, movidas a
GN.
Após as considerações acima, será considerado como Cenário A o atendimento à
demanda prevista através da construção de usinas termelétricas convencionais.
Outras considerações devem aqui ser feitas. Será considerado que o atendimento à
demanda estabelecida se dará pela implementação de um determinado número de unidades
geradoras com potência padronizada. Portanto, ainda que a tabela indicativa de UTEs do
Plano Decenal possua uma lista de usinas a ser implementadas, o estudo aqui proposto
extrairá da tabela apenas a soma das potências das usinas, calculando a partir deste o número
de unidades geradoras padrão que atende à potência somada.
Será também necessário determinar previamente o Fator de Capacidade médio das
unidades que atenderão à demanda, para efeito do cálculo de Consumo Diário de GN e
Emissão de CO2, como será visto nas fórmulas apresentadas adiante. Este parâmetro poderá
ser determinado com base na média observada para a geração termelétrica do sistema em
estudo.
Após a determinação do Cenário A, a configuração do Cenário B será dada pela
inclusão de unidades cogeradoras para atendimento a uma parcela da demanda a ser atendida,
45
com a correspondente exclusão de uma ou mais usinas termelétricas. Desta forma, será
considerada a substituição de um tipo de geração por outro a fim de facilitar a comparação
posterior entre os parâmetros (consumo de gás, custo e emissão de CO2) decorrentes de cada
cenário. Cabem aqui os mesmos comentários efetuados para a geração termelétrica referentes
ao Fator de Capacidade.
Da mesma forma que no cenário anterior, a configuração do Cenário C partirá do
Cenário B e será baseada na substituição de outra(s) usinas(s) termelétrica(s) pela demanda a
ser liberada como conseqüência de um plano de incentivo à instalação de aquecedores a gás.
Assim, tem-se neste cenário um “mix” compondo a participação simultânea dos três usos
estudados no setor elétrico.
Reportanto-nos aos conceitos do DS e do PIR, poder-se-ia considerar então em linhas
gerais o Cenário A como sendo resultado da aplicação do planejamento convencional do setor
elétrico, o Cenário B como sendo resultado da adição de um componente de Geração
Distribuída ao planejamento, e o Cenário C como sendo resultado da adição do
Gerenciamento pelo Lado da Demanda, representando uma combinação de ações na busca de
um planejamento mais próximo da linha do PIR.
3.1.3. Parâmetros Específicos
Para a construção dos cenários definidos acima, é necessário que se estabeleça como
os mesmos serão atendidos. Sendo assim, os parâmetros específicos a seguir deverão ser
definidos à medida em que são construídos os cenários. São eles:
• Escolha das Tecnologias a serem aplicadas em cada uso - Para cada alternativa de
uso do GN, serão escolhidas as tecnologias dentre as existentes no mercado. Por
exemplo: Geração Termelétrica - Ciclo Combinado, Cogeração – Ciclo Simples
46
com HRSG e Turbina de Contrapressão, Aquecimento de Água – Aquecedores
de Passagem a Gás.
• Determinação dos Parâmetros Técnicos a serem aplicados a cada uso – Dentro de
cada tecnologia, definem-se os parâmetros técnicos com base nas máquinas
escolhidas dentre as disponíveis no mercado. Dentre os principais, pode-se citar:
Modelo, Potência Nominal, Consumo Nominal de Gás Natural, Rendimento, etc.
Também devem ser definidos os parâmetros sistêmicos, como Número de Usinas
Termelétricas, Número de Centrais Cogeradoras, Número de Aquecedores de
passagem a instalar, Fator de Capacidade, Fator de Demanda, etc.
Cabe aqui ressaltar que nem sempre os dados referentes aos fatores de demanda e
capacidade são fáceis de se obter com os agentes do setor elétrico. O fator de capacidade real
por exemplo, será diretamente afetado pelos cálculos executados no âmbito do ONS, que
controla o despacho centralizado da geração para o SIN. Tais cálculos por sua vez serão
dependentes do custo e das restrições informados por cada agente gerador ao ONS.
Já o fator de demanda, que será necessário para a estimativa da demanda acarretada
pela utilização dos chuveiros elétricos no horário de ponta, poderá ser estimado através da
análise dos dados demográficos e de comportamento da população em estudo.
De posse de todos os dados de entrada, procede-se à segunda etapa do estudo.
3.2. DETERMINAÇÃO DAS FUNÇÕES DE ANÁLISE
Nesta etapa serão sintetizadas as fórmulas que traduzirão os parâmetros a serem
observados no atendimento à expansão da demanda de eletricidade a partir de diferentes
soluções. A primeira função a ser determinada será o Consumo Diário de GN, que será
baseado na soma das parcelas de consumo de cada uso do GN.
47
3.2.1. Função Consumo Diário de GN (CD)
Define-se a função Consumo Diário de GN de um uso como a quantidade de GN
consumido diariamente dentro das condições de contorno estabelecidas, a ser medida em
m³/dia. Assim, para cada uso do GN, define-se abaixo a parcela correspondente do consumo
diário.
Geração Termelétrica Convencional (GTC)
Na alternativa de Geração Termelétrica Convencional, o cálculo do Consumo Diário
(CDGTC) será dado pela equação:
CDGTC = NUTE x Pot. x FC x 24 x CUEE x 1/PCS (3-1)
onde:CDGTC – Consumo diário de GN (m³) na geração termelétricaNUTE – número de UTEs necessário para atendimento à demanda de EEPot. – Potência da UTE escolhida/determinada para atendimento (kW)FC – Fator de Capacidade considerado para o funcionamento da geração termelétrica24 – Número de horas do diaCUEE – Consumo Unitário de Energia da Tecnologia Escolhida (BTU/kWh)PCS – Poder Calorífico Superior do Gás Natural (BTU/m³)
Centrais de Cogeração (CC)
Para a alternativa de Cogeração Industrial, a função Consumo Diário (CDCC) será
dada pela equação abaixo, similar à da alternativa Geração Termelétrica Convencional, pois
as tecnologias utilizadas são praticamente as mesmas, tendo dados de entrada semelhantes.
CDCC = NCC x Pot. x FC x 24 x CUEE x 1/PCS (3-2)
onde:CDCC – Consumo diário de GN (m³) na cogeraçãoNCC – Número de Centrais de Cogeração necessárias para atendimento à dem. de EEPot. – Potência da unidade cogeradora média escolhida/determinada (kW)FC – Fator de Capacidade considerado para o funcionamento da geração termelétrica24 – Número de horas do diaCUEE – Consumo Unitário de Energia da Tecnologia Escolhida (BTU/kWh)
48
PCS – Poder Calorífico Superior do Gás Natural (BTU/m³)
Aquecimento Residencial de Água (ARA)
Para o Aquecimento Residencial de Água, o cálculo do CD será dado pela equação:
CDARA = NAQ x CUCAQ x Tfunc. (3-3)
onde:CDARA – Consumo diário de GN (m³) nos aquecedores de água a gásNAQ – Número de domicílios onde será efetuada a troca de chuveiros elétricos poraquecedores a GNCUCAQ – Consumo unitário corrigido da tecnologia escolhida (m³/h) – dado
fornecido pelo fabricante do aquecedorTfunc. – Tempo de funcionamento do aparelho por residência (h)
É importante ressaltar que o número de domicílios (ou aquecedores) NAQ a ser
utilizado deverá ser tal que a demanda economizada em EE pela troca por chuveiros elétricos
deverá ser equivalente à potência da(s) UTE(s) a ser substituída(s). Para isto será necessário
estabelecer premissas de demanda e consumo com base na quantidade e comportamento dos
domicílios a serem estudados.
Deve-se também registrar aqui que o fator CUCAQ a ser utilizado é um valor
corrigido obtido a partir de aquecedores comerciais existentes, pois é muito difícil que na
substituição de chuveiros elétricos por aquecedores de passagem ambos apresentem a mesma
potência térmica de saída. Para tal correção, deverão ser consideradas as seguintes premissas:
1 – O protótipo deverá ser desenvolvido a partir de um modelo de aquecedor
existente no mercado.
2 – Para a aplicação neste estudo, é necessário obter do protótipo: a potência
equivalente, o consumo de GN e o preço médio.
3 – A potência equivalente em calor do protótipo a ser modelado deve ser
equivalente àquela do chuveiro elétrico a ser substituído, e deve ser obtida para o
poder calorífico superior (PCS) do GN.
49
4 – O rendimento do protótipo deverá ser equivalente ao do aquecedor de mercado.
5 – Todos os parâmetros acima serão obtidos através da extrapolação das
características do modelo por aplicação de regra de três simples.
6 - O consumo corrigido de GN (CUCAQ) do protótipo deve ser obtido a partir do
consumo do modelo, multiplicado pela razão entre a potência do protótipo (kW) e a
potência do modelo (kW).
7 – O custo do protótipo deve ser obtido a partir do custo do modelo, multiplicado
pela razão entre a potência do protótipo (kW) e a potência do modelo (kW).
Será visto mais adiante que isto se constitui em uma barreira à disseminação dos
aquecedores a gás, que geralmente têm padrões de conforto e consequentemente custos bem
acima dos chuveiros elétricos.
Consumo Diário Global (CDG)
Uma vez definidas as fórmulas de Consumo Diário de cada uso, pode-se estabelecer
a relação a que se pretende chegar: o Consumo Diário Global, dado pela soma dos três
fatores. Sendo assim:
CDG= CDGTC + CDCC + CDARA (3-4)
É importante ressaltar que quando da aplicação da fórmula a cada cenário, as
parcelas da soma poderão existir ou não, em conformidade com o cenário correspondente.
Outra ponderação é que, a cada cenário, todas as parcelas devem ser recalculadas, pois as
entradas da segunda (cogeração)e da terceira (aquecimento) parcelas se dão pela substituição
parcial da primeira (geração termelétrica).
50
3.2.2. Função Custo de Investimento (CI )
Define-se a função Custo de Investimento como sendo o investimento necessário
para a implementação das tecnologias conforme cada cenário, capaz de suprir a demanda
estabelecida, a ser medido em dólares (US$).
É importante lembrar que na composição do custo unitário do serviço prestado ao
consumidor (R$/kWh para fornecimento de Energia Elétrica), o custo de investimento
(considerando geração e transmissão) é apenas uma das parcelas, que se soma a outros custos
como do combustível, operação e manutenção, tarifa de transmissão, tarifa de distribuição (se
aplicável). No entanto, entende-se que estas outras parcelas são mais susceptíveis a
intervenções dos órgãos reguladores a fim de incentivar este ou aquele uso do gás natural à
medida dos interesses regionais ou nacionais. Desta maneira, será dada ênfase ao custo de
investimento, incluindo-se as parcelas de ordem técnica (investimentos em geração e
interconexão) e ambiental (investimento em medidas mitigadoras).
Geração Termelétrica Convencional (GTC)
Define-se a função Custo para a Geração Termelétrica Convencional através da
seguinte equação:
CIUTE = NUTE x [I + CEIA + CTR + (CURG x Bit. x Compr.)] (3-5)
onde:NUTE – Quantidade de Usinas TermelétricasI – Investimento necessário para a construção de uma UTE (US$)CEIA – Custo decorrente de estudos de impacto ambiental para cada UTE (US$)CTR – Custo de Investimento para interligação à rede de EE, para cada UTE (US$)CURG – Custo Unitário de Investimento para interligação à rede de GN, por UTE(US$/m/polegada)Bit. – Bitola do ramal de interligação de GNCompr. – Comprimento do ramal de interligação de GN
Centrais de Cogeração (CC)
51
Para a alternativa Cogeração Industrial, o Custo será calculado de forma semelhante
à da alternativa Geração Termelétrica. De posse do número de unidades cogeradoras
determinado, define-se a função Custo para a Cogeração Industrial através da seguinte
equação:
CICC = NCC x [I + CEIA + (CURG x Bit. x Compr.)] (3-6)
onde:NCC – Quantidade de Centrais de CogeraçãoI – Investimento necessário para a construção de uma UCI (US$)CEIA – Custo decorrente de estudos de impacto ambiental por cogeração (US$)CURG – Custo Unitário de Investimento para interligação à rede de GN, porcogeração (US$/m/polegada)Bit. – Bitola do ramal de interligação de GNCompr. – Comprimento do ramal de interligação de GN
Aquecimento Residencial de Água (ARA)
Para este uso, define-se a função Custo para a alternativa Aquecimento Residencial
de Água através da seguinte equação:
CIARA = (CURG x Bit. x Compr.) + NARA x TCx(CARA + CAC) (3-7)
onde:CURG – Custo Unitário de Investimento para interligação à rede de GN(US$/m/polegada)Bit. – Bitola média da rede em expansãoCompr. – Comprimento total da expansão necessária da rede de GNNARA – Número total de aquecedores de passagemCARA – Custo de cada aquecedor de passagem (R$)CAC – Custo médio de adequações de construção civil por domicílio (R$)TC – Taxa de câmbio US$/R$
Custo de Investimento Global (CIG)
Uma vez definidas as fórmulas de Custo de Investimento de cada uso, pode-se
estabelecer a relação a que se pretende chegar: o Custo de Investimento Global, dado pela
soma dos três fatores. Sendo assim:
CIG = CIGTC + CICC + CIARA (3-8)
52
3.2.3. Função Emissão Diária de CO2(ED)
Define-se a função Emissão Diária de CO2 como sendo a emissão de gás carbônico
resultante do Consumo Diário de GN, a ser medida em Ton./dia. Desta maneira, esta função é
diretamente dependente da primeira, já descrita.
Geração Termelétrica Convencional (GTC)
Define-se a função Emissão Diária para a Geração Termelétrica Convencional
através da seguinte equação:
EDGTC = CDGTC x 39,356*10-6 x EUGTC (3-9)
onde:CDGTC – Consumo diário de GN na opção Geração Termelétrica Convencional (m³)3,941*10-5 – Taxa de conversão entre TeraJoule e m³ (TJ/m³)EUGTC – Emissão unitária de CO2 (Ton/TJ) para a geração termelétrica
Centrais de Cogeração (CC)
Da mesma maneira, define-se a função Emissão Diária para a Cogeração Industrial
através da seguinte equação:
EDCC = CDCC x 39,356*10-6 x EUCC (3-10)
onde:CDCC – Consumo diário de GN na opção Cogeração Industrial (m³)3,941*10-5 – Taxa de conversão entre TeraJoule e m³ (TJ/m³)EUCC – Emissão unitária de CO2 (Ton/TJ) para a cogeração
Aquecimento Residencial de Água (ARA)
E assim, define-se a função Emissão Diária para o aquecimento residencial de água
através da seguinte equação:
EDARA = CDARA x 39,356*10-6 x EUARA (3-11)
onde:CDARA – Consumo diário de GN na opção Aquecimento de Água (m³)3,941*10-5 – Taxa de conversão entre TeraJoule e m³ (TJ/m³)
53
EUARA – Emissão unitária de CO2 (Ton/TJ) para queima em aquecedores depassagem
Emissão Diária Global (EDG)
E finalmente pode-se estabelecer a relação a que se pretende chegar: a Emissão
Diária Global, dada pela soma dos três fatores acima. Sendo assim:
EDG = EDGTC + EDCI + EDARA (3-12)
3.3. ANÁLISE COMPARATIVA DOS CENÁRIOS
Após a definição e obtenção de todos os parâmetros já definidos, a análise
comparativa dos cenários se dará justamente sobre os resultados das três funções: Consumo
Diário Global, Custo de Investimento Global e Emissão Diária Global, para cada cenário.
Desta maneira, será preenchida a Tabela Comparativa abaixo:
Tabela 3.1 – Tabela Comparativa (Modelo).
Consumo Diário deGN(m³)
Custo deInvestimento (US$)
Emissão Diária deCO2(Ton)
Cenário A - - -Cenário B - - -Cenário C - - -
A seguir será executada uma análise dos resultados obtidos. Será verificado o cenário
que resulta na melhor combinação entre os fatores analisados. Serão também feitas as
considerações pertinentes sobre as premissas adotadas, os parâmetros determinados, as
vantagens e desvantagens, barreiras e incentivos ao desenvolvimento de cada uso considerado
no estudo.
Um importante aspecto que não poderá ser descartado na análise dos resultados diz
respeito aos valores obtidos para o Consumo Diário de GN e Emissão Diária de CO2 para o
54
Cenário A ao compará-lo com os Cenários B e C. Devido à inclusão da cogeração nestes
cenários, soma-se ao atendimento da demanda de EE o atendimento a uma demanda de vapor
para a indústria. Portanto, a fim de comparar os montantes de GN consumido para os mesmos
resultados, pode ser necessário estimar o quanto de combustível seria consumido a mais em
caldeiras convencionais para a geração do calor que atenderia o universo de indústrias
pesquisado.
Para o caso do combustível considerado ser o GN, a correção para a comparação
entre cenários deverá ser feita somando o valor obtido ao Consumo do Cenário A, repetindo-
se em seguida o procedimento para a correção da emissão de CO2.
Em caso de outros combustíveis, não há sentido em se comparar seu consumo com o
de GN. No entanto, é importante a comparação de emissões gasosas. Neste caso, a parcela de
emissões de CO2 referente às caldeiras convencionais deverá ser subtraída dos cenários B e C,
sendo considerada como mitigação de emissões, uma vez que novas caldeiras convencionais
seriam evitadas ou caldeiras existentes seriam substituídas para se atingir cada cenário.
Sendo assim, para a correção do Consumo Diário de GN do Cenário A, poderão ser
aplicadas as seguintes equações:
CDCAL = NCC x CUGNC (*) x FC x 24 (3-13)
onde:CDCAL – Consumo estimado diário de GN (m³) em caldeiraria para geração de vaporcom base na quantidade de vapor gerado para cogeração no Cenário B.NCC – Número de Centrais de Cogeração necessárias para atendimento à dem. de EECUGNC – Consumo Unitário de GN em uma caldeira convencional (m³/h) com amesma capacidade de geração de vapor da central de cogeração escolhida paramontagem do Cenário B.(*) Em caso de cálculo do consumo de outro combustível, basta substituir o CUGNC
pelo valor correspondente de consumo unitário daquele combustível.FC – Fator de Capacidade considerado para o funcionamento da geração termelétrica24 – Número de horas do dia
E também:
CDCGTC = CDGTC + CDCAL (3-14)
55
onde:CDCGTC – Consumo diário corrigido de GN (m³) na geração termelétrica (paracomparação “Cenário A x Cenário B” ou “Cenário A x Cenário C”.CDGTC – Consumo diário de GN (m³) na geração termelétrica.CDCAL – Consumo estimado diário de GN (m³) em caldeiraria para geração de vaporcom base na quantidade de vapor gerado para cogeração no Cenário B.
Após a aplicação das equações acima, deve ser feita a correção também do valor
obtido para Emissão de CO2 no Cenário A, através de novo cálculo da equação 3-9.
Para o cálculo da emissão decorrente do consumo de outro combustível em caldeira
convencional é necessário estimar primeiramente o próprio consumo diário deste combustível
através da equação 3-13 acima, e a taxa de conversão de TeraJoule por unidade de volume
(m³, Ton., BEP ou equivalente) daquele combustível, para então aplicar na equação 3-15
abaixo.
EDOC = CDOC x TCOC x EUOC (3-15)
onde:EDOC – Emissão diária de CO2 (Ton/TJ) de outro combustível em caldeirasconvencionais.CDOC – Consumo diário do combustível – calculado pela equação 3-13.TCOC – Taxa de conversão entre TeraJoule e volume do combustível (TJ/un. vol.)EUOC – Emissão unitária de CO2 (Ton/TJ) para o combustível selecionado.
Ao efetuar a análise comparativa dos cenários, pode também ser necessário ajustar a
quantidade de UTEs a ser substituída por cada um dos outros usos do GN. Isto poderá ser
feito através da criação de cenários secundários B’ e C’, a fim de destacar as diferenças entre
os valores obtidos para as funções consumo, custo e emissão e de verificar as diferenças entre
tendências dos cenários. Para a criação dos cenários secundários, é importante uma
revalidação da viabilidade técnica das substituições dentro do contexto da região em estudo.
É importante lembrar novamente que não há a intenção de que os resultados a serem
atingidos sejam conclusivos a favor de um ou outro uso do GN associado à eletricidade. O
estudo se desenvolve na busca de sinais indicativos de que a combinação de incentivos
56
paralelos a vários setores consumidores de GN, quando apoiada na busca do Desenvolvimento
Sustentável, é benéfica aos agentes participantes dos setores Elétrico, Gás Natural, e à própria
sociedade.
57
CAPÍTULO 4. ESTUDO DE CASO – A CONTRIBUIÇÃO DO GÁS NATURAL
NA ELETRICIDADE
Para se aplicar a metodologia descrita no capítulo anterior a um caso prático da
utilização do Gás Natural nos usos determinados, segue-se um estudo de caso aplicado ao
setor elétrico brasileiro.
4.1. DEFINIÇÕES GERAIS - CONSTRUÇÃO DOS CENÁRIOS
4.1.1. Parâmetros Gerais
Os parâmetros gerais deste caso são o Universo a ser estudado e o Horizonte de
Tempo. Conforme proposto no capítulo anterior, este estudo será baseado no Plano Decenal
de Expansão do Setor Elétrico brasileiro.
Universo
Define-se o Universo do caso como sendo o Sistema Interligado Nacional (SIN),
pois o mesmo será diretamente beneficiado pelo aumento de oferta ou diminuição da demanda
de energia elétrica, em conseqüência do estudo.
Horizonte de Tempo
De acordo com dados do Ministério de Minas e Energia, o Plano Decenal de
Expansão 2003-2012 é o último publicado até o momento. Desta maneira, o Horizonte de
Tempo será estabelecido em 10 anos, com o período de análise coincidindo com o do plano,
portanto de 2003 a 2012. Embora já tenham se passado quase dois anos e uma troca de
governo desde o início deste período, acredita-se que este dado de entrada ainda seja em
muito válido para a execução deste estudo, uma vez que o mesmo plano servirá certamente
como base para o próximo a ser publicado.
58
4.1.2. Construção dos Cenários – Determinação dos Dados Específicos
A fim de se quantificar a demanda de EE a ser atendida no horizonte do estudo,
segue-se a análise dos dados encontrados no Plano Decenal 2003-2012.
Tabela 4.1 – Usinas Termelétricas Indicativas para o Sistema Interligado.
Fonte: MME (2002).
59
De acordo com os dados da Tabela 4.1 extraída de MME (2002), o Plano Decenal
prevê dois tipos de cenário para três condições de mercado possíveis. A fim de estudar as
projeções do mercado seguindo uma tendência longe dos extremos, será adotado como base o
mercado de referência. Dentro desta opção, será considerado no estudo o Cenário B, no qual
estão representadas as usinas termelétricas indicativas a serem aprovadas à medida em que
forem necessárias segundo as projeções de demanda do plano.
Uma ressalva deve ser feita:
Embora a usina Angra III faça parte do grupo do Cenário B no mercado de
referência, a mesma não será considerada na soma da demanda projetada, pois não se trata de
geração termelétrica a GN.
Desta maneira, chega-se ao montante de 2.800MW, correspondente à soma das
potências das UTEs a GN projetadas para entrada eventual em operação no período (excluída
Angra III). Este valor será então considerado como a Demanda a ser atendida com geração
termelétrica no horizonte de tempo programado.
De posse dos dados acima, passa-se então à definição dos dados para montagem dos
cenários.
Cenário A
Neste cenário será considerado que a demanda de 2.800MW será totalmente atendida
através de Usinas Termelétricas a Gás Natural (UTEs).
Parâmetros Específicos – Cenário A
A fim de facilitar a obtenção dos parâmetros a serem estudados neste cenário, optar-
se-á por atender à demanda projetada através de uma quantidade a definir de usinas
termelétricas de mesma potência, não utilizando exatamente as potências das unidades
previstas na Tabela 4.1, mas um conjunto que tenha o mesmo resultado no atendimento.
60
Assim, será adotada uma configuração típica de UTE a Ciclo Combinado conforme a Tabela
4.2 abaixo:
Tabela 4.2 – Características Técnicas – UTE Ciclo Combinado.
Características Técnicas
Tecnologia: Ciclo CombinadoConjunto selecionado: 2.W501F
Máquinas Selecionadas: 2 x 501F + 1 x 207MWFabricante: Siemens
Potência Nominal Total: 568,5MWConsumo Unitário de Energia (CUee): 6060 BTU/kWh
Rendimento: 56,3%Custo: US$214,890,000
Poder Calorífico Superior do GN: 37.381BTU/m3
Fator de Capacidade: 50%Custo de mitigações decorrentes da
elaboração de EIA (estimativa)~5% do Custo (adotado conf. Caso UTE
CariobaII – ver item.2.2.1)US$10,000,000
Custo de Interconexão (Subestação) US$10,000,000 ** Subestação típica em configuração disjuntor-e-meio mais interconexão de até 2Km, combase em preços históricos praticados por empresas de engenharia do setor.Fontes: GTW 2001-2002 Handbook e Promon Engenharia Ltda.
Cabem aqui algumas considerações a respeito do Fator de Capacidade adotado para a
operação das UTEs. ECEN (2000), indica que o fator de capacidade médio da geração elétrica
nacional está em torno de 50%. Tal valor é também encontrado em alguns trabalhos técnicos
na área de geração termelétrica. Considerando-se que a geração termelétrica aqui proposta é
de ciclo combinado, que tem melhor aproveitamento se operada na base do sistema elétrico,
foi então adotado o valor equivalente à média da geração elétrica nacional.
De fato, a consideração acima sobre o fator de capacidade afeta diretamente os
resultados a serem obtidos. Na situação em que se encontra o setor elétrico nacional
atualmente, ainda que o mesmo tenha experimentado a entrada de várias novas usinas
termelétricas desde 2002, o acompanhamento do despacho do ONS no período pós-
racionamento, com superávit de EE e reservatórios cheios, não demonstra que o FC de 50%
61
venha sendo atingido nas novas UTEs. Considerando-se ainda que os contratos de compra de
GN por cada UTE têm ainda hoje grande possibilidade de possuir cláusulas envolvendo take-
or-pay, o fator de capacidade certamente deveria ser calculado com mais rigor a fim de se
encontrar o valor mais apropriado para a viabilidade econômica deste investimento.
Outra importante informação que deve ser esclarecida desde já refere-se ao consumo
parcial de cada tecnologia aqui estudada. As centrais de cogeração e aquecedores de água a
GN a serem incluídos nos cenários seguintes não devem ser comparados isoladamente às
UTEs a serem retiradas naqueles cenários, pois não é o intuito deste estudo comparar por
exemplo uma UTE que opera com FC=50%, a uma quantidade de aquecedores de água a GN
que operam apenas durante o período de ponta. O fundamento das substituições de UTEs que
serão propostas a seguir é o de manutenção do atendimento a uma determinada demanda em
MW, seja por inclusão de centrais de cogeração ou por liberação da mesma demanda no
período de ponta através substituição de chuveiros elétricos.
Desta maneira, ressalta-se que como a proposta deste estudo é a verificação do
consumo de GN e emissão de CO2 diários, e do investimento inicial em cada cenário, não será
avaliada aqui a relação entre o fator de capacidade e o custo do consumo de combustível ao
longo da vida útil das UTEs, podendo este item ser desenvolvido em estudos futuros.
Para se atender à demanda de 2.800MW são então necessárias 05 UTEs com
potência de 568,5MW, conforme o modelo apresentado. Está definido aqui portanto o
valor do parâmetro NUTE (número de usinas termelétricas) a ser utilizado nos cálculos das
funções a serem obtidas posteriormente.
Para a estimativa dos ramais de interligação à rede de gás, estabelece-se como
premissa que todas as usinas serão implantadas nas proximidades de gasodutos existentes,
havendo portanto uma necessidade mínima de expansão da rede de distribuição de GN para
atendimento às UTEs em até 5km para cada unidade. Além deste dado, necessita-se também
62
o custo unitário de expansão de gasoduto (CURG), que será adotado em US$ 15,00/m*pol.,
conforme apresentado por MENDES (1996) para estimativas preliminares de gasodutos. Para
o valor da Bitola, será considerado um ramal de 10” (polegadas) por ramal de UTE.
Para o cálculo das emissões de CO2 referentes a este cenário, será adotado o valor
unitário de emissão de 0,05582Ton./TJ apresentado na Tabela 2.4 do Capítulo 2. Devido à
dificuldade em se obter valores mais precisos da emissão deste gás para as diferentes formas
de queima do GN, este mesmo valor médio será considerado para os três usos do GN aqui
estudados.
Assim, tendo todos os dados necessários para o cálculo das funções a serem
estudadas para o Cenário A, pode-se dar prosseguimento portanto à definição dos demais
cenários.
Cenário B
O Cenário B consiste na alteração do Cenário A através da substituição de uma ou
mais UTEs por uma quantidade de Centrais Cogeradoras capaz de atender à potência
subtraída. Desta maneira, o atendimento à demanda de 2.800MW seria feito através de um
“mix” de oferta entre termelétricas convencionais e centrais de cogeração.
Devido ao fato de não haver para o setor de cogeração uma lista de empreendimentos
indicativos para entrada em operação, será estabelecido que o atendimento à demanda
correspondente será feito através de uma quantidade a ser calculada de Centrais Cogeradoras
com potência padronizada a partir de um modelo típico.
Assim, será estabelecido como premissa para este caso, que uma das UTEs que
atendem ao Cenário A seja substituída por Centrais Cogeradoras típicas com as características
técnicas conforme a Tabela 4.3 abaixo, obtidas através da utilização das diretrizes contidas em
BOEHM (1987) para análise de projetos de sistemas térmicos:
63
Sendo assim, a partir dos modelos apresentados calcula-se que para substituir
uma UTE de 568,5MW são necessárias 21 Centrais Cogeradoras de 27,5MW cada.
Dado que a substituição da UTE por centrais cogeradoras se dará com unidades com
tecnologia semelhante, e considerando que as indústrias atendidas pelas centrais de cogeração
deixarão de representar consumo e demanda de EE à rede elétrica, também aqui foi
estabelecido o Fator de Capacidade em 50% para as centrais de cogeração. Tal medida
mantém o atendimento ao consumo projetado com as UTEs do Cenário A funcionando com
FC=50%.
Tabela 4.3 – Características Técnicas – Unidade Cogeradora.
Geração de Energia Elétrica
Ciclo de Cogeração: Topping CycleMáquinas Selecionadas: 1 x FT-8 + 1 x 2MW
Fabricante: Pratt&WhitneyPotência Nominal: 25,49 + 2 MW = 27,5MW
Consumo Unitário (aprox.): 8299BTU/kWhRendimento: 38,1%Fluxo de Gás: 187lb/s
Poder Calorífico Superior do GN (PCS): 37.381BTU/m3
Relação energética: 1MWh = 3,412MBTU
Geração de VaporEquipamento HRSG
Quantidade 1 unidadeFabricante -
Capacidade do conjunto 30.000kg/hPressão 15Kg/ms2
ConjuntoCusto de mitigações decorrentes da
elaboração de EIA (estimativa)~5% do Custo (adotado conf. Caso UTE
CariobaII – ver item.2.2.1)US$500,000
Fator de Capacidade 50%Custo Total da Unidade US$12,567,173
Fontes: GTW 2001-2002 Handbook e Boehm (1987)
64
Dado que cada central cogeradora representa um cliente industrial com consumo
médio muito inferior a uma UTE de grande porte e que o mercado industrial é aquele
procurado prioritariamente pelas concessionárias de distribuição de GN, conforme SERHS
(2005), será considerado neste estudo que todas as centrais cogeradoras previstas serão
construídas em regiões já atendidas por ramais de rede de distribuição de GN, sendo portanto
descartada a parcela de custo referente a este item.
A fim de averiguar a viabilidade da implantação de 21 centrais cogeradoras, observe-
se a Tabela 4.4, onde está declarado o potencial de oferta de energia decorrente da cogeração
no Brasil, em estudo realizado por PAULA (2004). Foi estudado um plano de inserção
incentivada de cogeração abrangendo todo o país, aplicado também ao horizonte do Plano
Decenal 2003-2012.
Tabela 4.4 – Potencial 2013 de Cogeração de Setores Dependentes de Derivados dePetróleo – Estimativa da Geração Regional de Energia Elétrica
REGIÕES TABULADAS ESTIMATIVA ENERGIAELÉTRICA GERADA
(MWh x 10³)
ESTIMATIVA DACAPACIDADE
EQUIVALENTE (MW)OFERTA MÉDIA C. OESTE 7481 3444OFERTA MÉDIA NORD. 9449 5002OFERTA MÉDIA NORTE 3550 1624OFERTA MÉDIA SUDESTE 53486 20530OFERTA MÉDIA SUL 16392 6470OFERTA TOTAL BRASIL 90358 37070
Observa-se que o potencial de contribuição da cogeração a partir de derivados de
petróleo, mais precisamente do Gás Natural, à capacidade instalada do sistema elétrico chega
a mais de 37.000MW, o que nos leva a concluir que a hipótese de implementação das 21
centrais cogeradoras calculadas acima dentro deste mesmo horizonte de tempo é
perfeitamente plausível. De posse de todos os dados necessários aos cálculos referentes ao
Cenário B, segue-se a definição dos mesmos para o último cenário.
65
Cenário C
Por sua vez, o Cenário C consiste no ajuste do Cenário B através da substituição de
mais uma UTE pelo que será denominado o Plano de Incentivo ao Aquecimento Residencial
de Água a Gás (PIARAG). Em decorrência da maior complexidade desta hipótese, faz-se
necessário ir um pouco mais fundo na investigação da viabilidade desta iniciativa.
Cabe ressaltar aqui que, embora a substituição dos chuveiros elétricos seja
importante para reduzir a demanda de ponta do sistema elétrico, tal operação não substitui por
completo a implantação de uma UTE, pois além de gerar energia na ponta as usinas
termelétricas têm também a importante função de firmar energia em períodos de hidrologia
desfavorável, podendo ser despachadas fora do horário de ponta para economizar água nos
reservatórios das hidrelétricas. Isto reforça a instrução de que as diferentes soluções para
atendimento da demanda em estudo não devem ser comparadas isoladamente.
A fim de delimitar o público alvo ao qual será oferecido tal plano, foram escolhidas
para análise algumas regiões do estado de São Paulo atravessadas pelos gasodutos da malha
Sudeste da Transpetro e pelo Gasoduto Bolívia-Brasil, que têm sido foco de investimentos em
ampliação das redes de distribuição das empresas concessionárias.
A Figura 4.1 mostra os gasodutos e áreas de concessão de distribuição de GN
no estado de São Paulo.
Com base em dados demográficos do IBGE, é necessário também verificar a
viabilidade da implementação em massa de aquecedores na região escolhida. Segue então
uma análise deste potencial.
O estado de São Paulo possuía em 2000, conforme o censo do IBGE, 10.364.152
domicílios. Conforme dito acima, dentro deste universo foram selecionados os municípios
mais importantes e/ou populosos localizados em regiões atravessadas pelos gasodutos da
66
malha sudeste da Transpetro e pelo Gasbol. São as regiões: metropolitana da capital, centro
do estado, de Campinas, Vale do Paraíba, e Baixada Santista. Dentre os municípios, muitos
deles se encontram já atendidos por ao menos um ponto de entrega de Gás Natural (City-gate)
em uma das áreas de concessão do estado pertencentes às empresas: Comgás, Gás Brasiliano
ou Gás Natural São Paulo Sul.
Fonte: SERHS (2004).
Figura 4.1 – Gasodutos e Áreas de Concessão – Estado de São Paulo
A Tabela 4.5 indica tais municípios e informa a quantidade de domicílios com
sanitário e atendidos por rede geral de água e esgoto, existentes em cada município. Estes
domicílios, por todas as características de atendimento de água e saneamento que possuem e
pelos municípios onde estão localizados, são considerados os mais favoráveis para
substituição de chuveiros elétricos por aquecedores de passagem a GN ou GLP, com
investimentos já iniciados em atendimento pela rede de GN.
Conforme dados de SERHS (2004), o estado de São Paulo possui atualmente cerca
de 450.000 clientes residenciais de GN, dos quais estima-se que 1/3 já utilize o GN para
67
aquecimento de água. Sendo assim, 150.000 domicílios já possuem sistema de aquecimento
de água a Gás Natural. Este número comparado ao total de domicílios da Tabela 4.5 mostra o
grande potencial de expansão deste mercado somente na região estudada.
Desta maneira, será considerado para o Cenário C a substituição de mais uma
UTE pela implementação do Plano de Incentivo ao Aquecimento Residencial de Água a
Gás (PIARAG). Para verificação da quantidade necessária de aquecedores capaz de reduzir a
demanda de ponta em 568,5MW, são necessárias as seguintes considerações:
1 – Conforme parâmetros da CPFL (2004), a potência média de um chuveiro elétrico
será considerada como 4000W ou 4kW;
2 – Devido à dificuldade em se obter entre os agentes do setor elétrico um fator de
demanda para os chuveiros elétricos da população em estudo, será necessário estimá-lo
através de uma análise dos dados demográficos e de comportamento da região, conforme
descrito no capítulo anterior. Conforme a Tabela 4.5, os municípios nos quais será
implementado o PIARAG somam 5.512.893 domicílios. Considerando, conforme IBGE
(2000), a média de 4 habitantes por domicílio, temos então um total estimado de 22.051.572
habitantes. Estima-se ainda que esta população tome banho diariamente durante o período de
ponta, que vai das 17 às 22 horas conforme ONS (2003), e que o tempo de banho médio por
habitante seja de 10 minutos, como utilizado por CAMPOS (2004). Então, dividindo-se as 5
horas que dura o período de ponta em turnos de 10 minutos, teríamos 30 turnos de banho no
mesmo período. Dividindo-se então os 22.051.572 habitantes pelos 30 turnos, teríamos a
média de 735.052 banhos/turno. Este número representa aqui a quantidade média de banhos
simultâneos no período. Tal quantidade de banhos simultâneos multiplicada pela potência de
4kW da premissa anterior resulta na demanda média de 2.940,2MW no sistema elétrico
durante o período de ponta. No entanto, sabe-se que a quantidade de chuveiros ligados
simultaneamente varia no decorrer deste período. Sendo assim, é necessário ainda dividir o
68
valor estimado da demanda média pelo Fator de Carga (FC) dos chuveiros elétricos da
amostra. O FC representa a relação entre a demanda média de determinada carga e a demanda
máxima da mesma carga no período medido. Manipulando-se os valores de demanda
apresentados na Figura 2.9, que demonstra a influência dos chuveiros elétricos na ponta de
consumidores residenciais, chega-se a um fator de carga de 0,735. Desta maneira, a demanda
máxima atingida no período de ponta é de 4.000MW. A supressão desta demanda estaria bem
acima dos 2.800MW necessários para todo o estudo (UTEs indicativas do Plano Decenal). No
entanto, considerando que a adesão de 100% dos 5.512.893 domicílios ao aquecimento de
água a gás é uma hipótese praticamente inviável e que o plano inicialmente proposto é de
troca de apenas uma das UTEs de 568,5MW, para se atingir tal potência será necessária uma
adesão de 14,2% ao PIARAG. Assim, para a execução dos cálculos deste estudo, serão
considerados 783.520 domicílios, que representam a adesão de 14,2% dos 5.512.893
domicílios da população estudada.
3 – O modelo de aquecedor de passagem deverá possuir características de
aquecimento iguais às do chuveiro elétrico substituído.
Desta maneira, pode-se considerar que para substituir uma UTE de 568,5MW, é
necessária a substituição de chuveiros elétricos em 783.520 domicílios (NAQ).
A fim de substituir os chuveiros elétricos por aquecedores de passagem a gás, o
modelo de aquecedor mais popular encontrado no mercado tem as características conforme a
Tabela 4.6.
69
Tabela 4.5 – Domicílios com sanitário atendidos pela rede geral de água nosmunicípios escolhidos para troca dos chuveiros elétricos.
Município Domicílios com sanitário atendidospela rede geral de água e esgoto
São Paulo 2.604.766Osasco 127.984Barueri 43.945Carapicuíba 66.919Cotia 19.243Embu 30.600Taboão da Serra 44.409Santos 123.198Cubatão 13.231Jundiaí 82.875Campinas 241.826Sumaré 41.406Moji Mirim 20.668Mogi Guaçu 31.585Paulínia 11.565Indaiatuba 36.550Itu 31.799Sorocaba 128.126Americana 49.220Limeira 65.271Piracicaba 86.913Rio Claro 46.840São Carlos 45.241Araraquara 51.572Araçatuba 47.585Ribeirão Preto 138.521Bauru 86.770Santo André 167.501São B. do Campo 170.052São Caetano 43.174Diadema 90.503Mauá 74.664Guarulhos 220.091Mogi das Cruzes 66.062Suzano 38.219Poá 21.787Itaquaquecetuba 46.377São José dos Campos 128.850Jacareí 42.443Taubaté 60.328Guaratinguetá 24.214TOTAL 5.512.893
Fonte: IBGE (2000).
70
Tabela 4.6 – Características técnicas do Aquecedor de Passagem a Gás marcaLorenzetti, modelo L-8.
L-8Características Técnicas GN GLP GM*Potência nominal nas condiçõespadrão (kcal/min)
327 341 227
Potência nominal nas condições deensaio (kcal/min)
320 334 201
Rendimento sobre o P.C.S.(%) 85 80Vazão elevando a temperatura em20º C (l/min)
7,4 8,0
Tempo de acionamento da válvula desegurança para o acendimento (s)
1
Pressão mínima da água (mca) 2,6 a 3,8Pressão máxima da água (mca) 80Consumo nominal de gás natural(m³/h)
1,20 - -
Consumo nominal de gás GLP (kg/h) - 1,48 -Consumo nominal de gásmanufaturado (m³/h)
- - 3,00
Pressão do gás (mmca) 200 280 100Pilha para ignição (V) 2 unidades de 1,5V (tipo D)Preço médio no mercado (R$) 500,00
* Gás Manufaturado, obtido a partir do carvão betuminoso.Fonte: LORENZETTI
No entanto, mesmo sendo um dos modelos de menor vazão e potência encontrados,
este aquecedor excede às características necessárias para substituição de um chuveiro elétrico
de 4000W. Isto certamente representará um custo adicional desnecessário ao consumidor.
Mas para o cumprimento à premissa nº 5 estabelecida acima, será feita a extrapolação das
características do modelo L-8 para um protótipo capaz de cumprir as exigências do modelo de
estudo.
Conforme as instruções do capítulo anterior, será necessário extrapolar a potência
equivalente em kW, o consumo nominal de GN e o custo médio. Sendo assim, a fim de
verificar a potência elétrica equivalente do aquecedor L-8, tem-se que:
Consumo Nominal de GN (modelo L-8): 1,2m3/hPoder Calorífico Superior do GN (P.C.S.): 9400kcal/m3 = 10,932kWh/m3
Potência em kW: 10,932kWh/m3 x 1,2m3/h = 13,12kW
71
Rendimento sobre o P.C.S.: 85%Potência de saída do aquecedor: 13,12kW x 0,85 = 11,15kW
Mantendo-se então constante o Rendimento de 85% sobre o P.C.S. e aplicando-se
regra de três simples, tem-se os resultados apresentados na Tabela 4.7 abaixo.
Tabela 4.7 – Resultado da extrapolação do modelo de aquecedor para o Protótipo.
Modelo L-8 Protótipo
Potência de saída (kW) 11,15 4
Consumo nominal de GN(m³/h)
1,2 0,43
Preço médio (R$) 500,00 170
Custo de adequações civis(R$)*
100,00
Relação Cambial US$1,00 = R$2,50
* Custo estimado para instalação do aquecedor, tubulação de cobre e serviços em alvenaria,independe da potência do aquecedor.
É importante ressaltar aqui que os preços obtidos para o protótipo de aquecedor
acima são aplicáveis ao modelo matemático aqui proposto, não refletindo portanto uma
realidade de mercado. Embora o modelo de mercado acima possa ser utilizado com potência
reduzida a fim de simular as mesmas condições de potência do chuveiro elétrico, seu custo
atual inviabiliza tentativas de popularização deste produto. Acredita-se que seja possível, com
o desenvolvimento tecnológico em torno deste tipo de produto, uma aproximação do custo
aqui estimado para aquecedores populares no futuro.
Além dos dados obtidos acima, outros são necessários para os cálculos das funções
Consumo, Custo e Emissão a serem determinadas na modelagem deste cenário. Necessita-se
agora verificar os requisitos de expansão da rede de gás canalizado.
72
Para a concretização do atendimento a todos ou parte dos domicílios da Tabela 4.5 , é
necessário que se invista também na expansão das redes de distribuição de GN.
Em consulta a dados das redes existentes, verificou-se que, conforme dados de
GASNET (2004), havia naquele ano para os cerca de 450.000 consumidores residenciais de
GN no estado de São Paulo, pouco menos de 4000km de redes construídas pelas respectivas
concessionárias. Esta informação somada à relação entre a expansão anual de rede e os novos
clientes atendidos ao longo dos últimos anos conforme COMGÁS (2004), leva-nos a concluir
que são necessários em média 1000km de extensão de rede para atender a 100.000 novos
clientes. Desta maneira, considerando que haja 450.000 clientes já atendidos na região em
estudo, para se chegar a cerca de 800.000 (783.520 domicílios) são necessários cerca de
350.000 novos clientes, necessitando portanto de 3.500km de redes. É importante ressaltar
que esta regra de proporcionalidade foi aplicada para que o presente modelo de estudo possa
estimar a expansão necessária da rede encanada de Gás Natural, não refletindo as
necessidades reais do sistema para que seja atingida esta meta de clientes residenciais.
Tabela 4.8 – Premissas para expansão da rede de distribuição de GN em cumprimentoao PIARAG.
Número de domicílios a sofrer substituição dechuveiros elétricos 783.520 Dom.
Tempo médio de banho por domicílio40min. (0,666horas)
Expansão necessária de rede por 100.000 clientes1.000Km
Nº de novos clientes350.000 clientes
Expansão necessária total da rede3.500Km
Custo unitário de expansão de gasodutoUS$ 15,00/m*pol.
Bitola média da rede urbana de GN3 pol.
Fontes: IBGE (2000), GASNET (2004), COMGÁS (2004) e MENDES (1996).
73
Desta maneira, para o cumprimento do PIARAG incluindo a expansão da rede de
distribuição de GN, serão consideradas as premissas resumidas na Tabela 4.8.
Os dados apresentados na Tabela 4.8 são também suficientes para a estimativa da
parcela do Custo de Investimento referente à expansão da rede de distribuição de Gás.
Uma vez montados todos os cenários e estabelecidos todos os parâmetros para a
execução dos cálculos referentes a cada um deles, passa-se aos cálculos das funções a serem
analisadas: Consumo Diário de GN, Custo de Investimento e Emissão Diária de CO2.
4.2. CÁLCULO DAS FUNÇÕES POR CENÁRIO
Com base nos dados gerais e específicos apresentados acima serão calculados a
seguir os valores das funções Consumo Diário, Custo de Investimento e Emissão Diária de
cada Cenário.
4.2.1. Cenário A
Em função da definição de atendimento à demanda de 2.800MW através de 5 UTEs
pré-definidas no Cenário A, tem-se:
Consumo Diário
CDGTC = 5 x 568.500 kW x 0,5 x 24 x 6060 x 1/37.381 = 5.529.723,65m³
CDG = CDGTC = 5.529.723,65m³
Custo de Investimento
CIGTC = 5 x [214,890,000 + 10,000,000 + 10,000,000 + (15x10x5.000)] =
US$1,178,200,000
CIG = CIGTC = US$1,178,200,000
Emissão Diária
74
EDGTC = 5.529.723,65m³ x 3,941*10-5 x 0,05582 (Tabela 2.4) = 12,164Ton.
EDG = EDGTC = 12,164Ton.
4.2.2. Cenário B
Em função do atendimento à demanda de 2.800MW por 4 UTEs e 21 Centrais
Cogeradoras no Cenário B, tem-se:
Consumo Diário
CDGTC = 4 x 568.500 kW x 0,5 x 24 x 6060 x 1/37.381 = 4.423.778,92m³
CDCI = 21 x 27.500 kW x 0,5 x 24 x 8299 x 1/37.381 = 1.538.537,49m³
CDG = CDGTC + CDCI = 5.962.316,41m³
Custo de Investimento
CIGTC = 4 x [214,890,000 + 10,000,000 + 10,000,000 + (15x10x5.000)] =
US$942,560,000
CICI = 21 x (12,567,173 + 500,000) = US$274,410,633
CIG = CIGTC + CICI = US$1,216,970,633
Emissão Diária
EDGTC = 4.423.778,92m³ x 3,941*10-5 x 0,05582 (Tabela 2.4) = 9,732Ton.
EDCI = 1.538.537,49m³ x 3,941*10-5 x 0,05582 (Tabela 2.4) = 3,385Ton.
EDG = EDGTC + EDCI = 13,116Ton.
4.2.3. Cenário C
Em função do atendimento à demanda de 2.800MW por 3 UTEs, 21 Centrais
Cogeradoras e a adesão ao PIARAG de 783.520 domicílios no Cenário C, tem-se:
Consumo Diário
CDGTC = 3 x 568.500 kW x 0,5 x 24 x 6060 x 1/37.381 = 3.317.834,19m³
75
CDCI = 21 x 27.500 kW x 0,5 x 24 x 8299 x 1/37.381 = 1.538.537,49m³
CDARA = 1.064.912 x 0,43 x 0,666 = 224.384,46m³
CDG = CDGTC + CDCI + CDARA = 5.080.756,14m³
Custo de Investimento
CIGTC = 3 x [214,890,000 + 10,000,000 + 10,000,000 + (15x10x5.000)] =
US$706,920,000
CICI = 21 x (12,567,173 + 500,000) = US$274,410,633
CIARA = 15 x 3.500.000 x 3 + 783.520 x (170 + 100) x 1/2,50 = US$242,120,160
CIG = CIGTC + CICI + CIARA = US$1,223,450,793
Emissão Diária
EDGTC = 3.317.834,19m³ x 3,941*10-5 x 0,05582 (Tabela 2.4) = 7,299Ton.
EDCI = 1.538.537,49m³ x 3,941*10-5 x 0,05582 (Tabela 2.4) = 3,385Ton.
EDARA = 304.969,50m³ x 3,941*10-5 x 0,05582 (Tabela 2.4) = 0,494Ton.
EDG = EDGTC + EDCI + EDARA = 11,178Ton.
4.3. ANÁLISE COMPARATIVA DOS CENÁRIOS
De posse de todos os números referentes a cada cenário, prossegue-se com o
preenchimento da Tabela Comparativa, abaixo.
Tabela 4.9 – Tabela Comparativa de Cenários.
Consumo Diário(m³)
Custo deInvestimento (US$)
Emissão Diária(Ton)
Cenário A 5.529.723,65 1,178,200,000 12,164
Cenário B 5.962.316,41* 1,216,970,633 13,116
Cenário C 5.080.756,14 1,223,450,793 11,178
76
Observa-se que, em consequência do rendimento dos conjuntos escolhidos para a
modelagem, há um aumento no Consumo Diário do Cenário A para o Cenário B. No entanto,
é importante ressaltar que o consumo diário nos cenários B e C é suficiente para, além de
atender à demanda de 2.800MW, gerar ainda 30Ton/h de vapor para cada uma das 21 centrais
cogeradoras consideradas. Sendo assim, considerando-se hipoteticamente que o atendimento
de vapor no Cenário A seja feito através da queima de GN, para a comparação do consumo
diário entre os cenários considerando produtos finais idênticos (2.800MW + 30Ton/h de
vapor), aplica-se a correção abaixo através das equações 3-13 e 3-14 apresentadas no capítulo
anterior:
CDCAL = NCC x CUGNC x FC x 24
CDCAL = 21 x 2.345* x 0,5 x 24 = 590.940m³ diários de GN
* Consumo Unitário da caldeira Aalborg modelo M3P-30, conf. AALBORG (2004).
E também:
CDCGTC = CDGTC + CDCAL
CDCGTC = 5.529.723,65 + 590.940 = 6.120.663,65 m³/dia
Sendo assim, ao se aplicar os novos valores à Tabela Comparativa, temos a Tabela
4.10, com resultados finais em energia elétrica e vapor iguais para os três cenários.
Tabela 4.10 – Tabela Comparativa de Cenários Corrigida (resultado: 2.800MW +30Ton/h de vapor).
Consumo Diário(m³)
Custo deInvestimento (US$)
Emissão Diária(Ton)
Cenário A 6.120.663,65 1,178,200,000 13,464
Cenário B 5.962.316,41 1,216,970,633 13,116
Cenário C 5.080.756,14 1,223,450,793 11,178
77
Observa-se agora uma redução do Consumo Diário à medida em que se vai do
Cenário A para o Cenário C. Há duas explicações para este fato. Primeiramente, foi
considerado o ganho no rendimento da transformação direta do GN em calor. Ressalta-se que
não foi calculado um rendimento único que representa a soma do rendimento elétrico com o
rendimento em calor, pois tal consideração somente pode ser abordada com base no conceito
de exergia, que não foi motivo de estudo neste trabalho. No entanto, nota-se ainda assim que
para se chegar ao mesmo resultado na geração de EE e vapor, a inclusão da cogeração traz
melhor aproveitamento do GN consumido. Há também no Cenário C uma pequena distorção
causada pelo fato de que a UTE substituída pelos Aquecedores funcionava com Fator de
Capacidade em 50% (equivalente a 12 horas/dia), enquanto os aquecedores trabalhavam
somente no horário de ponta (equivalente a 5 horas/dia). No entanto é importante lembrar que
o maior rendimento garante ao aquecedor um menor consumo unitário de GN em m³/kWh
gerado ou economizado.
O Custo de Investimento sofreu um aumento do Cenário A para o B. Isto se explica
pelo fato de que as tecnologias escolhidas para Geração Termelétrica e Cogeração são
praticamente as mesmas, diferindo apenas no rendimento térmico. Já para o Cenário C, há um
aumento mais significativo no Custo de Investimento, puxado pela parcela de investimento
em expansão da rede de gás encanado. É importante ressaltar aqui que, conforme dados da
SERHS (2005) as redes canalizadas de GN no estado de São Paulo têm tido expansão média
de 10% ao ano. A extrapolação desta taxa permitiria estimar que os 3.500km adicionais de
rede necessários dentro deste estudo seriam atingidos em menos de 10 anos. Isto significa
que, com um plano de antecipação de metas somado ao PIARAG, seria possível atingir a meta
de expansão da rede através dos mecanismos de financiamento hoje utilizados pelas
distribuidoras, sem que este fosse considerado um ônus à parte, como neste estudo. Tal
78
hipótese teria grande impacto na comparação dos cenários. Para verificar quanto esta
consideração afeta na análise até aqui, destaca-se que a eliminação da parcela de investimento
em rede de GN do Custo de Investimento em Aquecimento Residencial de Água do Cenário
C, deixa o Custo de Investimento Global deste cenário em US$1,065,950,793, o qual passaria
a ser o menor dentre os três cenários.
Analisando as emissões de CO2, confirma-se que quanto mais se favorece a queima
do GN em processos com alto rendimento, menor a quantidade emitida de Gás Carbônico na
atmosfera. Cabe aqui uma outra análise: a implantação, em uma segunda etapa, de
aquecedores solares mantendo os aquecedores de passagem a GN como sistemas de
complementação traria um substancial ganho na emissão de CO2, podendo no futuro ser
subsidiada pela comercialização de Créditos de Carbono.
É importante também mencionar aqui o fator dispersão dos poluentes emitidos. No
Cenário A há a concentração em 5 pontos de emissão representados por cada UTE. Já no
Cenário B um dos pontos (UTE) dá lugar a 21 novos pontos de emissão, supostamente
espalhados em uma área muito maior. No Cenário C observa-se a melhor das opções, quando
mais uma UTE dá lugar a 783.520 domicílios espalhados pelo estado, trazendo um impacto
muito menor na concentração da emissão. Além disso, certamente a obtenção de licenças
ambientais cai drasticamente à medida em que trocam-se os cenários, pois a percepção da
sociedade é bem diferente quando se compara a emissão de CO2 por uma UTE com a mesma
emissão por milhões de domicílios. Por outro lado, do ponto de vista da região em que se está
aumentando a emissão, ainda que de forma dispersa, está havendo uma grande emissão em
área urbana, uma vez que o plano se desenvolve nas regiões mais desenvolvidas e habitadas
do estado, merecendo uma análise mais aprofundada de suas vantagens e desvantagens.
79
A fim de observar melhor as diferenças entre os usos do GN, serão incluídos abaixo
cenários secundários, simulando uma substituição mais arrojada de UTEs por cogeração e
aquecimento residencial de água. Criam-se agora:
Cenário B’ – Derivado do Cenário B, no entanto considerando a troca de duas UTEs
por 42 Centrais de Cogeração, configurando-se 3 UTEs + 42 C. Cogeradoras.
Cenário C’ – Derivado do Cenário B’, porém considerando a troca de mais duas
UTEs por uma adesão de 28,4% ao PIARAG, configurando-se 1 UTE + 42 CCs + 1.567.040
domicílios aderindo ao PIARAG.
É necessário ainda revalidar a viabilidade técnica da substituição conforme os novos
parâmetros acima. Portanto, referindo-se à cogeração, pode-se observar que a nova
quantidade de 42 centrais cogeradoras ainda é viável reportando-se novamente à Tabela 4.4,
que apresenta potenciais de aproveitamento da cogeração em 2013 ainda muito superiores.
Para o aquecimento residencial de água, a nova meta traduz-se no aumento da adesão
ao PIARAG de 14,2% para 28,4%, meta que, embora seja mais ousada, é ainda viável.
Atenção especial deve ser dada para as necessidades de expansão da rede de gás canalizado
neste novo cenário, pois partindo-se de 450.000 clientes hoje existentes a nova meta é atingir
1.567.040 clientes, necessitando 1.100.000 novos clientes, portanto 11.000Km de novos
ramais urbanos de rede de GN.
Com todas estas considerações, utilizando-se as equações já apresentadas e
aplicando-se novamente a correção para entrega de EE e vapor em todos os cenários, chega-se
à Tabela 4.11. Destacam-se nesta nova comparação as diferenças mais significativas entre os
parâmetros calculados para cada cenário.
80
Tabela 4.11 – Tabela Comparativa de Cenários Corrigida com Cenários Secundários.
Consumo Diário(m³/dia)
Custo deInvestimento (US$)
Emissão Diária(Ton/dia)
Cenário A 6.711.603,65 1,178,200,000 14,764
Cenário B’ 6.394.909,17 1,255,741,266 14,068
Cenário C’ 4.631.788,91 1,448,701,586 10,190
Comprova-se também a grande contribuição à redução de consumo de GN e de
emissões quando se substitui mais UTEs por outros usos. Esta tendência se acentua ainda
mais na passagem do Cenário B’ para o Cenário C’. Dados a grande influência do
aquecimento de água através de chuveiros elétricos no sistema elétrico e o alto rendimento
desta transformação a partir da queima do GN, acredita-se aqui que esta opção deva ser
levada em conta no planejamento dos setores elétrico e do GN.
Apresentando-se as curvas de variação do consumo em forma de gráfico a partir das
Tabelas 4.9, 4.10 e 4.11, observa-se de maneira mais clara a contribuição ao consumo de GN
que se traz com a consideração de um “mix” cada vez mais variado de usos do gás no qual se
incluem transformações com alto rendimento. Estas informações podem ser observadas na
Figura 4.2.
81
Figura 4.2 – Gráficos comparativos de consumo de GN – comparação real de cenários,comparação corrigida e comparação de cenários secundários corrigida.
Comparativo de Consumo Diário de GN - Cenários A, B e C - Prev. Real (m³/dia)
3.000.000,00
3.500.000,00
4.000.000,00
4.500.000,00
5.000.000,00
5.500.000,00
6.000.000,00
6.500.000,00
7.000.000,00
Cenário A Cenário B Cenário C
Comparativo de Consumo Diário de GN - Cenários A, B e C - Corrigidos (m³/dia)
3.000.000,00
3.500.000,00
4.000.000,00
4.500.000,00
5.000.000,00
5.500.000,00
6.000.000,00
6.500.000,00
7.000.000,00
Cenário A Cenário B Cenário C
Comparativo de Consumo Diário de GN - Cenários A, B' e C' - Corrigidos (m³/dia)
3.000.000,00
3.500.000,00
4.000.000,00
4.500.000,00
5.000.000,00
5.500.000,00
6.000.000,00
6.500.000,00
7.000.000,00
Cenário A Cenário B’ Cenário C’
82
CAPÍTULO 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1. CONCLUSÕES
O estudo demonstra que há espaço nos mercados tanto do GN quanto da EE para o
desenvolvimento de todas as alternativas estudadas, pois todas elas têm argumentos técnicos a
seu favor e um potencial ainda não desenvolvido. Além disso, o mercado de consumo do Gás
Natural encontra-se em franco desenvolvimento.
Já foram estudados e comprovados os benefícios da cogeração no que diz respeito ao
bom aproveitamento energético que esta transformação possui e também quanto à sua
contribuição para a geração distribuída e conseqüente alívio de curto prazo trazido para os
sistemas de transmissão. Esta opção tem sido incentivada e favorecida, haja visto sua inclusão
no PPT e no PROINFA (cogeração movida a biomassa) entre outras iniciativas. No entanto,
há ainda entraves principalmente de ordem econômica resumidos aqui ao custo de
investimento que em muitos casos fica a cargo da indústria, ao custo do GN, ainda restritivo
para a competitividade desta opção em relação à compra de EE da maneira convencional, e ao
preço estabelecido no PROINFA para compra desta energia, considerado muito baixo pelos
agentes deste setor. Ainda assim esta modalidade de geração tem crescido e espera-se que
possa experimentar taxas de crescimento menos tímidas no futuro.
A consideração da mudança de um modelo de aquecimento residencial de água
através de chuveiros elétricos para um novo modelo fazendo uso do GN, seja através da
implantação do PIARAG aqui proposto ou mesmo de outras iniciativas, demonstra seus
benefícios. No entanto, é importante ressaltar no entanto que a dificuldade em se obter
aquecedores de passagem com modelos e principalmente preços mais populares ainda se
constitui em uma grande barreira para o desenvolvimento do aquecimento residencial de água
83
a gás. Como já mencionado por MORAES (2003), além de uma barreira econômica, trata-se
de uma barreira cultural, o que torna um grande desafio o sucesso de qualquer plano de
incentivo a esta mudança. Ainda para o aquecimento residencial de água, o custo de expansão
de redes urbanas de gás também concorre contra esta alternativa. No entanto, como já
abordado no item anterior é natural que as distribuidoras de GN continuem desenvolvendo
suas redes na busca de novos clientes residenciais, comerciais e industriais, de maneira que o
custo deste investimento continuará sendo amortizado pelo repasse de tarifas a todos os
clientes, não somente pelos residenciais. Conclui-se por fim que mesmo demonstrando suas
vantagens energéticas, o sucesso do PIARAG aqui proposto depende da superação das
barreiras acima discutidas.
Embora do ponto de vista do setor elétrico a transformação cultural de aquecimento
de água de chuveiros elétricos para aquecedores a gás tenha efeito singular, ou seja, uma vez
trocados os chuveiros elétricos este uso passa a não ser mais observado como sendo do setor
elétrico, para o setor do GN a análise é diferente. Ao se priorizar o uso do GN no aumento da
geração elétrica em detrimento da redução da demanda em eletricidade, está se fazendo uso
do GN com maior desperdício para atingir praticamente o mesmo objetivo ao longo dos anos.
Certamente para o setor elétrico a presença da geração termelétrica no SIN tem
outras razões muito mais importantes de ser do que apenas gerar mais energia elétrica a ser
utilizada entre outros setores no residencial, particularmente na alimentação dos chuveiros
elétricos. No entanto, é importante a consideração de todas as possibilidades de uso do GN
aplicado à eletricidade já na fase do planejamento dos setores a fim de se atingir um ponto de
equilíbrio que seja benéfico para o país como um todo.
Retornando aos conceitos de DS e PIR, pode-se também concluir que a valorização
de transformações diretas de GN em calor, com alto rendimento, são sempre favoráveis ao
Desenvolvimento Sustentável, uma vez que contribuem para a economia e maior durabilidade
84
das reservas de GN. Além disso, maior economia significa menor volume de emissões no
mesmo espaço de tempo, o que também contribui para a melhor dispersão e reabsorção dos
poluentes pela natureza.
Em se falando do Planejamento Integrado de Recursos, como mencionado no início
deste trabalho, o mesmo não teve a intenção de ser uma aplicação do PIR ao caso do GN na
eletricidade, até pela complexidade de agentes e abordagens que tal análise exigiria. No
entanto, não deixa de ser um exercício que poderá auxiliar na montagem de uma Carteira de
Recursos com vistas a uma aplicação do PIR no planejamento integrado dos Setores de Gás
Natural e Energia Elétrica, que certamente incluiria os usos do GN aqui estudados em
abordagens semelhantes.
5.2. ITENS PARA DESENVOLVIMENTO FUTURO
Em complementação ao trabalho aqui apresentado, sugere-se a inclusão de outras
análises a fim de destacar a importância da diversificação do uso do GN em seus usos
relacionados à eletricidade, e de se priorizar aqueles usos que proporcionam sua
transformação direta em calor, finalidade para a qual seu rendimento é máximo.
Sugere-se para desenvolvimento futuro, aplicar a este estudo uma análise de custos
mais completa, considerando os tempos de ciclo de vida para cada tecnologia em um
horizonte de tempo comum. Considerando também, além dos custos de investimento, os de
operação e manutenção, do combustível, taxas de interconexão e transmissão de eletricidade,
entre outros.
As considerações feitas neste estudo acerca do Fator de Capacidade considerado para
as gerações termelétrica e cogeração foram importantes para a realização do estudo do modelo
matemático aqui proposto. No entanto, o valor a ele atribuído tem um grau de imprecisão
85
elevado. Considerando-se a atual conjuntura do setor elétrico, tal valor não reflete com
fidelidade o que se tem observado nas UTEs de ciclo combinado em operação no país. Para
uma análise em que sejam levados em conta os custos completos do empreendimento (análise
de viabilidade técnico-econômica) é necessário que esta consideração seja melhor estudada a
fim de se obter fatores de capacidade mais precisos, que possam dar suporte a eventuais
decisões de investimento com segurança.
Outra característica interessante a ser explorada seria a consideração de UTEs em
ciclo simples, que possuem custo de investimento inferior e que são consideradas por alguns
estudiosos como mais apropriadas para uso em complementação térmica, como é proposto no
atual modelo do setor elétrico. Caberia aí também, a consideração da utilização de outros
combustíveis como óleo diesel, óleo combustível em tais UTEs, liberando o GN para usos
mais nobres (gás-química, entre outros), uma vez que, operando em complementação térmica,
as UTEs poderiam trabalhar com fatores de capacidade baixos, o que resultaria em uma
menor taxa de poluentes emitidos.
Com referência à substituição de chuveiros elétricos, sugere-se que seja melhor
desenvolvido o plano de ação aqui introduzido, a fim de se aproximar o trabalho de uma
proposta viável á sociedade e aos agentes envolvidos. Entre as opções de aperfeiçoamento,
sugere-se aprofundar o estudo em torno da integração dos sistemas de aquecimento a gás com
sistemas solares, que possuem grande potencial de utilização no Brasil devido à sua
característica de país tropical.
Espera-se que as proposições acima, aliadas a outras sugestões que possam ser feitas
futuramente, sejam úteis à continuação deste estudo ou à elaboração de outras abordagens dos
assuntos aqui tratados, pois a utilização do GN como energético, especificamente na
eletricidade, é uma realidade que deve ser conduzida com responsabilidade na busca do
desenvolvimento sustentável.
86
CAPÍTULO 6. REFERÊNCIAS
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