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@re_vira_voltaUma Experiência em Twitteratura

André Lemos

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Apresentação

Primeira experiência de literaturasequencial, como uma novela, viaTwitter no Brasil, @re_vira_volta conta ahistória de um personagem que se vêdesaparecendo dos bancos de dadoseletrônicos que comandam a vidasocial. A narrativa cruza referências ecitações da literatura (Paul Auster, T.S.Eliot, S. Mallarmé, P. Verlaine, S.Beckett, J. L. Borges, C. Baudelaire) eda música (R.E.M, P. J. Harvey, LouReed, Pink Floyd). A ficção se inspiraem três eixos: 1. a discussão sobre olivro do futuro, ou o fim do livro; 2. osmecanismos de controle,monitoramento e vigilância, e 3. amemória e a existência fragmentada nasociedade informacional do século XXI.

A narrativa foi construída em duascontas no Twitter: @re_vira_volta e@re_viravolta (que podem ser vistasonline em http://twitter.com/re_vira_voltae http://twitter.com/re_viravolta). Aprimeira conta é o eixo central dahistória que remete, de tempos emtempos, à segunda. Essa,@re_viravolta, configura-se como umaespécie de diálogo com o leitor, comoum alter - ego do narrador (em negritono texto). Aqui aparecem imagens,sons, fotos, links. Nesta versãoimpressa há pequenas correções eajustes no texto, mas a maior parte é aque apareceu originalmente no Twitter.

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Os capítulos do @re_vira_volta forampublicados uma vez por semana, aossábados (e às vezes aos domingos),começando no dia 27 de junho de 2009e terminando no dia 27 de junho de2010. Quase sempre a escrita doscapítulos se dava no mesmo momentode sua publicação, quase que emtempo real e desde vários lugares(Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro,Victoria – Canadá, entre outros). Osigno “&” no início de cada frase foi umrecurso utilizado no Twitter paraidentificar a ficção. Resolvemos mantê-lo na versão e-book pela sua funçãoestética e por fazer parte da economiasimbólica dos 140 caracteres máximosexigidos em cada “post” no Twitter. Emquase todas as frases, há exatos 140caracteres (incluindo os espaçosvazios). As fotos desse livro foramadicionadas depois. Todas foramtiradas e editadas pelo autor. Elas têmalguma relação com o que se passa nanarrativa, sendo uma espécie deequivalente visual da história escrita noTwitter.

@andrelemos

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Créditos

Texto e Fotos – André Lemos

Foto da Capa – André Lemos

Revisão para e-book – Diego Brotas,Paulo Victor Sousa, Thiago Falcão

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Para @bernardoflemos

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I

& 20h. Deitado no chão olha o teto revêo dia. Como um filme. Sempre foipróximo das pessoas e lutava contra ovazio e a solidão. Até agora.

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II

& Gostava de manter distância dascoisas, de andar só. A cidade era o seuhabitat. Ultimamente, como umpresságio, se sentia dando voltas...

& Deslocamentos inúteis. Nada mais seencaixa no seu mundo das coisasprecisas e claras. Seriam já ospresságios da reviravolta que chegava?

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III

& Sua vida era muito comum. Semprechovia nesta parte do mundo. Descia osdegraus dos dez andares correndo e sóparava na entrada do metrô.

& Pegava habitualmente o primeiro tremsem muita preocupação em saber ondedescer. O fazia sempre algumasestações depois... nunca a mesma.

& Nunca com a mesma frequência. Ometrô era um jogo, um portal mágico.Buscava, ao acaso, um sinal quedissesse: é aqui que você deve descer.

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IV

& Os sinais eram os mais esdrúxulospossíveis: a entrada de um músico, oude um pedinte, uma pessoa escolhidapara guia, que saia seguindo.

& E seguia até se cansar. Podia sertambém um som estranho vindo daestação ou mesmo uma imagempublicitária qualquer. Estava sempreatento.

& Descia a passos largos e corria sobas marquises para evitar os grossos egélidos pingos. Falhava e molhava. Opercurso começava sempre...

& ...nas sombras do subterrâneo emmeio ao barulho das máquinas,ofuscado pelas luzes artificiais, no ritmodo acaso e da pressa dos outros.

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V

@re_viravolta - & Aí você olha paraele, mas não emite nenhum som.Fecha os olhos, respira fundo eouve aquela música que vem delonge. E longe ele já está.

@re_viravolta - & O mundo lá foraera ainda mais assustador. Nacorreria esbarrou em você na rua eas gotículas de chuva sedesmancharam no chão. Fome, dor?

& De repente, como uma dor aguda, selembrou dos motivos dessa@re_viravolta. Antevia asconseqüências, mas não as causas. Ador era fome.

& Corria, mesmo sem pressa. Aospoucos apagava os espaços vaziosentre as coisas. Parava, via os detalhes.Mas o dia continuava estranho...

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VI

@re_viravolta – & E quais, na suaopinião, seriam os motivos quelevariam alguém a romper com tudo:uma dor, um amor? É possívelmudar sem um agravante?

@re_viravolta – & Mas mudara? Ossons eram os mesmos, tudo comosempre: algum movimento, vozes epassos ao fundo. Ele sendo. Ouça:http://tinyurl.com/lcbpoo

& A estranheza do dia só se afastariadele com o tempo, ou mesmo pela obrado acaso. Olhou para cima e viu asgotas caindo. Baixou a cabeça.

& Então veio à tona @re_viravolta!Percebia que estava diferente, perdidoem meio às gotas que pareciam nãotocá-lo. Tornou-se inatingível.

& Tinha a impressão de vagar por entrecorpos imobilizados. Tudo parado. Eleera a única coisa que se movia. Semsaber, era ele o fantasma.

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VII

& Ele era um duplo, um clone de simesmo. Mas só entendeu isso agora.Teria que se acostumar com a idéia deque não era quem pensava ser.

& Um erro (teria sido mesmoproposital?) nos bancos de dadosrevela que ele era um outro. Dadosbinários vazando como água de umcano velho

& impregnam sua consciência comoamarga ferrugem. Porém, tinhalembranças vivas que não foramforjadas, mas marcadas no corpo comocicatriz.

@re_viravolta - & Parece-te que elese desmancha enquanto anda, quedesaparece ao se aproximar.Assusta-te a proximidade. Umarrepio percorre teu corpo.

@re_viravolta - & O olhar vazio dele,desfocado, cruzando o seu.

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VIII

& Lembrava dos vivos e mortos, dosmomentos de infância. Vagando emmeio às gotas de chuva, parou emfrente ao cemitério e decidiu entrar.

& O frio e o cinza, contrariamente aoque seria normal, davam-lhe umaalegria melancólica, um certo prazeraliado a pensamentos incertos.

& Aqui, onde corpos famosos estavampara sempre imobilizados, não haviamais @re_viravolta. Como o gato deSchrödinger, estava vivo-morto.

& Estava "in between", era uma onda-partícula perdido em um turbilhão desensações. Teria que renascer.Molhado, entretanto, se sentia vivo.

@re_viravolta – & e olhava tumbashttp://picasaweb.google.com/lh/photo/8e6m96-WqyCRLSAOhloGag?authkey=Gv1sRgCKTNrYnBqp2vkgE&feat=directlink

@re_viravolta - & e mais tumbashttp://picasaweb.google.com/lh/photo/iK_IBv0zJJz9hAT1ZTzzrg?authkey=Gv1sRgCKTNrYnBqp2vkgE&feat=directlink

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IX

& Embora perdido com a situação,nada justifica a pressa, a impaciência, oestado de nervos e o desespero emque se encontrava: Morto-vivo.

& Via as paredes imponentes de tijolosaparentes e a água escorrendo: Pontoscomo em um quadro impressionista.Era belo o reino dos mortos.

& Encostado no muro molhou as costas.Olha para cima e deixa as gotas caíremem seus olhos abertos, tornando omundo colorido e duplicado.

& Engoliu a saliva, respirou fundo esentiu o cheiro da terra molhada e dasflores ofertadas aos mortos. Viver é irpara a morte e esquecer.

& Viver era agora encarar a morte elembrar. Não ainda a morte deste corpopesado, mas a morte simbólica do seuduplo que não era mais ele.

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X

& O objetivo agora que achar umasolução rápida para a sua duplicidadesem sentido. Passou pelas alamedasdo cemitério buscando uma saída.

& Tinha que sair logo dali. No caminhoparou diante de um grafite que nãopercebera na entrada. Pensou se eleteria sido escrito agora.

& Simples e direta, a frase era irônica eincisiva, dirigida aos mortos e àquelesque os visitam. E provocou nele umarrepio: are you real?

& Sim, era para ele. Compreendiaentão que não entrara neste lugar dosmortos por acaso. Teria sido umcolapso em infinitas possibilidades?

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XI

& O grafite só faz sentido em nívelabstrato. Mas para ele, duplicado, fazialiteralmente. Passa tenso pela saída,como se fosse invisível.

& Tirou do bolso do casaco o livro. Lialentamente. P. Auster escrevia: A hereexists only in relation to a there, not theother way around.

& Possibilidades transformadas emneuropeptídios que bombardeiam asnossas células, dando-lhes umaconsciência, uma memória - umarealidade?

& A memória vai se perpetuar impressano código genético, transformando asafetações do corpo com o mundo,provocando emoções e percepções.

& E são essas emoções que vãomarcar a nossa existência agora, aqui,atualizada nesse mesmo instante. Afrase poderia então fazer sentido?

& Real? Aqui e lá? Tudo se constrói porrelações de possibilidadesengendradas nos nossos cérebros,sentidas e processadas pelohipotálamo?

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XII

& A dor da fome voltou. Tinha que saciá-la agora. Entrou em um bar e pediu umsanduíche e um café. Pleno, o corpolutava contra a entropia.

& Estava cansado, mas revigorado.Começava a colocar as idéias emordem, a pensar em uma estratégiapara reconquistar sua própria história.

& Compreendeu que para que issoacontecesse deveria começar aabandonar a alma das ruas. Não havianada lá para ele. Onde estaria asolução?

& Murmurou no último gole de café: “nãoquero mais saber do mundo lá fora.Venta e o barulho me incomoda. Ascoisas não são o que parecem.”

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XIII

& Parece que estamos no fim domundo, mas o mundo não tem fim;parece que estamos começando umanova guerra, mas elas nunca terminam;

& Parece que a mídia irá colocar aspessoas em contato, mas elas nunca seencontrarão; parece que estamosmorrendo, mas apenas renasceremos.

& Abandonou displicentemente a xícarano balcão. Com o gosto amargo naboca, parou de pensar nas aparênciasdas coisas e clicou na agenda...

& "ah, a @re_viravolta não estava naminha agenda". Mas agora não tinhamais como escapar. Olhou em volta emais uma vez os olhos se cruzam.

@re_viravolta - & Se tudo parece oque não é, o que ele poderia pareceragora, cercado de tantas dúvidas?Que imagem especular suaaparência concretiza?

@re_viravolta - & Isso está ficandocircular, duplicado, redundante ou ésó impressão do tempo que insisteem não passar, que se perpetua naduração?

@re_viravolta - & Qual o motivo queo fez entrar naquele bar que te traztantas lembranças e te transportapara um tempo em que você era feliz

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e leve?

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XIV

& A chuva continuava fina e o frioaumentava gradativamente com opassar das horas. Ele não conseguia semover. Olha a agenda mais uma vez.

& Buscava os nomes, mas gostaria deesquecê-los. Todos, a começar peloseu, que não era mais bem o seu.Nomes, eles eram importantes agora.

& Na agenda, Eliot: E a justa ação seráLivrar-se do passado e do futuro. Para amaioria de nós, este é o alvo Que aquijamais se alcançará.

@re_viravolta - & Você, aqui, agora,está cumprindo o horário de suaagenda? Fazendo uma leitura útil?Pensando no passado ou no futuro?Qual se realizará?

@re_viravolta - & ou encontra aquiou lá - nessa leitura ou em outra, enão nessa minha pobre e curtaescrita - o seu estilo de vida? Nomesque consumimos?

& Precisava dos nomes familiares, ligarpara alguém, conversar, checar se omundo ainda se mantinha lá fora ou setudo havia se desmanchado.

& Mais um clique na agenda: "O tempoé um problema para nós, um terrível eexigente problema, talvez o mais vital...;a eternidade, um jogo”

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& Chega, disse. O acaso desvia osdestinos e tira do foco o determinismodas certezas. Precisava de certezas. Ialigar para o primeiro nome.

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XV

& Ligou para A. O telefone tocou e umavoz do outro lado responde: “oi, é você?onde você está? Tá me ouvindo?”Estava mudo, olhava o nada.

& Seria isso? Cultivar a lembrança semnostalgia? Passar o dia vivendo nopresente? Lembrar que todo instante éao mesmo tempo três. Longe.

& Viu um avião rasgando a atmosfera ese despregando da gravidade.Pensava, com o telefone na mão, nacurvatura do tempo e do espaço. Longe.

& O avião, pesado, não quer sedesvencilhar da gravidade. Se acelerarmuito sai pela tangente, se desprega ese perde no espaço sideral.

& O espaço-tempo. Alô? A ligação jáhavia caído. Como o avião, ele evita sedesprender da gravidade e retorna àcurva do espaço terrestre.

& O avião aceita a curvatura da Terra.Compreende o peso e a inércia. Aceitao destino e volta a planar suave etranquilo sobre o céu azul. 1

& Olha o telefone, a agenda. Não ouve aresposta de A. Liga de novo. Ocupado.Passa ao outro nome. B. Desligado.Pousa, não voa mais. Longe.

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XVI

& Liga para C e cai na secretáriaeletrônica: Não posso atender agora,não tenho tempo. O tempo é oproblema, terrível e exigente problema.

& Antes de terminar a gravação desliga.Passa para d, e, f, g... L, L.A., hesita.Sem pensar muito aperta a tecla e vê afoto de L.A. rindo.

& “Sou eu (?), pode falar? Estouperdido. Descobri coisas incríveis queme fazem ser outra pessoa. Não, não tôbrincando. É sério. Alô?"

& “hum”, responde L.A., sem dar muitaimportância. “olha, estou com sériosproblemas e preciso conversar comalguém, checar algumas coisas."

& “hum”, responde. Silêncio na linha.Parece uma eternidade. Borges:Noturno, o rio das horas flui de seumanancial, que é o amanhã eterno.

& Estou em meio a uma @re_viravolta epreciso de sua ajuda. Estou perdido,mais no tempo do que no espaço. Sópreciso confirmar umas coisas.

& Mas só silêncio do outro lado.Descobri, cruzando informações emsistemas eletrônicos, que sou outrapessoa. Risos! Não estou brincando.

& Teria sido tudo inventado: os dados,minha memória? Querem-me longe da

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verdade? Preciso confirmar coisas.Podemos nos encontrar hoje? Hum!

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XVII

& A resposta lacônica o deixou semfôlego. Não tinha mais a quem pedirajuda. Chiado. Ok, vamos nos encontrarhoje. No bar de sempre. 22h?.

& Dormiu, sonhou. “Não sei a finalidade,mas abri os olhos e só me lembro dofuturo. Dias e dias passaram e busqueias formas do princípio”.

& Sonha e vaga por cidades, luzes,vales, canais, formas concretas eantigas. Como as do princípio, quederam origem às novas organizações.

& Vê padrões difíceis de decifrar, masque o acompanham sempre. Ontem,mas não sabe sobre o futuro. Ele disse:‘você pode ficar aqui?' Hum.

& No bar, contou a sua história. Todomundo muda, disse L.A., sem acreditarmuito e sem levar a história a sério. Acerveja chegou. Beberam.

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XVIII

& Não mudou, mas tudo mudará. L.A.ficou. Deitado no chão frio, olha para oteto do quarto. Aí olha para ela e diz: oque está acontecendo?

& E ela disse: vamos logo, tenho quepegar o ônibus, escrever aquela carta.E ele disse: Por que tento mas ésempre inútil fugir do barulho?

& Por que toda essa confusão? E eladisse: vou me esconder nos óculosescuros. Vou pôr a peruca ruiva eninguém vai me reconhecer. É noite!

& Você vem ou vai ficar aí em pé,fumando esse cigarro? Pergunta L.A.antes de bater a porta. Sai decidida.Ele pensa: é isso a felicidade?

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XIX

& Era feliz. Não é mais. A felicidade éesse intervalo, um limiar. Dormiu.Acordou com frio e com uma inusitadasensação de peso nas costas.

& Teve dificuldades para se levantar.Rolou para o sofá e acendeu mais umcigarro. A fumaça tocava o teto e seespalhava com uma ameaça...

& Bebeu. A letargia do Gin o fezlembrar-se dos momentos em quetrabalhava tanto que o corpo produzia omesmo efeito de torpor e anestesia.

& Pensava na febre dos últimosregistros, na efemeridade dosmomentos que se mantêm para sempreno rastro de segundos que já foram:memória.

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XX

& A memória era tudo o que buscava.Checar os fatos, resgatar a verdade láonde a dúvida havia se instalado, láonde @re_viravolta começou.

@re_viravolta - & Ei mãe, sei que oabandono não foi proposital, quenada é proposital. Tudo tem sentido,mas estamos sem nenhuma pista.Não sei o que dizer!

@re_viravolta - & Ei mãe, deveriapedir desculpa. O tempo não foijusto. Aliás, o que não tivemosmesmo foi tempo. Não pude perder ajóia, ficar de castigo.

@re_viravolta - & Ei mãe, por que otempo nos abandonou? Você meabandonou? Você morreu ou estáapenas escondida, se divertindonessa @re_vira_volta?

& Sem destino, resolveu ligar ocomputador. Sem objetivo preciso,começou a clicar desesperadamente.Buscava alguma referência ao seunome.

& O inominável: “não devo minhaexistência a ninguém, essas luzes nãosão as que clareiam ou queimam. Nãoindo para parte alguma." Beckett.

& Confuso, pensava que cada cliquecorresponderia a uma forma deconstrução de si. Escrevia sua história

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por uma colagem de links anônimos.

& Ah, era essa uma forma de escrever asua própria história? Na rede nãosaberia dizer mais qual o enredo ouqual seria o final da loucura.

& Digitou o nome da mãe. O nomos, alei. Sua mãe tinha morrido quando eletinha 3 anos. O pai havia fugido semdeixar rastros. Será mesmo?

& Vários links apareceram. Doischamaram a sua atenção: uma pessoahomônima à sua mãe, e o site dealguém com o seu próprio nome.Contato?

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XXI

& O link do homônimo deu a sensaçãode perseguição. Vertigem e enjôotomaram conta do seu corpo. Sentia-sevigiado sem saber muito por quê!

& Sentiu raiva, muita raiva, mesmosabendo que o link não tinha nada a vercom ele. Ou teria? Estava confuso. Otempo mudou e fazia frio...

& Respirou fundo. Os pensamentos seembaralhavam na luminosidade da telaque ofuscava os seus olhos. O pior eraaquele cursor que piscava...

& Estariam escrevendo, sem quesoubesse, a sua história, como em umjogo em que ele era ao mesmo tempopersonagem central e o espectador?

& Ou estaria ele escrevendo, oureescrevendo, sua história? Issojustificaria o motivo de estar sendovigiado por olhares não identificados?

& Queria muito o colo da mãe, quenunca teve realmente. Sentiu frio e sereclinou na cadeira. Olhou o teto e viusombras estranhas passando.

& Rápidas, extensas, elásticas, assombras eram como figurasfantasmagóricas anunciandopresságios não muito alvissareiros.@re_viravolta.

@re_viravolta - & Lembrou-se da

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carta em que sua mãe teria escritoque em sua primeira viagem para SPele teria se comportado muito bem.Tinha 3 meses.

@re_viravolta - & Em outra, elaescrevia que a primeira praia teriasido com 2 anos, no RJ. Existiriamas cartas? Revia o passado ouconstruía sua memória?

@re_viravolta - & Sai dessedevaneio, abre os olhos e encaralogo a tela e esse cursor que nãopara de piscar, chamando a suaatenção para... reticências?

& Abriu os olhos como se tivesserecebido uma ordem de alguém. Olhoupara o teto, mas as sombras haviampassado. Seria o bom presságio?

& Aceitou o destino e as ordens dadasdeste outro lugar. Encarou a telailuminada e o cursor que piscava,impacientemente, insistentemente.

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XXII

& Ligou de novo para L.A. Lembra dopercurso do dia, do metrô, do cemitério,do bar, do encontro em sua casa, deL.A. e sua partida abrupta.

& Eles se conheceram há muitos anosem SL. Se perderam, se acharam, atéque se perderem mais uma vez. Otempo passa, passou, mas algo ficou.

& Confiava em L.A., embora elaestivesse distante e não muito crente nasua louca história. Não sabia o que eramesmo aquela @re_viravolta.

& Chamou pelo computador. Viu vultospela webcam. Tudo escuro do outrolado. Pediu para acender a luz. L.A.negou. Ouvia sussurros ao longe.

& Olha estes dois sites pra mim. Vocêconheceu as fotos da minha mãe? Vocêainda me conhece um pouco, não?Hum, sons dos dedos nos teclados.

& L.A. parecia se afastar ainda mais datela. Seu rosto ficava menos nítido. Aocarregar os dois sites, ela foi sedissolvendo aos poucos.

& L.A. sumiu do alcance da sua visão.Mais nada na webcam. Apenas umamúsica começava a ser ouvida do outrolado. Mas só agora. Estranho!

& Se afastou empurrando a cadeira aténão ver mais nada e não escutar mais o

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som das pequenas caixas do seulaptop. De repente, L.A. voltou.

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XXIII

& Tinha pés fincados no chão, joelhostrêmulos, lábios secos. Ah!, Oh! Aspalavras não queriam sair da sua bocaamarga para expandir a ação.

& A luz da tela banhava seu corpo e ovulto de L.A. como uma lembrança. Dooutro lado era uma sombra sua,projetada na superfície iluminada.

& Queria gritar, mas ficara entalado naansiedade. Queria mover-se, mas ospés colavam no chão. Os joelhostrêmulos não lhe davam segurança.

& As sombras dançavam lá do outrolado da tela. A luz difusa fazia tudoparecer como um sonho, como umabruma que produzia nele a lembrança.

& Ficaram juntos por muitos anos. Mas,no fundo, tudo acaba. Sabia que eraassim, embora sempre desejasse, defato, o indelével das coisas.

& O tempo passou e eles se perderam.Sabe que não há garantias. Oselementos que colocam em marcha asua memória se apresentam outra vez.

& Quer esquecer e se livrar daquelesincômodos fantasmas. Está tão só.Queria compartilhar pequenas coisascom L.A., mas não é possível.

& Vaga com as lembranças de umaépoca onde era feliz. Baudelaire, "Il me

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semble que je serais toujours bien là oùje ne suis pas". Aceitou.

& Em gesto brusco, descolou os pés,forçou os joelhos, tomou coragem epartiu determinado em direção à tela.Chegou perto de L.A. e disse:

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XXIV

& Lembro-me de coisas da minhainfância agora e esqueço-me dascoisas mais recentes que vivemosjuntos. Tenho que ter uma atitude radical.

& Do outro lado da tela, na brumaluminosa, L.A. se limitava a olhá-lo comdesdém. Nada volta. É precisoesquecer essas pequenas coisas.

& Ele sempre lutara contra as grandescoisas da vida. Buscara os detalhes, osque fazem a diferença entre viver e nãoviver. Mas falhara!

& Decidiu tentar invadir sistemas, olharde perto os bancos de dados eentender como sua vida teria entradonessa espiral, na @re_viravolta.

@re_viravolta - & Nada é assim, nãochega a lugar algum, logo se perde etem sempre a ilusão de uma certezaque escorre. Palavras não significamnada.

@re_viravolta - & Nada nada não hámais vírgula ou exclamações não hámais pontos de continuação só abusca do ponto final cada vez maisdistante o infinito

@re_viravolta - & E distantecontinuava a dar voltas e volta à@re_vira_volta que não tem fim nãocomeça não acaba como umatorrente de desesperos ao longe.

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& Tentaria agora deletar tudo, repartir dozero e começar uma nova vida (sonho).Simplesmente desaparecer, comodesapareceram os seus dados?

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XXV

& A solução é desaparecer. Pelo menosnos bancos de dados. Desligou tudo esaiu de casa em busca de suporte paraconcretizar a sua decisão.

& Direção - sede do megaorganismomundial que agregava todos os bancosde dados que, juntos, faziam a sua e-life. Não sabia muito como agir.

& Pensa em fazer um primeiroreconhecimento e, depois, invadirsistemas, deletar tudo, se livrar dosdados que não correspondem àrealidade.

& Apressado falou em voz alta: “a vidanão tem salvação, sabemos, tudo sevive e tudo se acaba numa únicachance. Mas talvez possamos ...

& ...inventar uma vida para nós dentrodesse limite". Era essa a suaesperança. Lentamente se deslocavaentre as pessoas nas ruas do bairro.

& As luzes ofuscavam o seu olhar, presoque estava nas brumas do contatotelemático com L.A. Sentiaestranhamente uma crispação nascostas.

& No seu olhar começavam a aparecerpadrões luminosos que prenunciavam aenxaqueca. Não tinha tempo a perder,mas tinha medo da dor. Drugs!

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XXVI

& A cidade vazia. Parecia o fim domundo, mas era fim de festa. A cabeçalatejava. Não hesitou em pegar umcomprimido e lançar goela abaixo.

& A droga desceu áspera. Suas mãosestavam úmidas. As costas aindacrispadas, como se estivesse sendopuxado para cima, como umamarionete.

& Quem seria o Titereiro? pensou.Imagens inundaram o seu pensamentocontrastando com o vazio e a solidãodas ruas. Ruído branco ao fundo.

& No caminho da megacorporaçãoparou e viu o mar. Parecia hesitar em irmesmo ao seu destino ou deixar otempo passar em frente ao oceano.

& Pensou no fluxo de informação. Ficouparado alguns minutos olhando a dançadas ondas antes de tomar a difícildecisão de voltar a andar.

& O telefone celular vibrou. A voz dooutro lado, uma gravação eletrônica,vomitava certezas sem lhe dar tempo deresposta: @re_viravolta.

@re_viravolta - & “não há maismúsica, nem monólogo, nemperformances, nem trilogias, não hánada, só a sorte ou o azar”.

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@re_viravolta - & “é isso, fim, tudoacaba um dia. Partir e chegar ésempre a mesma coisa. Você não vêo que está acontecendo?”

@re_viravolta - & Parou. Deixou paraver se o fluxo de palavras chegariaao seu fim. Ou se ele teria quedesligar. @re_vira_volta.

& Tremendo pensou : “Tudo vai passar,não há ninguém nessas ruas desertas.Não me interessa mais esse circoinfernal. Não somos mesmo nada.”

& Tudo muda, continuou. Veja no quevocê se transformou, pense nesse marde esquecimento. Esquece tudo o quenunca houve. E tudo o que virá.

& Torrente de palavras: Você estáatrasado para resolver o impossível…Por que tem que ser assim, por que nãopode ser tudo ao mesmo tempo?

& Definitivamente precisa se convencer:Razão, você tem que usar a razão, nemque seja por uma vez só. Controle-se eveja o que eles querem.

& No fundo não há nada, não podemesmo nada, você não é nada. Ouça arespiração. Fraca, lenta. Mergulhenessa guerra infindável e sem volta.

& Paralisado, olhou em volta como seestivesse sendo observado. Não haviamais palavras. Não ouvia mais nada.Ruído longe. Tremia. Desligou.

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XXVII

& Sem querer fazer esforço paracompreender o acontecido, para nocaixa do banco: cartão rejeitado. Liga onotebook, acessa o site do banco.

& Tenta acessar e-mails, mas as senhasnão funcionam mais. Tenta as redessociais e o mesmo acontece. Estavadesaparecendo da base de dados.

& Inconformado, acessa sua páginapessoal e encontra um “404 not found!”Com medo, fecha o notebook comforça, se levanta e segue em frente.

& Parecia que o caos eletrônico estavase expandindo, enquanto ele patinavaem hesitações, memórias (?),devaneios telefônicos e indecisões.

& Chegou à corporação. Explicou aochefe-adjunto que seus dados estavamerrados (alguns desapareceram), e quenada correspondia à realidade.

& O chefe-adjunto pediu que olhassepara a câmera. O dispositivo escaneoua retina. Colocou o dedo no sensor. Osom agudo rompeu o silêncio.

& “Senhor”, diz o chefe-adjunto. “Não háregistros seus aqui. É como se o senhornão existisse. Teria um RUC, ou outrodocumento com chip?”.

& Respondeu positivo. Mostroudocumentos, mas de nada adiantou.

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Era um fantasma, sem dados. A únicaprova de sua existência era o seucorpo.

& Deu as costas, levantou os ombros.Compreendeu que de nada serviria ficarali com o burocrata. Estava afundandona @re_viravolta sem fim.

@re_viravolta - & Tá perdido? Ei,parece que tá dormindo um sonoprofundo. E esses espasmos, o queeles significam?

@re_viravolta - & Passam meses,anos. Tudo volta à esse circuloinfernal. Fecha os olhos, tentadetectar o que muda entre umsegundo e outro. Dura a ação.

@re_viravolta - & Essa é a únicanovidade. Ou você acredita que oano será diferente? Não existe ano,só os momentos descontínuosligados por acasos.

@re_viravolta - & Nada sai dessaespiral vertiginosa. Tudo estágirando em círculos, nessasdestruidoras @re_vira_voltas. Vaicontinuar lendo?

& Volta para casa. A chave magnéticatambém não abre a porta. Parecemesmo que é o seu deadline. Arromboua porta e desligou os alarmes.

& Sentia que estava mesmo sumindo.Mas, estranhamente, naquele momento,esse sentimento lhe trouxe uma

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sensação agradável. Ficou leve, leve.

& Fechou os olhos e sentiu a mão damenina (sua sobrinha) na sua, e mesmosendo um fantasma, ficou feliz: “Tio,você compra isso pra mim?”

& Tudo estava difuso, impreciso. Osprimeiros segundos do dia apontavampara mais instabilidades. Sentia-sedesaparecendo: tic-tac, tic-tac.

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XXVIII

& Acordou, abriu os olhos e olhou o tetodo apartamento. 8h. Não sabe o quefazer do dia. Os sonhos tomaram contada noite. Acordou cansado.

& Sonhou mais uma vez com a menina.“preciso revê-la, agora que ela já estátão grande”, falou. Mas isso, seacontecer, será bem mais tarde.

& Logo o tédio e a solidão afetam o seuestado onírico. Revia imagens deprédios desfilando como se estivesseem um carro. Gostava de bikes.

& Levantou e foi até um canto da salaonde fica o som. Liga o receiver e LouReed canta: “I got a hole in my heart thesize of a truck”!!!

& A frase ecoa pela sala, explode noseu peito como advertência. Sentia-sevazio. O caminhão explode nas rodas afruta vermelha. Ruído seco.

& E o tempo se arrasta nos ponteirosdo relógio em giros alucinados, para adireita e para a esquerda, sem parar,parando o tempo que passa.

& Estava passando, o tempo que nãopassa. Mas não parecia, minando emconta-gotas, descendo pelo ralo.Pensou, mas não ligou a televisão.

& Lou calou. Olhou pela janela. Osilêncio da rua chama a atenção.

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Estava caindo, a cada segundo umpouco mais, uma queda infinita. Caindo.

& Passou a mão nos cabelosacariciando o couro cabeludo aliviandoa pressão no crânio. Sentiu-se bem.Deitou-se de novo. Olhou o teto do ap.

& 20h.

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XXIX

& Apesar de tudo, pensou que nadajustificava a pressa, a impaciência, oestado de nervos em que seencontrava. Estava estranhamentesereno.

& Mesmo com a @re_viravolta, sabiaque não havia motivo, em todas asesferas, de viver sempre como se umaurgência o tomasse a cada segundo.

& Estava calmo e sereno, deitadoolhando para o teto. Como se umalucidez repentina tivesse chegado. Otempo passalenntttaaammmeeennntttee.

& Percebeu que não teria que agirdesesperadamente, que não deveriasalvar tudo. Tudo, de uma forma ou deoutra, se resolveria. Cedo ou ...

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XXX

& Na velocidade do tobogã sempreencontra uma parede que acolhe aqueda. Virava-se como carro em cavalode pau oferecendo as costas ao fim.

& Lembrava-se do simples ato dedescer as escadas do apartamento. Dosom dos degraus rangendo. Às vezes,escorregava sentado em um papelão.

& E venera a simplicidade e aingenuidade infantil da família há muitoarruinada. Seriam as memórias reais ouapenas pensamentos desviantes?

& Não tardam a aparecer lembranças.Toma consciência da simplicidademaravilhosa da família (irmãs, pai,mãe). Lembra-se feliz dos domingos.

& Mas era um desesperado. Sabiadisso. Entendia, no fluxo das coisas, asidas e vindas, as dores dissimuladas eos sofrimentos supérfluos.

& ... tarde, sim, tudo acabaria. Nãoqueria salvar nada. Não tinha mesmonada para salvar. Nem mesmo a suavida era algo digno de resgate.

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XXXI

& Levantou-se rapidamente. Asensação de vertigem o atingiu. Tonto,pensou: onde estará o princípio quedará personalidade ao meu desespero?

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XXXII

& Deixou a difícil questão do princípiode lado. Resolveu ir pelas pequenascoisas. Deveria falar, falar, falar, paraexplicar tudo de novo?

& Teria mesmo a palavra a força parareconstruir o que se viveu? Ou só éintenso o que se pode verbalizar? Ou,merda, tudo terá sido em vão?

& Pensou e sem saber de nada,silenciou. Mas a dúvida persiste: teriamesmo que lançar palavras para que,por fim, os fatos se tornem reais?

& Se rendeu e concluiu contra a vontadeque tudo o que se vive só faz sentido seformulado em palavras. Isso pareciacruel. Precisava falar.

& Mas, com quem? Sem certeza sobrecomo retomar a sua vida, já que era umduplo fantasma de si mesmo,abandonou o peso do real e silenciou.

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XXXIII

& Tenta tudo para escapar doisolamento e da sensação de vazio quenos aproxima da morte, mas tinha agoraque lidar com seu desaparecimento.

& Bancos de dados. E, se nãoexistimos enquanto dados, existimosrealmente? Ser vigiado, monitorado econtrolado não é, então, um conforto?

& Seria uma prova da nossa pobreexistência? Isso sempre o perturbava.Poderiam existir formas de vida quenão fossem, assim, artificiais?

& Tem mesmo uma compulsão aoextremo, essa obsessão histérica, essemedo do que pode sair do seu controle.Não entendia bem o mundo lá fora.

& E nem a influência no seu mundointerior. Desaparecer nos dados nãoseria a consequência inevitável daexistência hoje? Dádiva ou quimera?

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XXXIV

& No estado flutuante, hesita entrealegria e tristeza: sumir dos bancos dedados significa liberdade? Não estarneles, que não mais existe?

& Lembra-se da música: they canappear to themselves every day onCCTV to make sure they're still real. It'sthe only connection they feel.

& Olhou o céu lá fora. Nuvens cinzasamenizavam a força do sol escaldante.Aproximou-se da janela, fechou osolhos. Deixou o mormaço entrar.

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XXXV

& A estratégia do desaparecimento nãoestava clara. Sumir do mapa ou dosbancos de dados? Acendeu um cigarroe tomou um gole de café amargo.

& Pensou mais uma vez em ligar paraL.A. Essa sim, já havia desaparecido.Achou melhor rever suas fotos deinfância, checar fatos e lugares.

& As fotos estavam espalhadas emcaixas. Muitas delas, já destruídas,estavam em seu servidor na net. Ligou ocomputador, acessou as pastas.

& O vazio assustou. Estava ausente dosbancos de dados públicos, mas não doseu servidor. A pasta estava lá, mas nãoos arquivos. Menos um!

& Apenas um nome sem a extensão queindicasse o tipo de arquivo. Foto?Vírus? Não entedia o que significavaaquela palavra. Arriscou. Click.

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XXXVI

& Ptyx. Era esse o nome do arquivo. Elenão lhe dizia nada. Enigma. Era comouma concha, hermética. Enjoado, sentiade novo a @re_viravolta.

@re_viravolta - & Está ouvindo ossons do mar, da bola na areia?Nesse momento, a luz do flash noolho te deixou cego. Lembra? Ounada mais disso é memória?

& O tempo de abertura do arquivoparecia infinito. Olhou para a caixa. Asfotos amareladas e empoeiradasprovavam que o tempo havia passado.

& Para ele as fotos eram a prova quesua história fazia sentido mesmo que osdados não mais pudessem serencontrados. Tinha vida sem e-life.

& Lembrou-se da conversa com ochefe-adjunto da megacorporação. Afrase ainda ecoava na memória:

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“senhor, não há nenhum registro seuaqui!”.

& Mas havia sim, naquela caixa,registros amarelados, rasgados,nublados pelo tempo que realmentepassou. O estranho arquivo por fimabriu.

& Ele era composto por umacombinação de letras e números. Eraum código, um enigma. O quesignificaria?03AL06RJ62BA91FR07CA08BA09RV00000.

& Achou que abrira o arquivo noprograma errado, e por isso os códigosmisteriosos apareceram. Escolheuentão um outro, um editor de imagem.

& Uma imagem sua desfocada, massua, aparece. Parece uma imagematual, mas ele não se lembra de a tertirado. Olhar estranho. @re_viravolta.

& Olhando bem, parecia mesmo umaimagem atual, mas não. Parecia ser deum futuro próximo, não registro de umamemória. Foto de um presságio.

& Olhou com atenção. Mais duas fotos,desfocadas, aparecem: uma mulher(L.A.?) e o que parece ser a imagem deum velho sentado em um bosque.

& Essa lembra seu pai, que morreumuito jovem! Não entendia o queaquelas imagens faziam no seucomputador: Quem as tirara? De ondevinham?

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@ re_viravolta - &

& Cada pedaço dessas imagensparece mais imagens em pedaços,colados como conjunto de tempospassados despedaçados sem lastro,sem senhas...

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XXXVII

& Fita as imagens como se estivessevendo o futuro. Haveria um devir-imagem? Olha as imagens, o código,as imagens, o código... Revelação?

& Nada. Volta a dedicar tempo à caixade fotos amareladas. No fundo, tinha asuspeita de que o que acontecia agorajá estava impresso antes.

& Se tivesse um futuro talvez pudesseprevê-lo agora, fuçando as fotosantigas. Como a foto do arquivomisterioso - instantâneo do que virá.

& Olhava fotos e código, a caixa e teto,a tela e as fotos. Tudo gira. Os númerose as letras do código se embaralhavamem padrões inexatos.

& Números lembram datas, letrasremetem a lugares ou a nome depessoas? De repente, o que era umenigma começa a fazer sentido: umprograma.

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XXXVIII

& O que acontece agora está impressoantes. O que aquelas fotos que eleolhava, mas não via, diziam? E ocódigo, combinação de hoje e ontem?

& Os padrões precisam fazer sentido,dizer algo e explicar o seudesaparecimento de todos os bancosde dados. Ptyx abre a concha damemória.

& Seria então a @re_viravolta essadobra no tempo. Uma vida dobrada àforça. Sua vida saindo da existênciareal de virtuais bancos de dados.

@re_viravolta - & "The flesh is sad,alas! And all the books are read.Flight, only flight! I feel that birds arewild to tread..."

& Agora entrando na real existência doseu virtual desaparecimento? Essa eraao menos uma perspectiva otimista.Riu. Olhou o código de novo.

& O arquivo Ptyx tinha data: 71. Seriareal ou erro do sistema? Vamos deixarisso de lado agora. E começar pelo fim,com os terríveis zeros.

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XXXIX

& 0000 seria o fim de tudo ou apenasrecomeço? Fim de um código ouabertura de um outro? Como a morte noTarô, fim, mas recomeço? Uma saída.

& Sentia-se otimista como nunca.Pensou até em beber um copo decerveja, conversar com amigosimaginários no bar da esquina. Logodesistiu.

& Estava tudo invertido: vivia edesaparecia; desaparecendo estavalivre do controle. O futuro apontado nopassado. Aqui fazendo sentido lá.

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XL

& As imagens pareciam criptografarsentidos em pixels expandidos. Volta aoenigmático arquivo. Ptyx, contido notriptykhos, as três camadas.

& Seria isso. Camadas e dobrasdevendo ser, aos poucos, desfeitaspara revelar o mistério das imagens. Edo seu destino. Tempos amalgamados.

& No Ptyx, texto escondido: “Le foyer, lalueur étroite de la lampe. La rêverieavec le doigt contre la tempe”. Verlaine,e estava chegando.

& Três destinos em um só, como opresente aglutina o passado e o futuro.O triPTYKhos. Estaria então aqui achave do enigma, pensou animado.

& Nada ainda? Imagens digitais emarquivo misterioso, código alfanuméricocomo linha do tempo. E terminando em0000, quando deveria começar.

& Deveria? Que ordem era essa queobedeceria à sua própria? Nada estavano lugar. E ao avesso, tudo poderiaestar mesmo de trás para frente.

& Mas ainda falta muito para ver o queapenas começa a olhar. Parecia estartudo ali, precisando apenas do reagenteque o traria à presença.

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XLI

& Pensando no presente, remonta aopassado recente na construçãoatribulada das pobres palavras. Aincomunicabilidade é a porta dofracasso.

& Tenta ver as imagens borradas,decifrar o código, o arquivo. Mas só aspalavras jogadas ao ar para tudoresolver pareciam reais. Não eram.

& Teriam sido as relações fincadas naexperiência movediça do verbo? Airrealidade já estava presente antes dodesaparecimento nos arquivos.

& Sua vida estava no limiar desse jogo:entre a existência, construída naspalavras e o esgotamento saturadoagora nos arquivos eletrônicos.

& Lembra-se assim das relações deinfância, dos conflitos e dasincompreensões amorosas, da dureza,ao mesmo tempo amena e seca, dafamília.

& Ele parecia escorregar empensamentos leves, em um amontoadode palavras cuja ausência de pesopreconizava, há muito, suainconsistência.

& Vem aí, de repente, a lembrança decomo foi enrolado pela política dosoutros, de como foi menosprezado pelaabertura das suas intenções.

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& Era como a reconstrução de umainexistência, uma ficção concreta de umcorpo fraco, construído nas palavras, nomedo e nos gestos frágeis.

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XLII

& E, no arquivo, encontra ainda umafrase perdida: “C'était le nombre issustellaire. Existât-il autrementqu’hallucination éparse d’agonie”

& Sentiu de novo o peso da inexistênciareal a partir de fatos existentes, e dainexistência virtual de arquivosirrelevantes e movediços...

& Suspirou "xytp" sem se dar conta dainversão. Falando de trás para frenteproduzia um tempo reversível? Mas nãosabia o que fazer com ele.

& Teria sido esse antitempo quedevorou tudo para trás, que apagou seupassado? Estaria destruindo voandopara o futuro e olhando o passado?

& Não sabia se teria futuro. Estavaainda mais perdido em relação aopassado. Tudo se apagara? Largoutudo e foi andar. Era a @re_viravolta.

@re_viravolta - & Sim, lá estavampalavras deixadas para depois. Foiandar! : "écarté du secret qu'ildétient". "Comme on menace undestin et les vents".

@re_viravolta - & Nesseemaranhado de palavras umsegredo que não se revela, umasituação em permanente impasse, odilema do destino que não se

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resolve.

@re_viravolta - & Sai, vai andar, masna tela do computador o cursorcomeça a piscar, palavras começama aparecer vindas não se sabe deonde...

@re_viravolta - & “dans quelqueproche tourbillon d’hilarité etd’horreur voltige autour du gouffresans le joncher ni fuir et en berce levierge indice"

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XLIII

& Anda como uma "ameaça ao destinoe aos ventos fortes" que parecemquerer arrancar-lhe os pés do chão.Seria bom voar agora. E acelerava...

& Como o anjo da história voando parao futuro e olhando para o passado. Masnão via mais nada nesse passado, sólembranças sem testemunhas.

& Do futuro não poderia esperar mesmomais nada. Como pensar o futuro se opassado recente vai se desmanchandoaos poucos apagando o que há?

& Só há presente. Mas sem o lastro dopassado ou fé do futuro. Esse presenteé apenas o nada do aqui e agora. Eandou rápido contra o vento.

& Ligou o celular. Na tela, a informaçãode que não há SIM disponível. Sumiutambém das ondas de rádio dosprovedores. Morto. Ruído e vento.

& Com o vento lacrimejando os olhos,viu 0000 do código. Imagem borrada naaceleração. Dados alfanuméricostraduzidos em uma linha do tempo.

&03AL06RJ62BA91FR07CA08BA09RV00000.03 o início e os três tempos que agoraestão condensados em um só: o vaziodo presente do aqui e agora.

& Os zeros do fim. Na história, tudo

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previsível no programa? Estaria. Eandando cada vez mais rápido… Masfaltavam códigos e coisas… rápido.

& O vento explodindo no peito. Do queou de quem é a seleção alphanum ...Tropeça e aproveita a quase queda pracorrer. O vento muda. Norte.

& Agora começa a impulsioná-lo. Vaimais rápido, enquanto os números semisturam na sua cabeça. Acelerado vê050607080910. O que quer dizer?

& Mais rápido. Peso. Estava decolando,despregando os pés do chão, sentindoa estranha leveza. O pescoço movidopara trás e arrancada final.

& E subitamente decolara, leve, subiiia.Via agora o chão como uma telamulticolorida deixando os seus pésórfãos e soltos. Oh, Mr. Vertigo!

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XLIV

& Fechou os olhos e sentiu aquelasensação há muito perdida: a vertigem,a fuga, a leveza. Vazio de pensamentosparecia cheio como um balão.

& Olhando para baixo viu a casa na ruados Dutra, a escola na esquina pintadade verde, a bicicleta em que passeavacom a primeira namorada.

& Viu o grande avião dentro do parquee pensou como era surrealista aquelacena, os amigos em volta, o prédio depedras enormes, um castelo.

& Voando via todo o passado nopresente em direção ao futuro. Aestranha sensação o deixava muito feliz.E riu, e sentiu o vento nos dentes.

& Os dentes doíam agora, mas não erao vento. Tinha o gosto de sonho naboca, da padaria Márcia. O conjunto dememórias implantado no corpo.

& Tudo parecia fazer sentido. Nãoimportava se existia de fato nosarquivos ou se tudo era uma farsa. Tudoé sempre uma farsa. Gosto amargo!

& Viu a si mesmo lá embaixo com acabeça cortada pela pedra da marquisecorrendo. Mãe! Sentiu na boca osdentes trincados. A cabeça pêndulo.

& Olhos fechados. Peso e pressão nascostas. Meio-fio. Cabeça sangrando.

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No chão. Pessoas. O tropeço, a queda,o desmaio, e a ilusão do voo.

& Levantou-se rápido e cambaleando.Tudo girava. O sangue deixava suavisão turva. O amargo na boca e a dornas costas o prenderam ao chão.

& The concrete broke your fall. A músicaecoava nos ouvidos. O concreto daimagem do voo, o concreto darealidade da queda, anterior. Andou.

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XLV

& Andou com dores por todo o corpocom a sensação de que viveralembranças reais. Eram lembrançascom gostos e cheiros. Era voo e erapouso.

& Levou a mão à cabeça e limpou oresto de sangue. Cuspiu o gostoamargo da boca. Olhou em volta. Tudoparecia estranho, indiferente sempre.

& 06RJ62BA91FR07CA08 do códigoPtyx explica sua história, em ordemcronológica. E, mesmo que nãohouvesse mais registros, tudo já estavalá.

& A memória que se apagou era umprograma que se construiu antes? Maspor quem e para quê? Pensou nas fotosenquanto andava. Via fragmentos.

& Um zumbido no ouvido direito o fezcambalear e perder o equilíbrio. Ia cair.Apoiou-se em uma árvore, agachou eencaixou as costas doídas.

& Colado na árvore, podia sentir a seivasubindo pelas costas aos troncos,galhos e folhas. Abandonou-se, poralguns segundos, ao cansaço.

& Queria voltar pra casa e encerrar deuma vez o dilema. Achar os motivos damisteriosa (in) visibilidade. Levantou-see apressou os passos.

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& Mas nada de correr agora. Nem voar.Vamos bem devagar, como vai bemdevagar aquele que não quer acabar oque está fazendo por puro prazer.

& E vamos bem devagar, vamos aoinício onde tudo começou. E onde devetudo acabar. Isso não significa sabercomo. Lei inevitável do retorno.

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XLVI

& O telefone nunca mais tocou, nem ofixo, nem L. A. Não voltou a andar pelasruas, nem a descer correndo pelasescadas. Um dia como um ano.

& Não jogava mais com as estações dometrô. Tudo desaparecendo. Mesmo obar, onde tomara café após o cemitériodo grafite direto e anônimo.

& A rua parecia silenciosa, sem carros.Apenas o vento forte da beira-mar faziamover seus cabelos ondulados. Findo operíodo das 3 conchas.

& Tudo irregular e labiríntico. Ficamvestígios dos dias e noites. Fica apoeira dos objetos, esquecidos ouabandonados. Fica tudo sem peso.

& As inegáveis, mas questionáveis,presenças, como a sua própria, e asmarcas aqui e acolá. Ele está entreíndices e armadilhas construídas.

& Precisava mesmo voltar ao início.Tonto, identificou o começo no código,na primeira letra, no primeiro número:nomos e verdade e destino.

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XLVII

& Sempre recusou os númerosdefinitivos. Não ia ser diferente agora,com qualquer código inscrito sobsuspeitas condições. Era um otimista.

& Volta pra casa, para a última concha.Tomara a decisão e estava maistranquilo. Saberia, no exato momento,como sair dessa @re_viravolta.

& Pega o ônibus vazio. Só ele entrecadeiras, janelas, paisagens. Os sonsabafados de lá fora amplificam os sonsruidosos de dentro. Escuta.

& Como sempre, chove. Tudo molhadolá fora. Pisa, e os respingos brilham nafraca luz do sol. Desce do ônibus e nãovê os lugares habituais.

& Não está mais no seu lugar. Passaraa viver em um outro espaço, sempre emais abstrato, linear, textual, fora dasrelações locais e reais.

& Mas não presta muita atenção a isso.Não quer se iludir. Sabe que suaatenção deve estar voltada para aconcha, o fechamento, o fim. Foco.

& Visão periférica prejudicada semfigura no fundo, sem destacar do fundoaquilo que não presta. Sobe asescadas correndo. Apaga os degraus.

& Chega. Para diante da porta. Tenta,

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mas a chave não funciona mesmo.Força a porta já violentada. Volta praconcha. Agora ela é sua ficção.

& Olha pra cima e as sombras dafumaça ainda marcam o teto queparece mover-se. Esse dia já duroumuito, como um ano! Não há tempo aperder.

& Agora ele sabe como resolver odilema, como solucionar a espiral doscódigos misteriosos, como enfrentar afuga dos dados. O amor acabou.

& Não há mais atração, já que ele nãoestá mais em nada. Éter. Não háesperança, vínculo. Fim do amor, essafalsa cola do mundo. Dissolução.

& Está livre do ciclo da esperança e dodesespero, da crença e da decepção,do tempo e do espaço. Sumiu, não émais nada, está livre, enfim.

@ re_viravolta - & Veja como esseano passa como um dia. Lento otempo. Parece que nada aindaaconteceu, que muito está por vir.Temos muito tempo a perder.

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XLVIII

& 8h. Desliga o computador, apaga osarquivos e o código. Deitado no chãoolha o teto, mas não se lembra do diaque passou. Nada. Invisível.

& Como o leitor do poeta, é um“hóspede” de sua existência. Nãoacredita mais em jogos de dados, ou nolivro que virá. Quer escrever, agora.

& Quer apagar agora todo diálogo e oacaso, parar com essas idas e vindas,@re_viravolta e @re_vira_volta. Chega,the Lino, de “escreviver”.

@re_viravolta - & être un autre Espritpour le jeter dans la tempête enreployer la division et passer fierj’hésite cadavre par le bras écarté dusecret...

& Vira-se sobre si mesmo. De bruços,cruza os braços e apóia a cabeça,como um travesseiro. Respira fundo eprende para sempre a respiração.

@re_viravolta - & Vire-se sobre simesmo. Agora mesmo. De barrigapara cima, deixe o ar sair. Esvazie ospulmões até não poder mais. Exale,exale.

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Notas

1) Devo a inspiração dessa passagema um trecho no blog http://messias.art.br

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Sobre o autor

André Lemos (@andrelemos), 48,nasceu no Rio e viveu em Paris,Montreal, Edmonton e Salvador, ondereside atualmente. É professor daFaculdade de Comunicação da UFBa epesquisador do CNPq. Autor dediversos livros e artigos sobre a culturadigital, "@re_vira_volta" é o segundolivro em verão digital (o primeiro foi"Caderno de Viagem", pela EditoraPlus). Para saber mais, ver seu blogCarnet de Notes (ativo desde 2001) -http://andrelemos.info

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Cólofon

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© Copyright - André Lemos

Publicação independente do autor. Éproibida a reprodução ou cópia destearquivo sem prévia autorização domesmo

Capa e diagramação: SimplíssimoLivros

ISBN 978-85-6365-422-9

Arquivo digital produzido pelaSimplíssimo Livros -www.simplissimo.com.br - outubro 2010