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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO BRUNO WAGNER O FATOR HUMANO EM PROCESSOS DE FUSÕES & AQUISIÇÕES: Estudo de caso: Lafarge RIO DE JANEIRO 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

BRUNO WAGNER

O FATOR HUMANO EM PROCESSOS DE FUSÕES & AQUISIÇÕES: Estudo de

caso: Lafarge

RIO DE JANEIRO 2012

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Bruno Wagner

O FATOR HUMANO EM PROCESSOS DE FUSÕES & AQUISIÇÕES: Estudo de

caso: Lafarge

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Administração.

Orientadora: Adriana Victória Garibaldi de Hilal, D. Sc.

Rio de Janeiro 2012

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Bruno Wagner

O FATOR HUMANO EM PROCESSOS DE FUSÕES & AQUISIÇÕES: Estudo de

caso: Lafarge

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Administração.

Aprovada em

_________________________________________________ Adriana Victória Garibaldi de Hilal, D.Sc. - COPPEAD/UFRJ

_________________________________________________ Vicente Antônio de Castro Ferreira, D.Sc. - COPPEAD/UFRJ

_________________________________________________ Mônica Esteves Rodrigues, D.Sc. - CEMPRE Ltda.

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Aos meus pais Ivone e Cesar e à amiga Marcia de Albuquerque.

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AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais, Ivone e Cesar, por toda estrutura, amor, suporte e

apoio dados ao longo de minha vida.

Agradeço a minha amiga Marcia de Albuquerque, grande propulsora de

motivação e coragem para enfrentar o desafio de realizar o mestrado do Coppead e

de acreditar na minha pessoa.

Á minha orientadora, professora Adriana Hilal, por sua eficiente ajuda na

elaboração deste trabalho.

À Ivania Mathias Morgado, Assessora de Desenvolvimento Institucional da

COPPEAD/UFRJ, pela rápida e eficiente resposta ao meu pedido de ajuda para

encontrar alguma empresa que aceitasse o desafio de participar deste projeto.

À empresa Lafarge, parceira deste projeto, principalmente ao João Ricardo

(Diretor de RH e Comunicação) pelo sinal positivo e por acreditar que seria uma

contribuição para a empresa. Ao George Fernandes, Gerente da Fábrica de

Cocalzinho (GO), que abraçou o projeto e deu totais condições e infraestrutura para a

realização das entrevistas. E aos funcionários da fábrica e do corporativo pelo amável

acolhimento e contribuição.

Aos funcionários da Secretaria e da Biblioteca do COPPEAD, à turma 2010, e,

em especial aos amigos José Guilherme e Gustavo Fonseca, pelo carinho e apoio.

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RESUMO

WAGNER, Bruno. O Fator Humano em Processos de Fusões &

Aquisições: Estudo de caso: Lafarge. Dissertação (Mestrado em Administração de

Empresas) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de

Administração, Rio de Janeiro, 2012.

O objetivo deste trabalho foi identificar os principais aspectos do fator humano

que influenciaram o processo de aquisição, em 2010, da fábrica da empresa “X”,

localizada em Cocalzinho, interior de Goiás, pela maior empresa de materiais de

construção do mundo, ou seja, a multinacional francesa Lafarge. Além disso, tentou-

se entender se tais aspectos influenciaram o sucesso ou fracasso no processo de

aquisição. Do total de treze entrevistas, onze foram realizadas com profissionais em

cargos de liderança da fábrica; o restante, com profissionais alocados no corporativo

da Lafarge. Abordaram-se assuntos como: resistência à mudança, incertezas,

expectativas e comprometimento dos funcionários, stress, turnover e retenção dos

empregados, papel dos líderes e cultura organizacional. Com base nos resultados

da pesquisa, foi possível concluir que por mais que o fator humano, na maioria dos

processos de fusões e aquisições, não seja trabalhado como prioridade, ele é de

extrema importância no sucesso ou fracasso dos mesmos e para o atingimento dos

objetivos organizacionais almejados. Além disso, concluiu-se que nem todos os

casos de processos de fusões e aquisições são necessariamente negativos para os

funcionários, em especial para aqueles da empresa adquirida. Pelo contrário,

dependendo do cenário prévio de ambas as empresas, essa mudança pode ser

favorável para seus empregados. O respectivo estudo, portanto, veio corroborar a

ideia de que o fator humano deve merecer atenção especial nos referidos

processos.

Palavras-chave: Fator Humano. Fusão & Aquisição. Cimento

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ABSTRACT

WAGNER, Bruno. O Fator Humano em Processos de Fusões &

Aquisições: Estudo de caso: Lafarge. Dissertação (Mestrado em Administração de

Empresas) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de

Administração, Rio de Janeiro, 2012.

The purpose of this study was to identify the primary aspects of human factor

influencing the 2010 acquisition of the company “X” Cement factory, located in

Cocalzinho, upstate Goiás, Brazil, by the largest construction material company in

the world, that is, the French multinational Lafarge. Additionally, we sought to

understand whether these aspects were influential toward success or failure of the

acquisition process. Of the total of thirteen interviews, eleven were conducted with

professionals in leadership roles at the factory; the others were Lafarge corporation

professionals. The discussions involved subjects such as: resistance to change,

uncertainty, employees’ expectations and commitment, stress, employee turnover

and retention, the role of leaders, and organizational culture. Based on the study’s

results, it was possible to conclude that despite the human factor not being

considered a priority in most mergers and acquisitions, it is extremely important to the

success or failure of these processes as well as for achievement of the desired

organizational goals. In addition, it was found that not all cases of mergers and

acquisitions are necessarily negative for employees, especially those from the

acquired company. On the contrary, depending on both companies’ prior scenarios,

this change can be favorable for their employees. The present study, therefore,

corroborates the idea that the human factor deserves special attention in these kinds

of processes.

Keywords: Human Factor. Merger & Acquisition. Cement

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Modelo de liderança - Fusão & Aquisição 61

Figura 2: Problemas identificados na integração da pós-fusão 70

Figura 3: Problemas de comunicação durante o processo de F&A 71

Figura 4: Satisfação em relação ao processo de F&A 71

Figura 5: Quantidade de processos de F&A no Brasil 97

Figura 6: Modelos de transação entre as empresas 98

Figura 7: Setores com maior volume de transações 99

Figura 8: Etapas da produção do cimento 103

Figura 9: Evolução da produção de cimento no mundo 105

Figura 10: Evolução do consumo de cimento no mundo 106

Figura 11: Localização das fábricas de cimento no Brasil 107

Figura 12: Produção de cimento no Brasil 108

Figura 13: Evolução do consumo de cimento no Brasil 109

Figura 14: Produção de cimento por região do Brasil 109

Figura 15: Percentual de venda por negócio e por área geográfica 110

Figura 16: Vendas e quantidade de funcionários por continente 111

Quadro 1: Lista dos entrevistados da fábrica de Cocalzinho (GO) 91

Quadro 2: Lista dos entrevistados do escritório corporativo da Lafarge 92

Quadro 3: Principais pontos do histórico da empresa Lafarge 113

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AOL American on Line

BA Bahia

BCG Boston Consulting Group

DDS Diálogo Diário de Segurança

DF Distrito Federal

F&A Fusão e Aquisição

FTC Federal Trade Commission

GO Goiás

HPC High Performance Concrete

IRIC Institute for Research on Intercultural Cooperation

MG Minas Gerais

PB Paraíba

PWC PricewaterhouseCoopers

RJ Rio de Janeiro

RN Rio Grande do Norte

SNIC Sindicato Nacional da Indústria do Cimento

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 12

1.1 SITUAÇÃO PROBLEMA E RELEVÂNCIA DO ESTUDO 12

1.2 OBJETIVO DA PESQUISA 13

1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO 13

1.4 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO 14

2 REFERENCIAL TEÓRICO 16

2.1 MUDANÇA ORGANIZACIONAL 16

2.2 FUSÕES E AQUISIÇÕES 20

2.2.1 Conceito de Fusão e Aquisição e formas alternativas de crescimento 20

2.2.2 Tipos de Fusões e Aquisições e suas classificações 22

2.2.3 Motivações e impactos em um processo de Fusão e Aquisição 24

2.2.4 Caminhos para se obter um processo de F&A mais eficiente 26

2.2.5 Desafios dentro de um Processo de F&A 28

2.2.6 Teorias e suas respectivas influências dentro de um processo de F&A 31

2.2.6.1 Teoria da Ansiedade 31

2.2.6.2 Teoria da Identidade Social 32

2.2.6.3 Teoria da Aculturação 33

2.2.6.4 Teoria do Papel do Conflito 34

2.2.6.5 Teoria da Característica do Trabalho 34

2.2.6.6 Teoria da Justiça Organizacional 35

2.3 O FATOR HUMANO EM PROCESSOS DE FUSÕES E AQUISIÇÕES 37

2.3.1 Resistência à mudança 37

2.3.2 Incertezas, expectativas e comprometimento dos funcionários 38

2.3.2.1 Incertezas e expectativas 38

2.3.2.2 Comprometimento 41

2.3.3 Stress 44

2.3.3.1 O stress e suas intervenções dentro dos estágios de um processo de F&A 48

2.3.4 Turnover e retenção dos funcionários chave 55

2.3.5 Papel dos líderes 60

2.3.6 O papel da comunicação 67

2.3.7 Cultura Organizacional 75

2.3.7.1 Possíveis direções no processo de integração das culturas 80

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2.3.7.2 Fatores da cultura de uma organização a serem decifrados 83

2.3.7.3 Caminhos para se tentar mudar a cultura de uma organização 85

3 METODOLOGIA 88

3.1 TIPO DE PESQUISA 88

3.2 UNIVERSO, AMOSTRA E SELEÇÃO DE SUJEITOS 89

3.3 COLETA DE DADOS 92

3.4 TRATAMENTO DOS DADOS 94

3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO 94

4 FUSÕES E AQUISIÇÕES NO BRASIL 96

5 BREVE HISTÓRIA DA INDÚSTRIA DO CIMENTO 100

5.1 A HISTÓRIA DO CIMENTO 100

5.2 A HISTÓRIA DA INDÚSTRIA DO CIMENTO NO BRASIL 101

5.3 PROCESSO PRODUTIVO DO CIMENTO 103

5.4 CARACTERÍSTICAS DA INDÚSTRIA DO CIMENTO 104

5.5 A INDÚSTRIA DO CIMENTO HOJE 105

6 A EMPRESA - LAFARGE 110

6.1 HISTÓRICO DA EMPRESA LAFARGE 112

6.2 PROCESSO DE AQUISIÇÃO 115

7 RESULTADOS DA PESQUISA 118

7.1 ALTO COMPROMETIMENTO: OS REAIS MOTIVOS 118

7.2 TURNOVER BAIXO E POSITIVO 124

7.3 UMA NATURAL RETENÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS 126

7.4 STRESS MODERADO E SUAS ETAPAS 130

7.5 COMUNICAÇÃO BASEADA NO FACE A FACE 134

7.6 PRESENÇA POSITIVA DOS LÍDERES CORPORATIVOS E DA FÁBRICA 138

7.7 A FORÇA DA CULTURA LAFARGE 140

7.8 BAIXO NÍVEL DE RESISTÊNCIA 146

7.9 EXISTÊNCIA DE INCERTEZAS E EXPECTATIVAS POSITIVAS 149

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS 155

8.1 CONCLUSÕES GERAIS 155

8.2 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS 157

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 159

APÊNDICES 175

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12

1 INTRODUÇÃO

1.1 SITUAÇÃO PROBLEMA E RELEVÂNCIA DO ESTUDO

A experiência de trabalhar em uma empresa que passa por um processo de

fusão ou aquisição, frequentemente é percebida como traumática por seus

funcionários. O processo de fusão ou aquisição pode transformar um ambiente de

trabalho saudável em algo deteriorador para as pessoas e, consequentemente, para

a organização que recebe boa parte desse reflexo negativo, principalmente se não

tiver a capacidade e rapidez de gerenciar todos os possíveis impactos. Portanto,

percebemos que há muito que aprender sobre o que acontece com o fator humano

nesses períodos e como é afetado.

Aprender a gerenciar o ambiente de mudança que um evento desse porte

pode acarretar é visto como um dos maiores desafios para os líderes de uma

empresa. Saber lidar com as expectativas, incertezas e o stress causado por

movimentos dessa conjuntura e utilizar as principais ferramentas organizacionais

corretamente, pode minimizar possíveis respostas negativas frente a tais

sentimentos. Isso pode fazer com que a corporação consiga reter seus principais

funcionários, reduzir o turnover e aumentar as chances de sucesso do processo de

fusão ou aquisição.

Podemos perceber uma tendência cada vez maior das empresas se

utilizarem de processos de fusões e aquisições para, por exemplo, diminuir as

pressões competitivas e financeiras originadas pela globalização (WALKER; PRICE,

2000) e para obter sucesso em suas estratégias de crescimento. Porém, a realidade

demonstra que boa parte dessas experiências fracassa, mais especificamente em

torno de 70% delas (Ho, 2000), com perdas bilionárias para a organização

(DEOGUN; LIPIN, 1999), até porque de acordo com a consultoria Boston Consulting

Group (BCG) menos de 20% das empresas que adquirem outra se planejam e

realizam as etapas necessárias para integrar-se com a organização adquirida

(CHEW; SHARMA, 2005).

Poucos são os estudos realizados referentes às implicações do fator humano

em um processo de fusão ou aquisição, até, porque, tais assuntos normalmente são

considerados de menor importância quando comparados à parte financeira e jurídica

do processo (STOPPER, 1998). E é exatamente o fator humano que tem sido visto

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como o coração do problema e responsável pelo alto percentual de fracassos

quando duas empresas tentam se fundir, ou uma delas adquirir a outra (COOPER;

CARTWRIGHT, 1992).

1.2 Objetivo da Pesquisa

Este estudo teve como objetivo central entender se e como o fator humano

influencia o sucesso ou fracasso de um processo de fusão ou aquisição. A ideia

principal foi realizar um comparativo entre a teoria e a realidade dos fatos vistos na

prática de um estudo de caso e verificar se, de alguma forma, essa teoria explica a

prática, ou se a realidade sugeriria reformular, ampliar, complementar ou reforçar

essa teoria.

Para atingir tal objetivo, realizou-se um estudo de caso em uma empresa

multinacional de origem francesa (Lafarge), sendo essa uma das maiores produtoras

de materiais de construção do Brasil que, para aumentar sua participação no

mercado brasileiro, adquiriu três plantas fabris de um de seus concorrentes

(empresa “X”). A planta escolhida como principal objetivo da pesquisa foi a de

Cocalzinho, localizada no interior de Goiás.

Visto isso, entendemos como sendo dois os questionamentos chave para se

responder e, dessa forma, obter informações relevantes e contribuir para a empresa

em questão, para outros trabalhos acadêmicos ou, até mesmo, para as diversas

empresas que possam vir a passar por processos de fusões e aquisições:

1. O fator humano influencia no sucesso ou fracasso de um processo de

fusão ou aquisição?

2. Quais os principais aspectos do fator humano que influenciam no processo

de fusão ou aquisição? Como eles atuam nesse contexto?

1.4 Delimitação do Estudo

Este estudo teve, como foco, gerar um entendimento macro do que é uma

fusão e aquisição passando por seus diferentes tipos, motivações, desafios e

impactos. Além disso, visou aprofundar-se sobre as principais variáveis humanas e

ambientais que interferem, positivamente ou negativamente, no andamento do

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processo de fusão ou aquisição como, por exemplo, stress, turnover, cultura

organizacional, incertezas e expectativas, entre outros fatores.

Visto isso, não foi foco deste trabalho a parte financeira desse processo de

aquisição, nem qualquer fator que não seja referente a pessoas e ao ambiente da

organização, bem como considerações específicas sobre as outras duas fábricas

adquiridas pela Lafarge, ou seja, Caaporã, na Paraíba, e Candeias, na Bahia.

1.3 Organização do Estudo

O presente trabalho foi estruturado da seguinte forma descrita a seguir:

O primeiro capítulo explica o motivo por que esse tema mereceu atenção

especial, qual seu objetivo principal, sua relevância, suas delimitações e

estruturação para a condução deste trabalho.

No segundo capítulo, desenvolve-se toda parte de revisão da literatura, com

as informações adquiridas em livros e artigos acadêmicos escritos por autores

especialistas no tema. Na primeira parte, aborda-se a mudança organizacional de

uma forma geral. Já na segunda, aborda-se, de forma ampla, o tema fusão e

aquisição. Conceito, tipos, motivações, desafios e impactos são algumas das

abordagens realizadas neste trabalho. Posteriormente, são analisadas, de forma

detalhada, as principais variáveis humanas e ambientais que influenciam antes,

durante e após um processo de fusão ou aquisição. O papel dos líderes, o papel da

comunicação, a retenção de funcionários, a resistência à mudança e o

comprometimento dos funcionários em um processo de fusão ou aquisição são

alguns desses fatores analisados.

No terceiro capítulo, encontra-se a metodologia adotada neste trabalho.

Detalham-se o tipo de pesquisa escolhido, a amostra selecionada para análise, e as

etapas a serem cumpridas. Revela-se também o ferramental utilizado na coleta de

dados e como foram analisados. E, ao final, fazem-se algumas ressalvas, onde são

especificadas as limitações do método escolhido.

O quarto capítulo apresenta um panorama geral e atual do mercado de fusões

e aquisições no Brasil, demonstrado através de estatísticas e exemplos atuais.

O quinto capítulo apresenta a indústria dos produtores de cimento, concreto,

agregados (areia e pedra) e gesso para o segmento de construção, na qual a

empresa, em que o estudo de caso se baseou, pertence. Demonstram-se as

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estatísticas, as características dessa indústria e as principais organizações que

atuam nesse mercado.

O sexto capítulo apresenta um breve histórico da empresa, sua estrutura

organizacional e demais pontos relevantes, além de detalhar como foi o processo de

aquisição das três plantas fabris da empresa “X” pela Lafarge.

O sétimo capítulo aborda os resultados e a análise da pesquisa. Nesse

momento, procurou-se entender a organização à luz dos conceitos encontrados na

literatura, vistos no segundo capítulo, além de analisá-los e compará-los com as

informações obtidas em entrevistas realizadas junto aos funcionários de uma das

fábricas adquiridas (Cocalzinho (GO)) e no corporativo da Lafarge, localizado no Rio

de Janeiro.

Por fim, no oitavo capítulo apresenta-se um sumário do estudo com as

conclusões obtidas e sugestões para pesquisas futuras.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 MUDANÇA ORGANIZACIONAL

Para compreender melhor os processos de fusões e aquisições (F&A),

consideramos necessário abordar, de forma sintética, o tema - mudança

organizacional - já que fusão e aquisição implicam em um processo de mudança,

onde o fator humano tende a ser percebido como um fator chave de sucesso ou

fracasso.

Faz tempo que existem tentativas de se fornecer insights dentro da dinâmica

de mudanças e, dessa forma, ajudar as empresas a obterem sucesso na

implantação de suas mudanças organizacionais (WALKER et al., 2007). Armenakis

et al. (1999) se basearam no Modelo de Lewin para descrever as diversas etapas

que as empresas deveriam seguir no momento de realizar tais movimentos, porém

sem garantias de sucesso. Neste Modelo, Lewin (1947) argumenta que, para que

uma mudança organizacional aconteça com sucesso, a mesma deve envolver três

fases: unfreezing (descongelamento), moving (mudança) e freezing

(recongelamento).

A fase do descongelamento ocorre quando a necessidade de mudança se

torna óbvia para que possa ser rapidamente entendida e aceita. Já a fase de

mudança ocorre quando há a descoberta e adoção de novas atitudes, valores e

comportamentos, promovidos através de processos de identificação e internalização.

Nesta fase, as novas ideias e práticas são apreendidas, de modo que as pessoas

passam a pensá-las e executá-las de uma nova maneira. Por último, a fase de

recongelamento significa a incorporação do novo padrão de comportamento através

de mecanismos de suporte e de reforço, tornando-a nova norma, ou seja, o

aprendido é integrado à prática (CHIAVENATO, 1996).

De acordo com pesquisa realizada por Armenakis e Bedeian (1999), três

grupos de fatores foram identificados como sendo os grandes influenciadores dos

resultados conquistados por uma empresa durante o período de mudança: os

assuntos de conteúdo, os assuntos de processo e aqueles de contexto. Da mesma

forma, Damonpour (1991) afirma que um encaixe entre esses três grupos de fatores

pode determinar o sucesso das mudanças organizacionais. Além disso, outro fator

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que não pode ser ignorado durante esse período é a diferença entre os agentes da

mudança e seus respectivos alvos.

Ressalta-se que os assuntos de conteúdo são específicos para cada

organização e se referem ao tipo de mudança que será implantado. Normalmente,

essas mudanças são chamadas de fundamentais ou incrementais.

As mudanças fundamentais ocorrem influenciadas pelo ambiente no qual a

empresa está inserida e implicam alterações mais radicais ou profundas. Tais

mudanças poderiam ser necessárias, por exemplo, no caso de ser diagnosticado

algum aumento da competitividade no mercado de atuação da empresa, ou pela

inclusão de novas regulamentações governamentais. Por outro lado, as mudanças

incrementais são normalmente realizadas, passo a passo, de acordo com os ideais

da organização (WALKER et al., 2007).

Ainda com relação aos assuntos de conteúdo, também foram identificadas as

mudanças episódicas ou contínuas. As episódicas são infrequentes e intencionais,

normalmente realizadas pelos gestores para corrigir algum desalinhamento entre as

operações da empresa e sua real demanda. Enquanto tais mudanças podem ser

realizadas na estrutura ou na própria empresa, as contínuas são desenvolvidas

constantemente pelos gestores na tentativa de realizar upgrades nas práticas de

trabalho da organização (BROWN; DUGUID, 1991).

Diferentemente dos assuntos de conteúdo, os de processo se referem a

ações feitas pelos agentes das mudanças durante o período de introdução, ou

implementação da mudança proposta pela organização (WALKER et al., 2007),

onde, de acordo com Armenakis et al. (1993), o objetivo principal seria a criação de

procedimentos que facilitassem a tentativa de influenciar crenças, atitudes,

intenções e comportamentos dos alvos das mudanças: os funcionários da empresa.

Influenciados pelo Modelo de Lewin, Armenakis et al. (1999) sugeriram que,

para que uma mensagem de mudança proposta pela organização obtenha sucesso

junto aos seus funcionários, ela deva conter e ser direcionada para cinco áreas

chave:

1. Componente discrepante: envolve uma explicação de como a organização

se encontrava naquele respectivo momento e de como ela desejaria que

estivesse. Uma forma de se passar a mensagem seria através dos

gestores demonstrarem que, caso a organização continuasse daquela

forma, ela poderia não sobreviver no longo prazo.

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2. Componente adequação: mais específico e transmissor da ideia de que a

mudança organizacional proposta é apropriada para suportar o desnível

de como a corporação está para como ela desejaria que estivesse.

3. Componente eficácia: expressa a capacidade da empresa e de seus

funcionários em implantar com sucesso a mudança proposta.

4. Componente de suporte principal: demonstra que os líderes da

organização estão suportando as mudanças e que as mesmas são

realmente importantes e valiosas para a empresa.

5. Valência pessoal: ajuda a transparecer os benefícios das mudanças para

os funcionários, ou seja, demonstra que tais movimentos facilitariam no

desempenho do trabalho e que, no longo prazo, poderiam dar maior

segurança ao serviço dos indivíduos.

Já o último grupo de fatores de mudanças, o que aborda os assuntos de

contexto se refere às forças já existentes no ambiente externo ou interno da

corporação. Os fatores de contexto externo podem estar relacionados a pressões

competitivas, desregulamentação governamental, mudanças na legislação ou de

tecnologias (HAVEMAN, 1992). Normalmente, as empresas possuem baixo controle

sobre essas variáveis, porém devem realizar mudanças organizacionais específicas

em resposta às mesmas.

Já os fatores de contexto interno podem incluir grau de profissionalismo,

atitudes gerenciais com respeito às mudanças, tensão gerencial e recursos de

conhecimento técnico (DAMONPOUR, 1991).

Além desses três grupos de fatores, a empresa pode ser influenciada por uma

variedade de diferenças individuais, as quais têm o potencial de influenciar nas

atitudes e comportamentos organizacionais (SCHNEIDER, 1987). Durante os

esforços dessas mudanças, tais diferenças podem influenciar nas reações e no

comprometimento dos indivíduos em relação às mesmas (JUDGE et al., 1999).

Visto isso, um modelo completo de como realizar uma mudança

organizacional demonstra que se deve dar importância não somente às forças de

nível macro (como as de conteúdo, processo e contexto), mas também às forças de

nível micro, ou seja, às diferenças individuais (WALKER et al., 2007).

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Ainda sobre as diferenças dos indivíduos, de acordo com Levinson (1976) e

com a Teoria Psicanalítica1, nossas identidades são originadas de pessoas, lugares

e fatos que consideramos importantes em nossas vidas. Além disso, interações e

relacionamentos que formamos com essas pessoas e lugares se tornam partes

integrais de nosso desenvolvimento e crescimento. Por isso, normalmente, quando

alguma mudança acontece e esse elo se quebra, os seres humanos se sentem

desamparados por alguma perda de controle sobre a situação e por baixa estima.

Tanto essa visão psicanalítica quanto a reciprocidade que há entre a

organização e seus funcionários desde o momento em que um escolhe o outro para

fazer parte de suas respectivas vidas, podem servir de base de como os indivíduos

se sentem quando uma empresa realiza uma mudança como, por exemplo, a fusão

ou aquisição de outra empresa. Por isso, há necessidade de as empresas agirem,

no momento certo, visando prevenir sentimentos negativos dos indivíduos da

corporação que possam desencadear resultados ruins para qualquer tipo de

movimento como, por exemplo, a redução de produtividade (APPELBAUM et al.,

2000).

Uma mudança organizacional como, por exemplo, um processo de F&A faz

com que os empregados da empresa percam seu atual modo de realizar suas

atribuições e tenham que se adaptar a um novo sistema, cultura e pessoas. É um

sentimento de perda de um pedaço de suas identidades e a corporação precisa

estar atenta a tudo isso. Por outro lado, os funcionários não devem ignorar tais

mudanças, ou negar tudo o que está acontecendo ao seu redor (LEVINSON, 1976).

Para reduzir esse sentimento de perda, os executivos da empresa precisam

realizar todo o processo de mudança de tal forma que afete o mínimo possível os

funcionários e que os mesmos consigam lidar bem com todo esse novo cenário,

além de serem capazes de dar continuidade às suas atribuições (APPELBAUM et

al., 2000).

Outro procedimento que pode ajudar a reduzir esse sentimento de perda, por

parte dos funcionários, é a justificativa do motivo das mudanças (BRIDGES, 1991),

além de demonstrar o histórico de seus movimentos que ocorreram dentro da 1 A Teoria Psicanalítica foi desenvolvida pelo neurologista austríaco Sigmund Freud no fim do século XIX e início do século XX e está relacionada a sua prática psicoterapêutica. É uma teoria que procura descrever a etiologia dos transtornos mentais, o desenvolvimento do homem e de sua personalidade, além de explicar a motivação humana. Com base nesse corpo teórico, Freud desenvolveu um tipo de psicoterapia. Ao conjunto formado pela teoria, pela prática psicoterapêutica nela baseada e, pelos métodos utilizados, dá-se o nome de psicanálise.

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empresa anteriormente ao processo de F&A nos quais a mesma conseguiu manter

sua competitividade junto ao mercado e seus empregados conseguiram se adequar

e se manter na empresa. Essas ações podem se transformar em medidas eficazes

para conquistar maior comprometimento dos funcionários em relação às mudanças

que possam ocorrer durante o processo de F&A (APPELBAUM et al., 2000).

Ou seja, a melhor forma da empresa se relacionar com seus empregados

nesse momento de mudança é através da transparência e fazendo-os perceber que

uma perda pode gerar diversos ganhos no futuro (MAURER, 1996).

De qualquer maneira, mesmo a organização caminhando nessa direção, uma

característica relevante que costuma acontecer durante um processo de F&A é a

consciente ou inconsciente negação de que as mudanças realmente irão ocorrer.

Por outro lado, caso os funcionários não neguem tais mudanças, eles podem criar

resistência às mesmas, sendo essa uma reação inconsciente (MAURER, 1996).

2.2 FUSÕES E AQUISIÇÕES 2.2.1 Conceito de Fusão e Aquisição e formas alternativas de crescimento

No atual mundo capitalista e globalizado em que vivemos, cada vez mais a

busca por novos consumidores e a manutenção dos antigos se acirra. Vantagens

competitivas são perseguidas pelas empresas. Em determinados setores, ou a

empresa realiza uma estratégia de crescimento, ou estará fadada a ser adquirida por

uma concorrente (CEAUSESCU, 2008).

São diversos os movimentos de crescimento que uma empresa pode realizar

como, por exemplo, Joint Venture, onde duas ou mais empresas se reúnem para

criar uma nova, formalmente separada das demais, com governança, força de

trabalho e cultura própria (BARROS, 2003). Outras opções seriam as chamadas

“alianças” e os processos de fusões e aquisições (F&A) (KAYO et al., 2010).

Já Marks e Mirvis (1998) relatam que podemos adicionar o licenciamento

como uma quarta maneira de uma empresa crescer, que representa a venda de um

serviço com algum tipo de relacionamento entre as empresas, implicando baixo grau

de investimento, de controle e integração entre elas. Além disso, afirmam que o

movimento de crescimento chamado “aliança estratégica” pode ser denominado

igualmente como “parceria”. A diferença se daria na medida em que “aliança” seria

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realizada entre concorrentes enquanto “parceria” entre a empresa e seus

fornecedores ou clientes.

Temos como fusão, o processo de consolidação de duas organizações em

uma única; e aquisição, como sendo o processo de compra de uma empresa por

outra, sendo que somente uma delas permanecerá com o controle da nova

corporação (BORYS; JEMINSON, 1989).

No entanto, segundo Lynch e Lind (2002), os processos de fusões são

praticamente inexistentes, pois sempre haverá alguma parte dominante nesse

processo, assim inviabilizando a obtenção do mesmo nível de controle por ambas as

empresas.

O tema F&A pode estar relacionado a diversos assuntos e abordagens, onde

podemos visualizar o estudo de quatro diferentes escolas de pensamento, tendo

cada uma delas suas respectivas raízes teóricas, objetivos e hipóteses centrais.

Essas escolas estariam fortemente ligadas aos assuntos de mercado de capitais, de

estratégia, de comportamento organizacional e de processos (HASPESLAGH;

JEMISON, 1991).

Historicamente, podemos verificar o acontecimento de um fenômeno de

‘ondas’ em relação aos processos de F&A. Dependendo de algumas variáveis

econômicas e empresariais, podemos identificar determinados picos elevando,

assim, a quantidade de processos de F&A nesses períodos. As motivações se

diferenciam em cada ‘onda’ e demonstram que tais movimentos não possuem nada

de casual (RIBEIRO, 2010).

Mas, nem sempre os processos de F&A são propostos e conquistados de

forma amistosa, ou seja, com consentimento ou interesse recíproco entre ambas as

corporações. O chamado takeover, também conhecido como oferta hostil, acontece

quando uma organização de capital aberto realiza uma oferta de compra de ações

diretamente para os acionistas da empresa a ser adquirida (BUCKLEY; GHAURI,

2002).

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2.2.2 Tipos de Fusões e Aquisições e suas classificações

Uma forma de se visualizar os tipos de aquisições que uma empresa pode

realizar foi idealizada por Lynch e Lind (2002), ambos gestores da empresa

Hawthorne Group, empresa especializada em áreas como estratégia corporativa e

processos de F&A. Os autores estudaram 25 processos de aquisições, das quais

participaram entre 1980 e 1999, com o objetivo de verificar as condições para se

obter sucesso nesses acordos.

Nesse estudo, foram consideradas duas dimensões: disparity, ou seja, o grau

de similaridade ou diferença entre ambos os modelos de negócios; e goodwill, isto é,

o ágio pago pela aquisição da empresa, de acordo com o potencial lucrativo que a

mesma pode alcançar. Os autores sabem da existência de outras dimensões, mas

analisando somente as duas escolhidas conseguiram identificar quatro tipos de

aquisições possíveis (LYNCH; LIND, 2002).

1. The plan and prosper acquisition (alto goodwill / baixa disparity): nessa

categoria ocorrem aquisições de empresas de mesma indústria, canais e

mercados ou similares. Além disso, a área de vendas e os líderes

possuem algum tipo de expertise ou relacionamento especial que traz

maior valor para a organização.

2. The stand and hold acquisition (alto goodwill / alta disparity): esse é um

tipo de aquisição que tem de ser realizado com bastante cuidado. É similar

à compra do estoque de uma empresa como um investimento de longo

prazo, mas com altas cobranças em relação aos resultados esperados

sobre seu desempenho.

3. The merge and grow acquisition (baixo goodwill / baixa disparity): essa

categoria de aquisição é a mais clássica de todas e possui uma estratégia

de ganho de participação de mercado. Um dos pontos chave é a

realização de uma rápida, mas cuidadosa integração entre ambas as

empresas. Outro objetivo seria o de reduzir as despesas para os níveis

anteriores à aquisição, ao mesmo tempo em que tenta maximizar o fluxo

de receitas.

4. The segment or sell acquisition (baixo goodwill / alta disparity): essa

categoria pode ser a menos desejável por duas razões: uma pelo fato dos

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gestores da empresa compradora possuírem poucas chances de aumentar

seu conhecimento no negócio; e a segunda, pela empresa adquirida

oferecer poucos conhecimentos e relacionamentos que creditem maior

valor à empresa compradora.

Além disso, normalmente o que se verifica é que os processos de F&A são

classificados de três modos diferentes (BUCKLEY; GHAURI, 2002):

1. Horizontal, quando falamos de duas empresas pertencentes à mesma

indústria.

2. Vertical, quando há uma fusão ou aquisição entre duas empresas em

diferentes estágios da cadeia produtiva.

3. Conglomerados, quando as empresas em questão não possuem negócios

relacionados.

Sabemos que a integração horizontal equivale a aproximadamente 70% dos

processos de F&A enquanto a vertical soma 10%, sendo a segunda muito mais

comum em empresas do setor de serviços do que em manufatureiras (UNCTAD,

2000).

Já Buono e Bowditch (1989) detalham que o Federal Trade Commission

(FTC), agência independente do governo norte-americano que tem como principal

missão promover a proteção dos consumidores daquele país classifica, de cinco

modos diferentes, os processos de F&A.

Além dos três mencionados acima, ainda teríamos o chamado “extensão de

produto”, onde ambas as empresas possuem semelhanças em relação à produção

e/ou distribuição, mas comercializam produtos que não competem entre si. Por

último, a “extensão de mercado” acontece quando ambas as empresas vendem os

mesmos produtos, mas em territórios geográficos complementares. De qualquer

forma, essas cinco categorias de F&A não podem ser consideradas totalmente

diferentes, já que podem conter determinadas características que outra também

possua (PELSTER, 1981).

Kate et al. (2009) citam outro estilo de processo de F&A que tem estado em

evidência e demonstrado uma extrema eficiência para as empresas. A chamada

“abordagem de parceria” tenta enfatizar que, mais do que uma companhia integrar a

outra, elas precisam se aliar de forma a serem parceiras. Nessa abordagem,

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percebemos diversas características que a diferenciam de um processo de F&A

tradicional. Ambas as empresas trabalham de forma independente, além de

manterem suas respectivas identidades. A organização que foi incorporada costuma

manter seu corpo executivo e detém o mesmo poder e autonomia da empresa que a

adquiriu.

Esse tipo de abordagem foi adotado por diversas corporações como, por

exemplo, na aquisição da empresa automotiva Daewoo pela sua concorrente Tata

Motors que, mesmo após o processo, continuou operando na própria Coréia do Sul

de forma independente e gerenciada por executivos do próprio país (KALE et al.,

2009).

2.2.3 Motivações e impactos em um processo de Fusão e Aquisição

Cada um desses diferentes tipos de processos de F&A pode impactar de

diversas maneiras, em relação a sinergias e resultados, na integração de ambas as

organizações. Ou seja, dependendo do tipo estratégico de F&A e das sinergias

esperadas, tanto os movimentos quanto as decisões junto aos recursos humanos da

empresa podem se diferenciar (BUONO, 1989).

Walsh (1988), por exemplo, relata que o turnover da alta gerência é menor

em F&A do tipo “conglomerado” do que em outros. Como se trata de empresas que

possuem mercados não relacionados, existe uma necessidade de se manter as

pessoas estratégicas e familiarizadas com o negócio para minimizar problemas

futuros de adaptação junto aos seus mercados e respectivos produtos.

Para Cartwright e Cooper (1999), a principal lógica que contempla a real

motivação que leva uma empresa a adquirir outra é a maximização do valor da

empresa. Outras motivações seriam o poder de monopólio, as economias de escala,

os efeitos sinérgicos (BUCKLEY; GHAURI, 2002), a obtenção de uma presença

global (MARKS; MIRVIS, 1992), a realização de uma rápida expansão, a geração de

ativos complementares e maior racionalização produtiva (CAMARGO; BARBOSA,

2008), a pressão por parte dos investidores e a necessidade da empresa em se

diversificar (GUIA ERNST & YOUNG, 1995).

Por outro lado, também podemos destacar diversas motivações para uma

empresa aceitar ser adquirida por outra como, por exemplo, ter acesso aos recursos

da empresa compradora, a necessidade de obter redução de custos através de

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economias de escala e a inabilidade de crescer como uma organização

independente (CEAUSESCU, 2008).

Também podemos verificar algumas motivações para duas empresas se

fundirem como: reestruturação da cadeia de valor da indústria, obtenção de

benefícios fiscais, redirecionamento do excesso de capital para investimentos mais

rentáveis e/ou complementares e o aumento da escala de produção de alguma linha

de produto já existente (CEAUSESCU, 2008).

Como verificamos, são muitas as motivações para se adquirir outra

companhia. Em contrapartida, a mais mercadológica seria a aquisição de novos

consumidores ou de maneiras mais eficazes para servir os clientes já existentes ou

aqueles que dependam dessas melhorias para se tornarem novos compradores.

(SELDEN; COLVIN, 2003).

Segundo Sterger (1999), todas essas motivações relatadas acima podem ser

reunidas em dois grupos distintos: tradicional, quando estiverem relacionadas

diretamente à consolidação e expansão do mercado; e a transformacional, quando

relacionadas ao desenvolvimento de um novo portfólio de produtos, modelo de

negócios ou mudança radical de patamar.

Olhando o caso do Brasil, por exemplo, uma pesquisa realizada por Barros

(2003), demonstrou que as razões vinculadas com o mercado - como o aumento de

participação, adição de novas marcas ao portfólio atual da empresa e penetração

em novos mercados - significaram 59% do total das aquisições. Logo em seguida,

com 11,7%, temos as aquisições motivadas pelo ganho de escala. Outros 9,1%

estavam associados a preços favoráveis e 1,3% a questões de tecnologia. Outro

dado interessante é que 44,6% das empresas se encontravam em situação

financeira precária quando foram adquiridas.

Porém, ao contrário da busca realizada pelas empresas, os processos de

F&A, em sua maioria, não têm impactado de forma positiva na maximização do valor

aos acionistas (WALKER, 2008). E muitas seriam as razões visualizadas para esse

desempenho negativo como, por exemplo: a inexperiência das empresas; a falta de

um propósito estratégico na aquisição de uma organização; a utilização de ações

supervalorizadas para o pagamento da aquisição; e uma integração deficitária

(LAJOUX; WESTON, 1998). Já segundo Nguyen e Kleiner (2003), algumas das

características que fazem de um processo de F&A um fracasso seriam a perda de

valor da empresa, uma menor produtividade e o aumento do absenteísmo.

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De acordo com Carleton (1997), entre 55% e 70% dos processos de F&A

fracassam. Já uma pesquisa realizada em 1999, pela empresa de auditoria KPMG,

demonstrou que entre 75% e 83% dos processos de F&A falharam (NGUYEN;

KLEINER, 2003). Um dos principais exemplos que evidenciaram esse aspecto

negativo foi a fusão entre as empresas americanas American on Line (AOL) e Time

Warner, que durante um determinado momento presenciaram a desvalorização de

suas ações de $70 para $12 cada uma (COLVIN, 2003).

2.2.4 Caminhos para se obter um processo de F&A mais eficiente

Segundo Lynch e Lind (2002), seriam dois os fatores primordiais para reduzir

esse percentual de fracassos: inicialmente, as companhias e/ou seus consultores

devem realizar um trabalho mais cuidadoso no momento de selecionar as empresas

que serão adquiridas. Posteriormente, mas tão importante quanto, seria a precaução

dos líderes da organização em selecionar prioridades e no gerenciamento das ações

e comportamento da empresa junto aos funcionários.

Já o Guia da Ernst & Young (1995) relata que as corporações que possuem

um programa pró-ativo de aquisição com seus respectivos objetivos estabelecidos

têm maiores chances de sucesso do que as empresas que se movimentam por uma

reação impulsiva em relação a uma determinada oportunidade. O mesmo guia

abrange algumas tarefas que uma empresa pode utilizar visando obter um bom

planejamento inicial para um possível processo de F&A. Seriam elas:

1. Estabelecimento de responsabilidades no nível de políticas e estratégicas.

2. Desenvolvimento de um plano de aquisição.

3. Definição dos critérios de aquisição.

4. Identificação de todas as organizações com potencial de serem

adquiridas.

5. Estabelecimento de contatos eficazes com os candidatos.

6. Realização da diligência na empresa a ser adquirida.

7. Negociação de termos que preservem os benefícios identificados.

8. Aproveitamento dos benefícios através de uma integração pós-aquisição

eficaz.

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Já no artigo de Nguyen e Kleiner (2003) encontramos outra pesquisa que vai

ao encontro de novos direcionamentos em relação a como tornar esse processo de

integração o mais positivo possível e como ajudar os líderes das empresas a

encontrar valor no processo de F&A. Conforme os autores acima, a consultoria

KPMG, após analisar os 700 mais caros acordos de F&A no período de 1996 até

1998 e entrevistar 107 executivos dessas mesmas organizações, sugeriu algumas

regras para os presidentes e os responsáveis pelo processo de integração. Tais

regras coincidem, em alguns casos, com recomendações feitas por outros autores,

conforme destacados a seguir:

1. Deve a Diretoria participar ativamente no processo de integração,

liderando e suportando os funcionários e os envolvendo em todo o

processo (MARKS, 1997).

2. Definir a direção para o novo negócio, isto é, logo após fechar o acordo, os

líderes mais experientes de ambas as empresas devem se reunir visando

discutir futuros objetivos, visões, valores e políticas da nova organização.

3. Compreender as questões emocionais, políticas e racionais, ou seja,

entender os sentimentos que um processo de F&A pode provocar junto

aos empregados, demonstrando que os líderes respeitam essas pessoas

e a situação que estão passando (MARKS, 1997).

4. Maximizar o envolvimento, ou seja, a melhor forma de obter uma

participação positiva dos funcionários nesse processo de mudança é

envolvendo os mesmos. Quanto mais complexo o processo de integração,

mais recursos são necessários e envolver o máximo de empregados faz

com que se aumente o grau de energia, desenvolvam-se mais ideias e se

identifique o quanto antes os problemas (APPELBAUM et al., 2000).

5. Focar na comunicação, isto é, fornecendo uma comunicação transparente,

consistente e atualizada faz com que os funcionários aumentem sua

capacidade de lidar com todo o processo e contribuam com maior

produtividade.

6. Fornecer com transparência as regras e linhas de decisões, ou seja,

realizar uma clara e rápida transição contribui com a economia de energia

despendida e minimiza períodos de stress e danos à produtividade dos

funcionários. Essa transparência também contribui para a organização da

nova estrutura e retenção das pessoas chave.

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7. Dar continuidade ao foco no consumidor, ou seja, se a nova empresa

deseja reter a confiança dos consumidores, ela precisa compartilhar, com

os mesmos, os destinos de seus produtos para que se sintam seguros

sobre suas decisões de compra. Além disso, seus clientes precisam estar

seguros em relação à manutenção dos benefícios e serviços agregados

(SIMPSON, 2000).

8. Ser flexível, isto é, devido à complexidade de juntar duas culturas distintas

e visando à liderança de mercado, a empresa necessita de flexibilidade

para unir pontos fortes de ambas as companhias.

Por mais que exista um índice alto de fracassos em processos de F&A, essa

estratégia ainda é vista como sendo um excelente caminho, já que a empresa

consegue alcançar um crescimento e a diversificação de seus objetivos de forma

mais rápida e fácil (DATTA, 1991). Porém, sabe-se que muitos desses fracassos se

devem ao deficitário gerenciamento das pessoas e dos assuntos culturais durante o

processo de integração (CARTWRIGHT, 2005). Podemos verificar a coerência

dessa informação quando visualizamos que, ainda hoje, a literatura de F&A

encontra-se muito mais direcionada para estudos financeiros e mercadológicos do

que para humanos e comportamentais. Nos últimos anos, a desproporcionalidade

tem se reduzido, porém ainda existe um longo caminho pela frente (CARTWRIGHT,

2005).

Em contrapartida, obtendo uma visão financeira de longo prazo, todas as

aquisições seriam rentáveis, já que se trata de um movimento inicial que visa

aumentar as chances de uma futura fusão, essa maior e mais rentável (GORTON et

al. 2009).

2.2.5 Desafios dentro de um Processo de F&A

Os desafios começam antes mesmo da escolha de que empresa adquirir.

Quando uma determinada empresa começa a sondar a possibilidade de comprar

outra, a procura por informações e dados que deem maior segurança para a

empresa compradora se torna essencial. Uma das ferramentas para isso seria a due

diligence, ou seja, a investigação de um conjunto de variáveis financeiras, ou não, e

dos negócios da organização a ser adquirida (LYNCH; LIND, 2002).

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Durante a mesma fase que antecede ao acordo final e somada à má

utilização da due diligence, mais dois erros podem fazer com que uma aquisição

tenda ao fracasso: falta de uma estratégia competitiva e expectativas exageradas de

sinergias (LYNCH; LIND, 2002).

Já posteriormente à efetivação da compra de uma determinada empresa por

outra, o principal papel dos executivos chave dessa nova organização formada é a

realização da integração entre ambas. Dependendo de como seja realizada essa

etapa inicial, o desempenho da nova empresa pode ser positivo ou negativo

(CORDING et al., 2008). Seja durante a negociação ou já no processo de

integração, os desafios são imensos.

Uma das maiores dificuldades que se tem encontrado em um processo de

F&A ocorre quando a organização demanda esforços mais intensos em visualizar

potenciais sinergias e na estratégia financeira, e menos na estratégia organizacional.

Isso se torna um obstáculo porque, segundo Schmidt (2003), entre os cinco maiores

problemas verificados durante um processo de F&A e que podem reduzir sua

eficácia (inabilidade por parte dos executivos em sustentar o desempenho

financeiro; perda de produtividade; incompatibilidade cultural; perda de pessoas

chave para outra empresa; choque no estilo de gestão.) três possuem forte

dependência e relação com o fator humano.

O fator humano é altamente impactado quando ocorre um processo de F&A e

se torna um fator chave nesse momento de consolidação entre duas empresas.

Porém, as organizações costumam colocá-lo em segundo plano, privilegiando os

fatores financeiro e comercial (RANKINE, 1998). Durante e após o período da fusão

ou aquisição de uma companhia, o ambiente se torna crítico devido ao aparecimento

de expectativas e questionamentos entre os funcionários de ambas as empresas

(HUANG; KLEINER, 2004).

Lynch e Lind (2002) concordam com Schmidt (2003) em relação aos conflitos

culturais serem o fator relevante para o sucesso ou fracasso de um processo de

F&A. Além desse ponto, os autores também sustentam que o tempo de integração e

estar preparado para diversos cenários são de extrema relevância para a

sustentação do processo.

Em relação ao tempo, os cem primeiros dias após o fechamento do acordo

são vistos como os mais críticos e será, nesse período, que se estipulará o ritmo do

processo. Já em relação aos cenários, existe a necessidade da empresa estar

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preparada para qualquer tipo de mudança sem deixar que o processo de integração

perca ritmo ou credibilidade (LYNCH; LIND, 2002).

De acordo com Huang e Kleiner (2004), uma boa gestão, durante o processo

de integração, será a etapa mais importante para o sucesso da fusão ou aquisição e

seu resultado será mensurado pelos diversos desafios enfrentados, sendo a maioria

deles relacionados ao fator humano. Além disso, nessa mesma fase de integração,

faz-se necessário os líderes focarem na identificação e na captura do valor da

empresa e de seus funcionários (APPELBAUM et al., 2000).

Conforme Conner e Newman (1988), as principais mudanças organizacionais

não ocorrem sem “sofrimento” e a dor de não mudar deve sair mais cara que o custo

da mudança. Normalmente, qualquer processo de F&A envolve alterações nas

empresas, já que existirá algum nível de integração nas funções ou atividades

organizacionais (GAUGHAN, 1999). Além disso, comparados a outros tipos de

mudanças organizacionais, os processos de F&A podem ser considerados como os

que demandam maior tempo em seu período de transição (CARTWRIGHT;

COOPER, 1996).

As principais mudanças organizacionais normalmente interrompem a vida da

organização em termos de relações interpessoais, funcionários, status da unidade

de trabalho e identidade social associadas com os grupos (PAULSEN et al., 2005).

Por mais que, na maioria das vezes, as mudanças sejam implantadas por razões

positivas, normalmente é respondida pelos funcionários de forma negativa e

resistente. Tal negatividade aparece pelo fato de mudanças gerarem um aumento de

pressão, stress e incertezas para os empregados (ARMENAKIS; BEDEIAN, 1999).

Esses sentimentos levam a uma resistência às mudanças e, na maioria das vezes,

ao fracasso dessas. Isso porque, para se conquistar o sucesso, é necessária a

construção positiva de crenças, percepções e atitudes das pessoas (EBY et. al,

2000).

Muitos impactos são visualizados durante a fase de mudanças na

organização. Demissões, stress, e funcionários doentes seriam alguns deles; e as

dificuldades de se gerenciar tais impactos durante um processo de F&A têm gerado

resultados negativos para as empresas (CARTWRIGHT; COOPER, 1996).

Nesse momento, a presença do líder possui um papel de extrema

importância. Esses devem transparecer aos funcionários uma visão do que seria a

mudança para a organização e dar suporte aos mesmos durante esse período,

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assim ajudando a gerar maior estabilidade e a manter o comprometimento das

pessoas junto à corporação (COVIN; KILMAN, 1990).

2.2.6 Teorias e suas respectivas influências dentro de um processo de F&A

Gerenciar um processo de mudança organizacional, como uma F&A, se

mostra muito complexo pelos diversos obstáculos já vistos nos itens anteriores. Seo

e Hill (2005) identificaram a existência de seis teorias principais que, implicitamente

ou explicitamente, enfatizam diversas reações comportamentais e psicológicas que

os funcionários da empresa demonstram durante um processo de F&A. Cada teoria

identifica diferentes fontes de problemas e seus efeitos junto aos empregados, além

de sugerir soluções.

As respectivas teorias seriam: Teoria da Ansiedade; Teoria da Identidade

Social; Teoria da Aculturação; Teoria do Papel do Conflito; Teoria da Característica

do Trabalho e Teoria da Justiça Organizacional. As teorias serão abordadas

sucintamente a seguir, incorporando comentários de outros autores sobre as

mesmas.

2.2.6.1 Teoria da Ansiedade

Normalmente, o fato de um processo de F&A ser longo e intenso faz com que

o indivíduo se torne mais ansioso. Entretanto, o grau dessa ansiedade pode variar

de acordo com cada pessoa (BUONO; BOWDICH, 1989).

Antes do processo de integração acontecer, os funcionários procuram lidar

com as incertezas sobre suas carreiras, mas normalmente são os cenários negativos

que prevalecem em suas mentes (MARKS; MIRVIS, 1985). A possibilidade de

perderem seus respectivos empregos faz com que aumentem suas preocupações e

sentimentos de angústia (BROCKNER et al., 1992), provocando o surgimento de

determinados instintos de sobrevivência para se proteger. Dessa forma, gera-se

uma competição destrutiva e negativa para o desempenho da organização como um

todo (SCHWEIGER et al., 1987).

Diversas são as possibilidades para gerenciar essa ansiedade contínua dos

empregados, originada por um processo de F&A. Uma das mais usuais seria a

utilização, pela alta hierarquia da empresa, de um contínuo processo de

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comunicação, informando sobre o que vai acontecer com seus empregos. Outra

possibilidade seria a empresa contratar profissionais capacitados para aconselharem

e treinarem seus funcionários para que os mesmos aprendessem a gerenciar tais

sentimentos (MATTESON; IVANCEVICH, 1990). Adicionalmente, viria algum suporte

de amigos e familiares (SCHECK; KINICKI, 2000).

Outro tipo de suporte viria através da realização de encontros, onde os

empregados pudessem expressar suas visões e opiniões sobre o assunto, além de

ouvir e trocar ideias com pessoas que estivessem passando pela mesma situação

(FUGATE et al., 2002).

Por maior que seja a quantidade e intensidade de trabalho durante um

processo de F&A, as lideranças não podem se esquecer dos funcionários e devem

se esforçar para ouvir e ajudar, mesmo nos estágios iniciais (MARKS, 1997).

2.2.6.2 Teoria da Identidade Social

Em um processo de F&A ocorre o abandono de uma identidade

organizacional e a criação de uma nova através da interação de ambas as

organizações e seus empregados (SEO, 2001). Além da organizacional, a

identidade dos profissionais e de seus respectivos grupos de trabalho também é

impactada por essas mudanças (KRAMER, 1991).

Como os funcionários costumam se identificar com suas empresas, um

momento de mudança pode fazer com que adquiram um sentimento de perda e

angústia, levando à não aceitação do processo de mudança (BUONO; BOWDITCH,

1989).

Durante o processo de F&A, funcionários podem reagir de forma a conquistar,

na nova organização, uma boa posição para o grupo que eles já conhecem

(HAUNSCHILD et al., 1994), possibilitando a ocorrência de sérios conflitos (MARKS;

MIRVIS, 1985).

Neste caso, a ideia seria tentar desenvolver uma identidade comum através

do encorajamento de interações entre os funcionários advindos de ambas as

empresas. Vieses encontrados dos dois lados podem ser minimizados a partir do

momento em que as pessoas se auto categorizem como um grupo único, em

condições de cooperativismo interdependente (GAERTNER et al., 1990).

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33

São diversos os movimentos que se podem realizar entre os funcionários

visando auxiliar na criação de uma nova identidade como, por exemplo, a articulação

de uma nova visão, objetivos em comum e símbolos organizacionais (BUONO;

BOWDITCH, 1989). Uma vez que a identidade corporativa é identificada através de

elementos como cultura, produtos e comunicação, a nova organização deverá

escolher entre adotar tais elementos de uma empresa, de ambas ou até mesmo criar

algo totalmente novo (BROOKS et al., 2005).

2.2.6.3 Teoria da Aculturação

Originado da antropologia, o termo aculturação denomina as alterações

ocorridas em dois grupos diferentes como resultado do contato entre ambas as

culturas (BERRY, 1980). Em um processo de F&A, se aplica quando percebemos a

existência de uma combinação de diferentes culturas organizacionais e seus

respectivos valores, crenças e práticas (ELSASS; VEIGA, 1994).

Segundo Berry (1980), existem quatro modos de ocorrer um processo de

aculturação, sendo que os mesmos foram adaptados para um contexto de F&A

visando descrever as diferentes maneiras como duas organizações se adaptam uma

à outra e resolvem potenciais conflitos. Esses quatro modos seriam: a

“deculturação”, onde os funcionários de uma organização não continuam com suas

antigas culturas e trocam por uma nova; a “assimilação”, onde os indivíduos de uma

organização adotam a cultura de outra; a “separação”, onde membros de cada

organização continuam com suas respectivas identidades culturais; e a “integração”,

onde algum nível de mudança é realizado em ambas as empresas.

Quando a escolha do modo a ser implantado para a integração das duas

organizações não tiver consenso, stress e tensão podem surgir entre os

empregados (NAHAVANDI; MALEKZADEH, 1988).

Também podemos denominar tais conflitos de aculturação como “choque

cultural”, o qual se intensifica quando se visualiza que determinados fatores - como,

por exemplo, comprometimento, estilo de comunicação, autoridade e controle

gerencial - são trabalhados de forma diferente entre ambas as empresas, sendo que

cada uma acredita que seu modus operandi seja superior ao da outra. Isso pode

gerar um sentimento ameaçador de perda no cotidiano dos funcionários (MARKS;

MIRVIS, 1992).

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34

Uma maneira de se minimizar o stress causado pela tentativa de junção

dessas culturas seria através da realização de uma due diligence cultural, a qual

verificaria o real cenário das diferenças entre as duas organizações e buscaria evitar

ou minimizar problemas futuros (MARKS, 1999).

Outra forma de se interferir e fazer com que as diferenças culturais não se

tornem sérios obstáculos para o sucesso do processo de F&A seria através de

aprendizados interculturais, via apresentações e workshops realizados para os

funcionários de ambas as organizações (BUONO; BOWDITCH, 1989).

2.2.6.4 Teoria do Papel do Conflito

Essa teoria relata que a tensão psicológica ocorre quando as pessoas se

encontram engajadas em diversas funções que são incompatíveis (KATZ; KAHN,

1978).

Durante o período de integração de um processo de F&A, podemos visualizar

um elevado nível de mudanças estruturais, culturais e empregatícias que podem

acarretar um alto grau de ambiguidade, confusão e conflitos para os funcionários

das corporações. Dessa forma, todo esse movimento se tornaria mais uma fonte de

stress, e de redução da motivação e da satisfação do trabalho (BUONO;

BOWDITCH, 1989).

Como tentativa de se resolver esses conflitos entre os papéis organizacionais,

Marks e Mirvis (1992) sugerem que as lideranças devam transparecer aos

funcionários suas novas funções dentro da nova empresa formada, além de

entender suas respectivas expectativas em relação às funções.

2.2.6.5 Teoria da Característica do Trabalho

Segundo Buono et al. (1985), as alterações ocorridas nas características do

trabalho e no ambiente dos funcionários durante um processo de F&A acarretam

mudanças de comportamento e atitude dos mesmos. Dessa forma, normalmente,

percebe-se certo desgaste no ambiente de trabalho e a redução da satisfação e do

comprometimento dessas pessoas.

Uma forma de evitar todo esse impacto negativo junto aos colaboradores se

daria através da realização do redesenho de suas funções de forma conjunta entre

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os gestores e funcionários da corporação, de modo a sustentar ou interferir

positivamente na sua satisfação e comprometimento com a organização, além de

minimizar qualquer tipo de resistência durante o período de integração (CAMERON

et al., 1991).

2.2.6.6 Teoria da Justiça Organizacional

Normalmente, os processos de F&A envolvem diversas decisões, inclusive

sobre desligamento e deslocamento de funcionários. Essa teoria fornece

informações sobre como tais decisões podem afetar o comportamento e as

percepções dos empregados que permanecem após esse movimento de mudança.

Isso significa que os empregados, normalmente, se preocupam em entender quais

processos e procedimentos foram utilizados pela organização para a tomada de

decisão e de que maneira foram tratadas as pessoas durante esse período

(GREENBERG, 1987).

Para guiar o processo de integração da melhor forma possível, uma ideia

seria atribuir a um líder a incumbência de permanecer integralmente à frente desse

processo (MARKS, 1997), além de utilizar suas habilidades e conhecimentos para

lidar com os funcionários e os possíveis problemas relacionados ao fator humano

(HUANG; KLEINER, 2004).

Outro ponto com efeito relevante para o sucesso do processo de integração

de duas organizações são as barreiras culturais encontradas. De acordo com estudo

realizado em 1992 pela antiga empresa de auditoria Coopers & Lybrand, de cada

100 fracassos, 85 se deveram principalmente a diferenças entre estilos de

gerenciamento e suas respectivas práticas. Um bom exemplo foi a aquisição da

empresa de tecnologia NCR pela americana do segmento de telefonia AT&T, no

início da década de 90. As incompatibilidades culturais eram de tamanha proporção

que os funcionários não queriam trabalhar no mesmo prédio e o turnover dos

empregados da NCR foi tão alto que só sobraram 04 gerentes dos 30 iniciais. A

aquisição se transformou em mais um fracasso e a empresa foi vendida em 1997,

gerando perdas estimadas em mais de três bilhões de dólares (HUANG; KLEINER,

2004).

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36

Quando pessoas são obrigadas a trabalhar com grupos desconhecidos, isso

pode causar determinados receios em se arriscar e em levantar certos assuntos.

Pela falta de confiança nos novos membros do grupo, pode-se criar um sentimento

individualista (MARKS; MIRVIS, 1992), levando à perda de cooperação e iniciativa

entre os funcionários da nova empresa, assim resultando em uma maior dificuldade

para alcançar as sinergias propostas e resolver conflitos e desentendimentos

(APPELBAUM et al., 2000).

Outro desafio encontrado durante um processo de F&A é a velocidade com

que se realiza a integração entre as organizações. Quanto mais rápido se der a

integração, mais as oportunidades futuras poderão ser aproveitadas. Além disso,

normalmente, quanto maior o tempo de integração, maiores serão os custos e

menores os lucros, resultando em menos dinheiro no caixa (HUANG; KLEINER,

2004). Da mesma forma, Clarkson et al. (1997) relatam que integrações que ocorrem

devagar trazem problemas com maior frequência. Já em relação aos funcionários,

afirmam que os mesmos se sentem mais inseguros quando o processo de

integração é demorado.

No entanto, os indivíduos não são impactados somente pela velocidade com

que se realiza a integração, mas pelo processo como um todo (HUANG; KLEINER,

2004), cabendo ao corpo gerencial maior atenção para minimizar as influências

negativas durante o processo de F&A. Nesse período, muitos são os rumores,

incertezas e sentimentos de ameaças, fazendo com que a corporação e seus

gestores tenham de responder com uma comunicação rápida, clara e constante

(HUANG; KLEINER, 2004). Outro público que pode ser influenciado pela falta de

comunicação e, dessa forma, trazer resultados negativos para a empresa é o dos

consumidores finais. Isso ocorre pela incerteza sobre quais linhas de produtos

continuariam a existir e pela descontinuidade, ou não, de todo o suporte que a

companhia realizava (MENN; PHAM, 2002).

Por outro lado, em muitos momentos, verifica-se a ocorrência de atrasos

intencionais na comunicação devido ao receio dos líderes de haver redução de

produtividade, sabotagem ou êxodo de funcionários (MARKS, 1999).

Outro ponto importante dentro do processo é a atuação dos gestores no

momento de fornecer um direcionamento para as incertezas dos funcionários.

Porém, essa liderança é difícil de obter em qualquer movimento de mudança,

principalmente em um processo de F&A (CLARKSON et al., 1997). Segundo

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Appelbaum et al. (2000), o período de integração fica normalmente a cargo dos

gerentes médios, que não necessariamente são liberados para tomar decisões e

nem sempre são abastecidos de recursos. As decisões são tomadas de forma

centralizada e a comunicação torna-se insatisfatória e formal. De forma equivocada,

executivos e gerentes se distanciam dos funcionários da empresa, demonstrando

falta de experiência para comandar um processo de F&A (MARKS, 1997).

2.3 O FATOR HUMANO EM PROCESSOS DE FUSÕES E AQUISIÇÕES

De acordo com Buono e Bowditch (1989), duas das maiores referências no

assunto, o fator humano pode ser subdividido nos seguintes tópicos, considerados

como mais relevantes:

2.3.1 Resistência à mudança

Define-se resistência à mudança como qualquer atitude ou comportamento

que frustre os objetivos das mudanças organizacionais propostas pela empresa. Em

relação à atitude, há uma rejeição psicológica à real necessidade de ocorrer à

mudança, enquanto a resistência comportamental é representada por procedimentos

que demonstram uma má vontade em se aceitar as alterações e,

consequentemente, o não comprometimento em suportar as mesmas para que as

chances de sucesso aumentem (CHAWLA; KELLOWAY, 2004).

A resistência pode aumentar de forma progressiva e a única forma de parar

esse crescimento é tratando a situação com muito cuidado e transparência

(APPELBAUM et al., 2000). De acordo com Maurer (1996), a resistência pode ser

dividida em três níveis de intensidade.

O primeiro nível é considerado o mais fácil de superar. Neste caso, a

resistência está diretamente relacionada à mudança, onde o funcionário não tem

certeza da validade da ideia. Visto isso, a melhor forma de contornar a situação é

comunicando de maneira clara o objetivo da mudança e demonstrando os benefícios

potenciais gerados pela mesma. Além disso, também são formas potenciais de se

reduzir a resistência dos empregados: a demonstração de que se trata de mudanças

simples; e fazer com que eles sejam capazes de visualizar o andamento das

mesmas (MAURER, 1996).

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Já o segundo nível de resistência acontece normalmente em casos de

processos de F&A onde assuntos como desconfiança, diferenças culturais e perda

de respeito são vistos com frequência. Nesse caso, o funcionário responde através

do questionamento sobre os reais motivos da empresa em realizar tais mudanças ou

através da luta contra a implantação das alterações propostas. Isso demonstra que,

em determinados momentos, os funcionários acreditam que a organização não os

respeita ou que os exclui.

No caso das empresas, elas só devem tomar alguma iniciativa em relação às

resistências quando tiverem certeza do motivo das mesmas e da ação a ser tomada

para que se resolva o problema. A melhor forma de superar esse obstáculo é

envolvendo ativamente os funcionários, ouvindo suas sugestões e reclamações e

fazendo com que se sintam protegidos e valorizados (MAURER, 1996).

O último nível de resistência inclui os maiores obstáculos das empresas e

envolve assuntos mais profundos e com uma incidência mais forte. Os fatores

decorrentes são os mesmos do segundo nível, porém de forma repetida e por

períodos mais longos. Nesse caso, é complexo superar a resistência e deve ser

respondida com extremo cuidado (MAURER, 1996).

Existem ainda outras formas de se evitar resistências às mudanças

organizacionais. Dar uma direção clara com objetivos de curto e longo prazo, para

os funcionários seria uma delas, pois a empresa alcançando esses objetivos faz com

que os empregados tenham a percepção de estarem chegando a algum lugar. Outra

forma seria através de uma liderança consistente e estável imposta pelos gestores

(MAURER, 1996).

De qualquer forma, a empresa precisa se movimentar rapidamente quando

fizer algum tipo de mudança e responder para os funcionários de forma que reduza

ao máximo a tensão no ambiente. Devem também acompanhar o progresso dos

empregados e dar feedback sempre que possível (PRITCHETT, 1994).

2.3.2 Incertezas, expectativas e comprometimento dos funcionários

2.3.2.1 Incertezas e expectativas

Segundo DiFonzo e Bordia (1998), a palavra incerteza pode ser definida

como o estado psicológico de dúvida resultante da ambiguidade sobre o real

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significado de um determinado evento, além de ser uma fonte de tensão durante um

processo de F&A (BASTIEN, 1987).

Isso ocorre pelo fato de os indivíduos que trabalham nas empresas

participantes do processo não conseguirem mensurar o impacto desse evento em

relação: às suas respectivas funções na empresa; sobre a possibilidade de

permanecerem, ou não, na organização; e à qual cultura organizacional irá se

sobrepor à outra (BORDIA et al., 2004b).

Tais incertezas podem gerar comportamentos positivos por parte dos

funcionários como, por exemplo, maior comprometimento e lealdade; ou

comportamentos negativos, como maior absenteísmo e até mesmo atos de

sabotagem (BUONO et al., 2002).

Normalmente, esses sentimentos de incerteza acabam fazendo com que o

ambiente corporativo permaneça bastante tenso, causando diversas reações por

parte dos empregados (CAREY et al., 2004). Visto isso, cabe à empresa entender as

respectivas reações advindas desses indivíduos para identificar as ações a serem

tomadas e, assim, obter sucesso no gerenciamento de seus sentimentos e

comportamentos durante o processo de F&A (BAHL et al., 2009).

Outro aspecto muito estudado quando acontece um processo de F&A é a

forma como a empresa compradora gerencia as expectativas dos funcionários da

organização adquirida. Entre essas expectativas estariam, por exemplo, como os

funcionários seriam geridos e como o processo iria afetar seus colegas de trabalho

(HUBBARD; PURCELL, 2001).

As expectativas são definidas como sendo as crenças que os indivíduos têm

em relação a ”o que conduz a quê” no ambiente e serve como mapa visual da

organização (PORTER et al., 1975).

As expectativas são contingentes e constantemente modificadas, seja por

causa do ambiente a que os funcionários se encontram expostos, das interações

entre os mesmos, ou dos comunicados realizados pela organização (WANOUS et

al., 1992). Durante o processo de F&A, essas expectativas se tornam bastante

complexas e atuantes pelo fato dos funcionários muitas vezes serem forçados a se

transferirem para uma nova organização. Porém, esses sentimentos são

influenciados e diferenciados por alguns fatores como, por exemplo, a fase em que

se encontra o processo de F&A, o papel imposto ao funcionário e o tipo de

integração realizada pelas corporações (HUBBARD; PURCELL, 2001).

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Ainda de acordo com Hubbard e Purcell (2001), são quatro as principais

expectativas e preocupações que atingem os funcionários durante todo esse

movimento de transformação em uma nova organização:

1. Dúvida se terão alguma vaga na nova empresa e que tipos de trabalho

realizariam, além de expectativas sobre como seria seu desempenho. Isso

implicaria a reformulação do contrato psicológico, ou seja, o que a nova

empresa espera do funcionário e o que este acredita serem as obrigações

da corporação para com os indivíduos em termos de políticas de recursos

humanos e atribuições do trabalho.

2. Como toda essa mudança irá afetar o seu cotidiano e de seus colegas de

trabalho em relação à autonomia e aos respectivos papéis e

responsabilidades na nova empresa; e como será a adaptação à nova

organização.

3. Como será a adaptação em relação aos procedimentos e políticas da nova

empresa como, por exemplo, os códigos de comportamento e vestuário.

4. Como as expectativas vão atuar em torno da nova cultura organizacional e

de seus respectivos estilos de gerenciamento e relacionamento

(HUBBARD; PURCELL, 2001).

Também se pode verificar que as dúvidas e expectativas acima podem variar

de acordo com o grau de importância do papel de cada indivíduo na empresa e de

seu envolvimento no processo de F&A. Três tipos de funcionários são identificados

de acordo com seu nível de poder em relação à tomada de decisão e sua posterior

influência na implantação das ações: os negociadores; os executores; e os

receptores. Cada tipologia desempenha diferentes papéis nos estágios do processo

e exerce influência nas suas próprias expectativas e nas dos outros empregados

(HUBBARD; PURCELL, 2001).

Os chamados ‘negociators’ ou negociadores são os executivos mais

experientes, envolvidos no processo de F&A desde seu início e com

responsabilidades no gerenciamento do mesmo. Por isso, são aqueles que possuem

as expectativas mais precisas e claras em relação ao que pode acontecer no futuro

(HUBBARD; PURCELL 2001).

Já os ‘enactors’ ou executores se encontram um nível abaixo dos

‘negociators’ e são responsáveis pela execução e comunicação do processo de

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F&A. Precisam não somente lidar com suas ansiedades, mas também com as dos

seus subordinados. Por último, os chamados ‘recipients’ ou receptores são

funcionários com pouco ou nenhum poder de decisão durante o processo de F&A.

Esses indivíduos se sentem impotentes e dependentes de informações dadas pelos

seus chefes, mas que nem sempre são abertas e estão disponíveis para serem

divulgadas. Toda essa situação gera incertezas e preocupações sobre sua real

situação dentro da nova organização (HUBBARD; PURCELL, 2001).

As expectativas dos funcionários são formadas a partir de informações

disponibilizadas pelos comunicados ou pelas ações realizadas pelos gestores. Visto

isso, quanto mais precisa for a comunicação entre empresa e funcionários, menores

serão as chances de se obter uma variedade de interpretações em relação às ações

propostas durante o processo de F&A. O momento e o intervalo de tempo em que a

comunicação é realizada também podem influenciar no maior ou menor grau de

expectativa (HUBBARD; PURCELL, 2001).

De qualquer forma, essas expectativas precisam ser gerenciadas e, de

acordo com Hubbard e Purcell (2001), existem cinco categorias essenciais no

gerenciamento eficaz das expectativas dos funcionários em um processo de F&A:

qualidade na comunicação; credibilidade na informação dada aos funcionários;

confiança nas ações realizadas pelos líderes; e lógica nas ações e comportamentos

da liderança.

Normalmente, as expectativas em relação ao gerenciamento do processo de

F&A giram em torno do futuro do próprio funcionário e de seus colegas de trabalho.

Tais preocupações centram-se na reformulação do contrato psicológico entre

organização e indivíduo, na socialização com um novo grupo de pessoas e no

impacto que tudo isso pode ter em relação à mudança do status e de procedimentos

atuais, além de variarem durante os estágios do processo de F&A, serem

influenciadas pela estratégia de integração da empresa compradora e pela

habilidade em disponibilizar e controlar as informações durante todo esse

movimento (HUBBARD; PURCELL, 2001).

2.3.2.2 Comprometimento

As atitudes dos funcionários relacionadas ao trabalho podem vir por múltiplas

formas e normalmente são definidas em termos de satisfação, envolvimento e

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comprometimento (MELLOR et al., 2001), sendo que estabelecê-los e mantê-los é

considerado vital para qualquer organização (BUCKINGHAM; COFFMAN, 1999).

Particularmente, comprometimento organizacional pode ser definido em termos da

ligação que o funcionário tem com a empresa (MELLOR et al., 2001).

Indivíduos que possuem uma ligação psicológica com a corporação e que

internalizam as características e perspectivas da mesma são possuidores do

chamado comprometimento organizacional (O’REILLY; CHATMAN, 1986). Para a

empresa é, de extrema importância, ganhar o comprometimento de seus

funcionários, visto que, por exemplo, o turnover tende a cair (ELANGOVAN, 2001) e

o compartilhamento de conhecimento a crescer (THOMPSON; HERON, 2005).

De acordo com Meyer e Allen (1991) a ligação psicológica com a organização

é um constructo multidimensional e que pode levar a três formas distintas de

comprometimento. Elas serão abordadas a seguir, incorporando comentários de

outros autores sobre as mesmas. Seriam elas:

1. Comprometimento afetivo: refere-se à ligação emocional do funcionário,

seu envolvimento e identificação com a organização (MEYER; ALLEN,

1991). Os empregados se sentem alinhados com os valores da empresa.

Além disso, sentem-se psicologicamente “em sincronia” com o que ela

representa e sua cultura. Esse tipo de comprometimento também é

conhecido como atitudinal (MATHIEU; ZAJAC, 1990).

2. Comprometimento contínuo: diz respeito aos custos ligados à saída de um

funcionário da corporação, ou seja, são vistos os benefícios associados a

sua permanência versus os custos pessoais por deixar a empresa.

Também conhecido como comprometimento calculativo (MATHIEU;

ZAJAC, 1990). Dessa forma, esse grupo de indivíduos não permanece na

organização por motivos de lealdade ou crença, mas sim por não ter

alternativas de emprego, ou por já ter investido muito na empresa para

simplesmente sair (WIENER, 1982) como, por exemplo, o fato de faltar

pouco tempo para se aposentar e o status conquistado (MEYER; ALLEN,

1997).

3. Comprometimento normativo: é baseado na obrigação e no dever moral

em persistir e permanecer na empresa (MEYER; ALLEN, 1991). Esse

grupo de funcionários não desenvolve uma ligação emocional com a

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organização, porém continuam trabalhando de forma produtiva por

questões culturais, familiares e éticas (WIENER, 1982).

Ou seja, o funcionário que permanece na organização pelo seu

comprometimento afetivo, significa que ele deseja e quer estar na empresa. Já

aqueles indivíduos que possuem o comprometimento contínuo permanecem na

corporação porque necessitam. Por último, aqueles que possuem um

comprometimento normativo ficam na companhia pelo dever moral que persiste

junto a eles (ALLEN; MEYER, 1990).

De acordo com Iverson (1996) o fato de o indivíduo ser comprometido com a

organização facilita em alcançar e aceitar mudanças na empresa. Mais

precisamente, Vandenberghe (2003) sugere que o comprometimento afetivo

influencia em diversos resultados chave de um processo de F&A como no

comportamento do indivíduo, no desempenho do trabalho e na intenção ou não de

sair da organização.

Por outro lado, em alguns momentos, o comprometimento contínuo está

relacionado negativamente com o desempenho do funcionário (KONOVSKY;

CROPANZANO, 1991). De qualquer forma, manter o comprometimento dos

empregados com a organização é um desafio para todos os gestores (DESSLER,

1999).

Por mais que as organizações desejem pessoas que possuam um

comprometimento afetivo, essas são as mais atingidas e influenciadas

negativamente por um processo de F&A (MOTTOLA et al., 1997). Essa influência

pode ser atribuída a distintos fatores como, por exemplo, ao aumento do grau de

cinismo da organização (ARMENAKIS; BERNERTH, 2007), a percepção de injustiça

por parte dos funcionários (KLENDAUER; DELLER, 2009) e ao aumento do stress.

Todo esse ambiente negativo no trabalho causa a insatisfação desses indivíduos e

posteriormente, uma possível redução no comprometimento afetivo dos mesmos

(BUONO; BOWDITCH, 1989) e no desempenho da organização em um momento de

que ela mais precisa (VAN DICK et al., 2006).

Sabendo disso, as organizações podem caminhar por duas direções para

melhorar seus desempenhos durante um processo de F&A. Uma delas seria focar

exatamente em fatores que reduzam a influência negativa que esse tipo de processo

possui junto os funcionários com comprometimento afetivo, e a outra seria trabalhar

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os fatores que mantivessem ou aumentassem esse mesmo tipo de

comprometimento nos empregados da corporação (ROUNDY, 2010).

2.3.3 Stress

Como o stress em um evento específico é determinado pelas percepções

subjetivas dos indivíduos e não por uma realidade objetiva, as fontes dessas

percepções precisam ser claramente identificadas pelos gestores dentro do contexto

de, por exemplo, um processo de F&A (MARKS; MIRVIS, 1985). Já para Meyers

(1999) o stress ocasionado por um acontecimento é determinado pelo acúmulo e

nível de mudanças estabelecidas, independente de serem boas ou ruins.

Além disso, como o stress intensifica a procura dos indivíduos por

informações faz com que os líderes da organização precisem tomar cuidado para

que elas não sejam distorcidas (MEYERS, 1999).

Durante esse movimento de transição, que ocorre durante o processo de

F&A, os funcionários são normalmente expostos a três realidades: trata-se de

eventos com baixo ou nenhum controle por parte dos indivíduos; existe o sentimento

de incerteza sobre seu futuro; e possivelmente haverá mudança em relação ao seu

emprego, nas relações de trabalho e com seus familiares (IVANCEVICH, 1987).

Inserindo um processo de F&A na escala de reajustamento social de Holmes

e Rahe (1967), o stress ocasionado por esse tipo de processo pode ser comparado

ao advindo do nascimento de uma criança ou até mesmo da falência de uma

empresa.

Em um processo de F&A, normalmente os funcionários da empresa adquirida

são os que mais sofrem de stress (HOGAN; OVERMYER-DAY,1994), principalmente

por se sentirem inferiores devido a perda de autonomia e status (HAMBRICK;

CANNELLA, 1993). Visto isso, uma das consequências que podem ser visualizadas

é a união de determinado grupo de gestores da empresa adquirida criando um tipo

de “groupthink”, ou seja, os funcionários abrem mão de suas capacidades de análise

crítica para adotar posições de conformidade de modo a evitar sanções sociais.

Além disso, essa mentalidade normalmente é exibida por grupos que se sentem

ameaçados e que armazenam um acúmulo de percepções subjetivas sobre uma

realidade objetiva (MARKS; MIRVIS, 1997).

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Com o objetivo de se mensurar essas informações, Covin et al. (1996)

realizou um estudo com 2.845 empregados e constatou um elevado nível de

insatisfação por parte dos funcionários da empresa adquirida e maior nível de stress

devido às constantes mudanças. Outra fonte de stress seria a incompatibilidade

cultural visualizada entre ambas as empresas (BAKKER; HELMINK, 2000).

Por outro lado, Terry et al. (1996) se mostram contrários à parte do estudo

realizado por Covin et al. (1996) já que os primeiros visualizaram reações positivas

de funcionários de uma companhia aérea que foi adquirida por outra.

Pelo fato de haver grandes possibilidades de mudanças e perdas durante um

processo de F&A, o mesmo se torna intrinsecamente estressante (SIEHl, 1990).

Além disso, o declínio de produtividade que, às vezes, é percebido na organização e

a carência de oportunidades de empregos em outros lugares também acabam

gerando certa ansiedade nas pessoas envolvidas (MARKS, 1999).

Quando uma empresa é adquirida por outra, seus funcionários se sentem

como se tivessem perdido o controle sobre momentos importantes de suas vidas e

na tentativa de recuperar esse controle, eles se retraem de tal forma ao ponto de

ficarem tensos e inseguros, assim reduzindo a produtividade e satisfação com o

trabalho (DAVY et al., 1989).

Já Mirvis e Marks (1992) acreditam que o stress e a ansiedade são

intensificados por um sentimento de perda demonstrado por parte dos funcionários

de uma empresa durante períodos de mudanças como em fusões e aquisições ou

reestruturações. Em um ambiente com boa probabilidade de ocorrerem mudanças

sejam elas positivas ou negativas, o sentimento de incerteza gera stress nos

funcionários afetando assim, suas percepções, julgamentos e relações interpessoais

(APPELBAUM et al., 2000).

Segundo Ivancevich et al. (1985), os processos de F&A geram traumas e

stress nos funcionários, os quais podem resultar em problemas de saúde,

psicológicos, comportamentais e de desempenho. Durante um momento de

mudança, o stress se torna um processo que pode ser desencadeado e acionado

por dois principais fatores: a natureza do evento e pelas características das pessoas

envolvidas. Ambos os fatores levam a uma avaliação cognitiva da situação do

processo, o qual gera como resposta o stress. Dependendo da intensidade e

duração dessa resposta, as consequências podem ser diversas.

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46

Porém, as respostas, tipos e níveis de stress desencadeados não são os

mesmos para todos os indivíduos. Dado que os processos de F&A são

cognitivamente avaliados e interpretados, suas implicações se tornam determinantes

para as respostas das pessoas afetadas pelo stress. Para alguns funcionários, esse

processo pode ser visualizado como uma ameaça a sua felicidade e bem-estar,

porém, por outro lado, para outros esse mesmo movimento pode ser visto como uma

oportunidade (IVANCEVICH et al., 1985).

No modelo idealizado por Lazarus e Folkman (1985), chamado de stress-

appraisal model visualizam-se as maneiras como funcionários de uma empresa

reagem às diversas tensões e incertezas advindas de um processo de F&A sendo

que os efeitos são classificados de três maneiras distintas:

1. Irrelevant ou irrelevante, quando um processo de F&A é percebido como

não tendo efeito sobre a rotina da empresa e ameaças aos empregos dos

funcionários. Nesse caso, o nível de stress é considerado baixo;

2. Benign-positive, quando o processo de F&A é percebido positivamente

pelos funcionários da empresa, ou seja, como uma oportunidade de preservar ou

melhorar sua autoestima ou posição dentro da empresa (LAZARUS; FOLKMAN,

1985);

3. Stressful ou estressante, com potencial de gerar altos custos para os

indivíduos e organizações e que pode ser subdividida em três categorias: a)

avaliação de danos, a qual indica a existência de danos ao funcionário como perda

de autoestima ou sentimento de impotência; b) ameaça, onde há percepções de

perdas ou danos que ainda não ocorreram, mas são esperados; c) desafio, que

difere da segunda categoria por seu foco girar em torno do potencial dos ganhos e

crescimento fazendo com que essas pessoas possuam maior autoestima,

produtividade e saúde (LAZARUS; FOLKMAN, 1985).

Normalmente, as pessoas possuem determinadas ambições e valores dentro

e fora de uma empresa. Na percepção dos funcionários, um processo de F&A pode

dificultar a realização desses projetos ou até mesmo facilitar na concretização dos

mesmos. Em relação a isso, caso as mudanças sejam percebidas como

ameaçadoras e como responsáveis por não se conseguir atingir os valores

desejados, o nível de stress tende a aumentar. Caso contrário, o mesmo tende a

reduzir.

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Outro fator ameaçador é a competição destrutiva entre funcionários para

manter seus respectivos empregos fazendo com que toda organização saia

perdendo. Os que resolvem não lutar ou que percebem oportunidades de

recolocação no mercado de trabalho acabam desistindo e saindo da empresa, assim

resultando na perda de talentos por parte da mesma. (SCHWEIGER et al., 1987).

Três fatores gerados por um processo de F&A influenciam na intensidade do

stress e em seus efeitos sobre como esses indivíduos irão se comportar. Os fatores

seriam a incerteza, a iminência e a duração (SCHWEIGER et al., 1987).

a) Incerteza: não ter conhecimento se um determinado evento irá acontecer

ou não e suas reais consequências podem influenciar na intensidade do stress. Na

ausência de informações, as percepções e avaliações individuais tendem a seguir o

caminho das especulações e dos rumores, assim fazendo com que todas essas

incertezas resultem em níveis maiores de stress.

b) Iminência: se refere ao tempo total que antecede ao processo de F&A e

onde todas as incertezas e rumores são percebidos com maior intensidade pelos

indivíduos. Ou seja, quanto maior a iminência mais intenso se torna o stress por

parte dos funcionários, especialmente se tais especulações evidenciarem sinais de

ameaças, danos ou oportunidades.

c) Duração: refere-se ao tempo que essas pessoas permanecem estressadas

por causa do processo de F&A. Quanto mais tempo as pessoas permanecerem

nesse processo de incertezas e stress, maiores as chances de se tornarem

suscetíveis a problemas de saúde, pessoais e familiares, ou seja, há uma

somatização2 do stress (SCHWEIGER et al., 1987).

A forma de como o stress pode se manifestar nas pessoas é complexa e

altamente diversificada. Além disso, a consequência dos resultados que um

processo de F&A pode gerar nas pessoas e na organização é determinada pela

natureza da avaliação cognitiva e intensidade de resposta ao stress.

Uma das maneiras do stress se manifestar seria por meio de problemas

físicos como, por exemplo, pressão elevada no sangue, enxaqueca, dores

musculares, tremores e insônia (LAZARUS; FOLKMAM, 1985). Já os problemas

psicológicos, podem ser visualizados quando as pessoas permanecem durante um

2 Somatização refere-se a uma ou várias queixas físicas, que uma investigação adequada não revela

existência de patologia orgânica que explique a intensidade da queixa física. Geralmente é considerado resultado como resposta a um extremo sofrimento psicológico.

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bom tempo com um elevado nível de stress. Depressão, ansiedade, perda de

autoestima, irritação, preocupação e redução na produtividade no trabalho, carreira

e na vida pessoal são alguns dos exemplos comuns ligados ao stress

(SCHWEIGER; IVANCEVICH, 1985).

Tanto os problemas físicos quanto os psicológicos estão ligados a duras

consequências comportamentais e organizacionais. Problemas de saúde interferem

nas taxas de absenteísmo e no desempenho dos funcionários. Já problemas

psicológicos podem afetar a relação junto à empresa através de diversas maneiras:

depressão e ansiedade podem fazer com que a pessoa não consiga enfrentar o

trabalho; absenteísmo e atrasos podem se tornar constantes nesses momentos e

tristeza e ressentimento podem se transformar em hostilidade com os outros

funcionários.

Além dessas perdas que ocorrem durante o processo de F&A acredita-se que

o custo para a nova organização seja alto em termos de produtividade e alcance dos

objetivos futuros (SCHWEIGER; IVANCEVICH, 1985).

2.3.3.1 O stress e suas intervenções dentro dos estágios de um processo de F&A

Cada processo de F&A possui suas particularidades e características próprias

com diferentes tipos de eventos e níveis de stress, ou seja, é como se ocorresse, em

cada um desses processos, um novo cenário com comportamentos e resultados

diferentes. Além disso, podemos visualizar em cada estágio do processo de F&A um

determinado nível de stress e diferentes tipos de avaliações cognitivas, respostas e

consequências (IVANCEVICH et al., 1985).

Durante um processo de F&A, não existe um pacote completo de

intervenções que possam eliminar completamente o stress nos funcionários, mas

sim ações realizadas durante os diversos estágios do processo pelas empresas,

pelos profissionais de recursos humanos e pelos próprios funcionários que podem

dessa forma, facilitar no andamento de todo o evento. Esses grupos de intervenções

são conhecidos como: preventivas, de reavaliação e gerenciamento do stress ou

ajuda profissional (IVANCEVICH et al., 1985).

As intervenções preventivas tentam reduzir os acontecimentos que deixam os

funcionários estressados, porém tais intervenções se tornam mais difíceis de

implantar já que a empresa que está sendo adquirida possui baixo controle sobre

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esses respectivos eventos. Quando esse controle existe ou os executivos de ambas

as empresas concordam nas diversas decisões, tais intervenções preventivas se

tornam mais fáceis de serem implementadas (IVANCEVICH et al., 1985).

Já a intervenção de reavaliação se refere a uma alteração da avaliação

cognitiva inicial da situação realizada pelos funcionários. Novas informações

fornecidas pelos gestores e a boa vontade dos empregados poderão ajudar a lidar

com todas essas incertezas e especulações que levam ao stress (IVANCEVICH et

al., 1985).

Por último, a utilização do grupo de intervenção chamado de gerenciamento

do stress ou ajuda profissional se faz necessária quando os funcionários já se

encontram afetados pelos acontecimentos do processo de F&A e com sinais de

stress ocasionados pelos mesmos. Para os casos menos complicados existem

técnicas para se reduzir o stress e para os mais profundos um profissional pode ser

consultado (IVANCEVICH et al., 1985).

Cada estágio do processo de F&A possui suas próprias características,

intervenções corporativas e individuais.

Estágio 1: Fase de planejamento

O primeiro estágio de um processo de F&A chamado por Ivancevich et al.,

(1985), de Fase de planejamento consiste na avaliação de uma possível fusão ou

aquisição de outra empresa. Por mais que nesse estágio tudo ainda se encontre de

forma confidencial e as ações realizadas com muita discrição, já se podem visualizar

rumores sejam internamente na empresa ou externamente pelo mercado.

Dependendo da intensidade desses rumores, os mesmos podem acarretar em

preocupações pelos funcionários. Dessa forma, não se demora a chegada do

período de incertezas e stress. Nesse mesmo estágio, a perda da atual posição na

empresa é o que mais preocupa e estressa os funcionários (IVANCEVICH et al.,

1985).

Em relação ao papel da organização, a melhor maneira para se reduzir os

rumores e incertezas é fornecer informações exatas e claras aos empregados, o que

se viabiliza através de um eficiente sistema de comunicação, o qual irá ajudar na

transparência entre lideranças e indivíduos da empresa durante todos os estágios do

processo de F&A (IVANCEVICH et al., 1985).

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Já Greenhalgh (1983) relata a existência de uma intensa necessidade por

parte dos funcionários em serem informados constantemente, porém sem serem

sobrecarregados. Se não recebem as informações de forma adequada acabam

encontrando suas próprias respostas através de especulações, assim resultando em

maiores níveis de stress e efeitos negativos para toda a organização.

São três as dimensões do sistema de comunicação a serem visualizadas:

qual informação fornecer; que meio de comunicação utilizar; e como transparecer

essas informações (IVANCEVICH et al., 1985).

É complicado para a organização decidir qual informação fornecer até mesmo

porque é nesse primeiro estágio que os altos executivos menos sabem sobre a atual

situação. No entanto, por mais que as informações sejam confidenciais avisar tanto

a imprensa quanto os funcionários poderá ajudar a evitar que os rumores atinjam um

tamanho desproporcional (IVANCEVICH et al., 1985). Somado a isso, para os

funcionários, essas informações não podem ser vistas como contraditórias, não

podem dar a impressão de como se tivesse algo escondido (RISBERG, 1997) e não

devem transparecer mais vantajosas do que a real situação demonstra. Portanto, a

corporação precisa ser honesta com seus empregados (SCHWEIGER et al., 1987).

Já a forma de se comunicar também é uma decisão importante no processo.

A utilização de e-mails vindos do alto escalão da empresa pode dar maior

credibilidade à informação e reforçar a posição dos gestores frente aos funcionários.

Além disso, as chances de se reter os empregados e o comprometimento dos

mesmos em relação à empresa aumentam. Outro passo importante é o envio de

memorandos para os gestores chave e a realização de reuniões departamentais

visando informar e ajudar os empregados com suas possíveis frustrações. Porém, é

de extrema importância evitar comunicados e encontros excessivos que prejudiquem

o cotidiano de trabalho da empresa (IVANCEVICH et al., 1985).

O alto escalão da empresa deve tomar muito cuidado no momento de

transparecer as informações para os funcionários. Mentir, realizar falsas promessas

e fornecer informações inconsistentes deve ser evitado. Tudo deve ser feito para

ajudar os funcionários a obter uma percepção exata do que está acontecendo e,

dessa forma, minimizar o potencial de stress. Além disso, ter flexibilidade, bondade e

compreender a situação por que os indivíduos estão passando também poderá

auxiliar no combate ao stress, resistência e angústia ao qual possam estar passando

(SCHWEIGER et al., 1987).

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Ainda no primeiro estágio do processo de F&A, Fase de planejamento, temos

o papel dos próprios indivíduos em relação a somar forças com as intervenções

realizadas pela empresa visando à redução do potencial stress. De certa forma, tais

intervenções realizadas pelos próprios indivíduos são mais importantes e eficazes

do que as da organização (IVANCEVICH et al., 1985).

Nesse estágio, é importante que cada indivíduo da empresa pense sobre suas

carreiras e quais as possibilidades caso realmente o processo de F&A seja

consumado. Prevenir a si próprio da vulnerabilidade física e psicológica é

importante, além de se esforçar para acreditar que seu trabalho e empresa não

sejam as únicas responsabilidades e deveres de sua vida. Já em relação à parte

financeira é importante entender quanto tempo conseguiria ficar sem trabalho para

que as despesas sejam organizadas. Envolver as pessoas da família nas discussões

e avaliar metas, pontos fortes e fracos também são maneiras de reduzir o stress

atual e um possível sentimento negativo que possa ocorrer na própria família

(IVANCEVICH et al., 1985).

Além disso, é de extrema importância obter uma avaliação realista da atual

situação e desenvolver uma perspectiva positiva para ajudar na redução do stress.

Existem diversas maneiras e abordagens que os indivíduos podem fazer isso:

a) o indivíduo pode focar em qualquer aspecto positivo da atual situação, assim

minimizando ou ignorando os aspectos menos agradáveis ou mais estressantes; b)

comparando sua situação com a de pessoas que estejam com uma situação mais

complicada ou com a sua própria situação no início de sua carreira pode ajudar a

levar esse momento de forma menos severa; c) as dificuldades que os indivíduos

passam durante o processo de F&A podem ser reduzidas caso se olhe mais para o

futuro e tenha uma perspectiva de longo prazo; d) Considerar a real importância

desse atual momento e entender que esse acontecimento é de certa forma trivial

quando se compara com a totalidade de sua vida (IVANCEVICH et al., 1985) .

Estágio 2: Fase de implementação

Já o segundo estágio - fase de implementação - inicia-se quando uma

empresa se aproxima de outra ou de várias parceiras. Nesse momento tudo fica

mais transparente e um cenário de possível venda ou fusão cria maior stress junto

aos funcionários das organizações. Nesse mesmo estágio, especialmente os altos

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executivos da empresa adquirida sentem certa insegurança em relação aos seus

cargos. Além disso, os rumores aumentam e as dúvidas giram mais em torno sobre

qual seria a intenção da empresa compradora e suas implicações junto aos

empregados (IVANCEVICH et al., 1985).

Nesse momento, um dos papéis da corporação é de dar continuidade a todas

as ações de comunicação realizadas no primeiro estágio com os funcionários e

imprensa. Além disso, o alto escalão da empresa em conjunto com o departamento

de recursos humanos pode reduzir o nível de stress de seus funcionários

preparando planos de proteção aos mesmos.

É comum os funcionários se espelharem no comportamento do alto escalão

da companhia e se esses se importam com o bem estar de seu pessoal nesse

momento tão complicado e estressante. Porém, tal movimento dependerá se os

altos executivos acreditam ou não na possibilidade de perderem seus próprios

empregos. Caso estejam receosos com seus futuros, os mesmos estarão muito mais

concentrados em gerenciar suas próprias carreiras do que as de seus subordinados

(IVANCEVICH et al., 1985).

Outro movimento da empresa seria a realização de treinamentos junto aos

funcionários sobre como gerenciar o stress, além de aconselhamento individual ou a

disponibilização de ajuda profissional. A realização de pesquisas e entrevistas junto

aos empregados também ajudaria na manutenção de seus níveis de produtividade

durante esse período turbulento (SCHWEIGER; IVANCEVICH, 1985).

Já em relação ao papel dos indivíduos, os mesmos devem dar continuidade

às ações realizadas no primeiro estágio, ou seja, procurar alternativas de trabalho,

manter as respectivas famílias informadas e próximas, reavaliar suas carreiras e

metas, além de olhar não só para as ameaças, mas também para as oportunidades

que um processo de F&A possa revelar. Outra medida interessante é investigar a

história da empresa compradora em relação à retenção dos funcionários e o

tratamento dado aos mesmos após o fechamento do negócio (IVANCEVICH et al.,

1985).

Estágio 3: Fase de parada e transição

As fases anteriores se caracterizam e acontecem antes da aquisição. Já a

terceira - fase de parada e transição - caracteriza-se pelo trabalho das agências

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reguladoras, além da intensificação dos processos demissionários e das mudanças

organizacionais. Trata-se de um período de espera e de muitas incertezas, por mais

que já se saiba quem é o parceiro ou comprador da empresa. Tais incertezas giram

principalmente em torno de quais mudanças serão realizadas (IVANCEVICH et al.,

1985).

Nesse momento, o maior esforço deverá ocorrer com o intuito de ajudar os

funcionários a caminhar da melhor forma possível junto com o processo transitório,

além de prestar atenção aos seus sentimentos e reduzir o nível de stress

(APPELBAUM, 2000).

Em relação ao papel da empresa, uma possível intervenção seria a criação de

um grupo composto por executivos influentes, que realizariam um plano de transição

para a nova firma e discutiriam e negociariam os termos referentes à organização e

seus funcionários prevenindo assim, fontes desnecessárias de stress (IVANCEVICH

et al., 1985).

Já com a aquisição toda acertada é importante que o presidente da empresa

compradora comunique aos funcionários tudo sobre o processo que ocorreu e seus

possíveis impactos. Tudo deve ocorrer antes que a notícia se espalhe através de

outras fontes. De acordo com Barret (1973), esses comunicados deveriam

responder às seguintes questões:

1. Razões para haver o processo de F&A e qual o ganho e perda para os

funcionários;

2. Informações gerais sobre a empresa compradora;

3. Alterações no nome da empresa;

4. Alterações na estrutura organizacional da empresa;

5. Plano de redução do número de funcionários;

6. Planos em relação aos produtos da empresa comprada;

7. Detalhamento da mudança, ou não, do pacote de benefícios e

compensações;

8. Demissões e pacote demissionário;

9. Alterações nos papéis de alguns funcionários, na forma de gerenciamento

e relacionamento;

10. Alterações no nome das funções e suas descrições;

11. Alterações na política geral da empresa.

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De acordo com Daniel (1999), o calendário total do processo de F&A já deve

estar formulado para que seus funcionários tenham noção de quanto tempo terão de

lidar com essas incertezas e stress.

Mesmo com possíveis más notícias, o processo obterá melhores resultados

caso a empresa o conduza de maneira transparente e respeitando os sentimentos

dos funcionários (SCHWEIGER et al., 1986). Para isso, o sistema de comunicação

precisa manter sua interatividade com os empregados e divulgar todas as decisões,

sejam elas positivas ou negativas.

Até mesmo na hora de demitir os funcionários, ter um plano de demissão bem

definido e profissionais que possam aconselhar emocionalmente e profissionalmente

é fonte de menos stress para os funcionários. Como primeiro passo, um processo de

demissão voluntária deveria ser realizado (IVANCEVICH et al., 1985).

Estágio 4: Fase de estabilização

A Fase de estabilização acontece quando a transição é completada e a

funcionalidade da nova companhia, estabilizada. De qualquer forma, trata-se ainda

de um estágio estressante para o funcionário pelo fato de esse momento de

estabilização da empresa ainda gerar diversos tipos incertezas e movimentos

imprevisíveis por parte da corporação (IVANCEVICH et al., 1985).

Um sentimento de mal-estar pode acontecer logo após a consolidação do

processo de F&A. Funcionários que permanecem na empresa desenvolvem diversos

receios como: não serem reconhecidos pelos atuais gestores da nova organização,

não conseguirem evoluir na carreira ou, até mesmo, serem deslocados para uma

nova cidade. No entanto, esses receios se misturam com as diversas esperanças de

conquistar novas oportunidades, conhecer novos indivíduos e criar novos

relacionamentos de trabalho (MIRVIS; MARKS, 1992).

Nesse momento, mais do que preocupados, se vão perder seus empregos ou

não, os funcionários que permaneceram se concentram em como se adequar ao

novo sistema (TETENBAUM, 1999). Já os novos gestores se movimentarão

paralelamente na formação de grupos de líderes com intuito de ajudar esses

funcionários a lidar com a chamada “síndrome da sobrevivência”. São três os

estágios pelo qual os funcionários “sobreviventes” passam após a fase

demissionária a que os gestores devem estar atentos (DAVY et al., 1989):

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1. Um sentimento de angústia trazido por todas as mudanças ocorridas, pelo

aumento na insegurança no trabalho e pela perda dos amigos e

companheiros.

2. Um estágio neutro, tempo para recuperar-se e reequilibrar as emoções.

3. E por último, o estágio onde os funcionários começam a obter maior

controle de si mesmos e tornam-se produtivos novamente (BOROSON;

BURGESS, 1992).

Esse período final de um processo de F&A e seu respectivo planejamento se

torna essencial para a redução do stress de seus atuais funcionários (MARKS;

MIRVIS, 1992).

A intervenção dos executivos e profissionais de recursos humanos antes,

durante e depois desses processos de F&A são essenciais para que se minimizem

ao máximo as incertezas, receios, medos e ansiedades por parte dos funcionários e

que o processo transcorra da melhor forma possível (IVANCEVICH et al., 1985).

2.3.4 Turnover e retenção dos funcionários chave

O turnover nas organizações durante um processo de F&A é uma

consequência real e deve ser entendida e gerenciada para que seu custo seja

reduzido e não interfira negativamente no sucesso do processo (APPELBAUM et al.,

2000).

Através do estudo realizado por Morrell et al. (2004) investiga-se a relação

entre uma mudança organizacional como um processo de F&A e o turnover de

funcionários. O estudo demonstra que esse tipo de movimento pode resultar em

turnover evitável ou inevitável e que, no momento do processo de F&A, a empresa

pode decidir por agir de forma preventiva e limitar os efeitos negativos, ou

simplesmente reagir e controlar o efeito do turnover quando esse acontecer.

Ainda de acordo com o estudo de Morrell et al. (2004) são listados três

diferentes cenários:

1. Turnover inevitável, ou seja, os funcionários que saem da empresa são

perdas necessárias. Nesse caso, o custo da perda pode ser mensurado

através dos benefícios visualizados pela implantação da mudança.

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2. Turnover evitável, ou seja, uma perda desnecessária de funcionários.

Dessa forma, a organização poderia realizar determinadas ações

preventivas para evitar a saída desses empregados e compensar os

efeitos da mudança.

3. Se o turnover é uma mistura de evitável com inevitável, o impacto da

mudança pode ser difícil de ser avaliado. Tanto a prevenção como o

controle podem não ser apropriados para essa situação.

De qualquer forma, os gestores precisam estar atentos no momento da

realização da mudança para que não haja um elevado nível de turnover, sendo que

dependendo do escopo da mudança a chance de ter níveis de turnover inevitáveis é

maior (MORRELL et al., 2004). Além disso, o turnover pode ter uma importante

influência na produtividade durante o processo de F&A e na autoestima dos

funcionários (BUONO; BOWDITCH, 1989).

Diversas foram as tentativas mal sucedidas de associação do turnover com

outras variáveis ligadas ao processo de F&A. Walsh (1989) tentou relacionar o

turnover com o tamanho das empresas participantes do processo, com a forma de

pagamento e com o nível de segurança oferecido aos funcionários em termos de

retenção dos mesmos, mas também sem sucesso.

Por último, Walsh e Ellwood (1991) tentaram relacionar turnover com o

histórico do desempenho das ações da empresa adquirida no período anterior ao

processo de F&A e aos ganhos de ambas as organizações nesse mesmo período,

porém fracassando da mesma forma.

Por outro lado, conseguiram comprovar que o tipo de processo de F&A, que a

abordagem da empresa compradora e a proporção de interesse prévio da mesma

em relação à empresa adquirida explicam o turnover, pelo menos aqueles que

ocorrem durante os primeiros quatro anos após o processo de F&A (WALSH;

ELLWOOD, 1991).

Um fator que está diretamente ligado ao turnover é a retenção de funcionários

durante e após o processo de F&A. De acordo com uma pesquisa realizada por Kay

e Shelton (2000) junto a 190 altos executivos de diversas organizações, o

movimento de reter talentos e gestores chave é de extrema importância para o

sucesso do processo de F&A. De forma semelhante, Love (2000) relata que o

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turnover dos talentos da corporação por falta de um planejamento está diretamente

associado ao fracasso de um processo de F&A.

Tais funcionários chave podem ser identificados como sendo aqueles que

mais adicionam valor para corporação e com maior complexidade de serem

substituídos (MARKS; MIRVIS, 1998). Durante um processo de F&A e seu

respectivo ambiente de incertezas, esses funcionários começam a se questionar em

relação ao seu futuro e a buscar alternativas de recolocação. Normalmente são os

primeiros a sair da empresa, até por serem os mais requisitados por outras

organizações e recrutadores (MARKS; MIRVIS, 1998).

Segundo Walsh (1988) a proporção do turnover de altos executivos é maior

durante um processo de F&A comparado a outro evento. São diversas as possíveis

razões para um executivo decidir por sair ou não da empresa.

De acordo com Siehl et al. (1990), a escolha do executivo por permanecer ou

não na empresa vai depender de qual estratégia adotada durante o processo de

integração realizado pela organização compradora. Além disso, deve-se observar se

a cultura da nova organização está adequada ao que o executivo demanda, se o

direcionamento de sua carreira está em conformidade ao da nova corporação e se

há possibilidades do surgimento de oportunidades futuras.

Ainda de acordo com Siehl et al. (1990), o comportamento dos funcionários

chave durante um processo de F&A é também influenciado pela direção e estratégia

escolhida pela empresa. São quatro as possíveis estratégias:

Na primeira estratégia, Pillage and Plunder, a empresa deseja os ativos mais

valiosos da empresa adquirida e o tempo é uma variável prioritária, assim deixando

os indivíduos em segundo plano. Nesse caso, o executivo não deveria permanecer

na empresa até mesmo porque o alvo seria um ativo em específico que interessaria

a empresa compradora e que, nesse caso, não seriam as pessoas (SIEHL et al.,

1990).

Na segunda estratégia, The One Night Stand, como os ativos adquiridos são

diferentes dos negócios atuais da empresa compradora, a mesma provavelmente

precisaria da ajuda da empresa adquirida para ter sucesso no processo de F&A.

Nesse caso, o executivo poderia permanecer na empresa, até mesmo porque os

ativos que foram somados ao portfólio da empresa compradora permanecerão

intactos e independentes (SIEHL et al., 1990).

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Já na terceira estratégia, Courtship But Just Friends, existe a intenção de

realizar um processo amigável entre as empresas, dependente e com um

relacionamento de trabalho com baixo nível de mudanças. Nesse caso, os talentos

também poderiam permanecer na corporação, já que ajudariam também na

coordenação comportamental da transição (SIEHL et al., 1990).

Por último, a quarta estratégia, Love and Marriage, demanda um alto

comprometimento dos executivos chave durante o processo de integração, mas que

posteriormente poderão ser forçados a saírem da empresa por serem a imagem da

antiga organização (SIEHL et al., 1990).

Já em relação ao estudo realizado por Cannella e Hambrick (1993) foi

identificado o conceito de ‘relative standing’, o qual demonstra que durante o

processo de F&A, os executivos da empresa adquirida normalmente se sentem

inferiores aos da empresa compradora e esses acabam se sentindo superiores.

Visto isso, o clima organizacional não se sustenta de forma harmoniosa, assim

fazendo com que esses executivos da empresa adquirida escolham por sair da

corporação.

Outro estudo, esse realizado por Krug e Hegarty (2001) também tenta explicar

os motivos que levam os executivos das empresas a saírem das mesmas. Os

principais resultados foram referentes às percepções desses próprios executivos em

relação ao andamento do processo de F&A; a interação ou falta dela e sua

respectiva qualidade entre os executivos da empresa adquirida e a compradora,

além de os possíveis efeitos de longo prazo desse processo.

Da mesma forma, Kummer (2008) também consegue enumerar algumas

razões que dificultam ou auxiliam na retenção desses talentos:

1. O dano causado na confiança e motivação mesmo antes do processo de

F&A ser concluído, sendo que os rumores e incertezas são alguns dos

fatores que causam tais sentimentos negativos.

2. Velocidade e tempo são fatores chave em processos desse tipo, mas que

as empresas não conseguem gerenciar bem. Além disso, as organizações

sentem dificuldades em identificar seus funcionários chave e quando o

fazem os mesmos já escolheram por deixar a empresa.

3. Existe a necessidade de a corporação estabelecer quais seriam os

pacotes e programas oferecidos para a permanência desses talentos.

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4. Entender quais as informações que podem e as que não devem ser

abertas aos funcionários e quais meios de comunicação a serem

utilizados.

Outra ferramenta importante nesses períodos e que também é estudado por

Kummer (2008) são os métodos para se identificar os funcionários chave de uma

empresa. São exatamente três, sendo que a primeira forma seria baseada em

documentos e informações; a segunda através de pequenas pesquisas; e, por

último, através da formação de redes sociais (networking).

Em relação ao primeiro método, organizam-se as informações detalhadas dos

altos executivos e seus respectivos papéis dentro da organização. Além disso, há a

possibilidade de se analisar outros departamentos e áreas funcionais da empresa.

Normalmente e dependendo do porte da organização, os talentos das empresas

encontram-se nos primeiros quatro níveis da hierarquia. Além disso, análise de

salários e orçamentos também pode ajudar na identificação dos talentos (Kummer,

2008).

No caso das pesquisas, as mesmas podem ajudar na avaliação da

importância do indivíduo para o sucesso do negócio e do processo de integração. As

pesquisas devem ser bem estruturadas, utilizando a tecnologia adequada, porém

sem perguntas tão diretas (KUMMER, 2008).

Já o terceiro método utiliza-se do chamado map social networks, ou seja, o

mapeamento das redes sociais dentro da empresa. Trata-se de um método

totalmente diferente, mas que gera resultados valiosos para a empresa.

Normalmente, no mínimo dois desses métodos são utilizados para se obter um

resultado mais eficaz na descoberta de quem seriam esses funcionários chave

(KUMMER, 2008).

Porém, somente identificá-los não resolve o problema da organização. Reter

esses indivíduos se faz necessário e, para isso, as empresas precisam criar vínculos

e gerar perspectivas para os mesmos.

Antes de qualquer movimento, a empresa precisa demonstrar todo o seu

comprometimento em relação a esses empregados, mesmo antes de oferecer

qualquer compensação financeira (ELANGOVAN, 2001). Porém, quando necessária,

tal compensação pode ser baseada no desempenho do funcionário.

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Por outro lado, existem diversas formas de compensações que não

necessariamente sejam financeiras, sendo essas menos custosas, além de

demonstrarem maior eficácia. Outra forma seria realizar um equilíbrio entre

compensações financeiras e as não financeiras, porém de nada servirá, se tais

incentivos não forem planejados de forma rápida para que tenham a oportunidade

de serem propostos e aceitos pelos funcionários (KUMMER, 2008).

Um último procedimento que pode auxiliar na retenção das pessoas chave é a

realização de programas e procedimentos que façam com que esses funcionários se

sintam confortáveis, parte desse novo grupo e bem-vindos nessa nova empresa

formada pelo processo de F&A (KUMMER, 2008).

2.3.5 Papel dos líderes

Por toda a importância que gira em torno de um processo de F&A, assuntos

relacionados a como os líderes podem obter sucesso no gerenciamento e motivação

de seus funcionários durante esse evento tornam-se cruciais para o sucesso do

mesmo (THACH ; NYMAN, 2001). Sabe que a maioria dos processos de F&A falha

por motivos não financeiros, ou seja, por assuntos ligados à gestão, tais como:

ausência de transparência nos papéis dos funcionários, decisões tomadas de forma

errada e culturas distintas (MARKS; MIRVIS, 1999).

O papel dos altos executivos influencia diretamente no desempenho e

sucesso do processo de F&A (CERTO et al., 2006) e de acordo com Haspeslagh e

Jemison (1991) os comportamentos e ações realizadas pelos mesmos junto à

empresa são críticos para gerar resultados positivos do processo.

Já Vasilaki e O’Regan (2008) consideram que, caso os altos executivos sejam

eficientes na coordenação do processo de integração, possibilitará a presença de

um clima mais harmonioso na organização, maior facilidade em lidar com possíveis

conflitos e maior agilidade na integração dos serviços de ambas as empresas.

Em cada fase do processo de F&A, os líderes possuem distintos papéis

principais. Na primeira, no momento em que é anunciada a fusão ou aquisição entre

ambas as empresas, os líderes irão se deparar com um ambiente de incertezas,

ansiedade e muitos rumores, os quais deverão ser gerenciados com muita

competência pelos mesmos. Já na segunda fase, a da integração, o principal papel

do líder gira em torno de supervisionar a implantação dos projetos e trabalhos com

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suas respectivas diferenças de tecnologias e culturas entre ambas as empresas

(THACH; NYMAN, 2001).

Na etapa final e já com todos os sistemas integrados, o principal papel dos

gestores gira em torno da certeza dos funcionários terem a sua disposição

ferramentas e informações necessárias para alcançarem as metas de produtividade

estipuladas pela nova organização. Nessa fase, visualiza-se a volta das funções

tradicionais de um líder fora do ambiente de um processo de F&A (THACH; NYMAN,

2001).

Por mais que as três fases contenham diversos desafios, é a primeira que

causa maior debilidade e trauma, até mesmo porque os próprios líderes precisam

gerenciar seus sentimentos e potenciais perdas durante o processo. Todos os

assuntos são bem desafiadores e de acordo com Thach e Nyman, (2001) algumas

habilidades e categorias devem ser focadas e aprimoradas pelos gestores visando

aumentar a eficiência de suas lideranças durante o processo de F&A. Tais

categorias podem ser visualizadas na figura 1 (Modelo de Liderança de F&A):

Figura 1 - Modelo de liderança - Fonte: Fusão & Aquisição (THACH; NYMAN, 2001)

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Na primeira categoria, conhecida como - reconhecimento emocional - os

líderes precisam entender que, durante o processo de F&A, boa parte dos

funcionários irá experimentar algum tipo de emoção, seja ela positiva ou negativa.

Visto isso, antes mesmo de realizar qualquer ação e motivar os funcionários a dar

continuidade ao trabalho, os próprios gestores precisam tentar controlar suas

emoções (THACH; NYMAN, 2001).

Em paralelo, é importante conceder abertura aos funcionários para falar sobre

suas emoções, evitar discussões e encorajar a realização de outros programas fora

do ambiente de trabalho. Além disso, ser transparente e autêntico na comunicação

com os indivíduos é de extrema importância até mesmo para não se perder

credibilidade com os mesmos. E para suportar todas essas ações, os líderes devem

providenciar ferramentas que ajudem os funcionários a lidar com todas essas

emoções como, por exemplo, o suporte do departamento de recursos humanos,

workshops sobre stress e serviços de aconselhamento com profissionais

especializados (THACH; NYMAN, 2001).

Já referente à segunda categoria, ou seja - trabalho e foco no consumidor - o

líder precisa gerenciar da melhor forma possível as preocupações de seus

funcionários para que os mesmos não percam o foco do seu trabalho, ou seja,

satisfazer as necessidades dos consumidores finais. Além disso, os gestores

precisam renegociar os objetivos de desempenho e verificar quais projetos serão

mantidos ou descontinuados.

Da mesma forma, o líder deve se envolver cada vez mais com seus

funcionários e deixá-los participar do processo decisório do departamento, porém é

importante nesse momento estar cada vez mais perto gerenciando suas emoções e

trabalhos solicitados. No entanto, também precisam ser realistas e entenderem que

uma perda mínima de produtividade pode acontecer (THACH; NYMAN, 2001).

Já em relação aos clientes finais, os mesmos precisam estar seguros que

nada irá mudar no relacionamento com a empresa e para que isso aconteça a

organização precisa garantir a continuidade da qualidade de seus sistemas e

serviços (THACH; NYMAN, 2001).

Em relação à parte de - comunicação - essa a terceira categoria, os líderes

precisam aumentar a quantidade de reuniões com os funcionários, em grupo e

individualmente, visando mantê-los atualizados em relação ao andamento do

processo de F&A, inclusive o que irá acontecer com os próprios empregados,

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estratégias corporativas e potencias impactos que possam ocorrer com a

organização. Realizar mecanismos de retorno e estarem abertos para tirar qualquer

dúvida também se faz necessário (THACH; NYMAN, 2001).

A quarta categoria - motivação e incentivos - mostra que manter os

funcionários interessados durante o processo de F&A é bem desafiador, mas que

existem maneiras para os líderes realizarem tal feito com o máximo de sucesso

possível. No primeiro momento, os gestores devem chamar seus melhores

funcionários e dar-lhes desafios para que se mantenham motivados e permaneçam

na empresa. Além disso, demonstrar que eles são ativos valiosos para a empresa é

de extrema importância.

Como outras formas de motivação, sugerem-se ainda: a realização de

treinamentos, a criação de oportunidades, premiações financeiras, tudo isso com o

intuito de estimular e manter os funcionários. Estar mais presente realizando

coaching3 e mentoring4 pode ser visto como ponto positivo pelos funcionários, além

dos líderes permanecerem mais perto e presentes para realizarem qualquer tipo de

mudança necessária (THACH; NYMAN, 2001).

Em relação à quinta categoria - criatividade e envolvimento - observa-se que

durante o momento de transição do processo de F&A, funcionários conquistam

maior liberdade para tentar novos métodos criativos e diferenciados pelo fato de a

empresa reduzir obstáculos em relação ao considerado “jeito certo de fazer as

coisas” que existe nas organizações, o que permite tal alteração.

Visto isso, os líderes devem aproveitar toda essa situação e estimular a

mente inovadora dos empregados e mostrar-lhes como essas oportunidades podem

ser positivas. Uma boa prática seria a realização de sessões de brainstorming5 entre

eles e envolvê-los nas tomadas de decisões de determinados projetos,

especialmente os relacionados ao processo de F&A (THACH; NYMAN, 2001).

3 Coaching é um processo, com início, meio e fim, onde o coach (profissional) apóia o cliente na busca de realizar metas de curto, médio e longo prazo, através da identificação e uso das próprias competências desenvolvidas, como também o reconhecimento e superação de suas fragilidades. 4 Mentoring é um processo, onde uma pessoa mais experiente orienta, aconselha e aponta direções outra pessoa menos experiente. Geralmente envolve aspectos de carreira e apoio psicológico e, em termos de longo prazo privilegia o desenvolvimento e o progresso gradual. 5 Brainstorming (tempestade de ideias) mais que uma técnica de dinâmica de grupo, é uma atividade desenvolvida para explorar a potencialidade criativa de um indivíduo ou de um grupo, colocando-a a serviço de objetivos pré-determinados.

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Por último, a categoria - experiência de F&A - demonstra que essa

experiência significa entender os assuntos relatados acima e perceber que o

processo de F&A não pode ser comparado a um negócio como outro qualquer.

Outra característica dentro de um processo desse tipo e que líderes precisam

permanecer atentos é verificar a possível existência de certa politicagem por cargos

na nova organização, o que evidencia a necessidade de autoproteção. Além disso,

os gestores devem esperar, durante o processo de transição, um maior percentual

de erros, o que é normal em um momento de incertezas e stress. Porém, o mais

importante e essencial é proteger as necessidades dos consumidores da empresa e

seus proventos (THACH; NYMAN, 2001).

Outra variável importante e recomendada durante o momento de transição de

um processo de F&A é que as decisões, a comunicação com clientes internos e

externos e a integração devem ser realizadas com o máximo de rapidez para que a

organização sofra o mínimo possível. E, por último, recomenda-se que os líderes

tentem se entrosar com pessoas da empresa compradora visando gerar

relacionamentos, aprender sobre seus processos, entender sua estratégia e outras

informações relevantes e que auxiliem e suportem na melhor forma de dar

continuidade ao processo de integração entre ambas as corporações (THACH;

NYMAN, 2001).

Já um estudo realizado por Vyakarnam e Handelberg (2005) listou quatro

temas essenciais, também abordados por outros autores abaixo identificados, que

podem influenciar no desempenho final da organização e nos resultados das ações

realizadas pelos líderes da mesma durante um processo de F&A, sendo este estudo

influenciado pelo trabalho de Keck’s (1997), o qual, da mesma forma, analisou como

a equipe de gestores influencia o desempenho da empresa.

O primeiro tema identificado é baseado na afirmação de que recursos,

conhecimentos e habilidades são cruciais para os altos executivos potencializarem o

sucesso do processo de transição. Esse tema compreende:

1. Conhecimento e experiência, ou seja, experiência anterior de liderança em

processos de F&A é um fator que pode facilitar o sucesso da mesma.

2. Tamanho, isto é, o número de pessoas na equipe é positivamente

relacionado ao desempenho da organização. De acordo com Haleblian e

Finkelstein (1993) uma equipe grande de altos executivos estaria

associada ao aumento da habilidade de processamento da informação, na

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maior rapidez e eficiência. Além disso, Certo et al. (2006) relata que em

processos de F&A, um número maior de indivíduos na equipe terá maior

capacidade de se adaptar as constantes mudanças, a dinâmica do evento,

a gerir os conflitos que possam surgir e executar com sucesso o processo

de integração.

3. Composição, ou seja, uma equipe de executivos heterogênea ajuda mais

na formulação da estratégia corporativa da empresa e na realização dos

objetivos e resultados (HAMBRICK, 2007). Além disso, em processos de

F&A, um time diverso é capaz de se adaptar e responder de forma mais

eficaz as complexidades de um processo de integração (VASILAKI;

O’REGAN, 2008).

O segundo tema identificado - grupo de processos - o qual se refere ao

comportamento das pessoas e como elas são integradas. Sobre esse tema, dois

fatores foram identificados como determinantes para o desempenho da organização:

1. Integração social que se refere ao modo que as pessoas da equipe se

comportam e coordenam as atividades visando atingir as metas

estabelecidas. De acordo com O’Reilly et al,. (1993) a coesão entre os

integrantes do grupo leva a um maior espírito de equipe, eficácia do

trabalho e satisfação, aumentando assim o desempenho da empresa. Em

um processo de F&A, o benefício de ter seus executivos integrados

socialmente é alto no sentido de permitir melhores avaliações da

estratégia, maior retorno das necessidades da empresa e sucesso no

processo de integração.

2. A Comunicação advinda dos altos executivos durante um processo de

F&A pode ajudar os funcionários a conviver melhor com todo um ambiente

negativo e reduzir o impacto frente ao desempenho da organização.

Já o terceiro tema envolve a liderança de tarefas em grupo e identificou a

existência de dois principais assuntos quando se discute o relacionamento entre

liderança de altos executivos e o desempenho da organização.

1. Metas e papéis transparentes mostram a necessidade de ambas serem

percebidas pelos funcionários dessa forma. O time de altos executivos

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precisa entender exatamente seus respectivos papéis para que implantem

todas as mudanças necessárias com mais sucesso.

2. Entendimento compartilhado comprova que caso a empresa compartilhe

sua estratégia, seus objetivos, planos e ações com seus funcionários, o

desempenho dos mesmos tenderá a ser mais eficaz. Para a equipe de

altos executivos da empresa possuir todas essas informações os qualifica

para comunicar o desejo da organização em relação ao processo de F&A

(VYAKARNAM; HANDELBERG, 2005).

O quarto e último tema de pesquisa identificado - integração pessoal - visa

analisar o empenho da equipe de altos executivos na tarefa e o grau de

internalização dos valores:

1. Comprometimento: sem demonstrar essa característica em relação à

estratégia e metas adotadas seria complicado persuadir seus

subordinados a aceitar e ajudar da melhor forma possível o processo de

integração.

2. Internalização de valores e metas: a equipe de altos executivos deve se

sentir pertencente à organização e demonstrar comprometimento moral

com a mesma, ou seja, identificar-se com as metas estabelecidas e com

os valores da empresa. Para a obtenção dos objetivos almejados, em um

processo de F&A, quando esses executivos chegam a um consenso dos

objetivos da empresa, torna-se mais fácil o seu comprometimento com as

ações estratégicas. Dessa forma, o processo de integração e coordenação

das ações junto aos outros funcionários da empresa seria facilitado, além

de provocar uma possível redução de conflitos (VASILAKI; O’REGAN,

2008).

É muito importante os altos executivos entenderem e perceberem as

características que influenciam em seus bons desempenhos para que reduzam as

possibilidades de falhas durante o processo de integração e alcancem todo seu

potencial (EDMONDSON et al., 2003), até mesmo porque eles possuem impacto

direto sobre o desempenho da organização já que cabe aos mesmos o

desenvolvimento das estratégias da empresa (HAMBRICK, 1994).

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De acordo com Marlin et al. (2004), os líderes precisam prestar bastante

atenção para que, no momento de ocorrer o processo de integração entre ambas as

empresas, não se percam recursos estratégicos da empresa adquirida e se atinjam

os resultados positivos e as sinergias esperadas. E, para isso, eles precisam

entender exatamente que nível e estratégia utilizarem para que o processo de F&A

tenha sucesso.

Já Haspeslagh e Jemison (1991) relatam que, para se aumentar as chances

de sucesso em um processo de F&A, os altos executivos precisam ser hábeis em

conciliar a interdependência estratégica entre as organizações e a preservação dos

recursos estratégicos da empresa adquirida.

2.3.6 O papel da comunicação

Boa parte das empresas não utiliza de forma eficaz as ferramentas de

comunicação junto aos seus funcionários durante um processo de F&A. Em diversos

casos, essas organizações ou o fazem de forma errada ou não comunicam todos os

pontos que deveriam abordar para manter seus empregados bem informados e,

assim, tentar minimizar os efeitos de um processo tão desgastante para os mesmos

(BUONO et al., 1989).

De acordo com Barrett (2002), a comunicação é uma das estratégias das

quais as organizações se utilizam para gerenciar percepções e reações durante um

processo de F&A. Normalmente, ela é mais utilizada quando o nível de incerteza é

elevado e os acontecimentos não são tão evidentes ou transparentes. Porém,

também se sabe que, em momentos de ameaças e stress, comunicar de forma

eficaz se torna mais complexo. Isso acontece, porque, nesses momentos, os

indivíduos se tornam menos capazes de discriminar entre as diversas informações

mencionadas pela empresa e as informações oriundas dos networks pessoais

(rumores). Dessa forma, acabam ignorando fatos relevantes do processo de F&A

(SHAW; BARRETT-POWER, 1997).

De forma semelhante, na visão de Appelbaum et al. (2000), a variável

comunicação é entendida como o ponto mais importante de um processo de F&A.

Isso ocorre pelo fato de a comunicação poder influenciar, positivamente ou

negativamente, na adoção de uma nova cultura, no processo de mudança como um

todo, no nível de stress adquirido pelos funcionários, no gerenciamento de

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incertezas, na influência da satisfação no trabalho e no desempenho dos

funcionários. Verifica-se, então, que a interpretação dos fatos e as reações aos

mesmos acontecem nos diferentes níveis hierárquicos da organização

(GREENBERG, 1995).

Schuler e Jackson (2001) também consideram a comunicação como um fator

crítico em um processo de F&A. Para eles, sua má condução entre as corporações

que participam do processo de F&A é uma das principais razões para o fracasso do

evento.

Messmer (2006) sugere duas estratégias para a corporação lidar com a

ansiedade de seus funcionários durante o processo de F&A: envolvimento de todo o

staff (funcionários) da empresa no processo e comunicação.

Em relação à primeira estratégia, envolvimento do staff, a empresa tem a

possibilidade de ganhar aliados quando aceita a participação dos funcionários nas

tomadas de decisões.

Já em relação à segunda estratégia é necessária a realização de uma

comunicação rápida, honesta e direta, para transparecer quais seriam as futuras

oportunidades e obstáculos do processo. Dessa forma, a empresa estaria

possibilitando uma redução dos potenciais rumores e falsas expectativas dos

empregados (MESSMER, 2006).

De acordo com Dull (1986), o fato dos funcionários tomarem conhecimento

das informações antes dela se tornar pública já minimiza o choque causado aos

mesmos e aumenta a confiança em relação aos comunicados internos que possam

surgir posteriormente. Para que isso aconteça, o programa de comunicação já

precisa estar desenhado pela empresa, além de conhecidas as características dos

funcionários, da cultura corporativa e de todas as potencias mudanças que poderão

acontecer (CARTWRIGHT; COOPER, 1996).

Por outro lado, de acordo com um estudo realizado por Papadakis (2005), o

fato do programa de comunicação ser elaborado antes ou depois do processo de

F&A não tem muita significância. Conforme estudo realizado por ele, somente 15,3%

das empresas criaram um programa de comunicação antes do anúncio da fusão ou

aquisição, enquanto 47,2% o fizeram somente após o anúncio.

Na opinião de Ernst e Whinney (1985), existem dois objetivos básicos de

comunicação que deveriam fazer parte de todo processo de interação entre a

empresa e seus funcionários: a) comunicação com objetivo de manter seus

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funcionários bem informados sobre o processo de F&A; b) comunicação visando

facilitar que o trabalho seja bem realizado.

De acordo com Marks e Mirvis (1998), um eficiente sistema de comunicação

atua da seguinte forma: a) reduz a energia liberada pelos funcionários na procura

por respostas a seus questionamentos; b) ajuda os empregados a aceitar as

mudanças propostas; e c) explica a importância do movimento e fornece a lógica do

processo para os indivíduos.

Diversos estudos foram realizados e comprovaram a eficácia de uma boa

comunicação junto aos funcionários. Por exemplo, Bastien (1987) analisou

entrevistas realizadas com 21 gestores de três organizações diferentes, concluindo

que a comunicação tem potencial de aumentar o desempenho dos empregados e

reduzir incertezas. No caso do estudo realizado por Napier et al. (1989), o mesmo

trouxe resultados similares.

Um terceiro estudo realizado pela A.T Kearney’s Global PMI Survey

(1998/1999), demonstra que a falta de comunicação é a principal razão para o

fracasso dos processos de F&A. Na figura 2, podemos comparar os diversos

problemas identificados durante um processo de F&A e que influenciam

negativamente em seus resultados.

Dos três maiores obstáculos identificados pelos respondentes da pesquisa, o

mais significativo foi a falta de comunicação, ou seja, 58% acreditam que a má

comunicação entre empresa e seus funcionários implica resultados ruins para o

processo de F&A. Outras duas razões que interferem negativamente seriam: uma

expectativa sinérgica irreal e sem transparência; e a estrutura da nova organização

com excesso de compromissos. Ambas foram escolhidas por 47% dos respondentes

da pesquisa. Outros seis problemas foram lembrados por mais de 20% das pessoas.

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Figura 2: Problemas identificados na integração da pós-fusão - Fonte: A.T Kearney’s Global PMI Survey (1998/99)

Já através de um estudo empírico realizado por Lazaridis (2003), podemos

entender o quanto é importante a empresa se comunicar com seus funcionários no

tempo correto e com uma informação adequada. Nas figuras 3 e 4, podemos

verificar quais são as percepções dos funcionários que participaram do processo de

F&A entre dois bancos em relação à comunicação realizada pela empresa durante o

processo e seu percentual de satisfação.

Na figura 3, foram realizadas algumas perguntas visando entender como foi

gerenciado o processo de comunicação. Por exemplo, a primeira pergunta questiona

se o empregado foi formalmente informado sobre o início da negociação de sua

organização com outra. Neste caso, somente 50% dos funcionários relataram que

foram informados. Outro exemplo foi o questionamento sobre se o funcionário se

sentiu adequadamente avisado sobre as possíveis mudanças na empresa, porém

apenas 22% disseram que sim.

Já na figura 4, temos o nível de satisfação dos funcionários após o processo

de F&A. Somente 20,16% sentiram-se satisfeitos, enquanto 2,02% totalmente

insatisfeitos. Os outros se dividiram entre bastante satisfeitos (37,50%), bastante

insatisfeitos (8,06%) e parcialmente satisfeitos (32,26%).

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Figura 3: Problemas de comunicação durante o processo de F&A - Fonte: Lazaridis (2003)

Figura 4: Satisfação em relação ao processo de F&A - Fonte: Lazaridis (2003)

No entanto, além da demonstração de quão eficaz é a comunicação para os

funcionários durante um processo de F&A, também é interessante entender se entre

as diversas hierarquias de uma empresa são visualizados níveis diferentes de

satisfação frente a essa ferramenta. Tendo em vista essa necessidade, Lotz e

Donald (2006) realizaram um estudo, onde foi demonstrado que não existe diferença

entre os diferentes níveis hierárquicos quando se fala em satisfação com a

comunicação da organização.

Porém, esse estudo vai de encontro às pesquisas iniciais de Fairfield-Sonn et

al. (2002), que relatam diferentes percepções e interpretações entre os diferentes

níveis hierárquicos de uma corporação.

Quando falamos de comunicação, podemos utilizar tanto sinais verbais

quanto não verbais para sermos compreendidos (VECCHIO; APPELBAUM, 1995).

Porém, existem obstáculos que podem interferir no alcance de uma comunicação

ideal com os indivíduos e que, no caso de um processo de F&A, são conhecidos

como “síndrome da fusão ou aquisição” (APPELBAUM et al., 2000).

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Tal síndrome foi documentada pela primeira vez por Marks e Mirvis (1985) e

se caracteriza principalmente por um aumento na centralização e uma redução na

comunicação realizada pelos gestores, assim ocasionando rumores e desconfiança

por parte dos empregados preocupados com suas respectivas carreiras e sustento.

Como consequência, a produtividade dos funcionários pode diminuir, o absenteísmo

aumentar, além de se verificar uma menor satisfação no trabalho, maior resistência

às mudanças e mau comportamento entre os indivíduos da empresa (NIKANDROU

et al., 2000).

Visto isso, o grande desafio da comunicação é evitar as incertezas, usando

essa ferramenta o máximo possível e tornando-a confiável (DANIEL, 1999).

Por tudo que verificamos, percebe-se que a falta da comunicação gera

rumores e incertezas, que provocam redução na produtividade dos funcionários da

empresa e um alto índice de absenteísmo, ocasionando um maior turnover. Quando

esse ciclo ocorre, entendemos que o processo de F&A não obteve sucesso

(APPELBAUM et al., 2000). Em qualquer tipo de mudança organizacional, a

empresa não deve somente se preocupar em relação a como tal mudança irá afetar

o lucro, a produtividade ou qualidade, mas deve também se preocupar em como

comunicar tudo isso de forma eficaz (RICHARDSON; DENTON, 1996).

Outro ponto importante sobre comunicação foi estudado por Papadakis

(2005), que tinha como proposta verificar a boa relação entre a frequência de

comunicação que a organização realiza entre seus funcionários e o sucesso na

implantação do processo de F&A. Tal estudo coincide com Viscio et al. (1999), que

afirmam que a frequência da comunicação cria um melhor clima de trabalho; e com

Gall (1991), que identifica a existência de uma visão padrão entre todos os

indivíduos.

São diversas as formas de comunicação existentes, mas nem todas possuem

o mesmo efeito. Entre elas estariam os chamados memorandos, e-mails, vídeos e

ainda o contato pessoal, sendo que essa última pode ser considerada a mais eficaz.

Outras formas clássicas de comunicação seriam as chamadas newsletters, hot lines,

blogs, chats e group presentations (apresentações em grupo). No caso da primeira,

newsletters (boletim informativo), o objetivo gira em torno de assegurar o envio das

informações referentes ao desdobramento do processo de F&A e, de forma

adequada, responder aos questionamentos e dúvidas dos funcionários. Já no caso

da segunda, os empregados conseguem realizar perguntas, dar sugestões e tirar

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dúvidas de forma anônima. Os blogs e chats são formas mais modernas de

comunicação, permitidas pela difusão dos computadores. Por último, as

apresentações em grupo são ferramentas que, além de transparecerem o assunto,

oferecem um fórum para discussão presencial (BUONO; BOWDITCH, 1989).

Além de como se comunicar, a empresa precisa verificar quem deveria

realizar a comunicação junto aos funcionários, ou seja, os gestores atuais ou a nova

empresa formada através do processo de F&A. Muitos acreditam que, sendo

informados pelos atuais gestores, os funcionários se sentiriam melhor com toda a

situação. Por outro lado, limitar o envio dos comunicados pelos atuais gestores

significaria o isolamento dos novos. Entretanto, uma terceira opção, com um

comando unificado de informações para evitar controvérsias, seria a mais apropriada

(HAYES, 1979).

Outra preocupação que os executivos da empresa precisam ter é entender a

relação de eficiência entre a comunicação e seus respectivos meios. No caso,

Richardson e Denton (1996) acreditam que os executivos não possuem essa

percepção.

Entende-se como meio de comunicação mais eficiente aquele que possua

uma rápida capacidade de resposta e que consiga cobrir diversos pontos diferentes,

adicionados ao toque pessoal do comunicador. Nesse caso, dos meios disponíveis

podemos falar que o contato pessoal é aquele que mais se aproxima de todas essas

características.

Em um processo de F&A, são muitos os fatores que merecem maior atenção,

sendo que a parte da comunicação tem a força de interferir e influenciar para o bem

ou para o mal. Para encontrar a melhor eficiência de um plano de comunicação, o

mesmo precisa ser elaborado antes de ambas as empresas fecharem o acordo

(Balmer e Dinnie, 1999). Quando um comunicado é realizado em um momento

impróprio ou com atraso, pode causar um sentimento de apreensão junto aos

funcionários e dificultar o andamento de todo o processo de F&A.

Por outro lado, mesmo sabendo desses obstáculos, há uma possibilidade dos

gestores optarem, intencionalmente, por não comunicar, aos funcionários, as

mudanças que estão por vir por se sentirem receosos em relação ao comportamento

dos mesmos. Alguns comportamentos que os gestores acreditam poder evitar

seriam: a redução na produtividade algum tipo de sabotagem ou até mesmo a perda

de diversos empregados para outras empresas (LEANA; FELDMAN, 1989).

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Essa redução de produtividade chega a ser evidente quando, segundo

Cabrera (1986), existe uma estimativa de que indivíduos que se encontram dentro

de um processo desse tipo perdem, aproximadamente, duas horas por dia

conversando com outros empregados e preocupando-se com o desdobramento do

mesmo.

Por outro lado, um estudo realizado por Leana e Feldman (1989), sugeriu que

nenhuma mudança significativa tem sido verificada em relação à produtividade,

absenteísmo e atraso quando os funcionários de uma empresa são avisados sobre a

existência de um processo de F&A.

Tendo em vista obter o máximo de sucesso no processo de F&A, os

executivos precisam se sensibilizar com seus funcionários e planejar e implantar um

plano de comunicação que informe com eficiência e transparência (BURKE, 1987).

Visando obter o máximo de eficiência possível em termos de comunicação,

Davy et al. (1989) apontaram alguns pontos importantes:

1. A informação deve ser dada no tempo correto;

2. A informação deve ser o mais compreensível possível;

3. A informação deve ser repetida em diversos meios de comunicação;

4. Os comunicados devem ter credibilidade junto aos funcionários;

5. A lógica das mudanças organizacionais que serão implantadas deve ser

comunicada;

6. O plano de comunicação deve ser bem feito e continuado no período de

transição.

Quando os funcionários são bem comunicados, normalmente reagem de

forma mais positiva a todas as mudanças (ERNST; WHINNEY, 1985).

Um bom exemplo de comunicação eficiente pode ser visto no caso da

aquisição da companhia de aviação Western Airlines pela sua antiga concorrente

Delta Airlines. Isso se deu porque, logo após a aquisição, a Delta enviou um

comunicado para cada funcionário da Western Airlines, onde explicava todo o plano

de integração que estava por vir. Além disso, no mesmo documento, havia uma

promessa de que esses empregados receberiam em data já estipulada mais

detalhes sobre as estratégias e o processo de forma geral (KANTER et al., 1987).

Para se ter eficácia em um processo de comunicação, a empresa precisa

desenvolver essa ferramenta de forma a gerar resultados para ambas as direções,

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ou seja, para a organização e para seus funcionários. Sabendo disso, a corporação,

além de utilizar os diversos meios para se comunicar com seus funcionários,

também precisa disponibilizar espaços onde os empregados possam realizar

questionamentos, tirar dúvidas e mostrar seus receios (MIRVIS; MARKS, 1987).

2.3.7 Cultura Organizacional

De acordo com Birkenshaw et al. (2000), o sucesso de um processo de F&A

pode ser mensurado através da valorização da empresa, do uso mais eficiente de

recursos e do impacto ocorrido na cultura organizacional da empresa.

Denison (1996) sugere que cultura se refere à estrutura de uma organização

e como seus valores e suas crenças são influenciadas pelos seus funcionários. Da

mesma forma, Hatch (1993) acredita que cultura seja um padrão de pressupostos

básicos que um determinado grupo tenha inventado, descoberto ou até mesmo

desenvolvido, visando aprender a lidar com certos problemas de adaptações

externas e integrações internas.

De acordo com Hofstede (1991), ainda nos anos 60, o termo ‘cultura

organizacional’ apareceu de forma casual na literatura inglesa, sendo essa

identificada como sinônimo de clima. Já nos anos 70, também podia ser denominada

como ‘cultura de corporação’.

Cultura organizacional é definida como a programação coletiva da mente que

distingue os membros de uma organização da outra. Além disso, pode-se falar que a

cultura organizacional é holística, determinada historicamente, relacionada com os

estudos de antropólogos, construída socialmente, suave e difícil de alterar.

Ainda de acordo com Hofstede (1991), utilizar o mesmo termo ‘cultura’ para

as nações e organizações é equivocado, já que uma nação não é uma organização

e ambas são de naturezas diferentes. A principal diferença entre elas se deve,

principalmente, aos diferentes papéis representados em cada uma pelas

manifestações da cultura, ou seja, símbolos, heróis, rituais e valores.

Para a elaboração das dimensões culturais organizacionais, Hofstede (1991)

se baseou nos resultados de um projeto, realizado no período de 1985 a 1987 pela

IRIC (Institute for Research on Intercultural Cooperation ou Instituto de Pesquisa de

Cooperação Intercultural), localizado na Holanda. Foram encontrados seis termos

para pontuar a cultura organizacional:

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1. Orientação para processo versus orientação para resultados: compara

empresas mais burocráticas, preocupadas em como fazer e por quais

meios resolver os problemas com empresas focadas em objetivos e nos

resultados (HOFSTEDE, 1991).

2. Orientação para o empregado versus orientação para o trabalho: comparar

a preocupação da organização com o empregado com a preocupação em

ter o trabalho concretizado.

3. Paroquial versus profissional: compara o quanto o funcionário se identifica

com a corporação ou com seu tipo de trabalho (HOFSTEDE, 1991).

4. Sistema aberto versus sistema fechado: aponta o nível de aceitação de

novos funcionários pelos atuais e pela própria organização.

5. Sistema fraco versus sistema rígido: essa dimensão se preocupa com o

grau de formalidade e controle dentro da instituição.

6. Normativa versus pragmática: preocupa-se com a orientação para o

cliente (HOFSTEDE, 1991).

Visto isso, Hofstede (1991) pôde concluir que não existe posição “boa” ou

“ruim”, ou seja, cada caso é único e precisa ser analisado de acordo com o objetivo

da organização.

Outra forma de definir cultura organizacional seria verificar o modo pelo qual

as pessoas trabalham em uma determinada organização (FRALICX; BOLSTER,

1997), pelos seus comportamentos em relação à hierarquia da empresa (SHERER,

1994), e também pelo nível de risco que esses funcionários empregam quando

tomam alguma decisão sem a aprovação de seu superior. Outras características

importantes e que fazem parte da cultura corporativa são as maneiras pelas quais os

indivíduos são selecionados, como são treinados e recompensados (FRALICX;

BOLSTER, 1997).

Cartwright e Cooper (1993) identificaram que a mesma centralidade que a

cultura tem para uma organização, a identidade tem para um indivíduo.

Já para Gordon (1991), a formação cultural não é visualizada como um

evento que acontece ao acaso e nem como uma ação que depende unicamente da

personalidade dos fundadores ou líderes da organização. Ainda segundo Gordon

(1991), tendo a noção de que a cultura de uma empresa é um produto de uma bem

sucedida adaptação do ambiente geral, pressupõe-se que existirá uma forte

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resistência à mudança caso haja a necessidade dela ser alterada durante um

processo de F&A ou em qualquer outro movimento de mudança realizado por uma

corporação.

Normalmente, a cultura organizacional tende a ser única e individual para

cada empresa, além de ser composta por dimensões objetivas e subjetivas e de

envolver determinadas tradições, costumes e expectativas. Em relação às

características da cultura subjetiva, incluem-se as crenças e os valores

compartilhados entre os indivíduos da organização. Por outro lado, as características

da cultura objetiva incluem artefatos como, por exemplo, a localização do prédio

corporativo e sua decoração (BUONO et al., 1985).

Já Schein (1990) consegue aprofundar ainda mais a definição e relata que a

cultura pode operar em três níveis distintos:

1. Artefatos, ou seja, símbolos que são facilmente visualizados em uma

organização.

2. Valores, ou seja, normas e fatos importantes para a empresa.

3. Pressupostos básicos subjacentes, ou seja, pressupostos inconscientes

que, tornam-se conscientes somente quando algum evento ocorre para

desafiá-los.

Em um processo de F&A, tanto os bens materiais (como, por exemplo,

prédios, fábricas ou equipamentos) quanto os não materiais (como, por exemplo, as

políticas, normas, pessoas e culturas) de ambas as empresas devem participar

desse processo e serem consolidados (APPELBAUM et al., 2000).

Para Bijislama-Frankema (2001), a variável cultura pode ser um fator positivo

ou negativo quando associado a um processo de F&A. Caso se verifique que a

cultura de ambas as corporações sejam incompatíveis, a continuidade no processo

pode criar o chamado “choque cultural”, sendo esse visualizado através das reações

negativas demonstradas pelos empregados durante o processo (BROCK et al.,

2000).

Já de acordo com Marks e Mirvis (1992), esses conflitos culturais aumentam

quando os indivíduos começam a verificar certas diferenças e mudanças na forma

de se visualizar ou realizar determinados procedimentos como, por exemplo, o estilo

de comunicação, o relacionamento com as lideranças, o comprometimento e

trabalho em equipe, porém não as aceitam e continuam acreditando que sua forma

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de agir seja superior. Ou seja, os funcionários sentem-se ameaçados pelo processo

de integração e por visualizarem de forma negativa a transformação de tudo aquilo

que já estavam acostumados (MARKS; MIRVIS, 1992).

Visando minimizar esse “choque cultural”, a organização precisa avaliar todo

o potencial do mesmo ocorrer e, dessa forma, facilitar ao máximo a transição no

processo de aculturação (ou adaptação ou mudança cultural). Uma forma eficaz de

avaliação seria através da realização de uma due diligence (ou avaliação) cultural,

que providenciaria um panorama real de todas as diferenças culturais entre as

corporações como, por exemplo, em relação aos valores corporativos, processos de

tomada de decisão e sistemas de premiações (MARKS, 1999).

Da mesma forma, Nguyen e Kleiner (2003) acreditam que a parte cultural se

transforma em algo negativo quando é verificada a incompatibilidade cultural entre

as empresas participantes do processo de F&A. Ela é conhecida como a causa que

mais influencia a saída dos talentos das organizações, a geração de conflitos

durante o processo de integração e o mau desempenho do processo como um todo

(NGUYEN; KLEINER, 2003), fazendo com que não se consiga maximizar os

benefícios financeiros potenciais advindos de um processo de F&A (CARTWRIGHT;

COOPER, 1993), mesmo em empresas que possuam pessoas capacitadas para

gerar resultados positivos (KOTTER; HESKETT, 1992).

Porém, não se pode garantir que, somente pelo fato de duas empresas serem

compatíveis culturalmente, o processo de F&A será, consequentemente, um

sucesso, já que existem outros fatores que influenciam no resultado do evento

como, por exemplo, mudanças de cargos e salários e de atribuições. De qualquer

forma, a incompatibilidade cultural entre duas corporações pode minimizar as

chances de sucesso, já que aumenta ainda mais o nível de tensão dos empregados,

além de causar um efeito negativo para a empresa (Brock et al., 2000), por exemplo,

através de um insatisfatório fluxo de informações e pela obstrução da transferência

de conhecimentos entre os funcionários (BUCKLEY CASSON, 1996).

Por outro lado, a similaridade cultural tende a forçar uma maior coesão entre

os indivíduos das organizações e, assim, facilitar o alcance de sinergias entre elas

(VERY; SCHWEIGER, 2001).

Um dos exemplos em que se pode demonstrar com maior clareza o que seria

o fracasso de um processo de F&A por motivos de incompatibilidade cultural foi o

ocorrido entre as empresas automotivas Daimler-Benz e Chrysler. Tanto as áreas

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operacionais quanto as gerenciais tiveram dificuldades de se integrar pela diferente

abordagem entre as culturas alemã e americana (NGUYEN; KLEINER, 2003).

Isso ocorre porque, de acordo com Buono e Bowditch (1989), a cultura tem

um forte poder de influenciar o comportamento organizacional. As crenças,

costumes e expectativas sobre a vida da empresa - e que são desenvolvidas e

compartilhadas pelos funcionários - acabam guiando suas atitudes, interações e

decisões. Tudo isso acaba influenciando em um cenário positivo ou negativo no

momento de haver a necessidade de juntar duas culturas diferentes, como acontece

em um processo de F&A.

Porém, nem todas as culturas organizacionais são igualmente fortes. De

acordo com Sathe (1983), há três fatores que ajudam a entender o grau de

influência que a cultura pode ter na configuração das atitudes e comportamentos dos

funcionários de uma empresa.

Primeiramente, uma cultura forte é baseada na extensão do

compartilhamento de suas crenças e valores, ou seja, quanto maior a extensão,

mais forte é a influência da cultura na organização frente aos indivíduos. As

organizações que possuem culturas “thick” são as que mais possuem esse alto nível

de compartilhamento de seus valores perante os empregados e, por consequência,

uma alta influência na vida organizacional. Por outro lado, as que não possuem são

conhecidas como tendo culturas “thin” ou “pseudocultures” (PASCALE, 1985).

Como segundo fator, culturas organizacionais, cujas crenças e valores são

mais amplamente compartilhados entre os funcionários, tendem a ter um efeito mais

poderoso por haver um número maior de indivíduos guiado por eles. E, por último,

em culturas onde as crenças e valores são claramente ordenados, ou seja, onde o

real significado dos diferentes pressupostos é amplamente conhecido, o efeito no

comportamento do indivíduo se torna mais penetrante, desde que exista menos

ambiguidade sobre quais crenças e valores deveriam prevalecer em situações de

conflito (SATHE, 1983).

Em empresas com uma cultura organizacional forte, cultura “thick”, o

comportamento dos funcionários é visualizado mais por um acordo mútuo do que

pelas regras e políticas da empresa (DEAL; KENNEDY, 1983). Por outro lado, em

uma corporação com uma cultura não tão forte, cultura “thin”, as regras e normas

burocráticas são as que fornecem a base para o direcionamento das ações

organizacionais (WILKINS; OUCHI, 1983).

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Visto isso, em um determinado processo de F&A, a integração de duas

empresas com cultura “thick” tende a gerar maior nível de resistência cultural do que

uma consolidação entre uma empresa “thick” e outra “thin”. Isso acontece porque

tais diferenças de forças da cultura organizacional entre ambas as corporações

podem impactar negativamente a habilidade de uma delas em assimilar a cultura da

outra.

Dessa forma, há a necessidade de se decifrar e diagnosticar a cultura da

empresa, que esteja pensando em adquirir ou se fundir com outra para que não seja

escolhida a estratégia de integração cultural errada e, assim, reduzir as chances de

sucesso do processo de F&A (SATHE, 1983).

2.3.7.1 Possíveis direções no processo de integração das culturas

Antes de realizar qualquer tipo de modificação, a empresa precisa traçar a

estratégia e decidir qual modelo de cultura organizacional irá executar. Isso incluiria

tomar uma decisão entre três possíveis alternativas: a) utilizar uma das duas culturas

na nova empresa; b) criar uma nova cultura com os aspectos mais fortes de cada

uma delas; c) criar uma cultura completamente diferente das atuais (THE

ADVISORY BOARDY COMPANY, 1997).

Já de acordo com o estudo realizado por Ernst e Whinney (1985), seriam

quatro as possíveis estratégias realizadas em relação à cultura organizacional

durante um processo de F&A:

1. Pluralismo cultural - quando se visualiza os potencias benefícios que se

pode gerar através da sustentação dos elementos criativos e motivacionais

de uma organização independente. Dessa forma, permite-se o máximo de

flexibilidade para que a empresa adquirida trabalhe de forma autônoma.

Nesse tipo de processo de F&A, é permitida a existência da diversidade

cultural e de subgrupos culturais dentro de um contexto de uma estratégia

compartilhada para o sucesso do crescimento organizacional (ERNST;

WHINNEY, 1985).

2. Combinação cultural - quando a abordagem se direciona na tentativa de

combinar ou assimilar duas culturas diferentes em uma nova, ou seja, há

uma tentativa de unificar ambas as culturas. Nesse tipo de estratégia, não

existe uma empresa dominante e o objetivo é encontrar as forças e os

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pontos positivos de cada cultura e colocá-los em prática. Porém, para que

se obtenha sucesso, ambas as empresas precisam demonstrar boa

vontade e flexibilidade no momento das negociações e no gerenciamento

dos egos dos altos executivos (ERNST; WHINNEY, 1985).

3. Takeover cultural - quando há a troca da cultura da empresa adquirida

para a cultura dominante, ou seja, da empresa compradora. Visando obter

sucesso, é necessário um forte processo de liderança e um habilidoso

gerenciamento de possíveis problemas que possam ocorrer no momento

da implantação da nova cultura (ERNST; WHINNEY, 1985).

4. Resistência cultural - quando há falta de entendimento ou atenção em

relação à cultura organizacional de seu parceiro de F&A, criando

resistência ao processo de aculturação, mudança e adaptação (ERNST;

WHINNEY, 1985).

A estratégia utilizada vai depender de algumas variáveis, ligadas à dimensão

da força dos fatores que provocam a necessidade de uma integração organizacional,

como, por exemplo, o motivo da fusão ou aquisição e o grau de parentesco entre

ambas as empresas. Outros pontos que influenciam são os referentes à

diferenciação cultural entre as corporações, como, por exemplo, o poder da

identidade organizacional e a atratividade da outra cultura.

De forma semelhante, de acordo com Nahavandi e Malekzadeh (1988), são

quatro os modelos de respostas que podem ocorrer durante o processo de F&A em

relação à cultura organizacional das duas corporações, sendo que tal escolha é

também influenciada pelos seus respectivos tamanhos, tipos e características

culturais. São eles:

1. Deculturação - quando o indivíduo de uma organização não permanece

com sua antiga cultura ou troca por uma nova, ou seja, ambas as

empresas perdem parte de seus contratos psicológicos e suas culturas.

2. Assimilação - quando o funcionário de uma empresa adota a cultura e a

identidade da outra (NAHAVANDI; MALEKZADEH, 1988).

3. Separação - quando os empregados de ambas as organizações

permanecem com suas respectivas culturas, podendo existir mudanças

mínimas entre elas.

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4. Integração - quando os indivíduos da empresa adquirida querem preservar

suas culturas e identidades e, dessa forma, permanecerem

independentes. Isso, normalmente, leva a uma maior assimilação

estrutural entre as organizações, porém a uma baixa assimilação

comportamental e cultural (NAHAVANDI; MALEKZADEH, 1988).

Além disso, caso a cultura corporativa não seja definida de forma clara, o

período pós-fusão ou aquisição pode ter dificuldades para prosseguir com sucesso

(APPELBAUM et al., 2000).

Uma das maneiras existentes para se definir a nova estrutura organizacional

e cultural é através da criação de uma equipe multidisciplinar, composta por

executivos remanescentes do processo de F&A. Porém, existem obstáculos na

escolha do respectivo time, sendo um deles o excedente de executivos qualificados.

Outro problema para se definir a nova estrutura seria a possível falta de

informação ou treinamento para juntar ambas as instituições (DANIEL, 1999). De

qualquer maneira, escolhendo os gestores corretos, maiores serão as chances de se

tomar as decisões de forma acertada e maior será a probabilidade de sucesso do

processo de F&A (SMYE; GRANT, 1989).

De qualquer forma, independente da direção que a nova empresa siga, é alta

a chance de haver a perda de muitos empregos e a insatisfação dos funcionários de

ambas as organizações (APPELBAUM et al., 2000). Isso é evidenciado

principalmente naqueles empregados que percam determinados processos, valores

ou características que eram enraizados em sua cultura.

Neste caso, é possível que ocorra um movimento de proteção e resistência

frente a tais mudanças e a tentativa de se manterem com seus status quo, até o

momento em que se sintam seguros em relação à nova organização (MARKS;

MIRVIS, 1985).

Visando minimizar tais obstáculos, a empresa deve iniciar, com o máximo de

atenção e cuidado possível, o movimento de aculturação, que significa a indução de

mudanças em dois sistemas culturais distintos como resultado da difusão de

elementos culturais em ambas as direções. Porém, por mais que essa definição

sugira que se trate de um processo recíproco, a realidade demonstra que a cultura

de uma das empresas, normalmente, se faz dominante em relação à outra (BERRY,

1980).

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Somado a isso, quando os indivíduos de ambas as empresas ou uma delas

não acreditam ou concordam sobre a forma de integração que está sendo realizada

entre elas, o resultado será de um possível ambiente de stress durante o movimento

de aculturação (NAHAVANDI; MALEKZADEH, 1988). Além disso, caso a força da

integração organizacional seja tão enfática quanto o desejo dos funcionários em

manterem suas respectivas culturas, a possibilidade de haver stress aumenta em

demasia (ELSASS; VEIGA, 1994).

Visando facilitar esse processo de aculturação, a empresa pode fomentar o

multiculturalismo (ELSASS; VEIGA, 1994) através da facilitação do aprendizado

intercultural por meio da realização de apresentações e workshops (BUONO;

BOWDITCH, 1989), assim gerando maior assimilação e tolerância da nova cultura

entre os funcionários das corporações (SCHWEIGER; WALSH, 1990).

Um bom exemplo sugerido por Buono e Bowditch (1989) para se colocar esse

aprendizado intercultural em prática é através de um workshop de espelhamento

intergrupal, onde funcionários são motivados a descobrir e analisar as diferenças e

similaridades de suas culturas organizacionais e, posteriormente, a discutir sobre

possíveis soluções de problemas que possam vir a acontecer.

2.3.7.2 Fatores da cultura de uma organização a serem decifrados

Resolvida a melhor estratégia para se integrar ambas as culturas

organizacionais, a empresa precisa estar aberta e ser honesta com os funcionários,

tratando-os com respeito, para implementá-la com o máximo de sucesso possível

(SMYE; GRANT, 1989). O fator cultural precisa ser trabalhado junto aos funcionários

para que se minimize a complexidade no gerenciamento posterior ao processo de

F&A (DEVOGE; SPREIER, 1999). Além disso, dependendo de qual estratégia de

integração cultural a empresa utilizar, os funcionários estarão mais propensos a se

envolverem em diversos níveis de conflitos culturais (BUONO; BOWDITCH, 1989).

Por outro lado, decifrar a cultura de uma empresa é também algo bastante

interpretativo e subjetivo, que requer insights históricos e de suas atividades atuais

(SATHE, 1983). Do mesmo modo que são propostos diversos frameworks

interpretativos pela literatura, há algumas dimensões universais sobre a cultura de

uma organização às quais as empresas, durante um processo de F&A, precisam

ficar atentas como:

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1. Valores organizacionais: crenças e valores significam a essência da

filosofia de uma organização, além de serem os fornecedores do

direcionamento comum para os funcionários e dos comportamentos

aceitáveis no dia-a-dia da empresa (SCHEIN, 1985).

2. Cultura gerencial: essa dimensão abrange o conceito básico de autoridade

nas organizações em termos de estilo de liderança e formas de se

comportar e resolver problemas, onde estes são influenciados pelos

valores da corporação (BUONO et al., 1985).

3. Organizational Heroes (heróis organizacionais): a organização tende a ter

modelos que personificam seus sistemas de valores culturais e que

definem o conceito de uma empresa de sucesso de forma tangível. Tais

heróis podem ser visualizados por toda a instituição, mas normalmente se

encontram na alta hierarquia. Além disso, é essencial que esses indivíduos

representem a empresa e reforcem os valores, demonstrando que o

sucesso é alcançável e servindo de modelo para os outros funcionários

(BUONO et al., 1985).

4. Mitos e histórias organizacionais: em diversos momentos, os funcionários

não falam diretamente sobre crenças, valores e pressupostos, mas os

demonstram através de exemplos concretos e histórias. Tais narrativas

organizam as crenças sobre a empresa e seus sistemas de valores,

agindo de forma que auxiliem as pessoas a entenderem como os

procedimentos são realizados (WILKINS, 1984). Tanto os mitos quanto as

histórias podem ser funcionais ou disfuncionais para a corporação. De

qualquer forma, o mais relevante é fornecer o indicador de como os

funcionários visualizam a companhia, a cultura e seu gerenciamento

(BUONO; BOWDITCH, 1989).

5. Taboos, ritos e rituais organizacionais: as empresas também possuem

atividades que são manifestações sociais da dominância dos valores e

crenças culturais. Rituais sociais definem diariamente as interações e

reforçam as orientações básicas da organização. Tais cerimônias

especiais e rituais diários (como, por exemplo, encontros departamentais)

transmitem, simbolicamente, a importância relativa dos valores

organizacionais, funções e atividades dos funcionários (SHRIVASTAVA,

1986).

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6. Símbolos culturais: os artefatos e materiais criados pela organização

podem também refletir seus valores e orientações (SCHEIN, 1985) como,

por exemplo, através da utilização de automóveis luxuosos pelos

executivos, do design dos móveis da empresa e da estrutura do prédio

corporativo (BUONO et al., 1985).

2.3.7.3 Caminhos para se tentar mudar a cultura de uma organização

Segundo Buono e Bowditch (1989), existem duas formas de se impor

determinadas mudanças culturais junto aos funcionários de uma empresa: a) a

empresa pode fazer com que os funcionários aceitem essa nova configuração de

crenças e valores; ou b) a organização pode recrutar novos empregados enfatizando

esses novos valores, enquanto desliga aqueles que não se adequarem.

Além disso, para aumentar as chances de obter sucesso no movimento de

realização das mudanças na cultura organizacional de uma empresa, seus

funcionários precisam estar propensos e abertos a aceitarem tais alterações. Outro

fator que contribuiria seria o grau de preservação da identidade e cultura da

empresa adquirida (BUONO; BOWDITCH, 1989).

Segundo Sathe (1985), existem cinco maneiras de intervenção e processos

que auxiliam a organização a obter maiores chances de sucesso no momento de se

realizar as mudanças culturais. As respectivas maneiras serão abordadas a seguir,

incorporando comentários de outros autores sobre as mesmas. Seriam elas:

1. Mudança comportamental: uma das mais eficazes formas de se mudar

crenças e valores é através da mudança de comportamentos dos

indivíduos (ZIMBARDO et al., 1977), porque, da mesma forma que

atitudes influenciam comportamentos, a recíproca é verdadeira. Porém,

sabe-se que os valores individuais e as atitudes são difíceis de serem

alterados diretamente, já que tais valores estão vinculados e reforçados a

outros. Dessa forma, os gestores precisam entender que é complexo

mudar algum valor isoladamente. Sabendo disso, os mesmos podem focar

em determinados comportamentos e moldar os resultados que queiram

através, por exemplo, da premiação por certos comportamentos (SATHE,

1985).

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2. Justificativa da mudança do comportamento: como parte do processo de

mudança de cultura, a mesma precisa ser bem explicada e justificada para

os funcionários, de modo a reduzir as barreiras ou resistências. (SCHEIN,

1973).

3. Usando comunicação cultural em níveis explícitos e implícitos: o primeiro

nível inclui anúncios, memorandos, discursos e outras formas diretas de

comunicação. Já o segundo inclui rituais, cerimônias, histórias, heróis,

logomarca da organização e outras ações simbólicas. De qualquer forma,

ambos são importantes e deveriam ser usados para induzir os funcionários

a aceitarem e adotarem os novos valores e crenças culturais da

organização. No entanto, um dos obstáculos que se identifica diz respeito

à credibilidade da mensagem e de seu remetente, já que em um processo

de F&A, normalmente, há conflitos entre as comunicações explícitas e

implícitas, com os gestores falando algo e agindo de forma inversa

(SATHE, 1985). Além disso, não adianta nada as promessas, imagens e

mensagens sem as ações, sendo essas, na maioria das vezes, mais

impactantes que os discursos realizados pelos altos executivos (BUONO;

BOWDITCH, 1989).

4. Contratação e socialização: as mudanças culturais também são afetadas

pela chegada dos novos contratados e seu processo de socialização com

a nova cultura. É de extrema importância o momento da contratação para

que não existam incompatibilidades irreconciliáveis entre a pessoa

contratada e a cultura da nova empresa (SATHE, 1985).

5. Remoção dos que não se adaptam ou dos resistentes: funcionários que

continuem a resistir ou não se adaptem as mudanças culturais podem ser

desligados. Esse turnover pode ser voluntário ou involuntário, sendo que o

primeiro acontece principalmente quando há certo desconforto dos

funcionários em relação à realização das mudanças impostas pela

organização. De qualquer forma, sendo voluntário ou não, o turnover tende

a repercutir de forma bastante negativa, já que existe uma real dificuldade

em assimilar o significativo número de indivíduos novos na empresa

(SATHE, 1985), tanto pela maior competição gerencial na obtenção de

novos cargos quanto pela perda de potenciais talentos da empresa para o

mercado externo (PERRY, 1984). Outro obstáculo para a permanência dos

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funcionários é ocasionado pelo resultado que um processo de F&A gera

na corporação como, por exemplo, a possível perda de desempenho da

empresa (PRITCHETT, 1985).

Durante um processo de F&A, a importância de se ter critérios, desde o início,

é visualizada como um grande facilitador para aumentar as chances de sucesso.

Além disso, quando ambas as culturas são diferentes, há uma necessidade da

organização ter estratégias inovadoras e líderes habilidosos, que precisam aprender

a “pensar globalmente enquanto agem localmente” (SHELTON et al., 2003).

A cultura corporativa que não for bem pensada e definida poderá se

transformar em mais uma barreira para o bom andamento do processo de F&A

(APPELBAUM et al., 2000).

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3 METODOLOGIA

Esse capítulo apresenta a metodologia adotada no presente estudo,

especificando a amostra escolhida, os métodos de coleta de dados, assim como as

limitações do estudo.

3.1 TIPO DE PESQUISA

O método escolhido para conduzir o presente trabalho foi o da pesquisa

qualitativa para responder às seguintes perguntas de pesquisa:

1. O fator humano influencia o sucesso ou o fracasso de um processo de fusão

ou aquisição?

2. Quais os principais aspectos do fator humano que influenciam no processo de

fusão ou aquisição? Como eles atuam nesse contexto?

De acordo com Strauss e Corbin (2008), pesquisa qualitativa é o tipo de

pesquisa que produz resultados, os quais muitas vezes não conseguem ser

alcançados através de procedimentos estatísticos ou de outros meios de

quantificação. Já de acordo com Ritchie e Lewis (2003), pesquisa qualitativa é uma

atividade situada que localiza o observador dentro do mundo. É constituída por um

conjunto de práticas que torna o mundo mais visível, onde tais práticas transformam

esse mundo em uma série de representações como, por exemplo, através de

entrevistas, conversas, fotografias, gravações, notas de campo e entre outras.

Muitas são as razões para se realizar uma pesquisa qualitativa. Uma delas é

a preferência ou experiência da pessoa que a realizará. Outra razão depende da

natureza do problema de pesquisa, sendo que a mesma é utilizada principalmente

para explorar áreas substanciais sobre os quais pouco se sabe. Por outro lado, caso

se trate de uma área onde se tenha maior conhecimento, a pesquisa qualitativa

pode ser utilizada com objetivo de se ganhar novos entendimentos (STERN, 1990).

Além disso, métodos qualitativos podem ser utilizados para obter maiores

detalhes escondidos sobre fenômenos como sentimentos, processos de

pensamento e emoções, que são difíceis de extrair ou descobrir por meio de

métodos de pesquisa mais convencionais (STRAUSS; CORBIN, 2008). Já para Dias

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e Silva (2009), a principal motivação para a escolha de se fazer uma pesquisa

qualitativa vem da observação de que, se há algum fator que diferencia os seres

humanos em relação ao mundo natural, é a habilidade de falar.

Os métodos qualitativos de pesquisa foram desenvolvidos nas Ciências

Sociais para permitir aos pesquisadores estudarem fenômenos sociais e culturais e

a compreenderem os indivíduos. Os dois principais exemplos de métodos

qualitativos são a etnografia e o estudo de caso (DIAS; SILVA, 2009), sendo esse

último o escolhido para ser utilizado neste trabalho.

Utilizar o estudo de caso para fins de pesquisa permanece sendo um dos

mais desafiadores de todos os esforços das ciências sociais. Em geral, os estudos

de caso representam a estratégia predominante, quando se colocam questões do

tipo “como” e “por que”, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os

acontecimentos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos

inseridos em algum contexto da vida real (YIN, 2005). Já de acordo com Vergara

(2005), estudo de caso é o circunscrito a uma ou poucas unidades como, por

exemplo, pessoa, família, produto, empresa, órgão público, comunidade ou mesmo

país. Além disso, tem caráter de profundidade e detalhamento, além de poder ser ou

não realizado em campo.

Porém, neste respectivo trabalho a pesquisa de campo foi utilizada e a

entendemos como sendo uma investigação empírica realizada no local onde ocorreu

um fenômeno, ou que dispõe de elementos para explicá-lo. (VERGARA, 2005).

Além da pesquisa de campo, também foi utilizada a chamada pesquisa

bibliográfica, ou seja, o estudo sistematizado desenvolvido com base em material

publicado em livros, revistas, jornais, rede eletrônica, isto é, material esse acessível

ao público em geral (VERGARA, 2005).

3.2 UNIVERSO, AMOSTRA E SELEÇÃO DE SUJEITOS

De acordo com Vergara (2005), o universo da pesquisa representa toda a

população e população amostral, ou seja, todo um conjunto de elementos

(empresas, produtos e pessoas) que possuem as características necessárias para

ser objeto de estudo. Já a amostra é uma parte desse universo, escolhida segundo

algum critério de representatividade.

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Já de acordo com Deming (1996), o termo amostragem pode ser definido

como o processo de selecionar um subconjunto de observações de uma população

total que seja de interesse do pesquisador, de modo que as características desse

subconjunto possam ser utilizadas para tirar conclusões ou fazer inferências sobre a

população total.

Temos dois tipos de amostras: a chamada probabilística, baseada em

procedimentos estatísticos, e a não probabilística. Neste trabalho, foi utilizado esse

último tipo de amostra. De modo mais específico, foram utilizadas as chamadas

amostras não probabilísticas por acessibilidade, ou seja, foram selecionados

funcionários de acordo com a facilidade de acesso a eles; e a amostra não

probabilística por tipicidade, ou seja, foram selecionados indivíduos que o

pesquisador considerou como representativos dentro do público-alvo (VERGARA,

2005).

Em relação ao universo de pesquisa, esse estudo se baseou em uma

empresa multinacional francesa (Lafarge) e outra de origem brasileira (empresa “X”),

sendo a primeira a maior produtora de materiais de construção do mundo, e a

segunda, do Brasil. No caso, a Lafarge adquiriu três plantas fabris da empresa “X”,

porém as entrevistas foram focadas: na fábrica de Cocalzinho, instalada no interior

de Goiás; e na matriz brasileira da Lafarge, localizada na cidade do Rio de Janeiro.

Os principais critérios que guiaram a escolha da referida empresa e fábrica foram:

1. O fato da organização em questão ser a maior empresa de materiais de

construção do mundo e uma das maiores do Brasil.

2. A facilidade de acesso do pesquisador a uma alta liderança da empresa,

de maneira a obter aprovação para a realização do estudo.

3. O fato desse processo de aquisição ter a capacidade de demonstrar, na

prática, exatamente o objetivo de estudo deste trabalho.

4. Por se tratar de uma empresa com sua matriz localizada no mesmo

estado do pesquisador (Rio de Janeiro), assim facilitando no dinamismo e

velocidade na troca de informações.

5. Dentre as três fábricas, Cocalzinho foi a escolhida, pelo pesquisador, por

questões de compatibilidade de “agenda” entre as partes.

De acordo com Vergara (2005), sujeitos da pesquisa são as pessoas que

fornecerão os dados de que o pesquisador necessita. Para esse estudo, a escolha

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dos sujeitos foi sugerida em comum acordo entre a área de Recursos Humanos (RH)

da Lafarge, o Gerente da Fábrica de Cocalzinho e o pesquisador. Essas escolhas

ocorreram acreditando que as pessoas escolhidas eram as mais indicadas pelo seu

conhecimento e maior participação no processo de aquisição em questão, além de

serem pessoas que poderiam dar maior legitimidade ao processo e transparecer da

melhor forma possível, as transformações às quais o fator humano se submete em

um momento como esse.

As 13 entrevistas foram realizadas pessoalmente, pelo próprio pesquisador,

na fábrica de Cocalzinho (GO) e também na matriz da Lafarge, localizada na cidade

do Rio de Janeiro (RJ). Assim sendo, nos dias 21 e 22 de Junho de 2011 foram

entrevistados 11 funcionários da fábrica de Cocalzinho (com funções de liderança),

relacionados a seguir:

Quadro 1: Lista dos entrevistados da fábrica de Cocalzinho (GO)

Entrevistado Gênero

Onde trabalhava

anteriormente à

aquisição?

Tempo

Lafarge (anos)

Tempo empresa

“X” (anos)

Entrevistado 1 Masculino Lafarge 31 -

Entrevistado 2 Masculino Lafarge 14 -

Entrevistado 3 Masculino Lafarge 15 -

Entrevistado 4 Feminino Lafarge 04 -

Entrevistado 5 Feminino Lafarge 10 -

Entrevistado 6 Feminino Empresa “X” 01 08 meses

Entrevistado 7 Masculino Empresa “X” 01 13

Entrevistado 8 Masculino Empresa “X” 01 2,5

Entrevistado 9 Masculino Empresa “X” 01 09

Entrevistado 10 Masculino Empresa “X” 01 2,5

Entrevistado 11 Feminino Empresa “X” 01 2,5

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Já no dia 23 de agosto de 2011 foram realizadas, também pessoalmente e pelo

próprio pesquisador, as entrevistas no escritório corporativo da Lafarge, localizado no

Centro do Rio de Janeiro, com os seguintes funcionários (com funções de liderança):

Quadro 2: Lista dos entrevistados do escritório corporativo da Lafarge (RJ)

Entrevistado Gênero Tempo Lafarge

(anos)

Entrevistado 12 Masculino 10

Entrevistado 13 Feminino 10

3.3 COLETA DE DADOS

Segundo Vergara (2005), na coleta de dados o pesquisador precisa deixar

evidente quais fontes utilizou para responder às perguntas de pesquisa. Também se

torna importante correlacionar os objetivos aos meios para alcançá-los, além de

justificar a adequação de um ao outro. Em se tratando de pesquisa de campo, por

exemplo, esses meios podem ser a observação, o questionário, o formulário e a

entrevista.

Da mesma forma, de acordo com Yin (2005), os dados para os estudos de

caso podem se basear em muitas fontes de evidências como, por exemplo, através

da documentação, registros em arquivos, entrevistas, observação direta, observação

participativa e artefatos físicos. Essas várias fontes são complementares, ou seja,

não há a necessidade de utilizar somente uma delas.

Porém, neste estudo, foram realizadas as chamadas entrevistas em

profundidade, sendo esse um dos principais métodos para se coletar os dados

necessários para serem utilizados em uma pesquisa qualitativa (RITCHIE; LEWIS,

2003). Para Hammersley e Atkinson (1995), o poder de expressão da linguagem

fornece um dos mais importantes recursos e, como particularidade principal, temos

sua capacidade de descrever o presente, explanar e avaliar uma infinidade de

variáveis sobre qualquer aspecto que se queira estudar.

A entrevista em profundidade tem como principais características (RITCHIE;

LEWIS, 2003):

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1. Ser estruturada e flexível, ou seja, a entrevista possui um cronograma e

tópicos estruturados, mas que podem ser alterados, caso necessário.

2. Possuir alta interatividade, ou seja, todo o material final é adquirido através

da interação entre entrevistador e entrevistado.

3. Ser abrangente, permitindo ao pesquisador utilizar-se de diversas técnicas

com o intuito de alcançar respostas profundas.

4. Gerar ou criar algum tipo de conhecimento ou pensamento novo, já que,

em um determinado momento, o entrevistado pode, influenciado pelo

entrevistador ou não, entrar em algum ponto ainda não explorado

(RITCHIE; LEWIS, 2003).

No caso deste estudo, a relação entre objetivos e meios foi a seguinte:

1. Conhecer o que tem sido pesquisado sobre o tema em discussão: neste

caso, foram realizadas pesquisas em livros, teses, artigos, periódicos e

demais publicações científicas.

2. Entender os aspectos e influências do fator humano no sucesso ou

fracasso de processos de F&A: neste caso foram realizadas 13 entrevistas

individuais em profundidade com duração de, em média 60 minutos e

baseadas em questionários padronizados [conforme roteiro que consta na

seção de apêndices desta pesquisa - Apêndices A, B e C], assim como a

observação de materiais publicados sobre a organização e a percepção do

pesquisador como observador.

Ainda de acordo com Yin (2005), as entrevistas são uma das fontes de

informações mais importantes em um estudo de caso e duas são as tarefas a serem

seguidas para que se consiga o máximo de eficácia neste processo: seguir a própria

linha de investigação do pesquisador, como reflexo do protocolo de seu estudo de

caso; e fazer a entrevista de uma forma não tendenciosa, que também atendesse às

necessidades da linha do pesquisador.

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3.4 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

Nessa seção, pretende-se explicar ao leitor como foram tratados os dados

coletados de modo a alcançar os objetivos pretendidos. De acordo com Vergara

(2005), os objetivos do estudo são alcançados através da coleta, tratamento e,

posteriormente, da análise e interpretação dos dados. Os dados foram tratados de

forma qualitativa e as entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas.

Para análise e interpretação dos dados, utilizou-se a metodologia de análise

de conteúdo visando avaliar qualitativamente as entrevistas, já que tal método

consiste em demonstrar a estrutura das entrevistas para, em seguida, evidenciar

categorias de análise através das quais os dados podem ser confrontados com a

literatura levantada sobre o tema estudado.

3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO

Segundo Vergara (2005), todo método tem possibilidades e limitações. É

razoável antever os pontos fracos do estudo que poderão ser evidenciados no

mesmo e explicitar suas limitações. No nosso caso, podemos enumerá-las como

sendo:

1. A análise de uma pequena amostra de indivíduos pode não transparecer

na mesma intensidade alguns aspectos do fator humano caso fosse

realizada entrevistas com uma amostra maior.

2. Como foram realizadas entrevistas com apenas uma (Cocalzinho - GO)

das três plantas fabris (não foram realizadas entrevistas com as plantas

localizadas nos estados da Bahia e Paraíba) adquiridas, pode haver

aspectos regionais (Nordeste x Centro-Oeste) que não tenham sido

avaliados.

3. Nas entrevistas, há a possibilidade de que haja algum tipo de dificuldade

de expressão por parte do entrevistador ou do entrevistado. Há também a

possibilidade de o entrevistado ser influenciado, conscientemente ou não,

pelas atitudes do entrevistador, assim como por ideias preconcebidas

sobre a empresa e suas práticas. Além disso, os entrevistados nem

sempre fornecem respostas verdadeiras às perguntas realizadas.

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4. Em relação à análise de dados, por se tratar de um método qualitativo, a

interpretação do pesquisador tem forte influência sobre os resultados do

trabalho, assim como sua percepção sobre cada entrevista.

5. Os resultados não podem ser generalizados em relação a outros

processos de fusões ou aquisições por se tratar de um estudo de caso

específico.

Apesar das limitações e ressalvas inerentes ao estudo, pode-se dizer que o

método capturou a realidade da empresa, de acordo com o objetivo inicial.

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4 FUSÕES E AQUISIÇÕES NO BRASIL

De acordo com o estudo “Fusões e Aquisições no Brasil”, realizado em

dezembro de 2010 pela PricewaterhouseCoopers (PwC), nesse mesmo ano

aconteceu o recorde absoluto em número de processos de transações registrado em

787 negócios, confirmando um novo patamar no universo das fusões e aquisições

no Brasil; sendo o ano de 2011 um período que tem dado continuidade a todo esse

processo de crescimento.

Tal cenário apresentado é reflexo do excelente momento vivido pela

economia brasileira que demonstra, além do desempenho internacionalmente

diferenciado, o amadurecimento e a consolidação democrática e social do país no

contexto pós-crise.

Em um ano ainda contextualizado por incertezas quanto ao desempenho das

economias internacionais, o Brasil se apresenta mais robusto e atrativo, à medida

que sua recuperação se dá de maneira mais acelerada que a de grandes economias

como, por exemplo, Estados Unidos e países da zona do Euro.

Nesse contexto, as Private Equities desempenharam papel determinante,

posicionando-se como agentes de investimentos na economia real e no universo das

fusões e aquisições. Também se fortaleceram, pois se mantiveram como importante

alternativa das empresas na captação de recursos e oportunidades de consolidação

setoriais, além de ser uma porta de entrada de investidores estrangeiros no país.

Por mais que existam deficiências estruturais em determinados segmentos e

áreas, incluindo questões como infraestrutura, déficit de mão-de-obra qualificada,

além de questionamentos quanto à política de juros, impostos e gastos

governamentais, o que se vislumbra é um constante amadurecimento do Brasil

como um todo e um claro movimento crescente de processos de F&A, esses

sustentados pela atratividade e potencialidade do país.

No ano de 2010, houve um crescimento de 22% na quantidade de negócios

de F&A em relação a 2009, passando de 643 para 787 negócios fechados no ano de

2010. Como podemos verificar na figura 5, a quantidade de processos de F&A tem

aumentado a cada ano, sendo 2010 o ano com maior quantidade desde 2002.

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Figura 5: Quantidade de processos de F&A no Brasil (anual) - (Fonte: Fusões e Aquisições no Brasil -

PwC, dez., 2010)

O mês de dezembro de 2010 registrou um recorde histórico, com exatas 89

transações. Além disso, o último trimestre do mesmo ano acumulou 212 negócios,

representando 27% do total do ano.

O mesmo ano de 2010 apresentou uma média de 66 transações por mês,

número esse 22% superior aos anos de 2008 e 2009 (que já mostravam a

recuperação em um cenário pós-crise) e 10% superior ao ano de 2007, ano até

então recorde de transações anunciadas.

No entanto, somente 273 do total das transações anunciadas tiveram seus

valores divulgados, representando um universo de 35%. O valor anunciado das

transações concluídas no ano de 2010 totalizou um montante de US$ 63,6 bilhões e,

portanto, uma média de US$ 233,1 milhões por transação.

Além disso, as maiores negociações ocorridas no ano de 2010 aconteceram

em torno da empresa Vale S.A. Uma delas foi a da Albras / Alunorte (Vale S.A), que

foi comprada pela Norsk Hydro. Outras foram a da Fosfértil (parte da Bunge) e a da

BSG Resources (Guinea) Ltd., compradas pela própria Vale S.A, totalizando US$

15,2 bilhões.

As transações consideradas de grande porte (Top 10) totalizaram US$ 25,9

bilhões, porém em termos de quantidade foram as transações de pequeno e médio

porte que caracterizaram o mercado brasileiro.

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De todas as transações ocorridas no ano de 2010, a Região Sudeste liderou

esse movimento com 76% delas, sendo 71% no estado de São Paulo, 19% no Rio

de Janeiro, 7% em Minas Gerais e 3% no Espírito Santo. A Região Sul participou

com 11%, a Nordeste com 6%, a Centro-Oeste com 5% e a Norte com somente 2%.

Os investidores nacionais estiveram presentes em 60% dos negócios

realizados, enquanto o investidor estrangeiro em 40%. Conforme mostrado na figura

6, o modelo de transação predominante entre as empresas brasileiras continua

sendo o modelo de aquisição, com um total de 55%. Por fim, através da figura 7,

percebemos que o Brasil apresenta um perfil multisetorial em processos de F&A,

sendo o setor de TI o mais significativo, com 71 transações no ano de 2010.

Figura 6: Modelos de transação entre empresas (Fonte: Fusões e Aquisições no Brasil - PwC, dez., 2010)

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Figura 7: Setores com maior volume de transações em 2010 (Fonte: Fusões e Aquisições no Brasil - PwC, dez., 2010)

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5 BREVE HISTÓRIA DA INDÚSTRIA DO CIMENTO

De acordo com informações encontradas no site do Sindicato Nacional da

Indústria do Cimento (SNIC), o mercado mundial de materiais de construção está

passando por profundas modificações. Os mercados emergentes estão cada vez

mais urbanizados e experimentando um crescimento sem precedentes. As pessoas

também estão se tornando mais conscientes e preocupadas com as questões

ambientais e de novas tecnologias, inclusive as referentes ao mercado de

construção.

Durante os últimos 20 anos, na média mundial, a produção de cimento tem

aumentado em 5% anualmente. Isso significa que 100 milhões de toneladas de

cimento estão sendo consumidos a mais a cada ano.

Em 2010, mesmo com a crise, o aumento chegou a 9%, devido

principalmente ao desenvolvimento urbano e demográfico nos países emergentes,

os quais estão enfrentando forte demanda em infraestrutura. Nesses países, o

mercado de cimento está crescendo a uma taxa significativamente mais alta do que

a da economia de modo geral.

5.1 A HISTÓRIA DO CIMENTO

De acordo com informações encontradas no site do SNIC (PressKit, 2011), a

palavra cimento é originada do latim caementu que, na antiga Roma, designava uma

espécie de pedra natural de rochedos não esquadrejada (quebrada). O produto é

componente básico do concreto, que é hoje o segundo material mais utilizado pelo

homem, ficando somente atrás do elemento água.

A busca do homem por um material de ligação para as construções vem de

longa data. É provável que adesivos de barro, argila e terra tenham sido os primeiros

materiais usados.

Os assírios e babilônios usaram a argila, que tinha pouca resistência. Os

egípcios evoluíram para a argamassa de calcário e gesso, bem mais rígida e

resistente. Já os gregos obtiveram novos progressos e, finalmente, os romanos

chegaram a uma substância de grande durabilidade, porém a fórmula desse material

foi perdida no período da Idade Média.

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Por volta de 1756, o engenheiro britânico John Smeaton fez uma série de

experiências procurando encontrar o cimento que melhor comportamento

apresentasse sob pesado volume de água para utilizar na reconstrução do Farol de

Eddystone, na Cornualha, Inglaterra. Somente no início do século XIX, as novas

experiências do francês Vicat, seguidas pelas do químico Joseph Aspdin, chegaram

bem perto do cimento portland, denominado dessa forma por se assemelhar às

pedras da Ilha de Portland, no sul da Inglaterra. Porém, o produto ainda era bastante

diferente dos atuais.

Somente em 1845, um cimento do moderno tipo portland começou a ser

manufaturado em escala comercial e, aos poucos, foi comprovando sua

superioridade em relação aos outros. Ao longo do tempo, o produto passou por

diversas melhorias e, hoje em dia, quase toda a produção de cimento no mundo é

do tipo portland.

5.2 A HISTÓRIA DA INDÚSTRIA DO CIMENTO NO BRASIL

De acordo com informações encontradas no site do SNIC (PressKit, 2011), a

implantação da indústria do cimento no Brasil se divide em duas fases: pioneira e

industrial. A primeira teve suas raízes no fim do século XIX, quando a população em

crescimento passou a demandar um aumento nas obras públicas e residenciais. Em

1888, o engenheiro Louis Felipe Alves da Nóbrega (na Paraíba) e o Comendador

Antônio Proost Rodovalho (em São Paulo) deram início a dois projetos de

implantação de fábricas de cimento no país.

A fábrica da Paraíba funcionou por apenas três meses, em 1892. A de São

Paulo funcionou de 1897 até 1918, porém com algumas interrupções. Uma terceira

tentativa, no Espírito Santo, partiu do Governo do Estado, em 1912. A pequena

fábrica nunca chegou a funcionar regularmente, até ser arrendada e remodelada, em

1924.

Esses precursores não chegaram a implantar de forma definitiva a Indústria

do Cimento no Brasil por razões que vão da deficiência técnica às condições

econômicas adversas.

Já a segunda fase – industrial - foi despertada pelas restrições impostas pela

Primeira Grande Guerra ao uso de produtos essenciais ao país. Dessa forma, foi

concebido incentivo a novas empresas de cimento, o que permitiu a retomada da

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fábrica do Espírito Santo, em 1925, e o estabelecimento da fábrica Perus, em São

Paulo, em 1926.

Assim, inaugurava-se a chamada fase industrial do cimento brasileiro. O

cimento consumido no Brasil era quase todo importado, cenário esse que só

começou a mudar em 1929, como reflexo da Depressão Econômica e do

crescimento da produção nacional, que nesse ano atingiu 96 mil toneladas.

Em 1933, foi inaugurada a fábrica de cimento Mauá, que foi por muitos anos a

de maior produção no país, cedendo a posição somente no início dos anos 60 para

a empresa “X”, instalada em 1936.

Nessa época, a produção nacional ultrapassou as importações, que se

reduziram mais drasticamente com a Segunda Guerra Mundial. Em 1945, a

produção nacional girava em torno de 800 mil toneladas por ano, e se instalava a

oitava fábrica da fase industrial. Mesmo terminada a guerra, essa produção não foi

suficiente para suprir a demanda de consumo e as importações voltaram a crescer

até 1953, quando atingiram 967 mil toneladas, contra 2 milhões de toneladas de

produção nacional.

A década que se seguiu foi de expansão vertiginosa para a indústria de

cimento: de 1952 a 1962, 20 novas fábricas foram instaladas, sendo 12 até 1955. O

consumo per capita subiu de 12,9 kg por ano em 1935 para 67,7 kg em 1962,

quando foi inaugurada a trigésima fábrica no país.

A década de 60 viu a indústria de cimento alcançar 17% de ociosidade - em

função da crise econômica no Governo João Goulart - e, no seu final, com o retorno

do crescimento econômico, operando no limite máximo sem conseguir atender toda

a demanda.

Já os anos 70 foram de prosperidade, com grandes obras públicas e a

instalação de 22 novas fábricas. Porém, a recessão que se seguiu, tomando toda a

década de 80, fez com que a indústria chegasse a 55% de ociosidade, cenário esse

revertido somente em meados dos anos 90, com a chegada do plano real, fazendo

com que a produção nacional saltasse de 25 para 40 milhões de toneladas.

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5.3 PROCESSO PRODUTIVO DO CIMENTO

De acordo com informações encontradas no site do SNIC (PressKit,2011), o

cimento é um produto importante e que está presente em todas as obras, das mais

simples às mais elaboradas. Sua produção é mais complexa do que pode parecer a

princípio. Na figura 8, podemos visualizar, de forma resumida, suas principais

etapas:

Figura 8: Etapas da produção do cimento - Fonte: Press Kit 2011 - site SNIC (SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO CIMENTO - www.snic.org.br)

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5.4 CARACTERÍSTICAS DA INDÚSTRIA DO CIMENTO

De acordo com informações encontradas no site do SNIC (PressKit, 2011) o

cimento é uma commodity de baixa substituição. Está presente em todo tipo de

construção, da mais simples moradia até a mais complexa obra de infraestrutura, do

início ao acabamento final. É um componente básico do concreto, além de ser um

produto homogêneo, com variedade limitada e com especificações e processos de

fabricações semelhantes em todo o mundo.

O tempo necessário para a implantação de um projeto, ou seja, dos estudos

preliminares até o início do funcionamento de uma fábrica de cimento gira em torno

de três a cinco anos. Atualmente, a escala mínima nas unidades industriais é de 1

milhão de toneladas anuais de capacidade instalada, com investimentos de 200 a

300 milhões de dólares. Além disso, as despesas com combustíveis e energia

elétrica representam mais de 50% na formação do custo direto de produção em uma

fábrica de cimento.

Em relação à parte logística, verifica-se uma enorme complexidade.

Ensacado ou a granel, o cimento ocupa muito espaço, o que é ruim devido ao seu

baixo valor de venda. Por ser perecível, requer uma estocagem em condições

específicas e por prazo reduzido.

Além disso, por se tratar de um produto de baixa relação preço x peso, o

cimento é bastante onerado pelo frete (distribuição), sofrendo impacto com os

aumentos de preços dos combustíveis e de outros derivados de petróleo.

Em relação ao seu transporte, 94% do cimento é transportado via modal

rodoviário, sendo que mais de oito mil caminhões carregados com cimento circulam

diariamente por todo o Brasil.

Por fim, o cimento possui uma baixa participação no custo da construção civil,

ou seja, somente 3,22% do custo de uma construção vêm do cimento. Já em relação

a sua carga tributária, os impostos diretos que incidem em sua comercialização

totalizam 29,7% do preço total do produto podendo chegar a até 39% quando

visualizamos a carga tributária total com impostos, taxas e devidas contribuições

federais, estaduais e municipais.

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105

5.5 A INDÚSTRIA DO CIMENTO HOJE

De acordo com informações encontradas no site do SNIC (PressKit, 2011),

uma das características do mercado de cimento é a tendência ao consumo local e a

proximidade das fábricas. Isso se deve a fatores como o baixo valor do produto e

seu caráter perecível.

Conforme podemos verificar nas figuras 9 e 10, até 2009, o Brasil encontrava-

se entre os sete maiores produtores de cimento do mundo, sendo o maior da

América Latina e estando entre os quatro maiores consumidores de cimento do

mundo.

Figura 9: Evolução da produção de cimento no mundo (em milhões de ton.) - Fonte: Press Kit 2011 - site SNIC (SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO CIMENTO - www.snic.org.br)

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Figura 10: Evolução do consumo de cimento no mundo (em milhões de ton.) - Fonte: Press Kit 2011 - site SNIC (SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO CIMENTO - www.snic.org.br)

Atualmente, como demonstrado na figura 11, operam no Brasil, 70 fábricas

pertencentes a 12 diferentes grupos industriais nacionais e multinacionais, com

capacidade instalada da ordem de 67 milhões de toneladas anuais.

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Figura 11: Localização das fábricas de cimento no Brasil - Fonte: site SNIC (SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO CIMENTO - www.snic.org.br)

A empresa líder de mercado é a empresa “X”, fundada em 1936 na região de

Sorocaba, interior de São Paulo, e contando, nos dias de hoje, com 12.000

funcionários. Encontra-se entre os dez maiores produtores globais de cimento,

concreto e agregados e possui uma produção de 20,7 milhões de toneladas anuais.

Ao todo, são 40 unidades de produção em quase todos os estados brasileiros e 90

centrais de concreto. Globalmente, possui diversas unidades de produção e

participações acionárias em empresas da América do Norte, América do Sul,

Europa, Ásia e África. A empresa “X” faz parte de um grupo, que concentra suas

operações em setores de base da economia que demandam capital intensivo e alta

escala de produção como, por exemplo, mineração, metalurgia, siderurgia, celulose

e energia, além do cimento.

Em segundo lugar, está o Grupo Industrial João Santos, um dos principais

conglomerados da Região Nordeste, sendo um de seus principais negócios o

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cimento com a marca Nassau. Sua primeira fábrica foi construída no Brasil em 1951

e, atualmente, o grupo produz acima de 6,5 milhões de toneladas anuais.

Posteriormente, já com a aquisição das três fábricas da empresa “X”, em

2010, o Grupo Lafarge tornou-se o terceiro maior produtor de cimento do Brasil,

sendo seguido por outros concorrentes nacionais e multinacionais - Cimpor /

Camargo Corrêa, Holcim e CSN.

Através das figuras 12 e 13, percebemos que a produção e o consumo de

cimento têm crescido a cada ano. Em 2010, por exemplo, os valores entre produção

e consumo de cimento foram bem similares, ou seja, entre 59 e 60 milhões de

toneladas. Para o ano de 2011, a previsão era de que tais valores ultrapassassem

os 60 milhões de toneladas, em sintonia com o bom momento da economia

brasileira.

Além disso, através da figura 14, podemos verificar que a Região Sudeste é

a mais significativa, em termos de produção de cimento, com mais de 50%. Logo

depois, vêm as regiões Sul e Nordeste, respectivamente segunda e terceira

colocadas em termos de expressividade.

Figura 12: Produção de cimento no Brasil (em milhões de ton.) - Fonte: Press Kit 2011 - site SNIC (SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO CIMENTO - www.snic.org.br)

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Figura 13: Evolução do consumo de cimento no Brasil (em milhões de ton.) - Fonte: Press Kit 2011 - site SNIC (SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO CIMENTO - www.snic.org.br)

Figura 14: Produção de cimento por região do Brasil (em milhões de ton.) - Fonte: Press Kit 2011 - site SNIC (SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO CIMENTO - www.snic.org.br)

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6 A EMPRESA - LAFARGE

De acordo com informações encontradas no site internacional da Lafarge, a

mesma é uma empresa de capital aberto, possui sede em Paris, França, e é

atualmente líder mundial em materiais de construção. Seus principais negócios são

o cimento (N°1 do mundo), agregados (N°2), concretos (N°3) e gesso (N°3). Dessas

quatro linhas de negócios, como podemos visualizar na figura 15, o cimento é a mais

significativa com exatos 59,7% de toda a venda mundial da empresa. Concreto e

agregados participam com 31,5% e gesso com 8,8% do total das vendas.

Figura 15: Percentual de venda por negócio e por área geográfica - Fonte: site Lafarge (www.lafarge.com)

Atualmente, opera em 78 países ao redor do mundo, empregando em torno

de 76.000 funcionários e com vendas anuais de 16,2 bilhões de euros. De acordo

com a figura 16, a Europa Ocidental é a região que concentra a maior parte das

vendas, ou seja, 4,3 bilhões de euros. Logo em seguida vem o Oriente Médio e a

África, contribuindo com um total de 3,9 bilhões de euros. Posteriormente, América

do Norte com 3,3 bi, Ásia com 2,68 bi, Europa Oriental e Central com 1,04 bi e, por

último, a América Latina com 894 milhões de euros.

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Figura 16: Vendas e quantidade de funcionários por continente - Fonte: site Lafarge (www.lafarge.com)

A empresa projeta e produz materiais de construção visando atender às

diversas necessidades das pessoas ao redor do mundo para: construção

sustentável, habitação, transporte, saúde, educação e infraestrutura essencial para o

crescimento econômico e progresso social. Sua principal missão é a antecipação

das necessidades na condução dos avanços nos métodos de construção e, como

principais valores, estão o respeito, o cuidado e a excelência.

Na década de 90, o grupo estabeleceu posições sólidas em mercados

emergentes através de uma combinação de aquisições e crescimento orgânico.

Mais de 60% da força de trabalho da Lafarge é empregada em países emergentes,

mais especificamente em mercados da Ásia, África, Europa Central e Oriental, Bacia

do Mediterrâneo, Oriente Médio e América Latina. Em 2010, esses países

responderam por 53% do volume de negócios da empresa. Especificamente no

mercado de cimento, os mercados emergentes representaram, em 2010, 69% dos

resultados.

De acordo com informações encontradas no site brasileiro da Lafarge, a

empresa iniciou suas atividades no Brasil em 1959, com a inauguração da fábrica de

cimento de Matozinhos (MG) e, atualmente, possui um total de 1.600 funcionários.

Sua sede se encontra no estado do Rio de Janeiro e suas unidades industriais nos

estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Paraíba, Bahia, Pernambuco, além do

próprio Rio de Janeiro.

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Na divisão de cimento, a Lafarge conta com oito fábricas e estações de

moagem, sendo essas localizadas nas cidades de Arcos, Matozinhos, Montes

Claros e Santa Luzia (MG), além de Cantagalo (RJ), Caaporã (PB), Candeias (BA) e

Cocalzinho (GO), totalizando uma capacidade de produção de sete milhões de

toneladas. As três últimas fábricas descritas são exatamente os ativos adquiridos da

empresa “X”, em 2010. As principais marcas comercializadas são: Cimento Mauá,

Campeão, Montes Claros e Maxx Concreto.

Já na divisão de concreto, a organização possui 52 unidades nos estados de

Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo e trabalham principalmente com as linhas

de concreto Ultra, Artevia e Ecomix. Para a produção de agregados, conta com três

áreas de mineração de grande porte localizadas nos estados do Rio de Janeiro e

São Paulo visando oferecer uma linha completa de britas e areias especiais. Por

último, em relação à divisão de gesso, mais conhecida como Lafarge Gypsum, a

empresa possuía duas fábricas em Pernambuco, mais especificamente nas cidades

de Petrolina e Araripina, além de ser referência em tecnologia através dos sistemas

Gypsum Drywall e da gama Qualigesso de gessos em pó. Porém, em meados de

2011, a Lafarge se desfez da divisão de gesso da Europa e América Latina,

vendendo para a empresa belga de materiais de construção, Etex Group.

6.1 HISTÓRICO DA EMPRESA LAFARGE

De acordo com informações encontradas no site da Lafarge, toda história da

empresa se inicia no ano de 1833, na região de Ardèche, França, em um local

chamado “Lafarge”, que significa “a forja”, onde Joseph-Auguste Pavin iniciou

operações regulares de extração em pedreiras de calcário.

Joseph se beneficiou de dois pontos importantes: um geológico, já que as

pedreiras da região eram de extrema qualidade, além de poder ser utilizada como

substituto da argamassa; e outro geográfico, pois as pedreiras se encontravam perto

do rio Rhône facilitando no transporte dos produtos. Em 1948, seus dois filhos,

Edouard e Léon, desenvolveram a empresa, que ficou conhecida como “Irmãos

Lafarge”.

O primeiro grande projeto foi iniciado em 1864, com o suporte à construção

do Canal de Suez, onde 200.000 toneladas de cal foram entregues em barris de

madeira. O canal foi inaugurado em 17 de novembro de 1869 e liga o Mar

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Mediterrâneo ao Mar Vermelho. O sucesso desse empreendimento ajudou na

expansão de suas operações para a Argélia, onde se tornaria em poucos anos líder

na produção de cimento.

Com o passar do tempo, a Lafarge se posicionou como uma empresa

inovadora e com altos investimentos em pesquisa, além de uma organização com

âmbito expansionista, seja de forma orgânica ou através de aquisições. Além disso,

sempre se mostrou como uma empresa preocupada com as condições de seus

funcionários e com políticas sociais ao redor do mundo. Tanto anteriormente quanto

após a chegada da Lafarge em território brasileiro, em 1959, muitos foram os

acontecimentos relevantes e que ajudaram a empresa a tornar-se a maior do mundo

em materiais de construção:

Quadro 3: Principais pontos do histórico da Lafarge - Fonte: site da Lafarge (www.lafarge.com)

1887 Primeiro laboratório de pesquisa especializado em cimento (França).

1908 Patente do Cimento Fondu, resistente a altas temperaturas e corrosão.

1921 Primeira patente do cimento branco (maior qualidade estética).

1930 Primeiro projeto de reabilitação das pedreiras com foco na conscientização

do impacto ambiental realizado em Draveil, França.

1931 Entrada da Lafarge no mercado de gesso com a aquisição da empresa

“Gypses et Plâtres de France”.

1947 Consolidação como maior produtora de cimento na França e no Norte da

África e transferência da sua matriz para Paris.

1956 Primeira fábrica de cimento no continente americano - Richmond, Canadá.

1959

Entrada da Lafarge no Brasil - Aquisição da empresa Cominci e

construção de uma fábrica de cimento em Matozinho (MG). Início da

produção da marca de cimento “Campeão”.

1960 Aquisição de duas empresas de concreto no Canadá - Deeks McBride e

Anglo-Canadian.

1970

Fusão entre a Lafarge Cement of North America (LCNA) com a Canada

Cement Company, na época a maior empresa canadense de cimento. A

nova organização ficou conhecida como Canada Cement Lafarge.

1971 Compromisso social e ambiental com o governo francês para reduzir a

emissão de poeira em todas suas fábricas.

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1977 Publicação dos Princípios de Ação da empresa com seus respectivos

comprometimentos com os stakeholders, visão e código de conduta.

1980

Liderança no mercado de cimento norte-americano: fusão entre a Lafarge

e a Coppée criando a Lafarge Coppée Group. Outro movimento para

consolidar esse mercado foi através da aquisição da terceira maior

empresa do mundo de cimento, General Portland.

1980 P&D: criação do concreto de alto desempenho (High Performance

Concrete - HPC) com altos níveis de resistência.

1989 Aquisição da empresa suíça Cementia aumentando sua presença na

Europa e África.

1990

Assinatura de um acordo com empresa alemã de cimento chamada

Karsdorfer Zement, sendo essa a empresa com maior capacidade de

produção da Europa.

1990 Criação do maior laboratório de pesquisa de materiais de construção perto

de Lyon, França.

1994 Entrada em território chinês com a aquisição de uma fábrica em Huabei.

Até 2002 foram diversas as aquisições e investimentos na China.

1995 Preocupação com o desenvolvimento sustentável implementando o

primeiro programa de reciclagem do grupo.

1997 Entrada no setor de coberturas: aquisição do grupo britânico Redland.

2000

Primeira aparição do grupo no Dow Jones Sustainability Index, sendo esse

um índice global que mostra as empresas mais avançadas em termos de

desenvolvimento sustentável.

2001 Torna-se o maior grupo produtor de cimento do mundo: aquisição da

empresa Blue Circle.

2001 Imposição de meta de redução de 20% de emissão de CO2 até 2010.

2006 Novo e atual presidente mundial da Lafarge: Bruno Lafont

2009 Foco no crescimento em mercados emergentes como Equador e Iraque.

2010 Lafarge torna-se a terceira maior empresa de cimento do Brasil:

aquisição de 03 fábricas de sua concorrente empresa “X”.

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6.2 PROCESSO DE AQUISIÇÃO

Segundo o press release encaminhado pela área de comunicação ao público

externo, a partir da terça-feira, 19 de julho de 2010, a empresa Lafarge S.A assumiu

a operação de duas unidades de cimento na Região Nordeste (fábrica de Caaporã,

na Paraíba; e fábrica de Candeias, na Bahia) e uma na Região Centro-Oeste

(fábrica de Cocalzinho, em Goiás), além de três centros de distribuição nestas

mesmas regiões. A aquisição desses ativos foi resultado da venda da participação

de 17,28% que a Lafarge detinha no grupo português Cimpor, realizada em 03 de

fevereiro de 2010, para a empresa “X”. Por meio desta transação, a Lafarge pôde

desfazer-se de sua posição minoritária na Cimpor e reforçar sua posição no Brasil,

assim saltando da sexta para a terceira posição no mercado brasileiro de cimento.

A unidade de Caaporã iniciou sua operação em 1988, tem capacidade de 1,5

milhão de toneladas/ano e é responsável pelo abastecimento dos três Centros de

Distribuição, localizados em Recife, Cabo de Santo Agostinho (ambos em

Pernambuco) e em Natal (RN). Já Candeias, que fica localizada em Salvador, a

cerca de 8 km do Porto de Aratu, produz cerca de 320 mil toneladas/ano. Localizada

a 100 km de Brasília e 157 km de Goiânia, a unidade de Cocalzinho foi inaugurada

em 1961. Em 2007, foi transformada em uma unidade de pozolana6 e uma estação

de moagem de cimento. Desde então, produz 350 mil toneladas/ano.

Além dessas unidades, juntamente com seus 297 empregados que foram

todos transferidos da empresa “X” para a Lafarge, também foram assinados

contratos de longo prazo de fornecimento de escória7, permitindo a produção

adicional de 700 mil toneladas anuais de cimento, e de clínquer8 para as estações

de moagem. Com isso, a empresa passou a ter atuação nacional, com venda em

quatro das cinco regiões brasileiras, tornando-se uma das três maiores empresas de

cimento do país.

Já os documentos estratégicos internos da empresa enfatizaram que, no total,

foram 138 dias desde a aquisição dos ativos até o dia em que, efetivamente, a 6 A pozolana é um dos componentes do cimento utilizado na preparação de argamassas, misturada com água e cal hidratado. É a calcificação da argila. 7 Escória é o subproduto da fundição de minério para purificar metais. São geralmente usadas como uma maneira de remover impurezas na fundição de metal. No entanto, devido à sua constituição, também podem cumprir outras funções tais como assistir no controle de temperatura de fusão e na minimização da reoxidação do produto final. 8 O clínquer pode ser definido como cimento numa fase básica de fabrico, habitualmente com a adição do sulfato de cálcio, calcário e/ou escória siderúrgica. É a calcificação do calcário com argila.

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Lafarge iniciou suas operações, dia 19 de julho de 2010. Durante esse período, a

Lafarge começou a agir em diversas frentes para que tudo se encontrasse em

perfeitas condições quando chegasse a data em questão. Era preciso que os

principais stakeholders - empregados, comunidades do entorno das unidades

adquiridas e clientes - percebessem a chegada da empresa como positiva e

tivessem confiança na sua solidez e intenções de longo prazo para as regiões. Visto

isso, foi estabelecido um cronograma de ações de comunicação voltado para o

público interno e externo, com etapas bem definidas e estratégias distintas,

envolvendo diversas áreas da empresa para que todos os objetivos fossem

atingidos. Também era de extrema importância todos os interessados entenderem a

real dimensão e peso da empresa em nível global.

Durante esse período de transição, os executivos da Lafarge tinham como

meta minimizar os possíveis impactos negativos e atingir os principais objetivos

estratégicos da organização para aquelas regiões, que eram:

1. Garantir a venda e o abastecimento, com o cimento produzido nas

unidades adquiridas, a partir do primeiro dia de operação sob a

administração da Lafarge.

2. Conquistar novos clientes, gerando vendas crescentes e contínuas, além

de ressaltar os atributos da empresa, ou seja, a qualidade de seus

produtos, sua filosofia e solidez. É bom lembrar que os clientes não foram

repassados para a empresa. Dessa forma, a Lafarge teve de começar do

zero quando falamos em prospecção de clientes.

3. Posicionar as marcas de cimento da Lafarge nos novos mercados, no

mínimo equiparando-as às já comercializadas nas respectivas regiões,

especialmente à marca da empresa “X”.

4. Evitar a insegurança e a evasão dos empregados lotados nas unidades

adquiridas - caso houvesse uma onda de demissões, a empresa

simplesmente não teria como manter a operação em 100% de sua

capacidade, prejudicando os objetivos 1 e 2.

5. Manter o quadro de empregados destas unidades por, pelo menos, 06

meses.

6. Eliminar todas as logomarcas da empresa “X” e de seus produtos

existentes nas unidades até o primeiro dia de operação.

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Para evitar boatos vindos do mercado, o público interno (funcionários) foi

priorizado em todo o processo de comunicação. As interações com os profissionais

das novas unidades foram intencionalmente feitas face a face, para que esses

pudessem associar a Lafarge, ainda pouco conhecida pelos novos empregados, a

uma empresa de sucesso e que já conhecia o mercado brasileiro, e não a uma

empresa desconhecida ou aventureira.

Um dia depois do anúncio de quais seriam as unidades a serem transferidas

para a Lafarge, os diretores de Recursos Humanos e Industrial da empresa voaram

para estas unidades, acompanhados de um diretor da empresa “X”, onde se

reuniram com os empregados visando passar a mensagem de que a Lafarge

pretendia manter 100% dos funcionários, além de tirar as dúvidas sobre o processo

de aquisição.

Já entre abril e junho de 2010, foram realizadas três novas sessões de

perguntas e respostas em cada unidade com o objetivo de tranquilizar e informar

sobre todas as etapas da mudança.

Posteriormente ao período de transição, pôde-se mensurar o sucesso do

trabalho realizado através dos resultados positivos alcançados, quando comparados

com os objetivos estratégicos mencionados anteriormente.

Em relação ao primeiro objetivo, as expedições diárias de cimento

começaram em 4 mil toneladas na primeira semana e, após 30 dias, chegaram a 7

mil toneladas.

Já em relação ao terceiro objetivo, posicionamento da marca, a Lafarge

alcançou o primeiro lugar em índice de satisfação dos consumidores nas regiões

Nordeste e Sudeste do Brasil em pesquisa realizada com 450 clientes não

exclusivos.

Em relação ao quadro de funcionários e comparando março de 2010 com abril

de 2011, o mesmo aumentou de 348 para 422 empregados. Além disso, foram

colocadas ou substituídas mais de 700 placas em todas as unidades, além da

pintura de um silo com mais de 70 metros de altura.

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7 RESULTADOS DA PESQUISA

Antes de analisarmos os resultados deste estudo, faz-se importante entender

por completo como se encontrava a situação da fábrica de Cocalzinho e de seus

funcionários no momento que antecedeu o processo de aquisição da mesma pela

Lafarge.

A fábrica de Cocalzinho (GO), adquirida pela Lafarge, e a de Sobradinho

(DF), de poder da empresa “X”, estão localizadas muito próximas uma da outra.

Operacionalmente, ambas as fábricas cobriam a mesma área de atuação; porém,

como a de Sobradinho é muito maior e plena, sempre foi dada preferência à mesma

em termos de investimentos e atenção. No caso, a fábrica de Cocalzinho não era

considerada plena pelo fato de não fazer clínquer.

Sendo assim, Cocalzinho era visto como um simples estepe da fábrica de

Sobradinho e somente permanecia em atividade constante quando a mesma não

conseguia atender a demanda da respectiva área ou quando algum de seus

equipamentos quebrava. Além disso, muitas das suas atividades administrativas e

gerenciais eram realizadas diretamente pelo pessoal de Sobradinho.

Em decorrência desse cenário, a maioria dos funcionários da fábrica de

Cocalzinho, os quais eram terceirizados, eram demitidos periodicamente e

recontratados somente quando houvesse necessidade. Toda essa situação

resultava no afloramento de diversos sentimentos negativos de seus funcionários,

seus familiares e de toda comunidade ao redor, que dependia economicamente e

estruturalmente da fábrica e que veremos de forma aprofundada na análise dos

resultados.

A seguir, detalharemos e analisaremos as principais categorias encontradas

neste estudo.

7.1 ALTO COMPROMETIMENTO: OS REAIS MOTIVOS

De acordo com O’Reilly e Chatman (1986), funcionários que possuem uma

ligação psicológica com a empresa e que internalizam as características e

perspectivas da mesma são possuidores do chamado comprometimento

organizacional. Corroborando a literatura, as entrevistas indicaram que, até hoje, os

funcionários que permaneceram na fábrica de Cocalzinho após a aquisição pela

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Lafarge foram e continuam bastante comprometidos, felizes e dedicados a buscar o

novo.

”O comprometimento da equipe existente, a que se manteve lá, você percebe

que está realmente comprometida.” (Entrevistado 12)

”Acho que as pessoas buscaram, sim, o novo, se dedicaram na implantação

dos novos sistemas, se dedicam até hoje. Então eu acho que as pessoas

estão muito comprometidas.” (Entrevistado 5)

Quando comparamos a fábrica de Cocalzinho (GO) com as outras duas

(Candeias e Caaporã) adquiridas pela Lafarge, conforme foi apurado nas entrevistas

realizadas com executivos da parte corporativa da organização, começamos a

perceber determinadas características individuais da mesma (Cocalzinho) que

contribuíram para um maior comprometimento de seus funcionários durante o

processo de aquisição.

Tal fábrica era utilizada pela empresa “X”, como visto anteriormente, como

estepe da unidade de Sobradinho, sendo essa maior e localizada na mesma região.

Ou seja, a planta de Cocalzinho vinha sendo utilizada somente quando a de

Sobradinho não conseguia cobrir toda demanda de cimento de sua área de

cobertura ou quando algum equipamento se encontrava quebrado. Dessa forma, a

fábrica de Cocalzinho ficava inativa ou ociosa em demasia, por diversos e longos

períodos durante o ano.

Isso resultava em um ambiente altamente instável e de incertezas para seus

funcionários, principalmente em sua base operacional, onde a maioria deles eram

terceirizados e por diversas vezes no ano eram demitidos e readmitidos sem terem a

mínima noção de quando isso aconteceria.

Após os funcionários da fábrica de Cocalzinho serem comunicados, em março

de 2010, sobre a venda da fábrica para a Lafarge e, após as dúvidas sobre a

seriedade da empresa compradora e de seu projeto serem sanadas, os respectivos

empregados voltaram a ter esperanças de trabalharem o ano todo, serem

contratados pela Lafarge e, assim, obterem maior segurança para eles próprios e

seus familiares.

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“Na época da empresa “X” a fábrica rodava e ficava até cinco meses parada.

Consumo de cimento era pouco devido ao tanto que saía de Sobradinho. Eles

investiam aqui somente para auxiliar na falta de cimento em Sobradinho.”

(Entrevistado 7)

“O que eu posso dizer é que Cocalzinho tem um item diferente nessa

negociação. As outras fábricas eram de produção estável, tinham mercado

garantido, então a empresa tinha interesse grande por elas. Cocalzinho não.

Se não tivesse entrado na negociação, a empresa “X” fecharia a fábrica.”

(Entrevistado 10)

“Eu tive esperança que pudesse ser melhor para a gente porque a empresa

“X” parece que não tava com muita firmeza de tocar a planta e a Lafarge veio

com a promessa de vir com força total.” (Entrevistado 6)

Na gestão da empresa “X”, mesmo naqueles períodos em que os funcionários

de Cocalzinho trabalhavam, o tratamento concedido pelos líderes não era

compatível com uma empresa que realmente possuía a preocupação em manter

seus funcionários altamente comprometidos e motivados. O que se visualizava era

exatamente o oposto: com chefes se posicionando de forma rude, grosseira e

inapropriada junto aos seus subordinados.

“Na gestão anterior o comprometimento não era tão forte porque tratavam as

pessoas de forma rude e grosseira.” (Entrevistado 1)

”Eu diria o seguinte: não me parecia que o pessoal era tão comprometido.

Mas, isso na época da antiga gestão.” (Entrevistado 2)

Porém, durante o período de transição e no início da gestão Lafarge, a partir

de julho de 2010, o que se via era um ambiente do tipo “faz de conta”, onde os

funcionários, ainda sem conhecer a cultura da nova organização, demonstravam um

falso comprometimento, motivados principalmente pela necessidade de mostrar que

estavam felizes e garantir seu espaço, além do receio da perda de seus respectivos

empregos.

De acordo com Meyer e Allen (1991), a ligação psicológica com a

organização é um constructo multidimensional e que pode levar a três formas

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distintas de comprometimento: contínuo, afetivo e normativo (ver página 42 do

referencial teórico). No comprometimento contínuo, os indivíduos não permanecem

na empresa por ligação emocional ou identificação (comprometimento afetivo), mas

pela necessidade ou por não terem outras opções de emprego (WIENER, 1982).

Na pesquisa, o que pude visualizar através das entrevistas realizadas foram

funcionários, inicialmente, muito mais comprometidos pelo fato de a cidade ser

dependente da fábrica (em termos empregatícios e econômicos) ou por não

quererem se mudar da cidade para trabalhar em outra empresa e deixarem suas

respectivas famílias ou, até mesmo, pela necessidade daquele trabalho do que,

realmente, permanecendo lá por amor ou identificação.

”Quando chegamos aqui, existia um aparente comprometimento deles, mas

era mais como um receio. Eles tentavam mostrar que eram comprometidos

mais do que de fato eles eram. Como se eles pensassem assim: “eu tenho

que garantir meu espaço, tenho que me manter aqui, preciso disso aqui.””

(Entrevistado 2)

”Quando a fábrica de Cocalzinho deixou de ser um adendo de Sobradinho,

então o comprometimento aumentou, até porque todo mundo quer ficar

empregado.” (Entrevistado 3)

”Aqui em Cocalzinho não há empresas. A única é essa. Além disso, é muito

complicado sair de casa, largar a família para trabalhar em outra cidade. O

local mais próximo daqui é Anápolis (GO) e Brasília. Tem gente que mora a

50 metros da fábrica.” (Entrevistado 6)

Por outro lado, conforme os funcionários foram se tornando mais próximos

dos profissionais provenientes da Lafarge, da cultura da empresa e de todo seu

código de conduta, pôde ser verificada a transição do comprometimento contínuo

para um comprometimento afetivo, onde de acordo com Meyer e Allen (1991) o

indivíduo começa a se envolver e se identificar com a companhia e a querer

permanecer na mesma também pelo seu desejo e envolvimento e, não somente,

pela necessidade.

As ações dos líderes foram de extrema importância nessa transição de

valores de comprometimento, fazendo com que, para a maioria, a obrigação diária

de ir ao trabalho se transformasse em um prazer natural, e a busca por fazer sempre

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mais e melhor se transformasse em um esforço diário. Além disso, o simples fato de

o funcionário perceber que seus chefes imediatos estavam comprometidos com eles

já se transformava em uma enorme fonte de motivação para a realização das

mudanças necessárias.

”No início, as pessoas tentavam demonstrar um comprometimento maior do

que de fato era. Mas, isso foi bem percebido e utilizado pelos líderes porque

de fato eles se tornaram comprometidos. Começamos fazendo com que

aquele comprometimento deles, que não era com a empresa e sim com seus

respectivos empregos, se invertesse.” (Entrevistado 2)

”A partir do momento que eu me comprometo com ele, ele vai se

comprometer comigo. E, comigo, eu digo com a empresa. E hoje esse

comprometimento é uma coisa natural.” (Entrevistado 2)

“O comprometimento com o emprego dele... ele vai fazer o quê? Ele não vai

fazer nada além da obrigação, mas comprometimento com a empresa os leva

a terem uma atitude muito diferente como se vê hoje. A gente pede algo e ele

tenta fazer mais do que pedimos.” (Entrevistado 2)

Visando suportar o aumento do comprometimento afetivo dos empregados de

Cocalzinho, a Lafarge começou a implementar sua cultura através de ações e

demonstrações de que realmente tudo seria diferente e a disseminar o pensamento

de que a empresa estava lá para crescer, desenvolver a região, a fábrica e seus

funcionários.

Dar poder aos empregados, aceitar e respeitar suas ideias, colocar a

segurança do ser humano em primeiro lugar, disponibilizar recursos para chegar ao

objetivo final com maior eficiência, encontrar a função correta e com maior potencial

de produtividade, criar vínculo empregatício com os funcionários terceirizados e

desenvolver e investir nessas pessoas com treinamento e subsidiando cursos foram

algumas das ações que a organização realizou para alcançar esse maior

comprometimento e demonstrar a seriedade do projeto como um todo.

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“À medida que dávamos poder para os funcionários, percebíamos que

retornava para a gente com senso de compromisso. Não existia censura de

ideias.”.....” nós começamos a forçar muito a questão de segurança,

compromisso com a vida. E aí as pessoas começaram a ver que as vidas

delas eram importantes e que nós valorizávamos tudo isso.” (Entrevistado 1)

“Toda ação tem uma reação. Então, eu me comprometi em dar o recurso. A

partir desse momento que eu me comprometo com ele, ele vai se

comprometer comigo.” (Entrevistado 2)

“Eu acho que o comprometimento aumentou. O pessoal criou mais uma

responsabilidade, o senso crítico do que estava fazendo. Porque antes fazia,

hoje sabe por que faz.” (Entrevistado 4)

“Eu acho que uma das formas de conquistar maior comprometimento foi

quando a Lafarge começou a contratar o pessoal que era terceirizado. A

Lafarge investe muito para agregar valor às pessoas, em treinamento, assim

melhoram o currículo dos funcionários independente se é para a organização

ou não.” (Entrevistado 6)

De acordo com Iverson (1996), o fato do indivíduo ser comprometido com a

organização facilita em alcançar e aceitar as mudanças propostas. Essa constatação

vem ao encontro do ocorrido na fábrica de Cocalzinho, já que o que se verificou foi

um ambiente muito mais de incertezas, expectativas e dificuldades do que de

resistência às mudanças (categorias 8 e 9), inclusive interferindo positivamente e

diretamente nos resultados relacionados ao volume de vendas e no alcance de seus

objetivos.

“Temos de nos comprometer e adaptar às mudanças. Não podemos ter

resistência. Então, busco e procuro sempre mudar e me adaptar. Procuro

aceitar e receber aquilo da melhor forma possível, justamente para o negócio

conseguir fluir.” (Entrevistado 5)

“O comprometimento facilitou porque alavancamos o volume de uma forma

absurda. Eles pediam 9.000 toneladas em junho e quando foi outubro já

estávamos fazendo 20.000 toneladas por mês.” (Entrevistado 1)

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Por outro lado, não se pode dizer que 100% dos funcionários que

permaneceram na empresa estavam comprometidos. Houve exceções, que eram

conhecidos como os “não aderentes”, mas que já não fazem mais parte do quadro

de funcionários da Lafarge. Também existiam os chamados “em cima do muro”, que

inicialmente agiam mais na pressão e aos quais a organização deu atenção especial

- dando-lhes poder e credibilidade - com o objetivo de torná-los “aderentes”. Por

último, havia os comprometidos, que eram chamados de “aderentes”.

“Os ‘aderentes’ entraram já de cara e percebemos o compromisso deles. Os

‘em cima do muro’ trabalhavam meio que na pressão. E os ‘não aderentes’

ficavam ali, tentando tirar alguns de direção.” (Entrevistado 1)

“Lógico que certas coisas muito focais foram detectadas e tivemos que tomar

alguma providência. Era tão pouco que não poderíamos correr o risco de que

fosse propagador de má influência.” (Entrevistado 13)

“É lógico que existem aquelas situações que fogem da normalidade.

Conseguíamos perceber aquele que não era aderente. Tivemos um

desligamento por questão de comprometimento.” (Entrevistado 5)

7.2 TURNOVER BAIXO E POSITIVO

Através do turnover, conseguimos mensurar as reais ambições propostas

pela Lafarge no momento que iniciou sua gestão na fábrica de Cocalzinho. Dos 33

funcionários iniciais, passou para 76 em menos de um ano, trazendo benefícios

tanto para a empresa e seus funcionários quanto para toda cidade. Isso demonstrou,

principalmente para seus empregados, que aquela empresa multinacional e líder do

mercado - inicialmente desconhecida por eles e que estaria ocupando o lugar da

maior empresa de cimento do Brasil (empresa “X”) - tinha projetos sérios e

sustentáveis de longo prazo.

“Em relação ao que esperávamos o turnover foi baixo. O efetivo da fábrica

era de 33 pessoas e hoje nós somos 76. Nós admitimos 43 pessoas e isso foi

maravilhoso para a comunidade e para a fábrica.” (Entrevistado 1)

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De acordo com estudo realizado por Morrell et al. (2004), a relação de uma

mudança organizacional - como um processo de F&A - e o turnover de funcionários

pode resultar em três tipos de cenários de turnover distintos: evitável, inevitável e o

misto (ver páginas 55 e 56 do referencial teórico) . No turnover evitável, existe uma

perda desnecessária de funcionários; já no turnover inevitável, os empregados, que

saem da companhia são perdas necessárias, compensadas pelos benefícios

decorrentes da implantação da mudança.

Durante o processo de aquisição da fábrica de Cocalzinho, foram raros os

casos de funcionários que quiseram sair ou que tiveram de ser desligados. Isso se

deu porque alguns não acreditaram, não aderiram ou não se adaptaram ao projeto

da empresa ou porque aceitaram o fato de se distanciarem da cidade e de suas

respectivas famílias, ou ainda por terem recebido uma proposta melhor de outra

organização.

Em resumo, podemos entender que no final de todo o processo, o turnover

inevitável se sobressaiu, uma vez que o baixo percentual de perda de funcionários

se deveu basicamente à não aderência ao projeto e, em geral, as organizações só

têm a ganhar sem a presença desse perfil de empregado.

“Tiveram pessoas que quiseram sair por não querer viver na cidade, outras

que não se adaptaram e resolveram sair. Teve um que pediu realmente para

sair, pois teve uma oportunidade em outra empresa.” (Entrevistado 6)

“A maioria das pessoas que saíram foram aquelas que não aderiram.

Devemos ter aí, no máximo, 6 pessoas que não ficaram.” (Entrevistado 1)

“O turnover foi baixo, mas tivemos casos de pessoas que não entenderam a

filosofia e saíram fora logo. Mas, são casos tão isolados, tão pequenos, que

quando olhamos o todo não vemos nada demais.” (Entrevistado 2)

De qualquer forma, os gestores precisam estar atentos no momento da

implantação das mudanças para que não haja um elevado nível de turnover

(MORRELL et al., 2004). Isso porque o turnover pode ter uma importante influência,

durante um processo de F&A, na produtividade e na autoestima dos funcionários

(BUONO; BOWDITCH, 1989).

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A escolha dos empregados em permanecer na empresa foi visto como natural

pelos líderes da Lafarge, já que muitos eram os pontos favoráveis - como, por

exemplo, a apresentação de um projeto forte e coerente para a região orquestrada

pela organização, a dependência que a cidade tinha em relação à fábrica e o desejo

dos funcionários de permanecerem junto de suas famílias.

De qualquer forma, por mais que o cenário fosse positivo, a empresa não

poderia deixar de agir. Visando minimizar ou prevenir qualquer nível de turnover, a

Lafarge começou a se movimentar e a buscar internamente as ferramentas

necessárias para demonstrar a esses funcionários o quanto valeria à pena dar um

voto de confiança e permanecer trabalhando na empresa. A implantação de um

plano de cargos e salários, subsídios para estudo, contratação dos terceirizados e o

remanejamento dos empregados para funções que pudessem gerar maior retorno

foram alguns dos movimentos realizados que auxiliaram na retenção desses

indivíduos.

Porém, no primeiro momento, a maioria dessas ações e benefícios ainda não

eram visualizados pela Lafarge como um programa formal de retenção dos

funcionários, e sim como ajustes emergenciais visando padronizar os procedimentos

e políticas da fábrica de Cocalzinho em relação às suas outras plantas ao redor do

Brasil.

“Foi uma coisa natural, não fizemos nada programado. Mas, também

começamos a incentivar a estudar, a falar que iria para frente só quem

estudasse, instituímos pensão educacional, plano de cargos e salários dos

funcionários.” (Entrevistado 1)

“Foi uma coisa mais natural. Pensamos para ano que vem fazer algo mais

formal em termos de retenção. Por enquanto, diminuímos as coparticipações

do beneficio, além de rever os salários de quem estava muito abaixo da faixa”

(Entrevistado 13)

“Não, ninguém pensou em sair. Muito pelo contrário, a Lafarge começou a

contratar. Que nem os terceirizados que te falei. Eles contrataram todos.”

(Entrevistado 7)

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7.3 UMA NATURAL RETENÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS

De acordo com Siehl et al. (1990), a escolha do funcionário por ficar ou não

na empresa vai depender da estratégia adotada durante o processo de integração

realizada pela organização compradora. Seriam quatro as possíveis estratégias:

Pillage and Plunder, The One Night Stand, Love and Marriage e Courtship But Just

Friends (ver páginas 57 e 58 do referencial teórico).

Essa última é uma estratégia onde ambas as empresas realizam um processo

de integração amigável, dependente e com um relacionamento de trabalho com

baixo nível de mudanças, e foi a que mais se adequou à realidade de Cocalzinho.

Isso porque todo o processo de aquisição foi realizado de forma amistosa, além do

fato de a Lafarge ter adquirido todas as fábricas de “porteira fechada”, ou seja, com

100% de seus respectivos bens materiais e funcionários.

Todo esse direcionamento dado ao processo fez com que esses empregados

se sentissem um pouco menos receosos do que se verifica normalmente em

processos de F&A. Até porque, de acordo com Krumer (2008), quanto maiores os

rumores e as incertezas em um processo desse tipo, mais complicado se torna o

movimento de reter esses funcionários.

“A Lafarge comprou digamos assim de “porteira fechada”. Quem quisesse

ficar, ficava; e quem não quisesse, não ficaria. Nada era obrigado. E, por

exemplo, quem tem 6 anos de empresa “X” continua tendo 6 anos de Lafarge.

Foi automaticamente contratado.” (Entrevistado 6)

Um ponto interessante e particular da fábrica de Cocalzinho é que, como eles

eram considerados estepe da fábrica de Sobradinho, diversos setores

administrativos e operacionais dessa última também gerenciavam a planta de

Cocalzinho. Ou seja, os líderes que vieram da Lafarge preencheram vagas até então

inexistentes ou simplesmente aquelas que visavam substituir os gestores que a

empresa “X”, através de uma prévia negociação com a Lafarge, manteve como seus

funcionários, transferindo-os para outras plantas ao redor do Brasil.

Sendo assim, não foram necessários esforços de retenção para a maioria

das posições chave como, por exemplo, na área administrativa, logística, controle de

qualidade e, até mesmo, para a gerência da fábrica.

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Já em relação aos líderes que trabalhavam na fábrica de Cocalzinho e

permaneceram, duas situações distintas foram visualizadas: aqueles reconhecidos

como gestores, tanto na prática, quanto no papel; e outros que se mostravam líderes

no dia-a-dia, mas que não eram efetivamente formalizados dentro da organização.

Porém, visando identificar potenciais funcionários chave e ratificar a condição

dos remanescentes, a empresa se utilizou de ferramentas básicas, como entrevistas

individuais e monitoração do nível de aderência diária, para entender se esses

empregados estavam comprando a ideia e motivados com a nova gestão.

Isso não significa que a companhia não tenha outros métodos para identificar

e reter seus profissionais. Pelo contrário, a matriz da Lafarge possui uma

metodologia de gerenciamento do desempenho dos funcionários, que visa buscar

pessoas chave para a organização e suas unidades. Já em relação à retenção dos

empregados, ações como ajustes salariais, subvenção educacional, maior exposição

na corporação e novas missões em outras unidades são algumas das ferramentas

utilizadas pela empresa em nível mundial.

“A Paula veio para logística e não tinha ninguém responsável pela área, a

Giovana veio para a área administrativa, que não existia na fábrica. Ou seja,

não ocupou lugar de ninguém. O Isaías veio para a área de produção

substituir uma pessoa que a empresa “X” pediu para levar. Eu substituí o

gerente que eles também pediram.” (Entrevistado 1)

“Nós temos o caso do Pedro, que reforçamos nosso interesse em relação a

ele. Era o chefe de manutenção. Algumas lideranças que não eram

lideranças ou eram lideranças do dia-a-dia, mas não efetivamente

outorgadas, nós fomos regularizando.” (Entrevistado 1)

“Identificamos primeiro com as entrevistas que fizemos e com o nível de

aderência diária. E depois, no dia-a-dia, fomos observando o que as pessoas

queriam, se elas estavam comprando a ideia, a filosofia.” (Entrevistado 1)

“Tem uma metodologia de gerenciamento do desempenho que fazemos todo

ano e, após a avaliação, sentamos para conversar no comitê de carreira e

sucessão e indicamos as pessoas que consideramos que são chaves para a

unidade e organização.” (Entrevistado 13)

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A Lafarge começou a agir com o intuito de garantir a permanência desses

indivíduos na organização e, assim, construir os pilares que sustentariam todo o

processo de mudança e de expansão da operação. Porém, não se viu uma grande

iniciativa por parte dos funcionários de Cocalzinho na busca de oportunidades

externas, nem mesmo práticas complexas e radicais por parte da organização para

retê-los.

Alguns fatores já vistos podem ter contribuído para esse desinteresse na

procura por novas oportunidades, como a alta dependência da cidade pela fábrica e

o sentimento de pertencimento dos indivíduos em relação à mesma. Outro fator que

influenciou foi o tratamento digno e respeitoso dado pela Lafarge a esses indivíduos,

assim tornando o ambiente muito mais harmonioso e igualitário.

“Eu acho que o que tá fazendo reter as pessoas aqui é a seriedade e a forma

digna que tratamos as pessoas. Mas, não só isso. O que retém também é o

ambiente bom e harmonioso que elas vivem. Isso porque conseguimos

passar essa questão de igualdade.” (Entrevistado 2)

“Tratar de forma igual, ser corretos e passar confiança também se

transformaram em formas de se reter esses funcionários.” (Entrevistado 1)

“Integração, dar mais espaço para ele falar, mostrar que ele é parte do

negócio, mostrar a importância dele para a empresa. Eu acho que tudo isso

ajuda a reter o funcionário aqui.” (Entrevistado 10)

É claro que determinadas ações foram realizadas, porém muito mais com o

intuito de implantar a cultura da organização e padronizar certas políticas existentes

na Lafarge junto aos antigos funcionários da empresa “X” do que propriamente algo

planejado para reter as peças chave. Foi tudo muito natural e recíproco: tanto a

vontade dos funcionários em permanecer, quanto o desejo da Lafarge de que os

mesmos ficassem.

Alguns desses ajustes internos foram os seguintes: a) implantação do plano

de cargos e salários; b) reajustes salariais, visando reduzir a diferença em relação

ao mercado e às outras fábricas; c) minimização dos desvios de função, dando aos

funcionários o cargo que realmente exerciam na prática; d) respeito e valorização

desses empregados.

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A seguir, vemos alguns depoimentos que contextualizam esses ajustes

realizados pela organização.

“Tínhamos pessoas com desvio de função ou com a remuneração muito

abaixo do que o mercado tava pagando” (Entrevistado 13)

“Nós encontramos pessoas com a mesma função recebendo salários

diferentes. Então, começamos a tentar igualar isso. Não que tenhamos feito

um movimento salarial para segurar as pessoas.” (Entrevistado 2)

“O que eu quero dizer é que os reajustes e acertos que fizemos não foram

motivados com a intenção de reter, mas eu acho que isso ajudou. Não é nem

pelo valor, mas muito mais pelo reconhecimento deles.” (Entrevistado 2)

“Implantamos o plano de cargo e salário. Deu ao funcionário a função que

realmente exercia.” (Entrevistado 1)

7.4 STRESS MODERADO E SUAS ETAPAS

Podemos dizer que o processo de aquisição da fábrica de Cocalzinho tenha

passado por três momentos distintos quando falamos de stress, correlacionando-os

aos estágios do processo de F&A identificados por Ivancevich et al. (1985).

Um primeiro momento, referente ao período que antecede a efetiva entrada

da Lafarge como gestora da fábrica, corresponderia ao primeiro e segundo estágios

do processo de F&A (Fase de Planejamento e Fase de Implementação); o segundo,

já com o início da gestão Lafarge, corresponderia ao terceiro estágio (Fase de

Parada e Transição); e o terceiro momento, quando a organização começa a

implantar sua cultura, sistemas, padrões e procedimentos, corresponderia ao quarto

e último estágio (Fase de Estabilização) (ver páginas 49 até 55 do referencial

teórico) .

Mesmo após a divulgação, para os funcionários, da aquisição da fábrica de

Cocalzinho, em março de 2010, o pessoal da Lafarge ainda demorou um pouco para

assumir e iniciar sua gestão. As primeiras pessoas só chegaram no dia 31 de maio

de 2010, ou seja, 50 dias antes do início da operação, em 19 de julho de 2010.

Toda essa movimentação, ou falta dela, ocasionou um ambiente estressante,

não só para os funcionários, mas também para toda a comunidade da cidade com

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aproximadamente 10.000 habitantes. Antes do pessoal da Lafarge chegar, existiam

incertezas e expectativas de mudanças, que permaneceram no momento inicial da

chegada à fábrica. Porém, diversas reuniões e entrevistas foram realizadas com os

empregados para minimizar tais incertezas.

“Em Cocalzinho teve o stress da comunidade em não saber o que poderia

acontecer nessa mudança, porque é uma cidade pequena.” (Entrevistado 12)

“Poxa, cadê esse pessoal da Lafarge que não aparece? Quando aconteceu

isso, aí ficamos meio estressados.” (Entrevistado 7)

“Nós passamos um tempo aqui antes do início de nossa gestão. Aí eu acho

que essa incerteza, esse medo, digamos que esse pequeno stress aconteceu

mais nesse período.” (Entrevistado 2)

“Entendo que, antes da Lafarge chegar, houve certo stress.” (Entrevistado 1)

De acordo com Marks e Mirvis (1985), o stress em um processo de F&A é

determinado pelas percepções subjetivas dos indivíduos, e não por uma realidade

objetiva. Já de acordo com Meyers (1999), o stress ocasionado por um evento é

determinado pelo acúmulo e nível de mudanças estabelecidas, independente de

serem boas ou ruins.

Em um segundo momento do processo de aquisição, ou seja, a partir do dia

19 de julho de 2010 e início da gestão Lafarge, essas duas citações acima podem

resumir de forma bem objetiva o porquê a aquisição da fábrica de Cocalzinho não

estabeleceu um cenário estressante para os funcionários da mesma. Como há

bastante tempo as pessoas já sofriam pelo fato da fábrica ser estepe da fábrica de

Sobradinho e, dessa forma, conviver com um cenário de constantes expectativas e

incertezas, esse movimento foi visto pelos funcionários de Cocalzinho de forma

bastante positiva - o que vai de encontro aos resultados da pesquisa realizada por

Covin et al. (1996), mas corrobora a pesquisa de Terry et al. (1996) que identificou

reações positivas de empregados de uma companhia aérea quando esta foi

adquirida por outra.

Contrariando a afirmação de Appelbaum et al. (2000) de que em um,

ambiente com boa probabilidade de ocorrer mudanças, o sentimento de incerteza

gera stress nos funcionários, afetando suas percepções, julgamentos e relações

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interpessoais, no caso desse estudo, as expectativas e incertezas pré-aquisição

foram substituídas por outras (ver categoria 9), mas na percepção dos funcionários

tais sentimentos passaram longe de se transformar em um cenário de stress.

Além disso, a partir do momento que a planta de Cocalzinho foi adquirida

como “porteira fechada” e com reais intenções de manter 100% dos funcionários, as

mudanças seriam de menores proporções e focadas em sua maioria na

transferência cultural, de padrões e procedimentos da Lafarge para esses

indivíduos. Tudo também foi facilitado por um processo de transição muito

transparente e com todas as informações necessárias disponíveis para os

funcionários.

“Realmente teve preocupação, zumzumzum na área, a cidade inteira ficou se

questionando. Stress não, até porque a Lafarge chegou já mostrando para o

que veio e quem quisesse ficar junto dela teria oportunidade.” (Entrevistado 6)

“Não chegou a ter stress não porque todas as duas empresas fizeram com

bastante clareza. Não teve nada escondido. Eu acho que isso ajudou muito.”

(Entrevistado 7)

“Eu não vi, mas aqui tem algumas particularidades. Como eu te falei, aqui era

considerado como um estepe que não era nem calibrado. As expectativas

eram grandes. Quando de fato assumimos é claro que existiu certa

apreensão, mas as pessoas já estavam notando a diferença na gestão.”

(Entrevistado 2)

Já em um terceiro momento do processo de aquisição da fábrica de

Cocalzinho, ou seja, quando a organização começou a implementar sua forma de

gerenciamento, seus padrões e procedimentos, o stress voltou a se manifestar de

forma moderada. A fábrica ficou em evidência como nunca anteriormente, pessoas

chave da organização visitavam a planta adquirida, além do volume de trabalho ter

passado de um cenário de total inconstância para compromissos diários e intensos.

Por mais positiva que fosse toda essa transformação, os funcionários não estavam

acostumados com tudo isso e muito menos nessa intensidade, ocasionando muitas

incertezas relativas a conseguirem dar conta, aprender e suportar essa nova

realidade.

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“Ficaram preocupados pelo nível de exigência e pela quantidade de coisas

que teriam de fazer.” (Entrevistado 3)

“Na Lafarge, ganhamos novas atividades, novos softwares, e ter de ligar para

novas pessoas. Então, isso gerou stress.” (Entrevistado 10)

“Se tem aumento na produção, você tem que estar mais esperto,

acompanhando. A gente começou a ter de lidar com gente de fora, que não

conhecíamos. Eu acho que isso teve um momento de alto stress.”

(Entrevistado 10)

“Foi mais estressante quando eles chegaram aqui e começamos a trabalhar

para eles do que o choque da compra.” (Entrevistado 11)

Porém, tal stress não chegou ao nível de se manifestar nos funcionários

através de problemas físicos, comportamentais ou psicológicos. Pelo contrário, os

funcionários foram taxativos em mencionar que nenhuma consequência do gênero

foi percebida durante todo o processo de aquisição.

De acordo com o modelo de Lazarus e Folkman (1985), chamado de stress-

appraisal model (ver página 34 do referencial teórico), podemos classificar de três

maneiras os efeitos gerados pelo processo de aquisição, sendo que somente duas

se adequariam à realidade do processo em estudo. A primeira seria a irrelevant,

onde o processo de F&A é percebido como não tendo ameaças aos empregos dos

funcionários; e a segunda seria a benign-positive, onde o processo é percebido de

forma positiva pelos empregados e como uma oportunidade de melhorar sua

autoestima.

“Não. Tipo assim, se eu ficar muito preocupada, eu emagreço muito rápido,

mas não acredito que tenha chegado a esse ponto. (Entrevistado 6)

“Não. Foi mais leve. Não chegamos nesse extremo.” (Entrevistado 4)

Após o início da gestão Lafarge, diversos movimentos foram realizados

visando prevenir e gerir um cenário de possível stress por parte dos funcionários.

Todos muito simples, naturais e sempre visando tranquilizar, ajudar e integrar os

indivíduos à nova organização.

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Café da manhã com o gerente e almoço comemorativo visavam integrar e

descontrair os empregados nesse momento de grandes expectativas. Já para

amenizar as dificuldades técnicas e operacionais e ajudar no alinhamento cultural

nesse momento de transição, o diálogo contínuo, o acompanhamento diário e a

troca de experiências com funcionários de outras fábricas e do corporativo foram

algumas das ferramentas utilizadas.

“Acompanhando de perto, e isso o pessoal fez. Mesmo que o funcionário

tenha as dificuldades dele, ele pode contar com o chefe imediato.”

(Entrevistado 10)

“Pessoal que veio ajudar, do corporativo, técnico de outras fábricas que

vieram para cá e ficaram durante uma semana.” (Entrevistado 3)

7.5 COMUNICAÇÃO BASEADA NO FACE A FACE

Um dos pontos unânimes em um processo de F&A é que uma comunicação

direta e transparente é extremamente benéfica para o seu bom andamento e

resultado positivo. Essa seria uma das principais estratégias para lidar com as

ansiedades dos funcionários, além de minimizar potenciais rumores e falsas

expectativas (MESSMER, 2006).

Corroborando a literatura, agir dessa maneira foi de extrema importância para

a estratégia da Lafarge, já que a mesma pretendia manter todos os funcionários,

além de motivados para aumentar a produtividade da planta tão logo iniciasse sua

gestão.

Para ajudar na obtenção dos resultados positivos pretendidos com o processo

de aquisição, a organização atuou de forma contrária ao identificado por Buono et al.

(1989), onde em diversos casos as empresas não comunicavam aos funcionários

todos os pontos necessários para mantê-los bem informados ou o faziam de forma

errada por temer suas reações negativas.

Neste caso, a Lafarge usou de extrema transparência e objetividade para

conseguir alcançar seus objetivos, inclusive nos momentos em que na visão dos

funcionários poderia ser negativa, como, na cobrança do bom desempenho da

fábrica.

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135

Mesmo nos raros momentos em que a empresa não poderia divulgar uma

determinada informação, era justificado o motivo e informado que a mesma seria

divulgada quando possível.

“Acho que a comunicação foi feita de forma rápida, até para sanar aquelas

expectativas, ansiedades e dúvidas.” (Entrevistado 5)

“A comunicação sempre foi muito aberta, bem clara, transparente e sempre

se valendo de reuniões.” (Entrevistado 2)

“Se não pudéssemos responder algo que foi perguntado, éramos

transparentes no sentido de que não poderia se comentar ou que não se

tinha ainda uma definição. Mas, foram poucos os casos.” (Entrevistado 13)

Por trás de boa parte das ações de comunicação realizadas durante o

processo de aquisição dos ativos da empresa “X” pela Lafarge, estava um plano

extenso e muito bem elaborado pela respectiva área. Em uma primeira fase, e com o

suporte de uma agência externa, foi realizado um estudo detalhado sobre as áreas

onde se encontravam as respectivas fábricas e suas culturas, pois era essencial

conhecer e entender todo tipo de stakeholder que pudesse influenciar ou ser

influenciado pela aquisição desses ativos.

Em paralelo, fez-se necessário conhecer o histórico de comunicação

realizado pela antiga gestão, tanto no ambiente corporativo quanto no fabril para

saber que tipos de ferramentas utilizavam e como a Lafarge poderia usar as suas na

nova gestão. Para isso, as organizações compartilharam informações em encontros

na matriz da empresa “X” e nas fábricas.

“Primeiro fomos às fábricas, chamamos a agência e apresentamos tudo para

eles. Aí eles fizeram levantamento das cidades, culturas e conheceram o

entorno.” (Entrevistado 12)

“Teve um período para tentarmos identificar algumas coisas, saber que tipo

de ferramentas eles utilizavam para se comunicar com os funcionários e aí

como é que iríamos ajustar as nossas para eles.” (Entrevistado 12)

Em uma segunda frente desse plano de comunicação, o foco estava em fazer

o processo transitório de toda a comunicação visual das fábricas, até mesmo

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136

porque, por contrato, a Lafarge teria que retirar em até 40 dias após início de sua

gestão, qualquer identificação visual nas fábricas da empresa “X”, o que incluía

pintar um silo com mais de 70 metros de altura. E o tempo era escasso para a

quantidade de trabalho.

“Tinha no contrato que qualquer identificação deles tinha que ser retirada num

prazo de 30 a 40 dias. Você imagina ter de pintar um silo de 70 metros de

altura para retirar a logomarca.” (Entrevistado 12)

Em outra frente, a ideia da área de comunicação foi implantar o máximo de

ferramentas que contribuíssem para a interatividade entre os atuais funcionários e a

Lafarge, além de atuar de forma paralela com a área de recursos humanos. Dessa

forma, a preparação de campanhas, roteiros e “clips” contendo as informações

gerais teve como objetivo principal suportar aquela que foi a estratégia chave de

comunicação dos líderes da organização com os empregados das fábricas,

sindicatos e comunidade: o face a face.

“Então, nós preparamos muitos roteiros e clips para os diretores, muitas

ferramentas para os gerentes para que pudessem ter como base e poder

conversar. Além disso, tínhamos que dar apoio ao RH.” (Entrevistado 12)

Desde o período que antecedeu o início da gestão da Lafarge, a mesma se

utilizou do meio de comunicação que, segundo Richardson e Denton (1996), é

conhecido como o mais eficiente por sua capacidade rápida de resposta e pela

cobertura em diversos pontos distintos: o contato pessoal.

Anteriormente ao início da gestão Lafarge, esse tipo de comunicação foi

utilizado até mesmo para suprir a falta de poder e de limites decorrentes da gestão

compartilhada, já que ainda era a empresa “X” a responsável formal pela condução

da gestão. Assim, conversar com as pessoas se transformou no primeiro e único

passo possível para começar a mostrar quem era a empresa Lafarge e como seria

trabalhar com a mesma e, assim, iniciar um ciclo de conquista os funcionários.

No início da gestão da Lafarge, a comunicação face a face continuou

prevalecendo, porém suportada pelo plano de comunicação e por ferramentas da

área de recursos humanos advindas da própria cultura da empresa. Diversos ciclos

de palestras, campanhas, apresentações em grupo e treinamentos foram realizados

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para os stakeholders, todos com o intuito de mostrar quem era a Lafarge, quais

eram os objetivos da organização e como o processo de aquisição decorreria no seu

cotidiano.

“É lógico que discutíamos (Lafarge) comunicação um pouco com a empresa

“X”, mas tudo era gerado por eles (empresa “X”). Então, nesse primeiro

momento, ir lá e conversar com as pessoas foi a ferramenta mais efetiva.”

(Entrevistado 13)

“Logo na aquisição teve a atuação do RH através de palestras, conversas e

sempre pessoalmente.” (Entrevistado 5)

“O pessoal da Lafarge ía tomando conhecimento de como era o processo e,

ao mesmo tempo, iam mostrando para as pessoas bcomo seria com a nova

gestão.” (Entrevistado 6)

Dentre as ferramentas que ajudaram nesse processo contínuo de

comunicação e de transparência, e suportaram o sucesso do processo de aquisição,

estavam o DDS (Diálogo Diário de Segurança), o “Join the Group” e o café com o

gerente. Além disso, o mural de recados, a revista interna “RH Informa” e as

campanhas internas foram outras ferramentas que, mesmo sem o contato pessoal,

ajudaram e suportaram o sucesso do plano de comunicação.

O DDS acontecia diariamente antes de iniciar a jornada de trabalho e, por

mais que tivesse a segurança como principal tema, também servia para tirar dúvidas

sobre o processo de aquisição, desafios, objetivos e medos dos funcionários e,

dessa forma, reduzir as inseguranças dos mesmos. Já o “Join the Group” tinha como

principal meta comunicar e esclarecer os indivíduos sobre a cultura do grupo

Lafarge, a missão, a visão da organização e quais eram as suas expectativas em

relação aos funcionários de Cocalzinho.

“Nesse DDS todo dia falávamos com as pessoas sobre segurança, dávamos

os avisos como, por exemplo, em relação ao volume, mas também falávamos

de nossos desafios e medos.” (Entrevistado 1)

“Quando fizemos o “Join the Group”, tivemos uma sessão logo no início para

deixar claro o que queríamos com aquele evento: mostrar a missão, visão da

empresa, como é o grupo de forma geral.” (Entrevistado 13)

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Em resumo, a forma, a intensidade e a importância que a Lafarge deu à

comunicação com os empregados, durante todo o processo de aquisição, foi

assimilada de maneira bastante favorável, influenciando positivamente no nível de

stress, nas incertezas e no desempenho dos mesmos.

“Quando eles (Lafarge) vieram e se apresentaram, automaticamente foi

passando uma tranquilidade para as pessoas e de que seria um processo

seguro e certo.” (Entrevistado 6)

7.6 PRESENÇA POSITIVA DOS LÍDERES CORPORATIVOS E DA FÁBRICA

Um fato importante que ocorreu na fábrica de Cocalzinho foi que, em sua

maioria, os líderes vieram de outras filiais da própria Lafarge. Conforme mencionado

anteriormente (ver categoria 4), isso aconteceu, devido à fábrica de Sobradinho

suprir determinados setores administrativos e operacionais de Cocalzinho, e a

empresa “X” ter decidido manter alguns gestores chave no seu quadro de

funcionários.

Esse cenário trouxe para Cocalzinho líderes que já conheciam os valores e

objetivos da Lafarge e que, portanto, não sentiam insegurança em relação à perda

de seus empregos. Dessa forma, puderam focar na motivação e na incorporação da

cultura Lafarge junto aos funcionários remanescentes da empresa “X”; e na

transformação da planta de Cocalzinho, de modo que se tornasse cada vez mais

produtiva.

Através de entrevistas realizadas com gestores da fábrica e funcionários do

corporativo da Lafarge, percebeu-se que dois grupos de líderes influenciaram

positivamente no processo de aquisição como um todo, cada um com seu respectivo

papel.

O primeiro grupo foi composto pela diretoria e líderes corporativos (Lafarge)

que, além de desempenharem papel estratégico e de planejamento de todo o

processo de aquisição, também contribuíram no dia-a-dia da operação, visitando a

fábrica, dando palestras, tirando dúvidas, tranquilizando as pessoas e tentando gerar

credibilidade em um evento que normalmente traz dúvidas, incertezas e medo para

os empregados.

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A importância em si do cargo de diretor, a carência de visitas e contato com

tal nível hierárquico durante a gestão da empresa “X” e a atuação corajosa dos

diretores da Lafarge ao colocarem suas “caras a tapa” junto aos funcionários de

Cocalzinho fez com que esses começassem a acreditar e confiar que tudo aquilo

que a Lafarge pregava poderia dar certo.

Dessa forma, podemos concordar quando Certo et al, (2006) relatam que a

atuação dos altos executivos influencia diretamente no desempenho e sucesso do

processo de F&A e quando Haspeslagh e Jemison (1991) afirmam que os

comportamentos e ações realizadas pelos mesmos junto à organização são

essenciais para gerar resultados positivos ao processo.

“A princípio, os diretores ficaram bastante focados nesse processo de se

apresentar, de dar tranquilidade. Inclusive o presidente, com visitas regulares,

e o diretor de RH estavam bastante envolvidos.” (Entrevistado 13)

“Eu acho que o papel deles (altos executivos), só pelo cargo, já é muito

importante. Você imagina um diretor de RH fazendo palestra, reuniões para

pessoas que não tinham acesso nem ao gerente da unidade praticamente.”

(Entrevistado 12)

“Vemos que tem uma presença constante da diretoria e que eles dão

importância. O pessoal se sente importante quando tem visita, quando

alguém elogia a fábrica, se sentem meio que donos de tudo.” (Entrevistado 4)

Já o segundo grupo chave de gestores, liderado pelo gerente da fábrica de

Cocalzinho, desempenhou o papel de “fazer acontecer” na operação, onde

diariamente tiveram que gerenciar e lidar com sentimentos, positivos e negativos,

dos empregados e mostrar uma direção para todos que iriam permanecer. Ao

mesmo tempo, colocaram em prática todos os projetos envolvidos no processo de

aquisição, como tirar a fábrica da inércia em que se encontrava e da condição de

estepe da fábrica de Sobradinho.

Comparando algumas das habilidades e categorias que Thach e Nyman

(2001) (ver páginas 61 a 64 do referencial teórico) relatam como sendo aquelas nas

quais os líderes devem focar e se aprimorar para aumentar sua eficiência com a

realidade do processo de aquisição de Cocalzinho pela Lafarge, as entrevistas

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realizadas nos permitem perceber que o “dever de casa” foi realmente feito pela

organização e suas lideranças.

Segundo os autores, o líder deve se envolver cada vez mais com seus

funcionários e deixá-los participar do processo decisório do departamento (THACH;

NYMAN, 2001). Na prática, o que se viu em Cocalzinho foi exatamente o

“empowerment” (poder) dado aos empregados - que tinham liberdade para sugerir,

dar ideias e participar dos projetos - fazendo com que se sentissem cada vez mais

“donos” da fábrica.

Outro ponto importante destacado por Thach e Nyman (2001), é a

necessidade do líder de gerenciar seus subordinados para que os mesmos não

percam o foco no trabalho. Na fábrica de Cocalzinho, tal movimento foi realizado

através da disciplina operacional, quando o líder percebia certa falta de foco de um

funcionário frente os objetivos da organização e o orientava de volta ao caminho

correto.

Um terceiro ponto destacado pelos autores é relacionado à comunicação,

onde relatam que os líderes precisam aumentar a quantidade de reuniões com os

funcionários visando mantê-los atualizados em relação ao andamento do processo

de F&A (THACH; NYMAN, 2001). Na pesquisa, um dos exemplos seria o DDS

(Diálogo Diário de Segurança), como visto no item 7.5, no qual o gerente da fábrica

participa diariamente e dá liberdade para os funcionários se expressarem e tirarem

dúvidas, além de mantê-los atualizados sobre a produtividade da planta, suas metas

e sobre o processo de aquisição.

“O George (Gerente de Fábrica) é uma pessoa que se envolve e ensina pelo

exemplo. Ele não mostra o caminho para as pessoas, ele vai junto com elas.

Ele ensina no caminho, ele não ensina o caminho.” (Entrevistado 2)

“Foi muito importante a questão de empoderar as pessoas. Dar condição das

pessoas sugerirem, apoiar as ideias, as sugestões.” (Entrevistado 1)

“Disciplina operacional. Na hora que o líder percebe que as pessoas

começam a fugir do objetivo, ele tem que trazer essas pessoas de volta. E às

vezes as pessoas fogem, saem do objetivo, não é porque elas querem. É

natural.” (Entrevistado 1)

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141

“DDS é valor e todo mundo tem de participar. Eu tenho que estar presente no

DDS todo dia.” (Entrevistado 1)

7.7 A FORÇA DA CULTURA LAFARGE

Comparando a cultura organizacional de Cocalzinho sob a gestão da empresa

“X” com a implantada pela Lafarge, poderíamos dizer que o modelo pré-Lafarge era

culturalmente “fraco” porque existia todo um cenário que afetava negativamente a

cultura corporativa da empresa “X” e de seus funcionários (fábrica estepe de

Sobradinho, constantes demissões nos períodos ociosos da planta e incerteza

gerada pela possibilidade da fábrica fechar).

Quando a Lafarge iniciou sua gestão, a introdução de uma nova cultura foi de

certa forma facilitada, não somente pela reversão desse cenário negativo, mas

também pela demonstração da força de uma cultura que tem como valor

fundamental a preocupação com as pessoas.

Comparando a estratégia utilizada pela Lafarge com o estudo realizado por

Ernst e Whinney (1985), podemos afirmar que a mesma optou pelo chamado

“Takeover cultural”, onde há a troca da cultura da empresa adquirida por uma cultura

dominante, ou seja, da empresa compradora. De forma semelhante, de acordo com

Nahavandi e Malekzadeh (1988), o modelo de resposta escolhido durante o

processo de aquisição foi o de assimilação, onde o funcionário de uma empresa

adota a cultura da outra.

Porém, por mais que falemos em takeover, todo o processo de aquisição foi

realizado de forma amigável e compartilhado.

“A diferença era muito grande. De forma geral, passou da água para o vinho.

Eu acho que o ponto chave é o foco na pessoa, que a Lafarge tem.”

(Entrevistado 2)

Entretanto, mesmo com todo o cenário negativo, muitos dos procedimentos e

acontecimentos que se visualizavam na fábrica de Cocalzinho, durante o período da

gestão da empresa “X”, eram vistos como normais ou acertados, até mesmo pelo

fato de os funcionários não terem convivido com outros modelos de gestão ou por

estarem acostumados com todo aquele cotidiano. Por esse motivo, alguns

movimentos realizados pela Lafarge foram de difícil adaptação, mesmo aqueles que

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tinham como objetivo melhorar a qualidade de vida ou dar mais segurança aos

indivíduos, como a obrigação da utilização de algum equipamento de segurança

específico.

Dessa forma, torna-se improvável pensar que não houve um “choque cultural”

no período de transição, até mesmo pelo fato de estarmos diante de duas empresas

com negócios idênticos, mas com culturas organizacionais distintas - por serem

advindas de continentes diferentes e por seus valores, políticas e normas.

Porém, após analisar as entrevistas realizadas com os funcionários de

Cocalzinho, podemos afirmar que se tratou de um “choque cultural” relativamente

brando, pois diversas mudanças (analisadas à frente) foram consideradas melhores

e mais eficientes, mesmo aquelas que no início tiveram uma adaptação mais

demorada e complicada.

Ao contrário do que Marks e Mirvis (1992) afirmaram, os conflitos culturais

não aumentaram em demasia quando os indivíduos começaram a verificar certas

diferenças e mudanças na forma realizar determinados procedimentos,

principalmente porque as mesmas tiveram grande aceitação (no curto ou médio

prazo) por se mostrarem positivas.

Ainda com base nas entrevistas e no fato de a Lafarge ter como valor

fundamental a preocupação com as pessoas, listamos a seguir diversas diferenças

de procedimentos, normas e valores entre as culturas organizacionais das duas

empresas (empresa “X” e Lafarge):

1. Segurança: muito se mencionou que, na empresa “X”, a questão de

segurança era muito discutida, mas pouco praticada. Ao contrário, a

Lafarge que tem a segurança como valor fundamental, fazendo questão

de cobrá-la durante todo seu processo de operação, interno e externo. Já

a empresa “X” preocupava-se mais com sua atividade fim, ou seja, as

medidas de segurança eram ainda menos praticadas fora da fábrica.

“Muitos funcionários já até disseram que, na antiga gestão, segurança era

muito falada, mas não era praticada. Aqui, procuramos praticar.”

(Entrevistado 1)

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“Segurança na empresa “X” ainda está muito vinculada à operação dela,

operação fim. Então, se o caminhão sai da fábrica não interessa o que está

acontecendo.” (Entrevistado 13)

“Na Lafarge, primeiro fazemos segurança para depois fazer cimento. E antes

não, fazíamos cimento para depois fazer segurança.” (Entrevistado 7)

2. Recursos: Na Lafarge cobrava-se muito, mas se disponibilizava os

recursos necessários para realizar o solicitado. Já na empresa “X”, nem

sempre havia os recursos para realizar tudo o que era cobrado.

“Na empresa “X” era muita cobrança e pouco recurso enquanto na Lafarge

existe a cobrança, mas se dá o recurso para isso. E não era questão somente

de dinheiro não, mas também de treinamento.” (Entrevistado 2)

“A empresa “X” cobrava, mas não te dava condições. Ao contrário, a Lafarge

dá condições para você executar o que estão te cobrando, ou seja, recursos.

Recursos tanto materiais, quanto financeiros.” (Entrevistado 9)

3. Altos executivos: Na Lafarge, os altos executivos estavam sempre

presentes na fábrica e faziam questão de cumprimentar e conversar com

todos os funcionários. Já na empresa “X”, a diretoria só visitava

Cocalzinho quando acontecia algum acidente e, mesmo assim, mantinham

certa distância dos funcionários da base.

“Não pensávamos que a diretoria da Lafarge iria ter todo esse respeito de vir

até aqui. A diretoria da empresa “X” era vista quando a fábrica tinha algum

equipamento quebrado ou quando acontecia um acidente.” (Entrevistado 7)

“O pessoal da empresa “X” vinha, sentava aqui, fazia o serviço e ia embora, e

nem um bom dia recebíamos. E hoje, temos diretores que vêm na fábrica e

conversam com todo mundo, pegam na mão de todos.” (Entrevistado 9)

4. Tratamento igualitário: Na Lafarge, os gestores estão sempre presentes

nas discussões e dispostos a conversar e ouvir o que os funcionários têm

a dizer. Além disso, existe todo um respeito com as pessoas e se faz

questão de saber o nome de cada empregado e sua função. Até mesmo

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144

os funcionários terceirizados são tratados de forma semelhante e

participam de todos os eventos. Enquanto na empresa “X”, nada disso era

de fato realizado.

“A Lafarge demonstra mais respeito com as pessoas, faz com que se sintam

uma equipe. O nós é muito maior que o eu. Qualquer treinamento, os

terceiros também fazem.” (Entrevistado 6)

“Hoje podemos dizer que temos uma cultura forte porque a gestão está

presente. Além disso, dão oportunidades para as pessoas falarem e

discutirem juntas os problemas. Na empresa “X”, era setorizado, tinha um

tempo especifico para se falar e nem sempre a gestão estava junta.”

(Entrevistado 10)

5. Meio Ambiente: Na Lafarge, existe todo um movimento e preocupação em

não contaminar a água, em reduzir ao máximo os ruídos e a exploração de

minas.

“Hoje a fábrica é completamente diferente. A Lafarge tem o cuidado para não

contaminar a água, tem todo interesse em reduzir a exploração de minas e o

ruído. Está investindo muito na questão do meio ambiente.” (Entrevistado 8)

“Esses 2 cilos de cimento que você viu ali emitiam pó para a comunidade. A

Lafarge viu e me autorizou a comprar 2 filtros de 1000 m³/hora, eliminando o

pó que ía para comunidade. Falávamos para a empresa “X”, mas nada fazia.”

(Entrevistado 7)

6. Liderança: As práticas de liderança na Lafarge são focadas na forma

educada de interagir com seus funcionários, visando o desenvolvimento e

sempre com as “portas abertas” para seus subordinados. Já em relação à

empresa “X”, os líderes, em alguns momentos, agiam de forma agressiva.

Por isso, que a Lafarge era vista por esses funcionários que vieram da

empresa “X” como “boazinha” demais.

“A Lafarge foi vista como sendo boazinha demais. Cumprimentavam as

pessoas, eram educados e pediam por favor. Os funcionários eram

acostumados a serem chamados de burros.” (Entrevistado 1)

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“Conversamos muito com os líderes que tinham aquela cultura forte da

empresa “X”, de dar murro na mesa para fazer as coisas acontecerem.”

(Entrevistado 1)

Por outro lado, nem todas as mudanças eram adaptadas e assimiladas de

forma rápida ou bem percebidas / recebidas pelos funcionários que vieram da

empresa “X”. Isso aconteceu, conforme mencionado anteriormente, principalmente

pelo fato de estarmos falando de duas empresas advindas de continentes com

culturas diferentes e, por melhor ou pior que tais mudanças fossem, aqueles

funcionários já estavam acostumados com as rotinas da empresa “X”.

Por exemplo, por se tratar de uma empresa global, a Lafarge possui uma

influência internacional muito forte, que repercute na utilização de alguns termos da

língua inglesa em relatórios enviados para a matriz, na França. Essa mudança foi de

difícil adaptação para os funcionários, que se mostraram um pouco resistentes.

“A Lafarge tem uma influência internacional muito forte. Principalmente, a

questão da língua, os termos em inglês eles (funcionários) não gostavam

muito. Não foi uma coisa muito tranquila não.” (Entrevistado 13)

“Um exemplo seria que falamos ‘Job Grade’, enquanto a empresa “X”

‘Posição e Faixa’. Outro seria o próprio nome do treinamento chamado ‘Join

the Group’, ao invés de falarmos ‘Junte-se ao grupo’.” (Entrevistado 13)

De acordo com Buono e Bowditch (1989), existem duas formas de se

introduzir determinadas mudanças culturais junto aos funcionários de uma empresa:

a) a empresa pode fazer com que os funcionários aceitem essa nova configuração

de crenças ou valores; ou b) a organização pode recrutar novos empregados,

ensinando esses novos valores enquanto desliga aqueles que não se adequarem.

De certa forma, ambas as alternativas foram utilizadas pela Lafarge, porém

com muito mais ênfase na primeira, uma vez que a proposta da aquisição foi de

manter 100% dos funcionários e por entender que a cultura Lafarge era forte o

bastante para implantar essa nova cultura junto aos empregados. Porém, alguns

ajustes tiveram que ser feitos, principalmente com aqueles indivíduos que, não se

adequaram ou não acreditaram nos novos valores, crenças e projetos.

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Visando suportar essa implementação de uma nova cultura, a Lafarge utilizou

algumas ferramentas, dentre elas, as citadas por Buono e Bowditch (1989) -

apresentações e workshops. Além disso, teve uma grande preocupação em

entender qual a cultura do povo goiano, suas origens, do que eles gostavam ou não,

e de estar diariamente se comunicando para enraizar cada dia mais essa nova

cultura.

“Primeiro, procuramos verificar o que é valor para o goiano. Começamos a

entender qual a cultura desse povo, quais eram suas origens e fizemos os

gestores trabalharem em cima dessas identificações.” (Entrevistado 1)

“Percebemos tudo o que estava acontecendo e começamos a realizar

sessões de discussões em grupo e apresentações, mas lógico que teve uma

comunicação muito efetiva na fábrica no dia-a-dia.” (Entrevistado 13)

7.8 BAIXO NÍVEL DE RESISTÊNCIA

De modo geral, posteriormente ao início da gestão Lafarge, o que se

presenciou foi muito mais um cenário de dificuldades, incertezas e expectativas do

que exatamente de resistência aos projetos propostos ou movimentos realizados.

Isso nos permite sugerir que a intensidade da resistência dos funcionários não

chegou nem mesmo ao primeiro nível, de um total de três estipulados pelo estudo

realizado por Maurer (1996) (ver páginas 37 e 38 do referencial teórico). No estudo,

o autor afirma que a resistência está diretamente relacionada à mudança, onde o

funcionário não tem certeza da ideia ser válida ou não.

“No caso de Cocalzinho, eu acho que é muito mais insegurança, medo, do

que resistência. Pelo contrário, eu vejo que eles não tinham resistência.”

(Entrevistado 2)

Isso, de certa forma, pode ser percebido na preocupação de boa parte dos

funcionários da fábrica de Cocalzinho em atender às expectativas e agradar aos

líderes, sentimentos muito impulsionados por incertezas como o medo de perder o

emprego; a Lafarge como uma das poucas fontes de empregabilidade oferecidas na

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cidade, entre outras que poderão ser visualizadas com maiores detalhes na próxima

categoria (ver categoria 9). Tais sentimentos e todo um cenário que indicava

melhorias em comparação ao período de gestão da empresa “X” ajudaram a reduzir

determinadas ocorrências de resistências dos empregados.

“Eles (funcionários) tinham uma preocupação muito grande em atender

nossas expectativas, dos que estavam chegando à fábrica. Além disso, eles

tinham certa insegurança, temor de não agradar.” (Entrevistado 2)

“Eu mesma tenho dificuldade em algumas coisas. Mas, quando a mudança é

do ruim para o melhor, você acostuma mais facilmente, e foi mais ou menos

isso que percebo que aconteceu.” (Entrevistado 6)

Outras dificuldades aconteceram pelo fato de diversas atividades e setores

que a fábrica de Cocalzinho possui atualmente estarem antes centralizadas (durante

a gestão da empresa “X”) na fábrica de Sobradinho. Isso acarretou a cobrança de

ações e procedimentos que, até então, nunca haviam sido realizados por aqueles

funcionários.

Além disso, mudanças de sistemas, volume de serviço requerido e falta de

conhecimento ou capacidade técnica foram pontos que dificultaram o andamento do

processo. Por outro lado, as dificuldades citadas não foram tratadas, em nenhum

momento, pela maioria dos entrevistados, como resistência, mas como problemas

geralmente superados.

“No meu caso específico, tive muita dificuldade porque os nossos softwares

mudaram todos. Basicamente, mudamos tudo. Porém, resistência não,

dificuldade sim.” (Entrevistado 10)

“Eu acho que resistência não foi forte. Existiu, por exemplo, mudança de

sistema, de procedimentos. Além disso, muitas atividades não eram

realizadas aqui e sim em outra unidade, como se Sobradinho fosse matriz e

aqui somente filial.” (Entrevistado 5)

“Resistência não. Ele não conseguiu acompanhar o volume de trabalho pela

falta de bagagem técnica.” (Entrevistado 3)

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Por outro lado, seria exagero afirmar que, durante todo o processo de

aquisição, não tenha ocorrido nenhum foco de resistência. Até porque, em alguns

momentos, mesmo os funcionários sabendo que alguns procedimentos trariam

resultados mais positivos e seguros para todos, não os executavam por maus

hábitos cristalizados, muitas vezes de forma inconsciente e automática. Por

exemplo, em determinados momentos, alguns empregados deixavam de usar

equipamentos básicos de segurança, o que para a cultura Lafarge é uma falta

gravíssima.

Já em relação à área de distribuição, os funcionários estavam acostumados a

trabalhar longe de seu gestor, lotado na fábrica de Sobradinho. Dessa forma, tinham

total liberdade para, por exemplo, sair da empresa sem dar maiores explicações e

sem se reportar a ninguém. Porém, a chegada de um líder em Cocalzinho fez com

que perdessem toda essa liberdade. Então, mudar essa cultura não foi muito fácil,

houve certa resistência, mas que pouco a pouco foi sendo contornada.

“Cocalzinho era um braço de Sobradinho. Então quando precisassem ir à

farmácia ou para fazer o que quisessem, eles saiam e não precisavam pedir a

ninguém.” (Entrevistado 4)

Outro exemplo de resistência ocorrida durante o início da gestão da Lafarge

foi a de funcionários que continuavam utilizando a camisa, capa de chuva e caneta

com a logomarca do antigo controlador.

“Nós tivemos algumas formas de resistência. Funcionários usando a blusa de

frio da antiga empresa mesmo sem fazer frio, capas de chuva de todas as

cores sempre com a logomarca dos antigos controladores, canetas.”

(Entrevistado 1)

Além de todas as ações realizadas pelas áreas de Recursos Humanos e

Comunicação no intuito de minimizar as resistências, incertezas e expectativas, os

líderes da fábrica de Cocalzinho trabalharam em paralelo, no dia-a-dia, tentando

alinhar o discurso à ação. Além disso, sempre enfatizavam que todos estavam ali

com um objetivo único e sem nenhuma intenção de prejudicá-los. Porém, os poucos

que não entenderam essa nova cultura e valores, transformando movimentos de

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resistência em obstáculos constantes, não suportaram esse ambiente e saíram da

empresa ou foram desligados.

“A primeira coisa que fizemos foi deixar claro que ninguém veio aqui com a

intenção de prejudicar ninguém. E sim, para unir esforços em busca de

objetivos comuns. Os objetivos são de todos. Outro fato importante foi alinhar

o discurso à ação.” (Entrevistado 1)

“Aqueles que não tivessem os valores da Lafarge, eles mesmos se

expurgavam, digamos assim.” (Entrevistado 2)

7.9 EXISTÊNCIA DE INCERTEZAS E EXPECTATIVAS POSITIVAS

O processo de aquisição da fábrica de Cocalzinho, anteriormente pertencente

à empresa “X”, poderia tanto ser a salvação de uma cidade de aproximadamente

10.000 habitantes (que somente surgiu por causa da mesma e da qual até hoje é

dependente) quanto piorar ainda mais a situação dos funcionários que já viviam

rodeados de incertezas e expectativas, como, a da fábrica fechar; ou quais períodos

do ano a planta de Cocalzinho seria acionada para dar suporte à de Sobradinho.

A fábrica de Cocalzinho era considerada estepe da fábrica de Sobradinho e

somente era acionada quando algum equipamento desta quebrava ou se a mesma

não conseguisse cobrir a demanda por cimento daquela região de cobertura, o que

ninguém poderia saber ao certo se e quando aconteceria. Dessa forma, antes

mesmo de se pensar na possibilidade de a fábrica ser adquirida por outra empresa,

incertezas e expectativas já rondavam constantemente esses empregados, seus

familiares e a comunidade como um todo.

Com o processo de aquisição, tanto incertezas quanto expectativas se

afloraram e se diversificaram ainda mais, sendo fortalecidas pela falta de opção de

emprego na cidade e pelo baixo interesse dos indivíduos em permanecer longe da

cidade e de suas respectivas famílias.

Por outro lado, podemos perceber, através das entrevistas realizadas, que

tais incertezas geraram muito mais comportamentos positivos - como, por exemplo,

maior comprometimento e lealdade à empresa - do que negativos, indo ao encontro

de uma das possíveis classificações de Buono et. al, (2002) (ver página 39 do

referencial teórico).

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150

Tais incertezas cobriram tanto características operacionais como humanas

desses empregados:

1. Demissão: nesse caso, tais incertezas tiveram duplo sentido, um positivo

e; outro negativo. Incertezas em relação a, serem demitidos da nova

empresa e ficarem desempregados; ou, caso permanecessem na

organização, de serem demitidos e posteriormente readmitidos, e assim

receberem o fundo de garantia e outros benefícios concedidos nesses

casos.

“Eles queriam saber se todo mundo iria ser demitido, mas tudo isso tinha um

duplo sentido, que não era uma coisa ruim. Se eles fossem demitidos e

readmitidos pela Lafarge poderiam receber o fundo de garantia.”

(Entrevistado 13)

“O medo mesmo foi mais em relação à demissão, desligamento.”

(Entrevistado 3)

2. Adequação a uma nova cultura: a Lafarge tinha outra cultura, outros

procedimentos e maior rigor na parte de segurança. Ou seja, os

funcionários tinham dúvidas se conseguiriam se adequar a essa nova

cultura.

“Não sabiam (funcionários) se conseguiriam se adequar porque temos

procedimentos diferentes, maior rigor em relação à segurança. Além disso, a

empresa, por ser multinacional, possui uma cultura muito diferente da que

eles tinham.” (Entrevistado 12)

3. Mudanças para melhor: os empregados da fábrica de Cocalzinho já

estavam acostumados com uma gestão rígida, sem abertura e nem

valorização do ser humano. Dessa forma, incertezas existiam sobre se

suas vidas melhorariam, se a nova empresa se tornaria um lugar melhor

para se trabalhar, se eles iriam trabalhar todos os dias, ou se teriam a

instabilidade característica do período da empresa “X”.

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151

“Parecia que eles não conheciam nossa maneira de trabalhar.

Particularmente, Cocalzinho veio de uma gestão um tanto rígida, de pouca

valorização do ser humano. Eles tinham o emprego deles, mas será que

teriam uma vida boa, será que seria um lugar bom de trabalhar?”

(Entrevistado 2)

“Será que vai funcionar mesmo ou vai ficar que nem a empresa “X”, nesse

chove não molha, que parava, ficava sem expedir, dispensava todos os

terceirizados e depois contratava de novo.” (Entrevistado 6)

4. Novas ferramentas, sistemas e atividades: o processo interno sofreria

mudanças, inclusive a introdução de novos sistemas e ferramentas.

Mudanças essas que demandariam força de vontade e capacidade de

assimilação. Dessa forma, era grande o receio de não conseguirem se

adaptar, assimilar, aprender ou dar conta de todas essas novidades. Além

disso, muitas atividades de Cocalzinho eram realizadas diretamente pelos

funcionários da fábrica de Sobradinho. Com a aquisição, diversos

departamentos estariam contemplando novas atividades.

“O receio deles era de não dar conta porque vinha um sistema novo por trás.

Trabalhamos via sistema o tempo inteiro. Então, o receio de não aprender, de

não assimilar esse novo sistema era enorme”. (Entrevistado 4)

“Eu acho que era mais em relação à atividade que eles estavam exercendo.

Porque era tudo novo. Dos 5 que estão no administrativo 4, estavam

realizando atividades novas. E isso passa insegurança.” (Entrevistado 5)

“As pessoas viram meu potencial, mas não fui desenvolvido durante o meu

período de empresa “X”. Eu pulei todas as etapas de preparação. Essa foi

minha incerteza. Será que vou conseguir?” (Entrevistado 8)

5. Quem é e qual a força da Lafarge: no momento em que se comunicou que

a fábrica seria adquirida por uma empresa desconhecida de todos, muitas

dúvidas e incertezas apareceram. Questionava-se se essa empresa

conseguiria vender cimento na região e prosperar, já que estavam

introduzindo uma marca nova em um mercado altamente competitivo e

com marcas consolidadas.

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“Poxa e essa Lafarge, será que ela vai conseguir vender cimento, será que

vai para frente? Porque não conhecíamos, nessa região ninguém conhecia a

Lafarge.” (Entrevistado 7)

6. Salários e benefícios: muitos tinham dúvidas em relação ao pacote

salarial, benefícios, desenvolvimento de carreira, ou seja, se eles

manteriam os mesmos, se seriam prejudicados ou não, em relação a esse

assunto.

“No início as pessoas tiveram muitas incertezas. De como é que seria o

pacote salarial, pacote de benefícios, desenvolvimento de carreira, se a

fábrica aumentaria sua produção.” (Entrevistado 10)

Já em relação às expectativas, principalmente depois de terem a certeza de

que a intenção da Lafarge era de realmente manter todos os funcionários, foram as

mais diversas e positivas possíveis. Todas as ponderações realizadas pela Lafarge

visando “vender-se” para esses funcionários se transformaram em muita motivação

e esperança de melhorias.

Ocorre que esses empregados possuíam uma necessidade reprimida muito

grande de serem reconhecidos, de serem bem tratados, de crescerem pessoalmente

e profissionalmente, e de terem a garantia de estarem trabalhando diariamente e

não somente, em determinados períodos. As principais expectativas vão ao encontro

do estudo realizado por Hubbard e Purcell (2001) (ver página 40 do referencial

teórico) e foram as seguintes:

1. Trabalho constante: ter a possibilidade de trabalhar diariamente, sem

interrupções e intervalos, era uma expectativa para esses funcionários.

Isso porque, seus empregos estariam mais seguros, a cidade teria

condições de crescer e gerar novas oportunidades para seus habitantes.

“Uma expectativa muito forte nessas pessoas era com a possibilidade da

cidade crescer. A expectativa delas era muito grande de que essa fábrica

rodasse diariamente e hoje está acontecendo.” (Entrevistado 2)

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2. Fábrica plena: existia uma expectativa muito grande de Cocalzinho ficar

do mesmo porte de Sobradinho. Para isso, precisaria realizar altos

investimentos para a compra de um forno de clínquer, mexer na

mineração e adquirir uma nova linha de produção. De certa forma, isso

geraria novos empregos, mais oportunidades para a comunidade e a não

mais dependência de nenhuma outra fábrica.

“Nós tínhamos uma expectativa muito grande de Cocalzinho rodar pleno.

Teria de colocar um forno de clínquer, mexer na mineração, uma linha de

produção nova. Isso iria aumentar o quadro de funcionários, a renda da

comunidade.” (Entrevistado 9)

“Outro detalhe interessante é de montar uma fábrica completa, plena, com

produção de clínquer, desde a matéria-prima até o produto final.”

(Entrevistado 3)

3. Crescimento profissional: a Lafarge, quando se apresentou para os

funcionários, mostrou um mundo de oportunidades e isso fez com que eles

sonhassem e aceitassem o desafio. Para ajudar nesse desenvolvimento,

uma das práticas da empresa é de subsidiar o estudo dos empregados.

“A gestão anterior tinha umas 4 pessoas estudando. Em um universo de 80

empregados contratados. Hoje, temos cerca de 25 pessoas que estudam.”

(Entrevistado 1)

4. Salários e benefícios: outra expectativa era em relação ao salário, se o

mesmo aumentaria, quais benefícios ganhariam e se seriam promovidos.

O pensamento dos funcionários era que, por estarem trabalhando em uma

multinacional, as possibilidades deveriam ser bem melhores e mais

abundantes.

“Espera-se muito sobre a parte financeira. O que vou ter? O que vou ganhar?

O que vou ter de beneficio? Isso foi muito forte. Além disso, tinham uma

expectativa muito grande se seriam promovidos.” (Entrevistado 5)

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Muitas dessas incertezas e expectativas foram gerenciadas diretamente por

ações realizadas na prática pela Lafarge, que acabaram gerando credibilidade e

confiança por parte dos funcionários e, assim, minimizando seus temores, medos e

receios em relação à empresa e seu futuro. Entre elas, está a contratação de todos

os terceirizados que, além de uma maior segurança em relação à permanência no

emprego, começaram a receber salário mais justo e benefícios nunca antes

conquistados.

Outra ação realizada logo no início da gestão da Lafarge foi o suporte e a

atenção disponibilizada pela diretoria aos funcionários que, através de reuniões e

apresentações, esclareciam-se as dúvidas, o que permitiu a transparência do real

objetivo da empresa.

A Lafarge sempre fez questão de demonstrar que, para quem quisesse

permanecer na empresa e crescer profissionalmente, ela disponibilizaria todos os

incentivos necessários e viáveis - como, por exemplo, atuar fortemente no subsídio

do estudo de funcionários potenciais, preparando-os para suceder os atuais líderes.

“Demos condições de trabalho aos antigos terceirizados da empresa,

melhoramos a vida deles, contratamos todas essas pessoas. Eles

começaram a ganhar um salário mais justo, além de plano de saúde,

odontológico, auxílio farmácia entre outros benefícios.” (Entrevistado 2)

“Vieram vários diretores para a fábrica e eles deixaram bem claro para nós:

olha a Lafarge tá comprando. Não vai haver demissão de funcionários,

nenhum. As pessoas que quiserem ficar vão permanecer na empresa.”

(Entrevistado 7)

“Empresa “X” trabalhava muito com um pessoal terceirizado, enquanto na

Lafarge poucos são os terceirizados. E isso deu uma motivação enorme,

segurança tremenda para o pessoal.”(Entrevistado 6)

“Existe um incentivo muito forte. A Lafarge ajuda a pessoa que quer estudar.

Dá subvenção educacional e tenta fazer de uma maneira mais ampla

possível.” (Entrevistado 2)

“A Lafarge mostrou para eles que, se quiserem ficar na empresa, vão ficar e,

se quiserem mais, vão conseguir. Em termos de ação prática, já estamos

desenvolvendo uma pessoa para ser minha sucessora.” (Entrevistado 4)

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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

8.1 CONCLUSÕES GERAIS

O desafio principal assumido neste estudo foi o de tentar responder às

perguntas apresentadas no item 1.2 (Objetivo de Pesquisa), ou seja:

1. O fator humano influencia no sucesso, ou fracasso de um processo de

fusão ou aquisição?

2. Quais os principais aspectos do fator humano que influenciam no processo

de fusão ou aquisição? Como eles atuam nesse contexto?

Para isso, estudou-se sobre mudança organizacional de uma forma geral,

sobre a literatura de F&A e sobre o fator humano nesse tipo de evento. No primeiro

item, o objetivo foi entender dentre as diversas alternativas de movimentos de

mudanças em uma organização, inclusive um processo de fusão ou aquisição, quais

os fatores que poderiam influenciar nos resultados alcançados pela empresa antes,

durante e depois do período de implementação dessas mudanças organizacionais.

Já no item sobre a literatura de F&A, buscou-se entender, de forma geral, o

conceito de fusão e aquisição, seus tipos, motivações, caminhos e desafios,

enfrentados pelas empresas que escolhem por percorrer tal direção.

Por último, detalharam-se as principais características do fator humano, seus

conceitos, suas influências, as possibilidades de gerenciamento e o que distintos

autores comentam sobre cada subtema estudado que, de certo modo, pode

influenciar positivamente ou negativamente em relação aos indivíduos, seus

familiares, à comunidade em torno e à própria empresa durante um processo de

fusão ou aquisição.

Neste caso em particular, foi estudada a compra de alguns ativos da empresa

“X” pela Lafarge, sendo que as entrevistas, análises e conclusões foram realizadas

em somente uma delas, ou seja, a fábrica de Cocalzinho (GO).

Na literatura, viu-se que praticamente 70% das tentativas de processos de

F&A fracassam (Ho, 2000). Mesmo aqueles que conseguem fechar o negócio o

fazem com grandes possibilidades de, no final do processo, obter um cenário

desgastante quando se pensa no fator humano nas empresas. Até mesmo porque,

segundo Stopper (1998), assuntos relacionados ao fator humano em processos de

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F&A são considerados de menor importância quando comparados aos assuntos

financeiros e jurídicos. Porém, segundo Cooper e Cartwright (1992), é exatamente o

fator humano, que é o coração do problema e responsável pelo alto percentual de

fracassos quando duas empresas tentam se fundir, ou uma delas adquirir a outra.

Porém, através do estudo de caso da aquisição da fábrica de Cocalzinho pela

Lafarge, conseguimos visualizar e concluir que nem todos os processos de F&A

geram resultados negativos ou são ruins para os funcionários das empresas

envolvidas, principalmente para os da empresa adquirida, que normalmente são os

mais impactados pelas mudanças.

Além disso, percebemos que o cenário geral existente em ambas as

empresas, no momento da efetivação do processo de F&A, pode ditar e influenciar

positivamente, ou não, a situação dos funcionários e, de certa forma, demonstrar

diversos movimentos e resultados contrários ao verificado na literatura. No caso da

fábrica de Cocalzinho, o processo foi bastante positivo para os funcionários que lá

trabalhavam.

Não podemos mensurar se a cultura organizacional da empresa “X” é fraca ou

forte, boa ou ruim, mas sim, visualizar a situação particular dos funcionários da

fábrica de Cocalzinho.

A fábrica de Cocalzinho convivia como “sombra” da fábrica de Sobradinho

(DF), sendo utilizada de forma constante somente, quando a de Sobradinho não

conseguia cobrir toda a demanda da área, ou quando algum de seus equipamentos

quebrava. Isso gerava consequências indesejadas e negativas para seus

funcionários, familiares e a comunidade, já que as incertezas eram constantes e a

falta de expectativas, reais.

Esse cenário de carência humana foi modificado em decorrência do momento

vivido pela Lafarge, ou seja, a maior empresa de materiais de construção do mundo

tinha como objetivo estratégico crescer e expandir seus negócios no Brasil. Dessa

forma, eles encontraram em Cocalzinho uma fábrica com funcionários ávidos por

trabalho, por reconhecimento e por um futuro.

Visto isso, durante a fase de transição do processo de aquisição da fábrica

de Cocalzinho, percebemos, na prática, situações inversas ao que a literatura

demonstra e que acontecem normalmente em casos de processos de F&A, como:

um alto comprometimento dos funcionários para que o processo tivesse sucesso;

baixa resistência para com as mudanças organizacionais propostas pela Lafarge;

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um nível moderado de stress; expectativas que fizeram os funcionários explicitarem

seus sonhos e esperanças de um futuro melhor; baixo turnover e aumento nas

contratações, ao invés de um período de demissões em massa. Assim, os

resultados da pesquisa de campo nos permitem afirmar que o fator humano pode

influenciar, sim, no sucesso ou fracasso de um processo de F&A.

Outro ponto importante é que, independente do cenário, do nível ou

intensidade da comunicação, e do quão perto os líderes permaneçam junto aos seus

subordinados os auxiliando, apoiando e estimulando, sempre existirão incertezas,

mesmo em processos como o de Cocalzinho, onde de fato seria muito difícil o

cenário piorar. É intrínseco ao ser humano ter dúvidas e incertezas e, somente

quando as promessas foram sendo efetivamente implementadas na prática pela

empresa, que os funcionários começaram a ter certeza de que o compromisso

proposto pela Lafarge era real, sério e de longo prazo. Dessa forma, as expectativas

positivas se tornaram fatos reais, eliminando as incertezas e reforçando o

compromisso dos funcionários com a empresa.

Lidar com os sentimentos e demais fatores que afetam diretamente os

funcionários antes, durante e depois do período de um processo de F&A é de

extrema importância para o sucesso do mesmo e para as pretensões futuras da

empresa compradora. Embora os resultados deste estudo de caso não possam ser

generalizados, os mesmos fortemente sugerem que gerenciar o fator humano de

forma positiva e, dessa forma, ter os funcionários como aliados é altamente benéfico

para ambas as partes envolvidas, tornando-se um fator de sucesso fundamental.

8.2 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

O presente estudo pode ser utilizado como referência para futuros estudos

teóricos no campo de Administração de Empresas, bem como pode gerar interesse

em outros campos, no sentido de entender melhor o fator humano em processos de

fusão e aquisição.

Já para o mundo corporativo, pode servir para entender um pouco mais sobre

o que se passa com os funcionários durante um evento desse nível, como pensam e

quais seriam as principais características do fator humano que influenciam em um

processo de F&A.

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Abaixo, algumas sugestões para futuras pesquisas:

1. Aumentar o número de trabalhos que tenham como principal objetivo o

estudo do fator humano em processos de F&A, já que a maioria direciona

seu estudo para a parte financeira do processo.

2. Realizar o mesmo estudo que aqui foi feito, mas entrevistando os

funcionários da empresa “X”, além dos empregados que foram transferidos

para outras fábricas da empresa após a venda dos ativos para a Lafarge.

3. Realizar outros estudos que tenham cenário semelhante com o caso da

fábrica de Cocalzinho visando aumentar e comparar os resultados

encontrados.

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APÊNDICES

APÊNDICE A - ROTEIRO PARA ENTREVISTAS - CORPORATIVO LAFARGE

1. Qual seu nome? Função na empresa? Há quanto tempo trabalha na Lafarge?

2. O que você acha sobre o fator humano em um processo de fusão ou

aquisição?

3. Quais impactos ou reações você entende que um esse tipo de processo pode

provocar nos funcionários? Quais as possíveis consequências para a

empresa?

4. Já entrando no processo de aquisição das três plantas fabris da empresa “X”

pela Lafarge, quais foram as motivações para essas aquisições?

5. Verificou-se algum tipo de resistência dos funcionários em relação ao

processo de aquisição? Quais? Porque acha que estavam resistentes ou

não?

6. Como os funcionários demonstravam essa resistência? Alguma má vontade

em ajudar ou aceitar as alterações propostas?

7. Foi feito algo para prevenir ou minimizar essa resistência dos funcionários? O

quê? Como essas ações foram recebidas por eles?

8. O que foi feito para superar essa resistência dos funcionários?

9. Surtiu efeito? Como foi mensurado? Como foram analisados os resultados?

10. Quais foram as incertezas demonstradas pelos funcionários? De que forma

eles demonstravam?

11. Quais foram as expectativas demonstradas pelos funcionários? De que forma

eles demonstravam?

12. Como permaneceu o ambiente corporativo devido às incertezas e

expectativas dos funcionários?

13. Essas incertezas e expectativas geraram algum tipo de consequência?

Positiva ou negativa? Quais?

14. Foram tomadas providências visando prevenir ou minimizar e gerenciar tais

incertezas e expectativas? Quais?

15. As incertezas e expectativas variaram de acordo com o nível hierárquico ou

de envolvimento no processo de aquisição? Fale sobre.

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16. Como ficou o comprometimento dos funcionários antes, durante e após o

processo de aquisição?

17. Quais ações foram realizadas pela organização e seus gestores para manter

o nível de comprometimento dos funcionários?

18. No que esse comprometimento, ou não, do funcionário facilitou ou prejudicou

no andamento do processo? Fale sobre. Dê exemplos.

19. Foi verificado algum nível de stress nos funcionários? Fale um pouco?

20. Quais as diferenças dos níveis de stress nos funcionários da Lafarge e da

empresa “X”?

21. Na sua visão, quais as reais fontes desse stress?

22. Que tipo de manifestações, sejam físicas, comportamentais ou psicológicas

foram visualizadas nos funcionários?

23. Quais foram as consequências e ameaças para a empresa?

24. Quais os papéis da empresa nesse momento e o que fizeram para prevenir

ou minimizar o stress dos funcionários?

25. A intensidade do stress foi alterada de acordo com os estágios do processo

de aquisição? As intervenções da organização também se alteravam de

acordo com os estágios? Quais foram elas?

26. O índice de turnover foi alto ou baixo? Visualizaram como necessário para a

empresa, ou seja, foi positivo ou negativo? Por quê?

27. Quais os motivos alegados pelos funcionários para escolherem por sair ou

por permanecer?

28. O que fizeram para prevenir ou minimizar esse índice de turnover?

29. Acredita que esse índice de turnover está relacionado a algum outro aspecto?

30. Preocuparam-se em identificar os funcionários chave? Como?

31. A empresa teve a preocupação de reter esses funcionários chave? Quais

foram as ações?

32. Quais as maiores dificuldades em se conseguir reter esses funcionários?

33. Quais foram os papéis e desafios dos altos executivos da empresa? Esses

papéis alteravam de acordo com os estágios do processo de aquisição?

34. Quais foram os efeitos gerados pelas ações realizadas pelos líderes?

35. Algum estágio da aquisição foi o mais desafiador? Qual e por quê?

36. Você acredita na ferramenta comunicação? Por quê? Que benefícios ela traz

em um processo como esse? Quais os maiores desafios?

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37. Quais as características de uma comunicação eficaz em um processo como

esse? Qual a melhor forma de se gerenciar?

38. Que tipo de comunicação vocês utilizaram com os funcionários e em quais

momentos? Como foi o planejamento?

39. Quais foram os motivos que levaram a empresa a dividir tais informações com

os funcionários?

40. Vocês comunicaram exatamente tudo que estava ocorrendo ou precisaram ou

preferiram omitir algumas informações? Por quê?

41. Quais foram os efeitos e consequências quando se comunicava algo sobre o

andamento processo de aquisição? Qual era a intensidade dessa

comunicação?

42. O quanto você acredita que a comunicação eficiente ou não tenha ajudado

no possível sucesso ou fracasso desse processo?

43. Quais as diferenças de ambas as culturas organizacionais?

44. Acredita que ambas as culturas eram compatíveis ou não? Quais os maiores

desafios enfrentados?

45. Houve algum tipo de “choque cultural”? Quais? Porque acha que aconteceu?

Quando e como perceberam?

46. Como preveniram ou minimizaram esse “choque cultural”?

47. Quais os efeitos e consequências visualizadas para a empresa por ocasião

dessa incompatibilidade ou não cultural?

48. Qual cultura organizacional prevaleceu? Por quê?

49. Como foi realizado o movimento de aculturação com os ex-funcionários da

empresa “X”? Quais as ferramentas e os caminhos utilizados?

50. Como foi a receptividade e seus efeitos? Como foi na prática a adaptação

desses funcionários a essa nova cultura?

51. Conseguiram fazer como planejado ou algo deu errado? O que?

52. Em sua opinião, a aquisição das plantas fabris ocorreu com sucesso quando

pensamos no fator humano? Por quê?

53. Se o processo acontecesse agora faria alguma coisa de diferente? O que e

por quê? Explique.

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APÊNDICE B - ROTEIRO PARA ENTREVISTAS - FUNCIONÁRIOS LAFARGE

LOTADOS NA FÁBRICA DE COCALZINHO (GO)

1. Qual seu nome? Função na empresa? Há quanto tempo trabalha na Lafarge?

2. O que você acha sobre o fator humano em um processo de fusão ou

aquisição?

3. Quais impactos ou reações você entende que um processo desse tipo pode

provocar nos funcionários? Quais as possíveis consequências para a

empresa?

4. Já falando especificamente da aquisição da fábrica de Cocalzinho você

verificou algum tipo de resistência dos funcionários que eram da empresa

“X”? Quais?

5. Como os funcionários demonstravam essa resistência? Alguma má vontade

em ajudar ou aceitar as mudanças propostas?

6. Foi feito algo para prevenir ou minimizar essa resistência dos funcionários da

VC? O quê? Como essas ações foram recebidas?

7. O que foi feito para superar essa resistência?Surtiu o efeito desejado?

8. Quais incertezas foram demonstradas pelos funcionários da VC? De que

forma eles demonstravam?

9. Quais expectativas foram demonstradas pelos funcionários da VC? De que

forma eles demonstravam?

10. Essas incertezas e expectativas geraram algum tipo de consequência para o

andamento do processo? Positiva ou negativa? Fale sobre.

11. Foram tomadas providências visando prevenir ou minimizar e gerenciar tais

incertezas e expectativas? Quais?

12. Como foi o comprometimento dos funcionários da VC antes, durante e após

do processo de aquisição?

13. Quais ações foram realizadas pela organização e seus gestores para manter

o nível de comprometimento dos funcionários da VC?

14. No que esse comprometimento, ou não, dos funcionários da VC facilitou ou

prejudicou no andamento do processo? Fale sobre. Dê exemplos.

15. Verificou-se algum nível de stress nos funcionários da VC? Fale um pouco.

16. Na sua visão, quais as reais fontes desse stress?

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17. Visualizaram-se manifestações, sejam físicas, comportamentais ou

psicológicas nos funcionários da VC? Dê exemplos.

18. Qual o papel da Lafarge nesse momento e o que fizeram para prevenir ou

minimizar o stress dos funcionários?

19. A intensidade do stress foi alterada de acordo com os estágios do processo

de aquisição? As intervenções da organização também se alteravam de

acordo com esses estágios? Quais foram elas?

20. O índice de turnover foi alto ou baixo? Visualizou como realmente necessário

para a empresa, ou seja, foi positivo ou negativo? Por quê?

21. Quais os motivos alegados pelos funcionários da VC para escolherem por sair

ou por permanecer na empresa?

22. O que fizeram para prevenir ou minimizar esse índice de turnover?

23. Acredita que esse índice de turnover está relacionado a algum outro aspecto?

24. Preocuparam-se em identificar os funcionários chave? Como?

25. A empresa teve a preocupação de reter esses funcionários chave? Quais

foram as ações?

26. Quais as maiores dificuldades em se conseguir reter esses funcionários?

27. Quais foram os papéis e desafios dos altos executivos da empresa?

28. Quais foram os efeitos gerados pelas ações realizadas pelos líderes?

29. Que tipo de comunicação foi utilizada e em quais momentos?

30. Quais foram os efeitos e consequências quando se comunicavam para falar

sobre o andamento processo de aquisição? Qual era a intensidade dessa

comunicação?

31. O quanto você acredita que a comunicação eficiente tenha ajudado no

possível sucesso desse processo?

32. Quais as diferenças entre ambas as culturas organizacionais?

33. Acredita que ambas as culturas eram compatíveis ou não? Quais os maiores

desafios enfrentados?

34. Houve algum tipo de “choque cultural”? Quais? Porque acha que aconteceu?

Quando e como perceberam?

35. Como a empresa preveniu ou minimizou esse “choque cultural”?

36. Quais os efeitos e consequências visualizadas para a empresa por ocasião

dessa incompatibilidade ou não cultural?

37. Qual cultura organizacional prevaleceu? Por quê?

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38. Como foi realizado o movimento de aculturação com os ex-funcionários da

VC? Quais as ferramentas e os caminhos utilizados?

39. Como foi a receptividade e seus efeitos? Como foi na prática a adaptação

desses funcionários a essa nova cultura?

40. Conseguiram fazer como planejado ou algo deu errado? O que?

41. Se o processo acontecesse agora faria alguma coisa de diferente? O que e

por quê? Explique.

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APÊNDICE C - ROTEIRO PARA ENTREVISTAS - EX-FUNCIONÁRIOS DA

EMPRESA “X” (FÁBRICA DE COCALZINHO (GO))

1. Qual seu nome? Função na empresa? Há quanto tempo trabalha na Lafarge?

2. Como se sente quando ocorre algum tipo de mudança na organização?

3. Já tinha passado por um processo de fusão ou aquisição anteriormente?

Conte-me um pouco sobre esse momento?

4. Como você se sentiu no momento que soube da aquisição da fábrica de

Cocalzinho pela Lafarge?

5. Durante o período da mudança você mostrou-se ou sentiu-se resistente a

tudo aquilo? O que passou pela sua cabeça?

6. Como foi demonstrada essa sua resistência?

7. Em relação aos outros funcionários visualizou algum tipo de resistência?

Quais? Fale sobre.

8. Quais ações ou movimentos que a empresa fez para ajudar a prevenir ou

minimizar sua resistência e ver tudo aquilo com mais positivismo? Surtiram

efeito?

9. Teve algum tipo de incerteza? Quais? Ocorreram durante o processo todo ou

somente em parte dele? Fale sobre.

10. Acha que a Lafarge gerenciou bem todo esse movimento? Que tipo de ação

eles tomaram para prevenir ou minimizar esse ambiente de incertezas?

11. Na sua visão surtiu efeito? A empresa poderia ter procedido de forma

diferente ou ter feito algo mais?

12. Como você se comportou e reagiu a todo esse ambiente de incerteza?

13. Como ficou o ambiente fabril com todas essas incertezas?

14. Quais foram suas expectativas durante o processo de aquisição?

15. Acha que a empresa gerenciou bem todo esse movimento? Que tipo de ação

eles tomaram visando gerenciar todas essas expectativas?

16. Na sua visão surtiu efeito? O que acha que eles poderiam ter feito para ajudar

a gerenciar melhor toda essa expectativa?

17. Como permaneceu seu comprometimento com a empresa? Quais foram os

reais motivos para a manutenção, melhora ou piora do seu comprometimento

junto à organização?

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18. A empresa fez algo para manter ou aumentar o comprometimento de vocês?

O que exatamente? Surtiu efeito?

19. Que outras ações ou movimentos eles poderiam ter realizado?

20. Você ficou estressado durante esse processo? Por quê? O que passava em

sua mente?

21. Teve algum problema físico ou psicológico nessa época? Qual?

22. Tais problemas físicos e psicológicos levaram a algum tipo de consequência

comportamental ou organizacional? Quais?

23. A empresa realizou algum movimento para prevenir ou minimizar todo esse

stress? Quais foram esses movimentos?

24. O que você mesmo fez para reduzir todo esse stress e sentir-se mais seguro?

Quais foram seus movimentos em relação ao seu futuro dentro ou fora da

empresa?

25. Você pensou em sair da empresa? Por quê?

26. A empresa agiu de alguma forma para não perder você para outra

organização? O que foi feito?

27. Na sua visão como foi a atuação dos líderes da empresa? Quais ações eles

tomaram? Você ficou satisfeito? Por quê?

28. O que eles poderiam ter feito de diferente?

29. Houve algum tipo de comunicação da empresa com vocês durante o

processo de aquisição? Como eles se comunicavam? Com qual intensidade?

Quem se comunicava com vocês?

30. Como se encontrava emocionalmente antes dos comunicados e como ficou

posteriormente?

31. Você acredita que eles foram totalmente transparentes com os funcionários?

Por quê?

32. A cultura de ambas as empresas eram muito diferentes? Quais eram essas

diferenças?

33. Como foi a adaptação nessa nova cultura? Quais ferramentas a empresa

utilizou para facilitar nessa adaptação?

34. Em sua opinião, a aquisição da fábrica de Cocalzinho ocorreu com sucesso

em termos de fator humano? Por quê?

35. Se tudo acontecesse de novo agora você faria algo de diferente? O que e por

quê? Explique.