disseratacao albemerc moraes

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Disseratacao_Albemerc_Moraes

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC

    Centro de Engenharias, Modelagem e Cincias Sociais Aplicadas

    Curso de Ps-Graduao em Energia

    Dissertao de Mestrado

    Albemerc Moura de Moraes

    Aplicaes da tecnologia solar fotovoltaica no Estado do Piau:

    barreiras e potencialidades

    Santo Andr, - SP

    2009

  • 2

    ALBEMERC MOURA DE MORAES

    Aplicaes da tecnologia solar fotovoltaica no Estado do Piau:

    Barreiras e potencialidades

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Energia da Universidade Federal

    do ABC para a obteno do ttulo de Mestre em

    Energia.

    Orientador: Prof. Dr. Federico Bernardino

    Morante Trigoso

    Santo Andr

    2009

  • 3

    AUTORIZO A REPRODUO E A DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE

    TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA

    FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

    Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca da Universidade Federal do ABC

    MORAES, Albemerc Moura de Aplicaes da tecnologia solar fotovoltaica no Estado do Piau : barreiras e

    potencialidades / Albemerc Moura de Moraes Santo Andr : Universidade Federal do ABC, 2009.

    165 fls. 29 cm Orientador: Federico Bernardino Morante Trigoso Dissertao (Mestrado) Universidade Federal do ABC, Centro de Engenharia,

    Modelagem e Cincias Sociais Aplicadas, Energia, 2009. 1. Energia solar fotovoltaica 2. Eletrificao rural 3. Piau I. TRIGOSO, Federico

    Bernardino Morante. II. Centro de Engenharia, Modelagem e Cincias Sociais Aplicadas, Energia, 2009, III. Ttulo.

    CDD 333.790981

  • 5

    Este exemplar foi revisado e alterado em relao verso original, de acordo

    com as observaes levantadas pela banca no dia da defesa, sob responsabilidade

    nica do autor e com a anuncia de seu orientador.

    Santo Andr, ____ de __________ de 2010.

    Assinatura do autor: _____________________________________________

    Assinatura do orientador:__________________________________________

  • 6

    Aos meus pais e toda a minha famlia!

    A todos os piauienses, que mesmo com todas as

    dificuldades permanecem no seu torro natal. E

    a todos aqueles que saram de sua terra em

    busca de melhores condies de vida.

  • 7

    AGRADECIMENTOS

    Em primeiro lugar gostaria de agradecer a Deus, Pai onipotente, por todas as graas

    alcanadas e as oportunidades concebidas;

    Ao Prof. Federico Morante, orientador e amigo, que com humildade e sabedoria soube

    iluminar os meus passos ao longo dessa jornada. Lembro-me que em vrias ocasies cheguei

    a sua sala com muitas idias e dvidas perdido! e ele sempre me recebeu com ateno em todas as situaes. Obrigado por tudo!

    A toda a minha famlia, que sempre me apoiou e acreditou em mim em todos os momentos de

    minha vida. Em especial gostaria de agradecer:

    Ao meu pai, Alberto Moraes, e minha me, Mercs, por todos os ensinamentos e

    oportunidades. Minha eterna gratido!

    s minhas irms Anara, Anmara, Joviane (tia-irm) e Yara (prima-irm), por todos os

    momentos compartilhados, mesmo quando distante;

    minha tia Socorro e meu tio Severino pela acolhida e o carinho. Aos meus primos-

    irmos Danilo e Diogo, pela amizade e o companheirismo. A vocs, exemplo de

    famlia e unio, meu muitssimo obrigado!

    Aos meus tios, Francisco e Incia, pelo apoio e o incentivo;

    Aos meus tios, Moraes, Erivan, Mota e Z de Bernardino, em Floresta do Piau, pelo

    apoio e ateno, essenciais para o desenvolvimento da pesquisa de campo na regio;

    Aos meus primos Neto e Claudionor pelo apoio logstico no municpio de Isaas

    Coelho.

    A todos os docentes do Programa de Ps Graduao em Energia da UFABC, em especial ao

    Prof. Gilberto Martins e ao Prof. Srgio Oliveira.

    UFABC pela concesso da bolsa de mestrado durante os dois anos da pesquisa.

    Aos colegas discentes do Programa de Ps Graduao da UFABC. Foram muitos os

    momentos importantes que passei ao longo desses dois anos de mestrado nessa grande

    metrpole, dessa forma gostaria de lembrar em especial de alguns colegas que tornaram esses

    momentos mais agradveis. Um grande abrao ao Elissando, a Louise, a Belisa, a Nathlia, o

    Renato, a Dete, o Otvio (espero que retorne logo ao programa), a Graciele, a Aninha,

    Christiane e o Gudemberg.

    Foram muitas as pessoas que gentilmente colaboraram com a realizao deste trabalho, no

    meu querido Estado do Piau. Correndo o risco de omisso, segue a relao de algumas delas,

    que dedicaram um pouco do seu tempo e foram deveras essenciais para materializao desta

    pesquisa. A todos vocs a minha sincera gratido:

    Em Teresina: Ao meu grande amigo-irmo Tiago (EMATER), a professora Eullia

    (UFPI), a Dina Falco (CEPISA), ao Gensio (SEMAR), ao Eugnio Veloso

    (Cepisa/Luz para Todos), ao Walter (SOLAR), ao Jos Paulino (Empresa OI), ao

    Joselito Felix (CEPISA), ao Francisco Lages (CPRM), ao Genival (Casa do Semi-

    rido), ao Emanuel (Cepisa/IFPI), Paulo Gomes (IFPI), ao Nonato (CEPISA), ao

    Aderson Soares (EMBRAPA MN), aos meus colegas Emerson (APPM) e Kiko Mascarenhas (SEMAR), ao Francisco Batista (PCPR), ao Urias (FUNASA), ao

    Francisco Santos, ao Jorge Ney (Defesa Civil), ao Jlio (CHESF/LPT), ao Prof.

    Foseca Neto (UFPI), a Ludimila (KV comrcio), ao meu grande amigo Anderson,

    dentre outros;

  • 8

    Em Oeiras: Ao Jos Roberto, Flvio, Lyvio Ataniel, Padre Joo (Fundao Dom

    Edilberto), Expedito Martins, Everardo Luz (Ver) e meu Pai, que em Oeiras, minha

    cidade natal, deram-me todo o apoio e incentivo na realizao das pesquisas de campo;

    Em Floriano: Aos meus colegas Rildo e Jonierson e ao Pedro Saraiva (CEFAS);

    Em Canto do Buriti: Ao Sr. Pedro do Correios e seu filho Acssio, os quais me

    receberam com muito carinho e apoiaram na realizao de trabalhos de campo na

    regio;

    Em Bom Jesus: Ao meu amigo Jailton pela acomodao em sua morada e ao Pedro,

    que mesmo sem me conhecer me ajudou muito na realizao das pesquisas de campo

    no municpio de Bom Jesus. Em uma moto percorremos quase 200 km, passamos por

    asfalto, areia, lama, pedras, gua (belo riacho) e retornamos a noite com a companhia

    de muitos insetos, mas com a sensao de dever comprido;

    Em So Raimundo Nonato: Ao meu colega Marcos Vincius e ao Heitor (SOLAR)

    pelo apoio logstico, imprescindvel para realizao das pesquisas de campo na regio.

    Ao Edson Frank (FUMDHAM) e aos empresrios Salvador (Lojas Mota) e Felipe

    (Infotec).

    Ao professor Roberto Zilles e ao Andre Mocelin do Laboratrio de Sistemas Fotovoltaicos do

    Instituto Eletrotcnico e Energia da USP pela receptividade e incentivo;

    A todas as famlias rurais piauienses que me acolherem e colaboram na realizao das

    pesquisas em campo. E todos aqueles que direta ou indiretamente contriburam para a

    materializao desta pesquisa.

    A Mrcia Ananda, meu anjo, pelo amor, carinho e compreenso (nem sempre). Obrigado pela

    cumplicidade e o apoio fundamentais para a concretizao desse trabalho. TABM!

    A todos o meu muito obrigado!

  • 9

    Ao meio-dia, o sol tinindo dum ponto, chega a atmosfera batia queixos s vistas da gente, se tremendo de to quente [...]. tarde, o Sol machucava a cabea l no cocuruto da serra da

    Atalaia, que tem at um carneiro de ouro [...] (Vida gemida em Sambambaia Fontes Ibiapina, 1985)

    A um aceno do sol, cheio de promessa e calor, o campo, a mata, a chapada e a caatinga cobriram-se de flores

    (A vela e o Temporal Alvina Gameiro, 1996)

    Piau, terra querida, Filha do sol do equador

    (Hino do Piau Letra: Antnio Francisco da Costa e Silva)

  • 1

    0

    RESUMO

    MORAES, A. M. Aplicaes da tecnologia solar fotovoltaica no Estado do Piau:

    Barreiras e potencialidades. 2009. 165 f. Dissertao (Mestrado) Centro de Engenharia, Modelagem e Cincias Sociais Aplicadas, Universidade Federal do ABC, Santo Andr, 2009.

    A disponibilidade de energia eltrica pode possibilitar inmeras oportunidades ao ser humano,

    melhorando a sua qualidade de vida e permitindo aprimorar o seu trabalho. Contudo,

    atualmente, milhes de pessoas em todos os continentes no tm acesso a esse importante

    recurso energtico, to fundamental na atualidade. Nesse contexto, o Estado do Piau, no

    Nordeste brasileiro, apresenta alto ndice de excluso eltrica, principalmente no meio rural,

    onde grande parte da populao vive em pequenas localidades geograficamente dispersas.

    Paradoxalmente, apresenta um dos maiores potenciais energticos solar do Brasil, com ndice

    de radiao superior a 18 MJ/m.dia. Em face do exposto, pretende-se com essa pesquisa

    identificar as principais barreiras e potencialidades para a expanso do uso da energia solar

    fotovoltaica no Estado do Piau, visando um melhor aproveitamento desse recurso como

    alternativa vivel na eletrificao rural, tendo em vista a carncia energtica do Estado, bem

    como seu grande potencial energtico solar. Assim, foram realizadas, conforme proposio

    deste estudo, pesquisas documentais e de campo que mostram a existncia de alguns projetos

    e iniciativas que materializaram o uso de sistemas fotovoltaicos no Piau, principalmente no

    meio rural. Os resultados encontrados revelam um grande nmero de barreiras que dificultam

    o processo de difuso dessa opo tecnolgica de gerao distribuda no Piau. Entretanto, as

    potencialidades identificadas apontam um caminho a ser seguido: utilizar o grande potencial

    regional, nas suas diversas facetas, de forma a contornar os problemas e as dificuldades

    encontradas. Assim sendo, o presente trabalho mostra um panorama do atual cenrio do uso e

    aplicaes da energia solar fotovoltaica no Estado do Piau, apresentado suas principais

    barreiras e potencialidades, bem como sugestes para expanso do seu uso e aplicaes.

    Palavras chave: Piau; Tecnologia Solar Fotovoltaica; Eletrificao Rural; Barreiras e

    Potencialidades.

  • ABSTRACT

    MORAES, A. M. Applications of solar photovoltaic technology in the State of Piau:

    barriers and potentials. 2009. 165 f. Dissertation (Master Degree) Engineering Center, Modeling and Applied Social Science, Universidade Federal do ABC, Santo Andre, 2009.

    The availability of electric power can allow countless opportunities to humans; improving life

    quality and allowing one to improve oneself work. However, nowadays millions of people, in

    all continents, do not have access to this important and fundamental energy resource. In this

    context, the State of Piau, Northeast Brazil, clearly presents high electric exclusion index,

    mainly in rural areas where much of the population live in small geographically dispersed

    locations. Paradoxically, this State has one of the biggest solar energy potential in Brazil, with

    radiation rates exceeding 18 MJ/m.dia. Against this background, the aim of this research is to

    identify the main barriers and potentials for an expanded use of solar photovoltaic technology

    in Piau State. In order to better use this resource as a viable alternative for rural areas

    electrification, looking at the State energy shortage and its great solar energy potential. For

    this study, documentary and field researches were done, showing that many projects and

    initiatives materialize the use of photovoltaic systems in Piau especially in rural areas. The

    found results revealed a large number of barriers that difficult this supplying technology

    diffusion and distribution in Piau. However, the identified potentials indicate a path to

    follow: to use the regional great potential, in its several facets, in order to circumvent the

    found problems and difficulties. Therefore, this is a review of the current scenario of uses and

    applications of the solar photovoltaic energy in Piau State, showing their main barriers and

    potentials, as well as suggestions for expanding their use and applications.

    Key words: Piau State; Solar Photovoltaic Technology; Rural electrification; Barriers and

    Potentials.

  • X

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 2.1 - Mapa do Estado do Piau: a) limites geogrficos e principais municpios; b)

    diviso territorial. ..................................................................................................................... 10

    Figura 2.2 - Configurao do sistema eltrico do Estado do Piau ......................................... 19

    Figura 2.3 - Exemplos de utenslios utilizados em regies no eletrificadas do Estado do

    Piau: a) rdio pilha; b) lamparina a querosene; c) ferro de passar roupa a carvo vegetal... 23

    Figura 2.4 Exemplos de foges a lenha: a) Fogo a lenha tradicional de tijolos e chapa de metal; b) fogo de trs pedra ou trempe e c) fogo a lenha montado sobre uma armao de madeira (jirau). ...................................................................................................................... 24

    Figura 2.5 Exemplos de utenslios utilizados em regies no eletrificadas do Estado do Piau: a) Reservatrios de argila (potes) para conservar gua; b) Geladeira gs e c)

    liquidificador a manivela. ......................................................................................................... 25

    Figura 2.6 Cenas comuns no semi-rido piauiense no perodo da estiagem ........................ 26

    Figura 2.7 - Percentual de pessoas que vivem em domiclios com energia eltrica ............... 29

    Figura 2.8 ndice de Desenvolvimento Humano Municipal (Municpios do Estado do Piau em 2000) ................................................................................................................................... 29

    Figura 2.9 Mulher carregando gua na cabea no municpio de Oeiras, enquanto o sistema de bombeamento fotovoltaico estava inoperante...................................................................... 31

    Figura 3.1 Sistema fotovoltaico de telecomunicao na localidade Curral de Areia, municpio de So Jos do Peixe (Territrio Vales dos Rios Piau e Itaueiras). 10 .................. 34

    Figura 3.2 Detalhes dos sistemas fotovoltaicos de telecomunicaes no: a) Povoado Boa Nova, Oeiras-PI (mdulo fv) e Povoado mutuca, Pedro Laurentino-Pi b) mdulo fv e antena;

    c) rdio transmissor, bateria e controlador de carga) 11........................................................... 35

    Figura 3.3 . Lampio Solar instalado em domiclio na localidade Pinga, 17 km de Oeiras - Pi. Detalhe da instalao: a) interno e b) externo. 12 ............................................................... 45

    Figura 3.4 Sistema fotovoltaico de bombeamento de gua. Localidade Palhetas (So Joo da Vajota PI) 13 . ................................................................................................................... 49

    Figura 3.5 Kit fotovoltaico energtico instalado ilegalmente em uma residncia no interior do Piau, com sua respectiva ficha tcnica, que encontra-se afixada na parte interna do quadro

    de controle. 14 .......................................................................................................................... 51

    Figura 3.6 Sistema fotovoltaico energtico. Localidade Fazenda Nova (Isaas Coelho PI) 15 .............................................................................................................................................. 52

    Figura 3.7 Sistema fv em escola rural do municpio de Isaas Coelho, onde foram furtados: a) b) Dois mdulos (120 Wp cada) e c) Todo o banco de baterias (08 baterias 150 Ah cada). 16 .............................................................................................................................................. 53

    Figura 4.1 Painis fotovoltaicos depredados na localidade Esquerda, Floresta do Piau. 17 .................................................................................................................................................. 62

    Figura 4.2 Localizao do Territrio Vale do Rio Canind, com destaque para os municpios pesquisados. 18 ...................................................................................................... 65

  • XI

    Figura 4.3 - Crianas e adultos no Povoado Boa Nova retirando gua de forma manual,

    enquanto o sistema de bombeamento fotovoltaico encontrava-se inoperante. 19 .................... 66

    Figura 4.4 - a) Escola municipal, telefone pblico e posto de sade no Povoado Boa Nova

    (Oeiras - PI). b) Mdulos fotovoltaicos instalados sobre os telhados do posto de sade, da

    escola municipal e do casebre que abriga o sistema de telecomunicao do TUP. 20 ............ 67

    Figura 4.5 - Uso irregular da energia eltrica proveniente dos sistemas do PRODEEM no

    povoado Boa Nova. Detalhes: a) em um bar e b) sob os mdulos do sistema de bombeamento.

    21 .............................................................................................................................................. 68

    Figura 4.6 Sistema fotovoltaico energtico. Localidade Lagoa da Forquilha (Isaas Coelho PI) 22 ........................................................................................................................................ 70

    Figura 4.7 Sistema fotovoltaico domiciliar instalado na localidade Canad 01, Santa Cruz do Piau. a) Detalhe externa da instalao; b) Bateria e controlador de carga; c) Algumas

    cargas em 12 Vcc. 23 ................................................................................................................ 72

    Figura 4.8 Sistema fotovoltaico domiciliar instalado na Localidade Canad 02, Santa Cruz do Piau. a) Detalhe externa da instalao; b) Bateria sem controlador de carga; c) Detalhe da

    tomada adaptada.24 .................................................................................................................. 72

    Figura 4.9 - Localizao do municpio de So Raimundo Nonato no Territrio Serra da

    Capivara. 25 .............................................................................................................................. 74

    Figura 4.10 - Mdulo fotovoltaico e antena para captao de sinal de celular em residncia

    na localidade Lagoa dos Patos 26 ............................................................................................. 78

    Figura 4.11. a) Guarita de acesso ao PNSC (entrada Serra Vermelha), onde pode-se

    encontrar vrios sistemas fotovoltaicos. b) Parte interna da guarita onde encontra-se a

    geladeira, o sistema de radiocomunicao (parte superior), os controladores eletrnicos de

    carga e os respectivos bancos de baterias dispostos em caixas de madeira 27 ........................ 81

    Figura 4.12 - Gerador fotovoltaico e reservatrio do sistema de bombeamento de gua nas

    comunidades: a) Garrincha (So Raimundo Nonato) e b) Capim (Guaribas). 28 ................... 82

    Figura 4.13. a) Vista panormica do sistema de bombeamento de gua da comunidade

    Garrincha; b) Vista interna da gruta e c) vista da entrada da gruta, da passarela e do cano que

    transporta a gua 29 .................................................................................................................. 82

    Figura 4.14 Localizao do Territrio Entre Rios, com destaque para os municpios visitados. 31 .............................................................................................................................. 83

    Figura 4.15 Sistema fotovoltaico de bombeamento de gua, localidade Brejinho - Alto Long, Piau. 32 ........................................................................................................................ 85

    Figura 4.16 - Sistemas fotovoltaicos instalados: a) IFPI (195 Wp) e b) UFPI (504 Wp). 33 . 86

    Figura 5.1 Residncias rurais no atendidas por rede eltrica: a) Municpio de Bom Jesus (Territrio Chapada das Mangabeiras); b) Municpio de Alto Long (Territrio Entre Rios).

    34 .............................................................................................................................................. 88

    Figura 5.2 Detalhes de um SFD localizado no municpio de Bom Jesus (Territrio Chapada das Mangabeiras): a) Inadequaes tcnicas; b) cargas bsicas do SFD. 35 .......................... 92

    Figura 5.3 Detalhes de um SFD instalado em uma comunidade rural do municpio de Floresta do Piau (Territrio Vale do Rio Canind): a) bateria, fiao e controlador de cargas;

    b) adaptao para acionamento de uma das lmpadas da instalao. 36 .................................. 92

  • XII

    Figura 5.4 Dificuldade de acesso das estradas vicinais no interior do Piau: a) Excesso de lama (Acesso a Localidade Corrente dos Mates - Bom Jesus) e b) Pontes denominadas

    passagem molhada que no perodo de fortes chuvas em muitos casos inviabiliza o transporte terrestre (Acesso ao Povoado Boa Nova - Oeiras). 37 ............................................ 94

    Figura 5.5 Radiao solar global diria, mdia anual tpica 38............................................ 96

    Figura 5.6 Radiao solar global do Estado do Piau 39 ...................................................... 96

    Figura 5.7 Processo produtivo do mel, com detalhe na insero fotovoltaica. 40 ............. 102

    Figura 5.8 Modelo de cerca eltrica com quatro fios adotando para caprinos e que pode ser alimentado com gerador fotovoltaico 41 ................................................................................ 103

    Figura 5.9 Ilustrao de sistema fotovoltaico de aerao, utilizado na piscicultura 42 ..... 104

    Figura 5.10 - Ilustrao do PAIS com a opo fotovoltaica para o bombeamento dgua. 43 ................................................................................................................................................ 114

  • XIII

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 2.1 Obras importantes de infraestrutura eltrica realizadas no perodo de 1970 a 1982 .......................................................................................................................................... 15

    Tabela 2.2 - Cronologia da evoluo do setor eltrico piauiense de 1982 a 2009 .................. 16

    Tabela 2.3 - Nmeros do setor eltrico piauiense.................................................................... 20

    Tabela 2.4 - Nmeros sobre os derivados de petrleo, etanol e biodiesel no Piau................. 21

    Tabela 2.5 - Principais equipamentos e energticos utilizados no meio rural piauiense no

    eletrificado ................................................................................................................................ 23

    Tabela 3.1 Relao de TUPs no Estado do Piau que utilizam gerao fotovoltaica 6 ........ 36

    Tabela 3.2 SFD instalados pelo PCPR nos anos de 2002 a 2003.........................................41

    Tabela 3.3 Demonstrativo de aquisio de sistemas pelo PRODEEM, de 1995 a 2002. 7 .. 46

    Tabela 3.4 Relao dos sistemas fotovoltaicos instalados no Piau durante a ao do PRODEEM e seus respectivos executores. 8 ........................................................................... 48

    Tabela 3.5 Relao de escolas rurais atendidas por municpios, durante a fase V do PRODEEM 9 ............................................................................................................................ 50

    Tabela 3.6 - Resumo de Ligaes X Metas Anuais do Programa Luz Para Todos no Piau. 10 .............................................................................................................................................. 54

    Tabela 3.7 Nmeros do LPT no Piau, 2008 11 ................................................................... 55

    Tabela 3.8 Planilha oramentria: sistema de energia solar centralizado, comunidade Brejo das Meninas Santa Filomena, PI. 12 ..................................................................................... 56

    Tabela 4.1 - Caractersticas gerais dos sistemas fotovoltaicos instalados na escola e no posto

    de sade. Povoado Boa Nova (Oeiras, PI) 13.......................................................................... 67

    Tabela 4.2 - ndice de atendimento eltrico e IDH dos municpios do Territrio Serra da

    Capivara 14 ............................................................................................................................... 75

    Tabela 5.1 Quadro resumo das principais barreiras e potencialidades identificadas para a difuso das aplicaes baseadas na tecnologia solar fotovoltaica 15 ..................................... 107

  • XIV

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 2.1 Relao entre o ndice de eletrificao do Piau e o IDH-M.............................28

    Grfico 4.1 Percentual de instalaes fotovoltaicas pesquisada por territrios do Piau .....58

    Grfico 4.2 Quantidade de sistemas fotovoltaicos visitados por tipo de aplicao..............59

    Grfico 4.3 Relao entre o nmero de instalaes e as instituies/programas que instalaram os sistemas fotovoltaicos pesquisados.....................................................................59

    Grfico 4.4 Relao entre o nmero de sistemas instalados e o ano de sua instalao........60

    Grfico 4.5 Percentual de sistemas que foram alvo de vandalismo......................................61

    Grfico 4.6 Percentual de aprovao dos sistemas pelos usurios entrevistados.................63

  • XV

    LISTA DE ABREVIAES E SIGLAS

    AISB Atlas de Irradiao Solar no Brasil

    ANA Agncia Nacional de guas

    ASB Atlas Solarimtrico do Brasil

    ANEEL Agncia Nacional de Energia Eltrica

    ANP Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis

    ASADES Asociacin Argentina de Energas Renovables y Ambiente

    BEN Balano Energtico Nacional

    BNB Banco do Nordeste do Brasil S. A

    BP Solar British Petroleum Solar

    CA Corrente Alternada

    CC Corrente Continua

    CCEAR Contratos de Compra e Venda de Energia Eltrica no Ambiente

    Regulado

    CEAL Companhia Energtica de Alagoas S/A

    CEAM Companhia Energtica do Amazonas

    CEFAS Centro de Educao So Francisco de Assis

    CEFET Centro Federal de Educao Tecnolgica do Piau

    CEPEL Centro de Pesquisas de Energia Eltrica

    CEPISA

    Companhia Energtica do Piau S/A

    CEPRO Fundao Centro de Pesquisas Econmicas e Sociais do Piau

    CERNE

    Companhia de Eletrificao Rural do Nordeste

    CERON Centrais Eltricas de Rondnia S/A

    CHESF Companhia Hidro Eltrica do So Francisco

    CLFP Companhia Luz e Fora de Parnaba

    CODEVASF Companhia de Desenvolvimento dos Vales do So Francisco e do

    Parnaba

    COHEBE Companhia Hidreltrica de Boa Esperana

    CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Servio Geolgico do

    Brasil

    DNDE Departamento Nacional de Desenvolvimento Energtico

    ELETROBRS Centrais Eltricas Brasileiras S.A

  • XVI

    EMATER Instituto de Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Piau

    EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

    FETAG Federao dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Piau

    FV Fotovoltaico

    FUNASA Fundao Nacional de Sade

    FUNDED Fundao Dom Edilberto Dinkelborg

    FUMDHAM Fundao Museu do Homem Americano

    GASPISA Companhia de Gs do Piau

    GEF Global Environment Facility

    GLP Gs Liquefeito de petrleo

    IAEE Instituto de gua e Energia Eltrica

    IASC ndice Aneel de Satisfao do Consumidor

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IDER Instituto de Desenvolvimento Sustentvel e Energias Renovveis

    IDH-M ndice de Desenvolvimento Humano Municipal

    IFPI Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Piau

    INFRAERO Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroporturia

    INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial

    IPL Inqurito Policial

    LPT Programa Nacional de Universalizao da Energia Eltrica Luz Para

    Todos

    LT Linhas de Transmisso

    MME Ministrio de Minas e Energia

    MN Meio Norte

    MRT Monofsica com Retorno por Terra

    ONG Organizaes No Governamentais

    ONS Operador Nacional do Sistema

    OSCIP Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico

    P & D Pesquisa e Desenvolvimento

    PAC Programa de Acelerao do Crescimento

    PAIS Produo Agroecolgica Integrada Sustentvel

    PBE Programa Brasileiro de Etiquetagem

    PCPR Programa de Combate a Pobreza Rural

    PGMU Plano Geral de Metas para Universalizao

  • XVII

    PIB Produto Interno Bruto

    PLANAP Plano de desenvolvimento do Parnaba

    PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento.

    PNSC Parque Nacional Serra da Capivara

    PRC-PRODEEM Programa de Revitalizao e Capacitao do PRODEEM

    PRODEEM Programa de Desenvolvimento Energtico de Estados e Municpios

    PROINFA Programa de Incentivo s Fontes Alternativas de Energia Eltrica

    QAV Querosene de Aviao

    RITTAER Red Iberoamericana de Transferencia de Tecnologias Apropiadas con

    uso de las Energias Renovables

    RLU Remote Line Unit

    SEBRAE Agncia de Apoio ao Empreendedor e Pequeno Empresrio

    SEMAR-PI Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hdricos do Estado do Piau

    SENAC Servio Nacional de Aprendizagem Comercial

    SENAI Servio Nacional de Aprendizagem Industrial

    SEPLAN Secretaria do Planejamento do Estado do Piau

    SFD Sistema Fotovoltaico Domiciliar

    SIGFI Sistema Individual de Gerao de Energia Eltrica com Fonte

    Intermitente

    SIN Sistema Interligado Nacional

    TCU Tribunal de Contas da Unio

    TELEPISA Telecomunicaes do Piau S/A

    TUP Telefone de Uso Pblico

    UESPI Universidade Estadual do Piau

    UFC Universidade Federal do Cear

    UFPI Universidade Federal do Piau

    UHE Usina Hidreltrica

    Vca Volts em corrente alternada

    Vcc Volts em corrente continua

  • SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................... X LISTA DE TABELAS .......................................................................................................... XIII

    LISTA DE GRFICOS ......................................................................................................... XIV LISTA DE ABREVIAES E SIGLAS ............................................................................... XV

    APRESENTAO.....................................................................................................................1

    CAPTULO 1: INTRODUO.............................................................................................3

    2 CAPTULO 2: REALIDADE ENERGTICA DO ESTADO DO PIAU ............................ 9

    2.1 Caracterizao histrica e geogrfica ........................................................................... 9 2.2 Histrico da eletrificao no Piau ............................................................................. 12

    2.3 A atual situao energtica do Estado do Piau .......................................................... 17 2.4 A realidade energtica no meio rural piauiense no eletrificado ............................... 22 2.5 Energia eltrica e desenvolvimento no Piau ............................................................. 27 2.6 Perspectivas futuras de investimentos no setor .......................................................... 31

    3 CAPTULO 3: APLICAES DA TECNOLOGIA SOLAR FOTOVOLTAICA NO

    ESTADO DO PIAU ................................................................................................................ 33

    3.1 O setor de telecomunicaes ...................................................................................... 33 3.2 O papel do setor privado ............................................................................................ 37 3.3 Alguns exemplos de aplicaes e uso da tecnologia solar fotovoltaica por instituies

    governamentais e no governamentais ................................................................................. 40 3.4 O PRODEEM no Piau ............................................................................................... 45

    3.5 O Programa Luz para Todos no Piau ........................................................................ 53 4 CAPTULO 4: SISTEMAS FOTOVOLTAICOS AUTNOMOS NO PIAU:

    OBSERVAES DE CAMPO ................................................................................................ 57 4.1 Metodologia da pesquisa de campo ............................................................................ 57 4.2 Resultados da pesquisa de campo .............................................................................. 58

    4.2.1 Resultados Gerais................................................................................................57

    4.2.2 Resultados especficos por territrio...................................................................62

    4.2.2.1 Territrio Vale do Rio Canind.............................................................62

    4.2.2.1 Territrio Serra da Capivara..................................................................72

    4.2.2.1 Territrio Entre Rio...............................................................................82

    5 CAPTULO 5: ANLISE E DISCUSSES SOBRE AS PRINCIPAIS BARREIRAS E

    POTENCIALIDADES IDENTIFICADAS .............................................................................. 87 5.1 Anlise e discusses das principais barreiras identificadas ........................................ 87

    5.2 Anlise e discusses das principais potencialidades identificadas ............................. 95 5.3 Comentrios e sugestes para a expanso do uso da tecnologia solar fotovoltaica no Estado do Piau ................................................................................................................... 107

    6 CONCLUSES, CONTRIBUIES E SUGESTES ...................................................... 117 REFERNCIAS ..................................................................................................................... 123

    APNDICES .......................................................................................................................... 132 ANEXOS ................................................................................................................................ 141

  • 1

    APRESENTAO

    O presente trabalho visa apresentar um panorama do atual cenrio do uso e aplicaes dos

    sistemas fotovoltaicos no Piau. A abordagem seguida consiste na identificao das principais

    barreiras e potencialidades para a difuso desta tecnologia. Discutem-se tambm as

    alternativas de superao dos obstculos utilizando as respectivas potencialidades

    identificadas. Assim, a presente dissertao est estruturada em seis captulos, descritos a

    seguir:

    O captulo 1 destinado a introduo do trabalho, contemplando a motivao e justificativa

    da pesquisa, delimitao do problema, formulao dos objetivos e metodologia seguida. Com

    isso, pretende-se situar o leitor no contexto da problemtica da pesquisa.

    No captulo 2 sero apresentados, em linhas gerais, os principais aspectos da realidade

    energtica do Piau. Para isso, mostra-se a caracterizao histrica e geogrfica desse Estado.

    Tambm explicado o processo histrico de eletrificao e sua atual configurao, alm das

    perspectivas futuras de investimentos no setor. A realidade energtica no meio rural piauiense

    no eletrificado e a relao entre o fornecimento de energia eltrica e o desenvolvimento so

    outros aspectos abordados neste captulo.

    O captulo 3 aborda os principais projetos e iniciativas que utilizaram ou utilizam a opo

    fotovoltaica como alternativa de gerao distribuda1 no contexto do Estado do Piau. Assim,

    so destacadas as vrias instituies e programas que materializaram projetos baseados nessa

    opo tecnolgica.

    O captulo 4 traz luz os resultados da pesquisa de campo realizada em 26 comunidades

    rurais piauienses, abrangendo 3 macrorregies, 5 territrios e 10 municpios. Os resultados

    encontrados foram analisados e discutidos, de forma a identificar as principais barreiras e

    potencialidades relativas s diversas aplicaes da energia solar fotovoltaica no contexto da

    eletrificao rural do Piau.

    1 O termo gerao distribuda (GD) constitui um modelo de gerao/distribuio alternativo ou complementar ao clssico

    sistema centralizado de suprimento de energia eltrica em que a gerao de energia eltrica realizada no ponto de

    consumo final ou prximo deste. Aqui nesse trabalho considera-se GD tanto para sistemas instalados em regies urbanas

    como rurais.

  • 2

    No captulo 5 so apresentadas, analisadas e discutidas as principais barreiras e

    potencialidades relacionadas expanso do uso da tecnologia solar fotovoltaica no Estado do

    Piau. importante destacar que embora existam obstculos, estes podem ser superados

    considerando-se o grande potencial identificado em suas vrias vertentes.

    No sexto e ltimo captulo encontram-se as concluses do trabalho, assim como as

    contribuies da dissertao e um indicativo de temas para pesquisas futuras, de forma a

    complementar e ampliar o estudo aqui apresentado.

    Complementando as informaes plasmadas nos captulos, os anexos e apndices possuem

    dados adicionais que no foram inseridas no corpo do trabalho. Aqui, encontram-se mapas de

    localizao de sistemas fotovoltaicos, questionrios de pesquisa e outras informaes

    pertinentes.

  • 3

    CAPTULO 1

    1 INTRODUO

    1.1 Motivao e justificativa da pesquisa

    O Piau um dos Estados mais pobres da federao, reflexo disso a sua situao energtica:

    apresenta-se com um dos menores ndices percentuais de eletrificao rural do Brasil. Mas,

    paradoxalmente, possui um grande potencial energtico solar que poderia ser aproveitado por

    meio do uso de diversas tecnologias baseadas nessa energia. Uma delas a tecnologia solar

    fotovoltaica e suas mltiplas aplicaes como o caso do atendimento de eletricidade a

    famlias rurais com moradias localizadas longe da rede eltrica.

    Embora, atualmente, essa situao de excluso tenha mudado de forma positiva, devido

    fundamentalmente s aes governamentais por meio de programas de eletrificao rural,

    muitas famlias situadas em lugares remotos no serto piauiense ainda no contam com o

    servio bsico de energia eltrica. Essa realidade, aliada carncia de oportunidades laborais

    e a estiagem prolongada, faz com que muitos piauienses que vivem da subsistncia do campo

    migrem para os centros urbanos do prprio Estado ou de outros mais afastados.

    Essa realidade energtica rural pode ser melhor compreendida ao se visitar algumas

    comunidades do serto piauiense, nas quais verifica-se como a principal fonte energtica o

    consumo de lenha para a coco de alimentos e o uso de pilhas para suprimento eltrico de

    rdios. Alm disso, em diversos lugares a iluminao noturna residencial feita utilizando-se

    lamparinas a querosene, que alm de no proporcionar uma iluminao adequada emitem

    gases poluentes para o ambiente interno.

    Dentro de um grande leque de consequncias, constata-se que a falta de energia eltrica pode

    inviabilizar o processo de alfabetizao de adultos, que em geral programado para ser

    realizado no perodo noturno. Alm disso, a impossibilidade manter em operao um sistema

    de refrigerao adequado ocasiona que faltem meios de estocar vacinas nos postos de sade

    locais, quando esses existem. Os resultados dessa situao podem ser observados no

    baixssimo ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) dessas populaes.

  • 4

    Para piorar ainda mais esta difcil situao, um dos maiores problemas que o sertanejo

    enfrenta o acesso gua potvel. Isso, em grande parte, tambm se relaciona com falta de

    energia eltrica responsvel pelo funcionamento de sistemas de bombeamento de gua. Diante

    dessa carncia, comum no semi-rido piauiense, principalmente, nos perodos da estiagem,

    ver mulheres percorrendo vrios quilmetros com balde na cabea em busca de gua para o

    consumo humano.

    Tendo em vista que, atualmente, h solues tecnolgicas que possibilitam o atendimento a

    essas demandas, neste trabalho so relatadas algumas aes desenvolvidas no Piau com o

    intuito de melhorar essa situao. Muitas dessas iniciativas tiveram sucesso, em contrapartida,

    aquelas que mostram dificuldades em manter-se no tempo evidenciam que a sustentabilidade

    tecnolgica requer uma srie de aes adicionais, alm das puramente tcnicas.

    Entre os anos de 1997 a 2002 o Piau foi contemplado com aes do Programa de

    Desenvolvimento Energtico de Estados e Municpios (PRODEEM), que instalou atravs de

    Agentes Regionais cerca de 570 sistemas comunitrios compreendidos entre energtico,

    iluminao pblica e bombeamento de gua. Entretanto, por falta de manuteno muitos

    desses sistemas deixaram de funcionar ainda nos primeiros anos, fazendo com que a

    tecnologia perdesse credibilidade.

    A partir de 2006 o PRODEEM passa a integrar um programa ainda maior, com o objetivo

    audacioso de universalizar o atendimento eltrico, o Luz Para Todos (LPT). Contudo, hoje,

    mesmo com a existncia da resoluo da Agncia Nacional de Energia Eltrica (ANEEL) que

    prev a utilizao de Sistemas Individuais de Gerao de Energia Eltrica com Fontes

    Intermitentes (SIGFI), dentre eles a energia solar fotovoltaica, como alternativa no processo

    de universalizao do servio eltrico, a concessionria estadual ainda no optou por esse

    caminho.

    Tudo isso assume grande importncia, posto que o Piau possui pouca ou nenhuma

    representatividade no que diz respeito a pesquisas nesse setor. Consequentemente, o melhor

    entendimento da realidade atual do aproveitamento desta tecnologia no Piau, por meio da

    identificao das suas potencialidades e barreiras, poder contribuir positivamente no

    processo de universalizao do atendimento eltrico.

  • 5

    1.2 Delimitao do problema

    Com este trabalho, portanto, pretende-se responder a seguinte indagao: Quais so as

    principais barreiras que dificultam a expanso do uso da energia solar fotovoltaica no Estado

    do Piau, e como super-las tendo em vista o grande potencial energtico solar do Estado?

    1.3 Escopo do trabalho

    Considerando-se tal indagao, foram formulados os objetivos gerais e especficos, assim

    distribudos:

    1.3.1 Objetivo geral

    Identificar as principais barreiras e potencialidades para a expanso do uso da energia solar

    fotovoltaica no Estado do Piau, visando um melhor aproveitamento desse recurso como

    alternativa vivel na eletrificao rural, tendo em vista a carncia energtica do Estado, bem

    como seu grande potencial energtico solar.

    1.3.2 Objetivos Especficos

    i. Analisar a realidade atual do Estado do Piau frente s suas necessidades de

    Polticas Pblicas para reduzir o nmero de famlias excludas ao acesso

    energia eltrica, de forma a mitigar a misria e a pobreza na zona rural;

    ii. Identificar as instituies, organizaes, empresas, pessoas, etc., que

    trabalham ou mantm alguma relao com a tecnologia solar fotovoltaica

    no Piau, assim como a infraestrutura existente para quantificar o recurso

    solar e materializar a implantao de projetos de eletrificao rural;

    iii. Verificar alguns sistemas fotovoltaicos autnomos em diversas localidades

    do Estado, de forma a conhecer a problemtica relacionada com sua gesto

    e sustentabilidade;

    iv. Investigar os motivos pelos quais a opo fotovoltaica no foi ainda

    considerada pela empresa concessionria de energia eltrica piauiense e

  • 6

    pelo programa atual de eletrificao rural, dirigidos a materializar a

    universalizao do servio de energia eltrica.

    1.4 Metodologia

    Para alcanar os objetivos propostos nesta pesquisa, abaixo ser descrita a metodologia

    desenvolvida.

    1.4.1. Pesquisa bibliogrfica

    Essa foi realizada em diversos meios, a fim de encontrar dados e informaes referentes ao

    tema, principalmente em livros, teses, dissertaes e artigos cientficos. Alm disso, nesta

    etapa foram coletados dados referentes s potencialidades e barreiras encontradas para

    expanso da tecnologia solar fotovoltaica no Estado do Piau. Adicionalmente, realizou-se

    uma coleta de informaes relacionadas com as caractersticas gerais do Estado. Isso incluiu

    dados referentes sua histria, caracterizao do territrio, demografia, aspectos

    socioeconmicos, infraestrutura e potencialidades energticas, dentre outros.

    1.4.2. Levantamento de dados sobre os sistemas fotovoltaicos instalados no Piau

    Este passo consistiu na investigao dos principais projetos relacionados com rea,

    identificando suas principais contribuies, problemas e falhas. A coleta desses dados deu-se

    de forma exploratria, por meio de visitas e entrevistas realizadas em empresas, rgos e

    instituies do Estado do Piau. Como ferramenta de pesquisa utilizou-se questionrios, que

    foram respondidos por pessoas que atuaram ou atuam em empresas privadas do setor de

    energia solar fotovoltaica e de telecomunicaes.

    1.4.3. Pesquisas de campo

    A pesquisa de campo foi realizada em localidades rurais do Piau onde existem sistemas

    fotovoltaicos instalados. Para isso, foram aplicados questionrios e, alm disso, foram

    realizadas entrevistas com lideranas e usurios beneficiados com a instalao do sistema.

    Nesta etapa tambm foi realizado o respectivo registro fotogrfico. Por meio do trabalho de

    campo, procurou-se reconhecer as percepes dos atores locais, de forma a fazer um

  • 7

    diagnstico da situao atual destes sistemas no Piau, tendo em vista sua autonomia e

    sustentabilidade ao longo do tempo, levando em considerao peculiaridades locais.

    1.4.4. Tratamento e interpretao dos dados coletados

    De posse dos dados e informaes encontradas ao longo de toda a pesquisa, foi realizada uma

    sistematizao para a anlise e discusso dos resultados. Desta forma, tabelas e grficos foram

    construdos visando estabelecer relaes importantes. Quanto aos dados coletados em campo,

    estes foram analisados objetivando compreender a percepo da populao. As fotografias

    que acompanham o texto assim como os dados complementares visam enriquecer o processo

    de construo da dissertao dando maior consistncia ao contedo do trabalho.

  • 8

  • 9

    CAPTULO 2

    2 A REALIDADE ENERGTICA DO ESTADO DO PIAU

    Neste captulo, dar-se- o incio das discusses acerca da realidade energtica do Estado do

    Piau. Assim sendo, sero apresentados a seguir os aspectos gerais desta realidade,

    abrangendo desde a caracterizao histrico-geogrfica do Piau, passando pelo atual cenrio

    energtico, s perspectivas futuras de expanso e investimentos no setor. Alm disso, tendo

    em vista os objetivos propostos neste trabalho, no item 2.4 sero discutidos, em particular, os

    aspectos da realidade energtica no meio rural piauiense.

    2.1 Caracterizao histrica e geogrfica

    O Estado do Piau est situado entre 2 44' 49" e 10 55' 05" de latitude sul e entre 40 22' 12"

    e 45 59' 42" de longitude oeste (PIAU, 2009). Localizado na regio Nordeste do Brasil, o

    Piau, figura 2.1a, limita ao sul com os Estado da Bahia e Tocantins, ao leste com o Cear e

    Pernambuco, a oeste com o Maranho e a norte com o oceano Atlntico2. Apresenta uma

    populao de 3.032.421 habitantes distribuda em uma rea de 251.529,186 km (IBGE,

    2007a). Alm da rea legalmente demarcada, o Piau possui ainda uma rea de litgio de

    2.977 km, que disputada com o vizinho Estado do Cear (NETO, 2006). Teresina, a capital

    do Estado, foi fundada em 1852 e est situada s margens do Rio Parnaba na poro norte do

    Piau e aproximadamente 366 km do Oceano Atlntico.

    Situado em uma faixa de transio entre o serto semi-rido e a Amaznia quente e mida,

    apresentando latitudes baixas e altitudes mediana e baixa, o Piau possui um clima tropical

    semi-rido no interior e tropical megatrmico na capital. A pluviosidade no Estado atinge

    mximas anuais de 800 mm na regio Sudeste e varia de 1000 a 1700 mm/ano nas demais

    regies (NETO, 2006). Segundo Neto (2006) a caatinga e o cerrado so os principais biomas

    do Piau, no entanto, podemos encontrar tambm vegetaes do tipo litornea, floresta

    semidecdua, palmeiras e reas de transio.

    2 O litoral piauiense possui 66 km de extenso e representa apenas 0,89% do litoral brasileiro, sendo, portanto, o menor

    litoral do Brasil. Alm disso, Teresina a nica capital do Nordeste que no est localizada no litoral.

  • 10

    A atual diviso poltico-administrativa do Piau compreende 224 municpios3, distribudos em

    4 mesorregies e 15 microrregies geogrficas. Tal configurao foi estabelecida pelo

    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) a partir de 1990, onde os Estados

    brasileiros passaram a utilizar a diviso regional denominada Microrregies Homogneas

    (RODRIGUES, 2007). Todavia, em 22 de agosto de 2007 foi promulgada a lei estadual

    complementar no 87 que estabelece o Planejamento Participativo Territorial para

    Desenvolvimento Sustentvel do Piau (PIAU, 2007). Dessa forma, ficaram estabelecidos

    28 Aglomerados e 11 Territrios de Desenvolvimento (figura 2.1b), distribudos em 4

    macrorregies (Litoral, Meio Norte, Semi-rido e Cerrados).

    Figura 2.1 - Mapa do Estado do Piau: a) limites geogrficos e principais municpios; b) diviso territorial. Fonte: Baseado em IBGE (2009) e CEPRO (2005)

    O Piau o Estado nordestino com menor densidade demogrfica (12,06 hab/km) e a terceira

    menor populao, apesar de possuir o terceiro maior territrio em extenso do Nordeste. A m

    distribuio populacional em seu territrio uma caracterstica marcante: quase metade de

    seus habitantes vivem nos 10 maiores municpios, sendo que sete deles esto localizados na

    regio norte do Estado. A capital do Estado, por exemplo, apresenta aproximadamente 25%

    3 Incluindo o recm criado municpio de Nazria, que foi emancipado da Capital Teresina em 2008 (eleies municipais).

  • 11

    da populao do Piau. Em contrapartida, percentualmente, o Estado menos urbano do

    Brasil, cerca de 40% da sua populao vive no meio rural (CEPRO, 2005).

    Com um Produto Interno Bruto (PIB) em 2006 de R$12.790.892, que representa apenas 0,5%

    do PIB do Brasil, o Piau ocupa a 23 posio no ranking nacional. Alm disso, possui o

    menor PIB per capita (R$ 4.213) do Pas. Quanto ao ndice de Desenvolvimento Humano

    (IDH), o Estado apresenta um ndice de 0,703, que corresponde ao terceiro menor do Brasil,

    ficando frente apenas dos Estados do Maranho (0,683) e Alagoas (0,677), segundo dados

    do PNUD (2005) (IBGE, 2008a).

    O Piau, ao contrrio dos outros estados nordestinos, foi colonizado do interior para o Litoral,

    o que lhe proporcionou a sua atual configurao geogrfica. Este processo de colonizao foi

    resultado direto da expanso da pecuria pelo interior nordestino, que atravs do avano e

    multiplicao das fazendas de gado, principalmente pela bacia hidrogrfica do rio Parnaba4,

    permitiu a criao da Capitania do Piau no sculo XVII, um sculo depois da instituio do

    sistema de capitanias hereditrias (NETO, 2006).

    A pecuria, portanto, foi a primeira atividade econmica piauiense, seguida posteriormente

    pelo extrativismo vegetal. Em ambos os casos, a agricultura, principalmente de subsistncia,

    apresentava-se como atividade paralela, mantendo-se at os dias atuais.

    O Piau nunca teve uma vocao industrial, o processo de industrializao comeou de forma

    tmida na segunda metade do sculo XVIII com a instalao de uma usina de charque, mas s

    teve maior impulso depois da dcada de 1970 com a inaugurao da UHE de Boa Esperana

    (NETO, 2006).

    Atualmente, o setor tercirio responsvel pela maior parcela da atividade econmica do

    Piau, cerca de 73,5% (IBGE, 2008a). No entanto, os setores primrios e secundrios

    absorvem parcela significativa de mo-de-obra. Dentre eles, destacam-se o extrativismo

    vegetal (carnaba, babau), a agricultura (caju, manga, soja, cana-de-acar, algodo, arroz,

    mandioca), o extrativismo mineral (opala, amianto, nquel, mrmore), a pecuria extensiva e a

    indstria (qumica, cimento, txtil, bebidas, alimentos). Alm disso, outro setor em expanso

    o turismo, principalmente na regio litornea onde se encontra o Delta do Rio Parnaba e no

    sudeste onde est localizado o Parque Nacional da Serra da Capivara (PNSC).

    4 Maior rio genuinamente nordestino, possui 1432 km de extenso e sua bacia com 331.802 km cobre 280 municpios, dos

    quais aproximadamente 75% pertencem ao Piau (CODEVASF, 2006).

  • 12

    2.2 Histrico da eletrificao no Piau

    O processo de eletrificao no Piau, segundo Sobral (1982), foi um acontecimento tardio se

    comparado s outras unidades da federao onde j existiam, h dcadas, servios regulares

    de energia eltrica com razoveis padres tcnicos e uma boa organizao administrativa.

    Assim sendo, no Piau, o processo de eletrificao com uma razovel organizao e padres

    tcnicos s foi possvel a partir da dcada de 1960 com a criao da CERNE5, da CEPISA

    6 e

    da COHEBE7 a qual permitiu a construo de um sistema integrado de gerao, transmisso e

    distribuio de energia eltrica para todo o Estado. Ainda segundo Sobral (1982), a evoluo

    do processo de eletrificao do Piau pode ser compreendida em trs fases ou perodos tpicos,

    so elas:

    a) Fase I (Anterior a 1962)

    Esta fase caracterizada por compreender o perodo anterior a 1962, ano em que a CEPISA

    constituda, e foi marcada pela ausncia de aes coordenadas e planejadas na prestao de

    servios eltricos no Estado do Piau. Por conseguinte, o acesso eletricidade ainda era um

    privilgio de poucos, sendo restrito s populaes que viviam em algumas cidades que eram

    beneficiadas com sistemas isolados de gerao e distribuio. No entanto, o fornecimento era

    mantido apenas durante algumas horas no perodo noturno. O processo de gerao de

    eletricidade nestes municpios pode ser dividido em dois grupos: nas pequenas cidades, era

    realizado por meio de pequenos geradores movidos a diesel e nas mdias, por usinas

    termoeltricas que funcionavam a leo diesel ou a lenha.

    A rede de distribuio, por sua vez, era construda normalmente utilizando postes de madeira,

    sendo restrita a algumas residncias situadas na zona urbana. Alm disso, esses sistemas

    geralmente operavam em precrias condies tcnicas, a manuteno preventiva era quase

    inexistente, apresentavam baixo rendimento e pouco se investia em programas de melhorias e

    ampliao dos servios j instalados. Como consequncia, eram frequentes as interrupes e

    5 O Decreto Federal n57234 de 11 de novembro de 1965 outorga a Companhia de Eletrificao Rural do Nordeste

    (CERNE), onde lhe d concesso para distribuir energia eltrica. 6 A Lei Estadual n 1948 de 01 de dezembro de 1959 autoriza ao poder executivo para organizar a Centrais Eltricas do

    Piau (CEPISA), mas s em outubro 1962 que a CEPISA constituda como Sociedade Annima. O incio de seu

    funcionamento autorizado pelo Decreto Federal n 52944 de 26 de novembro de 1963 (SOBRAL, 1982). 7 O Decreto Federal n57016 de 11 de outubro de 1965 outorga a Companhia Hidro Eltrica da Boa Esperana (COHEBE),

    onde lhe d concesso para o Aproveitamento de Energia Hidrulica e Outras Providencias.

  • 13

    as quedas de tenso. Isso, por sua vez, inviabilizava a implantao de indstrias ou quaisquer

    outras atividades econmicas dependentes da eletricidade. Assim, o Piau manteve-se no

    marasmo econmico e social durante muitas dcadas.

    Alm disso, na grande maioria das cidades beneficiadas, a gesto desses sistemas isolados de

    gerao era de responsabilidade das prefeituras municipais, no sendo destinado nenhum

    rgo especfico para atuar diretamente nessa rea. Somente na capital Teresina e em

    Parnaba existiam empresas especficas responsveis pela gesto e manuteno dos servios

    eltricos: o IAEE e a CLFP, respectivamente.

    Criado pela lei estadual n 1.128 de 27 de maio de 1955 o Instituto de gua e Energia Eltrica

    (IAEE) era a entidade autnoma que atuava em Teresina8. J em Parnaba a administrao do

    sistema eltrico municipal ficava a cargo da Companhia Luz e Fora de Parnaba (CLFP), que

    foi criada em 1950. No entanto, apesar de operarem em melhores condies que os demais

    municpios, as deficincias destas entidades eram notrias. Com isso, ao longo dos anos com

    o aumento do consumo e a falta de uma poltica adequada de gesto e investimentos no setor,

    mesmo a populao de Teresina e Parnaba passaram a sofrer com apages e racionamentos

    eltricos (SOBRAL, 1982).

    b) Fase II (De 1962 a 1970)

    Compreendida entre a constituio da CEPISA (1962) e a entrada em operao da UHE Boa

    Esperana (1970), este perodo configura-se como uma importante fase transitria. Neste

    intervalo, o Piau deu um salto grandioso rumo modernizao e expanso do setor eltrico,

    caracterizando-se pelo incio da implantao, pelos governos estadual e federal, de um

    sistema de eletrificao integrado. Foram investidos, significativamente, em infraestrutura de

    energia eltrica em todo o Piau. Um marco fundamental neste processo, alm da constituio

    da CEPISA, foi a criao da COHEBE e da CERNE pelo governo Federal, em 1965.

    Assim sendo, a CEPISA ficou responsvel por eletrificar e distribuir energia eltrica em todo

    o Piau e a COHEBE destinada a construir a UHE de Boa Esperana, oper-la e transmitir em

    230 kV a energia gerada para os principais pontos do Piau e do Maranho. Paralelamente, a

    CERNE iniciou a implantao, operao e distribuio de energia eltrica proveniente de

    8 O primeiro sistema de iluminao pblica de Teresina datado de 1883, com 80 lampies de cobre.

  • 14

    usinas termoeltricas em mais 14 municpios piauienses9. Essas novas obras foram realizadas

    j com padres compatveis para o recebimento futuro da eletricidade proveniente da UHE de

    Boa Esperana.

    Um outro acontecimento importante que ocorreu nessa fase foi a incorporao do IAEE pela

    CEPISA em outubro de 1965. Em 1969, a CEPISA j apresentava 13.805 consumidores

    (CEPISA, 2009c).

    c) Fase III (Posterior a 1970)

    Em abril de 1970, entra em operao UHE de Boa Esperana, dando incio a uma nova era no

    setor eltrico piauiense, caracterizada como a terceira fase do processo de eletrificao do

    Piau, a qual se estende at os dias atuais.

    O incio desta fase caracteriza-se por um perodo de mais investimentos no setor eltrico,

    principalmente pela CEPISA e pela COHEBE. A tabela 2.1 mostra as principais obras de

    infraestrutura do setor eltrico piauiense no intervalo de 1970 a 1982. Observa-se que, alm

    da construo da UHE de Boa Esperana e suas subestaes (230/69/13.8 kV), a COHEBE

    tambm construiu linhas de transmisso e linhas troncos interconectando o sistema eltrico

    estadual com os Estados do Maranho e Cear, alm de levar eletricidade a algumas das

    principais cidades do Piau. Associado a isso, as obras realizadas pela CEPISA a partir das

    linhas da COHEBE permitiram que mais cidades piauienses recebessem energia eltrica de

    qualidade e em abundncia (SOBRAL, 1982).

    Em 1973, seguindo uma orientao do Governo Federal de entregar a concesso de gerao,

    transmisso e distribuio de energia eltrica a uma nica empresa em cada regio ou unidade

    da federao, a COHEBE foi incorporada ao acervo da Companhia Hidro Eltrica do So

    Francisco (CHESF) e a CERNE e CLFP CEPISA. Desta forma, a CHESF passa a ser a

    nica empresa do nordeste responsvel pela gerao e transmisso de energia eltrica,

    enquanto que a CEPISA torna-se a nica empresa do Piau responsvel pela concesso de

    distribuio de eletricidade, atuando inclusive no mbito municipal (SOBRAL, 1982).

    9 gua Branca, Amarante, Angical, Barras, Batalha, Esperantina, Jos de Freitas, Luzilndia, Miguel Alves, Matias

    Olmpio, Porto, Regenerao, So Pedro e Unio. Nas demais cidades continuavam os precrios e obsoletos servios

    eltricos municipais, quando existiam.

  • 15

    Tabela 2.1 Obras importantes de infraestrutura eltrica realizadas no perodo de 1970 a 1982

    COHEBE CEPISA

    Linha de transmisso em 230 kV e respectivas

    subestaes abaixadoras (230/69/13.8 kV):

    UHE Boa Esperana/Teresina/Piripiri

    Teresina/So Luiz (MA)

    Piripiri/Sobral (CE)/Fortaleza (CE)

    Linhas troncos em 69 kV e respectivas

    subestaes abaixadoras (69/13.8 kV):

    UHE Boa Esperana/Floriano/Oeiras/Picos

    Oeiras/Novo Oriente

    Teresina/Unio/Miguel Alves

    Teresina/Altos/Campo Maior

    Piripiri/Parnaba

    Piripiri/Esperantina/Matias Olmpio

    Linhas tronco em 69 kV e respectivas

    subestaes abaixadoras (69/34.5/13.8 kV):

    UHE Boa Esperana/Bertolnia/Eliseu Martins/Bom Jesus

    Oeiras/Simplcio Mendes/So Joo

    Picos/Mandacaru

    Linhas troncos 34.5 kV e 13.8 kV e respectivas

    subestaes abaixadoras :

    Para atender a demanda das sedes dos

    municpios, de forma a concluir o roteiro bsico

    de eletrificao do Estado

    Fonte: Elaborada com dados de Sobral (1982)

    Entre os anos de 1973 a 1978, a CEPISA desenvolveu o Plano de Eletrificao para o Piau,

    com o objetivo de interligar todos os municpios piauienses ao sistema eltrico (CEPISA,

    2009c). Com isso, no final de 1978 a eletrificao bsica do Piau estava definida, com todos

    os municpios existentes atendidos (SOBRAL, 1982). Nesta ocasio, a CEPISA contava com

    93.457 consumidores (CEPISA, 2009c).

    No entanto, apesar das mudanas substanciais sofridas pelo setor eltrico estadual neste

    perodo, o atendimento at ento era prioritrio nas cidades, ficando o campo esquecido por

    dcadas. Podemos perceber melhor essa realidade atravs de Lima (2007, p. 226), que relata

    as memrias da construo da UHE de Boa Esperana no Municpio de Guadalupe10

    .

    Ainda to delicado como o caso da populao urbana de Guadalupe, ocorreu

    tambm aos moradores nas comunidades interioranas do municpio que

    assim como os moradores da zona urbana, tambm viveram de perto todo

    esse processo em que se propagandeava o futuro melhor com a energia que

    chegava, e logo depois de perderem suas casas ainda esperaram por dcadas

    para ter acesso a esse servio importante e que, inclusive, lhe fora prometido

    como justificativa para todas as mudanas, desde as mais simples at as mais

    complexas. (SIC)

    A partir de ento, vrios outros acontecimentos somaram-se para formar a atual configurao

    eltrica estadual, dentre eles podemos destacar a construo de novas subestaes e linhas de

    transmisso pela CEPISA e CHESF, como mostra a tabela 2.2. Alm disso, outro

    acontecimento de destaque ocorre na dcada de 1990, quando o setor eltrico brasileiro passa

    por um processo de reestruturao. Assim, em 1997, a Eletrobrs (Centrais Eltricas

    10

    O lago da UHE de Boa Esperana deixou submersa a antiga cidade de Guadalupe (Territrio Tabuleiros do Alto Parnaba), sendo que uma nova cidade foi erguida em seu lugar.

  • 16

    Brasileiras S.A.) assume o controle acionrio da CEPISA, preparando-a para privatizao.

    Contudo, a Empresa no chegou a ser privatizada, sendo federalizada.

    Tabela 2.2 - Cronologia da evoluo do setor eltrico piauiense de 1982 a 2009

    1982

    Construdas duas grandes subestaes de 69/13.8 kV - 40 MVA, nos bairros Jockey e

    Marqus, em Teresina, e o anel de transmisso de 69 kV, interligados subestao da

    CHESF. At ento, so as maiores obras da CEPISA em porte fsico e volume de recursos;

    1987 Lei Estadual no 4.126 altera a razo social da CEPISA, para Companhia Energtica do

    Piau, e amplia o seu campo de ao;

    1995 Construo da primeira linha de transmisso da CEPISA em 138 kV, com 141 km de

    extenso Piripiri / Tabuleiros;

    1996

    Construda a terceira subestao de Teresina Macaba - 69/13.8 kV - 50 MVA;

    Construdas a linha de transmisso em 69 kV Picos/Itapissuma 110 km e a subestao Junco;

    1997 Eletrobrs assume controle acionrio da CEPISA, com o objetivo de preparar a Companhia

    para a privatizao;

    1998 Energizada a linha de transmisso em 230 kV So Joo do Piau/Elizeu Martins, com 172,9

    km. (CHESF);

    2000

    Entra em operao a subestao Tabuleiros Litorneos, em Parnaba a primeira em138/69 kV, com 120 MVA de potncia;

    Energizada em 138 kV a linha de transmisso - Piripiri /Tabuleiros;

    Energizada a linha de transmisso em 500 kV Teresina/Sobral (CE), com 334 km (CHESF);

    2002 Energizada a linha de transmisso em 230 kV Teresina I/Teresina II, com 25 km (CHESF);

    2005

    Energizado o sistema do bairro Satlite em 69 kV, que inclui linhas de transmisso, com 10

    km, e a Subestao 69/13,8 kV 25 MVA. A potncia desta subestao foi ampliada para 45 MVA, em 2007;

    2006

    Executado extenso programa de obras de reforo do sistema de subtransmisso, incluindo a

    construo e reforma de subestaes, linhas de transmisso em 69 kV, para ampliao da

    oferta de energia em todo o Estado e implantao do Programa Luz para Todos;

    2007 Energizada a linha de transmisso em 69 kV Elizeu Martins/Bom Jesus, com 140 km,

    proporcionando o aumento da oferta de energia no eixo Bom Jesus a Corrente;

    2008

    A ELETROBRS criou a Diretoria de Distribuio, cujo diretor assumiu concomitantemente a presidncia das seis empresas distribuidoras sob seu controle,

    dentre as quais a CEPISA, iniciando em junho de 2008 uma gesto centralizada;

    Energizada a linha de transmisso em 69 kV Bertolnia / Uruu II, com 72,4 km;

    Energizadas as novas subestaes: Rio Grande (34,5/13,8 kV), Uruui II (69/34,5 kV) e Amarante (34,5/13,8 kV);

    2009

    Entra em operao o Parque Elico Pedra do Sal (18 MW) em Parnaba no mbito do PROINFA;

    Energizada a linha de transmisso So Joo Canto do Buriti , em 69 KV, com 89 km de extenso, e a subestao de Canto do Buriti, ampliada para operar em 69/34,5 kV,

    com 12,5 MVA de potncia.

    Fonte: Dados obtidos a partir de CEPISA (2009c), CHESF (2009) e CEPISA (2008b)

    Em maio de 2008, a Eletrobrs, que at ento no possua um setor especfico de distribuio,

    cria a Diretoria de Distribuio com o objetivo de unificar a administrao, reduzir custos

    operacionais e integrar o planejamento estratgico das empresas de distribuio do Sistema

  • 17

    Eletrobrs (Cepisa, Ceal, Amazonas Energia11

    , Boa Vista Energia, Eletroacre e Ceron),

    possibilitando ganhos de escala e otimizao de esforos (ELETROBRAS, 2009b).

    2.3 A atual situao energtica do Estado do Piau

    O Piau, assim como a maioria dos demais Estados da federao, no possui um balano

    energtico estadual, nem uma secretaria especfica para esse setor. Alm disso, praticamente

    inexistem estudos acadmicos sobre este tema. Por conseguinte, as informaes referentes

    questo energtica do Piau esto pulverizadas nos diversos rgos governamentais e no

    governamentais. Tendo em vista este cenrio e os objetivos propostos neste trabalho, uma

    breve anlise do setor energtico piauiense ser apresentada, a seguir:

    a) Setor eltrico

    O Piau apresenta, assim como o restante do Brasil, uma base hidreltrica na gerao de

    eletricidade, sendo complementada com a gerao termoeltrica e elica. Assim sendo, nas

    guas do rio Parnaba, desde 1970, o Piau gera energia hidreltrica atravs da UHE Boa

    Esperana com 237 MW de potncia instalada, no entanto, esta energia gerada no atende

    totalmente a demanda local (CEPISA, 2009a). Atualmente, todo o sistema de transmisso e

    distribuio de energia eltrica piauiense faz parte do Sistema Interligado Nacional (SIN),

    sendo gerenciado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS).

    Alm da gerao eltrica pela UHE de Boa Esperana, que est localizada no municpio de

    Guadalupe (207 km da capital), o Piau conta tambm com quatro usinas termoeltricas de

    potncia instalada individual de 13,12 MW, localizadas respectivamente nos municpios de

    Altos, Nazria, Campo Maior e Unio (ENGUIA, 2009). No entanto, estas s operam nas

    situaes de emergncia do sistema, definidas pelo ONS. Ainda em relao gerao

    termoeltrica no Piau, o aeroporto de Teresina conta com um sistema de gerao emergencial

    por termeltrica com potncia instalada de 0,2 MW, sendo administrada pela Infraero

    (ANALISE, 2009).

    A matriz energtica piauiense conta tambm com a recente instalao de um parque elico da

    empresa Tractebel Energia, com potncia instalada de 18 MW e investimento de R$ 102,8

    11

    Empresa fruto da incorporao da CEAM (Companhia Energtica do Amazonas) pela Manaus Energia.

  • 18

    milhes12

    , que passou a funcionar em fevereiro de 2009 no mbito do PROINFA. Esse parque

    elico conta com 20 aerogeradores e est distribudo em 3,5 km na Praia Pedra do Sal, no

    municpio de Parnaba (Territrio Plancie Litornea) (ENERGIA HOJE, 2009).

    A atual configurao do setor eltrico piauiense reflexo dos acontecimentos histricos

    descritos anteriormente. Desse modo, a explorao do servio pblico de distribuio de

    energia eltrica no Estado do Piau est a cargo da CEPISA, que integra o grupo de empresas

    federais distribuidoras de energia eltrica da Eletrobrs (CEPISA, 2009c). J o servio de

    transmisso em alta tenso (230 e 500 kV) fica a cargo da CHESF.

    A CEPISA, atravs do contrato de concesso n 04/2001 firmado com a ANEEL e com

    vigncia at 2015, a empresa concessionria de energia eltrica que atua em todo o territrio

    piauiense. Por meio de linhas e subestaes, nas tenses de 138/69/34,5/13,8 kV a empresa

    atende todos os municpios piauienses e possui 848.763 consumidores. Destes, mais de 85%

    so clientes residenciais. O consumo tambm est concentrado na classe residencial, com

    42% do total. Isto, por sua vez, reflete o atual cenrio da economia piauiense, focada no setor

    tercirio, com um parque industrial no diversificado e sem a presena de empresas

    eletrointensivas (CEPISA, 2009c).

    Alm dos aspectos j mencionados da empresa concessionria de energia eltrica do Piau,

    outros dois em particular chamam a ateno. O primeiro refere-se aos altos ndices de perdas,

    que totalizam em 2008 36,1% de toda a energia eltrica requerida para o mercado

    consumidor, sendo 22 % por perdas no tcnicas e 14,1% por perdas tcnicas (CEPISA,

    2009c). O segundo a baixa qualidade dos servios prestados pela distribuidora medidos pelo

    ndice ANEEL de Satisfao do Consumidor - IASC13

    . Neste cenrio, a CEPISA apresenta o

    segundo menor IASC do nordeste e um dos 10 menores do Brasil. No entanto, obteve o 5

    maior aumento percentual (13,06 %) brasileiro do ndice de 2007 para 2008 (ANEEL, 2009b).

    A figura 2.2 representa a atual configurao do sistema eltrico no Piau, ilustrando as

    interconexes da rede de distribuio estadual com suas respectivas subestaes, bem como

    suas linhas de transmisso e conexes com outros Estados.

    12

    1 U$ = R$ 2,326 (fevereiro de 2009, segundo o Banco Central do Brasil). 13

    IASC uma pesquisa realizada pela ANEEL todo ano para avaliar o grau de satisfao dos consumidores residenciais

    com os servios prestados pelas 64 distribuidoras de energia eltrica do Brasil (ANEEL, 2009b).

  • 19

    Figura 2.2 - Configurao do sistema eltrico do Estado do Piau

    Fonte: CEPISA, 2009e

  • 20

    Um aspecto que pode ser observado nesta configurao a lacuna existente na poro centro-

    oeste, onde uma grande regio dos cerrados piauienses no est contemplada com subestaes

    e redes de distribuio, isto por sua vez poder dificultar o processo de universalizao do

    atendimento e a expanso do agronegcio.

    De forma a consolidar as informaes supracitadas e ilustrar um pouco mais a situao

    energtica estadual, na tabela 2.3, encontram-se dados relacionadas ao setor eltrico

    piauiense. Um dado relevante encontrado nesta tabela que o Piau apresenta-se como

    importador de energia eltrica, uma vez que a sua gerao est bem abaixo do seu consumo.

    Tabela 2.3 - Nmeros do setor eltrico piauiense

    Capacidade Instalada de Gerao Eltrica (Hidreltrica) 237 MW

    Capacidade Instalada de Gerao Termoeltrica (2007) 52 MW

    Produo de energia eltrica (2007) 575 GWh

    Consumo total de eletricidade (2008), excludo consumo prprio da CEPISA 1.828 GWh

    Consumo residencial de eletricidade (2008) 760 GWh

    Consumo industrial de eletricidade (2008) 236 GWh

    Consumo comercial de eletricidade (2008) 370 GWh

    Consumo rural de eletricidade (2008) 82 GWh

    Consumo de eletricidade, outros* (2008) 380 GWh

    O consumo mdio mensal, por consumidor residencial (2008) 84,3 kWh

    Nmero de consumidores da CEPISA (2008) 848.763

    Energia eltrica requerida para o mercado consumidor 3.045 GWh

    Perdas globais (tcnicas e no tcnicas) 1.101 GWh

    IASC 2008 da CEPISA 54,09

    Rede de distribuio da CEPISA (2008) 41.375,70 km

    Rede de transmisso da CHESF em 230 e 500 kV (2009) 1.579,8 km

    Subestaes da CEPISA (2008) 67 unidades

    Subestaes da CHESF (2008) 09 unidades

    * Poder pblico, iluminao pblica, servio pblico;

    ** 3110 GWh pela CCEAR e 31 GWh pelo PROINFA

    Fonte: Dados obtidos a partir de BEN (2008), CHESF (2009), CEPISA (2009c) e ANALISE (2009)

    Quanto excluso eltrica, segundo dados do Ministrio de Minas e Energia (MME) de 2000,

    o Piau apresenta cerca de 60% da populao rural desprovida de fornecimento de energia

    eltrica. Isso corresponde a quase 150.000 residncias, ocupando, assim, juntamente com o

    Maranho e os Estados da regio Norte os menores ndices percentuais de eletrificao rural

    do Brasil (BRASIL, 2006). Assim, dos 221 municpios que o Piau possua no ano de 2000,

    90 deles apresentavam ndices de atendimento eltrico inferior a 52,56% da populao

  • 21

    (PNUD, 2000). H casos, como o do municpio de Dom Inocncio, no qual esse ndice de

    atendimento no ultrapassa 15% da populao municipal (CEPRO, 2005).

    b) Petrleo, gs natural e biocombustveis

    O Piau no possui blocos destinados explorao, produo ou refino de petrleo e de gs

    natural, no entanto, apresenta uma planta de produo de biodiesel e outra de etanol. A tabela

    2.4 apresenta os principais dados sobre o consumo, produo e comercializao de derivados

    de petrleo, gs natural e biocombustveis.

    Tabela 2.4 - Nmeros sobre os derivados de petrleo, etanol e biodiesel no Piau

    Bases de distribuio de combustveis lquidos derivados de

    petrleo e de lcool automotivo

    01 unidades

    Distribuio de gs natural (2007) GASPISA 2.892 10 m

    Consumo Residencial de GLP (2007) 112 10 m

    Produo de lcool etlico anidro e hidratado (2007)* 36,17 10 m

    Capacidade nominal de produo de biodiesel B100 81.000 m

    Produo de biodiesel B100 (2007) 30.473,6 m

    Quantidade de postos revendedores de combustveis

    automotivos (2007)

    581 unidades

    Vendas de gasolina C, pelas distribuidoras (2007) 213 10 m

    Vendas de leo diesel, pelas distribuidoras (2007) 335 10 m

    Vendas de leo combustvel, pelas distribuidoras (2007) 1.884 m

    Vendas de QAV, pelas distribuidoras (2007) 13.952 m

    Vendas de querosene iluminante, pelas distribuidoras (2007) 403 m

    Vendas de gasolina de aviao, pelas distribuidoras (2007) 673 m

    Vendas de lcool etlico hidratado, pelas distribuidoras

    (2007)**

    19,44 10 m

    * Em 2006 a produo de etanol no Piau obteve seu maior ndice (65 10 m)

    ** Segundo menor do Nordeste

    Fonte: Dados obtidos a partir de BEN (2008), ANP (2008) e ANALISE (2009)

    Um aspecto interessante e observvel na tabela 2.4 refere-se quantidade de bases de

    distribuio de combustveis lquidos e derivados de petrleo e de lcool automotivo: o Piau

    apresenta-se com apenas uma. Se o compararmos a outros Estados da federao, somente o

    Amap apresenta a mesma quantidade. No Nordeste das 75 bases de distribuio, 10 esto no

    Maranho e 12 no Cear (ANP, 2008). Com isso, o abastecimento de derivados de petrleo no

    Piau feito apenas na capital Teresina atravs de linha frrea, que interliga o Piau ao

    Maranho e ao Cear. Assim, quando ocorre algum problema que inviabiliza esse transporte

  • 22

    ferrovirio, como o excesso de chuvas que acometeu as regies Norte/Nordeste em 2009, o

    Piau sofre com desabastecimento de combustveis lquidos.

    Quanto produo de biocombustveis, o Piau apresenta uma planta de biodiesel e uma de

    etanol. No municpio de Floriano, est localizada a planta da Brasil Ecodiesel, que tem

    capacidade nominal de produo anual de 81.000 m e obteve uma produo, em 2007, de

    30.473,6 m de biodiesel B100 (ANP, 2008). No municpio de Unio, na grande Teresina,

    encontra-se a empresa Comvap Acar e lcool LTDA, que pertence ao pernambucano

    Grupo Olho D' gua. Com uma produo, em 2007, de mais de 37 mil m de lcool etlico

    anidro e hidratado a empresa abastece o mercado local e regional (BEN, 2008).

    No campo da pesquisa e desenvolvimento de biocombustveis, a UFPI possui uma unidade

    com capacidade para processar 2 mil litros por dia, utilizando a rota metlica, que j foi

    autorizada a funcionar pela ANP. Segundo Lima14

    (2004 apud MENDES, 2005) este

    empreendimento contou com o apoio da CEPISA, CODEVASF e Governo do Estado do

    Piau.

    2.4 A realidade energtica no meio rural piauiense no eletrificado

    Tendo em vista os objetivos deste trabalho, faz-se necessrio conhecer melhor os aspectos

    energticos no meio rural piauiense. Para isso, importante adentrar em um universo

    totalmente diferente dos centros urbanos, no qual a populao vive de forma dispersa em

    pequenas localidades/povoados sobrevivendo principalmente da subsistncia do campo. A

    falta de energia eltrica outro aspecto que revela uma realidade muito diferente das reas

    urbanas.

    So muitas as comunidades piauienses que no dispem ainda de servio regular de

    fornecimento de energia eltrica. Como alternativa, os sertanejos utilizam em suas residncias

    equipamentos que necessitam de outras fontes energticas, como ilustra a figura 2.3. De

    forma complementar, a tabela 2.5 apresenta uma relao dos principais utenslios e

    energticos utilizados no meio rural piauiense no eletrificado.

    14

    LIMA, P. C. R. (2004) Biodiesel e Incluso Social. Ed. Cmara dos Deputados. Braslia, DF.

  • 23

    Figura 2.3 - Exemplos de utenslios utilizados em regies no eletrificadas do Estado do Piau: a) rdio pilha;

    b) lamparina a querosene; c) ferro de passar roupa a carvo vegetal.

    [Fotos: Albemerc Moraes, jan. 2009]

    Tabela 2.5 - Principais equipamentos e energticos utilizados no meio rural piauiense no eletrificado

    Servios Equipamentos Energticos

    Iluminao Lamparinas, candeeiros, velas, lanternas,

    lampies, fachos, dentre outros.

    leo diesel, querosene, GLP,

    lenha, pilhas, lcool, etc.

    Preparo de alimentos Foges, fornos, pilo, liquidificadores e

    moinhos manuais, etc.

    Lenha, carvo vegetal, GLP,

    trao humana.

    Bombeamento de gua Bombas (manuais, mecnicas ou eltricas) Trao humana (manual), elica,

    leo diesel e gasolina.

    Conservao de alimentos Geladeiras (GLP) e outros. GLP, Radiao solar, etc.

    Passar roupa Ferro de passar roupa Carvo vegetal

    Comunicao e diverso Rdios, TVs e outros. Pilhas, bateria automotiva, etc.

    Transporte e realizao de

    tarefas agropecurias Veculos e equipamentos agrcolas.

    Trao humana ou animal,

    derivados do petrleo, lcool, etc

    Fonte: Elaborao prpria

    Essa realidade pode ser melhor compreendida ao se visitar algumas comunidades rurais do

    serto piauiense, onde, em geral, o consumo de lenha para o preparo de alimentos, o uso de

    derivados de petrleo para iluminao e pilhas para acionar rdios so as principais fontes

    energticas locais.

    Neste cenrio, a combusto da lenha para a coco de alimentos , ainda hoje, uma prtica

    comum, onde esse insumo muitas vezes a principal fonte energtica local, sendo encontrada

    disponvel na natureza para coleta manual e sem nus financeiro para o usurio. Para isso,

    utiliza-se o fogo a lenha como alternativa tecnolgica e energtica popular para o preparo de

    alimentos. A figura 2.4 apresenta modelos de foges a lenhas tradicionais bastantes comuns

    no meio rural piauiense.

    Contudo, apesar da grande popularidade deste utenslio energtico domstico no serto

    piauiense, o grande problema quanto a seu uso a emisso de fumaa e particulados para o

    ambiente interno, resultante da combusto incompleta da madeira, podendo gerar, a longo

    prazo, srios problemas de sade aos seus usurios. Esta atmosfera, a qual esses homens,

    mulheres e crianas do campo esto sujeitos no interior de suas residncias, pode ser

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    comparada poluio de grandes centros urbanos e ao caso de fumar vrios maos de cigarro

    por dia (BORGES, 1994). Alm disso, por apresentarem baixa eficincia energtica,

    provocam um maior consumo de madeira, que pode levar a uma maior devastao da

    vegetao nativa e conseqentemente provocar eroses no solo, favorecendo o processo de

    desertificao, problema j encontrado no sul do Piau, em particular na regio de Gilbus.

    Figura 2.4 Exemplos de foges a lenha: a) Fogo a lenha tradicional de tijolos e chapa de metal; b) fogo de trs pedra ou trempe e c) fogo a lenha montado sobre uma armao de madeira (jirau).

    [Foto: Alberto Moraes, maio 2008]

    Alm disso, em localidades no eletrificadas, muitas vezes, a iluminao noturna residencial

    feita por meio de lamparinas ou candeeiro a querosene, que alm de no proporcionar uma

    iluminao adequada emite gases poluentes para o ambiente. Essa iluminao precria, em

    muitos casos, inviabiliza o processo de alfabetizao de adultos, que em geral possui maior

    sucesso quando realizado no perodo noturno. Adicionalmente, sem a presena de um sistema

    de refrigerao adequado, no h possibilidades de estocar vacinas nos postos de sade locais

    (quando existem).

    Nas palavras de Graciliano Ramos e dos piauienses Alvina Gameiro e Fontes Ibiapina esta

    realidade, que aparentemente pouco mudou, ficou imortalizada:

    [...] De luz havia, na fazenda, o fogo entre as pedras da cozinha e o

    candeeiro de querosene pendurado pela asa numa vara que saa da taipa; de

    canto, o bendito de sinh Vitria e o aboio de Fabiano [...] (p. 74. RAMOS,

    2002)

    [...] Sem outra qualquer formalidade, espois dengolir o bocado, armei meu fiango na cozinha, duma banda da trempe do fogo, no cho, quera o lume ali reinante [...] o bando de lamparinas arregalando olho vermelho em tudo

    quera morada [...] (p. 106 e 115, GAMEIRO, 1980)

    [...] J tudo turvo e nada da peste dar luz. Num virar de cabea foi que

    avistou as da cidade. Todas acesas. S aquela da beira do rio apagada.

    Lmpada queimada talvez. A Alonso sentiu, pra bem dizer talvez viu, que

    em sua casa nunca havia de um dia haver lmpada eltrica [...] (p. 50,

    IBIAPINA, 1985)

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    Como forma de contornar a falta de energia eltrica, comum observarmos tambm na zona

    rural piauiense o uso de outros equipamentos mais aprimorados que no necessitam de

    energia eltrica convencional para o seu funcionamento. Dentre eles, podemos destacar: a

    geladeira a gs (figura 2.5b); o ferro de passar roupa a carvo vegetal (figura 2.3c); sistemas

    mais aprimorados de iluminao (lanternas, lampies, aladin, petromax); liquidificadores a

    manivela (figura 2.5c); geradores a diesel e sistemas manuais para bombeamento de gua;

    dentre outros. Deve-se ressaltar, porm, que muitos destes aparelhos ainda so privilgios de

    poucos.

    Adicionalmente, outras atividades so exercidas pelo sertanejo como alternativas interessantes

    para contornar o problema do no acesso a energia eltrica. Uma delas a carne de sol, trata-

    se de um mtodo antigo de conservar alimentos de origem animal atravs da desidratao.

    Assim, o alimento salgado e exposto ao sol (ou a sombra) para desidratar, de forma a

    conserv-lo por mais tempo. Outra cultura bastante comum no Piau, refere-se ao uso de

    reservatrios de argila (potes), figura 2.5a, nos quais a gua conservada para o consumo

    humano. Segundo os sertanejos, a gua do pote mais fria e gostosa.

    Figura 2.5 Exemplos de utenslios utilizados em regies no eletrificadas do Estado do Piau: a) Reservatrios de argila (potes) para conservar gua; b) Geladeira gs e c) liquidificador a manivela.

    Contudo, um dos maiores problemas que o sertanejo est sujeito o no acesso gua

    potvel, que em geral est associado diretamente com a disponibilidade de energia eltrica.

    Desta forma, comum no semi-rido piauiense, principalmente nos perodos de estiagem, ver

    mulheres percorrerem vrios quilmetros com um balde na cabea em busca de gua para o

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    consumo humano ou o uso da trao animal conduzida por adultos e/ou crianas para o

    mesmo fim. A figura 2.6, ilustra bem essa realidade, que mostra moradores do sul do Piau

    padecendo com a seca que atinge a regio.

    Figura 2.6 Cenas comuns no semi-rido piauiens