disseram que eu voltei americanizada análise

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DA PRODUÇÃO E EFEITOS DE SENTIDOS EM “DISSERAM QUE EU VOLTEI AMERICANIZADAFelipe de Souza Costa 1 1. INTRODUÇÃO A presente análise traz como corpus uma canção escrita por Luiz Peixoto e Vicente Paiva na década de 40, a qual, mesmo nos dias atuais é interpretada por diversos artistas. Entretanto, neste trabalho, nos deteremos em analisar a interpretação, gravada no mesmo ano, de Maria do Carmo Miranda da Cunha, popularmente conhecida como Carmen Miranda. O objetivo geral é fazer um levantamento dos recursos linguístico-discursivos utilizados pelos enunciadores, a fim de que se possa analisar criticamente, com fundamentações teóricas da análise do discurso de linha francesa, as vontades de verdade existentes no texto supracitado e, ao mesmo tempo, as produções de sentidos que neles subexistem. Ao propormos uma apreciação fundamentada na análise do discurso de linha francesa, não podemos deixar de observar alguns elementos que são essenciais para a sua concretização. Iniciaremos, portanto, tomando a canção proposta como expressão de linguagem. Sabemos, porém, que ela, a linguagem, pode ser estudada de diversas maneiras, poderíamos concentrar nossa atenção sobre a língua enquanto sistema de signos, como sistema de regras formais ou, ainda, como normas que estabelecem padrões de bem dizer. E é justamente pensando que há diferentes meios de se debruçar em um estudo linguageiro, que propusemos, nesta análise, trabalhar o discurso, o qual, de certa forma, envolve estudos como os que foram citados anteriormente, entretanto nossa concentração se dará em estudar a linguagem funcionando na produção de sentidos. (ORLANDI, 2009). 2. CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO E IDEOLÓGICO O contexto sócio-histórico é um elemento que nos oferece ferramentas para desvendarmos de que forma os sentidos produzidos em um enunciado podem ser evidenciados de maneira mais clara. Falaremos, neste momento, das condições de produção que envolveram a canção “Eu não voltei americanizada”. O tempo 1 Licenciado em Letras e especialista em Estudos da Linguagem pela Universidade de Mogi das Cruzes.

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Page 1: Disseram que eu voltei americanizada análise

DA PRODUÇÃO E EFEITOS DE SENTIDOS EM “DISSERAM QUE EU VOLTEI

AMERICANIZADA”

Felipe de Souza Costa1

1. INTRODUÇÃO

A presente análise traz como corpus uma canção escrita por Luiz Peixoto e

Vicente Paiva na década de 40, a qual, mesmo nos dias atuais é interpretada por

diversos artistas. Entretanto, neste trabalho, nos deteremos em analisar a

interpretação, gravada no mesmo ano, de Maria do Carmo Miranda da Cunha,

popularmente conhecida como Carmen Miranda. O objetivo geral é fazer um

levantamento dos recursos linguístico-discursivos utilizados pelos enunciadores, a

fim de que se possa analisar criticamente, com fundamentações teóricas da análise

do discurso de linha francesa, as vontades de verdade existentes no texto

supracitado e, ao mesmo tempo, as produções de sentidos que neles subexistem.

Ao propormos uma apreciação fundamentada na análise do discurso de linha

francesa, não podemos deixar de observar alguns elementos que são essenciais

para a sua concretização. Iniciaremos, portanto, tomando a canção proposta como

expressão de linguagem. Sabemos, porém, que ela, a linguagem, pode ser

estudada de diversas maneiras, poderíamos concentrar nossa atenção sobre a

língua enquanto sistema de signos, como sistema de regras formais ou, ainda, como

normas que estabelecem padrões de bem dizer. E é justamente pensando que há

diferentes meios de se debruçar em um estudo linguageiro, que propusemos, nesta

análise, trabalhar o discurso, o qual, de certa forma, envolve estudos como os que

foram citados anteriormente, entretanto nossa concentração se dará em estudar a

linguagem funcionando na produção de sentidos. (ORLANDI, 2009).

2. CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO E IDEOLÓGICO

O contexto sócio-histórico é um elemento que nos oferece ferramentas para

desvendarmos de que forma os sentidos produzidos em um enunciado podem ser

evidenciados de maneira mais clara. Falaremos, neste momento, das condições de

produção que envolveram a canção “Eu não voltei americanizada”. O tempo

1 Licenciado em Letras e especialista em Estudos da Linguagem pela Universidade de Mogi das Cruzes.

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histórico é, para a análise do discurso, como uma chave que abre diversos caminhos

a serem trilhados.

O corpus, proposto neste trabalho, foi escrito no ano de 1940. Nesta década o

mundo vivenciou um período extremamente turbulento: a Segunda Guerra Mundial,

da qual o Brasil não esteve fora. Em 31 de agosto de 1942, o Brasil declarou guerra

à Alemanha e à Itália, encorajado pelos Estados Unidos a unir forças contra o que

conhecemos hoje como Nazismo e Facismo. Aqui, a hostilidade contra os alemães e

italianos refletiu-se com intensidade no cotidiano dos imigrantes desses países. Um

sentimento nacionalista xenofóbico tomou conta da população de tal modo que os

estrangeiros alemães e italianos foram obrigados a obter salvo-conduto para circular

e manter-se no país. Em 1945, com a declaração de Guerra ao Japão, as mesmas

condições discriminatórias foram estendidas à colônia japonesa.

E atracados nesse contexto ideológico de nacionalismo, alguns fatos

inusitados ajudam a ilustrar esse sentimento ufanista desenfreado, eventos como a

mudança de nome dos times de futebol de São Paulo e Minas Gerais, ambos

nominados como Palestra Itália, para Palmeiras e Cruzeiro, respectivamente.

Nesse ínterim, as relações culturais com os Estados Unidos estavam cada

vez maiores e mais intensas. Recebemos, no Brasil, a visita de Walt Disney e o

malandro Zé Carioca uniu-se a Panchito e Pato Donald, todos personagens

estadunidenses, que formavam, na imaginação popular, uma aliança amigável na

América, dado que cada personagem representava estereotipadamente alguns

países do Continente Americano. Famosos cineastas como Orson Welles e John

Ford vieram à terra do pau-brasil para gravarem seus filmes.

Concomitantemente a todos esses fatos históricos, que revelam a sociedade

da época da enunciação do nosso corpus, Carmen Miranda brilhava nos Estados

Unidos e, sob influência da cultura estadunidense, ao retornar ao país que acolhera

como seu, uma vez que não era brasileira nata, mas portuguesa, canta em um de

seus shows uma música em inglês. Na ocasião, foi vaiada e deixou o palco

chorando. Pouco tempo depois, grava um samba, cuja autoria já foi citada, em

resposta aos críticos da época. A canção é “especialmente” para esse fim. O título

“Eu não voltei americanizada” é uma resposta contundente e, ao mesmo tempo, um

“prato cheio” para qualquer analista do discurso.

Page 3: Disseram que eu voltei americanizada análise

3. EU-EMPÍRICO X EU-ENUNCIATIVO

Após explanarmos acerca do contexto sócio-histórico e ideológico da época,

elementos importantes nesta análise, prosseguiremos falando a respeito de uma

dicotomia que facilmente confunde a muitas pessoas e que, na canção, é fator

determinante na produção de sentidos: o eu-empírico e o eu-enunciativo.

Sabemos bem que uma canção é composta essencialmente de letra e

música. À margem desse casamento artístico existe, também, o intérprete que

impõe à canção certa pessoalidade, pensando na sua materialização fonética. É

costumeiro que grande parte da população atribua à pessoa do intérprete a autoria

de uma canção, entretanto gostaríamos de, neste momento, realizarmos algumas

reflexões de ordem linguageira, que nos ajudarão a remontar esse quadro

enunciativo.

Como bem sabemos, o corpus da nossa análise foi, praticamente,

encomendado para um fim específico. Podemos dizer que, a priori, temos três “eu-

empíricos”, que são formados pelo trio Luiz Peixoto, Vicente Paiva e Carmen

Miranda, dos quais apenas a intérprete coaduna-se e confunde-se com o “eu-

enunciativo”. O “EU” que enuncia no discurso não é, necessariamente, o empírico,

ou seja, aquele que se baseia apenas na experiência palpável da materialidade, pois

segundo Orlandi (2009):

“Assim não são os sujeitos físicos nem os seus lugares empíricos como tal, isto é,

como estão inscritos na sociedade, e que poderiam ser sociologicamente descritos,

que funcionam no discurso, mas suas imagens que resultam de projeções. São essas

projeções que permitem passar das situações empíricas – os lugares dos sujeitos –

para as posições dos sujeitos no discurso.”

No caso da canção “Eu não voltei americanizada”, o próprio título nos ajuda a

refutar a possibilidade de os letristas serem parte integrante da enunciação e, ao

mesmo tempo, coloca numa posição de transição a intérprete, já que ela pode

movimentar-se entre o empirismo e a projeção (eu-enunciativo). O gênero do

enunciador reforça a ideia apresentada. Sabemos que, no plano do discurso, a

questão genérica não é fator determinante, mas no caso específico do nosso corpus,

conseguimos inferir que tal afirmação pode ser validada se confrontarmos as

Page 4: Disseram que eu voltei americanizada análise

posições dos “eus” evidenciados no texto à condição de produção sócio-histórica e

ideológica que anteveio à concretização da canção.

3.1. O SUJEITO DA/NA CANÇÃO E FORMAÇÃO DISCURSIVA

Ao pensarmos nesse EU como parte central de uma enunciação, não

podemos deixar de considerar que esse eu-enunciativo, no plano discursivo é, sem

dúvida, o que conhecemos como sujeito. É no discurso que sujeitos e sentidos se

constituem como tais. Para a análise do discurso, o sujeito é essencialmente

histórico, marcado pelo espaço e pelo tempo:

“Dessa forma, como ser projetado num e espaço e num tempo e orientado

socialmente, o sujeito situa o seu discurso em relação aos discursos do outro. Outro

que envolve não só o seu destinatário para quem planeja, ajusta a sua fala (nível

intradiscursivo), mas que também envolve outros discursos historicamente já

constituídos e que emergem na sua fala (nível interdiscursivo). Nesse sentido,

questiona-se aquela concepção do sujeito enquanto ser único, central, origem e fonte

do sentido, formulado inicialmente por Benveniste, porque na sua fala outras vozes

também aparecem.” (BRANDÃO, 1996)

A ideologia, presente no cenário sócio-histórico, ajuda-nos a remontar um

quadro extremamente nacionalista e a projeção de imagem que o sujeito enunciativo

do nosso corpus tenta manter é de que não está americanizada, que suas raízes,

nesse caso brasileiras, ainda estão mais vivas do que nunca. Há em todo o texto

uma tentativa de refutar o que é americano e supervalorizar o que é nacional: “Eu

digo mesmo „Eu te amo‟ e nunca „I love you‟/ Enquanto houver Brasil, na hora das

comidas / Eu sou do camarão, ensopadinho com chuchu.”

Tais versos nos permitem fazer uma analogia às ideias de Althusser, no que

diz respeito à noção de que “a ideologia interpela os indivíduos como sujeitos”, as

quais foram divulgadas por Helena Brandão (1996), em seu livro Introdução à

Análise do Discurso:

“O reconhecimento se dá no momento em que o sujeito se insere, a si mesmo e a

suas ações, em práticas reguladas pelos aparelhos ideológicos. Como categoria

constitutiva da ideologia, será somente através do sujeito e no sujeito que a

existência da ideologia será possível.”

Page 5: Disseram que eu voltei americanizada análise

O EU, marcado linguisticamente nos versos supracitados, revela um sujeito

discursivo que tem no seu bojo um interesse grande em partilhar da mesma

ideologia em que estava afundada a nação. Resume-se a uma explicitação de

demonstração da vontade de verdade, como bem explicita Foucault em “A ordem do

discurso”, imanente do povo em querer reconhecer numa divulgadora dos ideais

brasileiros aquilo que era amplamente propagado.

Orlandi (2009) ao falar a respeito do sujeito locutor e interlocutor - a presença

dos dois é que constitui o sujeito como tal - oferece-nos algumas questões que

auxiliam na ilustração de um eu-enunciativo em busca da projeção de sua imagem

num discurso:

Posição do sujeito locutor:

Posição do sujeito interlocutor:

Objeto do discurso:

Quem sou eu para lhe

falar assim?

“Eu nasci com o samba

e vivo no sereno”

Quem é ele para me falar

assim, ou para que eu lhe fale

assim?

Intérprete ou artista considerada

brasileira que cantou uma canção

em inglês, depois de passar um

tempo nos Estados Unidos.

Do que estou lhe

falando, do que ele me

fala?

“Disseram que eu voltei

americanizada”

Page 6: Disseram que eu voltei americanizada análise

A tríade, representada nas ilustrações acima por duas flechas que estão uma de

encontro a outra, sugere a ideia de que o discurso é um lugar propício para o

conflito. E a partir dele, aquilo que conhecemos como Formação Discursiva começa

a ganhar materialidade nesta análise. Entendemos por Formação Discursiva aquilo

que pode e deve ser dito num determinado contexto. O sujeito da canção só pode

enunciar suas defesas em torno da acusação do outro “disseram que”, se estiver

inserido no contexto e é, justamente por isso, que podemos ligar o sujeito empírico

ao discursivo sem maiores problemas.

4. HETEROGENEIDADE DISCURSIVA, DIALOGISMO E

INTERTEXTUALIDADE

Quando nos referimos ao discurso como efeito de sentido entre locutores

posicionados em diferentes perspectivas (BRANDÃO, 1996), não podemos vê-lo

como algo estático e homogêneo. O discurso é heterogêneo e dialógico por

natureza.

A canção principia com um verso escrito num discurso indireto: “Disseram que

eu voltei americanizada”. Todas as demais conjecturas apresentadas ao longo da

letra estão norteadas a partir desse verso. Dele podemos extrair duas condições que

instauram o discurso como tal. A primeira diz respeito à heterogeneidade discursiva,

o que, de certa forma, acusa a presença do outro (AUTHIER-REVUZ, apud,

BRANDÃO, 1996). O discurso relatado é um indício real dessa presença empírica e,

ao mesmo tempo, enunciativa do outro na canção, pois é por motivações exteriores,

ou seja, do outro que o eu-enunciativo se constitui no nosso corpus. Segundo

Brandão (1996): “no discurso indireto, o locutor, colocando-se enquanto tradutor, usa

de suas próprias palavras para remeter a uma outra fonte do „sentido‟.

A segunda condição que confere ao discurso o dialogismo, na nossa análise,

é que para Bakhtin a ideia de dialogização do discurso possui uma linha tênue

bifurcada, sendo que em uma via tem-se a presença de outros discursos e na

segunda uma ideia voltada ao outro da interlocução. No nosso caso,

especificamente com o primeiro verso, temos as duas possibilidades: a voz do outro

e a motivações claras para a enunciação oriundas de declaração desse outro. Dessa

Page 7: Disseram que eu voltei americanizada análise

forma, podemos pensar em um dialogismo duplo, que é, ao mesmo tempo,

interdependente.

É inerente ao plano da heterogeneidade discursiva o conceito de

intertextualidade, em que o discurso está pautado entre textos, podendo sua relação

se dá no mesmo campo discursivo (interior) ou exterior a ele. Temos um exemplo da

segunda relação que se coaduna ao nosso corpus. No mesmo ano de lançamento

da canção “Eu não voltei americanizada”, houve a divulgação uma outra intitulada

“Voltei pro Morro”, a qual foi escrita pelos mesmos letristas e interpretada, também,

por Carmen Miranda. O tópico discursivo reside, basicamente, na mesma tônica:

“Voltei pro morro, onde está o meu cachorro / Meu cachorro vira-lata, minha cuíca e

meu ganzá? / Voltei pro morro, onde está o meu moreno? / Chamem ele pro sereno,

/ porque se eu não me esbaldar eu morro! / Voltei pro morro, onde estão minhas

chinelas? / Eu quero sambar com elas, / vendo as luzes da cidade! Voltei, voltei,

voltei! / Ai! Se eu não mato esta saudade eu morro / Voltei pro morro, voltei...!”

Podemos perceber que a ligação entre os dois texto é extremamente

pungente e neles a vontade de verdade que se pretende legitimar é a mesma: eu

não esqueci minhas raízes, eu também sou nacionalista como toda população.

5. (IN) CONCLUSÃO

Este trabalho detém-se em estudar os limites da interpretação, utilizando

como base a materialidade linguística presente na canção “Eu não voltei

americanizada”. Os efeitos de sentidos depreendidos do seu contexto histórico e

ideológico foram extremamente úberes para um deslizar teórico e, ao mesmo tempo,

constatativo do corpus proposto. Sob a égide de alguns preceitos que circundam

filiações da análise do discurso de linha francesa, procuramos desconstruir

determinados conceitos enviesados em nossa sociedade, a fim de mostrar a

maneira como a língua e a linguagem estão intimamente ligadas à historicidade e à

ideologia e de como o discurso pode ser construído num contínuo e com objetivos

preestabelecidos.

Além disso, serve para mostrar como a propagação de alguns ideais, como o

nacionalista da época, pode se tornar prejudicial, no que diz respeito à inflexibilidade

Page 8: Disseram que eu voltei americanizada análise

com o outro e, consequentemente, com sua cultura. Pudemos observar que a

objetividade da língua é um plano inexistente e que o sujeito é inerente ao discurso.

A condição da linguagem, segundo Orlandi (2009), é a incompletude. Ora, se

a linguagem, arcabouço de nosso trabalho, é incompleta, uma análise que a tem

como sua matéria-prima também o é, portanto outras incursões reflexivas podem ser

adicionadas às apresentadas aqui ou rediscutidas ao longo do que conhecemos

como tempo.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AQUINO, Rubim Santos Leão de (et al). Sociedade brasileira: uma história através

dos movimentos sociais – da crise do escravismo ao apogeu do neoliberalismo. 5ª

ed. Rio de Janeiro: Record, 2007.

Page 9: Disseram que eu voltei americanizada análise

BARROS, Diana Luz Pessoa de. Estudos do discurso. In: FIORIN, José Luiz (org.).

Introdução à Linguística: II. Princípios de análise. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2007.

BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Introdução à análise do discurso. 5ª ed.

Campinas: Editora da UNICAMP, 1996.

CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de análise do

discurso. 2ª. ed. São Paulo: Contexto, 2008.

FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. 9ª. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2005.

MAINGUENEAU, Dominique. Análise de textos de comunicação. 2ª. ed. São Paulo:

Cortez, 2002.

ORLANDI, Eni P. Análise de discurso: Princípios e procedimentos. 8ª ed. Campinas:

Pontes, 2009.

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7. ANEXOS:

Disseram que eu voltei americanizada

(Luiz Peixoto e Vicente Paiva)

Carmen Miranda

Disseram que voltei americanizada

Com o burro do dinheiro, que estou muito rica

Que não suporto mais o breque de um pandeiro

Que fico arrepiada ouvindo uma cuíca

Disseram que com as mãos estou preocupada

E corre por aí que eu sei um certo zum-zum

Que já não tenho molho, ritmo nem nada

E dos balangandãs já não existe mais nenhum

Mas, pra cima de mim, pra que tanto veneno?

Eu posso lá ficar americanizada!

Eu, que nasci com o samba e vivo no sereno

Tocando a noite inteira a velha batucada

Nas rodas de malandro, minhas preferidas

Eu digo mesmo é "eu te amo" e nunca "I love you"

Enquanto houver Brasil, na hora das comidas

Eu sou do camarão ensopadinho com chuchu!

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Voltei pro Morro

(Luiz Peixoto e Vicente Paiva)

Carmen Miranda

Voltei pro morro, onde está o meu cachorro

Meu cachorro vira-lata, minha cuíca e meu ganzá?

Voltei pro morro, onde está o meu moreno?

Chamem ele pro sereno,

porque se eu não me esbaldar eu morro!

Voltei pro morro, onde estão minhas chinelas?

Eu quero sambar com elas,

vendo as luzes da cidade!

Voltei, voltei, voltei!

Ai! Se eu não mato esta saudade eu morro

Voltei pro morro, voltei...!

Voltando ao berço do samba

que em outras terras cantei

pela luz que me alumia eu juro

que sem a nossa melodia e a cadência dos pandeiros

muitas vezes eu chorei, chorei

E eu também senti saudade quando este morro deixei

É por isso que eu voltei, voltei...!

Voltei pro morro, onde está o meu cachorro

Meu cachorro vira-lata, minha cuíca e meu ganzá?

Voltei pro morro, onde estão minhas chinelas?

Page 12: Disseram que eu voltei americanizada análise

Chamem ele pro sereno,

porque se eu não me esbaldar eu morro!

Voltei pro morro, onde estão minhas chinelas?

Que eu quero sambar com elas,

vendo as luzes da cidade!

Voltei, voltei, voltei!

Ai! Se eu não mato esta saudade eu morro

Voltei pro morro, voltei...!

E eu também senti saudade quando este morro deixei

E é por isso que eu voltei, voltei...!

Voltei pro morro, onde está o meu cachorro

Meu cachorro, meu cachorro vira-lata, minha cuíca e meu ganzá?

Voltei pro morro, onde está o meu moreno?

Chamem ele pro sereno,

porque se eu não me esbaldar eu morro!

Voltei pro morro, onde estão minhas chinelas?

Eu quero sambar com elas,

vendo as luzes da cidade!

Voltei, voltei, voltei!

Ai! Se eu não mato esta saudade eu morro

Voltei pro morro, voltei...!

Voltei, voltei, voltei!

Ai! Se eu não mato esta saudade eu morro

Voltei pro morro, voltei...!