displasia cortical do tipo taylor: revisão de literatura campos... · ves que, desde o início do...
TRANSCRIPT
![Page 1: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/1.jpg)
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA
Fundada em 18 de Fevereiro de 1808
Monografia
Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura
Carolina Campos Reis
Salvador (Bahia)
2012
![Page 2: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/2.jpg)
II
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária de Saúde, SIBI - UFBA.
R375 Reis, Carolina Campos
Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura /
Carolina Campos Reis. – Salvador, 2012.
27 f. il.
Orientador: Prof. Dr. Murilo Pedreira Neves Junior
Monografia (Graduação) – Universidade Federal da Bahia.
Faculdade de Medicina da Bahia, 2012.
1. Embriologia. 2. Anomalias. 3. Células. 4. Saúde. I. Neves
Junior, Murilo Pedreira. II. Universidade Federal da Bahia. III.
Título.
CDU 611.013
![Page 3: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/3.jpg)
III
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA
Fundada em 18 de Fevereiro de 1808
Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura
Carolina Campos Reis
Professor-orientador: Murilo Pedreira Neves Junior
Monografia de Conclusão do Componente
Curricular MED-B60, e como pré-
requisito obrigatório e parcial para con-
clusão do curso médico da Faculdade de
Medicina da Bahia da Universidade Fede-
ral da Bahia, apresentada ao Colegiado do
Curso de Graduação em Medicina.
Salvador (Bahia), 2012
![Page 4: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/4.jpg)
IV
Monografia: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura
Carolina Campos Reis
Professor-orientador: Murilo Pedreira Neves Junior
COMISSÃO EXAMINADORA
Membros Titulares:
• Murilo Pedreira Neves Junior (Presidente), Professor da FMB-
UFBA.
• Maria da Glória Mota Bomfim, Professora da FMB-UFBA.
• Margarida Célia Lima Costa Neves, Professora da FMB-UFBA.
TERMO DE REGISTRO ACADÊMICO: Mono-
grafia aprovada pela Comissão, e julgada apta à apre-
sentação pública no III Seminário Estudantil da Facul-
dade de Medicina da Bahia/UFBA, com posterior ho-
mologação do registro final do conceito apto, pela co-
ordenação do Núcleo de Formação Científica. Chefia
do Departamento de Medicina Interna e Apoio Diag-
nóstico da FMB-UFBA.
Salvador (Bahia), 2012
![Page 5: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/5.jpg)
V
Não há nada como o sonho para criar o futuro.
Utopia hoje, carne e osso amanhã.
(“Os Miseráveis”, Victor Hugo)
![Page 6: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/6.jpg)
VI
DEDICATÓRIA
Aos meus pais e irmão, por me ensinarem
o real valor da vida. Dedico esta obra ao
maior bem que possuo: minha família.
![Page 7: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/7.jpg)
VII
INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
� Faculdade de Medicina da Bahia
![Page 8: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/8.jpg)
VIII
FONTE DE FINANCIAMENTO
Fonte de Financiamento:
1. Recursos do próprio pesquisador
![Page 9: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/9.jpg)
IX
AGRADECIMENTOS
Nenhuma grande conquista é alcançada sem ajuda. Agradeço
a todos que, de alguma forma, contribuíram com a elabora-
ção deste trabalho. Primeiramente ao professor Murilo Ne-
ves que, desde o início do curso de medicina, não somente
apoiou o projeto como também me ensinou a entender a es-
sência da prática clínica. A Rodrigo Martins pelo compa-
nheirismo e ajuda diante das dificuldades ao longo desses
anos de trabalho.
![Page 10: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/10.jpg)
1
ÍNDICE
Abreviaturas e Siglas Índice de Figuras Índice de Tabelas e Gráficos I. Resumo
Página 2
Página 3
Página 4
Página 5
II. Objetivos
Página 6
III. Introdução
Página 7
IV. Metodologia
Página 9
V. Revisão de Literatura
1. Conceito e Diagnóstico
2. Classificação
3. Estudo Anatomopatológico
4. Neuroimagem
5. Quadro Clínico
6. Patogenia
7. Tratamento
Página 10
Página 11
Página 13
Página 16
Página 18
Página 19
Página 19
VI. Conclusões
Página 22
VII. Summary
Página 23
VIII. Referências Bibliográficas Página 24
![Page 11: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/11.jpg)
2
ABREVIATURAS E SIGLAS
PUBMED
Public Medical Literature Analysis and Retrieval System Online
Scielo Scientific Eletronic Library Online
Lilacs DCF GFAP FLAIR T EEG MRP1 OR CI
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
Displasias Corticais Focais
Anti-Glial Fibrillary Acid Protein
Fluid-AttenuatedInversion Recovery
Tesla
Eletroencefalograma
Multidrug Resistance-Associated Protein 1
Odds Ratio
Intervalo de Confiança
DCTT Displasia Cortical do Tipo Taylor
MDC Malformação do Desenvolvimento Cortical
RNM Ressonância Nuclear Magnética
![Page 12: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/12.jpg)
3
ÍNDICE DE FIGURAS
FIGURA I: desorganização laminar Página 10
FIGURA II: comparação entre tipos histológicos Página 12
FIGURA III: classificação de Palmini et al. Página 13
FIGURA IV: peça anatômica- alterações macroscópicas Página 14
FIGURA V: células balonizadas Página 15
FIGURA VI: neurônios dismórficos Página 16
FIGURA VII: alterações na RNM Página 17
![Page 13: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/13.jpg)
4
ÍNDICE DE TABELAS E GRÁFICOS
TABELA I: fatores preditores de bom desfecho cirúrgico
Página 21
GRÁFICO I: gráfico de floresta ressecção completa X incompleta Página 21
![Page 14: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/14.jpg)
5
I. RESUMO
DISPLASIA CORTICAL DO TIPO TAYLOR: REVISÃO DE LITERATURA
A displasia cortical do tipo Taylor (DCTT) é um tipo de malformação do
desenvolvimento cortical caracterizada por laminação cortical alterada, neurônios
gigantes, dismórficos e ectópicos, podendo ou não existir também células balonizadas
nas áreas displásicas. Tal patologia muitas vezes encontra-se associada a casos de
epilepsia refratária, contribuindo também com a prevalência de déficits
neurocognitivos. O estudo histopatológico é de grande importância para identificação da
doença e consequente estratégia terapêutica. O avanço da neuroimagem nas últimas
décadas permitiu estudo mais aprofundado das DCTT, contribuindo com o aumento do
número de casos diagnosticados. A cirurgia é o tratamento de escolha para DCTT que
cursa com epilepsia refratária, sendo a ressecção completa da lesão o principal fator
associado ao bom prognóstico.
O trabalho teve como objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre DCTT,
levando em consideração aspectos importantes da doença, como: classificação, quadro
clínico, diagnóstico, aspectos anatomopatológicos, avanços na neuroimagem e
tratamento.
Palavras-chaves: 1. Displasia cortical focal; 2.Displasia cortical do tipo Taylor;
3.Células balonizadas; 4. Lesões displásicas .
![Page 15: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/15.jpg)
6
II. OBJETIVOS:
1. PRINCIPAL:
Realizar uma revisão bibliográfica sobre displasia cortical do tipo Taylor,
abordando a classificação, diagnóstico, quadro clínico, aspectos anatomopatológicos,
avanços na neuroimagem e tratamento desta patologia.
2. SECUNDÁRIO:
Buscar, em Salvador, casos de displasia cortical do tipo Taylor, analisando, se
possível, prevalência e incidência da patologia na cidade em questão.
![Page 16: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/16.jpg)
7
III. INTRODUÇÃO:
Displasia cortical do tipo Taylor (DCTT) é uma malformação do
desenvolvimento cortical (MDC) decorrente de uma proliferação anormal de neurônios
e células da glia no encéfalo1.
A DCTT, assim como outras displasias focais do córtex cerebral, está
relacionada com sintomas corticais, incluindo crises epilépticas, contribuindo
especificamente com a prevalência de casos de epilepsia refratária ao tratamento
medicamentoso2, 3. A DCTT pode cursar com diversas alterações neurocognitivas, como
afasias e alterações de comportamento, por exemplo, a depender da sua localização e
extensão. Entretanto, as crises convulsivas são os sintomas mais prevalentes,
especialmente aquelas refratárias ao tratamento medicamentoso. As manifestações
clínicas tendem a se iniciar na infância (primeira década de vida)4,5.
O diagnóstico da DCTT é dado pela neuroimagem, através da ressonância
nuclear magnética (RNM), e pela anatomopatologia, após análise de peça
cirúrgica/biópsia 3,4. A anatomia patológica fornece características importantes na
identificação da doença, tanto do ponto de vista macroscópico como microscópico. Já a
RNM vem contribuindo de forma significativa com o aumento da detecção de lesões
displásicas focais6.
O estudo histológico permitiu a divisão das DCTT em dois tipos distintos, sendo
a DCTT IIB uma patologia onde se identifica células balonizadas (balloon cells)
enquanto a DCTT IIA não possui este tipo celular7. Vale ressaltar que essa classificação
histológica influencia nas características da doença, bem como na sua abordagem.
Trata-se de uma patologia antes pouco conhecida por clínicos, dentre outros
profissionais de saúde, mas que, nas últimas décadas, vêm sendo estudada com certa
frequência devido ao aumento da sua prevalência mundial. São escassos os dados de
prevalência da DCTT, entretanto, sabe-se que, com o avanço da neuroimagem, casos
confirmados de DCTT passaram a serem vistos com mais freqüência6.
Apesar de um estudo brasileiro afirmar que as DCF, de maneira geral, são as
mais frequentes MDC,não há dados epidemiológicos sobre a frequência dessas doenças
no Brasil.
![Page 17: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/17.jpg)
8
Diante da importância da DCTT na prevalência das epilepsias refratárias ao
tratamento medicamentoso e da escassez de dados sobre a doença na literatura
brasileira, vê-se a necessidade de realizar uma revisão de literatura sobre o tema acerca
dos tópicos mais relevantes.
![Page 18: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/18.jpg)
9
IV. METODOLOGIA:
Uma revisão da literatura foi realizada no Pubmed (Public Medical Literature
Analysis and Retrieval System Online), Scielo (Scientific Eletronic Library Online) e
Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde). Artigos
originais, revisões de literatura e relatos de caso foram incluídos na busca, que foi
realizada com os seguintes termos: dysplastic lesion, cortical dysplasia, balloon- cells
type dysplasia, focal cortical dysplasai, Taylor type dysplasia, cortical malformations,
focal dysplasia pathology lesão displásica, displasia cortical, displasia com células
balonizadas, displasia do tipo Taylor,displasia cortical focal, malformações corticais,
patologia das displasias focais nos idiomas inglês e
português.
Foram selecionados artigos publicados entre 1971, ano da descrição original da
doença, e março de 2012 para o estudo em questão.
Foi feito um inquérito prévio pelo orientador buscando casos de DCTT em
cinco dos principais serviços de patologia da cidade de Salvador (Hospital das Clínicas-
Hospital Universitário Professor Edgard Santos, Hospital Santa Izabel, Hospital São
Rafael, Hospital Espanhol, Hospital Português) tendo sido interrogados a respeito da
existência de casos de DCTT nos anos de 2010 e 2011, entretanto, apenas um caso foi
constatado nos últimos cinco anos, o que inviabiliza uma análise da prevalência. Assim
sendo foi feita a mudança da direção a ser tomada pelo trabalho, visando inicialmente a
realização de uma revisão da literatura sobre o tema e, numa segunda etapa, a
publicação do caso encontrado no Hospital São Rafael.
.
![Page 19: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/19.jpg)
10
V. REVISÃO DE LITERATURA:
1. Conceito e Diagnóstico
Malformações do desenvolvimento cortical (MDC) incluem um grupo de
desarranjos anatômicos que decorrem de uma proliferação anormal de neurônios e
células da glia1. Diante desse conceito, vê-se a heterogeneicidade desse grupo de
patologias. MDC também são conhecidas como desordem do desenvolvimento cortical,
displasia cortical, disgenesia cortical e desordem da migração neuronal7.
A displasia cortical do tipo Taylor (DCTT) é um tipo de MDC que foi descrita
pela primeira vez em 1971 como uma patologia distinta caracterizada por uma
desorganização laminar e neurônios displásicos. Conseqüentemente, há um
comprometimento da organização do córtex em seis camadas histológicas
tradicionalmente conhecida (Figura I). Taylor, em seu artigo orginal, descreveu os
acrados histopatológicos com semelhantes às anormalidades encontradas na esclerose
tuberosa, entretanto, quando comparadas mais detalhadamente, as diferenças entre as
imagens puderam ser notadas8. Entretanto, estudos mais modernos, como Urbach et al.
ainda questiona a separação entre essas duas entidades: DCTT e esclerose tuberosa. O
argumento de que ambos possuem desfecho semelhante com a excisão da área
displásica favorece a hipótese4.
![Page 20: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/20.jpg)
11
Figura I: a) Desorganização laminar e presença de neurônios anômalos; b)
Córtex normal em mesmo aumento. (Taylor DC, Falconer MA, Bruton CJ,
Corsellis JAN. Focal dysplasia of the cerebral cortex in epilepsy. J Neurol
Neurosurg Psychiatry. 1971 Aug; 34(4): 369-87.)
Desde a primeira descrição da DCTT, em 1971, diversos estudos foram
realizados a fim de esclarecer detalhes da patologia, assim como facilitar sua
identificação. Tanto os achados histopatológicos quanto os achados da neuroimagem em
ressonância magnética tem sido importantes no diagnóstico desse tipo de displasia do
córtex cerebral. Mesmo diante do advento da ressonância magnética, as MDC são mais
comumente confirmadas com o estudo histopatológico das amostras cerebrais através de
biópsias9, o que mostra a relevância da macro e microscopia na avaliação das crises
epilépticas fármaco-resistentes.
2. Classificação
Diversas classificações já foram propostas a fim de organizar as malformações
do desenvolvimento cortical, utilizando-se dos seguintes fatores para organização:
aspectos embriológicos, histopatológicos, genéticos e neuroimagem7,10. Atualmente,a
classificação de Palmini et al. é a mais utilizada. Esta classificação leva em
consideração a histopatologia dos tipod de MDC, procurando correlacionar cada subtipo
com a neuroimagem correspondente, assim como características clínicas e aspectos
prognósticos. A classificação de Palmini inclui a DCTT no tipo II das displasias
corticais focais (DCF), ou seja, aquelas que acometem um ou mais focos no encéfalo. A
DCTT ainda subdivide-se baseada na presença ou não de células balonizadas (balloon
cells)7,11.
Células balonizadas possuem citoplasma abundante e núcleo excêntrico
(podendo haver mais de um núcleo) de fenótipo indefinido, que expressam proteínas
tanto de astrócitos como de neurônios. Na imunoistoquímica, essas células apresentam
reações positivas para GFAP (glial fibrillary acid protein), além de CD34, vimentina e
nestina4, 9. Apesar da classificação de Palmini ser a mais utilizada, alguns autores
![Page 21: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/21.jpg)
12
classificam apenas pacientes com células balonizadas como DCTT. Taylor et al., no seu
artigo original, inclui as duas formas8.
Achados histopatológicos ricos em neurônios displásicos e células balonizadas
definem a DCTT do tipo IIB, enquanto aqueles com células displásicas, porém sem
balonização caracterizam a DCTT tipo IIA (Figura 1)7. Algumas das características
presentes apenas na DCTT com células balonizadas são: aumento difuso da espessura
cortical em pelo menos 2 vezes o tamanho normal; excessivo transbordamento de
neurônios e/ou células balonizadas para a substância branca; alterações patológicas da
substância branca por dano moderado na mielina dos axônios com excessiva
astrocitose4. Já no tipo I não se visualiza neurônios dismórficos e nem células
balonizadas. Esta categoria também pode se dividir em subtipos IA, onde há apenas
anormalidade arquitetural, e IB, onde, além da anormalidade arquitetural são
encontrados neurônios gigantes ou imaturos7.
Uma classificação mais recente, de 2011, sugere a inclusão de uma terceira
categoria: DCF tipo III: malformação com dislaminação cortical distinta e
anormalidades citológicas na mesma área12.
Figura II: Cresil violeta corando sequência de lâminas de secções de neocórtex
normal, com displasia focal tipo I, tipo IIA e tipo IIB, respectivamente (Palmini A,
Najm I, Avanzini G, Babb T, Guerrini R, Foldvary-Schaefer N, et al. Terminology
and classification of the cortical dysplasia. Neurology. 2004 Mar 23; 62 (6 supl 3):
S2-8).
![Page 22: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/22.jpg)
13
Figura III: Esquema ilustrativo da classificação de Palmini (Palmini A, Najm I,
Avanzini G, Babb T, Guerrini R, Foldvary-Schaefer N, et al. Terminology and
classification of the cortical dysplasia. Neurology. 2004 Mar 23; 62 (6 supl 3): S2-8).).
3. Estudo anatomopatológico
Na DCTT são notadas alterações tanto nas células gliais como nos neurônios.
Tanto a morfologia das células como as respectivas localizações podem estar alteradas.
Do ponto de vista macroscópico, o córtex displásico na DCTT, quando comparado com
o córtex normal, apresenta-se mais esbranquiçado, o que pode ser atribuído à maior
ocorrência de fibras gliais. Dessa forma, observa-se perda da nitidez da transição entre
substâncias branca e cinzenta (Figura II), característica macroscópica que pode auxiliar
na identificação da patologia tanto na peça anatômica como no exame de imagem.
Microscopicamente, neurônios dismórficos, gigantes e ectópicos estão presentes no
córtex cerebral e substância branca adjacente, o que contribui com a perda da
arquitetura laminar cortical normal em seis camadas7, 8,9,13.
![Page 23: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/23.jpg)
Estudos mostram que, cerca de metade das lesões podem até mesmo ser
identificadas, durante o procedimento cirúrgico pela ampliação focal do espaço
subaracnóideo, aspecto macroscópico da supe
crânio4.
Figura IV: Foco displásico à esquerda da imagem, onde se observa córtex
esbranquiçado, o que remete à perda da diferenciação entre substância branca e
cinzenta na região acometida
Neuropatologia e Neuroimagem. Imagem disponível em
Acessado em 14 de março de 2012.
No pequeno aumento
na área displásica. Nas áreas de transição córtex
rica em células balonizadas, ou seja, células anormais de membrana fina, citoplasma
abundante, eosinofílico e homogêneo, além de núcleo (ou núcleos) excê
células balonizadas, quando comparadas às demais células da transição córtex
substância branca, possuem tamanho aumentado
branca sem alterações, não são evidenciadas essas células, prevalecendo
oligodendrócitos e astrócitos normais
normal adjacente4. Não é comum a presença de aumento da celularidade da camada I do
córtex na DCTT, como observada em outras MDC
Além de células balonizadas, estão presentes nas lâmin
dismórficos com orientação anormal, alteração do formato piramidal
Estudos mostram que, cerca de metade das lesões podem até mesmo ser
identificadas, durante o procedimento cirúrgico pela ampliação focal do espaço
subaracnóideo, aspecto macroscópico da superfície cerebral e adelgaçamento do
Foco displásico à esquerda da imagem, onde se observa córtex
esbranquiçado, o que remete à perda da diferenciação entre substância branca e
cinzenta na região acometida. (Site didático de Anatomia Patológica,
Neuropatologia e Neuroimagem. Imagem disponível em http://anatpat.unicamp.br
Acessado em 14 de março de 2012.)
No pequeno aumento, a desorganização laminar cortical já pode
na área displásica. Nas áreas de transição córtex-substância branca a área displásica é
rica em células balonizadas, ou seja, células anormais de membrana fina, citoplasma
abundante, eosinofílico e homogêneo, além de núcleo (ou núcleos) excê
células balonizadas, quando comparadas às demais células da transição córtex
substância branca, possuem tamanho aumentado (Figura IV)2. Na área de substância
branca sem alterações, não são evidenciadas essas células, prevalecendo
itos e astrócitos normais. Pode haver área de gliose e edema no tecido
. Não é comum a presença de aumento da celularidade da camada I do
córtex na DCTT, como observada em outras MDC3.
Além de células balonizadas, estão presentes nas lâminas da DCTT
dismórficos com orientação anormal, alteração do formato piramidal
14
Estudos mostram que, cerca de metade das lesões podem até mesmo ser
identificadas, durante o procedimento cirúrgico pela ampliação focal do espaço
rfície cerebral e adelgaçamento do
Foco displásico à esquerda da imagem, onde se observa córtex
esbranquiçado, o que remete à perda da diferenciação entre substância branca e
Anatomia Patológica,
http://anatpat.unicamp.br.
, a desorganização laminar cortical já pode ser observada
substância branca a área displásica é
rica em células balonizadas, ou seja, células anormais de membrana fina, citoplasma
abundante, eosinofílico e homogêneo, além de núcleo (ou núcleos) excêntrico(s). As
células balonizadas, quando comparadas às demais células da transição córtex-
. Na área de substância
branca sem alterações, não são evidenciadas essas células, prevalecendo
Pode haver área de gliose e edema no tecido
. Não é comum a presença de aumento da celularidade da camada I do
da DCTT neurônios
dismórficos com orientação anormal, alteração do formato piramidal refletindo
![Page 24: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/24.jpg)
15
anormalidades do citoesqueleto e aumento de tamanho (Figura V)3,7. Num córtex sem
alterações, neurônios grandes são encontrados apenas na camada V, o que não acontece
com esse paciente. Atipias nucleares como multinucleação podem ser evidenciadas na
DCTT2.
Embora a RNM tenha papel importante na detecção de novos casos de DCF, a
histopatologia é fundamental para direcionar o tratamento cirúrgico14, além de permitir
estudo mais preciso das céluas balonizadas e neurônios dismórficos. Uma limitação da
RNM, de acordo com Lawson et al., consiste na não-diferenciação entre os subtipos de
DCTT (IIA ou IIB). Essa mesma série de casos mostrou que um terço dos pacientes
com DCTT estudados possuíam RNM normal ou com achado muito sutis11.
Através de imunoistoquímica, sugeriu-se heterogeneicidade nos componentes
das células balonizadas, que podem expressar tanto proteínas neuronais como gliais 7,15.
Observações de Oh e colaboradores sugerem que marcadores de células-tronco
neuronais imaturas são frequentemente expressos nas células balonizadas e que estas
células são formadas por mudanças citopáticas que ocorrem nos estágios iniciais do
desenvolvimento cortical9.
Vale ressaltar que, Urbach et al. ressalta a necessidade de realizar uma biópsia
cuidadosa para o estudo histológico, uma vez que uma amostra muito pequena ou um
tecido excessivamente fragmentado podem ser responsáveis pela perda de
características anatomopatológicas fundamentais4.
Figura V: Célula balonizada (balloon cells) em detalhe (A) e em menor
aumento nas camadas corticais inferiores, próximo à transição córtex-substância
branca (Site didático de Anatomia Patológica, Neuropatologia e
A B
![Page 25: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/25.jpg)
16
Neuroimagem. Imagem disponível em http://anatpat.unicamp.br. Acessado em
14 de março de 2012.)
Figura VI: Neurônios dismórficos em lâmina corada com Cresil violeta.
Destaque para as direções variadas dos neurônios (Palmini A, Najm I, Avanzini
G, Babb T, Guerrini R, Foldvary-Schaefer N, et al. Terminology and
classification of the cortical dysplasia. Neurology. 2004 Mar 23; 62 (6 supl 3):
S2-8.)
4. Neuroimagem
O avanço na neuroimagem, através do aprimoramento dos métodos de
ressonância nuclear magnética (RNM) possibilita, atualmente, estudos aprofundados
das MDC, incluindo a DCTT. Antes das RNM de alta resolução, as DCF estavam entre
os distúrbios do desenvolvimento cortical menos frequentes16, entretanto, hoje, a DCF é
tida como principal causa de epilepsia de difícil controle/refratária a fármacos em
crianças e segunda em adultos6. Sequências como T2 gradiente eco, T1 e FLAIR (fluid-
attenuated inversion recovery) são comumente utilizadas3, sendo que alguns autores
sugerem o FLAIR como sequência mais sensível na detecção de alterações4.
São alguns dos achados comumente encontrados na RNM (que pode ser normal
na DCTT): aumento da espessura cortical nos focos displásicos, perda da diferenciação
córtex-substância branca, hipersinal em T2 ou FLAIR, esclerose hipocampal e extensão
![Page 26: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/26.jpg)
17
do tecido cortical com aumento de sinal da superfície do ventrículo (transmantle
sign)6,7.
Figura VII: RNM na DCTT: 1)Normal; 2)Esclerose hipocampal; 3)Perda da
nitidez entre substância branca e córtex; 4) Hipersinal na lesão; 5) Espessamento
focal do córtex; 6)Sinal transmatle; 7 e 8) Atrofia cortical; 9) Hipersinal e
redução de substância branca. (Camargo DPC, Palmini A, Pagloili E, Torres C,
Alves W, Schilling L, et al. Displasia cortical focal, aspectos neurofisiológicos,
imaginológicos e histológicos. J Epilepsy Clin Neurophysiol. 2010 Jul; 16(2):
106-11.)
Além de aumentar a detecção de lesões, a RNM permitiu a precisão topográfica
e melhor caracterização das lesões, facilitando, inclusive, as ressecções cirúrgicas.
Estudo recente mostrou superioridade da RNM de 3 T (tesla) em relação à de 1,5 T na
detecção da displasia cortical tipo II15. Vale ressaltar que o stereo EEG também ajuda
na delimitação do foco epiléptico, auxiliando a RNM no preparo cirúrgico3. Outro
![Page 27: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/27.jpg)
18
recurso que aumenta a sensibilidade de detecção de lesões na neuroimagem é a
utilização da RNM morfométrica, especialmente em pacientes cuja RNM convencional
não detecta alterações17.
5. Quadro Clínico
Nas DCF as crises iniciam-se mais comumente na infância (primeira década)3.
Nem sempre as crises são resistentes a fármacos18, entretanto, a resistência é o quadro
mais comum. A remissão espontânea também ocorreu em alguns casos. Vale ressaltar
que epilepsia refratária a fármacos é definida na literatura médica como uma falha no
controle das crises com doses adequadas de antiepilépticos por pelo menos 2 anos. A
remissão das crises costuma ocorrer após intervenção cirúrgica, entretanto, sugeriu-se
que, com o avanço da idade as crises podem vir a diminuir, uma vez que há perda de
tecido epileptogênico, assim como diminuição do número de transportadores
relacionados no desenvolvimento da resistência à droga5.
Embora o mecanismo da resistência às drogas antiepilépticas na DCTT ainda
não esteja totalmente esclarecido, alguns estudos recentes apontam o papel da
glicoproteína-P e MRP1 (multidrug resistance-associated protein 1). Mudanças na
concentração dessas proteínas podem regular a concentração de antiepilépticos no meio
extracelular, contribuindo, portanto, para a farmacoresistência9. Um trabalho
recentemente publicado sugere que o mecanismo da refratariedade é provavelmente
multifatorial14.
Estudo de Siegal e colaboradores mostrou que o tipo mais comum de crise
epiléptica foi parcial complexa, seguida por crise parcial complexa secundariamente
generalizada13.
As regiões extra temporais são mais comumente afetadas pela DCTT3, 19, sendo
que destas, a localização mais acometida é o lobo frontal20, 21. Estudo recente mostrou
10% dos pacientes com DCTT IIB com acometimento em região occipital21.
As manifestações clínicas relacionam-se com extensão e localização das lesões
displásicas. As crises epilépticas estão sempre presentes, porém, outros achados como
afasias, déficits intelectuais e alterações de comportamento podem compor o quadro
neurológico, por exemplo, de um paciente com acometimento frontal. Atraso no
desenvolvimento neuropsicomotor e déficits de memória também podem estar
![Page 28: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/28.jpg)
19
presentes14. Estudo de Lawson et al. mostro alta prevalência de hemiparesia em
paciente com DCTT, geralmente em pacientes com acometimento de lobo frontal11.
Alguns pacientes com DCTT apresentam lesões focais em mais de um lobo. Em
sua série, Wagner e colaboradores encontraram lesões multilobares em 6% dos
pacientes, sendo estas temporoparietais (4%) e temporooccipitais (2%)21.
5. Patogenia
A DCF resulta de um distúrbio precoce na migração e arranjo final da
arquitetura cortical de neurônios imaturos22, mas a patogênese dessas malformações
ainda não foi totalmente esclarecida devido à dificuldade de se obter modelos
experimentais apropriados.
Estudos prévios demonstram que a patogênese das MDC em geral é multifatorial
uma vez que diversos fatores influem na corticogênese, dentre eles mutações genéticas,
injúrias pré e pós-natais14, 23. A heterogeneicidade das MDC sustenta a teoria
multifatorial. Alguns autores sugerem que marcadores de células-tronco, portanto
imaturas, estão presentes nas células balonizadas, que são formadas durante mudanças
citopáticas que ocorrem na corticogênese precoce9.
Alguns estudos experimentais mostram também a influência de irradiação e
metilazoximetanol na patogênese das DCF, incluindo a DCTT, através do dano causado
por esses fatores no DNA24.
6. Tratamento
A cirurgia tem se mostrado como método de escolha no tratamento de pacientes
com DCTT com crises resistente a drogas antiepilépticas. Os pacientes podem ficar
livres de crises em 42 a 80%6. Apesar disso, alguns casos são encontrados na literatura
mostrando longos períodos de remissão onde da DCTT apresentou curso benigno, sendo
controlada apenas por medicamentos. Del Giudice e colaboradores, em 2006, publicou
caso com mais longo período de remissão em paciente com DCTT: 12 anos sem crises
com monoterapia de carbamazepina18. A ressecção cirúrgica melhora a qualidade de
vida sem causar morbidade permanente na maioria dos pacientes, o que contribui para
18
![Page 29: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/29.jpg)
20
sua ampla utilização em casos refratários a medicações. Opta-se pela realização de nova
RNM após cirurgia caso o paciente não alcance a ausência de crises21.
Mesmo diante de tantas evidências que apontam o benefício da cirurgia, alguns
autores sugerem o curso benigno da doença e a não necessidade de intervenção
cirúrgica, uma vez que alguns pacientes com DCTT18 e DCF não especificada5 tiveram
remissão espontânea das crises após muito tempo.
Diversos fatores têm sido apontados como influenciadores do desfecho
cirúrgico. Siegal e colaboradores mostraram em série de casos desfecho favorável
associado mais a ressecções temporais, bem como a epilepsia de curta duração13. Outros
estudos mostram que os subtipos histológicos IIA e IIB são preditores de bom desfecho
após cirurgia dentre as displasias focais25. Dentre estes tipos, Cepeda e colaboradores
relacionam melhor prognóstico à presença de células balonizadas (tipo IIB). Segundo
estudo, isso seria explicado pelo fato de células balonizadas serem eletricamente não
excitáveis devido à falta de canais de Na+ e Ca++ voltagem-dependentes26.
A ressecção completa da lesão, entretanto, tem sido associada majoritariamente
ao prognóstico favorável 8,14,27,28. Ressalta-se a grande contribuição da RNM na
delimitação da área displásica com maior precisão quando comparada aos métodos de
neuroimagem mais antigos. A ressecção cirúrgica bem delimitada diminui
acometimento de estruturas nobres adjacentes não displásicas que não precisariam de
excisão. Somente em lesões intimamente relacionadas com áreas eloquentes (motoras,
sensitivas, de linguagem) a ressecção completa deve ser vista com cautela. Estudo
prévio realizado com pacientes pediátricos comprovou o benefício da ressecção
completa (87% dos pacientes livre das crises) em relação à incompleta (50%)27. É
necessário evidenciar a necessidade de ressecção do tecido perilesional para o bom
desfecho4. A ocorrência do status epiléptico imediatamente após a ressecção foi
observado em 20 a 37% dos casos de DCTT em qualquer localização7,14.
Uma metanálise recentemente publicada, em 2012, analisou fatores preditores da
ausência de crises (Engel classe I)29 após manejo cirúrgico das DCF em 2014 pacientes
de 37 estudos. Crises parciais, localização temporal, RNM anormal sugestiva de DCF,
tipo histológico II e ressecção completa foram significantemente mais relacionados com
desfecho classe I da classificação de Engel (Tabela 1). Dentre esses fatores, a ressecção
completa confirmou-se como melhor preditor ao apresentar na meta-análise diferença
mais significativa (Figura VII) 22. O mesmo resultado foi encontrado em revisão de
201030.
![Page 30: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/30.jpg)
21
Tabela I: Fatores preditores de bom desfecho cirúrgico. k=número de estudos;
OR: odds ratio; CI: intervalo de confiança. (Rowland NC, Englot DJ, Cage
TA, Sughrue ME, Barbaro NM, Chang EF. A meta-analysis of predictors of
seizure freedom in the surgical management of focal cortical dysplasia. J
Neurosurg. 2012 Feb 10.)
Gráfico I: Gráfico de floresta mostrando os OR para ressecção completa X incompleta, calculados dos estudos individuais. Linha pontilhada em
3.91(Rowland NC, Englot DJ, Cage TA, Sughrue ME, Barbaro NM, Chang EF.
A meta-analysis of predictors of seizure freedom in the surgical management of
focal cortical dysplasia. J Neurosurg. 2012 Feb 10.)
![Page 31: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/31.jpg)
22
VII. CONCLUSÕES:
1. DCTT é uma importante causa de epilepsia refratária ao tratamento
medicamentoso.
2. A classificação de Palmini ainda é a mais utilizada na organização das MDC e
se baseia no estudo histológico.
3. O avanço da neuroimagem ajudou a aumentar a detecção de novos casos, bem
como a delimitar a área displásica, tornando a ressecção cirúrgica mais precisa.
4. Mesmo diante do avanço da neuroimagem, a maioria dos casos ainda é
detectada no estudo anatomopatológico.
5. A patogenia da DCTT ainda não foi totalmente esclarecida, mas sabe-se que é
multifatorial.
6. A ressecção completa da lesão displásica é o fator prognóstico que mais
influencia o bom desfecho, mas fatores como tipo histológico e localização da
lesão também contribuem.
7. A ressecção cirúrgica deve ser o método de escolha para tratamento dessa causa
de epilepsia refratária, visando a melhoria da qualidade de vida do paciente e
diminuição de morbidade.
8. Estudos de prevalência da DCTT ainda são escassos na literatura,
principalmente dados sobre a patologia no Brasil.
![Page 32: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/32.jpg)
23
VIII. SUMMARY:
Taylor-type cortical dysplasia is a cortical development malformation
characterized by altered cortical lamination and giant, dysmorphic and ectopic neurons.
Also, balloon cells may be present in dysplastic cells areas. This condition is often
associated with refractory epilepsy, contributing to the prevalence of neurocognitive
deficit too. Histopathologic study has an important role in the identification of the
disease and consequent therapeutic strategy. In last decades, neuroimaging advance
allowed a deeper study of Taylor-type cortical dysplasia so, it has been observed an
increase of diagnosis of this condition. Surgery is the best treatment for Taylor-type
cortical dysplasia patients with refractory seizures. Also, complete resection of the
lesion is the mean factor associated with good prognosis.
The aim of this study was to conduct a literature review on Taylor-type cortical
dysplasia, taking into important aspects of the disease such as: classification, clinical
presentation, diagnosis, pathology findings, advances in neuroimaging and treatment.
Keywords: 1.Focal cortical dysplasia; 2.Taylor-type cortical dysplasia; 3.balloon cells;
4. Dysplastic lesions.
![Page 33: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/33.jpg)
24
IX. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1. Barkovich AJ, Kuzniecky RI, Jackson GD, Guerrini R, Dobyns WB. A
developmental and genetic classification for malformations
of cortical development. Neurology. 2005 Dec 27; 65 (12): 1873-87.
2. Tassi L, Colombo N, Garbelli R, Francione S, Lo Russo G, Mai R, et al. Focal
cortical dysplasia: neuropathological subtypes, EEG, neuroimaging and surgical
outcome. Brain. 2002 Aug; 125(Pt 8): 1719-32.
3. Tassi L, Pasquier B, Minotti L, Garbelli R, Kahane P, Benabid AL, et al.
Cortical Dysplasia: Electroclinical, Imaging, and Neuropathologic Study of 13
Patients. Epilepsia. 2001 Sep; 42(9): 1112-23.
4. Urbach H, Scheffler B, Heinrichsmeier T, von Oertzen J, Kral T, Wellmer J, et
al. Focal Cortical Dysplasia of Taylor's Balloon Cell Type: A
Clinicopathological Entity with Characteristic Neuroimaging and
Histopathological Features, and Favorable Postsurgical Outcome. Epilepsia.
2002 Jan; 43(1): 33-40.
5. Anderson J, Harder P, Duncan JS. Seizure freedom following 49 years of
refractory epilepsy. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2011 Jun; 82(6): 706-7.
6. Camargo DPC, Palmini A, Pagloili E, Torres C, Alves W, Schilling L, et al.
Displasia cortical focal, aspectos neurofisiológicos, imaginológicos e
histológicos. J Epilepsy Clin Neurophysiol. 2010 Jul; 16(2): 106-11.
7. Palmini A, Najm I, Avanzini G, Babb T, Guerrini R, Foldvary-Schaefer N, et al.
Terminology and classification of the cortical dysplasia. Neurology. 2004 Mar
23; 62 (6 supl 3): S2-8.
![Page 34: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/34.jpg)
25
8. Taylor DC, Falconer MA, Bruton CJ, Corsellis JAN. Focal dysplasia of the
cerebral cortex in epilepsy. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 1971 Aug; 34(4):
369-87.
9. Oh HS, Lee MC, Kim HS, Lee JS, Lee JH, Kim MK, et al. Phatophysiologic
characteristics of balloon cells in cortical dysplasia. Childs Nerv Syst. 2008 Feb;
24(2): 175-83.
10. Barkovich A J, Kuzniecky R I, Dobyns W B, Jackson G D, Becker L E, Evard
P. A classification scheme for malformations of cortical development.
Neuropediatrics. 1996 Apr; 27(2): 59-63.
11. Lawson JA, Birchansky S, Pacheco E, Jayakar P, Resnick TJ, Dean P, et al.
Distinct clinicopathologic subtypes of cortical dysplasia of Taylor. Neurology.
2005 Jan 11; 64(1): 55-61.
12. Blumcke I, Thom M, Aronica E. The clinicopathology spectrum of focal cortical
dysplasias: A consensus classification proposed by an ad hoc Task Force of
ILAE. Diagnostic Methods Commission Epilepsia. 2011; 52 (1): 158-74.
13. Siegal AM, Cascino GD, Elger CE, Devinski O, Laff R, Najjar S, et al. Adult-
onset epilepsy in focal cortical dysplasia of Taylor type. Neurology. 2005 May
24; 64(10): 1771-4.
14. Pascual-Castroviejo I, Hernández-Moneo JL, Gutiérrez-Molina ML, Viaño
J, Pascual-Pascual SI,Velazquez-Fragua R, et al. Displasia cortical focal.
Correlaciones clínico-radiológicas-patológicas. Neurologia. 2012 Jan 2.
15. Spreafico R, Pasquier B, Minotti L, Garbelli R, Kahane P, Grand S, et al.
Immunocytochemical investigation on dysplastic human tissue from epileptic
patients. Epilepsy Res. 1998 Sep; 32(1-2): 34-48.
![Page 35: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/35.jpg)
26
16. Pascual Castroviejo I, Pascual Pascual SI, Via o J, Martinez V, Palencia R.
Malformations of cortical development and their clinical repercussions in a
series of 144 cases. Rev Neurol. 2003 Aug 16-31; 37(4): 327-44.
17. Wagner J, Weber B, Urbach H, Elger CE, Huppertz HJ. Morphometric MRI
analysis improves detection of focal cortical dysplasia type II. Brain. 2011 Oct;
134(Pt 10): 2844-54.
18. Del Giudice E, Bianchi MC, Tosetti M, Varrone A, Romano A, Crisanti AF, et
al. Taylor-type focal cortical dysplasia: is the epilepsy always resistant to
medical treatment? Epileptic Disord. 2006 Dec; 8(4): 289-93.
19. Dubeau F, Palmini A, Fish D, Avoli M, Gambardella A, Spreafico R, et al. The
significance of electrocorticographic findings in focal cortical dysplasia: a
review of their clinical, electrophysiological and neurochemical characteristics.
Electroencephalogr Clin Neurophysiol Suppl. 1998; 48: 77-96.
20. Colombo N, Tassi L, Galli C, Citterio A, Lo Russo G, Scialfa G, et al. Focal
Cortical Dysplasias: MR Imaging, Histopathologic, and Clinical Correlations in
Surgically Treated Patients with Epilepsy. AJNR Am J Neuroradiol. 2003 Apr;
24(4): 724-33.
21. Wagner J, Urbach H, Niehusmann P, von Lehe M, Elger CE, Wellmer J. Focal
cortical dysplasia type IIb: Completeness of cortical, not subcortical, resection is
necessary for seizure freedom. Epilepsia. 2011 Aug; 52(8): 1418-24.
22. Rowland NC, Englot DJ, Cage TA, Sughrue ME, Barbaro NM, Chang EF. A
meta-analysis of predictors of seizure freedom in the surgical management of
focal cortical dysplasia. J Neurosurg. 2012 Feb 10.
23. Sisodya SM. Malformations of cortical development: burdens and insights from
important causes of human epilepsy. Lancet Neurol. 2004 Jan; 3(1): 29-38.
![Page 36: Displasia cortical do tipo Taylor: revisão de literatura Campos... · ves que, desde o início do curso de medicina, não somente apoiou o projeto como também me ensinou a entender](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022022708/5be6b33609d3f2d8348db190/html5/thumbnails/36.jpg)
27
24. Calcagnotto ME, Paredes MF, Tiran H. Dysfunctional of synaptic inhibition in
epilepsy associated with focal cortical dysplasia. J Neurosc. 2005; 25: 9649-57.
25. Kloss S, Pieper T, Pannek H, Holthausen H, Tuxhorn I. Epilepsy surgery in
children with focal cortical dysplasia (FCD): results of long-term seizure
outcome. Neuropediatrics. 2002 Feb; 33(1): 21-6.
26. Cepeda C, Hurst RS, Flores-Hernández J, Hernández-Echeagaray E, Klapstein
GJ, Boylan MK, et al. morphological and electrophysiological characterization
of abnormal cell types in pediatric cortical dysplasia. J Neurosci Res. 2003
May15; 72(4): 472-86.
27. Hader WJ, Mackay M, Otsubo H, Chitoku S, Weiss S, Becker L, et al. Cortical
dysplastic lesions in children with intractable epilepsy: role of complete
resection. J Neurosurg. 2004 Feb; 100(2 Suppl Pediatrics): 110-7.
28. Sarkis RA, Jehi LE, Bingman WE, Najm IM. Surgical outcome following
resection of rolandic focal cortical dysplasia. Epilepsy Res. 2010 Aug; 90(3):
240-7.
29. Engel J Jr, Van NessPC, RasmussenT, Ojemann LM. Outcome with respect to
epileptic seizures. In Engel J Jr (Ed.) Surgical treatment of epilepsies. Raven
Press New York. 1993. pp 609-621.
30. Chern JJ, Patel AJ, Jea A, Curry DJ, Comair YG. Surgical outcome for focal
cortical dysplasia: an analysis of recent surgical series. J Neurosurg Pediatr.
2010 Nov; 6(5): 452-8.
31. Site didático de Anatomia Patológica, Neuropatologia e Neuroimagem.
Imagem disponível em http://anatpat.unicamp.br. Acessado em 14 de março de
2012.