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I UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Fundada em 18 de fevereiro de 1808 Monografia Disfunção Cognitiva na depressão maior antes e após tratamento farmacológico, em pacientes acompanhados em hospital de referência em Salvador Bahia Brasil Marina Bispo Santiago Lima Salvador (Bahia) Outubro, 2015

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Page 1: Disfunção Cognitiva na depressão maior antes e após ... Bispo... · avaliação cognitiva: teste de fluência verbal, teste do relógio e mini exame do estado mental. Os testes

I

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA

Fundada em 18 de fevereiro de 1808

Monografia

Disfunção Cognitiva na depressão maior antes e após

tratamento farmacológico, em pacientes

acompanhados em hospital de referência em Salvador

Bahia Brasil

Marina Bispo Santiago Lima

Salvador (Bahia)

Outubro, 2015

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II

FICHA CATALOGRÁFICA

(elaborada pela Bibl. SONIA ABREU, da Bibliotheca Gonçalo Moniz : Memória da Saúde

Brasileira/SIBI-UFBA/FMB-UFBA)

Lima, Marina Bispo Santiago L732 Disfunção cognitiva na depressão maior antes e após tratamento farmacológico, em pacientes acompanhados em hospital de referencia em Salvador Bahia Brasil / Marina Bispo Santiago Lima. Salvador: MBS Lima, 2015. viii, 53 fls.: [graf., tab.]. Professor orientador: William Azevedo Dunningham. Monografia como exigência parcial e obrigatória para Conclusão de Curso de Medicina da Faculdade de Medicina da Bahia (FMB), da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

1. Depressão maior. 2. Déficits cognitivos. 3. Antidepressivos. I. Dunningham, William Azevedo. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Medicina da Bahia. III. Título.

CDU – 616.89-008.454

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III

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA

Fundada em 18 de fevereiro de 1808

Monografia

Disfunção cognitiva na depressão maior antes e após

tratamento farmacológico, em pacientes

acompanhados em hospital de referência em Salvador

Bahia Brasil

Marina Bispo Santiago Lima

Professor orientador: William Azevedo Dunningham

Monografia de Conclusão do

Componente Curricular MED-

B60/2015.1, como pré-requisito

obrigatório e parcial para conclusão

do curso médico da Faculdade de

Medicina da Bahia da Universidade

Federal da Bahia, apresentada ao

Colegiado do Curso de Graduação

em Medicina.

Salvador (Bahia)

Outubro, 2015

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IV

Monografia: Disfunção cognitiva na depressão maior antes e após

tratamento farmacológico, em pacientes acompanhados em hospital de

referência em Salvador, Bahia, Brasil, de Marina Bispo Santiago Lima.

Professor orientador: William Azevedo Dunningham

COMISSÃO REVISORA: William Azevedo Dunningham (Presidente, Professor orientador), Professor do

Departamento de neurociências e saúde mental da Faculdade de Medicina da

Bahia da Universidade Federal da Bahia.

Wânia Márcia Aguiar, Professora do Departamento de neurociências e saúde mental da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia.

Ana Paola Robatto Nunes, Professora do Departamento de pediatria da

Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia.

Eduardo Pondé de Sena, Professor do Departamento de ciências da biorregulação do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal da

Bahia.

Karine de Souza Oliveira Santana, Doutoranda do Curso de Doutorado do Programa de Pós-graduação em Medicina e Saúde (PPgMS) da Faculdade de

Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia.

TERMO DE REGISTRO ACADÊMICO:

Monografia avaliada pela Comissão Revisora, e

julgada apta à apresentação pública no IX Seminário

Estudantil de Pesquisa da Faculdade de Medicina da

Bahia/UFBA, com posterior homologação do

conceito final pela coordenação do Núcleo de

Formação Científica e de MED-B60 (Monografia

IV). Salvador (Bahia), em ___ de _____________ de

2015.

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V

One must still have chaos in oneself to be able to give

birth to a dancing star. (extraído do livro “Assim

falava Zaratusta”, de Friedrich Nietzsche)

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VI

Aos meus Pais, João e Angelita, e meus

irmãos, Mirna e João Lucas.

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VII

EQUIPE Marina Bispo Santiago Lima, Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA. Correio-

e: [email protected];

Professor orientador: William Azevedo Dunningham. Correio-e: [email protected];

INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Faculdade de Medicina da Bahia (FMB)

HOSPITAL JULIANO MOREIRA

Ambulatório de depressivos e ansiosos.

FONTES DE FINANCIAMENTO

1. Recursos próprios.

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VIII

AGRADECIMENTOS

Ao meu Professor orientador, Doutor William Dunningham, pela presença constante e pelas substantivas orientações acadêmicas e à minha vida

profissional. Por sempre me incentivar e apoiar durante todo o período de

realização do projeto. Agradeço, principalmente, por acreditar no meu potencial

e sempre me estimular a seguir em frente com as propostas de novos trabalhos,

sempre com um apoio incondicional. Exemplo de médico, humano e atencioso

para com seus pacientes, que segue cada vez mais se aperfeiçoando, buscando

novas respostas científicas para questões ainda não esclarecidas na saúde

mental. Agradeço por essa fonte de inspiração que levarei como exemplo tanto

na minha vida profissional quanto pressoal.

Aos meus Colegas Marianne Mascarenhas e Felipe Luciano, pela colaboração na coleta dos dados e por sempre estarem presentes quando mais precisei.

Á minha família pelo apoio, carinho e atenção nos momentos de estresse e

preocupações durante o desenvolvimento do trabalho.

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1

SUMÁRIO

ÍNDICE DE FIGURAS, GRÁFICOS, QUADROS E TABELAS 2

I. RESUMO 3

II. OBJETIVOS 4

III. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 5

IV. METODOLOGIA

11

IV.1 Desenho de estudo 11

IV.2 Amostra do estudo 11 IV.3 Variáveis a serem estudadas 11

IV.4 Coleta de dados e instrumentos de coleta 11 IV.5 Definição do tamanho amostral 12

IV.6 Critérios de inclusão e exclusão 12

IV.7 Métodos estatísticos

12

V. RESULTADOS 14

VI. DISCUSSÃO 24

VII. CONCLUSÕES 29

VII. SUMMARY 30

IX. REFERÊNCIAS IBLIOGRÁFICAS 31

X. ANEXOS ANEXO I: Formulário de identificação do paciente 34

ANEXO II: Termo de consentimento livre e esclarecido 35

ANEXO III: Mini exame do estado mental 37

ANEXO IV: Teste da fluência verbal 40

ANEXO V: Teste do relógio 41

ANEXO VI: Comprovante de submissão ao Comitê de Ética 43

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ÍNDICE DE FIGURAS, GRÁFICOS, QUADROS E TABELAS

TABELAS TABELA 1. Descrição e características gerais de cada grupo

14

TABELA 2. Principais esquemas terapêuticos utilizados, nos pacientes do estudo,

para o tratamento da Depressão Maior.

15

TABELA 3.Wilcoxon signed rank test relativo ao teste de fluência verbal.

17

TABELA 4. Avaliação categorizada do teste de fluência verbal 17

TABELA 5. Wilcoxon signed rank test para o teste do relógio

18

TABELA 6. Avaliação categorizada para o teste do relógio

18

TABELA 7. Wilcoxon signed rank test para o mini exame do estado mental 20

TABELA 8.Avaliação categorizada do Mini Exame do Estado Mental. 21

GRÁFICOS

GRÁFICO 1. Gráfico com os principais medicamentos prescritos para o

tratamento da Depressão Maior na população do estudo. 16

GRÁFICO 2. Boxplot da pontuação pré e pós teste da fluência verbal 15

GRÁFICO 3. Classificação segundo escore alcançado no teste do relógio

seguindo seus critérios de avaliação e pontuação. 18

GRÁFICO 4. Classificação dos pacientes segundo a presença ou ausência de

déficit cognitivo a partir da pontuação alcançada no Mini Exame do Estado

Mental

20

GRÁFICO 5. Desempenho individual no teste de fluência verbal 21

GRÁFICO 6. Desempenho individual antes e após a intervenção. 22

GRÁFICO 7. Desempenho individual no teste do relógio 23

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I. Resumo

Fundamentação/objetivos: O distúrbio depressivo é a doença mental de maior

prevalência, correspondendo a cerca de 20% dos casos, e uma das principais causas de

incapacidade laboral e de comprometimento mental, sendo, portanto, de grande impacto

social, ocupacional e cognitivo. A depressão apresenta alterações cognitivas que afetam

a capacidade funcional do individuo reduzindo o raciocínio e a concentração. O objetivo

desse estudo será identificar déficits cognitivos antes e depois de tratamento

farmacológico da depressão maior. A fim de analisar o tratamento antidepressivo como

fator de melhora para sintomas cognitivos em pacientes com depressão. Métodos: Com

uma amostra de 38 pacientes diagnosticados com depressão maior, foi aplicado testes de

avaliação cognitiva: teste de fluência verbal, teste do relógio e mini exame do estado

mental. Os testes foram aplicados em duas ocasiões: durante a primeira consulta de cada

paciente e após o seguimento de 2 meses em acompanhamento médico e em tratamento

farmacológico o para o distúrbio. Resultados/Discussão: Com um N total de 38

pacientes, 81,6% do sexo feminino, com uma média de idade 50,6±14,7anos. No

esquema terapêutico, apenas 26,3% fizeram tratamento monoterápico com

antidepressivos. No teste da fluência 25% obtiveram uma melhora visualmente

significativa, enquanto que o restante da amostra obteve pequenas alterações na

pontuação, sem indicar uma melhora significativa. A análise de desempenho individual

no mini exame do estado mental, chama a atenção 5 pacientes (25%) que tiveram uma

melhora notória de acordo com a pontuação do teste. Enquanto a maioria dos pacientes

permaneceu com o mesmo score e dentro dos padrões de normalidade. O teste do relógio

foi o mais sensível para identificar os pacientes que tinham algum déficit no início e no

fim. Seguindo os critérios do teste do relógio 75% dos pacientes evoluiu com melhora

cognitiva. Os sintomas cognitivos em quadros depressivos se relaciona com a

neurofisiopatologia da depressão maior. A fisopatologia da depressão está relacionada

com alterações no sistema límbico e gânglios da base e áreas que interconectam as

funções cognitivas. O tratamento farmacológico auxilia de alguma forma a restauração e

aprimoramento das capacidades mentais superiores de forma diretamente proporcional à evolução da doença.

Palavras chaves: Depressão maior; tratamento antidepressivo; antidepressivos;

cognição; função cognitiva; disfunção cognitiva; memória; fluência verbal; função

executiva.

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II. Objetivos da pesquisa

Objetivos Principais:

Avaliar a melhora dos défcits cognitivos em pacientes com depressão, após o

tratamento antidepressivo.

Objetivos secundários:

Avaliar os efeitos positivos e negativos dos medicamentos para a melhora cognitiva.

Observar quais medicamentos são mais prescritos na depressão.

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III. Fundamentação teórica

O termo depressão pode designar diversas condições a depender da etiologia. A

depressão pode constituir uma síndrome, um sintoma ou um transtorno mental. A

depressão, enquanto transtorno mental é classificada como Transtorno Depressivo pela

Organização mundial de saúde (OMS) e como Depressão Maior na 5ª edição do Manual

Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos mentais (DSM-V), além de ser encontrada na

literatura como melancolia, distimia, depressão integrante do transtorno bipolar, entre

outras definições. 1

O distúrbio depressivo é uma das doenças mentais de maior prevalência,

correspondendo a cerca de 20% dos casos, e uma das principais causas de incapacidade

laboral e de comprometimento mental, sendo, portanto, de grande impacto para a saúde

pública devido as suas implicações sociais, ocupacionais e cognitivas. 2 A prevalência

desse distúrbio varia entre os sexos, sendo o feminino o mais prevalente, correspondendo

a cerca de 10-25% dos casos.3 Por ser uma doença de desenvolvimento crônico, a maioria

dos pacientes que apresentaram o primeiro episódio depressivo possuem maior tendência

a apresentar outros episódios ao longo da vida. Estudos relatam que aproximadamente

80% dos indivíduos que receberam tratamento para o distúrbio depressivo terão um

segundo episódio. 4

O transtorno depressivo maior é caracterizado por: humor depressivo, sentimentos de

tristeza e pessimismo, anedonia, indisposição, sintomas físicos como cansaço excessivo,

alterações do sono e disfunções cognitivas como dificuldade de concentração, raciocínio

e memória. Estes sintomas podem ser identificados por padrões comportamentais

associados a retraimento social, crises de choro, tendências suicidas e comprometimento

das atividades laborais, podendo estar associado à lentificação psicomotora. 5

A depressão é considerada um distúrbio dos sistemas cerebrais que regulam o

comportamento, o humor, a cognição e as funções comportamentais e endócrinas, os

quais atuariam de forma integrada. 6 A depressão possui apresentação clínica e curso

variável (recorrente ou crônico), uma sintomatologia singular em cada indivíduo,

diferentes polaridades (unipolar ou bipolar), variados fatores desencadeantes e de

gravidade. Nesse contexto, o estadiamento da depressão em relação a sua gravidade é

definido a partir do nível de incapacitância da doença, ou seja, a depressão leve é aquela

que não incapacita o indivíduo, mas gera sofrimento mental; a depressão moderada é

aquela que afeta as funções do individuo já comprometendo seu raciocínio e memória

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motora; e a depressão grave é aquela que incapacita social e profissionalmente o

indivíduo. Essa classificação segundo a gravidade foi adotada tanto pelo CID-10 quanto

pelo DSM-V. 7

Sendo assim, o transtorno depressivo é uma doença que impacta de forma amplamente

negativa a vida dos pacientes; a partir do momento que, tanto as relações pessoais,

dinâmica familiar e interação social, quanto o desenvolvimento e eficiência profissional

se modificam em função das disfunções do humor e da cognição. 8 Extensivos estudos

têm sido realizados para avaliar os circuitos neurológicos envolvidos na depressão, no

entanto, os principais ensaios têm focado nas alterações do humor, sendo esse sintoma o

mais compreendido, portanto.

Todavia, o transtorno depressivo apresenta alterações cognitivas que afetam a

capacidade funcional do indivíduo, seja no trabalho, na escola ou em casa, diminuindo a

capacidade de raciocínio e concentração. 2 Por este fato, os sintomas cognitivos como a

dificuldade de tomar decisões, capacidade diminuída de raciocínio e pensamento ou de

concentração foram incluídos como um dos critérios diagnóstico de depressão pelo DSM-

V. Nesse contexto, a relevância das disfunções cognitivas associadas ao transtorno

depressivo tem aumentado. 9

Os principais sintomas cognitivos efetivamente constatados na depressão são:

alterações na atenção, na fluência verbal, na memória de trabalho, na função executiva e

função motora. Apesar de estudos (McClintock et al. 2007, Hammar & Aldal 2009)

comprovarem a prevalência desses sintomas na depressão, não há um esclarecimento

preciso quanto a sua origem e relação com o transtorno depressivo, bem como a circuitaria

neurológica envolvida. 10 Novos estudos têm sido feitos para avaliar se estes sintomas

estão relacionados ao quadro depressivo como um constituinte sintomático, ou se seria

uma entidade nosológica independente. 9 Outro questionamento importante que tem sido

feito é a relação entre o tratamento antidepressivo e a melhora (ou piora) dos sintomas

cognitivos.

Inicialmente, as disfunções cognitivas foram atribuídas aos sintomas depressivos, a

partir de estudos com pacientes na fase aguda da depressão. Mas, nos últimos dez anos

estudos têm demonstrado que mesmo após a remissão dos sintomas depressivos as

disfunções cognitivas persistem nos pacientes, evidenciando uma dissociação entre os

sintomas cognitivos e a depressão. 9 A incongruência de resultados entre os estudos tem

sido justificada devido a influência da idade, gravidade e tipo de depressão, ocorrência de

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único ou múltiplos episódios depressivos, doenças cerebrovasculares e a eficiência da

terapia antidepressiva. 11

A ocorrência de depressão em pacientes idosos tem sido considerada como um grupo

biológico diferenciado, já que são mais suscetíveis a doenças neurológicas. Nesse grupo

são mais prevalentes alterações cognitivas que normalmente não estão relacionadas ao

quadro depressivo, sendo comumente denominadas como pseudodemência. 12

Após a descoberta dos antidepressivos, por volta da década de 50, a evolução e o

prognóstico do transtorno depressivo foram positivamente transformados. O tratamento

farmacológico com antidepressivos permitiu aos indivíduos o retorno às suas atividades

normais da vida cotidiana e profissional. Além disso, os danos relacionados às alterações

do humor e às disfunções cognitivas relacionada à depressão foram progressivamente

transformados em danos potencialmente reversíveis. Os benefícios clínicos dos

antidepressivos são bem conhecidos na literatura e são ratificados em diversos estudos,

principalmente os seus efeitos sobre a função intelectual e psicomotora. 13 Logo, seria de

se esperar melhoras cognitivas progressivas após o início do tratamento sintomático,

porém estudos relacionando estas duas variáveis precisam ser melhor explorados.14

E a despeito dos estudos envolvendo a presença de sintomas cognitivos no transtorno

depressivo estarem aumentando na literatura científica, apontando para uma evidente

relação entre o transtorno depressivo e os sintomas cognitivos, os estudos que questionam

a eficácia dos antidepressivos para remissão desses sintomas ainda são escassos e pouco

conclusivos, não podendo ser extrapolados para a prática médica. 14

Porém, sabe-se que componentes das drogas antidepressivas atuam aumentando os

níveis sinápticos das monoaminas, que segundo a hipótese monoaminérgica da depressão

estariam em níveis reduzidos. Estes, por serem neurotransmissores (principalmente

dopamina e serotonina) que atuam modulando o humor e a cognição dos indivíduos,

atuam para a melhora dos sintomas cognitivos da depressão. sendo esta a relação entre a

melhora dos sintomas cognitivos e o tratamento antidepressivo.14 15

As vantagens dos antidepressivos para a remissão dos sintomas cognitivos no

transtorno depressivo têm sido encontradas na literatura, apontado baixos níveis

orgânicos de serotonina e dopamina em pacientes com o transtorno depressivo, sendo esta

uma das explicações neuroquímica para as disfunções cognitivas apresentadas. Outros

apontam o uso de antidepressivos inibidores de recaptação de serotonina e

antidepressivos tricíclicos, para o tratamento da depressão como tendo efeitos

terapêuticos positivos na remissão dos sintomas cognitivos. 15 16

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8

O tratamento antidepressivo tem como base, em sua maioria, a associação de classes

farmacológicas, pois a monoterapia antidepressiva é efetiva em uma pequena parcela dos

indivíduos com depressão maior. Nesse contexto, apenas uma minoria dos pacientes

alcançam a remissão completa dos sintomas utilizando o esquema monoterapêutico,

restando a estes pacientes sintomas depressivos residuais e diminuição da cognição

(principalmente da concentração). E tendo-se em vista a relação entre os sintomas

depressivos e disfunções cognitivas, a persistência residual desses sintomas pode

comprometer a função cognitiva do paciente e o retorno adequado a suas funções

laborais.17

Para entender de que forma o tratamento antidepressivo atua para a melhora dos

sintomas cognitvos basta se ter em mente os neurocircuitos envolvidos na patologia

depressiva. Tendo-se em vista que a cognição em pacientes saudáveis é mediada por

circuitos que envolve diferentes sistemas de neurotransmissores e que conectam núcleos

da base, tálamo e córtex cerebral.17 Regiões como o hipocampo está relacionado com o

aprendizado declarativo e memória, mas está intrinsecamente conectado com outras áreas

corticais responsáveis pela integração da cognição e o processo emocional.17 A

interrelação destes circuitos seria a responsável por permitir a elaboração da relação entre

os sintomas cognitivos e os sintomas depressivos, além de hipóteses que reforçam a

correlação entre depressões mais graves e alterações na função cognitiva, que

eventualmente podem persistir durante os períodos de eutimia. 16.17 O desequilíbrio dessa

circuitaria em comum seria a responsável pelas alterações do humor e da cognição na

depressão maior.

Os neurotransmissores que possuem relação estabelecida entre a psicopatologia da

depressão e da cognição são: serotonina (5-HT), norepinefrina (NE) e dopamina (DA).

Sendo que a serotonina possui um papel muito importante, sendo ela responsável por

modular a atividade neuronal do córtex pré-frontal. O aumento da disponibilidade de 5-

HT na fenda sináptica é um dos alvos terapêuticos bem estabelecidos para o tratamento

da depressão. E sabe-se que a 5-HT está relacionada com a regulação da flexibilidade

cognitiva, atenção e impulsividade. 17 Essa relação neuronal do emocional e o cognitivo,

é uma evidência que fundamenta o uso de antidepressivos inibidores da recaptação de

serotonina como os mais empregados para tratar os sintomas cognitivos da depressão,

conquanto evidências existam de que os inibidores duais de recapturação da serotonina e

norepinefrina sejam mais efetivos no que concerne ao incremento da atividade

cognitiva16,17. Outros Modelos de explicação da patogênese da Depressão têm surgido

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nos últimos anos. As alterações volumétricas do hipocampo e de áreas prosencefalicas

encontradas nos pacientes com Depressão Maior respaldam a "hipótese da

neuroplasticidade", a qual se fundamenta na participação de fatores neurotroficos e na

diminuição da neurogenese hipocampal na fisiopatologia da depressão. O insuficiente

estímulo da neurogenese pelos fatores neurotroficos já identificados pela refinada

Pesquisa Neurobiologica seriam o substrato dos quadros depressivos,com sua ampla

variedade de sintomas, entre os quais as disfunções cognitivas. O uso dos antidepressivos

incrementaria os estímulos das moléculas neutroficas. Ademais, haveria que se mencionar

a hipótese da "cascata intracelular", na qual se destacam o papel do AMPciclico

(monofosfato cíclico de adenosina) e a forforilacao do CREB (proteína ligante ao

elemento de resposta do AMPc) e dos receptores BNDF (Brain-derived neurotrophic

factor ) por meio do CRH (hormônio liberador de corticotrofina). Estes últimos receptores

estariam subsensiveis na Depressão e o uso de antidepressivos aumentariam

gradualmente a ação neurotrofica da proteína BDNF. Contudo, foi escolhida como base

teórica a Teoria Monoaminergica, em virtude do seu valor histórico, por causa da

primazia -ainda na contemporaneidade- da utilização do referido modelo pelos autores

das neurociências , da psicofarmacologia e da clínica psiquiátrica e devido à sua alta

consistência heurística 34.

A literatura mostra que os antidepressivos possuem ação de aprimoramento da

memória episódica visual e verbal, memória de trabalho e velocidade de processamento

de informações. No entanto, o que se encontra em determinados estudos é que por mais

que estes sintomas cognitivos sejam “aprimorados”, quando comparados ao início do

quadro depressivo, estes não retornam para os seus valores basais de origem. Ou seja, os

sintomas cognitivos, mesmo após o tratamento antidepressivo tendem a persistir, mesmo

que em uma menor amplitude. 16.17

A despeito da grande prevalência do transtorno depressivo enquanto doença mental

estudos acerca dos sintomas cognitivos relacionados a esse transtorno tem sido pouco

encontrados, mesmo com a evidente relação entre a redução da capacidade cognitiva dos

indivíduos, expressa por redução da eficiência do raciocino, memória e função motora e

manutenção das disfunções. 17.18

O transtorno depressivo, apesar da subvalorização da súde mental, tem se tornado

uma preocupação na saúde publica devido aos extensivos gastos para o tratamento da

doença que além da sua grande prevalência impera a sua qualidade de uma das principais

doenças causadora de incapacidade laboral devido ao seu comprometimento cognitivo,

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10

além de tratamentos com remédios de alto custo. 2 Portanto, pesquisas envolvendo

estudos para a remissão desses sintomas serão de grande importância para que se consiga

uma melhor qualidade de vida e reinserção dos indivíduos na sociedade e na vida

profissional. Como benefício aos pacientes, o estudo mais aprofundado da depressão e os

seus sintomas cognitivos será fundamental, pois detectar e caracterizar esses distúrbios

dará subsídios a programas de saúde mental destinado a indivíduos com depressão e suas

necessidades, além de reduzir absurdamente o subdiagnóstico da doença..

É importante salientar que a identificação da eficácia do tratamento com

antidepressivos para remissão dos sintomas cognitivos se destaca pela importância destes

como fatores incapacitantes na depressão. Sendo assim, o estudo permitirá o

conhecimento necessário para o desenvolvimento de cuidados e precauções na vida

cotidiana do paciente, lhes permitindo uma melhor qualidade de vida.

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11

IV. Metodologia

IV.1 Desenho do estudo

O presente trabalho trata-se de um estudo exploratório comparativo de intervenção

que avaliou a relação entre a depressão e sintomas cognitivos.

IV.2 Amostra

A amostra para estudo foi retirada do ambulatório de depressivos e ansiosos do

Hospital Juliano Moreira. Foram selecionados pacientes diagnosticados com Depressão

Maior atendidos no ambulatório. A autorização para participação na pesquisa foi

realizada através da assinatura do Termo de consentimento Livre e Esclarecido pelos

pacientes.

IV.3 Variáveis a serem estudadas:

As variáveis a serem trabalhadas no estudo são os dados obtidos a partir da

aplicação de testes clínicos de avaliação cognitiva nos pacientes com diagnóstico de

depressão maior.

IV.4 Coleta de dados e instrumentos de coleta

A coleta de dados foi realizada através da aplicação de testes cognitivos: o teste

de fluência verbal, o teste do relógio e o Mini Exame do Estado mental.O teste da

fluência verbal consiste num teste neuropsicológico capaz de avaliar a memória

imediata, memória semântica e a capacidade de organizar o pensamento e

processamento das funções executivas. Ele é realizado pedindo-se para que o

paciente diga o maior número de nomes de animais em um minuto, aqueles que

alcançavam uma pontuação de 13 palavras foram considerados dentro dos padrões

de normalidade, valor válido apenas para aqueles com 8 anos ou mais de

escolaridade; e uma pontuação de 8 para analfabetos. O teste do relógio será

utilizado para avaliar a capacidade de execução motora, compreensão, habilidade

visuoespacial, habilidade e função executiva. Neste teste foi solicitado ao paciente

desenhar um relógio de ponteiros marcando determinada hora, cada detalhe do

desenho realizado recebe pontuação (se colocou a hora certa, ponteiros corretos,

números em ordem etc). A classificação vai de normal (entre 9 e 10 pontos),

suspeito para alteração cognitva (7-8), anormal (com disfunção cognitiva) <7.

Outro teste utilizado foi o mini exame do estado mental, um dos principais exames

utilizados por ser capaz de avaliar diversos aspectos da cognição. Ele avalia a

memória remota, memória evocativa, função executiva, compreensão verbal e

escrita, orientação, capacidade de fazer cálculo, fluência verbal, localização no

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tempo e no espaço, entre outras. A pontuação máxima é de 30 pontos que classifica

o paciente como normal (sem alterações cognitivas), sendo que há uma diferença

de valores de acordo com a escolaridade: escolaridade superior a 11 anos o ponto

de corte é ≤ 27 e analfabetos o ponto de corte é ≤15 pontos. Logo, pacientes que

pontuaram abaixo destes valores foram considerados com algum déficit cognitivo.

Estes testes foram utilizados para avaliar a cognição dos pacientes nos seus

diferentes aspectos, sendo aplicados em dois momentos durante o período do

estudo: aplicado na consulta de pacientes previamente diagnosticados com

depressão mas em swit de medicamentos e nos pacientes diagnosticados na primeira

consulta com o transtorno depressivo. A segunda aplicação dos exames foi

realizada após o seguimento de 2 meses em acompanhamento médico e tratamento

farmacológico com antidepressivos indicado para o transtorno depressivo de cada

paciente, podendo ser diferentes os medicamentos entre si, mantendo, porém, a

função de antidepressivo.

A aplicação dos testes em ocasiões diferentes objetivou avaliar a diferença dos

resultados dos testes cognitivos antes e após o tratamento farmacológico.

Permitindo inferir se o tratamento farmacológico contribuiu para a melhora

cognitiva dos pacientes ou se estes persistem apesar do tratamento.

IV.5 Definição do tamanho amostral:

A definição do tamanho amostral foi realizada através do método Lee-USP, para

estimar uma proporção com base na taxa previamente conhecida de 6% de Depressão

Maior na população geral, com variação de 10% da precisão absoluta e nível de

significância de 1% (p>0,01) o número amostral significativo para a pesquisa será igual

a 38.

IV.6 Critérios de Inclusão e Exclusão:

Foram incluídos pacientes maiores de 18 anos, diagnosticados e/ou em tratamento

para o transtorno depressivo, assim como pacientes em switch (mudança) de

antidepressivo. Foram excluídos pacientes dependentes químicos ou em tratamento

(alcoolismo e outras drogras ilícitas) devido a possíveis vieses nos resultados dos testes

cognitivos.

IV.7 Métodos estatísticos:

As variáveis foram classificadas e analisadas segundo os padrões de normalidade

adotados por cada teste. As variáveis contínuas foram analisadas através das medidas de

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13

médias, desvio padrão e mediana; e as variáveis categóricas, analisadas segundo

proporções.

A análise dos resultados foi realizada no sentido de avaliar a melhora dos sintomas

cognitivos após o tratamento farmacológico, foram comparados os resultados dos testes

pré e pós tratamento farmacológico, ao fim dos 2 meses em tratamento farmacológico

com antidepressivos, utilizando o Wilcoxon signed rank test e gráficos de análise

individual da performa-se de cada paciente.

Uma das limitações do estudo foi a perda de pacientes, que limitou as analises

estatísticas e comprometeu a realização da segunda fase do trabalho. No total foram

coletados 38 pacientes, no entando apenas 20 deram seguimento ao tratamento até a

conclusão do estudo. Essa perda se deu em função de muitos pacientes viverem no

intetior, o que dificulta o acompanhamento adequado detes pacientes além disso, muitos

por considerar “curado” da doença quando apresenta uma pequena melhora já não retorna

para o acompanhamento bimensal. Logo, as análises finais foram feitas com um N final

de 20 pacientes.

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14

V. Resultados

O resultado final comparativo das variáveis clínicas antes e após o tratamento

antidepressivo foi realizada com 20 pacientes, correnpondente à 53% da amostra inicial,

devido à descontinuidade do tratamento, limitações inerentes ao desenho do estudo tal

como dificuldade de contato com os pacientes entre outros motivos.

Em relação aos dados descritivos dos 20 pacientes que seguiram o tratamento por

dois meses, temos maioria da amostra do sexo feminino, correspondendo a 75% do total,

e o montante com uma média de idade de 50,6±14,7 anos. (tabela 1)

Tabela 1 - Descrição e características gerais de cada grupo .

Característica

Amostra inicial

(N = 38)

Dados completos

(Nf = 20)

N (%) Nf (%)

Gênero

Feminino 31 81,6 15 75,0

Masculino 7 18,4 5 25,0

Escolaridade

Ensino fundamental incompleto 2 5,3 2 10

Ensino fundamental completo 3 7,9 3 15

Ensino médio incompleto 3 7,9 2 10

Ensino médio completo 9 23,7 4 20

Ensino superior incompleto 4 10,5 2 10

Ensino superior completo 17 44,7 7 35

Medicamentos em uso

Antidepressivo 36 94,7 20 100,0

Ansiolítico 27 71,1 14 70,0

Neuroléptico 4 10,5 1 5,0

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15

Em relação ao esquema terapêutico antidepressivo 57,9% utilizou a associação

de antidepressivo e ansiolítico e 26,3% realizaram o tratamento monoterápico usando

apenas fármacos da classe dos antidepressivos. (Tabela 2)

Tabela 2 - Principais esquemas terapêuticos utilizados, nos pacientes do

estudo, para o tratamento da Depressão Maior.

Em relação aos medicamentos prescritos temos uma maior prevalência do uso do

Rivotril® (clonazepam), correspondendo a 25% dos medicamentos utilizados, sendo o

principal ansiolítico de escolha na terapia combinada, em relação à classe de

antidepressivo, o escitalopram apresentou uma maior prevalência correspondendo à 14%

de todos os antidepressivos prescritos. (Grafico1)

Gráfico 1 – Gráfico com os principais medicamentos prescritos para o tratamento

da depressão maior na população do estudo.

Medicamentos em uso N (%)

Antidepressivo 10 26,3

Antidepressivo e ansiolítico 22 57,9

Antidepressivo e neuroléptico 1 2,6

Antidepressivo, ansiolítico e neuroléptico 3 7,9

Ansiolítico 2 5,3

Total 38 100

1 1 1 2 1 1 2 3 2

10

53 2 1 1

42 3

20

7

2

02468

101214161820

Medicamentos prescritos

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16

Em relação aos resultados obtidos após tratamento antidepressivo, no teste de

fluência verbal, 60,5% dos pacientes obteve teste negativo, sem alterações cognitivas,

com uma média de 19,4±5 palavras/min ao fim do teste.

Comparando a pontuação entre os dois grupos antes e após intervenção

farmacológica temos uma mediana de aproximadamente 14 no grupo pré e

aproximadamente 15 no grupo pós intervenção. (gráfico 2). No entanto, apesar da

mediana ser maior no grupo pré intervenção, a análise gráfica mostra que no grupo pós o

valor máximo foi significativamente maior, aproximadamente 30; além de não possuir

uma divisão equidistante em relação à mediana, mostrando uma tendência à valores

maiores neste grupo em relação ao grupo pré.

Logo, graficamente pode-se inferir que houve melhora pós teste

significativamente maior que a maior prevalência de pacientes normais no pré-teste.

Gráfico 2: Boxplot da pontuação pré e pós teste da fluência verbal

Utilizando o teste de Wilcoxon signed rank test, pudemos destrinchar o grupo pós

intervenção farmacológica com a intenção de verificar se houve diferença do grupo após

a intervenção.

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17

O resultado foi: grupo pós intervenção apenas 4 indivíduos obtiveram piora do

desenvolvimento da fluência verbal, com um Rank médio de 12,88 e uma soma de ranks

51,5; enquanto que 14 indivíduos obtiveram melhora cognitiva, rank médio de 8,54 e

119,5 na soma dos ranks. (Tabela 3)

Tabela 3 - Wilcoxon signed rank test relativo ao teste de fluência verbal

p = 0,140

As diversas análises estatísticas realizadas apontam para uma melhora cognitiva

dos pacientes que se submeteram à intervenção medicamentosa. Quando fazemos a

avaliação categorizada do teste da fluência verbal (tabela 4), o que chama a atenção é a

quantidade de pessoas consideradas sem alterações cognitivas antes da intervenção. No

entanto, o que de fato ocorreu foi que, mesmo aquelas pessoas que não demonstraram

alterações de fluência verbal no momento do teste obtiveram um aprimoramento da sua

pontuação mantendo estas no grupo dos pacientes com pontuações dentro da

normalidade.

Tabela 4: Avaliação categorizada do teste de fluência verbal

Pós

Valor p Anormal Normal

Pré Anormal 4 (20,0) 1 (10,0)

1,000 Normal 1 (5,0) 13 (65,0)

Dados apresentados como n (%).

Teste exato de McNemar.

No teste do relógio a média da pontuação foi de 5,2 ±3 pontos. Sendo que apenas

31,6% da amostra obteve um desempenho normal, com uma média de pontuação de

3,5±1,6 pontos, após o tratamento antidepressivo.

Os resultados encontrados ao analisar o boxplot do teste do relógio foi: a mediana

pré intervenção foi de aproximadamente 5 enquanto que após a intervenção houve um

N Rank médio Soma dos ranks

Piora na função cognitiva 4 12,88 51,5

Melhora na função cognitiva 14 8,54 119,5

Sem alteração 2

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18

aumento da mediana para 7. No grupo pós-intervenção existe uma assimetria evidente na

divisão pela mediana com uma tendência a valores inferiores à mediana, ou seja, mesmo

após a intervenção alguns indivíduos do grupo pós se mantiveram anormais segundo os

critérios do teste do relógio, mantendo alterações cognitivas.

Gráfico 3: Classificação segundo escore alcançado no teste do relógio, seguindo

os seus critérios de avaliação e pontuação.

Na análise comparativa dos dois grupos utilizando o Wilcoxon signed rank test,

aproximadamente 49,9% dos pacientes apresentaram melhora na função cognitiva após a

intervenção farmacológica. O rank médio do grupo com melhora cognitiva foi de 8,5 e a

soma dos ranks 115,5. Enquanto os pacientes que apresentaram piora na função cognitiva

(3,15%) obtiveram um rank médio de 8,25 e uma soma dos ranks de 20,5. (Tabela 4)

Tabela 5 - Wilcoxon signed rank test para o teste do relógio

P = 0,010

N Rank

médio

Soma dos

ranks

Piora na função cognitiva 2 10,25 20,5

Melhora na função cognitiva 14 8,25 115,5

Sem alteração 4

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19

Na avaliação categorizada do teste do relógio o que chama a atenção é que 35%

dos pacientes apresentaram uma melhora cognitiva, mesmo que ainda não estejam

classificados como normais a evolução da pontuação indica uma possível tendência de

melhora com o tempo de tratamento.(Tabela 4).

Tabela 6: Avaliação categorizada do teste do relógio

Pós

Valor p Anormal Suspeito Normal

Pré

Anormal 6 (30,0) 5 (25,0) 2 (10,0)

0,072 Suspeito 1 (5,0) 0 (0,0) 1 (5,0)

Normal 0 (0,0) 1 (5,0) 4 (20,0) Dados apresentados como n (%).

Teste de Wilcoxon Signed Rank exato.

Nos resultados do mini exame do estado mental 57,9% da amostra obteve um

resultado negativo, sem anormalidades cognitivas, apresentando uma faixa de pontuação

que variou de 28-30 pontos, com uma média de 28,9±0,6 pontos.

Utilizando o bloxpot (grafico5), a mediana do teste pré intervenção foi de

aproximadamente 27, sendo perceptível uma assimetria na divisão do retângulo com uma

tendência a valores abaixo da mediana. Enquanto que na amostra pós intervenção se tem

uma mediana de aproximadamente 26 e uma divisão equitativa do retângulo onde as

linhas que limitam o valor mínimo e o valor máximo estão dentro dos valores de

normalidade deste teste, de acordo com a pontuação.

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20

Gráfico 4 - Classificação dos pacientes segundo a presença ou ausência de

déficit cognitivo a partir da pontuação alcançada no mini exame do estado mental.

Na análise comparativa dos dois grupos utilizando o Wilcoxon signed rank test,

aproximadamente 55% dos pacientes apresentaram melhora na função cognitiva após a

intervenção farmacológica. O rank médio do grupo com melhora cognitiva foi de 7,14 e

a soma dos ranks 78,5. Enquanto os pacientes que apresentaram piora na função cognitiva

(10%) obtiveram um rank médio de 6,25 e uma soma dos ranks de 12,5.

Tabela 7: Wilcoxon signed rank test para o mini exame do estado mental

N Rank

médio

Soma dos

ranks

Piora na função cognitiva 2 6,25 12,5

Melhora na função

cognitiva

11 7,14 78,5

Sem alteração 7 *P = 0,021

Na avaliação categorizada do teste mini exame do estado mental encontramos que

20% dos pacientes conseguiram melhorar sua pontuação e mudar de categoria (anormal

para normal). Alguns pacientes permaneceram na mesma categoria, correspondendo a

50% da amostra, porém mesmo permanecendo dentro da faixa de normalidade pode ter

havido algum aprimoramento da função cognitiva pós intervenção.

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Tabela 8: Avaliação categorizada do mini exame do estado mental

Pós

Valor p Anormal Normal

Pré Anormal 5 (25,0) 4 (20,0)

0,375 Normal 1 (5,0) 10 (50,0)

Dados apresentados como n (%).

Teste exato de McNemar.

Desempenho individualizado de cada paciente nos testes cognitivos antes e após

a intervenção farmacológica:

No teste da fluência verbal pode-se notar que alguns pacientes (25%) obtiveram

uma melhora visualmente significativa, enquanto que o restante da amostra obteve

pequenas alterações na pontuação, sem indicar uma melhora significativa. Enquanto que

15 % da amostra apresentou uma regressão cognitiva segundo os parâmetros do teste

utilizado. (gráfico 5)

Gráfico 5: Desempenho individual no teste de fluência verbal

A análise de desempenho individual no mini exame do estado mental, chama a

atenção 5 pacientes (25%) que tiveram uma melhora notória de acordo com a pontuação

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22

do teste. Enquanto a maioria dos pacientes permaneceu com o mesmo score e dentro dos

padrões de normalidade. (gráfico 6)

Gráfico 6: Desempenho individual antes e após a intervenção

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23

O teste do relógio foi o mais sensível para identificar os pacientes que tinham

algum déficit no início e no fim. Seguindo os critérios do teste do relógio 75% dos

pacientes evoluiu com melhora cognitiva.

Gráfico 7: Desempenho individual no teste do relógio

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24

VI. Discussão

Nosso estudo corrobora dados da literatura apresentando um N inicial de 38 pacientes

onde 81,6% eram do sexo feminino e média de idade de 50 anos aproximadamente 21.

Atualmente sabe-se que os principais acometidos por essa doença são as mulheres jovens

e aquelas de meia idade.

A presença de sintomas cognitivos durante os quadros depressivos se relacionam

diretamente com a neurofisiopatologia da depressão maior 21. As teorias que explicam a

fisopatologia da depressão estão relacionadas com alterações no sistema límbico e

gânglios da base e áreas relacionadas ao controle do humor e cognição. Por ser áreas que

se interconectam a fisiopatologia da depressão do humor pode comprometer, também,

algumas funções cognitivas e por isso temos essa apresentação de sintomas nos pacientes

com depressão.

No entanto, a principal teoria para o transtorno depressivo é a teoria das monoaminas,

que acredita que esses neurotransmissores estariam em níveis inferiores ao normal

esperado nas sinapses, principalmente serotonina e dopamina 24. Nos estados depressivos

se tem baixos níveis de dopamina e serotonina, os quais atuam principalmente na

modulação do lobo frontal e conexões límbicas, relacionadas ao afeto, humor,

comportamento além de outras áreas da cognição. Com baixos níveis de dopamina e

serotonina se tem associado uma redução de receptores e transporte neuronal. É baseada

nessa hipótese (das monoaminas) que o tratamento antidepressivo se sustenta,

restaurando o nível e o funcionamento das monoaminas nas fendas sinápticas 2,6.

Os antidepressivos, como os tricíclicos que atuam como inibidores da receptação de

serotonina e noradrenalina, atuam seletivamente no funcionamento de monoaminas

reestabelecendo seus níveis de normalidade, chamados de inibidores seletivos de

receptação da serotonina, os quais tem sido cada vez mais prescritos 25. O escitalopram

se enquadra nessa nova classe de antidepressivos seletivos da serotonina, logo, o nosso

achado de uma maior prevalência do escitalopram como antidepressivos de escolha

corresponde a estudos encontrados na literatura, de 38 pacientes 10 utilizaram

escitalopram como antidepressivo 24.

Em relação à combinação do tratamento de escolha, houve uma prevalência de

aproximadamente 57% da combinação antidepressivo e ansiolítico para o tratamento

inicial. Essa tendência de tratamento combinado tem sido registrada em diferentes estudos

evidenciando o tratamento antidepressivo monoterápico com resultados inferiores, tanto

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25

de melhora dos sintomas depressivos quanto dos sintomas cognitivos, em relação à terapia

combinada, seja com outro antidepressivo, ansiolíticos ou neurtolépticos para a remissão

satisfatória dos sintomas. Essa combinação se deve às diferentes áreas corticais

disfuncionais durante a depressão, logo uma combinação tenderia a abrir o espectro de

ação do tramento 26.

Sabendo-se da presença dos sintomas cognitivos presentes durante o transtorno

depressivo, diversos estudos têm sido realizados para avaliar a qualidade e intensidade

desses sintomas e testar qual seria o melhor método de tratamento 25,27.

Analisando epidemiologicamente os resultados obtidos antes do tratamento

depressivo, os dados se correlacionam exatamente como é encontrado na literatura, sendo

facilmente reprodutíveis. O quadro clássico de rebaixamento do humor, anedonia, entre

outros já está bem estabelecido na literatura e na prática médica, já que são critérios

diagnóstico para o transtorno depressivo no DSM-V e CID-10. Em relação aos testes

cognitivos utilizados na nossa metodologia, existem dados consistentes na literatura que

apontam o comprometimento da fluência verbal, da execução motora e da capacidade de

processar informações como os principais distúrbios cognitivos encontrados.16. Nossos

resultados mostraram que nos períodos iniciais da doença há sim, alguma disfunção

cognitiva pré tratamento, mas após os dois meses de acompanhamento os testes

mostraram que a tendência foi que esses sintomas melhorassem. Mesmo que alguns

pacientes não tenham mudado da categoria anormal para normal pôde-se perceber que o

desempenho desses pacientes melhorou, colocando-os dentro do grupo que obtiveram de

alguma forma uma melhora funcional cognitiva.

Os sintomas cognitivos presentes em pacientes com depressão precisam ser melhor

elucidados. Existem divergências de opiniões quanto à neuropsicopatologia dos sintomas,

mas no nosso estudo, antes do tratamento antidepressivo, houve apresentação de

alterações cognitivas durante a primeira avaliação do teste da fluência verbal, apesar de

não ser de maior prevalência, 39,5% dos pacientes apresentaram disfunções relacionadas

a redução da fluência verbal, memória remota e atenção. Essa alteração observada pode

estar relacionada com uma diminuição da função psicomotora 28. Os estudos encontrados

que avaliam a fluência verbal são escassos e utilizam metodologias de avaliação

cognitivas diferentes em cada estudo. Porém estudos com diferentes metodologias,

apresentam resultados que confirmam a presença desses sintomas com uma maior

prevalência quando comparado a um grupo controle (sem depressão) 29.

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26

Em relação ao nosso resultado, o fato da maioria dos pacientes não apresentar

disfunções nessa categoria cognitiva pode estar relacionado ao estágio inicial do

transtorno depressivo, já que os testes foram aplicados durante a primeira consulta.17 O

teste do relógio tem a capacidade de avaliar diferentes funções executivas como função

motora, raciocínio, orientação, memória, percepção visoespacial, ou seja, é um teste que

consegue abarcar uma maior quantidade de funções, sendo portanto, bastante específico

28. Nesse contexto, o resultado deste teste antes da intervenção farmacológica coincide

com os dados na literatura quando mostra que 68,4% foram classificados como anormais,

significanto a presença de distúrbios cognitivos. Não consta na literatura o uso do teste

do relógio para triagem cognitiva em pacientes depressivos, no entanto ele é um teste

validado e de confiabilidade. Estudos utilizando outras metodologias, mas que avaliam

as mesmas características cognitivas propõe a redução da função motora e raciocínio

como uma das principais implicações cognitivas no transtorno depressivo 30. Os trabalhos

que avaliam os distúrbios cognitivos presentes na depressão são escassos e diversos em

sua metodologia, implicando em diferentes opiniões a cerca de determinado parâmetro 31.

Estudos de avaliação neurocognitiva permitiu identificar áreas afetadas durante o

transtorno depressivo. Topograficamente inclui lobo frontal, circuito de papez, substancia

branca, alterações volumétricas do hipocampo, além de outras regiões. Logo, já seria

esperando uma apresentação clínica ampla desse paciente depressivo, inclusive das suas

funções cognitivas superiores. Tal fato se relaciona com a dificuldade de padronização

das avaliações cognitivas nestes pacientes, pois não existe um teste padrão que seja

específico para o rastreio dessas disfunções especificamente em pacientes depressivos.

Este estudo incluiu na metodologia três testes cognitivos aumentando a sensibilidade

dos resultados. Além do teste do relógio, que consegue avaliar diversas funções

cognitivas, o mini exame do estado mental tem sido utilizado como teste de triagem

específica para alterações cognitivas e indícios de demência. Ele aborda desde função

escritra, como oral, motora, memória, raciocínio, capacidade de realizar cálculos etc,

nossa amostra obteve 42,1% de pacientes com déficits cognitivos no mini exame do

estado mental. Mais uma vez, não ser numericamente mais prevalente, não implica em

um resultado negativo, mas sim que uma grande quantidade de pacientes com transtorno

depressivo apresenta algum sintoma relativo a alterações da função cognitiva.

A aplicação do teste foi realizado durante a primeira consulta onde aproximadamente

48% dos pacientes foram normais, no entanto um acompanhamento desses pacientes ao

longo do desenvolvimento da doença poderia ser encontrado, alterando assim a

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27

prevalência. Esses resultados confirmam os dados encontrados na literatura que têm o

tratamento antidepressivo como fator de melhora e recuperação da capacidade cognitiva

do indivíduo, uma vez que se foi constatada a presença de disfunções cognitivas durante

o período sintomático da depressão.18

Apesar dos valores indicarem melhora da capacidade cognitiva, pode se perceber que

muitos pacientes ainda se enquadram na classificação de anormalidade para o teste, ou

positivo para alterações cognitivas. Reforçando que talvez essas alterações persistam

durante o período de eutimia do paciente.17

A elevada prevalência da terapia antidepressiva combinada está relacionada com a

sua maior eficácia para o tratamento depressivo em detrimento da monoterapia em alguns

pacientes. Sendo que, estudos mostram que pacientes em uso de monoterapia

antidepressiva se revela com uma resposta inferior para a melhoria dos sintomas

cognitivos quando comparado à terapia combinada.16.17.18

Estudos realizados com antidepressivos como a sertralina, uma monoamina que atua

na inibição da receptação seletiva da seroronina, como um dos medicamentos que tem

associado ao seu benefício no humor e na cognição. Confirmou a apresentação de

sintomas cognitivos iniciais, tais como redução psicomotora em associação com a

redução da função executiva e atenção 32.

Apesar de ser o escitalopram o medicamento antidepressivo mais usado na nossa

população, estudos mostram que o uso de inibidores seletivos da receptação de serotonina

e norepinefrina têm efeitos superiores para o aprimoramento da memória episódica e

memória de trabalho em relação aos inibidores seletivos de recaptação de serotonina,

entre os quais se inclui o escitalopram.17

A justificativa para o esccitalopram ter se destacado como antidepressivo mais

prescrito está estritamente relacionada a sua função neural. Há estudos na literatura que

apontam para o mesmo resultado, sendo o uso do escitalopram priorizado tendo-se em

vista a sua maior capacidade de interação neuronal, com estímulo de proliferação de

células da glia e produção de neurotransmissores, que aceleram a recuperação cognitiva33.

A depressão tem sido uma das doenças psiquiátricas mais prevalentes e cada vez mais

diagnosticada, principalmente em jovens ativos. Nosso estudo apresentou limitações

inerentes a qualquer processo de pesquisa: perda de seguimento, pouco período de

acompanhamento, pequeno número amostral para realização das analises estatísticas.

Mas, a sua validade é respaldada pela literatura e os seus resultados podem vir a servir

para futuras pesquisas maiores, já que essa questão entre a disfunção cognitiva e a

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28

depressão ainda não foi eluciadada e ainda é possível encontrar opiniões controversas

sobre o assunto.

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29

VII. CONCLUSÕES

Nosso estudo pode concluir que os pacientes diagnosticados com depressão

apresentam sim disfunções cognitivas, apesar de haver aquelas que não

demonstre nenhum sintoma aos testes clínicos que aplicamos.

É possível concluir que as atividade relacionadas com motricidade, memória

e movimentos finos e precisos, como desenhar um relógio se encontram

prejudicadas na maioria dos pacientes.

Os testes mais sensíveis para detecção desses sintomas foram o teste do

relógio e o mini exame do estado mental.

Após o tratamento anti depressivo se percebeu significativa melhora na

pontuação dos pacientes, até mesmo aqueles que foram considerados normais

para déficits cognitivos. Isto indica que o tratamento farmacológico auxilia de

alguma forma a restauração e aprimoramento das capacidades mentais

superiores de forma diretamente proporcional à evolução da doença.

Apesar deste trabalho apontar para uma melhora cognitiva ainda há muito o

que ser pesquisado sobre a relação dos antidepressivos, sintomas cognitivos e

a Depressão Maior.

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30

VIII. SUMMARY

Rationale / objectives: The depressive disorder is a mental illness most prevalent,

accounting for about 20% of cases, and a major cause of work disability and mental

impairment, and is therefore of great social, occupational and cognitive. Depression

shows cognitive changes that affect the functional capacity of the individual reducing the

reasoning and concentration. The aim of this study is to identify cognitive deficits before

and after pharmacological treatment of major depression. In order to examine

antidepressant treatment as a factor to improve cognitive symptoms in patients with

depression. Methods: A sample of 38 patients diagnosed with major depression was

applied cognitive assessment tests: verbal fluency test, test clock and Mini-Mental State

Examination. The tests were applied on two occasions: during the first visit of each patient

and after the following two months in medical care and drug treatment for the disorder.

Results / Discussion: N With a total of 38 patients, 81.6% were female, with an average

age of 50.6 ± 14,7anos. In the therapeutic regimen, only 26.3% made monotherapy

treatment with antidepressants. In 25% of the creep test obtained a visually significant

improvement, while the remainder of the sample obtained small changes in the score,

without indicating a significant improvement. Individual performance analysis in the

Mini-Mental State Examination, points 5 patients (25%) who had a notable improvement

according to test scores. While most patients remained with the same score and within

normal limits. The clock was the most sensitive test to identify patients who have a deficit

at the beginning and end. Following the Clock test criteria 75% of patients progressed to

cognitive improvement. Cognitive symptoms of depressive disorders relate to

neuropathophysiology of major depression. The fisopatologia depression is related to

changes in the limbic system and basal ganglia and areas that interconnect the cognitive

functions. Pharmacological treatment helps somehow the restoration and improvement of

higher mental abilities in direct proportion to disease progression.

Key words: Major depression; antidepressant treatment; antidepressants; cognition;

cognitive function; cognitive dysfunction; memory; verbal fluency; executive function

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31

IX. Referências bibliográficas

1. Del Porto José Alberto. Conceito e diagnóstico. Rev. Bras. Psiquiatr. [serial on

the Internet]. 1999 May [cited 2014 Jan 19] ; 21( Suppl 1 ): 06-11.

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XI. Anexos

Anexo I.

Formulário de Identificação do paciente

DATA: Número________

IDENTIFICAÇÃO

Nome

Cor Sexo Data de Nascimento: ____/____/____

Idade Estado civil

Profissão

Escolaridade

Telefone Pessoa para contato

Endereço

E-mail

Serviço de Origem

Nome e telefone do médico

Naturalidade Procedência

Diagnóstico

Paciente de primeira consulta: ( ) Não ( ) Sim / Tempo

Episódios anteriores: ( ) Não ( ) Sim / Quando

Medicamentos em uso:

Posologia do medicamento:

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Anexo II.

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

" Disfunção Cognitiva na depressão maior antes e após tratamento farmacológico,

em pacientes acompanhados em hospital de referência em Salvador, Bahia, Brasil”

Prezado (a) Senhor (a):

Gostaríamos de convidá-lo (a) a participar da pesquisa " Disfunção Cognitiva na

depressão maior antes e após tratamento farmacológico, em pacientes

acompanhados em hospital de referência em Salvador, Bahia, Brasil", realizada no

Hospital Juliano Moreira. O objetivo da pesquisa é avaliar as alterações cognitivas

presentes em pacientes com depressão que irão receber tratamento no Hospital Juliano

Moreira. A pesquisa será realizada através da aplicação de 3 (três) testes clínicos que

avaliarão as funções cognitivas nesses pacientes. A sua participação é muito importante

e ela se dará através da participação nos 3 (três) testes que serão realizados na primeira

consulta, serão eles: Teste do relógio, Mini Exame do Estado Mental (Mini Mental) e

Teste da fluência verbal. Gostaríamos de esclarecer que sua participação é totalmente

voluntária, podendo você: recusar-se a participar, ou mesmo desistir a qualquer momento

sem que isto acarrete qualquer ônus ou prejuízo à sua pessoa. As informações obtidas

serão utilizadas somente para os fins desta pesquisa e serão tratadas com o mais absoluto

sigilo e confidencialidade, de modo a preservar a sua identidade.

Os benefícios esperados são de posse da prevalência das alterações cognitivas,

conseguir analisar o impacto que a depressão pode levar no cotidiano das pessoas,

podendo ser causa limitante do desenvolvimento das habilidades pessoais e sociais devido

a prejuízos cognitivos desencadeados pelo transtorno de humor e avaliar a eficácia do

tratamento antidepressivo e a remissão dos sintomas cognitivos. O presente trabalho pode

oferecer riscos relacionados ao constrangimento dos pacientes ao responder os testes

cognitivos.

Informamos que o(a) senhor(a) não pagará nem será remunerado por sua

participação. Garantimos, no entanto, que todas as despesas decorrentes da pesquisa serão

ressarcidas, quando devidas e decorrentes especificamente de sua participação na

pesquisa.

Caso o(a) senhor(a) tenha dúvidas ou necessite de maiores esclarecimentos pode

nos contatar Marina Bispo Santiago Lima, [email protected], ou procurar

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o Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Faculdade de Tecnologia

e Ciências de salvador. Este termo deverá ser preenchido em duas vias de igual teor, sendo

uma delas, devidamente preenchida, assinada e entregue ao(a) senhor(a) e outra anexada

ao protocolo da pesquisa desenvolvida.

Este Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi produzido com base nas normas da

Resolução 466/2012, de 12 de dezembro de 2012.

Salvador, ___ de __________de 201_.

Pesquisador Responsável

RG::__________________________

_____________________________________ (nome por extenso do sujeito de

pesquisa), tendo sido devidamente esclarecido sobre os procedimentos da pesquisa,

concordo em participar voluntariamente da pesquisa descrita acima.

Assinatura (ou impressão dactiloscópica):____________________________

Data:___________________

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Anexo III.

Mini Exame do Estado Mental

1. Orientação (1 ponto por cada resposta correta)

Em que ano estamos? _____

Em que mês estamos? _____

Em que dia do mês estamos? _____

Em que dia da semana estamos? _____

Em que estação do ano estamos? _____

Nota:____

Em que país estamos? _____

Em que estado? _____

Em que cidade? _____

Em qual bairro? _____

Em qual lugar? _____

Nota:____

2. Retenção (contar 1 ponto por cada palavra corretamente repetida)

"Vou dizer três palavras; queria que as repetisse, mas só depois de eu as dizer todas;

procure ficar a sabê-las de cor".

Pêra _____

Gato _____

Bola _____

Nota:____

3. Atenção e Cálculo (1 ponto por cada resposta correta. Se der uma errada mas depois

continuar a subtrair bem, consideram-se as seguintes como corretas. Parar ao fim de 5

respostas)

"Agora lhe peco que me diga quantos são 30 menos 3 e depois ao número encontrado

volta a tirar 3 e repete assim até eu lhe dizer para parar".

27_ 24_ 21 _ 18_ 15_

Nota:____

4. Evocação (1 ponto por cada resposta correta.)

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"Veja se consegue dizer as três palavras que pedi há pouco para decorar".

Pêra ______

Gato ______

Bola ______

Nota:____

5. Linguagem (1 ponto por cada resposta correta)

a. "Como se chama isto? Mostrar os objetos:

Relógio ____

Lápis______

Nota:____

b. "Repita a frase que eu vou dizer: O RATO ROEU A ROLHA"

Nota:____

c. "Quando eu lhe der esta folha de papel, pegue nela com a mão direita, dobre-a ao meio

e ponha sobre a mesa"; dar a folha segurando com as duas mãos.

Pega com a mão direita____

Dobra ao meio ____

Coloca onde deve____

Nota:____

d. "Leia o que está neste cartão e faça o que lá diz". Mostrar um cartão com a frase bem

legível “FECHE OS OLHOS"; sendo analfabeto lê-se a frase.

Fechou os olhos____

Nota:____

e. "Escreva uma frase inteira aqui". Deve ter sujeito e verbo e fazer sentido; os erros

gramaticais não prejudicam a pontuação.

Frase:

Nota:____

6. Habilidade Construtiva (1 ponto pela cópia correta.)

Deve copiar um desenho. Dois pentágonos parcialmente sobrepostos; cada um deve ficar

com 5 lados, dois dos quais intersectados. Não valorizar tremor ou rotação.

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Nota:____

TOTAL (Máximo 30 pontos):____

Análise da pontuação ajustado para a escolaridade:

Considera-se com déficits cognitivos:

• Analfabetos ≤ 15 pontos

• De 1 a 11 anos de escolaridade ≤ 22

• Escolaridade superior a 11 anos ≤ 27

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Anexo IV.

Teste de fluência verbal

Solicita-se que o paciente enumere o máximo de animais ("bichos") e frutas em 1 (um)

minuto cronometrado.

Ex.: "Você deve falar todos os nomes de animais que se lembrar, no menor tempo

possível. Qualquer animal vale: insetos, pássaros, peixes e animais de quatro patas.

Quanto mais você falar, melhor. Pode começar".

Pontuação mínima Número

8 (oito) anos de escolaridade ou mais 13

Analfabeto 9

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Anexo V.

Teste do Relógio

PACIENTE:

IDADE: SEXO DATA:

AVALIADOR:

PONTUAÇÃO:

COMANDO: O avaliador fornece um círculo (mostrador) e solicita:

“Por favor, desenhe um relógio com os números e depois disso desenhe os ponteiros

marcando, por exemplo, 11horas e 10 minutos.”

TEMPO:

Não há tempo determinado.

Se, por iniciativa própria, o paciente achar que não ficou bem e quiser desenhar de novo,

é permitido.

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Pontuação:

Relógio e números incorretos (1-5 pontos)

1. Não houve iniciativa ou não conseguiu. Desenho não interpretável.

2. Desenho indica que a solicitação foi de certa forma compreendida, mas pouca

semelhança com um relógio.

3. Distorção na numeração. Faltam números ou estes estão fora do mostrador. Ausência

de ponteiros.

4. Números faltando ou situados fora dos limites do relógio.

5. Numeração em ordem inversa, ou concentrada em alguma parte do relógio.

Relógio e números corretos (6-10 pontos)

6. Interpretação errada da solicitação de desenho dos ponteiros (desenho de “relógio

digital”, indicar as horas colocando círculos nos números, etc.)

7. Ponteiros alterados, porém compreensíveis, hora errada, mas números corretos.

8. Pequenos erros no tamanho e posição dos ponteiros.

9. Pequeno erro no tamanho dos ponteiros. Posição certa. Hora correta.

10. Desenho correto.

Interpretação

Pontuação ≤7 => anormalidade

Pontuação entre 7-8 => suspeita

Pontuação entre 9-10 => desempenho normal

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ANEXO VI.

Comprovante de submissão ao Comitê de Ética

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