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UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO ETIENNE LAUTENSCHLAGER Discutindo diferentes significados de Equação num curso de Formação Continuada de Professores MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA UNIBAN SÃO PAULO 2012

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Page 1: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO

ETIENNE LAUTENSCHLAGER

Discutindo diferentes significados de Equação num curso

de Formação Continuada de Professores

MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

UNIBAN

SÃO PAULO

2012

Page 2: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO

ETIENNE LAUTENSCHLAGER

Discutindo diferentes significados de Equação num curso

de Formação Continuada de Professores

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Universidade Bandeirante de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de título de Magister Scientiae em Educação Matemática, sob orientação da Doutora Angélica da Fontoura Garcia Silva.

UNIBAN

SÃO PAULO

2012

Page 3: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

Lautenschlager, E.

Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

Formação Continuada de Professores / Etienne Lautenschlager. – [s.n.], 2012.

São Paulo. Xxxf.; 30cm.

Dissertação de Mestrado – Universidade Bandeirante de São Paulo,

Mestrado Acadêmico em Educação Matemática.

Orientadora: Profa. Dra. Angélica da Fontoura Garcia Silva.

1. Multisignificados de Equação 2. Equação 3. Educação

Algébrica 4. Educação Matemática 5. Formação de

Professores

I. Título

Page 4: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

Banca Examinadora ________________________________________ Profa. Dra. Angélica da Fontoura Garcia Silva (Presidente – Orientador) ________________________________________ Prof. Dr. Alessandro Jacques Ribeiro (Titular Externo - UFABC). ________________________________________ Prof. Dra. Dra. Siobhan Victoria (Lulu) Healy (Titular interno – Uniban) ________________________________________ Prof. Dr. Salahoddin Shokranian (Titular Externo - UNB).

Page 5: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste

trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins

de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

_________________ ____________________ Assinatura Local e data

Page 6: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

Dedico este trabalho à minha família e aos meus antepassados.

Page 7: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

AGRADECIMENTOS

À Professora Dra. Angélica da Fontoura Garcia Silva, por acolher-me e

dedicar-se para que este trabalho fosse concluído. Professora, meus sinceros

agradecimentos.

Ao professor Adilson de Morais, pela ajuda inestimável e apoio desde a

graduação.

Ao professor Luiz Antonio de Morais, pelas conversas,

pela atenção, pelos conselhos ―infalíveis‖.

Aos professores do Curso de Pós-Graduação em Educação Matemática, em

especial aos professores Dr. Ruy César Pietropaolo e Dr. Luiz Gonzaga Xavier de

Barros, que me apontaram novos caminhos.

Ao Professor Dr. Alessandro Jacques Ribeiro pela orientação no início deste

trabalho, pelo apoio, amizade, e por estar sempre presente, mesmo de longe.

À Professora Dra. Siobhan Victoria Healy, pelas valiosas contribuições a este

trabalho.

Ao Professor Dr. Salahoddin Shokranian, por ouvir-me falar incessantemente

deste trabalho, pelas sugestões, esclarecimentos das minhas dúvidas e por todo

apoio prestado.

Aos professores colaboradores dessa pesquisa, pelas reflexões

proporcionadas durante a Formação.

Aos meus pais, Jorge e Odízia, à minha irmã Lucienne, pelas palavras de

apoio e pelo carinho. À minha irmã, pelo constante incentivo para que eu

ingressasse no Mestrado e pela colaboração em ler este texto.

Aos colegas de curso que, direta ou indiretamente, contribuíram para a

realização desta pesquisa, em especial: Isabela Galvão Barbosa Stempniak,

Edvonete Souza de Alencar, Ronaldo Sovenil, Fábio Amaro, Gileno Moura do

Nascimento, Wellerson Quintaneiro e Rosangela Ando.

Page 8: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

Na maior parte das ciências, uma geração põe abaixo o que a outra construiu, e o que a outra

estabeleceu a outra desfaz. Somente na Matemática é que cada geração constrói um novo

andar sobre a antiga estrutura.

(Hermann Hankel)

Page 9: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

RESUMO

O presente estudo preocupou-se em investigar o conhecimento profissional

docente de professores participantes de um curso de formação continuada sobre

noções relativas aos processos de ensino e aprendizagem de equações. Para a

realização da pesquisa, desenvolveu-se um curso de formação continuada que

priorizou a realização de estudo, análise e discussão das diferentes concepções de

Álgebra, sobretudo no que se refere às diferentes formas de ver e de tratar a noção

de equação. A fundamentação foi construída a partir de teorias que discutem a

formação de professores, como em pesquisas que investigam questões didáticas

relacionadas à equação. Em relação à primeira abordagem, apoiou-se, sobretudo,

em estudos de Shulman e Ball et al., ampliados pelas discussões de Serrazina. Em

relação às questões didáticas associadas ao objeto matemático, utilizou-se a

classificação proposta por Ribeiro para os multisignificados das equações. A

metodologia foi qualitativa e se desenvolveu por meio da análise de um processo de

formação continuada. Para a coleta de dados da pesquisa de campo, utilizou-se

como instrumentos questionários, registros escritos de observações colhidos nas

três sessões de formação de quatro horas cada. Os dados obtidos no questionário

inicial sugeriam que, no geral, os professores dotados de maior compreensão sobre

as equações conseguiram aprofundar reflexões sobre questões relacionadas à

justificativa das estratégias utilizadas pelos estudantes. Observou-se ainda uma

relação intrínseca entre domínio do conhecimento do conteúdo com o conhecimento

pedagógico e curricular. A análise dos planos de aula elaborados pelos professores

antes e depois do processo formativo exibe que, depois da intervenção, houve uma

maior preocupação em relação à proposição de situações de aprendizagem que

contemplavam uma maior variedade de significados assumidos pelo conceito de

equação.

Palavras-chaves: Educação Matemática; Conhecimento Profissional Docente;

Formação de Professores; Multisignificados de Equação; Ensino de Equação.

Page 10: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

ABSTRACT

This study was concerned with researching professional teaching knowledge

of teachers participating in continued formation classes on equations learning and

teaching processes notions. For research purposes, continued formation classes

were developed, giving priority to study, analysis and discussion on different

conceptions of Algebra, especially about different ways to see and work the notion of

equation. The background to this study was built from theories that discuss teachers

formation, as they were set in researches investigating didactic questions related to

equations. Concerning the first approach, this study was supported especially by

Shulman and Ball et al., extended by Serrazina‘s discussions . Concerning didactic

questions associated to the mathematical object, it was used the classification

proposed by Ribeiro to ―Multisignificados das equações‖ [Equations multimeanings].

It was used qualitative methodology developed by analyzing a continued formation

process. The data collection of field research was made with questionnaires,

observation written logs collected during the three formation sessions, four hours

each. Data obtained in the initial questionnaire suggested that teachers with more

comprehension of equations were in general more able of deepening reflections

about questions related to interpreting the strategies used by students. It was noted

also an intrinsic relation between content knowledge and pedagogical and curricular

knowledge. The analysis of class plans made by the teachers before and after the

formation process shows that, after intervention, a bigger concern related to learning

situations proposition was noted, including more variety of meanings present in the

concept of equation.

Keywords: Mathematical Education; Professional Teachers Knowledge; Teachers

Formation; Multisignificados de Equação; Equation Teaching.

Page 11: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

SUMÁRIO

Apresentação ........................................................................................................... 13

Capítulo 1: Motivações... ........................................................................................ 15

1.1 Introdução ................................................................................................................. 15

1.2 Relevância do Tema ................................................................................................. 22

Capítulo 2: Um olhar sobre pesquisas anteriores ................................................ 25

2.1 Sobre Álgebra ........................................................................................................... 25

2.2 Sobre Educação Algébrica e Ensino da Álgebra ....................................................... 28

2.3 Sobre equação .......................................................................................................... 33

2.4 Formação de professores .......................................................................................... 39

Capítulo 3: Metodologia da Pesquisa .................................................................... 49

3.1 A Formação ............................................................................................................... 50

3.2 Os participantes da formação .................................................................................... 52

3.3 O cenário da investigação: Movimento de Mudança Curricular ................................. 54

3.4 O primeiro dia da Formação ...................................................................................... 59

3.5 O segundo dia da Formação ..................................................................................... 63

3.6 O terceiro dia da Formação ....................................................................................... 66

3.7 Análises dos Dados ................................................................................................... 67

Capítulo 4: Apresentação e Análise dos Dados ................................................... 68

4.1 Análise do questionário ............................................................................................. 68

4.2 Análise dos relatos dos planos de trabalho docente .................................................. 80

4.3 Análise do material de apoio: Caderno do Professor ................................................. 87

4.4 Análise do segundo relato ......................................................................................... 90

Capítulo 5: Considerações finais ........................................................................... 99

Bibliografia ............................................................................................................. 106

Anexos ................................................................................................................... 110

Anexo 1: Proposta de Formação Continuada em Matemática ....................................... 110

Anexo 2: Termo de consentimento livre e esclarecido ................................................... 114

Anexo 3: Atividade realizada no primeiro dia do encontro ............................................. 115

Anexo 4: Atividade realizada no segundo dia do encontro: ........................................... 118

Anexo 5: Atividade realizada no terceiro dia do encontro .............................................. 119

Page 12: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Álgebra em quadrinhos .............................................................................. 25

Figura 2: Categorias de Ball e Shulman .................................................................... 44

Figura 3: Exemplo de situação de aprendizagem sugerida no Caderno do Professor e apresentada no Caderno do Aluno – 6ª série – vol. 4. ........................................... 56

Figura 4: Exemplo de situação de aprendizagem sugerida no Caderno do Professor e apresentada no Caderno do Aluno – 6ª série – vol.4. ............................................ 57

Figura 5: Caderno do Aluno – 6ª série, vol.4. ............................................................ 59

Figura 6: Resposta da Professora A para a questão 2. ............................................. 70

Figura 7: Resposta da Professora J para a questão 2. ............................................. 71

Figura 8: Relato da Professora A .............................................................................. 83

Figura 9: Relato da Professora J ............................................................................... 84

Figura 10: Relato da Professora B ............................................................................ 85

Figura 11: Caderno do Professor, 6ª série, vol. 4, p.17 (2008) ................................. 88

Figura 12: Caderno do Professor, 6ª série, vol. 4, p.23 (2008) ................................. 89

Figura 13: Orientações do Caderno do Professor – 6ª série, vol.4, p.29 (2008) ....... 90

Figura 14: Segundo relato da professora A ............................................................... 92

Figura 15: Continuação do segundo relato da professora A ..................................... 93

Figura 16: Segundo relato da Professora B .............................................................. 95

Figura 17: Trecho do segundo relato da Professora B .............................................. 96

Figura 18: Segundo relato da professora J ............................................................... 96

Figura 19: Trecho do segundo relato da professora J ............................................... 97

Figura 20: Trecho do segundo relato da professora A .............................................. 98

Figura 21: Protocolo do professor C ........................................................................ 101

Figura 22: Protocolo do professor I ......................................................................... 101

Figura 23: Protocolo do professor D ........................................................................ 102

Figura 24: Avaliação da professora B ..................................................................... 104

Figura 25: Avaliação do professor I ......................................................................... 104

Page 13: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Álgebra no ensino fundamental ................................................................ 31

Quadro 2: Definições de Equação ............................................................................. 34

Quadro 3: Multisignificados de Equação ................................................................... 37

Quadro 4: O processo de formação .......................................................................... 51

Quadro 5: O grupo de professores ............................................................................ 53

Quadro 6: A álgebra nos cadernos ............................................................................ 55

Quadro 7:Questão 1 .................................................................................................. 69

Quadro 8: Questão 2 ................................................................................................. 70

Quadro 9: Questão 3 ................................................................................................. 72

Quadro 10: Questão 4 ............................................................................................... 74

Quadro 11: Questão 5 ............................................................................................... 77

Quadro 12: Questão 6 ............................................................................................... 79

Quadro 13: Significados de equação empregados no primeiro relato ....................... 82

Quadro 14: Significados de equação empregados no segundo relato ...................... 91

Page 14: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

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Apresentação

A pesquisa que aqui apresentamos, elaborada sob o título ―Discutindo os

diferentes significados de Equação num curso de Formação Continuada de

Professores‖, está vinculada à linha de pesquisa Formação de Professores que

Ensinam Matemática do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da

Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban), e busca investigar e observar o

conhecimento profissional docente sobre equação empregado no processo de

formação continuada e também os significados de equação utilizados pelos

professores de Matemática quando estão envolvidos em um processo de formação

no qual lhes são propiciadas possibilidades de reflexão sobre a sua prática

pedagógica. Procuramos observar como a discussão dos Multisignificados de

Equação poderia proporcionar o aperfeiçoamento e a ampliação dos conhecimentos

sobre Equação em um curso de formação continuada de professores de

Matemática.

Para o desenvolvimento de tal pesquisa, teremos como aportes teóricos as

contribuições de diferentes pesquisadores, dentre as quais os trabalhos de Shulman

(1986), Ball et al. (2008), ampliadas pelos estudos de Serrazina (2012),para discutir

o conhecimento do professor; nos apoiamos também em Ribeiro (2007) para

analisar as concepções de equação observadas no curso de formação.

Para apresentar esse estudo, organizamos este texto em cinco capítulos, os

quais descreveremos a seguir.

No primeiro capítulo, apresentamos nossa problemática de pesquisa, alguns

dos motivos que nos levaram a investigar a Educação Algébrica e uma análise de

algumas pesquisas existentes sobre o tema, objetivando ampliar nossa justificativa e

discutir a teoria que utilizaremos neste estudo. Encerraremos o capítulo

apresentando e discutindo algumas pesquisas que justificam a relevância do tema.

No segundo capítulo, discutimos alguns trabalhos que versam sobre a álgebra

e seu ensino. Também apresentaremos as diferentes definições de equação,

identificadas por Pereira (2005) e, em especial, os diferentes significados de

equação (RIBEIRO, 2007), que entendemos permear as análises dos planos de

trabalho dos docentes envolvidos nesta pesquisa. Apontamos ainda neste capítulo,

Page 15: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

14

as pesquisas referentes à Formação de Professores e ao Conhecimento Profissional

Docente, como a que concerne ao objeto matemático equação.

No terceiro capítulo, discutimos a metodologia da pesquisa e faremos uma

análise preliminar do nosso instrumento de coleta de dados, na qual apresentamos

as possíveis respostas para cada atividade que compõem o referido instrumento.

No quarto capítulo, apresentamos os dados obtidos durante o processo de

formação e sua análise.

Finalmente, no último capítulo, relatamos brevemente o percurso do trabalho,

as análises feitas e as relacionamos com resultados de outras pesquisas.

Comentamos as ―limitações‖ da pesquisa, possibilidades e, finalmente, indicamos a

necessidade de novos trabalhos.

Page 16: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

15

Capítulo 1

Motivações...

1.1 Introdução

O colégio me aborrecia. Tomava muito tempo que eu teria preferido consagrar aos desenhos de batalhas ou a brincar com fogo. O ensino religioso era terrivelmente enfadonho e as aulas de Matemática me angustiavam. A Álgebra parecia tão óbvia para o professor, enquanto que para mim os próprios números nada significavam: não eram flores, nem animais, nem fósseis, nada que se pudesse representar, mas apenas quantidades que se produziam contando... Para minha surpresa, os outros alunos compreendiam tudo isso com facilidade. Ninguém podia me dizer o que os números significavam e eu mesmo não era capaz de formular a pergunta. Com grande espanto descobri que ninguém entendia a minha dificuldade... O fato de nunca ter conseguido encontrar um ponto de contato com as Matemáticas (embora não duvidasse que era possível calcular validamente) permaneceu um enigma por toda minha vida. O mais incompreensível era a minha divida moral quanto à Matemática... As aulas de Matemática tornaram-se o meu horror e o meu tormento, mas como tinha facilidade nas outras matérias, que me pareciam fáceis, e graças a uma boa memória visual, conseguia desembaraçar-me também no tocante à Matemática: meu boletim geralmente era bom, mas a angústia de poder fracassar e a insignificância da minha existência diante da grandeza do mundo provocavam em mim não apenas mal-estar, mas também uma espécie de desalento mudo que acabou por me indispor profundamente com a escola.(JUNG, apud MACHADO, 2004, p.2-3, grifos nossos)

Nem sempre as palavras conseguem traduzir sentimentos, mas ao me

deparar com o depoimento de Carl Gustav Jung percebi que nele estavam

expressos alguns dos meus sentimentos enquanto aluna.

As aulas de Matemática, durante minha Educação Básica, eram meu

tormento! Eu tinha dificuldades para compreendê-las. Lembro-me que na antiga

sexta série do Ensino Fundamental as minhas dificuldades aumentaram e comecei a

ter muitos problemas para compreender essa disciplina. Nessa época comecei a

acreditar que para compreender a Matemática era necessário ter uma espécie de

―dom divino‖ e, definitivamente, eu estava convencida de que não era portadora

desse dom.

Tudo piorou, lembro-me bem, quando as letras começaram a fazer parte das

contas. Que terror! Como posso fazer ―continhas‖ com letras? O que são essas

Page 17: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

16

letras? Não posso fazer as contas com os números em seus devidos lugares desde

o início da conta?

Eu tinha muitas perguntas, mas não eram as perguntas esperadas pelos

meus professores. Ninguém parecia entender minhas dificuldades, que por muitas

vezes foram confundidas com a falta de comprometimento com os estudos. Eu não

conseguia formular as tais perguntas esperadas e em contrapartida eles não

respondiam aos meus questionamentos.

Lembro-me de certa vez perguntar para minha antiga professora de

matemática: o que era raiz quadrada? Por que tem o nome de raiz? Que conta era

essa? Ela apenas respondeu que era assim e ponto final... Que revolta... Eu

continuava sem entender nada...

Assim o tempo passou até que desisti de entender a Matemática e resolvi

apenas cumprir as regras e procedimentos que me eram ensinados sem questioná-

los e esperar o tempo passar, até que eu pudesse ter a chance de escolher uma

graduação em que a Matemática passasse bem longe.

Dessa forma, como sempre demonstrei certa afinidade com Biologia e

Química, minha primeira opção foi cursar a Medicina, pois acreditei, como em um

ledo engano, que para ser médico bastava saber alguns poucos assuntos básicos

de Matemática.

Prestei alguns vestibulares, logo após me dedicar aos estudos em cursinhos

preparatórios, e meu desempenho nas avaliações de Matemática teimava em

continuar abaixo do esperado.

Como demonstrava certa facilidade em entender as demais matérias e o meu

problema de aprendizagem parecia estar concentrado numa disciplina específica, foi

então que aceitei o desafio e decidi entender a tão temida Matemática. Dessa forma,

no segundo semestre de 1998 comecei a estudar na Universidade Braz Cubas

(UBC) o curso de Licenciatura e Bacharelado em Matemática. Neste momento, o

meu objetivo era procurar todas as respostas para as perguntas que eu tinha e,

portanto, me dediquei muito aos estudos. Percebi que não era necessário ter um

―dom divino‖. As ―coisas‖ só começaram a fazer sentido na faculdade e eu me

Page 18: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

17

perguntava a todo instante: por que não me mostraram isso antes? Por que só

naquele momento, já cursando a faculdade, é que eu tive a oportunidade de

descobrir algumas das respostas para as minhas perguntas?

Nesse momento, então, percebi que meus professores talvez não soubessem

as respostas para minhas perguntas. Foi aí que observei a relação intrínseca entre a

atividade docente e um profundo conhecimento do conteúdo específico. Todavia,

minha concepção ainda acreditava que para ser um bom professor de Matemática,

era suficiente saber Matemática.

Ainda com relação à minha formação inicial, hoje observo que, se por um lado

algumas questões sobre o conhecimento específico do conteúdo foram bastante

discutidas durante minha formação inicial, outras questões como ―quais estratégias

podemos empregar para o ensino de determinado assunto?‖, ―por onde eu

começo?‖ ―como selecionar atividades?‖ ―como avaliar o aluno em Matemática?‖,

não foram privilegiadas.

Dessa maneira, observo que minha concepção sobre a formação de

professores também foi se modificando: saber Matemática é de fundamental

importância para o desenvolvimento da prática docente; todavia, somente esse

conhecimento não é suficiente para ser professor. Tal mudança tem relação com

minha vivência profissional.

Ainda durante a graduação, fui convidada a integrar o grupo de pesquisas do

Núcleo de Matemática e Matemática Aplicada da UBC, no qual tive a oportunidade

de trabalhar com a Formação de Professores e percebi que há muitas lacunas, pois

a grande maioria dos professores envolvidos no projeto apresentava uma formação

com grande defasagem dos conteúdos matemáticos elementares.

Tal projeto desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisas em Matemática e

Matemática Aplicada (NUPEMAP) da UBC foi desenvolvido em parceria com as

Diretorias Regionais de Ensino de Mogi das Cruzes, Suzano e Itaquaquecetuba, e

tinha por objetivo contribuir para a formação de professores do Ensino Fundamental

no que se refere ao ensino de Matemática. Neste projeto, que contava com a

presença de 120 professores de Matemática, desenvolvíamos diferentes atividades.

Ao realizarmos a análise das respostas obtidas em uma dessas atividades, nos

Page 19: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

18

deparamos com alguns problemas do tipo: os professores, em sua maioria, faziam

confusões entre as figuras planas e figuras tridimensionais e consideravam a

moeda, por exemplo, como um círculo. Isso nos conduzia a retomar o conteúdo e

aprofundá-lo com os participantes.

Acredito, assim como Dantas (1969), que a profissão docente tem imensos

desafios. Para a autora ―a maioria dos nossos professores precisa, acima de tudo,

sobrepujar as deficiências de sua educação; isto é, aprender a raciocinar bem,

abstrair e generalizar e, portanto, poder receber novas informações‖. (DANTAS,

apud PINTO, 2007, p.251). Dessa forma, ainda em minha formação inicial tive o

primeiro contato com a temática da formação de professores.

Continuando minha trajetória acadêmico-profissional, paralelamente à

atividade de professora da rede pública passei a trabalhar em cursos e grupos de

pesquisa em formação inicial e continuada de professores que ensinam Matemática.

O início dessa nova atividade moveu-me a buscar mais trabalhos que

abordam o tema ―Formação de Professores‖. Cito, por exemplo, Imbernón (2006,

p. 57-65). O autor me apresentou uma visão mais ampla do que a discussão que

vivenciei durante minha licenciatura sobre a temática de formação de professores. O

autor considera formação de professores como um processo contínuo de construção

de conhecimentos e habilidades para a docência. Nesse estudo, Imbernón chama a

atenção para o fato de que a formação de professores já tem início na escolarização

básica. Dessa forma, para o autor, quando um professor ingressa no curso de

Licenciatura já está impregnado de concepções, conhecimentos, imagens e ideias

que provavelmente serão reproduzidos no início de sua prática profissional. Tais

observações me fizeram refletir sobre as ideias que eu tinha sobre a relação entre a

aprendizagem dos alunos e a prática docente. Observei o quanto minha relação com

a matemática e meus professores foi fortalecida no processo de minha formação

inicial.

Imbernón (2006) discute ainda que o processo de construção do

conhecimento do professor iniciado no curso de licenciatura será aprofundado pela

vivência profissional, ou seja, por meio da interação entre os próprios pares na

Page 20: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

19

prática e pode ser aprofundado pela busca de novas soluções, pela análise dos

resultados encontrados por outros professores ou mesmo por diferentes estudos.

Dessa forma, mesmo ampliando minhas primeiras ideias sobre o tema,

observava que minhas reflexões eram acompanhadas de dúvidas e incertezas.

Assim, tal leitura me fez sentir ainda mais a necessidade de aprofundar e ampliar

meus estudos de forma mais sistemática, no que diz respeito à Formação de

Professores.

Destarte, decidi por ingressar no mestrado em Educação Matemática da

Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN), onde procurei a linha de

pesquisa de Formação de Professores que ensinam Matemática, dado que

pretendia trazer algumas contribuições para a formação continuada de professores

de Matemática. Influenciada pelas ideias de Chazan & Yerushalmy (2003), escolhi

inicialmente concentrar meus estudos no campo da Educação Algébrica, visto que

para os autores um caminho para compreender a relação entre conhecimento dos

professores e desempenho dos alunos é a concentração em uma determinada área

curricular. Os autores acreditam ainda que a diversidade de pensamento sobre o

que constitui a álgebra e como ela pode ser ensinada é um desafio importante na

análise do conhecimento do professor no contexto da álgebra escolar.

Ao entrar na UNIBAN fui convidada a participar de um projeto de pesquisa,

que já estava em andamento, que pretendia trazer contribuições para a formação

inicial e continuada de professores de Matemática no campo da Educação Algébrica,

mais especificamente ao ensino e à aprendizagem de equações. Como tal projeto

parecia atender aos meus primeiros anseios, resolvi também focar minha pesquisa

no ensino e na aprendizagem de equações.

Durante minha participação nesse grupo, foi-me apresentado um panorama

das diferentes visões de Álgebra e da Educação Algébrica. Também tomei

conhecimento da pesquisa realizada por Ribeiro (2007) sobre as diferentes formas

de conceber a noção de equação e de algumas pesquisas realizadas anteriormente

abordando os Multisignificados de Equação e Professores de Matemática. É o caso

de Barbosa (2009), que realizou uma pesquisa objetivando identificar como os

diferentes significados de equação, categorizados por Ribeiro, se manifestavam nas

Page 21: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

20

concepções de professores de Matemática; e de Stempniak (2010), que procurou

investigar como futuros professores de matemática veem, interpretam e tratam

situações matemáticas que contemplem os diferentes significados de equação

(Ribeiro, 2007).

Assim sendo, dei início aos meus estudos para realizar minha pesquisa.

Nesse sentido, a temática de minha dissertação se fundamenta em teorias que

versam sobre as questões didáticas acerca do objeto matemático: equação como

nos estudos que investigam sobre a formação de professores. Quanto ao primeiro

enfoque, nos apoiamos em estudos de Fiorentini, Miorin e Miguel (1993) e Usiskin

(1995) sobre Álgebra e Ensino da Álgebra; nas ideias de Ribeiro (2007) sobre os

Multisignificados de Equação. No que concerne às questões relacionadas à

formação de professores, nos baseamos nos estudos de Shulman (1986) referentes

à compreensão de processos de aprendizagem profissional da docência; nas de Ball

et al. (2008) sobre os três componentes no conhecimento matemático: o

conhecimento da disciplina, o conhecimento sobre a disciplina e a relação do

professor com a disciplina.

Tais pesquisas citadas serão retomadas de forma mais ampliada na revisão

de literatura e na fundamentação teórica da presente pesquisa.

Destarte, anunciamos o objetivo desta pesquisa de maneira sucinta, o qual

será retomado e discutido ao longo do desenvolvimento deste estudo. Nosso

objetivo é investigar o conhecimento profissional docente de professores

participantes de um curso de formação continuada sobre noções relativas aos

processos de ensino e aprendizagem de equações.

Uma vez que nossa pesquisa tem como cenário um curso de Formação

Continuada, para o desenvolvimento desta dissertação elaboramos e executamos

um curso de formação continuada que priorizou a realização de estudo, análise e

discussão das diferentes concepções de Álgebra, sobretudo no que se refere mais

especificamente às diferentes formas de ver e de tratar a noção de equação. Este

curso, intitulado ―Álgebra: ideias e questões‖ foi destinado aos professores em

exercício efetivo da docência em Matemática na rede pública estadual jurisdicionada

à Diretoria de Ensino do Município de Suzano.

Page 22: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

21

Antes de prosseguir com a construção desse trabalho, acredito ser importante

para a compreensão da pesquisa esclarecer e fundamentar em que sentido estou

empregando o termo formação continuada de professores.

Em anos bem recentes, alguns autores como Nóvoa (2008), Imbernón (2009)

e Marcelo (2009) vêm centrando suas discussões no conceito de desenvolvimento

profissional docente (em substituição ao de formação inicial e continuada).

As pesquisas como a de Pietropaolo et al. (2009) vêm discutindo questões

relacionadas ao desenvolvimento de processos de formação continuada que

possam contribuir para mudanças da prática docente que favoreçam a melhoria da

qualidade do ensino de Matemática. Os autores chamam a atenção para a

importância de que sejam criadas situações que favoreçam oportunidades aos

participantes de refletir sobre a própria formação continuada de professores:

(...) não se justifica apenas para complementar ou superar prováveis deficiências oriundas da formação inicial, mas também para atender às demandas evidenciadas pelas recentes propostas curriculares para a Educação Básica. Tais propostas incorporam resultados de pesquisas, sobretudo em relação às competências necessárias à prática profissional, às concepções de ensino e aprendizagem e que requerem do professor uma profunda reflexão sobre o seu fazer pedagógico (PIETROPAOLO et al., 2009, p.37)

Dessa forma, considero também que a formação continuada deve ser

observada de forma mais ampla, assim como indicaram os autores. Aliado a isso,

acredito também, assim como Imbernón (2006), que a formação continuada com

vistas ao desenvolvimento profissional deve contemplar os aspectos da prática

docente, observando ainda contextos de sala de aula a fim de permitir ao

profissional possibilidades de revisitar sua prática, favorecera reflexão e permitir sua

reconstrução.

Assim, continuando a construção dessa pesquisa, apresento a seguir a

discussão de alguns trabalhos desenvolvidos sobre Álgebra, Educação Algébrica e

Formação Profissional Docente que serviram para reforçar minhas conjecturas sobre

a relevância desta pesquisa.

Page 23: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

22

1.2 Relevância do Tema

Para justificar a relevância da realização de estudos sobre esse tema,

apresentaremos algumas pesquisas discutidas no âmbito da área de Educação

Matemática.

Em relação às questões didáticas associadas ao objeto matemático, estudos

como os de Santos (2005), apoiados em Yamada (1997), discutem a importância

que o ensino e aprendizagem da Álgebra ocupam na Educação Básica.

Todavia, vale ressaltar que há muitos problemas relacionados à

aprendizagem da Álgebra, e em especial à aprendizagem de equações. Nesse

sentido, há diversos estudos que buscam analisar erros cometidos por estudantes

quando resolvem equações. Kieran (1992), por exemplo, observou que muitos

alunos manipulavam equações de forma mecânica; tal estudo foi confirmado por

pesquisas brasileiras. Recentemente Freitas (2000) e Nogueira (2006), por exemplo,

observaram que nossos alunos cometiam os mesmos erros indicados por Kieran

(1992), tanto ao manipular equações de primeiro grau como as de segundo grau.

Nesse sentido Lima (2007), por exemplo, observou que nas equações de primeiro

grau a falta de conexão entre as técnicas de resolução e a justificativa matemática

acabou por obrigar o aluno a:

(...) memorizar dois procedimentos diferentes- ―passar para o outro lado trocando o sinal‖ e ―passar para o outro lado dividindo‖, que são ambos procedimentos a serem aplicados a cada linha da resolução, o que impede o aluno de ter a compreensão da resolução como um todo. (LIMA, 2007, p.293)

Quanto à resolução das equações quadráticas, a mesma autora afirma que os

estudantes também:

(...) não atribuem significado formal para os métodos que usam. A fórmula de Bhaskara é vista como um procedimento de cálculo, com o qual se obtém o valor de x, e que não tem significado simbólico nem formal. Outros meios de resolução de equações quadráticas, que exigem compreensão de características formais, não são usados e nem mesmo considerados como válidos. (LIMA, 2007, p.292)

Dessa forma, segundo esse mesmo estudo o ensino acaba por ser realizado

por meio ―da repetição, e não pelo significado matemático envolvido‖ (LIMA, 2007).

Page 24: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

23

No que se refere ao ensino das equações, Cury et al. chamam atenção para o

fato que:

As dificuldades apresentadas pelos docentes, em especial em conceitos como o de equação, que são ensinados na Educação Básica, constituem-se em entraves para os cursos de Licenciatura em Matemática, pois tais dificuldades podem acarretar consequentes problemas na compreensão de Matemática por parte de seus alunos. (CURY et al., 2011, p.144)

No que concerne ao foco no Conhecimento Profissional Docente, pesquisas

como as de Doerr (2004); Chazan & Yerushalmy (2003); Araújo (1999), por exemplo,

apontam para a necessidade de investigações sobre o conhecimento do professor e

a prática de ensino de álgebra.

Doerr (2004) observa como um dos principais obstáculos para mudança na

forma de como a Álgebra é ensinada nas escolas é a falta de um corpo substancial

de pesquisas sobre os conhecimentos dos professores e prática no ensino de

Álgebra.

A autora acima citada alerta ainda para o fato da escassez de investigação de

como os professores aprendem a ensinar Álgebra, como entendem as suas próprias

práticas e como elas se formam e são formadas pela própria prática dentro dos

próprios contextos culturais específicos. A autora argumenta sobre a necessidade de

se haver um foco de investigação sobre aprendizagem de professores. Para a

autora, o foco dessas pesquisas não deve contemplar só a natureza desse

conhecimento, visto que considera mais importante como esse conhecimento é

adquirido e desenvolvido.

O trabalho de Chazan & Yerushalmy (2003) traz uma importante reflexão para

o desenvolvimento desse trabalho, uma vez que os autores apresentam os

seguintes pressupostos: professores possuem algo chamado de conhecimento; esse

conhecimento é adquirido, tanto no ensino como também nas experiências fora da

sala de aula; este conhecimento influencia o modo como os professores atuam com

os alunos e como os envolve no estudo da matemática; quando os professores

possuem certo tipo de conhecimento, as intervenções realizadas em sala de aula

levam a uma maior realização dos estudantes; enquanto os professores não

possuam esse tipo de conhecimento não serão capazes de ensinar de uma maneira

eficaz.

Page 25: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

24

Retomarei tais pressupostos ao analisar o conhecimento profissional docente

dos professores envolvidos nessa pesquisa, no capítulo em que analiso os dados

obtidos na realização da formação continuada.

Araújo (1999) desenvolveu uma pesquisa com 378 sujeitos, buscando

verificar o desempenho algébrico e as dificuldades manifestadas por alunos do

primeiro ano de diferentes áreas do conhecimento do Ensino Superior e alunos

concluintes do Ensino Médio. A autora acima citada, após analisar os dados obtidos,

observa que a maioria dos estudantes apresentou baixo desempenho no teste de

Álgebra. A partir daí, desenvolve algumas reflexões objetivando conscientizar os

professores e os cursos de formação de professores sobre a importância de buscar

novos métodos de ensino que propiciem aos alunos uma aprendizagem mais

significativa da Álgebra.

Araújo (1999) apresenta conclusões muito importantes e contributivas ao

constatar, em sua pesquisa, que nos cursos de formação dos professores,

geralmente, ―não existe preocupação de refletir sobre a formação do pensamento

algébrico, para que os futuros professores possam ter uma prática mais significativa,

que garanta uma aprendizagem real da Álgebra.‖ (ARAÚJO, 1999)

Complementando essas considerações, Yamada (1997, apud SANTOS,

2005) ressalta que o ensino de Álgebra tem e terá uma destacada posição devido à

crescente matematização da sociedade, sendo necessário tornar o ensino da

Álgebra mais significativo e menos monótono. A autora também conclui que há uma

urgente necessidade de revisão na formação do professor, atendendo às novas

mudanças de valores da sociedade, e destaca a importância da formação

continuada do professor em serviço.

A importância desse tema é justificada pela importância que o ensino e

aprendizagem da Álgebra ocupam na Educação Matemática Básica evidenciada nos

trabalhos acima citados. Também percebemos, após a leitura desses trabalhos, que

é necessária a realização de estudos sobre o conhecimento dos professores e

prática no ensino de Álgebra. Imaginamos que nossos resultados contribuirão na

busca pela melhoria da qualidade dos cursos que proporcionam a Formação

Continuada dos professores de Matemática.

Page 26: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

25

Capítulo 2

Um olhar sobre pesquisas anteriores

Figura 1: Álgebra em quadrinhos

Inicialmente, procuramos uma definição para Álgebra e, em seguida,

discutiremos alguns trabalhos sobre Concepções de Álgebra e Educação Algébrica.

Finalizaremos o capítulo discutindo sobreo Conhecimento Profissional Docente.

Para isso vamos, neste capítulo, apresentar as classificações da Álgebra e as

diferentes Concepções de Educação Algébrica elaboradas por Fiorentini, Miorin e

Miguel (1993) e Usiskin (1995). Apresentaremos também os significados de equação

categorizados por Ribeiro (2007) e as definições de equação identificadas por

Pereira (2005).

Também apresentamos, neste capítulo, algumas pesquisas sobre o ensino e

a aprendizagem da Álgebra e as concepções de equações, algumas das quais

serviram de suporte para a elaboração do nosso instrumento de coleta de dados.

2.1 Sobre Álgebra

Numa tentativa de buscar uma definição para a palavra Álgebra, recorremos

ao dicionário da Língua Portuguesa, no qual encontramos o seguinte significado: é a

―ciência do cálculo das grandezas abstratas, representadas por letras‖ (Dicionário

Aurélio). Consultando um dicionário específico de Matemática, nos deparamos com

a seguinte definição para Álgebra: ―parte da Matemática que estuda equações e

cálculos com variáveis e incógnitas, ambas representadas por letras‖ (IMENES &

LELLIS, 1998). Notamos aqui uma aproximação entre as duas definições.

Page 27: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

26

Não satisfeitos com tal definição encontrada, prosseguimos pesquisando em

livros de História da Matemática. Dentre as leituras feitas, encontramos o livro de

Baumgart (1992) que considera estranha e intrigante a origem da palavra ―álgebra‖.

De acordo com o autor, ela é uma variante latina da palavra árabe ―al-jabr‖ (às vezes

transliterada ―al-jebr‖) usada no título de um livro, ―Hisabal-jabrw'al-muqabalah‖, que

foi escrito por volta do ano 825 pelo matemático Mohammed ibn-Musa Khowarizmi e

que frequentemente é citado, abreviadamente, como ―Al-jabr‖.

O autor acima citado menciona que a tradução literal do título completo do

livro é a "ciência da restauração (ou reunião) e redução‖, mas considera que talvez a

melhor tradução fosse simplesmente "a ciência das equações".

Ainda sobre o tema o autor observa que a palavra "álgebra", hoje em dia, tem

um significado muito mais amplo, e por isso há a necessidade de identificar duas

fases: Álgebra antiga (elementar) que contempla o estudo das equações e métodos

de resolvê-las e Álgebra moderna (abstrata) que contempla o estudo das estruturas

matemáticas, tais como grupos, anéis e corpos.

Para o autor, é conveniente traçar o desenvolvimento da álgebra em termos

dessas duas fases, uma vez que a divisão é tanto cronológica como conceitual. Em

Kieran (1995), encontramos que a álgebra muitas vezes é chamada de ―aritmética

generalizada‖.

Definir álgebra não é uma tarefa fácil.

Nesse sentido, Usiskin (1995) nos faz refletir um pouco mais sobre o assunto,

ao afirmar que:

A Álgebra continua sendo um veículo para a resolução de certos problemas, mas também é mais do que isso. Ela fornece meios para se desenvolverem e se analisarem relações. É a chave para caracterização e a compreensão das estruturas matemáticas. (USISKIN, 1995)

O registro mais antigo que remete à álgebra foi o papiro de Rhind escrito por

volta de 1650 a.C. por um escriba chamado Ahmes. Acredita-se que o surgimento

da álgebra aconteceu junto com o surgimento da própria escrita, que também é

considerada uma forma simbólica de representar ideias e acontecimentos.

Page 28: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

27

Fiorentini e seus colaboradores apresentam cinco ―leituras do

desenvolvimento da álgebra‖. A primeira parte do debate é sobre a natureza da

álgebra gerando as concepções de tendência tradicional (considera a álgebra como

uma aritmética generalizada) e a tendência moderna (que considera a álgebra como

um sistema simbólico postulacional). A segunda leitura fundamenta-se na

―contribuição das diversas culturas à constituição desse campo de conhecimento‖

(p.79), ou seja, procura evidências do pensamento algébrico nas diferentes culturas

álgebra egípcia, babilônica, pré-diofantina, diofantina, chinesa, hindu, arábica, ou

álgebra da cultura europeia renascentista, dentre outras.

A terceira leitura ―distingue três momentos‖ no desenvolvimento da álgebra

em função das fases evolutivas da linguagem algébrica: a retórica ou verbal, a

sincopada e a simbólica. A fase verbal ou retórica vai dos babilônios até o grego

Diofante. Nesta fase não se fazia uso de símbolos ou abreviações para expressar

pensamentos algébricos. A fase sincopada começa com Diofante ao utilizar

símbolos matemáticos para facilitar a escrita e os cálculos. Estes símbolos eram

geralmente abreviações que expressavam quantidades e operações. Vale ressaltar

que ele é considerado o pioneiro na solução de equações e também é considerado o

pai da álgebra. A fase sincopada se estende por vários anos até François Viète. A

terceira fase é a simbólica, que começa com Viète e se consolida com René

Descartes. Nesta fase as ideias algébricas são expressas somente por meio de

símbolos sem recorrer ao uso de palavras. As notações utilizadas atualmente nas

equações algébricas, como os coeficientes a, b e c para os números conhecidos e x,

y e z para as incógnitas, se deve a René Descartes.

A quarta leitura, fundamentando-se em Jacob Klein, baseia-se ―não mais nos

aspectos exteriores da linguagem algébrica, isto é, no seu maior ou menor grau de

concisão, mas na significação que é atribuída aos símbolos desta linguagem‖ (p.80).

Fiorentini afirma que, segundo Klein, ―pode-se dizer que é somente a partir da

percepção do novo caráter simbólico assumido pela letra que se pode falar em um

verdadeiro nascimento da álgebra, ou seja, esta leitura reconhece em Viète o

autentico fundador da álgebra‖ (p.81). A quinta e última leitura foi a realizada por

Piaget e Garcia (1987); nessa leitura os autores consideram ―aquela que toma como

critério os métodos de abordagem (...) da resolução de equações.‖ (p.81). Piaget e

Garcia (1987), na obra ―Psicogênese e história das ciências‖, distinguiram 3 grandes

Page 29: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

28

períodos de desenvolvimento da álgebra: intraoperacional, interoperacional e

transoperacional.

Dessa forma, a partir da análise dessas leituras é que os autores

apresentaram as concepções de Álgebra e assim as nomeiam:

Processológica: nesta concepção a álgebra é vista como um conjunto de

procedimentos específicos (técnicas algorítmicas) para abordar certos tipos de

problemas.

Linguístico-estilística: aqui a álgebra é vista como uma linguagem

artificialmente construída com o objetivo de expressar concisamente procedimentos

específicos.

Linguístico-sintático-semântico: nesta concepção a álgebra é uma linguagem

especifica e concisa, cujo poder criativo e instrumental não reside propriamente em

seu domínio estilístico, mas em sua dimensão sintático-semântica.

Linguístico-postulacional: imprime aos signos linguísticos um grau de

abstração e generalidade sem precedentes, estendendo o domínio da álgebra a

todos os campos da Matemática.

Fiorentini et al. também apresentam, em seu artigo, as concepções de

Educação Algébrica que apresentaremos a seguir. Também apresentaremos, na

próxima seção, outros autores que estabelecem categorias de concepções de

Educação Algébrica e de Álgebra para o ensino em suas pesquisas e que nos

servirão para subsidiar a análise dos dados.

2.2 Sobre Educação Algébrica e Ensino da Álgebra

Iniciamos essa discussão sobre o Ensino da Álgebra. Nesse sentido, faremos

a seguir uma exposição dos estudos feitos por Usiskin (1995) e Fiorentini et

al.(1993) sobre as diferentes concepções de Educação Álgebra identificadas em

suas pesquisas.

No Brasil, Fiorentini et al. (1993) discutem a presença de três concepções de

Educação Algébrica que, historicamente, exercem maior influencia no ensino da

Page 30: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

29

matemática da Educação Básica. Os autores apresentam três concepções de

Educação Algébrica, a saber:

Linguístico-pragmática: predominante durante o século XIX estendendo-se

até metade do século XX vincula o papel da álgebra como instrumento de

resolução de problemas à concepção linguístico-semântico-sintática dessa

disciplina.

Fundamentalista-estrutural: predominante nas décadas de 70 e 80 do século

XX (Movimento da Matemática Moderna), cujo foco era as propriedades

estruturais. Esta concepção está baseada na concepção linguístico-

postulacional e nela o papel da álgebra é alicerçar os vários campos da

matemática escolar.

Fundamentalista-analógica: está relacionada à concepção linguístico-

semântico-sintática. Carrega características das duas concepções anteriores,

uma vez que busca recuperar o valor instrumental, demonstrando também

uma preocupação com as propriedades estruturais.

Os autores chamam atenção para o fato de que o ponto comum existente

entre essas três concepções é a redução do pensamento algébrico à linguagem

algébrica, o que nos parece preocupante uma vez que, segundo os autores, todas

elas parecem priorizar o ensino da linguagem algébrica por meio do

desenvolvimento de habilidades manipulativas das experiências algébricas, ou seja,

não demonstram preocupação com o pensamento algébrico. Para os autores, ―em

todos os casos o ensino e aprendizagem da álgebra reduz-se ao transformismo

algébrico‖ (FIORENTINI et al., 1993, p.85).

Usiskin (1995), em sua pesquisa, discute as diferentes concepções da

álgebra em função dos diferentes usos das variáveis no ensino da álgebra na escola

média. Para o autor, a álgebra da escola média tem a ver com a compreensão do

significado das ―letras‖ e das operações com elas.

Nesse sentido, a concepção de Usiskin (1995) propõe a seguinte

categorização:

Page 31: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

30

Álgebra como aritmética generalizada. De acordo com esta concepção, as

variáveis são vistas como generalizadoras de modelos e as instruções-chave

para o aluno são traduzir e generalizar.

Álgebra como um estudo de procedimentos para resolver certos tipos de

problemas. Nesta concepção, as instruções-chave são simplificar e resolver e

as variáveis são ou incógnitas ou constantes.

A Álgebra como estudo de relações entre grandezas. Dentro dessa

concepção, a variável é um argumento ou um parâmetro. Cabe ressaltar que

somente dentro desta concepção existem as noções de variável independente

e variável dependente. As instruções-chave são relacionar e fazer gráficos.

A Álgebra como estudo das estruturas. As instruções chave são: manipular e

justificar. A variável é considerada pouco mais do que um símbolo arbitrário.

Nesta concepção, a variável é vista como um objeto arbitrário de uma

estrutura estabelecida por certas propriedades. A Álgebra é vista como o

estudo das estruturas como grupos, anéis, domínios de integridade, corpos e

espaços vetoriais.

Analisando tais concepções, procuramos verificar o que documentos oficiais

brasileiros como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e as pesquisas

versam a respeito. De acordo com os PCNs, ―o estudo da álgebra constitui um

espaço bastante significativo para que o aluno desenvolva e exercite sua

capacidade de abstração e generalização‖ (BRASIL, 1998, p.115).

Observamos que nesse mesmo documento há influencias dos estudos aqui

indicados. Analisando as orientações contidas nos PCN notamos, por exemplo, a

presença de todas as concepções propostas por Usiskin. O documento considera

que

pela exploração de situações-problema, o aluno reconhecerá diferentes funções da álgebra (generalizar padrões aritméticos, estabelecer relação entre duas grandezas, modelizar, resolver problemas aritmeticamente difíceis), representará problemas por meio de equações e inequações (diferenciando, parâmetros, variáveis, e incógnitas, tomando contato com fórmulas), compreenderá a ―sintaxe‖ (regras para resolução) de uma equação. Esse encaminhamento dado a álgebra, a partir da generalização de padrões, bem como o estudo da variação de grandezas possibilita a exploração da noção de função nos terceiro e quarto ciclos. Entretanto, a

Page 32: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

31

abordagem formal desse conceito deverá ser objeto de estudo do ensino médio. (PCN, 1998, p. 50)

Nota-se tal influência quando observamos que os autores do documento

ainda destacam que, para garantir o desenvolvimento do pensamento algébrico, o

aluno deve estar necessariamente engajado em atividades que inter-relacionem as

diferentes concepções da Álgebra. Para indicar tais concepções, apresenta ao leitor

um quadro que, segundo seus elaboradores, ―sintetiza de forma bastante

simplificada as diferentes interpretações da álgebra escolar e as diferentes funções

das letras‖ (BRASIL, 1998, p.116):

Quadro 1: Álgebra no ensino fundamental

Dimensões da

álgebra —

Aritmética

Generalizada Funcional Equações Estrutural

Uso das letras —

Letras como

generalizações do

modelo aritmético

Letras como

variáveis para

expressar relações

e funções

Letras

como

incógnitas

Letras como

símbolo

abstrato

Conteúdos

(conceitos e

procedimentos)

Propriedades das

operações

generalizações de

padrões

aritméticos

Variação de

grandezas

Resolução

de

equações

Cálculo

algébrico

Obtenção de

expressões

equivalentes

Encontramos também neste mesmo documento indicações sobre a

preocupação dos elaboradores com a forma como o ensino da temática é

desenvolvido nas escolas. Segundo os PCNs:

É fato conhecido que os professores não desenvolvem todos esses aspectos da álgebra no ensino fundamental, pois privilegiam fundamentalmente o estudo do cálculo algébrico e das equações — muitas vezes descoladas dos problemas. Apesar de esses aspectos serem necessários, eles não são, absolutamente, suficientes para a aprendizagem desses conteúdos. (BRASIL, 1998, p.117)

O texto conclui considerando que, para que haja uma maior compreensão

sobre o tema, há necessidade de ―um trabalho articulado com essas quatro

dimensões ao longo dos terceiro e quarto ciclos‖(BRASIL, 1998, p.117). Dessa

Page 33: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

32

forma, acreditamos que a concepção de álgebra presente nos PCNs se assemelha à

concepção proposta por Fiorentini et al. (1993).

Todavia, isso não parece uma tarefa fácil. Estudos como o de Araújo (1999)

afirmam que ―repensar o ensino da álgebra consiste em um grande desafio‖. Para a

autora, as mudanças só ocorrerão quando houver a conscientização dos

professores de que a atividade algébrica e o pensamento algébrico não se

constituem apenas como cálculos repetitivos com letras, mas ocorrem sempre que

houver envolvimento em contextos nos quais se necessita generalizar, discernir e

descrever estruturas ou modelos.

Ainda sobre o ensino da Álgebra, notamos a complexidade do assunto nas

palavras de Barbosa:

Encontrar um modo de ensinar Álgebra de forma que os alunos realmente se apropriem de seus significados é um dos principais objetivos de todo pesquisador em Educação Algébrica, e certamente um dos objetivos de todo professor que ensina Matemática. (BARBOSA, 2009, p.26)

Complementando essas ideias, Santos (2005) afirma que a construção de

estruturas necessárias à compreensão de conceitos matemáticos deve ser o

principal objetivo do ensino dos professores de Matemática.

Assim, acreditamos que o processo de ensino e aprendizagem da álgebra

não pode ser reduzido ao mero procedimento de reprodução dos passos ou das

técnicas ensinadas pelo mestre. As discussões propostas nos trabalhos acima

analisados parecem apontar para a necessidade da promoção de atividades para os

estudantes que contemplem as diferentes concepções de educação algébrica.

Partindo dessas primeiras leituras e reflexões sobre a álgebra e seu ensino, e

das observações e estudos realizados durante a participação no grupo de pesquisa

na UNIBAN, sentimos a necessidade de delimitar nosso estudo e assim nos

deteremos somente ao estudo das equações.

Dessa forma, prosseguiremos nosso estudo buscando compreender um

pouco mais sobre o assunto.

Page 34: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

33

2.3 Sobre equação

Começamos a busca pela definição de equação e para isso recorremos

novamente ao Dicionário da Língua Portuguesa, que apresenta o seguinte

significado: ―afirmação da igualdade de duas expressões ligadas pelo sinal =, que só

se verifica para determinados valores das incógnitas nela contidas‖.

Ainda encontramos a seguinte definição no Dicionário de Matemática:

―expressão algébrica indicada por uma igualdade, onde há valores desconhecidos

expressos por letras (incógnitas)‖.

Prosseguindo com nossa pesquisa, encontramos a dissertação de Pereira

(2005) que, após realizar uma pesquisa em diferentes livros didáticos sobre as

Equações, apresenta um quadro síntese com a definição e o procedimento utilizado

pelo autor do livro analisado por ele na resolução de uma equação polinomial do

primeiro grau. A seguir, apresentaremos parte dessas informações:

Page 35: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

34

Quadro 2: Definições de Equação

Livro Definição de Equação Procedimento para a resolução de uma equação polinomial do

primeiro grau

IEZZI, Gelson et al. Matemática e Realidade. 6ª série. São Paulo: Atual, 1984.

Sentença aberta expressa por uma igualdade.

Operações aplicadas simultaneamente nos dois membros

da Equação a fim de isolar a incógnita no primeiro membro da

igualdade.

SANGIORGI, Osvaldo. Matemática: um curso moderno. Volume 2. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1968.

Sentenças numéricas abertas que exprimem a igualdade

entre duas expressões numéricas.

Transposição de termos mediante o emprego das operações inversas.

BOULOS, Paulo. Pré-Cálculo. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 1999.

Igualdade onde em cada membro se tem uma

expressão em x, que se verifica para um ou alguns valores x do seu domínio.

---------

RICH, Barnett e SCHIMIDT, Philip A. Teoria e Problemas da Geometria. Porto Alegre: Bookman, 2003.

Não a faz. Apenas apresenta implicitamente a noção de Equação como sendo uma igualdade expressa por um

problema em que um determinado número é

desconhecido.

Aplicação de operações inversas de modo a desfazer as operações propostas numa dada Equação

(transposição de termos). Aplicação de operações

simultâneas aos dois membros da igualdade com o intuito de

encontrar Equações equivalentes.

Fonte: PEREIRA, M.D. Um estudo sobre equações: identificando conhecimentos de alunos de um curso de formação de professores de Matemática. Mestrado Profissional em Ensino de Matemática. PUC/SP, 2005. (174 p.)

Pelas informações acima, verificamos uma variedade quanto à definição de

Equação, que é ratificada por Ribeiro (2008), que também analisou as ideias

relacionadas à noção de equação em diversas obras ao afirmar que:

Assim, conforme ia estudando uma nova obra podia perceber que, à medida que se mudava o campo de atuação da obra analisada, o período histórico de sua publicação ou a área de formação do autor, mudava também a ideia apresentada sobre equação. Essas ideias divergiam tanto na linguagem utilizada, como na concepção dos autores a respeito da noção de equação. (2008, p.35)

A percepção da existência de diferentes significados para equação conduziu

Ribeiro (2007) a desenvolver uma pesquisa de caráter teórico, um estudo

epistemológico-histórico para compreender como a noção de equação foi concebida

ao longo do desenvolvimento da Matemática, na tentativa de entender o porquê de

uma ideia, nas palavras do autor, ―aparentemente tão simples‖, como a ideia de

equação, poder originar tantas dúvidas e dificuldades entre os estudantes e

professores.

Page 36: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

35

Nesse sentido, o autor acima citado investiga como as ―ideias‖ relacionadas à

noção de equação são apresentadas em algumas obras didáticas e científicas, de

diferentes épocas. Para isso, realizou a análise em livros didáticos, livros de

fundamentos da Matemática, dicionários matemáticos e etimológicos, além de

relatórios de pesquisas em Educação Matemática.

Ribeiro (2007) apresenta, analisa e caracteriza as diferentes formas de ver,

de interpretar e de tratar a noção de equação ao longo da História, as quais foram

identificadas e categorizadas em sua tese de doutoramento. O autor alerta para o

fato de que ―as diferenças entre esses multisignificados são, às vezes, bastante sutis

e que é tênue a linha que separa um significado do outro‖. (RIBEIRO, 2007, p. 123).

Assim como Ribeiro (2010), empregamos neste trabalho o termo significado

baseando-se na ideia: ―no uso que fazemos […] apreendemos os seus significados‖.

(WITTGENSTEIN, 1999, apud RIBEIRO, 2010, p.2, grifo do autor).

Com a realização de sua investigação, o autor apresenta:

[...] ao menos três formas diferentes de se conceber equação: uma relacionada a um caráter pragmático, outra relacionada a um caráter geométrico e uma terceira relacionada a um caráter estrutural. (RIBEIRO, 2008, p. 83, grifo nosso)

Ribeiro (2007) teve como objetivo principal identificar possíveis significados

atribuídos à noção de equação ao longo do desenvolvimento dessa ideia dentro da

História da Matemática. Pareceu-nos que, de certa forma, seu trabalho se aproximou

com o que Fiorentini et al. (1993) realizou sobre a álgebra. Ribeiro iniciou sua

pesquisa apresentando a investigação da Matemática dos Babilônios e Egípcios,

depois dos Gregos, em seguida dos Árabes e Hindus, finalizando com as

contribuições matemáticas dos Europeus.

As discussões propiciadas pelo estudo epistemológico revelaram que

Babilônios e Egípcios concebiam a equação como algo que se originava de

situações práticas, buscando resolvê-las de maneira intuitiva, empregando métodos

que se apoiavam na aritmética. Já os Gregos relacionavam as equações às

situações que envolviam geometria e as soluções estavam relacionadas ao

raciocínio dedutivo.

Page 37: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

36

Com relação aos árabes e hindus, Ribeiro aponta que:

[...] a noção de equação utilizada pelos árabes e hindus já apresenta uma concepção mais estrutural, no sentido de se observar as características e propriedades definidas em uma classe de equações e não mais em equações relacionadas a situações particulares. (2007, p.68, grifo do autor)

Ribeiro (2007, p.69) identifica que os europeus renascentistas reconhecem

uma equação a partir de sua generalização e a tratam de forma estrutural. O autor

nos chama a atenção para o fato de que:

A noção de equação nesse período, até a resolução das cúbicas e quartícas, é considerada um objeto de investigação, pois as operações são levadas a cabo sobre elas mesmas, debruçando-se na busca de soluções gerais para esses tipos de equações. Isso é uma característica que diferencia a maneira que a mesma era concebida pelos babilônios ou egípcios, por exemplo. (RIBEIRO, 2007, p. 79, grifo do autor)

O autor dá continuidade ao seu estudo e, partindo das observações

realizadas, desenvolve uma análise e levanta questões para reflexão sobre as

diferentes situações encontradas na literatura consultada. É importante ressaltar

que, segundo o autor, tais reflexões estão baseadas nos fundamentos teóricos que

dão suporte ao trabalho, bem como o estudo epistemológico-histórico realizado.

Vale ressaltar que neste trabalho, assim como em Ribeiro (2008),

empregaremos os termos ideia e noção como sinônimos de conceito. O termo

concepção empregado aqui também possui o mesmo sentido de Ribeiro.

Assim, ao realizar a análise das diferentes obras, o autor percebe que não há

um consenso na literatura consultada sobre as ideias e concepções de equação,

mas que é possível estabelecer uma relação de como os autores consultados

concebem a noção de equação.

Levando em consideração os resultados obtidos no estudo e as observações

e análises das obras bibliográficas, o autor concebe seis diferentes significados para

equação e os denomina ―Multisignificados de Equação‖.

Assim, apresentamos os multisignificados que são descritos em (RIBEIRO,

2008, p.112) da seguinte maneira:

Page 38: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

37

Quadro 3: Multisignificados de Equação

Significado Características Exemplos

Intuitivo – Pragmático

Equação concebida como noção intuitiva, ligada à ideia de igualdade entre duas quantidades. Utilização relacionada à resolução de problema de ordem prática originários de situações do dia a dia.

Babilônios e Egípcios;

Livros didáticos de: Bourdon e de Imenes & Lellis.

Dedutivo– Geométrico

Equação concebida como noção ligada às figuras geométricas, segmentos e curvas. Utilização relacionada às relações envolvendo cálculos e operações com segmentos, com medida de lados de figuras geométricas e intersecção de curvas.

Gregos;

Omar Khayyam – Geometria das Curvas

Estrutural – Generalista

Equação concebida como noção estrutural definida e com propriedades e características próprias, considerada por si própria e operando-se sobre ela. Utilização relacionada com a busca de soluções gerais para uma classe de equações de mesma natureza.

al-Khowarizmi;

Descartes;

Abel e Galois.

Estrutural – Conjuntista

Equação concebida dentro de uma visão estrutural, porém diretamente ligada à noção de conjunto. É vista como uma ferramenta para resolver problemas que envolvam relações entre conjuntos.

Rogalski,

Warusfel;

Bourbak.

Processual – Tecnicista

Equação concebida como a sua própria resolução – os métodos e técnicas que são utilizadas para resolvê-la. Diferentemente dos estruturalistas, não enxergam a equação como um ente matemático.

Pesquisas em Educação Matemática;

Cotret (1997);

Dreyfus &Hoch (2004).

Axiomático–Postulacional

Equação como noção da Matemática que não precisa ser definida, uma ideia a partir da qual outras ideias, matemáticas e não matemáticas são construídas. Utilizada no sentido de Noção Primitiva, como ponto, reta e plano na Geometria Euclidiana.

Chevallard; Primeiro significado que poderia ser

discutido no ensino-aprendizagem de Álgebra.

Com isso, considerando as diferentes concepções de Álgebra e de Educação

Algébrica, a diversidade nas definições de equação identificadas por Pereira (2005)

e os diferentes significados que a noção de equação assume no ensino da

Matemática, tivemos condições de ampliar e aprofundar nosso conhecimento sobre

o assunto.

Page 39: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

38

Também podemos constatar a importância da realização de discussões sobre

os diferentes significados de equações nos estudos de Barbosa, (2009) e Stempniak

(2010). Barbosa (2009), em sua dissertação de mestrado, teve como objetivo

identificar como os diferentes significados de equação, categorizados por Ribeiro

(2007), se manifestavam nas concepções de professores de Matemática. Já

Stempniak (2010) investigou quais são as contribuições que a abordagem dos

Multisignificados de Equação podem trazer para a formação e para a ampliação da

concepção de equação dos alunos de um curso de licenciatura em Matemática.

Nas pesquisas de Barbosa (2009) e Stempniak (2010) constatamos que os

significados de equação que apareceram com maior frequência entre os futuros

professores e professores pesquisados foram o processual-tecnicista, em que a

equação é concebida como a sua própria resolução, os métodos e técnicas que são

utilizadas para resolvê-la e o intuitivo-pragmático em que a noção de equação é

concebida como uma noção intuitiva, ligada à ideia de igualdade entre duas

quantidades.

Percebemos em nossa pesquisa que a presença de diferentes significados de equação na imagem de conceito dos professores ainda é bastante limitada, estando muito vinculada à ideia do princípio de equivalência e principalmente a técnicas de resolução e à existência de incógnita. (BARBOSA, 2009, p. 177)

Stempniak (2010) também relata em sua dissertação de mestrado que o

conhecimento específico do conteúdo1, equação e os significados de equação, não

apareceu logo nas primeiras soluções dos alunos e que isso só ocorreu depois de

algumas reflexões realizadas. Também menciona que, em um primeiro momento,

apenas o significado processual-tecnicista apareceu com mais frequência, e

somente após a realização de muitas discussões sobre o assunto é que a

pesquisadora notou que os futuros professores conseguiram identificar as funções; a

partir daí foram observados os significados estrutural-conjuntista, estrutural-

generalista e o intuitivo-pragmático.

Concordamos com as ideias de Barbosa (2009) e Stempniak (2010), que

consideram relevante o desenvolvimento de situações de aprendizagem que

abordem a discussão dos significados que compõem os Multisignificados de 1 Abordaremos mais adiante os diferentes tipos e modalidades de conhecimento que os professores

dominam.

Page 40: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

39

Equação em ambientes de aprendizagem de formação inicial e continuada de

professores, possibilitando a estes uma ampliação de suas concepções acerca do

conceito de equação.

Sendo assim, vale destacar que pretendemos investigar quais significados

identificados por Ribeiro (2007) fazem parte do repertório dos professores que

ensinam Matemática e como eles declaram trabalhar esses significados em suas

aulas, em um ambiente de Formação Continuada de Professores. O trabalho de

Ribeiro (2007) também será empregado, tanto para a concepção do instrumento de

coleta de dados, como para a análise dos resultados obtidos.

2.4 Formação de professores

Podemos perceber nas palavras de André (2010) que há alguns anos o tema

―Formação de Professores‖ vem ganhando destaque em pesquisas, congressos e

eventos que discutem sobre educação.

Com o crescente interesse dos pesquisadores pelas questões relacionadas à formação e ao trabalho docente, interesse esse que se expressa no aumento da produção científica sobre o tema, na visibilidade adquirida pela temática na mídia, pelo recente surgimento de eventos e publicações especificamente dedicadas às questões de formação docente, torna-se cada vez mais premente uma discussão sobre como vem se configurando esse campo de estudos. (ANDRÉ M., 2010, p. 174)

De acordo com Baldino (1999), na esperança de exorcizar o fracasso no

processo de ensino e aprendizagem as pesquisas apostam na mudança: mudança

da escola, da sala de aula, mudança do aluno, mudança do professor. O autor ainda

discute em seu artigo que há vários significados para a palavra mudança, que pode

ser vista como uma simples tentativa de melhora de ensino e aprendizagem, como

introdução de métodos de resolução de problemas ou ainda pode significar

mudanças de práticas ou das crenças de professores.

Nosso desejo não é diferente. Também queremos produzir uma mudança!

Se o professor, enquanto profissional, expressa diferentes habilidades,

conhecimentos, crenças, visões, modos de agir, atitudes, preocupações e interesses

(POLETTINI, 1996), pretendemos entender como esses ―conhecimentos‖ são

adquiridos, produzidos e utilizados pelos professores para então promover

Page 41: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

40

momentos de reflexão, pois ―os professores têm necessariamente que refletir sobre

a sua prática pedagógica, pois sem isso não há mudança possível em educação.‖

(VASCONCELOS, 2000, p.17).

Melo (2005) afirma que ―os professores, na realização de seu trabalho

docente, mobilizam, produzem e ampliam seus conhecimentos, competências,

habilidades, atitudes etc., constituindo assim seus saberes docentes‖ (MELO, 2005,

p.47),

Shulman (1986) é um dos pesquisadores que têm se debruçado sobre a

questão dos conhecimentos que os professores mobilizam quando ensinam e seu

trabalho versa sobre a natureza dos conhecimentos profissionais que servem de

base ao magistério. Em nosso entender, sua contribuição é importante por colocar

em evidência a questão do conhecimento que os professores têm dos conteúdos de

ensino e do modo como estes conteúdos se transformam no ensino.

Exemplos de investigações sobre formação de professores, desenvolvidas

diferentes pesquisadores como D‘Ambrósio (1996), Ponte (1992), Paiva (1997),

Pires (2000), Smole (2000), entre outros, apontam para a necessidade de a

formação do professor estar pautada na articulação entre teoria e prática, entre o

saber específico vinculado a um saber pedagógico.

Lee Shulman investigou na década de 80 as formas de comportamento do

professor que promovem de forma mais eficaz a aprendizagem dos alunos. Sua

investigação começa com a análise dos testes de competência utilizados no século

passado para selecionar professores de Massachussetts, Michigan, Nebraska,

Colorado e Califórnia. Após realizar tal análise, Shulman comprova que o foco dos

testes estava no que os professores precisavam saber para ensinar, isto é, envolvia

apenas o assunto a ser ensinado, o que leva o autor a concluir que a característica

principal do instrumento que selecionava os professores era o conhecimento do

conteúdo.

Ao analisar os modelos dos testes de professores publicados na década em

que ocorreu o estudo, verifica que há um contraste com os anteriores, pois é dada

uma ênfase maior à capacidade de ensinar em detrimento ao conteúdo. A partir daí

Page 42: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

41

começa a procurar resposta para a seguinte pergunta: por que há uma distinção

nítida entre o conteúdo e o processo pedagógico?

Após realizar uma pesquisa, Shulman conclui então que essa distinção nítida

entre conhecimento e a pedagogia não representa uma tradição, mas um

desenvolvimento mais recente. Chamando essa ausência de foco no conteúdo de

ensino "missing paradigm", ele então passa a investigar o que sabem os professores

sobre os conteúdos de ensino, onde e quando adquiriram os conteúdos, como e por

que se transformam no período de formação e como são utilizados na sala de aula.

Para isso, fez de perto o acompanhamento de programa de formação de

professores, realizou entrevistas regulares, além de coletar dados. A partir daí

Shulman (2004, apud ALMEIDA & BIAJONE, 2007) afirma que a primeira fonte do

knowledge base é o conhecimento do conteúdo que será objeto de ensino. Para o

autor, o knowledge base vai, além do conhecimento da disciplina por si mesma, para

uma dimensão do conhecimento da disciplina para o ensino.

Os professores devem não apenas ser capazes de definir para os estudantes as verdades aceitas em um domínio. Eles devem também ser capazes de explicar por que uma proposição particular é considerada justificada, porque vale à pena conhecer, e como se relaciona com outras proposições, tanto no âmbito da disciplina ou fora dela, tanto na teoria quanto na prática. (SHULMAN, 1986, p.13)

Shulman (1986, p.09) também categoriza o conhecimento docente em subject

knowledge matter (conhecimento do conteúdo da matéria); pedagogical knowledge

matter (conhecimento pedagógico da matéria); curricular knowledge

matter(conhecimento curricular).

O conhecimento do conteúdo da matéria refere-se às compreensões do

professor acerca da estrutura da disciplina, de como ele organiza cognitivamente o

conhecimento da matéria que será objeto de ensino.

O conhecimento pedagógico da matéria consiste nos modos de formular e

apresentar o conteúdo de forma a torná-lo compreensível aos alunos, incluindo

analogias, ilustrações, exemplos, explanações e demonstrações. Este é o

conhecimento que se refere à compreensão docente do que facilita ou dificulta o

aprendizado discente de um conteúdo especifico.

Page 43: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

42

Já o conhecimento curricular dispõe-se a conhecer a entidade currículo como

o conjunto de programas elaborados para o ensino de assuntos e tópicos

específicos em um dado nível, bem como a variedade de materiais instrucionais

disponíveis relacionados àqueles programas. Trata-se do ―conjunto de programas

elaborados para o ensino de assuntos específicos e tópicos em um nível dado, a

variedade de materiais instrucionais disponíveis relacionados a estes programas"

(Shulman, L., 1986, p. 9-10).

Shulman se refere ao conhecimento da experiência, por meio da classificação

que ele faz dos conhecimentos necessários para os professores, e que ele chama

de conhecimento dos professores – ―teacher knowledge‖, criado pela experiência

dos professores ou "das formas do saber dos professores", as formas pelas quais os

saberes dos conteúdos, os saberes curriculares e os saberes pedagógicos podem

ser ou estar organizados para serem ensinados aos professores (SHULMAN, 1986,

p. 10-11). São três as categorias de Shulman:

O conhecimento proposicional, que é aquele relativo à investigação didática,

que pode oferecer e que reúne três tipos de proposições: princípios, máximas e

normas. Os princípios são oriundos de pesquisas empíricas; as máximas são

oriundas da prática, não possuem confirmação científica (ex.: quebre um pedaço de

giz antes de escrever para evitar que ele provoque ruídos no quadro); as normas

referem-se aos valores, compromissos ideológicos e éticos de justiça, equidade etc.;

eles não são teóricos nem práticos, mas normativos. Ocupam a essência do que o

autor chama de saber dos professores. Eles guiam o trabalho do professor porque

são ética ou moralmente corretos.

O conhecimento de casos relativos ao conhecimento de eventos específicos,

exemplos que auxiliam a compreensão da teoria, que podem ser de três tipos:

protótipos – exemplificam os princípios teóricos; precedentes – expressam as

máximas; e parábolas– expressam normas e valores.

O conhecimento estratégico, que diz respeito a como agir em situações

dilemáticas, contraditórias, nas quais os princípios contradizem máximas e/ou

normas.

Page 44: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

43

Cabe destacar, na proposta de Shulman, uma contribuição importante quanto

aos instrumentos oferecidos para a investigação da ação dos professores, ou seja, o

domínio dos conhecimentos na ação.

Direcionando nossa discussão para a Formação do Professor que leciona

Matemática, encontramos os trabalhos de Deborah Ball que discutem a ideia de

―conhecimento sobre matemática‖, em contraste com o ―conhecimento de

matemática‖ e também estudam a natureza do conhecimento matemático

necessário para ensinar.

Uma ampliação das categorias definidas por Shulman foi apresentada por Ball

et al.(2008), estudo no qual se discute ―o que mais os professores necessitam saber

sobre Matemática e como e onde poderiam os professores usar tal conhecimento,

na prática‖ (BALL, 2008, p.4).

Nesse sentido Deborah Ball e seus colaboradores propõem que o

conhecimento do conteúdo, apresentado por Shulman (1986), seja subdividido em:

conhecimento comum do conteúdo (CCK)2; conhecimento especializado do

conteúdo (SCK)3; por sua vez, o conhecimento pedagógico do conteúdo pode ser

dividido em conhecimento do conteúdo e dos estudantes (KCS)4 e conhecimento do

conteúdo e do ensino (KCT)5.

Assim, o foco da pesquisa de Ball está no que os professores precisam saber

especificamente de determinado conteúdo, para viabilizar o ato de ensinar. Seus

estudos procuraram investigar sobre ―o que os professores fazem ao ensinar

Matemática e como fazer, o que eles fazem demanda raciocínio matemático,

percepções, compreensão e habilidade?‖ (BALL, 2008, p.4)

Na figura a seguir, a autora representa a correspondência entre as suas

categorias e as indicadas por Shulman (1986) para o conhecimento do conteúdo

necessário ao ensino:

2 Common content knowledge

3 Specialized content knowledge.

4 Knowledge of content and students.

5 Knowledge of content and teaching.

Page 45: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

44

Figura 2: Categorias de Ball e Shulman

Em primeiro lugar está o Conhecimento Comum do Conteúdo (CCK) – trata-

se do conhecimento matemático do currículo escolar. Os autores citam como

exemplos: saber o que é um número primo, ser capaz de multiplicar frações,

converter frações para decimais.

Um segundo domínio é oconhecimento especializado do conteúdo (SCK).

Trata-se do conhecimento matemático que os professores utilizam no ensino que vai

além da matemática do próprio currículo. Trata-se do conhecimento de

matemática necessário especificamente para o trabalho de ensinar.

O terceiro domínio, conhecimento do conteúdo e dos estudantes

(KSC), encontra-se na intersecção de conhecimentos sobre os alunos e os

conhecimentos sobre a matemática, e um quarto domínio, conhecimento do

conteúdo e do ensino (KCT), encontra-se na intersecção de conhecimentos sobre o

ensino e conhecimento sobre a matemática.

Ball (2003) também conclui que o conhecimento necessário para o ensino é

diferente do que é necessário para outras ocupações ou profissões em que a

matemática é utilizada (por exemplo, física, carpintaria, alfaiataria etc.).

Ainda sobre o conhecimento do professor que ensina Matemática, Serrazina

(2012) afirma que o conhecimento matemático para ensinar está interligado aos

outros conhecimentos (didático, curricular, dosrecursos, dos alunos e do contexto)

Page 46: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

45

Neste sentido a autora afirma que:

Quando se fala em conhecimento do professor há acordo quanto ao ser indispensável saber os conteúdos matemáticos que tem de ensinar. No entanto, este conhecimento não é suficiente, para além de conhecer os conteúdos a ensinar, é também necessário ao professor saber como ensiná-los. (SERRAZINA, 2012, p.268)

Pela afirmação acima, percebemos que as ideias da autora corroboram as

pesquisas de Shulman (1986) e Ball et al. (2008),visto que todos os autores

parecem concordar que o conhecimento do professor não se limita apenas em saber

o conteúdo matemático; é preciso saber como e porque ensinar.

Tal conclusão reforça a ideia de Green (2010) ao afirmar que:

Matemáticos precisam entender o problema apenas para si mesmos; professores de matemática precisam conhecer matemática e saber como 30 mentes podem entendê-la ou (des)entendê-la, e levar cada uma dessas mentes do não saber ao domínio. (GREEN, E. 2010, p.12).

Outra pesquisa considerada por mim nessa revisão bibliográfica, e que vai ao

encontro das minhas expectativas, é a de Chazan & Yerushalmy (2003), que em

seus estudos pesquisaram sobre a relação entre o conhecimento do professor e o

conhecimento do aluno.

De acordo com os autores, um caminho para compreender a relação entre

conhecimento dos professores e desempenho dos alunos é a concentração em uma

determinada área curricular. Escolheram a álgebra por acreditarem que a

diversidade de pensamento sobre o que constitui a álgebra e como ela pode ser

ensinada é um desafio importante na análise do conhecimento do professor no

contexto da álgebra escolar.

Para Chazan & Yerushalmy (2003), ―conhecimento‖ é um termo muito simples

para representar a complexidade cognitiva de ensino e aprendizagem da Álgebra.

Para os autores, ter somente o conhecimento não basta, é preciso aliar o

conhecimento ao compromisso. Eles afirmam que os professores podem até ter o

conhecimento para implementar práticas sugeridas, porém a falta de compromisso

pode comprometer o sucesso de tais práticas.

Page 47: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

46

Sobre o conhecimento do professor, Chazan & Yerushalmy (2003)

apresentam os seguintes pressupostos: professores possuem algo chamado de

conhecimento; esse conhecimento é adquirido, tanto no ensino como também nas

experiências fora da sala de aula; este conhecimento influencia o modo como os

professores atuam com os alunos e como os envolve no estudo da matemática;

quando os professores possuem certo tipo de conhecimento, as intervenções

realizadas em sala de aula levam a uma maior realização dos estudantes, enquanto

os professores não possuem esse tipo de conhecimento não seriam capazes de

ensinar de uma maneira eficaz.

Os autores consideram necessário examinar a relação entre o conhecimento

do professor e o desempenho dos alunos, dado que acreditam existir uma conexão

entre eles. No entanto, ressaltam que há poucos estudos que tratam desse assunto,

pois a maioria das pesquisas frequentemente só avalia os níveis de conhecimento

dos professores.

Tal conexão parece ser ratificada por Shulman (1987, apud ATTORPS, 2006)

ao afirmar que ―o ensino para compreensão depende de professores com

conhecimento matemático e habilidades pedagógicas‖.

Chazan & Yerushalmy (2003), analisando a relação entre o conhecimento do

professor e o desempenho do aluno, afirmam que um desafio na álgebra são as

abordagens múltiplas. Eles citam, por exemplo, que alguns livros populares de

matemática começam com incógnitas e passam de expressões para equações

lineares de uma variável, em seguida passam para equações lineares com duas

variáveis e vão para as equações não lineares com uma ou duas variáveis, que

serão consideradas funções. Em contraste, mostram que uma abordagem baseada

em funções pode começar com expressões e equações explícitas como

representações de funções, em seguida, passar para equações em uma variável

como perguntas sobre funções ou como comparações de duas funções de uma

variável e finalmente, mais tarde, abordar equações implícitas com duas variáveis.

Diante dessas diferenças de abordagem para álgebra, os autores defendem a

urgente necessidade de os professores compreenderem as diferentes formas pelas

quais os currículos conceituam simples equações como , que pode ser

Page 48: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

47

considerada como um problema para se encontrar um número desconhecido para

que a afirmação seja verdadeira, ou pode ser um problema sobre uma função onde

se procura a entrada para que será igual a 12. Apesar desses pontos de vista

serem semelhantes, os autores defendem a ideia de que há diferenças

fundamentais entre eles e que podem passar despercebidas por aqueles cuja

compreensão não está madura, além de argumentar que os professores devem

descompactar seus entendimentos sobre equações, bem como descompactá-los

nos seus elementos constituintes para serem capazes de reconhecerem a

abordagem do currículo pretendido, para tomar decisões sobre como ensinar

visando sanar as possíveis dificuldades dos alunos apoiando-os em sua

aprendizagem.

As análises e reflexões acima discutidas – Barbosa (2009), Stempniak (2010)

e Chazan & Yerushalmy (2003) – permitiram-me refletir sobre a necessidade de se

pensar numa formação do professor de Matemática que levante e discuta as

diferentes formas de se conceber a Álgebra e a noção de equação no processo de

ensino da Matemática.

Após essa primeira apresentação e contextualização, apresentamos neste

momento o objetivo principal e as questões norteadoras deste trabalho: investigar,

durante um processo de formação continuada, no qual são discutidos os

multisignificados de equação (RIBEIRO, 2007), se há a (re)construção de saberes

dos professores de matemática a respeito do tema.

De acordo com o objetivo apresentado, delineamos as seguintes questões de

pesquisa:

De quais significados de equação os professores de Matemática se

utilizam quando estão envolvidos em um processo de formação no qual

lhes são propiciadas possibilidades de reflexão sobre a prática?

Quais os significados de equação os professores declaram utilizar ao

ensinar o tema?

Page 49: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

48

Como a discussão dos Multisignificados de Equação pode proporcionar

o aperfeiçoamento e a ampliação do conhecimento sobre Equações

num curso de formação continuada de professores de Matemática?

Imaginamos que nossos resultados contribuirão na busca pela melhoria da

qualidade dos cursos que proporcionam a Formação Continuada dos professores de

Matemática.

Page 50: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

49

Capítulo 3

Metodologia da Pesquisa

Para atingir tal objetivo e responder a nossa questão de pesquisa, utilizamos

uma abordagem qualitativa. Realizamos a revisão da literatura, com a leitura e o

fichamento de artigos, dissertações, teses e capítulos de livros sobre a educação

algébrica, álgebra, multisignificados de equação e sobre o conhecimento profissional

docente. Logo após, elaboramos a Formação Continuada e as atividades que seriam

desenvolvidas nos encontros com os professores. Coletamos os dados para este

estudo por meio dos seguintes instrumentos: questionários, registros escritos de

observações colhidas nas sessões de formação e gravação em vídeo e passamos

para a fase das análises dos dados e das discussões.

A Formação, reiteramos, foi gravada em áudio e vídeo com a autorização dos

participantes, com a intenção de melhor explorar as discussões e as reflexões que

surgiriam.

Achamos importante destacar as características que Bogdan e Biklen (1994,

p. 47-50) dão a uma investigação qualitativa:

1. ―Na investigação qualitativa a fonte direta de dados é o ambiente natural,

constituindo o investigador o instrumento principal‖;

2. ―A investigação qualitativa é descritiva. [...] A palavra escrita assume

particular importância na abordagem qualitativa, tanto para o registro dos

dados como para a disseminação dos resultados‖;

3. ―Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que

simplesmente pelos resultados ou produtos. [...] Este tipo de estudo foca-

se no modo como as definições (as definições que os professores têm dos

alunos, as definições que os alunos têm de si próprios e dos outros) se

formam‖;

4. ―Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de forma

indutiva‖;

Page 51: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

50

5. ―O significado é de importância vital na abordagem qualitativa. [...] Os

investigadores qualitativos estabelecem estratégias e procedimentos que

lhes permitam tomar em consideração as experiências do ponto de vista

do informador‖.

Pelas características de uma pesquisa qualitativa que citamos há pouco e

pelo objetivo da nossa pesquisa – investigar, durante um processo de formação

continuada no qual são discutidos os multisignificados de equação (RIBEIRO, 2007),

se há a (re)construção de conhecimentos dos professores de matemática a respeito

do tema, decidimos fazer em nossa pesquisa encontros com um grupo de 10

professores que lecionam matemática na rede estadual de Ensino de São Paulo.

Foram realizados três encontros, nos quais desenvolvemos diferentes atividades.

Durante esses encontros, houve muitas intervenções do pesquisador e surgiram

muitas discussões em virtude dos questionamentos propostos, caracterizando as

coletas de dados como uma pesquisa qualitativa. Discutiremos e apresentaremos os

procedimentos adotados e os instrumentos de coleta de dados utilizados para o

desenvolvimento deste trabalho.

3.1 A Formação

Para a realização da nossa pesquisa elaboramos e executamos um curso de

formação continuada que priorizou a realização de estudo, análise e discussão das

diferentes concepções de Álgebra, sobretudo no que se refere mais especificamente

às diferentes formas de ver e de tratar a noção de equação. Este curso, intitulado

―Álgebra: ideias e questões‖ foi destinado aos professores em exercício efetivo da

docência em Matemática, na rede pública estadual.

Conforme apresentado no quadro a seguir a formação foi realizada em

parceria com a Diretoria de Ensino de Suzano, nos dias 17 de junho, 20 de junho e

27 de junho de 2012 com duração de 4 horas cada encontro. Além dos encontros

presenciais, havia também 10 horas destinadas ao estudo à distância.

Page 52: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

51

Quadro 4: O processo de formação

Data Atividade Desenvolvida

17/06 (4h)

Encontro Presencial

Realização de atividade, visando identificar quais são as concepções dos professores de Matemática sobre os processos de ensino e aprendizagem da Álgebra, mas especificamente no que se refere às equações.

20/06 (4h)

Encontro Presencial

Análise e discussão de algumas atividades do encontro anterior. Análise e discussão da concepção de Álgebra proposta por USISKIN (1995). Análise das atividades propostas nos Cadernos do Aluno e do Professor de Matemática (especificamente do conteúdo sobre Álgebra).

27/06 (4h)

Encontro Presencial

Reelaboração do plano de trabalho docente, visando confrontar e identificar as diferenças das respostas que foram obtidas na atividade diagnóstica. Análise da Avaliação Final.

Período de 17/06 a 20/06 (3h)

à distancia

Leitura e discussão em grupo do artigo ―Dificuldades das crianças que se iniciam em álgebra‖ (Booth, L.R.). O grupo fará uma reflexão sobre o trabalho com Álgebra a partir da leitura do artigo e elaboração de registro sobre as dificuldades detectadas e sugestões didáticas.

Leitura do artigo: Álgebra nos PCN

Fonte: www.cempem.fae.unicamp.br/lapemmec/curso...

Período de 20/06 a 27/06(3h) à distancia

Leitura do artigo: Equação e seus multisignificados: potencialidades para a construção do conhecimento matemático (RIBEIRO, A.J.; MACHADO, S.D.A) – In: Zetetike, 2009.

Período após o término do curso (1h) à distância

Preenchimento da avaliação

Apresentamos como objetivo desta formação continuada privilegiar o diálogo

entre o conhecimento do conteúdo e o conhecimento pedagógico do conteúdo

(SHULMAN, 1986), bem como dar oportunidade aos docentes para um

aprofundamento nos conteúdos matemáticos pertinentes ao ensino da álgebra,

como também colocar os profissionais a par das discussões teóricas atuais sobre o

ensino e aprendizagem da Álgebra, com a intenção de oferecer ou ampliar subsídios

necessários ao processo de ensino da Matemática.

Considerando o objetivo de nossa pesquisa, que busca investigar quais os

significados de equação de que os professores de Matemática se utilizam quando

estão envolvidos num processo de formação e quais são os significados de equação

que os professores declaram utilizar ao ensinar sobre o tema, nos pareceu bastante

apropriado a utilização de diferentes atividades, dentre as quais solicitar aos

Page 53: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

52

professores que nos relatassem, por escrito, os ―caminhos‖ adotados em suas aulas

no ensino das equações para que pudéssemos analisar os procedimentos e as

concepções por eles adotadas.

3.2 Os participantes da formação

A Diretoria Regional de Ensino do município de Suzano realizou a inscrição

dos professores interessados em participar do curso.

Participaram da nossa pesquisa 10 professores da rede pública estadual do

ensino de São Paulo, sendo 5 homens e 5 mulheres. Todos são licenciados em

Matemática e concluíram sua graduação no período entre 1999 a 2002, em

instituições privadas. Uma professora declarou possuir curso de especialização em

Matemática Aplicada e um professor declarou ter especialização em Ensino de

Astronomia. Estes professores atuam no Ensino Fundamental e Médio. Com o

intuito de fornecer um panorama geral sobre os sujeitos da pesquisa, apresentamos

a seguir um quadro-resumo do perfil dos professores participantes do curso.

Page 54: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

53

Quadro 5: O grupo de professores

Professor Sexo

M (masculino) F (feminino)

Formação Tempo de

experiência docente

Leciona em escola P (pública)

ou R (privada)

Pós-Graduação

A F Licenciatura

em Matemática

14 anos P Sim

B F Licenciatura

em Matemática

14 anos P Não

C F

Licenciatura em

Químicae Matemática

7 anos P Não

D M Licenciatura

em Matemática

15 anos P e R Sim

E M Licenciatura

em Matemática

1 ano P Não

F M Licenciatura

em Matemática

12 anos P Não

G F Licenciatura

em Matemática

4 meses P Não

H M Licenciatura

em Matemática

11 anos P Não

I M Licenciatura

em Matemática

8 anos P Não

J F Licenciatura

em Matemática

20 anos P Não

Vale ressaltar que este grupo apresentava uma característica marcante em

comum: todos demonstravam estar preocupados com sua formação profissional e

acreditavam que o compartilhamento de saberes, ideias e práticas são de extrema

importância para o exercício da profissão, o que é considerado por Tardif e

Raymond como fonte de aprendizagem: ―outra fonte de aprendizagem do trabalho é

a experiência dos outros, dos pares, dos colegas que dão conselhos.‖ (TARDIF &

RAYMOND, 2000, p. 230).

Antes de prosseguir com a descrição dos encontros destinados à Formação,

acredito ser de suma importância para o andamento e compreensão do meu

trabalho realizar uma breve apresentação do cenário que vivenciam nossos sujeitos,

ou seja, o movimento de mudança curricular implementado pela Secretaria de

Page 55: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

54

Educação do Estado de São Paulo, em 2008, para todas as escolas da rede pública

estadual.

3.3 O cenário da investigação: Movimento de Mudança Curricular

A justificativa da necessidade de se colocar em prática uma nova Proposta

Curricular para todo o Estado de São Paulo pode ser percebida nas palavras de

Gonçalves (2009):

Embora a existência teórica, a secretária encontrou escolas que eram tocadas sem um sistema de ensino comum – cada um ensinava o que queria ou seguia o livro didático –, sem planos de aula, sem planos de ensino, sem projetos pedagógicos – tanto nas unidades quanto das diretorias –, sem regimento interno, sem regimento disciplinar, enfim, sem a mínima padronização e parâmetro na gestão das unidades, de forma a garantir maior eficácia e racionalidade. [...] Duas oitavas séries de uma mesma escola, sob professores diferentes, poderiam estar estudando Revolução Francesa numa e Brasil Regência na outra. (GONÇALVES, 2009)

Segundo estes documentos oficiais, essa Proposta procura sistematizar os

conteúdos de ensino mais relevantes a serem garantidos ao longo dos anos de

escolarização e estabelece com mais clareza e intencionalidade o que deverá ser

ensinado aos alunos da rede estadual de ensino em cada ano.

Faz parte da nova Proposta a oferta de uma variedade de materiais e

documentos que são ofertados aos alunos, professores e gestores.

Destacamos, dentro dessa variedade, os Cadernos do Professor que estão

organizados por bimestre e por disciplina. Neles estão previstos os conteúdos,

habilidades e competências organizados por série e acompanhados de orientações

para a gestão da sala de aula, para a avaliação e a recuperação, sugestões de

métodos e estratégias de trabalho nas aulas, experimentações, projetos coletivos,

atividades extraclasse e estudos interdisciplinares.

O caderno do aluno pode ser considerado um complemento ao Caderno do

Professor. Está dividido pelas séries e disciplinas indo do ensino fundamental até o

ensino médio. Foi concebido em 2009 para os cerca de 3,3 milhões de estudantes

de 5ª a 8ª do Fundamental e de Ensino Médio e nele encontramos diversos

exercícios, tabelas, indicadores bibliográficos e dicas de estudo, cuja finalidade é

complementar o que foi discutido em sala de aula.

Page 56: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

55

Esta Proposta apresenta a Matemática como ―um sistema simbólico que se

articula diretamente com a língua materna, nas formas oral e escrita, bem como com

outras linguagens e recursos de representação da realidade.‖ (SEE/SP, 2008)

Considerando a especificidade de nossa investigação, a seguir

apresentaremos como estão distribuídos os conteúdos de Matemática no ensino

fundamental nesta nova Proposta, referentes à Álgebra:

Quadro 6: A álgebra nos cadernos

Série Bimestre

6ª série 4º

Uso de letras para representar um valor desconhecido. Conceito de equação. Resolução de equações. Equações e problemas.

7ª série 2º Expressões algébricas. Equivalências e transformações. Produtos notáveis. Fatoração algébrica.

7ª série 3º

Equações Resolução de equações de 1º grau. Sistemas de equações e resolução de problemas. Inequações do 1º grau

8ª série 2º

Álgebra Equações do 2º grau: resolução e problemas. Funções Noções básicas sobre função. A ideia de variação. Construção de tabelas e gráficos para representar funções de 1º e 2º graus

Para uma melhor compreensão, acreditamos ser de suma importância

apresentar uma breve análise das situações de aprendizagem sugeridas no Caderno

do Professor referentes ao 4º Bimestre da 6ª série, considerando que, de acordo

com as orientações contidas do documento ―Proposta Curricular‖, é neste momento

que se inicia o estudo da álgebra de acordo com a Proposta.

Observamos que o assunto é iniciado por meio de situações de aprendizagem

nas quais o educando deverá ―realizar generalizações, utilizando a linguagem escrita

e expressões matemáticas que envolvem o uso das letras.‖ (SEE/SP,2008)

Page 57: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

56

Figura 3: Exemplo de situação de aprendizagem sugerida no Caderno do

Professor e apresentada no Caderno do Aluno – 6ª série – vol. 4.

As orientações ao professor apontam como uma possível estratégia promover

atividades de investigação de sequências de figuras com a finalidade de identificar

padrões e a representação por meio da linguagem escrita e a investigação das

sequências numéricas como forma de aprimoramento da percepção indutiva de

regularidades e para iniciar o trabalho com letras para representar o padrão

identificado.

As situações de aprendizagem acima descritas estão em concordância com a

concepção Aritmética Generalizada (USISKIN, 1995) quando apontam como

Page 58: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

57

estratégia a promoção de atividades que possibilitem ao educando traduzir e

generalizar padrões.

Outra situação de aprendizagem que encontramos no caderno da 6ª série tem

como conteúdo e tema: letras para representar números ou grandezas; valor

numérico de uma fórmula/expressão algébrica. Esta situação de aprendizagem visa

desenvolver a leitura e interpretação de enunciados; transpor a linguagem escrita

para algébrica e vice-versa e a resolução de equações.

Figura 4: Exemplo de situação de aprendizagem sugerida no Caderno do

Professor e apresentada no Caderno do Aluno – 6ª série – vol.4.

Page 59: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

58

A resolução de problemas usando fórmulas relacionadas a diferentes

contextos é apontada como estratégia para se atingir o objetivo.

Com o objetivo de facilitar a compreensão do aluno sobre o uso de letras na

Matemática, são propostas situações para cálculo de perímetro, cálculo da média

aritmética, cálculo do imposto de renda, cálculo do Índice de Massa Corpórea (IMC)

entre outras. (Anexo 1)

De acordo com as orientações prestadas aos professores, ―essa capacidade

de generalização de uma propriedade ou relação é o que caracteriza uma fórmula.

Ela permite que enxerguemos a estrutura dessa relação entre diferentes grandezas.‖

(SEE/SP, 2008)

Ainda segundo as orientações, ao manipular as fórmulas os alunos podem se

deparar com situações que exijam resolução de equações. Sobre essa situação,

ressaltam que é importante deixar o aluno resolvê-las por meio de tentativas ou pelo

raciocínio heurístico, isto é, um processo não formal de resolução de problemas.

Esta situação de aprendizagem evidencia a concepção da álgebra como

estudo de relações entre grandezas (USISKIN, 1995), cujo estudo pode começar por

fórmulas e as variáveis variam.

No Caderno do Professor a equação é conceituada como uma pergunta feita

em linguagem matemática, usando números, letras e o sinal de igualdade. A ideia

defendida aqui é que ―mesmo dentro do contexto exclusivamente matemático, uma

equação como 2x + 3 = 13 pode ser entendida como uma pergunta do tipo: qual é o

número cujo dobro somado com 3 resulta 13?‖( SEE/SP, 2008 )

As orientações alertam a respeito de o uso da imagem da balança de pratos

como analogia de uma equação, frequentemente empregada por professores e

livros didáticos, requerer alguns cuidados, devendo o professor averiguar

antecipadamente se os alunos entendem o funcionamento de uma balança de

pratos. Apresentam a seguinte proposta:

Page 60: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

59

Figura 5: Caderno do Aluno – 6ª série, vol.4.

Sobre o assunto, ainda afirmam existir uma similaridade entre a igualdade

entre os lados de uma equação e o equilíbrio de pesos entre os pratos de uma

balança e que essa imagem é um recurso que facilita a compreensão das

transformações que podem ser feitas em uma equação, sem alterar a relação de

igualdade entre os dois lados.

3.4 O primeiro dia da Formação

Apresentaremos o instrumento para coleta de dados que foi aplicado no

primeiro dia do Curso de Formação, em um encontro que teve duração de 3 horas.

O encontro foi realizado numa das dependências de uma escola estadual na cidade

de Suzano e estavam presentes 10 professores e uma professora, coordenadora de

Oficina Pedagógica, que acompanhou todos os nossos encontros.

Tal instrumento de coleta de dados foi concebido especificamente com o

intuito de investigar quais das concepções de álgebra (USISKIN, 1995) os

professores declaram utilizar em suas aulas, bem como identificar os significados de

equação empregados pelos professores ao abordar o assunto.

O primeiro instrumento é composto por duas partes. A primeira é composta

por 2 questões adaptadas de uma dissertação de mestrado mais 2 questões sobre o

conhecimento especializado do conteúdo (BALL, 2008).

Page 61: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

60

A segunda parte é composta por uma pergunta sobre a importância do ensino

de equações, mais um relato detalhado do procedimento empregado no ensino das

mesmas.

No inicio do primeiro encontro da Formação, cada uma das questões foi

apresentada separadamente para os professores numa tela, para que os

professores respondessem de forma descontraída. A intenção foi evitar que a

questão 2 pudesse influenciar a resposta da primeira questão. Enquanto os

professores iam falando, as respostas obtidas eram registradas na lousa. Dando

prosseguimento, entregamos a folha com as questões para que os professores

pudessem registrar as respostas das duas primeiras questões e respondessem as

demais.

Na primeira questão pretendíamos verificar qual conteúdo, em álgebra, o

professor julgava ser o mais importante. Assim poderíamos perceber se realmente

discutir sobre equação seria interessantes para os participantes. Na segunda

questão, solicitamos para que os professores explicitassem a sua própria concepção

de equação, promovendo um momento para que os professores pudessem refletir

sobre o seu próprio entendimento sobre equações.

Vale ressaltar que tanto as duas questões como a terceira que compõem este

questionário foram adaptadas da dissertação de mestrado de Pereira (2005).

Ainda com relação à segunda questão, em sua pesquisa Pereira (2005), ao

questionar os futuros professores sobre ―o que é uma equação?‖, pretendia fazer um

mapeamento relacionado ao entendimento que os alunos trazem do Ensino Básico

sobre o assunto Equação, além de verificar se os futuros professores mencionariam

algum tipo de relação existente entre uma Equação e a ideia de igualdade entre os

dois membros ou, ainda, com a noção de incógnita.

Parte 1

Questão 1: Indique qual conteúdo, em álgebra, que você julga ser o mais importante.

Questão 2: O que é para você uma equação?

Page 62: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

61

Compartilhamos o mesmo objetivo apresentado por Pereira (2005) e vamos

além, visto que também pretendíamos verificar qual é a ideia de equação que os

professores possuem, bem como verificar se haveria uma variedade ou uma

predominância quanto à definição de Equação.

A terceira questão está baseada nos estudo de Pereira (2005) que em sua

pesquisa, utiliza essa questão para diagnosticar se os futuros professores

reconheciam ou identificavam as Equações dentre algumas expressões algébricas e

funções polinomiais.

Adotamos o mesmo objetivo proposto por Pereira (2005), porém com uma

modificação: diagnosticar se os professores em exercício reconheciam ou

identificavam as Equações dentre algumas expressões algébricas e funções

polinomiais.

As questões 4 e 5 da primeira parte do nosso instrumento de coleta de dados

estão relacionadas ao conhecimento especializado do conteúdo, pois tratam do

conhecimento de matemática necessário especificamente para o trabalho de

ensinar, já que pretendíamos averiguar quais eram os argumentos e possíveis

intervenções dos professores com relação aos procedimentos adotados por alunos

fictícios para a resolução das equações propostas. Também estão relacionadas com

o conhecimento do conteúdo comum, pois também queríamos saber se os

professores compreendem os conceitos matemáticos subjacentes a um determinado

procedimento usado para resolver certo tipo de equação. A respeito do

conhecimento do conteúdo específico de Shulman (1986), os conteúdos

matemáticos que estão presentes nas atividades 4 e 5 são: conteúdos de equação e

fatoração de expressões algébricas.

Parte 1

Questão 3: Dos itens abaixo, assinale aquele(s) que se refere(m) a uma equação:

a)

b) ( ) c)

d) √ e)

f) ( ) (

)

Page 63: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

62

Após a aplicação da primeira parte do questionário, entregamos a segunda

parte, composta por uma questão que pretendia verificar qual é a importância que o

professor dá para as equações dentro do processo de ensino e aprendizagem de

matemática e por um relato detalhado sobre qual procedimento eles julgavam ser

mais adequado para que o seguinte objetivo fosse atingido: ―ensinar equações para

um grupo de alunos do sétimo ano do Ensino Fundamental‖.

Neste relato, os professores deveriam informar: números de aulas

necessárias; estratégias empregadas; recursos utilizados; questionamentos;

exemplos de atividades propostas aos alunos; uma explicação que o professor

considera indispensável ser dada.

Nosso objetivo ao propor este tipo de atividade foi identificar ―as diferentes

formas de ver, de interpretar e de tratar a noção de equação‖ (RIBEIRO, 2010)

declarada pelos professores ao ensinar o tema.

( )

Parte 1

Questão 4: Para resolver a equação ( ) , um aluno deu a seguinte resolução:

Discuta a resolução dada pelo aluno. Justifique sua resposta. O que você diria ao aluno que apresentou essa resolução?

( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Parte 1

Questão 5: Um professor de matemática propôs ao seu aluno que resolvesse a seguinte equação do 2º grau:

Discuta a resolução dada pelo aluno. Justifique sua resposta. O que você diria ao aluno que apresentou essa resolução?

Page 64: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

63

Vale dizer que a aplicação do instrumento de pesquisa detalhado acima foi

feita logo no primeiro dia do curso de Formação Continuada, portanto sem influência

da participação das discussões ocorridas no âmbito da formação.

Estas atividades foram selecionadas pois acreditamos que tais questões

poderiam trazer dados que mostrariam quais dos significados de equação os

professores declaram utilizar ao ensinar o tema, como também ratificar nossa

hipótese de que o ensino de equações ocupa um lugar de destaque dentro do

ensino da Álgebra.

3.5 O segundo dia da Formação

No segundo encontro, após a retomada dos assuntos abordados no primeiro

dia, iniciamos o estudo dos três artigos científicos que serviram de fundamentação

teórica para esta Formação Continuada. São eles: Usiskin (1995); Ribeiro &

Machado (2009) e Fiorentini et al. (1993).

Começamos o segundo encontro apresentando a seguinte proposição

presente no artigo de Usiskin (1995):

Parte 2

Considere a seguinte situação:

Seu objetivo é ensinar sobre equações para um grupo de alunos do sétimo ano do EF. Relate de maneira detalhada qual procedimento você considera mais adequado adotar para que seu objetivo seja atingido? Procure informar:

Ano a que se destina e número de aulas necessárias; Estratégias que serão empregadas; Recursos que serão utilizados; Quais questionamentos serão feitos? (ou pretende

fazer?) Cite exemplos de atividades que serão propostas para

a turma; Há alguma explicação que você considera

indispensável ser dada? Qual?

Parte 2

Questão 6: Você considera importante o ensino de equações? Justifique.

Page 65: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

64

―O produto de dois números é igual a um terceiro.‖

Depois solicitamos aos participantes que representasse tal afirmação por

meio de uma linguagem algébrica. Um dos participantes registrou na lousa as

soluções apresentadas pelos professores, listadas a seguir:

a)

b)

c)

A professora A argumentou:

Então nesse momento perguntamos ao grupo se esta afirmação: ―O produto

de dois números é igual a um terceiro‖ poderia ser considerada uma equação?

Notamos certo desequilíbrio entre os participantes do grupo, gerando muito

desencontro de ideias.

Perguntamos ao grupo se seria importante definir ou conceituar o que é uma

equação quando estamos ensinando sobre o tema e o grupo foi unânime ao afirmar

que sim.

Prosseguimos com a leitura e apresentação do artigo, intitulado Equação e

seus multisignificados: potencialidades para a construção do conhecimento

matemático, de autoria de Alessandro Jacques Ribeiro e Silvia Dias Alcântara

Machado.

Também realizamos a leitura do capítulo 5, do livro de Ribeiro (2008),

intitulado Apresentando os Multisignificados da Noção de Equação e dos demais

artigos citados anteriormente.

Realizamos uma ampla discussão sobre as conclusões que os autores

apresentaram em seus respectivos artigos, o que conduziu o grupo a concluir que há

Professora A: Isso está muito aberto. Pode ser qualquer coisa... Achamos milhares de

respostas para esta questão...

Page 66: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

65

uma necessidade de promover atividades que contemplem, ao longo do ano, alguns

dos diferentes significados de equação identificados por Ribeiro em sua tese de

doutoramento e as diferentes concepções de álgebra.

Após o estudo destes artigos passamos a analisar as situações de

aprendizagem sugeridas no Caderno do Professor referente ao 4º Bimestre da 6ª

série, considerando que é neste momento que se inicia o estudo da álgebra de

acordo com a Proposta.

Lembramos que optamos por essa análise por diferentes motivos. Em

primeiro lugar pelo fato de que estávamos executando essa Formação em parceria

com a Diretoria de Ensino de Suzano. Por isso, fez-se necessária a realização de

estudo, análise e discussão das diferentes concepções de Álgebra presentes ou não

nos materiais de apoio ao Currículo Oficial do Estado de São Paulo, sobretudo no

que se refere mais especificamente às diferentes formas de ver e de tratar a noção

de equação.

Em segundo lugar, não poderíamos deixar de levar em conta o fato de que

desde o ano de 2008 a Secretaria do Estado da Educação (SEE) propõe mudanças

curriculares para as escolas tanto do Ensino Fundamental como Médio. Dessa forma

consideramos, assim como Pietropaolo (2002), que poderíamos nos valer de tais

orientações para promover as discussões e reflexões no grupo de formação. Para o

autor, tais orientações podem

[...] nortear a formação inicial e continuada de professores, pois à medida que os fundamentos do currículo se tornem claros fica implícito o tipo de formação que se pretende para o professor, como também orientar a produção de livros e de outros materiais didáticos, contribuindo dessa forma para configuração de uma política voltada à melhoria do ensino fundamental. (PIETROPAOLO, 2002, p. 37, grifo nosso)

Dessa forma, acreditamos que essa seria uma possibilidade de compreender

a relação existente – se é que há – entre as categorias distintas de conhecimentos

para o ensino estabelecidas por Shulman (1986): conhecimento do conteúdo

específico, conhecimento pedagógico do conteúdo e conhecimento curricular do

conteúdo, além de permitir a análise do grupo sobre a presença ou não dos

pressupostos teóricos estudados na sessão de formação.

Page 67: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

66

Nesse sentido, procuramos favorecer a discussão entre nossos sujeitos de

pesquisa sobre o tema estudado e estabelecer relações com as orientações oficiais

propostas, não só para investigações acerca do Conhecimento Profissional Docente,

mas também como uma forma de refletir sobre o tema a partir de um material mais

próximo ao cotidiano dos professores, uma vez que tal documento é utilizado por

muitos dos profissionais da rede.

3.6 O terceiro dia da Formação

Iniciamos o terceiro encontro solicitando aos professores que novamente

escrevessem um novo relato detalhado sobre os procedimentos e atividades que

eles julgavam ser mais adequado para que o seguinte objetivo fosse atingido:

―ensinar equações para um grupo de alunos do sétimo ano do Ensino Fundamental‖.

Nosso objetivo é comparar o relato feito no primeiro dia, que foi realizado

antes de qualquer intervenção de nossa parte com o relato realizado após o estudo

dos artigos citados anteriormente. Tal comparação poderá nos mostrar se houve ou

não uma maior variedade de atividades que contemplem as diferentes concepções

de álgebra para o ensino, bem como se há o emprego dos significados de equação

que não foram contemplados no primeiro relato.

Também neste dia, os professores responderam a um questionário cujo

objetivo era avaliar nossa Formação:

Avaliação da Formação

1. Ao longo desta formação, quais aspectos você considera importantes para a abordagem do conceito equação na Educação Básica? E quais aspectos você considera desnecessários?

2. Do que foi discutido durante esta formação, o que você considera possível aplicar em suas aulas? Em que sentido as discussões realizadas durante este curso poderiam mudar sua prática em sala de aula, para ajudar os alunos na construção desse conhecimento?

3. A participação no curso propiciou algum avanço, em relação aos seus conhecimentos anteriores, no que se refere ao trabalho com as equações?

4. Faça outras considerações que você julgue necessárias a respeito do trabalho desenvolvido pelo grupo, ao longo da formação.

Page 68: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

67

3.7 Análises dos Dados

Para analisar os dados coletados, faremos o levantamento dos tipos de

respostas obtidas em cada questionário.

Após fazer o levantamento dos tipos de respostas, faremos uma classificação

destas e, a partir disso, faremos uma comparação dos dados baseando-nos no

trabalho de Pereira (2005), nos trabalhos de Ribeiro (2008), Usiskin (1995) , em que

observaremos os diferentes significados de equação e as diferentes concepções de

álgebra utilizadas no ensino.

Com relação ao relato solicitado aos professores, observaremos os diferentes

tipos de atividades e métodos empregados pelos professores no ensino das

equações, bem como as formas empregadas na resolução das mesmas.

Page 69: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

68

Capítulo 4

Apresentação e Análise dos Dados

Apresentamos neste capítulo a análise das respostas dos professores para

cada um dos instrumentos de coleta de dados, feita à luz dos Multisignificados de

Equação e das conclusões de Shulman (1986) e Ball (2008).

Vamos apresentar e analisar o questionário que aplicamos no primeiro dia da

formação e os relatos que os professores escreveram das suas aulas, antes e

depois de nossa intervenção. Após a apresentação dos instrumentos utilizados para

a coleta de dados, apresentaremos as análises de cada atividade, contemplando os

diferentes significados de equação e o conhecimento profissional docente presente

nos relatos.

Para facilitar nossa análise, nomeamos os professores de acordo com as

letras do alfabeto de A a J.

Com a aplicação do primeiro questionário, buscamos levantar informações

sobre as concepções dos professores a respeito do conceito de equação e seu

ensino.

Inicialmente, fizemos um levantamento das respostas obtidas para cada uma

das questões e em seguida realizamos a análise observando suas características.

Neste sentido, apresentaremos as análises descritivas das atividades e, em

seguida, faremos a análise dos resultados.

4.1 Análise do questionário

Reiteramos que inicialmente questionamos os professores sobre qual seria o

conteúdo de álgebra mais importante. As respostas estão identificadas no quadro a

seguir:

Page 70: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

69

Quadro 7:Questão 1

Questão 1

Indique qual conteúdo, em álgebra, que você julga ser o mais importante:

Professor Resposta obtida

A Equações do 1º e 2º grau; monômios e polinômios.

B As operações.

C Equação.

D Monômios e polinômios.

E Polinômios.

F Equações do 1º e 2º grau.

G Equação.

H Equação do 2º grau.

I Equação do 1º grau.

J Produtos notáveis e fatoração.

Podemos observar que dentre os 10 professores entrevistados, 6 julgam

explicitamente a equação como sendo o assunto mais importante em álgebra. Tais

resultados parecem ratificar a importância que as equações têm na Educação

Matemática Básica (RIBEIRO, 2008).

Em seguida, propusemos uma segunda questão que nos permitisse fazer um

levantamento das ideias que os professores tinham da equação.

Ao realizar tal questionamento, pretendíamos apenas fazer um mapeamento

relacionado ao entendimento que os professores possuem, além de verificar se

haveria também uma variedade ou uma predominância quanto à definição de

Equação.

Apresentamos as respostas obtidas:

Page 71: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

70

Quadro 8: Questão 2

Questão 2. O que é para você uma equação?

Professor Resposta obtida

A Uma sentença matemática representada por uma variável.

B Uma igualdade, onde descobrimos a incógnita que são representadas por letras.

C É uma equivalência, uma maneira de encontrar um valor desconhecido.

D Fazer uma relação entre itens, produtos, corpos ou algo do gênero a fim de estabelecer e criar uma relação de igualdade velada.

E Qualquer coisa que funciona como uma balança.

F Procurar o valor de uma igualdade do tipo: x+5=10 ou x-5=10 etc. (1º grau) ou x2-25 = 0 ou x2 = 9 (2º grau)

G É encontrar soluções, equacionar respostas.

H Uma equivalência.

I Uma maneira prática para encontrar valores desconhecidos.

J Uma igualdade.

Os dados revelam que a noção de igualdade está presente na maioria das

respostas, já que neste trabalho admitimos a igualdade de valor como significado de

equivalência. Observamos que a palavra igualdade aparece em 60% das respostas

obtidas, o que parece corroborar Attorps (2003) em sua pesquisa, na qual afirma

que os professores dizem que o conceito de equação significa "igualdade".6

Dentre essas respostas, estão, por exemplo, as apresentadas na Figura 6 e

na Figura 7.

Figura 6: Resposta da Professora A para a questão 2.

6 ―Teachers say that the concept ‗equation‘ means ‗equality‘‖. (ATTORPS, 2003, p. 6)

Page 72: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

71

Figura 7: Resposta da Professora J para a questão 2.

Também notamos que os professores não fazem menção às estruturas

matemáticas da equação.

Nesse sentido, Lima (2007) acredita que:

O entendimento da estrutura interna de uma equação é importante, pois, ao ser relacionado à álgebra de manipulação, esse entendimento pode colaborar para que o aluno compreenda o significado de cada um dos símbolos usados para representar uma equação, bem como a sua manipulação. (LIMA, 2007, p.27)

Ainda sobre a definição de equação, também não encontramos no Caderno

do Professor menção a tais estruturas. As orientações contidas no caderno apenas

indicam que:

Uma equação nada mais é do que uma pergunta feita em linguagem matemática, usando números, letras e o sinal de igualdade. (SÃO PAULO, 2008, p. 29)

Um fato que nos chamou atenção foi que, embora todos os sujeitos

envolvidos na pesquisa tenham declarado utilizar as orientações presentes no

Caderno do Professor no preparo de suas aulas, observamos que nenhuma das

respostas obtidas faz menção ao conceito de equação presente em tal material.

Na questão 3 pretendeu-se diagnosticar se os professores em exercício

reconheciam ou identificavam as Equações dentre algumas expressões algébricas e

função polinomial. Antes da análise, apresentaremos a questão e as respostas

obtidas:

Page 73: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

72

Quadro 9: Questão 3

Questão 3. – Dos itens abaixo, assinale aquele(s) que se refere(m) a uma equação:

(a)

(b) ( )

(c)

(d) √

(e)

(f) ( ) (

)

Professor Itens assinalados

A B, C, D, F

B B, C, D, F

C B, C, D

D B, E

E B, C, D, F

F B, C, D

G B, C, D

H B, C, D

I B, C, D

J B, C, D

Nessa questão os professores assinalaram as afirmativas que apresentavam

o sinal de =, reforçando assim a ideia de igualdade de uma equação. Porém, o que

nos chamou a atenção foi o fato da não concepção por parte de 7 entre os 10

investigados da expressão algébrica P(x) = (

) ser uma equação.

Para analisar a compreensão dos professores acerca das estratégias e dos

erros apresentados pelos alunos, propomos aos professores as questões 4 e 5.

Inicialmente, apresentaremos as respostas obtidas para a questão 4; em

seguida, analisaremos tais respostas a luz dos estudos realizados por Ball e Bass

(2003) apoiadas nos estudos de Shulman (1986) e algumas pesquisas relacionadas

aos processos de ensino e aprendizagem da equação.

No que se refere ao conhecimento do conteúdo, consideramos, assim como

Shulman (1986), que se relaciona ao conhecimento substantivo e sintático do

conteúdo que o professor lecionará. Para o autor, o conhecimento substantivo é

Page 74: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

73

composto pelos conhecimentos mais gerais da Matemática, ou seja, ideias, termos,

conceitos específicos, definições, procedimentos que permitem explorar situações-

problemas. Complementando esse conhecimento, o sintático refere-se às regras e

processos relativos à manipulação e aplicação do conteúdo, no nosso caso as

equações.

O conhecimento matemático necessário para ensinar engloba todas as

estratégias, intervenções e decisões de que o professor se utiliza para ensinar

determinado conteúdo matemático.

Embora o ―conhecimento de matemática‖ e o ―conhecimento matemático

necessário para ensinar‖ possam ser considerados muitas vezes como dois campos

separados, Bass (2005) nos lembra que o campo da educação matemática é, em

essência, um campo de matemática aplicada.

Apresentaremos a seguir a questão 4, na qual pretendíamos discutir não só o

―conhecimento de matemática‖ como também o ―conhecimento matemático

necessário para ensinar‖.

Page 75: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

74

Quadro 10: Questão 4

Questão 4: Para resolver a equação x(x+2) = 5, um aluno deu a seguinte resolução:

( )

Discuta a resolução dada pelo aluno. Justifique sua resposta. O que você diria ao aluno que apresentou essa resolução?

Professor Resposta obtida na questão 4

A Ele conhece a fatoração e como encontrar os valores das raízes da equação, a distributiva em relação à adição.

B Que sua resolução está errada, o primeiro termo da equação indicava uma multiplicação entre o x e o x+2, que sempre que estiver uma letra (ou número) na frente de parênteses e não tiver sinal indica uma multiplicação.

C O aluno foi por dedução, ele achou que o valor de x era 5 porque o cinco está depois do igual, e depois para achar o outro valor de x verificou qual número adicionado a 2 dá valor 5. Errado porque ele esqueceu de igualar a 0 e substituindo o x por esses valores não chega a equivalência.

D A equação sugere a aplicação da propriedade distributiva com isso teríamos uma das raízes reais negativa.

E Não é a resposta que procuro. O aluno ignorou os princípios de fatoração. Então eu retomaria a explicação à parte para ele e entregaria em suas mãos com uma etapa resolvida.

F Ele errou a resposta, pois ele deveria encontrar a fórmula para desenvolver, encontrando uma equação do 2º grau não exata.

G Ele utilizou o conhecimento em resolução para equações incompletas. Mas na verdade não trata-se de uma equação incompleta e sim de uma equação completa que foi apresentada em sua forma fatorada.

H Diria para ele fazer a verificação dos valores das raízes para ver se satisfaz, ou se é verdadeira, depois igualar a zero a equação.

I Ele imaginou a solução da equação do 2º grau com igualdade zero e não observou que a resposta é cinco. O aluno lembrou que o produto de dois fatores é zero quando um dos termos é zero e resolveu esta equação pensando assim. Diria que ele deveria fazer a distributiva e resolver por outro método, por exemplo, Bhaskara.

J A resolução foi calculada da forma incompleta.

Page 76: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

75

Acreditamos ser interessante enunciar o conjunto de aspectos que se espera

que o professor que ensina Matemática tenha para que possamos analisar as

respostas obtidas na questão 4 do primeiro questionário.

Esperávamos que surgissem análises por parte dos professores apoiadas

tanto no conhecimento matemático como nos didáticos e experienciais.

Quanto à primeira vertente, na questão 4, por exemplo, acreditávamos que

poderiam surgir respostas a partir da análise da sentença matemática, ou seja, o

professor poderia chamar a atenção para o fato de que o produto 5 ser número

primo, este permite como fatores somente os números 1 ou 5, o que permitiria um

número reduzido de combinações de respostas. Os professores poderiam também

chamar a atenção para o fato de que a equação do tipo x(x+a)≠0, com x e a tem

sua forma muito próxima a equações do tipo x(x+a)=0, o que poderia ter gerado tal

equívoco por parte do aluno, uma vez que tais equações são comuns em livros

didáticos e até mesmo no material de apoio da SEE. Podemos observar isso, por

exemplo, quando os Professores I e G afirmam:

Ele utilizou o conhecimento em resolução para equações incompletas. Mas na verdade não trata-se de uma equação incompleta e sim de uma equação completa que foi apresentada em sua forma fatorada. (PROFESSOR G)

Ele imaginou a solução da equação do 2º grau com igualdade zero e não observou que a resposta é cinco. O aluno lembrou que o produto de dois fatores é zero quando um dos termos é zero e resolveu esta equação pensando assim. (PROFESSOR I)

Quanto à intervenção, esperávamos que o professor sugerisse uma

discussão sobre esse tipo de equação e as justificativas para a validação de um

procedimento para resolução. Neste caso, a análise dos dados nos permitiu

observar que a maioria dos professores se restringiu apenas em analisar se o

procedimento realizado pelo aluno estava ou não correto. Com exceção dos

professores E, H e I, que apresentaram sua intervenção diante do que foi

apresentado:

Então eu retomaria a explicação à parte para ele e entregaria em suas mãos com uma etapa resolvida. (PROFESSOR E)

Diria para ele fazer a verificação dos valores das raízes para ver se satisfaz, ou se é verdadeira, depois igualar a zero a equação. (PROFESSOR H)

Page 77: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

76

Diria que ele deveria fazer a distributiva e resolver por outro método, por exemplo, Bhaskara. (PROFESSOR I)

Analisando os três encaminhamentos, observamos que os três professores

demonstraram preocupar-se com retomada do conteúdo. Especialmente, o

Professor H demonstrou uma preocupação em problematizar o erro do aluno.

Consideramos que para esse educador tal situação poderia favorecer uma

importante reflexão por parte do aluno, de forma a proporcionar a construção de

conceito. Observamos aqui uma aproximação do que é proposto em documentos

oficiais, como os PCN. Nesse documento chama-se a atenção para o fato de que a

resolução de problemas favorece a capacidade de investigação por meio do

desenvolvimento da capacidade de investigação e da perseverança na busca de resultados, valorizando o uso de estratégias de verificação e controle de resultados e predisposição para alterar a estratégia prevista para resolver uma situação-problema quando o resultado não for satisfatório. (PCN, 1998, p. 75).

Essa mesma preocupação é observada nas orientações oficiais do currículo

de matemática da SEE e em diferentes pesquisas, como as de House (1997) e

Ribeiro (2010), na qual o autor afirma que a resolução de problemas ―constitui-se em

um aspecto importante a ser valorizado na aulas de matemática‖. (RIBEIRO, 2010,

p.7)

Assim como a questão anterior, na 5 pretendíamos discutir também o

Conhecimento Profissional Docente. De acordo com Ball e Bass (2003, p. 6-7), o

saber matemático para o ensino exige que os professores sejam capazes de realizar

com precisão explicações matemáticas, apresentar as definições apropriadas, fazer

conexões entre as diferentes representações, responder de forma produtiva as

questões matemáticas dos alunos satisfazendo suas curiosidades, fazer julgamentos

matemáticos sobre os materiais instrucionais, além de interpretar e fazer

julgamentos matemáticos sobre as perguntas, soluções e ideias apresentadas pelos

estudantes. Nesse sentido, elaboramos um caso envolvendo a resolução de uma

equação completa do segundo grau utilizando a fatoração do trinômio do quadrado

perfeito.

Page 78: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

77

Quadro 11: Questão 5

Questão 5: Um professor de matemática propôs ao seu aluno que resolvesse a seguinte equação do 2º grau:

( )

Discuta a resolução dada pelo aluno. Justifique sua resposta. O que você diria ao aluno que apresentou essa resolução?

Professor Respostas obtidas na questão 5

A Transformou a equação do 2º grau em um trinômio quadrado (2x-5)2, ao isolar o valor -26 e somar a 25.

B A resolução não está correta: acho que seria bem perceptível por este aluno saber que não existe nenhum número que elevado ao quadrado tenha como resultado um número negativo. Ele tentou resolver aplicando o trinômio quadrado perfeito mas errou na resolução.

C Ele está correto. Ele foi tentando deixar a equação em quadrado perfeito. Trabalhando a equivalência.

D Penso o raciocínio estar correto, porém o equacionamento pode ser com o acréscimo de uma unidade. Essa é uma equação do 2º grau, a proposta de resolução apresentada pode até fazer sentido, porém, não faz sentido nesse momento a resposta apresentada.

E Parabéns por ter conseguido enxergar um quadrado perfeito, mas cadê o conjunto solução?

F Nos itens 1, 2, 3, 4 foi mantido a igualdade mas não houve resolução

do problema caso ele procurasse a resolução iria encontrar o =-16, onde a resposta é (nenhum número real)2=-16

G O aluno apenas simplificou a equação em sua forma fatorada. Mas ele não resolveu a equação, apenas descreveu de uma forma diferente da qual foi apresentada pelo professor.

H Sim, primeiramente está correto, basta fazer a verificação e dizer ao aluno a importância da equivalência.

I Nos itens 1, 2, 3 ele manteve a igualdade. No item 4 ele resolveu o primeiro termo porém ele não deu resultado final (numérico). Diria a ele que utilizasse Bhaskara; ele encontraria o valor do discriminante e

com isso observaria que seria negativo e diria que não existe uma resposta no U |R

J O aluno apenas fatorou mas não terminou a equação do 2º grau.

Page 79: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

78

Na questão 5, era esperado que o professor observasse o fato de que o aluno

não validou a resposta encontrada. O encaminhamento esperado era que o

professor discutisse a conclusão do resultado. Dos professores analisados,

observamos que 9 mencionaram o trinômio quadrado perfeito; 3 indicaram a falta da

validação do resultado e 3 apontaram encaminhamentos. Dentre os

encaminhamentos, observamos haver por parte dos docentes encaminhamentos

distintos:

(...) Parabéns por ter conseguido enxergar um quadrado perfeito, mas cadê o conjunto solução? (PROFESSOR E)

(...) basta fazer a verificação e dizer ao aluno a importância da equivalência. (PROFESSOR H)

(...) Diria a ele que utilizasse Bhaskara; ele encontraria o valor do

discriminante e com isso observaria que seria negativo e diria que não existe uma resposta no U |R (PROFESSOR I)

Analisando os depoimentos, observamos por parte dos professores E e H a

concordância quanto à preocupação com a falta de validação do resultado, todavia

somente a apresentam; o Professor E reitera a necessidade da problematização. Já

o professor I mostrou-se preocupado em apresentar um outro procedimento de

Cálculo ao aluno.

Observamos que as respostas ao questionário indicaram lacunas nos

conhecimentos dos professores investigados, em relação à análise do erro do aluno

na resolução da equação, como por exemplo quando o professor F não reconhece a

resolução pela estratégia apresentada. Nosso sujeito de pesquisa declara:

Nos itens 1, 2, 3, 4 foi mantido a igualdade mas não houve resolução do

problema caso ele procurasse a resolução iria encontrar o =-16, onde a resposta é (nenhum número real)

2=-16

Para o docente, a resolução passaria necessariamente pelo cálculo do .

Nesse sentido, assim como o professor F, a maioria dos professores não menciona

o que diria ao aluno. Os professores se restringem somente a analisar o aspecto

processual. As questões apresentadas aos professores não pretendiam apenas

verificar se as respostas estavam corretas ou não, mas favorecer a reflexão e

discussão a respeito do modo pelo qual o aluno compreende ou não determinado

assunto e quais as possibilidades de encaminhamentos.

Page 80: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

79

Retornando ao questionário, no item seguinte procuramos complementar a

primeira questão verificando a importância dada pelo professor ao ensino das

equações.

Quadro 12: Questão 6

Questão 6. Você considera importante o ensino de equações?

Professor Respostas obtidas na questão 6

A Sim, pois é possível por meio dela levar os alunos a interagir, mediado por um problema desafiador que possa explorar a curiosidade dos alunos.

B Sim, principalmente na resolução de situações problema.

C Sim, pois estimula o raciocínio lógico. Podemos também resolver vários problemas do dia a dia.

D Sim, pois intuitivamente as utilizamos como ferramenta diária e muitas vezes não se tem a noção exata desse fato.

E Sim, para que ele exercite todas as propriedades que vem aprendendo.

F A equação nos dá a segurança de termos uma igualdade onde podemos encontrar os valores de suas variáveis mostrando realmente as igualdades.

G Sim, o estudo das equações ajuda principalmente a trabalhar com resolução de problemas envolvendo situações do cotidiano.

H Sim, estimula o raciocínio lógico e prepara o aluno para o entendimento sobre funções.

I Sim por meio da equação nós conseguimos resolver problemas do dia a dia.

J Sim, principalmente na resolução de situações problema.

Percebemos por meio da análise das respostas obtidas que todos os

professores participantes desta pesquisa consideram importante o ensino das

equações, o que reafirma a ideia de que ―as equações, sejam de que tipo for, são

um conteúdo atraente de estudo e podem ser um assunto central e de grande

importância dentro da matemática e das suas aplicações.‖ (BEZERRA, 2006, p.3)

É possível notar ainda que a maioria (6 de 10 professores) considera que a

importância do estudo das equações está intimamente ligada à resolução de

problemas. Isso nos remete novamente a uma possível influência das orientações

contidas em documentos oficias como PCN e o Currículo Oficial do Estado de São

Paulo.

Page 81: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

80

No PCN observamos que, do ponto de vista metodológico, os autores deste

documento consideram que os conceitos matemáticos devem ser ―abordados

mediante a exploração de problemas, ou seja, situações em que os alunos precisem

desenvolver algum tipo de estratégia para resolvê-las‖ (BRASIL, 1998, p.40).

Segundo esse documento, a situação problema ―é o ponto de partida da atividade

matemática e não a definição‖ (Id., Ibid., p.40).

Também no material de apoio ao currículo oficial de São Paulo – Caderno do

Professor – observa-se a utilização de problematizações para desenvolver a

temática e a apresentação, em suas orientações, de afirmações como ―uma

equação pode ser vista como uma pergunta. A forma de se perguntar em

Matemática é por meio de uma equação.‖ (SÃO PAULO, 2009, p.29)

Da mesma forma, analisando tais respostas à luz do trabalho de Ribeiro

(2007) percebemos que a resposta do professor D nos remete ao significado de

equação Intuitivo-Pragmático, uma vez que ele faz referência ao uso da equação de

forma intuitiva em situações do cotidiano.

Outro fato que nos chama a atenção é que a maioria dos professores

reconhece ou relaciona uma equação com situações do cotidiano. Isso nos remete a

lembrarmos dos povos Babilônios e Egípcios que concebiam a equação como

igualdade entre valores; as equações estavam sempre muito ligadas às ideias

intuitivas e vinculadas a problemas de ordem prática.

Prosseguindo nossa análise, apresentaremos a seguir os relatos dos planos

de trabalho docente.

4.2 Análise dos relatos dos planos de trabalho docente

Antes de iniciarmos as análises dos relatos das propostas de trabalho

apresentados pelos nossos sujeitos, gostaríamos de relembrar um dos nossos

objetivos: Quais os significados de equação que os professores declaram utilizar ao

ensinar o tema?

Acreditamos que esta retomada do objetivo se faça necessária, pois

passaremos agora a analisar o primeiro relato dos professores sobre as estratégias

e atividades empregadas no ensino das equações.

Page 82: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

81

Ao solicitar o relato, nosso objetivo era levantar informações sobre os

diferentes significados de equação empregados pelos professores em suas aulas.

Além disso, pretendemos observar o que Ball (2008) chama de Conhecimento

Especializado de Conteúdo , que os professores utilizam no ensino e que vai além

da matemática do próprio currículo.

Inicialmente realizamos a leitura detalhada, identificando os significados de

equação que apareciam no decorrer dos relatos apresentados, gerando uma

classificação, apresentada na tabela abaixo.

Dessa forma, analisando os relatos dos professores sobre as estratégias e

atividades empregadas no ensino das equações, observamos a predominância de

quatro significados:

Considere a seguinte situação:

Seu objetivo é ensinar sobre equações para um grupo de alunos do sétimo ano do EF. Relate de maneira detalhada qual procedimento você considera mais adequado adotar para que seu objetivo seja atingido? Procure informar:

Ano a que se destina e número de aulas necessárias; Estratégias que serão empregadas; Recursos que serão utilizados; Quais questionamentos serão feitos? (ou pretende

fazer?) Cite exemplos de atividades que serão propostas para

a turma; Há alguma explicação que você considera

indispensável ser dada? Qual?

Page 83: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

82

Quadro 13: Significados de equação empregados no primeiro relato

Professor Significados de Equação utilizados no relato

A Dedutivo-Geométrico

B Intuitivo-Pragmático

C Intuitivo-Pragmático

D Intuitivo-Pragmático

E Processual-Tecnicista

F Intuitivo-Pragmático; Estrutural-Conjuntista.

G Processual-Tecnicista

H Dedutivo-Geométrico

I Intuitivo-Pragmático

J Processual-Tecnicista; Estrutural-Generalista

Quanto à apresentação, optamos por indicar a análise detalhada dos três

relatos tendo em vista que os que apresentam o significado ―intuitivo-pragmático‖

possuem características em comum. Outro fato importante é que pretendemos

analisar e comparar o primeiro com o segundo relato.

Page 84: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

83

Figura 8: Relato da Professora A

Encontramos neste relato indícios de que a equação é concebida como noção

ligada às figuras geométricas; por isso concluímos que o significado aqui empregado

pelo professor é o Dedutivo-Geométrico.

Page 85: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

84

Figura 9: Relato da Professora J

Neste relato percebemos que a Professora J indica os termos de uma

equação, o que nos leva a crer que a equação é concebida como noção estrutural

definida e com propriedades e características próprias. Também notamos que a

professora descreve um procedimento para ―achar o valor de x‖, ou seja, indica que

os alunos devem colocar a incógnita no primeiro membro para aí resolvê-la, o que

ela chama de ―encontrar o valor‖. Nesse sentido, percebemos que os significados de

equação utilizados por esta professora são o Estrutural-Generalista e o Processual

Tecnicista.

Page 86: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

85

Figura 10: Relato da Professora B

Na figura 10 nos chama atenção o fato de que as professoras J e B utilizam o

modelo baseado em uma balança de dois pratos, em que cada prato representa um

dos membros da equação e o equilíbrio entre os pratos representa a igualdade

(FILLOY & ROJANO, 1989 apud LIMA, 2007, p.42).

Com relação a este modelo, encontramos em Lima (2007) a seguinte

observação:

O modelo da balança pode ser uma metáfora útil para todos os alunos darem significado ao sinal de igual como uma igualdade entre os dois membros da equação, bem como compreenderem o método de efetuar a mesma operação em ambos os membros. Entretanto, o modelo falha em ser significativo para muitos alunos, em situações mais gerais, envolvendo subtrações e números negativos. (VLASSIS, 2002 apud LIMA, 2007, p.46)

No relato da Professora B percebemos que ela utiliza situações do cotidiano

(pesagem de coisas). Não notamos nenhum registro sobre métodos ou técnicas

para resolver a equação, nem sobre sua estrutura ou características, e a resolução

da equação é obtida por meio da manipulação dos pesos nos pratos de forma

intuitiva.

Page 87: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

86

Nesse sentido, a equação é concebida como noção intuitiva, ligada à ideia de

igualdade entre duas quantidades (dois pesos da balança) e o significado

empregado é o Intuitivo-Pragmático.

Com relação ao conhecimento matemático para o ensino, percebemos que

em todos os relatos os professores selecionam estratégias e procedimentos para

ensinar sobre o assunto.

Nesse sentido, Serrazina (2012), apoiada nos estudos de Ball e Bass (2003),

afirma que:

O professor tem de avaliar, arranjar exemplos e contraexemplos, de modo a chegar a uma definição que seja adequada e compreensível. Na sua construção deve ter em atenção que as definições têm de ser baseadas em ideias já definidas e compreendidas pelos seus alunos. (SERRAZINA, p. 269).

Nessa perspectiva, não basta ao professor saber quais são as características,

propriedades, métodos e técnicas de resolução de uma equação; é preciso ser

capaz de perceber como levar um aluno a compreender tais coisas, isto é, não basta

saber as definições matematicamente corretas, precisa saber também adequar as

definições matemáticas para que sejam compreensíveis aos alunos para os quais se

está ensinando.

―É sabido que o conhecimento que o professor possui não pode ser passado

diretamente para os seus alunos‖ (SERRAZINA, 2012); portanto, os professores

criam situações de aprendizagem e para isso precisam mobilizar certos

conhecimentos específicos da profissão (didático, curricular, dos recursos, dos

alunos e do contexto).

[...] o professor tem de ter oportunidades de viver experiências matemáticas do tipo das que se espera que proporcione aos seus alunos, pois só assim poderá cumprir uma das suas funções como professor de Matemática, a de fazer com que os seus alunos aprendam e apreciem a Matemática. (SERRAZINA, 2012, p.267,grifo nosso)

Nas palavras da autora acima citada, percebemos que o trabalho do professor

de matemática não se resume apenas em ensinar a Matemática: é muito mais que

isso.

Page 88: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

87

Os relatos revelam que os professores utilizam a resolução de problemas

como a principal estratégia para o ensino das equações, o que corrobora as

respostas obtidas no quadro 12, na qual percebemos que a maioria dos professores

considera que a principal importância do ensino da equação reside no fato de ser

uma ferramenta para resolver problemas.

No segundo encontro, após realizarmos o estudo dos artigos que deram a

fundamentação teórica para a Formação, passamos a analisar as situações de

aprendizagem do Caderno do Aluno7, volume 4, 6ª série à luz da pesquisa realizada

por Ribeiro (2007). Esta atividade foi realizada em grupo e a apresentaremos em

seguida.

4.3 Análise do material de apoio: Caderno do Professor

Apresentaremos a seguir a análise que realizamos juntamente com os

professores envolvidos nesta pesquisa de duas situações problema do Caderno do

Professor que também estão presentes no caderno do aluno, volume 4, 6ª série:

7 Nova Proposta Curricular do Estado de SP.

Page 89: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

88

Figura 11: Caderno do Professor, 6ª série, vol. 4, p.17 (2008)

Nesta atividade, a álgebra é vista como aritmética generalizada, já que este

problema envolve a descoberta de um padrão de regularidade e sua posterior

representação na forma algébrica. O foco da atividade está no reconhecimento de

um padrão em figuras. Os conhecimentos matemáticos que apareceram foram:

equação, função, relação e operações. A noção de equação, neste problema, é

concebida como uma noção estrutural definida e com propriedades e características

próprias. A equação é considerada por si própria, operando sobre ela mesma, na

busca de soluções gerais para uma classe de equações de mesma natureza

(Ribeiro, 2007). Neste sentido, o significado de equação empregado é o Estrutural-

Generalista, já que neste caso deve-se apresentar uma lei de formação que

relacione a posição com o número de bolinhas.

Page 90: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

89

Figura 12: Caderno do Professor, 6ª série, vol. 4, p.23 (2008)

Nesta atividade, a álgebra é vista como estudo de relações entre grandezas

de medidas, já que há o emprego de fórmulas do tipo perímetro. Lembramos que, de

acordo com Usiskin (1995), ao se trabalhar com essas grandezas não se tem a

sensação de estar trabalhando com incógnitas: a concepção desta variável é um

argumento ou um parâmetro, e é nessa concepção que surge a noção de variável

dependente e independente, da qual deriva a ideia das funções. O foco da atividade

está na interpretação da sentença matemática presente na fórmula, no significado

das letras que a compõem e a obtenção de resultados a partir de valores numéricos.

Os conhecimentos matemáticos que aparecem são: equação, função, relação e

operações. Com relação aos significados de equação empregados notamos os

seguintes: Dedutivo-Geométrico, pois a noção de equação é concebida como ligada

às figuras geométricas (neste caso, ao retângulo); Estrutural-Generalista, já que há a

procura pelas soluções gerais para uma classe de equações de mesma natureza

(para o cálculo do perímetro, item c). No item d, notamos o significado Intuitivo-

Page 91: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

90

Pragmático. O trecho a seguir evidencia tal significado ao utilizar ―tentativas‖ na

resolução.

Figura 13: Orientações do Caderno do Professor – 6ª série, vol.4, p.29 (2008)

Antes de iniciarmos as análises dos relatos realizados após os professores

terem estudado os artigos já citados anteriormente, gostaríamos de relembrar mais

uma vez um dos nossos objetivos: Como a discussão dos Multisignificados de

Equação pode proporcionar o aperfeiçoamento e a ampliação do conhecimento

sobre Equações em um curso de formação continuada de professores de

Matemática?

4.4 Análise do segundo relato

Acreditamos que esta retomada do objetivo se faça necessária, pois

passaremos agora a analisar o segundo relato dos professores sobre as estratégias

e atividades empregadas no ensino das equações. Procuramos detectar se houve

ou não alguma mudança após a leitura dos artigos e das discussões e reflexões

propiciadas durante os encontros.

Da mesma forma que fizemos anteriormente, analisamos os relatos e os

classificamos como mostra a tabela a seguir:

Page 92: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

91

Quadro 14: Significados de equação empregados no segundo relato

Professor Significados de Equação utilizados no relato

A Intuitivo-pragmático; dedutivo-geométrico; estrutural-generalista; processual-tecnicista e estrutural-conjuntista.

B Intuitivo-pragmático; estrutural-generalista; processual-tecnicista.

C Dedutivo-geométrico;

D Só participou da 1ª sessão da Formação.

E Só participou da 1ª sessão da Formação.

F Intuitivo-pragmático; processual-tecnicista.

G Intuitivo-pragmático; processual-tecnicista.

H Intuitivo-pragmático; dedutivo-geométrico; estrutural-conjuntista.

I Intuitivo-pragmático; processual-tecnicista.

J Estrutural-generalista; processual-tecnicista; estrutural-generalista.

Apresentaremos a análise detalhada dos mesmos professores selecionados

anteriormente para que seja possível realizarmos também uma comparação dos

dados obtidos no primeiro e no segundo relatos.

Page 93: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

92

Figura 14: Segundo relato da professora A

Page 94: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

93

Figura 15: Continuação do segundo relato da professora A

Notamos na atividade 1 que a equação foi concebida como uma noção

intuitiva, ligada à ideia de igualdade entre duas quantidades e sua utilização está

relacionada à resolução de problema originário do cotidiano. Isso evidencia que o

significado empregado nesta atividade é o Intuitivo-Pragmático.

Nas atividades 2 e 5 percebemos a utilização de figuras planas e conceitos

como área e perímetro nos problemas. Tal fato evidencia o uso do significado

Page 95: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

94

Dedutivo-Geométrico. Analisando mais cuidadosamente a atividade 2, percebemos

que tal atividade explora uma função da álgebra: a generalização. Na maioria das

vezes resolver o problema significa encontrar valores numéricos para ―as letras‖;

nesta atividade, isso não acontece.

Encontramos um trecho da reportagem da Revista Nova Escola que corrobora

o fato acima citado:

Quando trabalha com questões matemáticas que envolvem letras, a garotada tende a buscar desenfreadamente por números para substituí-las. Fazer esses caracteres intrusos desaparecer é o objetivo principal da turma porque finalizar um problema com ―n‖ no resultado é sinal de que alguma coisa está inacabada ou errada. (REVISTA NOVA ESCOLA, out/2010, p.62)

Por isso podemos perceber que, na atividade 2, a noção de equação também

foi relacionada com a busca de soluções gerais e por isso o significado Estrutural-

Generalista também foi empregado.

Já na questão 5 notamos que um procedimento foi indicado na resolução do

problema e, assim sendo, percebemos além do significado Dedutivo-Geométrico o

significado Processual-Tecnicista.

A atividade 3 apresenta uma ―fórmula‖ para o cálculo do IMC (índice de

massa corpórea), em que a utilização da equação está relacionada com a busca de

soluções gerais e neste caso notamos que o significado empregado foi o Estrutural-

Generalista. O mesmo significado foi empregado na atividade 4.

Após analisarmos todas as atividades propostas pela Professora A, não

encontramos a preocupação em definir a noção de equação, mas percebemos a

preocupação em trabalhar a ideia central da noção de equação, ou seja, a ideia de

igualdade. Sendo assim, podemos afirmar que o significado Axiomático-

Postulacional também foi empregado.

Page 96: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

95

Figura 16: Segundo relato da Professora B

No relato da professora B, percebemos que a professora utiliza a metáfora da

balança para trabalhar a ideia de igualdade da equação, por meio da ideia de

equilíbrio e desequilíbrio da balança. Aqui percebemos que a equação foi concebida

como noção intuitiva, ligada à ideia de igualdade entre duas quantidades, isto é, a

professora está trabalhando com o significado Intuitivo-Pragmático neste caso. Mais

adiante, a professora chama a atenção para os elementos que caracterizam uma

equação – ―o uso de letras e o sinal de igualdade‖ – e também faz menção à

estrutura da equação. Nesta parte do relato, o significado empregado é o Estrutural-

Generalista, visto que a equação é apresentada como noção estrutural definida e

com propriedades e características próprias. Em seguida, a professora apresenta

uma técnica para a resolução da equação:

Page 97: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

96

Figura 17: Trecho do segundo relato da Professora B

Aqui percebemos que o significado empregado é o Processual-Tecnicista.

Passaremos agora a analisar o 2º relato realizado pela professora J:

Figura 18: Segundo relato da professora J

Page 98: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

97

No relato da professora J, percebemos que a professora emprega o

significado Estrutural-Generalista, pois a equação é apresentada como noção

estrutural definida e com propriedades e características próprias. Em seguida, a

professora apresenta uma técnica para a resolução da equação:

Figura 19: Trecho do segundo relato da professora J

Tal trecho evidencia o significado Processual-Tecnicista, dado que concebe a

equação como a sua própria resolução – como os métodos e técnicas que são

utilizadas para resolvê-la (RIBEIRO, 2007).

De acordo com Serrazina (2012), o professor, ao trabalhar na sua preparação

do ensino da Matemática, deve ter presente o currículo de Matemática que precisa

ensinar; identificar a matemática essencial e pertinente para trabalhar com os seus

alunos naquele momento; exigir rigor matemático, no quê e no como; selecionar e

adaptar tarefas com critério; ter uma visão crítica sobre os recursos, além de pensar

em estratégias da aula.

Nos relatos apresentados, podemos perceber os itens apontados por

Serrazina (2012). Os professores têm presente o currículo de Matemática que

precisam ensinar e identificam a matemática essencial e pertinente para trabalhar

com os seus alunos ao definir os objetivos da aula e a série à qual se destina.

Page 99: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

98

Figura 20: Trecho do segundo relato da professora A

O trecho do relato acima constitui uma evidência de que a professora

elaborou estratégias para atingir os objetivos determinados, além de selecionar os

recursos.

Percebemos que as situações-problema são utilizadas com frequência nos

relatos dos professores como recurso para a aprendizagem do tema.

Page 100: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

99

Capítulo 5

Considerações finais

Nestas considerações finais, apresento uma síntese das reflexões sobre os

dados apresentados. Apresento, ainda, meu ponto de vista sobre os princípios que

deveriam ser levados em conta para se desenvolver um projeto de formação

continuada de professores que ensinam Matemática, especialmente quando o objeto

de discussão é a equação.

Todavia, considero conveniente retomar sucintamente aspectos dessa

pesquisa.

Esta pesquisa preocupou-se em investigar o conhecimento profissional

docente de professores participantes de um curso de formação continuada sobre

noções relativas aos processos de ensino e aprendizagem de equações.

Para isso, procedemos a uma pesquisa de caráter qualitativo, com

professores em exercício efetivo da docência em Matemática, na rede pública

estadual de São Paulo, com os quais fizemos três sessões de formação de 4 horas

cada. Este curso de formação continuada priorizou a realização de estudo, análise e

discussão das diferentes concepções de Álgebra, sobretudo no que se refere mais

especificamente às diferentes formas de ver e de tratar a noção de equação.

Essa pesquisa teve como ponto de partida uma pesquisa bibliográfica análise

de estudos como os de Ribeiro (2007), Shulman (1986), Ball et al. (2008) e

Serrazina (2012). Fundamentadas nessas investigações organizamos uma

intervenção em um curso de formação para professores que ensinam matemática.

Inicialmente, fizemos um levantamento para investigar as concepções e

conhecimentos dos sujeitos envolvidos no curso sobre os processos de ensino e

aprendizagem da equação. Coletamos os dados para este estudo por meio dos

seguintes instrumentos: questionários, registros escritos de observações colhidas

Page 101: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

100

nas sessões de formação e gravação em vídeo, passando para a fase das análises

dos dados e das discussões.

Dando continuidade à apresentação do panorama de nossa pesquisa,

retomaremos as questões que nortearam tal estudo:

1) De quais significados de equação os professores de Matemática se

utilizam quando estão envolvidos em um processo de formação no qual

lhes é propiciado possibilidades de reflexão sobre a prática?

2) Quais os significados de equação os professores declaram utilizar ao

ensinar o tema?

3) Como a discussão dos Multisignificados de Equação pode proporcionar o

aperfeiçoamento e a ampliação do conhecimento sobre Equações em um

curso de formação continuada de professores de Matemática?

A seguir, apresentaremos nossas considerações procurando responder tais

questionamentos.

Podemos perceber que 6 entre os 10 professores investigados julgaram a

equação como sendo o conteúdo mais importante em álgebra. Todos foram

unânimes em considerar ser importante o ensino da equação, sendo que 7 deles

apontam a equação como uma ferramenta para a resolução de situações-problema.

Observamos também que os Cadernos do Professor contemplam, em sua

maioria, atividades nas quais a equação é utilizada como estratégia na resolução de

problemas, o que no meu entender remete à predominância das respostas em que

os sujeitos da pesquisa apontam a equação como uma ferramenta para a resolução

de situações-problema do cotidiano.

Outro elemento que parece bastante contundente nas respostas dos

professores é a ideia de equação vinculada à ideia de igualdade, já que a palavra

igualdade é empregada por 60% dos professores para conceituar equação. Um fato

interessante é que para os professores B, C, F, G, e I a ideia de equação está

relacionada a uma sequência ordenada e bem definida de passos que conduzem à

Page 102: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

101

solução do problema, quer seja, ―determinar o valor desconhecido‖. Para ilustrar o

fato, apontaremos o protocolo do Professor C e do Professor I:

Figura 21: Protocolo do professor C

Figura 22: Protocolo do professor I

Já em relação ao primeiro relato do plano de trabalho docente feito pelos

professores, percebemos que a presença de diferentes significados de equação é

bastante limitada. Analisando tais relatos percebemos a predominância do

significado intuitivo pragmático, o que parece indicar a grande valorização dada à

questão do emprego das equações na resolução de situações problemas do

cotidiano. Neste sentido, acreditamos que tal fato se deve a uma tendência em que

grande número de pesquisas, dentre as quais citamos, como exemplo, Dante

(1988), Silva & Filho (2004), que apontam a utilização da resolução de problemas

como metodologia de ensino que pode auxiliar significativamente a construção de

conhecimentos matemáticos.

Esta tendência em educação matemática também pode ser percebida na

seguinte afirmação:

Estudar matemática é resolver problemas. Portanto a incumbência dos professores de matemática, em todos os níveis, é ensinar a arte de resolver problemas. (Thomas Butts apud DANTE, 2000, p. 43)

Nessa perspectiva, Zorzan afirma que :

[...] depois do currículo e do ensino da matemática que exigiam a repetição

e a memorização de conteúdos e exercícios, surgiu uma nova orientação

para a aprendizagem dessa disciplina, segundo o enfoque dessa

aprendizagem que requeria do aluno a compreensão e o entendimento do

Page 103: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

102

saber fazer, começou a emergir no campo investigativo da matemática o

aprender a partir da resolução de problemas. (ZORZAN, 2004, p. 79)

Ainda com relação ao primeiro relato, percebemos que o conhecimento

específico do conteúdo ―equação‖ não apareceu em nenhum relato. Não

percebemos a preocupação por parte dos professores em conceituar ―equação‖ ou

mencionar as características ou estruturas da mesma. Por outro lado, percebemos o

conhecimento pedagógico do conteúdo quando os professores selecionam: as

explicações corretas do ponto de vista da matemática, mas que sejam

compreendidas pelos seus alunos, os materiais que devem usar ou não e os

modelos ou os exemplos que consideram mais adequados à situação que será

apresentada em sala de aula.

Para ilustrar tal situação, apresentaremos o protocolo do Professor D:

Figura 23: Protocolo do professor D

Dando continuidade ao ―processo‖ de formação continuada, considerando as

ideias de Serrazina (2012) que afirma que ―a formação deve envolver um processo

de reflexão questionando as crenças e concepções dos professores envolvidos, de

modo a aprofundar o seu conhecimento matemático, didático e curricular‖, procurei

Page 104: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

103

promover um ambiente que proporcionasse aos professores maior interação com os

conteúdos matemáticos, bem como a troca de experiências entre eles por meio das

discussões e intervenções do pesquisador.

Assim sendo, após realizar a apresentação e estudo dos trabalhos de Ribeiro

(2007) e Usiskin (1995) os professores redigiram um novo relato do plano de

trabalho docente. Vale ressaltar que tendo em vista os resultados obtidos no

primeiro relato, ao apresentar os Multisignificados de Equação aos docentes,

procurei focar os significados de equação que foram pouco ou não foram utilizados

pelos professores a fim de se ampliar as diferentes maneiras pela qual a noção de

equação pode ser ―concebida‖ ou ―tratada‖.

A partir da intervenção do pesquisador, o segundo relato revelou uma

presença bem variada de significados de equação. Percebemos que os professores

procuraram contemplar as diferentes concepções da álgebra (USISKIN, 1995)

empregando uma maior variedade de atividades e, em decorrência desse fato,

observamos também o emprego de mais de um significado de equação.

Este estudo conclui pela importância de promover espaços que favoreçam a

discussão e o estudo sobre o tema, tendo em vista como foi importante a realização

dessa Formação, na qual proporcionamos o estudo de algumas pesquisas, além da

troca de experiências e discussões fundamentadas nos estudos realizados pelo

grupo. Vale ressaltar que por vezes tais pesquisas não chegam até o professor por

vários fatores. Dentre estes, citamos, por exemplo, a falta de tempo para que o

docente possa pesquisar ou a falta de fundamentação teórica nos materiais

fornecidos pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.

Concordamos com as ideias de Serrazina quando a autora afirma que o

professor :

tem de ter oportunidades de viver experiências matemáticas do tipo das que se espera que proporcione aos seus alunos, pois só assim poderá cumprir uma das suas funções como professor de Matemática, a de fazer com que os seus alunos aprendam e apreciem a Matemática. (SERRAZINA, 2012, p. 267)

Consideramos que as professoras (re)construíram e ampliaram o conceito de

equação após a participação na Formação e tal fato pode ser observado nas

respostas obtidas na avaliação que os professores realizaram ao final da Formação.

Apresentaremos algumas das respostas obtidas a seguir:

Page 105: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

104

Figura 24: Avaliação da professora B

Figura 25: Avaliação do professor I

Ressaltamos ainda que elaborar e executar uma Formação Continuada de

Professores não é uma tarefa fácil: trata-se de um desafio. No decorrer da

elaboração e execução, nos deparamos com diferentes problemas, dentre os quais

citamos: a falta de interesse dos docentes em participar dos encontros sem haver

uma recompensa do tipo ―dispensa do ponto‖; a definição de data e horário que

Page 106: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

105

fossem bons para atender os interessados; despertar o interesse em professores

que muitas vezes se encontram sem perspectivas e pessimistas com relação ao

futuro da Educação Matemática; fazer o professor ler, ler e ler para fundamentar

suas ideias.

Consideramos que as professoras (re) construíram e ampliaram o conceito de

equação após a participação das sessões de Formação e tal fato pode ser

observado nas respostas obtidas na avaliação8 do processo formativo (anexo 7) que

os professores realizaram ao final da Formação. Protocolo 24 – Avaliação da

Professora B.

Acreditamos que os resultados de nossa pesquisa mostraram que a

Formação Continuada pode ser considerada um espaço para a promoção de

momentos para a discussão, seja sobre os Multisignificados de Equação ou sobre

qualquer outro tema;os esforços valem a pena, pois podem proporcionar o

aperfeiçoamento e a ampliação do conhecimento do professor sobre o assunto

escolhido.

Devido a diferentes limitações que qualquer trabalho de pesquisa sempre

apresenta, gostaríamos de contribuir para novas pesquisas, apontando alguns

questionamentos que apareceram no decorrer do desenvolvimento deste trabalho:

- Quais aspectos deverão ser considerados na elaboração de uma

Formação Continuada?

- Qual design a Formação Continuada deverá apresentar para ser eficaz?

8As demais avaliações encontram-se nos anexos.

Page 107: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

106

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Page 111: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

110

Anexos

Anexo 1: Proposta de Formação Continuada em Matemática

Proposta de Formação Continuada em Matemática

Denominação do Curso: Álgebra: Ideias e Questões

Instituição proponente e executora: Diretoria de Ensino – Região de Suzano

Apresentação Este documento tem por finalidade apresentar os pressupostos e as características do Curso de Formação Continuada em Matemática e sua Fundamentação Pedagógica e Curricular para Professores que lecionam Matemática na Rede Estadual de Ensino de São Paulo, do município de Suzano, a ser oferecido pela Universidade Bandeirante de São Paulo. As informações de caráter pedagógico e operacional constantes deste projeto visam oferecer à Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP) as condições necessárias para que o curso possa ser avaliado quanto ao seu conteúdo e operacionalidade.

Diagnóstico e Justificativa com indicação das necessidades e prioridades:

Percebemos, nos últimos anos, um aumento significativo de estudos sobre o ensino e aprendizagem de Álgebra. Algumas dessas pesquisas evidenciam importantes discussões relacionadas à Álgebra, como a de Scarlassari & Moura (2005), que identificam e relacionam algumas dificuldades que os alunos apresentam em álgebra, tais como: a não compreensão das operações elementares; a dificuldade de relacionar ou associar o que está representado; a dificuldade em contextualizar as expressões escritas na linguagem simbólica com relação aos enunciados das questões ao modo como o professor trabalha. Isso ocorre porque, em sala de aula, segundo Sousa (apud Scarlassari & Moura, 2005), os professores ―ensinam os conteúdos matemáticos a partir das concepções que elaboraram enquanto se constituíam professores, na licenciatura‖, se restringindo assim ao caráter pragmático da álgebra.

Ao realizarmos uma breve pesquisa dos resultados das avaliações em Matemática do SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e SARESP (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), notamos um quadro preocupante, com índices que indicam um resultado insatisfatório, reforçando a consideração (talvez equivocada) de que a Matemática é realmente muito difícil de compreender.

Por vezes, observamos que isso ocorre em razão da postura que o professor de Matemática assume, transformando as aulas de Matemática em um processo árduo de aprendizagem (e consequentemente de ensino); desprovido de significados tanto para o aluno como também para o próprio professor; sendo assim, todo o processo de ensino e aprendizagem de Matemática fica reduzido ao mero procedimento de reproduzir os passos ou as técnicas ensinadas pelo mestre. Não podemos nos esquecer de que a forma que o professor trabalha estes conceitos e procedimentos algébricos pode estar dificultando ainda mais a sua aprendizagem, fazendo com que o aluno tenha verdadeiro horror à Matemática. (GIL, 2007).

Araujo (1999) realizou uma investigação com 378 indivíduos objetivando verificar as dificuldades apresentadas pelos alunos do primeiro ano de diferentes áreas do conhecimento do Ensino Superior e alunos concluintes do Ensino Médio. Tal pesquisa revelou que os estudantes possuem dificuldades tanto em nível conceitual quanto no uso incorreto de propriedades, de operações, de definição das incógnitas, até dificuldades advindas da aritmética, como erros em

Page 112: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

111

operações, em propriedades ou na prioridade das operações. A autora também identifica que entre as dificuldades apresentadas pelos referidos alunos apareceram: a necessidade de seguir um procedimento padronizado para resolver equações algébricas simples; não dar significado para as equações; o uso indevido de incógnitas. Quanto aos erros de processamento das equações, observou-se o uso incorreto do princípio de equivalência e o uso indevido de regras como ―muda lado – muda sinal‖.

Ribeiro (2001), após realizar a análise dos resultados do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo, edição de 1997, concluiu que a Álgebra representa um problema no ensino e aprendizagem de Matemática, pois os alunos analisados apresentaram dificuldades em resolver questões básicas com equações de 1º grau. O autor também detecta a grande diferença que faz o tipo de ensino e a postura empregada pelo professor em sala de aula no resultado do desempenho dos alunos e acredita serem importantes os cursos de capacitação em ensino da Álgebra para os professores, nos quais pudessem ser oferecidas oportunidades para estudo e discussão de diferentes abordagens que pudessem ser utilizadas em sala de aula, no ensino da Álgebra.

Ao tomar como exemplo e ao realizar a análise dos trabalhos de Araújo (1999), Ribeiro (2001) e Scariassari & Moura (2005), podemos constatar que o cenário atual do ensino e, por consequência, da aprendizagem da álgebra, no Brasil, é preocupante por apresentar resultados insatisfatórios.

Percebemos que a postura do professor e a prática pedagógica por ele desenvolvida em sala de aula são de fundamental importância para se reverter um ensino pautado em manipulações mecânicas de técnicas operatórias e desprovido de significado, tanto para o professor quanto para o aluno, em um ensino eficiente. Por isso se faz necessário promover momentos de reflexão e estudo buscando alternativas que possibilitem sanar os problemas detectados no processo de ensino de conteúdos algébricos, tendo em vista que a Álgebra é um conteúdo chave que permeia quase toda a matemática do ensino fundamental ao ensino médio.

Diante da recente reestruturação da Proposta Curricular do Estado de São Paulo (2008), percebemos a necessidade de se promover momentos privilegiados para a análise das características e visões que esse documento propaga no que concerne a sua incorporação e aplicação nas aulas de Matemática, mas especificamente no que se refere ao ensino da Álgebra.

Destarte, julgamos ser oportuna a promoção de um curso de Formação Continuada que priorizará a realização de estudo, análise e discussão das diferentes concepções de Álgebra, presentes ou não na Proposta Curricular do Estado de São Paulo, sobretudo no que se refere mais especificamente das diferentes formas de ver e de tratar a noção de Equação. Esperamos que esta oportunidade de estudo e discussão possa proporcionar ao docente a administração da sua própria formação continuada ao longo do exercício docente permitindo a construção de novos conhecimentos em trabalhos individuais e coletivos, contribuindo para o desenvolvimento profissional de professores que ensinam Matemática.

Objetivos: O curso de formação continuada aqui proposto privilegia o diálogo entre o conhecimento do conteúdo e o conhecimento pedagógico do conteúdo (SHULMAN, 1986), pois procura dar oportunidade aos docentes de um aprofundamento nos conteúdos matemáticos pertinentes ao ensino da álgebra, como também pretende colocar os profissionais a par das discussões teóricas atuais sobre o ensino e aprendizagem da Álgebra, com a intenção oferecer ou ampliar subsídios necessários ao processo de ensino da Matemática.

Público Alvo: Este curso se destina a professores em exercício efetivo da docência em Matemática, na rede pública estadual.

Conteúdos Gerais: Campos Algébricos

Específicos

Page 113: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

112

Álgebra; Produção histórico-cultural; equações; conceitos; relações; funções.

Período de Inscrição: a definir. A seleção dos professores será feita pela Diretoria de Ensino –

Região Suzano em conjunto com as Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.

Formas de Acompanhamento e de Avaliação dos participantes do Curso A avaliação, no contexto do presente curso, é entendida como um processo permanente, integral e sistemático da aprendizagem do educador, na perspectiva de orientação, controle e motivação. Compreende momentos de autoavaliação, de avaliação à distância e de avaliação presencial.

Critérios de Certificação Para ser certificado, o professor deve ter, no mínimo, 80% de participação/frequência/realização no total de atividades.

Cronograma ( os encontros deverão ocorrer no período de 17 a 27 de junho de 2012)

Data Atividade Prevista 17/06 (4h) Encontro Presencial

Realização de atividade, visando identificar quais são as concepções dos professores de Matemática sobre os processos de ensino e aprendizagem da Álgebra, mas especificamente no que se refere às equações.

20/06 (4h) Encontro Presencial

Análise e discussão de algumas atividades do encontro anterior. Análise e discussão da concepção de Álgebra proposta por USISKIN (1995). Análise das atividades propostas nos Cadernos do Aluno e do Professor de Matemática (especificamente do conteúdo sobre Álgebra).

27/06 (4h) Encontro Presencial

Reelaboração do plano de trabalho docente, visando confrontar e identificar as diferenças das respostas que foram obtidas na atividade diagnóstica. Análise da Avaliação Final.

Estudo à distância

Atividade Prevista

Período de 17/06 a 20/06 (3h)

Leitura e discussão em grupo do artigo ―Dificuldades das crianças que se iniciam em álgebra‖ (Booth, L.R.). O grupo fará uma reflexão sobre o trabalho com Álgebra a partir da leitura do artigo e elaboração de registro sobre as dificuldades detectadas e sugestões didáticas. Leitura do artigo: Álgebra nos PCN Fonte: www.cempem.fae.unicamp.br/lapemmec/curso...

Período de 20/06 a 27/06 (3h)

Leitura do artigo: Equação e seus multisignificados: potencialidades para a construção do conhecimento matemático (RIBEIRO, A.J.; MACHADO, S.D.A) – In: Zetetike, 2009.

Leitura do artigo de Ball et al. (1990) Período após o término do curso a (1h)

Preenchimento da avaliação

Quantidade de Vagas Oferecidas: Mínimo: 5 participantes Máximo: 15 participantes

Local de Realização do Curso: a definir O local deverá dispor de recurso áudio visual (data show).

Avaliação Os participantes serão solicitados a efetuar autoavaliação e avaliação do curso em seus diferentes aspectos, por questionários específicos.

Page 114: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

113

Certificação Os certificados serão emitidos e distribuídos pela Diretoria Regional de Ensino após a homologação do curso.

Bibliografia ARAUJO, Elizabeth Adorno de. Influências das habilidades e das atitudes em relação a matemática e

a escolha profissional. Tese de doutorado. FE – UNICAMP: Campinas/SP, 1999.

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Page 115: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

114

Anexo 2: Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

São Paulo, ____ de junho de 2012.

Prezado professor_______________________________________________,

Vimos por meio desta solicitar vossa concordância para participação, na pesquisa de

mestrado da professora Etienne Lautenschlager sob o título ―Discutindo diferentes

significados de Equação num curso de Formação Continuada de Professores”

vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da

Universidade Bandeirante de São Paulo, a ser desenvolvida no curso Formação

Continuada em Matemática da Diretoria de Ensino de Suzano.

Gostaríamos de esclarecer que:

1) Você irá participar das seções de intervenção, onde você irá trabalhar em grupo

para resolver algumas atividades envolvendo ―Conhecimentos Matemáticos e/ou

Conhecimentos Pedagógicos.

2) Sua identidade será mantida em absoluto sigilo;

3) Você pode solicitar informações adicionais, bem como tomar ciência do

andamento e dos resultados (parciais e finais) da pesquisa a qualquer momento;

4) É facultado a você deixar de participar da pesquisa a qualquer momento;

5) Não há qualquer vinculo financeiro entre o pesquisador, a instituição de ensino, e

a sua pessoa.

Esclarecemos ainda que os resultados desta pesquisa vão compor a dissertação de

mestrado de Etienne Lautenschlager, assim como poderão ser publicados em

revistas cientificas e/ou congressos na área da educação, sempre mantendo o

anonimato dos professores entrevistados.

Colocamos a disposição para quaisquer esclarecimentos e necessidades, pelo

telefone (11) 2972-9045, com Profa. Dra. Angélica da Fontoura Garcia Silva.

Atenciosamente,

______________________________

Dra. Angélica da Fontoura Garcia Silva

Autorizado: ___________________

Page 116: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

115

Anexo 3: Atividade realizada no primeiro dia do encontro

Identificação

Graduação em:

Ano de término da Graduação:

Possui Pós Graduação? sim não Indique:

Há quanto tempo você leciona?

Você leciona para: EF EM

Você leciona em escolas da rede pública e/ou particular?

I. Indique qual conteúdo, em álgebra, que você julga ser o mais importante:

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II. O que é para você uma equação?

_______________________________________________________________

III. Dos itens abaixo, assinale aquele(s) que se refere(m) a uma equação:

(a) (d) √

(b)( ) (e)

(c) (f) ( ) (

)

IV. Para resolver a equação x (x+2) = 5, um aluno deu a seguinte resolução:

x(x+2) = 5

x = 5 ou x+2 = 5

x = 5 ou x = 3

Discuta a resolução dada pelo aluno. Justifique sua resposta. O que você

diria ao aluno que apresentou essa resolução?

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V. Um professor de matemática propôs ao seu aluno que resolvesse a seguinte

equação do 2º grau:

( )

Discuta a resolução dada pelo aluno. Justifique sua resposta. O que você diria ao

aluno que apresentou essa resolução?

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VI. Você considera importante o ensino de equações?

Justifique:___________________________________________________________

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117

Considere a seguinte situação:

Seu objetivo é ensinar sobre equações para um grupo de alunos do E.F.

Relate de maneira detalhada qual procedimento você considera mais adequado

adotar para que o objetivo seja atingido? Procure informar:

Ano a que se destina e número de aulas necessárias; Estratégias que serão empregadas; Recursos que serão utilizados; Quais questionamentos serão feitos? (ou pretende fazer) Cite exemplos de atividades que serão propostas para a turma; Há alguma explicação que você considera indispensável ser dada? Qual? Como será a avaliação?

Page 119: Discutindo diferentes significados de Equação num curso de

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Anexo 4: Atividade realizada no segundo dia do encontro:

Identificação do Caderno utilizado.........................................................................

Descrição detalhada da atividade selecionada:

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Análise das atividades e devidas justificativas:

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Anexo 5: Atividade realizada no terceiro dia do encontro

Formação de Professores de Matemática

Reelaboração de um plano de trabalho docente

Expectativa de ensino e aprendizagem: explorar e resolver equações

Atividades desenvolvidas:

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