1997 - discutindo o estágio em jornalismo

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I I, .. . ........ . ·· ··- :. '' .. ... '. ···•·· .. · ·.•·• ENECOS EXECUTIVA NACIONAL DOS ESTUDANTES DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

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Cartilha desenvolvida pela Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (Enecos) sobre o estágio em jornalismo.

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ENECOS EXECUTIVA NACIONAL DOS ESTUDANTES DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

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Page 3: 1997 - Discutindo o estágio em jornalismo

.®.~

-~DI4!J

ENECOS EXECUTIVA NACIONAL DOS ESTUDANTES DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Page 4: 1997 - Discutindo o estágio em jornalismo

Organização: ENECOS - Executiva Nacional dos Estudantes

de Comunicaç o Soei I

Produção: Bremer, Cadé, Flávia Barbosa, Rodrigo Murtinho,

Vicente Magno e Vitor Martins

Edição, Revisão e Diagramação: Tatiana Brasil e Rodrigo Murtinho

Tabulação dos Dados: Vicente Magno e Rafael Figueiredo

(UERJ)

Page 5: 1997 - Discutindo o estágio em jornalismo

Apresentação ............................................................................................................................... 05

P . ' . . 1· 07 esqu1sa: estagio em Jorna 1smo ........................................................................ .

Debates: ................................................................................................................................................ 21

•Estágio: ruim com ele, como está; pior (muito pior) sem ele por Alexandre Free/and ............................................................................................................ 23

• Três tópicos sobre estágio em jornalismo por Erick Brêtas ................................................................................................................................. 25

•Estágio em jornalismo: adestramento de focas? por SiMa Moretzsohn ................................................................................................................... 28

Apêndice ............................................................................................................................................. 33

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A discussão sobre o estágio em jornalismo não é novidade para a Enecos. Há anos o debate vem sendo feito com a perspectiva de regula­mentá-lo. Nesse 3° Cobrecos teremos a tarefa de juntar todas as nossas idéias e reflexões e transformá-las numa proposta de regulamentação que será apresentada em maio no Congresso da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas).

Para contribuir com esse debate a Regional Rio da Enecos está apre­sentando essa publicação com dados da pesquisa (infelizmente só chegaram os questionários desses dois estados) e textos sobre a questão do estágio.

Mesmo tendo poucos questionários respondidos, resolvemos pu­blicar os resultados preliminares, com a intenção de estimular o debate e a continuidade da pesquisa.

Além dos resultados e dos textos, apresentamos um apêndice. Ele traz um anúncio publicado pelo jornal O Dia convocando universitários de qualquer curso de graduação para estágio em jornalismo em 1996. Essa iniciativa traz novos elementos para o nosso debate.

Por fim é importante afirmar que nós estudantes temos um papel estratégico nessa discussão. Para não perdermos o trem da história, não podemos fechar os olhos para as transformações que o mercado de tra­balho vem sofrendo; não deixando, é claro, de ter uma postura crítica construtiva.

Rodrigo Murtinho Coordenador Geral da ENECOS

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• pesqu1sa:

, . estag1o em

jornalismo

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Page 11: 1997 - Discutindo o estágio em jornalismo

EA·~it4!i·l questionários respondidos:38

@§4i!€tíf·i'lêW questionários respondidos:

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estágio em jornalismo

Rio de Janeiro Pernambuco

1 - Você conhece a ENECOS ?

Sim- 26 Não -12

TOTAL- 38

Sim -13 Não- 8

Sem Resposta -2

TOTAL· 23

2 - Você estagia atualmente ?

Sim- 29 Não- 9

TOTAL- 38

Sim- 18 Não- 5

TOTAL· 23

3 - Em que período você começou o atual estágio ?

3°-3 1°- 1 4°-4 ~- 2 5°-3 5°- 2 6° -12 6° - 3 7°- 3 7° - 4 8° -1 8° -4

n.r. - 12 n. r. - 7

TOTAL -38 TOTAL- 23

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estágio em jornalismo

Rio de Janeiro Pernambuco

4 - Em que área você estagia atualmente ?

Rádio - 1 1Y - 1

Jornal-10 Revista -1

Assessoria de imprensa - 12 Programação visual - O

OUTROS Pesquisa- 2

Jornal empresarial - 1 Comunicação interna - 1

TOTAL- 29

Rádio- 4 1Y- 5

Jornal - 2 Revista - nenhum

Assessoria de Imprensa - 6 Programação Visual - 1

OUTROS Comunicação Empresa-Cliente - 1

Pesquisa - 1

TOTAL- 20

Obs: Um entrevistado declarou estar estagiando em mais de uma empresa.

5 - Na empresa em que você trabalha há algum profissional da área em que você estagia ?

Sim- 27 Não- 2

TOTAL- 29

Sim - 19 Não -1

TOTAL- 20

6 - Na empresa em que você estagia há algum jornalista profissional ?

Sim - 25 Não -4

TOTAL- 29

Sim- 17 Não- 3

TOTAL- 20

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estágio em jornalismo

Rio de Janeiro Pernambuco

7 - Quantos estágios você já fez (Incluindo o atual)?

Um -11 Um -4 Dois -11 Dois- 7 Três -8 Três- 6

Quatro- 4 Quatro- 2 Cinco- 2 Cinco- 2 Seis- 2 Nove -1

Onze -1

TOTAL- 38 TOTAL -23

8 - Em que período você começou a estagiar?

1°- 3 ~-3

3° -13 4°-9 5°-7 6°-2 7°-1

Sem resposta - 1

TOTAL- 38

1°- 1 ~-4

3°-2 4°-7 5°-5 6°-3

TOTAL- 22

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estágio em jornalisno

Rio de Janeiro Pernambuco

9 - Em que empresa você estagia atualmente ?

Jornal da PUC- 2 Prodeman/UERJ - 2

Departamento Culturai!UERJ - 2 FMIS -1

R~gis Comunicação e Marketing - 2 Folha Dirigida - 1

Petrobrás - 2 Projeto Comunicar - 2

Cinemateca do MAM - 1 Amil-1 O Dia- 2

Banco Boa Vista - 1 Jornal da PUC - 2

Prodeman/UERJ - 2 Departamento Culturai/UERJ - 2

FMIS -1 Régis Comunicação e Marketing - 2

Folha Dirigida - 1 Petrobrás - 2

Projeto Comunicar - 2 Cinemateca do MAM - 1

Amil-1 O Dia -2

Banco Boa Vista - 1 ABI-1

Knoll -1 Shell -1

Jornal do Brasil -1 Escola de Música/UFRJ - 1

Enfoque - Comunicação Marketing e Eventos - 1

1V Jornal do Commercio - 2 Diário de Pernambuco - 1

ACS- UFPE -1 1VGiobo- 2

Rádio O linda - 1 Rádio Clube de Pernambuco - 1

Jornal do Commercio - 1 Mesbla -1

1V Universitária- 2 Mestrado de Ciência Polftica UFPE - 1

1V Tribuna -1 Assessoria de Imprensa UFPE - 1

Arcenor-1 Não Respondeu - 1

TOTAL- 18

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estágio em jornaliSiro

Rio· de Jsmeiro

(continuação)

1Y Globo -1 Revista Placar - 1

IBM -1 Bolsa de Estudo/ UFRJ - 1

Jornal Golfinho - 1 Dataprev -1

Rádio Jovem Pan - 1

TOTAL- 31

Obs: Alguns entrevistados declararam estar estagiando em mais de uma empresa.

Pernambuco

1 O - Descreva suas funções na empresa em que estagia.

Produção de matérias -16 Apuração - 12

Produção de house-organ - 9 Assessoria de imprensa - 9

Clipagem -7 Produção de eventos - 6 Produção de releases - 4

Divulgação - 4 Pesquisa- 2

Relações institucionais - 2 Realizar entrevistas - 2

Xerox -1 Fax -1

Criação de projetos - 1 Revisar matérias - 1

Produção -1 Edição de imagens - 1

Rádio-escuta- 1

TOTAL- 80

Redação -13 Fotografia - 3

Atendimento -1 Criação Publicitária- 1

Produção- 7 Apuração- 9 Releases -1 Edição- 4

Locução- 2 Produção de Eventos - 1 Relações institucionais - 2

Pesquisa -1 Apresentação -2

Pauta- 3 Diagramação - 1

TOTAL- 51

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estágio em jornalismo

Rio de Janeiro Pemambuco

11 - Qual a carga horária de seu estágio?

3 horas/dia - 2 2 horas/dia - 1 4 horas/dia - 11 4 horas/dia -7 5 horas/dia - 3 5 horas/dia - 3 6 horas/dia - 7 6 horas/dia - 4 7 horas/dia - 1 7 horas/dia - 1 8 horas/dia - 6 flutuante - 2 Indefinido - 1

TOTAL -18 TOTAL -.31

12 - Qual o horário da sua faculdade?

Manhã -16 Noite- 18

Tarde/noite- 3 N.R. -1

TOTAL - 38

Manhã/tarde -1 Tarde- 22

TOTAL - 23

13 - Qual o horário de seu estágio?.

Manhã- 4 Manhã- 13 Tarde- 9 Tarde- 1

Manhã/tarde -7 Noite- 2 Tarde/noite- 2 Manhã/noite - 1

Flutuante - 1 Flutuante - 1

TOTAL- 31 TOTAL- 18

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estágio em jornalism::>

Rio de Janeiro Pernambuco

14 - Suas atividades acadêmicas são respeitadas?

Sim -18 Parcialmente- 12 Sem resposta - 1

Não- nenhum

TOTAL- 31

Sim -13 Não -1

Parcialmente - 4

TOTAL- 18

15- Você trabalha nos finais de semana?

Sim -4 Não -15

Freqüentemente - 4 Raramente - 6

TOTAL- 31

Sim -4 Não -10

Freqüentemente - 2 Raramente - 2

TOTAL- 18

16 - Você ganha hora-extra?

Sim -1 Não- 28

TOTAL- 29

· Sim -2 Não -16

TOTAL- 18

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estágio em jornalismo

Rjo de Janeiro Pernambuco

1 7 - Quanto você ganha em seu estágio?

até 1 s.m.- 6 de 1 a 1 ,5 s.m. - 9 de 1,5 a 2 s.m.- 4 de 2 a 3 s.m. - 3

de 3 a 3,5 s.m. - 2 ·de 3,5 a 4 s.m. - 3

5 s.m.- 2 7 s.m.- 1

não remunerado - 1

>de 1 s.m. -1 1 s.m.- 7

1,5 s.m. - 1 2 s.m.- 4

2,5 s.m. -1 3 s.m. - 3

12 s.m. -1 não remunerado - 1

18 - Você tem direito a algum bendt'cio? ·

Sim-7 Não- 22

Qual? Ticket alimentação - 5

Alimentação - 2 Vale transporte - 3 Plano de Saúde - 2 Seguro de vida - 1 Auxílio funeral - 1

TOTAL- 29

Sim -7 Não -11

Qual? Vale transporte - 5 Plano de saúde - 2

Vale alimentação- 4 Alimentação - 1

Seguro contra acidentes - 1

TOTAL- 19

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estágio em jornalismo

Rio de Janeiro _pemambuco

19 - A empresa em que você estagia tem um programa de acompanhamento de estagiários?

N.R.- 3 Não -10

Não sabe -1 Sim -15

TOTAL- 33

Não respondeu - 1 Não -7 Sim -10

AtravéS dos supervisores - 4 Avaliação de Controle - 2 Avaliação Semestral -1

TOTAL- 25

20- Sua escola tem um programa de acompanhamento de estagiários?

Não -30 N.R.- 3

Não sabe- 4 Sim -1

Dinêmica de grupo - 1

TOTAL -37

Não- 15 Não sabe- 7

Não respondeu - 1

TOTAL- 23

21 -Qual o percentual (aproximado) de efetivação de estagiários na empresa onde você trabalhâ?

Zero% -11 5%-1 10%-2 40%-1 50%-1 60%-3 80%-2

Não sabe- 8 Não respondeu - 2

TOTAL· 31

Zero%- 6 2%- 1 20%-1 25%-1

Não sabe- 8 Não respondeu -1

TOTAL· 18

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estágio em jornalismo

.. Rio de Janeiro Pernambuco

22 - Em sua opinião, qual a função do estágio?

Formaç_ão/capacitação prorissional - 22

Possibilita a prática profissional - 21

Complementar a formação acadêmica- 6

Auxiliar os profissionais da empresa - 1

· Sem resposta - 1

TOTAL- 51

Prática profissional - 13 Entrar no mercado

de trabalho- 9 Não especificou - 2

TOTAL- 24

· 23 - Você está satisfeito com seu estágio?

Sim -14 Por quê?

Aquisição de experiência - 1 O Oportunidade para entrar no

Mercado de trabalho - 3 :omplementação da faculdade - 2

Paga bem -1

Não -15 Por quê?

Distante da área de formação - 6 Mal - remunerado - 4

Estagiários são explorados - 4 Pouco criativo - 3

Não é regulamentado - 1 Não fornece benefícios - 1

Não especificou - 1

Sim -14 Por quê?

Adiquirem experiência- 10 Adiquirem prática - 1

Formação Profissional- 1 Não especificou - 2

lninteligível- 1

Não- 4 Por quê? -

Exploração - 1 IVIá remuneração - 3

Longe da realidade da profissão - 1

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estágio em jorna1ismo

Estágio: ruim. com ele, como está; Pior (muito pior) sem ele

Alexandre Freeland

A partir do quarto, quinto, período, começa a corrida. Todo mundo quer garan­

tir seu estágio - e, de preferência, numa redação. Quem passa nos pequenos vestibulares preparados pelas empresas de comunicação (no Rio, os três

maiores jornais, O Globo, Jornal do Brasil e O Dia, já organizam os seus) sabe que o tempo disponível para livros, trabalhos e provas praticamente desaparece. Faculdade, um abraço.

Claro que o drama de tentar conciliar estágio e faculdade não é exclusivamente dos estudantes de jornalismo, nem mesmo dos de comunicação social. Mas um deta­lhe toma a passagem para a vida profissional um pouco mais complicada para essa turma: o estágio em jornalismo não é regulamentôdo. "Constitui fraude a prestação de serviços profissionais gratuitos, ou com pagamento simbólico, sob pretexto de está­gio, bolsa de complementação, convênio ou qualquer outra modalidade, em des­respeito à legislação trabalhista e a este regulamento.w t o que diz o Artigo 19 do Decreto n° 83.284, de 13 de março de 1979, que dispõe sobre o exercício da profis­são de jornalista (confira no Vade-Mécum da Comunicação). Meu caro coleguinha estudante e estagiário, lamento informar que você é um malfeitor, um fora-da-lei!

Não se preocupe que, ao voltar de Juiz de Fora, a polícia não vai estar na porta da sua casa, lhe esperando (pelo menos, não por causa do imbróglio do está­gio). Nem a polícia, nem o sindicato dos jornalistas, nem o Ministério po Trabalho, ninguém. Pensa que cometeu o crime perfeito? Não é bem assim.

Ninguém interfere porque o estágio é , a princípio, um daqueles trens da ale­gria em que todo mundo parece sair ganhando. Os estudantes têm acesso ao merca­do e ganham (com certeza) experiência profissional e (supostamente) maiores chances de emprego. Já os jornais ampliam sua mão-de-obra de reserva e mantêm, sem maiores dificuldades, os salários lá embaixo. As faculdades se orgulham de ver seus filhos diletos serem aprovados nos exames de seleção, para depois aplicarem o cabedal de conhecimentos adquiridos em seus cursos nível A+. Os sindicatos, por sua vez, se fingem de mortos. Não compram mais a briga com as empresas, não se metem com os futuros jornalistas e permanecem firmes em sua posição doutrinária ("O estagiário ocupa o lugar de um profissional!", bradam, de vez em quando, para fazer um charminho para a galera, mesmo porque sabem que não há profissional que con­sidere o estágio dispensável). Ora, se está tudo bem para todo mundo, deixa assim. Time que está ganhando ...

Af é que está o busílis (diria um estudante de Direito se fizesse estágio numa

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estágio em jornalismo

redação). Será que o time está ganhando mesmo? Ou melhor: quem está ganhando mais com esse time e com essas regras? E quem perde?

Se a maioria das faculdades de comunicação não fosse um lixo, seria mais fácil dar a resposta. Mas, como os cursos de graduação estão abaixo da crítica, a impressão que se tem é que o estágio só traz vantagens. Mas não. Perde quem ganha o diploma achan­do que jornalismo se resume ao estresse diário nas redações e não vê o mercado que se abre em outras áreas da comunicação. Perde quem, por estudar e estagiar, mal tem tempo de ler os jornais do dia. Perde quem abre mão de sua formação. Porque o que se aprende no estágio pode vir seis meses antes ou depois. O que se aprende na facul­dade, ou o que deveria ser aprendido, não. Fica para trás.

Esse discurso todo parece de mentirinha quando se vê que são jovens saídos das faculdades lixões, depois de passar pelos estágios arranca-couro, que estão hoje no mer­cado. E bem, obrigado. Mas se fosse para pensar assim, ainda estaríamos no tempo do autodidatismo, na época do· jornalista bom já nasce feito".

O que se quer dizer é que é bom evoluir. No que se refere especificamente aos cur­sos, a discussão sobre qualidade de ensino está ar para isso mesmo. Mas falta muito ainda. Falta acabar com a desconfiança entre as empresas e as faculdades. Faltam empre­sas que apostem na formação acadêmica dos futuros profissionais e não apenas em cursinhos que reduzem o jornalismo à mera técnica. Faltam faculdades com mecanismos para que os estagiários possam levar para os colegas suas experiências nas redações. Falta estabelecer - e fiscalizar - o número de horas trabalhadas . Quem estuda pela manhã e faz estágio até a noite ainda vai dar plantão no final de semana? Vai estudar quando?

O estágio em jornalismo tem ajudado a curar os males do curso até agora. Não se pode negar que, além de cumprir seu papel de complemento da formação acadêmica, ele tem ajudado a suprir as deficiências da graduação. Caso contrário, não haveria tanta procura; os estudantes sairiam das faculdades satifeitos, com o canudo debaixo do braço. Mas estágio não é panacéia. Em dose exagerada, o remédio vai acabar matando o doente.

Alexandre Freeland é estudante da UFRJ e ainda não sabe se vai ao Cobrecos

porque faz estágio no }oma/ O Dia.

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estágio em jornalismo

_Três tópicos sobre estágio em jornalismo

Erlck Brêtas

Eles estão aos montes em qualquer redação, para quem quiser ver. Apurando, redigin­do, fotografando, revisando. Em alguns casos até editando e assinando matérias. Apesar disso, os Sindicatos de jornalistas espalhados pelo Brasil fingem ignorar a

existência de todos. Sim, estamos falando dos estagiários em jornalismo, esses seres que vêm invadindo sedes de veículos de comunicação e, não raro, acabam assumindo papéis fundamentais na empresa, cedendo mão-de-obra barata confiável e com grau de qualificação normalmente acima das expectativas.

Apesar disso, legalmente a figura do estágiário inexiste. E não se trata de realidade virtual ou ilusionismo: é apenas a falta de coragem de boa parte dos coleguinhas para encarar o anacronismo de uma lei de quase duas décadas atrás, que veda ao estudante de jornalismo o acesso às redações. A lei, sabemos todos, é apenas uma alegoria que já teve seus dias de eficácia. Hoje ela serve apenas para estimular o que deveria coib ir: a exploração da mão de obra de estudantes, que acabam ocupando postos de trabalho que deveriam ser dados a jornalistas formados com seus canudos a tiracolo.

MiJs como? A lei estimula o que deveria proibir? Sim, como se fosse um sinal de trânsito instalado num cruzamento perigoso, para evitar acidentes. Acontece que o engenheiro de tráfego erra no ajuste do tempo e o sinal permanece vermelho por perío­dos longos demais, obrigando o motorista apressado a desrespeitá-lo. E aí que os aci­dentes acontecem, já que quem vem pela outra rua não se dá ao trabalho de olhar para os lados diante do sinal verde. A proibição do estágio é como o sinal vermelho além do tempo. Se em vez de pretender acabar com o exercício profissional do estudante, o b ri­lhante legislador tivesse pensado em normatizá-lo, os resultados seriam muto diferentes.

A questão é simples: a proibição do estágio não interessa a ninguém, e por isso não é cumprida. O estudante quer pôr em prática o que aprende em seu curso, além de ten­tar garantir um lugar ao sol. A empresa quer treinar sua mão-de-obra de acordo com os padrões da casa - e evidentemente terá ao seu dispor força-de-trabalho por um preço irrisório. E a Universidade - que tem sua qualidade avaliada em boa parte pelo destino de seus alunos no mercado - não vai se opor aos esforços bem sucedidos do aluno q ue consegue uma vaga no concorridíssimo mercado de comunicação.

O que acontece então? Ganha um doce quem disser que a ausência de regras acaba deixando a regulamentação por conta do mercado. E aí, o capitalismo mostra porque ganhou o sobrenome "selvagem": cargas-horárias acima de 1 O horas diárias, ne­nhum acompanhamento pedagógico, excesso de estagiários e baixos índices de efeti-

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estágio em joi:Ilalismo

vação ao fim do curso. Estes ingredientes podem vir aos blocos ou todos juntos. tv\as é fato que eles poderiam ser evitados por um modelo de estágio que privilegiasse uma idéia muito em voga : parceria. Escolas, empresas e sindicatos definindo objetivos e li­mites para os programas de estágio. t claro que as coisas não funcionam como um conto de fadas e a simples regulamentação do estágio não mudaria o atual cenário de explo­ração. Não há vara de condão que substitua diálogo e fiscalização - esta a cargo dos sindicatos, bem entendido. Vale aqui lembrar a pérola de um coleguinha no último Congresso da Federação Nacinal dos Jornalistas, em Curitiba, segundo sua tese é "impos­sível" fiscalizar a regulamentação do estágio, o que justificaria seu voto contrário a pro­posta apresentada pela ENECOS na ocasião. Ora, o sindicato que não serve nem para fis­calizar o cumprimento de normas que envolvem seus representados só tem uma saída : encerrar as contas e pendurar uma placa de "vende-se· na fachada da sede.

• • • • •

M inha experiência como ex-diretor da ENECOS e, atualmente, como estagiário em jornalismo, fazem que eu seja econômico nas sugestões de regulamentação. A verdade é que os mercados são muito diferentes por todo o país, bem como os

cursos e os sindicatos. O mais importante é chegar numa proposta negociável que reúna o mínimo indispensável de viabilidade e eficácia. Há somente algumas bases sobre as quais deve se assentar qualquer tentativa de diálogo. A primeira é o não-esvaziamento do papel da universidade. Para isso a carga~horária do estágio deve permitir ao estudante continuar frequentando as aulas e dando conta de seus trabalhos acadêmicos. Por esse mesmo terreno passa o acompanhamento pedagógico dos resultados obtidos pelo estagiário. Há diversas formas de fazer isso. A análise de cada realidade determina qual a mais adequada. A segunda base do estágio é a preservação do profissional diante da presença do estagiário nas redações. A regulamentação deve estabelecer percentuais para o número de estagiários em relação ao número de jornalistas, além de estipular uma remuneração mínima ao estudante - remuneração esta que, ao mesmo tempo que servirá como ajuda de custo, impedirá de ver no estagiário apenas um "bom negócio", se com­parado ao profissional que recebe, no mínimo, o piso da região. Por fim, a idéia já abor­dada de parceria. O diálogo entre empresas, escolas e entidades representativas -incluindo-se nessa categoria a ENECOS e os CAs e DAs - é fundamental para a imple­mentação da regu lamentação e eventuais correções de rumos. Com humildade, devemos admitir que as propostas que hoje queremos definitivas podem se mostrar equivocadas amanhã. Só a interlocução entre as partes envolvidas será capaz de detectar os erros e propor alternativas. Tenho um palpite: as escolas são as mais indicadas para tomarem a

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estágio em jornaliSIID

dianteira e puxarem os outros agentes para a roda. Esperar que empresas e sindicatos ini­ciem a conversa será perda de tempo. As escolas reúnem professores - alguns profis­sionais do mercado- e estudantes aparentemente os mais mobilizados pela defesa do estágio.

• • • • •

O recado está dado. O que fica aqui é apenas uma resalva: o estágio não é a panacéia para os problemas de formação acadêmica. A preocupação dos estu­dantes com a qualidade de seus cursos deve continuar igual ou maior que antes.

O estágio apenas cumpre um papel que não é o da academia, de permitir o exercício profissional sob as verdadeiras condições de mercado. Nem mais, Nem menos. Exatamente por isso, deve perder sua aura de tabú e ser tratado como deve: um direito natural dos estudantes de jornalismo, já exercitado por seus colegas de medicina, direito e economia- mesmo que sem a metade daquele charme só encontrado nas redações.

Erlck Brêtas ex-diretor da Enecos

e estagiário no Jomal do Brasil

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estágio em jornalismo

Estágio em jornalismo: adestramento de focas?

E m sua dissertação de mestrado1, apresentada em 1994 à ECO-UFRJ, Márcia Lisboa

constata o que seria uma mudança de perfil do jornalista, que teria deixado de ser um militante, um idealista ansioso por mudar o mundo, para tornar-se um proffs­

s/onal (grifo meu), embora ainda mantivesse certas características "arcaicas" (palavras dela), como a ·paixão pela profissão. O grande marco dessa nova realidade seria a descaracterização dos confrontos entre jornalistas e patrões. Márcia nota que os empresários apreciam essa mudança, que preserva a mística da "missão", da qual t iram proveito para manter e até aumentar seus lucros, de modo que a cobrança do "profis­sionalismo" não é acompanhada pela remuneração salarial que lhe seria correspondente.

A avaliação dessas conclusões permitiria algumas crít icas, que não vamos ensaiar aqui. Sublinhemos apenas que a qualificação "arcaico" é arbitrária e traz em si uma cono­tação negativa, por oposição à positividade do "moderno" (mas quantas vezes já se disse que o velho se veste de novo?); que militância não é ação exclusiva da esquerda, nem antônimo de profissionalismo; e que a chamada postura "profissional", d ita assim sem considerandos, encobre o fato de que esse "profissionalismo" corresponde a um deter­minado modo de produção, que aparece como o único modo de produção possível. M.as o que importa, para o que vamos expor a seguir, é essa mudança de perfi l, que tem evidentes conseqüências na formação e nas expectativas e perspectivas dos novos jo r­nalistas.

A imagem da imprensa sempre foi associada à idéia de liberdade, de defesa do bem público e de busca da verdade, valores elevados que ocultavam convenientemente objetivos bem menos nobres dos que detinham o poder de informar. A longa ditadura contribuiu para reforçar essa imagem, unindo idealisticamente patrões e empregados contra o governo militar. Talvez por isso, até hoje permaneça a associação da atividade jornalística à militância, automaticamente declarada "de esquerda". Imagem falsa, com certeza, ainda mais atualmente- do contrário a imprensa não seria o que é. M.as que, até meados da década passada, contribuiu para formar jovens empolgados por uma ativi­dade que prometia o risco da aventura e que assumiam o jornalismo como aquela espé­cie de missão, buscando colocar seu trabalho a serviço da transformação da sociedade.

Seria apressado dizer que hoje esse impulso desapareceu, mas é inegável a mudança de expectativa entre a maioria dos alunos que ingressam nos cursos de

1 LISBOA, Márcia Rodrigues, Jornalista: profissão passageiro - as relações de trabalho dos profissionais da notí­cia na grande imprensa brasileira atual. Dissertação de mestrado em Comunicação e Cultura, ECO-UFRJ, 1994.

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estágio em jo:rnaliSlllO

Comunicação Social para se formar em jornalismo. Predomina uma objetividade que seria positiva caso não resultasse, como freqüentemente resulta, num pragmatismo que pode ser traduzido pela expressão "aonde é que eu entro nisso?" e por uma postura cínica diante do mundo, re-velada nos mínimos detalhes da vida universitária, quando o aluno, por exemplo, procura servilmente atender ao professor, demitindo-se do trabalho (e do risco) da crítica e deixando, portanto, de investir na sua própria formação.

Coerente com esse pragmatismo, muitos estudantes já entram na facu ldade de olho no chamado "mercado"- isto é, nas grandes empresas já estabelecidas. Como ainda hoje é co(rente a idéia de que "jornalismo se aprende na prática", e como as possibilidades de emprego (nas grandes empresas) são cada vez menores, é compreensível que o jovem fique ansioso por queimar etapas e conseguir estágio a qualquer preço (muitas vezes, de graça) logo nos primeiros períodos, na esperança (tantas vezes ilusória) de que essa prática lhe garanta uma colocação após formado. Também é compreensível que, uma vez obtida essa "vitória", ele entre precocemente em contagem regressiva e passe a encarar a universidade como um fardo do qual é preciso livrar-se o mais rápido possível.

Dá-se, aí, a situação bem descrita pelo professor Antonio Serra 51: "cada vez mais, o

que o professor tem a dizer parece que pode ser captado pelo aluno diretamente na experiência extra-escolar: o 'estágio', alimentado pela conjuntura de subemprego, assombra a universidade como uma sala de aula concorrente, da qual o aluno chega, esbaforido, sabedor auto-suficiente de tudo aquilo que, de fato, 'interessa' saber. Competição difícil e que exigirá dos professores uma complexa 'reengenharia' dos pro­gramas e dos métodos, de modo a adequá-los não só ao que se diz que o mercado pre­cisa e exige, como principalmente ao perfil do aluno-consumidor, cioso de seus direitos e pouco disposto a tomar gato por lebre".

Malabarismo inútil, disputa inglória, pois o resultado já está dado de saída. E garante à Bloch, por exemplo, o "direito" de recrutar estagiários de telejornalismo com um con­vite ("venha aprender jornalismo conosco") desqualificador da universidade, da mesma forma que assegura aos cartazes do Estadão ("fazemos adestramento de focas") o elo­gio pela criatividade, ao contrário de provocar a contestação pelo absurdo ético do anúncio.

Romper com esse processo é andar na contramão da chamada "modernidade" e afirmar que a universidade possui uma autonomia relativa, uma lógica particular, é regida por uma temporalidade própria e, portanto, não está aí para atender pura e simples­mente às necessidades do mercado. No caso do jornalismo, insistir nessa concepção toma-se ainda mais arriscado, pois é a própria imprensa (ou melhor, a mídia) a maior

2 SERRA, Antonio A., Algumas considerações sobre o curso de Comunicação Socia l, 1995.

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responsável pela disseminação desse novo paradigma da globalização, imposto como realidade irresistível, no duplo sentido: inelutável e sedutora.

Ao contrário do que possa parecer, essa postura está longe de ser idealista. Pois, ao mesmo tempo que procura submeter a universidade, o mercado acaba fornecendo-lhe subsídios para agir no sentido oposto: a própria seletividade na escolha dos novos profissionais e a redução progressiva de vagas na grande imprensa, aliadas à baixa remu­neração média do jornalista, permite à universidade empreender um movimento de busca de alternativas reais, que contribua tanto para o alargamento das oportunidades de emprego como, pelo menos potencialmente, para a democratização da comunicação. O que propicia um questionamento mais objetivo e concreto do que é def1nido e exigido pelo mercado dominante e mostra o que deveria ser óbvio- que há pqs.sibilidades para além do já estabelecido, que procurar concretizá-las dá mais trabalho (mas também muito mais prazer) do que tentar adequar-se - e limitar-se- ao que já está dado. (Só a título de exemplo, a rádio Novos Rumos, um tipo muito particular de "pirataria" iniciado há anos em Queimados, enfrentou inúmeras dificuldades além da própria repressão do governo, mas paga hoje mais aos que nela trabalham do que a média do mercado de radiojorna lismo ).

Chega a ser surpreendente que as faculdades- refiro-me, aqui e sempre, especifi­camente às instituições públicas- não invistam nessas alternativas, insistindo no modelo do suposto "bom jornalismo" das grandes empresas. Valorizar o tempo na universidade (o grifo é para ressaltar a multiplicidade de sig­nificados dessa palavra) é essencial para a pesquisa desses novos caminhos e a dedi­cação a novas experiências; mas é também fundamental para o debate e a crítica do que é produzido pelos campeões de audiência. Nada disso implica, porém, a condenação do estágio, mas impõe uma discussão mais (ou minimamente) detalhada do que ele sig­nifica.

Estágio é passagem e aprendizado. Passagem para onde? Aprendizado de quê? (Fazer jornalismo é basicamente fazer perguntas, embora nos tenhamos acostumado a

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exigir respostas, ainda que insuficientes ou falsas, que tantas vezes nos levam a con-clusões apressadas). Estabelecer essa dúvida é um bom ponto de partida: provoca - ou pelo menos pode provocar- no estudante a reflexão sobre o que ele deseja fazer na (e da) vida, e o leva - ou pelo menos pode levá-lo- a encarar o estágio de maneira menos oportunista, o que lhe permite tirar dessa experiência um proveito muito maior.

Estagiar na chamada grande imprensa é importante mesmo para o aluno que não esteja interessado em trabalhar ali, no mínimo porque lhe dá a oportunidade de ver e de participar do processo de produção das notícias que ele mesmo consome, o que lhe fornece instrumentos concretos para a aval iação e a crítica desses métodos. Evidentemente, para tornar-se uma experiência assim profícua, o estágio deve ser acom-

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panhado por um professor capaz de discutir permanentemente com o aluno as dúvidas e descobertas oriundas dessa prática. E, para não continuar a ser o que é hoje - uma forma de subemprego e superexploração -,precisa obedecer a regras bem definidas.

Já houve iniciativas nesse sentido. Talvez a mais detalhada, senão a melhor, tenha sido a formulada pela comissão universidade-meio profissional do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, há cerca de 1 O anos. Partindo do modelo da grande empresa, limitava o estágio aos estudantes dos dois últimos períodos do curso, restringia a quatro horas diárias o aprendizado no local de trabalho (de modo a garantir o tempo do estudante na faculdade), previa remuneração proporcional ao mín­imo profissional e propunha um rodízio do estagiário por meios distintos Uornal impres­so, revista, rádio, tv, assessoria de imprensa).

A proposta foi apresentada ao Congresso da Fenaj de 1988 e, após intensa dis­cussão, acabou rejeitada, devido ao argumento de que o estagiário, mão-de-obra bara­ta ou gratuita, aviltava o mercado. Bobagem em dobro: primeiro, porque, apesar de ile­gal, o estágio continuava (e continua ... ) fartamente praticado, e permanece sub-remuner­ado ou gratuito. Segundo, porque o estágio é indispensável para a formação do jorna­lista - por mais bem equipadas que possam e devam ser, as escolas jamais reproduzirão o ambiente de uma empresa (mesmo porque não é esta a sua função).

Retomar a discussão de uma proposta desse tipo me pare-:e um bom caminho. Mas que não se caia no idealismo de se imaginar uma solução capaz de unir estudantes, pro­fessores, jornalistas e empresários: há interesses distintos em jogo. Uma grande empresa admitiria ser vista como um complemento da formação do estudante, quando decla­radamente (embora com todo o respeito .. . ) visa ao lucro e obedece a outra lógica? Quando habituou-se ao "extrativismo universitário", embora não perca uma única oportu­nidade para desqualificar as instituições públicas, comprovadamente formadoras dos melhores profissionais? Admitiria discutir critérios de competência, relações de trabalho, definição da pauta, métodos de apuração, conceito de notícia e outras questões que inevitavelmente surgiriam durante a monitoração do estágio?

Diante de uma regulamentação que privilegie o estudante (no sentido de sua for­mação crítica) e não a empresa, o confronto (se me permitem essa alusão dinossáurica, paleolítica, "arcaica") é inevitável. E o resultado, previsível. Como se sabe, é preciso força política não só para fazer aprovar uma lei como para exigir que ela seja cumprida. E, até hoje, os jornalistas não foram capazes nem sequer de garantir o pagamento das horas extras a que todo trabalhador tem direito.

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SyiYia Moretzsohn é Professora de joma/lsmo no IACS-UFF

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. Esse anúncio publicado pelo jornal O Dia, em 24

de dezembro passado, foi um grande presente de natal para os estudantes de jornalismo que agora terão que concorrer com estudantes de qualquer curso, por uma das poucas vagas para estágio nesse jornal.

A falta de regulamentação não só não impede o jornal de ter programa de estágio como não impede que estudantes de outros cursos estagiem na função de jornalista.

Paralelamente o mesmo jornal está montando jun­tamente com a Faculdade da Cidade um curso de pós­gra-duação em jornalismo.

Esse dois fatos associados merecem uma boa reflexão ...

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É como o JORNAL O· DIA h"ive,ste. no fu.tvrot Qr'Od ~mpr~sct ínovado.to; ousado, em constante evoluçõo e com · sucesso reconhecido •. Nos o· redpçõo, vmo' da~ mais: mPd'$rJ1qs $ dinâmfçq$ d9 Riç; de Jan ·Jro, m ' l1o função ' fbrmado~o, âbre oportUnidade a;

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