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DISCUSSÃO PEDAGÓGICA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

CARLOMAGNO, Cristina

Professora Pedagoga da Rede Pública Estadual do Paraná

Orientadora ARAÚJO, Roberta Negrão de

Professora da Universidade Estadual do Norte do Paraná/Campus Cornélio Procópio/ Colegiado de Pedagogia

RESUMO

Considerando minha atuação com pedagoga na rede estadual de ensino há mais de vinte anos, tenho observado, no decorrer dos tempos, que a relação professor-aluno tem-se desgatado ano a ano. Assim, o problema que desencadeou, tanto a realização da pesquisa bibliográfica, como a implementação do projeto foi: Quais ações didático-pedagógicas podem ser desenvolvidas com a intenção de tornar satisfatória as relações interpessoais no âmbito da sala de aula? A partir deste elencamos como objetivo geral proporcionar aos alunos da Formação de Docentes, em nível médio, por meio de estudos e reflexões, alteração na postura no tange ao relacionamento com professores. E, ainda, como objetivos específicos: Refletir sobre as relações interpessoais, na perspectiva da gestão democrática, superando as dificuldades encontradas no cotidiano escolar.Redimensionar o Conselho de Classe, como instância colegiada, por meio de fundamentação teórica e, ainda, avaliar e reestruturar o instrumento de “diagnóstico da comunidade escolar”e de Avaliação Institucional, com o intuito de melhorar as relações interpessoais. Palavras-chave: Professor. Aluno. Relações interpessoais. INTRODUÇÃO

Atuo como Pedagoga, no que seria a função de Orientação

Educacional, desde 1990. Nestes anos tenho evidenciado uma grande

diferença nas relações interpessoais, tanto entre professores e alunos como

também entre alunos e professores.

O relacionamento tem-se apresentado desgastado, o que favorece a

falta de respeito, dificultando o êxito do processo ensino- aprendizagem, pois

interfere na apreensão dos conteúdos historicamente acumulados pelo homem.

Diante do contexto é que desenvolvemos o Projeto de Intervenção

Pedagógica envolvendo, para coleta de dados, alunos e professores com

intuito de diagnosticar as dificuldades encontradas. Posteriormente, os

envolvidos na implementação foram os alunos das 1ª séries do Curso de

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Formação de Docentes – Colégio Estadual Cristo Rei, com os quais realizamos

estudos e reflexões. A escolha por esta série deveu-se ao fato tanto da

diversidade das escolas de origem, onde os alunos concluíram o ensino

fundamental, como da temática de Prática de Formação (Estágio Curricular

Supervisionado) desta: Sentidos e significados do trabalho do professor-

educador.

O problema que desencadeou, tanto a realização da pesquisa

bibliográfica, como a implementação do projeto foi: Quais ações didático-

pedagógicas podem ser desenvolvidas com a intenção de tornar satisfatória as

relações interpessoais no âmbito da sala de aula?

A partir deste, elencamos como objetivo geral: Proporcionar aos alunos

da Formação de Docentes, em nível médio, por meio de estudos e reflexões,

alteração na postura no tange ao relacionamento com professores. E, ainda,

como objetivos específicos: Refletir sobre as relações interpessoais, na

perspectiva da gestão democrática, superando as dificuldades encontradas no

cotidiano escolar. Redimensionar o Conselho de Classe, como instância

colegiada, por meio de fundamentação teórica e, ainda, avaliar e reestruturar o

instrumento de “diagnóstico da comunidade escolar” e de Avaliação

Institucional, com o intuito de melhorar as relações interpessoais.

O presente artigo está organizado em três partes. Na primeira, “A

escola e o pedagogo” apresentamos o papel deste profissional, comentando as

alterações históricas que acompanham sua trajetória. No segundo, “Relações

interpessoais entre professor-aluno/ aluno-professor” abordamos os fatores que

influenciam na referida relação, bem como o que é imprescindível para que

esta aconteça com êxito. Na terceira e última parte descrevemos os dados

empíricos coletados na implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica,

ponto culminante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE).

1 A ESCOLA E O PEDAGOGO

A escola é o espaço onde a ação pedagógica intencional promove a

aquisição do conhecimento. Considerando tal papel, deve contribuir para o

desenvolvimento da consciência crítica do processo educativo, bem como das

relações postas pela sociedade. Entretanto, cada vez mais vimos alunos

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fracassarem na escola e, muitos são os motivos, como problemas sociais,

culturais, psicológicos e de aprendizagem.

À escola foi delegada a função de formação das novas gerações em termo de acesso à cultura socialmente valorizada, de formação do cidadão e de constituição do sujeito social..que ela procure dar conta tanto do acesso a cultura como de constituir um espaço de convivência social que favoreça e estimule a formação da cidadania (BUENO, 2001, p. 5-6)

A gestão democrática parte do pressuposto de uma escola para todos,

onde realmente seja garantido o acesso e a permanência, além da oferta de

educação com qualidade social. Para que isso aconteça precisa-se promover o

desenvolvimento de uma nova consciência social e de boas relações entre

pessoas, numa perspectiva mais humanizada e humanizadora. Nessa escola

democrática, todos os envolvidos deverão estar empenhados, especialmente o

professor, para promover no contexto escolar relações interpessoais que

permitam uma melhor integração entre os elementos envolvidos nesse

processo.

O curso de Formação de Docentes, por sua vez, tem por significação

formar professores para atuar na educação infantil e nos anos iniciais do

ensino fundamental, possibilitando que os alunos além de se aprofundar

conhecimentos na escolha de sua escolarização, também obtenham o

aperfeiçoamento na docência.

A proposta curricular do Curso de Formação de Docentes tem por

objetivo formar professores para a educação infantil e anos iniciais do ensino

fundamental, possibilitando que os alunos, além de aprofundar os

conhecimentos obtidos no ensino fundamental, obtenham o aperfeiçoamento

na docência. Se o trabalho está inserido com o princípio educativo que implica

compreender a essência da relação que os sujeitos estabelecem com o meio

natural e social, faz-se necessário que a educação seja também uma

manifestação histórica do ser e do fazer humano, que serve como base o

processo de socialização.

A característica desse curso é diferenciada dos demais cursos de

educação profissional e do ensino médio. Assim, os alunos devem estar

comprometidos com o processo ensino-aprendizagem, sabendo que o foco é o

trabalho docente. Desta forma, não são os objetos, mas os seres humanos, a

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essência da formação, e o professor é o responsável para o processo de

transformação social.

É incontestável a importância na formação humana das crianças de 0 a

5 anos de idade, considerando que a educação é um direito de todas elas.

Assim, é inegável a preocupação dos professores com a Educação Infantil,

bem como com o atendimento pedagógico na formação de profissionais

competentes e comprometidos que nela atuarão.

Desta forma, há princípios que permeiam a formação dos professores,

entre eles:

Respeitar a dignidade e os direitos das crianças, consideradas nas suas

diferenças individuais, sociais, econômicas culturais, étnicas e religiosas.

Atender aos cuidados essenciais associados à sobrevivência e ao direito

ao atendimento afetivo, emocional e cognitivo.

Socializar, por meio da participação e introdução nas práticas sociais,

sem discriminação alguma.

Educar é, portanto, conduzir de um estado a outro, é modificar numa

certa direção o que é suscetível a educação. O ato pedagógico pode, então,

ser definido como uma atividade sistemática de interação entre seres

sociais,tanto no nível do intrapessoal como no nível da influência do meio ,

interação essa que se configura numa ação exercida sobre sujeitos ou grupos

visando provocar neles mudanças tão eficazes que os tornem elementos ativos

desta própria ação exercida.

De acordo com Libâneo (apud ARANHA, 1996, p. 50), presume - se, aí,

a interligação no ato pedagógico de três componentes : um agente (alguém ,

um grupo, um meio social) , uma mensagem transmitida (conteúdos, métodos,

automatismos, habilidades) e um educando (aluno, grupos de alunos , uma

geração).

1.1 O PAPEL DO PEDAGOGO

O pedagogo pode ser definido como um perito em ciência do ensino

especializado em educação, capaz de administrar todo o processo de

instrução, sem necessitar de supervisor, inspetor, fiscais, entre outros que

participam do dia a dia da escola.

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Libâneo (1996), o conceitua como

[...] profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, direta ou indiretamente ligadas à organização e aos processos de transmissão e assimilação ativa de saberes e modos de ação, tendo em vista objetivos de formação histórica. Em outras palavras, pedagogo é um profissional que lida com fatos, estruturas, contextos, situações, referentes à prática educativa em suas várias modalidades e manifestações (p. 127)

É evidente que o pedagogo não atua sozinho no ambiente escolar.

Faz-se necessário a realização de um trabalho coletivo, no qual todos os

segmentos da comunidade escolar estejam envolvidos. De acordo com Ruotti

(2006 p. 211.)

De forma geral, o estímulo à participação de todos os membros nas questões que envolvem a escola, o desenvolvimento de atividades que prezem pela criatividade e expressão de alunos e professores (propiciando um sentido aos conteúdos das diferentes disciplinas) e a adoção de práticas que busquem propiciar o respeito mútuo são elementos que podem estar na base de qualquer trabalho de prevenção da violência nas instituições de ensino. Trabalho esse que não se realizará da noite para o dia e que coloca como desafio, além do comprometimento da equipe, o planejamento das ações e o monitoramento dos resultados, a fim de que os erros e acertos façam parte de uma reflexão constante sobre a prática educativa.

Durante algum tempo a função do pedagogo apresentava-se distinta,

caracterizando-o como Supervisor Escolar ou Orientador Educacional. Martelli

(2006) comenta que a Orientação Educacional teve sua origem na orientação

profissional, em torno de 1930, por conta das mudanças científicas,

tecnológicas e industriais das últimas décadas do século XIX. A orientação

escolar foi justificada pela ideia de que a formação profissional deveria

começar com a formação do homem e de sua personalidade.

A legislação específica, ao regulamentar a profissão do Orientador

Educacional (OE), delimitou suas atribuições. Trata–se da Lei n° 5564 de

21/12/1968, regulamentada pelo Decreto n° 72846 d 28/09/1973 (PENTEADO,

1997). Considerando o referido Decreto, o artigo 1º estabelece o objetivo para

a OE “Assistir o educando, individualmente, ou em grupo, no âmbito do 1° e 2

° graus , visando o desenvolvimento integral e harmonioso da personalidade,

ordenando e integrando os elementos que exercem influência em sua formação

e preparando – o para o exercício das opções básicas”.

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Vale destacar que, apesar da nomenclatura ultrapassada, já que pela

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº9394/96, os

termos 1º e 2º graus foram substituídos por ensino fundamental e médio,

respectivamente, acreditamos que esse objetivo pode ser alcançado a partir do

momento que o homem constrói sua história e forma sua identidade por meio

das relações sociais.

Nessa interação que professor e aluno estabelecem na escola os fatores afetivos e cognitivos de ambos exercem influência decisiva na aprendizagem. Através dela, tanto os alunos quanto o professor vão construindo imagens do seu interlocutor, atribuindo – lhe determinadas características, intenções e significados (DAVIS e OLIVEIRA, 1994, p. 84).

Mas quando se fala em Orientação Educacional, surgem

inúmeros conceitos, relacionados a uma definição/indefinição quanto ao que se

pretende da Orientação, o que é perfeitamente observável ao longo de sua

trajetória. Grispun (2003) identifica diferentes períodos da Orientação

Educacional na história da educação no Brasil:

Período implementador (1920-1941): a Orientação começou a aparecer

no cenário educacional brasileiro, associada à orientação profissional.

Vale destacar que o projeto do deputado Fidelis Reis desejava tornar o

ensino profissional obrigatório.

Período institucional (1942-1960): neste período ocorreu toda a

exigência legal da Orientação nas escolas.

Período transformador (1961-1970): a Orientação Educacional

caracterizou-se como educativa, por meio da Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional nº 4024/61. Os eventos da classe começaram a

ganhar maior dimensão, com seminários, encontros e congressos.

Período disciplinador (1971-1980): a Orientação estava sujeita à

obrigatoriedade da Lei nº5692/71, que determinava o aconselhamento

vocacional. Cabia, também, trabalhar com o currículo da escola,

questionando sua prática pedagógica. Assim, a diretriz da Orientação

assumiu visão sociológica e psicológica. Na década de 1970, sob

influenciadas Teorias Crítico-Reprodutivistas, a escola passou a ser

entendida como reprodutora do sistema social, o que oportunizou nova

leitura do contexto escolar, priorizando o eixo social. A Orientação não

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se envolveu com a necessidade de repensar a estrutura da escola dos

alunos das camadas populares, e não se deu conta do seu papel. Em

muitos momentos, inclusive, ouviu calada as críticas às suas atividades,

“como sendo responsável pela fragmentação do trabalho escolar, como

não resolvendo todos os conflitos que a própria escola não dava conta

de resolver” (GRISPUN, 2003, p. 20).

Período questionador (década de 1980): iniciou-se os questionamentos

sobre a Orientação Educacional, tanto sobre a formação de seus

profissionais, como da prática realizada. A década de 1980 trouxe

modificações que refletiram na educação, na escola e na Orientação

Educacional. Toda a prática da Orientação debruçou-se na concepção

de educação como ato político; o que exige uma postura mais aberta e

dinâmica. A questão do trabalho passou a ser muito discutida, não pelo

caminho da sondagem de aptidões individuais, mas pelas questões

sociais.

Período orientador (a partir de 1990): iniciou-se a “orientação” da

Orientação Educacional pretendida. Assim, a nova prática começou a

ser pensada, tendo como objetivo auxiliar na superação das

contradições e conflitos que fazem parte do contexto do aluno.

Assim, estes períodos podem ser divididos em duas fases: a primeira,

“romântica” em que se acreditava que a Orientação Educacional resolvia todos

os problemas dos alunos e de quem estava envolvido direta e indiretamente

com ele; e a segunda, “objetiva”, em que a Orientação seria uma prestadora de

serviços, de várias ordens e que não permitia que os alunos tivessem

problemas.A Orientação estava sempre atenta para esclarecer e mostrar a

necessidade de dominar certos conceitos, normas e padrões para não haver

problemas posteriores, seu foco era o da prevenção.

Atualmente, a Orientação encontra-se na fase “crítica”, em que se vê o

aluno em toda sua realidade, seu momento. A Orientação está sempre do lado

deste, ajudando-o a compreender que naquele momento assinalado ele está

vivendo a sua própria vida.

A Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED),

acompanhando a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação

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Nacional (LDBEN) nº 9394/96, bem como as discussões acerca do Curso de

Pedagogia, superou a distinção entre Orientação Educacional e Supervisão

Escolar, criando a função do Professor-Pedagogo, que deve ser responsável

pelas atribuições de ambas as funções. Assim, hoje, o Pedagogo tem inúmeros

desafios.

O desafio fundamental que se põe para o pedagogo, hoje, extrapola as esferas especificamente pedagógicas, situando-se na contradição central da sociedade moderna que, por um lado, desenvolve numa escala sem precedentes as forças produtivas humanas e, por outro, lança na miséria mais abjeta contingentes cada vez mais numerosos de seres humanos. A sociedade capitalista está pondo continuamente, para si mesma, problemas que não é capaz de resolver (MARTELLI, 2006, p. 255).

Conforme o Regimento Escolar é de competência da equipe

pedagógica a participação e a intervenção na organização do trabalho

pedagógico, realizar a função social e a especificidade da educação escolar,

acompanhando os aspectos de socialização e aprendizagem do aluno com

intuito de promover ações.

2 RELAÇÕES INTERPESSOAIS ENTRE PROFESSOR-ALUNO/ ALUNO-

PROFESSOR

A autoridade do professor não está no cargo nem na pessoa, mas na

sua capacidade e na sua atuação profissional. Quando o professor exerce um

trabalho intelectual transformador, ele não pretende somente mudar o

comportamento do educando, como também educá-lo para um mundo melhor,

pois a educação está presente nos âmbitos social , econômico e político.

Considerando a faixa etária em que se encontram os alunos de Ensino

Médio, estes estão em processo de formação do caráter, acrescenta-se a

compreensão da relação ciência – produção a certeza de que qualquer ato

transformador sobre o mundo e os outros, exige responsabilidade moral e

política. Ao reconhecermos o homem como sujeito social, sabemos que por ser

sujeito ele atua de forma pessoal e independente; e social, porque está incluído

no grupo e para viver em sociedade aceitamos normas para uma convivência

harmônica.

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Para ter um bom relacionamento na prática profissional devemos

respeitar as diferenças individuais, já que as pessoas são únicas e, não sendo

aceitas,pode gerar conflitos. Sabemos da dificuldade de conviver com o

diferente. Diante disso, nossos jovens precisam muito mais que só

informações, requerem atenção, vínculo afetivo e atendimento às carências

que restringem sua capacidade de conhecimento prejudicando sua

aprendizagem.

Quanto mais determinada for a conduta do professor, melhores serão

os resultados no processo de conscientização de valores, fazendo um elo entre

a escola e a vida: educamos para formarmos pessoas dignas, agindo conforme

os princípios.

Pieron (apud BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999, p. 238) diz: “A

criança no momento do nascimento, não passa de um candidato à

humanidade, mas não a pode alcançar no isolamento: deve aprender a ser

homem na relação com outros homens”.Quando Vygotsky (apud BOCK;

FURTADO e TEIXEIRA, 1999) cita a zona de desenvolvimento proximal ,

conceitua que “[...] a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se

costuma determinar através de solução independente de problemas, e o

desenvolvimento potencial , determinado através da solução de problemas sob

a orientação de um adulto” (p. 125).

É por meio da mediação do adulto que os processos psicológicos mais

complexos tomam forma. No início, esses processos são interpsíquicos

(partilhado entre pessoas), isto é, só podendo funcionar durante a interação

das crianças com os adultos. Conforme a criança cresce, esses processos se

realizam dentro da própria criança – intrapsícos (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA,

1999, p. 109).

O homem não só precisa satisfazer suas necessidades básicas para

sobreviver, precisa de muito mais para ser plenamente humano, atender à sua

necessidade de crescimento interior, de relacionamento interpessoal, de busca

da verdade e da justiça.

Quando falamos em educação de professores, parece-me que devemos partir da indagação sobre o que determina o desempenho do professor na prática de sala de aula. A sala de aula é o lugar privilegiado onde se realiza o ato pedagógico escolar. Para ela afluem as contradições do contexto social, os conflitos psicológicos, as questões da ciência e as concepções valorativas daqueles que

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compõem o ato pedagógico: o professor e os alunos. Estudar o que acontece na sala de aula, é tarefa primeira daqueles que se encontram envolvidos com a educação de professores e comprometidos com uma prática pedagógica competente (CUNHA, 2006, p.23).

Enfatizando a educação formal, instituída no ambiente escolar, esta

tem a função de formar cidadãos críticos e atuantes, compreendendo que

aprendizagem é um processo interativo entre sujeitos e sujeito e conhecimento.

Tais reflexões sobre a função da escola na formação do ser humano e

suas relações em vários segmentos sociais, nos fazem afirmar que o êxito

desse trabalho será alcançado a partir do momento que o homem constrói sua

história e forma sua identidade por meio das relações entre seres

humanos,nesse caso, professor e aluno.

A sociedade capitalista na qual vivemos, prioriza suas próprias

necessidades com coisas materiais, não valorizando a essência da pessoa

humana, onde o ter tem mais importância que o ser, vivenciamos o

enfraquecimento dos valores morais e éticos. Hoje percebemos que as normas

que determinam a forma de convivência social são apresentadas nos homens

egoístas, individualistas e intolerantes, refletindo de maneira visível no

desrespeito e indisciplina na escola. Sendo a sala de aula constituída por

relações interpessoais e para que o ambiente escolar se concretize como local

por excelência na produção de conhecimentos é necessário a preocupação

com a aprendizagem e a formação integral do aluno. Atitude de respeito ao ser

humano deve ser repensado, transformando o ambiente hostil e indisciplinado

da sala de aula em um local prazeroso e amigável, onde o relacionamento

entre educador e educando não comprometa o processo ensino aprendizagem.

Sendo a moral um conjunto de normas de comportamento de um grupo

social tem como alvo a organização das relações interpessoais. Logo, é

importante o papel desempenhado pela educação, não por meio de educação

moral, mas pelo processo educacional tendo a interação entre seres sociais.

Aranha (1996) define que moral é um conjunto de normas de

comportamento de um grupo social tendo como alvo as relações interpessoais,

representado pelos adjetivos bem e mal. Não é surpresa para nós, que é

próprio do ser humano ter a tendência de rotular pessoas, como: essa é boa,

aquela é má, umas inteligentes, outras ignorantes e assim por diante. Essa

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maneira negativa de julgamento vai interferir no relacionamento entre as

pessoas, refletindo em sala de aula provocando o distanciamento entre

professor/aluno e aluno/ professor, nessa dificuldade de se bem relacionar e de

aceitar o outro com suas diferenças, traz como consequência da não efetivação

da aprendizagem. Comumente percebemos que alunos que vão mal em uma

matéria melhoram o rendimento quando trocam de professores, outros sem

interesse na aula do professor X , mostram dedicados e interessados na sala

do professor Y , fato que constatei nesses anos no magistério.

Aranha (1996) diz que o homem não é só razão, mas também

afetividade,o que significa que o professor deve ter a sensibilidade em

conhecer seus alunos como realmente são, um ser humano com altos e baixos,

medos, aspirações e desejos, pedindo atenção, atendimento às carências e

afetividade. O desafio é grande para o educador, sabemos como é difícil

conviver com o diferente, respeitando as diferenças sociais, econômicas,

étnicas, e desprovido de discriminação, mas é tarefa do professor

comprometido e consciente lembrar que o ambiente escolar baseia-se por

relações interpessoais intensas e essa relação entre ele e o aluno é

fundamental para o sucesso de sua ação educativa.

Na sala de aula o professor reconhece aqueles alunos que mais se

destacam, são sempre os mesmos, abandonando aquele que ainda não se

destacou, estigmatizando o aluno como ele é difícil em aprender, esquecendo

de que esse é quem mais precisa da sua ajuda. Quando o educador julga que

o jovem não sabe nada, tem muita dificuldade de entendimento, ele está

reduzindo a possibilidade de aprendizagem, fazendo o aluno acreditar que de

fato é incapaz.

O trabalho torna-se mais fácil a medida que o professor não faça

julgamentos precipitados, valorizando o aluno como ele é, e não como gostaria

que fosse, aceitando-o como sendo outro indivíduo, acreditando que ele é

capaz de aprender a partir do instante em que o professor se comprometa a

ensinar realmente e respeitar sua individualidade, reconhecendo o direito que

todos tem ao conhecimento científico sistematizado.

O sucesso ou fracasso do aluno depende de sua auto-estima, da

confiança que tem de si mesmo, mas isso é resultado da estima e confiança

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que depositam nele. É dever do educador reconhecer o potencial de seu aluno

e contribuir para sua realização, pois toda pessoa tem potencial para aprender.

Para Bock(1999), o homem é um ser social que constrói a si próprio

com os outros homens, a sociedade e sua história. Assim, entendemos que

pela interação entre professor e aluno no âmbito escolar, os fatores afetivos e

cognitivos exercem influência decisiva na construção do conhecimento e da

identidade de seu educando.

[...] é através da mediação dos adultos que os processos psicológicos mais complexos tomam forma. Inicialmente, esses processos são intrapsíquicos ( partilhado entre pessoas), isto é, só podem funcionar durante a interação das crianças com os adultos. A medida que a criança cresce os processos acabam por ser executados dentro da própria criança- intrapsíquicos (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA 1999, p. 108)

Conforme afirmação, a aprendizagem sempre inclui relações

interpessoais, para aprender o aluno precisa ter ao seu lado alguém que nos

diferentes momentos da situação, lhe ajuda a evoluir no processo, alcançando

um nível mais elevado de conhecimento, por meio da interação que se

estabelece entre eles, a pessoa mais experiente, no caso, o professor ou um

amigo, o aluno vai construindo novos conhecimentos. Reafirmando que o

aprendizado se processa internamente quando a pessoa interage com outras

pessoas.

Segundo Cunha “É a partir das experiências de sala de aula que os

alunos constroem o referencial para indicar o bom professor”(2006,

p.56).Enfatizando a importância do relacionamento interpessoal, a autora

descreve os resultados de sua pesquisa feita no segundo e terceiro graus de

alguns colégios. Nesse trabalho encontrou respostas para suas indagações

como educadora, porque as coisas acontecem de certa maneira e não de outra

na sala de aula, e o que é ser o bom professor. Dentre vários questionamentos

respondidos pelos alunos (nesse momento o mais importante para nossa

intervenção), o que mais significava, considerado como bom ou melhor

professor, foi apontado aquele que mais possuía conhecimento de sua matéria

e que mantinha melhores relações nos aspectos afetivos com seus alunos. Isso

vem mais uma vez comprovar como fator relevante relação interpessoal

positiva entre os envolvidos no processo educativo. A pesquisa vem confirmar

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que nossos alunos adolescentes necessitam de um relacionamento afetivo e,

nessa visão, isso se traduz na satisfação em se relacionar.

Morales (1999) indica que há dois aspectos mutuamente relacionados

na relação professor-aluno

- a relação professor-aluno na sala de aula é complexa e abarca vários aspectos; não se pode reduzi-la a uma fria relação didática nem a uma relação humana calorosa. - além disso, embora estejamos enfatizando a relação do professor com os alunos (o professor é o sujeito principal, aquele que de alguma maneira inicia a relação), os alunos também influem no professor que dá deixa: a relação que o professor inicia influi nos alunos, os quais, por sua vez, influem no professor e reforçam determinado estilo de relação professor-aluno (p.49-50).

Considerando o pensamento do autor, evidenciamos que o professor

deve ser competente, sensível e dedicado,,,ter consciência de sua

responsabilidade como educador, de sua importância como líder e na influência

sobre a aprendizagem e no desenvolvimento dos jovens, preparando-os para

enfrentar o mundo.

O ser humano tem a propensão em ser muito compreensivo em

relação aos próprios defeitos e falhas, mas pouco em aceitar e compreender as

dos outros. O professor precisa ter uma grande habilidade para se comunicar,

ser claro, coerente e principalmente ter equilíbrio emocional no trato com os

jovens. Sabedor do seu papel de mediador do conhecimento, usar de

sensibilidade e percepção no relacionamento com seu aluno, não se esquecer

de que está interagindo com outra pessoa, que é também um ser humano que

tem expectativas, sonhos, projetos de vida e que ali está a espera de alguém

que possa ajudá-lo. Essa interação entre ambos deve ser marcada pelo

respeito mútuo, proporcionando prazer nessa convivência que

consequentemente gera a aprendizagem, que é o resultado almejado por todos

em sala de aula.

Se a empatia significa colocar-se no lugar do outro, vamos nós

educadores, ser capazes de reconhecermos as reações de outras pessoas, a

maneira como elas se sentem diante dos fatos, tendo a capacidade de

compreender como o aluno vê e sente.

Após inúmeras leituras, evidenciamos que dos entraves que

prejudicam a ação educativa que hoje surgem no âmbito escolar, dentre eles,

presenciamos as derrotas dos nossos alunos (porque não dizer nossas

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também),de desrespeito, indisciplina, auto estima baixa, evasão, repetência,

só quando o professor compreender numa relação empática os sentimentos e

reações de seus alunos, esses fatos poderão ser evitados ou minimizados por

um bom relacionamento entre o docente e discente.

Nessa perspectiva, pensar numa escola requer um novo olhar na

questão da interação, sendo necessário um espaço para reflexão sobre a

relação interpessoal entre professor e aluno com respeito, confiança, aceitando

o valor de si mesmo e do outro. Desse modo é estar contribuindo em prol da

constituição do ser humano em todos os seus aspectos e na formação de um

cidadão crítico e consciente.

Mesmo vivendo nesse sistema capitalista, temos que acreditar em uma

educação democrática e humanizadora, desenvolvida no contexto escolar por

relações interpessoais positivas, resgatando a escola como espaço de cultura

voltada para o desenvolvimento integral de todos, sem discriminação nenhuma.

A tarefa do educador é árdua, mas não é impossível, sem dúvida

alguma exige tempo, tolerância e um esforço contínuo. Evidente que temos

também nossas limitações e que não vamos mudar o mundo, mas que isso não

seja empecilho para a realização de um trabalho comprometido e

transformador, onde todos possam viver melhor.

3 PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA: APRESENTANDO OS

DADOS COLETADOS

O Projeto de Intervenção Pedagógica teve início na capacitação de

fevereiro de 2011. Na oportunidade o apresentamos para a Direção, Equipe

Pedagógica e Corpo Docente, bem como as ações que seriam desenvolvidas.

Durante a apresentação foi levantado pelos professores a relevância do

projeto, considerando a dificuldade de relacionamento entre professor-aluno.

Em seguida, elaboramos um instrumento para a coleta de dados

empíricos: questionário. Foi elaborado um para os professores e outro para os

alunos envolvidos, especificamente, os alunos da primeira série do período

matutino. O questionário constava de perguntas objetivas e abertas; algumas

delas estavam presentes nos dois segmentos para oportunizar as contradições.

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No dia da aplicação do questionário para os alunos apenas vinte

estavam presentes. Assim, todos os questionários foram preenchidos e

devolvidos. Utilizamos a letra A para designar os alunos, seguido de uma

identificação numérica (de um a vinte), caracterizando-os.

Na primeira questão apresentamos uma afirmativa: “O ambiente da

sala de aula muitas vezes mostra-se frio, severo e hostil na relação professor-

aluno”.Esta deveria ter confirmação ou sua negativa. Dos envolvidos, catorze

(14) apontaram que concordavam com a afirmativa apresentada.

Na segunda parte havia um complemento da questão. Assim era

solicitado que apontassem “o que deveria ser feito para superar este ambiente

(frio, severo, hostil) tornando-o mais agradável.” Foram diversos os

apontamentos. Mas podemos destacar: que deveria ter mais respeito em sala

de aula (8); a relevância do diálogo (4); que a relação deve ser mais afetiva (3);

dois (2) apontaram o problema da disciplina. O A19 registrou

“Os alunos devem colaborar mais com as aulas, para que estas se tornem mais disciplinadas e com maior rendimento. Por sua vez, os professores têm que deixar as aulas mais interessantes para prender a atenção dos alunos”.

Também foram citados que é necessário o aluno ter mais educação, a

necessidade de atividades diversificadas; cada um deve ter ciência de seu

papel; o interesse do aluno é fundamental e ainda que todos devem saber ouvir

e saber falar.

Na questão nº2 foi apresentada a possibilidade de avaliação da relação

professor-aluno. Esta poderia ser classificada em: ótima; boa; ruim ou péssima.

Das respostas obtidas, dezenove (19) apresentaram como “boa”. Na sequência

da pergunta foi pedida uma justificativa. Dentre elas podemos citar: falta de

respeito entre os envolvidos no processo educacional; ausência do diálogo; a

falta de um relacionamento positivo entre o docente e discente.

Na terceira questão foi questionado sobre as dificuldades enfrentadas

em sala de aula na relação professor-aluno. Dentre os alunos, treze (13)

indicaram que o professor sem domínio de sala, gera a indisciplina. Nas outras

respostas verificamos a presença de afirmativas, como: professores usam de

autoritarismo; não existe respeito entre ambos (15); aulas monótonas e

desinteressantes; alunos não realizam as atividades solicitadas pelo professor

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(10).Na sequência da pergunta verificamos sugestões para a superação das

dificuldades registradas. A A1 registrou “[...] existência de maior

comprometimento dos alunos; que haja reciprocidade de respeito entre alunos

e professores, aulas mais dinâmicas para despertar o interesse dos alunos”.

Constatamos que as dificuldades no relacionamento entre alunos e

professores poderiam ser superadas por meio do respeito mútuo (10);

comprometimento do aluno (10); diálogo; e sensibilidade por parte do

professor. As alunas A3 e A5 registraram “reconhecer e aceitar as diferenças”.

Já a aluna A8, comentou “Acredito que os professores deveriam proporcionar

diálogo com os alunos, assim despertar o interesse, e impor a disciplina em

sala de aula”. A aluna A14, por sua vez, registrou

“Alunos mais interessados na aula, tendo bom relacionamento com o professor, e discentes mais comprometidos com a escola. Professores com maior autoridade, dialogando mais, procurando conhecer as falhas para acontecer a aprendizagem”.

Na questão 5 foi apresentada uma afirmação. “A relação professor-

aluno é o alicerce para a socialização do conhecimento, atendendo as

necessidades do indivíduo como um ser histórico-social”. Os envolvidos

deveriam concordar ou não. Assim, obtivemos vinte (20) respostas positivas.

Na continuidade da pergunta foi pedido que se justificassem. As justificativas

foram na maioria as mesmas, dizendo da importância que: quanto maior for o

relacionamento afetivo, tendo respeito mútuo no diálogo, interesse do aluno

pela matéria e quanto maior for a afinidade com o professor,

consequentemente o objetivo será alcançado, o ensino-aprendizagem.

No último questionamento foi perguntado “De que forma trabalhar a

relação interpessoal entre professor-aluno imbuída de respeito e diálogo para a

formação de um cidadão mais crítico e consciente?” Foram apresentadas

alternativas como resposta.

ALTERNATIVAS APONTAMENTOS

a) Estabelecer regras (sem ferir a

legislação maior) que devem ser

acordadas de forma coletiva.

oito

b) Respeitar as diferenças. dezessete

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c) É preciso que o aluno seja

ouvido.

dezessete

d) Definir papéis e funções.

seis

Em relação ao professores – que utilizamos a letra P para designá-los

– doze preencheram o instrumento e o devolveram.

A primeira parte do questionário solicitava informações pessoais, já a

segunda foi composta por sete questões em relação ao tema foco de pesquisa.

Em relação à formação inicial (graduação)

Letras Anglo-Protuguesa 01

Filosofia 01

Ciências Sociais 02

Licenciatura em Ciências (Biologia) 01

Geografia 01

Pedagogia 06

Destes, dois ainda não cursaram pós-graduação. Assim, dez cursaram-

a, sendo que nove em lato sensu e um stricto sensu: mestrado em educação e

com doutorado em curso. As especializações foram em diversas áreas:

Literatura e Estudos da Linguagem; Ensino de Sociologia; Biologia Vegetal;

Gestão e organização escolar; Metodologia e Prática de Ensino Superior

(quatro) e Psicopedagogia.

Em relação ao tempo de atuação, dois não informaram; assim, a média

é, dentre os dez, é de cinco anos. Quanto ao vínculo, um não informou e sete

são do quadro próprio do magistério (QPM) e quatro têm contrato temporário

(PSS).

A primeira pergunta da parte específica do questionário apresentava

uma afirmativa: “O ambiente da sala de aula muitas vezes mostra-se frio,

severo e hostil na relação professor-aluno”. Esta deveria ter a concordância ou

não dos depoentes. Desta forma, oito concordaram e quatro discordaram.

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Como complemento havia uma questão aberta: “O que deve ser feito para

superar este ambiente, tornando-o mais agradável?”. Apenas um dos

envolvidos não respondeu. Diversos apontamentos foram feitos, dentre eles

destacamos: identificar as razões para tal contexto e promover uma relação

dialógica, de respeito, de confiança e empatia com os alunos. Vale destacar

que a o quesito “respeito” foi citado pela maioria dos depoentes. A P11

registrou que a superação deste ambiente pode acontecer: “Acredito que a fala

de uma maneira mais calma, porém firme. A valorização do trabalho do aluno,

acompanhamento e olhar voltado para seu desenvolvimento. Segurança e

conhecimento para ensinar, afetividade”.

Na segunda questão foi solicitado para caracterizar/avaliar a relação

professor-aluno. As opções eram: ótima, boa, ruim ou péssima. Dentre os

depoentes, três a consideram ótima e nove boa. Na sequência, foi solicitado

uma justificativa. Dois não o fizeram. Das apontadas destacamos: turmas

novas, ou seja, no inicio da relação, ao iniciar o ano letivo, o professor não

conhece os alunos; a escola recebe alunos com diferentes perfis; há

antagonismo entre alguns professores e alunos; falta de interesse dos alunos

e, ainda, não há transparência na relação.

A terceira questão perguntou “De que maneira a relação interpessoal

professor-aluno interfere no processo ensino-aprendizagem?”

Verificamos que a maioria das respostas foi: quando a relação

interpessoal é negativa causa a indisciplina; e, ainda, que a falta de interesse

proporciona que não ocorra a aprendizagem. A P3 comentou “percebo que

quando o aluno se identifica comigo e com a matéria, ele tem melhores

resultados.” A P 4 registrou “As relações humanas são peças fundamentais na

construção do conhecimento e não há como desvincular o valor pedagógico da

interação professor-aluno do sucesso no processo de aprendizagem”.

Sobre o aspecto das dificuldades enfrentadas em sala de aula na

relação professor-aluno, os professores identificaram, dentre várias respostas:

a falta de valorização dos conteúdos pelo aluno; preconceito tanto do professor

quanto do aluno; falta de diálogo; desrespeito mútuo; professor autoritário; falta

de interesse dos alunos; falta de limites e respeito entre as partes envolvidas. A

P10 argumentou “Nada explica melhor que as dificuldades muitas vezes são

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oriundas do despreparo cultura-intelectual do professor e de alunos que não

aprenderam que escola é lugar de estudar”.

Na questão seguinte foi pedido ao docente que apontasse e desse

sugestões para a superação das dificuldades registradas. Apenas um não

respondeu. Dos que responderam, foi citado a capacitação de docentes; o

professor exercer seu papel com maior responsabilidade; aulas mais atrativas;

estabelecer critérios, respeitando o limite de cada um e a necessidade de se

estimular o aluno. A P4 destacou que há necessidade de “respeito a

individualidade do aluno, buscar diálogo, estabelecer regras, porém explicar a

razão das necessidades destas,organizar e planejar as aulas, despertar a

curiosidade e a confiança dos alunos”. Já a P10 afirmou “Professores bem

preparados nos conteúdos.”

Na sexta pergunta apresentamos uma afirmativa: “A relação professor-

aluno é o alicerce para a socialização do conhecimento, atendendo as

necessidades afetivas do indivíduo como um ser histórico-social. Justifique”.

Destacamos algumas colocações:

“Se a relação professor-aluno exprime confiança e segurança ela passa a atender as necessidades afetivas do indivíduo e assim se torna uma base sólida para a construção do conhecimento.” (P4)

“Uma relação professor-aluno baseada no respeito, educação, competência e diálogo, pode contribuir muito para o sucesso do processo de ensino-aprendizagem.” (P5)

Identificamos que todos os docentes envolvidos afirmaram sobre a

grande importância do relacionamento professor-aluno, com base na

afetividade para que a educação promova a formação integral do aluno.

Na última questão foi pedido aos professores de que forma trabalhar a

relação interpessoal entre professor-aluno, imbuída de respeito e diálogo - para

a formação de um cidadão mais crítico e consciente. A maioria respondeu dar

oportunidade ao aluno de manifestar-se; muito respeito com afetividade;

considerar as diferenças individuais; ouvir o aluno; aceitar sugestões

(ponderadas). Apenas um professor disse que não saberia como fazer. A P4

posicionou—se, comentando a precisão de “Abrir ao professor espaços de

discussões com seus pares nas escolas, dando a oportunidade da troca de

experiências, enriquecendo as possibilidades de mudanças.” Diante do

exposto evidenciamos que a melhoria na relação professor-aluno não está

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relacionada a apenas um fatores, e sim a diversos. Todavia, destacamos que o

respeito foi considerado, tanto pelos professores envolvidos, como pelos

alunos, o princípio imprescindível para que tal relação aconteça de forma

satisfatória.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sendo a escola vista como local para transmissão do conhecimento e a

apropriação da cultura, não só deve se limitar a isso, mas fazer-se também

necessária, em um espaço de construção da personalidade de seus alunos.

Tendo o professor o compromisso com o dever, a verdade, a justiça

respeitando o desenvolvimento do ser humano. Keller (apud CAMARGO, 1999,

p. 39) dizia que “O termo homem é utilizado no seu sentido mais amplo, um ser

dotado de uma multiciplicidade de aspectos e capacidades que, quer sejam

naturais ou adquiridas, podem ser desenvolvidas, aumentando suas

potencialidades”.

Acreditamos que as dificuldades encontradas atualmente no

relacionamento interpessoal entre professor/aluno e aluno/professor, poderão ,

pelo menos, serem minimizadas, proporcionando à todos uma melhor

convivência para atingir o objetivo proposto da escola, após reflexões e tomada

de consciência do verdadeiro papel do profissional em educação.

A oportunidade proporcionada pelo PDE na implementação do Projeto

de Intervenção Pedagógica, bem como as atividades complementares, como a

participação no Grupo de Trabalho em Rede (GTR) foi de extrema relevância

no sentido de identificar as causas que dificultam a relação professor-aluno,

como também o resgate de princípios e valores que podem superar as

dificuldades encontradas no cotidiano escolar no que tange à relação

professor-aluno.

Concluímos afirmando que nosso objetivo é refletir a formação

profissional do educador no que tange à aprendizagem e à convivência

harmoniosa com os alunos, não esquecendo que somos seres humanos

dotados de capacidade intelectual e vontade em aprender. Isso torna-se mais

acessível dependendo da pessoa que seja mais experiente, numa relação

interpessoal positiva, em atingir o objetivo proposto na educação. O ponto

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central que deve ser considerado é que todas as pessoas têm direito ao acesso

e permanência na escola, em busca de conhecimento para o crescimento e

desenvolvimento do ser humano na sua totalidade, com dignidade e respeito.

REFERÊNCIAS

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