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DISCUSSÃO E PARTICIPAÇÃO DO COLEGIADO EM BUSCA DA GESTÃO

DEMOCRÁTICA NA ESCOLA PÚBLICA.

Vera Lúcia Tondo Verri Lopes1

Joceli de Fátima Arruda Sousa2

RESUMO Por meio desse artigo os educadores têm a oportunidade de rever e de ampliar sua visão de gestão escolar e de seu papel nesse processo de construção coletiva por uma escola mais atuante. Dentro do cotidiano da instituição, inúmeras funções vêm sendo realizadas de forma estanque: diretores, coordenadores, equipe pedagógica, um número significativo de docentes e demais funcionários desempenhando cada qual seu papel como sujeitos educativos. A instituição escolar, no entanto, para além das atividades habituais exigidas em sua função social necessita ser compreendida dentro de suas especificidades. É imprescindível que a instituição escolar seja reconhecida como organismo vivo, reflexo da sociedade vigente e que, como tal, sofre e exerce influências. Através de aprofundamento, pretende-se convidar os docentes a compreender as relações entre educação, escola e as políticas educacionais vigentes. Toda essa problemática deve estar vinculada à construção da gestão democrática da escola pública. O trabalho terá início com o estudo dos marcos da legislação brasileira, analisando as diferentes concepções da administração, dando ênfase à especificidade da gestão democrática da escola pública. Busca-se, através de investigação científica, estudar as principais abordagens por meio da contextualização das políticas educacionais e sua relação com a gestão democrática. Espera-se que o referido trabalho possa contribuir de maneira efetiva para uma mudança de postura dos sujeitos com a educação e que (re) construam sua atuação de modo mais significativo e possam refletir o respeito ao coletivo.

Palavras - chave: Gestão democrática; trabalho docente; participação colegiada. Resumen

1 Autora: Pós-graduada, pedagoga, professora do Colégio Estadual Barão do Rio Branco, Foz do Iguaçu. Participante do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional - turma 2010.

2 Orientadora: Doutoranda em Políticas Públicas e Formação Humana pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ. Docente do Curso de Pedagogia na Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Campus Foz do Iguaçu.

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Por medio de este artículo los educadores tendrán la oportunidad de revisar y ampliar su visión de la administración de la escuela y su papel en el proceso de construcción colectiva por una escuela cada vez más activa. Dentro de lo cotidiano de la institución, muchas funciones son realizadas como estancos: directores, coordinadores, equipo pedagógico, un número significativo de profesores y los demás funcionarios que desempeñan cada uno su papel como sujetos educativos. Sin embargo, la institución escolar, además de las habituales actividades necesarias en su función social, debe entenderse dentro de sus características específicas. Es esencial que la escuela sea reconocida como un organismo vivo, un reflejo de la sociedad actual y, como tal, sufre y tiene influencias. A través de investigaciones la intención es invitar a los profesores para entender las relaciones entre la educación, la escuela y las políticas educativas vigentes. Este problema debe estar vinculado a la construcción de una gestión democrática de la escuela pública. El trabajo tendrá como punto crucial la legislación brasileña, analizando las diferentes concepciones de la administración, poniendo énfasis en la especificidad de la gestión democrática de la escuela pública. A través de la búsqueda de la investigación científica, se estudiará los enfoques principales de la contextualización de las políticas educativas y su relación con la gestión democrática. Se espera que este trabajo pueda contribuir eficazmente a un cambio de actitud de los sujetos involucrados con la educación, para que (re) construyan su actuación de modo más significativo y que puedan reflejar el respeto a lo colectivo.

Palabras clave: Gestión democrática; trabajo docente; participación de los profesores.

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DISCUSSÃO E PARTICIPAÇÃO DO COLEGIADO EM BUSCA DA GESTÃO

DEMOCRÁTICA NA ESCOLA PÚBLICA

1. Introdução:

O presente trabalho ocorreu durante o transcorrer das atividades realizadas

no PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional, área de Gestão Escolar,

turma 2010, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná.

Está dividido em etapas: a primeira parte trata-se de uma breve pesquisa

bibliográfica sobre Gestão Democrática na Escola Pública; a segunda etapa

apresenta as intervenções realizadas junto ao colegiado escolar e os resultados

desse processo.

Pretende-se pontuar sobre a construção de uma gestão escolar democrática,

tendo em vista que, apesar da caminhada já empreendida, um número considerável

de educadores ainda não se apropriou nem incorporou esse conhecimento em sua

prática pedagógica. Como é conhecido, há uma distância real entre abordagens

teóricas e sua concretude no cotidiano escolar. Propõe-se, então, repensar a função

social da escola, pois a mesma sendo reflexo e extensão da sociedade contraditória

vigente, deve objetivar tornar-se um espaço democrático, a fim de que propiciar um

processo de ensino-aprendizagem que garanta aos alunos o acesso aos bens

culturais produzidos e acumulados ao longo da história pela humanidade.

Somente por meio do conhecimento adquirido a partir da busca de aporte na

pesquisa de pressupostos teóricos sobre gestão escolar e, dentro de um espaço

crítico, se possibilitará ao educador rever seu fazer profissional, refletindo o respeito

ao coletivo, bem como seu papel na instituição educativa. Desta maneira será

possível perceber a extensão da atuação docente, para além do ambiente da sala

de aula, tendo em vista a abrangência da educação.

Assim sendo, o colegiado escolar estará ciente da importância de sua

participação na construção e na efetivação de uma gestão democrática na escola

pública. Para isso, se faz necessário conhecer a legislação que regulamenta os

sistemas educativos, bem como identificar as diferentes concepções e abordagens

de gestão escolar. Assim, ao conhecer a legislação e as concepções/abordagens de

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gestão escolar, podendo, portanto, compreender os princípios da gestão

democrática, o educador terá subsídios para construí-la no cotidiano da escola

pública.

2. Alguns pontos de reflexão sobre a Gestão Democrática na escola pública:

Ao pesquisar o significado da palavra gestão (do latim gestio, onis),

encontram-se expressões sinônimas como ato de gerir, gerência, administração

(HOLANDA FERREIRA, 1999, p. 985). Está relacionada ao ato de estimular uma

organização para o cumprimento de suas funções, para a conquista de seus

objetivos.

Em relação ao termo democracia, também se faz necessário rever seu

significado. Citando Bobbio, pode-se constatar:

No que diz respeito às modalidades de decisão, a regra fundamental da democracia é a regra da maioria, ou seja, a regra à base da qual são consideradas decisões coletivas – e, portanto, vinculatórias para todo o grupo – as decisões aprovadas ao menos pela maioria daqueles a quem compete tomar a decisão (BOBBIO apud LIMA, 2004, p. 29).

A partir da década de 1980, o Brasil tem trilhado avanços nas discussões

sobre como democratizar a escola pública. Isso tem ocorrido concomitantemente ao

processo de democratização da sociedade. Na verdade, o que tem ocorrido é a

ampliação das relações em torno da organização e das funções da escola:

As medidas visando à maior participação dos usuários da escola e demais envolvidos em sua prática nos destinos da escola pública básica podem ser agrupadas em três tipos: as relacionadas aos mecanismos coletivos de participação (conselho de escola, associação de pais e mestres, grêmio estudantil, conselho de classe); as relativas à escolha democrática dos dirigentes escolares; e as que dizem respeito a iniciativas que estimulem e facilitem, por outras vias, o maior envolvimento de alunos, professores e pais nas atividades escolares (PARO, 2008, p. 11).

O referido autor salienta ainda que o conselho escolar tornou-se o mecanismo

de ação coletiva de maior polêmica e no qual se depositaram as maiores

expectativas e, apesar de sua atuação não ser plenamente efetiva, é o que mais

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demonstra as contradições e os conflitos de interesses existentes entre a escola e o

Estado.

Situações conflitantes fazem parte da história e, como tal, contribuem para o

amadurecimento coletivo. A escola, sendo reflexo da sociedade, também é

permeada por essas relações, como vemos nesta citação:

Torna-se vital aos mediadores de conflitos - professores e gestores - articularem interesses comuns e aceitarem o conflito de valores nas escolas, não como patológico, nem como antidemocrático, mas como pressuposto e como fundamento de nossa cultura (SACRISTÁN apud ROSSI, 2001).

Na sociedade brasileira é perceptível avaliar os resultados advindos do modo

de produção existente em nosso país, no qual a divisão de classes sociais tem, ao

longo dos tempos, possibilitado aos mais privilegiados um acesso maior aos bens

culturais. Somente a partir do reconhecimento de que todos têm direito aos

conhecimentos culturais construídos e acumulados historicamente pela humanidade

será possível superar essa realidade. Para que se assegure às diferentes camadas

da sociedade o acesso a esses conhecimentos necessita-se de uma mudança de

postura, deixando de tratar com privilégios as classes sociais mais abastadas:

Neste sentido, democratizar o ensino seria oferecer a todas as camadas da população e a todas as categorias sociais iguais oportunidades de freqüentar a escola e prosseguir na sequência escolar. Oportunidades iguais para ricos e pobres, moradores da cidade e do campo, homens e mulheres (GOUVEIA apud GHANEM, 2004, p. 63).

Sem dúvida o acesso à escola tem sido maior na contemporaneidade em

comparação ao passado, porém alguns questionamentos precisam ser feitos, de

qual intencionalidade e qual o resultado atingido. Sabe-se que a principal função da

educação pública é a de garantir o ingresso e a permanência do educando na

instituição escolar, que deve ser reconhecida e oferecida como um bem público e de

direito.

Nesse sentido, há diversas causas que interferem na qualidade da escola

pública, começando pela formação do profissional da educação – acompanhada da

valorização salarial, formação continuada, plano de carreira –, pela estrutura física

das instituições de ensino, aos investimentos financeiros empregados na educação.

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É preciso repensar os paradigmas de gestão que se perpetuam e qual a visão que

temos de democratização na escola.

Para Shiroma (2004, p. 115), “[...] o governo responde mais a exigências

formais que a concretas. O que se observa é a progressiva redução dos gastos

públicos para a área”. A autora afirma também que o governo demonstra a

ineficiência do sistema público de ensino ao explorar dados sobre o fluxo escolar e

compará-los aos de outros países, sem, entretanto, divulgar que os recursos

investidos são muito distintos em relação a outras nações.

Adentrando na categoria trabalho, categoria cuja citação se faz necessária

aqui, afirma-se que é através do trabalho, quesito precípuo para o desenvolvimento

do ser humano, que o homem interfere na natureza, transformando-a para a sua

sobrevivência, segundo Saviani:

Se a existência humana não é garantida pela natureza, não é uma dádiva natural, mas tem de ser produzida pelos próprios homens, sendo, pois, um produto do trabalho, isso significa que o homem não nasce homem. Ele forma-se homem. Ele não nasce sabendo produzir-se como homem. Ele necessita aprender a ser homem, precisa aprender a produzir sua própria existência. Portanto, a produção do homem é, ao mesmo tempo, a formação do homem, isto é, um processo educativo. A origem da educação coincide, então, com a origem do homem mesmo (2007, p. 6).

De acordo com o que foi exposto por Saviani, o trabalho tem sua centralidade

nas relações sociais, relações que, ao longo da história, foram estabelecidas pela

sociedade e a educação está intrinsecamente ligada a esse processo. A

humanidade produz conhecimentos e, através dessa criação histórico-cultural, por

meio da educação, toda a produção acumulada é transmitida às gerações futuras.

É incontestável a importância da atividade humana por meio do trabalho, que,

com o passar das gerações, vem provocando inúmeras mudanças na humanidade.

Conforme exposto por Paro:

[...] apropriação da cultura humana, entendida esta como aquilo que o homem produz em termos de conhecimentos, crenças, valores, arte, ciência, tecnologia, tudo enfim que constitui o produzir-se histórico do homem (2002, p. 16).

Essa mediação histórica e social deve ser garantida pela escola que, criada

com tal finalidade, é a única instituição responsável pela socialização do

conhecimento sistematizado, necessário ao efetivo exercício da cidadania. Cabe à

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escola assegurar que as gerações futuras tenham garantido o acesso às formas

mais avançadas de relacionamento entre os humanos.

Dessa maneira, a escola só será democrática se, concomitantemente, forem

vivenciados avanços na democratização de todos os setores da sociedade. As

transformações na sociedade, ocorridas nos últimos anos – globalização do capital,

da cultura, tecnologia, entre outras – desdobraram-se também em alterações no

panorama da educação e no papel da escola.

Essas transformações socioeconômicas fizeram com que o capitalismo

precisasse de um gerenciamento diferenciado para que pudesse atender as novas

características exigidas pelas forças produtivas do capital. Surge então a

denominada gestão democrática no interior das instituições escolares públicas

(Paro, 2008).

Diferente do modelo anterior de gestão escolar, pautado unicamente na figura

histórica do diretor autoritário como responsável direto pelo sucesso da instituição –,

o autoritarismo sempre esteve ligado a práticas antidemocráticas e antissociais que

estiveram e ainda estão presentes na gestão das escolas públicas. O mundo

contemporâneo espera e exige renovação na postura da escola. A nova imagem que

se espera do gestor escolar é a de que, para além das questões administrativas, o

pedagógico deva ser também prioridade.

Paro (2008) alerta sobre a questão de se considerar utopia toda vez que se

propõe a gestão democrática através da participação efetiva de pais, educadores,

alunos e funcionários da escola. O autor ressalta que o utópico pode vir a ser

concretizado, dependendo das condições de viabilização de um projeto de

democratização das relações no interior da escola.

Cabe à escola, e aos profissionais que dela fazem parte, assumir seu papel

fundamental no processo de transformação – transformação aqui se entende como o

rompimento ou superação da sociedade de modelo capitalista de produção – social

(Paro, 2008). Ao resgatar todo o arsenal de conhecimentos e de experiências vividos

pela humanidade, nosso legado e referências coletivas devem dar a confiança de

que é possível interceder no processo de construção histórica de uma sociedade

melhor, mais humana, justa e igualitária.

A sociedade espera que a instituição educativa cumpra com sua contribuição

na formação do homem pautada na totalidade, reconhecendo-o como um ser de

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relações sociais e éticas, sujeito crítico que se comprometa em busca de uma

humanidade melhor.

Segundo relata Lück (1998), ao final da década de 1970, educadores e

pesquisadores de todo o mundo passaram a dar atenção maior ao impacto da

gestão participativa na eficácia das escolas como organizações. Ao perceber ser

impossível que o diretor solucionasse sozinho todas as questões e problemas

pertinentes à sua escola, passaram a adotar a abordagem participativa: para o êxito

de sua organização, é preciso que os diretores busquem o conhecimento específico

e a experiência de seus pares. Para esses diretores participativos, a base do

trabalho está no conceito da autoridade compartilhada, conceito no qual o poder é

descentralizado e as responsabilidades, delegadas aos representantes da

comunidade escolar, serão assumidas conjuntamente.

O que se percebe, no entanto, é que essa visão é ainda muito romantizada e

reflete um distanciamento entre o ideal e o real. No dia a dia de nossas escolas

percebemos que a gestão democrática não perdura devido ao fato de o próprio

sistema capitalista predominante na sociedade ser por si excludente.

Segundo Cury (2002, p. 29), ”A Constituição de 1988, além de alargar

dispositivos constantes em constituições anteriores, estipula outros princípios, como

o do pluralismo, da liberdade e gestão democrática”. A legislação brasileira vigente

impõe-nos um desafio: Como efetivar e consolidar uma escola democrática?

Para responder a essa questão, verifica-se que a Constituição Federal de

1988, no inciso VI do artigo 206, define, como um de seus princípios, a “[...] gestão

democrática do ensino público, na forma da lei” (BRASIL, 1988).

A Constituição brasileira, promulgada em 1988, traz em seu bojo um conjunto de princípios fundamentais à cidadania. Dentre eles, cabe ressaltar, nos capítulos referentes aos direitos sociais, a garantia do acesso ao ensino obrigatório e gratuito (direito público subjetivo)1, a gestão democrática do ensino público, a vinculação constitucional de recursos à educação (União, 18%, estados e municípios, 25%) (DOURADO, 2002, p. 151).3

Na década seguinte, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDBEN (Lei

Federal nº 9394), promulgada em 20 de dezembro de 1996 –, vem reforçar esse

3 Direito público subjetivo é aquele pelo qual o titular de um direito pode exigir direta e imediatamente do Estado o cumprimento de um dever e de uma obrigação. O titular deste direito é qualquer pessoa, de qualquer idade, que não tenha tido acesso à escolaridade obrigatória na idade apropriada ou não.

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princípio, acrescentando, em seu artigo 3º, inciso VII, apenas “[...] e a legislação do

sistema de ensino” (BRASIL, 1996). Desde então, a gestão democrática passou a

ser um dos temas mais discutidos na esfera educacional.

A LDBEN/9394, define ainda:

Art. 14 – Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I. Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II. Participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. Art. 15 – Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas de direito financeiro público (BRASIL, 1996).

Observa-se que, no artigo 14, os princípios que norteiam as normas de

gestão democrática demonstram uma obviedade ímpar, já que seria impossível

ocorrer um projeto político-pedagógico sem a participação dos profissionais da

educação. Mostra também como algo novo a participação da comunidade escolar,

prática essa que já vem sendo conquistada pela sociedade ao longo do tempo.

Convém lembrar que o termo “público” foi acrescido à palavra ensino e,

assim, tem-se a impressão de que a educação privada dá-se com autoritarismo, pois

se excluiu a extensão da gestão democrática às escolas particulares.

No artigo 15, a análise há de se deter no aspecto da autonomia financeira,

pois ao Estado cabe a atribuição de arcar com os custos da educação, sendo essa é

uma responsabilidade da qual ele não pode se eximir.

Em relação à autonomia pedagógica, faz-se necessário garantir uma base

sólida de conteúdos mínimos curriculares, não podendo ficar à mercê de questões

de interesses de grupos ou regiões, que não proporcionem ao educando o acesso

aos conhecimentos básicos e necessários à sua inserção social.

De acordo com Czernisz (2001), as novas formas de gestão da escola

pública também objetivam a autonomia financeira, administrativa e pedagógica. Há

uma desburocratização da função da escola e, em consequência, a ampliação de

seu papel. Sobre isso:

Importa, ainda, ter presente que a “autonomia da escola” resulta, sempre, da confluência de várias lógicas e interesses (políticos,

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gestionários, profissionais e pedagógicos) que é preciso gerir, integrar e negociar. A autonomia da escola não é a autonomia dos professores, ou a dos pais, ou a dos gestores. A autonomia é um campo de forças, onde se confrontam e equilibram diferentes detentores de influência (externa e interna) dos quais se destacam: o governo, a administração, professores, alunos, pais e outros membros da sociedade local (FERREIRA, 2000, p. 17).

Nesse processo ocorre um movimento de abertura da escola à participação

da comunidade, sendo então incentivado como uma das metas a serem atingidas

pela escola pública.

De acordo com Vieira (2005), os artigos da LDBEN/9394 acima apresentados

determinam que a gestão democrática do ensino público ofereça autonomia às

unidades federadas, que definem as formas de operacionalização da gestão, com a

participação dos profissionais da educação envolvidos e da comunidade escolar e

local. Percebe-se quão confusa se apresenta ainda a questão da autonomia escolar

e de quanto nos falta para colocá-la em prática.

Para Libâneo et alii (2005), o conceito de participação está fundamentado no

princípio da autonomia, representando a capacidade das pessoas e dos grupos para

a livre determinação deles mesmos, conduzindo sua própria vida. O autor ainda

pondera que a autonomia se opõe às formas autoritárias de tomada de decisão, que

sua concretude nas instituições ocorre através da participação na escolha de

objetivos e de processos de trabalho, bem como na construção conjunta do

ambiente de trabalho. Em suma, para o referido autor, o que fundamenta a

concepção democrático-participativa de gestão escolar é a autonomia.

Desse modo, pode-se constatar que a educação brasileira obtém, “na

legislação” (grifo nosso), enfim, o direito de expressar sua real necessidade e a

importância em construir uma participação consciente por parte de seu colegiado –

diretores, professores, funcionários, alunos e pais –. Por meio do fortalecimento da

democracia no processo pedagógico, através de um projeto de escola democrática,

surge então a possibilidade de sua transformação, criando espaço aberto ao diálogo.

Segundo Cury, “Não se pode menosprezar a legislação, pois ela já avançou

muito e cumpre efetivá-la. Será longo o caminho pela frente a fim de que a educação

se efetive como um direito a serviço do pleno desenvolvimento do educando” (2002,

p. 79).

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Cabe então questionar: Seria isso possível? É passível de ser

concretizado tendo em vista o panorama ideológico e político do país em que

vivemos sob a égide mercadológica dos bens produzidos culturalmente? Ainda de

acordo com Cury:

Quando o Brasil oferecer a toda sua população reais condições de inclusão na escolaridade e na cidadania, nosso país, ao invés de mostrar apenas a face perversa e dualista de um passado ainda em curso, poderá efetivar o princípio de igualdade de oportunidades de modo a revelar méritos pessoais e riquezas insuspeitadas de um povo e de um Brasil uno em sua multiplicidade, moderno e democrático (2002, p. 81).

A efetivação do que está na Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996,

muitas vezes não é aplicado na sua concretude. A instituição escolar caminha a

passos lentos nos quesitos participação e autonomia. Isso é percebido a partir das

dificuldades encontradas pela escola quando na formação de Grêmio Estudantil, na

formação da APMF (Associação de Pais, Mestres e Funcionários) e na formação do

Conselho Escolar.

A autonomia é relativa, tanto no pedagógico – até mesmo reprovações são

questionadas por instâncias superiores – como no tocante à aplicação de recursos

financeiros com finalidades preestabelecidas, fugindo algumas vezes da real

necessidade do ambiente escolar ao qual se destina.

Rossi (2001) afirma que:

[...] todas as iniciativas de política educacional, apesar de sua aparente autonomia, têm um ponto em comum: o empenho em reduzir custos, encargos e investimentos públicos, buscando senão transferi-los e/ou dividi-los, com a iniciativa privada e organizações não governamentais.

A afirmação da autora nos leva a observar que é possível perceber um

propósito subliminar, algo “oculto” por detrás do escrito na forma da lei.

Essa intencionalidade é percebida conforme demonstra Melo:

[...] há uma sutil, porém essencial diferença entre compartilhar a gestão e democratizar a gestão. O que vem sendo posto pelas políticas de governo é o primeiro conceito, como concessão de um poder maior, com o objetivo de envolver as pessoas e buscar aliados de “boa vontade” que se interessem em “salvar a escola pública" (2004, p. 246).

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Com a gestão escolar proposta na LDBEN/9394, a comunidade escolar passa

a ter a responsabilidade de gerir a escola, enfocando alguns direitos e propondo que

todos participem nas decisões da instituição educativa.

Existe todo um movimento da mídia convocando a comunidade a dar sua

contribuição por meio do trabalho voluntário, como nos explicita Melo a seguir:

Essa concepção vem se expressando em vários programas de governo ou de seus parceiros, alguns com ostensivo apoio de grande mídia. Podemos citar os “Amigos da Escola”, voluntários que em seu tempo livre assumem as mais diversas tarefas escolares, programa coordenado pela Rede Globo, porém com toda a estrutura e rede de informações fornecidas pelo governo federal (MELO, 2004, p. 247).

Dessa maneira, o governo repassa o gerenciamento – na figura do gestor,

que é o mesmo diretor e a mudança mais significativa tem sido só na nomenclatura

– e também o financiamento da escola e exclui-se da sua obrigação como

mantenedor. Enfim, o neoliberalismo repassa responsabilidades e a falsa ideia de

autonomia às instituições educativas, como assim nos elucida Hetkowski:

A tendência ideológica neoliberal, a cada dia, fica mais visível na educação, à medida que as políticas educacionais consideram as questões básicas educacionais como, simplesmente, questões técnicas derivadas de eficácia/ineficácia, eficiência/ineficiência na gestão e administração dos recursos materiais e humanos, gerando um processo de deslocamento da gestão com aparência de descentralização que, na verdade, descaracteriza a forma do sistema atual (2007, p. 143).

As empresas seguem a agenda neoliberal e a gestão escolar também vem

acompanhada de elementos ideológicos dominantes com a finalidade de repetir

dentro da escola o modelo de sociedade vigente. Por meio de uma competição

“positiva” entre instituições educativas, nos seus variados níveis, instauram-se

instrumentos de avaliação do rendimento escolar. Percebe-se uma semelhança

entre gestão empresarial e gestão educacional.

A LDBEN de 1996 mudou o conceito de educação para o de formação,

ocasionando uma transferência de responsabilidade para a sociedade civil e essa

sutil mudança indica que a educação pode ser obtida em diferentes espaços de

socialização, não somente na escola, em particular a pública. Entidades públicas

não governamentais são utilizadas pelo governo, convidando a iniciativa privada a

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compartir as incumbências educacionais, reiterando que, se a educação é assunto

público, essa questão não é estritamente estatal.

Os princípios que norteiam a Gestão Democrática estão alicerçados em:

descentralização: administração, decisões e ações devem ser elaboradas

e executadas de forma não hierarquizada;

participação: todos os envolvidos no cotidiano escolar devem participar

da gestão: professores, estudantes, funcionários, pais ou responsáveis,

participantes de projetos na escola, além da comunidade do entorno da

escola;

transparência: todas as decisões e ações tomadas ou implantadas na

escola devem ser de conhecimento de todos.

A gestão democrática tem em sua formação alguns componentes básicos:

constituir o Conselho Escolar; elaborar o PPP (projeto político-pedagógico) de modo

participativo e coletivo; definir e fiscalizar as verbas da escola através da

comunidade escolar; divulgar, de forma transparente, a prestação de contas; a

avaliação institucional da escola, professores, dirigentes, estudantes, equipe técnica;

e, por fim, a eleição direta para diretor/a. A esse respeito:

A descentralização administrativa, característica integrante das reformas educacionais propostas pelos organismos multilaterais, prevê a autonomia da escola apenas em nível de execução. Isso significa dizer que o gerenciamento interfuncional, ou seja, “aquele que olha para frente e direciona as melhorias” não deve ser descentralizado, o que exclui a escola de qualquer possibilidade de “determinar a direção que o navio vai navegar”, indicando então que, no que diz respeito à gestão da qualidade total na educação, a descentralização administrativa se dá apenas nas tarefas secundárias (SOUZA, 2001, p. 48).

Conforme a citação acima, a gestão democrática diz respeito à autonomia e à

participação e leva-nos a fazer algumas indagações: Existe mesmo autonomia?

Participação e autonomia estão interligadas? A descentralização não teria sido

uma mera forma de transmissão de responsabilidades que até então eram do

governo e que agora foram repassadas à sociedade?

Não há dúvida de que os princípios de descentralização, participação e

transparência necessitam ainda ser amadurecidos e vivenciados dentro das

instituições escolares. Segundo Viriato (2004), é necessário redefinir o papel que

cada instância governamental desempenha – seja federal, estadual e/ou municipal –

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para que, articuladas, prestem os serviços educacionais e contem com a

participação política da sociedade organizada. Ainda, segundo a autora, é preciso

diferenciar descentralizar e desconcentrar, como veremos a seguir:

[...] descentralizar significa redistribuir o poder central, envolvendo necessariamente alterações nos núcleos de poder, que levam a uma maior distribuição do poder decisório até então centralizado em poucas mãos, ao passo que desconcentrar significa delegar determinadas funções à comunidade local, mantendo centralizadas as decisões sobre os aspectos financeiros, administrativos e pedagógicos.

A implementação de políticas educacionais privilegiando a desconcentração e rotulando-a de descentralização, além de não ameaçar as estruturas já consolidadas, favorece o discurso de governos populistas que adotam um discurso democrático, camuflando de fato sua base centralista e autoritária e o processo de desobrigação do Estado de seu papel de mantenedor da escola pública (2004, p. 47).

Como se pode observar, enquanto não houver a superação do capitalismo, na

prática não existirá transformação efetiva na distribuição do poder decisório.

Somente por meio da socialização do poder, conjuntamente com a socialização da

participação política, é que será possível consolidar o modelo de gestão democrática

no sistema educacional.

Para Libâneo et alii (2005), o conceito de participação está fundamentado no

princípio da autonomia, representando a capacidade das pessoas e dos grupos para

a livre determinação de si mesmos, conduzindo sua própria vida. O autor ainda

pondera que a autonomia se opõe às formas autoritárias de tomada de decisão, que

sua concretude nas instituições ocorre através da participação na escolha de

objetivos e processos de trabalho, bem como na construção conjunta do ambiente

de trabalho. Para o referido autor, o que fundamenta a concepção democrático-

participativa de gestão escolar é a autonomia.

Repensar a participação da comunidade escolar, na qual, no exercício do

diálogo e na experimentação da democracia, todos tenham que decidir e agir

tornando-se partícipes de sua história, resulta em uma retomada de postura

rompendo com o modelo tradicional de educação. Para colocar em prática uma

gestão democrática precisa-se de envolvimento, participação e colaboração dos

sujeitos envolvidos:

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Portanto, a prática de gestão político-pedagógica, devido ao seu caráter educativo e socialmente mobilizador, pode abrir espaços para reestruturar o poder de decisão junto das comunidades educacionais envolvidas (nos Conselhos de Escola, nas Associações de Pais e Mestres, nas Comunidades de bairro), potencializando e refinando procedimentos decisórios democráticos constituintes das práticas sociais capazes de influenciar na definição de políticas de interesses públicos e de realização humana (ROSSI, 2001, p. 1).

Necessita-se de uma gestão participativa que leve o gestor a debater todas as

ações e intervenções a serem executadas na escola, a fim de satisfazer aos

interesses sociais. Isso diz respeito a repensar a escola como espaço democrático e

no qual ocorra a troca e produção de conhecimento.

De acordo com Alonso (1988), esse é o desafio a ser enfrentado neste novo

contexto educacional pelos profissionais da educação, mais especificamente pelo

gestor escolar, pois ele é o maior articulador desse processo e desempenhará papel

de suma relevância na organização do processo de democratização da escola.

Assim sendo, caberá ao gestor escolar propiciar situações que possibilitem o

rompimento da dicotomia entre teoria e prática, reavaliando sua postura de

administrador escolar. Para a efetivação de uma gestão mais democrática e

participativa, é necessário desconstruir paradigmas petrificados pelo tempo e buscar

uma mudança de pensamento, de postura e de ações que priorizem o bem coletivo,

que culminará na melhoria do processo de ensino-aprendizagem:

A proposta de administração colegiada se insere no contexto de uma concepção democrática de administração. Seu pressuposto fundamental é que a estratégia para a promoção de uma forma qualitativa de tomada de decisões, no interior da escola e, consequentemente, na sociedade, é o da participação co-responsável. A participação favorece a experiência coletiva ao efetivar a socialização de decisões e a divisão de responsabilidades. Ela afasta o perigo das soluções centralizadas e dogmáticas desprovidas de compromisso com os reais interesses da comunidade escolar, efetivando-se como processo de co-gestão. A participação constitui-se, pois, em elemento básico de integração social democrática (PRAIS, 1994, p. 84).

Dentro de uma escola na qual a gestão é democrática, todos são

responsáveis. Paro (1997, p. 17) coloca que, “[...] como todo processo democrático,

a participação da comunidade na escola é um caminho que se faz ao caminhar, o

que não elimina a necessidade de refletir previamente a respeito dos obstáculos e

potencialidades que a realidade apresenta para a ação”.

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Com a descentralização, o poder, que estava sob responsabilidade do gestor

escolar, passa a ser partilhado por todo o colegiado. A comunidade escolar participa

da realidade vivida, refletindo e tomando decisões coletivas.

3. Implementação

No decorrer dos meses de setembro a dezembro de 2011 ocorreu a

intervenção na escola, organizada pela professora PDE e a professora orientadora

da ISEs, como um dos projetos de extensão da UNIOESTE/Foz. A certificação

recebida pelos participantes foi de 40 horas, contribuindo em seu plano de carreira.

A implementação foi intitulada “Gestão Escolar e o Papel do Pedagogo na

Escola Pública”, e iniciou com a exposição ao colegiado, demonstrando-se a

intencionalidade do projeto a fim de motivá-los a participar dos grupos de estudos.

Devido às diversas atividades previamente assumidas, somente dez profissionais

realizaram os estudos propostos.

Inicialmente fez-se uma explanação dos projetos: “Discussão e participação

do colegiado em busca da gestão democrática na escola pública” e “Supervisionar

ou construir coletivamente um projeto educativo emancipatório – Qual é o papel do

pedagogo?”.

As demais etapas da intervenção do grupo de estudos envolveram: a) abordar

os aspectos legais contidos na Constituição Federal e na LDBEN 9394/96; b)

analisar o contexto político brasileiro sobre as políticas públicas vigentes e refletir

sobre suas consequências; c) refletir sobre os conceitos de democracia e gestão

escolar; d) repensar o real papel do supervisor escolar, suas atribuições e sua

função social dentro da escola; e) analisar as especificidades do papel do pedagogo

bem como a identidade deste profissional; f) analisar as funções desempenhadas no

cotidiano escolar; g) reconhecer a unidade entre o trabalho dos gestores da

instituição educativa e equipe pedagógica.

Os estudos envolveram leituras de autores renomados no meio acadêmico:

Vitor H. Paro, Edaguimar Orquizas Viriato, Sofia Lerche Vieira, Mary Rangel, José

Carlos Libâneo e Acácia Z. Kuenzer.

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O projeto de extensão, com a participação de gestores, docentes e

pedagogos, buscou aprofundar as relações entre educação e as políticas

educacionais. Foi questionada a especificidade do papel do pedagogo bem como

alternativas para a melhoria de sua atuação em nossas instituições. Após as leituras

referendadas, os participantes foram instigados a contribuir, relatando suas

vivências escolares, interagindo com os demais e ampliando sua leitura sobre o

tema proposto. Foram utilizados vídeos sobre o ambiente educativo, a título de

retratar a escola dentro de sua especificidade.

A implementação cumpriu com os objetivos estabelecidos, tanto no

aprofundamento teórico-científico sobre a temática, como no propósito de lançar aos

participantes o desafio de trabalhar em prol de uma gestão democrática.

4. Conclusão:

É preciso reconhecer que tanto gestores quanto educadores têm um desafio a

ser enfrentado: refletir o respeito ao coletivo, rever sua postura, buscar formas

diferenciadas de atuação e, principalmente, compartilhar responsabilidades.

Espera-se que o referido projeto tenha contribuído para uma mudança de

postura dos docentes, no intuito de que ampliem a visão do seu trabalho e da

necessidade de sua efetiva participação em busca de uma escola com maior

autonomia e na construção de uma verdadeira gestão democrática.

Engajar-se na construção de uma escola democrática que promova a

participação de todos os segmentos que a compõem, tendo como finalidade a

melhoria na qualidade do ensino e a formação de cidadãos nos aspectos político,

social e humano, esse deve ser o objetivo precípuo a ser alcançado.

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