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Publicação do Deputado Federal Antonio Bulhões Informativo Parlamentar n o 76 (ago-set/2015) EDUCAÇÃO NO BRASIL. Discurso proferido em 26/08/2015 pelo deputado Antonio Bulhões Às vezes acontece de você já conhecer uma realidade e mesmo assim ficar triste ao ser lembrado dela. Nós já sabemos que o sistema educacional brasileiro deixa a desejar em muitos aspectos. Da população de 25 a 34 anos, só 13% têm educação superior completa e apenas 57% concluíram o ensino médio. Esses são só alguns dos nossos lamentáveis números - não vamos nem falar daqueles dos exames internacionais. Sim, a situação da educação brasileira, eu já a conhecia. Mesmo assim, alguns textos recentes veiculados na imprensa me causaram genuína consternação. Fatos Demonstram que aprendemos a atacar a miséria, mas somos incompetentes em melhorar a educação”. Um deles foi a entrevista com o economista Ricardo Paes de Barros, publicada na edição 896 da revista Época, de 10 de agosto. Ele diz que "a crise da educação é mais grave do que a da pobreza". E explica: a parcela de brasileiros em situação de extrema pobreza caiu de 15% para 3% desde o ano 2000, mas a parcela de analfabetos teve queda menor, de 12% para 9%. Ou seja, hoje, "os problemas da educação atingem muito mais gente do que a pobreza", como diz Barros. E sugere que esses números demonstrariam, ainda, que já sabemos atacar a miséria, mas temos uma "incompetência" em melhorar a educação. Tal diagnóstico me entristece e me preocupa muito. Como se não bastasse, o INEP divulgou um levantamento dos dados do ENEM 2014, em 5 de agosto. Em comparação com os de outros anos, houve piora no desempenho em Matemática, embora tenha havido melhora em outras áreas do conhecimento. Mas triste mesmo é saber que, das mil escolas com os melhores resultados, somente 93 são públicas. Isso mostra que continua existindo um abismo entre quem pode e quem não pode pagar por educação no Brasil. Esses diagnósticos, vindo assim juntos, causam impacto. Outros países estão avançando em educação, e rápido, enquanto nós marcamos passo. A Coreia do Sul deu um salto, 64% da população mais jovem de lá já completa a universidade, muito mais que há algumas gerações. Aqui no Brasil, continuamos em só 13%, como já citei. As crianças de países asiáticos como a Coreia estão estudando mais anos que as nossas, mais dias por ano, mais horas por dia, e em escolas melhores. Na Câmara e em outras instâncias de decisão, precisamos nos responsabilizar e discutir soluções. Já decidimos aumentar o aporte de recursos públicos à educação, agora o Estado precisa gastá-los bem. O próprio Ricardo Paes de Barros indica, na entrevista para Época, alguns caminhos. Diz que os Municípios precisam copiar uns dos outros as práticas que dão certo em educação. Acrescenta que o preconceito contra o setor privado tem barrado avanços educacionais. Propõe que seja testado o modelo das charter schools, escolas que recebem verbas do Estado, mas que operam fora do sistema público. E ressalta que as metas do Plano Nacional de Educação são pouco ambiciosas. Eu só queria fazer o registro das más notícias e dizer que isso não pode continuar. Eric Hanushek, economista norte-americano especialista em educação, já chegou a dizer sem nenhum dó: "Com o baixo nível apresentado pelos alunos brasileiros hoje, as chances de a economia deslanchar são mínimas". E ele não é o único. Outros especialistas concordam com o veredito. Até Bill Gates já chegou a dizer que o maior obstáculo à inovação na América Latina é a educação, pondo em segundo plano outras variáveis, como estabilidade econômica e segurança jurídica. O Brasil não vai mais crescer se não tivermos educação de qualidade. A crise econômica que vivemos agora é exatamente uma prova disso. Tentamos crescer à base de exportação de commodities, como petróleo, ferro e produtos agrícolas, e vejam no que deu. Neste Número: O Fascismo do bem .................................. Pg. 02 Escolas Militarizadas ............................... Pg. 03 A descriminalização das drogas .............. Pg. 04

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Publicação do Deputado Federal Antonio Bulhões Informativo Parlamentar no 76 (ago-set/2015)

EDUCAÇÃO NO BRASIL.

Discurso proferido em 26/08/2015 pelo deputado Antonio Bulhões

Às vezes acontece de você já conhecer uma realidade e mesmo assim ficar triste ao ser lembrado dela.

Nós já sabemos que o sistema educacional brasileiro deixa a desejar em muitos aspectos. Da população de 25 a 34 anos, só 13% têm educação superior completa e apenas 57% concluíram o ensino médio. Esses são só alguns dos nossos lamentáveis números - não vamos nem falar daqueles dos exames internacionais.

Sim, a situação da educação brasileira, eu já a conhecia. Mesmo assim, alguns textos recentes veiculados na imprensa me causaram genuína consternação.

Fatos Demonstram

que aprendemos a atacar a

miséria, mas somos

incompetentes em melhorar a

educação”.

Um deles foi a entrevista com o economista Ricardo Paes de Barros, publicada na edição 896 da revista Época, de 10 de agosto. Ele diz que "a crise da educação é mais grave do que a da pobreza". E explica: a parcela de brasileiros em situação de extrema pobreza caiu de 15% para 3% desde o ano 2000, mas a parcela de analfabetos teve queda menor, de 12% para 9%.

Ou seja, hoje, "os problemas da educação atingem muito mais gente do que a pobreza", como diz Barros. E sugere que esses números demonstrariam, ainda, que já sabemos atacar a

miséria, mas temos uma "incompetência" em melhorar a educação. Tal diagnóstico me entristece e me preocupa muito.

Como se não bastasse, o INEP divulgou um levantamento dos dados do ENEM 2014, em 5 de agosto. Em comparação com os de outros anos, houve piora no desempenho em Matemática, embora tenha havido melhora em outras áreas do conhecimento. Mas triste mesmo é saber que, das mil escolas com os melhores resultados, somente 93 são públicas. Isso mostra que continua existindo um abismo entre quem pode e quem não pode pagar por educação no Brasil.

Esses diagnósticos, vindo assim juntos, causam impacto. Outros países estão avançando em educação, e rápido, enquanto nós marcamos passo. A Coreia do Sul deu um salto, 64% da população mais jovem de lá já completa a universidade, muito mais que há algumas gerações. Aqui no Brasil, continuamos em só 13%, como já citei. As crianças de países asiáticos como a Coreia estão estudando mais anos que as nossas, mais dias por ano, mais horas por dia, e em escolas melhores.

Na Câmara e em outras instâncias de decisão, precisamos nos responsabilizar e discutir soluções. Já decidimos aumentar o aporte de recursos públicos à educação, agora o Estado precisa gastá-los bem.

O próprio Ricardo Paes de Barros indica, na entrevista para Época, alguns caminhos. Diz que os Municípios precisam copiar uns dos outros as práticas que dão certo em educação. Acrescenta que o preconceito contra o setor privado tem barrado avanços educacionais. Propõe que seja testado o modelo das charter schools, escolas que recebem verbas do Estado, mas que operam fora do sistema público. E ressalta que as metas do Plano Nacional de Educação são pouco ambiciosas.

Eu só queria fazer o registro das más notícias e dizer que isso não pode continuar. Eric Hanushek, economista norte-americano especialista em educação, já chegou a dizer sem nenhum dó: "Com o baixo nível apresentado pelos alunos brasileiros hoje, as chances de a economia deslanchar são mínimas".

E ele não é o único. Outros especialistas concordam com o veredito. Até Bill Gates já chegou a dizer que o maior obstáculo à inovação na América Latina é a educação, pondo em segundo plano outras variáveis, como estabilidade econômica e segurança jurídica.

O Brasil não vai mais crescer se não tivermos educação de qualidade. A crise econômica que vivemos agora é exatamente uma prova disso. Tentamos crescer à base de exportação de commodities, como petróleo, ferro e produtos agrícolas, e vejam no que deu.

Neste Número:

O Fascismo do bem .................................. Pg. 02 Escolas Militarizadas ............................... Pg. 03 A descriminalização das drogas .............. Pg. 04

Informativo Parlamentar 02

O FASCISMO DO BEM.

Discurso proferido em 29/09/2015 pelo deputado Antonio Bulhões

Vivemos uma época em que certas pessoas se descobriram incumbidas de trazer à luz de uma nova era a população que vive o dia a dia de uma rotina "bem comezinha". Essa população vive para melhorar o próprio destino e não tem muito interesse em revolucionar as tradições que existem há séculos.

Na realidade, o cotidiano dessas pessoas relata uma vida que se chamaria de humilde. Não é humilde porque seria pobre. É humilde, porque intuem que a vida é muito complexa para a compreensão humana. Têm a sabedoria de que destruir valores e tradições é mais fácil do que saber o que se porá no lugar.

Essas pessoas preferem um arcabouço social que vá aperfeiçoando-se com o tempo a uma mudança repentina. Mas existem outras que parecem ter nascido precoces. Têm uma enorme pressa para fazer da Terra o paraíso. Para estes, os fins justificam os meios. O avanço da tecnologia os deixa mais apressados. Como têm muita fé nas próprias convicções, fazem de tudo para impor aos outros as próprias ideias. Acreditam que encarnam a própria virtude. Como querem conquistar novos fiéis, usam de todos os meios, ainda que precisem iludir o caminho. São modernos fascistas do bem. Fascismo do bem seria uma contradição lógica. Se é fascismo, não pode ser bom. Se a causa que defende é boa, então não se deve fraudar os meios para chegar ao fim ideal. Para aqueles imbuídos da missão de propagandear a boa nova, não importa iludir o caminho para chegar ao destino imaginado. Eles não se percebem fascistas por isso. A humildade em agir não lhes impressiona, porque para eles os opressores são sempre os outros.

“Não devemos acreditar como verdades puras o que se ouve nas televisões e nas pesquisas. Sempre se pode fraudar

quando se quer um determinado resultado.”

Eles sequer consideram que agem como fascistas, porque não se imaginam como nazistas. Mas não vinculam que os nazistas eram fascistas porque fraudavam a realidade. Os fascistas daquela época atribuíam o fracasso da política à ganância exagerada de judeus e da burguesia. O resultado que provocaram é bastante conhecido.

Mas agora surge um novo tipo de fascista, que não está mais pensando em deixar a humanidade livre da opressão material de uma minoria. Eles querem libertar a humanidade de uma opressão mais sutil, a opressão de uma mentalidade que eles decretaram preconceituosa.

Como se consideram modernos guias morais, não admitem que pessoas comuns não compartilhem das mesmas ideias. Para que

a nova ordem moral prevaleça, os modernos fascistas se utilizam de qualquer meio para vencer.

Foi o que vimos a respeito do Projeto de Lei na Câmara dos Deputados sobre o Estatuto da Família. O futuro Estatuto entrou nas discussões finais neste ano. Como será uma lei que regulará a conduta da vida particular na nossa sociedade, é claro que alguns temas são espinhosos. Um desses é sobre o reconhecimento das uniões homoafetivas como núcleo familiar.

A PESQUISA

A sociedade e o Congresso Nacional sabem que esse é um tema muito polêmico, porque envolve valores que formaram a sociedade brasileira. Sabedores de que a Câmara reúne os representantes do povo e não os seus senhores, os Deputados resolveram ouvir a opinião direta da população para decidirem.

O Portal da Câmara organizou uma pesquisa virtual para saber como a sociedade se posicionava no tema. A Câmara demonstrou humildade, porque sabe que o tema envolve profundas convicções sociais e ela não deve decidir apenas a partir de premissas teóricas. Mas os fascistas do bem acham que o respeito à opinião dominante é desnecessária, porque ela é ignorante. Mesmo que seja ignorante, um moralista verdadeiro tentaria influenciar o senso comum utilizando métodos honestos.

A FRAUDE

Os fascistas do bem não se preocupam com a honestidade do debate. Eles querem apenas vencer, ainda que para isso fraudem a discussão. Foi o que aconteceu com a enquete sobre a definição de família. A pergunta que se fazia, no ano passado, era se a população concordava em a família ser definida a partir do núcleo formado entre um homem e uma mulher. Inicialmen-te, e com mais de 1 milhão de participações, a enquete apresen-tava que 63% da população concordava com o texto do Projeto.

Entretanto, no ano seguinte e com mais de 10 milhões de votos, o resultado mudou substancialmente. Apurou-se que 51,62% dos votos seriam contra a definição proposta pelo Projeto do Estatuto da Família. Esse resultado não traria qualquer desconfiança se não fosse descoberta uma suspeita grave de fraude. Foi constatado que mais de 3 milhões de votos na opção “não” vieram apenas de 66 computadores. Desses votos negativos, mais de 1,5 milhão vieram somente de uma máquina.

A falta de freios morais de honestidade dos fascistas do bem atingiu um paroxismo. Apenas um computador na cidade de Garanhuns votou 122 mil vezes na opção "não" no dia 19 de julho de 2015. Nem sequer se preocuparam em fazer o engodo verossímil. Garanhuns é uma cidade com 112 mil habitantes. Como podemos acreditar que um só computador da cidade possa registrar, enquanto durou a enquete, mais de 260 mil votos contrários?

A convicção de fazer a tese vencedora fez esses fascistas do bem se tornarem uns fraudadores sem noção. De um computador em uma cidade nos Estados Unidos, com 8.500 habitantes, partiram 216 mil votos "não". Quando o fanatismo contamina a razão, as pessoas perdem o limite de enganar.

Essa é uma lição que devemos tirar para a nossa vida. Não devemos acreditar como verdades puras o que se ouve nas televisões e nas pesquisas. Sempre se pode fraudar quando se quer um determinado resultado. Por isso, devemos sempre perguntar sobre como se chegou a tal resultado. Podemos acreditar, mas devemos exigir poder verificar.

Antonio Bulhões Deputado Federal / PRB-SP

Informativo Parlamentar 03

ESCOLAS MILITARIZADAS

Discurso proferido em 12/08/2015 pelo deputado Antonio Bulhões

Uma matéria trazida pelo jornal Folha de S. Paulo, nesta semana, informa que cresce no Brasil o número de esco-las públicas geridas pela Polícia Militar. Interessante sobre isso é o que pensam os pais sobre essa política pública. Para desconforto dos modernosos, os próprios pais apoiam e demandam mais escolas com esse sistema.

Os professores sindicalizados, egressos das faculdades de educação, são contra e procuram confundir ordem com autoritarismo. Não sei se criticam por erro de avaliação ou por uma visão ideológica de que toda ordem e disciplina é repressão. Irônico dessa argumentação é que os ideólogos vêm pregando há tempos que é função da escola educar as crianças. O que é ser uma criança educada?

Se educação é ensinar matérias técnicas ou educar para a cidadania, claro que um pré-requisito para isso é o aluno saber ser disciplinado. Ninguém consegue dominar as quatro operações se não tiver a disciplina de muito treinar fazer as contas. Além do mais, alunos indisciplinados não apenas se prejudicam; atrapalham os outros, enquanto o professor explica o conteúdo.

“Em 9 Estados, as escolas geridas pelas Polícias ficaram em 1º lugar entre as estaduais no ENEM.”

Atualmente, 18 Estados têm escolas conduzidas pela Polícia Militar. Os militantes criticam a iniciativa desses governos, com palavras empoladas, mas que não ligam causa com consequência. Usam a velha retórica já denunciada de como vencer um debate sem precisar ter razão.

Argumentam que ter a PM gerindo as escolas é declarar a impotência da gestão educacional democrática. Se as palavras fazem sentido, a militância considera que uma sociedade ordeira não é democrática, mas mesmo assim assumem o fracasso da gestão regular das escolas públicas. O que estaria errado: a ordem ou o desempenho das escolas?

Ainda que a retórica militante denuncie essa revolução na gestão do ensino público, essa política parece que veio para ficar. Não é que os governos queiram militarizar os alunos. Ela veio para ficar porque é uma demanda crescente das famílias e porque os resultados apresentados justificam a preferência dos pais. Em nove Estados, as escolas geridas pelas Polícias Militares ficaram em primeiro lugar entre as estaduais no ENEM.

Essa realidade é a prova do sucesso. Uma família pobre que quer o progresso dos filhos não tem dúvidas em optar pelas escolas da polícia. Essas famílias sabem que não podem tomar conta dos filhos continuamente, porque trabalham. Quando a polícia administra a escola, os pais ficam tranquilos, porque os filhos estarão protegidos e orientados sobre a responsabilidade de ter disciplina no trabalho e na vida.

O fato alvissareiro desse sistema não é a militarização em si; é a implantação da ordem no ambiente público escolar. Isso não precisaria ser feito pela polícia, mas os professores saem das universidades achando que liberdade é uma ordem sem obrigação ou um direito sem sanção.

Com retórica acusatória, alguns ideólogos dizem que educação não se resume a ter, de um lado, bagunça e de outro, ordem. Apenas silenciam sobre como a bagunça e o desrespeito resultam em perda de tempo para o jovem.

É concepção da educação ultrapassada que tem causado muito prejuízo ao nosso aprendizado. Mesmo assim, insistem em dizer que o ENEM e o IDEB não são os princi-pais instrumentos de avaliação. Esquecem apenas de con- trapor o sucesso da própria ideologia com a classificação do Brasil no teste internacional de qualidade da educação.

Para que serve a escola então? É para doutrinar ou para dar os instrumentos intelectuais que permitam à pessoa decidir no futuro o melhor caminho? Hanna Arendt já dizia, na metade do século XX, que os adultos devem assumir a responsabilidade de conduzir as crianças por caminhos que elas desconhecem. Para ela, a função da escola é ensinar como o mundo é. A sua tese é a favor da autoridade na sala de aula e sua visão educativa é assumidamente conservadora.

Esses argumentos da principal filósofa do século XX devem causar estremecimentos nos nossos orientadores educacionais. Como se vê, Arendt entende que educação não é dialógica. É disciplinada e orientada de quem sabe para quem precisa aprender. É o que dá resultado como demonstram as escolas geridas pelas Polícias Militares.

Antonio Bulhões Deputado Federal / PRB-SP

Acompanhe os projetos do deputado.

Acesse PROJETOS em:

www.deputadoantoniobulhoes.com.br

Informativo Parlamentar 04

A DESCRIMINALIZAÇÃO DAS DROGAS

Discurso proferido em 09/09/2015 pelo Deputado Antonio Bulhões

O Supremo Tribunal Federal julga recurso extraordinário, com repercussão geral reconhecida, que visa a declarar a incons-titucionalidade do art. 28 da Lei 11343/2006, Lei Antidrogas.

O art. 28 define como crime adquirir, guardar, ter em depósito, transportar ou trazer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. São três as penalidades previstas: advertência sobre os efeitos das drogas; prestação de serviços à comunidade; e medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. Na prática, o Supremo Tribunal Federal pode vir a considerar legal, em todo o País, o porte de drogas para consumo. Minha posição é veementemente contrária à descriminalização das drogas, por um conjunto de razões.

Em primeiro lugar, o consumo de drogas ilícitas, mesmo as consideradas "leves", é extremamente perigoso para saúde. Falemos da cannabis, que é o entorpecente mais consumido no mundo. Os fatos: a maconha causa dependência química (cerca de 9% dos que a consomem tornam-se dependentes, entre os que a consomem diariamente, esse percentual pode chegar a 20%); na fumaça da maconha encontram-se mais de cinquenta substâncias cancerígenas; diversos estudos demonstram uma associação do uso da maconha com distúr-bios psiquiátricos, como ansiedade, psicose, piora do quadro de pessoas com transtorno bipolar e dificuldade de memória.

“Embora nossa lei discipline adequadamente a questão dos entorpecentes, falta sua aplicação efetiva, combate firme ao tráfico, campanhas de

prevenção e tratamento dos dependentes.”

E o que dizer de substâncias como cocaína, heroína, crack, e tantas outras. Quem tem experiência com dependentes químicos sabe a destruição que promovem na vida de um indivíduo e de sua família: chega a um ponto em que a pessoa não é mais capaz de estudar ou trabalhar, perde os seus bens e acaba praticando crimes para sustentar o vício, fica em estado emocional totalmente desequilibrado, prati-cando atos violentos, inclusive contra seu cônjuge e filhos.

Em virtude dos impactos na saúde do indivíduo e na saúde pública, a Associação Brasileira de Psiquiatria, a Federação Nacional dos Médicos, a Associação Médica Brasileira e o

Conselho Federal de Medicina manifestaram-se, mediante nota oficial, contrários à descriminalização do porte e uso de drogas no País.

Voltemos nossa atenção novamente ao artigo contestado no Supremo Tribunal. De início, vê-se que a nova legislação já não comina penas de restrição de liberdade aos usuários de drogas. As sanções previstas em lei, como já disse, são advertência, serviço comunitário e programas educativos. Eu lhes pergunto: será que é ruim informar o usuário a respeito dos efeitos dessas substâncias? Será que é abominável que ele seja submetido à prestação de serviços à comunidade? Seria muito cruel incluí-lo em programa ou curso educativo sobre drogas?

A resposta, obviamente, é não. A lei brasileira disciplina adequadamente a questão dos entorpecentes. O que falta é sua aplicação efetiva, com o combate firme ao tráfico dessas substâncias, campanhas de prevenção e o tratamento dos dependentes químicos, conforme reza o § 7º do citado artigo, que preceitua ser dever do Estado fornecer gratuitamente tratamento especializado aos usuários de drogas.

Precisamos, sim, considerar crime o uso de drogas ilícitas, para deixar patente o seu caráter deletério e para inibir o consumo. As sanções aplicáveis têm a finalidade de afastar os brasileiros e as brasileiras para bem longe dos alucinógenos.

Exorto os Ministros do Supremo Tribunal Federal a julgar com sabedoria e prudência o Recurso Extraordinário 635659. Estou certo de que decidirão conforme o Direito pátrio e manterão a validade do dispositivo impugnado. Uma nação se faz com trabalho e engenho, com cidadãos saudáveis, aptos física e intelectualmente. Pensemos nisto.

Antonio Bulhões Deputado Federal / PRB-SP

“O impossível só é visto na vida daquele que não desiste.”

Antonio Bulhões

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