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71 Via Teológica | Gleyds Silva Domingues, Vol. 13, n.25, jun.2012, p. 71 - 91 DISCURSO POLÍTICO E O CONCEITO DE QUALIDADE NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA Gleyds Silva Domingues 1 Resumo O discurso político e a qualidade na educação é um tema que traz em seu interior uma multiplicidade de interpretações associadas à intencionalidade e ao sentido. Ao abordar a questão da qualidade na educação e a forma como ela vem-se materializando na prática social, torna-se um indicativo para tecer leituras sobre os processos de desenvolvimento e formação humana, perseguidos na forma de índices percentuais pelos órgãos oficiais. Nessa direção, a tentativa que se propõe o artigo volta-se para analisar a própria constituição do termo qualidade educacional e sua inserção nos discursos oficiais, principalmente associados ao sistema de avaliação e aos programas de financiamento e subvenção de recursos. Apresenta-se, aqui, uma crítica inicial que deve servir como ponto de partida para novos estudos e aprofundamentos sobre o papel das políticas educacionais e a forma como se concretizam na realidade social. Afinal, a educação é um dos caminhos para a transformação social e para a emancipação dos sujeitos históricos, bem como de sua inserção como agentes críticos da realidade circundante. Essa, portanto, deveria ser a aposta e o compromisso com os rumos da educação brasileira na formação da cidadania e da autonomia das novas 1 Doutoranda em Teologia, EST. Bolsista da CAPES. Mestre em Educação. Professora da Faculdade Teológica Batista do Paraná.

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71Via Teológica | Gleyds Silva Domingues, Vol. 13, n.25, jun.2012, p. 71 - 91

DISCURSO POLÍTICO E O CONCEITO DE

QUALIDADE NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Gleyds Silva Domingues1

Resumo

O discurso político e a qualidade na educação é um tema

que traz em seu interior uma multiplicidade de interpretações

associadas à intencionalidade e ao sentido. Ao abordar a questão da

qualidade na educação e a forma como ela vem-se materializando

na prática social, torna-se um indicativo para tecer leituras

sobre os processos de desenvolvimento e formação humana,

perseguidos na forma de índices percentuais pelos órgãos oficiais.

Nessa direção, a tentativa que se propõe o artigo volta-se para

analisar a própria constituição do termo qualidade educacional

e sua inserção nos discursos oficiais, principalmente associados

ao sistema de avaliação e aos programas de financiamento e

subvenção de recursos. Apresenta-se, aqui, uma crítica inicial

que deve servir como ponto de partida para novos estudos

e aprofundamentos sobre o papel das políticas educacionais

e a forma como se concretizam na realidade social. Afinal, a

educação é um dos caminhos para a transformação social e para

a emancipação dos sujeitos históricos, bem como de sua inserção

como agentes críticos da realidade circundante. Essa, portanto,

deveria ser a aposta e o compromisso com os rumos da educação

brasileira na formação da cidadania e da autonomia das novas

1 Doutoranda em Teologia, EST. Bolsista da CAPES. Mestre em Educação. Professora da Faculdade Teológica Batista do Paraná.

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gerações.

Palavras-chave: Discurso; Qualidade; Política; Educação.

Abstract

The political discourse and the quality of education is a theme

that brings in its interior a multiplicity of interpretations associated

with intentionality and meaning. In addressing the issue of

quality in education and how it has been materialized in social

practice, it is an indication to make readings on the processes

of human development and education, pursued in the form

of percentage rates by the official organizations. Thus, the attempt

which aims the article turns to analyze the constitution of the term

education quality and its inclusion in official speeches, mainly

associated with the evaluation system and the funding programs

and grant resources. We present here an initial critique that

should work as a starting point for new studies and reflections on

the role of educational policies and the way they are materialized

in social reality. After all, education is one of the path to social

transformation and emancipation of historical subjects, as well as

of its insertion as critical agents of the surrounding reality. This,

therefore, should be the bet and the commitment to the direction

of Brazilian education in the formation of the citizenship and the

autonomy of future generation.

Key words: Speech; Quality; Policy; Education.

Introdução

A abordagem a ser contemplada refere-se ao discurso

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político sobre o conceito de qualidade assumido na educação

brasileira, como forma de legitimar as propostas de reestruturação

do sistema educacional e as medidas advindas das instâncias e dos

órgãos oficiais no âmbito da sociedade civil.

Trata-se, ainda, de compreender como o discurso sobre a

qualidade educacional influi direta ou indiretamente nos rumos,

nas ações e nas decisões pertinentes ao campo de sua abrangência,

quer seja de forma subliminar, efetiva ou flagrada.

O intuito é perceber a intencionalidade demarcada e

permeada em torno de sua complexidade, a qual se corporifica

no estabelecimento de um currículo mínimo definido (quer

seja de ordem estrutural ou organizacional), a ser mediado por

meio da linguagem da qualidade e de mecanismos de avaliação

implantados nos diferentes níveis de ensino.

O conceito de qualidade assume a “roupagem” do novo

a ser perseguido como ideal mensurável, o qual está embutido

nos índices percentuais a serem conquistados, conforme os

patamares propostos, que serão convertidos em padrões de

qualidade estatuídos por autoridades competentes e legais no

âmbito da educação.

A visão difundida soa como a utopia a ser oportunizada

e ref letida nas conquistas sociais e políticas obtidas por

meio de programas públicos de governo, fincados no

assistencialismo, que num primeiro momento, tentam

minimizar ou abrandar as crises sociais estabelecidas pela

desigualdade e exclusão e, que perduram historicamente no

processo educacional brasileiro.

Estar a par desses fatos possibilita ampliar o nível de

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discussão educacional, observando-a em relação às demais

esferas da sociedade civil, na tentativa de perfilar novos

horizontes que aplacam a barreira do descaso provocado por

políticas de cunho fortuito e imediato que não dão conta do

mal gerado economicamente.

Nesse caminhar, surge a necessidade premente de tratar

o problema da qualidade na educação, de forma comprometida

com o viés histórico e social, cujo reordenamento se concretiza na

redefinição de políticas públicas educacionais, que contemplem

não só o emergente, mas o necessário e o excludente, uma vez

que sofrem as consequências das transformações desde suas bases,

advindas da nova era da informação tecnológica.

A nova ordem global instaurada provoca um novo

comportamento na sociedade e que traz à tona a questão dos

valores e da ética a serem reconstruídos no interior de uma visão

de sociedade solidária, que tem como premissa resgatar a essência,

a identidade, a totalidade e as dimensões humana e subjetiva

como prerrogativas do processo de humanização e formação do

homem cidadão.

A tentativa proposta é considerar o discurso no contexto

da sociedade que pensa, diz, critica e contempla as mudanças e as

possíveis retomadas conscientes pela não aceitação da reprodução

e da perpetuação social.A possibilidade é efetivada, quando se

consegue ler as entrelinhas do discurso que passam despercebidas

pela grande maioria e por isso são consideradas como motivo

de euforia e aceitação, em nome do resgate da cidadania e da

qualidade de ensino.

Remeter o discurso à reflexão oportuniza a sua

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desconstrução, com a percepção do que de fato se intenciona,

tanto em nível ideológico e político, direcionados à educação e ao

desenvolvimento humano.

1. A TERMINOLOGIA: implicações conceituais

Na sociedade atual, o termo qualidade está cada dia se

popularizando mais, de tal forma que ele é utilizado para designar

qualquer tipo de comparação material ou imaterial. Há quase que

uma concordância, quando se quer adquirir ou negociar alguma

coisa no mercado, sobre o apelo para a qualidade do produto. A

qualidade é vista como coisa negociável e tangível e, não como

um elemento que contém atributos inerentes e essenciais à coisa.

Nessa perspectiva, a qualidade “se converte em uma

meta a ser compartilhada, no que todos dizem buscar [...],

entretanto, o predomínio de uma expressão nunca é ocioso

ou neutro. Ela vem substituir a problemática da igualdade e

da igualdade de oportunidades”.2

O termo qualidade é definido ainda como “a maneira de ser,

boa ou má, de uma coisa. Superioridade, excelência em qualquer

coisa. Preferir a qualidade à quantidade. O termo quantidade

se refere à qualidade do que pode ser medido ou contado”.3

Isso implica dizer que “a expressão qualidade conota é que algo

distingue um bem ou serviço dos demais que o mercado oferece

para satisfazer as mesmas ou análogas necessidades”.4

2 ENGUITA, Mariano Fernandez. O discurso da qualidade e a qualidade do discurso. In: Neoliberalismo, Qualidade total e educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001, p. 95-96.3 Definição dada no Dicionário Ilustrado, 1993, p. 694.4 ENGUITA, Mariano. Fernandez. O discurso da qualidade e a qualidade do discurso. In: Neoliberalismo, Qualidade total e educação. Petrópolis, RJ: Vozes,

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São perceptíveis as forças ideológicas presentes, embora

sutis, que tentam difundir ou reproduzir um tipo de ação-

comportamento aliados aos interesses de uma classe de poder.

Esse mesmo tipo de relação é percebido ao se deslocar os termos

qualidade e quantidade para o centro do campo discursivo

educacional. O resultado a ser obtido refere-se à ampliação ou à

redução da sua utilização, conforme o enfoque a ser enfatizado.

Isso se torna evidente, quanto às concepções que subjazem e

legitimam a educação no interior das práticas sociais, as quais

contemplam visões de homem, mundo, natureza, cidadania,

cultura, conhecimento e estado.

Dessa forma, fala-se em qualidade na educação respaldada

em mensurações quantificadas. Essa demarcação constitui um

dos eixos principais para compreender as diretrizes norteadoras

da política educacional e da sua efetivação na esfera da escola,

enquanto instância instrumentalizadora do conhecimento

sistematizado e válido.

Esse processo desencadeia na competitividade desenfreada

e acentua a distância entre as classes sociais, diferente do termo

igualdade de oportunidades, que trazia em sua essencialidade a

ideia de comum “a” e “para” todos.

Isso se torna, ainda, mais patente com relação à distinção

realizada entre escolas de natureza pública e privada, em que

a última ganha em qualidade de ensino, competitividade e

confiabilidade de seus clientes consumidores, os quais são

favorecidos pelos serviços prestados.

A mudança de enfoque altera sensivelmente os rumos da

2001, p. 107.

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política educacional, no que diz respeito ao engajamento e à

inserção das maiorias na produção humana, material, científica

e tecnológica. A consequência direta, porém não lógica e nem

qualitativa, é o alijamento e a exclusão do individuo dos processos

produtivos da sociedade tecnológica e o aligeiramento da formação

e do capital cultural, intelectual e material.

Nessa direção, o quantitativo sobressai sobre o qualitativo,

uma vez que uma grande massa populacional encontra-se

desqualificada e sem chances de competir no mercado global.

Esse processo é visto por Kuenzer como a política dos sobrantes.5

Para Bourdieu6, a questão da política dos sobrantes compele

os ingressantes no sistema educacional a contemplá-la como mais

uma instância distante e isenta de possibilidades reais para a sua

inserção competitiva no mercado de trabalho, diminuindo a sua

confiança de progressão e ascensão sociais. Na verdade, se sentem

vitimizados e excluídos por conta da sua desqualificação frente às

inovações no seio da sociedade.

Esse processo desencadeia a reprodução pela via democrática

e incendeia a legitimação social em diferentes instâncias e níveis da

sociedade, na qual os mecanismos legais continuam provocando

a desigualdade entre as classes sociais. Isso permite concluir que

as políticas públicas voltadas à educação “devem ser políticas a

longo prazo, o que supõe que fica assegurada a continuidade das

5 KUENZER, Acácia Zeneida. O ensino médio é agora para vida. Texto mimeografado, 2000. A autora analisa as alterações legais, no tocante ao Ensino Médio e pondera se as mesmas trazem a ruptura entre o ensino propedêutico e o profissional. Ainda pontua sobre o hiato existente na formação e afirma que o processo implantado acentuou a exclusão das maiorias no mercado de trabalho.6 BOURDIEU, Pierre. Escritos na Educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001, p. 219-224.

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opções e a concretização das reformas [...], deve-se ultrapassar a

fase das políticas de vista curta ou as reformas em cascata”,7 as

quais sofrem alterações significativas a cada mudança no poder

governamental.

Dessa forma, há a possibilidade de trabalhar com o real,

visando à transformação, por intermédio da qualidade educacional

voltada para todos, de forma igualitária, democrática e humana.

2. O DISCURSO: da raiz às vertentes

A Constituição Federal do Brasil (CF, 1988) reza em

seu artigo 205, que a educação tem por finalidade o pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da

cidadania e sua qualificação para o trabalho. Nessa ação meta,

compete às políticas educacionais pautarem-se na consecução do

objetivo proposto, apontando caminhos voltados a essa direção.

Uma das iniciativas foi àquela estabelecida pela Comissão

internacional sobre Educação para o século XXI8, a qual teve

como premissa fundamental o estabelecimento de quatro

aprendizagens direcionadas ao fazer, ao conviver, ao conhecer e

ao ser, que se apresentam na forma de pilares do conhecimento.

A preocupação volta-se para a superação da acumulação

quantitativa do conhecimento fragmentado, desnecessário,

conteudista e, distante da realidade do cotidiano, para uma

ação pautada na postura de utilidade e adequação do mesmo ao

7 DELORS, Jacques. Educação um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, 2000, p. 175.8 Ver o relatório para a UNESCO sobre as teses defendidas em Educação para o século XXI, no livro organizado por DELORS, J. Educação um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, 2000.

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mundo, em constante processo de transformação.

Nessa iniciativa, compete considerar a educação inserida

em diferentes contextos, tendo como objetivo a realização e a

formação da pessoa para vida em sua plenitude. Isso porque

“a educação ao longo de toda a vida deve aproveitar todas as

oportunidades oferecidas pela sociedade”.9

A discussão retoma novamente a questão da quantidade,

pois esta ainda ocupa destaque no fazer educacional, em

detrimento da qualidade que não deve ser restrita tão somente

ao ensino, mas ao desenvolvimento e à formação humana.

Sabe-se, entretanto, que para conservar a ordem

estabelecida, um dos mecanismos é a mudança. Mudança

que muitas vezes é direcionada para conservar e reproduzir o

poder legitimado. Por essa razão, cabe aos dirigentes “produzir

o discurso que não diz quase nada a não ser o lugar onde se

articula porque faz parecer essencial”10, isto é, os conflitos e

lutas travados em prol da transformação das relações sociais.

Diante disso, identificam-se as finalidades que se

encontram firmadas no bojo do discurso político educacional e,

que podem ser exteriorizadas na práxis educativa, como ponto

certo de inovação da qualidade pedagógica. Nessa direção, o

discurso caminha em polos contrários, que se complementam

e convivem em constante batalha ideológica, uma vez que parte

da concepção daquele que o idealizou. Afinal, o discurso torna-

se “o meio principal através do qual se constroem versões sobre

9 DELORS, Jacques. Educação um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, 2000, p. 117.10 BOURDIEU, Pierre. Escritos na educação, Petrópolis, RJ: Vozes, 2001, p. 175.

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o que são a mente e o mundo”.11

Uma das vertentes encontradas no discurso refere-se à

necessidade ou não de manutenção do poder legitimado, o qual

está revestido de uma ordem instaurada, em prol do benefício e

da transformação da realidade dada.

O valor da educação vem atrelado às transformações

nos rumos da história do Brasil, cuja tentativa é construir a

identidade de um povo subjugado, por meio da implantação e

da implementação de um sistema educacional, que reconheça

as pluralidades e as diversidades sociais, que se encontram

presentes neste vasto território. E sobre essas diferenças, tracem

estratégias e planos voltados à universalização e ao acesso à

escolarização em grande escala.

O fato de tocar nas feridas brasileiras e mostrar-se estar

conscientes delas, não trazem mudanças e nem mesmo a

inclusão tão desejada, pois só há necessidade de efetivação desses

processos se de fato existe a comprovação do seu contrário, como

poder exercido e concentrado na mão de uma minoria.

A verdade é patenteada no discurso, porém sua condução

possibilita o mascaramento da situação real, por meio de

argumentos e medidas paliativas que oferecem respaldo aceitável

no tratamento do problema elucidado.

Frigotto afirma que:

A ausência de uma efetiva política pública, com investimentos no campo educacional compatíveis com o que representa o Brasil, em termos de geração de riqueza, vai conduzindo a medidas paliativas que reiteram o desmantelamento da

11 COLL, Cesar e EDWARDS, Derek. Ensino, Aprendizagem e Discurso em sala de aula. Porto Alegre: Artmed, 1998, p. 45.

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educação pública em todos os seus níveis.12

A evocação da mudança, a euforia e o entusiasmo são

ferramentas indispensáveis no convencimento e no engajamento

dos ouvintes quanto ao aspecto a ser viabilizado pelas políticas

educacionais. A chamada palavra de ordem incita o desejo de

resgate do orgulho nacional diante de um mundo conectado

globalmente.

A raiz do discurso sustenta e viabiliza uma postura

ideológica, política e social capaz de nortear as ações e diretrizes

que se perpetuam na história, sendo elas utilizadas em grande

escala em um tempo ou sendo ressignificadas em outro momento.

Isso irá depender dos rumos perseguidos e da intencionalidade

pela qual foram criadas.

Isso possibilita olhar na história e encontrar os pontos de

divergência e convergência associados às medidas assumidas pelas

políticas educacionais, as quais foram legitimadas pelas Leis de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), a partir dos

anos 60. Essa revisão pode ser iniciada no princípio fundamental

eleito pela educação, que prossegue na organização, na estrutura

e no funcionamento da educação brasileira, que caminha no

processo de distribuição das reponsabilidades pelos órgãos e

finaliza com o gerenciamento e o investimento de recursos

públicos na educação.

É por esta razão, que se torna usual em discursos, a

presença de percentuais comparativos entre o estado passado

12 FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e a construção democrática no Brasil: da ditadura civil-militar à ditadura do capital. In: FÀVERO, Osmar; SEMERARO, Giovanni (orgs). Democracia e Construção do Público no Pensamento Educacional Brasileiro. Petrópilis, RJ: Vozes, 2002, p. 60.

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e o presente, cujo intuito é demonstrar pelo índice, patamares

de crescimento conquistado, por meio das políticas públicas

destinadas à qualidade educacional. Isso acontece porque

“diferentes tipos de discurso em diferentes domínios ou

ambientes institucionais podem vir ‘investidos’ política e

ideologicamente13”, o que assegura sua legitimação e seu lugar

no campo do poder.

Nas estratégias do discurso percebe-se a intencionalidade

da classe de poder, que se afirma em uma proposta de metas

bem delineadas e revestidas num campo amplo de abrangência

e operacionalidade; afinal, se as metas não foram cumpridas,

isso ocorreu por conta de fatores externos à vontade política e

que fogem do controle dos seus idealizadores.

No campo do discurso, as práticas políticas se revestem de

legitimidade e nela se apoia para tornar públicas as intenções

e expressões de uma dada classe, mas que são transmitidas

como uma necessidade manifesta pela coletividade e maioria

dos diferentes grupos e classes sociais.

Para Fairclough, “O discurso como prática ideológica

constitui, naturaliza, mantém, transforma os significados do

mundo de posições diversas nas relações de poder”.14

Ressignificar as políticas públicas educacionais e revesti-

las de caráter emancipador e articulador no âmbito da

sociedade, da cultura, da economia e do trabalho é a bandeira

que se levanta em rumo à democratização, no que diz respeito

13 FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Editora UNB, 2008, p. 95.14 FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Editora UNB, 2008, p. 94.

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ao pleno exercício da cidadania e da liberdade humanas.

3. O DISCURSO OFICIAL: con(tradições) na prática social

Nos bastidores do discurso oficial, as entrelinhas são

referenciais importantes na reconstituição das intenções de

seus oradores. O que leva a intuir que é preciso conhecer o

momento histórico em que foi gerado e para qual público foi

pensado, isso porque um discurso oficial não é projetado sem

interesses, antes enquanto prática social objetiva conduzir as

relações sob o prisma de uma concepção de Estado.

Ler ou ouvir um discurso oficial é ler o contexto a que se

refere. Essa leitura, porém, deve ser crítica e reflexiva, visto que

não basta apenas ouvir, mas compreender o seu sentido. Isso

porque o discurso oficial manifesta a visão sobre as propostas

advindas da esfera governamental e que podem ser alvo de

aceitação e aprovação, o que torna seu orador um instrumento

de disseminação das ideias, devido ao grau de partidarismo

envolvido com os ideais estabelecidos pelo poder legitimado.

Num discurso oficial, vê-se claramente a necessidade

de reafirmar as alianças em prol da manutenção da ordem

e do poder social conferido. Torna-se inquietante perceber

o sentido da colaboração manifesta em prol de interesses

associados à perpetuação do poder, o que assegura aos seus

locutores o direito de expressar sentimentos gerais em nome

de uma ou de combinações de siglas partidárias.

Neste nível de prática discursiva, a educação é concebida

como uma engrenagem capaz de provocar a revolução e a

transformação social, uma vez que é vista como um canal

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difusor das propostas governamentais. Entretanto, transferir

o processo histórico de mudança social para a educação

é reduzir a esfera de atuação de outras instâncias sociais, à

medida que a responsabilidade direta e efetiva passa a ser de

uma única engrenagem do sistema, o que de fato pode vir a

ser um impeditivo para o não atingimento de tal finalidade.

Ao analisar as estratégias educacionais apontadas em um

discurso oficial percebe-se que estão estritamente ligadas, em

sua grande maioria, à visão do mercado e aos princípios que

os rege, dentre eles destaca-se a competitividade a qualquer

custo. Essa visão mercadológica propõe a formação do cidadão

mínimo15, que está pronto para desempenhar suas funções,

a partir do desenvolvimento de habilidades e competências

dirigido à obtenção de um resultado.

A constatação sobre os efeitos do discurso oficial indicam

que os efeitos dele na prática social se tornam assustadores.

Pois, no ato de consecução das metas estabelecidas, existe um

claro objetivo de fazer cumprir, mesmo que temporariamente,

as promessas de campanha partidária e para isso todo o

sistema educacional é envolvido e comandado pelo Ministério

da Educação.

Dentre as ações, verifica-se um conjunto de medidas

voltadas à avaliação dos sistemas de ensino. Nesse caso, faz

ressurgir a temática da qualidade assumida como um slogan

15 Conceito apresentado no trabalho de FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e a construção democrática no Brasil: da ditadura civil-militar à ditadura do capital. In: FÀVERO, Osmar; SEMERARO, Giovanni (orgs). Democracia e Construção do Público no Pensamento Educacional Brasileiro. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002, p.57- 64.

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educacional e que tem por pano de fundo uma avaliação de

caráter meritocrático, classificatório, na forma de ranking de

eficiência, seguido por um programa de accountability, baseado

em exames padronizados para os diferentes níveis de ensino.

As avaliações constituem-se em um dos pilares de toda a política educacional do Ministério da Educação, por meio do plano de metas do Compromisso Todos pela Educação, cujo objetivo é atingir, até, 2021, o padrão de qualidade dos países desenvolvidos. Por ele, todas as esferas de governo (federal, estadual e municipal) se comprometem com metas de melhorias do IDEB16. As escolas que atingirem as metas são beneficiadas com aumento de recursos no Programa de Dinheiro Direto na Escola (PDDE) do MEC (Ministério de Educação e Cultura), mas a principal atenção do governo foi com às redes com piores IDEBs. O MEC estabelece convênios com estados e municípios, por meio da elaboração local de um Plano de Ações Articuladas (PAR). Pelo PAR, os gestores municipais e estaduais se comprometem a promover um conjunto de ações, responsabilizando-se pelo alcance das metas estabelecidas. Em contrapartida, passam a contar com transferências voluntárias e assessoria técnica da União.17

É interessante notar que por trás desse esforço em avaliar os

sistemas de ensino está uma prática de benefícios e compensações

associadas a programas de financiamento e provisão de recursos.

O que faz lembrar as práticas de mérito educacional escolar,

16 IDEB é o índice de desenvolvimento da Educação Básica, que tem como meta percentual até 2021 a média 6,0 para a primeira fase do ensino fundamental. Ele é um indicador que sintetiza as informações de desempenho nos testes padronizados com as informações sobre rendimento escolar (taxa média de aprovação dos estudantes na etapa de ensino). FERNANDES, Reynaldo; GREMAUD, Amaury Patrick. Qualidade da Educação: avaliação, indicadores e metas. In: VELOSO, Fernando; PÊSSOA, Samuel; HENRIQUES, Ricardo; GIAMBIAGI, Fabio (orgs.). Educação no Brasil: construindo o país do futuro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, p. 234. 17 FERNANDES, Reynaldo; GREMAUD, Amaury Patrick. Qualidade da Educação: avaliação, indicadores e metas. In: VELOSO, Fernando; PÊSSOA, Samuel; HENRIQUES, Ricardo; GIAMBIAGI, Fabio (orgs.). Educação no Brasil: construindo o país do futuro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, p. 235.

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associadas a uma quantificação estabelecida.

A proposta avaliativa evidencia a não neutralidade do sistema

educacional frente às exigências impostas pelo Banco Mundial18

para continuar sistematicamente subvencionando projetos e

planos educacionais no Brasil. O financiamento garantido pelo

Banco Mundial vem apoiado nos índices percentuais de qualidade

e desenvolvimento humano propostos nos acordos estabelecidos

entre as partes envolvidas: países e agência financiadora.

A contradição presente no discurso falado e praticado pelo

Banco Mundial provoca novas e amplas discussões, porque na

verdade não está claro se suas medidas voltam-se mesmo para

minimizar as desigualdades ou para reproduzi-las no seio da

sociedade. Afinal, é questionável se de fato elas contribuem com

o agravamento ou com a erradicação de índices de reprovação e

evasão escolares.

Mais uma vez, a questão da qualidade é interposta como

garantia de sucesso das metas estabelecidas, as quais se verificam

por meio de dados concretos e comprováveis - os índices

percentuais - de desenvolvimento educacional e de políticas

públicas de cunho assistencialista que propõem socorrer aos

menos desfavorecidos. A ênfase dada a tais programas políticos

cumpre temporariamente um papel de resgate das identidades

individuais, pois seu compromisso maior é limitado aos interesses

da classe investida de poder.

18 O Banco Mundial é uma organização internacional que empresta recursos financeiros para os países pobres. Ele, ainda, encara a questão da qualidade educativa como resultado da presença de determinados insumos imprescindíveis a uma boa escolaridade como: biblioteca, tempo de instrução, tarefas de casa, livros didáticos, conhecimentos do professor, experiência do professor, laboratórios, salário do professor e tamanho da classe.

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As políticas sociais são fragmentárias e lineares, pois de

fato não compreendem o todo complexo de classes desiguais e

excludentes. Isso ocorre porque as diretrizes não se apresentam

como expressão de políticas de caráter contínuo e consistente. “Ao

contrário são conjuntos de programas descontínuos, episódicos,

comprometidos com interesses outros e que não atingem a raiz

dos problemas”.19

O distanciamento da realidade gera o fracasso, a evasão e a

desesperança, que são alimentados na prática educacional escolar

por intermédio dos sistemas de ensino que cumprem seu papel ao

prever currículos fechados e voltados para o ensino conteudista e,

portanto, irreal e desnecessário à vida.

O resgate do real sentido de qualidade poderá advir

do comprometimento assumido por sujeitos históricos com

o processo educacional e sua ousadia em transformar uma

visão tradicionalista e mercadológica da educação perpetuada

historicamente. Para tal ação, faz-se necessário denunciar as falsas

ideias de qualidade que se multiplicam na sociedade da economia

global e capitalista, ao evidenciar as facetas de discriminação

e exclusão que são disseminadas em seus projetos sociais. Essa

iniciativa poderá abrir espaços para o sentido de democracia, na

qual a pluralidade não é considerada uma ameaça, mas é vista

como um elemento favorável na construção de novas concepções

e inovações a serem concretizadas no campo educacional.

19 CIAVATTA, Maria. A construção da democracia pós-ditadura militar. In: In: FÀVERO, Osmar; SEMERARO, Giovanni (orgs). Democracia e Construção do Público no Pensamento Educacional Brasileiro. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 101.

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À guisa de conclusão

Falar sobre o discurso politico na educação remete a

questões de relações complexas e mais amplas da sociedade por

envolver disputa e conflito de poderes distintos. As lutas travadas

refletem a desigualdade de oportunidades e condições, as quais se

verificam na grande maioria da população brasileira.

O grito das grandes maiorias surge como uma expressão

de um sonho de liberdade pela dignidade e identidade no

seio de um contexto histórico e social. A utopia buscada diz

respeito às garantias inerentes aos homens no seu processo de

desenvolvimento e formação, e que estão alistadas na Carta

Magna do Brasil.

Os princípios referendados na Constituição Federal e

elencados nas Diretrizes e Bases da Educação Nacional são de

fato fundamentais para o exercício do indivíduo cidadão e pode

ser contemplado como um caminho real de garantia e viabilidade

desses na vida do povo brasileiro. A Educação, nesse sentido,

pode vir a ser mais um dos caminhos de efetivação e legitimação

dessa proposta e, não, a única via de acesso e mobilidade social.

Antes, compete à educação oportunizar a todos,

indistintamente, a qualidade de ensino, independente de

mecanismos de avaliação estatal. Sua finalidade precípua volta-

se a assegurar ao homem o pensar, o fazer e o agir livremente

num espaço democrático de direito, no qual a criticidade, a

autonomia e a reflexão sejam elementos básicos de sua formação

e prática educativa.

Pensar a educação é inseri-la de fato no mundo real, carregado

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de tensões e problemas sociais. Seu objetivo é buscar atacar a raiz de

seus males e não apenas tratá-lo de forma maquiada e temporária,

ao se lançar mão de gráficos percentuais demonstrativos de

desenvolvimento e enfrentamento de problemas sociais.

E claro que esta reconstrução demanda tempo e vontade,

principalmente por abarcar em seu interior o ideal de igualdade

para todos, à medida que reacende a utopia de constituição de

uma sociedade justa, livre, humana e democrática.

O horizonte pode ser vislumbrado, porém a ação real

compete aos indivíduos, sujeitos históricos e sociais, que intervêm

no espaço, levantam bandeiras e travam lutas em prol de seus

direitos e deveres, pois nisso reside o real significado de cidadania

e de liberdade humana.

Buscar a qualidade é fazer ouvir a voz do oprimido e percebê-

lo no contexto das relações sociais como cidadão pensante, presente

e capaz de intervir nos rumos da sociedade brasileira, redefinindo

sua história. A ressignificação da qualidade educativa se efetivará no

uso da liberdade e da prática de inclusão dos sujeitos na vida da

sociedade, quer seja esta de ordem política, econômica, cultural,

histórica e, é claro, educacional.

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