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Disciplina de Parasitologia Curso de Medicina
2018
Faculdade de Medicina de Jundiaí
Profa. Dra. Juliana Quero Reimão
Tema: Coccídios intestinais
Coccídios intestinais
• Generalidades • Parasitas intracelulares obrigatórios • Possuem semelhanças com os apicomplexos • Ciclo de vida compreende três fases
• Merogonia, gametogonia e esporogonia
• Agentes etiológicos • Cryptosporidium parvum • Cryptosporidium hominis • Cyclospora cayetanensis • Cystoisospora belli • Outros (de menor importância)
• Parasitas monoxênicos • Exigem apenas um hospedeiro
Importância
• Parasitoses emergentes
Importância
• Parasitoses emergentes • Aumento crescente de incidência
• Oportunistas
• Causas • Indivíduos imunossuprimidos
• Alteração
• Do meio ambiente
• Dos hábitos alimentares
• Globalização
• Avanço nas técnicas de diagnóstico
• Criptosporidiose, Ciclosporíase e Cistoisosporíase
Cryptosporidium sp. Criptosporidiose
Criptosporidiose
• Agentes • Cryptosporidum parvum
• Cryptosporidium hominis
(principais espécies)
• Importância
• Segunda causa de morte por diarreia em crianças no mundo
• 30 a 50% das mortes até 5 anos de idade
• Endêmica
• Surtos epidêmicos ligados à transmissão hídrica
• Consequências letais em imunodeprimidos 0
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Rotavírus Cryptosporidiumsp.
E. colienterotoxogênica
Sigella sp.
Inci
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Causa de morte por diarreia em crianças
Aspectos biológicos
• Parasito intracelular • Apresenta fusão com a membrana
do enterócito
• Forma um vacúolo parasitóforo
• Extracitoplasmático • Se localiza fora do citoplasma da célula hospedeira
• Localização epicelular
Cryptosporidium sp.
- Localização epicelular - Intestino
- Localização extracelular
- Biofilme - Ambiente aquático
Formas de transmissão
• Transmissão orofecal (principal) • Oocistos eliminados esporulados nas fezes
• Pessoa a pessoa
• Alimentos e água contaminados
• Auto-infecção • Liberação do esporozoíto no lúmen intestinal
• Animal-homem • Transmissão zoonótica
• C. parvum em bovinos
• Inalação • Aerossóis e água de recreação
Cryptosporidium (seta) no jejuno de porco.
Ciclo: semelhante ao de Isospora. Os oocistos já são infectantes quando eliminados nas fezes Pode haver transmissão direta, autoinfecção fecal oral e por inalação Foto: Se multiplica na ponta do enterócito
Cryptosporidium sp.
C. parvum C. hominis
oocisto
Representação esquemática do Cryptosporidium parvumciclo da vida. Após o excysting dos oocistos no lúmen do intestino (a), os esporozoítos (b) penetram nas células hospedeiras e se transformam em trofozoítos (c) dentro de vacúolos parasitóforos confinados à região microvilosa do epitélio da mucosa. Os trofozoítas passam por divisão assexuada (merogonia) (d e e) para formar merozoítos. Depois de serem liberados do tipo I meronts, os merozoitos invasivos entram células hospedeiras adjacentes para formar meronts adicionais de tipo I ou para formar meronts tipo II (f). Os meronts de Tipo II não reciclam, mas entram nas células hospedeiras para formar os estágios sexuais, microgamonts (g) e macrogamonts (h). A maioria dos zigotos (i) formados após a fertilização do microgamont pelos microgametes (liberados do microgamont) se desenvolvem em oocistos de paredes grossas resistentes ao meio ambiente (j) que são submetidos a esporogonia para formar oocistos esporulados (k) contendo quatro esporozoítos. Os oocistos esporádicos liberados nas fezes são formas de ciclo de vida ambientalmente resistentes que transmitem a infecção de um hospedeiro para outro. Uma porcentagem menor de zigotos (aproximadamente 20%) não forma uma parede espessa e de duas camadas; eles têm apenas uma unidade de membrana em torno dos quatro esporozoítos. Estes oocistos de paredes finas (l) representam formas de ciclo de vida auto-infecciosas que podem manter o parasita no hospedeiro sem exposição oral repetida aos oocistos de paredes grossas presentes no ambiente.
Ciclo de vida
Oocisto esporulado
Auto-infecção
Macrogameta
Microgameta
Meronte tipo I Esporozoíto
Zigoto
Merozoítos
Trofozoíto
Meio exterior
Ingestão ou inalação
Merozoíto
Meronte tipo II
Merogonia
Gametogonia Esporogonia
parede fina
Oocisto esporulado parede espessa
Patogenia
• Alterações histológicas • Invadem as células epiteliais do intestino
• Não atingem as camadas mais profundas da mucosa
• Causam atrofia das vilosidades e inflamação • Redução da absorção
• Redução da produção de enzimas
• Diarreia
• Sintomas • Ausentes ou autolimitados
• Imunocompetentes
• Diarreia crônica ou fulminante • Imunocomprometidos
Cryptosporidium sp.
Oocistos de Cryptosporidium sp. na mucosa intestinal
Aspectos clínicos
• Período de incubação • 2 a 14 dia
• Manifestações clínicas • Diarreia aquosa, intermitente ou contínua • Vômitos • Dores abdominais • Perda de peso
• Em imunocoprometidos • Diarreia grave, com várias evacuações/dia
• Perda diária de mais de 20 litros de líquido
• Infecção pulmonar • Inalação de oocistos durante o vômito ou • Disseminação hematogênica
Esfregaço de escarro de paciente com AIDS
Cryptosporidium sp.
Diagnóstico laboratorial
• Exame parasitológico de fezes • Encontro de oocistos
• Visualização microscópica a fresco
• Coloração de Ziehl-Neelsen
• Maior sensibilidade, porém difícil execução
• Características dos oocistos • Tamanho: 4 µM
• Contém 4 esporozoítos nus
• Outros exames • Pesquisa de antígenos nas fezes
• PCR de fezes
• Biópsia ou aspiradao intestinal
• Pesquisa de oocistos no escarro ou bile
Irene Soares, FCF/USP
Cryptosporidium sp.
Tratamento
• Nitaxozanida • Bem tolerado, com poucos efeitos colaterais
• Ação contra outros patógenos intestinais
• Não é efetivo contra criptosporidiose
em imunocomprometidos
• Cuidados gerais • Hidratação
• Tratamento sintomático
• Tratamento antiviral em pacientes HIV+
• Restauração da imunocompetência
Cryptosporidium sp.
Epidemiologia
• Cosmopolita • Mais frequente em países
em desenvolvimento
• Prevalência de 0,5 a 10% subestimada
• Crianças 1 a 5 anos
• Em Fortaleza: uma pesquisa mostrou que todas as crianças avaliadas apresentavam anticorpos contra C. parvum exposição prévia ao parasito
• AIDS
• Prevalência de até 50%
• Surtos de transmissão hídrica
• Ex.: Milwaukee (EUA): 400 infectados e 100 mortes
Cryptosporidium sp.
Prevenção
• Os oocistos • Permanecem viáveis por vários meses
• São resistentes ao cloro e à maioria dos
desinfetantes
• São sensíveis: • À altas temperaturas (60 °C)
• Ao congelamento e à dessecação
• Ao H2O2
• Medidas de prevenção • Saneamento básico
• Educação sanitária
• Filtração da água
• Controle de contaminação ambiental com fezes
• Evitar contato direto com animais infectados
• Evitar o consumo de moluscos bivalves crus (ex. ostras)
Cryptosporidium sp.
Curiosidades
• Se uma pessoa com criptosporidiose defeca na piscina:
• 50 milhões de oocistos por mL de fezes x 150 mL fezes = 7.5 bilhões de oocistos na piscina
• Em uma piscina padrão de 25 x 12 m (450 m3) teria uma média de 20.000 oocistos por litro = 20 oocistos/mL
• Uma criança de 6-18 anos em
média ingere 37 mL da água da
piscina = 740 oocistos
• Alto risco:
• Áreas recreacionais com contami-
nação por esgoto humano ou
animal
• Água de irrigação
Cyclospora cayetanensis Ciclosporíase
Ciclosporíase
• Agente etiológico • Cyclospora cayetanensis
• Parasitose emergente
• Parasito intracelular • Formação do vacúolo parasitóforo
dentro do citoplasma
• Transmissão • Orofecal (principal)
• Alimentos e água contaminados
• Não foram descritos hospedeiros animais
Ciclo de vida
Macro- gameta
7-15 dias
Zigoto
Merozoíto
Meio exterior
Esporozoítos
Merogonia Gametogonia
Esporogonia
Oocisto não esporulado
Oocistos - são eliminados não esporulados nas fezes - Esporulam no meio externo Não ocorre auto-infecção
Micro- gameta
No hospedeiro
Oocisto não esporulado
Oocisto esporulado
Meronte Tipo I
Meronte Tipo II
Merozoíto
Aspectos clínicos
• Patogenia • Atrofia das vilosidades
• Semelhante à criptosporidiose
• Manifestações clínicas • Semelhantes à criptosporidiose
• Mais grave em imunocomprometidos • Atenuada pela terapêutica
• Tratamento • Trimetropina-sulfametoxazol
• Nitazoxanida
• Indicado para pacientes com intolerância às sulfas
Cyclospora cayetanensis BACTRIM® contém dois componentes ativos (Trimetropina-sulfametoxazol) que, agindo sinergicamente, bloqueiam duas enzimas que catalisam estágios sucessivos na biossíntese do ácido folínico no microrganismo.
Diagnóstico laboratorial
• Exame parasitológico de fezes • Encontro de oocistos
• Visualização microscópica a fresco
• Coloração de Ziehl-Neelsen • Maior sensibilidade, porém difícil execução
• Características dos oocistos • Tamanho: 10 µM
• 2 esporocistos com 2 esporozoítos cada
• Auto-fluorescentes
• Outros exames • PCR de fezes
• Biópsia ou aspirado intestinal
Foto: cdc/dpdx
Cyclospora cayetanensis
Oocistos (seta amarela)
(seta vermelha)
Cyclospora cayetanensis
Cryptosporidium sp.
Prevenção
• Os oocistos • Resistentes aos desinfetantes
• Idem ao Cryptosporidium sp.
• Medidas de prevenção • Saneamento básico
• Educação sanitária
• Filtração da água
• Lavagem dos alimentos frescos
• Lembrete • Transmissão pessoa-pessoa não é observada
devido à necessidade de esporulação no meio ambiente
Cyclospora cayetanensis
Framboesa e manjericão Surtos - EUA e Canadá
Cystoisospora belli Cistoisosporíase
Cistoisosporíase
• Agente etiológico • Cystoisospora belli
• Parasitose emergente
• Parasito intracelular • Formação do vacúolo parasitóforo
dentro do citoplasma
• Transmissão • Orofecal (principal)
• Alimentos e água contaminados
• Não foram descritos hospedeiros animais
• Ciclo de vida • Semelhante à Cyclospora cayetanensis
• Oocistos • Eliminados não
esporulados nas fezes
• Necessitam de 1 a 2 dias para esporular no meio ambiente
Aspectos clínicos
• Patogenia • Atrofia das vilosidades
• Semelhante à criptosporidiose
• Manifestações clínicas • Semelhantes à criptosporidiose
• Porém, pode levar à eosinofilia
• Mais grave em imunocomprometidos
• Duração de mais de 20 anos com sintomatologia
• Tratamento • Trimetropina-sulfametoxazol
• Clotrimoxazol, sulfadiazina e pirimetamina
Cystoisospora belli
Oocistos de C. belli na mucosa intestinal
Diagnóstico laboratorial
• Exame parasitológico de fezes • Encontro de oocistos
• Visualização microscópica a fresco
• Coloração de Ziehl-Neelsen
• Maior sensibilidade, porém difícil execução
• Característica dos oocistos • Tamanho: 25 µm
• Contém 2 esporocistos com 2 esporozoítos cada
• Formato elíptico
• Auto-fluorescentes
• Outros exames • PCR de fezes
• Biópsia ou aspirado intestinal
Cystoisospora belli
Epidemiologia e prevenção
• Epidemiologia • Distribuição mundial
• Encontrada principalmente nos trópicos
• Subnotificada emergente
• Maior prevalência • Pacientes HIV+
• América do Sul: 1,8 a 32%
• Medidas de prevenção • Semelhantes à ciclosporíase
Cystoisospora belli
Paciente imunodeprimido, após diarreia recorrente causada por Cystoisospora belli.
Comparação entre os coccídios intestinais
Cryptosporidium hominis/C. parvum
Cyclospora cayetanesis
Cystoisospora belli
Localização
Intracelular e extracitoplasmática
Intracelular Intracelular
Intestino delgado, trato respiratório, ductos
biliares e pancreáticos Intestino delgado Intestino delgado
Transmissão Oralfecal e pessoa a
pessoa
Orofecal – necessário tempo de esporulação no
meio ambiente
Orofecal – necessário tempo de esporulação
no meio ambiente
Diagnóstico Exame de fezes: Ziel Neelsen e similares
Exame de fezes: a fresco ou Ziel Neelsen e
similares. Autofluorescência
Exame de fezes: a fresco ou Ziel Neelsen
e similares. Autofluorescência
Oocistos 4 µm
4 esporozoítos nus
10 µm 2 esporocistos com
2 esporozoítos
25 µm 2 esporocistos com
4 esporozoítos
Tratamento Nitazoxanida Trimetropina-
sulfametoxazol
Trimetropina-sulfametoxazol Clotrimoxazol, sulfadiazina e pirimetamina
Morfologia dos oocistos esporulados
Cryptosporidium parvum Tamanho: 4 µm
Contém 4 esporozoítos nus
Cyclospora cayetanensis Tamanho: 10 µm
Contém 2 esporocistos com 2 esporozoítos cada
Cystoisospora belli Tamanho: 25 µm
Contém 2 esporocistos com 2 esporozoítos cada
Corados com Ziehl-Neelsen A: Cryptosporidium sp. B: Cyclospora cayetanensis C: Cystoisospora belli
Corados com safranina D: Cryptosporidium sp. E: Cyclospora cayetanensis F: Cystoisospora belli
Amostra fresca não corada G: esporulação de C. cayetanensis
Sob luz UV H: Cystoisospora belli I: Cyclospora cayetanensis
Oocistos em amostras fecais Autofluorescência: critério de diferenciação entre Cryptosporidium e Cyclospora
Oocisto não esporulado de Cystoisospora belli com um único esporoblasto.
Amostra fresca não corada Sob luz UV
Oocistos em amostras fecais
Dúvidas?
Bibliografia: FERREIRA, M. U. Parasitologia contemporânea. Guanabara Koogan, 2012.