diretrizes e requisitos para o planejamento e

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Escola de Engenharia Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil DIRETRIZES E REQUISITOS PARA O PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO EM NÍVEL DE MÉDIO PRAZO NA CONSTRUÇÃO CIVIL Henrique Otto Coelho Porto Alegre 2003

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

Escola de Engenharia

Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil

DIRETRIZES E REQUISITOS PARA O PLANEJAMENTO E

CONTROLE DA PRODUO EM NVEL DE MDIO PRAZO NA

CONSTRUO CIVIL

Henrique Otto Coelho

Porto Alegre 2003

Henrique Otto Coelho

DIRETRIZES E REQUISITOS PARA O PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUO EM NVEL DE MDIO PRAZO NA

CONSTRUO CIVIL

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Engenharia na modalidade Acadmico

Porto Alegre 2003

C672d Coelho, Henrique Otto

Diretrizes e Requisitos para o Planejamento e Controle da Produo em Nvel de Mdio Prazo na Construo Civil / Henrique Otto Coelho. Porto Alegre: UFRGS/PPGEC, 2003.

134 fls.

Dissertao de Mestrado, Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Mestre. Orientador: Carlos Torres Formoso.

1.Gerenciamento 2. Construo Civil. I. Ttulo. II. Formoso, Carlos Torres

CDU 69:658

Henrique Otto Coelho

DIRETRIZES E REQUISITOS PARA O PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUO EM NVEL DE MDIO PRAZO NA

CONSTRUO CIVIL

Esta dissertao de mestrado foi julgada adequada para obteno do ttulo de MESTRE EM

ENGENHARIA e aprovada em sua forma final pelo professor orientador e pelo Programa de

Ps-graduao em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Porto Alegre, 19 de Novembro de 2003

Prof. Carlos Torres Formoso Ph.D. pela University of Salford, Gr Bretanha

Orientador

Prof. Amrico Campos Filho Coordenador do PPGEC/UFRGS

BANCA EXAMINADORA

Prof. Maurcio Moreira e Silva Bernardes (UFRGS) Dr. pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Prof. Luis Carlos Pinto da Silva Filho (/UFRGS) PhD. pela University of Leeds, Gr Bretanha

Prof. Aguinaldo dos Santos (UFPR) PhD. pela University of Salford, Gr Bretanha

Ao meu pai, Francisco, por ser meu maior exemplo e a quem devo tudo que sou

minha me, Nvea, que, sinto, esteve sempre ao meu lado tomando conta de mim

Aos meus irmos, Rafael e Francisco Jos, pelo que so para mim, cada um a sua maneira

minha segunda me, Elena, pelo carinho de sempre

Ao meu grande amor, Michelle, por estar ao meu lado, incondicionalmente, em todos momentos difceis desta jornada

AGRADECIMENTOS

Ao professor Carlos Torres Formoso, por me proporcionar grande crescimento profissional e

pessoal, acreditando na minha capacidade, e por ser um grande exemplo de dedicao.

Aos amigos e companheiros de estudos do Grupo GEC, Abla Akari, Alexandre Soares, Dayana

Costa, Denise Pithan, Eduardo Isatto, Elvira Lantelme, Erclia Hirota, Fbio Scharamm, Fabrcio

Cambraia, Iamara Bulhes, Luciana Miron, Marcelo Azambuja, Ricardo Codinhoto, Rosana Dal

Molin e Tiago Marder, pelas discusses produtivas e, mais ainda, pelas improdutivas.

Aos colegas e amigos do NORIE, Alexandre Vargas, Adriana, Aline, Ana Paula, Constance,

Daniel, Dris, Geilma, Hilton, Juliana, Leandro, Mara, Marcos Guerreiro, Marco Maia, Paulo

Srgio e Rafael Mano, pela amizade durante estes anos.

Aos auxiliares de pesquisa, Carolina, Diego, Rgis e, especialmente, por contribuir diretamente

neste trabalho, ao Kleber e ao Guilherme.

Ao amigo Renato das Neves, pela ajuda em vrios momentos e pelos constantes empurres

que me faziam continuar a andar no mestrado.

Aos amigos Cristvo Cordeiro e Andra Kern pelas boas abstraes tericas e pelo apoio em

vrios momentos de crise.

Aos amigos Eduardo Polesello e Rafael Hallal por todos estes anos juntos na mesma luta.

Sandra Millyus, pela grande amizade e pelas contribuies neste trabalho.

gurizada: Alexandre, Gal, Gordo, talo, Luciano, Maurcio, Rogrio e Tito, pelos momentos

de alegria em Pelotas.

FINEP (Financiadora Nacional de Projetos), pelo financiamento ao Projeto GEHIS (Gesto de

Empreendimentos Habitacionais de Interesse Social).

s trs empresas, em especial, aos seus diretores e aos seus gerentes, que colaboraram e

acreditaram nesse trabalho, abrindo suas portas realizao dessa dissertao.

...porque na rinha da vida

J me bastava o empate!

Pois cheguei no arremate

Batido, sem bico e torto...

E s me resta o conforto

Como a ti, Galo de Rinha

Que se algum

Dobrar-me a espinha

H de ser depois de morto

(Jaime Caetano Braun)

RESUMO

COELHO, Henrique Otto. Diretrizes e Requisitos para o Planejamento e Controle da Produo em Nvel de Mdio Prazo na Construo Civil. 2003. Dissertao (Mestrado em Engenharia Civil)

Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil, UFRGS, Porto

Alegre.

O processo de planejamento e controle pode ser representado atravs de duas dimenses bsicas, a

horizontal, que se refere s etapas do planejamento e controle em cada nvel gerencial, e a dimenso

vertical, que se refere diviso deste processo em diferentes nveis hierrquicos (longo, mdio e curto

prazo). Essa diviso se faz necessria em funo da complexidade tpica dos empreendimentos de

construo, da variabilidade de seus processos e da incerteza inerente ao processo de produo. Sem

contestar a importncia e os benefcios decorrentes da correta realizao do Planejamento de Curto

Prazo, neste trabalho buscou-se dedicar maior ateno ao Planejamento de Mdio Prazo, visto que

este nvel vem, cada vez mais, se mostrando como um importante mecanismo de controle e

aprendizagem dentro do processo de PCP como um todo. O objetivo geral desta dissertao o

refinamento do modelo de PCP desenvolvido no NORIE/UFRGS, propondo diretrizes para a

implementao do Planejamento de Mdio Prazo. Este objetivo foi definido a partir dos resultados de

estudos anteriores, os quais apontaram que, de um modo geral, o referido modelo de PCP apresentava

bons resultados de implementao nos nveis de longo e curto prazo, porm poucas empresas

obtinham sucesso no nvel de mdio prazo.

O mtodo de pesquisa foi dividido em trs etapas. A primeira delas compreendeu uma pesquisa

bibliogrfica e um estudo de caso exploratrio em uma empresa de construo civil. A segunda etapa

da pesquisa consistiu na realizao de dois estudos empricos em empresas de construo civil da

Regio Metropolitana de Porto Alegre. O primeiro estudo, que teve o carter de pesquisa-ao, teve

como objetivo propor e avaliar diretrizes para a execuo do Planejamento de Mdio Prazo. O segundo

estudo tratou-se de um estudo de caso, na qual se buscou analisar boas prticas utilizadas por uma

empresa de construo civil que vinha alcanando bons resultados na implementao do Planejamento

de Mdio Prazo.

De uma forma geral as principais concluses esto ligadas s funes que devem ser executadas com

a realizao do Planejamento de Mdio Prazo e a forma de implementao deste nvel de

planejamento, refinando o modelo de PCP desenvolvido no NORIE/UFRGS, alm de contribuir no

desempenho do processo de PCP como um todo.

Palavras chave: Gerenciamento; Construo Civil; Planejamento e Controle da Produo

ABSTRACT

COELHO, Henrique Otto. Diretrizes e Requisitos para o Planejamento e Controle da Produo em Nvel de Mdio Prazo na Construo Civil. 2003. Dissertao (Mestrado em Engenharia Civil) Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil, UFRGS, Porto Alegre.

The production planning and control process can be represented by two basic dimensions. The horizontal

dimension refers to the planning and control stages in each managerial level, and the vertical dimension is

concerned with the division of this process in different hierarchical levels (long, medium and short term).

This division is necessary due to the typical complexity of construction projects, the variability in their

processes, and the uncertainty that is inherent to the production process. Without questioning the

importance and the benefits of the correct implementation of short term planning, this study has focused on

the medium term planning, because there have been indications that this managerial level plays a very

important role as a control and learning mechanism in the production planning and control process as a

whole. The aim of this dissertation is to refine the production planning and control model developed at

NORIE/UFRGS, proposing guidelines for implementing medium term planning. This objective was

established from the results of previous studies, which indicated that the production planning and control

process was successfully implemented at the short and long term levels, and that very few companies were

successful in the implementation of medium term planning.

The research method was divided in three main stages. The first one involved a literature review, and an

exploratory study. The second stage consisted of two empirical studies carried out in different construction

companies from the Metropolitan Region of Porto Alegre. The first was an action-research study which

aimed to propose and evaluate guidelines for undertaking medium term planning. The second was a case

study, in which the good practices adopted by a company that had successfully implemented medium term

planning were analysed. In general terms, the main conclusions of this research work are concerned with

the functions that must be performed by the medium term planning, and how it must be implemented,

making a contribution for the refinement of the planning and control model developed at NORIE/UFRGS, as

well as for improving the performance of the planning and control process as a whole.

Key-words: Management; Construction; Production Planning and Control; Medium Term.

SUMRIO

1 INTRODUO..........................................................................................................................15

1.1 TEMA DO ESTUDO ...........................................................................................................15 1.2 CONTEXTO........................................................................................................................17 1.3 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO ...........................................................................................18 1.4 PROBLEMA DE PESQUISA ..............................................................................................20 1.5 QUESTES DE PESQUISA ..............................................................................................22 1.6 OBJETIVOS........................................................................................................................22 1.7 RESUMO DO MTODO DE PESQUISA ...........................................................................23 1.8 ESTRUTURA DO TRABALHO ...........................................................................................23

2 PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUO................................................................25

2.1 DEFINIO DE PLANEJAMENTO DA PRODUO.........................................................25 2.2 DIMENSES DO PLANEJAMENTO..................................................................................25

2.2.1 Dimenso Horizontal..................................................................................................26 2.2.2 Dimenso Vertical ......................................................................................................27

2.3 DEFINIO DE CONTROLE .............................................................................................37 2.4 O SISTEMA DE CONTROLE LAST PLANNER .................................................................39

3 O MODELO DE PCP DESENVOLVIDO NO NORIE................................................................42

3.1 PREPARAO DO PROCESSO DE PLANEJAMENTO ...................................................42 3.2 PROCESSO DE PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUO ...............................43

3.2.1 Planejamento de Longo Prazo ..................................................................................43 3.2.2 Planejamento de Mdio Prazo...................................................................................45 3.2.3 Planejamento de Curto Prazo....................................................................................50

3.3 AVALIAO DO PROCESSO............................................................................................53

4 MTODO DE PESQUISA.........................................................................................................54

4.1 INTRODUO....................................................................................................................54 4.2 ESTRATGIA DE PESQUISA UTILIZADA ........................................................................54

4.2.1 Pesquisa-Ao............................................................................................................55 4.2.2 Estudo de Caso ..........................................................................................................56 4.2.3 Consideraes sobre os Estudos Empricos ..........................................................57

4.3 FONTES DE EVIDNCIAS UTILIZADAS...........................................................................57 4.3.1 Observao.................................................................................................................58

4.3.1.1 Observao Participante........................................................................................58 4.3.1.2 Observao Direta .................................................................................................58

4.3.2 Anlise Documental ...................................................................................................59 4.4 DELINEAMENTO DA PESQUISA ......................................................................................59 4.5 ESTUDO EXPLORATRIO ...............................................................................................60

4.5.1 Estrutura Organizacional da Empresa A..................................................................61 4.5.2 O Empreendimento Acompanhado ..........................................................................61 4.5.2 O Descrio das principais atividades realizadas ....................................................2

4.5.3.1 Primeira Etapa de Implementao do Planejamento de Curto Prazo....................62 4.5.3.2 Curso de Planejamento e Controle da Produo...................................................62 4.5.3.3 Treinamento dos Funcionrios no Canteiro ...........................................................63 4. 5.3.4 Primeira Reunio com lderes de equipe ..............................................................64 4. 5.3.5 Primeira Reunio para Anlise de Resultados .....................................................64 4.5.3.6 Segunda Etapa de Implementao do Planejamento de Curto Prazo...................64

4.5.3.7 Reunies de Planejamento de Mdio Prazo..........................................................65

4.6 ESTUDO EMPRICO B.......................................................................................................65 4.6.1 Estrutura Organizacional da Empresa B..................................................................66 4.6.2 O Empreendimento Acompanhado ..........................................................................66 4.6.3 Descrio das Principais Atividades Realizadas ....................................................67

4.6.3.1 Diagnstico do Processo de PCP utilizado pela Empresa B .................................67 4.6.3.2 Primeira Reunio de Avaliao..............................................................................67 4.6.3.3 Implementao do Planejamento de Mdio Prazo (PMP) .....................................68 4.6.3.4 Primeiro Seminrio de Avaliao ...........................................................................68 4.6.3.5 Demais Reunies de Planejamento de Mdio Prazo.............................................69

4.7 ESTUDO EMPRICO C ......................................................................................................71 4.7.1 Objetivo eEstratgia de Conduo do Estudo ........................................................71 4.7.2 Estrutura Organizacional da Empresa C..................................................................71 4.7.3 O Empreendimento Acompanhado ..........................................................................72 4.7.4 Descrio das Principais Atividades Realizadas ....................................................73

4.7.4.1 Reunies de Planejamento ....................................................................................73

5 RESULTADOS DA PESQUISA ...............................................................................................74

5.1 ESTUDO DE CASO EXPLORATRIO (ESTUDO EMPRICO A)......................................74 5.1.1 Sistema de PCP utilizado pela Empresa ..................................................................74 5.1.2 Implementao do Planejamento de Curto Prazo ...................................................75

5.1.2.1 Primeira Etapa de Implementao do Planejamento de Curto Prazo....................75 5.1.2.2 Primeira Reunio para Anlise de Resultados ......................................................76 5.1.2.3 Segunda Etapa de Implementao do Planejamento de Curto Prazo...................79 5.1.2.4 Avaliao Final dos Indicadores ............................................................................79

5.1.3 Implementao do Planejamento de Mdio Prazo ..................................................83 5.1.4 Consideraes Finais ...................................................................................................84

5.2 ESTUDO EMPRICO B.......................................................................................................85 5.2.1 Sistema de PCP utilizado pela Empresa ..................................................................85

5.2.1.1 Problemas de PCP Identificados durante o Diagnstico........................................87 5.2.1.2 Outros Problemas Identificados durante o Diagnstico .........................................88

5.2.2 Propostas Iniciais de Melhoria do Processo de Planejamento..............................89 5.2.3 Segunda Etapa: Implementao do Planejamento de Mdio Prazo ......................91

5.2.3.1 Procedimento Inicial de Execuo do Planejamento de Mdio Prazo ...................95 5.2.3.2 Procedimento Final de Execuo do Planejamento de Mdio Prazo ....................97 5.2.3.3 Impacto nos Indicadores da Produo aps a Implementao do PMP..............102

5.2.4 Consideraes Finais ..............................................................................................108 5.3 ESTUDO EMPRICO C ....................................................................................................109

5.3.1 Sistema de PCP utilizado pela Empresa ................................................................109 5.3.2 Procedimento de Execuo do Planejamento de Mdio Prazo ...........................110 5.3.3 Consideraes Finais ..............................................................................................117

5.4 DISCUSSO.....................................................................................................................118 5.4.1 Funes Bsicas do Planejamento de Mdio Prazo .............................................118

5.4.1.1 Proteo da Produo .........................................................................................118 5.4.1.2 Integrao entre Nveis de Planejamento ............................................................119 5.4.1.3 Controle e Aprendizagem ....................................................................................119

5.4.2 Funes Complementares do Planejamento de Mdio Prazo .............................120 5.4.2.1 Anlise dos Fluxos Fsicos...................................................................................120 5.4.2.2 Gesto de Custos ................................................................................................121

5.4.2.2.1Curvas de Agregao de Recursos ................................................................121 5.4.2.2.1 Programao de Recursos ............................................................................122

5.4.2.3 Planejamento e Controle da Segurana ..............................................................122 5.4.3 Diretrizes de execuo e implementao do Planejamento de Mdio Prazo .....123 5.4.4 Consideraes finais ..............................................................................................125

6 CONCLUSES E RECOMENDAES.................................................................................126

6.1 CONCLUSES.................................................................................................................126 6.2 RECOMENDAES PARA OUTROS ESTUDOS...........................................................128

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .........................................................................................129

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Dimenso Horizontal do Processo de Planejamento (baseado em LAUFER e TUCKER, 1987). ..........................................................................................................................26

Figura 2: Diviso Hierrquica do Controle (Adaptado de Melles e Wamelink, 1993) ..................30

Figura 3: Diviso do Planejamento em Nveis (Adaptado de Hopp e Spearman, 1996) .............33

Figura 4: Etapas da Pesquisa......................................................................................................60

Figura 5: Principais Atividades Realizadas (Estudo B) ................................................................67

Figura 6: Percentual de Planos Concludos (Primeira Etapa, Estudo A) .....................................77

Figura 7: Origem dos Problemas (Primeira Etapa, Estudo A) .....................................................77

Figura 8: Percentual de Planos Concludos (Segunda estapa, Estudo A)...................................80

Figura 9: Origens dos Problemas (Segunda etapa Estudo A) ..................................................81

Figura 10: Origens dos Problemas 17 Semanas (Resultados Totais Estudo A) ......................82

Figura 11: Natureza dos Problemas (Estudo A) ..........................................................................83

Figura 12: DFD do Sistema de PCP inicialmente utilizado no Empreendimento Acompanhado (Estudo B) ....................................................................................................................................85

Figura 13:Evoluo do PPC (Fase Pr-Implementao do Mdio Prazo Estudo B) ..............93

Figura 14: Origens dos Problemas (Fase Pr-Implementao do PMP Estudo B) ..............94

Figura 15: Planilhas Eletrnicas Inicialmente utilizadas para PMP (Estudo B) ...........................96

Figura 16: Detalhe do Plano de Longo Prazo no MS Project (Estudo B).................................98

Figura 17: Detalhamento e Agrupamento de Pacotes de Trabalho no Mdio Prazo (Estudo B).99

Figura 18: Modelo Final de Planilha Eletrnica (Estudo B)........................................................100

Figura 19: DFD da Forma Final do Sistema de PCP utilizado no Empreendimento (Estudo B)101

Figura 20: Evoluo do PPC durante o Perodo Completo de Anlise (Estudo B)....................103

Figura 21: Evoluo do PPC por Subempreiteiro (Empresa B) .................................................106

Figura 22: Origens dos Problemas (Fase Ps-Estudo Estudo B)...........................................107

Figura 23: Planilhas de Execuo do PMP (Estudo C)..............................................................111

Figura 24: Anlise dos Fluxos Fsicos (Estudo C) .....................................................................113

Figura 25: PPC Mdio de 15 Obras Executadas pela Empresa C (adaptado de Soares, 2003)...................................................................................................................................................114

Figura 26: Indicador de Eficcia do PCP em 15 Empreendimentos da Empresa C (adaptado de Soares, 2003) ............................................................................................................................115

Figura 27: Evoluo do PPC do Empreendimento (Estudo C) ..................................................116

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Nveis de Planejamento Propostos e a Motivao para a Diviso..............................35

Quadro 2: Dicionrio de Dados DFD Inicial (Estudo B) ...............................................................86

Quadro 3: Dicionrio de Dados DFD Final (Estudo B) ..............................................................101

Quadro 4: PPC Mdio por Sub-Empreiteiro (Empresa B)..........................................................105

Quadro 5: Prticas Consideradas na Avaliao do Indicador de Eficcia do PCP....................116

LISTA DE SIGLAS

CEF Caixa Econmica Federal

CPM Critical Path Method (Mtodo do Caminho Crtico)

EAP Estrutura Analtica de Projetos

IES Indicador de Eficcia do Sistema

FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

GEHIS Gesto de Empreendimentos Habitacionais de Interesse Social

Grupo GEC Grupo de Estudos em Gerenciamento e Economia na Construo

IRR ndice de Restries Removidas

JIT Just in Time (Somente no Tempo Certo)

NORIE Ncleo Orientado Inovao da Edificao

PERT

Project Evaluation and Review Technique (Tcnica de Avaliao e Reviso de empreendimentos)

PCP Planejamento e Controle da Produo

PCS Planejamento e Controle da Segurana

PMP Planejamento de Mdio Prazo

PPC Percentual de Planos Concludos

TQM Total Quality Management (Gesto da Qualidade Total)

1 INTRODUO

1.1 TEMA DO ESTUDO

H alguns anos atrs, em vrios setores, de muitos pases, a competio empresarial era

relativamente baixa. Os mercados, em geral, eram protegidos e prevaleciam as posies de

dominao e, mesmo quando existia competio, a rivalidade era menos intensa e

agressiva. Atualmente, a concorrncia empresarial se intensificou de forma drstica em

praticamente todas as partes do mundo e o termo competitividade vem sendo utilizado no

cotidiano de quase todos os setores industriais e de servios (PORTER, 1999).

Seguindo esta tendncia, a indstria da construo civil tambm vem passando por

importantes mudanas ao longo dos ltimos anos. A globalizao dos mercados, o

crescente nvel de exigncia por parte dos consumidores, a reduzida disponibilidade de

recursos financeiros e a procedente reivindicao por melhoria nas condies de trabalho,

entre outros fatores, tm forado a indstria da construo civil a mover-se buscando a

melhoria de seus sistemas gerenciais (ISATTO et al., 1999).

Assim, a exemplo do que vem acontecendo em outros setores industriais, a funo

produo vem assumindo um papel cada vez mais estratgico na determinao do grau de

competitividade das empresas construtoras, assim como no setor como um todo. Neste

contexto, o processo de Planejamento e Controle da Produo (PCP) tem papel

fundamental no desenvolvimento da construo civil, visando a obter ganhos de qualidade e

produtividade (FORMOSO et al., 1999a).

Em que pese o custo relativamente baixo do processo de Planejamento e Controle da

Produo e o fato de que muitos profissionais tm conscincia da sua importncia, poucas

so as empresas nas quais este processo bem estruturado (FORMOSO et al., 1999a).

Buscando desenvolver seus processos gerenciais, a adaptao de princpios e teorias,

concretizados em outros ramos industriais, tem sido uma constante na construo civil.

Algumas grandes evolues tm sido fruto deste esforo: a pr-fabricao de componentes,

com a posterior montagem no canteiro um exemplo tpico de um avano que se originou

na indstria automobilstica.

Porm, nem sempre os sistemas desenvolvidos nestes ambientes conseguem se adaptar s

situaes de produo encontradas na construo civil (ASSUMPO, 1996). Para Koskela

16

(1992), geralmente, essa ineficcia ocorre porque os princpios desenvolvidos em outros

ambientes produtivos no foram suficientemente abstrados e aplicados sob a considerao

das peculiaridades intrnsecas do ambiente da construo civil.

Neste sentido, desde o comeo da dcada de 90, um novo referencial terico vem sendo

construdo para remodelar a gesto de processos na construo civil. O desenvolvimento

deste referencial tem se dado a partir da adaptao de alguns conceitos e princpios gerais

da Gesto da Produo s peculiaridades do setor.

O termo Lean Production foi utilizado por Womack et al. (1994) para caracterizar um novo

paradigma de gesto da produo, nascido na indstria automotiva do Japo durante os

anos 50, e recentemente estendido a outros setores da atividade econmica. Esse

paradigma surgiu a partir da aplicao conjunta de duas filosofias bsicas de produo, o

TQM (Total Quality Management

Gesto da Qualidade Total) e tambm o Just in Time

(JIT), pela empresa automotiva japonesa Toyota Motor Company (KOSKELA, 1992). Por ser

reconhecida como a aplicao de maior sucesso dessa combinao, no raramente, esse

modelo de gesto da produo chamado de Sistema Toyota de Produo (SHINGO,

1996).

Koskela (1992), no esforo de identificao, abstrao, transporte e adaptao dos

conceitos, princpios e prticas utilizados pela Lean Production para o ambiente da

construo civil, convencionou chamar este novo paradigma de Nova Filosofia de Produo,

ou, quando aplicado indstria da construo civil, simplesmente de Construo Enxuta.

Ainda segundo Koskela (1992), a diferena bsica entre a filosofia gerencial tradicional e a

Nova Filosofia de Produo principalmente conceitual. O modelo conceitual dominante na

construo civil define a produo como um conjunto de atividades de converso, que

transformam os insumos (materiais, informao) em produtos intermedirios (por exemplo,

alvenaria, estrutura, revestimentos) ou final (edificao). Na Nova Filosofia de Produo, um

processo consiste em um fluxo de materiais, desde a matria-prima at o produto final,

sendo o mesmo constitudo por atividades de transporte, espera, processamento e

inspeo. As atividades de transporte, espera e inspeo no agregam valor ao produto

final, sendo por esta razo denominadas atividades de fluxo.

A gerao de valor outro aspecto que caracteriza os processos na Construo Enxuta. O

conceito de valor est diretamente vinculado satisfao do cliente, no sendo inerente

execuo de um processo. Assim, um processo s gera valor quando as atividades de

processamento transformam as matrias-primas ou componentes nos produtos requeridos

pelos clientes, sejam eles internos ou externos (KOSKELA, 1992).

17

1.2 CONTEXTO

Neste cenrio de desenvolvimento e adaptao de um novo paradigma de gesto da

produo para a indstria da construo civil, os pesquisadores do Grupo de Gerenciamento

e Economia da Construo (Grupo GEC) do Ncleo Orientado para Inovao da Edificao

(NORIE), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), vm desenvolvendo

desde 1994 pesquisas sobre planejamento e controle da produo na construo civil. O

objetivo inicial destes estudos foi desenvolver um modelo de PCP, assim como um mtodo

para sua implantao (CARVALHO, 1998; OLIVEIRA, 1999; ALVES, 2000; MARCHESAN,

2001; BERNARDES, 2001). Este modelo foi apresentado por Bernardes (2001) em sua tese

de doutorado e tem sua fundamentao terica fortemente baseada nos conceitos e

princpios da Nova Filosofia de Produo (KOSKELA, 1992) e no sistema de controle da

produo denominado Last Planner, desenvolvido por Ballard e Howell (1997).

Adaptado de modelos e teorias desenvolvidos na Engenharia Industrial, o sistema Last

Planner foi desenvolvido com o propsito de aumentar a confiabilidade dos planos e

proteger a produo dos efeitos da incerteza, buscando incorporar ao processo de PCP a

viso de fluxo e a considerao sistemtica da variabilidade (BALLARD, 2000). Esse

sistema, por sua vez, obedece s diretrizes de hierarquizao do processo de PCP proposto

por diversos autores (LAUFER e TUCKER, 1987; MELLES e WAMELINK, 1993; TURNER,

1993; HOPP e SPERMAN, 1996; POLLONI, 2000).

O modelo de PCP desenvolvido no NORIE/UFRGS vem sendo continuamente refinado,

atravs dos estudos realizados por pesquisadores do Grupo GEC/NORIE. Durante o

desenvolvimento desta dissertao, esses trabalhos tambm foram desenvolvidos dentro do

Projeto GEHIS (Gesto de Empreendimentos Habitacionais de Interesse Social), financiado

conjuntamente pela FINEP - Programa Habitare e CNPq - Programa RHAE.

O Projeto GEHIS vem sendo desenvolvido por uma rede de cinco grupos de pesquisa

nacionais, coordenados pelo NORIE/UFRGS, cujo objetivo o desenvolvimento de um

Modelo Integrado para Gesto de Empreendimentos Habitacionais de Interesse Social , o

qual integra as funes de desenvolvimento do produto e gesto da produo, assim como

propor mtodos para o desenvolvimento de competncias nas organizaes para a sua

implementao.

A presente dissertao se insere no Projeto GEHIS e pretende contribuir para o

desenvolvimento deste modelo, buscando desenvolver temas relativos ao Planejamento e

Controle da Produo, especificamente no nvel de Planejamento de Mdio Prazo (PMP).

18

1.3 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO

Segundo Formoso et al. (1999a), o aumento da eficcia do processo de Planejamento e

Controle passa necessariamente pela adequada considerao da natureza dos processos

de produo na construo civil.

Neste mbito, o planejamento do processo de produo e do processo de projeto vem

recebendo grande destaque, pois a maneira tradicional de administrar empreendimentos de

construo civil tem mostrado grandes falhas no que diz respeito gesto de processos

(HOWELL e KOSKELA, 2001).

Ballard e Howell (1998), buscando identificar em que tipo de sistema de produo a

construo civil est inserida, definiram-na como sendo essencialmente composta por

processos de projeto, de fabricao e de montagem. A partir da explicitao de cada um

destes processos, estes mesmos autores buscaram identificar processos semelhantes,

encontrados em ambientes da indstria manufatureira, e transferir para a indstria da

construo civil algumas tcnicas e ferramentas utilizadas para gerenciar estes processos.

O processo de projeto est inserido dentro dos limites do Desenvolvimento do Produto1.

Deste modo, os avanos obtidos ocorrem a partir da considerao da produo como um

processo de gerao de valor para seus clientes (BALLARD e HOWELL, 1998).

O processo de fabricao consiste em produzir partes isoladas do produto (BALLARD e

HOWELL, 1998). A simplificao dos produtos intermedirios, obtida com o uso de tcnicas

de industrializao, padronizao e modularizao, uma importante forma de obteno de

ganhos de eficincia neste processo (KOSKELA, 2000).

O processo de montagem consiste na fixao dos produtos intermedirios no produto final.

Por ser demasiadamente grande para permitir sua movimentao, o produto final

executado em local fixo enquanto que os produtos intermedirios e as equipes de execuo

se movimentam ao seu redor. A definio de produo como um fluxo, possibilita avanos

na racionalizao deste processo. Porm, o que se observa em outras indstrias, que o

processo de Planejamento e Controle da Produo (PCP) o ponto chave para promover

ganhos de eficcia realmente significativos neste processo (BALLARD e HOWELL, 1998).

ALARCN (1997) e KOSKELA (1999) afirmam que se deve utilizar o que cada uma das

filosofias gerenciais, a convencional e a Nova Filosofia de Produo, tm de melhor e no

1 O processo de desenvolvimento do produto inicia no momento em que ocorre a percepo de uma oportunidade de mercado e, normalmente, termina com a entrega do produto final. Em alguns casos, dependendo do tipo de produto, a assistncia tcnica ps-entrega integra o Processo de Desenvolvimento do Produto (BALLARD & HOWELL, 1998).

19

consider-las alternativas ou concorrentes. Ballard e Howell (1998) afirmam que cada teoria

est focada em diferentes fenmenos especficos da produo. A gerao de valor, que visa

busca pela satisfao do cliente, e a viso de fluxo, que busca a reduo de perdas e o

aumento de eficcia no processo de montagem, esto focados na gesto de processos. J a

viso de converso, que busca a eficincia do processo de fabricao, est focada na

execuo das atividades de transformao.

Para Laufer e Tucker (1987), o PCP cumpre papel fundamental para que seja alcanado

xito na coordenao entre as vrias entidades participantes de um empreendimento. Para

esses mesmos autores, o planejamento necessrio em funo de diversos fatores:

a) facilitar a compreenso dos objetivos do empreendimento, aumentando, assim, a

probabilidade de atend-los;

b) definir todos os trabalhos exigidos para habilitar cada interveniente do

empreendimento a identificar e planejar sua parcela de trabalho;

c) desenvolver uma referncia bsica para os processo de oramento e programao;

d) evitar decises errneas para projetos futuros, atravs da anlise do impacto das

decises atuais;

e) aumentar a velocidade de resposta para mudanas futuras;

f) fornecer padres para monitorar, revisar e controlar a execuo do empreendimento.

Todavia, em geral, o planejamento da produo, em muitas empresas, limita-se a gerao

de oramentos, programaes e outros documentos referentes s etapas a serem seguidas

durante a execuo do empreendimento (BALLARD e HOWELL, 1997). Isso se deve, em

parte, ao fato de que na indstria da construo, o termo planejamento geralmente

interpretado como o resultado da gerao de planos, denominado, com maior correo, de

programao.

Como conseqncia, deficincias no planejamento tm sido apontadas como causa do

baixo desempenho de empreendimentos de construo. Diversos autores apontam as

causas principais da ineficcia do planejamento:

a) o PCP normalmente no encarado como um processo gerencial, mas como o

resultado da aplicao de uma ou mais tcnicas de preparao dos planos e que, em

20

geral, utilizam informaes pouco consistentes ou baseadas somente na experincia

e intuio dos gerentes (LAUFER e TUCKER, 1987);

b) o controle no realizado de maneira pr-ativa e, geralmente, baseado na troca de

informaes verbais entre engenheiro e mestre-de-obras, visando um curto prazo de

execuo, sem estabelecer vnculo com o plano de longo prazo, resultando, muitas

vezes, na utilizao ineficiente dos recursos (FORMOSO, 1991);

c) a incerteza, inerente ao processo de construo, freqentemente negligenciada.

Isso pode ser evidenciado, principalmente, quando os planos de longo prazo so

excessivamente detalhados, necessitando freqentes atualizaes (LAUFER e

TUCKER, 1987);

d) com freqncia, existem falhas na implementao de sistemas computacionais para

planejamento, por vezes adquiridos e inseridos em um determinado ambiente

organizacional sem que ocorra primeiramente a identificao das verdadeiras

necessidades de seus futuros usurios (LAUFER e TUCKER, 1987);

e) a melhoria do processo de PCP envolve no s aspectos tcnicos, mas tambm

mudanas de carter comportamental. Tais mudanas so necessrias para que

haja um efetivo envolvimento dos agentes do processo de produo no processo de

planejamento (FORMOSO, 1991). A tpica viso da figura do gerente de produo

como um tocador de obras deve ser substituda pela figura do gerente que executa

com correo sua funo mais bsica: o planejamento e o controle da produo.

Em suma, percebe-se que o PCP considerado extremamente importante para o

desempenho da empresa de construo, mas ao mesmo tempo, normalmente, no

conduzido da forma correta de modo que cumpra todas suas funes e potencialidades.

1.4 PROBLEMA DE PESQUISA

Na aplicao do modelo de PCP desenvolvido no NORIE2 pressupe-se que, em qualquer

empreendimento a ser realizado, a empresa responsvel pela incorporao ou construo

do imvel, ou mesmo o proprietrio deste imvel (ou terreno), utilize ou possua alguma

forma de planejamento de longo prazo. Este plano pode ser um cronograma, representado

por um grfico de barras (grfico de Gantt), ou o resultado da aplicao de um pacote

computacional comercial. Embora o referencial terico no qual esto fundamentadas as

2 A partir deste ponto do texto o modelo de PCP desenvolvido no NORIE ser referido simplesmente como modelo de PCP.

21

bases conceituais do modelo de PCP preconize algumas formas e ferramentas de execuo

do Planejamento de Longo Prazo em detrimento de outras, este nvel de planejamento no

foi foco de desenvolvimento no modelo.

Neste mesmo sentido, desde a sua primeira aplicao, durante a consolidao do modelo,

nos estudos de caso realizados por Bernardes (2001), e de acordo com a prpria

recomendao desse e de outros autores (BALLARD e HOWELL, 1997; KOSKELA et al.,

1997; CHOO et al., 1998; SEYMOUR, 2000; ALARCN et al., 2002), o Planejamento de

Curto Prazo o primeiro a ser implementado em empresas que no realizam o

planejamento de maneira formal. Isso deve ocorrer porque, neste nvel, o modelo proposto

utiliza ferramentas simples e de fcil compreenso, promovendo assim uma adaptao e

envolvimento mais rpidos e efetivos.

Por normalmente ser o primeiro passo de implementao, os procedimentos propostos no

modelo de PCP para o nvel de Planejamento de Curto Prazo tm sido implementados e

aprimorados continuamente nos diversos trabalhos realizados por vrios pesquisadores

(BALLARD e HOWELL, 1997; CHOO et al., 1998; FORMOSO et al., 1998; ALVES, 2000;

BERNARDES, 2001). Com isso, o planejamento da produo neste nvel, alcanou um

patamar de desenvolvimento considerado satisfatrio, atingindo seus principais objetivos: o

comprometimento e o envolvimento dos funcionrios operacionais e um mnimo de

estabilizao da produo.

Quanto ao Planejamento de Mdio Prazo (PMP), embora seja sempre destacada sua

importncia na implementao e execuo do processo de PCP (BALLARD e HOWELL,

1997; BERNARDES, 2001; BALLARD e HOWEEL, 2003), muitas vezes, este nvel de

planejamento tem recebido menor ateno. Nos estudos de caso desenvolvidos pelos

integrantes do Grupo GEC do NORIE (FORMOSO et al., 1998; FORMOSO et al., 1999b;

ALVES, 2000; BERNARDES, 2001; MARCHESAN, 2001; SAURIN et al., 2001; SOARES et

al., 2002), e nos trabalhos publicados pelos integrantes do IGLC (BALLARD et al., 1996;

BALLARD e HOWELL, 1997; KOSKELA et al., 1997; CHOO et al., 1998; CHOO e

TOMMELEIN, 1999; COFFEY, 2000; SEYMOUR, 2000; ALARCN et al., 2002) detectou-se

que freqentemente existem relatos de aplicaes de sucesso do nvel de curto prazo.

Porm, nestes mesmos trabalhos somente em poucos casos existem relatos de avanos no

Planejamento de Mdio Prazo.

No modelo apresentado por Bernardes (2001), podem ser encontrados procedimentos de

execuo e implementao integrantes do escopo de funes do PMP. Porm, estas

indicaes se encontram pouco detalhadas quando comparadas, por exemplo, aos

22

procedimentos de execuo do Planejamento de Curto Prazo. A partir da reviso dos

procedimentos propostos no modelo e da reviso bibliogrfica geral, pde-se identificar a

necessidade de refinamento de temas j abordados por Bernardes (2001), alm da

necessidade de definies de novas funes a serem executadas no nvel de mdio prazo

do Planejamento e Controle da Produo.

1.5 QUESTES DE PESQUISA

A partir da discusso apresentada nos itens anteriores neste trabalho, foi proposta a

seguinte questo geral de pesquisa:

Quais so as funes que devem ser cumpridas na execuo do Planejamento de Mdio

Prazo que possibilitem melhoria de desempenho no Processo de Planejamento e Controle

da Produo? .

Partindo desta questo, foram enunciadas as seguintes questes secundrias especficas:

a) Como deve ser realizado o Planejamento de Mdio Prazo de modo que cumpra suas

funes e integre-se ao modelo de planejamento desenvolvido pelo NORIE, seguindo

seu referencial terico?

b) Como implementar, de maneira eficiente, o modelo de PCP desenvolvido no NORIE

no nvel de Planejamento de Mdio Prazo?

1.6 OBJETIVOS

O presente trabalho tem como objetivo geral refinar o modelo de PCP do NORIE, propondo

diretrizes para a implementao do nvel de Planejamento de Mdio Prazo. Foram tambm

definidos os seguintes objetivos especficos:

a) Definir as funes a serem realizadas pelo Planejamento de Mdio Prazo para o

modelo PCP desenvolvido no NORIE;

b) Analisar ferramentas e identificar procedimentos que facilitem a implementao e

execuo do Planejamento de Mdio Prazo.

23

1.7 RESUMO DO MTODO DE PESQUISA

O mtodo de pesquisa empregado no desenvolvimento desta dissertao foi dividido em

trs etapas. A primeira delas compreendeu a realizao de uma pesquisa bibliogrfica e a

conduo de um estudo de caso exploratrio em uma pequena empresa de construo civil.

O objetivo desta etapa foi compreender a forma como vinha sendo realizado o planejamento

da produo no nvel de mdio prazo a partir do modelo de PCP desenvolvido no NORIE,

alm de familiarizar o pesquisador a casos prticos de implementao do modelo de PCP.

As concluses obtidas da reviso bibliogrfica e do estudo de caso exploratrio motivaram a

realizao de uma segunda etapa da pesquisa, com a realizao de dois estudos empricos

em empresas de construo civil de Porto Alegre. O primeiro estudo, no qual a estratgia de

pesquisa utilizada foi pesquisa-ao, teve como objetivo propor e avaliar diretrizes para a

execuo do Planejamento de Mdio Prazo. O segundo estudo emprico tratou-se de um

estudo de caso, na qual se buscou analisar boas prticas utilizadas por uma empresa de

construo civil que vinha alcanando bons resultados de implementao e apropriao dos

procedimentos de execuo do Planejamento de Mdio Prazo.

A partir dos resultados obtidos nos estudos empricos e das indicaes encontradas na

reviso bibliogrfica foi realizada a terceira e ltima etapa da presente dissertao, a

proposio de diretrizes para a implementao do Planejamento de Mdio Prazo.

1.8 ESTRUTURA DO TRABALHO

Alm do presente captulo, no qual foram apresentados o tema, o contexto e a justificativa

do estudo, esta dissertao composta por mais cinco captulos.

No captulo 2 discute-se o Planejamento e Controle da Produo, apresentando as

principais definies e as dimenses utilizadas para caracterizar tal processo. Neste captulo

tambm apresentada a base conceitual que fundamenta o desenvolvimento do presente

trabalho.

No captulo 3 apresentado o modelo de Planejamento e Controle da Produo

desenvolvido no NORIE. So analisadas as principais etapas utilizadas na execuo deste

processo, bem como as funes de cada nvel de planejamento.

24

No captulo 4 apresentado o mtodo de pesquisa utilizado no trabalho. So descritos a

estratgia e o delineamento da pesquisa, assim como so discutidas as principais atividades

realizadas.

No captulo 5 so apresentados e discutidos cronologicamente os resultados obtidos na

pesquisa a partir do estudo exploratrio e dos estudos empricos realizados em duas

empresas de construo civil do Estado do Rio Grande do Sul.

Finalmente, no captulo 6, so apresentadas as principais concluses da pesquisa e so

sugeridos temas para realizao de novos trabalhos relacionados ao Planejamento e

Controle da Produo.

2 PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUO

O presente captulo dedica-se a uma breve discusso da fundamentao terica na qual

est baseado o modelo de PCP e, conseqentemente, os estudos da presente dissertao.

2.1 DEFINIO DE PLANEJAMENTO DA PRODUO

Laufer e Tucker (1987) destacam que o planejamento a principal responsabilidade dos

gerentes, permanecendo sempre como funo principal em qualquer processo de produo.

Para Ackoff3 (1976) apud Bernardes (2001), planejamento pode ser considerado como a

definio de um futuro desejado e de meios eficazes de alcan-lo. Davis e Olson (1987)

afirmam que o planejamento uma funo organizacional que prove infra-estrutura s

atividades operacionais e para a tomada de deciso. Syal et alli (1992) descrevem

planejamento como sendo um processo de tomada de deciso que resulta em um conjunto

de aes necessrias para transformar o estgio inicial de um empreendimento em um

desejado estgio final. Howell e Ballard (1996) afirmam que o planejamento deve produzir

diretrizes que governem os processos de construo. Ballard e Howell (1997) argumentam

que o planejamento consiste na identificao e seleo das atividades e na sua ordenao,

para que possam ser executadas da maneira mais eficiente possvel.

Outras definies de planejamento podem ser encontradas nas mais diversas reas da

administrao da produo. Embora todas as definies citadas estejam de alguma forma

corretas, neste trabalho buscou-se utilizar uma definio que se adequasse melhor ao tema

especfico em estudo. Portanto, para este trabalho, ser adotada a definio de Formoso

(1991), que procura salientar a importncia e vinculao do controle ao processo de

planejamento. Esse autor define planejamento como: ...o processo de tomada de deciso

que envolve o estabelecimento de metas e dos procedimentos necessrios para atingi-las,

sendo efetivo somente se seguido de controle .

2.2 DIMENSES DO PLANEJAMENTO

Laufer e Tucker (1987) afirmam que, para ser mais bem compreendido, o processo de

planejamento pode ser representado atravs de duas dimenses bsicas: a horizontal e a

vertical, as quais esto apresentadas a seguir.

3 ACKOFF, R. Planejamento empresarial. Rio de Janeiro: Livros Tcnicos e Cientficos .1976.

26

2.2.1 Dimenso Horizontal

Na dimenso horizontal, o Planejamento e Controle da Produo dividido em cinco fases

distintas, conforme representado na Figura 1 (LAUFER e TUCKER, 1987).

Figura 1: Dimenso Horizontal do Processo de Planejamento (baseado em LAUFER e TUCKER, 1987).

Na primeira fase, so tomadas decises relativas ao horizonte, ao nvel de detalhes a ser

utilizado, freqncia de replanejamento e ao grau de controle a ser exercido. Na segunda

fase, ocorre a coleta das informaes necessrias para a execuo do planejamento

(anlise de pranchas, especificaes tcnicas, tecnologia a ser utilizada, etc.). Durante a

terceira fase, so tomadas decises baseadas na avaliao das informaes coletadas na

fase anterior. A forma de difuso da informao (quarta fase) deve ser feita de acordo com

os objetivos e necessidades das pessoas para quem essas informaes so dirigidas. O

responsvel pelo planejamento deve decidir a quem e em que formato estas informaes

devem ser transmitidas. A quinta e ltima fase corresponde avaliao do processo de PCP

como um todo, que pode ser usada como base de planejamento de empreendimentos

futuros (LAUFER e TUCKER, 1987).

Analisando o modelo apresentado na Figura 1, percebe-se a existncia de um ciclo contnuo

de controle da produo, que envolve a coleta de informaes e a realizao de aes

corretivas. Nesta Figura, pode-se perceber tambm um ciclo intermitente de controle do

empreendimento. Este ciclo pode ocorrer tanto entre empreendimentos diferentes quanto

durante a execuo do mesmo empreendimento (BERNARDES, 2001).

Planejando o processo de planejamento

Coleta de informao

Preparao dos planos

Difuso da informao

Avaliao do processo de

planejamento

Ao

Ciclo de planejamento

Contnuo

Intermitente

27

2.2.2 Dimenso Vertical

Embora sob diferentes abordagens, configurados por diferentes necessidades, vrios

autores destacam a importncia da diviso do Processo de PCP em diferentes nveis

hierarquizados.

Neale e Neale (1986) afirmam que para obter melhores resultados na gesto de processos,

deve-se dividir o Planejamento e Controle da Produo em nveis hierrquicos. Para esses

autores, isso se deve em funo de que, quando confrontados com a necessidade de

planejamento, muitos planejadores executam seus planos com elevado grau de detalhes,

buscando com isso prever todas as atividades que comporo a execuo do

empreendimento. Porm, esse procedimento s poder ser eficaz se o planejador possuir

um mnimo grau de confiana de que seus planos sero executados como pretendido

(NEALE e NEALE, 1986).

Para esses mesmos autores, a utilizao de nveis hierrquicos de planejamento no s

oferece a possibilidade de melhor gerncia dos processos, a partir da diviso do

planejamento de acordo com seus objetivos, como adiciona maior facilidade de

coordenao. Com a utilizao de diferentes nveis de detalhes nos planos, a quantidade de

informao gerada nas primeiras etapas do empreendimento menor, possibilitando assim

sua melhor utilizao.

Neale e Neale (1986) sugerem os seguintes nveis a serem utilizados no planejamento,

sendo estes diferenciados em seus objetivos:

a) nvel estratgico

refere-se definio dos objetivos do empreendimento, a partir do

perfil do cliente. Envolve o estabelecimento de estratgias para atingir os objetivos do

empreendimento, tais como definio de prazo da obra, fontes de financiamento e

parcerias;

b) nvel ttico

envolve principalmente a seleo e aquisio dos recursos (por exemplo,

tecnologia, materiais e mo-de-obra) necessrios para atingir os objetivos do

empreendimento, alm da elaborao de um plano geral para utilizao, armazenamento

e transporte destes recursos;

c) nvel operacional

relacionado principalmente definio detalhada das atividades a

serem realizadas, seus recursos e momento de execuo.

28

Para Laufer e Tucker (1987; 1988), dentro de uma organizao, os objetivos finais de cada

setor da administrao so diferentes. A alta administrao tem como objetivo identificar

oportunidades futuras de mercado para a empresa e, com base em sua situao atual,

planejar os meios para alcanar essas oportunidades. A administrao de

empreendimentos, sob a viso dos incorporadores ou contratantes da obra, possui objetivos

estratgicos predominantemente financeiros e utiliza o planejamento para antecipar algumas

decises relativas a estes objetivos. A administrao de empreendimentos, sob a viso da

empresa construtora, utiliza o planejamento como base para previses de todas suas

operaes.

Segundo esses mesmos autores, na administrao de empreendimentos sob a viso da

empresa, o planejamento de um empreendimento deve ser encarado como um processo

realizado em muitos estgios e em vrios nveis gerenciais. Esta diviso se faz necessria

pela diferena entre os objetivos buscados em cada nvel gerencial do empreendimento.

Assim, cada etapa do planejamento deve ser executada visando satisfazer as funes

intrnsecas a cada um destes nveis gerenciais. Neste sentido, esses mesmos autores

propem uma diviso representada por trs grandes nveis:

a) nvel dos objetivos

a alta gerncia ou o proprietrio deve-se envolver principalmente

com a determinao dos objetivos e metas do empreendimento, tais como tipo de

empreendimento, custo, prazos e qualidade;

b) nvel dos meios

a mdia gerncia deve estar mais envolvida em garantir os meios

necessrios para atingir os objetivos, fazendo parte de suas funes planejar e

disponibilizar os recursos;

c) nvel das solues

a baixa gerncia deve envolver-se com a seleo das melhores

aes, atravs das quais as metas devero ser alcanadas.

Laufer e Tucker (1987) salientam ainda que, manter a consistncia hierrquica dos planos

uma das principais dificuldades enfrentadas pelos planejadores. Para solucionar este

problema essencial a existncia da sobreposio de funes, sendo que cada nvel

gerencial deve participar, em maior ou menor grau, das decises de planejamento dos

outros nveis.

Melles e Wamelink (1993) defendem a hierarquizao dos planos como uma forma de

melhorar a eficcia no controle. Segundo esses autores, o controle est fortemente ligado

ao processo de tomada de deciso e, quando existe um procedimento pr-definido, a

eficcia da tomada de deciso e, conseqentemente, do controle, tende a ser melhor.

29

Segundo esses mesmos autores, quando no h definio clara dos objetivos a serem

alcanados com a tomada de deciso, no momento da coleta de informaes podem ocorrer

problemas de ambigidade. Assim, talvez, somente informaes pouco relevantes sejam

armazenadas, enquanto que as que deveriam realmente servir de apoio para a tomada de

deciso sejam desprezadas ou armazenadas de forma inadequada.

Buscando alcanar alguma forma de padronizao na tomada de deciso, na indstria

manufatureira, comum que os administradores busquem categorizar os problemas. Neste

processo, Melles e Wamelink (1993) afirmam que primeiramente ocorre a classificao dos

setores dentro da empresa (vendas, marketing, produo), depois a classificao dos tipos

de produtos (seriado ou nico), e, finalmente, a classificao em funo do nvel hierrquico

onde ocorrem estes problemas (linha de produo, mdia gerncia). Com esse

procedimento, espera-se que os problemas que venham a ocorrer, em cada caso particular

de setor, produto e nvel hierrquico, possuam caractersticas comuns, e que possam,

portanto, ser resolvidos por medidas corretivas semelhantes.

Obtida a tipificao dos problemas, a tomada de deciso pode seguir uma seqncia pr-

determinada, na qual os objetivos so prvia e claramente definidos. Desta forma, os meios

para alcanar estes objetivos e as eventuais correes de rumo podem seguir tambm

padres, gerando assim o aumento de eficincia no controle (MELLES e WAMELINK, 1993).

Seguindo a lgica de tipificao dos problemas, a partir da diviso em nveis hierrquicos

diferentes, o controle passa a ser exercido tambm em diferentes nveis. Analogamente, se

o controle exercido em diferentes nveis, o planejamento deve ser realizado igualmente em

nveis hierrquicos distintos. A diviso normalmente utilizada por Melles e Wamelink (1993)

pode ser representada por trs nveis de controle como segue:

a) nvel de controle da empresa

o controle exercido em nvel ttico, tendo como

resultado alinhar as aes com os objetivos estratgicos da empresa (definidos conforme

o ambiente em que a empresa se insere);

b) nvel de controle do empreendimento

so obedecidos os limites impostos pelos

parmetros definidos no nvel de controle da empresa. Dentro de cada empreendimento

existe liberdade suficiente para que a estrutura de controle seja executada de maneira

particular e independente. Neste nvel ocorre ainda uma outra sub-diviso: nvel de

controle agregado e nvel de controle detalhado. No nvel agregado do empreendimento,

as decises so tomadas visando garantir a capacidade de produo, atravs da

previso e disponibilizao dos recursos. No nvel detalhado do empreendimento, as

30

decises so tomadas objetivando alcanar a melhor forma de definio e liberao das

tarefas a serem executadas pela equipes de trabalho;

c) nvel de controle da unidade de produo

neste nvel o controle se d a partir da

comparao dos recursos utilizados e os recursos disponveis, com as tarefas j

executadas e as planejadas. A unidade de produo corresponde a uma equipe de

trabalho.

A Figura 2 mostra a representao hierrquica da diviso em nveis de controle e,

conseqentemente de planejamento, apresentada por Melles e Wamelink (1993).

Empresa

Unidade deproduo

Unidade deproduo

tarefatarefa tarefa

Nvel de controle daunidade de produo

Nvel de controle doempreendimento

Nvel de controle daempresa

Empreendimento Empreendimento

Empreendimento

Unidade deproduo

Empresa

Unidade deproduo

Unidade deproduo

tarefatarefa tarefa

Nvel de controle daunidade de produo

Nvel de controle doempreendimento

Nvel de controle daempresa

Empreendimento Empreendimento

Empreendimento

Unidade deproduo

Figura 2: Diviso Hierrquica do Controle (Adaptado de Melles e Wamelink, 1993)

Na Figura 2 pode-se observar que, no nvel de controle da empresa, os empreendimentos

so primeiramente avaliados em conjunto, buscando o alinhamento entre seus objetivos e

os objetivos estratgicos da empresa. Em seguida, cada empreendimento analisado de

maneira isolada, definindo de que forma seus objetivos sero alcanados. No nvel de

controle do empreendimento as unidades de produo so analisadas conjuntamente,

buscando determinar a forma mais racional de utilizao conjunta de recursos. Depois, cada

unidade de produo analisada isoladamente, objetivando definir e detalhar sua melhor

forma de atuao. No nvel de controle da unidade de produo sua principal funo o

monitoramento da execuo e a coleta de dados.

31

Para Ghinato (1996), a diviso do processo de planejamento em nveis tambm se justifica

pela necessidade de execuo da funo controle. Segundo este mesmo autor, algumas

formas de planejamento s necessitam existir para que ocorra a implementao do

processo de controle.

J para Turner (1993), planejar em uma nica etapa, utilizando somente um nvel de

detalhamento uma das principais armadilhas a serem evitadas quando se planeja

empreendimentos de construo civil. Para melhor ilustrar esta afirmao, esse mesmo

autor compara o planejamento de um empreendimento ao planejamento de uma viagem.

Antes do incio de uma viagem deve-se planejar quais as cidades em que se pretende

chegar ou passar, e determinar uma rota (estradas) para alcanar estes objetivos. Na

formao do plano de viagem deve-se determinar objetivos intermedirios e tentar mant-los

fixos durante toda a viagem, definindo o progresso necessrio (datas marco) a cada etapa

da viagem para alcanar tais objetivos. No decorrer da viagem, deve-se tentar sempre

manter fixa a rota, contudo, se uma estrada que conste na rota inicialmente definida estiver

com problemas que impeam a passagem, deve-se utilizar um desvio de rota. Em muitos

casos, se contata que o desvio escolhido torna-se uma rota melhor do que a inicialmente

planejada. Porm, segundo Turner (1993), no se deve banalizar o uso de desvios, s os

utilizando quando realmente houver uma estrada bloqueada que impea o prosseguimento

da viagem pela rota inicialmente planejada.

Para esse mesmo autor, outra forma possvel de se planejar uma viagem optar por um

plano flexvel. Neste tipo de plano, no existe necessidade de determinar a rota definitiva

entre as duas ltimas cidades antes de chegar at a penltima cidade do trajeto. Isso se

deve ao fato de que, muitas vezes, o viajante no possui as informaes necessrias para

decidir qual a melhor rota a ser utilizada at que chegue a penltima cidade da viagem.

Deve-se, porm, antes do incio da viagem, definir os caminhos provveis, bem como

estimar a distncia entre cidades e planejar o tempo e o custo limites a serem gastos com

essa jornada.

J Hopp e Spearman (1996) justificam a necessidade do processo de planejamento ocorrer

em diferentes nveis em funo dos objetivos do plano. Desta forma, os nveis utilizados por

esses autores so bastante semelhantes aos utilizados por outros autores, como, por

exemplo, Neale e Neale (1986).

Hopp e Spearman (1996) afirmam que, se as conseqncias prticas de uma deciso (neste

caso a gerao de um plano) tm grandes diferenas, o modo de planejar deve consider-

las e ser executado de forma diferente para cada tipo de conseqncia. Desta forma,

32

essencial estabelecer diferentes horizontes de tempo para o processo de PCP, os quais

variam de acordo com os nveis gerenciais e o tipo de organizao, embora sejam

relacionadas s mesmas questes e devam ser consistentes ao longo do tempo. Esses

autores identificam e propem trs nveis a serem utilizados no planejamento de

empreendimentos:

a) nvel estratgico

- neste nvel so avaliadas questes do tipo o que fazer, como fazer,

como financiar, como vender, aonde fazer e aonde buscar os materiais. As decises

tomadas neste nvel devem assegurar um ambiente capaz de alcanar os objetivos

definidos para um determinado empreendimento, planejando a capacidade e local de

produo, bem como a fora de trabalho necessria para isso, com base em estimativas

e previses.

b) nvel ttico

- neste nvel so determinadas questes do tipo que trabalhos e quais

quantidades devero ser executados, quem dever executar o trabalho e que aes

devero ser tomadas para disponibilizar equipamentos. Estas decises devero ser

tomadas avaliando fatores restritivos fsicos e lgicos.

c) nvel de controle4

- neste nvel so avaliadas questes sobre a movimentao de

pessoas e materiais, ajustando o processo e os equipamentos. Tambm podem ser

realizadas simulaes de processos buscando identificar possveis interferncias na

produo, prevendo aes que garantam que o sistema continue progredindo rumo aos

objetivos planejados.

A Figura 3 mostra a diviso do planejamento em nveis sugerida por Hopp e Spearman

(1996).

4 Hopp e Spearman utilizam a palavra control (controle) para definir o horizonte de curto prazo.

33

Cronograma

fsico

Programaodo trabalho

Sequenciamentoe programao

Status do trabalhoem progresso

Simulao em tempo real

Controle dos materiais em tempo real (comparativamente

ao que foi planejado)

Medio do progresso (comparativamente

ao que foi planejado)

Datas e produtos(necessidades dos clientes)

Nvel estratgico

Nvel ttico

Nvel de controle

Cronogramafsico

Programaodo trabalho

Sequenciamentoe programao

Status do trabalhoem progresso

Simulao em tempo real

Controle dos materiais em tempo real (comparativamente

ao que foi planejado)

Medio do progresso (comparativamente

ao que foi planejado)

Datas e produtos(necessidades dos clientes)

Nvel estratgico

Nvel ttico

Nvel de controle

Figura 3: Diviso do Planejamento em Nveis (Adaptado de Hopp e Spearman, 1996)

Conforme pode ser observado na Figura 3, no nvel estratgico, os planos so gerados com

base nas necessidades dos clientes quanto a prazos e datas de concluso. A etapa de

gerao do cronograma fsico acontece em uma fase no qual difcil determinar onde

termina o planejamento estratgico e onde comea o planejamento ttico do

empreendimento. A principal funo do planejamento no nvel ttico determinar o melhor

seqenciamento de execuo. Para isto, utiliza dados de receitas e desembolso (fluxo de

caixa), bem com dados informativos do progresso de execuo coletados no nvel de

controle, alm de serem consideradas as restries seqenciais tecnolgicas. No nvel de

controle a principal funo a programao e controle de atividades de execuo. Neste

nvel, tambm podem ser realizadas simulaes de execuo das atividades com o intuito

de verificar possveis interferncias entre equipes executoras.

Segundo Hopp e Spearman (1996), conforme o horizonte analisado, o grau de detalhes do

planejamento deve variar. Quanto maior o horizonte considerado no plano, menor a

quantidade de detalhes especficos do processo de produo. Quanto mais prximo do

momento de execuo, mais detalhado deve ser o plano. Esses mesmos autores salientam

34

ainda que, qualquer tipo de plano deve ser gerado da forma to simples quanto possvel,

buscando evitar que o detalhamento excessivo reduza sua flexibilidade ou torne sua

execuo de difcil controle. Contudo, o plano tambm deve conter informaes suficientes

para que o executor possa efetuar e controlar a execuo sem que ocorram dvidas sobre

os objetivos ou os meios de alcanar tais objetivos.

Outros autores tambm citam a diviso hierrquica do planejamento como um procedimento

necessrio gerncia dos processos de produo. Shingo (1996) afirma que, normalmente,

o planejamento da produo utilizado no Sistema Toyota de Produo ocorre em trs

estgios:

a) plano agregado de produo

considerado um plano de longo prazo. baseado em

ampla pesquisa de mercado e fornece estimativas aproximadas para a produo;

b) plano mestre de produo

ajusta a estimativa do plano agregado e informa a

produo e os fornecedores destes planos;

c) plano detalhado

fornece a seqncia prtica de produo para a execuo em curto

prazo.

Polloni (2000), investigando os sistemas de informao gerenciais, necessrios integrao

entre nveis de planejamento, utiliza trs nveis semelhantes aos utilizados por Neale e

Neale (1986) e Hopp e Spearman (1996) para ilustrar suas afirmaes:

a) planejamento estratgico

define os objetivos da organizao, os recursos a serem

utilizados para atingir estes objetivos e as polticas para obteno deste recursos;

b) controle executivo

- garante a realizao dos objetivos e a aplicao dos recursos da

maneira mais eficiente;

c) controle operacional

realiza tarefas especficas, consumindo os recursos e tornando

o controle restrito e simplificado, alm de facilitar a previso do tipo de informao

necessria.

Ballard e Howell (1997) destacam que uma das justificativas para a execuo do processo

de planejamento em mltiplos nveis refere-se separao entre o planejamento do

empreendimento e o planejamento da produo, que so usualmente confundidos.

Enquanto ao planejamento do empreendimento cabem decises como o prazo da obra, o

cronograma financeiro, padres de qualidade e estabelecimento de marcos a serem

alcanados durante a execuo, ao planejamento da produo cabe decidir como alcanar

35

tais objetivos, gerando planos de execuo, programando recursos e alocando mo-de-obra

(BALLARD e HOWELL, 1997).

Formoso et al. (1999a) reforam a necessidade de diviso hierrquica do planejamento da

produo. Em funo da complexidade tpica de empreendimentos, da variabilidade de seus

processos e a incerteza inerente ao processo de construo, muitas vezes no se dispe de

todas as informaes necessrias para o planejamento de todo o empreendimento nas

primeiras etapas deste empreendimento. Porm o que se observa em muitos casos a

utilizao, por parte das empresas construtoras, de um nico plano de longo prazo,

confeccionado no incio do empreendimento, buscando prever todas as atividades de

produo existentes, estendendo-se do inicio ao fim do empreendimento. Para Ballard e

Howell (1997), tal cronograma vlido para muitos propsitos tais como fixao de datas

marco, tipos de contratos e previses de receitas e pagamentos. Todavia este cronograma

no deve, e nem pode, ser demasiadamente detalhado no futuro, pois a falta de informao

sobre as reais duraes das atividades cria um ambiente de incerteza tal que impossibilita

previses com elevado grau de confiabilidade.

Segundo Formoso et al. (1999a), se os planos de longo prazo possuem informaes

excessivamente detalhadas, o tomador de deciso tem dificuldade em compreend-las,

alm de gastar muito tempo disseminando e atualizando-as. Se o plano gerado sem o

nvel de detalhes necessrio, pode no ser possvel utiliz-lo para orientar diretamente as

equipes de execuo. Um plano detalhado nas etapas iniciais de um empreendimento pode

ser necessrio e compreensvel em situaes especficas, na qual, por exemplo, os prazos

de execuo devem ser rigorosamente cumpridos, como no caso de reformas em plantas

industriais ou hospitais (BALLARD e HOWELL, 1997).

Indo ao encontro da necessidade da diviso em nveis, Reichmann et al. (1998),

argumentam que as decises em um empreendimento so tomadas ao longo de todo o

processo de planejamento e no somente em um nico momento. Algumas dessas decises

so definidas, preponderantemente, no estgio inicial do empreendimento, enquanto outras

s so decididas em um segundo momento, sendo puxadas pelo incio da produo. Um

terceiro tipo de deciso s surge ao longo da produo, ocorrendo durante todo o perodo

de execuo da obra.

O Quadro 1 resume os nveis propostos pelos autores citados acima, bem como as razes

pelas quais esses autores justificam a necessidade da diviso hierrquica do processo de

planejamento.

36

Autores

Neale & Neale

Laufer & Tucker

TurnerHopp &

SpermanShingo Polloni

Estratgico Objetivos Agregado EstratgicoPlano

agregado de produo

Nvel de controle

estratgico

Ttico Meios Detalhado TticoPlano mestre de produo

Nvel de controle

executivo

Operacional Soluesnvel de controle da unidade de

produo

Nvel de controle

Plano detalhado de

produo

Nvel de controle

operacional

Objetivos do plano

Melles & Wamelink

Nveis

Motivao para diviso

Objetivos do plano

Objetivos do plano

Nvel de controle

do empreend

imento

Eficcia no controle IncertezaObjetivos do

plano Incerteza

Quadro 1: Nveis de Planejamento Propostos e a Motivao para a Diviso

Embora alguns autores utilizem ainda outras etapas de planejamento, visando a

caracterizao de nveis superiores da organizao, no Quadro 1 pode-se notar grande

semelhana entre os nveis propostos pelos vrios autores citados. Estes nveis

representam a diviso hierrquica dentro do ambiente do empreendimento. Cabe ressaltar,

portanto, que o nvel estratgico referido em algumas proposies refere-se a objetivos

estratgicos (prazos e custos) do empreendimento em si e no da organizao.

Tambm pode ser notada certa confluncia na motivao usada para justificar a

necessidade da diviso do processo de planejamento em nveis hierrquicos diferentes. A

maioria dos autores afirma que a necessidade da diviso se d em funo dos objetivos a

serem alcanados com a execuo do planejamento. No nvel mais alto devem ser definidos

os objetivos do empreendimento, enquanto que no nvel mdio devem ser definidos os

meios para alcanar estes objetivos e no nvel mais baixo deve-se especificar como utilizar

estes meios.

A incerteza inerente ao processo de produo tambm aparece em destaque como

justificativa de diviso hierrquica. No caso do especfico do planejamento da produo na

construo civil, a incerteza refere-se diferena entre as informaes disponveis e as

informaes necessrias para a execuo do plano. Assim, deve-se postergar a execuo

do planejamento de algumas etapas especficas da execuo at que essas informaes

estejam disponveis.

Outra motivao citada refere-se necessidade de padronizao do processo de tomada de

deciso. Essa padronizao visa ao aumento de eficcia no controle a partir da

sistematizao do processo de planejamento e controle, pois, segundo Melles e Wamelink

(1993), pode-se obter melhores resultados de desempenho se os objetivos do controle e os

meios para alcan-los so clara e previamente definidos.

37

A exemplo do sistema Last Planner concebido por Ballard e Howell (1997) e do modelo de

PCP apresentado por Bernardes (2001), nesta dissertao sero considerados e utilizados

trs nveis para representar a diviso vertical do processo de planejamento: Planejamento

de Longo Prazo, Planejamento de Mdio Prazo e Planejamento de Curto Prazo.

Embora sempre sendo implementados conjuntamente e tendo sua execuo essencial a

existncia dos nveis de mdio e curto prazo, o Planejamento de Longo Prazo no foi objeto

de estudo da presente dissertao. Quanto ao nvel de curto prazo, embora no tenha sido

considerado inicialmente objeto de estudo desta dissertao, durante os estudos empricos

realizados neste trabalho, este nvel foi alvo de desenvolvimento e avanos em sua forma

de execuo.

2.3 DEFINIO DE CONTROLE

De um modo geral o termo controle tem um grande nmero de significados, incluindo

dominao, comando, checagem, verificao e regulao, alm de, freqentemente, ser

relacionado a monitoramento e avaliao de desempenho (BALLARD, 2000).

Para Turner (1993), controlar significa monitorar o processo de execuo, analisando as

variaes existentes, comparado-as com o que foi planejado, realizando, se necessrio,

aes que corrijam estes eventuais desvios.

Melles e Wamelink (1993) afirmam que o controle est intimamente ligado ao processo de

tomada de deciso e que este processo deve ser realizado continuamente, visando

correo de problemas ocorridos durante o processo de produo.

Hopp e Sperman (1996) definem controle como o processo estruturado pela qual o

progresso checado comparativamente ao que foi planejando e as aes que garantam o

cumprimento do que foi planejado so tomadas.

Para Slack et al. (1997), controle o processo que deve lidar com as variveis que

compem a execuo de um plano, ou que impedem a execuo de um plano. Neste

sentido, para esses mesmos autores, controlar significa refazer os planos ou intervir no

processo de execuo, visando promover o realinhamento do processo de produo ao

plano original.

Segundo Ballard (2000), os problemas ocorridos nos processos de controle tradicionalmente

utilizados na indstria da construo civil, tm suas causas baseadas principalmente no erro

de enfoque da teoria utilizada para desenvolver esses sistemas. Segundo este mesmo

38

autor, normalmente, na construo civil utilizada a teoria clssica de administrao de

empreendimentos industriais. Esta teoria se baseia em uma srie de prerrogativas que

buscam caracterizar o tipo de empreendimento, para depois implementar seus

procedimentos e tcnicas de planejamento.

A primeira destas prerrogativas, segundo Ballard (2000), est vinculada a definio do que

so os arranjos de negcios na forma de empreendimentos. Conforme esse autor, o

conceito normalmente utilizado na teoria clssica para definir um empreendimento de ...

um esforo temporrio para produzir um servio ou um produto nico . A segunda

prerrogativa diz respeito forma de administrao destes empreendimentos. Conforme

Ballard (2000), na teoria clssica de administrao de empreendimentos assumido que

neste tipo de arranjo de negcio, pode e deve existir alguma forma de controle central, com

a existncia de um nico tomador de deciso e vrios executores.

No entanto, estas duas prerrogativas tornam-se contraditrias se forem consideradas na

indstria da construo civil. Para Ballard (2000), se na teoria clssica os empreendimentos

so considerados como sistemas de produo temporrios, na construo civil o ambiente

dinmico e a distncia fsica existente entre o centro de controle e local de execuo

impossibilitam qualquer forma de controle central da produo.

Outro erro de avaliao, segundo Ballard (2000), consiste no fato de que, na teoria clssica

de administrao, os empreendimentos so considerados sistemas de produo

temporrios (por exemplo, elementos pr-fabricados) ligados a outros sistemas de produo

temporrios (montagem dos elementos pr-fabricados) e a sistemas de produo

permanentes (empreiteiros de mo-de-obra). Com isso, o controle no exercido utilizando

ciclos de avaliao intermedirios, sendo voltado somente ao controle dos objetivos de

entrega final do empreendimento.

Para Koskela (1992), nessa lgica, o processo de execuo ocorre somente uma vez, ou

seja, no h repetio ou ciclos de execuo a serem administrados. O controle significa

simplesmente a administrao de mudanas no cronograma (utilizadas para manter sob

controle custos e prazos) e no na forma de execuo do cronograma.

No modelo de controle tradicional (utilizado na teoria clssica de administrao de

empreendimentos) o objetivo do sistema se restringe a prover o empreendimento e seus

executores com informaes que possibilitem a deteco e correo de problemas,

identificando qual unidade de produo est com problemas. Para Ballard (2000), esse

conceito bem diferente do utilizado nos sistemas de controle da produo em indstrias

39

manufatureiras, principalmente nas que empregam sistemas de produo puxados, na qual

o propsito do controle causar eventos conforme o planejado.

Russomano (1995) argumenta que o controle s efetivo se existir a realimentao rpida e

confivel do sistema. Assim, quanto mais simples forem os mtodos, melhores sero os

resultados obtidos. Para Ballard (2000), nesse processo, a exemplo do processo tradicional

de controle de empreendimentos, o primeiro passo a ser cumprido a comparao do

estado atual de execuo com os objetivos parciais inicialmente planejados. Porm,

segundo esse mesmo autor, a grande diferena entre abordagens que, no processo de

controle tradicional a comparao com o planejado o nico passo do sistema de controle.

J no processo de controle industrial, a comparao do executado com o planejado

somente o passo inicial do processo. Depois de coletados, os dados obtidos a partir desta

comparao so retro-alimentados, possibilitando a correo imediata de eventuais desvios.

Para Ballard (2000), mesmo o processo tradicional de controle de empreendimentos mal

empregado. Apesar de, na teoria clssica de administrao, existirem funes de

administrao de integrao, escopo, tempo, custo, qualidade, recursos humanos,

comunicaes, riscos e aquisies, nos moldes atuais somente o custo e o tempo, recebem

ateno dos administradores.

Diante destes problemas, e sendo possvel a analogia entre empreendimentos de

construo civil e os empreendimentos caracterizados na implementao da Teoria Clssica

de Administrao, novas formas de controle tm sido buscadas. Neste mesmo sentido,

Melles e Wamelink (1993) sugerem a adaptao de sistemas de controle utilizados na

indstria manufatureira em detrimento da utilizao de sistemas de controle baseados na

teoria de administrao de empreendimentos. Para esses autores, no controle da produo

de empreendimentos de construo civil, deve-se pensar de forma sistmica, utilizando para

isso nveis hierrquicos de planejamento e controle, bem como ciclos de coleta e anlise de

dados, concludos com funes de deciso.

2.4 O SISTEMA DE CONTROLE LAST PLANNER

Buscando desenvolver um novo sistema de controle que se adaptasse melhor as

caractersticas da construo civil, paralelamente adaptao da Lean Production ao

ambiente da construo civil, Ballard e Howell (1997) desenvolveram o sistema de controle

Last Planner. Ao contrrio do modelo de controle tradicional, proveniente da teoria clssica

da administrao de empreendimentos, o sistema de controle proposto por estes autores se

40

baseia fortemente em conceitos e tcnicas de administrao, utilizados normalmente na

indstria manufatureira.

O sistema de controle Last Planner engloba em seu escopo de execuo no s

ferramentas e tcnicas de controle, mas tambm formas de planejamento que objetivam

melhores condies de controle sobre o empreendimento. Este sistema integra novas

funes aos nveis hierrquicos do PCP, objetivando a proteo da produo a partir do

aumento da confiabilidade dos planos gerados (BALLARD, 2000).

O ltimo planejador, ou seja, a pessoa (ou grupo de pessoas) encarregada de executar,

dentro da hierarquia do processo de planejamento, o ltimo plano antes da execuo da

tarefa planejada, possui tarefas especficas dentro do sistema Last Planner. Sua principal

funo ajustar a necessidade de cumprimento de cronogramas capacidade de execuo

das equipes, baseado na situao atual do processo de produo. Este planejador deve

possuir todas as informaes necessrias de modo a garantir sua capacidade de determinar

as tarefas que podem ser executadas, a partir das tarefas que deveriam ser executadas e,

ento, definir as tarefas que sero executadas no perodo seguinte de trabalho (BALLARD,

2000).

A situao do processo de produo diz respeito disponibilidade de recursos (fluxo de

caixa, materiais, equipamentos, e mo-de-obra) e tarefas pr-requisito. O produto do

trabalho do ltimo planejador um plano que quase no possui flexibilidade e

suficientemente detalhado para que no ocorram dvidas de como este plano dever ser

executado, sendo direcionado diretamente aos responsveis pela execuo das tarefas.

Neste plano, gerado durante a reunio de Planejamento de Curto Prazo, constam pacotes

de trabalho designados especificamente a determinadas equipes de execuo. Entende-se

por pacotes de trabalho a quantidade de trabalho definida por trs elementos essenciais

(ao, elemento, local), cuja terminalidade deve ser facilmente identificada5 (MARCHESAN,

2001).

O sistema de controle Last Planner dividido em dois componentes principais: o controle da

unidade de produo e o controle do fluxo de trabalho. A funo do primeiro componente

gerar, progressivamente, melhores planos, atravs da aprendizagem contnua e de aes

corretivas. Normalmente, as funes deste componente so cumpridas durante a execuo

do Planejamento de Curto Prazo. O papel do segundo gerar pr-ativamente o fluxo

trabalho atravs das unidades de produo, na melhor seqncia e custo possvel.

5 Exemplo de pacote de trabalho: elevao da alvenaria de vedao interna do pavimento 4.

41

Normalmen