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Conselho Editorial: Álvaro Sérgio Weiler Junior, Anna Claudia de Vasconcellos, Carlos Castro, Davi Duarte, EstanislauLuciano de Oliveira, Fernando Abs da Cruz, Gisela Morone, Isabella Gomes Machado, Jair Mendes, Júlio Greve,Luciano Caixeta Amâncio, Marcelo Dutra Victor e Roberto Maia|Jornalista responsável: Mário Goulart Duarte (Reg.Prof. 4662) - E-mail: [email protected].|Projeto gráfico: Eduardo Furasté|Editoração eletrônica: JoséRoberto Vazquez Elmo|Capa e contracapa: Eduardo Furasté|Ilustrações: Ronaldo Selistre|Tiragem: 1.000exemplares| Impressão: Gráfica Pallotti|Periodicidade: Mensal.A ADVOCEF em Revista é distribuída aos advogados da CAIXA, a entidades associativas e a instituições de ensino ejurídicas.

Fevereiro | 20112

www.advocef.org.br – Discagem gratuita 0800.601.3020

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS ADVOGADOSDA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

DIRETORIA EXECUTIVA 2011-2012Presidente: Carlos Alberto Regueira de Castro e Silva (Recife)Vice-Presidente: Anna Claudia de Vasconcellos (Florianópolis)1º Secretário: Luciano Caixeta Amâncio (Brasília)2º Secretário: Jair Oliveira Figueiredo Mendes (Salvador)1º Tesoureiro: Isabella Gomes Machado(Brasília)2º Tesoureiro: Estanislau Luciano de Oliveira (Brasília)Diretor de Articulação e Relacionamento Institucional:

Júlio Vitor Greve (Brasília)[email protected]

Diretor de Comunicação, Relacionamento Interno e Eventos:Roberto Maia (Porto Alegre)[email protected]

Diretor de Honorários Advocatícios:Álvaro Sérgio Weiler Junior (Porto Alegre)[email protected]

Diretor de Negociação Coletiva:Marcelo Dutra Victor (Belo Horizonte)[email protected]

Diretor de Prerrogativas:Pedro Jorge Santana Pereira (Recife)[email protected]

Diretor Jurídico:Fernando da Silva Abs da Cruz (Porto Alegre)[email protected]

Diretor Social:Elenise Peruzzo dos Santos (Porto Alegre)[email protected]

REPRESENTANTES REGIONAISBianco Souza Morelli (Aracaju)|Tânia Maria Trevisan (Bauru)|PatrickRuiz Lima (Belém)|Leandro Clementoni da Cunha (Belo Horizonte)|JúlioVitor Greve (Brasília)|Ricardo Tavares Baraviera (Brasília)|Lya RachelBasseto Vieira (Campinas)|Alfredo de Souza Briltes (Campo Grande)|Daniele Cristina das Neves (Cascavel)|Juel Prudêncio Borges (Cuiabá)|Susan Emily Iancoski Soeiro (Curitiba)|Edson Maciel Monteiro(Florianópolis)|Maria Rosa de Carvalho Leite Neta (Fortaleza)|Ivan SergioPorto Vaz (Goiânia)|Isaac Marques Catão (João Pessoa)|Rodrigo TrezzaBorges (Juiz de Fora)|Altair Rodrigues de Paula (Londrina)|DioclécioCavalcante Neto (Maceió)|Raimundo Anastácio Carvalho Dutra Filho(Manaus)|José Irajá de Almeida (Maringá)|Carlos Roberto de Araujo(Natal)|Daniel Burkle Ward (Niterói)|João Batista Gabbardo (NovoHamburgo)|Pablo Drum (Porto Alegre)|Bruno Ricardo Carvalho de Souza(Porto Velho)|Justiniano Dias da Silva Júnior (Recife)|Sandro EndrigoChiarotti (Ribeirão Preto)|Carlos Eduardo Leite Saboya (Rio deJaneiro)|Jair Oliveira Figueiredo Mendes (Salvador)|Fabio Radin (SantaMaria)|Antonio Carlos Origa Júnior (São José do Rio Preto)|FláviaElisabete Karrer (São José dos Campos)|Virginia Neusa Lima Cardoso(São Luís)|Roland Gomes Pinheiro da Silva (São Paulo)|Edvaldo MartinsViana Júnior (Teresina)|Tiago Neder Barroca (Uberaba)|Luciola PereiraVaconcelos (Uberlândia)|Angelo Ricardo Alves da Rocha (Vitória)|AldirGomes Selles (Volta Redonda)CONSELHO DELIBERATIVOMembros efetivos:Davi Duarte (Porto Alegre), Renato Luiz Harmi Hino(Curitiba), Alfredo Ambrósio Neto (Goiânia), Juliana Varella Barca deMiranda Porto (Brasília) e Elton Nobre de Oliveira (Rio de Janeiro).Membros suplentes: Antônio Xavier de Moraes Primo (Recife), FábioRomero de Souza Rangel (João Pessoa) e Jayme de Azevedo Lima(Curitiba).CONSELHO FISCALMembros efetivos: Gisela Ladeira Bizarra Morone (Brasília), RogérioRubim de Miranda Magalhães (Belo Horizonte) e Adonias Melo de Cordeiro(Fortaleza).Membros suplentes: Daniele Cristina Alaniz Macedo (São Paulo) eMelissa Santos Pinheiro Vassoler Silva (Porto Velho).Endereço em Brasília/DF:SBS, Quadra 2, Bloco Q, Lote 3, Sala 1410 | Edifício João CarlosSaad | CEP 70070-120 | Fone (61) 3224-3020E-mail: [email protected] | Gerente financeira: Ana NietjaMendes Nunes | Assistentes administrativas: Gleici Kelly e PriscilaChristiane da Silva.

| Editorial

As opiniões publicadas são de responsabilidade de seus autores,não refletindo necessariamente o pensamento da ADVOCEF.

Nesta edição de fevereiro,a Revista editada pelaADVOCEF continua trazendorelatos, histórias e depoimen-tos de pessoas ligadas à advo-cacia da CAIXA.

Refletindo acerca da histó-ria recente e também do pas-sado mais distante, homens emulheres integrantes de nos-sa categoria trazem homena-gens e lembranças de outroshomens e mulheres que sedestacaram no cenário desteséculo e meio de existência dainstituição.

E, como não poderia deixarde ser, referem à unanimidadea importância da existência eda participação dos advogadose das advogadas para a própriaconstituição, evolução e desen-volvimento da CAIXA nas diver-sas realidades históricas porque passou o país no cursodesse longo tempo.

As declarações, como já seafirmou desde a edição anteri-or deste órgão, integram as ho-menagens prestadas pelaADVOCEF alusivas ao aniversá-rio da Empresa, comemoradoem janeiro e cujos registrosavançarão no curso deste ano.

Depoimentos vários, com osmais diversos matizes eenquadramentos, fazem desta

A história guardamuitas histórias

Diretoria ExecutivaDiretoria ExecutivaDiretoria ExecutivaDiretoria ExecutivaDiretoria Executivada ADVOCEFda ADVOCEFda ADVOCEFda ADVOCEFda ADVOCEF

edição mais um pequeno gran-de mosaico representativo dadiversidade de opiniões de in-tegrantes da área jurídica.Mas, todos, sem exceção, con-vergem na direção do reconhe-cimento da participação dosadvogados na construção emanutenção de um quadro téc-nico forte, comprometido comos mais importantes desígniosde uma instituição mais do quesecular.

Outros tópicos desta ediçãotrazem informações atuais,selecionadas dentre aquelasque mais atenção e destaquemerecem, em razão da realida-de experimentada por nossosassociados e comunidade jurí-dica em geral.

Amenidades também nãoescapam das páginas seguin-tes: com manifestações de vá-rios profissionais, desvelam-seinteressantes análises e con-clusões acerca de uma dasmais importantes obras do nos-so grande Machado de Assis.Para uma comunidade depen-dente de leitura e erudição, umamatéria de importância, ao mes-mo tempo histórica e atual.

Boa leitura a todos.

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Fevereiro | 2011 3

| Entrevista

A história do Jurídico

Obras da historiadoraAs principais pesquisas da historiadora Elizabeth Torresini resultaram em várias

publicações, como:! Modernização e urbanização no Brasil (organizadora), EDPURS, 1998;! Editora Globo: uma aventura editorial nos anos 30 e 40, Editora da USP e

Editora da UFRGS,1999);! Hospital Moinhos de Vento: 75 anos de compromisso com a vida, HMV, 2002;! História de um sucesso literário: Olhai os lírios do campo de Erico Veríssimo,

Literalis, 2003;! UNICRED Porto Alegre: 15 anos de cooperativismo de crédito, Unicred,

2005;! História e Literatura: ensaios, Literalis, 2007; Vonpar:

a marca do desafio, Vonpar, 2009;! História dos Livros no Rio Grande do Sul (capítulo).

In: ABREU, Márcia; BRAGANÇA, Aníbal. Impresso noBrasil - Dois séculos de livros brasileiros, EditoraUnesp, 2010.Elizabeth também desenvolveu trabalho de

curadoria para exposições como a dos 100 anos deErico Veríssimo, patrocinada pelo Governo do Estadodo Rio Grande do Sul, em 2005, e dos 80 anos doHospital Moinhos de Vento de Porto Alegre, em 2007.

Por encomenda da ADVOCEF, a professo-ra e historiadora Elizabeth W. R. Torresini pre-para um livro para ser publicado em 2011sobre a história do Jurídico da CAIXA. O projetoencampa o espírito das comemorações dos150 anos da CAIXA.

Ainda na etapa de levantamento dos da-dos, a historiadora revela que, ao chegar àdécada de 1990, se deu conta de que a cria-ção da ADVOCEF coincidia com um riquíssimoe conturbado momento da história brasileira.

"Senti uma espécie de alegria ao perce-ber que, enquanto o governo Collor finalizavadaquela maneira inédita e triste, os advoga-dos da CAIXA estavam refletindo sobre os des-dobramentos das últimas políticas públicasadotadas para a instituição."

Leia a entrevista.

ADADADADADVVVVVOCEF EM REVISOCEF EM REVISOCEF EM REVISOCEF EM REVISOCEF EM REVISTTTTTAAAAA - Como rece-beu a oportunidade de escrever sobre as ori-gens do Jurídico da CAIXA?

ELIZABETH TORRESINIELIZABETH TORRESINIELIZABETH TORRESINIELIZABETH TORRESINIELIZABETH TORRESINI - No primeiromomento, recebi o convite com alegria e comintensa curiosidade pela história da CAIXA,essa instituição que nos é tão familiar. Logo,avaliei a enorme responsabilidade que seriadesenvolver uma pesquisa histórica de tama-nha amplitude. Pesquisar e escrever sobre umséculo e meio de história da Caixa Econômica

Federal, considerando também o tempo limi-tado e o fantástico crescimento da instituição,é hoje o centro das minhas preocupações depesquisadora.

ADVOCEFADVOCEFADVOCEFADVOCEFADVOCEF - Qual o papel que a CAIXA re-presenta na história do país?

ELIZABETHELIZABETHELIZABETHELIZABETHELIZABETH - Acredito que a história dodesenvolvimento social do Brasil não pode sercontada sem a avaliação do papel desempe-nhado pela CAIXA. Sintetizando alguns aspec-tos, em primeiro lugar, ainda no século XIX,quando o sistema bancário brasileiro é muitofrágil, o estímulo à poupança trazido com a

criação das Caixas éuma abertura para oexercício da cidada-nia e do respeito à for-ça da economia popular. Depois de 1934, asCaixas trazem o sonho da casa própria parauma população que não teria outros meios deconcretizá-lo. Ao longo das últimas décadas,além da habitação, do crédito estudantil, dasloterias, dos projetos de saneamento einfraestrutura, entre outros, a CAIXA responsa-biliza-se pela segurança do FGTS dos traba-lhadores brasileiros. Esse patrimônio decredibilidade é motivo de orgulho para todosnós.

ADVOCEFADVOCEFADVOCEFADVOCEFADVOCEF - O que os associados daADVOCEF podem esperar da obra?

ELIZABETH ELIZABETH ELIZABETH ELIZABETH ELIZABETH - Creio que os associadospodem esperar a comprovação da importan-te participação dos advogados na construçãoda história da Caixa Econômica Federal. Tra-balho sempre com foco nessa ideia, aliás, nãomuito difícil de ser comprovada.

ADVOCEF ADVOCEF ADVOCEF ADVOCEF ADVOCEF - Que tipos de dificuldades, seexistem, tem encontrado no trabalho?

ELIZABETHELIZABETHELIZABETHELIZABETHELIZABETH - Em geral, as dificuldadesiniciais de qualquer pesquisa prendem-se àseleção das fontes necessárias àreconstituição histórica. Uma vezselecionadas, organizadas e fichadas, abre-se a etapa da elaboração textual, exigindooutras opções e decisões, quando já se sabeque não é possível incluir tudo no livro. A van-tagem da pesquisa da história da CAIXA é obom número de obras escritas sobre o tema,todas elas de alto valor histórico.

ADVOCEFADVOCEFADVOCEFADVOCEFADVOCEF - Poderia destacar já algum epi-sódio interessante descoberto na pesquisa?

ELIZABETHELIZABETHELIZABETHELIZABETHELIZABETH - Penso que o episódio maisinteressante foi a descoberta das razões dacriação da ADVOCEF. Realizei, primeiramen-te, um estudo cronológico da história da CAI-XA, acompanhando todas as etapas do seudesenvolvimento para montar uma linha detempo. Quando cheguei à década de 1990,dei-me conta de que o aparecimento da Asso-ciação coincidia com um riquíssimo e contur-bado momento da história brasileira. Senti umaespécie de alegria ao perceber que, enquantoo governo Collor finalizava daquela maneirainédita e triste, os advogados da CAIXA esta-vam refletindo sobre os desdobramentos dasúltimas políticas públicas adotadas para a ins-tituição. Vi que aquele era bom começo parauma trajetória associativa e para as páginasiniciais do livro.

|Elizabeth: as razões da criação da ADVOCEF

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Fevereiro | 20114

| Entrevista

A CAIXA e o advogadoResumo de uma "trajetória bonita e vitoriosa" de 150 anos

|Getulio: o advogado evoluiu com a CAIXA

A área jurídica da CAIXA já se cha-mou Cojur (Consultoria Jurídica), Surid(Superintendência Jurídica), Geaju (Ge-rência de Área Jurídica), Surid de novo e,hoje, Dijur (Diretoria Jurídica). Mas a no-menclatura é o que menos importa, afir-ma o advogado Getulio Borges da Silva,porque a atuação jurídica nunca saiu dedois eixos básicos - assessoria ao admi-nistrador e defesa da instituição no am-biente contencioso. Getulio localiza o iní-cio do Jurídico, em sentido informal, jun-tamente com a fundação da CAIXA, em1861, concretizada através do decretodo imperador D. Pedro II - redigido, natu-ralmente, por um "homem das leis".

Getulio se desligou da CAIXA em2009, após 35 anos de trabalho (25 anoscomo advogado, gerente jurídico e con-sultor jurídico). Tem pós-graduação emDireito Econômico e Empresarial pelaFundação Getúlio Vargas e mestrado emRelações Internacionais para o Mercosulpela Unisul de Florianópolis. Escreveu olivro "Caixas Econômicas - A Questão daFunção Social", publicado em 2004, pelaEditora Forense (um capítulo da obra, queressalta a participação jurídica na histó-ria da CAIXA, foi publicado no suplemen-to Juris Tantum da edição de janeiro des-ta Revista). Getulio é sócio do escritórioBorges & Poleto Advogados, com sedeem Florianópolis.

Veja a seguir trechos extraídos da en-trevista concedida pelo advogado, noprojeto de comemoração dos 150 anosda CAIXA.

O jurista e as origensda Empresa

"No caso da criação da Caixa Eco-nômica Federal, no ano de 1861, haviaum cunho social e um objetivo econômi-co cuja sustentação dependia do Jurídi-co. A preocupação social estava na linhaque a Europa vinha seguindo desde otérmino das guerras napoleônicas, ouseja, criar condições para que as pesso-as pudessem se desenvolver e ascender

socialmente; o objetivo econômico eraformar uma poupança nacional a partirdas reservas populares até entãomantidas 'debaixo do colchão'. Mas es-sas ideias só ganharam realidade com aconstituição legal da instituição CaixaEconômica, que se deu por meio de de-creto do imperador D. Pedro II. Não é difí-cil perceber, então, que aí, na redaçãodo primeiro documento da história daCaixa Econômica do Império, aparece otrabalho do "homem das leis", o jurista.Quem foi esse homem, ou quem foramesses homens? Barão de Mauá, Viscon-de de Itaboraí e outros mais que domi-navam o conhecimento no mundo dosnegócios e no mundo jurídico. Não nosesqueçamos que naquela época raroseram os filhos de famílias brasileiras quepodiam cursar Direito em Coimbra. NoBrasil ainda não havia faculdade de Di-reito. Aliás, não havia curso superior al-gum.

Mas não só na constituição estevepresente o jurista. Em todos os demaisatos transformadores da CEF, a mão doadvogado, sobretudo, a inteligência doadvogado esteve presente. Um dos maisnotáveis foi Inglez de Souza - tambémcriador do Estatuto da Sociedade porCotas de Responsabilidade Limitada.Inglez de Souza redigiu o texto da primei-ra grande transformação das então Cai-xas Econômicas, ocorrida por volta de1915, portanto, mais de 50 anos após asua criação. Outras reformas ocorrerame sempre tiveram os juristas na linha defrente: na reforma de Getúlio Vargas, nosanos 1930; na unificação das CaixasEconômicas e na criação da empresapública em 1969; na passagem da insti-tuição para o modelo de mercado nosanos 1980; na reestruturação dos anos1990 com o ingresso da CEF no merca-do de capitais; mais recentemente, nainternacionalização da instituição, na im-plantação das operações de câmbio, nacriação de escritórios no exterior e na cri-ação do banco de investimentos."

A defesa da instituição"A história da CAIXA e as questões

jurídicas estão conectadas de uma talforma que não há como falar de umacoisa sem ligá-la a outra. É o caso dasações judiciais dos mutuários do SFH quedesde o final da década de 1970 causa-ram uma revolução na estrutura da áreajurídica e afetaram profundamente a es-trutura da CAIXA. Basta dizer que se ge-rou um volume de créditos imobiliáriosnão quitados em montante suficientepara inviabilizar a continuidade da insti-tuição como banco. Tanto que para eli-minar esses ativos de liquidação duvido-sa, então cunhados como 'ativos podres',a Empresa foi praticamente cindida emduas. Foi criada uma nova empresa pelogoverno federal, a Emgea (EmpresaGestora de Ativos) no ano de 2001, numaengenhosa operação que evolveu aspec-tos políticos, econômicos e jurídicos. Fo-ram excluídos, então, os ativos represen-tados por contratos de mutuários do SFHem conflito com a CAIXA e substituídospor outros ativos de qualidadeinquestionável. O Jurídico teve papel fun-

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Fevereiro | 2011 5

| Aniversário

Fevereiro | 2011 5

Festa de 150 anos

|Na celebração: Antonio Carlos, Marcos Kafruni, Jailton Zanon,Alaim Stefanello, Jorge Hereda (vice-presidente da CAIXA), Anna

Vasconcellos, Carlos Castro, Ricardo Siqueira e Paulo Ritt

damental na defesa da instituição, nãosó atuando nesses milhares de proces-sos judiciais, mas representando a CAI-XA nos diversos foros de discussão quese formaram durante aquele período tur-bulento, assim como em momentos degrandes decisões políticas."

A participação nacional"A CAIXA é um ente político, afinal,

pertence integralmente à União e é umórgão da política do governo. Sendo as-sim, não é possível dissociar a atividadeda CAIXA da atividade de política de qual-quer governo. Todavia, há momentos po-líticos que são mais marcantes que ou-tros, assim como uns são duradouros,enquanto outros são passageiros.

Um caso emblemático na história daCAIXA e que a marcou profundamentenos últimos 50 anos foi a políticahabitacional criada a partir da lei 4.380de 1964. Aquele momento político ex-

tremamente delicado, que marcou o iní-cio da ditadura militar, culminou com atransformação da Caixa Econômica Fe-deral no principal instrumento de execu-ção da política habitacional brasileira,papel este que perdura até os dias atu-ais. O advogado, o jurista, esteve presen-te tanto na concepção legal do SFH quan-to da lei da unificação das Caixas Econô-micas (Decreto nº 759 de 1969). As duasleis ainda são estatutos básicos da polí-tica habitacional e CEF.

Outro momento político muito impor-tante e bem mais recente foi a amplia-ção do papel da CAIXA durante a décadade 1990. A instituição passou a ser o prin-cipal agente financeiro no repasse de re-cursos do Orçamento Geral da União(OGU) para estados e municípios. É umserviço de valor inestimável, pois permi-te a alocação eficaz do dinheiro públicoe evita o desvio dos recursos orçamentá-rios. Infelizmente pouco conhecida da

população em geral, essa atividade daCAIXA permite o acompanhamento dacontratação de projetos até a execuçãoe entrega de obras e serviços à popula-ção. O trabalho do advogado, junto comoutros profissionais da CEF, gerentes,engenheiros, assistentes sociais, audito-res, etc., sustenta e fortalece a institui-ção. A CAIXA é forte porque valoriza aqualidade técnica dos seus profissionaisnas diversas áreas e nas diversas fasesdos processos operacionais."

O advogado da CAIXA "A CAIXA tem uma trajetória bonita,

vitoriosa em todos os sentidos, porqueparticipa da evolução do Brasil há umséculo e meio. A imagem da instituiçãoevoluiu na mesma proporção em que elase qualificou. Nesse processo o advoga-do foi um dos profissionais que teve pa-pel indispensável e por isso evoluiu coma CAIXA."

Os advogados da CAIXA participaramda cerimônia que reuniu em Brasília,em 12 de janeiro, 1.500 pessoas, entrediretores e empregados, para comemo-rar os 150 anos da Empresa.

Em seu discurso, a presidente Ma-ria Fernanda Ramos Coelhodisse que a logomarca cria-da para o evento, com oabraço ao mapa do Brasil,significa que a Empresa in-veste na inclusão social e noacesso ao crédito.

O presidente daADVOCEF enviou mensa-gem à presidente da CAIXA,reafirmando "o compromis-so dos advogados com tudoo que nossa Empresa repre-senta para a nação e a im-portância de seu trabalhosocial em favor do povo bra-sileiro".

Carlos Castro comunicou a MariaFernanda que "a presença da companhei-ra de tantas lutas, e querida amiga, na Pre-sidência da nossa secular instituição têmnos orgulhado enquanto empregados daCAIXA".

Haicai

toda a vida em verso

futuro estará presente

uma instituição

FFFFFrancisco Spisla (*)rancisco Spisla (*)rancisco Spisla (*)rancisco Spisla (*)rancisco Spisla (*)

Advogado da CAIXAAdvogado da CAIXAAdvogado da CAIXAAdvogado da CAIXAAdvogado da CAIXAem Londrina/PR.em Londrina/PR.em Londrina/PR.em Londrina/PR.em Londrina/PR.

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Fevereiro | 20116

| Depoimento

Querem matar a juíza?Marcelo Roale (*)

Nestes quase vinte e sete anos de car-reira tive a oportunidade de presenciar situ-ações que à primeira vista nem parecemverdadeiras, de tão inusitadas e surpreen-dentes que são.

Permito-me, então, contar apenasuma das muitas que me aconteceram. Nãovejo nada de mais em citar o verdadeironome das pessoas envolvidas, já que nãome pediram segredo e, a rigor, os fatos re-latados não são capazes de denegrir assuas imagens (pelo menos não porcompleto).

No início dos anos 90 eu ocu-pava uma Gerência de Núcleo doJurídico Regional do Rio de Ja-neiro, nomenclatura correspon-dente na época à de coordena-dor nos dias de hoje.

Na Seção Judiciária do Riode Janeiro era titular de uma dasvaras federais a Dra. TanyraVargas, que ostentava tal sobre-nome não por acaso ou por ho-menagem ao falecido presiden-te, mas sim por ser de fato sobri-nha-neta do próprio GetúlioVargas.

Há poucos meses, soube compesar do seu falecimento, não tendopodido, entretanto, ir ao seu enterro, maisuma vez em virtude dos inúmeros afazeresexigidos pela CAIXA.

O fato é que estava trabalhando demanhã em minha sala, quando recebi umtelefonema do gerente da Agência Cario-ca, Arnaldo Linhares, dando conta de quea Dra. Tanyra havia deferido uma liminarinaudita altera pars, liberando uma impor-tância astronômica bloqueada pelo PlanoCollor, em favor dos integrantes de umaassociação da qual não me recordo bem onome.

Era de fato muito dinheiro, o que levouo gerente, sobressaltado, a me procurar, natentativa de que encontrássemos uma so-lução para que não se efetivasse uma san-gria tão grande nos cofres da CAIXA.

Pois bem, ele veio ao Jurídico, e juntosfomos até o gabinete da magistrada, na ten-tativa de demovê-la de sua decisão.

Na antessala do gabinete, demos o azarde encontrar exatamente com o advogadoda associação, que já se mobilizava paraefetuar a busca e apreensão do dinheiro.

Pois bem. A Dra. Tanyra mandou quenós dois entrássemos, tendo o gerente fica-do na sala de espera.

Apressadamente relatei à juíza que suadecisão importava na retirada de uma im-portância realmente astronômica da CAIXA

e que, a persistir aquela liminar, corria-se orisco até de quebrar a empresa pública. Earrematei dizendo: "Imagine o seu nomeamanhã nos jornais, apontada como cau-sadora da quebra de uma empresa como aCAIXA".

Percebi que meus argumentos balan-çaram a magistrada, que imediatamente re-trucou: "Não, não podemos deixar que aCAIXA quebre, vamos alterar esta decisãoimediatamente..."

Mas o meu nobre ex adversus não sedeu por vencido. Estávamos no final do mêsde novembro, início de dezembro, e ele namesma hora se saiu com esta: "Mas, Dra.Tanyra, os beneficiários são pessoas já decerta idade, que contam com este dinheiropara poderem proporcionar um Natal me-lhor para suas famílias, isto depois de tan-

tos anos enfrentando esta grave crise eco-nômica que assola o país. A senhora querser responsável por um Natal de fome paraestas pessoas, que já acalentam a espe-rança de um final de ano melhor para osseus?"

Diante da nova colocação, a magistradarespondeu sem pestanejar: "Não, devemosproporcionar um Natal melhor para estaspessoas, vamos manter a decisão".

E eu entrei imediatamente na conver-sa, ponderando: "Mas, Dra. Tanyra, a se-

nhora vai então quebrar a Caixa Econô-mica?"

E ela respondeu: "É verdade, nãoposso quebrar a CAIXA".

E o meu opositor mais umavez sustentou: "Mas, Dra. Tanyra,são pessoas bastante idosas eque dependem deste dinheiropara um Natal melhor para suasfamílias..."

E a Dra. Tanyra mais uma vezvoltou atrás: "Não, não podemosfrustrar estas famílias logo no Na-tal".

O fato é que essa situação per-durou por vários minutos, com a

magistrada ora concordando com um, edecidindo pela manutenção da liminar, oraconcordando com outro, dizendo que ia mo-dificar sua decisão, até que numa determi-nada hora ela gritou em alto e bom som:"Vocês querem é matar a juíza", e saiu cor-rendo para o banheiro do gabinete, onde setrancou.

Ficamos eu e o advogado da associa-ção esperando por ela por quase uma horae ela simplesmente não saiu mais do ba-nheiro. Não tivemos outra alternativa senãoir embora, cada um para o seu canto, abso-lutamente desconcertados.

Mas o fato é que a busca e apreensãoacabou não sendo realizada, o que não dei-xou de representar uma grande vitória paraa CAIXA.

Qualquer dia eu conto outra.

(*) Advogado da CAIXA no(*) Advogado da CAIXA no(*) Advogado da CAIXA no(*) Advogado da CAIXA no(*) Advogado da CAIXA noRio de Janeiro/RJ.Rio de Janeiro/RJ.Rio de Janeiro/RJ.Rio de Janeiro/RJ.Rio de Janeiro/RJ.

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Fevereiro | 2011 7

Júlio Greve (*)

Assumi minhas funções de advoga-do em maio de 1984 no Jurídico Regio-nal da Paraíba. Naquele Jurídico traba-lhavam apenas três advogados. Dois (Dr.Nicácio e Dr. Manoel Airton, ambos já fa-lecidos) já próximos da aposentadoria euma advogada (Dra. Sineide) quetrabalhava exclusivamente nacontratação de empréstimoshabitacionais.

O chefe do Jurídico, Dr. Nicácio,era do tipo bonachão. Logome adotou como 'filho'. Noinício me levava diaria-mente para almoçar emsua residência. Era uma'lauta mesa', como elemesmo dizia.

Com dois meses no Jurídi-co, me levou para acompanhá-lo em uma sindicância no altosertão da Paraíba, na cidadede Cajazeiras, distante 500km de João Pessoa.

Ele resolveu viajar emseu próprio veículo. A via-gem, que deveria durarumas seis horas, come-çou no domingo pela ma-nhã, chegando ao destinosomente na segunda-feirapela manhã. A demora sedeveu a diversas 'paradasetílicas'.

A volta, uma semana de-pois, demorou o mesmo tan-to."

O uso dosneurônios

Quando cheguei ao Jurídico daParaíba, em 1984, meus colegas Dr.Nicácio e Dr. Manuel Airton já estavamem contagem regressiva para a aposen-tadoria. Praticamente todos os dias, nofim da tarde, se dirigiam a um barzinhologo em frente ao prédio da Filial da CAI-XA, para o tradicional happy hour. Vez em

| Depoimento

Minhas históriasda Paraíba

quando, após insistentes convites, eu osacompanhava. Os dois arengavam mui-to um com o outro. Vez por outra me dei-xavam como mediador e, por isso, eu jánão os acompanhava muito. Os doiseram uns "paizões" para mim.

Certa feita, naquele momento etílico,Dr. Airton, como preferia ser chamado,questionou o Dr. Nicácio quanto à poucaparticipação deste nas atividades rotinei-ras do Jurídico, sugerindo-lhe que fizes-se maior uso dos seus neurônios paraevitar a sua morte em massa.

Dr. Nicácio calou-se, naquela hora.Acredito que ele não tenha entendidobem a "tirada" do Dr. Airton.

Mas, no dia seguinte, chegando aoJurídico, debruçou seu avantajadocorpanzil sobre a minha mesa e, sem ti-rar os enormes óculos de sol do rosto, debate-pronto e bufando me indagou:

- Você também acha que eu não es-tou usando meus neurônios?

Amarelei na hora e deforma pouco convincen-

te, mas consciente daminha condição (ain-da em estágioprobatório), respondi:

- É claro que não,o senhor sabe que o

Dr. Airton é um brinca-lhão.

E tudo ficou por issomesmo e eu, tempos depois,

fui aprovado no meu estágio.

Meu paraibanêsCerta manhã, já quase meio-dia, che-

ga o Dr. Nicácio ao Jurídico, esbaforidocomo de hábito, sem nem falar bom dia,num tom enigmático, disse-me:

- Minha filha descansou.Fiquei estupefato e mudo, porque

na minha terra (RS) descansar, alémde descansar (essa é boa!), signifi-

ca "morrer". Sem reação, acabeisalvo por outro colega que, na-quele momento sinistro,adentrou à sala cumprimentan-do efusivamente o Dr. Nicáciopelo nascimento do seu primei-ro netinho (Nicacinho seria onome dele). Tem sentido.

E daquele dia em diante procureiaprimorar o meu "paraibanês".

(*) Diretor de Articulação e(*) Diretor de Articulação e(*) Diretor de Articulação e(*) Diretor de Articulação e(*) Diretor de Articulação eRelacionamento InstitucionalRelacionamento InstitucionalRelacionamento InstitucionalRelacionamento InstitucionalRelacionamento Institucional

da ADda ADda ADda ADda ADVVVVVOCEFOCEFOCEFOCEFOCEF.....

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Fevereiro | 20118

| Depoimento

A prisão do gerenteRogério Spanhe da Silva (*)Era uma tarde ventosa daquele final de

março de 1990. Vivíamos as turbulências de-correntes da implantação do Plano Brasil Novoou Plano Collor I através da MP 168/90, ondetodos os ativos financeiros superiores a NCr$50.000,00 foram bloqueados, salvo exceções.A agitação no Jurídico era muito grande. Con-sultas se avolumavam, orientações chegavamsem parar, sendo revisadas constantemente.

Pois naquela tarde entra na sala onde eutrabalhava o Dr. Pedro, chefe do Jurídico. Vinhasolicitar que eu fosse até determinada cidadena região metropolitana, onde uma juíza tra-balhista ameaçava prender o gerente da agên-cia da CAIXA local caso os valores colocadosà disposição do juízo não fossemdesbloqueados.

Ponderei se não seria o caso de um"habeas corpus" preventivo. A respostafoi que isto seria visto mais tarde. O su-perintendente solicitava que um advo-gado fosse até a cidade e procurassecontornar o problema sem criar atritoscom a juíza que ameaçava o gerente,viabilizando o trabalho do gestor e, emdecorrência, da própria agência, cuja ro-tina já se encontrava bastante atribu-lada, situação comum naqueles dias.Recordo que em outra agência do inte-rior um cliente entrou de carro vidraçaadentro, exigindo o direito de sacar todoo seu dinheiro.

O carro do Jurídico - sim, naquelaépoca o Jurídico tinha um carro à dispo-sição - já estava me esperando na gara-gem, não havia tempo a perder, a informa-ção era que o gerente estava à beira de umataque de nervos.

Peguei a pasta, o casaco e tomei o rumoda dita agência. Confesso que não tinha amenor ideia do que fazer; demover uma juíza,ainda por cima trabalhista, somente com ar-gumentos verbais, me parecia, naquela altu-ra, uma hipótese de remota possibilidade desucesso.

Chegamos à cidadezinha e fomos para aagência. Como não havia vaga para estacionarem frente, o carro ficou um pouco afastado eeu segui a pé. Já deviam ser quase quatro ho-ras da tarde e o movimento inusitadamentenão era muito grande. Quando entrei, todospararam e ficaram me olhando como se eufosse de outra galáxia. Dirigi-me a uma mesae perguntei pelo gerente. Não obtive resposta.Repeti a pergunta, ouvindo o questionamento

sobre quem era eu e o que queria. Nesse mo-mento percebi que o temor de todos é que euestivesse ali justamente para prender o ge-rente.

Identifiquei-me como advogado da CAIXAe logo o clima desanuviou um pouco. Fui con-duzido até o gerente, que estava tentando tra-balhar nos fundos da agência, numa pequenasala onde ficava o almoxarifado. Obviamente,ele estava escondido. Disse-me que, desde ma-nhã, quando recebeu o telefonema da juíza,estava com receio de ir à casa com temor deser preso na frente dos familiares.

Procurei tranquilizar o homem. Com umsorriso meio amarelo, disse que estava ali paraajudar, que no fim tudo acabaria bem. Garantique o melhor seria irmos conversar, os dois,com a juíza. Confesso que não foi fácil con-vencer o colega a me acompanhar.

Já estávamos quase saindo da agênciaquando, na tentativa de aliviar a tensão do mo-mento, resolvi fazer uma brincadeira com ocolega. Fiz um sinal para o motorista e disseao gerente que era melhor antes passarmosna sua casa. Ele logo me perguntou o motivo eeu disse que, como medida de cautela, erarecomendável que ele pegasse uma muda de

roupa e artigos de higiene, etc., pois nuca sesabe o que poderia suceder.

O efeito foi imediato, o homem ficou lívi-do e os olhos quase saltaram das órbitas. No-tando o indesejado efeito da brincadeira, meapressei em dizer que estava brincando, que apossibilidade de ele ir preso era ínfima, embo-ra intimamente não estivesse tão convicto.

Chegamos à Justiça do Trabalho (naquelaépoca as instâncias de primeiro grau se deno-minavam Juntas de Conciliação e Julgamen-to) e fomos logo recebidos pela juíza que nos

aguardava. Embora todos os argumentos dis-corridos, a magistrada estava irredutível,não aceitava o bloqueio dos valores emquestão.

A conversa se arrastava sem ir paralugar algum quando resolvi afirmar quede nada adiantaria prender o gerente lo-cal, pois o desbloqueio pretendido nãoestava ao alcance de uma deliberação da

CAIXA, que outro gestor acabaria sendo pre-so e assim sucessivamente, com repercus-são nos órgãos de imprensa. O caso poderiaser negativo, já que a medida visava debelar ainflação que assolava a economia do país, queo gerente, assim como a própria CAIXA, estavaapenas cumprindo determinações superio-res, que a medida extrema poderia pegar malpara sua excelência, que aquele problemapor certo seria em breve contornado com

melhor detalhamento das regras, etc.Para minha surpresa, a juíza mudou de

postura, a conversa acabou num tom diria atéafável, ficando explicitamente revogada a ame-aça de prisão.

Ao voltarmos para a agência, o gerenteagradeceu fervorosamente o apoio e a prontacolaboração.

Por diversas vezes, ao longo dos anos,quando nos encontrávamos em reuniões e trei-namentos, aquele episódio era relembrado,rendendo algumas brincadeiras e piadas.

Penso que este singelo "causo" bem ilus-tra a labuta dos advogados da CAIXA, que, ape-sar das dificuldades e falhas (e todos as te-mos), não medem esforços na busca da me-lhor forma de defender e resguardar os inte-resses da Empresa, dando valiosa contribui-ção à sua institucional missão de bem servir opovo deste país.

(*) Advogado da CAIXA(*) Advogado da CAIXA(*) Advogado da CAIXA(*) Advogado da CAIXA(*) Advogado da CAIXAem Porto Alegre/RS.em Porto Alegre/RS.em Porto Alegre/RS.em Porto Alegre/RS.em Porto Alegre/RS.

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Fevereiro | 2011 9

Marcos Vinícius de Andrade Ayres (*)

| Depoimento

Exemplos vitoriososAlém da vitória fundamental e valiosa

na redução dos expurgos inflacionários so-bre o FGTS somente a dois planos econô-micos, o Jurídico da CAIXA vem tendo êxitossignificativos, tanto em ações massificadascomo em ações específicas de grandes re-flexos patrimoniais ou institucionais.

Em primeiro lugar, chamo a atençãopara a expressiva vitória obtida no afasta-mento da grande maioria dosquestionamentos judiciais em relação aoscontratos do SFH ocorridos nos últimos 15anos. Das dezenas de teses debatidas, aCAIXA só não teve êxito no tocante àarguição de proibição de acumulação dejuros sobre juros nos contratos desequili-brados. Além disso, tivemos um ganho deimagem institucional também muito rele-vante na celebração de acordos em juízocom os mutuários do referido sistema, que,a despeito de terem sido derrotados namaioria dos feitos, conseguiram solucionaro litígio e a inadimplência contratual pormeio de acordos patrocinados em milha-res de audiências de conciliação realizadosem todo o país, com a rotineira participa-ção dos advogados do quadro, nos aproxi-mando dos magistrados federais e nos fa-zendo ser mais valorizados por eles.

Em segundo lugar, cito a significativaparticipação do Jurídico da nossa Empresana liquidação das ações de Fundo de Ga-rantia, demonstrando a boa-fé e a capaci-dade organizacional da CAIXA em superargrandes desafios.

Quanto às ações individualizadas, comelevados reflexos patrimoniais e/ouinstitucionais, posso citar alguns casos emque cheguei a atuar, como na tentativa denegociação com o Bacen sobre a liquida-ção de uma dívida da MinasCaixa por meioda cessão de créditos imobiliários daquelaextinta autarquia mineira, quando ela esta-va em liquidação extrajudicial, na tentativade viabilizar o recebimento de haveres deforma antecipada, com base no art. 31, daLei 6024, antes dos demais credores damassa. Essa iniciativa teve êxito, posterior-mente, com a compensação de valores doFCVS. A operação envolveu, à época, umacifra milionária.

Tive conhecimento da vitória expressi-va do Jurídico Regional de Brasília, após lou-vável esforço do Dr. Deocleciano Batista, dereverter uma condenação de mais de R$100 milhões, no processo da Comigasp (Co-

operativa dos Garimpeiros de Serra Pelada)por meio do engenhoso ajuizamento deuma "querela nulitatis" para anular a deci-são desfavorável que já havia transitadoem julgado.

Nesse mesmo sentido, houve outraimportante vitória do Jurídico de Belo Hori-zonte, por meio da atuação dos Drs. Cláu-dio, Hamilton e Rozana, numa ação indivi-dual promovida por um alfaiate para reaverdepósito efetuado em caderneta de depó-sito popular aberta na década de 60, quetransitara em julgado com a condenaçãoda CAIXA em pagar a quantia de R$ 5 mi-lhões, que, na fase de execução, foi reduzi-da a R$ 5 mil.

A soma dos esforços da área consulti-va com a área contenciosa dos advogadosda CAIXA de Brasília também nos proporci-onou importante vitória nas diversas dispu-tas com a GTech, garantindo-se êxito naimplementação da nova tecnologia nacio-nal e desconcentrada, da rede de lotéricas.

(*) Advogado da CAIXA(*) Advogado da CAIXA(*) Advogado da CAIXA(*) Advogado da CAIXA(*) Advogado da CAIXAem Belo Horizonte/MG.em Belo Horizonte/MG.em Belo Horizonte/MG.em Belo Horizonte/MG.em Belo Horizonte/MG.

Concluindo 27 anos de trabalho na CAIXA, a advogada Flávia FidalgoSouza comemorou, em 3 de fevereiro, sua adesão à aposentadoria. Nadespedida, em sua unidade São José dos Campos, em São Paulo, rece-beu cumprimentos de colegas, amigos e parentes. Estava presente opresidente da ADVOCEF, Carlos Castro.

Flávia disse que deixa a CAIXA, onde trabalhou com orgulho e cons-tituiu grandes amigos, mas não se distanciará da ADVOCEF, que ajudou aconstruir. "Desde a minha associação, sob o número 203, em 1994, nãodeixei de participar em nenhum movimento, assim como participei dasdiscussões que visavam à estruturação de nossa entidade."

Flávia acredita que as perspectivas profissionais na área jurídica sãoas melhores possíveis, pois os administradores da CAIXA demonstramter maior conhecimento do trabalho sério de seus advogados. "Aos queficam desejo equilíbrio e paz, para trabalharem bem", concluiu.

| Aposentadoria

Despedida em São José

|Flávia (de verde) se despede dos colegas Marco Cezar Cazali,Ítalo Sérgio Pinto, Carlos Castro, Laura Narciso

e Maria Cecília Santos

Fevereiro | 2011 9

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Fevereiro | 201110

| Depoimento

Lembranças dopós-Revolução Paulo Ritt (*)

A lembrança mais marcante não épessoal, mas soube dela, na ocasião,por trabalhar no Serviço de Perícia eSegurança Bancária da Filial do RioGrande do Sul, em torno de 1974/1975, ainda no pós-Revolução de1964.

Éramos vizinhos ao Contencioso,nossa antiga unidade jurídica local,ambas as unidades funcionando en-tão no segundo andar do antigo pré-dio da Praça da Alfândega. Lembro-mecom carinho de meus primeiros che-fes, Dr. Reny Arthur Zimmermann, LuizGermano Campani e Léo HumbertoBerruti Cadaval, o primeiro chefe deServiço e os outros chefes de Seção,de Segurança Bancária e deSindicâncias e Perícias, respectiva-mente.

Escriturários tínhamos apenasdois, o sempre alegre e disposto JoãoQuindunga de Oli-veira Filho e o minei-ro Luiz Filipe, quesubstituí quando in-gressei na CAIXA emface de seu retornopara Barbacena,sua terra natal, vin-do a ser substituídoposteriormente poroutro colega de Mi-nas, Geraldo, quedepois retornoupara BH e gerencioua área de Material daFilial de Minas Ge-rais.

Havia conjuntos habitacionais emPorto Alegre financiados pela CAIXAcom constante ameaça de invasões, e

no Serviço de Perícia e Segurança Ban-cária contávamos com vários policiaise militares aposentados prestando ser-viços de segu-rança logísticad i r e t a m e n t epara a Empresa.Lembro-me comcarinho e sau-dades dos ami-gos coronelOlímpio, tenenteMaciel, capitãoDjalma, dentreoutros, e em es-pecial do sar-gento Arduê,que enchia de bons fluídos nosso am-biente de trabalho e nos contagiava deuma paz de alma tão grande com suaalegria e serenidade no avançado desua idade, levando nossas orações

para a Igreja Karde-cista, que frequenta-va semanalmentecom fervor.

Nessa época mili-tarista, com poucosdias de CAIXA, semque eu jamais tives-se lidado com armaalguma, me coloca-ram um Taurus 38 nacintura e tive queacompanhar a equipepara auxiliar na segu-rança da transferên-cia de nossa CasaForte da Praça da Al-

fândega para a Rua dos Andradas.Noutra ocasião fui requisitado para

auxiliar na revista de colegas de nos-

sa área de Penhor, então gerenciadapelo valoroso Dorlly, diante de denún-cia de furto de valores pessoais de co-

lega no ambien-te de trabalho.

Nesse qua-dro militar e poli-cia-lesco, minhamaior surpresafoi a notícia quecorria nos corre-dores do segun-do andar do pré-dio da Praça daAlfândega, dan-do conta de queo colega advoga-

do, Dr.Gay da Fonseca, teria sido pre-so, não sei se no próprio ambiente detrabalho, por forças do então regimemilitar. Não foram poucos os dias até asoltura do colega, e a crítica na mídiaà época era amordaçada.

Foi um período de repressão emque poucos tinham a coragem de ex-pressar opinião, com as conse-quências impostas pelo regime vigen-te.

De anistia e perdão, a nação evo-luiu, o povo obteve conquistas impor-tantes e o Brasil é hoje esse país ma-ravilhoso de riquezas e paz, fruto doreconhecido sofrimento de alguns,erros de outros e trabalho de todosnós, que merece ser relem-bradocom carinho e respeito pelos maisnovos, tendo nossa história como li-ção para um legado ainda melhor paranovas gerações.

(*) Advogado da CAIXA(*) Advogado da CAIXA(*) Advogado da CAIXA(*) Advogado da CAIXA(*) Advogado da CAIXAem Salvador/BA.em Salvador/BA.em Salvador/BA.em Salvador/BA.em Salvador/BA.

"Com poucos diasde CAIXA, semque eu jamaistivesse lidado

com armaalguma, me

colocaram umTaurus 38 na

cintura."

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Fevereiro | 2011 11

| Honorários

Diante da relevância do tema, quetambém foi objeto de mensagem eletrôni-ca enviada no mês passado às Comissõesde Honorários de todo o país, torna-se im-portante partilhar o assunto com os demaisadvogados através da presente publicaçãomensal.

O item 3.3 do MN AE 061 prevê a pos-sibilidade de redução de honorários apósacordo entre a CAIXA e a ADVOCEF. No en-tanto, o normativo prevê que a solicitaçãode redução deve ser encaminhada pelaárea gestora na Matriz diretamente à Dire-toria da ADVOCEF.

O artigo 16 do Regulamento de Hono-rários dispõe que apenas em situaçõesexcepcionais, devidamente justificadas,serão admitidas reduções e/ouparcelamentos de honorários, e o artigo 20disciplina a competência (advogado titulardo processo, Comissão de Honorários ouDiretoria Executiva da ADVOCEF) para ana-lisar e flexibilizar (parcelar ou reduzir) oshonorários, conforme o valor dos mesmos.

Entendo necessária e pretendo propora alteração de vários dispositivos do Regu-lamento de Honorários, inclusive do artigo20. No entanto, enquanto isso não acon-tece, para afastar aparente contradiçãoentre o Regulamento de Honorários e oManual Normativo, bem como para res-guardar os interesses de todos os advoga-dos, aponto a seguinte interpretação: ten-do em vista o item 3.3 do MN AE 061, oadvogado titular do processo e a Comis-são de Honorários só podem flexibilizar oshonorários para deferir o seuparcelamento. A redução do valor dos ho-norários só pode ser feita por solicitaçãoda área gestora na Matriz diretamente àDiretoria da ADVOCEF.

A orientação visa justamente restrin-gir e aumentar a fiscalização sobre casosde deferimento da redução do valor doshonorários.

A interpretação isolada do art. 20, inc.I, do Regulamento de Honorários permiti-ria que o advogado titular do processo (so-zinho, sem nem mesmo consultar a res-

Aumento da fiscalização sobrereduções de honorários

Álvaro S. Weiler Jr. (*)pectiva Comissão de Honorários)flexibilizasse (até mesmo reduzindo) o va-lor dos honorários até 10 salários mínimos,ou seja, até R$ 5.400,00 (valor de honorá-rios que abrange a grande maioria dos nos-sos processos).

Da mesma forma, a interpretação iso-lada do art. 20, inc. II, do Regulamento deHonorários permitiria que a Comissão deHonorários local (sem consultar ou infor-mar a Diretoria da ADVOCEF) flexibilizasse(até mesmo reduzindo) o valor dos hono-rários até R$ 100.000,00. Tal quantiaabrange a esmagadora maioria dos hono-rários que compõem a nossa receita.

Como se não bastasse, o art. 16 doRegulamento de Honorários não especifi-ca as situações passíveis de redução doshonorários, apenas referindo "situaçõesexcepcionais, e com a devida justifica-ção".

Como é fácil de perceber, os referidosdispositivos do Regulamento de Honorári-os são extremamente permissivos e facili-tam demais a possibilidade de redução dehonorários.

O cerne da questão e o objetivo da Di-retoria de Honorários é utilizar um disposi-tivo do próprio normativo (item 3.3 do MNAE 061) para corrigir uma liberalidade ex-cessiva decorrente da interpretação isola-

da de alguns artigos do Regulamento deHonorários ao disporem sobre as hipóte-ses de redução de honorários.

Para maior segurança de todos e trans-parência, saliento que todos os pedidos deredução de honorários cujos valores seenquadrem nos incisos I e II do Regulamen-to de Honorários, oriundos da área gestorado crédito e encaminhados para a Direto-ria da ADVOCEF, serão compartilhados coma respectiva Comissão de Honorários an-tes de ser tomada qualquer deliberação.

Transparência, aliás, que hoje não exis-te, pois a ADVOCEF não tem qualquer co-nhecimento e controle sobre o número e ovolume dos casos de redução de honorári-os em cada Jurídico.

Diante de observações de colegas doParaná, no sentido de evitarmos a buro-cratização do processo de renegociaçãodo crédito e desgaste com as áreasgestoras do crédito, em especial do crédi-to imobiliário, poderíamos aceitar reque-rimentos de redução formulados direta-mente pelas filiais das áreas gestoras docrédito, todavia reafirmo que tais requeri-mentos, devidamente justificados, devemser endereçados à Diretoria (de Honorári-os) da ADVOCEF, a qual, repito, partilharáa decisão com a Comissão de Honorárioslocal.

Não podemos esquecer que existemvários Jurídicos com arrecadações pífias,sendo muito difícil para a ADVOCEF fiscali-zar casos de redução de honorários porparte do advogado titular e/ou da Comis-são de Honorários respectiva.

Os honorários não podem servir deentrave para impedir a renegociação e re-cuperação do crédito, razão pela qual de-vemos flexibilizar a sua forma de pagamen-to, quando necessário, todavia a reduçãodo valor deve constituir exceção.

(*) Diretor de Honorários(*) Diretor de Honorários(*) Diretor de Honorários(*) Diretor de Honorários(*) Diretor de Honoráriosda ADda ADda ADda ADda ADVVVVVOCEFOCEFOCEFOCEFOCEF.....

"A redução do valordos honorários sópode ser feita porsolicitação da áreagestora na Matriz

diretamente àDiretoria daADVOCEF"

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Fevereiro | 201112

| Literatura

Capitu é inocentePersonagem de Machado de Assis é levada a júri em Goiânia

O espírito da épocaO advogado José Irajá considera a obra

fantástica e lamenta que atualmente adiscussão se resuma ao fato de ter ou nãoocorrido o adultério. "Outros aspectos re-levantes foram abordados de forma bri-lhante pelo autor. Por exemplo, a religiãoe sua influência na vida dos personagense da sociedade daquele período." Acha queo livro é fascinante por sua capacidadede desnudar a hipocrisia humana. Alémdo adultério, a mentira está presente noromance, em que os personagens escon-dem seus verdadeiros sentimentos parase adequar aos padrões morais e sociaisda época. "Será que ainda hoje a mentiraé fundamental para a manutenção dasrelações sociais?", especula.

prova essa ideia. "É impressionante aobservação psicanalítica, sobretudo damulher, que Machado demonstra em'Dom Casmurro'. E é sabido que, à épo-ca em que o romance foi escrito, Freudainda estava amadurecendo as suas in-vestigações, a Psicanálise ainda nãoestava exatamente fundada e com cer-teza o seu 'pai' ainda não frequentavaas prateleiras do nosso grande escritor."

O advogado Clevis Lapinski consi-dera a obra superestimada e dela des-taca apenas alguns trechos - como ocomentário de Bentinho, ao saber damorte do filho: "Que a terra lhe seja leve"-, que demonstram a fina ironia do au-tor.

Considerado um dos principais roman-ces da Literatura brasileira, "Dom Casmur-ro", de Machado de Assis, desde sua publi-cação em 1900 provoca os leitores e geradebates acerca de uma questão: Capitu traiuou não Bentinho com o amigo Escobar?Para decifrar o mistério, a Academia Goianade Letras (AGL) e o Tribunal de Justiça deGoiás promoveram um julgamento diferen-te, no final de 2010. Ao final de quatro ho-ras, por falta de provas, os sete jurados do2º Tribunal do Júri de Goiânia decidiram queCapitu não é culpada do crime de adultério,previsto no artigo 240 do Código Penal de1940 e revogado pela Lei 11.106, de 2005.

Estudantes, professores e escritores as-sistiram ao julgamento. Na função de juiz,atuou o presidente do TJ/GO, desembargador

Paulo Teles. Para o imortal da AGL Eurico Bar-bosa, que fez o papel de promotor, as evidên-cias contidas no livro são maiores que asambiguidades, tornando impossível acreditarna inocência da personagem. Segundo ele,Machado só não foi claro, revelando a culpade Capitu, para que a discussão perdurasse.

Na defesa, o escritor e presidente daAGL, Hélio Moreira, argumentou que o per-sonagem/narrador Bentinho, que é advo-

gado, conduziu a história à sua maneira,induzindo o leitor a aceitar a sua versãocontra Capitu.

Outros juradosQuando leu o livro na adolescência, a

advogada Marta Nobre, do Jurídico Goiânia,teve plena convicção de que Capitu haviatraído. Hoje, absolveria a personagem porabsoluta falta de provas. Diz que os indíci-os de Bentinho sinalizam uma pessoa in-capaz de resolver seus próprios dilemas.Acha que ele poderia ter esclarecido o as-sunto tendo uma conversa sincera comCapitu, mas prefere permanecer em suaselucubrações de mente doentia. "Precisa,urgentemente, de um bom terapeuta."

Ressalva: "Mas, se seguisse o meu ra-ciocínio e resolvesse tudo, a obra de Ma-chado de Assis não teria o alcance e enver-gadura que tem".

Já o advogado Clevis VasquinhoLapinski, da Extensão Jurídica Umuarama,se participasse do júri, condenaria Capitu."Não se trata de processo penal e sim delivre criação literária, onde os autores sãodonos das personagens (enquanto o livroainda não foi impresso)." Observa que oque desequilibra o narrador é a semelhan-ça do filho de Capitu com Escobar, que a

|Freud: a Psicanálise ainda não existia

Luiz Sérgio e Silva comenta o poderatribuído à Arte de antecipar a História ea Ciência ou, ao menos, de expressar o"espírito do tempo". Acha que o livro com-

| Capitu, interpretada por Letícia Persiles naminissérie da Globo

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Fevereiro | 2011 13

O personagem BentinhoLuiz Sérgio e Silva, empregado do Apoio do Jurídico GoiâniaLuiz Sérgio e Silva, empregado do Apoio do Jurídico GoiâniaLuiz Sérgio e Silva, empregado do Apoio do Jurídico GoiâniaLuiz Sérgio e Silva, empregado do Apoio do Jurídico GoiâniaLuiz Sérgio e Silva, empregado do Apoio do Jurídico Goiânia

"Concordo inteiramente com o lugar al-cançado pelo romance em nossa Literatu-ra, o de obra-prima. O genial Machado deAssis, no auge de suamaturidade literária e jáafastado da fase ro-mântica, construiu, empoucas páginas, umanarrativa realista primo-rosa, com um dos maisfascinantes e bem aca-bados personagens daLiteratura: Bentinho.

Destaco ainda oprocedimento narrativodo romance: um autor-personagem-narrador que, solitário, recluso e melancóli-co, depois de perder todas as pessoas doseu convívio familiar e afetivo, e de sentir

perder-se a si mesmo, decide rememorar econtar a sua história com o intuito de com-preender o que lhe acontecera e de tentar

resgatar sua alma.E esse narrador es-

tabelece uma comuni-cação muito interessan-te com o leitor, como seeste fizesse parte danarrativa, dirigindo-seconstantemente a eleem tom confessional,não escondendo seupessimismo, às vezescom um leve senso de

humor, muitas vezes com ironia (marcaestilística de Machado), sempre atenciosoe preocupado em não se tornar enfadonhoao 'caro leitor'."

Sem o contraditórioJosé Irajá de Almeida, advogado da Extensão Jurídica MaringáJosé Irajá de Almeida, advogado da Extensão Jurídica MaringáJosé Irajá de Almeida, advogado da Extensão Jurídica MaringáJosé Irajá de Almeida, advogado da Extensão Jurídica MaringáJosé Irajá de Almeida, advogado da Extensão Jurídica Maringá

"Se analisarmos simplesmente a nar-rativa, não há dúvida, o crime de adultérioexistiu. Basta observar o compor-tamento de 'cigana oblíqua e dis-simulada' de Capitu, seu 'olhar deressaca', que Bentinho percebeuinclusive durante o velório deEscobar (o provável amante),além de que Ezequiel, suposta-mente filho de Bentinho e Capitu,era fisicamente muito semelhan-te a Escobar.

De outro lado, deve-se consi-derar que a narrativa é unilateral, ou seja,ela é descrita somente do ponto de vista do

personagem autor, Bentinho, que se revelainseguro e ciumento. Assim, como não há o

contraditório de Capitu, se eu par-ticipasse do julgamento, tambéma absolveria por falta de provas(benefício da dúvida). Todavia, aabsolvição por falta de provas nun-ca é a melhor solução, pois a dúvi-da sempre permanecerá.

O resultado do julgamento deGoiânia mais uma vez revela todaa genialidade de Machado deAssis, pois incutir a semente da

dúvida na cabeça do leitor certamente eraa intenção dele ao criar a obra."

cada dia vai ficando mais evidente, princi-palmente pelos trejeitos. "Para mim é asolução que faz mais sentido no texto, poisdevemos levar em consideração a épocaem que foi escrito - o autor não poderiadescrever um adultério impunemente."

Para não parecer sexista, Clevis lem-bra que o narrador também flertou com amulher de Escobar e que o caso só não seconsumou por causa da chegada da notí-cia de sua morte ("se não me falha a me-mória, uma vez que faz mais de uma déca-da que li o livro").

José Irajá de Almeida, da Extensão Jurí-dica Maringá, entende que, consideradaapenas a narrativa, o adultério realmenteocorreu. Mas, levando em conta a persona-lidade insegura do personagem-autor, tam-bém absolveria Capitu, por falta de provas.

Luiz Sérgio e Silva, empregado do Apoiodo Jurídico Goiânia, diz que a condenaçãoseria injusta, pois a narrativa não ofereceelementos suficientes para confirmar o adul-tério. "Indícios não são provas!" Acha tam-bém que não se deveria atirar pedras

somente em Capi-tu e que nunca viuqualquer indigna-ção a respeito datraição do amigode Bentinho.

Na cena literáriaPersonalidades da Literatura vêm ten-

tando interpretar o enigma, ao longo dotempo. O crítico literário Antônio Candidopensa que não importa muito que a con-vicção de Bentinho seja falsa ou verdadei-ra. "A consequência é exatamente a mes-ma nos dois casos: imaginária ou real, eladestrói sua casa e sua vida." O cartunistaZiraldo diz que Bentinho "é o retrato aca-bado, psicológica e moralmente, da velhafigura chamada de corno. E a Capitu, bastaolhar para os olhos dela...".

O cronista Luis Fernando Verissimoendossa a opinião de Millôr Fernandes,para quem o amor da vida do Bentinho erao Escobar. "Foi Escobar quem traiuBentinho - com a Capitu." Para o poeta Fa-brício Carpinejar, a leitura sempre gira en-tre duas hipóteses: Bentinho era paranoicoou Capitu realmente foi infiel. "Acredito,agora, que Bentinho era louco, assim comoCapitu o traiu. Machado criou a dúvidausando duas certezas."

O cineasta Jorge Furtado sugere queMachado de Assis quis deixar a questãoem aberto. "Em Literatura, como no jogodo bicho, vale o que está escrito. Se Capitutraiu ou não, pouco importa. A intenção deMachado era deixar a dúvida."

De acordo com a escritora Ana MariaMachado, Bentinho não era um narradorconfiável e mostra ao leitor a loucura pro-gressiva de sua mente. "Quase dá para tercerteza de que Capitu não traiu, foi tudo umaprojeção dele. O fundamental é que Macha-do não traiu o leitor,dando-lhe uma obrade uma riqueza ím-par, onde se desco-brem novos tesourosa cada leitura."

|Carpinejar:uma dúvida eduas certezas

|Ziraldo:basta olhar para os

olhos dela

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Fevereiro | 201114

| Cena Jurídica

Visita do desembargadorO desembargador Edmilson Antonio de Lima, do Tribunal

Regional do Trabalho da 9ª Região, fez uma visita decortesia ao Jurídico Curitiba, em 19 de janeiro. Ex-advogadoda CAIXA, o desembargador reencontrou um antigo colegade agência, o coordenador jurídico Cirinei Assis Karnos. Naoportunidade, o gerente jurídico, Alaim Stefanello, entregouao desembargador um exemplar da Revista de Direito da

ADVOCEF, agradecendo pela honra da visita.

|Encontro em Curitiba: Cirinei Karnos, Alaim Stefanello, Edmilsonde Lima, Pascoal Zani (PAB/TRT), Roseli Bettes e Luís Sinderski

A luta continuaA ADVOCEF cumprimentou o associado Antonio Carlos eexpressou sua disposição de prosseguir na campanha pelopreenchimento de uma vaga de ministro do STJ por umadvogado da CAIXA. "A partir de agora, nosso trabalhoinstitucional se dará perante a Presidência da República",declarou o presidente Carlos Castro.

2010, ano do contatoSegundo o advogado Omar Kaminski, presidente de Internet doInstituto Brasileiro de Política e Direito da Informática (IBDI),

2010 é "o ano em que fizemos contato". Istoé, quando todos os profissionais do Direitotiveram contato com o processo eletrônico. Porisso, diz ele, pode-se considerar que o Direitotradicional está em crise de identidade. "E opapel está ficando cada vez mais órfão, umavez que os tribunais brasileiros decretaramsua gradativa extinção." Uma reprospectiva de2010, feita por Kaminski, está no Juris Tantumdesta edição.

|Antonio Carlos

Na lista trípliceO diretor jurídico licenciado da

CAIXA Antonio Carlos Ferreira estána lista tríplice indicada pelo

Superior Tribunal de Justiça paraconcorrer à vaga aberta pela

aposentadoria do ministro Antôniode Pádua Ribeiro. Com 28 votos,Antonio Carlos (SP) concorre comCarlos Alberto Menezes (SE), 27votos, e Ovídio Martins de Araújo

(GO), 26 votos. A lista, com outrasduas listas tríplices, já está com a

presidente Dilma Rousseff, queindicará três novos ministros para

aprovação do Senado.

"Furo" da ADVOCEFA formação das listas tríplices, ocorrida em 7 de fevereiro,

foi informada em primeira mão pelo site da ADVOCEF,momentos após a definição no STJ. O presidente Carlos

Castro, que estava no Plenário do Tribunal, foi para o corredor e, discretamente,ligou para o diretor da ADVOCEF Fernando Abs, que redigiu e postou a notícia no

site. Mais tarde, ainda no ambiente do STJ, alguém quis informar a novidade,mas recebeu a resposta: "A ADVOCEF já publicou, faz tempo".

Visitas às unidadesO presidente da ADVOCEF, Carlos Castro,

pôs em ação seu plano de visitar asunidades jurídicas da CAIXA. Começou

pela Extensão Jurídica São José dosCampos, em 3 de fevereiro, quandoaproveitou para abraçar a advogada

Flávia Fidalgo Souza, que comemoravasua aposentadoria. As viagens vão

continuar. "A ideia é conhecer ao menosum pouco da realidade local, e para issoé ótimo estar junto do pessoal", afirmou

o presidente.

Banco naveganteDesde 29/12/2010, navega pelo Rio Solimões a

primeira agência-barco da CAIXA, atendendo apopulação ribeirinha de sete municípios. Segundo

estimativa do IBGE, 250 milhabitantes são beneficiadospela Agência Chico Mendes,

que tem a missão deampliar a prestação deserviços e promover odesenvolvimento e a

inclusão bancária.

Sede da ADVOCEFA administração da ADVOCEF já está funcionando, centralizada,definitivamente, em seu endereço de Brasília. Em janeiro deste

ano foi desativada a sede de Porto Alegre. Telefones atuais:(61) 3224.3020 e 0800.601.3020.

|Carlos Castro

|Omar Kaminski

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Fevereiro | 2011 15

| Cena Jurídica

Reunião na DijurNo dia 08 de fevereiro de 2011 ocorreu, em Brasília, reunião entre representantesda ADVOCEF e da Diretoria Jurídica da CAIXA. Foram tratados diversos assuntosenvolvendo honorários e traçadas várias linhas de atuação para aperfeiçoar o sistemade arrecadação e repasse. Mais uma vez foi ressaltado, por ambas as partes, o bomrelacionamento e a parceria CAIXA/ADVOCEF decorrente do objetivo comum derecuperação do crédito. "Dentre as questões discutidas, referimos a melhoria dosistema de contabilização dos honorários, os mutirões de conciliação da fase pré-processual e algumas alterações pontuais do MN AE 061", disse o diretor deHonorários, Álvaro Weiler.

A justiça, primeiroEm depoimento ao projeto de 70 anos da Faculdade deDireito da UERJ, em 2005, o novo ministro do STF, LuizFux, definiu-se como magistrado (então no STJ: "Primeiroprocuro ver qual é a solução justa. E depois, procuro umaroupagem jurídica para essa solução. Não há maispossibilidade de ser operador de Direito aplicando a leipura. Nós aprendemos assim por força de umengessamento levado pela política de repressão, e quehoje não existe mais." Disse também: "O Direito vive parao homem, e não o homem para o Direito. É preciso darsolução que seja humana. A justiça tem que ser caridosae a caridade tem que ser justa."

Advogado semprocuração

Advogado podeconsultar processo

não sigilosomesmo semprocuração,decidiu por

unanimidade oPlenário do STF.Em seu voto, oministro relatorGilmar Mendesobservou que o

artigo 7º, inciso XIII,da Lei 8.906/94 afirma que é direito doadvogado "examinar, em qualquer órgão

dos Poderes Judiciário e Legislativo, ou daadministração pública em geral, autos de

processos findos ou em andamento,mesmo sem procuração, quando não

estejam sujeitos a sigilo, assegurada aobtenção de cópias, podendo tomarapontamentos". A decisão confirma

liminar concedida pela então presidentedo Supremo, Ellen Gracie, em 2007, no

Mandado de Segurança nº 26772.

Destaque aos 150O desembargador federal André

Damasceno, presidente em exercícioda 1ª Turma do Tribunal Regional doTrabalho da 10ª Região, encaminhouao presidente da ADVOCEF a Ata deJulgamento da 1ª Sessão Ordinária,realizada em 12 de janeiro, em que

foram consignados registros pelapassagem dos 150 anos da CAIXA,

ressaltando a importância dainstituição para o país.

|Na festa dos 150 anos: Anna Vasconcellos,Édilo Ricardo (vice-presidente de Pessoas da

CAIXA), Ana Telma (Superintendente daSURSE) e Carlos Castro

Destaque aos advogadosA ministra do Superior Tribunal de

Justiça Nancy Andrigh envioucorrespondência cumprimentando a

ADVOCEF pela edição de sua revista dejaneiro, que, comemorando os 150

anos da CAIXA, "traz a representação daimportância dos advogados para aconsolidação e o engrandecimento

desse ilustre banco". A ministra elogioua publicação, "não somente em razão

do conteúdo veiculado - com relevantesinformações acerca da história da

CAIXA -, mas também pela qualidadetécnica que apresenta".

|Ministro Luiz Fux

|Ministra Ellen Gracie

Ao credor,os honorários

Publicado em 28/01/2011 acórdão doTribunal Regional Federal da 5ª Região

determinando que "a execução dasucumbência, independentemente do

valor, é faculdade do credor, circunstânciana qual o Judiciário não pode imiscuir-se".Leia mais sobre o julgado na coluna Vale

a Pena Saber desta edição.

Dr. ChiquinhoTodos os aprovados no concurso paraadvogado da CAIXA, do qual participou oex-presidente da ADVOCEF José Gomes,foram ao Rio de Janeiro, em 1984, paraum curso de integração de uma semana.O chefe do Deten, Francisco Guimarães,era chamado carinhosamente por todosde Chiquinho. José Gomes conta que, nocurso, um dos colegas se dirigiu a elechamando-o de "Dr. Chiquinho". O cheferespondeu:- Ou me chama de Dr. Francisco ou deChiquinho. "Dr. Chiquinho" não dá.

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Fevereiro | 201116

| Direito Desportivo

Futebol dentro da lei

| Eleição

FeNAdv elege Diretoria

O advogado Alfredo Neto, do JurídicoGoiânia, participou da comissão que elabo-rou o novo Regimento Interno do Tribunal deJustiça Desportiva do Futebol do Estado deGoiás (TJD/GO), documento exigido pelo novoCódigo Brasileiro de Justiça Desportiva, insti-tuído pela Resolução 29/2009 do Conse-lho Nacional do Esporte. A experiência foienriquecedora, segundo o advogado, que jáfez apresentações sobre as inovações aoscolegas do TJD/GO e aos membros da Co-missão de Direito Desportivo da OAB/GO.

Entre as principais novidades inseridasno Regimento, Alfredo destaca: o instituto datransação disciplinar, permitindo que a maio-ria das faltas disciplinares cometidas em umapartida de futebol sejam transacionadas, atra-vés do pagamento de multa, cestas básicas,trabalho social, etc.; o sorteio de relatores; aconcessão de efeito suspensivo nos recursospelo relator sorteado, que antes era atribuídoao presidente do Tribunal; e os embargos dedeclaração dirigidos ao relator do processo,quando houver omissão, contradição ou obs-curidade na decisão, a exemplo do que já ocor-re no Código de Processo Civil.

Advogado da CAIXA ajuda a elaborar regimento do TJD/GO

Direito Desportivo nafaculdade

O Código foi elaborado com a colabo-ração de juristas de todo o país, que, atra-vés de audiências públicas, ofereceram su-gestões para adequação à nova legislaçãodesportiva, especialmente a Lei Pelé e oEstatuto do Torcedor. Foram consideradastambém as exigências que surgirão em fun-ção da próxima Copa do Mundo no Brasil,em 2014, e as Olimpíadas de 2016, noRio de Janeiro.

Alfredo Neto comemora como umagrande vitória da Comissão de DireitoDesportivo da OAB/GO a introdução do Di-

|Alfredo, no TJD/GO: o Direito Desportivo no currículo da PUC

reito Desportivo no currículo optativo docurso de Direito da PUC e das FaculdadesUniverso de Goiás, com o apoio do minis-tro do Tribunal Superior do Trabalho, Gui-lherme Augusto Caputo Bastos. "A luta daOAB/GO é pela sua extensão a todas asFaculdades de Direito do Estado de Goiás",afirma Alfredo.

O advogado, membro do ConselhoDeliberativo da ADVOCEF, ingressou no Tri-bunal de Justiça Desportiva em 2001. Éauditor do Tribunal Pleno desde 2008 evice-presidente do TJD desde 2010. É tor-cedor do Atlético Clube Goianiense, inte-grante da série A do Campeonato Brasilei-ro e campeão goiano em 2010.

Foi eleita, em 17 de janeiro, a nova Dire-toria da Federação Nacional dos Advogados(FeNAdv), para o triênio 2011/2013. WalterVettore é o presidente (reeleito) e ClaudioLamachia, presidente da OAB/RS, é o vice-presidente. Representando a ADVOCEF, par-ticiparão da nova gestão Carlos Castro (Ne-gociações Coletivas), Altair Rodrigues dePaula (suplente do Conselho Fiscal), DarliBarbosa (suplente da Diretoria), Davi Duarte(vice-presidente da Região Sul) e Marisa AlvesDias Menezes (suplente do Conselho Fiscal).

A eleição, com chapa única, resultou deuma construção ampla entre várias corren-tes, distribuídas nos sindicatos de advoga-dos em todo o país. O ex-presidente daADVOCEF, Davi Duarte, acredita que, ao lado

Advogados da CAIXA participam da nova gestãoque são entidades com fins específicos, quepodem representar os profissionais em de-mandas coletivas, principalmente na Justiçado Trabalho.

De acordo com Davi, outro interesse dire-to dos advogados inclui o suporte no aspectosindical, com estabilidade. Mas ressalta queessa garantia também pode ser estendida aosadvogados sindicalizados que representemos seus pares (um para cada grupo de dez),com eleição em cada empresa.

O advogado salienta que a força e a im-portância da FeNAdv e dos sindicatos resul-tam de inúmeros fatores, dentre os quaissobressai o interesse de seus associados. "Épreciso que as entidades sejam demanda-das", alerta.

|Davi Duarte e Carlos Castro, eleitos para a FeNAdv

da OAB, a Federação e os sindicatos de ad-vogados desempenham um papel importan-te na defesa dos interesses da categoria. Diz

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| Registro

Fica a lendaA morte de Lia Pires faz lembrar histórias famosas do advogado

Morreu em 26/12/2010, em Porto Ale-gre, o mais famoso criminalista do Rio Gran-de do Sul, Oswaldo de Lia Pires. Em 92 anos,participou de cerca de 550 júris, quase to-dos como defensor do réu e vitorioso namaioria dos casos. Um dos mais famososfoi a defesa do deputado Antônio Dexheimer(PMDB) da acusação de ter assassinado ocolega José Antônio Daudt, em 1988. O jul-gamento, transmitido pela TV, durou trêsdias. O jornalista Humberto Trezzi, da ZeroHora, relata um lance de Lia:

"Tentando explicar a dificuldade deDexheimer em precisar horários e locaispor onde passou na noite do crime, o advo-gado deixou cair uma lâmpada sobre suamesa. O estouro causou susto geral, masele continuou seu discurso.

Minutos depois, interrompeu a fala epediu a cada um dos 22 desembargadoresdo Pleno do Tribunal de Justiça que ano-tasse a hora em que a lâmpada estourou.

Foi um festival de especulações, cada umanotou um horário estimado... Nenhumdeles acertou.

Lia então argumentou: o tribunal quenão se acerta a respeito de um fato ocorri-do na frente de todos não pode cobrar deum inocente que lembre detalhes da horaem que foi comprar cigarros. São as bana-lidades da vida, explicou.

Dexheimer foi absolvido."

Um palavrão todo diaSegundo Humberto Trezzi, na década

de 70 Lia Pires defendeu um sapateiroacusado de matar um vizinho com umaespingarda calibre 12. O rapaz passava nafrente da sapataria todos os dias e diziaum palavrão para o réu. Uma manhã, osapateiro perdeu a cabeça e matou o ho-mem. No júri, Lia Pires começou:

- Excelentíssimo senhor juiz, presiden-te destes trabalhos.

Repetiu a frase quatro vezes. Quandose preparava para a quinta, o juiz interrom-peu, asperamente.

- Veja bem, excelência - disse Lia - eu oelogiei quatro vezes e o senhor ficou irrita-do. Imagine se, como o meu cliente, o se-nhor ouvisse um palavrão todo dia.

O réu foi absolvido.

|Lia Pires, em 1969, quando voltou aostribunais, após 12 anos

Em oito anos, a Advocacia-Geral daUnião triplicou de tamanho, passando de3,2 mil para 10,2 mil funcionários, infor-ma O Globo de 27 de janeiro. Segundo oadvogado-geral da União, Luís Inácio deLucena Adams, o crescimento se deve àreestruturação ocorrida em 2003, quando

| Advocacia Pública

Avanço da AGU

Fevereiro | 2011 17

Salário de advogado da União cresce 309% desde 2002os procuradores federais de diversas fun-dações e órgãos foram incorporados à AGU.Ficaram de fora apenas os procuradores daFazenda e do Banco Central. Atualmente,trabalham na AGU oito mil procuradores.

Adams destaca as vantagens dareestruturação: "Hoje conhecemos a reali-dade do contencioso jurídico da União, nósnão conhecíamos. Temos uma base de in-formação, temos capacidade de levantar,de inclusive indicar riscos fiscais para oEstado."

Em seu relatório de gestão de 2010, aAGU mostra que o valor arrecadado ou eco-nomizado graças às suas atividades foi deC$ 2,026 trilhões. Do total, R$ 2 trilhõesse referem à cobrança judicial, pela Cons-trutora Mendes Júnior, de ressarcimento

pela construção da Usina Hidrelétrica deItaparica, em Pernambuco.

Segundo O Globo, os servidores da car-reira jurídica tiveram uma das quatro melho-res progressões salariais dos governos deLula. Estão à sua frente apenas as categori-as dos professores das universidades fede-rais com doutorado, analistas da Comissãode Valores Mobiliários e fiscais agropecuários.

"Em 2002, um advogado da União ti-nha remuneração inicial de R$ 3,5 mil,valor que saltou para R$ 14,5 mil no anopassado. A variação foi de 309%, bem aci-ma da inflação acumulada (56,69%), me-dida pelo Índice de Preços ao ConsumidorAmplo (IPCA). Em fim de carreira, esse ser-vidor recebe R$ 18,2 mil, o equivalente aquase 34 salários mínimos."

| Luís Inácio: capacidade aumentada comreestruturação

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Fevereiro | 201118

| Vale a Pena Saber

"Processual Civil. Execução. Apelação interposta contra sen-tença que extinguiu a execução, ao fundamento de ser irrisóriaa quantia de R$ 1.000,00 (um mil reais), devida a título decustas e honorários advocatícios pela parte vencida na açãoque discutiu a nulidade da execução extrajudicial do imóvel,objeto de financiamento habitacional, regido pelo Sistema Fi-nanceiro da Habitação. 1. A execução da sucumbência, inde-pendentemente do valor, é faculdade do credor, circunstânciana qual o Judiciário não pode imiscuir-se, salvo disposição le-gal, o que não é o caso. 2. Apelação provida para determinar oprosseguimento da execução em Primeira Instância." (TRF 5,AC 0017530-25.1999.405.8100CE, Terceira Turma, Rel. Des.Leonardo Resende Martins, DJe 28/jan/2011.)

"ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. FGTS. CONTA VIN-CULADA. CENTRALIZAÇÃO. INFORMAÇÃO. ERRO. ESTORNO. LE-VANTAMENTO. RESTITUIÇÃO. PRESCRIÇÃO. 1. Consoante esta-belece o art. 876 do Novo Código Civil, todo aquele que rece-beu o que lhe não era devido fica obrigado a restituir. À vistadessa disposição, não se sustenta a política do fato consuma-do, isto é, de que a eventual movimentação da conta vincula-da consolida o direito do correntista sobre o valor decorrentede erronia na transmissão de informações pelo Comind. Nes-se sentido, o art. 309 do Novo Código Civil, segundo o qual opagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, aindaque provado depois que não era credor, deve ser interpretadoem favor daquele que realiza o pagamento, que fica liberadoperante o real credor, sem que daí se conclua que o credorilegítimo possa se apropriar do valor correspondente. A boa-fédo correntista do FGTS não é panaceia que o torne imune àsregras jurídicas que impedem o enriquecimento sem causa,implicando seu dever de restituir o indébito na hipótese de játer movimentado sua conta vinculada, cuja impenhorabilidade(Lei n. 8.036/90, art. 2º, § 2º) não se comunica à totalidade dopatrimônio do correntista, pois inconfundíveis. Não medra aobjeção de que a impenhorabilidade da conta vinculada sub-sistiria sobre o valor indevidamente recebido pelo correntista.Por outro lado, ainda se admita a aplicabilidade do Código deDefesa do Consumidor (o que é duvidoso dada a disciplinalegal específica do FGTS), a norma do seu art. 42, parágrafoúnico, impede que o consumidor seja exposto a ridículo ousubmetido a constrangimento ou ameaça. Mas não é isso quese verifica quando a instituição financeira limita-se a comuni-car a existência da irregularidade e insta o correntista à corres-pondente regularização segundo as formas juridicamenteadmissíveis. De resto, não há falar em cobrança de quantiaindevida, pois na hipótese de irregular movimentação a co-brança é, claro está, devida. É admissível, conforme as circuns-tâncias, a compensação, em conformidade com o art. 369 doNovo Código Civil, visto ser esse, com efeito, o procedimento

usual na escrita da conta vinculada do FGTS. Não há dúvida deque àquele que voluntariamente pagou o indevido incumbe aprova de tê-lo feito por erro (NCC, art. 877). Contudo, paratanto não é necessária prestação de contas (CPC, arts. 914 esegs.), pois todos os meios legais, bem como os moralmentelegítimos, ainda que não especificados no Código, são hábeispara provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou adefesa (CPC, art. 322). Restam ainda algumas consideraçõessobre a denunciação da lide e a prescrição. Quanto à primeira,somente é admissível nos termos do art. 70 do Código de Pro-cesso Civil, o que não sucede na espécie: dizer que o bancodepositário é responsável pelos lançamentos efetuados nascontas vinculadas durante o período em que estiverem sobsua administração (Decreto n. 99.684/00, art. 24) não possaser corrigida falha procedimental. Dito de outro modo, o danoao Fundo é causado menos pela falha, cuja regularização seobjetiva, que pela apropriação do numerário por quem não édele titular. Pelas mesmas razões, não há falar em "responsa-bilidade objetiva" decorrente de negligência, imperícia ou qual-quer outro fundamento (cfr. NCC, arts. 186, 187, 927, parágra-fo único), pois a causa do dano está na apropriação, que afetao volume de recursos do FGTS, não no equívoco concernente àtransmissão de informações à CEF. Em verdade, o erro nãoacarreta dano ao correntista que suscita responsabilidade ob-jetiva, mas sim seu enriquecimento sem causa. Por fim, algu-mas considerações sobre a prescrição. Conforme o art. 2.028,serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por esteCódigo, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver trans-corrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada.Sob a vigência do Código Civil de 1916, era aplicável o seu art.177, que estabelecia o prazo de 20 (vinte) anos para a prescri-ção das ações pessoais. Atualmente, é aplicável o prazoprescricional de 3 (três) anos para pretensão relativa ao enri-quecimento sem causa. Cumpre verificar, caso a caso, se, con-tado da data do saque até a entrada em vigor do Novo CódigoCivil (11.01.03), transcorreram 10 (dez) anos, situação emque se aplica o prazo da lei anterior. Caso contrário, aplica-se oprazo da lei nova. 2. Ficou demonstrado nos autos, inclusivepor meio de perícia contábil (fls. 127/201), que houve erro natransferência de valores entre as instituições bancárias quedeu ensejo ao saque de valor a maior pelo réu. Desse modo,não lhe pertencendo a quantia efetivamente recebida, tem odever de restituí-la ao Fundo. 3. Merece, portanto, ser reforma-da a sentença para julgar improcedente a reconvenção e parci-almente procedente o pedido inicial, condenando-se o autor adevolver a quantia levantada a maior. 4. Apelação da CaixaEconômica Federal - CEF parcialmente provida." (TRF 3, AC2005.61.00.029910-7 SP, Quinta Turma, Rel Des. AndréNekatschalow, 26/Nov/2010.)

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| Vale a Pena Saber

Fevereiro | 2011 19A coluna Vale a Pena Saber pode ser acessada, na íntegra, no site da ADVOCEF (menu Publicações).

Bem de família. Imóvel desocupado. Possibilidadede penhora. STJ

"3. A jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que o fato de aentidade familiar não utilizar o único imóvel como residência não odescaracteriza automaticamente, sendo suficiente à proteção le-gal que seja utilizado em proveito da família, como a locação paragarantir a subsistência da entidade familiar. 4. Neste processo,todavia, o único imóvel do devedor encontra-se desocupado e,portanto, não há como conceder a esse a proteção legal daimpenhorabilidade do bem de família, nos termos do art. 1º da Lei8.009/90, pois não se destina a garantir a moradia familiar ou asubsistência da família." (STJ, REsp n.° 1.005.546 SP, TerceiraTurma, Rel. p/ ac. Min. Nancy Andrighi, DJe 03/fev/2011.)

COLABOROU: Álvaro Weiler (do Jurídico Porto Alegre).

ELABORAÇÃO: Jefferson Douglas Soares e Giuliano D'Andrea.

Sugestões ou comentários dos colegas podem ser encaminhadospara os endereços: [email protected] e

[email protected].

FGTS. Progressividade. Opção retroativa.Necessidade da opção ser com data anterior

a 22/set/71. TRF 1 "4. A opção pelo regime do FGTS aos não optantes, bem comonova opção aos que optaram em data posterior ao início da vi-gência Lei que unificou a taxa de juros, o art. 1º da Lei 5.958/73sujeitou esta faculdade ao preenchimento de dois requisitos: tersido admitido em período anterior à edição da Lei 5.705/71(21.9.71), assim como a opção ser retroativa à 1º de janeiro de1967 ou à data de admissão se posterior àquela. Nesta últimahipótese, a opção deveria ser retroativa a período anterior a22.9.1971, data em que entrou em vigor a Lei 5.705/71."(TRF 1,AC 2005.34.00.027883-8 DF, Quinta Turma, Rel. Juiz David Wil-son de Abreu Pardo, Quinta Turma, DJe 26/nov/2010.)

Peticionamento eletrônico. Prazo até as 24 horasdo último dia do prazo. TST

"O Sistema Integrado de Fluxo de Documentos Eletrônicos, de-nominado -sistema e-doc-, é regido pela Lei nº 11.419/06, emcujo art. 3º, parágrafo único, há previsão expressa datempestividade das petições eletrônicas transmitidas até as 24(vinte e quatro) horas do último dia do prazo processual. No casoconcreto, os Embargos Declaratórios foram opostos no últimodia do prazo processual dentro das 24 horas permitidas para asua transmissão. Precedentes desta Corte. Assim, afastada aintempestividade dos Embargos de Declaração opostos em sedede Recurso Ordinário, devem os autos retornar ao TRT de origempara análise das razões apresentadas, prejudicado o exame dosdemais temas da Revista. Recurso de Revista conhecido e provi-do." (TST, RR 249440-32.2004.5.02.0463 , Oitava Turma, Rel.Min. Márcio Eurico Vitral Amaro, DJe 03/fev/2011.)

Cláusulas contratuais. Discussão emconsignatória. Possibilidade. STJ

"I. Possível a revisão de cláusulas contratuais no bojo da açãoconsignatória, consoante a orientação processual do STJ. II. Pro-cedência, todavia, apenas parcial da consignatória, quando, umavez extirpada a cláusula considerada abusiva, ainda remanescesaldo devedor, que, na forma do art. 899, parágrafo 1º, do CPC,pode ser executado nos próprios autos. III. Descabido o uso damedida cautelar incidental para a postulação de pretensões au-tônomas em relação à ação de consignação, como a entrega daschaves do imóvel e a assinatura de escritura definitiva de com-pra e venda, sem o caráter de acessoriedade próprio dessa viaprocessual, aqui indevidamente utilizada pela parte autora comoespécie de uma segunda lide principal ou complementar da origi-nariamente ajuizada. IV. Recurso especial conhecido em parte eparcialmente provido, para extinguir a medida cautelar nos ter-mos do art. 267, VI, do CPC, e julgar procedente apenas em partea ação consignatória, redimensionados os ônus sucumbenciais."(STJ, REsp n.º 645.756 RJ, Quarta Turma, Rel. Min. Aldir Passari-nho Junior, DJe 14/dez/2010.)

Código de Processo Civil ComentadoAutor: José Miguel Garcia Medina. RT, 2011. 1.216 páginas.O autor, renomado processualista e professor universitário,

comenta, artigo por artigo, o Código de Processo civil. O livro estáatualizado com entendimentos jurisprudenciais recentes. Mere-ce destaque o fato de o autor, em cada artigo, fazer menção aoartigo correspondente do projeto do novo CPC, em tramitação noSenado Federal.

"CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. PROGRAMA DE ARRENDAMENTORESIDENCIAL (PAR). LEI N. 10.188/2001. AÇÃO DE REINTE-GRAÇÃO DE POSSE. CONSTRUÇÃO SEM ANUÊNCIA DA CAIXAECONÔMICA FEDERAL. MEDIDA DESCABIDA. 1. Não se afigurarazoável afastar de sua moradia o adquirente que, estandoadimplindo regularmente as prestações mensais referentesao imóvel arrendado, apenas constrói uma edícula, consis-tente em garagem e área de serviço, que não causa qualquerprejuízo à residência e, em verdade, limita-se a aumentar ovalor do imóvel, bem como proporcionar sua maior fruição. 2.Sentença confirmada. 3. Apelação desprovida." (TRF 1, AC2008.36.02.000834-0 MT, Sexta Turma, Rel. Juiz AlexandreJorge Fontes Laranjeira, DJe 25/out/2010.)

Decisão Desfavorável

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Fevereiro | 2011 I

Suplemento integrante da ADVOCEF em Revista | Ano X | Nº 96 I Fevereiro I 2011

Retrospectiva 2010: Internete tecnologia tornam-seprioridades jurídicas

Omar KaminskiAdvogado, presidente de Internet doInstituto Brasileiro de Política e Direito daInformática (IBDI), membro suplente doComitê Gestor da Internet no Brasil(CGI.br) e responsável pelo site InternetLegal (www.internetlegal.com.br).

2010, o ano em que fizemos conta-to. Não se trata da bactéria "extraterres-tre" que a Nasa anunciou, que pode viverem meio tóxico, mas sim, com ainformatização. De forma ou outra, todosos profissionais do Direito tiveram conta-to com o processo eletrônico.

Por isso, podemos considerar que odireito tradicional está em crise, crise deidentidade. E o papel está ficando cadavez mais órfão, uma vez que os tribu-nais brasileiros decretaram suagradativa extinção.

Utilizar o processo eletrônico tem sidouma tarefa exploratória, quando não ár-dua, havendo a necessidade de se lermanuais, de se familiarizar com certifi-cados digitais, leitores de smartcards,instalação de drivers, conversão e enviode documentos eletrônicos.

Foram criadas figuras como AcórdãoDigital, Acórdão em Tempo Real, Alvará Ju-dicial Automatizado, Agilis, APT Virtual, ARDigital, Autógrafo Certificado, Escritório Di-gital, Gabinete Virtual, Julgamento Virtual,e-Despacho, e-doc, e-Proc, e-Remessa,Juris Consult, Juris in Vox, Jus Redator, NotaTáquigráfica Virtual, Pauta Eletrônica,Precatória Eletrônica, SisPenas, SisTJWeb,Telejudiciário, Themis, Tucujuris, VEP Vir-tual. Entre outras.

A expectativa para o próximo ano é aprimeira versão de um sistema nacional(Processo Judicial Eletrônico - PJe) ca-paz de rodar em qualquer tribunal, rumoa tramitação única em todo o Judiciário.

Se o ano de 2009 já foi marcado pelacrescente virtualização, previsivelmentea adoção avassaladora (e irreversível) datecnologia como auxiliar da Justiça se in-

tensificou em 2010. Foram feitos maisinvestimentos, Tribunais adquiriram sa-las-cofre, cursos foram inistrados e asegurança é uma preocupação cada vezmaior em se tratando de sistemas comdados sensíveis.

Porém, continuam as dificuldadestécnicas em manusear documentos ele-trônicos na tela do computador e deenviar petições com muitos anexos, sópara citar algumas.

Registre-se que a OAB passou a per-mitir a cobrança de honorários por car-tão de crédito, e uma das operadoras jápossibilita o pagamento pelo smartphonee o envio do recibo por email ao cliente.

Consultas públicasO ano foi marcante na realização de

consultas públicas. O Conselho Nacio-nal de Justiça, que só recebe documen-tos por meio eletrônico desde agosto,colocou em discussão a publicidade dosatos processuais, resultando na resolu-ção nº 121.

Com isso, objetivou dar mais trans-parência e garantir o direito de acesso àinformação regulado pelo artigo 5º, XXXIIIda Constituição Federal, diante do cres-cente interesse da população por anda-mentos processuais e decisões, queacabam por se tornar mais públicas doque nunca.

Na esfera mais ampla, três consul-tas públicas sobre assuntos-chave fo-ram iniciadas pelo Ministério da Justiçae da Cultura: Marco Civil da Internet noBrasil, reforma da Lei de Direitos Auto-rais, e mais recentemente, o debate so-bre a Proteção dos Dados Pessoais.

O Marco Civil surgiu no ano passa-do, em resposta ao projeto de lei 84/99,apelidado pelos críticos de "AI5 Digital",aprovado no Senado e atualmente emtrâmite na Câmara, aguardando parecerdas comissões. A segunda fase de dis-cussões foi reaberta em abril, e as pro-posições resultantes de mais de 800comentários foram organizadas em trêstemas centrais: garantias às liberdadese proteção aos direitos dos usuários;responsabilidades dos diversos atoresque participam do uso da Internet; e opapel do Estado no desenvolvimento daweb como ferramenta social. Fica a ex-pectativa pelo resultado desse trabalho.

A consulta pública sobre a reformada lei de Direitos Autorais iniciou-se emjunho, propondo a harmonia entre os di-reitos dos criadores, cidadãos, investi-dores e usuários e incentiva a formaçãode novos arranjos produtivos. Foi pror-rogada até o fim de agosto. A nova mi-nistra da Cultura, Ana de Hollanda, jásinalizou para a continuidade das dis-cussões.

No final de novembro foi lançado odebate público sobre privacidade e pro-teção de dados pessoais no Brasil, coma finalidade de elaborar um anteprojetode lei sobre o tema. Por meio de um blog,

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que ficará no ar por 60 dias, a popula-ção poderá contribuir com sugestões.

Certificação digitalA certificação digital continua em

curso, após quase 10 anos da MP2.200-2, e contará com um "aliado" depeso para sua massificação: o Registrode Identidade Civil (RIC), regulamenta-do pelo o Decreto nº 7.166, publicadoem maio. A TV Digital promete ter umacadeia específica de certificação digital.O passaporte com chip também come-çou a ser testado este ano.

Foi inaugurada a primeira fábrica dechips, em Porto Alegre, que, por en-quanto, produzirá chips para orastreamento de rebanhos bovinos.

A Lei nº 12.258, publicada em 16 dejunho, passou a autorizar o monitora-mento eletrônico de condenados noscasos de saída temporária no regimesemiaberto e de prisão domiciliar. Presospassaram a ser liberados e monitoradospor tornozeleiras eletrônicas.

EleiçõesEm ano de eleições majoritárias,

a partir de 6 de julho ficou permitidaa propaganda eleitoral na internet,sendo vedada a censura prévia, oanonimato e a veiculação de qualquertipo de propaganda eleitoral paga narede.

Os TREs e o TSE viraram campo debatalha envolvendo candidatos,blogueiros, Orkut e até o primeiro direi-to de resposta no Twitter. O saldo foipositivo, e a Internet se consolidou comouma arma para o cidadão fiscalizar aseleições.

Nesse clima, ocorreu um vazamen-to de dados sigilosos da Receita Fede-ral envolvendo a declaração de IR depolíticos e até familiares, o que trouxenovo fôlego às discussões sobre a le-galidade da quebra de sigilo fiscal.

Redes sociaisVários Tribunais estreitaram rela-

ções com as redes sociais, em especi-al o Youtube, para vídeos, e o Twitter,para notícias e informações sobre osserviços. STF, STJ, TST e TSE fazem usocorriqueiro e noticioso da ferramenta,além do CNJ, TRF4 e TRF5, pelo menos14 TRTs e 12 TJs. Como base, o STF

anunciou em março 10 mil seguidores,atualmente são mais de 60 mil. Em no-vembro o STJ anunciava 21 mil segui-dores.

O Orkut, apesar do franco declíniofrente ao crescente Facebook, continuaobjeto de centenas de ações judiciais emtrâmite em praticamente todos os esta-dos, visando muitas vezes a respon-sabilização de seu detentor, o Google -que deve ser, de longe, a empresa deinternet mais processada no Brasil.

Em vista disso, destacamos algu-mas decisões interessantes:

Em fevereiro, a 2ª Câmara Cível doTJPB julgou recurso contra o Google im-procedente, por unanimidade, a respei-to de mensagens enviadas por um usu-ário anônimo a determinada comunida-de do Orkut, contendo pornografias, queteriam ferido a imagem da mãe do autor.Segundo a decisão "aos provedores ape-

Google BR não indicou o provável autordas ofensas, e por não ter criado meiosde identificação precisa de usuários,assumiu o ônus pela eventual má utili-zação dos serviços".

Também em março o STJ rejeitou oRecurso Especial do Google para casoanteriormente julgado no TJRO envolven-do comunidades vetadas judicialmen-te por ofensa a menores moradores detrês municípios do estado rondonense.O ministro Herman Benjamin afirmouem seu voto que "a internet é o espaçopor excelência da liberdade, o que nãosignifica dizer que seja um universosem lei e sem responsabilidade pelosabusos que lá venham a ocorrer". Se-gundo ele, "no mundo real, como novirtual, o valor da dignidade da pessoahumana é um só".

Em abril, a 12ª Câmara Cível do TJMGcondenou o Google a indenizar um pa-dre por ter sofrido ofensas em uma co-munidade do Orkut. Entendeu o relatorque a Google "ao disponibilizar espaçoem sites de relacionamento virtual, emque seus usuários podem postar qual-quer tipo de mensagem, sem prévia fis-calização, com conteúdos ofensivos einjuriosos e, muitas vezes, com proce-dência desconhecida, assume o riscode gerar danos" a outras pessoas.

Também em abril a 5ª Câmara Cíveldo TJRS negou indenização por abalo decrédito e dano moral a usuário dainternet que se sentiu prejudicado pelaveiculação de informações inverídicas noOrkut. "Não se está negando a ocorrên-cia do dano, mas apenas se afastandoa responsabilidade do réu devido à im-possibilidade técnica de exercer contro-le prévio sobre as páginas pessoais ecomunidades criadas e alteradas pelosusuários a todo instante, pois as infor-mações contidas no Orkut são definidaspelos usuários, e não pela empresa."

Em julho, a 3ª Câmara de DireitoCivil do TJSC, em caso tratando da cria-ção de perfil e comunidades falsas noOrkut, anotou que o Google, na quali-dade de provedor de internet, nãomonitora previamente o conteúdodisponibilizado no Orkut, apenas cedeespaço para seu armazenamentoonline. "Aliás, ressalta-se que não hálei que impute esta fiscalização."

nas pode ser atribuída a responsabili-dade civil dos danos morais causadospelas mensagens postadas por terceirosanônimos, quando o provedor/apelantese omitir a retirar as mensagens ofensi-vas, mas não ser responsabilizados pelosimples fato de tais mensagens seremenviadas ao site, uma vez que, nesseserviço (Orkut), o provedor apelante ape-nas exerce a função de mera hospeda-gem das informações e não a função deedição de seu conteúdo".

Em março, a 2ª Câmara Cível doTJRO, ao se manifestar sobre a criaçãode um perfil falso no Orkut onde foraminseridas diversas informações injurio-sas contra o autor, que ofenderam asua honra, entendeu que "como a

Os TREs e o TSEviraram campo de

batalha envolvendocandidatos,

blogueiros, Orkut eaté o primeiro

direito de respostano Twitter

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Fevereiro | 2011 III

Em agosto, a 10ª Câmara Cível doTJMG, quando da ocorrência de ofen-sas por mensagens em perfil no Orkut,decidiu que o vínculo entre os prove-dores e usuários da internet é de con-sumo e deve ser regido pelo Código deDefesa do Consumidor, pois "não hálegislação específica a respeito da res-ponsabilidade civil por atos praticadospela internet".

Em outubro, em ação envolvendo acriação de conteúdos e perfis relacio-nados ao piloto Rubens Barrichello, a4ª Câmara de Direito Privado do TJSP,entendeu que "com relação à respon-sabilidade dos chamados provedoresde serviço, predomina na doutrina oprincípio de que não respondem pelaconduta dos usuários, salvo quandonotificados da prática de um ato ilícitorealizado ou em vias de ser praticado".

Em outubro, a 13ª Câmara de DireitoPrivado do TJMG, em caso envolvendo acriação de comunidade ofensiva, decidiu:"se o réu é proprietário do domínio Orkute permite a postagem de mensagens anô-nimas e ofensivas, responde pelo deverde indenizar a parte que sofreu dano àsua honra e dignidade".

Novembro, a 2ª Turma Cível doTJDFT manteve sentença que condenouuma mulher a indenizar duas outras portê-las ofendido no Orkut. Segundo osdesembargadores, a injúria praticadapela internet, por meio de reiteradasmensagens ofensivas, excede aos me-ros dissabores diários, tanto que étipificada como crime no art. 140 do CP.

Em dezembro, a 2ª Turma Recursaldos Juizados Especiais Cíveis e Crimi-nais do TJDFT deu provimento ao recur-so interposto pelo Google para mantera exclusão de um usuário do site derelacionamento Orkut. Ele teve seu perfilexcluído por violar termos do contratode prestação de serviço. A relatora nãoviu ilicitude nos atos praticados peloGoogle, "até mesmo porque os usuári-os do Orkut são advertidos de que, aqualquer momento, a página pode serexcluída com ou sem aviso prévio".

Yahoo e YouTubeEm abril, caso analisado pela 2ª Câ-

mara de Direito Civil do TJSC, tratandoda exposição de fotos do relacionamen-

to de jovem com ex-namorado, envol-veu desta vez o Yahoo!, que sustentoupreliminar de ilegitimade passiva frenteà Yahoo International. Para o relator "aYahoo do Brasil, empresa constituídasob as leis brasileiras, explora o serviçode provedor em parceria com a matriznorte-americana". E que "não é possí-vel que a empresa usufrua das vanta-gens sem assumir o ônus de suportaras consequências eventualmente dano-sas de tal cooperação".

Em maio, decisão da 5ª CâmaraCível do TJMT envolveu o YouTube e aremoção de conteúdos ofensivos à mo-ral do prefeito de Cuiabá. Para o relatortrata-se de "medida grave, que não deveser deferida se a identificação do con-teúdo ofensivo depender de critériossubjetivos do ofendido, cuja exatapredeterminação não é possível a pon-to de garantir que a lesão não continu-ará a se repetir".

contrafaceados. A Microsoft pediauma condenação de três mil vezes.

Também envolvendo a Microsoft,em decisão por maioria, osdesembargadores Fábio Maia Viani eArnaldo Maciel, da 18a. Câmara Cíveldo TJMG, entenderam pela necessi-dade de comprovação da reciprocida-de de proteção dos direitos autoraisnecessária para a proteção de empre-sas estrangeiras, e que a simples pro-va documental do texto e da vigênciada lei americana não é suficiente paracomprovar a existência do direito equi-valente, pois é necessário provar tam-bém a aplicação da lei.

Em agosto, a Quarta Turma do STJreiterou o entendimento sobre o valorda indenização pela utilização de pro-gramas sem a devida licença ou autori-zação de uso, fixando-a em 10 vezes opreço de cada um dos programas utili-zados ilegalmente.

Mercado LivreSites de leilão também continuaram

sendo alvo de ações judiciais. No casode um celular comprado e não entre-gue, o TJRN entendeu que a atividadepraticada pelo Mercado Livre não se res-tringe a fazer o contato entre as partesenvolvidas, sendo aplicável o art. 14 doCódigo de Defesa do Consumidor.

Já a Turma Recursal dos JuizadosEspeciais Cíveis do RJ condenou o sitede leilões a indenizar um usuário ex-cluído do cadastro do site por suspeitade fraudes não confirmadas.

E o TJMG condenou o site a indeni-zar uma usuária pela compra malsuce-dida de um laptop. O desembargadorMarcelo Rodrigues afirmou que "se aempresa ganha com publicidade quan-do os usuários acessam o seu sítio ele-trônico e, mais, tem a possibilidade delucrar com as vendas por eleintermediadas, nada mais justo que tam-bém responda pelas falhas decorrentesdessa intermediação".

Outros casosO STJ decidiu sobre um interessan-

te caso envolvendo violação no exteriorao direito de imagem, constatada pelainternet, sendo que o contrato entre aspartes fixava a Espanha como foro e

Em julho, em demanda tambémcontra o Yahoo!, o relator da Câmara Re-gional do TJSC entendeu que "não seadmite que uma empresa deste porte,com todos os sistemas modernos quese encontram à sua disposição, permi-ta tal veiculação (fotos íntimas de umamulher) sem filtrar seus conteúdos".

MicrosoftO STJ reviu em abril o valor da in-

denização pago à Microsoft por em-presa que utilizou ilicitamente progra-mas de computador. A Terceira Tur-ma fixou a condenação em dez vezeso valor de mercado dos programas

O ministro HermanBenjamin afirmouque "a internet é o

espaço porexcelência da

liberdade, o que nãosignifica dizer queseja um universo

sem lei"

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Fevereiro | 2011IV As matérias publicadas neste suplemento são de responsabilidade exclusiva de seus autores.O encarte pode ser acessado, na íntegra, no site da ADVOCEF (menu Publicações).

Ano X | Nº 96 I Fevereiro I 2011

envolvia uma cidadã que vive no Brasil.Para o relator, ministro Luis FelipeSalomão, a demanda pode ser propos-ta no local onde ocorreu o fato, "aindaque a ré seja pessoa jurídica, com sedeem outro lugar, pois é na localidade emque reside e trabalha a pessoa prejudi-cada que o evento negativo terá maiorrepercussão".

Em julho, o TJRS decidiu que a prá-tica de bullying é ato ilícito, e condenoua mãe de um menor de idade que crioupágina na internet com a finalidade deofender colega de classe ao pagamen-to de indenização por danos morais.

Também em julho, o ex-goleiro Bru-no teve pedido de habeas corpus poremail indeferido por juíza singular minei-ra, que ponderou que o e-mail não tinhaqualquer certificado digital, o que tornaimpossível a aferição da veracidade daqualificação do impetrante. Logo em se-guida, o STJ esclareceu que a partir deagosto o habeas corpus passou a seruma das novas classes processuais ajui-zadas exclusivamente por meio eletrôni-co, mas que tal obrigatoriedade só exis-tirá nos casos em que houver a media-ção de advogado.

Em novembro, o TJRJ condenou aNextel a indenizar cliente diante do en-vio de mensagens de texto ofensivas.Para a desembargadora Maria AugustaFigueiredo, "a Nextel, ao permitir quequalquer pessoa envie mensagens viainternet sem se identificar, não está for-necendo aos consumidores submetidosao serviço a segurança necessária".

Fatos marcantesEm março o ".br" comemorou a mar-

ca de 2 milhões de domínios nainternet, sendo que o número cresceumais 15% até este final de ano. Emmarço o Ministério da Ciência eTecnologia celebrou 25 anos, a RedeNacional de Ensino e Pesquisa (RNP),21 anos, e em maio, 15 anos do Comi-tê Gestor da Internet no Brasil, que estáem pleno processo eleitoral para a es-colha dos representantes da socieda-de civil.

A CPI da Pedofilia do Senado, queperdurou por três anos e recentemen-te apresentou seu relatório final, reco-mendou ao Ministério das Relações Ex-teriores a reconsideração de sua posi-ção contrária à "Convenção do Conse-lho Europeu sobre o Cibercrime". Vári-os acordos foram realizados com oGoogle Brasil, operadores de cartões decrédito e empresas de telefonia quepassaram a cooperar e oferecer materi-al suspeito de abuso de crianças e ado-lescentes.

O Ministério Público Federal de SãoPaulo inaugurou o Fórum do ComércioEletrônico, encerrado com o lançamen-to de uma carta de princípios em se-tembro, com o objetivo de "colaborarpara a criação de um quadro jurídico

A lei do teletrabalho ou trabalho adistância foi aprovada na Câmara, masmesmo antes de virar lei a Justiça doTrabalho já vem julgando conflitos en-volvendo, por exemplo, instituições deensino e professores que trabalham deforma online, especialmente reconhe-cimento de vínculo empregatício.

No final de novembro, a Comissãode Ciência e Tecnologia, Comunicaçãoe Informática da Câmara aprovou pro-posta que garante preferência parasoftwares livres na contratação de bense serviços de informática pela União,pelos estados, pelo Distrito Federal epelos municípios, na forma desubstitutivo que altera a Lei nº 8666/93. Trata-se de projeto que tramita naCâmara há mais de 10 anos.

O Brasil teve papel de destaque noInternet Governance Forum (IGF), reali-zado na Lituânia, onde os Princípios daGovernança do Comitê Gestor da Internetno Brasil foram por várias vezes citados,e a neutralidade da rede vem se conso-lidando como princípio geral.

CiberativismoOs ciberativistas cada vez mais se

preocupam com leis que possam serconsideradas repressoras, censoras ouinvasoras da privacidade. E esse finalde ano foi pródigo em se tratando debatalhas virtuais: o vazamento doWikileaks foi um tema onipresente so-bre os limites da transparência e da li-berdade de expressão, e no Brasil ocaso da Falha de São Paulo também teverepercussão, inclusive no exterior.

Apesar de todo o relatado, aindanão chegamos à maturidade da Rede.Seja "que bom" ou "que pena." Mas aomenos os principais potenciais confli-tos já se encontram delimitados: direi-tos autorais, liberdade de expressão,cibercrimes e privacidade.

Escolha o seu e insira-se no deba-te, porque a década será, certamente,da convergência e da interatividade. Eos limites, em especial o que podemosou não podemos fazer na rede, estãosendo discutidos agora.

seguro para o comércio eletrônico noBrasil, contribuindo para o desenvolvi-mento do comércio eletrônico e o forta-lecimento da confiança do consumidore das demais partes envolvidas".

Foi instituído o Plano Nacional deBanda Larga, a ser gerida pela

ressucitada Telebras. A intenção étriplicar o acesso a banda larga até2014, mas o início da implantação doPlano acabou adiada para abril de 2011.

2010 foi o ano em que o ebook, oulivro eletrônico, veio para ficar. A JFSPdecidiu que o Kindle não paga impos-tos, apenas PIS e Cofins. Primeiro oiPhone 4 esgotou nas lojas, agora a novamania do iPad. Aliás, neste ano tudoque a Apple tocou virou ouro.

Segundo a 10ªCâmara Cível doTJ/MG, "não há

legislação específicaa respeito da

responsabilidade civilpor atos praticados

pela internet"